Dominique Wolton e a Opinião Pública

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Coabitar, Negociar, Amar... Comunicar! Em palestra na FCL, sociólogo Dominique Wolton falou sobre a liberdade de expressão, o caso Charlie Hebdo e o futuro da Comunicação. Por Guilherme Venaglia, do 2º Ano de Jornalismo No último dia 18 de março a A última quarta-feira (18) foi um dia de manhã agitada na Faculdade Cásper Líbero viveu uma manhã agitada . Em parceria com o Consulado-Geral da França no Brasil, as Coordenadorias de Jornalismo e de Pós-Graduação promoveram a Aula Magna do Mestrado em Comunicação com o tema “A Liberdade de Expressão e o Charlie Hebdo”, tendo como palestrante um dos maiores pensadores vivos da área, o sociólogo francês Dominique Wolton. Com presenças de alunos dos quatro cursos da graduação, da pós- graduação lato e stricto sensu, profissionais e convidados externos de outras instituições, lotação máxima do Teatro Cásper Líbero, o evento contou com apresentação inicial do diretor da FCL, o Prof. Carlos Costa, que expôs a felicidade da instituição em sediar o evento e poder proporcionar aos alunos o contato com uma personalidade desse porte. Em sua fala, o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), o Prof. Dimas Künsch, lembrou da importância da fala de Wolton para o panorama atual, “em seu apelo, quase grito, de que é preciso salvar a comunicação”. Encerrando as apresentações iniciais, a consulesa da França no Brasil, sra. (........), ?????? ressaltou a importância cultural e diplomática de eventos como esse, para as relações diplomáticas dos dois países, “um magnífico ato de humanismo”. Um dos responsáveis pelo processo de internacionalização da Cásper, o vice-diretor, Prof. Roberto Chiachiri, assumiu a mediação da mesa e fez a apresentação do convidado. Formado em Direito e em Ciências Políticas, doutor em Sociologia, Dominique Wolton é diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e do laboratório “Informação, Comunicação e Objetos Científicos”, além da revista acadêmica internacional Hermés, da qual foi fundador em 1998. Descontraído, Wolton iniciou o evento seu ponto falando da Europa que, na visão dele, “é forte, mas fraca, um tanto ansiosa” e o quanto acredita ser importante a cooperação com a América Latina até para a sustentabilidade do desenvolvimento continental. Prosseguiu com uma brincadeira, “eu adoro a comunicação, porque eu sei que ela nunca dá certo”, mas se explicou, falando do fenômeno que chama de “incomunicação”: a valorização excessiva da divulgação de informações

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Palestra na Cásper Líbero em março de 2015

Transcript of Dominique Wolton e a Opinião Pública

Coabitar, Negociar, Amar... Comunicar!Em palestra na FCL, socilogo Dominique Wolton falou sobre a liberdade de expresso, o caso Charlie Hebdo e o futuro da Comunicao.Por Guilherme Venaglia, do 2 Ano de Jornalismo

No ltimo dia 18 de maro aA ltima quarta-feira (18) foi um dia de manh agitada na Faculdade Csper Lbero viveu uma manh agitada. Em parceria com o Consulado-Geral da Frana no Brasil, as Coordenadorias de Jornalismo e de Ps-Graduao promoveram a Aula Magna do Mestrado em Comunicao com o tema A Liberdade de Expresso e o Charlie Hebdo, tendo como palestrante um dos maiores pensadores vivos da rea, o socilogo francs Dominique Wolton. Com presenas de alunos dos quatro cursos da graduao, da ps-graduao lato e stricto sensu, profissionais e convidados externos de outras instituies, lotao mxima do Teatro Csper Lbero, o evento contou com apresentao inicial do diretor da FCL, o Prof. Carlos Costa, que exps a felicidade da instituio em sediar o evento e poder proporcionar aos alunos o contato com uma personalidade desse porte. Em sua fala, o coordenador do Programa de Ps-Graduao em Comunicao (PPGCom), o Prof. Dimas Knsch, lembrou da importncia da fala de Wolton para o panorama atual, em seu apelo, quase grito, de que preciso salvar a comunicao. Encerrando as apresentaes iniciais, a consulesa da Frana no Brasil, sra. (........), ?????? ressaltou a importncia cultural e diplomtica de eventos como esse, para as relaes diplomticas dos dois pases, um magnfico ato de humanismo.Um dos responsveis pelo processo de internacionalizao da Csper, o vice-diretor, Prof. Roberto Chiachiri, assumiu a mediao da mesa e fez a apresentao do convidado. Formado em Direito e em Cincias Polticas, doutor em Sociologia, Dominique Wolton diretor de pesquisa do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e do laboratrio Informao, Comunicao e Objetos Cientficos, alm da revista acadmica internacional Herms, da qual foi fundador em 1998. Descontrado, Wolton iniciou o evento seu ponto falando da Europa que, na viso dele, forte, mas fraca, um tanto ansiosa e o quanto acredita ser importante a cooperao com a Amrica Latina at para a sustentabilidade do desenvolvimento continental. Prosseguiu com uma brincadeira, eu adoro a comunicao, porque eu sei que ela nunca d certo, mas se explicou, falando do fenmeno que chama de incomunicao: a valorizao excessiva da divulgao de informaes brutas ao invs de processos que, na viso dele, estabeleam de fato uma comunicao propriamente dita e o entendimento.Comunicar negociar. Comunicao so as palavras, o calor da voz. O socilogo exps sua viso crtica da troca virtual de informaes, uma vez que ela prezaria a velocidade em primeiro lugar, preterindo a qualidade do dilogo. Sobre os conflitos em relao liberdade de expresso, ressaltou que no podemos esquecer que ela , sem dvida, uma das principais ferramentas da humanidade na luta contra guerras, ditaduras e o terrorismo e fazer restries, quaisquer que sejam, pode se tornar um perigo muito grande. O que, segundo ele, no significa que no necessrio haverem regras ou preceitos de responsabilidade mas, sim, que colocar adversidades liberdade de expresso pode abrir precedentes que a tornem invivel. No caso especfico da revista Charlie Hebdo fez a ressalva inicial de que se trata de uma publicao relativamente pequena e pouco popular e que a situao mais complexa do que pareceria num primeiro olhar. A Frana tem a laicidade como um dos preceitos fundamentais da nao desde o brusco rompimento com a interferncia religiosa no Estado representado pela Revoluo Francesa e, portanto, a ideia de que uma publicao no poderia se utilizar de uma charge do profeta Maom por motivos religiosos do isl dificilmente seria aceita pelo cidado mdio francs. O que, segundo ele, explica o intenso engajamento nacional com a campanha Je suis Charlie. Dominique Wolton tambm fez questo de reforar que acredita que uma das causas do crescimento atual do radicalismo a fraqueza da mundializao, sintoma de uma combinao do enfraquecimento da democracia no mundo e do fortalecimento do capitalismo moderno, que ameaa de forma predatria as identidades culturais dos povos. O desafio, para ele, conservar a abertura econmica de uma maneira que seja possvel preservar a diversidade cultural.No tpico seguinte voltou a falar do conflito entre os conceitos de informao e comunicao. Fez isso para se posicionar contra o que chamou de os adoradores da internet, postulando tambm que o uso excessivo da tcnica jornalstica pode reforar o cenrio atual, no qual todos os veculos publicam quase sempre as mesmas informaes, as mesmas notcias. Aumentam os rumores, as mentiras, as paranoias, as teorias de conspirao. O caminho segundo ele seria a unio dos jornalistas, nos recusarmos a participar dessa corrida da informao. Refletir sobre o prprio fazer, at onde a tcnica mais e a partir da onde ela prejudicial e analisar caso a caso alguns assuntos podem seguir esse fluxo, para outros precisamos dizer no, isso a gente no trata nessa velocidade.Para Dominique Wolton, o jornalista um ser humano frgil que pode se enganar mas que tem a rdua misso de classificar informaes. O desafio do Jornalismo de amanh vai ser selecionar as poucas informaes que possam fazer o povo se entender. Antes de abrir para a animada roda de perguntas, na qual os presentes levantaram discusses pertinentes sobre o fazer jornalstico, a liberdade de expresso e as relaes entre os povos, o convidado encerrou sua exposio com trs fortes definies: Comunicao coabitar. Comunicao negociar. Comunicao , acima de tudo, amar.