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R e c e i t a s

B u o n a p p e t i t o

dossier de imprensa

distribuído por Alambique

Sinopse

Notas da Crítica

Na vida, há os que devoram e os que são devorados.Raimundo Nonato está numa posição especial: ele cozinha. Eé nas cozinhas de uma pequena tasca, de um restauranteitaliano e de uma prisão que Nonato vive a sua intrigantehistória e aprende as regras da sociedade dos que devoramou são devorados. Regras que ele usa a seu favor, porquemesmo os cozinheiros têm direito a comer a sua parte - e elessabem melhor que ninguém qual é a parte melhor.

Estômago, uma história nada infantil sobre poder, sexo egastronomia.

“Uma mistura de comida, sexo e poder como não se viadesde 'O Cozinheiro, o Ladrão, a Sua Mulher e o Amante Dela'de Peter Greenaway. O filme de estreia de Marcos Jorge é umfilme que vai dar que falar. Um mistério que gira não em tornodo “quem fez?”, mas sim do “o que fez ele?”. Como umadeliciosa refeição num clima estrangeiro, o filme atravessa opaladar para oferecer um inesperado, mas apropriado final.Talvez nem todos os clientes saiam satisfeitos de“Estômago”, mas é impossível assistir ao filme sem ficarcom fome.“

“Comida significa poder neste engenhoso filme de MarcosJorge. O filme ganhou vários prémios no Festival do Rio,incluindo o Prémio do Público, o que indicia que o públicopode vir a gostar desta deliciosa ainda que indigesta -refeição”

“Diretor acerta a mão em fábula indigesta.”

“Muito original, muito inteligente e divertido... Promete viraruma das sensações do ano.”

“Belíssimo filme que sacia nossa fome de diversãointeligente.”

“Coloque uma pitada de ótimos atores, adicione um roteiroinovador, um punhado de personagens interessantíssimos ediálogos inteligentes. Pronto! Esta aí a receita deEstômago...”

“...o primeiro longa-metragem do diretor Marcos Jorge éuma obra rara no cinema brasileiro.”

“A história deste nordestino, que se relaciona com os outrosgraças à arte de cozinhar, é contada por meio de um roteiroenxuto, recheado de diálogos saborosos e, acima de tudo,verossímeis. (...) É de uma precisão cirúrgica o ritmo comque Marcos Jorge conta a trajetória de Raimundo Nonato...”

“... direção fluente, imaginativa e salutarmentedespretensiosa. (...) Jorge acerta tão bem a mão nosfundamentos básicos do cinema que não deixa muita dúvida:há chef novo na cozinha.”

“É possível rir e se emocionar simultaneamente com asexperiências entre as caricaturas, com a doce visão dospresidiários, com a relação entre Nonato e uma prostitutafelliniana, com a própria narração do protagonista. Sãoforças geradas por detalhes, sutilezas, pela explosão verbalde um Babu, por um olhar de lado de João Miguel, por umresmungo, por pequenas modulações de expressões evozes. Um filme de minúcias, de um conjunto poderoso, quemerece transpor certo gueto de circulação.”

“Numa sociedade em uns devoram e outros são devorados,o cozinheiro tem um papel decisivo, e pode decidir qual é omelhor bocado. Este é o ponto de partida de Marcos Jorgepara lançar um olhar nada complacente sobre a realidadebrasileira contemporânea. Sob a aparência de uma comédiasatírica, o filme oferece-nos uma aguda reflexão social queatravessa os diferentes extractos sociais. No país do “fomezero” e da “cultura antropofágica” exposta por GlauberRocha, a parábola traçada pelo realizador aponta para asentranhas de uma realidade contraditória.”

Denis Seguin Screen Daily

Jay Weissberg - Variety

Marcos Dávila - Folha de São Paulo

Luiz Carlos Merten O Estado de São Paulo

Marcelo Janot Críticos.com.br

Marina Meira - Globo On-line

Chico Fireman G1

Eros Ramos de Almeida - O Globo

Isabela Boscov - Revista Veja

Cléber Eduardo - Cinética

Jorge Jellinek Diretor do Festival Int. de Punta Del Este

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FESTIVAL DO RIO 2007Melhor Filme

Melhor DiretorMelhor AtorPrêmio Especial do Júri

INTERNATIONAL FILMFESTIVAL OF ROTTERDAMLions Award 2008

FESTIVAL INTERNACIONALDE CINE DE PUNTA DEL ESTEMelhor FilmeMenção Especialde Melhor Ator

(Prêmio do Público)

Notas da Crítica“Belíssimo filme que sacia nossa fome de diversãointeligente.”

“Diretor acerta a mão em fábula indigesta.”

“Muito original, muito inteligente e divertido... Prometevirar uma das sensações do ano.”

“...o primeiro longa-metragem do diretor MarcosJorge é uma obra rara no cinema brasileiro.”

Marcelo Janot – Críticos.com.br

Marcos Dávila - Folha de São Paulo

Luiz Carlos Merten – O Estado de São Paulo

Chico Fireman - G1

“Em uma sociedade onde uns devoram e outros sãodevorados, o cozinheiro joga um papel decisivo, e podedecidir qual é o melhor bocado. Este é o ponto de partidade Marcos Jorge para lançar um olhar nada complacentesobre a realidade brasileira contemporânea. Sob aaparência de uma comédia satírica, o filme nos ofereceuma aguda reflexão social, que atravessa os diferentesextratos sociais. No país do “fome zero” e da “culturaantropofágica” exposta por Glauber Rocha, a parábolatraçada pelo diretor aponta para as entranhas de umacontraditória realidade.”Jorge Jellinek – Diretor do Festival Int. de Punta Del Este

É possível rir e se emocionar simultaneamente com asexperiências entre as caricaturas, com a doce visão dospresidiários, com a relação entre Nonato e uma prostitutafelliniana, com a própria narração do protagonista. Sãoforças geradas por detalhes, sutilezas, pela explosãoverbal de um Babu, por um olhar de lado de João Miguel,por um resmungo, por pequenas modulações deexpressões e vozes. Um filme de minúcias, de um conjuntopoderoso, que merece transpor certo gueto de circulação.Cléber Eduardo - Cinética

“Uma mistura de comida, sexo e poder que não é vista nocinema desde “O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e oAmante”, de Peter Greenaway, o filme de estréia de MarcosJorge é um suspense surpreendente, um mistério que giraem torno não de “quem fez?”, mas sim de “o que foifeito?”. Como uma deliciosa refeição em um climaestrangeiro, o filme atravessa o paladar para oferecer uminesperado, mas apropriado final. Talvez nem todos osclientes saiam satisfeitos de “ESTÔMAGO”, mas éimpossível assistir ao filme sem ficar com fome.”

