ECOLOGICAL FARMING IN FRUIT PRODUCTION
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PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE
HORTOFRUTÍCOLAS
VERSÃO ADAPTADA PARA E-LEARNING
GREENFOOD PROJECT
2010-1-ES1-LEO05-20948
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Índice
Introdução 3
Unidade Didática 1.1. – Produção Biológica de Frutas 4
1.1.1. Seleção de espécies e variedades 4
1.1.2. Gestão do solo e nutrição das plantas 9
1.1.3. Gestão de pragas e doenças 16
1.1.4. Colheita, armazenamento, conservação e transporte 21
1.1.5. Exemplos práticos 26
Unidade Didática 1.2. A produção biológica de hortícolas 30
1.2.1. Escolha do local e seleção varietal 30
1.2.2. Gestão da fertilidade do solo 35
1.2.3. Rotação e consociação de plantas 38
1.2.4. Pragas, doenças e infestantes 44
1.2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte 48
1.2.6. Exemplos práticos (Solanáceas) 49
Autoavaliação 56
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Introdução
Na União Europeia, a produção biológica de hortofrutícolas está condicionada à
aplicação do Regulamento (CE) n.º 834/2007 do Conselho, e do Regulamento (CE) n.º
889/2008 da Comissão.
De um modo geral, a produção biológica exclui a utilização de muitos fatores de
produção utilizados na agricultura convencional, muito particularmente fertilizantes e
pesticidas de síntese química.
Os sistemas de produção biológicos assentam em práticas como a rotação de culturas,
a utilização de resíduos das culturas, de fertilizantes orgânicos de origem animal, de
espécies leguminosas, de siderações ou adubos verdes, de resíduos domésticos
orgânicos e de luta biológica no combate a pragas e doenças. Estas práticas mantêm
a produtividade do solo, fornecem os nutrientes de que as plantas necessitam e
ajudam a combater os insetos e as ervas infestantes.
A produção biológica de frutas é uma das mais importantes componentes da produção
biológica na Europa. Os principais países produtores de fruta em zonas temperadas
são a Itália, a França e a Espanha. A figura abaixo representa a situação actual da
produção biológica de fruta na Europa.
Figura 1 – Produção biológica de fruta, vinha e bagas em zonas temperadas: principais países em 2007
(incluindo área em conversão); Fonte: FIBL, 2009
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Unidade Didática 1.1. – Produção Biológica de Frutas
1.1.1. Seleção de espécies e variedades
O processo de seleção das espécies e das variedades usadas nos pomares em
Agricultura biológica (AB) deve ter em consideração a finalidade a que se destina o
pomar, nomeadamente, se se trata de utilização comercial, doméstica, paisagística,
ou agro-florestal.
O principal objetivo deste capítulo consiste no estudo da produção de fruta para
comercialização.
A produção biológica de fruta pode ser obtida a partir de pomares novos ou através
da conversão de pomares convencionais, sendo para ambos os casos aplicados os
mesmos princípios.
Instalação de novos pomares
A seleção da espécie e da variedade a plantar é muito importante. O pomar deve
estar suficientemente afastado de fontes poluidoras, nomeadamente estradas com
elevado volume de tráfego, pólos industriais ou mesmo pomares convencionais. As
empresas industriais e agroindustriais devem estar localizadas para além de uma
distância de segurança recomendada pelo organismo de controlo e certificação de
cada país. É ainda necessário que os níveis de materiais pesados presentes nos solos
cultivados respeitem os limites estabelecidos pelas autoridades de proteção
ambiental. Os pesticidas e os herbicidas utilizados nos pomares, ou nos terrenos
circundantes, não podem contaminar os pomares biológicos.
A escolha da variedade deve ser feita de forma a que sejam respeitadas as condições
edafoclimáticas locais. Assim, a seleção das variedades deve ter em consideração o
clima da região, a localização geográfica e as propriedades do solo. Deve ainda dar-se
preferência a variedades resistentes a pragas e doenças, de acordo com as práticas
de proteção fitossanitária indicadas na legislação europeia, atrás referenciada.
Para obter a certificação biológica, é necessário um período de conversão de três
anos. Este período pode ser reduzido, se o organismo de certificação e a autoridade
competente reconhecerem que foram utilizados previamente métodos de produção
agrícola compatíveis com as exigências da proteção do ambiente e da preservação do
espaço natural.
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O período de conversão do pomar convencional pode ser iniciado após a última
aplicação de qualquer tratamento convencional. A eventual autorização para diminuir
o período de conversão deverá ser dada pelo organismo de certificação competente.
Condições climáticas
As condições climáticas determinam a produtividade das variedades utilizadas. Assim,
podemos escolher as variedades a implementar em determinado local, em função do
conhecimento que temos acerca das suas necessidades em luz, temperatura e água.
Condições pedológicas
As seguintes espécies toleram solos arenosos: macieira, damasqueiro, pessegueiro,
aveleira, framboesa e groselha. Algumas espécies podem crescer em solos
pedregosos com uma fina camada fértil: damasqueiro, pessegueiro, amendoeira,
nespereira e castanheiro.
A maioria das espécies desenvolve-se melhor em solos com uma camada fértil
profunda. Algumas delas toleram solos argilosos, como por exemplo a pereira, o
marmeleiro, a cerejeira, a ameixeira e a aveleira. A preferência por determinado tipo
de solo é influenciada pelo sistema radicular das árvores e pelas suas necessidades
nutricionais específicas. A circulação de ar é muito importante para o sistema
radicular das árvores. Desta forma, algumas das espécies como o pessegueiro, o
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damasqueiro, a amendoeira, a cerejeira e a framboesa e os citrinos são
particularmente sensíveis à existência de boas condições de circulação de ar no solo.
Algumas espécies podem tolerar ou até mesmo necessitar de solos húmidos, com
elevada disponibilidade em água. É o caso da macieira, da pereira, do marmeleiro, da
ameixeira, da nogueira, da aveleira, da framboesa, do morango, da groselha, da
amora. Algumas características do solo, como o pH, podem constituir um fator
limitante para algumas espécies. É o caso do castanheiro, da macieira, da aveleira, da
framboesa e do morango, do mirtilo, que necessitam de solos ácidos. Por outro lado,
elevados níveis de alcalinidade do solo podem ser também um fator limitativo para
outras espécies, como o damasqueiro e a amendoeira.
Culturas como a macieira, a pereira, o marmeleiro, a nogueira, o morango e a
groselha preta, toleram níveis elevados de água no solo. O marmeleiro e vários porta-
enxertos de macieira resistem mesmo a algumas semanas de encharcamento durante
o período de repouso vegetativo.
Localização geográfica e nível de exposição solar
A localização geográfica e a situação topográfica desempenham um papel importante
na formação do microclima. A altura acima do nível do mar, a exposição solar, a
qualidade do solo, a direção do vento, o nível de águas superficiais e a proximidade
de zonas florestais são aspetos determinantes do ponto de vista geográfico.
A altura acima do nível do mar influencia a temperatura do ar, dado que em média, a
um aumento de 100 m de altitude corresponde uma diminuição da temperatura de
0,5°C. As diferenças em altitude podem ser importantes no caso de danos provocados
por geadas.
A exposição solar está relacionada com o declive e a direção da encosta. As
exposições a sul e a sudoeste são favoráveis à produção agrícola, enquanto a
orientação a norte é menos favorável. Em clima mediterrânico, com cada vez maiores
problemas de escaldão da fruta, nas espécies e variedades mais sensíveis, a
orientação norte pode ser vantajosa.
Os vales podem ser desfavoráveis devido à possibilidade de se verificarem níveis
elevados de humidade e nevoeiro, e à existência de geadas nas zonas mais baixas.
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Seleção de variedades para produção de fruta em AB
A escolha das variedades deve ter em conta as características do local de produção, a
sua adaptação às condições edafoclimáticas existentes e a procura atual ou potencial
do mercado.
Devem ser escolhidas variedades resistentes às doenças, bem como variedades que
exijam menos intervenção, designadamente ao nível de tratamentos
fitofarmacêuticos.
Os principais aspetos que determinam o valor e o interesse das variedades na
produção de frutas em MPB são:
A qualidade externa dos frutos (tamanho, forma, cor, resistência da casca, ausência
de defeitos, sintomas de doenças, etc.);
A qualidade interna dos frutos (valores nutricionais, nível de fibras, sabor, aroma,
aptidão para o processamento, teor de vitaminas e outros fatores nutricionais, etc.).
O valor de mercado das variedades é determinado pelo grau de recetividade dos
consumidores (atratividade, procura, etc.), perecibilidade e a adequação para a
transformação (qualidade da epiderme, consistência da polpa, grau de perecibilidade).
Ao nível dos fatores produtivos, a produtividade, a estabilidade da produção, a
suscetibilidade a pragas e doenças, a tendência para a queda dos frutos, o vigor
vegetativo, a biologia da floração e as características de fertilização, são aspetos
determinantes nas escolhas a efetuar.
Porta-Enxertos (PE) e dimensão das árvores
As características genéticas desempenham um papel fundamental na dimensão das
árvores e arbustos. Todavia, no caso de muitas espécies (por exemplo, a macieira e a
pereira), esta característica pode ser influenciada também pelos porta -enxertos e pela
altura do ponto de enxertia. A utilização de PE bem adaptados é importante na
tolerância a eventuais condições desfavoráveis de solo, como por exemplo, a má
drenagem ou a presença de bactérias ou fungos patogénicos (doenças de solo ou
outras, que possam atingir o PE, como o fogo bacteriano).
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Sistemas de produção e condução
Na produção biológica devemos criar uma harmonia entre a variedade e o PE, a
distância entre as árvores e a forma de condução. Em AB a criação de um bom
equilíbrio entre crescimento vegetativo e produção, pode ser alcançado com uma poda
mais ligeira.
Compasso de plantação
A distância entre árvores deve ter em consideração o crescimento e o vigor da
combinação entre a variedade e o PE.
Tabela 1 – Objetivos do pomar standard e de alta densidade
Pomar standard
Pomar de alta densidade
Objetivos produtivos
Processamento/produtos frescos & pastagens
Produtos frescos para o mercado
Objetivos Ecológicos
Enriquecimento paisagístico Aumento da diversidade ecológica
Produção + Preservação
Menor valor ecológico Necessidade de áreas adicionais para
“compensação ecológica”
Período de utilização
50 anos ou menos Longo período de desenvolvimento
12-20 anos Máxima produção ao 4º ano
Mudança frequente de variedades
A orientação das linhas deve ser norte-sul. A forma da copa deve respeitar, dentro do
possível, a forma natural da árvore, com um tronco central rodeado de diversas
pernadas em todo o contorno (eixo central revestido). Nalguns casos de menor vigor
e na falta de postes e arames de suporte, pode optar-se por formas mais baixas, em
vaso (ou esféricas no caso dos citrinos), de modo a manter a árvore direita. A forma
de condução também depende da espécie e do vigor do PE.
Linhas duplas não são permitidas em AB, porque este sistema é mais suscetível às
doenças.
Se forem plantadas culturas consociadas nas entrelinhas do pomar, devem usar-se PE
mais vigorosos, sem armação de suporte. Neste caso, as distâncias entre árvores são
maiores, com os seguintes compassos:
- em árvores de fruto: 5-10m x 4-10m;
- em pequenos frutos: 1,2-2,0m x 0,8-1,5m.
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Tabela 2 - Gestão de pomares biológicos
Pomar standard Pomar de alta densidade
Investimentos Necessidades em equipamentos baixas a médias
Elevados (equipamentos especiais, irrigação)
Manutenção Média Elevada
Riscos Médios a elevados Elevados
Rendimento Subsídios durante o período de instalação
Possibilidade de colheita de
forragens Produtividades variáveis
Produtividade ótima num curto período de tempo
Produtividades constantes
Requerimentos
por parte do agricultor
Conhecimentos básicos de
arboricultura
Conhecimentos avançados em
arboricultura
1.1.2. Gestão do solo e nutrição das plantas
O terreno a cultivar deve ser adequado à produção de espécies frutíferas. O mais
importante no manejo do solo é a conservação e melhoria da sua fertilidade e
atividade biológica. Um aspeto fundamental a ter em conta consiste no nível de
húmus do solo, que deve ser aumentado ao longo dos anos. Para além da proteção e
conservação do solo há ainda a vantagem climática do sequestro de carbono que é
transferido da atmosfera ficando retido por muitos anos na matéria orgânica.
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Melhoramento do solo. O melhoramento do solo pode também ser necessário, de
acordo com as análises efetuadas. Estas devem ser feitas antes de se iniciar o
processo produtivo, com base em amostras obtidas em vários locais do campo de
cultura.
Fertilização orgânica. Na produção de fruta biológica, é adicionado ao solo matéria
orgânica para melhorar a sua estrutura e para favorecer a atividade biológica.
Preparação do solo. Na preparação do solo devem evitar-se lavouras muito
profundas com reviramento da leiva, porque tal procedimento poderá prejudicar a
camada superficial mais rica em húmus, trazendo o subsolo à superfície. A
profundidade de mobilização do solo não deverá ser superior a 0,90 m e sempre com
ripagem em vez de lavoura de charrua. A instalação da cultura deve ser efetuada em
condições climáticas adequadas e com um nível de humidade do solo ideal, devendo a
profundidade de instalação situar-se entre 0,25m a 0,40 m.
Sideração ou adubação verde. A sideração é um método que permite a melhoria do
solo, tanto na fase anterior à plantação, como depois, ao nível da adubação nas
entrelinhas. Sideração antes da plantação - Dependendo do tipo de preparação do
Gestão do solo Preparação
do solo Fertilização orgânica
Sideração/
adubação
verde
Melhoramento
do solo
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solo e das suas características, pode ser usada adubação verde de Inverno ou de
Verão, com diferentes tipos de misturas de plantas. Preparação do solo mais
prolongada - Em situações em que o solo apresenta características mais
desfavoráveis, designadamente com má estrutura, deficiência em nutrientes, ou uso
prévio excessivo, é recomendada uma sementeira anual com uma mistura de
gramíneas e luzerna (em caso de fadiga de solo), durante 3 a 5 anos. Antes da
plantação das árvores, o trabalho mecânico é feito com um cultivador.
Plantação. A altura ideal para a plantação é usualmente o final de Outono e princípio
de Inverno. Para a plantação, é suficiente a abertura manual de uma cova de
0,40x0,40x0,40 m. A abertura de covas através de meios mecânicos não é a melhor
solução, particularmente em solos húmidos. É recomendado introduzir 5 a 10 kg de
estrume curtido, uniformemente distribuído no fundo da cova da plantação, e
posteriormente cobertos com 80 a 100 mm de uma camada de solo.
A cobertura ou empalhamento do solo na linha tem como objectivo preservar a
humidade do solo e assegurar o combate às ervas infestantes. Palha, estrume, palha
misturada com estrume, casca de pinho, aparas de madeira, pó de cortiça, engaço de
uva, bagaço de azeitona, são bons materiais para esta prática. Alguns materiais
sintéticos como, filme de polietileno negro, folhas de polipropileno, também podem
ser aplicados como cobertura do solo.
Proteção do tronco. Tanto nas plantações de Primavera como nas de Outono (e, em
particular nestas últimas) é importante proteger o tronco de eventuais mordeduras de
animais. Para tal, pode ser usado papel, canas, redes ou tubos especiais para
proteger troncos, feitas de metal ou de plástico.
Vedações. Para uma maior proteção contra animais selvagens e eventuais roubos é
recomendada instalação de uma vedação no momento da plantação, ou mesmo antes.
Sebes naturais e faixa de flores. De forma a favorecer o isolamento é necessário
envolver a plantação com sebes naturais compostas por várias espécies (árvores,
arbustos). Estas devem ser originárias do ecossistema natural da zona. Uma faixa de
flores deve também ser implementada, sendo composta por espécies anuais, que
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permanecerão no pomar durante a fase de floração, abrigando os organismos
auxiliares.
Nutrição das plantas
A gestão do solo e a nutrição das plantas tem um impacto muito significativo sobre a
produtividade global do pomar. Uma boa gestão do solo deve permitir alcançar os
seguintes objetivos:
Arejamento do solo;
Capacidade de retenção da água;
Captação de nutrientes;
Capacidade de utilização dos estrumes incorporados;
Preservação e aumento do nível de matéria orgânica no solo;
Proteção contra infestantes;
Proteção contra a erosão e a deterioração do solo
Após 2003, só pode ser usado na instalação de uma nova plantação
material de propagação (e.g. enxertos) sujeito aos requerimentos
da produção biológica, produzido por viveiros certificados e
fornecido com certificado de produção biológica.
No período de transição, pode ainda ser utilizado material de
plantação oriundo de viveiros tradicionais. Esta utilização deverá ser
efetuada com um maior nível de supervisão por parte da
organização certificadora. Na criação e funcionamento de um viveiro
biológico devem ter-se em consideração todas as normas e
regulamentos que incidem sobre um viveiro tradicional,
completadas com os requerimentos aplicáveis à agricultura
biológica (Reg. (EU) 889/2008).
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Fornecimento de nutrientes
Na produção biológica o fornecimento de nutrientes às árvores de fruto baseia-se
sobretudo na disponibilidade natural em nutrientes e na capacidade do solo em
fornecer nutrientes. A capacidade de disponibilização de nutrientes é igualmente
influenciada pelo tipo de solo, teor em húmus, estrutura do solo e atividade biológica
da camada de solo próximo das raízes (rizosfera). Considerando que a utilização de
fertilizantes industriais de síntese não é permitida, tanto antes como depois da
plantação, é muito importante assegurar que o solo apresenta uma capacidade
constante para fornecer nutrientes às plantas.
Os dois principais nutrientes são o Azoto (N) e o Potássio (K). O azoto participa na
formação de todos os organismos (como componente proteico).
Tabela 3 – Fornecimento de nutrientes
Húmus Fornecimento de nutrientes
1% de humus 30 a 40 kg/ha de azoto por ano.
Menos de 1 %
de humus
Sideração com misturas de leguminosas (50 a 150 Kg/ha de azoto no caso de 20 t/ha de massa verde), e plantas leguminosas estremes
(ervilha de inverno, tremoço de primavera, favas, etc.).
Bitter pit (ou “manchas encortiçadas”) é uma das mais importantes doenças que
ocorrem em maçãs e peras, e é causada por uma deficiência em cálcio do fruto. Na
base deste problema pode estar o excesso de potássio e de azoto no solo, um
desenvolvimento vigoroso e demasiado rápido, devido a um excesso de fertilização
azotada, ou uma poda de inverno incorreta. A forma mais eficaz de evitar esta doença
consiste em manter o fornecimento ideal de azoto e potássio, sem excessos, bem
como o respetivo equilíbrio nutricional.
Rega
A maioria das espécies frutíferas necessita ser irrigada. O nível de irrigação depende
das condições de precipitação locais e das necessidades hídricas das espécies/
variedades em causa. A água utilizada na rega não deve conter matérias ou
substâncias poluidoras, prejudiciais à árvore e à saúde humana.
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Preservação da humidade e dos níveis de água no solo
A utilização de métodos de cultura que preservam a água no solo e a plantação de
vedações naturais que protegem as plantas do vento, diminuindo a desidratação,
desempenham um papel determinante. Para além disso, devem ser aplicados
sistemas de rega que preservem a estrutura do solo, como por exemplo,
microaspersores suspensos, debaixo da copa, ou rega gota-a-gota.
Rega com propósitos específicos
A irrigação por cima da copa (com aspersores) é recomendada sobretudo como fator
preventivo de geadas.
Figura 2 - Pomar jovem: na linha, o solo está protegido por um
sistema de mulching (“empalhamento”). Na entrelinha, o terreno
está plantado. (http://www.orchardworld.co.uk)
Gestão da entrelinha
Na AB o pomar faz parte do ecossistema. Para que este seja equilibrado, pode
recorrer-se à sementeira das entrelinhas com plantas que favorecem a biodiversidade,
e ainda através da interligação do pomar aos elementos naturais do ecossistema, no
território em que se insere. Em climas secos e áridos é necessário adotar com muito
cuidado as práticas de países do Norte, com maiores índices de precipitação. Em
condições de produção áridas, a totalidade da planta pode não exceder 50% da
largura total da entrelinha. Na produção de fruta biológica, as entrelinhas são
frequentemente cobertas com culturas de cobertura. A vegetação usada nas
entrelinhas tem de estar biologicamente conectada com as sebes naturais, as plantas
existentes ao redor da plantação e até mesmo com a comunidade natural de plantas.
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Tabela 4 – Arrelvamento nas entrelinhas
Tipo de arrelvamento
nas entrelinhas Características
Mistura de gramíneas com leguminosas
Devem ser escolhidas as espécies menos exigentes em água. É recomendada a seguinte mistura: festuca rubra, poa
pratensis e trevo subterrâneo
Vegetação natural da
entrelinha
Associação de espécies da flora local – necessita de cortes
regulares
Linha de árvores Mistura de gramíneas e leguminosas e ensombramento do
solo
Figura 3 - Gestão da entrelinha num pomar de maçãs em AB, com
aplicação de uma mistura de gramíneas e leguminosas (fotos: Z. Szalai)
Figura 4 - Arrelvamento por todo o espaço de implantação do pomar (fotos: Z. Szalai)
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1.1.3. Gestão de pragas e doenças
A gestão das pragas e doenças é crucial na produção de fruta biológica. Existem três
domínios fundamentais: infestantes, insetos e doenças.
Controlo de ervas infestantes em pomares biológicos
Um bom plano de gestão e controlo de infestantes deve representar um risco mínimo
de erosão, fornecer uma “plataforma” para o movimento dos equipamentos da
exploração, e não ter um impacto negativo no controlo das pragas e das doenças ou
na fertilidade do solo. Adicionalmente, deve minimizar a competição das infestantes
pela água e pelos nutrientes.
Tabela 5 - Métodos de controlo de infestantes
Controlo de infestantes
Controlo agrotécnico e cultural Culturas de cobertura, empalhamento, e solarização do solo
Gestão da entrelinha em pomares
Gestão física de infestantes -
Métodos mecânicos para controlo de infestantes
Gestão física de infestantes –
Monda térmica de infestantes
Controlo biológico de infestantes
Insetos, doenças, alelopatia, vertebrados
Em qualquer caso, a ação mecânica deverá ser superficial para minimizar os danos
provocados nas raízes das árvores e para evitar trazer mais sementes de infestantes
para a proximidade da superfície, permitindo que germinem. O trabalho manual pode
ser eficaz numa escala pequena. Mas em pomares ou vinhas de grandes dimensões –
onde a mobilização na linha é desejável – os meios mecânicos podem ser muito úteis.
A extensão permitida pelos cultivadores montados em tratores permite o trabalho
junto do tronco da árvore ou do pé da vinha, sem danificar a planta.
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Figura 5 - Cortando uma mistura de gramíneas com leguminosas debaixo da
linha, num pomar do Research Institute of Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai)
Gestão da entrelinha. Aplicação de culturas de cobertura na entrelinha e, se a
precipitação o permitir, em toda a superfície da plantação (ver capítulo da gestão da
entrelinha). Os cortes são necessários e o seu número é determinado pelo índice de
crescimento das plantas, pelo nível de fornecimento de nutrientes pelo solo e pela
precipitação, ou sistema de rega.
Figura 6 - Utilização de discos especiais num solo coberto por uma mistura de
gramíneas com leguminosas, debaixo da linha de árvores no Research Institute of
Weinsberg, Alemanha. (foto: Z. Szalai)
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Monda térmica de infestantes
A morte de ervas infestantes pelo calor da queima de gás é o sistema mais conhecido,
com uma eficácia de 80 a 80%, mas apresenta elevados custos energéticos. As
plantas devem ser sujeitas a temperaturas de 60 a 70ºC, no mínimo. O efeito desta
técnica traduz-se pela prostração imediata da planta que acaba por secar ao fim de
alguns dias. Este método só é efetivo contra infestantes dicotoledónias anuais, não
devendo ser aplicado em cardos ou em infestantes com estolhos ou rizomas.
Controlo biológico de infestantes
Vertebrados
Os gansos e as galinhas têm sido usados para controlo de infestantes num grande
número de culturas. Os animais são abrigados em pequenas estruturas móveis e são
mudados periodicamente de espaço.
Figura 7 - Exemplo da utilização de galinhas num pomar de aveleiras (Corillus
avellana), numa exploração experimental em Heilbron (Alemanha). (foto: Z.
Szalai)
Insetos auxiliares e controlo de pragas provocadas por ácaros em pomares
O facto de as árvores de fruto terem um período de vida significativo pode permitir o
desenvolvimento de populações de insetos nocivos ao longo do tempo. Por outro lado,
é também possível que estes ambientes agrícolas estáveis permitam o
desenvolvimento de populações de organismos auxiliares, favorecendo assim a
existência de um equilíbrio biológico, que favorece a saúde das plantas.
