Dou graças a meu Deus, cada com ela e a viva de coração ... · nossa comunhão com Deus e se...

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Conheça a Palavra de Deus, reze com ela e a viva de coração. "Dou graças a meu Deus, cada vez que de vós me lembro. em todas as minhas orações, rezo sempre com alegria por todos vós". Fl 1 3-4 De: Em: Com todo carinho para:

Transcript of Dou graças a meu Deus, cada com ela e a viva de coração ... · nossa comunhão com Deus e se...

Conheça a Palav

ra de Deus, re

ze

com ela e a viva d

e coração.

"Dou graças a

meu Deus, cada

vez que de vós me lembro.

em todas as minhas o

rações,

rezo sempre co

m alegria por

todos vós".

Fl 1 3-4

De:

Em:

Com todo carinho para:

Pai bondoso, que me criou à sua imagem e semelhança, às

vezes me esqueço disso e minha vida perde o sentido. Permita-

-me sempre sentir-me como seu filho predileto e gozar de seu

amor, de seu perdão, de sua justiça e de sua paz.

Jesus, eu lhe agradeço porque você me convida a ser seu ami-

go. Insista em me dar o melhor e me ensine como consegui-lo.

Quero responder ao convite que você me faz, permitindo que

guie a minha vida, me livre do pecado e me ajude a viver o reino

de Deus.

Espírito Santo, abra meu coração ao amor e me impulsione a

compartilhá-lo; dê-me a fortaleza e a sabedoria de que necessi-

to para seguir Jesus. Encha-me de seu fogo motivador e dê-me

a paz e a alegria que vêm de cumprir a vontade de Deus.

Amém.

Entre em Oração

Deus nos ama infinitamente e nos fala por meio de

sua palavra escrita, para nos oferecer uma ami-

zade profunda e doadora de vida. Seu Filho Jesus nos

incorpora à vida de Deus, como filhos seus, nos liberta

do pecado, nos enche de amor, de alegria, de espe-

rança e nos indica o caminho para o Pai. Seu Espírito

nos guia, fortalece e ajuda a compartilhar com outros

a grande dádiva do amor de Deus. Tudo isso acontece

apenas com nossa aceitação livre e consciente.

Que a Sagrada Famíliao acompanhe sempre

em sua jornadade fé, em especial

ao refletir e ao rezarcom a Sagrada Escritura.

EDITORAAVE-MARIA

Bíblia católica do

jovem

Carta do Cardeal Presidente do CELAM

Para a Bíblia católica do jovem

Querido jovem,

Com amor sincero e fé profunda eu lhe escrevo esta carta em nome de Jesus, que o con-

vida a receber em seu coração a Palavra vivificante de Deus com esta Bíblia do jovem, desti-

nada a você e a todos os jovens.

Viva a aventura maravilhosa e surpreendente de conhecer a Palavra de Deus, de rezar

com ela e de encontrar a água viva que sacia a sua sede de Deus e seu anseio de fraternida-

de! A Sagrada Escritura é uma fonte inesgotável que manterá vivos e fecundos sua fé, sua

esperança e seu amor; é a Palavra de Deus que o anima a construir com ele o “reino da ver-

dade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz”, esse reino de Deus

que tanto desejamos em nosso tempo.

As introduções, ilustrações e apoios didáticos irão ajudá-lo a conhecer e a manusear a

Sagrada Escritura. Os comentários e os apoios pastorais facilitarão que a Boa-Nova da sal-

vação penetre em seu coração e você se converta em boa notícia para todos os que estão

à sua volta.

Peça ao Espírito Santo que abra sua mente e seu coração para que, ao ler e rezar a Pa-

lavra do Senhor, sua relação com Deus cresça e aumente. Receba o amor, a audácia, a alegria

e o perdão que Jesus Cristo quer compartilhar com você. Escute com sua família e seus ami-

gos o chamado de Jesus a ser discípula ou discípulo seu, a carregar com ele sua cruz, a ser

profeta e apóstola ou apostolo da esperança, que colabora com ele para evangelizar e assim

convidar muitos jovens a percorrer os caminhos do Evangelho.

Recorde o pedido do Beato João Paulo II, o Papa da juventude, para que em nossa que-

rida América realizemos uma Nova Evangelização, marcada por um novo ardor, novos méto-

dos e novas expressões. Assim, use esta Bíblia como um instrumento para que você seja “sal

da terra” e “luz do mundo” e possa levar o Evangelho a tantos jovens que, consciente ou in-

conscientemente, têm sede de experimentar o amor libertador de Jesus e só estão esperando

que alguém compartilhe esse amor com eles.

Em união com meus irmãos bispos da América Latina, peço a Maria, nossa mãe, que o

acompanhe ao usar esta Bíblia para que Deus faça em você maravilhas, e sua Palavra seja

fonte de vida eterna para você e – por meio de você – para muitos outros jovens.

Seu irmão em Cristo o abençoa de coração,

Francisco Javier Errázunz Ossa

Cardeal Arcebispo de Santiago do Chile

Bogotá, 30 de outubro de 2004.

CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO

PRESIDÊNCIA

Querido jovem,

É um grande prazer saber que você tem em mãos a Bíblia do jovem. Por meio de sua Pa-

lavra, Deus diz que o ama muito e que Jesus deseja que você compartilhe seu amor com as

pessoas com as quais convive.

Conforme você medita a Palavra de Deus e faz sua a mensagem do Senhor, sua vida mu-

dará, seu compromisso com Cristo renovará e você experimentará uma alegria profunda. As-

sim, pouco a pouco, irá se realizar o que disse o próprio Jesus: [...] vim para vos dar vida, e

vida em abundância (cf. Jo 10,10).

Pedimos ao Espírito Santo que o guie em tudo o que você faz, para que seu coração e sua

mente estejam abertos a uma amizade profunda com Cristo ressuscitado. Ao escutar a Palavra

de Deus em clima de oração, você encontrará paz e alegria, sua fé crescerá e sua voz será

fonte de esperança para as pessoas a seu redor. Você seguirá Jesus mais de perto, se conver-

terá em seu apóstolo entre seus amigos e, ao longo de sua vida, será Palavra de Deus viva

pelos seus atos e palavras.

Esta edição foi preparada com muito carinho. Suas introduções, comentários e ilustrações

foram desenvolvidos pensando em você; irão ajudá-lo a conhecer a Palavra de Deus, a rezar

com ela e a vivê-la de coração.

Pedimos à Virgem Maria, mãe da Igreja, que o acompanhe no seu diálogo com Deus. Como

mãe, ela reúne os jovens em torno de Jesus, que os espera de braços abertos.

Esta Bíblia será um instrumento poderoso para a Nova Evangelização de toda a América.

Que, ao refletir e exercitar a Sagrada Escritura, Deus o abençoe em nome do Pai, do Filho e do

Espírito Santo.

Afetuosamente em Cristo Jesus,

Stephen E. Blaire, D.D.

Bispo de Stockton, Califórnia

Outorgador da Permissão Eclesiástica

Carlos A. Sevilla, S.J.

Bispo de Yakima, Washington

Presidente do Instituto Fé e Vida

12 de outubro de 2004

Desde os fins do século XX, o Papa João Paulo II insistentemente pediu que realizemos uma Nova Evangelização no Continente Americano, e que tra-

balhemos unidos nos países da América.

No ano 2000 publicou-se nos Estados Unidos The Catholic Youth Bible para a juventude de língua inglesa. Mais tarde o Instituto Fe y Vida publicou uma versão dessa Bíblia em espanhol. Em espírito de unidade, agora colocamos a versão em português nas mãos do povo jovem de língua portuguesa, para ajudá-lo a saciar sua grande sede de Deus e para que lhe sirva como instru-mento evangelizador.

Com a leitura da Palavra de Deus você aprofundará o conhecimento a respei-to do amor de Deus por você e por toda a humanidade e verificará que Deus conta com você, para anunciar a Boa-Nova da sua mensagem que se realiza plenamente em Jesus Cristo.

Jesus, Você e a Bíblia do Jovem

Jesus o espera com os braços abertos para o acompanhar à medida que se familiariza com a Palavra de Deus, de modo que ele lhe entregue seu amor e você possa assim dar sentido à sua vida, enfrentando com esperança os desafios do caminho e transformando suas angústias em paz.

Jesus viveu e morreu para lhe dar vida nova: ele dedicou toda a sua vida a fazer presente o reino de Deus nos corações das pessoas, em suas relações interpessoais e em suas instituições sociais, promoveu o amor, a justiça e a paz.

Jesus é a revelação plena de Deus: nele se cumpriram as profecias do Antigo Testamen-to, estabeleceu-se a Nova Aliança com Deus e toda a criação dará glória a Deus no final dos tempos.Jesus formou uma comunidade de discípulos e apóstolos: recomendou-lhes que continuassem sua missão, fazendo o mesmo que ele fez: proclamando o amor de Deus com o testemunho de sua vida inteira, seus ensinamentos e suas ações misericordiosas, sobretudo com os mais pobres e vulneráveis.

Jesus o escolheu para que leve seu amor a outros jovens: Jesus ressuscitado caminha para outros jovens com seus pés, os ama com seu coração, lhes fala por sua boca, os atende com suas mãos... Continua sua missão hoje em dia através de jovens que se deixam amar para trans-mitir seu amor aos outros.

Conheça Jesus por meio da Sagrada

Escritura,

abra-se a seu amor, para que Ele lhe dê

nova vida e o leve a outros jovens q

ue

anseiam por seu amor libertador!

Equipe editorial

10

Seja BEM-VINDA

A BÍBLIA DO JOVEMÉ DEDICADA ESPECIALMENTE A VOCÊ

A Bíblia do jovem foi preparada com todo o carinho pa-ra que a Palavra de Deus chegue a seu coração e reno-ve, completa e profundamente, sua vida desde o mais íntimo do seu ser. A Palavra de Deus é para todos: para os que têm pouca fé, para os que estão cheios de dúvidas, para os que buscam como seguir fielmente a Jesus e para aqueles a quem Deus pediu ajuda para pastorear sua Igreja.

A BÍBLIA DO JOVEM: • traz o amor salvador de Deus para sua vida; • abre seu coração ao amor, à justiça e à paz de Deus; • dirige sua vida com os valores do Evangelho; • coloca a Palavra de Deus ao seu alcance; • aplica a Boa-Nova à cultura juvenil.

A BÍBLIA DO JOVEM ajuda você a: • experimentar a bondade e a misericórdia de Deus ao rezar com a Sagrada Escritura; • obter uma resposta cristã à sua busca da verdade; • adquirir os fundamentos para dar um sentido cristão à sua vida; • escutar o chamado de Deus para colaborar na obra redentora de Jesus; • fortificar sua identidade católica ao relacionar suas crenças e práticas religiosas

com a Bíblia.

A BÍBLIA DO JOVEM oferece: • um critério de vida e um caminho para Deus; • um encontro com Jesus, porque “a ignorância da Sagrada Escritura é ignorância de

Cristo” (São Jerônimo); • um instrumento para compreender a mensagem da Bíblia e relacioná-la com sua

vida diária; • um meio excepcional para compartilhar o Evangelho com seus amigos; • um guia de interpretação bíblica segundo o Magistério da Igreja Católica.

11

Bíblia do jovem

Conteúdo

Caderno inicialSímbolo e acolhida 11Comentários para conhecer, rezar e viver a Palavra de Deus 14Comentários para fortalecer a identidade católica 16Apoios didáticos e pastorais 18Índices 21

Guia para manusear a Bíblia 22Livros e abreviaturas bíblicas 23Por que uma Bíblia do jovem? 25Desenvolvimento e características da

Bíblia do jovem 26Perguntas e respostas sobre a Bíblia 30Como estudar e compreender a Bíblia 35Como rezar com a Palavra de Deus 37

Antigo TestamentoO mundo do Antigo Testamento 45

Pentateuco

Introdução 61Gênesis 63Êxodo 121

Levítico 171Números 203Deuteronômio 243

Livros históricos

Introdução 283Josué 285Juízes 311Rute 3391Samuel 3452Samuel 3791Reis 4072Reis 4391Crônicas 469

2Crônicas 496Esdras 531Neemias 544Tobias 561Judite 577Ester 5951Macabeus 6112Macabeus 644

Livros proféticosLivros proféticos

Introdução 670Jó 673Salmos 711Provérbios 811

Eclesiastes 845Cântico dos Cânticos 859Sabedoria 869Eclesiástico 895

Livros poéticos e sapienciais

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Livros poéticos / Sapienciais

IntroduçãoSalmos

Cântico dos CânticosLamentações

Livros sapienciais

IntroduçãoJóProvérbios

EclesiastesSabedoriaEclesiástico

Novo TestamentoO mundo do Novo Testamento 1313

Evangelhos e Atos dos Apóstolos

Introdução 1331Mateus 1333Marcos 1387

Lucas 1425João 1479Atos dos Apóstolos 1527

Cartas e Apocalipse

Introdução 1585Romanos 15871Coríntios 16132Coríntios 1637Gálatas 1655Efésios 1667Filipenses 1679Colossenses 16871Tessalonicenses 16952Tessalonicenses 17031Timóteo 17092Timóteo 1717

Tito 1721Filêmon 1725Hebreus 1729Tiago 17471Pedro 17552Pedro 17631João 17692João 17763João 1777Judas 1779Apocalipse 1783

Caderno finalVocabulário bíblico 1811

Índices Atos e ensinamentos principais 1863Comentários para a fé e para a vida 1866Orações bíblicas 1881Personagens 1883

Perspectiva católica 1885Bases bíblicas dos sacramentos 1886Símbolos bíblicos 1887Mapas e esquemas 1888

Notas bibliográficas 1889Lecionário 1897Planos temáticos de leitura 1902Quadro cronológico 1904

Minha história pessoal e comunitária é uma história de salvação 1914Livros e abreviaturas bíblicas 1920

Livros poéticos / Sapienciais

IntroduçãoSalmos

Cântico dos CânticosLamentações

Livros sapienciais

IntroduçãoJóProvérbios

EclesiastesSabedoriaEclesiástico

Introdução 964Isaías 967Jeremias 1041Lamentações 1111Baruc 1123Ezequiel 1135Daniel 1193Oseias 1219Joel 1233Amós 1239

Abdias 1251Jonas 1255Miqueias 1261Naum 1269Habacuc 1275Sofonias 1281Ageu 1287Zacarias 1291Malaquias 1305

Livros proféticos

13

Comentários para conhecer, e viver a

Palavra de Deus

A Bíblia do jovem traz vários tipos de apoio que o ajudarão a ler, compreender e comparti-lhar a Palavra de Deus. Alguns se referem à mensagem da Bíblia e estão reunidos nesta

seção. Outros mostram a tradição bíblica católica (ver p. 16), e vários são de natureza peda-gógica. Ver a seção intitulada “Apoios didáticos e pastorais” (p. 18).

Como ler, conhecer e tornar viva a Palavra de DeusEste capítulo oferece dados que ajudam a aproximar-se da Palavra de Deus de modo que seja possível compreender sua mensagem, interiorizá-la e aplicá-la à vida. Apresenta três seções:

Perguntas e respostas sobre a Bíblia. Responde a dez perguntas comuns sobre em que consiste a Bíblia, como se formou e como devemos interpretá-la (p. 30).

Como estudar e compreender a Bíblia. Oferece sete passagens ou aspectos que se deve considerar para interpretar de maneira correta um texto bíblico (p. 35).

Como rezar com a Palavra de Deus. Apresenta dois métodos de oração com a Bíblia: o primeiro centraliza-se na oração individual; o segundo ajuda a rezar e a refletir com a Palavra em comunidade (p. 37).

INTRODUÇÕESAs introduções desta Bíblia ocupam mais de cem páginas. Por meio delas é possível ter uma visão geral dos principais resultados da investigação bíblica em uma linguagem acessível aos jovens. A leitura seguida de todas essas introduções equivale à leitura de um livro de introdu-ção à Bíblia.

O mundo do Antigo e do Novo Testamento. Essas introduções oferecem uma visão panorâmica de ambos os testamentos do ponto de vista histórico, literário e teológico (p. 45 e p. 1313).

Introduções às seções da Bíblia. Cada uma das seis seções em que está organizada esta Bíblia – Pentateuco, Históricos, Sapienciais e Poéticos, Proféticos, Evangelhos e Atos, Cartas e Apocalipse – tem uma introdução com dados-chave sobre a formação e característi-cas de seus livros.

Apresentação dos livros. Cada um dos 73 livros da Bíblia tem uma apresentação que oferece as chaves históricas, literárias e teológicas para facilitar a compreensão de cada livro em particular.

Comentários bíblicosA Bíblia do jovem contém mais de 850 comentários inseridos ao longo do texto bíblico. A lo-calização e o enfoque de cada comentário pretendem oferecer aos jovens a oportunidade de compreender e viver os aspectos essenciais da mensagem da salvação, contida na Sagrada Escritura, e de entender a riqueza e as contribuições próprias de cada livro. Os oito tipos de comentários têm uma finalidade particular.

14

rezar

VIVA A PALAVRAAjudam a aplicar a mensagem bíblica à vida cotidiana, de

modo que a Palavra de Deus se encarne tanto nas situa-

ções vivenciadas no presente como nas que serão enfren-

tadas no futuro.

