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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA ESCOLA Bárbara Cristina dos Santos Britto ORIENTADOR: Prof. Flávia Cavalcanti Rio de Janeiro 2017 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA ESCOLA

Bárbara Cristina dos Santos Britto

ORIENTADOR: Prof. Flávia Cavalcanti

Rio de Janeiro 2017

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Administração e Supervisão Escolar. Por: Bárbara Cristina dos Santos Britto

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA ESCOLA

Rio de Janeiro 2017

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Angelo e Meiry, por todo amor e

apoio durante o curso.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais e à Fátima

Marques que, além de colega, foi minha

Coordenadora Escolar.

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RESUMO

A leitura, na fase infantil, é fundamental. Além de desenvolver a

imaginação da criança, proporciona a ela interação com a língua e a cultura. Ao

ler para uma criança, o educador e seus responsáveis lhe oferecem a

oportunidade de, por meio da ficção, aproximar o universo infantil do mundo, pois

as histórias revelam aquilo que condiz com o ser humano e o meio em que vive.

O objetivo dessa pesquisa é mostrar que o envolvimento com os livros

faz o público infantil compreender o texto e, por meio disso, opinar e ter uma

visão crítica sobre o conteúdo lido.

Para isso, é necessário o contato com diferentes textos, enredos e

histórias. Por meio da comparação das diferentes versões de Cinderela, este

projeto aborda a importância da leitura para o desenvolvimento intelectual do

aluno, baseando-se nos contos infantis.

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METODOLOGIA

Através de uma pesquisa bibliográfica, este trabalho propõe buscar

maneiras de motivar o corpo docente a desenvolver trabalhos referentes à

leitura, implementar trabalho com a leitura na escola, adotar diferentes

estratégias para o interesse do aluno pela leitura e motivar pais e alunos à prática

da leitura.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Literatura Infantil: Conto de Fadas 10

CAPÍTULO II

As versões da obra Cinderela 12

CAPÍTULO III

Quem foi Perrault? 19

CAPÍTULO VI Análise das versões de Cinderela 22

CONSIDERAÕES FINAIS 27

BIBLIOGRAFIA 29

ÍNDICE 30

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INTRODUÇÃO

A leitura, na fase infantil, é fundamental. Além de desenvolver a

imaginação da criança, proporciona a ela interação com a língua e a cultura. Ao

ler para uma criança, o educador e seus responsáveis lhe oferecem a

oportunidade de, por meio da ficção, aproximar o universo infantil do mundo, pois

as histórias revelam aquilo que condiz com o ser humano e o meio em que vive.

O envolvimento com esse material faz o público infantil compreender o texto e,

através disso, opinar e ter uma visão crítica sobre o conteúdo lido. Para isso, é

necessário o contato com diferentes textos, enredos e histórias.

Atualmente, com a rotina e as obrigações profissionais, é possível

observar o afastamento do convívio entre pais e filhos. A leitura, de maneira

geral, contribui para a aproximação e a interação familiar, pois é um momento

compartilhado. Além disso, ao ver os adultos ao seu redor lendo, as crianças se

interessam por livros e, principalmente, dão significado àqueles textos. Sendo

assim, as mesmas começam a desenvolver sua formação e comportamento

como leitoras desde cedo, conhecendo, cada vez mais, a língua portuguesa e a

Literatura, e tendo afetividade por elas.

Os contos de fadas apresentam em seu conteúdo histórias que

envolvem sofrimento e superação. Cinderela, assim como outros contos, conta

com a presença da princesa que, antes de ser “feliz para sempre”, passa por

maus-tratos (por parte da madrasta e de suas filhas), o que lhe provoca

sentimentos como: insegurança, medo, angústia...

Por isso, as histórias abrem caminhos e auxiliam na obtenção de

conhecimento sobre as circunstâncias da vida, através da experiência

vivenciada por cada personagem, mostrando a personalidade, a atitude e o

comportamento de cada um. Dessa maneira, a criança percebe que cada pessoa

é diferente da outra na maneira de agir. Na verdade, trata-se de uma experiência

prévia daquilo que, futuramente, ela irá enfrentar.

A Literatura Infantil tem um papel fundamental na formação do

indivíduo, pois além de incentivar o hábito da leitura, ajuda a criança a

desenvolver o seu lado ativo, crítico e criativo. De fato, não há como falar de

alfabetização sem ao menos mencionar a leitura. Não basta apenas ensinar o

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aluno a ler as palavras soltas que ali estão em seu caderno ou livro. É necessário

criar mecanismos para que consigam interpretar aquilo que lhe está sendo

passado. A prática da leitura permite não apenas o entendimento do texto, mas

também o desenvolvimento crítico-social da criança.

A constatação dessa importância explica o interesse em abordar, na

pesquisa, assuntos relacionados à leitura na escola, pois é necessário que o

supervisor, junto ao corpo docente, estejam preparados para desenvolver esse

projeto com os alunos.

Primeiramente, serão apresentadas, resumidamente, as seguintes

versões do conto Cinderela: a francesa, a alemã e a italiana. Em seguida, serão

analisadas as diferenças presentes no conteúdo de cada uma e seus

significados. Após isso, será analisada apenas a versão mais popular: a de

Charles Perrault, versão francesa. Dentro deste aspecto, será trabalhado a

influência positiva da leitura dos contos infantis na vida pessoal e social do aluno,

ajudando-lhe nas mais adversas situações vividas no dia a dia, e como a escola

promoverá essa ponte entre o estudante e as mais diversas obras.

