Edgard Armond - Mediunidade - [ Espiritismo]

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1 MEDIUNIDADE Edgard Armond

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    MEDIUNIDADE Edgard Armond

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    NDICE

    DEDICATRIA EXPLICAO NECESSRIA

    PRIMEIRA PARTE CAPTULO 1 = DEFININDO CONCEITOS CAPTULO 2 = CONSIDERAES GERAIS ORTODOXIA CAPTULO 3 = RESUMO HISTRICO CAPTULO 4 = EVOLUO DA MEDIUNIDADE CAPTULO 5 = MEDIUNIDADE DE PROVA SEUS ASPECTOS CAPTULO 6 = CONTROLE DA MEDIUNIDADE CAPTULO 7 = SENSIBILIDADE INDIVIDUAL CAPTULO 8 = DIVISO DA MEDIUNIDADE CAPTULO 9 = A LUCIDEZ CAPTULO 10 = O SONO CAPTULO 11 = A INCORPORAO CAPTULO 12 = EFEITOS FSICOS CAPTULO 13 = FENMENOS CORRELATOS CAPTULO 14 = A EDUCAO DOS MDIUNS CAPTULO 15 = DOS FRACASSOS E DAS QUEDAS CAPTULO 16 = AMADURECIMENTO MEDINICO CAPTULO 17 = PR-MEDIUNISMO

    SEGUNDA PARTE CAPTULO 18 = CONSIDERAES GERAIS CAPTULO 19 = VERIFICAES INICIAIS CAPTULO 20 = ADAPTAO PSIQUICA CAPTULO 21 = O DESENVOLVIMENTO CAPTULO 22 = OPORTUNIDADE DO DESENVOLVIMENTO CAPTULO 23 = SINAIS PRECURSORES CAPTULO 24 = NA INTIMIDADE DO PROCESSO CAPTULO 25 = A DIREO DOS TRABALHOS CAPTULO 26 = ESTADOS CONSCIENCIAIS CAPTULO 27 = MODALIDADES DE TRABALHOS CAPTULO 28 = A DOUTRINAO CAPTULO 29 = AS COMUNICAES CAPTULO 30 = O TRABALHO DOS GUIAS CAPTULO 31 = UMA PRTICA A SEGUIR CAPTULO 32 = AUXILIARES INVISVEIS CAPTULO 33 = AMBIENTES BONS E MAUS CAPTULO 34 = OUTRAS REGRAS CAPTULO 35 = AUTO-APERFEIOAMENTO CAPTULO 36 = FALSOS PROFETAS CAPTULO 37 = CONCLUSO

    TERCEIRA PARTE CAPTULO 38 = ASPECTOS GERAIS CAPTULO 39 = A MEDIUNIDADE EM AO

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    SINOPSE

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    DEDICATRIA

    Aos bondosos e dedicados Instrutores do plano espiritual, que me assu-tiram com suas luzes, inspirando e estimulando a realizao deste modesto trabalho que se destina, principalmente, aos milhares de mdiuns necessitados de orientao e esclarecimento, dedico esta pgina, como homenagem humilde.

    O AUTOR

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    EXPLICAO NECESSRIA

    O campo da mediunidade complexo e sua descrio no comporta fantasias literrias nem opinies pessoais de natureza especulativa. um conjunto de fatos, que se afirmam por si mesmos e no de teorias, mais ou menos atraentes, que possam ser convertidas em sistemas nos moldes das muitas criaes filosficas que conhecem os fatos naturalmente sujeitos a Leis que podem e devem ser conhecidas por todos, j que a todos interessam, justamente por ser a mediunidade uma herana comum dos seres humanos.

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    Ao recolher as apreciaes, generosas e construtivas, dos abalisados confrades, do Pas e Estrangeiro que se dignaram opinar a respeito do livro, conforme apareceu na primeira e segunda edies, a partir de 1947 constatamos algumas lacunas que nos apressamos a corrigir na edio subseqente. A rapidez com que se esgotaram essas edies demonstrou a aceitao que elas tiveram e nesta de agora pouco se acrescenta, a no ser o necessrio atualizao dos assuntos causa que sempre til fazer. Agradecemos o precioso concurso que sempre recebemos de todos os confrades e esperamos que esta modesta obra possa atingir seus objetivos que so: esclarecer doutrinariamente, difundir conhecimentos prticos e tornar-se til a todos os estudiosos do espiritualismo em geral, independentemente de sectarismos de qualquer natureza.

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    Com esta edio julgamos ter atingido um ponto estvel, pertinente, no desejando introduzir mais qualquer acrescentamento futuro, salvo ligeiras atualizaes, quando indispensveis.

    So Paulo, Outubro, 1956.

    O AUTOR

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    PRIMEIRA PARTE

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    1 DEFININDO CONCEITOS

    Para melhor compreenso do modo por que entendemos e definimos a mediunidade, aqui resumimos os argumentos de alguns captulos, para dizer: medida que evolui e se moraliza; o indivduo adquire faculdades psquicas e aumenta, conseqentemente, sua percepo espiritual. A isso denominamos - MEDIUNIDADE NATURAL.

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    A muitos, entretanto, ainda que atrasados em sua evoluo e moralmente incapazes, so concedidas faculdades psquicas como graa. No as conquistaram, mas receberam-nas de emprstimo, por antecipao, numa posse precria que fica dependendo do modo como forem utilizadas, da forma pela qual o indivduo cumprir a tarefa cujo compromisso assumiu, nos planos espirituais ao receb-la. A isso denominamos MEDIUNIDADE DE PROVA.

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    A primeira situao ideal a atingir por todos os homens no Tempo e a intuio a sua forma mais avanada e perfeita.

    Permite o conhecimento das coisas e o intercmbio com as entidades espirituais sem necessidade do trabalho medinico obrigatrio.

    A segunda uma tarefa individualizada, recebida em determinadas condies para utilizao imediata, e importa na prtica medinica como cooperao compulsria.

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    2 CONSIDERAES GERAIS ORTODOXIA

    J tempo de se abandonar a ortodoxia, deixar de parte qualquer propenso a misticismo, para verificar as lacunas que porventura existam no edifcio maravilhoso da codificao kardequiana.

    Um sculo j transcorrido, bem se pode agora, sem embargo da admirao e do respeito que nos inspira a majestade da obra realizada pelo grande Missionrio, perguntar:

    Est ela completa? H algum detalhe que no tendo sido, naquela poca, devidamente

    explicado, possa s-lo agora? Alguma coisa a rever ou encarar de forma mais avanada? A primeira resposta : no h obra completa das realizadas por mo

    humana; no evolui e toma, dia a dia, aspectos novos; a vida mudana e seu ritmo se processa no tempo sem limites.

    A verdade eterna, revelada em parte por Moiss, Buda, Zoroastro e outros enviados do Cristo planetrio, que desceram Terra em pocas diferentes; exemplificada pelo prprio Mestre quando viveu entre ns e sob aspectos mais perfeitos; desenvolvida enfim, com mais detalhes, pelos autorizados Mensageiros que ditaram a Terceira Revelao ainda em curso sofrer, ao perpassar dos sculos, com o apuramento espiritual do homem, desdobramentos mais amplos e mais altos.

    E s demais a resposta : sim; h detalhes que convm rever ou encarar, segundo pontos de vista mais atualizados.

    Haja vista, por exemplo, a mediunidade. Encarada, na Codificao, sob quase todos seus aspectos (1)

    (1) A codificao no tratou p. ex. dos fenmenos de voz direta.

    no foi todavia classificada ou dividida, tendo sido, porm, quanto sua natureza, considerada fenmeno orgnico.

    Podemos ento agora fazer uma reviso e penetrar mais a fundo em certos assuntos sem contudo nos abalanarmos a atentar, de alguma forma, contra as bases fundamentais da doutrina?

    Talvez o possamos e crer o contrrio seria negar a lei do progresso que incessante e irresistvel ; seria ir de encontro ao prprio carter divino da revelao, que tambm progressiva e metdica.

    E como a Verdade tem que ser conquistada pelo homem, passo a passo, milmetro a milmetro, j que somente lhe concedida na medida do prprio mrito, devemos tentar agora esse esforo, para conhecer melhor esses detalhes e torn-los mais acessveis.

    preciso provocar um movimento de opinio nesse rumo e interessar nele todos aqueles que tenham boa vontade e amor a doutrina que, como sabemos, e a nica que pode realizar no homem a reforma espiritual exigida pelo Cristo.

    E este livro uma pequena contribuio nesse sentido.

    TEORIAS SOBRE MEDIUNIDADE

    H muitas teorias e explicaes sobre mediunidade e vamos passar-lhes

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    aqui uma ligeira revista sem contudo nos determos em analis-las. 1) A da mistificao. Tudo resultado de arranjos, habilidades mecnicas,

    truques. 2) A da iluso. Nada, h de real; h somente ilusionismo. Os realizadores

    e assistentes de trabalhos espritas ficam alucinados, sugestionados e por isso vm, sentem e ouvem coisas que no existem.

    3) A demonaca. Tudo obra de demnios, porque nenhuma entidade celeste pode andar pelo espao em liberdade, falar com os vivos ou fazer-se passar por almas de mortos. Somente o diabo o pode, por ser rebelde s leis divinas.

    4) A dos elementais. Os elementos da natureza, sres no humanos, como gnomos, silfos, fadas e gnios, formas inconscientes e inferiores da vida, atuam sbre os homens em certas circunstncias, produzindo manifestaes e fenmenos inslitos.

    5) A dos casces astrais. As almas dos mortos verdadeiramente no influem sobre os homens a no ser em casos muito raros; mas seus casces astrais, que so envoltrios semi-materializados e destinados decomposio, aps a morte, como sucede tambm com o corpo fsico, atuam sbre os sensitivos e produzem fenmenos. Esta a teoria predileta dos tesof os.

    6) A da loucura. Os mdiuns so indivduos anormais, loucos mais ou menos pacficos e tudo o que dizem e fazem resultado de sua prpria perturbao mental.

    7) A da emoo. Segundo os swedenborguianos, o mundo espiritual nos rodeia e, sob a ao de uma emoo forte, os sentidos podem adquirir um desenvolvimento anormal que permite ligaes com o mundo dos Espritos.

    8) A do automatismo psicolgico. Tda idia tende a realizar-se e todas as manifestaes ditas medinicas so simples fenmenos do sub-consciente individual.

    9) A da fora psquica. H indivduos que possuem uma fra especial e definida, magnetismo, fludo nervoso ou o que quer que seja, que produz os fenmenos.

    10) A de S. Martinho. Pode-se chegar pela graa dos prprios mritos a estabelecer ligaes com a divindade.

    11) A do dom. A mediunidade um dom que ser derramado sobre uns e outros segundo a vontade de Deus.

    12) A do batismo do Esprito Santo. A mediunidade uma virtude que baixar sbre todos aqueles que forem beneficiados pelo Esprito Santo.

    13) A do personalismo. O sub-consciente dos sensitivos tem a tendncia de apropriar-se do nome e do carter de personalidades estranhas, reproduzindo-os em seguida. Esta teoria confunde-se com a do automatismo psicolgico.

