Edgar Amorin

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  • EDGAR MORIN

    Formao Continuada www.educadores.com.brConceitosIdiasReflexesTransformaes

    Paris 1921Nasce Edgar Morim

    Com 10 anos perde sua/ me Bruna. Essa perda a marcar por toda a vidaJ na infncia interessa-se por literatura e cinema que vai exercer forte influncia em

    sua obra.Durante a Segunda Guerra Edgar fez seus exames na Procord e engaja-se na

    Resistncia Francesa. Nesse perodo substitui o sobrenome judaico Naum por Morin. Aps aguerra trabalha como redator em jornais do partido comunista francs. Comea ento seusprimeiros atritos com comunistas por sua postura crtica. J seu emprego cada vez maisdiscriminado no Partido Comunista. Ele vive em exlio interior. Comea a escrever o livro: Ohomem e a morte. na realizao dessa obra que Morim forma a base para sua culturatransdisciplinar: geografia humana, etnografia, pr-histria, ecologia infantil, psicanlise,histria das religies, cincia das metodologias, historias das idias, filosofia. Comea atrabalhar no Centro Nacional de Pesquisa Cientifica.

    Inicia a redao do seu livro Autocrtica, publicado em 1959. Faz um primeiro balanode sua vida e de sua participao no meio cultural e poltico de seu tempo.

    Faz uma longa viagem pela Amrica Latina, quando se fascina pelo mundo indgena epelo mundo afro-brasileiro. Retorna Frana onde publica O Esprito do Tempo. Aprofundaseus estudos na rea da Biologia e do pensamento ciberntico. Em 1968, envolve-se nosmovimentos estudantis que comearam a eclodir na Frana. Volta ao Brasil, pas pelo qualsente grande afeio. recebido nos aeroportos pelos estudantes em grande estilo, em1969, convidado pelo Instituto Salf a passar um ano na Califrnia. L conhece a revoluobiolgica gentica, iniciada com a descoberta que dupla hlice da molcula de DNA. Inicia-senas teorias que considera interpenetrantes e inseparveis: a ciberntica, a teoria dossistemas e a teoria da informao. Volta a Paris onde inicia a constituio de um Centro deEstudos Bioantropolgicos e de Antropologia Fundamental. Nesse processo dereorganizao dos princpios do conhcimento. Comea a trabalhar numa das obrasfundamentais do pensamento complexo: O Mtodo. Publica, em seguida, os livros:Introduo ao Pensamento Complexo e Meus Demnios. Em 1997 convidado pelo governo

  • Francs a apresentar um plano de sugestes e propostas a partir de seu pensamentotransdisciplinar para a reforma do ensino secundrio e do universitrio.

    Viaja por mais de 30 pases participando de atividades e debates com professores eespecialistas das mais diversas reas sobre questes relativas educao nas escolas euniversidades. Este veio diversas vezes ao Brasil onde encontraram importantes ncleos depesquisa e de divulgao do pensamento complexo.

    Reorganizaes GenticasH uma caracterstica como em toda a obra do Edgar Morim que uma articulao

    muito grande entre a vida dele e as idias que ele professa at hoje. Ele denomina isso dereorganizaes genticas que, na verdade, no so reorganizaes genticas no sentido dagentica, mas reorganizaes do estilo do pensamento dele. Ento, nas obras de cartermais ideogrfico, ele considera, sintetiza, essas reorganizaes em trs.

    Uma primeira concebida por volta de 1941, logo no perodo antecedente daResistncia Francesa, ele aprendeu, atravs dos autores que estudava ento, de que asidias avanavam sempre no antagonismo, nas contradies. Isso fez com que ele sededicasse aos estudos de Hegel e de Marx, principalmente. Profundo conhecedor domarxismo, no marxismo ele encontrou essa idia de que a dialtica era uma unio decontrrios e que poderia levar a uma sociedade melhor. Marx defende a idia do homemgenrico. O que o homem genrico? o homem que no separa a natureza da cultura.Essa idia do homem genrico que impregnou muito as idias de Morin, at hoje.

    A segunda reorganizao, quer dizer, o sistema de idias dele, uma penetraomaior nas idias de Marx, mas desde que destituda de qualquer forma de prometesmo,quer dizer, viria no futuro, uma sociedade melhor, de... Morim tenha acreditado nisso. Asegunda organizao colocou esse modo marxista em duvida. Posteriormente ele vaisubstituir a palavra dialtica pela palavra dialgica. Isso nos escritos mais metodolgicos.

    A terceira reorganizao ocorre dos anos 60 para frente. Morim teve uma grandepermanncia nos Estados Unidos. Nessa poca ele entra em contato com trs formulaestericas que sero decisivas para a construo dos cinco volumes de O Mtodo. Entra emcontato ento com a teoria da informao, a teoria dos sistemas e a ciberntica. Esses serocontatos tericos e que vo influir muito no que ele chama de terceira reorganizao e decerta maneira vai preparar o advento da complexidade, quer dizer, a construo das basesdo pensamento complexo.

    Pensamento ComplexoPrimeira idia: muito importante a gente ter sempre em mente as etimologias, ento:

    que quer dizer complexo? Complexo vem do latim complexus, que vem do verbocomplectere, que simplesmente quer dizer: Aquilo que tecido em conjunto. Quer dizer, aetimologia da palavra exatamente essa porque pode gerar uma certa confuso, porquequando voc fala em complexo voc pensa imediatamente em algo simples. No se tratadessa oposio entre o simples e o complexo, mas trazer a etimologia que traduz bem oesprito do pensamento complexo, quer dizer aquilo que tecido junto. Porque que tecidojunto? A gente aprendeu do sculo XVII em diante, com a Revoluo Iluminista, que o nossopensamento, as nossas idias eram conduzidas exclusivamente pela razo. No por acasoque o sculo XVII foi entendido como o sculo do Racionalismo. O que a razo? A razo

  • aquilo que produto do clculo. Voc adapta alguns meios a alguns fins. Isso a razo. Nstodos somos seres racionais. Aprendemos que somos apenas racionais, somos s sapiens.Hoje se ns dizemos que somos somente sapiens, voc estar se identificando com osnossos primos que so primatas, no humanos, ou seja, os gorilas, os chipanzs, osorangotangos, etc. Por isso ns seremos um segundo sapiens. Ns somos sapiens sapiens.Ns somos homo, do gnero homindeo e somos sapiens sapiens.

    Bem, uma das primeiras consideraes que aparecem em Morim, que aparece nosprimeiros livros que falam do homem, o seguinte: se voc se define exclusivamente comosapiens voc est sendo sistemtico demais. Que significa isso: que voc ereto, que fala,que desceu das rvores, que se comunica, que simboliza, ou seja, que voc criarepresentaes, constri representaes. Esse o lado sapiens. Com o segundo dadopermanecemos a mesma coisa, ou seja, sistemticos demais, O pensamento complexoconsidera que precisa adicionar uma outra caracterstica a esta sistematizao excessiva,que demens. Que demens? aquilo que ns somos tambm descomedidos, ns somosloucos, ns somos descontrolados, ns convivemos com a hidris e queremos afastar esselado como se fosse mau, algo que precisa ser recalcado. Ns somos, portanto... de incio soamuito mal do ponto de vista histrico, quer dizer, que nos aceitamos como sapiens-demens,ou seja, que todo sujeito humano duplo e tem um pouco de sapientalilidade e um poucodemensialidade. Ento, uma definio mais atual da nossa condio seria de que ns somoshomo sapiens-sapiens-demens. Portanto, ai est o primeiro entrelaamento do complexo.Seja sapiens demens.

    Operadores da ComplexidadeA segunda idia que est no pensamento complexo so os operadores da

    complexidade. Operadores, como se fosse operador de cinema, so trs: *O primeiro: operador dialgico: e no dialtico.* o segundo: o operador recursivo, ou da recursividade.* o terceiro: o operador do holograma ou operador hologramaticramtico.Operador dialgico e no dialtico envolve a seguinte questo: O que dialogia?

    Dialogia significa voc juntar coisas, entrelaar coisas, que aparentemente esto separados.Por exemplo: a razo e a emoo, o sensvel e o inteligvel, o real e o imaginrio, a razo eos mitos, a razo, a cincia e as artes, as cincias humanas e as cincias da natureza. Tudoisso dialgia, ou seja, juntar o que aparentemente separado. No tem sntese.Pensamento complexo no um pensamento simples.

    O outro, segundo o operador recursivo. Recursividade: o que significa isso? Significadizer que uma causa... ns aprendemos no velho paradigma que a causa a gera o efeito b. Odeterminante a gera o determinado b. Alguma coisa que definida como recursiva significaalgo em que a causa produz o efeito, que produz a causa. a mesma coisa como se fosseum anel recursivo, um circuito recursivo, melhor dizendo. Um exemplo: ns somosproduzidos por uma unio biolgica de um homem e de ema mulher, portanto, somosprodutos dessa unio e, ao mesmo tempo, somos produtores de outros unies. Ento nssomos recursivamente causa e efeito. Esse o segundo operador.

    Holograma ou princpio operador hologramtico. Holograma ... s vezes utiliza essaspalavras: princpio, operador, base, num sentido que so operadores que pe em movimentoo pensamento. Que o operador hologramtico? Que quando voc v, no conseguedissociar parte e todo, ou seja, a parte est no todo da mesma forma que o todo est naparte. Ento, esses so trs bases que mobilizam o pensamento complexo.

  • Ento: juntar as coisas que estavam separadas, fazer circular causa e efeito, efeitosobre a causa. Ou seja, voc no consegue dissociar a parte do todo. O todo est na parteda mesma maneira que a parte est no todo. a terceira idia: da totalidade.

    TotalidadeCom estes trs operadores voc vai construir a noo de totalidade. Mas os

    movimentos operadores dizem o seguinte: totalidade nunca ser a soma das partes. Nssomos acostumados palavra totalidade dessa maneira. Que totalidade? Totalidade juntar a, com b, com c, com d, com isso se tem a totalidade. No, no pensamento complexo,ou, no pensamento da complexidade, a totalidade sempre mais que a soma. Podeeventualmente ser menos que a soma. Porque totalidades so sempre abertas. Se elasforem totalidade fechada, elas sero sempre iguais a soma das partes. Essa idia detotalidade como mais ou menos que as partes fundamental ao pensamento.

    Homo ComplexosNs aprendemos tambm que ns somos seres que criamos, ns somos vcolis,

    porque falamos. Somos faber porque fabricamos instrumentos, somos simblicos porquesimbolizamos, criamos os mitos e as teorias, novos dolos, nossas mentiras, nossoimaginrio. Aprendemos. O que no aprendemos, que somos complexos, ou seja, que nssomos inscritos... Somos hoje o que somos porque somos inscritos em uma ordem biolgicaque nos fez como somos agora e tambm ns somos seres produtores de cultura, ou seja,ns somos 100% natureza e 100% cultura.

    Ns aprendemos, talvez pelas instituies escolares, a recalcar o lado da natureza.No nos apercebemos que somos tambm seres unoduais: 100% natureza, 100% cultura.Talvez seja uma herana da razo, do racionalismo do sculo XVII que nos legou essa idiaque: os imaginrios, os mitos, as artes no faziam parte da cincia ou o considerado comocientifico era determinado como racional.

    (Morim falando no vdeo) O conhecimento, do ponto de vista do pensamentocomplexo, no est limitado cincia. H na literatura, na poesia, nas artes umconhecimento profundo. Podemos dizer que no romance h um conhecimento mais sutil deseres humanos do que encontramos nas cincias humanas, porque vemos os homens emsuas subjetividades, suas paixes, seus meios de... Por outro lado, devemos acreditar quetoda a grande obra de arte contm um pensamento profundo sobre a vida, mesmo quandono est expresso em sua linguagem. Quando voc v as figuras humanas pintadas porRembrandt, h um pensamento sobre a alma humana. Portanto, eu acredito que devemosromper com a separao das artes, da literatura de um lado e o conhecimento cientifico dooutro.

    Razo, Racionalismo e Racionalizao.O que a razo? A razo um mecanismo da mente, do crebro que se traduz por

    um conjunto de regras que voc utiliza para fazer determinadas coisas. Ns usamos a razoem todas as nossas atividades. Muito bom! Isso existe nos humanos desde sempre. Desdeos 130 milhes de anos, sempre fomos racionais. Em alguns momentos, alguns seres doplaneta foram considerados como seres que no tinham razo. Por exemplo, no sculo XVIIIos ndios brasileiros, os tupinambs, foram levados s cortes absolutistas da Frana para

  • serem literalmente apalpados pelos membros da corte, para ver se eram homens. Porqueeles eram considerados como primitivos, inferiores, seres que no eram dotados de razo.Isso foi uma grande congruncia que a prpria cincia construiu sobre ns mesmos. Querdizer, sempre fomos racionais. Em decorrncia disso criou-se o racionalismo, ou seja, a idiade que tudo na vida guiado pela razo. Ento, todos os imaginrios presentes no cinema,nas artes, na literatura, nos mitos, devem ser apartados como no cientficos. Junto comessa noo est a idia de racionalidade.

    Racionalidade quando voc adequa meios a fins, pouco importa se voc minimizaos meios para maximizar os fins, ou voc faz o contrrio: maximiniza os meios para eliminaros fins. De qualquer maneira a racionalidade sempre isso: sempre um esforo deadequao entre meios e fins.

    Racionalizao esse o pior efeito da razo: quando a razo se fecha nela mesma eno que saber de nada mais que faa parte desse conjunto de imaginrios presentes nasartes, na literatura, etc.. afasta isso e a razo constri um dolo a respeito dela mesma. Elase considera como a razo dolo. Esses so obstculos criados idia de que ...daunidualidade.

    Tetragrama OrganizacionalAlgo que o pensamento complexo tambm considera de qualquer atividade de

    qualquer sistema vivo... ns estamos falando aqui de homens, homens reais: homo sapiens,sapiens demens. Ns poderamos estender isso s sociedades animais: das formigas, dasabelhas, dos nossos primos, primatas no humanos. Enfim, qualquer atividade de sistemavivo guiado por uma tetralogia. Tetra igual a quatro, ou seja, envolve relaes de ordem, dedesordem, de interao e de reorganizao. Edgar Morim chama isso de um tetagramaorganizacional. Qualquer sistema vivo sempre foi: ordem, regularidade; desordem:desavenas, emergncias; interaes, coisas que comearam a interagir que no estavamprevistas anteriormente e reorganizao para onde o sistema vai...

    O sistema sempre algo que vive na irrupo da desordem, o que faz com que svezes Edgar Morim defina: O que a terra, o planeta terra? Ento, o planeta terra um meroplaneta, muito pequeno no conjunto de todas as galxias do universo e que vive deriva,quer dizer no est indo. Ento: o tetragrama ordem, desordem, interao e reorganizaoaliado aos operadores da dialogia, do holograma e da recursividade, constitu o bloco forte, abase fundamental do pensamento complexo.

    H uma fase do Marx que Edgar costuma sempre usar como recurso explicativo. Huma passagem do Marx, nas teses de Feuerbach, que diz respeito noo de educao e reforma do pensamento. Diz o Marx o seguinte: qualquer reforma do ensino e da educao,deve comear, antes de mais nada, com a reforma dos educadores. Ou seja: o que significareformar os educadores? Significa reformar o pensamento. Que significa reforar opensamento? O pensar o homem sempre pensou com as mesmas condies, com o mesmoaparato. Por isso no h um pensamento que seja inferior ao outro. Os ndios do Brasil nopensam de maneira inferior aos urbanides de So Paulo. Quer dizer, todos ns pensamoscom os mesmos recursos n. Nossa mente, nosso crebro igual. Pelo menos enquantoformos sapiens-sapiens-demens.

    Mas a razo cartesiana... foi atribuda a Descartes essa frase que talvez seja uma dasresponsveis pra tudo isso. Disse o Descarte: Penso logo existo cgito ergo sum. E maisdo que isso, a viso cartesiana separou o suspeito que pensa chamado res cogitans, da

  • coisa pensada, chamada res extensa. Por isso introduz uma ruptura entre o sujeito e oobjeto. E mais do que isso, a viso cartesiana nos imps um paradigma. O que umparadigma? Um paradigma um conjunto de regras, padres, teorias, modelos, vises semundo que ns aprendemos. Que nos legado inconscientemente. O paradigma cartesianonos ensinou a dividir, a separar a razo da ds-razo, a razo do mito, a razo do imaginrio.E com isso, o sensvel do inteligvel, a cincia da arte, a fsica quntica da antropologia. Issofoi dividindo, separando. A reforma do pensamento alguma coisa indmica que ns temoscomo se ns tivssemos que reaprender a pensar. Ento, reaprender a pensar, a religartodas essas... esses continentes que foram separados desde a viso cartesiana.

    (Morim falando no vdeo) um problema paradoxal, pois para reformar opensamento necessrio, antes de tudo, reformar as instituies que depois permitam essenovo pensar. Mas para reformar as instituies necessrio que j exista um pensamentoreformado.

    Portanto, h uma contradio lgica em geral. Essa contradio lgica no pode serultrapassada, a no ser que comeamos por movimentos marginais, movimentos piloto,pelas universidades, pelas escolas exemplares de formao. Porque o grande problema areeducao dos educadores.

    Nenhum decreto, nenhuma lei pode decidir sobre ele. Trata-se de um movimentobastante rigoroso entre os educadores que a reforma no pode dar conta. Eu creio que oscongressos, as reunies, que a difuso dessas idias desempenham um papel importantenesse movimento sobre educadores.

    TransdisciplinariedadeA transdisciplinariedade significa mais do que disciplinas que colaboram entre elas em

    um projeto com um conhecimento comum a elas, mas significa tambm que h um modo depensar organizador que pode atravessar as disciplinas e que pode dar uma espcie deunidade. Por outro lado, a interdisciplinaridade um pouco como as Naes Unidas, onde asdisciplinas so separadas discutindo sobre seus territrios. E transversalidade outransdisciplinariedade qualquer coisa que mais profundamente integradora.

    Agora, para que haja transversalidade, necessrio um pensamento organizador. oque chamo de pensamento complexo. Se no h um pensamento complexo, no pode havertransversalidade.

    Como ns aprendemos a separar as coisas? Sempre ns fomos ensinados a isso. Eque sabemos que precisamos religar o que foi desligado, o que foi separado. Ns podemosperguntar: como fazer isto? Um dos efeitos da separao, da fragmentao, foi a distribuiodo ensino em disciplinas. A disciplina nada mais do que o ramo do saber, do conhecimentovoltado para ele mesmo. Ouve-se falar muito nas palavras interdisciplinaridade,multidisciplinaridade, transdisciplinariedade. evidente que o pensamento complexo apostamais no pensamento transdisciplinar. O que viso interdisciplinar? simplesmente aconstruo de uma meta ponto de vista e no de um ponto de vista, mas de um meta pontode vista sobre a vida, a terra, o cosmo, a humanidade, o homem, o conhecimento, asculturas adolescentes, as artes. Isto que construo de meta ponto de vista. Veja, o quevoc vai saber da terra juntando os especialistas em biologia, em corporogia, emantropologia, em fsica, em matemtica, o poeta e o artista. Tudo isso valido para a vida,para o homem, para o conhecimento. Quer dizer, voc reunir, no como uma assemblia de

  • diferenas, mas onde cada um ta dando a sua contribuio para a construo de um metaponto de vista.

    O que a vida? Respostas a essas exigncias. Edgar Morim quando assume oencargo de reformar o ensino mdio na Frana, comeou o projeto reunindo especialistasexatamente de vrias ordens naquilo que ele chamou de jornadas temticas. O que foramjornadas temticas? Era simplesmente uma discusso sobre os megapontos: terra, vida,cultura adolescente, o homem, a humanidade, cosmos, etc...

    (Morim falando no vdeo) O verdadeiro problema no fazer uma edio deconhecimento. O verdadeiro problema uma organizao de conhecimentos e saber ospontos fundamentais que se encontram em cada tipo de conhecimento ou em cadadisciplina. Quer dizer, se permitir fazer uma economia na adio de conhecimento e sepermitir poder se orientar em direo necessidades de conhecimento no qual at omovimento no se pode penetrar pois h portas fechadas e fronteiras.

    Os sete saberes necessrios.Os sete saberes no devem ser vistos como um credo, ou seja, algo a ser aplicado

    nas escolas. So inspiraes, modalidades que excitariam o educador a redefinir a suaposio na escola, na sua relao com os currculos, na sua relao com as disciplinas, nasua relao com a avaliao.

    O erro e a iluso. O Primeiro saber diz respeito idia de erro. E por qu? Porque a cincia seacostumou a sempre afastar o erro das suas concepes. Tudo aquilo que era consideradocomo erro devia ser afastado. Ns precisamos integrar os erros nas concepes para que oconhecimento avance. Essa seria a essncia do primeiro saber.

    Conhecimento Pertinente. O segundo saber diz respeito idia, a conhecimento pertinente. O que oconhecimento pertinente? Ns aprendemos que o que nos foi legado foi idia defragmentao. Que dizer: quanto mais voc fragmenta a disciplina melhor o conhecimentoavana. Quanto mais voc separa as cincias da cultura melhor. Quer dizer: O conhecimentopertinente vai contramo dessa idia. preciso no aniquilar a idia da disciplina, masrearticular a idia da disciplina em outros contextos. H cincias hoje, no mundo, que ofazem de maneira muito interessante. A ecologia, por exemplo, a ecologia uma cincia quejunta reas de conhecimento as mais variadas. O eclogo tem que ser simultaneamente umbilogo, um antroplogo, um filsofo. Ento, a idia do conhecimento pertinente teria umaidia defendida contra a fragmentao. Esse o segundo saber.

    Ensinar a condio humana. O terceiro saber diz respeito condio humana. Quem somos ns? Vemos quesomos s culturais. Precisamos saber que somos tambm naturais, fsicos, psquicos,imaginrios. Ento, o terceiro saber diz respeito a esse reaprendizado da nossa prpriacondio, que est expressa superlativamente na idia do sapiens-demens.

  • Ensinar a Identidade Terrena. O terceiro saber diz respeito identidade terrena, a identidade da terra. Que a terra? nossa terra ptria: precisamos ensinar aos alunos que a terra um pequeno planeta queprecisa ser sustentado a qualquer custo. idia da identidade terrena est ligada idia dasustentabilidade. O que significa construir um planeta sustentvel? Significa simplesmente oucomplexamente, construir um planeta que seja vivel s futuras geraes. Se ns noconseguirmos manter um planeta sustentvel, o planeta certamente dar sinais deirritabilidade. Alias como j vem o fazendo. Ensinar, portanto, a identidade da terra. Nossaterra ptria.

    Enfrentar as Incertezas. A cincia cartesiana construiu a idia de que tudo que cientfico pertence ao reino dacerteza. Em 1927, Werner Roisenberg construiu seu famoso Princpio da Incerteza. Por isso,ele foi agraciado com o Premio Nobel na poca. E o que diz o princpio da incerteza? Diz queum determinado elemento atmico pode se comportar como onda e como partcula. Nstambm, os humanos, somos ondas e partculas. Que melhor dizendo, somos partculas eondas, somos partculas enquanto seres individualizados e somos onda quando somos seresportadores de muitas multiplicidades. Ento, temos que ensinar nas escolas a idia daincerteza. O conhecimento cientfico nunca um produtor absoluto de certezas. Ele deve aocontrrio ser crivado pela idia da incerteza. A incerteza seria aquilo que comandaria oavano da cultura, sem certezas. Seria incorporar essas idias ao ensino de qumica, fsica,histria, geografia, lnguas, filosofia, produzir... Tudo que for criado pelo homem deve sercrivado pela idia da incerteza.

    Ensinar a Compreenso. A compreenso, sexto saber, deve ser o meio e o fim da comunicao humana. Acomunicao humana deve ser voltada para a compreenso. Se ns olharmos para nossasinstituies de ensino mdio, superior, ns vamos ver que o que as caracteriza aincompreenso. Ou seja, disciplinas que brigam com os outros departamentos que no seentendem os outros, reas do conhecimento que no falam com as outras. Ento, seriapreciso introduzir o ensino da compreenso nas unidades de ensino em qualquer nvel queelas se exeram. Poderemos estender a idia da compreenso dizendo que o planeta terra,nossa terra ptria, a gente pode verificar que o que caracteriza a incompreenso.Incompreenso por todas as partes: incompreenses polticas incompreenses ideolgicas,incompreenses econmicas.

    A tica do Gnero Humano. O stimo saber diz respeito tica do gnero humano. tica, uma palavra bastantecomplexa. O que a tica? Poderamos resumir dizendo que a tica significa apenas nodesejar para os outros aquilo que voc no deseja para voc mesmo. Ento, o ensino daantropotica precisava ser reintroduzido nas escolas e essa antropotica est ancorada emtrs elementos: o individuo, a sociedade e a espcie. Ento, ns precisamos arranjar umaantropotica que religasse indivduo e sociedade, espcie e no os mantivesse separadoscomo eles se encontram nos dias atuais.

  • Os Sete Saberes na Escola. Ento, o problema maior reside como aplicar esses sete saberes na reforma daeducao. Quer dizer, no se trata de transformar os sete saberes em sete disciplinas. Aocontrrio disso os sete saberes eles rejuntam as disciplinas. O que quer aconteceria, o quequer que poderia acontecer isso na vida prtica de uma instituio. Fosse rea de ensinomdio ou ensino superior. Uma redefinio total dos currculos. Se voc pega, por exemplo,os sete saberes. O da condio humana, por exemplo, ento voc tem que ensinar nasescolas que o homem simultaneamente biolgico, psquico e cultural. Isso tem que estartraduzido numa grade curricular. Implicaria que fossem dados elementos de antropologia,elementos de filosofia. No significa dizer que se trata de uma.... de currculo degeneralidades. Ao contrrio, o objetivo dessa reformulao seria voc exatamente religar abiologia, a medicina, a histria, antropologia e no mant-los separados. claro que se exigeum novo tipo de professor. Muitas vezes se pensa que o pensamento complexo um pensamento contra adisciplina. No se trata disso. um pensamento que abre a disciplina a outros campos. Seisso fosse introduzido minimamente nas escolas certamente a educao iria para outrosrumos.

    Recusas Fundamentais. claro que h pressupostos, claro que h fundamentos. Poderia se dar... claro queh recusas. Algumas recusas so fundamentais. Voc tem que recusar a separao entre arazo e a emoo. Por exemplo: recusar a separao entre cincia e arte, entre cincia emito, que est incrustada no pensamento ocidental pelo menos desde Descartes. Essa aprimeira recusa. A segunda voc tem que assumir e recusar. Assumir as implicaes da recusa que hentre o singular e o universal, o local e o global, o sujeito e o objeto. H sempre uma relaode tenso entre o local e o global, no h nunca uma relao de total harmonia. So opostosque se juntam, mas precisa ser entendida dessa maneira. Muitas vezes ns tendemos aisolar os opostos. Como os opostos que seriam irreconciliveis. O pensamento complexo nosensina a assumir a tenso: entre o singular e o universal, entre o global e o local, o individuale o coletivo. Assumir a tenso, mas tentar fazer com que se estabelea um canal decomunicao entre esses dois elementos. Em outras palavras: o que era aparentementeconsiderado como posto pode dialogar entre si. A terceira recusa, talvez seja a mais complicada, aquela que diz que precisamosrecusar que o estado o nico balizador do conhecimento cientfico. H outras instituiesque o fazem, que no seja o Estado, e por vezes o fazem muito melhor. O Estado regidopor normas, padres, por religiosidades. Ento, assumir que o Estado no o nicobalizador dos movimentos do conhecimento cientifico. Se voc junta essas trs modalidades, acopla essas trs modalidades aos saberes vocproduzir currculos muito mais criativos. Voc poderia pensar que no seria estranho, porexemplo, numa escola ao invs de filosofia, por exemplo, voc ter uma disciplinadenominada a Filosofia da Incerteza. Nada impede que voc ensine uma disciplina com onome de Fundamentos da Condio Humana , nada impede que voc tenha uma disciplinaque diga Indeterminaes da Terra Ptria.

  • H um poeta francs, conhecido do Morim, que esteve presente nas jornadas, ele sechama Ive Bon. Foi que ele..., o titulo da comunicao nas jornadas temticas era oseguinte: possvel ensinar a poesia nas escolas? E esse poeta dizia assim: como eraimportante antigamente quando os indivduos da gerao dele tinham de aprender de cor umpoema porque se no eles no passavam de ano. Aprender de cor um poema no meramente ficar repetindo o poema feito papagaio, dizia esse poeta: por que cada vez quevoc recita um poema de cor, voc abre janelas para o mundo. Da mesma maneira podemosdizer a respeito das lnguas: toda vez que voc aprende uma lngua nova voc agrega novosconhecimentos, abre janelas para o mundo, voc amplia a sua cosmoviso. Ento, possuirem todos os nveis esses pressupostos: no ensino fundamental, no ensino mdio, nauniversidade, seria a tarefa fundamental que o pensamento complexo obteria se realmenteele fosse assumido como pressuposto por todos.

    Edgar Morim. Em minha opinio, as escolas mais recuadas no tempo so as menos marcadas pelafragmentao disciplinar e pela separao das disciplinas, ento, por exemplo, em outrospases nos quais o ensino aparentemente mais avanado, h uma reforma de pensamento,uma reforma de escolaridade muito mais necessria. Mas no, eu posso medir o grau deatraso das escolas brasileiras em relao as escolas francesas. Conheo, sobretudo, umaenorme vontade de um nmero grande de educadores brasileiros, muito maior do queeducadores na Frana.

    Roteiro de:Edgar Assis Carvalho

    Paulo Aspis

    Direo:Paulo Aspis

    Edio:Muiz Albuquerque

    Sons:Rgio Aorta

    Agradecimentos:COMPLEXUS- ncleo de estudos da complexidade da PUC-SP

    Colgio Magno

  • Do mundo virtual ao espiritual

    Frei Betto - 06-Jun-2008

    Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, daMonglia, do Japo e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos empaz em seus mantos cor de aafro. Outro dia, eu observava o movimento doaeroporto de So Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefonescelulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Comcerteza, j haviam tomado caf da manh em casa, mas como a companhia areaoferecia outro caf, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dosdois modelos produz felicidade?'

    Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, s nove da manh, e perguntei:

    'No foi aula?' Ela respondeu: 'No, tenho aula tarde'. Comemorei:'Que bom, ento de manh voc pode brincar, dormir at mais tarde '. 'No',retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manh...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulasde ingls, de bal, de pintura, piscina', e comeou a elencar seu programa degarota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela no disse 'tenho aula demeditao'!

    Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmenteequipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso, as empresas consideramagora que, mais importante que o QI, a IE, a Inteligncia Emocional.

    No adianta ser um super-executivo se no consegue se relacionar comas pessoas. Ora, como seria importante os currculos escolares inclurem aulas demeditao!

    Uma progressista cidade do interior de So Paulo tinha, em 1960, seislivrarias e uma academia de ginstica; hoje, tem sessenta academias de ginsticae trs livrarias! No tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com adesproporo em relao malhao do esprito. Acho timo, vamos todos morreresbeltos: 'Como estava o defunto'? 'Olha, uma maravilha, no tinha uma celulite'!Mas como fica a questo da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidadeamorosa?

    Outrora, falava-se em realidade: anlise da realidade, inserir-se narealidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra virtualidade. Tudo virtual.Pode-se fazer sexo virtual pela internet: no se pega Aids, no h envolvimentoemocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto em Braslia, um

  • homem pode ter uma amiga ntima em Tquio, sem nenhuma preocupao deconhecer o seu vizinho de prdio ou de quadra!

    Tudo virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, no hcompromisso com o real! muito grave esse processo de abstrao dalinguagem, de sentimentos: somos msticos virtuais, religiosos virtuais, cidadosvirtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos tambmeticamente virtuais.

    A cultura comea onde a natureza termina. Cultura o refinamento doesprito. Televiso, no Brasil com raras e honrosas excees, um problema: acada semana que passa temos a sensao de que ficamos um pouco menoscultos. A palavra hoje 'entretenimento'; domingo, ento, o dia nacional daimbecilizao coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai l e se apresentano palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade noconsegue vender felicidade, passa a iluso de que felicidade o resultado dasoma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este tnis, usar esta camisa,comprar este carro, voc chega l!' O problema que, em geral, no se chega!Quem cede, desenvolve de tal maneira o desejo que acaba precisando de umanalista. Ou de remdios. Quem resiste, aumenta a neurose.

    Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seuspacientes. Coloc-los aonde? Eu, que no sou da rea, posso me dar o direito deapresentar uma sugesto. Acho que s h uma sada: virar o desejo para dentro.Porque para fora ele no tem aonde ir! O grande desafio virar o desejo paradentro, gostar de si mesmo, comear a ver o quanto bom ser livre de todo essecondicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se vivermelhor. Alis, para uma boa sade mental trs requisitos so indispensveis:amizades, auto-estima, ausncia de estresse.

    H uma lgica religiosa no consumismo ps-moderno. Se algum vai Europa e visita uma pequena cidade onde h uma catedral, deve procurar saber ahistria daquela cidade - a catedral o sinal de que ela tem histria. Na IdadeMdia, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,constri-se um shopping center. curioso: a maioria dos shopping centers temlinhas arquitetnicas de catedrais estilizadas; neles no se pode ir de qualquermaneira, preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se umasensao paradisaca: no h mendigos, crianas de rua, sujeira pelas caladas...

    Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano ps-moderno, aquelamusiquinha de esperar dentista. Observam-se os vrios nichos, todas aquelascapelas com os venerveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.Quem pode comprar vista, sente-se no reino dos cus. Deve-se passar chequepr-datado, pagar a crdito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatrio.Mas se no pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente,

  • terminam todos na eucaristia ps-moderna, irmanados na mesma mesa, com omesmo suco e o mesmo hambrguer do McDonald's.

    Costumo advertir os balconistas que me cercam porta das lojas: 'Estouapenas fazendo um passeio socrtico.' Diante de seus olhares espantados explico:'Scrates, filsofo grego, tambm gostava de descansar a cabea percorrendo ocentro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocs o assediavam, elerespondia: 'Estou apenas observando quanta coisa existe de que no preciso paraser feliz'.

    O 'ethos' (a convivncia humana e a responsabilidade social, eis o nosso porto.A 'paidia', com este horizonte, a caminhada educacional - escolar e a social -a nos fazer cidados,profissionais e pessoas, em construo permanente.