Doenças reemergentes são as que reaparecem

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Doenças reemergentes são as que reaparecem após um período de declínio significativo. O Brasil se apresenta numa fase de transição demográfica e epidemiológica e nele podemos encontrar um mosaico de doenças típicas do 1º, do 2º e do 3º mundo (áreas com prevalência de doenças crônicas ou de doenças infecto-parasitárias), assim como fartura de patologias emergentes e/ou reemergentes. Para ilustração, vejamos alguns exemplos**: Cólera - no período de 1991 a 1995, foram notificados 1.339.812 casos nas Américas, com a ocorrência de 11.338 óbitos. Somente o Brasil foi responsável por 328.421 casos (25% do total das Américas) onde se verificaram 1.792 óbitos (16% do total observado no continente). A incidência da cólera no Brasil, para cada 100.000 habitantes, nesse período, foi de 203. Ocupou o 8º lugar em notificações (suplantado apenas pelo Peru com incidência de 2.738; Equador com 776; Guatemala, 707; Nicarágua, 596; El Salvador, 525; Bolívia, 507 e Honduras com 241). Quanto a outra doença, a Dengue, no ano de 1995, encontramos taxas de incidência/100.000 da seguinte ordem: Guiana Francesa, 779; Honduras, 764; Montserrat, 704; El Salvador, 546; Costa Rica, 515; República Dominicana, 452; Barbados, 258; Belize, 243 e Brasil, 223. Quanto à Dengue Hemorrágica, encontramos: Colômbia, 733; México, 355; El Salvador, 129; Brasil, 105 e Jamaica, 88. Assim, em termos de incidência de Dengue, o Brasil ocupa o 8º lugar e quanto a de Dengue Hemor-rágica ocupa o 4º, nas Américas. Cólera e Dengue são duas doenças, sem dúvida alguma, reemergentes no país e no continente. Aparentemente controladas no passado, voltam a ocupar seu destaque no presente. Já a Tuberculose, não chega propriamente a ser

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Doenças reemergentes são as que reaparecem

após um período de declínio significativo.

O Brasil se apresenta numa fase de transição

demográfica e epidemiológica e nele podemos encontrar

um mosaico de doenças típicas do 1º, do 2º e do

3º mundo (áreas com prevalência de doenças crônicas

ou de doenças infecto-parasitárias), assim como

fartura de patologias emergentes e/ou reemergentes.

Para ilustração, vejamos alguns exemplos**:

Cólera - no período de 1991 a 1995, foram notificados

1.339.812 casos nas Américas, com a ocorrência

de 11.338 óbitos. Somente o Brasil foi responsável

por 328.421 casos (25% do total das Américas)

onde se verificaram 1.792 óbitos (16% do total observado

no continente).

A incidência da cólera no Brasil, para cada

100.000 habitantes, nesse período, foi de 203. Ocupou

o 8º lugar em notificações (suplantado apenas pelo

Peru com incidência de 2.738; Equador com 776;

Guatemala, 707; Nicarágua, 596; El Salvador, 525;

Bolívia, 507 e Honduras com 241).

Quanto a outra doença, a Dengue, no ano de

1995, encontramos taxas de incidência/100.000 da

seguinte ordem: Guiana Francesa, 779; Honduras,

764; Montserrat, 704; El Salvador, 546; Costa Rica,

515; República Dominicana, 452; Barbados, 258;

Belize, 243 e Brasil, 223.

Quanto à Dengue Hemorrágica, encontramos:

Colômbia, 733; México, 355; El Salvador, 129; Brasil,

105 e Jamaica, 88.

Assim, em termos de incidência de Dengue, o

Brasil ocupa o 8º lugar e quanto a de Dengue Hemor-rágica ocupa

o 4º, nas Américas.

Cólera e Dengue são duas doenças, sem dúvida

alguma, reemergentes no país e no continente.

Aparentemente controladas no passado, voltam a ocupar

seu destaque no presente.

Já a Tuberculose, não chega propriamente a ser

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reemergente, pois nunca chegou a declinar significantemente,

tampouco é doença emergente, pois, há

tempo, apresenta incidência elevada. Sua ocorrência

continua com alta magnitude. Em 1994, foram notificados

87.280 casos no Brasil; ocupou o 1º lugar no

Continente, sendo seguido pelo Peru com 48.601

casos; México com 16.353; Argentina com 13.683 e

Equador com 9.685 casos. Levando-se em consideração

a população exposta ao risco, e portanto, analisando-

se os coeficientes por 100.000 habitantes, o

Brasil passa a ocupar o 6º lugar (com coeficiente de

54, sendo antecedido pelo Peru com 208; Bolívia, 130;

Equador, 86; Honduras, 78 e Nicarágua, 64). Em 1995, foram

notificados, no Brasil, 90.664

casos novos e, em 1994, registrados 5.977 óbitos. Esse

quadro da Tuberculose vem se agravando por várias

razões: empobrecimento da população, sucateamento

da Rede Pública de Assistência à Saúde e advento da

AIDS com uma epidemia em expansão. A falta de

priorização da Tuberculose pelos serviços responsáveis

pelo seu controle vem abaixando a efetividade

dos programas, e os índices de abandono do tratamento

têm-se elevado em diferentes locais.

O Ministério da Saúde, através da Coordenação

Nacional de Pneumologia Sanitária, está propondo

um plano de ação emergencial para o controle

da Tuberculose. Ainda bem. Caso contrário, estaremos

ocupando lugares cada vez mais destacados, negativamente,

em termos de notificação de doenças

sejam emergentes e/ou reemergentes, ou mesmo daquelas

que nunca saíram de foco, como é o caso da

Tuberculose.

http://www.fmrp.usp.br/revista/1997/vol30n3/ponto_vista.pdf

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O QUE SÃO DOENÇAS INFECCIOSAS REEMERGENTES?

Doenças reemergentes são aquelas devidas ao reaparecimento ou, aumento do

número de infecções por uma doença já conhecida, mas que, por ter vindo

causando tão poucas infecções, já não estava sendo considerada um problema de

saúde pública.

CÓLERA: A cólera reapareceu em países onde ela já havia previamente

desaparecido a medida em que as condições de saneamento e alimentação se

deterioraram. Em 1991, na América do Sul, mais de 390 mil casos foram

notificados, sendo que por um século não se registravam casos de cólera.

DENGUE: A dengue se espalhou por vários países do sudeste asiático desde a

década de 50 e reemergiu na América na década de 90, como consequência da

deterioração do controle ao mosquito e a disseminação do vetor em áreas urbanas.

DIFTERIA: Reemergiu na Federação Russa e algumas outras repúblicas da antiga

União Soviética em 1994 e culminou em 1995 com mais de 50.000 casos relatados.

A reemergência está associada a um declínio dramático nos programas de

imunização seguidos de uma “falência” nos serviços de saúde que se iniciou com o

fim da URSS.

FEBRE RIFT VALLEY(RVF) : Doença caracterizada por febre e mialgia, mas em

alguns casos progride para retinite, encefalite ou hemorragia. Seguindo uma

anormal temporada chuvosa no Kenya e na Somália no fim de 1997 e início de

1998, RVF ocorreu em vastas áreas , causando febre hemorrágica e morte pela

população humana. O severo grau desta doença se deve a muitos fatores, incluindo

condições climáticas, mal nutrição e possivelmente, outras infecções.

FEBRE AMARELA: Exemplo de doença para a qual há várias vacinas mas,

devido ao uso não generalizado para todas as áreas de risco, epidemias continuam

a ocorrer. A ameaça da febre amarela está presente em 33 países africanos e 8 sul

americanos. É comum em florestas tropicais onde o vírus sobrevive em macacos.

As pessoas levam vírus para os vilarejos e a simples presença de um vetor espalha

rapidamente a doença, que mata facilmente pessoas imuno-suprimidas.

TUBERCULOSE: A tuberculose se comporta como uma doença reemergente

devido ao aumento gradativo de casos no passar dos últimos anos. Isto se dá devido

ao processo de seleção responsável pela existência de cepas altamente resistentes a

antibióticos. Além disso, o HIV contribui largamente para a manifestação da

doença.

CAUSAS COMUNS DE EMERGÊNCIA E RE-EMERGÊNCIA DE DOENÇAS

INFECCIOSAS:

- Crescente número de pessoas vivendo e se deslocando pelo mundo.

- Rápidas e intensas viagens internacionais.

- Superpopulação em cidades com precárias condições sanitárias.

- Aumento da exposição humana a vetores e reservas naturais.

- Alterações ambientais e mudanças climáticas.

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