Doces Recordações (2008)
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Doces recordações
Ano 2008
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Com imenso prazer chegamos ao terceiro livro de memórias da
UNA BEM.
Esse, como os outros, é um tesouro que esconde pérolas de
vida, preciosidades em palavras e recordações e um encantamento com as
relações humanas que explode em cada frase.
O Resgate das Memórias pessoais é um trabalho que tem dupla
finalidade. Há uma valorização das histórias de vida de cada aluna
recuperando o imenso universo das vivências pessoais e cotidianas, dos
relacionamentos mais importantes, das histórias mais queridas e daquelas
que, por trazerem um sofrimento grande trouxeram uma ressignificação
de todo o viver.Tudo é válido para recordar.Tudo é válido para aprender a
viver.
Por outro lado estamos fazendo, de uma maneira
lúdica e gostosa a recuperação e preservação de
brincadeiras infantis, modos de vida, de saberes, sabores e
lendas dos anos passados o que representa um valioso
trabalho de história regional.
Nessas páginas podemos sentir o carinho pela vida
vivida e muita expectativa pela vida que desponta quando
formamos um grupo, fazemos parte ativa dele, somos
valorizados e queremos permanecer na esperança de
construirmos juntos uma vida mais feliz.
Leila M. Suhadolnik O. Pádua Andrade
Prof. de Resgate da memória pessoal
Coordenadora da UNABEM
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APRESENTAÇÃO
“As mulheres são como saquinhos
de chá: não se sabe sua força até
serem jogadas em água quente.”
Doces recordações trazem as
histórias que foram relembradas por
cada uma de nós, ao longo desse ano de
2008, no curso da UNABEM – Universidade
aberta para a Maturidade.
Durante as aulas da professora Leila – Resgate
da Memória Pessoal – fomos levadas a entrar no túnel do tempo de nossas
vidas. À medida que isso ia acontecendo, as recordações afloravam, como
por encanto, em nossas mentes. Foram muitos os testemunhos que cada uma
ia relatando ou escrevendo, e que nos tocavam profundamente.
Com isso nossas relações de amizade, companheirismo e cumplicidade
foram aumentando, sem falar na transformação que tivemos e de como
nossos olhares sobre cada uma foi mudando.
Fomos aos poucos vendo e sentindo que não éramos tão diferentes
assim nos quesitos; alegrias; tristezas; crises; frustrações; dificuldades;
dúvidas; perdas e ganhos. Então, compreendemos que a tarefa de viver tem
seu significado especial para cada um de nós através do extraordinário
poder que temos de superar dificuldades e enfrentar desafios.
Por tudo isso, Doces Recordações fizeram um bem danado às nossas
alunas e aos nossos corações.
Marisa Batista.
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NASCIMENTO
Sylvia Kallás Andrade
Nasci no mês que se comemora o mês do Sagrado Coração de Jesus,
dia 15 de junho de 1934, numa casa velha, alta e com rampa, situada na
popularmente denominada Praça da Matriz, a Praça Monsenhor Messias
Bragança. Hoje foi substituída por um prédio de pequeno porte, e lá está
instalada a Livraria Tavares.
Meu pai, na época que nasci, tinha uma confeitaria, a Confeitaria
Mineira, que ficava no mesmo prédio de nossa casa.
No ano de meu nascimento, houve uma briga na Praça; os dois
homens, ainda discutindo, entraram na confeitaria de meu pai. Um deles
atirou no outro e a bala atravessou a parede e passou por cima de meu
berço, causando o maior susto e pavor nos meus familiares e nas pessoas
que estavam presentes, mas graças a Deus, nada aconteceu comigo.
Minhas irmãs e eu, quando pequenas, ouvíamos minha
mãe contar histórias de antigamente, de quando havia
um senhor muito rico que morava no centro da cidade
e trazia, da fazenda, seu gado Zebu para desfilar
na Praça. Cada um tinha seu nome escrito na
cabeça e empregados para conduzi-los. Este
senhor se chamava Lucinho Maia. Ouvíamos tudo com
muita atenção e ficávamos imaginando como seria
bonito esse gado Zebu desfilando na Praça e, então,
nossos olhos brilhavam de alegria e emoção.
A saudade aumenta quando me lembro da tia Mery, irmã de mamãe,
que morava conosco e nos dedicava muito amor e carinho. Todas as noites
cantava para nós e contava histórias até dormirmos, alegres e sorridentes.
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Raízes
Isabel Suhadolnik Parenti
Meu avô paterno José Suhadolnik, nascido na Áustria, casado com Franciska
Kapreuk, ficou viúvo com 5 filhos: Mitzy, Crystine, Karol, meu pai Karl,
Rudolf e Valery.
Moravam em Liubliana, cidade que pertencia, na época, ao Império Austro-
Húngaro, hoje capital da Eslovênia.
Antes de estourar a 1ª Guerra Mundial resolveu tentar a sorte no Brasil,
conhecido como o “país do futuro” onde ganhariam muito, trabalhando nas
lavouras de café. Só poderiam imigrar famílias e ele era viúvo. Casou-se
então com uma amiga, também viúva com três filhos, e conseguiram assim, o
visto de embarque, trazendo para o Brasil filhos e enteados.
Desembarcaram no Porto de Santos, em 1910, de onde após algum tempo,
foram trabalhar em fazendas de café em Jabuticabal, S. José do Rio Pardo
e Guaxupé.
Meu avô era alfaiate e depois de se adaptar no Brasil, montou a sua
alfaiataria com meu tio Rodolfo.
Após trabalhar em lavoura de café, papai resolveu tentar uma profissão
trabalhando em um curtume, onde já estavam alguns patrícios. Pouco tempo
depois, foi convidado a dirigir uma charqueada onde se trabalhava com
couros, aqui em Passos.
Nessas idas e vindas do trabalho, passava pela casa de
meu avô Fortunato Tozzi, também um imigrante italiano,
casado com Adolphina Padua Tozzi. Uma das filhas
desse construtor sempre o esperava na janela para um
flerte! Era minha mãe, Carmela.
Casaram-se em 1923.
Em 1925, fundou o Curtume Santa Isabel em comunidade
com meu avô Fortunato.
Seria esta a razão do meu nome? Isabel é de origem judaica e significa:
“Que se dedica a Deus”. Sou a segunda filha do casal, nascida em 23 de
outubro de 1927.
Meus irmãos: Nair (já falecida), Maria, José, Franz, Rodolfo, Carlos e
Vagner Valery.
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Simplesmente Elzinha Kallás
Eu me chamo Elza. Nasci em 26 de agosto, na cidade de Passos. Sou a
11ª filha de Chucralla Elias Kallas e Chafica Nassim Kallas, libaneses da
cidade de Fake.
Quando mamãe ficou grávida, Jamil ficou viúvo e sua
esposa chamava-se Elza. E ele dizia para minha mãe: se for
mulher vai se chamar Elza. Quando eu nasci, mamãe mandou
chamá-lo e disse: vai se chamar Elza. A parteira foi D.
Margarida e nasci na minha casa e na cama de minha mãe que
até hoje está lá na casa de meus pais.
Jamil foi meu padrinho de batismo e me quis muito bem, durante
toda vida.
Minha madrinha é minha irmã Ione, que me quer muito bem até hoje e
me ama muito e a meus filhos também.
Não conheci meus avós, pois eles moravam no Líbano e nunca vieram para o
Brasil.
Tive uma infância muito feliz e fui muito amada por meus pais e pela minha
família.
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Infância em Itaú
Marlene Kirchner Mattar
Nasci no dia 10 de maio de 1937, no então Distrito de Itaú, município de
Passos –MG. Como nessa época, o local não dispunha de médicos, o parto foi
assistido pela parteira conhecida na localidade por D. Maria Guerra.
O ano de meu nascimento coincidiu com a instalação da Cia. Cimento
Portland Itaú no Distrito de Itaú, o que trouxe um grande surto de
desenvolvimento na vila, pois nossa economia estava centrada nos grandes
fazendeiros e em algumas indústrias que exploravam as ricas jazidas de
calcário para fabricação de cal.
Meus pais possuíam enormes propriedades rurais, onde criavam gado
e faziam plantações agrícolas e também exploravam jazidas de calcários,
queimando o produto em fornos denominados “CAIEIRAS”, para a produção
de cal .
Eles também tinham uma serraria, onde beneficiavam as sobras de
madeiras que não eram aproveitadas na calcinação da cal.
Meu pai era de origem alemã, e veio para o Brasil juntamente com
meus avós paternos, por volta de 1920. Eles se estabeleceram em Itaú por
volta de 1925.
Minha mãe era brasileira, nascida na cidade de São João Batista do Glória –
MG.
Dos cincos filhos que o casal teve, eu fui a quarta. Destes cinco
filhos, apenas três sobreviveram. Sendo que dos três, um faleceu
recentemente.
Minha vida em criança era cercada de muito carinho pelos que me
rodeavam. Adorava brincar com as crianças das colônias que meu pai
construiu para seus empregados. À noite,
escutava historias contadas por D. Finger, uma
alemã que morava conosco. Sempre fazíamos
passeios nas outras fazendas do papai, onde nos
divertíamos muito. Adorava andar de bicicleta.
Sempre acompanhava mamãe até a vila de
Itaú para fazer compras. Nestas idas a Itaú, era quase obrigatório dar uma
passada na casa da vó Candinha e da tia Maria José, além de visitar a
comadre Rosa.
Por ocasião do Natal, papai ia até a cidade de Passos e voltava com
inúmeros presentes e gostosas variedades de frutas e castanhas, que muito
me agradavam comer.
Nesta ocasião, mamãe fazia questão de montar o nosso tradicional
presépio.
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Já na idade escolar, fui matriculada numa escola municipal na Vila de Itaú
de Minas mantida pela prefeitura de Pratápolis, já que desde 1943, Itaú não
mais pertencia a Passos.
Nessa escola cursei a primeira série primária e a segunda.
Minhas professoras chamavam-se Maria Anchieta Ramos – Haidé
Parreira Pioto.
Como meu irmão mais velho estudava em Passos, meus pais, acharam por bem
levar-me para estudar lá.
Então fiquei interna no Colégio Imaculada Conceição onde prossegui meus
estudos.
Por volta de 1951, meus pais mudaram para Passos e eu deixei o internato,
mas continuei estudando naquele colégio até a 3ª série ginasial.
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Anjos brincando de gente grande
Zulma Terezinha Lara
Anjos de fé, nossas brincadeiras eram muito saudáveis como casinha
e comidinha, que fazíamos de verdade. Mamãe, muito religiosa, zeladora do
Sagrado Coração de Jesus, nos ensinava a rezar muito cedo, rezávamos o
terço.
Mamãe tinha muito medo de chuva, era só armar que ela já reunia os
quatro filhos e rezávamos. Brincávamos até de rezar missas: a comunhão
era biju de farinha. Quando tinha 6 anos já rezava todo o terço.
Aos sete anos, fiz minha primeira comunhão, minha catequista era a
professora Maria José de Souza. Mamãe, como costureira, fez uma veste
branca longa e um lindo véu branco. Meu irmão José, com oito anos, fez sua
primeira comunhão no mesmo dia. Mamãe comprou-me uma sandália branca
que eu adorei. Eram duas tiras largas na frente e uma passava no calcanhar.
Andava pela rua forçando os pés para frente, para que as correias do
calcanhar se soltassem para eu poder levantar o pé para arrumar, e assim,
todos verem minha linda sandália nova.
Fomos para a cidade, lá era preparada uma festa só uma
vez por ano e reuniam-se crianças de todas as comunidades
rurais de Guapé. Esta celebração ocorreu ainda no Guapé
velho, antes da chegada das águas da represa de Furnas.
Lembro-me que vinham alguns padres de outras cidades,
uns atendiam confissões, outros faziam brincadeiras no
coreto da praça, diante da igreja.
Brincávamos de coroar Nossa Senhora, eu vestia
um vestido de mamãe, colocava um véu sobre a cabeça,
subia em um banquinho e era coroada pelas amiguinhas, com coroa de ramos
e cipó de São João.
Quando faltava chuva íamos longe, no meio do cafezal, onde havia uma
cruz e havia morrido um trabalhador da fazenda, de acidente. Levávamos
água para molhar a cruz, pois assim se acreditava que a chuva viria.
Um dia, D.Jovita, responsável pela reza, toda contente, pediu-me que
eu tirasse o terço, pois queria mostrar que eu era capaz de contemplar
todos os mistérios. Comecei a rezar e todos respondiam, e eu sentia uma
grande emoção por comandar aquelas orações. Eis que de repente começou a
chover, em pleno meio dia, um sol escaldante, a chuva caia em nós, olhávamos
para cima e as gotas pareciam de prata, devido ao sol forte e o céu azul...
Foi uma experiência maravilhosa! O chão, com uma poeira fina, ficou
marcado pela chuva só no lugar onde estávamos. Voltamos para casa,
maravilhados. Minha infância ficou marcada com histórias fortes.
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Uma vida feliz
Maria de Lourdes Carvalho Esper
Chamo-me Maria de Lourdes Carvalho Esper, nasci em 23/02/1932, em
Passos, filha de Antonio Júlio de Carvalho, cirurgião dentista e Adozinda
Ferreira Lopes, do lar.
Sempre fui uma mulher voltada para o trabalho. Aos catorze anos
conheci o José (foi amor à primeira vista, pois eu disse: vou casar com esse
turco; posteriormente ele também falou: eu falei a mesma coisa: esta moça
vai ser a minha mulher!), namoramos e em 20 de junho de
1947 casamos, então eu, com apenas 15 anos. Para casar tive
que enfrentar o desacordo de meus pais e também dos
pais dele. Tanto foi que combinamos fugir com o apoio de
alguns parentes e amigos. Fomos até Santa Rita de Cássia e,
na Igreja Matriz, nos casamos.
De volta para Passos, fomos morar na casa de meus pais. O meu marido
também foi um homem voltado totalmente para o trabalho. No final de
alguns meses de casados fomos morar na roça, onde tínhamos uma pequena
venda. Nosso primeiro filho nasceu em 30 de abril de 1948. Foi um parto
bem difícil, sem uma boa assistência, mas vencemos. A vida era um
crescente desafio: o José saía para comprar e vender e eu cuidava da venda
e dos afazeres domésticos. Lavar, passar, socar arroz no pilão, torrar café
na panela, matar e fritar capado (porco gordo), encher lingüiça, fazer
chouriço, picar carne de vaca, cuidar das pequenas criações (porco, galinhas,
patos, perus, vacas e bezerros) era obrigação diária.
Nossa casa era bem freqüentada, recebíamos todos bem. Tivemos mais 3
filhos, ainda na roça.
Nosso quarto filho já nasceu na cidade, mas, ainda assistido por parteira.
Montamos um açougue onde eu trabalhava das cinco da manhã até altas
horas da noite, sem jamais deixar os afazeres de
casa. Lavar uma roupa era um dos afazeres
domésticos que eu mais gostava. Sou exigente e gosto
de lavar e passar. Faço-o muito bem. Sempre fui muito
feliz com meu marido e meus filhos. Minha vida
resumia em trabalhar e viver bem para todos.
Tivemos uma grande alegria quando Deus nos
presenteou com uma filha. Esta, já nasceu na Santa Casa de Passos.
Como todo casamento, tivemos altos e baixos e situações complicadas,
mas jamais deixamos de amar um ao outro.
Muitas vezes passamos por dificuldades financeiras, mas em momento
nenhum deixamos de receber de Deus as bênçãos milagrosas.
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Vivemos casados por 58 anos, com muita união, felicidades e alegria.
Em 1998 perdemos um filho, então com 48 anos de idade. Foi um tempo
muito difícil para todos nós. Todavia, ele havia deixado duas filhas, às quais
nós ajudamos a encaminhar.
No ano de 2005, exatamente no dia 10 de maio, perdi meu marido. Homem
bom, trabalhador, honrado e honesto. Vivemos um tempo bem difícil até os
dias de hoje.
Deus, na sua bondade infinita, fez-me entender que a vida continuava e
que eu, então, deveria assumir também o papel de pai de meus filhos.
Agradeço e louvo a Deus por tudo isso, especialmente pela minha vida, do
meu marido, de meus filhos, netos, netas, um bisneto, nora e genro.
Deus me contemplou com um grande dom: o dom da humildade. Nunca
blasfemei ou senti que não valia a pena viver, nem nos momentos mais
difíceis que passamos.
Tenho bons e grandes amigos e amigas que diariamente freqüentam a
minha casa. Recebo a todos com uma palavra de gratidão e esperança.
Gosto muito de rezar!... Rezo para todos: os que me pedem e também
para aqueles que não pedem.
Sou feliz.
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Adolescência de Nara
Nara Salgado Maia
Meu pai era fazendeiro em Cássia e viajava pelos sertões
comprando gado e sempre fazia amizade com vários fazendeiros. Foi assim
que, em Monte Carmelo, um lugar onde fazia uma parada para o gado
descansar, ele fez amizade com um fazendeiro que tinha uma filha chamada
Nara. Ao completar 40 anos, meu pai se casou com minha mãe e parou de
viajar pelos sertões comprando gado. Tiveram 3 filhos e como sou a última
ele me deu o nome de Nara, em homenagem ao seu amigo.
Brinquei de bonecas até os 11 anos, só deixei
quando ganhei uma bicicleta importada, azul, pois no
Brasil não fabricavam. Foi a minha maior
felicidade.
Quando eu tinha 15 anos, meu pai comprou
uma caminhonete Ford verde e, como ele não
sabia dirigir, me ensinaram a guiar em um mês. A
partir daí eu levava meus pais, toda manhã, para a fazenda e à tarde ia
buscá-los, sempre acompanhada de minha mãe.
Nessa época filho não discutia ordem dada pelos pais. Não tínhamos
muitas alternativas, passeios e nem bailes. Só ganhei meu primeiro sapato
de salto depois de fazer quinze anos.
A gente era feliz com o pouco que tínhamos. Nas férias fazíamos
brincadeira dançante nas casas de colegas. Cada domingo era na casa de uma
colega, levávamos discos que tocavam uma música de cada lado. Depois que
surgiram os long plays que tocavam várias músicas.
Não era servida cerveja ou qualquer bebida alcoólica. A bebida
servida era ponche de frutas feito com guaraná Antártica e frutas
picadinhas. Os pais eram muito vigilantes e entre 10 e 11 horas da noite a
festa acabava.
Hoje, com 63anos, consegui realizar meu sonho que é ser feliz como
uma criança, mas para isso tive que aprender a viver sem ter vergonha ou
medo de ser feliz....
Faço este álbum para os meus filhos e noras, que não são noras, são
filhas, e para os meus netos, razão da minha vida. Não quero que olhem este
álbum com lágrimas nos olhos, mas, sim, com um sorriso nos lábios e
felicidade no coração.
Eu os amo muito e, se algum dia eles tiverem tempo para contar as
estrelinhas do céu, então descobrirão o tamanho do meu amor por eles.
Dizer sempre “eu os amo”, faz muito bem para a alma e para o coração.
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Um legado de fé.
Marisa Batista
Mamãe era de estatura pequena, pele muito alva, traços bonitos,
cabelos castanhos claros e lisos e de temperamento muito calmo.
Sua vida era o lar e os filhos. Trazia as crianças sempre muito limpas,
as roupas simples e bem cuidadas.
Mamãe lavava, passava, cozinhava e cuidava dos filhos, sempre atenta
a tudo que fazíamos. O dia dela se resumia em coordenar a criançada, pois
éramos oito: cinco mulheres e três homens. Era alimentação, banhos, vigiar
as brincadeiras, nada escapava ás suas vistas.
Escola, catecismo e missa aos domingos ninguém podia faltar, mesmo
se estivéssemos com alguma indisposição, pois falava que era manha nossa.
