DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Neste estudo procuro responder as principais...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A ESCOLA E O PSICOPEDAGOGO FRENTE AO AUTISMO
Por: Suyenne Bastos Yoshikawa
Orientador
Vilson Sérgio
Niterói
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A ESCOLA E O PSICOPEDAGOGO FRENTE AO AUTISMO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicopedagogia
Institucional.
Por: Suyenne Bastos Yoshikawa
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EPÍGRAFE
“O aluno com autismo não é incapaz de
aprender, mas possui uma forma
peculiar de responder aos estímulos,
culminando por trazer-lhe um
comportamento diferenciado, que pode
ser responsável tanto por grandes
angústias como por grandes
descobertas, dependendo da ajuda que
ele receber.” (Eugênio Cunha).
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DEDICATÓRIA
Para aqueles que me fazem crescer
cada dia mais... Meus maiores
motivadores e ensinadores: meus
queridos alunos.
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RESUMO
O tema Autismo é de grande importância no campo educacional, pois se
tem notado claramente um crescimento considerável de casos do distúrbio nos
últimos anos e apesar de existir cerca de 70 milhões de indivíduos autistas pelo
mundo (ONU), vários aspectos de sua etiologia continuam obscuros, assim
como suas estratégias psicopedagógicas ideais para proporcionar uma boa
aprendizagem desses indivíduos. A presente pesquisa surgiu da vontade de
auxiliar as diversas crianças autistas que se encontram nas diferentes escolas
brasileiras com um grave risco de sofrerem com o fracasso educacional, tal fato
ocorre devido à formação exígua nesta área da maioria dos professores, visto
que muitos sentem uma grande dificuldade ao se depararem com estes alunos
na escola. Sendo fundamental uma pesquisa que demonstre como lidar, assim
como o papel da escola e do psicopedagogo frente ao autismo.
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METODOLOGIA
Para realizar este trabalho foi desenvolvida uma pesquisa teórica do tipo
bibliográfica, realizada através de diferentes livros e artigos, selecionando-se
autores consagrados, como: Eugênio Cunha, Sara Pain, Romeu Sassaki,
Corinne Smith, Marta Relvas, Maria Weiss, Mercadante, Schwartzman, dentre
outros. Também foi feita uma pesquisa documental, com análises da
legislação brasileira que estabelece normas relativas à educação especial.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................8
CAPÍTULO I CONHECENDO O AUTISMO ......................................................11
CAPÍTULO II IDENTIFICANDO O AUTISMO ...................................................21
CAPÍTULO III A ESCOLA E O PSICOPEDAGOGO FRENTE AO AUTISMO...27
CONCLUSÃO ...................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................46
ÍNDICE ..............................................................................................................49
FOLHA DE AVALIAÇÃO ...................................................................................50
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INTRODUÇÃO
Neste trabalho pretendo discutir sobre o autismo, um tema de grande
importância no campo educacional, já que vem crescendo consideravelmente
nos últimos anos o número de alunos com autismo. Porém, apesar de estar
muito presente nos ambientes educacionais, continua a ser um obstáculo para
os professores, visto que esses muitas vezes, não sabem como lidar com estes
alunos.
É essencial que a identificação e a intervenção ocorram o mais cedo
possível, dando uma oportunidade de terem uma intervenção psicopedagógica
apropriada, evitando a levar esses inúmeros alunos ao insucesso escolar.
Contudo, vejo o quanto se faz importante uma pesquisa em torno do
autismo, podendo assim, construir um diálogo mais próximo entre este e o
ambiente escolar, já que é neste local que, muitas vezes, o autismo é
identificado e descoberto a necessidade de uma intervenção para uma
educação ideal.
Neste estudo procuro responder as principais questões que norteiam o
autismo, como:
O que realmente é o autismo?
Quais são as suas causas?
Como identificá-lo?
Como lidar com o autismo dentro das escolas?
E principalmente, facilitar na intervenção dos professores, procurando
responder da melhor maneira o “como” intervir e lidar com o autismo. Assim,
como outras questões importantes, tendo como objetivos:
Descrever o seu conceito e analisar as suas causas;
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Investigar os profissionais que devem se envolver no diagnóstico;
Discutir o papel da escola, dos professores e do psicopedagogo frente
ao autismo;
Refletir e dar sugestões de intervenções aos professores para o
encontro de estratégias eficazes para a busca de uma educação
apropriada.
No decorrer dos capítulos desta pesquisa, procuro abordar de forma
completa sobre o autismo, auxiliando os pais e os professores a
compreenderem melhor esse “universo” ainda pouco discutido dentro dos
ambientes educacionais, buscando ajudar, principalmente, os diferentes alunos
existentes com autismo.
No primeiro capítulo (Conhecendo o autismo) é feita uma apresentação
do tema, havendo uma preocupação de explicar o seu conceito, possíveis
causas e aspectos legais, começando com toda a evolução histórica do termo.
Enfim, abordando uma reflexão teórica acerca das principais questões que
norteiam o tema para assim, depois ver como este se encontra para além da
literatura.
O segundo capítulo (Identificando o autismo) refere-se a um estudo de
como devem ser feitas as avaliações e de quais profissionais os pais e a escola
devem procurar em busca de um bom diagnóstico, pois só através deste
começará a preparação de uma intervenção apropriada na escola e também
dos melhores tratamentos para amenizar as principais características que
dificultam o desenvolvimento do autista.
No último capítulo (A escola e o psicopedagogo frente ao autismo) é
feita uma reflexão não só teórica, mostrando também como a escola age e
deve agir frente ao autismo, relatando quais devem ser as intervenções
psicopedagógicas ideais para uma educação a favor destes alunos.
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Contudo, busco através dessa pesquisa fazer parte não apenas do
“refletir”, mas também do “agir”, procurando de alguma maneira fornecer
respostas para mudar a realidade angustiante que passam os diversos alunos
com autismo no nosso país.
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CAPÍTULO I
CONHECENDO O AUTISMO
1.1 - Marco Histórico
O autismo já vem sendo estudado por mais de 70 anos por diferentes
cientistas no mundo, mas sobre o qual ainda permanecem divergências e
grandes questões a responder sobre esse distúrbio do desenvolvimento
humano. Seus primeiros estudos remetem a década de 40, quando o autismo
veio para descrever um grupo de crianças que tinham características muito
comuns, sendo que a mais notável delas era a incapacidade de se relacionar
com outras pessoas. As primeiras pesquisas sobre autismo foram feitas pelos
médicos Leo Kanner e Hans Asperger, no qual tanto para um, como para o
outro, o autismo era identificado pela dificuldade no relacionamento
interpessoal e na comunicação, características que perpassa um isolamento
físico, uma timidez ou rejeição do contato humano. Hans Asperger foi mais
além, ao perceber que existia autistas com capacidades especiais que,
desenvolvia a fala altamente gramatical precocemente, não sendo tão
“perturbadas”. Hoje conhecido pelo seu nome, a Síndrome de Asperger não
vem acompanhada de retardo ou deficiência no desenvolvimento cognitivo.
Ao se descrever a palavra Autismo conquistou-se o mérito não só de
identificar pessoas com comportamentos muito peculiares, como também para
separá-las do grupo dos esquizofrênicos. Visto que, antigamente, os autistas
eram diagnosticados como esquizofrênicos, até mesmo a palavra “Autismo”
surgiu para descrever um sintoma da esquizofrenia, a “fuga da realidade”. Na
década de 50 ainda surgiu a hipótese de sua etiologia estar relacionada à
frieza ou rejeição materna, conhecida como “mães geladeiras”, mas logo foi
descartada, entrando na categoria de mito. Nas décadas de 60 e 70 o quadro
“clássico” descrito já não era suficiente para relatar também outras descrições,
pois a grande heterogeneidade que ocorre em autistas tornou mais apropriado
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o uso do termo Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), que incluía
além do Autismo e da Síndrome de Asperger, a Síndrome de Rett e o
Transtorno Global do Desenvolvimento sem outras especificações. Porém, a
Síndrome de Rett é muito diferente das demais e assim, mais recentemente
fechou-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) para englobar
somente o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do
Desenvolvimento sem outras especificações.
