DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALsegunda década do século XXI. Os documentos que...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
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CINEMA, MÍDIA E EDUCAÇÃO:
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM CONSTRUÇÃO,
COM ADOLESCENTES NO ESPAÇO ESCOLAR
Por: Anderson Fabricio Moreira Mendes
Orientadora
Profª. Marta Relvas
Niterói
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
CINEMA, MÍDIA E EDUCAÇÃO:
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM CONSTRUÇÃO,
COM ADOLESCENTES NO ESPAÇO ESCOLAR
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia Institucional
Por: Anderson Fabricio Moreira Mendes
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, autor da vida e das
riquezas insondáveis. Aos meus
professores, que me ensinaram o
caminho da aprendizagem, e aos meus
alunos, que me motivam e me
desafiam a continuar no caminho do
diálogo e renovação da mente.
4
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a Jesus Cristo de
Nazaré, o Mestre dos mestres. Aos meus
pais, Joceli Moreira Mendes e Ary Ignacio
Mendes, que me ensinaram o valor da
entrega e do sacrifício. À minha esposa,
Lena Assunção Almeida Mendes, com
quem compartilho, dialogo e construo o
nosso projeto de vida. Ao meu filho,
Daniel Almeida Mendes, com quem
aprendo que amor, carinho e simplicidade
são ingredientes essenciais na
construção do ser.
5
RESUMO
A escola, como lugar de produção do conhecimento, ainda se
baseia em princípios e estratégias jesuíticos. Tal condição torna cada vez mais
inviável a relação docente-discente. O espaço escolar e, sobretudo, a sala de
aula são focos de tensão e conflitos.
A renovação da prática docente, a inovação nas estratégias, na
dinâmica e na didática são questões que estão na pauta de uma pedagogia do
prazer.
Um dos grandes desafios é aplicar um novo paradigma emergente
na pedagogia, articulado às novas tecnologias, e utilizar uma linguagem que os
alunos, além de apreciarem, na maior parte dos casos, dominam mais do que
os professores. Usar esses suportes multimídicos a favor da educação.
Trabalhar com cinema, atualmente, permite ao profissional da
educação lidar com instrumentos de mídia, barateados pelos avanços
tecnológicos por meio da informática, valorizados por essa geração de
adolescentes. A ação psicopedagógica, no meio escolar, voltada para articulação
entre tecnologia, mediação docente, aprendizagem significativa e afetiva
auxilia a prevenção de dificuldades resultantes dos problemas de comunicação
docente-discente.
Os adolescentes conseguem refletir e elaborar um conhecimento de
relevância social, na medida em que existe um vínculo entre docentes e
discentes. Constrói-se, portanto, uma relação de alteridade, através de
metodologia, linguagem e ferramentas de identificação comum e que remetem
às práticas ligadas ao campo do entretenimento, aplicadas ao ambiente
escolar.
Palavras Chave: Educação; Aprendizagem; Psicopedagogia; História;
Tecnologia; Multimídia; Cinema; Adolescência.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada visa, a partir de um balanço bibliográfico nas
obras que relacionam a pedagogia, a psicopedagogia, a epistemologia
genética e a neurociência, construir uma reflexão sobre a intervenção
psicopedagógica nas instituições de ensino.
As fontes primárias embasam a reflexão, pois ancoram histórica e
socialmente, a partir da documentação oficial, a dinâmica do processo de
ensino e aprendizagem do final da década de 80 do século XX, ao início da
segunda década do século XXI. Os documentos que dialogam com as leituras
citadas acima são: a Constituição Federal, de 1988; o Estatuto da Criança e do
Adolescente, de 1990; a Lei de Diretrizes e Bases, nº 9394/96; os Parâmetros
Curriculares Nacionais, de 1998; as Orientações Curriculares para o Ensino
Médio, de 2002; o Código de Ética da Associação Brasileira de
Psicopedagogia, 1995.
A pesquisa foi direcionada aos estudantes do Ensino Fundamental II
(6º ao 9º ano) e do Ensino Médio (1ª à 3ª série), através da análise da
tecnologia no ambiente escolar e seus benefícios na mediação pedagógica,
que busca, por meio de uma aprendizagem significativa, a atenção dos alunos
para construção de conhecimento relevante.
A partir do público selecionado, analisaram-se os depoimentos dos
alunos e professoras e a reação dos mesmos, durante a execução do projeto.
O levantamento foi possível, a partir da observação da rotina das seguintes
instituições de ensino: duas escolas privadas em Niterói (Escola Nossa, no ano
de 2007, em Pendotiba e o Colégio Sala de Educar – Método de Ensino
Grafite, de 2008 a 2011, no bairro do Rio do Ouro); uma escola municipal no
subúrbio do Rio de Janeiro, Santa Cruz, em 2010, Escola Municipal Francisco
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Caldeira de Alvarenga; e duas escolas estaduais (Colégio Estadual Profª
Adélia Martins, no bairro do Coelho, em São Gonçalo, no ano de 2008 e o
Colégio Estadual Prof Antonio Maria, no Leblon, no Rio de Janeiro, no
primeiro semestre de 2012).
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO I – Linguagem e Educação: Contextualização Histórica
13
CAPÍTULO II – O Desafio de um Novo Paradigma: Embasamento Teórico
50
CAPÍTULO III – Cinema e Educação: Luz, Câmera, Atenção!
61
CONCLUSÃO
69
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
70
ÍNDICE
78
9
INTRODUÇÃO
A atual geração de alunos apresenta uma inquietação e certa
insatisfação com a sala de aula. A escola, como lugar de produção do
conhecimento, ainda se baseia em princípios e estratégias jesuíticos. Tal
condição torna cada vez mais inviável a relação docente-discente.
Consequentemente, gera-se um distanciamento entre o antiquado espaço
escolar e as demandas da geração plugada. A lei da oferta e da procura,
aparentemente, não se aplica às instituições de ensino, pois se oferece aquilo
que não é procurado e procura-se o que não é oferecido.
O espaço escolar e, sobretudo, a sala de aula são focos de tensão e
conflitos. Gerações diferentes, em distintos papéis, cumprem diariamente uma
rotina, em muitos casos, exaustiva para ambas as partes.
É inquestionável, a importância da educação e o papel do educador
na vida do educando. É notório que, sem conhecimento, a sociedade está
fadada a uma nova Idade das Trevas e a instauração da barbárie. Portanto, o
problema não está no conhecimento, mas na forma como é apresentado. A
linguagem utilizada, os canais de comunicação entre o professor e o estudante
precisam de constante atualização.
A renovação da prática docente, a inovação nas estratégias, na
dinâmica e na didática são questões que estão na pauta de uma pedagogia do
prazer. É preciso resgatar e despertar nos alunos o desejo de aprender, a
vontade de conhecer e garantir-lhes uma educação cidadã, que os forme para
a vida e que, acima de tudo, toque o seu cotidiano e a sua realidade.
Essa urgente transformação não é novidade para os docentes, uma
vez que os ecos da mudança e os gritos por uma verdadeira metamorfose na
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construção do conhecimento são ouvidos há algum tempo no Brasil.
Sinalizaram-se reflexões na Constituição Cidadã de 1988, que em alguns
aspectos, foram reforçadas e aprimoradas na Lei de Diretrizes e Bases nº
9394/96. Fala-se em uma postura diferenciada do professor, na imagem do
mesmo perante a turma, enfatiza-se, até mesmo, o resgate da autoridade do
educador. Tudo isso, evidentemente, contribui para uma escola mais
atualizada.
A ação psicopedagógica no campo institucional, com enfoque
preventivo, minimiza, auxilia e proporciona um melhor ambiente de
aprendizagem. Uma das tarefas do psicopedagogo é orientar o corpo docente
na construção de um olhar e escuta sensíveis às demandas dos discentes.
Construir vínculos e significados que aproximem protagonistas, aparentemente
antagônicos, na elaboração do conhecimento.
Portanto, a questão central que norteia esse trabalho é: como
construir uma aprendizagem da atenção com adolescentes, no espaço escolar,
em um momento histórico onde a informação é processada de forma
multimídica?
Um dos grandes desafios é aplicar um novo paradigma emergente
na pedagogia, articulado às novas tecnologias e utilizar uma linguagem que os
alunos, além de apreciarem, na maior parte dos casos, dominam mais do que
os professores. Usar esses suportes multimídicos a favor da educação.
Transformar esses aparelhos em instrumentos que estimulem a criatividade e
tornem o processo de aprendizagem divertido, agradável e mais concreto para
o aluno. Isso facilita a mediação pedagógica e torna-se uma ferramenta que
permite criar estratégias que aproximem e relacionem educador e educando.
Tecnologias na área de mídia são recursos importantes na
construção de uma aprendizagem significativa e para um diálogo atualizado e
contextualizado com essa geração. Assim, os alunos, no cenário escolar,
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voltam sua atenção para aquilo que lhes interessam e elaboram um
conhecimento relevante.
Trabalhar com cinema, atualmente, permite ao profissional da
educação lidar com instrumentos de mídia, barateados pelos avanços
tecnológicos por meio da informática, valorizados por essa geração de
adolescentes. Evidente que, a linguagem cinematográfica, no espaço escolar,
deve ser adequada às necessidades e limites dos docentes e discentes.
Assim, através de projetos interdisciplinares, focados na construção de
documentários pedagógicos e em festivais de cinema, que incentivem a
participação dos alunos, a aprendizagem torna-se prazerosa e a tensão dá
lugar à satisfação dos atores envolvidos no processo.
O professor desempenha o papel de mediador e proporciona aos
seus alunos, por meio desses aparatos e suportes, a descoberta e/ou
redescoberta de habilidades essenciais para o desenvolvimento de inúmeras
competências.
A ação psicopedagógica, no meio escolar, voltada para articulação
entre tecnologia, mediação docente, aprendizagem significativa e afetiva
auxilia a prevenção de dificuldades resultantes dos problemas de comunicação
docente-discente. A intervenção no espaço institucional: colabora com esse
processo e incentiva o diálogo entre alunos, professores e coordenação para
construção de aulas interessantes e relevantes, em espaços variados para os
adolescentes; estimula a elaboração de projetos interdisciplinares que
valorizam a reflexão e ação democráticas no ambiente escolar; ajuda a evitar
problemas de aprendizagem provocados por ações pedagógicas desfocadas
das necessidades reais dos alunos; aproxima as ferramentas tecnológicas de
entretenimento dos adolescentes da ação docente na construção de uma
didática dinâmica e prazerosa.
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Os adolescentes conseguem refletir e elaborar um conhecimento de
relevância social, na medida em que existe um vínculo entre docentes e
discentes. Constrói-se, portanto, uma relação de alteridade, através de
metodologia, linguagem e ferramentas de identificação comum e que remetem
às práticas ligadas ao campo do entretenimento, aplicadas ao ambiente
escolar.
Um paradigma emergente na prática pedagógica e estratégias
inovadoras possibilitam o foco e a atenção dos discentes e evitam o
surgimento de problemas de aprendizagem, originários de práticas
pedagógicas descontextualizadas e insensíveis ao desejo de aprender de uma
nova geração.
A construção do conhecimento no espaço escolar deve ser pensada
a partir da relação aprendente/ ensinante, na perspectiva freiriana da
dodicência. Contextualizar referenciais teóricos e interdisciplinares à visão do
adolescente, fascinado e seduzido por instrumentos tecnológicos e suas
respectivas linguagens, atualiza o diálogo e dinamiza o processo de
aprendizagem.
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CAPÍTULO I
LINGUAGEM E EDUCAÇÃO:
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
“As primeiras uniões entre pessoas, oriundas de uma necessidade
natural, são aquelas entre seres incapazes de existir um sem o
outro...”(ARISTÓTELES)
Aristóteles destacou no humano sua necessidade de viver em
grupo, por isso, um ser social, dotado com o exclusivo dom da fala. Esse
aspecto permitiu a elaboração de um mundo rico de significados, múltiplo de
sentimentos, reproduzidos pela expressão da voz, pelo movimento do corpo,
frutos de uma mente brilhante.
Permeadas por relações éticas e morais que se processaram nesse
espaço, emergiram as bases da sociedade e da vida na pólis. Esses
elementos foram fundamentais para o exercício da politica, que nada mais era
do que a preocupação com o bem comum, com a qualidade de vida da
coletividade, inscrita naquele espaço distinto. Local marcado pela
engenhosidade e criatividade do Homo sapiens, que, ao interferir na natureza,
utilizou a matéria prima para construção de um produto que atendesse às suas
demandas.
A elaboração dessa estrutura cosmopolita foi ordenada a partir de
um elemento que deu sentido a essas relações: a linguagem. Porto seguro e
lugar de mútuo reconhecimento, não só da espécie, mas de interesses
comuns, onde as pessoas, supridas na troca com o outro, enfrentaram,
criaram, e sobreviveram.
Dos tempos mais remotos aos dias atuais, a evidente e pulsante
característica nesse homo, que é sapiens, revelou-se na sua capacidade de,
em grupo, utilizar aquilo que os gregos definiram como logos, para gerar o que
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chamavam de cosmos. Palavra, discurso que ordenou o caos e criou múltiplos
universos culturais e civilizacionais no caudaloso rio da história. Mosaicos
étnicos que se amalgamaram ou se dispersaram, fomentando diversas
experiências por todo o planeta. Algo que não passou despercebido pelas
gerações, marcadas por tais heranças.
Esse legado foi transmitido e perpetuado ao longo dos tempos, mas
também, (re)significado e transformado para impulsionar o novo. A marca
autoral da sociedade atual, enraizada na memória coletiva, norteadora de uma
perspectiva plena de esperança ao vislumbrar um promissor horizonte. Essa
dialética dos tempos passado, presente e futuro, inscrita na genética humana,
foi enriquecida, pela missão ética de passar aos descendentes as informações
e ensinamentos necessários ao desenvolvimento e sobrevivência humanos.
Portanto, nessa longa jornada, quando se examina a produção
humana, a linguagem foi meio e veículo para que as conquistas fossem não só
transmitidas, mas apreendidas. Na sondagem desse terreno, na justaposição
de culturas e lugares tão díspares, o ensino e a aprendizagem, de uma
geração a outra, foram marcas indeléveis, liga que igualou a condição humana
no tempo e no espaço.
1.1 Os Caminhos da Linguagem
Comunicar-se sempre foi uma necessidade para a vida social. Uma
das maiores, senão a maior invenção da humanidade, foi a linguagem falada,
pois através dela foi possível a complexidade na organização social do Homo
sapiens e também a difusão do conhecimento. A oralidade foi de fundamental
importância para as sociedades agrafas (ou, mais especificamente, não
letradas) uma vez que, por meio dela, griôs africanos, aedos gregos etc,
transmitiram informações preciosas às gerações futuras. Mesmo sem a escrita,
o humano conseguiu representar nas paredes rochosas, aspectos de sua vida,
fato testificado pelas pinturas rupestres, espalhadas por todo o mundo.
Com o aparecimento da escrita, a partir de 4000 a.C., as sociedades
avançaram no processo de comunicação, conseguindo registrar a memória
15
coletiva. O escriba registrava as informações passadas pelos contadores e
outros tantos arautos da memória oral, fundadora das civilizações. Os sinais da
escrita ganharam diferentes formas e significados, suportes e forma de
perpetuação. Registrar e arquivar tornaram-se práticas comuns em todas as
sociedades. Afinal de contas, tudo isso era feito para propagar a informação de
forma mais segura, através de documentos escritos, provas incontestes dos
fatos, uma forma de se imortalizar a verdade. Como informa Nelson De Luca
Pretto,
De Lascaux aos primeiros registros de escritura produzidos pela humanidade passaram-se 11 mil anos. O nascimento da escrita na Mesopotâmia, por meio de um conjunto de sinais, símbolos e regras, permitiu ao ser humano organizar o comércio então nascente e também viabilizar um registro da língua falada, dos seus pensamentos, sentimentos e emoções. A escrita foi, enfim e, sobretudo, outro modo de comunicar, de pensar e de exprimir-se. Foi assim que os antigos (...) inventaram a correspondência, o correio e até o envelope de argila! (PRETTO, 1996, p. 54)
Da Antiguidade à Idade Média, povos inventaram redes de
informação para a propagação do conhecimento. Oralmente ou por escrito, as
notícias chegavam ao público por meio dos mensageiros, pregoeiros e
cartazes-editais.
A imprensa surgiu no século XV e, com a invenção da tipografia, um
século e meio depois, floresceram escritos de informação diversos, os
primeiros periódicos. “O verdadeiro estímulo ao surgimento da imprensa
enquanto meio de comunicação ocorre com a instituição da liberdade de
imprensa, na Declaração dos Direitos do Homem, em agosto de 1789, após a
Revolução”. (PRETTO, 1996, p. 56) Um mundo de livros, pasquins, gazetas,
libelos alimentaram as consciências sedentas da Modernidade e, até o século
XIX, a comunicação impressa correspondia à mídia do período. A criação dos
serviços postais na Europa, ao longo do século XVIII, fez com que a troca de
correspondências tornassem-se um costume.
A partir de 1830, a comunicação deu um salto tecnológico, a era das
telecomunicações. A eletricidade passou a ser usada para criar os sistemas
telegráficos. Pelos cabos metálicos as mensagens eram decodificadas e
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transmitidas entre os continentes. A partir de 1870, o telefone, transmitindo a
voz humana por meio de circuitos elétricos, assustou mais do que a invenção
anterior, uma vez que, não precisava passar pelo processo de codificação e
decodificação em Morse. Na virada do século XIX para o XX, os cabos
metálicos foram dispensados, pois os sinais radiotelegráficos propagavam-se
através do espaço. Esse invento foi fundamental para a próxima novidade
tecnológica.
Na década de 1920, o rádio dominou as casas brasileiras, tornando-
se o primeiro aparelho de comunicação de massas. O som emitido por esse
equipamento gerava nos ouvintes um estímulo à imaginação, fazendo com que
os mesmos construíssem um mundo de personagens, semelhante ao da
leitura, uma vez que só existia um estímulo auditivo e não visual.
A partir da década de 1960, com o advento da televisão, o estímulo
visual fez com que a imaginação ganhasse um impulso maior. O ouvinte
tornou-se telespectador! Além disso, a revolução feminista reforçou, de certa
forma, o fascínio das crianças pela TV. A luta da mulher, também mãe e dona
de casa, por autonomia e a necessidade de complementar o orçamento
doméstico mudou a rotina do lar. Assim, a TV, a mágica caixa de imagens,
tornou-se uma auxiliar no processo educativo dos filhos. Era uma ótima opção
de entretenimento, um calmante para as crianças. Este aparelho dominou cada
vez mais o universo infanto-juvenil, quer por meio de uma programação diária,
moldando a rotina, quer por meio dos famosos videogames (o velho ATARI
ainda integra a saudosa memória dessa geração). Enfim, a televisão tornou-se
um portal para um mundo visual.
Com o advento dos computadores, os famosos e práticos PCs, a
partir da década de 1990, esse mundo visual ganhou o status de midiático. A
revolução tecnológica, provocada pela informática, não parou. De acordo com
Nelson De Luca Pretto,
A preocupação da humanidade com o desenvolvimento de métodos cada vez mais rápidos de contar e de processar as informações numéricas foi impulsionando, paralela e concomitantemente, o desenvolvimento daquilo que, em 1962, Philippe Dreyfus denominou ‘informática’, numa alusão aos termos “information e automatique”. (...) Juntamente com o
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desenvolvimento das formas de expressão e das linguagens escritas, os seres humanos foram criando um sistema de numeração. Essa preocupação com o contar, com o enumerar foi induzindo à criação das máquinas de calcular. (...) O objetivo perseguido com a construção das inúmeras máquinas de calcular até o advento do computador era o de aumentar a velocidade com que as informações eram processadas. (PRETTO, 1996, pp. 72-3)
Hoje, com a internet, satélites e os cabos de fibra ótica,
transmissores do sinal digital, tudo isso integrado, inaugurou-se uma nova
fase: a Sociedade da Informação. Visual, midiático e virtual são palavras
presentes no vocabulário da Aldeia Global. Não há limites para essa gama de
informações que percorre toda a Terra em fração de segundos!
Toda essa tecnologia faz com que entendamos o significado de
multimídia. Nelson De Luca Pretto define multimídia como,
... um conjunto de possibilidades de produção e utilização integrada de todos os meios de expressão e da comunicação, como desenhos, esquemas, fotografias, filmes, animação, textos, gráficos, sons, tudo isso animado e coordenado por programas de computador, utilizando-se de todos os recursos disponíveis para a gravação e reprodução desses elementos. Mais recentemente possibilitando uma interação direta com os seus usuários e sua distribuição via ar ou cabo sem perda de qualidade. (PRETTO, 1996, pp. 82-3)
Falar de multimídias não é simplesmente focar na tecnologia, mas
entender o caminho que esta percorreu até chegar ao atual grupo de alunos. O
início do século XXI revolucionou, não apenas a tecnologia, mas as formas de
construção, apreensão e apropriação do conhecimento. “Um novo ‘logos’
começa a ser construído a partir dessa aproximação entre os diversos campos
do saber, mediados pelas máquinas de comunicar” (PRETTO, 1996, p. 95).
Rapidamente a informação fica defasada! Há uma aceleração na difusão e o
processamento das imagens, por minuto, na mente dessa geração de
estudantes. Desprezar ou rechaçar tais avanços; rotulá-los como inimigos da
aprendizagem ou heróis para regastar o interesse não é o melhor caminho. À
medida que, os educares aprenderem a utiliza-los como um suporte, que pode
dinamizar a mediação com os alunos, emergirão novas formas de conhecer e
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produzir. Experiências e legado dessa geração para as posteriores continuarão
a movimentar a roda da história.
1.2 Os Percursos da Aprendizagem
Aprender não se restringe em receber e assimilar informações, bem
como, ensinar não significa, mais adiante, reproduzi-las a outros. Por mais que
as gerações tenham recebido as heranças culturais transmitidas por seus
antepassados, engendraram projetos de mudança. Apropriaram-se e
transformaram. “Aprender é passar da incerteza a uma certeza provisória que
dá lugar a novas descobertas e a novas sínteses” (MORAN, 2011, p. 17). O
conhecimento construído nesse processo e o trato com o lastro cultural, que
essas gerações estabeleceram na relação de ensino e aprendizagem variou no
tempo e no espaço. Entretanto, mesmo não possuindo reflexão teórica nem
bases pedagógicas, desde Antiguidade, como afirma Paulo Freire,
...foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. (FREIRE, 1997, p. 26).
O aprendizado é processado dentro de uma matriz cultural, em um
período histórico específico, circunscrito a um lugar. A professora Maria Lúcia
de Arruda Aranha afirma que a natureza humana deve ser compreendida
dentro de sua época, “porque esta, por sua vez, se encontra mergulhada em
um contexto histórico-social concreto”. (ARANHA, 2006, p. 19). Assim, o que
deve ser passado, como deve ser passado, como será assimilado, apropriado
e transformado inscreve-se dentro de uma determinada experiência temporal.
José Pacheco, ao falar sobre a riqueza do tempo na dinâmica entre o indivíduo
e a coletividade, afirma:
O tempo é um dado adquirido e, simultaneamente, um produto de transformações individuais em grupo. É no tempo e através da permanência em círculo no tempo que se processa a partilha dos saberes e dos afetos. O indivíduo integra-se e sente-se integrante do grupo enquanto este o identifica com um lugar-tempo de recordações de experiências coletivas
19
seguras. O indivíduo-com-os-outros tem consciência de seu papel numa ordem simbólica complexa e concreta, que o “protege” dos efeitos mortais da uniformização. (PACHECO, 2010, p. 85.).
Ao nascer em um mundo já criado por outros, o humano deve,
desde cedo, entender o kosmos social que o rodeia, para, a partir desse ponto,
avançar com autonomia, inserindo-se e inscrevendo-se nesse espaço. Tal
esforço compartilhado coletivamente, ao longo do tempo, favorece a
sociedade, uma vez que, as instituições construídas, oferecem os referenciais
necessários. Pierre Lévy define esse processo como a formação de uma
tecnologia intelectual e afirma que,
A cultura fornece um enorme equipamento cognitivo aos indivíduos. A cada etapa de nossa trajetória social, a coletividade nos fornece língua, sistemas de classificação, conceitos, analogias, metáforas, imagens, evitando que tenhamos que inventá-las por conta própria. As regras jurídicas ou administrativas, a divisão do trabalho, a estrutura hierárquica das grandes organizações e suas normas de ação são tipos de memória, de raciocínio e de tomada de decisão automáticas, incorporadas à máquina social e que economizam certa quantidade de atividade intelectual dos indivíduos. Uma vez que são convencionais e historicamente datadas, é claro que as tecnologias intelectuais (a escrita, a informática...) são instituições. (LEVY, 2010, pp. 144-5)
Assim, ao folhear as páginas do cronus, encontramos marcas
distintas, onde o aprender bebeu nas fontes das tecnologias intelectuais.
Conhecimento inscrito, a partir de um lugar específico, na relação com a
natureza, criando uma determinada visão de mundo, um modelo, um
paradigma, que Edgar Morin apresenta da seguinte forma:
Qualquer conhecimento opera por seleção de dados significativos e rejeição de dados não significativos: separa (distingue ou disjunta) e une (associa, identifica); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em função de um núcleo de noções-chaves); estas operações, que se utilizam da lógica, são de fato comandadas por princípios “supralógicos” de organização do pensamento ou paradigmas, princípios ocultos que governam nossa visão das coisas e do mundo sem que tenhamos consciência disso. (MORIN, 2011, p. 10)
A aprendizagem inserida no processo educativo pode reforçar as
tradições e/ou romper. Tais movimentos geraram conflito e cooperação. No
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entanto, os resultados, as consequências do conhecimento, no interior do
humano e na sociedade como um todo, não puderam ser controlados. Dessa
forma, o embate foi o motor que liberou energia suficiente para inúmeras
transformações. O Prof. José Carlos Libâneo ressalta que essa condução de
um estágio a outro, presente na etimologia da palavra educação, propõe uma
modificação numa certa direção. (1985, apud ARANHA, 2006, p. 32).
Nesse mosaico cronológico, que se desenrolou no tabuleiro global, a
aprendizagem entrou no jogo do poder, uma vez que, não há neutralidade no
processo e construção de um projeto educativo. Logo, a postura crítica e
reflexiva vai permear a atitude do educador e a reação daqueles que
aprendem. Erudita e/ou popular, elitizada e/ou de massa, conservadora e/ou
revolucionária, formal e/ou informal, familiar e/ou escolar, a educação, imersa
em uma ideologia, ou conflitando com a hegemônica, forjou identidades e
marcou culturas.
1.2.1 A Oralidade dos Povos Ágrafos e a Invenção da Escrita
Nos tempos mais remotos, as sociedades tribais, marcadas pela
tradição oral e pela perspectiva mítica, sem Estado, classe, comércio, história
ou escola, viveram uma estabilidade. Isso fez com que as transformações
ocorressem de forma muito lenta. A coesão do grupo foi garantida pelos ritos e
mitos passados oralmente, impostos por meio de crenças. Assim, a repetição
dos comportamentos era almejada por todos. A homogeneidade na
organização social não dava margens à centralização do poder nas mãos de
uma pessoa ou de um grupo. Mesmo aqueles que eram vistos como
referência, representavam o desejo da comunidade como um todo. Portanto,
nessas sociedades, de acordo com a professora Maria Lúcia,
... as crianças aprendem “para a vida e por meio da vida”, sem que ninguém esteja especialmente destinado para a tarefa de ensinar. (...) A formação é integral – abrange todo o saber da tribo – e universal, porque todos podem ter acesso ao saber e ao fazer apropriados pela comunidade. (ARANHA, 2006, p. 35).
A partir do desenvolvimento da escrita, associada diretamente ao
surgimento do Estado, teve-se um avanço no processo de hominização. De
21
acordo com Saviani, “a origem das instituições educativas remonta ao
momento de ruptura do modo de produção comunal (o comunismo primitivo)
que determinou o advento das sociedades de classes” (SAVIANI, 2007, p. 9-
14). No Antigo Oriente, os governos – despóticos e teocráticos – concentravam
as terras e o poder. Foi a transição entre a comunidade indivisa e sem classe,
do período primitivo tribal, e a sociedade de classes, que surgiria
posteriormente. A professora Maria Lúcia caracteriza essas sociedades da
Antiguidade Oriental da seguinte forma,
... os segmentos sociais se especializaram entre governantes, sacerdotes, mercadores, produtores e escravos, criando-se uma hierarquia de riqueza e poder. Essas mudanças exigiram uma revolução na educação, que deixou de ser igualitária e difusa, portanto acessível a todos, como nas tribos. Enquanto alguns eram privilegiados, o restante da população não tinha direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante. Em decorrência, estabeleceu-se uma diferenciação entre os destinados aos estudos do sagrado e da administração e aqueles voltados ao adestramento para os diversos ofícios especializados. Teve início o “dualismo escolar”, que destina um tipo de ensino para o povo e outro para os filhos dos nobres e de altos funcionários. A grande massa era excluída da escola e submetida à educação familiar informal. (ARANHA, 2006, p. 45).
O Crescente Fértil, berço dos princípios civilizacionais, foi um lugar
onde surgiram impérios, reinos e culturas marcados pelas divisões sociais e
desigualdades atestadas por formas de ensino onde a elite era preparada
paras as letras e o comando e a grande massa, capacitadas para os ofícios
manuais. No Extremo Oriente, a marca da tradição também definiu os papéis e
as regras do jogo. Os usos e costumes, bem como conhecimentos e artes
caracterizaram, de acordo com Claudino Piletti, uma educação que “consistia
em comunicar a cada indivíduo, como devia caminhar na ‘senda do saber’”
(PILETTI, 2012, p 16). O Oriente, resguardada as devidas diferenças, teve um
processo de ensino-aprendizagem marcado pela memorização e moralidade, a
fim de resguardar o status quo de um mundo tão marcado pelo reforço da
autoridade, pois, a fronteira demarcava de um lado, os que obedeciam e do
outro, os que mandavam.
22
1.2.2 A Antiguidade Clássica e o Processo de Ocidentalização
Na Antiguidade Clássica, formada pela herança greco-romana, os
processos de helenização e latinização são de extrema importância para
entender a matriz educacional, que marcou e influencia até os dias de hoje da
cultura no Ocidente.
Na Grécia Antiga, território marcado pela descentralização política,
mas por uma unidade cultural, a educação focava a formação integral – corpo
e mente – um processo de elaboração consciente, formando um indivíduo
correto e virtuoso, oscilando entre o preparo militar ou esportivo e a reflexão e
discussão, fundamentais para o intelecto.
Nos tempos micênico e homérico a família era responsável pela
educação, com forte cunho religioso. Embora, presente desde a civilização
micênica, a escrita restringia-se ainda aos escribas. Com o nascimento das
póleis, já no período clássico, os horizontes se ampliaram. A educação ainda
era monopólio das elites. Os jovens da antiga nobreza e os filhos de
comerciantes promissores, rodeados por um universo de escravos,
desfrutavam do ócio produtivo. Investiam o tempo livre para dedicarem-se a
pensar, governar e guerrear.
Criou-se o termo paidéia, reforçando o conceito de formação integral
e constante no mundo grego. Esse conceito era utilizado para aqueles que
dominaram as regras culturais e civilizacionais gregas, em contraponto a
barbárie, ou seja, todos aqueles que não decodificavam os códigos do mundo
helênico. De acordo com Saviani, “a instituição escolar se desenvolverá na
Grécia como paidéia, enquanto educação dos homens livres, em oposição à
duléia, que implicava a educação dos escravos, fora da escola, no próprio
processo de trabalho” (SAVIANI, 2008, p. 1)
Berço da racionalidade, da filosofia e da democracia, esse mundo
de póleis tão diferentes, teve projetos focados ora na formação do corpo, como
em Esparta, ora na formação da mente, como em Atenas. Foi a partir desse
lugar que a educação ganhou corpo teórico e reflexivo. Os pensamentos
socrático, platônico e aristotélico, portanto, estabeleceram um divisor de águas,
23
que até hoje não foi superado, uma vez que, são referenciais para construir e
reconstruir novos e diferentes paradigmas. A professora Maria Lúcia destaca:
Por se tratar de sociedades teocráticas, a educação não se separava da religião, e o escriba, o sacerdote ou o mago eram os depositários desses valores. (...) A ênfase no passado foi deslocada para o futuro: ninguém se acha preso a um destino traçado, mas é capaz de projeto, de utopia. (...) Ao discutir os fins da “paidéia”, os gregos esboçaram as primeiras linhas conscientes da ação pedagógica e assim influenciaram por séculos a cultura ocidental. (ARANHA, 2006, pp. 67-8).
Mais reflexiva, atenta a um mundo terreno, onde o melhor caminho
para o indivíduo seria o do autoconhecimento, buscando aprender através do
diálogo e do debate, preparando-se para vida pública, a educação no mundo
grego também se preocupava com a moral, pois focava a formação das
virtudes. Como coloca Piletti, nesse período, “o papel da escola é o de
colaborar para que os alunos adquiram o hábito da virtude. (...) o objetivo da
educação é substituir a natureza e completar o que ela começou”. (PILETTI,
2012, p. 32.)
Marcada, por uma concepção de poder centralizado, a partir da
Península Itálica para o mundo conhecido, a civilização romana, mesmo
passando pela Monarquia e pela República, período glorioso para os
senadores, ganhou grande expressão e repercussão, a partir de sua fase
imperial. Para domínios tão vastos, uma educação que apresentasse uma
cultura universalizada foi a solução. Ideal que se expressou na palavra
humanitas, conhecida no ocidente como humanidade.
Tal formação propôs-se a fundamentar o indivíduo virtuoso através
da moral, da política e da literatura. Uma perspectiva humanística e
cosmopolita, que ampliou a todos os cidadãos de um império, formado por
diferentes povos e culturas um código comum. Amplo o suficiente para
promover uma identidade e flexível a ponto de dialogar com as especificidades
regionais.
Embora, tenha bebido no helenismo, recebendo influência direta dos
pensadores estóicos e epicuristas, diferenciaram-se dos gregos, pois eram
mais pragmáticos. Preocuparam-se com as questões do dia a dia e focaram-se
24
na ação política e não na especulação filosófica, através das abstrações e
teorizações do Real. Por isso, para atender a ação política, a retórica foi mais
importante do que a filosofia. “A Educação, então, orienta-se para uma
formação cívico-oratória que possibilite ao indivíduo intervir na vida pública”.
(PILETTI, 2012, p. 36.)
Impecável comportamento moral, dialética filosófica, sensibilidade
poética, eloquência jurídica e versatilidade artística marcaram a lista das
características da formação de excelência defendida por Cícero, um dos
grandes nomes da educação romana. Sêneca, valorizando a individualidade
como Cícero, reforçou a fragilidade na psique do aluno e afirmava que, a
finalidade da educação era libertar das paixões para harmonizar-se com a
natureza. Plutarco, seguindo as mesmas tendências dizia que era preciso fazer
com que a criança adquirisse o hábito de governar-se e autodirigir-se através
da razão e da consciência e para se chegar a esse fim eram necessários a
exortação, a persuasão e o exemplo.
Ao falar da importância da Antiguidade Clássica, a professora Maria
Lúcia ressalta:
Do ponto de vista da educação efetivamente dada, por se tratar de uma sociedade escravista que desvalorizava o trabalho manual, continuou sendo privilegiada a formação intelectual da elite dominante. Dos pressupostos antropológicos que embasam a pedagogia, os romanos como os gregos representam a tendência essencialista que (...) atribui à educação a função de realizar ‘o que o homem deve ser’. (ARANHA, 2006, pp. 94-5).
1.2.3 A Medievalidade e os Intercâmbios entre Oriente e Ocidente
A partir do século V, com a destruição do Império Romano do
Ocidente, outro período histórico, a Idade Média, que durou 1000 anos,
caracterizou-se pela expansão de um mosaico cultural. Como coloca Maria
Lúcia:
... a cultura medieval é um amálgama de elementos greco-romanos, germânicos e cristãos, sem nos esquecermos das civilizações de Bizâncio e do Islã, que fecundaram de forma brilhante a primeira fase da Idade Média. (ARANHA, 2006, p. 101).
25
Com a expansão do Império Romano, durante a Antiguidade, a
solução para administrar melhor a vastidão das terras foi dividi-lo em Império
Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente,
com capital em Constantinopla, conhecido também como Império Bizantino. No
alvorecer medieval, com a desestruturação da parte ocidental, o oriente
continuou. A civilização bizantina prosseguiu e floresceu econômica e
culturalmente. Na época do Imperador Justiniano alcançou sua maior
expansão. Trouxe grandes contribuições na área do Direito, com a criação do
Corpus Juris Civilis, e nas artes através dos magníficos mosaicos. Assumindo
contornos e características próprias, a orientalização e as influências gregas e
asiáticas, afastaram-lhe das feições latinas. O elo comum com o Ocidente, a
religião cristã, no século XI, sofreu uma cisão, com a criação da Igreja Cristã
Ortodoxa.
A Europa Ocidental, parte continental pertencente a um mundo em
decadência, com a invasão dos povos não romanizados (francos, hunos,
hérulos, godos, ostrogodos, visigodos etc.) viveu um movimento diferente do
Oriente. Os conquistadores romanos foram invadidos por povos que
chamavam de bárbaros.
Uma cultura, antes costurada a partir do mundo urbano,
desestruturou-se e a desordem e insegurança levaram ao esvaziamento das
cidades e a ruralização da região. Só a partir do século VIII, na Baixa Idade
Média, com a retomada de uma estabilidade econômica, política e social,
possível graças ao Império Carolíngio, a estrutura urbana começou a ser
reconstruída. No entanto, a sociedade feudal marcada por atores como
cavaleiros, camponeses e senhores feudais, nobres e servos, ainda levaria um
tempo para ver as cidades fortalecidas e o comércio reaquecido, fato ocorrido
entre os séculos XI e XIV.
A Igreja Católica foi a grande articuladora cultural desse período. A
herdeira da Antiguidade Clássica construiu uma visão hegemônica, agregando
elementos germânicos à visão cristã (helenizada e latinizada). Como informa a
profª Maria Lúcia:
26
...desde o início da Idade Média, a herança cultural greco-latina foi resguardada nos mosteiros. Os monges eram os únicos letrados, porque os nobres e muito menos os servos sabiam-se ler. [Compreende-se] a influência que a Igreja exerceu não só no controle da educação, como na fundamentação dos princípios morais, políticos e jurídicos da sociedade medieval. (ARANHA, 2006, p. 104)
O mundo árabe, unificado a partir do islamismo propagado por
Maomé, desde o século VII, expandiu-se da Península Arábica, tomando todo
o Oriente Médio, chegando ao Norte da África e ao sul da Península Ibérica. A
civilização islâmica fincou-se nos continentes asiático, africano e europeu.
Estabeleceu um governo teocrático, uma religião monoteísta, onde Alá, único
DEUS, revelou a sua vontade ao profeta, que a escreveu no Alcorão. Tendo
sua conduta moral e religiosa orientada através do livro sagrado, com um forte
ímpeto guerreiro, os califas, sucessores de Maomé, construíram um poderoso
império.
Do norte da África, o bispo de Hipona, Agostinho alertava o mundo
latino que, as razões que levavam ao fracasso na aprendizagem estavam
relacionadas à baixa capacidade do professor, a exaustiva repetição do
conhecimento, a baixa inteligência e a falta de atenção do aluno.
No mundo árabe, o aprendizado, iniciado na mesquita (centro
religioso, político e cultural do povo), através das escolas elementares,
chegando às universidades, espalhou-se pela vastidão de um império (da Índia
a Espanha), assimilou culturas e o conhecimento de diferentes povos. Assim, a
cultura helenística, foi transmitida ao Ocidente, a partir da Baixa Idade Média,
(século XII ao XV), através de Averróes, muçulmano, teólogo, jurista, filósofo,
matemático e estudioso da Medicina. Logo, por meio das Cruzadas,
movimento religioso católico, que procurou libertar Jerusalém das mãos dos
infiéis islâmicos, o apagado Ocidente, recebeu o novo alvorecer da cultura
grega. Através das lentes do mundo árabe e das contribuições desse homem,
conhecido pelos escolásticos como O Comentador, o mais famoso pensador
islâmico, uma nova brisa clássica soprava de outras bandas.
Por isso que, já na segunda metade do medievo, Tomás de Aquino
através do pensamento e método de ensino conhecido como escolástica,
27
defendia que o aluno exercitasse o raciocínio, pois assim entenderia a verdade
revelada. De acordo com Piletti, para esse pensador,
... o professor está na mesma situação de um médico ou de um lavrador. O médico e o lavrador funcionam como agentes externos, pois a cura do doente ou sucesso da plantação dependem da natureza do doente ou da qualidade do solo. Assim, da mesma forma, o professor também é um agente externo. Ele colabora na aprendizagem do aluno, mas esta depende do próprio aluno. Em outras palavras: o professor não pode comunicar a ciência, mas prepara para ela. (PILETTI, 2012, p. 55).
Nesses mil anos, o florescimento e efervescência culturais
evidenciaram-se nas tradições bizantina, árabe e europeia latina. Formas de
transmitir, comunicar e ensinar diferentes no tempo e no espaço. Assim, no
século XIV, com a retomada do grande fluxo de mercadorias entre o Oriente e
Ocidente, técnicas e conhecimentos foram trocados, possibilitando um
renascimento urbano, comercial e cultural que levou o mundo a dimensões
transoceânicas no início da modernidade.
1.2.4 A Modernidade e os Processos de Racionalização
A Idade Moderna surge no horizonte como um período de transição
e de fortes transformações. Com o resgate da hegemonia das cidades no
centro das relações de poder na Europa Ocidental uma nova classe, a
burguesia, nasceu e a marca dessa fase foi a secularização do saber. A saída
de uma perspectiva teocêntrica para uma antropocêntrica. A descoberta de um
mundo heliocêntrico em detrimento de um geocêntrico. Dessa maneira, tirava-
se a Igreja, porta voz de Deus na Terra, do centro das questões, voltando-se
para o indivíduo racional, bem como, tirava-se do centro do universo a própria
Terra. Planeta desbravado em sua esfericidade, e não através de um plano
que conduzia a abismos sem fim, por meio da coragem de vários homens,
navegadores, como Colombo, que na ânsia de chegar a um novo caminho
para as Índias, esbarrou em um novo continente, nomeado, posteriormente,
pelos europeus, como América.
Para alguns estudiosos esse momento histórico representou para
Europa Ocidental um despertar, onde a curiosidade foi estimulada pela
28
observação direta dos fatos, a recusa ao ascetismo medieval, o foco no corpo
e na natureza circundante. Como coloca Maria Lúcia, a Renascença
evidenciou “a busca da individualidade, caracterizada pela confiança no poder
da razão para estabelecer os próprios caminhos. O espírito de liberdade e
crítica opunha-se ao princípio de autoridade” (ARANHA, 2006, p. 124.).
A Modernidade inaugurou um período onde a burguesia construiu a
sua hegemonia econômica e social e ditou as regras de uma sociedade que
buscou a secularização. Tal atitude motivou uma proposta educacional avessa
à tradição medieval, não religiosa e calcada em bases naturais.
A Reforma Protestante, herdeira da crítica renascentista, traz um
duplo movimento: o primeiro foi o de quebrar a hegemonia católica como
representante do cristianismo no Ocidente, reforçando as perspectivas
nacionalistas em detrimento de um domínio papal; o segundo, o de promover
um indivíduo reflexivo, capaz de entender e conhecer. Assim, a proposta de
Lutero, de acordo com Nelson Piletti, era :
...a educação universal [...] Por isso, insistia, em suas pregações, que o ensino deveria chegar a todo o povo, nobre e plebeu, rico e pobre. E contrariando o que se pensava e fazia na época, ele deveria beneficiar tanto os meninos quanto as meninas. Caberia ao Estado, finalmente, decretar a freqüência obrigatória a escola. (PILETTI, 2012, p. 63.).
Como resposta a esse movimento de secularização e perda da
hegemonia nos campos da política, da ciência e da própria religião, a Igreja
Católica, através da Contra-Reforma reagiu e a partir o Concílio Trento (1545-
1563), estabeleceu novas diretrizes, com a finalidade de resgatar o poder e a
força, enfraquecidos em meio a uma avalanche de novidades.
Dessa forma, no contexto das Grandes Navegações que
aproximaram os continentes (europeu, africano, asiático e o americano,
considerado novo), não se levou só a espada para a conquista, por meio da
violência, mas a cruz, para, por meio do convencimento, acalmar os ânimos
dos nativos da terra nova. Assim, a ordem jesuíta, criada nesse contexto,
reforçou as bases da fé cristã, por meio do ensino.
29
Portanto, as influências educacionais que aportaram nas terras
brasílicas, ancoraram tendências tradicionais, como resposta à secularização e
uma estrutura de escola burguesa e humanista, que estimulava o senso crítico,
já vigente na Europa. Como nos informa o Piletti,
... a realeza e a Igreja aliaram-se na conquista e dominação do Novo Mundo, visando alcançar com mais eficiência os seus objetivos: a realeza procurava facilitar o trabalho missionário e educativo da Igreja e esta, na medida em que buscava converter os índios aos costumes europeus e à religião católica, favorecia o trabalho colonizador da Coroa portuguesa. (PILETTI, 2012, p. 69).
Os embates, vivenciados a partir do século XIV com o surgimento
do Renascimento, eclodiram de forma culminante no século XVI, com a força
do humanismo, influenciando mais uma cisão do cristianismo, dessa vez no
ocidente. Era uma reação em cadeia que persistia em renovar e/ou derrubar os
pilares da Idade Média. O indivíduo tornou-se protagonista e não mais cativo
do desejo e da vontade da coletividade na determinação de suas escolhas,
caminhos e futuro. Como Shakespeare já escrevia em sua obra, o amor era
uma questão de escolha e não determinação familiar. Estava nas mãos de
Julieta Capuleto amar Romeu Montecchio, filho de uma família arquirrival.
Seus desejos estavam acima das convenções sociais. A subjetividade
humana potencializou-se, indo além do proposto por Agostinho, a partir da
interiorização, pois dessa vez, a consciência, guindada a um nível crítico e
reflexivo era tutoreada predominantemente pela razão.
Portanto, no século XVII, filosofia, ciência e educação, focada na
questão do conhecimento vão encontrar amparo em duas tendências
filosóficas opostas: o racionalismo, enraizado no idealismo platônico, não como
a patrística agostiniana colocou; e o empirismo, enraizado no realismo
aristotélico, não como a tradição escolástica se apropriou.
Como primeiro grande nome do racionalismo, Descartes, pai da
filosofia moderna, estabeleceu que a dúvida era o ponto de partida para que
racionalmente o indivíduo pudesse alcançar a verdade. Penso logo existo
(Cogito, ergo sum). Assim, a humanidade encontrara dentro de si, no seu
espírito as ideais gerias de forma bem clara, portanto inatas, uma vez que, o
30
pensar caracteriza e qualifica a natureza humana. O pensar é autônomo e a
razão é suficiente para atingir a verdade, dispensando a tradição e a
autoridade dos dogmas.
Já o empirismo, tendo como grandes nomes Francis Bacon e John
Locke, se fundamentaram numa perspectiva realista, que estabeleceu o
primado da experiência sobre a razão. Enfatizaram, por isso, a indução e não a
dedução, renunciando dessa forma, ainda que realistas, à lógica aristotélica. O
foco estava na experiência sensível. Para se conhecer, em primeira instância,
era necessário que se passasse pelos sentidos. Assim, como informa a
professora Maria Lúcia, o interesse dos pedagogos voltou-se para o:
... realismo em educação. A ênfase maior estava na busca de métodos diferentes, a fim de tornar a educação mais agradável e ao mesmo tempo eficaz na vida prática. Ser realista (do latim res “coisa”) significa privilegiar a experiência, as coisas do mundo e dar atenção aos problemas da época. (...) A pedagogia realista contrariava a educação antiga, excessivamente formal e retórica. Ao contrário, preferia o rigor das ciências da natureza, buscando superar a tendência literária e estética própria do humanismo renascentista. Por considerar que a educação devia estar voltada para a compreensão das coisas e não das palavras, a pedagogia moderna exigia outro tipo de didática. (ARANHA, 2006, p. 155).
Nessa busca por técnicas que dirigissem e orientasse a
aprendizagem, outro pensador se destacou. Locke, ao enfatizar uma ideia de
mente infantil, ao entender a alma como tábula rasa (superfície sem inscrição),
já via nos jogos uma forma maravilhosa de apoio à educação. O exercício
físico, também era estimulado, pois desafiava o rompimento dos limites a partir
da competição sadia.
João Amós Comênio ansiava também por uma metodologia que, a
partir da natureza ou do natural, fizesse o aluno alcançar os níveis mais
complexos de conhecimento. Conhecido como um dos grandes nomes da
pedagogia do século XVII, pai da didática moderna, foi o precursor da sala de
aula tradicional e do protagonismo docente nesse espaço. A questão
nevrálgica para ele residia no fato de fazer com que o professor fosse ouvido e
bem compreendido pelos alunos. Por isso, a aprendizagem deveria iniciar-se
31
do simples para o complexo e do concreto para o abstrato. “O verdadeiro
estudo inicia nas próprias coisas, no ‘livro da natureza’.” (ARANHA, 2006, p.
157).
No século XVIII, Imanuel Kant procurou superar esse dualismo entre
o empirismo e o racionalismo, bem como os impasses entre materialismo e
idealismo, respectivamente. Na dicotomia sujeito – objeto, o que o autor
procurou explorar foi:
...as condições de possibilidade do conhecimento, ou seja, o modo pelo qual, na experiência de conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e em que condições esta relação pode ser considerada legítima. “Sujeito” e “objeto” são, portanto, para Kant, termos relacionais, que só podem ser considerados como parte da relação de conhecimento, e não autonomamente. Só há objeto para o sujeito, só há sujeito se este ao se dirigir ao objeto, visa apreendê-lo. (MARCONDES, 2001, p. 209).
No entanto, a ênfase dada à razão, que impõe formas a priori a
informação passada pela experiência, o coloca sob uma perspectiva idealista.
A sensibilidade e o entendimento seriam, pois atributos mentais ou racionais,
que contribuíram para o conhecimento e a própria percepção da experiência,
demarcada no tempo e no espaço. Kant, portanto, sintetizou o conhecimento
humano e as apreensões pontuadas pela experiência, estruturados por uma
razão universal que caracteriza todo o indivíduo. Além disso, a consciência
moral seria a atividade que orienta o humano em sua vida prática. Logo, a
tarefa da educação era proporcionar ao sujeito o desenvolvimento da
faculdade da razão e a formação do caráter. Sem a educação o homem não
tem como vir a ser o que precisa ser, em escala individual e social. Ele só
poder ser, se a educação o fizer.
Seguindo essa visão idealista, Hegel concebeu a educação como
uma forma de elevação humana e o Estado tinha o dever de incentivar esse
processo. Tal responsabilidade estatal se explicava, porque existência racional
da humanidade se objetivava no Estado e, a partir da educação, a
subjetividade humana daria lugar a esse processo.
32
Fichte, também idealista, partiu do conceito de natureza
humanizada, uma vez que, só seria concebida, à medida que, os homens se
afirmassem como sujeitos, “capazes de consciência de si e de atividade livre”
(ARANHA, 2006, p. 207), construindo dessa forma, a ideia de natureza. Logo,
a educação formaria o próprio homem e não algo no homem.
Preocupado com a formação do caráter moral, Herbart elaborou
uma pedagogia social e ética. Para ele educação moral e instrução são
inseparáveis, pois, a primeira diz respeito à formação da vontade e a segunda,
ao esclarecimento intelectual. Ambas formam uma unidade das atividades
mentais, ou seja, o querer está diretamente relacionado com o pensar. Por
isso, também se voltou para o desenvolvimento de uma psicologia da
educação. Como afirma Piletti:
A educação só é possível na medida em que se desperta o interesse dos alunos pelas matérias escolares. E esse interesse só pode ser despertado pela seleção adequada dos conteúdos de instrução e pela utilização de métodos condizentes com o desenvolvimento psicológico do aluno. (PILETTI, 2012, p. 90).
Saviani, ao tecer uma reflexão sobre as concepções pedagógicas e
teorias da educação, fez um excelente balanço sobre as tendências
tradicionais e renovadoras nesses séculos que marcaram o cenário
internacional e influenciaram a maneira como a educação brasileira pautou as
relações de ensino e aprendizagem.
O autor expôs que, até o século XIX, os métodos estavam focados
nas teorias sobre o ensino. Assim, o autor lista: as ideias desenvolvidas na
Antiguidade Clássica; bem como, pela pedagogia da natureza, tendo como
grande precursor da Modernidade Comênio; inclui no ramo das correntes
idealistas, Kant, Fichte e Hegel; sem esquecer do humanismo racionalista,
propagado a partir da Revolução Francesa, refletindo os ideais iluministas de
evolução e sistematização, com Herbart e Ziller. Todos esses colocaram a
instrução, o desenvolvimento do intelecto, em evidência. Portanto, a escola era
“uma agência centrada no professor, cuja tarefa é transmitir os conhecimentos
acumulados pela humanidade segundo uma gradação lógica, cabendo aos
33
alunos assimilar os conteúdos que lhes são transmitidos”. (SAVIANI, 2005, p.
2).
Já, com relação às teorias renovadoras, mesmo destacando que se
tornaram tendências predominantes a partir do século XX, identificou
precursores nos séculos anteriores. Deslocando-se das teorias do ensino para
as teorias da aprendizagem, centradas no aluno, tais correntes exibiram em
suas galerias nomes como Rousseau, Pestalozzi, Froebel, além de
movimentos importantes, como a Escola Nova, às pedagogias não diretivas, a
institucional, assim como o construtivismo. Assim, a escola foi entendida como
... um espaço aberto à iniciativa dos alunos que, interagindo entre si e com o professor, realizam a própria aprendizagem, construindo seus conhecimentos. Ao professor cabe o papel de acompanhar os alunos auxiliando-os em seu próprio processo de aprendizagem. O eixo do trabalho pedagógico desloca-se, portanto, da compreensão intelectual para atividade prática, do aspecto lógico para o psicológico, dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos de aprendizagem, do professor para os alunos, do esforço para o interesse, da disciplina para a espontaneidade, da quantidade para a qualidade. (SAVIANI, 2005, p. 2).
Em Rousseau encontraram-se as raízes revolucionárias no
processo de aprendizagem que marcou todas correntes renovadoras
posteriores. Ao escrever Emílio, romance que conta a educação de um jovem
sob a tutoria de seu preceptor, isolados da sociedade corruptora, propôs suas
ideias pedagógicas. Adepto do movimento naturalista, esse pensador propôs
uma educação sensível às crianças e aos jovens, atribuindo-lhes autonomia e
protagonismo na construção do conhecimento. Centrou-se na criança,
entendida como um ser perfeito e não apenas em construção, ou seja, não era
um adulto em miniatura. Enfatizou uma perspectiva antropológica sobre a
epistemológica. Uma forte transformação para uma sociedade que se voltava
para o saber e sua transmissão e não para o aluno. Por isso, recusou uma
formação intelectualista e formal. Defendia que antes da construção de um
pensamento crítico e reflexivo, existe uma razão sensitiva. Assim, “... os
sentidos, as emoções, os instintos e os sentimentos são anteriores ao pensar
elaborado, e essas disposições primitivas são mais dignas de confiança do que
os hábitos de pensamento inculcados pela sociedade”. (ARANHA, 2006, p.
34
178). A educação sensitiva e autoativa redescoberta pelo pai da democracia
moderna e defensor da liberdade, voltada para vida, teve como combustível
principal a curiosidade, o interesse, o feito da criança, bem como sua própria
intuição, ingredientes básicos de uma aprendizagem significativa e relevante.
Pestalozzi, também defendendo uma ideia naturalista, percebeu nos
sentimentos a força propulsora da autoeducação, por meio da qual a
aprendizagem autônoma da criança desabrocharia. Assim a grande tarefa da
educação seria fazer com que as crianças desenvolvessem suas habilidades
naturais e inatas. Por isso, sua promoção deveria ocorrer de forma natural, do
interior para o exterior, respeitando-se os estágios de cada criança.
Reconhecia a função social da educação. Como diretor, defendeu a escola
popular e aberta a todos, formando não só o povo de maneira simples, mas
fazendo-o evoluir ao topo da formação. O professor seria um estimulador da
espontaneidade do aluno, não um autoritário, disposto a inserir informação e o
conteúdo. A escola como extensão do lar e inspiradora de uma atmosfera
familiar, promoveria o afeto e a segurança. A professora Maria Lúcia afirma
que:
Para Pestalozzi, o indivíduo é um todo cujas partes devem ser cultivadas: a unidade espírito-coração-mão corresponde ao importante desenvolvimento da tríplice atividade conhecer-querer-agir, por meio da qual se dá o aprimoramento da inteligência, da moral e da técnica. (ARANHA, 2006, p. 210).
Froebel orquestrou a elaboração dos jardins de infância, espaços
criados para que, em cada fase de desenvolvimento, os pequenos, com o
devido cuidado e acompanhamento, crescessem de forma sadia. Seu tempo
refletiu uma mudança com relação à criança. A infância passou a ser
valorizada como um momento da vida com especificidades bem marcantes e
com longa duração. Ele era favorável às brincadeiras como primeiro recurso na
jornada da aprendizagem. Logo, não havia espaço para autoritarismos e
obrigações nesse espaço, pois o aprendizado necessitava da vontade e do
desejo. “Partindo dos interesses e tendências inatos das crianças para a ação,
o jardim de infância deve ajudar os alunos a expressarem-se e desenvolverem-
se, baseando-se na autoatividade”. (PILETTI, 2012, p. 210).
35
As águas da mudança e da renovação pedagógica desaguaram no
século XX e foram constituindo-se de forma hegemônica, no entanto,
conviveram e misturaram-se com as formas tradicionais religiosas e laicas
nesse mosaico global. Tais tendências refletiram o mesmo movimento no
Brasil que, embora marcado pela força da tradição religiosa, encontrou
espaços de diálogos, ao longo do tempo, com perspectivas revolucionárias.
1.2.5 O Contexto Brasileiro e as Influências Ocidentais
Portanto, ao se contrapor esse painel à realidade brasileira, no
campo da aprendizagem, é preciso entender que, desde meados do século
XV, até meados do século XVIII, a perspectiva cristã, de vertente católica
controlou o cenário, sendo marcado fortemente pelos colégios jesuítas.
Religiosos e com uma visão eurocêntrica, não consideraram as visões de
mundo quer dos indígenas, nativos da terra, quer dos africanos. Tais grupos,
marginalizados no processo de conquista, foram colocados como opostos,
uma espécie de dualismo ontológico, aonde o que vinha desses povos
representava a ignorância, a barbárie, as trevas, as ideias demoníacas, que
deveriam se aniquiladas pela visão de bondade, civilização e conhecimentos
apresentados pelos brancos como a grande solução. Como coloca Maria
Lúcia, com relação ao processo de aculturação:
... os padres vestiram literalmente os índios, para que se envergonhassem da sua nudez. Também os ‘vestiram’ simbolicamente de outros valores, de cultura diferente: impuseram-lhes outra língua, outro Deus, outra moral e até outra estética. (ARANHA, 2006, p. 144.).
A Península Ibérica, ainda que pertencente ao continente europeu,
não refletia, no século XVI as mudanças propagadas, pois era o foco principal
da Contra Reforma. Portanto, incorporava toda tradição medieval, reforçando a
utilização às imagens e recorrendo “aos símbolos tangíveis enquanto
mediações sensíveis para efetuar a relação entre os homens e Deus”.
(SAVIANI, 2005, p. 5). Ainda que as concepções jesuíticas tenham passado
por alterações e estruturado um plano geral de estudos conhecido como Ratio
Studiorum, a perspectiva tradicional e insensível à visão do outro permaneceu.
36
Assim, essa concepção pedagógica tradicional e religiosa, consubstanciada no
Ratio:
...se caracteriza por uma visão essencialista de homem, isto é, o homem é concebido como constituído por uma essência universal e imutável. À educação cumpre moldar a existência particular e real de cada educando à essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Para a vertente religiosa, tendo sido o homem feito por Deus à sua imagem e semelhança, a essência humana é considerada, pois, criação divina. Em consequência, o homem deve se empenhar em atingir a perfeição humana na vida natural para fazer merecer a dádiva da vida sobrenatural. (SAVIANI, 2005, p. 6).
Com a chegada do Marquês de Pombal ao poder, representando as
tendências do Despotismo Esclarecido, influência das ideias iluministas, e com
poderes de primeiro ministro, o cenário mudou. O ensino jesuítico perdeu a
sua força com a expulsão da ordem. A postura do Estado Nacional opunha-se
a hegemonia das ideias religiosas. Coube ao Estado o controle da instrução,
marcado por uma tendência pedagógica humanística e racionalista. Iniciou-se
uma segunda fase, o período das Aulas Régias. Essas aulas consistiam em
disciplinas isoladas, lecionadas por um mesmo professor, indicado e
assalariado pelo estado lusitano.
A partir de 1808, com a vinda para o Brasil da Família Real
Portuguesa, a colônia adquiriu um novo status, consolidado em 1815, quando
foi elevada à condição de Reino Unido a Portugal e Algarve. A presença de D.
João VI trouxe inúmeras transformações e inovações. No campo do ensino,
com o surgimento das escolas de primeiras letras, aprovadas por lei,
propagou-se o método de ensino mútuo. Tal método foi chamado também de
monitorial ou lancasteriano, porque foi divulgado por Joseph Lancaster, da
seita dos Quakers e Andrew Bell, ministro anglicano. O método consistia na
valorização dos alunos mais destacados, sendo elevados à condição de
auxiliares do professor. Os alunos mais avançados tinham destaque e por mais
que exercessem a função de monitores, tal método pedagógico, mesmo
reconhecendo a importância desses discentes, não se centrava neles, mas no
professor, uma vez que, estes exerciam a função docente. “O método supunha
regras pré-determinadas, rigorosa disciplina e a distribuição hierarquizada dos
37
alunos sentados em bancos dispostos num salão único e bem amplo”.
(SAVIANI, 2005, p. 8). O professor, do lugar privilegiado, fiscalizava, com seus
olhos de águia, principalmente os monitores. Esse era um processo que
avaliava continuamente o aproveitamento e comportamento dos alunos, tendo
como grande mola, a competição para o desenvolvimento do ensino.
No processo de independência, a conquista da emancipação
política, em 1822, não garantiu autonomia econômica ao Brasil, que se tornava
dependente de uma Inglaterra, senhora dos mares e industrializada. A partir
desse momento, “a preocupação do governo, no que se refere à educação,
passou a ser a formação das elites dirigentes do país” (PILETTI, 2012, p. 99).
Para uma nação recém-nascida ávida por prosperidade e desenvolvimento,
presas as amarras coloniais de um modelo agroexportador, a evolução social e
política levaria um longo tempo para refletir-se nas esferas educacionais.
Como observa o professor Nelson,
Ao invés de procurar organizar um sistema nacional de ensino integrado em todos os seus graus e modalidades, as autoridades priorizaram a criação de algumas escolas superiores e a regulamentação das vias de acesso a elas, especialmente através do curso secundário e dos exames aos estudos de nível superior. (PILETTI, 2012, p.99).
O método monitorial, adotado no início do oitocentos, deu lugar a
outra proposta, pois não foi considerado eficiente e não estava adequado às
demandas da sociedade industrial. A evolução tecnológica, decorrente dessa
revolução na produção, acarretou no surgimento de suportes didáticos
atualizados, marcas concretas da inovação metodológica no ensino. As
exposições universais, a partir da segunda metade do século XIX, propaganda
da evolução e do progresso, divulgaram em vários países, incluindo o Brasil,
“peças do mobiliário escolar, quadros negros parietais; caixas para ensino de
cores para instrução primária; aros, mapas, linhas, diagramas, caixas com
pedras e metais; madeiras, louças e vidros, iluminação e aquecimento”.
(SAVIANI, 2005, p. 8).
Essa inovação tecnológica experimentada no final desse período, foi
em consequência do método intuitivo e lições de coisas. O ponto de partida
residiu na percepção sensível, pois a intuição precisava de dados e elementos
38
que eram percebidos através dos sentidos, porta para o conhecimento. Por
isso, os novos materiais didáticos foram concebidos para estimular a
observação, com forte apelo iconográfico, bem como todo um equipamento
lúdico para evolução sensório-motora. Como observa a professora Maria Lúcia:
Ao contrário da tradição, que valoriza o ensino discursivo, que atua por raciocínio lógico e, portanto, é abstrato, busca-se começar a instrução primária educando a sensibilidade, pela qual percebemos cores, formas, sons, luz etc. É esta que prepara e antecipa a intuição intelectual, quando então percebemos as relações (de igualdade, causalidade etc.) entre as coisas. Ou seja, rejeitando a educação livresca, a criança deveria aprender a ler o mundo visível, pela observação e percepção das relações entre os fenômenos. (ARANHA, 2006, p. 232).
Mesmo sendo uma referência durante a República Velha, até a
década de 1920, quando despontou o movimento da Escola Nova, o método
teve limitações e impasses. O termo lição de coisas, ainda que vinculasse o
método intuitivo em todas as matérias, restringiu-se, muitas vezes, ao ensino
elementar das ciências. Ruy Barbosa, personalidade política importante no
final do Império e muito atuante no início da república brasileira, preocupado
com a educação, defendia a propagação do método intuitivo e mostrou que tal
método adequava-se aos novos tempos, pois incutia no estudante os sentidos
e o instrumentalizava para explorar e pensar. No entanto, denunciava uma
escola focada em um estímulo a decoreba mecânica e a repetição ineficaz.
Identificou uma nação sem um sério projeto educacional e carente de
mudanças. Entretanto, a inexistência do ensino hegemônico adequado, uma
vez que o método, já citado como o mais pertinente, não era majoritário nas
escolas brasileiras, comprometia o futuro.
Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida como Nísia Floresta, foi um
pequeno oásis, em um período, onde o projeto nascente de nação esbarrou
em áridos entraves. Um modelo agroexportador, engatinhando em propostas
embrionárias de industrialização, alavancadas pelo Barão de Mauá, refletia os
embates entre setores renovadores, com ideias liberais e burguesas e os
setores retrógrados que refletiam a tradição agrária e escravocrata. Era uma
sociedade patriarcal e elitizada. Foi nesse contexto que as ideias da educadora
39
caminharam na vanguarda da aprendizagem, uma vez que defendia a
superação dos autoritarismos pedagógicos, a extinção dos castigos físicos e
abertura da esfera educacional às mulheres, marginalizadas desse processo.
A república brasileira, em 1889, ofereceu a maioria da população
mais do mesmo. Os projetos de poder, como sempre, privilegiaram a camada
dos grandes fazendeiros, que logo, tiraram da cena política os militares e
deram início a uma república oligárquica. Portanto, a modernização estava
cativa dos interesses agrários. O verniz de desenvolvimento, apresentado a
nação, reforçou o elitismo e a segregação dos pobres. Fato notório,
evidenciado na construção da Avenida Central, hoje Rio Branco, na primeira
década do século XX, pelo então prefeito Pereira Passos. Desapropriados e
expulsos, sem prévia indenização, os operários e trabalhadores viram postos
abaixo os casebres e cortiços da parte plana. Desalojados compulsivamente
foram enxotados para os morros, originando-se nesse processo as primeiras
favelas do Rio de Janeiro. Espaço popular, marcado pela ausência do poder
público, foi gueto de uma cultura reprimida na urbe carioca que garantiu lugar
para as influências europeias e desprezou suas próprias raízes. De acordo
com Nelson Piletti,
Durante toda a Primeira República manteve-se a dualidade de sistemas e de competências em matéria educacional: de um lado, o sistema federal, cuja principal preocupação era a formação das elites, através de cursos secundário e superior; de outro lado, os sistemas estaduais que, embora legalmente pudessem instituir escolas de todos os graus e modalidades, limitavam-se a organizar e manter a educação das camadas populares – ensino primário e profissional – e assim mesmo de forma bastante precária. (PILETTI, 2012, p. 115).
A indignação popular não silenciou diante do desprezo e da
repressão estatais. Revoltas e rebeliões no campo e na cidade, greves
operárias evidenciaram a luta dos menos favorecidos por voz e vez na selva de
pedra governada pelas elites.
Desde o século XVIII, o caráter político assumido pela educação,
atribuiu-lhe a função de não só transmitir a cultura, mas formar o cidadão,
conscientizando-o dos seus direitos e deveres. A escola seria o espaço por
excelência de democratização social. Porém, todo esse otimismo deu lugar a
40
sérias críticas, pois nos seus aspectos ideológicos, para alguns pensadores, a
educação reproduzia o sistema e reforçava as ideias da classe dominante.
Portanto, no século XIX, as propostas buscaram estabelecer uma ponte entre
a educação e a sociedade, enfatizando não somente sua função integradora,
mas um viés crítico e inovador. Um espaço emancipador e desmistificador da
ideologia dominante. Logo, o século XX, diante da expansão industrial e das
altas taxas de crescimento demográfico, reforçava e recolocava as pautas de
seu antecessor, no que diz respeito à escola pública, laica, gratuita e
obrigatória.
Os movimentos renovadores no Brasil, a partir do final da República
Velha, buscaram sair do discurso e mobilizar ações efetivas, observando e
refletindo sobre as demandas sociais dos menos favorecidos. Os ventos da
mudança tiveram como marcos importantes: a criação da Associação Brasileira
de Educação (AEB), no ano de 1924; as Conferências Nacionais de
Educação, a partir de 1927; e chegaram ao clímax, com o lançamento do
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, no ano de 1932.
As tendências transformadoras da educação inspiraram-se nos
pressupostas da Escola Nova. O escolanovismo procurou reformar uma escola
tradicional entendida como extremamente rígida, centrada no professor e na
decoreba dos conteúdos disciplinares. Defensora de uma proposta ativista,
focada na formação de um cidadão para uma sociedade democrática e plural.
A escola deveria estimular o processo de socialização da criança, esforçando-
se para o crescimento de sua individualidade e autonomia, sem uso de
autoritarismos e violência. Portanto, ao invés de gravar inúmeras informações
conteudistas para conhecer o mundo, o importante era habilidade de aplicar o
saber às situações cotidianas. As instituições de ensino refletiriam o mundo
contemporâneo, postulando as transformações sociais de seu período
histórico. Seriam agências da liberdade em detrimento do autoritarismo,
possibilitando a hegemonia da autoridade interna sobre a externa, auxiliando
no desenvolvimento de um indivíduo capaz de autodirigir-se em uma
sociedade mutável.
41
A metodologia elaborada pela médica italiana Maria Montessori
baseava-se na biologia humana, a partir dos conhecimentos científicos sore o
desenvolvimento infantil. Os conteúdos de aprendizagem deveriam adequar-se
a cada fase dessa evolução ontológica. Como coloca Maria Lúcia,
Montessori estimulava a atividade livre concentrada, com base no princípio da autoeducação. (...) o aluno usa o material na ordem que quiser, cabendo ao professor apenas dirigir a atividade, e não propriamente ensinar. (...) A pedagogia montessoriana dá destaque ao ambiente, adequando-o ao ambiente das crianças (mesas, estantes, quadros, banheiros etc). O rico e abundante material didático acha-se voltado para a estimulação sensório-motora: cores, formas, sons, qualidades táteis, dimensões, experiências térmicas, sensações musculares, movimentos, ginástica rítmica com a clara intenção de alcançar maior domínio e percepção das coisas. (ARANHA, 2006, p. 264).
De acordo com Saviani, a fonte onde a Escola Nova bebeu seus
referencia foi na Modernidade, centrada em três pilares: a mentalidade na
mudança contínua; o industrialismo; e a democracia (SAVIANI, 2005, p. 10).
Da mesma forma, a noção de Educação Progressiva, defendida por Anísio
Teixeira teve como base as ideias de Dewey, um dos maiores pedagogos
estadunidenses, inspirado nesses pilares.
Nas escolas laboratório, John Dewey concebeu uma educação
escolar ligada à vida dos indivíduos integrados à sociedade democrática, não
podendo limitar-se a um ensino repetitivo de conhecimentos dogmáticos e
estáticos no tempo. A transformação era inerente aos cidadãos, à sociedade e
ao conhecimento produzido historicamente. Logo, os alunos aprenderiam
melhor a partir de sua própria experiência e percepção, através das atividades
livres. Portanto,
...vida-experiência-aprendizagem não se separam, e a função da escola está em possibilitar a reconstrução continuada que a criança faz da experiência. A educação progressiva consiste justamente no crescimento constante da vida, à medida que aumentamos o conteúdo da experiência e o controle que exercemos sobre ela. (ARANHA, 2006, P. 262).
Anísio Teixeira inspirou a redação do Manifesto dos Pioneiros da
Educação, em 1932. O educador defendeu uma escoa pública e de qualidade
42
em todos os níveis, bem como apostava na experiência e iniciativa do aluno.
Acreditava em uma escola progressiva e de educação integral. O famoso
documento propôs um ensino democrático e igualitário, onde não existisse
mais uma educação acadêmica, voltada para a elite, e uma escola profissional,
voltada para os menos favorecidos. A psicologia marcou essa perspectiva, pois
no que diz respeito à aprendizagem, acreditava que as pessoas só aprendem o
que e querem aprender e de forma prazerosa, indo além de um só olhar, mas
agregando e aprendendo outras coisas. Tais ideias, a partir de da Era Vargas,
tornaram-se bem influentes e seus representantes e defensores passaram a
ocupar postos burocráticos, criando órgãos de divulgação, com a finalidade de
consolidar a hegemonia dessa tendência renovadora no campo educacional.
No entanto, a Constituição de 1934, pesou na balança as forças
entre católicos e os pioneiros da educação. Como coloca Saviani:
...o período situado entre 1930 e 1945 pode ser considerado como marcado pelo equilíbrio entre as influências das concepções humanista tradicional (representada pelos católicos) e humanista moderna (representada pelos pioneiros da educação nova), a partir de 1945 já se delineia como nitidamente predominante a concepção humanista moderna. (SAVIANI, 2005, p 14).
A mobilização popular ganhou força ao longo de 1950 e inicio de
1960. A questão da cultura popular, da valorização das raízes brasileiras, bem
como de uma educação popular tiveram sua expressão em dois movimentos
importantes: o Movimento de Educação de Base (MEB) e o Movimento Paulo
Freire de Educação de Adultos. Tais movimentos tinham muito em comum com
as perspectivas da educação nova. O Instituto de Estudos Brasileiros (Iseb),
criado em 1955, contribuiu para reforçar uma cultura brasileira livre da
americanização e/ou do eurocentrismo, por isso mesmo, autêntica e capaz de
provocar uma ruptura com a tradição colonial.
Na década de 60, as reflexões de participação popular foram
evidenciadas nas lutas políticas contra a ditadura militar. Estudantes
mobilizados, secundaristas e universitários, lutaram pela liberdade. O ápice
residiu na mobilização, em 1968, dos universitários, ávidos por reformas.
Tomaram as instituições, pois almejavam uma educação de concepção
43
humanista moderna, tendo como matriz a pedagogia renovadora
escolonovista. Entretanto, a máquina estatal e seu aparato coercivo e violento
silenciou vozes e manietou gestos de uma reforma prática. Mas não blindou a
consciência de uma geração que desaguou na Constituição de 1988, a
Constituição Cidadã, suas esperanças e aspirações de uma escola mobilizada
e engajada na construção de uma sociedade igualitária e democrática.
Os 21 anos de ditadura nesse país deram margem, a partir da
década de 60 a um a concepção produtivista da educação. Submetendo a
educação a economia, via na racionalidade e produtividade conceitos básicos
para ter o maior resultado com um menor gasto. A teoria do capital humano
também reforçava tal perspectiva, pois entendia a educação “como algo não
meramente ornamental, um mero bem de consumo, mas como algo decisivo
do ponto de vista do desenvolvimento econômico, um bem de produção”.
(SAVIANI, 2005, p. 19). Uma educação tecnicista, baseada em uma educação
fabril, onde eficiência, objetividade, neutralidade e operacionalidade foram
palavras de ordem. Com forte tendência da corrente filosófico-psicológica do
behaviorismo, queria eliminar interferências subjetivas que comprometessem o
andamento do bom processo.
Com a abertura e o fim da ditadura, a pedagogia histórico-crítica, de
cunho popular, no processo de redemocratização nacional, expôs suas ideias
e aspirações, defendendo um papel mediador para educação dentro da prática
social e global. No entanto, a concepção produtivista, resistiu às críticas e
disputas e na onda global e neoliberal ganhou um novo folego. Essa visão
passou por cima da qualidade social da educação e consubstanciou-se na Lei
de Diretrizes e Bases e 1996. De acordo com Saviani, essa velha estrutura,
com uma nova roupagem diz que:
A educação passa a ser entendida como um investimento em capital humano individual que habilita as pessoas para a competição pelos empregos disponíveis. O acesso a diferentes graus de escolaridade amplia as condições de empregabilidade do indivíduo o que, entretanto, não lhe garante emprego, pelo simples fato de que, na forma atual do desenvolvimento capitalista, não há emprego para todos”. (SAVIANI, 2005, p. 21).
44
Os quatro pilares da educação para o século XXI, de acordo com a
UNESCO, têm como palavra de ordem e ação mobilizadora o aprender: a
conhecer; a fazer; a conviver e a ser. Em tempos de comunicação global,
mediada pelas múltiplas tecnologias e interfaces digitais, a questão central em
torno da relação indivíduo-sociedade continua em pauta. Não resta dúvida que
a aprendizagem não percorreu um só caminho e não aportará em um único
lugar e desse ponto ditará a verdade dogmática e absoluta, apresentando a
solução para tudo e todos.
Em terra de gente, território do humano, a perspectiva de um
paraíso consensual não é utopia, é hipocrisia. A diversidade enriquece o
debate e mobiliza ações que não podem perder de vista os aspectos
ideológico e sociológico.
Entretanto, dentre os muitos caminhos, é possível pensar e construir
propostas que utilizem tais suportes tecnológicos e as informações disponíveis
na rede para construir conhecimento reflexivo, coletivo, colaborativo e
emancipador. Pensar lugares e instituições como espaços onde a relação
entre aqueles que aprendem e ensinam seja protagonista de trocas
democráticas e enriquecedoras.
1.3 A Linguagem Multimídica e a Educação Escolar
Entrar em uma sala, encontrar os alunos enfileirados, ter um quadro a
sua frente, um livro a sua mesa e a voz como principal instrumento de trabalho.
Esses são aspectos do dia a dia do professor e dos alunos. Durante séculos
essa estrutura funcionou, no entanto, há pelos menos uma década, as paredes
parecem grades para os estudantes e estes, por sua vez, não conseguem ficar
quietos. A voz do mestre já não é tão interessante? A presença do docente já
não é suficiente para aquietar o discente. A produção do conhecimento, no
ambiente escolar, deve ser encarada de forma dialógica, não como uma via de
mão única (do mestre iluminado para o aluno).
Adolescentes, cheios de hormônios, vivendo de forma acelerada,
deparam-se com a escola e encontram um espaço marcado por um outro
tempo. Dirigem-se para a sala de aula, olham fixamente para uma pessoa, o
45
professor e esperam, entediados, o que virá. Enclausurados em quatro
paredes. Aguardam de 50 em 50 minutos quem será o próximo que tentará
manter o grupo sentado até o próximo sinal. Uma rotina que se estabelece em
média 4 horas por dia, 5 dias por semana. Muitas pessoas resistem a essa
escola. As queixas mais recorrentes estão ligadas à morosidade e à
passividade de um espaço desatualizado na tentativa de compartilhar e
transmitir o conhecimento.