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Tabela 6 - Insetos auxiliares e controlo de pragas provocadas por ácaros em pomares
Método
aplicado Características
Luta biológica
A luta biológica diz respeito à utilização de organismos vivos para controlar a população de uma determinada praga. Exemplos de
artrópodes auxiliares que têm sido utilizados para controlar pragas em árvores de fruto incluem os ácaros predadores Phytoseiulus
persimilis e Metaseiulus occidentalis, os quais atacam os aranhiços vermelhos; joaninhas e crisopas, as quais se alimentam de afídeos
(pulgões); e microhimenópteros do género Trichogramma, as quais parasitam os ovos de várias pragas, incluindo o bichado da fruta
(Cydia pomonella L.).
Extratos de plantas e
biopesticidas
Os pesticidas autorizados em AB podem ser extratos de plantas, reguladores do crescimento de insetos, feromonas sintéticas para promover a desregulação na fase acasalamento, sabões, óleos,
minerais tal como o enxofre em pó, e biopesticidas à base de microrganismos.
Inseticidas vegetais
São elaborados através da extração de componentes tóxicos das plantas que têm propriedades repelentes para os insetos. Aqueles
inseticidas ocorrem naturalmente, têm um período de atuação curto,
e não libertam resíduos prejudiciais.
Feromonas de
insetos
São substâncias químicas produzidas por insetos para a comunicação e.g. para comunicação sexual. Normalmente, estas feromonas são
específicas de uma dada espécie ou género de insetos. É largamente utilizado para monitorizar a emergência ou a simples presença de
pragas nas culturas. Tecnologia recente permite também a utilização das feromonas no processo de desregulação e confusão da atividade sexual de certas pragas, especialmente em fruticultura e viticultura, desde que a área da cultura seja suficientemente grande ou isolada
para evitar a entrada de fêmeas já acasaladas.
Aprovisionamento ambiental. É fundamental ter a certeza de que as “necessidades
ambientais”, tais como a disponibilidade em néctar, fontes alimentares a lternativas e
água, estão disponíveis para os organismos auxiliares adultos. Com efeito, se o
ambiente e as condições de vida não forem os mais adequados, os insetos auxiliares
podem abandonar a área de produção ou até mesmo morrer.
A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) constitui um exemplo de uma forma biológica
recorrente no controlo de pragas. Produtos com esporos e toxinas provenientes da
bactéria Bacillus thuringiensis, como o Turex, por exemplo, combatem diversas larvas
de lepidópteros que se alimentam das folhas das árvores de fruto. Os produtos à base
de Bt não são igualmente eficazes contra as pragas de lepidópteros que passam a sua
fase larvar alimentando-se dentro de caules, troncos ou frutos, como o bichado da
fruta (maçã, pera, noz) e a zeuzera (broca dos ramos em diversas espécies de
árvores de fruto). Outros bioinsecticidas incluem o Bacillus popilliae, o vírus granuloso
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para ataque ao bichado da fruta, e nemátodos parasitas de insetos para o combate a
larvas de insetos.
Controlo de doenças em pomares de fruta biológica
Muitas doenças das árvores de fruta são específicas de determinadas espécies ou
variedades. Dada a relativamente frágil estrutura dos frutos e o elevado teor em
açúcar da maior parte dos frutos maduros, ou quase maduros, os fungos são uma
preocupação constante do agricultor. A ocorrência da maior parte das doenças
causadas por fungos tem lugar em condições climáticas caracterizadas pelos elevados
índices de humidade. A forma ecológica de minimizar as possibilidades de a fruta
apodrecer consiste em permitir uma boa circulação de ar e em favorecer a penetração
do sol no interior da copa das árvores. No caso de árvores, em particular das de
grande porte, isto implica a necessidade de efetuar podas adequadas e de levar a
cabo técnicas de condução eficazes. A instalação de pomares de árvores de fruto,
qualquer que este seja, deve ser feita em locais com excelentes condições de
circulação de ar.
Todo o material vegetal resultante das podas deve ser sempre removido do pomar, ou
destruído com uma fina trituração. Igualmente, devem remover-se as plantas
infetadas e os hospedeiros alternativos ou materiais inoculados que possam favorecer
o desenvolvimento de organismos prejudiciais.
Fungicidas e bactericidas permitidos
Embora apresentem inconvenientes, os derivados do cobre e do enxofre são os
principais fungicidas e bactericidas usados pelos produtores biológicos. De facto, estes
materiais podem causar danos às plantas se aplicados de forma incorreta. O enxofre é
também medianamente tóxico para alguns insetos auxiliares, e tóxico para ácaros
predadores, podendo assim provocar outro tipo de problemas. A utilização de
fungicidas à base de cobre, por longos períodos, pode também levar à existência de
níveis tóxicos de cobre no solo. Igualmente, estes fungicidas são efetivamente menos
eficazes que as alternativas sintéticas, e têm de ser utilizados numa base preventiva,
requerendo frequentes aplicações. Os produtores devem ter em consideração que a
quantidade de cobre metálico aplicado num ano está limitada a 6Kg/ha, de acordo
com a legislação comunitária para a agricultura biológica.
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Os biofungicidas podem ser obtidos, por exemplo, a partir de várias formulações do
fungo Trichoderma harzianium, utilizado no controlo da podridão cinzenta (Botrytis).
Embora algumas plantas e extratos compostos tenham propriedades fungicidas, é
preferível utilizar técnicas agrícolas corretas e variedades resistentes, aplicando
derivados de cobre e enxofre apenas quando necessário.
Animais vertebrados
Várias espécies de aves, gamos, ratos, ratazanas, coelhos e outros animais
vertebrados podem constituir-se como verdadeiras pragas para as árvores de fruto.
De uma forma geral, os programas de certificação biológica não permitem a utilização
de venenos para controlar este tipo de pragas. Ao contrário, encorajam a utilização de
armadilhas não letais, o controlo de movimentos com vedações ou sebes, ou ainda a
utilização de sistemas repelentes ou de amedrontamento.
Figura 8 - Disponibilização de um local de nidificação para insetos auxiliares e aves,
num pomar de macieiras no Research institute of Weinsberg, Alemanha (foto: Z.
Szalai)
1.1.4. Colheita, armazenamento, conservação e transporte
A colheita deve ser planeada atempadamente e o momento em que a mesma é
efetuada deve ser determinado de acordo com os parâmetros de maturação, em
função do destino final da fruta. Para a maior parte das variedades de fruta, a colheita
pode ser efetuada com sistemas multirecolha seletivos. O grau de maturação para a
22
colheita depende da variedade, e é sobretudo determinado pelo tamanho e pela
coloração do fruto. Outros índices de maturação incluem a análise de lenticelas nos
frutos, o seu teor em amido, e a concentração interna de etileno. Tamanho e forma
uniformes, ausência de lesões internas, necroses, cicatrizes, escaldão, danos
causados por insetos, e outros defeitos, são importantes indicadores de qualidade. A
estimativa de produção deverá ser feita antes da colheita, e os seus dados registados.
Após a colheita, os frutos devem ser enviados o mais depressa possível para o seu
destino final. Tanto na colheita como no circuito de distribuição, só podem ser
utilizados os tipos de embalagem permitidos.
Durante o transporte, a fruta biológica não deve, mesmo que por acaso, ser
misturada com a fruta obtida através dos métodos convencionais. Também não pode
ser transportada em estruturas conjuntas de transporte. A fruta deve estar
devidamente marcada com uma referência distintiva na embalagem, e com indicação
na guia de transporte ou fatura de que se trata de fruta de agricultura biológica
certificada por um determinado organismo de certificação. As estruturas de
acondicionamento e embarque devem estar protegidas da contaminação externa.
Dado que se trata de produtos biológicos, a fruta colhida deve estar devidamente
referenciada com os documentos de certificação do produto em causa, especialmente
para posterior utilização pelo organismo certificador e pelo distribuidor ou retalhista.
Armazenamento dos frutos
O armazenamento dos frutos pode ser realizado em atmosfera normal ou controlada e
o período de armazenamento depende das características específicas dos frutos.
No caso de embalamento para envio, uma atmosfera modificada com 10 a 15% de
dióxido de carbono reduz o desenvolvimento da Botrytis cinerea.
Tabela 7 - Armazenamento dos frutos
Frutos Método de armazenamento
Maçãs, peras Variedades de
Verão
Armazenamento em atmosfera normal a uma temperatura entre -1 e 0ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%
Amadurecimento em Agosto ou Setembro: armazenadas desde alguns dias a algumas semanas
Maçãs, peras Variedades de
Inverno
Atmosfera controlada a -1ºC durante mais de quatro meses. Limites ótimos: 1-2% O2 + 0-1% CO2
23
“Frutos de
caroço”
A temperatura ótima de armazenamento situa-se entre -1 e 0ºC, e a humidade relativa entre 90 e 95%. O período de “vida comercial”
varia desde uma a oito semanas e é diferente entre as diversas variedades. Algumas variedades são sensíveis à refrigeração. A
fruta mais sensível, armazenada entre 2 a 8ºC, é mais suscetível a este problema
Bagas ou pequenos frutos
Arrefecimento rápido com ar forçado, seguido de um armazenamento a 0ºC com humidade relativa de 90 a 95%.
A framboesa pode ser armazenada durante apenas 2 a 5 dias, em temperaturas que variam entre 0 e 0,5ºC e uma HR de 90 a 95%.
Para o mirtilo, a temperatura ótima de armazenamento situa-se também entre 0 e 0,5ºC e a HR deverá ser de 90 a 95%. Nestas condições, o período de armazenamento pode prolongar-se por
duas semanas.
Processamento da fruta
De acordo com a legislação comunitária relativa aos produtos biológicos, a seguinte
prescrição deverá ser seguida: os alimentos apenas podem ser considerados como
“biológicos” se, pelo menos, 95% dos seus ingredientes forem também biológicos.
Ingredientes biológicos em alimentos não biológicos podem ser referenciados como
biológicos na lista de ingredientes, desde que aqueles ingredientes tenham sido
produzidos de acordo com a legislação da AB. De forma a assegurar um maior grau de
transparência, o número de código do organismo certificador deve ser indicado. É
proibida a utilização de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) ou produtos
deles derivados.
Os produtos biológicos não podem ser tratados ou sujeitos a processos de radiação ou
ionização. Desde 1 de Julho de 2010 que os produtores de alimentos biológicos
europeus devem usar o logótipo comunitário da AB. A utilização do logótipo em
produtos biológicos oriundos de países terceiros, todavia, é opcional. No caso de este
ser utilizado, a legislação promulgada obriga, desde 1 de Julho de 2010, a que o local
de produção dos ingredientes agrícolas utilizados seja indicado.
24
Tabela 8 - Necessidades de matéria-prima para o processamento de produtos biológicos
Fruta Requisitos de qualidade
Maturação Os frutos atingem o seu estado ótimo quando se obtém, para cada
variedade, a melhor relação ácido/açúcar. A excessiva maturação afeta
as características do fruto, designadamente o seu sabor.
Pureza Os frutos não devem conter materiais ou substâncias estranhas, tais
como pó ou poeiras, terra, folhas, etc. Os frutos devem ser lavados com água fresca e limpa, antes do processamento.
Conservas, compotas, geleias de frutos, sumos
Na fase de processamento e conservação só podem ser utilizados métodos físicos
(tratamento pelo calor, congelamento, pressão). Igualmente, só podem ser
empregues aditivos naturais. O conjunto de aditivos que podem ser utilizados é muito
vasto, pelo que é aconselhável obter informação da literatura técnica, antes do
processamento do produto. Os aditivos originários de produção não biológica não
podem exceder 5%, em peso. Corantes sintéticos, aromatizantes, adoçantes,
antioxidantes, potenciadores de sabor e conservantes alimentares, não deverão ser
usados. As condições ideais de conservação, baseiam-se, designadamente, na
esterilização com calor, no enchimento a quente, e na posterior pasteurização (vapor
ou água quente). As fases seguintes dizem respeito ao processamento dos produtos à
base de frutas.
A matéria-prima deve ser exclusivamente originária de produção
biológica certificada, devendo a mesma estar documentada. Na
fábrica, a matéria-prima biológica só pode ser processada numa linha
de transformação específica, independente das restantes. Cada fase
deverá ser acompanhada da devida documentação.
25
Tabela 9 – Processamento dos frutos e requisitos de qualidade
Tipo de Processamento
Requisitos de qualidade
Conservas
Frutos inteiros maduros, juntamente com um líquido de preenchimento arrefecido (eventualmente suplementado com sumo
de limão) são introduzidos em recipientes fechados e posteriormente sujeitos a tratamento com calor
Doces de frutas
Confecionados com açúcar adicionado e são sujeitos a preparação culinária, contendo também alguns pedaços de fruta. Na maior
parte dos casos, podem ser feitos a partir de fruta não totalmente madura.
Geleias
são elaboradas a partir de fruta totalmente madura, mesmo
amassada, com açúcar adicionado e preparação culinária (que promove a esterilização).
Frutos secos
No processo de secagem, é reduzido em cerca de 80 a 90% o conteúdo em água natural dos frutos.
O método de secagem no forno, como a secagem em bandejas, é um método simples e tradicional.
Marketing
Os produtos comercializados devem ser etiquetados de acordo com as suas
características de produção e processamento biológicos, contendo o número de código
do organismo certificador. O produto certificado é acompanhado pelo respectivo
documento de certificação, emitido pela entidade certificadora. Igualmente, devem
também ser indicados o nome do produto, o endereço do produtor, o peso líquido
escorrido, a data de validade, ingredientes e aditivos incorporados e as
recomendações de armazenamento (ambiente frio ou seco, etc.). A fruta biológica
pode ser comercializada do seguinte modo: 1) venda direta pelo produtor na
exploração agrícola; 2) venda em mercados locais; 3) entrega em casa na sequência
de pedido expresso; 4) venda do quadro do agroturismo; 5) abastecimento de
restaurantes, hotéis, e através da rede de mercados grossistas.
26
1.1.5. Exemplos práticos
Damasco (Armeniaca vulgaris L.)
A espécie Armeniaca pertence ao subgénero Prunus, o qual se insere na grande
família das Rosáceas. Esta inclui numerosas espécies selvagens e domésticas. O
damasco cresceu primeiro na Ásia Central e Ocidental, tendo-se espalhado a partir daí
para a Grécia, a Itália, França, Espanha e Califórnia.
Morfologia e necessidades biológicas do damasco. O damasco é uma árvore de
raízes profundas com um tronco de cor castanho-avermelhado. Os ramos e a copa são
avermelhados, com numerosas lenticelas. A produção de damascos tem sempre lugar
em “ramos produtivos”, nos quais as partes produtivas têm sempre um ano. A árvore
torna-se produtiva aos cinco ou seis anos de idade e o volume máximo da copa é
atingido entre os seis a dez anos. Devido à precoce floração na Primavera, o
damasqueiro sofre frequentemente com as baixas temperaturas de algumas noites
primaveris.
Necessidades Ecológicas. Necessidades em termos de temperatura. Uma exigência
fundamental do damasco é a existência de uma temperatura anual média de 10ºC e
uma temperatura média no mês de Julho de 18ºC. O damasco necessita de 1900
horas de sol no período vegetativo (i.e. do quarto ao nono mês), e a temperatura
acumulada deve ser superior a 3200ºC. As temperaturas baixas são importantes para
o seu desenvolvimento e o vingamento dos frutos: 40 dias com 3ºC a 4ºC são
suficientes para a floração, mas mais do que isto e os frutos sofrerão lesões
provocadas pelo frio. Portanto, estas árvores não devem ser plantadas nas vertentes
orientadas a Sul. Algumas variedades selecionadas já são menos exigentes em frio
invernal.
Necessidades de água. Os frutos necessitam 550-600 mm de precipitação anual, se
uniformemente distribuída. As necessidades hídricas são maiores durante a fase da
diferenciação das gemas vegetativas, em Agosto, e durante o desenvolvimento dos
botões florais, em Setembro/Outubro.
27
Necessidades pedológicas. O damasqueiro necessita de um solo com uma
estrutura “solta” e uma camada inferior de argila. Devido às elevadíssimas
necessidades em arejamento no solo, esta árvore sofre de asfixia radicular em solos
mais “pesados”.
Uso de porta-enxertos. O porta-enxertos com base no damasqueiro selvagem
caracteriza-se sobretudo pelo seu crescimento vigoroso; os porta-enxertos de
ameixeira selvagem apresentam também um crescimento vigoroso, embora tenha
sido registado um efeito de nanismo na ameixa vermelha. Algumas ameixeiras nobres
podem proporcionar excelentes porta-enxertos, como é o caso dos clones de
Besztercei. Em algumas áreas, a os enxertos obtidos a partir da Prunus domestica
ssp. institia podem também ser adequados. No caso de colheita mecânica deve usar-
se o porta-enxerto mirabolano.
Crescimento. O damasqueiro atinge o volume máximo de copa entre os seis e os 10
anos de idade. A fase de máxima floração acontece normalmente em Março. É
importante sublinhar que devido às condições específicas de polinização do
damasqueiro, devem ser plantadas várias variedades.
Fornecimento de nutrientes. Tal como sucede com outras culturas, é fundamental
efetuar análises de solos e de folhas antes da adubação. Para assegurar um volume
médio de produção (i.e. 20 a 25 toneladas/ha), o suplemento anual em nutrientes
recomendado deverá situar-se entre 1000 a 1500 Kg/ha de estrume curtido ou
composto. Em termos de fornecimento de nutrientes, o estrume e o composto
desempenham um papel fundamental.
Proteção das plantas. Para garantir que as árvores de fruto estejam em boas
condições, o melhor método preventivo consiste em efetuar uma boa plantação, com
plantas fortes e saudáveis. De seguida, é também importante a monitorização do
pomar, designadamente, efetuando as podas nas alturas adequadas, mantendo o
pomar limpo e arrumado, fazendo cortes regulares no espaço das entrelinhas,
mobilizando o solo mecanicamente nas linhas, ou então recorrendo ao empalhamento
nas mesmas. Igualmente, devem destruir-se os ramos infetados e retirar-se do pomar
as folhas e os frutos infetados. Desta forma, removem-se ou afastam-se do pomar os
focos de pragas e doenças.
28
A seguinte tabela simplificada apresenta alguns métodos biológicos aplicáveis na
proteção de plantas, relativamente ao damasco.
Tabela 10 - Proteção de plantas em AB: damasco e peras (Fonte: Biocont Hungaria Kht)
Praga Método de proteção Aplicação
Aranhiço vermelho europeu
(Panonychus ulmi)
Aranhiço amarelo (Tetranychus
urticae)
Typhlodromus Pyri ácaro fitoseídeo
Em cada uma das árvores: 1-3 doses de Typhlodromus. Devem ser colocadas entre
Dezembro e Fevereiro (em geral não é preciso aplicar, pois a
limitação natural com os auxiliares autóctones é suficiente)
Afídeos Garbol
óleo de Verão a 856g/l
Pulverização com uma concentração de 2-
3% no período de repouso vegetativo, e com uma concentração de 0,5-1%, durante o
período de crescimento
Anarsia
(Anarsia lineatella)
Isonet A 1000 difusores de feromona/ha,
especialmente para pomares com mais de 3ha. Aplicação entre 5 a 10 de Maio.
Traça Oriental do pessegueiro
(Cydia molesta)
Dipel, Turex Bacillus thuringiensis var. kurstaki: 1,5 a 2 litros, ou kg/ha, diluído em 800 a 1000 litros
de água de acordo com os resultados de monitorização das armadilhas de feromonas,
no estádio larvar da praga.
Traça Oriental da fruta
(Grapholita molesta)
Isomate 600 difusores de feromona/ha especialmente para pomares com mais de 3 ha, e aplicação
antes do início do voo
Oídio Thiovit com 80% de enxofre
Antes da floração: 7,5 kg/ha; Após a floração: 3 a 4 kg/ha
Coryneum beijerinckii
(crivado) Monilia laxa (moniliose)
Kocide 2000 53% de cobre
Aplicável até à fase de botão vermelho da flor do damasco em concentrações de 1,75-
2,0 kg/ha, com 1000-1500 litros de água
Oídio Monilia laxa, Apiognomia
erythrostoma
Afídeos e ácaros
Calda sulfo-cálcica com 23% de polisulfureto de cálcio, contra doenças
provocadas por fungos e
insetos. É necessária autorização
por parte da entidade certificadora
Não está homologada em Portugal
No estadio de dormência: 8-10% de concentração.
No início do desenvolvimento do botão: 3-5%;
No estadio vegetativo: 1-2%
Monitorização do desenvolvimento da população das pragas de insetos: Armadilhas com feromonas; Armadilhas cromotrópicas amarelas pegajosas; Armadilhas brancas para
microhimenópteros da fruta
29
Colheita. A colheita manual é efetuada em duas ou três fases (70-80 Kg/hora). A
maturidade é definida pela cor da pele, firmeza da polpa, e pelo conteúdo em ácido. A
colheita mecânica pode ser feita, sobretudo se está em causa o posterior
processamento pela indústria alimentar. Após a colheita, os frutos devem ser pré-
arrefecidos o mais rapidamente possível. O damasco não tolera bem o
armazenamento em frio: poderá assim ser guardado por um período máximo de duas
semanas.
Consumo e processamento. O damasco é recomendado sobretudo para consumo
em fresco, mas também é excelente processado sob a forma de compotas, geleias e
sumos. A desidratação é uma excelente oportunidade para os damascos.
30
Unidade Didática 1.2. A produção biológica de hortícolas
Os métodos usados na produção biológica reproduzem os ciclos naturais da vida,
incluindo a senescência e a renovação. Com a produção em agricultura biológica, o
solo recupera os seus nutrientes e o material orgânico, criando assim um solo de
elevada qualidade para o produtor biológico. Igualmente, obtêm-se melhores plantas
e uma utilização eficiente do solo e dos desperdícios, neste caso, através da
reciclagem.
1.2.1. Escolha do local e seleção varietal
O sucesso da produção de hortícolas em AB pode estar muito dependente da escolha
do local. Para além de todas as razões óbvias relacionadas com a escolha de um local
(clima e solo adequados, correto fornecimento de água, transporte e mercados), o
local deve estar relativamente livre das pragas e doenças que incidem nas culturas
que o agricultor pretende cultivar. A presença de algumas espécies de infestantes,
como a grama e a junça, são em geral ainda mais problemáticas, dada a
impossibilidade de aplicar herbicidas.
O sucesso da produção vegetal em AB assenta no estabelecimento de um correto
plano de rotações. Isto poderá significar uma redução da área de produção destinada
ao mercado e a implementação de zonas com plantas que se destinam a posterior
sideração. Estes terrenos serão colocados em produção comercial na rotação seguinte.
Os produtos hortícolas podem ser cultivados com sucesso sobretudo em zonas
“baixas”, planas e com clima temperado. As elevadas altitudes diminuem o
período vegetativo, o que reduz o leque de espécies e variedades a utilizar.
Microclima do local é crucial na medida em que cada planta tem necessidades
específicas em termos climáticos.
Locais com frequentes geadas noturnas na Primavera e no Outono contribuem
para tornar o êxito da produção mais aleatório.
Período vegetativo pode ser prolongado utilizando estruturas de cobertura, tais
como estufas e túneis de plástico, ou cobrindo as culturas com manta térmica.
A precipitação é muito importante, sobretudo para culturas mais exigentes em
água, que apresentam maior área foliar. No caso de os períodos de precipitação
serem curtos e insuficientes, devem ser instalados sistemas de irrigação.
31
Características das espécies de acordo com as condições climáticas e a luminosidade
As plantas com maiores necessidades de calor ou que vivem em zonas com dias
mais curtos necessitam de um número mais elevado de horas sem luz para
iniciarem a floração.
As plantas com menores exigências de calor ou que crescem em zonas com
dias mais longos necessitam de um menor número de horas de escuridão, em
cada 24 horas, para induzir a floração.
Descrição de temperaturas ótimas para produtos hortícolas segundo Markov-Haev
25 C° – melão, melancia
22 C° – tomate, beringela, pimento
18 C° – cebola, alho
16 C° – cenoura, ervilha, feijão
13 C° – couve, rabanete, hortícolas de folha larga
Variedades e seleção de culturas
Desde 31 de Dezembro de 2003 que constitui um requerimento da produção biológica
a necessidade de as variedades escolhidas deverem ser obtidas a partir de sementes
ou plântulas certificadas. A variedade escolhida deve também ser reconhecida no
mercado, apresentar produções significativas, ter uma resistência a pragas e doenças,
e ter um bom vigor vegetativo e desenvolvimento da parte aérea de forma a conter as
infestantes. Algumas variedades têm características específicas, como por exemplo,
pêlos ou superfícies rugosas, que as tornam pouco “atrativas” para as pragas.
