Dupla Jornada Do Trabalho Da Mulher Um Estudo de Caso Da Cidade de Arenopolis - Go

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Geografia

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DEIPOR

    CURSO DE GEOGRAFIA

    DUPLA JORNADA DO TRABALHO DA MULHER: UM

    ESTUDO DE CASO DA CIDADE DE ARENPOLIS-GO

    IPOR/GO

    2009

  • 2

    ISMENIA OLIVEIRA MARTINS

    DUPLA JORNADA DO TRABALHO DA MULHER: UM

    ESTUDO DE CASO DA CIDADE DE ARENPOLIS-GO

    Monografia apresentada ao curso de Geografia

    da Universidade Estadual de Gois - UnU

    Ipor, como exigncia parcial para obteno do

    ttulo de licenciada Geografia.

    Orientador: Marcos Antnio Marcelino

    IPOR/GO

    2009

  • 3

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    CURSO DE GEOGRAFIA

    DUPLA JORNADA DO TRABALHO DA MULHER: UM ESTUDO DE

    CASO DA CIDADE DE ARENPOLIS-GO

    ISMENIA OLIVEIRA MARTINS

    Monografia submetida Banca Examinadora como parte dos requisitos

    necessrios obteno do grau de Licenciado (a) em Geografia , sob orientao

    da prof Marcos Antnio Marcelino

    Ipor, ....... de ............... de ...........

    Banca examinadora:

    ________________________________________________

    Presidente da Banca - Prof. Marcos Antnio Marcelino

    ________________________________________________

    Examinador Interno-Prof Ftima Maria

    ________________________________________________

    Examinador Externo Prof Silvia Diniz

  • 4

    Dedico a minha me, pelo impecvel apoio e incentivo

    por minha ascenso pessoal, principalmente pela

    inesgotvel confiana endereados a mim.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Minha gratido e louvor ao Senhor, nosso Deus, que nesse tempo todo tem me

    honrado com sua presena e beno diria, para que pudesse alcanar os meus objetivos.

    A Deus e a minha me, pela minha vida, sade, pelo amor incondicional e pelas

    oportunidades que me proporcionou chegar at aqui.

    Ao meus colegas do curso de Geografia, pelo respeito, pelas conversas dirias que tanto

    me fizeram crescer e por todas as inmeras contribuies durante as realizaes dos trabalhos.

    A minha famlia e amigos que souberam compreender minha ausncia nos momentos de

    lazer, em prol deste trabalho.

    Aos meus prezados amigos professores, que ministraram e ministram aulas no curso de

    Geografia, que guardarei como exemplo, a confiana em mim em meus trabalhos e pelo constante

    estmulo ao meu aperfeioamento profissional.

  • 6

    QUEM SOU EU?

    Apanhei e sangrei. Mas no me submeti. Fui quilombola.

    Venho tambm de outras plagas e de outros mares. Fui me, esposa, irm,

    freira e prostituta, senhora de escravos e escrava.

    Venho da raa vermelha potiguar de Clara Camaro, dos idos do sculo XVII,

    na leitura de alguns, a primeira feminista brasileira.

    Venho de um tempo em que as mulheres sequer escreviam ou recebiam

    instruo formal. Sou filha da submisso.

    Tive nas mos o poder da vida. Fui curandeira e parteira. Fui vtima da

    Inquisio.

    Venho de casamentos arranjados e maridos impostos. Venho do tempo da

    tirania masculina, quando as mulheres serviam para criar os cidados, mas a

    elas era negado o direito cidadania.

    Lutei contra a escravatura e me fiz guerreira: branca, ndia e negra. Fui

    monarquista e republicana. Participei da luta de Canudos e fui do bando de

    Lampio. Amei e fui amada.

    Constru o progresso. Fui operria, teci sonhos de igualdade e de felicidade.

    Sofri maus tratos, abuso sexual, obrigaram-me a trabalhar exaustivamente. No

    tive garantias trabalhistas e dormi entre mquinas. Rebelei-me. Fui perseguida

    e espancada. Queimada viva, mas resisti.

    Conquistei o direito ao voto.

    Lutei pela anistia,contra a carestia, pelos direitos trabalhistas, pelas

    campanhas nacionalistas. Organizei-me: fiz greve. Reivindiquei e conquistei.

    Guerras, revolues e golpes militares me reprimiram, mas no calei

    Na clandestinidade, apesar do medo, me reorganizei paciente e

    silenciosamente, com a fora de quem cr e quer. Fui presa, torturada,

    estuprada, morta exilada. E, mais uma vez resisti e avancei.

    Reorganizei bandeiras. Conquistei espaos. Organizei Conselhos dos

    Direitos da Mulher e Delegacias de Defesa da Mulher.

    Integrei a vida pblica como Deputada Constituinte. Vereadora. Senadora.

    Prefeita e Governadora. A Constituio me garantiu a igualdade, mas os

    preconceitos e as barreiras invisveis impedem o exerccio dessa igualdade.

    Continuo discriminada.

    Rompi as barreiras que me negavam o mundo e a vida.

    Ganhei ruas e praas e me fiz ouvida.

    Sou mulher e penso. Sou mulher e trabalho. Sou mulher e estudo. Sou

    mulher e procrio. Sou mulher e me permito a felicidade. Sou amante e sou

    Anglica Monteiro

  • 7

    RESUMO

    Atualmente, as mulheres deixam de ser apenas dona de casa, me e esposa e passam a exercer

    a atividade remunerada, onde assumem a dupla jornada de trabalho tendo que aprender a

    reconstruir sua histria. Desse modo a questo central deste estudo a compreenso de como

    as mulheres lidam com a sobrecarga pela "dupla jornada

    casa com as funes domsticas, tendo que conciliar trabalho e famlia. A pesquisa tem como

    objetivo geral discutir os reflexos causados no contexto da famlia a partir da insero da

    mulher no mercado de trabalho na cidade de Arenpolis-GO, ao exercer a dupla jornada

    feminina. Trata-se de uma partir de uma pesquisa qualitativa, fundamentada na tcnica de

    reviso bibliogrfica e entrevista semi-estruturada com vinte mulheres que exercem a dupla

    jornada no municpio de Arenpolis/GO. tratada nessa monografia a situao da mulher na

    sociedade moderna que impem por um lado pela continuidade do papel da mulher dentro de

    casa, como me, esposa, educadora, e, por outro, os desafios impostos por ela mesma e pela

    sociedade que a posicionam como provedora do sustento, g

    da pesquisa mostraram que as questes que envolvem a mulher a viver de forma independente

    passou a ser uma opo aceita pela sociedade moderna, que conforme qualquer escolha que se

    faa h vantagens e desvantagens.

    Palavras-chave: trabalho feminino, dupla jornada, relaes familiares,

    Formatado: Ingls (EUA)

  • 8

    ABSTRACT

    Currently, women are no longer just a housewife, mother and wife and go to practice paid

    work where they take two work shifts having to learn to reconstruct its history. Thus the

    central question of this study is to understand how women deal with the overload by the

    "double shift," while building work outside the home with domestic duties, having to balance

    work and family. The research aims to discuss general reflections caused in the context of the

    family from the inclusion of women in the labor market in the city of Arenpolis-GO, by

    exercising the dual feminine journey. This is one from a qualitative research technique based

    on literature review and interview semi-structured with twenty women who carry the double

    shift in the city of Arenpolis / GO. It is treated in this monograph the situation of women in

    modern society that imposes on the one hand and continued role of women in the home as

    mother, wife, educator and, secondly, the challenges posed by herself and the society that

    position as a provider of livelihoods, winner of the "bread". The survey results showed that

    the issues surrounding women to live independently has become a option accepted by modern

    society, as any choice is made there are advantages and disadvantages.

    Keywords: women's work, double shifts, family relationships

    Formatado: Ingls (EUA)

  • 9

    SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................... 9

    1 REVISO LITERRIA ............................................................................................. 12

    1.1 A mulher e sua histria ............................................................................................... 13

    1.2 A mulher na histria brasileira..................................................................................... 15

    1.3 A mulher na poltica brasileira .................................................................................... 17

    1.4 A atuao da mulher no campo de trabalho ................................................................ 19

    2 PERCURSO METODOLOGICO ......................................................................... 23

    2.1 Tipo do estudo ........................................................................................................... 22

    2.2 Sujeito e amostra do estudo .................................................................................... 22

    2.3 Instrumentos de coleta de dados ............................................................................ 22

    3 OS REFLEXOS CAUSADOS NO CONTEXTO DA FAMLIA A PARTIR DA

    INSERO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NA CIDADE DE

    ARENPOLIS-GO. .......................................................................................................

    27

    CONCLUSES ............................................................................................................... 33

    REFERENCIAS............................................................................................................... 34

  • 10

    INTRODUO

    Muito tem se falado sobre questes que envolvem a situao da mulher na

    sociedade moderna, que inicia-se no mercado de trabalho passando a exercer funes fora de

    sua unidade domstica, a qual estava restrita at ento, e ao mesmo tempo tendo que conciliar

    esse trabalho com o trabalho do lar, gerando assim a dupla jornada de trabalho.

    Enquanto a mulher passa a assumir novas funes fora de casa, nem sempre o

    homem se encarrega, na mesma proporo, das funes domsticas; em conseqncia, a

    mulher se v sobrecarregada pela "dupla jornada

    domstico, e o que ela faz para lidar com situaes dessa dupla jornada: ter um trabalho fora

    e o trabalho em casa?

    Na tentativa de encontrar respostas para o problema da mulher atual que enfrenta

    o desafio de articular as atividades do lar com o trabalho exercido fora dele, buscou-se

    respaldo na leitura dos autores contemporneos com a finalidade de realizar um resgate

    histrico da situao feminina atravs dos tempos.

    A pesquisa tem como objetivo principal analisar a insero da mulher no mercado

    de trabalho, a dupla jornada feminina de trabalho e seus impactos nas relaes familiares e

    identificar os motivos que levam as mulheres a exercer a atividade remunerada, bem como

    analisar quais so as dificuldades enfrentadas por elas.

    Um elemento importante na escolha do tema foi por compreender que o trabalho

    da mulher j no visto somente como complemento da renda familiar. Contrariamente, na

    maioria das vezes tido como sendo o principal rendimento da famlia, mesmo diante do

    preconceito e a desigualdade que predominam nas relaes de trabalho.

    Um elemento importante na escolha do tema foi por compreender que o trabalho

    da mulher j no visto somente como complemento da renda familiar, mas na maioria das

    vezes tido como sendo o principal rendimento da famlia, mesmo diante do preconceito e a

    desigualdade que predominam nas relaes de trabalho.

    Esta jornada de trabalho buscada pelas mulheres para que seus salrios sejam

    mais um ponto essencial para a renda familiar, porm, as transformaes que ocorreram nos

    ltimos anos vm concretizando cada dia mais a mulher no mercado de trabalho.

    Diante do exposto acima, justifica-se esse trabalho, que buscar compreender

    como as mulheres na cidade de Arenpolis-GO, conciliam o trabalho e a famlia estando

  • 11

    sobrecarregada pela "dupla jornada e qual seria o grau de ganhos e/ou perdas ao se

    deslocarem do espao domstico para o exerccio do trabalho fora de

    casa?

    Buscou-se aprofundar o conhecimento sobre o tema onde fez-se o uso da pesquisa

    bibliogrfica, baseada na consulta de livros, teses, artigos, revistas, sites de Internet, dentre

    outros.

    Alm da pesquisa bibliogrfica fez-se um estudo de caso com coleta de dados para

    compreender os reflexos causados no contexto da famlia a partir da insero da mulher no

    mercado de trabalho na cidade de Arenpolis-GO, ao exercer a dupla jornada feminina, que

    buscou-se atravs de uma entrevista semi-estruturada conhecer o modo de vida de 20

    mulheres que trabalham fora do ambiente domestico, , onde foram levantadas questes sobre

    o perfil scio-economico seguido pelos resultados da pesquisa a trajetria da mulher no

    trabalho e na famlia.

    A pesquisa demonstra a problemtica vivida pela mulher ao longo dos tempos:

    alm do trabalho fora do lar, ela tem a seu cargo a responsabilidade com as tarefas domsticas

    e criao dos filhos, cabendo-lhe, dessa forma, uma segunda e intensa jornada de trabalho.

    Este estudo contribuir em mostrar que Apesar das dificuldades, as mulheres

    estarem ingressando cada vez mais no mercado de trabalho e permanecendo nele. Contudo, as

    tarefas historicamente conhecidas como sendo preferencialmente das mulheres, no foram

    eximidas do seu cotidiano, elas seguem, portanto, assumindo uma dupla responsabilidade e

    dupla jornada de trabalho.

  • 12

    1 A MULHER E SUA HISTRIA

    O trabalho da mulher primitiva era exigente, O papel social domstico e subalterno no

    qual a mulher submetida tem sua importncia econmica atravs das atividades caseiras se

    prolongavam alm da casa e da famlia, cuidando do campo e dos animais e outras atividades

    bsicas: a alimentao dos trabalhadores e o comando geral dos demais servios domsticos.

    De acordo com Miles (1989) na pr-histria, a mulher era incumbida de cuidar do fogo

    dentro da caverna, pois o companheiro saa para a caa, e assim se formou os primeiros

    ncleos familiares.

    (...) foram constitudos por fmeas e seus filhos, j que todas as sociedades

    caadoras tribais eram centradas na me, e organizadas por intermdio dela. Os

    machos jovens partiam ou eram enxotados, enquanto as jovens fmeas permaneciam

    perto de suas mes e no local de lar primitivo, agregando a ela seus machos. Na

    famlia centrada na mulher, os machos eram casuais e perifricos, enquanto, tanto o

    ncleo, quantas quaisquer redes dele emanadas, permaneciam femininos

    (MILES,1989, p. 25).

    J na Grcia antiga existia a diviso sexual do trabalho, pois como nos mostra Perrot

    (1988) citado por Oliveira (1999, p. 59):

    Tanto as mulheres consideradas livres, como as escravas eram responsveis pela

    manuteno das atividades referentes ao espao domstico como a comida dos

    homens, o cuidado das crianas, a busca de gua e a lavagem das roupas. Percebe-

    se, portanto, que a diviso das classes sociais que se estabelecia entre as atividades

    lheres dos

    servos e dos camponeses as que mais trabalhavam, alm de dividir as tarefas da

    (OLIVEIRA, 1999, p. 59).

    Mesmo restrita ao espao domstico, a mulher contribua para a vida econmica e

    social, como fala Bruschini (1990, p. 33):

    (...) homens e mulheres no s executavam tarefas diferentes, mas tambm

    ocupavam espaos diferentes. Mas o progresso material da famlia dependia tanto da

    esposa quanto do marido. A mulher trabalhava em todos os tipos de atividades,

    muitas delas extenses de suas funes domsticas, como o cuidado de animais

    domsticos ou a confeco de roupas. Enquanto o homem assumia primazia nos

    papis pblicos, a mulher prevalecia na esfera domstica, mas esta tinha o maior

    peso na vida econmica e social da famlia. Apesar de limitada esfera da famlia, a

    mulher exercia um poder que decorria da gerncia da unidade domstica.

    Miles (1989,p.179), atravs de documentos histricos provam que as mulheres

    participavam das construes das grandes pirmides do Egito, como tambm de outros

  • 13

    Est provado que a sensibilidade feminina um dos principais pontos para que

    chegassem ao nvel que chegaram: que o sucesso de suas empreitadas indiscutvel (exceo

    quelas que cedem ao comando de certas figuras masculinas tidas como tiranos ou

    insensatos). Atualmente, muitos postos originalmente masculinos, esto sob a tutela de

    figuras femininas.

    Hoje a mulher delegada de polcia, comandante da PM (Polcia Militar), prefeita

    vereadora, governadora, gerente de empresa, motorista de caminho, etc. Por outro lado, os

    homens, que jaziam intocveis nestes espaos esto cedendo e ocupando os postos que antes

    somente mulheres seriam capazes de realizar.

    A partir da segunda metade do sculo XVIII, as grandes transformaes ocorridas

    no processo produtivo, que resultaram na Revoluo Industrial, trouxeram consigo uma srie

    de reivindicaes at ento inexistentes.

    A absoro do trabalho feminino pelas indstrias, como forma de baratear os

    salrios, inseriu definitivamente a mulher no mundo da produo. Ela passou a ser obrigada a

    conviver com jornadas de trabalho excessivas, submetidas a tratamentos desumanos e em

    condies de insalubridade, alm de ameaas sexuais constantes e salrios irrisrios em

    relao ao dos homens.

    Posteriormente, elas passam a atuar de forma mais significativa na esfera social,

    exigindo melhores condies de vida e de trabalho como o acesso instruo e a igualdade de

    direitos entre os sexos, inclusive sua participao poltica na sociedade.

    O trabalho executado pela mulher fora do ambiente domstico era representado

    -se comum o pensamento de que o

    familiares mais frouxos e debilitaria a raa, pois as crianas cresceriam mais soltas, sem a

    Foi no calor revolucionrio poltico, cultural, econmico e social dos anos 60 que a

    mulher galgou seu lugar ao sol em

    importncia fundamental nas principais conquistas.

    A mulher, pode-se dizer, tem uma ligeira desvantagem com relao ao homem em

    se tratando de direitos. Um deles, por exemplo, diz respeito questo salarial: no existe

    equiparao. Em outros campos, no entanto, a mulher est chegando com fora.

    A mulher foi aos poucos conquistando seu espao no mercado de trabalho, nas

    polticas e em vrios setores da sociedade, como afirma Lnin apud Carvalhal (2002, p. 36):

  • 14

    transforma em uma pessoa instruda e mais independente e, vai se libertando das

    -se ento que, com o desenvolvimento da

    grande indstria desenvolve-se uma favorvel oportunidade de emancipao da

    A crescente presena das mulheres em vrios espaos da sociedade resultado de

    suas lutas ao longo da histria. Elas ocupam cada vez mais espaos de trabalho, de deciso e

    liderana, e inauguram novas relaes/atuaes dentro de casa.

    A experincia cotidiana, no entanto, mostra que as mulheres continuam sofrendo

    discriminao e vrias formas de desigualdade e opresso.

    Neste sentido, so diversos os desafios que se apresentam s mulheres, como a

    busca de maior auto-estima, a garantia de direitos e o exerccio da cidadania, o fim da

    violncia, o respeito ao corpo e sexualidade, o desenvolvimento sustentvel, a promoo de

    polticas pblicas de sade, terra e trabalho, a representatividade poltica e o acesso a espaos

    de poder e de deciso, bem como a participao mais efetiva nos espaos da igreja.

    Quanto questo das relaes de gnero, tanto os homens quanto as mulheres

    experimentam, sofrem e perpetuam relaes de opresso, e participam de movimentos de

    libertao. Essas diferenas entre homens e mulheres nem sempre significam desigualdades.

    1.1 A mulher na histria brasileira

    Por muitos anos, as mulheres estiveram ausentes ou desfiguradas na histria

    brasileira. Nas primeiras dcadas do sculo XX, um nmero crescente de brasileiras defendeu,

    em praa pblica, o sufrgio feminino. medida que se tomava conhecimento da aquisio

    do direito de voto pelas mulheres na Europa e nos Estados Unidos, surgiam organizaes

    formais, em setores da elite brasileira, em defesa pelos direitos da mulher e pela causa

    sufragista. Em fins da segunda dcada do sculo XX, tornou-se aceitvel no Brasil um

    movimento moderado em favor dos direitos da mulher.

    Historicamente a mulher brasileira, sobretudo a mulher branca, vista como

    esposa obediente, recolhida e, sobretudo, passiva. Essa imagem da mulher encontra-se nos

    relatos de Freyre (1984), o qual retrata a famlia patriarcal brasileira e nela a situao da

    mulher no perodo colonial. A mulher branca descrita como dependente e subordinada, a

    qual sujeita-se dominao do pai ou do marido. A mulher desta poca, portanto, sempre se

    dedicou ao espao privado, o trabalho para ela s estava relacionado aos afazeres domsticos.

  • 15

    Um destes espaos na poltica. Somente a partir da dcada de 50 do sculo

    passado, que a mulher adquiriu o direito do sufrgio universal, traduzindo: votar. Somente a

    partir de meados da

    ativamente das decises do pas. De l para c a mulher tem se destacado nos principais

    cargos do pas nos mbitos: municipal, estadual ou federal, nas esferas: legislativa, executiva,

    judiciria e em altos escales administrativos.

    1.2 A mulher na poltica brasileira

    No Brasil, na primeira vez que as mulheres conseguiram o direito de votar, os seus

    votos foram anulados. A Comisso de Poderes do Senado Federal, no ano de 1928, ao analisar

    essas eleies realizadas no Rio Grande do Norte naquela ocasio, requereu em seu relatrio a

    anulao dos votos que havia dados as mulheres, sob a alegao da necessidade de uma lei

    especial a respeito.

    O Rio Grande do Norte foi o primeiro Estado brasileiro a conceder o voto

    mulher. As duas primeiras mulheres alistadas como eleitoras no Brasil foram s professoras

    Julia Barbosa de Natal e Celina Vianna de Mossor, ambas do Rio Grande do Norte. E foi

    nesse Estado que se elegeu a primeira prefeita do Brasil, Alzira Teixeira Soriano, eleita no

    municpio de Lages, em 1928, pelo Partido Republicano Federal.

    A participao da mulher na vida pblica das grandes democracias do planeta

    hoje, inegvel fator de desenvolvimento de sistemas sociais mais justos, capazes de incorporar

    de forma harmnica as diferenas de gnero e a diversidade cultural e tnica presentes na

    maioria das sociedades modernas.

    A experincia da participao poltica da mulher em todo mundo tem demonstrado

    que ela transfere para a administrao do bem pblico os valores ticos que orientam a sua

    atividade cotidiana, tanto profissional como no mbito da famlia.

    Para falar sobre isso preciso resgatar um pouco da histria da conquista do voto

    feminino. Aconteceu na constituinte republicana de 1890 que as primeiras manifestaes em

    favor do direito poltico para a mulher brasileira. Na constituinte, por iniciativa de Lopes

    Trovo e outros, foi apresentada emenda, concedendo direito de voto mulher.

    Mas a emenda foi rejeitada. Um dos motivos para essa rejeio foi o fato de no

    haver um movimento feminino para acompanhar os debates.

    No Brasil, a emancipao feminina teve como sua precursora a educadora

    Leolinda de Figueiredo Daltro, natural da Bahia. Exercera o magistrio em Gois, onde

  • 16

    trabalhou na catequese dos silvcolas. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde se tornaria

    professora catedrtica municipal e chegaria direo da Escola Tcnica Orsina da Fonseca. A

    fim de colaborar na campanha eleitoral para a presidncia da Repblica, fundou, em 1910, a

    Junta Feminina Pr-Hermes da Fonseca, de quem era amiga da famlia. Apesar das mulheres

    ainda no terem o direito do voto e com a vitria de seu candidato, continuou sua campanha

    pela participao da mulher brasileira na vida poltica do pas. Concorreu como candidata a

    constituinte no ano de 1933.

    necessrio ressaltar que no primeiro dia do ano de 1891, 31 constituintes

    assinaram uma emenda ao projeto da Constituio, de autoria de Saldanha Marinho,

    conferindo o voto mulher brasileira. A presso foi to grande que Epitcio Pessoa que havia

    subscrito a emenda, dez dias depois, retirou o seu apoio. Entre aqueles que foram signatrios

    da emenda constitucional, estavam Nilo Peanha, rico Coelho, ndio do Brasil, Csar Zama,

    Lamounier Godofredo e Hermes da Fonseca. Na sesso de 27 de janeiro de 1891, o deputado

    vigorosa dialtica exibida em prol da mulher-votante, no quis a responsabilidade de arrastar

    Em 1921, a campanha pelo voto feminino comea a ganhar expresso no cenrio

    poltico brasileiro. Bertha Lutz, em entrevista ao jornal Imparcial fala sobre a apresentao de

    uma emenda, de autoria dos deputados Bittencourt Filho e Nogueira Filho, sobre o sufrgio

    feminino. Cita exemplos de outros pases como Rssia (depois da revoluo socialista de

    1917), onde as mulheres figuravam na constituio e tinham plena igualdade com os homens;

    na Finlndia, um dos primeiros pases a estabelecer o voto feminino sem restries; Sucia,

    desde 1862; Noruega em 1913; Dinamarca, 1915, alm da Holanda, Letnia, Grcia, ustria,

    Polnia, Inglaterra, EUA, e Mxico.

    As mulheres brasileiras se organizaram na licena Internacional de Mulheres.

    Bertha Lutz foi delegada oficial do Brasil na Conferncia de Mulheres, realizada em

    Baltimore (EUA), em 1922. Ao regressar, transforma a Liga para Emancipao Feminina,

    fundada em 1919, na Federao Brasileira pelo Progresso Feminino.

    Durante mais de uma dcada as mulheres brasileiras realizavam a campanha pelo

    voto feminino. Algumas, de mentalidade mais avanada, agrupam-se no Partido Republicano

    Feminino: na aliana Nacional de Mulheres: na Legio da Mulher brasileira: na junta

    Feminina pr-Hermes/Venceslau, que foi a primeira agremiao a colaborar com as eleies

    presidenciais.

  • 17

    Aprovado em outubro de 1922, pelo Congresso Jurdico Brasileiro oportunidade

    do voto Feminino.

    Em 1926 o jornal Folha da Noite, noticiava que no Congresso de Minas Gerais se

    discutia um projeto de reforma da Constituio do estado, visando aprovar uma Emenda

    concebendo s mulheres o direito de votarem e serem votadas nas eleies estaduais. Na

    mesma poca, Juvenal Lamartine defendia na Plataforma de Governo, no Rio Grande do

    Norte, o voto feminino. Foi eleito e deu incio ao seu programa administrativo. O artigo 77

    das Disposies Gerais da lei Eleitoral, daquele estado consagrava a conquista feminina.

    O Presidente Getlio Vargas resolve simplificar e todas as restries s mulheres

    so suprimidas. Atravs do Decreto n. 21076, de 24 de fevereiro de 1932, institudo o

    Cdigo Eleitoral Brasileiro, e o artigo 2 disciplinava que era eleitor o cidado maior de 21

    anos, sem distino de sexo, alistado na forma do cdigo.

    Vale ressaltar que as disposies transitrias, no artigo 121, dispunham que os

    homens com mais de 60 anos e as mulheres em qualquer idade podiam isentar-se de qualquer

    obrigao ou servio de natureza eleitoral. Logo, no havia obrigatoriedade do voto feminino.

    No dia 30 de junho de 1932, uma comisso de mulheres recebida no Palcio do

    Catete, pelo presidente Getlio Vargas, que recebe um memorial com mais de 5.000

    assinaturas, no qual pleiteavam a indicao da lder feminista Bertha Lutz como uma das

    participantes da comisso que deveria elaborar o anteprojeto da nova Constituio Brasileira.

    Pouco mais de uma semana faz-se em So Paulo a Revoluo Constitucionalista e todas as

    atenes so dirigidas ao conflito.

    A Constituio de 1988 reflete o avano da organizao e da luta das mulheres.

    considerada hoje uma das Constituies mais avanadas do mundo em relao populao

    feminina, tendo incorporado as reivindicaes do movimento feminista de forma a garantir na

    forma da lei um certo patamar de igualdade social entre homens e mulheres. A partir de ento,

    embora aqum do esperado, as mulheres comearam a se eleger para o Senado, para a Cmara

    Federal, Assemblias Legislativas, Cmaras Municipais e postos executivos: Prefeitas e Vice-

    Prefeitas em quase todos os Estados Brasileiros. No Maranho foi eleita Roseana Sarney, a

    primeira governadora do Brasil,.

    Em nosso pas, as mulheres constituem maioria do colgio eleitoral porm, ainda

    no tm a mesma possibilidade de ascender aos cargos pblicos que os homens, que vem

    sedimentando a sua participao poltica h muitas dcadas.

    A necessidade de organizao e luta das mulheres ainda fundamental tanto

    para garantir as conquistas at agora conseguidas, como tambm para ampli-las, um dos

  • 18

    requisitos bsicos para a capacitao poltica da populao feminina em geral e para as

    candidatas em particular, o reconhecimento da trajetria do movimento feminista e de luta

    na busca constante da equidade social.

    Diante da ambiciosa e enorme tarefa as mulheres precisam reunir esforos para

    construir um novo tempo, onde a mulher ocupar plenamente o seu espao no mercado de

    trabalho e assumir, ao lado do homem, o seu papel de agente transformador na sociedade

    brasileira.

    1.3 A atuao da mulher no campo de trabalho

    Foi a partir da dcada de 70 no sculo XX que se deu uma grande transformao

    desta conjuntura com a insero das mulheres no mercado de trabalho no Brasil. Dentro desse

    novo contexto social, a mulher passa a transpor novos horizontes e comea a competir com o

    homem pelo espao externo de trabalho. O papel social feminino se altera atravs das

    mudanas da sociedade, pelos meios de produo e, principalmente pelas transformaes

    econmicas.

    Conforme Scott apud Oliveira (1999), a entrada da mulher no mercado de trabalho

    se apresentou de forma intensa e diversificada, no apresentando um declnio mesmo com as

    crises econmicas. Contrariamente, entende-se que a partir das crises econmicas que a

    participao feminina torna-se mais propensa. Conforme dados da Fundao Carlos Chagas,

    Analisar a temtica do trabalho segundo uma perspectiva de gnero permite

    perceber que os papis sexuais, os quais so socialmente construdos, condicionam a

    participao dos homens e das mulheres no mercado de trabalho.

    O trabalho da mulher na Idade Mdia era realizado no mbito do prprio lar ou

    em atividades artesanais, prevalecendo neste contexto a estrutura patriarcal. Embora criadas

    para obedecer, percebe-se nesta poca o trabalho da mulher com uma significativa

    importncia para a vida econmica das cidades.

    cipantes de inmeras

    atividades, conhecedoras de muitos ofcios, sua presena nas corporaes, nas associaes de

    -se com isto a desvalorizao do trabalho

  • 19

    feminino nesta poca. fora do lar, no passava de principiante, quer na oficina da corporao,

    quer no lar, pelo homem representado na figura do pai ou marido.

    J no sculo XVIII, entre as grandes transformaes vivenciadas pela sociedade,

    verifica-se o surgimento do proletariado feminino que se caracteriza pelo ingresso das

    mulheres no trabalho em domiclio, visto que eram rejeitadas pelos homens para trabalhar nas

    fbricas (OLIVEIRA, 1999, p.59).

    Entretanto no sculo XIX, pode-se observar uma maior insero das mulheres nas

    fbricas, porm j se expressam as relaes de desigualdade sobre as mulheres: ser operria

    torna-se ideologicamente o oposto de ser feminina. Isto representava uma ousadia, embora a

    remunerao conseguida pelo seu trabalho repercutisse no equilbrio financeiro para a famlia

    (PERROT apud OLIVEIRA, 1999).

    A insero da mulher em um espao por muito tempo considerado

    majoritariamente masculino acabou por fazer com que a mulher assumisse tanto o trabalho

    fora de casa como o trabalho domstico, sobrecarregando-a com uma dupla jornada de

    trabalho.

    Como destaca Perez (2001, p.52):

    Responsveis pela maioria das horas trabalhadas em todo o mundo, as mulheres,

    generosamente, cuidam das crianas, dos idosos, dos enfermos, desdobrando-se em

    mltiplos papeis. Esquecidas de si mesmas, acabam por postergar um debate que se

    faz urgente: a diviso desigual das responsabilidades da famlia, a injustia de

    sozinha, ter de dar conta de um trabalho de que todos usufruem.Fica evidente a

    sobrecarga de responsabilidades das mulheres em relao aos homens. As mulheres

    so as principais responsveis pelas atividades domsticas e pelo cuidado com os

    filhos e demais familiares, alm das suas atividades econmicas. Exemplificando

    concretamente essa sobrecarga, observa-

    atividades

    (FUNDAO CARLOS CHAGAS, 2007).

    Percebe-se a mudana que vem ocorrendo entre os anseios das mulheres,

    decorrente de um processo de globalizao que as empurra para o mercado de trabalho.

    O trabalho a maior conquista feminina, ou seja, o entendimento do trabalho

    enquanto atividade emancipadora um grande ganho para as mulheres, conforme afirma

    Coelho (2002).

    realizao pessoal, por ser um espao construdo individualmente, no qual se sentem

  • 20

    As mulheres iniciam uma luta pela equiparao de salrios e jornada de trabalho,

    pois no basta conquistar seu espao no processo produtivo, tem ainda que conquistar direitos

    que muitas vezes so oferecidos aos homens e no a elas. Carvalhal (2002) afirma:

    Veremos que quando a mulher ingressa no mercado de trabalho, passa a realizar

    os em relao aos dos homens

    mesmo realizando funes similares. Associado, a isso, a funo remunerada

    pressups a existncia de jornada dupla de trabalho e o conflito interno por deixar a

    casa e filhos em busca de trabalho remunerado e profissionalizao. E no processo

    sindical h o surgimento da terceira jornada de trabalho, com a insero das mulheres

    na poltica sindical, no trabalho remunerado, quando no obtm afastamento

    temporrio para se dedicar a essa funo somente e a funo domstica de cuidar da

    casa e dos filhos. (CARVALHAL, 2002, p. 36).

    Diniz (2002) demonstra que o novo dilema da mulher de hoje priorizar a

    ascenso profissional em detrimento da maternidade. A autora deixa claro no seu artigo o alto

    preo cobrado s mulheres que se dedicam a construir uma carreira profissional, deixando em

  • 21

    2 ASPECTO METODOLGICO

    Para a realizao desse trabalho foram utilizados dois procedimentos que

    permitiu-se encontrar o caminho para o desenvolvimento dos estudos e sua execuo.

    O procedimento inicial foi a pesquisa bibliogrfica que permitiu a partir do

    dupla jornada de trabalho ou

    trabalho redobrado, no emprego e no lar, que sobrecarrega violentamente a mulher e acarreta

    feminino onde a mulher passa, cada vez mais, ocupar espao no mercado de trabalho. E com

    isso, ela tem que lidar com situaes de ter um trabalho em casa, se responsabilizando pelas

    tarefas domsticas, reproduo e criao dos filhos e um trabalho fora de casa para que possa

    contribuir com o oramento domestico, ou at mesmo mante-lo, fato que muito acontecido

    nos dias atuais.

    E, com isso, a mulher passa a exercer a dupla jornada de trabalho que em muitos

    casos implica numa srie de conseqncias nas relaes familiares.

    O segundo procedimento dessa pesquisa, consta-se de um estudo de natureza

    exploratrio-descritiva, com abordagem qualitativa, que buscou analisar a insero da mulher

    no mercado de trabalho na cidade de Arenpolis-GO, a dupla jornada feminina de trabalho e

    seus impactos nas relaes familiares.

    2.1 Sujeitos e amostra do estudo

    Os sujeitos da pesquisa foram 20 mulheres, que exercem a dupla jornada de

    trabalho, ou seja, trabalham em sua unidade domstica e fora da mesma, na cidade de

    Arenpolis-GO, no ano de 2009.

    As mulheres que compuseram a amostra foram convidadas a participarem de

    forma espontnea, sendo informadas pela pesquisadora sobre o objetivo do estudo, e se

    comprometendo a manter o anonimato das mesmas.

    2.2 Instrumentos e fases da pesquisa

    Nessa pesquisa de campo foram utilizados dois instrumentos de pesquisa.

    A primeira etapa da investigao constou da realizao de entrevistas semi-

    estruturadas com 20 mulheres trabalhadoras que exercem atividade no lar bem como fora do

  • 22

    lar, sobre o seu perfil ocupacional. Deste modo, entende-se que os conhecer

    Segundo Trivios (1992), a entrevista semi-estruturada

    [...] parte de certos questionamentos bsicos, apoiados em teorias e hipteses, que

    interessam pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas,

    fruto de novas hipteses que vo surgindo medida que se recebem as respostas do

    informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu

    pensamento e de suas experincias dentro do foco principal colocado pelo

    investigador, comea a participar na elaborao do contedo da pesquisa (p.146).

    Aps o levantamento de dados, todas as entrevistas foram analisadas

    individualmente. Com anlise embasada teoricamente nos autores propostos pelo trabalho. As

    entrevistas foram avaliadas de maneira discursiva e qualitativa.

    A segunda etapa constou de um questionrio com perguntas relacionadas ao perfil

    social e scio econmicas dessas mulheres trabalhadoras.

    Na elaborao do questionrio, teve-se a preocupao de formular perguntas de

    forma clara e precisa, podendo ser respondidas sem dificuldades. Os questionrios foram

    aplicados individualmente conforme disponibilidade das trabalhadoras. O anonimato das

    respondentes foi preservado. E os dados dos questionrios realizados, tambm foram

    analisados atravs de embasamento terico.

    E, finalmente, com todo referencial bibliogrfico e levantamento de dados prontos

    foi possvel chegar algumas concluses ilustrativas de como as mulheres lidam com a

    sobrecarga pela "dupla jornada

    domsticas, tendo que conciliar trabalho e famlia.

    Visto que a dupla jornada de trabalho das mulheres no mera alegao, fato.

    Que apesar de todas as conquistas no mbito social, seu papel dentro da entidade familiar

    ainda mantem-se praticamente inalterado em muitas famlias brasileiras, onde tem que cuidar

    dos filhos e da casa. E por conta desse descompasso, entre o papel da mulher para a

    sociedade e aquele que tem dentro da famlia, que a dupla jornada de trabalho surge como

    conseqncia.

  • 23

    3- OS REFLEXOS CAUSADOS NO CONTEXTO DA FAMLIA A PARTIR DA

    INSERO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

    Para apresentar os resultados e discusso desta pesquisa primeiramente busca-se

    apresentar o municpio onde foram realizadas as entrevistas e aplicado os questionrios.

    3.1 O local da pesquisa

    A pesquisa foi realizada em Arenpolis, GO, cidade onde reside a pesquisadora,

    uma mulher que vive na sociedade moderna, e lida com os desafios em exercer a atividade

    remunerada, tendo que conciliar o trabalho com os afazeres domsticos, motivo pelo qual foi

    escolhida, e realizada a pesquisa que aconteceu no ano de 2009.

    Arenpolis possui uma rea de 1.075 km, com uma populao de

    aproximadamente 3.980 habitantes sendo, 2.064 do sexo masculino e 1.916 do sexo feminino.

    Faz parte do Estado de Gois, com cerca de 1.078 kilmetros quadrados de rea1. Possui uma

    densidade populacional de quase 3.69 habitantes por Km.

    Surgiu a partir de um pequeno arraial, inicialmente chamado de patrimnio do

    Areia, nome este oriundo do nome do ribeiro que banha a regio. O povoado ganha a sua

    primeira batalha rumo emancipao, sendo elevado categoria de Distrito de Piranhas com

    o nome de Arenpolis, atravs da Lei 7474, de 02-12-1971 votada na Cmara Municipal de

    Piranhas. O distrito foi instalado em 15-04-1972.

    O distrito foi desmembrado de Piranhas atravs da Lei Estadual n 9153, de 14 de

    maio de 1982, tornando-se municpio e conservando o mesmo nome do distrito. A 1 de

    fevereiro de 1983 foi instalado o Municpio de Arenpolis, passando a constituir Termo da

    Comarca de Piranhas. A economia baseada na pecuria semi-extensiva, com pouca

    tecnologia agrcola e suporte estrutural.

    3.2 Entrevistas com as trabalhadoras

    A partir dos relatos das entrevistas com as trabalhadoras, percebe-se que a funo

    predominante entre as mulheres que exerce fora da unidade familiar, est a de secretria,

    seguida de atendente no comercio local e domestica. Exercendo oito horas de trabalho

    semanal fora da unidade familiar, trabalhado um total ente 5 e 6 dias.

    1 nte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demogrfico 2000 - Malha municipal digital do Brasil: situao

    em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004

  • 24

    Quando solicitadas a falar sobre o trabalho na vida delas, algumas mulheres

    entrevistadas disseram que a importncia do trabalho no se resumia a uma questo de

    sobrevivncia, ou seja, o trabalho no tem apenas sentido de produo.

    Segundo Bruschini (1990), um dos fatores que mais influenciou a mulher a sair da

    esfera privada foi por questo de necessidade econmica, que se intensificou com a

    deteriorao dos salrios reais dos trabalhadores e que as obrigou a buscar fora do lar, uma

    complementao da renda familiar.

    Segundo as mulheres entrevistadas, algumas trabalham por necessidade, porm

    outras disseram que trabalham tambm por satisfao pessoal.

    Isso vm demonstrar que a participao da mulher no mercado de trabalho se deu

    primeiramente devido o fator financeiro, mas hoje o seu trabalho realizado tambm pela

    satisfao pessoal.

    FISCHER (2002) diz que, ao ingressar no mercado de trabalho, a mulher antes de

    buscar a igualdade ou tentar fugir da rotina cotidiana das tarefas domsticas, tem em mente

    conseguir um salrio para contribuir no oramento familiar.

    Em relao aos cargos das entrevistadas, podem at fazer horas extras, mas no

    recebem, pois so ocupam os cargos de domesticas, comerciantes, e infelizmente nem todos

    os direitos ainda no so cumpridos no Brasil.

    Ao falarem sobre a ocupao profissional do esposo, foi relato que na maioria dos

    casos trabalham em escritrio, comercirios e de atividade autnoma.

    Segundo essas mulheres os salrios deles e melhor ou bem idnticos aos delas.

    Alm de contar com folga nos finais de semana, horas para o almoo, etc. Ao passo que elas

    quando chegam do trabalho tem que se preocupar em prepara o almoo, arruma a casa, olhar

    deveres de casa das crianas, etc.

    Para BRUSCHINI (1994, p. 56),

    a desvalorizao do trabalho feminino brasileiro algo enraizado, as mulheres quando

    ingressam no mercado de trabalho passam a realizar as funes ditas femininas,

    recebendo baixos salrios em relao aos homens mesmo com funes de emprego

    similares. Alm da dupla jornada de trabalho, a mulher vive sua vida em funo do

    emprego e tarefas de casa e filhos.

    Quando questionadas sobre se os companheiros ajudam elas nos afazeres

    domsticos, encontrou-se um resultado surpreendente, onde a maioria da mulheres dizem no

    receber nenhuma ajuda, e a minoria diz que recebem ajuda nos afazeres domsticos.

  • 25

    As mulheres que tm companheiros assumem maior responsabilidade com a casa e

    a diviso do trabalho domstico entre os sexos, numa perspectiva de gnero, ainda ocorre de

    maneira desigual. Embora os dias de folga coincidirem, esposo e esposa, infelizmente, muitos

    homens tem-se a concepo que arrumar a casa coisa de mulher, ainda tem-se vrios casos

    de machismo

    Segundo a autora, Gomes (2000, p.37), no decorrer do seu estudo, sobre maior

    incidncia de tarefas ocupadas pelo sexo feminino ocupadas das tarefas domsticas, conclui

    que:

    Os papis da mulher e da menina se encontram no trabalho domstico, pois uma

    forma de trabalho conduzida e reproduzida no ambiente privado, espao socialmente

    destinado figura feminina. Ou seja, para se compreender esse trabalho,

    necessariamente, tem-se que associar histria da mulher. Por isso, entende-se

    trabalho domstico infanto-juvenil como uma questo de gnero

    As mulheres se emocionaram ao falarem sobre os filhos, que nem sempre ficam

    juntos no dia de folga, pois tem que aproveitar o tempo para colocar as coisas em dia. Mas

    quando acontece de ficar, tudo motivo de festa. J esto cansados de ficarem com a

    ajudante, que quase nem tempo pra uma conversa tem.

    No que diz respeito aos filhos sentem que a ausncia feminina no espao

    domstico torna-se um problema. Na percepo das mulheres participantes da pesquisa, a

    ausncia no cuidado dos filhos tende a gerar uma situao de abandono e descuido dos

    mesmos.

    Para elas, na concepo da sociedade, isto ocasiona uma educao insuficiente e

    uma situao social problemtica.

    Nesse sentido percebe-se que a mulher acaba de sentir-se culpada pela ausncia

    do lar, e coloca sobre ela toda a responsabilidade no cuidado com os filhos, e quando sente

    que no est cumprindo adequadamente com a sua funo de me, passa a se cobrar, percebe

    que os filhos cobram e a sociedade tambm cobra. Nos relatos expressados pela maioria das

    mulheres pesquisadas fica evidente a preocupao com o cuidado dos filhos como sendo uma

    responsabilidade sua.

  • 26

    3.3 Questionrio aplicado as mulheres trabalhadoras

    A discusso aprofundada das entrevistas resultou na realizao de uma pesquisa

    emprica junto as trabalhadoras. Foram entrevistadas 20 mulheres e nessa segunda etapa as

    entrevistas foram feitas em questionrios que tiveram como objetivo a obteno de dados

    relacionados ao perfil social e scio econmicas dessas mulheres trabalhadoras.

    Os resultados foram organizados em grficos para a melhor interpretao dos

    dados.

    A idade das mulheres deste estudo variou entre 20 e 50 anos. 40% das

    entrevistadas tem de 20 a 30 anos; 25%; tem de 30 a 40 anos e 35% esto com idade entre 40

    a 50 anos.

    De acordo com os dados nota-se que a maioria das mulheres comeam a trabalhar

    desde cedo, e muitas so as razes que levam mulheres a trabalharem: necessidade financeira,

    desejo de realizao profissional, pouca identificao com atividades domsticas etc.

    40%

    25%

    35%

    Figura 1: Percentual segundo a idade das muleres que exercem

    a dupla jornada na cidade de Arenopolis-GO em 2009

    20 a 30 anos

    30 a 40 anos

    40 a 50 anos

    Em relao ao estado civil das mulheres entrevistadas, nota-se que a maioria 35%

    esto atualmente separadas enquanto a minoria so casadas 15% , as que esto solteiras

    representa 30% e tem-se 30% que vivem uma unio consensual (Figura 2).

    De acordo com esses dados, v-se que essas mulheres esto trabalhando por

    necessidade econmica, sofrem com o conflito em ter que trabalhar fora de casa, pois

  • 27

    desempenham unicamente o papel de provedora do sustento e me, mas porem, preferem

    Goldenberg (2005), colabora com essa afirmao quando diz que um fenmeno

    importante, que tem enfraquecido as unies permanentes o fato das mulheres se tornarem

    mais independente economicamente, podendo romper com as unies indesejadas.

    As mulheres que trabalham adquirem consideravelmente mais poder e um maior

    sentimento de autonomia pessoal do que as que no trabalham. Com a capacidade de se

    sustentarem tendo assim, possibilidade de se sentirem mais livres.

    15%

    20%

    35%

    30%

    Figura 2 - Percentual, segundo o estado civil, das mulheres

    entrevistadas na cidade de Arenpolis-GO, no ano de 2009

    Casada

    Solteira

    Separada

    Unio Concensual

    Quando foram questionadas as mulheres entrevistadas sobre a maternidade, se tem

    ou no filhos, e qual o numero de filhos. Foi possvel perceber que para essas mulheres a

    maternidade no est em primeiro plano, onde 65% dizem que no tem filhos e 35% falaram

    que tem filhos. (Figura 3).

    BLAY (2001), explica esse fato da queda da taxa de fecundidade, onde a mulher

    tem cada vez mais adiado seus projetos pessoais, como a maternidade se justifica pelo fato de

    querer consolidar sua posio no mercado.

    Outro fato que confirma que o numero de filhos nas famlias brasileiras tem

    diminudo pode ser observado na (figura 4), onde a maioria das mulheres 37% no tem filhos,

    logo em seguida 32% das mulheres dizem ter apenas 1 filho, 21% dizem que tem 2 filhos e

    apenas 10% das mulheres dizem ter 3 filhos.

  • 28

    Segundo Vargas (1994), a reduo da fecundidade que ocorreu com mais

    intensidade nas dcadas de 1970 e 1980. Com menos filhos, as mulheres puderam conciliar

    melhor o papel de me e trabalhadora.

    35%

    65%

    Figura 3: Percentual de mulheres que dizemter filhos cidade de

    Arenopolis em 2009

    Sim

    No

    Na observao das caractersticas pessoais da populao estudada, verifica-se que

    o grau de escolaridade predominante das mulheres que exercem a dupla jornada de trabalho

    na cidade de Arenpolis-GO apenas o nvel fundamental (43%), o que vem refletir as

  • 29

    poucas oportunidades de insero no mercado de trabalho, o nvel mdio (33%), o nvel

    superior 24%. (figura 5).

    43%

    33%

    24%

    Figura 5: Percentual do nvel de escolaridade das mulheres na

    cidade de Arenopolis em 2009

    Nvel Fundamental

    Nvel mdio

    Nvel superior

    Em relao a renda familiar das mulheres que exercem a dupla jornada na cidade

    de Arenpolis Gois, a maioria 40% recebem por ms um salrio mnimo, 35% ganham de

    um a tres salrios mnimos, 15% recebem de trs a cinco salrios mnimos e 10% conta com

    uma renda familiar acima de 5 salrio mnimo. (figura 6).

    A figura 6, comprova que quanto menor o grau de escolaridade, menor o salrio.