EBOOK fasciolose-parte 1 · A Fasciolose ou Fasciolíase ou Distomatose Hepática é uma zoonose,...

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Parasitologia FASCIOLOSE - PARTE 1

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  • Parasitologia

    FASCIOLOSE - PARTE 1

  • • INTRODUÇÃO

    A Fasciolose ou Fasciolíase ou Distomatose Hepática é uma zoonose, ou seja, uma doença transmitida entre animais, mas facilmente transmissível ao ser humano. É causada pelos vermes platelmintos do gênero Fasciola, sendo para-sitas habituais dos fígados e ramos biliares de ovinos e bovinos, principalmente. O homem passa a ser um hospedeiro acidental.

    Esses agentes possuem a seguinte classificação científica: Reino – Animalia, Filo – Platyhelmintes, Classe – Trematoda, Ordem – Echinostomatiformes, Fa-mília – Fasciolidae, Gênero – Fasciola e Espécie – Fasciola sp. Sendo a principal espécie envolvida nos casos reportados na América Latina – incluindo o Brasil – Fasciola hepática. E a principal espécie envolvida nos casos notificados na Áfri-ca, Ásia e Havaí, Fasciola gigantica.

    • EPIDEMIOLOGIA

    Trata-se de uma verminose de ampla distribuição mundial, podendo ser encon-trada em praticamente qualquer lugar do mundo – com exceção da Antártida. Possui alta prevalência nos países em desenvolvimento, onde existem condi-ções socioeconômicas desfavoráveis e saneamento básico precário, sobretudo nas áreas tropicais e subtropicais. Estando presente em 40 países, com apro-ximadamente 2,4 a 17 milhões de pessoas infectadas em todo o planeta. Qual-quer pessoa pode ser infectada, independente do sexo ou idade, porém mulhe-res e crianças são mais acometidas.

    É considerada uma doença negligenciada – assim como a dengue, leishmani-ose, entre outras –, uma vez que é endêmica em populações de baixa renda e, dessa forma, possui indicadores e investimentos reduzidos em pesquisas, pro-dução de medicamentos e também no seu controle.

    No Brasil, um dos países de maior prevalência, os estados mais acometidos são o da região Sul (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina), além do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso do Sul. A infecção no homem está relacionada à ecologia do hospedeiro intermediário: caramujos do gênero Lymnaea, presentes nessas regiões. No território brasileiro, existem

  • quatro espécies envolvidas na transmissão da Fasciolose, porém a mais associ-ada é a Lymnaea columela. São caramujos de água doce, encontrados em áreas alagadiças, sobre a lama úmida, parcialmente enterrados, em plantas aquáticas e em vegetais em decomposição.

    • TRANSMISSÃO E CICLO BIOLÓGICO

    Como a espécie Fasciola hepatica é a encontrada no Brasil, seu ciclo é o mais destacado. Possui como formas evolutivas: ovo, miracídio, esporocisto, rédia, cercária, metacercária e verme adulto. Os ovos não-embrionados são liberados no ambiente externo, com formato elíptico, um opérculo em uma das extremi-dades, com casca fina, de dimensões grandes (130 a 150 µm de comprimento por 60 µm a 100 µm de largura), apresentando uma massa granulosa de célu-las vitelogênicas no seu interior onde se define a “célula-ovo” com o seu núcleo. Seu embrionamento e continuidade do desenvolvimento está relacionado a es-tímulos da luminosidade e da presença da água. São liberados de 4 a 50 mil ovos por dia, por verme, numa média de 20 mil.

    No interior do ovo, se desenvolve a célula-ovo, dando origem a primeira forma larvária do parasita: o miracídio. Este é uma larva ciliada, liberada do ovo quan-do este entra em contato com o ambiente aquoso quando é carreado pela chu-va para coleções hídricas. Uma vez nesse ambiente, o miracídio sobrevive por pouco tempo - de 6 a 10h (no Brasil, até 6h) - e se movimenta em busca do hospedeiro intermediário (caramujos do gênero Lymnaea). Caso ultrapasse es-se tempo ou não encontre o hospedeiro correto, essas formas morrem. Encon-trando o caramujo, essa larva libera substâncias histolíticas secretadas e libera-das pelas glândulas cefálicas, sobre o tegumento e penetram no molusco. Uma vez dentro do organismo hospedeiro intermediário, perde a mobilidade e os cílios, migra pelos vasos sanguíneos e ramos linfáticos, chegando até a região periesofágica e dá origem às formas de esporocisto. As células germinativas desses esporocistos se multiplicam e dão origem às rédias. Essas, por sua vez, se desenvolvem e multiplicam por reprodução assexuada, dando origem no seu interior, às cercarias. Caso contrário, dependendo de outras condições, podem originar uma segunda geração de rédias com pequenas diferenças morfológi-cas. Cada rédia pode dar origem até 8 - 10 cercárias. Estas abandonarão o ca-

  • ramujo e serão liberadas no ambiente após cerca de 7 a 8 semanas da infecção, a partir de estímulos da temperatura e da luminosidade da água. A faixa de temperatura ideal é de 12º a 25ºC, mas no Brasil, a temperatura determinante é de 26ºC. Essas cercarias possuem o corpo oval ou arredondado (200 µm) e cauda simples (única - 500 µm) que se agita como um chicote. Uma vez na água, elas nadarão até se fixarem a vegetação aquática ou a alguma superfície, usando sua ventosa ventral. Perderão a cauda e as glândulas ventrais produzi-rão uma segunda camada cística ao redor do parasito – processo denominado encistamento – dando origem às metacercárias. Essas metacercárias possuem dimensões menores, com 0,20mm a 0,25mm de diâmetro, como aspecto de “grão de areia”, apresentando uma larva no seu interior e dupla camada cística. Essas formas são mais resistentes a temperaturas mais baixas, sobrevivendo até 5ºC no Brasil, mas em outros países (Portugal, por exemplo), pode suportar até -10ºC. No entanto, não resistem muito tempo a temperaturas mais elevadas e também a dessecação (ambientes secos).

    As metacercárias são as formas infectantes para os hospedeiros definitivos (ovinos, bovinos, caprinos, suínos, mamíferos silvestres) e para o hospedeiro acidental (ser humano). Elas são ingeridas juntamente com a vegetação e água contaminadas. Uma vez no intestino delgado, sobretudo no duodeno, sofrerão o processo de desincistamento e perderão a dupla camada cística. A larva será liberada e penetrará a parede intestinal, alcançará a cavidade peritoneal e che-gará no fígado.

    Uma vez no fígado, se desenvolverão em vermes adultos de cor pardo-acizentada, de aspecto foliáceo, com 3 cm de comprimento por 1,5 cm de lar-gura, ventosa oral e ventral, cone cefálico e hermafroditas. Esses vermes adul-tos migrarão até os ductos biliares e alcançarão a maturidade sexual. Dessa forma, produzirão os ovos que serão liberados juntamente com a bile pelo duc-to colédoco, e excretados com as fezes do hospedeiro no ambiente externo, dando continuidade ao ciclo. Esses vermes adultos podem sobreviver de 9 a 13 anos no interior do hospedeiro definitivo e/ou acidental e cada verme pode pro-duzir cerca de 20 mil ovos por dia.

    A via de transmissão da Fasciolose é oral pela ingestão de metacercárias pre-sentes na água ou verduras (detaca-se o agrião). Não ocorre autoinfecção e

  • nem infecção direta homem-homem.

    O ciclo biológico da Fasciola hepatica é heteroxêmico, contando com dois tipos de hospedeiros para se completar – ovinos e bovinos, principalmente (definitivos) e caramujos do gênero Lymnaea (intermediários). Porém, o ho-mem pode ser infectado (hospedeiro acidental).