Dr. Ninguém

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Transcript of Dr. Ninguém

  • Maurcio RappDr. Ningum

  • Dr. NingumMaurcio Rapp

    Reviso: Edvilson MartinsCapa: Valdir Alves SoaresApoio: www.jconline.com.br

    Verso para eBookeBooksBrasilFonte digital:Documento da Autor

    2a. Edio Digital 2001 Maurcio RappAv. Dep. Cunha Bueno, 504 CEP 08561-310 PoSo Paulo [email protected]

  • ndicePrefcioAviso aos navegantesReconsiderao inicialA) Primeiro Tempo1. Algum muito especial2. Carta da despedida3. Caso Esmeralda 3.1. O dia do Pizza 3.2. Pequenas mentiras, grandes verdades. 3.3. O clube do cachorro 3.4. A mulher do PUM4. Testa-

    mento.5. Caso Darlin 5.1. Uma sonda espacial 5.2. Quem sou eu? Em quantos sou?6. Caso Walkria 6.1. Pode, no pode 6.2. Apaixonite Aguda de Terceiro Grau. 6.3. Como que mesmo? 6.4. Novos Dias7. Caso Desfecho Walkria8. Caso desfecho Esmeralda9. Caso Banco do Tempoltimo AvisoB) Segundo Tempo1. Caso SombraHora da verdadeContinuao... O SombraC) Prorrogao1. O caso DeusEsclarecimentos

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  • Dr. Ningum

    Maurcio Rapp

    Prefcio

    Existem vrias formas de viajar: seja em um navio ou emum sonho, em um avio ou em um sopro de esperana, em umautomvel ou mesmo na imaginao. Esta a ltima chamadapara o embarque em um passeio como voc, caro leitor, nuncaviu igual, se bem que voc, se aceitar o convite, ser muito maisque um mero leitor, mas cada coisa em seu devido tempo...

    Passado. So nossas lembranas, aquilo que temos comofato consumado e inaltervel, mas existem vrias formas de selembrar, a ponto de mudar nosso presente.

    Presente. Pensando bem, difcil situar o presente na linhado tempo, afinal, s temos certeza do que passado e do quepoder ser o futuro.

    Futuro. Provavelmente o mais belo entre os instantes, larda nossa esperana e eterna desculpa para nossos erros passados.

    Agora esquea passado e futuro, tudo que existe presen-te, guarde bem esta dica, que lhe ser muito til em sua jornadacaso voc queira vencer o grande desafio que est por vir...

    Maurcio Rapp ser seu guia nesta obra inesquecvel, dif-cil definir o perfil de uma pessoa em breves e simplrias pala-vras, mas acredito que o autor das pginas seguintes pode serconsiderado um filsofo urbano, fazendo da vida cotidiana umpalco e laboratrio humano, onde dos fatos mais simples quese aprendem as lies mais grandiosas.

  • Muitos aspectos provavelmente jamais estudados da vidaso abordados de forma natural e despojada, abrindo nosso cam-po de viso e nos ensinando a ter uma nova postura diante desituaes outrora ignoradas ou subestimadas.

    Diferente do conceito tradicional de um livro, ao longo daleitura um desafio lhe ser proposto, desafio este que superarquaisquer barreiras tanto intelectuais quanto emocionais que voc,leitor, pode ter.

    Renato Borges A. Prado

    Aviso aos navegantes

    Brincar com o tempo e com o espao. Privilgio dado ape-nas aos espritos inocentes, ingnuos e puros, como os de anjos ecrianas.

    Mas isso que esse autor, parecendo se tornar um rebentoquando escreve, faz, e essa histria mirabolante e ldica torna-se, deliciosamente, uma viagem onde a responsabilidade de com-preender e fazer dar sentido s coisas est em um nvel onde aracionalidade no pode suportar. Quem l se entrega de corpo ealma a uma verdade que passa a julgar a mais prxima da reali-dade e, por tanto, mais possvel de ser compreendida e aceita.Porm, quem escreve ou l ter que descobrir por si prprio quem, aproveitando este momento mgico, onde a leitura se transfor-ma em prazer, para jogar com uma intuio que aflora do interiordo seu ser. Isso faz com que haja um convencimento, em umaconjuntura de fatos, de que a histria j teve o seu fim, mas umaintrigante resposta, desvendando o segredo desta obra, traz umaoutra possibilidade sobre a verdade, fazendo com que uma sur-presa, misturada com extrema dose de leveza, estimule o leitor arefletir sobre uma nova realidade que lhe foi impetuosamentecalcada em suas idias. Esse suposto autoritarismo necessriopara que o leitor volte ao seu estado de conscincia material,

  • engajando-se novamente neste universo, depois de um passeiopor um mundo ainda desconhecido.

    Quem se aventura a entender as armadilhas e os entranhesda vida deve estar preparado para ler estas pginas, mas fica aquium recado aos menos favorecidos, aos que de alguma forma ain-da no esto preparados: No se iludam e nem se deixem enga-nar. um aviso que lhes dou, por ser companheiro.

    Tenham coragem principalmente quando pensarem que tudoacabou e que no pode existir mais nada. A surpresa ainda estpor vir. Quando sentirem que realmente foram trapaceados, este-jam atentos para que no caiam em erro novamente.

    No final, s o que vai restar voc e seus pensamentos:Isso eu garanto! E depois de lerem este escrito por completo, seestiverem realmente preparados para descobrirem o inesperado,algo posso prometer: Nunca mais sero os mesmos depois de Dr.Ningum.

    Este livro no apenas mais um, um a mais no universoque ainda est por vir.

    Reconsiderao inicial

    Se tem realmente certeza de que so capazes de compreen-der estas pginas, prossigam sem medo. Mas, o aviso j lhes foidado...

    Ao sentirem incerteza a respeito do futuro, fechem este li-vro e preparem-se antes.

    A decepo ir acompanh-los, pois este autor provar aincapacidade de todos em compreender coisas corriqueiras davida, como a morte. No digam que no foram avisados!

    E quando a descrena se fizer presente bem diante de seusolhos, e sentirem que realmente caram em uma armadilha, jser tarde demais para arrependimentos. Prestem muita atenopara compreenderem o primeiro tempo da histria, que consti-tuda em dois tempos e uma prorrogao, no sendo preciso nem

  • ir para os pnaltis, pois a marca da cal a cabea de quem l. um desafio a ser enfrentado. Os audaciosos, destemidos

    e os que tm esprito de aventura, sero de fato os vencedores.Quanto aos demais, apenas passaram sem marcas deixar.

    Seria voc um desbravador capaz de suportar a dor de sa-ber que foi incapaz? Se assim for, no final ser um vitorioso,caso contrrio, contar com seu nome no livro dos que tentaram.

    Aos vitoriosos, no final uma grande recompensa: Saber quesuportam sem repdio o fato de que foram capazes de compre-ender que no tinham capacidade para a compreenso total dosfatos.

    Desta forma, fica aqui o meu alerta final: No estremeam!E, se por algum momento sentirem vontade de destruir o autor,este ser o sinal de que o escritor venceu e vocs foram derrota-dos.

    Avante, que o mundo ainda muito belo e cheio de mist-rios! Estaria voc preparado para enfrentar esses mistrios? Squem ler saber...

    Dr. Ningum

    A) Primeiro Tempo

    1. Algum muito especial

    Eu sempre achei que a felicidade estava em encontrar umamulher com poderes sobrenaturais. Vocs j pensaram em umapessoa assim, que pudesse adivinhar o futuro, dizer o que fazerpara que tudo corresse bem? , poderia ser bem interessante co-nhecer algum desse jeito. Mas ser que eu encontro? No estoume referindo a uma bruxa, mas a uma fada, que pode estar bemperto de mim. Quem sabe eu j a conhea e nem saiba! Pois , oque eu mais desejo encontrar uma mulher muito especial, que

  • entenda de assuntos msticos e tenha respostas para tudo. Seria o mximo! Ganharia na loteria todas as semanas. Mas a felicidade maior seria poder viver sem me preocu-

    par com as coisas corriqueiras da vida. Tudo um mar de rosas!Minha mulher quem tomaria todas as decises no sentido deme proteger. Saber que h algum que se preocupa e cuida dagentes todos os dias, em todos os momentos, em todas as situa-es, deve ser sensacional.

    Bom, acho que j me entenderam, mas ainda no chegueiao cerne da questo. E , justamente, o ser feliz. Se houve-se umproblema, por mais grave que fosse, bastaria contar, e, de imedi-ato, teria a soluo. No se trata de macumba ou coisas dessegnero, apenas questes espirituais. E para uma mulher nestascondies, nem precisaria contar as coisas da vida. Antes mes-mo de acontecer, j saberia e alertaria para o caso, se que noresolvesse antes mesmo de acontecer. Isso, de certa forma, pode-ria tirar um pouco do meu sossego, da minha liberdade individu-al, mas faz parte do jogo, e a privacidade reduzida seria compen-sada pela falta de problemas que teria.

    Que timo, mas onde encontr-la? J procurei em bares, em discotecas, em igrejas, em par-

    ques, em tudo quanto lugar, mas em cada um deles aprendiuma coisa: se quero uma mulher que no fume e nem beba, bus-car em um bar quase um absurdo. Em uma igreja, o mximoque conseguirei alguma beata de f fervorosa, no que isso sejamal, mas no o que procuro.

    E, percorrendo todos esses caminhos, descobri que as pes-soas freqentam os lugares onde encontram alguma afinidade:espiritual, material... Assim sendo, onde poderia encontrar umafada?

    Fadas no devem com certeza, andar por bares, fazer Cooperem parques cheio de pessoas ou outras atividades humanas de-mais.

    Mas onde, que Diabos, pode-se encontrar uma fada? QueDiabos? Que contradio! Pedir uma fada evocando o Diabo.Credo! Acho que por isso as pessoas nunca acham exatamente oque querem. Pedem algo do tipo pea e lhe ser dado mas pedem

  • de forma errada, como um caso de uma amiga minha que voucontar agora:

    Uma pessoa de muita f. Algum que dificilmente deixa-se abalar por questes simplrias, mas, acima de tudo, de muitocarter e respeito pela vida, sua prpria, como pelas vidas alhei-as.

    Apesar de tanta correo de carter, um dia cometeu umtremendo engano ao formular pensamentos de forma errada.

    Andava a p, e a cada dia que passava, mais atividadesarrumava, de maneira que, tinha seu dia de apenas vinte e quatrohoras, quase ocupado por completo. Gastava parte desse tempo,se deslocando de um lado para o outro. Ento percebeu que se sedeslocasse mais rapidamente, economizaria muito tempo, e po-deria fazer mais coisas. Resolveu que j era hora de ter um carro,que a levsse rapidamente aos lugares. Formulou ento o seupensamento e pediu, pediu, pediu, fervorosamente, s um carro,um carrinho, como mesma dizia.

    E no que deu certo? Em menos de dois meses l estavaela andando com o seu carrinho. Na verdade, pode-se realmentedizer que era apenas um carrinho mesmo, e por pedir exatamenteisso, foi que se estrepou toda. E o danado do carro, um "fusqueta"ansio, s quebrava. A cada esquina um mecnico, e a cada ruaum cheque voando. O "apenas um carrinho" que tanto queria derepente se transformou em uma tremenda dor de cabea. Maisgastos que prazer. Mais tempo em mecnicos, funileiros, do quepropriamente andando no pi. O resultado foi que depois de umcerto tempo vendeu o carro. Melhor dizer, se desfez dele e vol-tou a andar a p, e como est at hoje.

    Mas a culpa foi de quem? Minha no foi. E quem vendeu,poderia ser responsabilizado? Acho que tambm no. Walkriano foi forada a comprar nada. A culpa foi dela mesma. Quemmandou pedir s por um carrinho. Conseguiu exatamente o quequis, e ningum pode ser responsabilizado por isso. Queria umcarrinho, teve um carrinho. E agora que arque com as conseq-ncias.

    , a vida muito engraada! Felicidade de uns tristeza deoutros. No pode existir a felicidade sem existir a tristeza... Es-

  • pera a, quer dizer que a culpa de existir a sombra a luz? Acho que da, entende-se muitos outros mistrios... Mas de algo estou bem certo: a infelicidade dela foi a feli-

    cidade do antigo dono do carro, que finalmente conseguiu sedesfazer da lacraia velha. , a vida s vezes bem engraada! Enessa grande comdia toda, ser que terei uma capacidade so-brenatural em formular um pensamento certo para encontrar aminha fada? S quero uma mulher melhor, bem diferente de to-das, com poderes bem especiais.

    2. Carta da despedida

    Durante toda minha vida fui forado a fazer coisas que noqueria, que no gostava. Toda minha existncia, em cada dia so-frido, em cada momento angustiante, sempre procurei tirar boaslies das situaes adversas e inesperadas. Mas j estou cansa-do. Decises a serem tomadas constantemente so coisas quedesgastam, e por me sentir meio sem foras foi que permiti meapaixonar novamente. Acho que foi isso mesmo, uma tentativade uma vida melhor, uma recarga de energia em potencial, cha-mada amor. Jamais poderei dizer que me arrependo de ter teamado.

    Durante algum tempo, voc, uma simples mulher, minhamestra, me ensinou mais do que aprendi em toda minha vida. Oamor no feito para aprisionar as pessoas. Amar construir, sou em conjunto, uma edificao slida de sustentao eterna.

    Meu castelo estou tentando construir, e quis voc dentrodele. Mas no foi isso que voc me respondeu. Nem assim, che-go a guardar rancor. Quem ama perdoa a cada instante, a cadamomento, a cada ao. E por te amar, fui forado por voc mes-ma a tomar mais uma difcil deciso, que como muitas outras jtomadas, tambm contra a minha vontade tenho que te deixarlivre como um pssaro.

    Se algum dia esse pssaro, que voc, resolver voltar da

  • longa imigrao, e se por acaso pousar de novo em meu cami-nho, quero te dizer que ficarei feliz novamente. No que eu este-ja infeliz agora. Um pouco chateado, confesso. Desanimado, detentar em vo despertar o seu amor por mim.

    Tudo em vo coisa nenhuma. Por mais simplrio que tenha sido nosso encontro, no foi

    de total desgraa. Momentos felizes tivemos, instantes raros depuro respeito, e disso no vou mais esquecer. Quero voc emmeu caminho, mas no quero interferir em teu caminho. Faa oque voc tem que fazer. Rasgue a tua seda de uma vez por todas,como eu fiz com a minha. Leia estas linhas que escrevo com ocorao aberto e sinta que no so palavras de despedida final,mas de um novo comeo, embora cada um de ns em um novocaminho. E que esse seu novo comeo seja tranqilo, harmonio-so e apaixonante. Voc merece, assim como eu, encontrar al-gum que de verdade seja uma pessoa decente para se manterum relacionamento vivo e animado. Sem dor, sem rancor, semdio. Desejo apenas que o amor que nasceu em mim nestes pou-cos dias possa te contagiar tambm, nem que seja apenas para terteu respeito eterno. Isso j seria mais do que o suficiente paramim, pois nunca pedi nada em troca, nunca , nada...

    Com lgrimas nos olhos, molho o teclado desta fria mqui-na que no sente emoo nem prazer, apenas calcula. No vivomais para calcular, apenas para sentir emoes, e quanto maisfortes elas forem, maior a lio que aprendo e maior o meu cres-cimento. Nunca mais eu fugi de algo que precisasse ser resolvi-do. Enfrento. Duramente me marco. Enfrente voc tambm o teucalvrio e siga direto pelo teu destino sem se deixar desviar porambulantes e transeuntes que s passam sem nada a nos ofere-cer. Siga meu exemplo e enfrente a tua realidade que no sei qual, mas seja forte, no deixe que te dominem, no deixe que amor-dacem tua boca., pois dela podero sair palavras salvadoras parateu esprito. Se voc mesma no se ajudar, ningum poder faz-lo. Eu tentei e no consegui. Mais lgrimas rolam pelo meu ros-to, no de dor, nem de desprezo, apenas de amor, e se amo, nonego nem a mim, nem a quem amo. Por que voc no deixa queflua dentro de ti algo que, com certeza, depois que brota jamais

  • poder dizer que se arrependeu? Receba esta carta com meu amorjunto, e quando estiver sozinha em algum canto, prestes a come-ter uma besteira qualquer, que Deus te proteja para que isso ja-mais acontea. Pense nesta carta, e em mim. Assim poder saberque mesmo no tendo amado e me correspondido sentimental-mente como eu gostaria que fosse, sempre vai existir algum nomundo que te amou, ama e amar. E se isso j aconteceu comvoc, pode ter a certeza de que j valeu a pena ter vivido, pormais difcil que possa ser uma passagem nesta adorvel vida so-frida, mas adorvel.

    Que graa teria se fosse tudo um mar de rosas? Com quemeu iria me preocupar? Ainda bem que no bem assim! Estouhoje em um estgio que no sei qual , mas a tua presena, mi-da e tmida, em minha adorvel vida eterna serviu-me de umaprendizado, conforme j lhe disse anteriormente. Se um diaqualquer destes eu estiver toa, pode ter a certeza que estareipensando em ti. No que s faa isso quando estou assim, maspor que meus pensamentos ultimamente tm sido todos para voc.Se sentir saudades, ligue, procure-me, eu vou adorar ouvir a tuavoz de novo. Mas acho que voc nunca mais ira olhar para mimde novo, e sorrir para mim como sorriu nestas quatro semanasque gostaria que fossem interminveis, mas no foi assim. Odestino nos prega peas que nem imaginamos. Se no posso t-la por que de alguma forma no fiz por merecer isso. Te conhe-ci e no me arrependo. S gostaria que tivesse sido bem diferen-te. Talvez eu tenha sido precipitado. Se no tivesse me confessa-do. Se no tivesse te pressionado, se no, se no, sempre o seno.

    Mas agora parece ser muito tarde para lamentar erros co-metidos no passado. E, graas a Deus, ainda os cometo. S as-sim prossigo aprendendo. O que deveria ser apenas uma carta dedespedida simblica est por virar mais um livro, se assim mepermitir. Vai virar, vale a pena! amor, e amor no pode seresquecido. Me perdoe pelo mal jeito, me perdoe pelo que fiz, meperdoe pelo que no tentei e finalmente me perdoe por no ser oque voc esperava. Mas a vida sempre assim. Nunca est tudoexatamente como gostaramos que estivesse.

  • Quero parar de escrever esta carta para colocar um pontofinal nesta curta, emocionante, mas no triste histria. Mas noconsigo por saber que quando voc terminar de ler, estar real-mente tudo acabado entre ns. Por isso eu no consigo parar deescrever, mas preciso. Mais uma deciso difcil! Ento, sem maispara o momento, quero te dizer que ainda e sempre te amarei,adorarei e respeitarei, eternamente. Sabe o que mais? Daqui aalguns anos, quando j maduros, eu e voc, com muita certezanos encontraremos de novo, e voc mulher, mais bela do quenunca, me dir com um sorriso nos lbios e de corao que tudoisso que aconteceu foi s uma grande e tola besteira, que aindano estvamos prontos um para o outro e por isso no aconteceu.Eu tambm vou sorrir para voc e dizer que fui muito afoito.Novos sorrisos e novos amores estaro acontecendo. Mais forte,mais intenso, mais real do que nunca. A eternidade pouco parame reencontrar com voc, mas isso no significa que estou eterna-mente em estado de apaixonite aguda. Eu supero! Mas gostariaque fosse diferente.

    Se pelo menos eu pudesse sentir o gosto da tua carne j medaria por satisfeito. Se eu ao menos, uma nica vez, tivesse acerteza de que voc se sente realmente bem perto de mim, jseria a glria. Se ao menos um instante eu tivesse um beijo calo-roso e delirante, eu seria, pelo menos por um instante, um ho-mem feliz. Felicidade no se acha, somos ns quem a buscamospara ns mesmos. Ser feliz um estado de esprito, um momen-to, um instante apenas, mas mesmo assim vale a pena. Gostariade poder levar de voc uma recordao eterna que me trouxesseextrema felicidade, mas acho que no vou levar nada mesmo, slembranas, embora as mais marcantes tenham sido as recorda-es de nossos ltimos momentos, quando voc me forou a isso.Que pena, que pena! Lamentar no adianta nada. Aes resol-vem situaes diversas, mas preciso ter coragem para tom-las. E voc, est fugindo de mim? Est fugindo da verdade que tedisse? Se esconder atrs de um altrusmo prprio, e fazer coisasque no vo machucar as pessoas pode ser um belo disfarce paraevitar uma grande decepo amorosa. Voc tem medo de mim,do meu amor e da minha loucura. (Que aqui fique registrado que

  • a loucura a que me refiro, relativa a forma como aconteceu,rpido e sem explicao). Assim devo concluir que nunca perce-bi uma mulher to apaixonada e to resistente ao amor. Eu nuncaconheci uma mulher que me beijasse como voc me beija e aomesmo tempo dissesse que queria ir embora. Eu nunca conheciningum que me olhasse tanto tempo no fundo dos olhos comovoc me olha para dizer que no gosta, que no quer. Da, a mi-nha confuso, o meu no entendimento. Parece que no est acon-tecendo, mas est. Que droga, que droga! Demora tanto tempopara acontecer e quando finalmente acontece, era s um alarmefalso.

    Um dia eu sei que a felicidade bater em minha porta, equem sabe no ser voc arrependida? Se for, ah se for... Masser que o que voc diz realmente o que voc quer? Acho queno, acho que o que voc diz apenas mais uma deciso difcilde ser tomada para voc tambm, mas que julga ser necessria.Julgamento errado. S o que te peo um carinho por dia, umapalavra de respeito, s isso! Ser que isso pedir muito? Nuncative grande coisa, e parece que desta vez tambm no terei, massinto necessidade de ter um amor, um carinho. Algum que emuma noite fria pudesse encostar em meu corpo e aquecer minhaalma, algum com quem eu pudesse trocar uma palavra em mo-mentos difceis. S isso que quero e que te peo. Ser que pedirmuito? Se for, me desculpe pelo atrevimento, mas tenho que ten-tar mais alguma coisa. Desistir tambm uma forma de fugir, eisso eu no fao. Enquanto eu perceber que existe um sopro pos-svel, estarei tentando. Por isso peo que pense mais a respeito eno tome uma atitude que possa se arrepender mais tarde. Seroduas pessoas machucadas. Melhor se for ningum. No possopermitir que voc tome uma deciso e que mais tarde possa searrepender. Isso eu no quero! O que quero s um pouco maisde ateno. Quantas horas desperdiadas pensando em um diapoder encontrar algum que fosse como eu preciso: carinhosa,bela de alma e respeitosa. Aparece voc e pronto, tudo e nada.Nada de me encontrar, tudo a perder. Mgoas no ficaro, massei que esta pode ser a ltima palavra entre ns dois. Reconside-re, eu apelo por isso, teus pensamentos, teus instintos. Pense

  • melhor, veja o que voc tem a perder? J se envolveu. J permitiu que eu estivesse mais prximo

    de voc, mas no quer assumir isso. Continua com medo. E ficoa pensar que mesmo assim ainda vale a pena tentar, vale mesmo!Ainda sopro, ofegante, por um pouco de vida. Viva comigo maisalguns instantes. Viva comigo e prometo que no vai se arrepen-der. Viva s uma vez em toda a sua vida, mas viva! Seja vocmesma e no pense que vai me magoar, que no vai. Atrapalhe onosso estarmos juntos, seja l de que forma for que esteja pen-sando neste estar junto. Vai acabar mesmo virando livro, comcerteza, vai virar mais um. Pense em mim, nas palavras que tedisse, mas pense em voc tambm e ,principalmente, em ns.Tenho certeza que se eu no tivesse dito que te amo, hoje estariatudo muito bem, sem problemas. Mas pintou sentimento e vocfugiu. Foges do amor, foges de ti mesma. Continue a fugir e seruma eterna fugitiva do destino, esse mesmo destino que nos apro-ximou por alguma razo que no sei ainda qual foi. Quero aindamais te dizer, que se foges eternamente das coisas que aparecemem tua vida, que aparentemente podem ser boas mas que neces-sitam de uma certa dose de coragem para descobrir, estars eter-namente fugindo de ti mesma. S espero estar fazendo a coisacerta foi o que escutei de voc, ontem. Mas a vida no umaexpresso matemtica que tem sempre um resultado exato. No assim, no.

    Durante a minha existncia, medocre e sofrida cometimuitos erros, e pensava sempre em tomar decises para no er-rar, errando cada vez mais. Resolvi que j era hora de parar detentar acertar. Em vez disso o que fiz foi experimentar, e umarevoluo aconteceu. Finalmente estava vivendo, vivendo comosempre quis, sem me preocupar, sem compromissos speros, eestava vivendo. Voc quer viver? Quem quer conseguir alcanaro degrau que eu alcancei tem que se propor ao erro, e errar aforma mais sublime que conheci de humildade e de saber querealmente no sou ningum e que quem manda o Pai l decima. Errei muito e no me preocupo mais com isso. Tento todosos dias acertar, mas nica forma que descobri de acertar ten-tar. Se errar, errei. Se acertar, aprendi. E assim eu vou, eterna-

  • mente na busca de uma sabedoria maior, de uma nova vida, deum novo horizonte. Quer acertar? Ento tem que tentar, seja l oque for, tem que tentar. A vida uma prova onde, quando somosencaminhados para um plano superior e ficamos a merc de es-pritos de luz, somos julgados por nossas aes. Quem erroumuito, mas errou tentando acertar, tem um lugar melhor na ex-planada das nuvens do que quem no tentou, no fez, no errou.O nmero de erros e acertos no importa muito, o que importa o motivo que nos levou ao erro. E se amar errar, eu sou umnavegante errante deste universo, onde a minha morada momen-tnea esta esfera onde nos encontramos. Tenha coragem no sde tomar atitudes, mas de errar tambm. Eu sempre dou a carapara bater, s assim eu aprendo. Quer tentar errar? Quer ser fe-liz? Ento tem que tentar. Tente! Espero que eu esteja te esclare-cendo sobre vrias coisas. Assim espero. Mas depende agora sde voc. Eu estou pronto, j fiz o meu julgamento a teu respeito,e percebi que vale a pena tentar. Voc uma mulher que encantae que esse encanto est na sua simplicidade, no seu modo de ser.No tem vcios, no mal educada, sempre bem humorada, em-bora s vezes um pouco sria demais para o meu gosto, mas eugosto assim mesmo.

    Agora pergunto a voc: e eu? O que voc viu de bom emmim? Ser que nada disso vale a pena tentar, ser que sou toruim assim que no vai valer a pena de repente cair em erro?Ser que no viu nada de admirvel em mim? Ser que sou todesprezvel assim? Eu sei a resposta e no preciso te dizer qual, voc sabe tambm, e ser que tudo isso no faz valer a penatentar cair em um delicioso erro? E se no for um erro? E se forum acerto?

    O resultado ser felicidade! Mas quem pode dizer? Eu evoc apenas, se tentarmos, se quisermos, se permitirmos. Serque voc j havia olhado para este lado da moeda? Acho queno. Amor muito complexo para ser definido em poucas pala-vras, em poucos pensamentos. Em se tratando de vidas humanasexistem muitos aspectos que temos que considerar, e muitos de-les voc omitiu, por desconhecer ou por esquecer que eles exis-tem. Ao que mais prximo a tua deciso poder levar a mais

  • um erro, e erros cometemos todos os dias. Ento por que nopermitir a voc mesma, pelo menos uma vez, acertar? O erroainda pode ser da minha parte, mas ainda no cheguei a estaconcluso. Espero que no seja. Tenho olhado para voc e para onosso caso de vrias maneiras possveis e ainda no encontreitodas as possibilidades. J que no consigo entender e conhecertodas as probabilidades, eu no posso tomar nenhuma deciso.Por isso, se no sei o que fazer, o que eu sempre fao no fazernada, e isso que estou fazendo com voc: nada! Deixando comoest para ver como que fica. Mas voc est forando a barra.Viva! Deixe viver. Errar, acertar, errar de novo e s assim cami-nhamos em direo a alguma coisa que queremos, que procura-mos.

    Um outro dia, pelo telefone, voc me disse que o que pro-cura o amor, mas parece que ao mesmo tempo que procura,quando acha tem medo. Lembra a fitinha no brao? Quais foramos seus pedidos mais sinceros? No coincidem com os que vocargumentou para me deixar aqui em prantos. Se no me ama notem problema, mas no arrume desculpas. Um dia diz que gostade estar em minha presena e depois em seguida diz que no.Menina, no faa isso comigo. Deixe-me, se quiser, mas no deixede tentar conhecer o amor, o meu amor, o que quero te dar e vocbateu com uma porta em minha cara. Quem no quer compro-misso no faz os pedidos que voc fez para a fitinha no brao.Ser que eu sou o erro nesta histria toda? Acho que no, nin-gum to desprezvel assim para ser um erro na vida de al-gum. Coloque tudo em uma balana, veja o que te ofereo. E omelhor disso que voc j me conhece, sabe da minha moral, daminha tica e do meu respeito pela vida e pelas pessoas. Faa seuprprio julgamento e veja se pelo menos existe uma pequena entima possibilidade de acerto. Se houver, por menor que seja,no desperdice, voc tem que descobrir. Se no o fizer, ser umamulher que nunca mais saber da verdade em nosso caso.

    Escrever, escrever e escrever, s o que me resta! Vai mes-mo virar livro. Se vai! Mas dessa forma como vo acontecendoas coisas, eu ainda no sei como vai terminar, e s voc pode medizer isso agora. Querer alguma coisa no basta. Ficar em dvi-

  • da coisa de pessoas que realmente no sabem o que querem,mas eu sei o que eu quero e luto por isso, no a qualquer preo,mas dentro das possibilidades. Voc quer? Tem que lutar! Senono consegue jamais. Mais alguns dias talvez sejam necessriospara se ter uma resposta em quase definitivo. As vezes ficamosmuitos anos ao lado de uma pessoa e depois descobrimos queno era nada daquilo, mas nem por isso eu desisti de procurar, ede tanto querer, encontrei. No faz mal se no sou correspondido.O que vale se eu acertei ou errei, e de qualquer forma que ter-mine, tenho a certeza de que acertei, pois, mais uma amiga ga-nhei. Assim espero. Chega, j disse quase tudo o que queria, e sfalta voc ler... S ficou faltando te dizer uma coisa: Voc jpensou que eu posso ser o amor da tua fitinha, j que no querque eu seja o da sua vida? A oportunidade sempre bate na portade todos, mas a diferena entre uns e outros que uns tem maiscoragem de errar e outros no. Quem pode saber? Essa a razoda vida! Somos ns quem temos que descobrir nossos caminhos.s vezes acertamos, outras vezes erramos, mas sempre temosque seguir em frente. Esse o caminho. Voc vai tentar acertar?Ou ser que prefere nem se submeter a mais esta prova? Nofuja, tenha coragem. Eu te compreendo mais do que voc imagi-na. Um beijo carinhoso de um amigo que sempre estar dispostoa estender a mo para voc. Foi bom, muito bom. Nunca maisvou te esquecer...

    3. Caso Esmeralda

    3.1. O dia do Pizza

    Andava por entre ruas, avenidas, sem rumo certo. Ao do-brar uma esquina, deparei-me com uma transeunte que pareciaatirar-se na frente de meu veculo. Muita pressa aparentava. Po-rm, notei em seus olhinhos castanhos claros e brilhantes, um

  • olhar de pureza e ingenuidade. Freei bruscamente e sa do carro para socorr-la. Meio as-

    sustado, acho que mais eu do que a bela moa, percebi que nohavia acontecido nada de grave. Meu veculo, para sorte de am-bos, mal havia tocado em suas pernas finas e bem torneadas.

    Perguntei se estava tudo bem, e me respondeu que estava.Sentia-me um perfeito idiota e, querendo agrad-la, passei meutelefone.

    Um sorriso largo surgiu em seu rosto, mas no disse nada.No parecia ser do tipo de mulher que vai logo ligando para qual-quer um. E senti que no telefonaria. Estava surgindo em mim.Uma estranha vontade em ter aquela mulher ao meu lado.

    Preocupado com o seu estado emocional, resolvi lev-lapara casa. Estava tremula, o susto havia sido grande, mas graasa Deus, no aconteceu nada de mais grave.

    Aceitou a carona. Na verdade estava meio zonza e pareciano estar muito consciente do que acontecia. Falava sem parar,algo que parecia ser de muita importncia. Algo sobre mim. Fa-lava meio que inconsciente, isso percebia, mas falava sem parar.Contava sobre coisas que aconteceriam comigo mais para frente.Me traava um futuro e dizia, dia a dia, o que me esperava. Belamulher. Uma universitria, da minha idade. Descobri entre tan-tas outras coisas, que tinha uma filha e estava separada do mari-do. No resisti, a convidei para sairmos juntos, aceitou. Poderiaser aquela mulher a minha fada? Teria encontrado?

    Morava em um apartamento com sua filha, e como estuda-va noite, deixava a menina na casa da me. E a maioria dasnoites dormia l tambm. S ficava em seu apartamento nos fi-nais de semana.

    Nos encontramos algumas vezes sem muito compromisso.Mas uma noite tocou o telefone em casa. Era Esmeralda. Medizia que teria prova na primeira aula, que depois estava dispen-sada e poderamos nos encontrar. Aceitei a proposta. Papo vai,papo vem, fomos parar em seu apartamento. Uma noite delicio-sa, e j era meio tarde quando percebemos que tnhamos que irembora.

    Esmeralda, tipo de mulher extremamente fiel. Com horri-

  • os rgidos, jamais se atrasava para compromissos. Sua vida eratoda certinha. Hora para chegar, hora para sair, parecia ter umrelgio em sua cabea. E foi justamente a neste aspecto que ascoisas acabaram dando errado. Durante um ano e meio de facul-dade nunca havia atrasado a hora de chegar em casa. Sempre aesperavam no mesmo horrio: uma irm, pai e me. Era de fam-lia importante na cidade e tinha l seus encantos na sociedadelocal, mas nada srio, pois no se prendia muito a coisas materi-ais.

    Mas naquela noite, ao lev-la para casa, ao dobrar a esqui-na da sua manso, vimos uma viatura da polcia militar paradaem frente a sua residncia.. Tomou um susto e mandou que pa-rasse o carro. Parei, me disse: Nossa, o que ser que aconteceu?Bem, vamos dizer a todos que estvamos comendo uma pizza.Segui com o carro lentamente. O camburo da polcia saiu emdisparada, e ao me aproximar da casa, vi sua irm chorando nosbraos de sua me. Seu pai estava em estado de desespero, pare-cia. Desceu do carro, e foi correndo para junto da me para to-mar conhecimento do que havia acontecido. Foi um susto paramim quando todos em um delrio coletivo, gritavam o nome delae diziam: Voc graas a Deus est viva, est viva. S a eu perce-bi o que estava acontecendo. Como se atrasou por uma hora emeia, pensaram que tinha sido raptada. E deram um verdadeiroshow na porta da casa. Que famlia mais maluca! Achei que es-tava frito. Que confuso por nada! At polcia metida no meio. Ese estivessem agora atrs de mim? Quando conseguiu explicar oque tinha acontecido, e que estava apenas comendo uma pizzacomigo, foi que eles notaram que estava ali tambm. Correramtodos em minha direo, pensei que iria tomar uma surra, masem vez disso, agradeciam por eu ter levado Esmeralda para casa.Pediam desculpas pelo ocorrido e me interrogavam sem parar.Eu parecia uma barata tonta, no sabia o que pensar, e nem mui-to menos o que responder. Com a cara mais assustada do que adeles, acabei ficando quieto, no dei muitas explicaes. O c-mico de tudo isso foi ver todos chorarem, inclusive a moa dafaculdade que estava comigo, s porque havia se atrasado umpouco. Que confuso! Mas depois deste incidente, onde fui apre-

  • sentado sutilmente para a sua famlia, fiquei com o apelido dePizza. E era assim que eles me chamavam.

    3.2. Pequenas mentiras, grandes verdades.

    Depois do incidente do Pizza, fiquei pensando na mentiraque tinha sido contada a todos. No fazia muito o meu estilofalar mentiras, no gostava, mas j havia acontecido.

    Por mais de uma dezena de vezes eu a peguei emmentirinhas por todos os lados. Isso me incomodava e achavaque uma fada no deveria sair mentindo assim.

    A Esmeralda era uma mulher super dotada, exatamentecomo eu queria. Parecia poder prever o futuro. Dava sempre ins-trues de como agir, e eu, fielmente seguia suas instrues. Masalgo parecia estar errado. Tomava conta totalmente da minha vida,dizia a hora e dia que nos veramos, o que faramos e onde ira-mos. No comeo, at que estava gostando de tudo aquilo, mas,parecia ter algo de errado. Ainda no sabia bem o que era, masestava por descobrir.

    A minha fada, a Esmeralda, era uma mulher sem igual.Parecia no ter defeitos, sabia de tudo, conhecia todo mundo,sempre com respostas para todas as perguntas, mulher de cartere firmeza de pensamento. Existia um ponto, porm, que no medeixava muito vontade. Era a sua filhinha. A rika era umamenina extremamente feliz e cheia de vida, porm, com muitocimes da me.

    Quando estvamos juntos, eu e a Esmeralda, na presenada rika, tnhamos que fingir que ramos apenas amigos, e eraassim que a rika me via. Uma criana adorvel, que sentia mui-to prazer em estar ao meu lado e transmitia isso. Aos poucospassou a ficar agressiva com a me, na minha presena. Achoque por medo de perd-la, ou que eu fosse tomar o lugar do seupai, j que ainda era vivo naquela poca. Mas o principal fatoque nos levou a um distanciamento foi a falta de carinho, poistnhamos que a todo instante nos fingirmos de amiguinhos por

  • causa da rika. E isso foi fazendo com que uma separao cres-cesse entre ns. Embora sem percebermos, crescia a cada dia.

    Desde o comeo, por causa das pequenas mentiras e porcausa da rika, e do nosso prprio comportamento, eu sentia queas coisas no iriam dar certo por muito tempo, mas enfim, euestava com a minha fada finalmente.

    Mas este estar com minha fada, me chateava de verdade.De repente, tinha perdido a minha liberdade, no tinha mais opi-nio prpria, e a cada dia eu estava mais dependente da Esmeral-da para tomar as minhas decises. Estava era ficando sem iden-tidade prpria, sem vontade. Um homem dominado, totalmente.

    E uma outra coisa acontecia, a rika. Eu percebia que onosso relacionamento ficava saturado por causa da menina. Arika se transformava na minha presena, no me agredia, mas aEsmeralda era quem sofria as conseqncias. Em uma noite, de-pois do jantar em seu apartamento, a menina foi dormir cedo eficamos a conversar no sof da sala. Eu falava que no estava mesentido bem com aquela situao, e apesar de no ouvir o contra-rio sentia que era um silncio de concordncia. Acho que nem eue nem Esmeralda estvamos mais suportando tudo aquilo. Re-solvemos em uma conversa franca e de muita amizade, que seriamelhor me afastar para ver se o conflito entre me e filha dimi-nua. Embora gostasse demais da Esmeralda, percebia que umfuturo por ali seria muito complicado, e no era bem isso quedesejava. Acho que nem a Esmeralda. Bem, resumindo, resolve-mos que deveramos nos separar. E assim foi feito.

    Naquela mesma noite no dormi, sentia um aperto no cora-o, mas fui firme. Tanto tempo querendo uma fada, e no finaldas contas, no era nada daquilo. Estava saturado de misticismoe de coisas do alm. S queria algum agora bem normal, sempoderes especiais. Uma pessoa que no pudesse ver o que iriaacontecer mais para a frente. Algum igual a todo mundo. Noqueria mais uma fada. Fadas so coisas de contos. Est certo queencontrei algo bem parecido, mas perdi toda a minha liberdade.Nada mais decidia, e no era isso que queria para mim.

    A Esmeralda era uma mulher muito especial mesmo, nose deixava abalar por nada. Uma tarde fomos at a minha casa.

  • Assim que entrei na sala, vi o display da secretria eletrnicamarcando que havia uma mensagem. Apertei o boto e escutei oseguinte: Oi amor, por que que voc ainda no veio hoje? Es-tou te esperando, te amo, te adoro, morrendo de saudades, umbeijo. Assim que chegar liga para o seu amorzinho. Um beijo, teamo. A minha sorte era que j havia comentado com a Esmeral-da que estavam ligando l para casa e deixando esse tipo de reca-do. Escutou assustada. No comentou nada, mas senti que ficoumeio abalada, embora no demostrasse. Expliquei que no sabiaquem era a cretina que estava deixando aquele tipo de recadopara mim. Aparentemente acreditou, e realmente eu no tinha amenor idia de quem poderia estar fazendo aquilo. Assim, o in-cidente ficou por uns tempos esquecido, inclusive por mim.

    3.3. O clube do cachorro

    A separao entre mim e Esmeralda aconteceu em uma sextafeira. Por fora do destino, algum l em cima no quis que euficasse um nico dia sozinho e providenciou algo muito estra-nho.

    No sbado tarde, s em minha casa, pensava na Esmeral-da, mas sabia que no mais teria retorno. Sem muito o que fazer,e a verdade era que no iria fazer nada mesmo naquele final desemana, olhei para a estante de livros. Avistei um exemplar quefalava sobre a fora do pensamento. Interessante livro, e lembreique uma amiga, a Walkria, havia comentado e demonstrado umcerto interesse pelo assunto. Fiquei de emprestar o livro, masnunca lembrava de faz-lo. E por que no hoje? Passei a mo notelefone e entrei em contato.

    J a conhecia h mais de dois anos, mas nunca havia surgi-do nada entre ns, alm, claro, de uma trombada. Apenas con-versas profissionais e nada mais. Bem, estranhamente sem quepercebesse e sem que me convidasse, como em um passe demgica, acabamos por marcar um encontro em minha casa paradiscutirmos o assunto do livro. E at ento era apenas o que eu

  • pensava que iria acontecer. Na hora marcada fui busc-la. A ver-dade era que algum tempo atrs havia sonhado com a Walkriapor umas duas noites. E as duas vezes ns estvamos conversan-do muito. No sei do que falvamos, mas parecia no ser coisaruim. Chegando em casa, eu e Walkria, sem muito jeito parainiciar um papo, estvamos meio tmidos e conversamos um longotempo sobre coisas corriqueiras.

    Pensando bem, essa era exatamente a mulher que eu estavaquerendo. Normal em todos os sentidos. No via o futuro, nemsabia de coisa alguma muito profundamente. Bem do jeitinhoque eu queria. Nada de fada, apenas uma mulher. Conforme con-versvamos o interesse ia crescendo, at que no resisti e resolvibeij-la. No me arrependi e, desse dia em diante, comeamosum namoro.

    Eu, apesar de contente de estar com a Walkria agora, sen-tia-me muito mal com tudo aquilo. Quem iria acreditar que eume separei da Esmeralda em uma sexta-feira e conheci a Walkriano sbado seguinte? No havia passado nem vinte e quatro horasde luto, e j de novo na ativa. Com quem mais poderia ter acon-tecido isso? Ningum em s conscincia acreditaria nessa hist-ria, e esse era o maior problema, pois, nem a Esmeralda, quandoficasse sabendo, acreditaria. E tinha que contar, antes dela saberpela boca de terceiros. Mas como? Jamais acreditaria em mim.Nem mesmo os meus amigos estavam acreditando no que tinhaacontecido. Confuso total. Mas dando tempo ao tempo, quemsabe no seria tudo resolvido?

    Pois bem, em uma noite, depois de mais ou menos um msde ter acontecido a minha separao, a Esmeralda telefonou epediu que eu fosse at seu apartamento para dar um jeito no com-putador, que estava com problemas. L fui eu. Muito bem rece-bido, um ch estava servido na mesa, sentei e conversamos. Foiento que aconteceu. Contei apenas que havia conhecido algum.Pronto, me odiou por dentro. Achava que eu a tinha trocado pelaoutra. Escutei o diabo dela, e por mais que me esforasse, noconsegui fazer com que entendesse o que tinha acontecido. Aprimeira coisa que falou, abrindo o seu vasto repertrio de puraemoo para cima de mim foi: Aquele telefonema, eu sabia! Voc

  • esteve com duas mulheres ao mesmo tempo! E isso nunca foiverdade, por uma questo de horas, concordo, mas no era ver-dade. Situao incomoda aquela. Sa de seu apartamento meiode rabo entre as pernas e me dirigi para o apartamento de umamigo, o Tenrio, que estava a minha espera com o Sigmund.

    Pronto! Estava com uma cara que nem eu acreditava. Nun-ca tinha passado por aquilo, e agora, justamente sem ter feitonada de errado, estava ferrado. Ningum iria acreditar. Contei aeles, e realmente no acreditaram. Aproveitaram a situao parame rebaixar um pouco mais, embora que meio na brincadeira.Estava formado o clube do cachorro, onde eu fui colocado comotesoureiro, o Tenrio como Presidente e o Sigmund como OfficeDog.

    Divertido, mas ...

    3.4. A mulher do PUM

    A Esmeralda quando criana, tinha um probleminha. For-mao de gases. As crianas na escola a chamavam de bruxa,pois quando andava pelos corredores dizia: Fulana vai escorre-gar agora e fulana escorregava. Nunca entendi direito o que eraque acontecia se adivinhava o futuro ou se jogava uma praga eacabava acontecendo.

    Mas o interessante era que bastava ficar nervosa para quegases de fedor insuportvel comeassem a se formar em seu in-testino.

    A crianada as vezes a provocava na hora do recreio, e quan-do entrava para a sala de aula, pronto, ningum mais a suporta-va. Era um pum atrs do outro e de um cheiro incrivelmenteforte e desagradvel.

    Um ambiente fechado, cheirando a pum, era triste de sersuportado, porm tinha que ser.

    Parecia se divertir com aquilo. Talvez fizesse de propsito.Talvez apenas uma reao emocional, mas o fato era que nem osprofessores agentavam mais.

  • Em dias de provas, a garotada, sabendo do probleminhadela, a usavam. A irritavam e depois ningum conseguia ficar nasala. Da, a prova era realizada dentro de uma confuso generali-zada.

    Apesar de seus poderes especiais, a Esmeralda quando pe-quena no sabia us-los muito bem, era extremamente tmida.Uma garota bonita, muito simptica, mas quando ficava nervo-sa, puns e mais puns a todo instante. Uma vez em seu aparta-mento, lembro bem, comemos uma pizza, e depois fiquei meioenfastiado. Virou-se e disse que precisava ir para um lugar ao arlivre. Descemos at um ptio grande, l eram puns e mais punsque saiam uns atrs dos outros, e ria dizendo, foi assimilao,esses gases eram seus. E ria.

    A verdade era que eu estava me sentindo melhor a cadapum que a Esmeralda soltava. Meio desagradvel, mas verda-deiro. Assim foi a menina do pum na escola.

    4. Testamento.

    Caros amigos e amigas. Se esto agora diante de meu advo-gado, por que eu no mais fao parte deste mundo.

    Embora durante toda a minha existncia eu tivesse umavida bastante interessante, no me foi dado o direito de acumularuma fortuna inestimvel, porm, o que tenho de mais precioso o que vou deixar a vocs. Tratasse no de dinheiro ou de bensmateriais, mas sim de uma coisa que ganhei ha muito tempo deum senhor chamado Amaro, e que nunca tive coragem de usar.Para dizer a verdade, o Sr. Amaro, tambm no.

    Talvez vocs que agora recebero este presente tenham maiscapacidade do que eu. Talvez, mas apenas talvez.

    Deitado aqui em meu leito de morte, e eternamente em es-tado de sentinela, passo a no mais poder me expressar direta-mente a vocs, e por isso, institu este testamento.

    Espero que respeitem a minha vontade e saibam fazer bom

  • uso de tudo que receberem, pois so coisa valiosas, no para estemundo, mas de grande utilidade se souberem usar e se tiveremcapacidade para isso.

    Bem, as minhas posses se resumem em dois objetos de ines-timvel valor para mim, e que gostaria que fossem guardadoscom a mais elevada estima.

    Trata-se de um pote do tamanho de um pote de margarinaque, segundo estudiosos, contm o ltimo sopro de vida de umsanto homem que viveu ha mais de cem anos isolado nas monta-nhas. E o segundo objeto, uma estrela de cinco pontas em ma-terial desconhecido, que deve sempre ser usado junto ao peitopara que tenha seu efeito garantido.

    O primeiro objeto, deixo para a Esmeralda e o segundo,para a Walkria.

    Assim que minha vontade for satisfeita, e se for de concor-dncia para ambas, elas devem ser as novas zeladoras dessaspreciosidades que nunca usei e no sei nem para que servem.

    Desejo a todos muitas felicidades e que me deixem final-mente descansar em paz.

    5. Caso Darlin

    5.1. Uma sonda espacial

    Era manh de natal. Deitado em minha cama, meio enjoadopela misturada de comidas e bebidas da noite anterior, eu no mesentia muito bem. Deveria ser umas 8 horas, quando algo de inu-sitado aconteceu em meu quarto.

    Transpondo a janela, como se no existisse, o que pareciaser uma sonda do tamanho de um tubo de desodorante, de cormetlica e cheia de anteninhas, entrou pelo ambiente. Circunda-va de um lado para o outro. Era estranho aquele objeto. Sobrevo-ava todo o quarto e em meu redor, especialmente. No sentia

  • medo, mas sabia que aquilo no era uma coisa deste mundo, maso que poderia ser, eu no sei.

    Para meu espanto ainda maior, no que o teto do meuquarto se abriu e pude ver uma enorme nave parada bem emcima da minha casa?

    A sonda, que parecia pertencer quela nave, ia de um ladopara o outro, como se procurasse por alguma coisa. A porta doguarda roupa estava aberta, e vi o estranho objeto entrar. Paroubem em cima de uma caixa em que eu guardava umas tranqueirasvelhas, uma estrela e um pote de barro velho. Parecia se interes-sar por aquilo, mas no sei dizer ao certo o que fazia l.

    Sem mais explicao alguma, simplesmente subiu em di-reo ao teto e desapareceu dentro da nave. Acho que eu estavaem transe, e estava sendo aberto um portal dimensional, por ondeeu podia ver o que acontecia fora da casa. Estranho, mas aconte-ceu de verdade.

    Depois disso, passaram-se alguns dias e um outro fato in-slito aconteceu.

    Novamente um portal apareceu no teto do meu quarto, ondeeu podia ver o que estava acontecendo do lado de fora. Umanave em tom azul claro apareceu, e sobrevoava a minha casa.Parecia no ser muito grande, e realmente no era. Entrou pelomeu quarto e foi direto ao guarda roupa. A porta abriu sozinha evi a nave jogar algo como se fossem estrelinhas douradas emcima da minha caixa de objetos inteis. O pote de barro e a estre-la. No sei o que faziam, mas no me atrevi a perguntar. A navepartiu e minha vida voltou mais ou menos ao normal, pois noporta-trecos eu no mexia mais. Eu heim!!!!

    5.2. Quem sou eu? Em quantos sou?

    No andava me sentindo muito bem. Sei l o que estavaacontecendo, mas um mal rodeava o meu ser. Resolvi que umavolta em um parque qualquer da cidade, um pouco de exerccio ear puro poderia me fazer bem. E foi o que fiz.

  • Caminhei alguns minutos, mas sentia-me cansado. Resol-vi sentar em um banco para descansar um pouco e adormeci.

    Que sensao mais estranha estava acontecendo comigo!Parecia estar me desprendendo do corpo. No sentia mais meucorao e nem parecia respirar. No sentia falta de ar e o malestar passou como num passe de mgica.

    Comecei a levitar para fora do meu corpo. Era estranho!Eu via o meu corpo l embaixo aparentemente dormindo no ban-co da praa. Mas no era eu que estava l, eu estava era l emcima. Coisa engraada, mas, mais engraado ainda, ficou quan-do eu vi um terceiro eu saindo de dentro de mim mesmo. Impos-svel! Aturar um j era difcil, dois ento, nem pensar. Mas, trs?Quem era aquele sujeito que estava dentro do meu corpo e quese parecia tanto comigo? Pensei que poderia ser meu esprito.Mas ento quem era eu? Eu estava levitando pelos cus e os doiseus l embaixo, um rolando para dentro do outro. Um fantasmapensei. Mas, ento eu era um fantasma agora! Eu, quem afinal decontas? Ria, e me divertia com toda aquela situao. Flutuava eao mesmo tempo rolava de dentro para fora de meu corpo, e meucorpo l imvel. Credo. Quem era eu afinal de contas?

    Nisso, uma janela abriu bem diante do banco. Senti-meforado a sentar nele, ao lado do meu corpo, e como em umateleviso, minha vida comeou a passar. Que cena mais interes-sante. Eu deveria ter uns sete ou oito anos. Estava em uma salade uma casa simples. Uma msica daquela poca tocava alto. Aspessoas danavam, mas em um canto da sala havia uma garotabem feinha e bem gordinha. Vi uns garotos formarem umarodinha. Falavam algo que no podia escutar, e olhavam, ora paramim, ora para a gorducha. Andaram em minha direo. Eramtodos bem mais velhos do que eu. Acho que tinham uns treze ouquatorze anos cada um. Seguraram em minha mo e me levaramem direo aquela gorda horrorosa. Fiquei com medo de apanhardeles e fui de livre expontnea presso. Colocaram-me bem emfrente da gordona e mandaram que danasse a noite toda. Foi oque fiz. A garota deveria ter uns doze anos, mas era muito gorda.Lembro que no conseguia abra-la por completo. Sua cinturinhaera grossa demais. E msica vem, msica vai, danvamos sem

  • parar. Todos olhavam para mim e riam sem parar. Meus ps j

    estavam doendo, mas ordens eram ordens. E quando por vriasvezes ameacei parar, correram em minha direo e mandavamcontinuar. Acho que foi por isso que nunca mais quis danar denovo. Que noite horrorosa aquela!

    Uma nova cena apareceu bem em minha frente. Era o en-terro de meu cachorro preferido, o Jupi, tambm pudera. S tiveaquele mesmo.

    Jupi extremamente inteligente, do meu ponto de vista, poisnunca permitia que humanos interferissem em seu comportamen-to. Meu pai sempre tentava ensinar alguns truques para o Jupi,mas nunca conseguiu. O cachorro era danado de esperto. Jamaispermitiu que algum o dominasse. O velho sempre dizia que ocachorro era extremamente burro, mas acho que no, era muitoesperto. Se assim no fosse, por que, ento o Jupi obedecia?Mandava que fosse embora querendo que ficasse, e o Jupi pare-cia entender os meus pensamentos e ficava. Mandava o Jupi sen-tar pensando que iria ficar de p e que no adiantava nada man-dar essas coisas , e realmente, de p ficava. Mas essa intelignciatoda dele teve um preo muito alto. Um dia um mamfero intru-so, invadiu sua rea e o Jupi o comeu. Pena que era um rato.Resultado: pegou uma doena e morreu. At para morrer foi es-perto, pensava eu na minha criancice. Deitou-se para no levarum tombo. Uma bela manh meu pai veio at meu quarto mechamar para um funeral. Eu deveria ter uns seis ou sete anos.Levantei e fui ver do que se tratava. Vi o Jupi mais duro e frio doque nunca, mas para mim, estava apenas dormindo mais um pou-co. Fiz um carinho nele, chamei-o pelo nome, e como no meatendeu, eu disse para o meu pai: Hei!!! Acho que esta mortomesmo. Mas para mim, morte no significava nada. No sabiado que se tratava. Meu pai, muito esperto, e como era um ca-chorro diferente, fez uma cova diferente a meu pedido. Um enor-me buraco redondo. Na minha imaginao, iria ficar ali uns diase depois nasceria um p de Jupi ou coisa assim, sei l, mas nodisse nada ao meu pai para no o impressionar, que com um s jno agentava, quanto mais com um p de Jupi!

  • Papai o colocou delicadamente na cova e antes de jogarterra por cima dele eu dei um grito: Espera! Disse ao meu pai:Coloca esse cobertozinho (que era um saco onde dormia) porcima dele para que no sinta frio noite, a terra esta muito friahoje. Meu pai olhou para mim, deu um sorriso e fez o que pedi.Agora sim, o Jupi podia dormir em paz, estaria quente e confor-tavelmente instalado em sua cova redonda. Que cachorro esper-to aquele, at para morrer! Nos dias seguintes, molhava a covapara que no sentisse sede. Plantei um p de couve em cima domorrote para ficar mais bonito. Sinceramente, nunca vi uma ver-dura to verdinha e fresquinha como aquela, e pedia insistente-mente para que minha me fizesse uma salada, mas nunca fez.Eu jamais entendi o porqu.

    Entre uma cena e outra, podia ver as pessoas desfilandopelo parque. Passavam pela minha frente, mas isso no interferianas imagens. Parecia que a TV imaginria estava dentro da mi-nha cabea. Olhavam para o meu corpo adormecido no banco,soltavam as vezes alguns comentrios do tipo Acho que est b-bado e seguiam em frente. Com certeza, no podiam me ver. Euera invisvel aos olhos deles. Mas via tudo e a todos perfeita-mente. E mais importante do que isso, podia escutar os seus pen-samentos. Como o de um cara que passou com uma garota, di-zendo que estava perdidamente apaixonado, mas s o que real-mente queria era lev-la para a cama. Que canastro! Ler o pen-samento das pessoas seria uma coisa justa? No sei se era ouno, mas no podia fazer nada. Pensamentos agora, eram comofrases em um alto falante sem voz e captava a todos sem distin-o.

    Novamente, a televiso comeou a mostrar uma cena. Agora estava dentro de um caiaque remando mar a dentro.

    Ah! Como lembro bem desse dia. Sol quente, vento no rosto.Perdi a conta do tempo e do espao. S o que via pela frente erao enorme oceano chamando por mim. O horizonte misturando-se com a gua e nada mais.

    O dia era de mar calmo, e de vez em quando uma ou outramarola a chacoalhar o barco. Mas l adiante, haviam ondas gran-des de mais de um metro. Como poderia ser aquilo? Ondas l e

  • calmaria aqui! Resolvi ir remando para ver mais de perto o queacontecia. Quanto mais me aproximava das ondas, mais estra-nho ia ficando o cenrio. O vento passava a soprar cada vez maisforte, e a no mais do que uns trinta metros de distncia das on-das, pude ver perfeitamente, como um vidro, separando parte domar: de um lado guas calmas e do outro, guas agitadas.

    Interessante aquilo! Resolvi que iria entrar dentro das on-das, e fui.

    Que delcia! O caiaque pulava de um lado para o outro, eremando sempre em direo ao mar aberto fui deslizando semperceber o que de verdade estava acontecendo. Embriagado pelabeleza das ondas, de repente percebi que havia algo de errado.No mais escutava barulhos de crianas ou de qualquer outracoisa. Apenas o som da gua que se chocava contra a fibra daminha embarcao. Parei de remar olhei para trs e de embriaga-do passei a uma sobriedade de dar inveja a qualquer cristo. Apraia tinha ficado muito para trs. S o que conseguia ver erammontanhas, que pareciam mais morretes. Resolvi voltar, e o de-sespero por pouco no tomou conta de mim.

    Enquanto ia remando mar a dentro, o vento cortava o meurosto e as ondas vinham em direo oposta a que estava indo.Mas, agora, era completamente o contrrio. O vento soprava emminhas costas fortemente, o que me fazia andar mais rpido,porm, o contnuo passar de ondas por mim dava a impresso deque eu estava indo cada vez mais para trs. Na ansiedade de logochegar a praia, a ateno nos detalhes que estavam to distantesfazia com que parecessem estar mais distantes do que realmenteestavam. Remava, remava e j no sabia se estava indo para frenteou para trs. Estaria eu em uma corrente martima que me arras-tava e esta me arrastando para o alto mar? Esses pensamentosme inquietavam, e tinha que manter a calma. Resolvi ento con-versar com as ondas para no prestar muita ateno na distnciaque ainda faltava para remar. Depois de algum tempo levantei acabea, e para a minha surpresa avistei pontos coloridos na praiade onde tinha partido. Uma tranqilidade se abateu sobre mim erelaxei. Finalmente estava convicto de que estava indo em dire-o a praia. Mais algumas centenas de remadas e j podia ouvir o

  • som de pessoas gritando ao longe. E, um pouco mais, estava emcasa novamente.

    O que eu aprendi com isso tudo que mesmo em um ambi-ente deslumbrante e maravilhoso, no devemos jamais perder aateno daquilo que se est fazendo, e acho que isso se aplica atodos os instantes da vida. Foi um adorvel passeio, embora comtodo o medo que passei.

    A televiso dentro da minha cabea no parava de gerarimagens. Estava agora em uma quadra de uma escola. Eu tinhacomo profisso na poca, dar aulas de educao fsica.

    Fazia a chamada dos alunos para uma turma regular. Quan-do chamei o nome de um aluno que ha muito no comparecia aaula. Para dizer a verdade, desde o incio eu j estava de olho nosujeitinho, e estava apenas esperando uma oportunidade parachacoalhar com o raparigo. Chamei seu nome, olhei firmementepara seu rosto. Respondeu: Presente. Larguei os dirios de classeno cho e parti em sua direo. O garoto deveria ter uns dezesseteanos, maior do que eu, e mesmo assim no me intimidei.

    Que besteira fui fazer. Soltei os cachorros para cima dele.Dizia: O que que voc est pensando que isso aqui? Colniade frias? Est pensando que vem a hora que quer e pronto? Estachando isso aqui com cara de algum clube? Onde que vocestava este tempo todo? Para o meu espanto, olhou bem fundonos meus olhos com ar mais envocado do que o meu e respon-deu: Tava preso.

    Senti um ar meio frio correr pela minha espinha de cimaat embaixo. Fiquei completamente sem saber o que fazer. Mudo,sem reao. O garoto se apercebeu da minha fraqueza momen-tnea e resolveu botar para quebrar. Falou: Tem algum proble-ma?

    Timidamente eu respondi que no e que se fosse preciso euat reporia aulas para no perder o ano. Disse eu: Fica tranqilo.J que assim, voc no poderia mesmo estar em dois lugares aomesmo tempo. Acho que l onde voc estava deve ter feito bas-tante ginstica, de modo que no tem problema algum.

    O estranho que depois de uma semana o sujeito nuncamais apareceu. Se o prenderam, acho que no o soltaram mais.

  • A noite j estava caindo, e eu, ainda dormindo no banco doparque. No me importei e preferi continuar vendo a minha pr-pria vida na televiso. Afinal, eu era o astro principal.

    Novamente dentro do meu caiaque, mas estava agora emuma enorme represa de guas calmas. Como antes, sol quente nacabea. Avistei ao longe um desbarrancado de terra vermelha.Resolvi remar at l, mas para isso precisaria atravessar aqueleenorme lago. Remei, acho que por uns quarenta minutos, e s oque via pela minha frente era aquela enorme muralha de terravermelha cada vez mais prxima, que mesmo prxima, aindaestava muito distante. Parei para descansar um pouco e s a deiconta de onde estava: Sensao mais estranha... Bem no meio donada! Apesar de poder ver as margens distantes minha volta,era como se estivesse totalmente s, e realmente estava..

    Levantei a cabea em direo ao cu e o que vi era apenaso azul lmpido de um cenrio estupefato e belo. Olhei para agua e imaginei quantos metros mais abaixo poderiam ter antesde chegar ao fundo. E em meio a toda essa mirabolante experi-ncia, pude entender a grandeza do Universo. Olhando para ocu, eu imaginava quantas estrelas estavam bem ali na minhafrente, e no as poderia enxergar por causa do sol que brilhavamais forte.

    Um vazio imenso se instalou dentro de mim, e como emum passe de mgica, numa questo de apenas alguns segundos,pude perceber o tamanho que realmente representava dentro douniverso, ou seja, nada! Me sentia to diminudo e impotentediante de tanta grandeza, que estava a merc de qualquer coisa.Parecia at que uma bactria tinha maiores poderes do que eu.Mas era assim que eu sentia. Logo eu, o todo poderoso, diante deuma coisa to enorme, calma, tranqila, e ao mesmo tempo, ti-nha conscincia que bastaria uma rajada de vento mais forte paraque meu pequenino barco virasse e complicasse a minha vida.Sentia-me impotente diante de tudo aquilo. Olhei para o morrotevermelho e no mais me interessava. Resolvi voltar da minhasolido para a civilizao e nunca mais consegui estar novamen-te naquele mesmo estado de xtase, onde o insupervel se fezvisvel por alguns instantes e me colocou no meu devido lugar.

  • Foi extremamente agradvel sentir o que eu senti. Estava dentro de um trem. Era o ltimo da noite e voltava

    para casa com mais um colega de faculdade. Entre uma estao eoutra, entrou um bando de mais de dez elementos mal encaradosque ficaram a nos fitar. Eu e meu amigo, em p encostados emuma porta, observvamos o que acontecia, e a nica certeza quetnhamos era que um assalto estava se desenhando. O vago to-talmente vazio. Ningum para nos socorrer. Sem lugar algumpara correr, no tnhamos muito o que fazer. Meu colega olhoupara mim e comeou a rir. Abriu a bolsa e meteu a mo dentro.Olhava para os sujeitos, que agora tinham formado uma enormeroda perto de ns. Olhava para mim e dava risada. Mas gargalha-va! Percebi o que pretendia e resolvi fazer o mesmo. Coloqueiminha bolsa perto do peito, abri o zper, enfiei a mo dentro ecomecei a dar risada e, assim como o meu amigo, olhava para ossujeitos e gargalhava. Os cretinos nos encaravam, e percebemosque ficaram meio sem ao. Eles nem podiam imaginar o queguardvamos dentro da bolsa para eles.

    O trem se aproximava da estao, parando lentamente. Osmeliantes se dirigiram para uma das portas do vago e saltaramfora. Passaram por ns pelo lado de fora do trem e nem olharam.Ramos, e ramos. Era s o que podamos fazer.

    Bem, resumidamente, aconteceu que o trem partiu. Fechoutodas as portas e saiu tomando velocidade. Quando estava pas-sando em frente aos boiolinhas, eu saquei de dentro da bolsa umdesodorante e meu colega um sabonete e tiramos uma com acara daqueles safados. Foi s riso da para frente, embora, tnha-mos a certeza de que por muito pouco no fomos assaltados.

    Muita coisa engraada acontecia quando dava aulas para acrianada. E parecia que aquele operador de TV estava apenassintonizando canais onde passavam essas aulas.

    Da, em meio a tudo isso, aparece uma tela em que estoudando aula de ginstica para as crianas. Era uma escola retira-da, dessas em meio a favelas. Bandido era o que no faltava porali, mas tinha tambm um pessoal que, como diziam, era de paz.Para meu susto, durante a aula, entra um bando de maloqueirosna quadra que se infiltraram entre os alunos e passaram a fazer

  • ginstica tambm. No entendi nada do que estava acontecendo.Uns estavam de chinelo, outros de cala e sem camisa, algunsapenas de calo e, ainda, um bando deles descalos. Era a pr-pria imagem de um peloto desgarrado e disimado pelo inimigo.

    Parei e fiquei a olhar os elementos por alguns segundos,que estavam com uma cara bastante assustada, sem saber o quefazer.

    Para minha surpresa ainda maior, no que uma viatura dapolcia para em frente a escola, descem dois guardas, andam emminha direo e perguntam: Professor, com licena, aqui todosso seus alunos?

    Sem saber o que responder, olhei para a cara daqueles mar-ginais, todos com os olhos esbugalhados de pavor. Pensei, rapi-damente, que se algum estivesse armado ali poderia comearum tiroteio, j que os dois policiais estavam com suas mos nocoldre, prontos para sacar a arma.

    Sem pestanejar, respondi: Sim, aqui so todos meus alu-nos. Os policiais perguntaram se eu havia visto um bando deelementos passar por ali. Respondi que sim, e que haviam pula-do o muro.

    Os policiais agradeceram e ainda me orientaram no senti-do de que se eu os visse, era para cham-los imediatamente, poiseram de alta periculosidade. Depois disso se retiraram, e os ma-landros andaram em minha direo dizendo: T limpo mano, tlimpo. Aqui na terrinha voc agora protegido, sem problema,no tem mais pro seu lado no. Valeu mano, valeu, precisando s gemer que a gente corre pra ajudar.

    No respondi nada, apenas observei os elementos se retira-rem, aos poucos, da minha aula.

    E depois desse incidente, nunca mais tive problemas com agalera de l. Da pesada mesmo, aquele povo!

    Tambm um outro dia estava em uma outra escola, afasta-da, e as aulas eram dadas em um enorme campo de futebol. To-das as manh eu tinha que parar para que um rebanho passasse.Estavam indo para um pasto perto dali. Sempre igual.

    Uma certa manh estava ensinando atletismo, do outro ladodo campo. Olhei para a direo onde se encontrava a maioria dos

  • alunos e percebi que um deles carregava meus dirios de classe,na mo.

    Aquilo, de certa forma, era uma afronta! Onde j se viu!Um pirralho, perdido do meio do mato, mexer nas minhas coi-sas. Que moleque mais pentelho! Me aproximei dele e percebique, quando me viu, tambm mudou a sua direo e agora anda-va para o meu lado.

    Antes mesmo de estar bem prximo, j comecei a soltartodo o meu vocabulrio ruim para cima do pestinha: Onde j seviu isso, seu moleque mal educado! Quem deu ordens para vocmexer em minhas coisas? O garoto, coitado, at que tentava seexplicar, mas antes que conseguisse soprar uma nica palavra,eu o atropelava com mais insultos. Seu cara de cavalo velho, voumandar chamar o seu pai para te dar uma advertncia! Voc nosabe que crime mexer em coisas alheias? E o garoto tentavanovamente se explicar: No professor, que...

    Eu o interrompia, no o deixava falar, e continuava: Essesdirios so documentos importantes da escola! Posso at proces-sar voc e a seu pai por esse seu ato impensado! Vou te levar paraa sala do diretor para que tome nota da sua afronta. Mal educa-do! Seu moleque salafrrio.

    Quando, para meu espanto, no que o garoto resolveu sedefender? Sem dar chance para que o interrompesse novamenteindagou: No professor, que a vaca estava lambendo o seu di-rio e eu os apanhei para que no estragassem.