Muito religiosa não perdia por nada as comemorações religiosas. Durante a
semana Santa lá ia ela com um bando de crianças para as procissões. As
pessoas até achavam bonita a cena: mamãe com um bebê ao colo e eu e
minha irmã, cada uma levando uma criança ora nos braços, ora puxando pelas
mãozinhas.
Para nós o Natal e a Semana Santa eram tudo de bom.
Aguardávamos com ansiedade a chegada dessas
festas, pois só nestas ocasiões que a gente
estreava sapatos e roupas. Era uma festa, uma
alegria enorme tomava conta de nossos corações.
Acreditávamos em papai Noel e os presentes, por
mais simples e humildes que fossem eram sempre bem
vindos.
Lembro-me bem da Primeira Comunhão de cada um de nós. Mamãe
fazia questão de mandar fazer os vestidos numa costureira muito boa para
que ficassem bem bonitos. Para os meninos terninhos feitos pelo alfaiate de
papai. Comprava sapatos meias, luvas e véus brancos para as meninas e
sapatos pretos de verniz para os meninos. Preparava uma mesa de café e ,
após a missa convidava nossos amiguinhos para tomar lanche conosco.
Também fazia questão de levar-nos ao fotógrafo para tirar uma foto de
estúdio.
Não usava comemorar o aniversário das crianças mesmo porque era
praticamente um por mês e isso era um luxo que não tínhamos. Anos mais
tarde, na adolescência, é que começamos a fazer umas festinhas.
O sonho de mamãe era que os filhos estudassem e para nós mulheres
queria que todas nós fossemos professoras.
Íamos crescendo, éramos felizes e unidos e esse legado de fé mamãe
nos deixou e até hoje somos fiéis a ele.
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Namoro, noivado e casamento
Sylvia Kallás Andrade
Conhecer e sentir simpatia foi o que aconteceu com o meu
primeiro namorado.
Certo dia, fui a uma loja próxima à minha casa e um moço
passou na loja onde sua prima Nida trabalhava. Lá, ele me viu e escreveu um
bilhete em francês para mim, que dizia: “Você é uma
menina muito bonita”, e entregou o bilhete à Nida
para me repassar.
No dia seguinte, ela me chamou e me deu
o bilhete, no exato momento, ele entrou na loja, fomos
apresentados e nos simpatizamos um com o outro.
Começamos a nos encontrar na loja e aos poucos no Jardim,
escondidos de minha mãe, que ainda não admitia namoro. Namorávamos sem
que meus pais soubessem, de seis horas da tarde às oito da noite.
Mas nosso namoro não estava dando certo porque eu ia muito
cedo para casa e ele se encontrava com outras moças para preencher o
tempo, ia ao cinema, aos bailes. Quando ficava sabendo, desistia com ele,
pois não queria que fosse assim.
Certo dia contaram para minha mãe que eu estava no Jardim
com um moço. Ela foi até lá e me disse:
- Vá para casa, já!
E eu fui chorando Quando cheguei em casa tomei uma surra e
fiquei um mês sem sair de casa, só ia ao Colégio.
Mamãe não queria este namoro, pois, no tempo certo, ela
arranjaria um parente para se casar comigo e não um brasileiro. Mandou-me
para o Rio de Janeiro. Fiquei lá três meses na casa de tia Mery, mas, mesmo
assim, não deixei o meu namorado, escrevia sempre para ele, dando notícias.
Quando voltei do Rio, os parentes passaram a nos vigiar, foi
uma época difícil para o namoro. Uma tarde estava com o meu namorado no
jardim quando vi passar um parente, fiquei apavorada e corri para casa. Na
pressa, perdi minha anágua, contei depois para minhas amigas o acontecido e
rimos muito, o fato virou piada.
Algum tempo depois, papai me levou novamente para o Rio de Janeiro
para encontrar com um parente que estava chegando do Líbano. Fomos
encontrá-lo em alto-mar. A intenção de nossas famílias era de que nos
simpatizássemos um com o outro, porém só nos tornamos amigos.
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Foi assim que meu namoro com o Célio continuou às escondidas.
Até que mamãe se conscientizou que era dele mesmo que eu gostava, então
me chamou e disse:
- Filha, traga seu namorado e venha namorar aqui dentro de
nossa casa, não quero que você continue se encontrando com ele só no
jardim.
Namoramos por mais ou menos três anos e após constatar que
nos amávamos e queríamos nos casar, ficamos noivos no dia 15.6.1953, dia do
meu aniversário.
Os pais do Célio, Sr. Manuel Andrade e D. Maria Deleposte
Andrade, vieram pedir permissão para esse compromisso e abençoar as
alianças e a nós. Esta data foi uma alegria e ficamos todos felizes com a
união das duas famílias.
Noivamos por um ano e nos casamos às oito horas da manhã, do
dia 5 de maio de 1954.
A cerimônia foi realizada durante a missa
celebrada pelo Padre José Deleposte, tio do Célio, e o
coral do qual eu fazia parte cantou lindos cânticos.
Foi um dia inolvidável, a festa se
alongou pela tarde até a hora de tomarmos o avião
da Empresa Real com destino ao Rio de Janeiro,
aonde chegamos já com as luzes da cidade se
acendendo. Vistas do avião eram uma maravilha, um verdadeiro espetáculo.
Passeamos muito, conhecemos vários lugares turísticos da
cidade: Pão de Açúcar, Corcovado, Paquetá e Niterói. Tiramos várias fotos
que até hoje guardamos como recordação. Passamos quinze dias nessa lua-
de-mel inesquecível, que recordamos com saudades.
Quando voltamos da viagem, moramos dez meses com minha
sogra, pois o Célio trabalhava na Usina Açucareira. Depois disso, mudamos
para a vila residencial, nas dependências da Usina, que oferecia casa aos
seus funcionários.
Foi muito bom o tempo que passamos naquela vila. Lá havia
festas, cinema e muitas comemorações, alto-falante com músicas à tarde
que preenchiam o tempo dos moradores. A vida lá se diferia com muita
evidência da vida a que estávamos acostumados, pois morávamos no centro
da cidade e nos mudamos para uma espécie de vila distante da cidade.
Lecionei três anos na Escola Dr. Joaquim Mário, na Usina.
Ficamos morando por seis anos lá e fizemos muitas amizades.
Como sou muito comunicativa, entrosei-me logo com outros moradores.
Nossos filhos nasceram lá. Hoje tenho saudades deste tempo distante.
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Sou uma pessoa que gosta de estar envolvida com a família,
amigos e a igreja, na qual trabalho em vários movimentos.
Gosto de estar com minha família. Fazemos muitas reuniões,
passeamos juntos e, principalmente, festejamos aniversários e tudo de bom
que a vida nos proporciona.
Sou feliz pela minha vida e também porque Deus me deu a
graça de comemorar com muitas festas as Bodas de Prata, as de 40 anos de
casados e as Bodas de Ouro, junto aos filhos, netos e neta, genro, nora,
familiares e amigos.
Completando meu prazer, faço parte, hoje, da Unabem que é a
Universidade Aberta para a Maturidade. Essa universidade nos proporciona
muita alegria.
Obrigada a todos aqueles que nos ajudam a trazer à tona
nossas recordações. São pessoas maravilhosas, dignas de serem aplaudidas.
São elas: Leila, Nádia, Cal, Gustavo, Ernani, Michele, Ana Paula e Gabriela.
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Namorar e enforcar aula...
Maria Thereza Mello Kallás
Estudava no Colégio das Irmãs. Lourdinha, minha amiga, e eu
não gostávamos muito de estudar e, sim, de aproveitar e namorar... Naquela
época falava-se enforcar a aula. Assim, íamos para o campo de futebol e
ficávamos lá comendo o lanche e conversando sobre namorado. Depois íamos
para casa como se tivéssemos ido à aula. Por isso ficávamos muito de
castigo.
Eu aproveitei muito e namorei bastante. Naquela época, se falássemos
”vamos fazer uma brincadeira na casa de fulana”, isso significava dançar ao
som de uma vitrola. Começávamos às 7 horas e terminávamos às 10 horas
da noite.
Quando eu tinha 13 anos, minha mãe me deixou usar salto alto e um
vestido justo para ir ao Passos Clube. Eu me senti maravilhosa!
Naquela época o divertimento era o clube ou o jardim da Matriz. Esse
jardim era bom demais: onde começava o namoro, primeiro o flerte. Depois,
o rapaz vinha conversar, pedia o namoro e em seguida saíamos para sentar
nos bancos do jardim e namorar...
Uma história interessante de que me lembro foi quando
minha mãe teve a primeira neta e todas as sobrinhas queriam
ser madrinhas de representar. No dia do batizado fomos todas
para a igreja e o padre era o Monsenhor Messias. Assim que
chegamos ele disse que para ser madrinha teria que estar
com roupa de mangas e vestindo meias e véu. Então
eu fui a madrinha, pois era a única que estava
com mangas e meias. Ah!
O véu eu pedi
emprestado para
minha irmã...
Assim, eu fui uma
madrinha muito feliz!
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A infância de menina levada
Nilda Esper Kallas
Sou de uma família de 8 irmãos. Quando eu estava para nascer, D.
Elvira foi atender minha mãe, pois nesse tempo os partos eram feitos em
casa. Minha mãe disse para Tia Reina que se fosse mulher pegasse as
roupinhas rosa e se fosse homem pegasse as azuis, que estavam
arrumadinhas na gaveta...
Minha tia se desorientou tanto que pegou as roupinhas azuis. Minha
mãe ficou satisfeita, pois, meu pai estava louco de vontade que viesse mais
um homenzinho. Quando perguntou à D. Elvira qual era o sexo, ela muito
brava respondeu:
- E você ainda pergunta? Minha mãe ficou por entender. Quando falou
com minha tia ela confessou ter se enganado com as roupas e só não apanhou
porque minha mãe não dava conta de levantar-se!
Fui à escola com sete anos e sempre levava muita merenda.
Na igreja do Rosário, onde hoje é a prefeitura, eu assistia ao
catecismo e ganhava pontos. Quem não faltasse ajuntava muitos pontos.
Quem tivesse mais pontos escolhia o melhor prêmio, no dia da exposição de
prendas.
Na minha casa tinha um colchão de palha. Eu
gostava de dormir nele e não deixava ninguém
dormir lá. De manhã eu arrumava a cama e enfiava
a mão dentro do colchão, em uma abertura da
capa, e esparramava as palhas de modo que ficasse
muito alto. Quando alguém assentava sobre ele, eu
não gostava e ficava muito brava.
Minha família e eu morávamos ao lado dos meus avós
maternos. Meu avô era fazendeiro e tinha uma charretinha toda pomposa e
linda. Não deixava ninguém sair nela. Ia todos os dias à fazenda e só levava
meus irmãos. Não gostava de levar as meninas. Uma vez fui com ele e
chegando lá quis andar de carro de boi. Morria de medo, grudei na armação
do carro, quase chorando e gritando.
Meu avô trazia latões de leite da fazenda, que minha avó vendia. Ela
colocava uma mesa coberta embaixo de uma enorme parreira. Abria de um
em um os latões e com um litro com um cabo de ferro comprido ia medindo a
quantidade acostumada para cada freguês. Nessa época não havia leite
pasteurizado.
No mês de maio havia as coroações de Nossa Senhora. As duas
meninas que iam coroar davam saquinhos de doces para as acompanhantes
que ficavam do seu lado. Após a coroação, as duas meninas ofereciam o
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saquinho para a menina que carregava a coroa, para o padre e para a senhora
que ensaiou. Era uma alegria imensa, todo mês de maio eu aproveitava com
vestido branco comprido, de véu e grinalda.
Uma vez convidei minha prima Nadéa para jogar maré e tive uma idéia
de cercar um carro que vinha na rua.
Pulamos no meio da rua e abrimos os braços e as pernas, e o chofer
que vinha na maior velocidade, buzinava sem parar. A Nadéa pulou fora e eu
fiquei no meio da rua de braços e pernas abertos. O chofer fez uma brusca
parada, derrapando o carro na rua de terra. Nessa época a Rua Dois de
Novembro não era calçada. Foi um poeirão em volta de mim.
O chofer desceu do carro xingando e deixando a porta aberta, subiu
as escadas para falar com meu pai. Meu pai mandou-nos chamar, levou-nos
para um quarto. Desceu a vidraça para não fazer barulho para o vizinho e
disse: “Venha experimentar o sapatinho novo, o vestidinho novo, minha
filha”.
Ficou muito zangado com minha prima dizendo que não ia bater nela
porque não era filha dele. Foi tirando a correia devagarzinho e me deu umas
boas correiadas dizendo: _ Você quer fazer o carro parar?
Foi a primeira e última vez que eu apanhei de meu pai. Era só ele olhar
para a gente, que ficávamos quietinhos sem dizer uma palavra e sem
discussões.
Aproveitei muito minha infância, brinquei demais, jogava peteca, iôiô,
bilboquê, pulava corda, brincava de pique de esconder, queimada ou
cemitério, rebatia bola com minha vizinha Dalva e nas férias, ia à
piscina todas as manhãs.
Todos os anos, dia 1º de janeiro, toda família
de meus avós paternos reuniam-se na casa deles,
durante a tarde inteira.
Era costume os avós e os tios, darem
dinheiro às crianças. A gente chegava perto de cada
chefe de família, tomava a benção e dizia: “feliz ano bom”, e
cada um dava uma nota para a gente, com valores variados.
As meninas iam todas de bolsinha nas mãos ou a tiracolo.
Eu tinha muita vontade de saber se nota rasgava, fui ao quintal, olhei
para os quatros cantos, não vi ninguém, peguei uma nota de 10 mil reis, parti
com as mãos, bem no meio da nota.
Fiquei com tanto medo de apanhar que joguei as duas metades na
sarjeta e corri para casa que era do lado. Esperei um tempinho e voltei para
casa de minha avó.
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Pouco tempo depois, um de meus primos chegou gritando; “olhem o que
eu achei!!” E mostrou as duas metades do meu dinheiro rasgado. O pai dele
disse: “me dá aqui, que eu troco pra você”.
Eu quase morri de paixão, mas não abri a boca de medo. Fiquei com
menos dinheiro que as outras crianças, que quase a toda hora abriam a bolsa
para contar quanto tinham. Mas valeu a experiência, matei a vontade.
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Infância religiosa
Juvenila Carvalho Hipólito de Souza
Eu nasci em 24 de junho de 1933. O mês de junho é consagrado ao
Sagrado Coração de Jesus e aos santos: Antonio, casamenteiro, São Pedro e
São Paulo, que tem a chave do céu e São João Batista, o batizador. Sabemos
pelas palavras do anjo Gabriel que João, cujo nome significa “Deus é
propício” foi concedido aos dois cônjuges, Isabel e Zacarias, em idade
avançada e enviado por Deus para endireitar os caminhos do Senhor, foi
santificado pela graça divina antes mesmo que seus olhos se abrissem à luz.
Tive uma infância muito alegre. Mamãe nos deixava ir, depois do
jantar, para a rua do Colégio das Irmãs, onde brincávamos de vários tipos de
jogos: boca de forno, pique esconde, passa anel, pular corda, apertar a
campainha na casa dos vizinhos, barra-manteiga e muitos outros. Quando
batiam sete horas, mamãe chamava para tomar banho e logo a seguir nós
íamos dormir. No outro dia, começava tudo de novo.
O senhor Luiz Patti era o farmacêutico que aplicava injeção. Ele tinha
um auxiliar que se chamava Nino
que era um anjo de pessoa, não deixava a injeção doer. Mas na hora
de aplicar era um deus- nos- acuda!
Meus padrinhos, Dr. Arthur e Madrinha Carolina, moravam em frente
a minha casa. O quintal deles era imenso, com muitas frutas.
Eu, como afilhada, era sempre convidada para ir apanhar e
comer aquelas deliciosas frutas! Minhas amigas ficavam
com ciúmes, mas eu sempre dividia com elas.
Minha primeira comunhão foi linda! Meu vestido
branco, enfeitado com rendinhas franzidas, fazendo um
desenho que formava flores. Vesti um véu branco e
minha alma estava pura, sem maldade, sem egoísmo e
alegre porque ia receber Jesus, que deu seu precioso
sangue, também por mim!
Eu sempre amei a vida. A vida é muito bela de se viver, sempre
agradeço por estar vivendo bem todos estes anos!
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Os amores da minha vida
Benedita Aparecida Barros de Oliveira
Nasci em Três Corações, dia 24 de março de
1933, portanto, estou hoje com 74 anos bem
vividos, cheio de emoções e saudades.
Recebi este nome porque minha
mãe era devota de São Benedito e como
estava demorando a engravidar, fez uma
promessa de colocar esse nome que significa ser
uma pessoa bendita e abençoada por Deus!
Meus pais eram muito bons e eu tive
uma infância tranqüila e feliz. Brincava como
toda criança com pureza e ingenuidade. Nunca fiz
arte ou me machuquei feio por ser calma e muito bem
cuidada pela minha mãe.
Minha mãe chamava-se Maria Porto de Barros era carinhosa, fina,
educada e que nunca me bateu. Meu pai era maravilhoso, lindo, inteligente,
extrovertido. Papai Valdomiro Barros Lemos era um artista, um poeta que
declamava lindos poemas e era muito aplaudido.
Quando eu estava com cinco anos, mais ou menos, fomos morar em
Poços de Caldas onde havia cassinos famosos e onde o meu pai trabalhava
como chefe dos “croupiês” no “Palace Hotel”. Em Poços, eu estudei até a
quarta série e minha professora me ensinou a declamar poesias (tem uma
poesia chamada “Arara” que lembro até hoje). Meu pai era poeta e
declamava sempre no palco do cassino quando havia convidados importantes.
Ele me levou na Rádio de Poços para declamar e foi emocionante!
Meu pai conheceu gente famosa e importante como Getúlio Vargas,
Carmem Miranda, Libertad Lamarc,etc.Mas , um dia, veio um decreto e
fechou todos os cassinos do Brasil.Então, viemos para Passos.Moramos,
também, e São Paulo e aos meus 17 anos voltamos definitivamente pra
Passos.
Aos dezoito anos diziam que eu era muito bonita, mas, recatada e
ingênua. De repente, um moço lindo, loiro, alegre, começou a me rodear até
me conquistar. O seu nome era Grimaldes Oliveira Campos era apaixonado
por mim, me adorava, me namorou e conquistou pra sempre!
Casamos e fomos muito felizes!Tivemos seis filhos:Fernando, Júlio,
Grimaldes,Cristina,Sandra e Raquel. Sou avó de 14 netos e 1 bisneto. Hoje,
sou viúva, moro sozinha e tenho duas damas de companhia: uma para o dia e
outra para a noite.
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Primeira Comunhão Isabel Suhadolnik Parenti (Belinha)
Houve um momento especial na minha vida!
A primeira Comunhão, o vestido branco, a coroa de
flores e o véu!
Naquele tempo, a Santa Casa de Misericórdia de
Passos era dirigida pelas irmãzinhas da
Imaculada Conceição, congregação fundada pela
Irmã Paulina, e todo ano elas preparavam as
crianças das imediações para receber Jesus.
A Capela de Nossa Senhora das Dores era
enfeitada com carinho para o grande dia!
Eu fui uma dessas privilegiadas crianças e não me esqueço
do quanto senti meu coração batendo forte, de tanta
felicidade!
Após a missa uma grande e enfeitada mesa foi servida, com
coisas que toda criança gosta.
Recebemos um Santinho e um terço como lembrança. Até tirei o meu
retrato com ele!
O Sr. José Barbosa, o fotógrafo mais famoso da cidade, esteve lá marcando
com fotos o grande acontecimento!
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Rezar para as almas
Zulma Terezinha Lara
Um de nossos folclores, que infelizmente está desaparecendo, pois
não vejo há muitos anos, mas é muito vivo em minha memória é o costume de
rezar para as almas. Quando eu era menina, na fazenda, na época da
Quaresma se rezava para as almas. Só homens é que saiam para rezar, em
números ímpares, nunca pares, e só rezavam em números ímpares de casa.
Era proibido abrir portas e janelas e, a reza, era sempre à noite. Os
rezadores andavam em silêncio, não podiam olhar para trás. Dizia a lenda
que as almas acompanhavam a reza, todas vestidas de branco. Eles usavam
catracas, que iam batendo para acordar os donos das casas para que
também rezassem, e tudo com muito respeito, era cantado e também
rezado, durante os dias comuns da quaresma. A oração era mais ou menos
assim:
Alerta, alerta pecador, este sono que vos dorme, Ave
Maria, Ave Maria.
Bendito, louvado seja, na paixão do redentor, Deus
desceu do céu na terra, padeceu dos pecados, com
Maria Imaculada que dela nasceu Jesus, Ele foi o que
Deus criou, padeceu por nós na cruz.
Reza um Pai-Nosso e também uma Ave Maria, Ave
Maria, ai, ai, ai...
Reza mais um Pai-Nosso e uma Ave Maria, Ave Maria,
ai, ai, ai...
Peço mais um Pai-Nosso e uma Ave Maria, Ave Maria, ai, ai, ai...
Me despeço na graça do Senhor e com muita fé seguimos
Bendito seja Deus e Ave Maria, Ave Maria.
Na roça dormíamos cedo e à meia noite, saíamos para rezar, sempre
as quartas ou sextas-feiras. Na última casa era servido um café e isso
acontecia sempre em minha casa. Antes de deitarmos, preparávamos o café
com quitandas, ou pamonha. Colocávamos a mesa do café do lado de fora,
onde tinha um banco e deixávamos tudo arrumado. Às vezes, tínhamos medo.
Meu irmão era o mais medroso, quando ia rezar em casa, ele corria e
deitava com a mamãe e o papai. Quando ficou mais mocinho, um dia inventou
de acompanhar a reza, e lá foi ele jurando se comportar. Foram rezar em
uma colônia, um pouco longe de casa. Vários dos que rezavam moravam nessa
colônia e só restou três deles para voltar para casa com meu irmão. Quando
chegaram ao alto do morro começaram a ouvir vozes. Dos três, um era mais
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corajoso e disse para os outros que não olhassem para trás, andassem
firme, não corressem e que rezassem! Meu irmão, muito curioso, deu uma
leve olhada para trás e disse que tinham umas cinqüenta pessoas de branco
atrás deles, e que conversavam muito. Seu cabelo arrepiou todo, saíram
gritando e correndo. Meu irmão chegou em casa, branco, quase sem fala e
nunca mais quis acompanhá-los.
Nesse domingo que passou, encontrei-me com um dos rapazes que
rezava naquele tempo. Fazia muitos anos que não o via, foi muito bom
revivermos nossos tempos na roça. Ele me contou muitas coisas que
aconteciam com eles durante as rezas e que eles não tinham medo. Quando
saiam com poucos homens para rezar, eles cantavam e ouviam muitas outras
vozes que cantavam com eles, no ritmo certo da música e que, muitas vezes,
pareciam implorar suas orações.
Adorei as estórias que ele me contou. Ele disse que havia a reza
comum da Quaresma e que, na semana das dores, rezava-se as sete dores
de Maria, uma outra canção. Mas eles não rezam mais há muitos anos. Ele
acredita que era muito sofrido e que não davam sossego para as almas que
ficavam muito agitadas, e que não temos o direito de tirá-las deste sossego
eterno.
Valeu a pena relembrar esta estória que me acompanhou enquanto eu
vivi na roça, que há trinta e quatro anos não vejo mais. Tenho saudades!
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Leilão inusitado, muitos anos depois...
Sylvia Kallás Andrade
Ave Maria Puríssima
Ginásio da Escola Normal Imaculada Conceição
Passos, 27 de outubro de 1949
Prof.ª Ana Rita Stockler Mezencio
Aluna: Silvia Kallás
Leilão de “Nossa Classe”
Como precisamos de uns moneys para a construção do Ginásio,
resolvi fazer um leilão das preciosidades de nossa classe.
Em primeiro lugar, quanto me dão pela tagarelice da Mesqui?
Pela bondade da Selma combinada com a boa vontade da
Augusta?
Quanto me dão pelo espalhafato da Vitória?
Quem dá mais pela sapequice da Inês Moraes? Quem deseja
arrematar a malandragem da Conceição Câmara combinada com o
jeitinho da Cici?
Quanto me dão pela sabedoria da Ineizinha e os
desenhos da Leila?
Quanto me dão pelas leituras da Nirce
e a santidade da Geralda?
Quem dá mais pelas sardas da Emília e
pela gordura da Placidina?
Quanto vale o batuque da Conceição Alux
e o acanhamento da Neif?
Quem dá mais pelo sorriso e pelas covinhas da Sirlene?
Rifa-se a voz de barítono da Elvia e a calma da Marly.
Quem dá mais pela elegância da Silvia combinada com as pernas
de seriema da Anunciação?
Quem quer arrematar as brigas da Nora e da Gleida?
Quanto me dão pelo nervosismo da Clarinda e assiduidade da
Ivis?
Quem dá mais pelas madeixas douradas da Expedita misturadas
com as da Vilma?
Rifam-se os beliscões da Beraldo.
De minha importante pessoa, rifo os tênis rasgados e a língua
de cinco metros, misturados com a gagueira da Dodora.
Saudades do tempo de estudante!
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Porque me chamo: Adelaide
Adelaide da Penha Alves
O nome próprio é um sinal de cidadania, nos identifica e distingue um
dos outros. O nome é um som ou conjunto de sons que ao ser ouvido,
imediatamente nos faz pensar assim: sou eu...
O nosso nome é um dos primeiros sons a penetrar em nossa mente e
ser fixado na memória.
O primeiro nome que minha mãe sonhou
pra mim foi: AÍDA. Não que ela conhecesse a
ópera de Giuseppe Verdi e, sim, por ter conhecido
em sua adolescência uma senhora, muito bondosa,
elegante e que a tratava bem. Meu pai, em sua
simplicidade rústica de um bom mineiro do
interior, respondeu:
- Aída? Mas, então, a próxima filha vai ter
que se chamar: A VOLTA...
E foi assim que esse lindo nome foi descartado.
Imaculada, lembrando o dogma da concepção da virgem Maria ou Inês,
exalando a pureza de Santa Inês, eram os nomes mais cotados para mim.
Mamãe os achava lindos!
Meu pai queria porque queria que eu me chamasse: PENHA. Era
devoto de Nossa Senhora da Penha e tinha até um lindo quadro da santa com
um rio, um jacaré, a mata fechada com uma cobra venenosa e em cima de um
penhasco (ou pedras ou penha), a imagem de Nossa Senhora que salvava um
homem desses perigos. O meu pai, que foi criado e sempre viveu na roça,
tinha muita fé e dizia que Nossa Senhora da Penha o tinha livrado desses
perigos.
Bem... Havia aí um pequeno impasse... E talvez, a escolha do nome
tenha também um toque especial de algo não muito bem definido a que
chamamos: DESTINO.
Só sei que nasci no dia 16 de dezembro e que muitos santos são desse
dia. Ou seja, têm esse dia dedicado a eles. E foi aí que minha mãe teve a
idéia de olhar no ALMANAQUE FONTOURA.
Naqueles idos de 1.947 quase não havia publicações escritas aqui,
nesse interior das Gerais, a não ser esse famoso e útil almanaque que era
distribuído pelas farmácias. O almanaque foi uma das primeiras mídias da
Indústria Farmacêutica a fazer a cabeça do brasileiro para que ele
comprasse remédio pronto, já que, naquele tempo todos sabiam gostavam e
preferiam usar apenas os remédios caseiros. Mesmo sendo mídia
manipulativa, o tal ALMANAQUE era muito bom mesmo.
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Na mesma hora em que a minha mãe leu no Almanaque: 16 de
dezembro; Santa Adelaide, ela se emocionou e pensou assim:
“Gente, esse tem que ser o nome da minha filha. É muita coincidência
ela nascer justo no dia de Santa Adelaide, sendo que a minha mãe e a avó
paterna (ambas já falecidas) tinham também esse nome: Adelaide”.
Foi assim que eu recebi esse nome e pro meu pai não ficar magoado
fui registrada e batizada como: Adelaide da Penha.
PERAÍ! Ainda não acabou.
Como chamar um bebê tão pequenino e delicado com um nome tão
grande e senhoril? E foi aí que começaram a me chamar de FIA ou FIÍNHA
e este foi o som que eu ouvi até os 7 anos.
Naquele tempo, fazer 7 anos era muito importante. Diziam que aos
sete anos a gente entrava na idade da razão e, a partir daí, muita
responsabilidade já era cobrada de nós. Aos 7 anos entrávamos na escola e
também éramos preparadas para fazer, no fim do ano a PRIMEIRA
COMUNHÃO.
Esses fatos eram marcantes porque até então, nossa vida era
estritamente familiar. Sempre junto com os pais, irmãos, avós, tios e
primos. No máximo, brincávamos na rua com os filhos dos vizinhos à tarde
ou à noitinha, enquanto nossos pais punham a cadeira na calçada e
conversavam e nos olhavam enquanto tomavam a “fresca”. Às 8 horas da
noite todos se recolhiam para dormir.
Entrar na escola era nosso primeiro contato social maior, íamos
conhecer a professora, a diretora, os colegas e as crianças maiores das
outras séries.
Dava um pouco de medo e vergonha também.
Não havia “Jardim-de-Infância” nem “Pré-
Escola”, entrávamos direto no 1º ano para aprender
a “pegar no lápis”. Eu tinha vergonha de pedir pra
ir ao banheiro e um dia fiz xixi na sala de aula. Por
usar anágua grossa e saia pregueada, o xixi foi
absorvido e “acho” que ninguém notou. Bem, fui
feliz no 1º ano, aprendi a ler muito bem e passei com
10 em tudo. Minha professora era dona Nair e ao fazer a
chamada me chamava de Adelaide e todos os colegas também. A primeira
vez que uma coleguinha de classe foi em minha casa e perguntou pra minha
mãe: “A Adelaide tá aí?” foi que minha mãe teve outro insight e resolveu
deixar de me chamar de FIÍNHA e só me chamar pelo verdadeiro nome. A
partir daí foi que comecei a ouvir a voz da minha mãe falando o meu nome e
também todas as demais pessoas, menos meu irmão que até hoje me chama
de FIA.
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Aos sete anos comecei a ser e a me sentir e a me identificar como
Adelaide. Aceitei, mas achava que era um nome antigo. Hoje gosto, acho que
não é um nome comum, é forte, tem personalidade, tem história em meus
ancestrais, é de origem portuguesa das famílias MARQUES e QUEIRÓS.
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Minha Jornada Escolar
Maria Rita Alves Grilo.
Aos sete anos iniciei minha jornada escolar. Fui alfabetizada pela
minha prima Zélia Vilhena, professora, que também alfabetizou meus irmãos
e primos e lecionou na Escola da Fazenda da Taquarussu.
Quando viemos para a cidade, eu fui estudar no Colégio Imaculada
Conceição, CIC, cursando o primeiro ano primário. Eu já havia completado
oito anos. Participei de um teste para concorrer a uma Bolsa de Estudo e
consegui o direito ao estudo gratuito até o final do terceiro ano do curso
normal, hoje Magistério.
Cursei as três primeiras séries no CIC. Eu levava o
estudo muito a sério. Era estudiosa e aplicada. Fui a única
aluna do curso primário no CIC a ser premiada para
participar do Retiro Espiritual que acontecia todos os
anos para os alunos do curso Ginasial e Normal. Foi
uma grande vitória para mim e meus pais que sempre
zelaram pela religiosidade familiar.
Na 4ª série fui estudar no grupo Escolar
Abraão Lincoln para levar um dos meus irmãos comigo.
No grupo eu procurava fazer o melhor possível nos
estudos. Éramos uma turma mista, muito alegre e amigos divertidos. Os
meninos sempre aprontavam alguma arte. Meu quarto ano foi muito divertido
e bom. Foi um ano apenas, mas deixou saudades. Nossa formatura foi no
Auditório da Rádio Sociedade de Passos, com direito a Paraninfo, Orador e
Discursos.
No ano seguinte fiz um curso chamado de Admissão ao Ginásio, nas
classes anexas à Escola Normal Professora Júlia Kubitscheck. Nossa turma
era muito animada, mas éramos também muito estudiosos, o diretor era uma
fera e não admitia gracinhas.
Terminado o curso, voltei a estudar no CIC. Uma adversidade, porém,
atrasou minha vida escolar. Eu iniciei a primeira série do Curso Ginasial. O
CIC era um colégio muito rígido com a disciplina e com o uniforme escolar
dos alunos. Era o mês de junho, quando aconteciam as provas bimestrais e eu
estava com nota negativa em Latim, que era matéria obrigatória no currículo
escolar.
Exatamente no dia da prova de Latim, tive que ir à aula com uniforme
incompleto, faltava a boina, que eu esqueci na sala no dia anterior. Perdi a
prova de
Latim e ganhei uma bomba no final do ano.
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Muita revoltada e já sabendo da possibilidade de repetir a série,
parei de estudar. No ano seguinte meus pais e a madre superiora do CIC me
convenceram a voltar, com direito a bolsa de estudos. Consegui o meu
diploma de Professora no fim do ano de 1964, um ano muito agitado, pois o
Brasil estava em revolução.
Lembro-me de que o Quartel da Polícia era em frente ao Colégio e
na hora da partida dos soldados, para a luta, houve um momento cívico de
despedida e oração na Capela e na calçada do CIC, bem em frente ao
Quartel formamo-nos para desejar boa sorte aos rapazes, pedindo a
proteção de Deus!
Terminada a minha jornada estudantil, trabalhei
como professora em Bom Jesus da Penha e
depois, em Furnas.
Cursei a Faculdade de Filosofia de
Passos, me especializando em Supervisão,
Orientação e Administração Escolar.
Após a aposentadoria do meu
marido, nos mudamos para Passos, onde
lecionei nas Escolas: E. Abraão Lincoln e N.
Sra. Da Penha e trabalhei como Pedagoga na
então Delegacia Regional de Ensino e voltando para a E. N. Sra. Da
Penha, onde me aposentei em l994.
Hoje estou na Universidade Aberta para a Maturidade – UNABEM
e estou me preparando para cursar a Faculdade de História no próximo ano,
com o incentivo do meu irmão, Prof. Grillo.
Minha jornada escolar foi bastante difícil, com muitos sobe e
desce, porém, foi muito divertida e alegre e ainda guardo lembranças
maravilhosas das colegas, dos colegas e dos Professores.
Dos meus alunos, carrego comigo muita saudade e aprendizado de
vida!
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Minha adolescência
Luzia Soares de Oliveira Maia
As recordações que lembro de minha infância são várias.
Sempre brincava com duas amigas que moravam perto da fazenda.
Minha mãe, muito exigente, quando as duas amigas apareciam ia logo
dizendo: - primeiro termina a obrigação depois brinca com suas amigas. Ah!
Como eu ficava esperta e fazia tudo correndo...
Brincávamos de fazer comida num fogãozinho à lenha feito por nós: as
panelinhas e a chapas foram presentes de meu pai quando fez uma viagem
para Uberaba.
Meu sonho era ter uma boneca. Até os 7 anos
não havia ganhado e sempre brincava com boneca
de pano e outros cacos que minha mãe jogava
fora.
Era uma festa quando ganhávamos uma
rolinha ou um franguinho para fazer nossa
comidinha e, ao mesmo tempo, era um
problema, pois em nossas panelinhas não
cabiam o franguinho. Aí teríamos de pedir
minha mãe uma panela maiorzinha. Então vinha
primeiro a bronca: - Só empresto se me
devolver limpa e brilhando. Volte limpa e
brilhando!
Certa vez mamãe foi a Belo Horizonte fazer uma consulta médica,
então eu disse: - Mãe, o meu sonho de ter uma boneca ainda não acabou.
Queria que a senhora me comprasse uma. Quando ela voltou trouxe seda
para fazer vestido para cada uma de minhas irmãs e eu não ganhei o vestido
porque havia ganhado a boneca. Chorei muito porque queria os dois, mas tive
que me contentar só com a boneca.
Morávamos à beira de um riacho. Quando chovia bastante formava uma
lagoa ao lado, então, deixávamos a casinha para brincar de jogar pedaços de
pau uma nas outras. Entramos na água sem roupa, quando já estávamos
cansadas de brincar,fomos nos vestir, qual não foi a surpresa quando não
encontramos nossas roupas.
Ao voltar para casa já íamos chorando antes de contar o que havia
acontecido. Foi terrível o castigo que recebemos: chicote e ficar sem sair
de casa por muito tempo. Um pequeno descuido de mamãe, porque achava
que estávamos brincando na cozinha.
Outra passagem de minha infância que nunca me esqueci foi quando
meu irmão e eu estávamos embaixo de uma bananeira, olhamos para cima
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vimos duas pencas maduras. A bananeira era alta e meu irmão disse: -“Sobe
você que é mais leve que eu!” Pois eu era muito magra. Quando comecei a
tirar as bananas do cacho desequilibrei, caí e sofri um desmaio. Meu irmão
me carregou e me escondeu atrás de uma horta de verduras. Quando
acordei sentia dores nas costas e saía sangue pelo nariz e pela boca. Porém,
tive que aquentar tudo calada, pois se meus pais soubessem seria outro
castigo na base do chicote.
Aos 14 anos tive o primeiro namorado, pegávamos na mão só quando
íamos nos cumprimentar ou nos despedir.
Como sonhava em ter um vestido bonito, bordado ou de renda! Pedi à
minha mãe a tão sonhada roupa. Para minha tristeza a resposta foi que se eu
quisesse vestido bordado teria que fazer ou pedir alguém para me ensinar.
Assim, fui atrás de tudo e aprendi a bordar o meu vestido branco. Ficou
lindo, com bordados coloridos e rendas para usar no casamento de minha
irmã .
Aos 16 anos comecei a ir a bailes, mas sempre acompanhada de minha
irmã. As músicas tocadas eram sempre românticas,
boleros, valsas e, às vezes, até arriscava uns passos
do tango La Cumparsita.
Aos 23 anos encontrei o homem que amei de
verdade, namoramos, noivamos e nos casamos dentro
de um ano.
Como são doces as lembranças daquela época,
quando estava no salão de dança vestindo rodado
salto alto, corpo bonito. Modéstia à parte, eu
dançava bem, por isso nunca tomava chá de cadeira.
Ah! Se o tempo pudesse me levar de volta, outra vez, à minha
mocidade!
Tudo passou, tão rapidamente, como um sonho.
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Escola normal
Maria Tércia da Silveira
A Escola Normal era a mais famosa escola da cidade. Ficava no
número 264 da Praça do Rosário ou Praça Geraldo da Silva Maia e onde,
hoje, é o edifício Portinari.
Era um prédio grande de dois pavimentos e estava sempre pintado da
cor de tijolo-rosado. Todas as salas eram grandes e espaçosas. No térreo,
ficavam as classes anexas, isto é, o curso primário, que se fazia em 4 anos.
O restante era o curso ginasial e escola normal. Feito esse curso Normal, a
pessoa era normalista, hoje professora.
As carteiras eram de madeira e duplas:
para dois alunos. Os quadros- negros, todos
pretos e pequenos.O mobiliário era simples, até
mesmo o da secretaria. Era muito bonito um
armário-estante que lá ficava.
As professoras primárias, isto é, do primeiro
ano ao quarto eram as seguintes:
Aristotelina Teresa de Souza (D. Tutinha)
Guaraciaba Machado Lemos (D.Guará )
Mais tarde vieram novas professoras:
Isabel Serafim de Andrade (Belinha Serafim)
Maria José Vieira Leal (Zezé )
Do Ginásio e curso Normal
Dr. Washington Álvaro de Noronha: diretor e professor de Português
e Francês
Reverendo Jairo Borges: Psicologia
Benedita Andrade: Metodologia
Maria Simão: Educação Física
Rita Reis: Biologia, Canto e Música
Maria Augusta Reis: Português
Bartira Noronha Freire: História
Beatriz Noronha: Geografia
Redelina Andrade (Dona Ré): Matemática
Luiz Marinho: Inglês
Violeta Camargo: Francês
Dulce Santos: Português
Francisco Soares de Melo: Português e Latim
Nair Le Senechal: Artes
Maria Aparecida Le Senechal: Artes
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Meus avós
Maria Rita Alves Grilo.
Vovô Nhozinho (Saturnino Gomes de Lemos Grillo) e Vovó Dona (Donolina
Mendes Grillo)
Ele, descendente dos Gomes de Lemos e Grillos, de famílias
portuguesas que imigraram para o Brasil e se assentaram no sul de Minas e
na região de Pirai, no Rio de Janeiro, espalhando-se depois por todo o Brasil.
Meus avós vieram para Passos com minha bisavó Maria Rita, trisavó
Adelaide e seus filhos, eram fazendeiros ou comerciantes.
Meu avô Nhozinho morou na cidade por um tempo,
depois comprou a fazenda Taquaruçu , onde ficou boa parte
de sua vida.
Minha avó Dona, era filha da alta
burguesia do Sul de Minas. Seu pai era
Juiz de Direito e foi Maestro de uma
orquestra, era descendente de espanhóis que
habitaram a região de Elói Mendes, seu primo, nome dado
à cidade mineira de Elói Mendes.
Ela era uma pessoa fina, de uma delicadeza ímpar,
tocava harpa e conheceu meu avô, às vésperas do casamento, como era de
costume. Teve seus filhos em São Gonçalo do Sapucaí. Quando vieram para
Passos, meu pai tinha cinco anos. Após a morte de minha bisavó, vovó ficou
sob a responsabilidade de seu pai, com os cuidados de aias que olhavam vovó
e sua irmã.
Com o falecimento de seu pai, vovó ficou tão traumatizada, tomou
raiva de música e passava mal só de ouvir qualquer som.
Quando moravam na fazenda Taquaruçu ela foi ficando doente e eu só
me lembro de seu semblante triste e abatido. Depois de um tombo que
levou, ela ficou até a morte, sentada numa cadeira. Meu avô fabricou uma
cadeira de madeira que era para seu uso sanitário e nos banhos. Vovó era
sempre carregada por nós, netas, ou pelas noras. Durou com vida dois anos
após a morte do vovô.
Meus avós maternos: Theodoro Leão Alves Negrão e Rita Martins de
Mendonça. Ambos de Bom Jesus da Penha, onde nasceram, se conheceram,
casaram e tiveram seus filhos (já citados).
Vovô era trabalhador e honesto, uma pessoa simples, mas sempre
batalhador. Em Bom Jesus, trabalhava numa farmácia de seu parente. O que
continuou a fazer na farmácia do Tio Antenor Negrão, aqui em
Passos.Trabalhou na Fábrica de Manteiga Aviação e, finalmente,na
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Prefeitura de Passos, no gabinete do Prefeito Geraldo da Silva Maia, onde
se aposentou.
Era uma pessoa brincalhona, mas muito brava. Não tolerava bagunça
dos netos, mas nunca bateu nem nos filhos e nem nos netos, pois os arteiros
sumiam com o seu vozeirão dando uma bronca.
Gostava de pentelhar a vovó, por causa de religião: sempre que ela
pegava o terço, ele pegava um livrinho de São Cipriano que era tido como
feiticeiro.
Vovó, com sua santa paciência, nada dizia. Fechava-se num quarto e só
rezava...
Vovó costurava para os filhos e netos.
Certa vez, ela fazia um vestido e deixou a
tesoura na mesa de costura e foi à cozinha ver as
panelas. Vovô pegou a tesoura e a levou para o
quarto. Ao voltar, vovó deu falta da mesma e foi
atrás dos netos. Ninguém a vira, saímos todos à
procura da tesoura, por todos os lados.
Ao perguntar ao vovô se ele a vira, a resposta foi rápida: - “Vi, claro
que vi, o capeta acabou de pegá-la e correu para o quarto”.
Vovó ficou brava, fez o sinal da Cruz e o mandou procurá-la. Ele
rapidamente agiu. “Eu vou buscá-la e nem que eu tenha de matar aquele
danado, eu trago a tesoura”.
Foi até o quarto, derrubou alguma coisa, gritou com o “capeta”, deu
murro no guarda-roupa e voltou descabelado. Entregou a tesoura e disse:
“Tá vendo? Num falei que era ele?
Dei umas sapatadas nele, o joguei no chão, tomei a tesoura e trouxe
procê”. Vovó ficou muito brava com ele. Rezou o Creio em Deus Pai, mandou-
nos ir brincar e voltou ao trabalho.
Além desta, muitas outras o vovô aprontava com a vovó, com as tias e
conosco. Era um homem bom, alegre e religioso (do jeito dele). Vovó sempre
foi muito religiosa e calma, tinha muita paciência com todos e com tudo. Era
a mãe da paciência.
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Minha Infância
Cleusa Aparecida Costa Gomes
Foi inesquecível! Uma infância perfeita, cheia de criancices,
descobertas, brincadeiras, cada dia uma novidade, tudo perfeito... para se
recordar.
Tinha muita vontade de aprender a nadar nos córregos, então íamos
pescar de peneira para engolir os peixinhos vivos. Eu engoli muito peixe vivo,
mas nunca aprendi a nadar.
Nos finais de semana, ajuntávamos a
criançada, primos, vizinhos e brincávamos o
tempo inteiro. Meu pai fez uma casinha com
fogãozinho e a gente fazia comidinhas, às
vezes de mentirinha, às vezes até de
pedrinhas, comia como se fosse de verdade.
Nossas mães davam os restos do almoço pra gente
colocar nas panelinhas e nos pratos. Os pratos eram
pedaços de louça.
Todos os domingos aconteciam o batizado das bonecas que tinha até
padre. O bom era que a gente considerava a comadre de verdade, fazíamos
festinhas de aniversário das bonecas, as nossas mães também brincavam
porque elas faziam bolinhos, docinhos, etc.
Pulava corda até roxear as pernas e chupava limão com sal escondido,
dentro do carro de boi que ficava sempre parado no barracão. Mamava no
próprio peito da vaca o leite quentinho e andava a cavalo em pêlo, só com
uma corda ou cipó no pescoço, até esfolar as nádegas.
Certa vez Zezinho, Mariza e eu pegamos sarampo. Minha mãe foi nos
dar um laxante (óleo de rícino) que eu não queria tomar. Levei uns bons
tapas e, em seguida, tive que tentar tomar o tal óleo, mas aí eu comecei a
vomitar. Minha mãe, então, vestiu uma meia do meu pai na minha mão, deu-
me a chave da porta para segurar e mandou que eu virasse de uma vez o
vidro do óleo na boca. Resultado: virei e não vomitei.
Um dia uma Companhia de Reis foi almoçar na minha casa, com muita
alegria e vários palhaços. Papai foi pra cozinha ajudar matar os frangos, etc.
Criança naquela época só aparecia quando as visitas iam embora.
Na minha casa trabalhava um rapaz, apelidado
de Fio, que ajudava meu pai na roça e no retiro,
rachava lenha, torrava e moia café, tratava das
criações, etc. O Fio tinha uma bicicleta, que sonho! Eu
morria de vontade de andar de bicicleta. Aí, pensei: - É
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hoje! Enquanto a Folia de Reis almoça eu vou andar de bicicleta, está todo
mundo distraído mesmo...
Peguei a bicicleta, apoiei-a no passeio que descia pro curral, subi na
bicicleta e soltei... Fui bater numa porteira e caí, torci o pé, levantei
arrastando e puxando a bicicleta e fui chorar escondida dentro do carro de
boi até a folia de Reis ir embora. E demorou tanto! Porque eles cantaram...
cantaram de novo...
Quando foram avisar pra minha mãe que eu estava machucada, o pé
já estava inchado e preto, mas se não fosse a intervenção do Fio eu tinha
levado uma surra daquelas. Só sei que mais tarde o Fio trocou de bicicleta e
eu, até hoje, não aprendi a andar de bicicleta.
Ah! No fundo da minha casa morava meu tio Neca, irmão de
minha mãe, e tia Páscoa. Tia Páscoa era uma mulher muito humilde,
simples mesmo, fumava cigarros de palha. Às vezes, ela fazia cigarros
de palha sem fumo pra ensinar a meninada a fumar. A gente
tentava soltar a fumaça pelo nariz, mas quase morria de tanto
tossir. E pras nossas mães não sentir o cheiro ela mandava a gente
soprar três cantos da parede e o cheiro sumia.
Uma das lembranças tristes foi quando meu tio Neca foi ofendido por
uma cobra. Nós, as crianças, estávamos brincando no barracão. Ouvimos uns
gritos, saímos correndo e ainda vimos a cobra pendurada no braço dele!
Depois meu pai começou a raspar no local com uma faca, minha mãe cozinhou
ovo, e colocou os pedaços no local.
O Fio saiu correndo pra chamar o vizinho que tinha carro para levá-lo
à cidade mais próxima, mas nada adiantou, ele faleceu logo depois.
E assim minha infância foi vivida com muita tranqüilidade,
com limites, mas com muita responsabilidade. A criança
obedecia aos pais, tios, avós e tinha o maior respeito pelos
mais velhos.
Adorava ir à cidade pra comer pão com
salame, tomar guaraná, chupar picolé de
groselha até a boca ficar vermelha. E,
como a gente só andava de botina de
goma, quando íamos para a cidade,
calçávamos sandálias e podíamos dormir
com a lâmpada acesa , pois na roça era só
lamparina. Que delícia de vida!
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A Boneca de Louça
Maria Aparecida da Cunha Andrade.
Tinha mais ou menos 5 anos quando, finalmente, ganhei de minha mãe
a boneca de louça que tanto sonhava. Coloquei nela o nome de Belinha.
Tinha vestido cor-de-rosa com bordados e um chapeuzinho na cabeça.
A boneca vinha acompanhada de um carrinho para carregá-la.
Um dia, fui brincar na casa de uma
colega, a Izildinha, e levei a boneca e o
carrinho.
Quando cheguei à casa de minha colega,
ela veio correndo ao meu encontro, tomou de
minhas mãos a boneca com o carrinho e saiu
correndo.
Na correria, a Izildinha
tropeçou e deixou a Belinha cair,
quebrando o chapeuzinho e um
bracinho.
Peguei, então, a Belinha e o carrinho e voltei
correndo e chorando para casa.
Mesmo quebrada, guardei a Belinha por muito
tempo e deste dia em diante não quis outra boneca.
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As Pastorinhas
Maria Rita Alves Grilo.
Quem são? Onde estão?
Nos idos de 1960 e uns, eu fui pastorinha num grupo coordenado por
Dona Elza Barros.
Como era lindo ser pastorinha! Nós cantávamos em
igrejas, casas, fomos até em fazendas sob o
patrocínio do Zote Moraes, na maior paciência, nos
levando e trazendo pelos locais.
Mas afinal, o que é ser Pastorinha?Noel Rosa
descrevia as pastorinhas: “Linda Pastora, morena, da
cor de Madalena” ...
Eu não sei quem era Madalena, porém, imagino
que seria seu amor e uma morena linda, como era
lindo ser pastorinha. Tínhamos um uniforme em
xadrez com avental branco, chapéu de palha
enfeitado. Nossa missão era o que nos tornavam
lindas!
Cantávamos nos dias Natalinos, para homenagear o
recém-nascido Menino Deus. Entrávamos enfileiradas duas a duas. Na
frente, a Estrela Guia entoava um canto-convite para a visita e homenagem
ao Menino Deus.
A seguir, a pastora Briosa prestava sua homenagem, os Reis Magos
faziam suas oferendas, os pastores em número de dois ou quatro também
marcavam sua presença. O grupo finalizava com um cântico de despedida.
Não era lindo?
E o que me impressiona é a falta de interesse dos grupos políticos,
comunitários e até mesmo religiosos, deixando cair no descaso uma
apresentação tão significativa para a cristandade e para a sociedade. As
Pastorinhas não são apenas apresentações folclóricas, com todo o respeito
ao folclore, mas são homenagens que fazem renascer nos corações de
crianças e jovens o amor e carinho devido à vida, à criança recém-nascida e
ao Menino Deus.
Para nós, que temos mais tempo vivido, é uma doce lembrança de uma
era em que se dava valor ao folclore social e ao religioso, em que as
apresentações eram tão bem preparadas pela coordenadora. Temos
esperança de ver o resgate do nosso folclore, seja ele social ou religioso,
dando às novas gerações a oportunidade de entenderem que as nossas
lembranças e saudades existem porque tivemos nossa juventude no bem e na
paz de Deus e das famílias, em sintonia com o Sagrado Universal.
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Sonho de vida
Adelaide da Penha Alves
Existe uma grande diferença entre “sonho de sua vida” e “sonho do
ideal da sua alma”. Minha vida sempre foi abençoada e tive quase tudo de
bandeja, sem precisar me esforçar muito. Casa, comida, segurança e saúde,
remédios, vitaminas, lombrigueiros, dentistas.
Na escola, cadernos encapados, lápis e borracha, uma boa pasta e
lanche todo dia. Minha mãe sempre me ajudou com a lição e por isso sempre
fui bem na escola. Ao terminar a 4ª série, mamãe me colocou no ginásio, em
Passos.
Formei-me para professora e já arrumei trabalho pra lecionar. Fiz o
concurso e passei em primeiro lugar. Fui efetivada e tive estabilidade
profissional. Fui uma boa professora, querida por quase todos e me
aposentei bem.
No amor encontrei um moço lindo, honesto, trabalhador, sonhador e
romântico, como eu. Amamo-nos, namoramos, noivamos e casamos. Tivemos
problemas, mas graças a Deus, estamos juntos. Tivemos três lindos filhos:
Túlio, Lívia e Bianca e até agora, dois netinhos: Gabriel e Maria Clara.
Até hoje, nunca tive que lutar muito para ter o que tenho. Nunca
sonhei muito e sempre aceitei o que a vida me deu.
Nos meus sonhos de criança eu adorava balé e sempre ficava
dançando em casa, na pontinha do pé.
Sonhei várias vezes o mesmo sonho: Numa campina cheia de flores, eu
queria cheirar e beijar a todas, para isso eu começava a
saltar de flor em flor, como se fosse uma bailarina. E a
cada salto eu ia mais alto, mais alto, quase voando. Era
tão lindo que, em certo momento do sonho, eu
realmente conseguia voar. Acordava
emocionada e feliz. Parecia que eu tinha
voado de verdade e aumentava minha
vontade de ser bailarina. Só que não era
uma vontade tão forte assim. Dentro de
mim eu já achava que era impossível e cultivava esse sonho
como apenas um sonho, um sonho bom de sonhar, nada mais.
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Eu também adorava piano. Quando passava perto de uma casa onde alguém
tocava, eu parava e ficava ouvindo. Uma vez ganhei um
xilofone e aprendi sozinha a tocar algumas
musiquinhas como: “Parabéns a você”. Em minha
infância havia em Itaú uma pessoa que ensinava
piano (D. Iracema) e depois na juventude, no
colégio das irmãs (CIC), elas também ensinavam.
Mas eu nunca pedi isso pra mamãe. No fundo eu
sentia que pedir isso seria abusar, porque mamãe já se
sacrificava muito por mim. Só o sonho já me bastava.
Sonhei também em ser Psiquiatra. Outro sonho pelo qual nunca lutei
por julgar impossível. No meu tempo nenhuma moça saia pra estudar fora,
numa faculdade. Eu teria que fazer Medicina e depois, me formar em
psiquiatria, num estudo que só tinha nas grandes capitais. Formar-me como
professora -única opção da região- já era bom demais pra mim. Sempre fui
conformada e tranqüila.
No fundo da minha alma o que eu sempre quis foi ser importante pra
alguém, ser essencial na vida de uma pessoa. O que eu sempre quis foi ser
querida, ser amada. O que eu quero é que as pessoas gostem de mim. Só que
eu nunca soube muito bem conquistar o amor ou a amizade de ninguém.
Sempre tímida, sempre na retaguarda, sempre calada, fechada, insegura.
Mas, aos poucos, estou aprendendo a ser melhor e que, para ser amada é
preciso ser amável e saber amar primeiro.
O que me motiva é a certeza de que se eu fizer apenas o que me dá
vontade, vou isolar-me, dormir demais, comer demais, me exercitar de
menos, ficar deprimida e só esperando a morte chegar, sem nenhuma
qualidade de vida. Esforço-me pra fazer não o que quero, e sim o que é
correto e me fará bem.
Levantar cedo, caminhar, tomar sol, sair de casa, ver pessoas,
conversar, conviver, ter atividade social e religiosa, ter compromissos e
cumpri-los. Fazendo isso me sinto bem, levo uma vida mais saudável e minhas
filhas e meu marido ficam satisfeitos comigo. Peço pra Jesus me dar força a
cada dia.
Onde quero chegar? Em muitas coisas eu já cheguei.
Quero conservar o amor do meu marido pra ficarmos bem velhinhos e
juntinhos, um sempre apoiando e dando apoio pro outro e que só a morte nos
separe.
Quero ser exemplo, apoio e porto seguro pras filhas, genros e netos.
Quero envelhecer devagar, com qualidade de vida, dignidade e vida
própria, sem dar trabalho pros outros.
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Quero morrer com dignidade, lúcida, sem muito sofrimento e
rapidamente.
Quero deixar boas lembranças. Antes de ir quero ter tempo pra
melhorar muito, rezar muito e ser merecedora de um lugarzinho no céu.
Quero cantar o que ainda não cantei, antes que minha voz enfraqueça.
Ir a bailes e dançar antes que minhas pernas enfraqueçam e eu perca
o equilíbrio.
Quero ler ótimos livros e ver bons filmes enquanto meus olhos
conseguirem ver.
Quero fazer ainda algumas boas viagens e passeios, mas não quero
ficar gastando demais.
Quero uma boa poupança para minha velhice segura.
Ainda e sempre, quero ser útil, bondosa, alegre, ajudar a quem
precisar, ter sempre uma palavra boa para todos, ser agradecidas por tudo
e por nada. Não me tornar uma velha chata, rabugenta, implicante e que só
sabe falar de suas doenças.
Quero esquecer do meu egoísmo, amar Jesus que está na figura do
meu próximo, e morrer em paz, com a sensação do dever cumprido. Saber
que combati o bom combate... Amém!
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Mensagem para o Dia das Mães
Você não tem noção do bem que nos faz.
Você é para nós:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
Que o Espírito Santo esteja iluminando-a, para que a sua luz resplandeça em
nós, alunas, a alegria de estar com você às terças e quintas, encontros
produtivos, agradáveis que nos proporcionam bem-estar, alegria, felicidade.
Dão-nos oportunidade de reviver nossas raízes e nossas estórias.
Obrigada Leila, por nos fazer reativar nossa memória, buscando lembranças
que já ficaram esquecidas, apagadas. Você nos deu um sopro de vida.
OBRIGADA, FELIZ DIA DAS MÃES! DE SUAS ALUNAS.
Da aluna: Zulma Terezinha Lara 08-05-08