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DIVERSIDADE CULTURAL COM FOCO NO POVO INDÍGENA KARITRIANA. Cleide Braz Bezerra Rocha de Albuquerque 1 Resumo: Este artigo resgata e atualiza uma parte dos resultados da pesquisa realizada para o trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Metodologia e Didática do ensino superior, da Universidade do Oeste paulista, 1994, em convênio com a FEC/Cacoal. Para tanto procuramos conhecer “in loco” a realidade do povo indígena base da nossa pesquisa, alguns referenciais teóricos que tratam da questão indígena para melhor embasamento do nosso trabalho e, com a ajuda de depoimentos de alguns indígenas e da experiência de trabalho com os povos indígenas de Rondônia, observando que entre as etnias existentes existe uma diversidade cultural, um multiculturalismo expressivo que merece ser estudado e melhor conhecido pela sociedade não indígena, para que possamos a partir do conhecimento adquirido sobre os povos indígenas e sobre a real realidade existente, possamos minimizar as distorções que existem e o preconceito sobre a questão, por isso, apresentamos no contexto uma síntese sobre diversidade cultural e multiculturalismo, tendo como foco dentro desse contexto de diversidade o Povo Indígena Karitiana que possui seus mitos sua cosmogonia e cosmologia, assim como cada povo indígena possui, a sua própria história, sobre a sua origem relacionada com a origem da criação do universo. Abordaremos um pouco sobre algumas plantas, raízes e outros afazeres que fazem parte da medicina tradicional desse povo, de sua caça pesca, a pintura corporal, forma do casamento efetuando uma pequena abordagem sobre essa diversidade de costumes existentes, incluindo depoimentos de alguns indígenas. Palavras chave: Povo Karitiana; identidade cultural; medicina tradicional; casamento; mídia; mediação; poligamia. Abstract: This article rescues and updates a part of the research results conducted for the working conclusion of the Specialization Course in methodology and didactics of higher education, the University of western São Paulo, 1994 in agreement with the FEC / Cacoal. Therefore we seek to know "in situ" the reality of indigenous peoples based on our research, some theoretical frameworks dealing with indigenous issues to better foundation of our work and, with the help of testimonials from some indigenous and work experience with people indigenous of Rondônia, noting that among the 1 Possui graduação em Letras Português Resp. literaturas pela Universidade Federal de Rondônia (1992). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação. Possui 29 anos de trabalho com a questão indígena, já lecionou em diversas aldeias do estado de Rondônia, na escola 04 de agosto, na terra indígena Ricardo Franco no Vale do Guaporé, onde residem sete etnias indígenas: Macurape, Tupari, Arua Aricapu, Canoé, Jaboti,Wajuru no tempo do ensino multiseriado do Pró-Rural no período de 1983 a 1985. Trabalhou na FUNAI de Porto Velho, assumindo a chefia do setor de educação e atualmente encontra-se na FUNAI de Ji-Paraná, assumindo a chefia do setor de educação. Já foi coordenadora do NEIRO (Núcleo de Educação Indígena do estado de Rondônia). Participou do Fórum Internacional dos Povos Indígenas na PUC de Porto Alegre. Através do seu trabalho na FUNAI, umas das pioneiras, que oportunizou aos indígenas regularizar a sua situação escolar na luta para o reconhecimento do ensino das escolas indígenas e sua regularização. Possui os seguintes cursos de Pós Graduação e de Extensão Universitária: Pós em Metodologia e Didática do Ensino Superior, em 1994; Pós Graduação e Aperfeiçoamento Em Desenvolvimento Regional Amazônico em 1995; Curso de Extensão Universitária " A temática Indígena na Sala de Aula " pela UNIR em convênio com a USP/ com 180 h/a 1995/1996: -Pós Em Jornalismo & Mídia - em 2004 pela UNIRON. Executou também palestras na faculdade UNIRON, para turmas diversas, palestras estas relacionadas a questão da inclusão social entre elas a questão efetuou palestra na UNIRON para o curso de Pedagogia sobre os Mitos Indígenas relacionados a sua cosmogonia.

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DIVERSIDADE CULTURAL COM FOCO NO POVO INDÍGENA KARITRIANA.

Cleide Braz Bezerra Rocha de Albuquerque1

Resumo: Este artigo resgata e atualiza uma parte dos resultados da pesquisa realizada para o trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Metodologia e Didática do ensino superior, da Universidade do Oeste paulista, 1994, em convênio com a FEC/Cacoal. Para tanto procuramos conhecer “in loco” a realidade do povo indígena base da nossa pesquisa, alguns referenciais teóricos que tratam da questão indígena para melhor embasamento do nosso trabalho e, com a ajuda de depoimentos de alguns indígenas e da experiência de trabalho com os povos indígenas de Rondônia, observando que entre as etnias existentes existe uma diversidade cultural, um multiculturalismo expressivo que merece ser estudado e melhor conhecido pela sociedade não indígena, para que possamos a partir do conhecimento adquirido sobre os povos indígenas e sobre a real realidade existente, possamos minimizar as distorções que existem e o preconceito sobre a questão, por isso, apresentamos no contexto uma síntese sobre diversidade cultural e multiculturalismo, tendo como foco dentro desse contexto de diversidade o Povo Indígena Karitiana que possui seus mitos sua cosmogonia e cosmologia, assim como cada povo indígena possui, a sua própria história, sobre a sua origem relacionada com a origem da criação do universo. Abordaremos um pouco sobre algumas plantas, raízes e outros afazeres que fazem parte da medicina tradicional desse povo, de sua caça pesca, a pintura corporal, forma do casamento efetuando uma pequena abordagem sobre essa diversidade de costumes existentes, incluindo depoimentos de alguns indígenas. Palavras chave: Povo Karitiana; identidade cultural; medicina tradicional; casamento; mídia; mediação; poligamia. Abstract: This article rescues and updates a part of the research results conducted for the working conclusion of the Specialization Course in methodology and didactics of higher education, the University of western São Paulo, 1994 in agreement with the FEC / Cacoal. Therefore we seek to know "in situ" the reality of indigenous peoples based on our research, some theoretical frameworks dealing with indigenous issues to better foundation of our work and, with the help of testimonials from some indigenous and work experience with people indigenous of Rondônia, noting that among the 1 Possui graduação em Letras Português Resp. literaturas pela Universidade Federal de Rondônia (1992). Tem experiência na área

de Educação, com ênfase em Educação. Possui 29 anos de trabalho com a questão indígena, já lecionou em diversas aldeias do estado de Rondônia, na escola 04 de agosto, na terra indígena Ricardo Franco no Vale do Guaporé, onde residem sete etnias indígenas: Macurape, Tupari, Arua Aricapu, Canoé, Jaboti,Wajuru no tempo do ensino multiseriado do Pró-Rural no período de 1983 a 1985. Trabalhou na FUNAI de Porto Velho, assumindo a chefia do setor de educação e atualmente encontra-se na FUNAI de Ji-Paraná, assumindo a chefia do setor de educação. Já foi coordenadora do NEIRO (Núcleo de Educação Indígena do estado de Rondônia). Participou do Fórum Internacional dos Povos Indígenas na PUC de Porto Alegre. Através do seu trabalho na FUNAI, umas das pioneiras, que oportunizou aos indígenas regularizar a sua situação escolar na luta para o reconhecimento do ensino das escolas indígenas e sua regularização. Possui os seguintes cursos de Pós Graduação e de Extensão Universitária: Pós em Metodologia e Didática do Ensino Superior, em 1994; Pós Graduação e Aperfeiçoamento Em Desenvolvimento Regional Amazônico em 1995; Curso de Extensão Universitária " A temática Indígena na Sala de Aula " pela UNIR em convênio com a USP/ com 180 h/a 1995/1996: -Pós Em Jornalismo & Mídia - em 2004 pela UNIRON. Executou também palestras na faculdade UNIRON, para turmas diversas, palestras estas relacionadas a questão da inclusão social entre elas a questão efetuou palestra na UNIRON para o curso de Pedagogia sobre os Mitos Indígenas relacionados a sua cosmogonia.

existing ethnic groups there is a cultural diversity, a significant multiculturalism that deserves to be studied and best known by non-indigenous society, so that we can from the acquired knowledge on indigenous peoples and the real existing reality, we can minimize distortions that exist and prejudice on the issue, so present in the context an overview of cultural diversity and multiculturalism, focusing within this context of diversity the Karitiana Indigenous People which has its myths their cosmogony and cosmology, as well as each indigenous people have, their own history, about its origin related to the origin of the creation of the universe. Discuss a little bit about some plants, roots and other chores that are part of the traditional medicine of these people, their fishing hunting, body painting, wedding fashion making a little approach to this diversity of customs, including testimonials from some Indians.

Keywords: Karitiana People; cultural identity; traditional medicine; marriage; media; mediation; polygamy.