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CAPÍTULO I

LITERATURA INFANTIL: CONTO DE FADAS

Segundo Regina Zilberman (2003, p.33), os primeiros livros produzidos

para crianças foram criados ao final do século XVII. Anteriormente, não se

escrevia para essa faixa etária, até porque não havia “infância”. O surgimento

desse conceito se deu através da emergência de uma nova noção de família,

centrada não mais apenas na relação de parentesco (mãe, pai e filho). Passou,

então, a ser um núcleo celular preocupado em manter sua privacidade e

estimular o afeto entre os membros.

Antes de esse conceito burguês ser estabelecido, essa fase não era

percebida. Crianças e adultos frequentavam e compartilhavam os mesmos

eventos, porém, não havia laços amorosos cercando ambos. A valorização da

infância, além de gerar maior união familiar, ajudou nos meios de controle

intelectual da criança e na manipulação de suas emoções.

A Literatura Infantil tem seu nascimento a partir da ascensão da família

burguesa, do novo status concedido à infância e da organização escolar. Sendo

assim, o aparecimento da expansão dessa literatura deve-se à associação com

a Pedagogia. Esse contexto deve-se, à

emergência da família burguesa, a que se associam, em decorrência, a formulação do conceito atual de infância, modificando o status da criança na sociedade e no âmbito doméstico, e o estabelecimento de aparelhos ideológicos que visarão preservar a unidade do lar e, especialmente, o lugar do jovem no meio social. As ascensões respectivas de uma instituição como a escola, de práticas políticas, como a obrigatoriedade do ensino e a filantropia, e de novos campos epistemológicos, como a pedagogia e a psicologia, não apenas inter-relacionadas, mas uma consequência do novo posto que a família, e respectivamente a criança, adquire na sociedade. É no interior dessa moldura que eclode a literatura infantil. (ZILBERMAN, 2003, p. 34-35)

A aproximação entre família e instituição não foi um acontecimento

fortuito. Como prova disso, pode-se observar que textos para crianças são

escritos por pedagogos e professores, com marcante intuito educativo. Sendo

assim, a Literatura Infantil acaba permanecendo como “colônia” da pedagogia,

como por exemplo: não ser considerada arte; por ter uma finalidade pragmática;

ter um objetivo didático a faz ser dominada pela temática infantil. Por outro lado,

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a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela

leitura, sendo uma ponte para o estudo da cultura literária.

Os contos de fadas trabalham a realidade e a fantasia, em que o herói

da história passa por diversos obstáculos, combatendo o mal, para então,

conseguir alcançar sua felicidade e realização. Essas histórias estão presentes

na vida do ser humano desde a Antiguidade, sendo contadas e recontadas

oralmente, de geração a geração.

Na minha concepção, essas histórias são uma ponte para a explicação

dos sentimentos e comportamentos. Os príncipes e princesas, encontrados nas

histórias, representam virtudes do bem, já o mal normalmente é representado

por bruxas ou pela própria madrasta. Assim, a criança percebe que muitas vezes

tem atitudes dos personagens “maus”, porém, percebe que a maldade, de fato,

não compensa, ao se deparar com a moral ou o castigo encontrados ao final das

histórias. As adaptações dão abertura ao público infantil de questionar o mundo

que o envolve de maneira que as crianças interajam com ele. Desse modo,

Bruno Bettelheim afirma que:

Um conto de fadas é acima de tudo uma obra de arte, sobre a qual disse Goethe no prólogo ao Fausto: “Quem oferece muita coisa oferecerá alguma coisa para alguns.” Isso implica que qualquer tentativa deliberada de oferecer algo específico a uma pessoa em particular não pode ser um propósito de uma arte. Ouvir contos de fadas e absorver as imagens que ele apresenta pode ser comparado a espalhar sementes, de que apenas algumas serão implantadas na mente da criança. Algumas trabalharão de imediato em sua mente consciente; outras estimularão processos no seu inconsciente. Outras ainda precisarão descansar por um longo tempo até que a mente da criança tenha atingido um estado adequado para sua germinação, e muitas jamais criarão raízes. (BETTELHEIM, 2011, p. 217)

Portanto, acredito que os contos de fadas são fontes de conhecimentos para o universo infantil. Através da assimilação do conteúdo da história passada, a criança percebe que é possível conseguir vencer obstáculos. Durante o desenrolar do texto, ela consegue se identificar com o personagem e acaba absorvendo todo o drama vivido, por mais simples que seja. Por isso, é comum haver crianças que pedem para que os pais leiam, por diversas vezes, a mesma história, pois essas são marcantes para os pequenos. A seguir, comentarei sucintamente as versões mais conhecidas do conto Cinderela.

