DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 2013-10-06 · Para Herbert Read (READ/1982 apud...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A INFLUÊNCIA POSITIVA DA ARTE NO INDIVÍDUO
TATIANE DA FONSECA SANTOS
Profº Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Petrópolis/RJ
2013
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A INFLUÊNCIA POSITIVA DA ARTE NO INDIVÍDUO
TATIANE DA FONSECA SANTOS
Monografia apresentada ao Instituto A
Vez do Mestre como requisito parcial
para obtenção do título de especialista
em Arte em Educação e Saúde.
Petrópolis/RJ
2013
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RESUMO
Este trabalho monográfico tem por objetivo comprovar a eficácia da arte na transformação positiva do indivíduo, incentivando seu uso em toda a sociedade organizada. É certo que a arte pode atuar como auxiliadora nos processos de transformação do ser humano, trazendo harmonia, calma, concentração e modificando comportamentos condenados socialmente. Nesta jornada observamos o poder da música, trazendo disciplina, a dança, fluidez, e o desenho liberando as tensões do dia a dia. A arteterapia faz-se também grande aliada neste processo, usando a arte de forma dirigida com um fim pré-determinado. As funções terapêuticas, que não se detêm ao uso da técnica, deixam fluir toda a espontaneidade do ser para obtenção dos resultados. Existem diversos projetos sociais atuantes em nosso país que se utilizam da arte como ferramenta para a transformação das comunidades em geral. Esses projetos destacam principalmente a dança e a música devido a possibilidade de criação de espetáculos, que satisfazem as exigências dos patrocinadores, elevam a autoestima dos alunos e destacam os projetos podendo assim atrair novos colaboradores. A arte é um meio prazeroso e poderoso para transformar o mundo em que vivemos em um lugar mais feliz para todos.
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METODOLOGIA
Neste trabalho utilizamos como método a pesquisa exploratória
que tem por objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
construindo hipóteses. Este tipo de pesquisa mostrou-se adequado ao
tema visto que tem por característica o levantamento bibliográfico aliado
a entrevistas e análise de exemplos visando facilitar o entendimento.
Para o cumprimento deste propósito fizemos pesquisa
bibliográfica acerca do tema, e utilizamos principalmente os trabalhos de
FISCHER(1976), CARVALHO(2008), WENTZ(2006). Consideramos
também grande variedade de artigos e trabalhos acadêmicos
consultados pela internet, sendo o principal o de VASCONCELLOS E
GIGLIO(2007).
Utilizamos também um questionário que teve como público alvo
os profissionais das artes e também os educandos. O mesmo foi
aplicado a pessoas atuantes em modalidades artísticas diversas, com
objetivos diversos.
Aos professores, procuramos descobrir um pouco mais da
vivência dos mesmos com a arte, e descobrir quais mudanças positivas
puderam notar em seus educandos, usando exemplos.
Aos educandos, procuramos entender suas motivações para o
envolvimento com artes, e se os mesmos consideram algum valor
positivo acrescentado a sua vivência através de determinada
modalidade artística.
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Sumário
INTRODUÇÂO ............................................................................6
CAPÍTULO I: O QUE É ARTE .......................................................7
CAPÍTULO II: O IMPACTO DA ARTE NO SER HUMANO..........10
2.1- O poder da música ..........................................................12
2.2- O poder da dança ...........................................................15
2.3- O poder comunicador do desenho ..................................17
2.4- O papel da Arteterapia .....................................................19
CAPÍTULO III: A ARTE NOS PROJETOS SOCIAIS..................22
3.1- Entrevista com artistas/ professores.................................25
CONCLUSÂO .............................................................................34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E WEBGRAFIA................36
ANEXOS ......................................................................................38
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INTRODUÇÃO
Até que ponto a arte pode influenciar e transformar a vida das
pessoas? O que leva um artista a criar com determinadas características
que irão “libertá-lo” em sua obra?
Muitos são os estudiosos que discursam sobre a arte e suas
funções. Seja música, pintura, escultura, literatura, desenho enfim, toda
manifestação artística tem o poder de penetrar no mais profundo do ser,
trazendo consigo seus rastros de transformação.
Podemos observar que todo aquele que se envolve com a arte,
apreciando ou criando, tem um discurso positivo acerca do que
determinada arte produziu em si. Desde as primeiras fases da vida a
arte se apresenta como auxiliadora no processo de formação do homem.
Música, dança,pintura etc são apreciadas pela maioria dos indivíduos,
que afirmam total bem-estar nos momentos em que podem interagir com
elas.
Ernst Fischer fala da função quase mágica da arte, que não se
limita simplesmente em conhecer e mudar o mundo através dela.
Veremos então na prática a experiência de pessoas que tiveram suas
vidas “magicamente” modificadas pelo fazer artístico em diversas
modalidades.
Através de depoimentos, fotos e registros diversos observaremos
a realidade de artistas/professores, alunos de arte e alunos com a arte,
demonstrando o real nível de interferência destes trabalhos em suas
vidas.
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CAPÍTULO I
O QUE É ARTE?
Arte é uma palavra de origem latina que significa técnica ou
habilidade. Segundo o dicionário Houaiss, arte é a "produção consciente
de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de
beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana".
A arte é a manifestação humana plena daquilo que transcende o
comum; é a expressão do sublime, do que há de mais profundo no “eu”.
Arte é o mergulhar no mar das emoções trazendo o inesperado, o belo,
o autêntico, o rebuscado e o simples, o alegre e o triste, o engraçado e o
formal.
A arte expõe o ser, ou acaba por escondê-lo ainda mais! Fazer
arte é manifestar-se com liberdade para criar, ousar, extravazar, refazer
e até mesmo copiar, de forma intencional.
O ser humano acostumou-se a levantar grandes barreiras diante
do fazer artístico, como se este fosse privilégio de poucos. São muitas
as manifestações artísticas possíveis, e em cada uma delas podemos
recolher grandes exemplos do potencial humano de gerar emoção e
beleza.
Geralmente a arte é um reflexo da época e cultura vivida. A Arte
existe desde os primeiros indícios do desenvolvimento do homem;
inicialmente era usada para suprir necessidades de sobrevivência, como
a confecção de utensílios de cozinha e inscrições em cavernas como
parte de crenças religiosas. Até hoje a arte se apresenta cheia de
significados, objetivando alcançar de alguma forma os aprendizes e
aqueles que simplesmente apreciam: letras de músicas falando sobre
mais variados temas; pinturas e desenhos em telas, paredes (grafite) de
forma impactante, nos levando a questionamentos; danças folclóricas,
de rua, sensuais etc. Não há dúvidas sobre a influência destas e outras
artes positiva e negativamente na vida das pessoas.
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Povos antigos como egípcios, e até indígenas (que estão mais
perto de nós) não criavam com objetivo de expor uma arte propriamente
dita. Apesar dessa não intenção, suas obras possuem valor artístico
imenso. Muitas destas obras estavam ligadas à religião. Até hoje, dentro
de todas as religiões observamos o incentivo à arte, e o uso da mesma
para cultuar seus “deuses”, para aproximar do “altíssimo”, para alcançar
novos adeptos etc.
Muitos dizem não ter interesse pelas artes, por simplesmente
caracterizarem como arte pinturas em tela e esculturas somente. A
resposta para “o que é arte?” vai muito além destas duas manifestações.
Todos nós estamos envolvidos com algum tipo de arte e certamente não
conseguiríamos viver sem ela, tamanha interferência que causa no
nosso dia a dia. Cinema, literatura, fotografia, música, dança, desenho...
Nenhum ser humano, dentro de uma sociedade moderna, poderia estar
alheio a estas manifestações.
FISCHER, 1976, destaca que a arte é e será sempre necessária
para colocar o homem em equilíbrio com seu meio, se caracterizando
como um reconhecimento parcial da sua natureza e de suas
necessidades, tendo em vista que não é possível um equilíbrio
permanente entre homem e mundo.
São muitos os movimentos que inspiraram a arte de forma
semelhante; estes movimentos são nomeados de acordo com o que eles
representam e duravam por determinado período: abstracionismo,
arcadismo, art nouveau, arte rupestre, barroco, rococó, concretismo,
cubismo, dadaísmo, expressionismo, futurismo, maneirismo,
modernismo, pop art, romantismo, simbolismo, surrealismo e muitos
outros.
Compreendemos melhor uma obra de arte quando conhecemos o
contexto em que esta foi produzida. Mesmo quando este contexto é
desconhecido, podemos tirar nossas conclusões acerca da impressão
que ela nos transmitiu. Há muitos relatos, por exemplo, em canções, em
que o músico compôs dentro de uma situação, e os ouvintes interpretam
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algo totalmente diferente. Situações semelhantes se repetem
comumente em muitas outras formas de arte.
A capacidade do artista de perceber a vida de uma forma mais
sensível que o normal, e manifestá-la através dos meios variados
(dança, música, pintura, escultura etc.) é o que define arte.
É certo que ainda que não consigamos definir ARTE
adequadamente (até porque existem múltiplas definições!), estaremos
criando ou interagindo com ela por toda nossa existência. Impossível é
viver sem que a arte esteja por perto.
Segundo Fischer (1976), o homem só se tornou homem através
do conhecimento que a arte proporciona, pois é da utilização deste
conhecimento que ele faz suas ferramentas para poder atender suas
necessidades.
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CAPÍTULO II
O IMPACTO DA ARTE NA VIDA DO SER HUMANO
“A arte sempre esteve presente no universo humano desde os
primórdios dos tempos até os dias de hoje. Sua presença se dá
em diferentes formas promovendo comunicação, liberdade
criativa e possibilidades de cura e harmonia interior. O uso da
arte facilita o contato com a percepção e órgãos sensoriais,
integrando a sabedoria intuitiva, os sentimentos inscritos na
memória corporal e psíquica e o nível racional adequado para a
organização das ideias. ” (READ apud Wentz, 2006, p.18).
O processo de criação está ligado à habilidade que o homem tem
de usar o cérebro para alterar, renovar, rever aspectos da vida. Parte
deste processo de criação ligado ao inconsciente conecta-se a um
modelo expressado de forma simbólica. Somos desafiados e
confrontados com conflitos durante a criação. Alguns meios de
expressão artísticos facilitam e aliviam os conflitos internos afetivos e
comportamentais, e enriquecem a qualidade de vida. O processo criativo
pode restaurar os conflitos emocionais e também facilitar a
autopercepção e o desenvolvimento humano.
Conforme a pessoa envelhece, passa por mudanças físicas,
mentais e psicológicas bruscas, mas não consideradas doenças.
Existem alguns transtornos que são comuns em pessoas mais velhas.
Estes, então, perdem o interesse por muitas atividades, e neste
momento a arte pode entrar trazendo verdadeira revolução na vida do
indivíduo.
Através dos símbolos expressados em suas atividades artísticas,
essas pessoas descobrem algo novo em suas emoções, pensamentos,
conteúdos inconscientes. Cada trabalho artístico pode trazer uma nova
leitura sobre a vida deste indivíduo, ajudando-o a perpetuar o que
agrada e a transformar o que o desagrada.
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Para Herbert Read (READ/1982 apud Wentz, 2006, p.18-19), a
educação nas coisas é algo que implica um contato direto com os
objetos e não apenas um manejo com as representações destas,
(características do modelo intelectualista de educação). Para essa
tarefa, Read vê nas artes um papel fundamental. O indivíduo precisa
viver arte, se quiser ser permeado pela arte. Passamos a ter mais
influência sobre nossa mente e nosso corpo, por exemplo, ao tocar um
instrumento, pintar, dançar etc.
Podemos citar vários exemplos da arte usada para transformar
pensamentos de pessoas (de uma forma não terapêutica), como
propagandas, músicas, esculturas etc. Daremos agora forte exemplo da
arte transformando a sociedade: a geração Tropicalista em 1960/1970.
A Tropicália foi um dos desdobramentos da contracultura no
Brasil, que discutia a criação artística num sistema industrial. Utilizava-se
de várias manifestações de arte, principalmente música e poesia, para
criticar a sociedade de consumo, parodiar clichês, slogans publicitários e
estilos. Através da arte, transformaram esta geração com marcas de
força e resistência. Guiaram multidões dentro de seus pensamentos, e
colecionaram inimigos descontentes com tamanha revolução. Arte, sim
era arte! Muito mais próxima da conversa, arte de protesto...
Divulgavam esta arte nos festivais, cinema novo, teatro, poesias.
Ecoou em toda a sociedade, em pleno regime militar. Cumpriram seu
papel na divulgação de seus ideais pela arte, porém pagaram um alto
preço sendo presos e muitos exilados.
A arte transforma as vidas não só em grandes movimentos, como
o Tropicalismo, mas nas pequenas coisas podemos observar seu poder.
Aqueles que praticam a arte -de forma amadora ou profissional-
afirmam que ela interfere em toda a vida: acalma, traz concentração,
equilíbrio, disciplina, aumenta a criatividade, afasta a timidez, inibe o
avanço de doenças psíquicas, controla a piora de doenças do corpo,
melhora a autoestima, proporciona alegria!
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Ernst Fischer (1976) defende que a realidade do artista (vivida ou
observada no seu meio) influenciará na obra. A partir daí entendemos
porque a arteterapia é tão eficaz. O indivíduo em terapia “derrama” o seu
eu sobre a arte, e o arterapeuta intervém com suas técnicas para ajudá-
lo da melhor forma possível. E mesmo que não haja intervenção direta
de um especialista na área, é possível colher frutos positivos do poder
da arte.
Fischer também trabalha com o conceito de arte como “substituto
da vida”. De acordo com esta visão, a arte é o ponto de equilíbrio entre o
homem e o meio em que vive. Dificilmente homem e mundo estarão
equilibrados permanentemente, por isso, a arte entrará com papel
fundamental estabelecendo o equilíbrio necessário.
A arte não só é vista como substituto da vida, mas expressa as
relações homem/mundo. Ao apreciarmos uma obra, nos identificamos e
completamos em nós o que ainda falta. O processo da construção da
arte é consciente e racional, resultando na obra de arte como realidade
dominada. O indivíduo nunca é tudo o que é capaz de ser; neste ponto
há a junção da arte com o indivíduo levando-o à plenitude. Dentro desta
visão observamos a grande importância da arte.
A característica contraditória da arte destaca-se por tomar forma
através da objetividade, e também derivar de experiências da realidade.
Observemos agora informações acerca do impacto da arte, em
especial a música, a dança e o desenho no nosso cotidiano.
2.1- O poder da música
Podemos dizer que música é a combinação de sons agradáveis
com o silêncio. Ela está em toda parte, e em tudo que fazemos; não há
como fugirmos desta realidade. Pode ser utilizada para vários fins como:
vender um produto, alegrar o coração, fazer com que pensemos sobre
algo, difundir uma visão etc.
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Todas as pessoas podem ser beneficiadas pelo impacto que a
música traz. A música penetra nos sentimentos, livrando o indivíduo de
“prisões emocionais”, alegra, acalma, faz refletir; e não é preciso
nenhum conhecimento acadêmico para vivenciar tudo isso. Qualquer
indivíduo pode selecionar uma música que convém e desfrutar
maravilhosos momentos. Essa verdade se comprova pelo fato de que
dificilmente encontraremos alguém que não goste de música. Podemos
sim, nos agradar de um estilo em relação a outro, mas todos sabem com
exatidão o estilo que lhe agrada e o bem que este o faz.
Atualmente muitos são os estudos acerca do poder impactante e
influenciador que a música tem. Fala-se sobre o tema buscando
comprovar a eficácia do uso da música para a cura de enfermidades
psíquicas e físicas.
Apesar de serem estudos recentes, há séculos a música é
utilizada como terapia no ser humano. O relato mais antigo acerca deste
uso trata-se de um médico/filósofo da Pérsia, Avicena, que prescrevia
além das medicações, canções para aliviar a dor de seus pacientes.
Estudiosos afirmam que a música, usada como terapia, cura pela
vibração do som, que desbloqueia o sistema nervoso, ativa o sistema
glandular, leva ritmo ao sistema cardiopulmonar, libera tensões
musculares e coloca em movimento o sistema metabólico-locomotor.
Para cada área a ser tratada, há um som, um ritmo, um tom
específico para facilitar o bom resultado. A musicoterapia pode ser
utilizada no pré-natal de gestantes, no estímulo infantil,
autoconhecimento, orientação vocacional, autoconfiança, estímulo das
habilidades na terceira idade etc. Estimula o cérebro intervindo contra o
estresse, depressão, problemas de fala e comunicação.
Profissionais da área têm realizado a “massagem sonora” em
pacientes com diversas doenças, principalmente o câncer.
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“As cordas do instrumento, quando dedilhadas de modo
contínuo, irradiam um espectro de harmônicos ao paciente e
emanam ondas de vibração terapêutica, como uma massagem
sonora, proporcionando rapidamente um estado de
relaxamento profundo. Essas vibrações atingem a base da
coluna, espalham-se por todas as vértebras, estimulando o
sistema nervoso, músculos e todas as células e órgãos
internos sensíveis. ” Trecho citado na reportagem “A cura pelo
som” em www.deliamatos.com.br.
Estudos realizados por pesquisadores da Finlândia, afirmam que
a musicoterapia demonstra-se mais eficaz no tratamento de depressivos,
do que as medicações tradicionais prescritas. Com a música aliada aos
outros métodos, percebeu-se a evolução destes pacientes na
capacidade de expressar-se de forma verbal e não verbal.
A música também pode ser utilizada para melhorar a
concentração e conduzir à meditação. A boa música comprovadamente
nos traz benefícios, mas o contrário também acontece: músicas com
padrões mais densos podem nos fazer mal. Estudos mostram que a
música possui padrões vibratórios que interferem nas moléculas.
Mosaru Emoto realizou experimentos com música e a água. As
moléculas de água expostas à música clássica tomaram a forma
geométrica da água cristalina; em contrapartida expostas a músicas
mais “pesadas” como heavy metal, tomaram forma de moléculas de
água poluída. Se o ser humano é formado 70% por água, dá para
imaginarmos quão poderosa é a música em nossas vidas! E mesmo
quando não estamos percebendo os sons no ambiente, estes podem
inconscientemente estar atuando sobre o nosso organismo (positiva ou
negativamente).
Outras experiências foram feitas com vacas e também com
plantas expostas à música clássica ou instrumental, e mostraram que há
real aumento na produção desses seres nestas condições.
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2.2- O poder da dança
A dança é uma linguagem que une o corpo, a mente e a alma, e
nos faz entrar em uma dimensão diferente da realidade.
Atualmente a dança é vista como entretenimento, uma opção de
atividade física ou para nos sociabilizarmos. Porém desde seus
primórdios, a dança era vista como uma forma de comunicação com o
divino.
A Bíblia possui dois episódios com a dança
que vamos relatar agora:
“Davi dançava com todas as suas forças diante do SENHOR; e estava cingido de uma estola sacerdotal de linho. Assim, Davi, com todo o Israel, fez subir a arca do SENHOR, com júbilo e ao som de trombetas.”(II Samuel 6:14-15) Bíblia Sagrada on line em http://www.sbb.org.br
Neste trecho é citado o personagem Davi, conhecido por seu
envolvimento com as artes e que dançou diante do seu Deus com tanto
entusiasmo, que levou todo seu povo a fazer o mesmo. Essa dança
influenciou toda uma nação a dançar para seu Deus. Foi uma dança
com todo seu ser, envolvendo não só seu corpo, mas sua alma, e que
realmente transformou aquele lugar.
Vejamos outro exemplo:
“ entrou a filha de Herodias e, dançando, agradou a Herodes e aos seus convivas. Então, disse o rei à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-lhe: Se pedires mesmo que seja a metade do meu reino, eu ta darei. Saindo ela, perguntou à sua mãe: Que pedirei? Esta respondeu: A cabeça de João Batista.”(Marcos 6:22-24)
Neste trecho a dança da filha de Herodias seduziu o rei de tal
forma, que ela pôde pedir qualquer coisa; e assim o fez, pedindo a morte
de João Batista. Aqui a dança mostra seu poder negativo.
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Nestes dois casos observamos resultados diferentes não pela
dança em si, ou pelo estilo de dança executado, mas pelo que os
motivou a dançar.
O corpo esbanja força, significado, sensualidade, e com a dança
torna-se envolvente e influenciador. A dança da filha de Herodias estava
carregada de seus interesses individuais, e o resultado foi negativo. Já a
dança de Davi era pura e coletiva; influenciou para algo bom.
As antigas culturas de Matriarcado começaram a envolver as
mulheres a dança, devido à adoração a divindades femininas. As
mulheres eram curandeiras, guias espirituais, e a dança era parte
integrante destes rituais, principalmente no Judaísmo e no Cristianismo.
Com o tempo, os homens tinham seu poder em crescimento e vetaram
as mulheres de usarem seu corpo em danças nos ritos frequentes.
Aos poucos homens e mulheres de todo o mundo reconhecem o
quão terapêutico, curativo e espiritual pode ser uma dança. Neste
aspecto, a dança do Oriente tem destaque:
“A mulher, com a sua sensibilidade cultivada e a sua instintiva ligação aos ciclos da Vida, é um dos elos quase perdidos entre a Mãe Natureza e o ser humano, entre as forças da Terra e do Céu que se unem na dança mágica sobre a qual os antigos egípcios tanto falavam.” Trecho do artigo “O poder libertador da dança”, em www.joanabellydance.com.
2.3- O poder comunicador do desenho
Os desenhos são elementos fundamentais para a formação da
personalidade de qualquer ser humano. Através dele podemos nos
expressar de forma lúdica, e ao mesmo tempo clara e objetiva. As
crianças se utilizam do desenho de forma natural, porém adultos
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expostos a essa forma artística tendem a dizer que não sabem
desenhar, ou mesmo não querem; o desenho é deixado na infância de
cada um.
Estimular um adulto a desenhar é certeza de que seremos
surpreendidos, e de que eles mesmos se surpreenderão com o
resultado. Passado o período de aversão à arte, começa então o
confronto acerca do que criar, criar ou não, como criar.
Adultos desenham sobre sua realidade, suas angústias, seus
sonhos ou aquilo que o desenho os fez recordar. Ao falarem sobre suas
criações, expressam-se de uma forma mais profunda liberando suas
emoções de forma curativa. Compartilham o que os oprime, aliviando o
“peso de uma pesada bagagem” que por anos carregaram.
As crianças liberam sua criatividade através dos desenhos, mas
também expressam sentimentos que não sabem explicar. Crianças que
passam por problemas familiares, abusos diversos, rejeição, medos,
ansiedades e outros tipos de violência podem ter a arte como aliada à
terapia com profissional qualificado. Certamente ela demonstrará em
seus traços suas angústias constantes. O desenho é um instrumento
que torna possível o tratamento dessas crianças, tornando-se mais
eficaz inclusive em relação a outras técnicas.
Se criar é expressar o que tem dentro de si (segundo Matisse/
Matisse apud “Terapia infantil através dos desenhos das crianças”.), é
certo que nosso emocional é exposto ao desenharmos de forma livre.
Para muitos o desenho é apenas arte ou traços sem significado, mas em
especial, para as crianças, o desenho é uma das formas de facilitar a
expressão e a comunicação com o meio. Instituições policiais utilizam
este mesmo recurso para, juntamente com um profissional habilitado,
desvendar crimes e abusos vivenciados pelas crianças.
Através do desenho informal psicólogos traçam inclusive o perfil
de quem desenha:
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“Espirais: Quem fica desenhando espirais não gosta de ficar sozinho. Desenhos assim são feitos, geralmente, por pessoas que gostam de se destacar no grupo e batalham para ter alguma função em qualquer lugar, em qualquer turma. Espiral para cima - vontade de crescimento - alto astral; Para baixo - falta de animo- baixo astral. Setas: Desenhar setas significa alguma ideia fixa. Se elas apontarem para baixo ou para esquerda, elas falam de alguma coisa que já passou. Se elas apontarem para a direita, indicam futuro. Se as setas apontarem para cima, você deve estar entediado (a) e é bom se programar direitinho para o próximo fim de semana.Setas para todos os lados, você se sente perdida, confusa, não sabe que caminho seguir.Olhos: Você é curioso(a) ou está procurando alguma solução para um problema se desenhar olhos. O sentido do olhar também é importante: para a esquerda, indica algo no passado; para a direita, mira o futuro. Se você tiver desenhado olhos fechados, é provável que não esteja querendo enfrentar uma situação ou não queira admitir algo cruel sobre si mesmo"(...). 1
Não sabemos se na prática estas observações procedem, mas é
interessante conhecer os conceitos.
Cada pessoa que desenha (profissionalmente ou de forma
amadora) demonstra características semelhantes em suas criações; o
desenho individualiza de tal forma que através das características
geométricas, da forma como usa as cores e a luz podemos identificar o
autor de determinada obra. Vide exemplo em “Anexos”, 1-Imagens de
Rodrigo.
2.4- O papel da arteterapia
“O espaço arte terapêutico se configura com um palco onde o sujeito imagina, confere uma forma, trans-forma, ordena, re-ordena, significa conteúdos psíquicos, re-significando a vida. As diversas modalidades artísticas utilizadas no processo arteterapêutico para mediar a representação de conteúdos internos emergem numa linguagem simbólica. O símbolo é a
1 “Teste seus desenhos” apud http://www.psicologia.spo.com.br/Testes_desenhop1.htm
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linguagem que o inconsciente utiliza para se comunicar com a consciência.” (ATHAYDE,2010, p. 52).
Arteterapia significa um recurso adotado em contextos
terapêuticos, cuja metodologia supõe o emprego de técnicas de
expressão artística, através das quais o homem se autoconstrói a partir
das (re) interpretações por ele elaboradas em relação ao outro e à
realidade na qual está inserido. O fazer artístico reveste-se do potencial
de cura, ainda que não disponha do acompanhamento do arteterapeuta,
a quem compete possibilitar através da interação a abertura de espaço
para o desenvolvimento e a expansão da imaginação e da criação, pelas
quais o sujeito delimita contornos, explora e amplia significados, constrói
e reconstrói sentidos.
A partir dos anos 40, a arteterapia foi realmente sistematizada,
tendo como precursora Margareth Naumburg, nos Estados Unidos. Ela
recebeu bastante influência da abordagem freudiana, trabalhando com a
produção da arte espontânea durante a psicoterapia, considerando que
as imagens espontaneamente projetadas nas produções gráficas e
plásticas permitem a expressão do inconsciente.
Naumburg (1991) defende que o processo de arteterapia se
baseia no reconhecimento de que os pensamentos e os sentimentos
mais fundamentais do homem, derivados do inconsciente, encontram
sua expressão em imagens e não em palavras. As técnicas da
arteterapia se baseiam no conhecimento de que cada indivíduo, treinado
ou não em arte, tem uma capacidade latente de projetar seus conflitos
internos em forma visual. Quando os pacientes visualizam tais
experiências internas, ocorre frequentemente que eles se tornam mais
articulados verbalmente. (Margareth Naumburg apud
http://www.scielo.br/scielo).
A arteterapia pode ter duas áreas principais em relação à técnica
e seus conceitos: A arte como terapia e a arte como psicoterapia. Na
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arte como terapia é levado em conta o viés artístico e suas
possibilidades de cura; na arte como psicoterapia o viés artístico
também é bastante explorado, porém acrescenta-se o poder da
imaginação e das imagens em si, exploradas terapeuticamente, visando
a evolução emocional do indivíduo.
Na “Revista de Arteterapia” (2010) encontramos um parecer de
FABIETTI sobre a arteterapia:
“Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano. Ela oferece oportunidade de exploração de problemas e de potencialidades pessoais, por meio da expressão verbal e não verbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos e emocionais, bem como a aprendizagem por meio de experiências terapêuticas com linguagens artísticas variadas.” (FABIETTI, 2004, p.18 apud American Art Therapy Association, Boletim Informativo, 1993.)
O indivíduo ao interagir com a imagem torna-se um espectador
sem objetivo (de imediato) de trazer para si um significado nas formas e
cores do objeto de expressão. Neste momento o arterapeuta entra com
total importância como facilitador desta conexão, ampliando os símbolos,
estimulando o indivíduo a descobrir o porquê das emoções vividas
diante do trabalho artístico.
Por isso a beleza estética não tem importância na arteterapia, e
sim a expressão em sua forma singular e única. O símbolo precisa
cumprir seu papel, conectando a consciência do indivíduo aos conteúdos
subjetivos que estejam relacionados com a sua existência.
O arteterapeuta utiliza seus métodos para alcançar o mais
profundo do ser humano. O papel do arteterapeuta é, em princípio,
oferecer um espaço acolhedor, acompanhando o processo de
desenvolvimento sujeito-paciente, testemunhando suas investidas,
fazendo intervenções diante dos desafios.
A seleção da técnica e dos materiais a serem utilizados é
cuidadosa, feita dentro do nível de desenvolvimento de cada um (ou de
um grupo) para permitir o melhor aproveitamento da terapia. O
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arteterapeuta então precisa de sensibilidade e escuta para intervir
adequadamente.
A arte não trabalha apenas a técnica, mas a alma, sendo
mediadora entre a “luz” e a “sombra”, nos possibilitando ampliar a
consciência sobre a compreensão dos nossos conflitos. A arteterapia
então se utiliza da liberdade no uso dos materiais de arte para auxiliar na
transformação desejada.
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CAPÍTULO III
A ARTE NOS PROJETOS SOCIAIS
Hoje em dia usar a arte objetivando a reconstrução social é algo
comum, e que demonstra a importância da arte na vida de qualquer ser
humano. Independente da vivência de cada indivíduo- se estudou ou
não, se passou fome ou não, se teve contato com a arte ou não - a arte
vem-se mostrando arrebatadora. Envolve as pessoas, e as traz à
“superfície”.
Todos os trabalhos sociais bem sucedidos possuem modalidades
artísticas como principal atividade. Assim, são exemplos para
instituições formais de ensino mostrando que todas estas modalidades
precisam ser incluídas na rotina discente.
A arte tem potencial de incluir o indivíduo ao lugar o qual
pertence. A pessoa não mais vive como estranho em sua própria terra,
mas uma peça, parte do todo que é o seu lugar. Assim as ONGs vêm
trabalhando trazendo resgate da personalidade.
As desigualdades sociais são a motivação destes projetos. Eles
visam recolocar parte da sociedade vitimada pela exclusão, em um lugar
social favorável e valorizado.
A arte é aplicada nos projetos sociais geralmente através de
oficinas, que não necessariamente são oferecidas por profissionais
graduados. Ao contrário das instituições formais, não é necessário curso
específico para a realização das atividades, mas a experiência do
professor “oficineiro” é o que mais importa. Entende-se que a
experiência transformadora do professor com a modalidade artística é o
que facilita a mudança também dos educandos. A experiência sobrepuja
o conhecimento acadêmico. Com base no testemunho “vivo” dos
professores afirmando que todos podem ser melhores com a arte, os
alunos vão se envolvendo da mesma forma, transformando sua
realidade.
23
Os projetos traçam então que tipos de transformação desejam
para determinada localidade, e a partir daí selecionam as modalidades
artísticas mais adequadas.
São citados diversos benefícios trazidos pela arte, porém o
benefício que sempre é mencionado entre os participantes e professores
destes projetos é o fortalecimento da autoestima. A arte faz com que
essas pessoas, constantemente marginalizadas, sintam-se
“importantes”. Começam a ter visibilidade positiva, tornam-se
referenciais na vizinhança, na escola, na família.
Os próprios alunos percebem que conseguiram fazer algo bom,
que a comunidade aprova, e assim podem fazer muitas outras coisas
semelhantes. Ao executar o que foi planejado, esses alunos percebem o
quão capazes são confiando plenamente em seu potencial.
É comum destes projetos “nascerem” professores das diversas
modalidades de arte existentes. Por isso apesar dos objetivos principais
para o ensino das artes nestes projetos serem paralelos à arte, não
significa que o ensino da teoria e técnica artística esteja ausente, ou que
não seja valorizado. Nas práticas exclusivamente terapêuticas, que
desejam a espontaneidade do indivíduo, a técnica não é o principal. Pelo
contrário, na maioria dos casos nem é aplicada. É consenso de que a
maioria destes núcleos destacam o conhecimento teórico e técnico,
incentivando o aperfeiçoamento dos educandos por motivos
múltiplos(muitos já citados aqui).
Afirmam que não tem objetivo de formar artistas, mas
desenvolvem a teoria e prática com intenção de possível
profissionalização. Muitas oficinas voltadas para adolescentes, por
exemplo, tem função pré-profissionalizante, formando técnicos em
diversos ramos.
Utilizar materiais variados de arte exige conhecimento profundo
para obtenção de qualidade, segurança na produção e confiança naquilo
que se propõem a fazer. As produções realizadas nas oficinas também
são comercializadas, auxiliando na renda familiar dos alunos.
24
Quando as técnicas já estão sendo bem executadas, e os
trabalhos começam a ser reconhecidos, a autoestima se eleva
motivando a se aperfeiçoarem cada vez mais. E cada vez que se
aprofundam na arte, melhoram seu convívio social na família, escola, na
comunidade. “ A gente aprende muita coisa, acho legal, nunca pensei
que eu pudesse um dia[...], que fosse capaz de aprender música.”
(CARVALHO,2008. Pág. 88).
Na maioria dos projetos é fácil observar que as modalidades
artísticas mais comuns são música e dança. Se temos afirmado que toda
produção artística tem seu potencial transformador, porque essas duas
áreas estão em destaque?
A comunidade procura com mais interesse essas duas áreas
(música e dança) porque se sentem importantes ao participarem dos
espetáculos. “É como se dissessem assim: eu saí não sei de onde e
hoje estou me apresentando em um teatro, as pessoas estão vindo me
ver, me aplaudindo. Isso é tudo.” (CARVALHO, 2008, p.124)
O motivo real para o uso da dança e da música nestes projetos é
simples: questões financeiras!
Os projetos dependem de patrocínio para “sobreviverem”; esses
patrocinadores investem pensando na visibilidade que a empresa poderá
obter, e não simplesmente na ajuda que estão trazendo para a
comunidade. Se investem em dança e/ou música há possibilidade de
organização de espetáculos que são divulgados amplamente e recebem
grande público. Já as artes plásticas ou outras manifestações de arte
não possuem tanta divulgação externa.
Por isso, mesmo sem a necessidade de aprovar os educandos
para uma próxima etapa, a direção destas instituições cobra de seus
“oficineiros” alta capacidade de transmitir conhecimentos, exercer
liderança, incentivar as transformações pessoais e sociais desejadas, e
elevada qualidade estética nas produções. Relatórios então são
enviados aos patrocinadores para garantir que tudo está caminhando
como esperado.
25
“Para as ONGs é importante se mostrar, apresentar, expor o que foi produzido nas oficinas. Por isso esforçam-se para organizar eventos em intervalos regulares. Para as instituições, a apresentação de resultados é uma das maneiras de se prestar contas, de serem avaliados pelas agências financiadoras, pelos familiares dos educandos e pela comunidade em geral. No entanto para alguns arte educadores, trabalhar nesta perspectiva representa romper com conceitos que se cristalizaram nos cursos de formação. É como se estivessem aceitando ser o “festeiro da escola”- postura tão combatida no âmbito dos cursos de formação em educação artística.” (CARVALHO,2008, p.132.)
3.1- Entrevistas com artista/professores/alunos
Propomos-nos neste trabalho a analisar o universo artístico e
suas transformações provocadas na vida das pessoas. Sendo assim,
conversamos com profissionais das artes, pessoas que trabalham
diariamente com algum tipo de arte aplicando a mesma e ensinando em
oficinas, escolas, igrejas etc, e também com os aprendizes/alunos que
usam a arte de forma amadora. Os relatos se mostraram tão
significantes que decidimos expor na íntegra cada entrevista,
objetivando mostrar as experiências dos dois grupos de artistas, e aquilo
que eles mesmos chamam de transformações em suas vidas trazidas
pelo uso da arte.
Aplicamos os seguintes questionários para:
A- Artistas/professores:
1- Qual sua idade?
2- Qual sua área de atuação nas artes?
3- Há quanto tempo trabalha com esta modalidade artística?
4- Conte-nos o que o levou a aprender tal arte? Como aprendeu (curso
específico, autodidata, com alguém próximo etc)?
5- O que a arte mudou/acrescentou/melhorou na sua vida?
26
6- Você consegue perceber mudanças comportamentais nos
aprendizes (alunos) depois do início das aulas? Ex: mudanças
visíveis em alunos tímidos, agressivos, indisciplinados etc...
7- Conte-nos alguma experiência com os alunos + arte que o
impactou?
1- Alunos/aprendizes
2- Qual sua idade?
3- Estuda qual área nas artes?
4- Há quanto tempo estuda esta modalidade artística?
5- Conte-nos o que o levou a aprender tal arte? Como aprendeu (curso
específico, autodidata, escola, com alguém próximo etc)?
6- O que a arte mudou/acrescentou/melhorou na sua vida?
7- Conte-nos alguma experiência pessoal com o fazer artístico?
Com as respostas acima analisaremos cada questão, cruzando
com fotos e informações anexas para concluirmos o problema principal.
OBS: Para preservar dados pessoais dos entrevistados,
utilizaremos apenas o primeiro nome dos mesmos.
Ao conversarmos com pessoas comuns que se envolveram com a
arte, é consenso entre todos a afirmativa do quanto a arte os modificou.
A aproximação com o elemento artístico quase sempre vem através de
amigos, de instituições religiosas ou projetos que transportam a arte
para o mundo daqueles que nunca sonharam ser artistas. Algo os
impacta de modo que começam a aprender e vivenciar novas
experiências. O alto custo das aulas relacionadas a questão e dos
próprios materiais utilizados tornam-se empecilhos para a continuação
no trabalho. Porém, quando a vontade de fazer arte é maior do que
estes obstáculos, temos então nossos entrevistados que lutaram e hoje
atuam como profissionais deste ramo.
27
Márcio, 30 anos, professor de música, nos contou sua trajetória
que mudaria pra sempre sua vida. Diante de muitas dificuldades
financeiras foi levado a ultrapassar essas barreiras. Sem dinheiro para
aulas particulares, e para comprar um instrumento, contou com incentivo
de um vizinho que o emprestou um violão e com esforço começou a
estudar com revistas simples vendidas em bancas de jornais.
Hoje, Márcio é um excelente professor de música em
Petrópolis/RJ, e não se esquece de suas origens: vive da música porém
são muitos os alunos que ele ensina sem remuneração, pelo simples
prazer em compartilhar seu conhecimento adquirido em todos esses
anos. “A música mudou minha vida!” diz ele emocionado lembrando sua
trajetória.
Rodrigo, 34 anos, grafiteiro e ilustrador, viaja pelo Brasil
mostrando sua arte, trabalhando integralmente com ela desde 2012. A
partir daí seus trabalhos tem se espalhado pelo país em diversos
eventos, muitos deles ligados ao movimento Hip Hop(movimento que
engloba dança, música, grafite etc).
Rodrigo sempre desenhou, mas ao chegar em Petrópolis/RJ
conheceu pessoas ligadas a esta modalidade artística que o
influenciaram a se envolver cada vez mais. Atua constantemente em
Ong’s e projetos que levam a arte até aqueles que não têm condições
financeiras para pagar as aulas. O feedback destes alunos é
maravilhoso! São transformados completamente em sua forma de
pensar e agir, respeitando e amando mais o meio em que vivem.
Rodrigo afirma: “Trabalhar com estas crianças rende um livro por dia!”
Marcos Paulo, 26 anos, baterista, nos conta que aprendeu música
na igreja. Desde pequeno os pais o incentivavam a aprender a fim de
ajudar nos trabalhos da congregação. Foi então que contactou um
profissional que o ensinou. Hoje, estudando há 18 anos nos relata
28
benefícios na parte de concentração, memorização, coordenação
motora, e afirma utilizar tais conceitos em todas as áreas de sua vida.
Marcos até hoje toca bateria na igreja. “ Não atuo profissionalmente
nesta área, mas não pretendo parar de tocar!”
Taciana, 25 anos, bailarina, estuda ballet clássico há 7 anos.
Admiradora da maravilha que é o corpo humano, afirma que o ballet
trouxe disciplina para alcançar seus objetivos pessoais. Começou a
dançar de forma amadora também na igreja, e com o tempo, sentiu a
necessidade de aprimorar seus conhecimentos. Todo o ano realiza
espetáculos com outras bailarinas e músicos nesta instituição religiosa,
tendo a oportunidade de repassar tais conhecimentos àqueles que ainda
não tiveram oportunidade de aprender nas escolas de dança. Taciana é
noiva de Marcos Paulo, e participam juntos dos espetáculos.
29
CONCLUSÃO
Em nossa pesquisa falamos com pessoas atuantes em diversas
áreas: música, desenho, dança; alguns atuantes como professores nas
áreas e outros estudantes.
Analisando as respostas em cada entrevista, podemos visualizar
a unanimidade nos relatos acerca da arte como elemento transformador
do ser humano. Várias características positivas foram pinçadas, e todos
concordaram com o fato de que a arte, em si mesmo ou no outro, pode
trazer a concentração, tranquilidade, ânimo e motivação para diversas
coisas.
Os alunos citam benefícios práticos que a arte trouxe de uma
forma especial. Cada ramo das artes traz seus benefícios particulares:
os desenhos, habilidades manuais, capacidade de explorar detalhes; a
música aumenta desenvoltura com matemática, traz extroversão e
disciplina; a dança, flexibilidade, fluidez, liberação dos sentimentos.
Porém os relatos nos mostram que todas as ramificações trazem a
alegria, concentração e motivação. Neste caso observamos casos não
terapêuticos: a arte simplesmente como diversão, descontração...
carregada de benefícios que não foram traçados ao começarem a lidar
com as áreas.
Todos, tanto professores como alunos, se sentem motivados a
continuar utilizando tal manifestação artística em benefício pessoal, que
acaba por se transformar em benefício geral visto que melhora
características fundamentais para convívio social favorável.
Assim cruzamos com as informações e conceitos defendidos
pelos pesquisadores da arteterapia, psicologia e psicoterapia que
afirmam que a arte pode curar emoções e até nosso corpo físico,
possuindo grande êxito na realização das terapias propostas.
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O trabalho artístico então, não pode ser menosprezado como tem
sido nestes dias. Poucos procuram aulas de arte, os governantes pouco
investem (em arte) nas escolas e trabalhos sociais, e aqueles que
investem, investem com motivação equivocada, visando seus lucros e
fama. Ao mesmo tempo, os que amam a arte encontram grande
empecilho para sua formação artística: tudo aquilo que tem relação com
a arte possui alto custo, tornando difícil o acesso.
Comprovamos através da experiência de diversas pessoas, e do
relato de profissionais da educação, psicologia, psicoterapia etc, que a
arte tem um alto poder transformador na vida daqueles que se expõem a
ela. Sendo assim faz-se necessária como elemento básico na vida de
todo ser humano que deseja uma vida em harmonia, e equilíbrio.
31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E WEBGRAFIA
FISCHER, Ernst. A função da arte. In. A necessidade da arte 5ª
edição, Rio de Janeiro, Zahar, 1976.
CARVALHO, Lívia Marques.O ensino de artes em ONGs. São
Paulo: Cortez, 2008.
WENTZ, Giselda. A arte como elemento de transformação, estudo sobre, Novo Hamburgo, 2006. < disponível em: http://ged.feevale.br/bibvirtual/monografia/MonografiaGiseldaWentz.pdf
ATHAYDE, Luzia Sampaio. A expressão esconde uma história, a palavra desvenda-a. In Revista de arteterapia da AATESP, vol. I, N° 01,São Paulo, 2010.< disponível em: http://www.aatesp.com.br/Revistas.aspx
VASCONCELLOS, Érika Antunes. GIGLIO, Joel Sales.
“Introdução da arte na psicoterapia: enfoque clínico e hospitalar”, 2007 < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103166X2007000300009&script=sci_arttext
ALENCAR, Valéria Peixoto . “O que é arte?”
< http://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/arte-o-que-e.htm
“Musicoterapia se consagra aliada da medicina”, 2013 <
http://www.d24am.com/noticias/saude/musicoterapia-se-consagra-como-aliada-da-medicina/79915
“ A cura pelo som”< http://www.deliamatos.com.br
http://www.libertas.com.br/site/index.php?central=conteudo&id=2528
“ O poder libertador da dança”< em www.joanabellydance.com
32
“O uso dos desenhos em grupo” < http://ciec.org.br/ciec_site/Artigos/Revista_5/andres.pdf
“Terapia infantil através dos desenhos das crianças” < http://br.guiainfantil.com/desenho-infantil/212-terapia-infantil-atraves-dos-desenhos.html
“Bíblia Sagrada” < http://www.sbb.org.br/interna.asp?areaID=71
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ANEXOS
Entrevistas com artistas/alunos
ENTREVISTADO 01
RODRIGO, artista e professor.
1- Sexo: masculino
2- Qual sua idade? 34 anos
3- Qual sua área de atuação nas artes?
Artes plásticas/ Grafite/ilustrador (grafiteiro)
4- Há quanto tempo trabalha com esta modalidade artística?
Faço grafite desde 1999, mas vivo 100% dessa arte desde julho
de 2012.
5- Conte-nos o que o levou a aprender tal arte? Como
aprendeu (curso específico, autodidata, com alguém próximo etc)?
Sempre gostei de desenhar, desde criança. Quando vim morar
em Petrópolis, tive contato com muitos amigos envolvidos com pichação
e até pratiquei isso por um curto período de tempo. Vi uma revista, “Veja
Rio”, que publicou uma matéria de capa falando sobre grafiteiros,
percebi então que o spray me possibilitava fazer muito mais do que uma
simples assinatura, comprei umas latas e não parei mais!
6- O que a arte mudou/acrescentou/melhorou na sua vida?
Mudou muito meu estilo de desenho. Com spray, adotei uma
forma mais cartoon, bem diferente do realismo que eu aplicava
normalmente em meus desenhos. Acrescentou uma grande experiência
com diversos materiais diferentes, além de uma grande experiência de
vida com as oficinas que realizo, mutirões em outras cidades e viagens.
Melhorou 100% minha vida profissional. Trabalhar com grafite é a
realização de um sonho, que estou amando fazer.
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7- Você consegue perceber mudanças comportamentais nos
aprendizes (alunos) depois do início das aulas? Ex: mudanças visíveis
em alunos tímidos, agressivos, indisciplinados etc...
Pude notar, e recebi feedback de professores sobre
comportamento, nível de interesse nas aulas, além de um despertar para
leitura e conhecimentos de novos assuntos. O grafite incentiva um
mergulho na arte e no aprendizado, vai além de um simples desenho.
8- Conte-nos alguma experiência com os alunos + arte que o
impactou?
Trabalhar com crianças nas oficinas rende um livro por dia, mas
algumas sempre marcam mais a nossa vida.
Uma oficina que me marcou muito foi em um orfanato em Pedra
de Guaratiba, onde passamos o dia com crianças que vivem no orfanato,
pois foram retiradas dos pais ou responsáveis por maus tratos e outros
problemas graves familiares. Todas elas muito fragilizadas por tais
situações, mas no contato com a tinta, fizeram uma grande festa e como
passamos o dia inteiro no lugar, almoçamos juntos, pintamos juntos,
aconteceu um apego muito forte com todos, e a despedida foi bem difícil.
Entre as crianças havia um menino de 10 anos que desenhava muito
bem, mas ele mesmo não sabia que podia desenvolver esse “dom”.
Após algumas dicas ele mostrou que ainda vai desenvolver muito seu
talento em desenho. Tive recentemente a notícia de que ele está
ajudando em todas as festas que acontecem por lá, desenhando para a
decoração ou fazendo cartazes.
ENTREVISTADO 02
Márcio, músico- guitarrista, professor.
1- Sexo: Masculino
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2- Qual sua idade? 30 anos
3- Qual sua área de atuação nas artes?
Música
4- Há quanto tempo trabalha com esta modalidade artística?
10 anos
5- Conte-nos o que o levou a aprender tal arte? Como
aprendeu (curso específico, autodidata, com alguém próximo etc)?
Comecei a aprender musica bem cedo, aos 8 anos de
idade em uma igreja que minha família frequentava. Aprendia teoria
musical e prática em Flauta Doce; um tempinho depois perdi o interesse
pelo instrumento e interrompi o curso. Aos 14 anos de idade me
interessei por Guitarra e violão, como não tinha condições financeiras
para comprar os instrumentos e pagar um curso resolvi começar com um
violão emprestado do vizinho e uma revistinha de música cifrada da
‘Legião Urbana’. Na época eram poucas as publicações didáticas de
musica e a internet não era popular, por conta disso, minhas referencias
não contribuíam para que eu pensasse em algo maior. Meu alvo era
pequeno, quando aos 16 anos conheci uma pessoa que tinha bastante
material importado e vários vídeos dos maiores guitarristas do mundo;
ele começou me mostrando uma música de um grande guitarrista
chamado Steve vai, ‘For the love of God’ era o nome dela, aquela
musica fora usada pra mudar minha vida pra sempre. Naquela hora
decidi o que queria ser na vida, porém as dificuldades eram quase as
mesmas, eu ainda não tinha condições de pagar um curso, mas aquela
pessoa se ofereceu pra me emprestar aquele material. A partir daquele
dia comecei minha longa caminhada como autodidata, lendo, relendo e
anotando tudo que eu conseguia absorver de cada texto, coluna,
resenha ou lição daquelas revistas. A cada material entendido nascia
uma anotação que era arquivada em uma pasta catálogo, aos 20 anos
de idade já havia acumulado um grande material didático e um bom
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desempenho prático, quando resolvi fazer uma aula com o professor
João Vicente, formado no conservatório de musica Vila Lobos, submeti
meu material a ele para uma conferencia, e ele confirmou ( Graças a
Deus ) que o material estava completo e com uma ordem correta.
Comecei a dar aulas pra alguns alunos e não parei mais. Graças a Deus
e ao apoio incondicional de minha esposa hoje leciono na “Fabrika de
sons”, a melhor escola de musica da região serrana, além dos alunos do
curso livre que dou fora de lá.
O principal método usado pra que tudo isso chegasse em algum
lugar foi a total dependência de Deus e a vontade de ser útil na vida das
pessoas com essa dádiva maravilhosa que é a música.
6- O que a arte mudou/acrescentou/melhorou na sua vida?
Agiu diretamente na minha comunicação com as pessoas além de
me dar as ferramentas de linguagem que me faltam na hora de
expressar o que sinto.
7- Você consegue perceber mudanças comportamentais nos
aprendizes (alunos) depois do início das aulas? Ex: mudanças visíveis
em alunos tímidos, agressivos, indisciplinados etc...
Sim. Os tímidos ou notavelmente fleumáticos geralmente tem
problemas para se expressarem, não são bons com palavras, a musica
chega resolvendo essa questão a ponto de também estimular a
desenvoltura com as palavras.
Os agressivos encontram na musica outra forma de ‘extravasar’,
sem precisar dos gritos ou atos agressivos para isso.
Os indisciplinados são confrontados pela musica, ela se recusa a
se entregar por completo aos indisciplinados, só com dedicação e
disciplina podemos evoluir na musica.
8- Conte-nos alguma experiência com os alunos + arte que o
impactou?
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A dois meses comecei a dar aula pra um garoto ( 14 anos) que
já tinha uma pequena noção musical, porém não acreditava que poderia
conseguir algo legal com a musica, era um caso muito claro de
autoestima abalada, a cada exercício novo que eu passava escutava as
mesmas afirmações: - não vou conseguir esse, esse é impossível pra
mim, esse não dá. Mas ele havia me dito que o maior sonho da vida dele
era tocar o solo de uma musica em especial da banda ‘Guns in Roses’,
sem q ele percebesse eu fui ensinando fragmentos do tal solo pra ele,
em um certo momento mandei ele unir os fragmentos mandando que
observasse o som q estava produzindo, quando ele se deu conta
começou a chorar e dizer: cara, eu não acredito! Esse é o melhor dia da
minha vida!
Não existe dinheiro no mundo que pague isso, a
musica/arte é muito mais do que minha profissão.
ENTREVISTADO 03
Marcos Paulo, aluno, músico- baterista.
1- Sexo: masculino.
2- Qual sua idade? 26 anos.
3- Estuda qual área nas artes?
Música/bateria
4- Há quanto tempo estuda esta modalidade artística?
18 anos.
5- Conte-nos o que o levou a aprender tal arte? Como
aprendeu (curso específico, autodidata, escola, com alguém próximo
etc)?
A proximidade com a música desde criança, dentro da igreja, me
levou a estudá-la. Aprendi com um baterista profissional.
6- O que a arte mudou/acrescentou/melhorou na sua vida?
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Além de uma coordenação motora mais desenvolvida, agrega
diversos benefícios diários, como facilidade de trabalhar em grupo, alívio
de estresse, aumento da capacidade de raciocínio em diversos níveis.
7- Conte-nos alguma experiência pessoal com o fazer
artístico?
Diversas vezes utilizei o meu conhecimento na música para
ajudar na memorização de conceitos que não entravam na minha
cabeça. E até hoje não me esqueço do conhecimento gravado por esta
técnica.
ENTREVISTADO 04
Taciana, aluna, bailarina.
Sexo: Feminino
Qual sua idade? 25 anos.
Estuda qual área nas artes?
Ballet clássico
Há quanto tempo estuda esta modalidade artística?
7anos
5- Conte-nos o que o levou a aprender tal arte? Como
aprendeu(curso específico, autodidata, escola, com alguém próximo
etc)?
Sempre gostei de dançar e queria me aprimorar por isso entrei na
escola de ballet.
O que a arte mudou/acrescentou/melhorou na sua vida?
Trouxe disciplina para alcançar meus objetivos.
Conte-nos alguma experiência pessoal com o fazer artístico?
Sou uma admiradora da máquina chamada corpo humano. Cada
vez me apaixono mais pelo estudo e compreensão do funcionamento
dessas engrenagens. Percebo a evolução diária dos movimentos de
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acordo com os treinos e repetições. É impressionante a capacidade dos
músculos agirem em perfeita sintonia equilibrando força e flexibilidade.
Só o autor da vida poderia projetar um ser com tamanha perfeição.
Imagens dos trabalhos de arte realizados pelos entrevistados
citados .
1- Imagens do trabalho de Rodrigo(CB):
40
2- Imagens de Márcio:
41
3- Imagem de Marcos Paulo
42
4- Imagem Taciana: