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DONA SANTA, RAINHA DO MARACATIJ: MEMÓRIA E IDENTIDADE NO RECIFE Isabel Cristina Martins Guillen Tradição e memória nos maracatus-nação. Em 2004, Dona Santa foi a grande home- nageada do carnaval recifense. Rainha do Maracatu Nação Elefante durante muitas dé- cadas, em torno de sua história outras tantas circularam pelos jornais da cidade e entre os batuqueiros, maracatuzeiros, pais e mães de santo. No maracatu-nação Cambinda Estrela, por exemplo, compôs-se uma nova toada: Dona Santa, feiticeira Jurerneira sim senhor. E todo Recife agora Reconhece seu valor.' A presença de Dona Santa, e do Elefan- te na história dos maracatus é bastante co- nhecida, tendo sido referida por Guerra Peixe (1981), Katarina Real (1990) e Roberto Benjamin (2004), dentre outros estudiosos. Considerada símbolo máximo da cultura - Doutora em História e professora do Deparlamento de História da UFPE Recife. E-mail: [email protected] afro-descendente de Pernambuco, e tida como um verdadeiro mito legitimador entre os maracatuzeiros, sua importância não pode ser posta em questão. Nesse sentido, pensamos em tomar sua história como fio condutor para pensar como, na segunda metade do século XX, os maracatus—nação foram postos em cena na cidade do Recife para representar o papel da cultura afro-des- cendente. Esse, contudo, não é um proces- so de mão única, e a toada acima demonstra que a história é re-significada em cada novo contexto, e que uma determinada memória coletiva vem à tona no processo de forma- ção das identidades. Ao mesmo tempo em que os maracatus são julgados, hoje, a partir de seu potencial em gerar mercadorias lucrativas (no campo do entretenimento, e do turismo), são rei- vindicados como expressão de identidade étnica e cultural, demonstrando que esse processo é, acima de tudo, polissêmico, con-

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DONA SANTA, RAINHADO MARACATIJ:

MEMÓRIA E IDENTIDADENO RECIFE

Isabel Cristina Martins Guillen

Tradição e memórianos maracatus-nação.

Em 2004, Dona Santa foi a grande home-nageada do carnaval recifense. Rainha doMaracatu Nação Elefante durante muitas dé-cadas, em torno de sua história outras tantascircularam pelos jornais da cidade e entre osbatuqueiros, maracatuzeiros, pais e mães desanto. No maracatu-nação Cambinda Estrela,por exemplo, compôs-se uma nova toada:

Dona Santa, feiticeira

Jurerneira sim senhor.E todo Recife agoraReconhece seu valor.'

A presença de Dona Santa, e do Elefan-te na história dos maracatus é bastante co-nhecida, tendo sido referida por GuerraPeixe (1981), Katarina Real (1990) e RobertoBenjamin (2004), dentre outros estudiosos.Considerada símbolo máximo da cultura

- Doutora em História e professora do Deparlamento deHistória da UFPE Recife. E-mail: [email protected]

afro-descendente de Pernambuco, e tidacomo um verdadeiro mito legitimador entreos maracatuzeiros, sua importância nãopode ser posta em questão. Nesse sentido,pensamos em tomar sua história como fiocondutor para pensar como, na segundametade do século XX, os maracatus—naçãoforam postos em cena na cidade do Recifepara representar o papel da cultura afro-des-cendente. Esse, contudo, não é um proces-so de mão única, e a toada acima demonstraque a história é re-significada em cada novocontexto, e que uma determinada memóriacoletiva vem à tona no processo de forma-ção das identidades.

Ao mesmo tempo em que os maracatussão julgados, hoje, a partir de seu potencialem gerar mercadorias lucrativas (no campodo entretenimento, e do turismo), são rei-vindicados como expressão de identidadeétnica e cultural, demonstrando que esseprocesso é, acima de tudo, polissêmico, con-

forme analisou Hall (2005). Os maracatussão considerados na atualidade como a ma-nifestação por excelência da cultura popu-lar pernambucana, responsável pela fixaçãoe discussão da cultura afro-descendente noRecife, tanto quanto da cultura regional, oupela pernambucanidade, como é conheci-da por muitos.

Essa complexidade não pode ser enten-dida sem se levar em consideração o pro-cesso histórico que a engendrou, aquicompreendido a partir da análise de doimomentos: um primeiro que abrange a his-tória intrinsecamente relacionada dos ma-racatus e de Dona Santa; e o segundo quese refere à criação de uma memória sobrea mesma, e os momentos em que foi reme-morada.2 A morte de Dona Santa em 1962,e o desaparecimento do maracatu Elefanteque teria deixado de desfilar por vontade ex-pressa da rainha antes de morrer, foi recor-rentemente lembrada quando se discutia o"inevitável" fim das tradições e o desapare-cimento de uma cultura "autenticamente"africana.3

Este artigo tem por objetivo apontar al-gumas questões relativas á história de DonaSanta, e como ela se constitui em autorida-de inconteste entre as comunidades de afro-descendentes durante as décadas de 1930a 1960. Para seu pleno entendimento, é fun-damental que se discuta o papel que exer-cia como mediadora cultural, capaz deentretecer as diversas redes sociais dasquais fazia parte: as comunidades de afro-descendentes, os maracatus e terreiros, osgrupos de intelectuais que conhecia e comquem se relacionava a partir de sua posi-ção como rainha: jornalistas, escritores, pes-quisadores etc. Para que possamoscompreender a forma como Dona Santaentretece essas redes, é fundamental per-correr uma discussão teórico-metodológicasobre o papel do indivíduo na história, so-bre as possibilidades do fazer biográfico.Dona Santa, biografia e história.

O interesse renovado pela biografia nasúltimas décadas pode ser apontado como o

resultado de um profícuo debate sobre opapel do indivíduo na história, problemati-zando sua liberdade de ação frente às nor-mas ou estruturas sociais. Muitas dessasquestões dialogam com um movimento maisgeral que envolve as ciências sociais nocontexto de "crise de paradigmas", ou seja,são questões ensaiadas desde a década de1970 na historiografia em âmbito mundial. Amicro-história, que não vamos aqui tratarcomo uma tendência, ou um género, masum exercício historiográfico, tem levantadouma série de questões acerca dos indivídu-os na história, a partir da construção de al-gumas 'biografias", a exemplo de CarioGinzburg, em O queijo e os vermes, e Nata-lie Davis em O Retorno de Martin Guerre.Ao narrar a história do moleiro friulano denome Menochio, vítima da inquisição noséculo XIV, Ginzburg (1986) nos fornece pis-tas de uma cultura popular a que, de outraforma, talvez nunca tivéssemos acesso.Para Ginzburg, Menochio, em alguns mo-mentos se parece com um homem comonós, e em outros, muito distante de nós. Oexercício biográfico proposto pelo historia-dor italiano busca dar conta da reconstru-ção analítica dessa diferença. Nesse mesmomovimento encontra-se o trabalho de Nata-lie Zemon Davis, intitulado O retorno deMartin Guerre, (1987) em que a historiado-ra norte-americana exercita a capacidade delidar com o contexto e suas possibilidades,e o acontecido, ou evento. A magnífica his-tória de Martin Guerre permitiu a Davis en-saiar as possibilidades que eram dadas paraum indivíduo viver naquela época. Ao mes-mo tempo, o maravilhoso livro de Davis éum excelente ensaio sobre as liberdades,as escolhas e as estratégias que os indiví-duos desenvolviam diante de contextos,adversidades etc.

