Do outro lado das câmeras

2
QUANDO A GENTE FALA BRINCANDO QUE ISSO [A DIREÇÃO] É COISA PRA MACHO, É PORQUE É COMO SE ESTIVESSE PARTINDO PARA UMA GUERRA 30 + MONET + JUNHO

description

Entrevista com a atriz Malu Mader sobre sua estreia como diretora do documentário Contratempo

Transcript of Do outro lado das câmeras

Page 1: Do outro lado das câmeras

QUANDOAGENTE FALABRINCANDOQUE ISSO [ADIREÇÃO] ÉCOISA PRAMACHO, ÉPORQUE É COMOSE ESTIVESSEPARTINDOPARAUMAGUERRA

3 0 + M O N E T + J U N H O

99PingMaluMader.indd 30 17/5/2011 17:13:52

Page 2: Do outro lado das câmeras

Estreando na direção com o documentárioContratempo, a estrela fala dos desafios e delícias de

se arriscar em uma nova profissão

Do outro ladodas câmeras

A ideia do documentário surgiu a partirdo seu envolvimento comoVilla-Lobinhos [projeto administrado peloVivaRio, comoapoio do InstitutoMoreiraSalles edoMuseuVilla-Lobos]?Isso mesmo. Eu estava envolvida com oprojeto e, quando a Mini e eu começa-mos a fazer o filme, a gente partiu dequem conhecíamos de lá. Só que nósqueríamos ser surpreendidas por pes-soas novas também. Porque, no fundo,acho que o que a gente queria com odocumentário era mostrar que, diferen-temente dessa desesperança, dessafalta de perspectiva em relação à juven-tude na favela, o que se via ali era umavontade muito grande de reverter essa

MALU MADER sentiu que era a hora derealizar um sonho mais antigo que o deatuar – sua profissão desde os 16 anosde idade – a direção. Mas, antes de sejogar de vez na ficção, ela começa com odocumentário Contratempo, realizadoem parceria com Mini Kerti, que mostraprojetos que ensinam música eruditaa jovens de comunidades carentes. Aseguir, os principais trechos da conversacom a estrela e, agora, cineasta.

se impõe. Mesmo que você não filmea favela, cenograficamente falando, elavai aparecer no filme de uma forma oude outra, vai se fazer presente.De todasashistóriasquevocêacompa-nhou,qual foi aquemais te emocionou?A do Thiago. Foi um susto a morte dele.Tanto que mudou a edição do filmeno final. Foi surpreendente para mimporque eu estava, não certa de que eletinha se recuperado, porque sei queuma pessoa viciada em drogas sempretem o perigo da recaída, mas eu estavamuito esperançosa. Ele virou o finaldo filme não por uma questão apelativa,mas porque mexeu com a gente, eachamos importante mostrar que,apesar de todos julgarem o viciado umapessoa fraca, nós não o víamos assim.Fizemos questão de uma homenagem.Comovocê definiria as diferenças entreas experiências que teve até agora atrásdas câmeras: no documentário, no curtaficcional feito para oMultishow [EssaHistória Daria umFilme] e no clipe dosTitãs [QuantoTempo]?Todas foram muito realizadoras. Eraexatamente o que eu esperava desdeque comecei a sonhar em me tornar di-retora. Mas é uma empreitada que exigemuita coragem. Quando a gente falabrincando que isso é coisa pra macho,é porque é como se estivesse partindopara uma guerra. É delicioso! Há muitotempo não ficava tão feliz trabalhandoem alguma coisa. Mas é preciso bastan-te empenho, dedicação e responsabili-dade, até para que seja uma experiênciafeliz e harmoniosa no set.Já que você gostou tanto da experiênciade direção, você temnovos projetos paraisso?Ou vai voltar a trabalhar comoatriz ou produtora?Tem um roteiro que escrevo há quaseuma vida inteira, mas que na verdade jáme dei conta de que vou precisar de ajudaprofissional para pôr uma estrutura nisso,porque não sou uma pessoa disciplinada.Também não é assim que você sai daprofissão de atriz para a de roteirista, dodia para a noite. Pelo menos, Contratempojá fiz, além dos outros projetos. Acho quedeu para ter uma noção. Agora vou partirpara essa ambição maior. ■

situação. Quando começamos o filme,descobrimos que havia muitos outrosprojetos. Foi uma surpresa ver que estavacheio de músicos eruditos nas favelas.Não tem só batuque na favela.Quais foram asmaiores dificuldadesque você encontrou como diretora?Todas as possíveis! Se não estivesseacompanhada da Mini, certamentenão conseguiria ter feito o filme. Tinhamuitas dificuldades técnicas. A minhafacilidade está nessa coisa de escolhertítulo, saber perguntar.Como foi feita a escolha do nome dodocumentário?A gente queria um título ligado à músicae que tivesse a ver com algum sentido dofilme. Contratempo é a parte fraca dotempo, mas sem ele não existe a músicae também tem esse sentido do transtor-no, mas que também pode te jogar emuma situação positiva. E esses jovenssão cheios de acontecimentos bastantetransformadores na vida deles e que decerta forma os jogaram na música.Comovocês selecionaramas históriasque entrariamno filme?Em geral, as escolhas se dão porempatia. A gente não teve um critériorígido, não era por virtude, certamente,porque o filme não procurou os me-lhores músicos. Sem dúvida, tínhamosalguns queridinhos ao longo dos anos.Tentamos mostrar algumas históriasfelizes, embora no geral seja uma tragé-dia plena. A vida nas favelas é mesmosempre marcada. É diferente de fazerum filme sobre a classe média, poisquando você entrevista pessoas quemoram na favela, não tem jeito, a favela

CONTRATEMPO, dia 25, sábado,21h,Canal Brasil, 66

por sarah mund foto daryan dornelles/folhapress

J U N H O + M O N E T + 3 1

[ R E N O V A D A ]

M

99PingMaluMader.indd 31 17/5/2011 17:14:09