Doentes devem ser guiados nas pesquisas de internet

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Marketing na Saúde: É importante que se criem espaços isentos de interesses económicos, com conteúdo de qualidade e adaptado às necessidades de cada um. A Internet pode ser um grande aliado na Saúde, não vem substituir profissionais de Saúde mas sim complementar o seu trabalho optimizando recursos.

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Paulo Morais – www.mktmorais.com

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Na edição de Sexta-Feira, 15 de Junho de 2012 do Jornal Público a Presidente do centro de apoio Mama Help e

responsável pela cirurgia na Unidade de Mama da Fundação Champalimaud, veio reforçar algo muito importante que

corresponde a uma das conclusões de uma investigação que realizei no âmbito da minha tese de mestrado.

O título do artigo no jornal é elucidativo – Doentes com cancro devem ser guiados em pesquisas na

Internet. Embora o tema do artigo tenha a ver com as pesquisas na Internet sobre Cancro, eu tornava esta mensagem

mais abrangente referindo que – Todos os doentes devem ser guiados na Internet.

Já não restam dúvidas que os portugueses, utilizadores de Internet, procuram informação sobre saúde na Internet

(35%). Segundo um estudo da Microsoft, 10% das pesquisas on-line em todo o mundo estão relacionadas com a Saúde.

Fernando Mendonça, médico, investigador e especialista em tecnologia, em entrevista à RTP 1, identifica uma grande

vantagem e uma grande desvantagem relativamente a esta realidade:

Vantagem:

Doentes mais informados, que sabem o que perguntar aos médicos.

Desvantagem:

Os doentes vão para as consultas com diagnósticos pré-formatados baseados em informação pouco credível.

Muitas outras vantagens/desvantagens podem ser referenciadas contudo, um dos grandes obstáculos desta área tem a

ver com o envolvimento dos diversos “players” do mercado nesta nova realidade. A comunicação na Saúde é

fundamental porém, precisamos de recursos (financeiros, tecnológicos, humanos,..) para criar projetos eficazes.

A Internet pode também ajudar a diminuir a procura excessiva no serviço de emergência para problemas menores e

contribuir para uma melhor distribuição da qualidade dos serviços de Saúde em Portugal que revela precariedade nos

meios rurais.

O mundo digital está a criar um utente muito mais informado sobre os temas que o rodeiam contudo, é importante

garantir que este utente fica BEM informado. Considero que um doente BEM informado sabe que nem tudo o que está

na Internet é válido e que o papel do profissional de Saúde é indispensável.

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A má informação na saúde pode ter sérias repercussões e a confiança no profissional de saúde, como referido

anteriormente, é um fator crítico de sucesso para melhorar os indicadores da Saúde em Portugal.

O papel do médico na “prescrição” de sites de referência é ainda outro fator importante. É fundamental que se perceba

que o utente anda a procurar informação na Internet e a tendência é para o número de pesquisas sobre saúde aumentar

como tal, devemos criar espaços de acesso público com informação isenta e de qualidade, fora das agendas dos

interesses económicos.

O Barómetro bianual BOP Health partilha que o Dr. Google tornou-se a segunda fonte de procura de informação, à

frente do farmacêutico e atrás do médico. É indispensável que o profissional de Saúde valide e esteja alinhado com esta

realidade. Acredito que o médico ainda só esteja à frente do Dr. Google porque a nossa população é envelhecida. Sem

base cientifica que corrobore esta opinião, é possível que nas gerações mais recentes o Dr. Google seja mesmo líder,

principalmente nos temas mais sensíveis (como por exemplo, os temas relacionados com a sexualidade).

Muitos profissionais de Saúde não estão preparados para lidar com um utente mais exigente e informado, que não fica

limitado a uma só opinião e questiona tudo.

É provável que o utente se responsabilize cada vez mais pelo seu estado de Saúde e pelas suas decisões como tal,

prevenir o cidadão para esta realidade e para os riscos da MÁ informação é crucial.

Um doente BEM informado pode ser um doente melhor tratado mas um doente MAL informado pode

ser um grande problema.

Concordo com Francisco Jorge quando refere em entrevista para o Saudados que “Cidadãos adquirem mais

informações sobre a Saúde, geradoras de conhecimentos, para depois serem também motivadores de alterações dos

comportamentos na perspetiva de mais e melhor Saúde. “

Este é um dos grandes “inputs” para se investir na WEB – dotar o utente de conhecimento para que este possa

partilhar esse conhecimento e ser um “promotor” da Saúde em Portugal.

Se uma pessoa fica sensibilizada para perigos relacionados com o excesso de Sal nos alimentos, poderá adotar o papel de

influenciador junto dos seus pares para que estes também reduzam o consumo de Sal.

A Dra. Maria João Cardoso adianta ao público que “uma grande parte dos sites sobre cancro da mama em Portugal

baseiam-se em grupos de apoio, blogues ou fóruns suportados por quem sofre ou já sofreu a doença”. Isto é uma

grande verdade contudo, sem a colaboração dos profissionais de Saúde parece-me a melhor forma para partilhar

conhecimento. Mais do que a informação estática que vemos na maioria dos sites sobre saúde, temos intervenções na

primeira pessoa de quem partilha o que viveu.

Se pesquisarmos no Google por “Cancro da Mama” aparecem 1,300,000 de resultados e a maioria apresentam imagens

fracas com texto corrido, usam expressões demasiado técnicas e estão desatualizados. Um doente com cancro, um

cuidador ou alguém com sintomas procura informação rápida e que perceba, que satisfaça as suas necessidades de

pesquisa. A mensagem deve ser adaptada em função do recetor. Determinado conteúdo para o cuidador pode ser

completamente diferente daquele que se destina ao próprio doente. O mesmo conteúdo pode ainda estar disponível em

diversos formatos – imagem, vídeo, texto, áudio, simuladores, entre outros.

Para a especialista “Não será muito bom para uma mulher que vai começar amanhã um tratamento de quimioterapia

ler um relato sobre alguém que passou por isso e descreve um inferno”. Na verdade não deve ser mesmo agradável

todavia, bem ou mal, é a realidade de quem viveu a experiência na primeira pessoa e, isso tem muito valor. Esta doente

pode encontrar estes testemunhos menos favoráveis para o seu tratamento em qualquer local, a Internet é apenas um

"amplificador" desses casos, eles existem e é provável que o doente, num espaço de Saúde ou noutro local qualquer

venha a conhecer esses casos, a vantagem da Internet é que podemos disponibilizar todo o tipo de casos, destacando os

que consideramos mais relevantes para o utente.

Por um lado concordo que não é muito bom ler este tipo de informação por outro, o doente ficará informado sobre os

“riscos” que corre no processo em que está envolvido.

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Se conseguirmos reunir nestes espaços testemunhos reais, certamente que também teremos pessoas a partilharem casos

de sucesso que serão motivadores para quem vai iniciar esta etapa. Voltamos à questão de adaptar a mensagem em

função do recetor. Como sabemos, nestas matérias não há “formulas exatas” e é também por isto que a confiança

médico-doente é valiosa. Ter vários casos disponíveis para explicar ao doente que há alternativas ao “pior” cenário pode

ser uma solução.

Promover o “passa-palavra” é um dos objetivos a atingir para aumentar a probabilidade de propagação da mensagem.

Reparem no que tem vindo a acontecer com o tabaco ou com a reciclagem. Muitas vezes são as crianças que, com

sucesso, influenciam o comportamento dos adultos.

Para que não restem dúvidas, volto a referir que a confiança junto do médico é fundamental até porque a medicina não é

uma ciência exata e o que pode ser eficaz para uma pessoa pode não ser para outra. O acompanhamento médico é

indispensável e é importante que se entenda que a Internet não vem substituir o profissional de Saúde, muito

pelo contrário, é um forte aliado para melhorar o acompanhamento junto do utente (e não só!).

Isto pode parecer tudo muito simples e óbvio para quem trabalha nesta área contudo, há uma grande barreira para

implementar projetos deste âmbito. O conteúdo tem que ser validado e credibilizado e nem sempre é fácil obter essa

“certificação”. Por exemplo, um site dirigido ao utente só fará sentido se tivermos profissionais de saúde disponíveis

para colaborarem e partilharem o seu “know how” e experiência de terreno. É ai que se identificam necessidades para

posteriormente se encontrarem soluções que acrescentem valor para o profissional e para o utente reforçando a sua

relação.

Em muitos espaços de Saúde o tempo de consulta é muito reduzido e não dá tempo para que o utente possa tirar todas

as suas dúvidas. Criar espaços de esclarecimento, partilha de conhecimento, prevenção e sensibilização sobre Saúde,

disponíveis todos os dias, em qualquer lugar e a qualquer hora, é fundamental e deve ser um trabalho feito por

profissionais de diversas áreas para que o objetivo de melhorar a saúde dos portugueses seja cumprido.

Tenho procurado fazer alguns trabalhos nesta área e, sem dúvida alguma, o grande desafio está em conseguir

credibilizar o conteúdo, para que este seja uma referência para o profissional de Saúde “prescrever” o espaço como

complemento do seu trabalho.

Felizmente tenho acompanhado o trabalho de profissionais de Saúde que procuram nos meios digitais uma alternativa

ou um complemento para o seu trabalho. Sem dúvida um caminho inevitável. Credibilizar a informação isenta de

interesses económicos e evitar a má informação disponível na Internet é uma necessidade atual para que os doentes

possam ser guiados nas pesquisas na Internet.