Tais trabalhos colocam em relevo a re-presentatividade do homem comum. Ginz-burg (1986, p. 16) afirma que "alguns estudosbiográficos mostram que um indivíduo medí-ocre, destituído de interesses por si mesmo- e justamente por isso representativo - pode

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memória eidentidade

no Recife

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ser pesquisado como se fosse um microcos-mo de um estrato social inteiro num determi-nado período histórico." A vida de umindivíduo comum não só nos permite estudaruma individualidade específica, mas ao mes-mo tempo se nos apresenta como uma viade acesso à cultura popular daquela época.Desse modo, o exercício biográfico tem pro-piciado aos historiadores, através dessespersonagens, vias que possibilitam a com-preensão de contextos e questões mais am-plas, bem como tem se mostrado, comoafirmou Giovanni Levi (1992; 2000;2001),aberto a todo tipo de problemas, o que é, paraquem não tem medo das incertezas do pen-samento, bastante saudável. E tem aponta-do questões, algumas delas bastantecomplexas, acerca das abordagens teóricassobre as estruturas sociais.A reconsideraçãodas análises e dos conceitos relativos à es-tratificação e à solidariedade sociais nos in-duz a apresentar, de modo menosesquemático, os mecanismos pelos quais seconstituem redes de relações, estratos e gru-pos sociais. A análise da maneira pela qualse fazem e desfazem as configurações soci-ais levantam uma questão essencial: comoos indivíduos se definem (conscientementeou não) em relação ao grupo ou se reconhe-cem numa classe?

Uma outra questão essencial refere-seà relação entre normas e práticas, ou seja,a biografia tem permitido apontar o papel dasincoerências dentro das próprias normas noseio de cada sistema social. Nas palavrasde Levi (2001, p. 45) "nenhum sistema nor-mativo é suficientemente estruturado paraeliminar qualquer possibilidade de escolhaconsciente, de manipulação ou de interpre-tação das regras, de negociação." Nessesentido, a biografia se apresenta como "ocampo ideal para verificar o caráter intersti-cial - e todavia importante - da liberdadede que dispõem os agentes e para observarcomo funcionam concretamente os sistemasnormativos que jamais estão isentos de con-tradições." É importante evitarmos abordara história a partir de um esquema único de

ações e reações, mostrando que a reparti-ção desigual do poder, por maior e maiscoercitiva que seja, sempre deixa algumamargem de manobra para os dominados osquais podem, então, impor aos dominantesmudanças nada desprezíveis.

Não podemos deixar de considerar, pos-tas as questões acima, a racionalidade atri-buída aos atores. Quando pensamos noshomens, há uma tendência arraigada a com-por os personagens com um determinadotipo de racionalidade, mais dada ao funcio-nalismo e à economia, como se fossem ato-res perfeitamente informados, como setodos os indivíduos tivessem as mesmasdisposições cognitivas e obedecessem aosmesmos mecanismos de decisão ou agis-sem em função de um cálculo de lucros eperdas. O exercício biográfico tem permiti-do pensar a relação entre a racionalidadeindividual e as condutas coletivas, sem quea primeira fique inteiramente subsumida àsegunda, questão essa que nos remete, ain-da, para uma reflexão sobre os processosde mudança e a capacidade transformado-ra do indivíduo. Para todo indivíduo existeuma considerável margem de liberdade quese origina precisamente das incoerências edos confins sociais e que suscita a mudan-ça social. As ações dos indivíduos não po-dem ser consideradas irrelevantes, pois orisco, não banal, é o de não poder pensaros limites da dominação e do poder.

E o que Dona Santa pode nos dizer so-bre essas questões tão importantes? Sobrea vida da rainha do Elefante pouco se sabealém de dados bastante genéricos e con-troversos sobre a data de seu nascimento esobre a condição de sua família (libertos ounão, africanos ou crioulos), seu casamentocom o segundo sargento da Polícia MilitarJoão Vitorino e sua eleição como rainha domaracatu Leão Coroado, ainda muito moça.Na história de Dona Santa, a tarefa maisdifícil para o historiador é conseguir separaros dados históricos, propriamente ditos, damemória que sobre ela se criou após suamorte, que a celebra como a matriarca dos

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rnaracatus e dos terreiros do Recife, É nes-se sentido que este artigo se propõe a ana-lisar sua atuação nas décadas de 1930 a1960, não só porque temos uma produçãodocumental de maior significado, mas porconsiderarmos que é nesse período, quan-do fica viúva, que Dona Santa ganha liber-dade para firmar essa tão propaladaautoridade. Aquele é o período em que trans-formações culturais de vulto ocorriam nopaís, acerca das percepções sobre a cultu-ra afro-descendente; e a atuação de DonaSanta na cidade do Recife, como mediado-ra cultural de incontestável qualidade, podenos fornecer indícios de como os indivíduosdas camadas populares não se mostrampassivos diante das questões nacionais,mas têm, sim, contribuído para sua mudan-ça. Trata-se, portanto, de pensar como, aoconstruir sua autoridade entre os afro-des-cendentes e os intelectuais da cidade, DonaSanta contribuiu para transformar as repre-sentações construídas em torno dos mara-catus e dessa cultura tida como de origemafricana de modo mais amplo.