Adequação ao mercado
É importante contactar os grossistas, os retalhistas e os exportadores de produtos
biológicos para saber o que o mercado procura e quando o necessita. Alguns tipos de
produtos hortícolas podem escassear em algumas alturas do ano, e pode ser possível
preencher essa lacuna sazonal no mercado. Certos restaurantes e operadores de
catering podem desejar espécies específicas de hortícolas, como por exemplo, de
pequena dimensão, tipo “baby”. Mercados locais ou comércio na exploração podem
constituir uma possibilidade interessante, sendo neste caso aconselhável a produção
da uma vasta gama de produtos reconhecidos. Uma empresa de processamento pode
ser também outro destino possível: alimentos biológicos tipo “baby”, têm uma procura
crescente em vários países europeus. De uma forma geral, as espécies destinadas ao
processamento são diferentes daquelas destinadas ao consumo em fresco, e este
32
aspeto deve ser analisado com cuidado. Provavelmente, os industriais terão as suas
próprias necessidades, que podem incluir variedades específicas, quantidade e
momento do fornecimento, forma, ou composição, como por exemplo a percentagem
da componente de sólidos solúveis no produto.
Adequação às condições ambientais de cultura
Uma vez tomada a decisão quanto ao que produzir, o próximo passo consiste em
escolher uma variedade adequada. É importante fazer alguma pesquisa “local”:
contactar o departamento de agricultura mais próximo, outros produtores, e alguns
viveiristas, para saber que variedades se desenvolvem melhor na zona em causa. O
tipo de solo e características sazonais, como a duração do dia e a amplitude térmica
podem determinar as variedades a cultivar e quando cultivar. Pode também ser
possível modificar alguns fatores ambientais para proteger as culturas ou alterar o
período de maturação das mesmas, usando, por exemplo, coberturas de culturas (ou
na linha), ou mesmo produção em estufa.
Pragas, doenças e resistência a infestantes
Entre as características varietais que podem dar à produção biológica uma vantagem
significativa estão a resistência intrínseca a pragas e doenças, o vigor vegetativo, a
existência de folhas largas, bem desenvolvidas (provocando ensombramento nas
infestantes) e a existência de frutos com pêlos (como acontece em alguns tipos de
cucurbitáceas). Podem ser plantadas variedades em função do seu período de
maturação de forma a evitar a elevada incidência de pragas e doenças em períodos
determinados.
Disponibilidade de sementes e de plântulas
De acordo com os critérios de certificação biológica, deve ser dada preferência à
utilização de sementes e plântulas oriundas de AB. Desde 01 de Janeiro de 2001 que
tal procedimento está inscrito no Regulamento Europeu da Produção Biológica. A
partir de então, foi desenvolvida uma base de dados com as características dos
produtores e fornecedores de sementes e plântulas biológicas. Variedades de
polinização aberta ou não híbridas são também preferíveis, mas não obrigatórias. As
variedades geneticamente modificadas (transgénicas) não são permitidas em AB.
Deve ter-se todo o cuidado no sentido de a semente ter uma correcta germinação.
Antes da introdução no solo, pode ser aconselhável semear algumas sementes num
33
recipiente e analisar a percentagem de germinação. As sementes não podem ser
tratadas com pesticidas químicos de pré-sementeira.
Considerações sobre a utilização do espaço
No momento do planeamento da cultura alguns aspetos relacionados com a utilização
do espaço podem ser o tipo de linhas e o espaço entrelinhas, o número de linhas por
cama, e a eventual consociação com outras espécies, as quais poderão funcionar
como planta hospedeira ou armadilha.
Solo e nutrição das culturas
A maior parte dos produtos hortícolas desenvolve-se melhor em solos argilosos, bem
drenados, com um pH situado entre 6 a 6,5. É fundamental uma análise prévia dos
solos para identificar eventuais necessidades de intervenção ao nível da sua estrutura
ou da sua capacidade de fornecimento de nutrientes. Provavelmente, antes da
plantação/sementeira, serão necessários alguns “ajustamentos” no solo para que este
disponibilize os nutrientes necessários à cultura em causa. O solo deve também ser
analisado de forma a despistar eventuais resíduos de pesticidas ou contaminação
provocada por metais pesados. Neste caso, níveis inaceitáveis podem excluir a
produção da certificação biológica ou podem excluir a produção de determinadas
culturas, como os hortícolas de raiz.
O composto constitui um input nutricional essencial numa exploração agrícola em AB,
constituindo assim uma vantagem a possibilidade de facilmente se poder ter acesso a
uma fonte local de compostagem. O composto pode incluir estrume animal e
desperdícios de culturas efetuadas noutras empresas agrícolas, mas, neste caso, os
materiais utilizados deverão estar livres (ou ter uma baixa incidência) de resíduos de
pesticidas e de metais pesados. Muitos organismos certificadores preferem o
desenvolvimento de sistemas que permitam que a compostagem numa determinada
exploração utilize apenas materiais obtidos nessa mesma exploração. O produtor
biológico deve destinar uma área da exploração para a produção de composto, longe
de depósitos e cursos de água, e com os cuidados devidos para evitar a poluição.
Água
Deve existir uma fonte de água de qualidade e em quantidade, sendo essencial
assegurar o seu acesso, nomeadamente, confirmando esta possibilidade junto das
34
autoridades competentes. A água disponível deve ser testada com vista a determinar
a sua adequação para a irrigação; também deve ser testada quanto a uma eventual
contaminação química, em particular, se essa água atravessa terrenos que não estão
em AB, como por exemplo, canais de rega e cursos de água naturais. O conteúdo em
sais da água deve também ser analisado antes da sua utilização.
Proximidade de explorações agrícolas que não estão em AB
Se existe um potencial de contaminação, os produtores biológicos devem introduzir
“zonas-tampão”, não certificadas, entre as áreas certificadas e as propriedades
adjacentes. As “zonas-tampão” podem ser constituídas por “quebra-ventos”,
corredores para vida selvagem, áreas com culturas não certificadas, ou outras
infraestruturas ecológicas. Quando adequadamente selecionadas e instaladas, as
zonas de vegetação complementar favorecem a biodiversidade na exploração e
atraem aves e outras espécies benignas que auxiliam no controlo de pragas.
Transporte
É fundamental dispor de transporte de qualidade para escoar os produtos frescos para
o mercado. O transporte em causa poderá ter de ser refrigerado se transportar
produtos altamente perecíveis, e os operadores logísticos devem estar conscientes de
que o produto transportado é biológico pelo que deverá ser isolado dos produtos
convencionais, para minimizar o risco de contaminação.
Equipamento e maquinaria
Muitas empresas de sucesso, com grande dimensão, vocacionadas para a produção
biológica de hortícolas utilizam uma larga gama de máquinas e utensílios nas
operações culturais. O equipamento necessário depende largamente de cada situação.
Alguns produtores cultivam vegetais em canteiros (1,5 metros é uma largura
comum), pelo que os tratores devem ter elevada precisão e uma distância entre rodas
adequada ao tamanho da cama. Existe no mercado uma larga gama de equipamento
agrícola para viveiristas e produtores, designadamente para controlo de ervas
infestantes.
Monitorização de desempenho
A manutenção de registos da atividade agrícola é essencial e constitui mesmo um
requerimento do processo de certificação. Idealmente, todos os canteiros devem estar
35
numerados, e devem ser mantidos registos relativos ao desenvolvimento das plantas,
infestantes, incidência de pragas e doenças e medidas de controlo usadas, sucessos e
fracassos, resultados de análises de solos, siderações, fertilizantes e outros inputs
aplicados, e dados climáticos. A informação deve ser guardada imediatamente após o
fim da operação a que reporta.
1.2.2. Gestão da fertilidade do solo
O fornecimento adequado de nutrientes pode ser realizado através do sistema global
de gestão do solo, o qual inclui a rotação de culturas, a preparação do solo e o
fornecimento de nutrientes (matéria orgânica). É muito importante alcançar um nível
elevado de atividade biológica no solo através dos microrganismos vivos que o mesmo
contém. A planta utilizará assim os nutrientes resultantes da atividade dos
microrganismos do solo.
Fertilizantes
Na produção de hortícolas biológicos o composto da própria exploração constitui a
base da nutrição das plantas. A utilização de fertilizantes artificiais de síntese e de
fácil solubilidade é estritamente proibida (Reg. UE 889/2008, Anexo I). De acordo com
este Regulamento, fertilizantes minerais com menor grau de solubilidade podem ser
utilizados, apenas se não for possível implementar um plano de nutrição adequado,
baseado na rotação de culturas e no fornecimento de nutrientes pelo solo.
Adicionalmente, a sideração é uma solução a utilizar, funcionando no quadro da
rotação de culturas. A matéria orgânica com origem na exploração é fundamental e
constitui o princípio básico da agricultura biológica, que assenta na existência de um
ciclo fechado de operações e intervenções agrícolas.
O aspeto mais importante no crescimento de produtos hortícolas em MPB é o estrume
de bovinos ou suínos, ou de outros animais da exploração, e o composto obtido a
partir desses estrumes e dos resíduos de plantas da exploração. Antes de ser
utilizado, o estrume da exploração deve ser decomposto em condições aeróbias
(curtido) para que o azoto existente se torne mais estável e disponível numa
perspetiva de fertilização de longo prazo, e para que os organismos patogénicos
sejam eliminados. Se necessário, e com a autorização da entidade certificadora,
podem também ser aplicados fertilizantes minerais. A lista dos fertilizantes minerais
36
permitidos e de outros melhoradores da fertilidade do solo e da microflora, está
disponível no Reg. (UE) 889/2008, no seu Anexo 2. Exemplo: carbonato de cálcio
natural, sulfato de potássio, sulfato de cálcio, sulfato de magnésio.
A Sideração é outro importante melhorador da estrutura e da composição do solo,
com forte impacto na produção de hortícolas biológicos. Sideração significa produzir
espécies adequadas ao terreno e enterrá-las no solo quando o teor em nutrientes,
definido em função do seu estado fenológico, for o melhor.
Tabela 11 – Vantagens da Sideração
Sideração Vantagens
Nutrientes Aumento de teor em azoto do solo (através das espécies
leguminosas) e favorecimento da melhoria da sua estrutura
Infestantes Cobertura do solo, antes ou depois da cultura principal
Proteção
Quebra do ciclo de desenvolvimento de pragas e doenças no terreno, apresentando forte capacidade nematodicida, como por
exemplo algumas espécies Crucíferas (de que é exemplo a mostarda).
Ambiente
Redução da lixiviação mineral; efeito de drenagem e estrutura fragmentada na camada mais elevada do solo
A sideração pode também constituir a cultura secundária na rotação, sendo
implantada através de sementeira na entrelinha da cultura já instalada, ou sobre o
restolho da última cultura. Esta sementeira pode fazer-se através de sementes
compradas ou a partir duma parte do adubo verde que se deixa produzir semente. Se
as plantas se encontrarem no seu estadio ótimo de desenvolvimento, serão
enterradas cortadas, ou não cortadas, ou deixadas sobre o terreno, como cobertura
morta (mulching).
O valor da sideração é fortemente determinado pela profundidade que atingem as
raízes das espécies utilizadas, bem como pelo tempo que medeia entre a sementeira e
a incorporação no solo. No primeiro caso, o volume de raízes existentes nos primeiros
vinte centímetros do solo é particularmente importante.
Compostagem
Durante o processo de compostagem os materiais orgânicos grosseiros são
transformados em húmus, sendo este constituído por macromoléculas orgânicas. Os
37
resultados variam de acordo com as condições de maturação e do tipo de material
utilizado. Dado que se podem obter compostos com diferentes capacidades de
fornecimento de nutrientes, o agricultor poderá utilizá-los, como fertilizantes, em
diferentes culturas. Todos os tipos de resíduos de plantas (exceto os infetados) podem
ser convertidos em fontes benéficas de nutrientes, refazendo a estrutura do solo e
revitalizando a atividade biológica.
A reciclagem de materiais orgânicos assume uma importante função de proteção
ambiental, enquanto o composto, quando bem produzido, tem vantagens adicionais.
