DOENÇAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES DE...
Transcript of DOENÇAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES DE...
ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL
ENFERMAGEM DO TRABALHO
DANUZA MILEIDE NOVAES DA PAZ
DOENÇAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES
DE ENFERMAGEM: uma pesquisa bibliográfica.
SALVADOR
2011
DANUZA MILEIDE NOVAES DA PAZ
DOENÇAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES
DE ENFERMAGEM: uma pesquisa bibliográfica.
Monografia apresentada à Atualiza Associação Cultural como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Enfermagem do Trabalho. Sob a orientação do Professor Fernando Reis do Espírito Santo.
SALVADOR
2011
AGRADECIMENTOS:
À Deus por me dar a vida e a possibilidade de lutar pelos meus objetivos;
À minha mãe, minha fortaleza;
Ao meu querido Juan, presente sempre em minha vida e em minhas conquistas;
À minha família e aos meus amigos pelo apoio incondicional.
“Muitos dizem que sou
apenas mais um a tentar. Eu
digo que sou menos um a
desistir.” DiegoMarch
RESUMO
Este trabalho trata sobre a grande incidência de distúrbios osteomusculares em profissionais de enfermagem, abordando os fatores relacionados ao ambiente de trabalho, ao tipo de tarefas e à forma como essa classe as desenvolve, assim como os fatores ergonômicos, legais e psicosociais envolvidos nesse contexto. Tem como objetivo identificar a partir da literatura fatores que justificam a grande ocorrência de tal agravo à saúde na referida classe de trabalhadores. Este é um estudo bibliográfico, exploratório cuja amostra foi composta por artigos que abordavam LER/DORT em trabalhadores de enfermagem indexados nas bases de dados Medline, Scielo e Lilacs, publicados em periódicos nacionais e internacionais no período de 1998 à 2009. A maioria dos artigos descreve as condições de trabalho da equipe de enfermagem como inapropriadas, com existência de grande quantidade de fatores de riscos que predispõem a ocorrência de LER/DORT. Concluiu-se que é necessário e fundamental a participação conjunta da gerência, dos trabalhadores e de especialistas no desenvolvimento de estratégias preventivas que promovam melhorias no local de trabalho através da adequação ergonômica dos equipamentos e mobiliários, capacitação dos profissionais, melhoria das condições laborativas, visando a redução da incidência de Distúrbios Osteomusculares em profissionais de enfermagem.
Palavras-chave: enfermagem; processo saúde doença; DORT; ergonomia; riscos ocupacionais.
ABSTRACT
This paper deals with the high incidence of musculoskeletal disorders among nursing personnel by addressing the factors related to work environment, the type of work and how to develop such a class, as well as ergonomic factors, psychosocial and legal issue involved in such . Aims to identify factors from the literature to justify the high occurrence of this public health problem in that class of workers. This is a bibliographical study, exploratory whose sample was composed of items that addressed LER / DORT in nursing indexed in Medline, Lilacs and Scielo, published in national and international journals from 1998 to 2009. Most of the articles describes the working conditions of nursing staff as inappropriate, with the existence of a large number of risk factors that predispose the occurrence of CTD /. It was concluded that it is necessary and fundamental joint participation of management, workers and experts in the development of preventive strategies that promote improvements in the workplace through ergonomic suitability of equipment and furniture, professional training, improvement of working conditions in order reducing the incidence of musculoskeletal disorders in nurses.
Keywords: nursing, health-disease process; DORT, ergonomics, occupational hazards.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................7
2. REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................12
2.1 Sistema Musculoesquelético
2.2 Disturbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho..............................................12
2.2.1. Classificação.................................................................................................12
2.2.2. Etiologia......................................................................................................15
2.2.3 Fatores de risco para DORT.........................................................................16
2.2.4 Sintomatologia..............................................................................................18
2.2.5 Fisiopatologia...............................................................................................18
2.2.7 Diagnóstico...................................................................................................19
2.2.8 Tratamento....................................................................................................21
2.3 O Trabalho de Enfermagem no Ambiente Hospitalar e o Desenvolvimento de
DORT..................................................................................................................................23
2.4 Incidência de DORT.....................................................................................................26
2.5 As DORT e os Aspectos Econômicos, Legais e Psicossociais....................................27
2.6 Os conhecimentos da Ergonomia e sua relação com os DORT....................................29
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................32
4. REFERÊNCIAS..............................................................................................................34
7
1. INTRODUÇÃO
• Apresentação do Objeto de Estudo
Estudos envolvendo os problemas de saúde dos trabalhadores da enfermagem têm crescido ao
longo do tempo. A lista dos agravos à saúde de tais trabalhadores é extensa, uma vez que estes
estão expostos a inúmeros riscos relacionados tanto ao seu ambiente de trabalho quanto às
tarefas por eles desenvolvidas. Dentre tais problemas as doenças osteomusculares
relacionadas ao trabalho (DORT) merecem importante destaque.
As DORTs são as lesões geradas por repetitividade, esforço, velocidade da tarefa, resistência
pessoal, estado psicossocial do indivíduo, bem como a exposição a fatores ambientais como
ruído, vibração, frio, umidade, iluminação, mobiliário, arranjo físico e dimensionamento do
posto de trabalho. (ROCHA, 2008)
Os sintomas músculo - esqueléticos atingem principalmente a região lombar, ombros, joelhos
e região cervical. (GURGUEIRA et al, 2003)
Segundo Magnago et al (2007), as DORTs acarretam um grave problema de saúde pública e
um dos mais graves no campo da saúde do trabalhador. Esse problema acomete trabalhadores
em todo o mundo, levando-os a diferentes graus de incapacidade funcional, gerando um
grande aumento de absenteísmo e de afastamentos temporários ou permanentes do trabalhador
e também produz custos expressivos em tratamento e indenizações.
Além do prejuízo à saúde física, tal trabalhador, não muito raro, é vítima de discriminação,
uma vez que é visto pela empresa como um problema e pelos colegas como uma pessoa
preguiçosa que falta muito ao trabalho. A responsabilidade do profissional em relação ao
trabalho também é colocada em dúvida devido à sua freqüente ausência no serviço além do
fato de que muitas vezes os atestados médicos são recebidos com desconfiança pela chefia.
A equipe de enfermagem é composta por:
8
• Enfermeiro: Profissional de nível superior que lidera a equipe de enfermagem e exerce
todas as atividades pertinentes, prestação e supervisão dos cuidados de enfermagem,
prescrição de enfermagem, cargos administrativos, magistérios.
• Técnico de enfermagem: Possui segundo grau completo e a parte profissionalizante
poderá desenvolver-se em curso regular ou supletivo. Exerce atividades técnicas de
enfermagem a nível médio, tais como:
- Participar da programação da assistência de enfermagem;
- Executa ações assistenciais de enfermagem, exceto as de nível já dito como sendo do
enfermeiro;
- Auxiliar o enfermeiro nas unidades de internação, em suas funções administrativas.
Para caracterizar as peculiaridades do trabalho da enfermagem há de se analisar a composição
da força de trabalho, a formação técnica heterogênea das equipes, formas de organização e
divisão de trabalho, a predominância do sexo feminino, a remuneração, o trabalho em turnos e
a constante vivência de tensões, entre outras. ( RIBEIRO; SHIMIZU, 2007)
No exercício de sua profissão, os elementos da equipe de enfermagem adotam posturas
desequilibradas e penosas, como é o caso de várias tarefas desempenhadas a beira do leito
como executar um curativo (às vezes de longa duração), puncionar uma veia, ou seja,
localizar veia para introduzir o medicamento; banho de leito, trocas de decúbito ou passagem
leito-maca-leito; todas as tarefas mencionadas colocam o sujeito em flexão frontal do tronco,
umas sustentando somente o seu peso corporal e outras, sustentando também o peso do
paciente e de acordo com a estatura do sujeito, isto requer uma força diferenciada. (LEMOS;
CASTRO; BARNEWITZ,1999)
Dentre os inúmeros locais onde o homem desenvolve suas atividades laborais encontra-se o
hospital, que pode ser considerado uma organização de alta complexidade, com várias
especificidades, que vem integrando o setor de serviços na sociedade contemporânea.
