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Nesta edição ANO XXI • Nº 248 Fevereiro 2015 Publicação mensal 2.00 € Portugal Post Verlag, Burgholzstr. 43 44145 Dortmund Tel.: 0231-83 90 289 Telefax 0231- 8390351 • E Mail: [email protected] www. portugalpost.de K 25853 •ISSN 0340-3718 Pub Pub n Pobreza n Premiado n Xenofobia Bahnhofsvorplatz 1 50667 Colónia • Tel.: 0221 91265 70 Escritório de Representação FADO A MAIOR ANTOLOGIA DE FADO DE SEMPRE COM 100 FADOS EM 4CD COM LIVRO Título: FADO Formato: Livro + 4 CD Capa dura com 144 págs. Preço: € 28,00, inclusive portes de correio A maior antologia de fado de sempre com 100 fados em 4CD. Livro com capa dura com impressão a ouro e a cores. Primeiro livro que faz um retrato do fado de dentro para fora reunindo de- poimentos de fadistas, músicos, poetas, compositores e cons- trutores. Textos que ajudam a entender melhor esta expressão musical portuguesa. Livro ilustrado com fotografias dos artistas e fotos históricas ce- didas pelo Museu do Fado. Edição bilingue em português e inglês. Encomendas: Portugal Post [email protected] Tel.: 0231-8390289 Alemanha: 3,1 milhões de pes- soas com trabalho vivem à beira da pobreza //P .5 Embaixador de Portugal na Alemanha distinguido com prémio em Portugal //P .7 #pegida, não! Crónica de Joaquim Nunes //P .14 O QUE SE PASSA COM O CONSELHO DAS COMUNIDADES NA ALEMANHA ?//P.10 Margarida Pogarell, professora e autora de literatura infantil O novo livro da autora intitula- se “Valdemar”Um gafanhoto que tem medo de meninos e uma me- nina que tem medo de gafanho- tos ||P12 PP Entrevistou Alfredo STOFFEL “O TERRORISMO, O ANARQUISMO E A AUTO-JUSTIÇA SÃO PROIBIDOS NO ISLÃO” Berrin Ileri (na foto), muçulmana, identificável pelo véu, enge- nheira electrotécnica, é a Presidente do FID, uma associação que há vários anos se empenha no diálogo intercultural. Kandir Sanci é colaborador científico na Universidade de Potsdam e Imam, e participa activamente no projecto “The House of One”: um edi- fício que albergará lugares de culto das comunidades cristãs, ju- daicas e muçulmanas a realizar em Berlim. O PORTUGAL POST falou com eles em Berlim sobre a sua missão. //P.3

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ANO XXI • Nº 248 • Fevereiro 2015 • Publicação mensal • 2.00 € Portugal Post Verlag, Burgholzstr. 43 • 44145 Dortmund • Tel.: 0231-83 90 289 • Telefax 0231- 8390351 • E Mail: [email protected] • www. portugalpost.de • K 25853 •ISSN 0340-3718

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n Xenofobia

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Escritório de Representação

FADOA MAIOR ANTOLOGIA DE FADO DE SEMPRE COM 100 FADOS EM 4CD COM LIVRO

Título: FADOFormato: Livro + 4 CD Capa dura com 144 págs.Preço: € 28,00, inclusive portes de correio

A maior antologia de fado de sempre com 100 fados em 4CD. Livro com capa dura com impressão a ouro e a cores. Primeirolivro que faz um retrato do fado de dentro para fora reunindo de-poimentos de fadistas, músicos, poetas, compositores e cons-trutores. Textos que ajudam a entender melhor esta expressão musicalportuguesa.Livro ilustrado com fotografias dos artistas e fotos históricas ce-didas pelo Museu do Fado.Edição bilingue em português e inglês.

Encomendas: Portugal Post [email protected].: 0231-8390289

Alemanha: 3,1 milhões de pes-soas com trabalho vivem à beirada pobreza //P.5

Embaixador de Portugal na Alemanha distinguido com prémio em Portugal //P.7

#pegida, não!Crónica de Joaquim Nunes//P.14

O QUE SE PASSA COM O CONSELHO DASCOMUNIDADES NA ALEMANHA ?//P.10

Margarida Pogarell, professora e autora de literatura infantil

O novo livro da autora intitula-se “Valdemar”Um gafanhoto quetem medo de meninos e uma me-nina que tem medo de gafanho-tos ||P12

PP Entrevistou Alfredo STOFFEL

“O TERRORISMO, O ANARQUISMO E AAUTO-JUSTIÇA SÃO PROIBIDOS NO ISLÃO”

Berrin Ileri (na foto), muçulmana, identificável pelo véu, enge-nheira electrotécnica, é a Presidente do FID, uma associação quehá vários anos se empenha no diálogo intercultural. Kandir Sancié colaborador científico na Universidade de Potsdam e Imam, eparticipa activamente no projecto “The House of One”: um edi-fício que albergará lugares de culto das comunidades cristãs, ju-daicas e muçulmanas a realizar em Berlim. O PORTUGALPOST falou com eles em Berlim sobre a sua missão. //P.3

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 20152PORTUGAL POSTAgraciado com a Medalha da Liberdade

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Director: Mário dos Santos

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Adira já!

EditorialPor Mário dos SantosDirector

Compromisso com os leitoresPORTUGAL POST cum-pre neste ano 22 anosde publicação ininter-rupta.

Foi em 1993 que lançámos o nú-mero experimental do jornal. EmMaio de 1994, o PORTUGAL POSTiniciou a sua edição regular e desdeaí até à presente data foi publicadoininterruptamente.

Desde a sua fundação, o PORTU-GAL POST começou a actualizar ainformação importante para todosos portugueses residentes nestepaís.

Com a publicação deste jornal, aComunidade passou a ter um porta-voz e um órgão de informaçãoatento aos seus problemas, que re-velava as suas potencialidades, fazia

a ponte entre a própria Comuni-dade, impulsionava, divulgava o quede melhor há, esclarecia, denun-ciava situações de injustiça e davavoz ao movimento associativo, aosprofessores, pais e alunos. Em suma,informava e cumpria a missão paraa qual tinha sido criado.

Chegamos aqui com uma grandehistória para contar; a história davida de um jornal que se afirmou eé a referência da comunidade noque diz respeito à informação. Inde-pendentemente de todas as mudan-ças que naturais que a comunidaderegista, o PP vai continuar com sen-tido de responsabilidade e orien-tado pelos princípios da liberdade,do pluralismo, procurando assegurara todos o direito à informação; in-

dependente dos poderes instituídose respeitando todas as opiniões oucrenças desde que enquadradas nosvalores da liberdade e da democra-cia.

O PP define-se como um órgãode comunicação social ao serviço deuma informação objectiva, indepen-dente e responsável, alicerçada nadefesa dos interesses da Comuni-dade Portuguesa na Alemanha.

Ao entrar em mais um ano de pu-blicação, o PP está a apostar numanova forma de estar e de informar,acompanhando as transformaçõesque se verificam na comunidadeluso-alemã residente neste país.

Nesta nota cabe ainda um agra-decimento a todos aqueles que nosajudaram a chegar até aqui.

O

PP ‐ 22 anos de publicação ininterrupta

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 33

errin Ileri começou porfocar a dimensão glo-bal, afirmando “queneste século se deci-dirá se vai haver o con-

flito ou a paz entre ascivilizações”. E considera havertrês possibilidades: ou se traba-lha para o conflito, ou não se faznada, ou “tentamos fazer algopela paz – por isso decidi sair daminha esfera privada, e expor-me aos preconceitos, ciente deque o meu empenhamento e res-ponsabilidade social são deveressancionados pelos eruditos doIslão e por Allah”.

Na nossa sociedade tem-semedo do que é diferente, e é estereceio que acaba por ser instru-mentalizado. Segundo Ileri, oconhecimento do outro é funda-mental para bem vivermos emsociedade e “isto começa em pe-quena escala”. “Conhecemos osvizinhos, conhecemos colegasno trabalho, e assim com peque-nos passos esbate-se a estra-nheza entre as pessoas através doconhecimento delas”.

A Presidente do FID nemsempre usou o véu. Emborasempre rezasse cinco vezes pordia e jejuasse durante o Rama-dão, foi apenas quando já traba-lhava que tomou aquela decisão,o que foi bem aceite pelos cole-gas e o chefe. Mas para eles elanão era uma estranha.

A seguir aos atentados emFrança, foram publicados mapasestatísticos sobre a Europa que

indicavam ser o medo de umaeventual “islamização” muitosuperior ao da presença islâmicareal.

Para o Imam, Kadir Sanci, osportugueses e os espanhóis nãoestão reflectidos nestes númerosporque “historicamente se regis-tou maior contacto com a civili-zação muçulmana”. Na Europacentral a situação é diferente. Asociedade alemã não teve con-tacto com o Islão até muito re-centemente, o que foi alteradopela imigração turca. Em Istam-bul, por exemplo, havia umagrande diversidade cultural e aspessoas aprenderam a viver comela. “Os muçulmanos tambémnão perceberam que agora vi-viam aqui e que tinham de ence-tar o diálogo. Por sua vez, oseventos dos últimos quinze anosalimentaram os preconceitos eaumentaram a falta de comuni-cação. Portanto, está-se aindanum processo de aprendiza-gem.”

Por isso precisamos de pes-soas com coragem e de organi-zações como o FID que seempenhem em construir pontesentre as culturas.

Segundo Sanci, integrar édeixar algo útil de si próprio àsociedade, contribuir de algumaforma e não prejudicar a socie-dade. Tentar construir uma so-ciedade monocultural édespiciente, porque a diversi-dade cultural é um enriqueci-mento. O conceito de integraçãofoi ultrapassado.

Para Berrin a integração é opassado. A palavra importante é“participação” e pertença à so-

ciedade em que vivemos. Masacentuou que “há razões para aspessoas terem medo” dos terro-ristas. “Eu própria tenho medodaquelas pessoas. E nem lhesquero chamar pessoas, quandoassassinam brutalmente outras!”.

O Imam afirmou que no seuentender os terroristas não vêmde famílias religiosas porqueestas não seriam permeáveis aoradicalismo. “Serão sim pessoascom graves problemas socioló-gicos, psicológicos e pedagógi-cos. E, se fizéssemos estudossobre o assunto, provavelmentechegaríamos à conclusão de queeles ou foram vítimas de violên-cia na família, ou foram vítimasde “bullying”, sendo facilmentearrebanhados por certos Encan-tadores. Serão aqueles que nãousufruem de uma boa educaçãoislâmica e que vivem vidas pro-blemáticas que serão mais sus-ceptíveis de se radicalizarem.Penso que é na área criminal queeles se movem e não na reli-giosa”.

Ileri gostaria que eles fossemapenas designados por terroristase elogiou os Media por reagiramde forma diferenciada e respon-sável porque se aperceberam quea polarização da sociedade é ne-gativa.

Sanci salientou que os mu-çulmanos aprenderam muito nosúltimos quinze anos. A vigília doConselho Central dos Muçulma-nos em Berlim, organizada porMayzek, traduziu uma maior au-toconfiança dos muçulmanosque se expressaram em voz altae firme contra o terrorismo.Desta vez a sociedade maioritá-

ria, os políticos, os Media e osmuçulmanos estiveram todos domesmo lado e os terroristas fica-ram isolados sem se poderem es-conder atrás dos muçulmanos.“Esta é a posição certa e dá-nosesperança!”.

O nosso Profeta diz ” a diver-sidade da minha comunidade éuma bênção”. O Islão pode sercompreendido de várias manei-ras, mas nunca literalmente, enão é permitido descontextuali-zar. O terrorismo, o anarquismoe a auto-justiça são proibidos noIslão – realçou o Imam.

Para os religiosos o Alcorãoé uma orientação jurídica. Masesta enunciação de normas nãosubstitui o poder do Estado, elapretende apenas manter uma de-terminada ordem social, o que étarefa do Estado e não do indiví-duo. O importante é distinguirentre as tarefas pessoais e as ta-refas e as competências do Es-tado e, isto alcançado, ummuçulmano pode viver com aconsciência tranquila na socie-dade – esclarece.

Berrin acrescentou que parao erudito muçulmano, FetullahGülen, a democracia é a melhorforma de governo e que aindapode ser aperfeiçoada.

Tanto para Berrin Ileri comopara Kandir Sanci, cumprir asleis na Alemanha é um deverfundado no próprio Islão atravésdo conceito do “Aman”, o qualimpõe aos muçulmanos o deverde obediência às normas do paísonde vivem no âmbito do con-trato social que todos os indiví-duos têm com a sociedade.

Para ambos, o Islão é uma re-

ligião democrática que não pres-creve esta ou aquela forma degoverno mas prevê a consulta“istishara” dos eruditos em ques-tões da comunidade. É essa afunção dos legisladores.

Berrin cita ainda Nursi, umerudito muçulmano, que afirmou“a liberdade é em cinquenta porcento a minha liberdade e nosoutros cinquenta é a liberdade deproteger a liberdade dos outros”.

Com o objectivo de fomentara paz através do diálogo, amboscolaboram no projecto “TheHouse of One”, uma iniciativacristã, judaica e muçulmana paraa construção de um edifício quealbergará três lugares de culto:sinagoga, igreja e mesquita, comuma sala comum para dialogar econviver. O projecto está emfase de angariação de fundos.

Imam Sanci apelou aos ju-deus, cristãos, muçulmanos e ou-tros que sejam fortes e para emconjunto rejeitarem todos osactos de violência contra a Hu-manidade. Por isso pede a todosque colaborem na construçãodeste lugar de culto, que reflectea liberdade e a pluralidade danossa sociedade, e apela a quecontribuam com o seu donativopara “The House of One”, Petri-platz, Berlim. “Sigam-nos notwitter!”.

Berrin Ileri e o Imam KandirSanci condenam o terrorismo e obrutal assassínio de pessoas, queé sempre inaceitável. “Crimi-noso é criminoso e terror é ter-ror, e contra ele dizemos -diálogo, diálogo e mais diálogopara uma cultura de vida emcomum”.

“O terrorismo, o anarquismo e a auto-justiça são proibidos no Islão”Berrin Ileri (na foto), muçulmana, identificável pelo véu, enge-nheira electrotécnica, é a Presidente do FID, uma associação quehá vários anos se empenha no diálogo intercultural. Kandir Sancié colaborador científico na Universidade de Potsdam e Imam, eparticipa activamente no projecto “The House of One”: um edi-fício que albergará lugares de culto das comunidades cristãs, ju-daicas e muçulmanas a realizar em Berlim. O PORTUGALPOST falou com eles em Berlim sobre a sua missão.

Foto: Pintrrest

Cristina Dangerfield-Vogt, Berlim

B

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015Notícias4

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O Secretário de Estado dasComunidades, José Cesário, de-fendeu durante uma visita aMacau que “daqui a uns anos” oscidadãos vão poder renovar docu-mentos como o Cartão do Cida-dão automaticamente numamáquina disponível para o efeito.

Falando à margem da apresen-tação da nova plataforma infor-mática do consulado-geral dePortugal em Macau, que permitea marcação electrónica de dataspara renovação de documentoscom alertas por mensagens paratelemóveis, José Cesário nãoavançou datas, mas frisou ser esseo caminho.

“Esse é um dos objectivos que

temos para daqui a uns anos, quepara se concretizar obedece a umconjunto de requisitos técnicos,mas também de segurança”, ex-plicou o governante português.

“Aqui há uns anos tive o ob-jectivo de começar a emitir docu-mentos de identificação fora dePortugal, há 12 anos não havia.Começámos a fazê-lo e consegui-mos fazê-lo numa altura em quemuita gente dizia que não era pos-sível”, exemplificou.

Para José Cesário, daqui a unsanos, “não muitos, haverá alguémque vai desenvolver mais essaacção e essa medida em prol dosportugueses”, os de dentro e os defora.

Documentos portugueses serão umdia renovados em máquinas

A taxa de desemprego na Ale-manha caiu em 2014 face a 2013,para 6,7%, o valor mais baixodesde 1991, anunciou em comu-nicado a Agência Federal do Tra-balho.

Equivalente a um total de2,898 milhões de desempregados(menos 52 mil do que em 2013),a taxa de desemprego de 2014 é,juntamente com a registada em2012, a mais baixa em mais de 20anos, lê-se no documento, citadopela EFE.

Já o número de trabalhadoresprecários fixou-se em 3,804 mi-lhões de pessoas, menos 98 mil doque em 2013 e o valor mais baixodesde a reunificação da Alema-nha. “Apesar dos poucos impul-sos económicos, o mercadolaboral evoluiu de forma positiva.

Em 2014 houve menos pessoassem trabalho do que no ano ante-rior e aumentou a ocupação e adisposição para contratar pessoalpor parte das empresas”, destacouo presidente da Agência Federaldo Trabalho, Frank-Jürgen Wiese.

No total, a agência disponibi-lizou no ano passado 490 mil pos-tos de trabalho, mais 33 mil doque em 2013.

Em Dezembro, a taxa de de-semprego na Alemanha subiu para6,4%, o que corresponde a um au-mento de 47 mil pessoas, para2,764 milhões.

Contudo, eliminados os efei-tos sazonais, assistiu-se em De-zembro a uma quebra de 27 mildesempregados face a Novembroe de 110 mil em termos homólo-gos.

Taxa de desemprego na Alemanhacaiu em 2014 para valor mais baixo

Na Alemanha tornou-se quaseanormal fumar em espaços co-muns ou em casa por razões higié-nicas e de saúde, e também porcausa de outros frequentadores doespaço.

O Tribunal Federal decidiu a16.01.2015 que o fumo constituiuma “intromissão significativa”na vida dos outros e, como tal, osfumadores podem ser obrigados asó fumarem nas varandas em tem-pos determinados.

Fumar nas varandas tornou-se,muitas vezes, uma causa de dispu-tas entre inquilinos vizinhos. Emcaso de contenda deve haveracordo entre os vizinhos sobre ohorário para se poder fumar, de-terminou o tribunal.

A decisão do tribunal deve-seao facto de, em Premnitz, dois vi-zinhos não fumadores do andarsuperior não quererem suportar o

fumo dos cigarros vindos da va-randa do andar de baixo onde sefumavam entre 12 e 20 cigarrospor dia.

O acordo (horário de fumar)entre os vizinhos exige-se quandoa perturbação do cheiro se tornaincómoda, doutro modo o inqui-lino queixoso teria de provar quehá perigo para a saúde devido aofumo.

Já em 1997 um tribunal tinhadecretado o direito à redução darenda em 20% pelo facto de umainquilina ser perturbada com ofumo. Também em 2013 um tribu-nal havia determinado a proibiçãode fumar numa varanda que fi-cava por baixo de um quarto poro fumo contaminar o ar fresco queo inquilino precisava para dormirbem, refere o jornal HNA.

Em Dusseldórfia já tinha ha-vido um caso de expulsão de um

inquilino pelo facto de ele nãoarejar nem esvaziar os cinzeiros edo seu apartamento sair fumo parao corredor do prédio, pertur-bando assim os vizinhos.

Na Alemanha, nas estações decomboio há zonas demarcadaspara fumadores.

Como se vê, na Alemanhatudo funciona com regras; os tri-bunais levam muito a sério as pe-quenas querelas entre vizinhos. Otabaco pode causar cancro de es-tômago, cancro de laringe e outrascomplicações e consequente-mente constituir uma sobrecargaeconómica para a segurança so-cial.

Esta forma de funcionamentoreflecte uma sociedade que serege por elevados níveis de res-ponsabilidade económica e deconsideração mútua.António Justo

Alemanha ||

Fumar ou não fumar na varanda

Foto:dpa

A partir deste ano, os morado-res do estado de Bremen terão aopção de espalhar as cinzas de fa-lecidos fora do cemitério. Na Ale-manha, desde 1934, a lei obriga adeposição das cinzas nos cemité-rios.

A legislação prevê uma sériede condições a serem atendidas,como a existência de uma decla-ração escrita da pessoa falecida,autorizando que suas cinzas sejam

dispersas em um local particular.Na declaração, uma pessoa deveráser nomeada para supervisionar adispersão e garantir que o lugarestá de acordo com os últimos de-sejos do falecido.

As cinzas podem ser dispersasem locais públicos, como rios ouparques, por meio de autorizaçãoespecial. Outro factor importanteé a intensidade do vento no dia dadispersão das cinzas. Se o vento

for muito forte, o evento poderáser cancelado

Além disso, a pessoa falecidadeve ter como seu último local deresidência o estado de Bremen.Assim, assegura-se que pessoasde outros estados, onde a lei nãovigora, não façam uso ilícito damesma. O texto original da leiprevia permitir a guarda da urnaaté dois anos. Este ponto foi tam-bém revogado.

Bremen suspende a obrigatoriedade de espalhar as cinzas dos falecidos apenas nos cemitérios

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 Notícias 5

Um tribunal alemão decidiuque urinar de pé é um direito queassiste aos homens. Isto depois deo proprietário de um prédio ter re-tido parte de um depósito de trêsmil euros a um inquilino, ale-gando que este lhe tinha estragadoparte do chão de mármore da casade banho com urina, porque uri-nava de pé e não sentado.

O juiz julgou a favor do inqui-lino, numa matéria que não é pro-priamente uma brincadeira naAlemanha, onde algumas casas debanho públicas têm letreiros tiposinal de trânsito a proibir urinar depé.

Por outro lado, há também umtermo depreciativo para os ho-mens se se sentam para urinar -Sitzpinkler – o que significa terum comportamento pouco mascu-lino.

O juiz Stefan Hank, da cidadede Düsseldorf, alegou que os ho-

mens não podem ser acusados dedanos colaterais causados por uri-narem de pé. E, embora reconheçaque hoje há mais homens a urina-rem sentados, fazê-lo de pé é umacto mais generalizado.Reuters

Urinar de pé é um direito dos homens, decide tribunal alemão

Passar horas no aeroporto àespera de um voo pode deixar deser um martírio... pelo menos naAlemanha. Segundo o The Huf-fington Post, foram implementa-das nos terminais do aeroporto deMunique, umas cabines de sesta,uma espécie de quartos em que aspessoas podem dormir enquantoesperam pelo avião.

Por quinze euros é possíveltirar uma sesta de uma hora noaeroporto de Munique.

A invenção alemã é notícia noThe Huffington Post e classificadacomo uma “ideia de génio” paraquem precisa de passar horas a fioà espera do avião.

No terminal dois deste aero-porto de Munique encontram-seumas cabines de sesta.

As ‘Napcabs’ são uma espéciede quartos equipados com camas,ecrã, tomadas elétricas e umamesa para que o passageiro possadescansar e guardar os seus per-

tences enquanto dorme.Segundo o site do aeroporto,

as sestas entre as 6h00 e as 22h00podem custar 15 euros à hora, en-quanto as sestas feitas entre as dezda noite e as seis da madrugadapodem ficar por dez euros à hora.Segundo ainda o The HuffingtonPost, A estadia não pode excederas 12 horas.

Aeroporto de MuniqueDormir a sesta por 15 euros à hora

A Mercedes-Benz Portugalanunciou que obteve em 2014 “omelhor resultado de sempre” damarca no país, ao aumentar asvendas em 45%, face a 2013, paracerca de 10 mil unidades.

O director de vendas e de mar-keting da empresa, Carsten Dip-pelt, disse que se registou “umrecorde absoluto no mercado na-cional”, sendo que foi igualmentealcançada uma quota de mercado

de 7,1%, uma das maiores a níveleuropeu e só ultrapassada pelaAlemanha.

A marca smart, do grupoDaimler, obteve uma queda naquota de mercado de 1,4% em2013 para 1% em 2014, mas aMercedes-Benz Portugal conside-rou, mesmo assim, um “resultadospositivo”, tendo em conta que foio último ano do actual ciclo deproduto.

2014: o melhor ano de sempre daMercedes‐Benz em Portugal

Uma ‘roulotte’ de pizzas feitasna hora percorre há quase doisanos várias aldeias da serra algar-via, um projecto que Sérgio Coe-lho concebeu para poder regressara Portugal depois de vários anos atrabalhar em França.

Não se tratando de um produtotípico da serra algarvia e dada apopulação dispersa, Sérgio Coe-lho considera que a ‘roulotte’ éuma opção interessante porquepermite ir ao encontro dos clientese não ficar à espera que os clientesentrem num restaurante.

A ideia surgiu em França, con-tou o empresário, de 36 anos, ex-plicando que, naquele país, as‘roulottes’ de pizzas nas aldeiassão tão comuns que até é difícilencontrar locais onde estacionar.

“Lá é muito difícil encontrarlugares [de estacionamento] nasaldeias, junto a cafés, porque hámuita gente a fazer isso”, comen-tou, observando que, em Maio de2013, começou a trabalhar na al-deia de Benafim, concelho deLoulé, uma noite por semana.

Actualmente, reserva quatronoites por semana para percorreras aldeias de Santa Margarida,Tôr e Benafim, no concelho deLoulé, e Portela de Messines, noconcelho de Silves.

“Eu não vendo bebidas [pertodos cafés]. As pessoas encomen-dam a pizza, acabam por comeraqui e pedir um café e isso tam-bém ajuda a trabalhar o café”, ex-plicou o empresário.

Os clientes já sabem o dia em

que a “Pizza da Serra” está na al-deia, sempre junto a um café comquem Sérgio Coelho estabeleceparceria.

“É diferente e essencial paratrazer alguma novidade e desen-volvimento à zona e, como a faltade emprego é um dos problemasdo interior, penso que ele [SérgioCoelho] descobriu uma soluçãofantástica” considerou AntónioMartins, de 50 anos, enquanto en-comendava uma pizza.

Durante o verão, a “Pizza daSerra” participa ainda em feiras,mercados e outros eventos queocorrem em vários pontos do Al-garve durante os fins de semana,mas a grande meta de Sérgio Coe-lho é conseguir maior rentabili-dade durante a época baixa.

Caso não consiga atingir esseobjectivo, o empresário não co-loca de parte a hipótese de fazer

temporadas em França como pa-deiro, até porque criou uma massaprópria preparada com massa lê-veda e sem fermento para marcara diferença.

Sublinhando que a aposta naqualidade do produto é vital, Sér-gio Coelho lembrou que os clien-tes não são muitos e é precisomantê-los.

Colocar o projecto em marchaem Portugal não foi fácil e SérgioCoelho, que trouxe de França uma‘roulotte’ já adaptada e legalizada,teve de esperar para poder abrir onegócio.

“Lá, para legalizar [o negócio]demora-se 15 minutos, cá demo-rou dois meses”, contou sem es-conder a surpresa que teve aoperceber que, apesar de trabalharno espaço da União Europeia, asfiscalizações feitas em França nãoeram válidas em Portugal.

Ex-emigrante aposta em roulotte de pizzas para conquistar serra algarvia

Foto:Lusa

Quase 400 mil trabalhadoresnão podiam pagar a própria rendade casa em 2013

Cerca de 3,1 milhões de pes-soas com trabalho na Alemanhaviviam à beira da pobreza em2013, segundo dados de uma aná-lise do Instituto Federal de Esta-tística (Destatis), divulgada pelojornal “Saarbrücker Zeitung”.

Na Alemanha são cada vezmais as pessoas que praticamentenão conseguem viver só do seusalário, enquanto em 2008 isto sóacontecia para cerca de 2,5 mi-lhões de pessoas, 25% a menos. Oestudo revela que 379 mil traba-lhadores em risco de cair na po-breza não conseguiam, em 2013,pontualmente pagar a renda decasa. Além disso, 417 mil renun-ciavam ao uso adequado do aque-cimento nas suas casas e 538 milpoupavam na alimentação, ao

comer só a cada dois dias uma co-mida com os nutrientes necessá-rios.

Em 2013, para metade dosafectados, cerca de 1,5 milhão depessoas, uma estadia de férias deuma semana era impagável, en-quanto quase 600 mil pessoas nãose podiam permitir ter carro pró-

prio. Segundo a definição euro-peia, uma pessoa está ameaçadade viver na pobreza se as suas re-ceitas - incluindo ajudas sociais -forem menores do que 60% dorendimento médio do conjunto dapopulação. Em 2013, este limitesituava-se nos 979 euros líquidosao mês para uma pessoa só.

Alemanha || 3,1 milhões de pessoas com trabalho vivem à beira da pobreza

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PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015

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Opinião

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sempre assim. Os acon-tecimentos magníficos,extraordinários e im-portantes implicamsempre consequênciasmais ou menos equiva-

lentes a essa dimensão, só perce-tíveis à medida que o tempo vaipassando. Foi o que aconteceucom a grande marcha Republi-cana de Paris, de dia 11 de Ja-neiro, e com as manifestaçõescom muitos milhares de pessoasem diversas cidades francesas, eu-ropeias e mundiais.

Em sentido oposto, devemossublinhar as manifestações e rea-ções em diversos países muçul-manos suscitadas pela publicaçãoda última edição do CharlieHebdo com o título “Tout est par-donné”. E isto é parte da questãoe do grande problema que agoraas diplomacias ocidentais terão deresolver. E esperemos que seja

mesmo a diplomacia a fazer o tra-balho de acalmar os ânimos e aencontrar os caminhos da coope-ração, mas também de fazer com-preender que não temos medo,que não nos deixamos intimidar eque não estamos dispostos a cedernos nossos valores.

Como seria de esperar, os bár-baros e insanos atentados de Paris,tiveram repercussões um poucopor todo o lado. Desde logo, ati-çaram os ânimos do anti-isla-mismo em várias partes daEuropa, de que os exemplos maisevidentes são os ataques a mes-quitas e as manifestações que têmocorrido na Alemanha pela mãodo movimento Pegida, e que jáoriginaram a anulação do últimoencontro devido a ameaças. A si-tuação encaminha-se para sercada vez mais delicada e precisade todos os cuidados na formacomo se aborda.

O problema é muito complexoe já se percebeu que a nível popu-lar a tendência será para confundirtudo. As suscetibilidades estão emcarne viva. E é por isso que,agora, mais que nunca, é precisoevitar claramente as amálgamas,metendo tudo no mesmo saco.

Os terroristas e o combate aoterrorismo são bem distintos doislamismo, dos muçulmanos e dosárabes. Aquilo que é necessáriofazer é definir uma estratégia co-letiva clara e determinada para

combater o terrorismo em todas assuas variantes, mas sem pôr emcausa o devido respeito relativa-mente ao islamismo e a todas aspessoas e povos que o professam.

Como se viu pela grande mar-cha de 11 de Janeiro, este é umproblema de todos. E também dosPortugueses, que estiveram bemvisíveis com a nossa bandeira nacaminhada ao longo do BoulevardVoltaire até Nation.

E também em Lisboa e nou-tras cidades de Portugal e em ou-tras partes do mundo. Ainda bemque os Portugueses disseram pre-sente, porque equivale a uma to-mada da posição relativamente aum problema global, que a todosdiz respeito e afeta: o terrorismo.

Mas a procissão ainda vai noadro e a poeira ainda não assen-tou. Já se percebe que há uma vi-gilância muito maior e novas leise orientações para combater o ter-

Charlie e o que está para vir

Paulo Pisco

Érorismo com mais firmeza emtodos os países. A União Europeiatambém se está a mobilizar paratornar mais seguro o quotidianodos europeus. Mas é tambémmuito importante que os Estados-membros saibam encontrar oequilíbrio entre segurança e de-fesa das liberdades, sem caírem natentação securitária que desconfiade tudo e de todos e condiciona ospassos de cada um.

O pior mesmo será cristaliza-rem-se posições do género “oOcidente contra o Islão”, a partirde argumentos de natureza cultu-ral e religiosa. Se isso vier a acon-tecer, talvez tenhamos perdido abatalha e deixado as coisas desli-zar para onde os fanáticos e obs-curantistas queriam. Isso seria, defacto, o pior que nos poderiaacontecer e com consequênciasmuito imprevisíveis.Deputado do PS

“Pegida” representa a mani-festação da pequena burguesia –reacionária e cheia de ressenti-mentos mesquinhos. No passadoanti-semítica, atualmente inimigado islamismo e contra “os queestão lá em cima”. “Pegida” é umfenómeno existente sobretudo nosestados federais de leste, cujospartidários - na sua maioria ho-mens - foram socializados aindadurante o socialismo, sentem-semal representados pelos políticose pelos media e gostam de se de-

finir como vencidos pelos com-plexos processos de moderniza-ção iniciados durante areunificação da Alemanha.

Estudos que pretendem situara origem do movimento na classemédia relativamente culta esque-cem que apenas 35% dos entrevis-tados se deixaram entrevistar. Osoutros apenas sabem gritar “Lü-genpresse, halt die Fresse” ou“Wir sind das Volk” e recusar odireito de expressão aos odiadosmedia.

Radicais de extrema direita or-ganizam e participam nos protes-tos na esperança de consolidar asua posição política.

A reação contra muçulmanos,que se estende até às classes so-ciais média e alta, não começouapenas após os últimos atentados.Mas somente cerca de 20% da po-pulação aceita incondicional-mente a ideologia agressiva da“Pegida” contra o islamismo e osrefugiados. As demonstrações daoposição a este movimento têm

tido bastante mais sucesso.Movimentos de extrema di-

reita existem também noutros paí-ses europeus. A tensão entre ospobres e a justiça social continuaa aumentar. A falta de perspecti-vas de futuro e o medo de declíniosocial são também cada vez maio-res. A atividade da “Pegida” naAlemanha encontra resistênciaconsiderável por parte de estratossociais bem informados. Mas oseu perigoso potencial poderá au-mentar subitamente se surgir um

“tribuno do povo” no géneroduma Marine Le Pen ou dum JörgHaider. Para já não falar em pos-síveis repercussões no caso deatentados islâmicos contra os seusinimigos.

Neste momento a “Pegida” é oprotesto de um grupo subjetiva-mente desfavorecido e que se con-sidera representante do povoalemão. Resta saber se os seuspartidários ainda poderão ser so-cialmente integráveis ou se serãoabsorvidos pela extrema direita.

Patriotas contra o islamismo no ocidente – a “Stammtisch” alemã pôs-se em marcha„Pegida“ é tema que deve interessar todos. Pedimos a opinião da puracomm, agência de comunicação sediada em Munique e cuja proprietária, Lina Leite,é uma portuguesa radicada há muitos anos na Alemanha.

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 7Comunidade

ortugal recebeuem 2014 mais demil milhões deeuros em investi-mento alemão, re-velou à Lusa oembaixador portu-guês em Berlim,

Luís de Almeida Sampaio, que foidistinguido com o prémio de di-plomata económico do ano.

O prémio, atribuído pela Câ-mara de Comércio e IndústriaPortuguesa e pela ConfederaçãoInternacional dos EmpresáriosPortugueses, foi entregue no se-minário diplomático, que decor-reu em Lisboa.

Em declarações à Lusa, o em-baixador afirmou que as relaçõeseconómicas entre Portugal e Ale-manha se baseiam na “confiança,um capital muito importante”.

“Os investimentos alemães emPortugal são sempre investimen-tos estruturantes, ou seja, não sãoinvestimentos especulativos nemde curto prazo, mas inserem-sesempre no longo prazo”, subli-nhou Luís de Almeida Sampaio.