Para que se possa entender como Santaconstruiu sua autoridade, é preciso que seformulem algumas questões relativas ás dis-cussões de gênero e poder. Quando o mari-do de Dona Santa, Vitorino, foi escolhido paraser rei do Elefante, Dona Santa teria renunci-ado ao "cetro" do Leão Coroado para acom-panhá-lo. No levantamento documentalefetuado nos jornais das décadas de 1920 e1930, quase nenhuma referência se encon-tra sobre a rainha, até a morte de seu mari-do. Ao contrário, na documentação policial,Vitorino se apresenta como ditador perpétuodo Elefante! Nós só a encontramos no co-mando do Elefante no final da década de1930, e é como presidenta do maracatu quese apresenta às autoridades policiais, con-forme consta no prontuário do Elefante noDOPS. 1 Portanto, Dona Santa ganha visibili-dade num determinado período da história dacultura afro-descendente no Recife que nãose pode deixar de considerar. Concomitante-mente devemos considerar que este é um

período em transformações de monta estãoocorrendo, Vejamos o contexto histórico emque se deu essa transição.

Nos anos finais do século XIX e aden-trando as primeiras décadas do século XX,assistimos no Recife um formidável teatro decontrole social em que as ruas da cidade ediversos tipos de divertimentos populares setransformam em cenário para as mais dra-máticas ocasiões para a encenação de con-frontos e conflitos. O carnaval se encontra noepicentro desta questão, e é em torno de suanormatização - visando controlar a "turba in-civilizada" - que giram os debates, 1 0 car-naval vai se constituindo como um palco emque blocos, troças, maracatus e caboclinhossão instados a desfilar ordeira e civilizada-mente em espaços determinados da cidade,seguindo traçados pré-estabelecidos e sen-do posteriormente agraciados com prêmiose taças, enquanto a população é instada acomprovar pelo voto aqueles que melhor se-guiam as regras. Essa discussão estava as-sentada numa imagem de que muitas dessasmanifestações nada mais eram do que mo-mentos propícios para a explosão da violên-cia, provocando brigas e arruaças.

Os maracatus estavam no epicentro des-sas representações. Desde meados do sé-culo XIX foram criadas posturas municipaisque objetivavam controlar os momentos dedivertimento dos negros, pois estes eram pro-pensos a violências e arruaças. Os maraca-tus aparecem por diversos anos nas páginasdo Diário de Pernambuco como "coisas denegros incivilizados" e que incomodavam os"cidadãos de bem" (Mala, 1995). Um dessesfamosos "arruaceiros" era o valente Adama,do Maracatu Oriente Pequeno, atuante noinicio do século XX e sobre quem sabemosmuito pouco, mas que desconfiamos dessesestereótipos socialmente construídos, confor-me discutiu Lima (2006).

A década de 1930, marcada por umacomplexa ambigüidade, é considerada de-cisiva para se entender as transformaçõesque se seguirão. Até então, diversas mani-festações da cultura afro-descendentes

Dona Santa, rainhjdo maracaru:memória eidentidaderio Recife

Isabel Gulilen

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memória eidentidadeno Recife

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eram constantemente alvo de críticas, con-sideradas bárbaras e incivilizadas, e que asautoridades deveriam tomar providênciaspara seu pleno desaparecimento, já que aelite cultural desejava acima de tudo, umpaís branqueado, que se pudesse espelharna Europa. Assim o maracatu e o catimbó(religiões afro-descendentes com a juremae os orixás) eram alvos certeiros de jorna-listas quando se tratava de criticar as "coi-sas de negros" que ainda teimavam emexistir. A tônica geral recaía sobre a repres-são, objeto de cuidados policiais.

Mas essas coisas começam a mudarpaulatinamente. Mesmo que não possamosapontar um momento específico, responsá-vel pelas transformações que ocorrerão, em1933 assistimos no Recife à realização do 1CongressoAfro-Brasileiro, e em sua progra-mação o maracatu ganha visibilidade entreos intelectuais participantes de uma formapositiva, coisa que até então nunca tinhaocorrido. O mesmo ocorria em relação àsreligiões, que começaram a despertar inte-resse genuíno entre os membros da equipede Ulisses Pernambucano de Mello, e o tra-balho que desenvolveram a partir da Assis-tência aos Psicopatas. Pela primeira vez noRecife, ainda que eivado de muitos precon-ceitos, um saber começa a ser construídoem torno da cultura afro-descendente, com-provada na publicação de muitos trabalhos,dentre os quais se destaca o de GonçalvesFernandes (1937).

Ao mesmo tempo em que podem serapontados indícios de valorização das con-tribuições culturais dos negros para a cons-trução da cultura brasileira, este não era ummovimento de mão única, pois havia aque-les que pretendiam ainda construir um Bra-sil branco, ou pelo menos o mais mestiçopossível. Durante o governo de AgamenonMagalhães, por exemplo, assistiu-se à vio-lenta perseguição às religiões afro-descen-dentes e mais de uma centena de terreirosforam fechados sob o pretexto de que setratava de charlatanismo e superstição.Muitos terreiros faziam sua obrigações dis-

farçados de maracatus, firmando a associ-ação entre maracatus de baque virado ereligiões afro-descendentes. Mas não forambons anos para essas manifestações. Emrelação ao carnaval e ao controle acima re-ferido, em 1935, cria-se a Federação Car-navalesca que durante o Estado Novo, ou ogoverno de Agamenon Magalhães, tem porobjetivos determinar regras e normas paraum carnaval aceitável. Atal ponto a Federa-ção teria exercido controle sobre as manifes-tações carnavalescas (e não só para osmaracatus) que em 1947, nas páginas dosjornais da cidade do Recife podemos acom-panhar o debate sobre o "excesso" de con-trole que a Federação exercia sobre a foliacarnavalesca. Gilberto Freyre já podia se oporà Federação em favor de um carnaval "es-pontâneo" e popular, raiz da "autêntica" cul-tura pernambucana, pois então não mais oscapoeiras acompanhavam as brincadeirasprovocando arruaças 1 e a violência se expres-sava em outros contextos simbólicos.6

Em meio a essa diversidade e disputas,alguns mediadores culturais tiveram papeldestacado na construção de uma identida-de cultural que preservasse espaço para asmanifestações afro-descendentes. E DonaSanta foi, sem dúvida, uma delas.

Para uma diversidade de cronistas e li-teratos que escreveram sobre o maracatu,além de o apontarem como um "brinquedode carnaval", onde reis e rainhas represen-tavam uma inocente e momentânea inver-são das hierarquias sociais, todos ossímbolos reais que constituem o maracatu(coroa, cetro, pálio) são tidos como meroaparato cênico. Terminado o carnaval, reise rainhas perdem a majestade e voltam aser plebeus, mais precisamente negros con-tidos nos mocambos da periferia da cidade.

"Que convicção - a desses reis de men-tira, labutando a vida inteira, trazendoainda na pele requeimada as lanhadasdos seus antigos senhores! Só nessestrês dias de Momo são felizes. Felizesporque tem a ilusão do mando, a ilusãode que podem, de que são senhores.Tristes e ingênuos diabos!"7

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São representações que, de certo modo,criam os maracatus como tradição, ou seja,como folguedo folclórico em que os significa-dos dessas práticas encontram-se perdidosno tempo, inocentando-as, infantilizando-as,Como se tais práticas culturais não mais ti-vessem significados para seus praticantes,como se não fossem capazes de criar vincu-lações identitárias, ou mesmo suportar redessociais nas quais os afro-descendentes sereconhecessem. 8 Thompson nos alerta paraas dificuldades dos foicloristas ingleses emultrapassar as fronteiras de classe, em cap-tar os significados simbólicos das práticas queconsideravam reminiscências de um outrotempo. Com sua clássica ironia afirma: "Asformas fraturadas sobreviviam, e a gente ig-nara as repetia mecanicamente, como so-nâmbulos, sem noção alguma de seusignificado, ou talvez, como nos rituais deri-vados dos cultos de fertilidade, com uma acei-tação subconsciente e intuitiva."' Asemelhança com os foicloristas pernambu-canos do início do século XX não é mera co-incidência, uma vez que compartilham dosmesmos pressupostos classistas.

Contudo, quando se trata de Dona San-ta, não a encontramos representada comouma farsa momesca. Ao contrário, é tida comorainha de fato, autoridade inconteste entre osmaracatuzeiros e intelectuais, amada e res-peitada por muitos recifenses que viveramnaqueles anos de 1950 e 1960. E mais, re-presentada como a matriarca do povo afro-descendente e grande sacerdotisa (tanto doxangô como da jurema). Do início do séculoXX às décadas que consolidam Dona Santacom sua autoridade real, as representaçõesem torno do maracatu mudaram. É precisoconsiderar que Dona Santa ganha visibilida-de como rainha do maracatu Elefante emmeio a um complexo amálgama de questõesque tinham como pano de fundo certa defini-ção de qual seria a identidade nacional, paraa qual os negros tinham contribuições signifi-cativas que precisavam ser reconhecidas.Dona Santa, ao que tudo indica, soube comopoucos encontrar seu lugar em meio a esse

debate, representando ao mesmo tempo oque de mais tradicional havia na cultura afro-descendente, sem que deixasse de contribuirpara a constituição da identidade regional,marcando as diferenças entre o regional e onacional. Se ela sabia disso? Difícil dizer, masfoi assim representada por diversos intelec-tuais, a partir das mídias também as mais di-versas possíveis: fotografia, cinema, contos,reportagens jornalísticas, etc. O mito DonaSanta se constrói nesse entretecer entre in-divíduo e redes sociais, entre práticas e re-presentações. Mas temos uma certeza: DonaSanta não se manteve passiva nesse proces-so. Suas ações precisam ser analisadas.

Dona Santa, mediadoraentre mediadores.

Assistimos na década de 1930, um pro-cesso de transformação urbana na cidadedo Recife que levou à fixação das comuni-dades de afro-descendentes (maracatus,terreiros de xangô e jurema, dentre outras ma-nifestações da cultura popular), em sua gran-de maioria, na zona norte do Recife, aindapouco povoada e com ampla disponibilidadede terrenos. 10 Este é um processo em quetambém começa a se perceber as distinçõessociais que se reproduzem espacialmente,com a fixação de bairros considerados de eliteou de classe média, como Madalena, Torre,Casa Forte, enquanto que a região centralda cidade se configura quase que exclusiva-mente como espaço público, destinado aabrigar as instituições do poder público, ocomércio, bem como diversos serviços. Obairro de São José, em função dessa remo-delação urbana, gradativamente deixa de serhabitado para se tornar lugar quase que ex-clusivo de comércio e prestação de serviços,principalmente nas ruas que circundam omercado de São José.

E nesse movimento de expansão urbanae formação da zona norte da cidade que oMaracatu Elefante se muda da Bela Vista paraPonto de Parada. Nas lembranças de mestreZezinho, morador do Alto Santa Isabel, omaracatu era uma referência naquela região:

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no Recife

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Era em Pohto de Parada, atrás da usinavelha. E o maracatu de Dona Santa, oElefante, ficava encostado na usina ve-lha, dá na frente daquele canal do Arru-da, mas naquele tempo não tinha aquelecanal não, era tudo barraco.'

O Elefante, e Dona Santa, foram respon-sáveis pela formação e consolidação de umacultura do maracatu entre as décadas de1940-1960, formando batuqueiros, a exem-plo do senhor Aprígio, também morador doAlto Santa Isabel. Aprígio, em suas memóri-as, pouco se lembra de Dona Santa, mas oElefante marcou sua vida:

Eu nasci em Ponto de Parada, junto doMaracatu Elefante. Dona Santa era mi-nha madrinha de batismo mesmo. Elaandava no jipe. E a pessoa que andavacom o lampião era eu, era pequenininho.Eu batia pequenininho, batia num bom-binho desse tamanhinho, aonde euaprendi a bater maracatu foi no Elefan-te, com Gobá, Zé Magrinho, um bocadode pessoas que a gente esquece, fazmuitos anos nó... mas o Gobá era umcara que batia três ilus, ele sozinho. E obombo mestre era dele, o dono do bom-bo mestre era ele, sabe. Daí vim praaqui... ai minha avó saia lá no maracatu,a gente ia sempre pra Ponto de Parada,meu pai, minha mãe e minha avó brin-cava lá. A gente freqüentava o maracatuElefante. 2

Apesar das rivalidades comuns entre osmaracatus, como a clássica rivalidade en-tre Dona Santa e mestre Luiz de França, doMaracatu Nação Leão Coroado, havia tam-bém espaço para a sociabilidade entre osmaracatuzeiros de outros maracatus, umavez que quase todos tinham sua sede naregião. Nas memórias de Dona Leinha, fi-lha do fundador em 1935 do Maracatu Cam-binda Estrela situado no Alto Santa Isabel,Dona Santa é lembrada com grande respei-to. Dona Leinha era jovem naqueles anosde 1940, e em suas lembranças sobressaia festa de aniversário do Elefante como ummomento de grande congregação entre asvárias comunidades de afro-descendentes:

Aqui naquela época só tinha mais o (ma-racatu) de Dona Santa. Sempre ela vinhaai pro Campo do Universo, ai a gente iaolhar. Todo ano ela mandava um convite,que era o aniversário do maracatu. 15 denovembro, Do dia 14 para o dia 15 a gen-te do maracatu, a gente ia passar a noitetodinha lá, na sede do Elefante. Que agente ia pro aniversário, nó, do Elefante,então a gente passava a noite todinha, aiquando era de madrugada botava aquelepovo pra dançar linha muitos comes ebebes, essas coisas. Quando dava qua-tro horas, quatro e meia a gente vinhaembora. Todo ano a gente ia, todo anofazia essa festa do Elefante.

A festa de aniversário do Elefante era umaocasião única, que congregava membros dediversas manifestações da cultura popular,não só de maracatus! Essa festa esta pre-sente nas lembranças de todos que conhe-ceram a rainha. Dona Santa, ao que tudoindica, caprichava na festa, fazia questão deconvidar a todos, fossem maracatuzeiros oujornalistas, batuqueiros ou músicos! A festade aniversário do Elefante, sua longa perma-nência na memória das pessoas, nos mostraa habilidade de Dona Santa em entreteceressas redes sociais, aproximando mundos,como urna autêntica mediadora cultural. Esteera um dos momentos em que Dona Santanão só demonstrava sua autoridade e inser-ção entre os afro-descendentes, mas aproxi-mava essas comunidades dos mediadoresculturais oriundos da elite.

O maestro César Guerra Peixe, em seuacervo, preservou uma carta escrita porDona Santa, em papel timbrado do Elefan-te, em que podemos comprovar o cuidadoque a rainha conferia à festa, demonstran-do também ter plena consciência de suaimportância enquanto evento mediador.Nessa carta, com toda a humildade que seuposto lhe permite, e o manejar suave da lín-gua portuguesa propicia, Santa pede aomaestro que então era o responsável pelaorquestração de diversos programas naRádio Jornal do Commercio, ao mesmo tem-po em que freqüentava o Elefante para es-

tudos musicais, que divulgue, anuncie narádio a realização de sua festa. Essa é a"ajudinha" que precisa do maestro, confor-me escreve na carta. Dona Santa sabia daimportância de sua festa, e sabia como re-correr aos intelectuais e outros membros daelite para criar situações que lhe favorecem.Como uma autêntica mediadora cultural.

O que é o mediador cultural? A historio-grafia tem se dedicado à questão da media-ção cultural a partir de diversos enfoques,mas pode-se resumir a questão levando emconta alguns fatores essenciais, Como me-diador cultural pode-se considerar aquelaspessoas que favorecem transferências e di-álogos entre dois universos, situando-se nocentro de uma extensa rede social, cujasações podem provocar redefinições identi-tárias. Evidentemente que esses traços de-vem considerar que cada momento históricoe cada situação cultural condicionam aemergência de diferentes tipos de media-dores culturais. Este tema, bastante presen-te na historiografia contemporânea, pode seracompanhado nos debates sobre o hibridis-mo e mestiçagem cultural (Canclini, 1998;Gruzinski, 2001). Para nosso caso especifi-co, algumas formulações tornam-se impres-cindíveis: é a condição social de umindivíduo que o converte em mediador; usão suas qualidades pesso&s.qu o colo-cam na posição de mediação em determi-nados contextos?13

Com Qagentes de mudança, é necessá-rio considerar que, como postula Barth(2000), esses mediadores podem exercerum papel decisivo na redefinição de identi-dades étnicas, e os traços que mantêm asfronteiras étnicas podem se transformar. Noconstante refazer das identidades culturais,o mediador cultural é aquele que permite oacesso a novos códigos, aquele que, comodefiniu Walter Benjamin, é capaz de exer-cer a função de tradutor, aproximando mun-dos distintos, estabelecendo comunicação."

A legitimidade da rainha do Elefante en-tre as comunidades de afro-descendentes éinconteste, como se afirmou anteriormente.

No entanto, para compreender o sucesso deDona Santa na "cena" cultural pernambuca-na dos anos 1940-1960 é necessário intro-duzir uma série de questões que visam aquebrar uma visão homogênea e hegemóni-ca sobre a cultura popular. O sucesso deDona Santa é da responsabilidade de umasérie de mediadores culturais que a elevama símbolo máximo da cultura popular pernam-bucana, bem como da própria rainha quedessa forma não só adquire trânsito entresetores da elite, ampliando seu poder e re-presentação para além do Maracatu Elefan-te, sem deixar de atuar em benefício deste)5Nesses anos, encontramos, invariavelmen-te, o maracatu Elefante a apresentar-se emquase todos os eventos em que autoridadesou celebridades participavam ao visitarem oRecife, O Elefante e sua rainha eram quaseque, oficialmente, 'o" maracatu.

Dentre esses mediadores culturais quese encarregaram de aproximar a culturapopular da elite pernambucana, encontra-se o pintor Lula Cardoso Ayres, um dos gran-des responsáveis pela divulgação daimagem de Dona Santa, ao publicar suasfotografias na revista Contraponto, em 1946,bem ,corno gravuras e quadros que, ao lon-go dos anos, produziu ao tomar o maracatucomo um de seus temas mais recorrentes.O auge da produção de Lula ocorreu nosanos 1940, contribuindo para que a imagemde Dona Santa se tornasse muito conheci-da na cidade (Guillen, 2003). Nacionalmen-te, Dona Santa foi objeto de uma magníficareportagem da revista O Cruzeiro, em 1947,com fotos de Pierre Verger e texto de Odori-co Tavares, 15 sem falar em inúmeras repor-tagens publicadas em jornais, nas quais oElefante e Dona Santa se consagram comosímbolos da mais tradicional manifestaçãoda cultura popular pernambucana. O Mara-catu Elefante e sua rainha também apare-cem no filme de Alberto Cavalcanti, O cantodo mar, de 1953.

Entre os maracatuzeiros, é importanteressaltar que Dona Santa vai se constituindocomo autoridade, por sua senioridade, uma

Dona Sinta, rainhado maracatu:memória eidentidadeno Recife

Isabel Guilien

ROI

Dona Santa, rainhado maracatu:

memória eidentidadeno Recife

Isabel Guilien

vez que contava já com setenta anos ou mais,por suas relações nas redes de sociabilida-de das comunidades de afro-descendentesnão só coma rainha, mas como mãe-de-san-to e juremeira afamada. Sua autoridade nãose devia apenas à visibilidade (poderíamosaté dizer fama) que alcançou não só na cida-de do Recife, mas também no país.Em re-portagens publicadas em jornais diversosdurante a década de 1950, um tema em tor-no da rainha começa a ganhar corpo e subs-tância: o matriarcado de origem africana.Quando morre, em 1962, está consolidadaessa imagem de autêntica matriarca, comose sua autoridade daí adviesse.

Esta é uma questão bastante espinho-sa na literatura afro-descendente brasilei-ra, ainda não enfrentada em todos seusdesdobramentos, seja do ponto de vista te-órico-metodológico, seja do ponto de vistadas representações que criou a respeito dacultura afro-descendente. Acredito que ahistória de Dona Santa nos permite pensaro quanto a utilização do conceito de matri-arcado, visto em um determinado contextohistórico, está perpassado por questõesidentitárias, bem como agencia uma sériede aparatos que buscam fixar essas iden-tidades, homogeneizá-las. Dizer ao negro,e á negra, como eles e elas devem ser,quais os lugares a ocupar, como se com-portar etc."Dona Santa, mulher negra e matriarca?

As pesquisas efetuadas em torno da his-tória dos maracatus-nação apontam no sen-tido de rever essas questões de matriarcado,que fixam as posições de gênero, etnia eclasse, para abrir essas relações em suasmúltiplas facetas identitárias, buscando com-preender como essas inter-relações se cons-tróem, historicamente. O poder de DonaSanta, sua legitimidade, autoridade e trân-sito político-social só podem ser compreen-didos como uma construção histórica emque a posição da rainha nas comunidadesde afro-descendentes no Recife não podeser dissociada de seu trânsito entre outrossegmentos sociais 1 bem como a visibilida-

de que adquire, ou lhe é conferida por umasérie de mediadores sociais, no seu papelde rainha e matriarca dos negros e negrasdo Recife.

Em primeiro lugar, chama a atenção o fatode que Dona Santa ganha visibilidade apósa morte de Vitorino, seu marido e diretor doElefante. Assim, a clássica posição de DonaSanta que, após enviuvar, ganha liberdade epoder, assoma como argumento, e não deveser descartada de todo. Não temos, no en-tanto, como esclarecer essa questão, umavez que não há documentação que nos per-mita compreender a dinâmica social internadas comunidades de maracatuzeiros nas pri-meiras décadas do século XX. A questão so-bre se as mulheres negras desse períodoteriam visibilidade é sempre posta em nossohorizonte 1 lembrando que mesmo para mu-lheres de outras etnias e raças, desempenhardeterminados papéis, aparecer socialmente,com legitimidade para além dos papéis clás-sicos de esposa e mãe, não era tarefa fácil.Contudo, não é suficiente afirmar que a legi-timidade de Dona Santa advinha de sua con-dição de viúva, pois essa legitimidade nointerior do Elefante não ocorreu exclusiva-mente por extensão da de Vitorino. E precisobuscarem Santa os motivos intrínsecos á suapessoa e que a legitimaram. Sua individuali-dade não pode ficar subsumida às relaçõespolitico-sociais que a conformaram historica-mente. Essa é, no entanto, uma questão queconfirma os limites do trabalho do historia-dor, já que não há depoimentos de Santa,apenas testemunhos orais dos que com elaconviveram, em grande maioria, filtrados namemória por inúmeras outras questões sub-jetivas e sociais. A subjetividade de Santa nãonos é dada, mas nem por isso devemos des-considerar essa questão ao buscar compre-ender sua construção histórica.18

Em segundo lugar, a historiografia temapresentado, como argumento para enten-der o poder de algumas mulheres negras, opapel da "senioridade", da experiência. Essenão é em si um atributo suficiente para com-preender o poder de Santa, pois não pode-

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mos afirmar que todas as mulheres negras evelhas recebessem tratamento similar ao quea rainha recebia. O argumento pode ser váli-do em alguns casos, quando essas mulhe-res se destacavam entre o povo do santo,por exemplo, pois aquelas que tinham maiorexperiência, independente de sua idade, con-tando, aqui, o tempo de feitoria, as obriga-ções feitas, tinham maior respeitabilidade. EmPernambuco, não obstante, diferentementeda Bahia, e no Tambor de Mina no Maranhão,as linhagens femininas não são predominan-tes nas grandes e tradicionais casas (ou pelomenos naquelas que adquiriram visibilidadee legitimidade como casas tradicionais). Aocontrário, convivem no Recife diferentes tra-dições com relação às linhagens e sucessãoentre as casas de santo. Os terreiros do Sítiode Pai Adão e o terreiro de Raminho, porexemplo, constituem linhagens masculinas,enquanto que algumas mulheres adquiriramgrande notoriedade por sua autoridade reli-giosa, como as tias do Terço, Mãe Lidia, MãeBiu (Xambá). 19 Não é o caso de Dona Santa,cuja fama e notoriedade não se deveram, porextensão, à sua posição de mãe-de-santo,ainda que fosse afamada e reconhecida, etivesse muitos(as) filhos(as) e afilhados(as).Não se pode afirmar, no entanto, o contrário,que sua posição se devia exclusivamente àcondição de rainha do maracatu mais antigoda cidade.

Tais considerações servem como lembre-tes com vistas a se tomar precauções funda-mentais: é preciso entender Santa, a rainhado maracatu, como uma construção dialéticaem que se deve considerar uma diversidadede elementos, nem todos bem posicionados,sobre os quais só dispomos de documenta-ção indiciária. Muitas questões ficarão semrespostas, mas é acima de tudo fundamentalque possamos formulá-las, para que os indí-cios de que dispomos possam nos apontarcaminhos a trilhar, possibilidades a pensar.Nessa construção dialética, nunca pronta eacabada, é fundamental que consideremostrês elementos: a posição de Santa, constru-ída entre os membros das comunidades de

afro-descendentes (o maracatu Elefante, ou-tros maracatus, filhos(as) e afilhados(as), eas casas de santo com as quais se relacio-nava, como por exemplo, o sítio de Pai Adão):sua relação com os de "fora", com a "socie-dade envolvente", ou seja, intelectuais, foI-cloristas, jornalistas, fotógrafos, artistas,políticos, profissionais liberais e demais me-diadores sociais da elite intelectual do Reci-fe, que contribuía fortemente para posicionarDona Santa como a matriarca dos negros: epor último, a individualidade de Santa, os tra-ços que a distinguem como pessoa, sempreque a documentação permita, devem sercon-siderados, bem como sua capacidade de ar-ticular essa diversidade, bem como a formacom que o faz.