Caracterizado como uma empresa prestadora de serviços apresenta no seu processo de
trabalho ações direcionadas para a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento
e a recuperação de doentes. É uma empresa constituída por vários subsistemas, que são
representados pelos diversos setores que a compõem, como laboratório, almoxarifado,
lavanderia, raios-X, setor de enfermagem e setor médico, dentre outros. (MOURA, 1992,
apud GODOY, 2001).
9
As instituições de saúde são mais propensas a expor seus profissionais a problemas de saúde
devido ao tipo de trabalho desenvolvido, às características do ambiente de trabalho e às
atividades insalubres executadas. Portanto os trabalhadores de enfermagem estão,
conseqüentemente, expostos aos riscos ergonômicos, tanto na prestação do cuidado direto ao
paciente, quanto no preparo e acondicionamento de materiais, carregando peso excessivo,
longos percursos percorridos, posturas penosas e deslocamentos freqüentes. (NASCIMENTO,
2003)
• Justificativa
A escolha do tema surge a partir da minha experiência no setor de Clinica Cirúrgica de um
Hospital Regional no interior do Estado da Bahia. A rotina de trabalho neste setor é uma das
mais agitadas do hospital, uma vez que é a de maior rotatividade de pacientes e também em
função de cargas excessivas de peso as quais a equipe de enfermagem está exposta (ao
transportar os pacientes da maca para o leito, ao dar banhos nos leitos, ao realizarem
curativos, etc.). Conseqüentemente, a maioria dos trabalhadores se queixa de lombalgias e
alguns se encontram de licença médica devido a distúrbios osteomusculares.
• Problema
Que fatores relacionados à rotina de trabalho da equipe de enfermagem justificam a grande
ocorrência de distúrbios osteomusculares nessa categoria de trabalhadores de enfermagem?
• Objetivo
Identificar, a partir da literatura, fatores que justificam a grande ocorrência de doenças
osteomusculares em trabalhadores de enfermagem.
• Metodologia
Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, bibliográfico e exploratória.
10
A abordagem qualitativa baseia-se em analisar aspectos profundos, descrevendo a
complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as
investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento, entre outros. Nela as amostras
são reduzidas e os dados analisados em seu contexto psicossocial. (MARCONI; LAKATO,
2006)
Estudo exploratório tem por meta a elaboração de um problema que objetiva desenvolver
hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para
modificar e esclarecer conceitos. (MARCONI; LAKATO, 2004)
Segundo Gil (2002) pesquisa bibliográfica é aquela desenvolvida exclusivamente a partir de
material já elaborado, sendo este constituído principalmente por livros e artigos científicos.
Tem como principal vantagem permitir ao pesquisador uma quantidade de fenômenos bem
maior do que poderia ter ao pesquisar diretamente.
O desenvolvimento da pesquisa se deu seguindo as etapas da pesquisa bibliográfica descritas
por Gil (2006):
Após reflexões sobre vários temas relacionados às áreas de atuação da enfermagem,
despertou-se o interesse pelo tema distúrbios osteomusculares em trabalhadores de
enfermagem. Daí então foi feito o levantamento bibliográfico preliminar: buscou-se esclarecer
os principais conceitos que envolvem tal tema, procurando trabalhos de natureza teórica,
capazes de proporcionar explicações a respeito, assim como pesquisas que abordem tal
temática.
Em, seguida, após uma revisão bibliográfica preliminar foi feita a elaboração do plano de
trabalho, que corresponde à introdução e ao referencial teórico.
O levantamento da produção científica foi realizado através da busca ativa nos banco de
dados da Medline, Scielo, Lilacs e na biblioteca da Atualiza.
A Obtenção do material se deu através de consultas aos bancos de dados, utilizando-se os
descritores do presente estudo (enfermagem; processo saúde doença; DORT; ergonomia;
riscos ocupacionais), seleção e impressão do material de interesse.
11
Após obtenção e seleção do material foi feita a sua leitura e, a partir dela foram identificadas
informações e dados que constam nos materiais, estabelecidas relações entre essas
informações e dados obtidos com o problema proposto e então, analisada a consistência das
informações e dados apresentados pelos autores.
O processo de análise ocorreu através das leituras exploratória, analítica e interpretativa. Na
primeira verificou-se em que medida a obra consultada interessa à pesquisa, na segunda, feita
com base nos textos selecionados, as informações contidas nas fontes foram ordenadas e
sumarizadas, de forma a possibilitarem a obtenção de respostas ao problema de pesquisa e,
finalmente, na terceira foram relacionadas às idéias dos autores com o problema deste estudo.
Em seguida foi feita a tomada de apontamentos, a confecção de fichas, onde os elementos
importantes obtidos foram devidamente registrados: dados de identificação do artigo - título,
nome do periódico, volume, número e ano de publicação e dados de identificação do
pesquisador: nome, categoria profissional, local de atuação; a análise do artigo: apreensão das
concepções acerca do tema, ou seja, quais as idéias sobre distúrbios
osteomusculares/enfermagem” veiculadas no artigo; a síntese integrativa: integrando os
artigos lidos, em suas diferenças e semelhanças “conceituais” foi possível uma aproximação à
concepção geral acerca de distúrbios osteomusculares em trabalhadores de enfermagem,
conforme tratada na produção científica analisada
• Estrutura do trabalho
Este trabalho é constituído por uma revisão da literatura, onde são abordados os aspectos
relacionados ao trabalho de enfermagem e aos fatores determinantes para a ocorrência de
DORTs em profissionais de tal categoria, tais como: fatores de risco individuais e do
ambiente de trabalho- a etiologia- sintomatologia- os aspectos econômicos, legais e
psicossociais- importância dos fatores ergonômicos; considerações finais e Referências.
12
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Sistema Musculoesquelético
Os elementos que compõem o sistema musculoesquelético: osso, cartilagem, ligamentos,
músculos, tendões, sinóvia, fáscia, são estimulados pelo sistema nervoso e desempenham
importante papel mecânico-dinâmico, ou seja, garantem as funções locomotoras. São, além
disso, órgãos mesenquimatosos, com funções metabólicas gerais: o esqueleto é um depósito
mineral importante; os músculos e as articulações constituem-se em reserva de proteína,
fósforo, potássio etc; e as articulações, com sua cápsula conjuntiva e membrana sinovial,
fazem parte do sistema de defesa e reação do organismo, podendo ser atingidas por
enfermidades metabólicas, endócrinas, infecciosas e imunológicas.
2.2 Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
2.2.1. Classificação
A primeira referência oficial a esse grupo de afecções do sistema músculo- esquelético foi
feita pela Previdência Social com a terminologia tenossivite do digitador, pela portaria n.
4062, de 06/08/87. Em 1982 recebe a denominação Lesões por Esforços Repetitivos (LER),
representando um dos grupos de doenças ocupacionais mais polêmicos no Brasil e em outros
países. Nos últimos anos, tem sido, dentre as doenças ocupacionais registrada, a mais
prevalente, segundo estatísticas referente à população trabalhadora registrada. (BRASIL,
2000)
Uma doença que a princípio parecia se restringir a uma classe trabalhadora, estando
relacionada apenas a execução de movimentos repetitivos, passou a invadir outros ramos
profissionais, nos quais o trabalho não se caracterizava por repetição, merecendo destaque
atualmente no cenário de adoecimento dos mais variados profissionais. (LEITE, SILVA;
MERIGHI, 2007)
13
A ocorrência das LER/Dort em grande número de pessoas, em diferentes países e em
atividades consideradas leves, provocou uma mudança no conceito tradicional de que o
trabalho pesado, envolvendo esforço físico, é mais desgastante que o trabalho leve. As
polêmicas em diversos países e as lutas pelo reconhecimento como agravos relacionados ao
trabalho propiciaram a abertura de trincheiras para a afirmação de um conceito mais amplo do
adoecimento no mundo do trabalho.( BRASIL, 2006)
A disseminação da doença implicou na mudança de denominação LER para Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), ocorrida em 1997, proposta pelo
Instituto Nacional de Seguridade Nacional (INSS), na revisão da Norma Técnica de avaliação
para incapacidade de 1993, introduzindo novos elementos na análise da perícia médica do
INSS acerca do processo de adoecimento. (VERTHEIN; MINAYO- GOMEZ, 2000)
Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho correspondem a um conjunto de
doenças que atingem tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos, isolada ou
associadamente, atingindo principalmente os membros superiores (dedos, mãos, punhos,
antebraços e braços) e, eventualmente, membros inferiores e coluna vertebral (pescoço,
coluna torácica e lombar). É considerada uma síndrome multicausal, isto é, não aparece
devido a um único fator, mas em decorrência de uma série de fatores que se combinam.
(CODO; ALMEIDA, 1997 apud MOREIRA; MENDES, 2005)
No Brasil, segundo Przysiezni (2000), inicialmente, foi adotado o seguinte sistema de
estadiamento, para categorizar os pacientes com quadro clínico inespecífico, mas
considerados como casos de LER/ DORT:
• Grau I: É caracterizada pela sensação de peso e desconforto no membro afetado, dor
localizada no membro afetado sem irradiação nítida, geralmente leve e fulgaz. Piora
com a jornada de trabalho, melhora com o repouso, a ausência de sinais clínicos e bom
prognóstico com tratamento adequado;
• Grau II: É caracterizado por dor tolerável, porém mais persistente e intensa. Dor mais
localizada, relata formigamentos e calor. Piora com a jornada de trabalho e algumas
atividades domésticas. São leves distúrbios de sensibilidade, porém produzem redução
na produtividade, mas apresentam prognóstico favorável. A recuperação é mais
14
demorada mesmo com repouso. Pode ser observado pequena nodulação
acompanhando a bainha dos tendões envolvidos;
• Grau III: É caracterizado por dor persistente e forte, pouco atenuada com o repouso,
dor com irrediação mais definida, redução da força muscular, perda de controle dos
movimentos, o edema é frequente ou recorrente, a hipertonia muscular é constante, as
alterações da sensibilidade estão quase sempre presentes. Redução da produtividade
ou impossibilidade de executar funções. Prognóstico reservado;
• Grau IV: É caracterizado por dor forte, contínua, insuportável, que se acentua aos
movimentos levando o paciente a intenso sofrimento. Ela é irradiada para todo o
segmento afetado, há perda de força muscular, de sensibilidade, apresenta
incapacidade para executar tarefas do trabalho e no domicílio. São comuns
deformidades e atrofias. O prognóstico é bastante sombrio.
Esta classificação em estágios evolutivos constitui uma referência importante para a
demarcação de graus de incapacidade concessão do respectivo auxílio-acidente ou da
aposentadoria por invalidez, de acordo com as normas técnicas sobre LER/ DORT editadas
pelo Ministério da Previdência Social.
Segundo o Ministério da Saúde, 2000, DORT é um grupo heterogêneo de distúrbios
funcionais e/ou orgânicos que sentam, entre outras, as seguintes características:
- indução por fadiga neuromuscular causada por: trabalho realizado em posição fixa (trabalho
estático) ou com movimentos repetitivos, principalmente de membros superiores; falta de
tempo de recuperação pós-contração e fadiga (falta de flexibilidade de tempo, ritmo elevado
de trabalho);
- quadro clínico variado incluindo queixas de dor, formigamento, dormência, choque, peso e
fadiga precoce;
- presença de entidades ortopédicas definidas como: tendinite, tenossinovite, sinovite,
peritendinite, em particular de ombros, cotovelos, punhos e mãos; epicondilite, tenossinovite
estenosante (DeQuervain), dedo em gatilho, cisto, síndrome do túnel do carpo, síndrome do
15
túnel ulnar (nível de cotovelo), síndrome do pronador redondo, síndrome do desfiladeiro
torácico, síndrome cervical ou radiculopatia cervical, neurite digital, entre outras;
- presença de quadros em que as repercussões são mais extensas ou generalizadas: síndrome
miofascial, mialgia, síndrome da tensão do pescoço, distrofia simpático-reflexa/ síndrome
complexa de dor regional.
BELLUSCI (2008) ressalta que DORT não é uma doença, mas um nome para designar um
grupo de doenças osteomusculares e suas repercussões sociopsicológicas que têm em comum
o fato de serem provocadas por condições inadequadas no trabalho. Trabalho este que leva o
indivíduo a submeter-se a posições estáticas, a repetir o mesmo padrão de movimentos em
curto espaço de tempo sem intervalo para recuperação das regiões do corpo que estão sendo
muito utilizadas; além do uso da força, que nesse caso nem sempre é utilizada para executar a
tarefa em si, mas para segurar o peso do braço- que está sem apoio ou elevado acima da altura
da cabeça-, da cabeça inclinada ou do ombro que está tenso devido às condições psicológicas
e ambientais.
2.2.2. Etiologia
A etiologia deste grupo de afecções é complexa, pois abrange vários fatores multifatoriais.
Segundo Magnago et al (2007), entre os principais fatores relacionados ao desenvolvimento
de distúrbios musculoesqueléticos, estão: a organização do trabalho (aumento da jornada de
trabalho, horas extras excessivas, ritmo acelerado, déficit de trabalhadores); os fatores
ambientais (mobiliários inadequados, iluminação insuficiente) e as possíveis sobrecargas de
segmentos corporais em determinados movimentos, por exemplo: força excessiva para
realizar determinadas tarefas, repetitividade de movimentos e de posturas inadequadas no
desenvolvimento das atividades laborais.
Deve ser destacada a multiplicidade de fatores ergonômicos e antropométricos, como a
relação do trabalhador com os equipamentos, acessórios, ferramentas, mobiliários,
posicionamentos, angulações, distâncias, etc.; a força excessiva na execução de tarefas e
sobrecarga estático ou mesmo dinâmica; a invariabilidade das tarefas, as exigências
cognitivas, os fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho, enfim, a adequação
16
ao trabalho, as variações do frio, vibrações e as pressões locais sobre os tecidos, favorecem
em maior ou menor grau o aparecimento das DORTs.
Apesar das dificuldades decorrentes da falta de um conhecimento sedimentado sobre o tema,
parece estar se formando o consenso de que LER/DORT resultam do entrelaçamento de três
conjuntos de fatores envolvidos na dor músculo-esquelética:
• fatores biomecânicos presentes na atividade;
• fatores psicossociais relacionados à organização do trabalho;
• fatores ligados à psicodinâmica do trabalho ou aos desequilíbrios psíquicos gerados
em certas situações especiais de trabalho na gênese do processo de adoecimento.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001)
As doenças osteomusculares podem surgir em decorrência de um acidente específico ou
aparecer lentamente com o passar do tempo, dificultando assim o reconhecimento de sua
relação com o trabalho. A predominância destes efeitos tardios impede ou dificulta que os
trabalhadores estabeleçam uma relação de causa e efeito entre o acidente e as doenças ou
deficiências orgânicas, muitas delas atribuídas à idade e a fatores individuais ou hereditários.
