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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DES-CONSTRUIR E RE-CONSTRUIR: O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS VISUAIS DANIELLE FERREIRA MALUF COHEN PROF. ORIENTADOR: FERNANDO GOUVÊA RIO DE JANEIRO, 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

DES-CONSTRUIR E RE-CONSTRUIR: O

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES

ESPECIAIS VISUAIS

DANIELLE FERREIRA MALUF COHEN

PROF. ORIENTADOR: FERNANDO GOUVÊA

RIO DE JANEIRO,

2009

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Instituto A Vez do

Mestre como requisito parcial para a

obtenção do título de licenciado em

Pedagogia.

Orientador: Prof. Fernando Gouvêa

DES-CONSTRUIR E RE-CONSTRUIR: O

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES

ESPECIAIS VISUAIS

DANIELLE FERREIRA MALUF COHEN

RIO DE JANEIRO,

2009

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus amigos Marlem, Mariane, Patrícia, Roland, Karine e

Rejane, à Equipe IAVM e a todos aqueles que de alguma forma contribuíram

para o meu sucesso nesta importante etapa da minha vida.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia ao meu marido Ricardo que sempre me apoiou com

muito amor e à minha família que sempre esteve ao meu lado com total amor

e dedicação.

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EPÍGRAFE

Às vezes ficamos enlouquecidos porque esquecemos que somos diferentes.

Porque o amor não é uma competição para que cada um supere a força do

outro, mas uma cooperação que necessita dessas diferenças.

Richard Bach

(Mensagem para sempre)

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RESUMO

Este trabalho visa analisar o funcionamento do processo de alfabetização para alunos com necessidades especiais visuais tendo como objetivo especifico detectar as dificuldades para alunos e educadores principalmente no que se refere às crianças e, ainda, sua capacidade de superação. A metodologia utilizada propõe uma pesquisa a partir de estudos, publicaçoes e análise do contexto em que se insere a Educação Inclusiva dentro e fora da escola enfatizando a importância para a inclusão escolar e a aprendizagem como fator para a formação do indivíduo como ser humano e cidadão dentro da sociedade. Palavras-chave: Alfabetização. Necessidades especiais visuais. Educação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A educação inclusiva: histórica e perspectivas 10

1.1. A escola e a alfabetização para alunos com necessidades especiais

visuais 15

CAPÍTULO II – A escola e a alfabetização de crianças com necessidades

especiais visuais 20

2.1. Desconstrução e Re-construção: os caminhos da aprendizagem 23

CAPÍTULO III – Os caminhos da escola: capacitação dos alunos com

necessidades especiais visuais 28

CONCLUSÃO 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 39

WEBGRAFIA 40

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INTRODUÇÃO

Este projeto visa fazer uma análise resumida (dada à complexidade do

assunto), de questões da inclusão de pessoas com necessidades especiais

direcionando a pesquisa para a cegueira, principalmente a alfabetização das

crianças cegas. Partindo do pressuposto que como toda construção é um

trabalho de renovação, a cada processo de criação o homem se renova. A

partir do momento que pessoas com necessidades especiais como a cegueira

tomam conhecimento e “experimentam” um novo processo, ela não só participa

da desconstrução de um mundo para a construção de sua individualidade. A

integração, a interação, não se dá apenas pelas relações visuais, ao contrário,

ela se dá através de uma aproximação irresistível que se dá, principalmente

com a educação.

Um projeto para a alfabetização de cegos, especificamente de crianças

cegas, tem de estabelecer prioridades do tipo: a acessibilidade aos locais como

museus, cinema, teatro e, obviamente, à escola. O processo de alfabetização

em si não é mágico, ou seja, não vai dar ao aluno seu verdadeiro lugar dentro

da sociedade, mas dará a ele a possibilidade de interação e o direito maior que

é o de adquirir conhecimento. Liberdade e Conhecimento se combinam.

Nas últimas décadas, o Brasil tem sofrido grandes críticas com relação à

vida social que apresenta relação direta com a má distribuição de renda e os

direitos à cidadania. Diante dessa problemática procuramos identificar as

questões da exclusão social e educacional. As pessoas com necessidades

especiais, especificamente as crianças, precisam de uma escola que atendam

suas necessidades e professores preparados para o embate com a

discriminação e as dificuldades de capacitação com uma política voltada para

isso. A escola faz parte de uma totalidade e tende a incorporar a forma como

se estruturam as relações dentro da sociedade. A inclusão desses alunos não

se dá apenas com planejamento, mas com autonomia e referenciais.

Voltada para a construção de sua autonomia pedagógica, a escola, na

construção desse espaço, trabalhando com metas nas questões da inclusão e

tratando dos problemas da exclusão, deverá envolver diretamente, professores,

alunos, família e comunidade. É o momento de construir a escola num espaço

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democrático e o desafio é da própria escola. Constitui-se, portanto, na

construção desse espaço a formação do cidadão e do indivíduo; a

conscientização da comunidade e na motivação de professores para alfabetizar

e dar o direito à conquista de novos espaços àqueles com problemas de visão.

Abordaremos o avanço das tecnologias para possibilitar às pessoas

cegas o acesso à leitura e ao ensino, como essas tecnologias são aplicadas e

de que necessidades ainda enfrentam as poucas escolas que trabalham com

essa tecnologia. Ainda discutiremos a exclusão de pessoas com necessidades

especiais do convívio com alunos nas escolas convencionais e, principalmente,

no processo de alfabetização como formador de indivíduos além da

capacitação profissional no futuro. Ao buscar as respostas a todas essas

questões, entendemos que a construção e a desconstrução estão inseridas

num processo maior que se chama globalização.

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CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: HISTÓRIA E PERSPECTIVA

Em termos remotos, a preocupação dos homens era descrever o

movimento interno de cada coisa. A sociedade movia-se na busca daquilo que

considerava perfeição: a arte, a ciência, a técnica da retórica. Portanto, a

dedução, o raciocínio perfeito, a argumentação sem erros e a forma de

expressão sobre qualquer assunto eram fundamentais. Segundo Manacorda,

em seu livro História da educação: da antigüidade aos nossos dias (1997,

p.55), embora este momento histórico não traga na literatura muitas referências

quanto aos portadores de deficiência, é sabido que em Esparta crianças

portadoras de deficiências físicas ou mentais eram consideradas sub-humanas,

o que legitimava sua eliminação ou abandono.

No Brasil, entre 1854 a 1956 houve iniciativas oficiais e isoladas

buscando oferecer aos portadores de necessidades especiais condições de

aprendizagem. Inicia-se esta fase com Dom Pedro II, Imperador do Brasil, que

no dia 12 de setembro de 1854, através do Decreto n° 1.428, fundou na cidade

do Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. A fundação do

Instituto deve-se, em sua maior parte a José Álvares de Azevedo, um jovem

cego que estudou no Instituto dos Jovens Cegos de Paris. Seguiram-se a este,

a criação de outros estabelecimentos especializados no atendimento aos

alunos com necessidades especiais, dentre eles: Imperial Instituto dos Surdos

Mudos; Instituto Benjamim Constant – IBC – para deficientes visuais; Instituto de

Cegos Padre Chico; Fundação para o Livro do Cego no Brasil; Instituto Santa

Terezinha, para deficientes auditivos; Escola Municipal de Educação Infantil e

de 1° Grau para Deficientes Auditivos Helen Keller; Instituto Educacional São

Paulo – IESP – para deficientes auditivos, em 18/10/1.954; Santa Casa de

Misericórdia de São Paulo, para deficientes físicos em 01/08/1.931; Lar –

Escola São Francisco, para deficientes físicos. A Associação de Assistência a

Criança Defeituosa – AACD foi criada já em 14/01/1950, e sucessivamente, o

Instituto Pestallozzi de Minas Gerais, para deficientes mentais; a Sociedade

Pestallozzi do Estado do Rio de Janeiro, para deficientes mentais; a Sociedade

Pestallozzi do Estado de São Paulo, para deficientes mentais; a Associação de

Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Estado do Rio de Janeiro, em

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11/12/1954 e Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do

Estado de São Paulo.

De 1954 a 1993 houve iniciativas oficiais em âmbito nacional buscando

oferecer aos portadores de necessidades especiais condições de

aprendizagem. (Fonte: Centro Universitário Anhanguera – Unidade – Leme – 2005).

Na Idade Contemporânea, o problema crucial é o próprio homem na

sociedade. Não é o método de pensar dedutivo, não é a associação entre fé e

razão, não é trabalho, não é a técnica, mas sim o homem na sociedade o

conteúdo central do questionamento deste período. Com base nesta

compreensão, as atitudes para com os portadores de deficiência se modificam

nesta nova sociedade, na medida em que vão sendo oferecidas oportunidades

educacionais e de integração social até chegar aos dias atuais, em que sua

integração se efetiva ou está em vias de se concretizar. O homem passa a ser

pensando através das relações que mantém com outros homens na sociedade.

É importante focalizar alguns aspectos referentes ao desenvolvimento

de pessoas com distúrbios de aprendizagem quanto à organização de suas

experiências na formação de sua individualidade, condição necessária para

que sua integração ocorra. A possibilidade de organizar os dados, como

qualquer outra pessoa, e estar aberto para o mundo, em seu modo próprio de

perceber e de relacionar-se depende de fatores importantes como o de uma

política voltada para a educação específica e a participação direta da

sociedade. O que não se pode desconhecer é que essas pessoas,

especialmente as que possuem problemas de visão, têm uma dialética

diferente, devido ao conteúdo – que não é visual, e à sua organização é a de

referir-se ao tátil, auditivo, olfativo. Os cegos aprendem, através da linguagem,

significações que não podem ser obtidas pela via do olhar. Esta simples

afirmação tem profundas implicações para aqueles que parecem considerar as

pessoas cegas como pessoas “normais” sem a visão. O que atribuem a elas

um conjunto artificial de dimensões tais como o desenvolvimento sensorial sem

a visão, ou o desenvolvimento afetivo sem a visão. “Somente pela

compreensão e aceitação de um desenvolvimento sensorial, um

desenvolvimento cognitivo da linguagem, e um desenvolvimento afetivo que lhe

são peculiares, é que admitimos que a pessoa cega seja uma pessoa

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“completa”. (Em Aberto, Brasília, A EDUCAÇÃO DO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA

VISUAL – as perspectivas do vidente e do não vidente Elcie F. Salzano Masin –

Ano 13 – 1993).

Para fazermos qualquer intervenção, implicações ou análise acerca de

qualquer questão, temos que entendê-la e contextualizá-la. Há na educação

um compromisso central de mudar a ação do sujeito do mundo. A princípio

parece tudo estar resumido e suas outras percepções sensivelmente

desenvolvidas, de forma a atender suas necessidades de compreensão desse

mundo. Um mundo em que as pessoas consideradas “normais” conseguem

enxergar com os olhos e com todos os sentidos, enquanto que as pessoas com

necessidades especiais visuais são conduzidas e conhecer através de uma

sensibilidade da qual há uma necessidade de capacitação para desenvolver. O

homem é um ser com endereço histórico, social, de seu tempo, único, portanto

quem dita ou sustenta as normas não deixa de estabelecer parâmetros

excludentes. Com um vasto campo de possibilidades, de meios e canais para a

aprendizagem. As Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional

estabeleceram uma dinâmica para adequar a todos nesse processo de

aprendizagem científica ou de mundo, de individualidade e ética. No entanto, é

difícil mudar os paradigmas, pois o que há é muito discurso e pouca prática.

Deve existir uma vontade político-social para compreender mundo de

pessoas com problemas de visão e conduzi-las a um entendimento do mundo

que lhes cerca a partir da aprendizagem, do ensino, da relação com o outro,

pois “A visão é o mais importante canal de relacionamento das pessoas com o

mundo exterior. A cegueira, a mais limitada das incapacidades físicas, é

sempre tratada com medos, superstições e ignorância”. (Jucimar Luiza Jucá

Sidney – Professora do Instituto de Cegos Dr. Hélio Góes Ferreira, 2002).

É importante ressaltar que grande parte dos nossos conhecimentos é

adquirida através da visão, e que qualquer deficiência no órgão responsável

pela visão pode causar prejuízos no desenvolvimento infantil, na vida escolar,

profissional e social de uma pessoa. Quando a deficiência visual ocorre no

nascimento ou nos primeiros anos de vida é imprescindível que a família

procure uma equipe de profissionais que, através de um programa de

estimulação precoce proporcione condições para que o seu desenvolvimento

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global evolua o mais próximo possível dos padrões de desenvolvimento pois

“no caso de não ter acesso à orientação e tratamento necessários no período

de zero a três anos, a criança poderá ter o desenvolvimento e o crescimento

seriamente prejudicados em seus aspectos intelectual, neuromotor, psicológico

e social, deixando seqüelas irreversíveis que afetarão a fase escolar e a vida

futura. Assim, é importante focalizar alguns aspectos referentes ao

desenvolvimento do deficiente visual”. (Revista Benjamim Constant, 2005)

Na fase escolar, a criança deficiente visual, necessita de serviços de

educação especial complementares que lhe ofereçam condições para

ajustamento e progresso em situações de aprendizagem escolar. É necessário

o trabalho de um profissional especializado para desenvolver habilidades em

áreas específicas, tais como: orientação e mobilidade; atividades da vida diária;

aprendizagem do sistema Braille ou utilização de lentes e auxílios ópticos

especiais, no de baixa visão. Um trabalho pedagógico direcionado para o

deficiente visual é muito importante para que a criança alcance conquistas

significativas no seu desenvolvimento e para que a sua inclusão realmente

ocorra. O processo de inclusão consiste fundamentalmente em reestruturar o

sistema educacional para que todos sejam atendidos.

Devemos destacar o papel do professor nos seguintes aspectos segundo

o PROGRAMA NACIONAL DE APOIO À EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES

VISUAIS: FORMAÇÃO DE PROFESSOR:

1º - O compromisso com a formação do cidadão com deficiência visual, exige

uma prática educacional voltada à compreensão da realidade social, dos

direitos a das responsabilidades em relação à sua vida pessoal e comunitária.

As questões da ética, da pluralidade do conhecimento, da cultura e da

socialização, devem ser amplamente observadas e trabalhadas pelo educador

dentro de um ambiente que inspire a mútua confiança, o intercâmbio de

informações e experiências, a liberdade e independência para a transferência

do conhecimento;

2º - Este Programa, que é voltado aos educadores tanto os que trabalham nas

escolas de ensino regular como nas escolas especializados para alunos com

deficiência visual, apresenta algumas concepções abstraídas das tendências

pedagógicas contemporâneas, apontando os conceitos sobre deficiência visual

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e suas implicações, a caracterização do alunado com deficiência visual,

modalidades de atendimento educacional, processo e programas de

reabilitação e outras orientações didáticas para a prática do ensino e a

interelação pessoal e coletiva que certamente ajudarão o professor na

condução das atividades do dia-a-dia.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

(Profª. Dr.ª Tomázia Dirce Peres Lora – FEUSP)

As ferramentas para a alfabetização de pessoas com problemas visuais

têm como alicerce o sistema Braille. Sabemos da importância do Sistema

Braille para a emancipação do portador de deficiência visual. Graças a ele, os

canais de informação sobre o mundo de que este último dispunha puderam

multiplicar-se, quantitativa e qualitativamente, numa escola sem precedentes. É

válido o argumento de que não era possível fazer do outro modo. Isto, no

entanto, mudou. E mudou muito se levarmos em consideração o arsenal

tecnológico de que dispomos hoje em dia, exemplificado pelos sintetizadores

de voz, máquinas de leitura ótica, Braille (o sistema gráfico que as pessoas

cegas utilizam para ler e escrever. Foi criado em 1825 por Louis Braille, um

cego francês, a partir de um sistema utilizado por militares para se

comunicarem no escuro, durante seus exercícios de simulação de combate.

São usados caracteres em relevo, utilizando-se seis pontos que, combinados

entre si, formam códigos para cara letra do alfabeto, números, sinais

matemáticos etc. Esses pais pontos estão dispostos em duas colunas de três

pontos lado a lado), além do CCTV (lupas eletrônicas que auxiliam a leitura

para pessoas com problemas de visão) que, no nível institucional, resolveu o

problema de acesso independente à leitura pelo portador de visão subnormal.

A priorização das múltiplas maneiras que os deficientes visuais

apresentam de perceber e relacionar-se com o mundo, longe da super

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proteção e aproximando-se de uma maior valorização do ser humano, nessa

longa caminhada, os desafios e obstáculos precisam ser vendidos com objetivo

de investigar os saberes construídos em sua trajetória de vida, suas

significações imaginárias em relação ao ensinar e o aprender, estão

relacionadas com a construção de seus saberes e qualidade de vida. Assim

quando um indivíduo dispõe de autonomia interage, modifica e aumenta seus

interesses, amplia suas perspectivas para capacitar esse indivíduo está a

escola e os educadores que, antes dele, precisam estar capacitados

(BARRAGA, Natalie, C. Avaliação educacional de crianças deficientes da visão.

In: ENCONTRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, Anais. São Paulo: USP,

Faculdade de Educação, 1983).

1.1. A escola e a alfabetização para alunos com necessidades especiais

visuais

A inclusão como prática educativa é recente em nossa sociedade, por isto

nem todas as escolas dispõem das adaptações necessárias. Porém, devem

primar para que os menos um dos professores que atuem com deficientes

visuais, por exemplo, tenha formação nesta área. “O acesso à informação

organizada e acessível através de meios tecnologicamente adequados, é o

penhor da autonomia do portador de deficiência visual e, como tal, condição

“sine qua non” de sua cidadania”. (revista Benjamin Constant número 02 –

janeiro de 1996), isto é, de sua capacidade de fazer valer os seus direitos

constitucionais. Para garantir este acesso à informação organizada e

tecnologicamente adequada às necessidades desse público, a variedade do

repertório de alternativas será a sua maior virtude. Neste sentido, o Livro

Braille, os computadores com a utilização de programas adequados à produção

de impressos em Braille, as máquinas de leitura ótica, são ferramentas

imprescindíveis das quais dispõem os profissionais da educação e, também,

formadores de opinião, de leitores e inseridos no processo de inclusão escolar

e social.

Muitas dessas ações são essenciais e dependem da etapa de

aprendizado que esse educando se encontra, podendo aliar escrita/leitura do

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código Braille às funções do computador ou apenas inserir o comando de voz a

quem já domine a língua escrita ou, ainda, substituir o visual pelo áudio no

caso de adultos já familiarizados com o mundo digital. Uma outra oportunidade

seria a utilização do computador para alfabetização/realibitação no caso de

experiências sem sucesso com o código Braille.

A busca de novas perspectivas para formação de professores tem

instigado os pesquisadores e desenvolverem projetos centrados nas histórias

de vida dos professores utilizando-se da memória, de relatos orais e escritos

para reconstruir os processos formativos e, nestes, buscar como foram

construídos os saberes e fazeres da profissão docente.

“O professor é uma pessoa, e uma parte importante da pessoa é o

professor” (Nilson Guedes de Freitas, A Pedagogia do Amor, 2006, p. 58), o

que justifica a inseparabilidade entre o “eu” profissional e o “eu” pessoal, pois

“ser professor” nos obriga a opções constantes que cruzam nossa maneira de

ser com a maneira de ensinar, e que desvendam na maneira de ensinar à

nossa maneira de ser. Em se tratando de deficientes visuais e/ou qualquer

portador de deficiência e distúrbios de aprendizagem, o professor é um ser

humano que se dispõe a uma preparação especial para lidar com pessoas

especiais e suas individualidades e que em cuja visão de mundo se inclui a

cegueira.

Tornar a escola inclusiva é construir uma sociedade inclusiva. No caso

da escola, deve ser entendido que todas as crianças com deficiência e

necessidades especiais têm o direito ao acesso, que deve dispor dos serviços

educacionais organizados institucionalmente para apoiar, complementar,

suplementar e até substituir os serviços educacionais mais comuns garantindo

um atendimento às diferenças dentro da diversidade humana: igualdade de

oportunidades para todos.

Segundo Platão “é a essência de toda verdadeira educação que dá ao

homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a

mandar e obedecer tendo a justiça como fundamento”. Preparar uma criança

para a vida adulta e que está inserida na escola, no processo educativo que se

prolonga por toda a vida, vai muito além dos anos escolares, para seu pleno

desenvolvimento. Há diversos caminhos para se fazer uma educação inclusiva

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que deriva de uma escola sem desigualdades e que tem a equidade como

meta. Alfabetizar é uma ato de humanidade; é o início de um comprometimento

com o conhecimento e o desenvolvimento individual e coletivo em que todos

devem estar inseridos. Alfabetizar é socializar e a escola deve prover de todas

as ferramentas para atender a todos. O professor possui uma espécie de

reservatório onde estão vários saberes, os quais ele mobiliza de acordo com as

exigências especificas em situações concretas de ensino. Neste reservatório

estão os seguintes saberes:

- “saber disciplinar”: que se refere aos saberes produzidos em várias

disciplinas;

- “saber curricular”: com ele a escola seleciona e organiza saberes produzidos

pelas ciências e os transforma em programas escolares;

- “saber das ciências da educação”: são determinados conhecimentos

profissionais, é um saber profissional específico que guia a ação pedagógica;

- “saber experiencial”: é pessoal, feito de pressupostos e argumentos próprios;

- “saber da ação pedagógica”: é o saber experiencial, quando tornado público e

testado por pesquisas. (Professor Pedro Demo – Revista CEAP (Centro de Estudos e

Assessoria Pedagógica) de Educação – Ano 9 – 2001/Fev-2002).

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A interação em sala de aula a partir das necessidades dos alunos desde

a aplicação de conteúdos até suas necessidades especiais tratadas em

conformidade no processo de educação e cidadania.

Na aprendizagem da docência, podemos desconstruir e reconstruir

conhecimentos através de leituras, das práticas, de cursos e, a partir daí,

construir um novo ser professor. Mas é preciso estar aberto para que este

movimento aconteça para não se ter um movimento de repetição, que não se

adapte à docência, porque se trabalha com a heterogeneidade, onde, cada

aluno é um aluno com suas vivencias, dificuldades e anseios. A reflexão crítica

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não implica, necessariamente, em uma maior profundidade, ou a uma maior

exaustão do professor, mas um estar atento, interessado e não, apenas, ser

um transmissor de conteúdos. O professor preparado para a alfabetização de

deficientes visuais, além de recursos adaptados para a aprendizagem,

disponibiliza para o cego O DOSVOX. O DOSVOX é um sistema operacional

que permite a utilização do computador criado com o objetivo de facilitar o seu

processo da aprendizagem. Inicia-se mais um século de conquistas para as

pessoas com necessidades especiais no âmbito da visão. A cegueira não é

contagiosa; a cegueira não restringe o relacionamento com as pessoas nem

com o meio ambiente, desde que as pessoas com as quais o cego convive não

lhe omitam ou encubram fatos e acontecimento; a pessoa cega não deve ser

tratada com um ser diferente porque ela não enxerga. Esses são princípios

básicos, fundamentais na preparação do educador o que vai refletir no âmbito

social, em todo o processo de ensino/aprendizagem decorrente do processo de

alfabetização e recorrente de todo um processo politico voltado para o

interesse do indivíduo enquanto aluno e como cidadão.

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CAPÍTULO II – A ESCOLA E A ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS COM

NECESSIDADES ESPECIAIS VISUAIS

“A Educação é um direito de todos e um dever do Estado”.

A alfabetização está inserida diretamente no processo de formação do

indivíduo e no exercício de sua cidadania. Partindo deste principio, todos

devem ser alfabetizados. Como se constrói dentro de cada ser humano o

conhecimento é outro processo cuja problemática possui o nome de

diversidade. Por estas razões que a alfabetização está ligada ao processo de

reconstrução: é o ingresso e reingresso de pessoas das diferentes idades,

culturas e condições social, mas principalmente, é um processo de inclusão.

Os questionamentos e as críticas que envolvem a educação hoje,

sobretudo referente à natureza dos conteúdos curriculares, sua propriedade,

valorização cultural, respeito às diversidades, pertinência utilidade e valor

(informativo) constituem, preocupações para os profissionais de ensino. Isto

significa que a escola necessita adaptar-se à diversidade e não criar disciplina

específica para a formação educacional da pessoa com distúrbios de

aprendizagem basta que a organização escolar incorpore em seus objetivos e

conteúdos, o conhecimento e os conceitos básicos sobre a cegueira e o cego,

o “direito e a igualdade de oportunidades”, enfim, saber que o aluno com

deficiência visual igualmente aos demais é sujeito de direitos e deveres e como

tal possui a igualdade de oportunidades na construção da sua cidadania.

“Posso admitir que o deficiente seja vítima

do destino! Porém não posso admitir

Que seja vítima da indiferença!”

John Kennedy

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Como a estrutura da sociedade e a interação social exercem papel

fundamental nessa escolarização, o desejo de uma alfabetização com força

popular e igualitária necessitaria de uma investigação profunda acerca do

processo social por meio do qual a escolarização é adquirida e construída.

Paralelamente ao desenvolvimento das pesquisas no campo educacional,

ocorre um mapeamento da alfabetização pelos órgãos estatísticos. Este

mapeamento acaba exercendo uma função dupla: a de fomentar as discussões

das pesquisas educacionais, propagando as condições da alfabetização; e a de

auxiliar, por meio das informações contidas em seus dados, o planejamento e

desenvolvimento das politicas públicas em caráter nacional.

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº

9394/96, trata, especificamente, no capítulo V, da Educação Especial. Define-a

por modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede

regular de ensino, para pessoas com necessidades educacionais especiais,

perpassando assim, todos os níveis de ensino, desde a Educação Infantil ao

Ensino Superior. Esta modalidade de educação é considerada um conjunto de

recursos educacionais e de estratégias de apoio que estejam à disposição de

todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de atendimento.

Dentre as necessidades educacionais especiais está a alfabetização de

crianças portadoras de distúrbios de aprendizagem e problemas com a visão.

O período de alfabetização é aquele em que afloram os mais graves problemas

verificados no correr do desenvolvimento mental da criança cega.

“Nessa fase acionam-se esquemas interpretativos de fundamental importância,

a ocorrência de falhas na construção das estruturas cognitivas durante as

etapas evolutivas desse desenvolvimento trará ao alfabetizando graves

dificuldades e irremediáveis fracassos. Sabe-se todavia que o processo de

aprendizagem de uma criança portadora de deficiência visual requer

procedimentos e recursos especializados para que seu crescimento global se

efetue verdadeiramente, faz-se necessário que lhe sejam oferecidas

oportunidades de experiências, e inúmeras habilidades devem ser

trabalhadas”.

(Fátima Christina Moreira Santos – UNISCI / 2006)

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Desconstrução e Re-construção: os caminhos da aprendizagem 23 CAPÍTULO III – Os caminhos da escola: capacitação dos alunos

22

Isto significa que uma criança cega deve ser educada sob a orientação

de vários meios e exercícios de condicionamento. A criança cega necessita ser

percebida como um ser inteiro, dona dos seus pensamentos e construtora,

ainda que em condições peculiares, do seu próprio conhecimento. As crianças

cegas, geralmente, só tomam contato com as escrita e a leitura no período

escolar. Esse impedimento sabe-se, pode trazer prejuízos e atrasos no

processo de alfabetização.

O Projeto Inclusão sem Fronteiras (fonte:

http://www.lerparaver.com/node/6802), patrocinado pela Petrobras, vai entregar

142 máquinas de escrever em Braille, 2.104 livros didáticos, apostilas e

maniuais e 852 bengalas para 84 instituições que atendem deficientes visuais

nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Serão 18 Estados

beneficiados: Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Mato

Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de

Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina,

Tocantins e Roraima, totalizando cerca de 1.300 crianças e jovens.

Outros diversos projetos viabilizam a inclusão de crianças em escolas

especiais e/ou públicas onde todas elas, diferentemente de terem ou não

limitações de aprendizagem, recebem orientação de professores cujo

compromisso é instrumentalizar essas crianças, capacitá-las e trabalhar a

diversidade e não a deficiência.

Quando o processo de inclusão é bem conduzido, os benefícios são

amplos, pessoas que se desenvolvem sem deficiências aprendem a apreciar

as diferenças, e aqueles com deficiência se tornam mais motivados. A

Instituição mostra ser possível conviver com as diferenças humanas, aumentar

possibilidades da educação aprimorando a aprendizagem e a vida social das

pessoas com necessidades especiais.

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Desconstrução e Re-construção: os caminhos da aprendizagem 23 CAPÍTULO III – Os caminhos da escola: capacitação dos alunos

23

2.1. Des-construção e Re-construção: os caminhos da aprendizagem

Fonte/Imagens: www.jblog.com.br

Importância das atividades corporais no processo de alfabetização da

criança cega está presente na Revista do Instituto Benjamin Constant

/2005: “Este artigo pretende instigar nos docentes o interesse pela proposta da

educação pelo movimento, através de atividades lúdico-criativas, no intuito de

colaborar com o sucesso de alfabetização de crianças cegas. Para tal, aborda

o papel da família em sua educação, e analisa o sistema Braille no que tange

ao início de seu ensino em classes de alfabetização infantil. Sugere algumas

atividades corporais que podem servir como meio facilitador da aprendizagem

do sistema Braille, as quais podem ser executadas nas aulas de Educação

Física, numa abordagem interdisciplinar entre o professor alfabetizador e

outros profissionais que trabalhem com atividades físicas”. (Professora Lúcia

Maria Filgueiras).

Para qualquer criança as noções de esquema corporal e coordenação,

espaço temporal, são base para sua alfabetização. Todavia a criança que

enxerga, pode utilizar-se da visão para minimizar suas dificuldades, o que não

é possível para a criança cega. Assim, quando esta criança se depara, na sua

alfabetização, com um alfabeto e uma escrita baseada fundamentalmente na

lateralidade, estes pré-requisitos, se não foram suficientemente incorporados

ao seu processo de desenvolvimento, acarretam frequentemente maiores

dificuldades na sua alfabetização.

Segundo MEC (Ministério da Educação e Cultura/1984, p. 14) a criança

cega apresenta dificuldades na realização de movimentos coordenados, com o

corpo inteiro, e, também, nas atividades em que há emprego específico das

mãos. O próprio posicionamento das letras, no alfabeto Braille, deve ser

apresentado empregando-se a noção de direita, esquerda, em cima e embaixo,

conceitos que, se já estiverem dominados pela criança cega, no início de sua

alfabetização, facilitarão o domínio das técnicas do sistema.

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Desconstrução e Re-construção: os caminhos da aprendizagem 23 CAPÍTULO III – Os caminhos da escola: capacitação dos alunos

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Sendo um trabalho manual minucioso, a escrita em Braille é, logicamente,

mais lenta do que a escrita normal. É necessária grande habilidade

psicomotora para minimizar essa diferença de ritmo quando a criança cega

tenta acompanhar um ditado, por exemplo. As atividades físicas podem e

devem ser direcionadas para um caminho capaz de facilitar a alfabetização da

criança cega que depende muito de movimentos bem coordenados,

inicialmente de seu corpo e, posteriormente, de suas mais e dedos, para que

possa obter sucesso em sua leitura e escrita. Existe um projeto também

voltado para atender esta necessidade de inclusão de portadores de distúrbios

de aprendizagem, como o cego, que é desenvolvido pela Universidade do

Estado do Rio de Janeiro: A ARTE COMO ESPAÇO PARA PROMOÇÃO DE

UMA ESCOLA INCLUSIVA: MOMENTOS DE RESSIGNIFICAÇÃO NO

COTIDIANO DE SALAS DE AULA. Os alunos produzem suas próprias obras.

Desta forma, tanto alunos quanto os professores perceberam-se como agentes

de inclusão e que a arte possibilita momentos de reflexão dos processos de

ensino-aprendizagem de todos os alunos, propiciando a construção de

conhecimentos.

A mudança nas atitudes dos professores e dos estudantes com relação

à inclusão do aluno com necessidades educacionais especiais foi observada. O

processo de inclusão necessita de meios de intervenção para que ocorra com

sucesso.

O trabalho desenvolvido nas turmas tanto nas escolas públicas, como na

escola privada foi muito bem recebido pelas crianças, professores e

familiares. Os alunos, independente do ano cursado em que o projeto foi

aplicado, compreenderam de forma significativa a intenção do mesmo que era,

antes de tudo, possibilitar um novo olhar da comunidade escolar sobre a

pessoa com necessidades educacionais especiais, olhar este que rompe com

os sentimentos de compaixão e passa a perceber a deficiência não como

sinônimo de incompetência ou incapacidade, mas sim de mais um obstáculos a

ser ultrapassado.

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Desconstrução e Re-construção: os caminhos da aprendizagem 23 CAPÍTULO III – Os caminhos da escola: capacitação dos alunos

25

A tecnologia de computação tornou possível o rompimento de barreiras

a principio tão complicadas e foram necessários longos períodos para

superação de diversos acessos:

Com o uso de “scanners” (copiador digital), o cego pode ler escrita

convencional (datilografada) diretamente.

Através da Internet, qualquer documento de qualquer parte do mundo pode

ser transmitido com um mínimo de esforço e custo muito baixo, e traduzido

para “qualquer língua”. Desta forma, um texto do New York Times pode ser lido

por um cego em português no momento em que o jornal sai nos Estados

Unidos, em inglês, usando a tecnologia de tradução da web (ainda incipiente

mas com rápido aperfeiçoamento).

Fonte: www.angra.rj.gov.br/asp/gpr/sig

Instrumentos eletrônicos podem ser conectados ao computador, e um

cego consegue;

Fazer arranjos orquestrais e imprimir partituras.

Um cego pode desenhar, usando o computador.

Um texto grande em Braille demorava horas para ser criado

manualmente. Hoje demora minutos com o uso de impressoras Braille. (Fonte:

Universidade Federal do Rio de Janeiro):

A grande dificuldade do aluno de nível médio cego, por exemplo, é o

acesso aos livros didáticos. É uma prática comum o professor usar

exclusivamente do meio oral para transmissão de conhecimentos para os

alunos e sua avaliação.

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A realização de trabalhos escolares, feita em Braille, e corrigida por um

professor que não sabe Braille, é evitada. O resultado disso é um aluno mal

formado, com graves erros de escrita e, por praticamente não ler, um

distanciamento cultural intenso. A tecnologia chegou para minimizar o

problema.

Sistema Braille

No ensino fundamental, a relação professor-aluno toma um caráter de

maior proximidade. O professor deve levar ao aluno o conhecimento, e muitos

livros didáticos são apenas cadernos de exercícios sofisticados, construídos

quase sempre para atuar fortemente na motivação do estudante (VYGOTSKY,

1988). Aqui, portanto, o papel do computador para os alunos deficientes visuais

deve ir muito além dos objetivos de transcrição do nível médio. Deve atuar

muito mais no nível interativo e lúdico do que no nível de informação.

Após essa breve análise, onde se verificou o comportamento da criança

cega, em relação ao processo de iniciação de sua alfabetização, podemos

concluir que ela é capaz de se alfabetizar num período de tempo similar ao da

criança vidente, desde que receba em tenra idade, estimulação essencial

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voltada para a valorização de seus sentidos remanescentes. Percebe-se que

as potencialidades motoras, táteis, auditivas e olfativas estão intactas, porém,

necessitam ser despertadas e trabalhadas desenvolvendo o seu

comportamento cognitivo e psicomotor. Depreende-se, também, que a família

exerce um papel fundamental no desenvolvimento adequado da criança cega,

devendo, portanto, ser orientada e informada a respeito de suas

potencialidades e dificuldades.

(Fonte: Linhas críticas – Vol. 8 – Faculdade de Educação de Brasília – 2002)

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CAPÍTULO III – OS CAMINHOS DA ESCOLA: CAPACITAÇÃO DOS ALUNOS

COM NECESSIDADES ESPECIAIS VISUAIS

Os educadores no Brasil têm recebido do Ministério da Educação

orientação e estímulo para tratar da questão da alfabetização e da

alfabetização de pessoas com necessidades especiais que exigem vontade

politica e da iniciativa privada para que efetivamente encontremos nas escolas

tanto públicas quanto particulares, a implementação de procedimentos

conforme prevê a constituição brasileira:

EDUCAÇÃO E REABILIZAÇÃO

(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL)

“O compromisso com a formação do cidadão com deficiência visual, exige uma prática educacional voltada à compreensão da realidade social, dos direitos e das responsabilidades em relação à sua vida pessoal e comunitária. As questões da ética, da pluralidade do conhecimento, da cultura e da socialização, devem ser amplamente observadas e trabalhadas pelo educador dentro de um ambiente que inspire a mútua confiança, o intercâmbio de informações e experiências, a liberdade e independência para a transferência do conhecimento. Isto não quer dizer e nem significa que a escola necessita criar disciplina específica para a formação educacional da pessoa com deficiência visual, basta que a organização escolar incorpore em seus objetivos e conteúdos, o conhecimento e os conceitos básicos sobre a cegueira e o cego, o “direito e a igualdade de oportunidades”, o “exercício da cidadania”, enfim, saber que o aluno com deficiência visual igualmente aos demais é sujeito de direitos e deveres e como tal possui a igualdade de oportunidades na construção da sua cidadania. Este documentos, que é voltado aos educadores tanto os que trabalham nas escolas de ensino regular como as escolas especializadas para alunos com deficiência visual, apresenta algumas concepções abstraídas das tendências pedagógicas contemporâneas, apontando os conceitos sobre deficiência visual e suas implicações, a caracterização do alunado com deficiência visual, modalidades de atendimento educacional, processo e programas de reabilitação e outras orientações didáticas para a prática do ensino e a inter-relação pessoal e coletiva que certamente ajudarão o professor na condução das atividades do dia-a-dia. Finalmente, diga-se que este documento sintetiza a intencionalidade do compromisso com a formação educacional do cidadão com deficiência visual”.

Marilene Ribeiro dos Santos SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL

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Como decorrência dos estudos e observações realizadas em torno da

educação das crianças e jovens deficientes visuais, Viktor Lowenfeld, autor

australiano que escreveu “Criança e sua Arte”, fala da criança e de sua

capacidade criadora. Ele estabeleceu didaticamente cinco princípios básicos

que todo educador deve considerar globalmente em qualquer etapa de seu

trabalho, visto se encontrarem intimamente ligados e interdependentes.

a) Individualização: se para a educação comum é importante a

consideração das diferenças individuais dos alunos, quanto mais em

se tratando de criança com dificuldades visuais, pois a cegueira e os

vários graus de visão subnormal não se constituem em condição

para padronização dos indivíduos; eles irão diferir entre si, tanto ou

mais que as outras crianças.

b) Concretização: o conhecimento da criança deficiente visual será

obtido através dos outros sentidos, que não a visão; para ela,

realmente, perceber o mundo à sua volta é necessário oferecer-lhe,

sempre que possíveis objetos passíveis de toque e manipulação.

c) Ensino Unificado: a experiência visual tende a unificar globalizar o

conhecimento em sua totalidade. As orientações deverão ser

transmitidas de modo global, de tal forma que permitam à criança

localizar-se numa situação real de vida, para poder ser auxiliada na

aquisição de novos conhecimentos em que não haja condições de

observação em conjunto, estruturando interiormente suas

experiências num todo organizado.

d) Estímulo Adicional: a visão é um dos sentidos que mais recebe

estímulos para observação informal de situações novas e

consequente aprendizagem incidental. A criança cega pouco

estimulada terá uma vida relativamente restrita.

e) E, para ampliar seus horizontes, desenvolver suas imagens mentais

e orientá-las para ambientes mais amplos, é necessário proporcionar-

lhe experiências, através de estimulação adequada e sistemática, em

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um nível proporcional ao seu desenvolvimento e motivação, fazendo-

a conhecer o mundo através de sua própria observação e experiência.

f) Auto-Atividade: toda criança precisa movimentar-se para adquirir

desenvolvimento físico e motor harmonioso e para isto se efetivar,

ela precisa ser motivada; devem-se seus interesses no sentido de

estimular o desejo de movimentar-se livremente. A mobilidade, a fala,

o ato de preensão, de alimentar-se, a socialização e outros aspectos

poderão ser retratados se ela não for orientada para executar tais

atividades; ela só irá dominar estas habilidades fazendo.

A forma de funcionamento de escola especial que provoca menos

segregação é em regime de externato ou semi-internato, uma vez que a

criança reside com a família e frequente a escola em período integral ou

parcial. No entanto, estas escolas deveriam ter como um de seus objetivos o

encaminhamento da criança para escolas da rede de ensino regular, tão logo

fosse possível, evitando permanecer com os educados que já apresentam

condições de serem integrados e receberem atendimento especializado

através das salas de recursos, ensino itinerante ou dos centros de atendimento

(Plano Oregon – Dunn, 1971 e Declaração de Salamanca, 1994).

As séries iniciais do ensino fundamental favorecem a integração do

aluno, tendo em vista os tipos de atividades desenvolvidas; entretanto, quando

o mesmo inicia a escolaridade em idade mais avançada que não permite o

agrupamento com crianças menores, ou porque suas necessidades exigem um

período mais longo na sala de recursos, o professor poderá sugerir sua

participação na classe comum através do plano cooperativo entre as duas

classes. Através deste plano o aluno inicialmente participa apenas de

atividades gerais da classe comum, desenvolvendo-se num crescente

proporcional às suas condições, até atingir a completa integração tanto em

termos sociais quanto pedagógicos.

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Devido às dificuldades na ampliação dos serviços de atendimento para

deficientes visuais, face à carência de professores especializados, insuficiência

de materiais para estudos e pesquisas dos alunos, tanto em braile quanto em

tipos ampliados, surgiram nos últimos anos alguns centros especializados para

dar suporte ao atendimento destes alunos. Os primeiros deles criado em 1994

pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, cujo projeto serviu de

modelo para os demais, foi o Centro de Atendimento Pedagógico para

Deficientes Visuais – CAP. O Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento

às Pessoas com Deficiência Visual, institucionalizado pelo Ministério da

Educação através da Secretaria de Educação Especial é resultado de um

trabalho conjunto entre esta Secretaria e as entidades filiadas à União

Brasileira de Cegos (UBC) (Associação Brasileira de Educadores de

Deficientes Visuais, Instituto Benjamin Constant e Fundação Dorina Nowill para

Cegos).

O objetivo do Projeto CAP é garantir às pessoas cegas e às de baixa

visão o acesso ao conteúdo programático desenvolvido na escola de ensino

regular, assim como acesso a literatura, à pesquisa e à cultura por meio da

utilização de equipamentos da moderna tecnologia e da impressão do livro em

Braille.

Uma das alternativas para dinamizar e favorecer a integração dos

deficientes visuais consiste, principalmente, na produção de material impresso

em braile, na ampliação de textos, na adaptação de materiais, na qualificação

de recursos humanos e outros recursos necessários ao processo de ensino e

aprendizagem do aluno.

Além do atendimento específico ao deficiente visual, o CAP orienta pais

e professores das escolas onde os alunos estão matriculados, além de

organizar programas e cursos para formação continuada e de capacitação dos

professores especializados da rede, colocando à disposição dos mesmos uma

bibliografia atualizada, materiais de apoio e equipamentos de última geração

para uso deles e de seus alunos.

O Grupo Consultivo do Programa da OMS (Organização Mundial de

Saúde), em reunião sobre a prevenção da cegueira, Genebra 1981,

preocupado com a localização, notificação, incidência, etiologia, prevenção e

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tratamento da deficiência visual, salienta a importância de uma definição que,

além de satisfazer as necessidades atuais, seja adotada em todo o mundo.

Recomenda também a diferenciação entre cegueira e visão subnormal.

A classificação da OMS deu grande impulso aos estudos sobre visão

subnormal principalmente na área médica, quando os oftalmologistas

passaram a se preocupar com a visão funcional dos pacientes e sua influência

na educação dos deficientes visuais, em particular na O&M, nas Atividades da

Vida Diária (ADV) e nas Atividades da Vida Prática (AVP). Vamos analisar o

quadro à seguir:

A OMS adota a seguinte classificação:

Classificação da Perda da visão (OMS)

(Escala Optométrica Decimal de Snellen)

GRAU DE

PERDA DE

VISÃO

ACUIDADE VISUAL (com ambos os olhos e melhor

correção óptica possível)

Máxima menor que Mínima igual ou maior que

1

visão

subnormal

6/18 (metros)*

3/10 (0,3)

20/70 (pés)

6/60

1/10 (0,1)

20/200

2

visão

subnormal

6/60

1/10 (0,1)

20/200

3/60

1/20 (0,5)

20/400

3

cegueira

3/60

1/20 (0,5)

20/400

1/60 (capacidades de

contar dedos a um metro)

1/50 (0,02)

5/300

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33

4

cegueira

1/60 (capacidades de

contar dedos a um metro)

1/50 (0,02)

5/300

Percepção de luz

5 cegueira Não percebe luz

9 – Indeterminada ou não especificada

(fonte: Ministério da Educação)

A escala optométrica decimal de Snellen serve para medir a acuidade

visual para longe, ou seja, a percepção de forma e posição a uma distancia de

6 metros. Analisaremos agora o pensamento filosófico sobre o significado da

reabilitação que fornecerá elementos para que o profissional reflita sobre as

suas próprias crenças. A partir daí, podem avaliar o seu trabalho e os objetivos

da reabilitação e o caminho no qual eles próprios se relacionarão emocional e

comportamentalmente com seus princípios. Outro aspecto importante é a

definição clara dos papéis e funções. A estruturação adequada do trabalho, a

especificação das tarefas, as metas realistas, os limites de responsabilidade de

cada um, a flexibilidade operacional são alguns pontos que contribuirão para

um melhor funcionamento da equipe que vai trabalhar com esses alunos. Há

também a necessidade de se manter uma atitude investigatória, dentro dos

procedimentos científicos, que contribua para o enriquecimento e

aperfeiçoamento do profissional, como também para a melhoria do padrão de

atendimento. O processo de reabilitação concretiza-se por meio das ações da

equipe multidisciplinar, incluindo programas individualizados de atendimento às

pessoas com cegueira ou com baixa visão.

De acordo com o “Programa Basic Rehabilitation Countries” (1979), com

as resoluções do Forum Global sobre Reabilitação (1994) e com o Manual

Técnico de Serviços de Rehabilitación Integral (2000), os serviços de

atendimento devem envolver as seguintes áreas (fonte: Secretaria de

Educação do Distrito Federal):

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ÁREAS DE APOIO:

SERVIÇO SOCIAL – tem por finalidade o desenvolvimento pessoal do

indivíduo, a fim de que consiga níveis de atuação consciente, plena e

produtiva no seu meio. É também o elemento catalisador das necessidades

da pessoa, família e equipe.

PSICOLOGIA – com base na avaliação psicológica, realiza um

trabalho que visa à obtenção de condições internas favoráveis para o processo,

melhor adaptação a deficiência, crescimento intrapsíquico e outros aspectos de

vida.

ÁREAS FUNCIONAIS

FISIOTERAPIA – terapia corretiva, terapia do movimento, atividades

físicas, visando à plena capacidade física da pessoa.

ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA – desenvolverem um programa que

busca satisfazer as necessidades pessoais e sociais na execução das

atividades da vida diária de forma independente e auto-suficiente (alimentar-se,

cuidados pessoais, administração domestica, etc.)

COMUNICAÇÃO – readaptação na comunicação escrita e no progresso

informativo ajuda a pessoa a não somente no seu ajustamento pessoal, mas

também nos aspectos educativos, vocacionais e carreira profissional, com a

utilização dos meios específicos para as pessoas com deficiência visual

(Braille, sorobã, uso de auxílios ópticos, informática).

ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE – orientação que envolve a utilização de

recursos mecânicos, ópticos e eletrônicos, além da própria locomoção física e

orientação mental, visando à independência na locomoção.

DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES PARA O TRABALHO –

proporciona condições de experiência na execução de atividades manual ou do

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tipo industrial, desempenho e produtividade visando auxiliar o cliente a

compreender suas capacidades e limitações na execução de uma atividade.

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL – avaliação das potencialidades e

necessidades individuais e as formas pelas quais essas potencialidades

necessidades poderão atender às necessidades pessoais e às exigências do

mercado de trabalho.

COLOCAÇÃO E SEGUIMENTO PROFISSIONAL – atividades que

incluem orientação na decisão profissional, treinamento na habilidades para a

procura de trabalho.

Para concluir, o Fórum Global de Reabilitação, conforme sugere a

Secretaria de Educação em Brasília, prossegue dizendo:

A Reabilitação Global é um processo altamente especializado, que exige para

a sua consecução equipes multidisciplinares, recursos de tecnologia, financiamento e

adequação do espaço físico para o seu desenvolvimento; fornece instrumentos de

avaliação e material para estudos e pesquisas, partindo da filosofia de ação e do

reconhecimento de que o ser humano deve ter o atendimento e o tratamento de suas

necessidades por meio de padrões técnicos decorrentes do conhecimento cientifico do

mais alto nível. Como nem sempre é possível realizar os programas dentro desses

padrões devido a problemas de ordem econômica de recursos humanos, de ampliação

de atendimento em termos quantitativos, têm-se buscando formas alternativas para o

atendimento do deficiente visual.

(BRASIL, PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. INEP, Brasília, 1998)

Estudiosos e pedagogos consideram que o jovem ou adulto que perde a

visão é grandemente influenciado pelas atitudes e reações emocionais dos

membros da família. Assim, ele terá de superar não apenas o sentimento de

grande perda que sofreu os seus temores e ansiedade, mas terá de lutar

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também com sentimentos e preocupações dos outros membros da família que

estão totalmente ignorantes quanto aos efeitos da deficiência. É uma

experiência nova para a pessoa envolvida e para seus familiares que não se

sentem capazes de resolver os problemas especiais que virão. Em alguns

países da Ásia, África e América Latina onde a realidade sócio-econômica

dificulta o desenvolvimento dos programas globais de atendimento, tem-se

utilizado procedimentos alternativos visando diminuir os custos e atender a um

maior número de pessoas e orientar a família.

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CONCLUSÃO

É fundamental a reflexão nos meios políticos, educacionais e sociais

sobre a educação inclusiva, a que ela pode levar, como e por que ser

construída. A partir dessa reflexão estaremos pensando nas pessoas com

necessidades especiais como os cegos, as crianças cegas. A inclusão é uma

possibilidade que se estende a todos sem nenhuma discriminação e à

alfabetização, sendo direito de todos, inclui o cego. A alfabetização de alunos

com necessidades especiais visuais na rede regular demanda não apenas do

aluno ou a permanência física junto com aqueles considerados aptos, mas na

oportunidade de serem revistas concepções e paradigmas, num profundo

respeito pelas suas diferenças e para aprender a conviver que é considerada

uma das maiores dificuldades humanas.

Existem diversos caminhos para se fazer uma educação inclusiva, para

a alfabetização de pessoas com necessidades especiais visuais inseridas no

processo de inclusão, devendo a escola, a comunidade e a existência de uma

politica voltada para o interesse de todos respeitando e observando os

trabalhos de pesquisa, preparando professores e mobilizando a comunidade

contra as desigualdades sociais, sobretudo em nível de educação, formação de

leitor e a aquisição do conhecimento.

Nesse momento o objetivo é discutir o processo de alfabetização dos

alunos com necessidades especiais visuais e inserir essa discussão no

processo de inclusão educacional; avaliar as escolas e os professores no

sentido de disponibilizar profissionais competentes e comprometidos com a

alfabetização e com a educação dessas pessoas, além de uma politica voltada

para a educação inclusiva, tecnologia e mobilização internacional.

Muito se fala em globalização, mas estamos na eterna expectativa de

um projeto efetivo para a educação inclusiva, para dissipar definitivamente o

preconceito das sociedades e no respeito que cada ser humano deve nutrir uns

com os outros no decorrer da vida, em seu percurso profissional e de amor ao

próximo. A alfabetização é um ato de amor ao próximo e de afirmação, de

edificação da criatura humana (ser evoluído). Uma sociedade que prega esses

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princípios é uma sociedade próspera cuja visão pragmática de todas as coisas

dá lugar a evolução humana através do conhecimento, através da escola.

Algumas questões devem sempre estar sendo levantadas e as respostas

sendo acompanhadas no processo de formação da cidadania e a inclusão

social a partir da escola: o que a sociedade e a escola tem a ver com isso?

Quais as necessidades reais das pessoas com necessidades especiais

visuais? Como interagir com elas? Integrar ou incluir as pessoas com

necessidades especiais visuais na escola e no trabalho? Está havendo

evolução de capacitação das pessoas com necessidades especiais visuais no

Brasil? Como a sociedade empresarial transforma o paradigma de ter um

colaborador com necessidades especiais visuais incluído em sua empresa?

Onde buscar informações precisas sobre a inclusão na escola e na sociedade

sobre a pessoa com necessidades especiais visuais? Braille, o que é isso?

Informática para cegos? Como isso é possível? Estas são algumas das

perguntas debatidas incansavelmente até que se esgotem todas as

possibilidades para que na solução através da alfabetização se estabeleça no

processo de cidadania da pessoa com necessidades especiais visuais

especialmente as crianças.

ASSIM A LUZ DE NOSSA VIRTUDE CAMINHA AINDA,

MESM DEPOIS DA OBRA REALIZADA.

POUCO IMPORTA QUE AGORA ESTEJA MORTA E

ESQUECIDA.

SEU RAIO DE LUZ PROSSEGUE SUA VIAGEM.

FRIEDRICH NIETZSCHE

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39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro, Qualitymark/Dunya, 1997.

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