O calor desenvolvido na pilha durante o processo de compostagem melhora as
condições de sanidade e evita as infestantes, quando não mesmo elimina todas as
sementes de infestantes, e destrói os fungos causadores de doenças e outros esporos.
Se o processo de compostagem for devidamente controlado obtém-se um fertilizante
com um valor nutricional mais elevado que os materiais grosseiros iniciais. O elevado
número de microrganismos favorece a vida no solo e melhora a gestão natural de
nutrientes do sol. As perdas mínimas de nutrientes, o baixo investimento, e as
reduzidas necessidades energéticas, tornam este processo numa forma
economicamente vantajosa de fornecimento de nutrientes.
A compostagem superficial é uma espécie de mulching nutritivo que requer um
baixo investimento; todavia, é um método pouco eficiente e pode ser acompanhado
por elevadas perdas de nutrientes. No processo de maturação em pilha é efetuada a
mistura dos materiais grosseiros triturados, tendo o cuidado de manter uma estrutura
que permita o fácil arejamento. Durante o processo de maturação, deve ser garantido
o arejamento e o teor adequado de humidade. Durante a maturação do composto o
arejamento deve ser assegurado porque, ao contrário da maturação do estrume
líquido (chorume) da exploração, o composto é formado através de um processo
aeróbico, mesmo que parte da matéria-prima seja estrume. O composto é aplicado
em menores quantidades no terreno (em comparação com corretivos orgânicos não
compostados), no Outono e na Primavera, sendo incorporado perto da zona das raízes
e, ocasionalmente, diretamente à volta das plantas.
A importância da cobertura do solo na produção de hortícolas - Mulching
A cobertura do solo protege os terrenos contra o impacto das chuvas e os efeitos de
desidratação do sol e do vento. Esta proteção incrementa a vida no solo e constitui
38
também uma fonte de nutrientes para os microrganismos. A cobertura do solo evita a
concentração anual de infestantes, quando não mesmo eliminando-as completamente,
e favorece o desenvolvimento de frutos saudáveis (por exemplo, morangos e melões).
Esta técnica é especialmente apropriada para regiões onde o Verão é quente e seco.
Podem referir-se os seguintes tipos de mulching:
Palhas ou relva cortada, usados em culturas de ciclo longo que requerem
elevadas quantidades de matéria orgânica e que crescem em grandes espaços
abertos: tomate; beringela; pimento; melão, couve, alho, abóbora, pepino e
alho-francês;
Filme biodegradável, que impede a proliferação de pragas e doenças quando o
solo é aquecido, permite a circulação do ar e da água, enquanto impede o
desenvolvimento de infestantes;
Materiais à base de papel, para morangos e outras culturas hortícolas.
1.2.3. Rotação e consociação de plantas
A importância da rotação cultural
A rotação de culturas é a base da produção biológica, na medida em que a sua
complexidade e diversidade asseguram a estabilidade do ecossistema agrícola. As
principais funções da rotação de culturas são:
Assegurar o suficiente fornecimento de nutrientes;
Assegurar o autoabastecimento de azoto através da introdução de plantas
leguminosas;
Minimizar os danos causados por ervas infestantes, pragas e doenças e
proteção contra essas mesmas infestantes, pragas e doenças;
Manter a estrutura do solo e o teor adequado em matéria orgânica
Definição de rotação de culturas
A rotação de culturas assume uma relevância determinante na agricultura biológica.
De facto, este método holístico permite a construção de um adequado sistema de
fornecimento de nutrientes, favorece a proteção das plantas e facilita o uso do solo. A
rotação de cultura constitui igualmente a forma mais eficiente de alterar os impactos
de longo prazo para que seja possível a adequação das atividades da exploração aos
39
requisitos da ecologia e da sustentabilidade. A interação planta/solo, bem como a
atividade de organismos auxiliares presentes no solo, são importantes fatores de
melhoria da fertilidade dos solos e, por essa via, promotores de um melhor contexto
de desenvolvimento das plantas.
Os quatro elementos-base de um sistema de rotação de culturas são:
Composição das plantas - conjunto das espécies produzidas na exploração, ou
nas suas áreas adjacentes
Proporção das plantas - percentagem de área ocupada com determinadas
espécies de plantas.
Sequência de plantas - composição e proporção das mesmas, e a forma como
se sucedem numa determinada área, num determinado conjunto de anos.
Rotação - período durante o qual todas as plantas na rotação foram cultivadas,
em todas as secções, de acordo com uma determinada sequência e que, no
final da rotação, a formação inicial é de novo retomada.
Desenho da rotação de culturas na produção de hortícolas
No momento da planificação de uma rotação de culturas devem ter-se em
consideração os seguintes aspetos:
Os hortícolas de folha para salada têm idêntica posição na rotação
que as culturas de raiz.
Um intervalo mínimo no cultivo de uma mesma espécie, significa
quatro anos para a maior parte das hortícolas.
A sideração ou a introdução de culturas intercalares melhoradoras
permitem obter boas condições de produção para todos os hortícolas
(com exceção dos que pertencem à mesma família).
Para sistemas de produção de hortícolas ao ar livre, a rotação de
culturas deverá reservar 20% para as culturas leguminosas.
40
Objetivos da rotação de culturas
Manutenção e melhoria da fertilidade do solo
A fertilidade do solo só pode ser alcançada através de um sistema de produção
baseado na rotação de culturas. O impacto desfavorável de certas plantas ou grupos
de plantas deve ser compensado com o impacto favorável de outras plantas. A
ervilha, a ervilhaca e o feijão deixam mais raízes no solo e o seu restolho permanece
nos terrenos mais tempo do que o trigo de inverno ou milho; as leguminosas anuais,
e algumas gramíneas, deixam no solo uma massa de resíduos orgânicos ainda mais
elevada.
Manutenção e melhoria da estrutura do solo
O sistema radicular das plantas cultivadas tem um efeito positivo na estrutura do solo.
As plantas da família Papilionacea (Fabaceae), também conhecidas como
leguminosas, são as que asseguram um melhor efeito de ensombramento, tendo os
cereais um impacto positivo menor. A consociação de leguminosas com gramíneas é
ainda melhor.
Proteção do solo contra a erosão e o esgotamento
Uma das formas mais eficientes para proteger o solo contra a erosão e o esgotamento
consiste no mulching ou cobertura do solo. O objetivo consiste assim em utilizar,
designadamente, plantas que cubram o solo durante o maior período possível, em
particular, durante os períodos críticos.
Controlo de infestantes
Um sistema de produção sem rotação de culturas “abre as portas” à rápida
proliferação de certas espécies infestantes. A rotação de culturas é de facto o sistema
de controlo de infestantes mais económico e eficaz.
41
Rotação definida de acordo com as necessidades nutritivas
É uma forma tradicional de desenhar uma rotação de culturas na produção biológica
de hortícolas.
Tabela 12 - Rotação definida de acordo com as necessidades nutritivas
Culturas Requisitos nutricionais
Primeiro grupo Elevado: Brássicas (em especial as couves), as Solanáceas, as
Cucurbitáceas, o milho doce, o alho-francês e, por vezes, o aipo
Segundo grupo Médio-Elevado: hortícolas de raiz, cebola e hortícolas de folha larga
(com exceção do aipo).
Terceiro grupo Médio-Baixo: espécies leguminosas anuais: ervilhas; feijões
Quarto grupo plurianuais: espargos; ruibardo
A sequência na rotação
O desenho da rotação deve ter em consideração o tipo de hortícolas a escolher e a
relação que se estabelece entre si. Igualmente, é importante considerar a sua
importância no âmbito da fertilização e da quebra dos ciclos de algumas pragas e
doenças, como é o caso das pastagens e da sideração. Algumas considerações
suplementares a ter em conta são as características do mercado para as espécies
escolhidas, os recursos disponíveis (mão-de-obra e equipamento), a economia da
rotação, e o papel dos animais (bovinos e ovinos), se estes fizerem parte do sistema
produtivo da exploração.
Regras da rotação – desenho temporal
Evitar repetir culturas da mesma espécie e da mesma família botânica – existirá
um potencial para o desenvolvimento de pragas e doenças.
Considerar a relação entre o tipo de rotação cultural e o controlo de infestantes
Preceder culturas esgotantes do solo por culturas melhoradoras. As
leguminosas podem fornecer o azoto necessário para as culturas subsequentes.
Culturas com raízes profundas são capazes de explorar uma área maior da
reserva de nutrientes do solo.
42
Utilização de consociações
A consociação de culturas foi desenvolvida há já muito tempo, baseada nas
experiências dos produtores que misturaram espécies hortícolas entre elas e com
outras espécies. Esta prática é vantajosa e tem hoje em dia um forte suporte
científico.
Vantagens das consociações:
Melhor utilização da área disponível
Maiores produções
Cobertura do solo
Interações entre plantas
Desvantagens das consociações
Maiores exigências ambientais
O produtor deve conhecer bem as necessidades das plantas utilizadas
No processo de definição e implementação da consociação, o produtor poderá utilizar
as interações positivas que se desenvolvem entre as plantas para influenciar a
germinação, o crescimento, a fertilização e a formação de frutos, e influenciar
(negativamente) o surgimento e desenvolvimento de pragas e doenças.
Figura 9 – Consociação em linha (foto: Z. Szalai)
43
Existem diversas formas de promover o cultivo de consociações. Frequentemente este
processo é usado em pequena escala, em hortas e pequenas explorações agrícolas,
mas pode ser implementado em média e larga escala, mesmo em explorações
fortemente orientadas para o mercado. A questão fundamental consiste em selecionar
o método apropriado tendo em consideração a dimensão da exploração e os objetivos
que pretende alcançar.
Tipos de consociações
Plantação na linha de acordo com o método de Gertrud Frank (adequado para hortas
caseiras e produções hortícolas de ar livre, com pequena a média dimensão)
Cultivo em forma de faixa (nas explorações de grande dimensão os faixas são tão
largas quanto o possibilitarem as alfaias e as máquinas utilizadas)
Culturas em linha intercaladas (utiliza-se em produções de pequena a média
dimensão e implica mecanização)
44
1.2.4. Pragas, doenças e infestantes
Os métodos de proteção de plantas aplicados na agricultura biológica são sobretudos
orientados no sentido da prevenção. As ferramentas para prevenção são
sensivelmente as mesmas que as utilizadas na proteção convencional de plantas, mas
a sua importância, neste caso, é múltipla e determinante, na medida em que muitas
das falhas registadas na agricultura biológica não podem ser remediadas mais tarde,
com outras técnicas de proteção. Na tabela abaixo são apresentados os mais
significativos métodos e ferramentas de prevenção e proteção.
Tabela 13 – Principais métodos para a prevenção e proteção
Método
Prevenção Proteção
Métodos de produção
Livre de infeções
Biológico Físico Uso de produtos
químicos autorizados
Ferramenta
Seleção do local
Material de propagação
Viroses Recolha Bactericidas e fungicidas
Produtos ligeiros de
proteção de
plantas
Cultivo do solo
Solo Bactéria Atração Inseticidas Extratos de plantas
Gestão de nutrientes
Água de irrigação
Fungos Alerta Acaricidas Óleos de plantas
Rotação de
culturas
Artrópodes Tratamento
com calor
Óleos
voláteis
Sementeira
Período
vegetativo
Vertebrados Mudança de agente
Densidade da cultura
Anfíbios Répteis
Inibição com ferramenta
Seleção das variedades
Aves Mamíferos
Destruição de
plantas infetadas
Eliminação de vetores
Método de luta autocida
Em AB não podem existir produtos para a proteção das plantas com tratamentos
previamente calendarizados, tal como não há tecnologias de produção de plantas
estandardizadas. Assim sendo, é necessário encontrar uma solução adequada para
cada caso, definindo as espécies e as variedades mais ajustadas, os melhores locais e
as tecnologias mais corretas e adaptadas. As soluções podem ser encontradas e
construídas usando os diferentes métodos e ferramentas aplicáveis na proteção de
plantas em AB.
45
Proteção física são os seguintes: 1) alterar a composição do meio ambiente, por
exemplo em zonas de armazenamento, substituindo o oxigénio (por CO2 ou Azoto); 2)
isolamento das áreas de armazenamento (montagem de grades e redes
mosquiteiras); 3) cobertura individual dos frutos (evitando moscas, traças, etc.); 4) o
uso de redes ou manta térmica sobre as plantas, evitando a maior parte das pragas
(lagartas das couves, pulgões ou piolhos das plantas, traças, etc.) pode mantê-los
afastados das plantas cultivadas; 5) proteger fisicamente os caules das árvores para
evitar danos mecânicos.
Proteção química: se a proteção biológica, preventiva ou física não for suficiente
para garantir a segurança da produção, poderão ser usados certas substâncias
químicas de proteção. Os produtos destinados à proteção das plantas na agricultura
biológica estão referenciados numa “lista positiva”. Os produtos químicos registados
em “listas positivas” podem ser aplicados, mas, neste caso, apenas com a permissão
da entidade certificadora (Reg. UE 889/2008, Anexo II).
Soluções práticas na proteção de hortícolas
Controlo biológico natural. No caso de produtos hortícolas de ar livre, é
fundamental uma gestão atenta e cuidada do sistema agroecológico. Quanto mais
diversificado este for maior será o equilíbrio entre as pragas e os respetivos inimigos
naturais, presentes no local de produção. Os mais importantes organismos e insetos
auxiliares na proteção natural das plantas são: ácaros predadores (fitoseídeos);
insetos predadores como as joaninhas e os sirfídeos, e; insetos himenópteros
parasitóides.
Na produção hortícola, assume particular importância o isolamento de fontes passíveis
de provocar pragas, o que pode ser conseguido utilizando diferentes tipos de redes de
insetos, em particular, durante os transplantes de plantas jovens da família das
Crucíferas. No caso das couves, a mosca da couve (Phorbia brassicae) pode provocar
sérios prejuízos na Primavera, sendo a cobertura do solo com filme plástico uma
solução. Outra praga importante é a áltica ou pulga das couves (Phyllotreta spp),
sendo aconselhável o uso de redes adequadas para proteger as plantas jovens.
46
Controlo biológico ativo. Consiste em libertar e introduzir insetos auxiliares ou
microrganismos ou seus derivados como o Bacillus thuringiensis (Bt). Este último
pode ajudar prevenindo e evitando os prejuízos causados pelas larvas das borboletas,
e o Bt. var. tenebrionis pode ser utilizado contra o escaravelho-da-batateira.
Substâncias autorizadas, como preparações à base de óleos, são utilizadas contra
afídeos, moscas brancas, e o aranhiço vermelho.
Produção em estufas. Existe no mercado um largo conjunto de insetos e ácaros
auxiliares para utilização em culturas de estufa como meio de luta biológica. Por
exemplo, Encarsia formosa contra a mosca-branca, e o ácaro predador Phytoseulus
persimilis contra o aranhiço-vermelho. Contra os afídeos, podem ser usadas os
himenópteros predadores Aphidius colemani e o díptero predador Amphibolites
aphidomyza.
Doenças provocadas por fungos. A ocorrência de doenças provocadas por fungos
depende sobretudo das condições micro-climáticas do local, e da suscetibilidade ou
capacidade de resistência da variedade selecionada. A importância da rotação de
culturas na proteção das plantas já foi atrás enfatizada, devendo esta técnica ser tida
em especial atenção.
Método biológico. Preparados de microrganismos de solo com espécies antagonistas
(Trichoderma harzianum, Coniothirum minitrans, Steptomices griesoviridis bacterium)
dos fungos e nemátodos patogénicos, desempenham também um importante papel
contra as doenças e os nemátodos que se desenvolvem no solo. A relevância das
culturas de cobertura e da sideração decorre fundamentalmente da sua capacidade
em quebrar o ciclo de desenvolvimento das doenças.
Os biopesticidas autorizados na agricultura biológica estão definidos de acordo com o
Regulamento da Comissão 889/2008, Anexo II. Uma das mais importantes doenças
provocadas por fungos é o míldio do tomate e da batata; presentemente, podem ser
aplicados produtos à base de cobre para combater esta doença. Em agricultura
biológica na UE, as quantidades máximas de cobre aplicáveis ao solo não excedem os
6 Kg/ha e alguns países tem valores mais baixos para a agricultura em geral.
47
Tabela 14 - Produtos usados contra patogéneos na produção hortícola
Produto Organismo auxiliar Organismo-alvo; local de aplicação
Koni Coniothyrium minitans (fungo) míldio
Mycostop Streptomyces griseoviridis (bactéria) fusário
Trichodex WP Trichoderma harzianum (fungo) Antracnose, alternariose
Tabela 15 - Produtos utilizados contra as pragas em horticultura
Produto Organismo benéfico Organismo-alvo; local de
aplicação
Bactucid P Bacillus thuringiensis var.
kurstaki (bactéria)
Larvas de borboletas
(lagartas)
Dipel e Dipel ES Bacillus thuringiensis var.
kurstaki (bactéria)
Larvas de borboletas
(lagartas)
Eco-Bio Bacillus thuringiensis var.
kurstaki (bactéria)
Larvas de borboletas
(lagartas)
Encarsia-sheet Encarsia formosa (himenópteros
da superfamília Chalcidoidea)
Mosca-branca das estufas
En-Strip Encarsia formosa (himenópteros
da superfamília Chalcidoidea)
Mosca-branca das estufas
Novodor FC Bacillus thuringiensis var.
tenebrionis (bactéria)
Escaravelho-da-batateira,
escaravelho-das-folhas
Thuricid HP Bacillus thuringiensis var.
kurstaki (bactéria)
Larvas de borboletas
(lagartas)
48
1.2.5. Colheita, armazenamento, conservação e transporte
Devido ao seu elevado teor em água, os vegetais são muito sensíveis às condições de
armazenamento. Baixos índices de oxigénio reduzem os níveis de respiração e
diminuem os efeitos prejudiciais do etileno.
Tabela 16 – Armazenamento da alface, couve-flor e brócolo, pepino, tomate e pimento
Espécies Método de armazenamento
Alface Armazenamento em
atmosfera normal
Temperaturas de 0ºC e humidade relativa superior a 95% são condições ambientais necessárias para otimizar o período de
armazenamento das alfaces. Nestas condições, é possível que as
alfaces possam ter um período de vida útil de 21 a 28 dias. Com temperaturas de 5ºC pode esperar-se um período de vida útil de 14
dias, desde que não exista etileno no ambiente.
Armazenamento em
atmosfera controlada ou modificada
Podem ser alcançados alguns benefícios ao nível do período de conservação quando se registam baixos níveis de oxigénio na
atmosfera (1-3%) e temperaturas de 0-5ºC. Baixos índices de oxigénio reduzem os níveis de respiração e diminuem os efeitos prejudiciais do etileno. Com percentagens de O2 inferiores a 2%,
pode verificar-se a presença de CO2 e a ocorrência de lesões
(alterações fisiológicas, manchas escuras).
Couve-flor e brócolo Armazenamento em atmosfera normal
Podem ser armazenados a 0ºC e 95-98% de humidade relativa
durante três semanas, e a 5ºC durante duas semanas.
Armazenamento em atmosfera controlada
ou modificada
As lesões provocadas por baixos níveis de O2 (inferiores a 2%) ou
elevados teores de CO2 (superiores a 5%) podem não ser visíveis a olho nu, e surgirem apenas após a preparação culinária
Pepino
Armazenamento em atmosfera normal
São sensíveis ao frio e devem ser armazenados a 10–12,5ºC, com
uma humidade relativa de 95%. O ciclo de armazenamento do pepino é geralmente inferior a 14 dias, período a partir do qual o seu
aspeto e a sua qualidade sensorial se deterioram rapidamente
Armazenamento em atmosfera controlada
ou modificada
O transporte ou o armazenamento em atmosfera controlada ou modificada constitui um benefício reduzido ou médio para a
manutenção da qualidade do pepino. Baixos níveis de oxigénio (3-
5%) atrasam o amarelecimento dos frutos e o processo de senescência, em apenas alguns dias
Tomate
Armazenamento em atmosfera normal
Tomates com um estado de maturação adequado podem ser
armazenados até 10 dias, com temperaturas de 10 a 12ºC e uma humidade relativa de 90 a 95%. O tomate é sensível a temperaturas baixas, situadas abaixo de 10ºC, se manuseados para além de duas
semanas, ou a 5ºC, para períodos superiores a 6-8 dias.
Armazenamento em atmosfera controlada
ou modificada
O transporte e o armazenamento do tomate em atmosfera controlada oferecem um nível moderado de benefícios. Baixos níveis de oxigénio (3-5%) atrasam a maturação e o desenvolvimento de
fungos na superfície dos frutos e nos pedúnculos
Pimento Armazenamento em atmosfera normal
Deve ser arrefecido o mais depressa possível para reduzir as perdas de água. Quando armazenado a temperaturas superiores a 7,5ºC, o
pimento perde água e o fenómeno de emurchecimento acentua-se. O armazenamento a 7,5ºC é o indicado para um período de vida útil
máximo (3 a 5 semanas); o pimento pode ser guardado a 5ºC durante duas semanas
49
Métodos simples e económicos de armazenamento
Quantidades mais pequenas de produtos hortícolas podem ser armazenadas em caves
(suficientemente frias e húmidas), em espaços frios adequados, e em covas. Nas
regiões mais frias, as hortícolas de raiz e as pertencentes ao género Brassica podem
ser agrupados aos molhos e armazenados em covas, ou no chão, cobertos por uma
camada de solo. Os vegetais permanecem sobre a areia ou palhas. Depois são
cobertos por uma camada de solo. As culturas podem ser danificadas por geadas
severas durante o Inverno.
Transporte de produtos hortícolas
Enquanto normalmente os produtos hortícolas crescem nas zonas rurais, os
consumidores desses produtos vivem em cidades ou nas grandes metrópoles. O
transporte destes produtos necessita assim, em muitos casos, de logística e rigor nos
prazos a cumprir. Quando se trata de pequenas distâncias, carrinhas ou veículos com
ar condicionado são suficientes. Para distâncias mais longas e maiores quantidades, é
necessária a utilização de camiões com estruturas de refrigeração mais eficazes.
1.2.6. Exemplos práticos (Solanáceas)
O tomate de mesa típico é sobretudo produzido em estufas, especialmente nas
regiões mais chuvosas, devido à sua elevada suscetibilidade ao míldio das solanáceas
(Phytophthora infestans). O tomate para indústria também se desenvolve bem em
estufas, mas normalmente é produzido ao ar livre devido à sua baixa densidade de
plantação. O cultivo com recurso a sistemas de produção controlada é mais caro e
apenas justificável no caso de vendas na própria exploração ou produção em zonas
desfavoráveis, como é o caso das regiões com elevada pluviosidade, que favorecem o
desenvolvimento de Phytophthora infestans. Em oposição a esta situação, muitos
agricultores conseguem continuar a produzir tomate em áreas com altas
temperaturas, mesmo no Inverno, como é o caso da ilha de Creta.
Tanto o pimento como a beringela podem ser produzidos em estufas ou ao ar livre,
dependendo das especificidades do mercado. Todavia, nas áreas fortemente
infestadas com a variante europeia da broca do milho (Ostrinia nubilalis), o pimento é
frequentemente produzido em estufas. Necessariamente, nas aberturas existentes são
50
instaladas redes à prova de insetos. Ao ar livre, devem ser escolhidas variedades de
pimento capazes de tolerar o sol (sobretudo, as queimaduras solares).
Os abelhões (Bombus terrestris) são muito utilizados na polinização do tomate para
consumo em fresco. No final do Inverno, princípio da Primavera, é frequentemente
aconselhável proteger as plântulas contra as baixas temperaturas nas estufas através
de pequenos túneis de polietileno ou de outros materiais protetores até que as plantas
atinjam um maior estadio de desenvolvimento e que o risco de geadas termine. Ao ar
livre, as Solanáceas beneficiam muito da cobertura das linhas (possível através do
emprego de filmes de celulose ou de amido de milho biodegradável), combinado com
palhas.
A rega gota-a-gota deve ser sempre adotada. A rega por aspersão deve ser evitada,
porque a aspersão favorece a infeção por patogéneos como por exemplo os fungos e
as bactérias (ver Tabela 2), particularmente a Phytophthora infestans, no caso do
tomate. Frequentemente, o controlo da humidade no solo é mais fácil através da rega
gota-a-gota, prevenindo assim o stress hídrico. Este, favorece o emurchecimento,
prejudica a coloração dos frutos e atrasa o crescimento dos mesmos, especialmente
no tomate e no pimento. A beringela é a cultura que menos afetada é com a irrigação
por aspersão.
Tabela 17 – Organismos do solo que atacam as Solanáceas
Fusarium spp., Rhizoctonia solani
Pyrenochaeta Iycopersici
Thielaviopsis
basicola
Phytophthora capsici
Nematoda
Verticillium spp.
Pimento X X X X X X
Tomate X X X X X
Beringela X X X X X X
Batata X X X
Tabela 18 - Patogéneos das Solanáceas favorecidos pela irrigação por aspersão
Tomate Pimento Beringela Batata
Phytophthora infestans X X
Cladosporium fulvum X
Alternaria spp. X X X X
Bactérias (várias espécies) X X X X
51
Exemplo da cultura do tomate
(1) Valor Nutricional do tomate
O tomate constitui a fonte de muitos minerais essenciais (potássio, cálcio, fósforo),
vitaminas (vitamina A e C, sobretudo), ácidos orgânicos, açúcar, e proteínas. O seu
teor em energia é de apenas 80 J (19 cal) por 100 gramas de produto fresco.
(2) Importância económica do tomate
No ano de 2009, a cultura do tomate ocupou uma área global de 4,5 milhões de
hectares, o que significa cerca de 9% da área total dedicada à produção de hortícolas.
125 Milhões de toneladas de tomate foram produzidos nesta área, ou seja, 14% de
todos os produtos hortícolas. China, EUA, Espanha, Itália, Egipto, Turquia, Brasil e
Grécia são os maiores produtores de tomate. México, Turquia, Espanha e Holanda são
os maiores exportadores mundiais de tomate fresco. Os EUA, a Rússia, a UE e o
Canadá são os responsáveis pela maior parte das exportações. 40% da produção
obtida é transformada.
(3) Taxonomia do tomate
O tomate pertence à família das Solanáceas e o seu nome científico mudou várias
vezes no passado. Atualmente, o seu nome oficial é Lycopersicon lycopersicum (L.)
KARSTEN. O género Lycopersicon pode ser dividido em dois subgéneros: o de fruto
vermelho Eulycopersicon e o de baga verde Eriopercicon.
(4) A morfologia, a botânica e a biologia da floração do tomate
Raízes: o tomate apresenta fortes raízes perpendiculares no início do seu
crescimento, desenvolvendo-se posteriormente fortes raízes laterais. Na família das
Solanáceas apenas o tomate desenvolve raízes adventícias.
Caule: O tomateiro é uma espécie anual. Consoante as diferentes variedades,
também poderemos encontrar distintas disposições e características ao nível da
quantidade, tipo e posição dos pêlos, extensão dos entre-nós, e na própria posição do
52
caule. Entre duas inflorescências (grupadas) desenvolvem-se normalmente três
folhas. Em variedades específicas, cresce uma flor no final do rebento principal. Estas
variedades podem ser divididas em três subgrupos, dependendo do número de
inflorescências que terminam o rebento final e do número de folhas que se
desenvolvem entre as inflorescências.
Tabela 19 - Necessidades ambientais do tomate
Fator Necessidades ambientais do tomate
Luz
Tanto a intensidade luminosa, como a sua duração e qualidade
influenciam o desenvolvimento do tomateiro. Normalmente, é necessário um mínimo de 5000 lux para um adequado
desenvolvimento desta espécie. Pelo menos, são necessárias 10 horas para uma adequada floração.
Temperatura
A temperatura ótima para o seu desenvolvimento é de 22±7ºC. O tomate necessita de diferentes temperaturas em função do seu
estado fenológico. Embora apresente, apesar de tudo, uma boa tolerância ao frio, sofre ligeiras lesões com temperaturas de -1 e -
2ºC, e lesões graves, com temperaturas iguais ou inferiores a -3ºC.
Água
Embora as suas necessidades hídricas sejam elevadas, dado que
possui um sistema radicular profundo e bem desenvolvido, utiliza efetivamente a água que consome
Nutrientes
É muito exigente em termos de nutrientes e, no caso da agricultura biológica, os nutrientes deverão ter uma origem igualmente biológica.
(estrume e composto)
Azoto: um excesso de fornecimento neste mineral conduz a um desenvolvimento exuberante da planta e a uma produção
insuficiente; a deficiência em azoto tem como consequência um menor crescimento do sistema foliar.
É muito exigente em potássio e cálcio.
Produção ao ar livre de tomate
Aspetos relacionados com a escolha da variedade: Mais do que qualquer outra
espécie hortícola, o tomate apresenta múltiplas variedades cultiváveis (por exemplo,
na Hungria, há cerca de 200 variedades). Na produção de ar livre, em particular para
a indústria transformadora, são usadas variedades de desenvolvimento determinado
ou definido (nestes casos, a existência de uma inflorescência terminal bloqueia o
crescimento do caule principal). Os frutos destas variedades pesam entre 80 a 100
gramas, são consistentes e alongados, e a sua superfície é macia. Em termos gerais,
hoje em dia, todas as variedades desenvolvidas para a colheita mecânica permitem a
recolha dos frutos sem os respetivos pedúnculos.
53
Igualmente, é também importante que estas variedades apresentem boa coloração,
elevado teor em matéria seca e capacidade de resistência a doenças. No caso de a
produção recorrer a sistemas de tutoragem, o desenvolvimento da planta deve
terminar quando a mesma apresentar 8 a 10 inflorescências. As variedades a utilizar
devem ser do tipo determinado ou definido e apresentarem forte vigor. A
apresentação de um elevado índice de fecundidade é também um aspeto muito
importante a ter em conta, bem como a necessidade de os frutos não apresentarem
fissuras.
Preparação do solo e fornecimento de nutrientes: O cultivo do tomate inicia-se
com uma lavoura profunda de Outono e a preparação termina na Primavera. O tomate
necessita de estrume orgânico, o qual deverá ser introduzido no solo com a lavoura
de Outono. No que diz respeito aos minerais, o tomate necessita aproximadamente
das mesmas quantidades de fósforo, azoto e potássio. Todavia, antes da sua
aplicação, devem ser feitas análises ao solo. Para o fornecimento de nutrientes, o
estrume orgânico e o composto, ambos produzidos na exploração, constituem a
melhor solução.
Propagação: Em muitos casos, o tomate é cultivado por sementeira ou por
transplante de plântulas de viveiro (mudas). Atualmente, as duas tecnologias são
usadas de forma equivalente.
Cultivo do solo: É necessária a constante mobilização do solo para o tornar mais
“solto”, para manter o seu teor em humidade e também para favorecer a m istura dos
nutrientes. Cobertura do solo: em produção de ar livre, constitui um método muito
eficiente para poupar água e para suprimir as infestantes (ver capítulo sobre
Mulching). Os materiais mais eficazes a utilizar são palhas, telas plásticas, restos de
madeiras, cascas de árvores, e alguns tipos de papel.
Irrigação: A produção de tomate pode registar um incremento de 10 a 15% através
de uma simples irrigação. No caso de irrigação contínua e regular, o fornecimento de
água pode fazer aumentar a produção em cerca de 40 a 50%. Cerca de 100 mm de
água são necessários para que se processe um desenvolvimento continuado do
tomateiro. A rega regular aumenta a percentagem dos frutos de primeira categoria.
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Colheita: Após a floração, os frutos necessitam de 30 a 40 dias para atingirem a sua
dimensão final. Este período varia necessariamente em função da variedade utilizada
e das condições específicas de produção. Posteriormente, deverão decorrer mais 21 a
28 dias até ao amadurecimento. A colheita manual do tomate em fresco deve iniciar-
se quando cerca de 50% dos frutos estão maduros. No caso da colheita mecânica,
aquela percentagem sobe para 80%. As máquinas recolhem todos os frutos, pelo que
será necessário que trabalhadores selecionados ou máquinas específicas que
removem os frutos verdes. No caso de uma única colheita, os frutos devem ser
recolhidos sem pedúnculos.
Forçagem da produção de tomate
Aspetos relacionados com a escolha da variedade: Um importante objectivo de
investigadores e viveiristas consiste em melhorar o sabor dos frutos, e isto significa
sobretudo o incremento dos teores em açúcar e ácido.
Tabela 20 – Forçagem da produção de tomate
Forçagem Tecnologia
Forçagem precoce
O tomate é plantado algures entre a segunda metade de Janeiro e o princípio de Fevereiro, e colhido a partir da primeira metade de
Abril
Forçagem semi-precoce
A plantação é feita nos finais de Fevereiro, e a colheita a partir de
meados de Abril. Os tomateiros devem ser plantados com uma temperatura entre os 20 e os 25ºC em ambientes controlados. A
produtividade poderá alcançar os 30 kg/m2.
Cultura longa A produção não é interrompida no Verão, e poderá prolongar-se por
10 a 11 meses, dependendo do momento da plantação. A
produtividade pode alcançar 40 a 60 kg/m2.
Dupla utilização O tomate pode ser plantado após espécies hortícolas de colheita
precoce (alface, rabanete, cebolinho, salsa e sálvia).
Problemas com a proteção das plantas
Uma doença comum no tomate é o vírus do mosaico do tabaco. Várias formas de
míldio e oídio são também comuns no tomate. As doenças mais comuns são assim, o
míldio, o oídio, a verticiliose, a fusariose, a alternariose, e o vírus do mosaico do
tabaco. Pragas importantes: nemátodos. Outras doenças importantes são o vírus curly
top, provocado pela cigarrinha da beterraba sacarina. Algumas pragas comuns no
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tomateiro são: aranhiço vermelho; mosca-branca; afídeos (pulgões); lagarta-do-
tomate; lagarta-mineira-do tomate.
Em investigação recente foram detetados alguns mecanismos de autodefesa do
tomateiro. Assim, quando as plantas são atacadas produzem sistemina, uma hormona
peptídica, que ativa mecanismos defensivos, tais como a produção de inibidores de
protease, que atrasam o crescimento dos insetos.
Colheita e preparação para o Mercado. Após a colheita, a maturação continua
devido à libertação de etileno. O período de vida útil do tomate é usualmente de 7 a
10 dias, dependendo sobretudo da temperatura. As caixas e superfícies destinadas ao
acondicionamento do tomate devem ser construídas com materiais leves.
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Autoavaliação
1. Escolha as espécies com maiores necessidades de água
Maçã, pêra
Amêndoa, nêspera
Abrunho, ameixa
2. Escolha o nível mínimo de húmus (H%) adequado para a instalação de um pomar
de fruta em MPB
H%<1%
H%<0,5%
H%<2%
3. Selecione as causas mais importantes que provocam o desenvolvimento das
“manchas amargas” (bitter pit) nas maçãs e peras
Deficiência em Cálcio e excesso de fornecimento de Azoto e Potássio
Fertilização em excesso de Azoto e Cálcio
Fornecimento de água insuficiente
4. Selecione o método adequado para determinar o nível de nutrientes adequado em
pomares
Análise das plantas
Análise do solo
Análise das folhas e do solo
5. Selecione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis var. kustraky
Afídeos
Lagarta-do-tomate (Lépidopteros)
Escaravelho
6. Escolha a definição/descrição que se adequa à compostagem
Durante a compostagem, materiais orgânicos grosseiros transformam-se numa
camada de solo fértil
Compostagem é a transformação de húmus em matérias-primas
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Durante a compostagem, matérias-primas orgânicas são transformadas em húmus
composto por grandes moléculas de elevada estabilidade
7. Os aspetos que tornam importante a aplicação da cobertura do solo (mulching)
são:
Retenção de água, proteção contra a erosão, compostagem superficial, supressão
de infestantes, desenvolvimento de frutos saudáveis.
Retenção de água, supressão de infestantes, amadurecimento dos frutos
Retenção da água, proteção do vento, abrigo para insetos
8. Os quatro componentes básicos de um sistema de rotação de culturas são:
Percentagem relativa de cada planta, sequência das plantas, rotação, seleção das
plantas
Composição das plantas, território ocupado, sequência das plantas, rotação
Composição das plantas, percentagem relativa de cada planta, sequência das
plantas, rotação
9. Escolha os métodos adequados à proteção física das plantas
Recolha, Vigilância, Tratamento térmico, Alteração do tipo de acondicionamento
intermédio, Recolha de insetos
Recolha, Isolamento, Atração, Armadilhas com feromonas, Tratamento térmico,
Alteração do tipo de acondicionamento intermédio
Recolha, Destruição, Isolamento, Atração, Vigilância, Tratamento térmico,
Alteração do tipo de acondicionamento intermédio
10. Selecione a praga à qual deverá ser aplicado o Bacillus thuringiensis var.
tenebrionis
Afídeos
Lagarta-do-tomate (Lépidopteros)
Escaravelhos