Introdução:

No mundo existem vários povos, e cada povo possui sua cultura, seu modo de ser e

de viver, com seus costumes, educação, crendices, teorias sobre o criacionismo,

mitos, religiosidade, variedade de alimentação feitas e degustadas de acordo com a

tradição e cultura local do povo, por exemplo, o povo Japonês , possuem o costume

de beber saquê, e chá quente após as refeições, para auxiliar na digestão dos

alimentos e antes de entrarem em casa, tiram os sapatos, para não levar para dentro

de casa, também possuem o costume de comer com palitos e sentado no chão. Se

alimentam bastante de peixe e arroz, o arroz pode ser considera do até um alimento

universal, pois vários povos de várias cultura diferentes utilizam o arroz em sua

culinária, assim como o peixe, a carne e outras variedades de alimentação, algumas

são importadas e outras exportadas, assim como outros produtos diversos

industrializados, manufaturados, Essas histórias e essas culturas se inter-relacionam

de alguma forma, em algum eixo comercial, social, cultural, de alguma forma estamos

todos interligados, e as culturas também umas com as outras, apesar das diferenças

existentes, que quando refletimos sobre o multiculturalismo e as diversidades culturais

existentes no Brasil e no mundo, não podemos deixar de refletir sobre uma frase do

sociólogo português Boaventura Souza Santos sintetiza de maneira especialmente

oportuna essa tensão do multiculturalismo: "temos direito a reivindicar a igualdade

sempre que a diferença nos inferioriza e temos direito de reivindicar a diferença

sempre que a igualdade nos descaracteriza" Nessa afirmação o autor quer negar a

padronização e lutar contra todas as formas de desigualdades presentes na nossa

sociedade. Se refletirmos melhor sobre a questão, os povos indígenas fazem parte

dessa diversidade cultura e estão inseridos neste contexto global, porque fazem parte

de um todo completo que se integra composto dessa diversidade cultural existente

predominantes de cada em diferentes povos de diferentes países e de diferentes

regiões e etnias indígenas com os diferentes costumes de uma sociedade, entre os

quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre

outros aspectos. O Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças

climáticas, econômicas, sociais e culturais, diferenças em sua fauna e flora, por ser um

dos maiores países da América do Sul, fazendo fronteira sete países do mundo

:Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela.

De acordo com os dados do Laboratório de Línguas da UNB que trabalha para

proteger este legado histórico cultural multilinguístico do nosso país. O Brasil é um dos

maiores países bilíngues do mundo e cerca de 230 línguas são faladas do Oiapoque

ao Chuí. Recebendo influência cultural de todos esses países fronteiriços. Contendo

diversidades culturais das diferentes regiões e dos diversos povos indígenas

existentes, com suas diversidades culturais que se inter-relacionam nas suas

diversidades de acordo com cada região. Os principais disseminadores da cultura

brasileira foram os colonizadores europeus, a população indígena, os escravos

africanos, os imigrantes (italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre

outros, entre outros que contribuíram para a pluralidade cultural do Brasil.

As diferenças culturais não podem ser obstáculos para as relações de amizade e o

diálogo, pois todos somos seres humanos independentemente do pais onde

moramos de raça, religião. Devemos construir pontes de amizade que ligam o coração

das pessoas transcendendo as diferenças culturais. (Revista Terceira Civilização. -

BSGI-Dr. Daisaku Ikeda Presidente da Soka Gakkai Internacional).

Os Karitiana:

Rondônia possui 56 povos indígenas, dentre eles encontra-se o povo Karitiana com

cerca de uns 400 indígenas, que moram distribuídos em cinco aldeias na terra

indígena Karitiana: Aldeia Central Karitiana, aldeia Bom Samaritano, aldeia Juari,

aldeia Candeias do Jamari, aldeia Caracol, sendo a aldeia candeias do Jamari e

Caracol, umas das mais recentes, na verdade a aldeia Caracol encontra-se em fase

de construção. A mais antiga é a aldeia Central Karitiana e fica localizada a 95 km ao

Sul de Porto velho-RO. “Foram pacificados a prova de bala por marechal Rondon”2

Pacificação dos Povos Indígenas Karitiana:

2 BRASIL. Osman Ribeiro. Funcionário da FUNAI. In OLIVEIRA. Bezerra Cleide. Levantamentos de dados Culturais da Tribo Karitiana.

Foram pacificados em 1932 por Marechal Rondon, possuem atualmente 83 anos de

contato com a sociedade não indígena, no final do século XVII e do século XIX.” na

época estes indígenas habitavam a região entre os Rios Candeias e Jamari onde

estão atualmente as glebas Garças e baixo candeias e nordeste da atual área. Ali se

estabeleceu em 1909 a comissão da linha telegráfica e da estação telefônica de

Karitiana” (RONDON, 1946; 120 e 172).

Língua:

“A língua indígena falada pelo povo Karitiana chama-se Língua Karitiana, da família

Arikém, do tronco tupi”3

Depoimentos Indígenas:

“O meu pai e minha mãe morreu quando eu era bem pequeno, tinha 15 dias de nascido, meu pai e minha mãe morreram de doença braba num lugar chamado Santa Helena, no Rio Machado. Ai civilizado me pegou para criar , o Luís Cícero, meu pai civilizado (...) .Assim sucedeu-se com muitos outros que os pais morriam e os homens não indígenas levavam para “criar” com a dona Joaninha foi do mesmo jeito, entretanto o costume da tribo era o seguinte: quando morria o pai ou a mãe , outra família da tribo adotava a criança para ficar, mas como antigamente os homens brancos caçavam os índios como se caçasse qualquer outro animal, pegavam os índios que conseguiam e levavam para criar e ensinar algumas coisas, para posteriormente servirem de mão-de-obra barata.4 Segundo Barabadá Karitiana, Há muitos anos atrás o lugar do Karitiana era na BR 364, em Ariquemes, próximo a estrada que vai para Cuiabá. Esta terra era do pai de Barabadá (indígena ancião que falava muito pouco o português). Lá neste lugar encontraram o capivari (Barabadá) que disse para os índios Karitiana, que onde ele estava era muito farto e realmente o era. Os Karitiana moravam um pouco próximos do lugar aonde morava o índio Barabada e andando pelas matas, encontraram com ele e ficaram morando nas terras do pai de Barabadá, em Ariquemes. Com o passar dos anos e com a aproximação do “homem branco”, os índios foram se chegando até o município do Rio Candeias (o homem branco chegando e os indígenas recuando), efetuando a seguinte peregrinação: Ariquemes, Rio Candeias e Porto Velho). (Informação verbal).

3 KARITIANA. Nelson. Professor Indígena. In OLIVEIRA. Bezerra Cleide. Levantamentos de dados Culturais da Tribo Karitiana. 4 PARINTINTIN. Benedito Indígena da Tribo Karitiana. In OLIVEIRA. Bezerra Cleide. Levantamentos de dados Culturais da Tribo Karitiana.

Infelizmente o pai de Barabadá morreu de malária lá no lugar farto e bonito aonde eles

viviam, ocasionando com este acontecimento o motivo principal do deslocamento dos

índios para a aldeia Karitiana, local onde estão até hoje e já fazem aproximadamente

uns 50 anos ou mais que estão neste lugar, na aldeia Central Karitiana. Não saíram

para procurar outro lugar para morar durante muitos anos, porque estão cercados de

brancos e isto impede que a vida de nômades como era antigamente, continuasse.

Entretanto com o decorrer dos anos foram ocupando outras áreas do seu território,

expandido a ocupação e atualmente estão com cinco aldeias.

“Tempo antigamente não ficava muito parado no lugar, parado muito tempo não tem

mais caça, peixe, não tem mais, tudo “bravo”. Está muito ruim, não muda mais, eu

tenho vontade de andar outro lugar um pouco e não pode, porque a gente não pode

andar mais, tá tudo cercado de “branco”, não tem mais lugar pra mudar.5

Com a população crescendo, e os indígenas de certa forma “parados por muito tempo

num só lugar, tendo em vista todo um processo atual de saneamento e, infraestrutura

e logística existente nas aldeias, aconteceram muitas mudanças dos hábitos

alimentares dos povos indígenas. Além da roça os indígenas são extrativistas, e

também caçam e pescam para a sua alimentação, porém, sem fazer rodizio de

locomoção, a tendência é a escassez da fauna e da flora, haja vista não indígenas,

também adentrarem nas florestas para caçar e pescar, mesmo sabendo que isso é

proibido.

Conversamos com vários indígenas Karitiana na aldeia e colhemos vários

depoimentos, entrevistas etc., e o relato que segue, pertence ao indígena Sr. Benedito

Parintintin que mora há muitos anos, desde jovenzinho na aldeia Karitiana. Que disse:

[...] Nós fomos pacificados em 1932, Não tivemos amor de pai nem mão. O pai e a mãe para mim é isto que piso todo dia a terra. O pai civilizado era Luís Cicero nascimento, trabalhava em tudo e ensinou esses trabalhos para mim, era mecânico, trabalhava em madeira. Passou tempo, tempo, eu conheceu a índia Maria Joaninha Nascimento (Indígena Karitiana), filha adotiva, também do civilizado João Bento Nascimento6 (Informação verbal).

Situação Atual de Alimento Nativo:

5 KARITIANA. Barabada. Indígena da tribo Karitiana. In OLIVEIRA. Bezerra Cleide. Levantamentos de dados Culturais da Tribo Karitiana. 6 PARINTINTIN. Benedito. Indígena que reside na aldeia Karitiana, casado com indígena Karitiana.

“Na aldeia Karitiana Central, falta caça e pesca, por ser uma aldeia muito antiga, mas

se os indígenas souberem trabalhar terão condições de comer carne de criação, como

homem branco faz”7

Outra alternativa que encontraram foram criar outras aldeias, isto é, efetuando

deslocamento e ocupação de seu território dentro da própria terra indígena. Para

lugares próximos de rios e aonde a mata encontra-se em sua forma mais nativa,

onde podem encontra com mais facilidade e fartura caça e pesca e terra mais

produtiva para garantir a própria sustentabilidade.

Sonho:

“O meu sonho, aliás o sonho do povo Karitiana é que a área Karitiana seja demarcada

até a Serra do Candeias e até a Serra do Moraes, faltam só 5 km para chegar a

demarcação até a Serra do Candeias. Deixaram toda a Terra dos Karitianas pra fora,

inclusive a capoeira, lugar velho onde os Karitiana moravam a mais de 36 km de

fundos da área”8

A Sobrevivência da Sociedade Karitiana:

A sobrevivência básica da sociedade Karitiana é a agricultura e a venda dos

artesanatos na cidade de Porto Velho-RO, na Feira do Porto e em outras cidades

através da participação de feiras em barracas financiadas pelo SEBRAE, MDA ou por

conta própria. Existem vários indígenas que são contratados como professores pela

SEDUC, para ministrarem aulas nas escolas das aldeias, indígenas contratados como

AIS (Agentes de saúde indígenas) e AISAN (Agentes Indígenas de Saneamento

Básico). Os indígenas possuem também criação de galinhas, porcos e outros animais

domésticos que servem para consumo alimentar.

Contato Com os não Índios: (Seringueiros)

“Os seringueiros atacavam os índios e os índios atacavam os seringueiros, os índios

tinham medos dos brancos e os brancos dos índios”9 “Nós índios Karitiana roubava

7 KARITIANA. BENEDITO. Indígena da Tribo. 8 Karitiana. Benedito. Indígena da tribo. 9 KARITIANA. Waldomiro. Indígena da tribo. Aldeia Central.

arma do seringueiro, nós rouba sal, açúcar e seringueiro queria matar nós, porque

seringueiro tinha medo de nós e nós também tinha medo de seringueiro. Depois não,

passar tempo, tempo e nós já foi trocar as coisas com seringueiro. Nós não roubar

mais seringueiro nós trocar coisas com seringueiro” índios”10

Breve Histórico da Origem do Povo Karitiana:

“Nós índios Karitiana surgimos assim: Antigamente nós tínhamos Deus aqui em cima

desta terra, deste solo. Antigamente não existia gente, macaco, socó, mutum, não

existia lontra, não existia pica-pau, cutia, tatu, paca, anta. Os matos já existiam. Deus

não existia.

Deus saiu de dentro de um buraco da casa da cigarra e a mãe d’água nasceu do olho

d’água é o sapo cururu. A mãe de Deus é a Terra. Surgiu Deus e a mãe d’água e

Deus produziu dois filhos. Aí gerou dois filhos a paca é filho de Deus, a mãe d’água

era sem vergonha, informava o macaco, pediu para Deus levar as crianças para

brincar, aí a mãe d’água armou armadilha para matar as crianças...A mãe d’água

pediu para as crianças passar embaixo da armadilha e elas passaram e morreram.

Uma criança morreu e se transformou em paca. Aí novamente a mãe d’água fez outra

armadilha e pediu para a outra criança passar e a criança morreu e se transformou em

tatu. Depois a mãe d’água fez os paneiros para carregar os bichos e levou para Deus.

Disse para Deus que matou uma paca e um tatu. Aí ele preparou, tirou as tripas e

embrulhou na folha para assar. Quando assou, ela disse para o marido: - Bem já

assou o coração do tatu. Aí, Deus foi comer o coração de tatu e Deus estava deitado

na rede. Quando Deus estava comendo o coração de tatu a rede balançou um

pouquinho. A rede falou: - Você está comendo o coração de seu filho. Depois a

mulher de Deus, mandou procurar os filhos Pediu para “Orar” (irmão de Deus!

Procurar, pegar os filhos para almoçar. Aí “Orar” foi lá, mãe d’água chamou o irmão. Aí

o irmão mais novo falou, vamos fazer flecha para matar “Orar”. Fizeram flecha de

palha. Orar vem de novo para chamá-los. Os dois irmãos estão prevenidos e eles

flecharam “Orar”. “Orar pediu: - Aí! Não faz não! Ele já não aguentava mais de dor, ele

gritou os índios e os dois irmãos se transformaram em índios mesmo e a flecha é

flecha original. Aí Deus pensou e pensou e fez desenhos para transformar outros

índios. Fazia uma bonequinha de árvore e aí Deus colocava na capoeira velha, depois

o pessoal de Deus ia conversar com os índios e os índios falavam com o pessoal de

Deus.

10 KARITIANA. Enedina. Indígena da tribo, mulher do Benedito.

Deus tira casca de castanha e faz a boneca e formava gente, depois de três dias se

formava gente e conversava.

A mãe d’água chamou os meninos para brincar e a mãe d’água ficou com dois nenéns

e fez armadilha. A mãe d’água terminou e chamou a criança para andar debaixo da

armadilha e aí ela gritou: Aí! Matou paca ai o neném virou paca. Aí armou de novo e

chamou neném e entrou lá, armadilha depois disparou, mãe d’água gritou: Aí! Matou

tatu, aí formou tatu. O filho de Deus ficou sabendo aí disse: - vamos matar este “Orar”

(que é a mãe d’água”. Orara levou a paca e o tau para a mulher de Deus preparar.

Deus nunca dizia que estava errado, que estava ruim.

Mulher de Deus (Tomboto) preparou, tirou tripa, tratou do coração e deu para o marido

o coração da paca e do tatu. Aí balançou a rede e o punho da rede dele falou. – Você

está comendo coração do seu filho. Deus ficou sabendo e deixou de comer. Falou com

mãe d'água’, mano vai buscar meu filho que acho que eles estão com sede. Tá bom –

Ei o pai de vocês está chamando vocês. Mas os dois não quiseram vi disseram; Não!

Não. Você matou nosso irmão. Ele voltou contou para Deus que eles não queriam ir.

Deus pediu para ele ir chamar seus filhos de novo.

Aí ele foi de novo lá, tá, tá, tá. Aí falou – Seu pai está precisando vocês. Até que

“Orar” não aguentou mais as flechas deles e gritou; Aí Os “Índios “estão me matando

aí os meninos se transformaram em índios. E Deus escutou e foi lá, correu, até que

chegou lá até que escureceu. Quanto mais o “Orar” falava mais índios apareciam.

Queriam flechar Deus. E ele disse não vamos, nós vamos fica assim agora. “ORAR”

matou meu irmão e nos matamos “Orar” nós já temos o nosso povo. Pode ir embora

papai. –Nós vamos comer este “Orar”. – Deus disse: - come ele e não deixe um

pouquinho de sangue, porque “Orar” sempre vive de novo. Deus chorou, chorou, ficou

sem filho. Depois de três dias ele ressuscitou de novo. Deus estava na casa dele.

Chorou forte. Tá vendo “Orar já está aí de novo. O “Orar” foi na casa de Deus e

entrou lá dentro. Bom dia mano, como você está? Orara respondeu: - Bom- dia! Índio

me atou mano. Aí ele chorou muito diferente. Deus não falou nada. No outro dia, muito

tempo, o pessoal estava trabalhando, derrubando o roçado. (“Orar”) chegou: -Oi tá

trabalhando? Que trabalhando, vocês são preguiçosos, vou transformar vocês em

macaco. Aí ele gritou: Aí macaco, macaco prego. – Não tio, faz isso não. Aí ele gritou:

- Aí tatu canastra foi embora. - Aí Jiboia. Aí transformou em jiboia e assim surgiram

todos os animais.

Eu não entendo muito bem esta história não, é muito comprida, não tem fim, mas no

começo os índios falavam só uma língua, aí depois é que ficou assim, cada povo

falando uma língua diferente. Demora muito para acabar esta história, não tem fim”

Lacerda11

A Diversidade de Costumes:

“As culturas indígenas são antigas, mas não são paradas no tempo. Elas tem se

transformado, se modificando. Todavia, o fato dos índios consumirem alguns produtos

industrializados, ou dominarem certas técnicas e conhecimentos da nossa sociedade,

não faz com que eles deixem de ser índios. A cultura de um povo não é algo

congelado no passado, é um modo particular de viver e de entender e explicar o

mundo, que vai se transformando em função dos novos acontecimentos e situações,

que devem ser valorizados e respeitados”12

A cultura é dinâmica, possui suas pequenas alterações e adequações de acordo com

a realidade do contexto atual, as mudanças vão acontecendo, porém as mudanças

que ocorrem são baseadas em transformações que servem para fortalecer a

identidade cultural, visando garantir a perpetuação do povo indígena, evidentemente

sempre predominando o esqueleto cultural quase imutável em alguns aspectos, mas

flexível e sujeito as ressignificações de acordo com o óculos cultual da etnia, com os

mediadores culturais filtrando as passagens das informações e garantindo a unidade

do povo.