Denis Seguin – Screen International

“Uma ótima fábula sobre a relatividade da felicidade,“ESTÔMAGO” mostra que “chegar lá” é muitas vezes maisdivertido do que “estar lá”. E faz isso de forma tão cativantee agradável que me diverti do começo ao fim. Recomendofortemente.”Ard Vijn – site Twitch (Roterdam, Holanda)

“Em “ESTÔMAGO”, engenhoso drama culinário devingança de Marcos Jorge, comida é igual a poder. Filmadopor Toca Seabra com um nível apropriado de coragem,“ESTÔMAGO” ganhou diversos prêmios no Festival doRio, inclusive o prêmio de público, o que sugere que,mesmo fora dos cinemas de arte, os espectadores podemvir a gostar dessa saborosa - apesar de não totalmentedigerível - refeição.”Jay Weissberg - Variety

Apresentação“ESTÔMAGO” é a história da ascensão e queda deRaimundo Nonato, um cozinheiro com dotes muitoespeciais. Trata de dois temas universais: a comida e opoder. Mais especificamente, a comida como meio deadquirir poder. E pode ser definido como “uma fábula nadainfantil sobre poder, sexo e culinária”.

Em sua estréia mundial no Festival do Rio 2007,“ESTÔMAGO” consagrou-se como grande vencedor,tendo recebido quatro prêmios: Melhor Filme pelo Público,Melhor Diretor, Melhor Ator e Prêmio Especial do Júri. Emsua estréia européia, no Festival Internacional de Roterdã,na Holanda, recebeu o prêmio Lions Award e foi o segundocolocado, entre 200 longas, na preferência do público.Teve participação especial no Festival de Berlim 2008, comdireito a jantar inspirado nos pratos do filme, e venceu oFestival Internacional de Punta Del Este, no Uruguai, comos prêmios de Melhor Filme e Menção Especial de MelhorAtor.

O filme marca a estréia de Marcos Jorge na direção delongas-metragens, depois de uma bem-sucedida carreiracomo diretor de curtas-metragens, filmes publicitários eartista-plástico especializado em vídeo-instalações.Marcos Jorge estudou cinema na Itália e lá viveu durantetoda a década de 90, e seus filmes e vídeos venceram maisde 50 prêmios nacionais e internacionais.As filmagens aconteceram durante cinco semanas emCuritiba e São Paulo, em fins de 2006, e toda a finalizaçãofoi feita na Itália, em Milão e Roma, em meados de 2007.

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Estômago e o cinema brasileiro

Com o objetivo de contextualizar meu objeto empírico e defundamentar minha argumentação, refiro-me aos dois grandesmodelos estético-representacionais do cinema nacional dasegunda metade do século passado: o Cinema Novo e o Cinemada Retomada. Ambos, na sequência histórica, vêm influenciandoa produção de filmes que apresentam os excluídos emarginalizados, como visões da sujeira, da feiura e daagressividade; elementos esses que passaram a marcar nossoimaginário cultural sobre como é o Brasil.

Minhas reflexões encaminham-se para afirmar que o filme deMarcos Jorge desenvolve-se na contramão da “estética da fome”glauberiana, que tem marcado o cinema nacional com suasincisivas propostas de arte revolucionária, desde 1960, e que temmantido seus reflexos, muitas vezes reconfigurados, emproduções cinematográficas mais recentes.

Sabe-se que o Cinema Novo é definido pela idéia da fome nãoapenas como tema, mas, principalmente, como um princípioestruturante básico da forma de fazer filmes – algo extremamenteimportante, tendo em vista o contexto político brasileiro de então.Trata-se daquele modo de dizer que produz sentidos ligados aosubdesenvolvimento, ao tematizar uma fome que se instala nasestratégias discursivas e nas próprias formas de expressão.

O manifesto intitulado Estétyka da Fome, na grafia preferida porseu autor Glauber Rocha; é o texto fundamental para acompreensão do projeto cultural dos cineastas brasileiros daépoca. Ao considerar que a fome está enraizada na própriaincivilização, Glauber afirma que somente os cineastas compropostas semelhantes às suas são capazes de compreenderesta espécie de “estranho surrealismo tropical”, como entendidopelo europeu, ou esta “vergonha nacional”, para o brasileiro quenão come, mas tem vergonha de dizer.

Sabemos nós – que fizemos filmes feios e tristes, estes filmesgritados

e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto –que a fome

não será curada pelos planejamentos de gabinete (...). Assim,somente

uma cultura da fome, mirando suas próprias estruturas, podesuperar-se qualitativamente: e a mais nobre manifestação

culturalda fome é a violência. (ROCHA, 1965. on-line: www. estetica-

dafome-manifesto-de-glauber).

O cineasta explica que a violência de um faminto, mostrada peloCinema Novo, não é primitiva, mas sim revolucionária. Numa das

frases mais incisivas e conhecidas do manifesto, o autor afirmaque “nossa cultura nasce da fome” (op.cit). Assim é que o textode Glauber consegue ir além da denúncia das misérias latino-americanas, pela ênfase dada à arte revolucionária.

O diferencial do filme Estômago é que, de imediato, percebe-seque tanto o caráter documental quanto o de crítica social ostentivasão cuidadosamente evitados, bem como qualquer preocupaçãocom o politicamente correto – o que eu definiria como a paradoxaltematização da arte culinária em tempos de cestas básicas. Énesse sentido que entendo o filme como uma celebração poéticado tema da comensalidade, em tudo o que ele pode trazer debeleza trágica, conseguindo ser clamoroso, sem explicitarqualquer discurso panfletário.