(ALEXANDRE; BENATTI, 1998)
Além das variáveis médicas e ergonômicas, fatores psicossociais, como intenso estresse
ocupacional, inadequação do suporte social, monotonia das atividades, ansiedade e depressão,
entre outros, são contribuintes significativos para o prognóstico desfavorável de doentes com
DORT. Há evidências de que fatores psicossociais estejam envolvidos na etiologia dos DORT
e lombalgias ocupacionais, embora essas evidências carreguem consigo incertezas quanto ao
conceito de “psicossocial” e aos mecanismos que correlacionam os fatores psicossociais e
as anormalidades músculo-esqueléticas. (YENG et al, 2001)
2.2.3 Fatores de risco para DORT
Os grupos de fatores de risco são listados segundo a Norma Técnica do INSS (ORDEM DE
SERVIÇO/INSS n.º 606/1998) como:
17
• O grau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão: a
dimensão do posto de trabalho pode forçar os indivíduos a adotarem posturas
ou métodos de trabalho que causam ou agravam as lesões osteomusculares;
• O frio, as vibrações e as pressões locais sobre os tecidos: a pressão
mecânica localizada é provocada pelo contato físico de cantos retos ou
pontiagudos de um objeto ou ferramenta com tecidos moles do corpo e trajetos
nervosos;
• As posturas inadequadas, com três mecanismos que podem causar os
distúrbios: os limites da amplitude articular, a força da gravidade oferecendo
uma carga suplementar sobre articulações e músculos, as lesões mecânicas
sobre os diferentes tecidos;
• A carga osteomuscular entendida como a carga mecânica decorrente de: uma
tensão (por exemplo, a tensão do bíceps) uma pressão (por exemplo, a pressão
sobre o canal do carpo), uma fricção (por exemplo, a fricção de um tendão
sobre a sua bainha), uma irritação (por exemplo, a irritação de um nervo).
Entre os fatores que influenciam a carga osteomuscular, descrevem-se: a força,
a receptividade, a duração da carga, o tipo de preensão, a postura do punho e o
método de trabalho;
• A carga estática presente quando um membro é mantido numa posição que vai
contra a gravidade: nesses casos, a atividade muscular não pode se reverter a
zero (esforço estático). Três aspectos servem para caracterizar a presença de
posturas estáticas: a fixação postural observada, as tensões ligadas ao trabalho,
sua organização e conteúdo;
• A invariabilidade das tarefas: monotonia fisiológica e/ou psicológica;
• As exigências cognitivas: causando um aumento de tensão muscular ou uma
reação mais generalizada de estresse;
18
• Os fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho: os fatores
psicossociais são as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de
organização do trabalho. Como exemplos de fatores psicossociais podem ser
citados: considerações relativas à carreira, à carga, e ao ritmo de trabalho e ao
ambiente social e técnico do trabalho. A percepção psicológica que o indivíduo
tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas da
carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação
social do trabalho.
2.2.4 Sintomatologia
Os principais sintomas das DORT são: peso e cansaço no braço, formigamento, dormência,
dor que varia de intensidade e característica de acordo com o comprometimento, rigidez
matinal, fisgadas, choques, edemas, pele avermelhada, calor localizado e perda de força
muscular, todos em maior ou menor grau, ale de ansiedade, irritabilidade, labilidade do
humor, distúrbios de sono, fadiga crônica, cefaléia tensional e alterações da memória.
(BELLUSCI, 2008)
Freitas et al (2009), ressaltam que apesar do início insidioso dos sintomas, há a sua
predominância nos finais de jornada de trabalho ou durante os picos de produção, ocorrendo
alívio com o repouso noturno e nos finais de semana. Poucas vezes o trabalhador se dá conta
de sua ocorrência precocemente, especialmente, pressionado pela necessidade de
corresponder às exigências do trabalho, pela falta de informação e outros fatores que o
estimulam a suportar seus sintomas e a continuar trabalhando como se nada estivesse
ocorrendo.
A dor muito forte, característica das afecções músculo- esqueléticas em geral, é uma das
características mais instigantes dos DORT. Ela pode contrastar com lesões relativamente
benignas e com poucos sinais objetivos. Tal paradoxo costuma ser um fator de confusão para
médicos e demais envolvidos com a saúde ocupacional, e contribui para a deterioração do
relacionamento entre trabalhador e chefia. (WALSH et al, 2004)
2.2.5 Fisiopatologia
19
Os tendões estão sujeitos ao estresse tensional pelos músculos e ao estresse compressivo dos
ossos e ligamentos adjacentes. Eles respondem mecanicamente a esses estresses com
deformidades nas ligações moleculares entre suas matrizes tissulares, ocorrendo assim
alterações fisiológicas, metabólicas e circulatórias, provavelmente por oclusão do fluxo
sanguíneos e privação de nutrientes. Essas alterações dependem da intensidade e da duração
da frequência da exigência do tendão. (LECH, 1998)
A susceptibilidade individual tem forte influência no desenvolvimento das tendinites como,
por exemplo, a frouxidão ligamentar exagerada favorecendo uma hipermobilidade e
consequentemente uma instabilidade articular. As variações tendínias congênitas e as
anomalias ligamentares congênitas, como, por exemplo, a hipoplasia do ligamento uneral, são
fatores que predispõe ao desenvolvimento das tendinites. (NICOLETTI, 1996)
Os fatores não ocupacionais devem ser sempre considerados. As alterações da
microvasculatura e da estrutura física dos tendões podem receber influências hormonais,
bioquímicas, imunológicas, além das influências mecânicas. As lesões degenerativas nos
tendões podem surgir na população em geral a partir dos 35 anos de idade, quando a
velocidade e qualidade de reposição tecidual tndínia é menor. (HELFENSTEIN Jr, 1993)
2.2.6 Diagnóstico
O diagnóstico de LER/DORT envolve aspectos complicadores porque se direciona as
condutas que devem ser tomadas, não só na área clínica, mas também nas áreas
previdenciária, trabalhista, de responsabilidade civil e, às vezes, até criminal. O primeiro
aspecto complicador decorre das características do quadro clínico e dos múltiplos fatores que
o desencadeiam.
Segundo BRASIL (2001), a investigação de fatores causais de sintomas do sistema músculo-
esquelético, a partir do paciente deve abordar:
a) História da moléstia atual: São queixas encontradas em diferentes graus de gravidade do
quadro clínico. É importante caracterizar as queixas quanto ao tempo de duração, localização,
intensidade, tipo ou padrão, momentos e formas de instalação, fatores de melhora e piora
variações no tempo.
20
b) Investigação dos diversos aparelhos; Como em qualquer caso clínico, é importante que
outros sintomas ou doenças sejam investigados.
c) Comportamentos e hábitos relevantes: Hábitos que possam causar ou agravar sintomas do
sistema músculo- esquelético devem ser objeto de investigação.
e) Antecedentes familiares: Existência de familiares co-sangüíneos com história de diabetes e
outros distúrbios hormonais, “reumatismos”, deve merecer especial atenção.
f) História ocupacional: Tão fundamental quanto elaborar uma boa história clínica é perguntar
detalhadamente como e onde o paciente trabalha, tentando ter um retrato dinâmico de sua
rotina laboral: duração da jornada de trabalho, existência de tempo de pausas. Não se deve
esquecer-se de empregos anteriores e suas características, independente do tipo de vínculo
empregatício.
g) Exame físico: Deve tentar identificar comprometimento de músculos, tendões, nervos,
articulações, problemas circulatórios nos membros sobrecarregados, em geral, os superiores.
h) Exames complementares:
• Radiografia: Adequada para análise de estruturas osteoarticulares.
• Ultra-sonografia: Técnica extremamente útil para tornar visíveis estruturas tendíneas e
Musculares. É adequado para tornar visíveis estruturas livres da superposição de partes ósseas
ou gasosas.
• Ressonância magnética: É útil na avaliação de partes moles e estruturas osteoarticulares,
sendo, no entanto, mais cara do que a ultra-sonografia (3 a 4 vezes).
• Cintilografia óssea: É um exame muito sensível na detecção de distúrbios do metabolismo
ósseo (traumáticos, inflamatórios, vasculares e neoplásicos), porém, pouco específico em sua
caracterização.
21
• Tomografia computadorizada: Tem excelente resolução óptica para estruturas
osteoarticulares.
• Eletroneuromiografia: Deve ser solicitada nos casos em que há queixas e exame físico
compatíveis com compressões de nervos periféricos, encontrados em alguns quadros
associados às LER/DORT. (BRASIL, 2001)
O diagnóstico de DORT é essencialmente clínico. Depende de história clínica bem elaborada,
enfatizando dados sobre dor, exame físico cuidadoso e anamnese ocupacional abrangente que
inclua não só os fatores biomecânicos, mas também elementos sobre os gestos que a pessoa
realiza no trabalho e no lar, a organização do trabalho (ciclo de trabalho, produtividade, ritmo,
pausas), condições ergonômicas, como também avaliação de fatores psicossociais. O ideal
seria o conhecimento do local de trabalho e a observação direta da atividade realizada pelo
doente. (YENG et al, 2001)
2.2.7 Tratamento e reabilitação
O tratamento das LER/DORT deverá, necessariamente, ser realizado por uma equipe
multidisciplinar composta por médicos (ortopedistas, reumatologistas, fisiatras, neurologistas
e especialistas em dor), enfermeiros, ergonomistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais,
fisioterapeutas e assistentes sociais. Todos os membros da equipe devem ter uma capacitação
específica (TAKAHASHI; CANESQUI, 2003).
Segundo Ranney (2008), o prognóstico está na dependência do diagnóstico e tratamento
precoces e do afastamento do trabalho gerador do processo mórbido, pois, somente nessas
circunstâncias é que ele é eficaz. Nos estados avançados, as lesões são irreversíveis e
incapacitantes e o sofrimento mental pode ser intenso.
Segundo Yeng et al (2001), os recursos terapêuticos utilizados são variados e visam o
controle da dor, recuperação e exploração do potencial remanescente da capacidade funcional
e reinserção do indivíduo no seu ambiente de trabalho, familiar e social.
Os autores descrevem as seguintes terapêuticas:
22
• Avaliação ergonômica. A classificação de uma afecção como sendo relacionada ao
trabalho implica no conhecimento do local e do modo de execução do trabalho pelos
doentes. O ideal para esse conhecimento é a visita ao local de trabalho e a observação
das atividades.
• Tratamento medicamentoso. Os analgésicos antiinflamatórios controlam a dor e a
inflamação. Nos casos crônicos deve-se associar psicotrópicos como os
antidepressivos e os neurolépticos que contribuem para melhorar a analgesia e o
relaxamento muscular e resgatam o sono, o apetite e o humor.
• Procedimentos fisiátricos. Consistem do uso de meios físicos, reeducação postural,
cinesioterapia, acupuntura e agulhamento e ou infiltração anestésica dos pontos
dolorosos miofasciais, para auxiliar a reabilitação e minorar a dor.
• Terapia Ocupacional. A terapia ocupacional, a execução de atividades laborativas e as
simulações das atividades de vida diária devem ser programadas em escala ascendente
e respeitando o aumento paulatino da flexibilidade e da força do membro lesado.
• Procedimentos Psicossociais. Os cuidados com os spectos psicossomáticos são muito
importante na reabilitação dos doentes com dor crônica, particularmente dos com
DORT.
• Programas educativos cognitivo comportamentais. Informações sobre a doença, ensino
de técnicas de vivências para o enfrentamento ativo da dor, estresse e das
incapacidades compõem os programas educacionais em DORT, que são considerados
por alguns estudiosos de grande utilidade na melhora da funcionalidade física e
psíquica, no aumento da freqüência de retorno ao trabalho, na melhora da intensidade
da dor, na melhor incorporação de novas estratégias aprendidas e na melhora da
qualidade de vida dos doentes com dor crônica.
A falta de informação dos trabalhadores sobre esta doença é um fator que faz com que a sua
evolução não seja a esperada, conduzindo à irreversibilidade com a conseqüente incapacitação
para o trabalho. Daí a importância do profissional de saúde esclarecer ao máximo o
23
trabalhador, evitando orientações imprecisas ou superficiais, pois o paciente pode não levar a
sério a sua doença, devido aos poucos sintomas no seu início.
(RANNEY, 2008)
Ainda, segundo Freitas et al (2009), é característico dos portadores de DORT apresentarem
quadros clínicos em que os sintomas não condizem com os resultados do exame clínico e,
assim, dificultam o diagnóstico e a conduta terapêutica.
Portanto, o insucesso dos programas terapêuticos dos DORT deve-se à falha no diagnóstico
das reais etiologias da dor, da incapacidade e dos fatores que contribuem ou agravam o
quadro doloroso. Sendo assim, a identificação das estruturas lesadas é importante para o
melhor resultado no tratamento. (CODO; ALMEIDA, 2003)
2.3 O Trabalho de Enfermagem no Ambiente Hospitalar e o Desenvolvimento de DORT
Os sistemas de saúde, em especial as instituições hospitalares brasileiras, têm adotado, a partir
dos anos de 1990, algumas novidades incorporadas inicialmente pelas indústrias e pelo
sistema financeiro, como a introdução de inovações tecnológicas e novos modelos de gestão,
visando à melhoria da eficiência e produtividade das empresas. (MARZIALE E ROBAZZI, 2000).
Dentro do contexto da realidade do ambiente hospitalar encontram-se os profissionais de
Enfermagem que, devido à natureza da profissão, têm suas atividades marcadas por riscos de
ordem biológica (vírus bactérias, fungos), física (iluminação inadequada, temperatura e
ruídos), química (medicamentos, desinfetantes esterilizantes e gases anestésicos), ergonômica
(esquema de trabalho em turnos, carga física e mental, mobiliários inadequados), psicológica
(excesso de trabalho, relacionamento humano difícil, dia-a-dia com óbitos, tensão, stress), e
social (agressões físicas e/ou verbais). Vários estudos destacam que as condições de trabalho
vivenciadas por esses trabalhadores ocasionam problemas de saúde, acarretando prejuízos
pessoais, sociais e econômicos.
As condições de trabalhos impostas hoje no mercado de trabalho na área da saúde, através das
políticas governamentais e privativas, estão aquém do que se deseja e espera para melhorias
das condições de trabalho do servidor público e/ou empregado na rede privada, bem como, da
eficiência da assistência prestada aos clientes; aqui se pode citar: jornadas de trabalhos
24
ininterruptas de segunda á segunda, jornadas com mais de 30hs semanais, solicitações de
horas extras para um único servidor, pressão interna exercida decorrente da sobrecarga de
atividades, devido à alta demanda de pacientes que necessitam de internações, a alta
rotatividade de profissionais que após o período de adaptação e conhecimento geral sobre a
unidade, se despede da instituição em busca de novos horizontes profissionais e salariais.
(BEZERRA, 2008)
O histórico dos trabalhadores que exercem suas atividades na área da saúde nos mostra em
quase sua totalidade o aparecimento de disfunções de ordem físicas, psicológicas e
emocionais na realização de suas tarefas. As disfunções de ordens psicológicas e emocionais,
são amenizadas e até eliminadas pelas atividades fora do ambiente de trabalho. O mesmo não
ocorrendo com as disfunções físicas.
O ambiente de trabalho, sob condições físicas, mecânicas e psíquicas adversas, é considerado
como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de alterações no sistema
musculoesquelético. A exposição contínua e prolongada do corpo aos fatores de risco de tal
ambiente favorece o surgimento das doenças ocupacionais. (MAGNAGO, et al, 2007)
Dentre as profissões da área da saúde, a enfermagem, em particular, tem sido especialmente
afetada pelo distúrbio musculoesquelético. Pesquisas realizadas em vários países exibem
prevalências superiores a 80% de ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos em
trabalhadores de enfermagem. Estudos brasileiros mostram prevalências entre 43 a 93%
desses distúrbios. Tais distúrbios atingem principalmente a região lombar, os ombros, os
joelhos e a região cervical. Da equipe de enfermagem, os auxiliares são os mais acometidos
por esses distúrbios (82 a 93%). Tal fato, possivelmente, está diretamente relacionado ao tipo
de atividade desenvolvida por esses profissionais, aliado à falta de controle sobre o processo
de trabalho deles. (MAGNAGO, et al, 2007)
Entre as atividades referidas pelos profissionais de enfermagem,auxílio na redução de fratu
ras, imobilização de crianças e reversão de parada cardiorespiratória implicavam em esforço
do aparelho musculoesquelético associado à sobre carga postural. Por outro lado, atividades
como: ordenhar drenos, uso do computador, preparo de medicação endovenosa, auxílio na
realização de teste ergométrico e o ato deescrever implicavam em movimentos repetitivos que
sobrecarregavam segmentos musculares. (MOREIRA: MENDES, 2005)
25
Dessa forma devido à exposição ocupacional a tais fatores de risco e às particularidades do
processo de trabalho agravadas, muitas vezes, pela precariedade das condições de trabalho, a
lista dos agravos à saúde dos trabalhadores de enfermagem é extensa. (MUROFUSE;
MARZIALE, 2005)
O trabalho de enfermagem, além de insalubre, é também penoso, árduo e repetitivo, o que
acaba por provocar lesões físicas muitas vezes irreversíveis. Partindo do pressuposto que a
enfermagem é uma categoria profissional que desempenha movimentos repetitivos em seu
cotidiano laboral, conhecer os aspectos que determinam o aparecimento de DORT é
fundamental para os profissionais de saúde, bem como para os empregados de todos os níveis
hierárquicos de uma organização, pois somente a partir dessa compreensão, será possível
entender por que uma pessoa pode sofrer dor e não apresentar lesões. (ROSA, et al, 2008)
A maioria dos profissionais de enfermagem mantém dois empregos, o que acumula longas
horas de trabalho, além disso, longas jornadas de trabalho estão estreitamente relacionadas
não só a problemas musculoesqueléticos, como também a hipertensão arterial, doenças do
coração, estresse, tensão, irritabilidade, insônia, fatores relevantes para qualidade de vida
desses trabalhadores.
Ainda, segundo Rosa et al (2008), aquele trabalho que tornou possível a humanização do
homem também tem produzido desafios para a área da saúde. Os avanços demonstrados pela
Humanidade, além das facilidades e dos benefícios, acarretaram também problemas à saúde
do trabalhador. Dentre eles, encontram-se os Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao
Trabalho (DORT), cuja determinação é, fundamentalmente, relacionada com as mudanças em
curso na organização do trabalho e, secundariamente, com as inovações tecnológicas
resultantes da reestruturação produtiva.
Tanto os profissionais de enfermagem que trabalham nas unidades de internação quanto os
que trabalham nos ambulatórios mobilizam rotineiramente materiais e equipamentos, com
demanda de esforço físico, o que, associado à postura incorreta, pode levar a uma sobrecarga
de segmentos musculoesqueléticos.
26
Além disso, a utilização de materiais sucateados ou sem manutenção (carrinho de curativos,
macas, cadeiras com rodas emperradas, leitos com grades emperradas) e não padronizados em
suas dimensões (altura das macas desnivelada com altura dos leitos; cadeiras higiênicas que
não passam pela porta do banheiro) exigem desses profissionais maior esforço físico e adoção
e manutenção de posturas inadequadas, favorecendo o aparecimento de distúrbios
osteomusculares. (MOREIRA; MENDES, 2005)
Geralmente o transporte e movimentação de pacientes são executados sob condições
desfavoráveis, com um número insuficiente de pessoas e com equipamentos inadequados e
sem manutenção. A falta de equipamentos e materiais para auxiliarem agrava mais ainda o
problema. (PARADA; ALEXANDRE; BENATTI, 2002)
Ao final do expediente é comum surgirem dores dorso lombares e cervicais proveniente dos
fatores acima descritos, como também podem surgir dores irradiadas principalmente para os
membros inferiores, advindos da compressão de uma raiz nervosa que emerge do espaço entre
duas vértebras e se estende aos membros inferiores. (LEMOS; CASTRO; BARNEWITZ,
1999)
Os autores afirmam ainda que a avaliação dos aspectos ergonômicos da questão vem a
confirmar que a maior parte dos pontos a serem estudados com vistas a melhoramentos e
soluções está relacionadas com o risco de desenvolvimento das doenças ocupacionais,
diretamente associadas à má postura dos enfermeiros, revelando grande demanda de esforço
físico no desempenho desta tarefa, o que chama a atenção dos ergonomistas. As mais
relevantes fontes de problemas identificados são as lombalgias e lombociatalgias, ou seja, as
dores lombares e dores lombares com irradiação para os membros inferiores, respectivamente.
Dessa forma, as queixas de saúde relacionadas ao aparelho osteomuscular representam uma
das maiores causas de sofrimento nos trabalhadores de enfermagem, sendo que estes valores
assumem proporções maiores sobre as mulheres trabalhadoras, fator que jus tifica-se não
somente pela fragilidade biológica inerente a mulher, mas em especial pela sua inserção social
no mundo do trabalho. . (LEITE, SILVA; MERIGHI, 2007)
2.4 Incidências de DORT
27
No Brasil, a partir da década de 80, o aumento da incidência de distúrbios
musculoesqueléticos pode ser observado nas estatísticas do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS), autarquia responsável pela concessão de benefícios por doenças profissionais.
De acordo com os dados disponíveis, mais de 80% dos diagnósticos desses distúrbios
resultaram em concessão de auxílio-acidente e aposentadoria por invalidez pela Previdência
Social, em 1998. Tal fato também pode ser observado na casuística atendida nos Centros
Regionais de Saúde do Trabalhador, na rede pública de serviços de saúde. (BRASIL, 2001)
Os DORT, como a maioria das doenças músculo-esqueléticas, atingem mais frequentemente
as mulheres, por não possuírem o mesmo potencial de desenvolvimento muscular dos
homens, devido também a outros fatores como o uso de anticoncepcionais e a execução de
trabalhos domésticos após uma jornada de trabalho. (CARVALHO, 2006)
Segundo Salim (2003), uma análise da estrutura etária dos trabalhadores portadores de
LER/Dort indica uma clara predominância de casos na faixa etária de 30 a 39 anos, cujas
taxas, refletindo participações extremas em dois momentos, oscilaram de 43,5%, em 1994,
para 36,0%, em 1998.
A alta incidência de DORT em tais trabalhadores de enfermagem se explica principalmente
por aproximadamente 90% serem mulheres. Além do senso cognitivo e emocional, é exercido
o esforço físico excessivo na atuação frente aos pacientes. Devido a este esforço, um grande
número de profissionais de enfermagem tem problemas posturais e sofrem de dores de
alguma espécie, principalmente na região lombar. (LEMOS; CASTRO; BARNEWITZ, 1999)
Embora não sejam doenças recentes, as DORT vêm, sem dúvida, assumindo um caráter
epidêmico, sendo algumas de suas patologias crônicas e recidivas, ou seja, de terapia difícil,
porque se renovam precocemente quando da simples retomada dos movimentos repetitivos,
gerando uma incapacidade para a vida que não se resume apenas ao ambiente de trabalho.
(SALIM, 2003)
2.5 As DORT e os Aspectos Econômicos, Legais e Psicossociais
É importante destacar os impactos econômicos e psicossociais ocasionados principalmente
pelo absenteísmo e as seqüelas das lesões. O número de licenças médicas decorrentes de
DORT tem crescido consideravelmente nos últimos anos, acarretando assim fortes impactos
28
no sistema de previdência pública e, por conseguinte, na distribuição do ônus para o conjunto
da sociedade.
As repercussões biopsicossociais dos DORT são inúmeras, pois causa dor crônica,
incapacidade física, impactos legais (acidente do trabalho), sociais (afastamento temporário,
aposentadoria por invalidez, perda de emprego), econômicas (redução salarial do trabalhador)
e psicológicas (depressão, ansiedade, redução de auto-estima) que, entre outros, requerem
enfoque amplo e multidimensional, reforçando a tendência atual de se abordar a saúde de
maneira ampla, não apenas física, mas também considerando suas dimensões psicológicas,
sociais, culturais e espirituais. (YENG et al, 2001)
Estes pacientes estão em uma situação de constante sofrimento físico e psíquico. A limitação
funcional, considerada como uma das consequências mais marcantes para o paciente, dificulta
a realização de suas atividades, sejam domésticas, do trabalho ou até mesmo de lazer.
