Do Quilombo dos Palmares ao Reino de Daomé: experiências ... · alunos respeitar os valores...

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Do Quilombo dos Palmares ao Reino de Daomé: experiências escolares durante a Semana de Consciência Negra no Sertão Alagoano Ana Lady da Silva 1 Palavras-Chave: Consciência Negra, Educação Básica Técnica e Tecnológica, Lei 10.639/2003, Experiência Escolar. Resumo: Este artigo pretende refletir sobre os resultados do projeto “Semana da Consciência Negra”, realizado no IFAL, campus Santana do Ipanema, entre o período de 2014 a 2017. O projeto está amparado na Lei 10.639/2003 que preconiza a inclusão da temática "História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede de Ensino Básico. A escola é um espaço de construção de conhecimentos e cidadania, logo tem como responsabilidade trabalhar a compreensão histórica do protagonismo do afro-brasileiro na nossa sociedade. Utilizamos Munanga (2005) para refletirmos sobre a importância do resgate à memória e valorização das diferenças; Silva Jr. (2002) para refletir como as denúncias e as leis ficam nos congressos e no papel e não chegam à realidade dos estudantes afro-descendentes brasileiros e Freire (1978) que defende que se pretendemos a libertação dos homens, devemos humanizá-los. Realizamos, dessa forma, atividades intra e extraescolar como visitas a terreiros e a comunidades quilombolas, debates, produções artísticas e literárias, apresentações culturais, oficinas, filmes e músicas com a participação de toda a comunidade escolar. Assim, o resultado foi o despertar da consciência para a valorização das diferenças e do respeito mútuo, resultando no sentimento de pertencimento, de todos os envolvidos, nessa nação multicultural chamada Brasil. 1 APRESENTAÇÃO Este artigo pretende fazer uma reflexão sobre as atividades e os resultados do projeto “Semana de Consciência Negra” idealizado, em 2014, por um grupo de professores e professoras do IFAL (Instituto Federal de Alagoas) Campus Santana do Ipanema e passou a ser realizado como evento dentro do calendário escolar anual a partir de 2015. Éramos, a princípio, cinco docentes, divididos em cinco disciplinas: Artes, Literatura e Linguagens, Filosofia, Sociologia e História. No último evento, em 2017, já havia o envolvimento de professores e professoras de diversas disciplinas, tanto da área comum como da área técnica. A “Semana de Consciência Negra do campus Santana do Ipanema” visou envolver os alunos do Ensino Médio Integrado e Subsequente do Curso Técnico em Agropecuária (em 2017 passou a integrar as turmas de Administração), por meio de estudos, pesquisas e reflexões acerca do protagonismo da cultura negra no 1 Possui Mestrado em Estudos Literários pela UFAL (Universidade de Alagoas), Bacharelado e Licenciatura, em Letras, nas habilitações Português e Alemão, pela USP (Universidade de São Paulo). Atualmente é professora de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFAL (Instituto Federal de Alagoas), do campus Marechal Deodoro. Possui publicações com a temática da Literatura Negra, Machado de Assis e Literatura de Cordel, além de premiação em evento internacional com projeto de Extensão. E-mail para contato: [email protected]. Agência Financiadora: Instituto Federal de Alagoas.

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Do Quilombo dos Palmares ao Reino de Daomé: experiências escolares durante a Semana de Consciência Negra no Sertão Alagoano Ana Lady da Silva1 Palavras-Chave: Consciência Negra, Educação Básica Técnica e Tecnológica, Lei 10.639/2003, Experiência Escolar. Resumo: Este artigo pretende refletir sobre os resultados do projeto “Semana da Consciência Negra”, realizado no IFAL, campus Santana do Ipanema, entre o período de 2014 a 2017. O projeto está amparado na Lei 10.639/2003 que preconiza a inclusão da temática "História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede de Ensino Básico. A escola é um espaço de construção de conhecimentos e cidadania, logo tem como responsabilidade trabalhar a compreensão histórica do protagonismo do afro-brasileiro na nossa sociedade. Utilizamos Munanga (2005) para refletirmos sobre a importância do resgate à memória e valorização das diferenças; Silva Jr. (2002) para refletir como as denúncias e as leis ficam nos congressos e no papel e não chegam à realidade dos estudantes afro-descendentes brasileiros e Freire (1978) que defende que se pretendemos a libertação dos homens, devemos humanizá-los. Realizamos, dessa forma, atividades intra e extraescolar como visitas a terreiros e a comunidades quilombolas, debates, produções artísticas e literárias, apresentações culturais, oficinas, filmes e músicas com a participação de toda a comunidade escolar. Assim, o resultado foi o despertar da consciência para a valorização das diferenças e do respeito mútuo, resultando no sentimento de pertencimento, de todos os envolvidos, nessa nação multicultural chamada Brasil.

1 APRESENTAÇÃO

Este artigo pretende fazer uma reflexão sobre as atividades e os resultados do projeto “Semana de Consciência Negra” idealizado, em 2014, por um grupo de professores e professoras do IFAL (Instituto Federal de Alagoas) – Campus Santana do Ipanema e passou a ser realizado como evento dentro do calendário escolar anual a partir de 2015. Éramos, a princípio, cinco docentes, divididos em cinco disciplinas: Artes, Literatura e Linguagens, Filosofia, Sociologia e História. No último evento, em 2017, já havia o envolvimento de professores e professoras de diversas disciplinas, tanto da área comum como da área técnica. A “Semana de Consciência Negra do campus Santana do Ipanema” visou envolver os alunos do Ensino Médio Integrado e Subsequente do Curso Técnico em Agropecuária (em 2017 passou a integrar as turmas de Administração), por meio de estudos, pesquisas e reflexões acerca do protagonismo da cultura negra no

1Possui Mestrado em Estudos Literários pela UFAL (Universidade de Alagoas), Bacharelado e Licenciatura, em Letras, nas habilitações Português e Alemão, pela USP (Universidade de São Paulo). Atualmente é professora de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFAL (Instituto Federal de Alagoas), do campus Marechal Deodoro. Possui publicações com a temática da Literatura Negra, Machado de Assis e Literatura de Cordel, além de premiação em evento internacional com projeto de Extensão. E-mail para contato: [email protected]. Agência Financiadora: Instituto Federal de Alagoas.

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Brasil. Nesse sentido, buscou-se promover nas gerações atuais, um olhar crítico e consciente da história do homem negro e da mulher negra, enquanto elementos constituintes da sociedade brasileira.

O racismo e o preconceito contra essas populações são sabidos, noticiados e vivenciados todos os dias por homens e mulheres, crianças, jovens e idosos. Logo, o Governo Federal2 comprometido com as políticas afirmativas, por meio do Ministério da Educação, implementou um conjunto de medidas com o propósito de dirimir as injustiças e proporcionar a inclusão social e a cidadania para todos e todas no sistema educacional brasileiro, visando, além disso, valorizar a multiculturalidade de nosso país. Assim, aprovou a Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003, bem como a Lei 11.645, de 20 de janeiro de 2008, ambas complementando a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional, a LDB.

De acordo com a Lei 10.639, nos parágrafos 1º e 2º do Art. 26-A, de 9 de janeiro de 2003, as escolas devem oferecer:

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.3

Ainda, em seu Art. 79-B, determinou-se o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra".

A Lei nº 11.645, de 08 de março de 2008, complementa a Lei anterior, incluindo os indígenas, conforme observamos no parágrafo 1º do Art. 26-A:

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,

2 Em 2008, o presidente da República era Luis Inácio Lula da Silva. Ele governou o Brasil de 2003 a 2011. 3 BRASIL. Presidência da República. Lei N. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Brasília 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm> Acesso em: 01 de maio de 2018.

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resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.4

Frente a tantas adversidades e submetidos ao julgo da escravidão, os negros e

negras não apenas construíram as riquezas materiais da nação brasileira, entre lutas, mortes e resistências, como também ajudaram a moldar a identidade cultural do nosso país, fazendo-se presentes nas artes, na educação, na literatura, no cinema, na música, nos esportes, na gastronomia, na religiosidade e demais expressões culturais que integram nossa civilização.

Dessa forma, nos reunimos e decidimos incluir, em nosso calendário anual, um evento que envolvesse tanto alunos quanto professores na temática da Lei 10.639/2003 e sua importância para a despertar da tolerância e do respeito à cultura africana em nosso país. 2 JUSTIFICATIVA

Levando-se em consideração o processo de escravização dos povos africanos e a conseguinte desqualificação do povo afro-descendente na história do Brasil, fazem-se necessárias ações educativas efetivas e consistentes que promovam o resgate da cultura afro-brasileira e que possibilitem pontes de diálogos e, sobretudo, o respeito mútuo entre as etnias que constituem o nosso povo brasileiro. A escravização institucionalizada do africano no Brasil vigorou por quase quatro séculos (1500-1888), incluindo, ainda os anos que se seguiram após a abolição, com a permanente violência, exclusão social e discriminação do negro, até os dias atuais.

[...] em 2011 o Brasil possuía cerca de 16 milhões de brasileiros em situação de extrema pobreza. Segundo o IBGE, 71% eram pretos ou pardos à época. Natural, portanto, a pesquisa de 2013 revelar que os maiores beneficiados pelas políticas de transferência de renda têm a pele escura. De acordo com os dados divulgados por Tereza Campello, 73% dos cadastrados no Bolsa Família são pretos ou pardos autodeclarados. Em relação a outros benefícios, a proporção é ainda maior (CARTA CAPITAL, 2014)5.

No campo da educação, somos chamados a promover uma educação ética,

voltada para o respeito e o convívio harmônico com a diversidade racial e cultural, desmistificando os ideais etnocêntricos e eurocêntricos, na qual possamos do ponto de

4 República Federativa Brasileira. Diário Oficial da União, ANO CXLV, nº 48, Seção 1. Brasília: Gráfica da imprensa nacional, 2008. p.1 5 MARTINS, Miguel. O racismo em números: A esmagadora maioria dos beneficiários do Brasil Sem Miséria é de negros. Carta Capital. São Paulo. 04 de jan. de 2014. Políticas Públicas. Disponível em: < http://www.cartacapital.com.br/revista/767/oracismoemnumeros6063.html>. Acesso em 29 de fev. de 2016.

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vista ético, propiciar condições desde a mais tenra idade, para que os alunos de hoje e sujeitos de amanhã sejam agentes do diálogo, tomem consciência de nossas próprias raízes históricas que ajudaram e ajudam a constituir a cultura e formar a nação brasileira.