ENTRE EM ORAÇÃO

Ensinam a rezar com a Palavra de Deus; servem de guia

para a oração pessoal e comunitária e mostram as bases

bíblicas da oração e da vida sacramental na Igreja Católica.

SABIA QUE...?

Apresentam o marco de referência que os especialistas bí-

blicos (exegetas) oferecem para compreender a cultura, as

tradições e a linguagem da época bíblica, ou a interpretação

que a Igreja Católica dá a certas passagens.

REFLITA Provocam reflexões sobre passagens bíblicas que têm

uma mensagem clara e desafiadora para a vida cristã de

todo jovem.

APRESENTAMOS A VOCÊ...

Oferecem uma breve introdução sobre a vida e as contribui-

ções dos personagens bíblicos principais.

TEXTOS EM REALCE

Destacam a mensagem de vida que os diversos livros dão,

assinalando textos importantes que falam por si mesmos.

15

PERSPECTIVA CATÓLICA

Comentários para fortalecer

a identidade Católica

Mostram as raízes bíblicas de muitas crenças e práticas importantes da

Igreja Católica e assinalam o lugar da Sagrada Escritura na liturgia católica.

COMPREENDA OS SÍMBOLOS

Dão a conhecer os principais símbolos bíblicos de uso comum na arte

e nos rituais católicos mediante a combinação da ilustração do símbo-

lo e de uma breve explicação do mesmo.

Tradição católica

PERSPECTIVA CATÓLICA

Compreenda os Símbolos

Compreenda os Símbolos

16

A paz de Cristo na missaJesus se despede de seus apóstolos

deixando-lhes sua paz. É uma paz profun-da e plena, que, ao ser fruto do maior amor possível, é ativa, enérgica, constante e sólida; não uma tranquilidade passiva.

Na missa, depois da oração do Pai--Nosso, ao compartilhar a paz de Jesus, desejamos mutuamente que o amor de Deus nos encha, para prosseguir na vida cristã sem nos inquietar nem ter medo. Com essa paz de Jesus, nós cristãos po-demos manter a equanimidade e a felici-dade em meio à dor, à perseguição, à guerra, às doenças e à morte, e somos capazes de viver com dignidade e espe-rança, inclusive situações extremamente difíceis.

Quando na missa chegar o momento de dar a paz, receba-a com o coração aberto e entregue-a aos que o rodeiam, feliz por compartilhar esse dom de Jesus. Ao sair da missa, recorde que é uma paz ativa, que se constrói com seu esforço; dê você a paz e a construa entre sua família, suas amizades e seus companheiros..., trate a todos com amor, bondade e de maneira justa.

Jo 14,27

A ImaculadaA imagem da Imaculada é símbolo do

triunfo de Deus sobre o mal. Deus prometeu no paraíso que uma mulher humilharia a serpente ao dar à luz seu Filho. Maria é essa mulher, a nova Eva, livre do pecado original desde antes de sua concepção, graças à obra redentora de seu Filho Jesus, que nos liberta do mal e da morte eterna.

Gn 3 15

A barcaA barca, com seu mastro como cruz, é símbo-

lo da Igreja que nos une na fé e nos oferece segu-rança na travessia da vida. Quando ventos fortes a fazem adernar ou ondas perigosas a açoitam, Je-sus a guia e a sustenta. A barca, sem as chaves de Pedro, simboliza o ecumenismo das Igrejas que compartilham a fé em Jesus, filho de Deus.

Mt 8 26

Unidade na diversidade

Comentários culturaisA Palavra de Deus é universal; está destinada ao mundo todo e depende de cada povo assumir

os valores do Evangelho para que orientem os princípios, interesses e tradições que dirigem sua

vida. Ao longo do tempo, diferentes culturas em nosso continente americano viveram a mensagem

da Bíblia de diversas maneiras.

Neste século XXI, marcado por migrações numerosas e um processo irreversível de globalização,

é vital abrir-se à maneira particular como diferentes culturas deram vida à Palavra de Deus. Por

isso, a Bíblia do jovem apresenta comentários escritos no âmbito de oito tradições culturais: 1)

Incas, maias e astecas; 2) indígenas; 3) latino-americana; 4) estadunidense; 5) canadense; 6) la-

tinos nos EUA; 7) afro-americana; e 8) asiáticos na América.

As finalidades destes comentários são:

Valorizar diferentes perspectivas culturais sobre a Bíblia e enriquecer, desta forma, nossa es-piritualidade católica.

Compreender como um povo encarna o Evangelho em sua cultura (inculturação) por meio de sua espiritualidade e tradições populares.

Oferecer testemunhos de santos de diferentes países da América como modelos de vida cristã ao alcance da juventude latino-americana.

17

LATINO-AMERICANOMulheres anônimas da América Latina

Muitas vezes na história, o Senhor todo--poderoso se serviu de uma mulher (Jt 16,5). Junto com umas poucas mulheres célebres por suas ações em favor de sua pátria, milha-res de mulheres latino-americanas foram pro-tagonistas anônimas da transformação de seus povos. A maioria, mais que reclamar seus direitos individuais e ambicionar o poder, trabalhou para que todas as pessoas pudes-sem se desenvolver segundo sua capacida-de, suas habilidades e seus interesses.

Nas comunidades de fé, as mulheres contribuem com seu espírito crítico, sua dis-posição ao serviço, seu entusiasmo e sua generosidade. Quando desempenham papel de líder, favorecem o espírito de grupo, pro-movem uma liderança compartilhada, consi-deram todos os aspectos da vida e atendem aos detalhes da vida familiar e local.

Sem suas contribuições se perderiam riquezas que só o gênio da mulher pode oferecer à vida da Igreja e da sociedade. Não reconhecê-lo seria uma injustiça his-tórica, especialmente na América, levan-do-se em consideração a contribuição das mulheres ao desenvolvimento mate-rial e cultural do continente, como também à transmissão e à conservação da fé.

Jt 16,1-26

Incas, maias e astecasO sopro da vida

O ser humano, sempre que pensa sobre suas origens, chega a conclusões parecidas. O códice chimalpopoca, que documenta a história asteca ou nauhutl – uma cultura indígena muito antiga do México –, expressa que seus antepassa-dos acreditavam que Deus nos fez da terra e que, para ter vida, era preciso ter energia própria.

Por isso, quando lhes perguntaram qual sua origem e de onde vinham, responde-ram: “Viemos de onde sai o sol. Passamos por cima da água”. E, diante da pergunta sobre quem foram seus primeiros pais, de-clararam: “Nossa mãe primeira se chamou Ochomoco ‘sobre-a-qual-caminhamos’, e nosso primeiro pai teve como nome Cipac-tónal, isto é, ‘energia que-nos-rodeia’”².

Observe a semelhança com os relatos do Gênesis: há luz e água; Deus cria a terra; há um primeiro homem e uma pri-meira mulher; a vida é energia, é poder. A diferença está em que a Bíblia revela que Deus criou tudo e foi ele quem nos deu a vida e o poder para procriar e trabalhar.

Gn 5,1-2

AFRO-AMERICANOO princípio de ujima = colaboração no trabalho

Como admiramos a arquitetura das pirâmides do Egito! Foram necessárias centenas de anos para construí-las e faz séculos que estão em pé. Algumas pe-dras pesam duas toneladas, e todas fo-ram lavradas e alinhadas sem cimento. Os arquitetos, cientistas, matemáticos e engenheiros ainda não têm ideia de co-mo foram feitas.

As pirâmides são um exemplo do princípio ujima (ver “O sistema de valores Kwanzaa”, Es 6,19-22), que significa “colaboração e responsabilidade no tra-balho”. Os que as iniciaram sabiam que não as veriam terminadas, porém conti-nuaram trabalhando com empenho.

Hoje em dia necessitamos de jovens que trabalhem unidos para forjar uma nova sociedade. Talvez se requeira o esforço de mais de uma geração. Martin Luther King Jr. nos disse: “Estive no cimo da montanha e vi a terra prometida, talvez não me toque entrar, mas saibam que todos, como povo, entraremos na terra prometida”. Sabia que não veria sua gente libertada do precon-ceito e da discriminação; não obstante, trabalhou toda a sua vida unido a outros para alcançar este objetivo.

O Deuteronômio recorda aos israelitas que para dar prosperidade à sua nação deviam trabalhar unidos e solidariamente. Se seguirmos esta mensagem, teremos sucesso como indivíduos e como povo.

Dt 8,11-18

didáticos e pastoraisApoios

Passagens paralelas e relacionadasAs passagens paralelas e referências a outros textos bíblicos com mensagens relacionadas estão indicadas imediatamente depois dos subtítulos temáticos da Bíblia.

18

O vocabulário bíblico contém mais de 200 termos que ajudam a compreender a Bíblia e complementam ou sintetizam informações sobre alguns temas co-muns ao catolicismo, mas nem sempre de fácil compreensão.

Vocabulário bíblico

O lecionário é uma seleção de passagens bíblicas ordenada de maneira especial para nutrir e celebrar nossa fé ao longo do ano litúrgico. A Bíblia do jovem apre-senta o lecionário dominical para todo o ano, com seus três ciclos litúrgicos. O desenho a cores do lecionário ajuda a compreender o ciclo anual com os seus cinco tempos litúrgicos: Advento, Natal, Quaresma, Páscoa e Tempo Comum.O calendário litúrgico permite situar os ciclos segundo o ano e identificar os tempos litúrgicos e as festas móveis. Ver a explicação do lecionário na leitura litúrgica domi-nical (p. 41), no lecionário (p. 1897) e no calendário litúrgico 2005-2025, (p. 1901).

Lecionário

Os planos temáticos de leitura bíblica têm por objetivo guiar o estudo ou a refle-xão bíblica para que o leitor possa adquirir uma visão geral sobre temas impor-tantes na Sagrada Escritura (p. 1902). Esses planos temáticos podem servir para a leitura diária pessoal ou ser adotados por um grupo ou comunidade juvenil como base de suas reuniões semanais.

Planos temáticos de leitura bíblica

didáticos e pastorais

Os sete planos de leitura que se apresentam são:

Um percurso pela Bíblia: trinta leituras para compreender o amor libertador de

Deus e conhecer em grandes traços a história da salvação em ordem cronológica.

Imagens de Deus: quatorze leituras para se relacionar melhor com Deus e saber

como Ele vai se revelando ao longo da história.

O chamado de Deus: quatorze leituras para escutar o chamado de Deus a dife-

rentes pessoas a fim de que reflitam sobre o próprio chamado a servi-lo e continuar

a missão de Jesus.

Predileção de Deus pelos pobres e vulneráveis: quatorze leituras para ver a

vontade de Deus para a sociedade e revisar nossas atitudes e ações.

O pecado e a justiça salvadora de Deus: quatorze leituras para refletir sobre o

amor misericordioso de Deus que nos salva do pecado e nos dá uma vida nova.

O sentido do sofrimento: quatorze leituras para ver a crescente consciência de

que Deus nos acompanha em nossos sofrimentos e que, unidos aos de Jesus, eles

têm valor redentor.

As mulheres na Bíblia: quatorze leituras para ver que Deus trata as mulheres com

a mesma dignidade que ao homem, inclusive em uma sociedade patriarcal como a

do povo de Israel.

Apoios didáticosAlém dos apoios diretos à pastoral bíblica, a Bíblia do jovem traz uma série de

apoios didáticos que facilitam o manuseio da Bíblia: quadro cronológico, mapas,

ilustrações, esquemas e índices.

19

Quadro cronológico

O quadro cronológico que se encontra no final da Bíblia foi organizado com a fi-nalidade de ajudar a visualização das principais etapas da história da salvação através dos séculos. Também indica em quais livros da Bíblia estão narrados os fatos mencionados e a atividade literária em cada época, dando assim uma visão completa do desenvolvimento da Bíblia (p. 1904).Esse quadro cronológico está situado no contexto da formação do universo e do aparecimento dos avanços mais significativos da civilização humana. Essa refe-rência ajudará a compreender a revelação paulatina de Deus ao povo de Israel e o processo de reflexão teológica do povo sobre a criação do universo e sobre a origem e a natureza do ser humano.Além disso, assinalam-se os acontecimentos sucedidos nos territórios bíblicos que tiveram um impacto especial na história da salvação. Os dados sobre as grandes culturas da Ásia e do continente americano situam a história da salvação no processo evolutivo da humanidade.

A revelação de Deus sempre se mostra no acontecer da história. A história da salvação continua aqui e agora... e chegará à sua plenitude no final dos tempos.

MapasA Bíblia do jovem apresenta mapas e esquemas que ajudam a identificar os

lugares onde aconteceram os fatos mais relevantes relatados na Sagrada Es-

critura. Os mapas, inseridos nos capítulos sobre o mundo do Antigo e do Novo

Testamento e nas apresentações dos livros, podem se facilmente consultados.

Ver “Índice de mapas” (p. 1888).

Ilustrações e esquemasAs ilustrações de cada livro da Bíblia foram introduzidas para que o leitor possa cap-

tar por meio delas a mensagem central do livro em estudo. Por isso, estão todas in-

tituladas e têm a citação bíblica a que se referem. Os esquemas têm como finalidade

ajudar a compreender aspectos da história da salvação difíceis de serem entendidos

devido à sua complexidade (tábua dos reis e profetas), ao vocabulário confuso (tribos

de Israel) ou às tradições e fatos desconhecidos (templo de Jerusalém).

20

A Bíblia do jovem tem oito índices que ajudam a penetrar na mensagem da

Bíblia e a aproveitar ao máximo os comentários para a pastoral bíblica.

índices

Atos e ensinamentos principais. Apresentação de histó-

rias do Antigo e Novo Testamento, ensinamentos, parábolas e

milagres de Jesus (ver p. 1863).

Comentários para a fé e a vida. Apresentação de aspectos

importantes da fé que iluminam situações significativas da vida

do jovem (ver p. 1866).

Orações bíblicas. Apresentação de orações litúrgicas e

outros para diversas ocasiões; além dos principais salmos

segundo seu gênero literário (ver p. 1881).

Personagens. Aqui são apresentados personagens impor-

tantes na história da salvação (ver p. 1883).

Perspectiva católica. Este índice apresenta ensinamentos

do Magistério sobre certos textos bíblicos e tradições próprias

da Igreja Católica (ver p. 1885).

Bases bíblicas dos sacramentos. Apresentação de pas-

sagens bíblicas que fundamentam a teologia e os rituais dos

sete sacramentos na Igreja Católica (ver p. 1886).

Símbolos bíblicos. Aqui, surgem os símbolos bíblicos que

nossa Igreja emprega para comunicar a Palavra de Deus de

maneira visual, ilustrados e comentados (ver p. 1887).

Mapas e esquemas. Apresentação de mapas, quadros si-

nóticos e esquemas incluídos nesta Bíblia (ver p. 1888).

21

A o citar-se um texto da Bíblia, indica-se de forma abreviada o nome do livro (ver lista de abreviaturas na página seguinte) e os números dos capítulos e dos ver-

sículos (estes, separados por hífen) para indicar onde começa e termina a citação. Exemplo:

para manusear

a BíbliaGuia

Gn 12,8-12

Quando são citados capítulos inteiros, não aparecem os versículos. Exemplo:

Mt 5–7 = Mateus, capítulos do 5 ao 7.

Quando a citação é do mesmo livro, não se repete seu nome. Exemplo:

Mt 5,43-48; 7,12-18 = Mateus, capítulo 5, versículos 43 ao 48,e Mateus, capítulo 7, versículos 12 ao 18.

Quando a citação é longa e abrange dois ou mais capítulos de um mesmo

livro, coloca-se um travessão entre o capítulo e versículo iniciais e o capítulo

e versículo finais. Exemplo:

Mt 6,19–7,12 = Mateus, desde o versículo 19 do capítulo 6, até o versículo 12 do capítulo 7.

Quando se citam trechos de um mesmo capítulo, que não são seguidos, os versículos de ambos os trechos devem ser separados por um ponto. O mesmo aconte-ce com os versículos, que devem ser separados por ponto, caso a leitura seja separada. Exemplos:

Mt 6,1-4.16-18 = Mateus, capítulo 6, desde o versículo 1 até o 4 e desde o versículo 16 ao 18.

Mt 6,1-4.16.24 = Mateus, capítulo 6, versículos do 1 ao 4, versículos 16 e 24.

Quando se fazem várias citações de um mesmo livro e capítulo, embora este-jam em trechos separados, não é preciso repetir o nome ou a abreviatura do livro. Exemplo:

A primeira parte do Salmo 18 louva a harmonia da natureza com as leis que Deus lhe deu. (Sl 18,1-7). Depois menciona como a criação anima a vida das pessoas (vv. 8-11). Finalmente, assinala nossa atitude diante das obras de Deus (vv. 12-15).

Quando se cita textualmente uma passagem, escreve-se em itálico, seguido de sua

citação. Exemplo: O Senhor fez conhecer a sua salvação (Sl 97,2).

Quando a referência a uma passagem é feita de modo indireto, coloca-se apenas a citação. Exemplo:Oseias profetiza contra a infidelidade do povo e dos sacerdotes (Os 4–9).22

e abreviaturas BíblicasLivros e abreviaturas BíblicasLivros

Mensagem dos Bispos

no Concílio Vaticano II:

Os fiéis devem ter fácil acesso à Sagrada Escritura... Co-

mo a Palavra de Deus tem de estar disponível a todas as

idades, a Igreja procura, com cuidado materno, fazer tra-

duções exatas e adaptadas para diversas línguas, providas

de comentários realmente informativos; assim poderão os fi-

lhos da Igreja manusear com segurança e proveito a Escri-

tura e penetrar-se de seu espírito.

