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“ESTUDO DE CASO”: O PLANO URBANÍSTICO DE PARIS .
Benévolo, Leonardo “História Da Arquitetura Moderna ”, São Paulo: Ed. Perspectiva, 2009, (pp. 91-128).
DISCIPLINA: HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO NO SÉCULO XIX
Arquitetura e Urbanismo FIAMFAAM
Professora: Maria Luiza Zanatta
A Cidade de Paris
400d.C – invasão dos povos do Reno. Paris torna-se uma das cidades mais
importantes da região.
1100 – início da construção da Catedral de Notre Dame.
1348 – Peste Negra. (Papado em Avignon entre 1309 a 1377).
Séculos XIV e XV – Paris torna-se a cidade mais populosa da Europa.
1500 – Noite do Massacre de São Bartholomeu; reforma do Castelo do
Louvre; os reis voltam a residir em Paris (1528).
1700 – Construção da Ìlle de La Cité.
1789 – Revolução Francesa.
Entre 1830-1850 a “urbanística moderna” dá seus primeiros passos por mérito de
técnicos e de higienistas (Benévolo, p.91).
Os arquitetos estavam ocupados e preocupados em escolher entre um estilo
clássico ou gótico e desprezar os produtos decorrentes da revolução industrial
(resistência).
As 1as. Leis sanitárias surgem então de forma modesta e aos poucos se constrói
uma “complicada” legislação urbanística.
1. Insuficiência de esgotos e água potável;
2. Execução de obras públicas: estradas, ruas, ferrovias ( através de uma cartografia
+ precisa e de novos processos de expropriação do solo);
3. Intervenção pública no sentido de acompanhar de perto a vida econômica e
social da população.
4. Reformas transformaram-se em instrumento de controle sobre a vida econômica
e social:
Edificação com um mínimo de regularidade: Planimetria e altimétrica;
Novas construções seguem certos padrões construtivos;
Novos órgãos técnicos da comunidade fazem a prestação de contas;
Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) foi um advogado, funcionário
público, político e administrador francês. Nomeado prefeito de Paris por Luis
Napoleão III, tendo o título de “Barão”, foi o grande remodelador de Paris,
cuidando do planejamento da cidade, durante 17 anos, contando com a
colaboração de arquitetos e engenheiros renomados da Paris da época.
Haussmann planejou uma “cidade nova”, modificando parques parisienses e
criando outros, construindo vários edifícios públicos, como a L’Opéra.
Melhorou também o sistema de distribuição de água e ampliou a rede de
esgotos, e em 1861 iniciou a instalação dos esgotos entre La Villette e Les
Halles, supervisionados pelo engenheiro Belgrand.(p.92)
Retrato de Georges-Eugène Haussmann. (Paris, 27 de Março de 1809 — Paris, 11 de Janeiro de 1891
A. ABERTURA DE RUAS TRAÇADAS NO CONJUNTO HABITACIONAL EXISTENTE E NA FAIXA PERIFÉRICA; A VELHA PARIS COMPREENDIA 3.84 KM DE RUAS E HAUSSMANN ABRIU 95 KM DE RUAS E AVENIDAS NOVAS.
B. NOVOS SERVIÇOS PRIMÁRIOS: AQUEDUTOS, ESGOTO, INSTALAÇÃO DE ILUMINAÇÃO A GÁS, A REDE DE TRANSPORTES PÚBLICOS;
C. NOVOS SERVIÇOS SECUNDÁRIOS: ESCOLAS, HOSPITAIS, COLÉGIOS, QUARTÉIS, PRISÕES E PARQUES PÚBLICOS (BOIS DE BOULOGNE E BOIS DE VINCENNES);
D. NOVA ESTRUTURA ADMINISTRATIVA:CIDADE SE ESTENDE ATÉ AS FORTIFICAÇÕES EXTERNAS E É DIVIDIDA EM 20 ARRONDISSEMENTS (PARCIALMENTE AUTÔNOMOS).
E. CONSTRUÇÃO DE BOULEVARDS.
ESTE PROGRAMA CUSTOU DOIS BILHÕES DE FRANCOS
5 - A NOVA DIVISÃO DE PARIS
Com a nova divisão, Paris apresentou 20
arrondissements (distritos
administrativos) a linha mais grossa
define o antigo cinturão alfandegário do
século XVIII.
Fonte: História da Cidade, Leonardo
Benévolo,p.93.
A Île de la Cité e seus arredores medievais antes das obras de Haussmann (Vaugondy mapa de 1771)
A Ile de la Cité transformada por Haussmann: novas ruas transversais (vermelho), espaços públicos (azul claro) e dos edifícios (azul mais escuro).
