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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X É POSSÍVEL RELIGIÃO, ESTADO E EDUCAÇÃO TRABALHAREM JUNTAS CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO? Maria Cristina Furtado 1 Resumo: O Brasil encontra-se nas estatísticas mundiais sobre a violência de gênero como: - a quinta maior taxa de feminicídio do mundo; - o país onde cerca de cinquenta mil mulheres, anualmente, são vítimas de estupro, com mais da metade de meninas menores de treze anos violentadas em suas próprias residências; - lider em número de assasssinatos de travestis e transexuais, tendo a cada vinte e oito horas alguém pertencente ao grupo LGBTTI assassinado. Diante desse quadro, procuraremos analisar as causas dessa violência, e a importância de se debater sobre gênero nas escolas, através de currículos voltados para a conscientização de meninxs sobre o respeitar o ‘outro’ diferente delxs próprios, de modo que através da educação, a mulher e o grupo LGBTTI possam vir a ter uma vida livre de violência. Refletir sobre as dificuldades enfrentadas frente à rejeição dos setores religiosos em relação a qualquer debate ligado a sexualidade e gênero, culminando com a retirada da palavra ‘gênero’ dos planos de educação no Brasil. Finalmente, abordar a necessidade das universidades e dos cursos de formação de professores, independente de matéria e seguimento, produzirem conhecimento científico, ético, e didático sobre ‘gênero’, de modo que possamos ter professores capacitados a dialogar com a sociedade sobre este tema. Palavras-chave: gênero, sexualidade, educação, religião. Introdução Quem estuda ‘violência de gênero’, embora lamente, não deve se surpreender com o fato do Brasil, possuindo um índice altíssimo de violência contra a mulher e contra o grupo LGBTTI 2 , apresentar, em alguns setores públicos e privados, forte resistência para aprovar o debate sobre ‘gênero’ nos planos de educação. Se pararmos para refletir perceberemos que a educação convencional que se recebe nas escolas, desde a ‘educação infantil’ ao ‘ensino médio’ é sexista, e ainda hoje, distingue os papéis de gênero para o feminino e para o masculino, com visível delimitação de espaços e valores, sendo por isso mesmo considerada como uma das causas da permanência deste tipo de violência no país. Os legisladores e os que possuem poder decisório para modificar esta situação são oriundos dessa educação que receberam em suas escolas, casas, e igrejas, o que de certa maneira explica a forte rejeição que têm ao se depararem com a palavra “gênero” no plano educacional. Esta palavra, por trazer novas conotações e questionamentos sobre o discurso e a ação educativa convencional, assusta, pois esse debate deverá levar a uma significativa mudança de 1 Doutoranda em Teologia da PUC-Rio (defesa marcada para Agosto de 2017). Finalizou em Outubro de 2016 o doutorado sanduiche sobre “Gender Violence” em René Girard, em Roehampton University, London, UK. É psicóloga, teóloga e professora-tutora da PUC-Rio. Professora de Ética, Psicologia, e Religião em cursos de capacitação de professores. Membro fundador do grupo de pesquisa Diversidade sexual cidadania e religião, da PUC-Rio, e atual coordenadora do Projeto de Inclusão social, no Centro social São Francisco de Paula Barra, RJ. Autora de 9 livros infanto-juvenis (Ed. do Brasil), nos quais une literatura e valores éticos. Contato: [email protected]. Trabalhos publicados no site: http://www.diversidadesexual.com.br/. 2 LGBTTI sigla que significa: lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

É POSSÍVEL RELIGIÃO, ESTADO E EDUCAÇÃO TRABALHAREM

JUNTAS CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO?

Maria Cristina Furtado1

Resumo: O Brasil encontra-se nas estatísticas mundiais sobre a violência de gênero como: - a quinta

maior taxa de feminicídio do mundo; - o país onde cerca de cinquenta mil mulheres, anualmente, são

vítimas de estupro, com mais da metade de meninas menores de treze anos violentadas em suas

próprias residências; - lider em número de assasssinatos de travestis e transexuais, tendo a cada vinte

e oito horas alguém pertencente ao grupo LGBTTI assassinado. Diante desse quadro, procuraremos

analisar as causas dessa violência, e a importância de se debater sobre gênero nas escolas, através de

currículos voltados para a conscientização de meninxs sobre o respeitar o ‘outro’ diferente delxs

próprios, de modo que através da educação, a mulher e o grupo LGBTTI possam vir a ter uma vida

livre de violência. Refletir sobre as dificuldades enfrentadas frente à rejeição dos setores religiosos

em relação a qualquer debate ligado a sexualidade e gênero, culminando com a retirada da palavra

‘gênero’ dos planos de educação no Brasil. Finalmente, abordar a necessidade das universidades e

dos cursos de formação de professores, independente de matéria e seguimento, produzirem

conhecimento científico, ético, e didático sobre ‘gênero’, de modo que possamos ter professores

capacitados a dialogar com a sociedade sobre este tema.

Palavras-chave: gênero, sexualidade, educação, religião.

Introdução

Quem estuda ‘violência de gênero’, embora lamente, não deve se surpreender com o fato do

Brasil, possuindo um índice altíssimo de violência contra a mulher e contra o grupo LGBTTI2,

apresentar, em alguns setores públicos e privados, forte resistência para aprovar o debate sobre

‘gênero’ nos planos de educação. Se pararmos para refletir perceberemos que a educação

convencional que se recebe nas escolas, desde a ‘educação infantil’ ao ‘ensino médio’ é sexista, e

ainda hoje, distingue os papéis de gênero para o feminino e para o masculino, com visível

delimitação de espaços e valores, sendo por isso mesmo considerada como uma das causas da

permanência deste tipo de violência no país. Os legisladores e os que possuem poder decisório para

modificar esta situação são oriundos dessa educação que receberam em suas escolas, casas, e igrejas,

o que de certa maneira explica a forte rejeição que têm ao se depararem com a palavra “gênero” no

plano educacional. Esta palavra, por trazer novas conotações e questionamentos sobre o discurso e a

ação educativa convencional, assusta, pois esse debate deverá levar a uma significativa mudança de

1 Doutoranda em Teologia da PUC-Rio (defesa marcada para Agosto de 2017). Finalizou em Outubro de 2016 o

doutorado sanduiche sobre “Gender Violence” em René Girard, em Roehampton University, London, UK. É psicóloga,

teóloga e professora-tutora da PUC-Rio. Professora de Ética, Psicologia, e Religião em cursos de capacitação de

professores. Membro fundador do grupo de pesquisa Diversidade sexual – cidadania e religião, da PUC-Rio, e atual

coordenadora do Projeto de Inclusão social, no Centro social São Francisco de Paula – Barra, RJ. Autora de 9 livros

infanto-juvenis (Ed. do Brasil), nos quais une literatura e valores éticos. Contato: [email protected].

Trabalhos publicados no site: http://www.diversidadesexual.com.br/. 2 LGBTTI – sigla que significa: lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais.

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atitude. Para algumas pessoas mudar seria o mesmo que romper, cortar, e não simplesmente

transformar, refazer, alterar, modificar. Dessa forma, colocam-se defendendo a continuidade da

célula mater da sociedade; a família, sem perceberem que aos poucos a família tradicional, já há

algum tempo, fora do âmbito religioso, vem ampliando, e mudando a sua configuração. Em 1994, a

OMS declarava: "o conceito de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento, parceria

sexual ou adoção. Família é o grupo cujas relações são baseadas na confiança, suporte mútuo e um

destino comum" (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1994)3. Entretanto, mudar é sempre

difícil, pois pode provocar crise, dor, e até a necessidade de se repensar certas crenças ligadas à sua

história, tradição, e a medos pessoais e coletivos.

Porém, apesar de não surpreender e até ser possível compreender a reação de setores mais

conservadores da sociedade sobre o debate de gênero nas escolas, essa questão precisa ser enfrentada,

pois educar não significa apenas ‘ensinar conhecimentos’. Sua função vai além, pois,

etimologicamente, o termo educar, em latim educare, educere significa ‘conduzir para fora’ ou

‘direcionar para fora’, o que nos remete a função de preparar os alunos para viver em sociedade,

mostrando as diferenças que existem no mundo. Dessa forma, não se pode fechar os olhos para a

violência de gênero existente, pois o Brasil é um país que: - Tem “a quinta maior taxa de feminicídio

do mundo” (ONUBR, 2016)4. - Possui cerca de “cinquenta mil mulheres estupradas por ano”5

(GLOBO.COM, 2014). - “É lider mundial em número de assasssinatos de trans”6 (R7, 2017), e “a

cada vinte e oito horas um homossexual morre de forma violenta” (GLOBO.COM, 2016).7

Portanto, é preciso aprender com o passado, olhar para o presente, e modificar o futuro.

Neste artigo refletiremos sobre caminhos possíveis para esta mudança.

Causas e tipos de violência de gênero

3 SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE VILA NOVA DE FAMALICÃO. Festa da família. Portugal, em 2010.

Disponível em: http://www.scmfamalicao.pt/3/noticia/0/133.php. Acessado em 21/06/2017. 4 ONU: Taxa de feminicídios no Brasil é quinta maior do mundo. Diretrizes nacionais buscam solução, em 09/04/2016.

Acessado em 22/05/2017. 5 GLOBO.COM. Cinquenta mil mulheres são estupradas por ano no Brasil. Notícias, em 21/01/2014. Disponível em:

http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/01/50-mil-mulheres-sao-estupradas-por-ano-no-brasil-diz-estudo.html.

Acessada em 22/05/2017. 6 R7. Brasil lidera assassinatos de pessoas trans no mundo. Notícias Brasil, em 30/01/2017. Disponível em:

http://noticias.r7.com/brasil/brasil-lidera-assassinatos-de-pessoas-trans-no-mundo-30012017. Aces sada em 25/06/2017. 7 GLOBO.COM. A cada 28 horas, um homossexual morre de forma violenta no Brasil. Fantástico, em 19/06/2016.

Disponível em: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2016/06/cada-28-horas-um-homossexual-morre-de-forma-violenta-

no-brasil.html. Acessado em 26/06/2017.

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São diversos os fatores subjetivos que levam a este tipo de violência. Existem os fatores

sociais, culturais e simbólicos da percepção do feminino que com a ajuda das interpretações bíblicas

tradicionais, do ideal filosófico, e do interesse dos governos, levaram a sociedade ocidental a

introjeção de uma primazia masculina, que ainda na contemporaneidade, contamina as relações,

incita a rivalidade, e consequentemente, colabora para a violência de gênero.

Em um mundo onde o homem é o paradigma: cisgênero, heterossexual, forte, inteligente,

valente, corajoso e provedor; a mulher fica em segundo plano, como sua auxiliar, sensível, com a

finalidade de procriar, cuidar de filhos, da casa, do marido, sob a justificativa de que

‘biologicamente’ é feita para este fim. Todas as pessoas LGBTTI também são consideradas

inferiores, abomináveis, e pecadoras, pois ousam perverter a ordem ‘biológica’, que por séculos, com

a ajuda do estado e da religião cristã, foi introjetada como ‘natural’; embora, hoje, as ciências

mostrem a forte influência da cultura, e das estruturas sociais na construção de gênero. Junto a isso,

acrescenta-se que simbolicamente a mulher é aquela que sangra mensalmente, e pode procriar por

diferentes parcerias. Isso atrai e causa temor, pois o sangue é ligado à sexualidade, à impureza, à

traição, à violência, aos rituais de sacrifícios, e aos crimes sexuais.

A introjeção da superioridade do modelo masculino, o medo da figura feminina, o mimetismo

de ação constante em relação às gerações anteriores, traz a violência como um mecanismo que é fruto

de um padrão familiar de subordinação. É essa estrutura familiar que se pretende manter ao desejar

impedir que se debata gênero na escola, “o modelo familiar da autoridade paterna que determina a

submissão dos filhos e da mulher à autoridade paterna” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1988).8

Embora a sociedade venha passando por modificações em relação à liberdade da mulher, do

grupo LGBTTI, e haja uma maior conscientização do patriarcalismo nas relações estabelecidas, os

jogos de poder continuam presentes, com muita rivalidade, e, ainda são os homens que, normalmente,

assumem o poder. Portanto, quando a mulher não aceita como ‘natural’ o papel a ela imposto, é

comum os homens recorrerem à violência, desde as formas mais sutis à violência física, podendo

chegar ao assassinato. Quando uma pessoa lésbica ou gay afirma não sentir atração pelo sexo oposto,

e que deseja se relacionar com alguém do mesmo sexo, ainda é comum haver agressão por parte da

família, liderada pela figura paterna, hostilizando, espancando, e até expulsando de casa. Em relação

às trans e travestis, o mesmo acontece, sendo o desfecho mais comum; a expulsão de casa.

Além desses, ainda existem fatores psicológicos pessoais marcantes. Por exemplo, quando

alguém sofre ‘violência’, ou quando precisa reprimir fortemente algum desejo, existe a possibilidade

8 BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes. Psicologias: uma introdução ao estudo

da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1988.

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de rejeitar a condição que x levou a sofrer a violência ou a se reprimir. Como consequência essa

pessoa procura desviar o seu medo de forma agressiva contra qualquer outra que se encontre na

mesma situação que ela quando viveu a agressão, ou que apresenta o mesmo desejo que reprime.

Segundo o psicanalista

Calligaris, "Quando as minhas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas,

elas emanam de um conflito interno” (CALLIGARIS, 2011)9. Dessa observação, alguns exemplos

podem ser dados, tais como: - mulheres que sofreram estupro e colocam-se raivosamente contra

outras mulheres, mesmo que seja filha, sobrinha, etc, ao saberem que estas também sofreram este tipo

de violência. Considera-as culpadas pela agressão, pois foi assim que a fizeram sentir quando

também foi estuprada. - Homens que atacam o grupo LGBTTI por palavras, fomentando ódio, ou

usam a violência física contra eles, por não conseguirem aceitar a feminilidade que possuem dentro

de si. Especificamente sobre a homofobia, Calligari diz: “Como tenho dificuldades de conter a minha

própria homossexualidade, acho mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja,

condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente, porque isso ajuda a conter a minha”

(CALLIGARIS, 2011).10

A violência de gênero pode ser explicitada ou encontrar-se simplesmente oculta

em um sorriso ou olhar, e em outras formas de expressões corporais. Žižek aponta os diferentes

tipos de violência existentes na sociedade. Segundo ele, existe a violência sutil, como a

simbólica que pode acontecer de várias maneiras: 11 (ŽIŽEK, 2014, p.180) Em uma única frase, nos

discursos, nas ações, nos jogos, nas piadas, nos presentes, em qualquer ação que possa reforçar a

diferença entre homens e mulheres, homens e LGBTTIs, e etc. Segundo Homi Bhabha, a violência

sutil está na valorização do dominador. Em nosso caso, na valorização das diferenças sexuais, onde

tudo o que pertence ao homem é valorizado, e o que está relacionado com o feminino tende a ser

desvalorizado. É o que ocorre nas piadas que colocam as mulheres como histéricas, ou ridicularizam

os homossexuais, as travestis, ou valorizam o homem heterossexual em detrimento dos demais.

Žižek também faz referência à ‘violência objetiva’ ou ‘sistêmica’, existente na ‘estrutura

social’, que envolve a todos. Esta violência encontra nos sistemas econômicos, políticos e religiosos a

sustentação das relações de dominação e exploração do mais frágil. Por exemplo, o salário da mulher,

na maioria das empresas, é 30% a menos que o do homem. Os cargos de chefias em muitas

organizações são negados às mulheres pelo fato de serem mulheres. A negação de trabalho a pessoas

9 CALLIGARIS, Contardo. Homofobia e homossexualidade. Folha de São Paulo, em 10/11/2011. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1011201119.htm. Acessada em 23/05/2016. 10 IDEM. Ibidem. 11 ZIZEK, Slavoj. Violência. Seis reflexões laterais. S. Paulo: Boitempo Editorial, 2014, p. 180.

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do grupo LGBTTI, embora possam ter a especialização necessária, e possuir melhores condições para

o trabalho do que x candidatx cisgênerx, heterossexual.

Por fim, existe ainda a ‘violência subjetiva’ que pode ser feita por agentes sociais, nos quais

colocamos, entre outros, os políticos, empresários, clero, líderes religiosos, e fanáticos, que utilizam

o poder para marcar as diferenças e não a igualdade, muitas vezes até fomentando o ódio. Ou no dia a

dia através de pais, mães, professores, que supervalorizam o menino em detrimento da menina. Por

exemplo, enfatizando que ele precisa estudar, e ela cuidar da casa. etc. Ou podemos lembrar-nos dos

pregadores que enfatizam leituras bíblicas nas quais as mulheres são pecadoras, e precisam ser

submissas aos seus maridos. Ou ainda que os homossexuais são abomináveis, e deveriam ser

exterminados. Entretanto, um dos mais gritantes é a impunidade para os que praticaram violência de

gênero. Sabemos que, apesar da lei Maria da Penha, e da lei do feminicídio, muitos agressores,

inclusive assassinos continuam livres. Notícias como “Marido bate. Preso, é solto. E depois mata a

esposa”12 (HISAYASU & RESK, 2016) são encontradas com frequência na parte interna dos jornais.

Em relação ao grupo LGBTTI, a negação de leis específicas para a transhomofobia reforça a

impunidade com os que fazem as agressões. A morte da travesti Dandara dos Santos, cuja morte foi

filmada pelos próprios assassinos, mostra a crueldade com que elas são mortas, e desde, então, surgiu

uma proposta de lei do código penal para prever o LGBTcídio como circunstância qualificadora do

crime de homicídio, colocando este tipo de crime no rol

dos crimes hediondos.13 Será que conseguiremos a aprovação dessa lei?

Poderíamos ainda relatar outros tipos de ‘violência de gênero’ que os dois grupos são

submetidos, mas na realidade, seja qual for a causa e o tipo de violência: simbólica, emocional,

psicológica, sexual, institucional, ou física, a violência corrói, destrói, mata, pois atinge o mais

profundo do ser.

A rejeição dos setores religiosos e a tentativa de diálogo

O ponto de partida dos estudos de gênero tem sido a igualdade entre homem e

mulher, como também a inclusão e a total cidadania do grupo LGBTTI. No entanto, a principal

crítica a esses estudos, na igreja católica, tem sido no sentido de que para haver a igualdade de gênero

12 HISAYASU, Alexandre & RESK, Felipe. Marido bate. Preso, é solto. E depois mata a esposa. NOTIBRAS.

Disponível em: http://www.notibras.com/site/marido-bate-preso-e-solto-e-depois-mata-a-esposa/. Publicado em

23/10/2016. Acessado em 23/06/2017. 13 Alterando o artigo 1 da lei n. 8072/1990. Pelo projeto é considerado LGBTcídio quando o crime envolve menosprezo

ou discriminação por razões de sexualidade e identidade de gênero.

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tem-se valorizado “a minimização da dualidade dos sexos, o que questiona a família”14 (LIMA,

2016) nos moldes pai, mãe, com a autoridade paterna. O papa Francisco, também criticou,

mostrando a sua preocupação em relação a uma ideologia chamada ‘gênero’. Segundo ele, essa

ideologia nega a diferença e a reciprocidade natural entre homem e mulher, o que nos levaria a uma

sociedade sem diferenças de sexo, e a uma identidade pessoal desvinculadas da diversidade biológica

entre homem e mulher. Segundo o Papa, a identidade humana não pode ser uma opção, pois o sexo

biológico e a função sociocultural do sexo tem que estar juntos. Podem se distinguir, mas não se

separar 15 Para o Papa a eliminação da diferença seria verdadeiramente o problema, não a solução

(FRANCISCO, 2015)16.

Além dessas críticas, há um grupo de católicos no Brasil que faz uma forte propaganda nas

igrejas e através de publicações ‘contra’ o que chamam de ‘ideologia de gênero’. Eles possuem um

material didático que coloca as questões de gênero e de orientação sexual de forma caricatural. Como

exemplo, citamos o desenho de um menino nu olhando para o seu pênis e perguntando: ‘Não sou

homem? Então... O que é isto?’ Neste material há também referência a estes estudos como ideologia

de “neototalitarismo e morte da família”. Ideologia que estaria controlando a ONU, a União Europeia

e o Banco Mundial, incidindo em organismos, programas e em empréstimos para o desenvolvimento

de países pobres, com cláusulas de difusão de gênero (SIQUEIRA, 2012).

Por outro lado, existem grupos de educadores e teólogos, dentro das diversas

denominações cristãs17 que acreditam ser importante levar este tema para ser debatido nas escolas,

pois a violência contra as mulheres aumenta, e a população LGBTTI enfrenta uma situação

gravíssima pela evasão escolar, e violência diária que vem sofrendo.

Sem renunciar a perspectiva cristã da diferença entre homem e mulher, respeitando a

importância do sexo biológico, estes grupos acompanham as descobertas das ‘ciências’ e os estudos

de gênero, reconhecendo a importância do ambiente cultural e social na vida de cada pessoa. Para a

pastora Romi Bencke, secretária geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) a

perspectiva de gênero é importante para problematizar as construções sociais de ser homem e ser

14 LIMA, Luis Corrêa. Estudos de gênero versus ideologia: implicações teológicas. Revista Cátedra digital, em Abril de

2016. Disponível em: http://revista.catedra.puc-rio.br/index.php/2016/03/30/estudos-de-genero-versus-ideologia-

implicacoes-teologicas/. Acessada em 24/06/2017. 15 PAPA FRANCISCO. Exortação pós-sinodal Amoris Laetitia. Documentos Vaticano, em 19/03/2016, n0 56. Disponível

em: htt p: //w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-

ap_20160319_amoris-laetitia.html. Acessado em 26/06/2017. 16 IDEM. Audiência geral. Docuentos Vaticano, em 15/04/2015. Disponível em html:w2.vatican.va/

content/francesco/pt/audiences/2015.index.2.html. Acessado em 26/06/2017. 17 Estamos nos referindo às igrejas protestantes históricas, a igreja católica, e algumas evangélicas.

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mulher, e despertam a atenção para aspectos das relações sociais que buscam manter a dominação de

um gênero sobre outro.18 Para ela:

As diferenças entre homens e mulheres não são apenas biológicas. Elas também são sociais, econômicas

e políticas, considerando que as mulheres quase não ocupam espaços de poder. [...] O debate nas escolas

seria importante [...] Juntamente com as leis, precisamos de uma profunda mudança cultural (BENCKE,

2015).19

Estes grupos20 através de pesquisas sobre este tema, defesas de teses de doutorado, e mestrado,

de inúmeros artigos, livros, apresentações de trabalhos em congressos Teológicos e Ciências da

Religião, congressos de Bioética, palestras, e debates, tem procurado dialogar em âmbito acadêmico,

nas igrejas, e fora delas, mostrando a importância desses estudos, das diversas posições existentes nos

estudos de gênero, e ponderando que esses estudos, de modo geral, respeitam a importância do sexo

biológico. Pois como diz o teólogo e padre Corrêa Lima, professor da PUC, e coordenador do grupo

Diversidade sexual – cidadania – religião da PUC-Rio, “É importante evidenciar o papel da cultura e

das estruturas sociais21” (LIMA, 2015), pois a violência de gênero vem sendo produzida e

reproduzida há séculos a partir das relações que ocorrem na esfera pessoal, social e institucional,

entrelançando-se e trazendo ainda na contemporaneidade, a cultura da desvalorização do feminino.

Em relação à Igreja Católica, apesar dos embates que até hoje tem existido entre a esta igreja e

as questões de gênero, o papa Francisco, embora refute estes estudos, convoca a igreja a ir ao

encontro dos que sofrem com as injustiças, para anunciar o amor de Deus e curar as feridas. Ele

próprio se encontrou com pessoas do grupo LGBTTI com seus/suas companheirxs, acolhendo-xs

com carinho, amizade, e respeito, além de procurar colocar mulheres em cargos decisórios na igreja,

e promover debate para o diaconato de mulheres. Dessa forma, acreditamos que se os teólogos que

estão voltados para este trabalho continuarem em suas pesquisas a realizar um diálogo dos

evangelhos com as ciências e os estudos de gênero, oferecerão subsídios suficientes para que possa

haver uma mudança na percepção deste trabalho.

18 BENCKE, Romi. Ideologia de gênero nas escolas pode contribuir para a redução da violência. Entrevista, em

26/06/2017. Disponível em: http://conic.org.br/portal/noticias/1464-romi-benckesecretaria-geral-do-conic-fala-sobre-

ideologia-de-genero. Acessado em 30/05/2016. 19 IDEM. Ibidem. 20 Entre eles citamos o Grupo de diversidade sexual – cidadania e religião da PUC-Rio, do qual sou membro fundador,

possui em seu site inúmeros trabalhos sobre gênero e diversidade sexual. Os trabalhos podem ser encontrados no site: http://www.diversidadesexual.com.br. O grupo tem publicou o livro:

(Org. LIMA, Luis Correa). Teologia e sexualidade: Portas abertas pelo Papa Francisco. São Paulo: Reflexão, 2015. 21 LIMA, Luis Corrêa. Estudos de gênero versus ideologia: desafios da teologia. Mandrágora, v.21. n. 2, 2015, p. 93.

Disponível em: http://www.diversidadesexual.com.br/wp-content/uploads/ 2013/04/Mandrá gora-final.pdf. Acessada em

30/05/2016

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O futuro e o debate de gênero no Brasil

Para nós, o debate nas escolas sobre ‘gênero’, ‘violência de gênero’ e ‘diversidade sexual’ já

está acontecendo, com ou sem o nome ‘gênero’. Essa é uma realidade que não se pode mais fugir, e

todo educador tem essa consciência. Além de que, as leis municipais não podem ser maiores do que a

constituição do país. Dessa maneira, já existem diversas reações do judiciário sobre a proibição do

debate sobre gênero nas escolas. Segundo o procurador-geral da República:

A Constituição de 1988 adota, explicitamente, concepção de educação como preparação para exercício

de cidadania, respeito a diversidade e convívio em sociedade plural, com múltiplas expressões

religiosas, políticas, culturais e étnicas. [...] Os alunos não podem ser privados do ensino com

informações referentes a orientações sexuais, tendo em vista o respeito geral mútuo aos direitos

humanos, exigido pela Constituição e pelos pactos internacionais. (CARNEIRO, 2017)22

E prossegue dizendo que a exclusão deste ensino viola os direitos de quem esteja

fora do padrão heteronormativo, citando a população LGBT.