Kabengele Munanga acredita que o fundamento da democracia perpassa o exercício da cidadania, e principalmente, da educação de qualidade e que essa deva recorrer às culturas das diversas matrizes que formaram o nosso povo, bem como o resgate à memória e a importância de todos os grupos, trabalhando assim o respeito às diferenças e fazendo com que as crianças se reconheçam como parte dessa mesma nação multicultural, formada por europeus, indígenas, africanos, orientais entre outros:

Como a democracia é, ao mesmo tempo, fundamento e finalidade do exercício da cidadania, a educação deve proporcionar a formação de cidadãos que respeitem a diferença e que, sem perder de vista o caráter universal do saber e a dimensão nacional de sua identidade, tenham garantido o direito à memória e ao conhecimento de sua história. Esta educação, profundamente vinculada às matrizes culturais diversificadas que fazem parte da formação da nossa identidade nacional, deve permitir aos alunos respeitar os valores positivos que emergem do confronto dessas diferenças, possibilitando-lhes ao mesmo tempo desativar a carga negativa e eivada de preconceitos que marca a visão discriminatória de grupos sociais, com base em sua origem étnica, suas crenças religiosas ou suas práticas culturais. Só assim a escola poderá, levando em consideração as diferenças étnicas de seus alunos, reconhecer de forma integral os valores culturais que carregam consigo para integrá-los à sua educação formal6.

Apesar de os diferentes povos terem formado nosso país e trazermos no DNA as

diversas características desses ancestrais, o preconceito e o racismo estão entre as formas de violência mais recorrentes na sociedade brasileira. Nos últimos anos, o ambiente universitário tem se tornado um lugar de propagação dessas violências, tanto por parte dos docentes como dos discentes. A revista digital “El Pais”, edição brasileira, publicou no dia 28 de abril de 2018, alguns casos de racismo sofridos por alunos por parte dos seus próprios mestres. Como, por exemplo, frases de uma professora da Faculdade “Cásper Líbero”, em São Paulo, perguntando-se como que jogadores nigerianos penteavam os cabelos “queria saber como esse aqui faz pra pentear o cabelo, deve ser um ninho”. Na Unit, em Aracajú, uma aluna foi ofendida por usar o cabelo “black power”, pois o professor lhe disse que “com esse tipo de cabelo ela nunca seria âncora de um telejornal”. Em outro caso relatado na reportagem, o professor do Instituto Federal de São Paulo disse odiar pretos e pardos.

6 MUNANGA, Kabengele. (Org). Superando o Racismo na escola. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: 2005, p.76.

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Segundo dados obtidos pelo G1junto à Secretaria Estadual da Segurança Pública de São Paulo, o estado registrou, entre 2016 e 2017, um caso de injúria racial em instituições de ensino a cada cinco dias. O problema demora a ser percebido porque “parte da população entende que isso não deveria acontecer, porque o universo é composto por pessoas de nível de escolaridade mais elevado”, segundo Jefferson Mariano, doutor em desenvolvimento econômico, analista socioeconômico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), professor universitário e homem negro.7

Alguns estudos têm mostrado que os jovens negros e as jovens negras estão chegando ao Ensino Superior, entretanto, os números ainda estão abaixo da média. “De acordo com estudo do IBGE, realizado em 2015, a porcentagem de jovens negros entre 18 e 24 anos que chegaram até a universidade era 12,8%. Entre brancos na mesma faixa etária a porcentagem é de 26,5%”. É de salutar importância ressaltar o comentário do analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, sobre o acesso dos jovens negros e das jovens negras às Universidades, proporcionado mais uma vez, por uma política afirmativa, e criticada por muitos: o sistema de cota racial. Segundo o professor, que também é negro, pondera:

Porém, com o ingresso de mais jovens negros nas universidades e faculdades — de acordo com o Ministério da Educação, desde que a política de cotas virou lei, em 2012, 150.000 estudantes negros ingressaram em entidades de ensino superior no País entre 2013 e 2015 —, a busca dos brancos por defenderem privilégios de raça se torna mais explícito. Na cabeça de muitas pessoas, segundo Mariano, ‘o negro passa a ocupar um lugar que não é seu’8.

Percebemos em seu comentário, não só os benefícios trazidos para os

jovens afro-descendentes, com a garantia de acesso ao Ensino Superior, mas também a marca negativa e indelével do racismo impregnado na nossa cultura

7 CAVICCHIOLI, GIORGIA. MOREIRA, Matheus. Estudantes negros enfrentam o racismo de professores e colegas em universidades: De xingamentos de ‘escravos’ a brincadeiras com os cabelos, negros convivem com ataques de racismo. El País.Brasília, 26 de abril de 2018. Ponte Jornalismo, edição brasileira. Disponível em:< https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/28/politica/1524918551_164874.html> Acesso em: 01 de maio de 2018. 8 CAVICCHIOLI, GIORGIA. MOREIRA, Matheus. Estudantes negros enfrentam o racismo de professores e colegas em universidades: De xingamentos de ‘escravos’ a brincadeiras com os cabelos, negros convivem com ataques de racismo. El País.Brasília, 26 de abril de 2018. Ponte Jornalismo, edição brasileira. Disponível em:< https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/28/politica/1524918551_164874.html> Acesso em: 01 de maio de 2018.

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eurocêntrica, tanto por parte dos professores que deveriam combater esse pensamento deturpado, como dos jovens de classe média-alta, que supostamente, por terem mais acesso à educação e cultura, não perpetuariam tais ignorâncias e preconceitos. Sinal de que a Educação Escolar tracejada ao longo das décadas não priorizou ou valorizou adequadamente a importância das diferenças e a formação multicultural do país.

Silva Jr. nos aponta ainda outras problemáticas, como as denúncias e as leis que ficam nos congressos e no papel e não chegam efetivamente à realidade dos estudantes e das estudantes afro-descendentes do nosso país.

No caso específico do problema da desigualdade e da discriminação racial no sistema escolar, é flagrante o hiato que separa os enunciados legais, os direitos anunciados nos tratados internacionais da alarmante realidade, visível a olho nu, diagnosticada nos estudos e pesquisas sobre o tema e denunciada, há décadas, pelas entidades do Movimento Negro. 9

Mais alarmantes ainda, são os casos de violência física envolvendo os jovens, e nesse grupo encontram-se os negros, com altas taxas de homicídios. De acordo com Datasus (2010):

As maiores taxas de vitimização da população negra reafirmam as desigualdades raciais. No Brasil, a taxa de homicídios de jovens negros em 2010

foi de 72,02.” Enquanto a taxa de homicídios de jovens brancos no Brasil, entre

2002 e 2010, diminui de 40,6 para 28,3 [...]10.

Realidade que se agrava ainda mais quando se trata do Estado de Alagoas: “Este estado ostentava a maior taxa de homicídios na população negra – 80,5 homicídios por 100 mil habitantes –, enquanto a taxa relativa à população branca foi de 4,4 (ano)11.

Nesse sentido, os dados que apontam as desigualdades entre brancos e negros, sintetizam os desafios do Estado e da sociedade brasileira em desenvolver e executar políticas específicas que revertam o atual quadro.

Diante de tais situações, nos perguntamos: o que fazer para mudar esse tipo de pensamento e ações? Qual seria a nossa contribuição, enquanto escola, local de reflexão e discussão, para viabilizar a conscientização das pessoas? Os números e as

9 SILVA JR., Hédio. Discriminação racial nas escolas: entre a lei e as práticas sociais. Brasília: UNESCO, 2002, p.11. 10 BRASIL. Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas. Retrato das desigualdades de gênero e raça. 4.ed. Brasília. 2015, p.486. 11 (BRASIL, 2015, p.489-490)

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estatísticas de violência contra a juventude negra, particularmente, os jovens, são alarmantes. Situação que precisa urgentemente ser enfrentada pelo Estado e pela sociedade. Com a devida importância, sensibilidade e respeito à dignidade humana.

Pelo exposto, percebemos a necessidade de propostas educativas permanentes, que proporcionem debates constantes, momentos de reflexão e valorização da cultura afro-brasileira, compreendendo sua importância para o diálogo e convivência harmônica com a diversidade e a Escola, sendo ela Técnica ou não, pode contribuir com uma atuação pedagógica de resgate e disseminação dos valores culturais africanos e afro-brasileiros como elementos constituintes da sociedade brasileira.

É imperioso problematizar as relações raciais no contexto escolar questionando até que ponto está coerente com sua função social quando busca preservar a diversidade cultural, responsável pela promoção da equidade, libertando o indivíduo das amarras do preconceito.

De acordo com Freire (1978):

O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, mas não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis que implica ação e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo.12

Nesse sentido, é fundamental que os educandos e as educandas sejam orientados (as) em seu processo de aprendizagem por docentes qualificados, com formação adequada para lidarem com as tensas relações produzidas pelo racismo e preconceito e que sejam capazes de conduzir a reeducação nas relações étnico-raciais.

E isso requer estratégias pedagógicas como: mudança nos discursos, posturas, formas de tratar as pessoas, reconhecimento dos processos históricos de resistência negra desencadeados pelos africanos e africanas escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade, desconstrução do mito da democracia racial e envolvimento de todos na construção de um projeto de escola, de educação voltada para um trabalho coletivo de articulação entre os processos educativos escolares, políticas públicas e movimentos sociais.

Então, como estrátégia pedagógica, incorporamos ao calendário anual do Instituto Federal de Alagoas, campus Santana, uma semana de culminânia dedicada à reflexão, ao debate, além de exposição de material artístico e cultural produzido, ao longo do bimestre, pelos próprios alunos. O projeto “Semana de Consciência Negra” tornou-se evento de fundamental importância para nossa escola, fazendo com que nos esforcemos

12 FREIRE, Paulo. Os Cristãos e a libertação dos oprimidos. Lisboa: Edições Base, 1978.

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a cada ano, para levar ao público escolar, temas atuais, discussões aprofundadas, muita música, arte, cultura e protagonismo juvenil.

3 METODOLOGIA Nas três primeiras edições da “Semana de Consciência Negra” do IFAL, campus Santana, pudemos explorar, de forma diversificada, temas concernentes à cultura e à literatura africanas. As culminâncias do projeto sempre são as exposições dos trabalhos dos alunos pelos espaços escolares, palestras, feiras, desfiles, apresentações de música, arte e poesia, concursos de cartazes, de poemas, de desenhos, pinturas, artesanatos, enfim, tudo o que vier da criatividade dos jovens e das jovens é posto como conhecimento adquirido e transmitido. Especificamente, buscamos em nossas ações: conhecer e valorizar a cultura afro-brasileira presente na formação do nosso país; procurar conhecimentos e valores que superem as fronteiras da violência, do preconceito e do racismo; promover os conhecimentos referentes à história do negro no Brasil, mercado de trabalho, sociedade, religião e cultura; conscientizar o aluno da existência das práticas cotidianas do racismo, e de estratégias para superação. No que se refere à execução do projeto, levamos em consideração: a realidade local, o objeto da pesquisa, a proposta didática do conteúdo, parâmetros pedagógicos de resgate histórico-cultural e conexão com a atualidade nacional e global. O desenvolvimento dos trabalhos ocorreu por meio de atividades de exploração in loco como visitas a terreiros de umbanda e condomblé, visita às comunidades de remancescentes quilombolas, além de pesquisa temáticas, catalogação e sistematização dos conteúdos. Os alunos puderam fazer observações diretas no entorno familiar, no meio social, na própria escola ou cidade onde cada um reside, incluindo pesquisas bibliográficas, documentários, filmes, jornais, telejornais, internet, vivências e depoimentos testemunhais.

A avaliação final é feita com a entrega de relatório final sobre evento, com as questões pertinentes às temáticas desenvolvidas, além de pontuação pelos trabalhos desenvolvidos pelas equipes. Os próprios professores do campus, das várias áreas do conhecimento, seja Técnica dou do núcleo comum, são convidados a avaliar as explicações das equipes com os seguintes critérios: apresentação do trabalho e organização, domínio do conteúdo, originalidade e estética. Os melhores trabalhos, por categoria, são premiados com brindes, como livros, medalhas, viagens ou artesanatos temáticos.

3.1 TEMÁTICAS DESENVOLVIDAS Os assuntos são divididos entre os professores participantes e depois utilizados como temática de aula até o dia do evento. No(s) dia(s) de culminância do projeto, os conhecimentos adquiridos em sala de aula são compartilhados com os colegas de outras turmas durante as exposições dos trabalhos. Nos últimos três anos pudemos discutir: O

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Negro na sociedade; Políticas afirmativas; Educação e Cultura Afro; Juventudes Negras; Músicas; Arte, Literatura; Cinema; Contribuição das línguas africanas para a formação da Língua Portuguesa; Etnografia; Mídia Brasileira; Mercado de Trabalho; Estatísticas Sociais, Cotas nas Universidades e nos concursos; Violência; Racismo; Preconceito; Esportes; Religião, Quilombos e Comunidades Quilombolas Remanescentes; Acesso à Terra e Movimentos Sociais; Ativismo Negro, Personalidades; Moda e Desfiles; Culinária e Escravidão. 4 EDIÇÃO 2017: MULHERES NEGRAS E AFRO-BRASILIDADES: LITERATURA, RESISTÊNCIA E LIBERDADE RELIGIOSA Quatro anos após o início do projeto, juntamos em nosso baú de experiências: visitas a quilombos e entrevistas com os remanescentes quilombolas, terreiros de umbanda e candomblé, exposições, pesquisas e palestras refletindo sobre a nossa afro-brasilidade, dentro e fora das salas de aulas. Percebemos, no entanto, que ainda não havíamos feito um evento para homenagear somente as mulheres negras. A ideia surgiu quando lembrávamos das visitas que fizemos a quatro comunidades de remanescentes quilombolas no sertão de Alagoas, nas cidades de Poço das Trincheiras, Olha d’água do Casado, Água Branca (Serra das Viúvas) e Batalha (Cajá dos Negros). Durante as visitas realizadas com os alunos e as alunas, conversamos com as líderes dos quilombos e percebemos que o comando dessas comunidades, assim como dos terreiros de Umbanda e Candomblé é feito por mulheres negras. Na solidão de suas lideranças estão os enfrentamentos diários: o descaso das autoridades municipais e estaduais; a falta de políticas públicas específicas para essas comunidades; falta de empregos para os jovens e as jovens; a luta pela terra; limitações financeiras, a não inserção de temáticas de seu povo nas escolas dentro das próprias comunidades, ou seja, inexistência da Educação Quilombola, de acordo com a Resolução n. 8 de 20 de novembro de 201213, o racismo e a tentativa de manutenção de suas ancestralidades que já não são tão valorizadas pelos jovens, e que em determinado momento, abandonam o espaço por falta de perspectivas e oportunidades de emprego.

Como então falar de tantas mulheres, com histórias tão singulares e ao mesmo tempo, tão parecidas? Como representá-las com uma única imagem ou temática? Surgiu então o nome de uma rainha africana: Nã Agotime. Sua história de vida e superação quando lida e ouvida parece roteiro de uma super-produção hollywoodiana. Seria, se a personagem não viesse de um continente africano e se não remontasse parte da história de dois países, considerados periféricos, ligados pelo mesmo sofrimento: a escravização.

Nã Agotime ou Maria Jesuína é considerada fundadora da casa das Minas - Tambor Jeje, no Maranhão, e sua história foi investigada por alguns historiadores e

13 O Conselho Nacional de Educação, de acordo com a resolução nº 8 de 20 de novembro de 2012, define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.

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antropólogos, como Pierre Verger e Sérgio Ferreti. Em 2001, sua história serviu de tema para o desfile da escola de Samba “G.R.E.S Beja-flor de Nilópolis", transmitida no dia 26 de fevereiro, pela Rede Globo, além disso, sua história encontra-se narrada no Romance Histórico “Um defeito de cor” da jornalista Ana Maria Gonçalves, publicado em 2006. Não há muitos consensos sobre sua história, por isso, ainda há discussões sobre sua ascendência, descendência e identidade.

A rainha Agotime pertencia ao reino de Daomé, um antigo Estado da África, onde hoje situa-se o Benin. Esse reino foi fundado no século XVII e durou até 1904, quando foi incorporado à África Ocidental Francesa. Agotime era a segunda esposa o rei Agongolo; Adandozan era filho do primeiro casamento do rei, e, Gezo, filho do segundo casamento com Agotime. No momento de sua morte, o rei Agongolo elegeu seu segundo filho, Gezo, como seu sucessor. Adandozan, descumpriu suas ordens e assumiu o trono como tutor de Gezo que ainda não tinha idade para ser rei. Adandozan, por ser o mais velho, exige o direito que lhe assiste. Acusando Agotime de feitiçaria, pois temia a vingança daquela que se comunicava com os ancestrais. O novo rei isola-a num porão e a manda para o porto de negociação de escravos. Lá é vendida como escrava para o Brasil. Segundo a autora Ana Maria Gonçalves “Em Uidá, grande porto de venda de escravos em Abomé, Agotime é jogada nos porões imundos de um navio e trazida para o Brasil” 14

Seu primeiro destino foi na Bahia, em Itaparica. Apesar de encontrar muitos irmãos de cor, não encontra seus irmãos de credo, pois o destino dos habitantes do Reino de Daomé, comumente, não era o Brasil. Do seu contato com os nagôs, soube que seu povo tinha sido enviado ao Maranhão e lá funda sua religião, “os voduns”. A letra do samba de enredo da Beija-Flor, canta sua saga até chegar ao Brasil e fundar a Casa das Minas:

Maria Mineira Naê Agotime no clã de Daomé na luz dos seus Voduns Existia um ritual de fé Mas isolada do reino um dia escravizada por feitiçaria Diz seu vodum que do seu culto Um novo mundo renasceria Vai seguindo seu destino (de lá pra cá) Sobre as ondas do mar o seu corpo que padece (bis) Sua alma faz a prece

14 GONÇALVES. Ana Maria. Um defeito de cor, Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 82

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pro seu povo encontrar15

De acordo com o romance de Gonçalves, “Os nagôs aconselharam a rainha escrava a não ficar muito tempo por ali, porque seus ancestrais não teriam força para conviver com os orixás dos mesmos já assentados naquela terra”16

Chegou nessa terra santa Bahia viu a Nação Nagô-ô-ô e através dos orixás O rumo do seu povo encontrou Brilhou o ouro, com ele a liberdade Foi pra terra da magia Do folclore e tradição Um buquê de poesia A casa das minas É o orgulho desse chão

No entanto, antes de encontrar o lugar para assentar seus Voduns, Maria Naê teria que conviver com as amarras da escravidão. Antes de chegar ao Maranhão, foi enviada a Minas Gerais:

Durante muitos anos trabalhou nas fazendas de cacau e de algodão na Bahia, sendo depois vendida para uma fazenda de café em Minas Gerais, e passando mais tarde a trabalhar nas jazidas de Tijuco e Vila Rica. Sabendo que precisava arrumar um jeito de ir para junto do seu povo no Maranhão, aproveitou o trabalho nas minas e guardou para si uma parte do que encontrava, aprendendo com os outros escravos a esconder pó de ouro ou pequenas pedras nos cabelos, ou então a engoli-las quando ninguém estivesse olhando. Depois de algum tempo, ela já tinha mais do que suficiente para comprar a própria liberdade e viajar para o Maranhão.17

Dessa forma, apostamos em trazer à tona a saga de uma rainha africana que foi traída, escravizada e que após anos redescobre seu povo, suas raízes e sua cultura. Pensamos que seria bastante inspirador para os meninos e meninas do Ensino Médio, não só pela história de luta e superação e na esperança por dias melhores, mas também, por meio dessa história repensarmos a África e todos os seus contextos possíveis, de cores, arte, religião, cultura, música, místicas e influências positivas para a formação do

15 “A SAGA DE AGOTIME, MARIA MINEIRA NAÊ”, letra e melodia disponível em:< https://www.vagalume.com.br/beija-flor-de-nilopolis/samba-enredo-2001.html> Acesso em: 07 de maio de 2018. 16 GONÇALVES, 2006, p. 83 17 GONÇALVES, 2006, p. 83

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nosso país, que herdou muito mais do que os contos tristes de vinganças, dores, insurreições, racismo, maus tratos, chicotes e pelourinhos. Também, mas não só. Nessa personagem encontramos inspiração e força. O título do evento, portanto, deveria remeter todas as temáticas propostas para serem discutidas em sala e que trouxesse as histórias das várias mulheres negras de nosso país: “Mulheres Negras e Afro-Brasilidades: Literatura, Resistência e Liberdade Religiosa”. Na sala de aula, portanto, a história de Nã Agotime poderia ser lida, revisitada e assistida por diversos meios de comunicação: pela leitura do romance Um defeito de cor; pela apresentação da “Escola de Samba Beija-Flor de Ninópolis”, em 2001, disponível no canal do Youtube18, ou apenas pelo resumo de sua saga encontrado em diversos sites. E esse seria apenas o primeiro passo para levarmos inspirações aos jovens e às jovens, de como poderíamos repensar a África: as diásporas, as resistências por meio dos diversos quilombos, (Palmares foi nosso maior e localiza-se em terras alagoanas), as diversas formas de expressão religiosa e como o sincretismo ajudou a manter viva a raiz mítica desse povo formador das bases da umbanda e do candomblé, as rodas de capoeira, a expressão por meio da música e dos artesanatos.

A proposta também contou com apresentação teatral: o grupo D.R.A (Desconstrução da Realidade Absoluta), ainda iniciante, composto somente por alunos do campus, do curso técnico Integrado de Agropecuária e Administração, aceitou o desafio de representar a história de Agotime. Os alunos incumbira-se de abrir o evento e fizeram belamente. O resultado, podemos encontrar em seus depoimentos19:

Depoimento 1: “Foi importante para mostrar que negros também são pessoas, tem sentimentos, atitudes, a mesma coisa que os "brancos" podem fazer os negros também podem, e ainda nos dias de hoje há pessoas racistas que não conseguem enxergar que todos somos iguais...Eu aprendi que mesmo com dificuldades podemos vencer, não importa o que aconteça todos temos capacidades de lutar e conseguir.” (Pedro Henrique, 16 anos, 2° A) Depoimento 2: “Apresentar ao público como foi e como ainda é presente o preconceito racial. No mundo atual, onde a comunicação e a conexão é algo forte, é possível ter conhecimento de praticamente tudo, histórias e modo de vida de seres humanos e animais, mostrando o passado que é ligado fortemente ao presente, são as mesmas espécies, as mesmas culturas, o mesmo preconceito e a mesma luta.

18Beija-flor 2001 – A Saga de Agotime – Maria Mineira Naê. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=0En0SjbGs98&t=1961s> Acesso em: 23 de julho de 2018. 19 Foram feitas duas perguntas para o grupo 1) Qual a importância da IV mostra da consciência negra no campus Santana? e 2) Como foi sua experiência com a história de Nã Agotime?

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Após pesquisar a fundo a história da Nã Agotime, foi possível entrar na história e se imaginar dentro e presente de todos os acontecimentos incríveis que ela vivenciou em sua vida. A história de superação, mantendo viva a sua cultura mesmo sendo arrancada de seu lugar de origem. A luta da Nã Agotime foi e ainda é inspiração e desejo por justiça de todos contra o preconceito racial existente ainda fortemente no mundo.” (Ana Janayna, 16 anos, 2 °A) Depoimento 3: “Em geral, é muito positivo para nossa sociedade ações que conscientizem as pessoas de pautas tão importantes como as abordadas no evento, que felizmente em nossa realidade estão sendo mais aplicadas. Foi incrível trabalhar com ela, até porque eu não a conhecia e entender sua metodologia e força foi incrível pra mim e tenho certeza que pra outras pessoas também.” (Emily Santos, 15 anos, 1° A) Depoimento 4: “Quebrar tabus, lutar pela igualdade e tentar mostrar que somos apenas de cor de pele diferente e isso não muda nada, porém a sociedade continua com esse preconceito que não vai levar a nada. Já dizia bob Marley "enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho nos olhos, haverá guerra". Minha experiência foi primeira e única, uma história de superação, uma mulher que perdeu tudo, porém não perdeu a esperança de ter tudo outra vez, uma mulher guerreira e batalhadora, uma mulher que é mais homem que muitos, ela mostrou o poder e força que uma mulher tem.” (Ivyrton, 17 anos, 2° A) Depoimento 5: “Garantir a equidade de direitos dentro de um ciclo social complexo e conscientizar as pessoas sobre o quão errôneo é julgar alguém pela cor de sua pele. As mulheres sempre ficaram em segundo plano na história, mesmo tendo tanta participação quanto os homens. Ter uma mulher negra como homenageada é garantir que a história seja contada de forma coerente e reforçar que somos todos iguais independente de gênero ou etnia.” (Gabriel Oliveira, 18 anos, 3° A) Depoimento 6: “Demostrar a necessidade de ter um dia do negro como protagonista, mostrar que tem espaço para o negro, dar visibilidade aos problemas raciais que herdamos e mostrar suas raízes. Antes do evento não fazia ideia de quem se tratava, e foi essencial para a minha própria imagem do que é ser mulher, entender a força e o poder que temos, que ninguém é dono da nossa voz e nosso lar é onde a gente está.” (Sheyla Jayane, 17 anos, 4° A) Depoimento 7: “O evento tem sido de suma importância para a relevância de algo que ainda nos dias atuais ocorre com uma certa frequência, seja implícito ou explícito. Apresenta uma conscientização e uma “acordada” no público-alvo sobre o problema e nos mostra histórias sobre esta luta que permanece até os dias de hoje. Foi uma ótima experiência descobrir mais sobre essa história de luta, nos mostrou como já era difícil ser mulher no

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passado e pior se fosse negra naquele tempo.” (João Pedro Santos Queiroz, 16 anos, 2° A) Depoimento 8: “Fazer com que as pessoas reflitam sobre o preconceito contra negros, ver diferentes culturas e aprender muito com os profissionais no campus. Emocionante, parece uma história de filme, mas foi a história de uma brava mulher que lutou pelos seus direitos e de seus companheiros.” (Andrey Silva Vieira, 16 anos, 2 ° A) Depoimento 9: “A IV Mostra da Consciência Negra, realizada no instituto, foi um evento de grande importância para disseminar conhecimentos acerca da etnia que formou e construiu as nossas raízes brasileiras tanto quanto os portugueses e indígenas. A temática das palestras como o feminicídio, bem como a cultura e religiosidade desses povos distintos ajudou-nos a problematizar e refletir sobre situações atuais – como o feminicídio possui altas taxas em relação às mulheres negras – e contribuiu para nossa formação como sujeitoss que respeitam e deixam de lado uma visão eurocêntrica acerca da vida e principalmente religiosidade desses povos. Conhecer a história de luta e resiliência de uma mulher que, apesar de todos os desafios enfrentados por ser mulher, negra e escrava, conseguiu e utilizou-se de toda a sua bravura para se libertar e disseminar suas práticas religiosas. Posso não ser negra como a Agotime, mas sou mulher e acredito que uma figura tão emblemática e representativa deve ser valorizada no fazer histórico assim como os homens tidos como revolucionários desta época são.” (Kethilyn Lemos, 15 anos, 1° B Administração) 5. CULMINÂNCIA

No dia da Culminância do projeto, os alunos puderam expor suas poesias, artes, artesanatos, explicar o sincretismo religioso, representar histórias e compartilhar com os colegas suas descobertas. Ouviram músicas de terreiro, sambas de raiz e participaram ativamente das palestra e das apresentações culturais, como o grupo de percussão e de afoxé. A decoração da mesa e do auditório foi toda baseada no cenário africano, na mística envolvendo a construção do palácio de Daxome (no ventre de uma cobra), nos animais das savanas e na Pantera Negra, simbolizando a presença de Agotime. As palestras também trouxeram reflexões sobre a nossa ancestralidade, intolerância religiosa, feminicídio, mulheres negras e intersecções. Dentre as palestrantes estavam advogadas, professoras e professores.

A programação também estava cheia de atrações que levantaram os alunos para a roda de dança e a diversão foi garantida. A primeira apresentação cultural foi realizada por um grupo de maculelê20. Os músicos-mirins são crianças que moram na Casa do

20 Sua origem, porém, como aliás ocorre em relação a todas as manifestações folclóricas de matriz africana, é obscura e desconhecida. Acredita-se que seja um ato popular de origem africana que teria florescido no século XVIII nos canaviais de Santo Amaro, e que passara a integrar as comemorações

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Menor São Miguel Arcanjo21, da unidade de Santana do Ipanema, que abriga meninos e meninas, que foram abandonados ou retirados do lar por maus tratos por parte dos pais ou responsáveis. Eles também fazem parte de um outro grupo de percussão “batuque moleque”.

O grupo de Afoxé encerrou o evento com cores, brilhos e muitas novidades para os alunos que ainda não haviam assistido qualquer representação sobre os Orixás, do candomblé. Os alunos ficaram admirados e desmistificaram a ideia de que as religiões de matriz africana possuem relações com demônios. Para nossa surpresa, os dois dias de evento estavam lotados. Os alunos gostaram da experiência e os convidados ficaram impressionados com o interesse, a participação e o protagonismo dos próprios alunos dentro do evento.

CONCLUSÃO Foi na multiplicidade das raízes culturais que formou-se nossa sociedade

brasileira e o resultado dessa mistura não teve ainda o merecido espaço e destaque, conforme atesta as contradições históricas. Os negros e as negras, elementos relevantes na construção da civilização brasileira, têm sido injustamente excluídos, e nesse contexto, a diversidade étnica e cultural não pode ser desconsiderada, sob pena de se priorizar apenas a visão do mundo de um seguimento da sociedade, e consequentemente à exclusão de todos os outros.

locais. Há quem sustente, no entanto, que o Maculelê tem também raízes indígenas, sendo então de origem afro-indígena. Conta a lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Iorubá, em que, certa vez, saíram todos juntos os guerreiros para caçar, permanecendo na aldeia apenas uns poucos homens, na maioria idosos, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os homens remanescentes da aldeia, liderados pelo guerreiro de nome Maculelê, teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram pô-los em debandada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual Maculelê e seus companheiros demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou então a ser comemorado frequentemente pelos membros da tribo, enriquecido com música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria assim uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros. Disponível em:< http://www.capoeiradobrasil.com.br/maculele.htm> Acesso em: 07 de maio de 2018. 21 A Casa do Menor foi criada no 1986 por um missionário italiano, Padre Renato Chiera que, testemunha do clima de morte e violência da periferia do Rio de Janeiro, decidiu abandonar os livros de filosofia para entrar na tragédia dos meninos não amados e assassinados da Baixada Fluminense. A Casa do Menor nasceu no coração da igreja católica mas se nutre da “espiritualidade da unidade” do Movimento dos Focares e, em parte, do carisma de Don Bosco, grande mestre e educador de jovens. Por isso vive uma espiritualidade ecumênica, inter-religiosa, em diálogo com todos, também com quem não tem uma crença. Não nasceu programada mais foi se estruturando para responder ao apelo de meninos rejeitados pela sociedade que clamavam por amor, por família, por escola, por profissão, por oportunidades e futuro. Disponível em: < https://www.casadomenor.org/quem-somos/nossa-historia/?lang=pt-br> Acesso em: 07 de maio de 2018.

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A Escola tem como função primordial formar sujeitos que respeitem as diferenças, que sejam portadores da tolerância e defensores da dignidade humana. Nesse aspecto, uma reflexão se faz necessária, que é a condição imperativa do ser humano, de reconhecer no outro a suas potencialidades e limitações, independe de sua etnia.

Isso inevitavelmente passa pelo reconhecimento e a valorização da contribuição africana, da cultura negra e do protagonismo negro na nossa história. Esse tipo de ação educativa promove um conhecimento de si e do outro em prol da reconstrução das relações raciais desgastadas pelas diferenças ou divergências étnicas. Esperança e consciência são palavras que nos movem rumo a uma escola plural, enquanto espaço ativo na construção de uma sociedade mais justa e mais ética nas relações humanas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e cultura Afro Brasileira e africana. Brasília, 2005. ______. Ministério da Educação. SECAD. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília. 2006. ______. Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas: Retrato das desigualdades de gênero e raça. 4.ed. Brasília. 2015. ______. Presidência da República. Lei N. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Brasília 2003. _______. Diário Oficial da União, ANO CXLV, nº 48, Seção 1. Brasília: Gráfica da imprensa nacional, 2008. ______. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos - DIEESE. A Inserção dos negros no mercado de trabalho: Os Negros nos mercados de trabalhos metropolitanos. Disponível em:<http://.dieese. org.br/analiseped/2015/2015pednegrossintmet.pdf.> Acesso em: 17 de mar de 2016. MARTINS, Miguel. O racismo em números: A esmagadora maioria dos beneficiários do Brasil Sem Miséria é de negros. Carta Capital. São Paulo. 04 de jan de 2014. Políticas Públicas. Disponível em: <

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PEREIRA, Amílcar Araújo. Educação das relações étnico-raciais no Brasil: trabalhando com histórias e culturas africanas e afro-brasileiras nas salas de aula. UNESCO. Brasília. Fundação Vale, 2014.