    Minha cara ficou cada. A maior cara de tacho que poderiaum sujeito ter, eu tinha naquele momento. Olhei meio desoladopara a capa de um dos dirios que o garoto segurava e vi umagrande e nojenta lambida na capa. Que situao mais incmodaeu havia me metido! Que coisa mais desagradvel!

    E por falar nisso, sentado aqui neste banco, s agora euestou realmente entendendo o que que esta acontecendo comi-go. Que estranho! E acho que vou ter que reformular algumasmaneiras de pensar que, de agora em diante, sero totalmenteinadequadas.

    Acho que no vou mais precisar de uma mulher. Quem pre-cisa? Mulher para que?

  • Levantar de manh, aquele rosto bonito, sensual, amassa-do do lado. Em seguida um beijo carinhoso, quente, gostoso,aquele bafo do vinho da noite anterior. Quem quer isso? Vocquer? Eu que no! E, realmente, acho que no preciso mais deuma mulher. Mulheres so todas iguais. Fazem de tudo para con-seguir o que querem e depois, nos deixam na mo.

    Ser usado por elas, esse o destino da maioria de ns, po-bres homens. Ficamos fracos e indefessos diante delas, quandocamos nas garras das elegantes e sofisticadas mulheres.

    Mulheres... Quem precisa? Eu que no.! Quando fico s, leio um livro. mais interessante. Um bom

    romance e pronto! Voc j leu Rasgando a Seda? Aquilo sim que vale a pena.

    Deitar noite na cama e sonhar com as mulheres, pode serum pesadelo.

    Mas para qu, para que servem, afinal de contas, as mulhe-res? Talvez s para sexo mesmo. Mas s para isso? Acho mesmoque isso que a maioria das mulheres querem de ns, pobreshomens. Mas comigo, no! Tem que ser apaixonado, ardente.Tem que ser mstico, leve, delicado.

    Mas as mulheres? Ora, essas mulheres... Qual delas sabe-ria me tratar como eu mereo?

    Nenhuma! So todas iguais: O perfume reluzindo no pes-coo; o cheiro forte do batom vermelho em meus lbios; o olharsutil e desconfiado de quem quer, mas omite. Mulheres, s mu-lheres: Todas iguais. Queria uma diferente! J tive uma, mas nodeu muito certo, e agora, aqui nesse banco, no tenho mais mui-to o que escolher. J sabem o que aconteceu comigo?

    Mas antes de contar a vocs, eu gostaria de ter uma quefosse romntica. Que me tratasse como eu mereo. Mas onde euiria encontrar isso? Talvez uma mulher boa seja uma mulhermorta. Que trgico, mas no fundo no fundo so todas iguais.Bebem, fumam, e ainda se no bastasse, nos finais de semana,vo ao cabeleireiro se encontrar com as amigas. Sempre do umjeitinho para chegarem mais tarde em casa. Inventam uma reu-nio de produtos de limpeza ou algo parecido, e pronto, nos dei-xam para trs. Mas, no fundo, no fundo, quando chegam em casa

  • querem a janta pronta. Pode uma coisa dessa? Mas eu vou resistir e dizer que no. Nada disso mais pode

    me interessar. Nunca mais vou beijar lbios macios e delicados com a

    paixo de um adolescente. No quero mais. Nunca mais vou abra-ar loucamente e querer engolir por inteiro e unir corpos comose fossem apenas um.

    Nunca mais vou esperar a hora que no passa para encon-trar de novo meu amorzinho.

    Nunca mais, nunca mais. Mulheres, quem precisa delas? Eu que no preciso mais. No quero mais olhar curvas sinuosas e atraentes desfilan-

    do por campos floridos e aromatizados com fragrncia mais queexuberante. No quero mais saber de olhar fundo nos lindos olhose sentir o desejo crescente a cada instante. No quero mais saberdisso, uma sereia eterna que com o canto encanta e ressoa pelosquatro cantos.

    Para que tudo isso? Faz sentido afinal? Acho que no! Coisamais besta, besta mesmo.

    Com o que eu tenho que me conformar agora que real-mente j morri e no posso mais ter o que eu mais apreciava egostava. Uma mulher de corpo, alma e espirito. Mas para mims ficou o espirito, infelizmente. Adeus mulheres, deixarei-asem paz, agora.

    6. Caso Walkria

    Para dizer a verdade, s o que eu queria depois de conhecera minha suposta fada, era uma mulher bem comum, sem grandespoderes, sem muitos mistrios. Todo o tempo que estive com aEsmeralda sempre pensava: Ser que isso mesmo que quero?Talvez uma mulher normal, no sei...

    Embora no estivesse em busca direta disso a todo instan-te, esses pensamentos, quando prximo dela, passavam pela mi-

  • nha cabea. Isso, de certo modo, me amedrontava. Sabia queminha fada, poderia a qualquer instante saber o que eu estavapensando e, pior do que isso, sabia que se descobrisse os meusdesejos mais reservados, os concretizaria. Isso sempre fazia comque no pensasse. Isso me aniquilava. Bastava desejar e pronto,l estava tudo as mil maravilhas. Mas sempre tinham as compli-caes. Sabia que tudo tinha um preo e no estava com muitavontade de ficar devendo muita coisa para quem quer que fosse.

    O que procurava era no desejar, e para no pensar, auto-maticamente, deixava de existir.

    Havia permitido me envolver com algum que era uma tre-menda de uma mulher, mas acho que no estava preparado paraaquilo. Os seus poderes especiais que tudo controlava, acabarampor tirar a minha possibilidade de livre escolha. Interessante comotinha conseguido conquistar aquela mulher. Ser que o bruxonessa histria era eu? Bastou eu querer e pronto, l estava a Es-meralda a minha disposio. certo que depois acabei por des-cobrir que havia pedido errado, mas fazer o qu? Se no tivessefeito o que fiz, deixado me envolver, jamais saberia ao certo comoseria. Por este ponto, eu no me arrependo. Do que me arrepen-do das coisas que no fiz, das que gostaria de ter feito e, porcovardia, ou por achar alguma coisa errado, no permiti que acon-tecessem.

    Desta vez estava bem certo, mais do que certo daquilo quedesejava: Apenas no desejar nada. Quero, de agora em diante,uma vida bem tranqila A apenas sentar e deixar o barco correr.E foi isso mesmo que fiz. Nada! Como diz o ditado: quando nose sabe o que fazer, no faa nada. E segui o conselho.

    E por falar em barco, estou me lembrando agora que exis-tiu ha muito tempo uma garota que era uma tremenda gata e quevivia a dizer que a vida dela era como um barco, que simples-mente deixava que a correnteza levasse. As vezes, haviacorredeiras mais alvoroadas. As vezes, guas tranqilas parapercorrer. Mas o importante era no deixar que o barco afundas-se. Isso estava claro agora. Apenas navegar, navegar...

    Antes, porm, de pensar desta maneira, em uma tarde, nolocal onde eu trabalhava, dei um baita esbarro em uma outra

  • moa que cruzou comigo em um corredor. Gozada a minha vida: cheia de trombadas! E estava para acontecer mais uma.

    A danada da garota no deu nem bola para mim, nem se-quer olhou para a minha cara. Abaixou-se, apanhou os papeisque carregava, levantou-se e seguiu em frente. Meio sem jeito,pedi desculpas, mas pareceu nem ter escutado. Assim, passoumais uma trombada sem muitas conseqncias. Isso, na verda-de, mais adiante iria nos colocar frente a frente novamente.

    Minha relao com a ex-fada j estava quase em seu limiare, um dia, andando pelas ruas sem pensar, e tentando no pensarem nada, no que uma nova trombada aconteceu na calada?Pois , a moa do corredor de novo. E desta vez foi diferente.Ficou furiosa e reclamou de mim, perguntando se eu no olhavapor onde andava. Pedi desculpas, mas foi em vo. Era uma tardechuvosa e seus papeis desta vez caram em uma poa de gua.Realmente ficou desconcertada. Parecia ser de muita importn-cia. No teve jeito de fazer a moa ficar calma.

    No meio daquela confuso infernal que ali se instalava,acabei perdendo a pacincia e dizendo que se no olhava poronde ia e trombava com os outros, era porque esses outros eramto estpidos quanto eu, pois no eram capazes nem de se desvi-arem de um cretino qualquer.

    Parou de falar por um instante, olhou pela primeira vezpara o meu rosto, observou-me atentamente. E no que, para omeu espanto, pediu desculpas?

    Fiquei com uma baita vergonha. Estava realmente sendogrosso com a moa. Disse que quem deveria se desculpar era eu,e assim comeou uma conversa at que bastante interessante.Falvamos sobre coisas diversas, mas o assunto sempre voltavapara a questo da fora do pensamento. Falei sobre um livro queexplicava bem a respeito deste assunto. Houve um interesse gran-de por sua parte, pude notar. Acabei oferecendo-o, emprestado,mas disse que no sabia onde estava guardado, e assim que ti-vesse um tempo, o procuraria e achando, ligaria e o emprestaria.Foi a deixa para pegar o seu telefone. Acho que ficou sem jeitoem no me dar o nmero, mas acho mesmo que nem se importouporque mostrava-se realmente muito interessada no danado do

  • livro. Assim foi. Embora eu quase no a encontrasse no ambien-

    te de trabalho, ficou uma amizade distante e sem interesse al-gum, um pelo outro, se bem que era uma mulher de se encher osolhos.

    Por muito tempo fiquei sem v-la, at que me separei daEsmeralda. Olhei para a estante, naquele Sbado, e acabei ligan-do, e deu no que deu. No sei explicar, mas foi isso mesmo queaconteceu.

    Parecia j estar programado o nosso encontro. Como umrelgio tudo funcionou perfeitamente. O gozado era no ficarnem sequer vinte e quatro horas sem uma namorada. Sem que-rer, sem pensar em fazer o que aconteceu, apenas aconteceu epronto. Talvez por ter deixado o barco navegar e sem ter medode viajar em guas desconhecidas.

    Mas aqui entre ns: ser que existia algum l em cima queera capaz de adivinhar o meu futuro desejo e programar tudo tobem assim?

    6.1. Pode, no pode

    A Walkria era uma mulher espetacular, mas tinha algunsprobleminhas. Um dia podia, no outro no. As mesmas coisasque fazia em um dia, no outro, j era tudo diferente.

    Nunca consegui entender isso direito, mas acho que erapor serem demoradas as suas decises. Sempre estava indecisa.Para saber se queria ou no fazer alguma coisa, era uma eterni-dade. Dvidas j eram rotinas em sua vida. Sem posio forte,no se definia para nada. Coisa estranha em uma mulher. Aindamais pelo fato de que era de carter firme e enrgico.

    Engan-la era a coisa mais dolorosa que poderia acontecerno mundo. Magoava-se por quase nada. Mas no deixavatransparecer. At que um dia, as coisas mudaram radicalmente.Finalmente Walkria havia tomado uma deciso, e no era devoltar atrs quando estava realmente decidida.

  • Qual deciso? A de que j era a hora de realmente assumirum compromisso, e assumiu. O escolhido fui eu. Deu um baitatrabalho. Lembram da carta da despedida? Foi para a Walkriaque escrevi.

    No incio, no queria deixar se envolver. Estava com medo,no confiava muito em mim, sei l, na verdade o que passava emsua cabea. Mas depois, um sbito claro de paixo tocou o seucorao. Da, j era. Entregou-se de corpo e alma. Mulher muitointeressante, a Walkria.

    O maior problema da Walkria era realmente o seu queridopai.

    Contava-me que quando tinha uns cinco anos de idade opai cometeu um crime.

    A me dela era meio que safadinha. Moravam em um bair-ro afastado e um sujeito cujo nome eu no me recordo, adoravapaquer-la. O pai sempre se ausentava de casa por longos pero-dos. Mas o motivo, nunca soube explicar. bem provvel quetivesse outra famlia. O danado do sujeito que paquerava suame, um dia entrou em casa e a me no resistiu. Um romancecomeou entre eles. Coisa absurda! Mas era verdade. Desse diaem diante um inferno se alojou naquela casa. O sujeito, muitocafajeste, ameaava a me dela, dizando que se no ficasse como amante, mataria o seu Alaor, pai de Walkria.

    Mas isso quem dizia era a me, pois o sujeito irresponsvelacabou levando um tiro do pai da Walkria.

    Em uma tarde em que Alaor estava em seu lar, o sujeitoapareceu dizendo que daquele dia em diante iria morar l. Ficavaameaando entrar na residncia. Seu Alaor que no era besta nemnada, esperou que o sujeito colocsse o p dentro do porto emandou bala com uma garrucha velha que guardava atrs da portada sala.

    Resultado: o sujeito tambm j era. O mais gozado foi de-pois, no julgamento, o juiz perguntava para o seu Alaor se tinhaconscincia de que a sua mulher o estava traindo, e Alaor res-pondeu que sabia que era chifrudo.

    Bem, depois de todo esse escndalo, acabou definhando, ena verdade, sumiu do mapa, abandonando a filha e a mulher.

  • At posso entender uma coisas dessas, mas depois de cin-co anos de contatos, abandonar a filha assim desse jeito? Quedesamor! Embora tenha sido um choque muito grande, no justi-fica essa atitude.

    Com isso tudo, a Walkria cresceu sem pai e sempre quisconhecer o velho, mas nunca o localizou. Sumido para sempre.Vivo ou morto? Talvez com um pouco de sorte consiga um diaesclarecer toda essa situao.

    Esses fatos, assim como outros na infncia, marcavam avida de Walkria. Um deles foi uma vez em que Walkria foimorar com uma tia por aproximadamente uns seis meses. Umdia sua tia disse que sua me no voltaria mais, e que deveria irarrumando as coisas e procurar um lugar para ficar. Lgico queera tudo uma brincadeira. Mas a Walkria no entendia assim.No tinha mais do que uns seis anos de idade. Humildemente,pegou a sua sacolinha, colocou alguns brinquedos dentro, e par-tiu. Abriu o porto e saiu caminhando sem rumo. Sua tia diziatchau, e Walkria olhava para trs e andava sem destino.

    Sabia que no poderia mais ficar ali. Sabia que tinha que irpara algum lugar, mas no sabia para onde ir. Apenas andava emlinha reta, desconsolada. Sentia-se perdida. Achava que sua vidahavia acabado e pensava em andar at encontrar a sua me. Masonde?

    Esse episdio eu s estou descrevendo para que todos pos-sam entender porqu uma me haveria de largar uma filha toquerida na casa de uma irm por tanto tempo.

    Sem pai, pois j ha algum tempo no o via mais, e agorasem me tambm. Pobre Walkria, que fim a esperava?

    Mas a questo realmente esta. O porqu de uma me ficarlonge tanto tempo de uma filha?

    6.2. Apaixonite Aguda de Terceiro Grau.

    De verdade a Walkria havia me encantado. Eu estava total-mente entregue. Um dia entramos em uma estao do metr, e

  • ficamos por algum tempo esperando o trem. Conversvamosanimadamente e finalmente estranhamos a demora. Para a mi-nha surpresa, assim como para a dela, vimos um trem saindo daestao. Estvamos no lado da plataforma em que no passavamtrens e, ao contrrio de todos, ficamos l, a ss, e nem nos aper-cebemos de tal fato.

    Uma vez fizemos uma viagem de nibus e tnhamos quepegar o dito cujo em um determinado terminal rodovirio. Ns,automaticamente, nos dirigimos para um outro terminal e fica-mos a procurar por um nibus que jamais estaria l. At quepercebemos que estvamos em local errado.

    Mas era sempre assim. A presena de um diante do outro,era desconcertante. O mundo poderia acabar que para ns estavabom demais. Nada que acontecesse nossa volta tinha a menorimportncia. Era tudo uma questo de um olhar para o outro,para ficar tudo certo.

    Algum tempo depois de ter me contado a histria do sumi-o de seu pai, voltou a tocar no assunto. No gostava muito defalar, mas parecia precisar. Perguntei se gostaria de encontr-lo.Disse que sim, e me propus a ajud-la. Concordou.

    Ao mesmo tempo em que Walkria queria encontrar o seupai e saber da verdade, no fazia nada para que isso acontecesse.Resolvi que tal tarefa era bem mais fcil do que parecia, e partiem busca de informaes.

    Depois de algumas semanas, eu j estava com o nmero docelular do pai dela em meu poder. Voltei a falar a respeito doassunto, e perguntei se queria que eu falasse com seu pai, ou seela mesma gostaria de ligar. Respondeu que eu poderia ligar. Li-guei, e tive uma tremenda de uma decepo.

    O velho parecia ser uma pessoa que s pensava nele mes-mo.

    Um ser como aquele no poderia ser o pai da Walkria.Walkria, uma mulher de carter firme e forte, uma ndole acimade qualquer suspeita. O homem que, alis, no se dizia pai daWalkria, me disse que j estava com setenta e um anos e noqueria mais problemas. Realmente era uma pessoa extremamen-te egosta que parecia s pensar nele mesmo. Mas que sujeito

  • mesquinho! Disse para mim que no queria mais v-la, que sen-tiria uma emoo muito forte e que poderia no agentar. Aindaargumentava que estava velho demais e que as coisas estavamboas do jeito que estavam, e no queria nenhum tipo de compli-cao.

    Mas, e a complicao que provocou na vida da Walkria!Isso no conta? . S pensava nele e o resto que se danasse! Quesujeito mais asqueroso! Um crpula, com o perdo da palavra.

    Fiquei revoltado com o que escutei ao telefone. Um velhobem ordinrio! Percebi que era perda de tempo tentar fazer algu-ma coisa para forar um encontro entre eles. Um velho daqueledeveria ser entregue a algum asilo que ningum se importaria.Um pai que rejeita a prpria filha. Que ordinrio! Um safado,um safado!

    Mas diante de tudo isso, e mesmo tendo essa opinio a res-peito do sujeito, pude perceber que as coisas no eram realmentebem assim como estavam aparentando ser. De verdade pude sen-tir em um determinado instante em que conversava com o velho-te, que o danado soltava algumas lgrimas, e pelo telefone euescutava o fungar da sua narina. Interessante. Chorou, mas noqueria ver. No queria mais encontrar. Era um passado morto. Jhavia colocado uma pedra naquele assunto, e me parecia perdade tempo tentar descobrir a verdade deste ngulo. Mas estava afim de descobrir o que havia acontecido, mais para esclareci-mento da Walkria do que para minha curiosidade.

    Ento, de que modo eu poderia saber o que realmente po-deria ter acontecido? Uma me que abandona a filha. Um paicarinhoso que desaparece. Mas uma idia estava passando pelaminha cabea agora. Talvez, talvez se eu... a adormeci.

    Enquanto eu durmo um pouco, pois ningum de ferro,vou aproveitar para contar uma outra histria para voc, se queainda no dormiu tambm. E se dormiu, no tem importncia,espero para te contar amanh e, afinal, vou poder descansar maisum pouco tambm.

    Vamos dormir agora. Amanh eu inicio o conto, com vocmais disposto do que nunca. Mas no v deixar para ler depoisque estiver bastante cansado, a no vale.

  • At amanh! Supondo que hoje j amanh, se voc dormiu mesmo. E

    que ontem hoje, caso no tenha dormindo. Supondo apenasque voc voc mesmo e no eu, que estou escrevendo e lendoao mesmo tempo vamos ao que interessa.

    Agora eu me confundi todo. Eu sou quem? Sou o que estescrevendo? Ou sou o que est lendo? E hoje, ontem? Voc, oueu, dormimos ou no?

    Deixa eu esclarecer melhor. Eu sou o que est escrevendodormindo. Voc, o que est lendo acordado, voc lembra? Seaproveitou para dormir tambm, ento j estamos ambos acor-dados, ser que dormindo? Vamos prosseguir.

    A Walkria morava em uma cidade de poltica curiosa e umtanto duvidosa. Embora nunca tivesse tido provas sobre fatosescusos, tenho que reconhecer que coisas estranhas aconteciamnaquela cidadela. E Walkria, no era amiga do Rei.

    O prefeito da cidade, na verdade, adorava construir novasobras, e resolveu que a cidade j merecia um viaduto, o primeiroda regio. Aps meses de batalha poltica, a verba foi destinadapelo governador para a construo do referido viaduto que liga-ria coisa alguma a lugar nenhum. Duas largas e bem distribudasalas de um viaduto, que seria o orgulho da cidade.

    Tempos de muita inflao, e quando todos pensavam que aobra estava pela metade, foi inaugurada. Em vez de duas alas,apenas uma.

    O mais engraado que a placa de bronze, dessas de inau-gurao, fica do lado contrario ao lado onde os pedestres andam.O nico jeito de ler o que esta escrito na placa descer peloviaduto de carro e parar em frente mas nunca d, por causa dotrnsito.

    E a que eu quero chegar. O trnsito. Leiam atentamente edepois me digam de quem a responsabilidade pela morte doAntnio de Oliveira, morador ilustre da cidade, de idade avana-da, mas lcido. Tinha sido, em tempos passados, poltico influ-ente na regio. Fez boas obras em prol da comunidade local, masmorreu por causa do danado do viaduto.

    O caso o seguinte: O viaduto to referido era para ter

  • quatro pistas, duas para subir e duas para descer. Um dia, Antnio passou mal e chamaram uma ambuln-

    cia. Prontamente foi atendido e removido para um hospital, mastarde demais. Acontece que, ao embocar na parte inferior do vi-aduto, a ambulncia pegou uma fila de carros que estavam emmarcha reduzida, atrs de um caminho que transportava areia.Subindo a uma mdia de cinco quilmetros por hora, e com otrnsito congestionado, a ambulncia no conseguiu subir o via-duto, no em menos de trs minutos, que foram fatais para Ant-nio. Morreu ao dar entrada no hospital regional de uma cidadevizinha, de parada cardaca. E agora, a responsabilidade da mor-te de Antnio era de quem?

    Notem uma coisa: se o viaduto tivesse duas alas, a ambu-lncia subiria em menos de trinta segundos, mas como no tinha,Antnio morreu. Bem, no estou aqui para julgar ningum, mui-to menos quem construiu o viaduto. Mas, de certa forma, a res-ponsabilidade por aquela morte vai ser atribuda a algum, pelomenos aqui, no mundo dos sonhos. Sonhar bom. Faz bem alma. Voc sonha?

    Mas chega de bl bl bl. J est na hora de acordar. Vamosvoltar para a histria.

    Acordando... Mas quem esta acordando agora? Eu que no sou! Se

    estivesse dormindo no poderia ter escrito tudo isso. Isso estficando muito complicado para o meu gosto. Dormindo, acor-dando, morto, vivo...

    Deixa isso para l. O que interessa a Walkria. J sei oque aconteceu, s no sei como contar.

    A verdade era a seguinte: Por sobre forte intuio, em ques-to de segundos, tive todo o esclarecimento do caso. Doloroso,mas fcil de se entender. A me da Walkria, mulher jovem napoca, imponente e de carter spero, descobriu que o calhordatinha uma outra famlia. Vivia fazendo presso para que o pai daWalkria largasse da outra mulher e fosse morar com elas. Po-rm, o velho no parecia estar muito disposto a isso, e como jno agentava mais a me da Walkria pressionando, arrumouuma desculpa qualquer e fez com que mudasse da cidade para

  • um outro estado. Assim passaram a viver. De vez em sempre opai da Walkria visitava e cuidava da menina com muito carinho.

    A me da Walkria, cansada de tanto esperar por uma solu-o, resolveu que j era hora de mudar as coisas e estabilizar asua vidinha. Simples, mas digna. Sabe o que fez? Arrumou umoutro namorado.

    O idiota do pai da Walkria, sem saber do que estava acon-tecendo, acabou por suste