Os mesmos estudantes, na maioria das atuais casas brasileiras,
quando estão dentro dela, quase não dialogam com os adultos. Os pais,
quando não estão ocupados com as tarefas de sempre, estão diante da
televisão ou entretidos com outras coisas. Os filhos, trancados no quarto,
também se encontram, mais uma vez, entre quatro paredes, porém com um
grande diferencial, o computador está a sua frente, uma janela para o mundo.
Estão conectados! Espaço virtual e interativo, onde são processadas imagens,
músicas, vídeos e games, que se alteram aos seus comandos e vontades. O
autor José Manuel Moran, diz:
A relação com a mídia eletrônica é prazerosa – ninguém obriga que ela ocorra; é uma relação feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa – aprendemos vendo as histórias dos outros e as histórias que os outros nos contam (...) mais fácil, agradável, compacta – sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades. A mídia continua educando no contraponto à educação convencional, educa enquanto estamos entretidos (...) Os meios de comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens e mensagem que facilitam a interação com o público. A TV fala primeiro do “sentimento” – o que você “sentiu”, não o que você conheceu; as ideias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva. (MORAN, 2000, p. 33.)
Considerando-se os atuais mobiles, como os smartphones e
tabletes, a virtualidade não precisa das esferas e fronteiras bem definidas, na
casa, na escola, em qualquer lugar, o prazer e fetiche pela tecnologia dá
continuidade ao entretenimento, mais interessante do que qualquer conteúdo
disciplinar ou curricular. Na batida da vida pós-moderna, balada, luzes, sons e
46
agitação ditam a moda e a pauta dessa geração que tem diante de si, como
uma tela mental as interfaces digitais. O espetáculo personifica-se e
presentifica-se no consumismo, estimulado pelo veloz processamento
imagético, produzido pela tecnologia e pela linguagem multimídia. Na vida
contemporânea, a mídia provoca na massa o fetichismo de mercado.
Dessa forma, contrapondo a rotina escolar à vida do aluno, percebe-
se um grande distanciamento. O que fazer? Fazer da escola uma rave?
Transformar professores em DJ’s ou animadores culturais? Colocar na sala do
coordenador um divã? Tornar a direção um espaço paternalista? Não! Apesar
de todas as novidades desse século e dessa geração, a escola não pode
perder o seu papel fundamental de ser formadora, construtora, produtora e
mediadora do conhecimento.
Em um mundo de informação as pessoas carecem de formação. As
duas principais instituições, responsáveis por essa tarefa básica, hoje, são a
família e a escola. Construtoras de valores e saberes da modernidade, estas
se encontram em plena turbulência causadas pelas demandas da pós-
modernidade.
A parceria família-escola não é a mesma. Cada vez mais, a família
lança sobre a escola o papel formador e muitas vezes dificulta o diálogo. Em
nome da individualidade, a coletividade é deixada de lado. Sociedade e
comunidade devem atender as necessidades dos indivíduos. A noção de bem
comum dissolve-se aceleradamente, pois no primeiro núcleo de socialização o
indivíduo não tem limites, não aprende a dividir e conviver, os seus interesses
são prioritários. Dessa forma, o estado de barbárie, tão propalado por Thomas
Hobbes e John Locke, pelo mau uso da liberdade, transforma o homem no
lobo do homem. Assim, a escola, pela ausência e/ou omissão da sua parceira
fica sobrecarregada.
Concorrer com as tecnologias, vetando-as no ambiente escolar,
impondo um modelo tradicional, não resolve. Assumir integralmente o papel de
instituição formadora é impossível. No entanto, a escola não deve negar a
mudança. É preciso atualizar-se, levando em consideração novas ferramentas
e novas estratégias. A tecnologia apresenta-se como apoio didático e as
47
estratégias devem levar em consideração as referências dos alunos, incluindo
suas famílias.
Entender a escola como uma estrutura ultrapassada não construirá
repentinamente um espaço ideal de formação. Se por um lado lamenta-se o
atraso da educação, não se pode deixar de reconhecer que, se essa estrutura
tem perdurado, há pontos positivos e relevantes. Portanto, embora seja preciso
renovar, revolucionar e reestruturar não se deve abrir mão de tudo. Inovação,
sim, aproveitando-se os ganhos, teorias e metodologias que norteiam a boa
ação, agregando novos valores, métodos e ferramentas. Ineditismo, não, pois
não se pretende romper abruptamente com um passado, tratado como algo
velho e sem uso.
Apesar das permanências bem sucedidas, a questão é como lidar
com as mudanças nesse ambiente escolar, tendo como objetivos absorver
essas tecnologias. Inserir todo esse aparato requer mudança na infraestrutura,
ou seja, gastos. No entanto, não adianta modernizar o espaço se a equipe não
acompanha, não domina, não sabe manusear o equipamento. É preciso inovar
também na didática, nas estratégias, nas metodologias, nas aulas expositivas,
no processo de aprendizagem.
Há algum tempo, TV, vídeo-cassete, DVD, o laboratório de
informática eram partes integrantes da escola. Hoje já foram introduzidos net e
notbooks, lousas digitais. Porém, tais aparatos, em muitos casos e cenários,
são usados como apêndices, passatempos ou substitutos dos docentes.
Ferramenta nova para reforçar antigas práticas. Propõe-se, dessa forma, a se
fazer o óbvio, que coloca a equipe na confortável zona da rotina, com uma
roupagem hitech. Integrar de forma orgânica internet, aparelhos tecnológicos,
livro didático, paradidático (o famoso extraclasse), filmes, imagens, aula
expositiva, passeios requer esforço coletivo (direção – coordenação –
professores – alunos) na construção de um conhecimento que se aproxime de
uma realidade plural e não algo estático, cortado do todo.
É preciso fazer diferente e entender que a sociedade industrial deu
lugar a sociedade da informação. Portanto, a novas tecnologias de informação
e comunicação, materializadas nas interfaces digitais, “são instrumentos de
48
uma nova razão. Nesse sentido, as máquinas deixam de ser, como vinham
sendo até então, um elemento de mediação entre o homem e a natureza e
passa a expressar uma nova razão cognitiva”. (PRETTO, 1996, p.43).
O processamento lógico-sequencial, surgido na Modernidade de
matriz cartesiana e racional, não mais supre as demandas de alunos que
processam a informação de forma multimídica. Um tipo de processamento que
vai além do hipertextual e com conexões intertextuais. Essa forma de pensar,
de acordo com Moran, agrega:
...pedaços de textos de várias linguagens superpostas simultaneamente, que compõem um mosaico impressionista, na mesma tela, e que se conectam com outras telas multimídia. A leitura é cada vez menos sequencial. As conexões são tantas que o mais importante é a visão ou leitura em flash, no conjunto, uma leitura rápida, que cria significações provisórias, dando uma interpretação rápida para o todo, e que vai se completando com as próximas telas, através do fio condutor da narrativa subjetiva: dos interesses de cada um, das suas formas de perceber, sentir e relacionar-se. (MORAN, 2000, p. 19).
O professor, dentro desse novo cenário, não mais precisa e nem
mesmo conseguirá ensinar tudo aos alunos. Diante da ampla gama de
informações e facilidade de acesso às mesmas, o professor passa a ser um
mediador, focado na aprendizagem. O estímulo à pesquisa promove uma ação
docente que leve os alunos a aprender a acessar e navegar pelo oceano
informacional de forma ética e responsável, conseguindo investigar e garimpar
conteúdos que contribuam para uma aprendizagem coletiva, colaborativa e
significativa. Uma parceria entre docentes e discentes além de promover uma
educação democrática e dialógica, enriquece as informações através do
debate e da troca. Esse processo de auto-organização da equipe de trabalho,
de forma autônoma e reflexiva promove uma relação afetiva e não conflitiva. A
tensão dá lugar ao prazer da descoberta e da produção coletiva.
Os aparatos tecnológicos e a virtualidade não podem ser utilizados
na sala de aula como recursos para distrair ou acalmar os alunos. Devem ser
entendidos como Tecnologia Educacional, trabalhando com a tríade da
educação, comunicação e entretenimento. Por isso, dentro da escola perceber
os alunos e aprender como atuam com essas novas interfaces digitais,
49
interagir com os mesmos nesses ambientes virtuais e mediar uma viagem
calcada na construção do conhecimento transformador. Isso permite um
trabalho viável, possível, articulador de uma ação pedagógica dinâmica e
prazerosa. O resgate do ócio produtivo, rico de sentidos e significados sociais
de relevância para todos. Uma jornada que não expurgue a diversão, rotulada
como vilã da concentração, mas utilize tais recursos para a formação da plena
cidadania e de uma geração autônoma, autora e protagonista de um futuro que
resguarde as boas heranças, mas que decole em inovações e benefícios
sociais.
CAPÍTULO II
O DESAFIO DE UM NOVO PARADIGMA:
EMBASAMENTO TEÓRICO
“Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então
veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei como
também sou conhecido.” (Apóstolo Paulo)
Quando se entra em uma casa cheia de espelhos, muito comum em
alguns parques de diversão, o que se vê são múltiplos e diferentes reflexos,
espalhados por todos os lados. Essas imagens, às vezes, trazem tanta
confusão que, o caminho para uma saída real perde-se em um mundo de
ilusões. As imagens nesse lugar são criadas, refletidas, projetadas a partir de
um “objeto” concreto: o visitante do recinto. Logo, enquanto objeto, a pessoa
torna-se matéria prima para criação de inúmeras formas e imagens,
percebidas pelo olhar humano. Olhar que faz pensar e refletir sobre a
realidade. De objeto torna-se sujeito, quando percebe, apreendendo, tentando
decodificar, transformando o que vê de concreto em uma linguagem que leve a
um entendimento. Conduzido pela razão, caminha-se nas luzes do(s)
conhecimento(s). Entra-se no reino das abstrações e lança-se em uma busca
desenfreada por significados.
Seria isso uma doce ilusão que levaria pensadores a uma ressaca
intelectual? Teólogos, filósofos, cientistas em geral tentam responder essa
pergunta. Uns estão no primeiro gole, levados pela sedução da satisfação
inicial. Outros, já embriagados, caminham cambaleando, trocando as pernas,
mas ainda estão eufóricos. Euforia que os leva às suas famosas afirmações,
suas grandes teorias, suas certezas e verdades absolutas! Existem aqueles
que acordam com uma forte ressaca e se entregam ao fatalismo, a mesmice e
ao comodismo, achando que chegaram ao limite, glorificam o caos. Há,
porém, aqueles que não se entregam, mesmo com uma forte ressaca,
51
provocada pela mutabilidade do mundo, seja o real ou o das ideias, não se
cansam de pensar e repensar.
Construir modelos e visões de mundo, lentes para tentar entender a
realidade, como observado no primeiro capítulo, é um procedimento de longa
data. As dificuldades para articulação de um novo paradigma, nos dias atuais
residem não só nas mudanças dos tempos atuais, mais na velocidade em que
as mesmas são processadas. Tecnologias e a vastidão das informações
alimentam um consumismo e imediatismo que banalizaram o obsoleto. Talvez
Heráclito, filósofo pré-socrático, ao afirmar que não se poderia pisar duas
vezes no mesmo rio, não tinha ideia do quão atual seria sua ilustração. A
mutabilidade provocada nas relações entre real e virtual criam ambientes em
constante transformação. Tempo acelerado que se choca com a lógica escolar.
Assim, diferenciando informação de conhecimento, encontra-se um
primeiro sinal do fio que conduz para saída dessa casa de espelhos, assim
como o fio de Ariadne conduziu Teseu para fora do labirinto de Dédalo. Mentes
humanas processam a informação, mas não a transformam imediatamente em
conhecimento, para isso é necessário um tempo de maturação. Como coloca a
professora Marta Relvas:
O professor, ao estabelecer as estratégias de ensino em relação ao seu conteúdo em seus planejamentos, deve se sensibilizar que as suas turmas constituem em uma biologia cerebral, tal qual uma verdadeira ecologia cognitiva. Afinal, funcionam em movimentos ininterruptos de transformações intrínsecas e extrínsecas. É preciso que o professor perceba que, neurofisiologicamente, os alunos estão com os sistemas dos sentidos biológicos muito estimulados e, por conseguinte, existe um movimento, de conexões nervosas que nunca estancam. (RELVAS, 2012, P. 54).
Esse procedimento precisa ser construído em um espaço relacional de
aprendizagem que pode ser intermediado pelas tecnologias da informação.
Nesse cenário educacional, professores e alunos são protagonistas e através
do diálogo constroem uma aprendizagem significativa. Cada personagem,
utilizando suas habilidades e desenvolvendo suas competências, explora sua
cognição de maneira a chegar a uma produção, extraindo o melhor da cada
um nesse processo colaborativo.
52
2.1 – Construtivismo e Sociointeracionismo
O lugar de primazia dado ao aluno destaca-se nessas teorias que
têm em Piaget e Vygotsky, seus grandes idealizadores. Os pontos que ligam
esses dois autores reforçam a perspectiva tratada aqui, pois, consolidada, no
que diz respeito ao cenário brasileiro, na lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases
da Educação, fundamentam e oficializam uma educação centrada na
aprendizagem. Assim, antropologicamente, afirmam que na natureza humana
inexiste forma universal, essencial e estática. Esta é construída histórica e
socialmente, portanto mutável no tempo. Assim, cada ser humano, de forma
individual ou coletiva, precisa ser compreendido dentro do seu contexto.
Epistemologicamente, defendem que o conhecimento não se dá de forma
inatista, tendo o sujeito primazia sobre o objeto, nem de forma empirista, tendo
o objeto primazia sobre o sujeito, que o decodifica na experiência sensorial. Na
interação sujeito-objeto o conhecimento se processa de forma contínua.
Nesse aspecto, a perspectiva interacionista se entremeia com a perspectiva
construtivista.
Jean Piaget (biólogo e não pedagogo) elaborou uma teoria do
conhecimento que chamou de epistemologia genética. Centrou-se no
desenvolvimento natural da criança, investigando a sua evolução cognitiva do
nascimento a adolescência. Como nos informa Maria Lúcia:
Segundo Piaget, o processo dinâmico da inteligência e da afetividade supõe uma estrutura concebida como uma totalidade em equilíbrio. À medida que a influência do meio altera esse equilíbrio, a inteligência, que exerce função adaptativa por excelência, restabelece a autorregulação. (ARANHA, 2006, p. 276).
Através dos processos de assimilação e acomodação o
desenvolvimento mental acontece. Através da assimilação o ser humano
interpreta a realidade externa, através do que já conhece internamente. Por
meio da acomodação, as transformações, provocadas pelo meio, ajustam-se,
criando novas estruturas.
Piaget identifica quatro estágios de desenvolvimento: o sensório
motor, até os dois anos, onde a criança aprende a trabalhar com os reflexos
53
básicos, sendo um período anterior à linguagem; o pré-operatório, dos 2 aos 7
anos, marcado pelo domínio da linguagem e pela capacidade de
representação simbólica; o operatório concreto, dos 7 aos 11 ou 12 anos, onde
adquire-se a noção de reversibilidade das ações. Aparece a lógica nos
processos mentais e a capacidade de entender a diversidade dos objetos por
similaridades e diferenças; e, em torno dos 12 anos, o adolescente entra no
estágio das operações formais, que cognitivamente representa a conquista do
pensamento lógico e dedutivo e a capacidade de experimentação mental,
relacionando conceitos abstratos e raciocinando por hipóteses.
Portanto, nessa jornada do desenvolvimento, o ser humano evolui no
campo da cognição da motricidade até o pensamento abstrato; no campo da
afetividade, do egocentrismo infantil até a cooperação; no campo da
consciência moral, inicia na anomia, pois não tem leis, chega a heteronomia,
quando passa aceitar normas externas e chega à autonomia, momento em que
rompe com a infância e entra na vida adulta, ao conquistar a capacidade de
autodeterminação.
Lev Smenovich Vygotsky enfatizou a abstração e as funções
psicológicas superiores. Defendia que estes caracterizavam a natureza
humana, diferenciando-a dos demais seres. Valorizou os fenômenos da
linguagem e do pensamento. Segundo esse pensador, o conhecimento
abstrato do mundo originava-se a partir das interações sociais. Logo, o
contexto social e histórico é fundamental para que esse processo aconteça.
Através de uma relação dialética entre indivíduo e sociedade, este modifica o
ambiente e é modificado pelo mesmo, a partir da interação e da experiência
pessoal.
Como não há internalização sem a interferência do outro, o conceito de
mediação torna-se central na obra desse pensador. Assim, em sua obra, a
figura do professor como mediador dos sistemas simbólicos, operando através
do pensamento e da linguagem é essencial para a aprendizagem. Para
entender melhor a evolução da criança criou um estágio anterior ao
desenvolvimento real que chama de zona de desenvolvimento proximal, por
meio do qual o aluno é motivado a resolver problemas através da figura do
54
adulto ou do grupo no qual está inserido. Essa fase de colaboração estimula
“o trabalho coletivo, necessário para transformar uma ação interpessoal –
portanto social – em um processo intrapessoal, isto é, de internalização”.
(ARANHA, 2006, p. 278).
2.2 – A Dodicência
Paulo Freire defende a construção de uma educação democrática
comprometida com as camadas populares. Lutou por uma escola de
qualidade, aberta a todos os cidadãos. No seu trabalho com jovens e adultos
operários procurou, a partir dos elementos de sua realidade, alfabetizá-los para
que lessem não apenas palavras, mas o mundo e o transformassem. Por isso,
acreditava em uma escola que não fosse:
... mera repassadora de conteúdos prontos e acabados, de reforçadora das desigualdades sociais e de (...) [mas] geradora de ideias, (...) articuladora de ações solidárias e cooperativas e (...) promotora da permanência do aluno na escola (LENSKIJ, 2000, p. 83).
Entendendo o processo pedagógico como um estilo muito exato de
prática social, a conscientização é vista como “uma captação correta e crítica
dos verdadeiros mecanismos dos fenômenos naturais ou humanos” (FREIRE,
1980, p. 76). Articulou uma educação problematizadora, fundamentada sobre
a criatividade e que estimulava uma ação e uma reflexão verdadeiras sobre a
realidade, respondendo assim à vocação dos homens que não são seres
autênticos, senão quando se comprometem na procura e na transformação
criadoras. De acordo com as palavras desse educador:
A educação crítica considera os homens como seres em devir, como seres inacabados, incompletos em uma realidade igualmente inacabada e juntamente com ela. (...) O caráter inacabado dos homens e o caráter evolutivo da realidade exigem que a educação seja uma atividade contínua... A educação problematizadora – que não aceita nem um presente bem conduzido, nem um futuro predeterminado – enraíza-se no presente dinâmico e chega a ser revolucionária. (FREIRE, 1980, p. 81).
Paulo Freire mostra que o professor é de fundamental importância.
Este irá ajudar o aluno a construir um pensamento crítico que o possibilite
55
entender o seu mundo, não com as lentes de uma ideologia dominante, de
uma pedagogia conservadora/liberal, mas a partir da sua realidade, passa a se
entender no mundo, como um sujeito inconformado com seu atual modo de
vida. Respeitando o conhecimento desse aluno, não sendo um mero
reprodutor de ideias, mas ensinando aprendendo e aprendendo ensinando, o
professor realiza com seus alunos um processo de descoberta de novos
caminhos, comprometendo-se com o pensamento crítico, numa procura de
mútua humanização. Denominou essa prática, em sua última obra, de
dodiscência. Nela, o professor aprende e ensina ao mesmo tempo e se
estabelece com o aluno uma relação dialética. O aluno, da mesma forma,
enquanto aprende, também ensina. Para ele:
“Somente os seres que podem refletir sobre sua própria limitação são capazes de libertar-se desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade descomprometida, mas se dê no exercício da ação transformadora da realidade condicionante. Desta forma, consciência de e ação sobre a realidade são inseparáveis e constituintes do ato transformador.” (FREIRE, 1980, p. 86).
A educação não é a locomotiva da revolução, mas também não
pode ser a reprodução de uma ideologia dominante. O educador crítico e
revolucionário não vai transformar o país ou mundo através de suas aulas.
“Mas pode demonstrar que é possível mudar. E isto reforça nele a importância
de sua tarefa político-pedagógica”. (FREIRE, 1996, p. 127.). Em tempos de
acelerada mudança não se pode perder a bússola da ética.
2.3 – As Múltiplas Inteligências
A partir da década de 1980, Howard Gardner, psicólogo e
neurologista, divulgou uma teoria que quebrou a perspectiva unilateral dos
testes de QI, criados por Alfred Binet. Esses testes auferiam o coeficiente de
inteligência a partir do raciocínio lógico-matemático. Gardner percebeu que as
habilidades humanas não poderiam ser limitadas por testes que revelavam
uma realidade parcial e insuficiente sobre a mente humana. Focado nos
processos de aprendizado, suas descobertas ajudaram a valorizar o potencial
individual de cada pessoa. Como ele mesmo afirmou, ele tinha:
56
...uma visão pluralista da mente, reconhecendo muitas facetas diferentes e separadas da cognição, reconhecendo que as pessoas têm forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes. Eu também gostaria de introduzir o conceito de uma escola centrada no indivíduo, que considera seriamente esta visão multifacetada da inteligência. (GADNER, 1995, p. 13).
Ao ampliar o leque das habilidades humanas e enriquecer a
concepção sobre cognição humana, identificou sete tipos de inteligência: a
lógico matemática, ligada a habilidade de realizar operações numéricas e de
fazer deduções; a linguística, a capacidade de aprender idiomas e usar a fala e
a escrita para se expressar melhor e alcançar os objetivos; a espacial, o
potencial para reconhecer e manipular situações que envolvam apreensões
visuais; a corporal-cinestésica, a capacidade para usar o corpo para solucionar
problemas ou construir produtos; a interpessoal, capacidade de entender o
outro, suas motivações, como trabalham, suas intenções e desejos; a
intrapessoal, habilidade para o autoconhecimento, utilizado para alcançar
certos fins; e a musical, habilidade para tocar, cantar, ouvir, apreciar e compor
padrões musicais.
Assim, quebrando a hegemonia excludente, que marginaliza muitos
ao campo da incapacidade e ignorância, percebe-se que os talentos
diversificam-se de acordo com as áreas específicas.
2.4 – Projeto e Interdisciplinaridade
Quando se pensa em projeto, no contexto educacional, afirma-se
uma ação coletiva Os educadores propõem-se a construir um caminho que
parta da elaboração de estratégias e metodologias discutidas, acordadas e
executas pelo grupo, não deixando de lado a participação do corpo discente
nesse processo. Ainda que um traga a argila, a ideia bruta, todos como oleiros
se emprenharão para a concepção final da peça.
O dicionário revela um lado interessante, com relação ao significado
da palavra. Projeto, em um sentindo mais amplo, é um plano, um
empreendimento e, na área de construção civil, um plano geral de edificação.
Usar essa última definição, permite entender que não se quer destruir um
edifício de conhecimento, mas sim reformar, mantendo os elementos
57
importantes para a continuidade de uma educação de qualidade e acrescentar
uma nova parte, que complete e amplie a estrutura.
Projetar, por sua vez, é atirar, arremessar longe, dar evidência,
tornar conhecido. A perspectiva de futuro subtende-se nessa proposta, pois os
monólogos do mestre inconteste, a exposição do conteúdo, diariamente, entre
quatro paredes, o uso da sala como único espaço de repetição do
conhecimento, tendo o professor como única fonte de produção e os alunos
como receptores, reprodutores e imitadores de um conhecimento mumificado
não é mais possível. Quer pela mudança da geração, inconformada com essa
estrutura, quer pela revolução tecnológica, já citada acima. Assim, à medida
que se utiliza o diálogo – canal para a troca de experiências – produz-se um
conhecimento plural, relevante para ambas às gerações, fruto de uma
aprendizagem democrática e dialética. Dá-se continuidade a uma educação de
qualidade, contextualizada às demandas do presente e estruturante de uma
vanguarda de educadores e de alunos reflexivos, pensadores e formadores da
alvorada de uma nova sociedade.
Através dos projetos, utilizam-se os recursos existentes, a favor do
grupo – e o maior de todos eles é o ser humano (corpo docente e discente).
Somam-se a isso, as condições positivas, como o investimento na
modernização da infraestrutura do espaço. Isso qualifica os projetos como uma
estratégia sadia e bem sucedida de ação pedagógica.
No entanto, a utilização de uma estratégia coletiva não se coaduna
com a desordem ou a desorganização. Mesmo que ajustes e improvisos sejam
aceitos no processo de construção, uma vez que, não há nada
hermeticamente fechado e acabado, há um método, um caminho claro de
ação, à condução de resultados satisfatórios, que deve ser estabelecido pela
comunidade escolar.
Portanto, pensar no trabalho com projetos como estratégia,
articulada à metodologia eficaz, torna a tarefa do educador mais agradável,
menos traumática e mais viável para a nossa estrutura de ensino. Assim, é
possível costurar um caminho interdisciplinaridade, trabalhando com os temas
transversais de forma mais espontânea. Ajustam-se às necessidades do
58
grupo, uma vez que a equipe molda-se às novidades tecnológicas, sem romper
de forma radical com sua rotina, pois estas são inseridas gradativamente, a
partir de um calendário de ações, o que não toma todo o tempo do educador,
torna-se uma parte do seu trabalho. Por ser um trabalho coletivo, faz com
todos se envolvam, não procurando responsabilizar um ou o outro pelos
problemas, mas assumindo os riscos, o ônus e o sucesso do projeto. Avança-
se, apesar das momentâneas turbulências. Os alunos sentem-se parte
integrante na construção de uma ideia que mobiliza toda uma comunidade
para uma proposta de formação contextualizada às suas demandas e
aspirações. Além disso, prepara-os para enfrentarem o mundo e não só para
inserirem-se no mercado, uma vez que, se pretende que os discentes fixem os
conteúdos a partir do prazer da descoberta do objeto de estudo como parte
relevante para sua vida. Com isso, absorvem melhor a informação, interagem,
e valorizam o conhecimento, usando-o como ferramenta para galgar degraus
importantes, não só a aprovação em um bom concurso.
Cuidados são importantes na construção dessa estratégia e
ressalvas precisam ser feitas. Uma novidade não é absorvida com naturalidade
se for apresentada de forma vertical. Isto é, a escola faz a reforma, paga os
técnicos, notifica os professores e estes têm que atuar somente dessa forma, a
partir do prazo estipulado pela direção. É como se fosse pedir a um esportista
para dar tudo de si, 100%, em uma manhã de inverno, sem que antes ele se
aquecesse. O resultado seria uma distensão muscular. Iria se gastar tempo e
dinheiro e só se acumulariam equipamentos e não experiências positivas.
Nada em educação projeta-se com sucesso do dia para a noite. A elaboração
e a execução de ideias no ambiente escolar devem se desenrolar a médio e,
em alguns casos, em longo prazo, para que se possa ter um bom
aproveitamento.
A execução desses projetos não impede que os professores
trabalhem também com projetos voltados para suas matérias, muito menos,
que os mesmos apresentem novos projetos ao longo do ano, desde que
previamente discutidos pelo grupo.
59
A expectativa pelo novo é um ingrediente fundamental para resgatar
a motivação dos alunos. Assim, os professores devem ser os maiores
propagadores dos projetos, deixando um ar de mistério (cenas do próximo
capítulo). Em síntese, a equipe precisa fazer um marketing positivo. Por isso,
não se pode executar algo novo, com posturas velhas que emperram a nova
rotina.
O que se espera não é uma transformação radical na prática
docente, mas a revisão de algumas práticas. Pequenas mudanças podem
gerar resultados concretos, tais como: arrumação das carteiras; menos aulas
expositivas; incentivo ao diálogo e ao debate; utilização de outros espaços;
saídas da escola; interação com a comunidade local, através de trabalhos de
campo, entrevistando os moradores do bairro etc. Tudo isso, pode melhorar a
atenção, o comportamento e o interesse dos alunos.
2.5 – Intervenção e Ação Psicopedagógicas
Em um século onde a psicologia e aprendizagem estão no centro
das questões, a psicopedagogia torna-se aliada e peça importante na rotina da
instituição escolar. As fronteiras psicopedagogia e os campos de atuação do
psicopedagogo, são colocados por Laura Monte Serrat da seguinte forma:
Não se trata de termos um psicopedagogo psicanalista, nem um psicopedagogo psicólogo social e tão pouco um psicopedagogo psicólogo genético, mas sim um psicopedagogo que possa articular os saberes da Psicanálise, da Psicologia Social e da Psicologia Genética, e de outras áreas como a Antropologia, a Filosofia, a Neurociência, visando à compreensão do aprendiz num outro nível... (BARBOSA, 2010, p. 138).
A função do psicopedagogo no campo institucional diferencia-se da
prática clínica, principalmente por ser tratar de uma área onde se focará a
prevenção de distúrbios e problemas de aprendizagem.
O olhar e a escuta psicopedagógicos isentos da contaminação
provocada pela tensa e desgastante rotina escolar, permite ao profissional
identificar os problemas que emperram a aprendizagem. Contribuiu dessa
60
forma, agindo com toda a equipe docente e sendo sensível às demandas dos
alunos. Como Olívia Porto coloca,
...no exercício preventivo, pode-se falar em três níveis. No primeiro nível, o psicopedagogo atua com vistas a diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem. Seu trabalho recai nas questões didático-metodológicas, bem como na formação e na orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível, o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem já instalados, pelos quais procura-se avaliar os currículos com os professores para que não se repitam tais transtornos. No terceiro nível, o objetivo é eliminar os transtornos já instalados, em um procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros. (PORTO, 2011, p. 12).
Uma vez que, surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia,
teve incialmente como questão central os problemas de aprendizagem, mas
hoje, no campo institucional percebe-se que a atuação do profissional
possibilita uma nova dinâmica nas relações escolares. Como Alícia
Fernandez coloca, há “diferentes proposta em relação ao que seria o objeto
e ao que seria o campo de intervenção da psicopedagogia, embora todos
concordem que ela trabalha com o aprender e suas facções”. (FERNADEZ,
2008, p. 48). Na construção de diálogos possíveis entre as pessoas da
comunidade escolar e na busca de uma aprendizagem significativa, a
atuação psicopedagógica é muito eficaz. Portanto, atuando com a equipe
gestora, seja o diretor, bem como coordenador, orientando os professores
em suas demandas, o psicopedagogo, pode enriquecer a metodologia dos
projetos, motivando os docentes e os discentes, contribuindo para a
construção de um projeto viável e relevante, não verticalizado.
A ação psicopedagógica no campo institucional, com enfoque
preventivo, minimiza, auxilia e proporciona um melhor ambiente de
aprendizagem. Uma das tarefas do psicopedagogo é orientar o corpo
docente na construção de um olhar e escuta sensíveis às demandas dos
discentes. Construir vínculos e significados que aproximem protagonistas,
aparentemente antagônicos, na elaboração do conhecimento.
CAPÍTULO III
CINEMA E EDUCAÇÃO:
LUZ, CÂMERA, ATENÇÃO!
Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.
(Charles Chaplin)
3.1 O Início do Projeto
O projeto inicia-se em 2008, em uma escola particular de classe
média alta na cidade de Niterói. No espaço da docência, marcado pelo
discurso do renovador, mas preenchido pela tradicional prática da aula
expositiva, os alunos, adolescentes em tempos de questionamento e rebeldia
mexeram com o ego de um jovem professor. Diante das tensões entre
diferentes demandas de uma geração tecnológica e conectada, as aulas de
história tornaram-se entediantes. A resposta ao tédio foi o barulho e o ruído
que prejudicaram um diálogo e a construção de um conhecimento sadio,
sufocado, por vezes, pelo inquietante silêncio e frustração de um quadro
branco, cheio de conteúdo para serem copiados no caderno e decorados para
a avaliação.
O gosto e o prazer, a interação e o diálogo não conseguiam fluir em
meio aos problemas de uma rotina exaustiva. Assim, o caminho mais
improvável foi buscar chamar a atenção dos alunos, utilizando ferramentas que
estimulassem a curiosidade. O domínio do computador, das redes sociais, das
postagens no youtube foram percebidos como ingredientes fundamentais para
a construção de uma aprendizagem significativa.
62
Trabalhar os conteúdos da disciplina de história não mais como
palavras escritas e colocados no quadro branco. Mais enriquecê-las com
imagens midiáticas da rede e movimentos e sons da brilhante invenção dos
irmãos Lumiére. Uma história que começou:
...no dia 28 de dezembro de 1895, em Paris, no Grand Café do Boulevard des Capucines. Ali, os irmãos Auguste e Louis Lumière, que havia patenteado sua invenção chamando-a de Cinématographe, exibiam filminhos bem curtos e simples (....) O sucesso foi imediato e os irmãos Lumière compreenderam logo que não poderiam ficar exibindo sempre o mesmo.... Haveria necessidade de novas atrações. (CUNHA, 1980, p. 3)
O caminho do cinema projetaria uma ideia que mobilizaria todo o
grupo de agitados alunos. Naquele momento a reflexão pedagógica do novo
docente buscava um diálogo com as tecnologias que faziam sentido para
aqueles adolescentes e a construção de um conhecimento relevante. Sobre
essa relação, a professora Monica Fantin, ao falar das contribuições do
professor e pesquisador italiano Pier Cesare Rivoltella sobre o assunto, afirma:
...o cenário da relação mídia e sociedade interpela a educação em três sentidos do ponto de vista alfabético (sendo as mídias protagonistas da interação social e da transmissão cultural, a educação não pode deixar de trabalhar sua linguagem, assegurando seu conhecimento e uso); do ponto de vista metodológico (sendo as mídias um novo hábitat cultural, a educação não pode ignorar esse aspecto limitando-se às mediações tradicionais); e do ponto de vista crítico (além de saber usar as mídias, há que ter consciência reflexiva e responsável de que a paisagem midiática não é só suporte tecnológico mas também cultura). (FANTIN, 2006, p. 36).
Os alunos responderam entusiasmados ao convite do professor,
que já tinha o apoio da coordenação e da direção da escola. Pegou-se os dois
temas importantes de história do 7ºano, os indígenas e os africanos e
construiu-se um roteiro de trabalho. Os alunos pesquisaram no livro, na
internet, procuram documentos históricos, como a Carta de Pero Vaz de
Caminha, o Auto de São Lourenço, o Poema de Gregório de Matos Navio
Negreiro, filmes, a ópera o Guarani e as músicas atuais para a trilha sonora. O
trabalho de campo envolveu visita a lugares históricos em Niterói, bem como
uma viagem a São Paulo. Elaborou-se roteiro, filmagem, construiu-se o figurino
63
do documentário, na parte que encenava a auto, escrito por Anchieta, na
releitura dos alunos, onde os índios se revoltavam com o processo de
catequização. Diante da falta de dinheiro, improvisaram-se roupas de jornal,
máquinas digitais e filmadores simples, sem falar nos celulares. A edição foi
feita em computadores sem muitos recursos e com programas simples.
O apoio da equipe de professores foi nas viagens, bem como
coordenação e direção. Mas, a parte técnica e de infraestrutura ficou sob a
responsabilidade do inexperiente professor e dos alunos mais interessados. Os
resultados pedagógicos foram alcançados. A relação melhorou muito entre o
professor e os alunos e a própria turma teve um rendimento maior em outras
disciplinas.
No comentário desse grupo, o que ficou evidenciado foi o sentido
que o conteúdo de história ganhou e da carga afetiva que foi trabalhada como
consolidadora de uma memória de longo prazo e uma aprendizagem rica de
significados. Pois, além dos conteúdos, valores como respeito, solidariedade,
colaboração foram construídos no grupo. Como coloca a professora Marta
Relvas,
As emoções humanas são uma fonte valiosa de informação que ajudam a tomar decisões, estas são o resultado não só da razão, mas também da junção de ambas, associadas a outras competências emocionais que podem levar ao sucesso na construção das relações no trabalho... (RELVAS, 2012, p. 61).
O documentário, batizado de Olhares foi um sucesso pedagógico,
mas deixou a desejar na parte estética, o que não foi perdoado pela gestão da
escola, que se sentiu exposta. Diante dos resultados não alinhados com o nível
de refinamento estético da instituição, o jovem professor foi convidado a se
retirar da equipe e amadurecer melhor suas ideias em outros locais.
Horas dedicadas e um resultado final que veio tentar frear um
projeto que precisava de amadurecimento, mas no ambiente onde foi gestado.
Diante da impossibilidade, no ano seguinte, em 2009, o docente, mobilizado
pelo potencial do projeto e pela relação com os alunos, coordenou um festival
de documentários pedagógicos em outra instituição de ensino.
64
O projeto cresce e ganha corpo a cada ano e tem irradiado outros
espaços escolares e motivado alunos e professores. Impossibilidade que tem
se tornado viável e articulado caminhos de uma aprendizagem significativa.
Hoje, o banco de documentários conta com uma média de 45 documentários,
produzidos por alunos de escolas públicas e privadas no Estado do Rio de
Janeiro.
3.2 As etapas do Projeto
A tecnologia é uma aliada quando usada a favor dos conteúdos.
Não há como separar os projetos, conteúdos e a novidade tecnológica. Para
que haja um bom aproveitamento e rendimento é preciso integrá-los. Portanto,
a estratégia é pensar os conteúdos a partir dos projetos, dando visibilidades a
estes a partir da multimídia. Assim, através da linguagem cinematográfica
buscou-se conciliar todos os recursos audiovisuais e toda a multiplicidade nos
formatos de informação, com a finalidade de reeducar o olhar sobre a escola
como espaço de produção do conhecimento.
Trabalhar com meios de comunicação familiares aos alunos motiva-
os a aprenderem e apreenderem o que os professores propõem. Portanto, o
docente tem que se atualizar e romper com os bloqueios à informática. O bom
do trabalho em equipe, foi contar com a ajuda dos colegas nesse processo.
Narrativas e imagens que construíram ricas histórias, permeadas por
imaginação, vínculos e afetivas, dando asas a imaginação e a criatividade,
como coloca Flávio Campos:
Perguntado onde buscava tantas ideias para compor tantas músicas e tão belas, Wolfgang Amadeus Mozart respondeu que era muito fácil: as músicas vagavam pelo ar. Era só pegá-las e trazê-las para o papel. Acontece assim com as estórias. Elas também estão no ar, no mar, nos campos, nas ruas, nas praças da cidade, na sua casa, nos jornais em cima das mesas, na sua memória, no seu imaginário e por aí todo. São estórias de naturezas e universos diferentes, ouvinte, leitor ou espectador diferentes, mas são estórias a vagar, a pedir para você narrar. (CAMPOS, 2207,p. 19)
Nenhum professor foi lançado em um universo que desconhecesse
para frustra-se e atemorizar-se com a facilidade com que os alunos lidariam
65
com esses recursos, enquanto ele mesmo não conseguiria utilizá-lo. O primeiro
passo nessa nova caminhada foi integrar todo o grupo, para que aprendesse a
lidar com a novidade.
A informática é uma ferramenta eficaz, pois é por meio dela que os
recursos de multimídia tornam-se viáveis. Todo o suporte foi dado ao educador
através da coordenação e da intervenção psicopedagógica. A sala dos
professores funcionou como uma central de informação e produção.
Trazer esse aparato tecnológico à rotina escolar foi uma tarefa
gradativa. As aulas, ricas em recursos visuais, preencheram o primeiro
aspecto. Vídeos e slides constituíram a proposta inicial. O computador foi uma
excelente ferramenta. Através de investigação e pesquisa de textos e imagens
na internet, sintetizando o trabalho através da apresentação dos slides.
Estimular os alunos a fazerem trabalhos de exposição e seminários, utilizando
os mesmos recursos faz parte das etapas desse projeto. Até mesmo os filmes
trabalhados em sala, podem ser reeditados no computador, pois dessa forma
enfatizam-se as cenas importantes para o matéria que se esta lecionando,
construindo as pontes com as demais disciplinas e com outros suportes como
livros e revistas.
A elaboração de documentários pedagógicos alardeou professores
e alunos que não se acharam capazes de executar com tão poucos recursos e
conhecimentos um trabalho dessa envergadura. Discutiram-se os temas com
os alunos e professores e cada turma trabalhou aquele que estivesse de
acordo com o interesse do grupo. Os alunos pesquisaram sobre esses
assuntos, elaboraram um roteiro, fizeram trabalhos de campo e coletaram
imagens que contaram em linguagem cinematográfica e de forma educativa o
tema proposto.
As etapas do projeto levaram em consideração:
A pesquisa, momento onde os alunos, por meio do material didático,
dos livros paradidáticos, revistas, jornais, enciclopédias, livros diversos e
internet se informaram sobre o tema. Os professores responsáveis por cada
turma orientaram a pesquisa e as leituras. Avaliaram como nota do projeto
interdisciplinar. Coube aos professores administrarem os trabalhos e tarefas de
66
forma integrada, a partir de suas disciplinas ou de ambas as formas. O
importante foi que houvesse uma comunicação no desenrolar das tarefas. A
culminância dessa etapa foi marcada uma apresentação da em slides,
contendo a pesquisa sistematizada. Uma vez que, os alunos foram
estimulados a utilizar esse recurso como forma de avaliação, foi preciso que
os professores também trabalhassem, pelo menos uma vez, utilizando esse
recurso, para que os alunos se familiarizem com os mesmos.
Prévia, uma vez que os alunos já estavam familiarizados com o
tema, foram desafiados a desenvolver um vídeo de um minuto com a ideia
orientadora para a formação do roteiro, isso é, a alma do documentário. Fez-se
uma seleção para que a turma e os professores identificassem as melhores
prévias. As prévias orientaram o processo de roteirização.
Roteirização: nesse momento, o trabalho saiu das mãos dos
professores responsáveis e vinculou-se aos professores da área de linguagem.
Evidente, que o contato entre os mesmos fez-se necessário, até mesmo para
definir quais seriam os lugares de filmagem, pois a etapa do trabalho de campo
precisava estar no roteiro. Os professores da área de linguagem, nas turmas
em que lecionaram, desenvolveram o roteiro técnico e o roteiro literário. A
esses professores foi oferecido material e apoio sobre a elaboração de roteiro
cinematográfico. Entendido como um texto imagético. O professor Syd Field,
define roteiro como:
...uma história contada com imagens. É como um substantivo: isto é, um roteiro trata de uma pessoa, ou pessoas, num lugar, ou lugares, vivendo a sua “coisa”. (...) Esses elementos são expressos dramaticamente dentro de uma estrutura definida com início, meio e fim. (FIELD, 2001, p. 15).
Filmagens: Os grupos voltaram a ser orientados pelos professores
que desenvolveram a pesquisa. Por meio do trabalho de campo, as imagens
foram coletadas, segundo a orientação do roteiro técnico e literário.
Edição: a partir daqui os grupos passaram a ser orientados pela
professora de informática e pelo coordenador. Essa é a etapa de finalização,
feita no computador, permitiu uma interação direta, pois foi a turma que decidiu
como finalizar o trabalho.
67
Culminância: uma semana de cinema, com a mostra dos
documentários produzidos pelos alunos, aberta a toda a comunidade marcou a
exibição dos trabalhos de um grupo orgulhoso pela tarefa cumprida e, apesar
dos problemas, o prazer da produção final fez valer a pena cada esforço extra.
Foi cobrado um ingresso de valor simbólico para ajudar uma casa geriátrica,
tendo dessa forma, uma finalidade social. O público votou no melhor
documentário. A segundo etapa da culminância foi a noite de premiação,
contemplando várias categorias, uma espécie de Oscar. Uma banca com
profissionais da área de arte, música, educação e cinema foi montada para
julgar e presentear os alunos.
Atenção e concentração foram resultados positivos adquiridos nessa
troca entre os alunos e professores. Assim, estimulando a curiosidade e
motivando docentes e discentes, o resultado, através das mídias e do cinema
foi marcado por um senso crítico na busca da informação, a educação do olhar
estético e reflexivo, por meio da prática do enquadramento da cena, a partir
das palavras e imagens esboçados no roteiro literário e técnico. Essa
dinâmica possibilitou, sobretudo a equipe docente, com o exercício do olhar e
escuta psicopedagógicos, entender que:
... a maioria das crianças e dos adolescentes “escolarizados” associam o ato de prestar atenção com olhar/contemplar. Dirigir o olhar a um objeto portado pelo outro (...) Os processos atencionais que permitem aprender relacionam-se mais com a curiosidade ativa (primeira acepção do olhar/mirar) do que com a passividade da recepção imitativa. (FERNADEZ, 2012, p. 25).
Ao longo desses seis anos de projeto, em diferentes espaços, a
marca da criatividade, do trabalho colaborativo e coletivo, promoveu momentos
de emoção e superação nos diferentes espaços.
CONCLUSÃO
O novo assusta e, até que tudo se adeque, acontecerão confusões e
conflitos, sadios para o amadurecimento da equipe e do projeto. Vive-se um
momento de ajustes e faz parte dessa fase os desencontros e uma certa
sensação de não se saber direito para onde se está indo ou até se vai
conseguir. No entanto, o importante é avançar, não se intimidando com as
turbulências, mas utilizando-as para temperar a criatividade e determinação.
A finalidade maior não é desenvolver uma escola de cinema ou leitores
acadêmicos, mas reacender, em alguns casos provocar, nos estudantes o
gosto pelo estudo, através de recursos que lhes permitam visualizar o
conhecimento. Ainda que todos não leiam ou não se leia tudo, o gratificante é
que eles leiam e comecem a redescobrir o amor pela leitura. Os documentários
podem até ser bem amadores, o que vale é que transformem o conhecimento
em imagens e consigam fixá-lo e articulá-lo a uma formação que não se
restrinja ao espaço escolar.
A ousadia de se dar um salto dessa envergadura, não faz com que se
perca a meta de educar e ensinar de forma agradável, prática e divertida.
Ainda que os objetivos não sejam plenamente alcançados, em termos de
estética dos projetos, o qualitativo e relevante é que os alunos aprendam.
Tecnologia e mudança acelerada nos tempos atuais não exclui a
possibilidade de uma educação motivadora, renovadora, inovadora que não
está presa às supostas limitações estabelecidas pelo “senso comum”. Uma
educação que não forma zumbis, mas seres pensantes, por isso mesmo,
livres. Uma educação que alargue a visão e amplie os horizontes, onde o aluno
possa desenvolver a sua cidadania de forma plena, construindo caminhos
possíveis e revelando, com nitidez e argumentação maduras, suas opiniões.
69
Educação revolucionária, aberta ao novo, porque suas esperanças e
expectativas não estão fundamentadas em um discurso utópico, distante do
mundo concreto, mas na capacidade do ser humano, que sabe de suas
limitações, mas não se intimida, não se menospreza, porém é capaz de se
libertar, transformar a sua realidade, rompendo com um discurso conformista.
Ser humano que não espera acontecer, cair do céu, mas porque sabe, faz a
hora, a sua vez, como voz ativa na construção de uma sociedade melhor.
70
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77
o Entre os Muros da Escola. Filme. o Escritores da Liberdade. Filme.
78
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I – Linguagem e Educação: Contextualização Histórica 13
1.1 – Os Caminhos da Linguagem 14
1.2 – Os Percursos da Aprendizagem 18
1.2.1 – A Oralidade dos Povos Ágrafos e a Invenção da Escrita 20
1.2.2 – A Antiguidade Clássica e o Processo de Ocidentalização 22
1.2.3 – A Medievalidade e os Intercâmbios entre Oriente e Ocidente 24
1.2.4 – A Modernidade e os Processos de Racionalização 27
1.2.5 – O Contexto Brasileiro e as Influências Ocidentais 35
1.3 – A Linguagem Multimídica e a Educação Escolar 44
CAPÍTULO II – O Desafio de um Novo Paradigma: Embasamento
Teórico
50
2.1 – Construtivismo e Sociointeracionismo 52
2.2 – A Dodicência 54
2.3 – As Múltiplas Inteligências 55
2.4 – Projeto e Interdisciplinaridade 56
2.5 – Intervenção e Ação Psicopedagógicas 59
CAPÍTULO III – Cinema e Educação: Luz, Câmera, Atenção! 61
3.1 – O Início do Projeto 61
3.2 – As Etapas do Projeto 64
79
CONCLUSÃO 68
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 70
ÍNDICE 78