Do Sábado Para o Domingo (Samuele Bacchiocchi).pdf
-
Upload
luiz-francisco-ferreira-junior -
Category
Documents
-
view
628 -
download
163
Transcript of Do Sábado Para o Domingo (Samuele Bacchiocchi).pdf
-
SINTESE DA OBRA
Do Sbado Para o Domingo:
COMO A MUDANA OCORREU?
Samuele Bacchiocchi, Ph. D.
Professor Jubilado de Teologia e Histria Eclesistica, Universidade
Andrews
Freqentemente as pessoas me pedem um sumrio conciso e simples
das descobertas de minha investigao de como o sbado foi mudado para
o domingo na igreja primitiva durante meu perodo de estudos doutorais de
cinco anos na Pontifcia Universidade Gregoriana de Roma, Itlia. Eles se
queixam com razo que minha dissertao muito puxada em termos de
tempo e concentrao. Preferem uma explicao mais simples que possam
compartilhar mais prontamente com pessoas interessadas. Para atender essa
demanda tento nesta conferncia apresentar os pontos altos de minha
pesquisa, numa maneira simples e bem-estruturada. Para efeito de
brevidade omiti algumas referncias de notas de rodap. Os leitores
interessados encontraro toda a documentao em From Sabbath to Sunday
[Do sbado para o domingo].1 Sintam-se livres para imprimir, usar e
distribuir o texto deste estudo em qualquer formato que julgarem
necessrio para seus esforos de divulgao das informaes nele contidas.
ESCLARECIMENTO IMPORTANTE
Constantino no introduziu a observncia dominical. Ele simplesmente
tornou o Dia do Sol um feriado civil por promulgar a famosa Lei
Dominical de 321 AD. A razo por que Constantino fez do domingo um
feriado civil simplesmente porque naquele tempo o Dia do Sol havia se
tornado popular tanto entre os pagos quanto entre os cristos. Isso
indicado pela prpria linguagem da legislao: No venervel Dia do Sol . . .2 evidente que na poca o dia do sol j era venervel, ou seja, popular e respeitado.
O processo que levou adoo do dia do sol como um feriado civil
-
Do Sbado para o Domingo
2
2
para todo o Imprio Romano comeou na primeira parte do segundo
sculo, quando o dia do sol foi avanado do segundo dia da semana para a
posio de primeiro e mais importante dia semanal. Esse processo
discutido no captulo 8 de From Sabbath to Sunday, e a isso se far breve
aluso no final desta conferncia. H indicaes bastante convincentes de
que quando os romanos avanaram o dia do sol para o primeiro e mais
importante dia da semana, os cristos gentios, que tiveram uma formao
pag, foram influenciados a adotar o mesmo dia do sol, a fim de mostrar
separao dos judeus e identificao com os romanos. Para diz-lo de
modo diferente, eles decidiram estar politicamente corretos com a adoo
do dia do sol, antes que serem biblicamente corretos observando o sbado
do stimo dia.
A guarda do sbado comparada nas Escrituras a fidelidade a Deus, e
a profanao do sbado a apostasia. Mediante o profeta Ezequiel Deus
lamenta: a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto . . . profanaram grandemente os meus sbados (Eze. 20:13). A razo para essa equao no difcil de ver. Uma pessoa que ignora o Senhor em Seu santo
dia, por fim ignorar o Senhor todo dia.
Em vista da importncia vital que o sbado desempenha na experincia
religiosa do povo de Deus, haveria de ser muito surpreendente se o
Maligno no tivesse se metido com o mandamento do sbado durante os
trs primeiros sculos. Por levar muitos cristos a rejeitarem o sbado logo
aps o incio do cristianismo, o diabo teve xito em promover falsos tipos
de culto. Nunca devemos esquecer que o Grande Conflito em grande
medida centraliza-se sobre adorao: ou seja, a verdadeira adorao versus
a falsa adorao. E o sbado essencial para a adorao, porque nos
convida a adorar a Deus por consagrar nosso tempo e vida a Ele numa
forma especial todo stimo dia.
DO SBADO PARA O DOMINGO: COMO A MUDANA
OCORREU?
-
Do Sbado para o Domingo
3
3
Dr. Samuele Bacchiocchi
Poucos assuntos tm sido to calorosamente debatidos na histria
crist quanto a mudana do dia de repouso e adorao do sbado para o
domingo no cristianismo primitivo. Mais de 3.000 dissertaes e tratados
foram publicados sobre este assunto desde o tempo da Reforma. Uma razo
destacada para esse incessante interesse na origem histrica do domingo
tem sido a necessidade de definir a natureza da observncia dominical em
seu relacionamento com o sbado. O debate muitas vezes gira em torno
dessa questo fundamental: Originou-se o domingo como uma continuao
do sbado e, conseqentemente, devia ser observado como um DIA de
repouso e adorao a exemplo do sbado? Ou acaso o domingo comeou
como uma instituio crist inteiramente nova, radicalmente diferente do
sbado, e conseqentemente devia ser observado mas como uma HORA do
culto semanal?
Os cristos tm estado igualmente divididos em sua resposta a estas
perguntas. Por um lado, h aquelas igrejas que seguem a tradio calvinista
que v o domingo como o sbado cristo, e assim para ser observado como
um DIA SANTO de descanso e culto ao Senhor. Por outro lado, existem
aquelas igrejas que seguem as tradies catlica e luterana que vem o
domingo como diferente do sbado, e assim para ser observado
primariamente como a hora semanal de culto.
A atual crise da observncia do domingo tem despertado um renovado
interesse pela questo da origem do domingo e sua relao para com o
sbado. Dirigentes eclesisticos catlicos e protestantes esto
profundamente preocupados com o alarmante declnio na freqncia
igreja. Na Itlia, de onde procedo, estima-se que somente 5% dos catlicos
assistem regularmente missa aos domingos. Cerca de 95% dos catlicos
vo igreja trs vezes na vida: quando nascem, se casam e morrem [o autor
usa e expresso cmica em ingls: when they are hatched, matched and dispatched--quando so chocados, acasalados e despachados]. A situao essencialmente a mesma na maioria dos pases ocidentais onde a
assistncia igreja atinge menos de 10% da populao crist. A freqncia
chocantemente baixa igreja vista pelos lderes eclesisticos como uma
ameaa sobrevivncia no s de suas igrejas, mas do prprio cristianismo.
-
Do Sbado para o Domingo
4
4
Afinal de contas, a essncia do cristianismo um relacionamento com
Deus e se os cristos ignoram o Senhor no dia que eles consideram o Dia
do Senhor, as chances so de que ignoraro o Senhor todos os dias da
semana.
Agudamente cientes das implicaes da crise da observncia dominical
para o futuro das igrejas crists numerosos dirigentes eclesisticos e
eruditos esto reexaminando a histria e teologia do domingo num esforo
para promover mais eficazmente sua observncia. Como j feito notar, uma
questo relevante abordada em recentes dissertaes, livros e artigos, o
relacionamento entre o sbado e o domingo.
Dois Pontos de Vista Concernentes Origem do Domingo
Para declarar sumariamente, h dois principais pontos de vista hoje
concernentes origem histrica do domingo e seu relacionamento com o
sbado bblico. O ponto de vista antigo e tradicional, que pode ser
identificado desde o cristianismo primitivo, sustenta que h uma
descontinuidade radical entre o sbado e o domingo, e, conseqentemente,
o domingo no o sbado. Os dois dias diferem em origem, significado e
experincia. O ponto de vista mais recente, que articulado pelo prprio
Papa Joo Paulo II em sua Carta Pastoral Dies Domini, mantm que o
domingo comeou como a incorporao e expresso plena do sbado e, conseqentemente, deve ser observado como um imperativo bblico, com
suas razes no prprio mandamento do sbado.3
Segundo o ponto de vista tradicional, que tem sido sustentado pela
Igreja Catlica e aceito por aquelas denominaes protestantes que seguem
a tradio luterana, o sbado foi uma instituio mosaica temporria dada
aos judeus, ab-rogada por Cristo e, em conseqncia, no mais vigente
hoje. Os cristos adotaram a observncia do domingo, no como uma
continuao do sbado bblico, mas como uma nova instituio
estabelecida pela Igreja para celebrar a Ressurreio por meio da
celebrao da Santa Ceia.
Essa posio tradicional tem sido mantida pela Igreja Catlica, que
reivindica a responsabilidade por mudar o sbado para o domingo. Por
exemplo, Toms de Aquino (1225-1274 AD), considerado o maior telogo
-
Do Sbado para o Domingo
5
5
catlico que j viveu, declara explicitamente: A observncia do Dia do Senhor tomou o lugar da observncia do sbado, no por virtude do
preceito [bblico] mas por instituio da Igreja.4 Tal ponto de vista tem sido reiterado ao longo dos sculos em catecismos catlicos oficiais onde
uma declarao semelhante a esta geralmente encontrada: Observamos o domingo em lugar do sbado porque a Igreja Catlica, em virtude de sua
autoridade, transferiu a solenidade do sbado para o domingo.5 Recentemente, contudo, tem surgido eruditos tanto catlicos quanto
protestantes que argumentam por uma origem apostlica para a observncia
do domingo. Segundo esses estudiosos, os prprios apstolos escolheram o
primeiro dia da semana como o novo sbado cristo no prprio incio do
cristianismo a fim de comemorar a ressurreio de Cristo.
Essa opinio defendida em grande extenso pelo Papa Joo Paulo II
em sua Carta Pastoral Dies Domini (O Dia do Senhor), que foi promulgada
em 31 de maio de 1998. Nesse extenso documento (mais de 40 pginas) o
Papa faz um ardente apelo para um reavivamento da observncia do
domingo apelando ao imperativo moral do mandamento do sbado. Para o
Papa, o domingo deve ser observado, no meramente como uma instituio
estabelecida pela Igreja Catlica, mas como um imperativo moral do
Declogo. A razo que o domingo supostamente se originou como a
incorporao e plena expresso do sbado e, por conseqncia, deve ser observado como o sbado bblico.