Nos últimos anos, só vem aumentando o número de diagnósticos, já não
sendo considerada uma desordem rara. Na década de 80, o termo “autismo” se
referia a um transtorno que atingia somente 1 em cada 2.000 crianças. Porém,
de acordo com a estatística mais recente do Centro de Prevenção e Controle
de Doenças (CDC, 2006), a prevalência média de autismo nos Estados Unidos
é de 1 em cada 110 crianças, havendo um aumento superior a 1.000%,
tornando o autismo uma das patologias mais encontradas no desenvolvimento
infantil, pois em crianças o autismo é mais comum do que a diabetes, o câncer
e a AIDS. Já no Brasil estima-se que esse número possa chegar a 2 milhões,
logo o número de autistas no país aumentou muito e para alguns autores está
ocorrendo um fenômeno conhecido como “epidemia de autismo”, mas as
hipóteses levantadas para essa ocorrência são: a adoção de um conceito mais
amplo; maior conhecimento a cerca da doença; ampla divulgação da imprensa
do que é o autismo; número maiores de pais assumindo o diagnóstico dos seus
filhos e o aumento do número de diagnósticos e notificações dos casos por
órgãos competentes.
É possível que simplesmente sempre existiram várias
crianças com Autismo e não eram diagnosticadas; agora
com o maior número de profissionais lidando com a saúde
infantil e com melhores informações à respeito, propiciou-
se maior possibilidade de diagnósticos. (ASSENCIO-
FERREIRA, 2005, p. 102).
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1.2 - Aspectos Legais
O Autista pode se beneficiar com a criação de leis e programas de
intervenções que visam amenizar suas limitações. Assim, não podemos negar
as modificações e determinados avanços conquistados com leis em busca do
direito da educação para todos, enfocado numa política de educação inclusiva.
O autismo entra no grupo de pessoas que possuem necessidades
especiais e de acordo com Romeu Sassaki (2002), a história da atenção
educacional para pessoas com necessidades especiais possui 4 fases: as
fases de exclusão, segregação institucional, integração e inclusão.
Fase de exclusão: nesta fase, estas pessoas com necessidades
especiais não recebiam nenhuma atenção. A sociedade os ignoravam e até era
capaz de explorá-los e persegui-los. É difícil acreditar, mas eram vistos como
“possuídas por maus espíritos ou vítimas da sina diabólica e feitiçaria.”
(Jönsson, 1994, p.61).
Fase de segregação institucional: como seu próprio nome diz, nesta
fase, as pessoas com necessidades especiais eram excluídas da sociedade e
da família, ficando em instituições religiosas ou filantrópicas. Em alguns países
surgiram a “educação especial” para essas crianças, administrada por
instituições voluntárias, muitas vezes religiosas. Algumas dessas crianças
moraram nessas instituições por toda a sua vida. Nesta fase, também foram
criadas escolas especiais, pois a sociedade começou a aceitar que essas
pessoas talvez pudessem ser produtivas, caso recebecem escolarização e um
treinamento profissional.
Fase de integração: nesta fase surgiram as primeiras classes especiais
dentro de escolas comuns. Porém, não surgiram para ajudar as pessoas com
necessidades especiais e sim, para separá-las dos outros alunos ditos
“normais”, assim não interferindo na aprendizagem destes e não prejudicando
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seus professores. Os portadores de necessidades educacionais especiais
precisavam modificar-se para tornarem-se aptos a satisfazerem os padrões
aceitos pela sociedade e não o inverso.
Fase de inclusão: a prática da inclusão vem somente da década de 80,
porém, é apenas consolidada nos anos 90. Diferente da fase anterior, nesta
nova fase busca-se modificar a sociedade, assim tornando-a capaz de acolher
todas as pessoas, preocupando-se com uma sociedade de direitos para todos,
algo ainda presente nas leis atuais.
As leis brasileiras têm enquadrado o autismo dentro de conceitos da
Educação Especial, sendo dessa maneira que veremos os seus aspectos
legais.
Algumas leis merecem destaque quanto à sua abordagem, por exemplo,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) que ganha destaque
em relação às outras pelo fato de ter sido através dela que pela primeira vez
surgiu em uma LDB (Lei de Diretrizes e Bases) um capítulo (Cap. V) somente
destinado à Educação Especial.
Neste capítulo foram dadas ênfase aos seguintes pontos: garantia de
matrículas para portadores de necessidades educativas especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino (Art. 58); criação de serviços de
apoio especializado, para atender às peculiaridades da clientela de Educação
Especial (Art. 58, § 1º) e especialização de professores (Art. 59, III). Sendo
importante relatar que o artigo 13 ainda revela que é incumbência do professor
“zelar pela aprendizagem do aluno, estabelecer estratégias de recuperação
para os alunos de menor rendimento”. Apesar de ainda não fazer uso do termo
“inclusão”, podemos ver a presença deste de modo implícito. Porém, não
colocou a educação inclusiva como categoria central, apenas fez uso do termo
educação especial.
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Entretanto, o MEC em 2002, apontou para o conceito de escola
inclusiva, relatando que esta pretende mudanças em relação à educação
especial, onde o grande objetivo seria de auxiliar todas as crianças a terem
sucesso na escola, mesmo as que têm de ultrapassar dificuldades e limitações
específicas.
Ainda antes, na Conferência Mundial de Educação Especial, ocorrida em
Salamanca (Espanha) em 1994, conhecida como a Declaração de Salamanca,
foi registrado pela primeira vez o conceito de inclusão no campo da educação,
mencionando conceitos como: educação inclusiva, políticas educacionais
inclusivas, sociedade inclusiva, classes inclusivas...
Seu princípio fundamental de escola inclusiva consistia
em que todas as pessoas deveriam aprender juntas, não
importando quais dificuldades ou diferenças elas
possuiam. Respondendo as necessidades diversificadas
de seus alunos, acomodando os diferentes ritmos de
aprendizagem e assegurando educação de qualidade
para todos com currículos apropriados, mudanças
organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e
parcerias com suas comunidades.
Entretanto, apesar da declaração ressaltar a importância da inclusão,
ainda vemos uma distância em relação à realidade brasileira frente à educação
inclusiva, visto que hoje muitas escolas se preocupam muito mais com a
matrícula do que com o atendimento de qualidade, onde as escolas públicas
não podem recusar esses alunos e as escolas privadas aceitam pela questão
financeira.
São vários os alunos autistas que não posssuem uma educação de
qualidade, pois os professores costumam dedicar uma maior atenção somente
para os outros alunos ditos “normais”. Há mais de quinze anos já se falava
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nisso e hoje a inclusão continua a ser uma proposta, ainda não conquistada,
verdadeiramente, pela nossa sociedade. Para Sassaki, a “educação inclusiva é
uma atitude de aceitação das diferenças, não uma simples colocação em sala
de aula”.
Logo, não podemos nos iludir com a promulgação de determinadas leis,
pois ainda se faz necessário que os professores e os demais profissionais da
escola, realmente, comecem a oferecer oportunidades de atendimentos
educacionais que trabalhem as necessidades, as limitações, as potencialidades
e os interesses dos alunos com necessidades especiais.
As diferenças não devem ser vistas como defeitos, apenas como
diversidades, onde a sociedade precisa acordar para o fato que as diferenças
não impedem as pessoas para as conquistas de suas idealizações
educacionais, profissionais e sociais. Cada um, com sua particularidade, possui
um potencial que se for bem orientado e trabalhado, pode permitir na maioria
das vezes, a sua autorrealização.
Buscar promover a inclusão, implica em construir uma prática
pedagógica coletiva, dinâmica e principalmente flexível, já que para isso é
preciso mudanças tanto no funcionamento da escola, na formação e nas aulas
dos professores e nas relações família/escola. Precisamos de um processo de
conscientização não só de uma escola verdadeiramente inclusiva, mas também
de uma sociedade inclusiva, para assim realmente utilizarmos na prática o
termo “inclusão”.
1.3 - Conceito
O autismo é um transtorno com um conjunto de comportamentos
atípicos derivados de desordens neurológicas que atinge um grupo de
indivíduos com desvios nas habilidades sociais, comunicativas, no uso da
imaginação e um padrão restrito de interesses, seus sintomas variam
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amplamente e por isso, hoje definimos esta patologia como um espectro de
transtornos. O termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) refere-se a um
grupo de distúrbios, mas que apresenta em comum uma “tríade de
comprometimentos” no desenvolvimento humano.
Esses sintomas foram classificados por Wing, sendo também conhecida
como a “tríade de Wing”. Há uma grande heterogeneidade devida às diferenças
individuais de cada autista, um não apresenta exatamente o mesmo quadro
que o outro, fazendo que o tratamento seja realizado com auxílio de programas
individuais em função da característica e evolução de cada criança. No entanto,
a tríade é comum em todos, embora cada autista tenha suas particularidades.
Há alguns sintomas que, percebidos precocemente na criança, ajudam
no reconhecimento do transtorno:
Retrair-se e isolar-se das outras pessoas.
Não manter o contato visual.
Resistir ao contato físico.
Resistência ao aprendizado.
Não demonstrar medo diante de perigos reais.
Agir como se fosse surdo.
Birras.
Não aceitar mudança de rotina.
Usar as pessoas para pegar objetos.
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Hiperatividade física.
Agitação desordenada.
Calma excessiva.
Apego ao manuseio não apropriado de objetos.
Movimento circulares no corpo.
Sensibilidade a barulhos.
Estereotipias.
Ecolalias.
Não manifestar interesse por brincadeiras de faz-de-conta.
Compulsão.
Estas desordens se apresentam ao longo da vida e ocorre em todos os
lugares do mundo, independente de raça, etnia ou classe social. Sendo um
distúrbio que acontece mais em homem do que mulher, numa proporção de 4:1
(Paiva, 2010), na maioria das vezes, sendo de forma mais acentuada em
mulheres. Normalmente, é diagnosticada aos três anos de idade, apesar do
autismo poder ser notado até nos primeiros meses de vida, mas em geral os
sintomas tornam-se mais aparentes por volta desta idade.
Para o diagnóstico de autismo não existem testes laboratoriais
específicos para a sua detecção, mas para melhor instrumentalizar e
uniformizar o diagnóstico, foram criadas escalas, critérios e questionários
específicos. É necessário realizar uma série de exames clínicos, avaliações e
análises para se obter um número suficiente de informações para maior
precisão do quadro.
Atualmente, apesar de o autismo ser mais conhecido pelas pessoas, ele
ainda nos surpreende pela sua complexa etiologia, pelas suas distintas
alterações cerebrais e pela grande variedade de características que pode
apresentar. E com os seus diagnósticos crescendo nos últimos anos, assim
como a quantidade de pesquisas na área, o envolvimento dos pais tem
acelerado a compreensão desta patologia e com isso aumenta o interesse dos
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cientistas por novas descobertas e em testar novas hipóteses, contribuindo
para o avanço no conhecimento desta condição.
1.4 - Possíveis Causas
O autismo é um transtorno fortemente genético com uma herdabilidade
estimada em 90%. Suas evidências vieram tanto da genética clássica (estudos
com gêmeos, recorrência na irmandade, comorbidades com síndromes
monogênicas), como da citogenética (regiões cromossômicas envolvidas) e
também das ferramentas da biologia molecular (triagem genômica, detecção de
genes suscetíveis, mutações de genes candidatos).
Para a literatura recente, podemos dizer que a genética prepara o
“terreno” para o autismo, mas são os fatores ambientais que realmente o
desencadeia, Diferentes pesquisas também apontam vários fatores ambientais
associados ao autismo, como: infecções virais maternas, uso de bebidas
alcoólicas na gravidez, acidentes pré, peri e neonatais, stress na gravidez,
determinadas vacinas, uso de certos medicamentos na gravidez etc. Contudo,
o autismo não aconteceria sem a combinação de fatores genéticos, ambientais
e alterações cerebrais. A genética é um fator necessário, mas não suficiente
para que o autismo se desenvolva, pois um ponto comum é a interação entre
ambos os fatores (genéticos e ambientais) que resultam em alterações
cerebrais ocasionando um conjunto de comportamentos atípicos associados ao
autista.
Apesar das pesquisas da neurobiologia do autismo ainda estar em
crescimento, informações oriundas da neuropatologia, de imagens do cérebro e
da neurociência do desenvolvimento já propiciaram importantes conhecimentos
para desvendar as possíveis etapas anormais do desenvolvimento do cérebro.
As alterações cerebrais relacionadas aos seus principais prejuízos,
como a interação social, a comunicação e os comportamentos repetitivos são
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relacionados à disfunção dos neurônios-espelho, lesões nos lobos frontais,
aumento do tamanho do cérebro, anomalias no corpo caloso, cerebelo,
amígdala, etc. Também existem várias pesquisam que relatam diferenças em
alguns neurotransmissores, onde os três principais grupos alterados no
autismo, são: as monoaminas (especificamente a serotonina, a dopamina e a
norepinefrina); os sistemas neurotransmissores aminoácidos Glutamato (GLU)
e gama-aminobutírico (GABA) e o neuropeptídeo oxitocina. Um bom exemplo é
o sistema serotonérgico que atua na formação do cérebro humano,
desempenhando um papel importante em seu desenvolvimento e crescimento.
Pesquisas recentes relatam que um terço dos indivíduos com autismo
apresentam níveis plaquetários de serotonina aumentado. Logo, além da
influência que essas variações podem ter na formação do cérebro, estudos têm
relacionado à serotonina com estereotipias e rigidez de comportamento, onde
inibidores seletivos da captação de serotonina, têm sido usados em autistas na
tentativa de diminuir comportamentos obsessivos, rituais e estereotipados.
Ao longo da história, o autismo era visto como uma perturbação de
ordem comportamental e psicológica, já que antes não era possível discernir
razões físicas ou fisiológicas aparentes para os sintomas que apresentavam.
Porém, com a evolução de diferentes técnicas e dos estudos realizados,
concluiu-se que as “perturbações” autistas têm uma base biológica que não
pode ser negada. Assim, demonstrando o quanto são necessárias maiores
pesquisas em torno do cérebro do autista para se descobrir cada vez mais
sobre esta desordem, ainda hoje, “misteriosa” para vários pesquisadores.
Dentre os diferentes campos explorados, o cérebro autista revela-se como uma
fonte importante de pesquisa, pois este sem dúvida é a área mais “afetada”
desses indivíduos.
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CAPÍTULO II
IDENTIFICANDO O AUTISMO
2.1 - Descobrindo o Autismo
Um aluno com autismo possui mais problemas escolares quanto maior o
tempo para o seu reconhecimento. A frustração diante de seu desempenho na
escola desequilibra a motivação e a autoconfiança. Suas expectativas vão
sendo cada vez mais reduzidas, assim como o seu entusiasmo pela escola.
Para a identificação do autismo não existem testes laboratoriais
específicos para a sua detecção, este envolve dias de observação, anamneses
e de avaliação individualizada, consumindo um tempo e sendo intensiva.
Normalmente, sendo realizada por profissionais da aprendizagem, psicólogos,
assistentes sociais do sistema escolar e neurologistas.
As crianças, para melhor diagnóstico, precisam ser preparadas para este
momento da avaliação. Dependendo do grau de severidade do autismo, seus
pais e professores devem informar tudo que será feito, para não produzir
sentimentos de ansiedade, vergonha, estresse e até mesmo confusão. O ideal
é conversarem, mostrando para eles que tudo o que irão fazer é para o bem
deles, já que procurarão compreender o motivo das suas dificuldades para
aprender, podendo futuramente ajudá-los a ter uma aprendizagem adequada
para o seu sucesso escolar. Devem explicar que precisarão conversar com
algumas pessoas, participar de algumas atividades educacionais e fazer
diferentes testes. Porém, é muito importante dizer que esses testes não visam
aprová-los ou reprová-los, mas apenas obter informações sobre suas
limitações, potencialidades e de como estes podem aprender melhor.
O importante é salientar a todo o momento da avaliação que o maior
desejo é buscar os melhores meios de ensino para que se conquiste uma
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educação apropriada, jamais se devem dar explicações que culpem ou que
envergonhem essas crianças, como: “estamos tentando compreender o porquê
do seu fracasso”.
Os avaliadores e os pais não podem construir expectativas que as
crianças façam logo o seu melhor durante a avaliação, estas precisam de um
tempo para se acostumarem com o novo ambiente e o contato com novas
pessoas. Uma sugestão é levar a criança antes para conhecer o local e as
diferentes pessoas que realizarão a avaliação. E embora, todos estejam
ansiosos para saber o resultado, geralmente é melhor realizar o teste por
algumas semanas e não em poucos dias.
2.2 - Diagnóstico
A avaliação para o aluno com suspeitas de autismo pode ser feita de
duas maneiras: um pedido de avaliação gratuita de seu próprio distrito escolar,
que deve ser destinado ao departamento de educação especial ou ao diretor
da escola da criança ou a avaliação pode ser particular e independente. Porém,
de qualquer maneira é fundamental analisar os profissionais que trabalharão na
avaliação. Primeiramente, muitos pais preferem fazer uma avaliação do distrito
escolar, buscando uma avaliação paga somente se acharem o resultado
duvidoso. O acesso às informações dos serviços de Educação Especial pode
ser encontrado nas secretarias de educação, sendo disponível um resumo com
os direitos legais dos estudantes com necessidades educacionais especiais e
de seus familiares.
A equipe não poderá identificar uma criança com autismo se o resultado
da avaliação for uma deficiência visual, auditiva ou motora, retardo mental,
problemas emocionais ou até mesmo desvantagens ambientais, culturais e
econômicas.
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Uma das principais informações a serem descobertas é a história
familiar da criança e seu ambiente domiciliar. Os seus familiares poderão
ajudar bastante, dando o máximo de informações sobre o crescimento e o
comportamento da criança desde que nasceu, até mesmo relatar se houve
problemas durante a gravidez ou no parto. Passar para a equipe todas as
preocupações existentes durante o desenvolvimento físico, social ou emocional
da criança é muito importante, pois os avaliadores podem fazer várias
perguntas a respeito de tudo que aconteceu e ocorre no ambiente domiciliar.
Apesar das questões levantadas parecerem uma intromissão por parte da
equipe, essa jamais quer violar a privacidade dos familiares ou os culparem
pelas dificuldades de desenvolvimento da criança.
Os familiares têm o direito de tirarem suas dúvidas sobre os testes e que
espécie de informações poderá oferecer. Estes devem estar atentos,
analisando se os testes são isentos de tendências culturais/padronizadas,
inclinando-se para uma determinada cultura. Algumas metodologias podem
colocar crianças em desvantagens, logo é fundamental o uso de métodos
alternativos para a coleta de informações, principalmente ao avaliar estudantes
de classes minoritárias. Os pais precisam pesquisar se a equipe possui
profissionais familiarizados com a cultura da criança que está sendo avaliada.
Assim, para uma avaliação ideal é interessante a presença de uma
equipe multidisciplinar e a utilização de uma variedade de métodos na
investigação. Os membros da equipe devem usar tanto métodos quanto forem
precisos para o desenvolvimento do processo, em busca de um resultado bem
fundamentado da criança. Uma boa avaliação não deve apenas localizar os
pontos fracos, mas ir além, identificando suas potencialidades, assim como
auxiliando numa intervenção psicopedagógica e familiar adequada.
De acordo com Smith e Strick, a qualidade de uma avaliação dependerá
de muitos fatores que afetam ou auxiliam esse processo, sendo eles a
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experiência e a habilidade da equipe, a variedade de atividades empregada por
esta e a qualidade dos testes e de outras ferramentas selecionadas.
Uma avaliação completa deverá incluir observações da criança em sala
de aula, dependendo do caso, também em ambiente domiciliar; entrevistas
com os familiares, professores e dos indivíduos importantes na vida da criança;
procurar saber a história médica e social que contenha os principais aspectos
do processo do desenvolvimento da criança; uma análise da metodologia e dos
materiais de ensino que a criança tem utilizado em sua escola, assim como
testes e outros tipos de atividades que mostre o potencial da criança e suas
capacidades.
É importante observar e investigar o contexto dos comportamentos
inadequados e as suas razões. Para tanto, é pertinente responder às seguintes
perguntas:
Como surge o comportamento?
Onde ocorre?
Quando ocorre?
Está relacionado ao ambiente ou a algum objeto ou à pessoa?
É decorrente de algum estado emocional da criança? Qual?
O comportamento está relacionado a experiências sensoriais?
Está relacionado à quebra de rotina?
Está relacionado às frustações, às ansiedades ou à alegria?
É necessário acuidade para uma precisa avaliação das situações que
causam as atitudes prejudiciais, porque elas fomentam o transtorno, limitando o
seu aprendizado. A equipe multidisciplinar não deve esperar que a criança diga
para ela o que está acontecendo. O entendimento preciso dos contextos
comportamentais demandará permanente vigilância, sensibilidade e
perseverança para se fechar o diagnóstico.
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2.3 - Resultados da Avaliação
Um ou alguns membros da equipe compartilhará o resultado da
avaliação com os responsáveis pela criança. A equipe deve estar pronta para
explicar as fraquezas e também os pontos fortes da criança. Deve haver uma
discussão sobre o melhor processo educacional para esta, dando diferentes
opções. Porém, sempre mostrando que um ambiente menos restritivo é o ideal
para uma criança autista.
Não é fácil para os pais descobrirem que seu filho é autista. Logo, esses
precisam de um tempo para se recuperarem do impacto emocional. De acordo
com Smith e Strick, a descoberta de um diagnóstico desse, pode provocar uma
variedade de reações, como:
Negação: “A equipe cometeu um erro! Nem todos os testes estão
corretos”...
Culpa: “É minha culpa, não cuidei do meu filho como deveria, eu mereço
isso...”.
Raiva: “É culpa da creche”, “é culpa da escola”, “a culpa é da
professora”, “não é minha culpa ou da família”.
Esperança e/ou desilusão: “Isso deve desaparecer com o tempo” (a
reação mais frequente).
Medo: “Será que um dia meu filho fará faculdade?”, “será que ele
casará?”, “como ele se sustentará?”, “quem cuidará dele quando eu morrer?”...
Tristeza: “Estou arrasada, o futuro dele foi destruído, assim como meus
sonhos”.
Compreensão: “Tudo bem. O que podemos fazer para ele ter uma vida
melhor?” (Infelizmente, a reação que menos ocorre).
Apesar de serem reações fortes, elas são muito normais. Como qualquer
outro acontecimento difícil, os pais precisam de um tempo para lidar com a
situação e talvez de um apoio extra, indicação de um psicólogo, por exemplo.
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O potencial para um trabalho efetivo geralmente acontece quando todos os
responsáveis pelo cuidado da criança participam de uma conversa com a
equipe. Tendo a oportunidade de tirarem suas dúvidas, falar de suas
preocupações e receber o máximo de informações e recomendações
possíveis.
2.4 - Dúvidas Quanto ao Resultado
Caso os pais ainda tenham dúvidas quanto ao resultado da avaliação,
esses têm total liberdade para procurarem uma segunda opinião, entretanto, é
necessário que sejam alertados para que realizem uma autocrítica profunda.
Tentando compreender se realmente discordam do resultado ou apenas estão
tendo dificuldades para aceitar que seu filho tenha esse diagnóstico. Muitas
vezes, esses pais ficam levando seus filhos em vários profissionais com a
esperança que lhes digam o que tanto desejam ouvir. Infelizmente, os mais
prejudicados são as próprias crianças que acabam tendo que passar por uma
“bateria” de testes, muitas vezes, desnecessários.
Os pais precisam compreender que suas atitudes podem influenciar em
muito nos seus filhos, pois se considerarem que a intervenção de uma
educação especial será um desastre ou desnecessária, logo serão muitas as
chances que seus filhos também passem a pensar dessa maneira. Porém, se
acreditarem que a intervenção pode ser uma ótima oportunidade de
crescimento, seus filhos também poderão acreditar nisso. Portanto, um dos
melhores meios de cuidar da criança é fazendo um trabalho completo, sempre
buscando se manter informado da realidade dela e participando ativamente do
planejamento educacional, aumentando as chances desta ter a ajuda exata
que tanto precisa.
27
CAPÍTULO III
A ESCOLA E O PSICOPEDAGOGO
FRENTE AO AUTISMO
3.1 - O Autista na Escola
A “cura” do autismo, infelizmente não existe, mas essa difícil realidade
pode ser amenizada. As dificuldades podem ser contornadas com estratégias
eficazes, metodologias novas e adaptadas, podendo ter uma melhora
acentuada com intervenções realizadas no ambiente escolar e domiciliar.
A chegada de um aluno com condutas do espectro autista na escola, de
um modo geral, ainda desafia e desestabiliza a confiança do professor e dos
educadores presentes numa escola. Muitos não sabem como lidar, intervir e
auxiliar numa educação apropriada para o autista, acabando por provocar o
descompasso escolar deste.
É normal a criança autista sentir-se desconfortável e intimidada em um
ambiente totalmente novo para ele, como o da escola. Assim, como é normal
buscar apoio nas coisas ou nos movimentos que atraem, mantendo-se
permanentemente concentrada neles, esquecendo de todo o resto. Normal
também a birra quando é contrariado e de sentir medo e raiva em
determinados momentos. Porém, o que a gente deve lutar para não continuar
normal, é o professor não saber se relacionar com a realidade do mundo
autista. Nessa relação, quem deve aprender primeiro é o professor, para que
assim, possa saber ensinar o aluno autista.
O professor não deve esperar que o próprio aluno com autismo lhe diga
o que está acontecendo. Será através da observação, da sensibilidade e da
perseverança do educador que se terá a compreensão precisa dos contextos
comportamentais que precisam de uma intervenção para se ter uma
28
aprendizagem adequada. A partir daí, saberá melhor como intervir numa
educação apropriada e assim, a escola alcançará o seu papel frente ao
autismo.
3.2 - O Papel da Escola e do Professor Frente ao Autismo
Primeiramente, para uma escola realmente respeitar seu papel frente ao
autismo, essa necessita ter uma educação inclusiva. As condições da inclusão
alicerçam-se em buscar construir uma prática pedagógica coletiva, dinâmica e
principalmente flexível, já que para isso é preciso de determinadas mudanças,
tanto no funcionamento da escola, na formação e nas aulas dos seus
professores e na relação família/escola.
A grande maioria dos educadores, ainda está condicionada a práticas de
ensino provenientes das tendências pedagógicas que foram incorporadas ao
senso comum, em razão do modelo em que predominou na educação por
vários anos. Ainda hoje se vê presente em algumas escolas que a forma de
ensinar é a que se aprendeu nos bancos escolares durante os anos em que o
docente de hoje era o discente de ontem. Essa maneira de aprender e de
ensinar, que é transmitida de geração em geração, no entanto, não dá mais
conta de preencher a diversidade que há nas salas de aula hoje em dia.
É comum vermos professores preocupados com a cientificidade da sua
disciplina, mas esquecendo-se da “humanidade” dentro do seu ofício. É
urgente na educação um pensamento que dê conta da complexidade da escola
nos dias atuais. Necessário refletirmos que não podemos mais educar sem
atentarmos para o aluno na sua individualidade, não podemos pensar em
inclusão escolar, sem pensarmos num ambiente inclusivo. Porém, inclusivo não
somente em razão dos recursos pedagógicos, mas também pelas qualidades
humanas. Somente quando acreditamos no indivíduo autista, no seu potencial
humano e na sua capacidade de reconstruir seu futuro, o incluirão
verdadeiramente. A inclusão escolar inicia-se pelo professor, pois percebemos
29
que, com a necessidade da educação inclusiva, criam-se leis, mas nem sempre
existem as possibilidades de preparação daqueles que trabalham na escola e
muito dependerá da vontade deste de, realmente, fazer uso do incluir.
Muitas escolas, tanto públicas quanto privadas, sofrem com o
despreparo do corpo docente para lidar com os alunos autistas. Faz-se
importante e necessário oferecer aos professores (se não oferecido, buscado
pelos mesmos), a orientação adequada de um psicopedagogo para que possa
ajudar de fato os alunos autistas.
3.3 - O Papel do Psicopedagogo
A psicopedagogia é uma área de estudo nova, que se faz muito
importante por estar direcionada a atender pessoas que apresentam problemas
com a aprendizagem. No Brasil, vem se desenvolvendo desde a década de 80.
A psicopedagogia estuda as características da
aprendizagem humana: como se aprende, como essa
aprendizagem varia e está condicionada por vários
fatores, como se produzem as alterações na
aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-
las. (PORTO, 2011, p. 88)
Tanto na clínica como na instituição, o psicopedagogo atua intervindo
como mediador entre o sujeito e a sua dificuldade de aprender. Analisa a
dinâmica institucional com todos os profissionais nela inseridos, detectando
possíveis problemas e intervindo para que a instituição se reestruture.
Os professores seriam orientados na adequação do
programa, na elaboração de métodos a serem aplicados e
na forma ideal de atender as crianças que apresentam
problemas de aprendizagem. (COELHO, 1991, p. 25).
30
Na escola inclusiva, é demasiadamente difícil para um único educador
atender a uma classe inteira com diferentes níveis educacionais e, ainda,
propiciar uma educação inclusiva adequada. Então, enquanto o aluno com
autismo não adquire uma autonomia necessária, é importante que ele
permaneça sob o auxilio de um professor de apoio ou um psicopedagogo para
que dê suporte ao professor em sala de aula.
A educação nas escolas inclusivas, independentemente do grau de
severidade da criança autista, deve ser vivenciada na sala de ensino comum e
individualmente, na sala de recursos, favorecendo a sociabilidade, porque
incluir é aprender junto também.
A sala de recurso é um ambiente com materiais diferenciados e com a
presença de um profissional preparado, normalmente um psicopedagogo, para
atender às diversas necessidades educativas especiais dentro de uma escola
regular. Um local que deve fornecer alguns equipamentos de informática,
mobiliários, materiais didáticos e pedagógicos para a criação de uma sala
destinada a integrar alunos especiais às escolas regulares.
A sala de recursos precisa ser simples, sem muitos objetos para que não
haja estímulo em demasia. Neste ambiente, o aluno recebe uma educação
individualizada, especifica, com ênfase na mudança de alguns comportamentos
e aprendizado de outros. É importante não tentar muitas mudanças ao mesmo
tempo. O aprendente precisa visualizar somente os materiais ou os brinquedos
que irá trabalhar, para que haja maior concentração possível. Entretanto, em
primeiro momento, o psicopedagogo deve observar quais objetos ou atividades
que o atraem mais, para usa-los nas tarefas. Detalhes que, muitas vezes, são
desconsiderados por nós, exercem grande atração.
31
3.4 - Intervenções Psicopedagógicas
O Plano de Educação Individualizado (PEI) se destaca como um dos
recursos a ser desenvolvido nas salas de recursos em que muito pode
favorecer o aluno autista. O conhecimento sobre o aluno construído com base
nas informações da família, do professor e do psicopedagogo institucional que
atuam com a criança muito contemplam para a construção de um bom plano.
Conforme modelo citado por Nilsson, abaixo serão citadas algumas
orientações para a elaboração do Plano Educacional Individualizado para ser
utilizado com alunos autistas:
1- Identificar as características do aluno, observando:
potencialidades;
necessidades;
interesses;
condições sociais e ambientes.
2- Verificar se o aluno é atendido por profissionais ou instituições
especializadas e se há orientações prescritas e executadas. Onde? Por
quem?
3- Formular o PEI considerando (elaboração conjunta do professor de
apoio, do professor e/ou psicopedagogo da sala de recursos e do professor
de referência):
os objetivos a serem alcançados;
tempo, espaço e mediações pedagógicas para o processo de
aprendizagem e desenvolvimento do aluno;
dinâmicas, estratégias e atividades propostas;
32
articulação com o trabalho pedagógico desenvolvido no grupo de
referência;
a avaliação contínua dos avanços e dos retrocessos para replanejar
novas ações.
4- Elaborar o PEI considerando também a organização curricular e os
objetivos traçados no Plano de Trabalho do Ciclo, conforme sugestão a
seguir. Há de se destacar que as ações educativas devem contemplar:
o aumento da autonomia pessoal e social do aluno;
a adequação à faixa etária e ao grau de desenvolvimento do aluno;
o favorecimento da inclusão do aluno em diferentes espaços
(escolar, social, familiar);
o respeito às motivações e aos desejos do aluno;
o diálogo com a família;
a viabilidade de realização.
5- Avaliar o processo ensino-aprendizagem e o desenvolvimento do aluno,
considerando as seguintes questões:
o aluno realiza as atividades espontaneamente?
o aluno realiza as atividades com autonomia?
os objetivos propostos foram alcançados?
as produções estão de acordo com os objetivos propostos?
as estratégias e os recursos utilizados estão adequados?
o tempo previsto para as atividades está adequado?
o espaço está adequado à realização das atividades?
que retorno o aluno vem dando em cada uma das ações realizadas?
as responsabilidades foram claramente partilhadas e assumidas por
todos?
existiram imprevistos que afetaram o trabalho?
33
o aluno é capaz de perceber o seu próprio processo de
desenvolvimento e aprendizagem?
como o aluno se relaciona com os (as) professores (as) e colegas?
como o professor se autoavalia durante esse processo?
É claro que os estágios de aprendizagem de qualquer aluno não
obedecem às regras fixas, principalmente, na realidade do autista, onde há
indivíduos com prejuízos severos e, também, com um bom funcionamento.
Entretanto, este é apenas um plano que pode dar suporte ao procedimento do
professor e da escola.
Não é um trabalho nada fácil para a escola, professores e familiares
auxiliarem no processo de desenvolvimento de uma criança autista, visto a
necessidade de modificar vários aspectos para uma aprendizagem adequada.
Como vimos, para a realização de um programa ideal, não basta mudar apenas
o método de ensino, mas também a organização da sala de aula, os materiais
utilizados, o estilo de avaliação, o tempo despendido nas tarefas, o tamanho e
a quantidade de atividades e o nível de apoio.
O principal e melhor local para o crescimento deste aluno no processo
de ensino-aprendizagem é a sala de aula. Por isso, o ponto de partida da
programação deve ser neste ambiente. Acredito que o programa deve abranger
adaptações curriculares necessárias nos seguintes elementos: objetivos,
conteúdos, metodologia e processos de avaliação.
Objetivo: deve ter um equilíbrio tanto para um trabalho de integração
como de individualização, pois o processo de aprendizagem deve possuir
objetivos comuns, mas também outros mais específicos para considerar as
limitações, necessidades, possibilidades e potencialidades do aluno autista.
Conteúdos: Deve possuir conteúdos ligados a vida social do aluno
autista, facilitando sua compreensão e aumentando o seu interesse. Sempre os
34
adequando às necessidades e respeitando as limitações deste aluno para
facilitar a aprendizagem.
Metodologia: deve ser dinâmica, flexível, sempre buscando respeitar o
ritmo do aluno autista, utilizando todos os tipos possíveis de recursos didáticos
para a criação de diferentes estratégias, assim, conquistando uma
aprendizagem próxima à necessidade do educando.
Avaliação: é essencial avaliar não apenas o aluno em si (seu
desenvolvimento), mas também todo o contexto educacional que este se
encontra e que desenvolve o processo de ensino-aprendizagem (a organização
do espaço escolar, o método de ensino utilizado, o material didático usado, o
nível de apoio). A avaliação também não deve ocorrer somente através de
provas tradicionais que visam verificar a aprendizagem, muitas vezes,
comparando o aluno com o grupo. Mas cabe a professora também verificar a
evolução do aluno frente às suas dificuldades, realizando avaliações de
diferentes maneiras, que possam deixar esses alunos à vontade para
demonstrarem tudo que aprenderam.
Um dos maiores problemas em relação à aprendizagem do aluno autista
está no fato de que ainda existe pouco conhecimento sobre este no ambiente
educacional. Estes alunos precisam de um espaço físico bem estruturado e
definido. Entretanto, não precisa ser um ambiente tradicional, podendo fazer
desse um local colorido, criativo e estimulante. Mas como estes alunos tendem
a se distrair com muita facilidade, deve haver um bom equilíbrio para não
ocorrer um excesso de motivação visual, prejudicando a criança. Além disso,
para favorecer o ensino-aprendizagem, o ideal é colocá-lo sentado próximo ao
professor e de colegas “tranquilos”, distante das janelas e da porta, onde o
movimento do lado de fora possa distraí-lo. Evitando também que as carteiras
sejam organizadas em fileiras para que todos tenham uma boa visibilidade e
acesso, organizando as carteiras em círculo ou em forma de U.
35
De acordo com Eugênio Cunha, as atividades devem possuir caráter
terapêutico, afetivo, social e pedagógico:
Terapêutico: superar os comportamentos inadequados provenientes do
comprometimento autístico e proporcionar maior qualidade de vida e
independência.
Afetivo: criar vínculo com o processo de aprendizagem, com o professor
e com o espaço escolar, pela mediação do interesse e do desejo, em
atividades lúdicas e educativas.
Social: propiciar ao autista experiências em grupo, por meio de
momentos de aprendizagem em sala de aula comum e no convívio diário
com os demais alunos, trabalhando a interação e a comunicação.
Pedagógico: estabelecer atividades que observem a sua história
pessoal, contemplando sua individualidade para o desenvolvimento de
habilidades como aprendiz no espaço escolar.
Através de pesquisas em diferentes livros e a presença em congressos
sobre o tema em questão, segue algumas estratégias importantes para o
avanço da aprendizagem dos alunos autistas, servindo como auxílio para a
construção de um programa educacional.
Oferecer uma boa convivência social
Possibilitar uma convivência social saudável deverá ser sempre um dos
principais objetivos do professor. Isto significa que, mesmo que sejam
necessárias atividades isoladas na sala de recursos, o aluno com autismo
jamais poderá estar privado da interação com os outros e de aprender em
grupo. Sempre que possível, o tempo com os demais deverá ser acrescido e
nunca diminuído, porque a sua autonomia e a interação social são importantes
36
ganhos que ajudam o desenvolvimento pessoal, interpessoal e cognitivo.
Ademais, ele poderá descobrir as regras sociais, a cordialidade, a amizade, o
companheirismo e tantas outras coisas que aprendemos apenas na
convivência.
Proporcionar um bom espaço de trabalho escolar.
O estudante autista, normalmente, não consegue render nas aulas se
tiverem longe do professor e/ou sofrendo com frequentes interrupções. O ideal
é colocar esse aluno sentado próximo ao professor em um ambiente com
subsídios adequados, evitando que necessite buscar lápis, papel, borracha ou
outros objetos, dificultando a sua concentração e o aproveitamento do máximo
de tempo para realizarem suas tarefas.
Estabelecer uma rotina diária
Tentar manter uma rotina diária, pois um ambiente previsível e
organizado ajuda o autista a manter seu controle emocional. As regras e o
processo de ensino-aprendizagem da escola e do professor devem ser
claramente definidos logo no início das aulas, evitando grandes mudanças. O
professor poderá trabalhar com exercícios que lidem com as mudanças.
Exemplo: pedir para completar frases como: “Eu ia à praia, mas...”; “Eu ia
viajar, mas...”; Eu ia brincar, mas...”.
Acompanhar o conteúdo da classe.
Os alunos autistas, muitas vezes, não conseguem acompanhar os
conteúdos da sala de aula. Exemplo: Um texto pode estar além de sua
capacidade de leitura, sendo necessário modifica-lo, apresentando um texto
menor, mais simples e/ou até mesmo ler para este aluno, permitindo assim,
que a criança participe com êxito dos conteúdos da classe.
37
Ajudar a ter estratégias de aprendizagem.
Os esforços não adiantarão, se não ajudarem a criança autista a ter
determinadas habilidades para conseguir se organizar, manejar o tempo e ter
hábitos efetivos de estudos. Às vezes, os pais e professores são tão
acostumados a “administrar” a vida dessas crianças, que se esquecem da
necessidade desses de assumirem seus próprios comandos em determinados
momentos.
Modificar os comportamentos problemáticos.
As crianças autistas podem apresentar diferentes comportamentos que
interferem no funcionamento em sala de aula. Logo, se faz preciso intervir
durante esses momentos para não se construir um ambiente com poucas
aceitações entre os colegas de classe. Exemplo: no momento de muita
agitação, o professor de apoio pode levar a criança para outra atividade na sala
de recursos. Jamais usando esta atitude para excluir a criança, mas para
ocupá-la com outras atividades e assim, não “atrapalhar” a classe;
Auxiliar no manejo do tempo.
Uma boa maneira de ajudar a criança autista com o manejo do tempo é
auxiliando-a na utilização de um calendário. Este pode ser uma ótima
ferramenta para registrar os diferentes eventos escolares, atividades e tarefas.
O objetivo principal é criar o hábito deste de olhar sempre o calendário, a
princípio com ajuda para a organização, mas posteriormente, as próprias
crianças poderão estar registrando suas tarefas. As crianças autistas também
costumam prezar muito a rotina e o calendário evitaria grandes problemas com
transições, já que rotinas consistentes tornam até mais fáceis os momentos de
mudanças.
38
Estruturar tarefas.
Quando solicitado a realizar um exercício que considere complicado,
logo declaram: “Eu não posso/quero fazer isso”. Então, sendo papel do
professor de apoio ou do psicopedagogo ajudá-lo a dividir as tarefas em
etapas, fazendo com que pareçam ser muito mais fácil. A flexibilidade é sempre
a chave do sucesso para estes alunos.
Permitir horários flexíveis
O aluno autista poderá realizar os testes enquanto os outros vão à
biblioteca ou fazem outra atividade. O teste pode ser realizado em duas ou
mais sessões.
Auxiliar nas descobertas dos estilos preferidos de aprendizagem.
Toda criança tem seu estilo preferido de aprendizagem, porém, os
alunos autistas não sabem exatamente o seu estilo, só sentem que não
respondem aos métodos tradicionais de ensino. Tendem a aprender melhor
com informações apresentadas na forma de materiais visuais, como mapas,
fotografias e gráficos. Existem também as crianças que aprendem melhor com
a prática, tocando objetos, por exemplo. Cabe ao professor, tentar descobrir o
melhor método de ensino para esse aluno. Para estes é muito indicado o
método prático, que busque trabalhar com materiais concretos e fazendo uso
das experiências, passeios e ilustrações. Sempre puxando as informações para
um contexto prático relacionado à realidade da criança. Por que não explicar
frações por meio da receita de um bolo?
Fazer uso de atividades sensoriais
Em sala de aula ou na sala de recursos, as atividades e os objetos que
exploram o sensorial são naturalmente estimulantes, ainda que não sejam
39
obviamente pedagógicos, podem adquirir essa função quando engajam o
aprendiz e exercem efeito sobre seu comportamento. Por exemplo: rasgar
jornal e brincar com água para aliviar tensões e desenvolver coordenação
motora fina; usar tinta para rabiscar papeis indiscriminadamente com os dedos
em forma de pinça, a fim de desenvolver o “pega no lápis”; subir escadas e
rolar pneus para atividades motoras amplas. As experiências sensoriais
também podem ser uma forma de redução de ansiedade. Entretanto, muitas
podem causar o efeito oposto, por isso o professor deve observar sempre a
reação do seu aluno.
Utilizar as suas aptidões
Diversos autistas, mesmo aqueles que possuem algum retardo mental,
mostrem-se capazes de desempenhos excepcionais em campos específicos.
Essas competências extraordinárias ou também conhecidas como “ilhas de
aptidões”, podem se manifestar, por exemplo, na música, no desenho, na
pintura, em cálculos ou até em movimentos motores de difícil execução. Como
em toda educação, em qualquer circunstância, o foco deverá ser o indivíduo.
Especificamente, no caso do autismo, as aptidões que ele possui servem como
propulsores para a aquisição de novas habilidades. Exercícios que explorem as
suas peculiaridades dão possibilidades incontestáveis de novas aprendizagens.
Tirar vantagem da tecnologia.
Atualmente existe uma gama de apoios tecnológicos que são
interessantes e podem tornar-se disponíveis aos estudantes autistas. Entre
esses apoios os principais são: calculadoras, computadores e iPads.
Os computadores são ótimos por possuírem uma variedade de
programas úteis, como por exemplo, o uso de softwares educativos
especializados e os iPads com seus aplicativos, alguns já construídos
exatamente para crianças autistas.
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A linguagem digital é a forma como as crianças e jovens
veem e estão no mundo atual. Afinal, o computador, os
jogos eletrônicos, a televisão, o caixa eletrônico, o bilhete
do metro e praticamente tudo ao nosso redor já está
digitalizado. (Weiss, 2011, p. 132).
Evitar armadilhas nos deveres de casa.
Primeiramente, os pais jamais devem ficar horas do dia auxiliando seus
filhos a realizarem os deveres de casa. Se a criança estiver levando muito
tempo para isso, a solução não é simplesmente ajudá-la, mas discutir outras
alternativas. Os professores devem modificar as tarefas, simplificando-as ou
diminuindo-as, assim reduzindo a carga total de trabalho. Pois enquanto tiver
inúmeros deveres de casa, os pais costumam procurar ajudá-los, mesmo que
por horas, já que amam os seus filhos e não querem que fracassem ou se
sintam fracassados.
É fundamental lembrarmos que a finalidade do dever de casa é apenas
para praticar ou reforçar aquilo que já foi aprendido em aula, jamais para
cobrirem conteúdos que os alunos perderam ou não compreenderam na
escola.
Buscar companheiros de estudo.
As crianças com autismo podem ganhar muito com o auxílio de um
amigo de estudo, este pode ajuda-las a registrar suas tarefas em uma agenda
ou calendário, copiar a matéria do quadro-negro, compartilhar informações
importantes da aula e ajudar nas atividades. O companheiro de estudo deve
ser um aluno bem organizado, com habilidades sociais e que tenha facilidade
para compreender as matérias. Porém, o professor deve ter cuidado para que a
criança autista não fique o tempo todo à margem do companheiro, sendo
preciso estabelecer um limite do auxílio oferecido.
41
Fazer uso, se necessário, de algumas intervenções comportamentais.
Apesar de ainda não existir um consenso quanto às abordagens de
tratamentos mais adequadas para o autismo, em razão da multiplicidade de
fatores e sintomas que interferem no desenvolvimento natural do autista,
algumas intervenções comportamentais têm se mostrado bem efetivas, como
por exemplo: o método TEACCH (Tratamento e educação para autistas e
crianças com distúrbios correlatos da comunicação), o ABA (Análise aplicada
ao comportamento) e o PECS (Sistema de comunicação mediante a troca de
figuras). As tarefas propostas por essas técnicas podem ser realizadas tanto na
escola, como na família.
O TEACCH utiliza avaliações, levando em conta os pontos fortes e as
maiores dificuldades do individuo, em um programa individualizado. Ele tem
como objetivo desenvolver a independência do autista de modo que ele, ainda
que precise do professor para o seu aprendizado, possa ser em grande parte
do seu tempo, independente para fazer coisas relacionadas à vida diária. O
TEACCH se baseia na organização do ambiente físico por meio de rotinas
organizadas em quadros, painéis ou agenda. O objetivo é adaptar o ambiente
para o autista mais facilmente compreendê-lo e entender o que se espera dele.
O método ABA é uma técnica que vem do campo cientifico do
behaviorismo, tendo por objetivo observar, analisar e explicar a associação
entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem, visando muito
mais uma mudança de comportamentos específicos do que de
comportamentos globais. O grande interesse por esse método, está no número
crescentes de instituições que utilizam essas técnicas de modificação
comportamentais. A repetição é fundamental no ABA, bem como o registro
exaustivo de todas as tentativas e dos resultados alcançados. A resposta
adequada do aprendente tem como consequência a ocorrência de algo
agradável para ele e, por meio de reforço e repetição, inibe-se o
comportamento inadequado, recompensando sempre as atitudes desejadas.
42
O PECS é muito utilizado no caso de autismo com baixa eficiência de
comunicação, pois procura estimular o aprendiz a comunicar-se pela
percepção de que ele pode conseguir mais rapidamente as coisas que deseja,
através do uso de figuras. Este sistema, por usar apenas cartões, não
demanda materiais muito caros e pode ser aplicado em qualquer lugar na
organização da linguagem não verbal com crianças ou adolescentes que não
falam.
Monitorar o progresso com frequência.
A maioria das escolas monitora o progresso de seus alunos realizando
avaliações por bimestres, porém, os progressos dos estudantes autistas
precisam ser verificados com mais frequência, sendo ideal um
acompanhamento contínuo para que seja sempre oferecido o auxílio e os
materiais adequados para o desenvolvimento destes alunos no momento certo
e necessário. Relatórios semanais do progresso ajudam bastante para avaliar
tanto as conquistas das habilidades básicas, assim como seu comportamento e
avanço em outras habilidades.
Comunicar-se sempre com os pais.
É fundamental os pais serem informados de tudo que está acontecendo
com seu filho, reforçando as vitórias com recompensas em casa, também
ajudando os professores falando dos seus principais interesses (exemplo:
adora o iPad, seu melhor amigo na escola, talento para música), além de
serem os pais quem tem uma chance melhor de colocarem habilidades básicas
em um contexto prático. E claro, são os pais a principal fonte de carinho,
aceitação e apoio que tanto necessitam. O comportamento dos pais influencia
bastante na motivação e no progresso educacional dos seus filhos.
43
Contudo, o principal papel do professor e da escola é serem flexíveis
frente ao seu programa de ensino, que muitas vezes, não possuem um grau de
assimilação e de integração das crianças autistas no âmbito escolar. O
importante é a compreensão que muito do fracasso escolar desses alunos é
apenas espelho do insucesso social e pedagógico que não permite responder
às necessidades que foram acima abordadas.
Os autistas com o apoio de sua família, dos amigos, dos professores, do
psicopedagogo e da escola, conseguem melhorar em muitas atividades
pedagógicas e sociais, apesar de ainda terem que conviver com esse
transtorno e apresentar determinadas dificuldades. O autismo acompanha o
indivíduo ao longo do tempo, apesar de muitos pensarem que o transtorno
desapareça com o passar dos anos. Existindo esse engano, justamente, pelo
fato de algumas pessoas autistas quando adultas, terem melhoras
significativas, quando conseguem se adaptarem às suas limitações,
desenvolvendo suas potencialidades. Porém, na verdade aprendem a lidar com
os “sintomas” do transtorno, vão se conhecendo melhor com a ajuda de toda a
equipe multidisciplinar e da família.
44
CONCLUSÃO
Este trabalho possibilitou-nos a compreender melhor as diferentes
questões que norteiam o autismo. Discutir sobre esse tema é buscar subsídios
para entender e auxiliar o aluno autista que se encontra em descompasso com
a escola.
Muitos educadores acabam por responsabilizar os próprios alunos
autistas pelo seu insucesso escolar. No entanto, não percebendo que são as
escolas que necessitam adaptar-se a esses alunos para que estes não
fracassem, pois podem estar compactuando para essa realidade angustiante.
O professor precisa estar voltado para as especificidades de seus alunos,
sempre atenta às suas limitações e potencialidades, sendo este o primeiro
passo para uma educação inclusiva e de qualidade para todos.
Porém, a maioria das escolas tem negligenciado seus alunos autistas
com o seu sistema de ensino adotado, não tendo um tipo de educação
apropriada para os seus diferentes alunos, traduzindo tudo isso num marcante
insucesso escolar ou até mesmo em abandono escolar. Sendo este um
comportamento de reação deste, que acaba por ter aversão à escola, por fazê-
lo sentir sentimentos tão desagradáveis a ponto dos pais tirarem da escola.
O professor pode ser um fator decisivo na trajetória escolar desses
alunos, pois se este desempenhar seu papel de trabalhar com este aluno
através do respeito, acompanhando o seu ritmo, não o colocando em situações
constrangedoras, sempre dialogando, procurando apoiá-lo de acordo com suas
limitações, buscando identificar também suas potencialidades e áreas de
interesses. O aluno autista terá a sensação de capacidade para a superação
de seus obstáculos, se sentirá confiante para lutar contra suas barreiras, não
deixando as suas dificuldades impedirem a sua aprendizagem.
45
Contudo, com este trabalho espero contribuir com uma pesquisa que
sirva como auxílio à equipe escolar, especialmente aos professores que não
sabem como lidar com seus alunos autistas e precisam de auxílio para não
serem responsáveis por consequências desastrosas, pois muitos alunos
podem seguir sem maiores conflitos, com a ajuda necessária e ideal. Sendo o
autismo um tema de suma importância, pois simples falhas na sua educação
escolar podem desaguar numa grande injustiça escolar.
Para finalizar, importante alertar que não se deve esgotar esse tema por
aqui, tendo em vista o grande número de crianças autistas que ainda se
encontram em situação difícil com respeito à aprendizagem, que na falta de
recursos financeiros ou por causa de pais desleixados ou ainda por professores
pouco esforçados continuam a margem do insucesso escolar. Sinalizo à
necessidade de continuidade nas investigações sobre o processo ensino-
aprendizagem para que fatores como esses que ainda impedem a
aprendizagem de muitas crianças autistas sejam mais bem solucionados.
46
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49
ÍNDICE
EPÍGRAFE ..........................................................................................................3
DEDICATÓRIA....................................................................................................4
RESUMO ............................................................................................................5
METODOLOGIA .................................................................................................6
SUMÁRIO ...........................................................................................................7
INTRODUÇÃO ....................................................................................................8
CAPÍTULO I CONHECENDO O AUTISMO ......................................................11
1.1 - Marco Histórico............................................................................................... 11
1.2 - Aspectos Legais............................................................................................... 13
1.3 - Conceito .......................................................................................................... 16
1.4 - Possíveis Causas .............................................................................................. 19
CAPÍTULO II IDENTIFICANDO O AUTISMO ...................................................21
2.1 - Descobrindo o Autismo ................................................................................... 21
2.2 - Diagnóstico ..................................................................................................... 22
2.3 - Resultados da Avaliação .................................................................................. 25
2.4 - Dúvidas Quanto ao Resultado .......................................................................... 26
CAPÍTULO III A ESCOLA E O PSICOPEDAGOGO FRENTE AO AUTISMO...27
3.1 - O Autista na Escola ......................................................................................... 27
3.2 - O Papel da Escola e do Professor Frente ao Aautismo...................................... 28
3.3 - O papel do Psicopedagogo ............................................................................... 29
3.4 - Intervenções Psicopedagógicas ........................................................................ 31
CONCLUSÃO ...................................................................................................44
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................46
ÍNDICE ..............................................................................................................49
FOLHA DE AVALIAÇÃO ...................................................................................50
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO