Dona Maria e Seu Gonçalo: Uma história de superação no sertão do Piauí

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano • n° 2080 8 Castelo do Piauí Lá no Assentamento Boa Vista, também conhecido como Caraíbas, localizado a cerca de 35 km de Castelo do Piauí, vive a família de um simpático casal de agricultores: Dona Maria Ferreira Lima, 70 anos, e Seu Gonçalo Ferreira Lima, de 75 anos. O casal, que sempre viveu da roça, conta com o sorriso no rosto as dificuldades enfrentadas para sobreviver e conseguir criar seus sete filhos, hoje todos crescidos e encaminhados na vida. Eles contam que a maior parte das adversidades do passado ficou para trás, e o acesso à terra e a água abrem um leque de possibilidades que faz brotar novas expectativas para vida. Há 10 anos vivendo no Assentamento, a conquista da terra possibilitou ao casal sonhar com uma velhice tranquila, o único problema era o acesso à água, que no período de estiagem dificulta a vida dos moradores do Assentamento. No início, com a sua construção, o assentamento contava com o abastecimento de quatro poços, mas hoje apenas um está funcionando. Para beber a família conta com a água de uma cisterna do Programa Um Milhão de Cisterna Rurais, da Articulação Semiárido Brasileiro – ASA Brasil. Antes um dos poços fornecia a água para o consumo, mas Dona Maria conta que a população local reclamava do gosto salgado da mesma. “Eu ficava ruim com aquela água, parece que roía a gente por dentro”, detalha a agricultora. A água do poço que ainda abastece a comunidade serve para lavar roupa, lavar coisas, tomar banho... fazer de tudo, até aguar a pequena produção no quintal produtivo da família. Só que no verão a água, que é encanada do poço, não chega à residência do casal, e segundo eles, o sofrimento só não é maior porque com a cisterna de 16 mil litros, quando essa seca, eles pedem à Prefeitura para enchê-la. A família conquistou à cerca de um ano uma Maio/2015 Dona Maria e Seu Gonçalo Uma história de superação no sertão do Piauí

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Lá no Assentamento Boa Vista, também conhecido como Caraíbas, localizado em Castelo do Piauí, vive a família de um simpático casal de agricultores: Dona Maria Ferreira Lima e Seu Gonçalo Ferreira Lima. O casal, que sempre viveu da roça, conta com o sorriso no rosto as dificuldades enfrentadas para sobreviver e conseguir criar seus sete filhos.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano • n° 2080 8

Castelo do Piauí

Lá no Assentamento Boa Vista, também conhecido como Caraíbas, localizado a cerca de 35 km de Castelo do Piauí, vive a família de um simpático casal de agricultores: Dona Maria Ferreira Lima, 70 anos, e Seu Gonçalo Ferreira Lima, de 75 anos. O casal, que sempre viveu da roça, conta com o sorriso no rosto as dificuldades enfrentadas para sobreviver e conseguir criar seus sete filhos, hoje todos crescidos e encaminhados na vida. Eles contam que a maior parte das adversidades do passado ficou para trás, e o acesso à terra e a água abrem um leque de possibilidades que faz brotar novas expectativas para vida.

Há 10 anos vivendo no Assentamento, a conquista da terra possibilitou ao casal sonhar com uma velhice tranquila, o único problema era o acesso à água, que no período de estiagem dificulta a vida dos moradores do Assentamento. No início, com a sua construção, o assentamento contava com o abastecimento de quatro poços, mas hoje apenas um está funcionando. Para beber a família conta com a água de uma cisterna do Programa Um Milhão de Cisterna Rurais, da Articulação Semiárido Brasileiro – ASA Brasil. Antes um dos poços fornecia a água para o consumo, mas Dona Maria conta que a população local reclamava do gosto salgado

da mesma. “Eu ficava ruim com aquela água, parece que roía a gente por dentro”, detalha a agricultora.

A água do poço que ainda abastece a comunidade serve para lavar roupa, lavar coisas, tomar banho... fazer de tudo, até aguar a pequena produção no quintal produtivo da família. Só que no verão a água, que é encanada do poço, não chega à residência do casal, e segundo eles, o sofrimento só não é maior porque com a cisterna de 16 mil litros, quando essa seca, eles pedem à Prefeitura para enchê-la. A família conquistou à cerca de um ano uma

Maio/2015

Dona Maria e Seu Gonçalo

Uma história de superação no sertão do Piauí

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí

cisterna do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) que tem capacidade de acumular 52 mil litros de água para produção de hortaliças e verduras, mas ela ainda não encheu devido o inverno de poucas chuvas do último ano.

Apesar da dificuldade com a água, o quintal da família de Dona Maria e Seu Gonçalo está verdinho e bonito de se ver. As alfaces, cebolinhas, cheiro verde, tomates, pimentinhas e tudo mais que produzem serve para a alimentação da família, e agora também para a venda, o que gera um dinheirinho extra no fim do mês. A família participa de uma feira organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, realizada em Castelo do Piauí. Eles e outros moradores do Assentamento se reuniram para vender lá o que produzem.

No quintal, Dona Maria também tem plantas medicinais, ela conta que sabe fazer alguns remédios que ajudam no tratamento de vários problemas da saúde humana, e também é rezadeira, aprendeu com as parteiras e rezadeiras que tinha na comunidade em que morava. Ultimamente um de seus principais passatempo é fazer redes, sua motivação veio depois de uma viagem de intercâmbio ela que fez à Pedro II.

Dona Maria afirma que apesar das dificuldades, uma coisa boa do seu passado era o inverno. Nos últimos anos ele vem com poucas chuvas atrapalham na lavoura, e deixa muitas famílias agricultoras com dificuldades. Ela lembra que o período de estiagem sempre existiu, e brinca que se tivesse ganhado uma dessas cisternas naquela época hoje estaria rica. “Hoje as pessoas para criarem suas famílias estão no céu, tudo está bem mais fácil, as cisternas são exemplo disso, mesmo se não chove, a gente tem como guardar a água, tem carro pipa, tem todas essas bolsas que o Governo dar...”, comenta Dona Maria.

Dos sete filhos, apenas o Antônio mora com o casal, as duas filhas casaram e moram próximas da mãe e do pai, mas os demais vivem distantes, precisaram viajar pra tentar a sorte longe. E são deles as maiores saudades de Dona Maria, que sonha com a possibilidade de tê-los todos próximos novamente.

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