Por ser um assunto muito polêmico e inovador, na igreja católica, nas igrejas cristãs

tradicionais, e nas igrejas evangélicas há diversidade de posições em relação a este tema. Em uma

pesquisa realizada na ‘Marcha para Jesus de 2017’23, cuja presença maciça era de evangélicos, sobre

se a escola deveria ensinar a respeitar os gays, 77% dos entrevistados responderam que sim, 18% não

concordavam, e 5% não sabiam (ORENSTEIN, 16/06/ 2017). 24 Em outra pesquisa feita pelo IBOPE em

fevereiro de 2017 com a população em geral, 72% dos entrevistados concordavam total ou em parte

que os professores promovam o debate sobre o direito de cada pessoa viver livremente sua

sexualidade, sejam heterossexuais ou homossexuais; 84% dos entrevistados concordavam totalmente

ou em parte que professores discutam sobre a igualdade entre os sexos com os alunos; e 88% eram a

favor dos alunos de escolas públicas receberem aulas de educação sexual. A variante era a idade:

42% acreditavam que o conteúdo deveria ser abordado a partir dos 13 anos, 36% a partir dos 10 anos,

9% eram de opinião que não deveria ser abordado, e 3% não souberam responder, ou não

responderam ( FERNANDES, 24/06/2017)25 Como Regina Soares26 afirma, a pesquisa do Ibope

indica que, em geral, não há resistência dos pais em relação a se debater esses temas na escola.

22 CARNEIRO, Luiz Orlando. PGR questiona leis que vedam tema “gênero” nas escolas. JOTA, em 08/06/2017.

Disponível em: https://jota.info/justica/pgr-questiona-leis-que-vedam-tema-genero-nas-escolas-08062017. Acessado em

26/06/2017. 23 Pesquisa realizada pela professora Esther Solano, da Unifesp, e por Marcio Moretto Ribeiro e Pablo Ortellado, da USP. 24 ORENSTEIN, José. Quem são e o que pensam as pessoas que participaram da Marcha para Jesus em SP. NEXO, em

16/06/2017. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/06/16/Quem-s%C3%A3o-e-o-que-pensam-

as-pessoas-que-participaram-da-Marcha-para-Jesus-em-SP. Acessado em 26/06/2017. 25 FERNANDES. 84% dos brasileiros apoiam discutir gênero nas escolas, diz pesquisa Ibope. HUFFPOST Mulheres,

em 24/06/2017. Disponível em: http://www.huffpostbrasil.com/2017/06/24/84-dos-brasileiros-apoiam-discutir-genero-

nas-escolas-diz-pesq_a_22583250/. Acessada em 24/06/2017.

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Uma das justificativas dos que não apoiam esta abordagem nas escolas, é a falta de

credibilidade dos pais nos professores e nas escolas para a abordagem desse tema. Entretanto,

acreditamos que se houver diálogo da escola com os pais preparando-os para este trabalho, ele poderá

acontecer, sem maiores problemas. Para isso, é importante que os professores conheçam com

profundidade o tema. Nos cursos de ‘Diversidade sexual – Cidadania – Religião’ dos quais fui

professora,27 recebemos professores, coordenadores e diretores, às vezes de uma mesma escola,

normalmente escolas particulares,28 que vinham de longe, desejosos de conhecerem ou se

aprofundarem no tema, para refletirem como agir frente a certos problemas existentes na escola.

A nosso ver, é muito importante que as faculdades voltadas para a formação de professores

ofereçam matérias obrigatórias sobre ‘violência de gênero, gênero, e diversidade sexual’, de modo a

preparar os futuros professores para trabalharem este tema, sejam eles de qualquer área: infantil,

fundamental 1, ou professores de portugues, matemática, física, etc. Quando nos referimos a

abordagem em sala de aula para os futuros profissionais de educação, pensamos em oferecer

conhecimento, reflexões e debates que possam promover uma visão crítica sobre certas práticas

pedagógicas que tem se mostrado racistas, machistas, sexistas e homofóbicas, transformando-as, para

que possamos vir a ter a valorização da igualdade entre seres humanos, e o respeito às diferenças.

Proporcionar conhecimentos gerais onde possam ser estudados desde o cuidado com o corpo,

conceitos, explicações científicas, até estudos de casos, reflexões, e debates, de modo a se buscar não

só o conhecimento, mas um caminho ético onde todxs possam estar incluidxs.

Algumas faculdades já se preocupam com esta preparação, mas será necessário, se realmente

desejarmos diminuir consideravelmente a ‘violência de gênro’, que todas (públicas e particulares),

estejam voltadas para este questão.

Para os professores que já sairam das faculdades é essencial a existência de ‘cursos de

capacitação para este tema’, e que isto possa ser incentivado pela direção das próprias escolas, ou até

dado nas próprias escolas.

Conclusão

Temos consciência da dificuldade que ainda enfrentaremos para termos uma educação que vise

relações de igualdade, e respeito às diferenças. Para isso, com toda a certeza, a educação precisa não

ser ‘sexista’, o que não significa eliminar a compreensão biológica do que é ser homem ou mulher,

mas que se entenda a importância dela e do fator social, econômico e político na vida do ser humano,

26 Regina Soares é doutora em Sociologia da Religião e uma das coordenadoras das Católicas pelo direito de decidir. 27 Fui professora dos cursos de Diversidade sexual-Cidadania e Religião realizados no Centro Loyola de Fé e cultura,

RJ. Atualmente, sou professora do curso de ‘Diversidade sexual, gênero e violência’ ministrado em lugares diversos,

como clínicas, escolas, universidades. 28 No Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, oferece cursos de capacitação para os professores de

escolas públicas.

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saber o que realmente é a ‘natureza’ de cada pessoa, e aprendamos a reconhecer a igualdade, e as

diferenças, respeitando uma pessoa, não por ser homem ou mulher, mas por ser um ser humano.

Como diz a teóloga Maria Clara Bingemer, precisamos “erigir uma ‘ética que abra caminho para o

ethos do amor” (BINGEMER, 2002).29

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19/06/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2016 /06/cada-28-horas-um-

homossexual-morre-de-forma-violenta-no-brasil.html. Acessado em 26/06/2017.

HISAYASU, Alexandre & RESK, Felipe. Marido bate. Preso, é solto. E depois mata a esposa.

NOTIBRAS, em 23/10/2016. Disponível em: http://www.notibras.com/site/ marido-bate-preso-e-

solto-e-depois-mata-a-esposa/. Publicado em 23/10/2016. Acessa do em 23/06/2017.

29BINGEMER, L. Maria Clara (org.); Edson Damasceno... [et al]. Violência e Religião: Cristianismo, Islamismo,

Judaísmo: três religiões em confronto e diálogo. R.J: Ed. PUC Rio. São Paulo: Ed.Loyola, 2002, p 11.

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digital, em Abril de 2016. Disponível em: http://revista.catedra.puc-

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em SP. NEXO, em 16/06/2017. Disponível em: https://www.nexojornal.

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SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE VILA NOVA DE FAMALICÃO. Festa da família.

Portugal, em 2010. Disponível em: http://www.scmfamalicao.pt/3/noticia/0/ 133.php. Acessado em

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ZIZEK, Slavoj. Violência. Seis reflexões laterais. S. Paulo: Boitempo Editorial, 2014.

Is it possible religion, state and education work together against gender violence

Abstract :Brazil is in global statistics on gender violence as: - the fifth highest rate of feminicide

in the world; - the country where around fifty thousand women, yearly, are victims of rape, with

more than half of girls under the age of thirteen years raped in their own homes; - a leader in number

of murders of transvestites and transsexuals, having every twenty-eight hours someone belonging to

the group LGBTTI murdered. In this context, we will seek to analyze the causes of violence, and the

importance of discussing gender in schools through curriculum geared toward awareness of girls and

boys on respecting the 'other' different than themselves, so that through education, the woman and the

group LGBTTI could have a life free of violence. Reflect on the difficulties faced forward to the

rejection of the religious sectors in relation to any debate on sexuality and gender, culminating

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with the withdrawal of the word 'gender' of plans for education in Brazil. Finally, addressing the need

of universities and training of teacher courses, regardless of the field and follow-up, producing

scientific knowledge, ethical, and text book on 'gender', so that we may have teachers trained the

ability to engage in dialog with society on this subject.

Keywords: gender, sexuality, education, religion.