Joo Paulo se desvia da tradicional posio catlica presumivelmente
porque deseja desafiar os cristos a respeitarem o domingo, no meramente
como uma instituio da Igreja Catlica, mas como um mandamento
divino. Ademais, por enraizar a guarda do domingo no mandamento do
sbado, o Papa oferece as mais vigorosas razes morais para instar os
cristos a assegurarem que a legislao civil respeite seu dever de manter o domingo santo.6
As tentativas feitas pelo Papa e outros dirigentes eclesisticos para
fundamentar a observncia do domingo no mandamento do sbado suscita
esta importante indagao: Se se espera que os cristos observem o domingo como o sbado bblico, por que no deviam observar logo o
sbado? O que havia de errado com o sbado bblico que careceu de ser mudado para o domingo? Aplicar o mandamento do sbado observncia
-
Do Sbado para o Domingo
6
6
do primeiro dia da semana, o domingo, pode ser confuso, para dizer o
mnimo, porque o quarto mandamento estabelece a observncia do stimo
dia, no do primeiro dia. Essa confuso pode explicar por que muitos
cristos no levam a srio a observncia do domingo.
As Concluses de Minha Pesquisa
Para encontrar uma resposta a estas perguntas quanto ao tempo, lugar,
causas e conseqncias da mudana do sbado para o domingo no
cristianismo primitivo, passei cinco anos na Pontifcia Universidade
Gregoriana, de Roma, examinando os antigos documentos cristos para a
minha dissertao doutoral. Os resultados de minha investigao foram
publicados em minha tese From Sabbath to Sunday: A Historical
Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity [Do
Sbado para o Domingo: Uma Investigao Histrica do Surgimento da
Observncia do Domingo no Cristianismo Primitivo]. A dissertao foi
publicada em 1997 pela grfica da Universidade com o imprimatur catlico
oficial. O Papa Paulo VI concedeu-me uma medalha de ouro por ter
alcanado a distino acadmica mxima, summa cum laude, nessa
pesquisa e no trabalho escolar. Neste artigo tentarei compartilhar alguns
dos pontos altos de minha investigao.
Para efeito de brevidade, permitam-me expor de incio a concluso da
pesquisa. Objetivamente, minha anlise dos dados bblicos e histricos
indica que a mudana do sbado para o domingo no se deu no princpio do
cristianismo por autoridade de Cristo ou dos apstolos que supostamente
escolheram o primeiro dia da semana como o novo sbado cristo para
celebrar a ressurreio de Cristo. Antes, a mudana comeou cerca de um
sculo aps a morte de Cristo durante o reinado do imperador romano
Adriano (cerca de 135 AD), em resultado de uma interao de fatores
polticos, sociais, pagos e religiosos. Essencialmente, foi a necessidade de
evitar a repressiva legislao antijudaica promulgada em 135 AD pelo
Imperador Adriano que levou o bispo de Roma a ser o pioneiro em mudar o
sbado para o domingo, e a Pscoa para o domingo de Pscoa. Essas
mudanas destinavam-se a mostrar a separao e diferenciao dos cristos
para com os judeus numa poca em que as prticas religiosas judaicas eram
-
Do Sbado para o Domingo
7
7
proibidas pelo governo romano.7
As implicaes dessa concluso so que a mudana do sbado para o
domingo no foi meramente uma alterao de nomes ou nmeros, mas uma
mudana de significado, autoridade e experincia. Para ajud-los a ver
como cheguei a esta concluso, eu os conduzirei a seguir passo a passo
atravs das partes principais de minha pesquisa. Comeamos por examinar
primeiro o suposto papel de Cristo, de Sua ressurreio e da igreja de
Jerusalm na mudana do sbado para o domingo. Da prosseguiremos na
considerao da influncia fundamental da igreja de Roma e a adorao do
sol na adoo do domingo.
JESUS E A ORIGEM DO DOMINGO
Um ponto de vista popular defendido por vrios eruditos de que
Cristo preparou o terreno para o abandono do sbado e adoo do domingo
em seu lugar por Suas reivindicaes messinicas e Seu mtodo
provocativo de observar o sbado, o que causou considervel controvrsia
com os lderes religiosos de Seu tempo. Um exemplo digno de nota deste
ponto de vista o simpsio From Sabbath to the Lords Day [Do Sbado Para o Dia do Senhor], produzido por sete eruditos americanos e britnicos
e patrocinado pela Tyndale Fellowship for Biblical Research em
Cambridge, Inglaterra.8 Os autores mantm que Cristo transcendeu a lei do
sbado por suas reivindicaes messinicas. Ele agiu contra as tradies
sabticas prevalecentes a fim de propiciar a Seus seguidores a liberdade de
reinterpretar o sbado e escolher um novo dia de culto, mais bem adequado
a expressar sua nova f crist.
O problema fundamental com este ponto de vista popular que
interpreta distorcidamente as controvertidas atividades e ensinos de Cristo
no sbado que foram claramente designadas, no a anular, mas a esclarecer
a inteno divina do quarto mandamento. Cristo agiu deliberadamente
contra as falsas concepes prevalecentes a respeito do sbado, no para
dar fim a sua observncia, mas para restaurar o propsito para o dia
intencionado por Deus. Deve-se notar que toda vez que era acusado de
violar o sbado, Cristo rejeitava e refutava tal acusao. Ele Se defendia e a
Seus discpulos da acusao de quebrantarem o sbado apelando s
Escrituras: No lestes . . . (Mat. 12:3-5).
-
Do Sbado para o Domingo
8
8
A inteno dos ensinos e atividades provocantes de Cristo no sbado
no era para preparar o caminho para o abandono do sbado e adoo da
observncia do domingo, mas para revelar o verdadeiro significado e
funo do sbado--um dia para fazer o bem (Mat. 12:12), para salvar vida (Mar. 3:4), para libertar pessoas de escravido espiritual e fsica (Lucas 13: 12,16), e para revelar misericrdia acima de religiosidade (Mat. 12:7). Um cuidadoso estudo desses pronunciamentos de Jesus sobre
o sbado claramente demonstra que Jesus no tinha inteno de ab-rogar o
sbado. Desejava era esclarecer o divino propsito do sbado--um dia para
celebrar o amor redentor e criativo de Deus por oferecer um servio vivo e
amorvel s pessoas necessitadas.
A RESSURREIO E A ORIGEM DO DOMINGO
Um ponto de vista comum entre observadores do domingo que este
foi adotado pela igreja apostlica para comemorar a ressurreio de Cristo.
O prprio Papa apela ressurreio e aparecimento de Jesus no domingo
em sua Carta Pastoral Dies Domini a fim de argumentar pela origem
apostlica do domingo. Numerosos eruditos catlicos e protestantes tm
escrito em defesa do mesmo ponto de vista.
Por exemplo, em sua dissertao doutoral Storia della Domenica
[Histria do domingo], Corrado Mosna, um estudante jesuta da Pontifcia
Universidade Gregoriana, que trabalhou sob a direo do Prof. Vincenzo
Monachino, S. J., (o mesmo professor que monitorou minha dissertao)
conclui: Portanto, podemos concluir com certeza que o evento da Ressurreio determinou a escolha do domingo como o novo dia de culto
para a primeira comunidade crist.9 Em semelhante linha de pensamento o Cardeal Jean Danilou escreveu: O Dia do Senhor uma instituio crist; sua origem deve ser encontrada unicamente no fato da ressurreio de
Cristo no dia seguinte ao sbado.10 A despeito de sua popularidade, a alegao de que a ressurreio de
Cristo no primeiro dia da semana provocou a mudana do culto no sbado
para o domingo carece de apoio tanto bblico quanto histrico. Um
cuidadoso estudo de todas as referncias Ressurreio revela a
incomparvel importncia do evento, mas no propicia qualquer indicao
-
Do Sbado para o Domingo
9
9
com respeito a uma dia especial para comemor-lo. O Novo Testamento
no atribui qualquer significado litrgico ao dia da ressurreio de Cristo
simplesmente porque a Ressurreio foi vista como uma realidade
existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do Salvador
Ressurreto, no como uma prtica litrgica associada ao culto dominical.
Permitam-me mencionar brevemente sete principais razes que
desautorizam o suposto papel da ressurreio de Cristo na adoo da
observncia dominical:
(1) Nenhuma Ordem de Cristo ou dos Apstolos. No h
mandamento de Cristo ou dos apstolos concernente a uma celebrao
semanal ou anual da ressurreio de Cristo. Temos as ordens no Novo
Testamento que dizem respeito ao batismo (Mat. 28:19-20), Ceia do
Senhor (Mar. 14:24-25; 1 Cor. 11:23-26) e lava-ps (Joo 13:14-15), mas
no h ordenana ou mesmo qualquer sugesto para celebrar a ressurreio
de Cristo num domingo semanal ou num domingo de Pscoa anual.
(2) Jesus No Fez Qualquer Tentativa de Instituir um Memorial de
Sua Ressurreio. Se Jesus desejasse que o dia da Ressurreio se
tornasse um dia memorial e de culto, Ele teria Se aproveitado do dia em
que se ergueu da tumba para estabelecer tal memorial. importante
observar que as instituies divinas como o sbado, batismo, Santa Ceia,
todas remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Mas sobre
o dia da Ressurreio Cristo no realizou qualquer ato para instituir um
memorial que a celebrasse.
Se Jesus desejasse memorializar o dia de Sua ressurreio, muito
provavelmente teria dito s mulheres e discpulos quando ressurgiu: Vinde parte e celebremos Minha Ressurreio! Em vez disso Ele disse s mulheres: Ide avisar a meus irmos que se dirijam Galilia (Mat. 28:10) e aos discpulos: Ide. . . fazei discpulos . . . batizando-os (Mat. 28:19). Nenhuma dessas declaraes do Salvador ressurreto revela inteno
de memorializar a Ressurreio por tornar o domingo o novo dia de
descanso e culto.
A razo que nosso Salvador desejava que Seus seguidores vissem a
Ressurreio como uma realidade existencial a ser experimentada
diariamente pelo viver vitorioso mediante o poder de Sua ressurreio,
-
Do Sbado para o Domingo
10
10
antes que por um evento litrgico/religioso a ser celebrado no domingo.
Paulo expressa a esperana de conhecer o poder da sua ressurreio (Fil. 3:10), mas ele nunca menciona o seu desejo de celebrar a ressurreio de
Cristo no domingo ou no domingo de Pscoa.
(3) O Domingo Nunca Chamado Dia da Ressurreio. O domingo nunca chamado no Novo Testamento de Dia da Ressurreio. coerentemente designado de primeiro dia da semana. As referncias ao domingo como dia da ressurreio primeiro aparecem na primeira parte do
quarto sculo, especificamente nos escritos de Eusbio de Cesaria. Por
esse tempo o domingo havia se tornado associado com a Ressurreio e
conseqentemente foi referido como Dia da Ressurreio. Mas este fato histrico ocorreu vrios sculos aps o comeo do cristianismo.
(4) O Domingo-Ressurreio Pressupe Trabalho, No Repouso ou
Adorao. O domingo-ressurreio pressupe trabalho, antes que descanso
e culto, porque no assinala o trmino do ministrio terreno de Cristo, que
findou numa sexta-feira tarde quando o Salvador declarou: Est consumado (Joo 19:30), e da descansou na tumba segundo o mandamento. Em vez disso, a Ressurreio assinala o incio do novo
ministrio intercessrio de Cristo (Atos 1:8; 2:33), o qual, semelhana do
primeiro dia da criao, pressupe trabalho, e no descanso.
(5) A Ceia do Senhor No Foi Celebrada no Domingo em Honra da
Ressurreio. Em sua dissertao Sunday: The History of the Day of Rest
and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church [Domingo:
A Histria do Dia de Repouso e Adorao Nos Primeiros Sculos da Igreja
Crist] Willy Rordorf argumenta que o domingo se tornou o Dia do Senhor
porque esse foi o dia em que a Ceia do Senhor era celebrada.11
Este ponto
de vista carece de suporte bblico e histrico. Historicamente sabemos que
os cristos no podiam celebrar a Ceia do Senhor numa base regular aos
domingos noite porque tais reunies eram proibidas pela lei romana da
hetariae--que impedia todos os tipos de refeies comunitrias noite. O
governo romano temia que tais reunies noturnas se tornassem ocasies
para tramas polticas.
-
Do Sbado para o Domingo
11
11
A fim de evitar as batidas da polcia romana, os cristos alteravam
regularmente o tempo e lugar da celebrao da Ceia do Senhor. Finalmente,
mudaram o servio sagrado da noite para a manh. Isso explica por que
Paulo to especfico quanto ao modo de celebrar a Santa Ceia, mas vago
quanto questo do tempo da assemblia. Notem que quatro vezes ele
repete a mesma frase: quando vos reunis (1 Cor. 11:18, 20, 33, 34). Esta linguagem deixa implcito tempo indefinido, mais provavelmente porque
no havia um dia institudo para a celebrao da Santa Ceia.
Se, como alguns eruditos pretendem, a Ceia do Senhor era celebrada
no domingo noite, como parte do culto do Dia do Senhor, Paulo
dificilmente teria deixado de mencionar o carter sagrado do tempo em que
se reuniam. Isso fortaleceria o seu apelo para uma atitude de mais
reverncia durante a participao na Ceia do Senhor. A falha de Paulo em
mencionar o domingo como o tempo da reunio ou o uso do adjetivo do Senhor-kuriak para caracterizar o dia como dia do Senhor (como ele fez com referncia Ceia do Senhor), demonstra que o apstolo no
atribua qualquer significao religiosa ao domingo.
(6) A Ceia do Senhor Comemora o Sacrifcio de Cristo, No Sua
Ressurreio. Muitos cristos hoje consideram a Santa Ceia como o centro
de seu culto dominical em honra Ressurreio. Mas na igreja apostlica, a
Santa Ceia no era celebrada no domingo, como acabamos de ver, e no se
relacionava com a Ressurreio. Paulo, por exemplo, que alega transmitir o
que recebeu do Senhor (1 Cor. 11:23), explicitamente declara que o rito comemorava, no a ressurreio de Cristo, mas Seu sacrifcio e Segunda
Vinda (anunciais a morte do Senhor at que Ele venha--1 Cor. 11:26). Semelhantemente, a Pscoa, celebrada hoje por muitos cristos no
Domingo de Pscoa, era observado durante os tempos apostlicos, no no
domingo para comemorar a Ressurreio, mas segundo a data bblica de 14
de Nis, primariamente como um memorial do sofrimento e morte de
Cristo. Contrariamente ao que muita gente pensa, o domingo de Pscoa era
desconhecido da igreja apostlica. Foi introduzido e promovido pela Igreja
de Roma no segundo sculo a fim de mostrar separao e diferenciao da
Pscoa judaica. O resultado foi a bem-conhecida controvrsia sobre a data
da Pscoa que finalmente levou o bispo Vtor de Roma a excomungar os
-
Do Sbado para o Domingo
12
12
cristos asiticos (cerca de 191 AD) por recusarem adotar o domingo de
Pscoa. Essas indicaes mostram que a ressurreio de Cristo no primeiro
dia da semana no influenciou a igreja apostlica a adotar o domingo
semanal e a Pscoa anual para celebrar tal evento.
(7) A Ressurreio No a Razo Dominante Para a Observncia
do Domingo nos Documentos Mais Antigos. As mais antigas referncias
explcitas observncia do domingo se encontram nos escritos de Barnab
(cerca de 135 AD) e Justino Mrtir (cerca de 150 AD). Ambos esses
autores de fato mencionam a Ressurreio, mas somente como a segunda
de duas razes, importante, mas no predominante. A primeira motivao
teolgica de Barnab para a guarda do domingo escatolgica, ou seja, o
fato de que o domingo o oitavo dia e representaria o incio de outro mundo.12 A noo de que o domingo era o oitavo dia foi mais tarde abandonada porque no faz sentido falar em oitavo dia numa semana de sete dias. A primeira razo de Justino para a assemblia dos cristos no
Dies Solis-o dia do sol, a inaugurao da criao: Domingo o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matria prima, criou o
mundo.13 Essas razes foram finalmente abandonadas em favor da Ressurreio que se tornou a razo primria para a observncia do
domingo.
As sete razes dadas acima so suficientes para desacreditar a alegao
de que a ressurreio de Cristo no primeiro dia da semana causou o
abandono do sbado e a adoo do domingo. A verdade que inicialmente
a Ressurreio era celebrada existencialmente, antes que liturgicamente, ou
seja, por uma maneira vitoriosa de vida, no mediante um dia especial de
adorao.
JERUSALM E A ORIGEM DO DOMINGO
Intimamente relacionada com o suposto papel da Ressurreio ocorre a
opinio popular de que a igreja em Jerusalm foi a pioneira em abandonar o
sbado para adotar o domingo. Dediquei o captulo 5--Jerusalm e a Origem do Domingo--de minha dissertao a uma detida anlise desse ponto de vista. Minha investigao revela que esta viso popular repousa
-
Do Sbado para o Domingo
13
13
sobre trs principais pressupostos equivocados:
O Domingo Comeou em Jerusalm Porque Ali Foi Onde Cristo
Ressuscitou
Primeiramente, presume-se que Jerusalm deve ser o bero da
observncia do domingo, porque foi o lugar onde Jesus ergueu-Se dos
mortos no primeiro dia da semana. Alega-se que imediatamente aps a
ressurreio de Cristo, os apstolos no mais se sentiam vontade no culto sabtico judaico14 e conseqentemente passaram a instituir o culto dominical a fim de comemorar a ressurreio de Cristo por uma liturgia
crist distinta.
Como j demonstramos, esse pressuposto carece de suporte bblico e
histrico porque na igreja apostlica a Ressurreio era vista como uma
realidade existencial experimentada por viver vitoriosamente pelo poder do
Salvador Ressurreto, e no uma prtica litrgica associada com o culto do
domingo. Fizemos notar anteriormente que nada no Novo Testamento
prescreve ou mesmo sugere a comemorao da ressurreio de Jesus no
domingo. O prprio nome Dia da Ressurreio no aparece na literatura crist at o princpio do quarto sculo.
Se a primitiva igreja de Jerusalm foi pioneira e promovia a guarda do
domingo por no mais sentir-se vontade com a observncia do sbado
judaico, seria natural esperar encontrar em tal igreja uma ruptura imediata
das tradies e culto religiosos judaicos. Contudo, o que se deu foi
exatamente o oposto disso. Tanto o livro de Atos dos Apstolos quanto
vrios documentos judaico-cristos claramente revelam que a composio
tnica e orientao teolgica da igreja de Jerusalm eram profundamente
judaicas. Lucas caracteriza a igreja de Jerusalm como composta por
cristos zelosos pela lei (Atos 21:20). Esta uma precisa descrio que dificilmente permite ver o abandono de um dos principais preceitos da lei,
qual seja, o sbado, to firmemente observado pelos judeus, de modo at
exagerado, o que levou Cristo a intervir para corrigir as distores
aplicadas ao mandamento (ver Mateus 12:12).
Paulo Aprendeu Sobre a Observncia do Domingo de Dirigentes
-
Do Sbado para o Domingo
14
14
Judaicos
O segundo pressuposto equivocado que Paulo aprendeu sobre a
observncia do domingo dos lderes apostlicos da igreja de Jerusalm e
ensinou-o a seus conversos gentios. A razo dada para esse pressuposto
que Paulo dificilmente poderia ter sido pioneiro do abandono do sbado e
adoo do domingo sem suscitar a oposio de seus irmos judeus. A
ausncia de qualquer eco de controvrsia interpretada como significando
que Paulo aceitou a observncia do domingo como ensinada a ele pelos
irmos judeus, e promoveu essa prtica entre as igrejas gentias que
estabeleceu.
Em seu livro The Lords Day [O dia do senhor], Paul Jewett observa, por exemplo: Se Paulo tivesse introduzido o culto dominical entre os gentios, parece provvel que a oposio judaica teria acusado a sua
temeridade em pr de lado a lei do sbado, como foi o caso com referncia
ao rito da circunciso (Atos 21:21). A ausncia de tal oposio interpretada por Jewett como indicativo de que Paulo aceitou e promoveu a
observncia do domingo como ensinada a ele pelos irmos judaicos.15
Esse pressuposto est correto em manter que Paulo no poderia ter sido
o pioneiro da observncia do domingo sem suscitar a oposio dos irmos
judeus, mas est incorreto em sugerir que os irmos judeus ensinaram a
Paulo a observncia do domingo. A verdade que os cristos judeus, como
veremos agora, eram profundamente comprometidos com a observncia da
lei em geral e do sbado em particular. A ausncia de qualquer controvrsia
entre Paulo e os irmos judeus indica, muito mais, que o sbado nunca se
tornou uma disputa na igreja apostlica porque era fielmente observado por
todos os cristos.
Somente a Apostlica Igreja de Jerusalm Poderia Mudar o
Sbado para o Domingo
O terceiro pressuposto equivocado de que somente a igreja de
Jerusalm, que foi a igreja-me da cristandade, teria reunido autoridade e
respeito suficientes para persuadir todas as igrejas crists espalhadas por
todo o Imprio Romano para mudar seu dia semanal de culto do sbado
-
Do Sbado para o Domingo
15
15
para o domingo. Igrejas menos influentes nunca poderiam ter realizado essa
mudana.
O problema fundamental com esse pressuposto no reconhecer a
composio judaica e orientao teolgica da igreja de Jerusalm. De todas
as igrejas crists, a de Jerusalm era a nica que se compunha quase
exclusivamente de judeus cristos que eram zelosos na observncia da lei
em geral, e do sbado em particular.
Apego lei. O apego da igreja de Jerusalm lei mosaica refletida
nas decises do primeiro conclio de Jerusalm realizado entre 49-50 AD
(ver Atos 15). A iseno da circunciso foi concedida somente aos irmos dentre os gentios (Atos 15:23). Nenhuma concesso feita para os cristos judeus, que deviam continuar a circuncidar os seus filhos.
Ademais, a iseno dos gentios da prtica da circunciso no
subentende que estavam livres da observncia da lei em geral, e do sbado
em particular. Isto claramente indicado pelo fato de que se esperava que
os gentios observassem as quatro leis mosaicas com respeito ao
forasteiro que habitasse entre os israelitas. Essas leis se acham em Levtico 17 e 18 e so citadas na deciso do Conclio de Jerusalm: Que vos abstenhais das cousas sacrificadas a dolos, bem como do sangue, da
carne de animais sufocados e das relaes sexuais ilcitas (Atos 15:29). Essa preocupao do Concilio de Jerusalm quanto contaminao ritual e
leis alimentares reflete seu contnuo apego s leis mosaicas.
Esta concluso apoiada pela razo dada por Tiago ao requerer que os
gentios observassem as quatro leis mosaicas concernentes aos forasteiros. Porque Moiss tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde lido todos os sbados (Atos 15:21). Todos os intrpretes reconhecem que tanto em sua proposta quanto em sua
justificativa, Tiago reafirma a natureza vigente da lei mosaica que era
costumeiramente ensinada cada sbado na sinagoga.
A ltima Visita de Paulo. Luz adicional propiciada pela ltima
visita de Paulo a Jerusalm. O apstolo foi informado por Tiago e pelos
ancios que milhares de judeus conversos eram todos zelosos pela lei (Atos 21:20). Os mesmos lderes ento pressionaram Paulo a provar s
-
Do Sbado para o Domingo
16
16
pessoas que ele tambm vivia em observncia da lei (Atos 21-24), submetendo-se a um rito de purificao no Templo. luz desse profundo
compromisso observncia da lei, dificilmente se poderia conceber que a
igreja de Jerusalm tivesse ab-rogado um de seus principais preceitos--a
guarda do sbado--e foi pioneira na observncia do domingo para substituir
o sbado.
Acaso o Domingo se Originou na Palestina Aps 70 AD?
As evidncias acima expostas levaram alguns eruditos a argumentar
que a observncia do domingo comeou na Palestina em tempo
ligeiramente posterior, ou seja, aps a destruio romana do Templo em 70
AD. Presumem que a fuga dos cristos de Jerusalm para Pela, bem como o
impacto psicolgico da destruio do Templo, afastou os cristos dos
regulamentos judaicos tais como a guarda do sbado.
Esse pressuposto desacreditado pelos testemunhos tanto de Eusbio
quanto de Epifnio que nos informam que a igreja de Jerusalm aps 70
AD e at o cerco de Jerusalm por Adriano, em 135 AD, era composta e
administrada por conversos judeus, os quais se caracterizavam como
zelosos para insistirem na observncia literal da lei.16 A continuao da observncia do sbado entre os cristos palestinos,
conhecidos como nazarenos, evidenciada pelo testemunho de um
historiador palestino do quarto sculo, Epifnio. Ele nos conta que os
nazarenos, descendentes diretos da comunidade primitiva de Jerusalm, insistiam e persistiam na observncia da guarda do sbado do stimo dia
at seu prprio tempo, ou seja, cerca de 350 AD.17
Eu me recordo
vividamente da alegria que senti quando dei com este testemunho de
Epifnio. Ansiosamente mostrei este documento a meu professor jesuta,
Vincenzo Monachino, que o leu detidamente, e da exclamou: Este o golpe de morte na teoria que faz de Jerusalm o bero da observncia do
domingo. Meu professor de imediato entendeu que se os descendentes diretos da
igreja de Jerusalm persistiram na observncia do sbado at pelo menos o
quarto sculo, ento a igreja de Jerusalm dificilmente poderia ter sido
pioneira no abandono do sbado e adoo do domingo durante o tempo
-
Do Sbado para o Domingo
17
17
apostlico. De todas as igrejas crists, a igreja de Jerusalm era tanto tnica
como teologicamente a mais prxima e a mais leal s tradies judaicas, e
destarte a que teria menor probabilidade de mudar o dia do sbado.
ROMA E A ORIGEM DO DOMINGO
Tendo provado para satisfao de meu professor que a igreja de
Jerusalm devia ser excluda como tendo sido o local de origem da
observncia dominical, prossegui considerando a igreja que maior
probabilidade poderia ter iniciado a referida mudana. No decurso de
minha investigao descobri evidncias cumulativas apontando igreja de
Roma. Foi nessa igreja que encontrei as condies sociais, religiosas e
polticas que tornaram conveniente ao bispo de Roma promover o
abandono da observncia do sbado e a adoo do culto dominical, em seu
lugar.
(1) Predomnio dos Conversos Gentios. Em primeiro lugar, a igreja
de Roma era composta predominantemente de conversos gentios. Paulo em
sua epstola igreja de Roma afirma explicitamente: Dirijo-me a vs outros que sois gentios (Romanos 11:13). Isto significa que enquanto a igreja de Jerusalm era composta quase exclusivamente de cristos judeus
que estavam profundamente comprometidos com suas tradies religiosas,
como a observncia do sbado, a igreja de Roma compunha-se sobretudo
de conversos gentios que foram influenciados por prticas pags tais como
a adorao do sol, com o seu dia do sol.
(2) A Diferenciao Inicial Com Relao aos Judeus. Em segundo
lugar, descobri que a membresia predominantemente gentlica
aparentemente contribuiu para uma diferenciao bem cedo dos cristos
com relao aos judeus em Roma. Isso indicado pelo fato de que em 65
AD Nero culpou os cristos pela queima de Roma, conquanto o distrito
judaico de Trastevere no houvesse sido tocado pelo fogo. Este fato sugere
que por 65 AD os cristos em Roma no mais eram percebidos como uma
seita judaica pelas autoridades romanas, mas como um movimento
religioso distinto. Muito provavelmente a razo disso que por essa poca
-
Do Sbado para o Domingo
18
18
os cristos de Roma no mais participavam nos cultos da sinagoga. Este
no era o caso na Palestina onde os cristos freqentavam os servios da
sinagoga at o fim do primeiro sculo, o que se evidencia pelo fato de que a
fim de manter os cristos longe dos cultos na sinagoga, as autoridades
rabnicas introduziram pelo ano 90 AD a maldio aos cristos a ser
recitada durante o servio religioso.
(3) Preeminncia da Igreja de Roma. Uma terceira e importante
considerao a autoridade preeminente (potentior principalitas) exercida pelo bispo de Roma aps a destruio de Jerusalm em 70 AD.
Sendo o bispo da capital do Imprio Romano, o bispo de Roma assumiu a
liderana da comunidade crist em geral. Sua liderana reconhecida, por
exemplo, por Incio, Policarpo, Irineu, todos os quais viveram no segundo
sculo. Provas tangveis da liderana do bispo de Roma so suas
intervenes contra movimentos sectrios como o marcionismo e o
montanismo.
Mais importante ainda para nossa investigao o papel do bispo de
Roma em dar incio e promover a mudana do festival do sbado para o
jejum do sbado, bem como a mudana da data da Pscoa para o domingo
de Pscoa. Retornaremos brevemente a este ponto. A estas alturas
suficiente fazer observar que o bispo de Roma emergiu posio de
liderana aps a destruio de Jerusalm em 70 AD. Ele era o nico que
reunia suficiente autoridade para influenciar a maioria dos cristos a adotar
novas observncias religiosas, tal como o domingo semanal e o domingo de
Pscoa anual.18
(4) Medidas Antijudaicas repressivas. Para apreciar por que o bispo
de Roma estaria na vanguarda do abandono do sbado e adoo do
domingo importante considerar um quarto importante fator, qual seja, as
medidas repressivas de carter fiscal, militar, poltico e religioso impostos
pelos romanos sobre os judeus, a comear com a Primeira Revolta Judaica
contra Roma em 66 AD e culminando com a Segunda Revolta Judaica em
135 AD. Essas medidas, que foram introduzidas pelo governo romano para
punir os judeus em vista de suas violentas rebelies em vrios lugares do
Imprio, foram especialmente sentidas na cidade de Roma, que tinha uma
-
Do Sbado para o Domingo
19
19
vasta populao judaica.
Fiscalmente, os judeus eram sujeitos a um imposto discriminatrio (o
fiscus judaicus), introduzido por Vespasiano e aumentado primeiro por
Domiciano (81-96 AD), depois por Adriano. Significava que os judeus
tinham de pagar um imposto meramente por serem judeus. Militarmente,
Vespasiano e Tito esmagaram a Primeira Revolta judaica (66-70 AD) e
Adriano, a Segunda Revolta Judaica (132-135 AD). Religiosamente,
Vespasiano (69-79 AD) aboliu o Sindrio e o ofcio do Sumo Sacerdote.
Essas medidas repressivas contra os judeus foram sentidas
intensamente em Roma, que tinha uma grande populao judaica. De fato,
a crescente hostilidade da populao romana contra os judeus forou o
Imperador Tito, conquanto a contragosto (invitus), a pedir judia Berenice, irm de Herodes, a jovem, com quem desejava se casar, a deixar
Roma.
(5) Propaganda Antijudaica. Um quinto e significativo fator a
propaganda antijudaica por um bom nmero de autores romanos que
comearam a depreciar os judeus racial e culturalmente, zombando
especialmente da guarda do sbado e da circunciso como superties
judaicas degradantes. Esses autores faziam pouco especialmente da guarda
do sbado como exemplo da preguia dos judeus. Literatura antijudaica
zombadora pode ser encontrada nos escritos de Sneca (65 AD), Prsio
(34-62 AD), Petrnio (ca. 66 AD), Quintiliano (ca. 35-100 AD), Marcial
(ca. 40-104 AD), Plutarco (ca.46-119 AD), Juvenal (125 AD) e Tcito (ca.
55-120 AD), todos eles residentes de Roma na maior parte de suas vidas
profissionais.
(6) A Legislao de Adriano. O sexto e mais decisivo fator que
influenciou a mudana do dia de culto do sbado para o domingo a
legislao antijudaica e anti-sabtica promulgada pelo Imperador Adriano
em 135 AD. Adriano chegou ao ponto de tornar fora da lei a prtica da
religio judaica em geral, e da observncia do sbado em particular em 135
AD.
Essa legislao antijudaica repressiva foi promulgada por Adriano
aps trs anos de luta sangrenta (132-135 AD) para esmagar a revolta
-
Do Sbado para o Domingo
20
20
judaica. Suas legies romanas sofreram muitas perdas. Quando o
Imperador finalmente capturou Jerusalm, ele decidiu tratar do problema
judaica de modo radical. Matou milhares de judeus e levou milhares deles
como escravos para Roma. Tornou Jerusalm uma colnia romana qual
chamou Aelia Capitolina. Ele proibiu os judeus e os cristos judeus de
jamais entrarem na cidade. Mais importante ainda para nossa investigao
que Adriano baniu a prtica da religio judaica em geral, e do sbado em
particular por todo o Imprio.
No de surpreender que os judeus considerem a Adriano e Hitler
como os dos homens mais odiados de sua histria. Ambos compartilham a
infame distino de desejarem erradicar a religio judaica e o povo judeu.
Adriano tentou abolir o judasmo como religio e Hitler tentou liquidar os
judeus como um povo.
Quando aprendi a respeito da legislao antijudaica e anti-sabtica de
Adriano, indaguei-me: Como os cristos, especialmente os que viviam em
Roma sob a ateno imediata do Imperador, reagiram a tal legislao?
Preferiram permanecer fiis a sua observncia do sbado, mesmo se
significasse serem punidos como judeus, ou abandonaram a guarda do
sbado a fim de deixar claro s autoridades romanas sua separao e
diferenciao dos judeus? A resposta simples: Muitos cristos mudaram o
tempo e maneira de observncia de duas instituies associadas com o
judasmo, ou seja, o sbado e o domingo de Pscoa. Em breve reveremos
que o sbado foi alterado para o domingo e a Pscoa para o Domingo de
Pscoa a fim de evitar qualquer semelhana com o judasmo.
(7) A Teologia Crist de Desprezo Pelos Judeus. Para entender o que
contribuiu para essas mudanas histricas, precisamos mencionar um
stimo importante fator, qual seja, o desenvolvimento de uma teologia
crist de desprezo pelos judeus. Isto o que se passou: quando a religio
judaica em geral, e o sbado em particular, foram postos fora da lei pelo
governo romano e passou a ser objeto de zombaria de escritores romanos,
todo um conjunto de literatura crist chamada Adversus Judaeos (contra os
judeus) comeou a aparecer. Seguindo o caminho dos autores romanos,
autores cristos desenvolveram uma teologia crist de separao dos judeus e desprezo por eles. Costumes caractersticos dos judeus como a
-
Do Sbado para o Domingo
21
21
circunciso e a guarda do sbado foram proclamados como sinais da
depravao judaica.
A condenao da guarda do sbado como sinal de impiedade judaica
contribuiu para a adoo da observncia do domingo a fim de esclarecer s
autoridades romanas a separao dos cristos do judasmo e identificao
com o paganismo romano. Essa mudana histrica do sbado para a
observncia do domingo foi iniciada pela igreja de Roma--
predominantemente gentlica que, como feito notar antes, assumiu a
liderana das comunidades crists aps a destruio de Jerusalm em 70
AD. Para apreciar como a igreja de Roma se empenhou em afastar os
cristos da observncia sabtica e incentivar o culto aos domingos
mencionaremos brevemente as medidas teolgicas, sociais e litrgicas
tomadas pela igreja de Roma.
Medidas Tomadas Pela Igreja de Roma
Teologicamente o sbado foi reduzido de uma instituio criacional
estabelecida por Deus para a humanidade para uma instituio dada
exclusivamente aos judeus como marca registrada de sua depravao.
Justino Mrtir, por exemplo, um lder da igreja de Roma, que escreveu pela
metade do segundo sculo, alega em seu Dilogo com Trifo, que a
observncia do sbado era uma ordenana mosaica temporria que Deus
imps exclusivamente aos judeus como uma marca para separ-los para punio de que tanto merecem por suas infidelidades.
difcil compreender como lderes da igreja como Justino, que se
tornou um mrtir da f crist, pudesse rejeitar o sentido bblico do sbado
como um sinal do compromisso de um concerto com Deus (xo. 31:16, 17;
Eze. 20:12, 20), e reduzi-lo, em vez disso, a um sinal da depravao
judaica. O que ainda mais difcil de aceitar a ausncia de qualquer
condenao erudita a tal absurdo e teologia embaraosa de desprezo pelos
judeus--uma teologia que patentemente interpreta errado instituies
bblicas como o sbado, a fim de dar sano bblica represso poltica aos
judeus.
A triste lio da histria que o desejo de ser politicamente correto
por apoiar polticas populares imorais tais como o extermnio dos judeus,
-
Do Sbado para o Domingo
22
22
muulmanos e herticos, ou a perpetrao da escravido, tem levado alguns
dirigentes eclesisticos e especialistas bblicos a se tornarem biblicamente
incorretos. Eles criaram teologias antibblicas que sancionam prticas
imorais. impossvel estimar o dano causado por tais teologias de
convenincia nossa sociedade e ao cristianismo em geral.
Por exemplo, a falha dos lderes eclesisticos e eruditos de se
desculparem pela teologia de desprezo para com os judeus tem contribudo,
entre outras coisas, para dar origem popular teologia dispensacionalista.
Essa teologia, acatada por muitas igrejas evanglicas hoje, ensina, entre
outras coisas, que Deus arrebatar a igreja secreta e subitamente, antes de
derramar Sua ira sobre os judeus durante os sete anos finais da Tribulao.
A popularidade do livro e filme Deixado Para Trs, que est tomando a
Amrica do Norte de roldo, uma prova tangvel de quo difundidos este
ensino enganoso se apresenta hoje em dia.
Socialmente, a reinterpretao negativa do sbado como um sinal da
iniqidade judaica levou a igreja de Roma a transformar a observncia do
sbado de um dia de celebrao e regozijo em um dia de jejum e tristeza. O
propsito do jejum no sbado no era para incentivar a observncia
espiritual do sbado, antes, como enfaticamente declarado na decretal do
Papa Silvestre (314-335 AD), o jejum do sbado foi designado para
mostrar desprezo pelos judeus(exsecratione Judaeorum) e por sua celebrao de seu sbado (destructione ciborum). A tristeza e fome
resultantes do jejum capacitariam os cristos a evitarem parecer que observavam o sbado com os judeus e os encorajariam a entrar mais ansiosa e alegremente na observncia do domingo.
O jejum semanal aos sbados desenvolveu-se como uma extenso ou
correspondente ao jejum do sbado santo da estao de Pscoa. Esse era o
dia em que todos os cristos que adotaram o Domingo de Pscoa Romano
jejuavam. O jejum do santo sbado de Pscoa, semelhana do jejum
sabtico, destinava-se a expressar no s tristeza pela morte de Cristo, mas
tambm desprezo pelos judeus que eram considerados os perpetradores de
Sua morte. Por exemplo, um documento do terceiro sculo conhecido como
Didascalia Apostolorum (Os ensinos dos apstolos--ca. 250 AD) insta os
cristos a jejuarem na sexta-feira de Pscoa e no sbado por conta da
-
Do Sbado para o Domingo
23
23
desobedincia de nossos irmos [isto , os judeus] . . . por que nele o povo
matou-se a si mesmo crucificando o nosso Salvador. A maioria dos eruditos concorda que a igreja de Roma foi responsvel
por repudiar o tempo bblico da Pscoa (14 de Nis) e promover, em seu
lugar, o domingo de Pscoa. A mudana da Pscoa para o Domingo de
Pscoa foi introduzida pela igreja de Roma na ltima parte do segundo
sculo a fim de evitar, como o Prof. Lightfoot expe, at mesmo a semelhana de judasmo.19 A motivao antijudaica para o repdio da data bblica da Pscoa claramente expressa por Constantino em sua carta aos
bispos cristos no Conclio de Nicia (325 AD). Nessa carta conciliar, o
Imperador insta todos os cristos a seguirem o exemplo da igreja de Roma
em adotar o domingo de Pscoa porque, escreveu ele, no devemos ter nada em comum com os judeus, pois o Salvador nos mostrou outro
caminho . . . Ao unanimemente adotarmos esta maneira [ou seja, o
domingo de Pscoa] desejamos, queridos irmos, separar-nos da detestvel
companhia dos judeus. Esta carta do Conclio de Nicia representa a culminao de uma controvrsia iniciada dois sculos antes que se
centralizou em Roma.20
As mesmas motivaes antijudaicas que causaram a mudana da
Pscoa do domingo de Pscoa tambm so responsveis pela substituio
da guarda do sbado pela guarda do domingo. Esta concluso apoiada no
s no fato de que o sbado judaico compartilhava a mesma condenao
antijudaica quanto Pscoa judaica, mas tambm pela ntima ligao entre
a observncia do jejum anual do sbado de Pscoa, que era seguido pelo
regozijo do domingo de Pscoa, e a observncia de seu correspondente
semanal, o jejum do sbado, seguido pelo regozijo do domingo. A unidade
bsica entre essas observncias anuais e semanais explicitamente
afirmada pelos Pais, e sugere adicionalmente uma origem comum na igreja
de Roma ao mesmo tempo e devido a causas semelhantes.
Deve-se notar que a tentativa do Papa em desfazer o brilho do sbado
por tornar o dia um tempo de rigoroso jejum no foi recebida
favoravelmente por todas as igrejas. As igrejas orientais, por exemplo,
resistiram em adotar o jejum do sbado, bem como o domingo de Pscoa.
De fato, sua resistncia a essas prticas finalmente contribuiu para a ruptura
histrica em 1054 entre a Igreja Catlica Romana e a Igreja Ortodoxa
-
Do Sbado para o Domingo
24
24
Grega.
Liturgicamente, a igreja de Roma decretou que nenhuma assemblia
religiosa nem celebraes eucarsticas se realizassem no sbado. Por
exemplo, o Papa Inocncio I (402-417 AD) declarou que como a tradio da Igreja mantm, nesses dois dias [sexta-feira e sbado] no se deve
celebrar absolutamente os sacramentos. Dois historiadores eclesisticos contemporneos, Scrates e Sozomen, confirmam tal decreto. Sozomen
(ca. de 400 AD) nos diz que enquanto o povo de Constantinopla, e quase por toda parte, se renem no sbado, bem como no primeiro dia da semana,
tal costume nunca observado em Roma e Alexandria.21 Em suma, as evidncias histricas acima aludidas indicam que a igreja
de Roma empregou medidas teolgicas, sociais e litrgicas para esvaziar o
sbado de qualquer significado religioso e promover a observncia do
domingo em seu lugar.
O CULTO AO SOL E A ORIGEM DO DOMINGO
A discusso precedente focaliza-se sobre a interao de fatores sociais,
polticos e religiosos que contriburam para o abandono do sbado. A
questo que ainda permanece irrespondida : por que o domingo foi
escolhido para mostrar separao e diferenciao dos judeus? Por que os
cristos no adotaram outro dia como a sexta-feira para celebrar o sacrifcio
expiatrio por nossa redeno?
Adorao do Sol e o Domingo. A resposta a essas perguntas deve ser
encontrada especialmente na influncia do culto ao sol com seu dia do sol
que se tornou dominante em Roma e em outras partes do Imprio desde a primeira parte do sculo II AD. O deus sol-invencvel tornou-se o principal deus do panteo romano e era adorado especialmente no dies
solis, que o dia do sol, conhecido no calendrio em ingls como Sunday (tambm em alemo, Sonntag), no sentido de dia do sol.
Para entender como o Dia do Sol tornou-se o primeiro e mais
importante dia da semana romana importante observar que os romanos
-
Do Sbado para o Domingo
25
25
adotaram a semana de sete dias dos judeus pouco antes do incio do
cristianismo. Todavia, em lugar de enumerarem os dias semelhana dos
judeus, os romanos escolheram o nome dos dias da semana segundo os sete
planetas, que cultuavam como deuses.
O que surpreendente, porm, que inicialmente os romanos fizeram
do Dies Saturni (o dia de saturno) o primeiro dia da semana, seguido do
Dies Solis (dia do sol), que era o segundo dia. A razo que durante o
primeiro sculo o deus saturno era visto como sendo mais importante do
que o deus sol. Conseqentemente, o dia de saturno foi tornado o primeiro
e mais importante dia da semana. A situao mudou pelo incio do segundo
sculo, quando o deus sol tornou-se o deus romano mais importante. A
popularidade do deus sol provocou o avano do dia do sol (domingo) da
posio de segundo dia da semana para o primeiro e mais importante dia
semanal. Isso exigiu que cada um dos demais dias avanasse um dia, e o
dia de saturno destarte tornou-se o stimo dia da semana para os romanos
como havia sido para os judeus e cristos.
Quando soube a respeito do avano do Dia do Sol do segundo dia da
semana no primeiro sculo para o primeiro dia da semana no segundo
sculo, indaguei-me: possvel que esta ocorrncia influenciou os cristos
de formao pag a adotarem e adaptarem o dia do sol para o seu culto
cristo a fim de demonstrar separao dos judeus e identificao com os
romanos ao tempo em que a quebra do sbado era proibida pela lei
romana?
Evidncias Indiretas. Durante minha investigao descobri
abundantes evidncias diretas e indiretas apoiando esta hiptese. Descobri
que pessoas que haviam adorado o deus-sol em seus dias pagos traziam
consigo para a igreja vrias prticas pags. A existncia do problema
evidenciado pelas freqentes repreenses de lderes eclesisticos queles
cristos que veneravam o sol, especialmente o dia do sol.
A influncia do culto ao sol pode ser vista na arte e literatura crist
primitivas, onde a simbologia do deus-sol freqentemente empregada
para representar a Cristo. De fato, as mais antigas representaes de
pinturas de Cristo (datadas de ca. de 240 AD), que foram descobertas sob o
confessionrio da Baslica de So Pedro, escavada durante 1953-57, um
-
Do Sbado para o Domingo
26
26
mosaico que retrata a Cristo como o deus-sol cavalgando a quadriga,
carruagem do deus-sol. O nascer do sol tambm se tornou a orientao para
orao e para as igrejas crists. O dies natalis solis Invicti, aniversrio do
Sol Invencvel, que os romanos celebravam em 25 de dezembro, foi
adotado pelos cristos para celebrar o nascimento de Cristo.22
Evidncia direta. Uma influncia mais direta da adorao do sol na
adoo crist do domingo propiciada pelo uso da simbologia do sol para
justificar a real observncia do domingo. Os Pais da Igreja freqentemente
invocavam os motivos da luz e do sol para desenvolver uma justificativa
teolgica para o culto dominical. Por exemplo, Jernimo explica: Se chamado o dia do sol pelos pagos, ns de mui bom grado o reconhecemos
como tal, uma vez que nesse dia a luz do mundo apareceu e nesse dia o Sol
da Justia ergueu-Se.23
Concluso. A concluso de minha investigao conduzida durante um
perodo de cinco anos nas bibliotecas pontifcias e arquivos em Roma,
Itlia, de que a mudana do sbado para o domingo ocorreu, no por
autoridade de Cristo ou dos apstolos, mas em resultado de uma interao
de fatores sociais, polticos, pagos e religiosos. Descobri que o anti-
judasmo levou muitos cristos a abandonarem a observncia do sbado
para se diferenciarem dos judeus numa poca em que o judasmo em geral,
e a guarda do sbado em particular, foram postos fora da lei pelo Imprio
romano. A adorao ao sol influenciou a adoo da observncia do
domingo para facilitar a identificao crist e integrao com os costumes e
ciclos do Imprio Romano.
Objetivamente exposto, o sbado foi mudado para o domingo por
convenincia, ou seja, a necessidade de evitar a legislao romana
antijudaica e anti-sabtica. Podemos indagar: a convenincia um motivo
legtimo para alterar um mandamento divino? Acaso Jesus alguma feita
declarou: Se tornar-se difcil observar um de Meus mandamentos, no sofram com isso! Apenas alterem!? Obviamente a resposta No! Nenhum ensino tal encontrado na Bblia. Contudo, vez aps vez na
histria do cristianismo, alguns dirigentes eclesisticos e organizaes
religiosas tm escolhido a convenincia e o comprometimento de
-
Do Sbado para o Domingo
27
27
preferncia aos ensinos bblicos.
A mudana do sbado para o domingo no foi simplesmente de nomes
ou nmeros, mas de autoridade, sentido e experincia. Foi uma mudana de
um DIA SANTO divinamente estabelecido para nos capacitar a
experimentar mais livre e plenamente a conscincia da presena divina e
paz em nosso viver, num FERIADO para a busca de prazer e ganho
pessoais. Essa mudana histrica tem afetado grandemente a qualidade da
vida crist de incontveis cristos que ao longo dos sculos tm sido
privados da renovao fsica, mental e espiritual que o sbado tem por fito
proporcionar. A mudana tambm tem contribudo para o enorme declnio
de freqncia igreja que est ameaando a sobrevivncia de igrejas
histricas em numerosos pases ocidentais.
A recuperao do sbado especialmente necessria hoje quando
nossas almas, fragmentadas, penetradas e dissecadas por uma cultura
cacfona e dominada pela tenso clama pela libertao e realinhamento que
nos aguardam no dia de sbado.
A redescoberta do sbado nesta era csmica propicia a base para uma
f csmica, uma f que abarca e une a criao, redeno e restaurao
finais; o passado, presente e futuro; o homem, a natureza e Deus; este
mundo e o mundo por vir. uma f que reconhece o domnio de Deus
sobre toda a criao e a vida humana por consagrar a Ele o stimo dia; uma
f que cumpre o verdadeiro destino do crente no tempo e eternidade, uma
f que permite que o Salvador enriquea-nos a vida com uma maior medida
de Sua presena, paz e descanso.
Notas e Referncias
1. From Sabbath to Sunday, The Pontifical Gregorian University Press,
Roma, 1977. Para obter uma cpia do livro traduzido ao portugus, em
formato eletrnico, dirija-se ao e-mail: [email protected].
2. Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2 (3).
3. Dies Domini, Carta Pastoral de Joo Paulo II emitida em 31 de maio de 1998.
4. Toms de Aquino, Summa Theologica, 1947, II, Q. 122 Art.4, p. 1702.
5. Peter Geiermann, The Converts Cathecism of Catholic Doctrine, pg.
-
Do Sbado para o Domingo
28
28
50. Geiermann recebeu a bno apostlica do Papa Pio X por seus trabalhos em 25 de janeiro de 1910.
6. Dies Domini. 7. S. Krauss, Barkokba Jewish Encyclopedia, 1907, II, p. 509, assim
sumaria a dramtica: Os judeus passaram agora por um perodo de amarga perseguio; os sbados, as festividades, o estudo da Torah e a
circunciso foram interditados e parecia que Adriano desejava aniquilar
o povo judeu. . . . A poca subseqente foi de perigo (shaat hasekanah) para os judeus da Palestina, durante a qual se proibiram os costumes rituais mais importantes; por isso o Talmude declara (Geigers Jud. Zeit 1, 199, 11, 126; Weis, Dor, 11, 131; Rev. Et. Juives, xxxii. 41) que certas regras foram promulgadas para enfrentar a emergncia.
Chamou-se a poca do edito (gezarah) ou de perseguio (shemad,
Shab. 60a; Caut. R. ii, 5), veja tambm H. Graetz, History of the Jews, 1940, II, pg, 425; S. Grayzel, A History of the Jews, 1947, pg, 187; S.
W. Baron, A Social and Religious History of the Jews, 1952, II, pp. 40-
41, 107.
8. Publicado posteriormente pela editora evanglica Zondervan.
9. C. S. Mosna, Storia della Domenica, p. 44.
10. J. Danilou, Bible and Liturgy, p. 243.
11. Op. Cit., pg. 180.
12. Citado pelo tradutor, E. Goodpeed, Apostolic Fathers, 1950, p. 40, 41.
13. Justino Mrtir, Dialogue 67, 3-7, citado por Thomas B. Falls, Writings
of Saint Justin Martyr, The Fathers of the Church, 1948, pp. 106-107.
14. W. Rordorf, The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest
Centuries of The Christian Church p. 218.
15. P. K. Jewett, Lords Day, p. 57. 16. Eusbio, Histria Eclesistica 3, 27, 3 traduzido por Kirsopp Lake,
Eusebius, The Ecclesiastical History, 1949, 1, p. 263.
17. Marcel Simon, La migration Pella. Legende ou ralit?, Judo-christianisme, pp. 47, 48.
18. Ver captulo Roma e a Origem do Domingo, de Do Sbado Para o Domingo, onde h ampla discusso sobre isto.
19. J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 1885, II, part I, p. 88.
20. O decreto conciliar do Conclio de Nicia especificamente ordenava:
-
Do Sbado para o Domingo
29
29
Todos os irmos no Oriente que anteriormente celebravam a Pscoa com os judeus, daqui em diante o faro mesma poca que os romanos,
conosco e com todos aqueles que desde os tempos antigos tm celebrado
a festividade ao mesmo tempo que ns. (Ortiz De Urbina, Nice et Constantinople, 1963, 1, p. 259; conforme Socrates, Historia
Ecclesiastica 1, 9).
21. Socrates, Ecclesiastical History, 5, 22; NPNF 2 11, p. 132.
22. Franz Cumont, Astrology and Religion Among and Romans, 1960, p.
89: Um costume bem generalizado exigia que em 25 de dezembro, o nascimento do novo Sol fosse celebrado, quando, depois do solstcio de inverno, os dias comeam a ficar maiores e a estrela invencvel triunfa novamente sobre as trevas. Por textos sobre a celebrao mitraica do 25 de dezembro, veja CIL I, p. 140.
23. Jermino, In dies dominica Paschae homilia CCL 78, 550, 1, 52.
-
Do Sbado para o Domingo
30
30
DO SBADO PARA O DOMINGO Uma Investigao do Surgimento da Observncia do Domingo
no Cristianismo Primitivo
[Clique na palavra NDICE]
PONTIFICIA UNIVERSITAS GREGORIANA
FACULTAS HISTORIAE ECCLESIASTICAE
FROM SABBATH TO SUNDAY A HISTORICAL INVESTIGATION OF THE RISE OF SUNDAY
OBSERVANCE IN EARLY CHRISTIANITY
SAMUELE BACCHIOCCHI
Vidimus et aprobamus ad normam Statutorum Universitatis
Romae, ex Pontifcia Universitate Gregoriana
die 25 iunii 1974
R. P. VICENZO MONACHINO, S. I.
R. P. LUIZ MARTINEZ-FAZIO, S. I.
Imprimatur Romae, die 16 Iunii 1975
R. P. HERV CARRIER, S. I.
Rector Universitatis
Con approvazione Del Vicariato di Roma
In data 17 giugno 1975
-
Do Sbado para o Domingo
31
31
____________________________________________________
_
THE PONTIFICAL GREGORIAN UNIVERSITY PRESS,
ROMA, 1977
COMENTRIOS A RESPEITO DO LIVRO E DO AUTOR
UMA OBRA QUE SE RECOMENDA A SI MESMA. . .
uma obra que se recomenda a si mesma, em virtude do rico contedo e do vasto horizonte com que foi concebida e executada. Isto
indica a habilidade singular do autor em englobar vrios campos a fim de
capturar aqueles aspectos e elementos relacionados ao tema em
investigao.
A orientao estritamente cientfica da obra no impede que o autor revele suas profundas preocupaes religiosas e ecumnicas. Ciente de que
a histria da salvao no conhece fraturas, mas continuidade, ele encontra,
na redescoberta dos valores religiosos do sbado bblico, um auxlio para
restaurar ao dia do Senhor seu antigo carter sagrado. Vincenzo Monachino,
S. J. Chairman,
Departamento de Histria Eclesistica.
Pontifcia Universidade Gregoriana
Redator, Miscellanea Historiae
Pontificiae
UM MARCO MILENAR POR MUITO TEMPO. . .
Para aqueles interessados em saber como o Cristianismo veio a observar o domingo como dia de adorao, em lugar do sbado, este estudo
impressionante feito por um erudito Adventista do Stimo Diacomplementando sua dissertao doutoral com um imprimatur
-
Do Sbado para o Domingo
32
32
certamente ficar como marco milenar por muito tempo. The Christian Ministry, Chicago
TENTATIVA NOVA, PESQUISADA COM PROFUNDIDADE...
Na ltima dcada, mais ou menos, as igrejas crists tm feito grandes progressos ao purificar seus catequticos e teologia de um anti-
judasmo histrico. Porm, com exceo de alguns termos tais como
judeus perdidos, pouca ateno tem sido dada liturgia crist. Pode ser que uma das mais poderosas formas de anti-judasmo na igreja hoje seja a
prpria estrutura de sua liturgia. Por isso, Do Sbado Para o Domingo deve
ser recebido como uma tentativa nova, pesquisada com profundidade, para
iniciar as discusses nesta rea vital. um campo que necessita de nossa
ateno. E no se poderia achar melhor ponto de partida para tal explorao
do que o ltimo volume do Dr. Bacchiocchi. Eu o recomendo altamente. John T. Pawlikowski, OSM, Ph.D.
Chairman, Departamento de Estudos
Histricos e Doutrinrios
Unio Teolgica Catlica
Conglomerado de Escolas Teolgicas de
Chicago
UMA PESQUISA COMPLETA E LABORIOSA. . .
uma pesquisa completa e laboriosa, a qual todo investigador, no futuro, ter que levar em considerao.
Bruce M. Metzger
Professor do Novo Testamento
Seminrio Teolgico de Princeton
POSITIVA E COMPULSRIA. . .
Para mim, o Dr. Samuele Bacchiocchi fez uma contribuio muito
-
Do Sbado para o Domingo
33
33
importante ao estudo de uma questo muito central na histria da religio
bblica. Sua obra um estudo bastante completo e cuidadosamente
pesquisado, com cobertura completa de todas as fontes principais e da
maioria das secundrias que tratam dele. Conquanto no possamos esperar
que a questo se resolver em termos puramente acadmicos, uma
avaliao positiva e compulsria da evidncia deveria ser da maior
importncia para toda a pesquisa e estudo do assunto.
David Noel Freedman, Professor de Estudos
Bblicos
Universidade de Michigan
Redator, Arquelogo Bblico
DE GRANDE VALOR PARA JUDEUS. . .
Com laboriosa erudio, o Dr. Bacchiocchi tem reavaliado a transio da observncia do sbado para o domingo na histria da igreja.
Ao mesmo tempo, sua anlise teolgica procura levar os cristos
contemporneos a uma apreciao do sbado bblico, que os profetas
bblicos viam como um dia, no de mau pressgio, mas de deleite honrado e santo ao Senhor. Contra o pano de fundo do rigor exagerado nas restries sabticas entre algumas seitas judaicas, agora enfatizadas pelos
achados do Mar Morto, os rabinos farisaicos emergem como artistas
espirituais que utilizavam os meios de comunicao de seu tempo para
modelar um dia de devoo e iluminao. A contribuio de Bacchiocchi
histria crist deve provar-se de grande valor aos judeus que, de sua
especial posio vantajosa, poderiam ganhar um vislumbre mais profundo
de sua herana halquica. Joseph M. Baugartem
Professor de Leis e Instituies Rabnicas
Baltimore Hebrew College
IMPLICAES SURPREENDENTES. . .
-
Do Sbado para o Domingo
34
34
O trabalho bem pesquisado e bem escrito do Dr. Bacchiocchi combina erudio, devoo e um esprito conciliatrio. Ele argumenta que
a compreenso do domingo como sbado cristo encontra suas razes, no
no Novo Testamento, absolutamente, mas em complexas presses
histricas e ideolgicas no perodo patrstico. Se esta controvrsia do Sr.
Bacchiocchi est corretae acredito que estejaento deve-se, ou segui-lo e apoiar um sbado continuado (do stimo dia), ou estudar-se novamente os
documentos principais a fim de chegar a alguma outra concluso.
Pessoalmente inclino-me para a ltima; seja como for, as implicaes so
surpreendentes, no s em virtude da prpria questo sbado/domingo, mas
tambm por causa do problema maior do relacionamento entre o Velho e o
Novo Testamento. Don A. Carson
Deo, Seminrio Teolgico Batista do Noroeste
Vancouver, B.C.
Redator do prximo simpsio sobre
A Questo Sbado/Domingo.
NDICE
Prefcio ................................................................................................. 10
Captulo IINTRODUOATUAL CRISE DO DIA DO SENHOR ................................................................................................................. 12
O Problema e os Objetivos deste Estudo .................................. 13
Notas e Referncias ................................................................... 16
Captulo IICRISTO E O DIA DO SENHOR ............................... 19 A Tipologia do Sbado e Seu Cumprimento Messinico .......... 20
A Atitude de Cristo para com o Sbado ..................................... 24
As Primeiras Interpretaes Patrsticas ...................................... 25
As Primeiras Curas no Sbado ................................................... 26
-
Do Sbado para o Domingo
35
35
O Homem com a Mo Ressequida ............................................. 27
A Mulher Enferma ...................................................................... 31
O Paraltico e o Homem Cego .................................................... 33
A Colheita das Espigas ............................................................... 40
O Sbado na Epstola aos Hebreus ............................................. 50
Uma Admoestao de Cristo Quanto ao Sbado ........................ 55
Concluses .................................................................................. 56
Notas e Referncias ..................................................................... 58
Captulo IIIAS APARIES PS-RESSURREIO E A ORIGEM DA OBSERVNCIA DO DOMINGO................................... 69
A Ressurreio ............................................................................ 69
A Santa Ceia ............................................................................... 70 A Pscoa Hebraica........................................................................ 72
As Aparies do Cristo Ressurreto ............................................. 75
Notas e Referncias ..................................................................... 78
Captulo IVTRS TEXTOS DO NOVO TESTAMENTO E A ORIGEM DO DOMINGO ........................................................................ 85
I Corntios 16:1-3 ........................................................................ 85
Atos 20:7-12 .............................................................................. 92
Apocalipse 1:10 ....................................................................... 100
O Domingo .............................................................................. 100
O Domingo de Pscoa ............................................................. 101
O Sbado do Stimo dia........................................................... 102
O Dia do Senhor ...................................................................... 102
Concluso ................................................................................ 103 Notas e Referncias ................................................................. 103
Captulo VJERUSALM E A ORIGEM DO DOMINGO ........ 110 A Igreja de Jerusalm no Novo Testamento ............................ 112
O Lugar das Reunies Crists .................................................. 112
A Hora das Reunies Crists ................................................... 114
A Orientao Teolgica da Igreja de Jerusalm ...................... 117 A Igreja de Jerusalm Depois de 70 A.D. ................................ 124
-
Do Sbado para o Domingo
36
36
Os Ebionitas ............................................................................. 125 Os Nazarenos ........................................................................... 126 A Maldio dos Cristos .......................................................... 128
A Poltica de Adriano ............................................................... 129
Notas e Referncias .................................................................. 132
Captulo VIROMA E A ORIGEM DO DOMINGO ................... 143 Predominncia de Conversos Gentios ...................................... 143
Primeiras Diferenas Entre Judeus e Cristos .......................... 144
Sentimentos e Medidas Anti-Judaicas ...................................... 145
Medidas e Atitudes Romanas ................................................... 146
Medidas e Atitudes Crists ....................................................... 149
A Igreja de Roma e o Sbado Judaico....................................... 153
Roma e a Controvrsia Sobre a Pscoa ..................................... 160
A Origem do Domingo de Pscoa .............................................160
O Domingo de Pscoa e o Domingo Semanal ...........................162
O Primado da Igreja de Roma ................................................... 165
Concluso ...................................................................................168
Notas e Referncias ....................................................................169
Captulo VIIANTI-JUDASMO NOS PAIS DA IGREJA E A ORIGEM DO DOMINGO ......................................................................194
Incio.......................................................................................... 194
Barnab ......................................................................................
197
Justino Mrtir .............................................................................
201
Concluso ...................................................................................
206
Notas e Referncias ....................................................................
208
Captulo VIIIO CULTO DO SOL E A ORIGEM DO DOMINGO
-
Do Sbado para o Domingo
37
37
.........................................................................................................
217
O Culto do Sol e a Semana Planetria Antes de 150 A.D. .........
218
O Culto do Sol .......................................................................
218
A Semana Planetria ..............................................................
220
Reflexos do Culto do Sol no Cristianismo .................................
225
Cristo, o Sol ...........................................................................
225
Orientao em Direo ao Leste ............................................
226
A Data do Natal .....................................................................
228
O Dia do Sol e a Origem do Domingo .......................................
230
Concluso ...................................................................................
234
Notas e Referncias ....................................................................
235
Captulo IXA TEOLOGIA DO DOMINGO ................................. 252
A Ressurreio ............................................................................
252
A Criao ....................................................................................
254
O Oitavo Dia ...............................................................................
257
Batismo .......................................................................................
258
A Semana Csmica .....................................................................
259
-
Do Sbado para o Domingo
38
38
Continuao do Sbado ...............................................................
261
A Superioridade do Oitavo Dia ...................................................
262
A Separao do Oitavo Dia do Domingo ....................................
269
Concluso ....................................................................................
273
Notas e Referncias .....................................................................
274
Captulo XRETROSPECTIVA E PERSPECTIVA ....................... 285
Notas e Referncias .....................................................................
299
APNDICEPaulo e o Sbado ........................................................ 303
A interpretao Tradicional de Colossenses 2:16 e 17...............
303
A Heresia Colossense.................................................................
305
O Que Foi Cravado na Cruz?......................................................
308
A Atitude de Paulo Para Com o Sbado.....................................
311
O Sbado em Romanos e em Glatas.........................................
320
Concluso....................................................................................
323
Notas e Referncias.....................................................................
325
-
Do Sbado para o Domingo
39
39
ABREVIATURAS:
ANFThe Ante-Nicene Fathers. 10 vols. Grand Rapids, Michigan:
Wm. B. Eerdmans.
NPNFNicene and Post-Nicene Fathers. First and Second Series, Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans, 1971reprint.
AUSSAndrews University Seminary Studies. Berrien Springs, Michigan.
BZUNWBeiheft zur Zeitschrift fr die neutestamentiche Wissenschaft, Berlin.
CCLCorpus Christianorum. Series Latina. Turnholti: Typographi Brepols Editores Pontificii, 1953ss.
CDDamascus Document. CILCorpus Inscripionum Latinorum, ed. A. Reimer, Berlin: apud
G. Reimerum, 1863-1893.
CSCOCorpus Scriptorum Christianorum Orientalium, Louvain: Secretariat du Corpus SCO.
CSELCorpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum. Vienne: C. Geroldi filium, 1866ss.
EITEnciclopedia Italiana Trecani, Milano, Roma, 1929ss. GCSDie griechischen christlichen Scriftstel ler der ersten drei
Jahrhunderte. Berlin: Akademie-Verlag, 1887ss.
HEHistoria Ecclesiastica. JBLJournal of Biblical Literature. Philadelphia. LCLLoeb Classical Library. MANSISacrorum Conciliatorum Nova et AmplissimaCollectio, ed.
Joannes Dominicus Mansi. Graz, Austria: Akademische
Dfruck U. Verlagsanstalt, 1960-1961.
NSTNew Testament Studies. Cambridge. PGPatrologie cursus completus, Series Graeca, ed. J. P. Migne
Editorem, 1857ss.
PLPatrologie cursus completus, Series Latina, ed. J. P. Migne. Paris: Garnier Fratres et J. P. Migne, 1844ss.
-
Do Sbado para o Domingo
40
40
PSPatrologia Syriaca SS. Patrum, Doctorum, Scriptorumque Catholicorum, ed. R. Graffin. Paris: Firmin-Dodpt et socii,
1894ss.
SCSources Chretiennes. Collection directed by H. de Lubac and J. Danielou. Paris: Editions du Cerf, 1943ss.
SBKommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, ed. H. L. Strack and P. Billerbeck. Munich, 1922ss.
TDNTTheological Dictionary of the New Dictionary, eds. G. Kittel e traduzido por G. W. Bromiley. Grand Rapids: Wm. B.
Eerdmans Publishing Company, 1964ss.
TUTeste und Intersuchungen zur Geschichte der altchristlichen Literatur, encontrado por O. von Gebhardt e A. Harnack,
Leipzig, 1882ss.
VTVetus Testamentum. Leiden.
Obs.: Os nomes dos chamados Pais da Igreja e outros personagens
antigos citados no livro tero normalmente a grafia de tais nomes mantidas
em ingls nas Notas e Referncias quando associados diretamente com obras especificamente citadas. Noutros casos, tero sua grafia mais
conhecida em portugus. Exemplo: Justino Mrtir/Justin Martyr.
Duas letras s acompanhando um nmero indicar a seqncia de pginas que se segue primeira indicada. Assim, tem o sentido de e pginas seguintes. Exemplo: 117sspgina 117 e seguintes. O Revisor.
PREFCIO
A atrao que o problema da origem e observncia do domingo
-
Do Sbado para o Domingo
41
41
exerceu sobre os estudantes de Histria da Igreja Primitiva nas ltimas duas ou trs dcadas no est, de maneira alguma, desgastada. Isto,
acreditamos, deve-se a duas razes principais. Por um lado, a sempre
crescente no-observncia do Dia do Senhor como resultado da
transformao radical do ciclo semanal, causado pela complexidade da vida
moderna e pelo progresso cientfico, tecnolgico e industrial, leva a um
srio reexame do significado do domingo para o cristo hoje. Para realizar
uma correta reavaliao teolgica do domingo necessrio investigar sua
base bblica e sua origem histrica. Por outro lado, os vrios estudos sobre
este assunto, embora excelentes, no oferecem uma resposta totalmente
satisfatria em virtude da falta de considerao de alguns dos fatores que
na igreja dos primeiros sculos contriburam para o surgimento e
desenvolvimento de um dia de adorao diferente do sbado judaico.
Por esta razo, o novo trabalho do Dr. Samuele Bacchiocchi muito
oportuno. Ele levanta novamente o estudo deste sugestivo tema e, ao
analisar criticamente os vrios fatoresteolgicos, polticos e pagosque de alguma modo influenciaram a adoo do domingo como um dia de culto
cristo, ele se esfora para proporcionar um quadro completo da origem e
progressiva configurao do domingo at o quarto sculo. uma obra que
se recomenda a si prpria pelo seu rico contedo, o rigoroso mtodo
cientfico, e o vasto horizonte com o qual foi concebida e executada. Isto
uma demonstrao da singular habilidade do autor em abranger vrios
campos a fim de captar os aspectos e elementos relacionados com o tema
que est sendo investigado.
Mencionamos com prazer a tese que Bacchiocchi defende quanto ao
bero do culto dominical: Para ele mais provvel que este culto tenha
surgido, no na primitiva Igreja de Jerusalm, bem conhecida por sua
profunda ligao s tradies religiosas dos judeus, mas na Igreja de Roma.
O abandono do sbado e a adoo do domingo como o dia do Senhor so o
resultado de uma interao de fatores cristos, judaicos e pagos. O evento
da ressurreio de Cristo, que ocorreu neste dia, tem naturalmente uma
importncia significativa. Seguindo a ordem da histria da Redeno, o
autor comea sua investigao com a tipologia messinica do sbado no
Velho Testamento e prossegue examinando como isto encontra seu
cumprimento na misso redentora de Cristo.
-
Do Sbado para o Domingo
42
42
A estrita orientao cientfica da obra no permite ao autor revelar
seu profundo interesse religioso e ecumnico. Cnscio de que a histria da
salvao no trata de rupturas mas de continuidade, ele encontra na
redescoberta dos valores religiosos do sbado bblico uma ajuda para
restaurar o antigo carter sagrado do Dia do Senhor. Esta , na realidade, a
exortao que j no quarto sculo os bispos dirigiram aos crentes, ou seja,
que no deviam passar os domingos em passeios ou apreciando
espetculos, mas sim santific-los, ao assistir a celebrao eucarstica e
praticar atos de piedade. (St. Ambrose, Exam. III 1.1)
Roma, 29 de junho de 1977
Vincenzo Monachino, S.J.
Presidente do Depto. de Histria Eclesistica
da Pontifcia Universidade Gregoriana
-
Do Sbado para o Domingo
43
43
INTRODUOA ATUAL CRISE DO DIA DO SENHOR
O ciclo de seis dias de trabalho e um de adorao e repouso, no
obstante o legado da histria dos hebreus, tem, felizmente, prevalecido
atravs de quase todo o mundo. De fato, o culto judeu e cristo encontra
sua expresso concreta em um dia, a cada semana, no qual a adorao a
Deus torna-se possvel e mais significativa pela interrupo das atividades
seculares.
Recentemente, entretanto, nossa sociedade tem sofrido muitas
t