Dei Verbum n. 22-25

Mensagem de João Paulo II à juventude do século XXI:

Meus queridos jovens,que o Evangelho se converta em um tesouro bastante apreciado: no estudo atento e na acolhida generosa da Palavra do Senhor, vocês encontrarão alimento e força para a vida de cada dia e as razões de um compromisso sem limites na construção da civiliza-ção do amor.

João Paulo II, XV Jornada Mundial da Juventude, 2000, n. 4.

2525Por que uma Bíblia do jovem?

A mensagem da Sagrada Escritura tem sido vital na Igreja da América Latina desde a primeira evan-

gelização. A partir do Concílio Vaticano II, os bispos motivaram com esmero a leitura contínua da Bíblia e animaram a que todas as pessoas tornem vida a Pa-lavra de Deus em suas circunstâncias e situações concretas.

Em Medellín, os bispos pediram que se expresse o Evangelho de modo que todos os grupos na Igreja o compreendam e o façam vida em sua própria reali-dade1. Em Puebla, destacaram que a Sagrada Escri-tura deve ser a alma da evangelização, da catequese e da liturgia, para responder à ansiedade crescente da Palavra de Deus2. Em Santo Domingo, salientaram a urgência da formação bíblica dos catequistas e agentes de pastoral, e de uma pastoral bíblica que sustente a Nova Evangelização, ofereça o encontro com a Bíblia em nossa Igreja e responda às deficiên-cias de uma interpretação fundamentalista3.

Graças a este impulso e ao trabalho de muitos agentes de pastoral, a Bíblia vem sendo difundida nas comunidades cristãs, e muitos jovens procuram nela luz e orientação para sua vida. Também existe uma grande sede da Palavra de Deus nos jovens e um zelo apostólico em grupos e movimentos juvenis, que bus-cam na Sagrada Escritura seus esforços pastorais.

Por estas razões, oferecemos a Bíblia do jovem aos jovens de todo o continente americano, assim como aos agentes de pastoral e pais de família que querem fazer chegar a palavra de Deus à juventude. A existên-cia de uma mesma Bíblia em português, espanhol e inglês proporciona uma oportunidade única para o en-contro da Igreja jovem em toda a América, segundo o que ficou expresso em Ecclesia in America e na As-sembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Améri-ca4. A Bíblia do jovem é um presente que dá vida para todos os jovens latino-americanos, desde o Canadá até a Terra do Fogo e todo o Caribe, e um legado para as gerações jovens no começo do Terceiro Milênio.

Instituto Fé e VidaEditorial Verbo Divino 25

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A Bíblia do jovem foi organizada a partir da Biblia católica para jóve-nes, uma edição para jovens de língua espanhola em toda a Améri-

ca. Foi criada pelo Instituto Fe y Vida, cuja missão principal é capacitar lideranças para a pastoral juvenil entre latinos nos Estados Unidos. Ela foi inspirada na The Catholic Youth Bible (CYB), Bíblia em inglês para adolescentes e jovens.

Agora também temos esta edição, para os jovens de língua portu-guesa. Atendemos assim as três línguas mais faladas no continente americano.

MATERIAL DE APOIO PARA CONHECER, REZAR E TORNAR VIVA A PALAVRA DE DEUS

O material de apoio desta Bíblia foi preparado pelo Instituto Fe y Vida e por uma equipe adjunta. As seções sobre o mundo do Antigo e do Novo Testamento são uma versão abreviada de seu original na Bíblia da América. A elaboração do material de apoio visou:

• Responder às necessidades espirituais e à realidade pastoral da juventude latino-americana em todo o nosso continente.

• Fomentar uma pastoral bíblica evangelizadora, comunitária e mis-sionária em harmonia com as linhas estabelecidas pelo Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) para a pastoral juvenil.

• Oferecer introduções e comentários com uma exegese bíblica sóli-da, que fundamentem a fé cristã e a formação bíblica do jovem.

• Mostrar os fundamentos bíblicos da tradição católica, tanto em sua dimensão oficial (Tradição e Magistério) como em aspectos relevan-tes da religiosidade popular latino-americana (tradição).

O TEXTO BÍBLICO DA BÍBLIA AVE-MARIA

O texto bíblico utilizado na Bíblia do jovem é o mesmo da Bíblia Ave--Maria, conhecida no Brasil há mais de cinquenta anos.

A semente da Bíblia Ave-Maria foi plantada em 1957, poucos anos antes da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965). A decisão da Editora Ave-Maria de traduzir e publicar no Brasil a Bíblia em português foi uma iniciativa inovadora. Na época, não havia em nosso país edições acessíveis dos textos bíblicos. As que existiam eram importadas e caras.

Desenvolvimento e características da bíblia do jovem

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2727bíblia do jovem

Um conhecido orientador de cursos sobre Sagradas Escrituras, frei João José Pedreira de Castro, diretor do Centro Bíblico Católico de São Paulo e vice-diretor da Liga dos Estudos Bíblicos (LEB), soube da intenção da Editora Ave-Maria e se juntou ao projeto. A tradução para o português foi feita a partir do texto francês dos monges de Maredsous – religiosos que vivem em um mosteiro beneditino fundado no século XIX, na Bélgica –, tendo sempre como referência os originais hebraico, aramaico e grego.

A Bíblia Ave-Maria primou pela harmonia das frases, em uma lingua-gem simples e transparente. Os salmos foram preparados por um mú-sico, frei Paulo Avelino de Assis, que teve preocupação esmerada com a sonoridade dos versos. Tamanho foi o cuidado e o capricho, que os editores escolheram um artista para transcrever, com as melhores pala-vras, o lirismo desses textos sagrados.

O pioneirismo de publicar uma Bíblia de grande difusão se alinhava ao direcionamento da Igreja, que começava a incentivar, cada vez mais, o estudo das Sagradas Escrituras.

Com o passar dos anos, foram surgindo grupos de estudo bíblico nas dioceses, nas paróquias e nas comunidades. A Bíblia Ave-Maria foi conquistando espaço e tem hoje presença forte nas comunidades de base, nas capelas, nos grupos de oração, nas reuniões domiciliares etc.

Ao longo do tempo, ela se mantém como importante instrumento de aprendizado e de oração entre os fiéis católicos, e agora, se apresenta de modo particular aos jovens nesta edição.

O ANÚNCIO DA PALAVRA DE DEUS E OS JOVENS

Na XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada no Vaticano de 5 a 26 de outubro de 2008, foi reservada uma atenção particular ao anúncio da Palavra divina feita às novas gerações:

Os jovens já são membros ativos da Igreja e representam o seu futuro. Muitas vezes encontramos neles uma abertura espontânea à escuta da Palavra de Deus e um desejo sincero de conhecer Jesus. De fato, na ida-de da juventude, surgem de modo irreprimível e sincero as questões so-bre o sentido da própria vida e sobre a direção que se deve dar à própria existência. A estas questões só Deus sabe dar verdadeira resposta. Esta solicitude pelo mundo juvenil implica a coragem de um anúncio claro; devemos ajudar os jovens a ganharem confidência e familiaridade com a Sagrada Escritura, para que seja como uma bússola que indica a estrada a seguir. Para isso, precisam de testemunhas e mestres, que caminhem com eles e os orientem para amarem e por sua vez comunicarem o Evan-gelho sobretudo aos da sua idade, tornando-se eles mesmos arautos autênticos e credíveis. (Verbum Domini, 94)

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Direção e edição geral: Carmen María Cervantes

Coordenação: Maria Pilar Cervantes Gutiérrez

Escritores:Javier Algara CossíoMaría Elena CardeñaCarmen María CervantesMaría Pilar Cervantes GutiérrezRudolf FinkeLeticia MedinaArmando Noguez AlcántaraÁngel Manuel Del Río RubioEmerenciano Rodríguez Jobrail

Artigos culturais:Mayela Margarita Campos CastroGuillermo CampuzanoAdela Rosa Castro ReyesAntonio Medina RiveraNohemy MontañoTed SchimdtClodomiro L. Siller A.Vilma ReynaSteve Roe

Moderador episcopal:Carlos A. Sevilla

Ilustração dos Símbolos bíblicos e Sagrada Família: Gabriel Chávez de la Mora

Índices e planos de leitura: Ken Johnson-Mondragón

Pesquisa, consulta e apoio: Michäel Boudey, María Victoria César, Manuel Corral Martín, María Luisa Curiel Monteagudo, Julián Fernández Gaceo, Reynaldo Luna Velasco, Walter F. Mena, Graciela Ortiz-Matty, família de la Parra (Al-fonso, Isabel, Mariluz, María de los Ángeles, Rafael), Patricia Olve-ra, Rosa María Padilla Lamadrid, Adriana Visoso-Valverde

Equipe de colaboradores da edição em Espanhol

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A Bíblia, também conhecida como Sagrada Escritura, nos apre-senta o amor de Deus à humanidade, nos ajuda a responder

a seu chamado, nos ensina as verdades importantes de nossa fé cristã e nos questiona sobre como vivemos e nos relacionamos com os outros. Para muitas pessoas, o estudo da Bíblia desperta perguntas cheias de signifi cado. Nesta introdução e nos artigos “Sabia que...?” e “Perspectiva católica”, você encontrará respostas para as perguntas mais frequentes.

Perguntas e respostas sobre a bíblia

O que tem a ver com minha vida um texto escrito há tanto tempo?

Na Bíblia, Deus se relaciona amorosamente com cada pessoa; sua mensa-gem é para todas as culturas e todos os tempos históricos. Deus nos busca em todas as circunstâncias da vida e, ao nos aproximarmos com fé de sua Palavra, descobrimos o que nos diz no momento atual.

A Bíblia não se desgasta com o tempo. Será significativa agora se a inter-pretarmos em seu próprio contexto e buscarmos como aplicar a mensagem de Deus à nossa vida. Esse processo de ler a Bíblia na perspectiva de nossa vida se chama atualização.

Em que consiste a inspiração divina na Bíblia?

Deus comunicou à humanidade seu plano de salvação por meio de pes-soas concretas, membros de um povo e uma cultura determinados, que vive-ram e transmitiram sua mensagem para o bem de toda a humanidade. Por isso, pode-se dizer que a Bíblia contém três tipos de inspiração: “inspiração para agir” segundo o plano de Deus; “inspiração para falar” em nome de Deus; e “inspiração para escrever” a mensagem que Deus quis nos comuni-car para nossa salvação.

Na composição dos livros sagrados, Deus se serviu de homens escolhidos que, usando todas as suas faculdades e talentos, agiram movidos por ele, “para deixar por escrito tudo e só o que Deus queria”1. O Concílio Vaticano II reafirmou que a Bíblia “é Palavra de Deus” porque está escrita por inspiração do Espírito Santo. Por isso usamos a expressão “Palavra do Senhor” ao terminar as leituras dos livros bíblicos na liturgia.

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3131e respostas sobre a bíblia

Falou Deus diretamente aos escritores da Bíblia?

O Espírito Santo inspirou a cada autor para que comunicasse a revelação de Deus através da história da salvação. Isso não quer dizer que lhes ditou sua mensagem ao pé da letra, mas que cada um escreveu segundo o contexto histórico-cultural em que viveu, usou sua criatividade e empregou os gêneros literários comuns e apropriados para expressar a mensagem em sua época.

Alguns livros contêm relatos orais provenientes de diferentes tradições, mo-tivo por que existem relatos repetidos com variações entre si; também existem livros escritos por vários autores ao longo de diferentes décadas. Em ambos os casos, outro escritor sagrado realizou a redação final combinando tradições e escritos anteriores. Nós cristãos cremos todos que o Espírito Santo guiou todas as pessoas que participaram desse processo.

A Bíblia nos diz a verdade? Existem “erros” na Bíblia?

A Igreja Católica crê “que os livros sagrados ensinam solidamente, fielmen-te e sem erros a verdade que Deus fez consignar nesses livros para a nossa salvação”2. O Magistério de nossa Igreja nos dá orientações que nos ajudam a interpretar corretamente os diferentes sentidos da Bíblia (ver “Basta a Bíblia para fundamentar a fé?”, p. 33).

Alguns grupos cristãos creem que a Bíblia é infalível em todos os aspec-tos, inclusive nos dados científicos e históricos. A Igreja Católica e outras Igrejas cristãs creem que essas questões não estão incluídas na infalibilidade da Bíblia.

O que podemos fazer se encontramos um “erro” na Bíblia?

Os “erros” que encontramos na Bíblia podem ser devidos a problemas de interpretação, de transmissão ou de tradução de um texto. Por isso, é importante estudar a Sagrada Escritura apoiados por pessoas capacitadas e livros cuidadosamente escritos. Se encontrarmos “erros”, recomenda-se fazer o seguinte:1. Descobrir o que queriam comunicar os autores sagrados e o sentido do texto.2. Considerar a cultura, os gêneros literários e as formas de sentir, falar e narrar do tempo em que se escreveu o texto.3. Ver se o “erro” se deve a diferenças culturais e científicas entre o autor e nós.

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O que são os gêneros literários?

Os gêneros literários são diversas formas de expressão escrita que têm suas próprias regras. Correspondem à época e à cultura em que foram usados.

Quando não se considera o gênero literário de um texto bíblico, é fácil co-meter erros. Por exemplo, interpretar textos que dão uma mensagem religiosa como se fossem reportagens históricas ou científicas; ler as exortações e moti-vações como se fossem leis; considerar ensinamentos-chave de Jesus como se não fossem importantes ou ver as parábolas que comunicam um ensinamento moral como se fossem histórias reais.

O que são os sentidos da Bíblia?

Conhecem-se como “sentidos da Bíblia” os diferentes níveis de interpreta-ção que podem ser dados aos textos bíblicos. Estes são:

1. Sentido literal. O sentido literal é o expresso diretamente pelos autores humanos inspirados por Deus; é indispensável e base para os outros sentidos. Pode ser próprio ou metafórico, conforme o sentido que o autor deu às suas palavras, e pode se referir a uma realidade concreta ou a diferentes níveis de realidade. Por isso, é muito importante não cair no literalismo (interpretar todos os textos ao pé da letra) ou no subjetivismo (interpretar um texto segundo o que o leitor capta ou deseja ler nele)3.

2. Sentido espiritual. O sentido espiritual é o expresso por um texto bíblico quando lido à luz do Espírito Santo no contexto do mistério pascal de Cristo e da vida nova que provém dele. Esse sentido sempre se baseia no sentido literal. O sentido tipológico, que manuseiam muitos escritores sagrados, consiste na interpretação de um texto antigo à luz de uma nova experiência de fé e é um exemplo do sentido espiritual4.

3. Sentido pleno. É o sentido profundo do texto, querido por Deus, mas não claramente expresso pelo autor humano. Descobre-se à luz de outros textos bíblicos ou em sua relação com o desenvolvimento interno da revelação. Na realidade, o sentido pleno, se é que o teria, seria já o sentido espiritual do texto em questão, e só podem dá-lo a Sagrada Escritura, a Tradição ou o Magistério da Igreja5.

Portanto, pode-se dizer que um texto tem basicamente dois sentidos: o lite-ral e o espiritual ou pleno. Primeiro é preciso buscar o sentido literal para poder descobrir o espiritual. Depois, deve-se perguntar se além disso existe algum sentido pleno-espiritual.32

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Basta a Bíblia para fundamentar a fé?Nós católicos fundamentamos nossa fé em três fontes: a Bíblia, a Tradição

e o Magistério da Igreja, os quais se relacionam e se exigem mutuamente.A Bíblia é a Palavra de Deus porquanto escrita por inspiração do Espírito

Santo6 com a finalidade de se dar a conhecer à humanidade e comunicar-lhe seu plano de salvação. Cremos que aceitar só a Bíblia como fonte da fé a tor-naria incompleta, e correríamos o perigo de cair em algum erro.

A Tradição se origina na Palavra de Deus confiada aos apóstolos e transmi-tida a seus sucessores para que, guiados pelo Espírito da verdade, seja preser-vada, exposta e difundida entre todos os membros da Igreja7. Cristãos católi-cos, conservamos, praticamente, e professamos a fé recebida através da Sagrada Escritura e da Tradição.

O Magistério da Igreja consiste na responsabilidade de cuidar da integri-dade dos ensinamentos da Bíblia e é exercido pelos bispos em união com o Papa. É o ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, oral ou escri-ta... em nome de Jesus Cristo. O Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas sim a seu serviço, para ensinar o transmitido, pois por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo o escuta devotamente, o guarda zelosa-mente e o explica fielmente8.

Por que tem a Bíblia dois Testamentos?Deus quis comunicar-se pouco a pouco na história, para que a humanidade

pudesse acolher sua revelação plena em Jesus. A etapa de preparação para a chegada de Jesus, o Filho de Deus, se reconhece como Antigo Testamento, e a etapa que vai do nascimento de Jesus à vida das primeiras comunidades cristãs chama-se Novo Testamento.