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CAPÍTULO II

AS VERSÕES DA OBRA CINDERELA

2.1 CINDERELA ITALIANA Cinderela é um dos contos mais populares, por apresentar um apelo

emocional bastante forte. É um conto bastante antigo e, segundo Bettelheim

(2011, p. 325), no século IX d.C. já havia registro da história na China. Porém,

ao contrário do que nós conhecemos, a pequenez do pé era associada ao lado

sexual, item visto como fetiche em diversas sociedades, inclusive a nossa. Por

isso, era comum as mulheres orientais enfaixarem seus pés. Entretanto, a versão

ocidental mais antiga de que se tem conhecimento é a versão italiana de

Cinderela, intitulada Cenerentola. Segundo Diana e Mário Corso (2006, p.107-

108):

Cinderela tem seu ancestral literário escrito por Giambattista Basile, fazendo parte do Pentamerone, uma compilação publicada em 1634, em dialeto napolitano, narrada por várias vozes, ao longo de cinco noites — com o mesmo tipo de estrutura narrativa de Decameron. Basile recolheu histórias populares e, entre elas, apareceu Cenerentola, a Cinderela avó da Borralheira que ainda vive entre nós.

Cenerentola conta a história vivida por Zezolla, uma menina mimada

por seu pai viúvo e pela governanta da casa, Carmosina. Assim que o luto

passou, seu pai decidiu casar-se novamente. Porém, sua madrasta era ruim e a

maltratava. A menina, por sua vez, não escondia o desejo de a governanta ser

sua nova mãe. Sua queixa fez com que Carmosina tivesse uma ideia: propor a

Zezolla matar a atual madrasta. A jovem concretizou o plano e deixou uma tampa

de baú cair sobre o pescoço da madrasta. Logo em seguida, insistiu para seu

pai casar-se com a governanta, já que esta havia prometido dedicação a ela.

Durante a festa, a menina recebeu a visita de uma pomba que lhe alertou que,

quando desejasse algo, era só mandar o pedido para a Pomba das Fadas, em

uma ilha da Sardenha.

Em pouco tempo, a nova madrasta levou as seis filhas, até então

ocultas, para morar junto a eles. Não demorou muito e Carmosina começou a

tratar a menina como criada e a colocou para viver na cozinha entre as cinzas

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da lareira. Com o tempo, o pai começou a esquecer a filha e dar mais atenção

às enteadas. A partir disso, a menina passou a ser chamada de Cenerentola.

Certa vez, o pai teve que viajar para tratar de negócios, na ilha de

Sardenha, e deu a cada filha o direito de escolher presentes. As enteadas

escolheram roupas, sapatos e perfumes. Com ar de superioridade e sempre

desprezando sua filha, o pai permitiu também que a mesma escolhesse o

presente. Ela, muito humilde, disse que não queria nada, porém pediu a ele que

levasse suas recomendações à Pomba das Fadas. Atendendo ao pedido das

seis enteadas, comprou todos os mimos desejados por elas. Entretanto, como

sempre, esqueceu o pedido de sua filha. Cenerentola, no entanto, tinha lançado

um feitiço de que o pai não conseguiria sair do local onde estava, enquanto não

atendesse o seu pedido. O navio não conseguiu partir. Nesse momento, o pai

lembrou-se do pedido da filha de sangue. Contrariado, o pai traz o que a filha

pediu para as fadas: uma muda de tamareira, uma enxada de ouro e um

guardanapo de seda. Enfim, o navio parte de volta.

Cenerentola, ao receber o presente das fadas, plantou a árvore com os

instrumentos mágicos e passou a sempre cuidar do vegetal. Em poucos dias, o

mesmo estava grande e alto. Do interior da árvore saiu uma fada, que perguntou

à menina o que ela desejaria. Ela respondeu que gostaria de poder sair de casa

sem que ninguém a visse. A fada lhe ensinou algumas palavras mágicas que ela

deveria falar para a tamareira: “dispa-se e vista-me rápido”, ao sair, e “dispa-me

e se vista”, ao voltar.

O rei começou a dar festas no castelo e Zezolla apareceu em vestes

luxuosas e conduzida por uma carruagem. Chamando a atenção de todos,

inclusive do rei, ao final do baile a menina foi seguida por seus servos, porém

conseguiu despistá-los, jogando moedas pelo chão. No dia seguinte, mais uma

festa; novamente Zezolla estava presente e dançou com o rei, causando inveja

nas moças que estavam no castelo. Dessa vez, jogou pedras preciosas pelo

chão, desviando o olhar do criado que estava atrás dela. No terceiro dia de

festas, mesmo distraindo os servos, a moça acabou deixando para trás o seu

sapatinho e o mesmo foi entregue a Sua Alteza.

Determinado, o rei começou a procurar a dona do calçado, pedindo a

seus empregados que apresentassem as possíveis donas do tamanco. As seis

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filhas da madrasta experimentaram o sapato, mas o mesmo não coube em

nenhum dos pés. Então, o pai se lembrou de sua filha, mas garantiu que ela não

tinha modos e era muito suja para sentar-se à mesa real e, além disso, não

poderia ser a dona do sapato. Ao sentar-se para experimentá-lo, magicamente

o tamanco foi ao encontro de sua dona. A moça, além de coroada, foi morar no

castelo. As irmãs, com raiva, se queixaram com a mãe sobre tamanha injustiça

de não terem sido escolhidas.

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2.2 CINDERELA ALEMÃ A versão alemã, dos irmãos Grimm, não é tão popular. Nesse conto, a

relação entre a moça e a mãe é muito forte; a protagonista segue os conselhos

maternos, dados no leito de morte, de ser sempre boa pessoa e bastante

piedosa.

Passado um tempo, seu pai resolveu casar-se novamente, e a sua nova

esposa tinha duas filhas. Cinderela, por sua vez, foi maltratada por suas irmãs,

sendo obrigada a fazer trabalhos forçados e viver em meio às cinzas.

Ao partir para uma viagem, o pai perguntou a cada uma delas o que

gostaria que ele trouxesse de presente. Todas as irmãs pediram riquezas,

porém, Cinderela, humildemente, pediu apenas o primeiro galho de árvore que

batesse no chapéu de seu pai. Segundo Bruno Bettelheim (2011, p.346),

Cinderela “planta uma nogueira e a cultiva com lágrimas e orações”. E, quando

ela se sentava à sombra da árvore, passarinhos pousavam sobre os galhos e

realizavam seus desejos.

Um dia, chegou um convite para uma festa que duraria três dias, em

que o príncipe escolheria uma noiva para casar-se. Todas ficaram empolgadas,

inclusive Cinderela. Porém, a madrasta só permitiria a sua ida ao baile caso ela

conseguisse catar todos os pratos de lentilhas que ela esvaziou entre as cinzas.

Após conseguir realizar a tarefa, com ajuda dos passarinhos, a esposa de seu

pai afirma que ela não tem roupa para ir. A menina apela para suas aves mágicas

que, prontamente, atendem seu pedido.

Com o vestido, a moça compareceu à festa deslumbrante e o príncipe

acabou ficando encantado por ela. Sendo assim, o mesmo se comprometeu a

levá-la em casa, curioso para conhecê-la melhor. Ao chegar próximo de sua

casa, Cinderela fugiu e pulou em um pombal. Ajudado pelo pai da menina, ele

(o príncipe) conseguiu derrubar o local, porém, não a encontrou. Ela havia

corrido para colocar o vestido em cima do túmulo de sua mãe.

O segundo dia de festa ocorreu da mesma maneira. Dessa vez, a

moça subiu em uma pereira para despistar o príncipe e, novamente, sua

identidade não foi revelada. O pai de Cinderela, a cada ajuda que dava ao

príncipe, desconfiava se aquela menina seria a sua filha.

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Na terceira noite, porém, o príncipe montou uma armadilha: mandou

jogar piche no chão, para que o seu delicado sapato ficasse preso na escadaria.

E foi o que aconteceu. No dia seguinte, o príncipe foi experimentar o sapato em

todas as moças que estavam na festa, inclusive nas irmãs de Cinderela. Quando

o príncipe chegou até as irmãs de Cinderela, ele quase as levou como esposa

por engano, pois, embora o sapato fosse pequeno demais para caber nos pés

das malvadas irmãs, essas, orientadas pela mãe, cortaram partes dos dedos (a

primeira) e parte do calcanhar (a segunda). Distraído, o príncipe não percebeu o

ardil, livrando-se do engano graças aos pássaros que tudo acompanharam e

alertaram-no.

Ao retornar à casa do pai de Cinderela, o rapaz perguntou se não

haveria outra filha. O pai disse que havia apenas uma “maltrapilha” e o príncipe

insistiu que ela também experimentasse o calçado. O sapato coube em seu pé

e os dois se casaram. As irmãs, ao tentarem assistir ao casamento, foram

castigadas. As mesmas aves que ajudaram Cinderela a casar-se com o príncipe

furaram-lhes os olhos durante a cerimônia.

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2.3 CINDERELA FRANCESA Na versão francesa do conto, também conhecido como O sapatinho

de vidro, havia apenas uma madrasta. Essa, por sua vez, maltratava Cinderela

desde o princípio, junto com suas filhas, que possuíam o mesmo gênio da mãe.

Um dia chegou à casa de Cinderela um convite para o baile. Sem

cogitar a presença da menina na festa, por se tratar de uma criada, a madrasta

e suas filhas a fizeram vesti-las com seus vestidos deslumbrantes. Após penteá-

las e arrumá-las, Cinderela correu para a cozinha e começou a chorar. Nesse

momento, surgiu uma fada madrinha que, entre os soluços da menina, pediu que

ela confessasse seu desejo de ir ao baile. Com passes de mágicas, uma

carruagem foi providenciada, a partir de uma abóbora. Além disso, ratos e

lagartos foram transformados em cavalos e librés. Prontamente, a fada montou

um vestido e, logo em seguida, Cinderela estava pronta. Porém, o desejo só

duraria até meia-noite.

Com o desejo realizado, a moça pôde ir à grande festa. Mais do que

isso, lá ela despertou a atenção de todos e, principalmente, do príncipe solteiro.

Ao voltar para casa, a donzela sentiu-se satisfeita por escutar a conversa das

irmãs em relação à misteriosa aparição de uma bela mulher no baile.

No segundo dia de festa, a fada madrinha concedeu à Cinderela

novamente um desejo. Mas, dessa vez, o príncipe a convidou para dançar com

ele e, com isso, a menina acabou se distraindo. De repente, soaram as

badaladas do sino indicando doze horas. Rapidamente, a menina saiu correndo

e, na pressa, deixou para trás o sapatinho de vidro.

De posse do delicado calçado, o príncipe estava determinado a

encontrar a amada misteriosa, pois mesmo a tendo visto poucas vezes, já estava

apaixonado. Então, partiu em busca da dona do sapatinho de vidro,

experimentando o calçado pequeno e elegante em todas as mulheres do reino,

porém, em nenhuma coube. Ao chegar à casa de Cinderela, pediu para que ela

também calçasse o sapatinho. A menina calçou e, para a surpresa das irmãs

malvadas, o calçado serviu.

A bela e bondosa Cinderela de Perrault casou-se com o príncipe e

perdoou as irmãs, levando-as para o palácio e providenciando-lhes bons

casamentos.

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Após a leitura das três versões da obra, é possível perceber a

necessidade de criar uma identidade para o universo infantil, como foi

mencionado no capítulo anterior. Desta maneira, o caminho foi adaptar obras já

escritas e conhecidas, tendo como base valores éticos como justiça, respeito,

solidariedade, dentre outros, a fim de despertar a criatividade e passar

ensinamentos às crianças.

Em seguida, apresentarei o autor responsável pela adaptação da obra

para o público infantil, Charles Perrault.

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CAPÍTULO III

QUEM FOI PERRAULT?

Charles Perrault foi autor da versão mais conhecida de Cinderela, que

será analisada e comparada a seguir.

Charles Perrault, autor de diversos contos, nasceu em 12/01/1628, em

Paris, filho de Pânquette Leclerc e Pierre Perrault, sendo caçula de cinco irmãos.

Por ter nascido em uma família religiosa, aos oito ou nove anos, Charles

entrou para um colégio religioso onde, embora fosse comum estudantes

apresentarem dificuldades na alfabetização em latim, o escritor era considerado

um dos melhores alunos e iniciou seus primeiros versos em latim.

Durante o período em que esteve cursando Filosofia, Perrault teve uma

desavença com um de seus professores e largou o curso, juntamente com o seu

colega de classe Beaurain. Em seguida, ambos resolveram continuar os

estudos, no entanto, sozinhos, sem auxílio de docentes.

Mariza B. T. Mendes, em sua obra Em busca dos contos perdidos, afirma que, Nesta fase autodidata [Perrault e Beauraim] leram obras de Cícero, Virgílio e outros autores latinos em suas versões integrais, o que não teriam feito no colégio, que só usava fragmentos previamente escolhidos. Essa aventura levou-os traduzir o sexto livro da Eneida, de Virgílio, em versos burlescos, auxiliados por Nicolas e Claude, irmãos mais velhos de Charles. (MENDES, 2000, p. 65 -66)

Perrault passou a se dedicar à composição de poemas. Dessa forma,

ele asseguraria a presença da família Perrault nos círculos literários. Dentro

dessa perspectiva, seguindo a moda dos salões, Perrault escreveu: O retrato de

Íris, Diálogo do amor e da amizade, O espelho ou A metamorfose de Oronte.

Não se pode afirmar, entretanto, que o autor foi um admirador ou

defensor das mulheres. Como foi dito anteriormente, sua presença nos salões

literários, nas quais as mulheres se reuniam para contar histórias e discutir ideais

feministas, garantia a oportunidade de o poeta manter relações que puderam lhe

servir em determinados momentos. As regras aprendidas com o público feminino

permitiam a Charles compor as odes comemorativas aos grandes feitos da corte.

Gêneros como esses, puderam lhe proporcionar diversos caminhos para sua

carreira política, sonho de qualquer burguês da época.

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Foi graças a essa disputa feminista, como descrito anteriormente, que

o escritor conseguiu escrever seu primeiro conto resgatado das fabliaux

populares (histórias em quadrinhos francesas que, geralmente, apresentavam

como temática o lado sexual e obsceno): A Marquesa de Saluce ou A Paciência

de Grisélidis. Três anos depois, Perrault publicou Os desejos ridículos, o qual

era um conto popular em versos burlescos.

Como se pode observar, as obras de Perrault, inicialmente, não

visavam ao público infantil. Somente após sua terceira adaptação de A Pele de

Asno, iniciou sua intenção de produzir uma literatura voltada para crianças.

A partir disso, o autor se volta para a redescoberta da narrativa popular

maravilhosa que, segundo Nelly Novaes Coelho, apresenta um duplo intuito:

“provar a equivalência de valores ou de sabedoria entre os antigos greco-latinos

e os antigos nacionais, e, com esse material redescoberto, divertir as crianças,

principalmente as meninas, orientando sua formação moral”. (COELHO, 2008,

p.83)

Ao publicar Contos com a Mãe Gansa, nasceu a literatura infantil,

conhecida hoje como clássica. A Mãe Gansa era uma personagem de contos

populares antigos, que contava histórias para seus filhotes.

Aos quase 40 anos, Perrault ainda era solteiro e dedicava-se ao

trabalho, dedicação essa que o transformou em braço direito de Colbert, seu

chefe por vinte anos. Dentre suas variadas tarefas, o poeta exercia a de “petite

Académie”, que era o responsável pelo departamento de propaganda das glórias

do rei. Nessa perspectiva, Charles preparava legendas, medalhas, monumentos

e esculturas, além de supervisionar publicações da Imprensa Real. Sendo assim,

Perrault ajudava a garantir a sustentação ideológica do Absolutismo.