( MERLO et al, 2010)
Conhecida como a doença da modernidade, tem causado inúmeros afastamentos do trabalho,
cuja quase totalidade evolui para incapacidade parcial e, em muitos casos, para a incapacidade
permanente, com aposentadoria por invalidez. (ROSA, et al, 2008)
Os autores destacam ainda a existência da controvérsia que resulta da negação da existência
do nexo causal entre a doença e a atividade desempenhada pelo trabalhador, causando maior
prejuízo ao trabalhador que fica sem ter assegurados seus direitos referentes à questão que
envolve a saúde.
Segundo Salim (2003), no final da década de 90 ergueu-se, por parte do Ministério da
Previdência e Assistência Social, um verdadeiro “biombo institucional” para dificultar o
diagnóstico e o reconhecimento das LER/Dort, e, por conseguinte, a consignação de direitos
aos lesionados
Segundo o Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de
Trabalho (DIESAT), para a legislação brasileira só é doença do trabalho, doença profissional
ou ocupacional, aquela em que é fisicamente demonstrável a relação de causa e efeito entre
trabalho e doença. Ainda segundo este órgão, esta evidência precisa ser material e
29
materializável, carente de comprovação tanto da presença do agente no ambiente de trabalho
em níveis acima dos limites de tolerância legalmente admitidos, como da sua presença e
efeitos nos corpos dos trabalhadores. (REBOUÇAS, 1989 apud ALEXANDRE; BENATTI,
1998)
O retorno ao trabalho é uma meta importante, mas nem sempre fácil de ser cumprida.
Questões sócio-econômicos e culturais e o despreparo das empresas e empregadores para
atender as sugestões são argumentos que justificam estas dificuldades. (YENG et al, 2001)
2.6 Os conhecimentos da Ergonomia e sua relação com os DORTs
A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seu ambiente de trabalho.
Neste sentido, o termo ambiente abrange não apenas o meio propriamente dito em que o
homem trabalha, mas também os instrumentos, os métodos e a organização deste trabalho.
Em relação a tudo isto está ainda a natureza do próprio homem, o que inclui suas habilidades
e capacidades psicofisiológicas, antropométricas e biomecânicas. (ALEXANDRE, 1998)
O objetivo fundamental da ergonomia é contribuir para a satisfação das necessidades humanas
no ambiente de trabalho, incluindo a promoção de saúde e de bem-estar'''. Então, um dos
pontos básicos para atingir este objetivo é a realização de uma análise cuidadosa do trabalho,
voltada para a identificação dos fatores de incompatibilidade no contexto de trabalho e suas
conseqüências para o indivíduo. Ao analisar de forma crítica e metodológica as situações de
trabalho, a ergonomia visa a reorganizá-las de modo que se possam eliminar fontes de
prejuízo, ou seja, eliminar aqueles elementos agressores que podem levar à perda parcial ou
total de qualquer função vital, em curto, médio ou longo prazo. (GALLASCH; ALEXANDRE, 2003)
A avaliação dos aspectos ergonômicos da questão vem a confirmar que a maior parte dos
pontos a serem estudados com vistas a melhoramentos e soluções, estão relacionados com o
risco de desenvolvimento das doenças ocupacionais diretamente associadas a má postura dos
enfermeiros, revelando grande demanda de esforço físico no desempenho desta tarefa, o que
chama a atenção dos ergonomistas. As mais relevantes fontes de problemas identificados são
as lombalgias e lombociatalgias, ou seja, as dores lombares e dores lombares com irradiação
para os membros inferiores, respectivamente. (LEMOS; CASTRO; BARNEWITZ, 1999)
30
No ambiente hospitalar, existem vários fatores ergonômicos relacionados com problemas
ambientais e organizacionais que podem ser relacionados às lesões osteomusculares, tais
como recursos tecnológicos inadequados, incluindo mobiliário, a falta de equipamentos
especiais para movimentar pacientes. Além da escassez de recursos humanos e a falta de
treinamento. (PARADA; ALEXANDRE; BENATTI, 2002)
A NR 17 visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho
às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de
conforto, segurança e desempenho eficiente. Esta norma norma estabelece que:
- Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas
dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho,
devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme
estabelecido nesta Norma Regulamentadora.
- Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um
trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.
- Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não os
leves, devem receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de
trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.
- Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas, deverão ser usados
meios técnicos apropriados.
- Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual
de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente inferior àquele
admitido para os homens, para não comprometer a sua saúde ou a sua segurança.
- O trabalho de levantamento de material feito com equipamento mecânico de ação
manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador
seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua
segurança.
31
- Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho
deve ser planejado ou adaptado para esta posição.
- Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser
colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos
os trabalhadores durante as pausas.
- Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados
às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser
executado.
- As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características
psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
- Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou
artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.
- A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos
trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
- Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço,
ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do
trabalho, deve ser observado o seguinte:
- Devem ser incluídas pausas para descanso;
− Quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou
superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno
gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento.
32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise dos artigos que compuseram a amostra, conclui-se que a maioria das queixas
de saúde nos trabalhadores de enfermagem relaciona-se ao sistema osteomuscular, atribuídas
principalmente a fatores ergonômicos e posturais inadequados, presentes na dinâmica
hospitalar evidenciando a gravidade deste problema nesta categoria.
Não raramente, a equipe de enfermagem atua em instituições hospitalares que apresentam
déficits de recursos humanos e materiais tornando a execução do trabalho mais penosa,
gerando uma série de agravos a saúde.
A análise dos diversos estudos mostrou não só uma elevada ocorrência de distúrbios
musculoesqueléticos em trabalhadores de enfermagem mas também que tais distúrbios
atingem principalmente a região lombar, os ombros, os joelhos e a região cervical.
Da equipe de enfermagem, os auxiliares são os mais acometidos por esses distúrbios. Tal
fato, possivelmente, está diretamente relacionado ao tipo de atividade desenvolvida por esses
profissionais, aliado à falta de controle sobre o processo de trabalho deles.
Os estudos sobre DORT descrevem que os fatores de risco relacionados ao trabalho mais
comumente citados como determinantes do aparecimento da doença, são os fatores
biomecânicos (movimentos e posturas de risco que caracterizam a carga fisiológica po- dem
estar presentes nos mais diferentes mo- mentos da atividade laboral) e os psicossociais
(pressão no trabalho, baixa autonomia, competitividade, entre outros)
Os autores aqui estudados afirmam que tais distúrbios são responsáveis pela maior parte dos
afastamentos do trabalho e pelos custos com pagamentos de indenizações, tanto no Brasil
como na maior parte dos países industrializados.
Além dos gastos com afastamentos, indenizações, tratamentos e processos de reintegração ao
trabalho, um outro aspecto importante para os indivíduos acometidos por essas lesões é a
discriminação. A partir da recidiva de queixas, o trabalhador é visto como um problema pela
supervisão e pela gerência da empresa. Também é comum que seja discriminado pelos
33
colegas de trabalho, que se sentem sobrecarregados pelo fato do colega “doente” reclamar de
dor e faltar ao serviço.
Observou-se que a terapêutica está voltada para o alívio da dor via medicamentos e para o
uso de recursos fisioterápicos, muitas vezes, aleatórios. O repouso, fundamental para o
tratamento, por interromper a continuidade traumática do trabalho e esfriar o processo
inflamatório, nem sempre é respeitado.
A negação da existência do nexo causal entre a doença e a atividade desempenhada pelo
trabalhador resulta em maior prejuízo ao trabalhador que fica sem ter assegurados seus
direitos referentes à questão que envolve a saúde. As polêmicas e controvérsias envolvidas
com essa questão não foram superadas apesar dos inúmeros debates envolvendo questões
médicas, previdenciárias, sociais e políticas associadas à ocorrência destas afecções e de suas
consequências.
Assim torna-se, também legalmente, necessário buscar a melhoria das condições de trabalho
nos hospitais preservando a saúde dos trabalhadores que atuam nessas instituições e
melhorando a qualidade da assistência prestada ao paciente. Isso só será possível através de
um contínuo processo de adaptação entre trabalho e trabalhador, para que a assistência
prestada ao cliente seja de boa qualidade e o trabalhador desempenhe suas atividades sem
prejuízo de sua saúde física e mental.
