Dores Íntimas

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  • 7/31/2019 Dores ntimas

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    Lucas Maia

    DORES NTIMASDORES NTIMASDORES NTIMASDORES NTIMAS

    EdiesEdiesEdiesEdies A AAAutogutogutogutoge eeestionriasstionriasstionriasstionrias

    2011, Lucas Maia.

    Capa: Lucas Maia

    Diagramao: Lucas Maia

    1 edio

    (2011)

    Todos os direitos liberados.Esta edio pode ser reproduzida em partes ou no todo

    Desde que se cite a fonte.

    Maia, Lucas

    DORES NTIMAS. Lucas Maia. Aparecida de Goinia, GO:/Edies Autogestionrias, 2011.11p.

    ISBN bl-bl-blei-+-blow

    1.literatura brasileira. 2. Poesia. 3. Autogesto Social.

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    Tropel noturno

    A sombria mancha vermelho-cinza me arruna!Carrego comigo 150 quilos de dores seculares, No meio das quais se dissolvem todos os paresDos amantes que a multido violentamente fulmina.

    Mais uma noite sozinho, preso em milhes de azaresCorro para dentro de mim buscando algo humano.

    S encontro destroos, pequenos fragmentos insulares,Restos de alegria, a loucura dispersa num oceano.

    Mas do tropel da desgraa que violentamente me assola,Da vida que corre pelos trilhos metlicos da morte hediondaBrota oGerminal , como disse muito bem o velho Zola!!!

    Somente agora que o sangue noturno entope minhas artrias,Vejo descer pelas ladeiras da resistncia uma imensa bola,

    Que aumenta de tamanho tal qual um tropel de bactrias.

    E cria, no meio destas estradas funreasUma onda gigantesca de muita vida,Trazendo para si a potncia perdida,Fazendo de si imaginaes areas.

    Da angstia dolorosa do corpo massacrado,Da solido que me afugenta em delrio,

    Da morte que goza no martrio,Do sdico que se regozija ante o encarcerado,

    Da dor solitria que destri o homem atomizado,Da mnada claustrofbica que envolve o indivduoH de reerguer-se em movimento o povo conspcuo,

    H de lutar a multido de forma muito organizada.Tal como um fsforo que pego-o e risco-o,

    Tambm a vida ser por todos ns revolucionada.

    Um soneto a Ernst Bloch

    Para aqueles que percebem no mundo existenteo fio criativo, a tendncia, a esperana.

    Vive Bloch no front , nonovum , s bordas do limiar. No horizonte, no se perde em adivinhao prognstica.Percebe no mundo concreto, existente, a funo utpica .Abre para o pensamento as portas do livre - sonhar.

    No se trata, todavia, de um mero sonho inconsciente.

    uma pulso que bate forte no corao e no esprito,Que no homem penetra, que lhe enraza, que lhe frutfero.Mas do mundo, na verdade, umainda-no-consciente .

    Desenterra da as maravilhas do que ser poderia.Do sonhar acordado , do sonhar para frente ,Apresenta-nos Bloch a necessidade do fim da letargia.

    A liberdade ainda est por ser conquistada,Temos de desejar concretamente a utopiaFabricando-a na construo da vida transformada.

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    Da insuficincia dos livrosJ procurei em tudo quanto lugar Algo que talvez me aliviasse.

    Busca v. Resultou infrutfera.Mudei de emprego, de cidade, de pas...

    No pude, contudo, mudar de universo, Nem muito menos, mudar o cotidiano da vida.

    Tentei refgio nos livros:Li poesia, fico, economia, histria...

    A resposta tambm no estava ali.Conhecer o mundo no mudar o mundo!!!

    Elaborei toda uma interpretaoDa vida, do indivduo, da sociedade...

    Conheci Marx e Freud, Bakunin e Brecht,Simone de Beauvoir e Sartre, Lima Barreto e Mayakovsk.

    Ao l-los, senti-me cada vez mais deslocado.Percebi que h algo errado, vi os anelos da mudana.

    A verdadeira felicidade, a verdadeira vida No se encontra nos textos, nos livros, nos autores.

    Eles so somente a lmpada que iluminam o pensar,Que clarificam o caminho para luta derradeira.

    O fim da minha angstia, da minha incompletudeEncontra-se nica e exclusivamente em minha luta.

    Luta que minha, luta que sua, luta que nossa.Mudar de universo muito pouco. Temos mesmo que mudar o conjunto davida.

    Do tdio moderno

    Pego-me constrito, macilento, arruinado,Sentado no sof, em frente TV.

    Tento sair. Mas para onde?Meu trabalho uma droga. No quero nele estar.

    Devo ir igreja ento?De tanto que j rezei, hoje sou ateu.

    Vou procurar um pouco de lazer...So todos to programados, que me do sono.

    Dizem que consumir no shopping center revigorante...Os produtos so de mim muito vazios.

    Tento um futebol aos finais de semana com os amigos,Uma cerveja no bar preferido.

    Isto at que bom...O problema t-los em horrios determinados por outros.

    Hora de acordar, hora de dormir,Hora de trabalhar, hora de divertir,Hora de lazer, hora de rezar,Hora de estudar, hora de amar.

    Tudo parte do jogo sem graa da maquina social.Funciono dentro dela. No a coloco sob meu jugo.

    Obedeo-a. No a controlo.Estou nela, mas no a vivo.

    A vida modernaS consegue produzir o tdio moderno,A loucura moderna, a insensatez moderna.Enfim, a vida de cada dia a morte de todos os dias.

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    A multido solitria

    O mais triste paradoxo da vida moderna.

    Vivo sozinho, encarcerado em meu castelo residencial.As paredes so muito grossas, no consigo perfur-las.Tenho fobia do mundo, da vida, corro de possveis balas.Vivo na integralidade o suprfluo, o tdio existencial.

    Corro de mim, mas encontro-me sozinho novamente,Procuro por todos os lados, mas no vejo nada fundamental,Somente um monte de pessoas em carter acidental, Nada mais que espectros com os quais vivo cotidianamente.

    Nas ruas da cidade, as paredes so muito mais espessas!!Trombo nos comrcios com uma multido de vermes,Que deslizam lentamente, tais quais silenciosos paquidermes,Que andam sozinhos, sisudos pelas estradas extensas.

    No seio das cidades, onde todos se amontoam,

    V-se uma multido de espectros perdulrios,Sozinhos, isolados, angustiados e solitrios,Deslizam e pelo vulto silencioso escoam.

    Este o maior paradoxo da sociedade moderna, No qual, juntos, os milhes so meros refratrios,Uma onda de mulheres, homens, juntos-solitrios,Espectros, zumbis, andantes da vida hodierna.

    Da incapacidade de amor

    A todos os amantes que insistem em ser felizes

    O amor dos poetas foi sempre algo sublime demais,Uma nuvem tnue que no alcana as pessoas reais.

    De nada vale um amor destes para sermos felizes.Tambm no basta o que oferecem as meretrizes.

    Mas o problema verdadeiro no reside na alma individual, uma fora muito mais ampla, uma relao social.

    O mal do qual padece hoje toda a espcie humanaFoi uma vez expressa naquela mxima hobbesiana.

    Mas se o homem o lobo do prprio homem,Quem o lobo do lobo do homem?

    Se venceu a mentira darwinista da seleo natural,Retornou o homem a ser novamente s animal?

    Se venceu Freud e toda a sua fantasia do dipo,Deixou o homem de ser real, para ser mero arqutipo?

    Pois, se se revigora da competio o capitalismo,O amor torna-se para ele mais um fetiche de consumismo.

    Sendo do homem o amor uma grande potencialidade,Converte-se nos dias de hoje em bem da publicidade.

    Ehhh!!! S haver nesta vida amor verdadeiroQuando o homem decidir mudar o mundo inteiro.

    Melhor dizendo, s haver finalmente amor de verdadeQuando a classe operria construir uma nova sociedade.

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    Ordem mecnica

    O principal libelo de nosso mundo a engrenagem mecnica.Roda nela o ser humano dentro de uma ordem todo tirnica.

    Para produzir uma montanha de inutilidades industrializadasTrabalha o operrio, cotidianamente, em dinmicas rotinizadas.

    Toda a vida que um mundo inteiro de relaes cria simplesmente uma arte administrada contra a alegria.

    Mas a dor da repetio realizada de forma infinita sentida de modo alucinante pela multido aflita.

    E a engrenagem roda muito violenta: dente-a-dente.Em cada vo segundo, tomba mais um homem doente.

    Pois na repetio da rotina infernal sem anistiaVive todo o povo morrendo dia-aps-dia.

    E da mquina que funciona impassvelBrota uma lgica social quase invisvel,

    Que transforma o homem em simples engrenagemDonde ele funciona e as mquinas soberanas agem.

    Hoje reina absoluta e forte dentro da oficinaA mquina, este grande monstro de rapina.

    Mas a mquina somente uma manifestao mecnica

    De homens mecanizados, furiosos, tal qual lava vulcnica.Ahhhh!!! No se sabe hoje em dia quem mais artificial,Se a mquina que domina o homem ou o homem que virou metal.

    Veja outras publicaes em meu blog:http://publicalucasmaia.blogspot.com/

    A mo que produz a riqueza mesma que objeto da misria. Mas em

    contra-partida, mesma que pode gerar a libertao.A mo que produz a riqueza a mesma que objeto de toda a misria.

    Mas em contrapartida, a mesma que pode gerar a libertao.