“O Antigo Testamento prepara o Novo, enquanto este dá cumprimento ao Antigo; os dois se esclarecem mutuamente; os dois são verdadeira Palavra de Deus”9. Nossa fé cristã tem estreita relação com a fé judaica, expressada no Antigo Testamento, e alguns atos litúrgicos-chave em nossa Igreja, como a Eu-caristia, se originam em acontecimentos centrais judaicos como a Páscoa.

No Antigo Testamento, Deus escolhe Abraão e seus descendentes para formar o povo de Deus, e realiza uma aliança com Moisés, a quem deu a Lei. O Antigo Testamento apresenta a história religiosa do povo de Deus (chamado hebreu, israelita ou judeu, segundo a época). Alguns cristãos identificam o An-tigo Testamento como “Escrituras Hebraicas”.

No Novo Testamento, Deus se revela em plenitude dando-nos seu Fi-lho: Jesus, o Salvador do mundo. Jesus era judeu e reafirmou as crenças centrais do Antigo Testamento. Com suas palavras e obras nos comunicou que Deus é nosso Pai; com seu mistério pascal realizou a aliança nova e

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eterna e nos deu o Espírito Santo para que sejamos seus discípulos e pro-clamemos seus ensinamentos. Os livros do Novo Testamento conservam os principais ensinamentos de Jesus e as crenças da comunidade cristã sobre ele.

Por que a Bíblia católica tem mais livros do que outras Bíblias?

O povo judeu determinou os escritos inspirados por Deus e os considerou suas Escrituras Sagradas, constituídas por quatro seções: Pentateuco, Histó-ricos, Proféticos e Outros Escritos. Os judeus tradicionais desconfiavam dos livros que haviam sido escritos em grego, pelos judeus, na diáspora, enquan-to estes últimos os consideravam revelados. Tais livros são: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, 1 e 2 Macabeus, e parte dos livros de Daniel e de Ester.

O Novo Testamento cita parte desses livros; os apóstolos e os Padres da Igreja os reconheciam como revelação divina. A Igreja Católica os aceita e os emprega na liturgia, e lhes dá o nome de deuterocanônicos, que quer dizer “aprovados na segunda vez”. No século XVI, Lutero preferiu a opinião dos ju-deus tradicionais ao traduzir a Bíblia, e por isso outras igrejas cristãs não os tomam em consideração.

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Ao estudar a Bíblia, deve-se ter em consideração os seguintes sete aspectos. De outra maneira, é possível deduzir mensagens

equivocadas e inclusive contrárias ao que Deus quis dizer pela Sa-grada Escritura.

Como Estudar e compreender a bíblia

1. Lembre-se de que a Bíblia é divina e humana ao mesmo tempo. A Bíblia é divina porque vem de Deus, e ele se revela através dela. É humana porque foi escrita por autores humanos que refletem sua personalidade, seus conhecimen-tos e sua cultura. Com palavras humanas, a Bíblia nos revela a natureza de Deus, seu plano para a humanidade e sua obra salvadora no mundo, a “história da salvação”. Tudo chega à sua plenitude em Jesus, salvador de todos.

2. Escute Deus que fala. A Bíblia nos permite um encontro com Deus que afeta toda a nossa pessoa; quando experimentamos sua presença, nosso dis-cernimento é iluminado por seu Espírito. Quando refletimos iluminados com a Palavra de Deus, nos conhecemos melhor: quem sou eu? Que faço com minha liberdade, meus valores e limitações?

A Bíblia nos chama a ser irmãos uns dos outros e a construir comunidade; rela-ciona-nos com a Igreja local e universal, e nela nos faz ver nossa vocação pessoal. Também nos une à sociedade e nos compromete a construir a Civilização do Amor.

3. Identi� que o tema central do texto. Para compreender o sentido de um texto é preciso ler a introdução e então todo o livro. Os autores bíblicos escre-viam com um tema central. Por exemplo, para saber o que queria Jesus ensinar na parábola do filho pródigo, ler os dois primeiros versículos do capítulo 15 de Lucas. Jesus respondia com esta história aos que o criticavam por acolher os pecadores. Esta parábola nos faz ver Deus como um Pai que espera nossa conversão para nos perdoar e nos abraçar, e que se alegra ao saber que um pecador se arrepende (Lc 15,11-32).

4. Situe historicamente o autor e os destinatários do livro. Existem pas-sagens na Bíblia que só têm sentido na situação histórica do autor. A introdução de cada livro ajudará a conhecê-la. Por exemplo, em Amós 5,21-23, Deus diz a seu povo: Odeio, desprezo vossas festas, desgostam-me vossas celebrações... Afastai de mim o ruído de vossos cânticos, não quero mais ouvir a música de vossas harpas. Por acaso a Deus não apraz que o louvem? Examinar o contex-to antes de chegar a conclusões. A introdução a Amós diz que Deus enviou esse profeta para converter os ricos que exploravam os pobres e ao mesmo tempo participavam de festas religiosas. Portanto, sua mensagem é que Deus recusa a hipocrisia e a injustiça.

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5. Considere a mensagem de toda a Bíblia. Um sábio refrão diz: “Use a Bíblia para interpretar a Bíblia”. A própria Bíblia pode ajudar você a entender as diferentes passagens. Busque os “lugares paralelos” ou “passagens semelhan-tes” de outros livros e recorde que a revelação plena é Jesus, visto que nem todos os textos têm o mesmo peso. Há os que se concentram em uma linha bíblica, ignoram o resto e chegam a conclusões absurdas. Por exemplo, algu-mas comunidades proíbem que as mulheres exerçam postos de liderança, apoiando-se em 1Coríntios 14,34, que diz: As mulheres guardem silêncio nas assembleias. Ignoram que em outras cartas Paulo louva as mulheres que exer-ciam o diaconato e eram líderes em sua comunidade (1Tm 3,8-13; Rm 16,1).

6. Interprete a mensagem em perspectiva cristã. Encontrar Deus em sua Palavra nos faz dirigir o olhar a nossos irmãos. Conhecer a Boa-Nova de Je-sus nos leva a transmiti-la com amor aos que nos rodeiam. O Espírito Santo, que transformou e enviou os apóstolos em Pentecostes, nos enche de fé, amor e vida para proclamar a Palavra. Como diz Paulo: Ai de mim se não anunciar o Evangelho (1Cor 9,16). É ao viver nossa missão que aumenta nossa comunhão com Deus e se prolonga nosso encontro com Deus ao pro-jetá-lo nos outros.

7. Atenda aos ensinamentos da Igreja. Consideramos, nós católicos, que para interpretar a Bíblia é preciso seguir os ensinamentos do Magistério da Igre-ja. Os bispos têm a responsabilidade de interpretar e ensinar adequadamente a revelação da Bíblia. Eles contam com a colaboração de especialistas bíblicos, sacerdotes e leigos capacitados. Os artigos intitulados “Perspectiva católica” salientam os principais ensinamentos da Igreja sobre passagens importantes.

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Rezar é dialogar com Deus, mas para conversar com ele precisamos escutá-lo. Deus nos fala de maneira especial através de sua Palavra. É escutando-o que recebemos seu amor misericordioso, seu chamado a viver próximos dele e seu con-vite a colaborar na missão de Jesus. Sua Palavra nos deixa conhecer seus desígnios maravilhosos para nós e nos ajuda a descobrir o sentido de nossas vidas.

A outra parte da oração é nossa resposta a Deus, a qual não acontece só nos momentos em que oramos, mas se estende à nossa vida inteira. Dessa maneira, nossas atividades diárias se transformam também em oração.

Para viver em união com Deus, precisamos rezar tanto individualmente quanto em comunidade. A oração pessoal nos permite dialogar intimamente com nosso Criador, estreitar nossa relação com Jesus e gozar com a ação do Espírito Santo em nós. A oração comunitária reforça nossa fé, nos ajuda a dei-xar-nos guiar pela Palavra de Deus, exige de nós autenticidade diante de nos-sos irmãos, une-nos com a comunidade eclesial em todo o mundo e com a Igreja triunfante que já goza a eternidade de Deus.

Como rezar com a palavra de deus

PREPARAÇÃO PARA REZAR COM A PALAVRA DE DEUSLer a Bíblia não é como ler outro livro qualquer. Aqui, a disposição que você

tiver e a atitude que assumir são fundamentais. Ao rezar com a Bíblia, você com-partilhará a experiência de muitos homens e mulheres através dos tempos. Entrará neste grande quadro em que muitos traçaram sua própria obra de arte ao terem se encontrado com Deus, um Deus vivo que ama, que opta por cada um de nós e que nos chama a ser construtores de seu Reino, profetas da esperança. Por isso, cumpre-nos pensar seriamente em nossa atitude no momento de embarcarmos na grande aventura do diálogo com Deus por meio da Sagrada Escritura.

As recomendações a seguir irão ajudá-lo em sua peregrinação pelas pági-nas da Bíblia. Convidamos você a descobrir novas maneiras de se preparar para ler e rezar com o texto, e que as compartilhe com seus companheiros.

AME DEUSÓ Deus, tu és meu Deus, desde o amanhecer te desejo; estou sedento de

ti, por ti anseio como terra sedenta, ressequida, sem água. Teu amor vale mais que a vida, louvar-te-ão meus lábios (Sl 62,2-4).

Tenha um espírito aberto, desejoso, faminto de uma palavra de esperança e vida. Conserve uma posição externa e uma atitude interna que sejam coeren-tes com o que você está fazendo. Afaste-se um pouco da agitação cotidiana da vida; busque uma área tranquila da casa, um lugar quieto onde você se sinta bem e no qual ninguém o incomode. Dedique tempo suficiente para ficar em companhia de Deus e sua Palavra, sem pressa nem distrações, sem pensar em outros compromissos ou tarefas que você tenha de fazer. 37

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ABRA SEU CORAÇÃO AO ESPÍRITO SANTOEste é meu servo a quem escolhi, meu amado em quem me comprazo;

derramarei meu espírito sobre ele, e anunciará o direito às nações (Mt 12,18).Comece com uma oração ao Espírito Santo, para que derrame paz e

sossego sobre você durante os minutos que dedicar à oração com as leitu-ras bíblicas, e peça-lhe que abra seu espírito e seu coração à mensagem que Deus lhe comunicará. Dê graças a Deus pela amizade e por esse mo-mento tão especial. Se alguém ama a Deus, é porque foi conhecido amoro-samente por Deus (1Cor 8,3).

CELEBRE A GRANDEZA DE SEU SERO Senhor teu Deus está no meio de ti, ele é um guerreiro que salva. Dará

pulos de alegria por ti, seu amor te renovará, por tua causa dançará e se alegrará, como nos dias de festas (Sf 3,17).

Quando surge uma luz na meditação de alguma passagem bíblica, dete-nha-se nela para que a luz não se desvaneça e não se extinga; medite com calma as palavras, escreva-as ou, inclusive, memorize-as. Assim, essas pa-lavras poderão acompanhá-lo ao longo da sua vida.

FAÇA DA SUA VIDA UMA HISTÓRIA DA SALVAÇÃOO Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu. Enviou-

-me a dar a boa-nova aos pobres, a curar os de coração despedaçado, a proclamar a libertação aos cativos e aos prisioneiros a liberdade (Is 61,1).

Faça viva a libertadora história de Deus com a humanidade. Quem des-cobre o agir de Deus entre os homens e mulheres na história, a libertação incessante de situações sem saída, experimenta também a ação libertadora e orientadora de Deus.

ENTRE NO DESERTO O anjo do Senhor disse a Filipe: – Põe-te a caminho para o sul pela estra-

da que desce de Jerusalém para Gaza através do deserto (At 8,26).Caminhe pelo deserto. Haverá trechos de caminho em que você sen-

tirá sede, momentos de secura espiritual, de aridez emocional e palavras vazias. Então você tem de aguentar firme, mesmo que pareça que não tem nada. Você se admirará ao descobrir em sua vida que, tal qual em muitos relatos bíblicos, o deserto é precisamente o lugar onde você terá um encontro com Deus.

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DEIXE-SE TRANSFORMAR POR SEU AMOR!Quem nos separará do amor de Cristo? O sofrimento, a angústia, a per-

seguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (Rm 8,35).Escute o chamado à conversão. A Palavra de Deus nos compromete sem-

pre. Deus, quando nos fala, exige que nossa vida mude, que renunciemos às coisas que nos amarram, que lancemos longe de nós as cargas excessivas, a fim de que possa chegar a libertação. Desta maneira você poderá fazer o que a Palavra lhe exigir. Deus não quer gente que se limite a ouvir, mas sim que ponha em prática sua Palavra (Tg 1,22). Pelo amor que tiverdes uns aos outros reconhecerão todos que sois meus discípulos (Jo 13,35).

FINALMENTE...Recorde que estes são só lembretes para ajudá-lo a ter um bom diálogo

com Deus. O mais importante é que você continue sua aventura do encontro com o Senhor, cada vez com mais alegria e entusiasmo.

ORAÇÃO INDIVIDUAL

Leia diariamente a Bíblia com a finalidade de crescer em sua relação com Deus e em sua vida cristã. Existem muitas maneiras de rezar com a Palavra de Deus. Uma delas é a Lectio Divina (Leitura Divina), que levou muitas pessoas à santidade. A seguir, um roteiro meditativo que o ajudará a rezar com a Sagrada Escritura:

Propicie um ambiente de recolhimento. Peça ao Espírito Santo que prepa-re seu coração para escutar a Deus.

Examine o texto. Observe a situação histórica, o autor e os gêneros literários para compreender sua mensagem e não fazer uma interpretação apressada do texto.

Que a Palavra una você a Deus. Rezar com a Bíblia é estabelecer uma relação com Deus, não é estudar uma matéria a mais.

Vibre com a mensagem. Imagine-se nessa situação, participe dos senti-mentos e pensamentos dos personagens, veja a ação amorosa de Deus neles.

Identifique o que Deus quer lhe dizer. A atualização da Palavra leva à identificação entre você e a mensagem de Deus.

Dialogue com Deus ao responder à sua Palavra. Descreva-lhe suas rea-ções, seus temores e suas esperanças; ofereça-lhe respostas concretas.

Aplique a oração à sua vida. A Palavra de Deus frutificará ao ajudar você em seu processo de conversão e crescimento espiritual, e ao conduzi-lo no compromisso de continuar com a missão de Jesus.

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REFLEXÃO E ORAÇÃO EM COMUNIDADE

Ler e crer em comunidade com a Bíblia é responder a Deus que fala a seu povo. Isso se pode fazer em reuniões de grupos juvenis, em retiros, em pe-quenas comunidades e em grupos de oração. Para que a reflexão e a oração em comunidade deem fruto, é conveniente seguir um plano determinado, ter uma mínima organização comunitária e preparar-se bem.

O animador deve estudar e rezar com o texto selecionado previamente, para assegurar sua sadia interpretação. Na reunião, guiará o processo e cui-dará que todos participem. Periodicamente, é preciso avaliar o processo de reflexão e oração para melhorá-lo.

Recomenda-se seguir os seguintes passos para a reflexão e a oração em comunidade:

1. Proclamar o texto. Uma pessoa lê em voz alta a passagem. As outras a escutam ou seguem em silêncio a leitura do texto em sua própria Bíblia.

2. Analisar o texto. Aos pares, ou de dois em dois, identificar o contexto histórico da leitura, os destinatários, a intenção do autor e o gênero literário. Situar o texto no livro bíblico, o capítulo em que se encontra e sua relação com as passagens anteriores e posteriores.

3. Re� etir pessoalmente. Dá-se um tempo de silêncio, para que todos apro-fundem a Palavra e identifiquem as ideias mais importantes. Podem voltar a ler individualmente o texto em sua Bíblia.

4. Descobrir o coração da mensagem. Todos oram em silêncio, buscam o que Deus quer comunicar à comunidade e compartilham o que Deus lhes inspirou. Em espírito de consenso, descobre-se a mensagem para a comu-nidade. Se há uma mensagem importante para si mesmo, conserva-se para a oração pessoal.

5. Rezar com o texto e saboreá-lo. Faz-se um momento de oração para que todos levem a seu coração a mensagem de Deus. Esta oração permite que a Palavra penetre no interior de cada um, os encha de alegria e de paz, os console e os desafie à conversão.

6. Iluminar com a mensagem a vida da comunidade. Todos refletem para ver sua realidade pela perspectiva de Deus: que acontece em nosso ambien-te? Como Deus o vê?

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7. Identificar as ações solicitadas por Deus. A comunidade dialoga sobre o chamado de Deus nesse texto: que atitudes Deus nos pede que mudemos ou que adquiramos? Que ações devemos realizar? Sugere-se encontrar um símbolo ou escrever um lema para recordar e viver o com-promisso dessa reunião.

8. Celebrar a palavra de vida. A celebração é o ponto culminante da refle-xão comunitária. Deus se comunicou com a comunidade mediante sua Palavra para nos fazer fiéis seguidores de Jesus. Em cada reunião se esco-lhe o mais apropriado, de forma espontânea: expressar ação de graças, pedir perdão, oferecer a vida... e se entoa algum cântico apropriado. Além disso, convém oferecer de forma simbólica o compromisso assumido: pedir a Deus a graça de viver sua Palavra e convidar Maria para que nos ajude a ser fiéis seguidores de seu Filho.

Leitura litúrgica dominical

A Igreja Católica segue um plano de leitura e oração com a Bíblia na Litur-gia Eucarística e na Liturgia das Horas, chamado “lecionário”. A Bíblia do jo-vem apresenta o “lecionário dominical” e das festas importantes (ver p. 1897):

O lecionário contém passagens do Antigo e do Novo Testamento, sendo o Evangelho o que orienta todas as leituras. A primeira leitura depende da mensagem que se enfatiza no Evangelho; o salmo responde em oração à primeira leitura e prepara para receber a mensagem do Evangelho. A segun-da leitura se toma geralmente das cartas e às vezes do Apocalipse, salien-tando o mais importante de cada livro.

O lecionário conduz a comunidade eclesial por um percurso através da Sagrada Escritura, para que a Palavra de Deus nos acompanhe na jornada da vida. Os evangelhos leem-se ao longo de três ciclos – conhecidos como “A”, “B” e “C” – que correspondem a Mateus, Marcos e Lucas. O evangelho de João se lê nos “tempos litúrgicos fortes”, que são Advento, Natal, Quares-ma e Páscoa. Os Atos dos Apóstolos suprem o Antigo Testamento, como primeira leitura, durante o tempo pascal, devido à grande importância das primeiras comunidades cristãs.

A Igreja recomenda aos fiéis que nos preparemos para celebrar a missa dominical refletindo previamente sobre suas leituras. Esse costume é bastan-te usado na pastoral do catecumenato e dos grupos juvenis de oração.

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Planos de leitura bíblica

A Bíblia do jovem apresenta sete planos temáticos para penetrar na leitura da Sagrada Escritura (p. 1902). Convém começar pelo primeiro, “Um percurso pela Bíblia”, pois oferece uma vista panorâmica da Bíblia na perspectiva da história da salvação. Depois é recomendável ler um dos três evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos ou Lucas, para aprofundar seu conhecimento sobre Jesus. O evangelho mais curto e mais fácil de ler é o de Marcos. Você pode ler as introduções aos três evangelhos e escolher o que mais lhe chamar a atenção.

Na sequência, poderá ler os outros evangelhos ou seguir lendo qualquer dos planos temáticos apresentados em sua Bíblia. Preferindo, crie seu pró-prio plano de leitura utilizando os índices que se apresentam no final (p. 1863-1888). Por exemplo, leia tudo sobre os sacramentos, ou sobre o que você tiver dúvidas, ou sobre os símbolos, ou sobre a riqueza das diferentes vivências culturais da Palavra de Deus.

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ANTIGO TESTAMENTO

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Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente a nossos antepassados por meio dos profe-tas. Agora, neste momento final, nos falou por meio do Filho.

O mundo do antigo testamento

O texto anterior expressa de um modo conciso e claro a fé cristã na revelação divina contida na Bíblia. O Antigo Testamento tem muitas e varia-das “palavras antigas” que Deus diri-giu a “nossos antepassados”, ou “nos-sos pais”, por meio das pessoas às quais se foi revelando, os profetas e os autores bíblicos entre eles. Essas palavras de Deus foram expressadas em distintos momentos e circunstân-cias históricas, e em linguagens hu-manas variadas e diversas.

Embora seja certo que Deus se re-velou plenamente em Jesus, que nos transmitiu as palavras definitivas de Deus, isso não invalida nem suprime as palavras com que Deus se revelou ao povo de Israel no Antigo Testamento (Mt 5,17). Ao contrário, a leitura e a compreensão do Antigo Testamento nos ajudam a conhecer e valorizar me-lhor Jesus e sua mensagem.

Esta introdução, com suas três par-tes – o marco histórico, os livros e os temas teológicos do Antigo Testamento – tem como finalidade ajudar a que essas “palavras antigas” se convertam em vivas e atuais, que a geografia dis-tante seja um terreno familiar, que a história daquela época faça parte de nossa própria história e que as lingua-gens diferentes e variadas possam traduzir-se sem traição ao nosso idio-ma. Assim poderemos receber a rique-za da mensagem que Deus nos dá através desses textos e participar ati-vamente do sublime diálogo de amor que Deus estabelece com as pessoas.

MARCO HISTÓRICO DO ANTIGO TESTAMENTO

Povos e pessoas, somos todos filhos de nosso tempo e nosso espaço. Para compre-ender os escritos nos quais o antigo povo de Israel compartilha sua história e suas vivên-cias religiosas, é preciso situá-los no marco geográfico, no acontecer histórico e no contexto sociocultural nos quais surgiram.

A terra do Antigo Testamento

A maior parte da história bíblica se desenvolve em um território estreito e lon-go, com menos de cem quilômetros de largura, entre o mar Mediterrâneo e os grandes desertos da Síria e da Arábia. Essa franja de terra foi berço de várias ci-vilizações e é ponto de encontro de três continentes: Ásia, África e Europa. A parte Sul foi chamada país de Canaã por seus antigos moradores, Palestina, por um de seus povos ocupantes, os filisteus ou “pe-listin”, e Israel, devido ao cognome do patriarca Jacó.

Essa região é parte de um conjunto geográfico mais amplo chamado Cres-cente Fértil, devido à sua forma de meia lua e à fertilidade de suas terras. Em seus extremos estão o delta do rio Nilo e a desembocadura dos rios Tigre e Eufrates, e seu centro se situa na altura dos desertos da Síria e da Arábia, zo-nas intransponíveis na Antiguidade. A região está irrigada também por outros rios menores, como o Orontes, o Litani e o Jordão.

Nesta grande região, sobretudo en-tre o Tigre e o Eufrates e no vale e delta do Nilo, viveram povos importantes, unidos por grandes vias de comunica-ção. Tinham um intercâmbio comercial intenso e frequentemente compartilha-vam ideias, cultura e religião, entrando, a despeito disso, em contínuos conflitos armados. Comunicavam-se com a Índia através do Irã, com a África através do Egito e da Núbia, e com a Europa por meio dos fenícios, os quais comercia-

Hb 1 1-5

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vam com as ilhas gregas de Chipre, Creta e Jônia, e, mais tarde, com a Gré-cia continental e com a Espanha.

A maior parte da história de Israel se desenvolveu no centro desta região. Mas alguns fatos significativos, como a opressão egípcia e o exílio babilônico, ocorreram em seus extremos: no delta do Nilo e na baixa Mesopotâmia.

Os povos do Antigo Testamento

A situação geográfica e os povos vizinhos de Israel influíram profunda-mente em sua história. Mesopotâmia e Egito, as grandes potências, que desde os dois extremos do Crescente Fértil procuravam estender sua influência e seu domínio, desempenharam papéis definitivos na vida dos israelitas.

MesopotâmiaMesopotâmia – cujo nome significa

“entre rios”, por estar entre o Tigre e o Eufrates – foi o primeiro grande foco de civilizações e culturas. Muitos povos e etnias viveram ali, e vários impérios do-minaram a região sucessivamente.

Em 3000 a.C., os sumérios criaram a primeira grande civilização. A seguir vieram os acádios, de origem semita (2370-2230 a.C.). Depois houve um bre-ve renascer sumério, com sua dinastia de Ur (2060 a.C.), que terminou com a chegada dos amorreus, os quais deram origem aos grandes impérios da Assíria e da Babilônia (séc. XX-XVI a.C.).

Os cuchitas, hurritas, hititas e arameus dominaram a região (séc. XVI e X a.C.) até que ressurgiu o império assírio (séc. IX a.C.), que acabou com os reinos de Da-masco e de Israel (735-721 a.C.) e transfor-mou Judá em reino vassalo (701 a.C.). Ao decair o império assírio, Babilônia toma sua capital, Nínive (612-605 a.C.). O novo impé-rio babilônico, dirigido pelo seu rei Nabuco-donosor, conquista o antigo território assírio, estende seu domínio até o Egito, aniquila Judá e deporta grande parte de seus habi-tantes (587 a.C.).

O império persa, sob a liderança do rei Ciro, vence Babilônia (539-331 a.C.), mas sucumbe diante do avan-ço de Alexandre Magno, procedente da Grécia. Mesopotâmia deixa de ser

O CRESCENTE FÉRTIL

O Crescente Fértil

Rio Nilo

EGITO

Mar Vermelho

Sinai

Palestina

Mar Morto

Rio Jordão

Lago da Galileia

Golfo Pérsico

Mar Mediterrâneo

Rio Eufrates

Rio Tigre

Mar Cáspio

Mesopotâmia

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o centro do poder político-cultural, que se desloca para o mundo medi-terrâneo, primeiro com o império gre-co-macedônico e, posteriormente, com o império romano como protago-nistas.

EgitoPor sua proximidade, sua história

milenar e seu desenvolvimento, o Egito foi talvez o povo que mais influenciou a Palestina, sobretudo ao convertê-la em uma espécie de protetorado ou provín-cia egípcia (1900-1500 a.C.). Durante um século e meio, os hicsos, semitas originários da Palestina, governaram o Egito e estabeleceram laços de sangue, cultura e religião com seus habitantes. Quando os hicsos foram expulsos, co-meçou uma etapa de forte pressão so-bre a Palestina e uma situação séria de opressão para os israelitas no Egito (1304-1184 a.C.).

Com a invasão dos povos do mar – filisteus procedentes das ilhas do mar Egeu –, inicia-se a decadência do Egito, que passa a exercer um papel

secundário na política internacional. Mesmo assim, a influência egípcia continuou durante a monarquia unida e o reino de Judá. Muitos elementos de sua cultura, sua administração e sua religião foram integrados à vida e às instituições do povo israelita.

Mundo greco-romanoAs culturas dos povos do mar Egeu,

em especial os filisteus, influíram sobre Canaã desde 2000 a.C. Esta influência se acentuou na época persa e chegou a seu cume durante o grande império greco-macedônico fundado por Alexan-dre Magno (333-323 a.C.) e os reinos helenistas que o sucederam.

O helenismo – fenômeno sociocul-tural caracterizado pela expansão da língua e da civilização gregas – cau-sou impacto definitivamente na comu-nidade israelita da Palestina e da “di-áspora” (dispersão pelo mundo). Essa influência se manteve inclusive sob o domínio dos romanos, até o fim da na-ção judaica, no tempo do imperador Adriano (63 a.C.-135 d.C.).

POVOS DO ANTIGO TESTAMENTO

Mar Vermelho

Rio Nilo

SinaiEgípcios

Mar Mediterrâneo

Povos do Mar

HititasHurritas

Mar Cáspio

Rio Eufrates

Rio Tigre

Amorreus Assírios Medos

Arameus

CananeusAcádios

Cuchitas

Persas

Sumérios

Golfo Pérsico

Árabes

Mar Morto

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Povos vizinhosOs povos vizinhos influenciaram mais

diretamente Israel, porém sem ameaçar sua existência, como as grandes potên-cias. Os cananeus – conjunto de tribos or-ganizadas em cidades-Estado que tinham uma mesma língua e certa unidade cultural e religiosa – habitaram o mesmo território antes e durante a ocupação israelita.

Havia pequenos reinos com os quais os israelitas estavam aparenta-dos, mas tinham conflitos contínuos com eles. Os amonitas e os moabitas descendiam de Amon e Moab, sobri-nhos de Abraão (Gn 19,36-38), e os idumeus e arameus, de Esaú e de La-bão, tio e sogro de Jacó.

Os filisteus, ao sul da costa, foram os estrangeiros por excelência e os ini-migos mais incômodos de Israel até o reinado de Davi. Os fenícios – marinhei-ros e comerciantes, com suas grandes cidades de Biblos, Tiro e Sidon a noroes te – mantiveram relações amisto-sas com Israel e tiveram uma influência religiosa forte no reino do Norte.

As grandes etapas da história de Israel

A fé de Israel é essencialmente his-tórica. Seu único Deus, o Senhor, se revelou mediante sucessivas interven-ções através dos séculos, fazendo da história o lugar e o meio privilegiado de sua relação com o povo e o ambiente vital no qual se desenrolam suas escri-turas sagradas.

As origensA formação de Israel como povo

abrange oito ou nove séculos, que es-capam quase por completo ao historia-dor, salvo as recordações de aconteci-mentos e personagens transmitidos por tradição oral. Essas memórias, coteja-das com fontes históricas do Antigo Oriente Próximo e com descobertas ar-queológicas, oferecem dados importan-tes sobre suas origens, nos quais se destacam três grandes etapas:

1. A história dos patriarcas. A frase Meu pai era um arameu errante (Dt 26,5)

resume as tradições patriarcais registradas na história das origens de Israel (Gn 12–50).

Os patriarcas ou antepassados de Israel eram pastores seminômades de ovelhas e cabras, na franja semidesérti-ca do Crescente Fértil, no segundo mi-lênio a.C. Com o tempo, tornaram-se sedentários e chegaram a dominar re-giões ocupadas por outros grupos.

As tradições bíblicas situam nesse amplo período Abraão, Isaac, Jacó/Is-rael e seus filhos, que deram nomes às doze tribos e que se consideram seus antepassados mais diretos. Segundo dados históricos e arqueológicos provi-nham da Mesopotâmia (Abraão de Ur e Jacó de Harã) e perambularam pelo centro e pelo sul da Palestina entre os séculos XVIII e XVI a.C. Esses grupos estão vinculados com o “deus do pai”, que lhes faz importantes promessas para sua descendência. Parte deles vi-vem no Egito durante cerca de quatro séculos, entre a época dos hicsos e o enfraquecimento do poder egípcio sob Amenófis IV (1720-1347 a.C.).

POVOS VIZINHOS DE ISRAEL

Edom

Moab

Mar

Mor

to

Filisteus

Amon

Canaã

Rio Jordão

Mar Mediterrâneo

Lago da Galileia

Basã

HarãFenícios

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2. Permanência no Egito. A perma-nência no Egito, a opressão e, sobretu-do, a libertação, narradas no livro do Êxodo, constituem o coração do credo de Israel e o ponto de partida de sua história como povo. Três fatos ressaltam no relato: a saída do Egito graças à inter-venção de Deus (Ex 7–12); a passagem pelo Mar Vermelho (14–15); e o encontro com Deus no Sinai, onde os israelitas celebram uma aliança com ele (19–24).

O processo que permitiu a libertação do Egito foi, sem dúvida, complexo, e con-tinua sendo difícil comprová-lo, pois está escrito como uma grande epopeia com traços lendários e litúrgicos. Pode ter come-çado por volta de 1250 a.C., sob Ramsés II, quando vários grupos semitas, submetidos a trabalhos forçados, puderam fugir guia-dos por Moisés. O relato do êxodo funde duas tradições distintas: a) o êxodo-expul-são, quando os hicsos foram expulsos; e b) o êxodo-fuga, dirigido por Moisés, o qual ficou como a tradição predominante.

3. Conquista e assentamento em Canaã. Estes fatos, como os anteriores, são vistos como resultado de interven-ções divinas. A Bíblia apresenta duas versões: Josué 1–12 relata a conquista graças a três rápidas e vitoriosas campa-nhas de “todo Israel” dirigidas por Josué. Juízes 1 a narra como um processo lento e progressivo que não afetou os enclaves cananeus mais bem fortificados, o que parece estar mais próximo da realidade.

A época dos juízes está envolvida entre brumas e recordações épicas e lendárias, de caráter local. Israel adota e adapta elementos religiosos e cultu-rais cananeus, e se alia a tribos vizinhas para enfrentar diversas ameaças.

A monarquia ou reino unidoA monarquia nasceu diante da in su-

ficiên cia do sistema tribal para resistir aos saqueadores nômades e às ameaças de outros povos, sobretudo os filisteus (séc. XI--X a.C.). Com a monarquia, Israel se consti-tui plenamente como nação, com institui-ções que lhe permitem começar a escrever sua história: escribas, anais reais e arquivos.

Seus três primeiros reis estabelecem e desenvolvem o reino, mas este, na quar-ta geração, se divide. O quadro da p. 57 apresenta uma visão de conjunto do reino unido e a divisão deste, com sua suces-são de reis e os profetas que aparecem em diferentes momentos e lugares.

1. Saul. A primeira experiência mo-nárquica com Saul fracassou, talvez porque fosse muito semelhante à estru-tura tribal, e não tinha capital permanen-te, exército regular nem o apoio e a legi-timação suficientes. O próprio Saul teve traços de juiz e foi aceito só por algu-mas tribos (1030-1010 a.C.).

2. Davi. Um membro da tribo de Ju-dá foi quem conseguiu consolidar e insti-tucionalizar em poucos anos o modelo monárquico (1010-970 a.C.). Eleito rei pelas tribos do Sul, foi aceito pouco de-pois pelas tribos do Norte, conseguindo a unidade nacional pela primeira vez.

Davi fortalece a nova nação ao ven-cer e dominar os reinos vizinhos até o norte da Síria e conquistar Jerusalém, que passa a ser a capital política e reli-giosa de todas as tribos. Estabelece as bases de uma organização interna com um exército de mercenários e um corpo de funcionários especializados.

3. Salomão. O rei Salomão, filho de Davi, aperfeiçoa a organização do Esta-do (970-931 a.C.). Cria um sistema ad-ministrativo, impulsiona o comércio e promove obras de construção, entre as quais se destaca o templo de Jerusa-lém, centro religioso de reunião das tri-bos e sinal da presença permanente de Deus no meio de seu povo.

Embora já existissem poemas e rela-tos, com a monarquia, em particular com Salomão, começa a tomar impulso a atividade literária em Israel. Também se consolidam o profetismo e o sacerdó-cio, instituições muito fortes na história de Israel. Não obstante, o reinado de Salomão terminou com graves proble-mas internos e externos que levaram o reino à sua divisão. 49

1. O reino do Norte (Israel). Tinha os territórios mais ricos e populosos, mas sofreu mais pressões internas e externas. Conheceu períodos de es-plendor sob Amri, que fundou sua capi-tal, Samaria, e com Acab e Jeroboão II, em cujo reinado surgem Amós e Oseias, os primeiros “profetas escritores”.

Sua grande instabilidade interna, evi-dente nas nove dinastias que reinaram em duzentos anos, fizeram-no fácil presa do império assírio. Primeiro exigiu tribu-tos, depois tomou Samaria e deportou seus habitantes e, por fim, converteu Israel em província assíria (722 a.C.).

2. O reino do Sul (Judá). Este reino, menor e com menos recursos, foi mais estável graças à “teologia da sucessão davídica” e por ter sofrido menos pres-sões inimigas. Recebeu uma forte influên-cia da política egípcia, por sua proximi-dade geográfica.

Teve momentos brilhantes com os reis Asa, Josafá e Azarias/Ozias, com Ezequias, que reuniu os restos do reino do Norte, e com Josias, que realizou uma reforma religiosa. Também flores-ceram ali profetas importantes como Isaías, Miqueias, Sofonias e Jeremias.

Um século depois de se libertar da ameaça assíria (701 a.C.), Judá sucum-biu diante da invasão babilônica. Em dez anos o rei Nabucodonosor atacou duas vezes Jerusalém (598 e 587 a.C.), destruiu a cidade e levou para Babilônia, como deportados, seus dirigentes e um núcleo importante de sua população.

O exílioAs quedas sucessivas da Samaria e

de Jerusalém foram um duro golpe para a fé de Israel, que se sentia seguro devido às promessas divinas. Com a queda de Jeru-salém, os judeus ficaram pobres, desorga-nizados, sem atenção religiosa, e se mistu-raram com os colonos estrangeiros. Muitos fugiram para a Transjordânia ou para o Egito, onde formaram colônias que deram origem à diáspora ou dispersão judaica. As milhares de pessoas, do mais seleto de Judá, que foram exiladas para a Babilônia se estabeleceram por famílias em aldeias e cidades, fazendo parte da diáspora.

Os israelitas conseguiram sobreviver à grande crise política e religiosa do exílio graças aos sacerdotes e profetas, entre eles Ezequiel e o Segundo Isaías, os quais os sustentaram e impulsionaram a obra da restauração. Ao refletir sobre o passado, explicaram a catástrofe em termos de res-ponsabilidade nacional, e encontraram, em sua tradição, novas perspectivas de esperança e continuidade. Com isso, montaram as bases de uma nova identida-de mais religiosa que política, na qual to-maram importância a circuncisão, o sába-do, a observância da Lei e a inquebrantável afirmação de Javé como único Deus.

A comunidade judaica pós-exílicaEm menos de cinquenta anos a

situa ção internacional mudou por com-pleto. Em 539 a.C., Ciro, rei dos persas, conquistou Babilônia e permitiu aos exilados regressar a sua terra e recons-truir o templo. Mas seu trabalho de re-construção não foi fácil, pois faltavam meios econômicos, os habitantes locais e povos vizinhos eram hostis, e estavam submetidos ao império persa.

1. Reconstrução e nova esperança. Zorobabel e Josué, junto com os profetas Ageu, Zacarias e o Terceiro Isaías, guia-ram a comunidade na reconstrução. Es-dras e Neemias reorganizaram o povo e lhe deram uma estrutura teocrática (séc. V a.C.). A partir de então, a Lei, o templo e o sacerdócio foram os pilares da identi-dade do povo, dando origem ao judaís-mo, o qual deixou profundas marcas nos âmbitos religioso e literário, pois a maior parte do Antigo Testamento recebeu sua forma definitiva nesse período.

2. Impacto do helenismo. No ano 333 a.C., Alexandre Magno derrotou os persas e instaurou o império greco-macedônico. Assim, inicia-se o “helenismo” ao difundir--se a língua e a civilização gregas. Com o tempo, aprofundam-se as diferenças entre os judeus helenistas e os que permane-cem fiéis às suas tradições. Ao morrer Alexandre, a comunidade judaica teve de sofrer as lutas entre seus sucessores, es-50

pecialmente os lágidas ou ptolomeus, se-nhores do Egito, e os selêucidas, domina-dores da Síria e da Mesopotâmia.

3. A rebelião dos Macabeus. Quando o selêucida Antíoco IV proibiu as práticas religiosas judaicas em Jerusalém e em to-da a Palestina (167 a.C.), os irmãos Maca-beus, apoiados por grupos de judeus pie-dosos (assideus), organizaram uma rebelião armada que conseguiu triunfar. Simão Macabeu é reconhecido como su-mo sacerdote e obtém a independência política para Judá (141 a.C.). Seus descen-dentes, os asmoneus, retomam o título de reis e mantêm a situação por mais de se-tenta anos, em meio a lutas fratricidas, até que o exército romano toma Jerusalém, e a Judeia se transforma em província romana (63 a.C.). O império romano, insuportável depois das rebeliões dos anos 70 e 135 d.C., provocou o fim da nação judaica.

Dois fatos evidenciam-se nesse perío-do: a) a separação progressiva dos sama-ritanos, que reúnem certas tradições das antigas tribos do Centro e do Norte e rom-pem com Jerusalém e o judaísmo oficial; e b) a consolidação da diáspora, promovida pela expansão helenista. A população ju-daica no estrangeiro, mais numerosa que na Palestina, se agrupa em torno de suas sinagogas e, apesar da distância, mantém sua vinculação com Jerusalém e o templo. A diáspora confere ao judaísmo um caráter novo e o prepara para superar a grande provação que implicou seu desapareci-mento enquanto nação.

OS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTOO Antigo Testamento é uma grande

coleção de 46 livros escritos em diversas épocas e por diversos autores, reunidos por afinidade literária ou temática em quatro grandes grupos: 1) Pentateuco; 2) livros históricos; 3) livros proféticos; 4) livros poéti-cos e sapienciais. Essa divisão coincide em grandes traços com a tríplice denominação judaica: Lei, Profetas e Outros Escritos.

Literaturas do antigo Oriente Próximo

Muito tempo antes que as tribos israe litas transmitissem oralmente suas tradições, o Egito, a Babilônia antiga, a Suméria e a Assíria tinham uma literatura

rica sobre diversos temas. A maioria das formas e dos gêneros literários no Antigo Testamento – mitos e lendas sobre a criação do mundo e das pessoas; rela-tos épicos e sagas de tipo histórico; hi-nos e orações religiosos; códigos legais e administrativos; listas e recenseamen-tos; poemas e cartas; escritos de caráter sapiencial – parecem-se com os textos do antigo Oriente Próximo, pois compar-tilharam com eles uma vasta herança cultural. Não obstante, tal semelhança não obscurece a originalidade temática e formal da literatura bíblica.

Formação dos escritos do Antigo Testamento

A formação do Antigo Testamento foi um processo complexo e lento que cor-re, em certa medida, paralelo à vida e à história do povo de Israel. Divide-se em três grandes etapas, que podem se co-nhecer melhor nas introduções de cada livro e no quadro cronológico (p. 1905).

1. Das origens até a monarquia. A literatura nasce como reflexo da vida e expressão dos sentimentos, anseios, convicções, temores e expectativas de pessoas e povos, e se desenrola nos centros, ambientes e circunstâncias em que vivem. Nas origens de Israel, como na maioria dos povos, essas expressões foram transmitidas oralmente, antes de serem escritas, e tratam dos grandes temas da vida: trabalho, culto, festas, guerras, pleitos, luto.

Em Canaã se fundiram as recorda-ções de diferentes tribos e se incorpo-raram elementos da língua e da literatu-ra cananeias (séc. XII-XI a.C.). Inicia-se a configuração das primeiras tradições orais enquanto povo, mantendo-se a mesma forma ao serem escritas: sagas e recordações patriarcais; hinos e rela-tos épicos em torno do êxodo e da conquista; cantos de gesta sobre heróis locais; relatos sobre a origem de luga-res, pessoas e costumes; corpos legais e tradições cúlticas; ditos ou provérbios de origem familiar e popular. 51

2. Da monarquia ao exílio. A mo-narquia introduz em Israel um modelo cortesão de influência egípcia e cana-neia, que influi decisivamente na forma-ção dos escritos bíblicos. Secretários e escribas cortesãos começam a escre-ver uma história oficial a partir de listas, anais reais e outros dados de arquivo. Criam-se também escolas para a for-mação dos funcionários da corte, que serão importantes focos sapienciais.

Salomão, a quem se atribuem mui-tos provérbios e poemas, estimulou fortemente a atividade literária, que foi impulsionada também pelo comércio e pelo intercâmbio cultural com outros povos. Nessa época, aparecem os pri-meiros escritos históricos reconhecidos como a história javista: as histórias da sucessão de Davi e de Salomão e, possivelmente, o primeiro agrupamento de tradições patriarcais, do êxodo e da conquista, com a finalidade de legitimar a monarquia davídica diante dos israeli-tas e das outras nações. Também se iniciam as coleções de salmos e provér-bios, e se colocam por escrito alguns cantos épicos, histórias de heróis liber-tadores e códigos legais. Ver tábua “Escritura do Pentateuco”, p. 56

Depois da divisão do reino, desen-volvem-se duas vertentes históricas pa-ralelas: os Anais dos reis de Israel e os Anais dos reis de Judá. Mas o apareci-mento dos “profetas escritores” no sécu-lo VII a.C é mais significativo que estes, porque, embora seu ministério tenha si-do oral, eles mesmos ou seus discípulos começaram a escrever alguns de seus oráculos. No reino do Norte, Amós e Oseias dão forma literária a tradições proféticas orais em torno de Elias, Eliseu, Aías e Miqueias, filho de Jembla, e pro-vavelmente dão origem à versão eloísta da antiga história patriarcal e mosaica.

No reino de Judá, o movimento pro-fético é mais tardio, seus primeiros ex-poentes são o Primeiro Isaías e Miqueias. Com a queda de Samaria, as tradições do Norte chegam ao reino do Sul e com o tempo se fundem com as de Judá.

Os reinados de Ezequias e Josias, relativamente prósperos e pacíficos, deixaram especial marca de atividade literária. Ezequias acolheu fugitivos do Norte e criou algo parecido com uma escola de escribas, aos quais se atribui a recopilação de antigas coleções de provérbios (Pr 25,1–29,27).

Josias impulsionou uma ambiciosa reforma a partir do descobrimento do Livro da Lei, identificado com o núcleo do Deuteronômio, primeiro escrito bíbli-co de caráter normativo ou canônico (2Rs 22,8). Esse Livro da Lei inspirou a escola deuteronomista e iniciou uma grande obra histórica, que compreende desde a conquista da terra até a queda de Jerusalém, e teve a sua última edi-ção durante o exílio. Os escritos proféti-cos de Sofonias, Naum, Habacuc e Je-remias completam as contribuições literárias do reino de Judá.

3. No exílio. O tempo do exílio foi muito fecundo literariamente. Em Jeru-salém se escrevem as Lamentações e se conclui a história deuteronomista. Em Babilônia, onde os deportados inte-gram alguns elementos da cultura, da religião e da literatura mesopotâmicas, nasce a escola cronista ou sacerdotal, que reescreve a história do povo desde as origens até Moisés, servindo-se das versões anteriores, isto é, da história javista e eloísta. Ao mesmo tempo se intensifica a atividade profética com Ezequiel e o Segundo Isaías. Mais im-portante é o estímulo que deram esses grupos aos exilados, para enfrentar a reconstrução nacional, e as bases para o desenvolvimento religioso da comuni-dade pós-exílica.

O período pós-exílicoA partir da pouca informação sobre

a comunidade pós-exílica nas épocas persa e helenista, este período é decisi-vo na configuração do Antigo Testa-mento. A reforma de Esdras – animada pelos profetas Ageu, Zacarias e o Ter-ceiro Isaías – leva a seu cume o Penta-teuco ou Torá (Lei), que se converte no corpo literário normativo da comunida-de teocrática (fins do século V).52

Nos dois séculos seguintes (IV-III a.C.) completa-se a coleção dos Profe-tas (anteriores: Josué, Juízes, 1o e 2o Samuel, 1o e 2o Reis; e posteriores: Isa-ías, Jeremias, Ezequiel e “os Doze”). E boa parte dos Outros Escritos, Salmos, Provérbios, Jó e os “cinco rolos” (Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, La-mentações e Ester). A estes se acres-centa a obra do Cronista (1o e 2o Crôni-cas, Esdras e Neemias).

A expansão do helenismo obriga o judaísmo a um novo esforço de abertura e confronto com a cultura grega tanto na Palestina como fora dela. Fruto desse diálogo é a tradução da Torá para o gre-go, realizada em Alexandria nos tempos de Ptolomeu II (285-246 a.C.). Segundo uma tradição judaica, a tradução foi en-tregue aos cuidados de 72 sábios ju-deus, daí o nome de Versão dos Setenta. Nos séculos posteriores se traduziram os Profetas e os restos dos livros hebrai-cos do Antigo Testamento (séc. II-I a.C.).

A versão grega acrescenta 1 e 2 Ma-cabeus, Tobias, Judite, Baruc, Ecle siás ti-co e Sabedoria, aparecidos nos dois últi-mos séculos. A Igreja Católica aceita esses livros como deuterocanônicos, ao passo que as igrejas protestantes e o ju-daísmo os consideram apócrifos. Esta versão grega é muito importante por duas razões: a) os primeiros cristãos serviram--se dela, com seus termos e conceitos, ao articular a nova fé cristã; b) constitui o verdadeiro ponto de união entre os dois testamentos.

Nos fins da época veterotestamentária e inícios da era cristã fica praticamente constituído o Antigo Testamento judaico, embora não se tenham aceitado os Outros Escritos como livros sagrados. De fato, di-versos grupos judaicos adotaram posições diferentes em relação ao cânon dos livros sagrados. Os samaritanos só aceitavam a Torá (o Pentateuco); os saduceus davam importância secundária aos Profetas e aos Outros Escritos, sem incluir Daniel; os es-sênios não reconheciam Ester, mas empre-gavam o Eclesiástico e alguns livros apó-crifos; inclusive no final do século I d.C. havia dúvidas sobre o caráter inspirado do Cântico dos Cânticos. Disso se conclui

que os limites da terceira coleção do câ-non judaico, isto é, dos Outros Escritos, não estavam totalmente definidos.

Temas teológicos do Antigo Testamento

Os livros do Antigo Testamento, além de refletir a vida e a história do povo eleito, são Palavra de Deus e fa-lam sobre Deus. Assim a receberam e reconheceram os judeus que leram nela a privilegiada relação de Deus com Is-rael. Assim a consideraram Jesus e a primeira Igreja, que viram essa Palavra como antecipação e promessa da Pala-vra definitiva pronunciada em Jesus de Nazaré, e usaram o Antigo Testamento como ponto de referência ao anunciar Jesus Cristo. Esta seção aponta para as constantes temáticas que dão uma perspectiva global e unitária do Antigo Testamento, que, à primeira vista, apa-rece como heterogêneo e fragmentário.

Pluralidade de teologias Durante muitos séculos, a religião

de Israel teve pluralidade de enfoques teológicos porque Deus se revelou pou-co a pouco, em momentos históricos e culturais muito diversos. Na redação fi-nal dos escritos e coleções do Antigo Testamento se percebe uma forte ten-dência a acentuar os elementos unitá-rios da fé e da religião de Israel.

Só no final da época veterotestamen-tária existe um corpo de crenças e vivên-cias amplo e consistente, com uma uni-dade clara. Portanto, não é de estranhar que o Antigo Testamento reflita uma diver-sidade teológica. No Pentateuco podem se identificar as tradições javista, eloísta, sacerdotal e deuteronomista. Nos livros históricos coexistem os diferentes enfo-ques da história deuteronomista e cronis-ta, e suas diversas visões sobre temas--chave como a monarquia, o templo, os santuários locais e inclusive o próprio Deus (Gn 1–2). Profetas da mesma épo-ca, como o Primeiro Isaías e Oseias, Jere-mias, Ezequiel e o Segundo Isaías, tam-bém têm enfoques teológicos distintos. 53

Esta diversidade exige que nos acos-tumemos a contemplar cada livro ou ca-da enfoque teológico como perspectivas distintas que nos permitem apreciar a ri-queza da revelação. A imagem de diver-sos instrumentos musicais interpretando a mesma sinfonia, dando cada um sua contribuição e entretecendo-se todos pa-ra fazer a obra musical, é muito adequa-da ao enfrentar a leitura dos diversos li-vros e coleções do Antigo Testamento.

Unidade de fé

A pluralidade de teologias prove-nientes de diferentes tradições e do ambiente politeísta do antigo Oriente Próximo fez ressaltar o valor e a origina-lidade da convicção monoteísta de Israel que ressoa em todo o Antigo Testamen-to. Esta fé em um só Deus se perfilou progressivamente ao longo da história e entrou muitas vezes em conflito com as crenças e o culto politeísta do contexto cultural em que os israelitas viviam.

A mensagem de Oseias, do Primeiro Isaías e de Jeremias contribui decisiva-mente para definir as exigências do mo-noteísmo. Mas só depois da reforma de Josias, e sobretudo a partir do exílio, a unidade da fé fica claramente formulada.

Ao relatar sua história, os israelitas identificam momentos-chave nos quais Deus se manifestou como único e fomen-tou a unidade do povo. Veem a época patriarcal sob essa luz; descobrem a re-velação de um só Deus a partir da aliança do Sinai e notam como essa crença tem momentos-chave, como a assembleia de Siquém (Js 24), a promessa dinástica a Davi (2Sm 7) e a dedicação do templo (1Rs 8), que são especialmente unifica-dores. Todos os escritos do Antigo Testa-mento coincidem em um sólido teocen-trismo e relatam a revelação de um único Deus através dos acontecimentos (histó-ria) e da palavra (lei e profecia).

Uma fé histórica

A fé monoteísta e teocêntrica de Is-rael é uma fé histórica. Os chamados “credos históricos” de Israel expressam sua profunda convicção de que Deus

se fez conhecido nos atos concretos e doadores de vida como a libertação do Egito, a aliança do Sinai, o dom da ter-ra, a escolha de Davi e a promessa messiânica. Por isso a história bíblica é, antes de tudo, história de salvação.

Os credos históricos aparecem em textos variados. Encontramo-los em confissões de fé (Dt 26,5-10), resumos (Js 24,2-13), catequeses (Dt 6,20-23), salmos (Sl 78; 105; 136), orações (Ne 9,5-37) e discursos (Jt 5,6-19).

Esses credos apresentam distintas sequências e articulações. À primeira sequência, “eleição patriarcal – libertação do Egito – aliança sinaítica – entrada na terra”, da tradição nortista Moisés – Sinai, acrescenta-se a segunda sequência, “eleição de Davi – Jerusalém/templo”, da tradição sulista Davi – Jerusalém. Depois do exílio se incorpora o tema da criação como o primeiro ato de Deus. Finalmente, a cadeia de intervenções divinas, ao lon-go dos séculos, se converte no tema arti-culador das grandes sínteses históricas: deuteronomista, sacerdotal e cronista.

Dimensão comunitária da fé: a aliança

A pluralidade de teologias, prove-nientes de diferentes tradições, e a unidade da fé e sua natureza histórica ressaltam a dimensão comunitária da fé bíblica. Todas as intervenções de Deus estão dirigidas para o povo de Israel, prefigurado nos patriarcas, representa-do em seus líderes institucionais (Moi-sés, Samuel, Davi...), desafiado e ani-mado pelos profetas e concretizado na comunidade teocrática pós-exílica. O objeto privilegiado da escolha de Deus é sempre o povo a quem fez suas pro-messas, com quem entrou em diálogo, contraiu uma aliança e a quem apoia e guia com bênçãos, desafios e castigos.

Nessa perspectiva comunitária, as figuras individuais só têm realce na me-dida em que fazem parte do povo, ser-vem-no ou representam-no. Ao escolher Abraão, Deus escolhe sua descendên-cia; ao revelar-se a Moisés e aos profe-tas, se manifesta e guia o povo que re-54

presentam; ao fazer a promessa dinástica a Davi, compromete-se com o povo através de seus reis e da institui-ção monárquica.

A melhor expressão da dimensão comunitária da religião é a fé de Israel na aliança que marca a natureza das relações entre Deus e o povo, visto que esta aliança é um dos principais temas do Antigo Testamento. Deus firmou com seu povo um pacto do qual derivam di-reitos e obrigações mútuas, expressa-dos na Lei, sinal ritual da aliança. O cumprimento ou o não cumprimento de suas condições acarretará bênçãos ou maldições sobre o povo inteiro.

Os diferentes códigos legais e cul-turais e a mensagem dos profetas ocorrem no marco da aliança, com sua dupla exigência indissolúvel: fide-lidade a Deus e solidariedade com o povo. A aliança do Sinai é o centro e modelo de todas as alianças no Anti-go Testamento: as anteriores, com Noé e Abraão, a prefiguram e anteci-pam; as posteriores, com Josué, Davi e Josias, a renovam e enriquecem.

A infidelidade e a incapacidade contínuas do povo para ser leal a Deus foram gerando a ideia de uma “nova aliança”, mais espiritual e defi-nitiva do que a anterior. A partir de Jeremias e Ezequiel, esta esperança reforçou e deu novo significado às suas expectativas messiânicas.

Responsabilidade e destino do indivíduo

A dimensão comunitária da relação com Deus não anula sua relação com o indivíduo nem a dissolve no anonimato do coletivismo. No decorrer da história, a vida e o destino das pessoas foram fonte de uma reflexão teológica que amadureceu com o tempo:

No marco da aliança, o destino do indivíduo está indissoluvelmente unido ao de sua comunidade: o indivíduo é solidário, para o bem e para o mal, com a sorte do povo.

Com o tempo, profetas como Jere-mias e Ezequiel, assim como alguns textos deuteronomistas, apelam para a responsabilidade individual.

• Os salmos e a literatura sapiencial, depois do exílio, assinalam o indiví-duo como o último responsável por sua conduta e seu destino, como o proclama a doutrina da retribuição.

• Quando os fatos históricos des-mentem a doutrina da retribuição, começa um profundo debate ex-pressado em Isaías 53, no Salmo 73, no Eclesiástico e em Jó. As contribuições de Daniel 12,3, 2Ma-cabeus e Sabedoria 1–5, com a afirmação da ressurreição e a retri-buição depois desta vida, abrem novas perspectivas sobre esse as-pecto tão importante.

Messianismo: esperança e utopia

Dois dos temas mais constantes e presentes em todo o Antigo Testamento expressam-se nas fórmulas “promessa--realização” e “profecia-cumprimento”. Pode-se dizer que todo o Pentateuco, as grandes obras históricas, deuterono-mista e cronista, e a maioria dos escri-tos proféticos foram estruturados a par-tir desses temas e constituem seus conteúdos fundamentais.

As promessas feitas a Abraão foram enriquecendo-se até culminar na posse da terra. A promessa dinástica feita a Davi contribuiu para a estabilidade da monar-quia e para a confiança na proteção de Deus sobre Jerusalém e seu ungido.

Os profetas assinalaram os limites e a caducidade das antigas promessas, purificaram-nas e ampliaram seu signifi-cado. Diante da dura e decepcionante experiência do exílio, que parecia des-mentir as promessas e profecias anterio-res, os profetas proclamam a esperança em uma futura e decisiva in ter venção de Deus, que culminará no triun fo sobre to-dos os inimigos e na instauração de seu reino.

Nesse contexto, antigos conceitos como “dia do Senhor” e “ungido” (mes-sias) adquirem um novo significado es- 55

piritual e se convertem em símbolo e expressão de novas esperanças. As escatologias proféticas dão passagem à apocalíptica, e o messianismo, em sua tríplice versão (dinástico-régia, pro-fética e sacerdotal), catalisa esperan-ças e utopias.

A partir de então, as promessas apontam para uma nova aliança, um novo Davi, uma nova Jerusalém, um novo reino, novos céu e terra, uma nova

criação..., cujo cumprimento fica nas mãos do ungido ou messias esperado. Jesus e a primeira Igreja relerão toda a Escritura nesta chave, convertendo o Antigo Testamento em antecipação, promessa e profecia da intervenção decisiva de Deus mediante a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Assim, a nova aliança em Jesus cumpre plenamente e supera definitivamente a antiga aliança.

ESCRITURA DO PENTATEUCO

Datas históricas aproximadas

1800 a.C.

1250 a.C.

Tradições

722 a.C. Queda de Samaria

625 a.C. Reforma sob Josias

ABRAÃO E OS PATRIARCAS

Tradições orais pré-mosaicas:sagas patriarcais, lendas tribais,legislação primitiva e histórias antigasda Mesopotâmia

Moisés

Sul(javista = J)

“J” escrita(950 a.C.)

Norte(eloísta = E)

(Mantiveram-seas tradições orais)

“E” escrita(750 a.C.)

Tradições “J” e “E” combinadas(700 a.C.)

Deuteronomista(D)

“D” escrita(700 a.C.)

Sacerdotal(P)

“P” escrita(500 a.C.)

As quatro tradições compiladas e escritascomo as conhecemos agora (400 a.C.)

56

Ano a.C.

1050-1000

950-900

900-850

850-800

800-750

750-700

700-650

600-538

538-500500-450450-400400-350350-300300-250250-200200-150150-100100-50

50-0

0-50Novo

Testamento

Reis

SAMUEL (1040-1030) último juiz, profeta e sacerdoteSAUL (1030-1010)

DAVI (1010-971) unificação das tribos em um reinoSALOMÃO (971-931)

931: divisão do reinoSul: JUDÁROBOÃO (931-914)

Abdias (913-911)Asa (914-870)

Josafá (870-848)

Jorão (848-841)Ocosias (841)Atalia (841-835)Joaz (835-796)

Amasias (796-767)Azarias / Ozias (781-740)

Joatão (740-736)

Acaz (734-727)

EZEQUIAS (716-687) reformaManassés (687-642)Amon (642-640)JOSIAS (640-609) reformaJoacaz (609)JOAQUIM (609-598)Jeconias (598)Sedecias (598-587)

Norte: ISRAELJEROBOÃO (931-910)

Nadab (910-909)Basa (908-886)Ela (885-884)Zamri (884)Omri (884-874)Acab (874-853)

OCOZIAS (853-852)Jorão (852-841)

JEÚ (841-814)

Joacaz (813-797)Joaz (797-782)JEROBOÃO II (782-753)Zacarias (743)Salum (743)Menaem (743-738)Pecaias (738-737)Pecá (737-732)Oseias (732-724)

722-Queda sob o poder da Assíria

EXÍLIO NA BABILÔNIARegresso do exílio. Institui-se o judaísmo

Restauração de Jerusalém e desenvolvimento do judaísmo

Defesa dos Macabeus diante da invasão helenista

Profetas

NatãAías

SemeíasAíasAíasAzariasJeú

Miqueias, EliasJeú, Iasael, Eliezer, Eliseu, Miqueias

EliasElias

EliseuZacarias

Amós*, 1o Isaías*, Naum*Oseias*

ObedMiqueias*

2o Isaías*Sofonias*

Profetisa Hulda, Jeremias*Habacuc*

Jeremias*Abdias*Ezequiel*Jonas*, Ageu*, 3o Isaías*1o Zacarias*, Malaquias*Joel*2o Zacarias*Baruc*Daniel*

João Batista

CRISTO, REI DOS REIS E PROFETA DO REINO DE DEUS

* Profetas escritores

57

pentateuco

1

Gn

2

Ex

3

Lv

4

Nm

5

Dt

Introdução ao

Pentateuco

Você já se perguntou como é que sabemos tantas coisas a respeito de Deus? A Bíblia contém tudo o que Deus nos revelou de si mesmo mediante sua rela-

ção com o povo de Israel e os primeiros cristãos. Ao ler a Bíblia, vemos como se comunica Deus com seu povo e a resposta desse povo, como dois protagonistas de uma história que se conhecem cada vez melhor ao conversar e agir juntos. Nos primeiros cinco livros bíblicos, ou seja, no Pentateuco, Deus nos mostra seu plano para a humanidade: quer nos salvar do pecado e unir-se a nós em amizade sincera.

IntroduçãoPentateuco significa “cinco rolos”, do grego penta, “cinco”, e teuchos, “rolos”. É for-

mado pelos cinco primeiros livros do Antigo Testamento: • Gênesis: livro das origens. • Êxodo: livro da saída do Egito. • Levítico: livro dos levitas, sacerdotes da tribo de Levi. • Números: livro dos recenseamentos do povo de Israel. • Deuteronômio: livro da segunda lei.

O Pentateuco é a chave para entender toda a Bíblia, pois apresenta o início da reve-lação de Deus ao povo escolhido, e nele encontramos as primeiras vivências e reflexões sobre o plano de amor de Deus com a humanidade. Só ao conhecer o Pentateuco pode-se compreender a riqueza da revelação de Deus e o extraordinário da história da salvação ao longo da Bíblia até chegar à sua plenitude em Jesus, Deus e homem, salvador único de toda a humanidade.

A relação de Deus com seu povo se conservou na memória das pessoas com respeito e amor, e foi transmitida de pais a filhos oralmente durante cerca de seiscentos anos, até que essas experiências foram recolhidas por escrito. Essa história é relatada de muitas maneiras e com variedade de gêneros literários: reflexões sobre a experiência de Deus e a natureza humana, leis que regem o povo, orações do povo a Deus, poemas que apresen-tam o sentimento do povo, recordações de família significativas, ritos que regulam atos de culto (ver “O que são os gêneros literários?”, p. 32).

A última redação do Pentateuco apoiou-se nas tradições de quatro grupos de pessoas, que se relacionavam com Deus de diferentes maneiras. Como cada tradição mostra aspectos muito belos de Deus, os redatores finais decidiram unir as quatro, pois todas eram consideradas inspiradas por Deus. A cada tradição oral ou fonte do conhecimento de Deus se deu um nome, como se tivesse um só autor.

• A tradição javista chama Deus de Javé ao longo do manuscrito e é representada por “J”. Inicia-se nos séculos IX e VIII a.C. Pertence ao sul da Palestina e se con-

centra no reino de Judá. Salienta a proximidade de Deus com a humanidade e o descreve em termos antropomórficos, do grego anthropos, “homem”, e morphé, “forma”, isto é, apresenta Deus atuando e reagindo como pessoa humana.

• A tradição eloísta dá a Deus o nome de Elohim e se representa com um “E”. Inicia-se ao mesmo tempo que a javista, na qual foi integrada nas proximidades de 715 a.C. Surge no reino do Norte ou reino de Israel e fala do profetismo, da força da moral e do perigo da idolatria. Mostra Deus que fala em sonhos e com símbolos como a sarça.

• A tradição deuteronomista tem um estilo insistente e se representa com um “D”. Foi escrita no século VII a.C. Insiste na ação de Deus e na necessidade de uma resposta pessoal e comunitária. Baseia-se nas tradições anteriores; começa no final do reino, quando o reino do Norte caiu em poder da Assíria, e o povo parecia esquecer sua fidelidade à aliança do Sinai.

• A tradição sacerdotal se representa com um “P” e mostra Deus distante e majestoso. Escreve-se ao regressar do exílio, no século VI a.C. Israel já não era uma nação independente e concentrava sua identidade no templo. Dá grande importância aos ritos do culto e às funções dos sacerdotes.

Pouco depois de surgir a tradição sacerdotal, fez-se a redação definitiva dos cinco livros. Sabendo isso, você compreenderá por que há temas duplicados, escritos de diferentes maneiras, e por que alguns eventos estão defasados no tempo. Talvez você se pergunte: para que juntaram tudo e por que não optaram por uma só fonte? Por-que cada tradição nos leva a conhecer diversos aspectos de Deus e todos são valiosos, fortalecem nossa fé nele e nos revelam seu amor salvador.

Notas complementares

• Os judeus reconhecem o Pentateuco como a Torá, que significa “ensinamento” ou “instrução”, e o consideram a Lei.

• Antigamente se pensava que Moisés era o autor do Pentateuco, pois foi um líder legislador e juiz grandioso. Na realidade, os cinco livros foram escritos centenas de anos depois de sua morte.

• O Gênesis e o Êxodo apresentam as histórias e os nomes que melhor conhe-cemos do Antigo Testamento. O Gênesis relata as histórias de Adão e Eva; Noé e o dilúvio; Abraão e Sara; José e seus irmãos. O Êxodo fala de Moisés e da sarça ardente; do faraó do Egito; da passagem do Mar Vermelho e dos dez mandamentos.

• O Pentateuco apresenta narrações e leis: o Gênesis contém histórias; o Levítico e o Deuteronômio contêm muitas leis; o Êxodo e Números contêm tanto narrações como leis.

Imagine o grande poder do cosmos. O universo se inaugura criado por Deus. Depois..., uma destruição universal. Mais tarde, histórias

ricas em ternura de amor e reuniões familiares, seguidas por traições e crimes... Pareceria que fosse o último sucesso do cinema. Assim não é. Estamos diante do Gênesis, o livro das “origens” onde se relata que Deus cria o mundo com amor e harmonia. O pecado rompe o equilíbrio. Deus decide não abandonar seu projeto de amor; escolhe caminhos assombrosos para restaurar tudo; adapta-se a nós, escolhe um povo e toma a peito sua obra.

Esquema • 1–11. Origens 1,1–2,4a. História do

céu e da terra 2,4b–5,32. História de

Adão e seus filhos 6,1–11,32. História de

Noé e seus filhos • 12–50. Patriarcas 12,1–25,18. História de

Abraão e seu filho 25,19–36,43. História de

Isaac e seus filhos 37,1–50,26. História de

Jacó e seus filhos

DadosPeríodo descritoOs primeiros 11 capítulospertencem à pré-história.Os capítulos 12 e seguintesdescrevem o tempo dospatriarcas e das matriarcas deIsrael (1900-1500 a.C.).AutorVários autores.Data de redação• Tradições orais 950-700 a.C.• Recopilação e escrita: 700 a.C.• Edição final: 400 a.C.TemasA criação é boa. O ser humano é livre e responsável.O mau uso da liberdadecausa o pecado. Pactos iniciais de Deus com diversospersonagens.