Por outro lado, o filme rompe também com a estética da violênciado chamado Cinema da Retomada, na última década do séculoXX, bem como daqueles rotulados como do Cinema Pós-retomada (a partir de 2001). São produções que atualizam eressignificam representações da miséria e da violência, comnovas estratégias discursivas e cujas narrativas fílmicastornaram-se ainda mais agressivas, como ocorre em Carandiru,Cidade de Deus, Amarelo Manga, Tropa de Elite, O cheiro do ralo,entre outros.

Em que pesem as qualidades desses filmes, considero discutívelconsiderá-los como “herdeiros” do Cinema Novo (1960-70), quese propunha a retratar a realidade brasileira, cheia de miséria einjustiças sociais, sob a influência do neo-realismo europeu,porém com fins ideológicos específicos. Filmes que, muitasvezes, em nome dos apelos comerciais, generalizam, banalizamou espetacularizam fatos violentos em si. São elementos quesuscitam desconforto, em oposição aos filmes ditos comerciais -considerados “pasteurizados” porque ostentam belos cenários epersonagens de classes privilegiadas.

Não se pode tratar do assunto sem lembrar a polêmica causadapelo artigo “Da Estética à Cosmética da Fome”, publicado noJornal do Brasil, julho de 2001, no qual a pesquisadora IvanaBentes retoma o manifesto de Glauber Rocha. A autora entende aretomada dos temas do Cinema Novo (a miséria e a violência),por parte do cinema brasileiro contemporâneo, como uma formade espetacularização. Na filmografia recente, segundo Bentes, adenúncia social e política, bem como a ética e estética, cederiamlugar ao puro entretenimento, com o abuso de formasfolclorizadas, paternalistas, conformistas e piegas.

Nesse contexto, considero que o filme Estômago afirma-seduplamente pela diferença: não só ao desconstruir clichés daviolência urbana, mas também por abster-se das representaçõesfolclóricas ou glamourizadas do Brasil.

A estética e a ética do alimento.

O Filme Estômago: Comida, Diversão e Arte,um artigo de Denise Guimarães (Doutorada em estudos literários pela UFPR) para a revista CONTRACAMPO(Excerto.Versão completa em http://www.uff.br/contracampo/index.php/revista/article/viewFile/16/34)

Marcos Jorge,Realizador

Filmografia Seleccionada

Marcos Jorge

Marcos Jorge formou-se em jornalismo, no Brasil, em 1988.Em 1989-90 estudou cinema em Itália, especializando-se emlinguagem cinematográfica, escrita de guião e direcção deactores. Durante alguns anos trabalhou em Roma comoassistente de realização e montador em filmes de longa-metragem e documentários para televisão. Em 1995 mudou-se para Milão, onde passou a escrever e realizar comoprofissão. Depois de mais de 10 anos a viver no estrageiro,Marcos Jorge regressou ao Brasil em 2001, onde criou comCláudia da Natividade a produtora Zencrane Filmes.Os seus filmes, documentários e vídeos participaram emdezenas de mostras e festivais, no Brasil e no estrangeiro, eganharam mais de 50 prémios. Em 2002 estreou a suaprimeira curta-metragem de ficção, “O Encontro”, querecebeu 23 prémios em festivais brasileiros e teve uma boacarreira internacional. A sua segunda curta-metragem,“Infinitamente Maio”, estreada em 2003, recebeu 17prémios. “O Ateliê de Luzia Arte Rupestre no Brasil”,estreado em 2004, é o seu primeiro documentário de longa-metragem e ganhou o Prémio do Programa “Rumos Cinemae Vídeo” do Instituto Itaú Cultural.Marcos Jorge é também artista-plástico com vídeo-instalações expostas em França, Itália, Holanda e Japão.Expôs nos prestigiados espaços da Triennale de Milão. Foiartista-residente do CICV Centre Internationale de CreationVideo de Montbeliard, em França. Os seus espectáculosmultimédia foram eventos especiais no “Invideo MostraInternazionale di Video D'Arte e Ricerca” em Milão e no“Festival Pontino”, também em Itália.Marcos Jorge realizou dezenas de filmes publicitários, paraempresas brasileiras e internacionais, com os quais ganhoudiversos prémios.No ano de 2007, lançou o seu primeiro livro como fotógrafoo volume “Brasil Rupestre Arte Pré-Histórica Brasileira -, emco-autoria com os arqueólogos André Prous e LoredanaRibeiro.“Estômago” é a sua primeira longa-metragem de ficção, coma qual ganhou o Prémio de Melhor Realizador no FestivalInternacional do Rio de Janeiro, em 2007.

2007 Estômago (ficção, longa-metragem); 2004 O Ateliê deLuzia Arte Rupestre no Brasil (doc., longa-metragem); 2003Infinitamente Maio (ficção, curta-metragem); 2002 OEncontro (ficção, curta-metragem); 2000 O Medo e SeuContrário (exp., media-metragem); 1998 Paisagens (exp.curta-metragem); 1995 Vernichtung Baby (doc., media-metragem); 1994 Reflexões (exp., curta-metragem); 1993Carta a Bertolucci (ficção, curta-metragem).

O roteiro do “ESTÔMAGO” nasceu de um modo interessantee que vale a pena ser contado. Há quatro anos, respondendoa um convite para a estréia de um curta meu em São Paulo, oescritor Lusa Silvestre me mandou três contos inéditos,todos centrados no argumento comida. Um deles mechamou logo a atenção, narrava a história de um homem queaumentava seu prestígio numa prisão cozinhando para seuscompanheiros de cela. Gostei muito do conto e sugeri aoLusa que o adaptássemos. Mas como o conto era curto einsuficiente para embasar um longa, era necessário inventarmais coisas. E assim, juntos, fomos criando toda umahistória para o protagonista “antes” de ir para a cadeia, e oroteiro foi sendo escrito.Logo no início desta fase percebi que se tratava de umahistória universal, compreensível a todo tipo de pessoa, quemistura poder, sexo e culinária de maneira visceral eorgânica. Mergulhei de cabeça na elaboração do roteiro, comenorme dedicação e imenso prazer (foi uma das melhoresfases de minha vida). Por sorte, outros logo tambémreconheceram o valor da história e vencemos o Edital deProdução de Filmes de BO do Ministério da Cultura, o quetornou possível o filme.

Fazer cinema é uma tarefa complexa, que envolve muitosrecursos e pessoas, e comporta muitos desafios. Acho quevale a pena destacar alguns deles.Antes de mais nada, para fazer “ESTÔMAGO” a produtoraCláudia da Natividade conseguiu atuar um famoso acordo de

Entrevista com o Realizador

- Quando foi que você percebeu que “ESTÔMAGO”

acabaria se tornando seu filme de estréia na direção? O

que mais o seduziu na história?

- Da conceituação à produção, quais foram os desafios

que você encontrou para fazer seu primeiro filme como

diretor?

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A receita de umbom roteiro é comoa receita de um bomprato: você pode listaros ingredientes, podeindicar os modosdo preparo, pode atécontar os segredosdo cozinheiro, mas sequem for fazer o pratonão tiver “mão boa paraa cozinha”, o prato nãovai ficar bom.

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co-produção entre o Brasil e a Itália, que existia desde 1974 enunca tinha sido plenamente utilizado. Com muito trabalho epaciência ela decifrou os percursos previstos na lei econseguiu que os órgãos brasileiros e italianos aprovassem aco-produção do filme. É graças a este trabalho que o“ESTÔMAGO” pôde ser finalizado na Europa.Outro grande desafio foi rodar o “ESTÔMAGO” com ummilhão de reais, que é o valor do Prêmio de Produção deFilmes de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura.Filmando em película, como filmamos, em cinco semanas,com uma equipe grande, um filme relativamente complexo ecom muitas necessidades de produção, não o teríamos feitocom esta verba se tivéssemos optado por filmá-lo em SãoPaulo. Movendo nossa produção para Curitiba, no entanto,conseguimos controlar muito melhor os custos e otimizar osrecursos, contando com o apoio do Estado e da Prefeitura,que nos facilitaram o acesso a muitas das locações.Mas talvez o maior desafio superado tenha sido não cair nosclichês que permeiam a história: os presos oprimidos, aprostituta deprimida, o italiano melodramático, a comidapasteurizada etc. Ora, para poder fugir disso, desde ocomeço imaginei os personagens como pessoasmultifacetadas, e os ambientes como ambientes realistas.Assim como a comida mostrada no filme é apetitosa mesmosendo feita em condições higiênicas tremendas, ospersonagens do filme também têm qualidades e defeitosevidentes. E gostamos deles apesar disso, ou justamente porisso.

A receita de um bom roteiro é como a receita de um bomprato: você pode listar os ingredientes, pode indicar osmodos do preparo, pode até contar os segredos docozinheiro, mas se quem for fazer o prato não tiver “mão boapara a cozinha”, o prato não vai ficar bom. Então, não seicontar muito bem a receita do roteiro do “ESTÔMAGO”. Emsua essência, ele foi escrito pelo Lusa Silvestre e por mim,sendo o Lusa o responsável pela maior parte dos diálogos, eeu pela estruturação de grande parte das cenas. A Cláudia daNatividade encontrou a chave para acabar o filme, o que, numfilme como o “ESTÔMAGO”, é muita coisa.A primeira versão do roteiro foi escrita muito rapidamente,em cerca de 30 dias, pois tínhamos uma data final paraparticiparmos do concurso. E nela já estavam presentestodos os elementos fundamentais que acabariam no filme.Mas, depois disso, o roteiro teve muitas revisões, muitasmesmo, mais ou menos umas dez. Nunca deixamos detrabalhar nele. As fases mais significativas foram durante apré-produção, em que recolhemos as sugestões dos

colaboradores mais próximos do filme; durante os ensaios,em que os atores deram muitas idéias, especialmente nosdiálogos; durante a própria filmagem, pois cheguei a escreveruma cena numa noite e filmá-la no dia seguinte; durante amontagem; e até durante a finalização do som, reescrevemosos offs do Nonato. Um trabalhão, mas valeu a pena.

O “ESTÔMAGO” é sim uma co-produção brasileiro-italiana(veja bem, brasileiro-italiana, e não ítalo-brasileira), mas foiescrito, dirigido e realizado por brasileiros. Não preciseipensar o filme em função da co-produção, pois desde o inícioo personagem do Giovanni já era pensado como italiano. Asmuitas ironias que se fazem, no decorrer do filme, ao caráterdos italianos, não estão ali em função da co-produção, massim pelo seu caráter intrinsecamente engraçado. Morei naItália mais de dez anos, e posso dizer conhecer bem ositalianos, mas seria ambição demais da minha parte afirmarque conheço os gostos do público de cinema, portanto nãosei ainda dizer se o filme vai fazer sucesso por lá. Mas, pelasprimeiras reações que venho colecionando pelos festivaisinternacionais em que “ESTÔMAGO” vem sendoapresentado, trata-se de um filme que agrada bastante. Opúblico de Roterdam adorou o filme, elegendo-o segundocolocado, entre 200 longas, em sua preferência. O público deBerlim esgotou os ingressos dias antes da projeção, apesarde serem os ingressos mais caros da Berlinale (49 euros poisincluíam um jantar logo depois), e riu até mesmo nos créditosfinais (não estou exagerando, quem estava lá, viu). E jávendemos o filme para uma série interessante de países, queinclui Argentina, Israel, Espanha, Holanda, Canadá e Grécia,entre outros. Acho que o filme tem, sim, um caráter universal.Mas ele não foi buscado, ele aconteceu naturalmente,acredito que, pela verdade com que é narrada a história.

Linda a metáfora contida nesta pergunta, encontro o“ESTÔMAGO” perfeitamente descrito nela. Realmente, asociedade brasileira pode muito bem ser descrita como ummoedor de gente, especialmente da gente simples, da gentepobre. “ESTÔMAGO” descreve este sistema injusto atravésde dois grandes temas: as relações de trabalho e o sistemacarcerário. Nonato chega na cidade e imediatamente é preso.