Abordagem de Nilda Jacks:

É evidente que não poderíamos deixar de ressaltar que Nilda Jacks é uma das

principais especialistas em pesquisa de recepção na América latina, e que seu

trabalho constitui uma tarefa obrigatória para todos os estudiosos da comunicação e

que sem sua abordagem no nosso trabalho, o mesmo tornar-se-ia incompleto, porque

citar Nilda enriquece de forma considerável a característica da pesquisa , é evidente

que ao inserir sua presença, só mostra que trabalhamos com seriedade, sem

desmerecer nenhum autor citado, pelo contrário todos desempenham sua contribuição

em especial, mostramos com isso que trabalhamos com seriedade, com uma visão

científica embasada no novo paradigma que está em processo de construção,

11 Narrativa feita pelos índios Orlando, Meireles e Cizino Karitiana. In. OLIVEIRA Cleide Bezerra. Levantamento de dados Culturais do Povo Karitiana.1994, Pg. 20-30. 12 MELATTI, Júlio César. Índios do Brasil-p.43.

denominado de nova sensibilidade, através do conceito de culturas híbridas.13

Canclini diz que a perspectiva pluralista afeta as fragmentações e as combinações

múltiplas entre tradição e modernidade e pós-modernidade são indispensáveis para

considerar a conjuntura latino-americana (1990, p. 329).

Canclini defende que a identidade cultural latino-americana, consequentemente de

seus respectivos países está concebida na intercultural idade, a qual é captada, nos

modos desiguais de apropriação, portanto não está apoiado só nas diferenças, modo

tradicional de entender identidades, mas nas interseções. A Intercultural idade está

sendo construída pela informática, telemática, culturas fronteiriças, migrações, turismo,

etc., portanto dentro e fora dos meios de comunicação.

Em seu livro Querência, resultado de sua tese de doutorado, na qual Nilda Jackson faz

uma análise da cultura Regional como Mediação simbólica procurando mostrar a

múltipla interação dos sujeitos sociais com os meios de comunicação e tecnologias de

informações que converteu em um dos acontecimentos mais distintivos e relevantes

da vida cotidiana das sociedades e culturas contemporâneas.

A Cultura Regional Entendida no seu Sentido Amplo:

Segundo Jacks, incorpora todos os níveis de manifestações de uma determinada

região que caracterizam sua realidade sociocultural. Estas manifestações incluem as

de caráter erudito, popular e massivo, por acreditar-se que essas instâncias do cultural

estão historicamente imbricadas por determinações dos processos de industrialização

e urbanização, às vezes mediados pela indústria cultural, que é consequência e não

causa destes fatores.

Segundo Fadul. (1976. P.52. In JACKS. Nilda. Querência, p. 68 . Com essa

amplitude, o conceito de cultura regional permite refletir a idéia de que a cultura de

uma região não expressa apenas o nível da cultura popular, pois também a cultura

hegemônica possui características de inserção regional. É a cultura “que relaciona

com o domínio da diferença, do que é específico de uma região, da qual a cultura

popular é uma espécie.

Para Morin (1981 p. 15. In JACJS. Nilda. Querência, p 68). A Cultura regional gera

portanto, a constituição de identidade cultural porque estabelece a correlação entre

essa cultura constituída de normas, mitos, símbolos. E essa correlação resulta em

trocas mentais de projeção e de identificação polarizadas nos símbolos, mitos e

13 JACKS. Nilda. Querência. Cultura Regional como mediação simbólica, em estudo de recepção. Ed da Universidade –UFRGS.1999.p 14 e 23.

imagens da cultura, como nas personalidades místicas ou reais que encarnam os

valores.

Segundo Jacks. (1999. P.68) Sabe-se o quanto é difícil caracterizar corretamente os

elementos que realizam essa correlação, porque, por sua vês é difícil caracterizar os

traços essenciais de uma cultura.

Sabe-se também, que existem fatores históricos, geográficos, econômico e sociais que

determinam as especificidades culturais dos habitantes de uma determinada região, o

que não se pode delinear com precisão, pois tal processo é muito dinâmico,

especialmente em presença da cultura de massa.

Cultura e identidade cultural são, portanto, entidades abstratas que ao mesmo tempo

caracterizam necessidades de referência para determinado grupo social. Essa

complexidade, que é intrínseca a este objeto de estudo, impossibilita enquadramentos

mais precisos, ainda que seja possível traçar parâmetros a partir da constatação das

diferenças entre as manifestações de grupos sociais diversos. Esses tem na base o

processo histórico determinante das especificidades próprias de cada experiência

cultural, resultando nas diferentes identidades culturais, baseadas na memória

coletiva.

Esse entendimento permite falar em cultura e identidade regional nos seus plurais,

revelando melhor a situação, visto que a homogeneidade cultural não existe nem

mesmo neste marco geográfico. Ressalta-se, porém que nessa amplitude, cultura, e

identidade ainda podem ser vivenciadas no cotidiano, porque estão próximas e

possíveis de uso imediato na orientação de comportamentos, sentimentos e atitudes

porque embora sejam entidades abstratas, as identidades precisam ser moldadas a

partir de vivências cotidianas. Assim como a relação com os pais nos primeiros anos

de vida é determinante, na construção da identidade individual, as primeiras vivências

e socializações culturais são cruciais para a construção de identidades sociais, sejam

étnicas, religiosos, regionais ou nacionais.” (Oliven, 1988.p.90. In Jacks: 1999.p.69).

Segundo Jack, (1999 p. 69) Para o estudo da recepção dos meios de comunicação

esta situação é privilegiada, pois permite verificar como a identidade cultural, criada

pela vivência de uma determinada cultura regional, se relaciona com os conteúdos

massivos, emitidos preponderantemente em caráter nacional.

O foco no “cotidiano regional” amplia as possibilidades de compreensão das inúmeras

condições de recepção a que estão sujeitas as mensagens massivas, acrescentando

às diferenças socioculturais determinadas pelos diversos estratos econômicos, a

questão da inserção do receptor em um contexto histórico-geográfico com as

especificidades próprias.

A cabeça prensada:

Os índios Karitiana, antigamente tinham o costume de prensar a cabeça de seus

bebês até os três meses de idade, para que a cabeça ficasse chata, diferente dos

outros índios e para não ficar parecido com cabeça redonda de macaco. Ainda hoje

existem índios, os mais velhinhos que possuem a testa prensada, revelando a

veracidade desse costume de anos atrás, entretanto, hoje em dia, isto não acontece

mais, os pais não querem mais prensar a cabeça de seus filhos.

A Pintura Corporal:

Existem vários tipos de pinturas. Hoje em dia é difícil os índios Karitiana pintarem o

seu corpo, mas de vez em quando pintam. Os índios Karitiana pintam o corpo para

dançar, fazem apresentações de danças, inclusive em Abril de 1993 houve uma

grande homenagem na Praça Marechal Rondon na semana do índio em que eles

apresentaram suas danças (conforme mostra figuras no anexo III: Este evento foi

realizado através da SEMED (Secretaria Municipal de Educação) e FUNAI (Fundação

Nacional do Índio) foi em praça pública aonde a comunidade Portovelhense teve a

oportunidade de assistir de perto apresentação executada por homens e

mulheres).Todos os anos no mês de Abril , alguns representantes indígena de

diversas etnias, participam do Brasil Indígena, em Brasília. É um período de reflexão

de reivindicação e fortalecimento da luta, da resistência e do reafirmação da

identidade indígena. É um período sócio- econômico, político, e cultural sobre a

questão.

Além da pintura e enfeites de festas, os índios Karitiana pintam o corpo todo de preto,

quando estão chateados e vão ter uma reunião muito importante e séria, para resolver

assuntos desagradáveis. Expressam através da pintura de guerra, corpo todo preto,

rosto também. Entretanto, quando vão fazer reunião para tratar de assuntos

importantes, na aldeia nas que são costumeiras, não se pintam.

Os índios Karitiana já perderam muitos dos seus costumes, pois vivem

frequentemente na cidade, vêm e vão de TOYOTA, dirigida pelos próprios índios,

TOYOTA esta que eles ganharam através do Projeto PEMACI. Essas TOYOTAS, com

o tempo foram se deteriorando, e através de outros projetos os indígenas já

conseguiram outros veículos, que são meios utilizados para facilitar a sua locomoção

da aldeia para a cidade e da cidade para a aldeia, que atualmente a nova realidade

exige.