Conhecer os aspectos que determinam o aparecimento da doença relacionada ao trabalho é
fundamental para os profissionais de saúde, pois somente a partir dessa compreensão será
possível estabelecer medidas de prevenção e entender por que um profissional pode sentir
dor e não apresentar lesões. Apenas uma abordagem multiprofissional e sistêmica dos
problemas de saúde, no trabalho, poderá minimizar eficaz e duradouramente o fenômeno
LER/DORT.
34
REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, N.M.C. Ergonomia e as atividades ocupacionais da equipe de enfermagem. Rev Esc Enferm USP 1998; 32: 84-90.
ALEXANDRE, N.M.C.; BENATTI, M.C.C. Acidentes de trabalho afetando a coluna vertebral: um estudo realizado com trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 6, n. 2, p. 65-72, abril 1998.
BELLUSCI, S. M. Doenças profissionais do trabalho. 10ª Ed. Editora SENAC, São Paulo, 2008.
BEZERRA, L. B. Absenteísmo injustificado na enfermagem hospitalar. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidae Estadual de Londrina. Paraná, 2008.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de políticas da Saúde. Protocolo de Investigaçào. Diagnóstico, tratamento e prevenção de Lesão por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao trabalho, Brasília, 2000.
BRASIL, Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde do Trabalhador. Diagnóstico, tratamento, reabilitação, prevenção e fisiopatologia das LER/ DORT. Ministério da Saúde, Brasília, 2001.
CODO, W.; ALMEIDA, MCCG. LER diagnóstico, tratamento e prevenção: uma abordagem multidisciplinar. 4 ed. Petrópolis: Editora Vozes; 2003.
FEDERIGHI, W. J. P. Ergonomia. IN, CARVALHO, G. M. Enfermagem do trabalho. Editora Pedagógica Universitária LTDA, São Paulo, 2006.
FREITAS, J.R.S.; LUNARDI FILHO, W.D.; LUNARDI, V.L; FREITAS, K.S.; Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho em profissionais de enfermagem de um hospital universitário. Rev. Eletr. Enf.. 2009;v.11, n.4. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n4/v11n4a16.htm. Acesso em 20 de set 2010.
GALLASCH, C. H.; ALEXANDRE, N. M. C.; Avaliação de riscos ergonômicos durante a manipulação de pacientes. R Enferm UERJ, Rio de Janeiro, 2003.
GIL, A. C. Método e Técnicas de Pesquisa Social. Ed. Altas SA, 5ª ed. São Paulo, 2006.
35
GODOY, S; B. Absenteísmo – doença entre funcionários de um hospital universitário. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2002.
GURGUEIRA, G. P.; ALEXANDRE, N.M.C.; CORRÊA, H. R. Filho. Prevalência de sintomas músculo-esquelético em trabalhadores de Enfermagem. Rev Latino-am Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 5, p.608-613, outubro 2003.
HELFENSTEIN Jr, M. Lesões por esforços repetitivos (LER/DORT): conceitos básicos. V.1 e 3. São Paulo. Schering- Plough, 1998
WALSH, I. A. P; CORRAL, S.; FRANCO, RN; CANNETI, E. E. F.; ALEM, M. E. R.; COURY, H. J. C. G. Capacidade para o trabalho em indivíduos com lesões músculo esqueléticas crônicas. Rev. de Saúde Pública. São Paulo, v. 38, n. 2, 2004.
LECH, O. Aspectos clínicos dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. São Paulo. Rhodia Farma, 1998.
LEITE, P. C.; SILVA, A.; MERIGHI, M. A. B. A mulher trabalhadora de enfermagem e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 41, n. 2, 2007.
LEMOS, J. C; CASTRO. J. A. R; BARNEWITZ, L. C. Análise ergonômica das posturas assumidas pelas enfermeiras do Hospital Universitário de Santa Maria em tarefas realizadas frente aos leitos. Analise ergonômica das posturas assumidas pelos profissionais de enfermagem do HUSM em tarefas realizadas frente aos leitos. Revista da Saúde, Bagé - RS, v. 3, p. 80-91, 1999.
MAGNAGO, T. S. B.; LISBOA, M. T. L.; SOUZA, I. E. O; MOREIRA, M. C. Distúrbios musculo-esqueléticos em trabalhadores de enfermagem: associação com condições de trabalho. Rev. bras. infere, Brasília, v. 60, n. 6, Dez. 2007.
MARCONI, M. A; LAKATO, E. M. Técnicas de Pesquisa. Ed. Altas SA, 6 ed, São Paulo, 2006.
MARZIALE, M.H.P.; ROBAZZI, M.L.C.C. O trabalho de enfermagem e a ergonomia. Comitê de LER, Ribeirão Preto, v. 8, n. 6, p. 124-127, 2000.
MERLO, A.R.C.; ELBERN, J.L.G.; KARKOW, ARM.; VAZ, M.A.; VIEIRA, P.R.B.; SPODE, C.B. O trabalho entre prazer, sofrimento e adoecimento: a realidade dos portadores
36
de lesões por esforços repetitivos. Psicologia e Sociedade, V.15, n.1:117-136, Belo Horizonte, 2003.
MOREIRA, A. M. R.; MENDES, R. Fatores de risco dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho de enfermagem. R Enferm UERJ, 2005; v. 13, n. 1, p. 19-26.
MUROFUSE, N. T.; MARZIALE, M. H. P. Doenças do sistema osteomuscular em trabalhadores de enfermagem. Rev. Latino- am. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 3, Junho 2005.
NASCIMENTO, G. M. Estudo do absentismo dos trabalhadores de enfermagem em unidade básica e distrital de saúde do município de Ribeirão Preto- SP. Dissertação de mestrado apresentado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- USP, 2003.
NICOLETTI, S. L.E. R- lesões por esforços repetitivos: literatura técnica e continuada. V. 1, 2 3. São Paulo: Bristol- Myeris Squibb Brasil, 1996)
PARADA, E.O.; ALEXANDRE, N.M.C; BENATTI, M.C.C. Lesões Ocupacionais Afetando a Coluna Vertebral em Trabalhadores de Enfermagem. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 10, n. 1, p. 64-9, jan-fev, 2002.
PRZYSIEZNY, W. L. Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho: um enfoque ergonômico. Revista Tecno-cientifica Dynamis. V. 8, n. 31, abr./jun., 2000.
RANNEY, D. Distúrbios osteomusculares crônicos relacionados ao trabalho. São Paulo: Roca; 2008.
RIBEIRO, E. J. ; SHIMIZU, H. E. Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem. Rev Bras Enferm, Brasília, v. 60, n. 5, set-out 2007.
ROCHA, G. C. Trabalho, saúde e ergonomia. Relação entre aspectos médicos e legais. 1ª Ed. Editora JURUA, Curitiba, 2008.
ROSA, A. F. G.; GARCIA, P. A.; VEDOATO, T.; CAMPOS, R. G; LOPES M. L. S. Incidência de LER/DORT em trabalhadores de enfermagem. Acta Sci. Health Sci. Maringá, v. 30, n. 1, p. 19-25, 2008.
YENG, L.T; TEIXEIRA, M.J. ; ROMANO, M.A.; PICARELLI, H.; SETTIMI, M.M.; GREVE, J.M. D. Distúrbios ósteo-musculares relacionados ao trabalho. Rev. Med. (São Paulo), 80(ed. esp. pt.2):422-42, 2001.
37
SALIM, A. C. Doenças do trabalho: exclusão, segregação e relação de gênero. Rev. São Paulo em perspectiva, São Paulo, v. 17, n. 01, 2003.
TAKAHASHI, M.A.B.C.; CANESQUI, A.M. Pesquisa avaliativa em reabilitação profissional: a efetividade de um serviço em desconstrução. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p. 1473-1483, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?Script=sci_arttext&pid=S0102311X2003000500026&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 26 abr. 2010.
VERTHEIN, M. A. R, MINAYO- GOMEZ, C. A construção do sujeito-doente em LER. Hist Cienc Saúde Manguinhos, v.7, n. 2, Rio de Janeiro, 2000.