Assim definido, implicitamente, afirma-mos que a posição de Dona Santa não éum dado da cultura afro-descendente (ma-triarcado) que a fixa num lugar sócio-cultu-ral, mas que esse lugar é o resultado de umainteração dialética que pressupõe levar emconsideração a relação sujeito e organiza-ção social (não entendida como homogêneaposto que resultado, por sua vez, da intera-ção das comunidades de afro-descenden-tes com a "sociedade envolvente"). Dessarelação, para nossos propósitos, é funda-mental considerarmos a atuação dos medi-adores culturais - e não só a elite intelectual,mas muitos outros maracatuzeiros cumpremesse papel, a exemplo de Luis de França,do Maracatu Leão Coroado - que criaramuma série de representações de Dona San-ta que, apesar de não serem homogêneas,são sim o resultado de uma convergênciade relações de poder que conformam umaposição dominante, símbolo da africanida-de e do poder matriarcal. Essa posiçãoemerge como natural, como dado da cultu-ra. Emerge acima de tudo como tradição,como se sempre assim o tivesse sido, ocul-tando o processo quase sempre conflituosoe divergente que fez emergir Dona Santacomo ícone da cultura afro-descendente noRecife, e a atuação destacada da rainha naconstrução de seu lugar social.2°

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Para além de uma crítica ao matriarca-do, e sua utilização conceitual nas ciênciassociais, é imprescindível discutir as reper-cussões históricas dessa "contribuição cien-tífica", mas nem por isso neutra. Omatriarcado foi, a meu ver, uma categoriaque justificava como naturais as criaçõesdiscursivas, culturais, sociais e políticas dosintelectuais que a utilizaram. Utilização essaque agenciou discursos, representações esímbolos que confluíram em posiçõeshegemónicas, contribuindo para a fixaçãode determinados 'papéis", os quais as co-munidades afro-descendentes "deveriam",portanto, representar. Uma dessas represen-tações centrais, e que pode ao mesmo tem-po ser apresentada como uma críticacientífica ao matriarcado, remete a um ou-tro conceito: o de família e das relações deparentesco. Às representações de matriar-cado acopla-se a idéia de que o universodoméstico e a família fossem o fundamentoda organização social, como se essa con-junção fosse um dado natural. As posiçõesque afirmam a existência de um matriarca-do entre as mulheres de santo - dentre asquais se destacou Ruth Landes, sem queisto desqualifique seu maravilhoso e arroja-do trabalho -, não consideram que essas co-munidades de afro-descendentes estãoimersas e são constituídas a partir de com-plexas relações sociais, políticas e culturais,muito mais amplas; e por elas, que envol-vem principalmente o mercada de trabalho,e o lugar a que se sujeita o negra(a) comomarginal. Consideremos o poder simbólicoque fixa esses (as) sujeitos(as) a determi-nados lugares sociais e, em conseqüência,determina comportamentos, atitudes, senti-mentos. Trata-se de considerar o processode sujeição dos indivíduos em sua dupla sig-nificação: a que o constitui como sujeito-in-divíduo em suas relações subjetivas esociais, e a que, em conseqüência da pri-meira, o sujeita. Evidentemente, toda ambi-güidade do processo acima referido deve serconsiderada. Como se trata de uma via demão dupla, em que o social e o individual

interagem, é necessário considerar que es-sas comunidades de afro-descendentes eesses indivíduos-sujeitos tinham, e têm apossibilidade de fazer escolhas, determinarestratégias, definir campos de luta, mostran-do-nos que, mesmo não detendo autonomiaplena, esse lugar social e subjetivo é tam-bém o resultado de sua ação. Essas obser-vações buscam, em síntese, discutir acomplexidade dos lugares sociais, que nãosão fixos e.nem são dados, mas permanen-temente construídos pelos sujeitos em inte-ração com uma diversidade de outrasrelações.

Os maracatus-nação constituem, na atu-alidade, um forte ícone da cultura pernambu-cana, principalmente devido à incorporaçãode sua sonoridade na música contemporâ-nea produzida pelas bandas locais, sobretu-do depois de Chico Science e Nação Zumbi.Hoje existem mais de vinte maracatus-naçãoem atuação na cidade, mas se nos reportar-mos ao passado, veremos que houve mo-mentos em que, por muito pouco, nãodesapareceram simplesmente. Nos anos emque Katarina Real fez sua pesquisa (1961 a1965) sobreviviam apenas o Leão Coroado,o Cambinda Estrela e o Indiano. O Elefantetinha deixado de desfilar em 1962, com amorte de Dona Santa, bem como o EstrelaBrilhante, devido a razões não esclarecidas.A respeito de Dona Santa, afirma: "Desapa-rece a "preta velha" - mormente sua impor-tante manifestação sócio-cultural emPernambuco como "Rainha da Nação" - sa-gaz, autoritária, às vezes brilhante, poden-do controlar e fazer obedecer a dezenas dehomens rudes, até desordeiros, e não rara-mente cachaceiros (principalmente os ba-tuqueiros). Com o desaparecimento de DonaSanta, o Recife perdeu uma das últimas re-presentantes desse tipo. Milhares de per-nambucanos, de todas as raças e classessociais chamavam Dona Santa de "MinhaMadrinha" e obedeciam rigorosamente aosseus "comandos"(Real, 1990, p. 68).

Uma determinada memória de Dona San-ta é posta em cena em alguns momentos

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específicos e, com ela, reafirma-se uma tra-dição, uma dada normalização do que "é" acultura afro-descendente e o maracatu. Es-ses momentos são: a incorporação do mate-rial do Maracatu Elefante ao acervo do Museudo Homem do Nordeste, ainda na década desessenta; o centenário de nascimento deDona Santa e a re-fundação do Maracatu Ele-fante no início dos anos oitenta.

D. Santa se transformou num símboloda cultura afro-descendente, e para se ana-lisar a história dessas comunidades, é pre-ciso conjugar uma série de questõesteórico-metodológicas as quais um histori-ador que trabalha com sociedades letradas,inseridas na modernidade, jamais imagina-ria ter que arregimentar. Nessas comuni-dades de afro-descendentes, rapidamenteo passado se faz mito.

Dona Santa constitui hoje um grande íco-ne legitimador, e sua memória é recorren-temente mitificada. Encontramos comfacilidade, entre batuqueiros dos diversosmaracatus da atualidade, aqueles que afir-mam ser afilhados de Dona Santa sem que,no entanto, tenham idade suficiente paraisso. Em quase todas as entrevistas reali-zadas com as rainhas de maracatu da atu-alidade, à exceção de Dona Elda, doMaracatu Porto Rico, observamos uma re-corrente referência à Dona Santa, como seela tivesse o poder para reconhecer uma ra-inha de maracatu e, em conseqüência, ou-tras rainhas devidamente coroadas tambémo teriam. Quando da coroação de Dona Ma-dalena, como rainha do Estrela Brilhante,aparece nos jornais a idéia de que DonaSanta a teria reconhecido como legítima ra-inha.` Em suas memórias, Dona Ivanize,rainha do Encanto da Alegria, assegura a

presença legitimadora de Dona Santa porlembrança da infância remota:

"Meus pais moravam ali em Ponto deParada, junto do maracatu Elefante, nó,que era da finada Santa, então nós mo-rava lá e todo dia quando ela passavaela dava na minha cabeça, essa meninavai longe...'