A Luta pela vida: Produção de alimentos:

Segundo Melatti, no contínuo esforço pela subsistência, os grupos indígenas

brasileiros contam, de um modo geral, com uma tecnologia bastante rudimentar para

explorar os recursos naturais das áreas que habitam. É muito comum se ouvir dizer

que os índios são indolentes. Mas como se pode acusar os indígenas de ociosidade

se dedicam grande parte de seu tempo às tarefas destinadas a garantir seu alimento?

Além de caçar, pescar, coletar, plantar, criar animais, os índios têm também de

fabricar os instrumentos que servem para produzir, transportar, guardar ou conservar

os alimentos: armas de caça, armadilhas, canoas, cestas, potes, etc. Graças a seu

próprio trabalho é que os indígenas têm sobrevivido até hoje.

A Caça:

Embora a caça para nós não passe de um divertimento ou um esporte, os índios não a

vêem da mesma maneira. Para eles a caça constitui trabalho, já que não podem

deixar de fazê-la, se quiserem ter alimentos ricos em proteínas. Um de nós pode ir

caçar se quiser, se gostar, se tiver tempo para isso; mas o índio têm de caçar, pois é o

único meio de obter carne. (Melatti – p.47).

Em todas as sociedades indígenas, a caça é uma atividade masculina. Pode ser

realizada individual ou coletivamente.

Os índios Karitiana se dedicam mais à caça do que a pesca, fazem caçadas coletivas;

praticam a caça de aves e de pequenos mamíferos.

As atividades de caça obrigam os índios a conhecerem os hábitos dos animais para

melhor poder procurá-los ou esperá-los.

Desse modo, sabem dos representantes de cada espécie se andam de dia ou de

noite, de que frutas gostam, onde costumam se esconder. Dispõem também de uma

série de recursos mágicos para caçar: os índios Kraho, por exemplo, usam

determinados vegetais para esfregar no corpo ou para fazer infusões; os índios

Tenetehára tomam muito cuidado para não ofenderem seres sobrenaturais, a fim de

não ficarem “panema”, isto é, sem sorte na caça.

Os índios Karitiana não saem para caçar quando sua esposa está de resguardo, pois

podem ser perseguidos pela onça ou perderem-se na floresta.

Depois que os índios passaram a ter contato com os “civilizados”, isto é homem não

índio, suas técnicas de caça se alteraram devido à introdução de dois elementos

importantes: as armas de fogo e o cão. Ao mesmo tempo que esses elementos

tornavam os índios mais eficientes na atividade da caça, a presença dos civilizados

traziam também uma desvantagem: é que os brancos passavam a ser concorrentes

dos índios na procura da caça, não somente para sua alimentação, mas também para

a obtenção de produtos comerciais, tais como couros, de diversas espécies e penas

diversas.

Os índios Karitiana não fugiram à regra dos demais indígenas que possuem contato

com a sociedade envolvente, usam em suas caçadas armas de fogo e também cães

de caça, mas não deixaram de usar seus instrumentos de caça tradicionais, como o

arco e a flecha, entretanto a praticidade da arma de fogo facilita mais a caçada.

A Pesca:

A atividade pesqueira entre os indígenas é variada de tribo para tribo, os indígenas

Makurape, Tupari, Jabuti, que estão localizados no Vale do Guaporé no Pin Ricardo

Franco, as margens do rio Guaporé, fronteira com a Bolívia, utilizam várias técnicas,

inclusive, além de utilizarem as técnicas dos não indígenas, tais como, tarrafa, anzol,

arpão, continuam utilizando vegetais que têm a propriedade de matar ou atordoar os

peixes: O tingui ou timbó. A pesca com tais elementos é feita coletivamente porque os

cipós de timbós são cortados e amarrados em feixes; esses feixes são surrados com

cacetes e mergulhados continuamente na água para que esta fique impregnada pelo

suco do vegetal. Entre os índios Karitiana este ritual de pescaria também é praticado

pois a pesca deste tipo geralmente é feita para dias especiais, devido à grande

quantidade de peixes que se pega com este tipo de pescaria, o qual não é sempre

feito, pois estraga muitos peixes; a comunidade não dá conta de trazer tanto peixe,

isto relacionado as tribos citadas acima, os Karitiana dificilmente praticam este tipo de

ritual, pois a reserva aonde vivem já tem pouquíssimos peixes.

O IBAMA, em 1993, numa tentativa de reavivar o rio que passa dentro da reserva dos

índios Karitiana, despejou milhares de filhotes de peixes para reprodução, mas, como

foi um trabalho somente para a imprensa documentar, pois não fizeram represa e os

peixes desceram o rio não ficando na reserva indígena.

Os peixes estão escassos, as vezes que frequentamos a aldeia da tribo Karitiana,

verificamos que os únicos peixes que estavam sendo assados ou fritos eram peixes

bem minúsculos e em quantidade insuficiente para atender às necessidades da

comunidade.

Tipos de Alimentos:

Os Karitiana alimentam-se de vários tipos de caças: anta, porco do mato, lontra,

macaco, paca, tatu, jacaré, etc. De vários tipos de aves: jacu, mutum, pato-do-mato,

etc. De vários tipos de peixes: pacu, piranha, surubim, tambaqui, piabinha, etc. De

várias frutas: goiaba, mamão, pupunha, açaí, melancia, banana, cana-de-açúcar,

bacaba, caju, laranja, manga, limão, etc. Também plantam para a alimentação e para

fabricação de farinha a macaxeira e a mandioca. Alimentam-se também de cará,

batata-doce, amendoim, etc. Fazem parte da alimentação dos índios o gongo, um

bichinho que tem dentro do coco de tucumã, também serve como isca para pescar.

Existe também o bicho da palheira, bem maior que o gongo e tem a cor escura, serve

também para pescar.

A bebida tradicional dos índios é a chicha que pode ser feita de macaxeira ou de

milho.

Além desses tipos de alimentos, os indígenas usam também outros tipos que agora

fazem parte do seu hábito de alimentos, adquiridos através dos não índios, tais como:

açúcar, café, temperos diversos, sal, nescau, bolacha, etc.

A Chicha:

A chicha é um tipo de bebida fermentada tradicional de todos os povos indígenas,

pode mudar de nome de tribo para tribo, mas o modo de preparo da bebida não muda,

como também a tradição de uso. Todos os indígenas gostam muito de beber chicha. A

chicha possui o mesmo processo de preparo em todas as tribos visitadas, as tribos do

Vale do Guaporé aonde residem os Makurape, Tupari, Jabuti, Arikapu, Kanoé, etc. As

tribos dos Oro Wari, aonde residem os índios Pacaas Novos, as margens do Rio

Pacaas Novos em Guajará-Mirim – RO. As tribos dos índios Karitiana em Porto Velho

– RO, a tribo dos Tenharim em Humaitá – AM.

Entretanto, existem algumas modificações muito pequenas na forma de pisar o milho

ou a macaxeira, em que algumas mulheres preferem pisar o milho ou a macaxeira

com a pedra de moer (da qual falaremos a seguir), enquanto outras preferem usar o

pilão.

A Chicha de Macaxeira:

É um tipo de bebida dos índios e tem o sabor de macaxeira é nutritiva e o modo de

fazer é o seguinte: descasca-se a macaxeira, corta-se os pedaços, lava-se bem e

depois despeja-se numa bacia de alumínio bem grande ou caldeirão e põem-se para

cozinhar. Antigamente colocava-se numa panela de barro para cozinhar. Depois de

cozinhada a macaxeira, escorre-se a água, deixa-se esfriar um pouco para depois

pisar na pedra de moer ou no pilão.

Depois de pilada a macaxeira e separada em várias vasilhas, enche-se em cocho

d’água e despeja-se as macaxeiras das vasilhas uma a uma e vai-se mexendo; várias

mulheres vão mexendo com colheres feitas de pau, ou seja, com espátulas grandes,

para se tornar líquido homogêneo. Entretanto, uma vasilha de macaxeira não moída já

ficou reservada para o processo de mastigação. Várias mulheres escolhidas para fazer

esta parte deste processo de fabricação da chicha, sentam-se em esteiras e preparam

a boca, mastigando uma folha; as mulheres mastigam esta folha especial que

adormece um pouco a boca, mas não à engolem; depois de mascada, elas cospem e

depois começam a mastigar os pedaços de macaxeira reservados e essas

macaxeiras, elas vão mascando e colocando em outra vasilha até que fiquem uma

quantidade suficiente para poder jogar chicha que está dentro do cocho. Esta

macaxeira mascada que é colocada dentro do cocho é para que a chicha fermente

mais rápido e fique azeda e depois tenha um efeito embriagante. Faz o mesmo efeito

de uma bebida alcoólica.

A Chicha de Milho:

Usa-se o mesmo processo que se faz a chicha de macaxeira, para fazer-se a chicha

de milho.

Mingau:

O mingau de chicha ou de macaxeira, segue o mesmo processo de fabricação de

como se faz a chicha, a diferença é que não é feito o processo de mastigação para

que o mingau não fique azedo, e o mingau também é diferente porque é mais

espesso, enquanto que a chicha é bem rala e o mingau não é embriagante, pelo

contrário, faz alimentá-los. E as mulheres que estão amamentando tomam de

paneladas para adquirir bastante leite materno.

O Beiju:

O beiju é como se fosse uma tapioca gigante, só que não é feito somente da goma

como a tapioca, mas sim da massa da macaxeira espremida e colocada para assar

em um forno, parecido com o forno de assar farinha.

Assa-se os dois lados do beiju. Ele é tão grande que dá para alimentar

aproximadamente umas dez pessoas.

A Caça:

Os mais diversos tipos de caça, já citados são comidos pelos índios de forma assada.

O predominante é a alimentação assada, entretanto eles também cozinham essas

caças para comer, mas muito raramente.

Cereais:

Os cereais tais como o milho, arroz, feijão, trigo e outros, fazem parte da alimentação

indígena e é usada para acompanhar os alimentos de caça ou pesca, mas o que

predomina é a farinha. A farinha não pode faltar, pois os indígenas a consomem em

grande quantidade.

Raízes:

O amendoim, a batata-doce, a macaxeira, o cará fazem parte da alimentação dos

índios e são consumidos em bastante quantidade por eles.

Frutos:

As mais diversas frutas são consumidas pelos índios tais como: açaí, bacaba, pama,

banana, caju, melancia, mamão, laranja, goiaba, jenipapo e outros nativos.

O Jenipapo:

O Jenipapo é uma fruta especial para os indígenas, pois quando verde serve para

tirarem a tinta e fazer pinturas corporais de cor preta.

O Urucu

O urucu além de fazer parte da alimentação, colorindo os alimentos, também especial,

porque serve, assim como o jenipapo, para fazer pinturas no corpo.

A Agricultura:

“Chamada agricultura de coivara. Depois de um, dois ou mais anos o terreno cultivado

já não produz satisfatoriamente, o que obriga os agricultores a derrubarem uma ou

outra porção da floresta. Após algum tempo, tendo os agricultores esgotados os

terrenos que estão a sua volta, devem migrar para mais longe, a fim de derrubarem

outras porções de florestas.”14

Este processo de agricultura de coivara também é usado pelos índios Karitiana e

consiste no plantio de diversos vegetais tais como: o milho, o arroz, feijão, a

macaxeira, a abóbora, o amendoim, o cará, a melancia, o mamão, o ananás, a cana-

de-açúcar, o algodão, etc. O plantio de vários desses vegetais aprenderam com os

não indígenas.

Criação de Animais:

Os índios não tinham o costume de criar animais, eram nômades, a não ser criar

alguns animais em casa, como animal de estimação, tais como o porquinho-do-mato,

o macaco, a arara, aprenderam com os não índios a criação de patos, galinhas,

porcos e outros para sua alimentação e muitas vezes fazer escambo com estes

animais.

Confecção de Artefatos:

Os índios Karitiana confeccionam diversos tipos de artefatos para adereço para uso

pessoal e também para comercializar tais como: canoa, pentes, arcos e flechas,

cestos, cuias, redes, pulseiras, maricos, colares, tipiti.

Alguns Tópicos da Medicina Karitiana:

VISÃO: Água de Tucumã e água de chuva;

DOR DE OUVIDO: Usa-se o Cipó de Abé - é um cipó cheio de nozinho e tem água,

tira-se a água do cipó e coloca-se no ouvido para lubrificar; Rabo de tatu – coçar com

a ponta do rabo do tatu e vai fazendo a limpeza;

DOR DE BARRIGA: (Diarreia): Usa-se - Pauzinho chamado “mandonitenho”, arrancar,

raspar, faz o chá e toma e depois sara.

Minauã- Buscar no mato, tirar, raspar e fazer o chá e beber, até parara a diarreia.

DOR DE DENTE: Usa-se - Biquipê: É uma planta bem baixinha que tem ramo, quando

você coloca na boca, fica adormecida. Mastiga a raiz bem mastigadinha, coloca no

buraco do dente que passa a dor. 14 MELATTI. Júlio Cézar. Índios do Brasil- 5 ª Edição- São Paulo.1987. p. 51.

Antigamente era muito sofrido. Colocava pimenta dentro do buraco do dente também.

Não arrancava, não era assim, como vai arrancar com o dentista hoje, quando o dente

doía muito colocava pimenta, aí depois o dente ficava meio molhinho e ti com a ponta

da flecha e aí com o osso de macaco, apontava bem apontadinho e tirava o dente.

HEMORRAGIA: Quando vem muito toma o chá feito da mistura de Epacaracal com

gueá, toma o remédio para vir só 5 ou 3 dias.

Gueá – é uma folha, pisa, pisa, faz o sumo e toma para controlar a menstruação.”15

O Casamento:

Durante o período de pesquisa, com várias idas e vinda a aldeia Central Karitiana

tivemos a oportunidade de assistir um ritual de casamento o que apresentamos neste

já foi algo presenciado. Os casamentos são realizados numa mistura de ritual indígena

com não indígena: a noiva usa um vestido de noiva todo branco, (geralmente é uma

menina, os índios casam muito cedo com 10 a 12 anos estão casando, este é o

costume da aldeia), o noivo está todo pronto, com roupa normal de não índio em sua

casa, deitado em uma rede. O casamento inicia-se: os pais da noiva levam a noiva

com a sua rede na mão e vão entrega-la ao noivo, a mãe da noiva coloca a rede em

cima do noivo e fala na língua indígena muitas palavras ao noivo (diz para o futuro

marido tomar conta da mulher, caçar, pescar, plantar, fazer roça, cuidar da mulher,

tratar bem a mulher que agora ela será sua esposa e mãe dos seus filhos, e deseja

que eles sejam muito felizes). O noivo fica escutando, depois fala na língua

respondendo que vai fazer tudo isto. O pai da noiva também faz recomendações para

o noivo, o tio-pai da noiva também faz recomendações, o pai e a mãe do noivo

também fazem recomendações para a noiva na língua indígena (para ela cuidar bem

do futuro marido, fazer comida pra ele, lavar a roupa dele, obedecer a ele, tratar bem

dele e dos filhos que virão. A casa do noivo está cheia, pois toda a aldeia acompanha

o ritual, é gente pela janela, ouvindo, gente na porta do quarto aonde o noivo está,

todos ficam assistindo a cerimônia. O cacique também faz recomendações, quase

todos os mais velhos fazem recomendações, pois todos são parentes, sabemos que a

estrutura social indígena é fechada e todos acabem sendo parentes.

Quando terminam as recomendações, o noivo se levanta e coloca a aliança na mão da

noiva e ela a aliança na mão dele, depois saem andando para a casa da noiva aonde

está o banquete e a festa.

15 (Narração feita pelas índias Tereza e Enedina Karitiana, transcrito na íntegra). In. OLIVEIRA. Cleide Bezerra. Levantamento de Dados Culturais do Povo Karitiana. 1994 p. 32-33).

Chegando à casa da noiva, ela parte o bolo de casamento dando um pedaço para

cada e as outras mulheres vão servir a comida, todos comem, bebem e dançam até

altas horas, é uma alegria geral.

Poligamia e Casamento Consanguíneo

“Na sua constituição familiar, o povo Karitiana, como muitos outros povos indígenas,

adota a prática de poligamia e casamento consanguíneo, isto é, casamento entre

parentes: Há cerca de três gerações houve entre os Karitiana uma situação de

extrema poligamia, que teve efeitos dramáticos no atual estado genético-populacional

da tribo. Um líder tribal já falecido casou-se com sete mulheres e teve 15 filhos; em

consequência, por ocasião de nossa expedição, todas as crianças com menos de 16

anos (67 ao todo) da tribo descendiam do velho líder [...]. Ao pesquisar a irmandade

da última geração, encontramos casos em que dois irmãos são ao mesmo tempo

meio-irmãos, primos em primeiro grau, primos em terceiro grau, e parentes por mais

de dez vias diferentes. (Aguiar, F.S. Gilberto, Sampaio Wany Silva da Vera, os povos

indígenas de Rondônia contribuem para compreensão de sua cultura e sua história pp.

31,32).

Índios – Situação Atual

“Sabemos que os índios não formam um todo homogêneo: as línguas, os costumes,

variam de tribo para tribo, entretanto, a maioria das pessoas só conhecem a respeito

dos índios aquilo que aprendeu como estudante nas aulas de história e geografia do

Brasil, cujos livros didáticos se mostram bastante deficientes naquelas unidades

dedicadas aos indígenas, contribuindo por certo para formação de uma imagem

bastante deformada dos mesmos”.

É irônico sabermos que em pleno século XXI a imagem dos indígenas brasileiros

ainda é muito deturpada tanto nos livros didáticos quanto nos meios de comunicação

devido ao grande preconceito ainda existente, camuflado por conta de uma

constituição mais avançada, que garante de direito, mas não de fato a autonomia dos

povos indígenas.

Briga Política Interna

Entrevistando o indígena Renato Karitiana sobre a situação dos indígenas atualmente

ele disse que: “Anteriormente a FUNAI pagava a alimentação dos indígenas, a partir

do momento que os indígenas começaram a lutar pela sua autonomia a FUNAI cortou

a alimentação dos indígenas na cidade e os indígenas é que devem manter sua

própria alimentação se quiserem lutar e resolver seus problemas na cidade e que a

vida do índio é muito difícil, tem que resolver problemas da política indígena na cidade

e também tem que resolver problemas de política de briga interna na aldeia, que é

muita fofoca, reunião, reunião por causa de fofoca que enfraquece a comunidade,

enquanto podia estar lutando para conseguir outras coisas mais importantes para a

comunidade , tem que parar para resolver problemas da comunidade interna, nosso,

das próprias pessoas da tribo, que também índio não pensa tudo igual não, nós

também tem briga política interna da tribo”.

Visão Distorcida

Antigamente a FUNAI enviava para as aldeias alimento, porque os indígenas eram

nômades e a FUNAI, efetuou um trabalho de forma para estruturar uma aldeia , um

local , para os índios se fixarem dentro de suas terras, com uma infraestrutura, com

assistência na área de saúde, educação, agricultura, buscando de alguma forma “

enquadrar” os indígenas no sistema maior, porque existe um sistema dentro de outro

sistema em forma de uma interseção ou várias interseções inseridas que se inter-

relacionam, na busca de se proporcionar melhoria de qualidade de vida para os

povos indígenas , que não poderiam mais viver de forma nômande, por conta de todo

um processo de desenvolvimento, construção de estradas, foram se adequando a

nova realidade buscando garantir a própria sobrevivência. Atualmente os indígenas

produzem seus próprios alimentos, mas muitas coisas industrializadas são compradas

na cidade, com o dinheiro de produção de castanha, de comercialização de

artesanatos, entre outros recursos que entram na aldeia através de salário de

professores indígenas, salário, maternidade, aposentadorias, porque em conformidade

coma lei, os indígenas são considerados trabalhadores rurais especiais. Tem

indígenas contratados como AIS (Agentes indígenas de saúde) AISAN (Agentes

Indígenas de Saneamento Básico). Muitas pessoas da sociedade não indígenas que

não possuem o conhecimento adequado da questão ficam comentando que cada

indígena recebe todo mês um salário mínimo do governo, mas essa é uma forma

distorcida de interpretação e de visão sobre a questão indígena. Os indígenas são

trabalhadores rurais especiais, trabalham na roça, nos cafezais, no extrativismo, na

confecção de artesanatos e devido muito tempo foram até desconsiderados como

“gente”, tiveram uma vida de opressão, viviam escondidos, atualmente com essa nova

política estão como qualquer ser humano, em busca de seus direitos e conquistado

seu espaço e o respeito a viver nesse contexto de diversidade cultural de forma

diferenciada. A própria constituição federal garante esse direito aos povos Indígenas,

em seus artigos 231 e 232.

Política Intertribal

Espaço é poder e informação é poder em qualquer sociedade, em qualquer cultura e

na cultura indígena não poderia ser diferente, existem os sabedores indígenas, os

mais velhos que repassam as informações culturais, os indígenas Karitiana possuem

muito respeito pelos mais velhos, quando os mais velhos não estão as vezes certo,

mesmo assim é difícil para eles, irem contra uma decisão dos mais velhos, porque a

decisão do mais velho deve ser respeitada. Porém, com as mudanças atuais, se o

mais velho não compreender bem, vão para um diálogo para chegar a um consenso

em particular, mas o mais velho não pode ser desconsiderado e nem desrespeitado na

frente dos outros. Faz parte da cultura política e social da tribo. Geralmente os

Karitiana casam entre si, mas existem indígenas casados com Makurap, com

Parintintin e com Massacá, que moram na aldeia Karitiana.

Observamos que na casa em trânsito que existe na cidade, provoca uma política

intertribal, pelo espaço, e que os Karitiana, por serem os indígena mais próximos se

acham que são os donos do espaço em detrimento as demais etnias. Cada etnia

quando chega quer ocupar o local, mas quem domina a maioria dos espaços é o

pessoal da tribo indígena Karitiana, que ocupam a maioria dos cômodos. Essa

ocupação de poder do espaço acaba causando reclamações dos outros indígenas e

até mesmo de funcionários, surgindo comentários que a tribo Karitiana já mora na

cidade, que transferiu a aldeã para a cidade. E devido por um período de dez anos o

indígena ANTENOR KARITIANA ter ficado a frente da coordenação da CUNPIR,

(Coordenação da União dos Povos Indígenas de Rondônia, Norte do Mato Grosso e

Sul do Amazonas), sempre sendo reeleito, as demais etnias já não estavam

satisfeitas com a permanência do mesmo indígena, no cargo, por contingências

diversas, incluindo improbidade administrativa, o mesmo foi destituído do cargo

através do conselho deliberativo intertribal, formado por diversas tribos de RO, que

colocaram uma diretoria provisória até a posse da nova direção, tudo isto aconteceu

no início de fevereiro de 2004.

O mais surpreendente nessa história é que uma mulher indígena quase assume a

diretoria provisória, ficando em segundo lugar na votação, com a chance da mesma

ganhar pleito quando a eleição definitiva acontecesse, mas quem assumiu

provisoriamente foi o indígena Almir Suruí, que não era um indígena bem visto pelo

povo Karitiana, devido rixas do passado com o cacique Cizino Karitiana, e também

porque os indígenas da etnia Tenharim e Parintintin pertencentes ao Sul do Amazonas

não gostaram e nem querem que os Suruis assumam a direção da CUNPIR, porque

só vão lembrar dos parentes deles pertencentes a Cacoal e que até poderiam querer

levar a sede da CUNPIR para outra cidade, ou seja , para Cacoal, onde residem os

Suruí. Bem, resumindo, a CUNPIR teve muitos problemas internos e externos ,

incluindo na justiça por causa da prestação de contas, sendo que nesse problema o

mais prejudicado foi o indígena Antenor Karitiana, que até o momento, não sabemos

direito a veracidade dessa história, que envolvem vários protagonistas, mas quem foi

exposto nos jornais e ficou sendo responsável pelos episódios negativos ocorridos na

CUNPIR, que podemos considerar supostamente que foi um “inocente útil dentro

desse processo foi o indígena Antenor Karitiana, que era o presidente da CUNPIR, na

época , em 2004.O Almir Suruí, depois não ficou mais porque a CUNPIR ficou irregular

e até presente data a CUNPIR, ainda não ressurgiu, os indígenas tentam levanta a

CUNPIR, porque essas associações são utilizadas como instituições de poder de luta

para os povos indígenas, um poder de “status quor.” Ultimamente surgiu uma onda de

criação de associações indígenas, mas muitas fecham por causa da burocracia que é

demais e muitos indígenas ainda não dominam bem a parte de elaboração de

projetos para captação de recursos, prestação de constas, entre outras atividades

burocráticas que dependem de tempo para poder permanecer na cidade, então o

indígena tem que se mudar da aldeia para ficar na cidade, e isso torna as coisas

complicadas e complexas para os povos indígenas, que vão depender de recurso para

se manter na cidade. “Então observamos que o governo dá com uma mão e tira com

a outra”, porque observamos dessa forma, porque existe toda uma política implícita

de algumas pessoas que muitas vezes são até mesmo funcionários, não são todos,

são alguns tanto funcionários quanto não funcionários, que não ajudam, fazendo um

forma que realmente de errado as coisas , não de forma direta, mas de forma indireta

e que muitas vezes que observa sem profundidade, pode até pensar que estão

ajudando, mas estão é atrapalhando com tanta morosidade toda a engrenagem.

Evidentemente que existem muitas pessoas funcionários e não funcionários que

ajudam realmente os povos indígenas, e que querem que consigam ser

independentes, autônomos, exerçam a sua cidadania e respeitam a diversidade

cultural, mas para isso acontecer, o caminho é a educação, a educação proporciona

em qualquer cultura uma ampliação da cosmovisão, independentemente de qualquer

cultura e de qualquer situação e nessa caminhada em prol da sua autonomia os

indígenas estão estudando, já temos a terceira turma de indígenas estudando na

UNIR-universidade Federal de Rondônia- fazendo o curso de Formação de

professores Indígenas-Intercultural, que equivale a formação de professores indígenas

formados, com o nível superior. Também já estamos na terceira turma do Projeto açaí

II que é o equivalente ao segundo grau indígena, magistério. Não existe outro

caminho, o caminho da a abertura dos olhos para os indígenas é através do

conhecimento de forma intercultural e bilíngue e até multilíngue, por que não.

Atualmente existem indígenas do estado de Rondônia, na faculdade são Lucas, na

UNIR, na ULBRA, na UNIRON, em várias faculdade do estado cursando o nível

Superior. Existem indígenas do estado de Rondônia fazendo curso de Medicina na

Faculdade em Cuba.

Eleições da CUNPIR:

A polêmica foi demais na época, rumo a nova eleição da CUNPIR. Os indígenas se

articularam para este evento eletivo que foi muito importante para eles na época, na

verdade muitas coisas que parece que para nós não é muito importante, para os

indígenas são importantíssimas, essas eleições, essas representações de indígenas a

frente de instituições, os indígenas que estão à frente de associações, coordenando,

estão representando a sua comunidade., então na época a eleição da CUNPIR para

os indígenas Karitiana definia de alguma forma o rumo da política intertribal no estado

de Rondônia.

Existia também a oposição, indígenas que não gostavam da existência da CUNPIR e

queriam acabar com a CUNPIR, até pessoal, tendo em vista não ter conseguido um

lugar na diretoria anterior, por “vingança” e ou individualismo ou outros motivos alheios

a nossa vontade, o indígena, que não vamos citar o nome, procurando preservar a sua

privacidade, declarou que “vai acabar com a CUNPIR” (na época). Na verdade este

indígena foi um daqueles que se deixou influenciar pela política capitalista do homem

branco e em vez de querer ajudar a libertar foi mais um que lutou em favor da

permanência da opressão de seus próprios parentes, porque de alguma forma

sentia-se mais privilegiado , porque tinha um pouco mais de saber , acesso a alguns

computadores da FUNAI, permissão para dirigir carro oficial do órgão, se não tinha

uma permissão por escrito, tinha oral, porque ele viajou muitas vezes de Humaitá

para Porto Velho no carro oficial da FUNAI, dirigindo, é um índio privilegiado que de

alguma forma botou “pressão” e conseguiu até um contrato de cargo comissionado de

chefe de posto indígena. Atualmente este indígena é coordenador em uma cidade do

Amazonas. De que lado este indígena estava? Do lado do seu povo e parentes ou do

lado do seu próprio bolso? Eis a questão? Quem somos nós pra julgar este indígena?

Não estamos aqui julgando ninguém, apenas uma exposição do reflexo da realidade

de forma científica, na qual confere com algumas ideias de Chagnon, antropólogo,

estudioso do povo Yanomami, quando refere-se que os indígenas não são seres

angelicais como gostaríamos que fossem.

Também não estamos com este exemplo querendo apresentar uma imagem negativa

de um indígena para a sociedade, mas sim mostrar que a cisão existe algumas vezes,

que eles possuem opiniões, políticas e que vivem no mundo em que nós vivemos,

fazendo parte do mesmo todo contínuo, mas que é outro contexto diferenciado e que o

que é do índio e o que não é do índio é do não índio. Dentro da comunidade indígena

do povo Karitiana, existe cisão também ou seja, divergências de opiniões por conta da

religião. A religião evangélica, entrou com força na aldeia, os indígenas moravam em

uma só aldeia, mas agora devido a essa questão religiosa, mas não somente a

questão religiosos, porém outros fatores internos, referentes da própria cultura, os

indígenas se distribuíram em cinco aldeias. Muitas pessoas podem até pensar, mas

como eles deixaram uma aldeia bem estruturada e forma construir outras aldeias. Isso

acontece porque é uma forma de ocupação territorial, própria dos povos indígenas,

eles procuram áreas mais virgens, onde existem caça, pesca, onde a terra é boa, para

não ter escassez de alimentação. Vão ocupando pontos estratégicos do seu próprio

território.

Mesmo estando interligado e fazendo uso de alguns recursos tecnológicos que

facilitem a sua vida primitiva a tornarem-se um pouco mais moderna ou até mesmo

de utilizarem eletroeletrônicos, eletrodomésticos, aparelhos celulares, computadores

e até muitas vezes a mídia como recurso reivindicatório, ou de aparecerem na mídia

por contingencias diversas, e estarem cursando a faculdade , fazendo o curso

Intercultural na UNIR, e outros diversos indígenas estarem em outras diversas

universidades cursando outros diferentes cursos, e também ocupando cargos

comissionados ou efetivos, em vários órgão do governo e atuando em diversas

atividades e também contratados para exercerem suas atividades nas aldeias. O

universo indígena é diferente do nosso e suas atividades estão correlacionadas com

as atitudes cotidianas e com a sua vida na aldeia, estão representando a sua

comunidade, não podem ser individualista, devem prestar conta para a comunidade,

porque existe uma rotatividade de representatividade entre eles, esses cargos que

exercem ou que ocupam são de confiança para a comunidade, a comunidade

entende como representantes que lutam e que são os mediadores e representantes

culturais e administrativos e também controle social e que estão para lutar em prol do

povo que ficou na aldeia , seus parentes. Essa ligação entre eles é muito forte, assim

como a ligação deles com a terra, porque para o indígena a MÃE TERRA, possui um

valor que está relacionado a própria vida, da terra depende a vida.

A Importância da Mae Terra:

Apesar da influência do capitalismo mostrar o valor diferenciado da terra por conta dos

recursos nela existentes, para os indígenas é mais um valor agregado ao já existente,

agora é que aterra vale mais mesmo para os indígenas, tanto por conta do valor de

MÃE, que proporciona tudo o que eles precisam para sobreviver, quanto pelo valor

que o homem não indígena proporciona às terras dos indígenas por conta da ganancia

em querer sempre acumular bens materiais numa visão capitalista exacerbada, que

não quer respeitar o direito de sobrevivência de outro povo.

Dependência Indígena:

Tendo em vista a necessidade criada pelo próprio processo histórico de colonização e

dominação, os indígenas ainda são dependentes de organizações indigenistas, tanto

governamentais quanto não governamentais. No entanto, a medida que ele e a sua

comunidade vão interiorizando os aspectos de uma nova cultura, fez com que

houvesse uma “emancipação” porque o enfrentamento com a cultura da sociedade

nacional o desafiou, pressionando-os, incentivando-os a tomarem decisões para

redescobrir sua identidade, ou seja reafirmar a sua identidade com ressignificação,

garantindo a sua sustentabilidade com identidade cultural diferencia e própria do seu

povo.

Inconsciente Coletivo Do Povo Karitiana:

A comunidade dos indígenas Karitiana perpetuará a tradição cultural dos seus

antepassados, assim como qualquer outra tribo, ou seja outro povo de cultura

diferenciada e assim, como existem várias culturas diferentes no mundo, é evidente

que os significados podem ser transformados devido ao hibridismo cultural, todavia

considerando que as culturas indígenas são antigas, mas não paradas no tempo. Elas

tem se transformado e se modificado em virtude das necessidades do processo

histórico e das circunstâncias em busca de alternativas da própria sobrevivência de

acordo com a atualidade, porém permanecendo firme no “resgate da memória

coletiva” que muitas vezes não conseguimos distinguir muito bem, porque não aparece

bem explicita para quem está de “fora da cultura”.

Segundo Edgar de Decca (1991: 120-130) ela se encontra refugiada em rituais,

celebrações e nos ensinamentos que são passados de geração a geração e também

nos gestos, nos saberes.

Considerações Finais:

Considerando-se a conjuntura da política indigenista atual, algumas coisas temos

visto que foram melhoradas, mas outras que pensávamos que estavam melhorando ,

ficaram Os indígenas estão sempre numa caminhada continua em busca de suas

melhorias de qualidade de vida e de defender e garantir os direitos adquiridos e de

buscar com que o governo coloque em prática o que consta na lei, porque a garantia

na lei está no papel, mas muitas coisas não saíram do papel, continuam lá de forma

bem bonita, encantadora, mas a sua práxis, é uma outra realidade. Se queremos que

essa multiplicidade cultural se perpetue, devemos garantir que as terras indígenas não

sejam invadidas, por não indígenas. Haja vista que os indígenas precisam da terra de

forma mais comprometida com a própria vida, com o próprio ser, como ser humano. A

terra faz parte integrante e principal da vida dos povos indígenas, a terra também faz

parte da cultura, toda essa complexidade cultural só existirá se tiver seres humanos

e para ter seres humanos diferenciados, todos precisamos da mãe terra para garantir

a nossa sobrevivência no planeta e continuarmos protagonistas dessas culturas

diferenciadas que se interligam se imbricam de alguma forma e para que cada vez

mais a cultura dos povos indígenas Karitiana permaneça entre nós devemos buscar

compreender melhor o povo indígena como um ser humano que merece toda a nossa

consideração e respeito, e que todos independentemente se somos indígenas ou não

indígenas temos o direito de vivermos em paz, para que isso aconteça devemos

respeitar os direitos dos povos indígenas. Se respeitarmos o direito dos povos

indígenas, se aprendermos com eles através de uma troca de intercâmbio cultural de

conhecimentos diversos. Pois quando observamos bem de perto os povos indígenas,

em especial o povo Karitiana, observamos que não são tão diferentes assim de nós

não indígenas, que temos muitas coisas parecidas e que essas diferenças existentes

não devem servir para nos separar, mas sim para nos unir cada vez mais, buscando

cada um aprender o que não conhece do outro, para assim aprendermos a respeitar a

cultura um do outro.

Fonte:

Povo Indígena Karitiana.

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