- Um dos pontos mais fortes do filme é a precisão com que

a trama é conduzida. Por quantos tratamentos o roteiro

passou até chegar à forma final? Aliás, qual a receita de

um bom roteiro?

- Do seu ponto de vista, que elementos de “ESTÔMAGO”

dizem mais ao público brasileiro e mais ao italiano? Foi

complicado conjugar as exigências dos dois países, ou

você acredita que o filme tem um caráter universal (até

por ser uma fábula, com muitos toques existencialistas)?

- A metáfora da carne, explícita na brutalidade com que os

personagens (em especial o Raimundo e a Íria) são

tratados, nos faz pensar em uma sociedade como um

grande moedor de gente. A gastronomia entra aí como

uma metáfora da humanização de trazer um novo

tempero à vida?

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QNão na cadeia, mas no quartinho dos fundos do boteco doZulmiro. E para ter o privilégio de ficar lá, entre ratos e baratas,deve trabalhar como um escravo. Sem benefícios. Só quandovai trabalhar para o Giovanni ele ganha um pouquinho maisde liberdade. Para Nonato, o talento para a cozinha (que eledescobre na prática, tendo que cozinhar para comer) é suaúnica arma de liberdade, de afirmação, de sobrevivência.Não é à toa que, no filme, no instante em que Nonato começaa cozinhar, aparece a segunda parte dos créditos. Ali, naqueleinstante, sua vida reinicia e, portanto, reinicia também ofilme, que a partir daquele ponto muda de estilo, ou melhor,incorpora um novo estilo, que é mais bonito que o realismocru com que a história vinha sendo contada até ali. E cada vezque a magia culinária de Nonato acontece, o filme muda paraum registro mais doce, a música se suaviza, o mundo deNonato e de seus companheiros fica muito melhor.Um fato muito importante a ser destacado sobre“ESTÔMAGO” é que, apesar de sua aparência fabulosa, setrata de um filme bastante realista, especialmente no que serefere à vida dos protagonistas. A história é completamenteinventada, mas poderia ter acontecido.

Posso dizer que tivemos muita sorte com as locações do“ESTÔMAGO”. Seguindo nossa proposta de realismo narealização do filme, “ESTÔMAGO” foi inteiramente filmadoem locações, sendo que a direção de arte apenas interveio nosentido de enriquecer os ambientes encontrados. O Bar doZulmiro efetivamente existe, encontra-se na região central deCuritiba, apelidada de “cracolândia”. A cozinha dorestaurante Boccaccio é a cozinha de um dos mais antigosrestaurantes da cidade, assim como são verdadeiros a boate,a pensão da Íria etc. Agora, nosso maior golpe de sorte foi opresídio. Inicialmente, pensávamos em construir a cela emestúdio e fazermos num presídio real somente as cenascomplementares do corredor, o que poderia ser viabilizadonuma diária de filmagem. Com este objetivo visitamos osprincipais presídios de Curitiba e concentramos nossaatenção no Presídio do Ahú, prisão mais antiga da cidade,construída há mais de 100 anos. Já negociáramos um modode filmarmos lá com a prisão em funcionamento quandofomos advertidos que, se esperássemos um pouco, oPresídio seria desativado e poderíamos filmar lá dentro otempo que quiséssemos. Assim fizemos. O presídio foidesativado e os presos removidos para outra unidade, fora dacidade. Os prisioneiros foram removidos somente com aroupa do corpo, deixando no presídio “todos” os objetospessoais. Então foi só fazermos, dentro do presídio, uma celacom duas paredes falsas (que removíamos quandonecessário), e utilizarmos, como objetos de cena, objetos

reais deixados pelos presidiários. E para garantir o realismototal, chamamos aos ensaios o nosso consultor decomportamento carcerário, o Luís Mendes, para ajudar-nosem todos os setores.Então, nossa estada na prisão foi de mais de duas semanasde filmagem. E não foram semanas fáceis pois algo, ládentro, deixava sempre claro, para nós todos que estávamostrabalhando, que aquele era um lugar de sofrimento.

O Luis Mendes saiu da cadeia como escritor por exclusivomérito próprio, através de um esforço incrível realizadosolitariamente, e não como resultado da ação do sistema.Infelizmente, pelo que vi e li durante a fase de pesquisa parafazer o filme, o sistema penitenciário brasileiro não recuperaninguém, muito pelo contrário. O sistema é terrivelmenteeficaz em punir, mas não faz aquilo para o qual foi pensado,que é recuperar o indivíduo para a vida em sociedade.

Acredito que houve mesmo muita sintonia na equipe querealizou o “ESTÔMAGO”. E como sugere sua pergunta, existeuma grande semelhança entre cozinhar e fazer cinema.Assim como o cozinheiro, o diretor também misturaelementos heterogêneos, procurando a harmonia comoresultado final de sua atuação.Foi um privilégio ser o chef da cozinha que preparou o“ESTÔMAGO”. Além dos ingredientes, excelentes, devo dizerque a equipe que os preparou foi sensacional. Basta conferira fotografia linda e poderosa do Toca Seabra, a música doGiovanni Venosta, (inspirada nos faroestes italianos dadécada de 60), a montagem milimétrica do Luca Alverdi (queficou trancado três meses num hotel ajustando osfotogramas com paciência de ourives).Já para definir o tipo de prato que é o “ESTÔMAGO” é precisopensar um pouco. Certamente trata-se de um prato forte, degosto marcado, agridoce em alguns momentos, salgado emoutros, e que termina deixando um gosto amargo na boca.

O processo de escolha e formação do elenco do

- Como foi a preparação para filmar no presídio? Que

especificidades você procurava no ambiente carcerário a

ser filmado?

- Você contou com a consultoria do ex-presidiário Luis

Mendes Jr. para elaborar as cenas que se passam na

penitenciária. Apesar do passado trágico, Mendes saiu da

cadeia como escritor e cronista. Você acredita que há

esperanças para o sistema penitenciário brasileiro?

- “ESTÔMAGO” dá a impressão de ter sido o produto de

uma cozinha muito bem orquestrada. Como foi ser o chef

dessa empreitada? E como você definiria o gosto desse

prato que acabou sendo o filme?

- Ao juntar João Miguel, Babu Santana e Paulo Miklos,

“ESTÔMAGO” acaba contando com três das grandes

caras do cinema brasileiro dos anos 2000. Qual a

importância desse elenco? Acha que Fabiula Nascimento

é a próxima a entrar nesse rol de estrelas?

Então, nossa estadana prisão foi de maisde duas semanas defilmagem. E nãoforam semanas fáceispois algo, lá dentro,deixava sempre claro,para nós todos queestávamostrabalhando, queaquele era um lugarde sofrimento.

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“ESTÔMAGO” foi lento e trabalhoso. A seleção de cada atorteve uma história e um percurso diferente.Para a personagem da “Íria”, por exemplo, fizemos testes emSão Paulo, Rio e Curitiba, testando mais de uma centena deatrizes. Demorei em decidir a confiar a uma estreante umpapel tão importante, mas a Fabiula Nascimento terminoupor me convencer, pela presença, pelo talento e pela absolutadedicação ao trabalho e à personagem. Tenho confiança deque se ela souber gerir bem sua carreira, vai se tornar umaestrela.O nome do Babu Santana surgiu cedo, a partir do excelentetrabalho dele no filme “Quase Dois Irmãos”, da Lúcia Murat,mas ele teve que competir, em testes e entrevistas, comatores extraordinários como o Flávio Bauraqui e o LeandroFirmino, só para citar dois exemplos.Para o personagem do “Giovanni” inicialmente pensamosnum ator famoso na Itália, o Diego Abantantuono, mas foificando claro que para que o filme funcionasse no Brasilprecisávamos de um italiano que falasse um excelenteportuguês, e o Carlo Briani, com sua história pessoal emalguns pontos coincidente com a do personagem, tornou-seuma escolha evidente.O próprio João Miguel, protagonista absoluto do filme, foiuma escolha delicada: o Nonato quase foi outro até omomento em que encontrei pessoalmente o João e percebique ele poderia dar ao personagem uma personalidade fortee rica.Já a escolha do Paulo Miklos foi feita muito cedo. Enquantoainda escrevia o roteiro, já comecei a pensar no Paulo para opapel do Etcetera, inclusive como uma pequena homenagemao cinema brasileiro e ao Beto Brant como realizadoremblemático da nova geração de cineastas.

Como você observa, a gastronomia, no mundo real, é umexcelente meio de inserção social. Isso acontece mesmo, e“ESTÔMAGO” parte desse fato para contar a trajetória denosso herói. Aliás, uma questão levantada pelo filme e queacredito não foi ainda completamente compreendida é aquestão do nordestino no sul do país. Raimundo Nonato, noconto do Lusa Silvestre que inspirou o filme, era nordestinoporque são nordestinos muitos dos melhores cozinheiros echefs que trabalham nos restaurantes de São Paulo e Rio.Mas, no filme, a esta razão juntou-se outra: são, sobretudo,nordestinos os homens e mulheres que chegam sem eiranem beira nas metrópoles do sul em busca de emprego e sãoexplorados pelos sulistas. Este olhar crítico do filme em

relação à exploração do migrante pobre é evidente: Nonatoprimeiro é praticamente encarcerado pelo dono de umboteco, onde trabalha em troca de comida e moradia, nãotendo sequer direito a salário; mais tarde, vai trabalhar, combem mais dignidade é verdade, para o dono de umrestaurante italiano, cujo caráter brincalhão não esconde, noentanto, o preconceito que o faz referir-se a Nonato às vezescomo paraíba, às vezes como cearense, muito emboraNonato afirme, várias vezes, não vir nem de um nem de outrodesses estados. E na cela, os outros prisioneiros o tratam damesma maneira, adicionando ainda um outro tratamentopreconceituoso, o de “parmalat”. Estes “preconceitoscruzados” não são o tema do filme, mas estão lá, evidentes,para que se reflita sobre eles. E para que se ria, também, éclaro, já que o riso inteligente é a melhor forma de crítica quese conhece.

Certamente, e trata-se de uma ode à “baixa-gastronomia”, àgastronomia de boteco. Desde o início era essa a minhaintenção: fazer um filme sobre culinária, mas que fossediferente dos outros filmes que abordam o tema. Em geral, osfilmes gastronômicos falam de “alta” gastronomia. Bastalembrar de “Vatel”, “Como Água para Chocolate”,“Simplesmente Martha”, ou, mais do que todos, “A Festa deBabette”. Mesmo “O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e oAmante” aborda o tema a partir de um restaurante fino. Já em“ESTÔMAGO” os pratos que mostramos são pratospopulares, e a preparação deles, precária. Mesmo assim, ofilme deixa o público com fome. Mesmo vendo as condiçõessanitárias terríveis da cozinha do boteco do Zulmiro, oespectador tem vontade de comer o pastel que o Nonato fezali. Era exatamente isso o que eu queria.“ESTÔMAGO” é uma declaração de amor à culinária. Sejanas palavras de Giovanni, seja naquelas de Íria ou de Bujiú, acomida é um amor que satisfaz a todos.

- No Rio, existem muitos garçons que se tornaram donos

de restaurantes. O que te motivou a escrever sobre

Raimundo Nonato ou Alecrim, personagem de João

Miguel -, um homem que encontra na gastronomia um

meio de inserção social?

- Você considera o filme uma ode à gastronomia?

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QJoão Miguel

Fabiula Nascimento,

Entrevista com o ActorJoão MiguelActor (Raimundo Nonato / Alecrim)

Actriz (Íria)

Actor (Bujiú)

Actor (Giovanni)

Natural da Baía, João Miguel é o actor principal de“Estômago”. Pelo desempenho do papel de RaimundoNonato ganhou o Prémio para Melhor Actor do Festival do Rioem 2007, prémio que já tinha ganho em 2005 com o filme“Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes. JoãoMiguel participou ainda em filmes como “Mutum”, de SandraKogut, “Deserto Feliz”, de Paulo Caldas, “O Céu de Suely”, deKarim Aïnouz, “Eu me lembro”, de Edgar Navarro, e “CidadeBaixa”, de Sergio Machado.