No âmbito dessa experiência social, for-mas de integração, confronto e negociaçõescolocam questões inusitadas, assim comonos levam a redimensionar categorias soci-ais, como a de cultura popular, considerandoa diversidade das manifestações existentese sua transformação ao longo do período emquestão, bem como a de mulher e negra, seentendermos essas categorias como nãonaturais, e sim historicamente construídas.Procedimento fundamental para a compre-ensão da sua história contemporânea.

Um dos temas cruciais que o estudo dacultura popular aponta, é que essas manifes-tações foram "folclodzadas" num determina-do discurso, des-historicizando-as, como senão fossem o resultado de um complexo pro-cesso de mudanças e permanências, nemmais estivessem inseridas num campo sim-bólico que conferia significados a práticas ecostumes de homens e mulheres que as fa-ziam. Desse modo, trazem inscritas em seufazer as práticas sociais de segregação, daviolência e do cerceamento dos direitos ci-vis, que não podem ocultar. Mas não somen-te isto, pois manifestam, a todo o momento,práticas de resistência, demarcando um ter-ritório de conflitos diversos. Esperamos quea história de Dona Santa tenha contribuídopara compreendermos que, ao fazermos his-tória, muitas de nossas ações individuais fa-zem, sim, diferença.

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Notas

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Toada composta por Ivaldo Marciano de França Lima,mestre do Maracatu-nação Cambinda Estrela.2 Dona Santa morreu, supostamente, com noventa e doisanos, em 1962. Já no final dos anos quarenta encontram-senoticias nos jornais sobre a provável morte da rainha e odesaparecimento do Elefante (e de toda a tradição de queele era o suporte). Ver: MORAIS, Otávio. Encontro com DonaSanta. Diário de Pernambuco, 1010211948; Recife pitoresco.O maracalu Elefante: relíquia viva do Passado. Diário daNoite, 11/0211956 (sobre a noticia que circulou no ano ante-rior sobre a morte da rainha); FRANÇA, Pauto, O maracatuElefante fadado a desaparecer. Diário de Pernambuco, 13/0211955. Em diversas ocasiões, Dona Santa foi rememora-da, destacando-se as exposições organizadas pelo InstitutoJoaquim Nabuco de Ciências Sociais, posteriormente Fun-dação Joaquim Nabuco, que recolheu no acervo do Museudo Homem do Nordeste as peças do maracatu Elefante epertences de Dona Santa. A elaboração de catálogos e aexposição permanente do Elefante no espaço do museu podeser pensada como um lugar de memória no sentido discuti-do por Nora (1993); sobre museus ver também: Clittord(1988); Bann (1994); Abreu e Chagas (2003). É importantelembrar que em 1977, centenário de seu nascimento, DonaSanta foi homenageada na Noite dos Tambores Silenciosos,e tinha sido tema de uma escola de samba (Império Serra-no) no Rio de Janeiro, em 1974.

2 Sobre Dona Santa, Paulo Vianna pode ser tomado comoum dos responsáveis pela circulação e consolidação de umamemória sobre as origens da rainha, principalmente o falode que ela teria sido descendente direta de antigos reisafricanos (sobas) e que, portanto, ninguém mais teria legi-timidade para assumir o comando do Elefante após suamorte, uma vez que não deixara descendentes diretos. Ver:VIANA, Paulo. Dona Santa: a última rainha da nação Ele-fante. Diário da Noite, 1610211966. Sobre a sucessão deDona Santa ver também Lima (2004),

DOPS, prontuário n. 703 do !Áaracatu Nação Elefante,Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, Recife, PE.

Araujo, (1996), especialmente cap. IV. Sobre a noção deteatro ver: Thompson, (2001).

Não há na historiografia pernambucana absolutamentenenhum trabalho que discuta a formação da Federação Car-navalesca e sua atuação disciplinadora. Para esse debateem 1947 ver: FREYRE, Gilberto. Carnaval do povo. Carna-val de Federação. Diário de Pernambuco, 0810111947. Odebate se estende por vários dias.

'Varejão, (1991). O canto em questão foi publicado no livroFeira Literária, no ano de 1927.

'Um dos grandes enigmas do maracalu está no poder real.Ainda que os significados simbólicos desse poder tenhamescapado aos folcloristas, que o perceberam como merapantomima, há fortes indícios que nos possibilitam pensaro poder de reis e rainha de maracatu como poder simbólicoe efetivo no interior das comunidades em que aluam. So-bre o poder simbólico ver Bourdieu (1989). Sobre o poderdas rainhas na atualidade, Guilten (2004).

'Thompson (2001, p. 231).

'° O processo histórico de ocupação da zona norte e a im-portância dos maraoalus, bois, cavalos marinhos, dentreoutras manifestações, para as relações culturais e a socia•bilidade dessas comunidades de afro-descendentes foramesboçadas em: Guillen, 12003; 2005).

Entrevista de José Amaro de Souza Filho. (Zezinho deJoão Vieira) realizada em 24/0412005, por Isabel CristinaMartins Guillen e Ivaldo Marciano de França Lima.II Entrevista Aprígio Gomes da Penha realizada em 20104105 por Isabel Cristina Martins Guillen e Ivaldo Marciano deFrança Lima.IS Ver: Vovelte, (1985).

Benjamin, (1986); para uma discussão sobre o tradutorcultural ver: Bhabha, (2001).

Sobre o processo de mediação cultural no Brasil ver: Vi'ana, (2002). Especificamente para os maracalus ver: Guil-len, (2003).

° Maracatu O Cruzeiro, 2910311946, p. 56-61.

" Sobre o matriarcado na cultura afro-descendente brasi-leira, Ruth Landes constitui leitura fundamental. Seu livro,.4 cidade das mulheres, cuja primeira edição no Brasil é de1967, reafirma e consolida a idéia de matriarcado entre osterreiros tradicionais na Bahia, e por extensão, o matriarca-do em toda a cultura afro-descendente (Landes, 2002; Cor-roa, 2003; Healey, 1996; Stolcke, 1991).

" Sobre essas questões, na utilização da biografia comoestratégia de pesquisa histórica ver: Levi, (2001); Bourdieu,(2001); Passerini, (1993).

'° Brandão e Motla, (2002).10 Para os procedimentos acima descritos, ver: Scott (1995;1994): illly, (1994); Vartkas, (1994).II Ver Diário de Pernambuco, 25/08! 1970.

tx Entrevista realizada no dia 1811212003.

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