Edgar Morin - Ética, ciência, política (fichamento)

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Ética, ciência, política MORIN, Edgar. O método 6; ética. Tradução de Juremir Machado da Silva. 3ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2007. Ciência, ética e sociedade 1.A relação ciência/técnica tornou-se tão indissociável que a expressão “tecnociência” se impôs. [...]O desenvolvimento do conhecimento pelo conhecimento, propriamente científico, é agora inseparável do desenvolvimento do domínio, propriamente técnico. (pp.69-70) 2.Todos os desenvolvimentos e todas as transformações históricas das nossas sociedades contam entre as suas causas e efeitos os desenvolvimentos da técnociência. A ciência tornou-se assim uma potência motora social. (p.70) 3.Os seus êxitos no conhecimento puro [...] permitiram em pouco tempo o surgimento de instrumentos formidáveis de destruição e de manipulação [...].(p.70) 4.A ciência, aventura desinteressada, cai nas malhas dos interesses econômicos; a ciência, aventura apolítica, torna-se refém das forças políticas, em primeiro lugar pelo Estado. [...] Os cientistas não controlam os poderes que emanam dos seus laboratórios. Esses poderes estão concentrados nas mãos das empresas e das potencias estatais. (p.70) 5.O vínculo ciência/técnica/sociedade/política é evidente. A época em que os juízos de valor não podiam interferir na atividade científica está encerrada. (p.71) 6.A maioria permanece com a convicção de que uma disjunção irredutível separa ciência [boa, bem feitora e moral], técnica [ambivalente] e política [má e responsável pela má utilização da ciência]. Tal concepção ignora não apenas a contaminação entre essas três instâncias, mas também [...]oculta os gigantescos problemas sociais, políticos e éticos gerados pela onipresença da ciência e pelo seu desenvolvimento descontrolado. (p.71) 7.Os espíritos formados por um modo de conhecimento que repudia a complexidade, logo a ambivalência, não conseguem conceber a ambivalência inerente à atividade científica [que pode ser útil e nefasta]. (pp.71-72) 8. [...] há uma cegueira de muitos cientistas em relação aos problemas éticos postos pela atividade científica. Essa cegueira é criada por um processo de cegamento inerente ao conhecimento objetivo. (p.72) 9. [...] a hiperespecialização contribui fortemente para a perda da visão de conjunto [...] Um pensamento cego ao global não pode captar aquilo que une os elementos separados. (p.72)

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Ética, ciência, política

MORIN, Edgar. O método 6; ética. Tradução de Juremir Machado da Silva. 3ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2007.

Ciência, ética e sociedade

1.A relação ciência/técnica tornou-se tão indissociável que a expressão “tecnociência” se impôs. [...]O desenvolvimento do conhecimento pelo conhecimento, propriamente científico, é agora inseparável do desenvolvimento do domínio, propriamente técnico. (pp.69-70)

2.Todos os desenvolvimentos e todas as transformações históricas das nossas sociedades contam entre as suas causas e efeitos os desenvolvimentos da técnociência. A ciência tornou-se assim uma potência motora social. (p.70)

3.Os seus êxitos no conhecimento puro [...] permitiram em pouco tempo o surgimento de instrumentos formidáveis de destruição e de manipulação [...].(p.70)

4.A ciência, aventura desinteressada, cai nas malhas dos interesses econômicos; a ciência, aventura apolítica, torna-se refém das forças políticas, em primeiro lugar pelo Estado. [...] Os cientistas não controlam os poderes que emanam dos seus laboratórios. Esses poderes estão concentrados nas mãos das empresas e das potencias estatais. (p.70)

5.O vínculo ciência/técnica/sociedade/política é evidente. A época em que os juízos de valor não podiam interferir na atividade científica está encerrada. (p.71)

6.A maioria permanece com a convicção de que uma disjunção irredutível separa ciência [boa, bem feitora e moral], técnica [ambivalente] e política [má e responsável pela má utilização da ciência]. Tal concepção ignora não apenas a contaminação entre essas três instâncias, mas também [...]oculta os gigantescos problemas sociais, políticos e éticos gerados pela onipresença da ciência e pelo seu desenvolvimento descontrolado. (p.71)

7.Os espíritos formados por um modo de conhecimento que repudia a complexidade, logo a ambivalência, não conseguem conceber a ambivalência inerente à atividade científica [que pode ser útil e nefasta]. (pp.71-72)

8. [...] há uma cegueira de muitos cientistas em relação aos problemas éticos postos pela atividade científica. Essa cegueira é criada por um processo de cegamento inerente ao conhecimento objetivo. (p.72)

9. [...] a hiperespecialização contribui fortemente para a perda da visão de conjunto [...] Um pensamento cego ao global não pode captar aquilo que une os elementos separados. (p.72)

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10. O fechamento disciplinar, associado à inserção da pesquisa científica nos limites tecnoburocráticos da sociedade, produz a irresponsabilidade em relação a tudo o que é exterior ao domínio especializado. (p.73)

11.Existe agora um conflito entre o imperativo do conhecimento pelo conhecimento, que é o da ciência, e múltiplos imperativos éticos, muitos deles em conflitos entre si. Os atuais conselhos de bioética constituem um espaço para a expressão desses conflitos. A missão deles não é de encontrar a solução providencial, mas de explicitá-los [...] Estamos condenados em bioética a compromissos provisórios. (p.74)

12. [...] a era bioética abre a possibilidade de transformações na própria natureza humana. Depois de ter dominado a matéria e começado a dominar a vida, a ciência quer dominar seu criador, o ser humano, e com isso gera problemas antropológicos novos e fundamentais, os quais são, ao mesmo tempo, gigantescos problemas éticos. (p.76)

13.[tecnologias biotecnológicas] constituem os prelúdios de uma possibilidade de controle, ou mesmo de submissão, da vida humana à tecnociência, através/pelo interesse do lucro e eventualmente através/pelo interesse dos Estados. [...] Vamos, nesse sentido, rumo a um eugenismo preventivo. (p.76)