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1 Um breve documento sobre a Ecolog ia da Bacia Hidrográfic a da Lagoa da Conceição T ereza Cristina Pereira Barbosa

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  • 1Um breve documento sobre a Ecologiada Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

    Tereza Cristina Pereira Barbosa

  • 2 - Ecolagoa

    2003ECOLAGOA - Um breve documento sobre a Ecologia

    da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

    AutoraTereza Cristina Pereira Barbosa

    ColaboraoAna Cristina Jos

    Juliana Rezende Torres

    OrganizaoAntoninha Santiago

    RevisoTereza Cristina Barbosa e Antoninha Santiago

    Projeto Grfico e EditoraoMadu Madureira engenhoD Design

    [email protected]

    IlustraesMapas do Instituto de Planejamento Urbano de Florianpolis IPUF e da CASAN

    Fotos areas: Charles Cesconetto da Silva e Tereza Cristina P. BarbosaFotos terrestres: Tereza Cristina P. Barbosa

    EstagiriosAlessandra P. Bento

    Isabela P. BentoAlexandre Douglas Paro

    Armando Fiza Jr.Simone Isabel Ventura

    Agda Cristina Pereira dos SantosViviane Gonalves

    Mrcio SaviBequi Barros Behar

    PatrocnioMMA - Ministrio do Meio Ambiente

    UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

    Editora Grfica Pallotti

    Catalogao na Publicao: Ilma Flres CRB 14/794

    B238 Barbosa, Tereza Cristina PereiraEcologia: um breve documento / Ana Cristina Jos, Juliana

    Rezende Torres. - - Florianpolis : Editora Grfica Pallotti, 2003.86p. : il., fots.

    Inclui bibliografia.

    1.Ecologia das lagoas - Florianpolis, SC. 2. Bacias hidrogrficas - Lagoa da Con-ceio (Ilha de Santa Catarina, SC). 3. Lagoa da Conceio (Ilha de Santa Catarina, SC) -aspectos ambientais. I. Ttulo

    CDU: 556.51(816.4)

  • 3Agradecimentos especiais

    Ademir Reis, Alsio dos Passos Santos, AlessandraBento, Beatriz Siedler, Edson Wolf, Grover Alvarado,

    Isabela P. Bento, Jair Sartoratto, Jeffrey Hoff,Lurdes Jos, Marisa Rolim de Moura, Marisis

    Kallfelz, Paula Brgger e Vera Lcia Arruda

  • 4 - Ecolagoa

  • 5Sumrio

    INTRODUO ............................................................................................... 9

    CAPTULO IEcologia da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

    O Ambiente Lagunar ........................................................................................... 11A Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio ..................................................... 12As guas doces .................................................................................................. 12As guas salgadas ............................................................................................. 13O corpo lagunar .................................................................................................. 13

    A dinmica da Lagoa da ConceioDinmica Fsico-Qumica das guas .................................................................. 14Dinmica da Biota Lagunar ................................................................................. 17A Produtividade Pesqueira da Lagoa ................................................................... 18

    CAPTULO IIDinmica Humana na Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

    Povos dos sambaquis ......................................................................................... 21Povos Itarars ..................................................................................................... 22Povos Carijs ...................................................................................................... 23Os Aorianos ...................................................................................................... 23Pesca e turismo ................................................................................................. 25Habitantes atuais ................................................................................................ 26

    CAPTULO IIIProblemas do Corpo Lagunar ............................................................... 27

    Poluio por esgotos domsticos ....................................................................... 29Poluio por gorduras ......................................................................................... 30Poluio por embarcaes.................................................................................. 31Poluio por Motores .......................................................................................... 32Poluio por agrotxicos .................................................................................... 32Poluio por Sedimentos - Assoreamento .......................................................... 33Acidificao ........................................................................................................ 33

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    CAPTULO IVAs Leis que Protegem a Lagoa da Conceio ..................................... 35

    Reserva Ecolgica .............................................................................................. 36rea de Relevante Interesse Ecolgico ............................................................... 37rea de Preservao Permanente (APP) ............................................................ 37Classe 7 - Resoluo CONAMA 20/86 ................................................................ 37rea de Interesse Turstico ................................................................................. 37Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro ........................................................ 37Sistema Nacional de Unidades de Conservao ................................................. 38Lei Federal 9.433/97 ........................................................................................... 38A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98) ............................................. 38Decreto Estadual 14250/81 e Lei Estadual 5793/80 ............................................ 39Lei Estadual 6.063/82 ......................................................................................... 39Decreto Estadual 14250/81 e Lei Estadual 5793/80............................................ 39rea de Proteo dos Parques e Reservas (Lei Municipal 5.055/97) .................. 39Decreto Estadual 2.006/62 ................................................................................. 39Decreto Municipal 1.261/75 ................................................................................ 39Decreto Municipal 213/79 ................................................................................... 40Decreto Municipal 214/79 ................................................................................... 40Decreto Municipal 231/79 ................................................................................... 40Decreto Municipal 247/86 ................................................................................... 40Lei Municipal 3.455/90 ........................................................................................ 40Decreto Municipal 4.605/95 ................................................................................ 40Lei Municipal 2.193/85 - ...................................................................................... 40Lei Complementar Municipal N 099/02 .............................................................. 41Acordo entre o municpio de Florianpolis, Casan, Celesc (2002) ...................... 41Acordo Judicial do Ministrio Pblico Federal e Comit de Gerenciamento da

    Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (10/01/2002) .................................... 42

    CAPTULO VDistrito da Lagoa ..................................................................................... 43

    Abastecimento de gua ...................................................................................... 46Saneamento ....................................................................................................... 46

    Centrinho ................................................................................................. 47Abastecimento ................................................................................................... 48Animais domsticos ........................................................................................... 48Lixo ..................................................................................................................... 48Sade ................................................................................................................. 48Problemas locais ................................................................................................ 49

    Canto dos Aras .................................................................................... 49Economia ............................................................................................................ 50Abastecimento ................................................................................................... 50Saneamento ....................................................................................................... 50Animais domsticos ........................................................................................... 51Lixo ..................................................................................................................... 51

  • 7Canto da Lagoa ....................................................................................... 51Av. Vereador Osni Ortiga ..................................................................................... 52

    Porto da Lagoa ....................................................................................... 53Abastecimento ................................................................................................... 53Saneamento ....................................................................................................... 54Lixo ..................................................................................................................... 55Animais Domsticos .......................................................................................... 55Ajuda mdica ...................................................................................................... 55Caractersticas atuais e problemas recorrentes .................................................. 55

    CAPTULO VICosta da Lagoa

    Economia e histria ............................................................................................ 57Abastecimento de gua ...................................................................................... 59Saneamento ....................................................................................................... 59Animais domsticos ........................................................................................... 60Lixo ..................................................................................................................... 60Recursos mdicos .............................................................................................. 60Transporte .......................................................................................................... 61Caractersticas atuais e problemas recorrentes .................................................. 61

    CAPTULO VIIBarra da Lagoa - UEP 70 ........................................................................ 63

    Economia e histria ........................................................................................... 64Abastecimento de gua ...................................................................................... 66Saneamento ...................................................................................................... 67Animais domsticos .......................................................................................... 68Lixo ..................................................................................................................... 68Recursos Mdicos .............................................................................................. 68Caractersticas atuais e problemas recorrentes ................................................. 69

    CAPTULO VIIISo Joo do Rio Vermelho zona rural ............................................... 71

    Economia e histria ............................................................................................ 73Abastecimento de gua...................................................................................... 74Saneamento ....................................................................................................... 74Animais domsticos ........................................................................................... 75Lixo .................................................................................................................... 75Caractersticas atuais e problemas recorrentes .................................................. 75Recursos mdicos .............................................................................................. 75

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    CONSIDERAES FINAIS........................................................................................................................... 77

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................................................................... 79

    FOTOS, MAPAS E FOLDERSPginas centrais

  • 9Introduo

    Por que falar do ecossistema da Bacia da Lagoa da Conceio? Esta publicao,Ecolagoa, aborda a ecologia com a inteno de encontrar um eco que se traduza namudana de atitude pela sociedade. No decorrer deste trabalho h um pouco dehistria, um captulo dedicado legislao ambiental e suas violaes, e muito doshbitos dos prprios habitantes atuais. Tambm so apresentadas as diversas formasde poluies hdricas e, principalmente, a questo da preocupante ocupao pelaconstruo civil.

    Esta mesma Lagoa da Conceio que atrai visitantes e moradores de diferentescantos do planeta, tambm inspirou mais de 400 trabalhos acadmicos. Neles, soabordados desde histrias fantsticas at a degradao ambiental que, apesar dessesestudos, continua vitimando o maior carto postal da cidade. Feliz ou infelizmente,este tema pauta quase diria dos jornais da capital, que tambm serviram de fontepara muitas informaes aqui compiladas.

    Assim, este documento surgiu da necessidade de unir as informaes disponveisnuma rede que inclui tcnicos da Universidade Federal de Santa Catarina, FundaoLagoa, Instituto Scio-Ambiental Campeche, Associao dos Moradores da Lagoa(Amola), Associao Comercial e Industrial da Lagoa (Acif), Sociedade Animal, F-rum da Cidade, Comit da Bacia da Lagoa, entre outros, e os prprios moradorescomo depoentes da realidade ambiental em que vivem.

    Foram dez alunos bolsistas de diferentes cursos da UFSC (Geografia, Biologia,Servio Social, Desenho Grfico e Engenharia Sanitria) que trabalharam numa pes-quisa corpo-a-corpo num universo de 528 residncias e 2064 entrevistados. Aqui, importante explicar que a meta era entrevistar 2.845 moradores, que configurariam10% dos habitantes da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio, segundo dadosdo IBGE de 2000.

    Infelizmente, barreiras burocrticas e administrativas impediram que se atingisseeste nmero de entrevistas. O mesmo motivo levou ausncia, neste documento,

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    de um detalhamento maior sobre a situao da Praia Mole, Praia da Joaquina eRetiro da Lagoa, embora faam parte da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Concei-o. Apesar disso, acreditamos que os dados at aqui levantados estejam muitoprximos da realidade.

    Foram apuradas informaes recentes das localidades do Rio Vermelho, Barra daLagoa, Costa da Lagoa e Centrinho da Lagoa (que abrange Av. das Rendeiras, parteda Av. Vereador Osni Ortiga, Village I e II, Saulo Ramos, Canto da Lagoa, Canto dosAras e Porto da Lagoa). Entre maro e dezembro de 2002, todos estes lugaresreceberam visitas pessoais dos alunos entrevistadores. Este longo perodo tambmno foi programado, mas resultado dos mesmos problemas burocrticos e adminis-trativos que limitaram os objetivos do Ecolagoa.

    Aps a coleta de dados, os entrevistadores apresentaram seminrios junto s co-munidades-alvo, para expor os problemas levantados e solues possveis a curto emdio prazos.

    Entre as solues propostas, esto as instrues para instalao de sistemas deesgotamento sanitrio individual que atendam as normas tcnicas brasileiras. Foramsugeridos tambm o controle populacional de animais domsticos e o descarte ade-quado para resduos slidos. Todas estas informaes esto detalhadas em foldersdistribudos gratuita e separadamente nas diferentes comunidades da Bacia Hidrogr-fica, e que fazem parte deste projeto de educao ambiental. Estes mesmos folders seencontram no encarte colorido desta publicao.

    As informaes aqui contidas esto abertas a contribuies, atualizaes e novasconsideraes. Apesar das deficincias, acreditamos que este trabalho poder servircomo subsdio para o planejamento do bairro e da cidade, assim como base educaci-onal nas escolas da regio.

    No podemos deixar de considerar que, nos ltimos dois anos, a ocupao eo fluxo turstico foram os maiores da histria da Lagoa. Estes nmeros precisosno esto aqui.

  • 11

    1 Muehe e Caruso Gomes Jr,, 1999; Hauff, 1996; Jos, 1998.2 Odebrecht e Caruso Gomes Jr, 1999.3 Odebrecht & Caruso Gomes Jr, 1999; Klingebiel e Sierra de Ledo, 1997; Jos, 1998; Torres, 1999.

    CAPTULO 1CAPTULO 1CAPTULO 1CAPTULO 1CAPTULO 1

    Ecologia da Bacia Hidrogrficada Lagoa da Conceio

    O Ambiente Lagunar

    A Lagoa da Conceio, na ilha de Santa Catarina, na realidade uma laguna ligadaao mar pelo Canal da Barra da Lagoa. Mas no Brasil, todos os corpos dgua costei-ros ou de interiores so chamados de lagoa. Assim, na zona costeira, as lagoas tantopodem ser lagunas (ligadas com o mar) ou lagos costeiros (isolados do mar).

    As lagunas, como a da Conceio, so ecossistemas localizados na interface oce-ano/terra e, por isto, complexos e altamente produtivos.

    A forma alongada da Lagoa da Conceio (13,5 km no sentido Norte/Sul), emparalelo linha costeira, irregular e recortada por dunas e morros que formam trssubsistemas popularmente conhecidos como Lagoa Central, do Norte e do Sul ousimplesmente Lagoa do Meio, de Cima e de Baixo1 (Figura 1).

    O corpo lagunar ou espelho dgua com 19,2 km2, contornado por relevosgranticos ao Norte e Oeste, e por dunas e praias ao Leste e Sul. Durante avanose recuos do mar, no Perodo Holoceno, os sedimentos trazidos pelos ventos e on-das formaram barreiras que isolaram o corpo lagunar do oceano2 (Figura 2). me-dida que isto acontecia, as guas que desciam dos morros e caam com as chuvaseram aprisionadas formando o corpo lagunar ou a Lagoa propriamente dita. O Ca-nal da Barra3, nica ligao com o mar, localizado ao Leste da Lagoa e protegidopelo morro da Praia da Galheta, no foi soterrado pelos sedimentos. Este canal nabase do morro da Galheta, com 2,5 km de extenso, estreito e sinuoso, permaneceuligando a Lagoa ao oceano.

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    A Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (BHLC)

    Uma bacia uma estrutura cncava que permite o armazenamento de gua, mas-sas e resduos, entre outros. Uma Bacia Hidrogrfica uma concavidade ou depres-so geolgica que recebe ou acumula as guas do entorno. Todos os rios e guassubterrneas que preenchem a bacia hidrogrfica so chamados de contribuintes. Vriosribeires, riachos, rios, o Canal da Barra e guas subterrneas desembocam na Lagoada Conceio. Este conjunto de contribuintes e o corpo lagunar receptor (lagoa) for-mam a Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio,4 e todos eles influenciam na qua-lidade da gua.

    Fazem parte da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio as seguintes comuni-dades: Barra da Lagoa, Canto da Lagoa, Canto dos Aras, Costa da Lagoa, Portoda Lagoa, Retiro da Lagoa e Rio Vermelho, praias da Joaquina, Mole e Galheta.

    Todas estas comunidades que vivem na BHLC tm atividades que causam impac-tos nas guas da Lagoa, atravs do uso do solo, lanamento de rejeitos, esgotos innatura, uso nutico, etc.

    As guas doces

    Aproximadamente 35 afluentes5 e dois canais de drenagem desembocam no cor-po lagunar (Figura 3), provenientes, em sua maioria, dos morros que contornam ascomunidades ao Oeste (Costa da Lagoa, Canto dos Aras, Canto da Lagoa, Maci-o da Costeira). Todos os ribeires, riachos e drenagens pluvial e subterrnea6 contri-buem com as guas doces no corpo lagunar.

    Na Lagoa de Cima desguam os maiores contribuintes de guas doces, os riosVermelho e Joo Gualberto ao Norte, o rio Cachoeira Oeste e, ao Leste, os canaisde drenagens e as guas subterrneas do Parque do Rio Vermelho.

    Na Lagoa do Meio desguam afluentes do Canto dos Aras a Oeste e do morroda Praia Mole ao Leste.

    Na Lagoa de Baixo desguam pequenos riachos, muitos deles comprometidoscom a poluio, como o caso do riacho da Igreja Nossa Senhora da Conceio,alm de olhos dgua e guas subterrneas das dunas da Joaquina.

    4 Atlas de Santa Catarina, 1986; Jos, 1998; Jos & Barbosa, 1998; Torres,1999.5 DAquino Rosa e Barbosa, 1998.6 Odebrecht & Caruso Gomes Jr, 1999.

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    As guas salgadas

    O canal contribui com as guas salgadas trazidas das praias da Barra da Lagoa eMoambique pelas mars, lanando-as na Lagoa do Meio (Figura 4).

    A profundidade mxima do canal 2,5 metros e a largura mxima de 40m. A partirdo molhe (Figura 5) construdo em 1982, at 250 m dentro do canal, o leito (por ondeas guas correm) rochoso. A partir da primeira curva at sua desembocadura naLagoa do Meio, predomina solo arenoso. Suas margens so fixadas por uma franjalitornea de vegetao intermars (marismas), constituda principalmente de gramne-as Spartina densiflora, Spartina loisleur (Figura 6); juncos e mangues (Avicenniaschaueriana, Laguncularia racemosa)7. Grande parte das margens do canal estocupada por residncias.

    A mar rica em sais e sedimentos entra pelo canal e perde 90% de sua fora medida que avana em direo Lagoa (Figura 7). Nesta perda de energia, os sedi-mentos se depositam nos meandros e obstculos encontrados, assoreando lentamen-te o canal e favorecendo a instalao da vegetao litornea. As correntes de marcom volume reduzido ingressam no corpo lagunar na rea central expandindo-se parao centro e, com menor intensidade, para o Norte e para o Sul. O refluxo das massasde gua durante a mar vazante superficial e converge para o canal.

    Embora apenas 10% da energia de mar se propague na Lagoa8, o canal ainda omaior contribuinte da Bacia Hidrogrfica, influenciando na salinidade em maior inten-sidade na Lagoa do Meio, e menor nas Lagoas de Cima e de Baixo.

    O corpo lagunar

    O solo da Lagoa arenoso com sedimentos finos, siltosos e matria orgnica(lodo) nas partes fundas e abrigadas dos ventos, bem como nas desembocaduras derios9. As maiores profundidades ocorrem na Lagoa do Meio (8,7 m) e tambm emfrente s bases granticas ou morros a Oeste (8 m) mas, em todas as direes, sofreqentes as praias e bancos de areia com profundidades inferiores a 1 m10 (Figura 8).

    7 Soriano- Sierra, 1999a.8 Odebrecht e Caruso Gomes Jr. 1987 in Jos, 1998.9 Caruso Gomes Jr.1987; Muehe & Caruso Gomes Jr, 1989; Dutra,1991; Bresciani, 1998 e Koch et al., 1997.10 Muehe e Caruso Gomes Jr, 1989; Dutra 1991; Hauff, 1996.

    Ecologia da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

  • 14 - Ecolagoa

    A dinmica da Lagoa da Conceio:

    Dinmica Fsico-Qumica das guas

    A salinidade, oxigenao, circulao e renovao das guas na Lagoa so deter-minadas pelos ventos, mars, precipitao e topografia da regio.

    A salinidade a concentrao de sais cloreto de sdio (NaCl) dissolvidos na gua.Para exemplificar, as guas do mar apresentam uma salinidade que varia entre 30 e 38partes por mil e so consideradas salgadas. No Canal da Barra, ela varia entre salo-bra e salgada (entre 15 e 38 partes por mil), de acordo com as mars - enchentes ouvazantes. Nas mars vazantes predominam as guas salobras e, nas mars enchentes,as guas salgadas11.

    Cerca de 90% do impacto ou energia das mars se perde nas curvas do canal esomente 10% atingem a Lagoa da Conceio12 proporcionando-lhe tambm salinida-des que variam entre salgadas (33 partes por mil) e salobras (0,5 at 29 partes pormil13). De acordo com as mars que entram pelo Canal da Barra, elas variam nos trssubsistemas (Lagoas de Cima, do Meio e de Baixo) segundo a proximidade, fora edinmica das mars e do aporte de guas doces (rios, drenagens, chuvas, etc.).

    Na Lagoa do Meio, onde desemboca o canal, as guas tm caractersticas quasemarinhas (33 partes por mil) 14. Na Lagoa de Baixo, a passagem da gua salgada limitada pelo estrangulamento sob a ponte da Avenida das Rendeiras (Figura 9). Almdisso, ali desguam vrios contribuintes de guas doces (rede pluvial, riachos e guassubterrneas do lenol fretico sob as dunas da Joaquina) que influenciam significati-vamente na variao da salinidade (15 at 26 partes por mil15).

    Quanto mais distante do canal e maior o nmero de aportes de guas dos rios edrenagens, mais baixas e variveis so as salinidades (desde 0,5 a 26 partes pormil16). Nas desembocaduras dos rios e riachos das lagoas de Baixo e de Cima, asalinidade zero.

    Tambm o grau de obstruo do canal influencia na salinidade dos trs subsistemas.Antes de 1982, o Canal periodicamente fechava e abria a cada seis meses e, nestapoca, a salinidade da Lagoa era bem menor (15 a 18 partes por mil17). Porm, neste

    11 Torres, 1999; Souza, 2002; Souza & Freire a e b, 2002.12 Odebrecht e Caruso Gomes Jr.13 Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.14 Panitz, 1998 in Jos, 1998; Gomes & Freire, 2002.15 Barbosa observao pessoal, 2002.16 Assumpo et al., 1981; Souza-Sierra et al., 1999; , Barbosa (obs. Pessoal), Rosa DAquino

    (com.pessoal).17 Rosa DAquino (dados no publicados)

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    mesmo ano a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrcola de Santa Catarina(CIDASC) modificou o leito e a vazo com a abertura, drenagem e construo de ummolhe na entrada do Canal, (visualizado nas figuras 4 e 5), o que interferiu na ecologia detodo o sistema lagunar. Isto aconteceu a pedido dos pescadores que queriam acesso aomar e Lagoa permanentemente. Porm, a alterao comeou pela salinidade da Lagoa,que passou de 18 para 33 partes por mil - e influenciou na modificao de espcies defauna salobra para, predominantemente, fauna marinha18. Aps 20 anos, o ecossistemalagunar est retornando condio de salobra, abrigando a fauna dos dois ambientes.

    O potencial hidrogeninico (pH) numa escala de 1 a 14, mede o grau de acidez(que varia de 1 a 6) ou o grau de alcalinidade (que varia de 8 a 14), sendo o valor 7considerado neutro. As guas salgadas apresentam um pH igual a 8, ou seja, alcali-no19. No Canal e na Lagoa do Meio, o pH pode variar conforme a mar, salinidade eaporte das guas doces atingindo valores entre 5,8 e 8,3 20.

    Vital vida aqutica, todos os animais ou vegetais, com exceo de algumas bac-trias anaerbias, precisam de oxignio para sobreviver. A quantidade de oxigniodissolvido na gua considerada baixa quando os valores so inferiores a 5 miligra-mas por litro (mg/L) e tima, quando os valores so superiores a 10 mg/L.

    A oxigenao de um corpo dgua resulta da agitao causada pelos ventos queaumentam o contato com o oxignio atmosfrico 21. A reteno do oxignio varia coma temperatura do ar e da prpria gua. No vero, quando a temperatura mais alta,os gases como o oxignio (O2) e o gs carbnico (CO2) ficam mais leves e se des-prendem facilmente da gua. No inverno, quando as guas esto mais frias, a reteno facilitada e a quantidade de oxignio maior.

    Durante o vero, aumentam o uso de equipamentos nuticos, os poluentes dasembarcaes e a quantidade de esgotos na Lagoa, estimulando o crescimento demicroorganismos decompositores (bactrias, fungos, protozorios) que, por sua vez,precisam de oxignio para degradar estes poluentes 22. Assim, a crtica quantidade deoxignio na gua agravada e causa anoxia no vero.

    Em um ano de estudo (julho de 1998 a junho de 1999), nas guas do Canal da Barraa quantidade de oxignio dissolvido variou de 4,7 a 13,9 mg/L, sendo que os valoresmais baixos ocorreram no vero, quando as temperaturas do ar e da gua aumentam 23.

    Nas guas da Lagoa a temperatura mdia anual de 21,5C (com o mximo de

    18 Assumpo et al. 1981, Barbosa, 1991.19 Cerutti, 1997.20 Torres, 1999; Gomes & Freire, 2002.21 Branco, 1986.22 Pelczar, 1981.23 Torres, 1999.

    Ecologia da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

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    30,5C no vero e o mnimo de 11C no inverno)24. Ali, a oxigenao deve-se aosventos e correntes das mars provenientes do Canal da Barra 25. Ambos, a sua manei-ra, agitam, revolvem e aumentam o atrito das guas com o ar, facilitando a solubiliza-o do oxignio atmosfrico.

    Na superfcie da Lagoa predominam os ventos Sul e Nordeste que, alm de pro-mover a oxigenao26, misturam as guas doces e salgadas.

    No percurso do canal at a Avenida das Rendeiras, na Lagoa do Meio, as corren-tes de mars mais salgadas, densas e pesadas revolvem e empurram as guas dofundo para a superfcie, oxigenando-as melhor. Estas correntes perdem fora medi-da que se distanciam da desembocadura do canal. Assim, nas lagoas de Cima e deBaixo, mais distantes, a deficincia (dficit) em oxignio crnica. Nestes subsiste-mas, a oxigenao depende principalmente dos ventos.

    Na Lagoa de Baixo, a situao ainda mais crtica, pois a entrada da mar dificultada pelo contorno na Ponta da Areia e pelo estrangulamento sob a ponte naAvenida das Rendeiras (Figura 9). O volume de gua salgada que adentra pelo canalcontribui com uma taxa de renovao de 4% na Lagoa27.

    Alm disso, em todos os subsistemas, parte dos resduos que entra pelo canal outributrios fica retida, pois no existe uma fora propulsora contrria como a da mar,que impulsione os detritos para fora do corpo lagunar 28. A configurao da Lagoaimpe naturalmente um estresse, onde a circulao deficitria e a falta de oxignio nofundo limitam o desenvolvimento de espcies bentnicas, ou animais associados aofundo da Lagoa. Algumas vezes, quando as guas desprovidas de oxignio ascendem superfcie, pode ocorrer mortandade massiva de peixes29.

    Na Lagoa de Baixo, ambiente quase fechado, a ocupao do Canto da Lagoa,Village, Saulo Ramos, Osni Ortiga e Porto da Lagoa avanou sobre as margens etributrios trazendo enormes quantidades de esgotos domsticos e sedimentos.

    Em algumas regies urbanizadas do Centrinho da Lagoa e da Avenida das Rendei-ras, o oxignio tambm atinge nveis baixssimos e o mau cheiro ocorre devido baixacirculao hdrica e entrada de esgotos domsticos.

    Os parmetros fsico-qumicos da Lagoa da Conceio como salinidade, oxigniodissolvido, pH, circulao das guas e temperatura, so altamente dependentes donico canal de ligao com o mar. Esta dinmica confirma que a Lagoa respira atravs

    24 Sierra de Ledo & Soriano Sierra, 1991 in Jos, 1998.25 Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.26 Odebrecht & Caruso Gomes Jr, 1999.27 Sierra de Ledo & Soriano Sierra, 1999b.28 EIA/RIMA Porto da Barra, 1995.29 Sierra de Ledo & Soriano Sierra, 1999.

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    do canal30, da estes ecossistemas - com um nico canal - serem denominados lagu-nas sufocadas ou estranguladas 31.

    Dinmica da Biota Lagunar

    A mesma mar, to importante na definio dos aspectos fsico-qumicos laguna-res, provoca a circulao das partculas orgnicas marinhas para dentro do corpolagunar32, bem como a entrada de uma diversificada fauna marinha que se utiliza daLagoa como berrio.

    guas pacficas, mornas (21,5C), salobras e ricas em alimentos como as da La-guna da Conceio, longe da predao dos oceanos, atraem espcies da fauna que seprotegem e se alimentam entre as franjas de gramneas (Spartina densiflora, Sparti-na loisleur), juncos (Juncus sp.), Ciperceas (Scirpus maritimus, S. californicus eHeleocharis sp) e mangues (Avicennia schaueriana, Laguncularia racemosa)33.

    Esta vegetao impede a eroso das margens frente fora das mars e constitui aproteo necessria para as larvas e juvenis de peixes e crustceos marinhos 34 (Figura10). Antigos pescadores consideram o canal como o cordo umbilical exatamentepor ser caminho da maioria das espcies vivas da Lagoa35. Algumas formas adultas dehabitat ocenico desovam na zona costeira prxima ao canal e as larvas livre natan-tes adentram pelo canal para a crescerem. A presena abundante de larvas e juvenisde tainhas, siris e camares entre as marismas do canal e Lagoa do Meio, confirmamseu habitat estuarino com hbitos migratrios.

    Esta dinmica da biota lagunar faz com que a Lagoa da Conceio seja protegidapor diversas leis36como habitat imprescindvel e criadouro natural destas espcies aquti-cas. Sem lagunas e mangues, estes organismos ficam ameaados de desaparecimento37 .

    A fauna de fundo (bentnica), livre-natante (nectnica) e de superfcie (planctni-ca) da bacia lagunar abundante e diversificada. Foram identificadas 74 espcies depeixes38 (xeru, xerelete, graivira, peixe galo, semambiguara, pampo, peixe-rei, sardi-nha, cocoroca, papa-terra, corvina, carapeba, carapic, embor, maria-da-toca, cor-

    30 Odebrecht & Gomes Jr., 1987; Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.31 Odebrecht & Gomes Jr., 1987; Klingebiel & Sierra de Ledo, 1997.32 Odebrecht (1988).33 Soriano Sierra, 1999 .34 Soriano Sierra 1999a; Garcia, 1999; Ribeiro et al.,1997.35 Garcia, 1999.36 Barbosa & Jos, 1998.37 Soriano-Sierra, 1990a; Soriano-Sierra , 1990b; Sierra de Ledo, 1990; Filomeno et al. 199?; Sierra de

    Ledo et al. 1993; Cunningham et al. 1994a e b; Hostim 1994; Ribeiro et al. 1997; Aguiar et al. 1995;Hostim-Silva, 1994.

    38 Ribeiro & Hostim-Silva, 1999.

    Ecologia da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

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    vina, manjuba, parati, tainha entre outros); alm dos crustceos39 como os siris (seteespcies) e camares (duas espcies); e moluscos (marisquinho e berbigo).

    Desta fauna, algumas espcies tm o ciclo de vida inteiro na Lagoa, enquantooutras so migratrias e a permanecem apenas parte do ciclo. Dentre os peixes, hos que ocorrem somente nas proximidades do canal (peixe trombeta e lngua-de-sogra) onde predominam as guas salgadas. Outros vivem nas proximidades dasguas doces, nas desembocadura de riachos e crregos como barrigudinhos e ca-rs. Alm destes, existem os de guas salobras que ocorrem na Lagoa inteira (cara-peba, carapic e peixe-rei)40.

    Crustceos como os siris tm um ciclo de vida muito peculiar, que depende quaseque exclusivamente de ambientes estuarinos (afetados pelos oceanos). Eles vivem namaior parte do tempo dentro da Lagoa e, durante as grandes vazantes nas luas cheiae nova, migram em direo ao oceano41.

    As fmeas ovadas dos siris (Callinectes danae) sobem superfcie do canal e, nopercurso em direo ao mar, coam o ventre para liberarem suas ovas. Um estudorevelou que, num nico dia, 707 fmeas desovaram neste percurso. Acredita-se queas ovas, uma vez eclodidas sob a forma de larvas (megalopas), retornam ao ecossis-tema lagunar abrigando-se entre as marismas, e, neste processo, se desenvolve todauma cadeia alimentar. Sardinhas, peixes-porco e peixes-rei vm ao canal para alimen-tar-se das ovas e megalopas, servindo de alimento aos peixes-espada e s lontras.Isto ocorre durante o ano inteiro, acentuando-se nas mars vazantes nas luas cheia enova42. Este estudo constatou tambm que apenas 109 fmeas, das 707 que saram,retornaram ao corpo lagunar.

    A Produtividade Pesqueira da Lagoa

    A produtividade inicia com a desova dos peixes, crustceos e moluscos na zonacosteira prxima s entradas de mars, desembocaduras de canais, rios e lagoas.

    A pesca de peixes e crustceos na Lagoa tem relevncia socio-econmica para aregio e, dela, subsistiam muitas famlias moradoras da bacia lagunar. A mdia anualde pesca entre 1964-1984 era de 168 toneladas. Mas, antes de 1982, quando aLagoa se fechava, os peixes ainda eram capturados com a mo43.

    39 Branco et al. , 1999.40 Ribeiro & Hostim-Silva, 1999.41 Gomes, 2002; Souza & Freire, 2002a e b.42 Souza e Freire, 2002a e b; Souza, 2002.43 Alessio dos Passos e Aurlio Tertuliano de Oliveira, comunicao pessoal

  • 19

    Entretanto, de 1985 1997 a produo de pescados foi reduzida drasticamen-te para 40 toneladas ao ano devido interveno humana no ecossistema lagunar (aber-tura do canal, pesca predatria, poluio, ocupao das margens da Lagoa e tributriosetc). De l para c, cada vez mais declina a atividade pesqueira, conforme tabela abaixo44. Considera-se que tainhas e camares so a base da pesca artesanal da Lagoa 45.

    44 Jos, 1998,45 Ribeiro et al. 1997.

    Tabela 01 Produo pesqueira na Lagoa da Conceio (em Kg) de 1964 a 1997.

    Ano Peixes Crustceos Total em Kg1964 326.0001969 287.0411971 109.7851972 71.047 9.846 80.8931973 102.819 5.888 108.7071974 117.855 20.962 138.8171975 131.492 15.302 146.7941976 112.301 30.138 142.4391977 183.729 23.647 207.3761978 211.331 38.163 249.4941979 114.288 31.616 145.9041980 119.038 16.726 135.7641981 114.775 8.800 123.5751982 127.101 18.188 145.2891983 113.690 25.931 139.6211984 181.881 29.232 211.1131985 52.018 19.582 71.6001989* 44.660 47.173 91.8331990* 58.816 26.017 84.8431991* 10.571 4.291 14.86219931995 7.256 23.7741996 12.472 3.505 16.0371997 13.333 5.604 18.937

    Dados obtidos do IBAMA e elaborados por Jos (in Jos,1998).* destacado como pesca artesanal. Considerar que os pescados capturados fora de poca casualmente no so computados.

    Ecologia da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

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  • 21Ecologia da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

    1 CECCA, 1997.2 CECCA, 1997.3 CECCA, 1999.4 Martins, 2002

    CAPTULO 2CAPTULO 2CAPTULO 2CAPTULO 2CAPTULO 2

    Dinmica Humana na BaciaHidrogrfica da Lagoa da Conceio

    Povos dos sambaquis

    A ilha de Santa Catarina rica em stios arqueolgicos como sambaquis, oficinaslticas, inscries rupestres e stios cermicos. Dos 131 stios arqueolgicos registra-dos pelo IPHAN (Instituto do Patrimnio Histrico e Arqueolgico Nacional) emFlorianpolis, 37 esto na Bacia da Lagoa 28,2% do total1.

    A palavra sambaqui, de origem guarani, significa monte de conchas e, por isso,este tipo de stio arqueolgico tambm conhecido como casqueiro, cernambi, con-cheiro, ostreiro ou berbigueiro 2. Acredita-se que os povos dos sambaquis foram osprimeiros moradores da Ilha e que consumiam principalmente frutos e animais terres-tres e marinhos, deixando as cascas e ossos como vestgios. A partir destes ossos,eles produziam ferramentas, armas e enfeites que, at hoje, surpreendem pela sensibi-lidade artstica 3.

    A quantidade de sambaquis nas margens da Bacia da Lagoa evidencia a passagemdestes povos h cerca de 5.000 anos, pois a foram registrados 22 destes stios4: Seteno Rio Vermelho, quatro no Rio Tavares, dois no Canto da Lagoa, um na freguesia doCanto, dois na Fortaleza da Barra, um em Moambique, dois na Joaquina, um noCampo do Casqueiro, um no Canto dos Aras e um na Ponta das Almas.

    Este ltimo (Figura 11), com seis metros de altura, pode ser considerado o maiordeles e contm um cemitrio indgena, um sambaqui e uma oficina ltica. No PlanoDiretor dos Balnerios de 1985, o local consta como AVL (rea verde de lazer) (Figu-

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    ras 20 e 24). Esta rea, que pertencia Associao do DNER, foi vendida para parti-culares em maio 2002. Vale lembrar que a comunidade, para preservar este patrim-nio arqueolgico, cultural e paisagstico, alm de entrar com denncia no MinistrioPblico, realizou manifestaes como o abrao simblico ao sambaqui no dia 28 desetembro de 2002, e tentou acordos e parcerias que viabilizassem o uso e visitaopblica como previsto no Plano Diretor. Mas muitos outros sambaquis hoje estoperdidos sob casas e estradas, como o sambaqui do Canto dos Aras.

    Na comunidade da Barra da Lagoa, nas margens do canal, existem cinco stiosarqueolgicos, sendo duas oficinas lticas e trs sambaquis: Stio da Igreja da Barra daLagoa, Stio da Ponta da Vigia, Stio Rio da Lagoa I, II e III 5.

    Encontradas geralmente nos cantos das praias, as oficinas lticas so grandes ro-chas que antigamente eram utilizadas para o polimento dos objetos de pedra6. E, naBacia da Lagoa existem nove oficinas lticas: Uma no Morro do Gravat, uma noMoambique, duas na Galheta, uma na Joaquina, trs na Barra e uma na Prainha daBarra 7.

    H ainda na Bacia da Lagoa trs inscries rupestres, uma na Ponta da Galheta eduas no Morro do Gravat, bem como quatro stios cermicos, um no Rio Tavares,dois na Lagoa e um na Ponta da Galheta 8.

    Povos Itarars

    Acredita-se que os Itarars vieram logo aps os povos dos sambaquis e, mesmocom poucas informaes sobre eles, sabe-se que foram os primeiros a produziremvasilhas de cermica e urnas funerrias9.

    Sinais da presena dos Itarars em algumas camadas dos sambaquis demonstrammudanas significativas de hbitos em relao aos primeiros habitantes, como a redu-o de moluscos na dieta alimentar, a produo de objetos de cermica e uma supos-ta prtica de agricultura. Contudo, no foram encontrados vestgios de vegetais culti-vados para comprovar a teoria 10.

    Sabe-se, no entanto, que os Itarars eram guerreiros e combatiam inimigos quepoderiam ser os Guaranis, pois esqueletos com perfuraes de flechas foram encon-trados em suas sepulturas.

    5 Torres, 1999.6 CECCA, 19997 Martins,2002.8 Martins,2002.9 CECCA, 1997.10 CECCA, 1997.

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    O processo de transio dos Itarars para o terceiro grupo de habitantes da Ilhano sculo XIV os Carijs ou Tupis-guaranis tambm pouco conhecido11. NaIlha existem vrios stios cermicos destes povos, e a evidncia arqueolgica maisantiga deles, de aproximadamente mil anos atrs, encontra-se na Praia da Tapera12.

    Povos Carijs

    Estes povos ocuparam mais densamente a Ilha, com aldeias que abrigavam detrinta a oitenta habitaes. Algumas destas tribos viveram na Bacia da Lagoa, maisprecisamente na Lagoa da Conceio e Rio Tavares. Geralmente ocupavam terrenosarenosos e com dunas para o plantio da mandioca, que se adaptou muito bem a essetipo de solo. Cultivavam tambm milho, inhame, algodo, amendoim, pimenta, tabacoe cabaa13. Eles coletavam frutas e sementes, caavam nas florestas e tinham habilida-des manuais para fazer vasilhas de cermica, urnas funerrias e cestarias de fibrasnaturais de gravat, cip e bambu 14.

    A partir da segunda metade do sculo XVI, a vida tribal dos Carijs em todo o Sul doBrasil foi comprometida pelos missionrios jesutas e bandeirantes. Eles afugentaram osCarijs da Ilha depois de quase trezentos anos de ocupao. Os ndios fugiam para esca-par da escravido imposta pelos portugueses que chegavam com freqncia e em nmerocada vez maior 15. Entretanto, como h relatos do sculo XVIII de que ndios serviam aosportugueses, possvel que alguns carijs dispersos tenham permanecido na Ilha.

    Os Aorianos

    Entre 1748 e 1756 desembarcaram em Santa Catarina cerca de seis mil imigrantesdas ilhas dos Aores e Madeira, predominantemente aorianos (90%), que foraminstalados em pequenas propriedades ao longo do litoral catarinense 16.

    Sempre em torno da igreja, a estruturao e fixao das comunidades originaramas freguesias que recebiam nomes de santos e santas da igreja catlica, como SantoAntonio de Lisboa, Nossa Senhora do Desterro da Ilha de SC, Nossa Senhora dasNecessidades, Nossa Senhora da Conceio da Lagoa, entre outros. medida emque se adensavam, estes povoados eram desmembrados em novas freguesias. Em

    11 CECCA, 1997.12 CECCA, 1997.13 CECCA, 1997.14 CECCA, 1999a e b.15 CECCA, 1997.16 SDE e IBGE, 1997 in Jos,1998.

    Dinmica Humana na Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

  • 24 - Ecolagoa

    1754, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceio da Lagoa foi uma das primeiras aserem fundadas na Ilha de Santa Catarina17.

    Entretanto, estes aorianos pastores e plantadores de trigo e linho na sua terra deorigem, no tinham aqui as mesmas possibilidades. O solo da Ilha de SC no ofereciaa fertilidade da terra vulcnica da Ilha da Madeira. Assim, embora tenham iniciado astradicionais culturas de trigo e linho, eles foram aos poucos absorvendo as tcnicasindgenas do cultivo da mandioca, confeco de canoas em pau de garapuv, capturade tainhas, armadilhas, salgamento e defumao de pescados, produo de farinhaetc 18. Tanto que a farinha de mandioca se tornou o principal produto de exportaoda Ilha de Santa Catarina no sculo XIX.

    Na Freguesia da Lagoa, na encosta do morro, os agricultores mais abastadosviviam em casas bem edificadas, trreas, caiadas (pintadas com cal), assobradadas ecom vidros. A cal da pintura das casas era obtida atravs da explorao de sambaquisou concheiros na regio, da o nome caieira. Em volta da Lagoa, ficavam as habita-es mais simples e os engenhos, contornados por roas de plantao de milho, fei-jo, cana e amendoim19.

    Em meados do sculo XIX, a Lagoa j contava com cerca de 3.450 habitantesque subsistiam do cultivo do caf, uva, algodo e linho; alm do fabrico de cachaa,farinha, acar e melado, e plantio de alho, cebola, amendoim e gengibre para comer-cializar na capital20.

    Entre os sculos XIX e XX o linho era plantado em larga escala e ali mesmo, emteares rudimentares, eram tecidos o linho de algodo que permitia a produo delindas toalhas, guardanapos e colchas de crivo, as rendas etc21.

    Apesar das dificuldades, estes aorianos mantinham uma economia de subsistn-cia sustentvel. Toda a famlia trabalhava na plantao e no processamento dos pro-dutos agrcolas. Os engenhos eram movidos trao animal e o transporte feito porcarros de bois (Figura 12) ou canoas. O gado de trao, ao envelhecer, era sacrificadoem pequenos aougues locais, onde predominava a troca de mercadorias22.

    Entretanto, o solo das plancies e de encostas da Ilha de SC no era apropriado aocultivo anual, sem rotatividade e sem repouso. Como os aorianos desconheciam estefato, a conseqncia foi o empobrecimento total do prprio solo e da populao quedele vivia23 aps 200 anos de explorao. Estas dificuldades nas produes agrcolas

    17 CECCA, 1997; JOS, 1998.18Borges & Schaefer, 1995.19 Vrzea, 1900 in CECCA, 1997.20 Jos, 1998.21 Vrzea, 1900 in A Notcia Especial, 29/03/2002.22 Jornal Fala Campeche n 11 e 12.23 Caruso, 1983.

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    levaram os aorianos a investirem em outras atividades, como a pesca e a produo deartesanatos24. E assim, eles alternavam entre a roa e a pesca. No outono e invernopescavam tainhas, anchovas e camares, e na primavera e vero, colhiam produtosagrcolas. Hoje raros na Ilha, os engenhos de farinha funcionaram at 1963.

    Pesca e turismo

    No sculo XX, a pesca na Ilha de Santa Catarina deixa de ser uma atividadeacessria e passa a ser, alm de alimento, produto gerador de renda. Seu perodoureo foi nas dcadas 70 e 80, quando a atividade ocupou os primeiros lugares naproduo de pescado no Brasil. Entre 1970 e 1981, a mdia foi de 335,2 ton/ano.Aps um declnio para 219 ton/ano, em 1984 a pesca atingiu seu auge, chegando a8.000 ton/ano25.

    Neste perodo, a pesca artesanal, juntamente com as atividades ligadas ao turismo,consiste num dos principais usos dos sistemas naturais e recursos da Ilha.

    Aps o perodo de abundncia, o declnio da pesca foi conseqncia de umasoma de fatores gerada pelo desconhecimento dos pescadores e da comunidade emgeral. A se destacam a prtica da pesca no perodo de desova, a captura de indivdu-os imaturos, a pesca industrial sem critrios e sem fiscalizao, a destruio e aterra-mento das reas de procriao (manguezais e lagoas) e a poluio por esgotos do-msticos como os principais responsveis.

    Na Bacia da Lagoa onde se pegava o peixe com a mo, o declnio da pesca seintensificou com a abertura permanente do Canal da Barra, em 198226.

    Desde ento, nas comunidades da Barra da Lagoa27, Costa da Lagoa e Cen-tro da Lagoa, a economia se alterna entre a atividade pesqueira, o turismo e aprestao de servios.

    Durante o inverno, as comunidades da Costa e da Barra da Lagoa so pacatascolnias de pescadores mas, no vero, o turismo muda completamente o aspectotranqilo destas localidades e predomina como atividade econmica. No centro daLagoa, ao longo do ano, o turismo, a construo civil e a prestao de servios pre-dominam como atividade econmica.

    24 Borges & Schaefer, 1995 in Jos, 199825 Jos, 1998.26 Comunicao pessoal de nativos da Bacia.27 Kremer, 1990.

    Dinmica Humana na Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio

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    28 ABES, 2000.29 IBGE, 2000 .30 Frank, 2002.31 Frank, 2002.

    Habitantes atuais

    O declnio do ciclo da pesca coincide com a descoberta das belezas naturais epaisagsticas da Lagoa da Conceio. Ali, at o final dos anos 70, alm de pescado-res, rendeiras e alguns restaurantes, predominavam as residncias secundrias demoradores do centro da cidade. Com o crescimento de Florianpolis (em especialcom a UFSC e a Eletrosul) e o melhoramento de acessos (SCs 404 e 406), o proces-so da ocupao da Bacia Hidrogrfica da Lagoa foi facilitado, trazendo levas deturistas e imigrantes, principalmente gachos e paulistas. A Lagoa ganhou status debairro e as casas de veraneio deram lugar a residncias de moradores fixos.

    Assim, atualmente a Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio habitada tantopela comunidade nativa como por grupos de diferentes regies do Pas e do exterior.A populao fixa de 7.897 em 198028 saltou para 23.929 habitantes em 200029 e,alm disso, estima-se uma populao flutuante de 9.408 pessoas. Nos ltimos doisanos, entretanto, a vinda de imigrantes, em especial de So Paulo, e de estudantes dediferentes partes do Estado e do Brasil, alteraram substancialmente o ritmo de vida daregio. Embora no existam nmeros precisos, percebe-se a violenta queda na quali-dade de vida tanto em indicadores ambientais, como no trnsito, na falta de gua, faltade segurana, transportes pblicos e muitos outros.

    Estes problemas se agravam ainda mais na alta temporada de vero. Estimativas emabril de 200230 sugerem que, nesta poca, a populao atinge a marca de 40 mil habitan-tes. So nmeros tmidos se comparados ao volume de turistas que passou pela regio natemporada de vero 2002/2003.

    Hoje, esta populao ecltica ocupa as diferentes localidades da Bacia, como osDistritos da Lagoa da Conceio, Costa da Lagoa, Barra da Lagoa e o Distrito de SoJoo do Rio Vermelho. Embora o turismo seja considerado a base da economia daLagoa, h outras atividades no uniformemente distribudas nas diversas urbanizaesda Bacia. No Centrinho, concentram-se o comrcio e os servios; na Barra da Lagoa,a pesca de alto mar e regio costeira; na Costa da Lagoa, a pesca artesanal intralagunare servios, principalmente de restaurantes. Os ncleos mais pobres, entretanto, encon-tram-se na periferia do Centrinho, no Rio Vermelho e na Barra da Lagoa31.

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    CAPTULO 3CAPTULO 3CAPTULO 3CAPTULO 3CAPTULO 3

    Problemas do Corpo Lagunar

    As belezas que atraem pessoas Lagoa da Conceio so as mesmas destrudaspela ocupao desordenada que acelera a sua descaracterizao ambiental. Muitasvezes, quem procura a propalada qualidade de vida da regio no percebe o efeito dasua ao sobre o meio ambiente. Isto no que diz respeito ao descarte do lixo, constru-o da fossa, supresso da Mata Atlntica nativa ou impermeabilizao do solo - queno permite a infiltrao das guas das chuvas. Outro problema o mau planejamentodo uso do solo e ocupao ordenada do Instituto de Planejamento Urbano, que noconsidera as potencialidades, fragilidades, limitaes e especificidades locais.

    Nas diferentes regies da Bacia Hidrogrfica, a ocupao prevista nos planosespecficos apenas alteram o zoneamento e transformam reas verdes e de preserva-o limitada em reas residenciais e tursticas, alm de aumentar o gabarito das edifi-caes. Estas ocupaes ocorrem em reas privilegiadas da Lagoa, como as margense as encostas. Ali so construdas edificaes verticais multifamiliares como pousadas,hotis, residncias, condomnios e loteamentos de grande porte. Por um lado, estasconstrues monopolizam a rea e privatizam a vista panormica em detrimento demoradores e visitantes. Por outro, estes empreendimentos expem a Lagoa ao au-mento progressivo de resduos domsticos (lixos e esgotos) e conseqente poluio,e ao aumento do consumo de gua.

    No entanto, o uso do solo responsabilidade tambm da populao que, muitasvezes, segue suas prprias regras em desacordo com a preservao e legislao.Assim, na Lagoa salta aos olhos a triste discrepncia de uma paisagem paradisaca,em que a poluio das guas se percebe no mau cheiro do carto postal da cidade: obelo sujo. Tambm as reas de preservao, de mata nativa e de lazer do ecossiste-ma lagunar - de tamanha importncia ecolgica e econmica -, so descaracterizadosdiariamente por atitudes isoladas. Entre essas aes comum a retirada de mata ciliardas margens da Lagoa e dos rios que nela desembocam. Apesar de protegidas por lei

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    por evitar o assoreamento e abrigarem uma fauna diversificada, elas so as primeirasvtimas das construes de marinas, hotis e at residncias particulares (Figura 13).

    No estgio em que estamos, com quase 93% da Mata Atlntica1 do pasdestruda, o cuidado individual com a vegetao passa longe da demagogia ecolgica.Com uma das maiores biodiversidades do planeta2, no por acaso a Mata Atlntica considerada reserva da biosfera e, na Ilha, boa parte desta reserva est sob a responsabi-lidade de particulares em seus lotes de terra e empreendimentos imobilirios ou tursticos.Se cada proprietrio fizer a sua parte, estar contribuindo para o equilbrio e o desenvolvi-mento sustentvel da cidade, do bairro e de toda a Bacia Hidrogrfica da Lagoa.

    Muitas alteraes no ecossistema lagunar so conseqncias do desconhecimentodo seu funcionamento ou ainda da falta de considerao com este santurio ecolgi-co3. As atividades relacionadas ocupao e ao turismo geram problemas de gravese grandes impactos, tanto na poro aqutica como terrestre. Um exemplo , maisuma vez, a Mata Atlntica, cuja fauna atrai turistas de todo o mundo e, exatamenteeste habitat, exposto explorao e especulao imobiliria sem nenhum planeja-mento particular ou governamental. A vegetao a primeira a ser suprimida nosloteamentos (Figura 14) e empreendimentos para dar lugar ao asfalto e edificaes.Com isto vo-se as reas de reproduo e alimentao de muitos animais que acabampor desaparecer da regio4. Por isso, fundamental planejar considerando o uso esustentabilidade destes recursos naturais, com limites claros onde prevaleam o inte-resse coletivo e o cumprimento das leis ambientais para garantir as economias futuras.

    Como dito anteriormente, a Bacia da Lagoa da Conceio forma um grande ecos-sistema, onde as pessoas tm contato com stios arqueolgicos, dunas, restingas, flo-restas, montanhas, rios, lagunas e praias. Isto diversifica as atividades de uso5 eminteresses variados (lazer, comrcio, construo civil, empregos, etc). Soma-se a istoa falta de participao da sociedade no estabelecimento de limites, definies e res-ponsabilidades quanto aos diferentes problemas da regio. Se isto j estabelecidopor lei6, faltam ecos na administrao e na legislatura da cidade para efetivamenteengajar a populao.

    A qualidade das guas vem sendo comprometida desde a dcada de 707. Artigosde jornais de 1976 e 1978 associavam as construes e obras reduo de peixes ecrustceos. Os protestos da populao seguiram-se nas dcadas de 80 e 90, sempre1 Schffer & Prochnow, 20022 Schaffer & Prochnow.2002; Naka & Rodrigues, 2000.3 Aurlio Tertuliano de Oliveira (Lelo) - Amola4 Lei do Porto da Lagoa n 4604/95.5 Fiza Jr., 20026 SNUC, Lei 9985/00; Lei Federal 10.257/01.7 Jos, 1998.

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    contra a descaracterizao lagunar pela poluio das guas por esgotos domsticos erestaurantes, pela falta de tratamento de esgotos, pela ocupao de reas de preser-vao permanente, pelo adensamento populacional sem infra-estrutura e pela propo-sio de projetos de grande impacto ambiental8.

    Estes gritos de socorro continuam at hoje, com o apoio de ONGs (Associao deMoradores da Lagoa - AMOLA; Fundao Lagoa; ACIF Lagoa; Sociedade Amigosda Lagoa - SAL; Sociedade Animal; SOS Praia Mole, entre outras), da mdia, doComit de Bacia da Lagoa da Conceio e do Ministrio Pblico Federal embora semreflexos no planejamento do uso do solo e das guas.

    Poluio por esgotos domsticos

    O esgoto domstico contm componentes como fezes, urina, detergentes, gordu-ras, sabes e restos alimentares, entre outros. Este conjunto contamina e gera umapoluio que pode ser visual, odorfera e fsico-qumica e, lamentavelmente, inviabilizao uso das guas para contato primrio como banhos, esportes aquticos, e limita aqualidade e quantidade dos pescados9.

    Esta contaminao das guas um problema de sade pblica, pois os esgotosliberados contm bactrias, fungos, protozorios e ovos de vermes que causam doen-as como hepatite, plio, tifo, clera, micoses e parasitoses. As portas de entradapara estas enfermidades so o contato direto com a gua ou sua ingesto ocasional.

    Alm da carga fecal, os detergentes e a urina contm nutrientes (fosfatos e nitratos)de grande importncia para o crescimento vegetal. Quando em excesso, estes ele-mentos provocam o crescimento de algas (eutrofizao), principalmente nas reas deremanso, inatingidas pela circulao dos ventos e das mars como na Lagoa de Baixo(Sul). Ali crescem com grande vigor algas Enteromorpha sp 10 (Figura 15).

    Nestas guas pouco oxigenadas, o mau cheiro dos gases sulfdrico e metano resul-tam da decomposio em anaerobiose. Pois o oxignio tanto vital para a fauna eflora do corpo lagunar, como para o prprio processo de degradao dos poluentes.

    A situao se agrava na primavera e no vero pois, nesta poca, assim como naterra, a vegetao aqutica floresce. A morte das algas e a sua decomposio nofundo da Lagoa provocam o mau cheiro, infelizmente comum na avenida Osni Ortigae no Centrinho da Lagoa.

    8 Jornal o Estado 02/07/76; Porto da Barra, 1995, Hotel Lumak, 2002.9 Jos, 1998; Garcia, 199910 Jornal da Lagoa,2000; Comit da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio, 2001.

    Problemas do Corpo Lagunar

  • 30 - Ecolagoa

    Tambm as coletas para amostragem de coliformes fecais realizadas pela FAT-MA durante os anos de 1992 e 1997 evidenciaram uma deteriorao flagrantenas guas prximas ao crrego da Av. das Rendeiras e no embarcadouro dostransportes urbanos. Outras pesquisas11 em alguns pontos especficos da Lagoada Conceio evidenciaram ainda mais a m qualidade das guas, coincidente-mente nos perodos de novembro a fevereiro (alta temporada de turismo na Ilha),com picos que ultrapassaram mais de 24 vezes o valor permitido, que de 1.000coliformes fecais/100 ml. Estes ndices inviabilizam a balneabilidade12 e constitu-em uma ameaa sade pblica, apesar de algumas reas atingidas serem atendi-das pela rede de tratamento de esgoto.

    O aumento da contaminao bacteriana est relacionado ao aumento da popula-o residente que, em 1980 era de 7.897 habitantes e, em 1991, foi para 14.784, eem 2000 atingiu a marca de 23.929 habitantes13, estabelecendo na Lagoa uma taxaanual de crescimento de 5,95%.

    Alm dos esgotos domsticos, de restaurantes e hotis, a mo humana contribui deforma mais simples para a poluio visual e das guas. Antigos hbitos como o de limparpeixes na praia e lanar as vsceras e escamas na gua, ainda so comuns na regio.

    Poluio por gorduras

    A gordura (azeite, leo, banha, etc) no se dissolve e nem se mistura gua.Forma uma camada densa na superfcie que impede as trocas gasosas e a oxigena-o. Suas molculas de cadeias longas so de difcil degradao e problemticaspara o ecossistema aqutico dada a demanda de oxignio necessria a sua degra-dao. As gorduras interferem de maneira negativa no funcionamento das fossas etratamento dos esgotos, sendo comum a obstruo de tubulaes e drenagens quefavorecem a infiltrao de esgotos no solo, lenol fretico e superfcie. Como tam-bm reduzem o tempo de uso das fossas, as caixas so necessrias e muito impor-tantes. Hoje, entretanto, a maioria dos restautrantes no entorno da Lagoa felizmenteparticipa do programa da ACIF Lagoa, que repassa as gorduras usadas paratransform-las em sabo. Novas propostas de tranformao do olo de cozinha embiodiesel esto em estudos por ONGs da Bacia.

    11 Jos, 1998; Jornal A Noticia Capital, 28/01/03.12 Ternes, 200013 ABES, 2000

  • 31

    Poluio por embarcaes

    Alm de rudos e acidentes, as embarcaes que circulam na Lagoa tm efeitosdanosos ao ambiente aqutico, como o das tintas antincrustrantes e do combustveldos motores. Isto porque as tintas de uso naval, utilizadas nos portos e embarcaestm efeito biocida para evitar a fixao de organismos marinhos nas estruturas sub-mersas das edificaes e cascos de barcos. Elas so ricas em metais pesados e, comoa maioria das tintas, solveis na gua 14.

    As substncias antiincrustantes como tribultitin (TBT); dibutiltin (DBT), trifeniltin(TPT), e algicidas como a triazina e Irgarol 1051 causam danos incalculveis ao ecos-sistema lagunar e biodiversidade15. Elas contaminam a gua e os sedimentos mari-nhos, acumulando-se na flora e fauna de maneira lenta. Tambm contribuem para istoos derramamentos acidentais durante a manuteno dos barcos16. Substncias comoo TBT, em concentraes mnimas (duas partes por trilho), atrofiam e causam amorte de moluscos bivalves (ostras), gastrpodes (litorina) e microalgas (fitoplnc-ton). Os efeitos vo desde a reduo das populaes, deformaes da concha eesterilidade, at a mortalidade massiva de ostras como aconteceu na baa de Arca-chon, Frana17, com perdas econmicas da ordem de 147 milhes de dlares.

    Um estudo de 199918 apurou que a quantidade de metais pesados como zinco,nquel, cobre e chumbo encontrada nos sedimentos de fundo na Costa da Lagoa,Canto da Lagoa e no trapiche do Centrinho j eram preocupantes e relacionadas stintas dos barcos. Curiosamente, 61% dos usurios deste tipo de tinta desconhece osperigos que causam ao meio ambiente. Esta circulao de embarcaes, bem comoas marinas, trapiches e garagens particulares da infra-estrutura de apoio aumentamsignificativamente na Lagoa. Alm da poluio causada pelos barcos, h o desconfor-to para prticas como natao, caiaque, wind-surf, entre outros. Ou seja, o lazer depoucos proprietrios de lanchas e similares compromete o lazer de uma maioria. Douso irresponsvel deste tipo de embarcaes j foram registradas vtimas fatais emdiferentes pontos da Lagoa da Conceio. Este mesmo estudo contabilizou um totalde sete marinas que abrigavam 450 embarcaes na Lagoa da Conceio em 1999,excludas as embarcaes de transportes e turismo.

    14 Barbosa, 1996 ACP 970000001-0 MPF; Panitz e Porto Filho, 1997; Garcia, 199915 Clark, 1977; Barbosa, 1997; Scio Ambiental 1997; Garcia, 199916 Panitz e Porto Filho, PBA, 1997.17 Gibs et al. 1990; Chagot et al. 1990; Stephenson, 1991; Matthiessen Et Al. 1991; Stroben Et Al. 1992;

    Gehlmann Et Al. 1993; Redman et al.1993; Tolosa, 1996;18 Garcia, 1999

    Problemas do Corpo Lagunar

  • 32 - Ecolagoa

    Poluio por Motores

    Outra importante fonte de poluentes que causa danos incalculveis gua, florae fauna o motor das embarcaes. Quando em funcionamento, os motores depopa de lanchas, veleiros, baleeiras, iates e jet skis de dois ou quatro tempos, lanamuma mdia de 25% a 30% do combustvel bruto na gua19. Infelizmente, os motoresde dois tempos so os mais utilizados para lazer (voadeiras, lanchas e jet skis) e,tambm, os mais poluentes. Alm disso, a lavao com detergentes, sabes e solven-tes para as desincrustaes e lixamentos dos barcos so atividades de rotina nasdependncias das marinas margem da Lagoa.

    Os leos lubrificantes e combustveis como gasolina, diesel, ou a mistura gasolina-diesel, contm longas e cclicas cadeias de hidrocarbonetos difceis de degradar. Soeles o tolueno, benzeno, xileno, naftaleno, indano, fenis, formaldedo e tambm metaispesados de efeito cumulativo, mutagnico e cancergeno. Estes poluentes dissolvidos nagua causam danos aos organismos nos nveis celular (DNA, atividade enzimtica),metablico e fisiolgico, alm de lhes conferirem sabor e odor caractersticos20.

    A falta de oxignio causa a mortalidade geral dos organismos aquticos, pois, comexceo de poucos microrganismos anaerbios presentes na coluna de gua, todosos outros necessitam de oxignio. O desaparecimento deste elemento elimina a vidalocal e aumenta o mau cheiro e a toxicidade da gua.

    Com o aumento do fluxo de mars21, os poluentes lanados no canal se dispersam naLagoa quando a mar sobe, e para o mar quando ela desce. Mas a descarga de poluen-tes fica retida dentro do sistema lagunar22, onde a diluio ocorre com menor intensida-de porque as velocidades de escoamento da Lagoa em direo ao mar so baixas.

    Poluio por agrotxicos

    A gua pode ser contaminada pelos agrotxicos utilizados no combate aos ratos,cupins, baratas e ervas daninhas. Alguns, conforme a frmula qumica, so mais oumenos solveis na gua, e podem persistir ou no no ambiente aqutico. Herbicidasutilizados na capina das ruas para reduzir o crescimento de gramneas variam de fr-mula e podem permanecer pouco ou muito tempo na gua. Entre os efeitos danosos

    19 Tahoe Research Group, 1970; Barbosa, 1996; PBA, 1997; Garcia, 1999;20 Balk et al. 1994; Tahoe Research group; Juttner, 1994;Jttner et al. 1995; Jttner et al.1995 ), (EIA/RIMA

    -vol I pg. 82).21 Panitz & Porto Filho, PBA, 199722 EIA RIMA Porto da Barra, 1994

  • 33

    est a reduo da capacidade de reproduo de algumas espcies de animais, a des-truio da flora aqutica, alterao da cadeia alimentar, a modificao dos nveis deoxignio e o desaparecimento de algumas espcies de organismos zooplanctnicossensveis23.

    H relatos de moradores e funcionrios da Comcap que combatem ervas dani-nhas, insetos e ratos com herbicidas, inseticidas e raticidas respectivamente, no Cen-tro, na Costa e na Barra da Lagoa. O problema que estes biocidas acabam atingin-do as galerias pluviais e, por a, a Lagoa. A ao destes venenos diversa, existemaqueles que so de rpida absoro pelos vegetais e animais aquticos e outros quevo se acumulando no curso do tempo. Mas todos tm ao final um dano srio comocancergenos e mutagnico.

    Poluio por Sedimentos - Assoreamento

    O desmatamento das margens dos rios e da Lagoa deixa o solo merc daschuvas. Sem razes e capins, a fora das guas desagrega o solo, que levado paradentro da Lagoa, o chamado assoreamento. Para uma chuva de 165mm e uma co-bertura vegetal de 60% a 70%, somente 2% de gua da chuva escorre para o corpolagunar, o resto se infiltra no solo. Neste mesmo processo, esses 2% de gua carre-gam apenas 0,12 toneladas de solo por hectare. Porm, se a cobertura vegetal deapenas 10%, ocorre uma perda de 73% da gua em escorrentio e perde-se 13 tone-ladas de solo por hectare24. A quantidade de sedimentos que entra na Lagoa diminui aprofundidade e a navegabilidade, principalmente nas reas de remanso e nas desem-bocaduras de riachos e rios da Lagoa.

    Acidificao

    A vegetao de Pinus do Parque do Rio Vermelho produz uma resina solvel,altamente txica e de baixo pH (entre 2,5 e 5,0) que drenada de dentro do parquepara a Lagoa. Estas toxinas, alm de cor forte e aspecto ferruginoso (Figura 16), geramproblemas flora e fauna aqutica25. Porm as informaes sobre este tipo depoluio so ainda pouco estudadas.

    23 Hanazato & Kasai, 1995; Vega, 198524 Stocker & Seager, 1981.25 Baptista et al, 2002

    Problemas do Corpo Lagunar

  • CAPTULO 4CAPTULO 4CAPTULO 4CAPTULO 4CAPTULO 4

    As Leis que Protegema Lagoa da Conceio

    Diversas leis protegem a Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio. Os dotes dolugar a enquadram como criadouro natural, rea de relevante beleza cnica, rea deuso cientfico e de contato primrio e lazer, alm de recurso natural pesqueiro e turs-tico de relevante papel na gerao de emprego e renda.

    Estas caractersticas impem um planejamento estratgico e sustentvel que ga-ranta a qualidade de vida e a biodiversidade da Lagoa da Conceio para as geraesfuturas, pois sua importncia social e econmica inegvel para todo um conjuntourbano. E, neste planejamento, h espao para todos num frum relativamente novo,mas que assegura a participao comunitria nas decises sobre o futuro do bairro oucidade: O Estatuto da Cidade.

    Resultado de 12 anos de luta pela garantia da funo social da propriedade, a leique criou o Estatuto da Cidade em 2001 prev a participao da Cmara de Vereado-res, da Prefeitura e da sociedade civil organizada, incluindo o empresariado e outrasentidades comunitrias. Por esta lei, qualquer plano diretor urbano que seja aprovadosem a efetiva participao da sociedade, no ter validade. Portanto, de vital impor-tncia o conhecimento das leis e da ecologia do lugar em que se vive para poder defen-der, opinar e legitimar um processo de planejamento e ocupao do bairro ou cidade.

    Desta forma pode-se evitar o que, infelizmente, acontece com freqncia em Flo-rianpolis: a criao de leis municipais que desrespeitam as legislaes ambientaisestaduais e federais e, em ltima anlise, o prprio cidado. assim, sem considerara capacidade estabelecida pelos limites ambientais e at mesmo a legislao vigente,que os empreendimentos imobilirios e tursticos aumentam de forma vertiginosa emtoda a regio, ignorando os interesses coletivos.

  • 36 - Ecolagoa

    Uma breve descrio do contedo das leis e decretos federais, estaduais e munici-pais, relacionados com a importncia scio-econmica da Lagoa da Conceio paraa cidade, ajudam a ver e estabelecer o status lagunar, seu enquadramento legal e asresponsabilidades 1.

    A Constituio Federal de 1988 estabelece no Art.23 a competncia da Unio,Estados e Distrito Federal e Municpios na proteo das paisagens naturais notveis edo meio ambiente, alm de combater a poluio e proteger a fauna e a flora.

    Os Artigos 182 e 183 da poltica urbana estabelecem a obrigatoriedade de umplano diretor para as cidades com mais de 20.000 habitantes. O instrumento bsicodesta poltica urbana a Lei Federal 10.257/01 - Estatuto da Cidade, que deter-mina a gesto democrtica. A populao deve participar na formulao, execuo eacompanhamento de planos, projetos e programas de desenvolvimento urbano atra-vs de associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade.

    Tambm o Art. 225 assegura direito de todo cidado a um meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial sadia qualidade de vida. Esteartigo impe ao poder pblico e coletividade o dever de defesa e preservao domeio ambiente para as geraes presente e futura, estabelecendo que qualquer ativi-dade nociva estar sujeita a estudos de impactos ambientais (EIA).

    Nos Arts. 215 e 216, ficam garantidos os direitos culturais e o acesso s fontes dacultura nacional, definindo como patrimnio cultural brasileiro os bens materiais ouimateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia iden-tidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,entre os quais os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico,arqueolgico, ecolgico e cientfico.

    Ou seja, um ecossistema lagunar como a Lagoa da Conceio tem caractersticasque justificam sua preservao total ou, no mnimo, o uso racional monitorado e fisca-lizado. Pelas caractersticas da Lagoa da Conceio ela deve ser considerada como:

    Reserva EcolgicaReserva EcolgicaReserva EcolgicaReserva EcolgicaReserva Ecolgica - Neste sentido so necessrias regras e condies espe-cficas de usos. Interferncias que causem alteraes ao ecossistema estaro sujeitasa Estudo e Relatrio de Impactos Ambientais - EIA/RIMA e devero atender asnormas estabelecidas nas seguintes Leis e Resolues do CONAMA (Lei 6938/81;Lei 7804/89; Decreto 89336/84; Resolues 004/85 e 001/86, 002/88, 012/89, 261/99, 303/02). No se trata de um estudo de impacto ambiental para uma nica obra,mas de estudos prvios que considerem o ecossistema lagunar (solo, guas, subsolo,

    1 Barbosa e Jos, 1998; Jos e Barbosa, 1998; Jos, 1998; Matthiensen, 2002

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    restingas, cultura, histria etc), antes das alteraes de zoneamento efetuadas peloLegislativo e Executivo Municipais e rgos de planejamento.

    rea de Relevante Interesse Ecolgicorea de Relevante Interesse Ecolgicorea de Relevante Interesse Ecolgicorea de Relevante Interesse Ecolgicorea de Relevante Interesse Ecolgico (Lei Fed. 6938/81; Cdigo dasguas, Dec. Fed. 89.336/84; Resoluo CONAMA 12/88) - O interesse ecolgico quesustenta a vida e a continuidade da subsistncia da vida, prevalece aos interesses imobilirios,menos duradouros e de curto prazo. Nestas leis e decreto ficam proibidas quaisquer atividadesque ponham em risco a integridade do ecossistema e reiterada a necessidade de EIA/RIMA.

    rea de Prea de Prea de Prea de Prea de Preservao Preservao Preservao Preservao Preservao Permanente (APP)ermanente (APP)ermanente (APP)ermanente (APP)ermanente (APP) - Institui o Cdigo Florestal(Leis Fed. 4771/65; 5.197/67; 6902/81; 6938/81; 7803/89 e resoluo CONA-MA 303/02) e estabelece que as florestas ou outras formas de vegetao fixadorasou estabilizadoras dos ecossistemas (dunas mveis, fixas e semi-fixas, praias, lago-as, restingas, encostas e topos de morros) que abrigam exemplares de fauna ouflora e criadouros naturais de quaisquer espcies ameaadas durante sua fase dedesenvolvimento, devem ser preservados. Em reas de elementos hdricos, quandopermitida, a construo dever obdecer o afastamento das edificaes a partir de33,00m (trinta e trs metros) do limite do elemento hdrico.

    Classe 7 - Resoluo CONAMA 20/86Classe 7 - Resoluo CONAMA 20/86Classe 7 - Resoluo CONAMA 20/86Classe 7 - Resoluo CONAMA 20/86Classe 7 - Resoluo CONAMA 20/86 Uso para recreao,contato primrio, criadouro natural, que inviabiliza o lanamento de efluentes,portos, marinas e navegao nas guas.

    rea de Interesse Trea de Interesse Trea de Interesse Trea de Interesse Trea de Interesse Tursticoursticoursticoursticourstico (Lei Federal 6.513/77 e Decreto 86176/81)- Reservas ecolgicas; paisagens notveis; locais adequados ao repouso e prticade atividades recreativas, desportivas e de lazer devem ter um desenvolvimentoturstico que assegure a preservao do ecossistema. Prev penalidades para a mo-dificao, desfigurao da feio original das reas especiais de interesse turistico.Para que esta potencialidade seja explorada so necessrias condies mnimascomo sistema de tratamento de esgoto, gua potvel, vias de acesso, entre outros,que assegurem a sua preservao;

    Plano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento CosteiroPlano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC I, II e LeiFed. 7.661/88, CIRM 01/90, CIRM 05/97) - Prev zoneamentos de usos e ati-vidades ao longo da zona costeira, priorizando a conservao dos sistemas fluvi-ais, estuarinos e lagunares, praias, promontrios (costes), restingas, dunas, ve-redas, florestas litorneas e manguezais.

    As Leis que protegem a Lagoa da Conceio

  • 38 - Ecolagoa

    A Constituio Estadual, considerando a necessidade do ordenamento e ge-renciamento Costeiro, estabelece em seu Art. 25 das Disposies Transitrias,que no podero ser alterados o uso do solo para usos menos restritivos at apromulgao do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro. A zona costeira brasi-leira Patrimnio Nacional (art.50, 4o, CF/88) e, como tal, patrimnio pblico esocial2, o que no pressupe a transferncia dos bens privados ou pblicos Unio,mas que a propriedade deve ser exercida com cautelas especiais em benefcio detoda a coletividade3.

    Sistema Nacional de Unidades de ConservaoSistema Nacional de Unidades de ConservaoSistema Nacional de Unidades de ConservaoSistema Nacional de Unidades de ConservaoSistema Nacional de Unidades de Conservao SNUC (Lei9985/00). Identifica a Lagoa da Conceio como um patrimnio nacional ecolgico ecosteiro, que est contornado por cinco Unidades de Conservao (Parque do RioVermelho, Macio da Costeira, Parque das Dunas, Galheta, rea de PreservaoCultural da Costa) e, quando existir um conjunto de Unidades de Conservao (UCs)de diferentes categorias ou no, prximas, justapostas, ou sobrepostas e outras reasprotegidas, pblicas ou privadas, constituindo um mosaico, a gesto do conjunto de-ver ser de forma integrada (Art.26o). O Plano de Manejo destas UCs, deve abran-ger a rea da UC, sua zona de amortecimento e os corredores ecolgicos. Isto incluimedidas para promover a integrao vida econmica e social das comunidadesvizinhas. Uma das diretrizes do SNUC o apoio e a cooperao da sociedade civilorganizada (ONGs, Associaes de Moradores, etc), organizaes privadas e pes-soas fsicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas cientficas, prticas de edu-cao ambiental, atividades de lazer e de turismo ecolgico (Art. 27o).

    Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97Lei Federal 9.433/97 Cria o sistema de gerenciamento de recursos hdri-cos. Estabelece que a gua um bem limitado e de domnio pblico e que cabe aoPoder Pblico, em conjunto com as associaes civis regionais, comunitrias e usu-rias, gerenciar, fiscalizar e promover a integrao da gesto ambiental sob a forma doComit de Bacia Hidrogrfica. O objetivo assegurar s geraes atuais e futuras adisponibilidade de gua em padres de qualidade adequados aos usos.

    A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98)A Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98) - Protegeespcies da fauna silvestre, nativa ou de rota migratria sob todos os aspectos, bemcomo seus habitats naturais sujeitos devastao e deteriorao, ficando o infrator

    2 Matthiensen,2002.3 Bacias Hidrogrficas de Santa Catarina. SDM, 1997 Matthiensen, 2002

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    sujeito a penas e multas. Tambm considera de preservao permanente a vegeta-o natural situada ao longo de rios, ao redor de lagoas, lagos, entre outros.

    Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82Lei Estadual 6.063/82 (parcelamento do solo) - No permitido o parce-lamento do solo em reas de proteo especial definidas na legislao, e naquelasonde o parcelamento do solo causar danos relevantes flora e fauna e outros recur-sos naturais. Estabelece condies topogrficas e geolgicas mnimas a serem respei-tadas para coibir os abusos praticados impunemente, tais como loteamentos em terre-nos baixos e alagadios e sujeitos a inundao. Os municpios, em considerao scaractersticas locais, podero estabelecer supletivamente outras limitaes desde queno conflitem com a disposio desta lei. Ao longo das guas correntes e dormentes edas faixas de domnio pblico (rodovias, ductos, ferrovias) devero ser observadas asdeterminaes do Cdigo florestal (4.771/75; 7803/89).

    Decreto EstadualDecreto EstadualDecreto EstadualDecreto EstadualDecreto Estadual 14250/8114250/8114250/8114250/8114250/81 e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80e Lei Estadual 5793/80 - Garantem aproteo e a melhoria da qualidade ambiental de mananciais de gua, bacias hidrogr-ficas, restingas, praias, nascentes, lagunas, entre outros, de maneira a compatibilizar odesenvolvimento econmico - social com a preservao e proteo da qualidadeambiental. Cabe FATMA manter os servios permanentes de segurana e preven-o de acidentes danosos ao meio ambiente, atravs de educao ambiental em todosos nveis de ensino, inclusive na comunidade.

    rea de Prea de Prea de Prea de Prea de Proteo dos Proteo dos Proteo dos Proteo dos Proteo dos Parques e Reservas (Larques e Reservas (Larques e Reservas (Larques e Reservas (Larques e Reservas (Lei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/ei Municipal 5.055/97)97)97)97)97) - Probe a retirada de vegetao de faixas marginas aos corpos dgua, o lana-mento de efluente no tratado, o uso de pesticidas, inseticidas e herbicidas e cortes,aterros ou depsitos de resduos slidos. Nestas reas, os primeiros 15,00m (quinzemetros) da faixa marginal dos rios e lagoas destinam-se ao trnsito dos agentes da Ad-ministrao para desobstruo e limpeza das guas e para outras obras e servios pbli-cos. livre a circulao e passagem da comunidade para pesca, navegao e recrea-o, sendo vedada a construo de muros ou cercas de qualquer espcie;

    Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62Decreto Estadual 2.006/62 - Cria o Parque Estadual do Rio Vermelhocom o objetivo de experimentar espcies de Pinus5 adaptveis regio catarinense;

    Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 Decreto Municipal 1.261/75 - Cria o Parque das Dunas da Lagoa daConceio.

    As Leis que protegem a Lagoa da Conceio

  • 40 - Ecolagoa

    Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79Decreto Municipal 213/79 - Amplia a rea do parque aos limites da Ave-nida das Rendeiras, Estrada Geral da Joaquina e Rua Vereador Osni Ortiga.

    Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79Decreto Municipal 214/79 Contraditoriamente, este decreto autoriza aconstruo de residncias unifamiliares e edificaes comerciais, de at um pavimen-to, em parte do Parque das Dunas.

    Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 Decreto Municipal 231/79 - Prope o aproveitamento da paisagem natu-ral para atividades educativas, de lazer e recreao do Parque das Dunas e probeoutras atividades ou edificaes.

    Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86Decreto Municipal 247/86 - Tomba a Regio da Costa da Lagoa daConceio como patrimnio histrico e natural de Florianpolis. A rea abran-ge o Caminho da Costa, a vegetao e as edificaes de interesse histrico eartstico existentes na regio.

    Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90Lei Municipal 3.455/90 (regulamenta o Decreto 698/94) - Cria o ParqueMunicipal da Galheta, classificando-o como rea de preservao permanente. Tempor objetivo fundamental a preservao da paisagem natural da Praia da Galheta, dosCostes e das vertentes a Leste do conjunto montanhoso que se prolonga em direoNordeste (Art 1). A rea do Parque Municipal da Galheta de Preservao Perma-nente desde o Leste, pela linha do oceano, partindo da Ponta do Vigia at a Ponta doMeio. Ao Sul, por linha seca que parte da Ponta do Meio at o ponto mais alto domorro da cota de 147 m. A Oeste segue pela linha de cumeada ao longo dos morrosem direo ao Norte at o oceano na Ponta do Vigia (APP).

    Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95Decreto Municipal 4.605/95 - Cria o Parque Municipal Macio da Cos-teira (regulamentado Decreto 154/95) de rea APP, excluindo-se aquela destinada explorao de jazida (Pedrita S.A.). Esta lei tem como objetivos a preservao dafauna, flora e paisagem, bem como dos mananciais hdricos com nascente no maci-o; o desenvolvimento de atividades educativas, de lazer e recreao; a recupera-o da cobertura vegetal tpica da regio e introduo de espcies da fauna repre-sentativa da rea. No local so permitidos os estudos cientficos, as atividades delazer e de recreao e a administrao do parque.

    Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85Lei Municipal 2.193/85 - Esta lei dispe sobre o zoneamento, uso eocupao do solo nos balnerios da Ilha de Santa Catarina, declarando-os rea

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    especial de interesse turstico. a principal legislao que regula o uso do solo daIlha de SC conhecida como Plano Diretor dos Balnerios. Nela, as guas po-dem ser utilizadas para recreao, navegao, preservao da fauna, da flora eda paisagem, respeitada a classificao das guas instituda pelos rgos federaise estaduais competentes. O lanamento de efluentes limitado pela legislaofederal e estadual (ex. Resoluo CONAMA 20/86 classe 7). Nas reas deelementos hdricos (AEH) - gua, leito e margem - no permitido aterramento,lanamentos de resduos slidos e edificaes, salvo para obras pblicas previstas emplano de desenvolvimento urbano e que dependem de prvia licena ambiental. Estabe-lece como reas de proteo permanente (APP) os topos de morro e encostas, asdunas mveis, fixas e semi-fixas, mananciais desde as nascentes at as reas de capta-o para abastecimento, praias e restingas. As reas de preservao com uso limita-do (APL) incluem o sop do morro at declividade de 46,6% e limitam em 10% o usopara edificaes. So vedadas nestas reas a supresso de florestas e demais formas devegetao, a explorao, e o depsito de resduos slidos. Em rea revestida por vege-tao arbustiva ou floresta, devem os proprietrios destinar parte dela como de preser-vao permanente. Sendo a rea desflorestada, os proprietrios devem reflorest-lacom espcies nativas e tambm destin-la preservao permanente. Em Florianpolis,a Cmara de Vereadores ilegalmente alterou o zoneamento estabelecido por esta leipara permitir a ocupao das margens do canal da Lagoa alm das encostas da regio.

    Lei Complementar MunicipalLei Complementar MunicipalLei Complementar MunicipalLei Complementar MunicipalLei Complementar Municipal N 099/02N 099/02N 099/02N 099/02N 099/02 - Revoga a Lei n 4.765/95 e limita a construo de prdios em at dois pavimentos, proibindo outrosincentivos como pavimentos garagens, pilotis ou qualquer outro tipo de incenti-vo nas reas de Usos Urbanos, localizadas nas Unidades Espaciais de Planeja-mento - UEP 66, UEP 67 e UEP 68, na regio da Lagoa da Conceio. A taxade impermeabilizao mxima dos imveis nas Unidades Espaciais de Planeja-mento - UEP mencionadas no artigo anterior no poder ultrapassar 70% (se-tenta por cento).

    Acordo entre o munic p io de F lor ianpol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic p io de F lor ianpol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic p io de F lor ianpol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic p io de F lor ianpol is , Casan, Ce-Acordo entre o munic p io de F lor ianpol is , Casan, Ce-lesc (2002)lesc (2002)lesc (2002)lesc (2002)lesc (2002) -Probe a ligao de gua e luz em obras sem alvar de cons-truo. Esta medida, ao livre arbtrio da prefeitura, por um lado impediu ocrescimento de obras irregulares individuais, mas no o avano das cons-trues de obras multifamiliares de grande impacto ambiental na zona cos-teira protegida por lei.

    As Leis que protegem a Lagoa da Conceio

  • 42 - Ecolagoa

    Acordo Judicial do Ministrio Pblico Federal e Comit de Ge-Acordo Judicial do Ministrio Pblico Federal e Comit de Ge-Acordo Judicial do Ministrio Pblico Federal e Comit de Ge-Acordo Judicial do Ministrio Pblico Federal e Comit de Ge-Acordo Judicial do Ministrio Pblico Federal e Comit de Ge-renciamento da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (10/renciamento da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (10/renciamento da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (10/renciamento da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (10/renciamento da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio (10/01/2002)01/2002)01/2002)01/2002)01/2002) - Assinado pelo Municpio de Florianpolis, FATMA e CASAN, o do-cumento estipula um prazo de seis meses para a recuperao do sistema de tratamen-to de esgoto; levantamento de construes irregulares com adoo de medidas judi-ciais e extrajudiciais para a sua alterao ou demolio; exigncia de estudo prvio deimpacto ambiental para todas as construes multifamiliares; e recuperao ambientalda Lagoa, com o retorno de suas guas aos ndices legalmente estabelecidos; a cessa-o da emisso de novas licenas para construo at a recuperao ou ampliao dosistema de tratamento de esgoto.

    O acordo estabelece a exigncia, at a aprovao dos planos de uso do solo e derecursos hdricos da Bacia Hidrogrfica da Lagoa da Conceio, de Estudo de Im-pacto Ambiental e respectivo Relatrio (EIA/RIMA) para as construes multifamili-ares com vinte unidades ou mais, bem como para a construo de hotis e pousadascom capacidade para cem hspedes ou mais (clusula segunda); e, finalmente, para aconstruo de novas marinas e trapiches (clusula terceira). Tambm exige, para con-cesso de alvar para construo, que o projeto hidro-sanitrio apresente, no mni-mo, 90% de eficincia quanto ao impedimento de emisso de efluentes poluentes nareferida Lagoa (clusula quarta). Esta medida afasta de vez o simples uso de tanquesspticos como sistema adequado de tratamento individual de esgoto.

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    1 IBGE, 2000.2 IBGE,2000.3 Naka & Rodrigues, 2000.4 Muehe & Caruso Gomes Jr., 1983; Garcia, 1999; Schaffer & Prochnow, 2002.5 DAquino Rosa e Barbosa, 1998.

    CAPTULO 5CAPTULO 5CAPTULO 5CAPTULO 5CAPTULO 5

    Distrito da Lagoa

    O distrito da Lagoa da Conceio abrange as localidades da Costa da Lagoa,Canto dos Aras, Praia e Parque da Galheta, Praia Mole, Praia da Joaquina, Lagoada Conceio (centro), Canto da Lagoa, Retiro da Lagoa, e Porto da Lagoa (Figura17). O principal acesso ao bairro a SC 404 via Itacorubi. J pelo Rio Tavares, a SC406 (Sul) e pelos Ingleses (Norte), a SC 401 so acessos secundrios.

    O Centrinho da Lagoa uma rea de grande influncia para a qualidade das guasdas Lagoas