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1
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS QUESTÕES TRABALHISTAS NA ERA GLOBALIZADA
Por
Carlos Gonçalves da Silva
Orientador: Antônio Fernando Vieira Ney
TAPAUÁ/AM
2013
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS QUESTÕES TRABALHISTAS NA ERA GLOBALIZADA
Apresentação da Versão Final de monografia à AVM Faculdade Integrada – Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão Pública.
Por: Carlos Gonçalves da Silva
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar ao meu Deus
Todo Poderoso pela oportunidade de
adquirir o conhecimento e aperfeiçoar
minha prática profissional, tendo a
oportunidade de melhorar o ambiente em
que vivo. Aos meus pais, esposa e filhos
por ter paciência e me apoiar no
prosseguimento dos estudos e concluir
esta singela obra. Aos Mestres da AVM
meu sincero agradecimento pela
oportunidade de se tornar um especialista
em Gestão Pública.
O autor
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta singela obra aos meus filhos:
Kaylon, Caio, Caroline e Carla.
5
RESUMO
Um dos fenômenos mais significativos, se não o mais significativo dos tempos modernos, é a globalização. O tratamento científico deste fenômeno apresenta consideráveis dificuldades. Por um lado, o que se tem chamado de globalização remota, no máximo, ao início da década de 80, por outro, o processo apresenta-se multifacetado. É possível mencionar a existência de uma globalização econômica, política, cultural e assim por diante. Interessa-nos, para os fins deste trabalho, o que podemos chamar de “as questões trabalhistas na era globalizada”. Pretendemos, nos seus traços mais salientes, identificar o papel das questões trabalhistas com o enfoque na era globalizada. Na seqüência devemos verificar o seu impacto no mercado de trabalho. Quais teriam sido os efeitos para o desenvolvimento sócio-econômico do município ou se o termo apresenta-se apenas como uma ameaça à democracia e ao bem-estar social. Por fim, como objetivos destas insipientes considerações, pretendemos apurar como a inserção das Leis Trabalhistas na era globalizada repercutiu sobre os vários agentes do setor administrativo municipal.
6
METODOLOGIA
Ao se considerar as condições políticas e institucionais, reunidas nas últimas
décadas, sobre as questões trabalhistas e sobre o mercado de trabalho em
nosso país, cabe ressaltar que os avanços conquistados pela sociedade
brasileira, na conquista de melhores condições de trabalho, ainda foge ao
alcance de se ter um bom desempenho.
Assim, para o processo de desenvolvimento deste trabalho acadêmico serão
distribuídos 10 questionários, contendo 09 questões dissertativas cada. O
estudo deverá ser efetivado no período de novembro a dezembro/2012, no
intuito de identificar “As questões trabalhistas na era globalizada” referente aos
trabalhadores efetivos do Município de Tapauá/AM. Utilizaremos como método
de pesquisa, o indutivo e, concomitantemente o estudo bibliográfico. Pois,
como afirma o teórico Cervo (1996, p.55), “a pesquisa bibliográfica é meio de
formação por excelência, como trabalho científico original, constitui a pesquisa
propriamente dita na área de ciências humanas e como resumo de qualquer
assunto constitui geralmente o primeiro passo de qualquer pesquisa científica”.
Optou-se por esta linha de pesquisa devido a sua flexibilidade, visto que, esta
temática tem sido cada vez mais relevante em virtude do crescente número de
desemprego desde a década de 1990, no Brasil.
Utilizaremos, também, o estudo bibliográfico em revistas, livros e sites, tendo
como principais autores: Faria (1999), que examina o impacto da globalização,
com profundas implicações, nos mais diversos setores da vida social; Grijó
(2001); Pires e Piccinini (1999); Nogueira (2000); Albornoz (1986), Cattani
(2002), Lessa (2002), Werthein (1999), dentre outros especialistas que de certa
forma, têm contribuído para um melhor entendimento acerca da temática em
questão no país e também no mundo.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................08
I Trabalho: conceitos e definições....................................................................10
1.1 Mas afinal, o que é trabalho?.......................................................................15
1.2 Aspectos trabalhistas............................................................................... 18
1.3 Obrigações trabalhistas: admissão do emprego..........................................23
1.4 A realidade do mundo do trabalho..............................................................29
II O Trabalho na História do Brasil....................................................................36
2.1 O trabalho indígena.....................................................................................39
2.2 O trabalho escravo.......................................................................................43
2.3 Os trabalhadores vão à luta!........................................................................46
III Karl Marx e a Sociedade Capitalista do Século XIX......................................50
3.1 A situação da classe trabalhadora na era globalizada................................53
3.2 O que é afinal a globalização?...................................................................59
3.3 O que o trabalho tem sido, está sendo, pensado e pode ser......................63
IV Trabalho e Emprego: semelhanças e diferenças..........................................73
4.1 A mecanização do trabalhador .................................................................77
4.2 Trabalho e liberdade....................................................................................81
CONCLUSÃO....................................................................................................83
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................88
ANEXOS............................................................................................................94
8
INTRODUÇÃO
Um dos grandes avanços contemplados na Constituição Federal de 1988 diz
respeito aos “Direitos Sociais”. No Art. 6º desta Constituição fica evidente que
são direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade, à infância e a assistência aos
desempregados. Com efeito, no Art. 7º, podemos constatar sobre os direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social. Esses direitos podem ser apreciados no capítulo I desta
monografia.
Muitas tentativas têm sido feitas, principalmente em países desenvolvidos,
para investigar, com vistas, à sua utilização como incentivo as necessidades
que os trabalhadores consideram como as mais importantes.
Nunca é demais lembrar que o direito do trabalho não é fruto de concessões
ou invenção de algum estadista, político ou empresário benfeitor, mas sim o
resultado de dois séculos de lutas que culminaram, no Brasil, em um sistema
mínimo de proteção de direitos da classe trabalhadora, que podemos encontrar
disposto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)- Decreto-Lei nº 5.452/43.
Nos últimos anos, ocorreram mudanças na legislação que procuraram
flexibilizar alguns direitos trabalhistas consolidados há décadas. O assunto que
envolve este tema é extenso, complexo e sujeito a controvérsias,
principalmente se for observado às questões que implicam a relação entre o
capital e o trabalho, pois existe o caráter ideológico e de luta de classes.
A temática globalização, cujo título se refere ao “As questões trabalhistas na
era globalizada” é uma pesquisa de campo, onde serão entrevistados 10
funcionários da prefeitura municipal de Tapaúa/AM, no intuito de identificar as
possíveis causas do impacto da globalização na máquina administrativa,
referente ao mercado de trabalho. Para melhor aprofundamento da pesquisa
utilizaremos o referencial teórico realizado através de revistas, livros e sites. A
questão central deste trabalho acadêmico é investigar sobre as repercussões
9
da globalização no campo do mercado de trabalho e como esse processo afeta
a classe trabalhadora.
Esta monografia contém quatro capítulos: o primeiro aborda conceitos e
visões do mundo do trabalho; o segundo analisa o trabalho na história do
Brasil; o terceiro faz uma viagem pela sociedade capitalista do século XIX; e, o
quarto capítulo relata sobre o trabalho e o emprego, suas semelhanças e
diferenças.
Desejamos que com a realização desta obra, possamos entender a difícil
relação existente entre o capital e o trabalho, bem como do valor do trabalho
para todos nós na vida.
10
CAPÍTULO I
TRABALHO: CONCEITOS E DEFINIÇÕES
Caro leitor, abandone a ilusão de encontrar neste trabalho acadêmico todo o
saber sobre o trabalho humano, essa atividade determinada e transformadora e
tantas vezes penosa, contudo, necessária. Esta obra nada mais lhe promete
senão alguns passos em busca da compreensão do trabalho. E, não se
pretende mestre, mas instrumento.
Será mais fácil envolver nesta reflexão aqueles que têm a experiência
concreta do trabalho, seja lá qual for. A união de teoria e prática é um
ensinamento sábio. Melhor poderão julgar do acerto ou erro dos juízos aqui
emitidos os que são ou foram trabalhadores. Contudo, os que não o puderam
ser ou ainda não são trabalhadores não estão esquecidos. Conto com vocês –
jovens, mulheres, estudantes sem emprego – para completar, criticar ou levar
adiante a pesquisa apenas iniciada.
Assim, para se estudar e discutir sobre a formação profissional e o mercado
de trabalho tem que ser conceituado e definido uma série de termos que são
fundamentais para o entendimento do tema. Neste contexto, iniciaremos pelo
termo mais importante:
“Trabalho. S. m. 1. Aplicação das forças e
faculdades humanas para alcançar um
determinado fim. 2. Atividade coordenada, de
caráter físico e/ou intelectual, necessária à
realização de qualquer tarefa, serviço ou
empreendimento. 3. Esforço comum, luta, faina,
lida, lide. 4. Tarefa para ser cumprida, serviço. 5.
Tarefa, obrigação, responsabilidade.6. atividade
que se destina ao aprimoramento ou ao
treinamento físico, artístico, intelectual, etc.”
(LIEDKE apud CATTANI, 1988).
11
Esta definição do Dicionário Aurélio está essencialmente direcionada para o
trabalho abstrato conforme Eliada Liedke (1988) destaca, ou seja, o trabalho
estritamente físico ou mecânico. Ela, ainda, acrescenta:
“Pressupondo-se exclusivamente o trabalho
humano, como na acepção de Marx em O Capital
(...) o trabalho é atividade resultante do dispêndio
de energia física e mental, direta ou indireta
voltada à produção de bens e serviços,
contribuindo, assim, para a reprodução da vida
humana, individual e social (...). Na sociedade
capitalista, o trabalho contido na mercadoria
possui duplo caráter: trabalho concreto e trabalho
abstrato. O trabalho concreto corresponde à
utilidade da mercadoria (valor de uso), à dimensão
qualitativa dos diversos trabalhos. O trabalho
abstrato corresponde ao valor de troca da
mercadoria, independentemente das variações
das características particulares dos diversos
ofícios. O conceito de trabalho abstrato alude ao
dispêndio de energia humana, sem considerar as
múltiplas formas em que é empregada. É nessa
qualidade de trabalho humano abstrato que o
trabalho cria valor de mercadoria” (LIEDKE apud
CATTANI, 1988, p. 269).
Sérgio Lessa confirma a conceituação acima quando afirma em sua obra
que Luckás define o conceito de trabalho em termos de atividade humana
responsável pela transformação da natureza nos bens necessários à
reprodução social, ou seja, categoria fundamentada no mundo dos homens. E,
obviamente, Lessa (2002, p.27) complementa esclarecendo que este salto
ontológico é que diferencia a existência humana das determinações biológicas.
12
“Na linguagem cotidiana a palavra trabalho tem
muitos significados. Embora pareça
compreensível, como uma das formas
elementares de ação dos homens, o seu conteúdo
oscila. Às vezes, carregada de emoção, lembra
dor, tortura, suor do rosto, fadiga. Em outras, mais
que aflição e fardo, designam a operação humana
de transformação da matéria natural em objeto de
cultura. É o homem em ação para sobreviver e
realizar-se, criando instrumentos, e, com estes,
todo um novo universo cujas vinculações com a
natureza, embora inegáveis, se tornam opacas”
(LESSA, 2002).
Em nossa língua portuguesa, apesar de haver ‘labor’ e ‘trabalho’ é possível
achar na mesma palavra, ambas as significações: a de realizar uma obra que o
expresse, que dê reconhecimento social e permaneça além da sua vida e a de
esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado consumível e
incômodo inevitável.
No dicionário aparece em primeiro lugar o significado de aplicação das
forças e faculdades humanas para alcançar determinado fim, atividade
coordenada de caráter físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa,
serviço ou empreendimento e exercício dessa atividade como ocupação
permanente, ofício, profissão.
Mas trabalho tem outros significados mais particulares, como o de esforço
aplicado à produção de utilidades ou obras de arte, mesmo dissertação ou
discurso. Além de outras conotações pertinentes ao caso:
• pode significar o conjunto das discussões e deliberações de uma
sociedade ou assembléia convocada para tratar de interesse público,
coletivo ou particular;
• pode significar o serviço de uma repartição burocrática e ainda os
deveres escolares dos alunos a serem verificados pelos professores;
13
E, ao se referir em deveres escolares dos alunos, ficamos com o que diz
Freinet (1994) sobre o trabalho, no qual o autor enfatiza que “a Escola do
Trabalho não é apenas uma etiqueta cujo significado varia de acordo com o
espírito de quem a emprega”.
Na ótica de Freinet (1994), através do trabalho, a criança satisfaz sua
necessidade de criação e de ação e, conseqüentemente, toma consciência de
seu papel na sociedade. Enfim, o trabalho, como base educativa, prepara o
homem para integrar-se harmonicamente à sociedade e induz a sua satisfação
pessoal.
Somos conhecedores de que o trabalho impulsiona os alunos buscar o
conhecimento, através da pesquisa, do contato com os adultos e na pesquisa
em livros. Certamente, a natureza é o ambiente predileto das crianças. Elas
observam a vida ao seu redor e surpreendem-se por fazerem parte da própria
natureza. Assim, conforme as crianças vão se socializando e percebendo o
sentido da ajuda mútua, elas vão adquirindo o sentido das profissões.
Além de atividade e exercício, trabalho também significa dificuldade e
incômodo: “aqui vieram passar trabalho”; “a última enchente deu muito
trabalho”. Pois junto a todas as suas significações ativas, trabalho em
português e no plural quer dizer preocupações, desgostos e aflições. É o
conteúdo que predomina em labor, mas ainda está presente em trabalho.
Todo trabalho supõe tendência para um fim e esforço. Para alguns
trabalhos, esse esforço será predominantemente físico, porém, para outros,
intelectual. Contudo, parece míope e interesseira a classificação que divide
trabalho intelectual e trabalho corporal. A maioria dos esforços intelectuais se
faz acompanhar de esforço corporal: uso minhas mãos e os músculos do braço
enquanto digito estas páginas, que vou pensando e o pedreiro usa sua
inteligência ao empilhar com equilíbrio os tijolos sobre o cimento ainda não
solidificado.
Neste contexto, o trabalho do homem aparece cada vez mais nítido, quanto
mais clara, for à intenção e a direção do seu esforço. Trabalho nesse sentido
possui o significado ativo de um esforço afirmado e desejado para a realização
14
de objetivos, onde até mesmo o objetivo realizado, a obra, passa a ser
chamado trabalho. Assim, o trabalho é o esforço e também o seu resultado, ou
seja, a construção enquanto processo e ação.
Max Scheler, filósofo alemão do início do século que se preocupou com o
assunto, distinguia três sentidos da palavra “trabalho”: o de uma atividade
humana, às vezes, também animal ou mecânica “esta máquina trabalha bem”,
“este burro faz um bom trabalho”; o de produto coisificado de uma atividade
“este quadro é um belo trabalho”, “este livro é um trabalho bem-acabado”; e, o
de uma tarefa ou fim apenas imaginado “resta-nos muito trabalho para fazer
uma democracia no Brasil”.
Mas a nossa linguagem diária não faz muitas distinções. Nem sempre
diferenciamos o trabalho como atividade especificamente humana dos
processos condicionados filosoficamente e de fluxos mecânicos de movimento.
Na linguagem científica, sim, aparecem às diferenças. Conforme as
diferentes disciplinas das ciências naturais e sociais onde a palavra é utilizada,
trabalho às vezes se distancia daqueles significados fundamentais do termo,
que nos parecem transparentes em nossa linguagem comum.
Em física, por exemplo, trabalho é o nome do produto entre força e
deslocamento que um corpo em movimento realiza no tempo. Já a filosofia diz
que um músculo realiza trabalho, embora não se possa supor aí nenhum
objetivo consciente do músculo mesmo.
Em sociologia, quando se fala em trabalho, quase sempre se está no
contexto da divisão do trabalho social, esquecendo-se o esforço feito no
isolamento, com gratuidade, ou sem produto imediatamente aparente, como no
caso do trabalho da mulher doméstica, dentro de sua casa.
De todos os modos, os estudiosos supõem que a história da palavra
“trabalho” se refere à passagem pré-histórica da cultura da caça e da pesca
para a cultura agrária baseada na criação de animais e no plantio.
Em alemão, por exemplo, a palavra Arbeit deriva do latim arvum, que quer
dizer “terra arável”. Já a significação que hoje é dada ao trabalho se refere à
15
passagem moderna da cultura agrária para a industrial. Entre um e outro
desses momentos surgiram às distinções clássicas descritas com palavras
diversas, como ocupar-se, produzir, fazer, agir, praticar. Talvez possamos
formar uma idéia mais clara do que é trabalho se antes passarmos pela história
da experiência que lhe corresponde.
1.1 Mas afinal, o que é o trabalho?
Daremos início a nossa reflexão acerca do que é o trabalho com o poema de
Ascenso Ferreira que define a idéia de trabalho com o seu bom humor.
“Hora de comer, comer
Hora de dormir, dormir
Hora de vadiar, vadiar
Hora de trabalhar...
Pernas pro ar, que ninguém é de ferro!”
No poema de Ascenso Ferreira podemos encontrar características bem
definidas sobre o que é o trabalho. Tais características podem ser descritas
como: o trabalho é algo que exige esforço, o trabalho é algo que produz
cansaço e o trabalho é pior que, comer, dormir, vadiar.
Mas, será que o poeta tem razão quando menciona que o trabalho não é
coisa boa?
Refletindo a cerca da idéia podemos encontrar várias definições sobre o que
é o trabalho, como vimos anteriormente. Porém, sabemos que há muitas
concepções diferentes de trabalho. Algumas pessoas pensam que só se
trabalha quando se faz algo fora de casa; outros acham que só se trabalha
quando se tem um emprego; outros, ainda, que só se trabalha quando se
produzem objetos materiais.
Assim sendo, o trabalho é a ação própria do ser humano, transformadora do
mundo, criadora de cultura. Ele tem uma dimensão social. A forma como se
organiza o trabalho dá uma configuração diferente às diversas sociedades.
16
“Quando se fala em existência social, duas
relações são fundamentais e imprescindíveis: a
dos homens e a natureza, e a dos homens entre
si. Por isso, quando se comenta a emancipação
humana tem que se pensar no homem
transformado ou sendo capaz de transformar a
própria sociedade. A vida social também terá as
suas atividades que nada tem a haver, a princípio,
com o trabalho em si. Entretanto, podem existir as
interligações” (LESSA, 2002, p.27).
Daí o trabalho fundado no mundo dos homens nada tem a haver com o
trabalho abstrato, gerador de mais valia. Marx e Engells afirmavam que o
trabalho abstrato era uma atividade social mensurada pelo tempo de trabalho
necessário e produtor da mais-valia. Entretanto, eles viam o trabalho como
uma atividade de transformação real construída pelo homem como ser
individual e como totalidade social na qual participa (idem, p.28).
Assim as relações capitalistas no mundo globalizado estão se ampliando e
se incorporando a todas as formas de práxis social para valorização do capital.
Esta extensão gera a impressão de que Trabalho e Trabalho Abstrato seja a
mesma coisa. Lessa destaca, ainda, a expressão ‘sinônimo’ para esta confusão
conceitual e aponta como uma causa para esta confusão duas tendências da
“reestruturação produtiva”.
“Uma é o impulso à eliminação, ou à forte
diminuição, de empregos voltados para o controle
dos trabalhadores na atividade produtiva direta. A
outra tendência é a diminuição da distância entre
as atividades de planejamento (gerência,
engenharia, estoques, marketin, etc.) e o próprio
processo produtivo. As atividades de “controle” e
de “planejamento”, que na etapa fordista tendiam
17
a ser separadas das atividades da linha de
montagem, agora parecem realizar um movimento
inverso, pelo qual são aproximadas cada vez mais
do próprio ato de produção. Com o Just in time, há
também uma diminuição da distância entre as
atividades que realizam a mais-valia (a esfera da
circulação das mercadorias) e aquelas que a
produzem” (LESSA, 2002, P. 29).
E, em trecho abaixo, Lessa diz: “[...] e a maior organicidade entre circulação
e produção é concebida com fusão das duas esferas”. Assim, analisando as
últimas afirmações de Lessa e concomitantemente observando o processo
produtivo atual, encontramos alguns pontos interessantes:
I. a produção oriunda da etapa fordista não possuía os recursos
tecnológicos de informática, e com isto necessitava de uma forte ligação
intermediária entre a cúpula do processo produtivo e o trabalhador, ou
seja, entre o engenheiro e o operário;
II. o processo de gestão se transforma da produção ‘fordista’ para a
‘toyotista’, pois os mentores das técnicas administrativas oriundas do
Japão passam a perceber que é fundamental e imprescindível que o
executor das tarefas (trabalhador) interfira no processo fabril toda a vez
que verificar a sua necessidade;
Na concepção de Albornoz (1986), “o trabalho é importante porque é por
meio dele que a gente tem possibilidade de se sustentar, de viver. Mas, há
trabalho bom e trabalho ruim, trabalho que dá gosto de fazer e trabalho que
exige muito esforço e sacrifício”.
A autora faz uma análise crítica dos diversos modos de conceber e organizar
o trabalho ao longo da História e discute a possibilidade de se construir uma
sociedade em que se trabalha com prazer e não com submissão.
Albornoz destaca, ainda, que a idéia de trabalho não se separa da idéia de
sociedade, à medida que é com os outros que o ser humano trabalha e cria
cultura. “É importante assinalar essa dimensão coletiva presente na noção de
18
trabalho. Esse é fruto da relação dos homens com o mundo e com os outros,
ou seja, o trabalho tem uma dimensão social”.
Assim, para falarmos sobre as diversas formas de trabalho, é necessário,
como ponto de partida, refletir sobre o conceito de cultura. A definição de
cultura para muitos, é concebida como mundo criado/transformado pelos seres
humanos.
Portanto, a ação transformadora do mundo, criadora de cultura, é o que se
chama trabalho. O trabalho é o processo pelo qual o ser humano interpreta e
transforma o mundo, utilizando suas capacidades – o corpo, a fala, a
inteligência, a imaginação, a memória- para produzir coisas necessárias para si
e para os outros.
Nesse processo são preservados e modificados tanto os produtos criados
quanto os próprios seres humanos. Por isso, afirmamos que o trabalho e a
ação é que faz o ser humano se tornarem efetivamente humano. Juntamente
com a linguagem, o trabalho é o que distingue os seres humanos dos outros
animais, ou seja, o trabalho é a ação humana criadora, preservadora,
transformadora de cultura.
Em fim, se olharmos à nossa volta, se perguntarmos às pessoas, se
pensarmos sobre nossa própria prática diária, com certeza, ‘encontraremos’
idéias diferentes sobre o trabalho e sobre o que ele significa. São muitas as
idéias, sem dúvida. Elas nos indicam que o trabalho é visto de muitas formas,
porque se apresenta, mesmo, de muitas formas para as diferentes pessoas ou
grupos sociais.
1.2 Aspectos trabalhistas
Para iniciarmos o assunto sobre os aspectos da legislação trabalhista é bom
ressaltar que o direito do trabalho foi marcado por lutas que culminaram, no
Brasil, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) – Lei nº 5.452/43.
Um dos princípios fundamentais desse sistema de proteção é dotar o
empregado de superioridade jurídica para poder confrontar a superioridade
19
econômica do empregador, não importando se esse empregador é uma
empresa ou uma ONG.
Destacamos a seguir os vários tipos de contrato de trabalho previstos pela
Lei, assim como a diferença entre a relação de emprego e outras formas de
trabalho de que podem se valer as empresas e as ONGs. Sim, porque as
organizações sem fins lucrativos são consideradas empregadoras, para os
efeitos da legislação do trabalho, como qualquer empresa de fins lucrativos e
com as mesmas obrigações em relação aos direitos do trabalhador.
A Consolidação das Leis do Trabalho estabelece que o ‘contrato de trabalho’
pode ser por prazo indeterminado ou por prazo determinado. Vejamos o que
nos diz a CLT, Lei nº 5.452/43, sobre ambos.
1.2.1 Contrato por prazo indeterminado
Presume-se que um empregador, ao contratar um funcionário, pretenda
mantê-lo indefinidamente, enquanto estiver dentro das necessidades normais
da empresa, razão pela qual o contrato de trabalho por prazo indeterminado é
a regra geral.
Além disso, interessa à sociedade que o contrato seja mantido, pois ele é
importante fator de equilíbrio social. Diante disso, a legislação prevê que na
hipótese de dispensa imotivada, decorrente apenas de simples vontade do
empregador, este será obrigado a:
• conceder aviso prévio de trinta dias, ou indenizá-lo, isto é, pagar o
valor correspondente à remuneração mensal;
• indenizar as férias eventualmente não usufruídas, indenizar
proporcionalmente o período incompleto de férias e de 13º salário;
• liberar o FGTS depositado, além de pagar uma multa de 40%
calculada sobre o valor total do depósito fundiário;
1.2.2 Contrato por prazo determinado
A exceção à regra é o contrato de trabalho por prazo determinado. A CLT o
admite em três hipóteses:
20
• serviços cuja natureza ou transitoriedade justifiquem a
predeterminação do prazo;
• atividades empresariais de caráter transitório;
• contrato de experiência, cujo objetivo é permitir que empregado e
empregador analisem a possibilidade da continuidade ou não da
relação de emprego.
Na primeira e na segunda hipótese, o contrato poderá ter um prazo máximo
de dois anos. Já o contrato de experiência, em razão do seu objetivo, não
poderá exceder noventa dias.
Para evitar fraudes, não se permite, num prazo de seis meses após o
encerramento de um contrato por prazo determinado, a realização de um novo
contrato do mesmo tipo, salvo se a expiração do primeiro dependeu da
execução de serviços especializados ou da realização de certos
acontecimentos (hipótese importante para as instituições que contratam
funcionários por períodos fixados por convênio com entidade patrocinadora e
que necessitam constantemente renová-lo).
Ao término do contrato de trabalho por prazo determinado, o empregador
não necessita dar (nem indenizar) aviso prévio. Deve liberar o FGTS
depositado, mas não precisa pagar a multa de 50%. Além disso, deve pagar as
férias e o 13º salário ainda não quitados.
A Lei nº 6.019/74 objetivando, fundamentalmente, possibilitar às entidades
‘formas’ mais econômicas de contratação e novos tipos de contrato de trabalho,
por prazo determinado, fora criados. Assim, a Lei instituiu o trabalho
temporário, definindo-o como aquele prestado por pessoa física a uma
empresa, para atender à necessidade transitória de substituição de seu
pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviços, num
prazo máximo de três meses.
Neste sentido, podemos nos questionar sob a diferença dos outros contratos
por prazo determinado. No art. 4º da referida Lei, define-se a empresa de
trabalho temporário como aquela cuja atividade consiste em colocar à
disposição de outras organizações, temporariamente, trabalhadores
21
devidamente qualificados por ela remunerados e assistidos, ou seja, caso uma
instituição necessite de um empregado nas hipóteses previstas na lei, ela,
como organização tomadora, contratará a empresa de trabalho temporário e
esta lhe enviará um funcionário que preencha os requisitos necessários.
Outra inovação é o contrato de trabalho por prazo determinado estabelecido
pela Lei nº 9.601/98. Nessa Lei, o objetivo é duplo – estimular o aumento do
quadro de funcionários e proporcionar economia para as empresas.
Assim, por meio de convenção ou acordo coletivo de trabalho, poderá ser
instituído contrato de trabalho por tempo determinado que não esteja sujeito às
hipóteses permitidas pela CLT. A única condição é que esses contratos
apliquem-se a funcionários que representem um acréscimo no número de
empregados da empresa, ou seja, atinge-se a regra geral da contratação por
prazo indeterminado.
Além disso, permite-se que seja feita mais de uma prorrogação do contrato
por prazo determinado, desde que a soma delas não ultrapasse dois anos de
serviço.
Estabelece, ainda, a Lei que, nessa espécie de contrato, reduzem-se a 50%
as contribuições para o SESI, SESC, SEST, SENAI, SENAC, SENAT, SEBRAE
e INCRA, bem como o salário-educação e para o financiamento do seguro de
acidente do trabalho. Também é reduzida para 2% a alíquota da contribuição
para o FGTS.
Reitere-se que é essencial para validade dessa modalidade de contrato por
prazo determinado, entre outras formalidades, (a elaboração de acordo coletivo
de trabalho) com o sindicato da categoria profissional dos empregados.
1.2.3 Contrato de aprendizagem
Este tipo de contrato pode ser ‘estabelecida’ com estudantes. A CLT o define
como um contrato de trabalho especial, no qual o empregador se compromete
a assegurar ao maior de catorze e menor de dezoito anos, inscrito em
programas de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica,
compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico e, o aprendiz
22
se compromete a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a
essa formação.
Também como modalidade de contrato de trabalho por prazo determinado, o
contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de dois anos,
extinguindo-se no seu termo final ou quando o aprendiz completar dezoito
anos.
Este tipo de contrato garante ao menor aprendiz salvo condição mais
favorável, o salário-mínimo por hora e uma jornada de trabalho não superior a
seis horas diárias. Admite-se jornada de oito horas para os aprendizes que já
tiveram completado o ensino fundamental, se nada forem computadas as horas
destinadas à aprendizagem teórica.
1.2.4 Novas hipóteses de contratação e redução de gastos
Por meio da medida Provisória nº 2.164-41/2001, o Poder Executivo criou o
trabalho em regime parcial e a suspensão do contrato de trabalho para
realização de curso ou programa de qualificação profissional. Assim,
estabelece o art. 58-A da CLT que se considera trabalho em regime de tempo
parcial aquele cuja duração não exceda 25 horas semanais.
De acordo com o exposto neste artigo, garante-se aos empregados sob esse
regime, salário proporcional à sua jornada em relação aos empregados que
cumprem, nas mesmas funções, tempo integral. Além disso, permite-se a
adoção desse regime aos atuais empregados, mediante “opção” manifestada
pela pessoa jurídica, na forma prevista em instrumento decorrente de
negociação coletiva.
Não se pode deixar de mencionar que o objetivo dessa norma é claramente
propiciar às empresas a possibilidade de reduzir a jornada e os salários de
seus empregados já contratados, isto porque a CLT nunca impediu a existência
de jornada inferior a 44 horas semanais, desde que respeitado o salário
mínimo. Assim:
23
“Já o art. 476-A da CLT dispõe que o contrato de
trabalho poderá ser suspenso, por um período de
dois a cinco meses, para participação do
empregado em curso ou programa de qualificação
profissional oferecido pelo empregador, com
duração equivalente à suspensão contratual,
mediante previsão em convenção ou acordo
coletivo de trabalho e aquiescência formal do
empregado” (CAMPANHOLE, 1992).
Aparentemente, essa norma é muito boa, quando não se conhecem as
conseqüências legais da suspensão do contrato de trabalho – o emprego
precisa laborar para a organização, mas esta também não lhe paga os salários,
ou seja, em dois a cinco meses, o empregado faz um curso, mas não tem
como manter a sua vida familiar e cotidiana.
Para diminuir o impacto negativo de tal possibilidade, a medida provisória
ainda estabelece que o empregador ‘poderá’ conceder ao empregado ajuda
compensatória mensal, sem natureza salarial, durante o período da suspensão
contratual, com o valor a ser definido em convenção ou acordo coletivo.
Nesse sentido, deve-se observar que o empregado pode ser despedido
durante o período de suspensão, até porque não era intenção do Poder
Executivo dar estabilidade ao empregado nesse período, mas, ao contrário,
possibilitar novas formas de economia para as instituições empregatícias,
inclusive as organizações.
Porém, esse tipo de suspensão pode ser útil, por incrível que pareça para a
situação específica de ONGs que contratam empregados amparados em
convênios com prazo limitado, desde que com sua anuência e por acordo
coletivo.
1.3 Obrigações trabalhistas: admissão do empregado
24
A admissão compreende a contratação efetiva de pessoal para o ingresso
nos quadros funcionais da instituição ou empresa. Os seguintes passos devem
ser cumpridos. Vejamos:
I. Solicitar do empregado os seguintes documentos:
• carteira de trabalho e previdência social (CTPS);
• cadastro no PIS (se a pessoa já teve outro emprego);
• resultado do exame ocupacional;
• cópia do registro de nascimento dos filhos menores de catorze anos;
• documento de identidade – registro geral;
• cadastro de pessoa física (CPF);
• título de eleitor;
• certificado de reservista militar (se aplicável).
II. Efetuar as anotações do contrato de trabalho na carteira de trabalho
e previdência social (CTPS) e no livro registro de empregados. Para
recebimento e devolução da CTPS do empregado, deverá ser
utilizado o protocolo, tendo a empresa o prazo de 48 horas para
efetuar as anotações e devolver a CTPS ao empregado. Já o livro-
registro de empregados deverá ser autenticado pela Delegacia
Regional do Trabalho, no prazo de trinta dias, a contar da data de
contratação do empregado.
III. Preencher o formulário “Comunicação de admissão e demissão de
empregados” da Lei nº 4.923/65 e remetê-lo pelo correio para o
Ministério do Trabalho.
IV. Preencher a “Declaração para salário-família” para comprovação no
INSS.
V. Preencher a “Declaração de dependentes para desconto do imposto
de renda na fonte”, para os casos de remuneração que ultrapassem
o teto de isenção do imposto de renda e, o empregado informe ter
dependentes para abatimento legal.
1.3.1 Folha de pagamento mensal
25
A folha de pagamento representa a posição das remunerações devidas ao
pessoal durante o mês. Logo, sua periodicidade preparação costuma ser
mensal. Na folha de pagamento deverá constar o mês de referência, o nome
do empregado, seu cargo ou função, salário-base, adicionais (gratificação,
horas extras etc.) e salário-família e, em seguida o total da remuneração a ser
percebida no mês.
No seguimento deverão constar os documentos: adiantamentos, INSS,
contribuição sindical, vale-transporte, imposto de renda e outros. Ao final, o
valor líquido a receber.
A cada mês e ou período de remuneração a instituição ou empresa deve:
• preencher o recibo de salário para cada empregado, com os mesmos
dados constantes da folha de pagamento;
• preencher o cheque de pagamento nominal ao empregado, com o
valor do campo ‘líquido a receber’, entregando-o mediante protocolo;
• arquivar a folha de pagamento em pasta própria, juntamente com
cópia dos contracheques;
As horas extras trabalhadas pelo empregado devem ser remuneradas da
seguinte maneira:
• se trabalhadas até as 22 horas serão pagas com 50% de acréscimo a
hora normal;
• se trabalhadas após as 22 horas e em domingos e feriados devem ser
pagas com 100% de acréscimo sobre a hora normal, isto é, o
empregado recebe o dobro da remuneração por cada hora extra
nessas condições.
O cálculo do salário-hora é feito pela remuneração total do empregado.
Neste caso, divide-se o valor do salário mensal por 220 horas – a jornada
máxima de trabalho mensal admitida pela Constituição Federal. Caso a jornada
de trabalho seja menor, ajusta-se o cálculo de modo proporcional, exemplo:
quem trabalha 6 horas por dia acumula 180 horas mensais.
26
O primeiro passo é efetuar os cálculos das vantagens salariais e dos
descontos para empregado, observando a seguinte regra:
• quem recebe salário de até R$ 620,00 e possui filhos menores tem
direito ao salário-família, correspondente a R$ 11,26 por cada filho;
• o cálculo das horas extras dividindo os salários de cada empregado
por 220 horas (já admitimos que todos trabalham 8 horas diárias);
• o cálculo do vale-transporte, que corresponde à parte que será
descontada do salário do empregado: 6% do salário-base do
empregado;
• o cálculo do INSS a ser descontado do salário do empregado;
• o cálculo do imposto de renda a ser retido na fonte, tomando por
base a seguinte análise: isento, para rendimentos até R$ 1.158,00;
15% para rendimentos entre R$ 1.158,00 e R$ 2.115,00; e, 27,5%
para rendimentos acima de R$ 2.115,00.
Para encontrar a base de cálculo, ou a remuneração sobre a qual incidirá o
IR, poderão ser deduzidos:
a) o valor fixado pelo governo por dependentes do contribuinte para o IR
(atualmente, R$ 106,00);
b) o valor da contribuição para a seguridade social descontada no mês de
pagamento; e,
c) pensão alimentícia efetivamente paga;
1.3.2 Folha de pagamento do 13º salário
O 13º salário ou gratificação de Natal, como também é conhecido,
corresponde a 1/12 da remuneração devida ao empregado até 20 de dezembro
de cada ano, tomando-se por base a remuneração devida nesse mês, de
acordo com o tempo de serviço do empregado no ano em curso.
Do mês de fevereiro ao de novembro de cada ano é obrigatório o pagamento
de pelo menos 50% do ‘13% salário’ aos empregados, com base na
27
remuneração percebida no mês anterior. Até essa data o valor será pago em
forma de adiantamento, não devendo ser descontado ou recolhido qualquer
encargo social ou imposto de renda.
A primeira parcela do 13º salário também pode ser paga à época das férias
do empregado. Para tanto, deve o mesmo fazer a solicitação por escrito.
Quando houver a solicitação escrita do requerente no mês de janeiro para
receber o adiantamento da primeira parcela, a instituição ficará obrigada a
efetuar o pagamento (art. 4º do Decreto nº 57.155/65).
Até 20 de dezembro de cada ano, deverá ser pago o restante do 13º salário,
com base na remuneração do empregado nesse mês. Nessa data será
elaborada a folha de pagamento com o cálculo de todos os encargos sociais
devidos, bem como do imposto de renda.
Para a elaboração da folha de pagamento do 13º salário são usados os
mesmos procedimentos da folha de pagamento mensal. Cabe ressaltar que
somente em dezembro, no momento do pagamento do restante do 13º salário
é que são feitos os descontos de imposto de renda e INSS. Relembramos que,
a primeira parcela, ou seja, 50% do 13º ‘deverá’ ser paga sem qualquer
desconto e sem recolhimento de qualquer encargo social pela instituição.
1.3.3 Direito e concessão de férias
De acordo com a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) todo empregado
tem direito anualmente ao gozo de um período de férias sem prejuízo da
remuneração. Após cada período de doze meses de vigência do contrato de
trabalho, o empregado terá direito às férias, na seguinte proporção:
• 30 dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de cinco
vezes;
• 24 dias corridos, quando houver tido de seis a catorze faltas;
• 18 dias corridos, quando houver tido de quinze a vinte e três faltas;
• 12 dias corridos, quando houver tido de vinte e quatro a trinta e duas
faltas.
28
Não será considerada falta ao serviço, para os efeitos do item anterior, a
ausência do empregado:
• na licença por falecimento do cônjuge ou parente;
• na licença de casamento;
• na licença por nascimento de filho;
• na licença por doação de sangue;
• na licença para alistamento eleitoral;
• na licença para serviço militar;
• durante a licença maternidade ou aborto não-criminoso;
• por motivo de acidente de trabalho ou incapacidade que propicie o
recebimento de auxílio-doença pela Previdência Social, exceto se
tiver incorrido no mandamento do próximo item;
• justificada pela OSC, entendendo-se como tal a que não tiver
determinado o desconto do correspondente salário;
• durante a suspensão preventiva para responder a inquérito
administrativo ou de prisão preventiva, quando for impronunciado ou
absorvido;
• nos dias em que não tenha havido serviço, salvo se “deixar de
trabalhar com percepção do salário por mais de trinta dias, em virtude
de paralisação parcial ou total dos serviços da empresa”.
Não terá direito a férias o empregado que no curso do período aquisitivo:
• deixar o emprego e não for readmitido dentro dos sessenta dias
subseqüentes à sua saída;
• permanecer em gozo de licença com percepção de salários por mais
de trinta dias;
• deixar de trabalhar com percepção do salário por mais de trinta dias,
em virtude de paralisação parcial ou total dos serviços da empresa ou
instituição;
• tiver percebido da Previdência Social prestações de acidente de
trabalho ou de auxílio-doença por mais de seis meses, embora
descontínuos;
29
• o funcionário que tiver mais de trinta e duas faltas no período
aquisitivo;
Poderão ser concedidas férias coletivas a todos os empregados de uma
instituição, podendo ainda ser gozadas em dois períodos anuais, desde que
nenhum deles seja inferior a dez dias corridos.
Para concessão das férias coletivas, a instituição deverá comunicar ao órgão
local do Ministério do Trabalho, com antecedência mínima de quinze dias, as
datas de início e fim das férias, enviando cópia da aludida comunicação ao
sindicato da categoria.
A remuneração das férias devida ao empregado é assim composta:
• salário mensal, mais os adicionais por trabalho extraordinário,
noturno, insalubre ou perigoso;
• abono constitucional de um terço da remuneração, que é obrigatório e
não depende de solicitação do empregado;
O funcionário poderá ainda converter um terço de suas férias em remuneração
(abono pecuniário). Este deverá ser solicitado pelo empregado até quinze dias
antes do término do período aquisitivo e é facultativo: depende da solicitação
do empregado para torna-se obrigatório e deve ser efetuado até dois dias antes
do início do gozo das férias.
1.4 A realidade do mundo do trabalho
“Remanejamentos, simplificações, cortes e
demissões – a economia de alta produção e alta
tecnologia consome trabalho da sociedade do
bem-estar social e dispensa seus consumidores.
Anuncia-se um terremoto econômico e social de
proporções até agora não conhecidas” (MARTIN &
SCHUMANN, 1998, p.145).
30
Segundo os autores, quase um milhão de funcionários de bancos e
seguradoras enfrentam tempos difíceis, no mundo todo. Desde que as
instituições financeiras passaram a atuar em escala planetária, a competição
sem limites reserva aos bancários um destino tão duro como aquele enfrentado
pelos trabalhadores do setor têxtil.
Assim, setor por setor, profissão por profissão, o mundo do trabalho passa
por um terremoto que não poupa quase ninguém. Em vão os políticos e
economistas procuram vagas de substituição para os ‘empregos de macacão’,
que estão desaparecendo nos estaleiros, nas produções de aviões ou nas
linhas de montagem, enfatizam os autores.
O temor de perder o emprego igualmente avança pelos escritórios
comerciais e outros, abrangendo setores outrora seguros da economia. Cargos
tidos como vitalícios passam a temporários. Quem ainda ontem tinha uma
profissão de futuro poderá sentir subitamente que seus conhecimentos ficaram
para trás, suas aptidões perderam o valor.
“Tudo começou com os caixas automáticos e as
máquinas impressoras de saldos e extratos.
Agora, bancos americanos e japoneses, bem
como as seguradoras e os fundos de
investimentos estão forçando sua entrada no
mercado europeu, especialmente o alemão, com
vistas aos poupadores e tomadores de crédito. A
American Express, por exemplo, oferece desde
1995 contas correntes remuneradas com juros
maiores que os da caderneta de poupança. Vinte
e quatro horas por dia o cliente pode dar ordens
de todo tipo por telefone ou microcomputador,
fazer saques, transferir aplicações e até solicitar
que dinheiro vivo lhe seja entregue em casa.
Também a Fidelity Investments, a maior
companhia mundial de investimentos, sediada em
Boston, vende seus títulos por telefone, de sua
31
filial em Luxemburgo para toda a União Européia”
(MARTIN & SCHUMANN, 1998).
Abrahan Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos da América (1860 a
1865), ao se referir à onda de desemprego e as novas multinacionais, já
afirmava que “basta abolir as taxas alfandegárias e apoiar o livre comércio, que
também nossos trabalhadores, em todos os setores da economia, serão
degradados a servos e miseráveis”.
Portanto, as conseqüências são duras. “Os bancos são a indústria
siderúrgica da década de 1990”, vaticinou Ulrich Cartellieri, membro da diretoria
do Deutsche Bank. Não é exagero. Em um estudo da firma de consultoria
Coopers & Lybrand, sobre os planos dos 50 maiores bancos no mundo, prevê-
se que metade do pessoal contratado perderá seu emprego, num prazo de dez
anos. Aplicado ao setor financeiro alemão, isso representa a perda de meio
milhão de empregos bem remunerados.
O que está acontecendo nos bancos e seguradoras já alcançou em cheio
um setor reputado como de futuro: a indústria de software. Enquanto nas
universidades alemãs, em fins de 1996, ainda 30.000 jovens estudavam
informática, já é previsível que grande parte desse contingente de especialistas
em computação terá poucas chances de um emprego seguro. Em poucos
setores a defasagem de conhecimentos é tão rápida, como sabem muito bem
os talentosos programadores do Vale do Silício, na Califórnia.
Nestes últimos anos, empresas como Hewlett-Packard, Motorola e IBM
passaram a empregar especialistas da Índia, a ordenados baixos. Houve época
em que fretavam aviões para lhes trazer a mão-de-obra barata. Era o brain
shopping, compra de cérebros, como chamavam seu plano para economizar.
Os peritos locais em sofware inicialmente se ocuparam a concorrência barata e
o governo os apoiava, negando ou dificultando os vistos de permanência.
Martin & Shumann (1998), ainda enfatizam que a indústria de software na
índia atualmente já está empregando 120.000 graduados pelas universidades
de Madras, Nova Délhi e Bombaim. Eles proporcionaram às suas empresas, no
32
ano de 1995, mais de 1,2 bilhões de dólares em faturamento, cerca de dois
terços da exportação total do setor de serviços. No entanto, como a
multiplicação do trânsito de automóveis em Bangalore tornou insuportável a
poluição do ar, e também porque a drástica miséria das massas podia “ferir a
sensibilidade” mundial, a cidade já está regredindo. Os mágicos do software
estão se mudando para Pune.
Parece bom para as empresas? Pois poderá ficar melhor ainda. Um
conhecedor do ramo como Karl Schmitz, de uma firma alemã de consultoria
técnica e desenvolvimento de sistemas, acredita que os serviços baratos no
setor de processamento de dados são um “suspiro passageiro”. Módulos
prontos de software e novas linguagens de programação em breve tornarão
desnecessário quase todo o trabalho. No futuro, um programador poderá
executar o que hoje estão fazendo cem. É amarga a previsão para profissionais
que até agora se incluíam entre a elite do mercado de trabalho. Se Schmitz
tiver razão, restarão apenas 2.000 – por extenso, dois mil – empregos na
indústria alemã de software, dos atuais 200.000 empregos existentes.
Nesta seara da corrida contra o desemprego, pelo menos os peritos em
computação ainda têm a esperança de um crescimento da demanda em seu
setor. Na evolução da telefonia, por exemplo, as vias expressas de dados
(infovías) fomentarão a prestação de serviços de multimídia. Ainda muito
trabalho será necessário para redigir os programas de uso. Em 1995 as
empresas alemãs de software até aumentaram seus quadros de pessoal.
Simultaneamente, porém, com a próxima conjuntura online, inúmeros
prestadores de serviços desaparecerão no ciberespaço. Arquivistas e
bibliotecários, pessoal treinado de agências de viagens, vendedores de varejo,
colaboradores de jornais regionais e agenciadores de anúncios, todos esses se
tornarão desnecessários, na medida em que a maioria das residências
dispuser de computador e telefone acoplado.
Pouco importa se é na produção de automóveis ou computadores, na
química ou eletrônica, nas telecomunicações ou serviços postais, nos bancos
ou comércio varejista. Onde quer que os bens ou serviços possam ser
33
negociados livremente, por cima das fronteiras nacionais, a mão-de-obra está
sendo sugada por um turbilhão vertiginoso, feito de desvalorização e
racionalização.
Na indústria alemã, somente em três anos, de 1991 até 1994, foram
perdidos mais de 1 milhão de empregos. E, comparativamente aos padrões
internacionais, a Alemanha ainda está bem colocada. Nos outros países da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
entidade que congrega as 23 nações mais ricas e industrializadas, além de
cinco vizinhos mais pobres, o segmento de empregos qualificados e bem
pagos encolheu ainda mais rapidamente. Em dados de 1996, são mais de 40
milhões de pessoas nos países da OCDE à procura de trabalho.
“Mesmo a profissão incumbida de relatar a
decadência, e para a qual notícias boas são as
más notícias, está sentindo a mudança dos
tempos: jornalistas e documentaristas,
pesquisadores e editores já sofrem as dores do
“entretenimento”. Um número cada vez menor de
pessoas está produzindo cada vez mais depressa
e em maior quantidade e a nova geração da mídia
é explorada. Emprego fixo, com carteira assinada
e uma verba apreciável para despesas – como era
praxe na grande imprensa e nas televisões
estatais -, nem sonhar. Os melhores postos ficam
com os colaboradores mais antigos na casa e uns
poucos astros da notícia ou da entrevista”
(MARTIN & SCHUMANN, 1998, p. 146).
Em território alemão, mais de quatro milhões de empregos encontram-se
sob sério risco. A taxa de 9,7% de desemprego em 1996 poderá mais do que
duplicar, chegando a 21%. Na Áustria, poderá subir dos atuais 7,3% para 18%.
Eventualmente não se chegará a tanto, pois muitos dos empregos perdidos
34
serão substituídos por atividades autônomas, ou trabalho em meio período, ou
serviços temporários por empreitada e outros, bem menos remunerados.
Conclusão: a sociedade 20 por 80 está cada vez mais perto.
Em nosso país, muitas empresas já procuram trabalhar mais próximo
possível do mercado de trabalho globalizado. Entretanto, é a economia que dita
á realidade do mundo do trabalho, em virtude que cada país depende de sua
política de ciência, tecnologia, desenvolvimento, emprego e renda para criar
postos de trabalho.
Assim sendo, o PIB (Produto Interno Bruto) permitirá verificar o crescimento
ou não de um país. Assim, se o PIB de um ano do país não teve crescimento
implica que não foram criados novos empregos.
Então, em função do desenvolvimento econômico, dos impostos e das
conquistas trabalhistas, os custos de mão-de-obra variam de país para país.
Sendo assim, constata-se que todo país desenvolvido apresenta elevado custo
por hora para seus trabalhadores. Por causa deste fato, as empresas
multinacionais têm procurado instalar suas fábricas nos países em
desenvolvimento que oferecem incentivos fiscais e baixo custo de mão-de-
obra, deixando nos países desenvolvidos o trabalho de pesquisa e de
desenvolvimento de projetos/produtos/serviços.
Nesse sentido, fica evidente que os mercados de trabalho dos países em
desenvolvimento têm sido procurados com grande freqüência, inclusive com as
empresas, financiando a escolaridade e a capacitação profissional da região
escolhida, de modo a ter no local todo o trabalhador necessário para a
instalação da fábrica. Entretanto, é importante deixar claro que caso outros
países (ou região) ofereça vantagens fiscais compensatórias, a multinacional
desativa a fábrica e faz a transferência.
Assim, fica evidente que o desemprego nos países desenvolvidos tem
levado a seus governantes proporem medidas na Organização Mundial de
Comércio (OMC) a criar medidas que vá punir países em desenvolvimento que
utilizam trabalho escravo, trabalho infantil, etc. A proposta deste caso leva o
nome de “Cláusula Social”. Além dessa medida existem outras do tipo:
35
• liberação dos serviços de engenharia e arquitetura para a
utilização por parte de multinacionais que ganharam
concorrência de usar a mão-de-obra que desejar de qualquer
país do mundo no país anfitrião;
• liberalização da educação superior ser oferecida por qualquer
instituição mundial sem barreiras de países como se fosse
serviço ou mercadoria.
Segundo fonte do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CREA) do Rio de Janeiro, recentemente publicada, relata dados
sobre, a ‘invasão de Engenheiros e Técnicos ao Brasil’ para trabalharem em
empresas privatizadas, tomando lugar de brasileiros.
Em nota a reportagem afirmava que:
“Dos 4.601 profissionais estrangeiros, apenas 24
tiveram seus registros homologados pelo
Conselho Federal de Engenharia, Agricultura e
Agronomia (CONFEA) e, que um artifício usado é
a vinda desses profissionais para desenvolver
uma tecnologia específica, retornando de imediato
ao seu país de origem sem partilhar com os
profissionais brasileiros este know-hon.
Logicamente, este procedimento amplia a
dependência tecnológica do Brasil” (CREARJ, nº
40, 2002).
Quando se fala que é mais vantajoso para um país como o Brasil não
investir em pesquisa e capacitar sua mão-de-obra de acordo com o mercado
de trabalho, está se pensando neste ideário neoliberal.
36
CAPÍTULO II
O TRABALHO NA HISTÓRIA DO BRASIL
O capítulo que agora vamos abordá-lo traz consigo questões que nortearão
as diversas formas de organização do trabalho na história do nosso país.
Questões como: o trabalho indígena, o trabalho escravo e o que se pensa
sobre as condições de vida e trabalho na atual realidade brasileira, o que está
ocorrendo no mercado de trabalho, se há ocupações para todos, quais as
exigências mais comuns para se conseguir um trabalho atualmente e como
vivem aqueles que não têm trabalho digno, pairam constantemente em nosso
pensamento.
Sabemos que um dos principais problemas que a sociedade capitalista
enfrenta na atualidade é o desemprego. As mudanças no sistema de produção,
o desenvolvimento tecnológico e a globalização têm provocado mudanças no
trabalho e no cotidiano das pessoas. São novos tempos, novos desafios e
novas exigências ao novo trabalhador, à nova trabalhadora.
A cada dia que passa a nossa vida sofre várias mudanças. Estamos sempre
realizando atividades diferentes, convivendo com diversas pessoas e algo
semelhante está ocorrendo em diversos setores sociais. Há um amplo e rápido
processo de mudança. E, exige, cada vez mais, um trabalhador qualificado,
flexível, capaz de trabalhar em grupo, de aceitar as diferenças, de ter bom
relacionamento com os outros membros da equipe e de exercer vários papéis
na organização em que trabalha.
Essas exigências tornam-se cada vez maiores, à medida que aumenta a
competição no mercado de trabalho. Vivemos uma realidade de diminuição de
vagas – o desemprego. E, também, uma realidade de diversificação das
atividades, em busca da sobrevivência. Exemplo disso é o crescimento do
trabalho informal: os camelôs, as diaristas, os contratos temporários, etc.
Atualmente, o trabalho é um direito do cidadão. Na Declaração Universal dos
Direitos do Homem, Art. 23, parágrafo III, está escrito que, “toda pessoa que
trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure,
37
assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana
e a que se acrescentarão se necessário, outros meios de proteção social”.
Já na Constituição Brasileira, em seu Art. 6º, fica evidente que: “são direitos
sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e á infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta constituição”. Portanto, trabalhar é um direito, mas nem sempre
foi assim.
No seu Art. 7º, podemos contemplar os direitos sociais dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social,
dos quais podemos citar:
I. relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem
justa causa nos termos de lei complementar, que proverá
indenização compensatória, dentre outros direitos;
II. seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III. fundo de garantia do tempo de serviço;
IV. salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de
atender a sua necessidade vital básica e à de sua família, como:
moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim;
V. piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI. irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;
VII. garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem
remuneração variável;
VIII. décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no
valor da aposentadoria;
IX. remuneração do trabalho noturno superior ao diurno;
X. proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção
dolosa;
38
XI. participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração
e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme
definido em lei;
XII. salário-família para os seus dependentes;
XIII. duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e
a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de
trabalho;
XIV. jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
XV. repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVI. remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em
cinqüenta por cento a do normal;
XVII. gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a
mais do que o salário normal;
XVIII. licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a
duração 180 dias;
XIX. licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XX. proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos
específicos, nos termos da lei;
XXI. aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de
trinta dias, nos termos da lei;
XXII. redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de
saúde, higiene e segurança;
XXIII. adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou
perigosas, na forma da lei;
XXIV. aposentadoria;
XXV. assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até
seis anos de idade em creches e pré-escolas;
XXVI. reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXVII. proteção em face da autonomia, na forma da lei;
39
XXVIII. seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem
excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo
ou culpa;
XXIX. ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com
prazo prescricional de:
a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a
extinção do contrato;
b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural;
XXX. proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de
critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI. proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios
de admissão do trabalhador portador de deficiência;
XXXII. proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou
entre os profissionais respectivos;
XXXIII. proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na
condição de aprendiz;
XXXIV. igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso.
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores
domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e
XXIV, bem como a sua integração à previdência social.
2.1 O trabalho indígena
Você com certeza já ‘ouviu’ alguém proferir as expressões: “índio é
preguiçoso” e “trabalho é coisa de negro”. Infelizmente, são dois preconceitos
que ainda existem em nosso país. Por que será? Vamos voltar ao passado e
procurar compreender as raízes dessa história.
Para a maioria dos brasileiros, a história oficial do Brasil começou no dia 22
de abril de 1500. Mas, o que aconteceu antes disso? É a pergunta que não
quer calar. Você já estudou ou ouviu falar das sociedades indígenas. Antes da
40
chegada de Cabral a nossa terra era ocupada por diversas tribos espalhadas
pelo território. Você certamente já ouviu dizer que o índio brasileiro é
preguiçoso. Essa é a visão que os colonizadores passaram para a história. Até
pouco tempo, muitos livros didáticos ainda reproduziam essa idéia.
Quando analisamos a história dos indígenas e também dos escravos nós
nos baseamos nos relatos que foram deixados pelos europeus. Um exemplo é
o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei de Portugal, quando
os portugueses chegaram ao Brasil.
“A feição deles é serem pardos, maneira de
avermelhados, de bons rostos e bons narizes,
bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma.
Não fazem o menor caso de encobrir ou de
mostrar suas vergonhas; e nisso tem tanta
inocência como em mostrar o rosto. (...) os
cabelos seus são corredios. E andavam
tosquiados, de alta tosquia, mais que de sobre-
pente, de boa grandura e respaldos até por cima
das orelhas. (...) E um deles trazia por debaixo da
solapa uma espécie de cabeleira de penas de
aves amarelas que lhe cobria as orelhas”
(FAUSTO, 1994).
Então, muitos colonizadores e viajantes registraram o modo de viver e
trabalhar dos primeiros habitantes. É preciso analisar com atenção e crítica
esses documentos, se não teremos apenas uma visão idealizada e, às vezes,
preconceituosa sobre índios e escravos.
Diferentemente dos portugueses, os indígenas não tinham o objetivo de
acumular riquezas, por isso foram vistos como preguiçosos pelos
conquistadores. A música, a dança, a representação teatral e a guerra tinham
um papel tão importante quanto o trabalho. Cristianizar e civilizar os habitantes
41
da terra preparando-os para o trabalho produtivo como os europeus,
constituíram os objetivos dos portugueses para o índio brasileiro. Os
documentos relatam, entretanto, a “teimosia” indígena em abandonar seus
costumes e a sua religião.
É importante destacar que valores, crenças e símbolos são elementos que
formam o universo mental de grupos e indivíduos e que eles possuem uma
dinâmica cultural diferente. As mudanças são mais lentas do que outras
ligadas, por exemplo, ao vestuário e às formas de trabalho. O universo mental
tem um ritmo próprio, ele não se entrega com facilidade. Essa resistência
explica a sobrevivência física e cultural indígena, ao longo destes 500 anos de
história do Brasil.
Vejamos o que Pero de Magalhães Gandavo, um português que esteve no
Brasil no século XVI, relatou sobre o trabalho indígena:
“Não se pode contar nem compreender a multidão
de bárbaro gentio que a natureza semeou por toda
esta terra do Brasil. Ninguém pode caminhar pelo
sertão, nem passar por Terra onde não ache
povoações de índios armados. Quando os
portugueses começaram a povoar a Terra, havia
muitos destes índios pela costa junto das
capitanias. Por que os índios se levantaram contra
os portugueses, os governadores, capitães e
destruíram, pouco a pouco, matando muito deles
(...). Estes índios não possuem nenhuma riqueza e
nem procuram adquiri-la como os outros brancos.
Somente cobiçam muito algumas coisas que são
deste Reino – camisas, ferramentas e outras –
que eles têm em muita, estima e desejam muito
alcançar dos portugueses” (FAUSTO, 1994).
Como vimos, o índio não cobiçava riquezas, propriedades e lucros, ao
contrário do homem branco europeu, que dominava e explorava as colônias em
42
busca de riquezas para suas metrópoles. Mas, então, qual era o significado do
trabalho para os indígenas? Como organizavam suas vidas, sem a
necessidade de consumir, explorar e acumular riquezas?
Alguns historiadores da nossa época respondem essa questão, retratando a
vida dos indígenas da seguinte maneira:
“O tipo de sociedade em que estavam organizados
os indígenas é chamado de sistema tribal. O
agrupamento se dava em pequenos povoados,
chamados aldeias, que se articulavam entre si por
laços de parentesco e interesses comuns,
formando uma nação ou tribo. Moravam em
grandes casas, feitas de madeira e folha de
palmeira, dormiam em redes e acendiam
pequenas fogueiras para aquecerem. (...) eles
viviam da agricultura, da coleta de frutos e plantas
silvestres, além da caça e da pesca. Esse tipo de
sociedade igualitária era diferente da sociedade
européia do século XVI, na qual as pessoas
tinham profissões, poderes e riquezas variadas, tal
como hoje” (SCATAMACCHIA, 1994).
Este relato nos permite chegar à conclusão de que para os indígenas, não
havia separação entre a vida e o trabalho. No sistema tribal, diferentemente do
sistema capitalista em que vivemos tudo era de todos: a terra, as ferramentas e
os frutos do trabalho. Eles trabalhavam para coletar aquilo de que
necessitavam para sua sobrevivência, ou seja, eles praticavam o que
chamamos de ‘economia de subsistência’. É outra maneira de se relacionar
com o trabalho e o tempo. E, isso pareceu estranho ao homem branco que
usava todo o tempo em busca de riqueza. Daí a idéia de que os índios eram
preguiçosos.
43
2.2O trabalho escravo
A partir de 1500, como muitos de nós estudamos, nasceu o Brasil Colônia,
ou América Portuguesa. Neste período, começaram a ser construídas outras
histórias, por outras pessoas: brancos, índios e negros.
Os índios que resistiram continuaram a viver em aldeias, em regime de
comunidade. Com o início da colonização, o litoral do Nordeste foi ocupado e
ali os portugueses plantaram as lavouras de cana-de-açúcar. Essa produção foi
possível devido à exploração do trabalho escravo de negros africanos.
Em 1711, o jesuíta João Antônio Andreoni, sob o pseudônimo de André João
Antonil, publicou a obra Cultura e Opulência do Brasil, descrevendo a situação
do trabalho na Colônia. A corte portuguesa censurou o livro e ordenou sua
destruição. Entretanto, anos mais tarde a obra foi recuperada e tornou-se
importante fonte para a compreensão do trabalho escravo. Vejamos um trecho
do depoimento de uma pessoa que viveu a época, viu e registrou:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor do
engenho, porque sem eles no Brasil não é
possível fazer, conservar e aumentar a fazenda,
nem ter engenho corrente. Por isso, é necessário
comprar alguns escravos e reparti-los pelas roças,
serrarias e barcas. Uns chegam ao Brasil, muito
rudes e muito fechados e assim continuam por
toda a vida. Outros, em poucos anos ficam ladinos
e espertos. Aprendem a doutrina cristã, constroem
barcos, levam recados e fazem qualquer trabalho.
As mulheres usam de foice e de enxada como os
homens. Os desde novatos se meteram em
alguma fazenda, não é bom que se os tirem dela
contra sua vontade, porque facilmente se
entristecem e morrem. Os que nasceram no Brasil,
ou se criaram desde pequenos em casa dos
brancos, afeiçoando-se a seus senhores, levam
bom cativeiro” (ANTONIL, 1982).
44
Como mostram os documentos da época colonial, o escravo não era
considerado uma pessoa, mas sim uma mercadoria, propriedade do senhor. As
suas condições de trabalho eram caracterizadas por três letras PPP, ou seja,
pau, pano e pão. Vamos saber o significado dessa sigla, analisando outro
relato do jesuíta Antonil:
“No Brasil, costumam dizer que para o escravo
são necessários três PPP, a saber, pau, pano e
pão. Quisera Deus que tão abundante fosse o
comer e o vestir como muitas vezes é o castigo,
dado por qualquer causa pouco provada e com
instrumentos de muito rigor. [...] não lhes
estranhem os senhores, o criarem seus reis,
cantar e bailar por algumas horas honestamente
em alguns dias do ano, e o alegrarem-se
inocentemente à tarde depois de terem feito pelas
manhãs suas festas de Nossa Senhora do Rosário
e São Benedito. Costumam alguns senhores dar
aos escravos um dia em cada semana, para
plantarem para si, para que não padeçam fome
nem cerquem cada dia a casa de seu senhor,
pedindo-lhe a ração d farinha...” (ANTONIL, 1982).
O trabalho escravo existiu durante muitos anos, não só no Brasil, mas
também nas colônias inglesas e espanholas. Por isso, é comum, ainda,
ouvirmos ditados populares que revelem preconceitos contra os negros.
Mesmo após a Independência em 1822, a exploração e os maus tratos
contra os negros permanecem no campo e nas cidades. A escravidão só foi
formalmente “extinta” em 13 de maio de 1988, com a Lei Áurea. Com o advento
da Lei, ficou estabelecido o trabalho livre no Brasil.
A passagem de um sistema para outro não foi harmonioso e igual em todo o
país. Em algumas regiões, mesmo sendo proibido, continuou a existir trabalho
45
escravo. Houve resistências, disputas entre fazendeiros, políticos e muitos
conflitos políticos e econômicos na passagem do trabalho escravo para o
trabalho livre e assalariado.
Com o final da escravidão, os escravos libertos e os imigrantes vindos de
outros países e de outras regiões do Brasil passaram a trabalhar como
assalariados. Para compreendermos melhor a passagem do trabalho escravo
para o trabalho livre, vejamos o que o escritor Manuel Bonfim, um jornalista que
viveu no início do século XX registrou sobre o trabalho e a vida numa fazenda
de café naquela época.
Bonfim, In revista Leitura para todos, relata que o “Brasil é o país que produz
e exporta mais café... A assombrosa fertilidade do solo e o preço do produto,
da para tudo, compensam todas as despesas. Maridos, mulher e filhos
trabalham por empreitada ou por tarefa (compromisso de formar determinado
número de pés de café)”.
Nesse sentido, o trabalhador deixou de ser uma propriedade do patrão. Ele
passou a ser livre. Livre para deslocar-se de um lugar para outro em busca de
trabalho, de melhores condições de vida. Entretanto, a situação dos
trabalhadores nas fazendas e nas cidades não era muito diferente da época
escravista. A Lei Áurea libertou o trabalhador da escravidão, mas não o libertou
dos problemas econômicos e sociais. Muitos escravos, depois de livres, foram
para as cidades, e com isso trocaram as senzalas por miseráveis favelas.
No início do século XX (1900-1930), as cidades cresceram, juntamente com
o comércio e a indústria. Aumentou o número de trabalhadores imigrantes nas
fábricas do Rio e de São Paulo. Não havia leis trabalhistas, carteira de trabalho
e salários justos.
Street (1934) relata em documento, trecho de uma palestra feita por um
industrial paulista sobre os abusos e as injustiças cometidas aos trabalhadores
de uma fábrica daquela época. Observemos o trecho abaixo:
“Havia entre nós, abusos e injustiças contra
crianças, mulheres e mesmo operários homens,
no que diz respeito à idade de admissão, ao
46
horário e ao salário principalmente. E sabeis que
falo de experiência própria, porque durante mais
de 35 anos dirigi fábricas com milhares de
operários e sei bem o que vos digo. Confesso que
trabalhei com crianças de 10 ou 12 anos e talvez
menos, porque, nesses casos, os próprios pais
enganavam. O horário normal de trabalho era de
10 horas e, quando necessário, de 11 a 12 horas.
O que vos dizer das mulheres grávidas que
trabalhavam até quase a hora de nascer o filho?
Não preciso explicar os exemplos, cito estes
unicamente para mostrar que o problema existia”
(STREET, 1934).
Depois dessa análise, surgem muitas indagações. Essa situação não
mudou? Liberdade significou exclusão e abandono? Os trabalhadores não
reagiram? Hoje, sabemos que houve muitas lutas e greves dos trabalhadores,
principalmente, nas grandes cidades, por melhores condições de trabalho e de
vida. Às vezes, temos a impressão de que nada mudou. De certo modo as
pessoas têm razão em pensar dessa forma. Mas, hoje o trabalho é um direito
conquistado, muitas lutas foram vitoriosas e que muita coisa mudou. Esta
história não pára por aqui!
2.3 Os trabalhadores vão à luta!
Vejamos, agora, as reações dos trabalhadores à exploração do trabalho.
São momentos importantes da nossa história.
Atualmente vivemos numa democracia. Conhecemos nossos direitos e
lutamos para que eles sejam respeitados, correto! Entretanto, nem sempre foi
assim.
Durante o período colonial e imperial os escravos reagiram à exploração e
aos maus tratos. Os negros dos engenhos fugiam em busca de liberdade e
formavam os quilombos. Em 1671, o Governador de Pernambuco, Fernão de
47
Souza Coutinho, escreveu uma carta ao rei de Portugal, denunciando a
existência do Quilombo de Palmares, o mais famoso refúgio de escravos que
existiu no Brasil.
No século XIX e início do século XX, ocorreram várias lutas populares em
diferentes lugares do Brasil. Dentre elas, é importante ressaltar: a Guerra de
Canudos (1896 – 1897), a Revolta de Juazeiro (1911), a Guerra Santa do
Contestado (1912-1916) e a Revolta da Chibata (1910).
Nas últimas décadas do século XIX a nova classe operária brasileira
também começou a se manifestar pela criação de sindicatos, partidos e
organizações de defesa dos seus direitos. A luta continuou no início do século
XX (1900 – 1930), pois além de ter crescido o número de fábricas e o
operariado, cresceram também os problemas sociais e econômicos. Dos quais
vivenciamos até os dias atuais.
Os trabalhadores urbanos, liderados por anarquistas, socialistas e
comunistas fizeram greves dando início à formação dos sindicatos no país.
Nesse período, a questão social era considerada questão de polícia pelos
governantes. A partir de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder e iniciou uma
política social que atendeu, em parte, às reivindicações dos trabalhadores
urbanos. Neste período foi criado, então, o Ministério do Trabalho, da Indústria
e do Comércio, onde foram decretadas várias Leis trabalhistas. Essas leis
tratavam de matérias tais como: salário mínimo, férias remuneradas, descanso
semanal remunerado, jornada de trabalho de 8 horas, estabilidade no emprego,
indenização por dispensa sem justa causa, etc.
Em 1943, o governo Getúlio Vargas reuniu todas as leis e criou a CLT
(Consolidação das Leis Trabalhistas), que passou a regulamentar as relações
entre patrões e empregados em todo o território nacional. Também foram
criados os Institutos de Aposentadoria e Pensão para proteção dos
trabalhadores. É importante ressaltar que as Leis Trabalhistas criadas nesse
período protegeram apenas os trabalhadores urbanos. Os trabalhadores rurais
se mobilizaram, de modo mais organizado, nos anos 60, por meio das Ligas
Camponesas.
48
Se, nesse processo de lutas, por um lado, as Leis Trabalhistas atenderam
uma parte das reivindicações dos trabalhadores, por outro, muitas entidades
(sindicatos que foram criados para defender o direito dos trabalhadores)
também passaram a ser utilizadas pelo Estado para controlá-los e silenciá-los.
Com o final do Governo Vargas, os trabalhadores continuaram suas lutas e
foram transformadas em lei muitas outras conquistas, como: licença
maternidade, FGTS, 13º salário, direito de greve, sindicatos livres, etc.
Durante a Ditadura Militar, os sindicatos e os trabalhadores foram
novamente silenciados à força. Entretanto, no final dos anos 70, os
trabalhadores organizaram várias greves em todo o território nacional,
destacando-se o movimento operário do ABC paulista, sob o comando de Luis
Inácio da Silva (Lula). No processo de redemocratização do país, a
organização da classe trabalhadora no Brasil foi fortalecida e consolidada.
Vejamos, agora, algumas organizações que fazem história na defesa do
direito ao trabalho e da melhoria da qualidade de vida em nosso país. Podemos
destacar:
• CUT – Central Única dos Trabalhadores. Fundada em 1983, reúne 2.650
sindicatos de todo o Brasil, incluindo trabalhadores urbanos e rurais;
• OIT – Organização Internacional do Trabalho. Foi criada em 1919 com o
objetivo de prestar assistência aos países, com vistas a criar empregos,
aumentar a produção e melhorar a qualidade de vida;
• PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Tem
como objetivo estimular e colaborar com os governos no
desenvolvimento humano sustentável – empregos e qualidade de vida;
• SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. É uma
entidade civil, sem fins lucrativos, que estimula o desenvolvimento
científico e tecnológico no Brasil; e,
• UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância. É um órgão ligado
à ONU, que atua em vários países, apoiando os governos e as
entidades não-governamentais, no desenvolvimento de projetos de
educação, saúde e melhoria da qualidade de vida, especialmente das
crianças.
49
Assim, os trabalhadores fazem a história. Nós fazemos a nossa história e
ainda precisamos lutar muito para melhorar as condições de vida e trabalho no
Brasil. Cada um de nós, no seu espaço de trabalho, na sua casa, na sua
comunidade, pode fazer algo para melhorar a situação de muita gente.
O grande desafio é estabelecer a mediação entre as feições da democracia
e do exercício da cidadania, realizar o diálogo entre todas as partes envolvidas.
Assim, é importante que os poderes do Estado dialoguem com os poderes da
sociedade civil organizada e com as/os cidadãos.
O pressuposto de todas essas feições é o reconhecimento da igualdade de
direitos e de oportunidades e da pluralidade de idéias, projetos, causas, desde
que não violem os valores da igualdade, da liberdade e do respeito às
diferenças. As tensões existentes, decorrentes do confronto de poderes e do
conflito de interesses, merecem serem enfrentadas mediante o diálogo e a
negociação. Quanto mais estas feições estiverem em diálogo, maiores os
ganhos para a democracia e para o exercício da cidadania.
50
CAPÍTULO III
KARL MARX E A SOCIEDADE CAPITALISTA DO SÉCULO XIX
As mais importantes obras de Marx têm como principal objetivo desvendar
as engrenagens da sociedade capitalista na qual vivemos até os dias de hoje.
Para realizar este objetivo, Marx desenvolveu uma teoria chamada de
materialismo histórico. Essa teoria pretende ser uma explicação geral das
sociedades existentes na história a partir da importância determinante do fator
econômico que influencia as esferas sociais, políticas e culturais da vida social.
A sociedade capitalista do século XVX analisada por Marx veio confirmar a
validade do materialismo histórico na medida em que o capitalismo se
apresenta como um sistema econômico onde o mercado exerce um peso
determinante sobre todas as outras esferas da vida social, política e cultural.
A teoria Marxista pode ser entendida como uma teoria crítica da realidade
social, uma vez que não visa apenas descrever, explicar e sistematizar a
dinâmica e a estrutura da sociedade capitalista. O questionamento teórico da
realidade implica que a teoria deve se interligar com a prática política buscando
a transformação da realidade vigente.
Marx estabelece que o materialismo histórico, ao esclarecer cientificamente
as condições de funcionamento da sociedade capitalista, se transforma em
arma política e ideológica da classe trabalhadora, a classe mais explorada e
dominada pelo sistema capitalista.
Neste contexto, o materialismo histórico, assim, é uma teoria integrada com
um projeto político, o socialismo, que deveria ser realizado pelo proletariado
através de uma revolução social que criaria a sociedade sem classes, livre da
opressão e exploração, radicalmente igualitária. Em Marx a análise mais
rigorosamente científica da realidade social está enraizada em um
questionamento ético do sistema capitalista, acusado de ser estruturalmente
injusto para com a maioria da humanidade.
Nos dias de hoje, em que o capitalismo domina todo o planeta Terra, em que
a derrubada do socialismo do bloco soviético enterrou de vez a experiência
histórica de um tipo de socialismo que se declarou inspirado em Marx, parece
51
que o socialismo como projeto político da classe trabalhadora está
definitivamente morto e superado. E que, conseqüentemente, Marx e a teoria
marxista também devem ir para a lata de lixo da história das idéias.
Todavia, ninguém pode assegurar com toda a certeza que a história acabou
e, que chegamos ao fim da história, com a vitória atual do capitalismo. A
revolução ou a revolta das massas populares contra o capitalismo não deve ser
excluída como uma possibilidade que nunca mais será realizada. Pois, de
acordo com Atílio Boron (2001), p. 18:
“Duas razões confirmam essa presunção: por um
lado, porque as causas profundas que produziram
aquelas irrupções (o autor tem em vista aqui a
revolução russa de 1917) – talvez prematuras e
seguramente fracassadas – do socialismo
continuam sendo hoje mais vigentes do que
nunca. A vitalidade dos ideais e da utopia
socialista se nutre diariamente das promessas não
cumpridas do capitalismo e de sua impossibilidade
estrutural para garantir o bem-estar das maiorias.
A história seria diferente se o capitalismo tivesse
dado provas de sua aptidão para se transformar
em uma direção congruente com as exigências da
justiça e da eqüidade” (BORON, 2001).
Marx mostrou que o capitalismo continua a longa história da humanidade de
criar sistemas sociais, instituindo a desigualdade social e suas conseqüências
em termos de pobreza da maioria e riqueza da minoria. A distância entre as
promessas e a realidade do capitalismo também é apontada por Ralph
Miliband:
52
“Com o capitalismo a humanidade teve, pela
primeira vez, a possibilidade de garantir, no
mínimo, uma vida materialmente segura e
moralmente decente para todos os habitantes do
planeta, mas ele é incapaz, por sua própria
natureza e por sua finalidade, de transformar essa
maravilhosa promessa em realidade. O principal
objetivo do capitalismo é o lucro e isso, apesar de
tudo o que se diga em contrário, não é compatível
com boas condições de vida para todos”
(MILIBAND, 2000, P. 30).
O autor enfatiza ainda a respeito da dificuldade do capitalismo em
concretizar uma vida decente para amplas maiorias da sociedade:
“Testemunho inegável da incompatibilidade entre
capitalismo e aquilo que chamei de vida
materialmente segura e moralmente decente para
todos é a persistente existência, mesmo nos
países capitalistas mais ricos, de uma substancial
parcela da população imersa em calamitosa
pobreza e degradação. J. K. Galbraith profetizou
em A Sociedade da Opulência (primeira edição em
1958) que a pobreza nas sociedades ocidentais
ricas logo se transformaria num fenômeno residual
em vias de extinção. Mas a pobreza, a miséria, as
doenças evitáveis, a falta de moradia, a sordidez e
o desemprego permaneceram como pragas a
afetar milhões de pessoas nessas sociedades,
sem sinais de que possam ser eliminadas dentre
dos limites de um sistema montado acima de tudo
para a obtenção do lucro” (Idem, p. 31).
53
Miliband (2000), citado por Marx, enfatiza, ainda, que a pobreza, nos países
considerados menos desenvolvidos, na África, na América Latina, na Ásia, é
muito maior do que nos países mais ricos do sistema capitalista.
No Brasil, porém, há mais de 54 milhões de brasileiros que sobrevivem em
situação de grande pobreza, vivendo à base de um salário mínimo e até menos
que isso. E, ao falar em salário mínimo, quando foi criado, a lei dizia que o seu
valor deveria ser o suficiente para satisfazer as necessidades básicas de um
trabalhador e de sua família. Contudo, com a sua desvalorização, nos últimos
anos, isso não ocorre.
O pensamento de Marx é considerado como um dos clássicos fundadores
da sociologia, embora nunca tenha pretendido criar ou construir uma ciência
chamada sociologia, sua teoria desenvolve uma visão Sociológica da
sociedade capitalista que a torna importante para o entendimento da sociedade
moderna.
Marx procurou mostrar que o capitalismo não pode funcionar como sistema
produtor de mercadorias sem a exploração econômica da classe operária. O
mesmo processo que concentra cada vez mais o capital nas mãos de uma
minoria produz milhões de pessoas que competem no mercado de trabalho em
busca de um emprego, de um serviço, de uma ocupação.
Nesse sentido, como há mais trabalhadores do que emprego disponível, o
sistema capitalista tem uma tendência para rebaixar o salário pago ao
trabalhador. Quando a economia está em expansão, certamente cresce a
oferta de emprego, mas se ocorre uma recessão, o desemprego logo se
expande, agravando ainda mais as condições de vida da classe trabalhadora.
Marx observa também, que a tecnologia contribui para rebaixar o salário dos
trabalhadores ao reduzir a qualificação necessária para operar as máquinas,
como existiam no tempo de Marx, o século XIX.
3.1 A situação da classe trabalhadora na era globalizada
O impacto das transformações econômicas ocasionadas pela atuação das
empresas transnacionais afetou radicalmente o mundo do trabalho, com
54
‘modificações’ de grande alcance na forma de organização do trabalho ao nível
das empresas em todo o mundo.
De modo geral, a incorporação das novas tecnologias e a liberdade de
movimento ampliada do capital produtivo transnacional trouxe como
conseqüência um aumento do desemprego em escala mundial. É a chamada
reestruturação produtiva, os processos de enxugamento das estruturas
burocráticas das grandes corporações que levaram milhares de pessoas a
serem demitidas, e o processo ainda continua nos dias de hoje.
Doravante, os economistas falam de uma taxa de desemprego estrutural, o
que significa dizer que o capital não precisa mais de tanta força de trabalho
como antigamente. Os processos de automação e mesmo de robotização da
produção estão mudando o cenário das grandes fábricas, que precisam cada
vez menos de trabalhadores para ‘operarem’ as máquinas informatizadas. Por
isso, a expansão das empresas transnacionais pelo globo não aumenta
necessariamente o emprego, mas sim, pelo contrário, contribui para manter
elevada a taxa de desemprego no mundo.
De fato, vivemos hoje uma fase de capitalismo que cresce sem o
concomitante crescimento do emprego, de modo que a meta do pleno
emprego, que parecia viável nos anos dourados do capitalismo, hoje se torna
uma meta impossível de ser atendida dentro da lógica das empresas
transnacionais.
Um cenário abrangente do desemprego foi bem captado por Márcio
Pochmann (1999):
“O último quartel do século XX se mostrou
profundamente decepcionante para quem
esperava por uma evolução do emprego nas
economias de mercado. Observou-se, em geral, a
mudança setorial na composição relativa da
população ocupada, com aumento das vagas no
setor terciário (serviços) e o esvaziamento
absoluto dos empregos nos setores: primário
(agricultura) e secundário (indústria), a
55
permanência de altas taxas de desemprego e a
deterioração das condições e das relações de
trabalho” (POCHMANN, 1999, p. 39).
O autor revela que de uma população economicamente ativa estimada em
2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo, ‘cerca’ de 35% dessas pessoas
encontram-se atualmente na situação de subutilização do trabalho
(desemprego ou subemprego). Somente nos países que fazem parte da OCDE
(Europa, Estados Unidos, Japão), há indicações de que o número de
desempregados esteja próximo dos 34 milhões de pessoas. Para o próximo
século não são esperadas taxas de desemprego inferiores a 10% da
População Economicamente Ativa na situação de desemprego, enquanto em
1995 este índice registrava 9%.
Os Estados Unidos apresentavam a menor taxa de desemprego no mundo
capitalista mais desenvolvido. No entanto, o que se observa é que houve uma
redução do emprego garantido e com salário em alta do trabalhador industrial.
E aumenta o trabalho precário, mal pago e com poucas garantias em termos de
direitos trabalhistas. É o que nos enfatiza Petras (1999):
“A média nacional do salário mínimo caiu quase
25% nos anos de 1980 a 1986, em grande parte
graças à transformação de parte dos operários
assalariados em prestadores de serviço não-
sindicalizados e mal remunerados. Os salários por
hora de 80% dos trabalhadores norte-amaricanos
atingiram seu pico em 1973, estagnaram de 1973
a 1979 e caíram 10% durante a década de 1980.
[...] no decorrer do tempo aumentou a polarização
social. De 1979 a 1989, o segmento formado pelos
5% mais ricos registrou aumento em seus
rendimentos, que passaram de 120.253 dólares
para 148.438 dólares no período, no qual, porém,
os rendimentos do quinto segmento populacional,
56
que é o mais pobre, caíram de 9.900 para 9.431
dólares. Dentre os cidadãos mais ricos do País,
159 dos 400 que ocupam as posições de maior
destaque receberam sua fortuna por herança e,
em 1988, os rendimentos dos 400 mais ricos
aumentaram 22%, isto é, na razão de 55 milhões
de dólares, ao passo que a maioria dos salários
não logrou acompanhar o ritmo da inflação”
(PETRAS, 1999, p. 196-197).
Os dados terríveis de James Petras sobre os Estados Unidos não abrangem
os anos 90, no entanto, as tendências não teriam se revertido tanto, mesmo se
levarmos em conta que os anos 90 registraram um crescimento da economia
dos Estados Unidos.
A estrutura social do País é definida, segundo o autor, pela deterioração do
nível de vida de uma grande maioria dos assalariados, pelo crescimento das
desigualdades entre assalariados em geral e executivos, e pela concentração
de enorme riqueza nas mãos de uma reduzida minoria privilegiada e
improdutiva que vive em grande parte de heranças, especulação, juros e
dividendos.
“Cresce a pobreza na classe operária”, afirma Petras (1999, p. 199). De
acordo com a sua análise o número de cidadãos norte-americanos
assalariados que não ganham o suficiente para ultrapassar o limite da pobreza
aumentou em dois milhões durante a última década.
Segundo dados oficiais, cerca de 16 milhões de pessoas com emprego
vivem abaixo do limite da pobreza nos EUA. Em 1988, quase 32 milhões de
norte-americanos, em uma proporção de mais de um para cada oito, viviam
abaixo do limite da pobreza, isto é, seis milhões a mais do que em 1880.
Os empresários reduziram seus gastos com saúde, pensões e outros
encargos sociais, passando a recrutar trabalhadores temporários em uma
proporção de um para quatro empregos. Estima-se que 33% a 55% dos novos
empregos gerados sejam de meio turno. Assim, o aumento da semana de
trabalho prova a intensificação da exploração da mão-de-obra nacional.
57
Em 1979, os assalariados que trabalhavam 49 horas ou mais por semana
representavam 18% dos assalariados de tempo integral. Dez anos mais tarde,
em 1989, eles representavam 24% (de 88 milhões). Como os salários
aumentam em ritmo inferior ao da inflação, os assalariados são obrigados
trabalhar mais horas para manter o seu poder aquisitivo. Os empresários
procuram escorchar ainda mais a mão-de-obra para manter as suas vantagens
em um mercado cada vez mais competitivo.
Na Europa a situação da classe operária também regrediu em comparação
com o que foi conquistado durante os anos dourados do capitalismo em
meados do século XX. De acordo com o historiador Mark Mazower: “No
começo dos anos de 1990, o desemprego na União Européia atingia 11-12%,
ou cerca de 18 milhões de indivíduos” (2001, p.334). Esse aumento do
desemprego foi amortecido graças ao papel do Estado do Bem-Estar Social,
que conseguiu diminuir o impacto do desemprego sobre a sociedade.
Em relação ao empobrecimento dos trabalhadores europeus, afirma:
“Aceitavam-se agora, no entanto, níveis de
pobreza e desigualdade elevados em comparação
com os de duas décadas atrás. Mais de 45
milhões de indivíduos – cerca de, 14% da
população da União Européia - eram pobres no
final dos anos 1980. Em 1993, a proporção subiu
para 17%, número comparável à situação nos
Estados Unidos e contrastante com as economias
igualitárias dos Tigres Asiáticos. [...]. Na década
de 1990, o Reino Unido era a sociedade mais
desigual do Ocidente, com cerca de 14 milhões de
indivíduos – entre os quais mais de 4 milhões de
crianças – vivendo na pobreza, porém, outros
países da Europa ocidental caminhavam na
mesma direção” (MAZOWER, 2001, p. 335).
58
A expansão da polarização entre países ricos e pobres também se
agravaram nessas duas últimas décadas do século XX, segundo levantamento
de Ladislau Dowbor:
“Constatamos que 3,1 bilhões de habitantes do
planeta vivem com uma renda anual aproximada
de 350 dólares por pessoa, o que significa uma
renda de 30 dólares por mês. Trata-se de 58% da
população do planeta. Como esta parte da
população tem um aumento anual de cerca de 60
milhões de pessoas, a imagem simplificada que
podemos reter neste fim de século é que dois
terços da população mundial estão simplesmente
marginalizados do amplo processo de
modernização que nos atinge” (DOWBOR, 1998,
p. 48-49).
O autor ainda enfatiza que, na outra ponta do espectro, encontramos cerca
de 800 milhões de pessoas que compõem o chamado clube dos ricos. Trata-se
de 27 países que compõem a OCDE, como Europa Ocidental, América do
Norte, Japão, Austrália e Nova Zelândia. A renda média por pessoa ultrapassa
20 mil dólares, cerca de 60 vezes a renda dos países pobres. Naturalmente,
estas pessoas não têm 60 vezes mais filhos para criar. Trata-se da mais
profunda polarização global da história da humanidade.
Em termos demográficos, acrescenta ainda Dowbor, constatamos que dos
90 milhões de habitantes suplementares que o mundo recebe a cada ano, 61
milhões nascem nos países de baixa renda, engrossando o mundo dos
miseráveis, enquanto cerca de 4 milhões se situam nos países de alta renda. A
projeção para o fim do milênio é de que os países de baixa renda terão
passado de 3,1 para 3,7 bilhões de habitantes, com um aumento de 600
milhões, enquanto os países da OCDE terão passado de 783 para 820 milhões
de habitantes.
59
3.2 O que é afinal a globalização?
O enigma da globalização se torna ainda mais dramático pela incerteza do
que possa verdadeiramente significar e em razão de suas inevitáveis e
profundas conseqüências.
Sem dúvida o tema de maior complexidade, importância e atualidade, na
iminente virada do milênio, o fenômeno da globalização tem merecido as mais
diversas abordagens. Os comentários e reflexões que seguem se orientam na
rota traçada para o nosso tema. Assim, não há como tratar das questões
trabalhistas hoje, deixando à deriva a questão da globalização, que oferece as
mais variadas leituras e interpretações, notadamente no que diz respeito à
própria natureza e definição.
Somos conhecedores de que estamos, sem dúvida, diante de algo ainda
desconhecido, que se identifica mais pelos efeitos que pelas causas ou origem.
Algumas abordagens merecem destaque no contexto de nosso estudo.
Ramonet (1998) é aqui mencionado como um dos representantes da visão
aterrorizadora, para não dizer apocalíptica da globalização, valendo como idéia
– síntese dessa visão negativa o título de sua obra “Geopolítica do Caos”. Eis
como esse autor descreve o fenômeno, no tópico referente aos conflitos e
ameaças de novo tipo:
“Do ponto de vista geopolítico, o mundo apresenta
o aspecto de um grande caos: por um lado,
multiplicação das uniões econômicas regionais,
por outro, renascimento dos nacionalismos,
ascensão dos integrismos, Estados divididos,
minorias que reivindicam sua independência.
Neste final de século, a maioria dos conflitos (...)
são conflitos internos, intra-estatais, que opõem
um poder central a uma fração de sua própria
população. Além disso, redes internacionais de
caráter mafioso e o crime organizado constituem
novas ameaças porque controlam toda espécie de
60
circuitos clandestinos (prostituição, contrabando,
tráfico de drogas, venda de armas, disseminação
nuclear, etc.) por outro lado, as grandes migrações
devidas à pobreza são percebidas, igualmente,
como uma ameaça (e também contra a poluição
atmosférica ou contra a propagação das novas
doenças), não servem de nada as armas
tradicionais da panóplia militar” (RAMONET, 1998,
p. 7-8).
As cifras apresentadas por esse autor são realmente impressionantes, visto
que o fenômeno de multinacionalização da economia desenvolveu-se de
maneira espetacular. Nos anos 70, o número de sociedades multinacionais era
igual a várias centenas, hoje, chega quase a 40.000. E, se considera o volume
de negócios global das 200 principais empresas do planeta, seu montante
representa mais de 25% da atividade econômica mundial e, no entanto, essas
200 firmas empregam apenas 18,8 milhões de assalariados, ou seja, menos de
0, 75% da mão-de-obra planetária.
Seu alerta ou apelo é carregado de dramaticidade e incerteza, como se
infere do trecho em seguida:
“Resta pouco tempo, com efeito, a partir de
múltiplos sinais, vemos voltar nas nossas
sociedades desorientadas uma perturbadora
interrogação. A democracia estará sendo
confiscada por um grupinho de privilegiados que a
utilizam para seu benefício quase exclusivo?”
(RAMONET, 1998).
O best-seller de Hans-Peter Martin & Harald Schumann, cujo título é ainda
mais expressivo, “A Armadilha da Globalização, o assalto à democracia e ao
bem-estar social, põe o tema, definitivamente, na arena do debate, também
global, em face das implicações em todas as áreas da existência humana e do
61
próprio planeta. Destacamos dessa verdadeira enciclopédia de ‘denúncias’,
todas elas baseadas em dados objetivos e fatos incontroversos, alguns dos
tópicos mais expressivos e contextualizados com o presente trabalho.
Assim a globalização tem suas implicações nos diversos âmbitos da
sociedade globalizada. As transferências das fases produtivas que envolvem
trabalho intensivo, baixos níveis salariais e degradação ambiental como é
sabido vieram acompanhados por inúmeras conseqüências, tanto no aspecto
social, jurídica e políticas. Três delas merecem destaque. Do ponto de vista
social, essas transferências mudaram a estrutura geo ocupacional e o perfil dos
empregos. Assim como nos evidencia Faria (1999):
“Elas levaram à emergência de novas profissões e
especializações, para as quais não existe um
sistema técnico-educacional adequado;
aceleraram a mobilidade do trabalho e a
flexibilização de sua estrutura ocupacional entre
setores, regiões e empresas, provocando o
declínio dos salários reais; ampliando os níveis de
concentração de renda; acentuaram o fosso entre
os ganhos das várias categorias de trabalhadores,
relativizando o peso do trabalho direto nas
grandes unidades produtivas; aumentaram o
desemprego dos trabalhadores menos
qualificados, esvaziando as proteções jurídicas
contra, por exemplo, o uso indiscriminado de
horas extras, a ‘modulação’ da jornada de trabalho
e a dispensa imotivada; reduziram o número de
assalariados beneficiados por algum tipo de direto
social, como assistência médica, aposentadoria
por tempo de serviço e seguro desemprego, etc.”
(FARIA, 1999, p. 229).
Do ponto de vista jurídico, essas transformações abriram caminho para a
deslegalização das normas protetoras dos trabalhadores, despolitizando as
62
relações de trabalho e as reduzindo a uma simples ordem de troca contratual.
Por fim, do ponto de vista político, quanto mais avançaram nessa linha, mais
aceleraram o processo de “desradicalização” das demandas operárias até
então apresentadas pelo sindicalismo tradicional (ou seja, aquele forjado com
base na empresa de produção de massa estandardiza, de caráter fordista -
taylorista, típica da industrialização da primeira metade do século XX). Isto
porque, o paradigma “pós-fordista” ou da “especialização flexível da produção”
estimula as empresas a fechar fábricas convencionais, a fundir outras para
maximizar suas vantagens, a promover a transferência de suas unidades para
a vizinhança de instituições públicas ou privadas geradoras de tecnologia e a
efetuar, pelo recurso à automação e à informatização, a eliminação dos postos
de trabalho de menor qualificação, para os quais o computador é mais eficiente
e implica menor custo.
O autor relata que em termos de estrutura do mercado de trabalho, a
“flexibilidade” tende a se dar em três níveis simultâneos: um núcleo cada vez
menor de trabalhadores polivalentes estáveis, trabalhando em tempo integral
com ampla “flexibilidade funcional” dentro das empresas, desfrutando de
direitos trabalhistas, gozando de benefícios sociais e dispondo de relativa
segurança, assegurada pela dificuldade de sua substituição em face de sua
qualificação, de sua experiência e de suas responsabilidades; uma mão-de-
obra periférica de baixa qualificação, contratável e demissível segundo as
conveniências das empresas, sem seguro-desemprego, flutuando ao acaso da
conjuntura econômica (flexibilidade numérica); e os trabalhadores ‘externos’
(eventuais ou temporários, pouco especializados e contratados por tarefa),
para os quais as empresas não têm maiores obrigações jurídicas.
Assim a figura metafórica mais persuasiva para traduzir e ilustrar essa
“flexibilidade” do mercado de trabalho é a da ampulheta: a parte inferior conta
com um número cada vez mais expressivo de trabalhadores divididos em
empregos precários ou desempregados; o meio ‘conta’ com um contingente
cada vez menor de trabalhadores semi qualificados, quase todos virtualmente
condenados à exclusão por causa da velocidade dos processos de
informatização; a parte superior, por fim, integrada por trabalhadores poli
63
qualificados e bem remunerados, tende a diminuir na mesma proporção em
que o desenvolvimento científico-tecnológico amplia a automação flexível dos
sistemas produtivos.
Nesse sentido, conforme assinala o autor “ser desempregado significa ficar
excluído da economia normal, a sociedade normal. Em termos sociais, então, o
desempregado é um indicador da coesividade ou divisão de uma sociedade”.
Quanto maior for à coesão social, tanto mais é dado esperar que os
formuladores de políticas se identifiquem também com os potencialmente
desempregados, e vice-versa, quanto menor for à coesão social, maior será o
desemprego, afirma Faria.
3.3 O que o trabalho tem sido, está sendo, pensado e poderá ser
Acompanhe-nos numa viagem em alta velocidade ao longo das diversas
épocas da história das civilizações, ou faça conosco um vôo em grande altura
pelas diversas formas de produção ainda hoje existentes.
Aterrissaremos no meio da selva amazônica, no centro de uma aldeia
indígena ainda sem contato com a maneira de vida e cultura dos brancos
ocidentais. Que encontraremos? Um grupo de pessoas ligadas por laços de
sangue e sentimentos, motivadas por lendas, mitos, crenças e conhecimentos
comuns e, que provêm a sua subsistência por um esforço coletivo que obedece
a determinada ordem. De que modo sobrevivem? Colhem frutos, pescam,
caçam para sua subsistência.
O trabalho nesse primeiro estágio da economia isolada e extrativa é um
esforço apenas complementar ao trabalho da natureza, Singer (1977)
demonstra que:
“O homem colhe o fruto produzido pela árvore da
mata virgem; extrai do rio o peixe que sobreviveu
ao assalto das piranhas; mata para comer o
animal que se reproduziu e cresceu dentro de seu
grupo sem nenhum auxílio além de seus instintos.
64
Não só o trabalho em si mesmo apresenta essa
forma primitiva de complementaridade quase
secundária ante a ação da natureza. Também a
economia que, o cerca, apresenta uma
simplicidade da qual nos esquecemos em nossas
redes de produção modernas. Pois, na tribo, não
há excedente – nem, portanto, o problema da
acumulação de riquezas nas mãos de alguns”
(SINGER, 1977).
Ao que tudo indica, no entanto, nas comunidades isoladas o trabalho serve
indiretamente à subsistência. É regido por um sistema de deveres religiosos e
familiares. Assim, é precária e relativa à afirmação da simplicidade do trabalho
tribal.
Como estágio consecutivo ao das economias isoladas, temos o tempo em
que os homens inventaram ou descobriram a agricultura. A primeira forma de
agricultura pode ter sido descoberta ao acaso. Sugere-se que, com a queimada
da vegetação, as pessoas talvez tenham observado que as sementes cresciam
nas cinzas, tornando-se a partir daí, sistema regular limpar certa área de
floresta através da queimada.
Há também a suposição de que tenham sido as mulheres que tenham
forçado o desenvolvimento inicial da agricultura, colaborando para a superação
do nomadismo dos povos caçadores. Suponha que em determinado momento,
esgotadas a caça e a pesca do lugar, desejando a tribo seguir adiante em
busca de melhores recursos naturais para sobreviver, algumas mulheres,
grávidas ou com bebê de colo, tenham-se deixado ficar, negando-se a partir.
Assim, teriam sentido a necessidade de fazer uso do segredo da natureza que
se mostrava nos brotos surgidos das cinzas na clareira depois da queimada.
Por isso, seria comum encontrar em povos primitivos uma divisão do trabalho –
as mulheres plantando e os homens caçando. Embora, pesquisas
antropológicas mostrem que tal divisão não ocorre em todas as culturas.
Desenvolvendo a agricultura, a engenhosidade humana já perturba o
equilíbrio da natureza. Descobrindo no plantio uma nova fonte de alimento par
si e seus filhos, os homens se multiplicam. A expansão numérica leva a
65
conquistar novas áreas de floresta para o cultivo. Como é necessário muito
tempo para restaurar a plena capacidade de cultivo de uma faixa de floresta, a
selva vai sendo destruída e transformada em mato rasteiro ou terra de
pastagens.
Junto com o trabalho do plantio devem ter surgido ao mesmo tempo a noção
de propriedade e o produto excedente, ou seja, o produto não imediatamente
consumido. Criam-se as condições para a existência de uma classe social
ociosa. Se eu trabalho esta terra com as minhas mãos - minha aplicação e a
força de meus músculos - tenho a sensação de que me pertence o grão dela
colhido, resultado daquele meu empenho e dispêndio de força. Reivindicarei a
posse ou o direito de domínio e determinação sobre o produto deste pedaço de
terra que cultivei.
Do que planto, como e alimento meus filhos. E, se me sobram ‘alguma coisa’
levo para trocar com o vizinho – minha sobra de milho por minha sobra de trigo
ou leite de cabra. Mas, se o vizinho domina um território mais vasto e, suas
sobras superam as de toda a vizinhança, as nossas trocas se tornam desiguais
e geram um novo excedente, de onde nossas relações se instalam na
desigualdade.
A noção de propriedade se presta à polêmica e a distinções de natureza
ética. De qualquer modo pode-se compreendê-la se a pensamos, ligada ao
trabalho, surgindo da experiência do esforço no cultivo da terra. Porém,
passou-se muito tempo depois do início da prática do plantio e já se perdeu na
memória dos povos o momento da origem do sentimento de posse. A
propriedade, tal como se encontra em estágios posteriores da evolução
econômica, justamente se destaca, se separa do trabalho, a ponto de
estabelecer-se a desapropriação total de quem trabalha pelo suposto direito de
propriedade do ocioso.
Um fato relacionado com essa evolução da propriedade e de sua separação
do trabalho foi à prática da guerra. Assim, enfatiza Singer:
“O povo conquistado na guerra freqüentemente
permaneceu para trabalhar e entregar seus
excedentes aos novos senhores. Ou pela guerra
66
foram capturados escravos que vieram constituir a
base da força de trabalho, ficando submetidos sob
a categoria mais baixa da hierarquia social do
povo conquistador” (SINGER, 1977).
Estudando o desenvolvimento econômico da Antiguidade e Idade Média
européia, é possível fazer observações que parecem adequadas ainda a
períodos bem mais recentes da história da América Latina.
Enfim, sabemos que é velho o sonho dos homens com uma terra abençoada
onde não seja mais preciso trabalhar. No entanto, essa possibilidade não só
coloca uma novidade muito estranha para a meditação e a ocupação de
políticos e economistas (que teriam de providenciar o modo de sustento de
multidões semi ou inativas), como também traz uma profunda questão de
ordem existencial para os homens modernos em geral.
A realização do sonho da humanidade com o direito à preguiça chegaria
quando a era moderna acabar de fazer a glorificação teórica do trabalho.
Assim, o indivíduo moderno encontra dificuldade em dar sentido à sua vida se
não for pelo trabalho. Segundo Hannah Arendt, pensadora alemã que trabalhou
e escreveu nos EUA e, cujo pensamento criativo marca hoje fortemente a
filosofia política, cada vez mais, temos uma alma operária.
A sociedade que está por liberta-se dos grilhões do trabalho é uma
sociedade de trabalhadores, que desconhecem outras atividades em benefício
das quais valeria à pena conquistar aquela liberdade.
A possibilidade de uma sociedade de trabalhadores sem trabalho não
parece como uma libertação do mundo da necessidade, mas como uma
ameaça inquietante. As massas contemporâneas seriam destruídas da única
atividade que lhes resta. Talvez, o Brasil possa aí dar lições ao mundo:
carnaval, futebol, roda de samba, chimarrão, praia, pescaria, [...].
3.2.1 Como o trabalho está sendo
O trabalho hoje é um esforço planejado e coletivo, no contexto do mundo
industrial, na era da automação e da globalização.
67
Se nos países do Terceiro Mundo sobram regiões onde esses fatos parecem
ainda realidades distintas, isso se deve antes à dificuldade que as pessoas têm
para ver os fenômenos por seus sinais precursores, ou entender as
possibilidades que se escondem por vezes sob a máscara de aparências não
transparentes.
O capitalismo monopolista da segunda metade do século XX invadiu as
regiões aparentemente marginais do Terceiro Mundo. O colonialismo cedeu
lugar a um imperialismo econômico indisfarçável. Vivemos a época das
organizações multinacionais. Cada vez mais, grandes massas de
contemporâneo passam a depender de organizações e grandes empresas para
o seu trabalho. Cada vez mais deixamos o trabalho autônomo por um emprego
na organização, ou mesmo pelo desemprego ante a organização.
Ao processo moderno de industrialização das economias nacionais –
realidade internacional – correspondem alguns fenômenos que lhe estão
associados, seja como causa ou conseqüência, ou apenas como
correspondente e fato simultâneo.
Assim, o crescimento demográfico e a urbanização são dois acontecimentos
registrados pelas estatísticas e confirmados pela observação e vivência mais
imediata. Do século XIX para cá, as populações se multiplicaram de forma
assombrosa, ao mesmo tempo em que se transferiam, em massa, do campo
para as cidades.
Nesse sentido, as metrópoles milionárias com as quais nos acostumamos
são um fenômeno inteiramente novo. E, o Terceiro Mundo é campeão na
multiplicação dos convivas à mesa citadina. Sendo assim, uma São Paulo de
quinze milhões de habitantes em pouco tempo pode bater um recorde,
tornando-se um dos formigueiros humanos mais densos, isso num país como o
Brasil, onde grandes extensões de terra são completamente inabitadas.
“A corrida para as cidades se explica em parte
pela natureza do trabalho industrial. Produzir em
série e com o auxílio de máquinas significa
produzir em centros onde essas máquinas sejam
68
concentradas. O homem do campo se dirige à
cidade em busca de emprego nessa produção
moderna, que lhe acena com promessas de um
serviço menos arriscado e dependente da
natureza do que o labor no campo, e com
possibilidades de usufruir do bem-estar que as
cidades se vangloriam de possuir, embora não o
ofereçam a todos” (ALBORNOZ, 1986 p. 23).
A autora relata, ainda, que o crescimento notável das cidades em nosso
tempo não se deve apenas ao aumento numérico da população em geral. O
crescimento demográfico acontece, sim, a partir das novas conquistas da área
de saúde, que trazem o controle de certas epidemias e possibilitam a redução
da mortalidade infantil, das gestantes, das mães, etc. Ainda assim, enfatiza
Albornoz, “em regiões pobres como em alguns estados do nordeste brasileiro,
ainda se ostentam números tristes como o de duzentas em cada mil crianças
que morrem antes de atingir os cinco anos de idade”.
Infelizmente, é nesse momento da história do trabalho que nos encontramos.
Se há pouco, no chamado Terceiro Mundo não havia muitas indústrias,
queimaram-se etapas, e hoje ele entra em plena era da computação e da
informática. O que a modernização, a indústria e a cidade ainda não trouxeram
para os nossos países da América Latina foi à extinção da miséria, a saúde do
povo, a felicidade das crianças, a justiça social – coisas que materialmente ela
possibilita.
Na cidade moderna onde se dá o nosso trabalho, salta aos olhos um dado
novo, cujas conseqüências antropológicas, psicológicas e sociais ainda não
acabaram de ser avaliadas pelos pesquisadores. Trata-se da separação entre
lugar de trabalho e lugar de moradia.
Enquanto o artesão fazia o seu sapato, a sua cerâmica, no mesmo recinto
em que convivia com a família, o operário dos grandes centros da atualidade
pode precisar de algumas horas de locomoção para perfazer a distância entre
o seu bairro operário da periferia urbana e a fábrica confinada no circuito
industrial.
69
Os metrôs ultra-rápidos podem diminuir o tempo gasto para vencer grandes
distâncias, mas não tornam o lugar de trabalho mais próximo da casa da
família, do lugar onde ficam ou ficariam as crianças. Esse fato toca de forma
muito especial as mulheres, tradicionalmente encarregadas do cuidado e da
alimentação dos filhos.
É uma grande ilusão, por parte da sociedade moderna, imaginar que o
trabalho das mulheres seja uma novidade histórica. As mulheres sempre
trabalharam e, não só em serviços leves. A presença da força de trabalho
feminina na agricultura, no artesanato, não havia levado ao mesmo
questionamento e dúvida, porque eram trabalhos realizados pela família, em
comunidade ou na solidão, mas dentro de casa, perto do lugar do convívio
familiar, com os filhos ou junto deles.
Hoje, a grande questão sobre o trabalho das mulheres se põe na era
industrial. Não só porque o desenvolvimento da máquina torna irrelevante a
diferença da força muscular entre o braço masculino e o feminino, e o sistema
busca a mão-de-obra menos reivindicativa e mais tímida e submissa para
manter mais altas as margens de lucro, mas também porque o engajamento na
indústria afasta as mulheres de casa e da família.
Portanto, a separação entre os lugares de trabalho e de moradia, contudo,
não é a única separação que caracteriza o trabalho atual. A alienação, uma
conseqüência da organização legal do capitalismo moderno, também se
caracteriza dessa divisão social do trabalho. Vejamos, por exemplo, o que nos
diz Marx sobre o assunto:
“Como o homem se aliena, ou seja, vende sua
força de trabalho a outrem, a quem ele outorga e a
quem passa a pertencer o seu trabalho e o
produto deste – ambos igualmente alienados -,
assim, essa relação alienada do homem com seu
trabalho e produto gera uma relação
correspondente do capitalista com o trabalho, que
70
é a propriedade privada. Essa deriva é resultado
da alienação do trabalho” (MARX, 1980).
Dessa relação mútua do trabalho alienado com a propriedade privada, Marx
deduz que a emancipação da sociedade (da propriedade privada e da
servidão) assume a forma política da emancipação dos trabalhadores, não só
no sentido de estar em jogo à emancipação destes, mas por essa emancipação
abranger a de toda a humanidade. Pois, toda servidão humana está enredada
na relação do trabalhador com a produção.
Assim, o trabalho hoje não seria só alienante porque o esforço alienado
imbeciliza e reduz a capacidade de opor-se ao sistema e superá-lo. O produto
do trabalho e o seu consumo escravizam; terminam o processo de alienação e
cooptação do indivíduo, que não pode mais se destacar e opor. O trabalho
torna-se necessário porque o produto é visto como tal. E, assim se fecha o
círculo da nova dominação.
Para Marx a essência do ser humano está no trabalho. O que os homens
produzem é o que eles são. O homem é o que ele faz. E a natureza dos
indivíduos depende, portanto, das condições materiais que determinam sua
atividade produtiva.
Ao tentar descrever o trabalho no capitalismo, já foram aludidas as
alienações a que o trabalho está submetido nessa sociedade, segundo a
opinião de Marx. Esse pensador, contudo, não apenas fez uma análise
exaustiva das relações de trabalho concretas na sociedade capitalista do
século XIX, cujos ecos repercutem em toda análise sociológica até hoje.
Marx também deixa aparecer em muitos textos uma teoria antropológica do
trabalho. O trabalho seria o fator que faz a mediação entre o homem e a
natureza. É “o esforço do homem para regular seu metabolismo com a
natureza”. E, assim também, por meio do trabalho, o homem se transforma a si
mesmo.
Para Marx, o trabalho é pressuposto em uma forma que o caracteriza como
exclusivamente humano, ou seja, o trabalho pertence ao reino da necessidade.
71
Nesse sentido, o trabalho do homem tem uma qualidade específica, distinta de
um mero labor animal. No entanto, o que torna o trabalho do homem
propriamente humano, não está sendo possível na produção industrial
mecanizada e em série. Essa é a maior alienação a que está submetido o
trabalho moderno, pois assim ele se desumaniza.
Em análise sobre os trabalhadores de colarinho branco, Wright Mills,
sociólogo anglo-saxão (1915-1962), famoso exatamente por seu estudo da
nova classe média, acentua como no mundo do trabalho em escritório também
perde sentido e importância o aspecto técnico da atividade. “Não se pergunta a
alguém exatamente o que ele faz, sobretudo, não se pergunta como ele faz e o
que faz”, afirma Wright.
Segundo ele, o que preocupa o amigo que se informa sobre o trabalho do
outro em geral é qual a renda que este ‘consegue’, qual o status que o
emprego lhe confere e qual o poder que o seu trabalho lhe dá. Renda, status e
poder substituem a preocupação e o cuidado de fazer bem alguma coisa que
se sabe fazer. O mundo da técnica teria chegado ao fim do caminho. Pelo
máximo da tecnicização, cada fragmento do processo de trabalho se torna tão
independente da pessoa, que é bem aleatório quem o faz, e se quem trabalha
faz bem o que faz ou não.
Chegamos assim a uma das características mais decisivas do mundo do
trabalho em que vivemos, e que é a sua submissão ao capital, aos interesses
dos capitalistas e dos proprietários. Esse é um ponto-chave das determinações
do trabalho neste sistema. A força de trabalho é dada como uma mercadoria.
Do esforço do operário é extraído um valor que deixa uma sobra aos interesses
do capital, pois o salário do trabalhador fica muito aquém do valor que ele cria
para o mercado.
Em países como o Brasil (a lei, o governo e sua burocracia) não se distingue
suficientemente dos interesses capitalistas. O Estado se apresenta como
instrumento quase perfeito dos interesses do capital e os operários se
encontram como a única força, ante o poder oposto coeso.
Em muitas situações e momentos da sociedade contemporânea o trabalho e
sua ideologia se tornam instrumentos de submissão política. O mundo é
72
domesticado pela submissão ao trabalho. Reduz-se à esfera pública, o âmbito
da discussão dos problemas comuns. As pessoas se percebem como alegres
robôs que não têm efetivo poder de decisão sobre o mundo em que trabalham.
Todas as atividades são feitas como labores pela sobrevivência.
Todavia, tem-se como utopia, no sentido de impossível, que o trabalho seja
expressão, ou que se possa ter um trabalho criativo e que dê prazer. O labor
invade o mundo do trabalho, que os meios de comunicação de massa mantêm,
enquanto manipulam o desejo e criam necessidades de consumo, dando
aparência de necessidade a um trabalho que em si não seria mais necessário.
Assim, apesar do aumento quantitativo do tempo livre na era da automação,
muitas vezes desaparecem os lugares de participação política, que precisam
ser reinventados.
73
CAPÍTULO IV
TRABALHO E EMPREGO: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS
Para iniciar este capítulo é preciso refletir um pouco sobre as semelhanças e
diferenças eventuais entre trabalho e emprego. Na linguagem coloquial, muitas
vezes se diz “trabalho” por “emprego” e vice-versa. Está tão difundida a
maneira moderna de trabalho e serviço de uma organização ou um patrão,
como assalariado, que ninguém estremece ao ver, integralmente identificados
os termos “emprego” e “trabalho”.
Muitas vezes fazemos a nossa preparação profissional não exatamente para
atingir o domínio de um saber ou de uma técnica, ou alcançar a satisfação de
uma nova capacidade. O que se pretende é depois do curso conseguir um
emprego melhor, ou pelo menos o melhor emprego de nosso tempo.
Paul Singer, conhecido economista brasileiro, distingue entre os setores de
emprego:
“O setor de mercado e do emprego na produção
capitalista propriamente dita; o setor autônomo, da
produção simples de mercadorias, por artesanato
ou em pequenas manufaturas; o setor de
subsistência, do trabalho na produção de
alimentos predominantemente para a subsistência
do trabalhador e de sua família, como no campo,
em certas situações onde há pequena
propriedade; e o setor de emprego nas atividades
governamentais” (SINGER, 1984).
O mesmo economista comenta que hoje, na prática, emprego não se
entende, em primeiro lugar, como uma atividade peculiar, no sentido técnico de
trabalho ou produção, mas sim como recurso de acesso, mesmo que parcial e
defeituoso, a uma parte da renda, e conseqüentemente, ao consumo. As
74
pessoas trabalham antes para poder consumir do que propriamente para
produzir alguma coisa.
Ante o problema do desemprego, a sociedade reage de modo variado,
conforme o diagnóstico que se faz das causas do desemprego. Quando se
pensa que os desempregados o são porque não desejam trabalhar, o sistema
aperfeiçoa as formas de repressão à vadiagem, por leis repressivas ao próprio
desemprego.
Quando se percebe que os desempregados são involuntários, e que os que
poderiam dar emprego não o fazem, então, as estratégias de combate ao
desemprego e as políticas são outras, ou se procuram criar novos empregos
pela expansão das obras públicas e outras atividades; ou se concedem
subsídios às empresas privadas, para que possam empregar maior número de
trabalhadores; ou se criam colônias, campos de trabalho. Ou se tenta dar
assistência aos desempregados, por meio do seguro-desemprego ou da
caridade pública ou privada.
O seguro-desemprego, recentemente introduzido no Brasil, é uma
compensação e uma garantia interessante conquistada pelos trabalhadores na
maioria dos países, na Europa e nos EUA, mas também entre nossos vizinhos,
como no Peru ou no Uruguai.
Se, se reconhece que são os azares da economia de mercado que
ameaçam as pessoas de ficarem provisória ou permanentemente à margem do
sistema de trabalho, não podemos considerar menos que um direito, e mínimo,
este de uma renda emergencial para o trabalhador e seus eventuais
dependentes no desemprego.
É claro que a instituição do salário-desemprego não resolve todos os
aspectos nem os mais essenciais do problema. É bom que se repita que o
esforço por minorar as conseqüências do desemprego não deve fazer
esquecer suas causas, que têm a ver com o próprio modo de produção
capitalista.
Não só o Estado, também a sociedade civil tem desenvolvido estratégias
para combater ou amenizar os efeitos ou mexer com os mecanismos do
desemprego. Os sindicatos, se não conseguiram organizar e mobilizar os
75
desempregados para lutar por seus interesses – o que oferece dificuldades
óbvias, pois os desempregados estão muito ocupados em sobreviver, apesar
do seu problema -, vêm indiretamente combatendo o desemprego: pela luta a
proteção dos empregos, pela estabilidade no emprego e pela redução da
jornada de trabalho.
Essa redução da jornada tenderá a possibilitar uma melhor distribuição do
trabalho existente por maior número de trabalhadores. A distribuição mais
eqüitativa da renda dessa sociedade passa por uma melhor distribuição do
trabalho. Quanto menos trabalho e melhor remunerado para o maior número de
trabalhadores é tão importante, quanto diminuir as taxas de juros ou lucros do
capital.
Outra distinção hoje ainda muito polêmica e, que Singer esclarece, é a que
se refere ao conceito de trabalho produtivo ou improdutivo. Desde Adam Smith
e Marx convivem em guerra pelo menos dois ou três conceitos ou critérios de
avaliação da produtividade de um trabalho.
Na acepção mais restrita, do ponto de vista do capital, o trabalho só é
produtivo quando cria valor, mais valor maior do que o consumido, ou seja, dê
lucro para a empresa em que se realiza. Numa acepção mais ampla, será
produtivo todo trabalho que criar bens de consumo ou serviços que se
destinem a satisfazer as necessidades humanas. Para alguns, ainda, só se
considera produtivo o trabalho que se materialize em objetos; nesse sentido, os
serviços não seriam produtivos.
Há algumas complicações e nuanças em torno desses conceitos. Pode-se
distinguir, por exemplo, entre trabalho necessário e excedente, conforme a
destinação de seu produto. Tranqüilamente necessário, indiscutível, é o
produto que satisfaz às necessidades materiais básicas de consumo dos
produtores: o leite, o pão, o feijão, o arroz dos camponeses. Por isso, há
consenso entre os economistas de que o trabalho do agricultor é produtivo.
Para os fisiocratas, pensadores da economia contemporânea do início do
capitalismo, só mesmo os que se dedicam ao cultivo da terra de fato provêm o
seu sustento. Já há discussão entre os especialistas quando se considera o
consumo dos não-produtores. Mas, as coisas se complicam ainda mais quando
76
se destaca o esforço necessário mais improdutivo, como por exemplo, no
trabalho do contador.
“Marx considerava a contabilidade uma atividade
improdutiva, mas também lhe era claro que, para
poder funcionar bem, a produção social precisa do
trabalho do contabilista. E que dizer da atividade
do operário que trabalha em uma fábrica de
armamento? Se a guerra for julgada como
humanamente desnecessária, porque destrutiva e
má é em si, todo esse “valor” criado na fábrica de
armas deve ser posto no rol do trabalho
improdutivo” (SINGER, 1984).
Singer enfatiza que é difícil situar dentro de critérios econômicos restritos
algumas atividades como o trabalho dos cientistas, artistas, médicos ou
professores. Só num sentido amplo a assistência à saúde, o conhecimento, a
cultura e o prazer estético poderão ser incluídos como bens de consumo
necessários, enquanto que são respostas as carências humanas tão autênticas
como a fome física.
Por outro lado, os professores assalariados, mesmo quando não são
produtivos junto de seus alunos, podem ser produtivos para quem o emprega e
se cria mais-valia. Quanto aos médicos, Marx pensava que, embora a
conservação da saúde seja trabalho produtivo porque se refere à vida, fonte de
todos os valores, o trabalho do médico deve ser minimizado na medida do
possível. A boa alimentação, a educação física e saudáveis condições de
trabalho, moradia e lazer devem poder evitar a doença e tornar desnecessárias
as consultas médicas.
Essas distinções se tornam hoje ainda mais duvidosas quando é evidente o
efeito do trabalho improdutivo sobre o daquele que produz. A ciência e a
tecnologia transformam os usos e métodos de trabalho na agricultura. Tornam-
se assim, mediatamente produtivos. Por outro lado, os recursos e incentivos
77
inventados pelo psicólogo do Departamento de Pessoal influem no
comportamento do operário na linha de montagem da fábrica de leite em pó.
Algumas dessas influências são claras e diretas. Outras, menos visíveis,
mais ainda assim existente como a do trabalho das escolas e dos centros de
pesquisa. Estes se justificam por outros aspectos de ser dos homens, como a
curiosidade e a necessidade de estímulo ou o impulso de saber, para além do
estritamente econômico, satisfazem as carências para além daqueles que
dizem respeito à sobrevivência material, mas não estão totalmente desligadas
do âmbito da sobrevivência, e têm influência, direta ou indireta, nos resultados
da produção.
4.1 A mecanização do trabalhador
Um dos sucessos apontados pela Confederação Nacional da Indústria para
o sucesso do SENAI refere-se à metodologia de ensino aplicada, pois é
definida adequadamente para a necessidade do trabalho. Na verdade, é uma
mecanização do trabalhador.
Tomando-se da obra de Manacorda (1990), as palavras de Gramsci têm:
“De resto, se nos lembrarmos de suas
intervenções a propósito da introdução profissional
e da experiência de uma educação desinteressada
também para trabalhadores (...) em que ele
denunciava a mecanização do trabalhador,
esboçando ao mesmo tempo a perspectiva de
uma escola capaz de adotar alguns dos sistemas
mais rigorosos de controle da própria fábrica,
podemos ter a confirmação sobre o longo caminho
de reflexão percorrido por Gramsci em torno desse
problema, que agora novamente se lhe apresenta
ao nível de uma experiência infantil inicial”
(MANACORDA, 1990, p. 66).
78
Se for comparada a metodologia de ensino-aprendizagem do SENAI com as
‘idéias’ de Gramsci - será encontrada mecanização idêntica - sem nenhuma
diferença. O pensamento reinado no SENAI é o de se preparar o aluno para o
seu posto de trabalho, ensinando apenas o essencial, nem mais nem menos,
pois com isto não se criará expectativa nele e, com isso, ele desenvolverá sua
rotina de trabalho de modo ‘disciplinado’ e comportado.
De acordo com o exposto na obra de Manfredi (2002), existem entidades
civis que trabalham na área da educação profissional com ofertas, as mais
variadas possíveis. Operam com a formação e qualificação profissional, bem
como com cursos livres ou de especialização.
Estas entidades movidas por ideários políticos ideológicos distintos se
caracterizam por experiências e projetos comprometidos com grupos
dominantes. Entretanto, há várias entidades que têm propostas contra-
hegemônicas (Manfredi, 2002). Assim, Associações Religiosas (escolas
salesianas), Associações Civis Leigas (Rotary Club e o Lions), Entidades
Sindicais de Trabalhadores e a Organizações Não- Governamentais (ONG)
oferecem ou possuem projetos de educação profissional, e muitas vezes,
financiam seus projetos com recursos públicos.
Segundo a autora, as ONGs são organizações sem fins lucrativos que têm
por objetivo prestar serviços ao público (educação, saúde, cultura, habitação,
direito civil e outros). São denominadas de terceiro setor. O primeiro setor é o
Estado e o segundo é o mercado. Assim, o terceiro setor composto não
somente por ONGs, mas também por fundações, associações comunitárias,
comissões de defesa do consumidor e muitas outras podem ser divididas em:
caritativas, desenvolvimentistas, cidadãos e ambientalistas ou ecológicas.
Assim, a sigla ONG corresponde à organização não-governamental, ou seja,
uma expressão que admiti muitas interpretações. De um lado, a definição
textual (ou seja, aquilo que não é do governo ou vinculado a ele) é tão ampla
que abrange qualquer organização de natureza não-estatal.
Em âmbito mundial, a expressão surgiu pela primeira vez na Organização
das Nações Unidas (ONU) após a Segunda Guerra Mundial, com o uso da
79
denominação em inglês “non-governmental organizations (NGOs)” para
designar “organizações supranacionais e internacionais que não foram
estabelecidas por acordos governamentais”.
No Brasil, a expressão era habitualmente relacionada a um universo de
organizações que surgiram em grande parte, nas décadas de 70 e 80,
apoiando movimentos sociais, organizações populares e de base comunitária,
com objetivos de promoção da cidadania, defesa de direitos e luta pela
democracia política e social. As primeiras ONGs nasceram em sintonia com as
finalidades e dinâmicas dos movimentos sociais, pela atuação política de
proteção aos direitos sociais e fortalecimento da sociedade civil, com ênfase
nos trabalhos de educação popular, pesquisa, visando sempre contribuir para a
elaboração e o monitoramento das políticas públicas.
De acordo com dados do Cadastro Nacional de Entidades do MT e apud
Manfredi (2002), o número de ONGs no Brasil vem crescendo
significativamente nos últimos anos. Somente na região Norte são mais de
1.173, Nordeste 3.068, Centro-Oeste 1.642, Sudeste 9.450 e Sul 2.260,
totalizando 17.539 ONGs existentes em nosso país.
A autora nos diz que em 1999, cerca de, 314 entidades atenderam 285.600
jovens e adultos em cursos de capacitação profissional, de acordo com o MT e,
no ano seguinte, a mesma fonte aponta que estes números subiram para 481
entidades e 698.000 treinados.
A grande maioria das ONGs tem projetos educacionais e estes estão
voltados para aqueles jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de
freqüentar a escola formalmente. Nem sempre o foco do programa é o
mercado de trabalho.
Manfredi (op. cit) apresenta dados em termos de foco dos cursos de ONGs:
“Educação e cultura (formação de educadores
para creches infantis, escolas comunitárias,
80
grupos indígenas, crianças e adolescentes de
risco, oficinas de arte-educação, cinema, vídeo,
teatro e comunicação popular), 31%; cursos de
formação profissional voltados para a produção
agrícola e pesqueira com foco no associativismo,
no desenvolvimento local ou regional, na
agroecologia, na perspectiva ambiental e com a
preocupação da geração de renda, 22%;
cidadania e políticas públicas (promotores e
juristas populares, conselheiros municipais,
direitos civis, gestão democrática das instituições
e do Estado), 19%; cursos voltados para a
perspectiva de geração de trabalho e renda e de
requalificação profissional, 18%; cursos voltados
para a área de saúde e serviços, 16%; e, cursos
de alfabetização de jovens e adultos, 9%”
(MANFREDI, 2002).
Um dos aspectos fundamentais é que as ONGs estão com suas baterias
direcionadas para as necessidades populares, de organização, de
representação e expressão social e política. Cabe destacar que o governo não
exerce controle sobre cursos de natureza básica, o que facilita a oferta e os
trabalhos exercidos por tais entidades.
Outra escola importante de ser citada é a Escola do Movimento dos Sem
Terra (MST). O movimento já é do conhecimento internacional e se constitui
em um sujeito político. Do mesmo modo que o sistema S se preocupa com os
seus formadores de opiniões, as ONGs se preocupam com a formação dos
grupos de educadores e dirigentes. Aqui, também se tem a escola formadora
de educadores.
A pedagogia da luta social, da organização coletiva, da terra, do trabalho e
da produção, da cultura e da história irá prevalecer na proposta educativa,
utilizando-se o cotidiano do movimento para a contextualização e
interdisciplinaridade.
81
Ainda, pode ser citado o Projeto Axé com a educação de rua. De modo
semelhante às instituições anteriores, existe um centro de formação de
educadores e técnicos para atender o próprio projeto.
4.2 Trabalho e liberdade
Trabalho pode ser uma forma de libertação ou de opressão do ser humano.
Não é sem razão que se encontram afirmações como “o trabalho enobrece,
mas também empobrece...”. Quanto, ao trabalhar, os indivíduos devem
executar apenas ações automáticas, desgastando suas forças e, não tendo
possibilidade de utilizar sua criatividade, quando o trabalho não proporciona
prazer, e quando a retribuição ao trabalho (o salário, por exemplo) não permite
que o indivíduo tenha acesso aos bens de sua sociedade, na verdade ele se
caracteriza. É isso que ocorre, por exemplo, quando se utiliza mão-de-obra
infantil.
As crianças devem: estudar, brincar, usar a imaginação para que sua
capacidade física e intelectual não fique comprometida. Além do mais, a
criança que é usada como mão-de-obra é sempre explorada, pois o salário que
recebe nunca é igual ao dos adultos.
Se o trabalho é criador de bens e, portanto, de cultura, ele deve contribuir
para que o homem seja cada vez mais livre, isto é, para que ele não se
restrinja apenas a atender a suas necessidades básicas, fisiológicas, mas
tenha possibilidade de ter conforto, descanso, lazer.
Pelo trabalho, os seres humanos podem ampliar sua liberdade, intervir
criativamente, exercer verdadeiramente a cidadania, como participação ativa e
consciente na sociedade. O trabalho terá, então, um significado verdadeiro se a
atuação dos homens e das mulheres na sociedade ‘resultar’ em algo que seja
efetivamente fonte de benefício, de alegria, de prazer. Enfim, o trabalho é fonte
de liberdade quando não é resultado da exploração do indivíduo.
Neste sentido, é preciso levar em conta o caráter social do trabalho. Muitas
vezes nos voltamos apenas para o trabalho deste ou daquele indivíduo, sem
considerar as condições concretas que existem na sociedade para o
82
desenvolvimento do trabalho de todos os indivíduos que dela fazem parte.
Outras vezes, o indivíduo não tem possibilidade de escolher seu trabalho ou de
se preparar adequadamente para a profissão que gostaria de exercer.
Sabemos que em nossa sociedade alguns trabalhos não são valorizados,
principalmente, as ações de caráter utilitário, isto é, cujos resultados trazem
vantagens associadas ao prestígio ou, muitas vezes, ao dinheiro.
Assim, mesmo que um profissional de uma área qualquer trabalhe
corretamente, submetem-se a condições de exploração, geradoras de
empobrecimento e injustiça. Pode-se dizer que, uma grande injustiça ocorre
quando uma família precisa utilizar a mão-de-obra de suas crianças para
sobreviver. Essas crianças não têm chance de estudar e aprender coisas
novas, que ampliem seus horizontes, e a situação de pobreza de suas famílias
tende a se perpetuar.
Se o trabalho é uma ação que caracteriza o ser humano, é preciso
transformá-lo quando ele não proporciona aos indivíduos a possibilidade de ter
uma vida digna, com acesso aos bens produzidos pela sociedade em que
vivem. É preciso recuperar seu sentido de ação libertadora, com a qual o
homem se distancia do esforço para atender apenas às necessidades impostas
pela natureza.
83
CONCLUSÃO
Na atualidade, o fenômeno da globalização assume importância
fundamental, quando não central, na tentativa de se encontrar explicação para
os processos sociais mais significativos. Não obstante, a relevância do tema
identifica-se dificuldades de denominação, localização histórica, definição e de
construção de um marco teórico para os estudos científicos.
Convertida numa das chaves interpretativas do mundo contemporâneo,
globalização não é um conceito unívoco. Pelo contrário, é um conceito
plurívoco, comumente associado à ênfase dada pela literatura anglo-saxônica
dos anos 80 a uma nova economia política das relações internacionais. Desde
a última década, esse conceito tem sido amplamente utilizado para expressar,
traduzir e descrever um vasto e complexo conjunto de processos interligados.
Entre os processos mais importantes destacam-se, por exemplo:
• a crescente autonomia adquirida pela economia em relação à política;
• a emergência de novas estruturas decisórias operando em tempo real
e com alcance planetário;
• as alterações em andamento nas condições de competitividade de
empresas e setores, regiões, países e também os continentes;
• a transformação do padrão de comércio internacional, deixando de
ser basicamente inter-setorial e entre firmas e passando a ser
‘eminentemente’ intra-setorial e intra-firmas;
• a desnacionalização dos direitos, a desterritorialização das formas
institucionais e a descentralização das formas políticas do
capitalismo;
• a uniformização e a padronização das práticas comerciais no plano
mundial, a desregulamentação dos mercados de capitais, a
interconexão do sistema financeiro e securitário em escala global, a
realocação geográfica dos investimentos produtivos e a volatilidade
dos investimentos especulativos;
84
• a unificação dos espaços de reprodução social, a proliferação dos
movimentos imigratórios e as mudanças radicais ocorridas na divisão
internacional do trabalho; e, por fim,
• o aparecimento de uma estrutura político-econômica multipolar
incorporando novas fontes de cooperação e conflito tanto no
movimento do capital, quanto no desenvolvimento do sistema
mundial.
Globalização também não é um fenômeno novo. Ele já estava presente, por
exemplo, nos antigos impérios, provocando sucessivos surtos de modernização
econômica, cultural e jurídica. Na era moderna, foi impulsionado pela interação
entre a expansão da cartografia, o crescente domínio das técnicas de
navegação pelos povos ibéricos e a própria evolução do conhecimento
científico.
Mais tarde, especialmente no apogeu da hegemonia inglesa, entre o final do
século XIX e o começo do século XX, quando o padrão-ouro proporcionou
moedas automaticamente conversíveis e estimulou a criação de instituições
destinadas a garantir o livre-câmbio e as inversões estrangeiras, aumentando
significativamente a movimentação de matérias-primas, produtos acabados,
produtos semi-acabados, capitais e serviços sobre as fronteiras nacionais, esse
fenômeno se torna objeto de um intenso debate sobre o alcance da
interconexão das economias relevantes.
Por isso mesmo, globalização está longe de ser um conceito original ou
inédito na história, na sociologia política, na teoria econômica ou mesmo na
ciência do direito. Embora com outra designação, ele pode ser encontrado em
análises paradigmáticas sobre os vínculos entre a criação e a reprodução
ampliada do capitalismo histórico – enquanto sistema mundial - com os
processos de formação de Estados e mercados, quanto em textos clássicos
sobre a organização e a interação de espaços econômicos auto-suficientes e
amoldados à natureza mercantil dos impérios modernos.
Assim, a geração:
• de vastas e complexas redes de interesses interdependentes ao lado de
espaços econômicos exclusivos;
85
• os efeitos perversos da degradação dos preços dos produtos primários
sobre a economia dos países exportadores;
• o impacto altamente corrosivo ocasionado pelas flutuações das taxas de
juros na dívida externa dos países em desenvolvimento;
• as expressivas transferências de recursos financeiros destes países
para os países desenvolvidos;
• os enormes problemas por estes enfrentados para implementar
programas de geração de empregos e executar políticas sociais sem
deflagrar um processo paralelo de expansão da liquidez internacional
com amplas repercussões negativas sobre toda economia;
• a crescente dificuldade dos governos nacionais para controlar os
circuitos comerciais e financeiros;
• os inúmeros obstáculos por eles enfrentados para aplicar políticas
‘tributárias’, fiscais, monetárias e cambiais autônomas que não sejam de
caráter recessivo, por causa das fortes pressões de um mercado de
capitais integrado em escala mundial;
Esses são, apenas, alguns dos exemplos desse padrão de estratificação da
economia mundial. E, que trazem em seu bojo inúmeras conseqüências
incalculáveis à classe mais prejudicada com todo esse processo, a classe
trabalhadora.
Para muitos o trabalho seria concebido como fonte de prazer, o acento seria
posto na criatividade sobre a produtividade, o trabalho seria o produto da
alegria de criar satisfação análoga à atividade do artista, do pensador, do
amador que exerce toda espécie de ofícios. Mas, infelizmente, não é assim
para a grande maioria da população.
Nas sociedades patriarcais, como o patriarcado greco-romano, o trabalho é
concebido como meio de ganhar dinheiro, o acento é posto sobre o rendimento
e o consumo, ou seja, o trabalho é concebido como uma pena inevitável, em
função do princípio patriarcal segundo o qual, se deve também fazer coisas
que não trazem nenhuma satisfação.
86
Numa sociedade feliz, sem classes, o objetivo supremo não será mais o
rendimento, o desempenho, mas a criação. O trabalho não será mais uma
carga que o homem suporta apesar dele mesmo porque sem ele não sabe do
que viveria. A vida de todos os membros da sociedade será assegurada
independentemente de seus desempenhos e façanhas, de modo que o
trabalho poderá torna-se, enfim, uma atividade com sentido. Revestir aos olhos
dos homens aquele sentido que já tem para o sábio e o artista.
O ideal de uma sociedade progressista não deve ser aquele da luta, da
concorrência, da inveja e da agressividade, mas sim o do processo criativo que
vemos na atividade do pesquisador, do sábio ou do artista.
Por outro lado, uma nova sociedade não se constrói sobre sonhos abstratos.
Cornelius Castoriadis, o filósofo político e psicanalista Greco francês
atualmente muito discutido, nos diz que o conteúdo do socialismo pode ser
concretamente sintetizado assim: “a transformação do mundo do trabalho pela
gestão operária e a gestão operária transformando o mundo do trabalho”. Para
continuar buscando aquela sociedade onde se respeitem as capacidades e
necessidades de cada um, temos à nossa frente à luta pelo mundo do trabalho.
Assim, essa luta marcará o fim da dominação do trabalho sobre o homem e o
começo da dominação do homem sobre seu trabalho.
Nesse sentido, as políticas educacionais no Brasil têm relegado a um
segundo plano a formação do trabalhador. Entretanto, a nosso ver, deveria o
Estado brasileiro se preocupar com esta formação. A regulamentação e
controle são fundamentais para o próprio desenvolvimento do país.
Como pudemos verificar ao longo deste trabalho acadêmico, o “trabalho” é
fundamental para a sobrevivência do homem. Ele está intimamente ligado a
“educação”, pois a esta cabe a responsabilidade de formar e qualificar o
homem para o seu exercício profissional em todos os níveis: operacional,
médio e superior. Entretanto, é importante destacar que o processo
educacional depende do foco dado pelos dirigentes do país, em função de
princípios ideológicos, políticos e culturais.
Do mundo contemporâneo, não resta dúvidas que o trabalhador de hoje,
independente de seu nível, terá que possuir uma escolaridade mínima de
87
educação básica (ensino fundamental e médio). Assim, defendemos que as
políticas educacionais devem prever para todos, ‘universalizar’ a educação
básica. Aliás, como já ocorre em vários países, sob pena de condenar a
exclusão grande massa de trabalhadores.
Logicamente, as políticas governamentais e educacionais têm que estar
alinhadas para solucionar o grave problema do trabalho infantil, doméstico, de
rua e outros que afastam das escolas, milhares de crianças, condenando a
pobreza e a miséria estas crianças.
Finalmente, tem que ser destacado que o trabalhador polivalente,
multifuncional, criativo, comunicativo, crítico, com iniciativa e de boa
escolaridade parece ser exigência futura do mundo do trabalho independente
da ideologia dominante.
Assim sendo, as políticas educacionais, as metodologias e as técnicas de
ensino têm que estar direcionadas para esta realidade, afastando a educação
agilizada, voltada para uma necessidade imediata do mercado de trabalho,
uma vez que, no futuro, esses trabalhadores ficarão desempregados
aumentando os problemas sociais do governo do país.
É fundamental levar em conta a importância de todas as formas de
participação política para a construção de um Brasil democrático e que
proporcione condições de vida digna à sua população. A democracia precisa
ser firmada no espaço público e no privado. O diálogo, a luta pela efetivação de
direitos e oportunidades e, os conflitos de interesses perpassam todas as
relações sociais, desde as relações interpessoais (familiares e afetivo-sexuais),
passando pelas relações de trabalho e de moradia, até as relações políticas
propriamente ditas.
88
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REVISTA CREA RS, nº 40, 2002.
ROBINSON, Jean. Liberdade e necessidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1971.
SERSON, José. Cursos de rotinas trabalhistas. 30ª ed. São Paulo: Revistas
dos Tribunais, 1991.
STRAZZACAPPA, Cristina. Globalização: o que é isso afinal. São Paulo:
Moderna, 1998.
VÁZQUEZ, Sánchiz Adolfo. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1977.
VERNANT, Pierre Jean. Mitos e pensamentos entre os gregos. São Paulo:
Difel-USP, 1973.
93
WERTHEIN, Jorge. Educação, Trabalho e Desemprego: Novos Tempos, Novas
Perspectivas. Brasília: UNESCO, 1999.
94
ANEXOS
Índice do Anexo
Anexo 1 – Modelo de questionário aplicado aos funcionários entrevistados
Anexo 2 – Tabela 1: Modelo de folha de pagamento mensal (novembro/2012).
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Anexo 1
QUESTIONÁRIO
Pergunta: Como você vê a instituição em que trabalha hoje. No que ela facilita ou dificulta o desempenho do seu trabalho?
R:
Pergunta: Qual a importância do seu trabalho para o desenvolvimento de seu município?
R;
Pergunta: O que você pensa a respeito da globalização ter atingido também o campo da Administração Pública?
R:
Pergunta: Qual a relação do seu trabalho com a globalização?
R:
Pergunta: A tecnologia trouxe alguns benefícios na repartição em que você trabalha? Cite alguns exemplos.
R:
Pergunta: Quais as causas mais relevantes que possam interferir no processo de desenvolvimento da administração pública eficiente? Dê a sua opinião.
R:
Pergunta: Como lidar com o excesso de informações a que temos acesso hoje? Elas ajudam na execução das tarefas ou atrapalham. Justifique a sua resposta.
R:
Pergunta: Sabemos que a criatividade levanta novas questões, cria soluções e é inovadora. Você utiliza-se dessa ferramenta no dia-a-dia do seu trabalho. Caso sim justifique a sua resposta.
R:
Pergunta: A ética profissional é uma habilidade associada à virtude moral e envolve o respeito. Em seu trabalho há um clima de respeito mútuo ou o relacionamento com os demais profissionais é apenas, profissional? Justifique a sua resposta.
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Anexo 2
Tabela 1: MODELO DE FOLHA DE PAGAMENTO MENSAL (NOVEMBRO/2012)
PREFEITURA MUNICIPAL DE TAPAUÁ/AM
Nome Cargo REMUNERAÇÃO Gratificação Salário-Família
DESCONTOS INSS
Valor Líquido
Antônio Sergio
Aux. Escritório
R$ 620,00 R$ 80,00 22,52 55,00 R$ 667,52
Manoel das Vassouras
Vigilante R$ 620,00 - 11,26 55,00 R$ 578,26
Maria dos Anzóis
Servente R$ 620,00 - 22,52 55,00 R$ 587,52
Pedro Sabe tudo
Serviços Gerais
R$ 620,00 - 45,04 55,00 R$ 610,04
José da Silva
Coordenador Téc.
R$ 1.000,00 500,00 - 139,50 R$1.360,50
Total - R$ 3.480,00 580,00 101,34 359,50 R$3.803,84