É do Brasil, mesmo?
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É do Brasil, mesmo?
Aproximadamente vinte minutos para entrar naquele estabelecimento. Ele já havia
colocado sua mochila no armário, como manda, ou melhor, “sugere” a instituição. Já havia
colocado todas suas moedas, chaves e penduricalhos de metal naquela caixinha ao lado da porta.
Mesmo assim a giratória sismava em apitar, e uma voz meiga e suave dizia: “Por favor, volte pois
detectamos excesso de metais. Qual a lógica de um estabelecimento que trabalha com dinheiro e
você não pode entrar com metal? Vil (seria uma boa investigação nessas instituições, mas é outra
história) ou não? Parou e pensou: “Essa instituição fundada em 1808, com mais de duzentos anos
não “deixa” ou desconfia dos seus clientes que sempre lhe deram ouro desde que o Brasil é Brasil.
Como diria Althusser, é mais um aparelho ideológico do Estado...continuam achando que esse povo
que está aqui não é daqui.
Ainda sem conseguir entrar, olhou para os cartazes, folders e posters, e percebeu que todos
modelos (pessoas) nestas propagandas da centenária instituição não eram nem de longe o
estereótipo físico do povo tupiniquim. Logotipo em azul com as iniciais BB, com fundo amarelo,
pessoas alvas, com cabelo também amarelo...amarelo ouro, o que tinha de mais escuro era uma
modelo num folder, alva com cabelo negro (enfim!) sorrindo com um cartão na mão escrito:
“Ourocard”. Ele também tinha um Ourocard, mas não se parecia com o modelo que estava no
folder, estaria no lugar errado? No país errado? Ou simplesmente a porta giratória estava com
“defeito” como os seguranças começaram a lhe dizer, pois percebiam seu nervosismo aumentando
com a situação. A porta só quebra para tupiniquins de pele escura? As coisas não funcionam mesmo
pra nós não é!? Ou foram feitas para não funcionar? Concluiu que nada foi feito para nós!
Então começou a matutar; Ouro, é o seu chavão, leva o nome do país onde milhares
trabalharam e morreram por ele, escravizados e supliciados...essa história “talvez”, só “talvez”
aconteça na maioria das instituições do país...é corriqueiro! Sem importância! A ideologia da elite
dominante é essa, lembrou-se de Marx e novamente Althusser: “Todas as instituições transmitem a
ideologia e o modo de vida da classe dominante atual.” O problema é que essa elite é a mesma do
Brasil escravagista e patriarcalista, e sua mentalidade ainda impera.
Pensou, deveriam corrigir uma letra no logo desta instituição, passar de BB para BS, sim
seria mais pertinente com sua propaganda e sua conduta com seus clientes tupiniquins. BS, Banco
da Suécia, tudo alvo e amarelo. Ouro...ouro...ouro! Talvez não tenham conseguido licença para abrir
filial por lá. Recordou de José Murilo de Carvalho e concluiu; “Nunca foi, ainda não é, e não
sabemos quando isso se tornará uma República...Hoje somos poucos bilontras, amanhã seremos
muitos!
Emerson Mathias – 07/08/2013. SP