Natural de Curitiba, Fabiula Nascimento estreou-se nocinema de longa-metragem com “Estômago”. No teatro,participou em várias peças, destacando-se “Macbeth”,encenada por Moacir Chaves. Fabiula trabalhou também como realizador Marcos Jorge no filme “Corpos Celestes”.

Membro do grupo “Nós do Morro”, Babu Santana ganhou oPrémio Especial do Júri do Festival do Rio de 2007 pelos seusdesempenhos nos filmes “Estômago” e “Maré, nossahistória de amor”, de Lucia Murat. A sua estreia em cinemafoi com “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e KátiaLund, em 2002. Desde então, tem trabalhado em váriosfilmes como “As Alegres Comadres”, de Leila Hipólito,“Quase Dois Irmãos”, de Lucia Murat, “Redentor”, de CláudioTorres, e “Achados e Perdidos”, de José Joffily.

Nascido em Veneza, Itália, e radicado no Brasil, Carlo Brianiestudou cinema e teatro em Itália, tendo estagiado comFederico Fellini e Lina Wertmuller, entre outros. Foi directorartístico da Tele Monte Carlo, em Roma, e produtor executivoda Buena Vista, em Itália. Estreou-se no cinema em 1983 nofilme “A Mulher-Serpente e a Flor”, de J. Marreco. Desdeentão, participou em filmes como “Um Assunto MuitoParticular” e “Oriundi”.

Babu Santana,

Carlo Briani,

- Como foi que você recebeu o convite para interpretar o

Raimundo Nonato? O que achou do personagem?

- O filme se passa em dois ambientes bem marcados: a cadeia e a

cozinha. Como foi a preparação para viver em cada um deles?

- O que é que você trouxe da sua bagagem para o Nonato e o que

você foi acrescentando ao longo do filme?

- Como foi trabalhar com a Fabiula e o Babu, que são atores de

escolas completamente diferentes? E o que essa diversidade no

elenco acrescentou ao filme?

- E as lições de cozinha, continuam a ser bem aproveitadas por

você?

Eu me interessei muito pela coluna vertebral do roteiro e,principalmente, por essa questão fabular, de um personagemimigrante que por necessidade se aprisiona na cidade grande. Amaneira que ele tem de ir ganhando poder é através do seu talento nacozinha, o que acaba virando uma coisa terrível também ele é ocolonizado que acaba absorvendo as normas do patrão de umamaneira quase paternalista e acaba não tendo voz própria. Oumelhor, essa voz vem completamente destrambelhada, o que é umametáfora que diz bastante respeito à nossa cultura.

Para a prisão a gente teve a orientação do Luiz Mendes Jr., umescritor que ficou preso durante muitos anos. Já na parte da cozinha,eu fiz alguns cursos. Estagiei num restaurante italiano e num boteco,que foi o mesmo onde a gente filmou. Foi importante entender comoera a atmosfera de um restaurante, de uma cozinha industrial.

Um dia, no hotel, eu fiz uma historinha na minha cabeça, de quemseria o Nonato antes do filme: um menino do interior, criado com oirmão por sua avó, numa cidade violenta, um fim de mundo onde aspessoas são oprimidas e não têm muita saída. Além disso, ele erarodeado por um universo de facas, de lâminas de corte. Sua mãe nãomorava com ele ela era uma prostituta, mas ele não sabia. Era umamulher de vermelho que chegava de vez em quando, com umperfume muito forte, e que levava alguns presentes para ele. Foi parafazer um link com a Íria acho que nas fábulas e na comédia você temque ir para o arquétipo. O roteiro sugere essa fantasia.

Foi muito legal o processo com os dois aliás, isso foi uma dasrazões para que eu fizesse o filme. Eu tenho muito essa sede deconhecer pessoas, que é algo que o cinema propicia. A Fabiula éexcelente atriz que veio do teatro e que estava descobrindo o cinema.Tinha muito essa coisa de um ajudar o outro. Já o Babu é um cabraque veio do Nós do Morro, um grupo que tem uma marca, umapostura... A gente se deu muito bem, ele é um ator interessantíssimo,um ator de atitude em cena. Porque não basta ser um intérprete, vocêtem que dar muito de si, agir em todos os sentidos.

Não, eu continuo degustando, sempre fui um bom degustador(risos). Prefiro comer, mas acho incrível a arte da cozinha. Eu venhode família italiana e sou baiano, portanto venho com essa cultura dacomida. E na verdade, o fato de eu ter aceitado o roteiro tem a vercom isso um pouco também, de saber que comida é algo muito forteno dia-a-dia da gente.

Eu venho de famíliaitaliana e sou baiano,portanto venho comessa cultura dacomida.E na verdade, o fatode eu ter aceitadoo roteiro tem a vercom isso um poucotambém.

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Entrevista com a ActrizFabiula Nascimento

Entrevista com o ActorBabu Santana

- De cara, como é que pegou essa história de interpretar

uma prostituta gulosa?

- Houve alguma espécie de laboratório para compor a

Íria?

- Você estreou em longas-metragens já com uma

repercussão e tanto. O que foi que as pessoas mais

costumam comentar sobre sua atuação?

- Como foi para você se ver recriada na tela como uma

gordinha sexy e desbocada?

- Aliás, a cena da dança na boate é dos seus momentos de

maior exposição no filme. Como foi que você encarou

esse desafio?

Eu fiquei super interessada quando li o roteiro acheifantástica a personagem, essa troca de sexo por comida queela estabelece com o Raimundo Nonato. Também acheibacana ter que engordar seis quilos para deixá-la bemfelliniana. Era um papel arriscado, e eu fiquei muito feliz emter passado em todos os testes para poder fazê-la.