ApresentaçãoO Gênesis reúne relatos que revelam a natu-

reza de Deus e os inícios de sua relação com a humanidade. Seu propósito é demonstrar que o plano de Deus é mais forte que o pecado e a fragilidade humana. Não é um livro de história, mas uma confissão de fé articulada com relatos das cinco tradições orais. Divide-se em cinco grandes partes.

A primeira parte, capítulos 1–11, mostra Deus criador e Senhor de tudo. Contém as tra-dições mais antigas da humanidade e as mais memoráveis da Bíblia. Apresenta dois relatos distintos da criação, que desdobram a beleza da natureza, a bondade na obra de Deus e a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus (caps. 1 e 2).

Adão e Eva vivem em harmonia com Deus, consigo mesmos e com toda a criação, em um fascinante jardim. Ao pecarem, tudo muda. Adão e Eva sentem separação, dor e inclusive a morte (cap. 3). O pecado destrói a família, repre-sentada por Caim e Abel (cap. 4). Aniquilação da humanidade, representada por Noé e o dilúvio (cap. 6–9). Geram-se conflitos entre as nações como na Torre de Babel (cap. 11).

A segunda parte, capítulos 12–50, narra a origem do povo de Israel. Explica a fé de Abraão, Sara e Isaac e de Jacó, Rebeca e suas famílias. O Gênesis conclui-se com a história de José, neto de Isaac.

Os israelitas descrevem sua experiência de Deus com imagens e símbolos, pois através des-tes é que podemos nos aproximar do mistério de Deus. Por isso é importante descobrir seu significado profundo, sem desprezar as imagens simbólicas como se fossem infantilidades, nem reinterpretá-las ao pé da letra.

GÊNE

SIS

GN

64

64Gênesis 1 1

A Criação

1 1 No princípio, Deus criou o céu e a terra. 2 A terra estava sem forma e va-

zia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.

3 Deus disse: “Faça-se a luz!”. E a luz foi feita. 4 Deus viu que a luz era boa, e sepa-rou a luz das trevas. 5 Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia.

6 Deus disse: “Faça-se um firmamento entre as águas, e separe ele umas das ou-tras”. 7 Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firma-mento daquelas que estavam por cima. 8 E assim se fez. Deus chamou ao firmamento céu. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o segundo dia.

9 Deus disse: “Que as águas que estão debaixo do céu se juntem num mesmo lu-gar, e apareça o elemento árido”. E assim

se fez. 10 Deus chamou ao elemento árido terra, e ao ajuntamento das águas mar. E Deus viu que isso era bom.

11 Deus disse: “Produza a terra plan tas, ervas que contenham semente e á r vores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente”. E assim foi feito. 12 A terra pro duziu plan-tas, ervas que contêm semente segundo a sua espécie, e árvores que produzem fruto segundo a sua espécie, contendo o fruto a sua semente. E Deus viu que isso era bom. 13 Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o terceiro dia.

14 Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento do céu para separar o dia da noite. Que sirvam eles de sinais e marquem o tempo, os dias e os anos, 15 e resplande çam no firmamento do céu para iluminar a terra”. E assim se fez. 16 Deus fez os dois grandes luzeiros: o maior para

Gn 1,1-31As origens

Gn 12–36Abraão, Sara e sua

descendência

Gn 22,1-19Sacrifício de Isaac

GÊNESIS

11

GN

65 Gênesis 2 2

presidir o dia e o menor para presidir a noite; e fez também as estrelas. 17 Deus colocou-os no firmamento do céu para que iluminassem a terra, 18 presidissem o dia e a noite, e separassem a luz das trevas. E Deus viu que isso era bom. 19 Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quarto dia.

20 Deus disse: “Pululem as águas de uma multidão de seres vivos, e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento do céu”. 21 Deus criou os monstros mari-nhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo a sua espécie, e todas as aves segundo a sua espécie. E Deus viu que isso era bom. 22 E Deus os abençoou: “Frutificai – disse ele – e multipli cai-vos, e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a ter-ra”. 23 Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o quinto dia.

24 Deus disse: “Produza a terra seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selvagens, segundo a sua espécie”. E assim se fez. 25 Deus fez os animais selvagens segundo a sua espécie, os animais domésticos igualmente, e da mesma forma todos os animais, que se arrastam sobre a terra. E Deus viu que isso era bom.

26 Então Deus disse: “Façamos o ho-mem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os rép-teis que se arrastam sobre a terra”.

27 Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. 28 Deus os abençoou: “Frutifi-

GÊNESISem si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento. 30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento”.

E assim se fez. 31 Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia.

SABIA QUE...?Deus não criou o mundo em sete dias

Você acredita que esse relato po-de ser lido ao pé da letra, como se junto a Deus houvesse um repórter?

O objetivo do relato não é narrar cientificamente a história da criação do mundo, história que se desconhe-ce, mas afirmar que Deus é a origem de tudo, inclusive do tempo que foi preciso na criação. O autor emprega uma linguagem simbólica e poética para exprimir estas crenças prove-nientes da tradição sacerdotal.

A sabedoria, o amor e o poder ab-soluto de Deus foram a origem de tudo. A fé não pode se opor à razão humana, pois Deus é a origem tanto da razão quanto da fé. Os investigadores que estudam com sinceridade as ciências, mesmo sem o propor, chegam à conclu-são de que Deus criou todas as coisas.

A Bíblia não proporciona dados arqueológicos nem científicos, mas fala da origem e do sentido da vida. Deus coroou sua obra tão variada e bela criando os seres humanos e entregan-do-lhes a criação para seu domínio e seu controle. Estas narrações respon-dem a perguntas comuns da humani-dade: de onde venho? Para onde vou?

Quando você ler a Bíblia, pense que Deus fez você por amor, acompanha você na viagem de sua vida e espera você no final dela com os braços aber-tos. Muito obrigado, Senhor!

Gn 1,1–2,4

E criou Deus os seres humanos à sua imagem... homem

e mulher os criou.

cai – disse ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. 29 Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm

GN

66Gênesis 1 27

VIVA A PALAVRASomos o ponto culminante da criação

Deus faz tudo benfeito, e nos fez pessoas à sua imagem e semelhança, com a finalida-de de que possamos viver e nos relacionar com ele. A todos nós criou com a mesma digni-dade, homens e mulheres, de cores negra, amarela, branca e vermelha... e também os mestiços e mulatos. Todos refletimos a beleza e a grandeza de Deus; ninguém possui o modelo exclusivo de beleza nem a máxima inteligência, nem o amor por excelência, pois nenhum grupo humano pode monopolizar a semelhança com Deus.

Tal semelhança com Deus, e o fato de que só conosco compartilhou seus atributos, nos faz o ponto culminante da criação. Deu-nos liberdade para escolher o caminho da vida, capacidade de amar, conhecer, analisar, procriar e transformar. Desde o princípio estabele-ceu um diálogo conosco, coisa que não fez com o resto da criação.

Reveja os parágrafos anteriores e: • Identifique duas verdades que mais afirmam sua autoestima, a verdade que mais

desafia você a mudar de atitudes e de condutas, e a verdade que o faz agradecer mais a Deus a maravilha que você é.

• Faça uma oração de louvor e agradecimento por você ser quem é; e uma pedindo para usar bem sua liberdade e desenvolver suas capacidades ao colocá-las em ação, procurando cada vez ser mais semelhante a Deus.

Gn 1,26-28

2 1 Assim foram concluídos o céu, a ter ra e todo o seu exército. 2 Tendo Deus ter-

minado no sétimo dia a obra que tinha feito, descansou do seu trabalho. 3 Ele abençoou o sétimo dia e o consagrou, porque nesse dia descansou de toda a obra da Criação.

4 Tal é a história da criação do céu e da terra.

O paraísoNo tempo em que o Senhor Deus fez a

terra e o céu, 5 não exis tia ainda sobre a terra nenhum arbusto nos campos, e nenhuma erva havia ainda brotado nos campos, por-que o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem que a cultivasse; 6 mas subia da terra um vapor que regava toda a sua superfície. 7 O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou um ser vivente.

8 Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, do lado do oriente, e colocou nele o homem que havia criado. 9 O Senhor Deus fez brotar da terra toda a sorte de ár-vores de aspecto agradável, e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. 10 Um rio saía do Éden para regar o jardim,

e dividia-se em seguida em quatro braços. 11 O no me do primeiro é Fison, e é aquele que contorna toda a região de Hévila, onde se en-

REFLITA

Criados por amor

e para amar No princípio Deus criou o céu e a

terra [...] (Gn 1,1). Este pequeno versícu-

lo é fundamental em nossa fé. O universo

não foi criado por acidente, nem somos

uma série de átomos unidos ao acaso ou

uma combinação casual de circunstân-

cias cósmicas. Deus o criou como ex-

pressão dinâmica e criadora de seu

amor, e nos criou para que amemos a

terra, a água, os animais... e, sobretudo,

o povo, e assim vivamos em harmonia

com ele e com a criação.

A criação vem do Amor e pede amor.

Como você sente o amor de Deus através

de toda a criação? Quanto você ama as

criaturas de Deus?Gn 2,4

GN

67 Gênesis 2 21

PERSPECTIVA CATÓLICA

Um dia para o SenhorO Gênesis apresenta a criação em

sete etapas, que chama dias. O sétimo dia Deus descansou, abençoou o dia e o consagrou com seu descanso. Os ju-deus consagravam o sábado a Deus. Os cristãos lhe consagramos o domingo, “o primeiro dia da semana” (Mt 28,1), por-que Jesus ressuscitou nesse dia. Domin-go provém do latim dominica dies, que quer dizer “dia do Senhor”. O trabalho e o descanso são nossa vida e ambos nos unem a Deus. Ao trabalhar colaboramos com Deus em sua criação. Ao descansar podemos dedicar-lhe tempo e recordar-nos de que somos livres e não devemos ser escravos do trabalho.

Nós católicos celebramos em família a eucaristia dominical. Nela proclama-mos a alegria da criação e o descanso de Deus quando viu que tudo era muito bom (Gn 1,31). A Igreja nos pede que dediquemos o domingo a honrar a Deus em um ato de confiança nele. Quando por razões de força maior necessitamos trabalhar no domingo, é importante dedi-car o dia do trabalho a Deus de maneira especial e, se for possível, consagrar-lhe um dia durante a semana.

Como você honra o domingo?Gn 2,1-3

SABIA QUE...?Deus é meu criador: sou obra sua

Leia Gênesis 2, o qual apresenta um segundo relato da criação do universo. Deixe-se levar pela beleza e pela profun-didade das imagens desse relato javista.

O pó da terra e o sopro divino indi-cam que o ser humano é matéria e espí-rito; um corpo animado por uma alma imortal, com desejos de voltar para Deus. Fizeste-nos para ti, e nosso cora-ção não encontra repouso até chegar a ti,¹ diz Santo Agostinho. • A criação da mulher da costela do

homem simboliza que ambos te-mos igual dignidade, sem distin-ção de sexo, idade, raça ou grau de educação. Mostra que a uni-dade do casal é a comunhão mais íntima entre as pessoas.

• Deus faz desfilar os animais diante do ser humano para que lhes dê nome, pois dar nome era sinal de poder e de autoridade. Todas as coisas foram criadas para o ser humano, que é responsável por elas, pelo que devemos usá-las com respeito e amor. Nessa verda-de se apoia a ecologia, ou ciência que cuida do equilíbrio da criação.

Busque o Salmo 8, medite-o em seu coração e ore com suas ideias e palavras.

Gn 2,4-5

contra o ouro. 12 (O ouro dessa região é puro; encontra-se ali também o bdélio e a pedra de ônix.) 13 O nome do segundo rio é Geon, e é aquele que contorna toda a região de Cuch. 14 O nome do terceiro rio é Tigre, que corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates.

15 O Senhor Deus tomou o homem e o co-locou no jardim do Éden, para cultivar o solo e o guardar. 16 Deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; 17 mas não comas do fruto da árvore da ciên-cia do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente”.

18 O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar

que lhe seja adequada”. 19 Tendo, pois, o Se-nhor Deus formado da terra todos os animais dos campos, e todas as aves do céu, levou-os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; e todo o nome que o homem pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome. 20 O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves do céu e a todos os animais do campo; mas não se achava para ele uma auxiliar que lhe fosse adequada.

21 Então, o Senhor Deus mandou ao ho-mem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou

GN

68Gênesis 2 22

PERSPECTIVA CATÓLICA

O pecado original rompeu a relação com Deus

Com imagens vivas, próprias de um relato popular, o Gênesis narra como o pe-cado introduz o sofrimento e a morte na criação, onde tudo era muito bom (Gn 1,31). Ao criar o ser humano à sua imagem e se-melhança, Deus estabeleceu uma aliança de amor com a humanidade. O amor nasce livremente do coração e não pode ser força-do; por isso, quando Adão e Eva desobede-cem a Deus, rompem sua relação de amor com ele, cometendo o pecado original, o primeiro pecado da história.

Dessa primeira separação de Deus deriva nossa tendência a usar mal a liber-dade e a não responder positivamente a seu amor. O pecado nos afasta de Deus quando, em detrimento dele, preferimos a nós mesmos, o que traz consequências de sofrimento e morte. Mas o bem e o amor de Deus triunfam sobre o mal, ideia represen-tada na derrota sofrida pela serpente, sím-bolo do mal, por meio de uma mulher (Gn 3,15). Ver símbolo: “A Imaculada”.

Não se deixe abater pelo mal que exis-te ao seu redor, porque Deus enviou Jesus justamente para nos livrar do pecado e dar-nos a vida eterna. Ao contrário, empregue bem sua liberdade; volte sua mente e seu coração para Deus, e sinta-se acolhido pelos braços amorosos do Criador.

Gn 3,1-24

com carne o seu lugar. 22 E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. 23 “Eis agora aqui – disse o homem – o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.” 24 Por isso, o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.

25 O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam.

A culpa original

3 1 A serpente era o mais astuto de to dos os animais do campo que o Senhor

Deus tinha formado. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?”. 2 A mulher respondeu-lhe: ‘‘Podemos comer do fruto das árvores do jardim. 3 Mas do fruto da árvore que está no meio do jar-dim, Deus disse: ‘Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais’.” 4 “Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis! 5 Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhe-cedores do bem e do mal.”

6 A mulher, vendo que o fruto da ár-vore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. 7 Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram fo lhas de figueira, ligaram-nas e fizeram tangas para si. 8 E eis que ou-viram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mu-lher esconde ram-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. 9 Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou-lhe: “Onde estás?”. 10 E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque es-tou nu; e ocultei-me”. 11 O Senhor Deus disse: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da

árvore que eu te havia proibido de co-mer?”. 12 O homem respondeu: “A mu lher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi”. 13 O Senhor Deus disse à mulher: ‘‘Por que fizeste isso?”. “A serpente enganou-me – res pondeu ela – e eu comi.”

14 Então o Senhor Deus disse à ser-pente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e feras do campo; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua

GN

69 Gênesis 4 14

COMPREENDA OS SÍMBOLOSA Imaculada

A imagem da Imaculada é símbolo do triunfo de Deus sobre o mal. Deus prometeu no paraíso que uma mulher humilharia a serpente ao dar à luz seu Filho. Maria é essa mulher, a nova Eva, livre do pecado original desde antes de sua concepção, graças à obra redentora de seu Filho Jesus, que nos liberta do mal e da morte eterna.

vida. 15 Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. 16 Disse também à mulher: ‘‘Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio”. 17 E disse em seguida ao homem: “Porque ou-viste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. 18 Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. 19 Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar”.

20 Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes.

21 O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu. 22 E o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do

bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente”.

23 O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra “de onde havia tirado”. 24 E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden que-rubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida.

Caim e Abel

4 1 Adão conheceu Eva, sua mu lher, e ela concebeu e deu à luz Caim, e

disse: “gerei um homem com a ajuda do Senhor”. 2 E deu em seguida à luz Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim, lavrador.

3 Passado algum tempo, ofereceu Caim frutos da terra em oblação ao Senhor. 4 Abel, de seu lado, ofereceu dos primogêni-tos do seu rebanho e das gorduras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel e para sua oblação, 5 mas não olhou para Caim, nem para os seus dons. Caim ficou extrema-mente irritado com isso, e o seu semblante tornou-se abatido. 6 O Senhor disse-lhe: “Por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante? 7 Se praticares o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se procederes mal, o pecado estará à tua porta, esprei tando-te; mas, tu deverás dominá-lo”. 8 Caim disse então a Abel, seu irmão: “Vamos ao campo”. Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e o matou.

9 O Senhor disse a Caim: “Onde está teu irmão Abel?”. Caim res pondeu: “Não sei! Sou porventura eu o guarda de meu irmão?”. 10 O Senhor disse-lhe: “Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. 11 De ora em diante, serás maldito e expulso da terra, que abriu sua boca para beber de tua mão o sangue do teu irmão. 12 Quando a cultivares, ela te negará os seus frutos. E tu serás peregrino e errante sobre a terra”. 13 Caim disse ao Senhor: “Meu castigo é grande demais para que eu o possa suportar. 14 Eis que me expulsais agora deste lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me um peregrino errante