    14) A do animismo, O sensitivo sofre um desdobramento de conscincia que se coloca fora do corpo fsico, formando um centro de fra que produz fenmenos no s psquicos como tambm fsicos e plsticos. Esta teoria se confunde com a da fra psquica

    15) A teoria esprita segundo a qual indivduos denominados mdiuns possuem uma aptido especial para servirem de intermedirios entre os mundos fsico e espiritual. Esta a teoria predominante, que hoje em dia domina as atenes, explica a maioria dos fatos e plenamente confirmada pelas realidades. No nega que haja fenmenos de psiquismo individual, de

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    animismo como se costuma dizer; stes so tambm fenmenos de mediunismo, que reforam a teoria esprita e em nada lhe afetam a autenticidade cientfica.

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    A lista como se v, grande, podendo ainda ser aumentada, e no cabendo aqui analisar, como dissemos, cada uma destas concepes de per si, nos limitamos a apresentar mais para diante nosso ponto de vista e defend-lo luz de conhecimentos gerais do campo espiritualista. No que respeita, porm, a ser a mediunidade um fenmeno orgnico, desde j divergimos, em parte, para dizer que a mediunidade normal, natural, uma circunstncia tda pessoal que decorre do grau de evoluo de cada um de ns. Evoluindo conquista o indivduo crescente percepo espiritual que lhe vai permitindo cada vez maiores contactos com a criao divina, conquanto possa tambm, em certos casos, obter tais percepes como ddiva, como graa, conforme veremos mais tarde (2).

    (2) Trata-se da forma corrente de mediunidade, a mais generalizada, que denominamos de prova.

    Mas quanto faculdade em si mesma julgamo-la tda espiritual, no orgnica, e todos ns a possuimos e a estamos exercendo, nos limites de nossas possibilidades prprias.

    Cada Esprito possui sua tonalidade prpria, como sua luz prpria, seu diapaso prprio de vibraes e por fra dssses valores intrnsecos se manifesta e interfere nos ambientes em que vive, que lhes sejam correspondentes ou, melhor dito, afins. tudo uma questo de grau que faz com que os fenmenos naturais e a coisas espirituais sejam mais ou menos aparentes, perceptveis, compreensveis a uns e outros.

    Se as prprias Escrituras do a mediunidade como uma herana do homem, desde que se edifique no campo da vida moral, compreende-se que a mediunidade natural no previlgio de alguns, mas patrimnio comum de todos, quando atingidos estiverem degraus mais altos da escada da evoluo.

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    3 RESUMO HISTRICO

    A faculdade medinica, tanto a natural como a de prova, no fenmeno de nossos dias, destes dias nos quais o Espiritismo encontrou seu clmax mas, sempre existiu, desde quando existe o homem. Sim, porque foi muito por meio dela que os Espritos diretores puderam interferir na evoluo do mundo orientando-o, guiando-o, protegendo-o.

    Vindo conviver com os homens ou dando-lhes, pela mediunidade, as inspiraes e os ensinamentos necessrios, foram sempre les, esses guias devotados e solcitos, elementos decisivos dessa evoluo. E, coisa notvel, quanto mediunidade, a faculdade quase no se modificou desde milnios; manteve quase os mesmos aspectos; pouco variaram os fenmenos e as manifestaes, o que prova ser muito lenta a ascenso espiritual do homem neste terreno.

    Se verdade que, antigamente, o assunto no era bem conhecido e muito menos generalizado, nem por isso deixou de ser admitido, estudado e utilizado em benefcio individual e coletivo.

    Nas pocas em que a humanidade vivia no regime patriarcal, de ds ou de tribos, a mediunidade era atribuda a poucos, que exerciam um verdadeiro reinado espiritual sobre os demais.

    Passou depois para os crculos fechados dos colgios sacerdotais, criando castas privilegiadas de inspirados e, por fim, foi se difundindo entre o povo, dando nascimento aos videntes, profetas, adivinhos e pitonisas que passaram, por sua vez, a exercer inegvel influncia nos meios em que atuavam.

    Na ndia como na Prsia, no Egito, Grcia ou Roma, sempre foi utilizada como fonte de poder e de dominao, e to preciosa, que originou a circunstncia de somente ser concedida por meio de iniciao a poucos indivduos de determinadas seitas e fraternidades.

    E ainda hoje verificamos a existncia dessas seitas e fraternidades que prometem a iniciao sob as mais rigorosas condies de mistrio e formalismo, se bem que com medocres resultados, como natural.

    Somente aps o advento do Espiritismo as prticas medinicas se popularizaram e foram postas ao alcance de todos, sem restries e sem segredos.

    A comear de Homero, o poeta lendrio da Grcia antiga, que mediunidade se referia indiretamente ao narrar os episdios hericos da vida de Ulisses, podemos ver que muitos outros, como por exemplo Scrates, que possuia o que chamava de demnios familiares; Pitgoras, que era visitado pelos deuses; Apolnio de Tiana, mdium extraordinrio de vidncia e levitao; Simo de Samaria, contemporneo dos apstolos, todos exerciam mais ou menos publicamente a mediunidade.

    E papel preponderante teve tambm ela na administrao pblica e na vida poltica das naes de ento, pois provado est que seus dirigentes (chefes e reis), jamais se aventuravam a qualquer passo importante sem consulta prvia a videntes, astrlogos e orculos.

    E, na prpria Roma imperial, apesar de sua visceral amoralidade, os csares no dispensavam essa consulta e submetiam-se de bom grado s inspiraes e aos conselhos dos deuses.

    Ora, ns sabemos hoje o papel sobrelevante que os Espritos do Senhor

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    desempenham no plano da vida material e no fenomenalismo csmico e compreendemos que eram ento chamados demnios, deuses e gnios essas entidades operosas e nem sempre benficas que agiam, como sempre agem, por de trs de todos os fenmenos naturais e sociais.

    por isso to positiva e evidente a antigidade das manifestaes espritas que nos abalanamos a dizer que esta , justamente, umas das maiores provas de ser a doutrina esprita realidade de todos os tempos, base fundamental de tdas as religies, mau grado as restries que a deturparam (3).

    (3) Na China, por exemplo, a 3000 anos antes de Cristo o Espiritismo era praticado: uma prancheta era usada, nas cerimnias morturias, para receber as palavras do morto, dirigidas a seus descendentes. O culto dos antepassados fundamenral na China, Japo e outros pases orientais.

    E, quanto ao cristianiSmo, valendo-nos de um conceito de Leon Denis ele repousa sbre fatos de aparies e manifestaes de mortos e fornece imensas provas da existncia do mundo invisvel e das almas que o povoam.

    A Bblia, ela mesma, est cheia de semelhantes manifestaes, todas obtidas por meio da mediunidade.

    No Velho Testamento vemos os profetas, videntes e audientes inspirados, que transmitem ao povo a vontade dos Guias e, de tdas as formas de mediunidade parece mesmo que a mais generalizada era a vidncia.

    Samuel no captulo 9, versculo 9 assim o demonstra quando diz: Dantes, quando se ia consultar a Deus dizia-se vamos ao vidente; porque os que hoje se chamam profetas chamavam-se videntes.

    j de rigor citativo a consulta feita por Saul ao Esprito de Samuel, na gruta do Endor.

    As pragas que, segundo se narra, por intermdio de Moises, foram lanadas sbre o Egito; as maravilhas ocorridas com o povo hebreu no deserto, quando conduzido por sse grande Enviado, a saber; a labareda de fogo que marchava frente dos retirantes; o man que os alimentava; as fontes que jorravam recebimento do Declogo, etc., tudo so afirmaes, do extraordinrio poder medinico do grande fundador da nao judaica.

    Que maior exemplo de fenmeno de incorporao que o revelado por Jeremias o profeta da paz quando tomado pelo Esprito, pregava contra a guerra aos exrcitos de Nabucodonosor! E que outro maior de vidncia no tempo, que o demonstrado pr Joo escrevendo o Apocalipse!

    E como notvel de se observar que, nos remotos tempoS do Velho Testamento os fenmenos, em si mesmos, em quase nada diferiam, como dissemos, dos atualmente observados por ns!

    Basta citar os de transporte: Reis, captulo 6,versculo 6; os de levitao: Ezequiel, captulo 3, versculos 14 e 15, e Atos, captulo 8, versculos 39 e 40; os de escrita direta: xodo, captulo 32, versculos 15 e 16 e captulo 34, versculo 28.

    E to semelhantes eram as prticas antigas com as atuais que at mesmo a msica era empregada para a formao do ambiente. De fato vemos que o profeta EliseU reclamava um tangedor (harpista) para profetizar: 2 Reis 3, 15 e muito vulgar a citao da passagem em que David acalma e afasta os Espritos obsessores de Saul, tangendo sua harpa.

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    E a obscuridade era tambm, em muitos casos, exigida e Salomo, no ato de consagrar o templo que edificara, declarou significativamente: O Senhor tem dito que habitaria nas trevas 2 epstola aos Corntios, captulo 6, versculo 1 (4).

    (4) Salmos 67 e 68 Isaias, captulo 32, versculos 3, 15 e 44 Ezequiel, captulo 11, versculos 19, 36 e 37 Joel, captulo 2, versculo 28.

    No Novo Testamento, desde antes do Nascimento ento, as provas so ainda mais concludentes e notveis, maxim as de mediunidade curadora, o dom das lnguas, as levitaes e os fenmenos luminosos.

    Maria de Nazar no viu o Esprito anunciador? Jesus no foi gerado com interveno do Esprito Santo? E os milagres seus e dos apstolos?

    Voltando a citar Leon Denis, dle esta pergunta: os apstolos de Cristo foram escolhidos por serem sbios ou notveis ou porque possuiam qualidades medinicas ?

    Esses apstolos, como sabemos, e seus discpulos, durante o tempo de seus trabalhos, atuaram como verdadeiros mdiuns, bastando citar So Paulo e So Joo, um o mais dinmico e culto, outro o mais mstico.

    E justamente por exercerem francamente a mediunidade que sabiam de seus perigos, dos cuidados que sua prtica exigia e sbre isso constantemente chamavam a ateno de seus discpulos (5).

    (5) Joo, captulo 14, versculos 16, 17 e 26 Atos, captulo 1, versculos 2, 3, 5, 8, 9, 10, 11, 16. Captulo 2, versculos 4, 38 e 39. Captulo 4, versculo 31. Captulo 9, versculo 17. Captulo 10, versculo 44. Captulo 11, versculo 15. Captulo 13, versculo 52. Captulo 19, versculo 6. Captulo 20, versculo 23 Romanos, Captulo 5, versculos 5, 15 e 19 Corntios 12.

    So Paulo dizia: Os espritos dos profetas esto sujeitos aos profetas; e So Joo ajuntava: Carssimos, no creiais em todos os espritos mas provai que os espritos so de Deus. Advertiam, assim, contra a ao do espritos obsessores e mistificadores.

    Era to comum a mediunidade entre os primitivos cristos que instrues escritas eram enviadas s comunidades das diferentes cidades para regular a sua prtica; e essas instrues foram sendo, com o correr do tempo, enfeixadas em livros para melhor conservao.

    Hermas, que evangelizou no tempo de So Paulo adquirindo grande e justa autoridade, em seu livro O Pastor dizia: O esprito que vem da parte de Deus pacfico e humilde; afasta-se de tda a malcia e de todo vo desejo dste mundo e paira acima de todos os homens. No responde a todos que o interrogam nem s pessoas em particular porque o esprito que vem de Deus no fala ao homem quando o homem quer, mas quando Deus o permite. Quando, pois, um homem que tem o esprito de Deus, vem assemblia dos fiis, desde que se fz a prece, o esprito toma lugar nesse homem que fala na assemblia como Deus o quer. Reconhece-se ao contrrio o esprito terrestre, frvolo, sem sabedoria e sem fra, no que se agita, se levanta e toma o primeiro lugar. importuno, tagarela e no profetiza sem remunerao. Um profeta de Deus no procede assim.

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    Estas instrues, dadas h sculos, como se v, continuam com plena oportunidade ainda hoje, at mesmo no que se refere ganncia de alguns e vaidade de muitos.

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    Essas manifestaes de mediunidade pblica continuaram a se dar at quando foi possvel porque, medida que o cristianismo foi-se transformando em religio oficial foi perdendo sua espiritualidade e ganhando carter mundano; e a partir do concilio de Nica, em 325, formaram-se duas correntes opostas, uma querendo permanecer no cristianismo primitivo e outra se esforando por progredir no mundo dos homens. A partir da a Igreja mais tarde chamada catlica-romana, esquecendo, por seus continuadores, trs sculos de vida exemplar e repudiando os ensinamentos do Mestre no seu verdadeiro sentido, consorciou-se com as fras do mal para obter, como obteve, o domnio do mundo pelo poder temporal.

    Essa igreja, tornada ento toda poderosa pela oficializao que lhe outorgou Constantino, declarou que a mediunidade era ilegal, hertica, obra de magia, obra demonaca e entrou, em consequncia, a mover-lhe sistemtica perseguio.

    Renegou todos os atos medinicos praticados por Jesus e seus discpulos que os farizeus do Sindrio, j a seu tempo, taxavam de prticas do demnioe nisso foi coerente consigo mesma porque, tendo criado o seu sistema fechado de dogmas obscurantistas e privilgios sacerdotais, verificou que o exerccio pblico da mediunidade viria derrur, solapar pela base o edifcio material que estava laboriosa e ardilosamente construindo para con-solidar seu poderio avassalador.

    Apesar dos testemunhos e dos protestos apresentados sincera e honestamente por vrios de seus prprios luminares, como So Gregrio de Nissa, S. Clemente de Alexandria, So Thomaz de Aquino, Santo Agostinho e outros, que admitiam e praticavam o mediunismo, no voltou atrs e durante sculos procurou, como at hoje procura, freiar o pensamento e o esprito de compreenso dos fenmenos medinicos, perseverando nos propsitos iniciais.

    Criou assim uma poca muito extensa de obscurantismo, durante a qual tudo foi empregado para destruir a revelao divina: o dio, a vingana, a perseguio e a morte pelo ferro; pelo fogo, pelo veneno, pela espada.

    A Idade Mdia foi o perodo perfeito dessa verdadeira noite espiritual. Como consequncia dessa situao de terror oficializado, os crculos que

    cultivavam a espiritualidade pura foram se fechando, se restringindo, desaparecendo e a palavra da Verdade somente podia ser transmitida em segrdo, de bca para ouvido, em sussurros dbeis, numa forma tal que, realmente, nunca mais pde ser derramada livremente em grande parte do mundo.

    At mesmo nos rituais das igrejas encontrava-se esta orao de recitao obrigatria: Afugentai, Senhor, todos os espritos malignos, todos os fantasmas e todos os espritos que batem.

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    Ora, com o evolver das coisas e como era natural, todos aqueles, de esprito no fanatizado e mais liberal, amantes do progresso, no encontrando, nesses cultos assim organizados, nada que lhes satisfizesse a razo e os sentimentos, descambaram para o materialismo e, obscuridade do fanatismo sucedeu a da descrena.

    A cincia estava tomando p e tentando quebrar os jugos que a escravizaram at ento e o mundo precisava mesmo de uma renovao para caminhar em melhores condies.

    Surgiram nessa poca as filosofias naturalistas, realistas, baseadas na Razo, a cuja frente se puseram os chamados enciclopedistas, que produziram uma verdadeira revoluo no pensamento; e solapado ento por essas novas concepes teoristicas, o mundo entrou a sofrer abalos profundos que, em breve, degeneraram em tremenda convulso social precursora, como sempre acontece, de acelerado movimento evolutivo.

    Ao terror do fanatismo religioso sucedeu o da vingana popular desenfreada e, no cadinho daquela dura provao, os destinos do mundo entraram de novo a ser fundidos.

    E foi ento que os Espritos Diretores tiveram de intervir novamente para orientar o movimento e impedir que as paixes desencadeadas ultrapassassem os limites permitidos, prejudicando o progresso geral ou retardando-o demasiadamente.

    Entraram a agir de forma enrgica e positiva lanando em campo os elementos j de antemo preparados e dispostos nos setores mais convenientes.

    Isso sucedeu no sculo findo, bem nos nossos dias e em diferentes lugares ao mesmo tempo mas, notadamente, na Amrica do Norte, onde fenmenos objetivos e por si mesmos impressionantes se revelaram, chamando a ateno do mundo.

    verdade que ao tumulto causado pela exploso das massas o Positivismo viera trazer uma certa derivao, metodizando o pensamento e orientando o raciocnio no sentido da justia e da moral, mas, o que os Guias queriam era focalizar o aspecto nitidamente espiritual da vida, sobrelevante do material ou especulativo para os quais, no momento, tdas as fras vivas do homem se inclinavam.

    E isso les o conseguiram eficientemente porque o interesse despertado por essas manifestaes do chamado sobrenatural, foi considervel; tdas as classes intelectuais se movimentaram e a sbios de indiscutvel autoridade foi cometida a incumbncia de examinar o assunto luz da cincia contempornea.

    E ento, para facilitar sse exame, os Espritos Diretores determinaram o aparecimento de mdiuns de ampla capacidade, com o que visavam tambm concorrer para que tais trabalhos resultassem concludentes e categricos.

    sses mdiuns que eram, realmente, excepcionais, submeteram-se a tda espcie de controle e os relatrios firmados por comisses cientficas da Amrica, Inglaterra, Frana, Itlia e Alemanha, foram acordes em reconhecer que a vida realmente continuava alm do tmulo e que era inegvel o intercmbio entre vivos e mortos.

    Essa foi a misso de Kardec o Codificador e dos notveis espritos de Crookes, Ochorowiez, Du Prel, Lombroso, Myers, Steed, Flamarion, Leon Denis, Aksakof, Notzing, seguidos logo de Lodge, Richet, Doyle, Geley,

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    Bozzano e Delane, para citar somente os mais conhecidos. E assim, com o auxlio dsses sbios, foi posto freio ao materialismo

    dominante, dada nova orientao ao pensamento religioso e a verdade que, at hoje, o impulso dado naquela poca vem crescendo de vulto e velocidade produzindo um triplo resultado: a derrota. do materialismo estril, a destruio do fanatismo religioso medieval e a implantao dos fundamentos da verdadeira espiritualidade.

    O mundo desde ento evoluiu mais depressa, numa fermentao interior e silenciosa, cujos efeitos sentiremos em tempos muito prximos, no remate dste fim de sculo com o advento do terceiro milnio.

    Os cientistas e os mdiuns foram, inegvelmente, os artfices materiais dessa grande vitria.

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    4 EVOLUO DA MEDIUNIDADE

    A sensibilidade evolui com o sr no terreno moral, que se completa durante a evoluo, com a conquista da sabedoria.

    medida que vai adquirindo virtudes no campo do sentimento vai tambm o esprito, atravs das vidas sucessivas, aumentando seu cabedal de conhecimentos sbre a vida, a criao, as fras e as leis que as regem.

    O conhecimento atual porm ainda restrito porque estamos, em relao ao Universo, muitos baixos na escala; o homem vai aprendendo mui lentamente, usando da razo e dos sentidos fsicos, mas estaca sempre nas fronteiras do mundo hiper-fsico porque, para penetrar a, necessita de elementos de outro campo, nem sempre conciliveis com o intelecto utilitrio e objetivador.

    As vidas sucessivas em diferentes planos, com permanncia mais ou menos demorada nos planos etreos, so-lhe de grande auxlio, mormente quando j tenha le sua conscincia espiritual despertada para essa compreenso.

    Tda vez que morre encarnando, ou ressuscita desencarnando, descendo nas sombras da matria pesada, ou renascendo nas claridades da luz, o homem sempre realiza provas, adquire conhecimentos novos e progride, porque a vida no pra, movimento ascensional permanente, no campo da eternidade imvel.

    Para as experincias no terreno material bastam a inteligncia e os sentidos fsicos mas, para as do campo espiritual, necessita faculdades outras, mais elevadas e diferentes, colocadas acima da Razo e j pertencentes ao mundo hiper-fsico.

    So as do campo medinico. Para conhecer as coisas do mundo visvel e descobrir os segredos da

    natureza material, Deus deu ao homem a vista corprea, os sentidos e instrumentos especiais. Assim, com o telescpio projeta seus olhares nas profundezas dos espaos e com o microscpio descobriu o mundo dos infinitamente pequenos.

    Para penetrar o mundo invisvel deu-lhe a mediunidade. Sua misso santa porque sua finalidade rasgar os horizontes da vida eterna (6).

    (6) Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo.

    A sensibilidade individual, desenvolvida alm dos limites considerados comuns, resulta na faculdade de ver coisas que os outros no vm, ouvir o que no normalmente ouvido, sentir de modo anormal e produzir fenmenos considerados absurdos em face ds leis gerais de julgamento e anlise. preciso enfim que o indivduo seja considerado um desequilibrado, segundo o modo de entender dos leigos e dos pretensos sbios. Nos homens primitivos, que viviam ainda muito pelo instinto, a sensibilidade no ia alm da epiderme e agia somente nos limites do ambiente prprio, para a mantena da vida: calor, frio, fome, terror, sexo... Depois passou o homem a compreender a natureza externa, naquilo em que ela influa diretamente na vida pessoal do sr. Em seguida avanou um pouco e descobriu as relaes existentes entre

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    as coisas e os sres vivos e consequentes reaes. Sentiu o vento e no mais se atemorizou; viu a chuva e a abenoou; produziu o fogo e aqueceu-se nle. Aplicou-se mais e promoveu a ligao entre as greis, as comunidades e as raas, iniciando assim os primeiros passos no terreno da coletivizao; sentiu os reflexos e as consequncias da vida social e esboou ento os primeiros rudimentos das leis. Desenvolveu-se ainda e compreendeu a expresso simblica da Natureza, como demonstrao visual do divino poder, esboando assim seus primeiros gestos nos domnios da arte e da beleza. De esforo em esfro, passo a passo, avanando por milmetros, assim vem sendo at hoje quando, j evoludo a um grau mais avanado, inquietando-se com o sofrimento alheio, organizando a vida social em padres mais justos e legislando com maior expresso fraternal, vai agora francamente a caminho de um mundo renovado, em bases aproximadoras do ideal evanglico. E tende a prosseguir Num grau acima o sensitivo, j como um homem renovado, penetrar nos mundos alm-matria, surpreendendo seus aspectos, movimentos e habitantes e, mais alto ainda, devassar os mundos espirituais completamente vedados aos olhos e compreenso humana atuais, rematando enfim sua viso superior na contemplao do Cosmo, sentindo sua pulsao, sua beleza, sua grandiosidade e sua admirvel unidade eterna.

    * * *

    O desenvolvimento das faculdades do esprito tende pois revelao das coisas divinas, em todos os seus aspectos e graus e exemplificao de suas leis na vida comum. Hoje os Guias lanam mo de faculdades de emprstimo para algumas dessas revelaes e para demonstrao de fenmenos ainda considerados sobrenaturais mas, futuramente a humanidade, devidamente evoluda, far o homem instrumento pleno e consciente das realidades espirituais aplicadas vida coletiva.

    So mdiuns todos os profetas, instrutores de Verdades e tambm o so todos aqueles que as vivem, porque por seu intermdio que tais verdades caminham, tomam corpo e se realizam.

    A mediunidade, pois, no um fenmeno individual, restrito ao homem, privilgio de uns e outros, mas um fato universal, comum a tda criao divina, no sentido de que as partes dessa criao se manifestam umas s outras e reciprocamente se revelam a sntese divina que representam e a essncia universal que nelas se contem.

    Assim como os sres se manifestam uns aos outros, Deus se manifesta aos homens por meio de sua Criao, e disso se conclui que tdas as coisas e sres so fenmenos de intermediarismo.

    O esprito criado, posto frente desse simbolismo natural, executa tambm, penetrando nle com a sua inteligncia, ou pela revelao, um fenmeno medinico: o reconhecimento do Criador presente e expresso em sua criao.

    A mediunidade pois um fenmeno natural e se realiza em todos os graus da hierarquia da criao, numa escala que vai do verme aos anjos, tudo e

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    todos reciprocamente se manifestando e dando testemunho de si mesmos. Assim, Jesus Cristo foi, inegvelmente, o mdium de Deus junto aos homens, manifestando, transmitindo e realizando suas vontades divinas.

    Para rematar diremos que, como tudo o mais, a mediunidade evolui. Seus aspectos podem ser aparentemente os mesmos, porque neste mundo de matria pesada as relaes com os planos espirituais seguem determinados padres invariveis; os processos no mudam muito, porm as faculdades se dilatam e atingem cada vez horizontes e extenses mais amplos.

    A mediunidade natural, sendo um sinal de desdobramento ou apurao de sensibilidade, d ao indivduo mais amplo conhecimento do mundo material em que vive e ao mesmo tempo lhe proporciona conhecimentos mais ou menos dilatados dos planos de vida situados em outros mundos.

    Em qualquer ponto, portanto, do Universo em que esteja o indivduo, ela se exerce com as mesmas caractersticas e consequncias sendo, pois, como dissemos, um fenmeno de constatao e aplicao universais.

    Quanto maior o grau, o ndice dessa sensibilidade tanto maior a intuio e, consequentemente, tanto maior o campo que o indivduo abrange na percepo dos fenmenos e dos aspectos da vida csmica. A natureza um maravilhoso e amplo campo de manifestaes fenomnicas ainda muito pouco penetrado pelo nosso rudimentar conhecimento. Um exemplo tpico dessa mediunidade natural pode ser encontrado na pessoa do mdium Pietro Ubaldi, por cujo intermdio recebemos A Grande Sntese. Ele assim explica como adquiriu suas faculdades, no prembulo de As Trs Mensagens: - Devo esta comunicao a uma mediunidade, cujo surto se produziu aps longa maturao, conseguida a poder de estudos, de renncia material e de desenvolvimento moral. Observei que o progredir para a perfeio moral representa condio necessria ao desenvolvimento dste gnero de mediunidade, exclusivamente espiritual. Ele diz mediunidade exdusivamente espiritual para explicar que suas faculdades no so semelhantes quelas que muitos adeptos da doutrina esprita classificam como fenmeno orgnico, coisa pertencente ao corpo fsico, e essa distino que faz corrobora nitidamente e plenamente justifica o modo por que encaramos a mediunidade em sentido geral, separando a mediunidade conquista da mediunidade-prova. E Ubaldi acrescenta: Tornei-me mdium imprevistamente h 19 anos, quando com-pletei 45. A preparao cultural que me levou a isso foi, at aos 45 anos, uma vida de sofrimentos tremendos, suportados no isolamento e no silncio, desprezado por todos. A dor o maior livro da vida, aquele que nos revela a verdadeira cincia, porque atravs dela se chega a ouvir a voz de Deus. Inexperiente nestes assuntos, prossegue le, de princpio classifiquei ste meu novo estado, de mediunidade. Mas depressa reparei que nunca caa em transe e que no era instrumento passivo e inconsciente. Classifiquei-o ento como mediunidade ativa e consciente, depois ultrafania isto : captao das correntes do pensamento (Nouri) e, por fim, inspirao. O meu fenmeno no inato mas sim maturao biolgica, como o desenvolver da criana que se torna homem.

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    Assim o meu primitivo estado, chamado medinico, transformou-se num estado de inspirao que se assemelha ao misticismo dos seres para quem tudo isso apenas um meio de cumprirem a sua misso para o bem neste mundo. E acrescenta: Por certo que esta no a mediunidade fsica que despreso, porque o meu alvo a ascenso moral at ao fim da vida e na mediunidade fsica em geral no se manifestam os santos, mas sim os espritos inferiores. A fonte inspirativa e o mtodo de inspirao so a origem das minhas obras.

    * * *

    H individuos que vivem aqui na Terra vendo da matria s-mente os aspectos mais objetivos e grosseiros e no tm percepo alguma de sua transitoriedade. Para les o mundo material definitivo e estvel e por isso se vinculam fortemente a le, fazem parte integrante dle e nada compreendem ou sentem fora ou alm dle.

    Para tais indivduos uma laranja unicamente uma fruta que se come, e um vaso com lindas rosas nada mais que um simples ornamento.

    O sentimento somente os interessa na parte que corresponde s suas prprias paixes ou comodidades e no se preocupam em conhecer-lhe as origens ou causas espirituais.

    Mas h outros, j mais evoluidos, para os quais a sensibilidade se estende e amplia, permitindo compreender, sentir e penetrar mais fundo nas coisas que os rodeiam, descobrindo-lhes a beleza, o sentido moral, a significao espiritual.

    E outros, ainda mais sensveis, que devassam esferas alm do mundo ambiente, penetram seus detalhes, surpreendem seus aspectos e sentem a presena da divindade em tda a criao.

    Se para uns a sensibilidade se resume em ouvir o zumbido imperceptvel de um inseto, para outro vai ao ponto de perceber, como se costuma dizer, a sinfonia das esferas.

    Sempre e sempre uma questo de grau na capacidade de percepo ntima, que deriva de maior ou menor adiantamento espiritual.

    Por isso as escolas do mundo antigo, em seus cursos iniciticos, tentavam sempre o despertamento e o desenvolvimento de faculdades psquicas para que, por meio delas, fsse adquirido um conhecimento mais exato do universo criado e da prpria alma humana, nas suas ligaes entre si e com a divindade.

    Formavam mdiuns, mesmo que tal coisa no pretendessem como ns o entendemos hoje, e sempre e somente com auxlio de faculdades medinicas que conseguiam obter efeitos concretos no campo das realizaes prticas.

    Para isso submetiam o nefito a um aprendizado custoso e a um regime duro de sacrifcios e renncias, para purificar o esprito e lesprend-lo das coisas do mundo; sabiam que para apurar a sensibilidade~ era necessrio abater ou, pelo menos, disciplinar as paixes animais, governadas pelo instinto.

    Mas, com o transcorrer do tempo, o sistema clssico das iniciaes foi sendo posto de lado, porque os resultados eram sempre precrios; raros aqueles que conseguiam atingir os objetivos visados e, como consequncia natural, o conhecimento passou a ser em sua maior parte intelectual e terico, sem nenhuma realizao aproveitavel no terreno prtico.

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    claro que os que possuem hoje sensibilidade j evoluda colhem o que plantaram em vidas anteriores, recebem o resultado, das experincias que j realizaram, das provas que suportaram, e seu nmero restrito. So sses os que sem a coaco da dor adotam mais depressa e sem discusso ou vacilaes os ensinamentos da Terceira Revelao porque j tm, para as verdades que ela prega, mais ou menos acentuada afinidade espiritual. Mas, como estamos vendo, a grande maioria dos homens, que no tiveram ainda sua ateno despertada para essas verdades, as nicas capazes de reform-los moralmente, permanece a margem da extensa renovao espiritual que se est processando no planeta. So ainda fortemente animalizados e para les a vida se resume na satisfao das. paixes do instinto. A meta, para les, ainda no est visvel. De quase nada lhes valem os esforos, sacrifcios e dedicao dos companheiros encarnados e desencarnados que se inquietam com sua posio de inferioridade evolutiva, porque se fazem surdos, cegos e impermeveis a todo esfro de esclarecimento. Representam um elemento de estagnao, de parada, de retardamento para a evoluo da espcie. O Umbral e as Trevas so ainda suas moradias naturais. Para les os aoites da Providncia esto sempre vibrando e vibraro at que sejam atingidos os limites da prpria obstinao e, esgotados ento todos os recursos da tolerncia divina, restar o remdio herico da rejeio para mundos inferiores onde a vida do Esprito exilado deve ser horrorosamente edificante. E esse trabalho j est sendo feito.

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    5 MEDIUNIDADE DE PROVA SEUS ASPECTOS

    J sabemos que a mediunidade problema complexo no que se refere s suas manifestaes e natureza podendo, por isso, ser encarada sob vrios pontos de vista. Quanto sua razo de ser, todavia, afeta somente dois aspectos que so fundamentais e originalmente opostos, a saber: ou faculdade prpria do esprito, conquista sua, quando j adquiriu possibilidades maiores, quando atingiu graus mais elevados na escala evolutiva, ou capacidade transitria, de emergncia, obtida por graa, com auxlio da qual o Esprito pode apressar sua marcha e redimir-se.

    No primeiro caso, o Esprito, j convenientemente evoludo, senhor de uma sensibilidade apurada que lhe permite vibrar normalmente em planos superiores, sendo a faculdade puramente espiritual.

    No segundo caso foi fornecida ao mdium uma condio psicosomtica especial, no hereditria, que lhe permite servir de instrumento aos Espritos desencarnados para suas manifestaes, bem como demonstrar outras modalidades da vida espiritual.

    Conquanto os efeitos sejam, nos dois casos, mais ou menos semelhantes, diferentes so todavia as causas e os valores qualitativos das faculdades.

    Como a maioria dos mdiuns pertence a esta segunda categoria, vamos em seguida nos deter mais demoradamente em seu estudo.

    Em sua trajetria evolutiva o Esprito, como dissemos, se purifica, se aperfeioa, aumenta sua sensibilidade e adquire cada vez maiores, mais altas e mais amplas faculdades psquicas.

    Essa a lei natural. Porm estamos cansados de ver indivduos moralmente retardados, de

    sentimentos imperfeitos, que possuem faculdades medinicas das mais diversas naturezas.

    Se a posse de faculdades decorre de elevao espiritual, como podem tais indivduos possu-las enquanto outros, evidentemente mais adiantados, no as possuem?

    Que sucede nestes casos? Alteraes dessa lei geral? Anomalias? Previlgios? Nada disso. Somente ocorrncia de uma forma de mediunidade que

    chamarei, como j disse, DE PROVA isto , posse de faculdades no prpriamente conquistadas pelo possuidor, fruto de sua superioridade espiritual, mas ddiva de Deus, outorga feita a uns e outros em certas circunstncias e ocasies para que, no seu gzo e uso, tenham oportunidade de resgatar dvidas, sair de um ponto morto, de um perodo de estagnao, de um letargo ruinoso, despertando assim para um novo esfro redentor.