Na realidade foi um laboratório curto. Eu conheci algumasgarotas de programa que trabalham numa rua perto da minhacasa aqui em Curitiba e marquei um bom almoço com duasdelas. Ao longo da conversa, eu tentei entender porque elasestavam naquela vida. Depois eu fui à boate onde o filmeacabou sendo rodado para ver as meninas dançando. O queeu achei muito interessante era a alegria que elas tinham.Porque a vida delas é muito sofrida, são prostitutas de ruaque trabalham há 15 anos por aqui. Então elas mentiam pramim o tempo inteiro (risos), como se fosse muito bom serprostituta. Por causa disso eu tentei pôr uma alegria na Íria éaquele sorriso, aquela força dela.

Ah, elas costumam chegar e falar: “caramba, que mulher éessa? Você é uma menina!” (risos).

É muito maluco... Eu me desprendi totalmente da vaidade.Adoro as cenas em que aparece a pança, aquela coisa bemhumana.

Eu fiz uma dança, mostrei pro Marcos Jorge e ele achou legal.Na hora de gravar, quando vi que tinha muita figuração genteque eu nunca tinha visto, alguns conhecidos eu tremia dacabeça aos pés. Eu só pensava: agora vou tirar a roupa nafrente de todas essas pessoas! Mas foram duas vezes só naterceira vez eu já estava em casa (risos).

- Bujiú é a típica liderança criminosa que abusa do poder. Quais as

nuanças que você buscou para afastar o personagem da

caricatura?

- Como você avalia o Bujiú frente aos outros personagens que

você interpretou na TV e no cinema. Ele trouxe novidades?

- Como foi conviver, no ambiente carcerário em que foram

rodadas as cenas do filme, com atores de experiências tão

diversas?

- Vocês parecem ter se divertido bastante na cena do banquete.

Comeu-se bem durante as filmagens?

- O que você achou da dupla premiação no Festival do Rio 2007?

Sempre que me chamam para fazer um criminoso, um bandido, eupenso muito nas coisas que eu já vi. É comum se fixarem oestereótipo do cara e esquecerem que por trás dele tem uma pessoa.Assim, na preparação para o Bujiú eu pensei que ele poderia ser umguloso, uma dessas crianças capazes de comer uma bisnaga inteirade uma vez só. Eu comecei a pensar nele como um comedorcompulsivo. O poder dele já era explícito, muito do personagemestava em mim. O que eu procurei em dar ao Bujiú foi um tomhumano, que é essa compulsão, essa característica de não mediresforços para comer.

O Bujiú tem um tom de humor que é muito interessante. Mais aindaquando ele encontra o Raimundo Nonato, o cara que tem apossibilidade de realizar o sonho da vida dele, que é ficar ali na cadeia,comandando tudo e comendo bem (risos). Toda vez que me chamampara fazer um personagem eu não me importo que seja um bandidoquero é que venham mais 200 bandidos (risos)! O que me importa é aimportância dramática dele na história. E o Bujiú tinha uma colocaçãomuito boa no texto, um tom de comédia bem leve.

Foi basicamente um bate-papo de atores o Marcos Jorge soube usarum pouco da experiência de cada um para compor as cenas. O que agente buscou então foi humanizar aquela cela e passar a ver osdetentos como uma comunidade. Quem também ajudou bastantenessa parte do filme foi o Luis Mendes Jr., que deu consultoria sobre avida na cadeia.

(risos) Caramba, por causa daquela cena eu não como carne deporco até hoje! Até a gente acertar tudo, eu tive que repetir umas trêsou quatro vezes. E foi punk... Eu queria dar uma veracidade à cena ecomia mesmo! Só a partir da metade do dia é que eu comecei a fazer otruque de botar a comida na boca e não engolir.

Foi surpresa total. Tinha cinco anos que eu ia ao Festival e, nesseúltimo, as meninas da organização ligaram perguntando se eu iria.Achei engraçado, porque eu sempre estava lá e ninguém tinha sepreocupado com isso (risos)! Fui meio com a pulga atrás da orelha...Mas quando saiu o prêmio de melhor ator para o João Miguel, eurelaxei eu sabia que era para ele. A única esperança que eu tinha eraali nunca tinha visto um prêmio especial ser dado para atores. Pois aíeu estava lá, feliz pelo “ESTÔMAGO”, quando fui chamado ao palco.

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ElencoRaimundo Nonato / Alecrim -

Íria -Bujiú -

Giovanni -Zulmiro -Etecétera -

Duque -Lino -

Valtão -Seqüestro -

Guentaí -Boquenga -

Magrão -Vagnão -

Francesco -

JOÃO MIGUEL

FABIULA NASCIMENTO

BABU SANTANA

CARLO BRIANI

ZECA CENOVICZ

PAULO MIKLOS

JEAN PIERRE NOHER

ALEXANDER SIL

MARCEL SZYMANSKI

HELDER CLAYTON SILVA

TINO VIANA

SIDY CORREA

RODRIGO FERRARINI

MARCO ZENNI

ANDREA FUMAGALL

Ficha TécnicaEmpresas Produtoras:

Realizador:Produtores:

Argumento:Guião:

Produção Executiva:Director de Fotografia:Montagem:Direcção de Arte:Música:Sound Design:Som:Guarda-Roupa:Casting:

Consultor de Prisão:Consultora de Cozinha:

ZENCRANE FILMES

e INDIANA PRODUCTION COMPANY

Marcos Jorge

Cláudia da Natividade,

Fabrizio Donvito e Marco Cohen

Lusa Silvestre e Marcos Jorge

Lusa Silvestre, Marcos Jorge,

Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito

Cláudia da Natividade

Toca Seabra

Luca Alverdi

Jussara Perussolo

Giovanni Venosta

Jean-Christophe Casalini

Maricetta Lombardo

Marisol Grossi

Grazie Lara, Renata Medeiros

e Rose Costa

Luis Mendes Jr.

Geraldine Miraglia

Livremente inspirado no conto “Presos pelo

Estômago”, de Lusa Silvestre

Brasil - 2007 - 112 minutos - 35mm

1:1,85 - Cor - Dolby DigitalI