Drogadição Revisitada

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IV CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE PSICOLOGIA JUNGUIANA

Hotel Conrad Resort & Casino de Punta del Este De 2 a 7 de setembro de 2006.

1.Psicóloga, Educadora, Especialista em Neuropsicologia, Doutora em Ciências – Neurociência – UNIFESP. Av. Jurema, 602, apto 82 – Moema, CEP 04079 001, São Paulo, SP, Brasil - fone 55 11 5055 7877 E-mail: [email protected]

DO SIMBÓLICO AO FISIOLÓGICO: DROGADIÇÃO REVISITADA

Nassif, S.L.S1

Resumo A palestra amplifica a noção de símbolo e de função para englobar o subjetivo e o

objetivo e, a partir daí, descreve uma neurologia simbólica. A drogadição é então abordada

dentro do contexto emocional e bioquímico.

A neurobiologia envolvida nos remete ao estudo do sistema dopaminérgico, das

áreas de reforço e os aspectos plásticos a que estão sujeitos. A construção de modelos

animais mais fidedignos nos permitem investigar funções exacerbadas pelo uso da droga

que podem ser indicativos para novos rumos na expansão do conhecimento.

Na busca da compreensão desse entrecruzamento simbólico-fisiológico discutem-se

questões metodológicas de possíveis pressupostos teóricos, além das fronteiras

estabelecidas pela ciência, num tempo–espaço de interlocução sob um olhar processual.

Palavras-chave: símbolo; função estruturante; arquétipo matriarcal; arquétipo patriarcal; arquétipo

de alteridade; arquétipo de totalidade; neurologia simbólica; religiosidade; neurofisiologia;

dopamina; via mesocorticolímbica; reforço; neurotransmissor, ciência; metodologia; fronteira,

cognitivo; afetivo.

Drogadição questionamentos inter e transdisciplinares

Deixai fora toda esperança, ó vós que entrais!

Dante - Inferno, Canto III, 9

Há que se ter coragem para esse confronto dos “opostos”, na busca de compreender o

entrecruzamento do simbólico com o fisiológico, seja na pesquisa básica como na pesquisa

clínica, seja no laboratório de pesquisa como no atendimento clínico, aqui representados -

simbólico e fisiológico - pela fala do Dr. Carlos Byington e da Dra. Carla Tieppo, cada qual em seu

campo de competência, em sua ciência.

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Dessa mesma ciência que teve inícios na modernidade com Galileu, ao propor a reunião

de dois campos do saber, antes totalmente separados. Reuniu a experimentação dos

procedimentos dos artesãos, com os raciocínios lógico e abstrato, próprio da filosofia e da

matemática, dando origem, deste modo, à metodologia científica atual (ANDERY, 2000). Dessa

ciência que vem se diferenciando em múltiplos campos de conhecimento, criando limites,

“fronteiras”, ao definir métodos e objetos de estudo particulares. Busco encontrar um espaço e

lugar de interlocução sem essas fronteiras a definir e diferenciar os campos do saber. Busco, em

especial, um lugar que se situe nas cercanias, nas “fronteirías” (Saiz,1998), nos interstícios, de um

território intermediário, numa zona cinzenta, de penumbra, onde tudo se mescla no ainda

potencial. Nas cercanias onde se desfaz o definido, onde se tem a permissão para desconstruir,

num lugar de transgressão que se

“….constituye la frontera donde la frontera se extingue y se hace frontería, dando a

lugar a lo Foucoult llama “el pensamiento del afuera”,… “una forma de pensamiento

en la cual la interrogación de los límites reemplaza la búsqueda de totalidade y el

accionar transgressivo reemplaza el movimiento de las contradicciones.” (Trigo,

1991, p.90)

De tal sorte que, se possam confrontar esses dois universos distintos de conhecimento -

simbólico e fisiológico – na busca de se encontrar uma interação do “Eu com o Outro” que leve em

conta o cognitivo e o afetivo sob um novo olhar, um olhar processual. Desse olhar de alteridade

(Byington, 1998) de um “sujeito”, ao mesmo tempo, ôntico e ontológico, que possa reformular

aquelas relações “sujeito e objeto”, características da ciência.

Nesse tempo-espaço em que o pensamento hegemônico é quebrado, a competência do

domínio de conhecimento permanece e se produz o desapego das “verdades” que permitem a

abertura a novas possibilidades, num processo de mudanças que promove a ampliação e

amplificação do conhecimento (alteridade).

É como se fosse preciso tecer uma trama nessa fissura do pensamento dualista dominante

de nossa cultura, que separou tão radicalmente os diferentes domínios do saber. De tal forma que

possamos estabelecer novas conexões em um sistema em rede que lide com a complexidade dos

fenômenos internos e externos e com a multiplicidade de olhares dos diferentes campos do

conhecimento.

Esse desafio clama por propostas de solução ainda a serem formuladas, em uma visão

transdisciplinar que permita trazer a um só tempo e lugar a interlocução ampla das múltiplas

especificidades que exigem um processo elaborativo das mudanças a serem estabelecidas e que

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possam ser expandidas na relação Eu–Outro, no nível do individual ao coletivo, da personalidade

à cultura.

Toda essa diversidade pode ser representada pela reunião dos pensadores em um mesmo

tempo e lugar que o pintor renascentista Rafael Sanzio retrata no afresco da Escola de Atenas,

pintado entre 1509 e 1510, da coleção exposta na Stanza della Segnatura - Vaticano.

Há, portanto, necessidade de se re-dimensionar o olhar para a drogadição numa

convergência de compreensão desse foco que contemple as diferentes áreas do domínio do

saber, interligadas na busca de uma matriz comum, um fio condutor, que se disponha a interrogar

sobre as possibilidades de recuperação do sujeito, unindo teoria e pratica, clinica e pesquisa.

Referências Bibliográficas

ANDERY, M. A. (2000). Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. São Paulo: EDUC

BYINGTON, C. (1996). Arquétipo da Vida e o Arquétipo da Morte. Junguiana, v.14, p. 92-115.

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Byington, Carlos Amadeu Botelho (2004). A Construção Amorosa do Saber – Fundamento e Finalidade da Pedagogia Simbólica

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SAIZ, M.E. (1998). América Latina: nuevos paradigmas, fronteiras e interstícios simbólicos. In”: Anais do I Congresso Latino –

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STEKETEE, J. D. (2005). Cortical mechanisms of cacaine sensitization. Critical Review in Neurobiology, n. 17, v. 2, p. 69-86.

TRIGO, Abril (1991). Fronteras de la epistemología: epistemologías de fronteras. Papeles de Montevideo: n. 1(junio) p. 90

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