    Recebendo essa prova da misericrdia de Deus, concedida quase sempre pela intercesso de Espritos amigos interessados no seu progresso ou a pedido prprio (7),

    (7) A reencarnao, para a maioria dos Espritos inferiores, padronizada e compulsria, porm para mdiuns e Espritos mais esclarecidos cada caso estudado e providenciado individualmente, com assistncia do interessado.

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    de duas uma; ou o beneficiado cumpre eficientemente a tarefa retificadora e, neste caso, sobe um degrau na trajetria espiritual, ou fracassa e ento sofre as consequncias naturais de sua obstinao ou fraqueza.

    Em seu livro Nos Domnios da Mediunidade Andr Luiz tambm confirma integralmente o trmo mediunidade de prova proposto por ns desde 1945 quando diz pgina 76:

    Ningum pode avanar livremente para o amanh sem solver os compromissos de ontem. Por sses motivos Pedro traz consigo aflitiva mediunidade de provao.

    E mais adeante: Mdiuns repontam em tda parte, entretanto raros j se desvencilharam do passado sombrio para servir no presente causa comum da humanidade, sem os enigmas do caminho que lhes particular.

    Essas consequncias so tdas de ordem moral e representam sempre um retardamento na marcha ascencional do Esprito que dever ento tentar de novo e agora em condies mais desfavorveis e custosas.

    A posse dessas faculdades de prova dada a muitos Espritos em determinadas pocas, entre outras quando, por exemplo, os Guias do Mundo necessitam promover no seio da humanidade determinados efeitos, movimentos de compreenso mais enrgicos, impeli-la mais decisivamente para novos rumos ou chamar a ateno para determinados aspectos da vida espiritual, necessrios regularidade da marcha evolutiva.

    Ento legies de Espritos recebem essa possibilidade, essa chance e reencarnam na posse de faculdades que por si mesmos no conquistaram, faculdades de emprstimos, se podemos assim dizer, e que devem devolver na forma de bom trabalho realizado e de aproveitamento prprio.

    Produz-se assim uma generalizao, um derrame de dons medinicos que fortemente atuam sbre os Espritos endurecidos ou incrdulos, fomentando no meio social coletivo modificaes irresistveis do ponto de vista moral ou religioso.

    E sse acontecimento plenamente justificvel e apropriado porque as massas humanas, desviadas quase sempre das coisas divinas, somente por efeito do chamado sobrenatural se detm, meditam e se reformam.

    * * *

    Basta alis se olhar para a histria da vida humana para compreender isso. Tda vez que preciso chocar a opinio, interessar os homens nas prticas religiosas, modificar-lhes os sentimentos e impulsion-los para a espiritualidade, vive-se uma poca de milagres. Assim foi, mesmo no recuando muito no tempo, quando se tornou necessrio estabelecer na Terra uma religio tipicamente monoteista:

    O homem dos milagres foi Moiss. Dezesseis sculos depois, quando novo impulso dever ser dado e

    plantados mais fundamente os alicerces da verdade eterna, nova poca surgiu com o prprio Mestre e seus discpulos. E agora quase vinte sculos depois, para oferecer aos homens maiores detalhes e conhecimentos mais objetivos da vida espiritual superior, repetem-se os mesmos fatos com o Espiritismo, e os milagres se desdobram surpreendentemente, com tendncia ainda a se tornarem mais generalizados.

    E aqui convm relembrar que todos os chamados milagres so fenmenos

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    provocados atravs de dons medinicos. Por isso, j que so poucos os homens que possuem faculdades prprias,

    os Guias do Mundo lanam mo dos mdiuns de prova, isto , de faculdades de emprstimo, para promoverem os fenmenos desejados e obterem os resultados necessrios; e, no momento que vivemos, o que se visa obter, como sabemos preparar o maior nmero possvel de Espritos encarnados para o advento de um mundo renovado que est bem prximo.

    Feito o aplo nas esferas da erraticidade e exposta a situao muitos, de sua prpria vontade e outros, como j dissemos, por intercesso de amigos espirituais, obtm a merc de cooperao nesse trabalho sagrado e legies, ento, baixam ao planeta dispostas ao esfro redentor; e por isso consta que as manifestaes, hoje, como nos dias da Codificao, so mais ou menos uniformes e sistemticas, obedecendo a um plano determinado.

    Eis aqui o que, a respeito desta forma de mediunidade, diz o iluminado Esprito, Emanuel (8):

    (8) Psicografia de Francisco Cndido Xavier.

    Os mdiuns, em sua generalidade, no so missionrios, na acepo comum do trmo: so almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram sobremaneira o curso das leis divinas e que resgatam, sob o pso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso, O seu pretrito, muitas vzes se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre so Espritos que tombaram dos cumes sociais pelo abuso do poder, da autoridade, da fortuna e da inteli-gncia e que regressam ao orbe terrqueo para se sacrificarem em favor do grande nmero de almas que desviaram das sendas luminosas da f, da caridade e da virtude. So almas arrependidas, que procuram arrebanhar tdas as felicidades que perderam reorganizando, com sacrifcis, tudo quanto esfacelaram nos seus instantes de criminosas arbitrariedades e de condenvel insnia.

    E em outro ponto: Mdiuns, ponderai as vossas obrigaes sagradas. Preferi viver na maior das provaes a cairdes na estrada larga das

    tentaes que vos atacam, insistentemente, em vossos pontos vulnerveis. Recordai-vos de que preciso vencer se no quiserdes soterrar a vossa

    alma na escurido dos sculos de dor expiatria. Aquele que se apresentar no espao como vencedor de si mesmo maior

    que qualquer dos generais terrenos, exmios na estratgia e no tino militares. O homem que se vence faz o seu corpo espiritual apto a ingressar em

    outras esferas e, enquanto no colaborardes pela obteno do organismo etreo, atravs das virtudes e do dever cumpridos, no saireis do crculo doloroso das reencarnaes.

    Andr Luiz, em Missionrios da Luz, 3 Captulo, transcrevendo as explicaes do instrutor Alexandre, sbre os mdiuns, diz o seguinte:

    verdade que sonham edificar maravilhosos castelos sem base; alcanar imensas descobertas exteriores sem estudarem a si prprios; mas gradativamente, compreendero que mediunidade elevada ou percepo edificante no constituem atividades mecnicas da personalidade e sim conquistas do esprito, para cuja consecuo no se pode prescindir das

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    iniciaes dolorosas, dos trabalhos necessrios, com a auto-educao sistemtica e perseverante.

    Com estas duas transcries fica bem patente o acrto e a realidade da diviso que fizemos em 1945 da mediunidade em DE PROVA e NATURAL, uma concedida como ferramenta de trabalho comum e outra como conquista do esprito de evoluo mais avanada.

    VALORES MEDINICOS

    O valor medinico e sua natureza, residem no grau ou na qualidade da sensibilidade orgnica possuda pelo mdium, no tom, vamos dizer assim, em que a harpa humana foi afinada.

    A Terra um mundo inferior e os Espritos que aqui vm, forosamente comparticipam dessa inferioridade, salvo raras excees.

    E os mdiuns no se excluem dessa regra geral mas, muito ao contrrio, do-lhe maior evidncia.

    A mediunidade da maioria, portanto, sendo uma marca de inferioridade, de retardamento, de imperfeio, indica que sses mdiuns possuem tonalidade baixa, vibrao lenta, luz vaga e imprecisa, sensibilidade grosseira, somente podendo afinar-se com elementos de igual espcie e condies, isto , com fras e entidades de planos inferiores.

    Decorrentemente, o intercmbio que por les se estabelece com o invisvel de valor espiritual inferior ou, na melhor das hipteses, mediocre. Por isso que os mdiuns de alto valor so raros.

    Se dividirmos os mdiuns em trs categorias, correspondentes a trs valores qualitativos veremos logo que os da primeira categoria bons so raros; os da segunda mdios, so comuns; e os da terceira maus so maioria.

    claro que no estamos subestimando ou desmerecendo aos mdiuns pessoalmente mas, simplesmente, classificando-os segundo seus valores medinicos; todos nos merecem o maior respeito e suscitam em ns, pela prpria natureza edificante de suas tarefas, os melhores sentimentos de afeto e solidariedade.

    Essa condio generalizada de inferioridade espiritual tambm a razo por que a mediunidade de prova traz consigo sse cortejo doloroso de perturbaes fsicas e psquicas que lhes transforma a vida muitas vzes, em longo e sagrado martrio.

    ainda a razo por que a faculdade no , na maioria dos casos, estvel, permanente, segura, mas flutuante, incerta e alternativa, sofrendo altos e baixos, acusando perodos de estagnao ou recrudescimentos mais ou menos prolongados.

    E nem podia deixar de ser assim porque esta mediunidade de prova em si mesma, como j vimos, posse transitria, outorgada ao Esprito culposo por tempo determinado e para determinado fim.

    E, como natural, os prprios protetores individuais dsses mdiuns, possuem qualidades correspondentes, esto mais ou menos em igualdade de condies, muito embora no desempenho de tarefas teis e na posse, como lgico, de um certo adiantamento ou superioridade espiritual sbre aqueles que protegem ou auxiliam; como cooperadores de entidades mais elevadas, que dirigem agrupamentos e servios mais amplos e importantes, cumprem les

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    assim tambm seu dever e obtm por sse modo oportunidade de, a seu turno, melhorarem e evoluirem.

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    6 CONTROLE DA MEDIUNIDADE

    Conquanto se possa, dentro de limites razoveis, exercer contrle sbre os mdiuns, desde o incio do desenvolvimento, orientando-os moralmente, esclarecendo-os sbre a maneira mais perfeita de exercerem as faculdades que possuam, ou, noutro sentido, impedindo ou reduzindo ao mnimo as possibilidades de mistificao, de quedas e fracassos, j o mesmo no sucede em relao s faculdades em si mesmas, porque seu domnio nos escapa.

    No h processo algum que se possa empregar, de forma sistemtica e ao alcance de todos, que realmente inspire confiana e represente segurana para enfrentar os mltiplos e complexos aspectos que a mediunidade constantemente nos apresenta na prtica.

    Apesar do avano extraordinrio da cincia e porque este avano ainda no se deslocou do terreno material, o intercmbio entre os mundos fsicos e hiperfsicos continua a depender inteiramente da faculdade medinica e, se o Espiritismo, com a Terceira Revelao, levantou grande parte do velrio misterioso que a sse intercmbio se opunha, criando um corpo de doutrina perfeito e francamente acessvel, nem por isso conseguiu estabelecer condies positivas dsse contrle.

    Quero dizer que, tericamente, tudo compreensvel, aceitvel, perfeito mas, quanto prtica, quanto execuo, no h ainda elementos seguros e ao alcance de todos que permitam um procedimento comum, sistematizado, standard.

    Nunca se pode saber com exatido, qual o caminho a seguir, em partindo de um ponto dado, para atingir outro ponto determinado, com segurana e uniformidade. H sempre imprevistos, retardamentos ou aceleraes, desvios ou flutuaes de tda sorte.

    Por mais aprofundados que sejam os estudos ou a observao de determinado problema, surge um momento em que le nos escapa, foge-nos das mos, sofre interferncias, remonta a planos onde no podemos ter acesso.

    Se apurarmos o contrle em trno ao mdium, muitas vzes sucede que a soluo passa a depender do Esprito ou Espiritos manifestantes e, se tentamos controlar a stes, fica-nos o problema ainda mais difcil por impossibilidades que decorrem da diferena de planos ou por carncia de elementos objetivos de observao.

    E isso sempre sucede de maneira a no podermos afirmar nem negar, por falta de dados positivos, do que resulta ficarmos sempre com o nosso julgamento em suspenso.

    E aqueles que, por se julgarem mais argutos ou mais ousados, formularem julgamentos radicais tero o desprazer de verificar, mais hoje mais amanh, que foram precipitados e cometeram erro.

    No estamos, claro, nos referindo aos fenmenos, s manifestaes dos Espritos, sbre os quais estamos seguros, podendo mesmo classific-los segundo seus aspectos, mas sim mediunidade em si mesma e s suas manifestaes atravs os mdiuns.

    No se venha tambm, do que fica dito, concluir falsamente que o Espiritismo um terreno movedio, instvel, desorientador o que todos sabem que no mas admitir, isto sim e prudentemente que, quanto mediunidade, ns

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    constatamos sua existncia e utilizamo-la sem contudo possuirmos em mos as rdeas que a dirigem.

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    7 SENSIBILIDADE INDIVIDUAL

    J falamos da sensibilidade de um modo geral e agora vamos estud-la mais particularizadamente e de um ponto de vista mais cientfico.

    Existem o mundo fsico e o mundo hiperfsico, e as diferenas entre as diversas manifestaes de Matria, Energia e Esprito, resultam de ordens variveis de vibraes.

    No universo tudo vibra e se transforma ora involuindo: Esprito para Energia Energia para Matria; ora evoluindo: Matria para Energia Energia para Esprito. E nessa perene tansformao os mundos se entrelaam harmoniosamente, formando um todo uno e indivisvel.

    Voltando ao fsico e ao hiperfsico, quando as vibraes entre os dois mundos se equilibram, se sintonizam, ligaes ntimas se estabelecem, em maior ou menor ressonncia. E essa sintonia, quando se verifica entre habitantes dsses mundos, permite, como natural, intercmbio entre essas entidades.

    Pois, a faculdade de oferecer tal sintonizao que constitui o que chamamos mediunidade. E todos ns possuimos essa faculdade em maior ou menor grau, porque viemos da mesma origem, temos a mesma constituio e caminhamos para o mesmo fim. Todos ns oferecemos essa possibilidade, que tanto mais ampla e perfeita se torna quanto mais alto subimos e disso se conclui, portanto, que a faculdade medinica espiritual e no material.

    verdade que o que se julga coisa diferente, sendo, para muitos, ponto assente que a mediunidade fenmeno orgnico. Mas acreditamos que isso seja resultado de haverem encarado o problema somente do ponto de vista objetivo e no sob o transcendente.

    Andr Luiz que reputamos grande autoridade sbre realidades da vida espiritual afirma o seguinte: mediunidade no disposio da carne transitria e sim expresso do esprito imortal.

    Admitindo-se, porm, que a sede dessas faculdades no est situada no corpo fsico mas, sim, no corpo etreo (9),

    (9) Corpo etreo duplicado fsico formado pelas emanaes fludicas dos citoplasmas.

    isto , que no se exercem pelos rgos dos sentidos fsicos mas, sim, pelos rgos dos sentidos psquicos, fica-se com o assunto desde logo esclarecido.

    Ora, se todos somos mdiuns, sensveis porm em maior ou menor grau a vibraes de outros planos, o primeiro sintoma, vamos dizer assim, dessa faculdade ser a sensibilidade individual.

    Prosaicamente admitimos que um indivduo rude, pesado, macio, sente menos, isto menos sensvel ou, melhor, menos sensitivo que outro de constituio mais delicada.

    admissvel tambm que um lutador de box seja menos sensvel que um poeta um pintor, verdadeiramente artista, muito mais influencivel pela beleza das coisas, que um magarefe; um pensador mais que um gangster...

    Isto no quer dizer, bvio, que determinadas profisses afastem a possibilidade medinica mas sim que a faculdade no se manifesta em grau aprecivel a no ser em organizaes individuais apropriadas.

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    Tambm est visto que a faculdade natural no representa um dom como muitos admitem visto que isso viria constituir privilgio quando, ao contrrio, sua posse corresponde a mritos j conquistados, vale por um direito j adquirido, representa um acesso a determinado degrau da escada evolutiva, qualquer que le seja (10).

    (10) Inmeros so os que julgam ser a mediunidade um dom e o prprio Codificador assim o disse em suas obras, mas compreenda-se que o termo dom est a empregado como uma outorga de Deus a espritos em prova e no como um privilgio de alguns em relao a outros o que seria clamante injustia, tanto mais que a maioria dos mdiuns so, como se sabe, espritos devedores em maior grau que muitos que no so mdiuns. Entenda-se dom como tarefa transitria a desempenhar e da qual se prestar contas e no como atributo ou privilgio permanente do esprito. Alis o prprio Kardec em outro ponto diz que o que constitue o mdium prpriamente dito a faculdade que possue dando claramente a entender que no se trata de atributo pertencente pessoa, ao esprito, mas simples misso de trabalho a desempenhar.

    E, mesmo nos casos em que outorgada como prova e prova de fogo a ento, muito menos, ela um dom, justamente porque uma prova.

    * * *

    Mas voltemos sensibilidade no campo individual para dizer que ela apresnta aspectos diversos que vo desde o clssico nervoso constitucional at as formas mais avanadas do transe completo.

    Vai-se desenvolvendo aos poucos, silenciosamente e aos poucos aumentando de intensidade, apresentando formas variadas de perturbaes fsicas e psquicas at que um sintoma mais positivo surge transformando a sensibilidade condio esttica vegetativa em mediunidade estado dinmico funcional.

    como um feto no ventre, que se est formando, ou como uma semente vegetal que, dia a dia, aumenta de fra e se transmuda at o momento em que, em plena ecloso expansiva, rompe as ltimas resistncias do solo e se transforma em rvore.

    E assim cmo no podemos interferir no processo gentico animal ou vegetal, tampouco o podemos no da faculdade medinica cabendo-nos somente o cuidado de adubar o solo e oferecer planta condies favorveis de vida e crescimento.

    A sensibilidade pois o prenncio da mediunidade e todos os indivduos que a apresentam devem ir se aproximando do campo da vida espiritual, fornecendo ao seu prprio esprito o alimento sazonado e puro de que le carece para desenvolver-se, fortificar-se e tornar-se digno do grandioso trabalho que o espera na seara da espiritualidade.

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    8 DIVISO DA MEDIUNIDADE

    Segundo o que conseguimos compreender at hoje, e, para maior facilidade do estudo que estamos empreendendo, dividimos a mediunidade da seguinte forma:

    quanto natureza em natural e de prova. quanto ao fenmeno: em lucidez incorporao e efeitos fsicos. quanto ao mdium em: consciente semi-consciente e inconsciente. Na lucidez incluimos a telepatia, vidncia, psicometria, a audio e a

    intuio. Na incorporao que pode ser total ou parcial incluimos as

    manifestaes orais e escritas, bem como o sonambulismo. Nos efeitos fsicos finalmente, incluimos tda a extensa e impressionantes

    sries de fenmenos assim denominados, inclusive as curas. Esta diviso puramente pessoal, nada ortodoxa, mas, como dissemos,

    facilita o estudo sendo, alm disso, simples e assente na prtica. Vide Sinopse no fim do livro.

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    9 A LUCIDEZ

    Richet definiu lucidez como sendo: o conhecimento pelo individuo A de um fenmeno qualquer, no perceptvel ou cognoscvel pelos sentidos normais, fora de qualquer transmisso mental consciente ou inconsciente.

    Com esta definio puramente cientfica quis o eminente investigador dizer que se trata de uma faculdade espontnea, no ligada aos sentidos fsicos e no dependente de efeitos telepticos, faculdade do prprio indivduo, independente de interferncias externas e que se manifesta por si mesma. Em uma palavra: a intuio.

    Mas como incluimos tambm a vidncia e a audio nos quadros da lucidez, no podemos, em que pese o respeito que nos merece o criador da metapsquica, aceitar in-totum essa definio.

    E isso nos obriga, por nossa vez, mesmo sem possuirmos a autoridade cientfica do insigne mestre, a definir a faculdade, o que fazemos para nosso uso da seguinte forma: lucidez a faculdade mediante a qual os mdiuns podem ver, ouvir e conhecer alm dos sentidos comuns e dos limites vibratrios da luz e do som, naturais ao mundo fsico.

    No vem nem ouvem, claro, com os sentidos fsicos mas com outros mais elevados, abertos no plano hiperfsico onde sses sentidos, por outro lado, no se localizam em rgos, pois sabemos que se ouve e que se v por todo o perisprito; e no percebem ou aquilatam com a Razo mas por meio de um sentido interno, de grande poder e amplitude, ainda pouco desenvolvido no homem atual.

    Isso no se pode materialmente explicar porque est ligado ao conhecimento quadrimensional, que ainda nos escapa neste plano, mas tentaremos esclarecer por partes alguns aspectos mais acessveis do problema.

    sabido que o lho fsico, como o ouvido fsico, somente alcanam determinados limites de luz e de som e que sses limites no so iguais para todos, isto : h pessoas que vem e ouvem mais que outras.

    No se trata de nada orgnico, constitucional, mas de maior capacidade de percepo, de sensibilidade, de susceptibilidade espiritual.

    Vivemos dentro de um verdadeiro mundo de vibraes diferentes, das quais a maioria de ns somente percebe, ou melhor, responde, a uma pequenssima parte.

    Se se antepuser um prisma de bisulfito de carbono aos raios solares obteremos, sobre uma superfcie neutra, uma projeo luminosa de cores diversas e bsicas, denominada espectro solar.

    Determinadas pessoas fixaro os limites dessa projeo em dado ponto e outras os marcaro em pontos mais amplos; uns vero o violeta atingir pontos mais afastados, outros menos, e igual circunstncia ocorrer com o vermelho. Em suma todos demonstraro percepo diferente.

    Aquele, porm, que determinar limites mais amplos nos dois extremos do campo da projeo, esse ter forosamente maior poder de viso.

    Quanto audio d-se o mesmo: produzindo-se um som excessivamente grave ou excessivamente agudo em local onde estejam varias pessoas, algumas o percebero outras no. Aquele que puder ouvir o som plenamente e conseguir identific-lo na escala, esse ter maior poder auditivo.

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    E haver um ponto ou um momento em que as vibraes dos dois mundos, cada uma na sua espcie, se equilibraro, se sintonizaro, o mais alto do mundo fsico fundindo-se ao mais baixo do mundo hiperfsico.

    Ora, o mdium de lucidez aquele que possui a capacidade (viso, audio ou intuio) levada a esse ponto de equilbrio, de sintonia, que o coloca entre os dois mundos, sendo-lhe ambos acessveis.

    E antes de entrarmos na anlise mais detalhada dessa mediunidade de lucidez devemos declarar que na vidncia e na audio o mdium age tanto em estado consciente, como semi-consciente, como inconsciente.

    No que respeita intuio, finalmente, trataremos do assunto um pouco mais para diante.

    TELEPATIA

    Faculdade mediante a qual o mdium recebe impresses mentais idias e pensamentos provindos de um emissor encarnado ou desencarnado. Estas impresses permanecem no campo da atividade perispiritual. Vide Encorporao-Forma Consciente.

    Tambm chamada clarividencia, Usando do mesmo sistema de outros autores, dividimo-la em Vidncia ambiente ou local. Vidncia no espao. Vidncia no tempo.

    VIDNCIA

    Tambm chamada clarividencia, a viso hiperfsica. Usando do mesmo sistema de simplificao e acompanhando outros

    autores, dividimo-la em Vidncia ambiente ou local. Vidncia no espao. Vidncia no tempo.

    VIDNCIA AMBIENTE OU LOCAL

    aquela que se opera no ambiente em que se encontra o mdium, atingindo fatos que ali mesmo se desenrolam e pode ser considerada como sendo a faculdade em seus primeiros estgios.

    O mdium pode ver Espritos presentes, cores, luzes, formas. Pode ver tambm sinais, quadros e smbolos projetados mentalmente pelos instrutores invisveis, ou qualquer Esprito, no seu campo de viso. (11)

    (11) Quase sempre esses quadros e smbolos so formados com auxlio dos fludos pesados fornecidos pelos mdiuns e assistentes.

    Quando o fenmeno ganha, com o desenvolvimento, maior nitidez, poder ler palavras ou frases inteiras, tambm projetadas, no momento, pelos Espritos comunicantes.

    Nestes casos nem sempre os simbolos, sinais e letras so claros, apropriados ou significativos, sendo mesmo s vezes bem inexpressivos, visto

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    que dependem da capacidade imaginativa, da inteligncia ou do poder mental do Esprito comunicante.

    VIDNCIA NO ESPAO

    aquela em que o mdium v cenas, quadros, sinais ou simbolos, em pontos distantes do local do trabalho.

    Esta viso obtida, comumente, por dois modos: 1) pela formao do tubo astral, que um processo de polarizao de um

    nmero de linhas paralelas de tomos astrais, que vo do observador cena que deve ser vista.

    Todos os tomos sobre os quais se age ficam, enquanto dura a operao, com seus eixos rigidamente paralelos uns aos outros, de sorte a formar uma espcie de tubo por onde o vidente olha.

    Esta explicao de Leadbeater e aceitamo-la na ntegra, somente acrescentando que as imagens assim obtidas so de tamanho reduzido, porm perfeitamente ntidas.

    Esta maneira porm no a nica, nem mesmo a mais comum, do ponto de vista esprita, pois sucede que, na maioria das vezes, a ligao entre o local da cena distante e aqule no qual se encontra o mdium, feita pelos prprios instrutores invisveis que, na matria astral, estabelecem uma linha de partculas fludicas formando um fio transmissor de vibraes de extremo a extremo, por meio do qual a vidncia ento se exerce.

    2) pelo desdobramento, mediante o qual, o Esprito do mdium, abandonando momentaneamente seu corpo fsico ou melhor dizendo, exteriorizando-se, levado ao local da cena a observar, ento diretamente, sendo que, neste caso, a viso muito mais ntida e completa.

    Quando o mdium no tem ainda desenvolvida a capacidade de desdobramento, os prprios instrutores o mergulham em sono sonamblico e nesse estado o transportam aos lugares desejados; nestes casos o vidente ou narra a cena vista somente aps o regresso e o despertar no corpo fsico ou a vai narrando durante o prprio sono sonamblico, medida que a observa.

    VIDNCIA NO TEMPO

    aquela em que o vidente v cenas representando fatos a ocorrer ou j ocorridos em outros tempos.

    Opera ento em pleno domnio quadrimensional. Ele est no Tempo, que a sucesso interminvel dos eventos. Abrem-se a para ele as regies ainda pouco determinadas em que existem os registros da eternidade (akasicos) os quais, desfilando sua frente dar-lhe-o como em uma fita cinematogrfica, a viso ntida e seqente de acontecimentos passados e futuros. (12)

    (12) Os fatos relacionados com a vida dos indivduos ou das coletividades gravam-se indelevelmente em registros etreos e se arquivam em lugares ou reparties apropriadas do Espao, sob a guarda de entidades responsveis e em certos casos, podem ser consultados ou revelados a Espritos interessados na rememorao do passado.

    Colocado em um ngulo de tempo isto em um momento entre dois

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    ciclos de tempo seu olhar pode abarcar o que j foi e o que ainda vai ser, visto que, segundo Marin, o futuro no est preparado mas sim realizado constantemente no Tempo; as causas, passadas ou presentes, projetam no futuro seus efeitos, aos quais permanecem ligadas, de forma que, colocado o vidente fora dessa linha de ligao entre dois pontos, pode abrang-los de extremo a extremo.

    No primeiro caso, como se compreende, de coisas do passado, a viso rememorativa e no segundo, de coisas do futuro, proftica.

    H ainda a observar que, neste caso de viso no tempo, tanto pode o mdium ser transportado em desdobramento regio ou ponto onde se encontram os clichs astrais, como podem ser estes projetados, pelos Espritos instrutores, no ambiente em que se encontra o mdium.

    PSICOMETRIA

    Esta forma especial de vidncia se caracteriza pela circunstncia de desenvolver-se no campo medinico uma srie de vises de coisas passadas desde que seja psto em presena do vidente um objeto qualquer ligado quelas cenas.

    Apresentando-se, por exemplo, ao vidente um pedao de madeira poder ele ver de onde ela proveio, onde foi a madeira cortada, por quem foi trabalhada, de que construo fez parte e tudo o mais que com ela se relacione.

    Segundo se diz, o clebre romance ltimos dias de Pompia de Lord Bulver Litton foi escrito dessa maneira: visitando o escritor as runas daquela extinta cidade tomou de um fragmento de tijolo e, usando-o como polarizador, viu desenrolar-se no seu campo de vidncia todos os acontecimentos ligados destruio da cidade.

    * * *

    Uma forma tambm muito interessante de lucidez aquela em que o Esprito do mdium, exteriorizado, abandona sua mente menor (aquela que usa na vida comum, a que trouxe para as provas da presente encarnao) e penetra na mente maior, na mente total, (a que se liga a todos os fatos de sua evoluo, a que contm tdas as reminiscncias do seu passado) e, integrado momentneamente nela, revive determinadas cenas e fatos, ali inde-levelmente registrados. Isto, alis, o que sucede aps cada encarnao, sistemticamente e de forma natural, quando o Esprito retorna ao Espao.

    Neste caso de que estamos tratando, de reintegrao momentnea na mente maior, o processo nitidamente sonamblico, no do sonambulismo clssico, em que h sujeio forada a um hipnotizador encarnado, mas de desdobramento natural, consciente, em que o mdium vive de novo os fatos, os v e os sente e, ao mesmo tempo, os vai descrevendo verbalmente ou por escrito, gozando ou sofrendo novamente tudo aquilo que- j se passou h muito tempo, h milnios talvez.

    Normalmente, quando o Esprito encarna, a mente se reduz, para esquecer o passado e recapitular determinadas experincias e, quando desencarna ela se expande, se integra, para relembrar e retomar a posse de si mesma. Extraordinriamente, nos casos de lucidez medinica, a expanso mental

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    momentnea, restrita.

    * * *

    H ainda um aspecto, alis pouco comum, de vidncia, que de interesse relatar: so as vises coletivas, isto , cenas observadas ao mesmo tempo por vrias pessoas.

    Por exemplo: batalhes de soldados que fazem manobras em plancies cheias de habitaes, s vzes em pleno dia, vista de espectadores maravilhados; caravanas numerosas de homens e animais que atravessam montanhas sumindo-se em desfiladeiros e precipcios, sem deixar vestgios; bandos irregulares de indivduos conduzindo veculos; rebanhos de animais conduzidos por pastores...

    Tais fatos tm se verificado em alguns pases, mormente na Esccia, presenciados por muitas pessoas, repetindo-se em datas determinadas e provocando assombro geral.

    No h, realmente, explicao aceitvel para tais coisas e aqui as anotamos somente a ttulo de curiosidade.

    Realmente no seria crivel que os Espritos tivessem promovido a materializao em massa de tantos indivduos e animais, tornando-os francamente visveis; nem tambm crivel que por coincidncia se agrupassem em determinados dias e horas e no mesmo local tantas pessoas possuidoras de faculdade de vidncia; nem ainda que sobre todas essas pessoas tivesse sido derramada, momentneamente, tal faculdade, somente para aquele ato; nem, por ltimo, que todas essas pessoas, durante vrias horas tivessem sido vtimas de uma tremenda iluso dos sentidos e com tamanha uniformidade, vendo todas elas as mesmas coisas e da mesma maneira.

    Como quer que seja o fenmeno existe e tem sido observado inmeras vezes.

    Realmente trata-se de imagens mentais projetadas por Espritos dotados de alta capacidade realizadora, no campo das criaes ideoplsticas.

    AUDIO

    a faculdade mediante a qual o mdium ouve vozes proferidas pelos Espritos e sons produzidos por stes, bem como outros, ligados prpria vida da Natureza.

    Quase sempre a audio desperta no mdium que j manifestou vidncia, visto serem faculdades que mtuamente se completam.

    As vozes e os sons reboam s vzes dentro do crebro do mdium e outras vzes so ouvidas exteriormente, de mais longe ou de mais perto, segundo a capacidade de audio que o mdium manifestar.

    No primeiro caso, o esprito que fala transmite a palavra ou o som e as ondas sonoras no atravessam a cortina fludica de proteo que separa o perisprito do corpo denso, permanecendo no campo das atividades do perisprito; tais impresses no so transmitidas aos rgos dos sentidos fsicos e, por isso, que o mdium tem a impresso de que ouve dentro do crebro.

    No segundo caso as impresses sonoras so transmitidas atravs da cortina fludica, atinge os rgos dos sentidos e caem no campo da conscincia

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    fsica; afetam os nervos sensoriais da audio, mesmo sem passar pelo tmpano, simplesmente por induo.

    E ainda pode suceder que o esprito emissor dos sons ou vozes aja diretamente sbre a atmosfera ambiente, materializando-os ou melhor, condensando-os, mais ou menos intensamente, a ponto de poderem ferir o tmpano do ouvido fsico, para provocar uma audio direta e comum.

    O mais comum o primeiro caso, isto , a permanncia dos sons no campo da atividade perispiritual, sem atravessar a cortina fludica de separao.

    O mdium auditivo tanto pode captar ondas sonoras provindas de espritos desencarnados que deliberadamente as transmitem, como quaisquer rumores, vozes, palavras e at mesmo conversaes inteiras, provindas do mundo etreo, mesmo quando no sejam emitidas deliberadamente para seu conhecimento. Aberto seu campo auditivo para sse mundo referido, o mdium poder captar muita cousa do que nle se passa, de forma mais ou menos perfeita, segundo sua prpria capacidade de audio (13).

    (13) Vide nota n 35 pgina 140.

    A forma mais comum desta faculdade e a mais simples a teleptica.

    INTUIO

    O estudo da faculdade de intuio comporta vastas explanaes; porm, devido ao exguo limite dste trabalho somos obrigados a nos limitar a uma ligeira sntese.

    No esfro da evoluo o homem veio do instinto, adquiriu mais tarde a razo e caminha agora para a intuio, que, todavia, apenas se vislumbra no horizonte. O momento que vivemos, em sentido geral, de pleno domnio da razo, em que as fras intelectivas preponderam: porm alguns homens h, mais evoludos, que j se governam, mais ou menos conscientemente, pelo uso desta faculdade mais perfeita.

    No estudo da intuio no cabe lugar para os trmos correntes to apreciados de conscincia, sub-conscincia e inconscincia no sentido restritivo que se lhes d, porque as realizaes espirituais verdadeiras no dividem a mente mas, ao Contrrio, a unificam, a dilatam, para integr-la na mente universal.

    A intuio a percepo da verdade universal, total, e qualquer vislumbre que dela se tenha uma partcula dessa verdade inteiria, muito embora quando manifestada em relao a um caso particular ou isolado.

    A verdade total tem poder e autoridade em si mesma e no comporta restries de qualquer natureza; e por isso o homem de intuio no discute nem analisa suas manifestaes mas, simplesmente, obedece.

    A obedincia s manifestaes da intuio uma das condies fundamentais do desenvolvimento e ampliao dessa faculdade no indivduo.

    Um conhecimento mental pode ser adquirido pelo estudo, pela aplicao, pelo raciocnio, pela observao, pela experimentao; a intuio, porm, no depende de nada disso: nicamente um conhecimento infuso, ou melhor, um discernimento espontneo de uma verdade pacfica e nica.

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    As mulheres em geral so mais intuitivas que os homens, porque se deixam governar mais pelo sentimento que pela razo e a intuio no um produto da razo, mas do sentimento; mesmo um sentimento que se tem em certos momentos e circunstncias, de determinado assunto, ou determinada situao, e quanto mais aflitiva ou imperiosa e urgente fr a situao, mais alto e rpida falar a intuio, apontando o verdadeiro caminho ou a verdadeira soluo.

    Mas, o que intuio e donde vem ela? J o dissemos: uma voz interior que fala e que deve ser obedecida sem

    vacilaes; um sentimento ntimo que temos a respeito de certa coisa ou assunto; a verdade csmica, divina, existente em nosso Eu, em forma potencial, porque Deus a verdade unica e eterna e le est derramado em tda a criao universal, da qual somos uma partcula viva, operante e sensvel.

    A intuio a nossa ligao direta e original com Deus assim como a Razo a nossa ligao com o mundo.

    O homem um sr limitado pelos seus corpos orgnico e fluidico; mas o ponto que no atinge com o brao, atinge-o com a inteligncia e onde a inteligncia no alcana, alcana a intuio.

    Como Esprito, pois, possui ele vastos poderes. O conhecimento vindo pelo intelecto nos faz conhecer o mundo ambiente, ao passo que a intuio nos d o discernimento das coisas divinas; o primeiro se estriba na razo que mediu, pesou, dividiu, analisou, concluiu; o segundo porm se apoia na f, porque somente cr e confia.

    A razo metdica, mecnica, limitada, mas a intuio intrnseca, ilimitada, independente, acima de qualquer lei, pleniciente.

    O campo da razo vai at onde a inteligncia alcana, mas o da intuio no tem limites, porque o campo da conscincia universal.

    Por isso s vzes a razo diz sim quando a intuio diz no, quando um a fala prudncia a outra ordena confiana: uma diz: raciocina primeiro; mas a outra determina: cr e segue.

    Uma sombra sempre vacilante, outra luz sempre clara; uma duvida e se nega, outra confia e se entrega.

    Uma se exerce no campo de mente limitada, outra na esfera do esprito livre, que no obedece a convenes, preconceitos ou leis humanas.

    Porque a razo a lei, ao passo que a intuio, em certo sentido, a graa.

    * * *

    O apstolo Paulo sempre se referia a homens que vivem debaixo da lei e realizam atos de acrdo com a lei, mas apontava sempre como verdadeiro o caminho da graa, mediante o qual se deve ser honesto no por haver leis contra a desonestidade; virtuosos no por haver leis contra a licena; verdadeiros no por haver leis contra a mentira; mas porque a graa eleva o sentimento humano e o purifica acima mesmo da lei; porque h um plano de vida espiritual no afetado pela lei, um reino acima da lei onde s imperam predicados do esprito emancipado do rro.

    * * *

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    O homem funciona em trs planos a saber: o fsico, o mental e o espiritual, que correspondem respectivamente ao instinto, razo e intuio; mas a verdade total, essencial, divina, s percebida pelo homem de intuio.

    O homem do futuro, isto , o homem renovado, que se venceu a si mesmo, vencendo a dominao da matria grosseira, ser um homem de intuio.

    Quando a intuio fala, ela no se limita somente ao aspecto local ou parcial dos problemas, mas abarca o que est atrs e na frente, atinge o aspecto total, segundo a projeo do indivduo no campo geral de sua evoluo. difcil localizarmos, no corpo fsico, a regio ou o rgo por intermdio do qual se exerce a intuio. O rgo do intelecto o crebro e podemos dizer que a razo tem sde nesse rgo. Mas, quando intuio, a no ser que exera pelas glndulas pineal e pituitaria (14)

    (14) Glndula geradora e controladora de energias psquicas que, ligada mente atravs do eletromagnetismo do campo vital, comanda as foras do subconsciente e supre de energias psquicas todos os rgos vitais do organismo humano.

    (rgos das manifestaes medinicas) talvez sua sde seja no cerebelo, rgo sensrio supra-normal, que no futuro tende a desenvolver-se.

    Amor, f e intuio, eis pois as caractersticas sublimadas do homem espiritual.

    O homem de intuio resolve seus problemas com elementos que obtm do plano divino, ao passo que o da razo os resolve segundo os recursos da prpria inteligncia humana ligada s coisas do mundo.

    Tanto mais o homem fecha seus ouvidos s vozes do mundo material, tanto mais se abre no seu interior a voz sublime dessa preciosa faculdade do esprito. Tanto mais o esprito se revela a si mesmo e se integra no Cosmo, tanto mais se une a Deus.

    Diz Alexis Carrel, um dos mais acatados expoentes da cincia oficial, a respeito desta maravilhosa faculdade: evidente que as grandes descobertas cientficas no so unicamente obras da inteligncia. Os sbios de gnio, alm do dom de observar e de compreender, possuem outras qualidades, como a intuio e a imaginao criadora. Por meio da intuio apreendem o que os outros homens no vem, apercebem relao entre fenmenos aparentemente isolados, sentem inconscientemente a presena do tesouro ignorado. Todos os grandes homens so dotados do poder intuitivo. Sabem sem raciocnio e sem anlise o que lhes importa saber.

    E prossegue: As descobertas da intuio devem ser sempre desenvolvidas pela lgica. Tanto na vida corrente como na cincia, a intuio um meio de adquirir conhecimentos de grande poder, mas perigosos. Por vzes difcil distingui-la da iluso. Aqueles que s por ela se deixam guiar esto expostos ao rro. Mas aos grandes homens ou aos simples de corao puro pode ela conduzir aos mais elevados cumes da vida mental ou espiritual. (O Homem, sse desconhecido).

    Ouamos agora A Grande Sntese de Pietro Ubaldi. No mundo da matria temos, em primeiro lugar, fenmenos;

    depois a vossa percepo sensria e, por fim, atravs de vosso sistema

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    nervoso, convergindo no sistema cerebral, a vossa sntese psquica a conscincia. At aqui chegastes no terreno da pesquisa cientfica e da experincia quotidiana. No errou o vosso materialismo quando viu nessa conscincia uma alma filha da vossa vida fsica e destinada, como esta, a extinguir-se. Se descermos mais no fundo deparamos com a conscincia latente, que, est para a conscincia externa, clara, como as ondas eltricas para as ondas acusticas. A essa conscincia mais profunda pertence a intuio, que o meio de percepo ao qual, como tambm j vos disse, necessrio se faz chegueis para que o vosso conhecimento possa avanar.

    Pois, para sse reino de plena conscincia, que a intuio leva e o faz por um caminho to claro e to horizontal que at mesmo os cegos jamais se desviam da rota.

    Mas sua voz s pode ser ouvida no silncio, na pureza e na intimidade do sr, condies incompatveis com os rumores do mundo. Dbil ao princpio, se fr sempre obedecida sem vacilaes e com confiana, ir aos poucos se avolumando, ganhando fra crescente e acabar por ser ouvida em qualquer circunstncia e a qualquer hora, apontando ao indivduo a orientao mais segura, mais elevada e mais reta, abrindo-se como uma flor s claridades e ao calor do sol supremo.

    Das faculdades medinicas a mais elevada e a mais perfeita, porque pe o indivduo no mais e somente em contacto com coisas e sres do mundo espiritual mas, direta e superiormente, com a essncia divina das realidades.

    SONO E SONHO (15)

    Neste capitulo das faculdades de lucidez cabe um ligeiro estudo sbre os sonhos, interessante fenmeno espiritual, to comum e ao mesmo tempo to pouco conhecido.

    O sono, para o corpo fsico, uma morte de todos os dias, aparente e incompleta, durante a qual ele no perde sua integridade, cessando somente a atividade dos rgos de relao com o mundo exterior; mas, em compensao, para o Esprito, o sono abre as portas do sonho, frestas mais ou menos amplas para a viso das estranhas cenas do mundo estranho do Alm, suas paisagens de coloridos bizarros, suas luzes intensas e maravilhosas, seus misteriosos habitantes.

    (15) O sono em si mesmo, um fenmeno fsico e est aqui includo unicamente como um estado de transio para o sonho que o fenmeno de lucidez.

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    10 O SONO

    Tudo no mundo dorme, sres e coisas, pelo menos aparentemente. Um tro de nossa vida, no mnimo, passamos a dormir.

    Enquanto dia e sob a influncia do Sol, cuja luz destri as emanaes fludicas malficas, predomina o dinamismo das fras materiais, regidas pela inteligncia; mas quando o Sol se vai e cai a noite, passam a imperar as fras negativas da astralidade inferior e o corpo humano adormece, ento, sob seu domnio.

    Para uns o sono advem de uma congesto cerebral (hiperemia dos vasos sanguneos do crebro).

    Para outros, justamente o contrrio: ocorre uma anemia cerebral (isquemia dos mesmos vasos) o que quer dizer que no sono os vasos se dilatam e esgotam o sangue do crebro.

    Ao lado destas h a teoria dos neurnios, clulas nervosas cujos prolongamentos durante o sono se retraem, interrompendo a passagem da corrente vital, que restabelecem ao despertar, distendendo os referidos prolongamentos e pondo-os de novo em contacto.

    Pode tambm o sono resultar de uma asfixia peridica do crebro e, para o velho Aristteles, advem da ao das ptomanas existentes nos resduos digestivos.

    Em contraposio h outros que afirmam que, justamente, dormimos para nos desintoxicarmos, sendo assim o sono uma funo defensiva do organismo.

    Enfim e para no alongar esta exposio citamos Marin, segundo o qual o sono um aspecto da lei de alternativa em virtude da qual atividade segue o repouso, como a noite, ao dia e como a morte vida. E isso concorda com a Lei do Ritmo, da filosofia egpcia, exposta admirvelmente na obra inicitica Kaibalion, segundo a qual a vida se manifesta por atividade incessante, que obedece a um ritmo invarivel e cuja compensao o repouso. Aplicada ao c