O exemplo mais destacado é oinvestimento na fábrica da Au-toeuropa, no valor de cerca de 700milhões de euros, disse o embai-xador, que sublinhou que os téc-nicos portugueses que alitrabalham “têm um grande prestí-gio” na Volkswagen e que nãoestá relacionado com “ideias quepertencem ao passado da mão-de-obra barata e da capacidade deimprovisação”, mas sim com “averdadeira qualidade, dedicação eprofissionalismo”.

Por outro lado, “há permanen-temente investimentos que são

feitos pelas empresas alemãs queestão em Portugal”, como aVolkswagen, a Siemens, a Bosch,a Bayer ou a Leica, cuja única fá-brica fora da Alemanha fica emFamalicão.

Por outro lado, o embaixadordestacou a promoção da interna-cionalização das empresas portu-guesas.

“Estamos a penetrar em mer-cados exigentíssimos, como o ale-mão, em sectores tão diferentescomo os moldes, a nanotecnolo-gia, as energias renováveis ou dascomponentes da indústria auto-móvel e aeronáutica”, referiu,acrescentando que as empresasportuguesas também estão a afir-mar-se em sectores tradicionaiscomo o calçado, os vinhos e frutase legumes.

Um setor que tem um “poten-

cial de crescimento enorme” é odo turismo: no ano passado, osalemães passaram a ser o segundomaior grupo de turistas em Portu-gal, mas “apenas um por cento dealemães que viajam para o estran-geiro vêm para Portugal”, en-quanto Espanha, por exemplo,recebe 14 vezes mais alemães e aGrécia 13 vezes mais, descreveuAlmeida Sampaio.

Sobre a comunidade portu-guesa na Alemanha, o embaixadorreferiu que em 2014 houve umcrescimento ligeiro, na ordem dosoito a nove mil pessoas, num totalde 140 mil emigrantes naquelepaís.

“Têm uma reputação exem-plar, não criam problemas, sãouma mais-valia permanente e sãotodos eles embaixadores de Portu-gal”, afirmou.

Embaixador dePortugal na Alemanha distinguido comimportante prémio

Com o valor de 25 mil euros,o prémio é atribuído ao chefe demissão diplomática que se tenhadestacado no apoio à internacio-nalização de empresas portugue-sas e na captação do investimentoestrangeiro, contribuindo para ocrescimento da economia portu-guesa.

O diplomata afirmou que averba será aplicada, como defi-nem as regras, num “projecto es-pecífico com efeitomultiplicador”, que será reveladoem breve.

O “Prémio Francisco de Melloe Torres” (destacado diplomata doséculo XVII) foi este ano atri-buído pela segunda vez, depoisde, em 2014, ter sido entregue aoembaixador de Portugal em Bra-sília, Francisco Ribeiro Telles.PP com Lusa

PApós ter recebido o prémio, o Embaixador de Portugal foi recebido pelos funcionários da embaixada que felicitaram o diplomata pela distinção. Foto: Embaixada de Portugal

A Alemanha é o segundo paísmais procurado por imigrantes.Uma Exposição no Museu deHistória em Bona mostra umresumo dos últimos 60 anos daimigração na Alemanha.

No ano 2013, aproximada-mente 1,2 milhão de pessoas imi-graram para Alemanha. ARepública Federal e a AlemanhaOriental (RDA) contrataram apartir dos anos 50 trabalhadoresestrangeiros. Hoje são principal-mente imigrantes dos novos paí-ses da UE que procuram estepaís.

Nos anos 50, a República Fe-deral vivia o milagre económico.Para colmatar a falta de trabalha-dores, a Alemanha fez acordos derecrutamento de mão- de-obra empaíses pobres.

Entre 1955 e 1968, a Repú-blica Federal assinou acordos decontratação com nove países: Itá-lia, Espanha, Grécia, Turquia,Marrocos, Coreia do Sul, Portu-gal, Tunísia e a ex-Jugoslávia. Emlugares específicos, chamados de“Verbindungsstellen” (postos deligação), as pessoas que procura-vam trabalho, podiam candidatar-se a um emprego na Alemanhanos seus países de origem.

Antes de poder viajar paraAlemanha para trabalhar, os tra-balhadores eram examinados. Asconsultas médicas aconteciamainda nos países de origem. Asaúde dos trabalhadores era umpré-requisito para se poder traba-lhar na Alemanha Ocidental.

O português Armando Rodri-gues de Sá foi o milionésimo imi-grante a ser recebido na Alemanha

nestas circunstâncias, tendo sido“premiado” com uma moto quelhe foi entregue na estação ondetinha chegado, a Köln Deutz.

Em meados dos anos 70, tam-bém a RDA precisava de trabalha-dores para trabalhar na área daindústria têxtil.

A maioria veio do Vietname,Cuba ou Argélia. Mas a RDAtinha muito menos trabalhadoresimigrantes do que o ocidente: em1989, eram apenas 190.000. NaRepública Federal eram, nomesmo ano, cerca cinco milhões.

Muitos trabalhadores ficaramna Alemanha e trouxeram as suasfamílias, e com elas, as suas tradi-ções e costumes.

A variedade cultural percebe-se, por exemplo, na culinária: O“Döner” turco é o prato de fastfood mais popular dos alemães.

Exposição em Bona: Alemanha - país da imigração

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 20158 Comunidade

urante sete anos(1976 – 1983), o Dr.Peter Koj lecionouna Escola Alemã deLisboa, tempo sufi-

ciente para entrar numa relaçãoprofundamente amorosa com alíngua portuguesa. Já estava “ca-sado” com duas outras línguas,nomeadamente o Inglês e o Fran-cês, que tinha estudado na Univer-sidade de Hamburgo e que, então,devia ensinar aos seus alunos ale-mães e portugueses. A sua paixão pelas suas duas “es-posas” legítimas, não impediuque, na tenra idade de 38 anos, seapaixonasse pela língua portu-guesa. Qual “noiva serôdia”…qual “nem miolo nem côdea”? Asdificuldades desta “língua trai-çoeira” constituíam um desafio,que o Dr. Peter Koj assumiu comentusiasmo e … with a little helpfrom his friends. Aprendeu muitocom as explicações de peritos deenvergadura, como Dr. ManuelLuís Mendes Silva, o então res-ponsável pelo ensino do Portu-guês na Escola Alemã de Lisboa eautor de vários manuais de Portu-guês e, sobretudo com as explica-ções do Prof. José d’Encarnação,arqueólogo, escritor e jornalistacascalense, professor catedráticoda Universidade de Coimbra.Estes professores despertaramnele não só o interesse pelas “ma-nhas e artimanhas da língua por-tuguesa”, mas, ao mesmo tempo,pela cultura portuguesa, querdizer a história, a literatura, a arteetc.

Mas o mestre-mor do profes-sor alemão foi o próprio povo por-tuguês. Foram os anos gloriososlogo após a Revolução dos Cra-vos, quando, num ambiente degrandes emoções e de grande oti-mismo, o povo se abriu ao Sr.Peter e conviveu com ele. Assistiua comícios comoventes no Coli-seu, à Festa do Avante, a en-cenações de teatro de grandevalor artístico no TeatroAberto, na Barraca, a concer-tos inesquecíveis do ZecaAfonso, do José MárioBranco, do cavaquista JúlioPereira. Mas o que mais oapaixonou pelo idioma foi ocontato direto com o povo,seja nas tascas de Campo deOurique (as chamadas “cape-las”), nas suas travessias pe-destres do Gerês, na matançado porco no Alentejo. Com odomínio da língua a progre-dir cada vez mais, aumentavaa admiração pela língua por-tuguesa com a sua riquezaem sinónimos, expressõesidiomáticas e provérbios, es-pelho da alma de um povocom uma longa história e tra-dição.

Assim, munido de umacostela portuguesa, Peter Koj, aoregressar para Hamburgo, fez adescoberta espantosa de uma fortepresença lusa à beira-Elba, desdea maior comunidade portuguesana Alemanha, passando pela gas-tronomia (neste momento há maisde 40 restaurantes e 70 cafés por-tugueses), até aos laços históricos

que unem a cidade hanseática ePortugal e cujos emblemas são aestátua de Vasco da Gama, o ve-leiro “Rickmer Rickmers” (ex-“Sagres”), o cemitério luso-judaico, o “Portugaleser” e umavasta toponímia lusa (Vasco daGama Platz, Magellanterrassen,A m á l i a - R o d r i g u e s - We g ) .

Quando, em meados dos anos 80,o Ministério da Educação ofere-ceu aos professores hamburguesesa opção de ensinarem também oPortuguês, Peter Koj não se fezrogado. Os seus cursos de Portu-guês bem frequentados no liceuHochrad deram-lhe a oportuni-dade de ver a língua portuguesa

simultaneamente dos dois lados,do lado do professor e do lado dosestudantes. Além disso, tornou-senovamente aluno, participandonos cursos do Instituto Camões daUniversidade de Hamburgo.Aproveitou sobretudo dos cursosde “Expressão Escrita” da Dra.Madalena Simões. Todas essas

experiências que fez comoaluno e como professor eque, às vezes, não se coadu-navam com as explicaçõesdadas nos manuais tradicio-nais, entraram em pequenosartigos que, desde 1998, pu-blicou, sob o lema “Essanossa ditosa língua” na “Por-tugal-Post”, órgão oficial daAssociação Luso-Hanseáticae, desde 2004, na revistaESA (Entdecken Sie Al-garve) publicada mensal-mente em Lagoa.

Estes artigos tratam deum vasto leque de temas quecompletam, de uma maneiraoriginal, as informações jáobtidas. Eles acarretam,assim, informações úteis aosque já estão na aprendizageme abrem o apetite aos nova-tos. A todos os que já tinhamexpressado o desejo de ver

estes artigos reunidos em livro,acedeu agora a editora Schmetter-ling de Estugarda. A 1 de abril(não é mentira!), vai ser apresen-tado, num restaurante no chamadobairro português, o volume intitu-lado “Português, meu amor”,tendo por subtítulo “Annähe-rungsversuche an eine spröde

Namoro de umhamburguêscom a línguaportuguesa

Schöne”, o que significa, mais oumenos, “tentativas de aproxima-ção, ou seja, de engate, a uma bel-dade recalcitrante”. Diz respeitonão só à beleza incontestada doPortuguês, mas também às difi-culdades com os quais se veemconfrontados os seus aprendizesalemães. São as famosas “manhase artimanhas da língua portu-guesa”, sobre as quais já se tinhadebruçado o Dr. Peter Koj,quando foi galardoado com o Pré-mio Fundação Casa de Cultura deLíngua Portuguesa, em 1996.

Foi na Aula Magna da Facul-dade do Porto, perante um grandeauditório português, inclusive oentão Presidente da RepúblicaJorge Sampaio. Esta sua palestraé a 49ª e última entrada do livro ea única em versão bilingue. Todosos outros são passados em ale-mão, mas alguns se encontram emversão bilingue no arquivo daAssociação Luso-Hanseática(www.phg-hh.de). A capa suges-tiva é da autoria da conhecida de-senhadora hamburguesa MarliesSchaper, cujas ilustrações ilumi-nam a maior parte dos artigos.

Estão já previstas apresenta-ções do livro, não só em Ham-burgo, mas também na terra doautor, Cuxhaven, e até em Portu-gal (a 9 de junho na Sala ManuelGamboa do mosteiro S. José emLagoa). É que, na verdade, o Dr.Peter Koj não é ciumento e não seimporta, por isso, de partilhar comoutros o seu namoro pela línguaportuguesa. E até faz votos paraque a sua paixão seja contagiosa!

DPeter Koj

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PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 9Comunidade

GENTEEsta edição de FotoGente destaca oEmbaixador de Portugal Luís de Al-meida Sampaio pela distinção com oPrémio Francisco de Melo e Torres,atribuído pela Câmara de Comércioe Indústria Portuguesa como o me-lhor diplomata a promover a econo-mia em 2014, incentivando eventosque reuniram mais de 155 mil parti-cipantes em diversas áreas da econo-mia portuguesa. O prémio no valorde 25 mil euros destina-se a acçõesde internacionalização das empresasportuguesas na Alemanha.

Com a crise em Portugal, e oconvite feito pelo governo portu-guês para que as pessoas desem-pregadas vão trabalhar para oestrangeiro, se tornem emigrantes,o número de imigrantes portugue-ses na Mittelfranken (FrancóniaCentral), tal como em toda a Ale-manha, também tem vindo a au-mentar.

Antigamente chegavam traba-lhadores, muitos dos quais mal sa-biam ler e escrever, mas hojequase todos trazem um diplomade uma escola profissional, umalicenciatura ou um doutoramentona carteira. A maioria deles temconhecimentos da língua inglesa,mas para além de um “Danke”

e de um “Guten Tag” não falamalemão, o que leva uma grandeparte deles, os que vieram semcontratos, a ter de se limitar a tra-balhar nas limpezas, ou na cons-trução civil como simplesajudantes de pedreiro, sem a pos-sibilidade de subir numa carreira.

Perante esta realidade, Mariado Rosário Loures, sócia de Asso-ciação Portuguesa de Nürnberge.V., que no início dos anos no-venta, enquanto foi presidentedesta casa, já tinha lecionado ale-mão aos sócios, a nível de volun-tariado, decidiu oferecer-se denovo como voluntária para voltara ensinar na colectividade.

Assim, a Associação Portu-

guesa de Nürnberg e.V. tem desdeo mês de Setembro, um curso dealemão para iniciados, focado naterminologia da profissão de cadaaluno, a fim de que os mesmospossam seguir a profissão em quese especializaram.

O curso, aberto a todos, temlugar às sextas-feiras das 18:00 às20:00 horas.

O número de alunos varia se-manalmente, de acordo com oturno de trabalho de cada um.

Os alunos que mais tarde ne-cessitem de apresentar um di-ploma da língua alemã podemmatricular-se no Instituto Alemão,isto é no Goethe Institut, parafazer o exame.

Associação Portuguesa de Nürnbergpromove cursos de alemão

Pegida surge numa épocapolítica em que a Democracia jánão age em relação às investi-das do neo-capitalismo e aosproblemas sociais, apenas reageservindo-se dum discurso pú-blico onde sobressai a hipocri-sia. O povo medroso edesorientado reage, confron-tando-se com discursos carentesduma cultura de debate à luz dadignidade humana que deveriaser a matriz da religião, da de-mocracia e da discussão.

As teses escritas de Pegidasoam bem mas os cartazes dasdemonstrações permitem sus-peita de infiltração de forçasfundamentalistas interessadasem fender a sociedade. As tesessão aceitáveis mas “sob uma fa-chada pode mover-se algo dife-rente”. Medos reais ou difusosde manifestantes e contra-mani-festantes procuram encontrarqualquer pretexto para drenar oseu vapor. Os muçulmanos têmde esclarecer que os extremis-mos do Estado Islâmico não sãoconsequência do Corão e dasHadith; Pegida tem de se distan-ciar de extremismos.

O fenómeno Pegida e asreacções em torno dela são típi-cos da sociedade alemã; atravésdas intervenções dos políticosnos Media, das manifestações econtra-manifestações, formam-se consensos que estabilizam osistema.

Com Pegida a classe políticasente-se especialmente incomo-dada porque o movimento pa-rece conseguir expressar não sóos rumores do ventre popular

mas também os receios daclasse média. O novo partidoAfD já metia medo à actualconstelação parlamentar e agorajunta-se Pegida, associação deutilidade pública, com temasproblemáticos quentes que po-derão desestabilizar, nas próxi-mas eleições, o partido CDU. Operigo é real, Merkel (CDU)nunca se expressou tão clara-mente como fez agora em rela-ção à Pegida!

Tudo só reage sem pensar ascoisas até ao fim. Os fundamen-talistas servem-se da generali-zação, dum modelo de pensar abranco e preto não poupandoatributos como “islão terrorista”e “pegida nazi”. Outrora argu-mentava-se com o comunismopara dividir e ordenar a popula-ção, hoje faz-se o mesmo com areligião. A liberdade de opiniãoe manifestação deve valer paratodos.

Toda a posição considerada“certa” ou dogmática radica nosmesmos fundamentos que ali-mentaram o acto bárbaro deParis. Seria fundamentalista ummovimento, um partido, umaciência, uma ideologia ou umareligião que se considerassepossuidor da razão e da ver-dade. Exclusão, redução e gene-ralização alimentam ofanatismo. Todos somos maus,quer sejamos estrangeiros oualemães, ateus, cientistas ou re-ligiosos, quando se trata de ata-car e julgar o outro! Por issotoda a afirmação tem apenas umaspecto de luz com muita som-bra a acompanhá-la.

PEGIDA: O BARÓMETRO DO ESTADO DE ESPÍRITO DA NAÇÃO

Opinião || António Justo

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PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015Entrevista10

PORTUGAL POST: Enquantomembro do Conselho da Comu-nidade Portuguesas (CCP)eleito pela Alemanha pode-nosdizer se tem debatido com osresponsáveis oficiais a actualsituação que se vive nos consu-lados, com os utentes descon-tentes com o atendimento, porum lado, e a falta de pessoalconsular para dar resposta àsnecessidades da Comunidade,por outro?Alfredo Stoffel: Esses problemastêm sido discutidos com os Côn‐sules‐Gerais das respectivas áreasconsulares, com a Embaixada ecom o Secretário de Estado dasComunidades.As situações de ruptura no aten‐dimento que se vive em algunsconsulados são do conhecimentodas autoridades competentes. OMinistério dos Negócios Estran‐geiros (MNE) e alguns responsá‐veis apostam nos serviços de“call‐center” para fazer frente àfalta de pessoal. Partindo do pres‐suposto de que os funcionários do“call‐center” não podem teracesso (por via legal) a progra‐mas, nem praticar actos consula‐res que estejam protegidos pelosigilo e protecção de dados, du‐vido muito que esta seja uma so‐lução sustentável. A situação que se vive por exem‐plo em Hamburgo e Estugardatem de ser vista individualmentee a procura de soluções tem tam‐bém que ser vista individual‐mente. Os conselheiros têm estado muitoatentos ao que se vai passandonos consulados, ao descontenta‐mento generalizado dos utentes eà falta de pessoal qualificado. Na área consular de Hamburgoestá a circular uma lista para re‐colha de assinaturas exigindo amelhoria no atendimento e nofuncionamento do Consulado‐Geral. É evidente que este tipo deacções não agrada a muita gente

e pode ser discutível, mas pre‐sumo que seja uma forma legí‐tima de fazer chegar ao SECP odescontentamento das pessoas.

PP: Que soluções sugerem paraalterar este estado de coisasnos consulados?A.S.: Qualquer solução viável teráque passar, no mínimo, por doispressupostos: a contratação depessoal com uma sólida formaçãoprofissional e a formação contí‐nua dos actuais funcionários. Vol‐tar a apostar nas permanênciasconsulares como um pilar da des‐centralização dos serviços consu‐lares (o propagado “ir aoencontro da comunidade”) e levareste programa até ao fim. A intro‐dução de novos modelos que jus‐tifiquem uma maior proximidadecom a comunidade deve ser ana‐lisada de modo a evitar gastosdesnecessários.

PP: Sabemos que mantém con-tactos regulares com a Embai-xada de Portugal para falar edebater sobre questões quedizem respeito à comunidade.A nossa pergunta é esta: quequestões abordam e quais osresultados ou as soluções re-sultantes desse trabalho?A.S.: Há quatro temas que podemser considerados prioritários: oEnsino de Português na sua ver‐tente como língua materna iden‐titária, as insuficiências da redeconsular na Alemanha, o pro‐blema do Associativismo, a Segu‐rança Social, Reforma e duplatributação.Estes temas são debatidos e faze‐mos ver as insuficiências queexistem, mas o governo tem umalinha estratégica para com as co‐munidades que é, na minha mo‐desta opinião, discutível. Nósdamos as informações que consi‐deramos necessárias, abordamostemas sensíveis como o Ensino doPortuguês ou as insuficiências

consulares e vamos sendo confor‐tados com alguns discursos deocasião. A verdade é uma: há coi‐sas que não funcionam e quempode alterar a situação arranjasempre uma desculpa para não ofazer.

PP: Para além dos contactoscom as entidades oficiais – em-baixada, consulados, etc. -, quereuniões promovem os conse-lheiros com, por exemplo, sin-dicatos de professores,movimento associativo, comis-sões de pais e organizações em-

presariais?A.S.: Organizar estes encontros émuito difícil porque não há quemfinancie as deslocações ou esta‐dias. No entanto, usamos as nos‐sas redes informais paradiscutirmos ideias, sobretudocom o sindicato dos professores(SPCL), com alguns dirigentes as‐sociativos, na altura com a Fede‐ração de Associações Portuguesesna Alemanha, ou com comissõesde pais. Estes encontros são feitos sempreà margem de um ou outro evento,mas nunca programados commuita antecedência.

PP. Como sabe, uma das ques-tões que mais preocupa a co-munidade tem a ver com oensino, nomeadamente com opagamento da propina, quemereceu, de resto, uma petiçãona Assembleia da República.De que forma é que os conse-lheiros se têm debruçado sobreesta questão?A.S.: Os conselheiros estiveramdesde o princípio contra a pro‐pina e apoiaram a petição. Estiveno grupo que foi a Portugal entre‐gar as assinaturas à Presidente daAssembleia da República. Nessedia, desenvolvemos alguns encon‐tros com representantes dos par‐tidos políticos e com osdeputados eleitos pela emigração.Mais tarde, tive um encontro in‐formal com o Secretário de Es‐tado das Comunidades.Na Comissão dos Negócios Es‐trangeiros a Petição foi aprovadapara vir mais tarde a ser chum‐bada na Assembleia da Repúblicapela maioria PSD – CDS/PP.Continuo, no entanto, a defenderque a cobrança da propina é umamedida injusta. Quem defende a“propina” justifica‐a como sendoa solução dos problemas, nomea‐damente a melhoria do Ensino dePortuguês no Estrangeiro. Justifi‐cam‐se com a certificação dos

cursos, com o Plano Nacional deLeitura, com a melhoria de condi‐ções no ensino, com os livros eprogramas. Na nossa óptica, estasjustificações podem ser conside‐radas secundárias. A qualidade doensino não melhorou, os alunosforam distribuídos por menosprofessores. Só em alguns paísesé que a propina pode ser cobradae também na Alemanha temosalunos que são discriminados. Oscursos da responsabilidade do go‐verno alemão não são pagos, mascobra‐se a propina aos alunos quesão da responsabilidade do go‐verno português. Como o Ministério dos NegóciosEstrageiros não abdica deste “im‐posto sobre o ensino da línguamaterna” a nossa petição foichumbada pela maioria PSD /CDS‐PP.

PP: Num comunicado enviado àredacção do nosso jornal, osconselheiros insurgiam-se con-tra a falta de verbas para asdeslocações e diziam que a suaausência na última reuniãocom o Embaixador de Portugalse devia ao facto da secretariade Estado das Comunidadesnão garantir o pagamento dasdeslocações. Afinal, como su-portam as despesas da vossaactividade?A.S.: A lei é ambígua no que se re‐fere ao financiamento das deslo‐cações. Por um lado, temos odever de ir às reuniões das Co‐missões Permanentes e ao Plená‐rio em Lisboa e, por outro, temoso direito de nos reunir com os re‐presentantes diplomáticos naAlemanha (Embaixador, Cônsu‐les‐Gerais, Quadros Técnicos doMNE, etc.).Segundo a Direcção‐Geral dos As‐suntos Consulares e Comunida‐des Portuguesas (DGACCP) só háa responsabilidade de reembolsaras viagens a Portugal. As despesas

Alfredo Stoffel é um dos conselheiros eleitos pela Alemanha para oConselho das Comunidades Portuguesas. A entrevista que lhe soli-citamos foi feita num momento em que é visível e preocupante doisproblemas com que a comunidade debate: os serviços consulares eo ensino do Português na Alemanha.

Conselheiro Alfredo Stoffel:

“As situações de ruptura no atendimento que se vive em algunsconsulados são do conhecimentodas autoridades”

“As situações de rupturano atendimento que sevive em alguns consula-dos são do conhecimentodas autoridades compe-tentes. O Ministério dosNegócios Estrangeiros(MNE) e alguns responsá-veis apostam nos serviçosde “call-center” parafazer frente à falta de pes-soal. Partindo do pressu-posto de que osfuncionários do “call-cen-ter” não podem ter acesso(por via legal) a progra-mas, nem praticar actosconsulares que estejamprotegidos pelo sigilo eprotecção de dados, du-vido muito que esta sejauma solução sustentável.”

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 11Comunidade

Reis Arsénio salientou ainda opapel do Portugal Post como“bom parceiro da embaixada edos consulados “, dada a cober-tura que faz dos eventos das váriasiniciativas da Comunidade.

O Cônsul-Geral especificoude seguida a constituição do co-mité organizador:“ Já fizemosbastante para o arranque e temosconstituído um comité organiza-dor com seis elementos “, apon-tou.

“Escolhemos o eng° AméricoMachado. Sabemos do período di-fícil por que está a passar. Mas eudesde o início tinha dito ao sr. A.Machado, independentemente doseu estado de saúde, e sobretudo

por consideração por tudo o quetem realizado pela nossa comuni-dade, que ele faria sempre parteda Comissão Organizadora” , des-tacou .

“Temos que procurar anga-riar novos elementos para afirma-rem o associativismo regionallusitano na Alemanha, acrescen-tou. Por isso, convidámos o Nel-son de Campos, de Sindelfingen,que é um português da segundageração e que se tem destacado noConselho de Pais de Sindelfingene Boblingen.

Revelou-se uma presençamuito dinâmica, tendo sido esco-lhido como elemento da Alema-nha para participar num Encontroem Lisboa sobre Jovens Líderesque reunia todos jovens de todo oMundo provenientes das Comu-nidades Portuguesas. Desde o iní-cio, expressou a suadisponibilidade para nos ajudar “,frisou.

“ Está também neste grupo, oprofessor João Mendes porque eleconhece toda a rede do consuladodo ensino português, ou seja,tem o contacto de todos os pro-fessores, e desde o início, concor-dámos que a cultura e a promoçãoda nossa Língua deveriam ser doselementos principais do programados festejos deste 10 de Junho”,acrescentou.

“Tenho aqui uma funcioná-ria dentro do Consulado muitoeficiente, como todos os restantesseus colegas - e é isto que mantémeste consulado em bom funciona-mento - que é a dra. Cátia Russo.

Ela expressou a sua vontade emparticipar nesta estrutura organi-zadora; já tem experiência da-quilo que foi realizado nos anosanteriores, a outra escala obvia-mente, portanto é um elementomuito válido, conhece muito bemas pessoas da comunidade. E ébom termos aqui no consuladouma pessoa com os seus conheci-mentos e experiência para esseefeito”., revelou.

“Temos ainda o sr. Miranda,que toda a gente conhece aqui nacomunidade. É um muito homemligado à Missão Católica, umhomem que conhece bem a Co-munidade, que tem ajudado oconsulado em muitas ocasiões, eque deita a mão a tudo o que pre-cisamos quando necessitamos dealguém para o realizar . Portanto,para tudo o que tiver a ver comquestões de logística, questões deintervenção no terreno precisamos

de um homem com esse espíritode iniciativa “, disse.

“ Além disso, temos o contri-buto do dr. Carlos Pereira, que éo representante da Caixa Geral deDepósitos. Tem através da CGDdado muitos apoios à comuni-dade. Ele conhece as exigências enecessidades da comunidade.“,sintetizou.

“Este é o grupo que temospara já, no entanto, estou aberto aadesão de mais elementos. Pes-soalmente, procurarei junto da co-munidade elementos dispostos aparticipar neste comité. Isto querdizer, que as portas estão abertas.Mesmo para aquelas pessoas quenão queiram integrar o comité,mas que desejem, de acordo comas suas capacidades, dar o seucontributo, são mais do que bem-vindas para nos ajudar”, acrescen-tou.

“ Isto é uma festa para a co-

Estugarda não quer ficar atrás de Hamburgoe prepara um grande 10 de Junho

O Cônsul-Geral de Portugalem Estugarda falou ao PP

sobre a preparação da festade 10 de Junho. “ Tudo vaiser articulado com as asso-ciações: a Embaixada, ob-

viamente, é o motor dosfestejos. Tudo será realizado

sob a sua coordenação . Nocomité organizador há a

presença de elementos danossa representação diplo-

mática em Berlim, tal comoaconteceu em relação às

duas anteriores edições“.Declarou o Cônsul-Geral deEstugarda, dr. Reis Arsénio,

ao PP.

FA. Ribeiro,em Estugarda

munidade, que deve ser feita àmedida da comunidade e deacordo com aquilo que ela en-tende querer. Por isso, todo o con-tributo, todas as sugestões que aspessoas nos queiram fazer chegarsobre a festa, que vamos fazeraqui no Markplatz defronte daRathaus, serão bem-vindas. Ob-viamente que nós já temos algu-mas ideias estruturadas. Isso nãoquer dizer que não haja espaçopara novas ideias “, reiterou ainda.

Como já tinha referido , estáprevisto a realização de umgrande festejo em Markplatz.Vamos ter vários stands de pro-moção: Turismo, Ensino, Culturae Gastronomia. As colectividadese privados podem estar represen-tados nesses stands “ acrescentou.

E, paralelamente, com todosesses stands, vamos ter uma tri-buna, onde haverá diversas pro-postas musicais.

Queremos trazer, obviamente,um artista de relevo. À margemdos espectáculos da Markplatz,talvez haja espaço para um ououtro evento: uma exposição, umconcerto ou um colóquio alusivoa Portugal nessa ocasião. Em re-lação ao Turismo, tudo indica queo Turismo mais uma vez, irá, talcomo o fez em Dusseldorf, e so-bretudo em Hamburgo, estar re-presentado nos festejos.

Porque a Alemanha só aindarepresenta 1% no fluxo de turistasque procuram o nosso país. Se opodermos duplicar, porque é umaclientela muito válida, isso seriaouro sobre azul “, concluiu.

de deslocação às últimas reuniõesem Berlim não foram reembolsa‐das e não há quem se sinta res‐ponsável por o fazer. Até agora os Conselheiros finan‐ciaram as suas deslocações. Osque foram reembolsados tiveramsorte. Os outros financiaram elespróprios as viagens e demais des‐pesas.

PP: De que forma é que é dão aconhecer as vossas activida-des?A.S.: Nos encontros informais quetemos, através das redes so‐ciais, mas sobretudo através dojornal Portugal Post

PP: Tanto quanto se sabe,foram eleitos nas últimas elei-

ções quatro conselheiros.Quantos são os que permane-cem em actividade e de quemodo se justifica a inactividadede alguns dos membros?A.S.: No princípio do mandatoaparecíamos mais em público,com o tempo tivemos de apren‐der que as actividades exigem nãosó disponibilidade, mas tambémmeios financeiros. As deslocaçõespara encontros que fizemos coma Comunidade foram financiadaspor nós, a SECP ou o MNE não sesentem responsáveis por qual‐quer reembolso visto os encon‐tros com a comunidade nãoestarem previstos na lei. Há conselheiros que residem pró‐ximo de grandes centros, onde acomunidade portuguesa está

mais presente. Aí é mais fácil, mashá outros que têm que fazer lar‐gas centenas de quilómetros… Em2014 estivemos ligados a eventoscomo o 10 de Junho e os 50 anosComunidade Portuguesa na Ale‐manha.

PP: Acha que com estas condi-ções vale a pena a existência deum Conselho das Comunida-des?A.S.: Os governos PS e PSD‐CDS/PP apostaram no CCP, masno mesmo momento apostaramtambém noutras formas de se“encontrarem” com a diáspora.Acho que há uma inflação de pro‐jectos, alguns deles com poucosefeitos práticos…O CCP tem, para além da sua fun‐

ção específica que é “aconselhar”,também o direito moral de defen‐der os interesses das comunida‐des. Nesta função acho que o CCPé de grande importância porque éo único e legítimo porta‐voz dascomunidades.Os nossos governantes têm sem‐pre um discurso de circunstânciapara as comunidades e estão so‐bretudo muito longe das bases. Mas voltando à sua pergunta: en‐quanto o CCP for um órgão reivin‐dicativo acho que vale a pena asua existência. Agora seria interessante a per‐gunta: será que os nossos gover‐nantes têm interesse num CCPreivindicativo?

PP: As últimas eleições para o

CCP realizaram-se em 2008. Es-tamos já em 2015. Acha que avossa legitimação ainda semantém quando deveria ter jáhavido eleições para o órgão?A.S.: Bom, o que é legal nem sem‐pre é correcto. Pela via legal, temos toda a legiti‐midade que nos é conferida pelalei; os conselheiros estão “no ac‐tivo” enquanto não for eleito umnovo conselho. Considerando que a nova pro‐posta de lei está a ser discutida naespecialidade, espero que esteano essa lei seja aprovada e que ogoverno marque eleições. Acho que chegou a altura de secriarem as condições para quehaja novas eleições.Mário dos Santos

Entrevista a Alfredo Stoffel

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 201512

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Um gafanhoto que tem medode meninos e uma menina quetem medo de gafanhotos: as cir-cunstâncias iniciais para umagrande amizade são pouco auspi-ciosas. Mas no livro “Valdemar”de Margarida Pogarell, as dificul-dades vão ser superadas rapida-mente, porque ambos estão nadisposição de fazer algo que setornou raro nos dias de hoje: escu-tar o outro. E a amizade que seconstrói a partir deste acto de co-ragem vai ter repercussões para atoda a vida do gafanhoto Valde-mar e da menina Ana Catarina.

A autora, Margarida Pogarell,revê-se nesta menina, e não ape-nas porque tem um pavor visceralde gafanhotos. Aliás, a ideia paraa história surgiu-lhe nas férias emPortugal, quando, a caminho dapraia, teve que reunir toda a suacoragem para passar por uma can-cela onde se tinha instalado umgafanhoto. Mas não é só por issoque dedica o livro a todos os me-ninos com coragem. É que a outrainspiração para o enredo foi adoença grave de uma menina filhade amigos. Por isso, uma parte dopreço do livro reverte a favor deuma instituição que apoia os paisde crianças com cancro: “Mas nãoprecisa de pôr isso no seu artigo”,apressa-se a assegurar a autora.

“Valdemar” tem a particulari-dade de ter sido editado quase emsimultâneo, em português e emalemão. Aliás, o livro é um verda-deiro um projecto familiar luso-

alemão: as ilustrações cheias deternura mas sem piroseira são daautoria de Robert Pogarell, um so-brinho alemão da escritora. Já atradução para alemão foi feita emestreita colaboração com o ma-rido.

Embora de conteúdo idêntico,os dois livros divergem bastanteno tom. Margarida Pogarell reco-nhece que a linguagem alemã é

mais sóbria. O efeito é pretendido:“Há muitas coisas que dizemosem português com alma e cora-ção, enquanto o alemão é muito

mais retraído, muito mais cuida-doso na linguagem. Eu não queriaque as coisas ficassem “kitschig”na tradução”.

A autora teve, entretanto, aoportunidade de apresentar o livroem algumas escolas portuguesas,e está satisfeita com a recepçãopor parte do seu público alvo,crianças entre os oito e os dozeanos. Enquanto os mais novos se

concentram na narração da ami-zade entre dois seres muito diver-sos, os mais velhos captamtambém o tratamento de temas di-

fíceis – mas tratados com grandesensibilidade – como a separaçãoe a morte. Porém, lembra a pro-fessora, a capacidade de interpre-tação depende muito da criançaindividual. Daí a importância deserem acompanhados na leiturapelos pais.

Embora recusando a generali-zação, Margarida Pogarell, há umquarto de século professora na

Alemanha, constata que na comu-nidade portuguesa há demasiadoscasos de pais que não lêem, nemencorajam os filhos a ler. O que é

particularmente grave quando setenta ensinar português a criançasnascidas na Alemanha, para asquais a leitura em português sótraz benefícios: “A leitura de umlivro é algo que não só nos põe emcontacto com palavras diferentes,mas também com mundos desonho, imaginação”, o que criauma “sensibilidade especial” paraa língua e para o mundo, concluiMargarida Pogarell. Daí a decisãoconsciente de não optar pelo “fa-cilitismo”, mas incluir na escritaum vocabulário por vezes exi-gente: “Uma das coisas que euadorava que o meu livro fizesse épôr as crianças a questionar ospais, que é algo que hoje em diararamente existe”. A professorasabe também da importância defomentar o diálogo entre pais e fi-lhos.

O prazer da leitura, a impor-tância que ler tem para adultos ecrianças e o diálogo entre ambos,e a contribuição para o ensino dalíngua às crianças na Alemanha,são razões mais do que suficientespara a comunidade portuguesaaguardar com expectativa novoslivros infantis e juvenis que Mar-garida Pogarell promete irão aprelo ainda este ano.

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Cultura

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 13Ensino

investigador criminalBarra da Costa, antigoinspetor chefe da polí-cia judiciária,no seu

livro recentemente publicado,“Nós, os psicopatas- fantasias,manias e anomalias”,chama aatenção para o facto de nem todosos psicopatas serem assassinos ecriminosos. Existem tambémaqueles, que podem ser denomi-nados como psicopatas “bem-su-cedidos”, que se encontramplenamente inseridos no seu con-texto sócioprofissional,ocupandomuitas vezes cargos de relevo napolítica e nos governos,em insti-tuições ou em empresas.

Ainda segundo Barra daCosta, o comportamento dos psi-copatas assenta numa forte pertur-bação da personalidade, sendoque as motivações dos mesmospassam por ideias de poder e “sta-

tus” social, em detrimento da em-patia e do afeto.

O psicopata não possui capa-cidade para sentir tristeza, deses-pero,dor ou desalento. É um serdesprovido de sentimentos verda-deiros e incapaz de se identificarou de sentir na própria pele ummínimo dos sofrimentos por elecausados àqueles que vitimiza.

Estas caraterísticas são facil-mente identificáveis em compor-tamentos exibidos em Portugalnos últimos anos por vários polí-ticos profissionais e seus acólitos,que, com a maior frieza, tomarammedidas com consequências gra-vosas para as camadas da popula-ção mais desfavorecidas eindefesas,como por exemplo en-cerramento de escolas, centros desaúde, tribunais, cortes sucessivosnas reformas, subsídios de fériase Natal, destruição acelerada depostos de trabalho,atrofia socialatravés de tributação excessiva,etc.

Um primeiro-ministro ou umministro das finanças que conde-nam boa parte da população àfome ,ou um ministro da educa-ção que não hesita em despedirmilhares de professores para pou-par uns cêntimos, são exemplosde crueldade premeditada, friezae falta de remorso por parte da-queles que mais têm para comaqueles que afinal produzem, masnão deixam por isso de ser osmais desfavorecidos.

Esta frieza e crueldade fazem-se também sentir no tratamentodado aos cidadadãos portuguesesno estrangeiro, em que o distan-ciamento geográfico é agravadopelo distanciamento afetivo, pelaignorância deliberada da realidadenos diferentes países e por umafortíssima e persistente indife-rença que só é quebrada duasvezes por ano, por altura do AnoNovo e no 10 de Junho, alturas emque os políticos responsáveis su-bitamente acordam e declamam

altos elogios e admiração pelos“emigrantes”, continuando porémem todo o tempo restante os cor-tes nos serviços consulares e noscursos de Língua e Cultura Portu-guesas, cortes sempre apresenta-dos como sendo de caráterinevitável e que estão a conduzir,cada vez mais claramente, ao co-lapso total do sistema.

O que se passa com o EnsinoPortuguês no Estrangeiro é umexemplo modelo de como destruiralegando estar a conseguir melho-rias, embora nenhumas se regis-tem. É realmente de um cinismoinultrapassável afirmar que o en-sino está “melhor” porque até hácertificação, justificando com aintrodução da mesma a imposiçãode uma propina injusta , o despe-dimento de quase duas centenasde professores e a perca de maisde 15 mil alunos.

Além do facto, inegável, desempre terem existido certificaçãoe programas, durante os 30 anos

com o Ministério da Educação, étambém inegável que além daspercas citadas acima, a qualidadede ensino se encontra em abertadegradação, pois, segundo os ale-gados especialistas do InstitutoCamões, é absolutamente corretoe pedagógico lecionar conjunta-mente alunos dos 6 aos 16 anos,assim como também é corretolevar apenas em conta os níveislinguísticos dos mesmos, igno-rando as capacidades de leitura,escrita, tempo de concentração,coordenação, compreensão, etc,que caraterizam as crianças e jo-vens nos diversos níveis etários ede escolaridade e que são a razão,afinal, da existência do sistemadividido em anos de escolaridadee que é seguido a nível mundial.

Qualquer professor, por maisinexperiente que seja, sabe que acada nível etário e a cada ano deescolaridade corresponde um con-junto de saberes e capacidadesque não pode de modo algum serignorado, pois isso faria perigar aqualidade do ensino.

Mas como infelizmente se temvindo a constatar, para o InstitutoCamões tais parâmetros são paraignorar, visto o objetivo ser que oscursos de Língua e Cultura Portu-guesas funcionem como mini-ins-titutos de línguas, com oPortuguês como língua estran-geira e os alunos lecionados comose fossem os jovens que frequen-tam os referidos institutos, semlevar em conta o forte contingentede crianças em fase de alfabetiza-ção e deixando de lado o número,também muito representativo, dosalunos que dominam a língua deorigem e que deveriam ser lecio-nados num contexto de língua ma-terna.

Aos alunos, professores epais,que ainda por cima pagam apropina, não é concedido o direitobásico de exprimirem as suas opi-niões, restando-lhes conforma-rem-se com os ditames de umaentidade que continua a demons-trar falta de vocação e interessepara tutelar um ensino cujo obje-tivo principal deveria ser servir asnecessidades e levar em conta arealidade dos alunos portuguesesno estrangeiro e não servir-se dosmesmos para um percurso elitistaque nada traz de positivo.

Teresa Duarte Soares

O

As celebrações dos 50 anos daComunidade Portuguesa na Ale-manha que se realizaram em Co-lónia no passado dia 13 deSetembro, organizadas pelo TeamComunidade Alemanha, são ob-jecto de uma publicação para do-cumentar os acontecimentos dessedia.Com textos da ministra federalpara a Integração, Aydan Özoguz,do Presidente da Câmara de Coló-nia, Jürgen Roters, do Secretáriode Estado do Trabalho, Integraçãoe Assuntos Sociais do governo re-gional da NRW, Thorsten Klute edo Secretario de Estado das Co-munidades Portuguesas, José Ce-sário, a revista pretende tambémser um testemunho das várias co-municações que os participantespartilharam na Conferência sobrea Comunidade Portuguesa reali-zada na tarde do dia 13 de Setem-

bro.Com esta publicação fica um do-cumento importante que assinalauma data a reter pelas gerações fu-turas da Comunidade Portuguesaneste país.A revista, que é publicada em ale-mão, pode ser obtida junto da edi-tora Portugal Post Verlag pelopreço de 2,00 €, valor que apenasserve para cobrir os custos deenvio dentro da Alemanha.Haverá também uma versão da re-vista em PDF que poderá ser con-sultada em www. portugalpost.de Revista 50 Anos ComunidadePortuguesa na AlemanhaEdição: Portugal Post e TeamComunidade Portuguesa na Ale-manha. Pedidos enviados poremail: [email protected] para a morada deste jornal.Preço: 2,00 €

Revista documental sobrecelebrações dos 50 anos da ComunidadePortuguesa na Alemanha organizadas emColónia a 13 de Setembro de 2014 já estádisponível

O que se passa com o Ensino Português no Estrangeiro?

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015Crónica14

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Joaquim Nunes, Offenbach

Não dispenso a leitura do jor-nal diário. Faz parte do meu ritualdiário tanto como a boa chávenade café ao começo do dia. É comoum abrir de janelas para o ar damanhã: para deixar entrar o arfresco, mas também para me asse-gurar que neste mundo onde tantacoisa acontece e tão velozmenteavança eu não vou “perder” nadado que há de novo. Depois de umaolhadela aos grandes títulos daprimeira página interessam-me oscomentários de fundo, muitasvezes arrumados na seccão “opi-nião”.

Neste mês de Janeiro a termi-nar, dois temas fizeram corrermuita tinta nos jornais de dia paradia e cativaram o meu interesse:em primeiro lugar, naturalmente!,toda a reflexão que se fez e conti-nua a fazer à volta dos atentadosterroristas em Paris e as altera-ções que eles irão provocar noprojecto e na construção de uma

Europa multicultural e pluri-reli-giosa. A seguir, um outro tema,pelas suas conotações não tão dis-tante do primeiro como à primeiravista possa parecer: o movimentoPEGIDA, que, iniciado em Dres-den, se vai espalhando um poucopor todas as grandes cidades ale-mães, e que parece contar já comimitadores no estrangeiro.

Em Dresden (uma cidade comuma percentagem de estrangeirosmuito reduzida!) “pegida” fazsair à rua milhares de pessoas, se-mana a semana, para aquilo queelas mesmo caracterizam comoum “passeio de fim da tarde”. Onome “pegida” vem das iniciaisde uma designação que já por sifaz espantar: “Patriotas Europeuscontra a Islamização do Oci-dente”. Os analistas e os observa-dores políticos confessam que nãoé fácil descrever com exactidão operfil destes manifestantes, tãoconfusos e diversos são os seustemas, tão pouco transparentessão as motivações dos que convo-cam e dos que alinham, tamanhaé a aversão que os seus organiza-dores têm aos meios de comuni-cação democráticos. E menos

fácil ainda é definir uma estratégiaadequada para lidar com estas“manifestações” de rua.

“Nós somos o Povo!” – gritamos manifestantes de “pegida”, ins-trumentalizando a famosa palavrade ordem que juntava o povo daantiga RDA numa revolução pací-fica que conduziria à reunificaçãoda Alemanha. Mas com “pegida”não é o Povo que sai à rua. É umamálgma, uma mistura confusa eperigosa de grupos e movimentosque em boa parte são conhecidos(alguns dos seus responsáveis têmmesmo “cadastro”!), mas cujaaliança espanta e assusta. Há comcerteza os cidadãos que apenassaem à rua para abrir uma válvulade escape à sua desilusão com ospartidos políticos estabelecidos.Há com certeza os que “apenas”querem “gritar” a sua própriafrustração pessoal e o seu medodo futuro. Há. Mas há sobretudouma aglomeração de grupos co-nhecidos pela sua ideologia epelas suas actividades racistas exenófobas, aliados naquilo que atodos é comum, e que é a aversãoao diferente e ao estrangeiro: osnacionalistas, os neo-nazis, os

hooligans, os anti-semitas de sem-pre agora em curiosa aliança comos anti-muçulmanos...

Das muitas reacções e toma-das de posição que se fizeramouvir, vindas de todos os sectores– da política, das Igrejas, da socie-dade civil – destaco duas. Umapor vir de onde vem e pela suaclareza: a mensagem de ano novode Angela Merkel: “Hoje há osque às segundas-feiras gritam:`nós somos o povo`. Mas real-mente, eles querem dizer: vocêsnão pertencem aqui - por causa davossa cor de pele ou da vossa re-ligião. Por isso eu digo a todos osque participam nessas manifesta-ções: não vão atrás desses quedelas tomam a iniciativa! Muitasvezes o que eles têm no coraçãosão preconceitos, frieza ou mesmoódio!”.

A outra tomada de posição quedestaco pelo seu carácter simbó-lico: o responsável pela Catedralde Colónia mandou desligar a ilu-minação e deixou “às escuras”(literal e simbolicamente) umamanifestação do movimento Pe-gida convocado para o adro da-quela Catedral, ex-libris de uma

cidade e testemunho de uma His-tória. Ao mandar desligar a ilumi-nação do largo da catedral fez umgesto de alto valor simbólico:quem mobiliza a xenofobia e oódio aos diferentes (nomeada-mente aos que são diferentes nasua religião, seja ela qual for), nãopoderão fazê-lo à sombra ou à luzde uma catedral cristã!

Manifestar-se na rua é um di-reito democrático, garantido pelaconstituição. Mas a democraciaexige o respeito pelo direito doOutro, o respeito pela diferença,e todos os que, usando os direitosdemocráticos, saem à rua paraexigir a exclusão dos diferentesrejeitam a democracia no que elatem de mais fundamental. Consti-tituem uma séria ameaça à demo-cracia e ao futuro de umasociedade democrática. Oxalá amobilização de todos os cidadãose cidadãs que apreciam e votampor uma sociedade aberta e pluraldê a todos estes movimentos na-cionalistas e racistas – os “pegida”da Alemanha e os semelhantes emvários países da Europa - umaresposta clara, em quantidade eem qualidade democrática.

#pegida, não!

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 15Língua

Os desafios que o idioma deGoethe impõe a quem se propõeestudá-lo são lendários. Confron-tado com vocábulos interminá-veis, o aprendiz de alemão deimediato tropeça em suas “barba-ridades” fonéticas. Mas vale apena insistir.

“O alemão não é uma língua:é uma doença da garganta.” Essaafirmação – que também abrangeoutras variantes idiomáticas, no-meadamente o holandês ou o dia-leto suíço schwyzerdütsch – é,sem dúvida, espirituoso. Mas seráverdadeiro?

Para quem já se dedicou seria-mente ao estudo do idioma deGoethe, já cantou um coral deBach, ou escutou, bem recitados,poemas de um Hölderlin, Celanou Rilke, a resposta é, definitiva-mente, “não”.

Ainda assim, não há comonegar que, para ouvidos e bocasacostumados aos sons mais redon-dos e claros das línguas latinas, asconsonantes guturais do alemão,os seus “ü” e “ö”, e outros sons“bárbaros”, são uma fonte de con-tínua estranheza. E de constantesarranhões na traqueia e nós na lín-gua.

Para testar a familiaridade doleitor com o idioma germânico,preparámos uma pequena coleçãode desafios fonológicos, acompa-nhados de breves explicações.Cuidado: alguns são bem maiscomplicados do que parecem.

StreichholzschächtelchenUma das peculiaridades deste

idioma é a possibilidade de for-mação de infinitos vocábuloscompostos – geralmente sem ohífen, o que ajudaria a identifica-ção dos componentes.

Embora a extensão de uma pa-lavra não seja necessariamenteproporcional à sua potencial difi-culdade de articulação, a quanti-dade de letras costuma sersuficiente para fazer capitular atéo mais corajoso aprendiz doidioma.

O exemplo é especialmentedifícil por repetir o grupo conso-nântico “ch”, que representa umfonema inexistente na língua por-tuguesa. Neste caso, trata-se doassim chamado Ich-Laut, que seexecuta tentando-se pronunciar

um “ch” com a língua encostadanos dentes incisivos inferiores. O“sch”, por sua vez, soa exata-mente como o “ch” português.

A boa notícia é que, apesar daaparência tão intimidadora,Streichholzschächtelchen nãosignifica nada de muito perigoso:Streich[en] = friccionar; Holz =madeira; Schachtel = caixa; en-

quanto “chen” é uma partícula di-minutiva. Portanto: “caixinha defósforos”, nada mais, nada menos.

BrötchenNão é só em extensão que se

levantam dificuldades: o tamanhopode cansar os olhos e afligir amente; mas muitas vezes é com osbreves e vulgares termos do dia adia que os estrangeiros mais so-frem.

Brötchen é “pãozinho”(Brot+ “chen”), no singular e noplural. Na Alemanha, os pãezi-nhos costumam ser consumidostodos os dias no café da manhã –seja com manteiga, queijo, carnesfrias ou geleia – e, de preferência,frescos. Assim, nesta palavra, orecém-chegado o país é confron-tado com os famigerados “r” gu-tural, “ö” e “ch” germânicos – emgrande proximidade e, inevitavel-mente, com frequência bem maiordo que ele gostaria.

Porém, se estas fossem todas

as dificuldades, a língua alemãnão seria o que é. A questão é quenão há limite para as combinaçõesdos pãezinhos alemães com ou-tros significados. Assim, temos oKäsebrötchen (com queijo), oRoggenbrötchen (de centeio), oLaugenbrötchen (pincelado comsoda cáustica [!], no estilo pret-zel), o Vollkornbrötchen (inte-

gral).Ou, que tal combinar abacate,

legumes e queijo num saudávelAvocado-Gemüse-Käse-Bröt-chen?

ZwanzigZwanzig significa “vinte” –

que é o número aproximado deobstáculos que essas sete letrasimpõem ao pobre aprendiz da lín-gua.

A começar com um “z” pro-nunciando-se “ts”; passando pelo“w” (“v”, em alemão); indo paraum “an” acentuado e não anasa-lado; voltando para o “ts”; avan-çando para um “i” mais curto doque o do português; e acabandocom um “g” – que no alto alemãoé pronunciado como o “ch” (veracima).

Na prática, por exemplo, nahora de pagar a conta da cerveja,arredonda-se para 20 euros? Paraquem não estiver disposto a en-frentar a maratona fonética do

zwanzig, só resta uma alternativa:arredondar logo a quantia para 30,que é mais caro, mas bem maisfácil de dizer “Dreissig!”

FruchtComo se não bastasse ser inu-

sitado para muitos estrangeiros, o“ch” do alemão vem em duas mo-dalidades. Um é Ich-Laut

(descrito em Streichholzschäch-telchen), quando sucede a “e”,“i”, “ö”, “äu”, “ur”, entre outrascombinações. O outro é o guturalAcht-Laut – semelhante ao “j” es-panhol (trabajo), o “h” inglês(hand) ou o relaxado “r” final ca-rioca (andar) –, que o “ch” assumedepois de “a”, “o”, “u” ou “au”.

Não parece muito difícil,mas é uma questão de contexto.Experimente Frucht (fruto) emque o “ch” aparece entre um “r”gutural e um “t” mudo. Tente denovo.

Uma dica: se depois da dé-cima tentativa não tiver conse-guido mesmo, diga Obst, fruta(s)– que em rigor não é a mesmacoisa, mas, face ao risco de sermal entendido, pode salvar a si-tuação.

RechtschreibungEntender Rechtschreibung

não é difícil: recht (certo) +schreiben (escrever) = ortografia.

E pronunciar a palavra não seránenhum obstáculo intransponível,depois das explicações anteriores.Difícil mesmo é a ortografiaalemã.

Não há dúvida: como a grafiado idioma é predominantementefonética, com raras exceções, oaprendiz da língua logo conseguededuzir como se escreve uma pa-lavra escutada – bem mais facil-mente do que no inglês ou nofrancês, que na sua ortografia car-regam várias camadas arqueológi-cas de etimologia. Bem, pior é agramática alemã, com seus dife-rentes casos gramaticais, como nolatim.

O diabo está no detalheEntretanto, como sempre, o

diabo está no detalhe. Pois “ö”(semelhante ao “oeu” francês),por exemplo, não é sempre iguala “ö”. Seguido por um “h”, eleserá longo (Höhle, caverna); masdepois de uma consoante dobrada,é breve (Hölle, inferno). E ouvi-dos e aparelhos fonadores portu-gueses nem sempre perceberão atempo a diferença entre Röschen(rosinha) e Höschen (cuecas).

Mas, admitamos, mesmo paraos nativos a questão não é tão li-near quanto parece. Nas últimasdécadas a ortografia alemã passoupor várias reformas e – para alémdos inevitáveis equívocos e va-riantes austríacas e suíças – algu-mas modificações simplesmentenão foram aceites entre a popula-ção.

Assim, para um alemãozinhoque esteja estudando para oexame de soletração, é melhor nãoir pedir ajuda à avó. É quase certoque as sugestões dela para expres-sões como Rad fahren (andar debicicleta) ou Schifffahrt (viagemde navio) serão completamenteobsoletas. Afinal, até a Rechts-chreibreform de 1996, o correctoera radfahren e Schiffahrt.

Esta foi apenas a ponta do ice-berg, claro: o idioma de Lutero eKarl Marx abriga muitas outrasarmadilhas, mistérios e quebra-línguas. Mas também inúmerasbelezas ocultas: é uma florestacomplexa e surpreendente, quevale a pena explorar.Augusto Valente e Kate MüserCortesia DW

“Streichholzschächtelchen”?Como é que se diz mesmo

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 201516

Pergunte Abílio Ferreira

Social

[email protected] que nós respondemos

ConsultaVivo numa pequena localidadenos arredores de Frankfurt/Maincom minha mulher e filho de 9anos. O meu rendimento de traba-lho provém de um minijob de400,00 € por mês. Nos primeirostempos estivemos a viver, por es-pecial favor, em casa de um fami-liar. Com esse pequenovencimento e com o abono de fa-mília recebido, conseguimos so-breviver sem pedir ajuda social.Porém, como não queremos estara sobrecarregar o nosso familiar,optamos por alugar um aparta-mento por 450 €, para ondevamos viver daqui a 2 meses. Nãoestá na nossa maneira de ser viverà custa de dinheiros públicos, mascomo está a ser muito difícil en-contrar um emprego a tempocompleto, provavelmente nãovemos alternativa a não ser recor-rer à ajuda social. Gostaríamos decontinuar a viver na Alemanhasem colocar em perigo os nossosdireitos de residência. Poderiamdar-me algumas indicações sobrea melhor forma de proceder nestasituação complicada?

Caro leitor, A ajuda social, no sentido maisrestrito do termo, só está previstapara pessoas que devido a proble-mas graves de saúde estão muitolimitadas ou totalmente incapazesde angariar o sustento no mercadode trabalho normal. No seu caso,estão previstos na legislaçãoalemã outros subsídios comple-

mentares, também conhecidos por“ergänzende Leistungen bei geri-gem Einkommen”, «aufstocken-des Hartz IV» ou apenas “HartzIV” ou mais corretamente “Ar-beitslosengeld II”. Aconselho que se dirija quantoantes ao „Jobcenter“ da sua zonade residência e requeira essas aju-das complementares, no âmbitoda legislação “Hartz IV”, nomepor que ficou conhecida a reformaem vigor na Alemanha desde2005 (na sequência das recomen-dações apresentadas por uma co-missão presidida por Peter Hartz),no âmbito da qual foram reunidosnum único sistema os subsídios dedesemprego e regimes de ajudasocial para as pessoas em idadeativa e com capacidade para tra-balhar.A circunstância de ter de recorrera estas ajudas não lhe traz qual-quer implicação negativa no seuestatuto de cidadão estrangeiro.Rendimento básico de subsistên-cia - “Arbeitslosengeld II”Embora o nome insinue que setrata de subsídio de desemprego“Arbeitslosengeld II”, não é ne-cessário estar-se desempregadopara requerer esta ajuda. A elapodem aceder também as pessoasque trabalham, mas não ganham osuficiente para garantir a sua sub-sistência de forma condigna, bemcomo os beneficiários do subsídiode desemprego propriamente dito,o chamado “Arbeitslosengeld I”. As normas legais relacionadascom o “Arbeitslosengeld II”en-

contram-se no SozialgesetzbuchII (Livro II da Legislação Social). Estimado leitor, na edição do PPde novembro de 2014 foi abor-dado este tema, mas em relaçãoaos reformados, ao abrigo do So-zialgesetzbuch XII (Livro XII deLegislação Social). O sistema decálculo das prestações funcionade forma idêntica para pessoasque se encontram na sua situação,devendo ter em consideração aatualização dos montantes emvigor a partir de 2015. Por outraspalavras, as prestações ao abrigodo sistema „Arbeitslosengeld II“,ou „Hartz IV“ constituem o re-curso básico para quem está capa-citado para o trabalho e à procurade emprego ou não consegue so-breviver com o rendimento prove-niente do seu trabalho.

Procedimentos a seguirDeve fazer o requerimento emnome do seu agregado familiar,preenchendo com o maior cui-dado e de forma fidedigna o for-mulário de solicitação destebenefício. Como irá verificar, temde indicar o seu salário atual, omontante de renda de casa apagar, informar se está a receberabono de família e responder auma série de perguntas relaciona-das com a vossa situação patrimo-nial. Como indica não ter outros rendi-mentos, o „Jobcenter“ irá calculara totalidade das necessidades doseu agregado familiar e enviar-lhes a correspondente notificação

da qual consta esse mesmo cál-culo e o montante complementara conceder-lhe tendo em conside-ração a comparticipação própriaproveniente dos seus rendimentos(salário e abono). Para ajudar a entender como fun-ciona o sistema, vou especificarde uma forma sucinta:A) Primeiramente o „Jobcenter“vai calcular o montante de subsis-tência para si, sua mulher e seufilho, composto por duas compo-nentes: a despesa total com arenda de casa mensal, incluindo oaquecimento, que segundo indicaé de 450 €, e de um valo fixo men-sal variável em função do escalãocorrespondente conforme se tratade uma pessoa adulta que vive so-zinha, de um casal ou de filhos deacordo com a idade.No seu caso, tratando-se de 2 pes-soas adultas, cada uma recebe 360€, estando previsto o montante de267 € para o filho de 9 anos, ouseja, no total 987 € (360 + 360 +267).A este montante acrescenta-se arenda de casa de 450 € (supondoque já estão incluídas as despesascom o aquecimento). As necessi-dades básicas ascendem assim a1437 € (450 + 987).B) Numa segunda fase, o „Job-center“ calcula qual a compartici-pação considerada adequada porparte dos membros do seu agre-gado familiar. O facto de ganhar 400 € não sig-nifica que o „Jobcenter“ vai tomarem consideração a totalidade

desse salário. Segundo o artigo11b do SGB II (Livro II da Legis-lação Social), tem direito a ficarcom uma parte do salário a títulode bonificação pelo facto de estara trabalhar. Através dessa legisla-ção, assegura-se que quem traba-lha, mesmo tratando-se apenas deum minijob, consegue ficar commais dinheiro disponível do queaquelas pessoas que não exercemqualquer atividade remunerada.Sendo assim, o „Jobcenter“ nãovai considerar no seu vencimento- os primeiros 100 € - assim como 20 % da parte doseu salário que ultrapassa 100 € eé inferior a 1000 €. No seu caso,não sendo considerados os pri-meiros 100 €, deduz-se 20 % daparte restante de 300 € (400 –100), ou seja 60 €. Portanto, é tra-tado para este efeito como se esti-vesse a ganhar apenas 240 €. Estando a receber abono de famí-lia, deve acrescentar aos 240 € omontante de abono de família de184 € previsto desde 2010 para oprimeiro filho. Concluindo, o totaldos seus rendimentos consideradopara cobrir as suas necessidades éde 424 € (240 + 184).C) Por fim, surge o cálculo finaldo valor a atribuir. Verificando-seque o montante de 1437 € refe-rente às necessidades do seu agre-gado familiar é superior ao valorde 424 € considerado adequadopara a sua comparticipação, ser-lhe-á atribuída a quantia de 1013€ (1437 – 424) de prestações de

Prestações complementares do salário

Arbeitslosengeld II • Hartz IV

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 17

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ConsultórioCuide do seu Coração

Pelo Professor Doutor Fernando PáduaCardiologista

Os nossos conselhos sobre hipertensão arterial4ª parte

complementares de subsistênciano âmbito do “ArbeitslosengeldII”.

Princípio de ajuda através deautoajudaPor conseguinte, não hesite em re-querer esse subsídio a que tem di-reito. Não pode fazê-lo em relaçãoa períodos já decorridos. Natural-mente tanto você como a sua es-posa vão ter de sujeitar-se àsregras inerentes a esta legislação.O objetivo desta medida de apoioé evitar que as pessoas à procurade emprego consigam ultrapassaras situações de vulnerabilidadeem que se encontram, com a ajudados instrumentos previstos na lei. Esta legislação foi introduzidapara apoiar quem necessita, masna perspetiva de que um dia essaspessoas estejam em condições depoder angariar total ou parcial-mente o próprio sustento, me-diante o recurso a medidas deinserção no mercado de trabalho,segundo o princípio de ajuda atra-vés de autoajuda. A legislaçãopressupõe o esforço pessoal e aparticipação ativa dos beneficiá-

rios para melhorarem ou saíremda dependência destas ajudas aencargo do estado.

Seguro de doençaNa sua consulta não refere nadaquanto ao seguro de doença. Emmuitos casos idênticos ao seu, éfrequente não existir qualquer ins-crição no seguro de doença ale-mão. Mais uma razão pararecorrer a este benefício. A legis-lação prevê que os beneficiáriosde “Arbeitslosengeld II” sejaminscritos numa caixa pública deseguro de doença, com as contri-buições assumidas pelo „Jobcen-ter“. Se o beneficiário já estiverprotegido através do sistema desaúde familiar, por exemplo, atra-vés do cônjuge, prevalece este se-guro familiar, pelo que não teráseguro próprio a encargo „Jobcen-ter“.Recorrer em caso de decisão er-radaSe receber uma notificação desfa-vorável ou com erros, tem a pos-sibilidade de apresentarcontestação dentro do prazo deum mês a partir da data da sua re-

ceção. Pode fazê-lo por escrito ouverbalmente perante a competenterepartição, a quem cabe a obriga-ção de protocolar a sua contesta-ção. No caso de recusa dacontestação, poderá apresentaruma ação no tribunal social, den-tro do prazo indicado. Para tal nãonecessita de recorrer a um advo-gado. Nesta primeira instâncianão é obrigatório apresentar advo-gado e não terá custas a pagar aotribunal.

Prestações complementares do salário

(Continuação)9. Se porventura, para melhor

controlo da sua tensão, tiver adqui-rido um aparelho próprio para amedir (esfigmomanómetro), dispo-nha-se a gastar algum do seu tempolivre a ajudar outros (familiares,amigos e colegas de trabalho, ou naIgreja, Clubes Recreativos, etc.),medindo-lhes a tensão arterial:pode ajudar a descobrir hipertensosdesconhecidos (lembre-se de que ahipertensão só por si não provocasintomas, e que, em Portugal, umapessoa em cada três tem tensãoalta, mas metade delas pode não osaber!). Aliás até poderá, com o seuaparelho, ajudar a controlar os va-lores da tensão em familiares eamigos hipertensos, que estejamem tratamento – é o que chamamosde Saúde Solidária.

A propósito e a despropósitoaproveite para explicar o que sabesobre hipertensão arterial, e in-forme-os sobre todos os conselhosque atrás referimos, recordando-lhes que, no Mês do Coração de

cada um deles (o mês do seu ani-versário), devem fazer também umcheck up ao coração.

10. Se tem capacidade decisó-ria, ou influência em meios de Co-municação Social (boletins,jornais, revistas, rádios, televisões,internet) ajude a difundir as noçõesque já aprendeu – no nosso país, ounoutros países de língua oficialportuguesa, ou até nas pequenas ougrandes comunidades de emigran-tes portugueses espalhados portodo o Mundo.

E, se tiver possibilidade, ajudepor todos os meios a implementaras medidas que agora já conhece,pois que as melhores opçõesdevem ser sempre fáceis de seguir(e mais baratas)! Podemos todosajudar assim a reduzir as cerca de40.000 mortes por ano, só em Por-tugal, por hipertensão arterial e ou-tras doençascardiocerebrovasculares dela con-sequentes (ou atrasar em décadas oseu aparecimento). Podemos porexemplo:

* Melhorar a alimentação emcantinas e refeitórios (com redução

marcada do sal de gorduras e dedoçuras, e aumento de fruta, peixe,carnes magras, cereais e verduras)

* Redução do consumo de ta-baco (directo e/ou passivo) e de ál-cool, nos locais de trabalho.

* Criação de oportunidadespara actividade física e desporto,em todas as idades (ginásios e cam-pos de jogos nas Escolas e nas Em-presas, circuitos de manutenção ezonas para pedestres nas Cidades eVilas, pistas na estrada para ciclis-tas e peões, piscinas, e abertura detodos os recintos desportivos - in-cluindo os novos Estádios - à po-pulação global, e às escolas que osnão tenham!)

Para além do combate ao se-dentarismo e à obesidade, ao víciodo fumo ou do álcool, todas estasactividades físicas serão tambémóptimas medidas para reduzir ostress bio psico-social e a tensãoarterial, para além de melhorarema nossa qualidade de vida e o com-panheirismo.

Xi-CoraçãoE-mail: [email protected]

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O Supremo Tribunal Federal alemão obriga bancos ao reembolso detaxas de serviço relacionadas a contratos de crédito ao consumidor!O mais importante em resumo: * O Supremo Tribunal Federal alemão decidiu em Maio e Outubrode 2014 que as taxas de serviço (Bearbeitungsgebühren) cobradaspelos bancos no âmbito de créditos ao consumidor são consideradasinadmissíveis; * Trata-se, em especial de créditos automóvel e créditos à habita-ção;* A decisão aplica-se a todos os bancos privados e públicos;* A taxa de serviço normalmente é entre 1 e 5 % do montante doempréstimo; * Atenção: o direito ao reembolso das taxas cobradas para créditosentre 01.01.2005 e 31.12.2011 prescreveu em 31.12.2014. Ou seja,no caso em que o banco recusou o reembolso, o consumidor deveríater solicitado uma ordem de pagamento (Mahnbescheid) junto dotribunal competente; caso contrário, o direito ao reembolso prescre-veu e não pode ser invocado;* Note: para contratos de crédito concluídos a partir de 01.01.2012aplica-se o período de suspensão normal de três anos, ou seja todosos direitos relativamente a contratos de 2012 prescrevem - no prazode 3 anos - em 2015, direitos relativamente a contratos de 2013 em2016, direitos relativamente a contratos de 2014 em 2017 etc.;Procure aconselhamento jurídico para fazer valer os seus direitos!

Rechtsanwälte Ferreira & Lang Michaela Ferreira dos SantosWilhelmstr. 2253111 BonnTel. (0049)-228-94747180Fax (0049)-228-94744684e-Mail: [email protected]

Já recebeu o seu dinheiro?

nformação Jurídica

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015Comunidade18Página da responsabilidade da CEPE Alemanha - Coordenação do Ensino Português na AlemanhaContactos: [email protected] Consulte ainda o nosso blogue CEPE Alemanha - http://cepealemanha.wordpress.com/

Este espaço é inteiramente dedicado ao Ensino e à actividade do CEPE Alemanha - Coordenação do Ensino Português na Alemanha, a quem se deve a responsabilidade do conteúdo e das informações deste espaço.

AINDA AS FESTAS DE NATAL COM OS NOSSOS ALUNOS…

As celebrações natalícias da comunidade escolarportuguesa em Renningen realizaram-se no dia 13 dedezembro, no Centro Português da mesma localidade.Depois da exibição dos alunos organizou-se um lancheque contou não só com a disponibilidade dos pais emparticipar com comida, como também com a generosi-dade do Centro que ofereceu salsichas e batatas fritasa todos os presentes.

Em Sindelfingen também se celebrou o Natal entreos portugueses, desta vez no dia 14 de Dezembro, nosalão da igreja de St. Joseph. Graças ao trabalho con-junto entre a Comissão de Pais, Conselho de Pais e Ju-venis de Portugal e a Comunidade Católica de NossaSenhora de Fátima o encontro deu lugar a um almoçoconvívio, seguido da apresentação dos alunos.

[Texto escrito com o apoio da docente responsávelpelo curso de Renningen e Sindelfingen até dezembrode 2014, Marta Ribeiro.]

Renningen e Sindelfingen: convívioentre os portugueses

Na semana de 15 a 19 de dezembro foram reali-zadas pequenas Festas de Natal nas escolas de Ulm,Bad Urach, Blaubeuren e Reutlingen onde decorre oCurso de Língua e Cultura Portuguesas.

Realça-se a alegria das crianças refletida nos pe-quenos trabalhos manuais que fizeram!

A professora responsável agradece também aparticipação e o empenho de algumas mães.

[Texto escrito com o apoio da docente responsá-vel pelos cursos das localidades em apreço, LauraLeibold.]

Ulm, Bad Urach, Blaubeuren e Reutlingen

Na última semana de aulas antes das férias de natal,organizaram-se festas de Natal com as turmas dos cur-sos de Língua e Cultura Portuguesas das localidades deEinbeck, Bad Karlshafen e Hameln.

As famílias dos alunos fizeram questão de marcar asua presença e testemunharam o entusiasmo e o em-penho dos jovens nas atividades que foram sendo apre-sentadas e que deixaram todos os presentes a cantar edançar, entre elas os cânticos de Natal, sob a forma demedley, revisitando canções dos tempos dos avós; mo-

mentos musicais ao som de concertinas e de violoncelo;poemas lidos e declamados, alguns da autoria dos pró-prios alunos; o musical “João sem Medo”; a peça de tea-tro “O Poço Mágico”, adaptação do conto tradicionalcom o mesmo nome; o Sketch “A Vida de dois JovensAdolescentes”, a coreografia musicada “Cabeça, Om-bros, Joelhos e Pés”.

Visualizou-se também um vídeo/reportagem reali-zado pelos alunos sobre a cultura portuguesa e respeti-vas tradições. No final, contaram-se ainda anedotasalusivas à época, leram-se mensagens de Natal e a des-pedida fez-se ao som do famoso tema “A todos um bomNatal”.

Para culminar um programa tão aliciante, a degusta-ção não foi esquecida, contando-se com um cardápiomagnífico de salgadinhos e de doces natalícios da tra-dição portuguesa que deliciaram todos os convidados,confecionados simpática e generosamente pelos pais efamiliares.

[Texto escrito com o apoio do docente responsávelpelos cursos das localidades mencionadas, Carlos Cor-reia.]

Einbeck, Bad Karlhafen e Hameln: NATAL CELEBRADO EM PORTUGUÊS

Foi com muita alegria que uma vez mais os alunosda turma 2b da Escola Rudolf-Roß do Projeto Bilinguede Hamburgo, sob a responsabilidade da Professora AnaPaula Larkens, brindaram os funcionários e os utentesdas instalações do Consulado Geral de Portugal damesma cidade, com uma rapsódia de temas natalíciose cantar das janeiras.

[Texto escrito com o apoio da docente responsávelpor duas turmas do ensino básico do Projeto Bilinguede Hamburgo, Ana Paula Larkens.]

Cantar as janeiras em Hamburgo

A Coordenação de Ensino solicita aos paisque nos forneçam contactos de locais ondeseria possível divulgar os nossos cursos atra-vés de placards e flyers informativos. A partirde meados de fevereiro tencionamos começara enviar esse material de divulgação para quepossamos reunir atempadamente as inscri-ções para o próximo ano letivo, chegandoassim a mais crianças e jovens que não terãoconhecimento da possibilidade de frequenta-rem um Curso de Língua e Cultura Portugue-sas.

Para além disso, esclarecemos que é pos-sível constituir listas de alunos interessadospara a abertura de cursos em localidades nasquais ainda não estamos presentes. Impor-tante é que esses alunos se inscrevam nomesmo período de matrículas.

Estamos ao dispor para esclarecer o pro-cesso de inscrições e daremos conta, na pró-xima edição deste jornal, do período para asmesmas.

O envio dos contactos deverá ser feito para:[email protected]

PEDIDO DE CONTACTOS AOS PAIS:

Divulgação dos cursos ano letivo2015/2016

«Minha pátria é a

língua portuguesa.»Fernando Pessoa

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 Comunidade 19Página da responsabilidade da CEPE Alemanha - Coordenação do Ensino Português na AlemanhaContactos: [email protected] Consulte ainda o nosso blogue CEPE Alemanha - http://cepealemanha.wordpress.com/

Este espaço é inteiramente dedicado ao Ensino e à actividade do CEPE Alemanha - Coordenação do Ensino Português na Alemanha, a quem se deve a responsabilidade do conteúdo e das informações deste espaço.

4 Que cada vez mais crianças e jovens sejam apoiados pelosseus pais e encarregados de educação para a aprendizagem da Lín-gua Portuguesa.4 Que as crianças e jovens alemães despertem para a impor-tância do Português nas escolas e universidades um pouco por todaa Alemanha e assim se desenvolva a curiosidade em torno do Por-tuguês.4 Que os nossos professores possam dar continuidade ao tra-

balho que têm vindo a desenvolver, acompanhando de muito pertoos processos de ensino e aprendizagem do Português no âmbito doscursos pelos quais são responsáveis.4 Que possamos avançar com a análise das práticas letivas àqual demos início em 2014, com o objetivo de sistematizar aquelesque são os principais fios condutores do Ensino do Português na Ale-manha, no que às especificidades do contexto dos nossos cursosdiz respeito.

A Coordenação de Ensino na Alemanha deseja para 2015…

Os alunos dos Cursos de Língua e CulturaPortuguesas na Alemanha irão este ano letivonovamente participar no Concurso Internacio-nal de Leitura (CIL). O objetivo é obviamente in-centivar o interesse dos alunos pela literatura eestimular o gosto por hábitos de leitura autó-noma de obras de autores portugueses ou quese expressam na nossa língua.

Só os alunos do nível B1 e que estejam no3º Ciclo ou no Ensino Secundário podem con-correr.

O CIL desenrolar-se-á em três fases elimina-tórias, sendo que na 1ª Fase os alunos serãoavaliados pelos respetivos professores que irãoescolher apenas os seus dois melhores alunos.Esses vencedores passarão à 2ª Fase, destavez sujeitos à avaliação a nível nacional pelarespetiva Coordenação de Ensino. Finalmente,

na 3ª e última fase serão apurados dois vence-dores de todo o EPE em todos os países, umde cada nível de ensino (3º Ciclo e Secundário).Os vencedores irão a Portugal para concorrerna Final, que será realizada num programa te-levisivo da RTP 1, em coincidência com o Con-curso Nacional de Leitura. O Camões, IPoferece a estes alunos e aos respetivos profes-sores acompanhantes a viagem e o aloja-mento, bem como as obras para leitura na 3ªfase do concurso.

São mais de 40 os alunos inscritos na Ale-manha!

Resta-nos aguardar e torcer para que osnossos alunos possam representar o Ensino doPortuguês na Alemanha na Final Nacional/In-ternacional do concurso! Desejamos desde jáBOA SORTE e BOAS LEITURAS a todos!

2ª Edição do Concurso Internacional de Leitura

Na passada sexta-feira, pelas 17h30m, tevelugar no Consulado Geral de Portugal em Dussel-dórfia a cerimónia de entrega dos diplomas decertificação aos alunos de Nordhein Westfalen.

A cerimónia foi organizada pela Senhora Côn-sul, Dr.ª Maria Manuel Durão, em conjunto coma Docente de Apoio Pedagógico Fátima Silva econtou com a presença das professoras CatarinaLourenço, Carla Costa (Liceu Max Planck de Dort-mund), 25 alunos pertencentes aos cursos doEnsino Português no Estrangeiro e do Liceu MaxPlanck de Dortmund, tal como as respetivas fa-mílias e amigos.

A Senhora Cônsul iniciou a cerimónia recor-dando a importância da língua portuguesa, in-

centivando pais e alunos a continuarem a fo-mentar a aprendizagem da mesma e agrade-cendo o trabalho dos professores. A professoraFátima Silva, em nome de todos os professo-res, deu os parabéns aos alunos e aos paispelo facto de estes se empenharem e continua-rem a valorizar o mundo lusófono.

Foram distribuídos os diplomas e foi ofere-cida uma lembrança aos alunos com as melho-res notas em cada nível de proficiência. Acerimónia terminou com um agradável lanchee convívio entre todos.

[Texto escrito com o apoio da docente deapoio pedagógico em Dusseldórfia, FátimaSilva.]

No passado dia 16 de janeiro, Liliana Ribeiro, autora do livro “Omeu arco-íris”, deslocou-se a Cuxhaven, a convite do Curso de Lín-gua e Cultura Portuguesas desta cidade, para uma palestra onde,através do relato da sua própria experiência enquanto cidadã comparalisia cerebral, tentou sensibilizar o público presente para as di-ficuldades que os deficientes continuam a defrontar no seu dia adia, não só no que concerne ao contorno de obstáculos físicos, mastambém ao relacionamento destes com a sociedade atual.

A autora começou por visitar uma aula na Realschule Cuxhavenonde, num ambiente de grande descontração, foi respondendo atodas as questões dos alunos relacionadas com a leitura e análisedo seu livro, feitas ao longo do primeiro semestre em aula.

Após um curto intervalo, a sessão prosseguiu no salão paroquialda paróquia de Santa Maria, estando aberta a todos os interessa-dos. Neste segundo momento, Liliana Ribeiro revelou a excelentecomunicadora que é, proporcionando aos presentes momentos dehumor e de extrema simpatia. Ao longo da sua intervenção, os alu-nos leram excertos do livro, selecionados pela interlocutora, que ilus-travam a sua experiência pessoal.

No final o público expôs as suas questões e procedeu-se a umapequena sessão de autógrafos.

Os alunos, por iniciativa própria, entregaram à autora pequenaslembranças e um dossiê elaborado em aula, o qual continha os tra-balhos desenvolvidos durante a leitura e análise do livro assim comoas suas opiniões sobre este e a autora.

[Texto escrito com o apoio da docente de apoio pedagógico emHamburgo, Palmira Rodrigues.]

Aconteceu em Cuxhaven: Palestra sobre “A Sociedade e a deficiência”

Cerimónia de entrega dos diplomas de certificação em Dusseldórfia

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 201520Sugestões para sair

S. Valentim

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Português ao Raio XProf. Dra. Luciana Graça

www.portugalpost.de

Ao serviço do Fado há mais de 15 anosContacto: 0173 - 29 38 194

Sair & Ler

O PORTUGAL POST encontra-se à vendana mercearia de especialidades portu-guesas O Moliceiro em Ausgburg, na Pil-gerhausstr. 35. Assim, os leitorespoderão deslocar-se àquela loja para,além das habituais compras, adquirir oseu jornal e aproveitar para comer umpastel de nata e beber um expressobem ao sabor português.

«Estar melhor preparado»?... «Bramindo o estandarte»?... Serão mesmoestas as formas corretas?... Aqui ficam a seguir os dois casos então hojeem análise.

Casos:«Passos Coelho confirmou estar melhor preparado para ser o primeiro-ministro que a grave situação de Portugal exige.» («Blogue oficial dasecção concelhia de Lagos do Partido Social Democrata», 2011-05-21);«“[A]gora Sócrates resolveu aparecer como um político socialista tra-dicional, defensor dos mais pobres e desvalidos, bramindo o estandarteda luta de classes.”» (Público, 2011-05-26).

Comentário:«mais bem preparado»: i) quando o advérbio «bem» se encontra

antes de um particípio verbal, que funciona como um adjetivo, devemosutilizar a expressão «mais bem» (exemplo: «O texto que escrevi hojeestá mais bem feito.», já que «feito» é o particípio passado do verbo«fazer»); ii) nos restantes casos, devemos utilizar a forma «melhor»:quando o advérbio «melhor» surge de forma isolada ou altera a ação deum determinado verbo (exemplo: «Eu escrevo melhor, quando estousozinha.»); iii) logo, devemos ter, no caso acima apresentado, «estarmais bem preparado»;

«bramir» ≠ «brandir»: i) «bramir» significa «rugir», «dar brami-dos», «soltar gritos de cólera»; ii) «brandir» significa, enquanto verbotransitivo (com complemento direto - «o quê?»), «agitar (a arma) antesde descarregar o golpe», «agitar», e, enquanto verbo intransitivo, tem osentido de «oscilar», «agitar-se (vibrando)»; iii) logo, no caso acimaapresentado: «[A]gora Sócrates resolveu aparecer […], brandindo o es-tandarte da luta de classes» (isto é: «agitando o estandarte da luta declasses»), em que o verbo surge como verbo transitivo («o quê?» = «oestandarte»).

Em síntese:

«melhor preparado» X«mais bem preparado» V«bramindo o estandarte» X«brandindo o estandarte» V

Duas recorrentes confusões linguísticas: do «melhor preparado» ao «bramindo oestandarte»…

TeatroA 5 de Fevereiro em Colónia, o grupo de teatro Lusotaque apresenta"Popanz XXI - Quem Tem Medo do Bicho-Papão?"A sessão começará à 20h00. Local: Horizont Theater Thürmchenswall25, 50668 Köln, (Metro: Ebertplatz)

Quim BarreirosNo Sábado, 14 de Fevereiro, pelas 20h00 os amigos das canções bre-jeiras poderão assistir a um concerto do cantor Quim Barreiros. Acon-tecerá na União Portuguesa em Hagen. Os bilhetes já se encontram àvenda. Mais informações através do tel.: Tel.02331/1858195

LiteraturaUm encontro com o escritor Valter Hugo Mãe que terá lugar a 19 de Fe-vereiro, em Berlim, na Vertretung der Europäischen Kommission, Unterden Linden 78, 10117 Berlin, pelas 18h00 é uma sugestão para quemaprecia a nova literatura portuguesa

FadoA 20 de Fevereiro, pelas 20h30, o conhecido grupo Trio Fado dará umconcerto em Potsdam, na Nikolaisaal Wilhelm-Staab-Str. 10/11, 14469Potsdam O mesmo grupo também estará em Euskirchen, Comedia - Eifelring 28,53879 Euskirchen, a 27 de Fevereiro. O concerto começa às 19h30

EmpresáriosO Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa tem como objetivo central o de premiar e divulgar publicamente cida-dãos portugueses que se tenham distinguido pelo seu papel empreende-dor, inovador e responsável no contexto das respetivas sociedades deacolhimento e que constituam exemplos de integração efetiva nas cor-respondentes economias e de estímulo à cooperação entre Portugal e osrespetivos países de acolhimento.O prazo das candidaturas decorre até ao dia 31 de Março.Para todas as informações visite: http://www.cotec.pt/diaspora/

Permanências ConsularesPermanências Consulares a realizar na área consular de Düsseldorf O Consulado-Geral de Portugal em Düsseldorf torna público que vaiefetuar até ao final de 2014 permanências consulares nas cidades deMünster, Minden e Bonn.Para marcações por favor contatar o Consulado Geral de Portugal emDüsseldorf através do telefone: 0211-1387825 ou ainda pelo E-Mail:[email protected]

Em Bona, no dia 5 de FevereiroAssociação Lusitânia de BonnLöwenburgstr. 7553229 Bonn

Em Minden, nos dias 5 e 19 de FevereiroCentro Português de MindenMemelstr. 4, 34323 Minden

Em Münster, nos dias 10 e 24 de FevereiroMissão Católica PortuguesaBeelertstiege 3, 48143 Münster

No dia 14 de Fevereiro come-mora-se o dia de S. Valentim,dia dos namorados. A história deS. Valentim associa o amor ro-mântico à data em que o santo foidecapitado. O imperador CláudioII, durante seu governo, proibiu arealização de casamentos no seureino porque acreditava que os jo-vens, se não tivessem família,alistar-se-iam com maior facili-dade. No entanto, um bispo ro-mano continuou a celebrarcasamentos, mesmo com a proibi-ção do imperador. Chamava-seValentim e as cerimónias de casa-mento eram realizadas em se-gredo. Esta prática foi descobertae Valentim foi preso e condenadoà morte. Enquanto estava preso,muitos jovens atiravam-lhe florese bilhetes de conforto. Entre aspessoas que enviaram mensagensao bispo estava uma jovem cega,Astérias, filha do carcereiro, aqual conseguiu a permissão do paipara visitar Valentim. Os dois aca-baram apaixonando-se e, milagro-samente, a jovem recuperou avisão.

Como nesta história, é na li-teratura que as definições de amorse reencontram mais estreita-mente com os desejos humanos.O inatingível, a intensidade e omistério pairam em volta das de-finições literárias que tentamaproximar-se daquele estranho es-tado em que o amor é tanto que sefica sufocado pela paixão, nem sepensa em sexo, e fica-se apenas aolhar o amado, retido no privilé-gio de o olhar. Amar é assim ir aoencontro de alguém e permitir avinda deste ao encontro a quem obusca. Desta maneira, amar al-guém significa reconhecer umapessoa como fonte real ou poten-cial para a própria felicidade.Ana Cristina Silva

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 21Vidas

Palavras cruzadas ||| Por: Paulo Freixinhor

Cara redacção,O que tenho lido nesta vossa

rubrica incentivou-me também aescrever uma parte da minha vidana esperança de ver publicado noPORTUGAL POST. Compreendose rejeitarem a publicação destacarta e se a prioridade for para ou-tras cartas com histórias mais in-teressantes.

Chamo-me M. Tristão, soualemão por opção já há cerca de20 anos quando decidi pedir a na-cionalidade do país que escolhipara viver e onde fui bem aco-lhido. Fui casado com uma se-nhora portuguesa durante umlargo período da minha vida, ca-samento este que acabou por nãofuncionar devido a surpresas de-sagradáveis que a vida invariavel-mente nos reserva.

Estou na Alemanha há quasequarenta anos. Vim para aqui logoa seguir ao 25 de Abril de 1974quando o meu patrão na alturafugiu para o Brasil com medo da

revolução, deixando os funcioná-rios entregues a si e ao futuro dou-rado que os mais revolucionáriosdos meus colegas de trabalho pro-metiam.

Mas isso já passou à história eesses tempos são para mim muitolongínquos.

Cheguei à Alemanha solteiro echeio de força para lutar por umfuturo que acreditava vir a serpromissor. Escolhi os arredores deHamburgo para assentar arraiais.O que me levou a esta região foio acaso. Hoje ainda estou poraqui, e estou bem.

Quase três anos depois de terchegado conheci aquela que viriaa ser a minha mulher. Conhecia-aquando um amigo, outro portu-guês, me convenceu a ir a umbaile numa associação portu-guesa. Foi lá que os nossos olhosse encontraram. Ela era jovemcomo eu. Era também alegre, bemfeita e tinha argumentos quepunha a cabeça de qualquer

homem à roda. Dançámos, conhe-cemo-nos, namorámos e casá-mos...em Portugal.

A sua família fez questão docasamento ser em Portugal e nãopouparam esforços e dinheiropara fazerem do nosso casamentouma festa com tudo o que se podedesejar. Foi um casório à boa ma-neira portuguesa.

A nossa lua-de-mel foi, comonão podia deixar de ser, no Al-garve.

Casados de fresco, a nossavida recomeçou na Alemanha e,sinceramente, os primeiros doisanos foram bons. Depois começa-ram as rotinas, a luta pela vida, oesforço quase diário em prol deuma gravidez que a minha mulherdesejava.

Tentávamos que ela ficassegrávida quase loucamente. Pre-víamos e desejávamos um futurocom uma casa cheia de filhos e,por isso, o nosso esforço e os nos-sos tempos livres era a tentar a

gravidez. Houve fins-de-semanaque quase não saíamos de casapara nos entregarmos ao trabalhoda procriação. Mas a gravidez nãovinha.

Depois conclui que o melhorera não pensar nisso e não forçar.Pensava eu.

Por seu lado, a minha mulherandava também muito abaladacom a situação. Numa família emque as mulheres engravidavampor dá cá aquela palha ela não en-contrava explicação para o seucorpo estéril.

Depois começaram os rumo-res e os dizeres que partiam de al-guns dos seus parentes e depessoas mais chegadas, insinua-ções que feriam o meu orgulhomasculino. Enfim, a explicaçãodesses parentes é de que não cum-pria com as minhas obrigaçõesmatrimoniais e não seria homempara ela - uma mulher viçosa cujocorpo tremia de desejos em sermãe.

Aquilo perturbou-me muito.Em alguns momentos pus emquestão a minha capacidade emfazer filhos. Felizmente que na-quela altura tinha o apoio e o in-centivo da minha mulher quefazia tudo para me entusiasmarnos momentos em que duvidavada minha virilidade.

Resolvi então propor à minhamulher irmos sozinhos de fériaspara um país que não fosse Portu-gal. Julgava que num ambientemais descontraído as coisas fos-sem mais fáceis. Para não me dei-xar ir abaixo nesses momentos,comprei um conhecido medica-mento para me ajudar no trabalhode engravidar a minha mulher. Averdade é que eu queria que ela fi-casse grávida para me convencerdas minhas capacidades de ma-rido.

Escolhemos a ilha de Sarde-nha, em Itália, para umas fériasque seriam uma segunda lua- de-mel. Escolhemos uma casa iso-lada e lindíssima sobranceira aomar com um jardim que era umaespécie de varanda natural sobreo mar. Quem conhece a Sardenhalembra-se do mar sereno e azul edaquele clima suave do mediter-râneo. Deve também lembrar-sedos perfumes e dos aromas quenos inebria quando passeamos porsítios onde a natureza vive paracriar uma espécie de felicidadeem quem por ela passeia. Sim,aquele sítio onde estávamos era

isso tudo e um lugar propício aumas boas férias.

Mas, inesperadamente adoeci.Adoeci sem motivo nenhum. Umanoite acordei completamente ba-nhado em suores. Não dei impor-tância. Limpei-me e quiscontinuar a dormir. Mas não con-seguia e os suores não me larga-vam.

Nos dias e nas noites que seseguiram os suores eram mais in-tensos. Suava sem motivo. Nãotinha febre. Não estava consti-pado, aparentemente não haviarazão nenhuma. Fui ao médico.Depois de ser examinado o resul-tado foi...nada.

Acreditei que isso poderiapassar, mas o meu corpo ressen-tia-se e os suores provocavamperda de apetite. Andava muitofraco, sem resistência e sem von-tade para nada. Pensei até que issoseria uma consequência dos efei-tos do comprimido que andava atomar para me ajudar no entu-siasmo sexual. Já não queria pas-seios nem praia. Deixava-me estardeitado numa espreguiçadeira nojardim a lutar com os suores e abeber líquidos.

Em suma, sentia-me mal.A minha mulher, que não que-

ria deixar de gozar aquele maravi-lhoso lugar, passava a tarde napraia quase até ao pôr- do-sol.

Senti-me assim durante todasas férias. Combinei com a minhamulher que ela deveria aproveitarao máximo depois de tratar demim. Eu ia ficando pelo jardim.Sentia-me fraco, desanimado,triste e de mal com o mundo. Con-trariamente, a minha mulher pare-cia felicíssima e já passava maistempo na praia do que em casa.Às vezes, pegava no carro e ia, aofim da tarde, à vila comer um ge-lado.

Partimos dali dois dias antesde terminar o tempo previsto deférias. Queria vir para casa paraser examinado por um médicoporque não compreendia as razõesdaqueles suores.

Já em casa, o médico, depoisde várias análises, disse que aque-las reacções se deviam a ataquesde pânico e a situações de stresspelas quais eu teria passado. E foientão que liguei esses sintomas àpressão que estava sujeito emquerer corresponder à minha mu-lher naquelas férias.

Nove meses depois das fériasa minha mulher deu à luz.

Triste sina a minhaTentávamos que ela ficasse grávida quase loucamente. Prevíamos e desejávamos um futuro com uma casa cheia de filhos e, porisso, o nosso esforço e os nossos tempos livres era a tentar a gravidez. Houve fins-de-semana que quase não saíamos de casa paranos entregarmos ao trabalho da procriação. Mas a gravidez não vinha.

HORIZONTAIS: 1 - Cristiano (...),jogador português que venceu a ter-ceira Bola de Ouro da sua carreira.Oceano. 2 - Préstimo. Título. 3 -Questão judicial. Ruténio (s.q.). Cam-peonato profissional norte-americanode basquetebol. 4 - Anão. Respeitantea nascimento. 5 - Molibdénio (s.q.). Atua pessoa. Nome feminino. 6 - Quetêm muito peso. 7 - Casa comercial.Atmosfera. Décima sexta letra do al-fabeto grego. 8 - Quentura. Estampi-lhar. 9 - Ovário dos peixes. Antes domeio-dia (abrev.). Elemento de for-mação que exprime a ideia de ma-deira. 10 - Substância usada para afixação de penteados. Protelar. 11 -Argola. Tirar a escama a.

VERTICAIS: 1 – Terra ensopada emágua. Grude. 2 - Ovelhum. Limpar,banhando em líquido. 3 - Coisa ne-nhuma. Que se refere à Polónia. 4 –Foi eleito como destino a visitar esteano pelo jornal The New York Times.5 – Lítio (s.q.). Atrevera-se a. 6 - Ofe-recer. Senão. 7 - Ligadas. O número600 em numeração romana. 8 - Perdapatológica do apetite. 9 - Dos montes.Recitavam. 10 - As duas juntas. Con-versa (pop.). 11 - Que não é imaginá-rio. Dou a volta.

SOLUÇÃO:HORIZONTAIS: 1 - Ronaldo. Mar. 2 - Valia. Nome. 3 - Lide.Ru. NBA. 4 - Anano. Natal. 5 - Mo. Tu. Inês. 6 - Pesados. 7 - Loja.Ar. Pi. 8 - Calor. Selar. 9 - Ova. AM. Xilo. 10 - Laca. Adiar. 11 -Aro. Escamar.VERTICAIS: 1 - Lama. Cola. 2 - Ovino. Lavar. 3 - Nada. Polaco.4 - Alentejo. 5 - Li. Ousara. 6 - Dar. Mas. 7 - Unidas. DC. 8 - Ano-rexia. 9 - Montês. Liam. 10 - Ambas. Palra. 11 - Real. Viro.

PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 201522

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PORTUGAL POST Nº 248 • Fevereiro 2015 Economia 23

Numa sua deslocacão à Ale-manha no passado mês de Janeiro,o ministro da Economia lançou odesafio à Bosch para que dobre onúmero de investigadores e enge-nheiros para 500 a médio prazoem Portugal e sublinhou que ogrupo “é bom para o crescimentoeconómico” do país.

António Pires de Lima visitoua Bosch na sua sede em Schiller-höhe, Estugarda, acompanhado dosecretário de Estado da Inovação,Investimento e Competitividade,Pedro Gonçalves, e pelo represen-tante da Bosch em Portugal, JoãoOliveira, tendo ainda mantidouma reunião um dos membros doconselho de administração dogrupo, Uwe Raschke.

“Foi um encontro muito fru-tuoso que tivemos aqui na Bosch.Esta já é a quarta ou quinta visitaque faço à Alemanha desde queestou nestas funções, há apenas 18meses”, afirmou o ministro nofinal do encontro.

Pires de Lima apontou que aBosch factura em Portugal maisde 800 milhões de euros e que tem

cerca de 3.200 pessoas a colaborardirectamente no mercado portu-guês, com “vários centros de pro-dução, alguns dos quais sãocentros tecnológicos do ponto devista mundial, como é o caso daindústria de desenvolvimento ter-mal em Ovar e Aveiro, além docentro de mobilidade”, em Braga.

“Destas 3.200 pessoas, cerca

de 250 estão a trabalhar na área dainvestigação e desenvolvimento”,apontou o governante.

“Com os investimentos de re-forço que a Bosch está a fazer emPortugal, o objetivo claro quetemos, que assumimos do pontode vista de Governo e da Admi-nistração Pública, é que estenúmero de investigadores, enge-

nheiros a trabalhar em Portugaldobre nos próximos anos”, disse.

Ou seja, que “passe de 250para pelo menos 500 no médioprazo e que a facturação da em-presa continue a crescer a umritmo interessante, forte”, já que“mais de 90% dessa facturação édirigida para a exportação” deprodutos com uma “altíssima tec-nologia e com alto valor acrescen-tado que fica retido em Portugal”,sublinhou o ministro.

“A Alemanha é seguramenteum país que nos interessa que es-teja ainda mais comprometidocom este processo de recuperaçãoeconómica que agora estamos aviver em Portugal”, afirmou o mi-nistro da Economia, que salientouque a atracção do investimento,“nomeadamente o investimentoprodutivo é a pedra de toque fun-damental para que esta recupera-ção económica se possaconsolidar e agigantar ao longodos próximos anos”.

Nesse sentido, a Bosch é “se-guramente um exemplo de umaempresa que está em Portugal há

Ministro da Economia Pires de Lima desafia Bosch a duplicar investigadores em Portugal para 500

mais de 100 anos e que especial-mente ao longo das últimas dé-cada tem feito de Portugal umpaís central na sua estratégia deinvestimentos em várias áreas denegócio que são determinantes”para o grupo, acrescentou AntónioPires de Lima.

O ministro citou o ‘slogan’ pu-blicitário “Bosch é bom” paraacrescentar que “é bom para oemprego, é bom para o cresci-mento económico, é bom paraPortugal”.

“O meu objectivo da visitahoje à Bosch foi reforçar os laçosentre o Estado português, o Go-verno português e a companhia, etrabalhar nos planos de investi-mento e de apoio da parte do Es-tado português de forma a queempresa continue a ser um refe-rencial de criação de riqueza, decriação de emprego qualificado epossa também ser usada como umembaixador de Portugal privile-giado em todo o mundo paraatrairmos investimento”, concluiuo governante.PP com Lusa

O Ministro da Economia António Pires de Lima acompanhado pelo Se-cretário de Estado da Inovação, Investimento e Competitividade, PedroGonçalves, visitaram a Bosch na companhia do Embaixador de Portugalem Berlim, Luís de Almeida Sampaio, e do Cônsul-Geral de Portugal emEstugarda, José Carlos Arsénio. Foto: Embaixada de Portugal

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Comunidade24

Ana Cristina Silva,Lisboa

Última • Nº 248 • Fevereiro 201524

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liberdade de expressão não é di-visível”. Serve a presente cita-ção de Nelson Mandela para

abordar a polémica da liberdade de expres-são associada aos recentes incidentes deParis com o Charlie Hebdo. Passado o cho-que inicial muitas foram as vozes que vie-ram afirmar que as caricaturas do CharlieHebdo feriam a sensibilidade dos muçul-manos e, como tal, constituíram uma pro-vocação. Sem defender, naturalmente, oatentado, houve demasiada gente que ten-tou tornar compreensível o incompreensí-vel, acusando os jornalistas do jornalsatírico de fomentarem o ódio religioso .

A discussão à volta da tragédia do as-sassinato dos jornalistas do Charlie Hebdotem a ver, do meu ponto de vista, com umdesafio que poderá ser classificado de civi-lizacional. Defender o direito de CharlieHebdo de fazer aquelas caricaturas é tam-bém defender o direito de não reproduzir

essas mesmas caricaturas: esta é a liberdadede expressão que caracteriza os países lai-cos ocidentais e que constitui um dos pila-res fundamentais da democracia. Emestados democráticos não deve haver limi-tes para a liberdade de expressão, de cultoou de opinião e não há o delito da blasfé-mia.

Foi sem dúvida comovente e grandiosaa resposta que a França deu a estes atenta-dos numa manifestação em Paris com maisde um milhão de pessoa, a qual constitui,ao mesmo tempo, uma homenagem às víti-mas do terrorismo e uma demonstração deforça em relação à defesa do princípio a li-berdade de expressão. O balanço da reac-ção francesa resume-se claramente na ideiade que “ não podemos ter medo nem cair naarmadilha de, por motivos de segurança, re-

negar a liberdade . No entanto, de repentevimos, “a ser Charlie” toda uma série degente cujo o respeito princípio da liberdadede expressão é no mínimo duvidoso. Paradar um exemplo extremo, não podemosdeixar de mencionar o representante daArábia Saudita - país onde neste momentose anda a chicotear um bloguer por criticaro Islão.

Também o nosso primeiro ministro fezquestão de ir à manifestação de Paris.Nunca é de mais relembrar que PassosCoelho pertence ao mesmo partido do se-cretário de estado, António de Sousa Laraque, no principio dos anos noventa, recusouenviar “O Evangelho segundo JesusCristo”de José Saramago para um prémioeuropeu de literatura por o considerar blas-femo e ofensivo. Como se vê nem sempre

as democracias laicas se revelam modelosde liberdade de expressão.

Os jornalistas foram naturalmente dosmais activos a demonstrar o seu choquepelo bárbaro assassinato de colegas e peladefesa da liberdade de expressão. Vimosaqui em Portugal fotografias em muitas re-dacções com todos os seus membros a em-punhar o célebre cartaz “ Je suis Charlie”.E, no entanto, nunca como agora o jorna-lismo português se revelou tão inerte e obe-diente aos poderes instituídos. O governoportuguês faz todo o género de trapalhadas– desde a colocação de professores, ao fun-cionamento da justiça e dos hospitais – e osministros quase não são questionados nasconferências de imprensa. Além disso, asnotícias seguem de perto os comunicadosenviados pelos assessores dos ministros.Numa época de emprego precário, os jor-nalistas parecem ter muito mais medo dequestionar e de investigar do que na épocado fascismo. E as linhas editorais são mui-tas vezes condicionadas pelos interesseseconómicos dos donos da imprensa, o quesugere a existência de uma censura implí-cita de que ninguém fala. Além disso, emmuitos jornais portugueses os escândalos,o futebol, os delitos e assassinatos e asvidas cor de rosa ganham cada vez mais es-paço ao jornalismo sério. Era de facto fun-damental para a nossa democracia quemuito dos jornalistas portugueses se tornas-sem “Charlie” de forma bem mais incisivae que se revelassem capazes de “agitar aságuas” pantanosas da actual comunicaçãosocial.

O obediente e inerte jornalismo portuguêsEra de facto fundamental para a nossademocracia que muito dos jornalistasportugueses se tornassem “Charlie”de forma bem mais incisiva e que serevelassem capazes de “agitar aságuas” pantanosas da actual comuni-cação social.

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