ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

57
1 PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE HORTOFRUTÍCOLAS VERSÃO ADAPTADA PARA E-LEARNING GREENFOOD PROJECT 2010-1-ES1-LEO05-20948

Transcript of ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

Page 1: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

1

PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE

HORTOFRUTÍCOLAS

VERSÃO ADAPTADA PARA E-LEARNING

GREENFOOD PROJECT

2010-1-ES1-LEO05-20948

Page 2: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

2

Índice

Introdução 3

Unidade Didática 1.1. – Produção Biológica de Frutas 4

1.1.1. Seleção de espécies e variedades 4

1.1.2. Gestão do solo e nutrição das plantas 9

1.1.3. Gestão de pragas e doenças 16

1.1.4. Colheita, armazenamento, conservação e transporte 21

1.1.5. Exemplos práticos 26

Unidade Didática 1.2. A produção biológica de hortícolas 30

1.2.1. Escolha do local e seleção varietal 30

1.2.2. Gestão da fertilidade do solo 35

1.2.3. Rotação e consociação de plantas 38

1.2.4. Pragas, doenças e infestantes 44

1.2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte 48

1.2.6. Exemplos práticos (Solanáceas) 49

Autoavaliação 56

Page 3: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

3

Introdução

Na União Europeia, a produção biológica de hortofrutícolas está condicionada à

aplicação do Regulamento (CE) n.º 834/2007 do Conselho, e do Regulamento (CE) n.º

889/2008 da Comissão.

De um modo geral, a produção biológica exclui a utilização de muitos fatores de

produção utilizados na agricultura convencional, muito particularmente fertilizantes e

pesticidas de síntese química.

Os sistemas de produção biológicos assentam em práticas como a rotação de culturas,

a utilização de resíduos das culturas, de fertilizantes orgânicos de origem animal, de

espécies leguminosas, de siderações ou adubos verdes, de resíduos domésticos

orgânicos e de luta biológica no combate a pragas e doenças. Estas práticas mantêm

a produtividade do solo, fornecem os nutrientes de que as plantas necessitam e

ajudam a combater os insetos e as ervas infestantes.

A produção biológica de frutas é uma das mais importantes componentes da produção

biológica na Europa. Os principais países produtores de fruta em zonas temperadas

são a Itália, a França e a Espanha. A figura abaixo representa a situação actual da

produção biológica de fruta na Europa.

Figura 1 – Produção biológica de fruta, vinha e bagas em zonas temperadas: principais países em 2007

(incluindo área em conversão); Fonte: FIBL, 2009

Page 4: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

4

Unidade Didática 1.1. – Produção Biológica de Frutas

1.1.1. Seleção de espécies e variedades

O processo de seleção das espécies e das variedades usadas nos pomares em

Agricultura biológica (AB) deve ter em consideração a finalidade a que se destina o

pomar, nomeadamente, se se trata de utilização comercial, doméstica, paisagística,

ou agro-florestal.

O principal objetivo deste capítulo consiste no estudo da produção de fruta para

comercialização.

A produção biológica de fruta pode ser obtida a partir de pomares novos ou através

da conversão de pomares convencionais, sendo para ambos os casos aplicados os

mesmos princípios.

Instalação de novos pomares

A seleção da espécie e da variedade a plantar é muito importante. O pomar deve

estar suficientemente afastado de fontes poluidoras, nomeadamente estradas com

elevado volume de tráfego, pólos industriais ou mesmo pomares convencionais. As

empresas industriais e agroindustriais devem estar localizadas para além de uma

distância de segurança recomendada pelo organismo de controlo e certificação de

cada país. É ainda necessário que os níveis de materiais pesados presentes nos solos

cultivados respeitem os limites estabelecidos pelas autoridades de proteção

ambiental. Os pesticidas e os herbicidas utilizados nos pomares, ou nos terrenos

circundantes, não podem contaminar os pomares biológicos.

A escolha da variedade deve ser feita de forma a que sejam respeitadas as condições

edafoclimáticas locais. Assim, a seleção das variedades deve ter em consideração o

clima da região, a localização geográfica e as propriedades do solo. Deve ainda dar-se

preferência a variedades resistentes a pragas e doenças, de acordo com as práticas

de proteção fitossanitária indicadas na legislação europeia, atrás referenciada.

Para obter a certificação biológica, é necessário um período de conversão de três

anos. Este período pode ser reduzido, se o organismo de certificação e a autoridade

competente reconhecerem que foram utilizados previamente métodos de produção

agrícola compatíveis com as exigências da proteção do ambiente e da preservação do

espaço natural.

Page 5: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

5

O período de conversão do pomar convencional pode ser iniciado após a última

aplicação de qualquer tratamento convencional. A eventual autorização para diminuir

o período de conversão deverá ser dada pelo organismo de certificação competente.

Condições climáticas

As condições climáticas determinam a produtividade das variedades utilizadas. Assim,

podemos escolher as variedades a implementar em determinado local, em função do

conhecimento que temos acerca das suas necessidades em luz, temperatura e água.

Condições pedológicas

As seguintes espécies toleram solos arenosos: macieira, damasqueiro, pessegueiro,

aveleira, framboesa e groselha. Algumas espécies podem crescer em solos

pedregosos com uma fina camada fértil: damasqueiro, pessegueiro, amendoeira,

nespereira e castanheiro.

A maioria das espécies desenvolve-se melhor em solos com uma camada fértil

profunda. Algumas delas toleram solos argilosos, como por exemplo a pereira, o

marmeleiro, a cerejeira, a ameixeira e a aveleira. A preferência por determinado tipo

de solo é influenciada pelo sistema radicular das árvores e pelas suas necessidades

nutricionais específicas. A circulação de ar é muito importante para o sistema

radicular das árvores. Desta forma, algumas das espécies como o pessegueiro, o

Page 6: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

6

damasqueiro, a amendoeira, a cerejeira e a framboesa e os citrinos são

particularmente sensíveis à existência de boas condições de circulação de ar no solo.

Algumas espécies podem tolerar ou até mesmo necessitar de solos húmidos, com

elevada disponibilidade em água. É o caso da macieira, da pereira, do marmeleiro, da

ameixeira, da nogueira, da aveleira, da framboesa, do morango, da groselha, da

amora. Algumas características do solo, como o pH, podem constituir um fator

limitante para algumas espécies. É o caso do castanheiro, da macieira, da aveleira, da

framboesa e do morango, do mirtilo, que necessitam de solos ácidos. Por outro lado,

elevados níveis de alcalinidade do solo podem ser também um fator limitativo para

outras espécies, como o damasqueiro e a amendoeira.

Culturas como a macieira, a pereira, o marmeleiro, a nogueira, o morango e a

groselha preta, toleram níveis elevados de água no solo. O marmeleiro e vários porta-

enxertos de macieira resistem mesmo a algumas semanas de encharcamento durante

o período de repouso vegetativo.

Localização geográfica e nível de exposição solar

A localização geográfica e a situação topográfica desempenham um papel importante

na formação do microclima. A altura acima do nível do mar, a exposição solar, a

qualidade do solo, a direção do vento, o nível de águas superficiais e a proximidade

de zonas florestais são aspetos determinantes do ponto de vista geográfico.

A altura acima do nível do mar influencia a temperatura do ar, dado que em média, a

um aumento de 100 m de altitude corresponde uma diminuição da temperatura de

0,5°C. As diferenças em altitude podem ser importantes no caso de danos provocados

por geadas.

A exposição solar está relacionada com o declive e a direção da encosta. As

exposições a sul e a sudoeste são favoráveis à produção agrícola, enquanto a

orientação a norte é menos favorável. Em clima mediterrânico, com cada vez maiores

problemas de escaldão da fruta, nas espécies e variedades mais sensíveis, a

orientação norte pode ser vantajosa.

Os vales podem ser desfavoráveis devido à possibilidade de se verificarem níveis

elevados de humidade e nevoeiro, e à existência de geadas nas zonas mais baixas.

Page 7: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

7

Seleção de variedades para produção de fruta em AB

A escolha das variedades deve ter em conta as características do local de produção, a

sua adaptação às condições edafoclimáticas existentes e a procura atual ou potencial

do mercado.

Devem ser escolhidas variedades resistentes às doenças, bem como variedades que

exijam menos intervenção, designadamente ao nível de tratamentos

fitofarmacêuticos.

Os principais aspetos que determinam o valor e o interesse das variedades na

produção de frutas em MPB são:

A qualidade externa dos frutos (tamanho, forma, cor, resistência da casca, ausência

de defeitos, sintomas de doenças, etc.);

A qualidade interna dos frutos (valores nutricionais, nível de fibras, sabor, aroma,

aptidão para o processamento, teor de vitaminas e outros fatores nutricionais, etc.).

O valor de mercado das variedades é determinado pelo grau de recetividade dos

consumidores (atratividade, procura, etc.), perecibilidade e a adequação para a

transformação (qualidade da epiderme, consistência da polpa, grau de perecibilidade).

Ao nível dos fatores produtivos, a produtividade, a estabilidade da produção, a

suscetibilidade a pragas e doenças, a tendência para a queda dos frutos, o vigor

vegetativo, a biologia da floração e as características de fertilização, são aspetos

determinantes nas escolhas a efetuar.

Porta-Enxertos (PE) e dimensão das árvores

As características genéticas desempenham um papel fundamental na dimensão das

árvores e arbustos. Todavia, no caso de muitas espécies (por exemplo, a macieira e a

pereira), esta característica pode ser influenciada também pelos porta -enxertos e pela

altura do ponto de enxertia. A utilização de PE bem adaptados é importante na

tolerância a eventuais condições desfavoráveis de solo, como por exemplo, a má

drenagem ou a presença de bactérias ou fungos patogénicos (doenças de solo ou

outras, que possam atingir o PE, como o fogo bacteriano).

Page 8: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

8

Sistemas de produção e condução

Na produção biológica devemos criar uma harmonia entre a variedade e o PE, a

distância entre as árvores e a forma de condução. Em AB a criação de um bom

equilíbrio entre crescimento vegetativo e produção, pode ser alcançado com uma poda

mais ligeira.

Compasso de plantação

A distância entre árvores deve ter em consideração o crescimento e o vigor da

combinação entre a variedade e o PE.

Tabela 1 – Objetivos do pomar standard e de alta densidade

Pomar standard

Pomar de alta densidade

Objetivos produtivos

Processamento/produtos frescos & pastagens

Produtos frescos para o mercado

Objetivos Ecológicos

Enriquecimento paisagístico Aumento da diversidade ecológica

Produção + Preservação

Menor valor ecológico Necessidade de áreas adicionais para

“compensação ecológica”

Período de utilização

50 anos ou menos Longo período de desenvolvimento

12-20 anos Máxima produção ao 4º ano

Mudança frequente de variedades

A orientação das linhas deve ser norte-sul. A forma da copa deve respeitar, dentro do

possível, a forma natural da árvore, com um tronco central rodeado de diversas

pernadas em todo o contorno (eixo central revestido). Nalguns casos de menor vigor

e na falta de postes e arames de suporte, pode optar-se por formas mais baixas, em

vaso (ou esféricas no caso dos citrinos), de modo a manter a árvore direita. A forma

de condução também depende da espécie e do vigor do PE.

Linhas duplas não são permitidas em AB, porque este sistema é mais suscetível às

doenças.

Se forem plantadas culturas consociadas nas entrelinhas do pomar, devem usar-se PE

mais vigorosos, sem armação de suporte. Neste caso, as distâncias entre árvores são

maiores, com os seguintes compassos:

- em árvores de fruto: 5-10m x 4-10m;

- em pequenos frutos: 1,2-2,0m x 0,8-1,5m.

Page 9: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

9

Tabela 2 - Gestão de pomares biológicos

Pomar standard Pomar de alta densidade

Investimentos Necessidades em equipamentos baixas a médias

Elevados (equipamentos especiais, irrigação)

Manutenção Média Elevada

Riscos Médios a elevados Elevados

Rendimento Subsídios durante o período de instalação

Possibilidade de colheita de

forragens Produtividades variáveis

Produtividade ótima num curto período de tempo

Produtividades constantes

Requerimentos

por parte do agricultor

Conhecimentos básicos de

arboricultura

Conhecimentos avançados em

arboricultura

1.1.2. Gestão do solo e nutrição das plantas

O terreno a cultivar deve ser adequado à produção de espécies frutíferas. O mais

importante no manejo do solo é a conservação e melhoria da sua fertilidade e

atividade biológica. Um aspeto fundamental a ter em conta consiste no nível de

húmus do solo, que deve ser aumentado ao longo dos anos. Para além da proteção e

conservação do solo há ainda a vantagem climática do sequestro de carbono que é

transferido da atmosfera ficando retido por muitos anos na matéria orgânica.

Page 10: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

10

Melhoramento do solo. O melhoramento do solo pode também ser necessário, de

acordo com as análises efetuadas. Estas devem ser feitas antes de se iniciar o

processo produtivo, com base em amostras obtidas em vários locais do campo de

cultura.

Fertilização orgânica. Na produção de fruta biológica, é adicionado ao solo matéria

orgânica para melhorar a sua estrutura e para favorecer a atividade biológica.

Preparação do solo. Na preparação do solo devem evitar-se lavouras muito

profundas com reviramento da leiva, porque tal procedimento poderá prejudicar a

camada superficial mais rica em húmus, trazendo o subsolo à superfície. A

profundidade de mobilização do solo não deverá ser superior a 0,90 m e sempre com

ripagem em vez de lavoura de charrua. A instalação da cultura deve ser efetuada em

condições climáticas adequadas e com um nível de humidade do solo ideal, devendo a

profundidade de instalação situar-se entre 0,25m a 0,40 m.

Sideração ou adubação verde. A sideração é um método que permite a melhoria do

solo, tanto na fase anterior à plantação, como depois, ao nível da adubação nas

entrelinhas. Sideração antes da plantação - Dependendo do tipo de preparação do

Gestão do solo Preparação

do solo Fertilização orgânica

Sideração/

adubação

verde

Melhoramento

do solo

Page 11: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

11

solo e das suas características, pode ser usada adubação verde de Inverno ou de

Verão, com diferentes tipos de misturas de plantas. Preparação do solo mais

prolongada - Em situações em que o solo apresenta características mais

desfavoráveis, designadamente com má estrutura, deficiência em nutrientes, ou uso

prévio excessivo, é recomendada uma sementeira anual com uma mistura de

gramíneas e luzerna (em caso de fadiga de solo), durante 3 a 5 anos. Antes da

plantação das árvores, o trabalho mecânico é feito com um cultivador.

Plantação. A altura ideal para a plantação é usualmente o final de Outono e princípio

de Inverno. Para a plantação, é suficiente a abertura manual de uma cova de

0,40x0,40x0,40 m. A abertura de covas através de meios mecânicos não é a melhor

solução, particularmente em solos húmidos. É recomendado introduzir 5 a 10 kg de

estrume curtido, uniformemente distribuído no fundo da cova da plantação, e

posteriormente cobertos com 80 a 100 mm de uma camada de solo.

A cobertura ou empalhamento do solo na linha tem como objectivo preservar a

humidade do solo e assegurar o combate às ervas infestantes. Palha, estrume, palha

misturada com estrume, casca de pinho, aparas de madeira, pó de cortiça, engaço de

uva, bagaço de azeitona, são bons materiais para esta prática. Alguns materiais

sintéticos como, filme de polietileno negro, folhas de polipropileno, também podem

ser aplicados como cobertura do solo.

Proteção do tronco. Tanto nas plantações de Primavera como nas de Outono (e, em

particular nestas últimas) é importante proteger o tronco de eventuais mordeduras de

animais. Para tal, pode ser usado papel, canas, redes ou tubos especiais para

proteger troncos, feitas de metal ou de plástico.

Vedações. Para uma maior proteção contra animais selvagens e eventuais roubos é

recomendada instalação de uma vedação no momento da plantação, ou mesmo antes.

Sebes naturais e faixa de flores. De forma a favorecer o isolamento é necessário

envolver a plantação com sebes naturais compostas por várias espécies (árvores,

arbustos). Estas devem ser originárias do ecossistema natural da zona. Uma faixa de

flores deve também ser implementada, sendo composta por espécies anuais, que

Page 12: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

12

permanecerão no pomar durante a fase de floração, abrigando os organismos

auxiliares.

Nutrição das plantas

A gestão do solo e a nutrição das plantas tem um impacto muito significativo sobre a

produtividade global do pomar. Uma boa gestão do solo deve permitir alcançar os

seguintes objetivos:

Arejamento do solo;

Capacidade de retenção da água;

Captação de nutrientes;

Capacidade de utilização dos estrumes incorporados;

Preservação e aumento do nível de matéria orgânica no solo;

Proteção contra infestantes;

Proteção contra a erosão e a deterioração do solo

Após 2003, só pode ser usado na instalação de uma nova plantação

material de propagação (e.g. enxertos) sujeito aos requerimentos

da produção biológica, produzido por viveiros certificados e

fornecido com certificado de produção biológica.

No período de transição, pode ainda ser utilizado material de

plantação oriundo de viveiros tradicionais. Esta utilização deverá ser

efetuada com um maior nível de supervisão por parte da

organização certificadora. Na criação e funcionamento de um viveiro

biológico devem ter-se em consideração todas as normas e

regulamentos que incidem sobre um viveiro tradicional,

completadas com os requerimentos aplicáveis à agricultura

biológica (Reg. (EU) 889/2008).

Page 13: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

13

Fornecimento de nutrientes

Na produção biológica o fornecimento de nutrientes às árvores de fruto baseia-se

sobretudo na disponibilidade natural em nutrientes e na capacidade do solo em

fornecer nutrientes. A capacidade de disponibilização de nutrientes é igualmente

influenciada pelo tipo de solo, teor em húmus, estrutura do solo e atividade biológica

da camada de solo próximo das raízes (rizosfera). Considerando que a utilização de

fertilizantes industriais de síntese não é permitida, tanto antes como depois da

plantação, é muito importante assegurar que o solo apresenta uma capacidade

constante para fornecer nutrientes às plantas.

Os dois principais nutrientes são o Azoto (N) e o Potássio (K). O azoto participa na

formação de todos os organismos (como componente proteico).

Tabela 3 – Fornecimento de nutrientes

Húmus Fornecimento de nutrientes

1% de humus 30 a 40 kg/ha de azoto por ano.

Menos de 1 %

de humus

Sideração com misturas de leguminosas (50 a 150 Kg/ha de azoto no caso de 20 t/ha de massa verde), e plantas leguminosas estremes

(ervilha de inverno, tremoço de primavera, favas, etc.).

Bitter pit (ou “manchas encortiçadas”) é uma das mais importantes doenças que

ocorrem em maçãs e peras, e é causada por uma deficiência em cálcio do fruto. Na

base deste problema pode estar o excesso de potássio e de azoto no solo, um

desenvolvimento vigoroso e demasiado rápido, devido a um excesso de fertilização

azotada, ou uma poda de inverno incorreta. A forma mais eficaz de evitar esta doença

consiste em manter o fornecimento ideal de azoto e potássio, sem excessos, bem

como o respetivo equilíbrio nutricional.

Rega

A maioria das espécies frutíferas necessita ser irrigada. O nível de irrigação depende

das condições de precipitação locais e das necessidades hídricas das espécies/

variedades em causa. A água utilizada na rega não deve conter matérias ou

substâncias poluidoras, prejudiciais à árvore e à saúde humana.

Page 14: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

14

Preservação da humidade e dos níveis de água no solo

A utilização de métodos de cultura que preservam a água no solo e a plantação de

vedações naturais que protegem as plantas do vento, diminuindo a desidratação,

desempenham um papel determinante. Para além disso, devem ser aplicados

sistemas de rega que preservem a estrutura do solo, como por exemplo,

microaspersores suspensos, debaixo da copa, ou rega gota-a-gota.

Rega com propósitos específicos

A irrigação por cima da copa (com aspersores) é recomendada sobretudo como fator

preventivo de geadas.

Figura 2 - Pomar jovem: na linha, o solo está protegido por um

sistema de mulching (“empalhamento”). Na entrelinha, o terreno

está plantado. (http://www.orchardworld.co.uk)

Gestão da entrelinha

Na AB o pomar faz parte do ecossistema. Para que este seja equilibrado, pode

recorrer-se à sementeira das entrelinhas com plantas que favorecem a biodiversidade,

e ainda através da interligação do pomar aos elementos naturais do ecossistema, no

território em que se insere. Em climas secos e áridos é necessário adotar com muito

cuidado as práticas de países do Norte, com maiores índices de precipitação. Em

condições de produção áridas, a totalidade da planta pode não exceder 50% da

largura total da entrelinha. Na produção de fruta biológica, as entrelinhas são

frequentemente cobertas com culturas de cobertura. A vegetação usada nas

entrelinhas tem de estar biologicamente conectada com as sebes naturais, as plantas

existentes ao redor da plantação e até mesmo com a comunidade natural de plantas.

Page 15: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

15

Tabela 4 – Arrelvamento nas entrelinhas

Tipo de arrelvamento

nas entrelinhas Características

Mistura de gramíneas com leguminosas

Devem ser escolhidas as espécies menos exigentes em água. É recomendada a seguinte mistura: festuca rubra, poa

pratensis e trevo subterrâneo

Vegetação natural da

entrelinha

Associação de espécies da flora local – necessita de cortes

regulares

Linha de árvores Mistura de gramíneas e leguminosas e ensombramento do

solo

Figura 3 - Gestão da entrelinha num pomar de maçãs em AB, com

aplicação de uma mistura de gramíneas e leguminosas (fotos: Z. Szalai)

Figura 4 - Arrelvamento por todo o espaço de implantação do pomar (fotos: Z. Szalai)

Page 16: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

16

1.1.3. Gestão de pragas e doenças

A gestão das pragas e doenças é crucial na produção de fruta biológica. Existem três

domínios fundamentais: infestantes, insetos e doenças.

Controlo de ervas infestantes em pomares biológicos

Um bom plano de gestão e controlo de infestantes deve representar um risco mínimo

de erosão, fornecer uma “plataforma” para o movimento dos equipamentos da

exploração, e não ter um impacto negativo no controlo das pragas e das doenças ou

na fertilidade do solo. Adicionalmente, deve minimizar a competição das infestantes

pela água e pelos nutrientes.

Tabela 5 - Métodos de controlo de infestantes

Controlo de infestantes

Controlo agrotécnico e cultural Culturas de cobertura, empalhamento, e solarização do solo

Gestão da entrelinha em pomares

Gestão física de infestantes -

Métodos mecânicos para controlo de infestantes

Gestão física de infestantes –

Monda térmica de infestantes

Controlo biológico de infestantes

Insetos, doenças, alelopatia, vertebrados

Em qualquer caso, a ação mecânica deverá ser superficial para minimizar os danos

provocados nas raízes das árvores e para evitar trazer mais sementes de infestantes

para a proximidade da superfície, permitindo que germinem. O trabalho manual pode

ser eficaz numa escala pequena. Mas em pomares ou vinhas de grandes dimensões –

onde a mobilização na linha é desejável – os meios mecânicos podem ser muito úteis.

A extensão permitida pelos cultivadores montados em tratores permite o trabalho

junto do tronco da árvore ou do pé da vinha, sem danificar a planta.

Page 17: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

17

Figura 5 - Cortando uma mistura de gramíneas com leguminosas debaixo da

linha, num pomar do Research Institute of Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai)

Gestão da entrelinha. Aplicação de culturas de cobertura na entrelinha e, se a

precipitação o permitir, em toda a superfície da plantação (ver capítulo da gestão da

entrelinha). Os cortes são necessários e o seu número é determinado pelo índice de

crescimento das plantas, pelo nível de fornecimento de nutrientes pelo solo e pela

precipitação, ou sistema de rega.

Figura 6 - Utilização de discos especiais num solo coberto por uma mistura de

gramíneas com leguminosas, debaixo da linha de árvores no Research Institute of

Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai)

Page 18: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

18

Monda térmica de infestantes

A morte de ervas infestantes pelo calor da queima de gás é o sistema mais conhecido,

com uma eficácia de 80 a 80%, mas apresenta elevados custos energéticos. As

plantas devem ser sujeitas a temperaturas de 60 a 70ºC, no mínimo. O efeito desta

técnica traduz-se pela prostração imediata da planta que acaba por secar ao fim de

alguns dias. Este método só é efetivo contra infestantes dicotoledónias anuais, não

devendo ser aplicado em cardos ou em infestantes com estolhos ou rizomas.

Controlo biológico de infestantes

Vertebrados

Os gansos e as galinhas têm sido usados para controlo de infestantes num grande

número de culturas. Os animais são abrigados em pequenas estruturas móveis e são

mudados periodicamente de espaço.

Figura 7 - Exemplo da utilização de galinhas num pomar de aveleiras (Corillus

avellana), numa exploração experimental em Heilbron (Alemanha). (foto: Z.

Szalai)

Insetos auxiliares e controlo de pragas provocadas por ácaros em pomares

O facto de as árvores de fruto terem um período de vida significativo pode permitir o

desenvolvimento de populações de insetos nocivos ao longo do tempo. Por outro lado,

é também possível que estes ambientes agrícolas estáveis permitam o

desenvolvimento de populações de organismos auxiliares, favorecendo assim a

existência de um equilíbrio biológico, que favorece a saúde das plantas.

Page 19: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

19

Tabela 6 - Insetos auxiliares e controlo de pragas provocadas por ácaros em pomares

Método

aplicado Características

Luta biológica

A luta biológica diz respeito à utilização de organismos vivos para controlar a população de uma determinada praga. Exemplos de

artrópodes auxiliares que têm sido utilizados para controlar pragas em árvores de fruto incluem os ácaros predadores Phytoseiulus

persimilis e Metaseiulus occidentalis, os quais atacam os aranhiços vermelhos; joaninhas e crisopas, as quais se alimentam de afídeos

(pulgões); e microhimenópteros do género Trichogramma, as quais parasitam os ovos de várias pragas, incluindo o bichado da fruta

(Cydia pomonella L.).

Extratos de plantas e

biopesticidas

Os pesticidas autorizados em AB podem ser extratos de plantas, reguladores do crescimento de insetos, feromonas sintéticas para promover a desregulação na fase acasalamento, sabões, óleos,

minerais tal como o enxofre em pó, e biopesticidas à base de microrganismos.

Inseticidas vegetais

São elaborados através da extração de componentes tóxicos das plantas que têm propriedades repelentes para os insetos. Aqueles

inseticidas ocorrem naturalmente, têm um período de atuação curto,

e não libertam resíduos prejudiciais.

Feromonas de

insetos

São substâncias químicas produzidas por insetos para a comunicação e.g. para comunicação sexual. Normalmente, estas feromonas são

específicas de uma dada espécie ou género de insetos. É largamente utilizado para monitorizar a emergência ou a simples presença de

pragas nas culturas. Tecnologia recente permite também a utilização das feromonas no processo de desregulação e confusão da atividade sexual de certas pragas, especialmente em fruticultura e viticultura, desde que a área da cultura seja suficientemente grande ou isolada

para evitar a entrada de fêmeas já acasaladas.

Aprovisionamento ambiental. É fundamental ter a certeza de que as “necessidades

ambientais”, tais como a disponibilidade em néctar, fontes alimentares a lternativas e

água, estão disponíveis para os organismos auxiliares adultos. Com efeito, se o

ambiente e as condições de vida não forem os mais adequados, os insetos auxiliares

podem abandonar a área de produção ou até mesmo morrer.

A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) constitui um exemplo de uma forma biológica

recorrente no controlo de pragas. Produtos com esporos e toxinas provenientes da

bactéria Bacillus thuringiensis, como o Turex, por exemplo, combatem diversas larvas

de lepidópteros que se alimentam das folhas das árvores de fruto. Os produtos à base

de Bt não são igualmente eficazes contra as pragas de lepidópteros que passam a sua

fase larvar alimentando-se dentro de caules, troncos ou frutos, como o bichado da

fruta (maçã, pera, noz) e a zeuzera (broca dos ramos em diversas espécies de

árvores de fruto). Outros bioinsecticidas incluem o Bacillus popilliae, o vírus granuloso

Page 20: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

20

para ataque ao bichado da fruta, e nemátodos parasitas de insetos para o combate a

larvas de insetos.

Controlo de doenças em pomares de fruta biológica

Muitas doenças das árvores de fruta são específicas de determinadas espécies ou

variedades. Dada a relativamente frágil estrutura dos frutos e o elevado teor em

açúcar da maior parte dos frutos maduros, ou quase maduros, os fungos são uma

preocupação constante do agricultor. A ocorrência da maior parte das doenças

causadas por fungos tem lugar em condições climáticas caracterizadas pelos elevados

índices de humidade. A forma ecológica de minimizar as possibilidades de a fruta

apodrecer consiste em permitir uma boa circulação de ar e em favorecer a penetração

do sol no interior da copa das árvores. No caso de árvores, em particular das de

grande porte, isto implica a necessidade de efetuar podas adequadas e de levar a

cabo técnicas de condução eficazes. A instalação de pomares de árvores de fruto,

qualquer que este seja, deve ser feita em locais com excelentes condições de

circulação de ar.

Todo o material vegetal resultante das podas deve ser sempre removido do pomar, ou

destruído com uma fina trituração. Igualmente, devem remover-se as plantas

infetadas e os hospedeiros alternativos ou materiais inoculados que possam favorecer

o desenvolvimento de organismos prejudiciais.

Fungicidas e bactericidas permitidos

Embora apresentem inconvenientes, os derivados do cobre e do enxofre são os

principais fungicidas e bactericidas usados pelos produtores biológicos. De facto, estes

materiais podem causar danos às plantas se aplicados de forma incorreta. O enxofre é

também medianamente tóxico para alguns insetos auxiliares, e tóxico para ácaros

predadores, podendo assim provocar outro tipo de problemas. A utilização de

fungicidas à base de cobre, por longos períodos, pode também levar à existência de

níveis tóxicos de cobre no solo. Igualmente, estes fungicidas são efetivamente menos

eficazes que as alternativas sintéticas, e têm de ser utilizados numa base preventiva,

requerendo frequentes aplicações. Os produtores devem ter em consideração que a

quantidade de cobre metálico aplicado num ano está limitada a 6Kg/ha, de acordo

com a legislação comunitária para a agricultura biológica.

Page 21: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

21

Os biofungicidas podem ser obtidos, por exemplo, a partir de várias formulações do

fungo Trichoderma harzianium, utilizado no controlo da podridão cinzenta (Botrytis).

Embora algumas plantas e extratos compostos tenham propriedades fungicidas, é

preferível utilizar técnicas agrícolas corretas e variedades resistentes, aplicando

derivados de cobre e enxofre apenas quando necessário.

Animais vertebrados

Várias espécies de aves, gamos, ratos, ratazanas, coelhos e outros animais

vertebrados podem constituir-se como verdadeiras pragas para as árvores de fruto.

De uma forma geral, os programas de certificação biológica não permitem a utilização

de venenos para controlar este tipo de pragas. Ao contrário, encorajam a utilização de

armadilhas não letais, o controlo de movimentos com vedações ou sebes, ou ainda a

utilização de sistemas repelentes ou de amedrontamento.

Figura 8 - Disponibilização de um local de nidificação para insetos auxiliares e aves,

num pomar de macieiras no Research institute of Weinsberg, Alemanha (foto: Z.

Szalai)

1.1.4. Colheita, armazenamento, conservação e transporte

A colheita deve ser planeada atempadamente e o momento em que a mesma é

efetuada deve ser determinado de acordo com os parâmetros de maturação, em

função do destino final da fruta. Para a maior parte das variedades de fruta, a colheita

pode ser efetuada com sistemas multirecolha seletivos. O grau de maturação para a

Page 22: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

22

colheita depende da variedade, e é sobretudo determinado pelo tamanho e pela

coloração do fruto. Outros índices de maturação incluem a análise de lenticelas nos

frutos, o seu teor em amido, e a concentração interna de etileno. Tamanho e forma

uniformes, ausência de lesões internas, necroses, cicatrizes, escaldão, danos

causados por insetos, e outros defeitos, são importantes indicadores de qualidade. A

estimativa de produção deverá ser feita antes da colheita, e os seus dados registados.

Após a colheita, os frutos devem ser enviados o mais depressa possível para o seu

destino final. Tanto na colheita como no circuito de distribuição, só podem ser

utilizados os tipos de embalagem permitidos.

Durante o transporte, a fruta biológica não deve, mesmo que por acaso, ser

misturada com a fruta obtida através dos métodos convencionais. Também não pode

ser transportada em estruturas conjuntas de transporte. A fruta deve estar

devidamente marcada com uma referência distintiva na embalagem, e com indicação

na guia de transporte ou fatura de que se trata de fruta de agricultura biológica

certificada por um determinado organismo de certificação. As estruturas de

acondicionamento e embarque devem estar protegidas da contaminação externa.

Dado que se trata de produtos biológicos, a fruta colhida deve estar devidamente

referenciada com os documentos de certificação do produto em causa, especialmente

para posterior utilização pelo organismo certificador e pelo distribuidor ou retalhista.

Armazenamento dos frutos

O armazenamento dos frutos pode ser realizado em atmosfera normal ou controlada e

o período de armazenamento depende das características específicas dos frutos.

No caso de embalamento para envio, uma atmosfera modificada com 10 a 15% de

dióxido de carbono reduz o desenvolvimento da Botrytis cinerea.

Tabela 7 - Armazenamento dos frutos

Frutos Método de armazenamento

Maçãs, peras Variedades de

Verão

Armazenamento em atmosfera normal a uma temperatura entre -1 e 0ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%

Amadurecimento em Agosto ou Setembro: armazenadas desde alguns dias a algumas semanas

Maçãs, peras Variedades de

Inverno

Atmosfera controlada a -1ºC durante mais de quatro meses. Limites ótimos: 1-2% O2 + 0-1% CO2

Page 23: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

23

“Frutos de

caroço”

A temperatura ótima de armazenamento situa-se entre -1 e 0ºC, e a humidade relativa entre 90 e 95%. O período de “vida comercial”

varia desde uma a oito semanas e é diferente entre as diversas variedades. Algumas variedades são sensíveis à refrigeração. A

fruta mais sensível, armazenada entre 2 a 8ºC, é mais suscetível a este problema

Bagas ou pequenos frutos

Arrefecimento rápido com ar forçado, seguido de um armazenamento a 0ºC com humidade relativa de 90 a 95%.

A framboesa pode ser armazenada durante apenas 2 a 5 dias, em temperaturas que variam entre 0 e 0,5ºC e uma HR de 90 a 95%.

Para o mirtilo, a temperatura ótima de armazenamento situa-se também entre 0 e 0,5ºC e a HR deverá ser de 90 a 95%. Nestas condições, o período de armazenamento pode prolongar-se por

duas semanas.

Processamento da fruta

De acordo com a legislação comunitária relativa aos produtos biológicos, a seguinte

prescrição deverá ser seguida: os alimentos apenas podem ser considerados como

“biológicos” se, pelo menos, 95% dos seus ingredientes forem também biológicos.

Ingredientes biológicos em alimentos não biológicos podem ser referenciados como

biológicos na lista de ingredientes, desde que aqueles ingredientes tenham sido

produzidos de acordo com a legislação da AB. De forma a assegurar um maior grau de

transparência, o número de código do organismo certificador deve ser indicado. É

proibida a utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) ou produtos

deles derivados.

Os produtos biológicos não podem ser tratados ou sujeitos a processos de radiação ou

ionização. Desde 1 de Julho de 2010 que os produtores de alimentos biológicos

europeus devem usar o logótipo comunitário da AB. A utilização do logótipo em

produtos biológicos oriundos de países terceiros, todavia, é opcional. No caso de este

ser utilizado, a legislação promulgada obriga, desde 1 de Julho de 2010, a que o local

de produção dos ingredientes agrícolas utilizados seja indicado.

Page 24: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

24

Tabela 8 - Necessidades de matéria-prima para o processamento de produtos biológicos

Fruta Requisitos de qualidade

Maturação Os frutos atingem o seu estado ótimo quando se obtém, para cada

variedade, a melhor relação ácido/açúcar. A excessiva maturação afeta

as características do fruto, designadamente o seu sabor.

Pureza Os frutos não devem conter materiais ou substâncias estranhas, tais

como pó ou poeiras, terra, folhas, etc. Os frutos devem ser lavados com água fresca e limpa, antes do processamento.

Conservas, compotas, geleias de frutos, sumos

Na fase de processamento e conservação só podem ser utilizados métodos físicos

(tratamento pelo calor, congelamento, pressão). Igualmente, só podem ser

empregues aditivos naturais. O conjunto de aditivos que podem ser utilizados é muito

vasto, pelo que é aconselhável obter informação da literatura técnica, antes do

processamento do produto. Os aditivos originários de produção não biológica não

podem exceder 5%, em peso. Corantes sintéticos, aromatizantes, adoçantes,

antioxidantes, potenciadores de sabor e conservantes alimentares, não deverão ser

usados. As condições ideais de conservação, baseiam-se, designadamente, na

esterilização com calor, no enchimento a quente, e na posterior pasteurização (vapor

ou água quente). As fases seguintes dizem respeito ao processamento dos produtos à

base de frutas.

A matéria-prima deve ser exclusivamente originária de produção

biológica certificada, devendo a mesma estar documentada. Na

fábrica, a matéria-prima biológica só pode ser processada numa linha

de transformação específica, independente das restantes. Cada fase

deverá ser acompanhada da devida documentação.

Page 25: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

25

Tabela 9 – Processamento dos frutos e requisitos de qualidade

Tipo de Processamento

Requisitos de qualidade

Conservas

Frutos inteiros maduros, juntamente com um líquido de preenchimento arrefecido (eventualmente suplementado com sumo

de limão) são introduzidos em recipientes fechados e posteriormente sujeitos a tratamento com calor

Doces de frutas

Confecionados com açúcar adicionado e são sujeitos a preparação culinária, contendo também alguns pedaços de fruta. Na maior

parte dos casos, podem ser feitos a partir de fruta não totalmente madura.

Geleias

são elaboradas a partir de fruta totalmente madura, mesmo

amassada, com açúcar adicionado e preparação culinária (que promove a esterilização).

Frutos secos

No processo de secagem, é reduzido em cerca de 80 a 90% o conteúdo em água natural dos frutos.

O método de secagem no forno, como a secagem em bandejas, é um método simples e tradicional.

Marketing

Os produtos comercializados devem ser etiquetados de acordo com as suas

características de produção e processamento biológicos, contendo o número de código

do organismo certificador. O produto certificado é acompanhado pelo respectivo

documento de certificação, emitido pela entidade certificadora. Igualmente, devem

também ser indicados o nome do produto, o endereço do produtor, o peso líquido

escorrido, a data de validade, ingredientes e aditivos incorporados e as

recomendações de armazenamento (ambiente frio ou seco, etc.). A fruta biológica

pode ser comercializada do seguinte modo: 1) venda direta pelo produtor na

exploração agrícola; 2) venda em mercados locais; 3) entrega em casa na sequência

de pedido expresso; 4) venda do quadro do agroturismo; 5) abastecimento de

restaurantes, hotéis, e através da rede de mercados grossistas.

Page 26: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

26

1.1.5. Exemplos práticos

Damasco (Armeniaca vulgaris L.)

A espécie Armeniaca pertence ao subgénero Prunus, o qual se insere na grande

família das Rosáceas. Esta inclui numerosas espécies selvagens e domésticas. O

damasco cresceu primeiro na Ásia Central e Ocidental, tendo-se espalhado a partir daí

para a Grécia, a Itália, França, Espanha e Califórnia.

Morfologia e necessidades biológicas do damasco. O damasco é uma árvore de

raízes profundas com um tronco de cor castanho-avermelhado. Os ramos e a copa são

avermelhados, com numerosas lenticelas. A produção de damascos tem sempre lugar

em “ramos produtivos”, nos quais as partes produtivas têm sempre um ano. A árvore

torna-se produtiva aos cinco ou seis anos de idade e o volume máximo da copa é

atingido entre os seis a dez anos. Devido à precoce floração na Primavera, o

damasqueiro sofre frequentemente com as baixas temperaturas de algumas noites

primaveris.

Necessidades Ecológicas. Necessidades em termos de temperatura. Uma exigência

fundamental do damasco é a existência de uma temperatura anual média de 10ºC e

uma temperatura média no mês de Julho de 18ºC. O damasco necessita de 1900

horas de sol no período vegetativo (i.e. do quarto ao nono mês), e a temperatura

acumulada deve ser superior a 3200ºC. As temperaturas baixas são importantes para

o seu desenvolvimento e o vingamento dos frutos: 40 dias com 3ºC a 4ºC são

suficientes para a floração, mas mais do que isto e os frutos sofrerão lesões

provocadas pelo frio. Portanto, estas árvores não devem ser plantadas nas vertentes

orientadas a Sul. Algumas variedades selecionadas já são menos exigentes em frio

invernal.

Necessidades de água. Os frutos necessitam 550-600 mm de precipitação anual, se

uniformemente distribuída. As necessidades hídricas são maiores durante a fase da

diferenciação das gemas vegetativas, em Agosto, e durante o desenvolvimento dos

botões florais, em Setembro/Outubro.

Page 27: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

27

Necessidades pedológicas. O damasqueiro necessita de um solo com uma

estrutura “solta” e uma camada inferior de argila. Devido às elevadíssimas

necessidades em arejamento no solo, esta árvore sofre de asfixia radicular em solos

mais “pesados”.

Uso de porta-enxertos. O porta-enxertos com base no damasqueiro selvagem

caracteriza-se sobretudo pelo seu crescimento vigoroso; os porta-enxertos de

ameixeira selvagem apresentam também um crescimento vigoroso, embora tenha

sido registado um efeito de nanismo na ameixa vermelha. Algumas ameixeiras nobres

podem proporcionar excelentes porta-enxertos, como é o caso dos clones de

Besztercei. Em algumas áreas, a os enxertos obtidos a partir da Prunus domestica

ssp. institia podem também ser adequados. No caso de colheita mecânica deve usar-

se o porta-enxerto mirabolano.

Crescimento. O damasqueiro atinge o volume máximo de copa entre os seis e os 10

anos de idade. A fase de máxima floração acontece normalmente em Março. É

importante sublinhar que devido às condições específicas de polinização do

damasqueiro, devem ser plantadas várias variedades.

Fornecimento de nutrientes. Tal como sucede com outras culturas, é fundamental

efetuar análises de solos e de folhas antes da adubação. Para assegurar um volume

médio de produção (i.e. 20 a 25 toneladas/ha), o suplemento anual em nutrientes

recomendado deverá situar-se entre 1000 a 1500 Kg/ha de estrume curtido ou

composto. Em termos de fornecimento de nutrientes, o estrume e o composto

desempenham um papel fundamental.

Proteção das plantas. Para garantir que as árvores de fruto estejam em boas

condições, o melhor método preventivo consiste em efetuar uma boa plantação, com

plantas fortes e saudáveis. De seguida, é também importante a monitorização do

pomar, designadamente, efetuando as podas nas alturas adequadas, mantendo o

pomar limpo e arrumado, fazendo cortes regulares no espaço das entrelinhas,

mobilizando o solo mecanicamente nas linhas, ou então recorrendo ao empalhamento

nas mesmas. Igualmente, devem destruir-se os ramos infetados e retirar-se do pomar

as folhas e os frutos infetados. Desta forma, removem-se ou afastam-se do pomar os

focos de pragas e doenças.

Page 28: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

28

A seguinte tabela simplificada apresenta alguns métodos biológicos aplicáveis na

proteção de plantas, relativamente ao damasco.

Tabela 10 - Proteção de plantas em AB: damasco e peras (Fonte: Biocont Hungaria Kht)

Praga Método de proteção Aplicação

Aranhiço vermelho europeu

(Panonychus ulmi)

Aranhiço amarelo (Tetranychus

urticae)

Typhlodromus Pyri ácaro fitoseídeo

Em cada uma das árvores: 1-3 doses de Typhlodromus. Devem ser colocadas entre

Dezembro e Fevereiro (em geral não é preciso aplicar, pois a

limitação natural com os auxiliares autóctones é suficiente)

Afídeos Garbol

óleo de Verão a 856g/l

Pulverização com uma concentração de 2-

3% no período de repouso vegetativo, e com uma concentração de 0,5-1%, durante o

período de crescimento

Anarsia

(Anarsia lineatella)

Isonet A 1000 difusores de feromona/ha,

especialmente para pomares com mais de 3ha. Aplicação entre 5 a 10 de Maio.

Traça Oriental do pessegueiro

(Cydia molesta)

Dipel, Turex Bacillus thuringiensis var. kurstaki: 1,5 a 2 litros, ou kg/ha, diluído em 800 a 1000 litros

de água de acordo com os resultados de monitorização das armadilhas de feromonas,

no estádio larvar da praga.

Traça Oriental da fruta

(Grapholita molesta)

Isomate 600 difusores de feromona/ha especialmente para pomares com mais de 3 ha, e aplicação

antes do início do voo

Oídio Thiovit com 80% de enxofre

Antes da floração: 7,5 kg/ha; Após a floração: 3 a 4 kg/ha

Coryneum beijerinckii

(crivado) Monilia laxa (moniliose)

Kocide 2000 53% de cobre

Aplicável até à fase de botão vermelho da flor do damasco em concentrações de 1,75-

2,0 kg/ha, com 1000-1500 litros de água

Oídio Monilia laxa, Apiognomia

erythrostoma

Afídeos e ácaros

Calda sulfo-cálcica com 23% de polisulfureto de cálcio, contra doenças

provocadas por fungos e

insetos. É necessária autorização

por parte da entidade certificadora

Não está homologada em Portugal

No estadio de dormência: 8-10% de concentração.

No início do desenvolvimento do botão: 3-5%;

No estadio vegetativo: 1-2%

Monitorização do desenvolvimento da população das pragas de insetos: Armadilhas com feromonas; Armadilhas cromotrópicas amarelas pegajosas; Armadilhas brancas para

microhimenópteros da fruta

Page 29: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

29

Colheita. A colheita manual é efetuada em duas ou três fases (70-80 Kg/hora). A

maturidade é definida pela cor da pele, firmeza da polpa, e pelo conteúdo em ácido. A

colheita mecânica pode ser feita, sobretudo se está em causa o posterior

processamento pela indústria alimentar. Após a colheita, os frutos devem ser pré-

arrefecidos o mais rapidamente possível. O damasco não tolera bem o

armazenamento em frio: poderá assim ser guardado por um período máximo de duas

semanas.

Consumo e processamento. O damasco é recomendado sobretudo para consumo

em fresco, mas também é excelente processado sob a forma de compotas, geleias e

sumos. A desidratação é uma excelente oportunidade para os damascos.

Page 30: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

30

Unidade Didática 1.2. A produção biológica de hortícolas

Os métodos usados na produção biológica reproduzem os ciclos naturais da vida,

incluindo a senescência e a renovação. Com a produção em agricultura biológica, o

solo recupera os seus nutrientes e o material orgânico, criando assim um solo de

elevada qualidade para o produtor biológico. Igualmente, obtêm-se melhores plantas

e uma utilização eficiente do solo e dos desperdícios, neste caso, através da

reciclagem.

1.2.1. Escolha do local e seleção varietal

O sucesso da produção de hortícolas em AB pode estar muito dependente da escolha

do local. Para além de todas as razões óbvias relacionadas com a escolha de um local

(clima e solo adequados, correto fornecimento de água, transporte e mercados), o

local deve estar relativamente livre das pragas e doenças que incidem nas culturas

que o agricultor pretende cultivar. A presença de algumas espécies de infestantes,

como a grama e a junça, são em geral ainda mais problemáticas, dada a

impossibilidade de aplicar herbicidas.

O sucesso da produção vegetal em AB assenta no estabelecimento de um correto

plano de rotações. Isto poderá significar uma redução da área de produção destinada

ao mercado e a implementação de zonas com plantas que se destinam a posterior

sideração. Estes terrenos serão colocados em produção comercial na rotação seguinte.

Os produtos hortícolas podem ser cultivados com sucesso sobretudo em zonas

“baixas”, planas e com clima temperado. As elevadas altitudes diminuem o

período vegetativo, o que reduz o leque de espécies e variedades a utilizar.

Microclima do local é crucial na medida em que cada planta tem necessidades

específicas em termos climáticos.

Locais com frequentes geadas noturnas na Primavera e no Outono contribuem

para tornar o êxito da produção mais aleatório.

Período vegetativo pode ser prolongado utilizando estruturas de cobertura, tais

como estufas e túneis de plástico, ou cobrindo as culturas com manta térmica.

A precipitação é muito importante, sobretudo para culturas mais exigentes em

água, que apresentam maior área foliar. No caso de os períodos de precipitação

serem curtos e insuficientes, devem ser instalados sistemas de irrigação.

Page 31: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

31

Características das espécies de acordo com as condições climáticas e a luminosidade

As plantas com maiores necessidades de calor ou que vivem em zonas com dias

mais curtos necessitam de um número mais elevado de horas sem luz para

iniciarem a floração.

As plantas com menores exigências de calor ou que crescem em zonas com

dias mais longos necessitam de um menor número de horas de escuridão, em

cada 24 horas, para induzir a floração.

Descrição de temperaturas ótimas para produtos hortícolas segundo Markov-Haev

25 C° – melão, melancia

22 C° – tomate, beringela, pimento

18 C° – cebola, alho

16 C° – cenoura, ervilha, feijão

13 C° – couve, rabanete, hortícolas de folha larga

Variedades e seleção de culturas

Desde 31 de Dezembro de 2003 que constitui um requerimento da produção biológica

a necessidade de as variedades escolhidas deverem ser obtidas a partir de sementes

ou plântulas certificadas. A variedade escolhida deve também ser reconhecida no

mercado, apresentar produções significativas, ter uma resistência a pragas e doenças,

e ter um bom vigor vegetativo e desenvolvimento da parte aérea de forma a conter as

infestantes. Algumas variedades têm características específicas, como por exemplo,

pêlos ou superfícies rugosas, que as tornam pouco “atrativas” para as pragas.

Adequação ao mercado

É importante contactar os grossistas, os retalhistas e os exportadores de produtos

biológicos para saber o que o mercado procura e quando o necessita. Alguns tipos de

produtos hortícolas podem escassear em algumas alturas do ano, e pode ser possível

preencher essa lacuna sazonal no mercado. Certos restaurantes e operadores de

catering podem desejar espécies específicas de hortícolas, como por exemplo, de

pequena dimensão, tipo “baby”. Mercados locais ou comércio na exploração podem

constituir uma possibilidade interessante, sendo neste caso aconselhável a produção

da uma vasta gama de produtos reconhecidos. Uma empresa de processamento pode

ser também outro destino possível: alimentos biológicos tipo “baby”, têm uma procura

crescente em vários países europeus. De uma forma geral, as espécies destinadas ao

processamento são diferentes daquelas destinadas ao consumo em fresco, e este

Page 32: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

32

aspeto deve ser analisado com cuidado. Provavelmente, os industriais terão as suas

próprias necessidades, que podem incluir variedades específicas, quantidade e

momento do fornecimento, forma, ou composição, como por exemplo a percentagem

da componente de sólidos solúveis no produto.

Adequação às condições ambientais de cultura

Uma vez tomada a decisão quanto ao que produzir, o próximo passo consiste em

escolher uma variedade adequada. É importante fazer alguma pesquisa “local”:

contactar o departamento de agricultura mais próximo, outros produtores, e alguns

viveiristas, para saber que variedades se desenvolvem melhor na zona em causa. O

tipo de solo e características sazonais, como a duração do dia e a amplitude térmica

podem determinar as variedades a cultivar e quando cultivar. Pode também ser

possível modificar alguns fatores ambientais para proteger as culturas ou alterar o

período de maturação das mesmas, usando, por exemplo, coberturas de culturas (ou

na linha), ou mesmo produção em estufa.

Pragas, doenças e resistência a infestantes

Entre as características varietais que podem dar à produção biológica uma vantagem

significativa estão a resistência intrínseca a pragas e doenças, o vigor vegetativo, a

existência de folhas largas, bem desenvolvidas (provocando ensombramento nas

infestantes) e a existência de frutos com pêlos (como acontece em alguns tipos de

cucurbitáceas). Podem ser plantadas variedades em função do seu período de

maturação de forma a evitar a elevada incidência de pragas e doenças em períodos

determinados.

Disponibilidade de sementes e de plântulas

De acordo com os critérios de certificação biológica, deve ser dada preferência à

utilização de sementes e plântulas oriundas de AB. Desde 01 de Janeiro de 2001 que

tal procedimento está inscrito no Regulamento Europeu da Produção Biológica. A

partir de então, foi desenvolvida uma base de dados com as características dos

produtores e fornecedores de sementes e plântulas biológicas. Variedades de

polinização aberta ou não híbridas são também preferíveis, mas não obrigatórias. As

variedades geneticamente modificadas (transgénicas) não são permitidas em AB.

Deve ter-se todo o cuidado no sentido de a semente ter uma correcta germinação.

Antes da introdução no solo, pode ser aconselhável semear algumas sementes num

Page 33: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

33

recipiente e analisar a percentagem de germinação. As sementes não podem ser

tratadas com pesticidas químicos de pré-sementeira.

Considerações sobre a utilização do espaço

No momento do planeamento da cultura alguns aspetos relacionados com a utilização

do espaço podem ser o tipo de linhas e o espaço entrelinhas, o número de linhas por

cama, e a eventual consociação com outras espécies, as quais poderão funcionar

como planta hospedeira ou armadilha.

Solo e nutrição das culturas

A maior parte dos produtos hortícolas desenvolve-se melhor em solos argilosos, bem

drenados, com um pH situado entre 6 a 6,5. É fundamental uma análise prévia dos

solos para identificar eventuais necessidades de intervenção ao nível da sua estrutura

ou da sua capacidade de fornecimento de nutrientes. Provavelmente, antes da

plantação/sementeira, serão necessários alguns “ajustamentos” no solo para que este

disponibilize os nutrientes necessários à cultura em causa. O solo deve também ser

analisado de forma a despistar eventuais resíduos de pesticidas ou contaminação

provocada por metais pesados. Neste caso, níveis inaceitáveis podem excluir a

produção da certificação biológica ou podem excluir a produção de determinadas

culturas, como os hortícolas de raiz.

O composto constitui um input nutricional essencial numa exploração agrícola em AB,

constituindo assim uma vantagem a possibilidade de facilmente se poder ter acesso a

uma fonte local de compostagem. O composto pode incluir estrume animal e

desperdícios de culturas efetuadas noutras empresas agrícolas, mas, neste caso, os

materiais utilizados deverão estar livres (ou ter uma baixa incidência) de resíduos de

pesticidas e de metais pesados. Muitos organismos certificadores preferem o

desenvolvimento de sistemas que permitam que a compostagem numa determinada

exploração utilize apenas materiais obtidos nessa mesma exploração. O produtor

biológico deve destinar uma área da exploração para a produção de composto, longe

de depósitos e cursos de água, e com os cuidados devidos para evitar a poluição.

Água

Deve existir uma fonte de água de qualidade e em quantidade, sendo essencial

assegurar o seu acesso, nomeadamente, confirmando esta possibilidade junto das

Page 34: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

34

autoridades competentes. A água disponível deve ser testada com vista a determinar

a sua adequação para a irrigação; também deve ser testada quanto a uma eventual

contaminação química, em particular, se essa água atravessa terrenos que não estão

em AB, como por exemplo, canais de rega e cursos de água naturais. O conteúdo em

sais da água deve também ser analisado antes da sua utilização.

Proximidade de explorações agrícolas que não estão em AB

Se existe um potencial de contaminação, os produtores biológicos devem introduzir

“zonas-tampão”, não certificadas, entre as áreas certificadas e as propriedades

adjacentes. As “zonas-tampão” podem ser constituídas por “quebra-ventos”,

corredores para vida selvagem, áreas com culturas não certificadas, ou outras

infraestruturas ecológicas. Quando adequadamente selecionadas e instaladas, as

zonas de vegetação complementar favorecem a biodiversidade na exploração e

atraem aves e outras espécies benignas que auxiliam no controlo de pragas.

Transporte

É fundamental dispor de transporte de qualidade para escoar os produtos frescos para

o mercado. O transporte em causa poderá ter de ser refrigerado se transportar

produtos altamente perecíveis, e os operadores logísticos devem estar conscientes de

que o produto transportado é biológico pelo que deverá ser isolado dos produtos

convencionais, para minimizar o risco de contaminação.

Equipamento e maquinaria

Muitas empresas de sucesso, com grande dimensão, vocacionadas para a produção

biológica de hortícolas utilizam uma larga gama de máquinas e utensílios nas

operações culturais. O equipamento necessário depende largamente de cada situação.

Alguns produtores cultivam vegetais em canteiros (1,5 metros é uma largura

comum), pelo que os tratores devem ter elevada precisão e uma distância entre rodas

adequada ao tamanho da cama. Existe no mercado uma larga gama de equipamento

agrícola para viveiristas e produtores, designadamente para controlo de ervas

infestantes.

Monitorização de desempenho

A manutenção de registos da atividade agrícola é essencial e constitui mesmo um

requerimento do processo de certificação. Idealmente, todos os canteiros devem estar

Page 35: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

35

numerados, e devem ser mantidos registos relativos ao desenvolvimento das plantas,

infestantes, incidência de pragas e doenças e medidas de controlo usadas, sucessos e

fracassos, resultados de análises de solos, siderações, fertilizantes e outros inputs

aplicados, e dados climáticos. A informação deve ser guardada imediatamente após o

fim da operação a que reporta.

1.2.2. Gestão da fertilidade do solo

O fornecimento adequado de nutrientes pode ser realizado através do sistema global

de gestão do solo, o qual inclui a rotação de culturas, a preparação do solo e o

fornecimento de nutrientes (matéria orgânica). É muito importante alcançar um nível

elevado de atividade biológica no solo através dos microrganismos vivos que o mesmo

contém. A planta utilizará assim os nutrientes resultantes da atividade dos

microrganismos do solo.

Fertilizantes

Na produção de hortícolas biológicos o composto da própria exploração constitui a

base da nutrição das plantas. A utilização de fertilizantes artificiais de síntese e de

fácil solubilidade é estritamente proibida (Reg. UE 889/2008, Anexo I). De acordo com

este Regulamento, fertilizantes minerais com menor grau de solubilidade podem ser

utilizados, apenas se não for possível implementar um plano de nutrição adequado,

baseado na rotação de culturas e no fornecimento de nutrientes pelo solo.

Adicionalmente, a sideração é uma solução a utilizar, funcionando no quadro da

rotação de culturas. A matéria orgânica com origem na exploração é fundamental e

constitui o princípio básico da agricultura biológica, que assenta na existência de um

ciclo fechado de operações e intervenções agrícolas.

O aspeto mais importante no crescimento de produtos hortícolas em MPB é o estrume

de bovinos ou suínos, ou de outros animais da exploração, e o composto obtido a

partir desses estrumes e dos resíduos de plantas da exploração. Antes de ser

utilizado, o estrume da exploração deve ser decomposto em condições aeróbias

(curtido) para que o azoto existente se torne mais estável e disponível numa

perspetiva de fertilização de longo prazo, e para que os organismos patogénicos

sejam eliminados. Se necessário, e com a autorização da entidade certificadora,

podem também ser aplicados fertilizantes minerais. A lista dos fertilizantes minerais

Page 36: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

36

permitidos e de outros melhoradores da fertilidade do solo e da microflora, está

disponível no Reg. (UE) 889/2008, no seu Anexo 2. Exemplo: carbonato de cálcio

natural, sulfato de potássio, sulfato de cálcio, sulfato de magnésio.

A Sideração é outro importante melhorador da estrutura e da composição do solo,

com forte impacto na produção de hortícolas biológicos. Sideração significa produzir

espécies adequadas ao terreno e enterrá-las no solo quando o teor em nutrientes,

definido em função do seu estado fenológico, for o melhor.

Tabela 11 – Vantagens da Sideração

Sideração Vantagens

Nutrientes Aumento de teor em azoto do solo (através das espécies

leguminosas) e favorecimento da melhoria da sua estrutura

Infestantes Cobertura do solo, antes ou depois da cultura principal

Proteção

Quebra do ciclo de desenvolvimento de pragas e doenças no terreno, apresentando forte capacidade nematodicida, como por

exemplo algumas espécies Crucíferas (de que é exemplo a mostarda).

Ambiente

Redução da lixiviação mineral; efeito de drenagem e estrutura fragmentada na camada mais elevada do solo

A sideração pode também constituir a cultura secundária na rotação, sendo

implantada através de sementeira na entrelinha da cultura já instalada, ou sobre o

restolho da última cultura. Esta sementeira pode fazer-se através de sementes

compradas ou a partir duma parte do adubo verde que se deixa produzir semente. Se

as plantas se encontrarem no seu estadio ótimo de desenvolvimento, serão

enterradas cortadas, ou não cortadas, ou deixadas sobre o terreno, como cobertura

morta (mulching).

O valor da sideração é fortemente determinado pela profundidade que atingem as

raízes das espécies utilizadas, bem como pelo tempo que medeia entre a sementeira e

a incorporação no solo. No primeiro caso, o volume de raízes existentes nos primeiros

vinte centímetros do solo é particularmente importante.

Compostagem

Durante o processo de compostagem os materiais orgânicos grosseiros são

transformados em húmus, sendo este constituído por macromoléculas orgânicas. Os

Page 37: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

37

resultados variam de acordo com as condições de maturação e do tipo de material

utilizado. Dado que se podem obter compostos com diferentes capacidades de

fornecimento de nutrientes, o agricultor poderá utilizá-los, como fertilizantes, em

diferentes culturas. Todos os tipos de resíduos de plantas (exceto os infetados) podem

ser convertidos em fontes benéficas de nutrientes, refazendo a estrutura do solo e

revitalizando a atividade biológica.

A reciclagem de materiais orgânicos assume uma importante função de proteção

ambiental, enquanto o composto, quando bem produzido, tem vantagens adicionais.

O calor desenvolvido na pilha durante o processo de compostagem melhora as

condições de sanidade e evita as infestantes, quando não mesmo elimina todas as

sementes de infestantes, e destrói os fungos causadores de doenças e outros esporos.

Se o processo de compostagem for devidamente controlado obtém-se um fertilizante

com um valor nutricional mais elevado que os materiais grosseiros iniciais. O elevado

número de microrganismos favorece a vida no solo e melhora a gestão natural de

nutrientes do sol. As perdas mínimas de nutrientes, o baixo investimento, e as

reduzidas necessidades energéticas, tornam este processo numa forma

economicamente vantajosa de fornecimento de nutrientes.

A compostagem superficial é uma espécie de mulching nutritivo que requer um

baixo investimento; todavia, é um método pouco eficiente e pode ser acompanhado

por elevadas perdas de nutrientes. No processo de maturação em pilha é efetuada a

mistura dos materiais grosseiros triturados, tendo o cuidado de manter uma estrutura

que permita o fácil arejamento. Durante o processo de maturação, deve ser garantido

o arejamento e o teor adequado de humidade. Durante a maturação do composto o

arejamento deve ser assegurado porque, ao contrário da maturação do estrume

líquido (chorume) da exploração, o composto é formado através de um processo

aeróbico, mesmo que parte da matéria-prima seja estrume. O composto é aplicado

em menores quantidades no terreno (em comparação com corretivos orgânicos não

compostados), no Outono e na Primavera, sendo incorporado perto da zona das raízes

e, ocasionalmente, diretamente à volta das plantas.

A importância da cobertura do solo na produção de hortícolas - Mulching

A cobertura do solo protege os terrenos contra o impacto das chuvas e os efeitos de

desidratação do sol e do vento. Esta proteção incrementa a vida no solo e constitui

Page 38: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

38

também uma fonte de nutrientes para os microrganismos. A cobertura do solo evita a

concentração anual de infestantes, quando não mesmo eliminando-as completamente,

e favorece o desenvolvimento de frutos saudáveis (por exemplo, morangos e melões).

Esta técnica é especialmente apropriada para regiões onde o Verão é quente e seco.

Podem referir-se os seguintes tipos de mulching:

Palhas ou relva cortada, usados em culturas de ciclo longo que requerem

elevadas quantidades de matéria orgânica e que crescem em grandes espaços

abertos: tomate; beringela; pimento; melão, couve, alho, abóbora, pepino e

alho-francês;

Filme biodegradável, que impede a proliferação de pragas e doenças quando o

solo é aquecido, permite a circulação do ar e da água, enquanto impede o

desenvolvimento de infestantes;

Materiais à base de papel, para morangos e outras culturas hortícolas.

1.2.3. Rotação e consociação de plantas

A importância da rotação cultural

A rotação de culturas é a base da produção biológica, na medida em que a sua

complexidade e diversidade asseguram a estabilidade do ecossistema agrícola. As

principais funções da rotação de culturas são:

Assegurar o suficiente fornecimento de nutrientes;

Assegurar o autoabastecimento de azoto através da introdução de plantas

leguminosas;

Minimizar os danos causados por ervas infestantes, pragas e doenças e

proteção contra essas mesmas infestantes, pragas e doenças;

Manter a estrutura do solo e o teor adequado em matéria orgânica

Definição de rotação de culturas

A rotação de culturas assume uma relevância determinante na agricultura biológica.

De facto, este método holístico permite a construção de um adequado sistema de

fornecimento de nutrientes, favorece a proteção das plantas e facilita o uso do solo. A

rotação de cultura constitui igualmente a forma mais eficiente de alterar os impactos

de longo prazo para que seja possível a adequação das atividades da exploração aos

Page 39: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

39

requisitos da ecologia e da sustentabilidade. A interação planta/solo, bem como a

atividade de organismos auxiliares presentes no solo, são importantes fatores de

melhoria da fertilidade dos solos e, por essa via, promotores de um melhor contexto

de desenvolvimento das plantas.

Os quatro elementos-base de um sistema de rotação de culturas são:

Composição das plantas - conjunto das espécies produzidas na exploração, ou

nas suas áreas adjacentes

Proporção das plantas - percentagem de área ocupada com determinadas

espécies de plantas.

Sequência de plantas - composição e proporção das mesmas, e a forma como

se sucedem numa determinada área, num determinado conjunto de anos.

Rotação - período durante o qual todas as plantas na rotação foram cultivadas,

em todas as secções, de acordo com uma determinada sequência e que, no

final da rotação, a formação inicial é de novo retomada.

Desenho da rotação de culturas na produção de hortícolas

No momento da planificação de uma rotação de culturas devem ter-se em

consideração os seguintes aspetos:

Os hortícolas de folha para salada têm idêntica posição na rotação

que as culturas de raiz.

Um intervalo mínimo no cultivo de uma mesma espécie, significa

quatro anos para a maior parte das hortícolas.

A sideração ou a introdução de culturas intercalares melhoradoras

permitem obter boas condições de produção para todos os hortícolas

(com exceção dos que pertencem à mesma família).

Para sistemas de produção de hortícolas ao ar livre, a rotação de

culturas deverá reservar 20% para as culturas leguminosas.

Page 40: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

40

Objetivos da rotação de culturas

Manutenção e melhoria da fertilidade do solo

A fertilidade do solo só pode ser alcançada através de um sistema de produção

baseado na rotação de culturas. O impacto desfavorável de certas plantas ou grupos

de plantas deve ser compensado com o impacto favorável de outras plantas. A

ervilha, a ervilhaca e o feijão deixam mais raízes no solo e o seu restolho permanece

nos terrenos mais tempo do que o trigo de inverno ou milho; as leguminosas anuais,

e algumas gramíneas, deixam no solo uma massa de resíduos orgânicos ainda mais

elevada.

Manutenção e melhoria da estrutura do solo

O sistema radicular das plantas cultivadas tem um efeito positivo na estrutura do solo.

As plantas da família Papilionacea (Fabaceae), também conhecidas como

leguminosas, são as que asseguram um melhor efeito de ensombramento, tendo os

cereais um impacto positivo menor. A consociação de leguminosas com gramíneas é

ainda melhor.

Proteção do solo contra a erosão e o esgotamento

Uma das formas mais eficientes para proteger o solo contra a erosão e o esgotamento

consiste no mulching ou cobertura do solo. O objetivo consiste assim em utilizar,

designadamente, plantas que cubram o solo durante o maior período possível, em

particular, durante os períodos críticos.

Controlo de infestantes

Um sistema de produção sem rotação de culturas “abre as portas” à rápida

proliferação de certas espécies infestantes. A rotação de culturas é de facto o sistema

de controlo de infestantes mais económico e eficaz.

Page 41: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

41

Rotação definida de acordo com as necessidades nutritivas

É uma forma tradicional de desenhar uma rotação de culturas na produção biológica

de hortícolas.

Tabela 12 - Rotação definida de acordo com as necessidades nutritivas

Culturas Requisitos nutricionais

Primeiro grupo Elevado: Brássicas (em especial as couves), as Solanáceas, as

Cucurbitáceas, o milho doce, o alho-francês e, por vezes, o aipo

Segundo grupo Médio-Elevado: hortícolas de raiz, cebola e hortícolas de folha larga

(com exceção do aipo).

Terceiro grupo Médio-Baixo: espécies leguminosas anuais: ervilhas; feijões

Quarto grupo plurianuais: espargos; ruibardo

A sequência na rotação

O desenho da rotação deve ter em consideração o tipo de hortícolas a escolher e a

relação que se estabelece entre si. Igualmente, é importante considerar a sua

importância no âmbito da fertilização e da quebra dos ciclos de algumas pragas e

doenças, como é o caso das pastagens e da sideração. Algumas considerações

suplementares a ter em conta são as características do mercado para as espécies

escolhidas, os recursos disponíveis (mão-de-obra e equipamento), a economia da

rotação, e o papel dos animais (bovinos e ovinos), se estes fizerem parte do sistema

produtivo da exploração.

Regras da rotação – desenho temporal

Evitar repetir culturas da mesma espécie e da mesma família botânica – existirá

um potencial para o desenvolvimento de pragas e doenças.

Considerar a relação entre o tipo de rotação cultural e o controlo de infestantes

Preceder culturas esgotantes do solo por culturas melhoradoras. As

leguminosas podem fornecer o azoto necessário para as culturas subsequentes.

Culturas com raízes profundas são capazes de explorar uma área maior da

reserva de nutrientes do solo.

Page 42: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

42

Utilização de consociações

A consociação de culturas foi desenvolvida há já muito tempo, baseada nas

experiências dos produtores que misturaram espécies hortícolas entre elas e com

outras espécies. Esta prática é vantajosa e tem hoje em dia um forte suporte

científico.

Vantagens das consociações:

Melhor utilização da área disponível

Maiores produções

Cobertura do solo

Interações entre plantas

Desvantagens das consociações

Maiores exigências ambientais

O produtor deve conhecer bem as necessidades das plantas utilizadas

No processo de definição e implementação da consociação, o produtor poderá utilizar

as interações positivas que se desenvolvem entre as plantas para influenciar a

germinação, o crescimento, a fertilização e a formação de frutos, e influenciar

(negativamente) o surgimento e desenvolvimento de pragas e doenças.

Figura 9 – Consociação em linha (foto: Z. Szalai)

Page 43: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

43

Existem diversas formas de promover o cultivo de consociações. Frequentemente este

processo é usado em pequena escala, em hortas e pequenas explorações agrícolas,

mas pode ser implementado em média e larga escala, mesmo em explorações

fortemente orientadas para o mercado. A questão fundamental consiste em selecionar

o método apropriado tendo em consideração a dimensão da exploração e os objetivos

que pretende alcançar.

Tipos de consociações

Plantação na linha de acordo com o método de Gertrud Frank (adequado para hortas

caseiras e produções hortícolas de ar livre, com pequena a média dimensão)

Cultivo em forma de faixa (nas explorações de grande dimensão os faixas são tão

largas quanto o possibilitarem as alfaias e as máquinas utilizadas)

Culturas em linha intercaladas (utiliza-se em produções de pequena a média

dimensão e implica mecanização)

Page 44: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

44

1.2.4. Pragas, doenças e infestantes

Os métodos de proteção de plantas aplicados na agricultura biológica são sobretudos

orientados no sentido da prevenção. As ferramentas para prevenção são

sensivelmente as mesmas que as utilizadas na proteção convencional de plantas, mas

a sua importância, neste caso, é múltipla e determinante, na medida em que muitas

das falhas registadas na agricultura biológica não podem ser remediadas mais tarde,

com outras técnicas de proteção. Na tabela abaixo são apresentados os mais

significativos métodos e ferramentas de prevenção e proteção.

Tabela 13 – Principais métodos para a prevenção e proteção

Método

Prevenção Proteção

Métodos de produção

Livre de infeções

Biológico Físico Uso de produtos

químicos autorizados

Ferramenta

Seleção do local

Material de propagação

Viroses Recolha Bactericidas e fungicidas

Produtos ligeiros de

proteção de

plantas

Cultivo do solo

Solo Bactéria Atração Inseticidas Extratos de plantas

Gestão de nutrientes

Água de irrigação

Fungos Alerta Acaricidas Óleos de plantas

Rotação de

culturas

Artrópodes Tratamento

com calor

Óleos

voláteis

Sementeira

Período

vegetativo

Vertebrados Mudança de agente

Densidade da cultura

Anfíbios Répteis

Inibição com ferramenta

Seleção das variedades

Aves Mamíferos

Destruição de

plantas infetadas

Eliminação de vetores

Método de luta autocida

Em AB não podem existir produtos para a proteção das plantas com tratamentos

previamente calendarizados, tal como não há tecnologias de produção de plantas

estandardizadas. Assim sendo, é necessário encontrar uma solução adequada para

cada caso, definindo as espécies e as variedades mais ajustadas, os melhores locais e

as tecnologias mais corretas e adaptadas. As soluções podem ser encontradas e

construídas usando os diferentes métodos e ferramentas aplicáveis na proteção de

plantas em AB.

Page 45: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

45

Proteção física são os seguintes: 1) alterar a composição do meio ambiente, por

exemplo em zonas de armazenamento, substituindo o oxigénio (por CO2 ou Azoto); 2)

isolamento das áreas de armazenamento (montagem de grades e redes

mosquiteiras); 3) cobertura individual dos frutos (evitando moscas, traças, etc.); 4) o

uso de redes ou manta térmica sobre as plantas, evitando a maior parte das pragas

(lagartas das couves, pulgões ou piolhos das plantas, traças, etc.) pode mantê-los

afastados das plantas cultivadas; 5) proteger fisicamente os caules das árvores para

evitar danos mecânicos.

Proteção química: se a proteção biológica, preventiva ou física não for suficiente

para garantir a segurança da produção, poderão ser usados certas substâncias

químicas de proteção. Os produtos destinados à proteção das plantas na agricultura

biológica estão referenciados numa “lista positiva”. Os produtos químicos registados

em “listas positivas” podem ser aplicados, mas, neste caso, apenas com a permissão

da entidade certificadora (Reg. UE 889/2008, Anexo II).

Soluções práticas na proteção de hortícolas

Controlo biológico natural. No caso de produtos hortícolas de ar livre, é

fundamental uma gestão atenta e cuidada do sistema agroecológico. Quanto mais

diversificado este for maior será o equilíbrio entre as pragas e os respetivos inimigos

naturais, presentes no local de produção. Os mais importantes organismos e insetos

auxiliares na proteção natural das plantas são: ácaros predadores (fitoseídeos);

insetos predadores como as joaninhas e os sirfídeos, e; insetos himenópteros

parasitóides.

Na produção hortícola, assume particular importância o isolamento de fontes passíveis

de provocar pragas, o que pode ser conseguido utilizando diferentes tipos de redes de

insetos, em particular, durante os transplantes de plantas jovens da família das

Crucíferas. No caso das couves, a mosca da couve (Phorbia brassicae) pode provocar

sérios prejuízos na Primavera, sendo a cobertura do solo com filme plástico uma

solução. Outra praga importante é a áltica ou pulga das couves (Phyllotreta spp),

sendo aconselhável o uso de redes adequadas para proteger as plantas jovens.

Page 46: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

46

Controlo biológico ativo. Consiste em libertar e introduzir insetos auxiliares ou

microrganismos ou seus derivados como o Bacillus thuringiensis (Bt). Este último

pode ajudar prevenindo e evitando os prejuízos causados pelas larvas das borboletas,

e o Bt. var. tenebrionis pode ser utilizado contra o escaravelho-da-batateira.

Substâncias autorizadas, como preparações à base de óleos, são utilizadas contra

afídeos, moscas brancas, e o aranhiço vermelho.

Produção em estufas. Existe no mercado um largo conjunto de insetos e ácaros

auxiliares para utilização em culturas de estufa como meio de luta biológica. Por

exemplo, Encarsia formosa contra a mosca-branca, e o ácaro predador Phytoseulus

persimilis contra o aranhiço-vermelho. Contra os afídeos, podem ser usadas os

himenópteros predadores Aphidius colemani e o díptero predador Amphibolites

aphidomyza.

Doenças provocadas por fungos. A ocorrência de doenças provocadas por fungos

depende sobretudo das condições micro-climáticas do local, e da suscetibilidade ou

capacidade de resistência da variedade selecionada. A importância da rotação de

culturas na proteção das plantas já foi atrás enfatizada, devendo esta técnica ser tida

em especial atenção.

Método biológico. Preparados de microrganismos de solo com espécies antagonistas

(Trichoderma harzianum, Coniothirum minitrans, Steptomices griesoviridis bacterium)

dos fungos e nemátodos patogénicos, desempenham também um importante papel

contra as doenças e os nemátodos que se desenvolvem no solo. A relevância das

culturas de cobertura e da sideração decorre fundamentalmente da sua capacidade

em quebrar o ciclo de desenvolvimento das doenças.

Os biopesticidas autorizados na agricultura biológica estão definidos de acordo com o

Regulamento da Comissão 889/2008, Anexo II. Uma das mais importantes doenças

provocadas por fungos é o míldio do tomate e da batata; presentemente, podem ser

aplicados produtos à base de cobre para combater esta doença. Em agricultura

biológica na UE, as quantidades máximas de cobre aplicáveis ao solo não excedem os

6 Kg/ha e alguns países tem valores mais baixos para a agricultura em geral.

Page 47: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

47

Tabela 14 - Produtos usados contra patogéneos na produção hortícola

Produto Organismo auxiliar Organismo-alvo; local de aplicação

Koni Coniothyrium minitans (fungo) míldio

Mycostop Streptomyces griseoviridis (bactéria) fusário

Trichodex WP Trichoderma harzianum (fungo) Antracnose, alternariose

Tabela 15 - Produtos utilizados contra as pragas em horticultura

Produto Organismo benéfico Organismo-alvo; local de

aplicação

Bactucid P Bacillus thuringiensis var.

kurstaki (bactéria)

Larvas de borboletas

(lagartas)

Dipel e Dipel ES Bacillus thuringiensis var.

kurstaki (bactéria)

Larvas de borboletas

(lagartas)

Eco-Bio Bacillus thuringiensis var.

kurstaki (bactéria)

Larvas de borboletas

(lagartas)

Encarsia-sheet Encarsia formosa (himenópteros

da superfamília Chalcidoidea)

Mosca-branca das estufas

En-Strip Encarsia formosa (himenópteros

da superfamília Chalcidoidea)

Mosca-branca das estufas

Novodor FC Bacillus thuringiensis var.

tenebrionis (bactéria)

Escaravelho-da-batateira,

escaravelho-das-folhas

Thuricid HP Bacillus thuringiensis var.

kurstaki (bactéria)

Larvas de borboletas

(lagartas)

Page 48: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

48

1.2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte

Devido ao seu elevado teor em água, os vegetais são muito sensíveis às condições de

armazenamento. Baixos índices de oxigénio reduzem os níveis de respiração e

diminuem os efeitos prejudiciais do etileno.

Tabela 16 – Armazenamento da alface, couve-flor e brócolo, pepino, tomate e pimento

Espécies Método de armazenamento

Alface Armazenamento em

atmosfera normal

Temperaturas de 0ºC e humidade relativa superior a 95% são condições ambientais necessárias para otimizar o período de

armazenamento das alfaces. Nestas condições, é possível que as

alfaces possam ter um período de vida útil de 21 a 28 dias. Com temperaturas de 5ºC pode esperar-se um período de vida útil de 14

dias, desde que não exista etileno no ambiente.

Armazenamento em

atmosfera controlada ou modificada

Podem ser alcançados alguns benefícios ao nível do período de conservação quando se registam baixos níveis de oxigénio na

atmosfera (1-3%) e temperaturas de 0-5ºC. Baixos índices de oxigénio reduzem os níveis de respiração e diminuem os efeitos prejudiciais do etileno. Com percentagens de O2 inferiores a 2%,

pode verificar-se a presença de CO2 e a ocorrência de lesões

(alterações fisiológicas, manchas escuras).

Couve-flor e brócolo Armazenamento em atmosfera normal

Podem ser armazenados a 0ºC e 95-98% de humidade relativa

durante três semanas, e a 5ºC durante duas semanas.

Armazenamento em atmosfera controlada

ou modificada

As lesões provocadas por baixos níveis de O2 (inferiores a 2%) ou

elevados teores de CO2 (superiores a 5%) podem não ser visíveis a olho nu, e surgirem apenas após a preparação culinária

Pepino

Armazenamento em atmosfera normal

São sensíveis ao frio e devem ser armazenados a 10–12,5ºC, com

uma humidade relativa de 95%. O ciclo de armazenamento do pepino é geralmente inferior a 14 dias, período a partir do qual o seu

aspeto e a sua qualidade sensorial se deterioram rapidamente

Armazenamento em atmosfera controlada

ou modificada

O transporte ou o armazenamento em atmosfera controlada ou modificada constitui um benefício reduzido ou médio para a

manutenção da qualidade do pepino. Baixos níveis de oxigénio (3-

5%) atrasam o amarelecimento dos frutos e o processo de senescência, em apenas alguns dias

Tomate

Armazenamento em atmosfera normal

Tomates com um estado de maturação adequado podem ser

armazenados até 10 dias, com temperaturas de 10 a 12ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%. O tomate é sensível a temperaturas baixas, situadas abaixo de 10ºC, se manuseados para além de duas

semanas, ou a 5ºC, para períodos superiores a 6-8 dias.

Armazenamento em atmosfera controlada

ou modificada

O transporte e o armazenamento do tomate em atmosfera controlada oferecem um nível moderado de benefícios. Baixos níveis de oxigénio (3-5%) atrasam a maturação e o desenvolvimento de

fungos na superfície dos frutos e nos pedúnculos

Pimento Armazenamento em atmosfera normal

Deve ser arrefecido o mais depressa possível para reduzir as perdas de água. Quando armazenado a temperaturas superiores a 7,5ºC, o

pimento perde água e o fenómeno de emurchecimento acentua-se. O armazenamento a 7,5ºC é o indicado para um período de vida útil

máximo (3 a 5 semanas); o pimento pode ser guardado a 5ºC durante duas semanas

Page 49: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

49

Métodos simples e económicos de armazenamento

Quantidades mais pequenas de produtos hortícolas podem ser armazenadas em caves

(suficientemente frias e húmidas), em espaços frios adequados, e em covas. Nas

regiões mais frias, as hortícolas de raiz e as pertencentes ao género Brassica podem

ser agrupados aos molhos e armazenados em covas, ou no chão, cobertos por uma

camada de solo. Os vegetais permanecem sobre a areia ou palhas. Depois são

cobertos por uma camada de solo. As culturas podem ser danificadas por geadas

severas durante o Inverno.

Transporte de produtos hortícolas

Enquanto normalmente os produtos hortícolas crescem nas zonas rurais, os

consumidores desses produtos vivem em cidades ou nas grandes metrópoles. O

transporte destes produtos necessita assim, em muitos casos, de logística e rigor nos

prazos a cumprir. Quando se trata de pequenas distâncias, carrinhas ou veículos com

ar condicionado são suficientes. Para distâncias mais longas e maiores quantidades, é

necessária a utilização de camiões com estruturas de refrigeração mais eficazes.

1.2.6. Exemplos práticos (Solanáceas)

O tomate de mesa típico é sobretudo produzido em estufas, especialmente nas

regiões mais chuvosas, devido à sua elevada suscetibilidade ao míldio das solanáceas

(Phytophthora infestans). O tomate para indústria também se desenvolve bem em

estufas, mas normalmente é produzido ao ar livre devido à sua baixa densidade de

plantação. O cultivo com recurso a sistemas de produção controlada é mais caro e

apenas justificável no caso de vendas na própria exploração ou produção em zonas

desfavoráveis, como é o caso das regiões com elevada pluviosidade, que favorecem o

desenvolvimento de Phytophthora infestans. Em oposição a esta situação, muitos

agricultores conseguem continuar a produzir tomate em áreas com altas

temperaturas, mesmo no Inverno, como é o caso da ilha de Creta.

Tanto o pimento como a beringela podem ser produzidos em estufas ou ao ar livre,

dependendo das especificidades do mercado. Todavia, nas áreas fortemente

infestadas com a variante europeia da broca do milho (Ostrinia nubilalis), o pimento é

frequentemente produzido em estufas. Necessariamente, nas aberturas existentes são

Page 50: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

50

instaladas redes à prova de insetos. Ao ar livre, devem ser escolhidas variedades de

pimento capazes de tolerar o sol (sobretudo, as queimaduras solares).

Os abelhões (Bombus terrestris) são muito utilizados na polinização do tomate para

consumo em fresco. No final do Inverno, princípio da Primavera, é frequentemente

aconselhável proteger as plântulas contra as baixas temperaturas nas estufas através

de pequenos túneis de polietileno ou de outros materiais protetores até que as plantas

atinjam um maior estadio de desenvolvimento e que o risco de geadas termine. Ao ar

livre, as Solanáceas beneficiam muito da cobertura das linhas (possível através do

emprego de filmes de celulose ou de amido de milho biodegradável), combinado com

palhas.

A rega gota-a-gota deve ser sempre adotada. A rega por aspersão deve ser evitada,

porque a aspersão favorece a infeção por patogéneos como por exemplo os fungos e

as bactérias (ver Tabela 2), particularmente a Phytophthora infestans, no caso do

tomate. Frequentemente, o controlo da humidade no solo é mais fácil através da rega

gota-a-gota, prevenindo assim o stress hídrico. Este, favorece o emurchecimento,

prejudica a coloração dos frutos e atrasa o crescimento dos mesmos, especialmente

no tomate e no pimento. A beringela é a cultura que menos afetada é com a irrigação

por aspersão.

Tabela 17 – Organismos do solo que atacam as Solanáceas

Fusarium spp., Rhizoctonia solani

Pyrenochaeta Iycopersici

Thielaviopsis

basicola

Phytophthora capsici

Nematoda

Verticillium spp.

Pimento X X X X X X

Tomate X X X X X

Beringela X X X X X X

Batata X X X

Tabela 18 - Patogéneos das Solanáceas favorecidos pela irrigação por aspersão

Tomate Pimento Beringela Batata

Phytophthora infestans X X

Cladosporium fulvum X

Alternaria spp. X X X X

Bactérias (várias espécies) X X X X

Page 51: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

51

Exemplo da cultura do tomate

(1) Valor Nutricional do tomate

O tomate constitui a fonte de muitos minerais essenciais (potássio, cálcio, fósforo),

vitaminas (vitamina A e C, sobretudo), ácidos orgânicos, açúcar, e proteínas. O seu

teor em energia é de apenas 80 J (19 cal) por 100 gramas de produto fresco.

(2) Importância económica do tomate

No ano de 2009, a cultura do tomate ocupou uma área global de 4,5 milhões de

hectares, o que significa cerca de 9% da área total dedicada à produção de hortícolas.

125 Milhões de toneladas de tomate foram produzidos nesta área, ou seja, 14% de

todos os produtos hortícolas. China, EUA, Espanha, Itália, Egipto, Turquia, Brasil e

Grécia são os maiores produtores de tomate. México, Turquia, Espanha e Holanda são

os maiores exportadores mundiais de tomate fresco. Os EUA, a Rússia, a UE e o

Canadá são os responsáveis pela maior parte das exportações. 40% da produção

obtida é transformada.

(3) Taxonomia do tomate

O tomate pertence à família das Solanáceas e o seu nome científico mudou várias

vezes no passado. Atualmente, o seu nome oficial é Lycopersicon lycopersicum (L.)

KARSTEN. O género Lycopersicon pode ser dividido em dois subgéneros: o de fruto

vermelho Eulycopersicon e o de baga verde Eriopercicon.

(4) A morfologia, a botânica e a biologia da floração do tomate

Raízes: o tomate apresenta fortes raízes perpendiculares no início do seu

crescimento, desenvolvendo-se posteriormente fortes raízes laterais. Na família das

Solanáceas apenas o tomate desenvolve raízes adventícias.

Caule: O tomateiro é uma espécie anual. Consoante as diferentes variedades,

também poderemos encontrar distintas disposições e características ao nível da

quantidade, tipo e posição dos pêlos, extensão dos entre-nós, e na própria posição do

Page 52: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

52

caule. Entre duas inflorescências (grupadas) desenvolvem-se normalmente três

folhas. Em variedades específicas, cresce uma flor no final do rebento principal. Estas

variedades podem ser divididas em três subgrupos, dependendo do número de

inflorescências que terminam o rebento final e do número de folhas que se

desenvolvem entre as inflorescências.

Tabela 19 - Necessidades ambientais do tomate

Fator Necessidades ambientais do tomate

Luz

Tanto a intensidade luminosa, como a sua duração e qualidade

influenciam o desenvolvimento do tomateiro. Normalmente, é necessário um mínimo de 5000 lux para um adequado

desenvolvimento desta espécie. Pelo menos, são necessárias 10 horas para uma adequada floração.

Temperatura

A temperatura ótima para o seu desenvolvimento é de 22±7ºC. O tomate necessita de diferentes temperaturas em função do seu

estado fenológico. Embora apresente, apesar de tudo, uma boa tolerância ao frio, sofre ligeiras lesões com temperaturas de -1 e -

2ºC, e lesões graves, com temperaturas iguais ou inferiores a -3ºC.

Água

Embora as suas necessidades hídricas sejam elevadas, dado que

possui um sistema radicular profundo e bem desenvolvido, utiliza efetivamente a água que consome

Nutrientes

É muito exigente em termos de nutrientes e, no caso da agricultura biológica, os nutrientes deverão ter uma origem igualmente biológica.

(estrume e composto)

Azoto: um excesso de fornecimento neste mineral conduz a um desenvolvimento exuberante da planta e a uma produção

insuficiente; a deficiência em azoto tem como consequência um menor crescimento do sistema foliar.

É muito exigente em potássio e cálcio.

Produção ao ar livre de tomate

Aspetos relacionados com a escolha da variedade: Mais do que qualquer outra

espécie hortícola, o tomate apresenta múltiplas variedades cultiváveis (por exemplo,

na Hungria, há cerca de 200 variedades). Na produção de ar livre, em particular para

a indústria transformadora, são usadas variedades de desenvolvimento determinado

ou definido (nestes casos, a existência de uma inflorescência terminal bloqueia o

crescimento do caule principal). Os frutos destas variedades pesam entre 80 a 100

gramas, são consistentes e alongados, e a sua superfície é macia. Em termos gerais,

hoje em dia, todas as variedades desenvolvidas para a colheita mecânica permitem a

recolha dos frutos sem os respetivos pedúnculos.

Page 53: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

53

Igualmente, é também importante que estas variedades apresentem boa coloração,

elevado teor em matéria seca e capacidade de resistência a doenças. No caso de a

produção recorrer a sistemas de tutoragem, o desenvolvimento da planta deve

terminar quando a mesma apresentar 8 a 10 inflorescências. As variedades a utilizar

devem ser do tipo determinado ou definido e apresentarem forte vigor. A

apresentação de um elevado índice de fecundidade é também um aspeto muito

importante a ter em conta, bem como a necessidade de os frutos não apresentarem

fissuras.

Preparação do solo e fornecimento de nutrientes: O cultivo do tomate inicia-se

com uma lavoura profunda de Outono e a preparação termina na Primavera. O tomate

necessita de estrume orgânico, o qual deverá ser introduzido no solo com a lavoura

de Outono. No que diz respeito aos minerais, o tomate necessita aproximadamente

das mesmas quantidades de fósforo, azoto e potássio. Todavia, antes da sua

aplicação, devem ser feitas análises ao solo. Para o fornecimento de nutrientes, o

estrume orgânico e o composto, ambos produzidos na exploração, constituem a

melhor solução.

Propagação: Em muitos casos, o tomate é cultivado por sementeira ou por

transplante de plântulas de viveiro (mudas). Atualmente, as duas tecnologias são

usadas de forma equivalente.

Cultivo do solo: É necessária a constante mobilização do solo para o tornar mais

“solto”, para manter o seu teor em humidade e também para favorecer a m istura dos

nutrientes. Cobertura do solo: em produção de ar livre, constitui um método muito

eficiente para poupar água e para suprimir as infestantes (ver capítulo sobre

Mulching). Os materiais mais eficazes a utilizar são palhas, telas plásticas, restos de

madeiras, cascas de árvores, e alguns tipos de papel.

Irrigação: A produção de tomate pode registar um incremento de 10 a 15% através

de uma simples irrigação. No caso de irrigação contínua e regular, o fornecimento de

água pode fazer aumentar a produção em cerca de 40 a 50%. Cerca de 100 mm de

água são necessários para que se processe um desenvolvimento continuado do

tomateiro. A rega regular aumenta a percentagem dos frutos de primeira categoria.

Page 54: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

54

Colheita: Após a floração, os frutos necessitam de 30 a 40 dias para atingirem a sua

dimensão final. Este período varia necessariamente em função da variedade utilizada

e das condições específicas de produção. Posteriormente, deverão decorrer mais 21 a

28 dias até ao amadurecimento. A colheita manual do tomate em fresco deve iniciar-

se quando cerca de 50% dos frutos estão maduros. No caso da colheita mecânica,

aquela percentagem sobe para 80%. As máquinas recolhem todos os frutos, pelo que

será necessário que trabalhadores selecionados ou máquinas específicas que

removem os frutos verdes. No caso de uma única colheita, os frutos devem ser

recolhidos sem pedúnculos.

Forçagem da produção de tomate

Aspetos relacionados com a escolha da variedade: Um importante objectivo de

investigadores e viveiristas consiste em melhorar o sabor dos frutos, e isto significa

sobretudo o incremento dos teores em açúcar e ácido.

Tabela 20 – Forçagem da produção de tomate

Forçagem Tecnologia

Forçagem precoce

O tomate é plantado algures entre a segunda metade de Janeiro e o princípio de Fevereiro, e colhido a partir da primeira metade de

Abril

Forçagem semi-precoce

A plantação é feita nos finais de Fevereiro, e a colheita a partir de

meados de Abril. Os tomateiros devem ser plantados com uma temperatura entre os 20 e os 25ºC em ambientes controlados. A

produtividade poderá alcançar os 30 kg/m2.

Cultura longa A produção não é interrompida no Verão, e poderá prolongar-se por

10 a 11 meses, dependendo do momento da plantação. A

produtividade pode alcançar 40 a 60 kg/m2.

Dupla utilização O tomate pode ser plantado após espécies hortícolas de colheita

precoce (alface, rabanete, cebolinho, salsa e sálvia).

Problemas com a proteção das plantas

Uma doença comum no tomate é o vírus do mosaico do tabaco. Várias formas de

míldio e oídio são também comuns no tomate. As doenças mais comuns são assim, o

míldio, o oídio, a verticiliose, a fusariose, a alternariose, e o vírus do mosaico do

tabaco. Pragas importantes: nemátodos. Outras doenças importantes são o vírus curly

top, provocado pela cigarrinha da beterraba sacarina. Algumas pragas comuns no

Page 55: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

55

tomateiro são: aranhiço vermelho; mosca-branca; afídeos (pulgões); lagarta-do-

tomate; lagarta-mineira-do tomate.

Em investigação recente foram detetados alguns mecanismos de autodefesa do

tomateiro. Assim, quando as plantas são atacadas produzem sistemina, uma hormona

peptídica, que ativa mecanismos defensivos, tais como a produção de inibidores de

protease, que atrasam o crescimento dos insetos.

Colheita e preparação para o Mercado. Após a colheita, a maturação continua

devido à libertação de etileno. O período de vida útil do tomate é usualmente de 7 a

10 dias, dependendo sobretudo da temperatura. As caixas e superfícies destinadas ao

acondicionamento do tomate devem ser construídas com materiais leves.

Page 56: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

56

Autoavaliação

1. Escolha as espécies com maiores necessidades de água

Maçã, pêra

Amêndoa, nêspera

Abrunho, ameixa

2. Escolha o nível mínimo de húmus (H%) adequado para a instalação de um pomar

de fruta em MPB

H%<1%

H%<0,5%

H%<2%

3. Selecione as causas mais importantes que provocam o desenvolvimento das

“manchas amargas” (bitter pit) nas maçãs e peras

Deficiência em Cálcio e excesso de fornecimento de Azoto e Potássio

Fertilização em excesso de Azoto e Cálcio

Fornecimento de água insuficiente

4. Selecione o método adequado para determinar o nível de nutrientes adequado em

pomares

Análise das plantas

Análise do solo

Análise das folhas e do solo

5. Selecione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis var. kustraky

Afídeos

Lagarta-do-tomate (Lépidopteros)

Escaravelho

6. Escolha a definição/descrição que se adequa à compostagem

Durante a compostagem, materiais orgânicos grosseiros transformam-se numa

camada de solo fértil

Compostagem é a transformação de húmus em matérias-primas

Page 57: ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION

57

Durante a compostagem, matérias-primas orgânicas são transformadas em húmus

composto por grandes moléculas de elevada estabilidade

7. Os aspetos que tornam importante a aplicação da cobertura do solo (mulching)

são:

Retenção de água, proteção contra a erosão, compostagem superficial, supressão

de infestantes, desenvolvimento de frutos saudáveis.

Retenção de água, supressão de infestantes, amadurecimento dos frutos

Retenção da água, proteção do vento, abrigo para insetos

8. Os quatro componentes básicos de um sistema de rotação de culturas são:

Percentagem relativa de cada planta, sequência das plantas, rotação, seleção das

plantas

Composição das plantas, território ocupado, sequência das plantas, rotação

Composição das plantas, percentagem relativa de cada planta, sequência das

plantas, rotação

9. Escolha os métodos adequados à proteção física das plantas

Recolha, Vigilância, Tratamento térmico, Alteração do tipo de acondicionamento

intermédio, Recolha de insetos

Recolha, Isolamento, Atração, Armadilhas com feromonas, Tratamento térmico,

Alteração do tipo de acondicionamento intermédio

Recolha, Destruição, Isolamento, Atração, Vigilância, Tratamento térmico,

Alteração do tipo de acondicionamento intermédio

10. Selecione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis var.

tenebrionis

Afídeos

Lagarta-do-tomate (Lépidopteros)

Escaravelhos