A Île de la Cité (Ilha da Cidade em português) é uma de duas ilhas no rio Sena (a outra é a Île Saint-Louis) que pertencem à cidade de Paris, em França. É o centro da capital francesa e foi onde a cidade medieval de Paris foi fundada.
O principal objetivo da reforma urbana idealizada por Haussmann para
Paris, era o de liberar o tecido urbano para facilitar manobras militares. A
grande transformação da cidade ocorre em um terço do tecido da cidade
seguindo a ideia da grande expansão.
Um dos principais pontos da reforma de Haussmann é a reforma da Ìlle de
la Cité enquanto área militar. Para atingir esse objetivo, a maior parte das
edificações existentes foram demolidas.
Segundo Haussmann, “a arquitetura é um problema administrativo” e só
deveria visar aos interesses de Luis Napoleão III, interesses esses, de cunho
estritamente militares.
A partir deste ponto de vista é que foi produzido um urbanismo totalmente
racionalista visando apenas à técnica e desconsiderando o aspecto
histórico.
O plano criado para o centro da
cidade, previa a reformulação da
área em um dos extremos dos
Champs-Elysées (Campos Elíseos).
Haussmann criou uma estrela com
12 avenidas amplas (pontas) ao
redor do Arco do Triunfo, onde
grandes mansões foram erguidas
entre 1860 e 1868 sobre os
escombros da antiga cidade.
Haussmann procurou enobrecer o ambiente urbano com os
instrumentos urbanísticos tradicionais :
- a busca pela regularidade,
- a escolha de um edifício monumental antigo ou moderno como
pano de fundo de cada nova rua. (Benévolo , 2009, p.595).
- Os ambientes privados e públicos – até agora ligados e misturados -
na cidade burguesa se tornam contrapostos entre si : de um lado as
casas, de outro os laboratórios, estúdios, escritórios e a rua é o
elemento de ligação que permite a mistura dos dois elementos.
(Esta cidade é o ambiente de artistas impressionistas como Monet e
Pisarro).
AVENUE DE L'OPERA , PISARRO, 1898
As avenidas abertas por Haussmann, Paris.
PALÁCIO PARISIENSE construído na época de
Haussmann apresenta a padronização das
fachadas.
Fonte: Livro História da Cidade, Leonardo
Benévolo, p.92.
Um plano regulador colocado para a
cidade moderna não foi apenas
desenhado no papel, mas traduzido
para a realidade, controlando todas as
suas consequências técnicas, formais,
administrativas e financeiras
(Benévolo, 2009,p.92).
São abertos parques e jardins públicos: Jardin dês Tulleries, Palais Royal, Parc Montsouris.
Surge a figura do quarteirão que é determinado pelo sistema viário – neste caso o
quarteirão é residual, configurado a partir do que ‘sobra’ depois de definido o traçado
viário, tornando-se um elemento complexo formado por lotes de formato irregular.
São definidas leis de ocupação: cada lote é perpendicular à rua e não tem a mesma medida
padrão; os edifícios passam a ter leis de padronização para as fachadas; a tipologia urbana
segue um catálogo pré-definido, passam a apresentar unicidade arquitetônica; as galerias e
passagens passam a ter função comercial – multifuncionalidade do quarteirão e abrigam
cafés e lojas.
São definidas áreas especiais para as estações ferroviárias.
O governo de Napoleão foi construído
sob as bases da revolução socialista
(02/1848).
Ele apoiou-se no exército e no prestígio
popular para defender a execução de
grandes obras publicas a fim de tornar
mais difíceis outras possíveis revoluções.
Ele então manda demolir ruas antigas
medievais para construir artérias
espaçosas e retilíneas (permitir a
circulação das tropas).
“[Franceses, todos os meios de defesa são legítimos. Arrancar o
calçamento das ruas, jogar as pedras aqui e ali a cerca de um pé
de distância a fim de retardar a marcha da infantaria e da
cavalaria, levar tantas pedras do calçamento quantas forem
possíveis para o primeiro andar, para o segundo e para os
andares superiores, ao menos vinte ou trinta pedras para cada
casa, e esperar tranquilamente que os batalhões estejam no
meio da rua antes de jogá-los para baixo...]”(p.96).
Haussmann instala-se no Hotel de Ville e reordena os serviços técnicos segundo critérios modernos
1. Obras viárias:
- o núcleo medieval é cortado em todos os sentidos: Haussmann sobrepõe ao corpo da
antiga cidade uma nova malha de ruas largas e retilíneas formando um sistema
coerente de comunicação entre as estações ferroviárias e os principais centros da vida
urbana.
- Ele evita destruir os monumentos mais importantes criando anéis ao redor destas obras
interligadas por perspectivas viárias.
- As construções ao longo das ruas é disciplinada. Introduz se a obrigatoriedade de
apresentar um requerimento de construção (1859). Fixam-se novas relações entre
altura das construções e a largura das casas e das ruas:
• Para ruas c/ largura de 20m ou + a altura deve ser igual à largura;
• Para ruas + estreitas a altura pode ser maior = 1 x e meia a largura da rua.
• As coberturas apresentam a inclinação de 45º graus.
Esquema de trabalhos de Haussmann em Paris – linhas mais grossas, novas ruas –
tracejado quadriculado, novos bairros – tracejado horizontal, os dois grandes parques
periféricos: o Bois de Boulogne (à esquerda) e o Bois de Vincennes (à direita)
Fonte”História da Arquitetura Moderna”, Leonardo Benévolo, p.97.
2 - Os Trabalhos realizados diretamente pela Administração ou demais entidades públicas:
- Compete à administração a construção de edifícios públicos novos nos bairros novos e nos velhos submetidos a “transformações”: escolas, hospitais, prisões, escritórios administrativos, bibliotecas, colégios e mercados. O estado encarrega-se de edifícios militares e pontes.
- Publicação de Felix Narjoux (1881) com estes edifícios projetados por arquitetos como Labrouste, Baltard Vaudremer, Hittorf.
- Problema de moradia para classes menos abastadas: Estado procura garantir “requisitos mínimos” de distribuição e higiene.
Napoleão ocupa-se pessoalmente do problema e executa um primeiro complexo de casas populares na Rue Rochouart na Cité Napoleon. Financia mais dois complexos em Batignolles e em Neuilly.
Model Houses (1851)
A criação de Parques Públicos:
Paris possuía apenas parques
construídos durante o Ancien
Regime : Jardim das Tulleries, o de
Champs Elysee, o Champs de Mars
e Luxemburgo.
Napoleão – Haussmann inicia :
Bois de Boulogne (16º.
Arrondissement) e Bois de
Vincennes p/ classes operárias
(12º Arrondissement) .
Bois de Boulogne
Édouard Manet -Bois de Vincennes
Vue du Parc Montsouris – Ile de France 14e arrondissement Vue Parc des Buttes-Chaumont
Instalações: François Eugene Belgrand (1810-1878)
projetou novos aquedutos e estações de elevação
de água no Sena (112000 m3 => 343000 m3),
Novas redes de esgoto (146 Km para 560 Km) ; a
iluminação é triplicada (12400 a 32320 ) passando-
se a bicos de gás. Além disso instala-se um serviço
regular de veículos de praça e uma companhia de
ônibus e ainda elege-se uma área para a
construção de um novo cemitério.
Marie François Eugéne Belgrand
Mudança da sede Administrativa da capital:
Em 1859 onze comunas administrativas ao redor de Paris serão , formando
as 20 arrondissements e cada uma terá a sua mairies.
A cidade se estende até o limite das fortificações.
Os trabalhos viários serão facilitados pela lei de 13 de abril 1850:
expropriação de imóveis.
As obras publicas fazem subir os preços dos terrenos circundantes e influem em toda a cidade favorecendo o crescimento e aumentando a renda.
BALANÇO : comprova que “a própria cidade paga por sua reordenação”, (pagina 102) .
Discutiu-se sobre o verdadeiro idealizador da transformação de Paris se
ela é ou não um plano unitário.
Hausmann relata que o Imperador mostrou-lhe certa vez uma planta da
cidade sobre a qual havia esboçado o traçado das novas vias.
Apesar disso, o que deve ser observado e destacado é o papel da ação
administrativa e da sua relação com o Imperador que contribuiu para o
êxito deste projeto que será buscado, também por outras cidades da
Europa .
O projeto abrangeu três etapas: trois réseaux (3 niveis)
O primeiro réseau já havia sido programado antes de Hausmann;
O segundo e terceiro réseaux são uma coleção de medidas isoladas .
No geral o plano de Haussmann é importante e merece a nossa atenção porque ele
não se apresenta como um projeto fechado ou que trata de uma cidade ideal, mas
ele permite acompanhar os passos das transformações, procurando regulamentá-
las e não sofrendo as consequências destas alterações.
Além disso, o plano de Haussmann funcionou, graças as margens abundantes para
manobras, perante as necessidades crescentes da metrópole.
Ele fez de Paris a cidade mais moderna do século XIX, no entanto ela se tornou a
mais congestionada e de difícil alteração no século XX.
Um projeto com três etapas: trois réseaux
BENÉVOLO. Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 1998, p.91-128.
http://arquitetandoblog.wordpress.com/author/arquitetandoblog/page/6/
Bibliografia: