Duas Bandeiras Quem é o Senhor Que Move II

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DUAS BANDEIRAS : “quem é o senhor que move o meu coração?” No 4 o . dia da 2 a . Semana dos Exercícios, S. Inácio dá uma “freiada brusca” no processo das contempla-ções da vida de Cristo para nele introduzir uma forte e violenta inspeção à decisão de seguir o Senhor. A meditação das Duas Bandeiras procura desmascarar os obstáculos estruturais que dificultam o segui-mento de Jesus Cristo. Há uma longa lista de realidades (saúde, força, poder, riqueza, honra, cultura, prestígio, prazer, inteligência, imagem, afetividade...) que em si mesmas não são más. Contudo, na medida em que o ser humano convive com elas, usa delas e se acostuma com elas, criam-lhe uma dinâmica interior favorável ao egoísmo, ao “afeto desordenado”, contrários à dinâmica do seguimento de Jesus. O engano acontece quando nosso coração se apega “pulsionalmente” a essas “riquezas” até depender delas; nesse caso, elas deixam de ser mediações do Reino para se convertem em ídolos do próprio coração O horizonte desta meditação é universalista: o confronto dos “dois projetos” opostos se dá em todo lugar, em todos os níveis, em todas as pessoas, em todo momento. É o eterno conflito entre o “homem velho” e o “homem novo”. Sabemos da perene e escorregadia tentação – uma mentira perigosa que aparece como “verdade”- de solucionar as inseguranças e medos de nosso eu através dos impulsos à cobiça que se aninham em nosso coração. Há coisas que são mentira, mas que aparecem como verdade; aí se enraiza seu atrativo. Objetivos : teste da inteligencia; dar critérios para discernir, clarificar nossas idéias, iluminar a inteligência, saber distinguir o que é de Cristo e o que é do inimigo; : verificar a autenticidade de nosso seguimento quê Cristo queremos seguir? Somos tentados a ler o Evangelho a partir de nossos interesses, ideologias, maneiras de ser e viver, manipulando e desfigurando a pessoa de Cristo, modelando-o à nossa imagem e ao nosso gosto); Pedir : claridade e lucidez para perceber dois chamados contrários em minha vida; conhecimento para discernir quando Jesus é quem me chama e quando é o mau espírito que me engana. Composição vendo o lugar : imaginar-me e recordar em que mundo estou, em que país, cidade, e co- mo em cada área de minha realidade vivo duas tendências radicais e opostas: Jesus e seu espírito me chama à liberdade e o mau espírito à opressão. 1 a . Parte: O CAMINHO DO POSSUIR E DO PODER

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DUAS BANDEIRAS: “quem é o senhor que move o meu coração?”

No 4o. dia da 2a. Semana dos Exercícios, S. Inácio dá uma “freiada brusca” no processo das contempla-ções da vida de Cristo para nele introduzir uma forte e violenta inspeção à decisão de seguir o Senhor. A meditação das Duas Bandeiras procura desmascarar os obstáculos estruturais que dificultam o segui-mento de Jesus Cristo. Há uma longa lista de realidades (saúde, força, poder, riqueza, honra, cultura, prestígio, prazer, inteligência, imagem, afetividade...) que em si mesmas não são más. Contudo, na medida em que o ser humano convive com elas, usa delas e se acostuma com elas, criam-lhe uma dinâmica interior favorável ao egoísmo, ao “afeto desordenado”, contrários à dinâmica do seguimento de Jesus.O engano acontece quando nosso coração se apega “pulsionalmente” a essas “riquezas” até depender delas; nesse caso, elas deixam de ser mediações do Reino para se convertem em ídolos do próprio coração

O horizonte desta meditação é universalista: o confronto dos “dois projetos” opostos se dá em todo lugar, em todos os níveis, em todas as pessoas, em todo momento. É o eterno conflito entre o “homem velho” e o “homem novo”.Sabemos da perene e escorregadia tentação – uma mentira perigosa que aparece como “verdade”- de solucionar as inseguranças e medos de nosso eu através dos impulsos à cobiça que se aninham em nosso coração. Há coisas que são mentira, mas que aparecem como verdade; aí se enraiza seu atrativo.

Objetivos: teste da inteligencia; dar critérios para discernir, clarificar nossas idéias, iluminar a inteligência, saber distinguir o que é de Cristo e o que é do inimigo; : verificar a autenticidade de nosso seguimento – quê Cristo queremos seguir? Somos tentados a ler o Evangelho a partir de nossos interesses, ideologias, maneiras de ser e viver, manipulando e desfigurando a pessoa de Cristo, modelando-o à nossa imagem e ao nosso gosto);

Pedir: claridade e lucidez para perceber dois chamados contrários em minha vida; conhecimento para discernir quando Jesus é quem me chama e quando é o mau espírito que me engana.

Composição vendo o lugar: imaginar-me e recordar em que mundo estou, em que país, cidade, e co- mo em cada área de minha realidade vivo duas tendências radicais e opostas: Jesus e seu espírito me chama à liberdade e o mau espírito à opressão.

1 a . Parte: O CAMINHO DO POSSUIR E DO PODER

* APÊGO A ALGO (“coisas”, riquezas, talentos...)* LEVA AO APÊGO A SI (tenho algo, logo sou alguém = Eu com muitas coisas como fonte da felicida- de e da segurança mais profunda)* PASSO A PREFERIR-ME AOS OUTROS (“eu sou mais do que eles” = Eu acima dos outros como fonte de felicidade e da segurança mais profunda)* E DAÍ CHEGO À HONRA VÃ, À AUTO-SUFICIÊNCIA, soberba, absolutização do EU, incapaci- dade de um dom autêntico, de amar.

- Considerar como o mau espírito chama, convoca, estimula e move todas as pessoas (em todos os lugares e continentes) e também a cada um de nós;- Considerar igualmente de que modo ele trabalha em cada um de nós: de um modo progressivo, seduzindo pri-

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meiro pelo ter dinheiro/riquezas, para seguir com prestígio/honras e finalizar com a ânsia de poder/soberba - Considerar como o mau espírito nos lança na corrente natural de nossa sociedade, tanto pelos meios de comu-

nicação, como pelo modo de trabalhar que têm as instituições, pela forma de se dar a valorização “normal” das coisas, etc., levando-nos a reproduzir e integrar um dinamismo de sociedade de consumo, de sociedade que busca o prestígio para proveito próprio e que acumula poder em benefício de poucos.

- Considerar como o mau espírito – e seu dinamismo – quer encarnar-se e predominar em nossas atitudes para atrair-nos como militantes deste sistema que vai oprimindo e produzindo cada vez mais excluidos Riqueza-honra-soberba: daqui decorre todos os outros vícios. - Verificar nossos bens com os quais nos identificamos: - bens materiais: comodidade, segurança, posse... - bens sociais: prestígio, fama, ser bem quisto... - bens corporais: aparência, imagem...

- bens de ordem psicológica, de ordem intelectual, afetivo...

2 a . parte: O CAMINHO DO DESPOJAMENTO E DA SOLIDARIEDADE

Primeiro passo: propõe a relativização do ter (desprendimento, desapêgo) e estar pronto a renúncias (pobreza). O principal para ser feliz é ser filho(a) e irmão(ã). Esta é a grande riqueza. Quanto às coisas, é capaz de abrir mão de tudo, se necessário; aberto à solidariedade. Pobreza implica respeito às coisas (elas tem um valor, carregam uma riqueza para todos).

Segundo passo: não basta ser livre em relação às coisas para ser feliz; é preciso não estar preso ao que di- zem, à situação que ocupa na sociedade, ao status... é preciso liberdade interior em rela- ção à honra, prestígio... estando pronto a passar por humilhações, ser tido por louco, se isto for mais importante para ser mais solidário... Propõe a felicidade e a segurança pro- funda a partir da morte do sonho de “ostentar grandeza”.

Terceiro passo: mas não basta a liberdade interior em relação ao ter e ao prestígio. É preciso liberdade interior em relação a si mesmo. Quem ama coloca no centro a pessoa amada. Está pron- to para servir. Quem chega a isto (humildade), é capaz de um Amor sem reservas, pronto para sacrificar tudo. A humildade é andar na verdade; é reconhecer Deus como Absoluto; é renhecer a verdade de meu ser (abertura, disponibilidade a Deus...) Em hebraico, pobreza e humildade tem a mesma raiz: inclinar-se, curvar-se diante de Deus, submissão amorosa...Pedagogia de Jesus: leva ao desapego das coisas, depois ao das honras e por último à grande abertura aos outros, com muito desejo de estar a serviço. E a partir disto, leva a todo o bem.

- Considerar como Jesus chama, convoca, estimula e move todas as pessoas, em todos os lugares e momentos

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da história, e a cada um de nós, pedindo: * não absolutizar dinheiro-riqueza-comodidades-consumo; * não entregar a própria vida para a escalada de prestígio, honras, boa-posição; * não admitir a primazia de nenhum poder sobre as pessoas, nem o manejo das pessoas. De modo que: * diante do dinheiro, lutar para viver com simplicidade, em favor do pobre e de seus interesses, inclusive podendo implicar para alguns viver com eles e como eles; * diante da escalada de honras e influências, lutar pelos direitos e igualdade de todos, através do empenho constante, sem admitir outra honra a não ser servir aos demais; * diante da primazia do poder, lutar em favor do marginalizado e do despossuído, dos que foram despojados de sua dignidade, de sua liberdade, de sua voz, de sua participação... - Considerar como Jesus – e seu dinamismo – quer viver em nós, em cada uma de nossas atitudes, de tal modo que sejamos militantes da libertação integral de todos no seu seguimento.

Textos bíblicos: 1) EE. 136-148 2) Ef. 6,10-20 3) Gal 5,13-25 4) Mt 13,24-30 5) Mt 5,1-11 6) Fil. 2,5-11 7) Mt 4,1-11