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E hoje? Podemos pensar nos dias de hoje como um tempo histórico de disputa dos padrões economicos, estéticos, políticos e outros? Se tal como afirma Arendt, as disputas só se apresentam como possibilidades enquanto se processam nos espaços públicos, como lidar com uma sociedade em que o espaço público foi “encharcado” pelos interesses oikonomicos? Em outras palavras: Ainda podemos falar de política e de construção política após a economica política? Alias, melhor ainda: podemos (devemos?) depositar nossa esperança de construção de mundo em uma estrutura de organização social com cerca de 2500 anos que conhecemos apenas por alguns livros e que, ainda hoje, não conseguimos plenamente recriar? Se para Aristóteles a política era encarada como um espaço de relacionamento entre homens iguais que, por ja terem satisfeito suas necessidades materiais e pela ausencia da imposição tirânica de uns sobre outros, podiam viver em liberdade, como pensar hoje uma suposta política em que as ações que afetam a coletividade pressupoe justamente a satisfação das necessidades economico- materiais? O homem enquanto animal político refere-se, ao que parece, à sua possibilidade de política. Haja vista que os próprios gregos, enquanto reconheciam a vida na Pólis como

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E hoje?

Podemos pensar nos dias de hoje como um tempo histórico de disputa dos

padrões economicos, estéticos, políticos e outros?

Se tal como afirma Arendt, as disputas só se apresentam como possibilidades

enquanto se processam nos espaços públicos, como lidar com uma sociedade em que o

espaço público foi “encharcado” pelos interesses oikonomicos? Em outras palavras:

Ainda podemos falar de política e de construção política após a economica política?

Alias, melhor ainda: podemos (devemos?) depositar nossa esperança de construção de

mundo em uma estrutura de organização social com cerca de 2500 anos que

conhecemos apenas por alguns livros e que, ainda hoje, não conseguimos plenamente

recriar?

Se para Aristóteles a política era encarada como um espaço de relacionamento

entre homens iguais que, por ja terem satisfeito suas necessidades materiais e pela

ausencia da imposição tirânica de uns sobre outros, podiam viver em liberdade, como

pensar hoje uma suposta política em que as ações que afetam a coletividade pressupoe

justamente a satisfação das necessidades economico-materiais?

O homem enquanto animal político refere-se, ao que parece, à sua possibilidade

de política. Haja vista que os próprios gregos, enquanto reconheciam a vida na Pólis

como a mais acabada forma de relacionamento coletivo, negavam que os bárbaros a

possuissem.

Hoje, em que a História como ciência parece ter desistido de sua pretensão a

discurso verdadeiro sobre o passado, não parece ter lhe sobrado nenhuma dignidade

política. A história “pinta um quadro” e dilui as decisões humanas (sejam elas políticas

ou não) em supostos “acontecimentos históricos”. Sua única função na mudança social

parece ser um ingênuo trabalho jornalístico de denúncia das violências antigas.

Pretensamente esperando um certo “acordar” da “população”, uma certa “tomada de

consciencia”, aqueles que lutam por transformações ou estão sozinhos ou como fiéis

esperam um messias transformador da realidade. Se um dia ele irá nos reconduzir a

como era antes ou criar algo novo. Nunca saberemos...

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