Aos 44 anos, em 1627, o autor casou-se com Marie Guichon, filha de

um proprietário rural, depois de receber de Colbert o cargo de controlador geral

das construções e jardins, artes e manufaturas da França. Dessa união,

nasceram: Charles-Samuel, Charles, Pierre Darmancour e uma menina cujo

nome não se sabe, pois segundo Mariza B. T. Mendes,

Não há documentos a seu respeito, nem referências nas memórias do poeta. Dos arquivos oficiais constam apenas os registros de batismo dos três meninos. Mas ela é citada em uma obra de Mlle Lhéritier, sobrinha de Perrault. Após seis anos de casamento, Marie Guichon morre de varíola. Aos cinquenta anos, viúvo e com quatro filhos

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pequenos para criar, Perrault é um pai carinhoso e dedicado, segundo o depoimento de sua sobrinha. A menina, supostamente a mais velha, estava com cinco anos nessa ocasião e o caçula, Pierre Darmancour, com três meses. (MENDES, 2000, p.69)

Com a morte de Colbert, Perrault perdeu seu cargo de controlador das

construções, em 1680, já que todos os bens do ministro foram passados para

seu filho. Além disso, Charles foi excluído da “petite Académie”, seu último posto

oficial.

A carreira do autor se encerra em 16 de maio de 1703, com sua morte

em Paris. Porém, Perrault continua vivo cada vez que se lê uma de suas obras

às crianças ou se trabalha com elas em sala de aula.

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CAPÍTULO IV

ANÁLISE DAS VERSÕES DE CINDERELA

Analisando as Cinderelas apresentadas no capítulo II, conclui-se que

todas as versões apresentam certo conjunto de características pertinentes para

o significado da obra e para que todas, por mais diferentes que sejam entre si,

possam ser reconhecidas como a história de Cinderela. Dessa maneira, Bruno

Bettelheim explica que:

‘Cinderela’, tal qual como a conhecemos, é vivenciada como uma história a respeito das agonias e esperanças que formam o conteúdo essencial da rivalidade fraterna, bem como a respeito da vitória da heroína degradada sobre as irmãs que a maltratam. (BETTELHEIM, 2011, p. 325)

Pode-se observar que, de uma maneira geral, não parece que a

madrasta inveje diretamente a enteada por ela ser jovem, bondosa, bela e de

bom caráter. O que a incomoda, na verdade, é o fato de suas filhas legítimas

não apresentarem esses dons. Segundo Diana e Mário Corso (2006, p. 110), “o

castigo é simples, fazer a menina trabalhar, com a expectativa que o próprio

trabalho haverá de enfeá-la”. Fazendo referência à madrasta, esta nunca será a

mesma pessoa que a mãe. A mãe é aquela que, supostamente, se sentirá

completa com seus filhos. Já a esposa do pai será aquela que tem uma história

de amor a viver, que exige tempo e dedicação do marido, portanto, a seu ver,

Cinderela é um obstáculo.

Ao se prepararem para o grande baile, as irmãs da moça foram

arrumadas pela própria mãe, assim como um filho vai a uma festa infantil, sendo

bem vistas aos olhos maternos. Dessa maneira, não chamaram a atenção do

príncipe, ao contrário da Borralheira. Duas hipóteses a serem analisadas são:

será que o motivo de a madrasta ser amável somente com as filhas está ligado

aos laços de sangue? Ou será que se deve ao fato de que a infantilidade das

filhas ainda não ameaçaria o reinado da madrasta, por ainda não serem

mulheres?

De qualquer forma, Cinderela procura dar uma nova direção para os

sofrimentos, como o de não ser querida por seu próprio pai, que a deixa aos

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“cuidados” da madrasta, e a dor da perda de sua mãe. Dentro desse contexto, a

história atrai o interesse, de imediato, de qualquer filho, já que é comum um dos

filhos achar que é injustiçado e menos amado por seus pais.

A protagonista de Perrault tem, como característica diferenciada das

demais, a de não tomar iniciativa alguma, característica esta que,

provavelmente, fez a Disney escolher essa versão para seu relato

cinematográfico. Em relação à Zezolla e à Cinderela dos Irmãos Grimm, Diana

e Mario Corso (2006, p. 110) afirmam que ambas são

as mais travessas, precisam plantar e regar a árvore de onde provém a boa magia e são menos atenciosas com suas algozes. Porém, a história de Perrault sintetiza melhor toda a trama, é um roteiro mais eficiente e acreditamos que não se perde a sequência: a boa alma, companheira da beleza, encontra o devido reconhecimento apesar dos trapos que a ocultam. A jovem joga um esconde-esconde com o príncipe e com sua família, que se nega a ver nela algum valor. Ele investiga, a descobre, lhe declara seu amor, e só então ela revela que é a bela dama do baile. Por isso, não convém julgar qual é a melhor versão, acreditamos que o tempo faz uma seleção natural dos aspectos da história adequados a cada época e, se ela continua sendo contada, é porque em sua essência ainda tem algo a dizer.

A Fada Madrinha, presente nos contos, tem o papel de substituta da

mãe, restituindo o carinho que ela, em algum momento, teve pela filha. Nesse

aspecto, segundo Diana e Mario Corso (2006, p.111):

Perrault apenas explicita melhor, personificando num ser mágico aquilo que nos Grimm e em Basile é retratado de forma mais simbólica e espiritual. O importante é que nos três casos o auxílio é proveniente do que decantou do antigo amor dos pais, agora morto, desencarnado, que já não tem lugar no mundo real da jovem.

Sendo assim, as fadas representam a mãe da primeira infância e são

figuras interiorizadas que aparecem apenas na intimidade da jovem, como se

fossem um segredo seu. É importante ressaltar, entretanto, que as ajudas

benignas, dentro dos contos, são uma forma de instrumento, mas nunca uma

solução, pois a vida não muda alguém, ela apenas mostra o rumo que, por vezes,

pode ser mudado. Os objetos mágicos, portanto, dão a oportunidade à

personagem de revelar seus dons, como por exemplo, as vestes, que, ao serem

transformadas, ressaltam a sua beleza.

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Cinderela ou Gata Borralheira são os dois nomes com os quais é

conhecida em português. Eles aludem ao resíduo do fogo, por isso, a

personagem está ligada àquela que trabalha junto das cinzas. Dentro desse

mesmo contexto, as cinzas, muitas vezes, estão ligadas ao luto e à purificação.

Dessa maneira, Diana e Mário Corso (2006, p. 113) descrevem em sua obra que

Cobrir-se de cinzas por ocasião de uma perda era bem usual em culturas mediterrâneas. Como o fogo tem um papel purificador, seus restos são puros também. Isso nos leva a uma posição ambígua: ela estaria pura estando suja. Não é sem razão que certos autores viram em Cinderela uma remanescente das vestais, as guardiãs do fogo sagrado na cultura romana. De qualquer maneira, a Borralheira é suja por fora, mas pura por dentro, isso ela demonstra em seu bom caráter, que se mantém apesar dos maus-tratos.

Fazendo um paralelo com o conto, no passado europeu, havia um

criado que guardava o fogo e recolhia suas sobras, e por exercer essa atividade

se encontrava nos últimos degraus de uma sociedade dividida hierarquicamente.

Ou seja, é uma forma de deixar marcada a posição que cada um tem dentro da

sociedade.

Ao final da história, Cinderela é escolhida por um traço marcante, o pé

pequeno e delicado. Alguns autores têm a visão de que esse fato é resquício de

uma origem oriental, em que os pés são muito valorizados. Ainda assim, pés e

mãos delicados são características de quem não trabalha, ou seja, pessoas

nobres. O fetichismo, portanto, está ligado a certo desejo erótico, no qual há a

presença de um objeto determinado e sem negociações que permitam sua troca.

Dessa maneira, a importância do pé de Cinderela é tamanha a ponto de o rapaz

levar a moça errada, desde que o sapatinho coubesse em seu pé. Apenas na

versão dos Grimm, o príncipe conta com a ajuda da natureza para desfazer o

equívoco: pássaros avisam ao moço o engano, pois ele não se deu conta a

princípio.

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4.1 A IMPORTÂNCIA DOS LIVROS EM SALA DE AULA Os livros infantis são importantes para o desenvolvimento intelectual

do ser humano. Ao iniciar a leitura para crianças, pais e professores permitem o

desenvolvimento da imaginação, visão crítica, concentração, além do

enriquecimento do vocabulário.

Nos primeiros anos escolares, nas aulas de Língua Portuguesa, é

fundamental que o livro seja apresentado à criança de maneira prazerosa, com

atividades independentes de tarefas, o que a fará ter proximidade com a leitura

sem obrigatoriedade e cobranças.

Ao ler histórias que tratem de alegria, tristeza, amor, ódio, amizade,

medo e solidariedade, por exemplo, é possível trabalhar com o aluno suas

emoções e sentimentos, além de mostrar-lhe que isso ele encontrará também

na vida real.

Ao trazer a Literatura Infantil para o universo do estudante, o professor

estabelece uma ponte entre o livro, o aluno e a sua realidade, como foi observado

na história contada no capítulo anterior. A partir de uma história contada para

ele, o estudante desenvolve sua própria obra, baseando-se no que é visto no

seu dia a dia. No entanto, segundo Darlan Machado Dornelles,

a escrita não pode ser desvinculada da leitura, as experiências adquiridas através da leitura influenciam de muitas maneiras na escrita, pois através da leitura construímos uma grande intimidade com a escrita. A leitura é a forma de enriquecimento da memória e do conhecimento sobre os mais variados assuntos que se pode escrever. (DORNELLES, 2012, p. 2)

É de extrema importância que o professor tenha propostas para aquela

determinada leitura e não a coloque apenas como imposição, mas faça um

trabalho que requeira a atenção do aluno.

O professor de Língua Portuguesa (LP) deve ter um aprofundamento teórico acerca da linguagem, e o principal, colocar em prática a teoria, pois não adianta nada ter conhecimentos sobre todas as teorias se não colocar em prática no ambiente escolar a leitura e a escrita de uma

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forma crítica e voltada para a construção de uma educação melhor. Então, “através da leitura, portanto, reconhecemo-nos parte da humanidade e não seres isolados e somos capazes de tecer a própria individualidade a partir do e com o outro”. (GURGEL, 1999, p. 210). (DORNELLES, 2012, p. 3).

A leitura é de tamanha importância para o enriquecimento do

vocabulário, a aprendizagem da estrutura linguística e o conhecimento de

diversos gêneros textuais, que são aspectos que auxiliarão o aluno durante a

sua produção escrita e oral. Portanto,

A leitura de variados tipos e gêneros de textos ampliam nossas opiniões e argumentos para escrever um respectivo texto, assim, a escola não pode perder tempo ensinando a Gramática Normativa (GN) através de frases literárias famosas e sim a partir do texto. As aulas de Língua Portuguesa (LP) devem ser aulas prazerosas, onde os alunos de fato possam se desenvolver intelectualmente. (DORNELLES, 2012, p.5)

Durante a minha vivência diária em sala de aula, percebo o quanto os

alunos apresentam dificuldades no momento da leitura e interpretação textual,

talvez por preguiça ou por pouco contato com diferentes obras. Como estratégia,

passei a desenvolver atividades relacionadas aos livros infantis. Uma delas, que

por sinal rende debates, é a “Troca de livros”. Consiste em todos levarem os

livros de sua preferência para escola e trocarem entre si. O livro fica com o outro

pelo tempo estipulado por mim. Ler a obra escolhida pelo amigo, além de

estimular o aluno, permite a ele ter a responsabilidade de preservar o material e

devolvê-lo na data correta.

Sendo assim, cabe ao professor, como mediador do conhecimento,

apresentar aos alunos os conceitos teóricos e colocá-los em prática tanto na

leitura quanto na produção textual.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, portanto, foi trabalhada, a partir da Literatura Infantil, a

importância da leitura e suas finalidades, mais especificamente em relação aos

contos de fadas. Contos infantis auxiliam na formação da personalidade infantil

e são fundamentais para uma boa estrutura psicológica, já que envolvem

sentimentos e estado de espírito. Além disso, o hábito da leitura por parte do

aluno auxilia e torna as aulas de Língua Portuguesa prazerosas, pois permite

que ele conheça diferentes palavras, enriqueça o seu vocabulário e desenvolva

o seu próprio texto, tanto oral quanto escrito.

Dentro desse aspecto, foram resumidas três versões de Cinderela, as

quais encantam o público infantil. Logo em seguida, as mesmas foram

analisadas com a finalidade de apresentar a essência das obras e, também, o

significado de cada elemento presente nas histórias.

O principal objetivo foi mostrar ao leitor como a essência das obras

mudou no decorrer da história da sociedade a partir da época em que as mesmas

foram escritas. Essa mudança do clássico para o contemporâneo também se

reflete na personalidade dos personagens. O interesse não é o de mostrar qual

seria a versão mais adequada para os pequenos leitores ou qual tem um

conteúdo mais agradável, mas, sim, o de identificar a mudança do conteúdo

literário de acordo com sua respectiva época.

Dessa maneira, cabe não só ao docente (como mencionado no capítulo

4), denominado mediador do conhecimento, mas também aos responsáveis do

aluno, apresentar-lhe diferentes obras literárias, independentemente dos livros

didáticos e paradidáticos impostos pela escola, para que o discente tenha uma

aquisição positiva do vocabulário, para que desenvolva o interesse, o

aprendizado da estrutura linguística e o conhecimento de gêneros, dentre outros.

De acordo com a revista Nova Escola, “trabalhar fluência leitora na

escola é o desafio proposto para ampliar a experiência dos alunos com os textos

e colaborar na compreensão do que se lê, ajudando-os a interpretar e a

argumentar a favor de seu ponto de vista.”

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Essa atitude, além de tornar as aulas prazerosas, faz com que o aluno

leia um livro com estímulo.

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BIBLIOGRAFIA

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 21. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. CARVALHAL, Tania Franco. Literatura Comparada. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006. COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas: símbolos - mitos – arquétipos. 2. ed. São Paulo. Paulinas, 2008. CORSO, Diana; CORSO, Mário. Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 2006. DORNELLES, Darlan Machado. A LEITURA E ESCRITA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2012, Uberlândia. Anais do SIELP, Uberlândia: EDUFU, 2012. p. 1-7. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/06/volume_2_artigo_090.pdf. Acesso em: 04/05/2017. MENDES, Mariza B. T. Em busca dos contos perdidos: o significado das funções femininas nos contos de Perrault. São Paulo: Unesp/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2000. ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 2003. PEREIRA, Valquiria. A importância da leitura em sala de aula para a fluência leitora. REVISTA NOVA ESCOLA, 2013. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/136/a-importancia-da-leitura-em-sala-de-aula-para-a-fluencia-leitora Acesso em: 15/06/2017.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 01 AGRADECIMENTOS 02 DEDICATÓRIA 03 RESUMO 04 METODOLOGIA 05 SUMÁRIO 06 INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

LITERATURA INFANTIL: CONTO DE FADAS 10

CAPÍTULO II

AS VERSÕES DA OBRA CINDERELA 12 2.1 CINDERELA ITALIANA 12 2.2. CINDERELA ALEMÃ 15

2.3. CINDERELA FRANCESA 17

CAPÍTULO III

QUEM FOI PERRAULT? 19

CAPÍTULO IV

ANÁLISE DAS VERSÕES DE CINDERELA 22

4.1. A IMPORTÂNCIA DOS LIVROS EM SALA DE AULA 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS 27 BIBLIOGRAFIA 29