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Universidade Federal do Paraacute
Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas
Programa de Poacutes - Graduaccedilatildeo em Geografia
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
BELEacuteM
2007
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HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
BELEacuteM
2007
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HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO
IFCH UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia sob orientaccedilatildeo do Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
BELEacuteM
2007
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Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP)
(Biblioteca de Poacutes-Graduaccedilatildeo do IFCHUFPA Beleacutem-PA)
Serra Hugo Rogeacuterio Hage
A concepccedilatildeo de turismo e de sua espacialidade no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Paraacute (PDT-PA) Hugo Rogeacuterio Hage Serra orientador Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior - Beleacutem 2007
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Federal do Paraacute Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Beleacutem 2007
1 Turismo e Estado 2 Turismo - Poliacutetica governamental - Paraacute 3 Turismo - Planejamento - Paraacute I Tiacutetulo
CDD - 22 ed3384791098115
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HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto
de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO IFCH
UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia
DATA DE DEFESA___________2007
CONCEITO______________________
BANCA EXAMINADORA
Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
(Orientador)
Profordf Drordf Janete Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira
(Examinadora interna)
Profordm Drordm Siacutelvio Joseacute de Lima Figueiredo
(Examinador Externo)
iii
21
Incondicionalmente agrave Julieta Serra Agrave sua maneira
acima de todos e abaixo de Deus soube se esforccedilar
para que este se tornasse possiacutevel Nela inspiro-me
para que um dia eu consiga ser no miacutenimo um
cidadatildeo batalhador e justo Matildee com certeza vocecirc
estaacute em todos os meus momentos Obrigado
iv
22
AGRADECIMENTOS
Triste eacute aquele que natildeo sabe agradecer Mais ainda quando acha que em um
trabalho cientiacutefico (seja de qual envergadura for imagine-se ainda uma
dissertaccedilatildeo) seu esforccedilo eacute uacutenico e exclusivamente seu Ledo engano Em um
trabalho como esse as pessoas aparecem e desaparecem mas deixam suas
marcas as quais se tornam eternas pelo menos em funccedilatildeo desse momento
Como este eacute um momento em que o autor de um trabalho cientiacutefico tem sua
liberdade entatildeo ponho-me a relatar loacutegico atraveacutes das palavras (e acima delas de
seus conteuacutedos) as pessoas as marcas que deixaram nesta curta passagem de uma
poacutes-graduaccedilatildeo Aos que me conhecem (e os que natildeo conhecem passam a conhecer
um pouco agora) sabem que o momento de agradecer para mim eacute um momento tatildeo
importante quanto o de fazer um trabalho cientiacutefico Aiacute vatildeo elas pessoas ou natildeo
Em primeiriacutessimo lugar nunca esqueccedilo de agradecer a Deus do meu jeito agrave
minha maneira sem ceticismo e com bastante feacute
Em segundo e em especial agrave minha famiacutelia Julieta e Felipe Serra que
mesmo faltando um souberam me completar no espiacuterito e na mateacuteria nas
decisotildees e no apoio Sem vocecircs meus caros eu natildeo existiria
De um modo especial natildeo posso esquecer dos momentos mais doces que
vivi e ainda vivo ao lado de Keila Lopes de Almeida Sua presenccedila meiga e amiga
me fascinou Sou grato a vocecirc pela compreensatildeo paciecircncia (haja) mas sobretudo
pelo seu amor que sem exageros me confortou e me deu mais forccedila para a
concretizaccedilatildeo desse projeto A vocecirc dizer obrigado natildeo basta
Aqui abro um paraacutegrafo em especial para agradecer a Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Juacutenior meu orientador Nesse caso as palavras de agradecimento se
misturam entre a amizade e a responsabilidade pois tenho muito a agradecer a
vocecirc por sua competecircncia responsabilidade eacutetica e discernimento das coisas que
nos cercam Este momento tambeacutem eacute especial porque vocecirc o permitiu Natildeo tenho
duacutevidas de que a Geografia da Amazocircnia deve muito a vocecirc e eu lhe agradeccedilo por
ter me conduzido a sua maneira a um novo mundo da ciecircncia (ainda que em
poucos momentos) e ter aberto as portas de uma Geografia diferente Obrigado meu
amigo
v
23
Natildeo posso deixar de mencionar a figura de Genylton Rocha que atraveacutes de
sua alegria inigualaacutevel entregou-me sua amizade sincera e duradoura Seus votos
de crenccedila em minha pessoa sua ajuda sua disponibilidade me fizeram abrir os
olhos para as possibilidades Sou grato a vocecirc (e vocecirc sabe disso) por tudo o que
fez enquanto amigo e professor de minha formaccedilatildeo afinal vocecirc faz parte do time
dos professores que marcam Natildeo tenha duacutevida meu caro que se tenho um
pouco de garra para ensinar geografia devo em grande parte a vocecirc Valeu Rocha
Outra pessoa indispensaacutevel nesse momento eacute Goretti Tavares Aliaacutes meus
agradecimentos a vocecirc se estendem desde meu trabalho de conclusatildeo de curso
quando vocecirc depositou confianccedila em mim Se este mestrado existe eacute porque vocecirc
impocircs seu ritmo e perseveranccedila para que isso acontecesse Obrigado entatildeo por
essa oportunidade
Tambeacutem quero deixar registrado aqui meu agradecimento agrave Prof Dra Janete
Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira e ao Prof Dr Silvio Lima Figueiredo por se
disporem fazer parte da banca de avaliaccedilatildeo de minha dissertaccedilatildeo A vocecircs
obrigado
Outras figuras tambeacutem foram importantes nesses 24 meses de mestrado
Uma delas o presente-ausente Marcos Alexandre Pimentel da Silva que natildeo de
modo direto mas fora dos muros da universidade dentro de suas possibilidades me
apoiou quando precisei Espero que nossa amizade dure Obrigado
Ao Maacutercio Douglas por sua presteza em momentos de trabalho em que
precisei de livros e dicas cientiacuteficas Apesar do pouco contato natildeo esqueci de vocecirc
meu amigo Obrigado pela forccedila
Ao jovem Estevatildeo Barbosa que atraveacutes de sua simplicidade e amizade
permitiu que nossa relaccedilatildeo passasse dos cinco anos Uma pessoa como vocecirc eacute
para sempre Um grande abraccedilo
Aqui tambeacutem natildeo deixo de mencionar os colegas de mestrado (dos quais
em sua maioria tornei-me amigo) Com vocecircs as discussotildees que naqueles
momentos travamos foram importantes para a minha formaccedilatildeo Jorge Alex Augusta
Willame Aacutelvaro (o estranho no ninho mas que se mostrou uma pessoa muito
acessiacutevel durante esse periacuteodo quando precisei de seus auxiacutelios) Cleacutedson Luiz
entre outros que possibilitaram um pouco do crescimento deste curso
Natildeo posso esquecer o paulista mais paraense que jaacute conheci Omar Abrahatildeo
Que bom que o espiacuterito de nossa terra lhe fez uma pessoa mais alegre mais festiva
vi
24
Espero que possamos construir outros laccedilos de amizade Para vocecirc tambeacutem quero
deixar meu obrigado
De uma maneira geral quero agradecer aos professores do mestrado em
geografia A partir de suas palavras pude alcanccedilar novos horizontes no meu
conhecimento cientiacutefico A vocecircs obrigado mesmo
Natildeo posso tambeacutem deixar de ser grato agrave Iranilda Moraes pela sua
disponibilidade em confeccionar o mapa de minha dissertaccedilatildeo Obrigado pela ajuda
Aos professores e colegas de profissatildeo que ao perceberem um pouco do
aperreio de ser estudante de poacutes-graduaccedilatildeo e professor de ensino fundamental ao
mesmo tempo ainda assim acreditaram em mim neste periacuteodo E por isso meu
obrigado fica aqui registrado Aiacute vatildeo eles Prof Rosa Prof Luiza Barata Prof
Leidiane Prof Gilson Carlos Prof Vander Prof Joatildeo Prof Samara Prof
Ayholacircndia (obrigado pelo esforccedilo na correccedilatildeo deste trabalho) Prof Odimar Prof
Tony Prof Joatildeo de Barros entre outros Obrigado por tudo
E por falar em ensino fundamental e tambeacutem por uacuteltimo poreacutem natildeo menos
importante essa histoacuteria (melhor dizendo essa geografia) de estudar para um curso
de poacutes-graduaccedilatildeo soacute pocircde ter efeitos concretos em meio agraves aulas dadas no bairro
do Che Guevara (municiacutepio de Marituba - PA) precisamente na escola Nilson Pinto
que apesar do nome pocircde ser o iniacutecio de minha caminhada para este curso Meu
obrigado aos alunos tambeacutem pode ser estendido como a esperanccedila de um dia
melhor Que o (bom) produto de meus estudos possa ter o retorno mais raacutepido a
pessoas como eles que mesmo na adversidade de uma pobreza urbana e tambeacutem
metropolitana sempre que possiacutevel puderam criar expectativas e possibilidades de
uma vida melhor A vocecircs meus pequenos obrigado
vii
vii
25
Haacute os que observam a realidade como ela
eacute e se perguntam por quecirc E haacute os que
imaginam a realidade como ela nunca foi e
se perguntam por que natildeo
BERNARD SHAW
viii
26
RESUMO
A atividade turiacutestica enquanto uma atividade soacutecio-econocircmica e espacial tem a
possibilidade de criar e recriar espaccedilos de acordo com interesses de agentes
envolvidos nesse processo Na esteira desse movimento o Estado entendido
enquanto um agente fomentador do turismo cria mecanismos de controle e
gerenciamento da atividade a fim de potencializaacute-la com o intuito de promover sua
expansatildeo econocircmica pelos espaccedilos Nesse sentido um dos resultados dessa
intervenccedilatildeo espacial se constitui na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas setoriais que
objetivam assim a reestruturaccedilatildeo espacial Tais poliacuteticas refletem o jogo de
interesses entre o Estado agentes de mercado e agentes sociais de uma forma
geral A partir desse contexto de acordo com uma perspectiva metodoloacutegica da
anaacutelise de conteuacutedo este trabalho tem como objetivo analisar as concepccedilotildees e
espacialidades veiculadas no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Estado do
Paraacute
PDT-PA Leva-se em conta ainda que o produto das poliacuteticas puacuteblicas tem
como pretensatildeo a geraccedilatildeo de desenvolvimento o que retoma de uma forma mais
complexa a relaccedilatildeo entre os agentes envolvidos na turistificaccedilatildeo dos espaccedilos
Palavras-chave Plano Planejamento Turismo PDT-PA Paraacute
ix
27
ABSTRACT
The tourist activity while a social- economic and spatial activity has possibility of to
create and (re) create spaces in accord with agents interests involved on this
process On this movement the State intended while a tourist agent fomenter
creates mechanisms of control and management of the activity with the objective to
potent with intuit to promote your economic expansion by the spaces In this way on
of the results of this spatial intervention constitute on formulations of sectarian s
publics policies that objective thus the spatial restructure These politics reflexes the
game of interests between the State market agents and socials agents of the
general way Since of this context in accord with a methodological perspective of
contends analyze this work has the objective to analyze the conceptions and
spatialities putted on Paraacute s State Tourism Development Plan
TDP
PA
Understanding yet that product of policies politics has the pretension the generation
of development that s takes again of a complex form the relation between involved
agents on touristification of spaces
Key words Plan Planing Tourism PDT-PA Paraacute
x
28
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
111
Figura 2 Lodge Pesca esportiva 129
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza) 135
Figura 4 Resort Aventura e Natureza 137
Mapa 1 Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001-2006 97
Quadro 2 Programas e accedilotildees-siacutentese 99
Quadro 3 Quadro Sinoacutetico da Estrutura do Plano de Desenvolvimento do Turismo do estado do Paraacute 101
Quadro 4 Estrateacutegias de ProdutoMercado Poacutelo Beleacutem 120
Quadro 5 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Beleacutem 121
Quadro 6 Estrateacutegias de ProdutoMercado do Poacutelo Costa Atlacircntica 122
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica 123
Quadro 8 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Marajoacute 124
Quadro 9 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo AraguaiaTocantins 125
Quadro 10 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Tapajoacutes 126
Quadro 11 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Xingu 127
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao estado do Paraacute 73
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico 92
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais () 93
Graacutefico 4 Estrateacutegia eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT-PA 98
xi
29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003 2004 69
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados no estado do Paraacute 2002 2003 2004 71
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 73
xii
30
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO ix
ABSTRACT x
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES xi
1 INTRODUCcedilAtildeO 15
2 TURISMO ESPACcedilO E PLANEJAMENTO 26
21 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 27
22 SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMAS DE ACcedilOtildeES A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 37
23 O ESTADO E AS ESTRATEacuteGIAS DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 44
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO PARAacute 54
31 A EXPANSAtildeO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NA AMAZOcircNIA 55
32 O TURISMO NO ESTADO DO PARAacute UM BREVE BALANCcedilO 67
33 A IMPORTAcircNCIA DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NO NOVO PARAacute
77
4 O PDT
PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO 82
41 DIRETRIZES E ESTRUTURAS DO PDT-PA 83
42 A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO NO PDT-PA 102
43 A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA UMA ANAacuteLISE DO CONCEBIDO 112
44 ESPACcedilO TURISMO E DESENVOLVIMENTO DESVELANDO PROPOSTAS E INTENCcedilOtildeES 130
xiii
31
5 CONCLUSOtildeES 139
REFEREcircNCIAS 149
xiv
32
1 INTRODUCcedilAtildeO
16
A praacutetica do turismo pode ser caracterizada como algo recente dentro dos
debates geograacuteficos A partir da deacutecada de 1960 esse fenocircmeno vem despertando
interesse dentro das anaacutelises espaciais e tem conseguido ampliar novas discussotildees
que se tornaram importantes e que de certa forma referem-se principalmente ao
espaccedilo modificado pelas constantes viagens e pelo conhecimento de novos
territoacuterios (MOESCH 2002) De certa forma isso fez com que o turismo ao longo do
tempo modificasse paisagens e estabelecesse contatos interculturais Uma de suas
principais caracteriacutesticas eacute o fato de estar atrelado a uma praacutetica essencialmente
econocircmica sendo comumente denominado de uma induacutestria sem chamineacutes
(NICOLAS 2001)
Na esteira desse movimento a modernidade impotildee ao turismo um ritmo que
estaacute diretamente ligado ao consumo especialmente ao consumo do espaccedilo
(RODRIGUES 1999) Tal momento da modernidade implica em mudanccedilas sociais e
espaciais Eacute nesse ponto que a relaccedilatildeo da geografia com o turismo se faz presente
pois a mesma analisa os fatos sociais intriacutensecos agrave atividade dentro da loacutegica do
capital ou seja aquela que produz espaccedilos voltados para o turismo Com isso
altera-se a noccedilatildeo de que o turismo eacute uma praacutetica exclusivamente econocircmica Para
autores como Cruz (2001) a geografia do turismo refere-se agrave uma dimensatildeo soacutecio-
espacial Essa dimensatildeo pode ser tomada ainda numa escala planetaacuteria onde o
consumo do espaccedilo obedece a uma loacutegica global
Considerando-se a expansatildeo da atividade turiacutestica em acircmbito global a
intervenccedilatildeo espacial do turismo tende a se efetivar no territoacuterio a partir de um estudo
teacutecnico ou seja a partir da constataccedilatildeo de que um determinado lugar tem um
potencial turiacutestico favoraacutevel para o desenvolvimento da atividade Nesse sentido
vaacuterios estudos datildeo-se a partir do planejamento do turismo buscando potencializar
os atrativos locais
As caracteriacutesticas globais estatildeo presentes nas espacialidades do turismo
fenocircmeno este que conjuga valores universais de lazer em formatos padronizados
Vale destacar que as praacuteticas turiacutesticas se valem do consumo do espaccedilo formando
entatildeo o sistema da oferta do produto (o espaccedilo social) e da procura (aqui
caracterizado principalmente pela demanda turiacutestica)
17
A partir do momento em que a loacutegica da produccedilatildeo turiacutestica destaca-se no
espaccedilo sua configuraccedilatildeo social eacute alterada conforme interesses dos agentes
produtores do espaccedilo No momento de ser apropriado pela praacutetica turiacutestica o
espaccedilo se complexifica ainda mais e por ser uma atividade em que o espaccedilo eacute um
recurso o turismo estrutura-se em uma loacutegica de ampliaccedilatildeo de lugares voltados
para a praacutetica do lazer desencadeando o que Knafou (1999) chama de territoacuterios
turiacutesticos Certamente o espaccedilo eacute fundamental agrave atividade turiacutestica e por isso o
espaccedilo do turismo pode ser entendido como uma reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de
produccedilatildeo
Com isso as accedilotildees que resultam na metamorfose do espaccedilo estatildeo
vinculadas agraves concepccedilotildees de espaccedilo estrategicamente pensadas pelos atores
envolvidos Tais concepccedilotildees refletem a ideacuteia de espaccedilo que se pretende construir
para o turismo Muitas dessas ideacuteias estatildeo estritamente vinculadas ao planejamento
feito pelo Estado voltado para a atividade Para Lefebvre (1976) por exemplo o que
mais chama a atenccedilatildeo para a questatildeo do entendimento do que seja espaccedilo satildeo as
reproduccedilotildees das relaccedilotildees de produccedilatildeo processo este que se daacute em todo o mundo
em todas as dimensotildees da vida social no se trata de localizar en el espacio
preexistente una necessidad o una funcioacuten sino al contrario de espacializar una
actividad social vinculada a una praacutetica en su conjunto produciendo un espacio
apropriado (LEFEBVRE 1976 p 9)
No que diz respeito agraves caracteriacutesticas econocircmicas da atividade turiacutestica
muitos paiacuteses dependem em muito de seus circuitos mundiais Sua importacircncia gira
em torno da potencialidade turiacutestica que um lugar pode oferecer o que o torna um
grande aliado para o incremento da economia Torna-se por isso condicionante
fundamental no que se refere ao desenvolvimento de um lugar isto porque a
dinacircmica do capital eacute mediada pelo consumo dos lugares que utiliza atrativos
turiacutesticos de belas paisagens naturais e ou natildeo naturais ou ainda pauta-se na ideacuteia
do exoacutetico do diferente
Dentro dessa loacutegica o fenocircmeno turiacutestico amplia-se nos diversos lugares do
planeta causando muitas vezes uma profunda desarticulaccedilatildeo da estrutura soacutecio-
espacial do lugar o que leva a entender que o turismo pode ser visto como um
desarticulador de culturas locais para servir a uma loacutegica maior do consumo dos
18
lugares ou ainda de fomentar a economia A ideacuteia de desenvolvimento nesse
sentido estaria ligada ao consumo dos atrativos turiacutesticos dos lugares o que geraria
a capacidade do lucro ou divisas para um Estado mesmo que a sensaccedilatildeo de
negatividade ou de desarticulaccedilatildeo de culturashaacutebitos locais aconteccedila nos diferentes
espaccedilos onde o turismo esteja presente
A ideacuteia da transformaccedilatildeo dos lugares a partir do fenocircmeno do turismo
alicerccedila-se na capacidade do mesmo ser uma atividade contraditoacuteria ou ainda
hiacutebrida (BECKER 2002) poreacutem combinada Ao mesmo tempo em que o turismo
destroacutei (desarticula) os lugares ele os constroacutei ou impotildee uma nova dinacircmica
Luchiari (1999) por exemplo percebe que o turismo natildeo pode ser analisado apenas
do ponto de vista negativo ou destruidor Neste sentido tal praacutetica assume uma
postura de complexidade no mundo contemporacircneo por isso impulsiona novas
transformaccedilotildees Segundo a autora
O fenocircmeno contemporacircneo do turismo coloca-se como um vetor contraditoacuterio e emblemaacutetico neste processo acentua a produccedilatildeo dos lugares de consumo e o consumo dos lugares Mas natildeo pode ser tomado apenas do ponto de vista negativo como um desarticulador voraz de antigas formas e funccedilotildees sociais que em um processo linear destroacutei o velho substituindo-o pelo novo (LUCHIARI 1999 p 10)
Por mais que o turismo provoque mudanccedilas constantes e raacutepidas no lugar
existe ao mesmo tempo a possibilidade de novas sociabilidades juntamente com
um processo de revalorizaccedilatildeo de um lugar A articulaccedilatildeo entre o novo e o velho
acarreta uma forma hiacutebrida do espaccedilo socialmente produzido (LUCHIARI 1999)
Novos e antigos agentes espaciais aparecem nessa nova teia de relaccedilotildees tendo
como base a ampliaccedilatildeo do capital mediante a geraccedilatildeo de lucro O espaccedilo jaacute natildeo eacute
mais o mesmo ele eacute impulsionado pelo vetor das grandes viagens e dos negoacutecios o
que faz com que ele tenha uma nova composiccedilatildeo refletindo uma nova dinacircmica
soacutecio-espacial e tambeacutem uma nova funcionalidade
A dinacircmica do turismo estaacute alicerccedilada na necessidade de viajar e de
conhecer novos lugares O homem jaacute traz consigo a necessidade de viajar que estaacute
19
associada a uma liberdade por conhecer coisas diferentes Romero apud Rodrigues
(1999 p 27) afirma que o homem eacute um viajante por natureza uma vez que suas
necessidades e desejos estatildeo fora de si mesmos Segundo esse autor para viajar
deve-se partir do conhecido para o desconhecido Eacute a partir da praacutetica social da
viagem que o homem produz novos territoacuterios O turismo assim seria um fio
condutor dessa constante mobilidade Cruz (2001) ao relacionar turismo e produccedilatildeo
de espaccedilos afirma que o turismo eacute a uacutenica atividade social que consome
elementarmente o espaccedilo (CRUZ 2001 p v) Apesar de tal afirmaccedilatildeo suscitar
duacutevidas quanto agrave exclusividade do turismo em relaccedilatildeo ao espaccedilo isso mostra como
a atividade turiacutestica estaacute diretamente vinculada ao consumo do mesmo
Rodrigues (1999) prefere falar que o turismo define dois tipos de consumos
do espaccedilo De um lado existe o consumo consuptivo que se esgota em si mesmo
e de outro o consumo produtivo que ao contraacuterio do primeiro natildeo se esgota em si
mesmo Com efeito o turista ao realizar viagens pelo mundo afora cria uma
expectativa comparada ao seu desejo de conhecer aquele lugar Nesse sentido
como afirma Urry (1996) o olhar
do turista passa a ser decisivo na sua relaccedilatildeo
com os lugares turiacutesticos Segundo Urry (1996) esse eacute um dos motivos pelo qual a
induacutestria do turismo tem que realmente tornar o espaccedilo um produto a ser bem
consumido o olhar do turista natildeo pode ser deslocado para as paisagens feias
porque essas natildeo alimentam o desejo de retorno ao lugar O autor amplia o debate
sobre o enfoque social de que o turismo faz parte por mais que os serviccedilos
caracterizem uma induacutestria haacute uma interaccedilatildeo social profunda nessa relaccedilatildeo
Segundo o autor
A ecircnfase dada agrave qualidade da interaccedilatildeo social entre os produtores e os consumidores dos serviccedilos turiacutesticos significa que o desenvolvimento dessa induacutestria natildeo se explica simplesmente em termos de determinantes econocircmicos () Torna-se igualmente necessaacuterio examinar uma gama de
mudanccedilas culturais que transformam as expectativas das pessoas em relaccedilatildeo agravequilo que elas querem contemplar () (URRY 1996 p 64)
Isso nos mostra que o turismo eacute fundamentado em uma seacuterie de conflitos
sociais inerentes agrave produccedilatildeo do espaccedilo Tais conflitos apresentam alguns agentes
20
importantes como o proacuteprio turista as empresas de viagens e o Estado Esses
atores entrelaccedilam-se e alteram a composiccedilatildeo do espaccedilo produzido pela dinacircmica do
turismo consubstanciando em uma nova visatildeo de mundo mais complexa e mais
dinacircmica Essa visatildeo do turismo estaacute preocupada com transformaccedilotildees ocorridas
durante o processo de globalizaccedilatildeo como produto do capitalismo mundial Segundo
Carlos (2002) o espaccedilo geograacutefico por conta da incessante busca pelo prazer dos
lugares oferecidos em pacotes turiacutesticos vem sendo cada vez mais objeto
mercadoloacutegico de troca ou seja o espaccedilo torna-se mercadoria fazendo com que o
mesmo se especialize ainda mais a partir das praacuteticas turiacutesticas
O espaccedilo socialmente produzido reuacutene objetos espaciais capazes de dar
conta de estruturas globais decorrentes do fluxo de turistas em toda a parte do
planeta A criaccedilatildeo de resorts parques temaacuteticos entre outros amplia cada vez mais
a importacircncia do turismo ao mesmo tempo em que estabelece uma espeacutecie de
confinamento do espaccedilo reunindo as necessidades baacutesicas para a reproduccedilatildeo do
turismo
Carlos (2002) estabelece uma criacutetica interessante ao fenocircmeno do turismo de
massa praticado em diversas partes do mundo Segundo a autora a induacutestria do
turismo transforma tudo o que toca em artificial o lazer natildeo estabelece mais um
sentido de originalidade dentro de cada cultura tudo eacute artificializado e
estandartizado e as relaccedilotildees sociais dessa forma satildeo relaccedilotildees superficiais em que
o lucro e a vontade por comprar aparecem em detrimento de um contato com as
culturas diferentes Segundo a autora o turismo eacute capaz de produzir espaccedilos onde
haacute a natildeo-identidade com o lugar (CARLOS 2002 p 26)
Na tentativa de utilizar o turismo como uma possiacutevel saiacuteda para o
desenvolvimento dos lugares o Estado lanccedila matildeo de artifiacutecios para que haja a
efetivaccedilatildeo da praacutetica do turismo associada agrave transformaccedilatildeo do territoacuterio Eacute desse
modo que o turismo amplia as condiccedilotildees de transformaccedilatildeo do espaccedilo e o lazer
adquire expressividade entre as poliacuteticas puacuteblicas
Para tanto o planejamento da atividade turiacutestica torna-se um instrumento
capaz de realizar mudanccedilas espaciais que repercutem na estrutura do lugar
modificando a paisagem no sentido de viabilizar seu dinamismo Poreacutem muitas
21
vezes o planejamento pode ser visto a partir de uma oacutetica exclusivamente
econocircmica e com isso o desenvolvimento do turismo acaba por natildeo considerar
aspectos sociais relevantes para o estudo teacutecnico do setor ou ateacute mesmo os
possiacuteveis impactos soacutecio-ambientais causados pela instalaccedilatildeo da aparelhagem
turiacutestica como por exemplo resorts cadeias de hoteacuteis etc Isto porque de uma
forma geral o turismo no atual contexto da globalizaccedilatildeo estaacute muito mais voltado
para a ordenaccedilatildeo dos territoacuterios a partir de uma loacutegica de mercado que permite
muito mais a competiccedilatildeo entre os lugares do que o desenvolvimento social
Ligado agraves poliacuteticas puacuteblicas de governo de um Estado o planejamento
turiacutestico evoca ideacuteias e concepccedilotildees de espaccedilo cultura economia poliacutetica e
sociedade Hall (2001) ao descrever a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas para o
turismo faz uma ressalva de que elas expressam ideacuteias ligadas a um tipo de
governo e suas accedilotildees satildeo decorrentes de uma estrutura loacutegica pensada pelo Estado
numa intervenccedilatildeo espacial
A elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eacute antes de tudo uma atividade poliacutetica e essas satildeo influenciadas por caracteriacutesticas econocircmicas sociais e culturais da sociedade assim como pelas estruturas formais de governo e outros aspectos do sistema poliacutetico A poliacutetica deve portanto ser encarada como uma consequumlecircncia do ambiente poliacutetico dos valores e das ideologias da distribuiccedilatildeo de poder das estruturas institucionais e dos processos de tomada de decisatildeo (HALL 2001 p 26)
Cruz (2001) destaca a importacircncia de haver uma poliacutetica puacuteblica de turismo
que leve em consideraccedilatildeo o desenvolvimento soacutecio-espacial do lugar Para isso o
Estado torna-se o principal agente responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo ou idealizaccedilatildeo das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo colocando metas e diretrizes para que haja uma
melhor efetivaccedilatildeo Segundo a autora quando a esfera puacuteblica natildeo toma a iniciativa
de um planejamento que considere os aspectos soacutecio-espaciais as poliacuteticas ficam a
criteacuterio das intenccedilotildees da iniciativa privada e interesses particulares de outros
agentes do setor (CRUZ 2001)
No Brasil a tomada das poliacuteticas puacuteblicas de turismo tem sido orientada para
o planejamento da atividade no sentido de promover sua expansatildeo e consolidaccedilatildeo
22
no mercado global do setor Como o Estado brasileiro possui grandes complexos
regionais as poliacuteticas de turismo seguem uma tendecircncia de organizaccedilatildeo a partir da
elaboraccedilatildeo de projetos regionais ou ainda dos proacuteprios estados constituindo-se um
rol de planejamentos que se diferenciam regional ou localmente Isto quer dizer que
por mais que exista uma poliacutetica nacional de turismo implementada pelo governo
federal brasileiro as regiotildees promovem projetos de turismo diferentes umas das
outras Poreacutem o que haacute de comum eacute que as poliacuteticas de turismo estatildeo dentro de um
sistema de turismo (BOULLOacuteN 2002) ou seja as estruturas locais estatildeo
destinadas a aumentar o fluxo turiacutestico assim como o bem estar do turista Os
serviccedilos turiacutesticos devem entatildeo satisfazer o prazer e o conforto do turista ao
mesmo tempo em que multiplica as oportunidades de lazer (BOULLOacuteN 2002 p 37)
Eacute nesse sentido que Hall (2001) define poliacuteticas de turismo como decisotildees
poliacuteticas sobre o futuro de um lugar e sobre o ordenamento do espaccedilo Tais
poliacuteticas por exemplo no plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute satildeo antes
de tudo uma forma de pensar o espaccedilo a partir de uma concepccedilatildeo voltada ao
turismo
Para poder incrementar ou fomentar o setor turiacutestico o Estado atraveacutes dos
governos municipais e estaduais lanccedila uma estrateacutegia agrave sociedade que se torna
bandeira slogan ou propaganda de governo a de que o turismo eacute capaz de gerar
desenvolvimento e bem-estar social Nesse sentido o planejamento do espaccedilo
voltado para a atividade turiacutestica entra em cena com o intuito de validar tal
perspectiva e acima de tudo fazer dessa situaccedilatildeo um ponto positivo para ganhar
adesatildeo social O planejamento do turismo leva em consideraccedilatildeo uma seacuterie de
outros fatores que conjugados demandam uma grande articulaccedilatildeo do governo com
outros setores para fazer funcionar tal processo
Dada agrave exposiccedilatildeo das ideacuteias cabe neste trabalho levantar as seguintes
questotildees 1) Qual eacute a concepccedilatildeo de turismo sustentada pelo Governo do Estado e
visualizada no PDT-PA 2) Que estrateacutegias espaciais estatildeo inseridas no plano a fim
de fomentar a atividade turiacutestica no territoacuterio paraense e 3) Qual a importacircncia do
turismo enquanto um fator de desenvolvimento para o territoacuterio paraense segundo
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo voltadas para o Estado
23
A tomada de decisotildees por parte do Estado no que se refere agrave elaboraccedilatildeo de
um plano de turismo como o PDT-PA levanta a ideacuteia de uma conciliaccedilatildeo entre a
produtividade e a funccedilatildeo social (OSMONT 2002) A elaboraccedilatildeo de um plano de
desenvolvimento de turismo traz em seu interior um novo entendimento do espaccedilo
a ser transformado mediante accedilotildees concebidas em tal documento O Estado do
Paraacute se vecirc entatildeo como um novo
palco de accedilotildees que tecircm como objetivo final
transformar seu espaccedilo em um novo roteiro turiacutestico mundial Tal sentido de novo
perpassa por pelo menos duas caracteriacutesticas gerais A primeira diz respeito ao
novo enquanto um mercado turiacutestico diferenciado de outros do tipo sol e praia
caracteriacutesticos por exemplo da regiatildeo Nordeste brasileira Nesse contexto a
perspectiva do plano eacute fazer com que o turista se sinta atraiacutedo pelo o que o Estado
oferece de mais abundante ou seja sua natureza verde ou propriamente falando
de uma parte da Amazocircnia diferente das outras pelo fato de apresentar natildeo
somente caracteriacutesticas naturais mas tambeacutem por mostrar cultura e histoacuteria
peculiares
O outro tipo de novo refere-se diretamente ao desenvolvimento que o
turismo pode gerar no Estado E nesse sentido o esforccedilo para que isso aconteccedila eacute
resultante de obras e articulaccedilotildees que o governo propotildee aos sujeitos que estejam
dispostos a mudar a realidade social do Estado Percebe-se portanto que o turismo
figura como um dos pilares responsaacuteveis para tirar o Estado do atraso econocircmico
em que vive bem como para tornaacute-lo um elemento de legitimidade social perante agrave
populaccedilatildeo residente Esse fasciacutenio que o fenocircmeno do turismo causa requer pensar
antes nas concepccedilotildees e estrateacutegias formuladas pelo governo na construccedilatildeo do
plano
A estrutura do plano em seu objetivo maior traduz de forma sinteacutetica o que
estaacute representado nas accedilotildees dos programas vinculados ao documento Essa
realidade potildee em praacutetica a formulaccedilatildeo de novas estrateacutegias econocircmicas voltadas
para uma espeacutecie de internacionalizaccedilatildeo dos espaccedilos ou ainda no que diz respeito
ao turismo pela atraccedilatildeo ampliada de consumidores (SAacuteNCHEZ 1999 p 3)
Eacute neste sentido que este trabalho tem como objetivo geral analisar a
concepccedilatildeo de turismo presente no Plano de Desenvolvimento de Turismo do estado
do Paraacute assim como suas espacialidades ou seja as estrateacutegias espaciais
24
pensadas pelo estado paraense na tomada de decisotildees sobre o turismo associadas
agrave condiccedilatildeo de desenvolvimento dessa atividade Para tanto estatildeo contemplados
ainda neste trabalho alguns objetivos especiacuteficos importantes como
a) Identificar e analisar a concepccedilatildeo de turismo que estaacute presente no PDT-PA
veiculada pelo Governo de Estado
b) Identificar e analisar as possiacuteveis estrateacutegias espaciais ou seja suas
espacialidades inseridas eou subjacentes no PDT-PA
c) Perceber e analisar a importacircncia do turismo como fator de
desenvolvimento face agraves poliacuteticas voltadas para o setor concebidas pelo governo a
partir do PDT-PA
Para que o percurso dessa pesquisa seja efetivado a metodologia aqui
utilizada estaacute estruturada na anaacutelise sistemaacutetica do documento principal PDT-PA
ou ainda a anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 2003)
Nesse sentido de acordo com Bardin (2003) a anaacutelise de conteuacutedo permite
realizar uma especificidade das mensagens ou a comunicaccedilatildeo das ideacuteias contidas
em um documento uma espeacutecie de anaacutelise categorial das temaacuteticas abordadas
(TRIVINtildeOS 1987 BARDIN 2003)
Seguindo esta metodologia o plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
permite olhares diversos sobre sua temaacutetica principal o turismo Poreacutem aqui este
trabalho tem como diretriz fazer uma anaacutelise do tipo geograacutefica na qual o espaccedilo
paraense natildeo surge como receptaacuteculo das manifestaccedilotildees do turismo mas sim
como condiccedilatildeo e produto das relaccedilotildees sociais
Para tanto a estrutura desta anaacutelise segue em trecircs seccedilotildees importantes A
primeira de cunho teoacuterico faz um balanccedilo das obras que tratam de questotildees
fundamentais como o espaccedilo a partir de Santos (1997 2001 2002 2004)
Planejamento e Poliacuteticas Puacuteblicas (CRUZ 2001) que neste momento apoacuteiam-se
nas accedilotildees do Estado enquanto agente importante para a elaboraccedilatildeo de praacuteticas
envolvendo a dinacircmica de construccedilatildeo de espaccedilos voltados para a atividade turiacutestica
25
Esses elementos teoacutericos satildeo cruciais para a anaacutelise dos fundamentos aqui
aplicados
Na segunda seccedilatildeo do trabalho procura-se mostrar como o turismo tornou-se
peccedila importante nas estrateacutegias do Estado principalmente na tomada do
desenvolvimento Seguindo a metodologia da anaacutelise de conteuacutedo o estudo de
documentos importantes como os Planos de Turismo para a Amazocircnia assim como
dados referentes agrave praacutetica do turismo satildeo necessaacuterios para tecer um comentaacuterio
geral de como o turismo eacute tratado pelo Estado (federal e estadual) ao longo dos
anos Na sequumlecircncia ainda nesta parte do trabalho a anaacutelise do Programa Novo
Paraacute mostra-se pertinente pois este a partir de uma estrateacutegia do Governo do
Estado do Paraacute torna-se um documento que reuacutene as principais diretrizes para a
elaboraccedilatildeo do PDT-PA
Na uacuteltima parte ocorre a anaacutelise e sistematizaccedilatildeo das principais ideacuteias
contidas no Plano de Turismo do Paraacute Sua estrutura concepccedilatildeo espacialidade
estrateacutegia e sua noccedilatildeo de desenvolvimento fundamentam-se como eixo norteador
desta pesquisa Neste momento a tentativa eacute de expor os argumentos apresentados
pelo Estado a partir do plano e relacionaacute-los com os fundamentos cientiacutefico-
geograacuteficos que aqui satildeo privilegiados
Por fim na seccedilatildeo Consideraccedilotildees Finais as perguntas elaboradas no
decorrer desta pesquisa e fruto de debates criados ao longo da construccedilatildeo desse
projeto procuram ser respondidas tentando assim mostrar o aspecto analiacutetico-
geograacutefico presente no Plano
26
2 Turismo Espaccedilo e Planejamento
27
21 O turismo como fator de desenvolvimento consideraccedilotildees iniciais
O turismo vem provocando profundas alteraccedilotildees nas estruturas econocircmicas
sociais e culturais do mundo e isso se torna condiccedilatildeo para um aprofundamento de
seus estudos principalmente aqueles de dimensatildeo espacial Tal fato requer uma
anaacutelise mais aprofundada sobre os conceitos que envolvem o turismo
principalmente agravequeles que estatildeo ligados agrave condiccedilatildeo do desenvolvimento Este por
sua vez tem sido um elemento recorrente nos debates sobre as accedilotildees provenientes
do turismo Por isso mesmo as repercussotildees mundiais dessa atividade tecircm
chamado a atenccedilatildeo natildeo soacute de pessoas ligadas agrave reproduccedilatildeo da atividade mas
tambeacutem de pesquisadores interessados em analisar como a atividade turiacutestica estaacute
relacionada com o fator do desenvolvimento e de certa forma como eles se
espacializam
No ano de 2005 quase 7 milhotildees de turistas estrangeiros visitaram o Brasil
(ABAV 2006) Segundo a ABAV foi o maior nuacutemero de turistas que visitaram o paiacutes
em toda a sua histoacuteria Apesar de ser ainda um nuacutemero muito inferior ao dos paiacuteses
centrais como a Franccedila e os EUA (SILVA 1998) a movimentaccedilatildeo financeira no ano
de 2005 no Brasil gerou um crescimento de 1983 em relaccedilatildeo ao ano de 20041
desencadeando um lucro de US$ 3222 bilhotildees (ABAV 2006)
Segundo Silva (1998) a projeccedilatildeo que a Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo faz
para o ano de 2010 eacute que o turismo deveraacute empregar 250 milhotildees de pessoas (OMT
apud SILVA 1998 p102) e ainda para 2020 que a China seraacute o primeiro paiacutes do
mundo com o maior nuacutemero de estrangeiros (cerca de 196 milhotildees) seguido dos
Estados Unidos (102 milhotildees) Franccedila (93 milhotildees) e Espanha (71 milhotildees) Para a
Ameacuterica do Sul a projeccedilatildeo ainda eacute muito pequena em relaccedilatildeo aos paiacuteses que jaacute
recebem um grande fluxo de turistas estrangeiros Poreacutem mesmo assim as
instituiccedilotildees governamentais procuram estabelecer metas e diretrizes que
incrementam o setor turiacutestico a fim de promover a expansatildeo do mesmo De certo o
que se deve destacar a partir desses dados eacute que existe uma verdadeira difusatildeo
1 Estes nuacutemeros referem-se a uma pesquisa feita pelo Banco Central no iniacutecio de 2006 a pedido da Associaccedilatildeo Brasileira de Agecircncias de Viagens (ABAV)
28
espacial do turismo no mundo inteiro e que oacutergatildeos privados e estatais procuram
meios de divulgaccedilatildeo ao mesmo tempo em que fortalecem ainda mais o fomento da
atividade turiacutestica Essas caracteriacutesticas fazem do fenocircmeno turiacutestico um consumidor
de espaccedilos (CRUZ 2001) e sua reproduccedilatildeo depende dessa condiccedilatildeo
A expansatildeo da atividade turiacutestica fez com que o espaccedilo geograacutefico ampliasse
suas caracteriacutesticas e tambeacutem adquirisse uma nova funcionalidade a dos espaccedilos
voltados para o lazer Essa caracteriacutestica talvez seja a primeira que interessa aos
sujeitos dispostos em conhecer novos lugares Numa tentativa de mudar a rotina do
dia-a-dia os turistas procuram ampliar os conhecimentos de novos lugares e
estabelecem um contato de diferentes culturas entre o seu lugar de origem ou
residecircncia fixa (o lugar de seu trabalho semanal rotineiro) e o desconhecido (o lugar
novo a ser visitado) O lazer dessa forma torna-se componente fundamental para
se entender a dinacircmica espacial do turismo Segundo Martins (2004) o habitante de
uma cidade abre novos e espantosos capiacutetulos no relacionamento com o territoacuterio
(MARTINS 2004 p 16) ao conhecer novos lugares que natildeo pertencem ao seu
cotidiano Camargo relaciona o lazer a uma escolha pessoal do indiviacuteduo dentro de
um tempo precioso onde se pode exercitar com mais criatividade as alternativas de
accedilatildeo ou participaccedilatildeo (CAMARGO 2003 p 11) Nesse caso o indiviacuteduo ao praticar
o turismo tem certa liberdade de escolher os espaccedilos onde pretende exercer suas
atividades voltadas para seu descanso
Levando-se em consideraccedilatildeo que a ciecircncia a tecnologia e a informaccedilatildeo
hoje redefinem novos paradigmas sociais como os da produccedilatildeo industrial do
mercado e dos serviccedilos inclusive os de comportamento pode-se concluir que o
lazer torna-se uma praacutetica importante para o estabelecimento de novos fluxos
econocircmico-sociais fluxos esses que redefinem novas praacuteticas espaciais Segundo
Rodrigues (1999)
O acesso ao conhecimento eacute relevante para a atraccedilatildeo de novos capitais influenciando de maneira decisiva a adoccedilatildeo de novas necessidades alterando-se os haacutebitos de consumo Nesse particular o eterno mito do retorno seraacute reforccedilado pela miacutedia que vem incentivando de forma bastante agressiva a busca da natureza () (RODRIGUES 1999 p 18)
29
Esse novo tipo de lazer mais ligado ao ritmo da modernidade entra num
circuito da troca (CARLOS 2002) em que aacutereas do planeta situam-se no processo
de comercializaccedilatildeo dos lugares A liberdade individual entatildeo passa a ser cooptada
pelo mercado onde o turista participa desse processo de escolha dos lugares de
forma passiva Poreacutem que tipo de lazer eacute esse Segundo Carlos (2002) o lazer da
sociedade moderna muda seu sentido e passa a ser inserido natildeo como uma
atividade espontacircnea mas sim como uma forma de desenvolvimento da sociedade
do consumo
Tal fato significa que o lazer se torna uma necessidade Isto eacute no curso do desenvolvimento da reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais produz-se nova atividade produtiva diferenciada com ocupaccedilotildees especializadas que produz um novo espaccedilo e ou novas formas de uso deste espaccedilo (CARLOS 2002 p 25)
Segundo ainda a mesma autora essas necessidades provocam um
sentimento de estranhamento mas que por outro lado tornam os lugares como
espaccedilos de espetaacuteculo onde o turista pratica um lazer passivo porque eacute mediado
pelos grandes agentes do capital do turismo Aleacutem de serem ordenados pelos
agentes do capital vinculados ao turismo a produccedilatildeo de novos espaccedilos desperta
tambeacutem o interesse de outros agentes que pretendem a partir das praacuteticas
turiacutesticas organizar o espaccedilo de forma sistematizada e racional Sendo assim a
figura do Estado torna-se imprescindiacutevel no que se refere ao planejamento do
espaccedilo turiacutestico Tal planejamento eacute voltado para a formaccedilatildeo de territoacuterios
destinados ao lazer caracterizados por meio de uma referecircncia espacial de cada
lugar Os planejamentos seguem assim uma ordem de produtividade em que
dependem do grande fluxo de visitantes O espaccedilo eacute concebido segundo um
pensamento em que sua funcionalidade aleacutem de ser voltado para o lazer deve
estar em conexatildeo com a geraccedilatildeo de divisas Com isso o turismo passa da esfera do
simples lazer e da busca de novos lugares para ocupar uma importacircncia referente
ao reordenamento espacial Eacute a partir do interesse do Estado em promover o
turismo em um lugar que surgem tambeacutem possibilidades de transformaccedilotildees dos
lugares com o intuito de desencadear um desenvolvimento Percebe-se entatildeo que
30
a loacutegica de reordenamento dos territoacuterios a partir de uma oacutetica do Estado estaacute
associada agrave ideacuteia de desenvolvimento de um determinado lugar Ao turismo cabe
com isso ter um papel fundamental na elaboraccedilatildeo das poliacuteticas de desenvolvimento
A literatura sobre o desenvolvimento do setor turiacutestico tem apresentado
variados temas que situam o ordenamento territorial e o progresso econocircmico-social
como principais fundamentos de seu processo entendendo-se o turismo como um
dos elementos fundadores do lazer moderno da sociedade atual sua repercussatildeo
no espaccedilo geograacutefico requer natildeo soacute uma condiccedilatildeo teacutecnica como tambeacutem situaccedilotildees
em que o desenvolvimento da atividade sirva como um fator de melhoria para a
populaccedilatildeo local inserida no processo de transformaccedilatildeo espacial Destarte o turismo
procura estabelecer diversas estrateacutegias para que seus desdobramentos possam
mitigar seus impactos sociais ambientais e culturais a fim de promover
concatenaccedilatildeo entre a geraccedilatildeo de divisas da atividade e a melhoria da qualidade de
vida da populaccedilatildeo local
Hoje o debate sobre o desenvolvimento e o turismo muitas vezes serve de
justificativa para que muitos governos possam inserir a atividade dentro dos
territoacuterios com o intuito de impulsionar o turismo a todo o custo sempre relacionando
o turismo agrave ideacuteia de progresso social Sendo assim o desenvolvimento torna-se
apenas um artifiacutecio manipulado por autoridades de Estado e tambeacutem pela iniciativa
privada que vecircem o turismo como uma saiacuteda para o atraso social de um lugar
Este quadro de caracteriacutesticas e atributos que satildeo relacionados agrave questatildeo do
desenvolvimento de forma equivocada na sua maioria muito se deve agrave proacutepria
histoacuteria do desenvolvimento conforme se tem analisado na literatura cientiacutefica Isto
quer dizer que a indefiniccedilatildeo do que seja desenvolvimento contribui amplia a
complexidade do termo e gera consequumlecircncias soacutecio-espacias
No que diz respeito agrave esfera do turismo a realidade dessa situaccedilatildeo natildeo seria
diferente posto que as anaacutelises feitas pelos oacutergatildeos planejadores de
desenvolvimento natildeo levam em consideraccedilatildeo uma maior efetividade da populaccedilatildeo
quando o assunto eacute inserir a dinacircmica do turismo em um lugar Com isso o turismo
destaca-se notadamente como uma atividade que gera lucro poreacutem em certos
casos desassociada da qualidade de vida de uma populaccedilatildeo A essa condiccedilatildeo
31
apresenta-se tambeacutem uma disparidade de realidades quando se debate sobre
desenvolvimento Isto porque nos paiacuteses ricos (paiacuteses centrais) a poliacutetica de
desenvolvimento segue uma realidade peculiar e o que se vecirc eacute uma tentativa de
seguir as mesmas diretrizes e estrateacutegias espaciais natildeo levando em consideraccedilatildeo a
realidade de paiacuteses em que variaacuteveis como renda per capta escolaridade sauacutede e
infra-estrutura satildeo muito diacutespares Dessa forma tenta-se ratificar um
desenvolvimento do turismo nos mesmos moldes de paiacuteses como Franccedila Espanha
Estados Unidos Itaacutelia onde a atividade eacute uma praacutetica jaacute consolidada
Rodrigues (2002) ao comentar a relaccedilatildeo entre o turismo e seus efeitos nos
paiacuteses perifeacutericos situa a necessidade de chamar a atenccedilatildeo para pesquisas e
discussotildees sobre a temaacutetica do desenvolvimento Segundo a autora
Os efeitos do turismo demandam urgecircncia e seriedade nas pesquisas particularmente nos paiacuteses de economia perifeacuterica localizados no mundo intertropical com praias paradisiacuteacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimocircnio mundial Natildeo menos importantes satildeo os estudos visando agrave avaliaccedilatildeo da dimensatildeo econocircmica do fenocircmeno tendo em vista sua importacircncia no desenvolvimento com base local ou seja voltado para a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo dos lugares e regiotildees onde novos projetos se encontram em fase de implantaccedilatildeo ou em aacutereas que jaacute sofreram degradaccedilotildees devido ao uso indiscriminado e necessitam de estrateacutegias urgentes para a mitigaccedilatildeo dos impactos (RODRIGUES 2002 p 9)
Essa relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o turismo demanda uma importacircncia
que estaacute assentada na diminuiccedilatildeo de seus possiacuteveis impactos ressaltada nos
documentos que retratam tal temaacutetica Dessa forma o desenvolvimento surge como
uma tentativa de suplantar os impactos causados pelos processos de transformaccedilatildeo
espacial que estatildeo relacionados ao turismo
Durante muitos anos a ideacuteia de desenvolvimento esteve associada agrave ideacuteia de
crescimento Isso fez com que a literatura desenvolvida por especialistas da aacuterea
influenciasse governos ao se defrontarem com a possibilidade de implementar o
desenvolvimento em um determinado paiacutes ou regiatildeo Essa noccedilatildeo de
32
desenvolvimento encontra no turismo um dos vetores desse possiacutevel crescimento
tornando o turismo panaceacuteia para todos os males sociais (ROCHA 2002)
Alguns roacutetulos satildeo criados com a finalidade de ampliar o leque de discussotildees
sobre a eficaacutecia e consistecircncia do desenvolvimento do turismo Atualmente o
Estado investe consideravelmente suas accedilotildees de poliacuteticas de desenvolvimento no
chamado turismo sustentaacutevel numa tentativa de associar harmonicamente a
questatildeo da geraccedilatildeo de lucro com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Rocha (2002)
ainda faz uma criacutetica contundente a respeito desse novo modelo de
desenvolvimento do turismo onde a preservaccedilatildeo do meio ambiente torna-se o
centro das discussotildees envolvendo o significado de desenvolvimento Segundo o
autor o governo brasileiro imprime um discurso ambientaliacutestico por meio do qual a
preocupaccedilatildeo com uma possiacutevel destruiccedilatildeo da natureza estaacute ligada agrave ideacuteia de
sustentabilidade econocircmica e social
O discurso hegemocircnico e tambeacutem do governo brasileiro sobre a importacircncia do desenvolvimento do setor cada vez mais se recheia de expressotildees de caraacuteter ambientaliacutestico numa tentativa de convencer que o incentivo oferecido eacute motivado pela preocupaccedilatildeo ecoloacutegica haja vista ser esta atividade uma alternativa para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel Na praacutetica entretanto eacute impossiacutevel negar a mercantilizaccedilatildeo da natureza e da cultura consideradas as principais mateacuterias-primas para o turismo ecoloacutegico ou ecoturismo (ROCHA 2002 p 163)
Segundo ainda o mesmo autor essas premissas natildeo fogem agraves caracteriacutesticas
do turismo tradicional pois carregam no seu cerne a condiccedilatildeo de crescer para
atingir o desenvolvimento seria entatildeo uma espeacutecie de artificializaccedilatildeo da natureza
Souza (1997) estabelece um importante contraponto a essa noccedilatildeo
equivocada que permeia a noccedilatildeo de desenvolvimento Segundo o autor a literatura
cientiacutefica que trata da questatildeo do desenvolvimento negligenciou o espaccedilo e ou o
reduziu a uma visatildeo economicista (SOUZA 1997) A ideacuteia de melhoria estava
associada a de bem-estar material percebida por exemplo nos trabalhos de Rodan
(1964) Ainda mais que os teoacutericos sobre o desenvolvimento afirmassem que para
haver o desenvolvimento de uma regiatildeo deprimida economicamente sua
33
industrializaccedilatildeo deveria ser forte extraindo os recursos naturais necessaacuterios para
superar a pobreza de um lugar Este uacuteltimo autor argumentava naquela eacutepoca que
uma induacutestria somente alcanccedilaria um tamanho oacutetimo se houvesse uma ampla aacuterea
para seu desenvolvimento para que diminuiacutesse assim as possibilidades de risco
marginal (RODAN 1964 p 252)
Outros autores que seguiram esta mesma linha de pensamento sobre o
significado de desenvolvimento como Baran (1964) estabelecem que para haver
algum tipo de mudanccedila na sociedade que levasse agraves melhorias sociais de uma
naccedilatildeo a classe meacutedia de um paiacutes deprimido2 deveria se posicionar contra as
mazelas produzidas pelo capitalismo crescente Segundo este autor haveria uma
melhor distribuiccedilatildeo da renda se houvesse um consumo da populaccedilatildeo poreacutem o
problema eacute que esse consumo das coisas que geram os fluxos econocircmicos de um
paiacutes eacute praticado por uma pequena elite residente nas aacutereas mais privilegiadas
Nesse sentido os gastos realizados pela elite local estatildeo concentrados em coisas
supeacuterfluas como os artigos de luxo A consequumlecircncia para Baran (1964) eacute que natildeo
se concretiza uma forma de poupar as riquezas da populaccedilatildeo logo o
desenvolvimento do lugar natildeo se estabelece Ainda segundo o mesmo autor o que
de fato provoca a insustentabilidade econocircmica de um lugar eacute a pouca oportunidade
de investimentos do grande capital Percebe-se entatildeo que a oportunidade de
desenvolvimento estaacute intimamente condicionada pelos investimentos empresariais
Toda a infra-estrutura do lugar deveria estar em consonacircncia com a produtividade
de uma empresa Sendo assim
Natildeo resta duacutevida que a ausecircncia de economias externas e a inadequaccedilatildeo do meio econocircmico nos paiacuteses subdesenvolvidos constituem fatores desestimulantes aos investimentos em projetos industriais Natildeo haacute meios de preencher rapidamente essas deficiecircncias Investimentos de grande porte supotildeem a preexistecircncia de investimentos tambeacutem de grande porte Estradas usinas eleacutetricas redes ferroviaacuterias e casas tecircm que ser construiacutedas antes para que o empresaacuterio ache rentaacutevel investir em novas induacutestrias (BARAN 1964 p 91)
2 Vale lembrar que a expressatildeo economia deprimida eacute muito visualizada nos trabalhos de economistas do poacutes-guerra em que estes se referiam aos paiacuteses subdesenvolvidos principalmente os que ainda estabeleciam uma dependecircncia econocircmica muito forte com os paiacuteses centrais Os trabalhos sobre esse tipo de desenvolvimento ganharam destaque principalmente a partir dos anos 1950 na Europa e nos EUA
34
Esse tipo de teoria apesar de se referir a um contexto natildeo muito atual ainda
deixa influecircncias muito fortes no que diz respeito agrave abordagem especiacutefica do
desenvolvimento relacionado com a economia de um lugar Para os paiacuteses
subdesenvolvidos essa realidade suplantaria a necessidade do desenvolvimento
econocircmico de uma sociedade de um paiacutes pobre Ou seja haveria uma mudanccedila na
estrutura social de um paiacutes se houvesse um maior investimento no consumo dos
materiais necessaacuterios para um progresso econocircmico
O paradigma do desenvolvimento econocircmico preencheu vaacuterios debates ao
longo dos uacuteltimos anos referindo-se principalmente agrave forma de consumo de bens
industrializados ou ainda a induacutestria e seus efeitos na economia de um lugar eacute que
desencadeariam um processo de melhoria social Hirschman (1985) por exemplo
analisa a situaccedilatildeo financeira de um paiacutes para alcanccedilar a superaccedilatildeo de problemas
soacutecio-econocircmicos Para o autor o controle fiscal por parte do Estado repercute em
um aumento de divisas para uma naccedilatildeo Assim sendo para que os efeitos fiscais
sejam um mecanismo de desenvolvimento eficaz a habilidade de taxar deve ser
combinada com a habilidade de investir (HIRSCHMAN 1985 p 44) Sem essa
condiccedilatildeo aumenta-se ainda mais o problema da burocracia e o entrave para o
crescimento o alcance do desenvolvimento adviria atraveacutes do que ele chama de
efeitos em cadeia nos quais investimentos realizados em um paiacutes quando bem
estruturados repercutem em processo de desencadeamento da produccedilatildeo Ou seja
fazendo uma associaccedilatildeo com a praacutetica turiacutestica o processo de efeitos em cadeia
do turismo ocasionaria um processo de desenvolvimento em outras atividades que
gerassem o desenvolvimento em um lugar como por exemplo a educaccedilatildeo
saneamento baacutesico e assim por diante Esse processo de repercussatildeo em cadeia
ocorreria tambeacutem juntamente com uma mobilidade espacial onde a novidade ou o
novo produto do processo de desenvolvimento econocircmico aconteceria em um outro
lugar e assim sucessivamente
Esse conjunto de caracteriacutesticas pertinente ao conceito de desenvolvimento
para Souza (1997) revela uma espeacutecie de redistribuiccedilatildeo com crescimento em que
as ideacuteias conservadoras da economia eram o substrato teoacuterico principal Sendo
assim desenvolvimento sempre esteve associado agrave ideacuteia de incremento econocircmico
ou ainda ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agrave renda nacional per
35
capta Tal condiccedilatildeo alcanccedila um aspecto exclusivamente quantitativo em que a
produtividade eacute o motor de seu funcionamento Eacute nesse sentido entatildeo que
Tomar o desenvolvimento econocircmico como sinocircnimo de desenvolvimento tout court eacute com efeito uma impropriedade porque se aquele se refere ao processo em cujo bojo uma sociedade consegue produzir bens em maior quantidade de melhor qualidade e com mais eficiecircncia ele concerne a meios e natildeo a fins (SOUZA 1997 p 14)
Dessa forma o autor coloca em xeque o paradigma do desenvolvimento
questionando suas limitaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas que em consequumlecircncia
estatildeo limitadas tambeacutem nas accedilotildees referentes ao espaccedilo geograacutefico Por outro lado
ele defende a ideacuteia de que o desenvolvimento deve ultrapassar a barreira do
quantitativismo ou seja fazer com que a noccedilatildeo de crescimento seja superada
possibilitando entender o desenvolvimento a partir do espaccedilo socialmente construiacutedo
(SOUZA 1997 2002 2004) onde a populaccedilatildeo local torna-se o sujeito crucial na
construccedilatildeo do que venha a ser desenvolvimento Eacute nesse sentido entatildeo que a ideacuteia
de desenvolvimento eacute intriacutenseca a de que o espaccedilo social eacute condiccedilatildeo para sua
reproduccedilatildeo Sendo assim torna-se possiacutevel o alcance da justiccedila social
independente da escala seja ela local nacional ou ateacute mesmo internacional A ideacuteia
de autonomia desta forma acaba por se tornar o paracircmetro fundamental para a
concepccedilatildeo do que venha a ser o desenvolvimento soacutecio-espacial Segundo o autor
a autonomia eacute vista a partir de um conjunto de significaccedilotildees imaginaacuterias que estatildeo
na raiz histoacuterico-cultural de uma sociedade Sobre esse assunto o autor relata que
A autonomia de um grupo para adotar uma concepccedilatildeo especiacutefica de desenvolvimento ou mais amplamente um modo de vida particular exige a consideraccedilatildeo desse grupo natildeo isoladamente mas no contexto de sua relaccedilatildeo com outros grupos (em qualquer escala do local ao internacional) sempre agrave luz do seguinte desafio por um lado eacute preciso respeitar a alteridade do Outro e a incomensurabilidade de universos culturais distintos () Ou seja a autonomia eacute um princiacutepio que exige a consideraccedilatildeo do plano interno (a igualdade de chances de participaccedilatildeo na tomada de decisotildees relevantes para a vida social) mas igualmente que se leve em conta o plano externo (os interesses legiacutetimos do Outro natildeo importando o quanto ele seja diferente de noacutes mesmos) conforme um princiacutepio de natildeo-intervenccedilatildeo (SOUZA 1997 p 21)
36
Tal situaccedilatildeo natildeo seria diferente quando se remete agrave repercussatildeo espacial do
turismo em um lugar visto que o turismo figura atualmente como uma saiacuteda para
um possiacutevel desenvolvimento Nesse sentido natildeo escapa agrave ideacuteia de participaccedilatildeo da
sociedade local nas tomadas de decisatildeo sobre o destino de um lugar
principalmente se aos olhos da iniciativa privada e do Estado a atividade turiacutestica
parecer algo rentaacutevel O turismo como outra atividade social e econocircmica torna-se
entatildeo objeto de discussatildeo por parte da sociedade envolvida no processo de
turistificaccedilatildeo do lugar Seria o que Rodrigues (2002) chama de contrariar a
racionalidade econocircmica vigente
Em um outro trabalho Souza (2002) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre o
turismo e o desenvolvimento Para que o turismo gere desenvolvimento eacute
necessaacuterio saber quem ganha e quem perde com a atividade turiacutestica Isto
dependeria pelo menos de trecircs grupos a populaccedilatildeo da aacuterea de origem dos turistas
os turistas propriamente e a populaccedilatildeo da aacuterea de destinos dos turistas Vale
ressaltar que esses trecircs grupos natildeo podem ser vistos de forma homogecircnea pois a
diferenccedila interna entre eles ou seja quem ganha e quem perde eacute algo relativo aos
anseios de quem pratica a atividade turiacutestica em um lugar Para estabelecer essa
relaccedilatildeo torna-se fundamental natildeo perder de vista a autonomia e o grau de
complexidade que eacute gerado pelo contraste cultural que o fenocircmeno do turismo pode
causar Souza (2002) estabelece entatildeo que a autonomia eacute importante para gerir os
destinos e disciplinar o turismo (SOUZA 2002 p 20) E o grau de diferenccedila
baseia-se sobretudo na disparidade econocircmico-financeira de um grupo de turistas
e a populaccedilatildeo local (principalmente se essa populaccedilatildeo for pobre) Para o autor
apesar de o turismo gerar impactos soacutecio-ambientais ele pode estabelecer um
aprendizado entre culturas tatildeo diversas ou seja ao inveacutes de se ajustar a uma
realidade o turismo pode ser um fator de um desenvolvimento soacutecio-espacial
contribuindo assim para a melhoria e para o bem-estar da populaccedilatildeo residente e
dos turistas visitantes
37
22 Sistema de Objetos e de Accedilotildees a espacialidade da atividade turiacutestica
De iniacutecio a emergecircncia do turismo enquanto uma atividade de lazer da
modernidade levanta uma seacuterie de questionamentos quando o espaccedilo eacute produto
condiccedilatildeo e meio daquela atividade A relaccedilatildeo entre o turismo e o espaccedilo eacute bastante
marcada por impactos soacutecio-ambientais Menos ou mais complexos esses
fenocircmenos representam a reproduccedilatildeo da atividade Isto quer dizer que sem espaccedilo
natildeo haacute turismo
O espaccedilo do turismo portanto eacute marcado por inuacutemeras relaccedilotildees sociais que
difundem a dinacircmica da atividade mundo afora e por conseguinte estabelece novos
paradigmas de comportamento Assim a sociedade moderna amplia espaccedilos
atraveacutes da praacutetica turiacutestica Por ser uma atividade soacutecio-econocircmica que produz um
fasciacutenio nas pessoas ao conhecerem novos lugares o turismo produz um
sentimento de conquista de novos espaccedilos com a finalidade do lazer Sendo assim
para que exista essa condiccedilatildeo o espaccedilo geograacutefico eacute dotado de atrativos com o
intuito de chamar a atenccedilatildeo de turistas Tais atrativos figuram como um alicerce para
a fixaccedilatildeo temporaacuteria das pessoas ou seja a intenccedilatildeo eacute fazer com que o espaccedilo
seja modificado para atender a uma demanda turiacutestica
Dessa forma deve-se entender como Santos (2002) que o espaccedilo eacute um
conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees Nesse sentido
tratar do espaccedilo do turismo requer essa condiccedilatildeo sem a qual o mesmo natildeo procede
sua dinacircmica Deve-se ressaltar que a dinacircmica espacial que o turismo impotildee eacute
tambeacutem condicionada segundo um contexto histoacuterico segundo ainda sua natureza
histoacuterica onde os agentes transformadores do espaccedilo iratildeo desempenhar um
processo diferencial no que diz respeito agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade Cada
objeto espacial e consequumlentemente suas accedilotildees determinadoras estaratildeo
condicionadas de acordo com um tempo histoacuterico
Santos (2002) ainda ressalta que de fato o que caracteriza o espaccedilo
geograacutefico satildeo os objetos mediados pela teacutecnica empregada por cada accedilatildeo
subsequumlente concebidos para o exerciacutecio de certas finalidades intencionalmente
38
fabricados e intencionalmente localizados (SANTOS 2002 p 166) A atividade
turiacutestica estaacute situada num processo de construccedilatildeo de objetos teacutecnicos que estatildeo de
acordo com determinadas finalidades ou objetivos mediados por assim dizer pela
teacutecnica Tais objetos simulam a ideacuteia de superaccedilatildeo da natureza por possuiacuterem
qualidades superiores agrave da ordem natural Nesse sentido o turismo ao criar
espaccedilos voltados para as praacuteticas do lazer procura ser o mais eficaz possiacutevel para
que o consumo do espaccedilo (CRUZ 2001) seja o vetor de transformaccedilatildeo dos lugares
Na abordagem sobre o significado de espaccedilo Santos (2002) afirma que
O espaccedilo eacute formado por um conjunto indissociaacutevel solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees natildeo considerados isoladamente mas como o quadro uacutenico no qual a histoacuteria se daacute No comeccedilo era a natureza selvagem formada por objetos naturais que ao longo da histoacuteria vatildeo sendo substituiacutedos por objetos fabricados objetos teacutecnicos mecanizados e depois ciberneacuteticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma maacutequina Atraveacutes da presenccedila desses objetos hidroeleacutetricas faacutebricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espaccedilo eacute marcado por esses acreacutescimos que lhe datildeo algum conteuacutedo extremamente teacutecnico (SANTOS 2002 a p 63)
Dessa forma a abordagem sobre o espaccedilo estaacute contida dentro de um grau de
complexidade que envolve natureza e homem Cada vez mais em que se apresenta
o domiacutenio do homem sobre a natureza esta tende a ser artificial sendo entatildeo os
objetos artificializados pelo homem As accedilotildees impostas interagem e datildeo vida agrave
dinacircmica espacial onde os objetos lhe datildeo a forma de como se apresentam na
realidade e por outro lado elas ao longo do tempo condicionam novas formas
novos objetos espaciais
Esse momento de exploraccedilatildeo da natureza eacute muito mais evidente a partir das
grandes transformaccedilotildees que o homem provocou com o advento da modernidade
Isto quer dizer que a rapidez com que os processos sociais foram se modificando ao
longo dos anos fez com que o espaccedilo se tornasse mais complexo do ponto de vista
das relaccedilotildees sociais Ao analisar os sistemas de objetos Santos (2002) relata que
hoje o mundo se torna muito mais de objetos do que de coisas Antes o mundo era
39
das coisas porque estavam no ritmo da natureza Atualmente no chamado meio
teacutecnico-cientiacutefico e informacional (SANTOS 1994) as coisas tendem a ser objetos
pelo fato de haver uma constante desnaturalizaccedilatildeo Sendo assim o valor simboacutelico
dos objetos eacute muito maior do que o valor das coisas
Essa realidade se aplica ao turismo A partir da praacutetica da atividade turiacutestica o
espaccedilo tende a sofrer mudanccedilas bruscas que estatildeo de acordo com uma ordem que
eacute a ordem do capital Os objetos espaciais do turismo por excelecircncia satildeo objetos
de grandes transformaccedilotildees espaciais mediados por accedilotildees de agentes do capital e
tambeacutem pelos turistas O turismo torna-se com isso um importante veiacuteculo de
produccedilatildeo de espaccedilos Esses espaccedilos do turismo natildeo se aplicam apenas no mundo
concreto antes disso estatildeo dentro do imaginaacuterio do turista no momento em que ele
cria uma expectativa de conhecer o outro a sua ligaccedilatildeo produz entatildeo novos
lugares novos espaccedilos possibilitando assim uma maior rapidez no que diz
respeito agrave sua transformaccedilatildeo Tais circunstacircncias satildeo ainda mais visiacuteveis quando
outros agentes do setor turiacutestico reforccedilam a ideacuteia do belo ou ainda do que seja
atrativo Tal produccedilatildeo do espaccedilo imaginaacuterio turiacutestico eacute para Rodrigues (1999)
uma captaccedilatildeo do imaginaacuterio coletivo na tentativa de uma resposta Segundo a
autora a miacutedia eacute responsaacutevel pelo processo de criaccedilatildeo da fantasia do espaccedilo
turiacutestico a ser visitado Criam-se cenaacuterios os mais belos possiacuteveis onde o estiacutemulo
estaacute concentrado nas paisagens fabricadas com o que haacute de melhor Ainda nas
palavras de Santos (2002b) a ordem espacial assim resultante eacute tambeacutem
intencional (SANTOS 2002b p 166) Com isso percebe-se a forma pela qual a
miacutedia introduz novos siacutembolos que entram no jogo dialeacutetico da produccedilatildeo de objetos
espaciais voltados para a expansatildeo da atividade turiacutestica
Reconhecendo o espaccedilo como aspecto central na anaacutelise do turismo a
geografia representa uma importante aacuterea de estudos para esse fenocircmeno visto
que esse tipo de relaccedilatildeo social se faz atraveacutes do consumo dos espaccedilos Rodrigues
(1999) procura estabelecer paracircmetros de anaacutelises teoacutericos e metodoloacutegicos para se
entender como ocorre o processo de constituiccedilatildeo dos elementos que formam o
espaccedilo turiacutestico A autora toma como base Santos (1985) para analisar os
elementos fundadores do espaccedilo turiacutestico Segundo a autora o espaccedilo do turismo eacute
formado por pelo menos cinco elementos
40
a) os homens que se caracterizam na figura dos turistas Estes na verdade
satildeo a proacutepria demanda turiacutestica ou seja homens e mulheres e tambeacutem os agentes
responsaacuteveis por grandes firmas internacionais ou ainda os agentes de viagens
turiacutesticas
Segundo a autora a demanda turiacutestica eacute originaacuteria na sua maioria dos
grandes centros urbanos especialmente as metroacutepoles onde estatildeo concentrados
trabalhadores de classe meacutedia e alta providos de tempo e dinheiro para efetivar seu
deslocamento no espaccedilo rumo ao destino turiacutestico Ao chegarem os visitantes
entram em contato com a populaccedilatildeo residente do nuacutecleo receptor de turismo A
populaccedilatildeo local natildeo eacute um elemento menos importante dentro do espaccedilo turiacutestico
(RODRIGUES 1999 p 66) Esta relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo viajante (os turistas) e a
populaccedilatildeo residente (populaccedilatildeo local) nem sempre se daacute da forma mais harmocircnica
possiacutevel pois o contato intercultural entre os povos provoca algumas rupturas que
em certos casos desencadeiam processos de transformaccedilatildeo cultural
b) O outro elemento estaacute constituiacutedo na figura das firmas que satildeo
responsaacuteveis por toda a produccedilatildeo de bens serviccedilos de um sistema turiacutestico Agrave
atividade turiacutestica esse elemento estaacute diretamente ligado ao serviccedilo de hospedagem
(as cadeias hoteleiras) bem como agraves agecircncias de turismo que de certa forma
tambeacutem constituem cadeias
As firmas caracterizam-se pela promoccedilatildeo da atividade turiacutestica usando o
marketing para promover da melhor forma possiacutevel o produto turiacutestico a ser
comercializado Por esse motivo elas atuam em redes internacionais (redes globais)
especializadas no setor turiacutestico Suas funccedilotildees correspondem sobretudo a uma
ordem geral da empresa ou seja o mesmo serviccedilo que eacute prestado num paiacutes como o
Brasil de certa maneira eacute o mesmo prestado em um paiacutes como a Franccedila por
exemplo Essa situaccedilatildeo torna-se possiacutevel por ocorrer na era da globalizaccedilatildeo na
qual os mercados estatildeo unificados independentes de pertencerem a paiacuteses ricos ou
pobres As accedilotildees das firmas ocorrem de forma uniforme no processo turiacutestico Para
a autora as novas relaccedilotildees que se estabelecem em escala mundial e local podem
desarticular o local do regional e do nacional ignorando-se as fronteiras do Estado-
Naccedilatildeo (RODRIGUES 1999 p 66)
41
c) Outro elemento do espaccedilo turiacutestico satildeo as instituiccedilotildees que correspondem
agraves superestruturas (1999 p 67) Este elemento concentra-se nas accedilotildees ditadas por
oacutergatildeos internacionais ou nacionais de promoccedilatildeo do turismo Oacutergatildeos como a OMT
(Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo) com sede na Espanha OMC (Organizaccedilatildeo
Mundial do Comeacutercio) outras instituiccedilotildees como a EMBRATUR (Empresa Brasileira
de Turismo esta com caraacuteter de instituto) ou ainda o Ministeacuterio do Turismo satildeo
exemplos de atores sociais que ditam regras e ordenam o espaccedilo geograacutefico do
turismo a fim de promover a expansatildeo da atividade Pode-se perceber entatildeo que
as instituiccedilotildees satildeo em certos momentos a proacutepria figura do Estado desmembrado
nos seus oacutergatildeos de planejamento e gestatildeo do espaccedilo turiacutestico Por outro lado as
instituiccedilotildees correspondem a oacutergatildeos supranacionais que atuam em acircmbito
internacional
d) O quarto elemento componente do espaccedilo turiacutestico satildeo as infra-estruturas
ou seja as redes de transporte comunicaccedilotildees saneamento baacutesico coleta de lixo
tratamento de esgoto ou serviccedilo de ajuda aos turistas como as casas de cacircmbio e a
seguranccedila As infra-estruturas satildeo componentes de organizaccedilatildeo do espaccedilo para o
recebimento do turista Este elemento que parece simples eacute bastante complexo
pois seu volume e conteuacutedo devem estar dimensionados de acordo com a demanda
pelo menos com a demanda atual de um nuacutecleo turiacutestico (RODRIGUES1999 p
69) A infra-estrutura aleacutem de ser elemento do espaccedilo turiacutestico torna-se tambeacutem
condiccedilatildeo fundamental para a fixaccedilatildeo do turista no lugar a ser visitado Sem uma boa
infra-estrutura os serviccedilos turiacutesticos ficam comprometidos ocasionando assim uma
queda na demanda de viajantes Deve-se ressaltar tambeacutem que a infra-estrutura
turiacutestica pode estar associada a um espaccedilo voltado exclusivamente para a
atividade desvinculando-se da realidade local aumentando dessa maneira as
disparidades soacutecio-espaciais
e) O uacuteltimo e quinto elemento eacute o meio ecoloacutegico que segundo Santos
(1985) eacute o conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do
trabalho humano (SANTOS apud RODRIGUES 1999 p 69) Refere-se
principalmente ao meio natural onde estatildeo assentados os outros quatro elementos
anteriores Seria outrora o meio ambiente poreacutem cada vez mais modificado pelo
homem Eacute a natureza primeira sendo cada vez mais modificada transformando-se
42
em segunda natureza onde impera o mundo da teacutecnica ou tecnosfera (SANTOS
2002 a) No caso do turismo o meio ecoloacutegico eacute cada vez mais valorizado nos dias
atuais com o chamado turismo sustentaacutevel ou ainda turismo ecoloacutegico A volta agrave
natureza bucoacutelica com poucas interferecircncias do homem torna-se um novo objeto
de consumo do turismo por parte dos viajantes Eacute uma forma de valorizaccedilatildeo das
paisagens mais exuberantes e que provocam uma sensaccedilatildeo de tranquumlilidade numa
tentativa de atenuar os impactos ambientais gerados pelo turismo de massa
A repercussatildeo espacial do turismo estaacute marcada por um conjunto de formas
funccedilotildees processos e estruturas (SANTOS 1985) Dentro de uma totalidade
espacial os elementos formadores do espaccedilo do turismo ocorrem em conjunto
Dessa forma natildeo se pode deixar de afirmar que os objetos espaciais do turismo
carregam em si caracteriacutesticas que estatildeo em comum acordo com um contexto
histoacuterico da atividade
A espacialidade turiacutestica tambeacutem se faz a partir de impactos no meio
ambiente com a construccedilatildeo de grandes objetos espaciais voltados para o lazer A
tentativa de promover a todo custo a expansatildeo da atividade resulta em contrastes
no espaccedilo original que de certa forma natildeo correspondem agrave histoacuteria ou cultura do
lugar Alguns pesquisadores julgam o turismo como um produtor de natildeo-lugares o
que resultaria na confirmaccedilatildeo de que a praacutetica do turismo estaacute a serviccedilo do capital
Carlos (2002) sustenta a ideacuteia da transformaccedilatildeo do espaccedilo pelo turismo como um
sentimento de perda do lugar ou ainda da identidade Poreacutem ressalta que antes
do sentimento de perda do espaccedilo original ter um valor de falta deve-se entender
que esse jogo de relaccedilotildees faz parte do processo de construccedilatildeo do espaccedilo no mundo
moderno Dessa forma como o turismo eacute movido pelas diretrizes do capital o
espaccedilo torna-se uma mercadoria que estaacute agrave venda num processo de troca
produzindo-se assim a natildeo-identidade respeitando muito mais o tempo do dinheiro
do que o tempo da sociedade local Segundo ainda a mesma autora o turismo
transforma tudo o que toca em artificial cria um mundo fictiacutecio e mistificado de lazer ilusoacuterio onde o espaccedilo se transforma em cenaacuterio para o espetaacuteculo para uma multidatildeo amorfa mediante uma criaccedilatildeo de uma seacuterie
de atividades que conduzem a passividade produzindo apenas a ilusatildeo da evasatildeo e desse modo o real eacute metamorfoseado transfigurado para
43
seduzir e fascinar Aqui o sujeito se entrega agraves manipulaccedilotildees desfrutando a proacutepria alienaccedilatildeo e a dos outros (CARLOS 2002 p 26)
De acordo com essa perspectiva o espaccedilo do turismo torna-se um espaccedilo
vazio sem sentido e sem espessura (CARLOS 2002) porque natildeo haacute nele uma
identidade A espacialidade do turismo pode dessa maneira ser a mesma (no
sentido de homogecircneo) em todo o mundo A relaccedilatildeo que se estabelece a partir
desses espaccedilos eacute uma relaccedilatildeo entre a induacutestria e o homem que aqui torna-se um
sujeito passivo diante da criaccedilatildeo de belos cenaacuterios onde as imagens parciais
refletem parcialmente a totalidade do lugar O lugar segundo a autora eacute um produto
das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na dimensatildeo do vivido construindo vaacuterios
significados sociais que satildeo marcados pelo tempo social O tempo do turismo
segundo essa loacutegica eacute um tempo da maacutequina sem vida e condicionado pela forccedila
das movimentaccedilotildees financeiras Como exemplo desses espaccedilos onde o tempo eacute
controlado o lazer da sociedade moderna natildeo eacute de forma espontacircnea os resorts
representam a expressatildeo do que seja um natildeo-lugar Configuram-se como espaccedilos
descontextualizados do entorno original uma vez que suas accedilotildees estatildeo mais no
mundo das representaccedilotildees do que nas materialidades que nos envolvem
(HAESBAERT 2004) constituindo assim uma ordem que estaacute subjacente a um
tipo de turismo global dentro do lugar
Dessa forma as espacialidades do turismo podem ser caracterizadas pelo
ritmo das empresas em que o seu novo espaccedilo eacute o mundo (SANTOS 2002) Tenta-
se com isso construir uma hegemonia de tempos de turismo acelerando cada vez
mais a produccedilatildeo de espaccedilos homogecircneos com o intuito de promover o lazer na
sociedade moderna
44
23 O Estado e as estrateacutegias de planejamento e de desenvolvimento da atividade turiacutestica
O debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas de turismo nos uacuteltimos tempos tem sido
aprofundado frequumlentemente pela crescente demanda da atividade nas mais
diversas partes do planeta A discussatildeo sobre as poliacuteticas puacuteblicas portanto estaacute
intimamente ligada agrave questatildeo do desenvolvimento de um lugar Mais precisamente
o Estado passa a ser o principal agente de discussatildeo e aplicaccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Nesse sentido eacute necessaacuterio estabelecer uma anaacutelise do seu papel nas
tomadas de decisotildees Isto quer dizer que a discussatildeo sobre as accedilotildees do Estado
envolve uma reparticcedilatildeo do territoacuterio que vai da escala nacional agrave escala local Para
tal efeito o debate teacutecnico sobre o planejamento do espaccedilo envolve atores sendo
eles caracterizados pelas funccedilotildees teacutecnicas (agentes de governo) ou ainda a
populaccedilatildeo residente em uma aacuterea a ser atingida
A partir da deacutecada de 1980 com a crescente modificaccedilatildeo da economia
mundial as accedilotildees do Estado tecircm sofrido mudanccedilas com o intuito de atender agraves
transformaccedilotildees recentes do capital internacional A estrutura econocircmica dos paiacuteses
por sua vez eacute modificada a partir de um novo conjunto de poliacuteticas estabelecidas
principalmente no decorrer da crescente onda neoliberal O Estado passa a ceder
mais lugar agrave iniciativa privada no interior das decisotildees que se referem aos setores
de infra-estrutura Observa-se desta forma uma gradativa isenccedilatildeo das
responsabilidades antes de inteira competecircncia do poder puacuteblico O que hoje passa
a ser estruturada com uma maior ampliaccedilatildeo das grandes empresas de uma forma
geral termina por acarretar em ocircnus para a sociedade Produz-se entatildeo um
campo de incertezas nas poliacuteticas puacuteblicas em que vaacuterios interesses dos atores
sociais envolvidos satildeo aflorados
Satildeo estabelecidos novos recortes territoriais que estatildeo situados em um
enfraquecimento do Estado ao mesmo tempo em que a presenccedila da iniciativa
privada se torna mais evidente A adequaccedilatildeo das escalas globais estatildeo mais para
as empresas do que para o desenvolvimento pleno da sociedade O ritmo das
economias segue portanto uma transformaccedilatildeo ditada pela velocidade das grandes
empresas o que faz com que se estabeleccedila uma nova forma de entendimento das
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poliacuteticas puacuteblicas Segundo Cruz (2001) estas devem ser pensadas e conduzidas
pelo governo do contraacuterio ficam vinculadas agraves iniciativas privadas
Para Coelho (2000) essa crescente demanda dos interesses privados sobre
o puacuteblico precisa ser considerada a partir de um quadro poliacutetico-econocircmico no que
diz respeito aos processos soacutecio-culturais e ambientais dessa nova fase do
capitalismo Isto porque o que estaacute em jogo eacute um novo modelo de desenvolvimento
econocircmico a crescente reduccedilatildeo da capacidade do Estado em articular as accedilotildees
puacuteblicas e tambeacutem porque se trata de uma conjuntura de crise econocircmico-poliacutetica
por qual passam os governos A autora defende3 quatro tipos de abordagens sobre
os estudos de poliacuteticas puacuteblicas
A primeira estaria no acircmbito dos atores que podem ser puacuteblicos ou privados
mas que estatildeo referendadas nas suas diversas decisotildees e accedilotildees ou seja accedilotildees
ligadas ao interesses desses sujeitos O intuito portanto seria de entender seus
papeacuteis a partir das poliacuteticas adotadas no que diz respeito ao desenvolvimento
regional e da mitigaccedilatildeo dos problemas ambientais A segunda abordagem diz
respeito agrave investigaccedilatildeo das formas de atuaccedilatildeo conflitantes ou associativas dos
atores puacuteblicos ou privados e de seus esforccedilos em compartilharem entre si a busca
se soluccedilotildees de problemas ambientais (COELHO 2000 p 125) A terceira
abordagem tem como entendimento o exame das negociaccedilotildees do Estado nos
setores onde satildeo executadas as poliacuteticas puacuteblicas ou seja faz-se necessaacuteria uma
investigaccedilatildeo do momento em que se elaboram as poliacuteticas e o confrontamento com
outros tipos de poliacuteticas de outras ordens como por exemplo poliacuteticas industriais
minerais fundiaacuterias entre outras A quarta abordagem estaacute situada dentro da
perspectiva de uma superaccedilatildeo das poliacuteticas tradicionais Postula-se com isso uma
inserccedilatildeo ainda maior de poliacuteticas alternativas que mostrem diretrizes de um outro
tipo de desenvolvimento em que a gestatildeo participativa da sociedade possa ser
valorizada ampliando dessa maneira o debate a respeito das poliacuteticas puacuteblicas e
outros interesses sociais envolvidos Segundo ainda a autora
3 As anaacutelises de Coelho (2000) estatildeo voltadas para a questatildeo mineral do Estado do Paraacute poreacutem em um acircmbito geral tal perspectiva se faz muito vaacutelida para entendermos a atual conjuntura por qual passa o Estado nos uacuteltimos anos ou seja um entendimento geral sobre as noccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas
46
Torna-se necessaacuterio sem duacutevida distinguir a loacutegica que norteia as empresas isto eacute uma loacutegica voltada para a produccedilatildeo do lucro ampliado e a que conduz a atuaccedilatildeo poliacutetica que visa manter o poder e para isso recorre a alianccedilas e a negociaccedilotildees sobretudo quando a legitimidade do Estado acha-se ameaccedilada (COELHO 2000 p 125)
Nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas assumem um caraacuteter multi e
interdisciplinar (COELHO 2000 p 125) o que faz com que os processos soacutecio-
espaciais abarcados nos planejamentos governamentais sejam redefinidos no
acircmbito das esferas municipais estaduais e federais
No setor turiacutestico tal realidade natildeo seria diferente Levando-se em
consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo permanente entre o setor privado e o Estado o turismo teve
um crescimento consideraacutevel nos uacuteltimos dececircnios e isso fez com que novas
territorialidades aflorassem e novas relaccedilotildees entre o Estado a iniciativa privada e a
populaccedilatildeo local fossem redefinidas
Para Cruz (2001) o turismo tornou-se nos uacuteltimos tempos um vetor muito
importante para a economia mundial Nesse sentido vaacuterias satildeo as intervenccedilotildees
espaciais que satildeo resultantes de uma necessidade de adequaccedilatildeo do lugar turiacutestico
agraves novas demandas do mercado Sendo o turismo uma loacutegica econocircmico-social
organizada torna-se importante a estruturaccedilatildeo de um sistema de objetos que
podem ser definidos por serviccedilos como hospedagens alimentaccedilatildeo transportes sob
um conjunto de accedilotildees que incrementam os diversos objetos espaciais voltados para
a praacutetica turiacutestica Esse conjunto de accedilotildees pode ser entendido como as poliacuteticas
puacuteblicas de turismo A partir dessa configuraccedilatildeo o lugar turiacutestico se distingue de
outros lugares mas para que o lugar transformado pelas praacuteticas turiacutesticas situe-
se como uma dimensatildeo espacial diferentes das outras torna-se necessaacuteria a
presenccedila do Estado como indutor das accedilotildees decorridas de poliacuteticas Assim Cruz
(2001) enfatiza
O modo como se daacute a apropriaccedilatildeo de uma determinada parte do espaccedilo geograacutefico pelo turismo depende da poliacutetica puacuteblica de turismo que se leva a cabo no lugar Agrave poliacutetica puacuteblica de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientem o desenvolvimento soacutecio-espacial da atividade tanto no que tange agrave esfera puacuteblica como no que se refere agrave
47
iniciativa privada Na ausecircncia da poliacutetica puacuteblica o turismo se daacute a revelia ou seja ao sabor de iniciativas e interesses particulares (CRUZ 2001 p 9)
Como um exemplo da ineficiecircncia das poliacuteticas puacuteblicas de turismo os resorts
expressam verdadeiros confinamentos espaciais Eles constituem as limitaccedilotildees das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo setoriais Nesses espaccedilos a iniciativa privada impotildee um
ritmo proacuteprio em que as leis do mercado sobressaem em detrimento de normas
gerais exemplificadas nas poliacuteticas de governo o que faz desses objetos uma
manifestaccedilatildeo do mundo no lugar (LUCHIARI 1999)
Percebe-se assim que a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de turismo
deve levar em consideraccedilatildeo o fator da organizaccedilatildeo soacutecio-espacial ditada pelas
novidades que o fenocircmeno do turismo oferece ao mesmo tempo em que deve situar
a importacircncia do lugar ou melhor das relaccedilotildees sociais contidas no lugar as
pessoas propriamente ditas seus sentidos e interesses De fato tal procedimento
torna-se complicado pois o ritmo da modernidade eacute por demais diferente do ritmo
das pessoas configura-se dessa forma uma sensaccedilatildeo de estranhamento ao
novo o que faz das poliacuteticas de turismo uma unidade da desunidade
(BERMAN
2003) Eacute nesse sentido portanto que as poliacuteticas puacuteblicas de turismo muitas vezes
encontram-se dissociadas da realidade local
Uma outra questatildeo que permeia a discussatildeo sobre as poliacuteticas de turismo
estaacute centrada no debate sobre a importacircncia do territoacuterio na construccedilatildeo dessas
poliacuteticas isto porque quando se retrata a relaccedilatildeo entre o territoacuterio e o turismo
necessariamente a abordagem sobre o reordenamento torna-se fundamental dada
a relevacircncia do territoacuterio turistificado Nesse sentido toda accedilatildeo decorrente dos
planejamentos de governo ou precisamente as poliacuteticas de turismo visam
sobretudo o reordenamento do territoacuterio
Santos e Silveira (2001) entendem que o territoacuterio passa a ter valor quando
este eacute usado o que faz com que exista uma necessidade sistemaacutetica de uma
constituiccedilatildeo territorial Para os autores
48
Uma periodizaccedilatildeo eacute necessaacuteria pois os usos satildeo diferentes nos diversos momentos histoacutericos Cada periodizaccedilatildeo se caracteriza por extensotildees diversas de formas de uso marcadas por manifestaccedilotildees particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a princiacutepios gerais como a histoacuteria particular e a histoacuteria global (SANTOS SILVEIRA 2001 p 20)
No que diz respeito ao territoacuterio a teacutecnica atraveacutes da histoacuteria justifica as
intervenccedilotildees e a sua proacutepria constituiccedilatildeo resultando assim em um grande sistema
teacutecnico permeado pela materialidade Para os autores o uso do territoacuterio pode ser
definido por uma seacuterie de elementos que constituem um sistema de engenharia
(SANTOS SILVEIRA 2001 p 21) que soacute satildeo perceptiacuteveis pelo dinamismo da
economia e da sociedade que podem ser desde o simples movimento da populaccedilatildeo
ateacute a criaccedilatildeo de leis e normas para a regulaccedilatildeo da sociedade Com efeito podemos
inserir aiacute poliacuteticas puacuteblicas de turismo
Para Haesbaert (2002) por exemplo o territoacuterio adquire o caraacuteter de
alternativo por ser associado agrave condiccedilatildeo de esperanccedila ou seja um outro territoacuterio eacute
possiacutevel com mais justiccedila e igualdade para os grupos sociais que nele residem
Torna-se alternativo tambeacutem pelo fato de incorporar novas perspectivas teoacutericas
para situar os homens no espaccedilo
Outra importante abordagem sobre o territoacuterio eacute a que Knafou (2001) faz
associando-o ao turismo Segundo o autor eacute a partir do turista que a definiccedilatildeo sobre
territoacuterio pode ser melhor entendida Ele eacute o sujeito que estaacute em constante
movimento tornando-se um constante estrangeiro Com efeito em virtude de sua
mobilidade o turista recoloca a discussatildeo da ideologia do enraizamento da ligaccedilatildeo
privilegiada com o lugar (KNAFOU 2001 p 64) Nesse sentido o territoacuterio do
turismo estaacute em constante movimento produzindo novos lugares e novas relaccedilotildees
do outro com o habitante nativo essa situaccedilatildeo explica portanto a liberdade efetiva
do turista Tal situaccedilatildeo permite com que se faccedila uma anaacutelise das trecircs fontes de
turistificaccedilatildeo dos lugares4
4 O autor natildeo define exatamente o conceito de turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos mas parte de uma relaccedilatildeo que existe entre os fluxos econocircmicos e os turistas Por um outro lado chama a atenccedilatildeo de que a turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos tecircm o propoacutesito de constituir a base de uma abordagem cientiacutefica do turismo (KNAFOU 2001 p 71)
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A primeira fonte para Knafou (2001) reside no fato de que os turistas eacute que
estatildeo na origem do turismo Isso quer dizer que antes de existirem produtos do
turismo satildeo os turistas que produzem os lugares atraveacutes de sua constante
mobilidade ou seja de suas viagens
A segunda fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares estaacute centralizada no mercado E
nesta condiccedilatildeo satildeo os produtos turiacutesticos que estatildeo agrave frente dos turistas natildeo mais
as praacuteticas turiacutesticas em si Poreacutem quando o mercado toma para si a
responsabilidade exclusiva de produzir produtos pode natildeo levar em consideraccedilatildeo a
importacircncia das praacuteticas turiacutesticas como uma condiccedilatildeo de criaccedilatildeo dos produtos O
principal perigo ao qual os operadores do mercado turiacutestico devem fazer face eacute o de
ignorar de subestimar ou de analisar tarde demais a evoluccedilatildeo mesmo das
modificaccedilotildees nas praacuteticas turiacutesticas (KNAFOU 2001 p 70)
A terceira e uacuteltima fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares pertence aos promotores
e planejadores territoriais Para o autor diferentemente das duas primeiras fontes
esta eacute mais ou menos bem territorializada (KNAFOU 2001 p 71) pois estatildeo
intimamente ligadas a um lugar E consequumlentemente essa relaccedilatildeo estaacute ligada ao
desenvolvimento dos lugares Poreacutem o autor reforccedila que o principal perigo com o
qual se defrontam os promotores territoriais eacute o fato de ignorarem o mercado e as
praacuteticas dos turistas ou delas fazerem representaccedilotildees errocircneas (KNAFOU 2001 p
71)
No geral essas trecircs situaccedilotildees satildeo condiccedilotildees para se estabelecer uma
relaccedilatildeo entre o turismo e o territoacuterio
A primeira relaccedilatildeo a que Knafou (2001) faz alusatildeo eacute que podem existir
territoacuterios sem turismo Tal situaccedilatildeo revela os lugares onde o turismo ainda natildeo se
faz presente Poreacutem pode-se afirmar que todo territoacuterio apesar de natildeo ser
completamente envolvido pelas praacuteticas turiacutesticas pode vir a ser Isto porque o
avanccedilo das teacutecnicas do meio teacutecnico-cientiacutefico e informacional a que Santos (2003)
se refere eacute um vetor de raacutepidas transformaccedilotildees dos territoacuterios Como diz o proacuteprio
Knafou (2001)
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Em contrapartida com o progresso dos transportes e com a difusatildeo da ideacuteia segundo a qual todo o espaccedilo mundial eacute entatildeo acessiacutevel haacute cada vez menos territoacuterios sem turistas Tanto mais que efetivamente os turistas podem ir a qualquer parte ou quase Mas sempre em nuacutemero e sob formas que permitem fazer os lugares viver (KNAFOU 2001 p 72)
A segunda relaccedilatildeo fala sobre a possibilidade de existir tambeacutem turismo sem
territoacuterio Nessa situaccedilatildeo natildeo eacute o turista que provoca o consumo dos lugares mas
quem o faz eacute o mercado juntamente com outros agentes participantes desse
processo como o Estado por exemplo Nesse sentido o territoacuterio torna-se produto
mercadoloacutegico na sua essecircncia Knafou (2001) ainda ratifica
Estaacute-se entatildeo em presenccedila de lugares de passagem de territoacuterio de outros onde o turista soacute faz uma incursatildeo ou ateacute uma excursatildeo Frequumlentemente eacute este territoacuterio impropriamente qualificado que se planeja por e pelo turismo (KNAFOU 2001 p 72)
A terceira relaccedilatildeo segundo o autor eacute que podem enfim existir territoacuterios
turiacutesticos Essa relaccedilatildeo portanto marca a produccedilatildeo dos territoacuterios pelos turistas Ou
seja eacute nessa condiccedilatildeo que as diversas relaccedilotildees soacutecio-espaciais satildeo possiacuteveis e
que de fato o fenocircmeno do turismo alcanccedila outras dimensotildees espaciais O autor
ressalta a delicada relaccedilatildeo entre o espaccedilo e o planejamento Segundo ele natildeo se
pode planejar o espaccedilo do turismo em si unicamente pois do contraacuterio estaraacute se
desprezando a sociedade nele contido
A importacircncia do territoacuterio para o turismo eacute sobretudo condiccedilatildeo para o
planejamento e elaboraccedilatildeo de poliacuteticas espaciais voltadas para o setor A poliacutetica de
turismo natildeo se daacute plenamente de forma isolada o que faz com que se ampliem as
discussotildees sobre as intervenccedilotildees espaciais em que outros setores da sociedade se
fazem presentes Eacute importante portanto a articulaccedilatildeo das poliacuteticas de turismo com
outras poliacuteticas setoriais como por exemplo as poliacuteticas urbanas de transporte de
seguranccedila entre outros
51
Fonseca (2005) demonstra que as poliacuteticas puacuteblicas e em especial as de
turismo tiveram maior relevacircncia a partir da reestruturaccedilatildeo do modo capitalista de
produccedilatildeo no iniacutecio dos anos 1970 A crise do sistema provocou entatildeo uma seacuterie de
mudanccedilas na economia poliacutetica mundial e fez com que os Estados se rearticulassem
em seus setores para que pudessem enfrentar as consequumlecircncias das
transformaccedilotildees econocircmicas mundiais A autora destaca que antes de analisar as
poliacuteticas puacuteblicas eacute necessaacuterio se entender como o Estado mudou suas estrateacutegias
ao longo dos anos ou seja entender a que contexto histoacuterico-social o Estado
pertence Segundo a autora
Agrave medida que a organizaccedilatildeo social assume determinadas caracteriacutesticas e emergem novas mudanccedilas o Estado tambeacutem vai assumindo novas funccedilotildees e se amoldando para atender agraves necessidades e agraves demandas do contexto social e econocircmico no qual estaacute inserido Os Estados soacute podem ser entendidos em seus contextos histoacutericos (FONSECA 2005 p 81)
A autora apresenta uma evoluccedilatildeo do quadro das poliacuteticas puacuteblicas de turismo
segundo o contexto histoacuterico em que elas estatildeo inseridas O primeiro momento
refere-se a uma fase artesatilde onde o periacuteodo fordista se manifestava nas praacuteticas
turiacutesticas mundiais atraveacutes de um incremento quantitativo do turismo Isso era muito
perceptiacutevel atraveacutes de programas ofensivos de conquista de mercados
internacionais (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) O intuito das poliacuteticas
puacuteblicas de turismo portanto era o de fazer crescer a economia dos paiacuteses
receptores com medidas de geraccedilatildeo de renda equiliacutebrio financeiro e de
arrecadaccedilatildeo entre outros
O segundo momento corresponde ao periacuteodo que marca a crise de
acumulaccedilatildeo periacuteodo este que se estende dos anos 1970 ateacute o iniacutecio dos anos 1980
(FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) Devido agraves profundas consequumlecircncias da
crise do regime de acumulaccedilatildeo o turismo passa a ter um papel importante dentro da
economia dos paiacuteses Eacute nesse momento tambeacutem que a atividade turiacutestica passa a
ser relevante no que diz respeito aos seus impactos sociais por conta de seu
crescimento raacutepido os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas de turismo satildeo redefinidos a
fim de que este possa contribuir para o bem-estar da populaccedilatildeo residente
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Por fim o terceiro momento surge a partir de meados dos anos de 1980
Nesse periacuteodo a economia mundial eacute fortemente influenciada pelo regime neoliberal
o que faz com que a atividade turiacutestica desponte como um dos segmentos basilares
do desenvolvimento econocircmico Os elaboradores das poliacuteticas de turismo
(influenciados pela onda neoliberal) vecircem o turismo como um segmento estrateacutegico
para a competitividade no mercado O turismo portanto assume uma caracteriacutestica
empresarial o que com efeito influencia as novas poliacuteticas de turismo elaboradas
pelos governos (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005 p 88)
Nesse sentido a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas de turismo eacute antes de tudo um
modo peculiar de intervenccedilatildeo espacial em que se combinam o jogo complexo de
normas governamentais e sociedade tornando a relaccedilatildeo soacutecio-espacial mais
complexa O acuacutemulo de novas informaccedilotildees e teacutecnicas faz com que o territoacuterio
delimitado pelas poliacuteticas puacuteblicas de turismo seja um condicionante para as
estrateacutegias espaciais pensadas pelo Estado e pela iniciativa privada Nessa relaccedilatildeo
o resultado das accedilotildees tambeacutem pode se dar de forma desigual na medida em que
uma minoria possa prevalecer em detrimento da maioria isso significa entatildeo a
dissonacircncia que existe na concepccedilatildeo do espaccedilo pensado pelas poliacuteticas puacuteblicas e
o espaccedilo a ser modificado
O agrupamento das decisotildees sobre as poliacuteticas de turismo a serem
estabelecidas assim como suas repercussotildees espaciais encontram campo feacutertil na
Amazocircnia em destaque o Paraacute As estrateacutegias espaciais oriundas de pensamentos
concebidas pelo Estado estabelecem um estreitamento com as praacuteticas de
desenvolvimento No que se refere ao turismo essas estrateacutegias apresentam uma
configuraccedilatildeo que tem na expansatildeo da atividade o seu principal foco Para que a
Amazocircnia situe-se como um espaccedilo planejado e dotado de uma logiacutestica que
propicie a atividade a construccedilatildeo de planos de desenvolvimento torna-se uma
saiacuteda E esta realidade estaacute presente em documentos como os Planos de Turismo
da Amazocircnia I e II respectivamente elaborados em 1977 e 1992 No Paraacute o PDT-
PA constitui-se o primeiro documento estadual que reuacutene as diretrizes necessaacuterias
para o fomento ao turismo
O que se percebe portanto eacute que a elaboraccedilatildeo de planos de
desenvolvimento de turismo em uma regiatildeo como a Amazocircnia constitui-se
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sobretudo como verdadeiros reflexos das concepccedilotildees de Estado na forma mais
concreta de suas accedilotildees e intervenccedilotildees no espaccedilo
54
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PARAacute
55
31 A expansatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia
A combinaccedilatildeo entre o turismo e regiatildeo amazocircnica natildeo eacute algo novo no que se
refere agraves poliacuteticas puacuteblicas Devido a sua diversidade de recursos naturais a
Amazocircnia tornou-se um locus para investimentos de governos sempre interessados
em uma prosperidade principalmente econocircmica A condiccedilatildeo para que isso
ocorresse baseava-se em pelo menos dois fatores O primeiro era o de povoar uma
regiatildeo que estava (ainda estaacute) abaixo das estatiacutesticas oficiais de governo A
populaccedilatildeo da Amazocircnia entatildeo estaria sujeita agrave poliacuteticas de incentivo maciccedilo de
migraccedilotildees de pessoas de outras regiotildees para que pudessem estimular o
crescimento populacional e o povoamento A segunda estaria vinculada a uma
aproximaccedilatildeo econocircmico-industrial que estivesse no ritmo das economias das
regiotildees Sul e Sudeste Sendo assim esse cenaacuterio seria o tipo ideal para que a
regiatildeo pudesse sair de seu atraso econocircmico
Tal situaccedilatildeo configura-se como ponto de partida para que a atividade turiacutestica
venha a ser um dos elementos importantes nas poliacuteticas de desenvolvimento do
paiacutes O turismo encara dessa forma uma postura de estimulador de um caminho
mais curto e eficaz para um possiacutevel desenvolvimento da regiatildeo No que diz respeito
a isso Cruz (2003) ressalta
De celeiro do mundo a berccedilo do extrativismo a Amazocircnia Legal tem seu destino mais uma vez traccedilado em funccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais Mas as decisotildees sobre as formas de exploraccedilatildeo do territoacuterio amazocircnico satildeo poliacuteticas e tecircm muito mais a ver com a divisatildeo internacional do trabalho e com o mercado internacional do turismo do que com sua geologia geomorfologia fauna e flora (CRUZ 2003 p 98)
Para o turismo a Amazocircnia constitui-se um dos espaccedilos mais proacutesperos a
serem explorados por agentes envolvidos na sua dinacircmica internacional Para isso
a regiatildeo recebe um novo sistema de objetos e de accedilotildees modificados em funccedilatildeo de
sua realidade e sua especificidade natural Trata-se portanto de re-inserir a
56
Amazocircnia na rota mundial de turismo destacando-a como um dos cenaacuterios mais
exuberantes no que diz respeito ao seu potencial paisagiacutestico e natural
No tocante a essa situaccedilatildeo a reinvenccedilatildeo da Amazocircnia para o turismo (CRUZ
2003) parte de um princiacutepio maior que eacute seu desenvolvimento Com isso a regiatildeo a
partir da loacutegica de expansatildeo da atividade comeccedila a ser pensada por oacutergatildeos do
governo que promovem accedilotildees voltadas para o incremento de uma infra-estrutura
peculiar na regiatildeo5 assim como estabelece novas diretrizes de mercado que
contemplam a exploraccedilatildeo racionalizada do turismo
Para tanto os agentes envolvidos no processo de turistificaccedilatildeo da regiatildeo
amazocircnica aproveitam caracteriacutesticas tipicamente regionais como a hospitalidade
do povo amazocircnida para transformar em atrativo turiacutestico Nesse sentido Cruz
(2003) ao abordar a ideacuteia de hospitalidade turiacutestica argumenta que seu sentido estaacute
sobretudo ligado a um sistema de objetos e de accedilotildees do fazer turiacutestico A ideacuteia do
receber bem o turista no que se refere ao carisma alegria e educaccedilatildeo por parte
daqueles que estatildeo ligados agrave atividade turiacutestica na regiatildeo circunscreve-se em uma
realidade onde uma infra-estrutura eacute necessaacuteria
A criaccedilatildeo de uma hospitalidade turiacutestica em territoacuterios amazocircnicos envolve de um lado a criaccedilatildeo de uma materialidade necessaacuteria ao fazer turiacutestico como a implementaccedilatildeo de estruturas relacionadas agrave acessibilidade agrave hospedagem e ao lazer dos visitantes De outro lado envolve tambeacutem aspectos intangiacuteveis e igualmente fundamentais para a ocorrecircncia de um turismo organizado como a capacitaccedilatildeo profissional e promoccedilatildeo turiacutestica Destarte instala-se para e pelo turismo na regiatildeo um novo sistema de objetos e de accedilotildees que recriam o espaccedilo amazocircnico agora orientado pela loacutegica de um uso turiacutestico (CRUZ 2003 p 94)
Tal hospitalidade envolve accedilotildees antes planejadas por pessoas envolvidas no
processo de atraccedilatildeo do turista para a regiatildeo Amazocircnica algo que natildeo depende
exclusivamente dos residentes mas sim de um planejamento voltado para a infra-
estrutura e o preparo das pessoas (CRUZ 2003) A partir desses propoacutesitos eacute que a
Amazocircnia entra no ritmo ou circuito da atividade turiacutestica ou seja a estrateacutegia de
5 Apesar do fluxo de turistas na regiatildeo ser ainda pequeno a infra-estrutura necessaacuteria para atender tal demanda estaacute baseada principalmente na construccedilatildeo e reforma de estradas no aumento e promoccedilatildeo de passagens aeacutereas e na construccedilatildeo de lodges e hoteacuteis de redes nacionais e internacionais que se apropriam da temaacutetica regional (floresta natural) para construiacuterem objetos espaciais bem caracteriacutesticos como eacute o caso dos hoteacuteis de florestas no estado do Amazonas
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inserccedilatildeo e expansatildeo do turismo na regiatildeo agrega requisitos de ordem global e
padronizada
Levando em consideraccedilatildeo a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas do turismo a
partir da deacutecada de 1970 o governo federal realizou uma seacuterie de medidas voltadas
para a expansatildeo da atividade na Amazocircnia entre elas especificamente estavam os
planos de desenvolvimento da regiatildeo ou PDAS (e tambeacutem os planos de turismo da
Amazocircnia I e II) Nestes planos estavam esboccediladas de uma forma bem ampla as
estrateacutegias espaciais e acima de tudo a concepccedilatildeo de desenvolvimento a qual a
regiatildeo amazocircnica estava subordinada
Tais planos congregavam ideais de transformaccedilatildeo ampla e situavam as accedilotildees
destinadas a retirar a Amazocircnia de seu atraso econocircmico e social No tocante ao
turismo jaacute no segundo Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia6 a atividade era
encarada como um processo em expansatildeo e por isso mesmo natildeo mereceria ficar
em segundo plano As prioridades destacadas referiam-se principalmente em
setorizar a atividade turiacutestica onde as cidades que jaacute reuniam certa infra-estrutura
(apoio logiacutestico ao turismo) seriam pontos estrateacutegicos de atraccedilatildeo de investimentos
provindos do governo
O estiacutemulo do Estado resumia-se aos investimentos em apoio teacutecnico e na
ampliaccedilatildeo do sistema de objetos da regiatildeo como por exemplo as estradas de
rodagem Para isso era de interesse do governo na eacutepoca facilitar o acesso agrave regiatildeo
atraveacutes dos transportes e das comunicaccedilotildees garantidos tambeacutem por um serviccedilo de
hoteacuteis eficiente
A criaccedilatildeo de algumas diretrizes orientadoras para o fomento da atividade
estavam calcadas sobretudo numa reorganizaccedilatildeo e readequaccedilatildeo da atividade a
partir do planejamento das accedilotildees voltadas para o desenvolvimento da regiatildeo Os
planos turiacutesticos jaacute eram vistos como soluccedilatildeo para a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais
e contemplavam de maneira uniforme e integrada o apoio agrave criaccedilatildeo de empresas
estaduais destinadas agrave promoccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade (BRASIL 1977)
6 Elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior e com a organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo da SUDAM (Superintendecircncia de Desenvolvimento da Amazocircnia) datado de abril de 1976
58
Os principais destinos urbanos da Amazocircnia como Manaus Beleacutem
Santareacutem e Satildeo Luiz seriam os primeiros a receber a infra-estrutura necessaacuteria
para o planejamento da atividade Em outro momento a construccedilatildeo de um plano
diretor regional de meacutedio a longo prazo deveria estudar as perspectivas de
mercados nacionais e internacionais onde se verificavam problemas a serem
solucionados com o planejamento pensado para as cidades com atrativos turiacutesticos
No II plano de desenvolvimento da Amazocircnia as outras diretrizes satildeo de
cunho mais especiacuteficos e se destinam agraves alternativas jaacute visualizadas perante o
potencial natural da regiatildeo entre elas estatildeo
a) A implantaccedilatildeo de parques florestais para fins turiacutesticos a criaccedilatildeo de um
sistema regional de informaccedilotildees estatiacutesticas e medidas para a preservaccedilatildeo de aacutereas
de interesse turiacutestico
b) Criaccedilatildeo de empresas de turismo nas unidades da federaccedilatildeo incorporando-
as ao sistema regional integrado ao turismo
c) Coordenaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia junto a
cada entidade interessada com a finalidade de acelerar o desenvolvimento setorial
d) Atrair o turismo nacional para a regiatildeo atraveacutes de estudos de implantaccedilatildeo
de centros de apoio turiacutestico ao longo das rodovias federais e estaduais pelos
oacutergatildeos intervenientes SUDAM (Superintendecircncia do Desenvolvimento da
Amazocircnia) DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens) DER s
(Departamento Estadual de Rodovias) EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo)7 e empresas estaduais
e) Continuaccedilatildeo do apoio aos programas de fornecimento de aacutegua energia e
saneamento por parte da SUDAM com o apoio da infra-estrutura ao
desenvolvimento e ampliaccedilatildeo do setor (BRASIL 1977 p 79-80)
7 Durante um longo periacuteodo (desde sua fundaccedilatildeo) a EMBRATUR foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo turismo nacional promoccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de projetos em geral destinados ao fomento da atividade turiacutestica no paiacutes A partir de 2003 especificamente no governo do entatildeo presidente Luis Inaacutecio Lula da Silva a EMBRATUR deixa de ser empresa e passa a ser instituto tendo um fim especiacutefico de promover o turismo nacional no exterior
59
Vale ressaltar que nesta eacutepoca o plano de desenvolvimento da Amazocircnia
entendia o turismo como um setor em expansatildeo poreacutem demonstra em linhas gerais
suas reais intenccedilotildees em relaccedilatildeo agrave atividade natildeo realizando portanto um estudo ou
diagnoacutestico mais especiacutefico sobre a atividade Sua dimensatildeo revela nesse sentido
uma ligaccedilatildeo com as ideacuteias de crescimento que outrora influenciaram (e ainda
influenciam) as concepccedilotildees gerais de planejamentos regionais
O caraacuteter generalista do turismo que se configura no plano entende que o
espaccedilo regional eacute carente de densidade teacutecnica apropriada agrave expansatildeo da
atividade por isso existe a necessidade de implementaccedilatildeo de setores especiacuteficos
destinados a reestruturar o espaccedilo regional como por exemplo as rodovias e as
redes de telecomunicaccedilotildees Nesse sentido o espaccedilo amazocircnico do turismo agrave
eacutepoca era entendido enquanto um espaccedilo a ser modificado por agentes que
estivessem interessados em investir na dotaccedilatildeo de atrativos turiacutesticos
principalmente as empresas do trade turiacutestico amazocircnico
Visto que a atividade turiacutestica era promissora e que seria uma possibilidade
para a geraccedilatildeo de renda e lucro o governo federal na eacutepoca lanccedila o primeiro Plano
de Turismo da Amazocircnia8 com o intuito de (re) organizar o setor a fim de que se
pudessem alcanccedilar niacuteveis satisfatoacuterios de crescimento econocircmico
O primeiro plano por sua vez apresenta a regiatildeo como uma regiatildeo
diferenciada das outras por ser um produto com uma paisagem iacutempar e por isso
seus recursos naturais satildeo encarados como elementos importantes para uma
vocaccedilatildeo e aptidatildeo turiacutestica Tais caracteriacutesticas eram entendidas como um
pressuposto ou alternativa para auxiliar no progresso econocircmico e social da regiatildeo
(BRASIL 1977) Nesse sentido segundo o proacuteprio documento9
Como se vecirc estamos diante de dois incomensuraacuteveis o turismo e a Amazocircnia De um lado o turismo que possibilita quase tudo De outro a
8 O primeiro Plano de Turismo da Amazocircnia foi elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior em 1977 no governo militar a partir do consoacutercio PLANAVE-PROCHNIK e com o apoio teacutecnico da EMBRATUR A supervisatildeo do Plano ficou a cargo da SUDAM O plano ainda se divide em dois volumes o primeiro diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo e diagnoacutestico da regiatildeo e o segundo contempla os prognoacutesticos poliacuteticas diretrizes e instrumentos e a programaccedilatildeo do Plano 9 Nota de apresentaccedilatildeo do superintendente da SUDAM Hugo de Almeida
60
Amazocircnia potencialmente riquiacutessima em termos de aproveitamento como induacutestria rentaacutevel multiplicadora de divisas cambiais (BRASIL 1977 p 7)
O primeiro PTA resume assim as ideacuteias de que a Amazocircnia eacute um cenaacuterio
propiacutecio agrave expansatildeo da atividade turiacutestica colocando-a como um produto a ser
comercializaacutevel As concepccedilotildees contidas no plano priorizavam accedilotildees com as
estrateacutegias mais amplas que por sua vez estavam definidas no Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia Sua funccedilatildeo especiacutefica estava destinada a levantar
dados sobre a infra-estrutura dos estados e assim definir as estrateacutegias comerciais
para que a regiatildeo pudesse se situar como um destino turiacutestico importante Os eixos
gerais do PTA natildeo seguiam uma poliacutetica nacional de turismo mas sim uma poliacutetica
de desenvolvimento sustentada pelo PDA O processo de configuraccedilatildeo da atividade
turiacutestica era encarado como um ramo da economia que estava associado agraves
diretrizes e interesses especiacuteficos natildeo tendo portanto uma autonomia poliacutetica
Seguindo este conjunto de ideacuteias os objetivos gerais (finais) do primeiro PTA
estavam circunscritos a uma visatildeo de crescimento da atividade com a possibilidade
de geraccedilatildeo de renda e emprego atraveacutes de uma ocupaccedilatildeo territorial efetiva da
regiatildeo de uma maior participaccedilatildeo da atividade no que diz respeito agraves diacutevidas dos
Estados e municiacutepios e em uma valorizaccedilatildeo e defesa dos recursos ecoloacutegicos
(BRASIL 1977) Esses objetivos ainda eram detalhados e pretendiam alcanccedilar uma
renda regional aumentar os investimentos no setor hoteleiro e criar empregos
diretos Atraveacutes de uma visatildeo economicista o PTA visava reduzir as desigualdades
sociais da Amazocircnia e assim constituir-se um documento importante para tal fim
O II Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia tem como seu objetivo principal o crescimento do produto regional e a reduccedilatildeo de desigualdades inter-regionais O Plano de Turismo da Amazocircnia procura ser um dos instrumentos para o atendimento desse objetivo sendo que toda a estrateacutegia de desenvolvimento do turismo aqui apresentada visa tal fim (BRASIL 1977 p 37)
61
Tal caracteriacutestica natildeo iraacute se diferenciar a partir da constituiccedilatildeo do I Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia da Nova Repuacuteblica10 No que diz respeito ao setor
turiacutestico poucas foram as alteraccedilotildees importantes que se destacaram no documento
De uma forma geral o turismo ainda eacute visto como uma atividade que precisa de um
grande incentivo por parte dos governos estaduais e iniciativa privada Sua
dimensatildeo ainda gira em torno do crescimento econocircmico e vecirc o turismo como uma
possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda Seus objetivos estatildeo estruturados em
dois
a) Aumentar a participaccedilatildeo do turismo no desenvolvimento econocircmico e social da regiatildeo atraveacutes da geraccedilatildeo de renda e emprego com menores custos econocircmicos e sociais b) acrescer quantitativa e qualitativa a oferta turiacutestica a fim de motivar novos segmentos de mercado proporcionando aumento da renda e gasto meacutedio do turista na regiatildeo (BRASIL 1986 p 63)
Tais objetivos norteiam outras diretrizes com o intuito de fazer valer as
estrateacutegias pensadas no Plano Nessas diretrizes a estrutura de concepccedilatildeo sobre a
atividade turiacutestica ainda se manteacutem a mesma no que se refere aos planos
anteriores a de entender o turismo como uma atividade econocircmica e com a
perspectiva de crescimento Setores como investimentos na oferta turiacutestica
ampliaccedilatildeo da melhoria da infra-estrutura de comunicaccedilotildees e transportes incentivo agrave
hotelaria satildeo pontos comuns em relaccedilatildeo a outros documentos
O que haacute de novo poreacutem estaacute pautado na elaboraccedilatildeo na aacuterea de recursos
humanos e no apoio agrave realizaccedilatildeo de eventos 11 Outro ponto de destaque eacute a
formaccedilatildeo de oacutergatildeos especiacuteficos na aacuterea do planejamento turiacutestico Tal caracteriacutestica
eacute responsaacutevel por estruturar novos projetos e poliacuteticas regionais de incentivo ao
crescimento da atividade Percebe-se tambeacutem um aspecto importante no que tange
agrave interiorizaccedilatildeo do turismo O planejamento do turismo estaria concentrado na
formaccedilatildeo dos poacutelos de crescimento pois a difusatildeo de novos pontos (BRASIL 1986)
expressaria uma das atividades de desenvolvimento A partir dessa estruturaccedilatildeo o
10 Documento elaborado pelo Ministeacuterio do Interior e pela SUDAM Sua execuccedilatildeo e coordenaccedilatildeo ficou a cargo da SUDAM datada de dezembro de 1986 Na verdade este eacute o terceiro documento ou Plano de Desenvolvimento voltado para regiatildeo amazocircnica A partir da redemocratizaccedilatildeo tornou-se o I Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia 11 O que se constituiria em uma espeacutecie de turismo de eventos
62
PDA da Nova Repuacuteblica enquadra o turismo como uma poliacutetica setorial de cunho
econocircmico estabelecendo assim metas de meacutedio e longo prazo
A relaccedilatildeo entre a Amazocircnia e o turismo aprofunda-se ainda mais ao longo
dos anos subsequumlentes estabelecendo com isso novas diretrizes de uso racional
da regiatildeo Em 1992 eacute lanccedilado o II Plano de Turismo da Amazocircnia12 com o intuito de
mudar a forma pela qual o turismo eacute encarado na regiatildeo O grande diferencial
expresso nesse documento eacute a ecircnfase dada ao desenvolvimento sustentaacutevel que
de acordo com as ideacuteias contidas no documento seria a alternativa mais viaacutevel para
associar desenvolvimento regional com conservaccedilatildeo dos recursos naturais No que
tange a isso o PTA expotildee em suas diretrizes gerais
A existecircncia do produto turiacutestico especialmente o ecoloacutegico estaacute de certa forma condicionada agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais Componente fundamental na estrutura da produccedilatildeo no contexto da induacutestria turiacutestica os recursos naturais representam um dos pilares do poder de atratividade do produto turiacutestico regional Em funccedilatildeo disso eacute economicamente viaacutevel que a expansatildeo do turismo na Amazocircnia obedeccedila aos criteacuterios de sustentabilidade dos ecossistemas (BRASIL 1992 p7)
Assim sendo a composiccedilatildeo do trade turiacutestico regional estaacute em funccedilatildeo dos
paracircmetros do desenvolvimento sustentaacutevel O espaccedilo amazocircnico para o turismo a
partir disso muda sua funcionalidade e adquire uma nova concepccedilatildeo pautada sob o
roacutetulo da sustentabilidade Os objetivos criados aliam a ideacuteia de crescimento
econocircmico a de qualidade de vida para a populaccedilatildeo local reordenando por sua vez
as poliacuteticas regionais de desenvolvimento
Tendo como base uma poliacutetica de turismo voltada para a sustentabilidade da
regiatildeo o segmento do chamado turismo de natureza ou ecoturismo ganha forccedila e
se torna ainda mais a estrateacutegia adequada para que ocorra a expansatildeo da
atividade
12 Ligado agrave secretaria do Desenvolvimento Regional elaborado e executado pela SUDAM com o apoio de entidades como PNUD (Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento) BASA (Banco da Amazocircnia) e SUFRAMA (Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus)
63
Em 1998 o PROECOTUR13 tornou-se o documento que expressou as
vertentes ligadas agrave ideacuteia do turismo de natureza ou turismo sustentaacutevel Neste
documento o governo federal centrou esforccedilos para viabilizar a concretizaccedilatildeo do
PROECOTUR nos nove estados da regiatildeo amazocircnica Tendo em vista a utilizaccedilatildeo
racional dos recursos naturais presentes e sabendo de seu potencial paisagiacutestico o
programa estaacute configurado segundo os objetivos e programas especiacuteficos para cada
Estado da federaccedilatildeo14
Como objetivo geral o PROECOTUR defende a viabilidade do ecoturismo
como o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel ideal para a regiatildeo amazocircnica
(BRASIL 1998) Seus objetivos especiacuteficos estatildeo estruturados da seguinte forma
I- Proteger e desenvolver os atrativos turiacutesticos da regiatildeo por meio de
medidas como a criaccedilatildeo de parques e reservas com manejo especiacutefico
para o ecoturismo
II- Criar um ambiente de estabilidade para investimentos de ecoturismo
mediante definiccedilatildeo de poliacuteticas e normas e do fortalecimento dos
oacutergatildeos de gestatildeo ambiental e desenvolvimento turiacutestico estaduais
regionais e nacionais
III- Viabilizar operacionalmente empreendimentos de ecoturismo por meio
da realizaccedilatildeo de estudos de mercados da identificaccedilatildeo
desenvolvimento e adaptaccedilatildeo agrave regiatildeo de tecnologias para a geraccedilatildeo
de energia tratamento de afluentes etc e da sua disponibilizaccedilatildeo dos
resultados para investidores privados
IV- Viabilizar financeiramente empreendimentos de ecoturismo mediante a
ampliaccedilatildeo de linhas de creacutedito especiacuteficas para o segmento e
13 Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazocircnia Legal criado na gestatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia junto ao Ministeacuterio do Meio Ambiente dos Recursos Hiacutedricos e da Amazocircnia Legal A elaboraccedilatildeo deste programa diz respeito agrave fase de preacute-investimentos 14 Vale lembrar que os oacutergatildeos federais envolvidos na execuccedilatildeo do PROECOTUR aleacutem de estarem representados pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia ainda eacute constituiacutedo pelo Grupo Teacutecnico de Coordenaccedilatildeo do Ecoturismo pelo Nuacutecleo de Gestatildeo do PROECOTUR e atuando nos Estados pelos Grupos Teacutecnicos Operacionais (GTOs)
64
V- Melhorar ampliar ou implantar a infra-estrutura baacutesica necessaacuteria para
viabilizar o aumento do fluxo turiacutestico para a Amazocircnia Legal (BRASIL
1998 p 7)
Atraveacutes desse conjunto de objetivos o PROECOTUR de acordo com seus
oacutergatildeos interligados procura enfatizar o turismo como uma ferramenta capaz de
mudar o quadro social e econocircmico da regiatildeo Em seus desdobramentos o
programa chama a atenccedilatildeo para a necessidade de impor a regiatildeo amazocircnica como
um destino turiacutestico a ser melhor apresentado no trade nacional e internacional Para
isso utiliza estrateacutegias espaciais em cada estado Tais estrateacutegias estatildeo baseadas
na criaccedilatildeo e ou incremento dos poacutelos ecoturiacutesticos implantados Esses poacutelos jaacute
apresentam infra-estrutura (estradas portos aeroportos hoteacuteis hospitais entre
outros) necessaacuteria para iniciaccedilatildeo dos programas de intervenccedilatildeo do PROECOTUR
Neste caso a infra-estrutura de cada poacutelo serve como uma preacute-condiccedilatildeo para que
os objetivos propostos se tornem concretos
Outro ponto de destaque presente nos objetivos especiacuteficos do programa
consiste no envolvimento dos agentes participantes na viabilizaccedilatildeo dos
empreendimentos de ecoturismo De acordo com os objetivos especiacuteficos natildeo se
percebe claramente os agentes que podem ser beneficiados nas operaccedilotildees e accedilotildees
dos empreendimentos turiacutesticos poreacutem em linhas gerais pode-se perceber que a
ideacuteia do desenvolvimento sustentaacutevel a partir do programa estaacute sublinhada nas
diretrizes dos investimentos financeiros na regiatildeo No que diz respeito a essa ideacuteia
o PROECOTUR estaacute dividido em uma fase de preacute-investimentos na qual eacute feito um
diagnoacutestico das ofertas turiacutesticas a serem desenvolvidas e em uma fase de
investimentos na qual os programas de intervenccedilotildees econocircmico-espaciais satildeo
efetivamente executados garantidos sobretudo na criaccedilatildeo dos poacutelos de ecoturismo
da regiatildeo
Conforme essa estrutura o PROECOTUR apresenta-se como um documento
de cunho oficial criado pelo Estado na tentativa de viabilizar o desenvolvimento de
aacutereas com problemas econocircmicos e sociais colocando a Amazocircnia como prioritaacuteria
65
para o desenvolvimento sustentaacutevel O turismo mais uma vez aparece como uma
atividade capaz de solucionar dificuldades soacutecio-econocircmicas
Outro estudo sobre turismo no Brasil foi finalizado em 2002 o PNMT15 Este
programa tinha como intenccedilatildeo uma maior dinamizaccedilatildeo da atividade turiacutestica a partir
de diretrizes nacionais na qual o municiacutepio era a escala de atuaccedilatildeo da atividade
turiacutestica Neste enfoque a capacitaccedilatildeo de agentes puacuteblicos e privados era a
intenccedilatildeo do programa onde os mesmos eram responsaacuteveis por serem
multiplicadores locais dando importacircncia ao turismo no desenvolvimento soacutecio-
econocircmico (PNMT 2002) Neste caso a participaccedilatildeo das comunidades na gestatildeo
de seus proacuteprios recursos tornava-se um fator fundamental (PNMT 2002)
O objetivo geral do programa era fomentar o desenvolvimento turiacutesticos dos
municiacutepios com base na sustentabilidade econocircmica social ambiental cultural e
poliacutetica (PNMT 2002 p 80) Assim a ideacuteia principal do PNMT era de descentralizar
o planejamento do turismo e principalmente suas accedilotildees Os municiacutepios seriam
responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de infra-estrutura necessaacuteria para a operacionalidade da
atividade turiacutestica
No estado do Paraacute por exemplo diversos foram os municiacutepios que foram
escolhidos para integrarem o quadro da municipalizaccedilatildeo do turismo16 entre eles
(bem como para os outros municiacutepios brasileiros) havia uma divisatildeo dos municiacutepios
turiacutesticos (MT) e municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) Os municiacutepios turiacutesticos
satildeo aqueles consolidados onde o turismo eacute efetivo Jaacute os municiacutepios com potencial
turiacutestico satildeo aqueles que possuem recursos naturais e culturais expressivos
(PNMT 2002 p 30) ou seja atraveacutes de um maior fomento por parte dos governos
locais estes municiacutepios poderiam se consolidados no trade
Entre alguns municiacutepios turiacutesticos (MT) estatildeo Abaetetuba Bacarena Beleacutem
Braganccedila Marabaacute Salinoacutepolis Santareacutem Tucuruiacute Vigia Cametaacute Outros
municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) satildeo Castanhal Colares Curuccedilaacute Monte
Alegre Paragominas Parauapebas
15 Programa Nacional de Municipalizaccedilatildeo do Turismo 16 Eram os proacuteprios municiacutepios que solicitavam entrada no PNMT Havia a solicitaccedilatildeo formal aos oacutergatildeos estaduais delegados da EMBRATUR
66
Natildeo obstante a isso para a Amazocircnia ideacuteias como PNMT deveriam ser
difundidas a partir da forccedila simboacutelica que a floresta representa ou mais
propriamente do segmento ecoturismo onde a natureza surge como o principal
atrativo para o fomento de poliacuteticas puacuteblicas fazendo com que a exuberacircncia da
natureza seja o diferencial para atraccedilatildeo de turistas
Nesse sentido a relaccedilatildeo do turista com a ideacuteia de ecoturismo faz Coelho
(1999) afirmar que tal relaccedilatildeo funda-se no princiacutepio de uma viagem de aventura que
impulsione um sentido de retorno agrave natureza natildeo tatildeo devastada pelo homem nos
grandes centros urbanos Para a autora
Ao contraacuterio do personagem de Charles Chaplin no filme Luzes da Cidade o turista que preza a natureza sente-se fascinado pela luz do dia o verde da mata a escuridatildeo ou luar na selva pela vida ao ar livre e pela comida natural (COELHO 1999 p 56 - 57)
Contudo a relaccedilatildeo entre a teoria do ecoturismo e sua praacutetica se mostra em
sua grande maioria dissonante O que pode ser verificado no discurso de agentes
interessados em investir pesadamente no setor e nas populaccedilotildees tradicionais
atingidas A ideacuteia de que o ecoturismo pode trazer justiccedila social traz agrave tona
externalidades negativas (COELHO 1999) que por sua vez geram desigualdades
sociais O discurso praacutetico de crescimento da atividade turiacutestica neste caso muda
de foco poreacutem sua composiccedilatildeo ainda permanece a mesma Sendo uma atividade
tambeacutem econocircmica o ecoturismo produz acumulaccedilatildeo de capital e geraccedilatildeo de lucro
para os grandes agentes de mercado particularizando espaccedilos e segregando a
sociedade Segundo ainda Coelho (1999)
As discrepacircncias entre teoria e praacutetica satildeo no entanto possiacuteveis de existir e podem tornar perigosas as relaccedilotildees entre sociedades locais empresas e ecoturistas Estas defasagens entre praacutetica e teoria tornam os riscos e dilemas a serem discutidos e corrigidos pelos defensores do ecoturismo ainda mais preocupantes Tais riscos satildeo atribuiacutedos agrave estreita visatildeo de natureza edificada pelos ecologistas e imitadas por empresaacuterios e alguns profissionais oportunistas do ecoturismo (o que natildeo pode ser confundido com senso de oportunidade) Estes colaboradores dos primeiros
67
desprovidos de comprometimento com a realidade e os valores culturais ora tentam mostrar uma natureza distorcida pelos siacutembolos artificialmente valorizados ou mantidos ora apresentar uma realidade agrave medida das expectativas da clientela ocultando o que haacute de fundamental na natureza visitada (COELHO 1999 p 59)
A ideacuteia de que o ecoturismo na Amazocircnia atenua os impactos ambientais
torna-se portanto fraacutegil no que diz respeito principalmente agrave sociedade ou
populaccedilatildeo residente que natildeo faz parte dos processos de decisotildees sobre as
atividades planejadas para o turismo
Figueiredo (1999) por exemplo expotildee algumas ideacuteias que para ele satildeo
equivocadas sobre o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel aplicado agrave regiatildeo
amazocircnica Para o autor a partir da grande aceitaccedilatildeo das ideacuteias provindas de que o
ecoturismo torna-se um elemento fundamental para o melhor desenvolvimento
sustentaacutevel criam-se conjuntamente mitos e com isso ideacuteias deturpadas sobre
esse modelo Entre elas a da instalaccedilatildeo de objetos espaciais de baixo custo e sua
forma de exploraccedilatildeo Para o autor essa eacute uma proposta que precisa ser revista
Mesmo sob o roacutetulo de alternativo o ecoturismo carrega consigo a loacutegica de
mercado pautada sobretudo nos ganhos da atividade
O conjunto dessas ideacuteias todavia eacute o iniacutecio de uma mudanccedila importante
dentro do cenaacuterio amazocircnico especificamente do estado do Paraacute que atraveacutes de
documentos e estudos especiacuteficos para o turismo fazem do ecoturismo uma meta a
ser buscada dentro de accedilotildees voltadas para um mercado especiacutefico desse setor com
provaacuteveis repercussotildees soacutecio-culturais
32 O turismo no estado do Paraacute um breve balanccedilo
A atividade turiacutestica no Estado do Paraacute vem ao longo dos anos mudando seu
caraacuteter de forma consideraacutevel seja em relaccedilatildeo ao volume de turistas visitantes no
estado seja nas estrateacutegias de mercado para o alcance de novos nuacutemeros que
faccedilam crescer a atividade Mesmo antes do Plano de Desenvolvimento de Turismo
68
do Paraacute se consolidar como documento norteador das atividades turiacutesticas as
poliacuteticas de incentivo ao setor tecircm ganhado destaque nas esferas de governo a
partir de programas especiacuteficos ou entatildeo a partir de um redirecionamento das
estrateacutegias e da participaccedilatildeo do empresariado fazendo com que o produto turiacutestico
paraense tenha maior visibilidade em outros mercados
A partir de um crescimento do setor turiacutestico a busca pelo desenvolvimento
da atividade e de suas potencialidades econocircmicas tornou-se marca importante para
que o Estado pudesse criar estrateacutegias de desenvolvimento social Com isso
poliacuteticas puacuteblicas passaram a dar mais ecircnfase neste setor criando assim novas
oportunidades de decisatildeo dentro das poliacuteticas de desenvolvimento
Nesse sentido um ponto importante satildeo os dados feitos a partir de
estatiacutesticas referentes ao processo de turistificaccedilatildeo do espaccedilo paraense17 Eles
refletem o quantitativo referente ao nuacutemero de turistas visitantes tanto estrangeiros
como nacionais e o nuacutemero de hoteacuteis e suas respectivas ocupaccedilotildees de acordo com
as temporadas (alta estaccedilatildeo e baixa estaccedilatildeo) Por mais que os nuacutemeros revelem um
quadro limitado da realidade do turismo no Paraacute mostram o fluxo de pessoas e de
empresas interessadas em investir no setor e em especial no aspecto diferencial do
Paraacute que se assenta na ideacuteia do turismo de natureza
O Brasil ainda eacute considerado um destino turiacutestico pouco procurado no mundo
Paiacuteses como Franccedila EUA Espanha ainda satildeo classificados como os maiores
destinos turiacutesticos do planeta No que diz respeito agrave estrutura interna brasileira
outros estados figuram como os mais procurados como eacute o caso do Rio de Janeiro
seguido dos estados do Nordeste em especial do Estado do Cearaacute e Bahia (ABAV
2006)
No caso do Paraacute o turismo ainda natildeo se constitui como uma das atividades
mais rentaacuteveis o que lhe garante posiccedilotildees medianas no que diz respeito aos
estados do Brasil mais visitados Tal situaccedilatildeo despertou no governo do Estado uma
17 Os dados estatiacutesticos aqui apresentados referem-se especificamente aos levantamentos feitos a partir de 1995 ano que se iniciou o governo de Almir Gabriel e que se estendeu ateacute 2002 (reeleiccedilatildeo) O quadro poliacutetico do governo natildeo se alterou com a sucessatildeo feita pelo entatildeo governo Simatildeo Jatene Neste sentido as estrateacutegias de mercado ora pensadas pelo oacutergatildeo de turismo do Estado - PARATUR tambeacutem natildeo se alteraram neste periacuteodo o que faz com que todas as informaccedilotildees e anaacutelises possam ser entendidas a partir do periacuteodo especificado
69
necessidade de investir mais no setor a fim de motivar um maior nuacutemero de
visitantes estrangeiros e nacionais Nesse sentido o que se percebe eacute uma entrada
gradual de pessoas no Estado ao longo dos uacuteltimos dez anos Alguns dados
estatiacutesticos mostram a relaccedilatildeo entre os produtos ofertados e o nuacutemero de pessoas
visitantes Os indicadores de turismo do Paraacute revelam o fluxo de turistas no Estado
no periacuteodo de um ano Os nuacutemeros presentes mostram de forma organizada
iacutendices de atividades que estatildeo relacionadas a um maior ou menor nuacutemero de
turistas no Paraacute
De acordo com o relatoacuterio estatiacutestico do governo18 em 2004 por exemplo a
oferta hoteleira do Estado teve um acreacutescimo em relaccedilatildeo aos outros anos anteriores
Em 2003 era de 68 jaacute no ano seguinte essa taxa subiu para 97 (PARAacute 2004)
representando uma maior solidificaccedilatildeo do setor A presenccedila de um maior nuacutemero de
hoteacuteis representa por sua vez um aumento de disponibilidade de leitos para que
turistas possam ter uma maior acomodaccedilatildeo Poreacutem ainda persiste um maior
nuacutemero de hoteacuteis na capital pelo fato de haver uma rede de infra-estrutura mais
adequada e de maior facilidade para o traslado do turista
Tomando como base o fluxo de visitantes estrangeiros o Estado apresenta
uma oscilaccedilatildeo entre os seus destinos o que natildeo garante uma uniformidade entre os
visitantes de diversas nacionalidades como mostra a tabela 1 a partir de dados
fornecidos pela PARATUR do ano de 2004
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003- 2004
P A Iacute S E S
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 03
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 04
VARIACcedilAtildeO
ESTADOS UNIDOS
FRANCcedilA
3248
3227
2785
3811
-1425
1810
18 Elaborado e executado pela PARATUR
70
GUIANA FRANCESA
ALEMANHA
JAPAtildeO
PORTUGAL
ITAacuteLIA
INGLATERRA
SURINAME
ESPANHA
HOLANDA
ARGENTINA
CANADAacute
AUSTRIA
CHILE
BELGICA
BOLIacuteVIA
OUTROS
-
1720
1380
913
1274
701
531
743
1083
531
637
-
955
361
-
2527
49
1417
1124
880
1661
831
977
1173
977
586
1124
244
1319
147
244
3323
-
-1762
-1855
-361
3038
1854
8399
5787
-979
1036
7645
-
3812
-5928
-
3150
T O T A L 21232 22672 678
FONTE Adaptado de PARATUR (2004 p32)
Como se pode perceber na tabela acima natildeo existe uma uniformidade entre
o nuacutemero de visitantes Paiacuteses como os EUA mostram um decreacutescimo de -14 25
Jaacute outros paiacuteses desenvolvidos como a Franccedila mostram uma presenccedila maior no
intervalo considerado elevando o fluxo migratoacuterio para 1810 Apesar de em
nuacutemeros absolutos a Itaacutelia natildeo superar os outros paiacuteses supracitados o seu
mercado emissor em relaccedilatildeo ao Paraacute tem uma variaccedilatildeo positiva de 3038 Essas
variaccedilotildees ainda se comportam de forma reduzida se comparadas a outros centros
turiacutesticos do paiacutes e ainda satildeo incipientes se comparados a outros centros mundiais
71
Outra questatildeo importante que deve ser avaliada diz respeito agrave sazonalidade
que marca as atividades turiacutesticas no Paraacute Por mais que essa situaccedilatildeo venha
mudando ao longo dos anos o Estado ainda vive um turismo de datas festivas
como eacute o caso do mecircs de outubro com a festividade religiosa do Ciacuterio de Nazareacute
Festa essa que assume atualmente um caraacuteter muito mais turiacutestico do que
propriamente religioso
A sazonalidade torna-se um entrave para o crescimento da atividade turiacutestica
no Paraacute visto que essa condiccedilatildeo ainda se manifesta em outros poacutelos de turismo do
Estado que congregam tambeacutem outras manifestaccedilotildees culturais e naturais como
por exemplo a festa do Saireacute em Santareacutem (que ocorre no mecircs de setembro no poacutelo
Tapajoacutes) o periacuteodo do festival da pesca esportiva em Tucuruiacute (poacutelo Araguaia -
Tocantins) e ainda o turismo de veraneio em Salinoacutepolis (o fluxo maior de pessoas
se daacute no mecircs de julho - poacutelo Amazocircnia Atlacircntica) Dessa forma tomando como base
a condiccedilatildeo de sazonalidade no estado a tabela 2 abaixo revela em nuacutemeros a
quantidade de leitos dos hoteacuteis ocupados na condiccedilatildeo de pernoite nos anos de
2002 2003 e 2004
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados do estado do Paraacute - 2002 2003 e 2004
MEcircS
2002
2003
2004
JANEIRO
32655
36652
38047
FEVEREIRO
30423
35783
40088
MARCcedilO
39811
36854
45912
ABRIL
38421
38724
43956
MAIO
41016
40326
47772
JUNHO
34663
36274
51354
72
JULHO
41918
42600
46168
AGOSTO
44162
40927
57209
SETEMBRO
40878
43364
50354
OUTUBRO
41309
47715
61215
NOVEMBRO
40653
45739
56851
DEZEMBRO
34105
35751
46227
TOTAL
460014
480709
585153
FONTE PARATUR (2004 p 26)
Como se percebe apesar de existir um acreacutescimo no fluxo de pessoas ao
longo dos anos ainda persiste uma concentraccedilatildeo em um periacuteodo mais especiacutefico do
ano devido agraves peculiaridades que esses meses proporcionam ao turista interno e
externo A sazonalidade turiacutestica no Paraacute portanto torna-se um fator importante
para se entender a concentraccedilatildeo espacial de pessoas visitantes Em outros
momentos tais lugares natildeo vivenciam um ritmo de circulaccedilatildeo de pessoas
semelhante aos meses em que o turismo eacute predominante ocasionando ausecircncia em
massa das pessoas desses lugares afetando por sua vez a economia relacionada
ao turismo nas cidades
Um outro fator importante a ser percebido diz respeito agrave acessibilidade ou
seja a forma pela qual o turista chega ao Estado do Paraacute Neste caso os nuacutemeros
apesar de refletirem uma parcela da realidade mostram que o meio de transporte
mais utilizado eacute o aviatildeo (transporte aeacutereo) A distacircncia do Paraacute em relaccedilatildeo aos
centros emissores do paiacutes torna-se um indicativo para que o fluxo de passageiros
que chegam por via aeacuterea seja ainda maior comparado a outros meios de
transporte como ocircnibus ou carro Os dados da PARATUR (2004) revelam esse
comparativo
73
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0
A v iatilde o
A u to m oacute v e l
O n ib u s
N a v io
N atilde o E s p e c
T u r is ta s b r a s ile ir o s e o tr a n s p o r te u t i l iz a d o p a r a c h e g a r a o E s ta d o
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 2004
RESIDEcircNCIA
PERMANEN
AVIAtildeO
CAR
OcircNIBUS
NAVIO
NESP
TOTAL
BRASIL 107675
575
14565
78 6242 33 3815 20
54965
294 187261
EXTERIOR 15294 674
537 24 147 06 1124 49
5570 246 22672
TOTAL 122969
586
15102
72 6389 30 4939 24
60535
288
209933
FONTE PARATUR (2004)
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao
Estado do Paraacute
FONTE PARATUR (2004)
O transporte aeacutereo eacute caro o fluxo de pessoas que visitam o Paraacute natildeo eacute tatildeo
expressivo Por outro lado as estradas que datildeo acesso aos mais distantes lugares
do territoacuterio (pontos de turismo) encontram-se em estado de maacute conservaccedilatildeo
necessitando de reparos o que impossibilita um maior fluxo interno de turismo no
estado Sendo assim o aviatildeo ainda se torna o meio de locomoccedilatildeo mais procurado
poreacutem com valores de mercado que inviabilizam uma maior frequumlecircncia de turistas
74
No tocante agrave ocupaccedilatildeo de empregos os dados indicam um acreacutescimo dos
mesmos nas atividades relacionadas ao turismo Em 1999 a criaccedilatildeo de empregos
diretos correspondia a um universo de 14605 postos de trabalhos (PARAacute 2004) Jaacute
no ano seguinte 2000 este nuacutemero altera-se para 16340 Em escala exponencial
esse nuacutemero chega em 2002 num patamar de 17841 empregos diretos Como os
dados oficiais do governo mostram uma relaccedilatildeo em que a cada um emprego direto
formado existem trecircs indiretos (OMT apud PARAacute 2004) o total de empregos
gerados em 2002 concentra-se em 71364 postos de trabalhos (PARAacute 2004)
Percebe-se portanto que os dados estatiacutesticos natildeo revelam os tipos de trabalhos
gerados pela crescente demanda de turismo no Estado ou ainda sua qualidade
fazendo com que se gerem duacutevidas sobre a relaccedilatildeo turismo e geraccedilatildeo de emprego
Por outro lado essa crescente demanda do turismo no Estado estaacute alicerccedilada
em uma maior divulgaccedilatildeo do setor em outros mercados emissores fazendo com que
o produto paraense possa ser mais percebido em outros lugares do Brasil e do
mundo Nesse sentido o marketing torna-se uma ferramenta importante para se
entender a promoccedilatildeo desses lugares ou espaccedilos turistificados que chamam a
atenccedilatildeo do turista
Nielsen (2002) faz uma interessante anaacutelise a respeito das atividades
relacionadas ao marketing Para o autor as informaccedilotildees assumem dois caminhos
diferentes e complementares a informaccedilatildeo que depende de quem fornece e a
informaccedilatildeo que depende de quem recebe Estabelece-se assim uma rede de
informaccedilotildees que pode ser fluida se a informaccedilatildeo no seu transcurso for bem
direcionada ou natildeo fluida se for o contraacuterio Nesse caso em primeiro lugar a
informaccedilatildeo de quem gera normalmente eacute atribuiacuteda aos oacutergatildeos e agecircncias de
turismo que compotildeem esse sistema como as agecircncias de viagens operadoras e o
proacuteprio Estado quando assume este papel de divulgador das informaccedilotildees de seu
produto turiacutestico
As informaccedilotildees geradas pelo marketing satildeo cruciais pois envolvem motivos
legais de seguranccedila e motivos que possam gerar lucros Quando se tem uma
informaccedilatildeo por motivos comerciais eacute necessaacuterio saber o potencial do
comportamento do turista em relaccedilatildeo agrave busca desses dados (NIELSEN 2002)
sendo essa forma a que possibilita uma melhor interaccedilatildeo entre quem fornece a
75
informaccedilatildeo e quem a recebe Assim sendo para o autor os oacutergatildeos que tomam
conta desse serviccedilo devem estar munidos de potencial para que natildeo surjam grandes
problemas quanto agrave promoccedilatildeo de eventos entre outros serviccedilos ligados ao turismo
O autor ainda chama a atenccedilatildeo para a clareza com que essas informaccedilotildees
satildeo repassadas Para Nielsen (2002) para que isso ocorra com maior satisfaccedilatildeo eacute
preciso que haja objetividade no momento de informar um produto turiacutestico Para o
autor
[] Um pouco menos de apresentaccedilatildeo e mais de discussatildeo sobre vendas faz com que o cliente note o benefiacutecio percebido em continuar a ouvir o representante de vendas e assim natildeo ignorar a mensagem (NIELSEN 2002 p 81)
Diante disso as informaccedilotildees que concentram generalidades podem gerar
impactos negativos sobre os turistas causando problemas de relacionamento entre
o turista e os lugares Para o autor portanto o marketing deve estar fundamentado
numa comunicaccedilatildeo eficiente e proporcionar o melhor serviccedilo turiacutestico possiacutevel
garantindo assim uma base econocircmica soacutelida e uma tomada de decisotildees concisa
Muitos desses elementos apresentados por Nielsen (2002) apesar de
estarem relacionados aos aspectos comerciais e de serviccedilos do marketing revelam
elementos importantes para se entender a loacutegica de construccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos
lugares que tecircm potenciais turiacutesticos Tomando como base as divulgaccedilotildees feitas
pela PARATUR a fim de que possa promover o produto turiacutestico paraense as
informaccedilotildees geradas sempre procuram mostrar o lado bom para o turista a fim de
proporcionar um ambiente de bem-estar no qual o turista ao vir para o Estado do
Paraacute possa se sentir bem e aproveitar sua estada Por outro lado os aspectos
negativos como pobreza urbana ou desigualdades de um modo geral natildeo se
constituem elementos nas propagandas de Estado
No que diz respeito aos folhetos as informaccedilotildees geradas estatildeo pautadas na
criaccedilatildeo de cenaacuterios paradisiacuteacos onde o espaccedilo reduz-se agrave pequenas imagens
Aleacutem disso os conteuacutedos das informaccedilotildees vislumbram uma situaccedilatildeo de competiccedilatildeo
76
com outros lugares do Brasil que tecircm potencialidades turiacutesticas enfatizando suas
peculiaridades A companhia de turismo do Estado tem se empenhado em divulgar o
Paraacute dessa forma Em um folheto de propaganda destinado aos turistas franceses
por exemplo (uma das maiores demandas de mercados emissores para a regiatildeo) as
informaccedilotildees estatildeo associadas agrave importacircncia e dimensatildeo da floresta aliado a um
conforto que eacute encontrado na cidade grande no caso a capital Beleacutem
Paraacute a obra-prima da Amazocircnia No extremo Norte do Brasil em plena Amazocircnia o estado do Paraacute reserva ao visitante diferentes paisagens da floresta virgem e fechada agrave amplidatildeo das praias oceacircnicas Do clima quente uacutemido e ensolarado agraves chuvas refrescantes e agrave aacutegua abundante dos igarapeacutes lagos cachoeiras praias de mar e de rios afluentes do Amazonas e Tocantins Suas rotas satildeo diversificadas coloridas cheias de ricas e variadas manifestaccedilotildees culturais temperadas com uma culinaacuteria baseada na extraordinaacuteria diversidade de fauna e flora amazocircnicas O Paraacute oferece uma experiecircncia uacutenica conhecer a floresta tropical sem se deixar de lado o conforto da civilizaccedilatildeo (PARAacute p 3 sd)
Para que haja portanto um enriquecimento do cenaacuterio espacial criado pelas
propagandas de marketing a necessidade de impor uma condiccedilatildeo uacutenica (PARAacute
sd) faz com que se enalteccedilam fragmentos do territoacuterio com o propoacutesito de que se
possa lanccedilar ao mercado uma imagem positiva a respeito do produto turiacutestico
paraense
Para Coelho (1999) quando o turismo faz referecircncias agraves peculiaridades da
regiatildeo em especial do Estado do Paraacute proporciona um distanciamento entre as
belezas cecircnicas que satildeo encontradas nos pontos turiacutesticos e as sociedades locais
que estatildeo situadas nesses lugares Quando as comunidades ou sociedades locais
fazem parte da propaganda e do marketing do turismo estes sujeitos aparecem
como mitificados (COELHO 1999 p 69) Nesse sentido satildeo tratados apenas
como meros habitantes caracterizando a distacircncia desses indiviacuteduos de seu
entorno Para a autora a comunidade representa uma visatildeo fragmentada onde se
fala de uma parcela sem se importar com sua inserccedilatildeo num conjunto de sociedade
local e regional (COELHO 1999 p 69)
77
Em um outro tipo de informaccedilatildeo o relatoacuterio de atividades de turismo do
Estado tambeacutem eacute apresentado o crescimento da atividade e como as atividades
estatildeo proporcionando uma mudanccedila na poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo Segundo
a PARATUR (2004) em 2004 o nuacutemero de visitantes alcanccedilou a marca histoacuterica de
meio milhatildeo de turistas o que possibilitou a geraccedilatildeo de mais de cinco mil empregos
diretos e indiretos No que diz respeito agrave movimentaccedilatildeo financeira 100 milhotildees de
doacutelares circularam no Estado (PARAacute 2004) Esse resultado reflete segundo o
oacutergatildeo a firme poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo desenvolvida pelo Governo do
Estado atraveacutes de investimentos diretos e de uma agressiva poliacutetica de marketing
(PARAacute 2004 p 3) Percebe-se assim que a divulgaccedilatildeo de aspectos que
demonstrem grandeza ou crescimento constitui-se como uma estrateacutegia do Estado
ocultando com isso os possiacuteveis conflitos e interesses que envolvem os agentes
que fazem parte do trade turiacutestico Tal estrateacutegia eacute muito comum nas accedilotildees que
envolvem marketing e promoccedilatildeo de produtos
O marketing para o Estado do Paraacute pode ser caracterizado como uma
ferramenta de promoccedilatildeo do turismo em outros lugares apropriando-se de imagens
que retratam os principais siacutembolos da cultura e natureza paraenses ao mesmo
tempo em que esconde a dinacircmica soacutecio-espacial marcada por conflitos e
desigualdades Esse contexto torna-se portanto conveniente para que os produtos
turiacutesticos possam adentrar em uma escala de competitividade de novos mercados
garantidores de demanda turiacutestica
33 A importacircncia da atividade turiacutestica no Novo Paraacute
Em 1995 a partir da posse do governador Almir Gabriel tem-se o iniacutecio do
programa de governo Novo Paraacute que implanta uma nova forma de gestatildeo
governamental baseada nas atividades estrateacutegicas de governo ou chamado de
planejamento estrateacutegico Nesse tipo de planejamento a esfera estatal passa por
modificaccedilotildees no que se refere agrave gestatildeo Essa situaccedilatildeo eacute principalmente perceptiacutevel
quando a administraccedilatildeo de um governo eacute voltada para uma inserccedilatildeo no mercado
como uma espeacutecie de funccedilatildeo primordial e mantenedora de uma boa administraccedilatildeo
78
O programa Novo Paraacute pode ser caracterizado pelo tripeacute agroinduacutestria
mineraccedilatildeo e turismo (NOVO PARAacute 2002) sendo estes vetores da transformaccedilatildeo
econocircmica e social A dimensatildeo do programa reflete-se nas reestruturaccedilotildees
espaciais que o governo implementa principalmente no que se refere agrave infra-
estrutura Tal perspectiva eacute um dos traccedilos desse modelo de gestatildeo governamental
que impotildee ao Estado uma postura do tipo empresariamento
A concepccedilatildeo desse modelo implica portanto a estruturaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento cuja unidade se construiraacute a partir da diversidade das partes que requer accedilotildees diferenciadas em cada espaccedilo considerado Isso impotildee sem duacutevida poliacuteticas puacuteblicas cada vez mais voltadas para o fortalecimento de espaccedilos sub-regionais ou seja das municipalidades e dos consoacutercios municipais reconhecendo que eacute na sua cidade na sua vila que as pessoas se defrontam com seus problemas (PARAacute 2002 p 2)
Os caminhos que supostamente levam ao desenvolvimento do Estado usam
um novo gerenciamento (ARANTES 2002) para dar respostas competitivas aos
desafios que a globalizaccedilatildeo impotildee aos governos tanto numa escala micro como
numa escala macro espacial Nesse sentido a ideacuteia parte de um planejamento
estrateacutegico que ratifique a competiccedilatildeo entre os lugares desencadeando em
investimentos de capital tecnologia atraccedilatildeo de novas induacutestrias entre outros
estipulando assim uma nova realidade para o mercado
No que se refere ao turismo o programa Novo Paraacute apresenta formulaccedilotildees
consideraacuteveis no que diz respeito aos seus objetivos e diretrizes como
fortalecimento de sua instituiccedilatildeo representativa a PARATUR Sendo assim a
atividade turiacutestica no Paraacute passa a ser mais divulgada em outros centros emissores
apoiada sobretudo nas accedilotildees de marketing que a instituiccedilatildeo desenvolve
Entre outras accedilotildees importantes que se destacam no Projeto estaacute o
fortalecimento do turismo nos municiacutepios do interior do Estado atraveacutes do
planejamento e coordenaccedilatildeo por parte do governo Dessa forma a atividade do
turismo comeccedila a se descentralizar ocasionado em gestatildeo municipalizada Nesse
sentido os prefeitos das cidades do interior do estado passam a incorporar o turismo
como um dos vetores de desenvolvimento de suas cidades Para isso a maacutequina
79
administrativa faz um rearranjo institucional para se adequar agrave loacutegica do turismo
tornando-o um empreendimento firme e competitivo
A questatildeo do fortalecimento institucional do turismo no interior do territoacuterio
paraense eacute uma das principais estrateacutegias espaciais desse modelo de gestatildeo o qual
eacute materializado no Plano de Desenvolvimento do Turismo (PDT-PA) atraveacutes da
criaccedilatildeo dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo As cidades que reuacutenem as
melhores infra-estruturas urbanas satildeo consideradas cidades-sedes desses poacutelos
Atraveacutes desse sistema pretende-se em termos gerais fazer com que as cidades
mais proacuteximas dos poacutelos possam adquirir o crescimento da atividade por meio de
uma espeacutecie de irradiaccedilatildeo As administraccedilotildees locais a partir dessa estrutura devem
realizar atividades que fomentem o turismo ao mesmo tempo em que devem
estimular a entrada de capitais privados interessados em investir no lugar
Uma outra dimensatildeo presente nas poliacuteticas de turismo visiacuteveis no projeto estaacute
assentada na garantia da expansatildeo do ecoturismo Este por sinal torna-se um item
importante no chamado turismo alternativo Nesse caso as accedilotildees previstas no
PROECOTUR satildeo assimiladas nesta fase do Novo Paraacute principalmente no que se
refere ao uso da Floresta Amazocircnica A ideacuteia de natureza vincula-se ao sustentaacutevel
da regiatildeo ou ainda de seu uso com baixa degradaccedilatildeo ambiental Este eacute um dos
pontos que o programa defende para o turismo no estado Coelho (1999) chama a
atenccedilatildeo para a ideacuteia de que o ecoturismo ao mesmo tempo em que promove essa
espeacutecie de retorno agrave natureza pode natildeo garantir a viabilidade econocircmica para os
agentes sociais ou comunidades tradicionais envolvidos nesse processo A autora
ainda acrescenta que para natildeo haver essa frustraccedilatildeo para as sociedades
tradicionais eacute necessaacuterio que se tenha uma
() visatildeo integrada de natureza e sociedade da adoccedilatildeo de uma concepccedilatildeo de gestatildeo democraacutetica (por definiccedilatildeo) compartilhada consciente e responsaacutevel da atividade envolvendo sempre diferentes atores sociais Depende tambeacutem do entendimento por parte dos diferentes atores sociais envolvidos de que natildeo lhes interessa qualquer ecoturismo mas um ecoturismo modelo (diferente dos modelos convencionais voltados para o turismo tradicional de massa ou para o turismo puramente comercial) onde se busca permanentemente a conciliaccedilatildeo entre teoria e praacutetica (COELHO 1999 p 70)
80
Outro tipo de vetor importante pauta-se na ideacuteia do tratamento diferencial e o
apoio financeiro para a iniciativa privada interessada em investir no setor Com esse
tipo de apoio o Governo do Estado promove uma maior abertura ao setor privado no
que tange aos investimentos do turismo Nesse sentido o nuacutemero de empresas eacute
ainda maior devido aos incentivos fiscais gerados pelo governo possibilitando
tambeacutem uma nova relaccedilatildeo setor puacuteblico-privado
Aliada a esta perspectiva outra caracteriacutestica complementar eacute a
intensificaccedilatildeo de produtos turiacutesticos paraenses junto aos mercados nacional e
internacional Para isto a realizaccedilatildeo de roteiros turiacutesticos (NOVO PARAacute 2002)
torna-se ferramenta fundamental para a consolidaccedilatildeo desse vetor
Atraveacutes da realizaccedilatildeo e implantaccedilatildeo dos roteiros turiacutesticos o Projeto Novo
Paraacute intensifica ainda mais os eventos na aacuterea do turismo alternativo
principalmente aqueles ligados ao atrativo da floresta Com os roteiros os espaccedilos
de turismos no estado tornam-se ainda mais especiacuteficos exercendo dessa forma
um poder de influecircncia nos turistas ao visitarem os lugares escolhidos
antecipadamente pelas operadoras e agecircncias do trade
Para Fonseca (2005) por exemplo esses estiacutemulos que proveacutem das novas
estrateacutegias de planejamento na verdade satildeo condicionantes de novas
competitividades (FONSECA 2005) O setor turiacutestico natildeo foge agrave regra dos mercados
econocircmicos e por isso necessita fazer com que haja uma maior circulaccedilatildeo de capital
no espaccedilo O ambiente da competitividade por sua vez eacute influenciado diretamente
pelo poder puacuteblico atraveacutes da criaccedilatildeo de externalidades positivas para que possa
promover maior competitividade ao produto turiacutestico E como exemplo disso no
Programa Novo Paraacute essa realidade se faz presente A possibilidade de geraccedilatildeo
de capital extra-local (FONSECA 2005) eacute um estiacutemulo para que haja uma
competiccedilatildeo com os agentes econocircmicos locais gerando dessa forma conflitos por
mercados Por mais que um dos vetores do Programa seja o de estimular o turismo
comunitaacuterio (NOVO PARAacute 2002) a competiccedilatildeo com a iniciativa privada estrangeira
torna-se desleal
Outro ponto forte dentro dessa poliacutetica eacute o da criaccedilatildeo de empregos no setor
de turismo Para Fonseca (2005) esse setor de acordo com as poliacuteticas de turismo
81
passa por constante mudanccedila estrutural A reorganizaccedilatildeo do processo de trabalho
atraveacutes do sistema just in time (TAVARES apud FONSECA 2005) eacute uma das bases
de transformaccedilatildeo do setor de trabalho turiacutestico Neste processo a otimizaccedilatildeo do
trabalho coloca de um lado uma maior especializaccedilatildeo do trabalho poreacutem de outro
estimula a sua precarizaccedilatildeo A autora indica seis consequumlecircncias desse processo
-Grande nuacutemero de trabalhadores temporaacuterios -Elevado percentual de matildeo-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual nos cargos superiores -Elevado nuacutemero de trabalhadores clandestinos (nos paiacuteses desenvolvidos) -Baixa remuneraccedilatildeo se comparados a outros segmentos econocircmicos -Elevado nuacutemero de horas de trabalho -Baixo grau de sindicalizaccedilatildeo (FONSECA 2005 p 148)
Dentro dessas caracteriacutesticas apontadas por Fonseca (2005) Harvey (2005)
afirma que esses processos de movimentaccedilatildeo do capital pelo espaccedilo podem ser
beneacuteficos aos capitalistas como por exemplo a ideacuteia que Fonseca (2005) cita sobre
o elevado nuacutemero de horas de trabalho Poreacutem ainda de acordo com Harvey (2005)
no que se refere agrave qualidade de trabalho tal caracteriacutestica eacute socialmente negativa
Mesmo assim Harvey ressalta que essa condiccedilatildeo eacute importante para se manter uma
produccedilatildeo da organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2005 2005 p 145) Neste caso
questotildees referentes ao emprego por exemplo de acordo com Fonseca (2005) natildeo
fogem agrave regra quando o assunto eacute o aumento da produtividade por parte do capital
Em relaccedilatildeo ao Estado do Paraacute e ainda no que se refere agrave questatildeo de
geraccedilatildeo de emprego no estado a partir da atividade do turismo a ideacuteia do emprego
torna-se algo problemaacutetico principalmente porque o Paraacute ainda estaacute em processo
de mudanccedilas lentas quando o assunto eacute turismo Com isso essa situaccedilatildeo provoca
por sua vez geraccedilotildees de empregos do tipo sazonal ou seja situaccedilotildees em que a
matildeo-de-obra condizente agrave atividade turiacutestica no Paraacute eacute verificada ou se manifesta
de periacuteodos em periacuteodos fazendo com que propagandas sobre a geraccedilatildeo de
emprego e renda veiculados pelo Estado mereccedilam um cuidado maior ao serem
analisadas pois de um lado o planejamento se volta para a pretensatildeo de criar
empregos no setor do turismo por outro a condiccedilatildeo social se comporta de uma
forma instaacutevel quanto aos empregos e condiccedilotildees de trabalho
82
4 O PDT-PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE
DESENVOLVIMENTO
83
41 Diretrizes e estrutura do PDT-PA
A construccedilatildeo de um plano de turismo sempre estaacute cercada de motivos e
interesses os quais se relacionam a uma intervenccedilatildeo espacial Natildeo obstante
pensar em uma forma de plano eacute pensar diretamente nessa intervenccedilatildeo mediada
por interesses de agentes que a produzem Nesse sentido o resultado de sua
construccedilatildeo eacute necessariamente o reflexo de decisotildees e concepccedilotildees arroladas no
momento de sua construccedilatildeo Com isso um plano de turismo natildeo se apresenta de
forma neutra assim como suas accedilotildees e programas decorrentes de sua elaboraccedilatildeo
o que nos leva a entender que qualquer estrateacutegia de desenvolvimento estaacute
subjacente a valores poliacuteticos (SOUZA 2000) onde se inclui tambeacutem interesses de
agentes envolvidos daiacute a pertinecircncia de uma natildeo neutralidade nos planos de
desenvolvimento de turismo
Os modelos de planos de turismos natildeo se mantiveram os mesmos ao longo
dos anos sempre precisaram de transformaccedilotildees e adaptaccedilotildees para que pudessem
atender agraves novas demandas de mercado A tocircnica do discurso mantida foi a de que
a partir da construccedilatildeo de um plano de turismo o desenvolvimento seria mais faacutecil E
neste sentido o governo no transcorrer dos tempos foi e ainda eacute o maior
incentivador dessa praacutetica garantindo-lhe sua regulamentaccedilatildeo e ateacute mesmo a
construccedilatildeo de uma infra-estrutura capaz de atender agraves novas exigecircncias do
mercado
Neste caso o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Paraacute natildeo
foge agrave regra quando o assunto eacute a transformaccedilatildeo do espaccedilo paraense a partir das
praacuteticas turiacutesticas Aleacutem de garantir um maior fluxo da economia a partir do turismo
ele legitima a presenccedila de agentes interessados em investir racionalmente na
tomada de decisotildees que interessem ao aumento dessa atividade no espaccedilo
paraense Eacute de fato no PDT-PA que estaacute contida toda a argumentaccedilatildeo do Governo
em prol da atividade facilitando assim sua promoccedilatildeo
Estruturalmente o PDT-PA estaacute dividido em trecircs grandes seccedilotildees que
correspondem aos momentos distintos de sua elaboraccedilatildeo
84
A primeira grande seccedilatildeo diz respeito ao diagnoacutestico feito pela empresa de
consultoria contratada para a elaboraccedilatildeo do plano19
Na introduccedilatildeo do plano haacute uma justificativa referente agrave ideacuteia do
desenvolvimento Nesta parte o interesse do Governo do Estado eacute de fazer do
documento um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentaacutevel dos
recursos disponiacuteveis na natureza paraense A cultura aqui eacute apresentada sob a
forma de recurso e adquire um valor importante no que se refere ao turismo
Segundo as proacuteprias palavras do documento
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Ainda no tocante a esta seccedilatildeo as justificativas feitas em relaccedilatildeo a assuntos
como crescimento e sustentabilidade natildeo podem ser vistas como atividades
isoladas Do contraacuterio permite-se uma maior participaccedilatildeo do Estado no que se
refere ao fomento de outros fatores cruciais para o desenvolvimento da atividade
como infra-estrutura e planejamento integrado colocando o turismo como uma
atividade econocircmica racionalmente conduzida por um processo de planejamento
econocircmico espacial
Para que o plano de desenvolvimento do turismo pudesse ser estruturado
como tal foi necessaacuterio haver uma vinculaccedilatildeo com outro projeto antecedente
intitulado Projeto Beija-Flor 20
Ainda na introduccedilatildeo do documento os criteacuterios de construccedilatildeo do plano
aparecem como elementos que identificam sua forma de elaboraccedilatildeo como
19 A empresa referente chama-se THR Assessoria em Turismo Hotelaria e Recreaccedilatildeo O Plano teve seu momento de elaboraccedilatildeo final em outubro de 2001 20 Este Projeto foi desenvolvido no periacuteodo do segundo governo de Almir Gabriel no periacuteodo de 1999 a 2002
85
compilaccedilatildeo e anaacutelises de documentos existentes que retratam o turismo no Paraacute
folders que divulguem a imagem do Estado em outros lugares
Aleacutem disso o trabalho de campo realizado pela empresa de consultoria
estava estruturado em pesquisas e observaccedilotildees feitas em trecircs momentos distintos
No primeiro eram feitas entrevistas com turistas que chegavam a Beleacutem
atraveacutes de seus desembarques no aeroporto internacional da capital A respeito
disso natildeo eacute mencionado no documento quais tipos ou padrotildees de turistas que a
pesquisa da empresa solicita ou de onde eles vinham Outro detalhe eacute que outros
lugares de chegada a Beleacutem natildeo satildeo mencionados no plano como eacute o caso do
Terminal Rodoviaacuterio de Beleacutem Hildegardo da Silva Nunes e dos portos fluviais
situados ao longo da capital Para a empresa responsaacutevel a finalidade da pesquisa
era a de identificar como atrair fluxos turiacutesticos maiores para o Estado (PARAacute
2001 p 6) tendo como base o fluxo de pessoas que desembarcassem pelo
aeroporto de Beleacutem
Ainda dentro da pesquisa realizada alguns elementos se destacam como a)
o motivo de viagem natildeo fosse de negoacutecios b) houvesse pelo menos um pernoite no
estado c) estivesse dentro da composiccedilatildeo previamente estruturada da amostra
(PARAacute 2001 p 6)
Em um segundo momento da pesquisa sua realizaccedilatildeo estava pautada nos
maiores centros operadores e emissivos de turismo do Brasil ou seja Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais A mesma foi baseada em entrevistas pessoais com
os proprietaacuterios eou diretores das operadoras buscou-se identificar as principais
questotildees relacionadas com a promoccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos
paraenses (PARAacute 2001 p 7) Com isso a intenccedilatildeo principal da empresa
contratada para elaborar o plano era a de identificar o que falta para o Paraacute ser um
bom destino turiacutestico ou no que se refere ao ambiente de mercado o que falta para
o estado ser um forte concorrente no trade turiacutestico nacional Nesta ocasiatildeo o
principal criteacuterio de escolha esteve ligado agraves empresas que jaacute trabalhavam com o
produto turiacutestico paraense e com isso perceber quais dificuldades foram apontadas
por elas e quais soluccedilotildees poderiam ser apresentadas no que tange ao aumento de
volume de turistas para o Estado
86
Em um terceiro momento a escala internacional foi levada em consideraccedilatildeo
no que diz respeito agraves pesquisas de mercado Neste ponto a empresa responsaacutevel
explica em linhas gerais que o mercado internacional de turismo no Paraacute eacute
fragilizado
Partindo do pressuposto de que o turismo internacional praticamente inexiste no Paraacute a pesquisa procurou detalhar o mercado potencial existente nos principais paiacuteses do Mercosul da Europa e nos EUA A pesquisa identificou o perfil do consumidor os produtos mais demandados a forma de comercializaccedilatildeo etc (PARAacute 2001 p 7)
Essas anaacutelises portanto estatildeo desenvolvidas no transcorrer da elaboraccedilatildeo
do plano de turismo o que eacute demonstrado quando eacute feita a apreciaccedilatildeo sobre a
situaccedilatildeo do mercado externo de turismo paraense Tal estrateacutegia de mercado estaacute
pautada numa abordagem do tipo transescalar como lembra Vainer (2002) na qual
os mercados regionais locais e internacionais satildeo privilegiados
Para a empresa responsaacutevel a importacircncia da pesquisa se resumia mais a
um caraacuteter propositivo do que investigativo (PARAacute 2001) procurando saber quais
as deficiecircncias do estado no que concerne o avanccedilo do turismo Neste sentido a
intenccedilatildeo da empresa juntamente com o governo do Paraacute era de perceber quais os
problemas para propor soluccedilotildees estrateacutegias que mudassem o quadro de uma baixa
inserccedilatildeo do mercado turiacutestico paraense nas escalas nacional e internacional Neste
caso A pesquisa foi mais propositiva do que investigativa Ou seja procurou
identificar o que o Paraacute necessita fazer para concorrer nestes poderosos mercados
emissores de turistas (PARAacute 2001 p 7)
No tocante agrave elaboraccedilatildeo definitiva do plano a empresa responsaacutevel procurou
divulgar o plano entre os agentes promotores do turismo no Paraacute Neste caso o
documento especifica que o plano ainda foi discutido entre profissionais do ramo
bem como o proacuteprio gabinete do governador Em outras palavras no PDT-PA a
elaboraccedilatildeo completa ficou por conta da empresa de assessoria em turismo
THR
os agentes de Estado assim como planejadores teacutecnicos e empresaacuterios Neste
87
caso outros representantes da sociedade civil ou lideranccedilas populares natildeo satildeo
citados no documento Segundo o documento
Estas estrateacutegias programas e grupo de accedilotildees foram apresentados em reuniotildees nos vaacuterios poacutelos com as lideranccedilas puacuteblicas e privadas e as mesmas passaram por um processo de aperfeiccediloamento em funccedilatildeo dos resultados obtidos nestas discussotildees Depois de incorporadas as sugestotildees advindas das reuniotildees nos poacutelos o trabalho foi rediscutido no acircmbito da Paratur da Secretaria de Produccedilatildeo e do proacuteprio Gabinete do Governador do Estado Apoacutes o Plano ter sido submetido a consenso nestas esferas o mesmo foi apresentado em um seminaacuterio para cerca de 400 empresaacuterios teacutecnicos e autoridades (PARAacute 2001 p 8)
A ideacuteia de planejamento e elaboraccedilatildeo de um documento como o PDT-PA eacute
contraacuteria agrave ideacuteia que Souza (2004) defende sobre os instrumentos de planejamento
por mais relevantes e criativos que sejam [os instrumentos de planejamento e
gestatildeo] soacute adquirem verdadeira importacircncia ao terem sua operacionalizaccedilatildeo
(regulamentaccedilatildeo) e sua implementaccedilatildeo influenciadas e controladas pelos cidadatildeos
(SOUZA 2004 p 321) Neste caso deve-se especificar qual ideacuteia de cidadatildeo que
se almeja nesse processo ou seja aquele que natildeo se reduz aos atores
hegemocircnicos de um setor econocircmico rentaacutevel como eacute o turismo Pelo contraacuterio esta
perspectiva assume um caraacuteter ainda mais amplo de participaccedilatildeo popular de todos
aqueles envolvidos neste processo de intervenccedilatildeo espacial
O plano ao privilegiar certos grupos da sociedade paraense circunscreve o
poder de decisatildeo sobre o desenvolvimento do turismo para poucos Lideranccedilas
populares ou agentes do circuito inferior da economia (SANTOS 2002) natildeo tecircm voz
nem tampouco vez no processo de construccedilatildeo de um documento como o PDT-PA
As decisotildees sobre a atividade turiacutestica no Paraacute portanto satildeo desiguais e
excludentes
A segunda seccedilatildeo intitulada Conteuacutedo do Plano apresenta um amplo
diagnoacutestico da situaccedilatildeo do turismo paraense Nesta parte do plano existem
caracteriacutesticas que satildeo associadas agrave atividade turiacutestica no estado como recursos
naturais infra-estrutura demandas e organizaccedilatildeo do oacutergatildeo responsaacutevel pela
setorizaccedilatildeo do turismo no Paraacute a PARATUR
88
Em um primeiro momento no que diz respeito agrave ideacuteia de recursos turiacutesticos
o plano oferece uma descriccedilatildeo dos elementos naturais presentes no estado como
recursos potencializaacuteveis para uma exploraccedilatildeo racionalizada por parte de agentes
que operam no setor de investimentos do turismo O documento chama atenccedilatildeo
para as ideacuteias de recursos turiacutesticos e acessibilidade Neste caso em especial o
plano toma a linguagem dos recursos naturais do estado pela forma de acesso a
eles em outros termos os lugares que apresentam uma maior facilidade de fluxos
dos turistas apresentam por conseguinte uma importacircncia a mais quanto agrave
exploraccedilatildeo Como exemplo
Ao norte do Estado (margem esquerda do Rio Amazonas na Guiana Paraense) o relevo se mostra um pouco mais acidentado o suficiente para criar rios com diversas cachoeiras e corredeiras o que se constitui em grande atrativo para turismo de aventura No extremo-norte a topografia apresenta maiores elevaccedilotildees Poreacutem as dificuldades de acesso e a presenccedila de grandes extensotildees de reservas indiacutegenas impedem que estes recursos se transformem em produtos turiacutesticos a curto prazo (PARAacute 2001 p 11 grifo nosso)
Assim sendo o interesse por espaccedilos que possibilitem uma maior
acessibilidade e que jaacute apresentem certa notoriedade torna-se um fator importante
para que haja uma facilitaccedilatildeo da entrada de investimentos turiacutesticos Neste caso os
espaccedilos selecionados e que tecircm maiores preferecircncias por investimentos externos
tecircm tendecircncia a seres dinacircmicos do ponto de vista da acumulaccedilatildeo do capital
O consumo dos lugares ou ainda de seus atrativos satildeo diferenciados de outros
espaccedilos dentro do territoacuterio paraense Exemplos como fauna flora gastronomia
cobertura vegetal patrimocircnio cultural aparecem no Plano como elementos dados
prontos a serem dinamizados e em uma outra perspectiva comercializados Sobre
isso o proacuteprio PDT-PA mostra
Contudo dispor de bons recursos natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para se constituir um destino competitivo Os recursos e atrativos podem ser usados e desfrutados Mas para isto eacute necessaacuterio que sejam acessiacuteveis que estejam minimamente equipados acondicionados e sinalizados que enfim permitam a praacutetica de atividades ordenadas e organizadas etc (PARAacute 2001 p 12)
89
Tal situaccedilatildeo tambeacutem eacute constatada pelo plano na seccedilatildeo Infra-estrutura e
equipamentos baacutesicos onde se torna presente a ideacuteia de que no estado do Paraacute a
infra-estrutura estaacute aqueacutem de dinacircmica intensa exigida pelo turismo de massa
A partir de um diagnoacutestico amplo averiguado nas principais cidades que apresentam
os recursos turiacutesticos o plano expotildee de forma clara as possibilidades de acessos
por meios de transporte como por exemplo por via terrestre fluvial e aeacuterea
A partir disso o plano exibe uma relaccedilatildeo interessante entre os meios de
transporte e as peculiaridades naturais do estado Para que haja uma maior
facilidade de acesso e fluxo turiacutestico intenso o plano mostra um tipo de comentaacuterio
contraacuterio a uma das maiores especificidades naturais do estado e da regiatildeo
amazocircnica os rios Segundo as proacuteprias palavras do PDT-PA
Os transportes se constituem em um problema dadas as dimensotildees do Estado O Paraacute conta com 4215km de rodovias asfaltadas o que para seu tamanho eacute uma extensatildeo ainda muito pequena Aleacutem disto a grande pluviosidade da regiatildeo torna a manutenccedilatildeo desta rede muito dispendiosa e vaacuterias rodovias tecircm sua trafegabilidade afetada nos periacuteodos de chuvas mais intensas (PARAacute 2001 p 16)
Nesse sentido ainda
Por esta razatildeo o transporte fluvial eacute o mais utilizado na regiatildeo amazocircnica Apesar da rede hidrograacutefica paraense ser das maiores do mundo a sinuosidade dos rios e obstaacuteculos naturais tornam as viagens fluviais demoradas o que dificulta certos segmentos de demanda que dispotildeem de pouco tempo para viagens (PARAacute 2001 p 16)
Levando em consideraccedilatildeo essa perspectiva o transporte mais adequado para
que haja um maior fluxo da atividade turiacutestica eacute o transporte aeacutereo que por sinal
dentro das perspectivas globais de transporte para o turismo de uma forma geral eacute
o tipo de transporte que mais se adapta agrave rapidez que o turismo precisa para
estabelecer os trajetos de viagens
Conforme o plano a densidade de fluxos de pessoas que visitam o Paraacute eacute
baixa caracterizando dessa forma uma natildeo equiparaccedilatildeo com outros poacutelos
90
turiacutesticos nacionais jaacute desenvolvidos Neste aspecto o plano revela a necessidade
de se ampliarem as ofertas de vocircos para a regiatildeo Como a intenccedilatildeo do plano nesta
seccedilatildeo eacute de diagnosticar os problemas a ecircnfase dada agrave questatildeo da infra-estrutura
de transportes eacute situada nos poacutelos de turismo do estado de acordo com a maior
acessibilidade que eles podem oferecer
O documento afirma a importacircncia da infra-estrutura como um dos
componentes fundamentais para que os sistemas turiacutesticos (BOULLOacuteN 2002)
possam funcionar adequadamente Em consonacircncia com o Estado a iniciativa
privada promove alteraccedilotildees no espaccedilo para que o processo de implantaccedilatildeo da infra-
estrutura possa se adequar a uma demanda turiacutestica Neste caso haacute uma tentativa
por parte do documento em imprimir um ritmo moderno da economia (BOULLOgraveN
2002) no territoacuterio paraense fazendo com que haja uma rearticulaccedilatildeo entre as
estruturas produtivas De outro modo a construccedilatildeo eou reforma das estradas bem
como de portos e principalmente aeroportos satildeo condiccedilotildees importantes para a maior
dinacircmica espacial do turismo adaptando progressivamente o estado do Paraacute a uma
feiccedilatildeo global da economia voltada para a atividade
No estado do Paraacute a situaccedilatildeo da infra-estrutura ainda eacute deficiente Neste
caso antes mesmo de atender agraves necessidades de um turismo latente as infra-
estruturas de um modo geral natildeo conseguem nem mesmo atender as demandas
gerais da populaccedilatildeo paraense em consequumlecircncia a atividade turiacutestica ainda
encontra dificuldades de se fixar no espaccedilo Voltando essa ideacuteia para as cidades
paraenses que satildeo apresentadas o plano denuncia a ineficiecircncia ou maacute
conservaccedilatildeo dos diversos segmentos de infra-estrutura no estado fazendo com que
ainda exista uma concentraccedilatildeo das atividades turiacutesticas na capital (Beleacutem) Assim
os demais poacutelos em relaccedilatildeo agrave capital tornam-se defasados segundo este criteacuterio
Essa situaccedilatildeo reflete-se tambeacutem na seccedilatildeo serviccedilos turiacutesticos do estado
Tais serviccedilos satildeo identificados principalmente por um tipo de estrutura que atende
diretamente ao mercado turiacutestico como por exemplo os hoteacuteis redes de agecircncias
de viagens e operadoras Eacute interessante salientar que a relaccedilatildeo entre a infra-
estrutura e os serviccedilos eacute direta principalmente levando-se em consideraccedilatildeo os
objetos espaciais que condicionam o estabelecimento dos serviccedilos de turismo como
estradas saneamento baacutesico rede de esgoto e seguranccedila Para que os serviccedilos
91
turiacutesticos possam ser bem efetivados no espaccedilo eacute preciso que haja um equiliacutebrio
no que se refere ao bom andamento das infra-estruturas do contraacuterio as
consequumlecircncias satildeo a de pouco movimento de turistas ou dificuldade de divulgaccedilatildeo
dos produtos turiacutesticos A este respeito o Plano enfoca o seguinte diagnoacutestico
A estrutura empresarial do setor turiacutestico paraense eacute esparsa e atomizada A maioria das empresas (hoteacuteis operadoras) satildeo de pequeno porte e de propriedade familiar movimentam salvo algumas exceccedilotildees volumes de negoacutecios reduzidos (PARAacute 2001 p 23) (sic)
Dentro de uma visatildeo de mercado o plano enfatiza que essas caracteriacutesticas
satildeo empecilhos para que haja um avanccedilo no setor por natildeo serem condizente com
avanccedilos tecnoloacutegicos e uma inserccedilatildeo mais raacutepida na rede mundial ou trade
turiacutestico freando assim a qualidade do produto Por conseguinte a condiccedilatildeo de
negatividade que os atrativos turiacutesticos passam eacute tambeacutem um fator de preocupaccedilatildeo
por parte dos agentes que investem no setor impossibilitando assim um reajuste
no setor que movimenta as accedilotildees econocircmicas (HALL 2001)
A visatildeo do plano neste caso eacute de criar uma expectativa de melhoria de
planejamento turiacutestico como lembra Hall (2001) fazendo com que os impactos
negativos diagnosticados no estado sejam suavizados perante uma reestruturaccedilatildeo
do territoacuterio mediante a implantaccedilatildeo de serviccedilos turiacutesticos de qualidade Tudo isso
com o intuito de fomentar o turismo paraense O plano mostra que as limitaccedilotildees
apresentadas pelo estado impedem o crescimento da atividade bem como de
- Impulsionar processos de inovaccedilatildeo e melhora da qualidade - Ter acesso agrave tecnologia avanccedilada - Ter acesso agraves informaccedilotildees de alta qualidade - Ter acesso a recursos humanos de bom niacutevel de capacitaccedilatildeo - Implementar foacutermulas de comercializaccedilatildeo mais eficientes (PARAacute 2001 p 24)
A medida que a concorrecircncia dos mercados turiacutesticos se acirra os governos
tendem a entrar nesse jogo para que haja uma maior atraccedilatildeo para seu produto
92
turiacutestico E eacute nesse ponto que reside a soluccedilatildeo de problemas como a infra-estrutura
e serviccedilos que estejam direcionados ao mercado do turismo haacute portanto um
reordenamento espacial voltado para atender a tal demanda A insuficiecircncia desse
setor se reflete diretamente no nuacutemero de agecircncia de turismo assim como no
nuacutemero de hoteacuteis No plano como resultado de um diagnoacutestico feito nesse setor foi
elaborado um graacutefico de diferenciaccedilatildeo das unidades hoteleiras por cada poacutelo de
turismo do Estado21
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico
Beleacutem
57
Tapajoacutes
8
Araguaia
Tocantins
15
Marajoacute
6
Xinguacute
Costa
Atlacircntica
10
4
FONTE Adaptado de PARATUR apud PARAacute (2001)
Associado ao conjunto de serviccedilos e infra-estrutura o PDT-PA enfatiza os
tipos de produtos turiacutesticos comercializados no Estado Destaque se faz para o
segmento interesse geral (PARAacute 2001) e ecoturismo visto que no Paraacute sua
divulgaccedilatildeo eacute ampla nos destinos nacionais e internacionais mais procurados
Os poacutelos quando classificados sempre trazem informaccedilotildees referentes ao
ecoturismo mantendo portanto a bandeira de divulgaccedilatildeo deste segmento
A operacionalizaccedilatildeo desses segmentos se faz atraveacutes dos pacotes turiacutesticos
que as operadoras montam e oferecem ao turista quando este chega principalmente
a Beleacutem Tais pacotes satildeo monitorados por guias e pessoas especiacuteficas da aacuterea
Para que se efetuem os pacotes a partir do ordenamento feito pelas
operadoras de turismo instaladas no estado eacute necessaacuterio que haja uma
comercializaccedilatildeo nos mercados compradores atraveacutes de sua divulgaccedilatildeo Por outro
lado este ainda se constitui um problema que o estado do Paraacute junto agrave PARATUR
21 Dados referentes agrave elaboraccedilatildeo do Plano feita em 2001
93
encontra Os mercados consumidores (uma forma geral de nomear os turistas de
outros lugares do paiacutes e do mundo) natildeo costumam associar seus tempos de lazer e
feacuterias agraves visitas feitas agrave Amazocircnia em especial ao estado do Paraacute Em geral os
destinos mais visitados continuam sendo os mais divulgados atraveacutes de um
processo de marketing e miacutedia amplo que os mesmos fazem E neste ponto se
destacam os estados da regiatildeo Nordeste do Brasil bem como estados da regiatildeo
sudeste como Rio de Janeiro e Satildeo Paulo por possuiacuterem um conjunto ou sistema
de turismo mais avanccedilado do que os da Amazocircnia paraense O graacutefico na paacutegina
seguinte elaborado pela THR mostra de forma clara essa situaccedilatildeo
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais
()22
0 10 20 30 40 50 60 70
Fortaleza
Natal
Maceioacute
Fernando de Noronha
Recife
Salvador
Pantanal
Interior de S Paulo
Chapada Diamantina
Amazocircnia
Porto Seguro
Serras Gauacutechas
Lenccediloacuteis Maranhenses
Cidades Histoacutericas Mineiras
Chapada dos Veadeiros
Serra da Canastra
Comandatuba
Serra dos Pirineus
Serra do Cipoacute
FONTE PARAacute (2001)
Nesta seccedilatildeo de diagnoacutestico do PDT-PA a postura dos consumidores ao
elegerem os espaccedilos de lazer em relaccedilatildeo aos produtos turiacutesticos paraenses
22 Curiosamente esta pesquisa feita pela THR natildeo menciona o Rio de Janeiro como uma dos principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras de turismo Mais estranho ainda eacute que a THR afirma no PDT-PA que as empresas participantes da pesquisa possuem grande tradiccedilatildeo no setor (PARAacute 2001 p 41) e por isso mesmo sendo o Rio de Janeiro um dos estados que recebe mais turistas no Brasil e no mundo sua ausecircncia enquanto destino turiacutestico em escala nacional e internacional suscita duacutevidas quanto agrave abrangecircncia da pesquisa
94
sempre associam a ideacuteia de que jaacute visitaram outros lugares ou seja os principais
destinos turiacutesticos brasileiros (como mostra o graacutefico) Neste caso a preferecircncia dos
turistas em relaccedilatildeo ao Paraacute deixa-lhe como uma segunda opccedilatildeo na preferecircncia
desses visitantes Esse perfil de turista eacute apontado pelo Plano da seguinte forma
a) Satildeo turistas que buscam produtos ligados agrave natureza b) Jaacute conhecem o Brasil e especialmente o Nordeste c) Buscam conhecer novas culturas d) Buscam experiecircncias ligadas agrave aventuras e) Possuem elevado poder aquisitivo f) Possuem faixas etaacuterias mais elevadas g) Residem em grandes centros urbanos h) Os estrangeiros possuem mais interesse que os brasileiros (PARAacute 2001 p 43)
Tal condiccedilatildeo apontada de antematildeo pelo Plano reflete-se em outras duas
seccedilotildees demanda turiacutestica do Paraacute e organizaccedilatildeo institucional do turismo Esta
uacuteltima refere-se diretamente agraves accedilotildees que a PARATUR desenvolve no estado a fim
de fomentar a atividade turiacutestica Segundo o Plano a PARATUR ainda estaacute
organizada de forma incipiente e ligada a outras secretarias de estado natildeo criando
assim uma espeacutecie de autonomia institucional Nas cidades do interior as
organizaccedilotildees voltadas para o turismo satildeo deficientes geralmente ligadas agrave
secretarias de induacutestria comeacutercio ou esporte fazendo com que seus investimentos
natildeo se decircem de forma especiacutefica para o setor
De uma forma bem ampla o PDT-PA estrutura seus conjuntos de objetivos
em algumas subseccedilotildees Os objetivos finais podem ser entendidos enquanto
objetivos gerais de um Plano de desenvolvimento e neste sentido trazem consigo
um posicionamento poliacutetico de interferecircncia soacutecio-econocircmica e espacial O elemento
marcante eacute a ideacuteia da competitividade Marca por sinal dos planejamentos
territoriais que privilegiam uma realidade econocircmica
Esta parte do plano tem uma estrutura voltada para uma ampliaccedilatildeo ou
melhoria do mercado turiacutestico no Paraacute tanto que seu conteuacutedo revela prioridades
tais como a atratividade que estaacute assentada na ideacuteia de relaccedilatildeo que os produtos
turiacutesticos paraense tecircm de se adequar agraves demandas de turistas visitantes
95
Outra prioridade ou elemento eacute a produtividade que revela o valor
patrimonial (PARAacute 2001 p 55) que um produto turiacutestico pode ter Em outras
palavras eacute perceber o niacutevel ou grau de produtividade que um produto turiacutestico pode
ter E nesse sentido fazer com que esse elemento possa perdurar em longo prazo
evitando assim sua saturaccedilatildeo
Aleacutem dessas prioridades destaca-se o marketing que torna o produto o
suporte principal de propaganda e venda em outros setores Neste caso o
marketing caracteriza-se por uma tentativa constante de oferecimento do produto em
outras praccedilas ou seja existe uma verdadeira propaganda do Paraacute enquanto produto
a ser comercializaacutevel
Nielsen (2002) lembra que o marketing torna-se uma estrateacutegia muito proacutexima
a de turismo A tentativa de que essa estrateacutegia possa atingir com maior facilidade
diferentes classes como estudantes profissionais da aacuterea acadecircmicos empresas
governo miacutedia e pessoas de uma forma geral faz do marketing uma soluccedilatildeo
interessante para o turismo O Plano de Turismo do Estado utiliza-o como
ferramenta que tem a possibilidade de convencer pessoas do que haacute de melhor no
Estado tendo o turista como seu principal objetivo A utilizaccedilatildeo desse instrumento eacute
diversificada folders viacutedeos feiras workshops amostras de produtos que satildeo
fabricados por empresas ou feitos por artesatildeos satildeo especificidades do marketing
Constitui-se como uma forma de ampliaccedilatildeo mercadoloacutegica de um setor especiacutefico
Mostra-se portanto uma estreita ligaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o marketing
Nesse sentido o PDT-PA tenta aproximar ao maacuteximo atributos da propaganda para
que os produtos turiacutesticos ganhem notoriedade mercado afora
Junto a esses trecircs elementos a gestatildeo finaliza a ideacuteia de competitividade
presente no plano constituindo assim uma nova forma de fluidez agrave atividade
turiacutestica no Estado A partir de um novo olhar administrativo em que o turismo se
insere a gestatildeo torna-se um instrumento poliacutetico de administraccedilatildeo puacuteblica que
revela intenccedilotildees e tomadas de decisotildees importantes para um bom andamento de
um planejamento Neste caso a gestatildeo de uma atividade turiacutestica proporcionada
pelo plano deve congregar os uacuteltimos trecircs elementos citados de forma conjunta e
indissociaacutevel Assim o objetivo final do plano assim se apresenta
96
Converter o Paraacute em um destino turiacutestico preferencial para os mercados nacional e internacional mediante um desenvolvimento turiacutestico competitivo e sustentaacutevel que contribua decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do Paraacute gerando maior bem estar material e maior bem estar emocional (PARAacute 2001 p 55)
Percebe-se por sua vez que o objetivo do plano natildeo se restringe agraves
transformaccedilotildees do setor turiacutestico no territoacuterio paraense mas acima de tudo
apresenta-se como plataforma de transformaccedilatildeo social tanto do ponto de vista da
materialidade (bem estar material) quanto da imaterialidade (bem estar emocional)
Portanto o turismo a partir de uma diretriz voltada para o mercado pretende uma
ampla mudanccedila soacutecio-espacial
Outros objetivos do plano integram esta seccedilatildeo como objetivos de negoacutecios
os quais estatildeo voltados para um incremento maior da demanda de investimentos
gerados a partir do aumento do volume da atividade no Paraacute Com essa perspectiva
espera-se portanto estabelecer um crescimento sustentaacutevel do turismo no Estado
segundo as proacuteprias ideacuteias do Plano Esta seccedilatildeo organiza-se em trecircs objetivos
especiacuteficos que integram esta sub-seccedilatildeo
- Incrementar o volume da demanda nacional e internacional
- Incrementar a permanecircncia meacutedia
- Incrementar o gasto turiacutestico (PARAacute 2001 p 56)
Assim como
Para que o estado do Paraacute seja convertido em um destino turiacutestico e com isso os reflexos dos fluxos turiacutesticos possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua populaccedilatildeo eacute preciso maximizar a renda da atividade Esta maximizaccedilatildeo deveraacute ser feita atraveacutes da ampliaccedilatildeo do nuacutemero de turistas quer sejam turistas domeacutesticos quer sejam turistas internacionais (PARAacute 2001 p 56)
No que se refere agrave ideacuteia de crescimento o plano tambeacutem apresenta a seccedilatildeo
objetivos de crescimento na qual natildeo define precisamente o que seja crescimento
97
O plano adota a ideacuteia de metas de mercado estabelecidas pela empresa
responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do plano - THR Como exemplo dessas metas a serem
alcanccediladas o PDT-PA apresenta um quadro onde se cria uma expectativa de
aumento do turismo atraveacutes de alguns criteacuterios O quadro assim estaacute definido
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001
2006
Turistas em 2006200000
Pernoites em 20061400000
Receita por turistasUS$1400 (7 dias)
Receita totalUS$280000000
Novas habitaccedilotildees ateacute 20064500
Investimento em habitaccedilotildees ateacute 2006US140 milhotildees
Outros investimentos ateacute 2006US$120 milhotildees
Novos empregos diretos ateacute 200626000
Novos empregos indiretos ateacute 200628000
FONTE Adaptado de PARAacute (2001)
Nesse sentido tais metas tornam-se fundamentais para se concretizar as
estrateacutegias espaciais que o Plano adota a fim de espacializar suas pretensotildees23
Esse conjunto de accedilotildees eacute concretizado na terceira parte do Plano (seccedilatildeo C ) onde
as propostas e objetivos do PDT-PA traduzem-se em programas de intervenccedilatildeo
espacial A seccedilatildeo programas e accedilotildees do plano estaacute estruturada de acordo com os
elementos jaacute citados atratividade produtividade gestatildeo e marketing
Como uma forma de enfatizar essas estrateacutegias o plano integra esses
elementos a partir de um graacutefico assim exposto
23 Esta ideacuteia seraacute objeto de anaacutelise no item 43 deste trabalho intitulado A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
98
Graacutefico 4 Estrateacutegias eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT PA
FONTE PARAacute (2001 p 93)
Nesta seccedilatildeo esses elementos datildeo vazatildeo aos objetivos propostos Como
elemento principal e tambeacutem norteador das accedilotildees eou estrateacutegias eacute a
competitividade nesta seccedilatildeo do Plano em especial que norteia a estrutura do
turismo no estado do Paraacute ou ainda de uma realidade possiacutevel de ser
implementada desde que as diretrizes oferecidas pelo plano sejam estabelecidas
Natildeo se deve perder de vista portanto que o quadro comparativo que se apresenta
no Plano leva em consideraccedilatildeo esses pontos especiacuteficos que o PDT-PA atraveacutes da
THR julga ser necessaacuterio para haver uma transformaccedilatildeo na realidade turiacutestica do
Estado
99
Como consequumlecircncia disso as accedilotildees estatildeo divididas nesses criteacuterios da
seguinte forma
Quadro 2 Programas e Accedilotildees Siacutentese
Programa Accedilotildees
Paraacute Atratividade
A-1 Criaccedilatildeo de Gestores e Experiecircncias Turiacutesticas A-2 Ampliaccedilatildeo e Modernizaccedilatildeo dos Meios de Hospedagem Paraenses A-3 Sinalizaccedilatildeo Turiacutestica A-4 Melhoria das Condiccedilotildees Ambientais dos Municiacutepios Turiacutesticos A-5 Embelezamento Urbano e Melhorias de Infra-estrutura A-6 Ordenaccedilatildeo Urbaniacutestica dos Municiacutepios Turiacutesticos A-7 Sistema de Padrotildees e Selos de Qualidade A-8 Paraacute Hospitalidade A-9 Postos de Informaccedilotildees Turiacutesticas A-10 Instituto Internacional de pesquisa sobre o Ecotuismo
Paraacute Produtividade
P-1 Inventaacuterio Classificaccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo dos Recursos Turiacutesticos P-2 Criaccedilatildeo de Grupos de Competitividade Locais P-3 Criaccedilatildeo de Empresas em Joint Ventures P-4 Capacitaccedilatildeo ProfissionalEmpresarial P-5 FormaccedilatildeoCapacitaccedilatildeo de Pessoal de Base P-6 Simplificaccedilatildeo do Processo de Abertura de Novas Empresas P-7 Mecanismos de Financiamentos e Estiacutemulos Fiscais P-8 Desenvolvimento Tecnoloacutegico P-9 Sistema de Reconhecimento e Premiaccedilatildeo agrave Profissionalizaccedilatildeo
Paraacute Marketing
M-1 Criaccedilatildeo de Grupos de Marketing por Produtos M-2 Criaccedilatildeo de uma Infra-estrutura de Marketing M-21 Unidades Locais de Marketing
ULM S M-22 Bases de Dados M-23 Banco de Imagens M- 24 Sistema de Inteligecircncia de Mercado M-3 Articulaccedilatildeo de um Sistema de Venda e Comunicaccedilatildeo M-31 Workshops M-32 Feiras de Promoccedilatildeo Turiacutestica M-33 Site Inspection Service M-34 Manual de Vendas M-35 Seminaacuterios de Vendas M-36 Fam Trips M-37 Material Promocional M-38 Publicidade M-39 Propaganda M-310 Web Paraacute M-311 Marketing Direto
Paraacute Gestatildeo G-1 Comissatildeo Estadual de Turismo G-2 Conselho Estadual de Turismo G-3 Sistema de Indicadores de Sustentabilidade
FONTE Adaptado de Paraacute (2001 p 95)
Eacute importante lembrar que natildeo se privilegiaraacute uma anaacutelise de todos os
elementos presentes em cada uma das accedilotildees propostas pelo Plano Poreacutem a
100
anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo das estrateacutegias espaciais e do modelo de
desenvolvimento proposto torna-se o foco principal deste trabalho a ser feita no
proacuteximo capiacutetulo Em relaccedilatildeo ao quadro apresentado pelo PDT-PA ele eacute uma
siacutentese de todas as accedilotildees planejadas e da concepccedilatildeo de turismo proposta pelo
Estado atraveacutes do Plano No desenrolar dessas accedilotildees eacute que as espacialidades se
mostram enquanto resultado de pensamentos e concepccedilotildees de espaccedilos voltados
para o turismo tornando-se dessa forma perceptiacutevel suas intenccedilotildees desejos e
usos pretendidos pelo Governo do Estado Para tanto no rol das accedilotildees (accedilatildeo A-1
por exemplo) estatildeo inseridos os objetivos o puacuteblico alvo as justificativas e as
atividades necessaacuterias para o desenvolvimento da atividade Essa estrutura entatildeo
deve ser entendida como uma ampla diretriz presente em todos os poacutelos de turismo
do Estado Neste caso a estrutura do plano com todas as subdivisotildees mostra-se
assim organizado (quadro 3 p 101)
101
Quadro 3 Quadro sinoacutetico da estrutura do plano de desenvolvimento do turismo do Paraacute (PDT PA)
FONTE Adaptado de PARAacute (2007)
A- DIAGNOacuteSTICO INTERNO DA SITUACcedilAtildeO ATUAL DO TURISMO PARAENSE
1 Os recursos turiacutesticos
2 As infra-estruturas e equipamentos baacutesicos
3 Os serviccedilos turiacutesticos 4 Os produtos turiacutesticos 5 A comercializaccedilatildeo dos
produtos turiacutesticos 6 A demanda turiacutestica 61 Anaacutelise Quantitativa
62 Anaacutelise Qualitativa
63 Os Mercados Emissores e a Posiccedilatildeo Competitiva do Paraacute
7 Organizaccedilatildeo Institucional do Turismo
- Nesta seccedilatildeo do plano a empresa contratada pelo governo do estado apresenta um amplo diagnoacutestico da situaccedilatildeo em que o turismo do Paraacute se encontra Egrave feito uma anaacutelise de acordo com padrotildees jaacute estipulados pela empresa THR como recursos serviccedilos produtos demanda e inclusive a (re)organizaccedilatildeo do oacutergatildeo de turismo do Paraacute
PARATUR Todas as seccedilotildees procuram destacar os pontos negativos em relaccedilatildeo ao crescimento da atividade no territoacuterio paraense de acordo com os poacutelos de turismo
- O diagnoacutestico feito pelo plano reduz-se ao aspecto econocircmico natildeo considerando as demais instancias da sociedade A negatividade constatada pelo documento eacute afirmada atraveacutes de dados estatiacutesticos Procura enfatizar a conceitos como precarizaccedilatildeo deficiecircncia dos produtos limitaccedilotildees entre outros sempre relacionado somente aos aspectos de mercado
B- OBJETIVOS E ESTRATEacuteGIAS
1 Objetivos 2 Estrateacutegias de
Desenvolvimento Turiacutestico 3 Plano de Comercializaccedilatildeo
20012003 4 Proposta de Estrutura
Organizativa da PARATUR
- Depois de realizar o diagnoacutestico o plano procura enfatizar quais as necessidades a serem estimuladas para que haja o desenvolvimento do turismo no Paraacute Aqui a condiccedilatildeo das estrateacutegias de mercado se sobressaem como condiccedilatildeo de transformaccedilatildeo econocircmica
- Os aspectos de mercado mais uma vez se tornam elementos bastante enfatizados a ideacuteia de competitividade torna-se norteadora das accedilotildees para o desenvolvimento do turismo Neste sentido a ideacuteia de natureza reduz-se a uma concepccedilatildeo de consumo em espaccedilos selecionados
C- PROGRAMAS E ACcedilOtildeES
1 Programa Paraacute Atratividade 2 Programa Paraacute Produtividade 3 Programa Paraacute Marketing 4 Programa Paraacute Gestatildeo
- Siacutentese das accedilotildees programadas pelo plano Essas accedilotildees devem obedecer aos programas em cada poacutelo do estado
- Mesmo seguindo uma ideacuteia de competitividade natildeo haacute uma explicaccedilatildeo mais detalhada sobre as accedilotildees e programas
102
42 A concepccedilatildeo de turismo no PDT PA
Para que se possa entender a concepccedilatildeo de turismo de um Plano de
intervenccedilatildeo espacial eacute necessaacuterio fazer uma relaccedilatildeo de suas intenccedilotildees com o
tipo ou modelo de planejamento proposto pelo mesmo Quando se retrata a
ideacuteia do que seja um modelo de planejamento a ideologia ligada ao
planejamento revela-se nas entrelinhas de um documento como o PDT-PA ou
em uma dimensatildeo espacial mais concreta nas repercussotildees espaciais que satildeo
feitas atraveacutes de uma gestatildeo puacuteblica de Estado
Neste caso o fundamento principal para se saber o tipo de concepccedilatildeo
de turismo que se veicula no PDT-PA eacute a mensagem que o documento traz
consigo como nos lembra Franco (2005) Quando feita essa anaacutelise as
projeccedilotildees e ideacuteias de planejamento de turismo ressaltam-se e se ligam a uma
ideacuteia maior Desde jaacute eacute importante salientar que um Plano natildeo se faz de forma
neutra e apoliacutetica pelo contraacuterio em todo momento existem nuanccedilas
mostradas em sua leitura ou na sua execuccedilatildeo enquanto programa de
intervenccedilatildeo espacial
Hall (2001) faz uma importante retomada do conceito de planejamento
distinguumlindo-o da ideacuteia de plano Para o autor quando se faz referecircncia ao
termo planejamento a ideacuteia de poliacutetica surge como elemento fundador e
mediador de um processo Por isso que em alguns momentos essas duas
noccedilotildees aparecem como ambiacuteguas e de difiacutecil definiccedilatildeo Hall (2001) assim
escreve
O problema surge porque embora as pessoas percebam que o planejamento tem um significado mais geral tendem a se lembrar do conceito de plano como uma representaccedilatildeo fiacutesica ou graacutefica Consequumlentemente imaginam que planejamento deve incluir a preparaccedilatildeo de tal representaccedilatildeo (HALL 2001 p 24)
Revelar portanto a concepccedilatildeo de turismo no PDT-PA requer a
habilidade de saber associar a que tipo de poliacutetica puacuteblica o mesmo estaacute
103
vinculado Neste caso a estrutura do plano de turismo do Paraacute jaacute se torna um
indiacutecio dessa perspectiva
Ao estruturar o plano em trecircs seccedilotildees parte A (diagnoacutestico) parte B
(objetivos) parte C (programas e accedilotildees) o plano oferece uma perspectiva
inicial de como estaacute disposto o pensamento sobre as intervenccedilotildees e ou
mudanccedilas no espaccedilo paraense Dessa forma jaacute existe uma apropriaccedilatildeo
territorial para fins gerais de planejamento dando ecircnfase agrave dimensatildeo da
atividade turiacutestica como norteador dessas mudanccedilas Neste sentido pensar o
espaccedilo eacute pensaacute-lo de forma turistificada O plano por sua vez permite esse
pensamento ainda de forma estruturada
Uma das condiccedilotildees que servem para traduzir a ideacuteia de turismo
presente no documento eacute a ecircnfase dada ao mercado Os elementos naturais
do estado neste caso apresentam-se como objetos que tecircm valores
importantes para seu consumo As belezas naturais do espaccedilo paraense como
noccedilatildeo de atrativo turiacutestico satildeo exemplos disso Neste sentido como pano de
fundo dessa associaccedilatildeo haacute por parte do PDT-PA (leia-se no caso os agentes
da elaboraccedilatildeo de forma direta e indireta - Estado e THR) a ideacuteia de que esses
espaccedilos satildeo acessiacuteveis a partir de seu valor de troca o que estimula por
assim dizer a vinda de pessoas de fora do estado com o intuito de promover a
circulaccedilatildeo do capital a partir da compra desses produtos em territoacuterio
paraense
Como justificativa atenuante da condiccedilatildeo de consumo das belezas
naturais e de sua possiacutevel degradaccedilatildeo ambiental o plano apresenta a ideacuteia de
melhoria da qualidade de vida que adveacutem por conseguinte do consumo dos
espaccedilos turistificados Tal condiccedilatildeo eacute mostrada de forma clara logo no iniacutecio
da construccedilatildeo do documento
O Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute foi contratado pelo Governo estadual visando definir estrateacutegias para que a atividade se desenvolva de forma que traga melhoria de qualidade de vida agrave populaccedilatildeo paraense Considerando a riqueza de atrativos da Amazocircnia paraense e seu grande apelo sobre mercados emissores de turistas e o crescimento dos segmentos de viagens
104
voltadas agrave natureza o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito significativas para que o turismo seja importante instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
De acordo com essa condiccedilatildeo a pretensatildeo de criar espaccedilos funcionais
ou ainda voltados para a atividade turiacutestica eacute clara Nesta sequumlecircncia percebe-
se tambeacutem a imprecisatildeo do termo melhoria da qualidade de vida No
documento este eacute assunto que natildeo estaacute bem fundamentado o que deixa
lacunas quanto agrave ideacuteia O PDT-PA prefere explicar como se daacute a formataccedilatildeo do
documento os agentes importantes na construccedilatildeo do documento e as
condiccedilotildees necessaacuterias para a elaboraccedilatildeo do mesmo natildeo explicando assim a
noccedilatildeo de melhoria da qualidade de vida do povo paraense
O processo de turismo depende de um conjunto de elementos infra-estruturais que natildeo se encontram isolados no setor econocircmico de prestaccedilatildeo de serviccedilos Assim o seu planejamento setorial deve se integrar ao sistema de planejamento global do Estado Portanto para a elaboraccedilatildeo do Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute a equipe teacutecnica de trabalho tomou por base os investimentos anteriores feitos pelo Governo em termos de planejamento Com esta premissa o Projeto Beija-Flor foi o ponto de partida a partir do qual o Plano de Desenvolvimento foi estruturado (PARAacute 2001 p 5)
A preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade de vida eacute suplantada pela
questatildeo mais impactante referente ao modo de desenvolver ou fazer crescer a
atividade turiacutestica Por conseguinte a noccedilatildeo da melhoria da qualidade de vida
adquire um outro sentido ou seja aquele onde a populaccedilatildeo paraense soacute
poderia alcanccedilar qualidade de vida dentro dos paracircmetros aqui propostos pelo
PDT-PA
Sobre a relaccedilatildeo entre o turismo e a natureza o plano demonstra assim
o interesse pelo o ecoturismo na Amazocircnia especialmente no Paraacute O Estado
e iniciativa privada mostram-se agentes importantes quanto ao fomento desse
segmento de turismo principalmente porque o mesmo mostra-se uma
alternativa aos modelos de turismo do tipo sol e praia o que levado em
105
consideraccedilatildeo a peculiaridade da floresta tropical esse segmento teria uma
relaccedilatildeo proacutespera com a realidade natural do estado A divulgaccedilatildeo dessa
modalidade de turismo eacute muito comum nas revistas especializadas o que torna
o ecoturismo uma espeacutecie de moda como lembra Coelho (1999) Essas
revistas mostram atraveacutes das imagens a imponecircncia da natureza com pouca
interferecircncia humana utilizando-se portanto de imagens residuais de
Paraiacutesos Eldorados ou Santuaacuterios ecoloacutegicos em diferentes partes do mundo
(COELHO 1999 p 66) Nestes termos a sobrepujanccedila da natureza em
relaccedilatildeo ao homem eacute evidente Este uacuteltimo torna-se uma condiccedilatildeo de elemento
que quase natildeo se representa com a mesma intensidade que haacute nas imagens
Neste caso os interesses do turismo vecircm agrave tona em detrimento de uma
sociedade local No plano essa ideacuteia se materializa na concepccedilatildeo de turismo
(ecoturismo) voltado para a regiatildeo (poacutelo) do Marajoacute
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugados As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Portanto relaccedilatildeo homem (sociedade) e natureza no PDT-PA teorizada
haacute pouco natildeo se difere por completo Natureza aqui ganha um sentido de
valor de troca (capitalista diga-se de passagem) restando ao homem
amazocircnico (mais especificamente paraense) a ideacuteia de que a exploraccedilatildeo
racional dos atrativos naturais do estado paraense pode trazer melhorias de
qualidade de vida O homem em questatildeo deixa de ser problematizado
enquanto sujeito principal no entendimento do que seja natureza para dar
lugar a uma estrutura ainda maior que eacute a loacutegica global dos fluxos turiacutesticos
Revela-se neste ponto do plano de turismo do Estado uma realidade que
desloca o homem amazocircnico da accedilatildeo da construccedilatildeo de seu espaccedilo
Coelho (1999) ainda salienta a ideacuteia da apropriaccedilatildeo do discurso
ecoloacutegico ou em outros termos do discurso da natureza como sendo uma
ferramenta de persuasatildeo para aqueles que estejam interessados em visitar o
106
atrativo turiacutestico Amazocircnico (em destaque para o paraense) Tal praacutetica eacute feita
de forma especiacutefica no plano de turismo do estado quando o mesmo apresenta
a natureza da floresta amazocircnica como o diferencial na conquista de novos
mercados de turismo tanto em acircmbito nacional como internacional
Para o PDT-PA a PARATUR viabiliza outras ferramentas de promoccedilatildeo
das belezas do Estado mostrando atraveacutes de revistas especializadas em
turismo folders cartazes entre outros Essas ferramentas ajudam a consolidar
o processo de divulgaccedilatildeo do Estado como uma seara a ser explorada pelas
atividades turiacutesticas Coelho (1999) nos daacute um exemplo desse tipo de
propaganda feita
Natildeo haacute lugar nenhum no mundo com o potencial turiacutestico da Amazocircnia Mas haacute um lugar na Amazocircnia que aleacutem desse potencial ainda oferece incentivos aos empresaacuterios para que eles invistam no seu negoacutecio o Estado do Paraacute O Governo do Paraacute estaacute querendo tanto ter a sua empresa no Estado que estaacute concedendo incentivos fiscais incentivos financeiros incentivos de caraacuteter infra-estrutural e compensaccedilatildeo de incentivos privados na realizaccedilatildeo de obras de infra-estrutura puacuteblica para a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos no territoacuterio paraense Alguns poucos exemplo de muitas vantagens que a empresa leva indo para o Paraacute empreacutestimo em valor correspondente a ateacute 75 do ICMS para pagamento em 10 anos Incentivos fiscais poacute 5 anos Isto eacute de lei Lei n 5943 Agora o que natildeo estaacute na lei nem precisa eacute o mundo intenso de oportunidades de negoacutecios que a Amazocircnia paraense oferece aos empreendedores interessados em desafios e principalmente em novos negoacutecios lucrativos (PARAacute apud COELHO 1999 p 67)
Especificamente no plano essa condiccedilatildeo de oferta de um produto
turiacutestico concretiza-se a partir da concepccedilatildeo de marketing defendida pelo
documento Elementos como eficaacutecia capacidade vantagens competiccedilatildeo
ampliam o universo ao posicionar o territoacuterio paraense como o proacuteprio produto
turiacutestico A intenccedilatildeo portanto eacute de uma conversatildeo espacial abrangente para o
mercado Neste sentido o plano define a ideacuteia de marketing da seguinte forma
O MARKETING determinaraacute a capacidade do destino para se adaptar agrave demanda vender com eficaacutecia fidelizar clientes e
107
identificar permanentemente novas fontes de vantagens competitivas (PARAacute 2001 p 55)
No tocante agrave qualidade de vida defendida pelo PDT-PA o documento
deixa clara a condiccedilatildeo de crescimento como necessaacuteria para obtenccedilatildeo da
qualidade de vida Segundo o plano esta ideacuteia deve estar associada agrave
pretensatildeo de converter o estado em um destino turiacutestico onde seus reflexos
(PARAacute 2001) eacute que repercutem na qualidade de vida do povo paraense Tais
reflexos segundo o plano associam-se agrave maximizaccedilatildeo do fluxo de turistas no
territoacuterio paraense Contudo o plano natildeo deixa claro como esses reflexos
seratildeo transformados em melhorias para a populaccedilatildeo Nisso o documento
afirma a necessidade de permanecircncia dos turistas
O incremento da renda do turismo poderaacute ser alcanccedilado tambeacutem pelo aumento da permanecircncia dos turistas que jaacute visitam o Paraacute Ao ser oferecida maior variedade de produtos e produtos de melhor qualidade a permanecircncia meacutedia do turista se amplia e consequumlentemente seu niacutevel de gastos se aumenta (PARAacute 2001 p 56)
Souza (1997 2000 2002 2004) amplia a discussatildeo sobre a importacircncia
da qualidade de vida pra que haja em uma dimensatildeo maior a justiccedila social o
que no plano reduz-se agrave questatildeo do incremento ou crescimento do mercado
Para o autor a qualidade de vida por muito tempo sempre foi vista ou
apreciada de forma acriacutetica possibilitando assim uma visatildeo uacutenica de que uma
sociedade soacute a consegue atraveacutes de conquistas ou soma de bens materiais
Para o autor tratar de qualidade de vida dentro dos programas de
desenvolvimento assim como de planos de desenvolvimento eacute natildeo deixar de
lado a questatildeo de justiccedila social Juntas essas duas dimensotildees quando bem
efetivadas a partir de uma gestatildeo comprometida com o social garantem um
mudanccedila social positiva E nesse sentido a espacialidade da sociedade
envolvida no processo deve ser levada em consideraccedilatildeo O espaccedilo para
qualquer efeito de mudanccedila eacute a arena referencial simboacutelicoidentitaacuterio e
108
condicionador (SOUZA 2004 p 61) Quando negligenciado ou ateacute mesmo
distorcido de interesses sociais claros pode ser alvo de um economicismo ou
na apreciaccedilatildeo do termo pode sofrer de um reducionismo Como siacutentese o
autor em questatildeo argumenta No que tange agrave melhoria da qualidade de vida
ela corresponde agrave crescente satisfaccedilatildeo das necessidades - tanto baacutesicas
quanto natildeo baacutesicas tanto materiais quanto imateriais - de uma parcela cada
vez maior da populaccedilatildeo (SOUZA 2004 p 62)
Esta condiccedilatildeo defendida por Souza (2004) revela que a ideacuteia de justiccedila
social natildeo pode ser percebida de forma homogecircnea ter visatildeo uacutenica Neste
caso Souza (2004) se baseia em uma concepccedilatildeo aristoteacutelica de que justiccedila eacute
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual (HELLER apud
SOUZA 2004)
Eacute a partir dessa situaccedilatildeo que a ideacuteia de qualidade de vida construiacuteda
pelo PDT-PA natildeo considera a diversidade da sociedade local paraense O que
de fato se vecirc eacute que por conta de uma intensidade de fluxos e geraccedilotildees de
conquistas materiais o turismo traria a possibilidade de melhorar a vida do
paraense O turismo neste caso em especial eacute visto como uma soluccedilatildeo para
uma possiacutevel deficiecircncia ou inadequaccedilatildeo que a sociedade local estaria vivendo
no presente Portanto o Estado atraveacutes do plano deposita essa condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida por meio da expansatildeo do turismo
Ainda sobre a qualidade de vida o plano natildeo faz distinccedilatildeo do termo
generalizando-o e condicionando-o ao crescimento da atividade turiacutestica Isso
ainda eacute confirmado ainda pela ideacuteia de sustentabilidade que em termos gerais
tambeacutem eacute exposta pelo documento Neste caso o proacuteprio plano natildeo especifica
que tipo de sustentabilidade pretende confirmar com o ordenamento territorial
que eacute proposto Por outro lado essa condiccedilatildeo eacute somente citada como uma
pseudo-forma de afirmar uma espeacutecie de retorno social a partir da concepccedilatildeo
de turismo que eacute defendida pelo PDT-PA
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente
109
se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Nesse sentido essas questotildees que surgem por completo no documento
indicam uma tomada do turismo por parte do Estado a fim de tornaacute-lo viaacutevel o
que se confirma com a elaboraccedilatildeo do PDT-PA Apesar de Nicolaacutes (2001)
afirmar a ideacuteia de que turismo antes de ser uma praacutetica econocircmica eacute acima de
tudo uma praacutetica social as atividades geradas pela construccedilatildeo do plano de
turismo evidenciam uma perspectiva de cunho econocircmico tendo a sociedade
um lugar secundarizado nas concepccedilotildees de turismo por parte do Estado Para
o autor por exemplo
En esta liacutenea por el contrario postulamos que el turismo es antes que todo una praacutectica social colectiva que integra mecanismos distintos de relacioacuten al espacio a la identidad y al Otro Por ende maacutes que una actividad econoacutemica el turismo es una praacutectica generadora de actividad econoacutemica en la misma forma que la religioacuten el deporte o la guerra (NICOLAacuteS 2001 p 40)
O plano por sua vez prefere dar condiccedilatildeo ao mercado como elemento
capaz de transformar uma realidade social Deixando por sua vez o consumo
como principal norteador dessa condiccedilatildeo Assim o plano continua
Da mesma forma a busca de segmentos de demanda com outras expectativas de consumo de produtos com maior valor agregado pode contribuir para que o gasto se amplie e consequumlentemente a renda derivada do turismo (PARAacute 2001 p 56)
O turismo defendido pelo plano ainda expotildee outros elementos
importantes que ampliam a ideacuteia de consumo No tocante agraves manifestaccedilotildees
culturais o PDT-PA eacute expliacutecito ao defender a condiccedilatildeo da cultura como recurso
110
a ser apropriado pelo Estado e em seguida fomentado para que haja uma
maior atraccedilatildeo de pessoas Manifestaccedilotildees soacutecio-culturais histoacutericas como Ciacuterio
de Nazareacute (este acontecendo no poacutelo Beleacutem) e o Ccedilaireacute (no poacutelo Tapajoacutes)
reduzem-se agrave condiccedilatildeo do exoacutetico do diferente e por isso mesmo recebem o
status de potencial turiacutestico Neste sentido a atenccedilatildeo dada pelo documento
tem o intuito de dar uma outra feiccedilatildeo referente ao mercado fazendo com que
as manifestaccedilotildees histoacutericas da sociedade paraense reduzam-se a esta
dimensatildeo A ideacuteia de natureza para o plano tambeacutem natildeo se diferencia dessa
condiccedilatildeo Ainda mais os espaccedilos com potencial turiacutestico satildeo assim
caracterizados por uma relaccedilatildeo de troca No que se referem alguns aspectos
da cultura paraense e agrave ideacuteia de natureza o plano caracteriza-os da seguinte
forma
O Paraacute conta com recursos de base de indubitaacutevel valor e de grande potencial desde recursos naturais (rios ilhas lagos praias floresta amazocircnica flora e fauna etc) ateacute recursos culturais (patrimocircnio histoacuterico artiacutestico e monumental numerosas etnias indiacutegenas e quilombos artesanato folclore) e manifestaccedilotildees culturais vivas de grande notoriedade como eacute o caso do Ciacuterio de Nazareacute e do Ccedilaireacute (PARAacute 2001 p 11)
Eacute neste sentido que Hall (2001) diz que a construccedilatildeo de uma poliacutetica
puacuteblica antes de tudo requer um conjunto de valores crenccedilas ideologias ou
visatildeo de sociedade Por isso ela deve ser sempre encarada de acordo com um
ambiente poliacutetico O que faz com que a atividade turiacutestica sendo ela uma
atividade de cunho social natildeo fuja dessas caracteriacutesticas citadas Neste ponto
conceber um tipo de turismo eacute por em praacutetica um tipo de poliacutetica puacuteblica que
envolve esses valores No PDT-PA as caracteriacutesticas de mercado se fazem
presentes principalmente quando se tenta transformar o territoacuterio paraense
como espaccedilo importante para fluxos econocircmicos mundiais Esta constataccedilatildeo
pode ser percebida nas intencionalidades que o plano revela como mostra uma
das figuras de reordenamento espacial proposto pelo documento
111
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
FONTE PARAacute (2001 p 68)
No que se refere agrave concepccedilatildeo de turismo interessante notar que o
plano em nenhum momento define explicitamente o que seja turismo
deixando assim uma lacuna quanto a esta ideacuteia Contudo em suas linhas o
documento opta por apresentar caracteriacutesticas peculiares agrave concepccedilatildeo de
mercado muito usual do chamado turismo de massa
A forma como o PDT-PA estaacute estruturado eacute reflexo da pretensatildeo de se
pensar o espaccedilo paraense como um todo voltado para o trade Palavras como
demanda oferta turiacutestica potencialidade objetivo de negoacutecios objetivos de
crescimento fazem com que o universo do documento se circunscreva a ideacuteia
de crescimento da atividade turiacutestica
Comentaacuterio Diferentemente de um conviacutevio mais proacuteximo das realidades locais o resort oferece (como o proacuteprio nome em inglecircs sugere) um refuacutegio ao turista ao chegar a esses lugares A ideacuteia eacute que estes lugares standartizados oferecem tranquumlilidade distacircncia do tumulto que as cidades grandes apresentam no dia-a-dia
112
Sua fundamentaccedilatildeo teoacuterica se encontra diluiacuteda em propostas que visam
a entrada de mais turistas para que assim exista transformaccedilatildeo da realidade
paraense Por isso a necessidade de se fazer divisotildees em seccedilotildees que tecircm
como meta o incremento de valores de mercado Do diagnoacutestico (primeira parte
do plano) aos seus objetivos (segunda parte do plano) o documento estaacute
voltado para uma maior abertura e expansatildeo da atividade turiacutestica o que cria
uma expectativa de controle dos espaccedilos e das pessoas para melhor atender agrave
atividade do turismo Mesmo natildeo definindo seu conceito de turismo tais
caracteriacutesticas apontam para uma ideacuteia de reproduccedilatildeo ampliada do capital
O que Carlos (2002) entende da seguinte forma
A induacutestria turiacutestica reforccedila a hierarquia social produzindo espaccedilos diferenciados exclusivos fechados A caracteriacutestica do espaccedilo produzido eacute a do homogecircneo altamente excludente com ausecircncia de identidade O lugar eacute apenas o que pode ser visto fotografado e depois esquecido (CARLOS 2002 p 32)
Neste sentido quando o plano afirma ser importante a maximizaccedilatildeo da
ampliaccedilatildeo de turistas (PARAacute 2001) percebe-se que a loacutegica de crescimento e
ampliaccedilatildeo de pessoas que vecircm ao estado com o intuito do consumo torna-se
beneacutefica para uma transformaccedilatildeo de uma realidade paraense utilizando-se
para tanto estrateacutegias de modificaccedilotildees e alteraccedilotildees do territoacuterio ou ainda
estrateacutegias espaciais Tema a ser abordado na proacutexima seccedilatildeo
43 A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
Uma anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo que um governo carrega natildeo se
limita agraves suas ideacuteias eacute necessaacuterio espacializaacute-las ou seja dar um formato
concreto ou ainda espacial ao conjunto de formulaccedilotildees por quais passam os
planejamentos voltados para o desenvolvimento da atividade Sendo assim
torna-se difiacutecil pensar a loacutegicas das ideacuteias que datildeo vez ao fenocircmeno do turismo
113
sem associaacute-las a uma loacutegica espacial O PDT-PA articula as ideacuteias de modo a
pensaacute-las de acordo com um tipo de espaccedilo tambeacutem concebido em forma de
planejamento mas que todavia natildeo se torna distante de ser efetivado visto
que a construccedilatildeo de um plano de desenvolvimento do tipo do PDT-PA passa
pelas matildeos do Estado para que seja construiacutedo
Santos (2002) ao afirmar que o espaccedilo eacute um conjunto indissociaacutevel
solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio entre sistemas de objetos e sistemas de
accedilotildees daacute razatildeo agrave unicidade entre o tempo e o espaccedilo no qual se pode
perceber a uniatildeo por completo entre o homem e o meio Caracteriza-se assim
uma ideacuteia de totalidade que haacute no espaccedilo Mediante essa situaccedilatildeo em relaccedilatildeo
agrave praacutetica turiacutestica sua espacialidade requer uma dimensatildeo totalizante entre
objetos e accedilotildees que condizem a uma maior movimentaccedilatildeo da atividade
turiacutestica pelo espaccedilo
Neste sentido a ideacuteia de uma espacializaccedilatildeo do turismo remete-se a
uma imbricada relaccedilatildeo que haacute entre a atividade turiacutestica e o seu
reordenamento espacial o que se perceber tambeacutem um constante
reordenamento do territoacuterio onde a praacutetica do turismo necessita se espacializar
Cruz (2001) por exemplo quando fala em reordenamento dos territoacuterios afirma
que a ideacuteia do consumo dos espaccedilos pelo turismo e sua produccedilatildeo de territoacuterios
deve ser um fator de mediaccedilatildeo nesse processo
Tal condiccedilatildeo eacute tambeacutem fator importante para se visualizar a
espacializaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de turismo que se datildeo no espaccedilo a fim
de mostrar o processo de articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees e suas
materializaccedilotildees Neste caso cabe pensar o papel do Estado na tomada de
decisotildees sobre os reordenamentos espaciais
Hall (2001) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o
Governo Segundo o autor o turismo jaacute se tornou parte integrante da maacutequina
administrativa Neste caso a poliacutetica puacuteblica para o turismo eacute tudo que o
governo decide fazer ou natildeo com relaccedilatildeo ao setor (HALL 2001 p 26) Poreacutem
a descrenccedila na poliacutetica governamental faz com que o setor ofereccedila mais erros
do que acertos nas tomadas de decisotildees o que desestabiliza o setor de uma
114
forma geral E neste campo inserem-se as formas de reordenamento espacial
a partir de uma loacutegica do turismo na qual a mesma eacute a que impotildee o ritmo de
mudanccedila nos lugares
Levando-se nem consideraccedilatildeo a realidade paraense tanto de
planejamento como de gestatildeo o PDT-PA oferece um conjunto de estrateacutegias
materializadas nos lugares selecionados pela empresa responsaacutevel pela
elaboraccedilatildeo do plano em conjunto com a esfera estatal Tais lugares agregam
valor de mercado importante para o incremento da atividade e que dizem
respeito agraves ideacuteias pensadas sobre o turismo Neste conjunto de estrateacutegias
definidas as informaccedilotildees satildeo bem articuladas possibilitando assim perceber
como a atividade turiacutestica deve proceder no espaccedilo Com isso o plano entende
de uma forma geral que as estrateacutegias de turismo devem ser concentradas a
partir da estrutura feita em poacutelos de desenvolvimento Tal consideraccedilatildeo foi feita
a partir do projeto Beija-Flor24 que elegeu cidades do estado do Paraacute que
reunissem algum tipo de infra-estrutura necessaacuteria para estabelecer bases de
sustentaccedilatildeo do desenvolvimento do turismo Os poacutelos recebem os nomes das
regiotildees onde se inserem a saber Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes
AraguaiaTocantins e Xingu Segundo as proacuteprias palavras do plano
Com base nestes seis poacutelos cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivo agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5)
24 O projeto Beija-Flor eacute um estudo feito antes da consolidaccedilatildeo do PDT-PA Foi uma estrateacutegia pensada no governo Almir Gabriel para articular a construccedilatildeo do plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute A partir desse estudo eacute que as definiccedilotildees para a escolha dos poacutelos foram definidas conforme feito no PDT-PA
115
A partir dessa estrutura eacute que se pretende alcanccedilar as metas
pretendidas pelo Governo Feita em poacutelos torna-se constante e por isso
mesmo reflete uma reordenaccedilatildeo do territoacuterio paraense em grande intensidade
de forma a garantir a maior fluidez da atividade turiacutestica Cada poacutelo mostra uma
qualidade referente a um produto o grau de estruturaccedilatildeo seu formato e
principalmente a expectativa de um mercado consumidor (PARAacute 2001) Estes
elementos somados garantem a viabilidade dos poacutelos de turismo no estado
O reordenamento do espaccedilo eacute assegurado assim a partir de uma expectativa
do consumo do espaccedilo o que facilita o maior incremento de um sistema de
objetos (SANTOS 2002) criando uma maior dinacircmica espacial O mapa da
paacutegina posterior mostra a divisatildeo e a identificaccedilatildeo dos espaccedilos (sedes dos
poacutelos) turiacutesticos no Paraacute
116
MAPA 1 Sede dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
117
Neste caso deve-se perceber que o funcionamento da teoria dos poacutelos
obedece a uma loacutegica de totalidade do espaccedilo onde esse mesmo eacute concebido
a partir da atividade turiacutestica Como o proacuteprio plano ressalta considerar as
cidades ou sedes-poacutelos como o lugar de irradiaccedilatildeo do crescimento da atividade
turiacutestica eacute dar vazatildeo ao processo de espacializaccedilatildeo do fenocircmeno Natildeo satildeo
todas as cidades que conteacutem os recursos ou infra-estruturas necessaacuterias para
o bom andamento da atividade mas as cidades que jaacute possuem certa condiccedilatildeo
antecipatoacuteria para a dinamizaccedilatildeo do poacutelo polarizando assim a atividade
Uma outra questatildeo importante que deve ser levada em consideraccedilatildeo eacute
que esse tipo de espacializaccedilatildeo ou ordenamento territorial feito no estado estaacute
baseado em uma concepccedilatildeo de espaccedilo a de poacutelos de crescimento
Perroux (1967) mostra que a ideacuteia do poacutelo eacute uma forma de entender que
natildeo eacute o espaccedilo em sua totalidade necessaacuterio para o avanccedilo de uma empresa
ou setor da economia mas sim alguns espaccedilos que jaacute demandam uma
antecipaccedilatildeo ou como dito outrora que jaacute tecircm uma infra-estrutura
Para Perroux (1967) o espaccedilo sempre mereceu uma leitura muito
teacutecnica e menos precisa do que o tempo (PERROUX 1967 p 147) Neste
caso o interesse eacute perceber que o espaccedilo tem uma funccedilatildeo econocircmica e que
pode facilitar os fluxos econocircmico-industriais (BREITBACH 1988 ANDRADE
1977) A concepccedilatildeo de espaccedilo para Perroux (1967) eacute portanto econocircmica
Neste sentido a funccedilatildeo dos poacutelos de crescimento eacute a de possibilitar o aumento
da economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo deprimida (PERROUX 1967)
Para entender a transformaccedilatildeo dessa ideacuteia diretamente no espaccedilo o
autor faz uma comparaccedilatildeo da ideacuteia de crescimento com o surgimento e relaccedilatildeo
da induacutestria com o espaccedilo Para o autor um dos aspectos da estrutura de uma
economia de Estado-Naccedilatildeo eacute
A propagaccedilatildeo do crescimento duma induacutestria (ou grupos de induacutestrias) O aparecimento duma induacutestria nova ou o crescimento duma induacutestria existente propagam-se por intermeacutedio dos preccedilos fluxos antecipaccedilotildees No decurso de periacuteodos mais longos os
118
produtos duma induacutestria ou grupos de induacutestrias profundamente transformados e por vezes dificilmente reconheciacuteveis em comparaccedilatildeo com seu esboccedilo inicial possibilitam novas invenccedilotildees que datildeo origem a novas induacutestrias (PERROUX 1967 p 164)
A partir dessa estrutura pode-se perceber uma aproximaccedilatildeo com a ideacuteia
de poacutelos de turismo O PDT-PA assimila a condiccedilatildeo de que a presenccedila de um
aparato tecnoloacutegico voltado para turismo deve estar presente em uma sede ou
cidade - sede A partir dessa configuraccedilatildeo espacial as atividades iratildeo se
desenvolver em formas de ondas concecircntricas possibilitando uma irradiaccedilatildeo
do crescimento em aacutereas proacuteximas ao poacutelo ou sede Em comparaccedilatildeo com a
ideacuteia de Perroux (1967) as induacutestrias na verdade satildeo o fio condutor desse
crescimento Poreacutem no que diz respeito agraves accedilotildees do Estado para o fomento do
turismo a intenccedilatildeo eacute promover uma entrada ainda maior de empresas que
estejam interessadas em investir no setor Dessa forma gradativamente o
universo das empresas no ramo do turismo aumentaraacute provocando segundo a
ideacuteia do plano um crescimento das divisas geradas a partir do fluxo intenso
das atividades Neste sentido Perroux (1967) ainda afirma que
O fato rudimentar mais consistente eacute este o crescimento natildeo surge em toda a parte ao mesmo tempo manifesta-se com intensidades variaacuteveis em pontos ou poacutelos de crescimento propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos finais variaacuteveis no conjunto da economia (PERROUX 1967 p 164)
O autor ainda conclui afirmando
Examinar esta modalidade de crescimento eacute tornar expliacutecita e susceptiacutevel de tratamento cientiacutefico uma perspectiva jaacute patente em vaacuterios trabalhos de elaboraccedilatildeo teoacuterica imposta pela observaccedilatildeo dos paiacuteses de crescimento retardado manifesta na poliacutetica dos Estados modernos (PERROUX 1967 p 165)
119
Jaacute o plano entende a importacircncia da estruturaccedilatildeo dos poacutelos a partir de
espaccedilos selecionados pelo Governo do Estado Estes satildeo os lugares do
territoacuterio paraense que reuacutenem melhores condiccedilotildees de se desenvolver o
sistema turiacutestico Segundo o plano
Com base nestes seis poacutelos [Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes AraguiaTocantins e Xingu] cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivos agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5 grifo nosso)
O lugar que Perroux (1967) daacute agrave empresa motriz do ponto de vista
espacial pode ser entendido no plano de turismo do Estado como sendo as
regiotildees que o documento apresenta como regiotildees ou poacutelos que possibilitam o
crescimento do turismo No que se refere agrave espacializaccedilatildeo do turismo no Paraacute
a divisatildeo dos poacutelos estaacute situada em uma noccedilatildeo de regionalizaccedilatildeo das accedilotildees do
turismo colocando em evidecircncia as riquezas naturais que cada uma delas tecircm
Neste caso a teoria de Perroux (1967) se faz presente nas estrateacutegias
espaciais do PDT-PA
Cada poacutelo de turismo tem uma praacutetica diferente que corresponde a sua
peculiaridade enquanto produto turiacutestico a ser promovido para as operadoras
de turismo
No poacutelo Beleacutem por exemplo a estrateacutegia espacial desse tipo de poacutelo eacute
levar em consideraccedilatildeo a histoacuteria que a capital Beleacutem em convergecircncia com
muitos tipos culturais que acontecem nas cidades proacuteximas No plano existe
120
um quadro de posicionamento das maiores demandas das atividades culturais
ou naturais que estatildeo relacionadas com as escalas domeacutestica nacional ou
internacional As informaccedilotildees demonstram na verdade onde o poder puacuteblico
pode incentivar com maior rapidez o tipo de praacutetica turiacutestica que ocorre em
cada poacutelo Assim pretende-se cercar em todos os lugares as possibilidades de
arranco para o incremento do turismo
Quadro 4 Estrateacutegias de produtomercado poacutelo de Beleacutem
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico
Regional Nacional Internacional
Estadas curtas
Estadas longas
Eventos
Cruzeiros
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
Como se pode perceber os mercados geograacuteficos (domeacutestico regional
nacional e internacional) satildeo associados aos tipos de negoacutecios de turismo
que possibilitam um processo de alimentaccedilatildeo do capital Nesta perspectiva o
turismo no Poacutelo Beleacutem tem uma funcionalidade que o distingue dos demais
Como a cidade eacute a principal entrada para os maiores fluxos de pessoas e de
produtos que chegam do restante do paiacutes e do mundo essa eacute a forma pela
qual o plano tem a oferecer ao turista quando chega agrave cidade Neste caso
como Beleacutem tem a finalidade de sediar o seu proacuteprio poacutelo as demais cidades
que se localizam agraves suas proximidades participam dessa loacutegica de expansatildeo
FONTE PARAacute (2001 p 58)
121
das atividades do turismo Ainda mais porque eacute a partir de Beleacutem que a
dimensatildeo espacial do poacutelo ganha efeitos territoriais no estado todo
Cada poacutelo em especial eacute marcado pelo que o plano chama de
estrateacutegias de posicionamento Estas tecircm a funccedilatildeo de apresentar de forma
sucinta o que cada poacutelo tem a oferecer de acordo com as modalidades Sendo
assim o poacutelo Beleacutem apresenta as seguintes estrateacutegias
Quadro 5 Estrateacutegias de posicionamento do poacutelo Beleacutem
Global A entrada a um mundo fascinante
Estadas Curtas
A maior concentraccedilatildeo de experiecircncias no menor tempo
Estadas longas Um mundo a ser descoberto
Eventos As forccedilas da natureza
Reuniotildees Trabalhando no jardim
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 59)
De forma geral a apresentaccedilatildeo feita pelo plano no que diz respeito agraves
estrateacutegias de posicionamento satildeo elementos oferecidos na forma da
propaganda feita para esses setores do turismo Percebe-se tambeacutem uma
pretensatildeo de fazer um marketing do estado do Paraacute nas mais diversas escalas
122
sendo estas ligadas agraves demandas especiacuteficas que se interessam pelo tipo de
turismo praticado Com isso a ideacuteia eacute intensificar esses procedimentos fazendo
com que no final do processo se alcance a totalizaccedilatildeo do espaccedilo Portanto
levando em consideraccedilatildeo esses princiacutepios a criaccedilatildeo do poacutelo torna-se uma
ferramenta fundamental
No que diz respeito ao poacutelo Costa Atlacircntica a peculiaridade natural do
sol e praia eacute um dos principais atrativos a serem destacados no estado
Poreacutem como mesmo atesta o plano as outras modalidades de turismo a
serem praticadas neste poacutelo podem ser bem desenvolvidas desde que haja um
fomento necessaacuterio por parte do Estado
Para o poacutelo Costa Atlacircntica os mercados domeacutestico e regional se
destacam nesse processo de turistificaccedilatildeo dos lugares Os mercados nacional
e internacional ficam deslocados em relaccedilatildeo a essas demandas especiacuteficas A
abrangecircncia espacial torna-se mais limitada tanto do ponto de vista dos
mercados como do ponto de vista espacial O quadro abaixo sintetiza as accedilotildees
pretendidas pelo Governo do Estado no que diz respeito ao poacutelo Costa
Atlacircntica
Quadro 6 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Costa Atlacircntica
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional Nacional Internacional
Sol e Praia
Eventos
Reuniotildees
Esportes Aquaacuteticos
Melhor Idade
Pesca Esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 59)
123
Os mercados geograacuteficos de sol e praia no poacutelo Costa Atlacircntica satildeo
mais fortes em cidades como Salinoacutepolis e Marapanim Estas cidades
representam em parte a estrateacutegia de reunir os artifiacutecios necessaacuterios para
atrair turistas para esta regiatildeo Neste caso o plano de turismo do estado
apropria-se das peculiaridades regionais deste poacutelo para ressaltar a
importacircncia de ter a cultura como elemento atrativo para turistas Essa ideacuteia eacute
expressa nas estrateacutegias de posicionamento que o plano descreve enquanto
documento
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica
Sol e Praia Centro de Feacuterias de muacuteltiplas atividades enfocadas no recurso praia de mar divertido e adequado para famiacutelias com crianccedilas
Eventos O reino do Carimbo
Melhor idade A vida tranquumlila agrave beira-mar
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 p 59)
O poacutelo Marajoacute eacute um dos mais importantes quanto ao fomento da
atividade turiacutestica Neste poacutelo segundo o PDT-PA a modalidade do ecoturismo
torna-se um fator de identidade com o mercado nacional principalmente As
accedilotildees a serem desenvolvidas nessa aacuterea privilegiam um contato com a
natureza Os trajetos planejados pelas operadoras seguem uma loacutegica
racionalizada de conhecer os espaccedilos da regiatildeo do Marajoacute Nesse sentido o
incremento agraves atividades turiacutesticas ligadas a esse setor satildeo mais presentes
com o intuito de chamar a atenccedilatildeo de um segmento diferenciado Com a
perspectiva do ecoturismo a identidade de uma Amazocircnia paraense vem agrave
tona como um dos princiacutepios norteadores do crescimento do turismo No
124
tocante ao ecoturismo Rocha (2002) mostra que este uacuteltimo eacute um segmento
que tem notoacuteria expansatildeo e nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas de turismo
tendem a privilegiar tais modalidades a fim de estabelecer formas de geraccedilatildeo
de desenvolvimento O quadro abaixo mostra como o PDT-PA relaciona os
principais atrativos de turismo no poacutelo Marajoacute dando destaque ao ecoturismo
enquanto um mercado que tem uma ecircnfase em escala nacional
Quadro 8 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Marajoacute
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 60)
O comentaacuterio acerca do ecoturismo nesse poacutelo assim se define
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugadas As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Mercados geograacuteficos
NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo rural
Cultural
Praias
Turismo educacional
Melhor Idade
125
Tal situaccedilatildeo ainda eacute reforccedilada pela estrateacutegia de posicionamento
presente no documento que afirma ser necessaacuterio dar um conteuacutedo positivo agrave
percepccedilatildeo do Marajoacute (PARAacute 2001 p 61)
No que se refere ao poacutelo AraguaiaTocantins as estrateacutegias espaciais
pensadas pelo documento satildeo afirmadas como negoacuteciosmercados (PARAacute
2001) o que de certa forma faz com que as mesmas se diferenciem quanto agrave
sua especificidade e capacidade de atuar nos mercados regional nacional e
internacional tendo como escopo a competitividade O quadro abaixo
evidencia esta realidade
Quadro 9 Estrateacutegias de produto mercado do AraguaiaTocantins
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional
Nacional
Internacional
Pesca Esportiva
Reuniotildeeseventos
Atividades ecoturiacutesticas
Atividades aquaacuteticas
Sol e praia
Turismo Industrial
Turismo Educacional
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 62)
Outro poacutelo presente nas estrateacutegias espaciais do plano eacute o Tapajoacutes
Segundo o documento o poacutelo Tapajoacutes tem uma grande perspectiva para o
segmento turismo ecoloacutegico (PARAacute 2001) Tendo como sede a cidade de
Santareacutem o poacutelo Tapajoacutes segundo o plano tambeacutem tem a facilidade de
incrementar a pesca esportiva Suas prioridades neste caso concentram-se
126
mais nos mercados nacional e internacional para este segmento conforme
mostra o quadro
Quadro 10 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Tapajoacutes
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico Regional Nacional
Internacional
Ecoturismo (viagens de interesse especial viagens de aventura)
Pesca esportiva
Cruzeiros fluviais
Esportes acuaacuteticos
Turismo eacutetnico-raiacutezes
Sol e praia
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 63)
Por fim o poacutelo Xingu mostra uma peculiaridade voltada para o
ecoturismo que na anaacutelise do documento eacute o poacutelo que mais reuacutene condiccedilotildees
de atratividade turiacutestica por conta de seus valores naturais Segundo o plano
() O Poacutelo Xingu que contempla rios fauna e flora conjugados eacute perfeito para o ecoturismo As particularidades deste grandioso cenaacuterio fazem com que este seja o entorno ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 64)
127
Neste sentido o PDT-PA organiza suas estrateacutegias espaciais para o
poacutelo da seguinte forma
Quadro 11 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Xingu
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo de aventuras
Turismo de interesse especial
Pesca esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 64)
Os poacutelos presentes nessa loacutegica do plano apresentam assim a ideacuteia de
uma racionalizaccedilatildeo do espaccedilo paraense Essa perspectiva julga a natureza
como um recurso em funccedilatildeo da atividade turiacutestica Neste caso a concepccedilatildeo de
turismo do plano mais ainda a concepccedilatildeo de espaccedilo presente contribui para
uma ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de forma homogecircnea Para cada poacutelo portanto
apresenta-se uma estrateacutegia de mercado que necessariamente coincide com a
atratividade dos lugares Eacute nesse momento que o espaccedilo paraense ganha uma
nova ordem que eacute aquela da ordem dos fluxos de turismo Palavras de forte
apelo turiacutestico como se vecirc no poacutelo Xingu paraiacuteso da pesca esportiva (PARAacute
2001 p 61) ou ainda a ideacuteia de aventura (no caso do poacutelo Tapajoacutes) satildeo
essenciais para a esfera do marketing
Fazendo-se uma associaccedilatildeo com as ideacuteia de Perroux (1969) a intenccedilatildeo
de criar poacutelos eacute fazer com que eles sejam sedes de empresas Estas entatildeo
seriam responsaacuteveis pela transformaccedilatildeo econocircmica de uma regiatildeo Mas o
128
documento natildeo especifica se satildeo as empresas os agentes da transformaccedilatildeo
nem tampouco outros atores do turismo que possam integrar a essa estrateacutegia
de desenvolvimento econocircmico no estado como pequenos e medos
empresaacuterios setor informal da economia entre outros Por outro lado o plano
prefere falar que atraveacutes da consolidaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos (PARAacute
2001) eacute que a irradiaccedilatildeo do crescimento seraacute possiacutevel Assim natildeo haacute no
documento uma clara participaccedilatildeo sobre os sujeitos encarregados da dinacircmica
econocircmica feita por poacutelos Contudo segundo ainda esta concepccedilatildeo a intenccedilatildeo
do plano eacute que esses espaccedilos selecionados precisam ter condiccedilotildees de infra-
estrutura para suportar a demanda turiacutestica necessaacuteria (PARAacute 2001) Com
isso como natildeo haacute o esclarecimento sobre os agentes o poacutelos (de turismo)
podem ser constituiacutedos tanto pela induacutestria motriz (PERROUX 1969
BREITBACH 1988 ANDRADE 1977) como por outros agentes que
desencadeie o crescimento inclusive a populaccedilatildeo de uma forma geral A
intenccedilatildeo acima de tudo eacute que os espaccedilos selecionados tenham
potencialidade turiacutestica (PARAacute 2001) e capacidade de incremento econocircmico
no mercado
As estrateacutegias de posicionamento (PARAacute 2001) de cada poacutelo por
exemplo estatildeo estrategicamente posicionadas para outros espaccedilos Isso quer
dizer que os atrativos turiacutesticos de cada poacutelo correspondem em grande parte a
uma demanda de turistas de outros estados e paiacuteses principalmente aqueles
que tenham condiccedilotildees de estabelecer consumo dos produtos vendidos nos
poacutelos Por mais que o mercado regional seja um aquecedor do turismo
paraense em muitos momentos vale-se da sazonalidade ou seja os
movimentos feitos por grande parte dos turistas tecircm como espaccedilo emissor a
capital Beleacutem Para o plano essa perspectiva precisa mudar e se associar agrave
expansatildeo do mercado turiacutestico Daiacute a importacircncia de associar as
caracteriacutesticas de cada poacutelo agraves demandas de outros estados e paiacuteses e
estabelecer um marketing favorecendo a propaganda do estado Em outras
palavras o PDT-PA propotildee atraveacutes dos poacutelos uma adequaccedilatildeo de perfil dos
tipos de turistas aos recursos naturais do estado como mostra a figura na
paacutegina seguinte
129
Figura 2 Lodge Pesca Esportiva
FONTE PARAacute (2001 p70)
Comentaacuterio Proposta de empreendimento turiacutestico peculiar aos poacutelos de crescimento que conteacutem um potencial para a pesca esportiva Na figura pode-se perceber uma estilizaccedilatildeo das casas ou espaccedilos de acomodaccedilatildeo para os turistas bem como do tipo de natureza que eacute concebida pelo plano uma espeacutecie de pseudo-adequaccedilatildeo ao estilo de vida dos pescadores regionais ou ainda a construccedilatildeo de um simulacro voltado para o lazer
Neste caso pensar uma concepccedilatildeo de turismo eacute no mesmo sentido
pensar uma concepccedilatildeo de espaccedilo impregnada de valores e desejos por parte
daqueles que objetivam mudanccedilas a partir de uma loacutegica do turismo Isso
demonstra em outros termos que o plano de desenvolvimento de turismo do
estado eacute um documento que utiliza os espaccedilos na forma de poacutelos de
crescimento (PERROUX 1969) para focalizar e implementar sua concepccedilatildeo de
turismo Por mais que as peculiaridades dos atrativos turiacutesticos se destaquem
no cenaacuterio paraense a loacutegica global desse fenocircmeno eacute a mesma O espaccedilo
assume uma dimensatildeo de aptidatildeo paisagiacutestica (SILVEIRA 2002) Ou seja um
conjunto ou reuniatildeo de elementos que estatildeo na esfera do visiacutevel e que
constituem a esfera do siacutembolo ou da representaccedilatildeo dos lugares Satildeo
vantajosos para o circuito do capital e para o desenvolvimento das atividades
turiacutesticas (SILVEIRA 2002)
130
44 Espaccedilo turismo e desenvolvimento desvelando propostas e intenccedilotildees
O momento de entender a proposta de desenvolvimento apresentada
por um plano torna-se uma siacutentese poreacutem natildeo menos importante Enquanto
pretensatildeo os ideais do desenvolvimento podem ser claros o suficiente pois
estatildeo na grande maioria materializados na forma de documentos
planejamentos planos de desenvolvimento e claro na forma de poliacuteticas
puacuteblicas (setorizadas ou amplas) Tal dificuldade expotildee incondicionadamente
interesses dos agentes que pensam o desenvolvimento
Neste sentido falar da importacircncia do desenvolvimento requer pensar
uma profunda transformaccedilatildeo natildeo soacute dos espaccedilos mas acima de tudo da
sociedade como um todo Por mais que a proposta de desenvolvimento natildeo
atinja diversas classes sociais ou abarque os conflitos que entre elas existem
(em muitos casos os conflitos entre as classes sociais satildeo ignorados por
autoridades que fazem propostas sobre o desenvolvimento acirrando-os ainda
mais) mesmo assim o que estaacute em jogo eacute um conjunto de accedilotildees que visam agrave
transformaccedilatildeo da sociedade
No turismo essa realidade natildeo seria diferente ainda mais porque ora
as propostas de desenvolvimento desse setor apresentam-se enquanto
setorizadas (somente do e para a atividade do turismo) ora ligadas a outros
setores estrateacutegicos das poliacuteticas puacuteblicas como economia urbanizaccedilatildeo
saneamento entre outros
Natildeo necessariamente o desenvolvimento conteacutem em suas
formulaccedilotildees as dimensotildees social e econocircmica (esta uacuteltima mais valorizada)
como forma e conteuacutedo nas tomadas de decisotildees que satildeo implementadas pelo
Estado Neste processo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas aparece como
instrumento de accedilatildeo necessaacuterio ao processo do desenvolvimento As poliacuteticas
puacuteblicas satildeo portanto a forma pela qual o processo de desenvolvimento se daacute
Hall (2001) ao tratar das dimensotildees do planejamento poliacutetica e plano
faz uma importante diferenciaccedilatildeo Para o autor a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
131
puacuteblicas eacute um ato poliacutetico e nesse sentido elas estatildeo inteiramente ligadas agraves
decisotildees e caracteriacutesticas econocircmicas culturais sociais e claro ideoloacutegicas o
que as isenta de qualquer tipo de neutralidade
Segundo ainda o mesmo autor o planejamento eacute uma ferramenta
importante para se pensar a dinacircmica das poliacuteticas puacuteblicas pois integra uma
relaccedilatildeo entre passado presente e futuro ou seja uma caracteriacutestica
fundamental do planejamento eacute sua constante dinamicidade ou um
pensamento que natildeo pretende ser estaacutetico no espaccedilo e no tempo
No que diz respeito ao plano Hall (2001) afirma que este se refere a um
conjunto de decisotildees ou ainda accedilotildees a serem desenvolvidas no futuro Isto
quer dizer que as ideacuteias contidas em um plano satildeo a siacutentese de pensamentos
elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e planejamentos feitos pelo governo Em um plano
esses elementos aparecem de forma concretizada ou materializada O que
facilita de uma forma geral a visualizaccedilatildeo das accedilotildees (muitas vezes elaboradas
sob a forma de programas de intervenccedilatildeo)
Em uma dimensatildeo mais ampla a condiccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de um plano
reflete as intenccedilotildees gerais sobre o que seja o desenvolvimento Eacute neste ponto
que a relaccedilatildeo entre o plano de turismo do Paraacute e a questatildeo sobre
desenvolvimento revela-se um ponto importante a ser analisado Neste sentido
o espaccedilo paraense eacute a base de materializaccedilatildeo das ideologias pensadas pelo
Estado e tambeacutem reflexo das intervenccedilotildees jaacute feitas para garantir o
desenvolvimento da atividade turiacutestica Para tanto ideacuteias como melhoria da
qualidade de vida riqueza dos atrativos da Amazocircnia paraense (PARAacute 2001)
estatildeo associados a uma conversatildeo para o mercado tanto que o Paraacute
apresenta condiccedilotildees significativas para que o turismo seja importante
instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
Neste caso percebe-se que a visatildeo estrateacutegica do plano para o
desenvolvimento estaacute referendada por uma relaccedilatildeo promissora entre a
potencialidade natural do Paraacute e a potencialidade econocircmico-financeira que o
mesmo pode gerar Por um outro lado assim como na questatildeo sobre a
concepccedilatildeo de turismo em nenhum momento o plano discute ou afirma qual
132
sua concepccedilatildeo de desenvolvimento mostrando assim sua fragilidade nesse
criteacuterio Seu conteuacutedo referente agrave dimensatildeo do desenvolvimento natildeo requer
uma apreciaccedilatildeo conceitual mas sim a identificaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos e
suas estrateacutegias mercadoloacutegicas
Hall (2001) destaca os tipos de planejamentos a partir da atividade
turiacutestica em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento Nesse sentido o autor
ressalta a importacircncia de natildeo se perceber o planejamento a partir de uma
dimensatildeo econocircmica pois este se realizado desta forma mostra na praacutetica
suas imperfeiccedilotildees e limites O autor faz uma anaacutelise de um tipo de
desenvolvimento
o desenvolvimento sustentaacutevel
fazendo com que a ideacuteia
de meio ambiente se torne o centro das discussotildees sobre planejamento da
atividade turiacutestica O autor eacute claro ao enfatizar a dimensatildeo unilateral da
abordagem econocircmica no desenvolvimento Para ele a mesma quando
utilizada como uacutenica interpretaccedilatildeo de um plano reduz a importacircncia de um
documento a dados econocircmicos desencadeando assim resultados isolados
ou ainda consequumlecircncias nada positivas para o meio ambiente e para a
sociedade Qualquer indicador de desenvolvimento baseado no valor
monetaacuterio da produccedilatildeo estaacute sujeito a imperfeiccedilotildees teacutecnicas e conceituais
(SMITH apud HALL 2001 p 22)
As iniciativas de mercado pensadas pelo governo do Estado satildeo
detalhadamente expostas no documento definidas principalmente sob a forma
de estrateacutegias (parte B do plano) mostrando etapas de uma espeacutecie de
desenvolvimento econocircmico A ideacuteia de crescimento com sustentabilidade
(PARAacute 2001) aparece como se fosse apecircndice do desenvolvimento econocircmico
pretendido pelo Governo atraveacutes do PDT-PA mesmo assim tal ideacuteia natildeo eacute
conceituada tampouco problematizada no documento
Como uma forma de contribuir para a ideacuteia de desenvolvimento Souza
(2002) oferece uma anaacutelise importante que tem o intuito de criar um novo
paradigma conceitual Essa questatildeo tambeacutem se aplica ao turismo enquanto
uma ferramenta de desenvolvimento local O autor procura ir aleacutem das
concepccedilotildees de desenvolvimento tradicional e procura estabelecer uma
diferenccedila entre o desenvolvimento econocircmico (forma tradicional e tambeacutem a
133
mais usual nos planejamentos) e o desenvolvimento soacutecio-espacial (alternativa
ao economicismo) Para o autor pelo fato do turismo ser uma atividade
complexa e que implica em impactos positivos e negativos na sociedade e no
meio ambiente ele merece um destaque qualificado nas teorias sobre o
desenvolvimento
Para Souza (2002) o desenvolvimento ao longo dos anos veio
sublinhado como sinocircnimo de desenvolvimento econocircmico o que se configura
na relaccedilatildeo entre o crescimento econocircmico ou seja referente ao Produto
Nacional Bruto (PNB) ou Produto Interno Bruto de um paiacutes (PIB) e a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste caso essa relaccedilatildeo eacute suficiente para perceber
a concepccedilatildeo de desenvolvimento que o PDT-PA pensa para o Paraacute Quando
em sua introduccedilatildeo o plano designa a ideacuteia de sustentabilidade e de melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo paraense em funccedilatildeo do crescimento
(PARAacute 2001) na verdade a concepccedilatildeo de mercado paira como principal e
esta encerra a condiccedilatildeo para que haja o desenvolvimento do turismo no
territoacuterio paraense A ecircnfase nos processos sobre atratividade marketing
produccedilatildeo e gestatildeo (PARAacute 2001) satildeo elementos essenciais para se perceber o
forte conteuacutedo mercadoloacutegico inerente ao documento
No plano de turismo do estado do Paraacute o governo se esforccedila para
chamar a atenccedilatildeo dos turistas que vecircm de fora do estado Eacute preciso fazer a
propaganda de seu lugar mostrar atraveacutes do marketing e divulgaccedilatildeo que o
Paraacute eacute um espaccedilo interessante a ser desfrutado Em suas linhas gerais o
plano destaca a beleza exoacutetica da natureza amazocircnica e dos valores culturais
para atrair turistas Esses espaccedilos como afirma Boulloacuten (2002) devem estar
dotados de um bom sistema turiacutestico em outras palavras a infra-estrutura do
lugar deve estar concernente ao melhor trajeto das pessoas que visitam os
lugares diferentes Poreacutem ao tomar essa ideacuteia como estrateacutegia de
desenvolvimento os espaccedilos selecionados para a praacutetica do turismo (os poacutelos)
excluem o restante do territoacuterio paraense ou ainda estes uacuteltimos devem estar
sintonizados com a loacutegica de desenvolvimento proposta pelo governo Poreacutem
lembrando que a loacutegica de construccedilatildeo de poacutelos a partir da teoria de Perroux
(1969) natildeo permite que o crescimento se decirc em todos os lugares haacute um
134
campo de forccedilas (PERROUX 1969) que atua em um espaccedilo especiacutefico Daiacute a
loacutegica dos poacutelos Nesse sentido o desenvolvimento do turismo no Paraacute natildeo se
daacute de forma homogecircnea privilegiando por outro lado as cidades que reuacutenem
infra-estrutura adequada causando assim um desenvolvimento
desequilibrado no territoacuterio
No tocante agrave questatildeo do conforto ao turista o plano concentra esforccedilos
ao tentar oferecer aos que visitam o estado tudo o que haacute de melhor pois satildeo
eles os responsaacuteveis diretos pela geraccedilatildeo de lucro no local de destino O
plano ao conceber os espaccedilos natildeo estabelece uma necessidade de somente
melhorar ou ampliar os espaccedilos com potencial turiacutestico Aleacutem disso eacute no
conforto e comodidade do turista ao visitar o Paraacute que esses espaccedilos satildeo
pensados (concebidos) ou quando jaacute prontos satildeo incrementados Eacute nesse
momento que o papel do Estado eacute fundamental para se entender o processo
de reestruturaccedilatildeo espacial
O diferencial neste ponto satildeo as peculiaridades espaciais O turista visita
outros lugares com o intuito de conhecer o diferente o inusitado o exoacutetico E
neste sentido busca algo diferente em sua vida Pensando nessa situaccedilatildeo o
Governo do Estado do Paraacute faz uma adequaccedilatildeo desses espaccedilos
O PDT-PA concebe neste caso espaccedilos voltados para a funcionalidade
turiacutestica Tais espaccedilos estatildeo estruturados de forma a atender diretamente a
necessidade dos que visitam a Amazocircnia paraense por isso os turistas satildeo o
objetivo final do plano Eacute atraveacutes da entrada deles que a dinacircmica turiacutestica
acontece No documento existem imagens que pensam o bem-estar do turista
de acordo com os aspectos naturais da regiatildeo As imagens neste caso
tornam-se um importante recurso estrateacutegico para se pensar mercados
interessados em investir nesses espaccedilos concebidos pelo Estado a fim de
fomentar o turismo
135
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza)
FONTE PARAacute (2001 p 69)
A pouca ecircnfase dada aos conceitos que estatildeo associados ao
desenvolvimento do turismo eacute uma marca constante no plano A ideacuteia de
qualidade de vida (um aspecto importante das temaacuteticas do desenvolvimento) eacute
reduzida a uma pequena parte do plano localizada na sua introduccedilatildeo Como
fora mostrado nos capiacutetulos anteriores a decisatildeo do plano eacute fazer uma
caracterizaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos paraenses A qualidade de vida adviria
de uma maior rentabilidade gerada a partir do incremento econocircmico desses
produtos tanto que para o plano o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito
significativas para que o turismo seja um importante instrumento de
desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001) Neste sentido mais uma
Comentaacuterio Na figura mostra-se um exemplo de descanso em volta de uma natureza criada que eacute como mostra no documento uma peculiaridade desses espaccedilos O turista portanto ao desfrutar desse tipo de serviccedilo identifica-se com a regionalidade dos lugares apropriados estrategicamente pelo turismo Essa regionalidade por outro lado eacute reduzida a este universo causando assim uma simulaccedilatildeo
136
vez o reducionismo se faz presente na anaacutelise sobre o desenvolvimento
causando desta forma sua debilidade
O PDT-PA ainda faz uma abordagem destacaacutevel sobre tipos de espaccedilos
de lazer que se encontram em consonacircncia com a estrutura dos poacutelos Tais
espaccedilos reuacutenem condiccedilotildees favoraacuteveis para a praacutetica do turismo e de forma
ampla para o desenvolvimento da atividade e o seu consequumlente crescimento
econocircmico para o estado Para o plano a construccedilatildeo desses espaccedilos serve de
referecircncia para atrair turistas pois na sua concepccedilatildeo os valores no que se
refere agrave natureza lazer na Amazocircnia paraense satildeo importantes para o fomento
agrave atividade turiacutestica Como afirma o plano A natureza amazocircnica com sua
extraordinaacuteria riqueza de flora e fauna constituem o maior atrativo do Paraacute
(PARAacute 2001 p 71) Percebe-se com isso que a apropriaccedilatildeo da natureza
segundo esses princiacutepios torna-se um caminho importante para o
desenvolvimento A figura da paacutegina seguinte mostra mais uma ideacuteia pensada
pelo plano para a transformaccedilatildeo do territoacuterio paraense
137
Figura 4 Resort aventura e natureza
FONTE PARAacute 2001 p 71
Comentaacuterio A atividade gerada nesses espaccedilos torna-se um fator importante para o desenvolvimento do turismo Neles o consumo da paisagem bem como da natureza eacute um estimulador de riqueza e por isso passa a ser uma estrateacutegia para o crescimento econocircmico
Harvey (2004) apresenta um argumento interessante sobre esses
espaccedilos imaginados principalmente quando satildeo pensados a partir de
planejamentos para a organizaccedilatildeo espacial de um lugar Para o autor o
chamado utopismo de livre organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2004) funciona
atraveacutes de espaccedilos fechados como uma economia isolada (HARVEY 2004)
com o intuito de controlar natildeo soacute o espaccedilo mas o tempo tambeacutem garantindo
assim uma possibilidade de mudanccedila social e histoacuterica Neste caso os
processos sociais satildeo controlados reprimidos atraveacutes de uma forma espacial
fixa (HARVEY 2004) O plano afirma que a construccedilatildeo desses lugares eacute
baseada numa preacute-seleccedilatildeo onde a beleza paisagiacutestica e a riqueza da fauna e
da flora devem ser destacadas (PARAacute 2001) facilitando com isso seu uso
Com isso as ideacuteias de desenvolvimento a partir do PDT-PA podem ser
percebidas a partir de um universo econocircmico onde este eacute o carro chefe da
138
transformaccedilatildeo do turismo e da sociedade Os elementos de mercado presentes
no documento como as estrateacutegias comerciais a propaganda o marketing a
seleccedilatildeo de espaccedilos marcam uma concepccedilatildeo especiacutefica da poliacutetica puacuteblica
pensada pelo Estado paraense para o turismo As accedilotildees decorrentes dessas
poliacuteticas quando materializadas no espaccedilo tendem agrave mudanccedilas consideraacuteveis
no que diz respeito agrave sociedade Como siacutentese dessas poliacuteticas o PDT-PA traz
um posicionamento que tambeacutem eacute o reflexo do que se pensa sobre o turismo e
desenvolvimento Neste sentido tais poliacuteticas soacute podem se tornar efetivas se
houver o espaccedilo como condiccedilatildeo para esse processo o que garante por assim
dizer que o desenvolvimento da atividade turiacutestica tambeacutem soacute pode ser feito
mediante essa condiccedilatildeo espacial
139
5 CONCLUSOtildeES
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma seacuterie de efeitos e processos que produzem diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida nos usos de recursos nas relaccedilotildees com o ambiente e nas formas poliacuteticas e culturais (David Harvey 2004)
140
No trecho destacado da paacutegina anterior David Harvey procura analisar o
que ele chama de desenvolvimento geograacutefico desigual sendo este uma
proposta alternativa agrave ideacuteia de globalizaccedilatildeo Para Harvey (2004) o processo de
globalizaccedilatildeo do capitalismo atingiu um estaacutegio muito complexo e por isso
mesmo o conceito de globalizaccedilatildeo natildeo daacute mais conta de explicar as recentes
transformaccedilotildees que o mundo estaacute passando Eacute necessaacuterio para ele esboccedilar
um argumento capaz de articular a dialeacutetica das escalas Tais escalas
necessariamente devem estar pensadas entre o micro (que para ele estaacute
representada na figura do corpo humano) e o macro (os processos globais que
ocorrem em todo o planeta) Dessa forma segundo Harvey (2004) as nuanccedilas
soacutecio-espaciais podem se tornar mais claras e a sociedade como um todo natildeo
fica a mercecirc das transformaccedilotildees que o sistema capitalista impotildee no mundo
fazendo com que qualquer mudanccedila natildeo seja tomada de forma acriacutetica
Ainda pode-se afirmar logo de iniacutecio que pensar em poliacuteticas puacuteblicas
de turismo eacute pensar em seus efeitos e processos que produzem as diferenccedilas
geograacuteficas de um lugar Por isso entendido como ponto de discussatildeo central
desse trabalho a anaacutelise de um plano enquanto um documento que une as
possibilidades de transformaccedilatildeo de um lugar requer pensar de forma dialeacutetica
um elemento que iraacute produzir as diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida de
uma sociedade ou em uma cultura como diz Harvey (2004)
Poreacutem deve-se entender que a construccedilatildeo de um plano de turismo
refere-se agrave processos de construccedilatildeo de espaccedilos a partir de uma loacutegica estatal
Ou seja analisar a poliacutetica puacuteblica de turismo eacute antes de tudo relacionaacute-la a
uma ideologia de Estado
Neste caso as transformaccedilotildees mundiais que o turismo de mercado vem
causando em sua grande maioria satildeo fruto de uma relaccedilatildeo com o Estado
pois eacute este uacuteltimo que se torna o principal aliado nas negociaccedilotildees sobre o lazer
a partir do turismo
O alcance dessa relaccedilatildeo eacute tatildeo intensa que os governos ao pensarem no
turismo como elemento integrante de seu sistema de governo produzem
artifiacutecios que possibilitam as grandes empresas hoteleiras as agecircncias de
141
turismo locais os operadores grupos associados entre outros (ou na
linguagem comum de quem trabalha no ramo do trade turiacutestico) a terem mais
acessibilidade a espaccedilos Neste processo atraveacutes de estudos teacutecnicos eacute que
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo elaboram documentos necessaacuterios ao avanccedilo
desses agentes no espaccedilo Surgem portanto os planos de turismo como
siacutentese da organizaccedilatildeo das ideacuteias pensadas (arquitetadas) pelo Estado e por
representantes do ramo turiacutestico Como bem lembra Cruz (2001) as poliacuteticas
puacuteblicas natildeo satildeo estrategicamente pensadas de forma adequada pelo Estado
ela pode ficar ao sabor das iniciativas privadas ou ficar agrave revelia delas Nisto
reside portanto os interesses dos agentes privados em fazer com que o
processo de construccedilatildeo de planos de turismo por parte do Estado possa
garantir uma intervenccedilatildeo mais raacutepida
A Amazocircnia sem duacutevida nenhuma nos uacuteltimos tempos tem-se
transformado em um dos espaccedilos privilegiados para a expansatildeo da atividade
turiacutestica Num amplo espaccedilo como este a praacutetica do lazer ganha um
diferencial associado agrave questatildeo de se estar mais proacuteximo de espaccedilos naturais
ou selvagens O exoacutetico da floresta eacute um objeto que devidamente apropriado
pelos promotores de turismo (no sentido de estrateacutegia de mercado) passa a
ser consumido a partir de viagens diferentes dos circuitos tradicionais como as
praias de litoral O encanto da floresta sua suntuosidade exuberacircncia satildeo
elementos muito divulgados em folders ou propagandas em outros mercados
emissores a fim de atrair turistas para a regiatildeo Os estados que compotildeem a
regiatildeo amazocircnica neste caso articulam-se para promover ainda mais esse
novo foco de mercado e tambeacutem possibilidade de geraccedilatildeo de divisas
Ao discutir a importacircncia do plano de Turismo para o Paraacute necessaacuterio
se fez pensar de forma inerente o que se veicula em termos de ideacuteias
estrateacutegias ou modelos de desenvolvimento que satildeo detalhados num
documento como esse Neste caso natildeo basta somente afirmar a ideacuteia de que
o Estado eacute um agente facilitador dos processos de turismo em seu espaccedilo As
ideacuteias estrateacutegias modelos de desenvolvimento estatildeo assim unidos em
concepccedilotildees de turismo espacialidades noccedilotildees de desenvolvimento Sendo
142
assim o PDT-PA mesmos natildeo definindo ou conceituando devidamente
mostra elementos que estatildeo associados a esses criteacuterios
No que diz respeito por exemplo agrave concepccedilatildeo de turismo que eacute
veiculada no plano o documento eacute enfaacutetico ao revelar a importacircncia do Paraacute
como novo espaccedilo a ser convertido em trade Dado o interesse por parte do
plano uma concepccedilatildeo do voltada ao mercado surge nas entrelinhas do
documento sendo esta importante para o desenvolvimento da atividade
Esta concepccedilatildeo permite visualizar o interesse por parte do Estado em
tornar o territoacuterio paraense um potencial turiacutestico ou um grande celeiro de
oportunidade de negoacutecios voltados para o setor Neste sentido elementos
importantes como natureza tornam-se objetos e satildeo valorizados nessa
relaccedilatildeo na qual agentes de mercado do turismo se utilizam de fragmentos dos
espaccedilos naturais principalmente aqueles que demonstram uma beleza cecircnica
com potenciais de mercado A natureza passa a ser objeto de troca de
mercado Eacute o proacuteprio espaccedilo que se torna foco de atenccedilatildeo da construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas Atraveacutes de uma maciccedila propaganda a utilizaccedilatildeo da
paisagem passa a ser o recurso de apoio na venda desses espaccedilos que
entram no circuito da troca (CARLOS 2002) ou na produccedilatildeo da artificialidade
Uma outra ideacuteia que estaacute associada agrave concepccedilatildeo de turismo de
mercado e que por conseguinte o plano de turismo do Paraacute adota baseia-se
no princiacutepio de que o turismo sempre eacute beneacutefico agrave sociedade local e que por
isso mesmo traz em sua bagagem a condiccedilatildeo de melhoria da qualidade de
vida e de novas percepccedilotildees sobre o meio ambiente
Ideacuteias como sustentabilidade ou crescimento sustentaacutevel aparecem nos
primeiros paraacutegrafos do documento poreacutem natildeo satildeo devidamente exploradas
ou sequer conceituadas Isto provoca uma sensaccedilatildeo de que o turismo eacute
panaceacuteia para todos os males (ROCHA 2002) Neste caso o PDT-PA revela-
se fragilizado e reducionista quanto agrave questatildeo do que seja a melhoria da
qualidade de vida e o que seja sustentabilidade soacutecio-ecoloacutegica A ideacuteia de
que o plano fora definido de forma estrateacutegica para garantir a melhoria da
qualidade de vida para a populaccedilatildeo paraense estaacute calcada em princiacutepios
143
exclusivos de cunho mercadoloacutegico Toda essa estrutura estaacute voltada para um
maior incremento da atividade turiacutestica no estado fortalecendo assim uma
concepccedilatildeo muito forte sobre a ideacuteia de mercadificaccedilatildeo dos espaccedilos (SOUZA
2002)
No que diz respeito ao foco das estrateacutegias espaciais adotadas pelo
plano este eacute abrangente e pensa o territoacuterio por completo a partir das meso-
regiotildees internas do Estado O peso dado agrave seleccedilatildeo das regiotildees turiacutesticas faz
com que a transformaccedilatildeo do turismo no Paraacute se decirc de forma totalizante Neste
caso o territoacuterio paraense eacute pensado de forma abrangente a partir dos lugares
(cidades com infra-estrutura) que jaacute tecircm uma preacute-disponibilidade que
congregam os atrativos turiacutesticos necessaacuterios para tornar este lugar em um
potencial turiacutestico
A estrutura feita em poacutelos (Beleacutem Costa Atlacircntica Araguaia Tocantins
Xingu Tapajoacutes e Marajoacute) permite visualizar a possibilidade de valorizaccedilatildeo
desses espaccedilos a partir de suas peculiaridades Permite tambeacutem em uma
dimensatildeo teoacuterico-conceitual maior visualizar uma adaptaccedilatildeo das teorias dos
poacutelos de crescimento de Perroux (1969) Este autor entendia que para uma
economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo pudesse fluir melhor era necessaacuterio
se fragmentar os espaccedilos em subespaccedilos ou em outras palavras em regiotildees
produtivas que facilitassem o fluxo de mercado esse fluxo era garantindo
acima de tudo pela presenccedila da induacutestria a qual reunia as condiccedilotildees de
transformaccedilatildeo econocircmica de um lugar Isto quer dizer que o PDT-PA a partir
das estrateacutegias espaciais feitas por poacutelos pensa o espaccedilo paraense de forma
racional e de forma que privilegie induacutestrias do turismo inteiramente voltadas
para o mercado Pois nessa situaccedilatildeo o importante eacute dar flexibilidade agraves
empresas que atuam nos espaccedilos privilegiados (PERROUX 1969) natildeo
levando em consideraccedilatildeo ou mencionado outros agentes da economia que
possam integrar o mercado do turismo Percebe-se assim uma maior fluidez
aos agentes do circuito superior da economia (SANTOS 2004)
Nessa situaccedilatildeo cria-se a ilusatildeo de que as sedes das regiotildees poacutelos pelo
fato de reunirem condiccedilotildees preacutevias para um arranque de crescimento
econocircmico possibilitam com que gradativamente as cidades que se localizam
144
ao redor da sede possam ter o tipo de desenvolvimento da atividade turiacutestica
arrolada no centro entendendo-se aiacute que as cidades possam ter a mesma
intensidade de desenvolvimento No plano essa situaccedilatildeo eacute mais clara quando
se faz um diagnoacutestico das potencialidades de cada regiatildeo do estado de
acordo com a geraccedilatildeo de um objetivo pautado na relaccedilatildeo entre produtividade
atratividade gestatildeo e marketing (PARAacute 2001) sempre com o intuito de
garantir a competitividade dos espaccedilos Como um outro elemento que
contempla essa visatildeo de turismo o governo do estado do Paraacute define uma
concepccedilatildeo de turismo e as estrateacutegias espaciais com o intuito ainda maior de
promover um desenvolvimento tanto da atividade enquanto uma perspectiva
setorial como uma perspectiva de cunho soacutecio-econocircmico E neste sentido a
ideacuteia de desenvolvimento baseia-se em uma concepccedilatildeo expliacutecita de
desenvolvimento econocircmico ou que atribui aos ideais econocircmicos as
perspectivas de um mercado global
Nessa situaccedilatildeo dois elementos marcam a proposta de desenvolvimento
descrita no plano de turismo Segundo as ideacuteias de Souza (1997 2000 2001
2004) o que basicamente caracteriza o desenvolvimento do tipo econocircmico eacute
o crescimento econocircmico e a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste sentido a
estrutura do documento mostra-se enveredada para o caminho do
desenvolvimento de mercado assinalando as divisotildees necessaacuterias para se
alcanccedilar as metas previstas pelo Governo do Estado O slogan da
competitividade aparece como elemento norteador nas accedilotildees do documento
principalmente quando em sua proposta a reestruturaccedilatildeo de outros elementos
como marketing gestatildeo produtividade e atratividade devem estar associados a
condiccedilatildeo do que seja o desenvolvimento do turismo no Paraacute e em uma
dimensatildeo mais ampla da sociedade e de seu modo de pensar e agir sobre o
que seja turismo e melhoria da qualidade de vida
Segundo o documento a assertiva do crescimento deve associar-se agrave
questatildeo da sustentabilidade Poreacutem como foi analisado o debate da
sustentabilidade aparece condicionado ou como um apecircndice do mercado Eacute
nesse sentido de fato que o crescimento assume uma postura quantitativa
pois a necessidade de fazer com que o turismo assuma uma responsabilidade
145
de transformaccedilatildeo social eacute aquela em que os indiviacuteduos devem ser estimulados
pelo consumo Sendo assim eacute atraveacutes deste uacuteltimo que a condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida viraacute No plano haacute situaccedilotildees que mostram que a
deficiecircncia de produtos turiacutesticos (recursos naturais) deve ser melhorada para
que haja assim o consumo por parte daqueles que conseguem desfrutar do
lazer no estado
Como consequumlecircncia por um lado pelo baixo niacutevel de conhecimento e compreensatildeo turiacutestica do Paraacute no canal de venda e comercializaccedilatildeo e por outro pela debilidade ou inexistecircncia de uma accedilatildeo de comercializaccedilatildeo e promoccedilatildeo sistemaacutetica por parte da induacutestria turiacutestica paraense a niacutevel individual ou coletivo a presenccedila e venda de ofertas de produtos e destinos turiacutesticos paraenses eacute muito reduzida (PARAacute 2001 p 39)
A outra dimensatildeo da perspectiva do desenvolvimento econocircmico a que
Souza (1997 2000 2001 2004) atribui diz respeito agrave modernizaccedilatildeo
tecnoloacutegica E neste ponto o PDT-PA torna-se enfaacutetico ao diagnosticar a infra-
estrutura do estado como precaacuteria e ineficiente aos comandos de uma rede de
serviccedilos turiacutesticos que precisa de uma infra-estrutura baacutesica para funcionar
bem Nas palavras do documento
Sem duacutevida o atraso acumulado e as particularidades fiacutesicas da regiatildeo amazocircnica explicam em boa parte as dificuldades encontradas Entretanto desde a perspectiva de um desenvolvimento turiacutestico equilibrado e competitivo a soluccedilatildeo destes problemas [infra-estrutura e equipamentos baacutesicos] deve ser considerada dentre a primeira linha de prioridade (PARAacute 2001 p 16 grifo nosso)
Percebe-se portanto que nesse ponto para que haja um melhor
rendimento da atividade turiacutestica eacute necessaacuterio que o Estado seja o mediador e
veiacuteculo de construccedilatildeo das infra-estruturas turiacutesticas Neste caso haacute que se
destacar que a construccedilatildeo de infra-estruturas do tipo estradas portos
aeroportos hospitais rede de seguranccedila rede de saneamento e esgoto de
146
cidades com potenciais turiacutesticos natildeo atendem uacutenica e exclusivamente a este
setor pois por sua caracteriacutestica proacutepria o turismo eacute um segmento eacute um setor
das atividades econocircmico-sociais de um Estado e por isso mesmo outras
atividades econocircmicas e sociais se utilizam desses espaccedilos (fixos) que a
esfera estatal realiza em diversos lugares Poreacutem o que se deve afirmar aqui
eacute que pelo fato de que o Governo do Estado dar um privileacutegio maior ao turismo
de massa (aquele concernente ao fluxo global da economia) esses
equipamentos e infra-estruturas estatildeo pensados concebidos articulados e
decididos em primeiro plano para os agentes de classes sociais que podem
circular capital de forma mais raacutepida A dita sociedade local aqui fica em
segundo plano ou possivelmente marginalizada desse processo de melhoria
do espaccedilo o que faz com que o outro lado da moeda ou seja aqueles que natildeo
tecircm condiccedilotildees de usufruir deste tipo de turismo fiquem em uma situaccedilatildeo de
desequiliacutebrio social principalmente no que tange aos requisitos baacutesicos do que
seja a melhor qualidade de vida como educaccedilatildeo sauacutede lazer e diversatildeo
transporte e seguranccedila
Outra ideacuteia eacute aquela baseada em Harvey (2004) de que o planejamento
das formas espaciais natildeo deve dissociar de um conteuacutedo espacial onde as
diversas maneiras de pensar a dimensatildeo do social necessitam de uma
articulaccedilatildeo que focalizem a justiccedila social Harvey (2004) se pergunta como eacute
possiacutevel tornar clara essa articulaccedilatildeo entre as formas espaciais e os
conteuacutedos a fim de criar uma modalidade mais dialeacutetica e que decirc uma
importacircncia consideraacutevel ao espaccedilo Sendo assim um plano de
desenvolvimento de turismo da envergadura do PDT-PA enquanto um
documento que reuacutene possibilidades natildeo soacute de mudanccedilas da atividade
turiacutestica mas de uma dimensatildeo da sociedade pode em todo caso ser um
passo para que as formas espaciais e os processos espaciais estejam em prol
de um projeto social mais justo e solidaacuterio com aqueles que fazem parte do rol
de ideacuteias do desenvolvimento Apropriando-se das ideacuteias de Harvey (2004) o
fechamento ou a possibilidade de se realizar algo concretamente natildeo pode
estar distante nos planejamentos puacuteblicos Do contraacuterio forma-se um hiato
entre o que o Estado pensa em termos de projetos poliacuteticos e a sociedade
147
Neste sentido o PDT-PA constitui-se um plano limitado em sua proposta
para o desenvolvimento ou ainda enquanto um instrumento de mudanccedila
social Em primeiro lugar do ponto de vista econocircmico (que eacute o principal
elemento trabalhado pelo plano) o documento pensa um tipo de economia
voltado para setores da sociedade que reuacutenem condiccedilotildees de estabelecer
consumo de produtos turiacutesticos selecionados e especiacuteficos como eacute o caso de
resorts fluviais (PARAacute 2001 p 73) Nestes espaccedilos consumo eacute seletivo e
por isso mesmo exclui a possibilidade de uma maior interaccedilatildeo com outras
partes do territoacuterio paraense Em segundo lugar como consequumlecircncia do
primeiro a ideacuteia de contato com outras culturas (outras pessoas) em territoacuterio
paraense natildeo se aplica no plano Os espaccedilos pensados pelo documento ao
inveacutes de estabelecerem uma abrangecircncia de trocas sociais estimulam o
confinamento das pessoas que vecircm de fora o que faz com que o turista
conheccedila partes do territoacuterio paraense e natildeo o todo com suas diferenccedilas de
costumes haacutebitos conflitos Haacute portanto uma estandardizaccedilatildeo dos lugares
Tambeacutem existe uma limitaccedilatildeo teoacuterico-conceitual na elaboraccedilatildeo do plano
Por ser um documento muito pragmaacutetico funcionalista (tem a funccedilatildeo de
fornecer dados para o crescimento do turismo no estado) concentra-se em
aspectos caracteriacutesticas estrateacutegias de mercado diagnoacutesticos da realidade
turiacutestica do estado deixando de lado ou ateacute mesmo negligenciando uma
filiaccedilatildeo ideoloacutegica clara dificultando sua identidade teoacuterica
E por fim o plano apresenta ideacuteias muito proacuteximas de um planejamento
estrateacutegico Com a ajuda de oacutergatildeos especializados na promoccedilatildeo (marketing)
dos lugares como eacute o caso da contrataccedilatildeo da THR o Estado pensa o espaccedilo
paraense como um espaccedilo competitivo inspirado sobretudo numa
competiccedilatildeo do tipo empresarial A partir da conscientizaccedilatildeo da mundializaccedilatildeo
da economia e da comunicaccedilatildeo (VAINER 2002 p 76) esses espaccedilos
pretendem ser mais competitivos por isso o espaccedilo aqui eacute condicionado
principalmente por um ritmo econocircmico natildeo assumindo outras feiccedilotildees sociais
Eacute com isso portanto que aqui natildeo se pretende negar qualquer
possibilidade de se praticar turismo ainda mais a partir de ideacuteias que ora satildeo
elaboradas pelos governos mas sim de se pensar que um outro tipo de turismo
148
eacute possiacutevel aquele em que as medidas de mercado natildeo assumam as decisotildees
por completo dessa atividade Aleacutem disso a praacutetica do turismo pode estar de
fato alicerccedilada na condiccedilatildeo de uma praacutetica social acima de tudo
149
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17
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
BELEacuteM
2007
18
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO
IFCH UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia sob orientaccedilatildeo do Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
BELEacuteM
2007
19
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP)
(Biblioteca de Poacutes-Graduaccedilatildeo do IFCHUFPA Beleacutem-PA)
Serra Hugo Rogeacuterio Hage
A concepccedilatildeo de turismo e de sua espacialidade no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Paraacute (PDT-PA) Hugo Rogeacuterio Hage Serra orientador Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior - Beleacutem 2007
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Federal do Paraacute Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Beleacutem 2007
1 Turismo e Estado 2 Turismo - Poliacutetica governamental - Paraacute 3 Turismo - Planejamento - Paraacute I Tiacutetulo
CDD - 22 ed3384791098115
20
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto
de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO IFCH
UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia
DATA DE DEFESA___________2007
CONCEITO______________________
BANCA EXAMINADORA
Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
(Orientador)
Profordf Drordf Janete Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira
(Examinadora interna)
Profordm Drordm Siacutelvio Joseacute de Lima Figueiredo
(Examinador Externo)
iii
21
Incondicionalmente agrave Julieta Serra Agrave sua maneira
acima de todos e abaixo de Deus soube se esforccedilar
para que este se tornasse possiacutevel Nela inspiro-me
para que um dia eu consiga ser no miacutenimo um
cidadatildeo batalhador e justo Matildee com certeza vocecirc
estaacute em todos os meus momentos Obrigado
iv
22
AGRADECIMENTOS
Triste eacute aquele que natildeo sabe agradecer Mais ainda quando acha que em um
trabalho cientiacutefico (seja de qual envergadura for imagine-se ainda uma
dissertaccedilatildeo) seu esforccedilo eacute uacutenico e exclusivamente seu Ledo engano Em um
trabalho como esse as pessoas aparecem e desaparecem mas deixam suas
marcas as quais se tornam eternas pelo menos em funccedilatildeo desse momento
Como este eacute um momento em que o autor de um trabalho cientiacutefico tem sua
liberdade entatildeo ponho-me a relatar loacutegico atraveacutes das palavras (e acima delas de
seus conteuacutedos) as pessoas as marcas que deixaram nesta curta passagem de uma
poacutes-graduaccedilatildeo Aos que me conhecem (e os que natildeo conhecem passam a conhecer
um pouco agora) sabem que o momento de agradecer para mim eacute um momento tatildeo
importante quanto o de fazer um trabalho cientiacutefico Aiacute vatildeo elas pessoas ou natildeo
Em primeiriacutessimo lugar nunca esqueccedilo de agradecer a Deus do meu jeito agrave
minha maneira sem ceticismo e com bastante feacute
Em segundo e em especial agrave minha famiacutelia Julieta e Felipe Serra que
mesmo faltando um souberam me completar no espiacuterito e na mateacuteria nas
decisotildees e no apoio Sem vocecircs meus caros eu natildeo existiria
De um modo especial natildeo posso esquecer dos momentos mais doces que
vivi e ainda vivo ao lado de Keila Lopes de Almeida Sua presenccedila meiga e amiga
me fascinou Sou grato a vocecirc pela compreensatildeo paciecircncia (haja) mas sobretudo
pelo seu amor que sem exageros me confortou e me deu mais forccedila para a
concretizaccedilatildeo desse projeto A vocecirc dizer obrigado natildeo basta
Aqui abro um paraacutegrafo em especial para agradecer a Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Juacutenior meu orientador Nesse caso as palavras de agradecimento se
misturam entre a amizade e a responsabilidade pois tenho muito a agradecer a
vocecirc por sua competecircncia responsabilidade eacutetica e discernimento das coisas que
nos cercam Este momento tambeacutem eacute especial porque vocecirc o permitiu Natildeo tenho
duacutevidas de que a Geografia da Amazocircnia deve muito a vocecirc e eu lhe agradeccedilo por
ter me conduzido a sua maneira a um novo mundo da ciecircncia (ainda que em
poucos momentos) e ter aberto as portas de uma Geografia diferente Obrigado meu
amigo
v
23
Natildeo posso deixar de mencionar a figura de Genylton Rocha que atraveacutes de
sua alegria inigualaacutevel entregou-me sua amizade sincera e duradoura Seus votos
de crenccedila em minha pessoa sua ajuda sua disponibilidade me fizeram abrir os
olhos para as possibilidades Sou grato a vocecirc (e vocecirc sabe disso) por tudo o que
fez enquanto amigo e professor de minha formaccedilatildeo afinal vocecirc faz parte do time
dos professores que marcam Natildeo tenha duacutevida meu caro que se tenho um
pouco de garra para ensinar geografia devo em grande parte a vocecirc Valeu Rocha
Outra pessoa indispensaacutevel nesse momento eacute Goretti Tavares Aliaacutes meus
agradecimentos a vocecirc se estendem desde meu trabalho de conclusatildeo de curso
quando vocecirc depositou confianccedila em mim Se este mestrado existe eacute porque vocecirc
impocircs seu ritmo e perseveranccedila para que isso acontecesse Obrigado entatildeo por
essa oportunidade
Tambeacutem quero deixar registrado aqui meu agradecimento agrave Prof Dra Janete
Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira e ao Prof Dr Silvio Lima Figueiredo por se
disporem fazer parte da banca de avaliaccedilatildeo de minha dissertaccedilatildeo A vocecircs
obrigado
Outras figuras tambeacutem foram importantes nesses 24 meses de mestrado
Uma delas o presente-ausente Marcos Alexandre Pimentel da Silva que natildeo de
modo direto mas fora dos muros da universidade dentro de suas possibilidades me
apoiou quando precisei Espero que nossa amizade dure Obrigado
Ao Maacutercio Douglas por sua presteza em momentos de trabalho em que
precisei de livros e dicas cientiacuteficas Apesar do pouco contato natildeo esqueci de vocecirc
meu amigo Obrigado pela forccedila
Ao jovem Estevatildeo Barbosa que atraveacutes de sua simplicidade e amizade
permitiu que nossa relaccedilatildeo passasse dos cinco anos Uma pessoa como vocecirc eacute
para sempre Um grande abraccedilo
Aqui tambeacutem natildeo deixo de mencionar os colegas de mestrado (dos quais
em sua maioria tornei-me amigo) Com vocecircs as discussotildees que naqueles
momentos travamos foram importantes para a minha formaccedilatildeo Jorge Alex Augusta
Willame Aacutelvaro (o estranho no ninho mas que se mostrou uma pessoa muito
acessiacutevel durante esse periacuteodo quando precisei de seus auxiacutelios) Cleacutedson Luiz
entre outros que possibilitaram um pouco do crescimento deste curso
Natildeo posso esquecer o paulista mais paraense que jaacute conheci Omar Abrahatildeo
Que bom que o espiacuterito de nossa terra lhe fez uma pessoa mais alegre mais festiva
vi
24
Espero que possamos construir outros laccedilos de amizade Para vocecirc tambeacutem quero
deixar meu obrigado
De uma maneira geral quero agradecer aos professores do mestrado em
geografia A partir de suas palavras pude alcanccedilar novos horizontes no meu
conhecimento cientiacutefico A vocecircs obrigado mesmo
Natildeo posso tambeacutem deixar de ser grato agrave Iranilda Moraes pela sua
disponibilidade em confeccionar o mapa de minha dissertaccedilatildeo Obrigado pela ajuda
Aos professores e colegas de profissatildeo que ao perceberem um pouco do
aperreio de ser estudante de poacutes-graduaccedilatildeo e professor de ensino fundamental ao
mesmo tempo ainda assim acreditaram em mim neste periacuteodo E por isso meu
obrigado fica aqui registrado Aiacute vatildeo eles Prof Rosa Prof Luiza Barata Prof
Leidiane Prof Gilson Carlos Prof Vander Prof Joatildeo Prof Samara Prof
Ayholacircndia (obrigado pelo esforccedilo na correccedilatildeo deste trabalho) Prof Odimar Prof
Tony Prof Joatildeo de Barros entre outros Obrigado por tudo
E por falar em ensino fundamental e tambeacutem por uacuteltimo poreacutem natildeo menos
importante essa histoacuteria (melhor dizendo essa geografia) de estudar para um curso
de poacutes-graduaccedilatildeo soacute pocircde ter efeitos concretos em meio agraves aulas dadas no bairro
do Che Guevara (municiacutepio de Marituba - PA) precisamente na escola Nilson Pinto
que apesar do nome pocircde ser o iniacutecio de minha caminhada para este curso Meu
obrigado aos alunos tambeacutem pode ser estendido como a esperanccedila de um dia
melhor Que o (bom) produto de meus estudos possa ter o retorno mais raacutepido a
pessoas como eles que mesmo na adversidade de uma pobreza urbana e tambeacutem
metropolitana sempre que possiacutevel puderam criar expectativas e possibilidades de
uma vida melhor A vocecircs meus pequenos obrigado
vii
vii
25
Haacute os que observam a realidade como ela
eacute e se perguntam por quecirc E haacute os que
imaginam a realidade como ela nunca foi e
se perguntam por que natildeo
BERNARD SHAW
viii
26
RESUMO
A atividade turiacutestica enquanto uma atividade soacutecio-econocircmica e espacial tem a
possibilidade de criar e recriar espaccedilos de acordo com interesses de agentes
envolvidos nesse processo Na esteira desse movimento o Estado entendido
enquanto um agente fomentador do turismo cria mecanismos de controle e
gerenciamento da atividade a fim de potencializaacute-la com o intuito de promover sua
expansatildeo econocircmica pelos espaccedilos Nesse sentido um dos resultados dessa
intervenccedilatildeo espacial se constitui na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas setoriais que
objetivam assim a reestruturaccedilatildeo espacial Tais poliacuteticas refletem o jogo de
interesses entre o Estado agentes de mercado e agentes sociais de uma forma
geral A partir desse contexto de acordo com uma perspectiva metodoloacutegica da
anaacutelise de conteuacutedo este trabalho tem como objetivo analisar as concepccedilotildees e
espacialidades veiculadas no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Estado do
Paraacute
PDT-PA Leva-se em conta ainda que o produto das poliacuteticas puacuteblicas tem
como pretensatildeo a geraccedilatildeo de desenvolvimento o que retoma de uma forma mais
complexa a relaccedilatildeo entre os agentes envolvidos na turistificaccedilatildeo dos espaccedilos
Palavras-chave Plano Planejamento Turismo PDT-PA Paraacute
ix
27
ABSTRACT
The tourist activity while a social- economic and spatial activity has possibility of to
create and (re) create spaces in accord with agents interests involved on this
process On this movement the State intended while a tourist agent fomenter
creates mechanisms of control and management of the activity with the objective to
potent with intuit to promote your economic expansion by the spaces In this way on
of the results of this spatial intervention constitute on formulations of sectarian s
publics policies that objective thus the spatial restructure These politics reflexes the
game of interests between the State market agents and socials agents of the
general way Since of this context in accord with a methodological perspective of
contends analyze this work has the objective to analyze the conceptions and
spatialities putted on Paraacute s State Tourism Development Plan
TDP
PA
Understanding yet that product of policies politics has the pretension the generation
of development that s takes again of a complex form the relation between involved
agents on touristification of spaces
Key words Plan Planing Tourism PDT-PA Paraacute
x
28
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
111
Figura 2 Lodge Pesca esportiva 129
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza) 135
Figura 4 Resort Aventura e Natureza 137
Mapa 1 Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001-2006 97
Quadro 2 Programas e accedilotildees-siacutentese 99
Quadro 3 Quadro Sinoacutetico da Estrutura do Plano de Desenvolvimento do Turismo do estado do Paraacute 101
Quadro 4 Estrateacutegias de ProdutoMercado Poacutelo Beleacutem 120
Quadro 5 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Beleacutem 121
Quadro 6 Estrateacutegias de ProdutoMercado do Poacutelo Costa Atlacircntica 122
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica 123
Quadro 8 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Marajoacute 124
Quadro 9 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo AraguaiaTocantins 125
Quadro 10 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Tapajoacutes 126
Quadro 11 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Xingu 127
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao estado do Paraacute 73
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico 92
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais () 93
Graacutefico 4 Estrateacutegia eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT-PA 98
xi
29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003 2004 69
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados no estado do Paraacute 2002 2003 2004 71
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 73
xii
30
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO ix
ABSTRACT x
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES xi
1 INTRODUCcedilAtildeO 15
2 TURISMO ESPACcedilO E PLANEJAMENTO 26
21 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 27
22 SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMAS DE ACcedilOtildeES A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 37
23 O ESTADO E AS ESTRATEacuteGIAS DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 44
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO PARAacute 54
31 A EXPANSAtildeO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NA AMAZOcircNIA 55
32 O TURISMO NO ESTADO DO PARAacute UM BREVE BALANCcedilO 67
33 A IMPORTAcircNCIA DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NO NOVO PARAacute
77
4 O PDT
PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO 82
41 DIRETRIZES E ESTRUTURAS DO PDT-PA 83
42 A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO NO PDT-PA 102
43 A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA UMA ANAacuteLISE DO CONCEBIDO 112
44 ESPACcedilO TURISMO E DESENVOLVIMENTO DESVELANDO PROPOSTAS E INTENCcedilOtildeES 130
xiii
31
5 CONCLUSOtildeES 139
REFEREcircNCIAS 149
xiv
32
1 INTRODUCcedilAtildeO
16
A praacutetica do turismo pode ser caracterizada como algo recente dentro dos
debates geograacuteficos A partir da deacutecada de 1960 esse fenocircmeno vem despertando
interesse dentro das anaacutelises espaciais e tem conseguido ampliar novas discussotildees
que se tornaram importantes e que de certa forma referem-se principalmente ao
espaccedilo modificado pelas constantes viagens e pelo conhecimento de novos
territoacuterios (MOESCH 2002) De certa forma isso fez com que o turismo ao longo do
tempo modificasse paisagens e estabelecesse contatos interculturais Uma de suas
principais caracteriacutesticas eacute o fato de estar atrelado a uma praacutetica essencialmente
econocircmica sendo comumente denominado de uma induacutestria sem chamineacutes
(NICOLAS 2001)
Na esteira desse movimento a modernidade impotildee ao turismo um ritmo que
estaacute diretamente ligado ao consumo especialmente ao consumo do espaccedilo
(RODRIGUES 1999) Tal momento da modernidade implica em mudanccedilas sociais e
espaciais Eacute nesse ponto que a relaccedilatildeo da geografia com o turismo se faz presente
pois a mesma analisa os fatos sociais intriacutensecos agrave atividade dentro da loacutegica do
capital ou seja aquela que produz espaccedilos voltados para o turismo Com isso
altera-se a noccedilatildeo de que o turismo eacute uma praacutetica exclusivamente econocircmica Para
autores como Cruz (2001) a geografia do turismo refere-se agrave uma dimensatildeo soacutecio-
espacial Essa dimensatildeo pode ser tomada ainda numa escala planetaacuteria onde o
consumo do espaccedilo obedece a uma loacutegica global
Considerando-se a expansatildeo da atividade turiacutestica em acircmbito global a
intervenccedilatildeo espacial do turismo tende a se efetivar no territoacuterio a partir de um estudo
teacutecnico ou seja a partir da constataccedilatildeo de que um determinado lugar tem um
potencial turiacutestico favoraacutevel para o desenvolvimento da atividade Nesse sentido
vaacuterios estudos datildeo-se a partir do planejamento do turismo buscando potencializar
os atrativos locais
As caracteriacutesticas globais estatildeo presentes nas espacialidades do turismo
fenocircmeno este que conjuga valores universais de lazer em formatos padronizados
Vale destacar que as praacuteticas turiacutesticas se valem do consumo do espaccedilo formando
entatildeo o sistema da oferta do produto (o espaccedilo social) e da procura (aqui
caracterizado principalmente pela demanda turiacutestica)
17
A partir do momento em que a loacutegica da produccedilatildeo turiacutestica destaca-se no
espaccedilo sua configuraccedilatildeo social eacute alterada conforme interesses dos agentes
produtores do espaccedilo No momento de ser apropriado pela praacutetica turiacutestica o
espaccedilo se complexifica ainda mais e por ser uma atividade em que o espaccedilo eacute um
recurso o turismo estrutura-se em uma loacutegica de ampliaccedilatildeo de lugares voltados
para a praacutetica do lazer desencadeando o que Knafou (1999) chama de territoacuterios
turiacutesticos Certamente o espaccedilo eacute fundamental agrave atividade turiacutestica e por isso o
espaccedilo do turismo pode ser entendido como uma reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de
produccedilatildeo
Com isso as accedilotildees que resultam na metamorfose do espaccedilo estatildeo
vinculadas agraves concepccedilotildees de espaccedilo estrategicamente pensadas pelos atores
envolvidos Tais concepccedilotildees refletem a ideacuteia de espaccedilo que se pretende construir
para o turismo Muitas dessas ideacuteias estatildeo estritamente vinculadas ao planejamento
feito pelo Estado voltado para a atividade Para Lefebvre (1976) por exemplo o que
mais chama a atenccedilatildeo para a questatildeo do entendimento do que seja espaccedilo satildeo as
reproduccedilotildees das relaccedilotildees de produccedilatildeo processo este que se daacute em todo o mundo
em todas as dimensotildees da vida social no se trata de localizar en el espacio
preexistente una necessidad o una funcioacuten sino al contrario de espacializar una
actividad social vinculada a una praacutetica en su conjunto produciendo un espacio
apropriado (LEFEBVRE 1976 p 9)
No que diz respeito agraves caracteriacutesticas econocircmicas da atividade turiacutestica
muitos paiacuteses dependem em muito de seus circuitos mundiais Sua importacircncia gira
em torno da potencialidade turiacutestica que um lugar pode oferecer o que o torna um
grande aliado para o incremento da economia Torna-se por isso condicionante
fundamental no que se refere ao desenvolvimento de um lugar isto porque a
dinacircmica do capital eacute mediada pelo consumo dos lugares que utiliza atrativos
turiacutesticos de belas paisagens naturais e ou natildeo naturais ou ainda pauta-se na ideacuteia
do exoacutetico do diferente
Dentro dessa loacutegica o fenocircmeno turiacutestico amplia-se nos diversos lugares do
planeta causando muitas vezes uma profunda desarticulaccedilatildeo da estrutura soacutecio-
espacial do lugar o que leva a entender que o turismo pode ser visto como um
desarticulador de culturas locais para servir a uma loacutegica maior do consumo dos
18
lugares ou ainda de fomentar a economia A ideacuteia de desenvolvimento nesse
sentido estaria ligada ao consumo dos atrativos turiacutesticos dos lugares o que geraria
a capacidade do lucro ou divisas para um Estado mesmo que a sensaccedilatildeo de
negatividade ou de desarticulaccedilatildeo de culturashaacutebitos locais aconteccedila nos diferentes
espaccedilos onde o turismo esteja presente
A ideacuteia da transformaccedilatildeo dos lugares a partir do fenocircmeno do turismo
alicerccedila-se na capacidade do mesmo ser uma atividade contraditoacuteria ou ainda
hiacutebrida (BECKER 2002) poreacutem combinada Ao mesmo tempo em que o turismo
destroacutei (desarticula) os lugares ele os constroacutei ou impotildee uma nova dinacircmica
Luchiari (1999) por exemplo percebe que o turismo natildeo pode ser analisado apenas
do ponto de vista negativo ou destruidor Neste sentido tal praacutetica assume uma
postura de complexidade no mundo contemporacircneo por isso impulsiona novas
transformaccedilotildees Segundo a autora
O fenocircmeno contemporacircneo do turismo coloca-se como um vetor contraditoacuterio e emblemaacutetico neste processo acentua a produccedilatildeo dos lugares de consumo e o consumo dos lugares Mas natildeo pode ser tomado apenas do ponto de vista negativo como um desarticulador voraz de antigas formas e funccedilotildees sociais que em um processo linear destroacutei o velho substituindo-o pelo novo (LUCHIARI 1999 p 10)
Por mais que o turismo provoque mudanccedilas constantes e raacutepidas no lugar
existe ao mesmo tempo a possibilidade de novas sociabilidades juntamente com
um processo de revalorizaccedilatildeo de um lugar A articulaccedilatildeo entre o novo e o velho
acarreta uma forma hiacutebrida do espaccedilo socialmente produzido (LUCHIARI 1999)
Novos e antigos agentes espaciais aparecem nessa nova teia de relaccedilotildees tendo
como base a ampliaccedilatildeo do capital mediante a geraccedilatildeo de lucro O espaccedilo jaacute natildeo eacute
mais o mesmo ele eacute impulsionado pelo vetor das grandes viagens e dos negoacutecios o
que faz com que ele tenha uma nova composiccedilatildeo refletindo uma nova dinacircmica
soacutecio-espacial e tambeacutem uma nova funcionalidade
A dinacircmica do turismo estaacute alicerccedilada na necessidade de viajar e de
conhecer novos lugares O homem jaacute traz consigo a necessidade de viajar que estaacute
19
associada a uma liberdade por conhecer coisas diferentes Romero apud Rodrigues
(1999 p 27) afirma que o homem eacute um viajante por natureza uma vez que suas
necessidades e desejos estatildeo fora de si mesmos Segundo esse autor para viajar
deve-se partir do conhecido para o desconhecido Eacute a partir da praacutetica social da
viagem que o homem produz novos territoacuterios O turismo assim seria um fio
condutor dessa constante mobilidade Cruz (2001) ao relacionar turismo e produccedilatildeo
de espaccedilos afirma que o turismo eacute a uacutenica atividade social que consome
elementarmente o espaccedilo (CRUZ 2001 p v) Apesar de tal afirmaccedilatildeo suscitar
duacutevidas quanto agrave exclusividade do turismo em relaccedilatildeo ao espaccedilo isso mostra como
a atividade turiacutestica estaacute diretamente vinculada ao consumo do mesmo
Rodrigues (1999) prefere falar que o turismo define dois tipos de consumos
do espaccedilo De um lado existe o consumo consuptivo que se esgota em si mesmo
e de outro o consumo produtivo que ao contraacuterio do primeiro natildeo se esgota em si
mesmo Com efeito o turista ao realizar viagens pelo mundo afora cria uma
expectativa comparada ao seu desejo de conhecer aquele lugar Nesse sentido
como afirma Urry (1996) o olhar
do turista passa a ser decisivo na sua relaccedilatildeo
com os lugares turiacutesticos Segundo Urry (1996) esse eacute um dos motivos pelo qual a
induacutestria do turismo tem que realmente tornar o espaccedilo um produto a ser bem
consumido o olhar do turista natildeo pode ser deslocado para as paisagens feias
porque essas natildeo alimentam o desejo de retorno ao lugar O autor amplia o debate
sobre o enfoque social de que o turismo faz parte por mais que os serviccedilos
caracterizem uma induacutestria haacute uma interaccedilatildeo social profunda nessa relaccedilatildeo
Segundo o autor
A ecircnfase dada agrave qualidade da interaccedilatildeo social entre os produtores e os consumidores dos serviccedilos turiacutesticos significa que o desenvolvimento dessa induacutestria natildeo se explica simplesmente em termos de determinantes econocircmicos () Torna-se igualmente necessaacuterio examinar uma gama de
mudanccedilas culturais que transformam as expectativas das pessoas em relaccedilatildeo agravequilo que elas querem contemplar () (URRY 1996 p 64)
Isso nos mostra que o turismo eacute fundamentado em uma seacuterie de conflitos
sociais inerentes agrave produccedilatildeo do espaccedilo Tais conflitos apresentam alguns agentes
20
importantes como o proacuteprio turista as empresas de viagens e o Estado Esses
atores entrelaccedilam-se e alteram a composiccedilatildeo do espaccedilo produzido pela dinacircmica do
turismo consubstanciando em uma nova visatildeo de mundo mais complexa e mais
dinacircmica Essa visatildeo do turismo estaacute preocupada com transformaccedilotildees ocorridas
durante o processo de globalizaccedilatildeo como produto do capitalismo mundial Segundo
Carlos (2002) o espaccedilo geograacutefico por conta da incessante busca pelo prazer dos
lugares oferecidos em pacotes turiacutesticos vem sendo cada vez mais objeto
mercadoloacutegico de troca ou seja o espaccedilo torna-se mercadoria fazendo com que o
mesmo se especialize ainda mais a partir das praacuteticas turiacutesticas
O espaccedilo socialmente produzido reuacutene objetos espaciais capazes de dar
conta de estruturas globais decorrentes do fluxo de turistas em toda a parte do
planeta A criaccedilatildeo de resorts parques temaacuteticos entre outros amplia cada vez mais
a importacircncia do turismo ao mesmo tempo em que estabelece uma espeacutecie de
confinamento do espaccedilo reunindo as necessidades baacutesicas para a reproduccedilatildeo do
turismo
Carlos (2002) estabelece uma criacutetica interessante ao fenocircmeno do turismo de
massa praticado em diversas partes do mundo Segundo a autora a induacutestria do
turismo transforma tudo o que toca em artificial o lazer natildeo estabelece mais um
sentido de originalidade dentro de cada cultura tudo eacute artificializado e
estandartizado e as relaccedilotildees sociais dessa forma satildeo relaccedilotildees superficiais em que
o lucro e a vontade por comprar aparecem em detrimento de um contato com as
culturas diferentes Segundo a autora o turismo eacute capaz de produzir espaccedilos onde
haacute a natildeo-identidade com o lugar (CARLOS 2002 p 26)
Na tentativa de utilizar o turismo como uma possiacutevel saiacuteda para o
desenvolvimento dos lugares o Estado lanccedila matildeo de artifiacutecios para que haja a
efetivaccedilatildeo da praacutetica do turismo associada agrave transformaccedilatildeo do territoacuterio Eacute desse
modo que o turismo amplia as condiccedilotildees de transformaccedilatildeo do espaccedilo e o lazer
adquire expressividade entre as poliacuteticas puacuteblicas
Para tanto o planejamento da atividade turiacutestica torna-se um instrumento
capaz de realizar mudanccedilas espaciais que repercutem na estrutura do lugar
modificando a paisagem no sentido de viabilizar seu dinamismo Poreacutem muitas
21
vezes o planejamento pode ser visto a partir de uma oacutetica exclusivamente
econocircmica e com isso o desenvolvimento do turismo acaba por natildeo considerar
aspectos sociais relevantes para o estudo teacutecnico do setor ou ateacute mesmo os
possiacuteveis impactos soacutecio-ambientais causados pela instalaccedilatildeo da aparelhagem
turiacutestica como por exemplo resorts cadeias de hoteacuteis etc Isto porque de uma
forma geral o turismo no atual contexto da globalizaccedilatildeo estaacute muito mais voltado
para a ordenaccedilatildeo dos territoacuterios a partir de uma loacutegica de mercado que permite
muito mais a competiccedilatildeo entre os lugares do que o desenvolvimento social
Ligado agraves poliacuteticas puacuteblicas de governo de um Estado o planejamento
turiacutestico evoca ideacuteias e concepccedilotildees de espaccedilo cultura economia poliacutetica e
sociedade Hall (2001) ao descrever a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas para o
turismo faz uma ressalva de que elas expressam ideacuteias ligadas a um tipo de
governo e suas accedilotildees satildeo decorrentes de uma estrutura loacutegica pensada pelo Estado
numa intervenccedilatildeo espacial
A elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eacute antes de tudo uma atividade poliacutetica e essas satildeo influenciadas por caracteriacutesticas econocircmicas sociais e culturais da sociedade assim como pelas estruturas formais de governo e outros aspectos do sistema poliacutetico A poliacutetica deve portanto ser encarada como uma consequumlecircncia do ambiente poliacutetico dos valores e das ideologias da distribuiccedilatildeo de poder das estruturas institucionais e dos processos de tomada de decisatildeo (HALL 2001 p 26)
Cruz (2001) destaca a importacircncia de haver uma poliacutetica puacuteblica de turismo
que leve em consideraccedilatildeo o desenvolvimento soacutecio-espacial do lugar Para isso o
Estado torna-se o principal agente responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo ou idealizaccedilatildeo das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo colocando metas e diretrizes para que haja uma
melhor efetivaccedilatildeo Segundo a autora quando a esfera puacuteblica natildeo toma a iniciativa
de um planejamento que considere os aspectos soacutecio-espaciais as poliacuteticas ficam a
criteacuterio das intenccedilotildees da iniciativa privada e interesses particulares de outros
agentes do setor (CRUZ 2001)
No Brasil a tomada das poliacuteticas puacuteblicas de turismo tem sido orientada para
o planejamento da atividade no sentido de promover sua expansatildeo e consolidaccedilatildeo
22
no mercado global do setor Como o Estado brasileiro possui grandes complexos
regionais as poliacuteticas de turismo seguem uma tendecircncia de organizaccedilatildeo a partir da
elaboraccedilatildeo de projetos regionais ou ainda dos proacuteprios estados constituindo-se um
rol de planejamentos que se diferenciam regional ou localmente Isto quer dizer que
por mais que exista uma poliacutetica nacional de turismo implementada pelo governo
federal brasileiro as regiotildees promovem projetos de turismo diferentes umas das
outras Poreacutem o que haacute de comum eacute que as poliacuteticas de turismo estatildeo dentro de um
sistema de turismo (BOULLOacuteN 2002) ou seja as estruturas locais estatildeo
destinadas a aumentar o fluxo turiacutestico assim como o bem estar do turista Os
serviccedilos turiacutesticos devem entatildeo satisfazer o prazer e o conforto do turista ao
mesmo tempo em que multiplica as oportunidades de lazer (BOULLOacuteN 2002 p 37)
Eacute nesse sentido que Hall (2001) define poliacuteticas de turismo como decisotildees
poliacuteticas sobre o futuro de um lugar e sobre o ordenamento do espaccedilo Tais
poliacuteticas por exemplo no plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute satildeo antes
de tudo uma forma de pensar o espaccedilo a partir de uma concepccedilatildeo voltada ao
turismo
Para poder incrementar ou fomentar o setor turiacutestico o Estado atraveacutes dos
governos municipais e estaduais lanccedila uma estrateacutegia agrave sociedade que se torna
bandeira slogan ou propaganda de governo a de que o turismo eacute capaz de gerar
desenvolvimento e bem-estar social Nesse sentido o planejamento do espaccedilo
voltado para a atividade turiacutestica entra em cena com o intuito de validar tal
perspectiva e acima de tudo fazer dessa situaccedilatildeo um ponto positivo para ganhar
adesatildeo social O planejamento do turismo leva em consideraccedilatildeo uma seacuterie de
outros fatores que conjugados demandam uma grande articulaccedilatildeo do governo com
outros setores para fazer funcionar tal processo
Dada agrave exposiccedilatildeo das ideacuteias cabe neste trabalho levantar as seguintes
questotildees 1) Qual eacute a concepccedilatildeo de turismo sustentada pelo Governo do Estado e
visualizada no PDT-PA 2) Que estrateacutegias espaciais estatildeo inseridas no plano a fim
de fomentar a atividade turiacutestica no territoacuterio paraense e 3) Qual a importacircncia do
turismo enquanto um fator de desenvolvimento para o territoacuterio paraense segundo
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo voltadas para o Estado
23
A tomada de decisotildees por parte do Estado no que se refere agrave elaboraccedilatildeo de
um plano de turismo como o PDT-PA levanta a ideacuteia de uma conciliaccedilatildeo entre a
produtividade e a funccedilatildeo social (OSMONT 2002) A elaboraccedilatildeo de um plano de
desenvolvimento de turismo traz em seu interior um novo entendimento do espaccedilo
a ser transformado mediante accedilotildees concebidas em tal documento O Estado do
Paraacute se vecirc entatildeo como um novo
palco de accedilotildees que tecircm como objetivo final
transformar seu espaccedilo em um novo roteiro turiacutestico mundial Tal sentido de novo
perpassa por pelo menos duas caracteriacutesticas gerais A primeira diz respeito ao
novo enquanto um mercado turiacutestico diferenciado de outros do tipo sol e praia
caracteriacutesticos por exemplo da regiatildeo Nordeste brasileira Nesse contexto a
perspectiva do plano eacute fazer com que o turista se sinta atraiacutedo pelo o que o Estado
oferece de mais abundante ou seja sua natureza verde ou propriamente falando
de uma parte da Amazocircnia diferente das outras pelo fato de apresentar natildeo
somente caracteriacutesticas naturais mas tambeacutem por mostrar cultura e histoacuteria
peculiares
O outro tipo de novo refere-se diretamente ao desenvolvimento que o
turismo pode gerar no Estado E nesse sentido o esforccedilo para que isso aconteccedila eacute
resultante de obras e articulaccedilotildees que o governo propotildee aos sujeitos que estejam
dispostos a mudar a realidade social do Estado Percebe-se portanto que o turismo
figura como um dos pilares responsaacuteveis para tirar o Estado do atraso econocircmico
em que vive bem como para tornaacute-lo um elemento de legitimidade social perante agrave
populaccedilatildeo residente Esse fasciacutenio que o fenocircmeno do turismo causa requer pensar
antes nas concepccedilotildees e estrateacutegias formuladas pelo governo na construccedilatildeo do
plano
A estrutura do plano em seu objetivo maior traduz de forma sinteacutetica o que
estaacute representado nas accedilotildees dos programas vinculados ao documento Essa
realidade potildee em praacutetica a formulaccedilatildeo de novas estrateacutegias econocircmicas voltadas
para uma espeacutecie de internacionalizaccedilatildeo dos espaccedilos ou ainda no que diz respeito
ao turismo pela atraccedilatildeo ampliada de consumidores (SAacuteNCHEZ 1999 p 3)
Eacute neste sentido que este trabalho tem como objetivo geral analisar a
concepccedilatildeo de turismo presente no Plano de Desenvolvimento de Turismo do estado
do Paraacute assim como suas espacialidades ou seja as estrateacutegias espaciais
24
pensadas pelo estado paraense na tomada de decisotildees sobre o turismo associadas
agrave condiccedilatildeo de desenvolvimento dessa atividade Para tanto estatildeo contemplados
ainda neste trabalho alguns objetivos especiacuteficos importantes como
a) Identificar e analisar a concepccedilatildeo de turismo que estaacute presente no PDT-PA
veiculada pelo Governo de Estado
b) Identificar e analisar as possiacuteveis estrateacutegias espaciais ou seja suas
espacialidades inseridas eou subjacentes no PDT-PA
c) Perceber e analisar a importacircncia do turismo como fator de
desenvolvimento face agraves poliacuteticas voltadas para o setor concebidas pelo governo a
partir do PDT-PA
Para que o percurso dessa pesquisa seja efetivado a metodologia aqui
utilizada estaacute estruturada na anaacutelise sistemaacutetica do documento principal PDT-PA
ou ainda a anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 2003)
Nesse sentido de acordo com Bardin (2003) a anaacutelise de conteuacutedo permite
realizar uma especificidade das mensagens ou a comunicaccedilatildeo das ideacuteias contidas
em um documento uma espeacutecie de anaacutelise categorial das temaacuteticas abordadas
(TRIVINtildeOS 1987 BARDIN 2003)
Seguindo esta metodologia o plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
permite olhares diversos sobre sua temaacutetica principal o turismo Poreacutem aqui este
trabalho tem como diretriz fazer uma anaacutelise do tipo geograacutefica na qual o espaccedilo
paraense natildeo surge como receptaacuteculo das manifestaccedilotildees do turismo mas sim
como condiccedilatildeo e produto das relaccedilotildees sociais
Para tanto a estrutura desta anaacutelise segue em trecircs seccedilotildees importantes A
primeira de cunho teoacuterico faz um balanccedilo das obras que tratam de questotildees
fundamentais como o espaccedilo a partir de Santos (1997 2001 2002 2004)
Planejamento e Poliacuteticas Puacuteblicas (CRUZ 2001) que neste momento apoacuteiam-se
nas accedilotildees do Estado enquanto agente importante para a elaboraccedilatildeo de praacuteticas
envolvendo a dinacircmica de construccedilatildeo de espaccedilos voltados para a atividade turiacutestica
25
Esses elementos teoacutericos satildeo cruciais para a anaacutelise dos fundamentos aqui
aplicados
Na segunda seccedilatildeo do trabalho procura-se mostrar como o turismo tornou-se
peccedila importante nas estrateacutegias do Estado principalmente na tomada do
desenvolvimento Seguindo a metodologia da anaacutelise de conteuacutedo o estudo de
documentos importantes como os Planos de Turismo para a Amazocircnia assim como
dados referentes agrave praacutetica do turismo satildeo necessaacuterios para tecer um comentaacuterio
geral de como o turismo eacute tratado pelo Estado (federal e estadual) ao longo dos
anos Na sequumlecircncia ainda nesta parte do trabalho a anaacutelise do Programa Novo
Paraacute mostra-se pertinente pois este a partir de uma estrateacutegia do Governo do
Estado do Paraacute torna-se um documento que reuacutene as principais diretrizes para a
elaboraccedilatildeo do PDT-PA
Na uacuteltima parte ocorre a anaacutelise e sistematizaccedilatildeo das principais ideacuteias
contidas no Plano de Turismo do Paraacute Sua estrutura concepccedilatildeo espacialidade
estrateacutegia e sua noccedilatildeo de desenvolvimento fundamentam-se como eixo norteador
desta pesquisa Neste momento a tentativa eacute de expor os argumentos apresentados
pelo Estado a partir do plano e relacionaacute-los com os fundamentos cientiacutefico-
geograacuteficos que aqui satildeo privilegiados
Por fim na seccedilatildeo Consideraccedilotildees Finais as perguntas elaboradas no
decorrer desta pesquisa e fruto de debates criados ao longo da construccedilatildeo desse
projeto procuram ser respondidas tentando assim mostrar o aspecto analiacutetico-
geograacutefico presente no Plano
26
2 Turismo Espaccedilo e Planejamento
27
21 O turismo como fator de desenvolvimento consideraccedilotildees iniciais
O turismo vem provocando profundas alteraccedilotildees nas estruturas econocircmicas
sociais e culturais do mundo e isso se torna condiccedilatildeo para um aprofundamento de
seus estudos principalmente aqueles de dimensatildeo espacial Tal fato requer uma
anaacutelise mais aprofundada sobre os conceitos que envolvem o turismo
principalmente agravequeles que estatildeo ligados agrave condiccedilatildeo do desenvolvimento Este por
sua vez tem sido um elemento recorrente nos debates sobre as accedilotildees provenientes
do turismo Por isso mesmo as repercussotildees mundiais dessa atividade tecircm
chamado a atenccedilatildeo natildeo soacute de pessoas ligadas agrave reproduccedilatildeo da atividade mas
tambeacutem de pesquisadores interessados em analisar como a atividade turiacutestica estaacute
relacionada com o fator do desenvolvimento e de certa forma como eles se
espacializam
No ano de 2005 quase 7 milhotildees de turistas estrangeiros visitaram o Brasil
(ABAV 2006) Segundo a ABAV foi o maior nuacutemero de turistas que visitaram o paiacutes
em toda a sua histoacuteria Apesar de ser ainda um nuacutemero muito inferior ao dos paiacuteses
centrais como a Franccedila e os EUA (SILVA 1998) a movimentaccedilatildeo financeira no ano
de 2005 no Brasil gerou um crescimento de 1983 em relaccedilatildeo ao ano de 20041
desencadeando um lucro de US$ 3222 bilhotildees (ABAV 2006)
Segundo Silva (1998) a projeccedilatildeo que a Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo faz
para o ano de 2010 eacute que o turismo deveraacute empregar 250 milhotildees de pessoas (OMT
apud SILVA 1998 p102) e ainda para 2020 que a China seraacute o primeiro paiacutes do
mundo com o maior nuacutemero de estrangeiros (cerca de 196 milhotildees) seguido dos
Estados Unidos (102 milhotildees) Franccedila (93 milhotildees) e Espanha (71 milhotildees) Para a
Ameacuterica do Sul a projeccedilatildeo ainda eacute muito pequena em relaccedilatildeo aos paiacuteses que jaacute
recebem um grande fluxo de turistas estrangeiros Poreacutem mesmo assim as
instituiccedilotildees governamentais procuram estabelecer metas e diretrizes que
incrementam o setor turiacutestico a fim de promover a expansatildeo do mesmo De certo o
que se deve destacar a partir desses dados eacute que existe uma verdadeira difusatildeo
1 Estes nuacutemeros referem-se a uma pesquisa feita pelo Banco Central no iniacutecio de 2006 a pedido da Associaccedilatildeo Brasileira de Agecircncias de Viagens (ABAV)
28
espacial do turismo no mundo inteiro e que oacutergatildeos privados e estatais procuram
meios de divulgaccedilatildeo ao mesmo tempo em que fortalecem ainda mais o fomento da
atividade turiacutestica Essas caracteriacutesticas fazem do fenocircmeno turiacutestico um consumidor
de espaccedilos (CRUZ 2001) e sua reproduccedilatildeo depende dessa condiccedilatildeo
A expansatildeo da atividade turiacutestica fez com que o espaccedilo geograacutefico ampliasse
suas caracteriacutesticas e tambeacutem adquirisse uma nova funcionalidade a dos espaccedilos
voltados para o lazer Essa caracteriacutestica talvez seja a primeira que interessa aos
sujeitos dispostos em conhecer novos lugares Numa tentativa de mudar a rotina do
dia-a-dia os turistas procuram ampliar os conhecimentos de novos lugares e
estabelecem um contato de diferentes culturas entre o seu lugar de origem ou
residecircncia fixa (o lugar de seu trabalho semanal rotineiro) e o desconhecido (o lugar
novo a ser visitado) O lazer dessa forma torna-se componente fundamental para
se entender a dinacircmica espacial do turismo Segundo Martins (2004) o habitante de
uma cidade abre novos e espantosos capiacutetulos no relacionamento com o territoacuterio
(MARTINS 2004 p 16) ao conhecer novos lugares que natildeo pertencem ao seu
cotidiano Camargo relaciona o lazer a uma escolha pessoal do indiviacuteduo dentro de
um tempo precioso onde se pode exercitar com mais criatividade as alternativas de
accedilatildeo ou participaccedilatildeo (CAMARGO 2003 p 11) Nesse caso o indiviacuteduo ao praticar
o turismo tem certa liberdade de escolher os espaccedilos onde pretende exercer suas
atividades voltadas para seu descanso
Levando-se em consideraccedilatildeo que a ciecircncia a tecnologia e a informaccedilatildeo
hoje redefinem novos paradigmas sociais como os da produccedilatildeo industrial do
mercado e dos serviccedilos inclusive os de comportamento pode-se concluir que o
lazer torna-se uma praacutetica importante para o estabelecimento de novos fluxos
econocircmico-sociais fluxos esses que redefinem novas praacuteticas espaciais Segundo
Rodrigues (1999)
O acesso ao conhecimento eacute relevante para a atraccedilatildeo de novos capitais influenciando de maneira decisiva a adoccedilatildeo de novas necessidades alterando-se os haacutebitos de consumo Nesse particular o eterno mito do retorno seraacute reforccedilado pela miacutedia que vem incentivando de forma bastante agressiva a busca da natureza () (RODRIGUES 1999 p 18)
29
Esse novo tipo de lazer mais ligado ao ritmo da modernidade entra num
circuito da troca (CARLOS 2002) em que aacutereas do planeta situam-se no processo
de comercializaccedilatildeo dos lugares A liberdade individual entatildeo passa a ser cooptada
pelo mercado onde o turista participa desse processo de escolha dos lugares de
forma passiva Poreacutem que tipo de lazer eacute esse Segundo Carlos (2002) o lazer da
sociedade moderna muda seu sentido e passa a ser inserido natildeo como uma
atividade espontacircnea mas sim como uma forma de desenvolvimento da sociedade
do consumo
Tal fato significa que o lazer se torna uma necessidade Isto eacute no curso do desenvolvimento da reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais produz-se nova atividade produtiva diferenciada com ocupaccedilotildees especializadas que produz um novo espaccedilo e ou novas formas de uso deste espaccedilo (CARLOS 2002 p 25)
Segundo ainda a mesma autora essas necessidades provocam um
sentimento de estranhamento mas que por outro lado tornam os lugares como
espaccedilos de espetaacuteculo onde o turista pratica um lazer passivo porque eacute mediado
pelos grandes agentes do capital do turismo Aleacutem de serem ordenados pelos
agentes do capital vinculados ao turismo a produccedilatildeo de novos espaccedilos desperta
tambeacutem o interesse de outros agentes que pretendem a partir das praacuteticas
turiacutesticas organizar o espaccedilo de forma sistematizada e racional Sendo assim a
figura do Estado torna-se imprescindiacutevel no que se refere ao planejamento do
espaccedilo turiacutestico Tal planejamento eacute voltado para a formaccedilatildeo de territoacuterios
destinados ao lazer caracterizados por meio de uma referecircncia espacial de cada
lugar Os planejamentos seguem assim uma ordem de produtividade em que
dependem do grande fluxo de visitantes O espaccedilo eacute concebido segundo um
pensamento em que sua funcionalidade aleacutem de ser voltado para o lazer deve
estar em conexatildeo com a geraccedilatildeo de divisas Com isso o turismo passa da esfera do
simples lazer e da busca de novos lugares para ocupar uma importacircncia referente
ao reordenamento espacial Eacute a partir do interesse do Estado em promover o
turismo em um lugar que surgem tambeacutem possibilidades de transformaccedilotildees dos
lugares com o intuito de desencadear um desenvolvimento Percebe-se entatildeo que
30
a loacutegica de reordenamento dos territoacuterios a partir de uma oacutetica do Estado estaacute
associada agrave ideacuteia de desenvolvimento de um determinado lugar Ao turismo cabe
com isso ter um papel fundamental na elaboraccedilatildeo das poliacuteticas de desenvolvimento
A literatura sobre o desenvolvimento do setor turiacutestico tem apresentado
variados temas que situam o ordenamento territorial e o progresso econocircmico-social
como principais fundamentos de seu processo entendendo-se o turismo como um
dos elementos fundadores do lazer moderno da sociedade atual sua repercussatildeo
no espaccedilo geograacutefico requer natildeo soacute uma condiccedilatildeo teacutecnica como tambeacutem situaccedilotildees
em que o desenvolvimento da atividade sirva como um fator de melhoria para a
populaccedilatildeo local inserida no processo de transformaccedilatildeo espacial Destarte o turismo
procura estabelecer diversas estrateacutegias para que seus desdobramentos possam
mitigar seus impactos sociais ambientais e culturais a fim de promover
concatenaccedilatildeo entre a geraccedilatildeo de divisas da atividade e a melhoria da qualidade de
vida da populaccedilatildeo local
Hoje o debate sobre o desenvolvimento e o turismo muitas vezes serve de
justificativa para que muitos governos possam inserir a atividade dentro dos
territoacuterios com o intuito de impulsionar o turismo a todo o custo sempre relacionando
o turismo agrave ideacuteia de progresso social Sendo assim o desenvolvimento torna-se
apenas um artifiacutecio manipulado por autoridades de Estado e tambeacutem pela iniciativa
privada que vecircem o turismo como uma saiacuteda para o atraso social de um lugar
Este quadro de caracteriacutesticas e atributos que satildeo relacionados agrave questatildeo do
desenvolvimento de forma equivocada na sua maioria muito se deve agrave proacutepria
histoacuteria do desenvolvimento conforme se tem analisado na literatura cientiacutefica Isto
quer dizer que a indefiniccedilatildeo do que seja desenvolvimento contribui amplia a
complexidade do termo e gera consequumlecircncias soacutecio-espacias
No que diz respeito agrave esfera do turismo a realidade dessa situaccedilatildeo natildeo seria
diferente posto que as anaacutelises feitas pelos oacutergatildeos planejadores de
desenvolvimento natildeo levam em consideraccedilatildeo uma maior efetividade da populaccedilatildeo
quando o assunto eacute inserir a dinacircmica do turismo em um lugar Com isso o turismo
destaca-se notadamente como uma atividade que gera lucro poreacutem em certos
casos desassociada da qualidade de vida de uma populaccedilatildeo A essa condiccedilatildeo
31
apresenta-se tambeacutem uma disparidade de realidades quando se debate sobre
desenvolvimento Isto porque nos paiacuteses ricos (paiacuteses centrais) a poliacutetica de
desenvolvimento segue uma realidade peculiar e o que se vecirc eacute uma tentativa de
seguir as mesmas diretrizes e estrateacutegias espaciais natildeo levando em consideraccedilatildeo a
realidade de paiacuteses em que variaacuteveis como renda per capta escolaridade sauacutede e
infra-estrutura satildeo muito diacutespares Dessa forma tenta-se ratificar um
desenvolvimento do turismo nos mesmos moldes de paiacuteses como Franccedila Espanha
Estados Unidos Itaacutelia onde a atividade eacute uma praacutetica jaacute consolidada
Rodrigues (2002) ao comentar a relaccedilatildeo entre o turismo e seus efeitos nos
paiacuteses perifeacutericos situa a necessidade de chamar a atenccedilatildeo para pesquisas e
discussotildees sobre a temaacutetica do desenvolvimento Segundo a autora
Os efeitos do turismo demandam urgecircncia e seriedade nas pesquisas particularmente nos paiacuteses de economia perifeacuterica localizados no mundo intertropical com praias paradisiacuteacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimocircnio mundial Natildeo menos importantes satildeo os estudos visando agrave avaliaccedilatildeo da dimensatildeo econocircmica do fenocircmeno tendo em vista sua importacircncia no desenvolvimento com base local ou seja voltado para a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo dos lugares e regiotildees onde novos projetos se encontram em fase de implantaccedilatildeo ou em aacutereas que jaacute sofreram degradaccedilotildees devido ao uso indiscriminado e necessitam de estrateacutegias urgentes para a mitigaccedilatildeo dos impactos (RODRIGUES 2002 p 9)
Essa relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o turismo demanda uma importacircncia
que estaacute assentada na diminuiccedilatildeo de seus possiacuteveis impactos ressaltada nos
documentos que retratam tal temaacutetica Dessa forma o desenvolvimento surge como
uma tentativa de suplantar os impactos causados pelos processos de transformaccedilatildeo
espacial que estatildeo relacionados ao turismo
Durante muitos anos a ideacuteia de desenvolvimento esteve associada agrave ideacuteia de
crescimento Isso fez com que a literatura desenvolvida por especialistas da aacuterea
influenciasse governos ao se defrontarem com a possibilidade de implementar o
desenvolvimento em um determinado paiacutes ou regiatildeo Essa noccedilatildeo de
32
desenvolvimento encontra no turismo um dos vetores desse possiacutevel crescimento
tornando o turismo panaceacuteia para todos os males sociais (ROCHA 2002)
Alguns roacutetulos satildeo criados com a finalidade de ampliar o leque de discussotildees
sobre a eficaacutecia e consistecircncia do desenvolvimento do turismo Atualmente o
Estado investe consideravelmente suas accedilotildees de poliacuteticas de desenvolvimento no
chamado turismo sustentaacutevel numa tentativa de associar harmonicamente a
questatildeo da geraccedilatildeo de lucro com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Rocha (2002)
ainda faz uma criacutetica contundente a respeito desse novo modelo de
desenvolvimento do turismo onde a preservaccedilatildeo do meio ambiente torna-se o
centro das discussotildees envolvendo o significado de desenvolvimento Segundo o
autor o governo brasileiro imprime um discurso ambientaliacutestico por meio do qual a
preocupaccedilatildeo com uma possiacutevel destruiccedilatildeo da natureza estaacute ligada agrave ideacuteia de
sustentabilidade econocircmica e social
O discurso hegemocircnico e tambeacutem do governo brasileiro sobre a importacircncia do desenvolvimento do setor cada vez mais se recheia de expressotildees de caraacuteter ambientaliacutestico numa tentativa de convencer que o incentivo oferecido eacute motivado pela preocupaccedilatildeo ecoloacutegica haja vista ser esta atividade uma alternativa para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel Na praacutetica entretanto eacute impossiacutevel negar a mercantilizaccedilatildeo da natureza e da cultura consideradas as principais mateacuterias-primas para o turismo ecoloacutegico ou ecoturismo (ROCHA 2002 p 163)
Segundo ainda o mesmo autor essas premissas natildeo fogem agraves caracteriacutesticas
do turismo tradicional pois carregam no seu cerne a condiccedilatildeo de crescer para
atingir o desenvolvimento seria entatildeo uma espeacutecie de artificializaccedilatildeo da natureza
Souza (1997) estabelece um importante contraponto a essa noccedilatildeo
equivocada que permeia a noccedilatildeo de desenvolvimento Segundo o autor a literatura
cientiacutefica que trata da questatildeo do desenvolvimento negligenciou o espaccedilo e ou o
reduziu a uma visatildeo economicista (SOUZA 1997) A ideacuteia de melhoria estava
associada a de bem-estar material percebida por exemplo nos trabalhos de Rodan
(1964) Ainda mais que os teoacutericos sobre o desenvolvimento afirmassem que para
haver o desenvolvimento de uma regiatildeo deprimida economicamente sua
33
industrializaccedilatildeo deveria ser forte extraindo os recursos naturais necessaacuterios para
superar a pobreza de um lugar Este uacuteltimo autor argumentava naquela eacutepoca que
uma induacutestria somente alcanccedilaria um tamanho oacutetimo se houvesse uma ampla aacuterea
para seu desenvolvimento para que diminuiacutesse assim as possibilidades de risco
marginal (RODAN 1964 p 252)
Outros autores que seguiram esta mesma linha de pensamento sobre o
significado de desenvolvimento como Baran (1964) estabelecem que para haver
algum tipo de mudanccedila na sociedade que levasse agraves melhorias sociais de uma
naccedilatildeo a classe meacutedia de um paiacutes deprimido2 deveria se posicionar contra as
mazelas produzidas pelo capitalismo crescente Segundo este autor haveria uma
melhor distribuiccedilatildeo da renda se houvesse um consumo da populaccedilatildeo poreacutem o
problema eacute que esse consumo das coisas que geram os fluxos econocircmicos de um
paiacutes eacute praticado por uma pequena elite residente nas aacutereas mais privilegiadas
Nesse sentido os gastos realizados pela elite local estatildeo concentrados em coisas
supeacuterfluas como os artigos de luxo A consequumlecircncia para Baran (1964) eacute que natildeo
se concretiza uma forma de poupar as riquezas da populaccedilatildeo logo o
desenvolvimento do lugar natildeo se estabelece Ainda segundo o mesmo autor o que
de fato provoca a insustentabilidade econocircmica de um lugar eacute a pouca oportunidade
de investimentos do grande capital Percebe-se entatildeo que a oportunidade de
desenvolvimento estaacute intimamente condicionada pelos investimentos empresariais
Toda a infra-estrutura do lugar deveria estar em consonacircncia com a produtividade
de uma empresa Sendo assim
Natildeo resta duacutevida que a ausecircncia de economias externas e a inadequaccedilatildeo do meio econocircmico nos paiacuteses subdesenvolvidos constituem fatores desestimulantes aos investimentos em projetos industriais Natildeo haacute meios de preencher rapidamente essas deficiecircncias Investimentos de grande porte supotildeem a preexistecircncia de investimentos tambeacutem de grande porte Estradas usinas eleacutetricas redes ferroviaacuterias e casas tecircm que ser construiacutedas antes para que o empresaacuterio ache rentaacutevel investir em novas induacutestrias (BARAN 1964 p 91)
2 Vale lembrar que a expressatildeo economia deprimida eacute muito visualizada nos trabalhos de economistas do poacutes-guerra em que estes se referiam aos paiacuteses subdesenvolvidos principalmente os que ainda estabeleciam uma dependecircncia econocircmica muito forte com os paiacuteses centrais Os trabalhos sobre esse tipo de desenvolvimento ganharam destaque principalmente a partir dos anos 1950 na Europa e nos EUA
34
Esse tipo de teoria apesar de se referir a um contexto natildeo muito atual ainda
deixa influecircncias muito fortes no que diz respeito agrave abordagem especiacutefica do
desenvolvimento relacionado com a economia de um lugar Para os paiacuteses
subdesenvolvidos essa realidade suplantaria a necessidade do desenvolvimento
econocircmico de uma sociedade de um paiacutes pobre Ou seja haveria uma mudanccedila na
estrutura social de um paiacutes se houvesse um maior investimento no consumo dos
materiais necessaacuterios para um progresso econocircmico
O paradigma do desenvolvimento econocircmico preencheu vaacuterios debates ao
longo dos uacuteltimos anos referindo-se principalmente agrave forma de consumo de bens
industrializados ou ainda a induacutestria e seus efeitos na economia de um lugar eacute que
desencadeariam um processo de melhoria social Hirschman (1985) por exemplo
analisa a situaccedilatildeo financeira de um paiacutes para alcanccedilar a superaccedilatildeo de problemas
soacutecio-econocircmicos Para o autor o controle fiscal por parte do Estado repercute em
um aumento de divisas para uma naccedilatildeo Assim sendo para que os efeitos fiscais
sejam um mecanismo de desenvolvimento eficaz a habilidade de taxar deve ser
combinada com a habilidade de investir (HIRSCHMAN 1985 p 44) Sem essa
condiccedilatildeo aumenta-se ainda mais o problema da burocracia e o entrave para o
crescimento o alcance do desenvolvimento adviria atraveacutes do que ele chama de
efeitos em cadeia nos quais investimentos realizados em um paiacutes quando bem
estruturados repercutem em processo de desencadeamento da produccedilatildeo Ou seja
fazendo uma associaccedilatildeo com a praacutetica turiacutestica o processo de efeitos em cadeia
do turismo ocasionaria um processo de desenvolvimento em outras atividades que
gerassem o desenvolvimento em um lugar como por exemplo a educaccedilatildeo
saneamento baacutesico e assim por diante Esse processo de repercussatildeo em cadeia
ocorreria tambeacutem juntamente com uma mobilidade espacial onde a novidade ou o
novo produto do processo de desenvolvimento econocircmico aconteceria em um outro
lugar e assim sucessivamente
Esse conjunto de caracteriacutesticas pertinente ao conceito de desenvolvimento
para Souza (1997) revela uma espeacutecie de redistribuiccedilatildeo com crescimento em que
as ideacuteias conservadoras da economia eram o substrato teoacuterico principal Sendo
assim desenvolvimento sempre esteve associado agrave ideacuteia de incremento econocircmico
ou ainda ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agrave renda nacional per
35
capta Tal condiccedilatildeo alcanccedila um aspecto exclusivamente quantitativo em que a
produtividade eacute o motor de seu funcionamento Eacute nesse sentido entatildeo que
Tomar o desenvolvimento econocircmico como sinocircnimo de desenvolvimento tout court eacute com efeito uma impropriedade porque se aquele se refere ao processo em cujo bojo uma sociedade consegue produzir bens em maior quantidade de melhor qualidade e com mais eficiecircncia ele concerne a meios e natildeo a fins (SOUZA 1997 p 14)
Dessa forma o autor coloca em xeque o paradigma do desenvolvimento
questionando suas limitaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas que em consequumlecircncia
estatildeo limitadas tambeacutem nas accedilotildees referentes ao espaccedilo geograacutefico Por outro lado
ele defende a ideacuteia de que o desenvolvimento deve ultrapassar a barreira do
quantitativismo ou seja fazer com que a noccedilatildeo de crescimento seja superada
possibilitando entender o desenvolvimento a partir do espaccedilo socialmente construiacutedo
(SOUZA 1997 2002 2004) onde a populaccedilatildeo local torna-se o sujeito crucial na
construccedilatildeo do que venha a ser desenvolvimento Eacute nesse sentido entatildeo que a ideacuteia
de desenvolvimento eacute intriacutenseca a de que o espaccedilo social eacute condiccedilatildeo para sua
reproduccedilatildeo Sendo assim torna-se possiacutevel o alcance da justiccedila social
independente da escala seja ela local nacional ou ateacute mesmo internacional A ideacuteia
de autonomia desta forma acaba por se tornar o paracircmetro fundamental para a
concepccedilatildeo do que venha a ser o desenvolvimento soacutecio-espacial Segundo o autor
a autonomia eacute vista a partir de um conjunto de significaccedilotildees imaginaacuterias que estatildeo
na raiz histoacuterico-cultural de uma sociedade Sobre esse assunto o autor relata que
A autonomia de um grupo para adotar uma concepccedilatildeo especiacutefica de desenvolvimento ou mais amplamente um modo de vida particular exige a consideraccedilatildeo desse grupo natildeo isoladamente mas no contexto de sua relaccedilatildeo com outros grupos (em qualquer escala do local ao internacional) sempre agrave luz do seguinte desafio por um lado eacute preciso respeitar a alteridade do Outro e a incomensurabilidade de universos culturais distintos () Ou seja a autonomia eacute um princiacutepio que exige a consideraccedilatildeo do plano interno (a igualdade de chances de participaccedilatildeo na tomada de decisotildees relevantes para a vida social) mas igualmente que se leve em conta o plano externo (os interesses legiacutetimos do Outro natildeo importando o quanto ele seja diferente de noacutes mesmos) conforme um princiacutepio de natildeo-intervenccedilatildeo (SOUZA 1997 p 21)
36
Tal situaccedilatildeo natildeo seria diferente quando se remete agrave repercussatildeo espacial do
turismo em um lugar visto que o turismo figura atualmente como uma saiacuteda para
um possiacutevel desenvolvimento Nesse sentido natildeo escapa agrave ideacuteia de participaccedilatildeo da
sociedade local nas tomadas de decisatildeo sobre o destino de um lugar
principalmente se aos olhos da iniciativa privada e do Estado a atividade turiacutestica
parecer algo rentaacutevel O turismo como outra atividade social e econocircmica torna-se
entatildeo objeto de discussatildeo por parte da sociedade envolvida no processo de
turistificaccedilatildeo do lugar Seria o que Rodrigues (2002) chama de contrariar a
racionalidade econocircmica vigente
Em um outro trabalho Souza (2002) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre o
turismo e o desenvolvimento Para que o turismo gere desenvolvimento eacute
necessaacuterio saber quem ganha e quem perde com a atividade turiacutestica Isto
dependeria pelo menos de trecircs grupos a populaccedilatildeo da aacuterea de origem dos turistas
os turistas propriamente e a populaccedilatildeo da aacuterea de destinos dos turistas Vale
ressaltar que esses trecircs grupos natildeo podem ser vistos de forma homogecircnea pois a
diferenccedila interna entre eles ou seja quem ganha e quem perde eacute algo relativo aos
anseios de quem pratica a atividade turiacutestica em um lugar Para estabelecer essa
relaccedilatildeo torna-se fundamental natildeo perder de vista a autonomia e o grau de
complexidade que eacute gerado pelo contraste cultural que o fenocircmeno do turismo pode
causar Souza (2002) estabelece entatildeo que a autonomia eacute importante para gerir os
destinos e disciplinar o turismo (SOUZA 2002 p 20) E o grau de diferenccedila
baseia-se sobretudo na disparidade econocircmico-financeira de um grupo de turistas
e a populaccedilatildeo local (principalmente se essa populaccedilatildeo for pobre) Para o autor
apesar de o turismo gerar impactos soacutecio-ambientais ele pode estabelecer um
aprendizado entre culturas tatildeo diversas ou seja ao inveacutes de se ajustar a uma
realidade o turismo pode ser um fator de um desenvolvimento soacutecio-espacial
contribuindo assim para a melhoria e para o bem-estar da populaccedilatildeo residente e
dos turistas visitantes
37
22 Sistema de Objetos e de Accedilotildees a espacialidade da atividade turiacutestica
De iniacutecio a emergecircncia do turismo enquanto uma atividade de lazer da
modernidade levanta uma seacuterie de questionamentos quando o espaccedilo eacute produto
condiccedilatildeo e meio daquela atividade A relaccedilatildeo entre o turismo e o espaccedilo eacute bastante
marcada por impactos soacutecio-ambientais Menos ou mais complexos esses
fenocircmenos representam a reproduccedilatildeo da atividade Isto quer dizer que sem espaccedilo
natildeo haacute turismo
O espaccedilo do turismo portanto eacute marcado por inuacutemeras relaccedilotildees sociais que
difundem a dinacircmica da atividade mundo afora e por conseguinte estabelece novos
paradigmas de comportamento Assim a sociedade moderna amplia espaccedilos
atraveacutes da praacutetica turiacutestica Por ser uma atividade soacutecio-econocircmica que produz um
fasciacutenio nas pessoas ao conhecerem novos lugares o turismo produz um
sentimento de conquista de novos espaccedilos com a finalidade do lazer Sendo assim
para que exista essa condiccedilatildeo o espaccedilo geograacutefico eacute dotado de atrativos com o
intuito de chamar a atenccedilatildeo de turistas Tais atrativos figuram como um alicerce para
a fixaccedilatildeo temporaacuteria das pessoas ou seja a intenccedilatildeo eacute fazer com que o espaccedilo
seja modificado para atender a uma demanda turiacutestica
Dessa forma deve-se entender como Santos (2002) que o espaccedilo eacute um
conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees Nesse sentido
tratar do espaccedilo do turismo requer essa condiccedilatildeo sem a qual o mesmo natildeo procede
sua dinacircmica Deve-se ressaltar que a dinacircmica espacial que o turismo impotildee eacute
tambeacutem condicionada segundo um contexto histoacuterico segundo ainda sua natureza
histoacuterica onde os agentes transformadores do espaccedilo iratildeo desempenhar um
processo diferencial no que diz respeito agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade Cada
objeto espacial e consequumlentemente suas accedilotildees determinadoras estaratildeo
condicionadas de acordo com um tempo histoacuterico
Santos (2002) ainda ressalta que de fato o que caracteriza o espaccedilo
geograacutefico satildeo os objetos mediados pela teacutecnica empregada por cada accedilatildeo
subsequumlente concebidos para o exerciacutecio de certas finalidades intencionalmente
38
fabricados e intencionalmente localizados (SANTOS 2002 p 166) A atividade
turiacutestica estaacute situada num processo de construccedilatildeo de objetos teacutecnicos que estatildeo de
acordo com determinadas finalidades ou objetivos mediados por assim dizer pela
teacutecnica Tais objetos simulam a ideacuteia de superaccedilatildeo da natureza por possuiacuterem
qualidades superiores agrave da ordem natural Nesse sentido o turismo ao criar
espaccedilos voltados para as praacuteticas do lazer procura ser o mais eficaz possiacutevel para
que o consumo do espaccedilo (CRUZ 2001) seja o vetor de transformaccedilatildeo dos lugares
Na abordagem sobre o significado de espaccedilo Santos (2002) afirma que
O espaccedilo eacute formado por um conjunto indissociaacutevel solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees natildeo considerados isoladamente mas como o quadro uacutenico no qual a histoacuteria se daacute No comeccedilo era a natureza selvagem formada por objetos naturais que ao longo da histoacuteria vatildeo sendo substituiacutedos por objetos fabricados objetos teacutecnicos mecanizados e depois ciberneacuteticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma maacutequina Atraveacutes da presenccedila desses objetos hidroeleacutetricas faacutebricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espaccedilo eacute marcado por esses acreacutescimos que lhe datildeo algum conteuacutedo extremamente teacutecnico (SANTOS 2002 a p 63)
Dessa forma a abordagem sobre o espaccedilo estaacute contida dentro de um grau de
complexidade que envolve natureza e homem Cada vez mais em que se apresenta
o domiacutenio do homem sobre a natureza esta tende a ser artificial sendo entatildeo os
objetos artificializados pelo homem As accedilotildees impostas interagem e datildeo vida agrave
dinacircmica espacial onde os objetos lhe datildeo a forma de como se apresentam na
realidade e por outro lado elas ao longo do tempo condicionam novas formas
novos objetos espaciais
Esse momento de exploraccedilatildeo da natureza eacute muito mais evidente a partir das
grandes transformaccedilotildees que o homem provocou com o advento da modernidade
Isto quer dizer que a rapidez com que os processos sociais foram se modificando ao
longo dos anos fez com que o espaccedilo se tornasse mais complexo do ponto de vista
das relaccedilotildees sociais Ao analisar os sistemas de objetos Santos (2002) relata que
hoje o mundo se torna muito mais de objetos do que de coisas Antes o mundo era
39
das coisas porque estavam no ritmo da natureza Atualmente no chamado meio
teacutecnico-cientiacutefico e informacional (SANTOS 1994) as coisas tendem a ser objetos
pelo fato de haver uma constante desnaturalizaccedilatildeo Sendo assim o valor simboacutelico
dos objetos eacute muito maior do que o valor das coisas
Essa realidade se aplica ao turismo A partir da praacutetica da atividade turiacutestica o
espaccedilo tende a sofrer mudanccedilas bruscas que estatildeo de acordo com uma ordem que
eacute a ordem do capital Os objetos espaciais do turismo por excelecircncia satildeo objetos
de grandes transformaccedilotildees espaciais mediados por accedilotildees de agentes do capital e
tambeacutem pelos turistas O turismo torna-se com isso um importante veiacuteculo de
produccedilatildeo de espaccedilos Esses espaccedilos do turismo natildeo se aplicam apenas no mundo
concreto antes disso estatildeo dentro do imaginaacuterio do turista no momento em que ele
cria uma expectativa de conhecer o outro a sua ligaccedilatildeo produz entatildeo novos
lugares novos espaccedilos possibilitando assim uma maior rapidez no que diz
respeito agrave sua transformaccedilatildeo Tais circunstacircncias satildeo ainda mais visiacuteveis quando
outros agentes do setor turiacutestico reforccedilam a ideacuteia do belo ou ainda do que seja
atrativo Tal produccedilatildeo do espaccedilo imaginaacuterio turiacutestico eacute para Rodrigues (1999)
uma captaccedilatildeo do imaginaacuterio coletivo na tentativa de uma resposta Segundo a
autora a miacutedia eacute responsaacutevel pelo processo de criaccedilatildeo da fantasia do espaccedilo
turiacutestico a ser visitado Criam-se cenaacuterios os mais belos possiacuteveis onde o estiacutemulo
estaacute concentrado nas paisagens fabricadas com o que haacute de melhor Ainda nas
palavras de Santos (2002b) a ordem espacial assim resultante eacute tambeacutem
intencional (SANTOS 2002b p 166) Com isso percebe-se a forma pela qual a
miacutedia introduz novos siacutembolos que entram no jogo dialeacutetico da produccedilatildeo de objetos
espaciais voltados para a expansatildeo da atividade turiacutestica
Reconhecendo o espaccedilo como aspecto central na anaacutelise do turismo a
geografia representa uma importante aacuterea de estudos para esse fenocircmeno visto
que esse tipo de relaccedilatildeo social se faz atraveacutes do consumo dos espaccedilos Rodrigues
(1999) procura estabelecer paracircmetros de anaacutelises teoacutericos e metodoloacutegicos para se
entender como ocorre o processo de constituiccedilatildeo dos elementos que formam o
espaccedilo turiacutestico A autora toma como base Santos (1985) para analisar os
elementos fundadores do espaccedilo turiacutestico Segundo a autora o espaccedilo do turismo eacute
formado por pelo menos cinco elementos
40
a) os homens que se caracterizam na figura dos turistas Estes na verdade
satildeo a proacutepria demanda turiacutestica ou seja homens e mulheres e tambeacutem os agentes
responsaacuteveis por grandes firmas internacionais ou ainda os agentes de viagens
turiacutesticas
Segundo a autora a demanda turiacutestica eacute originaacuteria na sua maioria dos
grandes centros urbanos especialmente as metroacutepoles onde estatildeo concentrados
trabalhadores de classe meacutedia e alta providos de tempo e dinheiro para efetivar seu
deslocamento no espaccedilo rumo ao destino turiacutestico Ao chegarem os visitantes
entram em contato com a populaccedilatildeo residente do nuacutecleo receptor de turismo A
populaccedilatildeo local natildeo eacute um elemento menos importante dentro do espaccedilo turiacutestico
(RODRIGUES 1999 p 66) Esta relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo viajante (os turistas) e a
populaccedilatildeo residente (populaccedilatildeo local) nem sempre se daacute da forma mais harmocircnica
possiacutevel pois o contato intercultural entre os povos provoca algumas rupturas que
em certos casos desencadeiam processos de transformaccedilatildeo cultural
b) O outro elemento estaacute constituiacutedo na figura das firmas que satildeo
responsaacuteveis por toda a produccedilatildeo de bens serviccedilos de um sistema turiacutestico Agrave
atividade turiacutestica esse elemento estaacute diretamente ligado ao serviccedilo de hospedagem
(as cadeias hoteleiras) bem como agraves agecircncias de turismo que de certa forma
tambeacutem constituem cadeias
As firmas caracterizam-se pela promoccedilatildeo da atividade turiacutestica usando o
marketing para promover da melhor forma possiacutevel o produto turiacutestico a ser
comercializado Por esse motivo elas atuam em redes internacionais (redes globais)
especializadas no setor turiacutestico Suas funccedilotildees correspondem sobretudo a uma
ordem geral da empresa ou seja o mesmo serviccedilo que eacute prestado num paiacutes como o
Brasil de certa maneira eacute o mesmo prestado em um paiacutes como a Franccedila por
exemplo Essa situaccedilatildeo torna-se possiacutevel por ocorrer na era da globalizaccedilatildeo na
qual os mercados estatildeo unificados independentes de pertencerem a paiacuteses ricos ou
pobres As accedilotildees das firmas ocorrem de forma uniforme no processo turiacutestico Para
a autora as novas relaccedilotildees que se estabelecem em escala mundial e local podem
desarticular o local do regional e do nacional ignorando-se as fronteiras do Estado-
Naccedilatildeo (RODRIGUES 1999 p 66)
41
c) Outro elemento do espaccedilo turiacutestico satildeo as instituiccedilotildees que correspondem
agraves superestruturas (1999 p 67) Este elemento concentra-se nas accedilotildees ditadas por
oacutergatildeos internacionais ou nacionais de promoccedilatildeo do turismo Oacutergatildeos como a OMT
(Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo) com sede na Espanha OMC (Organizaccedilatildeo
Mundial do Comeacutercio) outras instituiccedilotildees como a EMBRATUR (Empresa Brasileira
de Turismo esta com caraacuteter de instituto) ou ainda o Ministeacuterio do Turismo satildeo
exemplos de atores sociais que ditam regras e ordenam o espaccedilo geograacutefico do
turismo a fim de promover a expansatildeo da atividade Pode-se perceber entatildeo que
as instituiccedilotildees satildeo em certos momentos a proacutepria figura do Estado desmembrado
nos seus oacutergatildeos de planejamento e gestatildeo do espaccedilo turiacutestico Por outro lado as
instituiccedilotildees correspondem a oacutergatildeos supranacionais que atuam em acircmbito
internacional
d) O quarto elemento componente do espaccedilo turiacutestico satildeo as infra-estruturas
ou seja as redes de transporte comunicaccedilotildees saneamento baacutesico coleta de lixo
tratamento de esgoto ou serviccedilo de ajuda aos turistas como as casas de cacircmbio e a
seguranccedila As infra-estruturas satildeo componentes de organizaccedilatildeo do espaccedilo para o
recebimento do turista Este elemento que parece simples eacute bastante complexo
pois seu volume e conteuacutedo devem estar dimensionados de acordo com a demanda
pelo menos com a demanda atual de um nuacutecleo turiacutestico (RODRIGUES1999 p
69) A infra-estrutura aleacutem de ser elemento do espaccedilo turiacutestico torna-se tambeacutem
condiccedilatildeo fundamental para a fixaccedilatildeo do turista no lugar a ser visitado Sem uma boa
infra-estrutura os serviccedilos turiacutesticos ficam comprometidos ocasionando assim uma
queda na demanda de viajantes Deve-se ressaltar tambeacutem que a infra-estrutura
turiacutestica pode estar associada a um espaccedilo voltado exclusivamente para a
atividade desvinculando-se da realidade local aumentando dessa maneira as
disparidades soacutecio-espaciais
e) O uacuteltimo e quinto elemento eacute o meio ecoloacutegico que segundo Santos
(1985) eacute o conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do
trabalho humano (SANTOS apud RODRIGUES 1999 p 69) Refere-se
principalmente ao meio natural onde estatildeo assentados os outros quatro elementos
anteriores Seria outrora o meio ambiente poreacutem cada vez mais modificado pelo
homem Eacute a natureza primeira sendo cada vez mais modificada transformando-se
42
em segunda natureza onde impera o mundo da teacutecnica ou tecnosfera (SANTOS
2002 a) No caso do turismo o meio ecoloacutegico eacute cada vez mais valorizado nos dias
atuais com o chamado turismo sustentaacutevel ou ainda turismo ecoloacutegico A volta agrave
natureza bucoacutelica com poucas interferecircncias do homem torna-se um novo objeto
de consumo do turismo por parte dos viajantes Eacute uma forma de valorizaccedilatildeo das
paisagens mais exuberantes e que provocam uma sensaccedilatildeo de tranquumlilidade numa
tentativa de atenuar os impactos ambientais gerados pelo turismo de massa
A repercussatildeo espacial do turismo estaacute marcada por um conjunto de formas
funccedilotildees processos e estruturas (SANTOS 1985) Dentro de uma totalidade
espacial os elementos formadores do espaccedilo do turismo ocorrem em conjunto
Dessa forma natildeo se pode deixar de afirmar que os objetos espaciais do turismo
carregam em si caracteriacutesticas que estatildeo em comum acordo com um contexto
histoacuterico da atividade
A espacialidade turiacutestica tambeacutem se faz a partir de impactos no meio
ambiente com a construccedilatildeo de grandes objetos espaciais voltados para o lazer A
tentativa de promover a todo custo a expansatildeo da atividade resulta em contrastes
no espaccedilo original que de certa forma natildeo correspondem agrave histoacuteria ou cultura do
lugar Alguns pesquisadores julgam o turismo como um produtor de natildeo-lugares o
que resultaria na confirmaccedilatildeo de que a praacutetica do turismo estaacute a serviccedilo do capital
Carlos (2002) sustenta a ideacuteia da transformaccedilatildeo do espaccedilo pelo turismo como um
sentimento de perda do lugar ou ainda da identidade Poreacutem ressalta que antes
do sentimento de perda do espaccedilo original ter um valor de falta deve-se entender
que esse jogo de relaccedilotildees faz parte do processo de construccedilatildeo do espaccedilo no mundo
moderno Dessa forma como o turismo eacute movido pelas diretrizes do capital o
espaccedilo torna-se uma mercadoria que estaacute agrave venda num processo de troca
produzindo-se assim a natildeo-identidade respeitando muito mais o tempo do dinheiro
do que o tempo da sociedade local Segundo ainda a mesma autora o turismo
transforma tudo o que toca em artificial cria um mundo fictiacutecio e mistificado de lazer ilusoacuterio onde o espaccedilo se transforma em cenaacuterio para o espetaacuteculo para uma multidatildeo amorfa mediante uma criaccedilatildeo de uma seacuterie
de atividades que conduzem a passividade produzindo apenas a ilusatildeo da evasatildeo e desse modo o real eacute metamorfoseado transfigurado para
43
seduzir e fascinar Aqui o sujeito se entrega agraves manipulaccedilotildees desfrutando a proacutepria alienaccedilatildeo e a dos outros (CARLOS 2002 p 26)
De acordo com essa perspectiva o espaccedilo do turismo torna-se um espaccedilo
vazio sem sentido e sem espessura (CARLOS 2002) porque natildeo haacute nele uma
identidade A espacialidade do turismo pode dessa maneira ser a mesma (no
sentido de homogecircneo) em todo o mundo A relaccedilatildeo que se estabelece a partir
desses espaccedilos eacute uma relaccedilatildeo entre a induacutestria e o homem que aqui torna-se um
sujeito passivo diante da criaccedilatildeo de belos cenaacuterios onde as imagens parciais
refletem parcialmente a totalidade do lugar O lugar segundo a autora eacute um produto
das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na dimensatildeo do vivido construindo vaacuterios
significados sociais que satildeo marcados pelo tempo social O tempo do turismo
segundo essa loacutegica eacute um tempo da maacutequina sem vida e condicionado pela forccedila
das movimentaccedilotildees financeiras Como exemplo desses espaccedilos onde o tempo eacute
controlado o lazer da sociedade moderna natildeo eacute de forma espontacircnea os resorts
representam a expressatildeo do que seja um natildeo-lugar Configuram-se como espaccedilos
descontextualizados do entorno original uma vez que suas accedilotildees estatildeo mais no
mundo das representaccedilotildees do que nas materialidades que nos envolvem
(HAESBAERT 2004) constituindo assim uma ordem que estaacute subjacente a um
tipo de turismo global dentro do lugar
Dessa forma as espacialidades do turismo podem ser caracterizadas pelo
ritmo das empresas em que o seu novo espaccedilo eacute o mundo (SANTOS 2002) Tenta-
se com isso construir uma hegemonia de tempos de turismo acelerando cada vez
mais a produccedilatildeo de espaccedilos homogecircneos com o intuito de promover o lazer na
sociedade moderna
44
23 O Estado e as estrateacutegias de planejamento e de desenvolvimento da atividade turiacutestica
O debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas de turismo nos uacuteltimos tempos tem sido
aprofundado frequumlentemente pela crescente demanda da atividade nas mais
diversas partes do planeta A discussatildeo sobre as poliacuteticas puacuteblicas portanto estaacute
intimamente ligada agrave questatildeo do desenvolvimento de um lugar Mais precisamente
o Estado passa a ser o principal agente de discussatildeo e aplicaccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Nesse sentido eacute necessaacuterio estabelecer uma anaacutelise do seu papel nas
tomadas de decisotildees Isto quer dizer que a discussatildeo sobre as accedilotildees do Estado
envolve uma reparticcedilatildeo do territoacuterio que vai da escala nacional agrave escala local Para
tal efeito o debate teacutecnico sobre o planejamento do espaccedilo envolve atores sendo
eles caracterizados pelas funccedilotildees teacutecnicas (agentes de governo) ou ainda a
populaccedilatildeo residente em uma aacuterea a ser atingida
A partir da deacutecada de 1980 com a crescente modificaccedilatildeo da economia
mundial as accedilotildees do Estado tecircm sofrido mudanccedilas com o intuito de atender agraves
transformaccedilotildees recentes do capital internacional A estrutura econocircmica dos paiacuteses
por sua vez eacute modificada a partir de um novo conjunto de poliacuteticas estabelecidas
principalmente no decorrer da crescente onda neoliberal O Estado passa a ceder
mais lugar agrave iniciativa privada no interior das decisotildees que se referem aos setores
de infra-estrutura Observa-se desta forma uma gradativa isenccedilatildeo das
responsabilidades antes de inteira competecircncia do poder puacuteblico O que hoje passa
a ser estruturada com uma maior ampliaccedilatildeo das grandes empresas de uma forma
geral termina por acarretar em ocircnus para a sociedade Produz-se entatildeo um
campo de incertezas nas poliacuteticas puacuteblicas em que vaacuterios interesses dos atores
sociais envolvidos satildeo aflorados
Satildeo estabelecidos novos recortes territoriais que estatildeo situados em um
enfraquecimento do Estado ao mesmo tempo em que a presenccedila da iniciativa
privada se torna mais evidente A adequaccedilatildeo das escalas globais estatildeo mais para
as empresas do que para o desenvolvimento pleno da sociedade O ritmo das
economias segue portanto uma transformaccedilatildeo ditada pela velocidade das grandes
empresas o que faz com que se estabeleccedila uma nova forma de entendimento das
45
poliacuteticas puacuteblicas Segundo Cruz (2001) estas devem ser pensadas e conduzidas
pelo governo do contraacuterio ficam vinculadas agraves iniciativas privadas
Para Coelho (2000) essa crescente demanda dos interesses privados sobre
o puacuteblico precisa ser considerada a partir de um quadro poliacutetico-econocircmico no que
diz respeito aos processos soacutecio-culturais e ambientais dessa nova fase do
capitalismo Isto porque o que estaacute em jogo eacute um novo modelo de desenvolvimento
econocircmico a crescente reduccedilatildeo da capacidade do Estado em articular as accedilotildees
puacuteblicas e tambeacutem porque se trata de uma conjuntura de crise econocircmico-poliacutetica
por qual passam os governos A autora defende3 quatro tipos de abordagens sobre
os estudos de poliacuteticas puacuteblicas
A primeira estaria no acircmbito dos atores que podem ser puacuteblicos ou privados
mas que estatildeo referendadas nas suas diversas decisotildees e accedilotildees ou seja accedilotildees
ligadas ao interesses desses sujeitos O intuito portanto seria de entender seus
papeacuteis a partir das poliacuteticas adotadas no que diz respeito ao desenvolvimento
regional e da mitigaccedilatildeo dos problemas ambientais A segunda abordagem diz
respeito agrave investigaccedilatildeo das formas de atuaccedilatildeo conflitantes ou associativas dos
atores puacuteblicos ou privados e de seus esforccedilos em compartilharem entre si a busca
se soluccedilotildees de problemas ambientais (COELHO 2000 p 125) A terceira
abordagem tem como entendimento o exame das negociaccedilotildees do Estado nos
setores onde satildeo executadas as poliacuteticas puacuteblicas ou seja faz-se necessaacuteria uma
investigaccedilatildeo do momento em que se elaboram as poliacuteticas e o confrontamento com
outros tipos de poliacuteticas de outras ordens como por exemplo poliacuteticas industriais
minerais fundiaacuterias entre outras A quarta abordagem estaacute situada dentro da
perspectiva de uma superaccedilatildeo das poliacuteticas tradicionais Postula-se com isso uma
inserccedilatildeo ainda maior de poliacuteticas alternativas que mostrem diretrizes de um outro
tipo de desenvolvimento em que a gestatildeo participativa da sociedade possa ser
valorizada ampliando dessa maneira o debate a respeito das poliacuteticas puacuteblicas e
outros interesses sociais envolvidos Segundo ainda a autora
3 As anaacutelises de Coelho (2000) estatildeo voltadas para a questatildeo mineral do Estado do Paraacute poreacutem em um acircmbito geral tal perspectiva se faz muito vaacutelida para entendermos a atual conjuntura por qual passa o Estado nos uacuteltimos anos ou seja um entendimento geral sobre as noccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas
46
Torna-se necessaacuterio sem duacutevida distinguir a loacutegica que norteia as empresas isto eacute uma loacutegica voltada para a produccedilatildeo do lucro ampliado e a que conduz a atuaccedilatildeo poliacutetica que visa manter o poder e para isso recorre a alianccedilas e a negociaccedilotildees sobretudo quando a legitimidade do Estado acha-se ameaccedilada (COELHO 2000 p 125)
Nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas assumem um caraacuteter multi e
interdisciplinar (COELHO 2000 p 125) o que faz com que os processos soacutecio-
espaciais abarcados nos planejamentos governamentais sejam redefinidos no
acircmbito das esferas municipais estaduais e federais
No setor turiacutestico tal realidade natildeo seria diferente Levando-se em
consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo permanente entre o setor privado e o Estado o turismo teve
um crescimento consideraacutevel nos uacuteltimos dececircnios e isso fez com que novas
territorialidades aflorassem e novas relaccedilotildees entre o Estado a iniciativa privada e a
populaccedilatildeo local fossem redefinidas
Para Cruz (2001) o turismo tornou-se nos uacuteltimos tempos um vetor muito
importante para a economia mundial Nesse sentido vaacuterias satildeo as intervenccedilotildees
espaciais que satildeo resultantes de uma necessidade de adequaccedilatildeo do lugar turiacutestico
agraves novas demandas do mercado Sendo o turismo uma loacutegica econocircmico-social
organizada torna-se importante a estruturaccedilatildeo de um sistema de objetos que
podem ser definidos por serviccedilos como hospedagens alimentaccedilatildeo transportes sob
um conjunto de accedilotildees que incrementam os diversos objetos espaciais voltados para
a praacutetica turiacutestica Esse conjunto de accedilotildees pode ser entendido como as poliacuteticas
puacuteblicas de turismo A partir dessa configuraccedilatildeo o lugar turiacutestico se distingue de
outros lugares mas para que o lugar transformado pelas praacuteticas turiacutesticas situe-
se como uma dimensatildeo espacial diferentes das outras torna-se necessaacuteria a
presenccedila do Estado como indutor das accedilotildees decorridas de poliacuteticas Assim Cruz
(2001) enfatiza
O modo como se daacute a apropriaccedilatildeo de uma determinada parte do espaccedilo geograacutefico pelo turismo depende da poliacutetica puacuteblica de turismo que se leva a cabo no lugar Agrave poliacutetica puacuteblica de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientem o desenvolvimento soacutecio-espacial da atividade tanto no que tange agrave esfera puacuteblica como no que se refere agrave
47
iniciativa privada Na ausecircncia da poliacutetica puacuteblica o turismo se daacute a revelia ou seja ao sabor de iniciativas e interesses particulares (CRUZ 2001 p 9)
Como um exemplo da ineficiecircncia das poliacuteticas puacuteblicas de turismo os resorts
expressam verdadeiros confinamentos espaciais Eles constituem as limitaccedilotildees das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo setoriais Nesses espaccedilos a iniciativa privada impotildee um
ritmo proacuteprio em que as leis do mercado sobressaem em detrimento de normas
gerais exemplificadas nas poliacuteticas de governo o que faz desses objetos uma
manifestaccedilatildeo do mundo no lugar (LUCHIARI 1999)
Percebe-se assim que a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de turismo
deve levar em consideraccedilatildeo o fator da organizaccedilatildeo soacutecio-espacial ditada pelas
novidades que o fenocircmeno do turismo oferece ao mesmo tempo em que deve situar
a importacircncia do lugar ou melhor das relaccedilotildees sociais contidas no lugar as
pessoas propriamente ditas seus sentidos e interesses De fato tal procedimento
torna-se complicado pois o ritmo da modernidade eacute por demais diferente do ritmo
das pessoas configura-se dessa forma uma sensaccedilatildeo de estranhamento ao
novo o que faz das poliacuteticas de turismo uma unidade da desunidade
(BERMAN
2003) Eacute nesse sentido portanto que as poliacuteticas puacuteblicas de turismo muitas vezes
encontram-se dissociadas da realidade local
Uma outra questatildeo que permeia a discussatildeo sobre as poliacuteticas de turismo
estaacute centrada no debate sobre a importacircncia do territoacuterio na construccedilatildeo dessas
poliacuteticas isto porque quando se retrata a relaccedilatildeo entre o territoacuterio e o turismo
necessariamente a abordagem sobre o reordenamento torna-se fundamental dada
a relevacircncia do territoacuterio turistificado Nesse sentido toda accedilatildeo decorrente dos
planejamentos de governo ou precisamente as poliacuteticas de turismo visam
sobretudo o reordenamento do territoacuterio
Santos e Silveira (2001) entendem que o territoacuterio passa a ter valor quando
este eacute usado o que faz com que exista uma necessidade sistemaacutetica de uma
constituiccedilatildeo territorial Para os autores
48
Uma periodizaccedilatildeo eacute necessaacuteria pois os usos satildeo diferentes nos diversos momentos histoacutericos Cada periodizaccedilatildeo se caracteriza por extensotildees diversas de formas de uso marcadas por manifestaccedilotildees particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a princiacutepios gerais como a histoacuteria particular e a histoacuteria global (SANTOS SILVEIRA 2001 p 20)
No que diz respeito ao territoacuterio a teacutecnica atraveacutes da histoacuteria justifica as
intervenccedilotildees e a sua proacutepria constituiccedilatildeo resultando assim em um grande sistema
teacutecnico permeado pela materialidade Para os autores o uso do territoacuterio pode ser
definido por uma seacuterie de elementos que constituem um sistema de engenharia
(SANTOS SILVEIRA 2001 p 21) que soacute satildeo perceptiacuteveis pelo dinamismo da
economia e da sociedade que podem ser desde o simples movimento da populaccedilatildeo
ateacute a criaccedilatildeo de leis e normas para a regulaccedilatildeo da sociedade Com efeito podemos
inserir aiacute poliacuteticas puacuteblicas de turismo
Para Haesbaert (2002) por exemplo o territoacuterio adquire o caraacuteter de
alternativo por ser associado agrave condiccedilatildeo de esperanccedila ou seja um outro territoacuterio eacute
possiacutevel com mais justiccedila e igualdade para os grupos sociais que nele residem
Torna-se alternativo tambeacutem pelo fato de incorporar novas perspectivas teoacutericas
para situar os homens no espaccedilo
Outra importante abordagem sobre o territoacuterio eacute a que Knafou (2001) faz
associando-o ao turismo Segundo o autor eacute a partir do turista que a definiccedilatildeo sobre
territoacuterio pode ser melhor entendida Ele eacute o sujeito que estaacute em constante
movimento tornando-se um constante estrangeiro Com efeito em virtude de sua
mobilidade o turista recoloca a discussatildeo da ideologia do enraizamento da ligaccedilatildeo
privilegiada com o lugar (KNAFOU 2001 p 64) Nesse sentido o territoacuterio do
turismo estaacute em constante movimento produzindo novos lugares e novas relaccedilotildees
do outro com o habitante nativo essa situaccedilatildeo explica portanto a liberdade efetiva
do turista Tal situaccedilatildeo permite com que se faccedila uma anaacutelise das trecircs fontes de
turistificaccedilatildeo dos lugares4
4 O autor natildeo define exatamente o conceito de turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos mas parte de uma relaccedilatildeo que existe entre os fluxos econocircmicos e os turistas Por um outro lado chama a atenccedilatildeo de que a turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos tecircm o propoacutesito de constituir a base de uma abordagem cientiacutefica do turismo (KNAFOU 2001 p 71)
49
A primeira fonte para Knafou (2001) reside no fato de que os turistas eacute que
estatildeo na origem do turismo Isso quer dizer que antes de existirem produtos do
turismo satildeo os turistas que produzem os lugares atraveacutes de sua constante
mobilidade ou seja de suas viagens
A segunda fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares estaacute centralizada no mercado E
nesta condiccedilatildeo satildeo os produtos turiacutesticos que estatildeo agrave frente dos turistas natildeo mais
as praacuteticas turiacutesticas em si Poreacutem quando o mercado toma para si a
responsabilidade exclusiva de produzir produtos pode natildeo levar em consideraccedilatildeo a
importacircncia das praacuteticas turiacutesticas como uma condiccedilatildeo de criaccedilatildeo dos produtos O
principal perigo ao qual os operadores do mercado turiacutestico devem fazer face eacute o de
ignorar de subestimar ou de analisar tarde demais a evoluccedilatildeo mesmo das
modificaccedilotildees nas praacuteticas turiacutesticas (KNAFOU 2001 p 70)
A terceira e uacuteltima fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares pertence aos promotores
e planejadores territoriais Para o autor diferentemente das duas primeiras fontes
esta eacute mais ou menos bem territorializada (KNAFOU 2001 p 71) pois estatildeo
intimamente ligadas a um lugar E consequumlentemente essa relaccedilatildeo estaacute ligada ao
desenvolvimento dos lugares Poreacutem o autor reforccedila que o principal perigo com o
qual se defrontam os promotores territoriais eacute o fato de ignorarem o mercado e as
praacuteticas dos turistas ou delas fazerem representaccedilotildees errocircneas (KNAFOU 2001 p
71)
No geral essas trecircs situaccedilotildees satildeo condiccedilotildees para se estabelecer uma
relaccedilatildeo entre o turismo e o territoacuterio
A primeira relaccedilatildeo a que Knafou (2001) faz alusatildeo eacute que podem existir
territoacuterios sem turismo Tal situaccedilatildeo revela os lugares onde o turismo ainda natildeo se
faz presente Poreacutem pode-se afirmar que todo territoacuterio apesar de natildeo ser
completamente envolvido pelas praacuteticas turiacutesticas pode vir a ser Isto porque o
avanccedilo das teacutecnicas do meio teacutecnico-cientiacutefico e informacional a que Santos (2003)
se refere eacute um vetor de raacutepidas transformaccedilotildees dos territoacuterios Como diz o proacuteprio
Knafou (2001)
50
Em contrapartida com o progresso dos transportes e com a difusatildeo da ideacuteia segundo a qual todo o espaccedilo mundial eacute entatildeo acessiacutevel haacute cada vez menos territoacuterios sem turistas Tanto mais que efetivamente os turistas podem ir a qualquer parte ou quase Mas sempre em nuacutemero e sob formas que permitem fazer os lugares viver (KNAFOU 2001 p 72)
A segunda relaccedilatildeo fala sobre a possibilidade de existir tambeacutem turismo sem
territoacuterio Nessa situaccedilatildeo natildeo eacute o turista que provoca o consumo dos lugares mas
quem o faz eacute o mercado juntamente com outros agentes participantes desse
processo como o Estado por exemplo Nesse sentido o territoacuterio torna-se produto
mercadoloacutegico na sua essecircncia Knafou (2001) ainda ratifica
Estaacute-se entatildeo em presenccedila de lugares de passagem de territoacuterio de outros onde o turista soacute faz uma incursatildeo ou ateacute uma excursatildeo Frequumlentemente eacute este territoacuterio impropriamente qualificado que se planeja por e pelo turismo (KNAFOU 2001 p 72)
A terceira relaccedilatildeo segundo o autor eacute que podem enfim existir territoacuterios
turiacutesticos Essa relaccedilatildeo portanto marca a produccedilatildeo dos territoacuterios pelos turistas Ou
seja eacute nessa condiccedilatildeo que as diversas relaccedilotildees soacutecio-espaciais satildeo possiacuteveis e
que de fato o fenocircmeno do turismo alcanccedila outras dimensotildees espaciais O autor
ressalta a delicada relaccedilatildeo entre o espaccedilo e o planejamento Segundo ele natildeo se
pode planejar o espaccedilo do turismo em si unicamente pois do contraacuterio estaraacute se
desprezando a sociedade nele contido
A importacircncia do territoacuterio para o turismo eacute sobretudo condiccedilatildeo para o
planejamento e elaboraccedilatildeo de poliacuteticas espaciais voltadas para o setor A poliacutetica de
turismo natildeo se daacute plenamente de forma isolada o que faz com que se ampliem as
discussotildees sobre as intervenccedilotildees espaciais em que outros setores da sociedade se
fazem presentes Eacute importante portanto a articulaccedilatildeo das poliacuteticas de turismo com
outras poliacuteticas setoriais como por exemplo as poliacuteticas urbanas de transporte de
seguranccedila entre outros
51
Fonseca (2005) demonstra que as poliacuteticas puacuteblicas e em especial as de
turismo tiveram maior relevacircncia a partir da reestruturaccedilatildeo do modo capitalista de
produccedilatildeo no iniacutecio dos anos 1970 A crise do sistema provocou entatildeo uma seacuterie de
mudanccedilas na economia poliacutetica mundial e fez com que os Estados se rearticulassem
em seus setores para que pudessem enfrentar as consequumlecircncias das
transformaccedilotildees econocircmicas mundiais A autora destaca que antes de analisar as
poliacuteticas puacuteblicas eacute necessaacuterio se entender como o Estado mudou suas estrateacutegias
ao longo dos anos ou seja entender a que contexto histoacuterico-social o Estado
pertence Segundo a autora
Agrave medida que a organizaccedilatildeo social assume determinadas caracteriacutesticas e emergem novas mudanccedilas o Estado tambeacutem vai assumindo novas funccedilotildees e se amoldando para atender agraves necessidades e agraves demandas do contexto social e econocircmico no qual estaacute inserido Os Estados soacute podem ser entendidos em seus contextos histoacutericos (FONSECA 2005 p 81)
A autora apresenta uma evoluccedilatildeo do quadro das poliacuteticas puacuteblicas de turismo
segundo o contexto histoacuterico em que elas estatildeo inseridas O primeiro momento
refere-se a uma fase artesatilde onde o periacuteodo fordista se manifestava nas praacuteticas
turiacutesticas mundiais atraveacutes de um incremento quantitativo do turismo Isso era muito
perceptiacutevel atraveacutes de programas ofensivos de conquista de mercados
internacionais (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) O intuito das poliacuteticas
puacuteblicas de turismo portanto era o de fazer crescer a economia dos paiacuteses
receptores com medidas de geraccedilatildeo de renda equiliacutebrio financeiro e de
arrecadaccedilatildeo entre outros
O segundo momento corresponde ao periacuteodo que marca a crise de
acumulaccedilatildeo periacuteodo este que se estende dos anos 1970 ateacute o iniacutecio dos anos 1980
(FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) Devido agraves profundas consequumlecircncias da
crise do regime de acumulaccedilatildeo o turismo passa a ter um papel importante dentro da
economia dos paiacuteses Eacute nesse momento tambeacutem que a atividade turiacutestica passa a
ser relevante no que diz respeito aos seus impactos sociais por conta de seu
crescimento raacutepido os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas de turismo satildeo redefinidos a
fim de que este possa contribuir para o bem-estar da populaccedilatildeo residente
52
Por fim o terceiro momento surge a partir de meados dos anos de 1980
Nesse periacuteodo a economia mundial eacute fortemente influenciada pelo regime neoliberal
o que faz com que a atividade turiacutestica desponte como um dos segmentos basilares
do desenvolvimento econocircmico Os elaboradores das poliacuteticas de turismo
(influenciados pela onda neoliberal) vecircem o turismo como um segmento estrateacutegico
para a competitividade no mercado O turismo portanto assume uma caracteriacutestica
empresarial o que com efeito influencia as novas poliacuteticas de turismo elaboradas
pelos governos (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005 p 88)
Nesse sentido a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas de turismo eacute antes de tudo um
modo peculiar de intervenccedilatildeo espacial em que se combinam o jogo complexo de
normas governamentais e sociedade tornando a relaccedilatildeo soacutecio-espacial mais
complexa O acuacutemulo de novas informaccedilotildees e teacutecnicas faz com que o territoacuterio
delimitado pelas poliacuteticas puacuteblicas de turismo seja um condicionante para as
estrateacutegias espaciais pensadas pelo Estado e pela iniciativa privada Nessa relaccedilatildeo
o resultado das accedilotildees tambeacutem pode se dar de forma desigual na medida em que
uma minoria possa prevalecer em detrimento da maioria isso significa entatildeo a
dissonacircncia que existe na concepccedilatildeo do espaccedilo pensado pelas poliacuteticas puacuteblicas e
o espaccedilo a ser modificado
O agrupamento das decisotildees sobre as poliacuteticas de turismo a serem
estabelecidas assim como suas repercussotildees espaciais encontram campo feacutertil na
Amazocircnia em destaque o Paraacute As estrateacutegias espaciais oriundas de pensamentos
concebidas pelo Estado estabelecem um estreitamento com as praacuteticas de
desenvolvimento No que se refere ao turismo essas estrateacutegias apresentam uma
configuraccedilatildeo que tem na expansatildeo da atividade o seu principal foco Para que a
Amazocircnia situe-se como um espaccedilo planejado e dotado de uma logiacutestica que
propicie a atividade a construccedilatildeo de planos de desenvolvimento torna-se uma
saiacuteda E esta realidade estaacute presente em documentos como os Planos de Turismo
da Amazocircnia I e II respectivamente elaborados em 1977 e 1992 No Paraacute o PDT-
PA constitui-se o primeiro documento estadual que reuacutene as diretrizes necessaacuterias
para o fomento ao turismo
O que se percebe portanto eacute que a elaboraccedilatildeo de planos de
desenvolvimento de turismo em uma regiatildeo como a Amazocircnia constitui-se
53
sobretudo como verdadeiros reflexos das concepccedilotildees de Estado na forma mais
concreta de suas accedilotildees e intervenccedilotildees no espaccedilo
54
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PARAacute
55
31 A expansatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia
A combinaccedilatildeo entre o turismo e regiatildeo amazocircnica natildeo eacute algo novo no que se
refere agraves poliacuteticas puacuteblicas Devido a sua diversidade de recursos naturais a
Amazocircnia tornou-se um locus para investimentos de governos sempre interessados
em uma prosperidade principalmente econocircmica A condiccedilatildeo para que isso
ocorresse baseava-se em pelo menos dois fatores O primeiro era o de povoar uma
regiatildeo que estava (ainda estaacute) abaixo das estatiacutesticas oficiais de governo A
populaccedilatildeo da Amazocircnia entatildeo estaria sujeita agrave poliacuteticas de incentivo maciccedilo de
migraccedilotildees de pessoas de outras regiotildees para que pudessem estimular o
crescimento populacional e o povoamento A segunda estaria vinculada a uma
aproximaccedilatildeo econocircmico-industrial que estivesse no ritmo das economias das
regiotildees Sul e Sudeste Sendo assim esse cenaacuterio seria o tipo ideal para que a
regiatildeo pudesse sair de seu atraso econocircmico
Tal situaccedilatildeo configura-se como ponto de partida para que a atividade turiacutestica
venha a ser um dos elementos importantes nas poliacuteticas de desenvolvimento do
paiacutes O turismo encara dessa forma uma postura de estimulador de um caminho
mais curto e eficaz para um possiacutevel desenvolvimento da regiatildeo No que diz respeito
a isso Cruz (2003) ressalta
De celeiro do mundo a berccedilo do extrativismo a Amazocircnia Legal tem seu destino mais uma vez traccedilado em funccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais Mas as decisotildees sobre as formas de exploraccedilatildeo do territoacuterio amazocircnico satildeo poliacuteticas e tecircm muito mais a ver com a divisatildeo internacional do trabalho e com o mercado internacional do turismo do que com sua geologia geomorfologia fauna e flora (CRUZ 2003 p 98)
Para o turismo a Amazocircnia constitui-se um dos espaccedilos mais proacutesperos a
serem explorados por agentes envolvidos na sua dinacircmica internacional Para isso
a regiatildeo recebe um novo sistema de objetos e de accedilotildees modificados em funccedilatildeo de
sua realidade e sua especificidade natural Trata-se portanto de re-inserir a
56
Amazocircnia na rota mundial de turismo destacando-a como um dos cenaacuterios mais
exuberantes no que diz respeito ao seu potencial paisagiacutestico e natural
No tocante a essa situaccedilatildeo a reinvenccedilatildeo da Amazocircnia para o turismo (CRUZ
2003) parte de um princiacutepio maior que eacute seu desenvolvimento Com isso a regiatildeo a
partir da loacutegica de expansatildeo da atividade comeccedila a ser pensada por oacutergatildeos do
governo que promovem accedilotildees voltadas para o incremento de uma infra-estrutura
peculiar na regiatildeo5 assim como estabelece novas diretrizes de mercado que
contemplam a exploraccedilatildeo racionalizada do turismo
Para tanto os agentes envolvidos no processo de turistificaccedilatildeo da regiatildeo
amazocircnica aproveitam caracteriacutesticas tipicamente regionais como a hospitalidade
do povo amazocircnida para transformar em atrativo turiacutestico Nesse sentido Cruz
(2003) ao abordar a ideacuteia de hospitalidade turiacutestica argumenta que seu sentido estaacute
sobretudo ligado a um sistema de objetos e de accedilotildees do fazer turiacutestico A ideacuteia do
receber bem o turista no que se refere ao carisma alegria e educaccedilatildeo por parte
daqueles que estatildeo ligados agrave atividade turiacutestica na regiatildeo circunscreve-se em uma
realidade onde uma infra-estrutura eacute necessaacuteria
A criaccedilatildeo de uma hospitalidade turiacutestica em territoacuterios amazocircnicos envolve de um lado a criaccedilatildeo de uma materialidade necessaacuteria ao fazer turiacutestico como a implementaccedilatildeo de estruturas relacionadas agrave acessibilidade agrave hospedagem e ao lazer dos visitantes De outro lado envolve tambeacutem aspectos intangiacuteveis e igualmente fundamentais para a ocorrecircncia de um turismo organizado como a capacitaccedilatildeo profissional e promoccedilatildeo turiacutestica Destarte instala-se para e pelo turismo na regiatildeo um novo sistema de objetos e de accedilotildees que recriam o espaccedilo amazocircnico agora orientado pela loacutegica de um uso turiacutestico (CRUZ 2003 p 94)
Tal hospitalidade envolve accedilotildees antes planejadas por pessoas envolvidas no
processo de atraccedilatildeo do turista para a regiatildeo Amazocircnica algo que natildeo depende
exclusivamente dos residentes mas sim de um planejamento voltado para a infra-
estrutura e o preparo das pessoas (CRUZ 2003) A partir desses propoacutesitos eacute que a
Amazocircnia entra no ritmo ou circuito da atividade turiacutestica ou seja a estrateacutegia de
5 Apesar do fluxo de turistas na regiatildeo ser ainda pequeno a infra-estrutura necessaacuteria para atender tal demanda estaacute baseada principalmente na construccedilatildeo e reforma de estradas no aumento e promoccedilatildeo de passagens aeacutereas e na construccedilatildeo de lodges e hoteacuteis de redes nacionais e internacionais que se apropriam da temaacutetica regional (floresta natural) para construiacuterem objetos espaciais bem caracteriacutesticos como eacute o caso dos hoteacuteis de florestas no estado do Amazonas
57
inserccedilatildeo e expansatildeo do turismo na regiatildeo agrega requisitos de ordem global e
padronizada
Levando em consideraccedilatildeo a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas do turismo a
partir da deacutecada de 1970 o governo federal realizou uma seacuterie de medidas voltadas
para a expansatildeo da atividade na Amazocircnia entre elas especificamente estavam os
planos de desenvolvimento da regiatildeo ou PDAS (e tambeacutem os planos de turismo da
Amazocircnia I e II) Nestes planos estavam esboccediladas de uma forma bem ampla as
estrateacutegias espaciais e acima de tudo a concepccedilatildeo de desenvolvimento a qual a
regiatildeo amazocircnica estava subordinada
Tais planos congregavam ideais de transformaccedilatildeo ampla e situavam as accedilotildees
destinadas a retirar a Amazocircnia de seu atraso econocircmico e social No tocante ao
turismo jaacute no segundo Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia6 a atividade era
encarada como um processo em expansatildeo e por isso mesmo natildeo mereceria ficar
em segundo plano As prioridades destacadas referiam-se principalmente em
setorizar a atividade turiacutestica onde as cidades que jaacute reuniam certa infra-estrutura
(apoio logiacutestico ao turismo) seriam pontos estrateacutegicos de atraccedilatildeo de investimentos
provindos do governo
O estiacutemulo do Estado resumia-se aos investimentos em apoio teacutecnico e na
ampliaccedilatildeo do sistema de objetos da regiatildeo como por exemplo as estradas de
rodagem Para isso era de interesse do governo na eacutepoca facilitar o acesso agrave regiatildeo
atraveacutes dos transportes e das comunicaccedilotildees garantidos tambeacutem por um serviccedilo de
hoteacuteis eficiente
A criaccedilatildeo de algumas diretrizes orientadoras para o fomento da atividade
estavam calcadas sobretudo numa reorganizaccedilatildeo e readequaccedilatildeo da atividade a
partir do planejamento das accedilotildees voltadas para o desenvolvimento da regiatildeo Os
planos turiacutesticos jaacute eram vistos como soluccedilatildeo para a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais
e contemplavam de maneira uniforme e integrada o apoio agrave criaccedilatildeo de empresas
estaduais destinadas agrave promoccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade (BRASIL 1977)
6 Elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior e com a organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo da SUDAM (Superintendecircncia de Desenvolvimento da Amazocircnia) datado de abril de 1976
58
Os principais destinos urbanos da Amazocircnia como Manaus Beleacutem
Santareacutem e Satildeo Luiz seriam os primeiros a receber a infra-estrutura necessaacuteria
para o planejamento da atividade Em outro momento a construccedilatildeo de um plano
diretor regional de meacutedio a longo prazo deveria estudar as perspectivas de
mercados nacionais e internacionais onde se verificavam problemas a serem
solucionados com o planejamento pensado para as cidades com atrativos turiacutesticos
No II plano de desenvolvimento da Amazocircnia as outras diretrizes satildeo de
cunho mais especiacuteficos e se destinam agraves alternativas jaacute visualizadas perante o
potencial natural da regiatildeo entre elas estatildeo
a) A implantaccedilatildeo de parques florestais para fins turiacutesticos a criaccedilatildeo de um
sistema regional de informaccedilotildees estatiacutesticas e medidas para a preservaccedilatildeo de aacutereas
de interesse turiacutestico
b) Criaccedilatildeo de empresas de turismo nas unidades da federaccedilatildeo incorporando-
as ao sistema regional integrado ao turismo
c) Coordenaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia junto a
cada entidade interessada com a finalidade de acelerar o desenvolvimento setorial
d) Atrair o turismo nacional para a regiatildeo atraveacutes de estudos de implantaccedilatildeo
de centros de apoio turiacutestico ao longo das rodovias federais e estaduais pelos
oacutergatildeos intervenientes SUDAM (Superintendecircncia do Desenvolvimento da
Amazocircnia) DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens) DER s
(Departamento Estadual de Rodovias) EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo)7 e empresas estaduais
e) Continuaccedilatildeo do apoio aos programas de fornecimento de aacutegua energia e
saneamento por parte da SUDAM com o apoio da infra-estrutura ao
desenvolvimento e ampliaccedilatildeo do setor (BRASIL 1977 p 79-80)
7 Durante um longo periacuteodo (desde sua fundaccedilatildeo) a EMBRATUR foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo turismo nacional promoccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de projetos em geral destinados ao fomento da atividade turiacutestica no paiacutes A partir de 2003 especificamente no governo do entatildeo presidente Luis Inaacutecio Lula da Silva a EMBRATUR deixa de ser empresa e passa a ser instituto tendo um fim especiacutefico de promover o turismo nacional no exterior
59
Vale ressaltar que nesta eacutepoca o plano de desenvolvimento da Amazocircnia
entendia o turismo como um setor em expansatildeo poreacutem demonstra em linhas gerais
suas reais intenccedilotildees em relaccedilatildeo agrave atividade natildeo realizando portanto um estudo ou
diagnoacutestico mais especiacutefico sobre a atividade Sua dimensatildeo revela nesse sentido
uma ligaccedilatildeo com as ideacuteias de crescimento que outrora influenciaram (e ainda
influenciam) as concepccedilotildees gerais de planejamentos regionais
O caraacuteter generalista do turismo que se configura no plano entende que o
espaccedilo regional eacute carente de densidade teacutecnica apropriada agrave expansatildeo da
atividade por isso existe a necessidade de implementaccedilatildeo de setores especiacuteficos
destinados a reestruturar o espaccedilo regional como por exemplo as rodovias e as
redes de telecomunicaccedilotildees Nesse sentido o espaccedilo amazocircnico do turismo agrave
eacutepoca era entendido enquanto um espaccedilo a ser modificado por agentes que
estivessem interessados em investir na dotaccedilatildeo de atrativos turiacutesticos
principalmente as empresas do trade turiacutestico amazocircnico
Visto que a atividade turiacutestica era promissora e que seria uma possibilidade
para a geraccedilatildeo de renda e lucro o governo federal na eacutepoca lanccedila o primeiro Plano
de Turismo da Amazocircnia8 com o intuito de (re) organizar o setor a fim de que se
pudessem alcanccedilar niacuteveis satisfatoacuterios de crescimento econocircmico
O primeiro plano por sua vez apresenta a regiatildeo como uma regiatildeo
diferenciada das outras por ser um produto com uma paisagem iacutempar e por isso
seus recursos naturais satildeo encarados como elementos importantes para uma
vocaccedilatildeo e aptidatildeo turiacutestica Tais caracteriacutesticas eram entendidas como um
pressuposto ou alternativa para auxiliar no progresso econocircmico e social da regiatildeo
(BRASIL 1977) Nesse sentido segundo o proacuteprio documento9
Como se vecirc estamos diante de dois incomensuraacuteveis o turismo e a Amazocircnia De um lado o turismo que possibilita quase tudo De outro a
8 O primeiro Plano de Turismo da Amazocircnia foi elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior em 1977 no governo militar a partir do consoacutercio PLANAVE-PROCHNIK e com o apoio teacutecnico da EMBRATUR A supervisatildeo do Plano ficou a cargo da SUDAM O plano ainda se divide em dois volumes o primeiro diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo e diagnoacutestico da regiatildeo e o segundo contempla os prognoacutesticos poliacuteticas diretrizes e instrumentos e a programaccedilatildeo do Plano 9 Nota de apresentaccedilatildeo do superintendente da SUDAM Hugo de Almeida
60
Amazocircnia potencialmente riquiacutessima em termos de aproveitamento como induacutestria rentaacutevel multiplicadora de divisas cambiais (BRASIL 1977 p 7)
O primeiro PTA resume assim as ideacuteias de que a Amazocircnia eacute um cenaacuterio
propiacutecio agrave expansatildeo da atividade turiacutestica colocando-a como um produto a ser
comercializaacutevel As concepccedilotildees contidas no plano priorizavam accedilotildees com as
estrateacutegias mais amplas que por sua vez estavam definidas no Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia Sua funccedilatildeo especiacutefica estava destinada a levantar
dados sobre a infra-estrutura dos estados e assim definir as estrateacutegias comerciais
para que a regiatildeo pudesse se situar como um destino turiacutestico importante Os eixos
gerais do PTA natildeo seguiam uma poliacutetica nacional de turismo mas sim uma poliacutetica
de desenvolvimento sustentada pelo PDA O processo de configuraccedilatildeo da atividade
turiacutestica era encarado como um ramo da economia que estava associado agraves
diretrizes e interesses especiacuteficos natildeo tendo portanto uma autonomia poliacutetica
Seguindo este conjunto de ideacuteias os objetivos gerais (finais) do primeiro PTA
estavam circunscritos a uma visatildeo de crescimento da atividade com a possibilidade
de geraccedilatildeo de renda e emprego atraveacutes de uma ocupaccedilatildeo territorial efetiva da
regiatildeo de uma maior participaccedilatildeo da atividade no que diz respeito agraves diacutevidas dos
Estados e municiacutepios e em uma valorizaccedilatildeo e defesa dos recursos ecoloacutegicos
(BRASIL 1977) Esses objetivos ainda eram detalhados e pretendiam alcanccedilar uma
renda regional aumentar os investimentos no setor hoteleiro e criar empregos
diretos Atraveacutes de uma visatildeo economicista o PTA visava reduzir as desigualdades
sociais da Amazocircnia e assim constituir-se um documento importante para tal fim
O II Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia tem como seu objetivo principal o crescimento do produto regional e a reduccedilatildeo de desigualdades inter-regionais O Plano de Turismo da Amazocircnia procura ser um dos instrumentos para o atendimento desse objetivo sendo que toda a estrateacutegia de desenvolvimento do turismo aqui apresentada visa tal fim (BRASIL 1977 p 37)
61
Tal caracteriacutestica natildeo iraacute se diferenciar a partir da constituiccedilatildeo do I Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia da Nova Repuacuteblica10 No que diz respeito ao setor
turiacutestico poucas foram as alteraccedilotildees importantes que se destacaram no documento
De uma forma geral o turismo ainda eacute visto como uma atividade que precisa de um
grande incentivo por parte dos governos estaduais e iniciativa privada Sua
dimensatildeo ainda gira em torno do crescimento econocircmico e vecirc o turismo como uma
possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda Seus objetivos estatildeo estruturados em
dois
a) Aumentar a participaccedilatildeo do turismo no desenvolvimento econocircmico e social da regiatildeo atraveacutes da geraccedilatildeo de renda e emprego com menores custos econocircmicos e sociais b) acrescer quantitativa e qualitativa a oferta turiacutestica a fim de motivar novos segmentos de mercado proporcionando aumento da renda e gasto meacutedio do turista na regiatildeo (BRASIL 1986 p 63)
Tais objetivos norteiam outras diretrizes com o intuito de fazer valer as
estrateacutegias pensadas no Plano Nessas diretrizes a estrutura de concepccedilatildeo sobre a
atividade turiacutestica ainda se manteacutem a mesma no que se refere aos planos
anteriores a de entender o turismo como uma atividade econocircmica e com a
perspectiva de crescimento Setores como investimentos na oferta turiacutestica
ampliaccedilatildeo da melhoria da infra-estrutura de comunicaccedilotildees e transportes incentivo agrave
hotelaria satildeo pontos comuns em relaccedilatildeo a outros documentos
O que haacute de novo poreacutem estaacute pautado na elaboraccedilatildeo na aacuterea de recursos
humanos e no apoio agrave realizaccedilatildeo de eventos 11 Outro ponto de destaque eacute a
formaccedilatildeo de oacutergatildeos especiacuteficos na aacuterea do planejamento turiacutestico Tal caracteriacutestica
eacute responsaacutevel por estruturar novos projetos e poliacuteticas regionais de incentivo ao
crescimento da atividade Percebe-se tambeacutem um aspecto importante no que tange
agrave interiorizaccedilatildeo do turismo O planejamento do turismo estaria concentrado na
formaccedilatildeo dos poacutelos de crescimento pois a difusatildeo de novos pontos (BRASIL 1986)
expressaria uma das atividades de desenvolvimento A partir dessa estruturaccedilatildeo o
10 Documento elaborado pelo Ministeacuterio do Interior e pela SUDAM Sua execuccedilatildeo e coordenaccedilatildeo ficou a cargo da SUDAM datada de dezembro de 1986 Na verdade este eacute o terceiro documento ou Plano de Desenvolvimento voltado para regiatildeo amazocircnica A partir da redemocratizaccedilatildeo tornou-se o I Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia 11 O que se constituiria em uma espeacutecie de turismo de eventos
62
PDA da Nova Repuacuteblica enquadra o turismo como uma poliacutetica setorial de cunho
econocircmico estabelecendo assim metas de meacutedio e longo prazo
A relaccedilatildeo entre a Amazocircnia e o turismo aprofunda-se ainda mais ao longo
dos anos subsequumlentes estabelecendo com isso novas diretrizes de uso racional
da regiatildeo Em 1992 eacute lanccedilado o II Plano de Turismo da Amazocircnia12 com o intuito de
mudar a forma pela qual o turismo eacute encarado na regiatildeo O grande diferencial
expresso nesse documento eacute a ecircnfase dada ao desenvolvimento sustentaacutevel que
de acordo com as ideacuteias contidas no documento seria a alternativa mais viaacutevel para
associar desenvolvimento regional com conservaccedilatildeo dos recursos naturais No que
tange a isso o PTA expotildee em suas diretrizes gerais
A existecircncia do produto turiacutestico especialmente o ecoloacutegico estaacute de certa forma condicionada agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais Componente fundamental na estrutura da produccedilatildeo no contexto da induacutestria turiacutestica os recursos naturais representam um dos pilares do poder de atratividade do produto turiacutestico regional Em funccedilatildeo disso eacute economicamente viaacutevel que a expansatildeo do turismo na Amazocircnia obedeccedila aos criteacuterios de sustentabilidade dos ecossistemas (BRASIL 1992 p7)
Assim sendo a composiccedilatildeo do trade turiacutestico regional estaacute em funccedilatildeo dos
paracircmetros do desenvolvimento sustentaacutevel O espaccedilo amazocircnico para o turismo a
partir disso muda sua funcionalidade e adquire uma nova concepccedilatildeo pautada sob o
roacutetulo da sustentabilidade Os objetivos criados aliam a ideacuteia de crescimento
econocircmico a de qualidade de vida para a populaccedilatildeo local reordenando por sua vez
as poliacuteticas regionais de desenvolvimento
Tendo como base uma poliacutetica de turismo voltada para a sustentabilidade da
regiatildeo o segmento do chamado turismo de natureza ou ecoturismo ganha forccedila e
se torna ainda mais a estrateacutegia adequada para que ocorra a expansatildeo da
atividade
12 Ligado agrave secretaria do Desenvolvimento Regional elaborado e executado pela SUDAM com o apoio de entidades como PNUD (Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento) BASA (Banco da Amazocircnia) e SUFRAMA (Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus)
63
Em 1998 o PROECOTUR13 tornou-se o documento que expressou as
vertentes ligadas agrave ideacuteia do turismo de natureza ou turismo sustentaacutevel Neste
documento o governo federal centrou esforccedilos para viabilizar a concretizaccedilatildeo do
PROECOTUR nos nove estados da regiatildeo amazocircnica Tendo em vista a utilizaccedilatildeo
racional dos recursos naturais presentes e sabendo de seu potencial paisagiacutestico o
programa estaacute configurado segundo os objetivos e programas especiacuteficos para cada
Estado da federaccedilatildeo14
Como objetivo geral o PROECOTUR defende a viabilidade do ecoturismo
como o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel ideal para a regiatildeo amazocircnica
(BRASIL 1998) Seus objetivos especiacuteficos estatildeo estruturados da seguinte forma
I- Proteger e desenvolver os atrativos turiacutesticos da regiatildeo por meio de
medidas como a criaccedilatildeo de parques e reservas com manejo especiacutefico
para o ecoturismo
II- Criar um ambiente de estabilidade para investimentos de ecoturismo
mediante definiccedilatildeo de poliacuteticas e normas e do fortalecimento dos
oacutergatildeos de gestatildeo ambiental e desenvolvimento turiacutestico estaduais
regionais e nacionais
III- Viabilizar operacionalmente empreendimentos de ecoturismo por meio
da realizaccedilatildeo de estudos de mercados da identificaccedilatildeo
desenvolvimento e adaptaccedilatildeo agrave regiatildeo de tecnologias para a geraccedilatildeo
de energia tratamento de afluentes etc e da sua disponibilizaccedilatildeo dos
resultados para investidores privados
IV- Viabilizar financeiramente empreendimentos de ecoturismo mediante a
ampliaccedilatildeo de linhas de creacutedito especiacuteficas para o segmento e
13 Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazocircnia Legal criado na gestatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia junto ao Ministeacuterio do Meio Ambiente dos Recursos Hiacutedricos e da Amazocircnia Legal A elaboraccedilatildeo deste programa diz respeito agrave fase de preacute-investimentos 14 Vale lembrar que os oacutergatildeos federais envolvidos na execuccedilatildeo do PROECOTUR aleacutem de estarem representados pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia ainda eacute constituiacutedo pelo Grupo Teacutecnico de Coordenaccedilatildeo do Ecoturismo pelo Nuacutecleo de Gestatildeo do PROECOTUR e atuando nos Estados pelos Grupos Teacutecnicos Operacionais (GTOs)
64
V- Melhorar ampliar ou implantar a infra-estrutura baacutesica necessaacuteria para
viabilizar o aumento do fluxo turiacutestico para a Amazocircnia Legal (BRASIL
1998 p 7)
Atraveacutes desse conjunto de objetivos o PROECOTUR de acordo com seus
oacutergatildeos interligados procura enfatizar o turismo como uma ferramenta capaz de
mudar o quadro social e econocircmico da regiatildeo Em seus desdobramentos o
programa chama a atenccedilatildeo para a necessidade de impor a regiatildeo amazocircnica como
um destino turiacutestico a ser melhor apresentado no trade nacional e internacional Para
isso utiliza estrateacutegias espaciais em cada estado Tais estrateacutegias estatildeo baseadas
na criaccedilatildeo e ou incremento dos poacutelos ecoturiacutesticos implantados Esses poacutelos jaacute
apresentam infra-estrutura (estradas portos aeroportos hoteacuteis hospitais entre
outros) necessaacuteria para iniciaccedilatildeo dos programas de intervenccedilatildeo do PROECOTUR
Neste caso a infra-estrutura de cada poacutelo serve como uma preacute-condiccedilatildeo para que
os objetivos propostos se tornem concretos
Outro ponto de destaque presente nos objetivos especiacuteficos do programa
consiste no envolvimento dos agentes participantes na viabilizaccedilatildeo dos
empreendimentos de ecoturismo De acordo com os objetivos especiacuteficos natildeo se
percebe claramente os agentes que podem ser beneficiados nas operaccedilotildees e accedilotildees
dos empreendimentos turiacutesticos poreacutem em linhas gerais pode-se perceber que a
ideacuteia do desenvolvimento sustentaacutevel a partir do programa estaacute sublinhada nas
diretrizes dos investimentos financeiros na regiatildeo No que diz respeito a essa ideacuteia
o PROECOTUR estaacute dividido em uma fase de preacute-investimentos na qual eacute feito um
diagnoacutestico das ofertas turiacutesticas a serem desenvolvidas e em uma fase de
investimentos na qual os programas de intervenccedilotildees econocircmico-espaciais satildeo
efetivamente executados garantidos sobretudo na criaccedilatildeo dos poacutelos de ecoturismo
da regiatildeo
Conforme essa estrutura o PROECOTUR apresenta-se como um documento
de cunho oficial criado pelo Estado na tentativa de viabilizar o desenvolvimento de
aacutereas com problemas econocircmicos e sociais colocando a Amazocircnia como prioritaacuteria
65
para o desenvolvimento sustentaacutevel O turismo mais uma vez aparece como uma
atividade capaz de solucionar dificuldades soacutecio-econocircmicas
Outro estudo sobre turismo no Brasil foi finalizado em 2002 o PNMT15 Este
programa tinha como intenccedilatildeo uma maior dinamizaccedilatildeo da atividade turiacutestica a partir
de diretrizes nacionais na qual o municiacutepio era a escala de atuaccedilatildeo da atividade
turiacutestica Neste enfoque a capacitaccedilatildeo de agentes puacuteblicos e privados era a
intenccedilatildeo do programa onde os mesmos eram responsaacuteveis por serem
multiplicadores locais dando importacircncia ao turismo no desenvolvimento soacutecio-
econocircmico (PNMT 2002) Neste caso a participaccedilatildeo das comunidades na gestatildeo
de seus proacuteprios recursos tornava-se um fator fundamental (PNMT 2002)
O objetivo geral do programa era fomentar o desenvolvimento turiacutesticos dos
municiacutepios com base na sustentabilidade econocircmica social ambiental cultural e
poliacutetica (PNMT 2002 p 80) Assim a ideacuteia principal do PNMT era de descentralizar
o planejamento do turismo e principalmente suas accedilotildees Os municiacutepios seriam
responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de infra-estrutura necessaacuteria para a operacionalidade da
atividade turiacutestica
No estado do Paraacute por exemplo diversos foram os municiacutepios que foram
escolhidos para integrarem o quadro da municipalizaccedilatildeo do turismo16 entre eles
(bem como para os outros municiacutepios brasileiros) havia uma divisatildeo dos municiacutepios
turiacutesticos (MT) e municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) Os municiacutepios turiacutesticos
satildeo aqueles consolidados onde o turismo eacute efetivo Jaacute os municiacutepios com potencial
turiacutestico satildeo aqueles que possuem recursos naturais e culturais expressivos
(PNMT 2002 p 30) ou seja atraveacutes de um maior fomento por parte dos governos
locais estes municiacutepios poderiam se consolidados no trade
Entre alguns municiacutepios turiacutesticos (MT) estatildeo Abaetetuba Bacarena Beleacutem
Braganccedila Marabaacute Salinoacutepolis Santareacutem Tucuruiacute Vigia Cametaacute Outros
municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) satildeo Castanhal Colares Curuccedilaacute Monte
Alegre Paragominas Parauapebas
15 Programa Nacional de Municipalizaccedilatildeo do Turismo 16 Eram os proacuteprios municiacutepios que solicitavam entrada no PNMT Havia a solicitaccedilatildeo formal aos oacutergatildeos estaduais delegados da EMBRATUR
66
Natildeo obstante a isso para a Amazocircnia ideacuteias como PNMT deveriam ser
difundidas a partir da forccedila simboacutelica que a floresta representa ou mais
propriamente do segmento ecoturismo onde a natureza surge como o principal
atrativo para o fomento de poliacuteticas puacuteblicas fazendo com que a exuberacircncia da
natureza seja o diferencial para atraccedilatildeo de turistas
Nesse sentido a relaccedilatildeo do turista com a ideacuteia de ecoturismo faz Coelho
(1999) afirmar que tal relaccedilatildeo funda-se no princiacutepio de uma viagem de aventura que
impulsione um sentido de retorno agrave natureza natildeo tatildeo devastada pelo homem nos
grandes centros urbanos Para a autora
Ao contraacuterio do personagem de Charles Chaplin no filme Luzes da Cidade o turista que preza a natureza sente-se fascinado pela luz do dia o verde da mata a escuridatildeo ou luar na selva pela vida ao ar livre e pela comida natural (COELHO 1999 p 56 - 57)
Contudo a relaccedilatildeo entre a teoria do ecoturismo e sua praacutetica se mostra em
sua grande maioria dissonante O que pode ser verificado no discurso de agentes
interessados em investir pesadamente no setor e nas populaccedilotildees tradicionais
atingidas A ideacuteia de que o ecoturismo pode trazer justiccedila social traz agrave tona
externalidades negativas (COELHO 1999) que por sua vez geram desigualdades
sociais O discurso praacutetico de crescimento da atividade turiacutestica neste caso muda
de foco poreacutem sua composiccedilatildeo ainda permanece a mesma Sendo uma atividade
tambeacutem econocircmica o ecoturismo produz acumulaccedilatildeo de capital e geraccedilatildeo de lucro
para os grandes agentes de mercado particularizando espaccedilos e segregando a
sociedade Segundo ainda Coelho (1999)
As discrepacircncias entre teoria e praacutetica satildeo no entanto possiacuteveis de existir e podem tornar perigosas as relaccedilotildees entre sociedades locais empresas e ecoturistas Estas defasagens entre praacutetica e teoria tornam os riscos e dilemas a serem discutidos e corrigidos pelos defensores do ecoturismo ainda mais preocupantes Tais riscos satildeo atribuiacutedos agrave estreita visatildeo de natureza edificada pelos ecologistas e imitadas por empresaacuterios e alguns profissionais oportunistas do ecoturismo (o que natildeo pode ser confundido com senso de oportunidade) Estes colaboradores dos primeiros
67
desprovidos de comprometimento com a realidade e os valores culturais ora tentam mostrar uma natureza distorcida pelos siacutembolos artificialmente valorizados ou mantidos ora apresentar uma realidade agrave medida das expectativas da clientela ocultando o que haacute de fundamental na natureza visitada (COELHO 1999 p 59)
A ideacuteia de que o ecoturismo na Amazocircnia atenua os impactos ambientais
torna-se portanto fraacutegil no que diz respeito principalmente agrave sociedade ou
populaccedilatildeo residente que natildeo faz parte dos processos de decisotildees sobre as
atividades planejadas para o turismo
Figueiredo (1999) por exemplo expotildee algumas ideacuteias que para ele satildeo
equivocadas sobre o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel aplicado agrave regiatildeo
amazocircnica Para o autor a partir da grande aceitaccedilatildeo das ideacuteias provindas de que o
ecoturismo torna-se um elemento fundamental para o melhor desenvolvimento
sustentaacutevel criam-se conjuntamente mitos e com isso ideacuteias deturpadas sobre
esse modelo Entre elas a da instalaccedilatildeo de objetos espaciais de baixo custo e sua
forma de exploraccedilatildeo Para o autor essa eacute uma proposta que precisa ser revista
Mesmo sob o roacutetulo de alternativo o ecoturismo carrega consigo a loacutegica de
mercado pautada sobretudo nos ganhos da atividade
O conjunto dessas ideacuteias todavia eacute o iniacutecio de uma mudanccedila importante
dentro do cenaacuterio amazocircnico especificamente do estado do Paraacute que atraveacutes de
documentos e estudos especiacuteficos para o turismo fazem do ecoturismo uma meta a
ser buscada dentro de accedilotildees voltadas para um mercado especiacutefico desse setor com
provaacuteveis repercussotildees soacutecio-culturais
32 O turismo no estado do Paraacute um breve balanccedilo
A atividade turiacutestica no Estado do Paraacute vem ao longo dos anos mudando seu
caraacuteter de forma consideraacutevel seja em relaccedilatildeo ao volume de turistas visitantes no
estado seja nas estrateacutegias de mercado para o alcance de novos nuacutemeros que
faccedilam crescer a atividade Mesmo antes do Plano de Desenvolvimento de Turismo
68
do Paraacute se consolidar como documento norteador das atividades turiacutesticas as
poliacuteticas de incentivo ao setor tecircm ganhado destaque nas esferas de governo a
partir de programas especiacuteficos ou entatildeo a partir de um redirecionamento das
estrateacutegias e da participaccedilatildeo do empresariado fazendo com que o produto turiacutestico
paraense tenha maior visibilidade em outros mercados
A partir de um crescimento do setor turiacutestico a busca pelo desenvolvimento
da atividade e de suas potencialidades econocircmicas tornou-se marca importante para
que o Estado pudesse criar estrateacutegias de desenvolvimento social Com isso
poliacuteticas puacuteblicas passaram a dar mais ecircnfase neste setor criando assim novas
oportunidades de decisatildeo dentro das poliacuteticas de desenvolvimento
Nesse sentido um ponto importante satildeo os dados feitos a partir de
estatiacutesticas referentes ao processo de turistificaccedilatildeo do espaccedilo paraense17 Eles
refletem o quantitativo referente ao nuacutemero de turistas visitantes tanto estrangeiros
como nacionais e o nuacutemero de hoteacuteis e suas respectivas ocupaccedilotildees de acordo com
as temporadas (alta estaccedilatildeo e baixa estaccedilatildeo) Por mais que os nuacutemeros revelem um
quadro limitado da realidade do turismo no Paraacute mostram o fluxo de pessoas e de
empresas interessadas em investir no setor e em especial no aspecto diferencial do
Paraacute que se assenta na ideacuteia do turismo de natureza
O Brasil ainda eacute considerado um destino turiacutestico pouco procurado no mundo
Paiacuteses como Franccedila EUA Espanha ainda satildeo classificados como os maiores
destinos turiacutesticos do planeta No que diz respeito agrave estrutura interna brasileira
outros estados figuram como os mais procurados como eacute o caso do Rio de Janeiro
seguido dos estados do Nordeste em especial do Estado do Cearaacute e Bahia (ABAV
2006)
No caso do Paraacute o turismo ainda natildeo se constitui como uma das atividades
mais rentaacuteveis o que lhe garante posiccedilotildees medianas no que diz respeito aos
estados do Brasil mais visitados Tal situaccedilatildeo despertou no governo do Estado uma
17 Os dados estatiacutesticos aqui apresentados referem-se especificamente aos levantamentos feitos a partir de 1995 ano que se iniciou o governo de Almir Gabriel e que se estendeu ateacute 2002 (reeleiccedilatildeo) O quadro poliacutetico do governo natildeo se alterou com a sucessatildeo feita pelo entatildeo governo Simatildeo Jatene Neste sentido as estrateacutegias de mercado ora pensadas pelo oacutergatildeo de turismo do Estado - PARATUR tambeacutem natildeo se alteraram neste periacuteodo o que faz com que todas as informaccedilotildees e anaacutelises possam ser entendidas a partir do periacuteodo especificado
69
necessidade de investir mais no setor a fim de motivar um maior nuacutemero de
visitantes estrangeiros e nacionais Nesse sentido o que se percebe eacute uma entrada
gradual de pessoas no Estado ao longo dos uacuteltimos dez anos Alguns dados
estatiacutesticos mostram a relaccedilatildeo entre os produtos ofertados e o nuacutemero de pessoas
visitantes Os indicadores de turismo do Paraacute revelam o fluxo de turistas no Estado
no periacuteodo de um ano Os nuacutemeros presentes mostram de forma organizada
iacutendices de atividades que estatildeo relacionadas a um maior ou menor nuacutemero de
turistas no Paraacute
De acordo com o relatoacuterio estatiacutestico do governo18 em 2004 por exemplo a
oferta hoteleira do Estado teve um acreacutescimo em relaccedilatildeo aos outros anos anteriores
Em 2003 era de 68 jaacute no ano seguinte essa taxa subiu para 97 (PARAacute 2004)
representando uma maior solidificaccedilatildeo do setor A presenccedila de um maior nuacutemero de
hoteacuteis representa por sua vez um aumento de disponibilidade de leitos para que
turistas possam ter uma maior acomodaccedilatildeo Poreacutem ainda persiste um maior
nuacutemero de hoteacuteis na capital pelo fato de haver uma rede de infra-estrutura mais
adequada e de maior facilidade para o traslado do turista
Tomando como base o fluxo de visitantes estrangeiros o Estado apresenta
uma oscilaccedilatildeo entre os seus destinos o que natildeo garante uma uniformidade entre os
visitantes de diversas nacionalidades como mostra a tabela 1 a partir de dados
fornecidos pela PARATUR do ano de 2004
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003- 2004
P A Iacute S E S
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 03
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 04
VARIACcedilAtildeO
ESTADOS UNIDOS
FRANCcedilA
3248
3227
2785
3811
-1425
1810
18 Elaborado e executado pela PARATUR
70
GUIANA FRANCESA
ALEMANHA
JAPAtildeO
PORTUGAL
ITAacuteLIA
INGLATERRA
SURINAME
ESPANHA
HOLANDA
ARGENTINA
CANADAacute
AUSTRIA
CHILE
BELGICA
BOLIacuteVIA
OUTROS
-
1720
1380
913
1274
701
531
743
1083
531
637
-
955
361
-
2527
49
1417
1124
880
1661
831
977
1173
977
586
1124
244
1319
147
244
3323
-
-1762
-1855
-361
3038
1854
8399
5787
-979
1036
7645
-
3812
-5928
-
3150
T O T A L 21232 22672 678
FONTE Adaptado de PARATUR (2004 p32)
Como se pode perceber na tabela acima natildeo existe uma uniformidade entre
o nuacutemero de visitantes Paiacuteses como os EUA mostram um decreacutescimo de -14 25
Jaacute outros paiacuteses desenvolvidos como a Franccedila mostram uma presenccedila maior no
intervalo considerado elevando o fluxo migratoacuterio para 1810 Apesar de em
nuacutemeros absolutos a Itaacutelia natildeo superar os outros paiacuteses supracitados o seu
mercado emissor em relaccedilatildeo ao Paraacute tem uma variaccedilatildeo positiva de 3038 Essas
variaccedilotildees ainda se comportam de forma reduzida se comparadas a outros centros
turiacutesticos do paiacutes e ainda satildeo incipientes se comparados a outros centros mundiais
71
Outra questatildeo importante que deve ser avaliada diz respeito agrave sazonalidade
que marca as atividades turiacutesticas no Paraacute Por mais que essa situaccedilatildeo venha
mudando ao longo dos anos o Estado ainda vive um turismo de datas festivas
como eacute o caso do mecircs de outubro com a festividade religiosa do Ciacuterio de Nazareacute
Festa essa que assume atualmente um caraacuteter muito mais turiacutestico do que
propriamente religioso
A sazonalidade torna-se um entrave para o crescimento da atividade turiacutestica
no Paraacute visto que essa condiccedilatildeo ainda se manifesta em outros poacutelos de turismo do
Estado que congregam tambeacutem outras manifestaccedilotildees culturais e naturais como
por exemplo a festa do Saireacute em Santareacutem (que ocorre no mecircs de setembro no poacutelo
Tapajoacutes) o periacuteodo do festival da pesca esportiva em Tucuruiacute (poacutelo Araguaia -
Tocantins) e ainda o turismo de veraneio em Salinoacutepolis (o fluxo maior de pessoas
se daacute no mecircs de julho - poacutelo Amazocircnia Atlacircntica) Dessa forma tomando como base
a condiccedilatildeo de sazonalidade no estado a tabela 2 abaixo revela em nuacutemeros a
quantidade de leitos dos hoteacuteis ocupados na condiccedilatildeo de pernoite nos anos de
2002 2003 e 2004
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados do estado do Paraacute - 2002 2003 e 2004
MEcircS
2002
2003
2004
JANEIRO
32655
36652
38047
FEVEREIRO
30423
35783
40088
MARCcedilO
39811
36854
45912
ABRIL
38421
38724
43956
MAIO
41016
40326
47772
JUNHO
34663
36274
51354
72
JULHO
41918
42600
46168
AGOSTO
44162
40927
57209
SETEMBRO
40878
43364
50354
OUTUBRO
41309
47715
61215
NOVEMBRO
40653
45739
56851
DEZEMBRO
34105
35751
46227
TOTAL
460014
480709
585153
FONTE PARATUR (2004 p 26)
Como se percebe apesar de existir um acreacutescimo no fluxo de pessoas ao
longo dos anos ainda persiste uma concentraccedilatildeo em um periacuteodo mais especiacutefico do
ano devido agraves peculiaridades que esses meses proporcionam ao turista interno e
externo A sazonalidade turiacutestica no Paraacute portanto torna-se um fator importante
para se entender a concentraccedilatildeo espacial de pessoas visitantes Em outros
momentos tais lugares natildeo vivenciam um ritmo de circulaccedilatildeo de pessoas
semelhante aos meses em que o turismo eacute predominante ocasionando ausecircncia em
massa das pessoas desses lugares afetando por sua vez a economia relacionada
ao turismo nas cidades
Um outro fator importante a ser percebido diz respeito agrave acessibilidade ou
seja a forma pela qual o turista chega ao Estado do Paraacute Neste caso os nuacutemeros
apesar de refletirem uma parcela da realidade mostram que o meio de transporte
mais utilizado eacute o aviatildeo (transporte aeacutereo) A distacircncia do Paraacute em relaccedilatildeo aos
centros emissores do paiacutes torna-se um indicativo para que o fluxo de passageiros
que chegam por via aeacuterea seja ainda maior comparado a outros meios de
transporte como ocircnibus ou carro Os dados da PARATUR (2004) revelam esse
comparativo
73
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0
A v iatilde o
A u to m oacute v e l
O n ib u s
N a v io
N atilde o E s p e c
T u r is ta s b r a s ile ir o s e o tr a n s p o r te u t i l iz a d o p a r a c h e g a r a o E s ta d o
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 2004
RESIDEcircNCIA
PERMANEN
AVIAtildeO
CAR
OcircNIBUS
NAVIO
NESP
TOTAL
BRASIL 107675
575
14565
78 6242 33 3815 20
54965
294 187261
EXTERIOR 15294 674
537 24 147 06 1124 49
5570 246 22672
TOTAL 122969
586
15102
72 6389 30 4939 24
60535
288
209933
FONTE PARATUR (2004)
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao
Estado do Paraacute
FONTE PARATUR (2004)
O transporte aeacutereo eacute caro o fluxo de pessoas que visitam o Paraacute natildeo eacute tatildeo
expressivo Por outro lado as estradas que datildeo acesso aos mais distantes lugares
do territoacuterio (pontos de turismo) encontram-se em estado de maacute conservaccedilatildeo
necessitando de reparos o que impossibilita um maior fluxo interno de turismo no
estado Sendo assim o aviatildeo ainda se torna o meio de locomoccedilatildeo mais procurado
poreacutem com valores de mercado que inviabilizam uma maior frequumlecircncia de turistas
74
No tocante agrave ocupaccedilatildeo de empregos os dados indicam um acreacutescimo dos
mesmos nas atividades relacionadas ao turismo Em 1999 a criaccedilatildeo de empregos
diretos correspondia a um universo de 14605 postos de trabalhos (PARAacute 2004) Jaacute
no ano seguinte 2000 este nuacutemero altera-se para 16340 Em escala exponencial
esse nuacutemero chega em 2002 num patamar de 17841 empregos diretos Como os
dados oficiais do governo mostram uma relaccedilatildeo em que a cada um emprego direto
formado existem trecircs indiretos (OMT apud PARAacute 2004) o total de empregos
gerados em 2002 concentra-se em 71364 postos de trabalhos (PARAacute 2004)
Percebe-se portanto que os dados estatiacutesticos natildeo revelam os tipos de trabalhos
gerados pela crescente demanda de turismo no Estado ou ainda sua qualidade
fazendo com que se gerem duacutevidas sobre a relaccedilatildeo turismo e geraccedilatildeo de emprego
Por outro lado essa crescente demanda do turismo no Estado estaacute alicerccedilada
em uma maior divulgaccedilatildeo do setor em outros mercados emissores fazendo com que
o produto paraense possa ser mais percebido em outros lugares do Brasil e do
mundo Nesse sentido o marketing torna-se uma ferramenta importante para se
entender a promoccedilatildeo desses lugares ou espaccedilos turistificados que chamam a
atenccedilatildeo do turista
Nielsen (2002) faz uma interessante anaacutelise a respeito das atividades
relacionadas ao marketing Para o autor as informaccedilotildees assumem dois caminhos
diferentes e complementares a informaccedilatildeo que depende de quem fornece e a
informaccedilatildeo que depende de quem recebe Estabelece-se assim uma rede de
informaccedilotildees que pode ser fluida se a informaccedilatildeo no seu transcurso for bem
direcionada ou natildeo fluida se for o contraacuterio Nesse caso em primeiro lugar a
informaccedilatildeo de quem gera normalmente eacute atribuiacuteda aos oacutergatildeos e agecircncias de
turismo que compotildeem esse sistema como as agecircncias de viagens operadoras e o
proacuteprio Estado quando assume este papel de divulgador das informaccedilotildees de seu
produto turiacutestico
As informaccedilotildees geradas pelo marketing satildeo cruciais pois envolvem motivos
legais de seguranccedila e motivos que possam gerar lucros Quando se tem uma
informaccedilatildeo por motivos comerciais eacute necessaacuterio saber o potencial do
comportamento do turista em relaccedilatildeo agrave busca desses dados (NIELSEN 2002)
sendo essa forma a que possibilita uma melhor interaccedilatildeo entre quem fornece a
75
informaccedilatildeo e quem a recebe Assim sendo para o autor os oacutergatildeos que tomam
conta desse serviccedilo devem estar munidos de potencial para que natildeo surjam grandes
problemas quanto agrave promoccedilatildeo de eventos entre outros serviccedilos ligados ao turismo
O autor ainda chama a atenccedilatildeo para a clareza com que essas informaccedilotildees
satildeo repassadas Para Nielsen (2002) para que isso ocorra com maior satisfaccedilatildeo eacute
preciso que haja objetividade no momento de informar um produto turiacutestico Para o
autor
[] Um pouco menos de apresentaccedilatildeo e mais de discussatildeo sobre vendas faz com que o cliente note o benefiacutecio percebido em continuar a ouvir o representante de vendas e assim natildeo ignorar a mensagem (NIELSEN 2002 p 81)
Diante disso as informaccedilotildees que concentram generalidades podem gerar
impactos negativos sobre os turistas causando problemas de relacionamento entre
o turista e os lugares Para o autor portanto o marketing deve estar fundamentado
numa comunicaccedilatildeo eficiente e proporcionar o melhor serviccedilo turiacutestico possiacutevel
garantindo assim uma base econocircmica soacutelida e uma tomada de decisotildees concisa
Muitos desses elementos apresentados por Nielsen (2002) apesar de
estarem relacionados aos aspectos comerciais e de serviccedilos do marketing revelam
elementos importantes para se entender a loacutegica de construccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos
lugares que tecircm potenciais turiacutesticos Tomando como base as divulgaccedilotildees feitas
pela PARATUR a fim de que possa promover o produto turiacutestico paraense as
informaccedilotildees geradas sempre procuram mostrar o lado bom para o turista a fim de
proporcionar um ambiente de bem-estar no qual o turista ao vir para o Estado do
Paraacute possa se sentir bem e aproveitar sua estada Por outro lado os aspectos
negativos como pobreza urbana ou desigualdades de um modo geral natildeo se
constituem elementos nas propagandas de Estado
No que diz respeito aos folhetos as informaccedilotildees geradas estatildeo pautadas na
criaccedilatildeo de cenaacuterios paradisiacuteacos onde o espaccedilo reduz-se agrave pequenas imagens
Aleacutem disso os conteuacutedos das informaccedilotildees vislumbram uma situaccedilatildeo de competiccedilatildeo
76
com outros lugares do Brasil que tecircm potencialidades turiacutesticas enfatizando suas
peculiaridades A companhia de turismo do Estado tem se empenhado em divulgar o
Paraacute dessa forma Em um folheto de propaganda destinado aos turistas franceses
por exemplo (uma das maiores demandas de mercados emissores para a regiatildeo) as
informaccedilotildees estatildeo associadas agrave importacircncia e dimensatildeo da floresta aliado a um
conforto que eacute encontrado na cidade grande no caso a capital Beleacutem
Paraacute a obra-prima da Amazocircnia No extremo Norte do Brasil em plena Amazocircnia o estado do Paraacute reserva ao visitante diferentes paisagens da floresta virgem e fechada agrave amplidatildeo das praias oceacircnicas Do clima quente uacutemido e ensolarado agraves chuvas refrescantes e agrave aacutegua abundante dos igarapeacutes lagos cachoeiras praias de mar e de rios afluentes do Amazonas e Tocantins Suas rotas satildeo diversificadas coloridas cheias de ricas e variadas manifestaccedilotildees culturais temperadas com uma culinaacuteria baseada na extraordinaacuteria diversidade de fauna e flora amazocircnicas O Paraacute oferece uma experiecircncia uacutenica conhecer a floresta tropical sem se deixar de lado o conforto da civilizaccedilatildeo (PARAacute p 3 sd)
Para que haja portanto um enriquecimento do cenaacuterio espacial criado pelas
propagandas de marketing a necessidade de impor uma condiccedilatildeo uacutenica (PARAacute
sd) faz com que se enalteccedilam fragmentos do territoacuterio com o propoacutesito de que se
possa lanccedilar ao mercado uma imagem positiva a respeito do produto turiacutestico
paraense
Para Coelho (1999) quando o turismo faz referecircncias agraves peculiaridades da
regiatildeo em especial do Estado do Paraacute proporciona um distanciamento entre as
belezas cecircnicas que satildeo encontradas nos pontos turiacutesticos e as sociedades locais
que estatildeo situadas nesses lugares Quando as comunidades ou sociedades locais
fazem parte da propaganda e do marketing do turismo estes sujeitos aparecem
como mitificados (COELHO 1999 p 69) Nesse sentido satildeo tratados apenas
como meros habitantes caracterizando a distacircncia desses indiviacuteduos de seu
entorno Para a autora a comunidade representa uma visatildeo fragmentada onde se
fala de uma parcela sem se importar com sua inserccedilatildeo num conjunto de sociedade
local e regional (COELHO 1999 p 69)
77
Em um outro tipo de informaccedilatildeo o relatoacuterio de atividades de turismo do
Estado tambeacutem eacute apresentado o crescimento da atividade e como as atividades
estatildeo proporcionando uma mudanccedila na poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo Segundo
a PARATUR (2004) em 2004 o nuacutemero de visitantes alcanccedilou a marca histoacuterica de
meio milhatildeo de turistas o que possibilitou a geraccedilatildeo de mais de cinco mil empregos
diretos e indiretos No que diz respeito agrave movimentaccedilatildeo financeira 100 milhotildees de
doacutelares circularam no Estado (PARAacute 2004) Esse resultado reflete segundo o
oacutergatildeo a firme poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo desenvolvida pelo Governo do
Estado atraveacutes de investimentos diretos e de uma agressiva poliacutetica de marketing
(PARAacute 2004 p 3) Percebe-se assim que a divulgaccedilatildeo de aspectos que
demonstrem grandeza ou crescimento constitui-se como uma estrateacutegia do Estado
ocultando com isso os possiacuteveis conflitos e interesses que envolvem os agentes
que fazem parte do trade turiacutestico Tal estrateacutegia eacute muito comum nas accedilotildees que
envolvem marketing e promoccedilatildeo de produtos
O marketing para o Estado do Paraacute pode ser caracterizado como uma
ferramenta de promoccedilatildeo do turismo em outros lugares apropriando-se de imagens
que retratam os principais siacutembolos da cultura e natureza paraenses ao mesmo
tempo em que esconde a dinacircmica soacutecio-espacial marcada por conflitos e
desigualdades Esse contexto torna-se portanto conveniente para que os produtos
turiacutesticos possam adentrar em uma escala de competitividade de novos mercados
garantidores de demanda turiacutestica
33 A importacircncia da atividade turiacutestica no Novo Paraacute
Em 1995 a partir da posse do governador Almir Gabriel tem-se o iniacutecio do
programa de governo Novo Paraacute que implanta uma nova forma de gestatildeo
governamental baseada nas atividades estrateacutegicas de governo ou chamado de
planejamento estrateacutegico Nesse tipo de planejamento a esfera estatal passa por
modificaccedilotildees no que se refere agrave gestatildeo Essa situaccedilatildeo eacute principalmente perceptiacutevel
quando a administraccedilatildeo de um governo eacute voltada para uma inserccedilatildeo no mercado
como uma espeacutecie de funccedilatildeo primordial e mantenedora de uma boa administraccedilatildeo
78
O programa Novo Paraacute pode ser caracterizado pelo tripeacute agroinduacutestria
mineraccedilatildeo e turismo (NOVO PARAacute 2002) sendo estes vetores da transformaccedilatildeo
econocircmica e social A dimensatildeo do programa reflete-se nas reestruturaccedilotildees
espaciais que o governo implementa principalmente no que se refere agrave infra-
estrutura Tal perspectiva eacute um dos traccedilos desse modelo de gestatildeo governamental
que impotildee ao Estado uma postura do tipo empresariamento
A concepccedilatildeo desse modelo implica portanto a estruturaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento cuja unidade se construiraacute a partir da diversidade das partes que requer accedilotildees diferenciadas em cada espaccedilo considerado Isso impotildee sem duacutevida poliacuteticas puacuteblicas cada vez mais voltadas para o fortalecimento de espaccedilos sub-regionais ou seja das municipalidades e dos consoacutercios municipais reconhecendo que eacute na sua cidade na sua vila que as pessoas se defrontam com seus problemas (PARAacute 2002 p 2)
Os caminhos que supostamente levam ao desenvolvimento do Estado usam
um novo gerenciamento (ARANTES 2002) para dar respostas competitivas aos
desafios que a globalizaccedilatildeo impotildee aos governos tanto numa escala micro como
numa escala macro espacial Nesse sentido a ideacuteia parte de um planejamento
estrateacutegico que ratifique a competiccedilatildeo entre os lugares desencadeando em
investimentos de capital tecnologia atraccedilatildeo de novas induacutestrias entre outros
estipulando assim uma nova realidade para o mercado
No que se refere ao turismo o programa Novo Paraacute apresenta formulaccedilotildees
consideraacuteveis no que diz respeito aos seus objetivos e diretrizes como
fortalecimento de sua instituiccedilatildeo representativa a PARATUR Sendo assim a
atividade turiacutestica no Paraacute passa a ser mais divulgada em outros centros emissores
apoiada sobretudo nas accedilotildees de marketing que a instituiccedilatildeo desenvolve
Entre outras accedilotildees importantes que se destacam no Projeto estaacute o
fortalecimento do turismo nos municiacutepios do interior do Estado atraveacutes do
planejamento e coordenaccedilatildeo por parte do governo Dessa forma a atividade do
turismo comeccedila a se descentralizar ocasionado em gestatildeo municipalizada Nesse
sentido os prefeitos das cidades do interior do estado passam a incorporar o turismo
como um dos vetores de desenvolvimento de suas cidades Para isso a maacutequina
79
administrativa faz um rearranjo institucional para se adequar agrave loacutegica do turismo
tornando-o um empreendimento firme e competitivo
A questatildeo do fortalecimento institucional do turismo no interior do territoacuterio
paraense eacute uma das principais estrateacutegias espaciais desse modelo de gestatildeo o qual
eacute materializado no Plano de Desenvolvimento do Turismo (PDT-PA) atraveacutes da
criaccedilatildeo dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo As cidades que reuacutenem as
melhores infra-estruturas urbanas satildeo consideradas cidades-sedes desses poacutelos
Atraveacutes desse sistema pretende-se em termos gerais fazer com que as cidades
mais proacuteximas dos poacutelos possam adquirir o crescimento da atividade por meio de
uma espeacutecie de irradiaccedilatildeo As administraccedilotildees locais a partir dessa estrutura devem
realizar atividades que fomentem o turismo ao mesmo tempo em que devem
estimular a entrada de capitais privados interessados em investir no lugar
Uma outra dimensatildeo presente nas poliacuteticas de turismo visiacuteveis no projeto estaacute
assentada na garantia da expansatildeo do ecoturismo Este por sinal torna-se um item
importante no chamado turismo alternativo Nesse caso as accedilotildees previstas no
PROECOTUR satildeo assimiladas nesta fase do Novo Paraacute principalmente no que se
refere ao uso da Floresta Amazocircnica A ideacuteia de natureza vincula-se ao sustentaacutevel
da regiatildeo ou ainda de seu uso com baixa degradaccedilatildeo ambiental Este eacute um dos
pontos que o programa defende para o turismo no estado Coelho (1999) chama a
atenccedilatildeo para a ideacuteia de que o ecoturismo ao mesmo tempo em que promove essa
espeacutecie de retorno agrave natureza pode natildeo garantir a viabilidade econocircmica para os
agentes sociais ou comunidades tradicionais envolvidos nesse processo A autora
ainda acrescenta que para natildeo haver essa frustraccedilatildeo para as sociedades
tradicionais eacute necessaacuterio que se tenha uma
() visatildeo integrada de natureza e sociedade da adoccedilatildeo de uma concepccedilatildeo de gestatildeo democraacutetica (por definiccedilatildeo) compartilhada consciente e responsaacutevel da atividade envolvendo sempre diferentes atores sociais Depende tambeacutem do entendimento por parte dos diferentes atores sociais envolvidos de que natildeo lhes interessa qualquer ecoturismo mas um ecoturismo modelo (diferente dos modelos convencionais voltados para o turismo tradicional de massa ou para o turismo puramente comercial) onde se busca permanentemente a conciliaccedilatildeo entre teoria e praacutetica (COELHO 1999 p 70)
80
Outro tipo de vetor importante pauta-se na ideacuteia do tratamento diferencial e o
apoio financeiro para a iniciativa privada interessada em investir no setor Com esse
tipo de apoio o Governo do Estado promove uma maior abertura ao setor privado no
que tange aos investimentos do turismo Nesse sentido o nuacutemero de empresas eacute
ainda maior devido aos incentivos fiscais gerados pelo governo possibilitando
tambeacutem uma nova relaccedilatildeo setor puacuteblico-privado
Aliada a esta perspectiva outra caracteriacutestica complementar eacute a
intensificaccedilatildeo de produtos turiacutesticos paraenses junto aos mercados nacional e
internacional Para isto a realizaccedilatildeo de roteiros turiacutesticos (NOVO PARAacute 2002)
torna-se ferramenta fundamental para a consolidaccedilatildeo desse vetor
Atraveacutes da realizaccedilatildeo e implantaccedilatildeo dos roteiros turiacutesticos o Projeto Novo
Paraacute intensifica ainda mais os eventos na aacuterea do turismo alternativo
principalmente aqueles ligados ao atrativo da floresta Com os roteiros os espaccedilos
de turismos no estado tornam-se ainda mais especiacuteficos exercendo dessa forma
um poder de influecircncia nos turistas ao visitarem os lugares escolhidos
antecipadamente pelas operadoras e agecircncias do trade
Para Fonseca (2005) por exemplo esses estiacutemulos que proveacutem das novas
estrateacutegias de planejamento na verdade satildeo condicionantes de novas
competitividades (FONSECA 2005) O setor turiacutestico natildeo foge agrave regra dos mercados
econocircmicos e por isso necessita fazer com que haja uma maior circulaccedilatildeo de capital
no espaccedilo O ambiente da competitividade por sua vez eacute influenciado diretamente
pelo poder puacuteblico atraveacutes da criaccedilatildeo de externalidades positivas para que possa
promover maior competitividade ao produto turiacutestico E como exemplo disso no
Programa Novo Paraacute essa realidade se faz presente A possibilidade de geraccedilatildeo
de capital extra-local (FONSECA 2005) eacute um estiacutemulo para que haja uma
competiccedilatildeo com os agentes econocircmicos locais gerando dessa forma conflitos por
mercados Por mais que um dos vetores do Programa seja o de estimular o turismo
comunitaacuterio (NOVO PARAacute 2002) a competiccedilatildeo com a iniciativa privada estrangeira
torna-se desleal
Outro ponto forte dentro dessa poliacutetica eacute o da criaccedilatildeo de empregos no setor
de turismo Para Fonseca (2005) esse setor de acordo com as poliacuteticas de turismo
81
passa por constante mudanccedila estrutural A reorganizaccedilatildeo do processo de trabalho
atraveacutes do sistema just in time (TAVARES apud FONSECA 2005) eacute uma das bases
de transformaccedilatildeo do setor de trabalho turiacutestico Neste processo a otimizaccedilatildeo do
trabalho coloca de um lado uma maior especializaccedilatildeo do trabalho poreacutem de outro
estimula a sua precarizaccedilatildeo A autora indica seis consequumlecircncias desse processo
-Grande nuacutemero de trabalhadores temporaacuterios -Elevado percentual de matildeo-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual nos cargos superiores -Elevado nuacutemero de trabalhadores clandestinos (nos paiacuteses desenvolvidos) -Baixa remuneraccedilatildeo se comparados a outros segmentos econocircmicos -Elevado nuacutemero de horas de trabalho -Baixo grau de sindicalizaccedilatildeo (FONSECA 2005 p 148)
Dentro dessas caracteriacutesticas apontadas por Fonseca (2005) Harvey (2005)
afirma que esses processos de movimentaccedilatildeo do capital pelo espaccedilo podem ser
beneacuteficos aos capitalistas como por exemplo a ideacuteia que Fonseca (2005) cita sobre
o elevado nuacutemero de horas de trabalho Poreacutem ainda de acordo com Harvey (2005)
no que se refere agrave qualidade de trabalho tal caracteriacutestica eacute socialmente negativa
Mesmo assim Harvey ressalta que essa condiccedilatildeo eacute importante para se manter uma
produccedilatildeo da organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2005 2005 p 145) Neste caso
questotildees referentes ao emprego por exemplo de acordo com Fonseca (2005) natildeo
fogem agrave regra quando o assunto eacute o aumento da produtividade por parte do capital
Em relaccedilatildeo ao Estado do Paraacute e ainda no que se refere agrave questatildeo de
geraccedilatildeo de emprego no estado a partir da atividade do turismo a ideacuteia do emprego
torna-se algo problemaacutetico principalmente porque o Paraacute ainda estaacute em processo
de mudanccedilas lentas quando o assunto eacute turismo Com isso essa situaccedilatildeo provoca
por sua vez geraccedilotildees de empregos do tipo sazonal ou seja situaccedilotildees em que a
matildeo-de-obra condizente agrave atividade turiacutestica no Paraacute eacute verificada ou se manifesta
de periacuteodos em periacuteodos fazendo com que propagandas sobre a geraccedilatildeo de
emprego e renda veiculados pelo Estado mereccedilam um cuidado maior ao serem
analisadas pois de um lado o planejamento se volta para a pretensatildeo de criar
empregos no setor do turismo por outro a condiccedilatildeo social se comporta de uma
forma instaacutevel quanto aos empregos e condiccedilotildees de trabalho
82
4 O PDT-PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE
DESENVOLVIMENTO
83
41 Diretrizes e estrutura do PDT-PA
A construccedilatildeo de um plano de turismo sempre estaacute cercada de motivos e
interesses os quais se relacionam a uma intervenccedilatildeo espacial Natildeo obstante
pensar em uma forma de plano eacute pensar diretamente nessa intervenccedilatildeo mediada
por interesses de agentes que a produzem Nesse sentido o resultado de sua
construccedilatildeo eacute necessariamente o reflexo de decisotildees e concepccedilotildees arroladas no
momento de sua construccedilatildeo Com isso um plano de turismo natildeo se apresenta de
forma neutra assim como suas accedilotildees e programas decorrentes de sua elaboraccedilatildeo
o que nos leva a entender que qualquer estrateacutegia de desenvolvimento estaacute
subjacente a valores poliacuteticos (SOUZA 2000) onde se inclui tambeacutem interesses de
agentes envolvidos daiacute a pertinecircncia de uma natildeo neutralidade nos planos de
desenvolvimento de turismo
Os modelos de planos de turismos natildeo se mantiveram os mesmos ao longo
dos anos sempre precisaram de transformaccedilotildees e adaptaccedilotildees para que pudessem
atender agraves novas demandas de mercado A tocircnica do discurso mantida foi a de que
a partir da construccedilatildeo de um plano de turismo o desenvolvimento seria mais faacutecil E
neste sentido o governo no transcorrer dos tempos foi e ainda eacute o maior
incentivador dessa praacutetica garantindo-lhe sua regulamentaccedilatildeo e ateacute mesmo a
construccedilatildeo de uma infra-estrutura capaz de atender agraves novas exigecircncias do
mercado
Neste caso o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Paraacute natildeo
foge agrave regra quando o assunto eacute a transformaccedilatildeo do espaccedilo paraense a partir das
praacuteticas turiacutesticas Aleacutem de garantir um maior fluxo da economia a partir do turismo
ele legitima a presenccedila de agentes interessados em investir racionalmente na
tomada de decisotildees que interessem ao aumento dessa atividade no espaccedilo
paraense Eacute de fato no PDT-PA que estaacute contida toda a argumentaccedilatildeo do Governo
em prol da atividade facilitando assim sua promoccedilatildeo
Estruturalmente o PDT-PA estaacute dividido em trecircs grandes seccedilotildees que
correspondem aos momentos distintos de sua elaboraccedilatildeo
84
A primeira grande seccedilatildeo diz respeito ao diagnoacutestico feito pela empresa de
consultoria contratada para a elaboraccedilatildeo do plano19
Na introduccedilatildeo do plano haacute uma justificativa referente agrave ideacuteia do
desenvolvimento Nesta parte o interesse do Governo do Estado eacute de fazer do
documento um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentaacutevel dos
recursos disponiacuteveis na natureza paraense A cultura aqui eacute apresentada sob a
forma de recurso e adquire um valor importante no que se refere ao turismo
Segundo as proacuteprias palavras do documento
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Ainda no tocante a esta seccedilatildeo as justificativas feitas em relaccedilatildeo a assuntos
como crescimento e sustentabilidade natildeo podem ser vistas como atividades
isoladas Do contraacuterio permite-se uma maior participaccedilatildeo do Estado no que se
refere ao fomento de outros fatores cruciais para o desenvolvimento da atividade
como infra-estrutura e planejamento integrado colocando o turismo como uma
atividade econocircmica racionalmente conduzida por um processo de planejamento
econocircmico espacial
Para que o plano de desenvolvimento do turismo pudesse ser estruturado
como tal foi necessaacuterio haver uma vinculaccedilatildeo com outro projeto antecedente
intitulado Projeto Beija-Flor 20
Ainda na introduccedilatildeo do documento os criteacuterios de construccedilatildeo do plano
aparecem como elementos que identificam sua forma de elaboraccedilatildeo como
19 A empresa referente chama-se THR Assessoria em Turismo Hotelaria e Recreaccedilatildeo O Plano teve seu momento de elaboraccedilatildeo final em outubro de 2001 20 Este Projeto foi desenvolvido no periacuteodo do segundo governo de Almir Gabriel no periacuteodo de 1999 a 2002
85
compilaccedilatildeo e anaacutelises de documentos existentes que retratam o turismo no Paraacute
folders que divulguem a imagem do Estado em outros lugares
Aleacutem disso o trabalho de campo realizado pela empresa de consultoria
estava estruturado em pesquisas e observaccedilotildees feitas em trecircs momentos distintos
No primeiro eram feitas entrevistas com turistas que chegavam a Beleacutem
atraveacutes de seus desembarques no aeroporto internacional da capital A respeito
disso natildeo eacute mencionado no documento quais tipos ou padrotildees de turistas que a
pesquisa da empresa solicita ou de onde eles vinham Outro detalhe eacute que outros
lugares de chegada a Beleacutem natildeo satildeo mencionados no plano como eacute o caso do
Terminal Rodoviaacuterio de Beleacutem Hildegardo da Silva Nunes e dos portos fluviais
situados ao longo da capital Para a empresa responsaacutevel a finalidade da pesquisa
era a de identificar como atrair fluxos turiacutesticos maiores para o Estado (PARAacute
2001 p 6) tendo como base o fluxo de pessoas que desembarcassem pelo
aeroporto de Beleacutem
Ainda dentro da pesquisa realizada alguns elementos se destacam como a)
o motivo de viagem natildeo fosse de negoacutecios b) houvesse pelo menos um pernoite no
estado c) estivesse dentro da composiccedilatildeo previamente estruturada da amostra
(PARAacute 2001 p 6)
Em um segundo momento da pesquisa sua realizaccedilatildeo estava pautada nos
maiores centros operadores e emissivos de turismo do Brasil ou seja Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais A mesma foi baseada em entrevistas pessoais com
os proprietaacuterios eou diretores das operadoras buscou-se identificar as principais
questotildees relacionadas com a promoccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos
paraenses (PARAacute 2001 p 7) Com isso a intenccedilatildeo principal da empresa
contratada para elaborar o plano era a de identificar o que falta para o Paraacute ser um
bom destino turiacutestico ou no que se refere ao ambiente de mercado o que falta para
o estado ser um forte concorrente no trade turiacutestico nacional Nesta ocasiatildeo o
principal criteacuterio de escolha esteve ligado agraves empresas que jaacute trabalhavam com o
produto turiacutestico paraense e com isso perceber quais dificuldades foram apontadas
por elas e quais soluccedilotildees poderiam ser apresentadas no que tange ao aumento de
volume de turistas para o Estado
86
Em um terceiro momento a escala internacional foi levada em consideraccedilatildeo
no que diz respeito agraves pesquisas de mercado Neste ponto a empresa responsaacutevel
explica em linhas gerais que o mercado internacional de turismo no Paraacute eacute
fragilizado
Partindo do pressuposto de que o turismo internacional praticamente inexiste no Paraacute a pesquisa procurou detalhar o mercado potencial existente nos principais paiacuteses do Mercosul da Europa e nos EUA A pesquisa identificou o perfil do consumidor os produtos mais demandados a forma de comercializaccedilatildeo etc (PARAacute 2001 p 7)
Essas anaacutelises portanto estatildeo desenvolvidas no transcorrer da elaboraccedilatildeo
do plano de turismo o que eacute demonstrado quando eacute feita a apreciaccedilatildeo sobre a
situaccedilatildeo do mercado externo de turismo paraense Tal estrateacutegia de mercado estaacute
pautada numa abordagem do tipo transescalar como lembra Vainer (2002) na qual
os mercados regionais locais e internacionais satildeo privilegiados
Para a empresa responsaacutevel a importacircncia da pesquisa se resumia mais a
um caraacuteter propositivo do que investigativo (PARAacute 2001) procurando saber quais
as deficiecircncias do estado no que concerne o avanccedilo do turismo Neste sentido a
intenccedilatildeo da empresa juntamente com o governo do Paraacute era de perceber quais os
problemas para propor soluccedilotildees estrateacutegias que mudassem o quadro de uma baixa
inserccedilatildeo do mercado turiacutestico paraense nas escalas nacional e internacional Neste
caso A pesquisa foi mais propositiva do que investigativa Ou seja procurou
identificar o que o Paraacute necessita fazer para concorrer nestes poderosos mercados
emissores de turistas (PARAacute 2001 p 7)
No tocante agrave elaboraccedilatildeo definitiva do plano a empresa responsaacutevel procurou
divulgar o plano entre os agentes promotores do turismo no Paraacute Neste caso o
documento especifica que o plano ainda foi discutido entre profissionais do ramo
bem como o proacuteprio gabinete do governador Em outras palavras no PDT-PA a
elaboraccedilatildeo completa ficou por conta da empresa de assessoria em turismo
THR
os agentes de Estado assim como planejadores teacutecnicos e empresaacuterios Neste
87
caso outros representantes da sociedade civil ou lideranccedilas populares natildeo satildeo
citados no documento Segundo o documento
Estas estrateacutegias programas e grupo de accedilotildees foram apresentados em reuniotildees nos vaacuterios poacutelos com as lideranccedilas puacuteblicas e privadas e as mesmas passaram por um processo de aperfeiccediloamento em funccedilatildeo dos resultados obtidos nestas discussotildees Depois de incorporadas as sugestotildees advindas das reuniotildees nos poacutelos o trabalho foi rediscutido no acircmbito da Paratur da Secretaria de Produccedilatildeo e do proacuteprio Gabinete do Governador do Estado Apoacutes o Plano ter sido submetido a consenso nestas esferas o mesmo foi apresentado em um seminaacuterio para cerca de 400 empresaacuterios teacutecnicos e autoridades (PARAacute 2001 p 8)
A ideacuteia de planejamento e elaboraccedilatildeo de um documento como o PDT-PA eacute
contraacuteria agrave ideacuteia que Souza (2004) defende sobre os instrumentos de planejamento
por mais relevantes e criativos que sejam [os instrumentos de planejamento e
gestatildeo] soacute adquirem verdadeira importacircncia ao terem sua operacionalizaccedilatildeo
(regulamentaccedilatildeo) e sua implementaccedilatildeo influenciadas e controladas pelos cidadatildeos
(SOUZA 2004 p 321) Neste caso deve-se especificar qual ideacuteia de cidadatildeo que
se almeja nesse processo ou seja aquele que natildeo se reduz aos atores
hegemocircnicos de um setor econocircmico rentaacutevel como eacute o turismo Pelo contraacuterio esta
perspectiva assume um caraacuteter ainda mais amplo de participaccedilatildeo popular de todos
aqueles envolvidos neste processo de intervenccedilatildeo espacial
O plano ao privilegiar certos grupos da sociedade paraense circunscreve o
poder de decisatildeo sobre o desenvolvimento do turismo para poucos Lideranccedilas
populares ou agentes do circuito inferior da economia (SANTOS 2002) natildeo tecircm voz
nem tampouco vez no processo de construccedilatildeo de um documento como o PDT-PA
As decisotildees sobre a atividade turiacutestica no Paraacute portanto satildeo desiguais e
excludentes
A segunda seccedilatildeo intitulada Conteuacutedo do Plano apresenta um amplo
diagnoacutestico da situaccedilatildeo do turismo paraense Nesta parte do plano existem
caracteriacutesticas que satildeo associadas agrave atividade turiacutestica no estado como recursos
naturais infra-estrutura demandas e organizaccedilatildeo do oacutergatildeo responsaacutevel pela
setorizaccedilatildeo do turismo no Paraacute a PARATUR
88
Em um primeiro momento no que diz respeito agrave ideacuteia de recursos turiacutesticos
o plano oferece uma descriccedilatildeo dos elementos naturais presentes no estado como
recursos potencializaacuteveis para uma exploraccedilatildeo racionalizada por parte de agentes
que operam no setor de investimentos do turismo O documento chama atenccedilatildeo
para as ideacuteias de recursos turiacutesticos e acessibilidade Neste caso em especial o
plano toma a linguagem dos recursos naturais do estado pela forma de acesso a
eles em outros termos os lugares que apresentam uma maior facilidade de fluxos
dos turistas apresentam por conseguinte uma importacircncia a mais quanto agrave
exploraccedilatildeo Como exemplo
Ao norte do Estado (margem esquerda do Rio Amazonas na Guiana Paraense) o relevo se mostra um pouco mais acidentado o suficiente para criar rios com diversas cachoeiras e corredeiras o que se constitui em grande atrativo para turismo de aventura No extremo-norte a topografia apresenta maiores elevaccedilotildees Poreacutem as dificuldades de acesso e a presenccedila de grandes extensotildees de reservas indiacutegenas impedem que estes recursos se transformem em produtos turiacutesticos a curto prazo (PARAacute 2001 p 11 grifo nosso)
Assim sendo o interesse por espaccedilos que possibilitem uma maior
acessibilidade e que jaacute apresentem certa notoriedade torna-se um fator importante
para que haja uma facilitaccedilatildeo da entrada de investimentos turiacutesticos Neste caso os
espaccedilos selecionados e que tecircm maiores preferecircncias por investimentos externos
tecircm tendecircncia a seres dinacircmicos do ponto de vista da acumulaccedilatildeo do capital
O consumo dos lugares ou ainda de seus atrativos satildeo diferenciados de outros
espaccedilos dentro do territoacuterio paraense Exemplos como fauna flora gastronomia
cobertura vegetal patrimocircnio cultural aparecem no Plano como elementos dados
prontos a serem dinamizados e em uma outra perspectiva comercializados Sobre
isso o proacuteprio PDT-PA mostra
Contudo dispor de bons recursos natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para se constituir um destino competitivo Os recursos e atrativos podem ser usados e desfrutados Mas para isto eacute necessaacuterio que sejam acessiacuteveis que estejam minimamente equipados acondicionados e sinalizados que enfim permitam a praacutetica de atividades ordenadas e organizadas etc (PARAacute 2001 p 12)
89
Tal situaccedilatildeo tambeacutem eacute constatada pelo plano na seccedilatildeo Infra-estrutura e
equipamentos baacutesicos onde se torna presente a ideacuteia de que no estado do Paraacute a
infra-estrutura estaacute aqueacutem de dinacircmica intensa exigida pelo turismo de massa
A partir de um diagnoacutestico amplo averiguado nas principais cidades que apresentam
os recursos turiacutesticos o plano expotildee de forma clara as possibilidades de acessos
por meios de transporte como por exemplo por via terrestre fluvial e aeacuterea
A partir disso o plano exibe uma relaccedilatildeo interessante entre os meios de
transporte e as peculiaridades naturais do estado Para que haja uma maior
facilidade de acesso e fluxo turiacutestico intenso o plano mostra um tipo de comentaacuterio
contraacuterio a uma das maiores especificidades naturais do estado e da regiatildeo
amazocircnica os rios Segundo as proacuteprias palavras do PDT-PA
Os transportes se constituem em um problema dadas as dimensotildees do Estado O Paraacute conta com 4215km de rodovias asfaltadas o que para seu tamanho eacute uma extensatildeo ainda muito pequena Aleacutem disto a grande pluviosidade da regiatildeo torna a manutenccedilatildeo desta rede muito dispendiosa e vaacuterias rodovias tecircm sua trafegabilidade afetada nos periacuteodos de chuvas mais intensas (PARAacute 2001 p 16)
Nesse sentido ainda
Por esta razatildeo o transporte fluvial eacute o mais utilizado na regiatildeo amazocircnica Apesar da rede hidrograacutefica paraense ser das maiores do mundo a sinuosidade dos rios e obstaacuteculos naturais tornam as viagens fluviais demoradas o que dificulta certos segmentos de demanda que dispotildeem de pouco tempo para viagens (PARAacute 2001 p 16)
Levando em consideraccedilatildeo essa perspectiva o transporte mais adequado para
que haja um maior fluxo da atividade turiacutestica eacute o transporte aeacutereo que por sinal
dentro das perspectivas globais de transporte para o turismo de uma forma geral eacute
o tipo de transporte que mais se adapta agrave rapidez que o turismo precisa para
estabelecer os trajetos de viagens
Conforme o plano a densidade de fluxos de pessoas que visitam o Paraacute eacute
baixa caracterizando dessa forma uma natildeo equiparaccedilatildeo com outros poacutelos
90
turiacutesticos nacionais jaacute desenvolvidos Neste aspecto o plano revela a necessidade
de se ampliarem as ofertas de vocircos para a regiatildeo Como a intenccedilatildeo do plano nesta
seccedilatildeo eacute de diagnosticar os problemas a ecircnfase dada agrave questatildeo da infra-estrutura
de transportes eacute situada nos poacutelos de turismo do estado de acordo com a maior
acessibilidade que eles podem oferecer
O documento afirma a importacircncia da infra-estrutura como um dos
componentes fundamentais para que os sistemas turiacutesticos (BOULLOacuteN 2002)
possam funcionar adequadamente Em consonacircncia com o Estado a iniciativa
privada promove alteraccedilotildees no espaccedilo para que o processo de implantaccedilatildeo da infra-
estrutura possa se adequar a uma demanda turiacutestica Neste caso haacute uma tentativa
por parte do documento em imprimir um ritmo moderno da economia (BOULLOgraveN
2002) no territoacuterio paraense fazendo com que haja uma rearticulaccedilatildeo entre as
estruturas produtivas De outro modo a construccedilatildeo eou reforma das estradas bem
como de portos e principalmente aeroportos satildeo condiccedilotildees importantes para a maior
dinacircmica espacial do turismo adaptando progressivamente o estado do Paraacute a uma
feiccedilatildeo global da economia voltada para a atividade
No estado do Paraacute a situaccedilatildeo da infra-estrutura ainda eacute deficiente Neste
caso antes mesmo de atender agraves necessidades de um turismo latente as infra-
estruturas de um modo geral natildeo conseguem nem mesmo atender as demandas
gerais da populaccedilatildeo paraense em consequumlecircncia a atividade turiacutestica ainda
encontra dificuldades de se fixar no espaccedilo Voltando essa ideacuteia para as cidades
paraenses que satildeo apresentadas o plano denuncia a ineficiecircncia ou maacute
conservaccedilatildeo dos diversos segmentos de infra-estrutura no estado fazendo com que
ainda exista uma concentraccedilatildeo das atividades turiacutesticas na capital (Beleacutem) Assim
os demais poacutelos em relaccedilatildeo agrave capital tornam-se defasados segundo este criteacuterio
Essa situaccedilatildeo reflete-se tambeacutem na seccedilatildeo serviccedilos turiacutesticos do estado
Tais serviccedilos satildeo identificados principalmente por um tipo de estrutura que atende
diretamente ao mercado turiacutestico como por exemplo os hoteacuteis redes de agecircncias
de viagens e operadoras Eacute interessante salientar que a relaccedilatildeo entre a infra-
estrutura e os serviccedilos eacute direta principalmente levando-se em consideraccedilatildeo os
objetos espaciais que condicionam o estabelecimento dos serviccedilos de turismo como
estradas saneamento baacutesico rede de esgoto e seguranccedila Para que os serviccedilos
91
turiacutesticos possam ser bem efetivados no espaccedilo eacute preciso que haja um equiliacutebrio
no que se refere ao bom andamento das infra-estruturas do contraacuterio as
consequumlecircncias satildeo a de pouco movimento de turistas ou dificuldade de divulgaccedilatildeo
dos produtos turiacutesticos A este respeito o Plano enfoca o seguinte diagnoacutestico
A estrutura empresarial do setor turiacutestico paraense eacute esparsa e atomizada A maioria das empresas (hoteacuteis operadoras) satildeo de pequeno porte e de propriedade familiar movimentam salvo algumas exceccedilotildees volumes de negoacutecios reduzidos (PARAacute 2001 p 23) (sic)
Dentro de uma visatildeo de mercado o plano enfatiza que essas caracteriacutesticas
satildeo empecilhos para que haja um avanccedilo no setor por natildeo serem condizente com
avanccedilos tecnoloacutegicos e uma inserccedilatildeo mais raacutepida na rede mundial ou trade
turiacutestico freando assim a qualidade do produto Por conseguinte a condiccedilatildeo de
negatividade que os atrativos turiacutesticos passam eacute tambeacutem um fator de preocupaccedilatildeo
por parte dos agentes que investem no setor impossibilitando assim um reajuste
no setor que movimenta as accedilotildees econocircmicas (HALL 2001)
A visatildeo do plano neste caso eacute de criar uma expectativa de melhoria de
planejamento turiacutestico como lembra Hall (2001) fazendo com que os impactos
negativos diagnosticados no estado sejam suavizados perante uma reestruturaccedilatildeo
do territoacuterio mediante a implantaccedilatildeo de serviccedilos turiacutesticos de qualidade Tudo isso
com o intuito de fomentar o turismo paraense O plano mostra que as limitaccedilotildees
apresentadas pelo estado impedem o crescimento da atividade bem como de
- Impulsionar processos de inovaccedilatildeo e melhora da qualidade - Ter acesso agrave tecnologia avanccedilada - Ter acesso agraves informaccedilotildees de alta qualidade - Ter acesso a recursos humanos de bom niacutevel de capacitaccedilatildeo - Implementar foacutermulas de comercializaccedilatildeo mais eficientes (PARAacute 2001 p 24)
A medida que a concorrecircncia dos mercados turiacutesticos se acirra os governos
tendem a entrar nesse jogo para que haja uma maior atraccedilatildeo para seu produto
92
turiacutestico E eacute nesse ponto que reside a soluccedilatildeo de problemas como a infra-estrutura
e serviccedilos que estejam direcionados ao mercado do turismo haacute portanto um
reordenamento espacial voltado para atender a tal demanda A insuficiecircncia desse
setor se reflete diretamente no nuacutemero de agecircncia de turismo assim como no
nuacutemero de hoteacuteis No plano como resultado de um diagnoacutestico feito nesse setor foi
elaborado um graacutefico de diferenciaccedilatildeo das unidades hoteleiras por cada poacutelo de
turismo do Estado21
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico
Beleacutem
57
Tapajoacutes
8
Araguaia
Tocantins
15
Marajoacute
6
Xinguacute
Costa
Atlacircntica
10
4
FONTE Adaptado de PARATUR apud PARAacute (2001)
Associado ao conjunto de serviccedilos e infra-estrutura o PDT-PA enfatiza os
tipos de produtos turiacutesticos comercializados no Estado Destaque se faz para o
segmento interesse geral (PARAacute 2001) e ecoturismo visto que no Paraacute sua
divulgaccedilatildeo eacute ampla nos destinos nacionais e internacionais mais procurados
Os poacutelos quando classificados sempre trazem informaccedilotildees referentes ao
ecoturismo mantendo portanto a bandeira de divulgaccedilatildeo deste segmento
A operacionalizaccedilatildeo desses segmentos se faz atraveacutes dos pacotes turiacutesticos
que as operadoras montam e oferecem ao turista quando este chega principalmente
a Beleacutem Tais pacotes satildeo monitorados por guias e pessoas especiacuteficas da aacuterea
Para que se efetuem os pacotes a partir do ordenamento feito pelas
operadoras de turismo instaladas no estado eacute necessaacuterio que haja uma
comercializaccedilatildeo nos mercados compradores atraveacutes de sua divulgaccedilatildeo Por outro
lado este ainda se constitui um problema que o estado do Paraacute junto agrave PARATUR
21 Dados referentes agrave elaboraccedilatildeo do Plano feita em 2001
93
encontra Os mercados consumidores (uma forma geral de nomear os turistas de
outros lugares do paiacutes e do mundo) natildeo costumam associar seus tempos de lazer e
feacuterias agraves visitas feitas agrave Amazocircnia em especial ao estado do Paraacute Em geral os
destinos mais visitados continuam sendo os mais divulgados atraveacutes de um
processo de marketing e miacutedia amplo que os mesmos fazem E neste ponto se
destacam os estados da regiatildeo Nordeste do Brasil bem como estados da regiatildeo
sudeste como Rio de Janeiro e Satildeo Paulo por possuiacuterem um conjunto ou sistema
de turismo mais avanccedilado do que os da Amazocircnia paraense O graacutefico na paacutegina
seguinte elaborado pela THR mostra de forma clara essa situaccedilatildeo
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais
()22
0 10 20 30 40 50 60 70
Fortaleza
Natal
Maceioacute
Fernando de Noronha
Recife
Salvador
Pantanal
Interior de S Paulo
Chapada Diamantina
Amazocircnia
Porto Seguro
Serras Gauacutechas
Lenccediloacuteis Maranhenses
Cidades Histoacutericas Mineiras
Chapada dos Veadeiros
Serra da Canastra
Comandatuba
Serra dos Pirineus
Serra do Cipoacute
FONTE PARAacute (2001)
Nesta seccedilatildeo de diagnoacutestico do PDT-PA a postura dos consumidores ao
elegerem os espaccedilos de lazer em relaccedilatildeo aos produtos turiacutesticos paraenses
22 Curiosamente esta pesquisa feita pela THR natildeo menciona o Rio de Janeiro como uma dos principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras de turismo Mais estranho ainda eacute que a THR afirma no PDT-PA que as empresas participantes da pesquisa possuem grande tradiccedilatildeo no setor (PARAacute 2001 p 41) e por isso mesmo sendo o Rio de Janeiro um dos estados que recebe mais turistas no Brasil e no mundo sua ausecircncia enquanto destino turiacutestico em escala nacional e internacional suscita duacutevidas quanto agrave abrangecircncia da pesquisa
94
sempre associam a ideacuteia de que jaacute visitaram outros lugares ou seja os principais
destinos turiacutesticos brasileiros (como mostra o graacutefico) Neste caso a preferecircncia dos
turistas em relaccedilatildeo ao Paraacute deixa-lhe como uma segunda opccedilatildeo na preferecircncia
desses visitantes Esse perfil de turista eacute apontado pelo Plano da seguinte forma
a) Satildeo turistas que buscam produtos ligados agrave natureza b) Jaacute conhecem o Brasil e especialmente o Nordeste c) Buscam conhecer novas culturas d) Buscam experiecircncias ligadas agrave aventuras e) Possuem elevado poder aquisitivo f) Possuem faixas etaacuterias mais elevadas g) Residem em grandes centros urbanos h) Os estrangeiros possuem mais interesse que os brasileiros (PARAacute 2001 p 43)
Tal condiccedilatildeo apontada de antematildeo pelo Plano reflete-se em outras duas
seccedilotildees demanda turiacutestica do Paraacute e organizaccedilatildeo institucional do turismo Esta
uacuteltima refere-se diretamente agraves accedilotildees que a PARATUR desenvolve no estado a fim
de fomentar a atividade turiacutestica Segundo o Plano a PARATUR ainda estaacute
organizada de forma incipiente e ligada a outras secretarias de estado natildeo criando
assim uma espeacutecie de autonomia institucional Nas cidades do interior as
organizaccedilotildees voltadas para o turismo satildeo deficientes geralmente ligadas agrave
secretarias de induacutestria comeacutercio ou esporte fazendo com que seus investimentos
natildeo se decircem de forma especiacutefica para o setor
De uma forma bem ampla o PDT-PA estrutura seus conjuntos de objetivos
em algumas subseccedilotildees Os objetivos finais podem ser entendidos enquanto
objetivos gerais de um Plano de desenvolvimento e neste sentido trazem consigo
um posicionamento poliacutetico de interferecircncia soacutecio-econocircmica e espacial O elemento
marcante eacute a ideacuteia da competitividade Marca por sinal dos planejamentos
territoriais que privilegiam uma realidade econocircmica
Esta parte do plano tem uma estrutura voltada para uma ampliaccedilatildeo ou
melhoria do mercado turiacutestico no Paraacute tanto que seu conteuacutedo revela prioridades
tais como a atratividade que estaacute assentada na ideacuteia de relaccedilatildeo que os produtos
turiacutesticos paraense tecircm de se adequar agraves demandas de turistas visitantes
95
Outra prioridade ou elemento eacute a produtividade que revela o valor
patrimonial (PARAacute 2001 p 55) que um produto turiacutestico pode ter Em outras
palavras eacute perceber o niacutevel ou grau de produtividade que um produto turiacutestico pode
ter E nesse sentido fazer com que esse elemento possa perdurar em longo prazo
evitando assim sua saturaccedilatildeo
Aleacutem dessas prioridades destaca-se o marketing que torna o produto o
suporte principal de propaganda e venda em outros setores Neste caso o
marketing caracteriza-se por uma tentativa constante de oferecimento do produto em
outras praccedilas ou seja existe uma verdadeira propaganda do Paraacute enquanto produto
a ser comercializaacutevel
Nielsen (2002) lembra que o marketing torna-se uma estrateacutegia muito proacutexima
a de turismo A tentativa de que essa estrateacutegia possa atingir com maior facilidade
diferentes classes como estudantes profissionais da aacuterea acadecircmicos empresas
governo miacutedia e pessoas de uma forma geral faz do marketing uma soluccedilatildeo
interessante para o turismo O Plano de Turismo do Estado utiliza-o como
ferramenta que tem a possibilidade de convencer pessoas do que haacute de melhor no
Estado tendo o turista como seu principal objetivo A utilizaccedilatildeo desse instrumento eacute
diversificada folders viacutedeos feiras workshops amostras de produtos que satildeo
fabricados por empresas ou feitos por artesatildeos satildeo especificidades do marketing
Constitui-se como uma forma de ampliaccedilatildeo mercadoloacutegica de um setor especiacutefico
Mostra-se portanto uma estreita ligaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o marketing
Nesse sentido o PDT-PA tenta aproximar ao maacuteximo atributos da propaganda para
que os produtos turiacutesticos ganhem notoriedade mercado afora
Junto a esses trecircs elementos a gestatildeo finaliza a ideacuteia de competitividade
presente no plano constituindo assim uma nova forma de fluidez agrave atividade
turiacutestica no Estado A partir de um novo olhar administrativo em que o turismo se
insere a gestatildeo torna-se um instrumento poliacutetico de administraccedilatildeo puacuteblica que
revela intenccedilotildees e tomadas de decisotildees importantes para um bom andamento de
um planejamento Neste caso a gestatildeo de uma atividade turiacutestica proporcionada
pelo plano deve congregar os uacuteltimos trecircs elementos citados de forma conjunta e
indissociaacutevel Assim o objetivo final do plano assim se apresenta
96
Converter o Paraacute em um destino turiacutestico preferencial para os mercados nacional e internacional mediante um desenvolvimento turiacutestico competitivo e sustentaacutevel que contribua decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do Paraacute gerando maior bem estar material e maior bem estar emocional (PARAacute 2001 p 55)
Percebe-se por sua vez que o objetivo do plano natildeo se restringe agraves
transformaccedilotildees do setor turiacutestico no territoacuterio paraense mas acima de tudo
apresenta-se como plataforma de transformaccedilatildeo social tanto do ponto de vista da
materialidade (bem estar material) quanto da imaterialidade (bem estar emocional)
Portanto o turismo a partir de uma diretriz voltada para o mercado pretende uma
ampla mudanccedila soacutecio-espacial
Outros objetivos do plano integram esta seccedilatildeo como objetivos de negoacutecios
os quais estatildeo voltados para um incremento maior da demanda de investimentos
gerados a partir do aumento do volume da atividade no Paraacute Com essa perspectiva
espera-se portanto estabelecer um crescimento sustentaacutevel do turismo no Estado
segundo as proacuteprias ideacuteias do Plano Esta seccedilatildeo organiza-se em trecircs objetivos
especiacuteficos que integram esta sub-seccedilatildeo
- Incrementar o volume da demanda nacional e internacional
- Incrementar a permanecircncia meacutedia
- Incrementar o gasto turiacutestico (PARAacute 2001 p 56)
Assim como
Para que o estado do Paraacute seja convertido em um destino turiacutestico e com isso os reflexos dos fluxos turiacutesticos possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua populaccedilatildeo eacute preciso maximizar a renda da atividade Esta maximizaccedilatildeo deveraacute ser feita atraveacutes da ampliaccedilatildeo do nuacutemero de turistas quer sejam turistas domeacutesticos quer sejam turistas internacionais (PARAacute 2001 p 56)
No que se refere agrave ideacuteia de crescimento o plano tambeacutem apresenta a seccedilatildeo
objetivos de crescimento na qual natildeo define precisamente o que seja crescimento
97
O plano adota a ideacuteia de metas de mercado estabelecidas pela empresa
responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do plano - THR Como exemplo dessas metas a serem
alcanccediladas o PDT-PA apresenta um quadro onde se cria uma expectativa de
aumento do turismo atraveacutes de alguns criteacuterios O quadro assim estaacute definido
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001
2006
Turistas em 2006200000
Pernoites em 20061400000
Receita por turistasUS$1400 (7 dias)
Receita totalUS$280000000
Novas habitaccedilotildees ateacute 20064500
Investimento em habitaccedilotildees ateacute 2006US140 milhotildees
Outros investimentos ateacute 2006US$120 milhotildees
Novos empregos diretos ateacute 200626000
Novos empregos indiretos ateacute 200628000
FONTE Adaptado de PARAacute (2001)
Nesse sentido tais metas tornam-se fundamentais para se concretizar as
estrateacutegias espaciais que o Plano adota a fim de espacializar suas pretensotildees23
Esse conjunto de accedilotildees eacute concretizado na terceira parte do Plano (seccedilatildeo C ) onde
as propostas e objetivos do PDT-PA traduzem-se em programas de intervenccedilatildeo
espacial A seccedilatildeo programas e accedilotildees do plano estaacute estruturada de acordo com os
elementos jaacute citados atratividade produtividade gestatildeo e marketing
Como uma forma de enfatizar essas estrateacutegias o plano integra esses
elementos a partir de um graacutefico assim exposto
23 Esta ideacuteia seraacute objeto de anaacutelise no item 43 deste trabalho intitulado A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
98
Graacutefico 4 Estrateacutegias eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT PA
FONTE PARAacute (2001 p 93)
Nesta seccedilatildeo esses elementos datildeo vazatildeo aos objetivos propostos Como
elemento principal e tambeacutem norteador das accedilotildees eou estrateacutegias eacute a
competitividade nesta seccedilatildeo do Plano em especial que norteia a estrutura do
turismo no estado do Paraacute ou ainda de uma realidade possiacutevel de ser
implementada desde que as diretrizes oferecidas pelo plano sejam estabelecidas
Natildeo se deve perder de vista portanto que o quadro comparativo que se apresenta
no Plano leva em consideraccedilatildeo esses pontos especiacuteficos que o PDT-PA atraveacutes da
THR julga ser necessaacuterio para haver uma transformaccedilatildeo na realidade turiacutestica do
Estado
99
Como consequumlecircncia disso as accedilotildees estatildeo divididas nesses criteacuterios da
seguinte forma
Quadro 2 Programas e Accedilotildees Siacutentese
Programa Accedilotildees
Paraacute Atratividade
A-1 Criaccedilatildeo de Gestores e Experiecircncias Turiacutesticas A-2 Ampliaccedilatildeo e Modernizaccedilatildeo dos Meios de Hospedagem Paraenses A-3 Sinalizaccedilatildeo Turiacutestica A-4 Melhoria das Condiccedilotildees Ambientais dos Municiacutepios Turiacutesticos A-5 Embelezamento Urbano e Melhorias de Infra-estrutura A-6 Ordenaccedilatildeo Urbaniacutestica dos Municiacutepios Turiacutesticos A-7 Sistema de Padrotildees e Selos de Qualidade A-8 Paraacute Hospitalidade A-9 Postos de Informaccedilotildees Turiacutesticas A-10 Instituto Internacional de pesquisa sobre o Ecotuismo
Paraacute Produtividade
P-1 Inventaacuterio Classificaccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo dos Recursos Turiacutesticos P-2 Criaccedilatildeo de Grupos de Competitividade Locais P-3 Criaccedilatildeo de Empresas em Joint Ventures P-4 Capacitaccedilatildeo ProfissionalEmpresarial P-5 FormaccedilatildeoCapacitaccedilatildeo de Pessoal de Base P-6 Simplificaccedilatildeo do Processo de Abertura de Novas Empresas P-7 Mecanismos de Financiamentos e Estiacutemulos Fiscais P-8 Desenvolvimento Tecnoloacutegico P-9 Sistema de Reconhecimento e Premiaccedilatildeo agrave Profissionalizaccedilatildeo
Paraacute Marketing
M-1 Criaccedilatildeo de Grupos de Marketing por Produtos M-2 Criaccedilatildeo de uma Infra-estrutura de Marketing M-21 Unidades Locais de Marketing
ULM S M-22 Bases de Dados M-23 Banco de Imagens M- 24 Sistema de Inteligecircncia de Mercado M-3 Articulaccedilatildeo de um Sistema de Venda e Comunicaccedilatildeo M-31 Workshops M-32 Feiras de Promoccedilatildeo Turiacutestica M-33 Site Inspection Service M-34 Manual de Vendas M-35 Seminaacuterios de Vendas M-36 Fam Trips M-37 Material Promocional M-38 Publicidade M-39 Propaganda M-310 Web Paraacute M-311 Marketing Direto
Paraacute Gestatildeo G-1 Comissatildeo Estadual de Turismo G-2 Conselho Estadual de Turismo G-3 Sistema de Indicadores de Sustentabilidade
FONTE Adaptado de Paraacute (2001 p 95)
Eacute importante lembrar que natildeo se privilegiaraacute uma anaacutelise de todos os
elementos presentes em cada uma das accedilotildees propostas pelo Plano Poreacutem a
100
anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo das estrateacutegias espaciais e do modelo de
desenvolvimento proposto torna-se o foco principal deste trabalho a ser feita no
proacuteximo capiacutetulo Em relaccedilatildeo ao quadro apresentado pelo PDT-PA ele eacute uma
siacutentese de todas as accedilotildees planejadas e da concepccedilatildeo de turismo proposta pelo
Estado atraveacutes do Plano No desenrolar dessas accedilotildees eacute que as espacialidades se
mostram enquanto resultado de pensamentos e concepccedilotildees de espaccedilos voltados
para o turismo tornando-se dessa forma perceptiacutevel suas intenccedilotildees desejos e
usos pretendidos pelo Governo do Estado Para tanto no rol das accedilotildees (accedilatildeo A-1
por exemplo) estatildeo inseridos os objetivos o puacuteblico alvo as justificativas e as
atividades necessaacuterias para o desenvolvimento da atividade Essa estrutura entatildeo
deve ser entendida como uma ampla diretriz presente em todos os poacutelos de turismo
do Estado Neste caso a estrutura do plano com todas as subdivisotildees mostra-se
assim organizado (quadro 3 p 101)
101
Quadro 3 Quadro sinoacutetico da estrutura do plano de desenvolvimento do turismo do Paraacute (PDT PA)
FONTE Adaptado de PARAacute (2007)
A- DIAGNOacuteSTICO INTERNO DA SITUACcedilAtildeO ATUAL DO TURISMO PARAENSE
1 Os recursos turiacutesticos
2 As infra-estruturas e equipamentos baacutesicos
3 Os serviccedilos turiacutesticos 4 Os produtos turiacutesticos 5 A comercializaccedilatildeo dos
produtos turiacutesticos 6 A demanda turiacutestica 61 Anaacutelise Quantitativa
62 Anaacutelise Qualitativa
63 Os Mercados Emissores e a Posiccedilatildeo Competitiva do Paraacute
7 Organizaccedilatildeo Institucional do Turismo
- Nesta seccedilatildeo do plano a empresa contratada pelo governo do estado apresenta um amplo diagnoacutestico da situaccedilatildeo em que o turismo do Paraacute se encontra Egrave feito uma anaacutelise de acordo com padrotildees jaacute estipulados pela empresa THR como recursos serviccedilos produtos demanda e inclusive a (re)organizaccedilatildeo do oacutergatildeo de turismo do Paraacute
PARATUR Todas as seccedilotildees procuram destacar os pontos negativos em relaccedilatildeo ao crescimento da atividade no territoacuterio paraense de acordo com os poacutelos de turismo
- O diagnoacutestico feito pelo plano reduz-se ao aspecto econocircmico natildeo considerando as demais instancias da sociedade A negatividade constatada pelo documento eacute afirmada atraveacutes de dados estatiacutesticos Procura enfatizar a conceitos como precarizaccedilatildeo deficiecircncia dos produtos limitaccedilotildees entre outros sempre relacionado somente aos aspectos de mercado
B- OBJETIVOS E ESTRATEacuteGIAS
1 Objetivos 2 Estrateacutegias de
Desenvolvimento Turiacutestico 3 Plano de Comercializaccedilatildeo
20012003 4 Proposta de Estrutura
Organizativa da PARATUR
- Depois de realizar o diagnoacutestico o plano procura enfatizar quais as necessidades a serem estimuladas para que haja o desenvolvimento do turismo no Paraacute Aqui a condiccedilatildeo das estrateacutegias de mercado se sobressaem como condiccedilatildeo de transformaccedilatildeo econocircmica
- Os aspectos de mercado mais uma vez se tornam elementos bastante enfatizados a ideacuteia de competitividade torna-se norteadora das accedilotildees para o desenvolvimento do turismo Neste sentido a ideacuteia de natureza reduz-se a uma concepccedilatildeo de consumo em espaccedilos selecionados
C- PROGRAMAS E ACcedilOtildeES
1 Programa Paraacute Atratividade 2 Programa Paraacute Produtividade 3 Programa Paraacute Marketing 4 Programa Paraacute Gestatildeo
- Siacutentese das accedilotildees programadas pelo plano Essas accedilotildees devem obedecer aos programas em cada poacutelo do estado
- Mesmo seguindo uma ideacuteia de competitividade natildeo haacute uma explicaccedilatildeo mais detalhada sobre as accedilotildees e programas
102
42 A concepccedilatildeo de turismo no PDT PA
Para que se possa entender a concepccedilatildeo de turismo de um Plano de
intervenccedilatildeo espacial eacute necessaacuterio fazer uma relaccedilatildeo de suas intenccedilotildees com o
tipo ou modelo de planejamento proposto pelo mesmo Quando se retrata a
ideacuteia do que seja um modelo de planejamento a ideologia ligada ao
planejamento revela-se nas entrelinhas de um documento como o PDT-PA ou
em uma dimensatildeo espacial mais concreta nas repercussotildees espaciais que satildeo
feitas atraveacutes de uma gestatildeo puacuteblica de Estado
Neste caso o fundamento principal para se saber o tipo de concepccedilatildeo
de turismo que se veicula no PDT-PA eacute a mensagem que o documento traz
consigo como nos lembra Franco (2005) Quando feita essa anaacutelise as
projeccedilotildees e ideacuteias de planejamento de turismo ressaltam-se e se ligam a uma
ideacuteia maior Desde jaacute eacute importante salientar que um Plano natildeo se faz de forma
neutra e apoliacutetica pelo contraacuterio em todo momento existem nuanccedilas
mostradas em sua leitura ou na sua execuccedilatildeo enquanto programa de
intervenccedilatildeo espacial
Hall (2001) faz uma importante retomada do conceito de planejamento
distinguumlindo-o da ideacuteia de plano Para o autor quando se faz referecircncia ao
termo planejamento a ideacuteia de poliacutetica surge como elemento fundador e
mediador de um processo Por isso que em alguns momentos essas duas
noccedilotildees aparecem como ambiacuteguas e de difiacutecil definiccedilatildeo Hall (2001) assim
escreve
O problema surge porque embora as pessoas percebam que o planejamento tem um significado mais geral tendem a se lembrar do conceito de plano como uma representaccedilatildeo fiacutesica ou graacutefica Consequumlentemente imaginam que planejamento deve incluir a preparaccedilatildeo de tal representaccedilatildeo (HALL 2001 p 24)
Revelar portanto a concepccedilatildeo de turismo no PDT-PA requer a
habilidade de saber associar a que tipo de poliacutetica puacuteblica o mesmo estaacute
103
vinculado Neste caso a estrutura do plano de turismo do Paraacute jaacute se torna um
indiacutecio dessa perspectiva
Ao estruturar o plano em trecircs seccedilotildees parte A (diagnoacutestico) parte B
(objetivos) parte C (programas e accedilotildees) o plano oferece uma perspectiva
inicial de como estaacute disposto o pensamento sobre as intervenccedilotildees e ou
mudanccedilas no espaccedilo paraense Dessa forma jaacute existe uma apropriaccedilatildeo
territorial para fins gerais de planejamento dando ecircnfase agrave dimensatildeo da
atividade turiacutestica como norteador dessas mudanccedilas Neste sentido pensar o
espaccedilo eacute pensaacute-lo de forma turistificada O plano por sua vez permite esse
pensamento ainda de forma estruturada
Uma das condiccedilotildees que servem para traduzir a ideacuteia de turismo
presente no documento eacute a ecircnfase dada ao mercado Os elementos naturais
do estado neste caso apresentam-se como objetos que tecircm valores
importantes para seu consumo As belezas naturais do espaccedilo paraense como
noccedilatildeo de atrativo turiacutestico satildeo exemplos disso Neste sentido como pano de
fundo dessa associaccedilatildeo haacute por parte do PDT-PA (leia-se no caso os agentes
da elaboraccedilatildeo de forma direta e indireta - Estado e THR) a ideacuteia de que esses
espaccedilos satildeo acessiacuteveis a partir de seu valor de troca o que estimula por
assim dizer a vinda de pessoas de fora do estado com o intuito de promover a
circulaccedilatildeo do capital a partir da compra desses produtos em territoacuterio
paraense
Como justificativa atenuante da condiccedilatildeo de consumo das belezas
naturais e de sua possiacutevel degradaccedilatildeo ambiental o plano apresenta a ideacuteia de
melhoria da qualidade de vida que adveacutem por conseguinte do consumo dos
espaccedilos turistificados Tal condiccedilatildeo eacute mostrada de forma clara logo no iniacutecio
da construccedilatildeo do documento
O Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute foi contratado pelo Governo estadual visando definir estrateacutegias para que a atividade se desenvolva de forma que traga melhoria de qualidade de vida agrave populaccedilatildeo paraense Considerando a riqueza de atrativos da Amazocircnia paraense e seu grande apelo sobre mercados emissores de turistas e o crescimento dos segmentos de viagens
104
voltadas agrave natureza o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito significativas para que o turismo seja importante instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
De acordo com essa condiccedilatildeo a pretensatildeo de criar espaccedilos funcionais
ou ainda voltados para a atividade turiacutestica eacute clara Nesta sequumlecircncia percebe-
se tambeacutem a imprecisatildeo do termo melhoria da qualidade de vida No
documento este eacute assunto que natildeo estaacute bem fundamentado o que deixa
lacunas quanto agrave ideacuteia O PDT-PA prefere explicar como se daacute a formataccedilatildeo do
documento os agentes importantes na construccedilatildeo do documento e as
condiccedilotildees necessaacuterias para a elaboraccedilatildeo do mesmo natildeo explicando assim a
noccedilatildeo de melhoria da qualidade de vida do povo paraense
O processo de turismo depende de um conjunto de elementos infra-estruturais que natildeo se encontram isolados no setor econocircmico de prestaccedilatildeo de serviccedilos Assim o seu planejamento setorial deve se integrar ao sistema de planejamento global do Estado Portanto para a elaboraccedilatildeo do Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute a equipe teacutecnica de trabalho tomou por base os investimentos anteriores feitos pelo Governo em termos de planejamento Com esta premissa o Projeto Beija-Flor foi o ponto de partida a partir do qual o Plano de Desenvolvimento foi estruturado (PARAacute 2001 p 5)
A preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade de vida eacute suplantada pela
questatildeo mais impactante referente ao modo de desenvolver ou fazer crescer a
atividade turiacutestica Por conseguinte a noccedilatildeo da melhoria da qualidade de vida
adquire um outro sentido ou seja aquele onde a populaccedilatildeo paraense soacute
poderia alcanccedilar qualidade de vida dentro dos paracircmetros aqui propostos pelo
PDT-PA
Sobre a relaccedilatildeo entre o turismo e a natureza o plano demonstra assim
o interesse pelo o ecoturismo na Amazocircnia especialmente no Paraacute O Estado
e iniciativa privada mostram-se agentes importantes quanto ao fomento desse
segmento de turismo principalmente porque o mesmo mostra-se uma
alternativa aos modelos de turismo do tipo sol e praia o que levado em
105
consideraccedilatildeo a peculiaridade da floresta tropical esse segmento teria uma
relaccedilatildeo proacutespera com a realidade natural do estado A divulgaccedilatildeo dessa
modalidade de turismo eacute muito comum nas revistas especializadas o que torna
o ecoturismo uma espeacutecie de moda como lembra Coelho (1999) Essas
revistas mostram atraveacutes das imagens a imponecircncia da natureza com pouca
interferecircncia humana utilizando-se portanto de imagens residuais de
Paraiacutesos Eldorados ou Santuaacuterios ecoloacutegicos em diferentes partes do mundo
(COELHO 1999 p 66) Nestes termos a sobrepujanccedila da natureza em
relaccedilatildeo ao homem eacute evidente Este uacuteltimo torna-se uma condiccedilatildeo de elemento
que quase natildeo se representa com a mesma intensidade que haacute nas imagens
Neste caso os interesses do turismo vecircm agrave tona em detrimento de uma
sociedade local No plano essa ideacuteia se materializa na concepccedilatildeo de turismo
(ecoturismo) voltado para a regiatildeo (poacutelo) do Marajoacute
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugados As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Portanto relaccedilatildeo homem (sociedade) e natureza no PDT-PA teorizada
haacute pouco natildeo se difere por completo Natureza aqui ganha um sentido de
valor de troca (capitalista diga-se de passagem) restando ao homem
amazocircnico (mais especificamente paraense) a ideacuteia de que a exploraccedilatildeo
racional dos atrativos naturais do estado paraense pode trazer melhorias de
qualidade de vida O homem em questatildeo deixa de ser problematizado
enquanto sujeito principal no entendimento do que seja natureza para dar
lugar a uma estrutura ainda maior que eacute a loacutegica global dos fluxos turiacutesticos
Revela-se neste ponto do plano de turismo do Estado uma realidade que
desloca o homem amazocircnico da accedilatildeo da construccedilatildeo de seu espaccedilo
Coelho (1999) ainda salienta a ideacuteia da apropriaccedilatildeo do discurso
ecoloacutegico ou em outros termos do discurso da natureza como sendo uma
ferramenta de persuasatildeo para aqueles que estejam interessados em visitar o
106
atrativo turiacutestico Amazocircnico (em destaque para o paraense) Tal praacutetica eacute feita
de forma especiacutefica no plano de turismo do estado quando o mesmo apresenta
a natureza da floresta amazocircnica como o diferencial na conquista de novos
mercados de turismo tanto em acircmbito nacional como internacional
Para o PDT-PA a PARATUR viabiliza outras ferramentas de promoccedilatildeo
das belezas do Estado mostrando atraveacutes de revistas especializadas em
turismo folders cartazes entre outros Essas ferramentas ajudam a consolidar
o processo de divulgaccedilatildeo do Estado como uma seara a ser explorada pelas
atividades turiacutesticas Coelho (1999) nos daacute um exemplo desse tipo de
propaganda feita
Natildeo haacute lugar nenhum no mundo com o potencial turiacutestico da Amazocircnia Mas haacute um lugar na Amazocircnia que aleacutem desse potencial ainda oferece incentivos aos empresaacuterios para que eles invistam no seu negoacutecio o Estado do Paraacute O Governo do Paraacute estaacute querendo tanto ter a sua empresa no Estado que estaacute concedendo incentivos fiscais incentivos financeiros incentivos de caraacuteter infra-estrutural e compensaccedilatildeo de incentivos privados na realizaccedilatildeo de obras de infra-estrutura puacuteblica para a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos no territoacuterio paraense Alguns poucos exemplo de muitas vantagens que a empresa leva indo para o Paraacute empreacutestimo em valor correspondente a ateacute 75 do ICMS para pagamento em 10 anos Incentivos fiscais poacute 5 anos Isto eacute de lei Lei n 5943 Agora o que natildeo estaacute na lei nem precisa eacute o mundo intenso de oportunidades de negoacutecios que a Amazocircnia paraense oferece aos empreendedores interessados em desafios e principalmente em novos negoacutecios lucrativos (PARAacute apud COELHO 1999 p 67)
Especificamente no plano essa condiccedilatildeo de oferta de um produto
turiacutestico concretiza-se a partir da concepccedilatildeo de marketing defendida pelo
documento Elementos como eficaacutecia capacidade vantagens competiccedilatildeo
ampliam o universo ao posicionar o territoacuterio paraense como o proacuteprio produto
turiacutestico A intenccedilatildeo portanto eacute de uma conversatildeo espacial abrangente para o
mercado Neste sentido o plano define a ideacuteia de marketing da seguinte forma
O MARKETING determinaraacute a capacidade do destino para se adaptar agrave demanda vender com eficaacutecia fidelizar clientes e
107
identificar permanentemente novas fontes de vantagens competitivas (PARAacute 2001 p 55)
No tocante agrave qualidade de vida defendida pelo PDT-PA o documento
deixa clara a condiccedilatildeo de crescimento como necessaacuteria para obtenccedilatildeo da
qualidade de vida Segundo o plano esta ideacuteia deve estar associada agrave
pretensatildeo de converter o estado em um destino turiacutestico onde seus reflexos
(PARAacute 2001) eacute que repercutem na qualidade de vida do povo paraense Tais
reflexos segundo o plano associam-se agrave maximizaccedilatildeo do fluxo de turistas no
territoacuterio paraense Contudo o plano natildeo deixa claro como esses reflexos
seratildeo transformados em melhorias para a populaccedilatildeo Nisso o documento
afirma a necessidade de permanecircncia dos turistas
O incremento da renda do turismo poderaacute ser alcanccedilado tambeacutem pelo aumento da permanecircncia dos turistas que jaacute visitam o Paraacute Ao ser oferecida maior variedade de produtos e produtos de melhor qualidade a permanecircncia meacutedia do turista se amplia e consequumlentemente seu niacutevel de gastos se aumenta (PARAacute 2001 p 56)
Souza (1997 2000 2002 2004) amplia a discussatildeo sobre a importacircncia
da qualidade de vida pra que haja em uma dimensatildeo maior a justiccedila social o
que no plano reduz-se agrave questatildeo do incremento ou crescimento do mercado
Para o autor a qualidade de vida por muito tempo sempre foi vista ou
apreciada de forma acriacutetica possibilitando assim uma visatildeo uacutenica de que uma
sociedade soacute a consegue atraveacutes de conquistas ou soma de bens materiais
Para o autor tratar de qualidade de vida dentro dos programas de
desenvolvimento assim como de planos de desenvolvimento eacute natildeo deixar de
lado a questatildeo de justiccedila social Juntas essas duas dimensotildees quando bem
efetivadas a partir de uma gestatildeo comprometida com o social garantem um
mudanccedila social positiva E nesse sentido a espacialidade da sociedade
envolvida no processo deve ser levada em consideraccedilatildeo O espaccedilo para
qualquer efeito de mudanccedila eacute a arena referencial simboacutelicoidentitaacuterio e
108
condicionador (SOUZA 2004 p 61) Quando negligenciado ou ateacute mesmo
distorcido de interesses sociais claros pode ser alvo de um economicismo ou
na apreciaccedilatildeo do termo pode sofrer de um reducionismo Como siacutentese o
autor em questatildeo argumenta No que tange agrave melhoria da qualidade de vida
ela corresponde agrave crescente satisfaccedilatildeo das necessidades - tanto baacutesicas
quanto natildeo baacutesicas tanto materiais quanto imateriais - de uma parcela cada
vez maior da populaccedilatildeo (SOUZA 2004 p 62)
Esta condiccedilatildeo defendida por Souza (2004) revela que a ideacuteia de justiccedila
social natildeo pode ser percebida de forma homogecircnea ter visatildeo uacutenica Neste
caso Souza (2004) se baseia em uma concepccedilatildeo aristoteacutelica de que justiccedila eacute
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual (HELLER apud
SOUZA 2004)
Eacute a partir dessa situaccedilatildeo que a ideacuteia de qualidade de vida construiacuteda
pelo PDT-PA natildeo considera a diversidade da sociedade local paraense O que
de fato se vecirc eacute que por conta de uma intensidade de fluxos e geraccedilotildees de
conquistas materiais o turismo traria a possibilidade de melhorar a vida do
paraense O turismo neste caso em especial eacute visto como uma soluccedilatildeo para
uma possiacutevel deficiecircncia ou inadequaccedilatildeo que a sociedade local estaria vivendo
no presente Portanto o Estado atraveacutes do plano deposita essa condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida por meio da expansatildeo do turismo
Ainda sobre a qualidade de vida o plano natildeo faz distinccedilatildeo do termo
generalizando-o e condicionando-o ao crescimento da atividade turiacutestica Isso
ainda eacute confirmado ainda pela ideacuteia de sustentabilidade que em termos gerais
tambeacutem eacute exposta pelo documento Neste caso o proacuteprio plano natildeo especifica
que tipo de sustentabilidade pretende confirmar com o ordenamento territorial
que eacute proposto Por outro lado essa condiccedilatildeo eacute somente citada como uma
pseudo-forma de afirmar uma espeacutecie de retorno social a partir da concepccedilatildeo
de turismo que eacute defendida pelo PDT-PA
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente
109
se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Nesse sentido essas questotildees que surgem por completo no documento
indicam uma tomada do turismo por parte do Estado a fim de tornaacute-lo viaacutevel o
que se confirma com a elaboraccedilatildeo do PDT-PA Apesar de Nicolaacutes (2001)
afirmar a ideacuteia de que turismo antes de ser uma praacutetica econocircmica eacute acima de
tudo uma praacutetica social as atividades geradas pela construccedilatildeo do plano de
turismo evidenciam uma perspectiva de cunho econocircmico tendo a sociedade
um lugar secundarizado nas concepccedilotildees de turismo por parte do Estado Para
o autor por exemplo
En esta liacutenea por el contrario postulamos que el turismo es antes que todo una praacutectica social colectiva que integra mecanismos distintos de relacioacuten al espacio a la identidad y al Otro Por ende maacutes que una actividad econoacutemica el turismo es una praacutectica generadora de actividad econoacutemica en la misma forma que la religioacuten el deporte o la guerra (NICOLAacuteS 2001 p 40)
O plano por sua vez prefere dar condiccedilatildeo ao mercado como elemento
capaz de transformar uma realidade social Deixando por sua vez o consumo
como principal norteador dessa condiccedilatildeo Assim o plano continua
Da mesma forma a busca de segmentos de demanda com outras expectativas de consumo de produtos com maior valor agregado pode contribuir para que o gasto se amplie e consequumlentemente a renda derivada do turismo (PARAacute 2001 p 56)
O turismo defendido pelo plano ainda expotildee outros elementos
importantes que ampliam a ideacuteia de consumo No tocante agraves manifestaccedilotildees
culturais o PDT-PA eacute expliacutecito ao defender a condiccedilatildeo da cultura como recurso
110
a ser apropriado pelo Estado e em seguida fomentado para que haja uma
maior atraccedilatildeo de pessoas Manifestaccedilotildees soacutecio-culturais histoacutericas como Ciacuterio
de Nazareacute (este acontecendo no poacutelo Beleacutem) e o Ccedilaireacute (no poacutelo Tapajoacutes)
reduzem-se agrave condiccedilatildeo do exoacutetico do diferente e por isso mesmo recebem o
status de potencial turiacutestico Neste sentido a atenccedilatildeo dada pelo documento
tem o intuito de dar uma outra feiccedilatildeo referente ao mercado fazendo com que
as manifestaccedilotildees histoacutericas da sociedade paraense reduzam-se a esta
dimensatildeo A ideacuteia de natureza para o plano tambeacutem natildeo se diferencia dessa
condiccedilatildeo Ainda mais os espaccedilos com potencial turiacutestico satildeo assim
caracterizados por uma relaccedilatildeo de troca No que se referem alguns aspectos
da cultura paraense e agrave ideacuteia de natureza o plano caracteriza-os da seguinte
forma
O Paraacute conta com recursos de base de indubitaacutevel valor e de grande potencial desde recursos naturais (rios ilhas lagos praias floresta amazocircnica flora e fauna etc) ateacute recursos culturais (patrimocircnio histoacuterico artiacutestico e monumental numerosas etnias indiacutegenas e quilombos artesanato folclore) e manifestaccedilotildees culturais vivas de grande notoriedade como eacute o caso do Ciacuterio de Nazareacute e do Ccedilaireacute (PARAacute 2001 p 11)
Eacute neste sentido que Hall (2001) diz que a construccedilatildeo de uma poliacutetica
puacuteblica antes de tudo requer um conjunto de valores crenccedilas ideologias ou
visatildeo de sociedade Por isso ela deve ser sempre encarada de acordo com um
ambiente poliacutetico O que faz com que a atividade turiacutestica sendo ela uma
atividade de cunho social natildeo fuja dessas caracteriacutesticas citadas Neste ponto
conceber um tipo de turismo eacute por em praacutetica um tipo de poliacutetica puacuteblica que
envolve esses valores No PDT-PA as caracteriacutesticas de mercado se fazem
presentes principalmente quando se tenta transformar o territoacuterio paraense
como espaccedilo importante para fluxos econocircmicos mundiais Esta constataccedilatildeo
pode ser percebida nas intencionalidades que o plano revela como mostra uma
das figuras de reordenamento espacial proposto pelo documento
111
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
FONTE PARAacute (2001 p 68)
No que se refere agrave concepccedilatildeo de turismo interessante notar que o
plano em nenhum momento define explicitamente o que seja turismo
deixando assim uma lacuna quanto a esta ideacuteia Contudo em suas linhas o
documento opta por apresentar caracteriacutesticas peculiares agrave concepccedilatildeo de
mercado muito usual do chamado turismo de massa
A forma como o PDT-PA estaacute estruturado eacute reflexo da pretensatildeo de se
pensar o espaccedilo paraense como um todo voltado para o trade Palavras como
demanda oferta turiacutestica potencialidade objetivo de negoacutecios objetivos de
crescimento fazem com que o universo do documento se circunscreva a ideacuteia
de crescimento da atividade turiacutestica
Comentaacuterio Diferentemente de um conviacutevio mais proacuteximo das realidades locais o resort oferece (como o proacuteprio nome em inglecircs sugere) um refuacutegio ao turista ao chegar a esses lugares A ideacuteia eacute que estes lugares standartizados oferecem tranquumlilidade distacircncia do tumulto que as cidades grandes apresentam no dia-a-dia
112
Sua fundamentaccedilatildeo teoacuterica se encontra diluiacuteda em propostas que visam
a entrada de mais turistas para que assim exista transformaccedilatildeo da realidade
paraense Por isso a necessidade de se fazer divisotildees em seccedilotildees que tecircm
como meta o incremento de valores de mercado Do diagnoacutestico (primeira parte
do plano) aos seus objetivos (segunda parte do plano) o documento estaacute
voltado para uma maior abertura e expansatildeo da atividade turiacutestica o que cria
uma expectativa de controle dos espaccedilos e das pessoas para melhor atender agrave
atividade do turismo Mesmo natildeo definindo seu conceito de turismo tais
caracteriacutesticas apontam para uma ideacuteia de reproduccedilatildeo ampliada do capital
O que Carlos (2002) entende da seguinte forma
A induacutestria turiacutestica reforccedila a hierarquia social produzindo espaccedilos diferenciados exclusivos fechados A caracteriacutestica do espaccedilo produzido eacute a do homogecircneo altamente excludente com ausecircncia de identidade O lugar eacute apenas o que pode ser visto fotografado e depois esquecido (CARLOS 2002 p 32)
Neste sentido quando o plano afirma ser importante a maximizaccedilatildeo da
ampliaccedilatildeo de turistas (PARAacute 2001) percebe-se que a loacutegica de crescimento e
ampliaccedilatildeo de pessoas que vecircm ao estado com o intuito do consumo torna-se
beneacutefica para uma transformaccedilatildeo de uma realidade paraense utilizando-se
para tanto estrateacutegias de modificaccedilotildees e alteraccedilotildees do territoacuterio ou ainda
estrateacutegias espaciais Tema a ser abordado na proacutexima seccedilatildeo
43 A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
Uma anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo que um governo carrega natildeo se
limita agraves suas ideacuteias eacute necessaacuterio espacializaacute-las ou seja dar um formato
concreto ou ainda espacial ao conjunto de formulaccedilotildees por quais passam os
planejamentos voltados para o desenvolvimento da atividade Sendo assim
torna-se difiacutecil pensar a loacutegicas das ideacuteias que datildeo vez ao fenocircmeno do turismo
113
sem associaacute-las a uma loacutegica espacial O PDT-PA articula as ideacuteias de modo a
pensaacute-las de acordo com um tipo de espaccedilo tambeacutem concebido em forma de
planejamento mas que todavia natildeo se torna distante de ser efetivado visto
que a construccedilatildeo de um plano de desenvolvimento do tipo do PDT-PA passa
pelas matildeos do Estado para que seja construiacutedo
Santos (2002) ao afirmar que o espaccedilo eacute um conjunto indissociaacutevel
solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio entre sistemas de objetos e sistemas de
accedilotildees daacute razatildeo agrave unicidade entre o tempo e o espaccedilo no qual se pode
perceber a uniatildeo por completo entre o homem e o meio Caracteriza-se assim
uma ideacuteia de totalidade que haacute no espaccedilo Mediante essa situaccedilatildeo em relaccedilatildeo
agrave praacutetica turiacutestica sua espacialidade requer uma dimensatildeo totalizante entre
objetos e accedilotildees que condizem a uma maior movimentaccedilatildeo da atividade
turiacutestica pelo espaccedilo
Neste sentido a ideacuteia de uma espacializaccedilatildeo do turismo remete-se a
uma imbricada relaccedilatildeo que haacute entre a atividade turiacutestica e o seu
reordenamento espacial o que se perceber tambeacutem um constante
reordenamento do territoacuterio onde a praacutetica do turismo necessita se espacializar
Cruz (2001) por exemplo quando fala em reordenamento dos territoacuterios afirma
que a ideacuteia do consumo dos espaccedilos pelo turismo e sua produccedilatildeo de territoacuterios
deve ser um fator de mediaccedilatildeo nesse processo
Tal condiccedilatildeo eacute tambeacutem fator importante para se visualizar a
espacializaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de turismo que se datildeo no espaccedilo a fim
de mostrar o processo de articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees e suas
materializaccedilotildees Neste caso cabe pensar o papel do Estado na tomada de
decisotildees sobre os reordenamentos espaciais
Hall (2001) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o
Governo Segundo o autor o turismo jaacute se tornou parte integrante da maacutequina
administrativa Neste caso a poliacutetica puacuteblica para o turismo eacute tudo que o
governo decide fazer ou natildeo com relaccedilatildeo ao setor (HALL 2001 p 26) Poreacutem
a descrenccedila na poliacutetica governamental faz com que o setor ofereccedila mais erros
do que acertos nas tomadas de decisotildees o que desestabiliza o setor de uma
114
forma geral E neste campo inserem-se as formas de reordenamento espacial
a partir de uma loacutegica do turismo na qual a mesma eacute a que impotildee o ritmo de
mudanccedila nos lugares
Levando-se nem consideraccedilatildeo a realidade paraense tanto de
planejamento como de gestatildeo o PDT-PA oferece um conjunto de estrateacutegias
materializadas nos lugares selecionados pela empresa responsaacutevel pela
elaboraccedilatildeo do plano em conjunto com a esfera estatal Tais lugares agregam
valor de mercado importante para o incremento da atividade e que dizem
respeito agraves ideacuteias pensadas sobre o turismo Neste conjunto de estrateacutegias
definidas as informaccedilotildees satildeo bem articuladas possibilitando assim perceber
como a atividade turiacutestica deve proceder no espaccedilo Com isso o plano entende
de uma forma geral que as estrateacutegias de turismo devem ser concentradas a
partir da estrutura feita em poacutelos de desenvolvimento Tal consideraccedilatildeo foi feita
a partir do projeto Beija-Flor24 que elegeu cidades do estado do Paraacute que
reunissem algum tipo de infra-estrutura necessaacuteria para estabelecer bases de
sustentaccedilatildeo do desenvolvimento do turismo Os poacutelos recebem os nomes das
regiotildees onde se inserem a saber Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes
AraguaiaTocantins e Xingu Segundo as proacuteprias palavras do plano
Com base nestes seis poacutelos cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivo agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5)
24 O projeto Beija-Flor eacute um estudo feito antes da consolidaccedilatildeo do PDT-PA Foi uma estrateacutegia pensada no governo Almir Gabriel para articular a construccedilatildeo do plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute A partir desse estudo eacute que as definiccedilotildees para a escolha dos poacutelos foram definidas conforme feito no PDT-PA
115
A partir dessa estrutura eacute que se pretende alcanccedilar as metas
pretendidas pelo Governo Feita em poacutelos torna-se constante e por isso
mesmo reflete uma reordenaccedilatildeo do territoacuterio paraense em grande intensidade
de forma a garantir a maior fluidez da atividade turiacutestica Cada poacutelo mostra uma
qualidade referente a um produto o grau de estruturaccedilatildeo seu formato e
principalmente a expectativa de um mercado consumidor (PARAacute 2001) Estes
elementos somados garantem a viabilidade dos poacutelos de turismo no estado
O reordenamento do espaccedilo eacute assegurado assim a partir de uma expectativa
do consumo do espaccedilo o que facilita o maior incremento de um sistema de
objetos (SANTOS 2002) criando uma maior dinacircmica espacial O mapa da
paacutegina posterior mostra a divisatildeo e a identificaccedilatildeo dos espaccedilos (sedes dos
poacutelos) turiacutesticos no Paraacute
116
MAPA 1 Sede dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
117
Neste caso deve-se perceber que o funcionamento da teoria dos poacutelos
obedece a uma loacutegica de totalidade do espaccedilo onde esse mesmo eacute concebido
a partir da atividade turiacutestica Como o proacuteprio plano ressalta considerar as
cidades ou sedes-poacutelos como o lugar de irradiaccedilatildeo do crescimento da atividade
turiacutestica eacute dar vazatildeo ao processo de espacializaccedilatildeo do fenocircmeno Natildeo satildeo
todas as cidades que conteacutem os recursos ou infra-estruturas necessaacuterias para
o bom andamento da atividade mas as cidades que jaacute possuem certa condiccedilatildeo
antecipatoacuteria para a dinamizaccedilatildeo do poacutelo polarizando assim a atividade
Uma outra questatildeo importante que deve ser levada em consideraccedilatildeo eacute
que esse tipo de espacializaccedilatildeo ou ordenamento territorial feito no estado estaacute
baseado em uma concepccedilatildeo de espaccedilo a de poacutelos de crescimento
Perroux (1967) mostra que a ideacuteia do poacutelo eacute uma forma de entender que
natildeo eacute o espaccedilo em sua totalidade necessaacuterio para o avanccedilo de uma empresa
ou setor da economia mas sim alguns espaccedilos que jaacute demandam uma
antecipaccedilatildeo ou como dito outrora que jaacute tecircm uma infra-estrutura
Para Perroux (1967) o espaccedilo sempre mereceu uma leitura muito
teacutecnica e menos precisa do que o tempo (PERROUX 1967 p 147) Neste
caso o interesse eacute perceber que o espaccedilo tem uma funccedilatildeo econocircmica e que
pode facilitar os fluxos econocircmico-industriais (BREITBACH 1988 ANDRADE
1977) A concepccedilatildeo de espaccedilo para Perroux (1967) eacute portanto econocircmica
Neste sentido a funccedilatildeo dos poacutelos de crescimento eacute a de possibilitar o aumento
da economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo deprimida (PERROUX 1967)
Para entender a transformaccedilatildeo dessa ideacuteia diretamente no espaccedilo o
autor faz uma comparaccedilatildeo da ideacuteia de crescimento com o surgimento e relaccedilatildeo
da induacutestria com o espaccedilo Para o autor um dos aspectos da estrutura de uma
economia de Estado-Naccedilatildeo eacute
A propagaccedilatildeo do crescimento duma induacutestria (ou grupos de induacutestrias) O aparecimento duma induacutestria nova ou o crescimento duma induacutestria existente propagam-se por intermeacutedio dos preccedilos fluxos antecipaccedilotildees No decurso de periacuteodos mais longos os
118
produtos duma induacutestria ou grupos de induacutestrias profundamente transformados e por vezes dificilmente reconheciacuteveis em comparaccedilatildeo com seu esboccedilo inicial possibilitam novas invenccedilotildees que datildeo origem a novas induacutestrias (PERROUX 1967 p 164)
A partir dessa estrutura pode-se perceber uma aproximaccedilatildeo com a ideacuteia
de poacutelos de turismo O PDT-PA assimila a condiccedilatildeo de que a presenccedila de um
aparato tecnoloacutegico voltado para turismo deve estar presente em uma sede ou
cidade - sede A partir dessa configuraccedilatildeo espacial as atividades iratildeo se
desenvolver em formas de ondas concecircntricas possibilitando uma irradiaccedilatildeo
do crescimento em aacutereas proacuteximas ao poacutelo ou sede Em comparaccedilatildeo com a
ideacuteia de Perroux (1967) as induacutestrias na verdade satildeo o fio condutor desse
crescimento Poreacutem no que diz respeito agraves accedilotildees do Estado para o fomento do
turismo a intenccedilatildeo eacute promover uma entrada ainda maior de empresas que
estejam interessadas em investir no setor Dessa forma gradativamente o
universo das empresas no ramo do turismo aumentaraacute provocando segundo a
ideacuteia do plano um crescimento das divisas geradas a partir do fluxo intenso
das atividades Neste sentido Perroux (1967) ainda afirma que
O fato rudimentar mais consistente eacute este o crescimento natildeo surge em toda a parte ao mesmo tempo manifesta-se com intensidades variaacuteveis em pontos ou poacutelos de crescimento propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos finais variaacuteveis no conjunto da economia (PERROUX 1967 p 164)
O autor ainda conclui afirmando
Examinar esta modalidade de crescimento eacute tornar expliacutecita e susceptiacutevel de tratamento cientiacutefico uma perspectiva jaacute patente em vaacuterios trabalhos de elaboraccedilatildeo teoacuterica imposta pela observaccedilatildeo dos paiacuteses de crescimento retardado manifesta na poliacutetica dos Estados modernos (PERROUX 1967 p 165)
119
Jaacute o plano entende a importacircncia da estruturaccedilatildeo dos poacutelos a partir de
espaccedilos selecionados pelo Governo do Estado Estes satildeo os lugares do
territoacuterio paraense que reuacutenem melhores condiccedilotildees de se desenvolver o
sistema turiacutestico Segundo o plano
Com base nestes seis poacutelos [Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes AraguiaTocantins e Xingu] cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivos agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5 grifo nosso)
O lugar que Perroux (1967) daacute agrave empresa motriz do ponto de vista
espacial pode ser entendido no plano de turismo do Estado como sendo as
regiotildees que o documento apresenta como regiotildees ou poacutelos que possibilitam o
crescimento do turismo No que se refere agrave espacializaccedilatildeo do turismo no Paraacute
a divisatildeo dos poacutelos estaacute situada em uma noccedilatildeo de regionalizaccedilatildeo das accedilotildees do
turismo colocando em evidecircncia as riquezas naturais que cada uma delas tecircm
Neste caso a teoria de Perroux (1967) se faz presente nas estrateacutegias
espaciais do PDT-PA
Cada poacutelo de turismo tem uma praacutetica diferente que corresponde a sua
peculiaridade enquanto produto turiacutestico a ser promovido para as operadoras
de turismo
No poacutelo Beleacutem por exemplo a estrateacutegia espacial desse tipo de poacutelo eacute
levar em consideraccedilatildeo a histoacuteria que a capital Beleacutem em convergecircncia com
muitos tipos culturais que acontecem nas cidades proacuteximas No plano existe
120
um quadro de posicionamento das maiores demandas das atividades culturais
ou naturais que estatildeo relacionadas com as escalas domeacutestica nacional ou
internacional As informaccedilotildees demonstram na verdade onde o poder puacuteblico
pode incentivar com maior rapidez o tipo de praacutetica turiacutestica que ocorre em
cada poacutelo Assim pretende-se cercar em todos os lugares as possibilidades de
arranco para o incremento do turismo
Quadro 4 Estrateacutegias de produtomercado poacutelo de Beleacutem
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico
Regional Nacional Internacional
Estadas curtas
Estadas longas
Eventos
Cruzeiros
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
Como se pode perceber os mercados geograacuteficos (domeacutestico regional
nacional e internacional) satildeo associados aos tipos de negoacutecios de turismo
que possibilitam um processo de alimentaccedilatildeo do capital Nesta perspectiva o
turismo no Poacutelo Beleacutem tem uma funcionalidade que o distingue dos demais
Como a cidade eacute a principal entrada para os maiores fluxos de pessoas e de
produtos que chegam do restante do paiacutes e do mundo essa eacute a forma pela
qual o plano tem a oferecer ao turista quando chega agrave cidade Neste caso
como Beleacutem tem a finalidade de sediar o seu proacuteprio poacutelo as demais cidades
que se localizam agraves suas proximidades participam dessa loacutegica de expansatildeo
FONTE PARAacute (2001 p 58)
121
das atividades do turismo Ainda mais porque eacute a partir de Beleacutem que a
dimensatildeo espacial do poacutelo ganha efeitos territoriais no estado todo
Cada poacutelo em especial eacute marcado pelo que o plano chama de
estrateacutegias de posicionamento Estas tecircm a funccedilatildeo de apresentar de forma
sucinta o que cada poacutelo tem a oferecer de acordo com as modalidades Sendo
assim o poacutelo Beleacutem apresenta as seguintes estrateacutegias
Quadro 5 Estrateacutegias de posicionamento do poacutelo Beleacutem
Global A entrada a um mundo fascinante
Estadas Curtas
A maior concentraccedilatildeo de experiecircncias no menor tempo
Estadas longas Um mundo a ser descoberto
Eventos As forccedilas da natureza
Reuniotildees Trabalhando no jardim
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 59)
De forma geral a apresentaccedilatildeo feita pelo plano no que diz respeito agraves
estrateacutegias de posicionamento satildeo elementos oferecidos na forma da
propaganda feita para esses setores do turismo Percebe-se tambeacutem uma
pretensatildeo de fazer um marketing do estado do Paraacute nas mais diversas escalas
122
sendo estas ligadas agraves demandas especiacuteficas que se interessam pelo tipo de
turismo praticado Com isso a ideacuteia eacute intensificar esses procedimentos fazendo
com que no final do processo se alcance a totalizaccedilatildeo do espaccedilo Portanto
levando em consideraccedilatildeo esses princiacutepios a criaccedilatildeo do poacutelo torna-se uma
ferramenta fundamental
No que diz respeito ao poacutelo Costa Atlacircntica a peculiaridade natural do
sol e praia eacute um dos principais atrativos a serem destacados no estado
Poreacutem como mesmo atesta o plano as outras modalidades de turismo a
serem praticadas neste poacutelo podem ser bem desenvolvidas desde que haja um
fomento necessaacuterio por parte do Estado
Para o poacutelo Costa Atlacircntica os mercados domeacutestico e regional se
destacam nesse processo de turistificaccedilatildeo dos lugares Os mercados nacional
e internacional ficam deslocados em relaccedilatildeo a essas demandas especiacuteficas A
abrangecircncia espacial torna-se mais limitada tanto do ponto de vista dos
mercados como do ponto de vista espacial O quadro abaixo sintetiza as accedilotildees
pretendidas pelo Governo do Estado no que diz respeito ao poacutelo Costa
Atlacircntica
Quadro 6 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Costa Atlacircntica
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional Nacional Internacional
Sol e Praia
Eventos
Reuniotildees
Esportes Aquaacuteticos
Melhor Idade
Pesca Esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 59)
123
Os mercados geograacuteficos de sol e praia no poacutelo Costa Atlacircntica satildeo
mais fortes em cidades como Salinoacutepolis e Marapanim Estas cidades
representam em parte a estrateacutegia de reunir os artifiacutecios necessaacuterios para
atrair turistas para esta regiatildeo Neste caso o plano de turismo do estado
apropria-se das peculiaridades regionais deste poacutelo para ressaltar a
importacircncia de ter a cultura como elemento atrativo para turistas Essa ideacuteia eacute
expressa nas estrateacutegias de posicionamento que o plano descreve enquanto
documento
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica
Sol e Praia Centro de Feacuterias de muacuteltiplas atividades enfocadas no recurso praia de mar divertido e adequado para famiacutelias com crianccedilas
Eventos O reino do Carimbo
Melhor idade A vida tranquumlila agrave beira-mar
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 p 59)
O poacutelo Marajoacute eacute um dos mais importantes quanto ao fomento da
atividade turiacutestica Neste poacutelo segundo o PDT-PA a modalidade do ecoturismo
torna-se um fator de identidade com o mercado nacional principalmente As
accedilotildees a serem desenvolvidas nessa aacuterea privilegiam um contato com a
natureza Os trajetos planejados pelas operadoras seguem uma loacutegica
racionalizada de conhecer os espaccedilos da regiatildeo do Marajoacute Nesse sentido o
incremento agraves atividades turiacutesticas ligadas a esse setor satildeo mais presentes
com o intuito de chamar a atenccedilatildeo de um segmento diferenciado Com a
perspectiva do ecoturismo a identidade de uma Amazocircnia paraense vem agrave
tona como um dos princiacutepios norteadores do crescimento do turismo No
124
tocante ao ecoturismo Rocha (2002) mostra que este uacuteltimo eacute um segmento
que tem notoacuteria expansatildeo e nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas de turismo
tendem a privilegiar tais modalidades a fim de estabelecer formas de geraccedilatildeo
de desenvolvimento O quadro abaixo mostra como o PDT-PA relaciona os
principais atrativos de turismo no poacutelo Marajoacute dando destaque ao ecoturismo
enquanto um mercado que tem uma ecircnfase em escala nacional
Quadro 8 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Marajoacute
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 60)
O comentaacuterio acerca do ecoturismo nesse poacutelo assim se define
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugadas As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Mercados geograacuteficos
NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo rural
Cultural
Praias
Turismo educacional
Melhor Idade
125
Tal situaccedilatildeo ainda eacute reforccedilada pela estrateacutegia de posicionamento
presente no documento que afirma ser necessaacuterio dar um conteuacutedo positivo agrave
percepccedilatildeo do Marajoacute (PARAacute 2001 p 61)
No que se refere ao poacutelo AraguaiaTocantins as estrateacutegias espaciais
pensadas pelo documento satildeo afirmadas como negoacuteciosmercados (PARAacute
2001) o que de certa forma faz com que as mesmas se diferenciem quanto agrave
sua especificidade e capacidade de atuar nos mercados regional nacional e
internacional tendo como escopo a competitividade O quadro abaixo
evidencia esta realidade
Quadro 9 Estrateacutegias de produto mercado do AraguaiaTocantins
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional
Nacional
Internacional
Pesca Esportiva
Reuniotildeeseventos
Atividades ecoturiacutesticas
Atividades aquaacuteticas
Sol e praia
Turismo Industrial
Turismo Educacional
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 62)
Outro poacutelo presente nas estrateacutegias espaciais do plano eacute o Tapajoacutes
Segundo o documento o poacutelo Tapajoacutes tem uma grande perspectiva para o
segmento turismo ecoloacutegico (PARAacute 2001) Tendo como sede a cidade de
Santareacutem o poacutelo Tapajoacutes segundo o plano tambeacutem tem a facilidade de
incrementar a pesca esportiva Suas prioridades neste caso concentram-se
126
mais nos mercados nacional e internacional para este segmento conforme
mostra o quadro
Quadro 10 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Tapajoacutes
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico Regional Nacional
Internacional
Ecoturismo (viagens de interesse especial viagens de aventura)
Pesca esportiva
Cruzeiros fluviais
Esportes acuaacuteticos
Turismo eacutetnico-raiacutezes
Sol e praia
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 63)
Por fim o poacutelo Xingu mostra uma peculiaridade voltada para o
ecoturismo que na anaacutelise do documento eacute o poacutelo que mais reuacutene condiccedilotildees
de atratividade turiacutestica por conta de seus valores naturais Segundo o plano
() O Poacutelo Xingu que contempla rios fauna e flora conjugados eacute perfeito para o ecoturismo As particularidades deste grandioso cenaacuterio fazem com que este seja o entorno ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 64)
127
Neste sentido o PDT-PA organiza suas estrateacutegias espaciais para o
poacutelo da seguinte forma
Quadro 11 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Xingu
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo de aventuras
Turismo de interesse especial
Pesca esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 64)
Os poacutelos presentes nessa loacutegica do plano apresentam assim a ideacuteia de
uma racionalizaccedilatildeo do espaccedilo paraense Essa perspectiva julga a natureza
como um recurso em funccedilatildeo da atividade turiacutestica Neste caso a concepccedilatildeo de
turismo do plano mais ainda a concepccedilatildeo de espaccedilo presente contribui para
uma ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de forma homogecircnea Para cada poacutelo portanto
apresenta-se uma estrateacutegia de mercado que necessariamente coincide com a
atratividade dos lugares Eacute nesse momento que o espaccedilo paraense ganha uma
nova ordem que eacute aquela da ordem dos fluxos de turismo Palavras de forte
apelo turiacutestico como se vecirc no poacutelo Xingu paraiacuteso da pesca esportiva (PARAacute
2001 p 61) ou ainda a ideacuteia de aventura (no caso do poacutelo Tapajoacutes) satildeo
essenciais para a esfera do marketing
Fazendo-se uma associaccedilatildeo com as ideacuteia de Perroux (1969) a intenccedilatildeo
de criar poacutelos eacute fazer com que eles sejam sedes de empresas Estas entatildeo
seriam responsaacuteveis pela transformaccedilatildeo econocircmica de uma regiatildeo Mas o
128
documento natildeo especifica se satildeo as empresas os agentes da transformaccedilatildeo
nem tampouco outros atores do turismo que possam integrar a essa estrateacutegia
de desenvolvimento econocircmico no estado como pequenos e medos
empresaacuterios setor informal da economia entre outros Por outro lado o plano
prefere falar que atraveacutes da consolidaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos (PARAacute
2001) eacute que a irradiaccedilatildeo do crescimento seraacute possiacutevel Assim natildeo haacute no
documento uma clara participaccedilatildeo sobre os sujeitos encarregados da dinacircmica
econocircmica feita por poacutelos Contudo segundo ainda esta concepccedilatildeo a intenccedilatildeo
do plano eacute que esses espaccedilos selecionados precisam ter condiccedilotildees de infra-
estrutura para suportar a demanda turiacutestica necessaacuteria (PARAacute 2001) Com
isso como natildeo haacute o esclarecimento sobre os agentes o poacutelos (de turismo)
podem ser constituiacutedos tanto pela induacutestria motriz (PERROUX 1969
BREITBACH 1988 ANDRADE 1977) como por outros agentes que
desencadeie o crescimento inclusive a populaccedilatildeo de uma forma geral A
intenccedilatildeo acima de tudo eacute que os espaccedilos selecionados tenham
potencialidade turiacutestica (PARAacute 2001) e capacidade de incremento econocircmico
no mercado
As estrateacutegias de posicionamento (PARAacute 2001) de cada poacutelo por
exemplo estatildeo estrategicamente posicionadas para outros espaccedilos Isso quer
dizer que os atrativos turiacutesticos de cada poacutelo correspondem em grande parte a
uma demanda de turistas de outros estados e paiacuteses principalmente aqueles
que tenham condiccedilotildees de estabelecer consumo dos produtos vendidos nos
poacutelos Por mais que o mercado regional seja um aquecedor do turismo
paraense em muitos momentos vale-se da sazonalidade ou seja os
movimentos feitos por grande parte dos turistas tecircm como espaccedilo emissor a
capital Beleacutem Para o plano essa perspectiva precisa mudar e se associar agrave
expansatildeo do mercado turiacutestico Daiacute a importacircncia de associar as
caracteriacutesticas de cada poacutelo agraves demandas de outros estados e paiacuteses e
estabelecer um marketing favorecendo a propaganda do estado Em outras
palavras o PDT-PA propotildee atraveacutes dos poacutelos uma adequaccedilatildeo de perfil dos
tipos de turistas aos recursos naturais do estado como mostra a figura na
paacutegina seguinte
129
Figura 2 Lodge Pesca Esportiva
FONTE PARAacute (2001 p70)
Comentaacuterio Proposta de empreendimento turiacutestico peculiar aos poacutelos de crescimento que conteacutem um potencial para a pesca esportiva Na figura pode-se perceber uma estilizaccedilatildeo das casas ou espaccedilos de acomodaccedilatildeo para os turistas bem como do tipo de natureza que eacute concebida pelo plano uma espeacutecie de pseudo-adequaccedilatildeo ao estilo de vida dos pescadores regionais ou ainda a construccedilatildeo de um simulacro voltado para o lazer
Neste caso pensar uma concepccedilatildeo de turismo eacute no mesmo sentido
pensar uma concepccedilatildeo de espaccedilo impregnada de valores e desejos por parte
daqueles que objetivam mudanccedilas a partir de uma loacutegica do turismo Isso
demonstra em outros termos que o plano de desenvolvimento de turismo do
estado eacute um documento que utiliza os espaccedilos na forma de poacutelos de
crescimento (PERROUX 1969) para focalizar e implementar sua concepccedilatildeo de
turismo Por mais que as peculiaridades dos atrativos turiacutesticos se destaquem
no cenaacuterio paraense a loacutegica global desse fenocircmeno eacute a mesma O espaccedilo
assume uma dimensatildeo de aptidatildeo paisagiacutestica (SILVEIRA 2002) Ou seja um
conjunto ou reuniatildeo de elementos que estatildeo na esfera do visiacutevel e que
constituem a esfera do siacutembolo ou da representaccedilatildeo dos lugares Satildeo
vantajosos para o circuito do capital e para o desenvolvimento das atividades
turiacutesticas (SILVEIRA 2002)
130
44 Espaccedilo turismo e desenvolvimento desvelando propostas e intenccedilotildees
O momento de entender a proposta de desenvolvimento apresentada
por um plano torna-se uma siacutentese poreacutem natildeo menos importante Enquanto
pretensatildeo os ideais do desenvolvimento podem ser claros o suficiente pois
estatildeo na grande maioria materializados na forma de documentos
planejamentos planos de desenvolvimento e claro na forma de poliacuteticas
puacuteblicas (setorizadas ou amplas) Tal dificuldade expotildee incondicionadamente
interesses dos agentes que pensam o desenvolvimento
Neste sentido falar da importacircncia do desenvolvimento requer pensar
uma profunda transformaccedilatildeo natildeo soacute dos espaccedilos mas acima de tudo da
sociedade como um todo Por mais que a proposta de desenvolvimento natildeo
atinja diversas classes sociais ou abarque os conflitos que entre elas existem
(em muitos casos os conflitos entre as classes sociais satildeo ignorados por
autoridades que fazem propostas sobre o desenvolvimento acirrando-os ainda
mais) mesmo assim o que estaacute em jogo eacute um conjunto de accedilotildees que visam agrave
transformaccedilatildeo da sociedade
No turismo essa realidade natildeo seria diferente ainda mais porque ora
as propostas de desenvolvimento desse setor apresentam-se enquanto
setorizadas (somente do e para a atividade do turismo) ora ligadas a outros
setores estrateacutegicos das poliacuteticas puacuteblicas como economia urbanizaccedilatildeo
saneamento entre outros
Natildeo necessariamente o desenvolvimento conteacutem em suas
formulaccedilotildees as dimensotildees social e econocircmica (esta uacuteltima mais valorizada)
como forma e conteuacutedo nas tomadas de decisotildees que satildeo implementadas pelo
Estado Neste processo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas aparece como
instrumento de accedilatildeo necessaacuterio ao processo do desenvolvimento As poliacuteticas
puacuteblicas satildeo portanto a forma pela qual o processo de desenvolvimento se daacute
Hall (2001) ao tratar das dimensotildees do planejamento poliacutetica e plano
faz uma importante diferenciaccedilatildeo Para o autor a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
131
puacuteblicas eacute um ato poliacutetico e nesse sentido elas estatildeo inteiramente ligadas agraves
decisotildees e caracteriacutesticas econocircmicas culturais sociais e claro ideoloacutegicas o
que as isenta de qualquer tipo de neutralidade
Segundo ainda o mesmo autor o planejamento eacute uma ferramenta
importante para se pensar a dinacircmica das poliacuteticas puacuteblicas pois integra uma
relaccedilatildeo entre passado presente e futuro ou seja uma caracteriacutestica
fundamental do planejamento eacute sua constante dinamicidade ou um
pensamento que natildeo pretende ser estaacutetico no espaccedilo e no tempo
No que diz respeito ao plano Hall (2001) afirma que este se refere a um
conjunto de decisotildees ou ainda accedilotildees a serem desenvolvidas no futuro Isto
quer dizer que as ideacuteias contidas em um plano satildeo a siacutentese de pensamentos
elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e planejamentos feitos pelo governo Em um plano
esses elementos aparecem de forma concretizada ou materializada O que
facilita de uma forma geral a visualizaccedilatildeo das accedilotildees (muitas vezes elaboradas
sob a forma de programas de intervenccedilatildeo)
Em uma dimensatildeo mais ampla a condiccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de um plano
reflete as intenccedilotildees gerais sobre o que seja o desenvolvimento Eacute neste ponto
que a relaccedilatildeo entre o plano de turismo do Paraacute e a questatildeo sobre
desenvolvimento revela-se um ponto importante a ser analisado Neste sentido
o espaccedilo paraense eacute a base de materializaccedilatildeo das ideologias pensadas pelo
Estado e tambeacutem reflexo das intervenccedilotildees jaacute feitas para garantir o
desenvolvimento da atividade turiacutestica Para tanto ideacuteias como melhoria da
qualidade de vida riqueza dos atrativos da Amazocircnia paraense (PARAacute 2001)
estatildeo associados a uma conversatildeo para o mercado tanto que o Paraacute
apresenta condiccedilotildees significativas para que o turismo seja importante
instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
Neste caso percebe-se que a visatildeo estrateacutegica do plano para o
desenvolvimento estaacute referendada por uma relaccedilatildeo promissora entre a
potencialidade natural do Paraacute e a potencialidade econocircmico-financeira que o
mesmo pode gerar Por um outro lado assim como na questatildeo sobre a
concepccedilatildeo de turismo em nenhum momento o plano discute ou afirma qual
132
sua concepccedilatildeo de desenvolvimento mostrando assim sua fragilidade nesse
criteacuterio Seu conteuacutedo referente agrave dimensatildeo do desenvolvimento natildeo requer
uma apreciaccedilatildeo conceitual mas sim a identificaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos e
suas estrateacutegias mercadoloacutegicas
Hall (2001) destaca os tipos de planejamentos a partir da atividade
turiacutestica em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento Nesse sentido o autor
ressalta a importacircncia de natildeo se perceber o planejamento a partir de uma
dimensatildeo econocircmica pois este se realizado desta forma mostra na praacutetica
suas imperfeiccedilotildees e limites O autor faz uma anaacutelise de um tipo de
desenvolvimento
o desenvolvimento sustentaacutevel
fazendo com que a ideacuteia
de meio ambiente se torne o centro das discussotildees sobre planejamento da
atividade turiacutestica O autor eacute claro ao enfatizar a dimensatildeo unilateral da
abordagem econocircmica no desenvolvimento Para ele a mesma quando
utilizada como uacutenica interpretaccedilatildeo de um plano reduz a importacircncia de um
documento a dados econocircmicos desencadeando assim resultados isolados
ou ainda consequumlecircncias nada positivas para o meio ambiente e para a
sociedade Qualquer indicador de desenvolvimento baseado no valor
monetaacuterio da produccedilatildeo estaacute sujeito a imperfeiccedilotildees teacutecnicas e conceituais
(SMITH apud HALL 2001 p 22)
As iniciativas de mercado pensadas pelo governo do Estado satildeo
detalhadamente expostas no documento definidas principalmente sob a forma
de estrateacutegias (parte B do plano) mostrando etapas de uma espeacutecie de
desenvolvimento econocircmico A ideacuteia de crescimento com sustentabilidade
(PARAacute 2001) aparece como se fosse apecircndice do desenvolvimento econocircmico
pretendido pelo Governo atraveacutes do PDT-PA mesmo assim tal ideacuteia natildeo eacute
conceituada tampouco problematizada no documento
Como uma forma de contribuir para a ideacuteia de desenvolvimento Souza
(2002) oferece uma anaacutelise importante que tem o intuito de criar um novo
paradigma conceitual Essa questatildeo tambeacutem se aplica ao turismo enquanto
uma ferramenta de desenvolvimento local O autor procura ir aleacutem das
concepccedilotildees de desenvolvimento tradicional e procura estabelecer uma
diferenccedila entre o desenvolvimento econocircmico (forma tradicional e tambeacutem a
133
mais usual nos planejamentos) e o desenvolvimento soacutecio-espacial (alternativa
ao economicismo) Para o autor pelo fato do turismo ser uma atividade
complexa e que implica em impactos positivos e negativos na sociedade e no
meio ambiente ele merece um destaque qualificado nas teorias sobre o
desenvolvimento
Para Souza (2002) o desenvolvimento ao longo dos anos veio
sublinhado como sinocircnimo de desenvolvimento econocircmico o que se configura
na relaccedilatildeo entre o crescimento econocircmico ou seja referente ao Produto
Nacional Bruto (PNB) ou Produto Interno Bruto de um paiacutes (PIB) e a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste caso essa relaccedilatildeo eacute suficiente para perceber
a concepccedilatildeo de desenvolvimento que o PDT-PA pensa para o Paraacute Quando
em sua introduccedilatildeo o plano designa a ideacuteia de sustentabilidade e de melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo paraense em funccedilatildeo do crescimento
(PARAacute 2001) na verdade a concepccedilatildeo de mercado paira como principal e
esta encerra a condiccedilatildeo para que haja o desenvolvimento do turismo no
territoacuterio paraense A ecircnfase nos processos sobre atratividade marketing
produccedilatildeo e gestatildeo (PARAacute 2001) satildeo elementos essenciais para se perceber o
forte conteuacutedo mercadoloacutegico inerente ao documento
No plano de turismo do estado do Paraacute o governo se esforccedila para
chamar a atenccedilatildeo dos turistas que vecircm de fora do estado Eacute preciso fazer a
propaganda de seu lugar mostrar atraveacutes do marketing e divulgaccedilatildeo que o
Paraacute eacute um espaccedilo interessante a ser desfrutado Em suas linhas gerais o
plano destaca a beleza exoacutetica da natureza amazocircnica e dos valores culturais
para atrair turistas Esses espaccedilos como afirma Boulloacuten (2002) devem estar
dotados de um bom sistema turiacutestico em outras palavras a infra-estrutura do
lugar deve estar concernente ao melhor trajeto das pessoas que visitam os
lugares diferentes Poreacutem ao tomar essa ideacuteia como estrateacutegia de
desenvolvimento os espaccedilos selecionados para a praacutetica do turismo (os poacutelos)
excluem o restante do territoacuterio paraense ou ainda estes uacuteltimos devem estar
sintonizados com a loacutegica de desenvolvimento proposta pelo governo Poreacutem
lembrando que a loacutegica de construccedilatildeo de poacutelos a partir da teoria de Perroux
(1969) natildeo permite que o crescimento se decirc em todos os lugares haacute um
134
campo de forccedilas (PERROUX 1969) que atua em um espaccedilo especiacutefico Daiacute a
loacutegica dos poacutelos Nesse sentido o desenvolvimento do turismo no Paraacute natildeo se
daacute de forma homogecircnea privilegiando por outro lado as cidades que reuacutenem
infra-estrutura adequada causando assim um desenvolvimento
desequilibrado no territoacuterio
No tocante agrave questatildeo do conforto ao turista o plano concentra esforccedilos
ao tentar oferecer aos que visitam o estado tudo o que haacute de melhor pois satildeo
eles os responsaacuteveis diretos pela geraccedilatildeo de lucro no local de destino O
plano ao conceber os espaccedilos natildeo estabelece uma necessidade de somente
melhorar ou ampliar os espaccedilos com potencial turiacutestico Aleacutem disso eacute no
conforto e comodidade do turista ao visitar o Paraacute que esses espaccedilos satildeo
pensados (concebidos) ou quando jaacute prontos satildeo incrementados Eacute nesse
momento que o papel do Estado eacute fundamental para se entender o processo
de reestruturaccedilatildeo espacial
O diferencial neste ponto satildeo as peculiaridades espaciais O turista visita
outros lugares com o intuito de conhecer o diferente o inusitado o exoacutetico E
neste sentido busca algo diferente em sua vida Pensando nessa situaccedilatildeo o
Governo do Estado do Paraacute faz uma adequaccedilatildeo desses espaccedilos
O PDT-PA concebe neste caso espaccedilos voltados para a funcionalidade
turiacutestica Tais espaccedilos estatildeo estruturados de forma a atender diretamente a
necessidade dos que visitam a Amazocircnia paraense por isso os turistas satildeo o
objetivo final do plano Eacute atraveacutes da entrada deles que a dinacircmica turiacutestica
acontece No documento existem imagens que pensam o bem-estar do turista
de acordo com os aspectos naturais da regiatildeo As imagens neste caso
tornam-se um importante recurso estrateacutegico para se pensar mercados
interessados em investir nesses espaccedilos concebidos pelo Estado a fim de
fomentar o turismo
135
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza)
FONTE PARAacute (2001 p 69)
A pouca ecircnfase dada aos conceitos que estatildeo associados ao
desenvolvimento do turismo eacute uma marca constante no plano A ideacuteia de
qualidade de vida (um aspecto importante das temaacuteticas do desenvolvimento) eacute
reduzida a uma pequena parte do plano localizada na sua introduccedilatildeo Como
fora mostrado nos capiacutetulos anteriores a decisatildeo do plano eacute fazer uma
caracterizaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos paraenses A qualidade de vida adviria
de uma maior rentabilidade gerada a partir do incremento econocircmico desses
produtos tanto que para o plano o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito
significativas para que o turismo seja um importante instrumento de
desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001) Neste sentido mais uma
Comentaacuterio Na figura mostra-se um exemplo de descanso em volta de uma natureza criada que eacute como mostra no documento uma peculiaridade desses espaccedilos O turista portanto ao desfrutar desse tipo de serviccedilo identifica-se com a regionalidade dos lugares apropriados estrategicamente pelo turismo Essa regionalidade por outro lado eacute reduzida a este universo causando assim uma simulaccedilatildeo
136
vez o reducionismo se faz presente na anaacutelise sobre o desenvolvimento
causando desta forma sua debilidade
O PDT-PA ainda faz uma abordagem destacaacutevel sobre tipos de espaccedilos
de lazer que se encontram em consonacircncia com a estrutura dos poacutelos Tais
espaccedilos reuacutenem condiccedilotildees favoraacuteveis para a praacutetica do turismo e de forma
ampla para o desenvolvimento da atividade e o seu consequumlente crescimento
econocircmico para o estado Para o plano a construccedilatildeo desses espaccedilos serve de
referecircncia para atrair turistas pois na sua concepccedilatildeo os valores no que se
refere agrave natureza lazer na Amazocircnia paraense satildeo importantes para o fomento
agrave atividade turiacutestica Como afirma o plano A natureza amazocircnica com sua
extraordinaacuteria riqueza de flora e fauna constituem o maior atrativo do Paraacute
(PARAacute 2001 p 71) Percebe-se com isso que a apropriaccedilatildeo da natureza
segundo esses princiacutepios torna-se um caminho importante para o
desenvolvimento A figura da paacutegina seguinte mostra mais uma ideacuteia pensada
pelo plano para a transformaccedilatildeo do territoacuterio paraense
137
Figura 4 Resort aventura e natureza
FONTE PARAacute 2001 p 71
Comentaacuterio A atividade gerada nesses espaccedilos torna-se um fator importante para o desenvolvimento do turismo Neles o consumo da paisagem bem como da natureza eacute um estimulador de riqueza e por isso passa a ser uma estrateacutegia para o crescimento econocircmico
Harvey (2004) apresenta um argumento interessante sobre esses
espaccedilos imaginados principalmente quando satildeo pensados a partir de
planejamentos para a organizaccedilatildeo espacial de um lugar Para o autor o
chamado utopismo de livre organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2004) funciona
atraveacutes de espaccedilos fechados como uma economia isolada (HARVEY 2004)
com o intuito de controlar natildeo soacute o espaccedilo mas o tempo tambeacutem garantindo
assim uma possibilidade de mudanccedila social e histoacuterica Neste caso os
processos sociais satildeo controlados reprimidos atraveacutes de uma forma espacial
fixa (HARVEY 2004) O plano afirma que a construccedilatildeo desses lugares eacute
baseada numa preacute-seleccedilatildeo onde a beleza paisagiacutestica e a riqueza da fauna e
da flora devem ser destacadas (PARAacute 2001) facilitando com isso seu uso
Com isso as ideacuteias de desenvolvimento a partir do PDT-PA podem ser
percebidas a partir de um universo econocircmico onde este eacute o carro chefe da
138
transformaccedilatildeo do turismo e da sociedade Os elementos de mercado presentes
no documento como as estrateacutegias comerciais a propaganda o marketing a
seleccedilatildeo de espaccedilos marcam uma concepccedilatildeo especiacutefica da poliacutetica puacuteblica
pensada pelo Estado paraense para o turismo As accedilotildees decorrentes dessas
poliacuteticas quando materializadas no espaccedilo tendem agrave mudanccedilas consideraacuteveis
no que diz respeito agrave sociedade Como siacutentese dessas poliacuteticas o PDT-PA traz
um posicionamento que tambeacutem eacute o reflexo do que se pensa sobre o turismo e
desenvolvimento Neste sentido tais poliacuteticas soacute podem se tornar efetivas se
houver o espaccedilo como condiccedilatildeo para esse processo o que garante por assim
dizer que o desenvolvimento da atividade turiacutestica tambeacutem soacute pode ser feito
mediante essa condiccedilatildeo espacial
139
5 CONCLUSOtildeES
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma seacuterie de efeitos e processos que produzem diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida nos usos de recursos nas relaccedilotildees com o ambiente e nas formas poliacuteticas e culturais (David Harvey 2004)
140
No trecho destacado da paacutegina anterior David Harvey procura analisar o
que ele chama de desenvolvimento geograacutefico desigual sendo este uma
proposta alternativa agrave ideacuteia de globalizaccedilatildeo Para Harvey (2004) o processo de
globalizaccedilatildeo do capitalismo atingiu um estaacutegio muito complexo e por isso
mesmo o conceito de globalizaccedilatildeo natildeo daacute mais conta de explicar as recentes
transformaccedilotildees que o mundo estaacute passando Eacute necessaacuterio para ele esboccedilar
um argumento capaz de articular a dialeacutetica das escalas Tais escalas
necessariamente devem estar pensadas entre o micro (que para ele estaacute
representada na figura do corpo humano) e o macro (os processos globais que
ocorrem em todo o planeta) Dessa forma segundo Harvey (2004) as nuanccedilas
soacutecio-espaciais podem se tornar mais claras e a sociedade como um todo natildeo
fica a mercecirc das transformaccedilotildees que o sistema capitalista impotildee no mundo
fazendo com que qualquer mudanccedila natildeo seja tomada de forma acriacutetica
Ainda pode-se afirmar logo de iniacutecio que pensar em poliacuteticas puacuteblicas
de turismo eacute pensar em seus efeitos e processos que produzem as diferenccedilas
geograacuteficas de um lugar Por isso entendido como ponto de discussatildeo central
desse trabalho a anaacutelise de um plano enquanto um documento que une as
possibilidades de transformaccedilatildeo de um lugar requer pensar de forma dialeacutetica
um elemento que iraacute produzir as diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida de
uma sociedade ou em uma cultura como diz Harvey (2004)
Poreacutem deve-se entender que a construccedilatildeo de um plano de turismo
refere-se agrave processos de construccedilatildeo de espaccedilos a partir de uma loacutegica estatal
Ou seja analisar a poliacutetica puacuteblica de turismo eacute antes de tudo relacionaacute-la a
uma ideologia de Estado
Neste caso as transformaccedilotildees mundiais que o turismo de mercado vem
causando em sua grande maioria satildeo fruto de uma relaccedilatildeo com o Estado
pois eacute este uacuteltimo que se torna o principal aliado nas negociaccedilotildees sobre o lazer
a partir do turismo
O alcance dessa relaccedilatildeo eacute tatildeo intensa que os governos ao pensarem no
turismo como elemento integrante de seu sistema de governo produzem
artifiacutecios que possibilitam as grandes empresas hoteleiras as agecircncias de
141
turismo locais os operadores grupos associados entre outros (ou na
linguagem comum de quem trabalha no ramo do trade turiacutestico) a terem mais
acessibilidade a espaccedilos Neste processo atraveacutes de estudos teacutecnicos eacute que
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo elaboram documentos necessaacuterios ao avanccedilo
desses agentes no espaccedilo Surgem portanto os planos de turismo como
siacutentese da organizaccedilatildeo das ideacuteias pensadas (arquitetadas) pelo Estado e por
representantes do ramo turiacutestico Como bem lembra Cruz (2001) as poliacuteticas
puacuteblicas natildeo satildeo estrategicamente pensadas de forma adequada pelo Estado
ela pode ficar ao sabor das iniciativas privadas ou ficar agrave revelia delas Nisto
reside portanto os interesses dos agentes privados em fazer com que o
processo de construccedilatildeo de planos de turismo por parte do Estado possa
garantir uma intervenccedilatildeo mais raacutepida
A Amazocircnia sem duacutevida nenhuma nos uacuteltimos tempos tem-se
transformado em um dos espaccedilos privilegiados para a expansatildeo da atividade
turiacutestica Num amplo espaccedilo como este a praacutetica do lazer ganha um
diferencial associado agrave questatildeo de se estar mais proacuteximo de espaccedilos naturais
ou selvagens O exoacutetico da floresta eacute um objeto que devidamente apropriado
pelos promotores de turismo (no sentido de estrateacutegia de mercado) passa a
ser consumido a partir de viagens diferentes dos circuitos tradicionais como as
praias de litoral O encanto da floresta sua suntuosidade exuberacircncia satildeo
elementos muito divulgados em folders ou propagandas em outros mercados
emissores a fim de atrair turistas para a regiatildeo Os estados que compotildeem a
regiatildeo amazocircnica neste caso articulam-se para promover ainda mais esse
novo foco de mercado e tambeacutem possibilidade de geraccedilatildeo de divisas
Ao discutir a importacircncia do plano de Turismo para o Paraacute necessaacuterio
se fez pensar de forma inerente o que se veicula em termos de ideacuteias
estrateacutegias ou modelos de desenvolvimento que satildeo detalhados num
documento como esse Neste caso natildeo basta somente afirmar a ideacuteia de que
o Estado eacute um agente facilitador dos processos de turismo em seu espaccedilo As
ideacuteias estrateacutegias modelos de desenvolvimento estatildeo assim unidos em
concepccedilotildees de turismo espacialidades noccedilotildees de desenvolvimento Sendo
142
assim o PDT-PA mesmos natildeo definindo ou conceituando devidamente
mostra elementos que estatildeo associados a esses criteacuterios
No que diz respeito por exemplo agrave concepccedilatildeo de turismo que eacute
veiculada no plano o documento eacute enfaacutetico ao revelar a importacircncia do Paraacute
como novo espaccedilo a ser convertido em trade Dado o interesse por parte do
plano uma concepccedilatildeo do voltada ao mercado surge nas entrelinhas do
documento sendo esta importante para o desenvolvimento da atividade
Esta concepccedilatildeo permite visualizar o interesse por parte do Estado em
tornar o territoacuterio paraense um potencial turiacutestico ou um grande celeiro de
oportunidade de negoacutecios voltados para o setor Neste sentido elementos
importantes como natureza tornam-se objetos e satildeo valorizados nessa
relaccedilatildeo na qual agentes de mercado do turismo se utilizam de fragmentos dos
espaccedilos naturais principalmente aqueles que demonstram uma beleza cecircnica
com potenciais de mercado A natureza passa a ser objeto de troca de
mercado Eacute o proacuteprio espaccedilo que se torna foco de atenccedilatildeo da construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas Atraveacutes de uma maciccedila propaganda a utilizaccedilatildeo da
paisagem passa a ser o recurso de apoio na venda desses espaccedilos que
entram no circuito da troca (CARLOS 2002) ou na produccedilatildeo da artificialidade
Uma outra ideacuteia que estaacute associada agrave concepccedilatildeo de turismo de
mercado e que por conseguinte o plano de turismo do Paraacute adota baseia-se
no princiacutepio de que o turismo sempre eacute beneacutefico agrave sociedade local e que por
isso mesmo traz em sua bagagem a condiccedilatildeo de melhoria da qualidade de
vida e de novas percepccedilotildees sobre o meio ambiente
Ideacuteias como sustentabilidade ou crescimento sustentaacutevel aparecem nos
primeiros paraacutegrafos do documento poreacutem natildeo satildeo devidamente exploradas
ou sequer conceituadas Isto provoca uma sensaccedilatildeo de que o turismo eacute
panaceacuteia para todos os males (ROCHA 2002) Neste caso o PDT-PA revela-
se fragilizado e reducionista quanto agrave questatildeo do que seja a melhoria da
qualidade de vida e o que seja sustentabilidade soacutecio-ecoloacutegica A ideacuteia de
que o plano fora definido de forma estrateacutegica para garantir a melhoria da
qualidade de vida para a populaccedilatildeo paraense estaacute calcada em princiacutepios
143
exclusivos de cunho mercadoloacutegico Toda essa estrutura estaacute voltada para um
maior incremento da atividade turiacutestica no estado fortalecendo assim uma
concepccedilatildeo muito forte sobre a ideacuteia de mercadificaccedilatildeo dos espaccedilos (SOUZA
2002)
No que diz respeito ao foco das estrateacutegias espaciais adotadas pelo
plano este eacute abrangente e pensa o territoacuterio por completo a partir das meso-
regiotildees internas do Estado O peso dado agrave seleccedilatildeo das regiotildees turiacutesticas faz
com que a transformaccedilatildeo do turismo no Paraacute se decirc de forma totalizante Neste
caso o territoacuterio paraense eacute pensado de forma abrangente a partir dos lugares
(cidades com infra-estrutura) que jaacute tecircm uma preacute-disponibilidade que
congregam os atrativos turiacutesticos necessaacuterios para tornar este lugar em um
potencial turiacutestico
A estrutura feita em poacutelos (Beleacutem Costa Atlacircntica Araguaia Tocantins
Xingu Tapajoacutes e Marajoacute) permite visualizar a possibilidade de valorizaccedilatildeo
desses espaccedilos a partir de suas peculiaridades Permite tambeacutem em uma
dimensatildeo teoacuterico-conceitual maior visualizar uma adaptaccedilatildeo das teorias dos
poacutelos de crescimento de Perroux (1969) Este autor entendia que para uma
economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo pudesse fluir melhor era necessaacuterio
se fragmentar os espaccedilos em subespaccedilos ou em outras palavras em regiotildees
produtivas que facilitassem o fluxo de mercado esse fluxo era garantindo
acima de tudo pela presenccedila da induacutestria a qual reunia as condiccedilotildees de
transformaccedilatildeo econocircmica de um lugar Isto quer dizer que o PDT-PA a partir
das estrateacutegias espaciais feitas por poacutelos pensa o espaccedilo paraense de forma
racional e de forma que privilegie induacutestrias do turismo inteiramente voltadas
para o mercado Pois nessa situaccedilatildeo o importante eacute dar flexibilidade agraves
empresas que atuam nos espaccedilos privilegiados (PERROUX 1969) natildeo
levando em consideraccedilatildeo ou mencionado outros agentes da economia que
possam integrar o mercado do turismo Percebe-se assim uma maior fluidez
aos agentes do circuito superior da economia (SANTOS 2004)
Nessa situaccedilatildeo cria-se a ilusatildeo de que as sedes das regiotildees poacutelos pelo
fato de reunirem condiccedilotildees preacutevias para um arranque de crescimento
econocircmico possibilitam com que gradativamente as cidades que se localizam
144
ao redor da sede possam ter o tipo de desenvolvimento da atividade turiacutestica
arrolada no centro entendendo-se aiacute que as cidades possam ter a mesma
intensidade de desenvolvimento No plano essa situaccedilatildeo eacute mais clara quando
se faz um diagnoacutestico das potencialidades de cada regiatildeo do estado de
acordo com a geraccedilatildeo de um objetivo pautado na relaccedilatildeo entre produtividade
atratividade gestatildeo e marketing (PARAacute 2001) sempre com o intuito de
garantir a competitividade dos espaccedilos Como um outro elemento que
contempla essa visatildeo de turismo o governo do estado do Paraacute define uma
concepccedilatildeo de turismo e as estrateacutegias espaciais com o intuito ainda maior de
promover um desenvolvimento tanto da atividade enquanto uma perspectiva
setorial como uma perspectiva de cunho soacutecio-econocircmico E neste sentido a
ideacuteia de desenvolvimento baseia-se em uma concepccedilatildeo expliacutecita de
desenvolvimento econocircmico ou que atribui aos ideais econocircmicos as
perspectivas de um mercado global
Nessa situaccedilatildeo dois elementos marcam a proposta de desenvolvimento
descrita no plano de turismo Segundo as ideacuteias de Souza (1997 2000 2001
2004) o que basicamente caracteriza o desenvolvimento do tipo econocircmico eacute
o crescimento econocircmico e a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste sentido a
estrutura do documento mostra-se enveredada para o caminho do
desenvolvimento de mercado assinalando as divisotildees necessaacuterias para se
alcanccedilar as metas previstas pelo Governo do Estado O slogan da
competitividade aparece como elemento norteador nas accedilotildees do documento
principalmente quando em sua proposta a reestruturaccedilatildeo de outros elementos
como marketing gestatildeo produtividade e atratividade devem estar associados a
condiccedilatildeo do que seja o desenvolvimento do turismo no Paraacute e em uma
dimensatildeo mais ampla da sociedade e de seu modo de pensar e agir sobre o
que seja turismo e melhoria da qualidade de vida
Segundo o documento a assertiva do crescimento deve associar-se agrave
questatildeo da sustentabilidade Poreacutem como foi analisado o debate da
sustentabilidade aparece condicionado ou como um apecircndice do mercado Eacute
nesse sentido de fato que o crescimento assume uma postura quantitativa
pois a necessidade de fazer com que o turismo assuma uma responsabilidade
145
de transformaccedilatildeo social eacute aquela em que os indiviacuteduos devem ser estimulados
pelo consumo Sendo assim eacute atraveacutes deste uacuteltimo que a condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida viraacute No plano haacute situaccedilotildees que mostram que a
deficiecircncia de produtos turiacutesticos (recursos naturais) deve ser melhorada para
que haja assim o consumo por parte daqueles que conseguem desfrutar do
lazer no estado
Como consequumlecircncia por um lado pelo baixo niacutevel de conhecimento e compreensatildeo turiacutestica do Paraacute no canal de venda e comercializaccedilatildeo e por outro pela debilidade ou inexistecircncia de uma accedilatildeo de comercializaccedilatildeo e promoccedilatildeo sistemaacutetica por parte da induacutestria turiacutestica paraense a niacutevel individual ou coletivo a presenccedila e venda de ofertas de produtos e destinos turiacutesticos paraenses eacute muito reduzida (PARAacute 2001 p 39)
A outra dimensatildeo da perspectiva do desenvolvimento econocircmico a que
Souza (1997 2000 2001 2004) atribui diz respeito agrave modernizaccedilatildeo
tecnoloacutegica E neste ponto o PDT-PA torna-se enfaacutetico ao diagnosticar a infra-
estrutura do estado como precaacuteria e ineficiente aos comandos de uma rede de
serviccedilos turiacutesticos que precisa de uma infra-estrutura baacutesica para funcionar
bem Nas palavras do documento
Sem duacutevida o atraso acumulado e as particularidades fiacutesicas da regiatildeo amazocircnica explicam em boa parte as dificuldades encontradas Entretanto desde a perspectiva de um desenvolvimento turiacutestico equilibrado e competitivo a soluccedilatildeo destes problemas [infra-estrutura e equipamentos baacutesicos] deve ser considerada dentre a primeira linha de prioridade (PARAacute 2001 p 16 grifo nosso)
Percebe-se portanto que nesse ponto para que haja um melhor
rendimento da atividade turiacutestica eacute necessaacuterio que o Estado seja o mediador e
veiacuteculo de construccedilatildeo das infra-estruturas turiacutesticas Neste caso haacute que se
destacar que a construccedilatildeo de infra-estruturas do tipo estradas portos
aeroportos hospitais rede de seguranccedila rede de saneamento e esgoto de
146
cidades com potenciais turiacutesticos natildeo atendem uacutenica e exclusivamente a este
setor pois por sua caracteriacutestica proacutepria o turismo eacute um segmento eacute um setor
das atividades econocircmico-sociais de um Estado e por isso mesmo outras
atividades econocircmicas e sociais se utilizam desses espaccedilos (fixos) que a
esfera estatal realiza em diversos lugares Poreacutem o que se deve afirmar aqui
eacute que pelo fato de que o Governo do Estado dar um privileacutegio maior ao turismo
de massa (aquele concernente ao fluxo global da economia) esses
equipamentos e infra-estruturas estatildeo pensados concebidos articulados e
decididos em primeiro plano para os agentes de classes sociais que podem
circular capital de forma mais raacutepida A dita sociedade local aqui fica em
segundo plano ou possivelmente marginalizada desse processo de melhoria
do espaccedilo o que faz com que o outro lado da moeda ou seja aqueles que natildeo
tecircm condiccedilotildees de usufruir deste tipo de turismo fiquem em uma situaccedilatildeo de
desequiliacutebrio social principalmente no que tange aos requisitos baacutesicos do que
seja a melhor qualidade de vida como educaccedilatildeo sauacutede lazer e diversatildeo
transporte e seguranccedila
Outra ideacuteia eacute aquela baseada em Harvey (2004) de que o planejamento
das formas espaciais natildeo deve dissociar de um conteuacutedo espacial onde as
diversas maneiras de pensar a dimensatildeo do social necessitam de uma
articulaccedilatildeo que focalizem a justiccedila social Harvey (2004) se pergunta como eacute
possiacutevel tornar clara essa articulaccedilatildeo entre as formas espaciais e os
conteuacutedos a fim de criar uma modalidade mais dialeacutetica e que decirc uma
importacircncia consideraacutevel ao espaccedilo Sendo assim um plano de
desenvolvimento de turismo da envergadura do PDT-PA enquanto um
documento que reuacutene possibilidades natildeo soacute de mudanccedilas da atividade
turiacutestica mas de uma dimensatildeo da sociedade pode em todo caso ser um
passo para que as formas espaciais e os processos espaciais estejam em prol
de um projeto social mais justo e solidaacuterio com aqueles que fazem parte do rol
de ideacuteias do desenvolvimento Apropriando-se das ideacuteias de Harvey (2004) o
fechamento ou a possibilidade de se realizar algo concretamente natildeo pode
estar distante nos planejamentos puacuteblicos Do contraacuterio forma-se um hiato
entre o que o Estado pensa em termos de projetos poliacuteticos e a sociedade
147
Neste sentido o PDT-PA constitui-se um plano limitado em sua proposta
para o desenvolvimento ou ainda enquanto um instrumento de mudanccedila
social Em primeiro lugar do ponto de vista econocircmico (que eacute o principal
elemento trabalhado pelo plano) o documento pensa um tipo de economia
voltado para setores da sociedade que reuacutenem condiccedilotildees de estabelecer
consumo de produtos turiacutesticos selecionados e especiacuteficos como eacute o caso de
resorts fluviais (PARAacute 2001 p 73) Nestes espaccedilos consumo eacute seletivo e
por isso mesmo exclui a possibilidade de uma maior interaccedilatildeo com outras
partes do territoacuterio paraense Em segundo lugar como consequumlecircncia do
primeiro a ideacuteia de contato com outras culturas (outras pessoas) em territoacuterio
paraense natildeo se aplica no plano Os espaccedilos pensados pelo documento ao
inveacutes de estabelecerem uma abrangecircncia de trocas sociais estimulam o
confinamento das pessoas que vecircm de fora o que faz com que o turista
conheccedila partes do territoacuterio paraense e natildeo o todo com suas diferenccedilas de
costumes haacutebitos conflitos Haacute portanto uma estandardizaccedilatildeo dos lugares
Tambeacutem existe uma limitaccedilatildeo teoacuterico-conceitual na elaboraccedilatildeo do plano
Por ser um documento muito pragmaacutetico funcionalista (tem a funccedilatildeo de
fornecer dados para o crescimento do turismo no estado) concentra-se em
aspectos caracteriacutesticas estrateacutegias de mercado diagnoacutesticos da realidade
turiacutestica do estado deixando de lado ou ateacute mesmo negligenciando uma
filiaccedilatildeo ideoloacutegica clara dificultando sua identidade teoacuterica
E por fim o plano apresenta ideacuteias muito proacuteximas de um planejamento
estrateacutegico Com a ajuda de oacutergatildeos especializados na promoccedilatildeo (marketing)
dos lugares como eacute o caso da contrataccedilatildeo da THR o Estado pensa o espaccedilo
paraense como um espaccedilo competitivo inspirado sobretudo numa
competiccedilatildeo do tipo empresarial A partir da conscientizaccedilatildeo da mundializaccedilatildeo
da economia e da comunicaccedilatildeo (VAINER 2002 p 76) esses espaccedilos
pretendem ser mais competitivos por isso o espaccedilo aqui eacute condicionado
principalmente por um ritmo econocircmico natildeo assumindo outras feiccedilotildees sociais
Eacute com isso portanto que aqui natildeo se pretende negar qualquer
possibilidade de se praticar turismo ainda mais a partir de ideacuteias que ora satildeo
elaboradas pelos governos mas sim de se pensar que um outro tipo de turismo
148
eacute possiacutevel aquele em que as medidas de mercado natildeo assumam as decisotildees
por completo dessa atividade Aleacutem disso a praacutetica do turismo pode estar de
fato alicerccedilada na condiccedilatildeo de uma praacutetica social acima de tudo
149
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18
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO
IFCH UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia sob orientaccedilatildeo do Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
BELEacuteM
2007
19
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP)
(Biblioteca de Poacutes-Graduaccedilatildeo do IFCHUFPA Beleacutem-PA)
Serra Hugo Rogeacuterio Hage
A concepccedilatildeo de turismo e de sua espacialidade no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Paraacute (PDT-PA) Hugo Rogeacuterio Hage Serra orientador Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior - Beleacutem 2007
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Federal do Paraacute Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Beleacutem 2007
1 Turismo e Estado 2 Turismo - Poliacutetica governamental - Paraacute 3 Turismo - Planejamento - Paraacute I Tiacutetulo
CDD - 22 ed3384791098115
20
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto
de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO IFCH
UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia
DATA DE DEFESA___________2007
CONCEITO______________________
BANCA EXAMINADORA
Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
(Orientador)
Profordf Drordf Janete Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira
(Examinadora interna)
Profordm Drordm Siacutelvio Joseacute de Lima Figueiredo
(Examinador Externo)
iii
21
Incondicionalmente agrave Julieta Serra Agrave sua maneira
acima de todos e abaixo de Deus soube se esforccedilar
para que este se tornasse possiacutevel Nela inspiro-me
para que um dia eu consiga ser no miacutenimo um
cidadatildeo batalhador e justo Matildee com certeza vocecirc
estaacute em todos os meus momentos Obrigado
iv
22
AGRADECIMENTOS
Triste eacute aquele que natildeo sabe agradecer Mais ainda quando acha que em um
trabalho cientiacutefico (seja de qual envergadura for imagine-se ainda uma
dissertaccedilatildeo) seu esforccedilo eacute uacutenico e exclusivamente seu Ledo engano Em um
trabalho como esse as pessoas aparecem e desaparecem mas deixam suas
marcas as quais se tornam eternas pelo menos em funccedilatildeo desse momento
Como este eacute um momento em que o autor de um trabalho cientiacutefico tem sua
liberdade entatildeo ponho-me a relatar loacutegico atraveacutes das palavras (e acima delas de
seus conteuacutedos) as pessoas as marcas que deixaram nesta curta passagem de uma
poacutes-graduaccedilatildeo Aos que me conhecem (e os que natildeo conhecem passam a conhecer
um pouco agora) sabem que o momento de agradecer para mim eacute um momento tatildeo
importante quanto o de fazer um trabalho cientiacutefico Aiacute vatildeo elas pessoas ou natildeo
Em primeiriacutessimo lugar nunca esqueccedilo de agradecer a Deus do meu jeito agrave
minha maneira sem ceticismo e com bastante feacute
Em segundo e em especial agrave minha famiacutelia Julieta e Felipe Serra que
mesmo faltando um souberam me completar no espiacuterito e na mateacuteria nas
decisotildees e no apoio Sem vocecircs meus caros eu natildeo existiria
De um modo especial natildeo posso esquecer dos momentos mais doces que
vivi e ainda vivo ao lado de Keila Lopes de Almeida Sua presenccedila meiga e amiga
me fascinou Sou grato a vocecirc pela compreensatildeo paciecircncia (haja) mas sobretudo
pelo seu amor que sem exageros me confortou e me deu mais forccedila para a
concretizaccedilatildeo desse projeto A vocecirc dizer obrigado natildeo basta
Aqui abro um paraacutegrafo em especial para agradecer a Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Juacutenior meu orientador Nesse caso as palavras de agradecimento se
misturam entre a amizade e a responsabilidade pois tenho muito a agradecer a
vocecirc por sua competecircncia responsabilidade eacutetica e discernimento das coisas que
nos cercam Este momento tambeacutem eacute especial porque vocecirc o permitiu Natildeo tenho
duacutevidas de que a Geografia da Amazocircnia deve muito a vocecirc e eu lhe agradeccedilo por
ter me conduzido a sua maneira a um novo mundo da ciecircncia (ainda que em
poucos momentos) e ter aberto as portas de uma Geografia diferente Obrigado meu
amigo
v
23
Natildeo posso deixar de mencionar a figura de Genylton Rocha que atraveacutes de
sua alegria inigualaacutevel entregou-me sua amizade sincera e duradoura Seus votos
de crenccedila em minha pessoa sua ajuda sua disponibilidade me fizeram abrir os
olhos para as possibilidades Sou grato a vocecirc (e vocecirc sabe disso) por tudo o que
fez enquanto amigo e professor de minha formaccedilatildeo afinal vocecirc faz parte do time
dos professores que marcam Natildeo tenha duacutevida meu caro que se tenho um
pouco de garra para ensinar geografia devo em grande parte a vocecirc Valeu Rocha
Outra pessoa indispensaacutevel nesse momento eacute Goretti Tavares Aliaacutes meus
agradecimentos a vocecirc se estendem desde meu trabalho de conclusatildeo de curso
quando vocecirc depositou confianccedila em mim Se este mestrado existe eacute porque vocecirc
impocircs seu ritmo e perseveranccedila para que isso acontecesse Obrigado entatildeo por
essa oportunidade
Tambeacutem quero deixar registrado aqui meu agradecimento agrave Prof Dra Janete
Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira e ao Prof Dr Silvio Lima Figueiredo por se
disporem fazer parte da banca de avaliaccedilatildeo de minha dissertaccedilatildeo A vocecircs
obrigado
Outras figuras tambeacutem foram importantes nesses 24 meses de mestrado
Uma delas o presente-ausente Marcos Alexandre Pimentel da Silva que natildeo de
modo direto mas fora dos muros da universidade dentro de suas possibilidades me
apoiou quando precisei Espero que nossa amizade dure Obrigado
Ao Maacutercio Douglas por sua presteza em momentos de trabalho em que
precisei de livros e dicas cientiacuteficas Apesar do pouco contato natildeo esqueci de vocecirc
meu amigo Obrigado pela forccedila
Ao jovem Estevatildeo Barbosa que atraveacutes de sua simplicidade e amizade
permitiu que nossa relaccedilatildeo passasse dos cinco anos Uma pessoa como vocecirc eacute
para sempre Um grande abraccedilo
Aqui tambeacutem natildeo deixo de mencionar os colegas de mestrado (dos quais
em sua maioria tornei-me amigo) Com vocecircs as discussotildees que naqueles
momentos travamos foram importantes para a minha formaccedilatildeo Jorge Alex Augusta
Willame Aacutelvaro (o estranho no ninho mas que se mostrou uma pessoa muito
acessiacutevel durante esse periacuteodo quando precisei de seus auxiacutelios) Cleacutedson Luiz
entre outros que possibilitaram um pouco do crescimento deste curso
Natildeo posso esquecer o paulista mais paraense que jaacute conheci Omar Abrahatildeo
Que bom que o espiacuterito de nossa terra lhe fez uma pessoa mais alegre mais festiva
vi
24
Espero que possamos construir outros laccedilos de amizade Para vocecirc tambeacutem quero
deixar meu obrigado
De uma maneira geral quero agradecer aos professores do mestrado em
geografia A partir de suas palavras pude alcanccedilar novos horizontes no meu
conhecimento cientiacutefico A vocecircs obrigado mesmo
Natildeo posso tambeacutem deixar de ser grato agrave Iranilda Moraes pela sua
disponibilidade em confeccionar o mapa de minha dissertaccedilatildeo Obrigado pela ajuda
Aos professores e colegas de profissatildeo que ao perceberem um pouco do
aperreio de ser estudante de poacutes-graduaccedilatildeo e professor de ensino fundamental ao
mesmo tempo ainda assim acreditaram em mim neste periacuteodo E por isso meu
obrigado fica aqui registrado Aiacute vatildeo eles Prof Rosa Prof Luiza Barata Prof
Leidiane Prof Gilson Carlos Prof Vander Prof Joatildeo Prof Samara Prof
Ayholacircndia (obrigado pelo esforccedilo na correccedilatildeo deste trabalho) Prof Odimar Prof
Tony Prof Joatildeo de Barros entre outros Obrigado por tudo
E por falar em ensino fundamental e tambeacutem por uacuteltimo poreacutem natildeo menos
importante essa histoacuteria (melhor dizendo essa geografia) de estudar para um curso
de poacutes-graduaccedilatildeo soacute pocircde ter efeitos concretos em meio agraves aulas dadas no bairro
do Che Guevara (municiacutepio de Marituba - PA) precisamente na escola Nilson Pinto
que apesar do nome pocircde ser o iniacutecio de minha caminhada para este curso Meu
obrigado aos alunos tambeacutem pode ser estendido como a esperanccedila de um dia
melhor Que o (bom) produto de meus estudos possa ter o retorno mais raacutepido a
pessoas como eles que mesmo na adversidade de uma pobreza urbana e tambeacutem
metropolitana sempre que possiacutevel puderam criar expectativas e possibilidades de
uma vida melhor A vocecircs meus pequenos obrigado
vii
vii
25
Haacute os que observam a realidade como ela
eacute e se perguntam por quecirc E haacute os que
imaginam a realidade como ela nunca foi e
se perguntam por que natildeo
BERNARD SHAW
viii
26
RESUMO
A atividade turiacutestica enquanto uma atividade soacutecio-econocircmica e espacial tem a
possibilidade de criar e recriar espaccedilos de acordo com interesses de agentes
envolvidos nesse processo Na esteira desse movimento o Estado entendido
enquanto um agente fomentador do turismo cria mecanismos de controle e
gerenciamento da atividade a fim de potencializaacute-la com o intuito de promover sua
expansatildeo econocircmica pelos espaccedilos Nesse sentido um dos resultados dessa
intervenccedilatildeo espacial se constitui na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas setoriais que
objetivam assim a reestruturaccedilatildeo espacial Tais poliacuteticas refletem o jogo de
interesses entre o Estado agentes de mercado e agentes sociais de uma forma
geral A partir desse contexto de acordo com uma perspectiva metodoloacutegica da
anaacutelise de conteuacutedo este trabalho tem como objetivo analisar as concepccedilotildees e
espacialidades veiculadas no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Estado do
Paraacute
PDT-PA Leva-se em conta ainda que o produto das poliacuteticas puacuteblicas tem
como pretensatildeo a geraccedilatildeo de desenvolvimento o que retoma de uma forma mais
complexa a relaccedilatildeo entre os agentes envolvidos na turistificaccedilatildeo dos espaccedilos
Palavras-chave Plano Planejamento Turismo PDT-PA Paraacute
ix
27
ABSTRACT
The tourist activity while a social- economic and spatial activity has possibility of to
create and (re) create spaces in accord with agents interests involved on this
process On this movement the State intended while a tourist agent fomenter
creates mechanisms of control and management of the activity with the objective to
potent with intuit to promote your economic expansion by the spaces In this way on
of the results of this spatial intervention constitute on formulations of sectarian s
publics policies that objective thus the spatial restructure These politics reflexes the
game of interests between the State market agents and socials agents of the
general way Since of this context in accord with a methodological perspective of
contends analyze this work has the objective to analyze the conceptions and
spatialities putted on Paraacute s State Tourism Development Plan
TDP
PA
Understanding yet that product of policies politics has the pretension the generation
of development that s takes again of a complex form the relation between involved
agents on touristification of spaces
Key words Plan Planing Tourism PDT-PA Paraacute
x
28
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
111
Figura 2 Lodge Pesca esportiva 129
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza) 135
Figura 4 Resort Aventura e Natureza 137
Mapa 1 Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001-2006 97
Quadro 2 Programas e accedilotildees-siacutentese 99
Quadro 3 Quadro Sinoacutetico da Estrutura do Plano de Desenvolvimento do Turismo do estado do Paraacute 101
Quadro 4 Estrateacutegias de ProdutoMercado Poacutelo Beleacutem 120
Quadro 5 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Beleacutem 121
Quadro 6 Estrateacutegias de ProdutoMercado do Poacutelo Costa Atlacircntica 122
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica 123
Quadro 8 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Marajoacute 124
Quadro 9 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo AraguaiaTocantins 125
Quadro 10 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Tapajoacutes 126
Quadro 11 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Xingu 127
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao estado do Paraacute 73
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico 92
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais () 93
Graacutefico 4 Estrateacutegia eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT-PA 98
xi
29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003 2004 69
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados no estado do Paraacute 2002 2003 2004 71
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 73
xii
30
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO ix
ABSTRACT x
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES xi
1 INTRODUCcedilAtildeO 15
2 TURISMO ESPACcedilO E PLANEJAMENTO 26
21 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 27
22 SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMAS DE ACcedilOtildeES A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 37
23 O ESTADO E AS ESTRATEacuteGIAS DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 44
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO PARAacute 54
31 A EXPANSAtildeO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NA AMAZOcircNIA 55
32 O TURISMO NO ESTADO DO PARAacute UM BREVE BALANCcedilO 67
33 A IMPORTAcircNCIA DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NO NOVO PARAacute
77
4 O PDT
PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO 82
41 DIRETRIZES E ESTRUTURAS DO PDT-PA 83
42 A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO NO PDT-PA 102
43 A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA UMA ANAacuteLISE DO CONCEBIDO 112
44 ESPACcedilO TURISMO E DESENVOLVIMENTO DESVELANDO PROPOSTAS E INTENCcedilOtildeES 130
xiii
31
5 CONCLUSOtildeES 139
REFEREcircNCIAS 149
xiv
32
1 INTRODUCcedilAtildeO
16
A praacutetica do turismo pode ser caracterizada como algo recente dentro dos
debates geograacuteficos A partir da deacutecada de 1960 esse fenocircmeno vem despertando
interesse dentro das anaacutelises espaciais e tem conseguido ampliar novas discussotildees
que se tornaram importantes e que de certa forma referem-se principalmente ao
espaccedilo modificado pelas constantes viagens e pelo conhecimento de novos
territoacuterios (MOESCH 2002) De certa forma isso fez com que o turismo ao longo do
tempo modificasse paisagens e estabelecesse contatos interculturais Uma de suas
principais caracteriacutesticas eacute o fato de estar atrelado a uma praacutetica essencialmente
econocircmica sendo comumente denominado de uma induacutestria sem chamineacutes
(NICOLAS 2001)
Na esteira desse movimento a modernidade impotildee ao turismo um ritmo que
estaacute diretamente ligado ao consumo especialmente ao consumo do espaccedilo
(RODRIGUES 1999) Tal momento da modernidade implica em mudanccedilas sociais e
espaciais Eacute nesse ponto que a relaccedilatildeo da geografia com o turismo se faz presente
pois a mesma analisa os fatos sociais intriacutensecos agrave atividade dentro da loacutegica do
capital ou seja aquela que produz espaccedilos voltados para o turismo Com isso
altera-se a noccedilatildeo de que o turismo eacute uma praacutetica exclusivamente econocircmica Para
autores como Cruz (2001) a geografia do turismo refere-se agrave uma dimensatildeo soacutecio-
espacial Essa dimensatildeo pode ser tomada ainda numa escala planetaacuteria onde o
consumo do espaccedilo obedece a uma loacutegica global
Considerando-se a expansatildeo da atividade turiacutestica em acircmbito global a
intervenccedilatildeo espacial do turismo tende a se efetivar no territoacuterio a partir de um estudo
teacutecnico ou seja a partir da constataccedilatildeo de que um determinado lugar tem um
potencial turiacutestico favoraacutevel para o desenvolvimento da atividade Nesse sentido
vaacuterios estudos datildeo-se a partir do planejamento do turismo buscando potencializar
os atrativos locais
As caracteriacutesticas globais estatildeo presentes nas espacialidades do turismo
fenocircmeno este que conjuga valores universais de lazer em formatos padronizados
Vale destacar que as praacuteticas turiacutesticas se valem do consumo do espaccedilo formando
entatildeo o sistema da oferta do produto (o espaccedilo social) e da procura (aqui
caracterizado principalmente pela demanda turiacutestica)
17
A partir do momento em que a loacutegica da produccedilatildeo turiacutestica destaca-se no
espaccedilo sua configuraccedilatildeo social eacute alterada conforme interesses dos agentes
produtores do espaccedilo No momento de ser apropriado pela praacutetica turiacutestica o
espaccedilo se complexifica ainda mais e por ser uma atividade em que o espaccedilo eacute um
recurso o turismo estrutura-se em uma loacutegica de ampliaccedilatildeo de lugares voltados
para a praacutetica do lazer desencadeando o que Knafou (1999) chama de territoacuterios
turiacutesticos Certamente o espaccedilo eacute fundamental agrave atividade turiacutestica e por isso o
espaccedilo do turismo pode ser entendido como uma reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de
produccedilatildeo
Com isso as accedilotildees que resultam na metamorfose do espaccedilo estatildeo
vinculadas agraves concepccedilotildees de espaccedilo estrategicamente pensadas pelos atores
envolvidos Tais concepccedilotildees refletem a ideacuteia de espaccedilo que se pretende construir
para o turismo Muitas dessas ideacuteias estatildeo estritamente vinculadas ao planejamento
feito pelo Estado voltado para a atividade Para Lefebvre (1976) por exemplo o que
mais chama a atenccedilatildeo para a questatildeo do entendimento do que seja espaccedilo satildeo as
reproduccedilotildees das relaccedilotildees de produccedilatildeo processo este que se daacute em todo o mundo
em todas as dimensotildees da vida social no se trata de localizar en el espacio
preexistente una necessidad o una funcioacuten sino al contrario de espacializar una
actividad social vinculada a una praacutetica en su conjunto produciendo un espacio
apropriado (LEFEBVRE 1976 p 9)
No que diz respeito agraves caracteriacutesticas econocircmicas da atividade turiacutestica
muitos paiacuteses dependem em muito de seus circuitos mundiais Sua importacircncia gira
em torno da potencialidade turiacutestica que um lugar pode oferecer o que o torna um
grande aliado para o incremento da economia Torna-se por isso condicionante
fundamental no que se refere ao desenvolvimento de um lugar isto porque a
dinacircmica do capital eacute mediada pelo consumo dos lugares que utiliza atrativos
turiacutesticos de belas paisagens naturais e ou natildeo naturais ou ainda pauta-se na ideacuteia
do exoacutetico do diferente
Dentro dessa loacutegica o fenocircmeno turiacutestico amplia-se nos diversos lugares do
planeta causando muitas vezes uma profunda desarticulaccedilatildeo da estrutura soacutecio-
espacial do lugar o que leva a entender que o turismo pode ser visto como um
desarticulador de culturas locais para servir a uma loacutegica maior do consumo dos
18
lugares ou ainda de fomentar a economia A ideacuteia de desenvolvimento nesse
sentido estaria ligada ao consumo dos atrativos turiacutesticos dos lugares o que geraria
a capacidade do lucro ou divisas para um Estado mesmo que a sensaccedilatildeo de
negatividade ou de desarticulaccedilatildeo de culturashaacutebitos locais aconteccedila nos diferentes
espaccedilos onde o turismo esteja presente
A ideacuteia da transformaccedilatildeo dos lugares a partir do fenocircmeno do turismo
alicerccedila-se na capacidade do mesmo ser uma atividade contraditoacuteria ou ainda
hiacutebrida (BECKER 2002) poreacutem combinada Ao mesmo tempo em que o turismo
destroacutei (desarticula) os lugares ele os constroacutei ou impotildee uma nova dinacircmica
Luchiari (1999) por exemplo percebe que o turismo natildeo pode ser analisado apenas
do ponto de vista negativo ou destruidor Neste sentido tal praacutetica assume uma
postura de complexidade no mundo contemporacircneo por isso impulsiona novas
transformaccedilotildees Segundo a autora
O fenocircmeno contemporacircneo do turismo coloca-se como um vetor contraditoacuterio e emblemaacutetico neste processo acentua a produccedilatildeo dos lugares de consumo e o consumo dos lugares Mas natildeo pode ser tomado apenas do ponto de vista negativo como um desarticulador voraz de antigas formas e funccedilotildees sociais que em um processo linear destroacutei o velho substituindo-o pelo novo (LUCHIARI 1999 p 10)
Por mais que o turismo provoque mudanccedilas constantes e raacutepidas no lugar
existe ao mesmo tempo a possibilidade de novas sociabilidades juntamente com
um processo de revalorizaccedilatildeo de um lugar A articulaccedilatildeo entre o novo e o velho
acarreta uma forma hiacutebrida do espaccedilo socialmente produzido (LUCHIARI 1999)
Novos e antigos agentes espaciais aparecem nessa nova teia de relaccedilotildees tendo
como base a ampliaccedilatildeo do capital mediante a geraccedilatildeo de lucro O espaccedilo jaacute natildeo eacute
mais o mesmo ele eacute impulsionado pelo vetor das grandes viagens e dos negoacutecios o
que faz com que ele tenha uma nova composiccedilatildeo refletindo uma nova dinacircmica
soacutecio-espacial e tambeacutem uma nova funcionalidade
A dinacircmica do turismo estaacute alicerccedilada na necessidade de viajar e de
conhecer novos lugares O homem jaacute traz consigo a necessidade de viajar que estaacute
19
associada a uma liberdade por conhecer coisas diferentes Romero apud Rodrigues
(1999 p 27) afirma que o homem eacute um viajante por natureza uma vez que suas
necessidades e desejos estatildeo fora de si mesmos Segundo esse autor para viajar
deve-se partir do conhecido para o desconhecido Eacute a partir da praacutetica social da
viagem que o homem produz novos territoacuterios O turismo assim seria um fio
condutor dessa constante mobilidade Cruz (2001) ao relacionar turismo e produccedilatildeo
de espaccedilos afirma que o turismo eacute a uacutenica atividade social que consome
elementarmente o espaccedilo (CRUZ 2001 p v) Apesar de tal afirmaccedilatildeo suscitar
duacutevidas quanto agrave exclusividade do turismo em relaccedilatildeo ao espaccedilo isso mostra como
a atividade turiacutestica estaacute diretamente vinculada ao consumo do mesmo
Rodrigues (1999) prefere falar que o turismo define dois tipos de consumos
do espaccedilo De um lado existe o consumo consuptivo que se esgota em si mesmo
e de outro o consumo produtivo que ao contraacuterio do primeiro natildeo se esgota em si
mesmo Com efeito o turista ao realizar viagens pelo mundo afora cria uma
expectativa comparada ao seu desejo de conhecer aquele lugar Nesse sentido
como afirma Urry (1996) o olhar
do turista passa a ser decisivo na sua relaccedilatildeo
com os lugares turiacutesticos Segundo Urry (1996) esse eacute um dos motivos pelo qual a
induacutestria do turismo tem que realmente tornar o espaccedilo um produto a ser bem
consumido o olhar do turista natildeo pode ser deslocado para as paisagens feias
porque essas natildeo alimentam o desejo de retorno ao lugar O autor amplia o debate
sobre o enfoque social de que o turismo faz parte por mais que os serviccedilos
caracterizem uma induacutestria haacute uma interaccedilatildeo social profunda nessa relaccedilatildeo
Segundo o autor
A ecircnfase dada agrave qualidade da interaccedilatildeo social entre os produtores e os consumidores dos serviccedilos turiacutesticos significa que o desenvolvimento dessa induacutestria natildeo se explica simplesmente em termos de determinantes econocircmicos () Torna-se igualmente necessaacuterio examinar uma gama de
mudanccedilas culturais que transformam as expectativas das pessoas em relaccedilatildeo agravequilo que elas querem contemplar () (URRY 1996 p 64)
Isso nos mostra que o turismo eacute fundamentado em uma seacuterie de conflitos
sociais inerentes agrave produccedilatildeo do espaccedilo Tais conflitos apresentam alguns agentes
20
importantes como o proacuteprio turista as empresas de viagens e o Estado Esses
atores entrelaccedilam-se e alteram a composiccedilatildeo do espaccedilo produzido pela dinacircmica do
turismo consubstanciando em uma nova visatildeo de mundo mais complexa e mais
dinacircmica Essa visatildeo do turismo estaacute preocupada com transformaccedilotildees ocorridas
durante o processo de globalizaccedilatildeo como produto do capitalismo mundial Segundo
Carlos (2002) o espaccedilo geograacutefico por conta da incessante busca pelo prazer dos
lugares oferecidos em pacotes turiacutesticos vem sendo cada vez mais objeto
mercadoloacutegico de troca ou seja o espaccedilo torna-se mercadoria fazendo com que o
mesmo se especialize ainda mais a partir das praacuteticas turiacutesticas
O espaccedilo socialmente produzido reuacutene objetos espaciais capazes de dar
conta de estruturas globais decorrentes do fluxo de turistas em toda a parte do
planeta A criaccedilatildeo de resorts parques temaacuteticos entre outros amplia cada vez mais
a importacircncia do turismo ao mesmo tempo em que estabelece uma espeacutecie de
confinamento do espaccedilo reunindo as necessidades baacutesicas para a reproduccedilatildeo do
turismo
Carlos (2002) estabelece uma criacutetica interessante ao fenocircmeno do turismo de
massa praticado em diversas partes do mundo Segundo a autora a induacutestria do
turismo transforma tudo o que toca em artificial o lazer natildeo estabelece mais um
sentido de originalidade dentro de cada cultura tudo eacute artificializado e
estandartizado e as relaccedilotildees sociais dessa forma satildeo relaccedilotildees superficiais em que
o lucro e a vontade por comprar aparecem em detrimento de um contato com as
culturas diferentes Segundo a autora o turismo eacute capaz de produzir espaccedilos onde
haacute a natildeo-identidade com o lugar (CARLOS 2002 p 26)
Na tentativa de utilizar o turismo como uma possiacutevel saiacuteda para o
desenvolvimento dos lugares o Estado lanccedila matildeo de artifiacutecios para que haja a
efetivaccedilatildeo da praacutetica do turismo associada agrave transformaccedilatildeo do territoacuterio Eacute desse
modo que o turismo amplia as condiccedilotildees de transformaccedilatildeo do espaccedilo e o lazer
adquire expressividade entre as poliacuteticas puacuteblicas
Para tanto o planejamento da atividade turiacutestica torna-se um instrumento
capaz de realizar mudanccedilas espaciais que repercutem na estrutura do lugar
modificando a paisagem no sentido de viabilizar seu dinamismo Poreacutem muitas
21
vezes o planejamento pode ser visto a partir de uma oacutetica exclusivamente
econocircmica e com isso o desenvolvimento do turismo acaba por natildeo considerar
aspectos sociais relevantes para o estudo teacutecnico do setor ou ateacute mesmo os
possiacuteveis impactos soacutecio-ambientais causados pela instalaccedilatildeo da aparelhagem
turiacutestica como por exemplo resorts cadeias de hoteacuteis etc Isto porque de uma
forma geral o turismo no atual contexto da globalizaccedilatildeo estaacute muito mais voltado
para a ordenaccedilatildeo dos territoacuterios a partir de uma loacutegica de mercado que permite
muito mais a competiccedilatildeo entre os lugares do que o desenvolvimento social
Ligado agraves poliacuteticas puacuteblicas de governo de um Estado o planejamento
turiacutestico evoca ideacuteias e concepccedilotildees de espaccedilo cultura economia poliacutetica e
sociedade Hall (2001) ao descrever a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas para o
turismo faz uma ressalva de que elas expressam ideacuteias ligadas a um tipo de
governo e suas accedilotildees satildeo decorrentes de uma estrutura loacutegica pensada pelo Estado
numa intervenccedilatildeo espacial
A elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eacute antes de tudo uma atividade poliacutetica e essas satildeo influenciadas por caracteriacutesticas econocircmicas sociais e culturais da sociedade assim como pelas estruturas formais de governo e outros aspectos do sistema poliacutetico A poliacutetica deve portanto ser encarada como uma consequumlecircncia do ambiente poliacutetico dos valores e das ideologias da distribuiccedilatildeo de poder das estruturas institucionais e dos processos de tomada de decisatildeo (HALL 2001 p 26)
Cruz (2001) destaca a importacircncia de haver uma poliacutetica puacuteblica de turismo
que leve em consideraccedilatildeo o desenvolvimento soacutecio-espacial do lugar Para isso o
Estado torna-se o principal agente responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo ou idealizaccedilatildeo das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo colocando metas e diretrizes para que haja uma
melhor efetivaccedilatildeo Segundo a autora quando a esfera puacuteblica natildeo toma a iniciativa
de um planejamento que considere os aspectos soacutecio-espaciais as poliacuteticas ficam a
criteacuterio das intenccedilotildees da iniciativa privada e interesses particulares de outros
agentes do setor (CRUZ 2001)
No Brasil a tomada das poliacuteticas puacuteblicas de turismo tem sido orientada para
o planejamento da atividade no sentido de promover sua expansatildeo e consolidaccedilatildeo
22
no mercado global do setor Como o Estado brasileiro possui grandes complexos
regionais as poliacuteticas de turismo seguem uma tendecircncia de organizaccedilatildeo a partir da
elaboraccedilatildeo de projetos regionais ou ainda dos proacuteprios estados constituindo-se um
rol de planejamentos que se diferenciam regional ou localmente Isto quer dizer que
por mais que exista uma poliacutetica nacional de turismo implementada pelo governo
federal brasileiro as regiotildees promovem projetos de turismo diferentes umas das
outras Poreacutem o que haacute de comum eacute que as poliacuteticas de turismo estatildeo dentro de um
sistema de turismo (BOULLOacuteN 2002) ou seja as estruturas locais estatildeo
destinadas a aumentar o fluxo turiacutestico assim como o bem estar do turista Os
serviccedilos turiacutesticos devem entatildeo satisfazer o prazer e o conforto do turista ao
mesmo tempo em que multiplica as oportunidades de lazer (BOULLOacuteN 2002 p 37)
Eacute nesse sentido que Hall (2001) define poliacuteticas de turismo como decisotildees
poliacuteticas sobre o futuro de um lugar e sobre o ordenamento do espaccedilo Tais
poliacuteticas por exemplo no plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute satildeo antes
de tudo uma forma de pensar o espaccedilo a partir de uma concepccedilatildeo voltada ao
turismo
Para poder incrementar ou fomentar o setor turiacutestico o Estado atraveacutes dos
governos municipais e estaduais lanccedila uma estrateacutegia agrave sociedade que se torna
bandeira slogan ou propaganda de governo a de que o turismo eacute capaz de gerar
desenvolvimento e bem-estar social Nesse sentido o planejamento do espaccedilo
voltado para a atividade turiacutestica entra em cena com o intuito de validar tal
perspectiva e acima de tudo fazer dessa situaccedilatildeo um ponto positivo para ganhar
adesatildeo social O planejamento do turismo leva em consideraccedilatildeo uma seacuterie de
outros fatores que conjugados demandam uma grande articulaccedilatildeo do governo com
outros setores para fazer funcionar tal processo
Dada agrave exposiccedilatildeo das ideacuteias cabe neste trabalho levantar as seguintes
questotildees 1) Qual eacute a concepccedilatildeo de turismo sustentada pelo Governo do Estado e
visualizada no PDT-PA 2) Que estrateacutegias espaciais estatildeo inseridas no plano a fim
de fomentar a atividade turiacutestica no territoacuterio paraense e 3) Qual a importacircncia do
turismo enquanto um fator de desenvolvimento para o territoacuterio paraense segundo
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo voltadas para o Estado
23
A tomada de decisotildees por parte do Estado no que se refere agrave elaboraccedilatildeo de
um plano de turismo como o PDT-PA levanta a ideacuteia de uma conciliaccedilatildeo entre a
produtividade e a funccedilatildeo social (OSMONT 2002) A elaboraccedilatildeo de um plano de
desenvolvimento de turismo traz em seu interior um novo entendimento do espaccedilo
a ser transformado mediante accedilotildees concebidas em tal documento O Estado do
Paraacute se vecirc entatildeo como um novo
palco de accedilotildees que tecircm como objetivo final
transformar seu espaccedilo em um novo roteiro turiacutestico mundial Tal sentido de novo
perpassa por pelo menos duas caracteriacutesticas gerais A primeira diz respeito ao
novo enquanto um mercado turiacutestico diferenciado de outros do tipo sol e praia
caracteriacutesticos por exemplo da regiatildeo Nordeste brasileira Nesse contexto a
perspectiva do plano eacute fazer com que o turista se sinta atraiacutedo pelo o que o Estado
oferece de mais abundante ou seja sua natureza verde ou propriamente falando
de uma parte da Amazocircnia diferente das outras pelo fato de apresentar natildeo
somente caracteriacutesticas naturais mas tambeacutem por mostrar cultura e histoacuteria
peculiares
O outro tipo de novo refere-se diretamente ao desenvolvimento que o
turismo pode gerar no Estado E nesse sentido o esforccedilo para que isso aconteccedila eacute
resultante de obras e articulaccedilotildees que o governo propotildee aos sujeitos que estejam
dispostos a mudar a realidade social do Estado Percebe-se portanto que o turismo
figura como um dos pilares responsaacuteveis para tirar o Estado do atraso econocircmico
em que vive bem como para tornaacute-lo um elemento de legitimidade social perante agrave
populaccedilatildeo residente Esse fasciacutenio que o fenocircmeno do turismo causa requer pensar
antes nas concepccedilotildees e estrateacutegias formuladas pelo governo na construccedilatildeo do
plano
A estrutura do plano em seu objetivo maior traduz de forma sinteacutetica o que
estaacute representado nas accedilotildees dos programas vinculados ao documento Essa
realidade potildee em praacutetica a formulaccedilatildeo de novas estrateacutegias econocircmicas voltadas
para uma espeacutecie de internacionalizaccedilatildeo dos espaccedilos ou ainda no que diz respeito
ao turismo pela atraccedilatildeo ampliada de consumidores (SAacuteNCHEZ 1999 p 3)
Eacute neste sentido que este trabalho tem como objetivo geral analisar a
concepccedilatildeo de turismo presente no Plano de Desenvolvimento de Turismo do estado
do Paraacute assim como suas espacialidades ou seja as estrateacutegias espaciais
24
pensadas pelo estado paraense na tomada de decisotildees sobre o turismo associadas
agrave condiccedilatildeo de desenvolvimento dessa atividade Para tanto estatildeo contemplados
ainda neste trabalho alguns objetivos especiacuteficos importantes como
a) Identificar e analisar a concepccedilatildeo de turismo que estaacute presente no PDT-PA
veiculada pelo Governo de Estado
b) Identificar e analisar as possiacuteveis estrateacutegias espaciais ou seja suas
espacialidades inseridas eou subjacentes no PDT-PA
c) Perceber e analisar a importacircncia do turismo como fator de
desenvolvimento face agraves poliacuteticas voltadas para o setor concebidas pelo governo a
partir do PDT-PA
Para que o percurso dessa pesquisa seja efetivado a metodologia aqui
utilizada estaacute estruturada na anaacutelise sistemaacutetica do documento principal PDT-PA
ou ainda a anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 2003)
Nesse sentido de acordo com Bardin (2003) a anaacutelise de conteuacutedo permite
realizar uma especificidade das mensagens ou a comunicaccedilatildeo das ideacuteias contidas
em um documento uma espeacutecie de anaacutelise categorial das temaacuteticas abordadas
(TRIVINtildeOS 1987 BARDIN 2003)
Seguindo esta metodologia o plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
permite olhares diversos sobre sua temaacutetica principal o turismo Poreacutem aqui este
trabalho tem como diretriz fazer uma anaacutelise do tipo geograacutefica na qual o espaccedilo
paraense natildeo surge como receptaacuteculo das manifestaccedilotildees do turismo mas sim
como condiccedilatildeo e produto das relaccedilotildees sociais
Para tanto a estrutura desta anaacutelise segue em trecircs seccedilotildees importantes A
primeira de cunho teoacuterico faz um balanccedilo das obras que tratam de questotildees
fundamentais como o espaccedilo a partir de Santos (1997 2001 2002 2004)
Planejamento e Poliacuteticas Puacuteblicas (CRUZ 2001) que neste momento apoacuteiam-se
nas accedilotildees do Estado enquanto agente importante para a elaboraccedilatildeo de praacuteticas
envolvendo a dinacircmica de construccedilatildeo de espaccedilos voltados para a atividade turiacutestica
25
Esses elementos teoacutericos satildeo cruciais para a anaacutelise dos fundamentos aqui
aplicados
Na segunda seccedilatildeo do trabalho procura-se mostrar como o turismo tornou-se
peccedila importante nas estrateacutegias do Estado principalmente na tomada do
desenvolvimento Seguindo a metodologia da anaacutelise de conteuacutedo o estudo de
documentos importantes como os Planos de Turismo para a Amazocircnia assim como
dados referentes agrave praacutetica do turismo satildeo necessaacuterios para tecer um comentaacuterio
geral de como o turismo eacute tratado pelo Estado (federal e estadual) ao longo dos
anos Na sequumlecircncia ainda nesta parte do trabalho a anaacutelise do Programa Novo
Paraacute mostra-se pertinente pois este a partir de uma estrateacutegia do Governo do
Estado do Paraacute torna-se um documento que reuacutene as principais diretrizes para a
elaboraccedilatildeo do PDT-PA
Na uacuteltima parte ocorre a anaacutelise e sistematizaccedilatildeo das principais ideacuteias
contidas no Plano de Turismo do Paraacute Sua estrutura concepccedilatildeo espacialidade
estrateacutegia e sua noccedilatildeo de desenvolvimento fundamentam-se como eixo norteador
desta pesquisa Neste momento a tentativa eacute de expor os argumentos apresentados
pelo Estado a partir do plano e relacionaacute-los com os fundamentos cientiacutefico-
geograacuteficos que aqui satildeo privilegiados
Por fim na seccedilatildeo Consideraccedilotildees Finais as perguntas elaboradas no
decorrer desta pesquisa e fruto de debates criados ao longo da construccedilatildeo desse
projeto procuram ser respondidas tentando assim mostrar o aspecto analiacutetico-
geograacutefico presente no Plano
26
2 Turismo Espaccedilo e Planejamento
27
21 O turismo como fator de desenvolvimento consideraccedilotildees iniciais
O turismo vem provocando profundas alteraccedilotildees nas estruturas econocircmicas
sociais e culturais do mundo e isso se torna condiccedilatildeo para um aprofundamento de
seus estudos principalmente aqueles de dimensatildeo espacial Tal fato requer uma
anaacutelise mais aprofundada sobre os conceitos que envolvem o turismo
principalmente agravequeles que estatildeo ligados agrave condiccedilatildeo do desenvolvimento Este por
sua vez tem sido um elemento recorrente nos debates sobre as accedilotildees provenientes
do turismo Por isso mesmo as repercussotildees mundiais dessa atividade tecircm
chamado a atenccedilatildeo natildeo soacute de pessoas ligadas agrave reproduccedilatildeo da atividade mas
tambeacutem de pesquisadores interessados em analisar como a atividade turiacutestica estaacute
relacionada com o fator do desenvolvimento e de certa forma como eles se
espacializam
No ano de 2005 quase 7 milhotildees de turistas estrangeiros visitaram o Brasil
(ABAV 2006) Segundo a ABAV foi o maior nuacutemero de turistas que visitaram o paiacutes
em toda a sua histoacuteria Apesar de ser ainda um nuacutemero muito inferior ao dos paiacuteses
centrais como a Franccedila e os EUA (SILVA 1998) a movimentaccedilatildeo financeira no ano
de 2005 no Brasil gerou um crescimento de 1983 em relaccedilatildeo ao ano de 20041
desencadeando um lucro de US$ 3222 bilhotildees (ABAV 2006)
Segundo Silva (1998) a projeccedilatildeo que a Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo faz
para o ano de 2010 eacute que o turismo deveraacute empregar 250 milhotildees de pessoas (OMT
apud SILVA 1998 p102) e ainda para 2020 que a China seraacute o primeiro paiacutes do
mundo com o maior nuacutemero de estrangeiros (cerca de 196 milhotildees) seguido dos
Estados Unidos (102 milhotildees) Franccedila (93 milhotildees) e Espanha (71 milhotildees) Para a
Ameacuterica do Sul a projeccedilatildeo ainda eacute muito pequena em relaccedilatildeo aos paiacuteses que jaacute
recebem um grande fluxo de turistas estrangeiros Poreacutem mesmo assim as
instituiccedilotildees governamentais procuram estabelecer metas e diretrizes que
incrementam o setor turiacutestico a fim de promover a expansatildeo do mesmo De certo o
que se deve destacar a partir desses dados eacute que existe uma verdadeira difusatildeo
1 Estes nuacutemeros referem-se a uma pesquisa feita pelo Banco Central no iniacutecio de 2006 a pedido da Associaccedilatildeo Brasileira de Agecircncias de Viagens (ABAV)
28
espacial do turismo no mundo inteiro e que oacutergatildeos privados e estatais procuram
meios de divulgaccedilatildeo ao mesmo tempo em que fortalecem ainda mais o fomento da
atividade turiacutestica Essas caracteriacutesticas fazem do fenocircmeno turiacutestico um consumidor
de espaccedilos (CRUZ 2001) e sua reproduccedilatildeo depende dessa condiccedilatildeo
A expansatildeo da atividade turiacutestica fez com que o espaccedilo geograacutefico ampliasse
suas caracteriacutesticas e tambeacutem adquirisse uma nova funcionalidade a dos espaccedilos
voltados para o lazer Essa caracteriacutestica talvez seja a primeira que interessa aos
sujeitos dispostos em conhecer novos lugares Numa tentativa de mudar a rotina do
dia-a-dia os turistas procuram ampliar os conhecimentos de novos lugares e
estabelecem um contato de diferentes culturas entre o seu lugar de origem ou
residecircncia fixa (o lugar de seu trabalho semanal rotineiro) e o desconhecido (o lugar
novo a ser visitado) O lazer dessa forma torna-se componente fundamental para
se entender a dinacircmica espacial do turismo Segundo Martins (2004) o habitante de
uma cidade abre novos e espantosos capiacutetulos no relacionamento com o territoacuterio
(MARTINS 2004 p 16) ao conhecer novos lugares que natildeo pertencem ao seu
cotidiano Camargo relaciona o lazer a uma escolha pessoal do indiviacuteduo dentro de
um tempo precioso onde se pode exercitar com mais criatividade as alternativas de
accedilatildeo ou participaccedilatildeo (CAMARGO 2003 p 11) Nesse caso o indiviacuteduo ao praticar
o turismo tem certa liberdade de escolher os espaccedilos onde pretende exercer suas
atividades voltadas para seu descanso
Levando-se em consideraccedilatildeo que a ciecircncia a tecnologia e a informaccedilatildeo
hoje redefinem novos paradigmas sociais como os da produccedilatildeo industrial do
mercado e dos serviccedilos inclusive os de comportamento pode-se concluir que o
lazer torna-se uma praacutetica importante para o estabelecimento de novos fluxos
econocircmico-sociais fluxos esses que redefinem novas praacuteticas espaciais Segundo
Rodrigues (1999)
O acesso ao conhecimento eacute relevante para a atraccedilatildeo de novos capitais influenciando de maneira decisiva a adoccedilatildeo de novas necessidades alterando-se os haacutebitos de consumo Nesse particular o eterno mito do retorno seraacute reforccedilado pela miacutedia que vem incentivando de forma bastante agressiva a busca da natureza () (RODRIGUES 1999 p 18)
29
Esse novo tipo de lazer mais ligado ao ritmo da modernidade entra num
circuito da troca (CARLOS 2002) em que aacutereas do planeta situam-se no processo
de comercializaccedilatildeo dos lugares A liberdade individual entatildeo passa a ser cooptada
pelo mercado onde o turista participa desse processo de escolha dos lugares de
forma passiva Poreacutem que tipo de lazer eacute esse Segundo Carlos (2002) o lazer da
sociedade moderna muda seu sentido e passa a ser inserido natildeo como uma
atividade espontacircnea mas sim como uma forma de desenvolvimento da sociedade
do consumo
Tal fato significa que o lazer se torna uma necessidade Isto eacute no curso do desenvolvimento da reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais produz-se nova atividade produtiva diferenciada com ocupaccedilotildees especializadas que produz um novo espaccedilo e ou novas formas de uso deste espaccedilo (CARLOS 2002 p 25)
Segundo ainda a mesma autora essas necessidades provocam um
sentimento de estranhamento mas que por outro lado tornam os lugares como
espaccedilos de espetaacuteculo onde o turista pratica um lazer passivo porque eacute mediado
pelos grandes agentes do capital do turismo Aleacutem de serem ordenados pelos
agentes do capital vinculados ao turismo a produccedilatildeo de novos espaccedilos desperta
tambeacutem o interesse de outros agentes que pretendem a partir das praacuteticas
turiacutesticas organizar o espaccedilo de forma sistematizada e racional Sendo assim a
figura do Estado torna-se imprescindiacutevel no que se refere ao planejamento do
espaccedilo turiacutestico Tal planejamento eacute voltado para a formaccedilatildeo de territoacuterios
destinados ao lazer caracterizados por meio de uma referecircncia espacial de cada
lugar Os planejamentos seguem assim uma ordem de produtividade em que
dependem do grande fluxo de visitantes O espaccedilo eacute concebido segundo um
pensamento em que sua funcionalidade aleacutem de ser voltado para o lazer deve
estar em conexatildeo com a geraccedilatildeo de divisas Com isso o turismo passa da esfera do
simples lazer e da busca de novos lugares para ocupar uma importacircncia referente
ao reordenamento espacial Eacute a partir do interesse do Estado em promover o
turismo em um lugar que surgem tambeacutem possibilidades de transformaccedilotildees dos
lugares com o intuito de desencadear um desenvolvimento Percebe-se entatildeo que
30
a loacutegica de reordenamento dos territoacuterios a partir de uma oacutetica do Estado estaacute
associada agrave ideacuteia de desenvolvimento de um determinado lugar Ao turismo cabe
com isso ter um papel fundamental na elaboraccedilatildeo das poliacuteticas de desenvolvimento
A literatura sobre o desenvolvimento do setor turiacutestico tem apresentado
variados temas que situam o ordenamento territorial e o progresso econocircmico-social
como principais fundamentos de seu processo entendendo-se o turismo como um
dos elementos fundadores do lazer moderno da sociedade atual sua repercussatildeo
no espaccedilo geograacutefico requer natildeo soacute uma condiccedilatildeo teacutecnica como tambeacutem situaccedilotildees
em que o desenvolvimento da atividade sirva como um fator de melhoria para a
populaccedilatildeo local inserida no processo de transformaccedilatildeo espacial Destarte o turismo
procura estabelecer diversas estrateacutegias para que seus desdobramentos possam
mitigar seus impactos sociais ambientais e culturais a fim de promover
concatenaccedilatildeo entre a geraccedilatildeo de divisas da atividade e a melhoria da qualidade de
vida da populaccedilatildeo local
Hoje o debate sobre o desenvolvimento e o turismo muitas vezes serve de
justificativa para que muitos governos possam inserir a atividade dentro dos
territoacuterios com o intuito de impulsionar o turismo a todo o custo sempre relacionando
o turismo agrave ideacuteia de progresso social Sendo assim o desenvolvimento torna-se
apenas um artifiacutecio manipulado por autoridades de Estado e tambeacutem pela iniciativa
privada que vecircem o turismo como uma saiacuteda para o atraso social de um lugar
Este quadro de caracteriacutesticas e atributos que satildeo relacionados agrave questatildeo do
desenvolvimento de forma equivocada na sua maioria muito se deve agrave proacutepria
histoacuteria do desenvolvimento conforme se tem analisado na literatura cientiacutefica Isto
quer dizer que a indefiniccedilatildeo do que seja desenvolvimento contribui amplia a
complexidade do termo e gera consequumlecircncias soacutecio-espacias
No que diz respeito agrave esfera do turismo a realidade dessa situaccedilatildeo natildeo seria
diferente posto que as anaacutelises feitas pelos oacutergatildeos planejadores de
desenvolvimento natildeo levam em consideraccedilatildeo uma maior efetividade da populaccedilatildeo
quando o assunto eacute inserir a dinacircmica do turismo em um lugar Com isso o turismo
destaca-se notadamente como uma atividade que gera lucro poreacutem em certos
casos desassociada da qualidade de vida de uma populaccedilatildeo A essa condiccedilatildeo
31
apresenta-se tambeacutem uma disparidade de realidades quando se debate sobre
desenvolvimento Isto porque nos paiacuteses ricos (paiacuteses centrais) a poliacutetica de
desenvolvimento segue uma realidade peculiar e o que se vecirc eacute uma tentativa de
seguir as mesmas diretrizes e estrateacutegias espaciais natildeo levando em consideraccedilatildeo a
realidade de paiacuteses em que variaacuteveis como renda per capta escolaridade sauacutede e
infra-estrutura satildeo muito diacutespares Dessa forma tenta-se ratificar um
desenvolvimento do turismo nos mesmos moldes de paiacuteses como Franccedila Espanha
Estados Unidos Itaacutelia onde a atividade eacute uma praacutetica jaacute consolidada
Rodrigues (2002) ao comentar a relaccedilatildeo entre o turismo e seus efeitos nos
paiacuteses perifeacutericos situa a necessidade de chamar a atenccedilatildeo para pesquisas e
discussotildees sobre a temaacutetica do desenvolvimento Segundo a autora
Os efeitos do turismo demandam urgecircncia e seriedade nas pesquisas particularmente nos paiacuteses de economia perifeacuterica localizados no mundo intertropical com praias paradisiacuteacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimocircnio mundial Natildeo menos importantes satildeo os estudos visando agrave avaliaccedilatildeo da dimensatildeo econocircmica do fenocircmeno tendo em vista sua importacircncia no desenvolvimento com base local ou seja voltado para a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo dos lugares e regiotildees onde novos projetos se encontram em fase de implantaccedilatildeo ou em aacutereas que jaacute sofreram degradaccedilotildees devido ao uso indiscriminado e necessitam de estrateacutegias urgentes para a mitigaccedilatildeo dos impactos (RODRIGUES 2002 p 9)
Essa relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o turismo demanda uma importacircncia
que estaacute assentada na diminuiccedilatildeo de seus possiacuteveis impactos ressaltada nos
documentos que retratam tal temaacutetica Dessa forma o desenvolvimento surge como
uma tentativa de suplantar os impactos causados pelos processos de transformaccedilatildeo
espacial que estatildeo relacionados ao turismo
Durante muitos anos a ideacuteia de desenvolvimento esteve associada agrave ideacuteia de
crescimento Isso fez com que a literatura desenvolvida por especialistas da aacuterea
influenciasse governos ao se defrontarem com a possibilidade de implementar o
desenvolvimento em um determinado paiacutes ou regiatildeo Essa noccedilatildeo de
32
desenvolvimento encontra no turismo um dos vetores desse possiacutevel crescimento
tornando o turismo panaceacuteia para todos os males sociais (ROCHA 2002)
Alguns roacutetulos satildeo criados com a finalidade de ampliar o leque de discussotildees
sobre a eficaacutecia e consistecircncia do desenvolvimento do turismo Atualmente o
Estado investe consideravelmente suas accedilotildees de poliacuteticas de desenvolvimento no
chamado turismo sustentaacutevel numa tentativa de associar harmonicamente a
questatildeo da geraccedilatildeo de lucro com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Rocha (2002)
ainda faz uma criacutetica contundente a respeito desse novo modelo de
desenvolvimento do turismo onde a preservaccedilatildeo do meio ambiente torna-se o
centro das discussotildees envolvendo o significado de desenvolvimento Segundo o
autor o governo brasileiro imprime um discurso ambientaliacutestico por meio do qual a
preocupaccedilatildeo com uma possiacutevel destruiccedilatildeo da natureza estaacute ligada agrave ideacuteia de
sustentabilidade econocircmica e social
O discurso hegemocircnico e tambeacutem do governo brasileiro sobre a importacircncia do desenvolvimento do setor cada vez mais se recheia de expressotildees de caraacuteter ambientaliacutestico numa tentativa de convencer que o incentivo oferecido eacute motivado pela preocupaccedilatildeo ecoloacutegica haja vista ser esta atividade uma alternativa para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel Na praacutetica entretanto eacute impossiacutevel negar a mercantilizaccedilatildeo da natureza e da cultura consideradas as principais mateacuterias-primas para o turismo ecoloacutegico ou ecoturismo (ROCHA 2002 p 163)
Segundo ainda o mesmo autor essas premissas natildeo fogem agraves caracteriacutesticas
do turismo tradicional pois carregam no seu cerne a condiccedilatildeo de crescer para
atingir o desenvolvimento seria entatildeo uma espeacutecie de artificializaccedilatildeo da natureza
Souza (1997) estabelece um importante contraponto a essa noccedilatildeo
equivocada que permeia a noccedilatildeo de desenvolvimento Segundo o autor a literatura
cientiacutefica que trata da questatildeo do desenvolvimento negligenciou o espaccedilo e ou o
reduziu a uma visatildeo economicista (SOUZA 1997) A ideacuteia de melhoria estava
associada a de bem-estar material percebida por exemplo nos trabalhos de Rodan
(1964) Ainda mais que os teoacutericos sobre o desenvolvimento afirmassem que para
haver o desenvolvimento de uma regiatildeo deprimida economicamente sua
33
industrializaccedilatildeo deveria ser forte extraindo os recursos naturais necessaacuterios para
superar a pobreza de um lugar Este uacuteltimo autor argumentava naquela eacutepoca que
uma induacutestria somente alcanccedilaria um tamanho oacutetimo se houvesse uma ampla aacuterea
para seu desenvolvimento para que diminuiacutesse assim as possibilidades de risco
marginal (RODAN 1964 p 252)
Outros autores que seguiram esta mesma linha de pensamento sobre o
significado de desenvolvimento como Baran (1964) estabelecem que para haver
algum tipo de mudanccedila na sociedade que levasse agraves melhorias sociais de uma
naccedilatildeo a classe meacutedia de um paiacutes deprimido2 deveria se posicionar contra as
mazelas produzidas pelo capitalismo crescente Segundo este autor haveria uma
melhor distribuiccedilatildeo da renda se houvesse um consumo da populaccedilatildeo poreacutem o
problema eacute que esse consumo das coisas que geram os fluxos econocircmicos de um
paiacutes eacute praticado por uma pequena elite residente nas aacutereas mais privilegiadas
Nesse sentido os gastos realizados pela elite local estatildeo concentrados em coisas
supeacuterfluas como os artigos de luxo A consequumlecircncia para Baran (1964) eacute que natildeo
se concretiza uma forma de poupar as riquezas da populaccedilatildeo logo o
desenvolvimento do lugar natildeo se estabelece Ainda segundo o mesmo autor o que
de fato provoca a insustentabilidade econocircmica de um lugar eacute a pouca oportunidade
de investimentos do grande capital Percebe-se entatildeo que a oportunidade de
desenvolvimento estaacute intimamente condicionada pelos investimentos empresariais
Toda a infra-estrutura do lugar deveria estar em consonacircncia com a produtividade
de uma empresa Sendo assim
Natildeo resta duacutevida que a ausecircncia de economias externas e a inadequaccedilatildeo do meio econocircmico nos paiacuteses subdesenvolvidos constituem fatores desestimulantes aos investimentos em projetos industriais Natildeo haacute meios de preencher rapidamente essas deficiecircncias Investimentos de grande porte supotildeem a preexistecircncia de investimentos tambeacutem de grande porte Estradas usinas eleacutetricas redes ferroviaacuterias e casas tecircm que ser construiacutedas antes para que o empresaacuterio ache rentaacutevel investir em novas induacutestrias (BARAN 1964 p 91)
2 Vale lembrar que a expressatildeo economia deprimida eacute muito visualizada nos trabalhos de economistas do poacutes-guerra em que estes se referiam aos paiacuteses subdesenvolvidos principalmente os que ainda estabeleciam uma dependecircncia econocircmica muito forte com os paiacuteses centrais Os trabalhos sobre esse tipo de desenvolvimento ganharam destaque principalmente a partir dos anos 1950 na Europa e nos EUA
34
Esse tipo de teoria apesar de se referir a um contexto natildeo muito atual ainda
deixa influecircncias muito fortes no que diz respeito agrave abordagem especiacutefica do
desenvolvimento relacionado com a economia de um lugar Para os paiacuteses
subdesenvolvidos essa realidade suplantaria a necessidade do desenvolvimento
econocircmico de uma sociedade de um paiacutes pobre Ou seja haveria uma mudanccedila na
estrutura social de um paiacutes se houvesse um maior investimento no consumo dos
materiais necessaacuterios para um progresso econocircmico
O paradigma do desenvolvimento econocircmico preencheu vaacuterios debates ao
longo dos uacuteltimos anos referindo-se principalmente agrave forma de consumo de bens
industrializados ou ainda a induacutestria e seus efeitos na economia de um lugar eacute que
desencadeariam um processo de melhoria social Hirschman (1985) por exemplo
analisa a situaccedilatildeo financeira de um paiacutes para alcanccedilar a superaccedilatildeo de problemas
soacutecio-econocircmicos Para o autor o controle fiscal por parte do Estado repercute em
um aumento de divisas para uma naccedilatildeo Assim sendo para que os efeitos fiscais
sejam um mecanismo de desenvolvimento eficaz a habilidade de taxar deve ser
combinada com a habilidade de investir (HIRSCHMAN 1985 p 44) Sem essa
condiccedilatildeo aumenta-se ainda mais o problema da burocracia e o entrave para o
crescimento o alcance do desenvolvimento adviria atraveacutes do que ele chama de
efeitos em cadeia nos quais investimentos realizados em um paiacutes quando bem
estruturados repercutem em processo de desencadeamento da produccedilatildeo Ou seja
fazendo uma associaccedilatildeo com a praacutetica turiacutestica o processo de efeitos em cadeia
do turismo ocasionaria um processo de desenvolvimento em outras atividades que
gerassem o desenvolvimento em um lugar como por exemplo a educaccedilatildeo
saneamento baacutesico e assim por diante Esse processo de repercussatildeo em cadeia
ocorreria tambeacutem juntamente com uma mobilidade espacial onde a novidade ou o
novo produto do processo de desenvolvimento econocircmico aconteceria em um outro
lugar e assim sucessivamente
Esse conjunto de caracteriacutesticas pertinente ao conceito de desenvolvimento
para Souza (1997) revela uma espeacutecie de redistribuiccedilatildeo com crescimento em que
as ideacuteias conservadoras da economia eram o substrato teoacuterico principal Sendo
assim desenvolvimento sempre esteve associado agrave ideacuteia de incremento econocircmico
ou ainda ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agrave renda nacional per
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capta Tal condiccedilatildeo alcanccedila um aspecto exclusivamente quantitativo em que a
produtividade eacute o motor de seu funcionamento Eacute nesse sentido entatildeo que
Tomar o desenvolvimento econocircmico como sinocircnimo de desenvolvimento tout court eacute com efeito uma impropriedade porque se aquele se refere ao processo em cujo bojo uma sociedade consegue produzir bens em maior quantidade de melhor qualidade e com mais eficiecircncia ele concerne a meios e natildeo a fins (SOUZA 1997 p 14)
Dessa forma o autor coloca em xeque o paradigma do desenvolvimento
questionando suas limitaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas que em consequumlecircncia
estatildeo limitadas tambeacutem nas accedilotildees referentes ao espaccedilo geograacutefico Por outro lado
ele defende a ideacuteia de que o desenvolvimento deve ultrapassar a barreira do
quantitativismo ou seja fazer com que a noccedilatildeo de crescimento seja superada
possibilitando entender o desenvolvimento a partir do espaccedilo socialmente construiacutedo
(SOUZA 1997 2002 2004) onde a populaccedilatildeo local torna-se o sujeito crucial na
construccedilatildeo do que venha a ser desenvolvimento Eacute nesse sentido entatildeo que a ideacuteia
de desenvolvimento eacute intriacutenseca a de que o espaccedilo social eacute condiccedilatildeo para sua
reproduccedilatildeo Sendo assim torna-se possiacutevel o alcance da justiccedila social
independente da escala seja ela local nacional ou ateacute mesmo internacional A ideacuteia
de autonomia desta forma acaba por se tornar o paracircmetro fundamental para a
concepccedilatildeo do que venha a ser o desenvolvimento soacutecio-espacial Segundo o autor
a autonomia eacute vista a partir de um conjunto de significaccedilotildees imaginaacuterias que estatildeo
na raiz histoacuterico-cultural de uma sociedade Sobre esse assunto o autor relata que
A autonomia de um grupo para adotar uma concepccedilatildeo especiacutefica de desenvolvimento ou mais amplamente um modo de vida particular exige a consideraccedilatildeo desse grupo natildeo isoladamente mas no contexto de sua relaccedilatildeo com outros grupos (em qualquer escala do local ao internacional) sempre agrave luz do seguinte desafio por um lado eacute preciso respeitar a alteridade do Outro e a incomensurabilidade de universos culturais distintos () Ou seja a autonomia eacute um princiacutepio que exige a consideraccedilatildeo do plano interno (a igualdade de chances de participaccedilatildeo na tomada de decisotildees relevantes para a vida social) mas igualmente que se leve em conta o plano externo (os interesses legiacutetimos do Outro natildeo importando o quanto ele seja diferente de noacutes mesmos) conforme um princiacutepio de natildeo-intervenccedilatildeo (SOUZA 1997 p 21)
36
Tal situaccedilatildeo natildeo seria diferente quando se remete agrave repercussatildeo espacial do
turismo em um lugar visto que o turismo figura atualmente como uma saiacuteda para
um possiacutevel desenvolvimento Nesse sentido natildeo escapa agrave ideacuteia de participaccedilatildeo da
sociedade local nas tomadas de decisatildeo sobre o destino de um lugar
principalmente se aos olhos da iniciativa privada e do Estado a atividade turiacutestica
parecer algo rentaacutevel O turismo como outra atividade social e econocircmica torna-se
entatildeo objeto de discussatildeo por parte da sociedade envolvida no processo de
turistificaccedilatildeo do lugar Seria o que Rodrigues (2002) chama de contrariar a
racionalidade econocircmica vigente
Em um outro trabalho Souza (2002) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre o
turismo e o desenvolvimento Para que o turismo gere desenvolvimento eacute
necessaacuterio saber quem ganha e quem perde com a atividade turiacutestica Isto
dependeria pelo menos de trecircs grupos a populaccedilatildeo da aacuterea de origem dos turistas
os turistas propriamente e a populaccedilatildeo da aacuterea de destinos dos turistas Vale
ressaltar que esses trecircs grupos natildeo podem ser vistos de forma homogecircnea pois a
diferenccedila interna entre eles ou seja quem ganha e quem perde eacute algo relativo aos
anseios de quem pratica a atividade turiacutestica em um lugar Para estabelecer essa
relaccedilatildeo torna-se fundamental natildeo perder de vista a autonomia e o grau de
complexidade que eacute gerado pelo contraste cultural que o fenocircmeno do turismo pode
causar Souza (2002) estabelece entatildeo que a autonomia eacute importante para gerir os
destinos e disciplinar o turismo (SOUZA 2002 p 20) E o grau de diferenccedila
baseia-se sobretudo na disparidade econocircmico-financeira de um grupo de turistas
e a populaccedilatildeo local (principalmente se essa populaccedilatildeo for pobre) Para o autor
apesar de o turismo gerar impactos soacutecio-ambientais ele pode estabelecer um
aprendizado entre culturas tatildeo diversas ou seja ao inveacutes de se ajustar a uma
realidade o turismo pode ser um fator de um desenvolvimento soacutecio-espacial
contribuindo assim para a melhoria e para o bem-estar da populaccedilatildeo residente e
dos turistas visitantes
37
22 Sistema de Objetos e de Accedilotildees a espacialidade da atividade turiacutestica
De iniacutecio a emergecircncia do turismo enquanto uma atividade de lazer da
modernidade levanta uma seacuterie de questionamentos quando o espaccedilo eacute produto
condiccedilatildeo e meio daquela atividade A relaccedilatildeo entre o turismo e o espaccedilo eacute bastante
marcada por impactos soacutecio-ambientais Menos ou mais complexos esses
fenocircmenos representam a reproduccedilatildeo da atividade Isto quer dizer que sem espaccedilo
natildeo haacute turismo
O espaccedilo do turismo portanto eacute marcado por inuacutemeras relaccedilotildees sociais que
difundem a dinacircmica da atividade mundo afora e por conseguinte estabelece novos
paradigmas de comportamento Assim a sociedade moderna amplia espaccedilos
atraveacutes da praacutetica turiacutestica Por ser uma atividade soacutecio-econocircmica que produz um
fasciacutenio nas pessoas ao conhecerem novos lugares o turismo produz um
sentimento de conquista de novos espaccedilos com a finalidade do lazer Sendo assim
para que exista essa condiccedilatildeo o espaccedilo geograacutefico eacute dotado de atrativos com o
intuito de chamar a atenccedilatildeo de turistas Tais atrativos figuram como um alicerce para
a fixaccedilatildeo temporaacuteria das pessoas ou seja a intenccedilatildeo eacute fazer com que o espaccedilo
seja modificado para atender a uma demanda turiacutestica
Dessa forma deve-se entender como Santos (2002) que o espaccedilo eacute um
conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees Nesse sentido
tratar do espaccedilo do turismo requer essa condiccedilatildeo sem a qual o mesmo natildeo procede
sua dinacircmica Deve-se ressaltar que a dinacircmica espacial que o turismo impotildee eacute
tambeacutem condicionada segundo um contexto histoacuterico segundo ainda sua natureza
histoacuterica onde os agentes transformadores do espaccedilo iratildeo desempenhar um
processo diferencial no que diz respeito agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade Cada
objeto espacial e consequumlentemente suas accedilotildees determinadoras estaratildeo
condicionadas de acordo com um tempo histoacuterico
Santos (2002) ainda ressalta que de fato o que caracteriza o espaccedilo
geograacutefico satildeo os objetos mediados pela teacutecnica empregada por cada accedilatildeo
subsequumlente concebidos para o exerciacutecio de certas finalidades intencionalmente
38
fabricados e intencionalmente localizados (SANTOS 2002 p 166) A atividade
turiacutestica estaacute situada num processo de construccedilatildeo de objetos teacutecnicos que estatildeo de
acordo com determinadas finalidades ou objetivos mediados por assim dizer pela
teacutecnica Tais objetos simulam a ideacuteia de superaccedilatildeo da natureza por possuiacuterem
qualidades superiores agrave da ordem natural Nesse sentido o turismo ao criar
espaccedilos voltados para as praacuteticas do lazer procura ser o mais eficaz possiacutevel para
que o consumo do espaccedilo (CRUZ 2001) seja o vetor de transformaccedilatildeo dos lugares
Na abordagem sobre o significado de espaccedilo Santos (2002) afirma que
O espaccedilo eacute formado por um conjunto indissociaacutevel solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees natildeo considerados isoladamente mas como o quadro uacutenico no qual a histoacuteria se daacute No comeccedilo era a natureza selvagem formada por objetos naturais que ao longo da histoacuteria vatildeo sendo substituiacutedos por objetos fabricados objetos teacutecnicos mecanizados e depois ciberneacuteticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma maacutequina Atraveacutes da presenccedila desses objetos hidroeleacutetricas faacutebricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espaccedilo eacute marcado por esses acreacutescimos que lhe datildeo algum conteuacutedo extremamente teacutecnico (SANTOS 2002 a p 63)
Dessa forma a abordagem sobre o espaccedilo estaacute contida dentro de um grau de
complexidade que envolve natureza e homem Cada vez mais em que se apresenta
o domiacutenio do homem sobre a natureza esta tende a ser artificial sendo entatildeo os
objetos artificializados pelo homem As accedilotildees impostas interagem e datildeo vida agrave
dinacircmica espacial onde os objetos lhe datildeo a forma de como se apresentam na
realidade e por outro lado elas ao longo do tempo condicionam novas formas
novos objetos espaciais
Esse momento de exploraccedilatildeo da natureza eacute muito mais evidente a partir das
grandes transformaccedilotildees que o homem provocou com o advento da modernidade
Isto quer dizer que a rapidez com que os processos sociais foram se modificando ao
longo dos anos fez com que o espaccedilo se tornasse mais complexo do ponto de vista
das relaccedilotildees sociais Ao analisar os sistemas de objetos Santos (2002) relata que
hoje o mundo se torna muito mais de objetos do que de coisas Antes o mundo era
39
das coisas porque estavam no ritmo da natureza Atualmente no chamado meio
teacutecnico-cientiacutefico e informacional (SANTOS 1994) as coisas tendem a ser objetos
pelo fato de haver uma constante desnaturalizaccedilatildeo Sendo assim o valor simboacutelico
dos objetos eacute muito maior do que o valor das coisas
Essa realidade se aplica ao turismo A partir da praacutetica da atividade turiacutestica o
espaccedilo tende a sofrer mudanccedilas bruscas que estatildeo de acordo com uma ordem que
eacute a ordem do capital Os objetos espaciais do turismo por excelecircncia satildeo objetos
de grandes transformaccedilotildees espaciais mediados por accedilotildees de agentes do capital e
tambeacutem pelos turistas O turismo torna-se com isso um importante veiacuteculo de
produccedilatildeo de espaccedilos Esses espaccedilos do turismo natildeo se aplicam apenas no mundo
concreto antes disso estatildeo dentro do imaginaacuterio do turista no momento em que ele
cria uma expectativa de conhecer o outro a sua ligaccedilatildeo produz entatildeo novos
lugares novos espaccedilos possibilitando assim uma maior rapidez no que diz
respeito agrave sua transformaccedilatildeo Tais circunstacircncias satildeo ainda mais visiacuteveis quando
outros agentes do setor turiacutestico reforccedilam a ideacuteia do belo ou ainda do que seja
atrativo Tal produccedilatildeo do espaccedilo imaginaacuterio turiacutestico eacute para Rodrigues (1999)
uma captaccedilatildeo do imaginaacuterio coletivo na tentativa de uma resposta Segundo a
autora a miacutedia eacute responsaacutevel pelo processo de criaccedilatildeo da fantasia do espaccedilo
turiacutestico a ser visitado Criam-se cenaacuterios os mais belos possiacuteveis onde o estiacutemulo
estaacute concentrado nas paisagens fabricadas com o que haacute de melhor Ainda nas
palavras de Santos (2002b) a ordem espacial assim resultante eacute tambeacutem
intencional (SANTOS 2002b p 166) Com isso percebe-se a forma pela qual a
miacutedia introduz novos siacutembolos que entram no jogo dialeacutetico da produccedilatildeo de objetos
espaciais voltados para a expansatildeo da atividade turiacutestica
Reconhecendo o espaccedilo como aspecto central na anaacutelise do turismo a
geografia representa uma importante aacuterea de estudos para esse fenocircmeno visto
que esse tipo de relaccedilatildeo social se faz atraveacutes do consumo dos espaccedilos Rodrigues
(1999) procura estabelecer paracircmetros de anaacutelises teoacutericos e metodoloacutegicos para se
entender como ocorre o processo de constituiccedilatildeo dos elementos que formam o
espaccedilo turiacutestico A autora toma como base Santos (1985) para analisar os
elementos fundadores do espaccedilo turiacutestico Segundo a autora o espaccedilo do turismo eacute
formado por pelo menos cinco elementos
40
a) os homens que se caracterizam na figura dos turistas Estes na verdade
satildeo a proacutepria demanda turiacutestica ou seja homens e mulheres e tambeacutem os agentes
responsaacuteveis por grandes firmas internacionais ou ainda os agentes de viagens
turiacutesticas
Segundo a autora a demanda turiacutestica eacute originaacuteria na sua maioria dos
grandes centros urbanos especialmente as metroacutepoles onde estatildeo concentrados
trabalhadores de classe meacutedia e alta providos de tempo e dinheiro para efetivar seu
deslocamento no espaccedilo rumo ao destino turiacutestico Ao chegarem os visitantes
entram em contato com a populaccedilatildeo residente do nuacutecleo receptor de turismo A
populaccedilatildeo local natildeo eacute um elemento menos importante dentro do espaccedilo turiacutestico
(RODRIGUES 1999 p 66) Esta relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo viajante (os turistas) e a
populaccedilatildeo residente (populaccedilatildeo local) nem sempre se daacute da forma mais harmocircnica
possiacutevel pois o contato intercultural entre os povos provoca algumas rupturas que
em certos casos desencadeiam processos de transformaccedilatildeo cultural
b) O outro elemento estaacute constituiacutedo na figura das firmas que satildeo
responsaacuteveis por toda a produccedilatildeo de bens serviccedilos de um sistema turiacutestico Agrave
atividade turiacutestica esse elemento estaacute diretamente ligado ao serviccedilo de hospedagem
(as cadeias hoteleiras) bem como agraves agecircncias de turismo que de certa forma
tambeacutem constituem cadeias
As firmas caracterizam-se pela promoccedilatildeo da atividade turiacutestica usando o
marketing para promover da melhor forma possiacutevel o produto turiacutestico a ser
comercializado Por esse motivo elas atuam em redes internacionais (redes globais)
especializadas no setor turiacutestico Suas funccedilotildees correspondem sobretudo a uma
ordem geral da empresa ou seja o mesmo serviccedilo que eacute prestado num paiacutes como o
Brasil de certa maneira eacute o mesmo prestado em um paiacutes como a Franccedila por
exemplo Essa situaccedilatildeo torna-se possiacutevel por ocorrer na era da globalizaccedilatildeo na
qual os mercados estatildeo unificados independentes de pertencerem a paiacuteses ricos ou
pobres As accedilotildees das firmas ocorrem de forma uniforme no processo turiacutestico Para
a autora as novas relaccedilotildees que se estabelecem em escala mundial e local podem
desarticular o local do regional e do nacional ignorando-se as fronteiras do Estado-
Naccedilatildeo (RODRIGUES 1999 p 66)
41
c) Outro elemento do espaccedilo turiacutestico satildeo as instituiccedilotildees que correspondem
agraves superestruturas (1999 p 67) Este elemento concentra-se nas accedilotildees ditadas por
oacutergatildeos internacionais ou nacionais de promoccedilatildeo do turismo Oacutergatildeos como a OMT
(Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo) com sede na Espanha OMC (Organizaccedilatildeo
Mundial do Comeacutercio) outras instituiccedilotildees como a EMBRATUR (Empresa Brasileira
de Turismo esta com caraacuteter de instituto) ou ainda o Ministeacuterio do Turismo satildeo
exemplos de atores sociais que ditam regras e ordenam o espaccedilo geograacutefico do
turismo a fim de promover a expansatildeo da atividade Pode-se perceber entatildeo que
as instituiccedilotildees satildeo em certos momentos a proacutepria figura do Estado desmembrado
nos seus oacutergatildeos de planejamento e gestatildeo do espaccedilo turiacutestico Por outro lado as
instituiccedilotildees correspondem a oacutergatildeos supranacionais que atuam em acircmbito
internacional
d) O quarto elemento componente do espaccedilo turiacutestico satildeo as infra-estruturas
ou seja as redes de transporte comunicaccedilotildees saneamento baacutesico coleta de lixo
tratamento de esgoto ou serviccedilo de ajuda aos turistas como as casas de cacircmbio e a
seguranccedila As infra-estruturas satildeo componentes de organizaccedilatildeo do espaccedilo para o
recebimento do turista Este elemento que parece simples eacute bastante complexo
pois seu volume e conteuacutedo devem estar dimensionados de acordo com a demanda
pelo menos com a demanda atual de um nuacutecleo turiacutestico (RODRIGUES1999 p
69) A infra-estrutura aleacutem de ser elemento do espaccedilo turiacutestico torna-se tambeacutem
condiccedilatildeo fundamental para a fixaccedilatildeo do turista no lugar a ser visitado Sem uma boa
infra-estrutura os serviccedilos turiacutesticos ficam comprometidos ocasionando assim uma
queda na demanda de viajantes Deve-se ressaltar tambeacutem que a infra-estrutura
turiacutestica pode estar associada a um espaccedilo voltado exclusivamente para a
atividade desvinculando-se da realidade local aumentando dessa maneira as
disparidades soacutecio-espaciais
e) O uacuteltimo e quinto elemento eacute o meio ecoloacutegico que segundo Santos
(1985) eacute o conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do
trabalho humano (SANTOS apud RODRIGUES 1999 p 69) Refere-se
principalmente ao meio natural onde estatildeo assentados os outros quatro elementos
anteriores Seria outrora o meio ambiente poreacutem cada vez mais modificado pelo
homem Eacute a natureza primeira sendo cada vez mais modificada transformando-se
42
em segunda natureza onde impera o mundo da teacutecnica ou tecnosfera (SANTOS
2002 a) No caso do turismo o meio ecoloacutegico eacute cada vez mais valorizado nos dias
atuais com o chamado turismo sustentaacutevel ou ainda turismo ecoloacutegico A volta agrave
natureza bucoacutelica com poucas interferecircncias do homem torna-se um novo objeto
de consumo do turismo por parte dos viajantes Eacute uma forma de valorizaccedilatildeo das
paisagens mais exuberantes e que provocam uma sensaccedilatildeo de tranquumlilidade numa
tentativa de atenuar os impactos ambientais gerados pelo turismo de massa
A repercussatildeo espacial do turismo estaacute marcada por um conjunto de formas
funccedilotildees processos e estruturas (SANTOS 1985) Dentro de uma totalidade
espacial os elementos formadores do espaccedilo do turismo ocorrem em conjunto
Dessa forma natildeo se pode deixar de afirmar que os objetos espaciais do turismo
carregam em si caracteriacutesticas que estatildeo em comum acordo com um contexto
histoacuterico da atividade
A espacialidade turiacutestica tambeacutem se faz a partir de impactos no meio
ambiente com a construccedilatildeo de grandes objetos espaciais voltados para o lazer A
tentativa de promover a todo custo a expansatildeo da atividade resulta em contrastes
no espaccedilo original que de certa forma natildeo correspondem agrave histoacuteria ou cultura do
lugar Alguns pesquisadores julgam o turismo como um produtor de natildeo-lugares o
que resultaria na confirmaccedilatildeo de que a praacutetica do turismo estaacute a serviccedilo do capital
Carlos (2002) sustenta a ideacuteia da transformaccedilatildeo do espaccedilo pelo turismo como um
sentimento de perda do lugar ou ainda da identidade Poreacutem ressalta que antes
do sentimento de perda do espaccedilo original ter um valor de falta deve-se entender
que esse jogo de relaccedilotildees faz parte do processo de construccedilatildeo do espaccedilo no mundo
moderno Dessa forma como o turismo eacute movido pelas diretrizes do capital o
espaccedilo torna-se uma mercadoria que estaacute agrave venda num processo de troca
produzindo-se assim a natildeo-identidade respeitando muito mais o tempo do dinheiro
do que o tempo da sociedade local Segundo ainda a mesma autora o turismo
transforma tudo o que toca em artificial cria um mundo fictiacutecio e mistificado de lazer ilusoacuterio onde o espaccedilo se transforma em cenaacuterio para o espetaacuteculo para uma multidatildeo amorfa mediante uma criaccedilatildeo de uma seacuterie
de atividades que conduzem a passividade produzindo apenas a ilusatildeo da evasatildeo e desse modo o real eacute metamorfoseado transfigurado para
43
seduzir e fascinar Aqui o sujeito se entrega agraves manipulaccedilotildees desfrutando a proacutepria alienaccedilatildeo e a dos outros (CARLOS 2002 p 26)
De acordo com essa perspectiva o espaccedilo do turismo torna-se um espaccedilo
vazio sem sentido e sem espessura (CARLOS 2002) porque natildeo haacute nele uma
identidade A espacialidade do turismo pode dessa maneira ser a mesma (no
sentido de homogecircneo) em todo o mundo A relaccedilatildeo que se estabelece a partir
desses espaccedilos eacute uma relaccedilatildeo entre a induacutestria e o homem que aqui torna-se um
sujeito passivo diante da criaccedilatildeo de belos cenaacuterios onde as imagens parciais
refletem parcialmente a totalidade do lugar O lugar segundo a autora eacute um produto
das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na dimensatildeo do vivido construindo vaacuterios
significados sociais que satildeo marcados pelo tempo social O tempo do turismo
segundo essa loacutegica eacute um tempo da maacutequina sem vida e condicionado pela forccedila
das movimentaccedilotildees financeiras Como exemplo desses espaccedilos onde o tempo eacute
controlado o lazer da sociedade moderna natildeo eacute de forma espontacircnea os resorts
representam a expressatildeo do que seja um natildeo-lugar Configuram-se como espaccedilos
descontextualizados do entorno original uma vez que suas accedilotildees estatildeo mais no
mundo das representaccedilotildees do que nas materialidades que nos envolvem
(HAESBAERT 2004) constituindo assim uma ordem que estaacute subjacente a um
tipo de turismo global dentro do lugar
Dessa forma as espacialidades do turismo podem ser caracterizadas pelo
ritmo das empresas em que o seu novo espaccedilo eacute o mundo (SANTOS 2002) Tenta-
se com isso construir uma hegemonia de tempos de turismo acelerando cada vez
mais a produccedilatildeo de espaccedilos homogecircneos com o intuito de promover o lazer na
sociedade moderna
44
23 O Estado e as estrateacutegias de planejamento e de desenvolvimento da atividade turiacutestica
O debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas de turismo nos uacuteltimos tempos tem sido
aprofundado frequumlentemente pela crescente demanda da atividade nas mais
diversas partes do planeta A discussatildeo sobre as poliacuteticas puacuteblicas portanto estaacute
intimamente ligada agrave questatildeo do desenvolvimento de um lugar Mais precisamente
o Estado passa a ser o principal agente de discussatildeo e aplicaccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Nesse sentido eacute necessaacuterio estabelecer uma anaacutelise do seu papel nas
tomadas de decisotildees Isto quer dizer que a discussatildeo sobre as accedilotildees do Estado
envolve uma reparticcedilatildeo do territoacuterio que vai da escala nacional agrave escala local Para
tal efeito o debate teacutecnico sobre o planejamento do espaccedilo envolve atores sendo
eles caracterizados pelas funccedilotildees teacutecnicas (agentes de governo) ou ainda a
populaccedilatildeo residente em uma aacuterea a ser atingida
A partir da deacutecada de 1980 com a crescente modificaccedilatildeo da economia
mundial as accedilotildees do Estado tecircm sofrido mudanccedilas com o intuito de atender agraves
transformaccedilotildees recentes do capital internacional A estrutura econocircmica dos paiacuteses
por sua vez eacute modificada a partir de um novo conjunto de poliacuteticas estabelecidas
principalmente no decorrer da crescente onda neoliberal O Estado passa a ceder
mais lugar agrave iniciativa privada no interior das decisotildees que se referem aos setores
de infra-estrutura Observa-se desta forma uma gradativa isenccedilatildeo das
responsabilidades antes de inteira competecircncia do poder puacuteblico O que hoje passa
a ser estruturada com uma maior ampliaccedilatildeo das grandes empresas de uma forma
geral termina por acarretar em ocircnus para a sociedade Produz-se entatildeo um
campo de incertezas nas poliacuteticas puacuteblicas em que vaacuterios interesses dos atores
sociais envolvidos satildeo aflorados
Satildeo estabelecidos novos recortes territoriais que estatildeo situados em um
enfraquecimento do Estado ao mesmo tempo em que a presenccedila da iniciativa
privada se torna mais evidente A adequaccedilatildeo das escalas globais estatildeo mais para
as empresas do que para o desenvolvimento pleno da sociedade O ritmo das
economias segue portanto uma transformaccedilatildeo ditada pela velocidade das grandes
empresas o que faz com que se estabeleccedila uma nova forma de entendimento das
45
poliacuteticas puacuteblicas Segundo Cruz (2001) estas devem ser pensadas e conduzidas
pelo governo do contraacuterio ficam vinculadas agraves iniciativas privadas
Para Coelho (2000) essa crescente demanda dos interesses privados sobre
o puacuteblico precisa ser considerada a partir de um quadro poliacutetico-econocircmico no que
diz respeito aos processos soacutecio-culturais e ambientais dessa nova fase do
capitalismo Isto porque o que estaacute em jogo eacute um novo modelo de desenvolvimento
econocircmico a crescente reduccedilatildeo da capacidade do Estado em articular as accedilotildees
puacuteblicas e tambeacutem porque se trata de uma conjuntura de crise econocircmico-poliacutetica
por qual passam os governos A autora defende3 quatro tipos de abordagens sobre
os estudos de poliacuteticas puacuteblicas
A primeira estaria no acircmbito dos atores que podem ser puacuteblicos ou privados
mas que estatildeo referendadas nas suas diversas decisotildees e accedilotildees ou seja accedilotildees
ligadas ao interesses desses sujeitos O intuito portanto seria de entender seus
papeacuteis a partir das poliacuteticas adotadas no que diz respeito ao desenvolvimento
regional e da mitigaccedilatildeo dos problemas ambientais A segunda abordagem diz
respeito agrave investigaccedilatildeo das formas de atuaccedilatildeo conflitantes ou associativas dos
atores puacuteblicos ou privados e de seus esforccedilos em compartilharem entre si a busca
se soluccedilotildees de problemas ambientais (COELHO 2000 p 125) A terceira
abordagem tem como entendimento o exame das negociaccedilotildees do Estado nos
setores onde satildeo executadas as poliacuteticas puacuteblicas ou seja faz-se necessaacuteria uma
investigaccedilatildeo do momento em que se elaboram as poliacuteticas e o confrontamento com
outros tipos de poliacuteticas de outras ordens como por exemplo poliacuteticas industriais
minerais fundiaacuterias entre outras A quarta abordagem estaacute situada dentro da
perspectiva de uma superaccedilatildeo das poliacuteticas tradicionais Postula-se com isso uma
inserccedilatildeo ainda maior de poliacuteticas alternativas que mostrem diretrizes de um outro
tipo de desenvolvimento em que a gestatildeo participativa da sociedade possa ser
valorizada ampliando dessa maneira o debate a respeito das poliacuteticas puacuteblicas e
outros interesses sociais envolvidos Segundo ainda a autora
3 As anaacutelises de Coelho (2000) estatildeo voltadas para a questatildeo mineral do Estado do Paraacute poreacutem em um acircmbito geral tal perspectiva se faz muito vaacutelida para entendermos a atual conjuntura por qual passa o Estado nos uacuteltimos anos ou seja um entendimento geral sobre as noccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas
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Torna-se necessaacuterio sem duacutevida distinguir a loacutegica que norteia as empresas isto eacute uma loacutegica voltada para a produccedilatildeo do lucro ampliado e a que conduz a atuaccedilatildeo poliacutetica que visa manter o poder e para isso recorre a alianccedilas e a negociaccedilotildees sobretudo quando a legitimidade do Estado acha-se ameaccedilada (COELHO 2000 p 125)
Nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas assumem um caraacuteter multi e
interdisciplinar (COELHO 2000 p 125) o que faz com que os processos soacutecio-
espaciais abarcados nos planejamentos governamentais sejam redefinidos no
acircmbito das esferas municipais estaduais e federais
No setor turiacutestico tal realidade natildeo seria diferente Levando-se em
consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo permanente entre o setor privado e o Estado o turismo teve
um crescimento consideraacutevel nos uacuteltimos dececircnios e isso fez com que novas
territorialidades aflorassem e novas relaccedilotildees entre o Estado a iniciativa privada e a
populaccedilatildeo local fossem redefinidas
Para Cruz (2001) o turismo tornou-se nos uacuteltimos tempos um vetor muito
importante para a economia mundial Nesse sentido vaacuterias satildeo as intervenccedilotildees
espaciais que satildeo resultantes de uma necessidade de adequaccedilatildeo do lugar turiacutestico
agraves novas demandas do mercado Sendo o turismo uma loacutegica econocircmico-social
organizada torna-se importante a estruturaccedilatildeo de um sistema de objetos que
podem ser definidos por serviccedilos como hospedagens alimentaccedilatildeo transportes sob
um conjunto de accedilotildees que incrementam os diversos objetos espaciais voltados para
a praacutetica turiacutestica Esse conjunto de accedilotildees pode ser entendido como as poliacuteticas
puacuteblicas de turismo A partir dessa configuraccedilatildeo o lugar turiacutestico se distingue de
outros lugares mas para que o lugar transformado pelas praacuteticas turiacutesticas situe-
se como uma dimensatildeo espacial diferentes das outras torna-se necessaacuteria a
presenccedila do Estado como indutor das accedilotildees decorridas de poliacuteticas Assim Cruz
(2001) enfatiza
O modo como se daacute a apropriaccedilatildeo de uma determinada parte do espaccedilo geograacutefico pelo turismo depende da poliacutetica puacuteblica de turismo que se leva a cabo no lugar Agrave poliacutetica puacuteblica de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientem o desenvolvimento soacutecio-espacial da atividade tanto no que tange agrave esfera puacuteblica como no que se refere agrave
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iniciativa privada Na ausecircncia da poliacutetica puacuteblica o turismo se daacute a revelia ou seja ao sabor de iniciativas e interesses particulares (CRUZ 2001 p 9)
Como um exemplo da ineficiecircncia das poliacuteticas puacuteblicas de turismo os resorts
expressam verdadeiros confinamentos espaciais Eles constituem as limitaccedilotildees das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo setoriais Nesses espaccedilos a iniciativa privada impotildee um
ritmo proacuteprio em que as leis do mercado sobressaem em detrimento de normas
gerais exemplificadas nas poliacuteticas de governo o que faz desses objetos uma
manifestaccedilatildeo do mundo no lugar (LUCHIARI 1999)
Percebe-se assim que a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de turismo
deve levar em consideraccedilatildeo o fator da organizaccedilatildeo soacutecio-espacial ditada pelas
novidades que o fenocircmeno do turismo oferece ao mesmo tempo em que deve situar
a importacircncia do lugar ou melhor das relaccedilotildees sociais contidas no lugar as
pessoas propriamente ditas seus sentidos e interesses De fato tal procedimento
torna-se complicado pois o ritmo da modernidade eacute por demais diferente do ritmo
das pessoas configura-se dessa forma uma sensaccedilatildeo de estranhamento ao
novo o que faz das poliacuteticas de turismo uma unidade da desunidade
(BERMAN
2003) Eacute nesse sentido portanto que as poliacuteticas puacuteblicas de turismo muitas vezes
encontram-se dissociadas da realidade local
Uma outra questatildeo que permeia a discussatildeo sobre as poliacuteticas de turismo
estaacute centrada no debate sobre a importacircncia do territoacuterio na construccedilatildeo dessas
poliacuteticas isto porque quando se retrata a relaccedilatildeo entre o territoacuterio e o turismo
necessariamente a abordagem sobre o reordenamento torna-se fundamental dada
a relevacircncia do territoacuterio turistificado Nesse sentido toda accedilatildeo decorrente dos
planejamentos de governo ou precisamente as poliacuteticas de turismo visam
sobretudo o reordenamento do territoacuterio
Santos e Silveira (2001) entendem que o territoacuterio passa a ter valor quando
este eacute usado o que faz com que exista uma necessidade sistemaacutetica de uma
constituiccedilatildeo territorial Para os autores
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Uma periodizaccedilatildeo eacute necessaacuteria pois os usos satildeo diferentes nos diversos momentos histoacutericos Cada periodizaccedilatildeo se caracteriza por extensotildees diversas de formas de uso marcadas por manifestaccedilotildees particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a princiacutepios gerais como a histoacuteria particular e a histoacuteria global (SANTOS SILVEIRA 2001 p 20)
No que diz respeito ao territoacuterio a teacutecnica atraveacutes da histoacuteria justifica as
intervenccedilotildees e a sua proacutepria constituiccedilatildeo resultando assim em um grande sistema
teacutecnico permeado pela materialidade Para os autores o uso do territoacuterio pode ser
definido por uma seacuterie de elementos que constituem um sistema de engenharia
(SANTOS SILVEIRA 2001 p 21) que soacute satildeo perceptiacuteveis pelo dinamismo da
economia e da sociedade que podem ser desde o simples movimento da populaccedilatildeo
ateacute a criaccedilatildeo de leis e normas para a regulaccedilatildeo da sociedade Com efeito podemos
inserir aiacute poliacuteticas puacuteblicas de turismo
Para Haesbaert (2002) por exemplo o territoacuterio adquire o caraacuteter de
alternativo por ser associado agrave condiccedilatildeo de esperanccedila ou seja um outro territoacuterio eacute
possiacutevel com mais justiccedila e igualdade para os grupos sociais que nele residem
Torna-se alternativo tambeacutem pelo fato de incorporar novas perspectivas teoacutericas
para situar os homens no espaccedilo
Outra importante abordagem sobre o territoacuterio eacute a que Knafou (2001) faz
associando-o ao turismo Segundo o autor eacute a partir do turista que a definiccedilatildeo sobre
territoacuterio pode ser melhor entendida Ele eacute o sujeito que estaacute em constante
movimento tornando-se um constante estrangeiro Com efeito em virtude de sua
mobilidade o turista recoloca a discussatildeo da ideologia do enraizamento da ligaccedilatildeo
privilegiada com o lugar (KNAFOU 2001 p 64) Nesse sentido o territoacuterio do
turismo estaacute em constante movimento produzindo novos lugares e novas relaccedilotildees
do outro com o habitante nativo essa situaccedilatildeo explica portanto a liberdade efetiva
do turista Tal situaccedilatildeo permite com que se faccedila uma anaacutelise das trecircs fontes de
turistificaccedilatildeo dos lugares4
4 O autor natildeo define exatamente o conceito de turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos mas parte de uma relaccedilatildeo que existe entre os fluxos econocircmicos e os turistas Por um outro lado chama a atenccedilatildeo de que a turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos tecircm o propoacutesito de constituir a base de uma abordagem cientiacutefica do turismo (KNAFOU 2001 p 71)
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A primeira fonte para Knafou (2001) reside no fato de que os turistas eacute que
estatildeo na origem do turismo Isso quer dizer que antes de existirem produtos do
turismo satildeo os turistas que produzem os lugares atraveacutes de sua constante
mobilidade ou seja de suas viagens
A segunda fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares estaacute centralizada no mercado E
nesta condiccedilatildeo satildeo os produtos turiacutesticos que estatildeo agrave frente dos turistas natildeo mais
as praacuteticas turiacutesticas em si Poreacutem quando o mercado toma para si a
responsabilidade exclusiva de produzir produtos pode natildeo levar em consideraccedilatildeo a
importacircncia das praacuteticas turiacutesticas como uma condiccedilatildeo de criaccedilatildeo dos produtos O
principal perigo ao qual os operadores do mercado turiacutestico devem fazer face eacute o de
ignorar de subestimar ou de analisar tarde demais a evoluccedilatildeo mesmo das
modificaccedilotildees nas praacuteticas turiacutesticas (KNAFOU 2001 p 70)
A terceira e uacuteltima fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares pertence aos promotores
e planejadores territoriais Para o autor diferentemente das duas primeiras fontes
esta eacute mais ou menos bem territorializada (KNAFOU 2001 p 71) pois estatildeo
intimamente ligadas a um lugar E consequumlentemente essa relaccedilatildeo estaacute ligada ao
desenvolvimento dos lugares Poreacutem o autor reforccedila que o principal perigo com o
qual se defrontam os promotores territoriais eacute o fato de ignorarem o mercado e as
praacuteticas dos turistas ou delas fazerem representaccedilotildees errocircneas (KNAFOU 2001 p
71)
No geral essas trecircs situaccedilotildees satildeo condiccedilotildees para se estabelecer uma
relaccedilatildeo entre o turismo e o territoacuterio
A primeira relaccedilatildeo a que Knafou (2001) faz alusatildeo eacute que podem existir
territoacuterios sem turismo Tal situaccedilatildeo revela os lugares onde o turismo ainda natildeo se
faz presente Poreacutem pode-se afirmar que todo territoacuterio apesar de natildeo ser
completamente envolvido pelas praacuteticas turiacutesticas pode vir a ser Isto porque o
avanccedilo das teacutecnicas do meio teacutecnico-cientiacutefico e informacional a que Santos (2003)
se refere eacute um vetor de raacutepidas transformaccedilotildees dos territoacuterios Como diz o proacuteprio
Knafou (2001)
50
Em contrapartida com o progresso dos transportes e com a difusatildeo da ideacuteia segundo a qual todo o espaccedilo mundial eacute entatildeo acessiacutevel haacute cada vez menos territoacuterios sem turistas Tanto mais que efetivamente os turistas podem ir a qualquer parte ou quase Mas sempre em nuacutemero e sob formas que permitem fazer os lugares viver (KNAFOU 2001 p 72)
A segunda relaccedilatildeo fala sobre a possibilidade de existir tambeacutem turismo sem
territoacuterio Nessa situaccedilatildeo natildeo eacute o turista que provoca o consumo dos lugares mas
quem o faz eacute o mercado juntamente com outros agentes participantes desse
processo como o Estado por exemplo Nesse sentido o territoacuterio torna-se produto
mercadoloacutegico na sua essecircncia Knafou (2001) ainda ratifica
Estaacute-se entatildeo em presenccedila de lugares de passagem de territoacuterio de outros onde o turista soacute faz uma incursatildeo ou ateacute uma excursatildeo Frequumlentemente eacute este territoacuterio impropriamente qualificado que se planeja por e pelo turismo (KNAFOU 2001 p 72)
A terceira relaccedilatildeo segundo o autor eacute que podem enfim existir territoacuterios
turiacutesticos Essa relaccedilatildeo portanto marca a produccedilatildeo dos territoacuterios pelos turistas Ou
seja eacute nessa condiccedilatildeo que as diversas relaccedilotildees soacutecio-espaciais satildeo possiacuteveis e
que de fato o fenocircmeno do turismo alcanccedila outras dimensotildees espaciais O autor
ressalta a delicada relaccedilatildeo entre o espaccedilo e o planejamento Segundo ele natildeo se
pode planejar o espaccedilo do turismo em si unicamente pois do contraacuterio estaraacute se
desprezando a sociedade nele contido
A importacircncia do territoacuterio para o turismo eacute sobretudo condiccedilatildeo para o
planejamento e elaboraccedilatildeo de poliacuteticas espaciais voltadas para o setor A poliacutetica de
turismo natildeo se daacute plenamente de forma isolada o que faz com que se ampliem as
discussotildees sobre as intervenccedilotildees espaciais em que outros setores da sociedade se
fazem presentes Eacute importante portanto a articulaccedilatildeo das poliacuteticas de turismo com
outras poliacuteticas setoriais como por exemplo as poliacuteticas urbanas de transporte de
seguranccedila entre outros
51
Fonseca (2005) demonstra que as poliacuteticas puacuteblicas e em especial as de
turismo tiveram maior relevacircncia a partir da reestruturaccedilatildeo do modo capitalista de
produccedilatildeo no iniacutecio dos anos 1970 A crise do sistema provocou entatildeo uma seacuterie de
mudanccedilas na economia poliacutetica mundial e fez com que os Estados se rearticulassem
em seus setores para que pudessem enfrentar as consequumlecircncias das
transformaccedilotildees econocircmicas mundiais A autora destaca que antes de analisar as
poliacuteticas puacuteblicas eacute necessaacuterio se entender como o Estado mudou suas estrateacutegias
ao longo dos anos ou seja entender a que contexto histoacuterico-social o Estado
pertence Segundo a autora
Agrave medida que a organizaccedilatildeo social assume determinadas caracteriacutesticas e emergem novas mudanccedilas o Estado tambeacutem vai assumindo novas funccedilotildees e se amoldando para atender agraves necessidades e agraves demandas do contexto social e econocircmico no qual estaacute inserido Os Estados soacute podem ser entendidos em seus contextos histoacutericos (FONSECA 2005 p 81)
A autora apresenta uma evoluccedilatildeo do quadro das poliacuteticas puacuteblicas de turismo
segundo o contexto histoacuterico em que elas estatildeo inseridas O primeiro momento
refere-se a uma fase artesatilde onde o periacuteodo fordista se manifestava nas praacuteticas
turiacutesticas mundiais atraveacutes de um incremento quantitativo do turismo Isso era muito
perceptiacutevel atraveacutes de programas ofensivos de conquista de mercados
internacionais (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) O intuito das poliacuteticas
puacuteblicas de turismo portanto era o de fazer crescer a economia dos paiacuteses
receptores com medidas de geraccedilatildeo de renda equiliacutebrio financeiro e de
arrecadaccedilatildeo entre outros
O segundo momento corresponde ao periacuteodo que marca a crise de
acumulaccedilatildeo periacuteodo este que se estende dos anos 1970 ateacute o iniacutecio dos anos 1980
(FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) Devido agraves profundas consequumlecircncias da
crise do regime de acumulaccedilatildeo o turismo passa a ter um papel importante dentro da
economia dos paiacuteses Eacute nesse momento tambeacutem que a atividade turiacutestica passa a
ser relevante no que diz respeito aos seus impactos sociais por conta de seu
crescimento raacutepido os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas de turismo satildeo redefinidos a
fim de que este possa contribuir para o bem-estar da populaccedilatildeo residente
52
Por fim o terceiro momento surge a partir de meados dos anos de 1980
Nesse periacuteodo a economia mundial eacute fortemente influenciada pelo regime neoliberal
o que faz com que a atividade turiacutestica desponte como um dos segmentos basilares
do desenvolvimento econocircmico Os elaboradores das poliacuteticas de turismo
(influenciados pela onda neoliberal) vecircem o turismo como um segmento estrateacutegico
para a competitividade no mercado O turismo portanto assume uma caracteriacutestica
empresarial o que com efeito influencia as novas poliacuteticas de turismo elaboradas
pelos governos (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005 p 88)
Nesse sentido a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas de turismo eacute antes de tudo um
modo peculiar de intervenccedilatildeo espacial em que se combinam o jogo complexo de
normas governamentais e sociedade tornando a relaccedilatildeo soacutecio-espacial mais
complexa O acuacutemulo de novas informaccedilotildees e teacutecnicas faz com que o territoacuterio
delimitado pelas poliacuteticas puacuteblicas de turismo seja um condicionante para as
estrateacutegias espaciais pensadas pelo Estado e pela iniciativa privada Nessa relaccedilatildeo
o resultado das accedilotildees tambeacutem pode se dar de forma desigual na medida em que
uma minoria possa prevalecer em detrimento da maioria isso significa entatildeo a
dissonacircncia que existe na concepccedilatildeo do espaccedilo pensado pelas poliacuteticas puacuteblicas e
o espaccedilo a ser modificado
O agrupamento das decisotildees sobre as poliacuteticas de turismo a serem
estabelecidas assim como suas repercussotildees espaciais encontram campo feacutertil na
Amazocircnia em destaque o Paraacute As estrateacutegias espaciais oriundas de pensamentos
concebidas pelo Estado estabelecem um estreitamento com as praacuteticas de
desenvolvimento No que se refere ao turismo essas estrateacutegias apresentam uma
configuraccedilatildeo que tem na expansatildeo da atividade o seu principal foco Para que a
Amazocircnia situe-se como um espaccedilo planejado e dotado de uma logiacutestica que
propicie a atividade a construccedilatildeo de planos de desenvolvimento torna-se uma
saiacuteda E esta realidade estaacute presente em documentos como os Planos de Turismo
da Amazocircnia I e II respectivamente elaborados em 1977 e 1992 No Paraacute o PDT-
PA constitui-se o primeiro documento estadual que reuacutene as diretrizes necessaacuterias
para o fomento ao turismo
O que se percebe portanto eacute que a elaboraccedilatildeo de planos de
desenvolvimento de turismo em uma regiatildeo como a Amazocircnia constitui-se
53
sobretudo como verdadeiros reflexos das concepccedilotildees de Estado na forma mais
concreta de suas accedilotildees e intervenccedilotildees no espaccedilo
54
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PARAacute
55
31 A expansatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia
A combinaccedilatildeo entre o turismo e regiatildeo amazocircnica natildeo eacute algo novo no que se
refere agraves poliacuteticas puacuteblicas Devido a sua diversidade de recursos naturais a
Amazocircnia tornou-se um locus para investimentos de governos sempre interessados
em uma prosperidade principalmente econocircmica A condiccedilatildeo para que isso
ocorresse baseava-se em pelo menos dois fatores O primeiro era o de povoar uma
regiatildeo que estava (ainda estaacute) abaixo das estatiacutesticas oficiais de governo A
populaccedilatildeo da Amazocircnia entatildeo estaria sujeita agrave poliacuteticas de incentivo maciccedilo de
migraccedilotildees de pessoas de outras regiotildees para que pudessem estimular o
crescimento populacional e o povoamento A segunda estaria vinculada a uma
aproximaccedilatildeo econocircmico-industrial que estivesse no ritmo das economias das
regiotildees Sul e Sudeste Sendo assim esse cenaacuterio seria o tipo ideal para que a
regiatildeo pudesse sair de seu atraso econocircmico
Tal situaccedilatildeo configura-se como ponto de partida para que a atividade turiacutestica
venha a ser um dos elementos importantes nas poliacuteticas de desenvolvimento do
paiacutes O turismo encara dessa forma uma postura de estimulador de um caminho
mais curto e eficaz para um possiacutevel desenvolvimento da regiatildeo No que diz respeito
a isso Cruz (2003) ressalta
De celeiro do mundo a berccedilo do extrativismo a Amazocircnia Legal tem seu destino mais uma vez traccedilado em funccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais Mas as decisotildees sobre as formas de exploraccedilatildeo do territoacuterio amazocircnico satildeo poliacuteticas e tecircm muito mais a ver com a divisatildeo internacional do trabalho e com o mercado internacional do turismo do que com sua geologia geomorfologia fauna e flora (CRUZ 2003 p 98)
Para o turismo a Amazocircnia constitui-se um dos espaccedilos mais proacutesperos a
serem explorados por agentes envolvidos na sua dinacircmica internacional Para isso
a regiatildeo recebe um novo sistema de objetos e de accedilotildees modificados em funccedilatildeo de
sua realidade e sua especificidade natural Trata-se portanto de re-inserir a
56
Amazocircnia na rota mundial de turismo destacando-a como um dos cenaacuterios mais
exuberantes no que diz respeito ao seu potencial paisagiacutestico e natural
No tocante a essa situaccedilatildeo a reinvenccedilatildeo da Amazocircnia para o turismo (CRUZ
2003) parte de um princiacutepio maior que eacute seu desenvolvimento Com isso a regiatildeo a
partir da loacutegica de expansatildeo da atividade comeccedila a ser pensada por oacutergatildeos do
governo que promovem accedilotildees voltadas para o incremento de uma infra-estrutura
peculiar na regiatildeo5 assim como estabelece novas diretrizes de mercado que
contemplam a exploraccedilatildeo racionalizada do turismo
Para tanto os agentes envolvidos no processo de turistificaccedilatildeo da regiatildeo
amazocircnica aproveitam caracteriacutesticas tipicamente regionais como a hospitalidade
do povo amazocircnida para transformar em atrativo turiacutestico Nesse sentido Cruz
(2003) ao abordar a ideacuteia de hospitalidade turiacutestica argumenta que seu sentido estaacute
sobretudo ligado a um sistema de objetos e de accedilotildees do fazer turiacutestico A ideacuteia do
receber bem o turista no que se refere ao carisma alegria e educaccedilatildeo por parte
daqueles que estatildeo ligados agrave atividade turiacutestica na regiatildeo circunscreve-se em uma
realidade onde uma infra-estrutura eacute necessaacuteria
A criaccedilatildeo de uma hospitalidade turiacutestica em territoacuterios amazocircnicos envolve de um lado a criaccedilatildeo de uma materialidade necessaacuteria ao fazer turiacutestico como a implementaccedilatildeo de estruturas relacionadas agrave acessibilidade agrave hospedagem e ao lazer dos visitantes De outro lado envolve tambeacutem aspectos intangiacuteveis e igualmente fundamentais para a ocorrecircncia de um turismo organizado como a capacitaccedilatildeo profissional e promoccedilatildeo turiacutestica Destarte instala-se para e pelo turismo na regiatildeo um novo sistema de objetos e de accedilotildees que recriam o espaccedilo amazocircnico agora orientado pela loacutegica de um uso turiacutestico (CRUZ 2003 p 94)
Tal hospitalidade envolve accedilotildees antes planejadas por pessoas envolvidas no
processo de atraccedilatildeo do turista para a regiatildeo Amazocircnica algo que natildeo depende
exclusivamente dos residentes mas sim de um planejamento voltado para a infra-
estrutura e o preparo das pessoas (CRUZ 2003) A partir desses propoacutesitos eacute que a
Amazocircnia entra no ritmo ou circuito da atividade turiacutestica ou seja a estrateacutegia de
5 Apesar do fluxo de turistas na regiatildeo ser ainda pequeno a infra-estrutura necessaacuteria para atender tal demanda estaacute baseada principalmente na construccedilatildeo e reforma de estradas no aumento e promoccedilatildeo de passagens aeacutereas e na construccedilatildeo de lodges e hoteacuteis de redes nacionais e internacionais que se apropriam da temaacutetica regional (floresta natural) para construiacuterem objetos espaciais bem caracteriacutesticos como eacute o caso dos hoteacuteis de florestas no estado do Amazonas
57
inserccedilatildeo e expansatildeo do turismo na regiatildeo agrega requisitos de ordem global e
padronizada
Levando em consideraccedilatildeo a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas do turismo a
partir da deacutecada de 1970 o governo federal realizou uma seacuterie de medidas voltadas
para a expansatildeo da atividade na Amazocircnia entre elas especificamente estavam os
planos de desenvolvimento da regiatildeo ou PDAS (e tambeacutem os planos de turismo da
Amazocircnia I e II) Nestes planos estavam esboccediladas de uma forma bem ampla as
estrateacutegias espaciais e acima de tudo a concepccedilatildeo de desenvolvimento a qual a
regiatildeo amazocircnica estava subordinada
Tais planos congregavam ideais de transformaccedilatildeo ampla e situavam as accedilotildees
destinadas a retirar a Amazocircnia de seu atraso econocircmico e social No tocante ao
turismo jaacute no segundo Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia6 a atividade era
encarada como um processo em expansatildeo e por isso mesmo natildeo mereceria ficar
em segundo plano As prioridades destacadas referiam-se principalmente em
setorizar a atividade turiacutestica onde as cidades que jaacute reuniam certa infra-estrutura
(apoio logiacutestico ao turismo) seriam pontos estrateacutegicos de atraccedilatildeo de investimentos
provindos do governo
O estiacutemulo do Estado resumia-se aos investimentos em apoio teacutecnico e na
ampliaccedilatildeo do sistema de objetos da regiatildeo como por exemplo as estradas de
rodagem Para isso era de interesse do governo na eacutepoca facilitar o acesso agrave regiatildeo
atraveacutes dos transportes e das comunicaccedilotildees garantidos tambeacutem por um serviccedilo de
hoteacuteis eficiente
A criaccedilatildeo de algumas diretrizes orientadoras para o fomento da atividade
estavam calcadas sobretudo numa reorganizaccedilatildeo e readequaccedilatildeo da atividade a
partir do planejamento das accedilotildees voltadas para o desenvolvimento da regiatildeo Os
planos turiacutesticos jaacute eram vistos como soluccedilatildeo para a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais
e contemplavam de maneira uniforme e integrada o apoio agrave criaccedilatildeo de empresas
estaduais destinadas agrave promoccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade (BRASIL 1977)
6 Elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior e com a organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo da SUDAM (Superintendecircncia de Desenvolvimento da Amazocircnia) datado de abril de 1976
58
Os principais destinos urbanos da Amazocircnia como Manaus Beleacutem
Santareacutem e Satildeo Luiz seriam os primeiros a receber a infra-estrutura necessaacuteria
para o planejamento da atividade Em outro momento a construccedilatildeo de um plano
diretor regional de meacutedio a longo prazo deveria estudar as perspectivas de
mercados nacionais e internacionais onde se verificavam problemas a serem
solucionados com o planejamento pensado para as cidades com atrativos turiacutesticos
No II plano de desenvolvimento da Amazocircnia as outras diretrizes satildeo de
cunho mais especiacuteficos e se destinam agraves alternativas jaacute visualizadas perante o
potencial natural da regiatildeo entre elas estatildeo
a) A implantaccedilatildeo de parques florestais para fins turiacutesticos a criaccedilatildeo de um
sistema regional de informaccedilotildees estatiacutesticas e medidas para a preservaccedilatildeo de aacutereas
de interesse turiacutestico
b) Criaccedilatildeo de empresas de turismo nas unidades da federaccedilatildeo incorporando-
as ao sistema regional integrado ao turismo
c) Coordenaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia junto a
cada entidade interessada com a finalidade de acelerar o desenvolvimento setorial
d) Atrair o turismo nacional para a regiatildeo atraveacutes de estudos de implantaccedilatildeo
de centros de apoio turiacutestico ao longo das rodovias federais e estaduais pelos
oacutergatildeos intervenientes SUDAM (Superintendecircncia do Desenvolvimento da
Amazocircnia) DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens) DER s
(Departamento Estadual de Rodovias) EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo)7 e empresas estaduais
e) Continuaccedilatildeo do apoio aos programas de fornecimento de aacutegua energia e
saneamento por parte da SUDAM com o apoio da infra-estrutura ao
desenvolvimento e ampliaccedilatildeo do setor (BRASIL 1977 p 79-80)
7 Durante um longo periacuteodo (desde sua fundaccedilatildeo) a EMBRATUR foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo turismo nacional promoccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de projetos em geral destinados ao fomento da atividade turiacutestica no paiacutes A partir de 2003 especificamente no governo do entatildeo presidente Luis Inaacutecio Lula da Silva a EMBRATUR deixa de ser empresa e passa a ser instituto tendo um fim especiacutefico de promover o turismo nacional no exterior
59
Vale ressaltar que nesta eacutepoca o plano de desenvolvimento da Amazocircnia
entendia o turismo como um setor em expansatildeo poreacutem demonstra em linhas gerais
suas reais intenccedilotildees em relaccedilatildeo agrave atividade natildeo realizando portanto um estudo ou
diagnoacutestico mais especiacutefico sobre a atividade Sua dimensatildeo revela nesse sentido
uma ligaccedilatildeo com as ideacuteias de crescimento que outrora influenciaram (e ainda
influenciam) as concepccedilotildees gerais de planejamentos regionais
O caraacuteter generalista do turismo que se configura no plano entende que o
espaccedilo regional eacute carente de densidade teacutecnica apropriada agrave expansatildeo da
atividade por isso existe a necessidade de implementaccedilatildeo de setores especiacuteficos
destinados a reestruturar o espaccedilo regional como por exemplo as rodovias e as
redes de telecomunicaccedilotildees Nesse sentido o espaccedilo amazocircnico do turismo agrave
eacutepoca era entendido enquanto um espaccedilo a ser modificado por agentes que
estivessem interessados em investir na dotaccedilatildeo de atrativos turiacutesticos
principalmente as empresas do trade turiacutestico amazocircnico
Visto que a atividade turiacutestica era promissora e que seria uma possibilidade
para a geraccedilatildeo de renda e lucro o governo federal na eacutepoca lanccedila o primeiro Plano
de Turismo da Amazocircnia8 com o intuito de (re) organizar o setor a fim de que se
pudessem alcanccedilar niacuteveis satisfatoacuterios de crescimento econocircmico
O primeiro plano por sua vez apresenta a regiatildeo como uma regiatildeo
diferenciada das outras por ser um produto com uma paisagem iacutempar e por isso
seus recursos naturais satildeo encarados como elementos importantes para uma
vocaccedilatildeo e aptidatildeo turiacutestica Tais caracteriacutesticas eram entendidas como um
pressuposto ou alternativa para auxiliar no progresso econocircmico e social da regiatildeo
(BRASIL 1977) Nesse sentido segundo o proacuteprio documento9
Como se vecirc estamos diante de dois incomensuraacuteveis o turismo e a Amazocircnia De um lado o turismo que possibilita quase tudo De outro a
8 O primeiro Plano de Turismo da Amazocircnia foi elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior em 1977 no governo militar a partir do consoacutercio PLANAVE-PROCHNIK e com o apoio teacutecnico da EMBRATUR A supervisatildeo do Plano ficou a cargo da SUDAM O plano ainda se divide em dois volumes o primeiro diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo e diagnoacutestico da regiatildeo e o segundo contempla os prognoacutesticos poliacuteticas diretrizes e instrumentos e a programaccedilatildeo do Plano 9 Nota de apresentaccedilatildeo do superintendente da SUDAM Hugo de Almeida
60
Amazocircnia potencialmente riquiacutessima em termos de aproveitamento como induacutestria rentaacutevel multiplicadora de divisas cambiais (BRASIL 1977 p 7)
O primeiro PTA resume assim as ideacuteias de que a Amazocircnia eacute um cenaacuterio
propiacutecio agrave expansatildeo da atividade turiacutestica colocando-a como um produto a ser
comercializaacutevel As concepccedilotildees contidas no plano priorizavam accedilotildees com as
estrateacutegias mais amplas que por sua vez estavam definidas no Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia Sua funccedilatildeo especiacutefica estava destinada a levantar
dados sobre a infra-estrutura dos estados e assim definir as estrateacutegias comerciais
para que a regiatildeo pudesse se situar como um destino turiacutestico importante Os eixos
gerais do PTA natildeo seguiam uma poliacutetica nacional de turismo mas sim uma poliacutetica
de desenvolvimento sustentada pelo PDA O processo de configuraccedilatildeo da atividade
turiacutestica era encarado como um ramo da economia que estava associado agraves
diretrizes e interesses especiacuteficos natildeo tendo portanto uma autonomia poliacutetica
Seguindo este conjunto de ideacuteias os objetivos gerais (finais) do primeiro PTA
estavam circunscritos a uma visatildeo de crescimento da atividade com a possibilidade
de geraccedilatildeo de renda e emprego atraveacutes de uma ocupaccedilatildeo territorial efetiva da
regiatildeo de uma maior participaccedilatildeo da atividade no que diz respeito agraves diacutevidas dos
Estados e municiacutepios e em uma valorizaccedilatildeo e defesa dos recursos ecoloacutegicos
(BRASIL 1977) Esses objetivos ainda eram detalhados e pretendiam alcanccedilar uma
renda regional aumentar os investimentos no setor hoteleiro e criar empregos
diretos Atraveacutes de uma visatildeo economicista o PTA visava reduzir as desigualdades
sociais da Amazocircnia e assim constituir-se um documento importante para tal fim
O II Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia tem como seu objetivo principal o crescimento do produto regional e a reduccedilatildeo de desigualdades inter-regionais O Plano de Turismo da Amazocircnia procura ser um dos instrumentos para o atendimento desse objetivo sendo que toda a estrateacutegia de desenvolvimento do turismo aqui apresentada visa tal fim (BRASIL 1977 p 37)
61
Tal caracteriacutestica natildeo iraacute se diferenciar a partir da constituiccedilatildeo do I Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia da Nova Repuacuteblica10 No que diz respeito ao setor
turiacutestico poucas foram as alteraccedilotildees importantes que se destacaram no documento
De uma forma geral o turismo ainda eacute visto como uma atividade que precisa de um
grande incentivo por parte dos governos estaduais e iniciativa privada Sua
dimensatildeo ainda gira em torno do crescimento econocircmico e vecirc o turismo como uma
possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda Seus objetivos estatildeo estruturados em
dois
a) Aumentar a participaccedilatildeo do turismo no desenvolvimento econocircmico e social da regiatildeo atraveacutes da geraccedilatildeo de renda e emprego com menores custos econocircmicos e sociais b) acrescer quantitativa e qualitativa a oferta turiacutestica a fim de motivar novos segmentos de mercado proporcionando aumento da renda e gasto meacutedio do turista na regiatildeo (BRASIL 1986 p 63)
Tais objetivos norteiam outras diretrizes com o intuito de fazer valer as
estrateacutegias pensadas no Plano Nessas diretrizes a estrutura de concepccedilatildeo sobre a
atividade turiacutestica ainda se manteacutem a mesma no que se refere aos planos
anteriores a de entender o turismo como uma atividade econocircmica e com a
perspectiva de crescimento Setores como investimentos na oferta turiacutestica
ampliaccedilatildeo da melhoria da infra-estrutura de comunicaccedilotildees e transportes incentivo agrave
hotelaria satildeo pontos comuns em relaccedilatildeo a outros documentos
O que haacute de novo poreacutem estaacute pautado na elaboraccedilatildeo na aacuterea de recursos
humanos e no apoio agrave realizaccedilatildeo de eventos 11 Outro ponto de destaque eacute a
formaccedilatildeo de oacutergatildeos especiacuteficos na aacuterea do planejamento turiacutestico Tal caracteriacutestica
eacute responsaacutevel por estruturar novos projetos e poliacuteticas regionais de incentivo ao
crescimento da atividade Percebe-se tambeacutem um aspecto importante no que tange
agrave interiorizaccedilatildeo do turismo O planejamento do turismo estaria concentrado na
formaccedilatildeo dos poacutelos de crescimento pois a difusatildeo de novos pontos (BRASIL 1986)
expressaria uma das atividades de desenvolvimento A partir dessa estruturaccedilatildeo o
10 Documento elaborado pelo Ministeacuterio do Interior e pela SUDAM Sua execuccedilatildeo e coordenaccedilatildeo ficou a cargo da SUDAM datada de dezembro de 1986 Na verdade este eacute o terceiro documento ou Plano de Desenvolvimento voltado para regiatildeo amazocircnica A partir da redemocratizaccedilatildeo tornou-se o I Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia 11 O que se constituiria em uma espeacutecie de turismo de eventos
62
PDA da Nova Repuacuteblica enquadra o turismo como uma poliacutetica setorial de cunho
econocircmico estabelecendo assim metas de meacutedio e longo prazo
A relaccedilatildeo entre a Amazocircnia e o turismo aprofunda-se ainda mais ao longo
dos anos subsequumlentes estabelecendo com isso novas diretrizes de uso racional
da regiatildeo Em 1992 eacute lanccedilado o II Plano de Turismo da Amazocircnia12 com o intuito de
mudar a forma pela qual o turismo eacute encarado na regiatildeo O grande diferencial
expresso nesse documento eacute a ecircnfase dada ao desenvolvimento sustentaacutevel que
de acordo com as ideacuteias contidas no documento seria a alternativa mais viaacutevel para
associar desenvolvimento regional com conservaccedilatildeo dos recursos naturais No que
tange a isso o PTA expotildee em suas diretrizes gerais
A existecircncia do produto turiacutestico especialmente o ecoloacutegico estaacute de certa forma condicionada agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais Componente fundamental na estrutura da produccedilatildeo no contexto da induacutestria turiacutestica os recursos naturais representam um dos pilares do poder de atratividade do produto turiacutestico regional Em funccedilatildeo disso eacute economicamente viaacutevel que a expansatildeo do turismo na Amazocircnia obedeccedila aos criteacuterios de sustentabilidade dos ecossistemas (BRASIL 1992 p7)
Assim sendo a composiccedilatildeo do trade turiacutestico regional estaacute em funccedilatildeo dos
paracircmetros do desenvolvimento sustentaacutevel O espaccedilo amazocircnico para o turismo a
partir disso muda sua funcionalidade e adquire uma nova concepccedilatildeo pautada sob o
roacutetulo da sustentabilidade Os objetivos criados aliam a ideacuteia de crescimento
econocircmico a de qualidade de vida para a populaccedilatildeo local reordenando por sua vez
as poliacuteticas regionais de desenvolvimento
Tendo como base uma poliacutetica de turismo voltada para a sustentabilidade da
regiatildeo o segmento do chamado turismo de natureza ou ecoturismo ganha forccedila e
se torna ainda mais a estrateacutegia adequada para que ocorra a expansatildeo da
atividade
12 Ligado agrave secretaria do Desenvolvimento Regional elaborado e executado pela SUDAM com o apoio de entidades como PNUD (Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento) BASA (Banco da Amazocircnia) e SUFRAMA (Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus)
63
Em 1998 o PROECOTUR13 tornou-se o documento que expressou as
vertentes ligadas agrave ideacuteia do turismo de natureza ou turismo sustentaacutevel Neste
documento o governo federal centrou esforccedilos para viabilizar a concretizaccedilatildeo do
PROECOTUR nos nove estados da regiatildeo amazocircnica Tendo em vista a utilizaccedilatildeo
racional dos recursos naturais presentes e sabendo de seu potencial paisagiacutestico o
programa estaacute configurado segundo os objetivos e programas especiacuteficos para cada
Estado da federaccedilatildeo14
Como objetivo geral o PROECOTUR defende a viabilidade do ecoturismo
como o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel ideal para a regiatildeo amazocircnica
(BRASIL 1998) Seus objetivos especiacuteficos estatildeo estruturados da seguinte forma
I- Proteger e desenvolver os atrativos turiacutesticos da regiatildeo por meio de
medidas como a criaccedilatildeo de parques e reservas com manejo especiacutefico
para o ecoturismo
II- Criar um ambiente de estabilidade para investimentos de ecoturismo
mediante definiccedilatildeo de poliacuteticas e normas e do fortalecimento dos
oacutergatildeos de gestatildeo ambiental e desenvolvimento turiacutestico estaduais
regionais e nacionais
III- Viabilizar operacionalmente empreendimentos de ecoturismo por meio
da realizaccedilatildeo de estudos de mercados da identificaccedilatildeo
desenvolvimento e adaptaccedilatildeo agrave regiatildeo de tecnologias para a geraccedilatildeo
de energia tratamento de afluentes etc e da sua disponibilizaccedilatildeo dos
resultados para investidores privados
IV- Viabilizar financeiramente empreendimentos de ecoturismo mediante a
ampliaccedilatildeo de linhas de creacutedito especiacuteficas para o segmento e
13 Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazocircnia Legal criado na gestatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia junto ao Ministeacuterio do Meio Ambiente dos Recursos Hiacutedricos e da Amazocircnia Legal A elaboraccedilatildeo deste programa diz respeito agrave fase de preacute-investimentos 14 Vale lembrar que os oacutergatildeos federais envolvidos na execuccedilatildeo do PROECOTUR aleacutem de estarem representados pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia ainda eacute constituiacutedo pelo Grupo Teacutecnico de Coordenaccedilatildeo do Ecoturismo pelo Nuacutecleo de Gestatildeo do PROECOTUR e atuando nos Estados pelos Grupos Teacutecnicos Operacionais (GTOs)
64
V- Melhorar ampliar ou implantar a infra-estrutura baacutesica necessaacuteria para
viabilizar o aumento do fluxo turiacutestico para a Amazocircnia Legal (BRASIL
1998 p 7)
Atraveacutes desse conjunto de objetivos o PROECOTUR de acordo com seus
oacutergatildeos interligados procura enfatizar o turismo como uma ferramenta capaz de
mudar o quadro social e econocircmico da regiatildeo Em seus desdobramentos o
programa chama a atenccedilatildeo para a necessidade de impor a regiatildeo amazocircnica como
um destino turiacutestico a ser melhor apresentado no trade nacional e internacional Para
isso utiliza estrateacutegias espaciais em cada estado Tais estrateacutegias estatildeo baseadas
na criaccedilatildeo e ou incremento dos poacutelos ecoturiacutesticos implantados Esses poacutelos jaacute
apresentam infra-estrutura (estradas portos aeroportos hoteacuteis hospitais entre
outros) necessaacuteria para iniciaccedilatildeo dos programas de intervenccedilatildeo do PROECOTUR
Neste caso a infra-estrutura de cada poacutelo serve como uma preacute-condiccedilatildeo para que
os objetivos propostos se tornem concretos
Outro ponto de destaque presente nos objetivos especiacuteficos do programa
consiste no envolvimento dos agentes participantes na viabilizaccedilatildeo dos
empreendimentos de ecoturismo De acordo com os objetivos especiacuteficos natildeo se
percebe claramente os agentes que podem ser beneficiados nas operaccedilotildees e accedilotildees
dos empreendimentos turiacutesticos poreacutem em linhas gerais pode-se perceber que a
ideacuteia do desenvolvimento sustentaacutevel a partir do programa estaacute sublinhada nas
diretrizes dos investimentos financeiros na regiatildeo No que diz respeito a essa ideacuteia
o PROECOTUR estaacute dividido em uma fase de preacute-investimentos na qual eacute feito um
diagnoacutestico das ofertas turiacutesticas a serem desenvolvidas e em uma fase de
investimentos na qual os programas de intervenccedilotildees econocircmico-espaciais satildeo
efetivamente executados garantidos sobretudo na criaccedilatildeo dos poacutelos de ecoturismo
da regiatildeo
Conforme essa estrutura o PROECOTUR apresenta-se como um documento
de cunho oficial criado pelo Estado na tentativa de viabilizar o desenvolvimento de
aacutereas com problemas econocircmicos e sociais colocando a Amazocircnia como prioritaacuteria
65
para o desenvolvimento sustentaacutevel O turismo mais uma vez aparece como uma
atividade capaz de solucionar dificuldades soacutecio-econocircmicas
Outro estudo sobre turismo no Brasil foi finalizado em 2002 o PNMT15 Este
programa tinha como intenccedilatildeo uma maior dinamizaccedilatildeo da atividade turiacutestica a partir
de diretrizes nacionais na qual o municiacutepio era a escala de atuaccedilatildeo da atividade
turiacutestica Neste enfoque a capacitaccedilatildeo de agentes puacuteblicos e privados era a
intenccedilatildeo do programa onde os mesmos eram responsaacuteveis por serem
multiplicadores locais dando importacircncia ao turismo no desenvolvimento soacutecio-
econocircmico (PNMT 2002) Neste caso a participaccedilatildeo das comunidades na gestatildeo
de seus proacuteprios recursos tornava-se um fator fundamental (PNMT 2002)
O objetivo geral do programa era fomentar o desenvolvimento turiacutesticos dos
municiacutepios com base na sustentabilidade econocircmica social ambiental cultural e
poliacutetica (PNMT 2002 p 80) Assim a ideacuteia principal do PNMT era de descentralizar
o planejamento do turismo e principalmente suas accedilotildees Os municiacutepios seriam
responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de infra-estrutura necessaacuteria para a operacionalidade da
atividade turiacutestica
No estado do Paraacute por exemplo diversos foram os municiacutepios que foram
escolhidos para integrarem o quadro da municipalizaccedilatildeo do turismo16 entre eles
(bem como para os outros municiacutepios brasileiros) havia uma divisatildeo dos municiacutepios
turiacutesticos (MT) e municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) Os municiacutepios turiacutesticos
satildeo aqueles consolidados onde o turismo eacute efetivo Jaacute os municiacutepios com potencial
turiacutestico satildeo aqueles que possuem recursos naturais e culturais expressivos
(PNMT 2002 p 30) ou seja atraveacutes de um maior fomento por parte dos governos
locais estes municiacutepios poderiam se consolidados no trade
Entre alguns municiacutepios turiacutesticos (MT) estatildeo Abaetetuba Bacarena Beleacutem
Braganccedila Marabaacute Salinoacutepolis Santareacutem Tucuruiacute Vigia Cametaacute Outros
municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) satildeo Castanhal Colares Curuccedilaacute Monte
Alegre Paragominas Parauapebas
15 Programa Nacional de Municipalizaccedilatildeo do Turismo 16 Eram os proacuteprios municiacutepios que solicitavam entrada no PNMT Havia a solicitaccedilatildeo formal aos oacutergatildeos estaduais delegados da EMBRATUR
66
Natildeo obstante a isso para a Amazocircnia ideacuteias como PNMT deveriam ser
difundidas a partir da forccedila simboacutelica que a floresta representa ou mais
propriamente do segmento ecoturismo onde a natureza surge como o principal
atrativo para o fomento de poliacuteticas puacuteblicas fazendo com que a exuberacircncia da
natureza seja o diferencial para atraccedilatildeo de turistas
Nesse sentido a relaccedilatildeo do turista com a ideacuteia de ecoturismo faz Coelho
(1999) afirmar que tal relaccedilatildeo funda-se no princiacutepio de uma viagem de aventura que
impulsione um sentido de retorno agrave natureza natildeo tatildeo devastada pelo homem nos
grandes centros urbanos Para a autora
Ao contraacuterio do personagem de Charles Chaplin no filme Luzes da Cidade o turista que preza a natureza sente-se fascinado pela luz do dia o verde da mata a escuridatildeo ou luar na selva pela vida ao ar livre e pela comida natural (COELHO 1999 p 56 - 57)
Contudo a relaccedilatildeo entre a teoria do ecoturismo e sua praacutetica se mostra em
sua grande maioria dissonante O que pode ser verificado no discurso de agentes
interessados em investir pesadamente no setor e nas populaccedilotildees tradicionais
atingidas A ideacuteia de que o ecoturismo pode trazer justiccedila social traz agrave tona
externalidades negativas (COELHO 1999) que por sua vez geram desigualdades
sociais O discurso praacutetico de crescimento da atividade turiacutestica neste caso muda
de foco poreacutem sua composiccedilatildeo ainda permanece a mesma Sendo uma atividade
tambeacutem econocircmica o ecoturismo produz acumulaccedilatildeo de capital e geraccedilatildeo de lucro
para os grandes agentes de mercado particularizando espaccedilos e segregando a
sociedade Segundo ainda Coelho (1999)
As discrepacircncias entre teoria e praacutetica satildeo no entanto possiacuteveis de existir e podem tornar perigosas as relaccedilotildees entre sociedades locais empresas e ecoturistas Estas defasagens entre praacutetica e teoria tornam os riscos e dilemas a serem discutidos e corrigidos pelos defensores do ecoturismo ainda mais preocupantes Tais riscos satildeo atribuiacutedos agrave estreita visatildeo de natureza edificada pelos ecologistas e imitadas por empresaacuterios e alguns profissionais oportunistas do ecoturismo (o que natildeo pode ser confundido com senso de oportunidade) Estes colaboradores dos primeiros
67
desprovidos de comprometimento com a realidade e os valores culturais ora tentam mostrar uma natureza distorcida pelos siacutembolos artificialmente valorizados ou mantidos ora apresentar uma realidade agrave medida das expectativas da clientela ocultando o que haacute de fundamental na natureza visitada (COELHO 1999 p 59)
A ideacuteia de que o ecoturismo na Amazocircnia atenua os impactos ambientais
torna-se portanto fraacutegil no que diz respeito principalmente agrave sociedade ou
populaccedilatildeo residente que natildeo faz parte dos processos de decisotildees sobre as
atividades planejadas para o turismo
Figueiredo (1999) por exemplo expotildee algumas ideacuteias que para ele satildeo
equivocadas sobre o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel aplicado agrave regiatildeo
amazocircnica Para o autor a partir da grande aceitaccedilatildeo das ideacuteias provindas de que o
ecoturismo torna-se um elemento fundamental para o melhor desenvolvimento
sustentaacutevel criam-se conjuntamente mitos e com isso ideacuteias deturpadas sobre
esse modelo Entre elas a da instalaccedilatildeo de objetos espaciais de baixo custo e sua
forma de exploraccedilatildeo Para o autor essa eacute uma proposta que precisa ser revista
Mesmo sob o roacutetulo de alternativo o ecoturismo carrega consigo a loacutegica de
mercado pautada sobretudo nos ganhos da atividade
O conjunto dessas ideacuteias todavia eacute o iniacutecio de uma mudanccedila importante
dentro do cenaacuterio amazocircnico especificamente do estado do Paraacute que atraveacutes de
documentos e estudos especiacuteficos para o turismo fazem do ecoturismo uma meta a
ser buscada dentro de accedilotildees voltadas para um mercado especiacutefico desse setor com
provaacuteveis repercussotildees soacutecio-culturais
32 O turismo no estado do Paraacute um breve balanccedilo
A atividade turiacutestica no Estado do Paraacute vem ao longo dos anos mudando seu
caraacuteter de forma consideraacutevel seja em relaccedilatildeo ao volume de turistas visitantes no
estado seja nas estrateacutegias de mercado para o alcance de novos nuacutemeros que
faccedilam crescer a atividade Mesmo antes do Plano de Desenvolvimento de Turismo
68
do Paraacute se consolidar como documento norteador das atividades turiacutesticas as
poliacuteticas de incentivo ao setor tecircm ganhado destaque nas esferas de governo a
partir de programas especiacuteficos ou entatildeo a partir de um redirecionamento das
estrateacutegias e da participaccedilatildeo do empresariado fazendo com que o produto turiacutestico
paraense tenha maior visibilidade em outros mercados
A partir de um crescimento do setor turiacutestico a busca pelo desenvolvimento
da atividade e de suas potencialidades econocircmicas tornou-se marca importante para
que o Estado pudesse criar estrateacutegias de desenvolvimento social Com isso
poliacuteticas puacuteblicas passaram a dar mais ecircnfase neste setor criando assim novas
oportunidades de decisatildeo dentro das poliacuteticas de desenvolvimento
Nesse sentido um ponto importante satildeo os dados feitos a partir de
estatiacutesticas referentes ao processo de turistificaccedilatildeo do espaccedilo paraense17 Eles
refletem o quantitativo referente ao nuacutemero de turistas visitantes tanto estrangeiros
como nacionais e o nuacutemero de hoteacuteis e suas respectivas ocupaccedilotildees de acordo com
as temporadas (alta estaccedilatildeo e baixa estaccedilatildeo) Por mais que os nuacutemeros revelem um
quadro limitado da realidade do turismo no Paraacute mostram o fluxo de pessoas e de
empresas interessadas em investir no setor e em especial no aspecto diferencial do
Paraacute que se assenta na ideacuteia do turismo de natureza
O Brasil ainda eacute considerado um destino turiacutestico pouco procurado no mundo
Paiacuteses como Franccedila EUA Espanha ainda satildeo classificados como os maiores
destinos turiacutesticos do planeta No que diz respeito agrave estrutura interna brasileira
outros estados figuram como os mais procurados como eacute o caso do Rio de Janeiro
seguido dos estados do Nordeste em especial do Estado do Cearaacute e Bahia (ABAV
2006)
No caso do Paraacute o turismo ainda natildeo se constitui como uma das atividades
mais rentaacuteveis o que lhe garante posiccedilotildees medianas no que diz respeito aos
estados do Brasil mais visitados Tal situaccedilatildeo despertou no governo do Estado uma
17 Os dados estatiacutesticos aqui apresentados referem-se especificamente aos levantamentos feitos a partir de 1995 ano que se iniciou o governo de Almir Gabriel e que se estendeu ateacute 2002 (reeleiccedilatildeo) O quadro poliacutetico do governo natildeo se alterou com a sucessatildeo feita pelo entatildeo governo Simatildeo Jatene Neste sentido as estrateacutegias de mercado ora pensadas pelo oacutergatildeo de turismo do Estado - PARATUR tambeacutem natildeo se alteraram neste periacuteodo o que faz com que todas as informaccedilotildees e anaacutelises possam ser entendidas a partir do periacuteodo especificado
69
necessidade de investir mais no setor a fim de motivar um maior nuacutemero de
visitantes estrangeiros e nacionais Nesse sentido o que se percebe eacute uma entrada
gradual de pessoas no Estado ao longo dos uacuteltimos dez anos Alguns dados
estatiacutesticos mostram a relaccedilatildeo entre os produtos ofertados e o nuacutemero de pessoas
visitantes Os indicadores de turismo do Paraacute revelam o fluxo de turistas no Estado
no periacuteodo de um ano Os nuacutemeros presentes mostram de forma organizada
iacutendices de atividades que estatildeo relacionadas a um maior ou menor nuacutemero de
turistas no Paraacute
De acordo com o relatoacuterio estatiacutestico do governo18 em 2004 por exemplo a
oferta hoteleira do Estado teve um acreacutescimo em relaccedilatildeo aos outros anos anteriores
Em 2003 era de 68 jaacute no ano seguinte essa taxa subiu para 97 (PARAacute 2004)
representando uma maior solidificaccedilatildeo do setor A presenccedila de um maior nuacutemero de
hoteacuteis representa por sua vez um aumento de disponibilidade de leitos para que
turistas possam ter uma maior acomodaccedilatildeo Poreacutem ainda persiste um maior
nuacutemero de hoteacuteis na capital pelo fato de haver uma rede de infra-estrutura mais
adequada e de maior facilidade para o traslado do turista
Tomando como base o fluxo de visitantes estrangeiros o Estado apresenta
uma oscilaccedilatildeo entre os seus destinos o que natildeo garante uma uniformidade entre os
visitantes de diversas nacionalidades como mostra a tabela 1 a partir de dados
fornecidos pela PARATUR do ano de 2004
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003- 2004
P A Iacute S E S
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 03
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 04
VARIACcedilAtildeO
ESTADOS UNIDOS
FRANCcedilA
3248
3227
2785
3811
-1425
1810
18 Elaborado e executado pela PARATUR
70
GUIANA FRANCESA
ALEMANHA
JAPAtildeO
PORTUGAL
ITAacuteLIA
INGLATERRA
SURINAME
ESPANHA
HOLANDA
ARGENTINA
CANADAacute
AUSTRIA
CHILE
BELGICA
BOLIacuteVIA
OUTROS
-
1720
1380
913
1274
701
531
743
1083
531
637
-
955
361
-
2527
49
1417
1124
880
1661
831
977
1173
977
586
1124
244
1319
147
244
3323
-
-1762
-1855
-361
3038
1854
8399
5787
-979
1036
7645
-
3812
-5928
-
3150
T O T A L 21232 22672 678
FONTE Adaptado de PARATUR (2004 p32)
Como se pode perceber na tabela acima natildeo existe uma uniformidade entre
o nuacutemero de visitantes Paiacuteses como os EUA mostram um decreacutescimo de -14 25
Jaacute outros paiacuteses desenvolvidos como a Franccedila mostram uma presenccedila maior no
intervalo considerado elevando o fluxo migratoacuterio para 1810 Apesar de em
nuacutemeros absolutos a Itaacutelia natildeo superar os outros paiacuteses supracitados o seu
mercado emissor em relaccedilatildeo ao Paraacute tem uma variaccedilatildeo positiva de 3038 Essas
variaccedilotildees ainda se comportam de forma reduzida se comparadas a outros centros
turiacutesticos do paiacutes e ainda satildeo incipientes se comparados a outros centros mundiais
71
Outra questatildeo importante que deve ser avaliada diz respeito agrave sazonalidade
que marca as atividades turiacutesticas no Paraacute Por mais que essa situaccedilatildeo venha
mudando ao longo dos anos o Estado ainda vive um turismo de datas festivas
como eacute o caso do mecircs de outubro com a festividade religiosa do Ciacuterio de Nazareacute
Festa essa que assume atualmente um caraacuteter muito mais turiacutestico do que
propriamente religioso
A sazonalidade torna-se um entrave para o crescimento da atividade turiacutestica
no Paraacute visto que essa condiccedilatildeo ainda se manifesta em outros poacutelos de turismo do
Estado que congregam tambeacutem outras manifestaccedilotildees culturais e naturais como
por exemplo a festa do Saireacute em Santareacutem (que ocorre no mecircs de setembro no poacutelo
Tapajoacutes) o periacuteodo do festival da pesca esportiva em Tucuruiacute (poacutelo Araguaia -
Tocantins) e ainda o turismo de veraneio em Salinoacutepolis (o fluxo maior de pessoas
se daacute no mecircs de julho - poacutelo Amazocircnia Atlacircntica) Dessa forma tomando como base
a condiccedilatildeo de sazonalidade no estado a tabela 2 abaixo revela em nuacutemeros a
quantidade de leitos dos hoteacuteis ocupados na condiccedilatildeo de pernoite nos anos de
2002 2003 e 2004
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados do estado do Paraacute - 2002 2003 e 2004
MEcircS
2002
2003
2004
JANEIRO
32655
36652
38047
FEVEREIRO
30423
35783
40088
MARCcedilO
39811
36854
45912
ABRIL
38421
38724
43956
MAIO
41016
40326
47772
JUNHO
34663
36274
51354
72
JULHO
41918
42600
46168
AGOSTO
44162
40927
57209
SETEMBRO
40878
43364
50354
OUTUBRO
41309
47715
61215
NOVEMBRO
40653
45739
56851
DEZEMBRO
34105
35751
46227
TOTAL
460014
480709
585153
FONTE PARATUR (2004 p 26)
Como se percebe apesar de existir um acreacutescimo no fluxo de pessoas ao
longo dos anos ainda persiste uma concentraccedilatildeo em um periacuteodo mais especiacutefico do
ano devido agraves peculiaridades que esses meses proporcionam ao turista interno e
externo A sazonalidade turiacutestica no Paraacute portanto torna-se um fator importante
para se entender a concentraccedilatildeo espacial de pessoas visitantes Em outros
momentos tais lugares natildeo vivenciam um ritmo de circulaccedilatildeo de pessoas
semelhante aos meses em que o turismo eacute predominante ocasionando ausecircncia em
massa das pessoas desses lugares afetando por sua vez a economia relacionada
ao turismo nas cidades
Um outro fator importante a ser percebido diz respeito agrave acessibilidade ou
seja a forma pela qual o turista chega ao Estado do Paraacute Neste caso os nuacutemeros
apesar de refletirem uma parcela da realidade mostram que o meio de transporte
mais utilizado eacute o aviatildeo (transporte aeacutereo) A distacircncia do Paraacute em relaccedilatildeo aos
centros emissores do paiacutes torna-se um indicativo para que o fluxo de passageiros
que chegam por via aeacuterea seja ainda maior comparado a outros meios de
transporte como ocircnibus ou carro Os dados da PARATUR (2004) revelam esse
comparativo
73
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0
A v iatilde o
A u to m oacute v e l
O n ib u s
N a v io
N atilde o E s p e c
T u r is ta s b r a s ile ir o s e o tr a n s p o r te u t i l iz a d o p a r a c h e g a r a o E s ta d o
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 2004
RESIDEcircNCIA
PERMANEN
AVIAtildeO
CAR
OcircNIBUS
NAVIO
NESP
TOTAL
BRASIL 107675
575
14565
78 6242 33 3815 20
54965
294 187261
EXTERIOR 15294 674
537 24 147 06 1124 49
5570 246 22672
TOTAL 122969
586
15102
72 6389 30 4939 24
60535
288
209933
FONTE PARATUR (2004)
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao
Estado do Paraacute
FONTE PARATUR (2004)
O transporte aeacutereo eacute caro o fluxo de pessoas que visitam o Paraacute natildeo eacute tatildeo
expressivo Por outro lado as estradas que datildeo acesso aos mais distantes lugares
do territoacuterio (pontos de turismo) encontram-se em estado de maacute conservaccedilatildeo
necessitando de reparos o que impossibilita um maior fluxo interno de turismo no
estado Sendo assim o aviatildeo ainda se torna o meio de locomoccedilatildeo mais procurado
poreacutem com valores de mercado que inviabilizam uma maior frequumlecircncia de turistas
74
No tocante agrave ocupaccedilatildeo de empregos os dados indicam um acreacutescimo dos
mesmos nas atividades relacionadas ao turismo Em 1999 a criaccedilatildeo de empregos
diretos correspondia a um universo de 14605 postos de trabalhos (PARAacute 2004) Jaacute
no ano seguinte 2000 este nuacutemero altera-se para 16340 Em escala exponencial
esse nuacutemero chega em 2002 num patamar de 17841 empregos diretos Como os
dados oficiais do governo mostram uma relaccedilatildeo em que a cada um emprego direto
formado existem trecircs indiretos (OMT apud PARAacute 2004) o total de empregos
gerados em 2002 concentra-se em 71364 postos de trabalhos (PARAacute 2004)
Percebe-se portanto que os dados estatiacutesticos natildeo revelam os tipos de trabalhos
gerados pela crescente demanda de turismo no Estado ou ainda sua qualidade
fazendo com que se gerem duacutevidas sobre a relaccedilatildeo turismo e geraccedilatildeo de emprego
Por outro lado essa crescente demanda do turismo no Estado estaacute alicerccedilada
em uma maior divulgaccedilatildeo do setor em outros mercados emissores fazendo com que
o produto paraense possa ser mais percebido em outros lugares do Brasil e do
mundo Nesse sentido o marketing torna-se uma ferramenta importante para se
entender a promoccedilatildeo desses lugares ou espaccedilos turistificados que chamam a
atenccedilatildeo do turista
Nielsen (2002) faz uma interessante anaacutelise a respeito das atividades
relacionadas ao marketing Para o autor as informaccedilotildees assumem dois caminhos
diferentes e complementares a informaccedilatildeo que depende de quem fornece e a
informaccedilatildeo que depende de quem recebe Estabelece-se assim uma rede de
informaccedilotildees que pode ser fluida se a informaccedilatildeo no seu transcurso for bem
direcionada ou natildeo fluida se for o contraacuterio Nesse caso em primeiro lugar a
informaccedilatildeo de quem gera normalmente eacute atribuiacuteda aos oacutergatildeos e agecircncias de
turismo que compotildeem esse sistema como as agecircncias de viagens operadoras e o
proacuteprio Estado quando assume este papel de divulgador das informaccedilotildees de seu
produto turiacutestico
As informaccedilotildees geradas pelo marketing satildeo cruciais pois envolvem motivos
legais de seguranccedila e motivos que possam gerar lucros Quando se tem uma
informaccedilatildeo por motivos comerciais eacute necessaacuterio saber o potencial do
comportamento do turista em relaccedilatildeo agrave busca desses dados (NIELSEN 2002)
sendo essa forma a que possibilita uma melhor interaccedilatildeo entre quem fornece a
75
informaccedilatildeo e quem a recebe Assim sendo para o autor os oacutergatildeos que tomam
conta desse serviccedilo devem estar munidos de potencial para que natildeo surjam grandes
problemas quanto agrave promoccedilatildeo de eventos entre outros serviccedilos ligados ao turismo
O autor ainda chama a atenccedilatildeo para a clareza com que essas informaccedilotildees
satildeo repassadas Para Nielsen (2002) para que isso ocorra com maior satisfaccedilatildeo eacute
preciso que haja objetividade no momento de informar um produto turiacutestico Para o
autor
[] Um pouco menos de apresentaccedilatildeo e mais de discussatildeo sobre vendas faz com que o cliente note o benefiacutecio percebido em continuar a ouvir o representante de vendas e assim natildeo ignorar a mensagem (NIELSEN 2002 p 81)
Diante disso as informaccedilotildees que concentram generalidades podem gerar
impactos negativos sobre os turistas causando problemas de relacionamento entre
o turista e os lugares Para o autor portanto o marketing deve estar fundamentado
numa comunicaccedilatildeo eficiente e proporcionar o melhor serviccedilo turiacutestico possiacutevel
garantindo assim uma base econocircmica soacutelida e uma tomada de decisotildees concisa
Muitos desses elementos apresentados por Nielsen (2002) apesar de
estarem relacionados aos aspectos comerciais e de serviccedilos do marketing revelam
elementos importantes para se entender a loacutegica de construccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos
lugares que tecircm potenciais turiacutesticos Tomando como base as divulgaccedilotildees feitas
pela PARATUR a fim de que possa promover o produto turiacutestico paraense as
informaccedilotildees geradas sempre procuram mostrar o lado bom para o turista a fim de
proporcionar um ambiente de bem-estar no qual o turista ao vir para o Estado do
Paraacute possa se sentir bem e aproveitar sua estada Por outro lado os aspectos
negativos como pobreza urbana ou desigualdades de um modo geral natildeo se
constituem elementos nas propagandas de Estado
No que diz respeito aos folhetos as informaccedilotildees geradas estatildeo pautadas na
criaccedilatildeo de cenaacuterios paradisiacuteacos onde o espaccedilo reduz-se agrave pequenas imagens
Aleacutem disso os conteuacutedos das informaccedilotildees vislumbram uma situaccedilatildeo de competiccedilatildeo
76
com outros lugares do Brasil que tecircm potencialidades turiacutesticas enfatizando suas
peculiaridades A companhia de turismo do Estado tem se empenhado em divulgar o
Paraacute dessa forma Em um folheto de propaganda destinado aos turistas franceses
por exemplo (uma das maiores demandas de mercados emissores para a regiatildeo) as
informaccedilotildees estatildeo associadas agrave importacircncia e dimensatildeo da floresta aliado a um
conforto que eacute encontrado na cidade grande no caso a capital Beleacutem
Paraacute a obra-prima da Amazocircnia No extremo Norte do Brasil em plena Amazocircnia o estado do Paraacute reserva ao visitante diferentes paisagens da floresta virgem e fechada agrave amplidatildeo das praias oceacircnicas Do clima quente uacutemido e ensolarado agraves chuvas refrescantes e agrave aacutegua abundante dos igarapeacutes lagos cachoeiras praias de mar e de rios afluentes do Amazonas e Tocantins Suas rotas satildeo diversificadas coloridas cheias de ricas e variadas manifestaccedilotildees culturais temperadas com uma culinaacuteria baseada na extraordinaacuteria diversidade de fauna e flora amazocircnicas O Paraacute oferece uma experiecircncia uacutenica conhecer a floresta tropical sem se deixar de lado o conforto da civilizaccedilatildeo (PARAacute p 3 sd)
Para que haja portanto um enriquecimento do cenaacuterio espacial criado pelas
propagandas de marketing a necessidade de impor uma condiccedilatildeo uacutenica (PARAacute
sd) faz com que se enalteccedilam fragmentos do territoacuterio com o propoacutesito de que se
possa lanccedilar ao mercado uma imagem positiva a respeito do produto turiacutestico
paraense
Para Coelho (1999) quando o turismo faz referecircncias agraves peculiaridades da
regiatildeo em especial do Estado do Paraacute proporciona um distanciamento entre as
belezas cecircnicas que satildeo encontradas nos pontos turiacutesticos e as sociedades locais
que estatildeo situadas nesses lugares Quando as comunidades ou sociedades locais
fazem parte da propaganda e do marketing do turismo estes sujeitos aparecem
como mitificados (COELHO 1999 p 69) Nesse sentido satildeo tratados apenas
como meros habitantes caracterizando a distacircncia desses indiviacuteduos de seu
entorno Para a autora a comunidade representa uma visatildeo fragmentada onde se
fala de uma parcela sem se importar com sua inserccedilatildeo num conjunto de sociedade
local e regional (COELHO 1999 p 69)
77
Em um outro tipo de informaccedilatildeo o relatoacuterio de atividades de turismo do
Estado tambeacutem eacute apresentado o crescimento da atividade e como as atividades
estatildeo proporcionando uma mudanccedila na poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo Segundo
a PARATUR (2004) em 2004 o nuacutemero de visitantes alcanccedilou a marca histoacuterica de
meio milhatildeo de turistas o que possibilitou a geraccedilatildeo de mais de cinco mil empregos
diretos e indiretos No que diz respeito agrave movimentaccedilatildeo financeira 100 milhotildees de
doacutelares circularam no Estado (PARAacute 2004) Esse resultado reflete segundo o
oacutergatildeo a firme poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo desenvolvida pelo Governo do
Estado atraveacutes de investimentos diretos e de uma agressiva poliacutetica de marketing
(PARAacute 2004 p 3) Percebe-se assim que a divulgaccedilatildeo de aspectos que
demonstrem grandeza ou crescimento constitui-se como uma estrateacutegia do Estado
ocultando com isso os possiacuteveis conflitos e interesses que envolvem os agentes
que fazem parte do trade turiacutestico Tal estrateacutegia eacute muito comum nas accedilotildees que
envolvem marketing e promoccedilatildeo de produtos
O marketing para o Estado do Paraacute pode ser caracterizado como uma
ferramenta de promoccedilatildeo do turismo em outros lugares apropriando-se de imagens
que retratam os principais siacutembolos da cultura e natureza paraenses ao mesmo
tempo em que esconde a dinacircmica soacutecio-espacial marcada por conflitos e
desigualdades Esse contexto torna-se portanto conveniente para que os produtos
turiacutesticos possam adentrar em uma escala de competitividade de novos mercados
garantidores de demanda turiacutestica
33 A importacircncia da atividade turiacutestica no Novo Paraacute
Em 1995 a partir da posse do governador Almir Gabriel tem-se o iniacutecio do
programa de governo Novo Paraacute que implanta uma nova forma de gestatildeo
governamental baseada nas atividades estrateacutegicas de governo ou chamado de
planejamento estrateacutegico Nesse tipo de planejamento a esfera estatal passa por
modificaccedilotildees no que se refere agrave gestatildeo Essa situaccedilatildeo eacute principalmente perceptiacutevel
quando a administraccedilatildeo de um governo eacute voltada para uma inserccedilatildeo no mercado
como uma espeacutecie de funccedilatildeo primordial e mantenedora de uma boa administraccedilatildeo
78
O programa Novo Paraacute pode ser caracterizado pelo tripeacute agroinduacutestria
mineraccedilatildeo e turismo (NOVO PARAacute 2002) sendo estes vetores da transformaccedilatildeo
econocircmica e social A dimensatildeo do programa reflete-se nas reestruturaccedilotildees
espaciais que o governo implementa principalmente no que se refere agrave infra-
estrutura Tal perspectiva eacute um dos traccedilos desse modelo de gestatildeo governamental
que impotildee ao Estado uma postura do tipo empresariamento
A concepccedilatildeo desse modelo implica portanto a estruturaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento cuja unidade se construiraacute a partir da diversidade das partes que requer accedilotildees diferenciadas em cada espaccedilo considerado Isso impotildee sem duacutevida poliacuteticas puacuteblicas cada vez mais voltadas para o fortalecimento de espaccedilos sub-regionais ou seja das municipalidades e dos consoacutercios municipais reconhecendo que eacute na sua cidade na sua vila que as pessoas se defrontam com seus problemas (PARAacute 2002 p 2)
Os caminhos que supostamente levam ao desenvolvimento do Estado usam
um novo gerenciamento (ARANTES 2002) para dar respostas competitivas aos
desafios que a globalizaccedilatildeo impotildee aos governos tanto numa escala micro como
numa escala macro espacial Nesse sentido a ideacuteia parte de um planejamento
estrateacutegico que ratifique a competiccedilatildeo entre os lugares desencadeando em
investimentos de capital tecnologia atraccedilatildeo de novas induacutestrias entre outros
estipulando assim uma nova realidade para o mercado
No que se refere ao turismo o programa Novo Paraacute apresenta formulaccedilotildees
consideraacuteveis no que diz respeito aos seus objetivos e diretrizes como
fortalecimento de sua instituiccedilatildeo representativa a PARATUR Sendo assim a
atividade turiacutestica no Paraacute passa a ser mais divulgada em outros centros emissores
apoiada sobretudo nas accedilotildees de marketing que a instituiccedilatildeo desenvolve
Entre outras accedilotildees importantes que se destacam no Projeto estaacute o
fortalecimento do turismo nos municiacutepios do interior do Estado atraveacutes do
planejamento e coordenaccedilatildeo por parte do governo Dessa forma a atividade do
turismo comeccedila a se descentralizar ocasionado em gestatildeo municipalizada Nesse
sentido os prefeitos das cidades do interior do estado passam a incorporar o turismo
como um dos vetores de desenvolvimento de suas cidades Para isso a maacutequina
79
administrativa faz um rearranjo institucional para se adequar agrave loacutegica do turismo
tornando-o um empreendimento firme e competitivo
A questatildeo do fortalecimento institucional do turismo no interior do territoacuterio
paraense eacute uma das principais estrateacutegias espaciais desse modelo de gestatildeo o qual
eacute materializado no Plano de Desenvolvimento do Turismo (PDT-PA) atraveacutes da
criaccedilatildeo dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo As cidades que reuacutenem as
melhores infra-estruturas urbanas satildeo consideradas cidades-sedes desses poacutelos
Atraveacutes desse sistema pretende-se em termos gerais fazer com que as cidades
mais proacuteximas dos poacutelos possam adquirir o crescimento da atividade por meio de
uma espeacutecie de irradiaccedilatildeo As administraccedilotildees locais a partir dessa estrutura devem
realizar atividades que fomentem o turismo ao mesmo tempo em que devem
estimular a entrada de capitais privados interessados em investir no lugar
Uma outra dimensatildeo presente nas poliacuteticas de turismo visiacuteveis no projeto estaacute
assentada na garantia da expansatildeo do ecoturismo Este por sinal torna-se um item
importante no chamado turismo alternativo Nesse caso as accedilotildees previstas no
PROECOTUR satildeo assimiladas nesta fase do Novo Paraacute principalmente no que se
refere ao uso da Floresta Amazocircnica A ideacuteia de natureza vincula-se ao sustentaacutevel
da regiatildeo ou ainda de seu uso com baixa degradaccedilatildeo ambiental Este eacute um dos
pontos que o programa defende para o turismo no estado Coelho (1999) chama a
atenccedilatildeo para a ideacuteia de que o ecoturismo ao mesmo tempo em que promove essa
espeacutecie de retorno agrave natureza pode natildeo garantir a viabilidade econocircmica para os
agentes sociais ou comunidades tradicionais envolvidos nesse processo A autora
ainda acrescenta que para natildeo haver essa frustraccedilatildeo para as sociedades
tradicionais eacute necessaacuterio que se tenha uma
() visatildeo integrada de natureza e sociedade da adoccedilatildeo de uma concepccedilatildeo de gestatildeo democraacutetica (por definiccedilatildeo) compartilhada consciente e responsaacutevel da atividade envolvendo sempre diferentes atores sociais Depende tambeacutem do entendimento por parte dos diferentes atores sociais envolvidos de que natildeo lhes interessa qualquer ecoturismo mas um ecoturismo modelo (diferente dos modelos convencionais voltados para o turismo tradicional de massa ou para o turismo puramente comercial) onde se busca permanentemente a conciliaccedilatildeo entre teoria e praacutetica (COELHO 1999 p 70)
80
Outro tipo de vetor importante pauta-se na ideacuteia do tratamento diferencial e o
apoio financeiro para a iniciativa privada interessada em investir no setor Com esse
tipo de apoio o Governo do Estado promove uma maior abertura ao setor privado no
que tange aos investimentos do turismo Nesse sentido o nuacutemero de empresas eacute
ainda maior devido aos incentivos fiscais gerados pelo governo possibilitando
tambeacutem uma nova relaccedilatildeo setor puacuteblico-privado
Aliada a esta perspectiva outra caracteriacutestica complementar eacute a
intensificaccedilatildeo de produtos turiacutesticos paraenses junto aos mercados nacional e
internacional Para isto a realizaccedilatildeo de roteiros turiacutesticos (NOVO PARAacute 2002)
torna-se ferramenta fundamental para a consolidaccedilatildeo desse vetor
Atraveacutes da realizaccedilatildeo e implantaccedilatildeo dos roteiros turiacutesticos o Projeto Novo
Paraacute intensifica ainda mais os eventos na aacuterea do turismo alternativo
principalmente aqueles ligados ao atrativo da floresta Com os roteiros os espaccedilos
de turismos no estado tornam-se ainda mais especiacuteficos exercendo dessa forma
um poder de influecircncia nos turistas ao visitarem os lugares escolhidos
antecipadamente pelas operadoras e agecircncias do trade
Para Fonseca (2005) por exemplo esses estiacutemulos que proveacutem das novas
estrateacutegias de planejamento na verdade satildeo condicionantes de novas
competitividades (FONSECA 2005) O setor turiacutestico natildeo foge agrave regra dos mercados
econocircmicos e por isso necessita fazer com que haja uma maior circulaccedilatildeo de capital
no espaccedilo O ambiente da competitividade por sua vez eacute influenciado diretamente
pelo poder puacuteblico atraveacutes da criaccedilatildeo de externalidades positivas para que possa
promover maior competitividade ao produto turiacutestico E como exemplo disso no
Programa Novo Paraacute essa realidade se faz presente A possibilidade de geraccedilatildeo
de capital extra-local (FONSECA 2005) eacute um estiacutemulo para que haja uma
competiccedilatildeo com os agentes econocircmicos locais gerando dessa forma conflitos por
mercados Por mais que um dos vetores do Programa seja o de estimular o turismo
comunitaacuterio (NOVO PARAacute 2002) a competiccedilatildeo com a iniciativa privada estrangeira
torna-se desleal
Outro ponto forte dentro dessa poliacutetica eacute o da criaccedilatildeo de empregos no setor
de turismo Para Fonseca (2005) esse setor de acordo com as poliacuteticas de turismo
81
passa por constante mudanccedila estrutural A reorganizaccedilatildeo do processo de trabalho
atraveacutes do sistema just in time (TAVARES apud FONSECA 2005) eacute uma das bases
de transformaccedilatildeo do setor de trabalho turiacutestico Neste processo a otimizaccedilatildeo do
trabalho coloca de um lado uma maior especializaccedilatildeo do trabalho poreacutem de outro
estimula a sua precarizaccedilatildeo A autora indica seis consequumlecircncias desse processo
-Grande nuacutemero de trabalhadores temporaacuterios -Elevado percentual de matildeo-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual nos cargos superiores -Elevado nuacutemero de trabalhadores clandestinos (nos paiacuteses desenvolvidos) -Baixa remuneraccedilatildeo se comparados a outros segmentos econocircmicos -Elevado nuacutemero de horas de trabalho -Baixo grau de sindicalizaccedilatildeo (FONSECA 2005 p 148)
Dentro dessas caracteriacutesticas apontadas por Fonseca (2005) Harvey (2005)
afirma que esses processos de movimentaccedilatildeo do capital pelo espaccedilo podem ser
beneacuteficos aos capitalistas como por exemplo a ideacuteia que Fonseca (2005) cita sobre
o elevado nuacutemero de horas de trabalho Poreacutem ainda de acordo com Harvey (2005)
no que se refere agrave qualidade de trabalho tal caracteriacutestica eacute socialmente negativa
Mesmo assim Harvey ressalta que essa condiccedilatildeo eacute importante para se manter uma
produccedilatildeo da organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2005 2005 p 145) Neste caso
questotildees referentes ao emprego por exemplo de acordo com Fonseca (2005) natildeo
fogem agrave regra quando o assunto eacute o aumento da produtividade por parte do capital
Em relaccedilatildeo ao Estado do Paraacute e ainda no que se refere agrave questatildeo de
geraccedilatildeo de emprego no estado a partir da atividade do turismo a ideacuteia do emprego
torna-se algo problemaacutetico principalmente porque o Paraacute ainda estaacute em processo
de mudanccedilas lentas quando o assunto eacute turismo Com isso essa situaccedilatildeo provoca
por sua vez geraccedilotildees de empregos do tipo sazonal ou seja situaccedilotildees em que a
matildeo-de-obra condizente agrave atividade turiacutestica no Paraacute eacute verificada ou se manifesta
de periacuteodos em periacuteodos fazendo com que propagandas sobre a geraccedilatildeo de
emprego e renda veiculados pelo Estado mereccedilam um cuidado maior ao serem
analisadas pois de um lado o planejamento se volta para a pretensatildeo de criar
empregos no setor do turismo por outro a condiccedilatildeo social se comporta de uma
forma instaacutevel quanto aos empregos e condiccedilotildees de trabalho
82
4 O PDT-PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE
DESENVOLVIMENTO
83
41 Diretrizes e estrutura do PDT-PA
A construccedilatildeo de um plano de turismo sempre estaacute cercada de motivos e
interesses os quais se relacionam a uma intervenccedilatildeo espacial Natildeo obstante
pensar em uma forma de plano eacute pensar diretamente nessa intervenccedilatildeo mediada
por interesses de agentes que a produzem Nesse sentido o resultado de sua
construccedilatildeo eacute necessariamente o reflexo de decisotildees e concepccedilotildees arroladas no
momento de sua construccedilatildeo Com isso um plano de turismo natildeo se apresenta de
forma neutra assim como suas accedilotildees e programas decorrentes de sua elaboraccedilatildeo
o que nos leva a entender que qualquer estrateacutegia de desenvolvimento estaacute
subjacente a valores poliacuteticos (SOUZA 2000) onde se inclui tambeacutem interesses de
agentes envolvidos daiacute a pertinecircncia de uma natildeo neutralidade nos planos de
desenvolvimento de turismo
Os modelos de planos de turismos natildeo se mantiveram os mesmos ao longo
dos anos sempre precisaram de transformaccedilotildees e adaptaccedilotildees para que pudessem
atender agraves novas demandas de mercado A tocircnica do discurso mantida foi a de que
a partir da construccedilatildeo de um plano de turismo o desenvolvimento seria mais faacutecil E
neste sentido o governo no transcorrer dos tempos foi e ainda eacute o maior
incentivador dessa praacutetica garantindo-lhe sua regulamentaccedilatildeo e ateacute mesmo a
construccedilatildeo de uma infra-estrutura capaz de atender agraves novas exigecircncias do
mercado
Neste caso o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Paraacute natildeo
foge agrave regra quando o assunto eacute a transformaccedilatildeo do espaccedilo paraense a partir das
praacuteticas turiacutesticas Aleacutem de garantir um maior fluxo da economia a partir do turismo
ele legitima a presenccedila de agentes interessados em investir racionalmente na
tomada de decisotildees que interessem ao aumento dessa atividade no espaccedilo
paraense Eacute de fato no PDT-PA que estaacute contida toda a argumentaccedilatildeo do Governo
em prol da atividade facilitando assim sua promoccedilatildeo
Estruturalmente o PDT-PA estaacute dividido em trecircs grandes seccedilotildees que
correspondem aos momentos distintos de sua elaboraccedilatildeo
84
A primeira grande seccedilatildeo diz respeito ao diagnoacutestico feito pela empresa de
consultoria contratada para a elaboraccedilatildeo do plano19
Na introduccedilatildeo do plano haacute uma justificativa referente agrave ideacuteia do
desenvolvimento Nesta parte o interesse do Governo do Estado eacute de fazer do
documento um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentaacutevel dos
recursos disponiacuteveis na natureza paraense A cultura aqui eacute apresentada sob a
forma de recurso e adquire um valor importante no que se refere ao turismo
Segundo as proacuteprias palavras do documento
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Ainda no tocante a esta seccedilatildeo as justificativas feitas em relaccedilatildeo a assuntos
como crescimento e sustentabilidade natildeo podem ser vistas como atividades
isoladas Do contraacuterio permite-se uma maior participaccedilatildeo do Estado no que se
refere ao fomento de outros fatores cruciais para o desenvolvimento da atividade
como infra-estrutura e planejamento integrado colocando o turismo como uma
atividade econocircmica racionalmente conduzida por um processo de planejamento
econocircmico espacial
Para que o plano de desenvolvimento do turismo pudesse ser estruturado
como tal foi necessaacuterio haver uma vinculaccedilatildeo com outro projeto antecedente
intitulado Projeto Beija-Flor 20
Ainda na introduccedilatildeo do documento os criteacuterios de construccedilatildeo do plano
aparecem como elementos que identificam sua forma de elaboraccedilatildeo como
19 A empresa referente chama-se THR Assessoria em Turismo Hotelaria e Recreaccedilatildeo O Plano teve seu momento de elaboraccedilatildeo final em outubro de 2001 20 Este Projeto foi desenvolvido no periacuteodo do segundo governo de Almir Gabriel no periacuteodo de 1999 a 2002
85
compilaccedilatildeo e anaacutelises de documentos existentes que retratam o turismo no Paraacute
folders que divulguem a imagem do Estado em outros lugares
Aleacutem disso o trabalho de campo realizado pela empresa de consultoria
estava estruturado em pesquisas e observaccedilotildees feitas em trecircs momentos distintos
No primeiro eram feitas entrevistas com turistas que chegavam a Beleacutem
atraveacutes de seus desembarques no aeroporto internacional da capital A respeito
disso natildeo eacute mencionado no documento quais tipos ou padrotildees de turistas que a
pesquisa da empresa solicita ou de onde eles vinham Outro detalhe eacute que outros
lugares de chegada a Beleacutem natildeo satildeo mencionados no plano como eacute o caso do
Terminal Rodoviaacuterio de Beleacutem Hildegardo da Silva Nunes e dos portos fluviais
situados ao longo da capital Para a empresa responsaacutevel a finalidade da pesquisa
era a de identificar como atrair fluxos turiacutesticos maiores para o Estado (PARAacute
2001 p 6) tendo como base o fluxo de pessoas que desembarcassem pelo
aeroporto de Beleacutem
Ainda dentro da pesquisa realizada alguns elementos se destacam como a)
o motivo de viagem natildeo fosse de negoacutecios b) houvesse pelo menos um pernoite no
estado c) estivesse dentro da composiccedilatildeo previamente estruturada da amostra
(PARAacute 2001 p 6)
Em um segundo momento da pesquisa sua realizaccedilatildeo estava pautada nos
maiores centros operadores e emissivos de turismo do Brasil ou seja Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais A mesma foi baseada em entrevistas pessoais com
os proprietaacuterios eou diretores das operadoras buscou-se identificar as principais
questotildees relacionadas com a promoccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos
paraenses (PARAacute 2001 p 7) Com isso a intenccedilatildeo principal da empresa
contratada para elaborar o plano era a de identificar o que falta para o Paraacute ser um
bom destino turiacutestico ou no que se refere ao ambiente de mercado o que falta para
o estado ser um forte concorrente no trade turiacutestico nacional Nesta ocasiatildeo o
principal criteacuterio de escolha esteve ligado agraves empresas que jaacute trabalhavam com o
produto turiacutestico paraense e com isso perceber quais dificuldades foram apontadas
por elas e quais soluccedilotildees poderiam ser apresentadas no que tange ao aumento de
volume de turistas para o Estado
86
Em um terceiro momento a escala internacional foi levada em consideraccedilatildeo
no que diz respeito agraves pesquisas de mercado Neste ponto a empresa responsaacutevel
explica em linhas gerais que o mercado internacional de turismo no Paraacute eacute
fragilizado
Partindo do pressuposto de que o turismo internacional praticamente inexiste no Paraacute a pesquisa procurou detalhar o mercado potencial existente nos principais paiacuteses do Mercosul da Europa e nos EUA A pesquisa identificou o perfil do consumidor os produtos mais demandados a forma de comercializaccedilatildeo etc (PARAacute 2001 p 7)
Essas anaacutelises portanto estatildeo desenvolvidas no transcorrer da elaboraccedilatildeo
do plano de turismo o que eacute demonstrado quando eacute feita a apreciaccedilatildeo sobre a
situaccedilatildeo do mercado externo de turismo paraense Tal estrateacutegia de mercado estaacute
pautada numa abordagem do tipo transescalar como lembra Vainer (2002) na qual
os mercados regionais locais e internacionais satildeo privilegiados
Para a empresa responsaacutevel a importacircncia da pesquisa se resumia mais a
um caraacuteter propositivo do que investigativo (PARAacute 2001) procurando saber quais
as deficiecircncias do estado no que concerne o avanccedilo do turismo Neste sentido a
intenccedilatildeo da empresa juntamente com o governo do Paraacute era de perceber quais os
problemas para propor soluccedilotildees estrateacutegias que mudassem o quadro de uma baixa
inserccedilatildeo do mercado turiacutestico paraense nas escalas nacional e internacional Neste
caso A pesquisa foi mais propositiva do que investigativa Ou seja procurou
identificar o que o Paraacute necessita fazer para concorrer nestes poderosos mercados
emissores de turistas (PARAacute 2001 p 7)
No tocante agrave elaboraccedilatildeo definitiva do plano a empresa responsaacutevel procurou
divulgar o plano entre os agentes promotores do turismo no Paraacute Neste caso o
documento especifica que o plano ainda foi discutido entre profissionais do ramo
bem como o proacuteprio gabinete do governador Em outras palavras no PDT-PA a
elaboraccedilatildeo completa ficou por conta da empresa de assessoria em turismo
THR
os agentes de Estado assim como planejadores teacutecnicos e empresaacuterios Neste
87
caso outros representantes da sociedade civil ou lideranccedilas populares natildeo satildeo
citados no documento Segundo o documento
Estas estrateacutegias programas e grupo de accedilotildees foram apresentados em reuniotildees nos vaacuterios poacutelos com as lideranccedilas puacuteblicas e privadas e as mesmas passaram por um processo de aperfeiccediloamento em funccedilatildeo dos resultados obtidos nestas discussotildees Depois de incorporadas as sugestotildees advindas das reuniotildees nos poacutelos o trabalho foi rediscutido no acircmbito da Paratur da Secretaria de Produccedilatildeo e do proacuteprio Gabinete do Governador do Estado Apoacutes o Plano ter sido submetido a consenso nestas esferas o mesmo foi apresentado em um seminaacuterio para cerca de 400 empresaacuterios teacutecnicos e autoridades (PARAacute 2001 p 8)
A ideacuteia de planejamento e elaboraccedilatildeo de um documento como o PDT-PA eacute
contraacuteria agrave ideacuteia que Souza (2004) defende sobre os instrumentos de planejamento
por mais relevantes e criativos que sejam [os instrumentos de planejamento e
gestatildeo] soacute adquirem verdadeira importacircncia ao terem sua operacionalizaccedilatildeo
(regulamentaccedilatildeo) e sua implementaccedilatildeo influenciadas e controladas pelos cidadatildeos
(SOUZA 2004 p 321) Neste caso deve-se especificar qual ideacuteia de cidadatildeo que
se almeja nesse processo ou seja aquele que natildeo se reduz aos atores
hegemocircnicos de um setor econocircmico rentaacutevel como eacute o turismo Pelo contraacuterio esta
perspectiva assume um caraacuteter ainda mais amplo de participaccedilatildeo popular de todos
aqueles envolvidos neste processo de intervenccedilatildeo espacial
O plano ao privilegiar certos grupos da sociedade paraense circunscreve o
poder de decisatildeo sobre o desenvolvimento do turismo para poucos Lideranccedilas
populares ou agentes do circuito inferior da economia (SANTOS 2002) natildeo tecircm voz
nem tampouco vez no processo de construccedilatildeo de um documento como o PDT-PA
As decisotildees sobre a atividade turiacutestica no Paraacute portanto satildeo desiguais e
excludentes
A segunda seccedilatildeo intitulada Conteuacutedo do Plano apresenta um amplo
diagnoacutestico da situaccedilatildeo do turismo paraense Nesta parte do plano existem
caracteriacutesticas que satildeo associadas agrave atividade turiacutestica no estado como recursos
naturais infra-estrutura demandas e organizaccedilatildeo do oacutergatildeo responsaacutevel pela
setorizaccedilatildeo do turismo no Paraacute a PARATUR
88
Em um primeiro momento no que diz respeito agrave ideacuteia de recursos turiacutesticos
o plano oferece uma descriccedilatildeo dos elementos naturais presentes no estado como
recursos potencializaacuteveis para uma exploraccedilatildeo racionalizada por parte de agentes
que operam no setor de investimentos do turismo O documento chama atenccedilatildeo
para as ideacuteias de recursos turiacutesticos e acessibilidade Neste caso em especial o
plano toma a linguagem dos recursos naturais do estado pela forma de acesso a
eles em outros termos os lugares que apresentam uma maior facilidade de fluxos
dos turistas apresentam por conseguinte uma importacircncia a mais quanto agrave
exploraccedilatildeo Como exemplo
Ao norte do Estado (margem esquerda do Rio Amazonas na Guiana Paraense) o relevo se mostra um pouco mais acidentado o suficiente para criar rios com diversas cachoeiras e corredeiras o que se constitui em grande atrativo para turismo de aventura No extremo-norte a topografia apresenta maiores elevaccedilotildees Poreacutem as dificuldades de acesso e a presenccedila de grandes extensotildees de reservas indiacutegenas impedem que estes recursos se transformem em produtos turiacutesticos a curto prazo (PARAacute 2001 p 11 grifo nosso)
Assim sendo o interesse por espaccedilos que possibilitem uma maior
acessibilidade e que jaacute apresentem certa notoriedade torna-se um fator importante
para que haja uma facilitaccedilatildeo da entrada de investimentos turiacutesticos Neste caso os
espaccedilos selecionados e que tecircm maiores preferecircncias por investimentos externos
tecircm tendecircncia a seres dinacircmicos do ponto de vista da acumulaccedilatildeo do capital
O consumo dos lugares ou ainda de seus atrativos satildeo diferenciados de outros
espaccedilos dentro do territoacuterio paraense Exemplos como fauna flora gastronomia
cobertura vegetal patrimocircnio cultural aparecem no Plano como elementos dados
prontos a serem dinamizados e em uma outra perspectiva comercializados Sobre
isso o proacuteprio PDT-PA mostra
Contudo dispor de bons recursos natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para se constituir um destino competitivo Os recursos e atrativos podem ser usados e desfrutados Mas para isto eacute necessaacuterio que sejam acessiacuteveis que estejam minimamente equipados acondicionados e sinalizados que enfim permitam a praacutetica de atividades ordenadas e organizadas etc (PARAacute 2001 p 12)
89
Tal situaccedilatildeo tambeacutem eacute constatada pelo plano na seccedilatildeo Infra-estrutura e
equipamentos baacutesicos onde se torna presente a ideacuteia de que no estado do Paraacute a
infra-estrutura estaacute aqueacutem de dinacircmica intensa exigida pelo turismo de massa
A partir de um diagnoacutestico amplo averiguado nas principais cidades que apresentam
os recursos turiacutesticos o plano expotildee de forma clara as possibilidades de acessos
por meios de transporte como por exemplo por via terrestre fluvial e aeacuterea
A partir disso o plano exibe uma relaccedilatildeo interessante entre os meios de
transporte e as peculiaridades naturais do estado Para que haja uma maior
facilidade de acesso e fluxo turiacutestico intenso o plano mostra um tipo de comentaacuterio
contraacuterio a uma das maiores especificidades naturais do estado e da regiatildeo
amazocircnica os rios Segundo as proacuteprias palavras do PDT-PA
Os transportes se constituem em um problema dadas as dimensotildees do Estado O Paraacute conta com 4215km de rodovias asfaltadas o que para seu tamanho eacute uma extensatildeo ainda muito pequena Aleacutem disto a grande pluviosidade da regiatildeo torna a manutenccedilatildeo desta rede muito dispendiosa e vaacuterias rodovias tecircm sua trafegabilidade afetada nos periacuteodos de chuvas mais intensas (PARAacute 2001 p 16)
Nesse sentido ainda
Por esta razatildeo o transporte fluvial eacute o mais utilizado na regiatildeo amazocircnica Apesar da rede hidrograacutefica paraense ser das maiores do mundo a sinuosidade dos rios e obstaacuteculos naturais tornam as viagens fluviais demoradas o que dificulta certos segmentos de demanda que dispotildeem de pouco tempo para viagens (PARAacute 2001 p 16)
Levando em consideraccedilatildeo essa perspectiva o transporte mais adequado para
que haja um maior fluxo da atividade turiacutestica eacute o transporte aeacutereo que por sinal
dentro das perspectivas globais de transporte para o turismo de uma forma geral eacute
o tipo de transporte que mais se adapta agrave rapidez que o turismo precisa para
estabelecer os trajetos de viagens
Conforme o plano a densidade de fluxos de pessoas que visitam o Paraacute eacute
baixa caracterizando dessa forma uma natildeo equiparaccedilatildeo com outros poacutelos
90
turiacutesticos nacionais jaacute desenvolvidos Neste aspecto o plano revela a necessidade
de se ampliarem as ofertas de vocircos para a regiatildeo Como a intenccedilatildeo do plano nesta
seccedilatildeo eacute de diagnosticar os problemas a ecircnfase dada agrave questatildeo da infra-estrutura
de transportes eacute situada nos poacutelos de turismo do estado de acordo com a maior
acessibilidade que eles podem oferecer
O documento afirma a importacircncia da infra-estrutura como um dos
componentes fundamentais para que os sistemas turiacutesticos (BOULLOacuteN 2002)
possam funcionar adequadamente Em consonacircncia com o Estado a iniciativa
privada promove alteraccedilotildees no espaccedilo para que o processo de implantaccedilatildeo da infra-
estrutura possa se adequar a uma demanda turiacutestica Neste caso haacute uma tentativa
por parte do documento em imprimir um ritmo moderno da economia (BOULLOgraveN
2002) no territoacuterio paraense fazendo com que haja uma rearticulaccedilatildeo entre as
estruturas produtivas De outro modo a construccedilatildeo eou reforma das estradas bem
como de portos e principalmente aeroportos satildeo condiccedilotildees importantes para a maior
dinacircmica espacial do turismo adaptando progressivamente o estado do Paraacute a uma
feiccedilatildeo global da economia voltada para a atividade
No estado do Paraacute a situaccedilatildeo da infra-estrutura ainda eacute deficiente Neste
caso antes mesmo de atender agraves necessidades de um turismo latente as infra-
estruturas de um modo geral natildeo conseguem nem mesmo atender as demandas
gerais da populaccedilatildeo paraense em consequumlecircncia a atividade turiacutestica ainda
encontra dificuldades de se fixar no espaccedilo Voltando essa ideacuteia para as cidades
paraenses que satildeo apresentadas o plano denuncia a ineficiecircncia ou maacute
conservaccedilatildeo dos diversos segmentos de infra-estrutura no estado fazendo com que
ainda exista uma concentraccedilatildeo das atividades turiacutesticas na capital (Beleacutem) Assim
os demais poacutelos em relaccedilatildeo agrave capital tornam-se defasados segundo este criteacuterio
Essa situaccedilatildeo reflete-se tambeacutem na seccedilatildeo serviccedilos turiacutesticos do estado
Tais serviccedilos satildeo identificados principalmente por um tipo de estrutura que atende
diretamente ao mercado turiacutestico como por exemplo os hoteacuteis redes de agecircncias
de viagens e operadoras Eacute interessante salientar que a relaccedilatildeo entre a infra-
estrutura e os serviccedilos eacute direta principalmente levando-se em consideraccedilatildeo os
objetos espaciais que condicionam o estabelecimento dos serviccedilos de turismo como
estradas saneamento baacutesico rede de esgoto e seguranccedila Para que os serviccedilos
91
turiacutesticos possam ser bem efetivados no espaccedilo eacute preciso que haja um equiliacutebrio
no que se refere ao bom andamento das infra-estruturas do contraacuterio as
consequumlecircncias satildeo a de pouco movimento de turistas ou dificuldade de divulgaccedilatildeo
dos produtos turiacutesticos A este respeito o Plano enfoca o seguinte diagnoacutestico
A estrutura empresarial do setor turiacutestico paraense eacute esparsa e atomizada A maioria das empresas (hoteacuteis operadoras) satildeo de pequeno porte e de propriedade familiar movimentam salvo algumas exceccedilotildees volumes de negoacutecios reduzidos (PARAacute 2001 p 23) (sic)
Dentro de uma visatildeo de mercado o plano enfatiza que essas caracteriacutesticas
satildeo empecilhos para que haja um avanccedilo no setor por natildeo serem condizente com
avanccedilos tecnoloacutegicos e uma inserccedilatildeo mais raacutepida na rede mundial ou trade
turiacutestico freando assim a qualidade do produto Por conseguinte a condiccedilatildeo de
negatividade que os atrativos turiacutesticos passam eacute tambeacutem um fator de preocupaccedilatildeo
por parte dos agentes que investem no setor impossibilitando assim um reajuste
no setor que movimenta as accedilotildees econocircmicas (HALL 2001)
A visatildeo do plano neste caso eacute de criar uma expectativa de melhoria de
planejamento turiacutestico como lembra Hall (2001) fazendo com que os impactos
negativos diagnosticados no estado sejam suavizados perante uma reestruturaccedilatildeo
do territoacuterio mediante a implantaccedilatildeo de serviccedilos turiacutesticos de qualidade Tudo isso
com o intuito de fomentar o turismo paraense O plano mostra que as limitaccedilotildees
apresentadas pelo estado impedem o crescimento da atividade bem como de
- Impulsionar processos de inovaccedilatildeo e melhora da qualidade - Ter acesso agrave tecnologia avanccedilada - Ter acesso agraves informaccedilotildees de alta qualidade - Ter acesso a recursos humanos de bom niacutevel de capacitaccedilatildeo - Implementar foacutermulas de comercializaccedilatildeo mais eficientes (PARAacute 2001 p 24)
A medida que a concorrecircncia dos mercados turiacutesticos se acirra os governos
tendem a entrar nesse jogo para que haja uma maior atraccedilatildeo para seu produto
92
turiacutestico E eacute nesse ponto que reside a soluccedilatildeo de problemas como a infra-estrutura
e serviccedilos que estejam direcionados ao mercado do turismo haacute portanto um
reordenamento espacial voltado para atender a tal demanda A insuficiecircncia desse
setor se reflete diretamente no nuacutemero de agecircncia de turismo assim como no
nuacutemero de hoteacuteis No plano como resultado de um diagnoacutestico feito nesse setor foi
elaborado um graacutefico de diferenciaccedilatildeo das unidades hoteleiras por cada poacutelo de
turismo do Estado21
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico
Beleacutem
57
Tapajoacutes
8
Araguaia
Tocantins
15
Marajoacute
6
Xinguacute
Costa
Atlacircntica
10
4
FONTE Adaptado de PARATUR apud PARAacute (2001)
Associado ao conjunto de serviccedilos e infra-estrutura o PDT-PA enfatiza os
tipos de produtos turiacutesticos comercializados no Estado Destaque se faz para o
segmento interesse geral (PARAacute 2001) e ecoturismo visto que no Paraacute sua
divulgaccedilatildeo eacute ampla nos destinos nacionais e internacionais mais procurados
Os poacutelos quando classificados sempre trazem informaccedilotildees referentes ao
ecoturismo mantendo portanto a bandeira de divulgaccedilatildeo deste segmento
A operacionalizaccedilatildeo desses segmentos se faz atraveacutes dos pacotes turiacutesticos
que as operadoras montam e oferecem ao turista quando este chega principalmente
a Beleacutem Tais pacotes satildeo monitorados por guias e pessoas especiacuteficas da aacuterea
Para que se efetuem os pacotes a partir do ordenamento feito pelas
operadoras de turismo instaladas no estado eacute necessaacuterio que haja uma
comercializaccedilatildeo nos mercados compradores atraveacutes de sua divulgaccedilatildeo Por outro
lado este ainda se constitui um problema que o estado do Paraacute junto agrave PARATUR
21 Dados referentes agrave elaboraccedilatildeo do Plano feita em 2001
93
encontra Os mercados consumidores (uma forma geral de nomear os turistas de
outros lugares do paiacutes e do mundo) natildeo costumam associar seus tempos de lazer e
feacuterias agraves visitas feitas agrave Amazocircnia em especial ao estado do Paraacute Em geral os
destinos mais visitados continuam sendo os mais divulgados atraveacutes de um
processo de marketing e miacutedia amplo que os mesmos fazem E neste ponto se
destacam os estados da regiatildeo Nordeste do Brasil bem como estados da regiatildeo
sudeste como Rio de Janeiro e Satildeo Paulo por possuiacuterem um conjunto ou sistema
de turismo mais avanccedilado do que os da Amazocircnia paraense O graacutefico na paacutegina
seguinte elaborado pela THR mostra de forma clara essa situaccedilatildeo
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais
()22
0 10 20 30 40 50 60 70
Fortaleza
Natal
Maceioacute
Fernando de Noronha
Recife
Salvador
Pantanal
Interior de S Paulo
Chapada Diamantina
Amazocircnia
Porto Seguro
Serras Gauacutechas
Lenccediloacuteis Maranhenses
Cidades Histoacutericas Mineiras
Chapada dos Veadeiros
Serra da Canastra
Comandatuba
Serra dos Pirineus
Serra do Cipoacute
FONTE PARAacute (2001)
Nesta seccedilatildeo de diagnoacutestico do PDT-PA a postura dos consumidores ao
elegerem os espaccedilos de lazer em relaccedilatildeo aos produtos turiacutesticos paraenses
22 Curiosamente esta pesquisa feita pela THR natildeo menciona o Rio de Janeiro como uma dos principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras de turismo Mais estranho ainda eacute que a THR afirma no PDT-PA que as empresas participantes da pesquisa possuem grande tradiccedilatildeo no setor (PARAacute 2001 p 41) e por isso mesmo sendo o Rio de Janeiro um dos estados que recebe mais turistas no Brasil e no mundo sua ausecircncia enquanto destino turiacutestico em escala nacional e internacional suscita duacutevidas quanto agrave abrangecircncia da pesquisa
94
sempre associam a ideacuteia de que jaacute visitaram outros lugares ou seja os principais
destinos turiacutesticos brasileiros (como mostra o graacutefico) Neste caso a preferecircncia dos
turistas em relaccedilatildeo ao Paraacute deixa-lhe como uma segunda opccedilatildeo na preferecircncia
desses visitantes Esse perfil de turista eacute apontado pelo Plano da seguinte forma
a) Satildeo turistas que buscam produtos ligados agrave natureza b) Jaacute conhecem o Brasil e especialmente o Nordeste c) Buscam conhecer novas culturas d) Buscam experiecircncias ligadas agrave aventuras e) Possuem elevado poder aquisitivo f) Possuem faixas etaacuterias mais elevadas g) Residem em grandes centros urbanos h) Os estrangeiros possuem mais interesse que os brasileiros (PARAacute 2001 p 43)
Tal condiccedilatildeo apontada de antematildeo pelo Plano reflete-se em outras duas
seccedilotildees demanda turiacutestica do Paraacute e organizaccedilatildeo institucional do turismo Esta
uacuteltima refere-se diretamente agraves accedilotildees que a PARATUR desenvolve no estado a fim
de fomentar a atividade turiacutestica Segundo o Plano a PARATUR ainda estaacute
organizada de forma incipiente e ligada a outras secretarias de estado natildeo criando
assim uma espeacutecie de autonomia institucional Nas cidades do interior as
organizaccedilotildees voltadas para o turismo satildeo deficientes geralmente ligadas agrave
secretarias de induacutestria comeacutercio ou esporte fazendo com que seus investimentos
natildeo se decircem de forma especiacutefica para o setor
De uma forma bem ampla o PDT-PA estrutura seus conjuntos de objetivos
em algumas subseccedilotildees Os objetivos finais podem ser entendidos enquanto
objetivos gerais de um Plano de desenvolvimento e neste sentido trazem consigo
um posicionamento poliacutetico de interferecircncia soacutecio-econocircmica e espacial O elemento
marcante eacute a ideacuteia da competitividade Marca por sinal dos planejamentos
territoriais que privilegiam uma realidade econocircmica
Esta parte do plano tem uma estrutura voltada para uma ampliaccedilatildeo ou
melhoria do mercado turiacutestico no Paraacute tanto que seu conteuacutedo revela prioridades
tais como a atratividade que estaacute assentada na ideacuteia de relaccedilatildeo que os produtos
turiacutesticos paraense tecircm de se adequar agraves demandas de turistas visitantes
95
Outra prioridade ou elemento eacute a produtividade que revela o valor
patrimonial (PARAacute 2001 p 55) que um produto turiacutestico pode ter Em outras
palavras eacute perceber o niacutevel ou grau de produtividade que um produto turiacutestico pode
ter E nesse sentido fazer com que esse elemento possa perdurar em longo prazo
evitando assim sua saturaccedilatildeo
Aleacutem dessas prioridades destaca-se o marketing que torna o produto o
suporte principal de propaganda e venda em outros setores Neste caso o
marketing caracteriza-se por uma tentativa constante de oferecimento do produto em
outras praccedilas ou seja existe uma verdadeira propaganda do Paraacute enquanto produto
a ser comercializaacutevel
Nielsen (2002) lembra que o marketing torna-se uma estrateacutegia muito proacutexima
a de turismo A tentativa de que essa estrateacutegia possa atingir com maior facilidade
diferentes classes como estudantes profissionais da aacuterea acadecircmicos empresas
governo miacutedia e pessoas de uma forma geral faz do marketing uma soluccedilatildeo
interessante para o turismo O Plano de Turismo do Estado utiliza-o como
ferramenta que tem a possibilidade de convencer pessoas do que haacute de melhor no
Estado tendo o turista como seu principal objetivo A utilizaccedilatildeo desse instrumento eacute
diversificada folders viacutedeos feiras workshops amostras de produtos que satildeo
fabricados por empresas ou feitos por artesatildeos satildeo especificidades do marketing
Constitui-se como uma forma de ampliaccedilatildeo mercadoloacutegica de um setor especiacutefico
Mostra-se portanto uma estreita ligaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o marketing
Nesse sentido o PDT-PA tenta aproximar ao maacuteximo atributos da propaganda para
que os produtos turiacutesticos ganhem notoriedade mercado afora
Junto a esses trecircs elementos a gestatildeo finaliza a ideacuteia de competitividade
presente no plano constituindo assim uma nova forma de fluidez agrave atividade
turiacutestica no Estado A partir de um novo olhar administrativo em que o turismo se
insere a gestatildeo torna-se um instrumento poliacutetico de administraccedilatildeo puacuteblica que
revela intenccedilotildees e tomadas de decisotildees importantes para um bom andamento de
um planejamento Neste caso a gestatildeo de uma atividade turiacutestica proporcionada
pelo plano deve congregar os uacuteltimos trecircs elementos citados de forma conjunta e
indissociaacutevel Assim o objetivo final do plano assim se apresenta
96
Converter o Paraacute em um destino turiacutestico preferencial para os mercados nacional e internacional mediante um desenvolvimento turiacutestico competitivo e sustentaacutevel que contribua decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do Paraacute gerando maior bem estar material e maior bem estar emocional (PARAacute 2001 p 55)
Percebe-se por sua vez que o objetivo do plano natildeo se restringe agraves
transformaccedilotildees do setor turiacutestico no territoacuterio paraense mas acima de tudo
apresenta-se como plataforma de transformaccedilatildeo social tanto do ponto de vista da
materialidade (bem estar material) quanto da imaterialidade (bem estar emocional)
Portanto o turismo a partir de uma diretriz voltada para o mercado pretende uma
ampla mudanccedila soacutecio-espacial
Outros objetivos do plano integram esta seccedilatildeo como objetivos de negoacutecios
os quais estatildeo voltados para um incremento maior da demanda de investimentos
gerados a partir do aumento do volume da atividade no Paraacute Com essa perspectiva
espera-se portanto estabelecer um crescimento sustentaacutevel do turismo no Estado
segundo as proacuteprias ideacuteias do Plano Esta seccedilatildeo organiza-se em trecircs objetivos
especiacuteficos que integram esta sub-seccedilatildeo
- Incrementar o volume da demanda nacional e internacional
- Incrementar a permanecircncia meacutedia
- Incrementar o gasto turiacutestico (PARAacute 2001 p 56)
Assim como
Para que o estado do Paraacute seja convertido em um destino turiacutestico e com isso os reflexos dos fluxos turiacutesticos possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua populaccedilatildeo eacute preciso maximizar a renda da atividade Esta maximizaccedilatildeo deveraacute ser feita atraveacutes da ampliaccedilatildeo do nuacutemero de turistas quer sejam turistas domeacutesticos quer sejam turistas internacionais (PARAacute 2001 p 56)
No que se refere agrave ideacuteia de crescimento o plano tambeacutem apresenta a seccedilatildeo
objetivos de crescimento na qual natildeo define precisamente o que seja crescimento
97
O plano adota a ideacuteia de metas de mercado estabelecidas pela empresa
responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do plano - THR Como exemplo dessas metas a serem
alcanccediladas o PDT-PA apresenta um quadro onde se cria uma expectativa de
aumento do turismo atraveacutes de alguns criteacuterios O quadro assim estaacute definido
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001
2006
Turistas em 2006200000
Pernoites em 20061400000
Receita por turistasUS$1400 (7 dias)
Receita totalUS$280000000
Novas habitaccedilotildees ateacute 20064500
Investimento em habitaccedilotildees ateacute 2006US140 milhotildees
Outros investimentos ateacute 2006US$120 milhotildees
Novos empregos diretos ateacute 200626000
Novos empregos indiretos ateacute 200628000
FONTE Adaptado de PARAacute (2001)
Nesse sentido tais metas tornam-se fundamentais para se concretizar as
estrateacutegias espaciais que o Plano adota a fim de espacializar suas pretensotildees23
Esse conjunto de accedilotildees eacute concretizado na terceira parte do Plano (seccedilatildeo C ) onde
as propostas e objetivos do PDT-PA traduzem-se em programas de intervenccedilatildeo
espacial A seccedilatildeo programas e accedilotildees do plano estaacute estruturada de acordo com os
elementos jaacute citados atratividade produtividade gestatildeo e marketing
Como uma forma de enfatizar essas estrateacutegias o plano integra esses
elementos a partir de um graacutefico assim exposto
23 Esta ideacuteia seraacute objeto de anaacutelise no item 43 deste trabalho intitulado A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
98
Graacutefico 4 Estrateacutegias eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT PA
FONTE PARAacute (2001 p 93)
Nesta seccedilatildeo esses elementos datildeo vazatildeo aos objetivos propostos Como
elemento principal e tambeacutem norteador das accedilotildees eou estrateacutegias eacute a
competitividade nesta seccedilatildeo do Plano em especial que norteia a estrutura do
turismo no estado do Paraacute ou ainda de uma realidade possiacutevel de ser
implementada desde que as diretrizes oferecidas pelo plano sejam estabelecidas
Natildeo se deve perder de vista portanto que o quadro comparativo que se apresenta
no Plano leva em consideraccedilatildeo esses pontos especiacuteficos que o PDT-PA atraveacutes da
THR julga ser necessaacuterio para haver uma transformaccedilatildeo na realidade turiacutestica do
Estado
99
Como consequumlecircncia disso as accedilotildees estatildeo divididas nesses criteacuterios da
seguinte forma
Quadro 2 Programas e Accedilotildees Siacutentese
Programa Accedilotildees
Paraacute Atratividade
A-1 Criaccedilatildeo de Gestores e Experiecircncias Turiacutesticas A-2 Ampliaccedilatildeo e Modernizaccedilatildeo dos Meios de Hospedagem Paraenses A-3 Sinalizaccedilatildeo Turiacutestica A-4 Melhoria das Condiccedilotildees Ambientais dos Municiacutepios Turiacutesticos A-5 Embelezamento Urbano e Melhorias de Infra-estrutura A-6 Ordenaccedilatildeo Urbaniacutestica dos Municiacutepios Turiacutesticos A-7 Sistema de Padrotildees e Selos de Qualidade A-8 Paraacute Hospitalidade A-9 Postos de Informaccedilotildees Turiacutesticas A-10 Instituto Internacional de pesquisa sobre o Ecotuismo
Paraacute Produtividade
P-1 Inventaacuterio Classificaccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo dos Recursos Turiacutesticos P-2 Criaccedilatildeo de Grupos de Competitividade Locais P-3 Criaccedilatildeo de Empresas em Joint Ventures P-4 Capacitaccedilatildeo ProfissionalEmpresarial P-5 FormaccedilatildeoCapacitaccedilatildeo de Pessoal de Base P-6 Simplificaccedilatildeo do Processo de Abertura de Novas Empresas P-7 Mecanismos de Financiamentos e Estiacutemulos Fiscais P-8 Desenvolvimento Tecnoloacutegico P-9 Sistema de Reconhecimento e Premiaccedilatildeo agrave Profissionalizaccedilatildeo
Paraacute Marketing
M-1 Criaccedilatildeo de Grupos de Marketing por Produtos M-2 Criaccedilatildeo de uma Infra-estrutura de Marketing M-21 Unidades Locais de Marketing
ULM S M-22 Bases de Dados M-23 Banco de Imagens M- 24 Sistema de Inteligecircncia de Mercado M-3 Articulaccedilatildeo de um Sistema de Venda e Comunicaccedilatildeo M-31 Workshops M-32 Feiras de Promoccedilatildeo Turiacutestica M-33 Site Inspection Service M-34 Manual de Vendas M-35 Seminaacuterios de Vendas M-36 Fam Trips M-37 Material Promocional M-38 Publicidade M-39 Propaganda M-310 Web Paraacute M-311 Marketing Direto
Paraacute Gestatildeo G-1 Comissatildeo Estadual de Turismo G-2 Conselho Estadual de Turismo G-3 Sistema de Indicadores de Sustentabilidade
FONTE Adaptado de Paraacute (2001 p 95)
Eacute importante lembrar que natildeo se privilegiaraacute uma anaacutelise de todos os
elementos presentes em cada uma das accedilotildees propostas pelo Plano Poreacutem a
100
anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo das estrateacutegias espaciais e do modelo de
desenvolvimento proposto torna-se o foco principal deste trabalho a ser feita no
proacuteximo capiacutetulo Em relaccedilatildeo ao quadro apresentado pelo PDT-PA ele eacute uma
siacutentese de todas as accedilotildees planejadas e da concepccedilatildeo de turismo proposta pelo
Estado atraveacutes do Plano No desenrolar dessas accedilotildees eacute que as espacialidades se
mostram enquanto resultado de pensamentos e concepccedilotildees de espaccedilos voltados
para o turismo tornando-se dessa forma perceptiacutevel suas intenccedilotildees desejos e
usos pretendidos pelo Governo do Estado Para tanto no rol das accedilotildees (accedilatildeo A-1
por exemplo) estatildeo inseridos os objetivos o puacuteblico alvo as justificativas e as
atividades necessaacuterias para o desenvolvimento da atividade Essa estrutura entatildeo
deve ser entendida como uma ampla diretriz presente em todos os poacutelos de turismo
do Estado Neste caso a estrutura do plano com todas as subdivisotildees mostra-se
assim organizado (quadro 3 p 101)
101
Quadro 3 Quadro sinoacutetico da estrutura do plano de desenvolvimento do turismo do Paraacute (PDT PA)
FONTE Adaptado de PARAacute (2007)
A- DIAGNOacuteSTICO INTERNO DA SITUACcedilAtildeO ATUAL DO TURISMO PARAENSE
1 Os recursos turiacutesticos
2 As infra-estruturas e equipamentos baacutesicos
3 Os serviccedilos turiacutesticos 4 Os produtos turiacutesticos 5 A comercializaccedilatildeo dos
produtos turiacutesticos 6 A demanda turiacutestica 61 Anaacutelise Quantitativa
62 Anaacutelise Qualitativa
63 Os Mercados Emissores e a Posiccedilatildeo Competitiva do Paraacute
7 Organizaccedilatildeo Institucional do Turismo
- Nesta seccedilatildeo do plano a empresa contratada pelo governo do estado apresenta um amplo diagnoacutestico da situaccedilatildeo em que o turismo do Paraacute se encontra Egrave feito uma anaacutelise de acordo com padrotildees jaacute estipulados pela empresa THR como recursos serviccedilos produtos demanda e inclusive a (re)organizaccedilatildeo do oacutergatildeo de turismo do Paraacute
PARATUR Todas as seccedilotildees procuram destacar os pontos negativos em relaccedilatildeo ao crescimento da atividade no territoacuterio paraense de acordo com os poacutelos de turismo
- O diagnoacutestico feito pelo plano reduz-se ao aspecto econocircmico natildeo considerando as demais instancias da sociedade A negatividade constatada pelo documento eacute afirmada atraveacutes de dados estatiacutesticos Procura enfatizar a conceitos como precarizaccedilatildeo deficiecircncia dos produtos limitaccedilotildees entre outros sempre relacionado somente aos aspectos de mercado
B- OBJETIVOS E ESTRATEacuteGIAS
1 Objetivos 2 Estrateacutegias de
Desenvolvimento Turiacutestico 3 Plano de Comercializaccedilatildeo
20012003 4 Proposta de Estrutura
Organizativa da PARATUR
- Depois de realizar o diagnoacutestico o plano procura enfatizar quais as necessidades a serem estimuladas para que haja o desenvolvimento do turismo no Paraacute Aqui a condiccedilatildeo das estrateacutegias de mercado se sobressaem como condiccedilatildeo de transformaccedilatildeo econocircmica
- Os aspectos de mercado mais uma vez se tornam elementos bastante enfatizados a ideacuteia de competitividade torna-se norteadora das accedilotildees para o desenvolvimento do turismo Neste sentido a ideacuteia de natureza reduz-se a uma concepccedilatildeo de consumo em espaccedilos selecionados
C- PROGRAMAS E ACcedilOtildeES
1 Programa Paraacute Atratividade 2 Programa Paraacute Produtividade 3 Programa Paraacute Marketing 4 Programa Paraacute Gestatildeo
- Siacutentese das accedilotildees programadas pelo plano Essas accedilotildees devem obedecer aos programas em cada poacutelo do estado
- Mesmo seguindo uma ideacuteia de competitividade natildeo haacute uma explicaccedilatildeo mais detalhada sobre as accedilotildees e programas
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42 A concepccedilatildeo de turismo no PDT PA
Para que se possa entender a concepccedilatildeo de turismo de um Plano de
intervenccedilatildeo espacial eacute necessaacuterio fazer uma relaccedilatildeo de suas intenccedilotildees com o
tipo ou modelo de planejamento proposto pelo mesmo Quando se retrata a
ideacuteia do que seja um modelo de planejamento a ideologia ligada ao
planejamento revela-se nas entrelinhas de um documento como o PDT-PA ou
em uma dimensatildeo espacial mais concreta nas repercussotildees espaciais que satildeo
feitas atraveacutes de uma gestatildeo puacuteblica de Estado
Neste caso o fundamento principal para se saber o tipo de concepccedilatildeo
de turismo que se veicula no PDT-PA eacute a mensagem que o documento traz
consigo como nos lembra Franco (2005) Quando feita essa anaacutelise as
projeccedilotildees e ideacuteias de planejamento de turismo ressaltam-se e se ligam a uma
ideacuteia maior Desde jaacute eacute importante salientar que um Plano natildeo se faz de forma
neutra e apoliacutetica pelo contraacuterio em todo momento existem nuanccedilas
mostradas em sua leitura ou na sua execuccedilatildeo enquanto programa de
intervenccedilatildeo espacial
Hall (2001) faz uma importante retomada do conceito de planejamento
distinguumlindo-o da ideacuteia de plano Para o autor quando se faz referecircncia ao
termo planejamento a ideacuteia de poliacutetica surge como elemento fundador e
mediador de um processo Por isso que em alguns momentos essas duas
noccedilotildees aparecem como ambiacuteguas e de difiacutecil definiccedilatildeo Hall (2001) assim
escreve
O problema surge porque embora as pessoas percebam que o planejamento tem um significado mais geral tendem a se lembrar do conceito de plano como uma representaccedilatildeo fiacutesica ou graacutefica Consequumlentemente imaginam que planejamento deve incluir a preparaccedilatildeo de tal representaccedilatildeo (HALL 2001 p 24)
Revelar portanto a concepccedilatildeo de turismo no PDT-PA requer a
habilidade de saber associar a que tipo de poliacutetica puacuteblica o mesmo estaacute
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vinculado Neste caso a estrutura do plano de turismo do Paraacute jaacute se torna um
indiacutecio dessa perspectiva
Ao estruturar o plano em trecircs seccedilotildees parte A (diagnoacutestico) parte B
(objetivos) parte C (programas e accedilotildees) o plano oferece uma perspectiva
inicial de como estaacute disposto o pensamento sobre as intervenccedilotildees e ou
mudanccedilas no espaccedilo paraense Dessa forma jaacute existe uma apropriaccedilatildeo
territorial para fins gerais de planejamento dando ecircnfase agrave dimensatildeo da
atividade turiacutestica como norteador dessas mudanccedilas Neste sentido pensar o
espaccedilo eacute pensaacute-lo de forma turistificada O plano por sua vez permite esse
pensamento ainda de forma estruturada
Uma das condiccedilotildees que servem para traduzir a ideacuteia de turismo
presente no documento eacute a ecircnfase dada ao mercado Os elementos naturais
do estado neste caso apresentam-se como objetos que tecircm valores
importantes para seu consumo As belezas naturais do espaccedilo paraense como
noccedilatildeo de atrativo turiacutestico satildeo exemplos disso Neste sentido como pano de
fundo dessa associaccedilatildeo haacute por parte do PDT-PA (leia-se no caso os agentes
da elaboraccedilatildeo de forma direta e indireta - Estado e THR) a ideacuteia de que esses
espaccedilos satildeo acessiacuteveis a partir de seu valor de troca o que estimula por
assim dizer a vinda de pessoas de fora do estado com o intuito de promover a
circulaccedilatildeo do capital a partir da compra desses produtos em territoacuterio
paraense
Como justificativa atenuante da condiccedilatildeo de consumo das belezas
naturais e de sua possiacutevel degradaccedilatildeo ambiental o plano apresenta a ideacuteia de
melhoria da qualidade de vida que adveacutem por conseguinte do consumo dos
espaccedilos turistificados Tal condiccedilatildeo eacute mostrada de forma clara logo no iniacutecio
da construccedilatildeo do documento
O Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute foi contratado pelo Governo estadual visando definir estrateacutegias para que a atividade se desenvolva de forma que traga melhoria de qualidade de vida agrave populaccedilatildeo paraense Considerando a riqueza de atrativos da Amazocircnia paraense e seu grande apelo sobre mercados emissores de turistas e o crescimento dos segmentos de viagens
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voltadas agrave natureza o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito significativas para que o turismo seja importante instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
De acordo com essa condiccedilatildeo a pretensatildeo de criar espaccedilos funcionais
ou ainda voltados para a atividade turiacutestica eacute clara Nesta sequumlecircncia percebe-
se tambeacutem a imprecisatildeo do termo melhoria da qualidade de vida No
documento este eacute assunto que natildeo estaacute bem fundamentado o que deixa
lacunas quanto agrave ideacuteia O PDT-PA prefere explicar como se daacute a formataccedilatildeo do
documento os agentes importantes na construccedilatildeo do documento e as
condiccedilotildees necessaacuterias para a elaboraccedilatildeo do mesmo natildeo explicando assim a
noccedilatildeo de melhoria da qualidade de vida do povo paraense
O processo de turismo depende de um conjunto de elementos infra-estruturais que natildeo se encontram isolados no setor econocircmico de prestaccedilatildeo de serviccedilos Assim o seu planejamento setorial deve se integrar ao sistema de planejamento global do Estado Portanto para a elaboraccedilatildeo do Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute a equipe teacutecnica de trabalho tomou por base os investimentos anteriores feitos pelo Governo em termos de planejamento Com esta premissa o Projeto Beija-Flor foi o ponto de partida a partir do qual o Plano de Desenvolvimento foi estruturado (PARAacute 2001 p 5)
A preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade de vida eacute suplantada pela
questatildeo mais impactante referente ao modo de desenvolver ou fazer crescer a
atividade turiacutestica Por conseguinte a noccedilatildeo da melhoria da qualidade de vida
adquire um outro sentido ou seja aquele onde a populaccedilatildeo paraense soacute
poderia alcanccedilar qualidade de vida dentro dos paracircmetros aqui propostos pelo
PDT-PA
Sobre a relaccedilatildeo entre o turismo e a natureza o plano demonstra assim
o interesse pelo o ecoturismo na Amazocircnia especialmente no Paraacute O Estado
e iniciativa privada mostram-se agentes importantes quanto ao fomento desse
segmento de turismo principalmente porque o mesmo mostra-se uma
alternativa aos modelos de turismo do tipo sol e praia o que levado em
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consideraccedilatildeo a peculiaridade da floresta tropical esse segmento teria uma
relaccedilatildeo proacutespera com a realidade natural do estado A divulgaccedilatildeo dessa
modalidade de turismo eacute muito comum nas revistas especializadas o que torna
o ecoturismo uma espeacutecie de moda como lembra Coelho (1999) Essas
revistas mostram atraveacutes das imagens a imponecircncia da natureza com pouca
interferecircncia humana utilizando-se portanto de imagens residuais de
Paraiacutesos Eldorados ou Santuaacuterios ecoloacutegicos em diferentes partes do mundo
(COELHO 1999 p 66) Nestes termos a sobrepujanccedila da natureza em
relaccedilatildeo ao homem eacute evidente Este uacuteltimo torna-se uma condiccedilatildeo de elemento
que quase natildeo se representa com a mesma intensidade que haacute nas imagens
Neste caso os interesses do turismo vecircm agrave tona em detrimento de uma
sociedade local No plano essa ideacuteia se materializa na concepccedilatildeo de turismo
(ecoturismo) voltado para a regiatildeo (poacutelo) do Marajoacute
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugados As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Portanto relaccedilatildeo homem (sociedade) e natureza no PDT-PA teorizada
haacute pouco natildeo se difere por completo Natureza aqui ganha um sentido de
valor de troca (capitalista diga-se de passagem) restando ao homem
amazocircnico (mais especificamente paraense) a ideacuteia de que a exploraccedilatildeo
racional dos atrativos naturais do estado paraense pode trazer melhorias de
qualidade de vida O homem em questatildeo deixa de ser problematizado
enquanto sujeito principal no entendimento do que seja natureza para dar
lugar a uma estrutura ainda maior que eacute a loacutegica global dos fluxos turiacutesticos
Revela-se neste ponto do plano de turismo do Estado uma realidade que
desloca o homem amazocircnico da accedilatildeo da construccedilatildeo de seu espaccedilo
Coelho (1999) ainda salienta a ideacuteia da apropriaccedilatildeo do discurso
ecoloacutegico ou em outros termos do discurso da natureza como sendo uma
ferramenta de persuasatildeo para aqueles que estejam interessados em visitar o
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atrativo turiacutestico Amazocircnico (em destaque para o paraense) Tal praacutetica eacute feita
de forma especiacutefica no plano de turismo do estado quando o mesmo apresenta
a natureza da floresta amazocircnica como o diferencial na conquista de novos
mercados de turismo tanto em acircmbito nacional como internacional
Para o PDT-PA a PARATUR viabiliza outras ferramentas de promoccedilatildeo
das belezas do Estado mostrando atraveacutes de revistas especializadas em
turismo folders cartazes entre outros Essas ferramentas ajudam a consolidar
o processo de divulgaccedilatildeo do Estado como uma seara a ser explorada pelas
atividades turiacutesticas Coelho (1999) nos daacute um exemplo desse tipo de
propaganda feita
Natildeo haacute lugar nenhum no mundo com o potencial turiacutestico da Amazocircnia Mas haacute um lugar na Amazocircnia que aleacutem desse potencial ainda oferece incentivos aos empresaacuterios para que eles invistam no seu negoacutecio o Estado do Paraacute O Governo do Paraacute estaacute querendo tanto ter a sua empresa no Estado que estaacute concedendo incentivos fiscais incentivos financeiros incentivos de caraacuteter infra-estrutural e compensaccedilatildeo de incentivos privados na realizaccedilatildeo de obras de infra-estrutura puacuteblica para a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos no territoacuterio paraense Alguns poucos exemplo de muitas vantagens que a empresa leva indo para o Paraacute empreacutestimo em valor correspondente a ateacute 75 do ICMS para pagamento em 10 anos Incentivos fiscais poacute 5 anos Isto eacute de lei Lei n 5943 Agora o que natildeo estaacute na lei nem precisa eacute o mundo intenso de oportunidades de negoacutecios que a Amazocircnia paraense oferece aos empreendedores interessados em desafios e principalmente em novos negoacutecios lucrativos (PARAacute apud COELHO 1999 p 67)
Especificamente no plano essa condiccedilatildeo de oferta de um produto
turiacutestico concretiza-se a partir da concepccedilatildeo de marketing defendida pelo
documento Elementos como eficaacutecia capacidade vantagens competiccedilatildeo
ampliam o universo ao posicionar o territoacuterio paraense como o proacuteprio produto
turiacutestico A intenccedilatildeo portanto eacute de uma conversatildeo espacial abrangente para o
mercado Neste sentido o plano define a ideacuteia de marketing da seguinte forma
O MARKETING determinaraacute a capacidade do destino para se adaptar agrave demanda vender com eficaacutecia fidelizar clientes e
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identificar permanentemente novas fontes de vantagens competitivas (PARAacute 2001 p 55)
No tocante agrave qualidade de vida defendida pelo PDT-PA o documento
deixa clara a condiccedilatildeo de crescimento como necessaacuteria para obtenccedilatildeo da
qualidade de vida Segundo o plano esta ideacuteia deve estar associada agrave
pretensatildeo de converter o estado em um destino turiacutestico onde seus reflexos
(PARAacute 2001) eacute que repercutem na qualidade de vida do povo paraense Tais
reflexos segundo o plano associam-se agrave maximizaccedilatildeo do fluxo de turistas no
territoacuterio paraense Contudo o plano natildeo deixa claro como esses reflexos
seratildeo transformados em melhorias para a populaccedilatildeo Nisso o documento
afirma a necessidade de permanecircncia dos turistas
O incremento da renda do turismo poderaacute ser alcanccedilado tambeacutem pelo aumento da permanecircncia dos turistas que jaacute visitam o Paraacute Ao ser oferecida maior variedade de produtos e produtos de melhor qualidade a permanecircncia meacutedia do turista se amplia e consequumlentemente seu niacutevel de gastos se aumenta (PARAacute 2001 p 56)
Souza (1997 2000 2002 2004) amplia a discussatildeo sobre a importacircncia
da qualidade de vida pra que haja em uma dimensatildeo maior a justiccedila social o
que no plano reduz-se agrave questatildeo do incremento ou crescimento do mercado
Para o autor a qualidade de vida por muito tempo sempre foi vista ou
apreciada de forma acriacutetica possibilitando assim uma visatildeo uacutenica de que uma
sociedade soacute a consegue atraveacutes de conquistas ou soma de bens materiais
Para o autor tratar de qualidade de vida dentro dos programas de
desenvolvimento assim como de planos de desenvolvimento eacute natildeo deixar de
lado a questatildeo de justiccedila social Juntas essas duas dimensotildees quando bem
efetivadas a partir de uma gestatildeo comprometida com o social garantem um
mudanccedila social positiva E nesse sentido a espacialidade da sociedade
envolvida no processo deve ser levada em consideraccedilatildeo O espaccedilo para
qualquer efeito de mudanccedila eacute a arena referencial simboacutelicoidentitaacuterio e
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condicionador (SOUZA 2004 p 61) Quando negligenciado ou ateacute mesmo
distorcido de interesses sociais claros pode ser alvo de um economicismo ou
na apreciaccedilatildeo do termo pode sofrer de um reducionismo Como siacutentese o
autor em questatildeo argumenta No que tange agrave melhoria da qualidade de vida
ela corresponde agrave crescente satisfaccedilatildeo das necessidades - tanto baacutesicas
quanto natildeo baacutesicas tanto materiais quanto imateriais - de uma parcela cada
vez maior da populaccedilatildeo (SOUZA 2004 p 62)
Esta condiccedilatildeo defendida por Souza (2004) revela que a ideacuteia de justiccedila
social natildeo pode ser percebida de forma homogecircnea ter visatildeo uacutenica Neste
caso Souza (2004) se baseia em uma concepccedilatildeo aristoteacutelica de que justiccedila eacute
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual (HELLER apud
SOUZA 2004)
Eacute a partir dessa situaccedilatildeo que a ideacuteia de qualidade de vida construiacuteda
pelo PDT-PA natildeo considera a diversidade da sociedade local paraense O que
de fato se vecirc eacute que por conta de uma intensidade de fluxos e geraccedilotildees de
conquistas materiais o turismo traria a possibilidade de melhorar a vida do
paraense O turismo neste caso em especial eacute visto como uma soluccedilatildeo para
uma possiacutevel deficiecircncia ou inadequaccedilatildeo que a sociedade local estaria vivendo
no presente Portanto o Estado atraveacutes do plano deposita essa condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida por meio da expansatildeo do turismo
Ainda sobre a qualidade de vida o plano natildeo faz distinccedilatildeo do termo
generalizando-o e condicionando-o ao crescimento da atividade turiacutestica Isso
ainda eacute confirmado ainda pela ideacuteia de sustentabilidade que em termos gerais
tambeacutem eacute exposta pelo documento Neste caso o proacuteprio plano natildeo especifica
que tipo de sustentabilidade pretende confirmar com o ordenamento territorial
que eacute proposto Por outro lado essa condiccedilatildeo eacute somente citada como uma
pseudo-forma de afirmar uma espeacutecie de retorno social a partir da concepccedilatildeo
de turismo que eacute defendida pelo PDT-PA
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente
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se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Nesse sentido essas questotildees que surgem por completo no documento
indicam uma tomada do turismo por parte do Estado a fim de tornaacute-lo viaacutevel o
que se confirma com a elaboraccedilatildeo do PDT-PA Apesar de Nicolaacutes (2001)
afirmar a ideacuteia de que turismo antes de ser uma praacutetica econocircmica eacute acima de
tudo uma praacutetica social as atividades geradas pela construccedilatildeo do plano de
turismo evidenciam uma perspectiva de cunho econocircmico tendo a sociedade
um lugar secundarizado nas concepccedilotildees de turismo por parte do Estado Para
o autor por exemplo
En esta liacutenea por el contrario postulamos que el turismo es antes que todo una praacutectica social colectiva que integra mecanismos distintos de relacioacuten al espacio a la identidad y al Otro Por ende maacutes que una actividad econoacutemica el turismo es una praacutectica generadora de actividad econoacutemica en la misma forma que la religioacuten el deporte o la guerra (NICOLAacuteS 2001 p 40)
O plano por sua vez prefere dar condiccedilatildeo ao mercado como elemento
capaz de transformar uma realidade social Deixando por sua vez o consumo
como principal norteador dessa condiccedilatildeo Assim o plano continua
Da mesma forma a busca de segmentos de demanda com outras expectativas de consumo de produtos com maior valor agregado pode contribuir para que o gasto se amplie e consequumlentemente a renda derivada do turismo (PARAacute 2001 p 56)
O turismo defendido pelo plano ainda expotildee outros elementos
importantes que ampliam a ideacuteia de consumo No tocante agraves manifestaccedilotildees
culturais o PDT-PA eacute expliacutecito ao defender a condiccedilatildeo da cultura como recurso
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a ser apropriado pelo Estado e em seguida fomentado para que haja uma
maior atraccedilatildeo de pessoas Manifestaccedilotildees soacutecio-culturais histoacutericas como Ciacuterio
de Nazareacute (este acontecendo no poacutelo Beleacutem) e o Ccedilaireacute (no poacutelo Tapajoacutes)
reduzem-se agrave condiccedilatildeo do exoacutetico do diferente e por isso mesmo recebem o
status de potencial turiacutestico Neste sentido a atenccedilatildeo dada pelo documento
tem o intuito de dar uma outra feiccedilatildeo referente ao mercado fazendo com que
as manifestaccedilotildees histoacutericas da sociedade paraense reduzam-se a esta
dimensatildeo A ideacuteia de natureza para o plano tambeacutem natildeo se diferencia dessa
condiccedilatildeo Ainda mais os espaccedilos com potencial turiacutestico satildeo assim
caracterizados por uma relaccedilatildeo de troca No que se referem alguns aspectos
da cultura paraense e agrave ideacuteia de natureza o plano caracteriza-os da seguinte
forma
O Paraacute conta com recursos de base de indubitaacutevel valor e de grande potencial desde recursos naturais (rios ilhas lagos praias floresta amazocircnica flora e fauna etc) ateacute recursos culturais (patrimocircnio histoacuterico artiacutestico e monumental numerosas etnias indiacutegenas e quilombos artesanato folclore) e manifestaccedilotildees culturais vivas de grande notoriedade como eacute o caso do Ciacuterio de Nazareacute e do Ccedilaireacute (PARAacute 2001 p 11)
Eacute neste sentido que Hall (2001) diz que a construccedilatildeo de uma poliacutetica
puacuteblica antes de tudo requer um conjunto de valores crenccedilas ideologias ou
visatildeo de sociedade Por isso ela deve ser sempre encarada de acordo com um
ambiente poliacutetico O que faz com que a atividade turiacutestica sendo ela uma
atividade de cunho social natildeo fuja dessas caracteriacutesticas citadas Neste ponto
conceber um tipo de turismo eacute por em praacutetica um tipo de poliacutetica puacuteblica que
envolve esses valores No PDT-PA as caracteriacutesticas de mercado se fazem
presentes principalmente quando se tenta transformar o territoacuterio paraense
como espaccedilo importante para fluxos econocircmicos mundiais Esta constataccedilatildeo
pode ser percebida nas intencionalidades que o plano revela como mostra uma
das figuras de reordenamento espacial proposto pelo documento
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Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
FONTE PARAacute (2001 p 68)
No que se refere agrave concepccedilatildeo de turismo interessante notar que o
plano em nenhum momento define explicitamente o que seja turismo
deixando assim uma lacuna quanto a esta ideacuteia Contudo em suas linhas o
documento opta por apresentar caracteriacutesticas peculiares agrave concepccedilatildeo de
mercado muito usual do chamado turismo de massa
A forma como o PDT-PA estaacute estruturado eacute reflexo da pretensatildeo de se
pensar o espaccedilo paraense como um todo voltado para o trade Palavras como
demanda oferta turiacutestica potencialidade objetivo de negoacutecios objetivos de
crescimento fazem com que o universo do documento se circunscreva a ideacuteia
de crescimento da atividade turiacutestica
Comentaacuterio Diferentemente de um conviacutevio mais proacuteximo das realidades locais o resort oferece (como o proacuteprio nome em inglecircs sugere) um refuacutegio ao turista ao chegar a esses lugares A ideacuteia eacute que estes lugares standartizados oferecem tranquumlilidade distacircncia do tumulto que as cidades grandes apresentam no dia-a-dia
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Sua fundamentaccedilatildeo teoacuterica se encontra diluiacuteda em propostas que visam
a entrada de mais turistas para que assim exista transformaccedilatildeo da realidade
paraense Por isso a necessidade de se fazer divisotildees em seccedilotildees que tecircm
como meta o incremento de valores de mercado Do diagnoacutestico (primeira parte
do plano) aos seus objetivos (segunda parte do plano) o documento estaacute
voltado para uma maior abertura e expansatildeo da atividade turiacutestica o que cria
uma expectativa de controle dos espaccedilos e das pessoas para melhor atender agrave
atividade do turismo Mesmo natildeo definindo seu conceito de turismo tais
caracteriacutesticas apontam para uma ideacuteia de reproduccedilatildeo ampliada do capital
O que Carlos (2002) entende da seguinte forma
A induacutestria turiacutestica reforccedila a hierarquia social produzindo espaccedilos diferenciados exclusivos fechados A caracteriacutestica do espaccedilo produzido eacute a do homogecircneo altamente excludente com ausecircncia de identidade O lugar eacute apenas o que pode ser visto fotografado e depois esquecido (CARLOS 2002 p 32)
Neste sentido quando o plano afirma ser importante a maximizaccedilatildeo da
ampliaccedilatildeo de turistas (PARAacute 2001) percebe-se que a loacutegica de crescimento e
ampliaccedilatildeo de pessoas que vecircm ao estado com o intuito do consumo torna-se
beneacutefica para uma transformaccedilatildeo de uma realidade paraense utilizando-se
para tanto estrateacutegias de modificaccedilotildees e alteraccedilotildees do territoacuterio ou ainda
estrateacutegias espaciais Tema a ser abordado na proacutexima seccedilatildeo
43 A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
Uma anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo que um governo carrega natildeo se
limita agraves suas ideacuteias eacute necessaacuterio espacializaacute-las ou seja dar um formato
concreto ou ainda espacial ao conjunto de formulaccedilotildees por quais passam os
planejamentos voltados para o desenvolvimento da atividade Sendo assim
torna-se difiacutecil pensar a loacutegicas das ideacuteias que datildeo vez ao fenocircmeno do turismo
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sem associaacute-las a uma loacutegica espacial O PDT-PA articula as ideacuteias de modo a
pensaacute-las de acordo com um tipo de espaccedilo tambeacutem concebido em forma de
planejamento mas que todavia natildeo se torna distante de ser efetivado visto
que a construccedilatildeo de um plano de desenvolvimento do tipo do PDT-PA passa
pelas matildeos do Estado para que seja construiacutedo
Santos (2002) ao afirmar que o espaccedilo eacute um conjunto indissociaacutevel
solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio entre sistemas de objetos e sistemas de
accedilotildees daacute razatildeo agrave unicidade entre o tempo e o espaccedilo no qual se pode
perceber a uniatildeo por completo entre o homem e o meio Caracteriza-se assim
uma ideacuteia de totalidade que haacute no espaccedilo Mediante essa situaccedilatildeo em relaccedilatildeo
agrave praacutetica turiacutestica sua espacialidade requer uma dimensatildeo totalizante entre
objetos e accedilotildees que condizem a uma maior movimentaccedilatildeo da atividade
turiacutestica pelo espaccedilo
Neste sentido a ideacuteia de uma espacializaccedilatildeo do turismo remete-se a
uma imbricada relaccedilatildeo que haacute entre a atividade turiacutestica e o seu
reordenamento espacial o que se perceber tambeacutem um constante
reordenamento do territoacuterio onde a praacutetica do turismo necessita se espacializar
Cruz (2001) por exemplo quando fala em reordenamento dos territoacuterios afirma
que a ideacuteia do consumo dos espaccedilos pelo turismo e sua produccedilatildeo de territoacuterios
deve ser um fator de mediaccedilatildeo nesse processo
Tal condiccedilatildeo eacute tambeacutem fator importante para se visualizar a
espacializaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de turismo que se datildeo no espaccedilo a fim
de mostrar o processo de articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees e suas
materializaccedilotildees Neste caso cabe pensar o papel do Estado na tomada de
decisotildees sobre os reordenamentos espaciais
Hall (2001) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o
Governo Segundo o autor o turismo jaacute se tornou parte integrante da maacutequina
administrativa Neste caso a poliacutetica puacuteblica para o turismo eacute tudo que o
governo decide fazer ou natildeo com relaccedilatildeo ao setor (HALL 2001 p 26) Poreacutem
a descrenccedila na poliacutetica governamental faz com que o setor ofereccedila mais erros
do que acertos nas tomadas de decisotildees o que desestabiliza o setor de uma
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forma geral E neste campo inserem-se as formas de reordenamento espacial
a partir de uma loacutegica do turismo na qual a mesma eacute a que impotildee o ritmo de
mudanccedila nos lugares
Levando-se nem consideraccedilatildeo a realidade paraense tanto de
planejamento como de gestatildeo o PDT-PA oferece um conjunto de estrateacutegias
materializadas nos lugares selecionados pela empresa responsaacutevel pela
elaboraccedilatildeo do plano em conjunto com a esfera estatal Tais lugares agregam
valor de mercado importante para o incremento da atividade e que dizem
respeito agraves ideacuteias pensadas sobre o turismo Neste conjunto de estrateacutegias
definidas as informaccedilotildees satildeo bem articuladas possibilitando assim perceber
como a atividade turiacutestica deve proceder no espaccedilo Com isso o plano entende
de uma forma geral que as estrateacutegias de turismo devem ser concentradas a
partir da estrutura feita em poacutelos de desenvolvimento Tal consideraccedilatildeo foi feita
a partir do projeto Beija-Flor24 que elegeu cidades do estado do Paraacute que
reunissem algum tipo de infra-estrutura necessaacuteria para estabelecer bases de
sustentaccedilatildeo do desenvolvimento do turismo Os poacutelos recebem os nomes das
regiotildees onde se inserem a saber Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes
AraguaiaTocantins e Xingu Segundo as proacuteprias palavras do plano
Com base nestes seis poacutelos cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivo agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5)
24 O projeto Beija-Flor eacute um estudo feito antes da consolidaccedilatildeo do PDT-PA Foi uma estrateacutegia pensada no governo Almir Gabriel para articular a construccedilatildeo do plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute A partir desse estudo eacute que as definiccedilotildees para a escolha dos poacutelos foram definidas conforme feito no PDT-PA
115
A partir dessa estrutura eacute que se pretende alcanccedilar as metas
pretendidas pelo Governo Feita em poacutelos torna-se constante e por isso
mesmo reflete uma reordenaccedilatildeo do territoacuterio paraense em grande intensidade
de forma a garantir a maior fluidez da atividade turiacutestica Cada poacutelo mostra uma
qualidade referente a um produto o grau de estruturaccedilatildeo seu formato e
principalmente a expectativa de um mercado consumidor (PARAacute 2001) Estes
elementos somados garantem a viabilidade dos poacutelos de turismo no estado
O reordenamento do espaccedilo eacute assegurado assim a partir de uma expectativa
do consumo do espaccedilo o que facilita o maior incremento de um sistema de
objetos (SANTOS 2002) criando uma maior dinacircmica espacial O mapa da
paacutegina posterior mostra a divisatildeo e a identificaccedilatildeo dos espaccedilos (sedes dos
poacutelos) turiacutesticos no Paraacute
116
MAPA 1 Sede dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
117
Neste caso deve-se perceber que o funcionamento da teoria dos poacutelos
obedece a uma loacutegica de totalidade do espaccedilo onde esse mesmo eacute concebido
a partir da atividade turiacutestica Como o proacuteprio plano ressalta considerar as
cidades ou sedes-poacutelos como o lugar de irradiaccedilatildeo do crescimento da atividade
turiacutestica eacute dar vazatildeo ao processo de espacializaccedilatildeo do fenocircmeno Natildeo satildeo
todas as cidades que conteacutem os recursos ou infra-estruturas necessaacuterias para
o bom andamento da atividade mas as cidades que jaacute possuem certa condiccedilatildeo
antecipatoacuteria para a dinamizaccedilatildeo do poacutelo polarizando assim a atividade
Uma outra questatildeo importante que deve ser levada em consideraccedilatildeo eacute
que esse tipo de espacializaccedilatildeo ou ordenamento territorial feito no estado estaacute
baseado em uma concepccedilatildeo de espaccedilo a de poacutelos de crescimento
Perroux (1967) mostra que a ideacuteia do poacutelo eacute uma forma de entender que
natildeo eacute o espaccedilo em sua totalidade necessaacuterio para o avanccedilo de uma empresa
ou setor da economia mas sim alguns espaccedilos que jaacute demandam uma
antecipaccedilatildeo ou como dito outrora que jaacute tecircm uma infra-estrutura
Para Perroux (1967) o espaccedilo sempre mereceu uma leitura muito
teacutecnica e menos precisa do que o tempo (PERROUX 1967 p 147) Neste
caso o interesse eacute perceber que o espaccedilo tem uma funccedilatildeo econocircmica e que
pode facilitar os fluxos econocircmico-industriais (BREITBACH 1988 ANDRADE
1977) A concepccedilatildeo de espaccedilo para Perroux (1967) eacute portanto econocircmica
Neste sentido a funccedilatildeo dos poacutelos de crescimento eacute a de possibilitar o aumento
da economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo deprimida (PERROUX 1967)
Para entender a transformaccedilatildeo dessa ideacuteia diretamente no espaccedilo o
autor faz uma comparaccedilatildeo da ideacuteia de crescimento com o surgimento e relaccedilatildeo
da induacutestria com o espaccedilo Para o autor um dos aspectos da estrutura de uma
economia de Estado-Naccedilatildeo eacute
A propagaccedilatildeo do crescimento duma induacutestria (ou grupos de induacutestrias) O aparecimento duma induacutestria nova ou o crescimento duma induacutestria existente propagam-se por intermeacutedio dos preccedilos fluxos antecipaccedilotildees No decurso de periacuteodos mais longos os
118
produtos duma induacutestria ou grupos de induacutestrias profundamente transformados e por vezes dificilmente reconheciacuteveis em comparaccedilatildeo com seu esboccedilo inicial possibilitam novas invenccedilotildees que datildeo origem a novas induacutestrias (PERROUX 1967 p 164)
A partir dessa estrutura pode-se perceber uma aproximaccedilatildeo com a ideacuteia
de poacutelos de turismo O PDT-PA assimila a condiccedilatildeo de que a presenccedila de um
aparato tecnoloacutegico voltado para turismo deve estar presente em uma sede ou
cidade - sede A partir dessa configuraccedilatildeo espacial as atividades iratildeo se
desenvolver em formas de ondas concecircntricas possibilitando uma irradiaccedilatildeo
do crescimento em aacutereas proacuteximas ao poacutelo ou sede Em comparaccedilatildeo com a
ideacuteia de Perroux (1967) as induacutestrias na verdade satildeo o fio condutor desse
crescimento Poreacutem no que diz respeito agraves accedilotildees do Estado para o fomento do
turismo a intenccedilatildeo eacute promover uma entrada ainda maior de empresas que
estejam interessadas em investir no setor Dessa forma gradativamente o
universo das empresas no ramo do turismo aumentaraacute provocando segundo a
ideacuteia do plano um crescimento das divisas geradas a partir do fluxo intenso
das atividades Neste sentido Perroux (1967) ainda afirma que
O fato rudimentar mais consistente eacute este o crescimento natildeo surge em toda a parte ao mesmo tempo manifesta-se com intensidades variaacuteveis em pontos ou poacutelos de crescimento propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos finais variaacuteveis no conjunto da economia (PERROUX 1967 p 164)
O autor ainda conclui afirmando
Examinar esta modalidade de crescimento eacute tornar expliacutecita e susceptiacutevel de tratamento cientiacutefico uma perspectiva jaacute patente em vaacuterios trabalhos de elaboraccedilatildeo teoacuterica imposta pela observaccedilatildeo dos paiacuteses de crescimento retardado manifesta na poliacutetica dos Estados modernos (PERROUX 1967 p 165)
119
Jaacute o plano entende a importacircncia da estruturaccedilatildeo dos poacutelos a partir de
espaccedilos selecionados pelo Governo do Estado Estes satildeo os lugares do
territoacuterio paraense que reuacutenem melhores condiccedilotildees de se desenvolver o
sistema turiacutestico Segundo o plano
Com base nestes seis poacutelos [Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes AraguiaTocantins e Xingu] cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivos agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5 grifo nosso)
O lugar que Perroux (1967) daacute agrave empresa motriz do ponto de vista
espacial pode ser entendido no plano de turismo do Estado como sendo as
regiotildees que o documento apresenta como regiotildees ou poacutelos que possibilitam o
crescimento do turismo No que se refere agrave espacializaccedilatildeo do turismo no Paraacute
a divisatildeo dos poacutelos estaacute situada em uma noccedilatildeo de regionalizaccedilatildeo das accedilotildees do
turismo colocando em evidecircncia as riquezas naturais que cada uma delas tecircm
Neste caso a teoria de Perroux (1967) se faz presente nas estrateacutegias
espaciais do PDT-PA
Cada poacutelo de turismo tem uma praacutetica diferente que corresponde a sua
peculiaridade enquanto produto turiacutestico a ser promovido para as operadoras
de turismo
No poacutelo Beleacutem por exemplo a estrateacutegia espacial desse tipo de poacutelo eacute
levar em consideraccedilatildeo a histoacuteria que a capital Beleacutem em convergecircncia com
muitos tipos culturais que acontecem nas cidades proacuteximas No plano existe
120
um quadro de posicionamento das maiores demandas das atividades culturais
ou naturais que estatildeo relacionadas com as escalas domeacutestica nacional ou
internacional As informaccedilotildees demonstram na verdade onde o poder puacuteblico
pode incentivar com maior rapidez o tipo de praacutetica turiacutestica que ocorre em
cada poacutelo Assim pretende-se cercar em todos os lugares as possibilidades de
arranco para o incremento do turismo
Quadro 4 Estrateacutegias de produtomercado poacutelo de Beleacutem
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico
Regional Nacional Internacional
Estadas curtas
Estadas longas
Eventos
Cruzeiros
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
Como se pode perceber os mercados geograacuteficos (domeacutestico regional
nacional e internacional) satildeo associados aos tipos de negoacutecios de turismo
que possibilitam um processo de alimentaccedilatildeo do capital Nesta perspectiva o
turismo no Poacutelo Beleacutem tem uma funcionalidade que o distingue dos demais
Como a cidade eacute a principal entrada para os maiores fluxos de pessoas e de
produtos que chegam do restante do paiacutes e do mundo essa eacute a forma pela
qual o plano tem a oferecer ao turista quando chega agrave cidade Neste caso
como Beleacutem tem a finalidade de sediar o seu proacuteprio poacutelo as demais cidades
que se localizam agraves suas proximidades participam dessa loacutegica de expansatildeo
FONTE PARAacute (2001 p 58)
121
das atividades do turismo Ainda mais porque eacute a partir de Beleacutem que a
dimensatildeo espacial do poacutelo ganha efeitos territoriais no estado todo
Cada poacutelo em especial eacute marcado pelo que o plano chama de
estrateacutegias de posicionamento Estas tecircm a funccedilatildeo de apresentar de forma
sucinta o que cada poacutelo tem a oferecer de acordo com as modalidades Sendo
assim o poacutelo Beleacutem apresenta as seguintes estrateacutegias
Quadro 5 Estrateacutegias de posicionamento do poacutelo Beleacutem
Global A entrada a um mundo fascinante
Estadas Curtas
A maior concentraccedilatildeo de experiecircncias no menor tempo
Estadas longas Um mundo a ser descoberto
Eventos As forccedilas da natureza
Reuniotildees Trabalhando no jardim
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 59)
De forma geral a apresentaccedilatildeo feita pelo plano no que diz respeito agraves
estrateacutegias de posicionamento satildeo elementos oferecidos na forma da
propaganda feita para esses setores do turismo Percebe-se tambeacutem uma
pretensatildeo de fazer um marketing do estado do Paraacute nas mais diversas escalas
122
sendo estas ligadas agraves demandas especiacuteficas que se interessam pelo tipo de
turismo praticado Com isso a ideacuteia eacute intensificar esses procedimentos fazendo
com que no final do processo se alcance a totalizaccedilatildeo do espaccedilo Portanto
levando em consideraccedilatildeo esses princiacutepios a criaccedilatildeo do poacutelo torna-se uma
ferramenta fundamental
No que diz respeito ao poacutelo Costa Atlacircntica a peculiaridade natural do
sol e praia eacute um dos principais atrativos a serem destacados no estado
Poreacutem como mesmo atesta o plano as outras modalidades de turismo a
serem praticadas neste poacutelo podem ser bem desenvolvidas desde que haja um
fomento necessaacuterio por parte do Estado
Para o poacutelo Costa Atlacircntica os mercados domeacutestico e regional se
destacam nesse processo de turistificaccedilatildeo dos lugares Os mercados nacional
e internacional ficam deslocados em relaccedilatildeo a essas demandas especiacuteficas A
abrangecircncia espacial torna-se mais limitada tanto do ponto de vista dos
mercados como do ponto de vista espacial O quadro abaixo sintetiza as accedilotildees
pretendidas pelo Governo do Estado no que diz respeito ao poacutelo Costa
Atlacircntica
Quadro 6 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Costa Atlacircntica
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional Nacional Internacional
Sol e Praia
Eventos
Reuniotildees
Esportes Aquaacuteticos
Melhor Idade
Pesca Esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 59)
123
Os mercados geograacuteficos de sol e praia no poacutelo Costa Atlacircntica satildeo
mais fortes em cidades como Salinoacutepolis e Marapanim Estas cidades
representam em parte a estrateacutegia de reunir os artifiacutecios necessaacuterios para
atrair turistas para esta regiatildeo Neste caso o plano de turismo do estado
apropria-se das peculiaridades regionais deste poacutelo para ressaltar a
importacircncia de ter a cultura como elemento atrativo para turistas Essa ideacuteia eacute
expressa nas estrateacutegias de posicionamento que o plano descreve enquanto
documento
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica
Sol e Praia Centro de Feacuterias de muacuteltiplas atividades enfocadas no recurso praia de mar divertido e adequado para famiacutelias com crianccedilas
Eventos O reino do Carimbo
Melhor idade A vida tranquumlila agrave beira-mar
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 p 59)
O poacutelo Marajoacute eacute um dos mais importantes quanto ao fomento da
atividade turiacutestica Neste poacutelo segundo o PDT-PA a modalidade do ecoturismo
torna-se um fator de identidade com o mercado nacional principalmente As
accedilotildees a serem desenvolvidas nessa aacuterea privilegiam um contato com a
natureza Os trajetos planejados pelas operadoras seguem uma loacutegica
racionalizada de conhecer os espaccedilos da regiatildeo do Marajoacute Nesse sentido o
incremento agraves atividades turiacutesticas ligadas a esse setor satildeo mais presentes
com o intuito de chamar a atenccedilatildeo de um segmento diferenciado Com a
perspectiva do ecoturismo a identidade de uma Amazocircnia paraense vem agrave
tona como um dos princiacutepios norteadores do crescimento do turismo No
124
tocante ao ecoturismo Rocha (2002) mostra que este uacuteltimo eacute um segmento
que tem notoacuteria expansatildeo e nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas de turismo
tendem a privilegiar tais modalidades a fim de estabelecer formas de geraccedilatildeo
de desenvolvimento O quadro abaixo mostra como o PDT-PA relaciona os
principais atrativos de turismo no poacutelo Marajoacute dando destaque ao ecoturismo
enquanto um mercado que tem uma ecircnfase em escala nacional
Quadro 8 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Marajoacute
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 60)
O comentaacuterio acerca do ecoturismo nesse poacutelo assim se define
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugadas As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Mercados geograacuteficos
NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo rural
Cultural
Praias
Turismo educacional
Melhor Idade
125
Tal situaccedilatildeo ainda eacute reforccedilada pela estrateacutegia de posicionamento
presente no documento que afirma ser necessaacuterio dar um conteuacutedo positivo agrave
percepccedilatildeo do Marajoacute (PARAacute 2001 p 61)
No que se refere ao poacutelo AraguaiaTocantins as estrateacutegias espaciais
pensadas pelo documento satildeo afirmadas como negoacuteciosmercados (PARAacute
2001) o que de certa forma faz com que as mesmas se diferenciem quanto agrave
sua especificidade e capacidade de atuar nos mercados regional nacional e
internacional tendo como escopo a competitividade O quadro abaixo
evidencia esta realidade
Quadro 9 Estrateacutegias de produto mercado do AraguaiaTocantins
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional
Nacional
Internacional
Pesca Esportiva
Reuniotildeeseventos
Atividades ecoturiacutesticas
Atividades aquaacuteticas
Sol e praia
Turismo Industrial
Turismo Educacional
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 62)
Outro poacutelo presente nas estrateacutegias espaciais do plano eacute o Tapajoacutes
Segundo o documento o poacutelo Tapajoacutes tem uma grande perspectiva para o
segmento turismo ecoloacutegico (PARAacute 2001) Tendo como sede a cidade de
Santareacutem o poacutelo Tapajoacutes segundo o plano tambeacutem tem a facilidade de
incrementar a pesca esportiva Suas prioridades neste caso concentram-se
126
mais nos mercados nacional e internacional para este segmento conforme
mostra o quadro
Quadro 10 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Tapajoacutes
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico Regional Nacional
Internacional
Ecoturismo (viagens de interesse especial viagens de aventura)
Pesca esportiva
Cruzeiros fluviais
Esportes acuaacuteticos
Turismo eacutetnico-raiacutezes
Sol e praia
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 63)
Por fim o poacutelo Xingu mostra uma peculiaridade voltada para o
ecoturismo que na anaacutelise do documento eacute o poacutelo que mais reuacutene condiccedilotildees
de atratividade turiacutestica por conta de seus valores naturais Segundo o plano
() O Poacutelo Xingu que contempla rios fauna e flora conjugados eacute perfeito para o ecoturismo As particularidades deste grandioso cenaacuterio fazem com que este seja o entorno ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 64)
127
Neste sentido o PDT-PA organiza suas estrateacutegias espaciais para o
poacutelo da seguinte forma
Quadro 11 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Xingu
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo de aventuras
Turismo de interesse especial
Pesca esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 64)
Os poacutelos presentes nessa loacutegica do plano apresentam assim a ideacuteia de
uma racionalizaccedilatildeo do espaccedilo paraense Essa perspectiva julga a natureza
como um recurso em funccedilatildeo da atividade turiacutestica Neste caso a concepccedilatildeo de
turismo do plano mais ainda a concepccedilatildeo de espaccedilo presente contribui para
uma ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de forma homogecircnea Para cada poacutelo portanto
apresenta-se uma estrateacutegia de mercado que necessariamente coincide com a
atratividade dos lugares Eacute nesse momento que o espaccedilo paraense ganha uma
nova ordem que eacute aquela da ordem dos fluxos de turismo Palavras de forte
apelo turiacutestico como se vecirc no poacutelo Xingu paraiacuteso da pesca esportiva (PARAacute
2001 p 61) ou ainda a ideacuteia de aventura (no caso do poacutelo Tapajoacutes) satildeo
essenciais para a esfera do marketing
Fazendo-se uma associaccedilatildeo com as ideacuteia de Perroux (1969) a intenccedilatildeo
de criar poacutelos eacute fazer com que eles sejam sedes de empresas Estas entatildeo
seriam responsaacuteveis pela transformaccedilatildeo econocircmica de uma regiatildeo Mas o
128
documento natildeo especifica se satildeo as empresas os agentes da transformaccedilatildeo
nem tampouco outros atores do turismo que possam integrar a essa estrateacutegia
de desenvolvimento econocircmico no estado como pequenos e medos
empresaacuterios setor informal da economia entre outros Por outro lado o plano
prefere falar que atraveacutes da consolidaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos (PARAacute
2001) eacute que a irradiaccedilatildeo do crescimento seraacute possiacutevel Assim natildeo haacute no
documento uma clara participaccedilatildeo sobre os sujeitos encarregados da dinacircmica
econocircmica feita por poacutelos Contudo segundo ainda esta concepccedilatildeo a intenccedilatildeo
do plano eacute que esses espaccedilos selecionados precisam ter condiccedilotildees de infra-
estrutura para suportar a demanda turiacutestica necessaacuteria (PARAacute 2001) Com
isso como natildeo haacute o esclarecimento sobre os agentes o poacutelos (de turismo)
podem ser constituiacutedos tanto pela induacutestria motriz (PERROUX 1969
BREITBACH 1988 ANDRADE 1977) como por outros agentes que
desencadeie o crescimento inclusive a populaccedilatildeo de uma forma geral A
intenccedilatildeo acima de tudo eacute que os espaccedilos selecionados tenham
potencialidade turiacutestica (PARAacute 2001) e capacidade de incremento econocircmico
no mercado
As estrateacutegias de posicionamento (PARAacute 2001) de cada poacutelo por
exemplo estatildeo estrategicamente posicionadas para outros espaccedilos Isso quer
dizer que os atrativos turiacutesticos de cada poacutelo correspondem em grande parte a
uma demanda de turistas de outros estados e paiacuteses principalmente aqueles
que tenham condiccedilotildees de estabelecer consumo dos produtos vendidos nos
poacutelos Por mais que o mercado regional seja um aquecedor do turismo
paraense em muitos momentos vale-se da sazonalidade ou seja os
movimentos feitos por grande parte dos turistas tecircm como espaccedilo emissor a
capital Beleacutem Para o plano essa perspectiva precisa mudar e se associar agrave
expansatildeo do mercado turiacutestico Daiacute a importacircncia de associar as
caracteriacutesticas de cada poacutelo agraves demandas de outros estados e paiacuteses e
estabelecer um marketing favorecendo a propaganda do estado Em outras
palavras o PDT-PA propotildee atraveacutes dos poacutelos uma adequaccedilatildeo de perfil dos
tipos de turistas aos recursos naturais do estado como mostra a figura na
paacutegina seguinte
129
Figura 2 Lodge Pesca Esportiva
FONTE PARAacute (2001 p70)
Comentaacuterio Proposta de empreendimento turiacutestico peculiar aos poacutelos de crescimento que conteacutem um potencial para a pesca esportiva Na figura pode-se perceber uma estilizaccedilatildeo das casas ou espaccedilos de acomodaccedilatildeo para os turistas bem como do tipo de natureza que eacute concebida pelo plano uma espeacutecie de pseudo-adequaccedilatildeo ao estilo de vida dos pescadores regionais ou ainda a construccedilatildeo de um simulacro voltado para o lazer
Neste caso pensar uma concepccedilatildeo de turismo eacute no mesmo sentido
pensar uma concepccedilatildeo de espaccedilo impregnada de valores e desejos por parte
daqueles que objetivam mudanccedilas a partir de uma loacutegica do turismo Isso
demonstra em outros termos que o plano de desenvolvimento de turismo do
estado eacute um documento que utiliza os espaccedilos na forma de poacutelos de
crescimento (PERROUX 1969) para focalizar e implementar sua concepccedilatildeo de
turismo Por mais que as peculiaridades dos atrativos turiacutesticos se destaquem
no cenaacuterio paraense a loacutegica global desse fenocircmeno eacute a mesma O espaccedilo
assume uma dimensatildeo de aptidatildeo paisagiacutestica (SILVEIRA 2002) Ou seja um
conjunto ou reuniatildeo de elementos que estatildeo na esfera do visiacutevel e que
constituem a esfera do siacutembolo ou da representaccedilatildeo dos lugares Satildeo
vantajosos para o circuito do capital e para o desenvolvimento das atividades
turiacutesticas (SILVEIRA 2002)
130
44 Espaccedilo turismo e desenvolvimento desvelando propostas e intenccedilotildees
O momento de entender a proposta de desenvolvimento apresentada
por um plano torna-se uma siacutentese poreacutem natildeo menos importante Enquanto
pretensatildeo os ideais do desenvolvimento podem ser claros o suficiente pois
estatildeo na grande maioria materializados na forma de documentos
planejamentos planos de desenvolvimento e claro na forma de poliacuteticas
puacuteblicas (setorizadas ou amplas) Tal dificuldade expotildee incondicionadamente
interesses dos agentes que pensam o desenvolvimento
Neste sentido falar da importacircncia do desenvolvimento requer pensar
uma profunda transformaccedilatildeo natildeo soacute dos espaccedilos mas acima de tudo da
sociedade como um todo Por mais que a proposta de desenvolvimento natildeo
atinja diversas classes sociais ou abarque os conflitos que entre elas existem
(em muitos casos os conflitos entre as classes sociais satildeo ignorados por
autoridades que fazem propostas sobre o desenvolvimento acirrando-os ainda
mais) mesmo assim o que estaacute em jogo eacute um conjunto de accedilotildees que visam agrave
transformaccedilatildeo da sociedade
No turismo essa realidade natildeo seria diferente ainda mais porque ora
as propostas de desenvolvimento desse setor apresentam-se enquanto
setorizadas (somente do e para a atividade do turismo) ora ligadas a outros
setores estrateacutegicos das poliacuteticas puacuteblicas como economia urbanizaccedilatildeo
saneamento entre outros
Natildeo necessariamente o desenvolvimento conteacutem em suas
formulaccedilotildees as dimensotildees social e econocircmica (esta uacuteltima mais valorizada)
como forma e conteuacutedo nas tomadas de decisotildees que satildeo implementadas pelo
Estado Neste processo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas aparece como
instrumento de accedilatildeo necessaacuterio ao processo do desenvolvimento As poliacuteticas
puacuteblicas satildeo portanto a forma pela qual o processo de desenvolvimento se daacute
Hall (2001) ao tratar das dimensotildees do planejamento poliacutetica e plano
faz uma importante diferenciaccedilatildeo Para o autor a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
131
puacuteblicas eacute um ato poliacutetico e nesse sentido elas estatildeo inteiramente ligadas agraves
decisotildees e caracteriacutesticas econocircmicas culturais sociais e claro ideoloacutegicas o
que as isenta de qualquer tipo de neutralidade
Segundo ainda o mesmo autor o planejamento eacute uma ferramenta
importante para se pensar a dinacircmica das poliacuteticas puacuteblicas pois integra uma
relaccedilatildeo entre passado presente e futuro ou seja uma caracteriacutestica
fundamental do planejamento eacute sua constante dinamicidade ou um
pensamento que natildeo pretende ser estaacutetico no espaccedilo e no tempo
No que diz respeito ao plano Hall (2001) afirma que este se refere a um
conjunto de decisotildees ou ainda accedilotildees a serem desenvolvidas no futuro Isto
quer dizer que as ideacuteias contidas em um plano satildeo a siacutentese de pensamentos
elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e planejamentos feitos pelo governo Em um plano
esses elementos aparecem de forma concretizada ou materializada O que
facilita de uma forma geral a visualizaccedilatildeo das accedilotildees (muitas vezes elaboradas
sob a forma de programas de intervenccedilatildeo)
Em uma dimensatildeo mais ampla a condiccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de um plano
reflete as intenccedilotildees gerais sobre o que seja o desenvolvimento Eacute neste ponto
que a relaccedilatildeo entre o plano de turismo do Paraacute e a questatildeo sobre
desenvolvimento revela-se um ponto importante a ser analisado Neste sentido
o espaccedilo paraense eacute a base de materializaccedilatildeo das ideologias pensadas pelo
Estado e tambeacutem reflexo das intervenccedilotildees jaacute feitas para garantir o
desenvolvimento da atividade turiacutestica Para tanto ideacuteias como melhoria da
qualidade de vida riqueza dos atrativos da Amazocircnia paraense (PARAacute 2001)
estatildeo associados a uma conversatildeo para o mercado tanto que o Paraacute
apresenta condiccedilotildees significativas para que o turismo seja importante
instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
Neste caso percebe-se que a visatildeo estrateacutegica do plano para o
desenvolvimento estaacute referendada por uma relaccedilatildeo promissora entre a
potencialidade natural do Paraacute e a potencialidade econocircmico-financeira que o
mesmo pode gerar Por um outro lado assim como na questatildeo sobre a
concepccedilatildeo de turismo em nenhum momento o plano discute ou afirma qual
132
sua concepccedilatildeo de desenvolvimento mostrando assim sua fragilidade nesse
criteacuterio Seu conteuacutedo referente agrave dimensatildeo do desenvolvimento natildeo requer
uma apreciaccedilatildeo conceitual mas sim a identificaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos e
suas estrateacutegias mercadoloacutegicas
Hall (2001) destaca os tipos de planejamentos a partir da atividade
turiacutestica em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento Nesse sentido o autor
ressalta a importacircncia de natildeo se perceber o planejamento a partir de uma
dimensatildeo econocircmica pois este se realizado desta forma mostra na praacutetica
suas imperfeiccedilotildees e limites O autor faz uma anaacutelise de um tipo de
desenvolvimento
o desenvolvimento sustentaacutevel
fazendo com que a ideacuteia
de meio ambiente se torne o centro das discussotildees sobre planejamento da
atividade turiacutestica O autor eacute claro ao enfatizar a dimensatildeo unilateral da
abordagem econocircmica no desenvolvimento Para ele a mesma quando
utilizada como uacutenica interpretaccedilatildeo de um plano reduz a importacircncia de um
documento a dados econocircmicos desencadeando assim resultados isolados
ou ainda consequumlecircncias nada positivas para o meio ambiente e para a
sociedade Qualquer indicador de desenvolvimento baseado no valor
monetaacuterio da produccedilatildeo estaacute sujeito a imperfeiccedilotildees teacutecnicas e conceituais
(SMITH apud HALL 2001 p 22)
As iniciativas de mercado pensadas pelo governo do Estado satildeo
detalhadamente expostas no documento definidas principalmente sob a forma
de estrateacutegias (parte B do plano) mostrando etapas de uma espeacutecie de
desenvolvimento econocircmico A ideacuteia de crescimento com sustentabilidade
(PARAacute 2001) aparece como se fosse apecircndice do desenvolvimento econocircmico
pretendido pelo Governo atraveacutes do PDT-PA mesmo assim tal ideacuteia natildeo eacute
conceituada tampouco problematizada no documento
Como uma forma de contribuir para a ideacuteia de desenvolvimento Souza
(2002) oferece uma anaacutelise importante que tem o intuito de criar um novo
paradigma conceitual Essa questatildeo tambeacutem se aplica ao turismo enquanto
uma ferramenta de desenvolvimento local O autor procura ir aleacutem das
concepccedilotildees de desenvolvimento tradicional e procura estabelecer uma
diferenccedila entre o desenvolvimento econocircmico (forma tradicional e tambeacutem a
133
mais usual nos planejamentos) e o desenvolvimento soacutecio-espacial (alternativa
ao economicismo) Para o autor pelo fato do turismo ser uma atividade
complexa e que implica em impactos positivos e negativos na sociedade e no
meio ambiente ele merece um destaque qualificado nas teorias sobre o
desenvolvimento
Para Souza (2002) o desenvolvimento ao longo dos anos veio
sublinhado como sinocircnimo de desenvolvimento econocircmico o que se configura
na relaccedilatildeo entre o crescimento econocircmico ou seja referente ao Produto
Nacional Bruto (PNB) ou Produto Interno Bruto de um paiacutes (PIB) e a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste caso essa relaccedilatildeo eacute suficiente para perceber
a concepccedilatildeo de desenvolvimento que o PDT-PA pensa para o Paraacute Quando
em sua introduccedilatildeo o plano designa a ideacuteia de sustentabilidade e de melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo paraense em funccedilatildeo do crescimento
(PARAacute 2001) na verdade a concepccedilatildeo de mercado paira como principal e
esta encerra a condiccedilatildeo para que haja o desenvolvimento do turismo no
territoacuterio paraense A ecircnfase nos processos sobre atratividade marketing
produccedilatildeo e gestatildeo (PARAacute 2001) satildeo elementos essenciais para se perceber o
forte conteuacutedo mercadoloacutegico inerente ao documento
No plano de turismo do estado do Paraacute o governo se esforccedila para
chamar a atenccedilatildeo dos turistas que vecircm de fora do estado Eacute preciso fazer a
propaganda de seu lugar mostrar atraveacutes do marketing e divulgaccedilatildeo que o
Paraacute eacute um espaccedilo interessante a ser desfrutado Em suas linhas gerais o
plano destaca a beleza exoacutetica da natureza amazocircnica e dos valores culturais
para atrair turistas Esses espaccedilos como afirma Boulloacuten (2002) devem estar
dotados de um bom sistema turiacutestico em outras palavras a infra-estrutura do
lugar deve estar concernente ao melhor trajeto das pessoas que visitam os
lugares diferentes Poreacutem ao tomar essa ideacuteia como estrateacutegia de
desenvolvimento os espaccedilos selecionados para a praacutetica do turismo (os poacutelos)
excluem o restante do territoacuterio paraense ou ainda estes uacuteltimos devem estar
sintonizados com a loacutegica de desenvolvimento proposta pelo governo Poreacutem
lembrando que a loacutegica de construccedilatildeo de poacutelos a partir da teoria de Perroux
(1969) natildeo permite que o crescimento se decirc em todos os lugares haacute um
134
campo de forccedilas (PERROUX 1969) que atua em um espaccedilo especiacutefico Daiacute a
loacutegica dos poacutelos Nesse sentido o desenvolvimento do turismo no Paraacute natildeo se
daacute de forma homogecircnea privilegiando por outro lado as cidades que reuacutenem
infra-estrutura adequada causando assim um desenvolvimento
desequilibrado no territoacuterio
No tocante agrave questatildeo do conforto ao turista o plano concentra esforccedilos
ao tentar oferecer aos que visitam o estado tudo o que haacute de melhor pois satildeo
eles os responsaacuteveis diretos pela geraccedilatildeo de lucro no local de destino O
plano ao conceber os espaccedilos natildeo estabelece uma necessidade de somente
melhorar ou ampliar os espaccedilos com potencial turiacutestico Aleacutem disso eacute no
conforto e comodidade do turista ao visitar o Paraacute que esses espaccedilos satildeo
pensados (concebidos) ou quando jaacute prontos satildeo incrementados Eacute nesse
momento que o papel do Estado eacute fundamental para se entender o processo
de reestruturaccedilatildeo espacial
O diferencial neste ponto satildeo as peculiaridades espaciais O turista visita
outros lugares com o intuito de conhecer o diferente o inusitado o exoacutetico E
neste sentido busca algo diferente em sua vida Pensando nessa situaccedilatildeo o
Governo do Estado do Paraacute faz uma adequaccedilatildeo desses espaccedilos
O PDT-PA concebe neste caso espaccedilos voltados para a funcionalidade
turiacutestica Tais espaccedilos estatildeo estruturados de forma a atender diretamente a
necessidade dos que visitam a Amazocircnia paraense por isso os turistas satildeo o
objetivo final do plano Eacute atraveacutes da entrada deles que a dinacircmica turiacutestica
acontece No documento existem imagens que pensam o bem-estar do turista
de acordo com os aspectos naturais da regiatildeo As imagens neste caso
tornam-se um importante recurso estrateacutegico para se pensar mercados
interessados em investir nesses espaccedilos concebidos pelo Estado a fim de
fomentar o turismo
135
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza)
FONTE PARAacute (2001 p 69)
A pouca ecircnfase dada aos conceitos que estatildeo associados ao
desenvolvimento do turismo eacute uma marca constante no plano A ideacuteia de
qualidade de vida (um aspecto importante das temaacuteticas do desenvolvimento) eacute
reduzida a uma pequena parte do plano localizada na sua introduccedilatildeo Como
fora mostrado nos capiacutetulos anteriores a decisatildeo do plano eacute fazer uma
caracterizaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos paraenses A qualidade de vida adviria
de uma maior rentabilidade gerada a partir do incremento econocircmico desses
produtos tanto que para o plano o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito
significativas para que o turismo seja um importante instrumento de
desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001) Neste sentido mais uma
Comentaacuterio Na figura mostra-se um exemplo de descanso em volta de uma natureza criada que eacute como mostra no documento uma peculiaridade desses espaccedilos O turista portanto ao desfrutar desse tipo de serviccedilo identifica-se com a regionalidade dos lugares apropriados estrategicamente pelo turismo Essa regionalidade por outro lado eacute reduzida a este universo causando assim uma simulaccedilatildeo
136
vez o reducionismo se faz presente na anaacutelise sobre o desenvolvimento
causando desta forma sua debilidade
O PDT-PA ainda faz uma abordagem destacaacutevel sobre tipos de espaccedilos
de lazer que se encontram em consonacircncia com a estrutura dos poacutelos Tais
espaccedilos reuacutenem condiccedilotildees favoraacuteveis para a praacutetica do turismo e de forma
ampla para o desenvolvimento da atividade e o seu consequumlente crescimento
econocircmico para o estado Para o plano a construccedilatildeo desses espaccedilos serve de
referecircncia para atrair turistas pois na sua concepccedilatildeo os valores no que se
refere agrave natureza lazer na Amazocircnia paraense satildeo importantes para o fomento
agrave atividade turiacutestica Como afirma o plano A natureza amazocircnica com sua
extraordinaacuteria riqueza de flora e fauna constituem o maior atrativo do Paraacute
(PARAacute 2001 p 71) Percebe-se com isso que a apropriaccedilatildeo da natureza
segundo esses princiacutepios torna-se um caminho importante para o
desenvolvimento A figura da paacutegina seguinte mostra mais uma ideacuteia pensada
pelo plano para a transformaccedilatildeo do territoacuterio paraense
137
Figura 4 Resort aventura e natureza
FONTE PARAacute 2001 p 71
Comentaacuterio A atividade gerada nesses espaccedilos torna-se um fator importante para o desenvolvimento do turismo Neles o consumo da paisagem bem como da natureza eacute um estimulador de riqueza e por isso passa a ser uma estrateacutegia para o crescimento econocircmico
Harvey (2004) apresenta um argumento interessante sobre esses
espaccedilos imaginados principalmente quando satildeo pensados a partir de
planejamentos para a organizaccedilatildeo espacial de um lugar Para o autor o
chamado utopismo de livre organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2004) funciona
atraveacutes de espaccedilos fechados como uma economia isolada (HARVEY 2004)
com o intuito de controlar natildeo soacute o espaccedilo mas o tempo tambeacutem garantindo
assim uma possibilidade de mudanccedila social e histoacuterica Neste caso os
processos sociais satildeo controlados reprimidos atraveacutes de uma forma espacial
fixa (HARVEY 2004) O plano afirma que a construccedilatildeo desses lugares eacute
baseada numa preacute-seleccedilatildeo onde a beleza paisagiacutestica e a riqueza da fauna e
da flora devem ser destacadas (PARAacute 2001) facilitando com isso seu uso
Com isso as ideacuteias de desenvolvimento a partir do PDT-PA podem ser
percebidas a partir de um universo econocircmico onde este eacute o carro chefe da
138
transformaccedilatildeo do turismo e da sociedade Os elementos de mercado presentes
no documento como as estrateacutegias comerciais a propaganda o marketing a
seleccedilatildeo de espaccedilos marcam uma concepccedilatildeo especiacutefica da poliacutetica puacuteblica
pensada pelo Estado paraense para o turismo As accedilotildees decorrentes dessas
poliacuteticas quando materializadas no espaccedilo tendem agrave mudanccedilas consideraacuteveis
no que diz respeito agrave sociedade Como siacutentese dessas poliacuteticas o PDT-PA traz
um posicionamento que tambeacutem eacute o reflexo do que se pensa sobre o turismo e
desenvolvimento Neste sentido tais poliacuteticas soacute podem se tornar efetivas se
houver o espaccedilo como condiccedilatildeo para esse processo o que garante por assim
dizer que o desenvolvimento da atividade turiacutestica tambeacutem soacute pode ser feito
mediante essa condiccedilatildeo espacial
139
5 CONCLUSOtildeES
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma seacuterie de efeitos e processos que produzem diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida nos usos de recursos nas relaccedilotildees com o ambiente e nas formas poliacuteticas e culturais (David Harvey 2004)
140
No trecho destacado da paacutegina anterior David Harvey procura analisar o
que ele chama de desenvolvimento geograacutefico desigual sendo este uma
proposta alternativa agrave ideacuteia de globalizaccedilatildeo Para Harvey (2004) o processo de
globalizaccedilatildeo do capitalismo atingiu um estaacutegio muito complexo e por isso
mesmo o conceito de globalizaccedilatildeo natildeo daacute mais conta de explicar as recentes
transformaccedilotildees que o mundo estaacute passando Eacute necessaacuterio para ele esboccedilar
um argumento capaz de articular a dialeacutetica das escalas Tais escalas
necessariamente devem estar pensadas entre o micro (que para ele estaacute
representada na figura do corpo humano) e o macro (os processos globais que
ocorrem em todo o planeta) Dessa forma segundo Harvey (2004) as nuanccedilas
soacutecio-espaciais podem se tornar mais claras e a sociedade como um todo natildeo
fica a mercecirc das transformaccedilotildees que o sistema capitalista impotildee no mundo
fazendo com que qualquer mudanccedila natildeo seja tomada de forma acriacutetica
Ainda pode-se afirmar logo de iniacutecio que pensar em poliacuteticas puacuteblicas
de turismo eacute pensar em seus efeitos e processos que produzem as diferenccedilas
geograacuteficas de um lugar Por isso entendido como ponto de discussatildeo central
desse trabalho a anaacutelise de um plano enquanto um documento que une as
possibilidades de transformaccedilatildeo de um lugar requer pensar de forma dialeacutetica
um elemento que iraacute produzir as diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida de
uma sociedade ou em uma cultura como diz Harvey (2004)
Poreacutem deve-se entender que a construccedilatildeo de um plano de turismo
refere-se agrave processos de construccedilatildeo de espaccedilos a partir de uma loacutegica estatal
Ou seja analisar a poliacutetica puacuteblica de turismo eacute antes de tudo relacionaacute-la a
uma ideologia de Estado
Neste caso as transformaccedilotildees mundiais que o turismo de mercado vem
causando em sua grande maioria satildeo fruto de uma relaccedilatildeo com o Estado
pois eacute este uacuteltimo que se torna o principal aliado nas negociaccedilotildees sobre o lazer
a partir do turismo
O alcance dessa relaccedilatildeo eacute tatildeo intensa que os governos ao pensarem no
turismo como elemento integrante de seu sistema de governo produzem
artifiacutecios que possibilitam as grandes empresas hoteleiras as agecircncias de
141
turismo locais os operadores grupos associados entre outros (ou na
linguagem comum de quem trabalha no ramo do trade turiacutestico) a terem mais
acessibilidade a espaccedilos Neste processo atraveacutes de estudos teacutecnicos eacute que
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo elaboram documentos necessaacuterios ao avanccedilo
desses agentes no espaccedilo Surgem portanto os planos de turismo como
siacutentese da organizaccedilatildeo das ideacuteias pensadas (arquitetadas) pelo Estado e por
representantes do ramo turiacutestico Como bem lembra Cruz (2001) as poliacuteticas
puacuteblicas natildeo satildeo estrategicamente pensadas de forma adequada pelo Estado
ela pode ficar ao sabor das iniciativas privadas ou ficar agrave revelia delas Nisto
reside portanto os interesses dos agentes privados em fazer com que o
processo de construccedilatildeo de planos de turismo por parte do Estado possa
garantir uma intervenccedilatildeo mais raacutepida
A Amazocircnia sem duacutevida nenhuma nos uacuteltimos tempos tem-se
transformado em um dos espaccedilos privilegiados para a expansatildeo da atividade
turiacutestica Num amplo espaccedilo como este a praacutetica do lazer ganha um
diferencial associado agrave questatildeo de se estar mais proacuteximo de espaccedilos naturais
ou selvagens O exoacutetico da floresta eacute um objeto que devidamente apropriado
pelos promotores de turismo (no sentido de estrateacutegia de mercado) passa a
ser consumido a partir de viagens diferentes dos circuitos tradicionais como as
praias de litoral O encanto da floresta sua suntuosidade exuberacircncia satildeo
elementos muito divulgados em folders ou propagandas em outros mercados
emissores a fim de atrair turistas para a regiatildeo Os estados que compotildeem a
regiatildeo amazocircnica neste caso articulam-se para promover ainda mais esse
novo foco de mercado e tambeacutem possibilidade de geraccedilatildeo de divisas
Ao discutir a importacircncia do plano de Turismo para o Paraacute necessaacuterio
se fez pensar de forma inerente o que se veicula em termos de ideacuteias
estrateacutegias ou modelos de desenvolvimento que satildeo detalhados num
documento como esse Neste caso natildeo basta somente afirmar a ideacuteia de que
o Estado eacute um agente facilitador dos processos de turismo em seu espaccedilo As
ideacuteias estrateacutegias modelos de desenvolvimento estatildeo assim unidos em
concepccedilotildees de turismo espacialidades noccedilotildees de desenvolvimento Sendo
142
assim o PDT-PA mesmos natildeo definindo ou conceituando devidamente
mostra elementos que estatildeo associados a esses criteacuterios
No que diz respeito por exemplo agrave concepccedilatildeo de turismo que eacute
veiculada no plano o documento eacute enfaacutetico ao revelar a importacircncia do Paraacute
como novo espaccedilo a ser convertido em trade Dado o interesse por parte do
plano uma concepccedilatildeo do voltada ao mercado surge nas entrelinhas do
documento sendo esta importante para o desenvolvimento da atividade
Esta concepccedilatildeo permite visualizar o interesse por parte do Estado em
tornar o territoacuterio paraense um potencial turiacutestico ou um grande celeiro de
oportunidade de negoacutecios voltados para o setor Neste sentido elementos
importantes como natureza tornam-se objetos e satildeo valorizados nessa
relaccedilatildeo na qual agentes de mercado do turismo se utilizam de fragmentos dos
espaccedilos naturais principalmente aqueles que demonstram uma beleza cecircnica
com potenciais de mercado A natureza passa a ser objeto de troca de
mercado Eacute o proacuteprio espaccedilo que se torna foco de atenccedilatildeo da construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas Atraveacutes de uma maciccedila propaganda a utilizaccedilatildeo da
paisagem passa a ser o recurso de apoio na venda desses espaccedilos que
entram no circuito da troca (CARLOS 2002) ou na produccedilatildeo da artificialidade
Uma outra ideacuteia que estaacute associada agrave concepccedilatildeo de turismo de
mercado e que por conseguinte o plano de turismo do Paraacute adota baseia-se
no princiacutepio de que o turismo sempre eacute beneacutefico agrave sociedade local e que por
isso mesmo traz em sua bagagem a condiccedilatildeo de melhoria da qualidade de
vida e de novas percepccedilotildees sobre o meio ambiente
Ideacuteias como sustentabilidade ou crescimento sustentaacutevel aparecem nos
primeiros paraacutegrafos do documento poreacutem natildeo satildeo devidamente exploradas
ou sequer conceituadas Isto provoca uma sensaccedilatildeo de que o turismo eacute
panaceacuteia para todos os males (ROCHA 2002) Neste caso o PDT-PA revela-
se fragilizado e reducionista quanto agrave questatildeo do que seja a melhoria da
qualidade de vida e o que seja sustentabilidade soacutecio-ecoloacutegica A ideacuteia de
que o plano fora definido de forma estrateacutegica para garantir a melhoria da
qualidade de vida para a populaccedilatildeo paraense estaacute calcada em princiacutepios
143
exclusivos de cunho mercadoloacutegico Toda essa estrutura estaacute voltada para um
maior incremento da atividade turiacutestica no estado fortalecendo assim uma
concepccedilatildeo muito forte sobre a ideacuteia de mercadificaccedilatildeo dos espaccedilos (SOUZA
2002)
No que diz respeito ao foco das estrateacutegias espaciais adotadas pelo
plano este eacute abrangente e pensa o territoacuterio por completo a partir das meso-
regiotildees internas do Estado O peso dado agrave seleccedilatildeo das regiotildees turiacutesticas faz
com que a transformaccedilatildeo do turismo no Paraacute se decirc de forma totalizante Neste
caso o territoacuterio paraense eacute pensado de forma abrangente a partir dos lugares
(cidades com infra-estrutura) que jaacute tecircm uma preacute-disponibilidade que
congregam os atrativos turiacutesticos necessaacuterios para tornar este lugar em um
potencial turiacutestico
A estrutura feita em poacutelos (Beleacutem Costa Atlacircntica Araguaia Tocantins
Xingu Tapajoacutes e Marajoacute) permite visualizar a possibilidade de valorizaccedilatildeo
desses espaccedilos a partir de suas peculiaridades Permite tambeacutem em uma
dimensatildeo teoacuterico-conceitual maior visualizar uma adaptaccedilatildeo das teorias dos
poacutelos de crescimento de Perroux (1969) Este autor entendia que para uma
economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo pudesse fluir melhor era necessaacuterio
se fragmentar os espaccedilos em subespaccedilos ou em outras palavras em regiotildees
produtivas que facilitassem o fluxo de mercado esse fluxo era garantindo
acima de tudo pela presenccedila da induacutestria a qual reunia as condiccedilotildees de
transformaccedilatildeo econocircmica de um lugar Isto quer dizer que o PDT-PA a partir
das estrateacutegias espaciais feitas por poacutelos pensa o espaccedilo paraense de forma
racional e de forma que privilegie induacutestrias do turismo inteiramente voltadas
para o mercado Pois nessa situaccedilatildeo o importante eacute dar flexibilidade agraves
empresas que atuam nos espaccedilos privilegiados (PERROUX 1969) natildeo
levando em consideraccedilatildeo ou mencionado outros agentes da economia que
possam integrar o mercado do turismo Percebe-se assim uma maior fluidez
aos agentes do circuito superior da economia (SANTOS 2004)
Nessa situaccedilatildeo cria-se a ilusatildeo de que as sedes das regiotildees poacutelos pelo
fato de reunirem condiccedilotildees preacutevias para um arranque de crescimento
econocircmico possibilitam com que gradativamente as cidades que se localizam
144
ao redor da sede possam ter o tipo de desenvolvimento da atividade turiacutestica
arrolada no centro entendendo-se aiacute que as cidades possam ter a mesma
intensidade de desenvolvimento No plano essa situaccedilatildeo eacute mais clara quando
se faz um diagnoacutestico das potencialidades de cada regiatildeo do estado de
acordo com a geraccedilatildeo de um objetivo pautado na relaccedilatildeo entre produtividade
atratividade gestatildeo e marketing (PARAacute 2001) sempre com o intuito de
garantir a competitividade dos espaccedilos Como um outro elemento que
contempla essa visatildeo de turismo o governo do estado do Paraacute define uma
concepccedilatildeo de turismo e as estrateacutegias espaciais com o intuito ainda maior de
promover um desenvolvimento tanto da atividade enquanto uma perspectiva
setorial como uma perspectiva de cunho soacutecio-econocircmico E neste sentido a
ideacuteia de desenvolvimento baseia-se em uma concepccedilatildeo expliacutecita de
desenvolvimento econocircmico ou que atribui aos ideais econocircmicos as
perspectivas de um mercado global
Nessa situaccedilatildeo dois elementos marcam a proposta de desenvolvimento
descrita no plano de turismo Segundo as ideacuteias de Souza (1997 2000 2001
2004) o que basicamente caracteriza o desenvolvimento do tipo econocircmico eacute
o crescimento econocircmico e a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste sentido a
estrutura do documento mostra-se enveredada para o caminho do
desenvolvimento de mercado assinalando as divisotildees necessaacuterias para se
alcanccedilar as metas previstas pelo Governo do Estado O slogan da
competitividade aparece como elemento norteador nas accedilotildees do documento
principalmente quando em sua proposta a reestruturaccedilatildeo de outros elementos
como marketing gestatildeo produtividade e atratividade devem estar associados a
condiccedilatildeo do que seja o desenvolvimento do turismo no Paraacute e em uma
dimensatildeo mais ampla da sociedade e de seu modo de pensar e agir sobre o
que seja turismo e melhoria da qualidade de vida
Segundo o documento a assertiva do crescimento deve associar-se agrave
questatildeo da sustentabilidade Poreacutem como foi analisado o debate da
sustentabilidade aparece condicionado ou como um apecircndice do mercado Eacute
nesse sentido de fato que o crescimento assume uma postura quantitativa
pois a necessidade de fazer com que o turismo assuma uma responsabilidade
145
de transformaccedilatildeo social eacute aquela em que os indiviacuteduos devem ser estimulados
pelo consumo Sendo assim eacute atraveacutes deste uacuteltimo que a condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida viraacute No plano haacute situaccedilotildees que mostram que a
deficiecircncia de produtos turiacutesticos (recursos naturais) deve ser melhorada para
que haja assim o consumo por parte daqueles que conseguem desfrutar do
lazer no estado
Como consequumlecircncia por um lado pelo baixo niacutevel de conhecimento e compreensatildeo turiacutestica do Paraacute no canal de venda e comercializaccedilatildeo e por outro pela debilidade ou inexistecircncia de uma accedilatildeo de comercializaccedilatildeo e promoccedilatildeo sistemaacutetica por parte da induacutestria turiacutestica paraense a niacutevel individual ou coletivo a presenccedila e venda de ofertas de produtos e destinos turiacutesticos paraenses eacute muito reduzida (PARAacute 2001 p 39)
A outra dimensatildeo da perspectiva do desenvolvimento econocircmico a que
Souza (1997 2000 2001 2004) atribui diz respeito agrave modernizaccedilatildeo
tecnoloacutegica E neste ponto o PDT-PA torna-se enfaacutetico ao diagnosticar a infra-
estrutura do estado como precaacuteria e ineficiente aos comandos de uma rede de
serviccedilos turiacutesticos que precisa de uma infra-estrutura baacutesica para funcionar
bem Nas palavras do documento
Sem duacutevida o atraso acumulado e as particularidades fiacutesicas da regiatildeo amazocircnica explicam em boa parte as dificuldades encontradas Entretanto desde a perspectiva de um desenvolvimento turiacutestico equilibrado e competitivo a soluccedilatildeo destes problemas [infra-estrutura e equipamentos baacutesicos] deve ser considerada dentre a primeira linha de prioridade (PARAacute 2001 p 16 grifo nosso)
Percebe-se portanto que nesse ponto para que haja um melhor
rendimento da atividade turiacutestica eacute necessaacuterio que o Estado seja o mediador e
veiacuteculo de construccedilatildeo das infra-estruturas turiacutesticas Neste caso haacute que se
destacar que a construccedilatildeo de infra-estruturas do tipo estradas portos
aeroportos hospitais rede de seguranccedila rede de saneamento e esgoto de
146
cidades com potenciais turiacutesticos natildeo atendem uacutenica e exclusivamente a este
setor pois por sua caracteriacutestica proacutepria o turismo eacute um segmento eacute um setor
das atividades econocircmico-sociais de um Estado e por isso mesmo outras
atividades econocircmicas e sociais se utilizam desses espaccedilos (fixos) que a
esfera estatal realiza em diversos lugares Poreacutem o que se deve afirmar aqui
eacute que pelo fato de que o Governo do Estado dar um privileacutegio maior ao turismo
de massa (aquele concernente ao fluxo global da economia) esses
equipamentos e infra-estruturas estatildeo pensados concebidos articulados e
decididos em primeiro plano para os agentes de classes sociais que podem
circular capital de forma mais raacutepida A dita sociedade local aqui fica em
segundo plano ou possivelmente marginalizada desse processo de melhoria
do espaccedilo o que faz com que o outro lado da moeda ou seja aqueles que natildeo
tecircm condiccedilotildees de usufruir deste tipo de turismo fiquem em uma situaccedilatildeo de
desequiliacutebrio social principalmente no que tange aos requisitos baacutesicos do que
seja a melhor qualidade de vida como educaccedilatildeo sauacutede lazer e diversatildeo
transporte e seguranccedila
Outra ideacuteia eacute aquela baseada em Harvey (2004) de que o planejamento
das formas espaciais natildeo deve dissociar de um conteuacutedo espacial onde as
diversas maneiras de pensar a dimensatildeo do social necessitam de uma
articulaccedilatildeo que focalizem a justiccedila social Harvey (2004) se pergunta como eacute
possiacutevel tornar clara essa articulaccedilatildeo entre as formas espaciais e os
conteuacutedos a fim de criar uma modalidade mais dialeacutetica e que decirc uma
importacircncia consideraacutevel ao espaccedilo Sendo assim um plano de
desenvolvimento de turismo da envergadura do PDT-PA enquanto um
documento que reuacutene possibilidades natildeo soacute de mudanccedilas da atividade
turiacutestica mas de uma dimensatildeo da sociedade pode em todo caso ser um
passo para que as formas espaciais e os processos espaciais estejam em prol
de um projeto social mais justo e solidaacuterio com aqueles que fazem parte do rol
de ideacuteias do desenvolvimento Apropriando-se das ideacuteias de Harvey (2004) o
fechamento ou a possibilidade de se realizar algo concretamente natildeo pode
estar distante nos planejamentos puacuteblicos Do contraacuterio forma-se um hiato
entre o que o Estado pensa em termos de projetos poliacuteticos e a sociedade
147
Neste sentido o PDT-PA constitui-se um plano limitado em sua proposta
para o desenvolvimento ou ainda enquanto um instrumento de mudanccedila
social Em primeiro lugar do ponto de vista econocircmico (que eacute o principal
elemento trabalhado pelo plano) o documento pensa um tipo de economia
voltado para setores da sociedade que reuacutenem condiccedilotildees de estabelecer
consumo de produtos turiacutesticos selecionados e especiacuteficos como eacute o caso de
resorts fluviais (PARAacute 2001 p 73) Nestes espaccedilos consumo eacute seletivo e
por isso mesmo exclui a possibilidade de uma maior interaccedilatildeo com outras
partes do territoacuterio paraense Em segundo lugar como consequumlecircncia do
primeiro a ideacuteia de contato com outras culturas (outras pessoas) em territoacuterio
paraense natildeo se aplica no plano Os espaccedilos pensados pelo documento ao
inveacutes de estabelecerem uma abrangecircncia de trocas sociais estimulam o
confinamento das pessoas que vecircm de fora o que faz com que o turista
conheccedila partes do territoacuterio paraense e natildeo o todo com suas diferenccedilas de
costumes haacutebitos conflitos Haacute portanto uma estandardizaccedilatildeo dos lugares
Tambeacutem existe uma limitaccedilatildeo teoacuterico-conceitual na elaboraccedilatildeo do plano
Por ser um documento muito pragmaacutetico funcionalista (tem a funccedilatildeo de
fornecer dados para o crescimento do turismo no estado) concentra-se em
aspectos caracteriacutesticas estrateacutegias de mercado diagnoacutesticos da realidade
turiacutestica do estado deixando de lado ou ateacute mesmo negligenciando uma
filiaccedilatildeo ideoloacutegica clara dificultando sua identidade teoacuterica
E por fim o plano apresenta ideacuteias muito proacuteximas de um planejamento
estrateacutegico Com a ajuda de oacutergatildeos especializados na promoccedilatildeo (marketing)
dos lugares como eacute o caso da contrataccedilatildeo da THR o Estado pensa o espaccedilo
paraense como um espaccedilo competitivo inspirado sobretudo numa
competiccedilatildeo do tipo empresarial A partir da conscientizaccedilatildeo da mundializaccedilatildeo
da economia e da comunicaccedilatildeo (VAINER 2002 p 76) esses espaccedilos
pretendem ser mais competitivos por isso o espaccedilo aqui eacute condicionado
principalmente por um ritmo econocircmico natildeo assumindo outras feiccedilotildees sociais
Eacute com isso portanto que aqui natildeo se pretende negar qualquer
possibilidade de se praticar turismo ainda mais a partir de ideacuteias que ora satildeo
elaboradas pelos governos mas sim de se pensar que um outro tipo de turismo
148
eacute possiacutevel aquele em que as medidas de mercado natildeo assumam as decisotildees
por completo dessa atividade Aleacutem disso a praacutetica do turismo pode estar de
fato alicerccedilada na condiccedilatildeo de uma praacutetica social acima de tudo
149
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19
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo-na-Publicaccedilatildeo (CIP)
(Biblioteca de Poacutes-Graduaccedilatildeo do IFCHUFPA Beleacutem-PA)
Serra Hugo Rogeacuterio Hage
A concepccedilatildeo de turismo e de sua espacialidade no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Paraacute (PDT-PA) Hugo Rogeacuterio Hage Serra orientador Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior - Beleacutem 2007
Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Federal do Paraacute Instituto de Filosofia e Ciecircncias Humanas Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia Beleacutem 2007
1 Turismo e Estado 2 Turismo - Poliacutetica governamental - Paraacute 3 Turismo - Planejamento - Paraacute I Tiacutetulo
CDD - 22 ed3384791098115
20
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto
de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO IFCH
UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia
DATA DE DEFESA___________2007
CONCEITO______________________
BANCA EXAMINADORA
Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
(Orientador)
Profordf Drordf Janete Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira
(Examinadora interna)
Profordm Drordm Siacutelvio Joseacute de Lima Figueiredo
(Examinador Externo)
iii
21
Incondicionalmente agrave Julieta Serra Agrave sua maneira
acima de todos e abaixo de Deus soube se esforccedilar
para que este se tornasse possiacutevel Nela inspiro-me
para que um dia eu consiga ser no miacutenimo um
cidadatildeo batalhador e justo Matildee com certeza vocecirc
estaacute em todos os meus momentos Obrigado
iv
22
AGRADECIMENTOS
Triste eacute aquele que natildeo sabe agradecer Mais ainda quando acha que em um
trabalho cientiacutefico (seja de qual envergadura for imagine-se ainda uma
dissertaccedilatildeo) seu esforccedilo eacute uacutenico e exclusivamente seu Ledo engano Em um
trabalho como esse as pessoas aparecem e desaparecem mas deixam suas
marcas as quais se tornam eternas pelo menos em funccedilatildeo desse momento
Como este eacute um momento em que o autor de um trabalho cientiacutefico tem sua
liberdade entatildeo ponho-me a relatar loacutegico atraveacutes das palavras (e acima delas de
seus conteuacutedos) as pessoas as marcas que deixaram nesta curta passagem de uma
poacutes-graduaccedilatildeo Aos que me conhecem (e os que natildeo conhecem passam a conhecer
um pouco agora) sabem que o momento de agradecer para mim eacute um momento tatildeo
importante quanto o de fazer um trabalho cientiacutefico Aiacute vatildeo elas pessoas ou natildeo
Em primeiriacutessimo lugar nunca esqueccedilo de agradecer a Deus do meu jeito agrave
minha maneira sem ceticismo e com bastante feacute
Em segundo e em especial agrave minha famiacutelia Julieta e Felipe Serra que
mesmo faltando um souberam me completar no espiacuterito e na mateacuteria nas
decisotildees e no apoio Sem vocecircs meus caros eu natildeo existiria
De um modo especial natildeo posso esquecer dos momentos mais doces que
vivi e ainda vivo ao lado de Keila Lopes de Almeida Sua presenccedila meiga e amiga
me fascinou Sou grato a vocecirc pela compreensatildeo paciecircncia (haja) mas sobretudo
pelo seu amor que sem exageros me confortou e me deu mais forccedila para a
concretizaccedilatildeo desse projeto A vocecirc dizer obrigado natildeo basta
Aqui abro um paraacutegrafo em especial para agradecer a Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Juacutenior meu orientador Nesse caso as palavras de agradecimento se
misturam entre a amizade e a responsabilidade pois tenho muito a agradecer a
vocecirc por sua competecircncia responsabilidade eacutetica e discernimento das coisas que
nos cercam Este momento tambeacutem eacute especial porque vocecirc o permitiu Natildeo tenho
duacutevidas de que a Geografia da Amazocircnia deve muito a vocecirc e eu lhe agradeccedilo por
ter me conduzido a sua maneira a um novo mundo da ciecircncia (ainda que em
poucos momentos) e ter aberto as portas de uma Geografia diferente Obrigado meu
amigo
v
23
Natildeo posso deixar de mencionar a figura de Genylton Rocha que atraveacutes de
sua alegria inigualaacutevel entregou-me sua amizade sincera e duradoura Seus votos
de crenccedila em minha pessoa sua ajuda sua disponibilidade me fizeram abrir os
olhos para as possibilidades Sou grato a vocecirc (e vocecirc sabe disso) por tudo o que
fez enquanto amigo e professor de minha formaccedilatildeo afinal vocecirc faz parte do time
dos professores que marcam Natildeo tenha duacutevida meu caro que se tenho um
pouco de garra para ensinar geografia devo em grande parte a vocecirc Valeu Rocha
Outra pessoa indispensaacutevel nesse momento eacute Goretti Tavares Aliaacutes meus
agradecimentos a vocecirc se estendem desde meu trabalho de conclusatildeo de curso
quando vocecirc depositou confianccedila em mim Se este mestrado existe eacute porque vocecirc
impocircs seu ritmo e perseveranccedila para que isso acontecesse Obrigado entatildeo por
essa oportunidade
Tambeacutem quero deixar registrado aqui meu agradecimento agrave Prof Dra Janete
Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira e ao Prof Dr Silvio Lima Figueiredo por se
disporem fazer parte da banca de avaliaccedilatildeo de minha dissertaccedilatildeo A vocecircs
obrigado
Outras figuras tambeacutem foram importantes nesses 24 meses de mestrado
Uma delas o presente-ausente Marcos Alexandre Pimentel da Silva que natildeo de
modo direto mas fora dos muros da universidade dentro de suas possibilidades me
apoiou quando precisei Espero que nossa amizade dure Obrigado
Ao Maacutercio Douglas por sua presteza em momentos de trabalho em que
precisei de livros e dicas cientiacuteficas Apesar do pouco contato natildeo esqueci de vocecirc
meu amigo Obrigado pela forccedila
Ao jovem Estevatildeo Barbosa que atraveacutes de sua simplicidade e amizade
permitiu que nossa relaccedilatildeo passasse dos cinco anos Uma pessoa como vocecirc eacute
para sempre Um grande abraccedilo
Aqui tambeacutem natildeo deixo de mencionar os colegas de mestrado (dos quais
em sua maioria tornei-me amigo) Com vocecircs as discussotildees que naqueles
momentos travamos foram importantes para a minha formaccedilatildeo Jorge Alex Augusta
Willame Aacutelvaro (o estranho no ninho mas que se mostrou uma pessoa muito
acessiacutevel durante esse periacuteodo quando precisei de seus auxiacutelios) Cleacutedson Luiz
entre outros que possibilitaram um pouco do crescimento deste curso
Natildeo posso esquecer o paulista mais paraense que jaacute conheci Omar Abrahatildeo
Que bom que o espiacuterito de nossa terra lhe fez uma pessoa mais alegre mais festiva
vi
24
Espero que possamos construir outros laccedilos de amizade Para vocecirc tambeacutem quero
deixar meu obrigado
De uma maneira geral quero agradecer aos professores do mestrado em
geografia A partir de suas palavras pude alcanccedilar novos horizontes no meu
conhecimento cientiacutefico A vocecircs obrigado mesmo
Natildeo posso tambeacutem deixar de ser grato agrave Iranilda Moraes pela sua
disponibilidade em confeccionar o mapa de minha dissertaccedilatildeo Obrigado pela ajuda
Aos professores e colegas de profissatildeo que ao perceberem um pouco do
aperreio de ser estudante de poacutes-graduaccedilatildeo e professor de ensino fundamental ao
mesmo tempo ainda assim acreditaram em mim neste periacuteodo E por isso meu
obrigado fica aqui registrado Aiacute vatildeo eles Prof Rosa Prof Luiza Barata Prof
Leidiane Prof Gilson Carlos Prof Vander Prof Joatildeo Prof Samara Prof
Ayholacircndia (obrigado pelo esforccedilo na correccedilatildeo deste trabalho) Prof Odimar Prof
Tony Prof Joatildeo de Barros entre outros Obrigado por tudo
E por falar em ensino fundamental e tambeacutem por uacuteltimo poreacutem natildeo menos
importante essa histoacuteria (melhor dizendo essa geografia) de estudar para um curso
de poacutes-graduaccedilatildeo soacute pocircde ter efeitos concretos em meio agraves aulas dadas no bairro
do Che Guevara (municiacutepio de Marituba - PA) precisamente na escola Nilson Pinto
que apesar do nome pocircde ser o iniacutecio de minha caminhada para este curso Meu
obrigado aos alunos tambeacutem pode ser estendido como a esperanccedila de um dia
melhor Que o (bom) produto de meus estudos possa ter o retorno mais raacutepido a
pessoas como eles que mesmo na adversidade de uma pobreza urbana e tambeacutem
metropolitana sempre que possiacutevel puderam criar expectativas e possibilidades de
uma vida melhor A vocecircs meus pequenos obrigado
vii
vii
25
Haacute os que observam a realidade como ela
eacute e se perguntam por quecirc E haacute os que
imaginam a realidade como ela nunca foi e
se perguntam por que natildeo
BERNARD SHAW
viii
26
RESUMO
A atividade turiacutestica enquanto uma atividade soacutecio-econocircmica e espacial tem a
possibilidade de criar e recriar espaccedilos de acordo com interesses de agentes
envolvidos nesse processo Na esteira desse movimento o Estado entendido
enquanto um agente fomentador do turismo cria mecanismos de controle e
gerenciamento da atividade a fim de potencializaacute-la com o intuito de promover sua
expansatildeo econocircmica pelos espaccedilos Nesse sentido um dos resultados dessa
intervenccedilatildeo espacial se constitui na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas setoriais que
objetivam assim a reestruturaccedilatildeo espacial Tais poliacuteticas refletem o jogo de
interesses entre o Estado agentes de mercado e agentes sociais de uma forma
geral A partir desse contexto de acordo com uma perspectiva metodoloacutegica da
anaacutelise de conteuacutedo este trabalho tem como objetivo analisar as concepccedilotildees e
espacialidades veiculadas no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Estado do
Paraacute
PDT-PA Leva-se em conta ainda que o produto das poliacuteticas puacuteblicas tem
como pretensatildeo a geraccedilatildeo de desenvolvimento o que retoma de uma forma mais
complexa a relaccedilatildeo entre os agentes envolvidos na turistificaccedilatildeo dos espaccedilos
Palavras-chave Plano Planejamento Turismo PDT-PA Paraacute
ix
27
ABSTRACT
The tourist activity while a social- economic and spatial activity has possibility of to
create and (re) create spaces in accord with agents interests involved on this
process On this movement the State intended while a tourist agent fomenter
creates mechanisms of control and management of the activity with the objective to
potent with intuit to promote your economic expansion by the spaces In this way on
of the results of this spatial intervention constitute on formulations of sectarian s
publics policies that objective thus the spatial restructure These politics reflexes the
game of interests between the State market agents and socials agents of the
general way Since of this context in accord with a methodological perspective of
contends analyze this work has the objective to analyze the conceptions and
spatialities putted on Paraacute s State Tourism Development Plan
TDP
PA
Understanding yet that product of policies politics has the pretension the generation
of development that s takes again of a complex form the relation between involved
agents on touristification of spaces
Key words Plan Planing Tourism PDT-PA Paraacute
x
28
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
111
Figura 2 Lodge Pesca esportiva 129
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza) 135
Figura 4 Resort Aventura e Natureza 137
Mapa 1 Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001-2006 97
Quadro 2 Programas e accedilotildees-siacutentese 99
Quadro 3 Quadro Sinoacutetico da Estrutura do Plano de Desenvolvimento do Turismo do estado do Paraacute 101
Quadro 4 Estrateacutegias de ProdutoMercado Poacutelo Beleacutem 120
Quadro 5 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Beleacutem 121
Quadro 6 Estrateacutegias de ProdutoMercado do Poacutelo Costa Atlacircntica 122
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica 123
Quadro 8 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Marajoacute 124
Quadro 9 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo AraguaiaTocantins 125
Quadro 10 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Tapajoacutes 126
Quadro 11 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Xingu 127
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao estado do Paraacute 73
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico 92
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais () 93
Graacutefico 4 Estrateacutegia eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT-PA 98
xi
29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003 2004 69
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados no estado do Paraacute 2002 2003 2004 71
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 73
xii
30
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO ix
ABSTRACT x
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES xi
1 INTRODUCcedilAtildeO 15
2 TURISMO ESPACcedilO E PLANEJAMENTO 26
21 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 27
22 SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMAS DE ACcedilOtildeES A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 37
23 O ESTADO E AS ESTRATEacuteGIAS DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 44
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO PARAacute 54
31 A EXPANSAtildeO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NA AMAZOcircNIA 55
32 O TURISMO NO ESTADO DO PARAacute UM BREVE BALANCcedilO 67
33 A IMPORTAcircNCIA DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NO NOVO PARAacute
77
4 O PDT
PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO 82
41 DIRETRIZES E ESTRUTURAS DO PDT-PA 83
42 A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO NO PDT-PA 102
43 A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA UMA ANAacuteLISE DO CONCEBIDO 112
44 ESPACcedilO TURISMO E DESENVOLVIMENTO DESVELANDO PROPOSTAS E INTENCcedilOtildeES 130
xiii
31
5 CONCLUSOtildeES 139
REFEREcircNCIAS 149
xiv
32
1 INTRODUCcedilAtildeO
16
A praacutetica do turismo pode ser caracterizada como algo recente dentro dos
debates geograacuteficos A partir da deacutecada de 1960 esse fenocircmeno vem despertando
interesse dentro das anaacutelises espaciais e tem conseguido ampliar novas discussotildees
que se tornaram importantes e que de certa forma referem-se principalmente ao
espaccedilo modificado pelas constantes viagens e pelo conhecimento de novos
territoacuterios (MOESCH 2002) De certa forma isso fez com que o turismo ao longo do
tempo modificasse paisagens e estabelecesse contatos interculturais Uma de suas
principais caracteriacutesticas eacute o fato de estar atrelado a uma praacutetica essencialmente
econocircmica sendo comumente denominado de uma induacutestria sem chamineacutes
(NICOLAS 2001)
Na esteira desse movimento a modernidade impotildee ao turismo um ritmo que
estaacute diretamente ligado ao consumo especialmente ao consumo do espaccedilo
(RODRIGUES 1999) Tal momento da modernidade implica em mudanccedilas sociais e
espaciais Eacute nesse ponto que a relaccedilatildeo da geografia com o turismo se faz presente
pois a mesma analisa os fatos sociais intriacutensecos agrave atividade dentro da loacutegica do
capital ou seja aquela que produz espaccedilos voltados para o turismo Com isso
altera-se a noccedilatildeo de que o turismo eacute uma praacutetica exclusivamente econocircmica Para
autores como Cruz (2001) a geografia do turismo refere-se agrave uma dimensatildeo soacutecio-
espacial Essa dimensatildeo pode ser tomada ainda numa escala planetaacuteria onde o
consumo do espaccedilo obedece a uma loacutegica global
Considerando-se a expansatildeo da atividade turiacutestica em acircmbito global a
intervenccedilatildeo espacial do turismo tende a se efetivar no territoacuterio a partir de um estudo
teacutecnico ou seja a partir da constataccedilatildeo de que um determinado lugar tem um
potencial turiacutestico favoraacutevel para o desenvolvimento da atividade Nesse sentido
vaacuterios estudos datildeo-se a partir do planejamento do turismo buscando potencializar
os atrativos locais
As caracteriacutesticas globais estatildeo presentes nas espacialidades do turismo
fenocircmeno este que conjuga valores universais de lazer em formatos padronizados
Vale destacar que as praacuteticas turiacutesticas se valem do consumo do espaccedilo formando
entatildeo o sistema da oferta do produto (o espaccedilo social) e da procura (aqui
caracterizado principalmente pela demanda turiacutestica)
17
A partir do momento em que a loacutegica da produccedilatildeo turiacutestica destaca-se no
espaccedilo sua configuraccedilatildeo social eacute alterada conforme interesses dos agentes
produtores do espaccedilo No momento de ser apropriado pela praacutetica turiacutestica o
espaccedilo se complexifica ainda mais e por ser uma atividade em que o espaccedilo eacute um
recurso o turismo estrutura-se em uma loacutegica de ampliaccedilatildeo de lugares voltados
para a praacutetica do lazer desencadeando o que Knafou (1999) chama de territoacuterios
turiacutesticos Certamente o espaccedilo eacute fundamental agrave atividade turiacutestica e por isso o
espaccedilo do turismo pode ser entendido como uma reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de
produccedilatildeo
Com isso as accedilotildees que resultam na metamorfose do espaccedilo estatildeo
vinculadas agraves concepccedilotildees de espaccedilo estrategicamente pensadas pelos atores
envolvidos Tais concepccedilotildees refletem a ideacuteia de espaccedilo que se pretende construir
para o turismo Muitas dessas ideacuteias estatildeo estritamente vinculadas ao planejamento
feito pelo Estado voltado para a atividade Para Lefebvre (1976) por exemplo o que
mais chama a atenccedilatildeo para a questatildeo do entendimento do que seja espaccedilo satildeo as
reproduccedilotildees das relaccedilotildees de produccedilatildeo processo este que se daacute em todo o mundo
em todas as dimensotildees da vida social no se trata de localizar en el espacio
preexistente una necessidad o una funcioacuten sino al contrario de espacializar una
actividad social vinculada a una praacutetica en su conjunto produciendo un espacio
apropriado (LEFEBVRE 1976 p 9)
No que diz respeito agraves caracteriacutesticas econocircmicas da atividade turiacutestica
muitos paiacuteses dependem em muito de seus circuitos mundiais Sua importacircncia gira
em torno da potencialidade turiacutestica que um lugar pode oferecer o que o torna um
grande aliado para o incremento da economia Torna-se por isso condicionante
fundamental no que se refere ao desenvolvimento de um lugar isto porque a
dinacircmica do capital eacute mediada pelo consumo dos lugares que utiliza atrativos
turiacutesticos de belas paisagens naturais e ou natildeo naturais ou ainda pauta-se na ideacuteia
do exoacutetico do diferente
Dentro dessa loacutegica o fenocircmeno turiacutestico amplia-se nos diversos lugares do
planeta causando muitas vezes uma profunda desarticulaccedilatildeo da estrutura soacutecio-
espacial do lugar o que leva a entender que o turismo pode ser visto como um
desarticulador de culturas locais para servir a uma loacutegica maior do consumo dos
18
lugares ou ainda de fomentar a economia A ideacuteia de desenvolvimento nesse
sentido estaria ligada ao consumo dos atrativos turiacutesticos dos lugares o que geraria
a capacidade do lucro ou divisas para um Estado mesmo que a sensaccedilatildeo de
negatividade ou de desarticulaccedilatildeo de culturashaacutebitos locais aconteccedila nos diferentes
espaccedilos onde o turismo esteja presente
A ideacuteia da transformaccedilatildeo dos lugares a partir do fenocircmeno do turismo
alicerccedila-se na capacidade do mesmo ser uma atividade contraditoacuteria ou ainda
hiacutebrida (BECKER 2002) poreacutem combinada Ao mesmo tempo em que o turismo
destroacutei (desarticula) os lugares ele os constroacutei ou impotildee uma nova dinacircmica
Luchiari (1999) por exemplo percebe que o turismo natildeo pode ser analisado apenas
do ponto de vista negativo ou destruidor Neste sentido tal praacutetica assume uma
postura de complexidade no mundo contemporacircneo por isso impulsiona novas
transformaccedilotildees Segundo a autora
O fenocircmeno contemporacircneo do turismo coloca-se como um vetor contraditoacuterio e emblemaacutetico neste processo acentua a produccedilatildeo dos lugares de consumo e o consumo dos lugares Mas natildeo pode ser tomado apenas do ponto de vista negativo como um desarticulador voraz de antigas formas e funccedilotildees sociais que em um processo linear destroacutei o velho substituindo-o pelo novo (LUCHIARI 1999 p 10)
Por mais que o turismo provoque mudanccedilas constantes e raacutepidas no lugar
existe ao mesmo tempo a possibilidade de novas sociabilidades juntamente com
um processo de revalorizaccedilatildeo de um lugar A articulaccedilatildeo entre o novo e o velho
acarreta uma forma hiacutebrida do espaccedilo socialmente produzido (LUCHIARI 1999)
Novos e antigos agentes espaciais aparecem nessa nova teia de relaccedilotildees tendo
como base a ampliaccedilatildeo do capital mediante a geraccedilatildeo de lucro O espaccedilo jaacute natildeo eacute
mais o mesmo ele eacute impulsionado pelo vetor das grandes viagens e dos negoacutecios o
que faz com que ele tenha uma nova composiccedilatildeo refletindo uma nova dinacircmica
soacutecio-espacial e tambeacutem uma nova funcionalidade
A dinacircmica do turismo estaacute alicerccedilada na necessidade de viajar e de
conhecer novos lugares O homem jaacute traz consigo a necessidade de viajar que estaacute
19
associada a uma liberdade por conhecer coisas diferentes Romero apud Rodrigues
(1999 p 27) afirma que o homem eacute um viajante por natureza uma vez que suas
necessidades e desejos estatildeo fora de si mesmos Segundo esse autor para viajar
deve-se partir do conhecido para o desconhecido Eacute a partir da praacutetica social da
viagem que o homem produz novos territoacuterios O turismo assim seria um fio
condutor dessa constante mobilidade Cruz (2001) ao relacionar turismo e produccedilatildeo
de espaccedilos afirma que o turismo eacute a uacutenica atividade social que consome
elementarmente o espaccedilo (CRUZ 2001 p v) Apesar de tal afirmaccedilatildeo suscitar
duacutevidas quanto agrave exclusividade do turismo em relaccedilatildeo ao espaccedilo isso mostra como
a atividade turiacutestica estaacute diretamente vinculada ao consumo do mesmo
Rodrigues (1999) prefere falar que o turismo define dois tipos de consumos
do espaccedilo De um lado existe o consumo consuptivo que se esgota em si mesmo
e de outro o consumo produtivo que ao contraacuterio do primeiro natildeo se esgota em si
mesmo Com efeito o turista ao realizar viagens pelo mundo afora cria uma
expectativa comparada ao seu desejo de conhecer aquele lugar Nesse sentido
como afirma Urry (1996) o olhar
do turista passa a ser decisivo na sua relaccedilatildeo
com os lugares turiacutesticos Segundo Urry (1996) esse eacute um dos motivos pelo qual a
induacutestria do turismo tem que realmente tornar o espaccedilo um produto a ser bem
consumido o olhar do turista natildeo pode ser deslocado para as paisagens feias
porque essas natildeo alimentam o desejo de retorno ao lugar O autor amplia o debate
sobre o enfoque social de que o turismo faz parte por mais que os serviccedilos
caracterizem uma induacutestria haacute uma interaccedilatildeo social profunda nessa relaccedilatildeo
Segundo o autor
A ecircnfase dada agrave qualidade da interaccedilatildeo social entre os produtores e os consumidores dos serviccedilos turiacutesticos significa que o desenvolvimento dessa induacutestria natildeo se explica simplesmente em termos de determinantes econocircmicos () Torna-se igualmente necessaacuterio examinar uma gama de
mudanccedilas culturais que transformam as expectativas das pessoas em relaccedilatildeo agravequilo que elas querem contemplar () (URRY 1996 p 64)
Isso nos mostra que o turismo eacute fundamentado em uma seacuterie de conflitos
sociais inerentes agrave produccedilatildeo do espaccedilo Tais conflitos apresentam alguns agentes
20
importantes como o proacuteprio turista as empresas de viagens e o Estado Esses
atores entrelaccedilam-se e alteram a composiccedilatildeo do espaccedilo produzido pela dinacircmica do
turismo consubstanciando em uma nova visatildeo de mundo mais complexa e mais
dinacircmica Essa visatildeo do turismo estaacute preocupada com transformaccedilotildees ocorridas
durante o processo de globalizaccedilatildeo como produto do capitalismo mundial Segundo
Carlos (2002) o espaccedilo geograacutefico por conta da incessante busca pelo prazer dos
lugares oferecidos em pacotes turiacutesticos vem sendo cada vez mais objeto
mercadoloacutegico de troca ou seja o espaccedilo torna-se mercadoria fazendo com que o
mesmo se especialize ainda mais a partir das praacuteticas turiacutesticas
O espaccedilo socialmente produzido reuacutene objetos espaciais capazes de dar
conta de estruturas globais decorrentes do fluxo de turistas em toda a parte do
planeta A criaccedilatildeo de resorts parques temaacuteticos entre outros amplia cada vez mais
a importacircncia do turismo ao mesmo tempo em que estabelece uma espeacutecie de
confinamento do espaccedilo reunindo as necessidades baacutesicas para a reproduccedilatildeo do
turismo
Carlos (2002) estabelece uma criacutetica interessante ao fenocircmeno do turismo de
massa praticado em diversas partes do mundo Segundo a autora a induacutestria do
turismo transforma tudo o que toca em artificial o lazer natildeo estabelece mais um
sentido de originalidade dentro de cada cultura tudo eacute artificializado e
estandartizado e as relaccedilotildees sociais dessa forma satildeo relaccedilotildees superficiais em que
o lucro e a vontade por comprar aparecem em detrimento de um contato com as
culturas diferentes Segundo a autora o turismo eacute capaz de produzir espaccedilos onde
haacute a natildeo-identidade com o lugar (CARLOS 2002 p 26)
Na tentativa de utilizar o turismo como uma possiacutevel saiacuteda para o
desenvolvimento dos lugares o Estado lanccedila matildeo de artifiacutecios para que haja a
efetivaccedilatildeo da praacutetica do turismo associada agrave transformaccedilatildeo do territoacuterio Eacute desse
modo que o turismo amplia as condiccedilotildees de transformaccedilatildeo do espaccedilo e o lazer
adquire expressividade entre as poliacuteticas puacuteblicas
Para tanto o planejamento da atividade turiacutestica torna-se um instrumento
capaz de realizar mudanccedilas espaciais que repercutem na estrutura do lugar
modificando a paisagem no sentido de viabilizar seu dinamismo Poreacutem muitas
21
vezes o planejamento pode ser visto a partir de uma oacutetica exclusivamente
econocircmica e com isso o desenvolvimento do turismo acaba por natildeo considerar
aspectos sociais relevantes para o estudo teacutecnico do setor ou ateacute mesmo os
possiacuteveis impactos soacutecio-ambientais causados pela instalaccedilatildeo da aparelhagem
turiacutestica como por exemplo resorts cadeias de hoteacuteis etc Isto porque de uma
forma geral o turismo no atual contexto da globalizaccedilatildeo estaacute muito mais voltado
para a ordenaccedilatildeo dos territoacuterios a partir de uma loacutegica de mercado que permite
muito mais a competiccedilatildeo entre os lugares do que o desenvolvimento social
Ligado agraves poliacuteticas puacuteblicas de governo de um Estado o planejamento
turiacutestico evoca ideacuteias e concepccedilotildees de espaccedilo cultura economia poliacutetica e
sociedade Hall (2001) ao descrever a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas para o
turismo faz uma ressalva de que elas expressam ideacuteias ligadas a um tipo de
governo e suas accedilotildees satildeo decorrentes de uma estrutura loacutegica pensada pelo Estado
numa intervenccedilatildeo espacial
A elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eacute antes de tudo uma atividade poliacutetica e essas satildeo influenciadas por caracteriacutesticas econocircmicas sociais e culturais da sociedade assim como pelas estruturas formais de governo e outros aspectos do sistema poliacutetico A poliacutetica deve portanto ser encarada como uma consequumlecircncia do ambiente poliacutetico dos valores e das ideologias da distribuiccedilatildeo de poder das estruturas institucionais e dos processos de tomada de decisatildeo (HALL 2001 p 26)
Cruz (2001) destaca a importacircncia de haver uma poliacutetica puacuteblica de turismo
que leve em consideraccedilatildeo o desenvolvimento soacutecio-espacial do lugar Para isso o
Estado torna-se o principal agente responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo ou idealizaccedilatildeo das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo colocando metas e diretrizes para que haja uma
melhor efetivaccedilatildeo Segundo a autora quando a esfera puacuteblica natildeo toma a iniciativa
de um planejamento que considere os aspectos soacutecio-espaciais as poliacuteticas ficam a
criteacuterio das intenccedilotildees da iniciativa privada e interesses particulares de outros
agentes do setor (CRUZ 2001)
No Brasil a tomada das poliacuteticas puacuteblicas de turismo tem sido orientada para
o planejamento da atividade no sentido de promover sua expansatildeo e consolidaccedilatildeo
22
no mercado global do setor Como o Estado brasileiro possui grandes complexos
regionais as poliacuteticas de turismo seguem uma tendecircncia de organizaccedilatildeo a partir da
elaboraccedilatildeo de projetos regionais ou ainda dos proacuteprios estados constituindo-se um
rol de planejamentos que se diferenciam regional ou localmente Isto quer dizer que
por mais que exista uma poliacutetica nacional de turismo implementada pelo governo
federal brasileiro as regiotildees promovem projetos de turismo diferentes umas das
outras Poreacutem o que haacute de comum eacute que as poliacuteticas de turismo estatildeo dentro de um
sistema de turismo (BOULLOacuteN 2002) ou seja as estruturas locais estatildeo
destinadas a aumentar o fluxo turiacutestico assim como o bem estar do turista Os
serviccedilos turiacutesticos devem entatildeo satisfazer o prazer e o conforto do turista ao
mesmo tempo em que multiplica as oportunidades de lazer (BOULLOacuteN 2002 p 37)
Eacute nesse sentido que Hall (2001) define poliacuteticas de turismo como decisotildees
poliacuteticas sobre o futuro de um lugar e sobre o ordenamento do espaccedilo Tais
poliacuteticas por exemplo no plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute satildeo antes
de tudo uma forma de pensar o espaccedilo a partir de uma concepccedilatildeo voltada ao
turismo
Para poder incrementar ou fomentar o setor turiacutestico o Estado atraveacutes dos
governos municipais e estaduais lanccedila uma estrateacutegia agrave sociedade que se torna
bandeira slogan ou propaganda de governo a de que o turismo eacute capaz de gerar
desenvolvimento e bem-estar social Nesse sentido o planejamento do espaccedilo
voltado para a atividade turiacutestica entra em cena com o intuito de validar tal
perspectiva e acima de tudo fazer dessa situaccedilatildeo um ponto positivo para ganhar
adesatildeo social O planejamento do turismo leva em consideraccedilatildeo uma seacuterie de
outros fatores que conjugados demandam uma grande articulaccedilatildeo do governo com
outros setores para fazer funcionar tal processo
Dada agrave exposiccedilatildeo das ideacuteias cabe neste trabalho levantar as seguintes
questotildees 1) Qual eacute a concepccedilatildeo de turismo sustentada pelo Governo do Estado e
visualizada no PDT-PA 2) Que estrateacutegias espaciais estatildeo inseridas no plano a fim
de fomentar a atividade turiacutestica no territoacuterio paraense e 3) Qual a importacircncia do
turismo enquanto um fator de desenvolvimento para o territoacuterio paraense segundo
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo voltadas para o Estado
23
A tomada de decisotildees por parte do Estado no que se refere agrave elaboraccedilatildeo de
um plano de turismo como o PDT-PA levanta a ideacuteia de uma conciliaccedilatildeo entre a
produtividade e a funccedilatildeo social (OSMONT 2002) A elaboraccedilatildeo de um plano de
desenvolvimento de turismo traz em seu interior um novo entendimento do espaccedilo
a ser transformado mediante accedilotildees concebidas em tal documento O Estado do
Paraacute se vecirc entatildeo como um novo
palco de accedilotildees que tecircm como objetivo final
transformar seu espaccedilo em um novo roteiro turiacutestico mundial Tal sentido de novo
perpassa por pelo menos duas caracteriacutesticas gerais A primeira diz respeito ao
novo enquanto um mercado turiacutestico diferenciado de outros do tipo sol e praia
caracteriacutesticos por exemplo da regiatildeo Nordeste brasileira Nesse contexto a
perspectiva do plano eacute fazer com que o turista se sinta atraiacutedo pelo o que o Estado
oferece de mais abundante ou seja sua natureza verde ou propriamente falando
de uma parte da Amazocircnia diferente das outras pelo fato de apresentar natildeo
somente caracteriacutesticas naturais mas tambeacutem por mostrar cultura e histoacuteria
peculiares
O outro tipo de novo refere-se diretamente ao desenvolvimento que o
turismo pode gerar no Estado E nesse sentido o esforccedilo para que isso aconteccedila eacute
resultante de obras e articulaccedilotildees que o governo propotildee aos sujeitos que estejam
dispostos a mudar a realidade social do Estado Percebe-se portanto que o turismo
figura como um dos pilares responsaacuteveis para tirar o Estado do atraso econocircmico
em que vive bem como para tornaacute-lo um elemento de legitimidade social perante agrave
populaccedilatildeo residente Esse fasciacutenio que o fenocircmeno do turismo causa requer pensar
antes nas concepccedilotildees e estrateacutegias formuladas pelo governo na construccedilatildeo do
plano
A estrutura do plano em seu objetivo maior traduz de forma sinteacutetica o que
estaacute representado nas accedilotildees dos programas vinculados ao documento Essa
realidade potildee em praacutetica a formulaccedilatildeo de novas estrateacutegias econocircmicas voltadas
para uma espeacutecie de internacionalizaccedilatildeo dos espaccedilos ou ainda no que diz respeito
ao turismo pela atraccedilatildeo ampliada de consumidores (SAacuteNCHEZ 1999 p 3)
Eacute neste sentido que este trabalho tem como objetivo geral analisar a
concepccedilatildeo de turismo presente no Plano de Desenvolvimento de Turismo do estado
do Paraacute assim como suas espacialidades ou seja as estrateacutegias espaciais
24
pensadas pelo estado paraense na tomada de decisotildees sobre o turismo associadas
agrave condiccedilatildeo de desenvolvimento dessa atividade Para tanto estatildeo contemplados
ainda neste trabalho alguns objetivos especiacuteficos importantes como
a) Identificar e analisar a concepccedilatildeo de turismo que estaacute presente no PDT-PA
veiculada pelo Governo de Estado
b) Identificar e analisar as possiacuteveis estrateacutegias espaciais ou seja suas
espacialidades inseridas eou subjacentes no PDT-PA
c) Perceber e analisar a importacircncia do turismo como fator de
desenvolvimento face agraves poliacuteticas voltadas para o setor concebidas pelo governo a
partir do PDT-PA
Para que o percurso dessa pesquisa seja efetivado a metodologia aqui
utilizada estaacute estruturada na anaacutelise sistemaacutetica do documento principal PDT-PA
ou ainda a anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 2003)
Nesse sentido de acordo com Bardin (2003) a anaacutelise de conteuacutedo permite
realizar uma especificidade das mensagens ou a comunicaccedilatildeo das ideacuteias contidas
em um documento uma espeacutecie de anaacutelise categorial das temaacuteticas abordadas
(TRIVINtildeOS 1987 BARDIN 2003)
Seguindo esta metodologia o plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
permite olhares diversos sobre sua temaacutetica principal o turismo Poreacutem aqui este
trabalho tem como diretriz fazer uma anaacutelise do tipo geograacutefica na qual o espaccedilo
paraense natildeo surge como receptaacuteculo das manifestaccedilotildees do turismo mas sim
como condiccedilatildeo e produto das relaccedilotildees sociais
Para tanto a estrutura desta anaacutelise segue em trecircs seccedilotildees importantes A
primeira de cunho teoacuterico faz um balanccedilo das obras que tratam de questotildees
fundamentais como o espaccedilo a partir de Santos (1997 2001 2002 2004)
Planejamento e Poliacuteticas Puacuteblicas (CRUZ 2001) que neste momento apoacuteiam-se
nas accedilotildees do Estado enquanto agente importante para a elaboraccedilatildeo de praacuteticas
envolvendo a dinacircmica de construccedilatildeo de espaccedilos voltados para a atividade turiacutestica
25
Esses elementos teoacutericos satildeo cruciais para a anaacutelise dos fundamentos aqui
aplicados
Na segunda seccedilatildeo do trabalho procura-se mostrar como o turismo tornou-se
peccedila importante nas estrateacutegias do Estado principalmente na tomada do
desenvolvimento Seguindo a metodologia da anaacutelise de conteuacutedo o estudo de
documentos importantes como os Planos de Turismo para a Amazocircnia assim como
dados referentes agrave praacutetica do turismo satildeo necessaacuterios para tecer um comentaacuterio
geral de como o turismo eacute tratado pelo Estado (federal e estadual) ao longo dos
anos Na sequumlecircncia ainda nesta parte do trabalho a anaacutelise do Programa Novo
Paraacute mostra-se pertinente pois este a partir de uma estrateacutegia do Governo do
Estado do Paraacute torna-se um documento que reuacutene as principais diretrizes para a
elaboraccedilatildeo do PDT-PA
Na uacuteltima parte ocorre a anaacutelise e sistematizaccedilatildeo das principais ideacuteias
contidas no Plano de Turismo do Paraacute Sua estrutura concepccedilatildeo espacialidade
estrateacutegia e sua noccedilatildeo de desenvolvimento fundamentam-se como eixo norteador
desta pesquisa Neste momento a tentativa eacute de expor os argumentos apresentados
pelo Estado a partir do plano e relacionaacute-los com os fundamentos cientiacutefico-
geograacuteficos que aqui satildeo privilegiados
Por fim na seccedilatildeo Consideraccedilotildees Finais as perguntas elaboradas no
decorrer desta pesquisa e fruto de debates criados ao longo da construccedilatildeo desse
projeto procuram ser respondidas tentando assim mostrar o aspecto analiacutetico-
geograacutefico presente no Plano
26
2 Turismo Espaccedilo e Planejamento
27
21 O turismo como fator de desenvolvimento consideraccedilotildees iniciais
O turismo vem provocando profundas alteraccedilotildees nas estruturas econocircmicas
sociais e culturais do mundo e isso se torna condiccedilatildeo para um aprofundamento de
seus estudos principalmente aqueles de dimensatildeo espacial Tal fato requer uma
anaacutelise mais aprofundada sobre os conceitos que envolvem o turismo
principalmente agravequeles que estatildeo ligados agrave condiccedilatildeo do desenvolvimento Este por
sua vez tem sido um elemento recorrente nos debates sobre as accedilotildees provenientes
do turismo Por isso mesmo as repercussotildees mundiais dessa atividade tecircm
chamado a atenccedilatildeo natildeo soacute de pessoas ligadas agrave reproduccedilatildeo da atividade mas
tambeacutem de pesquisadores interessados em analisar como a atividade turiacutestica estaacute
relacionada com o fator do desenvolvimento e de certa forma como eles se
espacializam
No ano de 2005 quase 7 milhotildees de turistas estrangeiros visitaram o Brasil
(ABAV 2006) Segundo a ABAV foi o maior nuacutemero de turistas que visitaram o paiacutes
em toda a sua histoacuteria Apesar de ser ainda um nuacutemero muito inferior ao dos paiacuteses
centrais como a Franccedila e os EUA (SILVA 1998) a movimentaccedilatildeo financeira no ano
de 2005 no Brasil gerou um crescimento de 1983 em relaccedilatildeo ao ano de 20041
desencadeando um lucro de US$ 3222 bilhotildees (ABAV 2006)
Segundo Silva (1998) a projeccedilatildeo que a Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo faz
para o ano de 2010 eacute que o turismo deveraacute empregar 250 milhotildees de pessoas (OMT
apud SILVA 1998 p102) e ainda para 2020 que a China seraacute o primeiro paiacutes do
mundo com o maior nuacutemero de estrangeiros (cerca de 196 milhotildees) seguido dos
Estados Unidos (102 milhotildees) Franccedila (93 milhotildees) e Espanha (71 milhotildees) Para a
Ameacuterica do Sul a projeccedilatildeo ainda eacute muito pequena em relaccedilatildeo aos paiacuteses que jaacute
recebem um grande fluxo de turistas estrangeiros Poreacutem mesmo assim as
instituiccedilotildees governamentais procuram estabelecer metas e diretrizes que
incrementam o setor turiacutestico a fim de promover a expansatildeo do mesmo De certo o
que se deve destacar a partir desses dados eacute que existe uma verdadeira difusatildeo
1 Estes nuacutemeros referem-se a uma pesquisa feita pelo Banco Central no iniacutecio de 2006 a pedido da Associaccedilatildeo Brasileira de Agecircncias de Viagens (ABAV)
28
espacial do turismo no mundo inteiro e que oacutergatildeos privados e estatais procuram
meios de divulgaccedilatildeo ao mesmo tempo em que fortalecem ainda mais o fomento da
atividade turiacutestica Essas caracteriacutesticas fazem do fenocircmeno turiacutestico um consumidor
de espaccedilos (CRUZ 2001) e sua reproduccedilatildeo depende dessa condiccedilatildeo
A expansatildeo da atividade turiacutestica fez com que o espaccedilo geograacutefico ampliasse
suas caracteriacutesticas e tambeacutem adquirisse uma nova funcionalidade a dos espaccedilos
voltados para o lazer Essa caracteriacutestica talvez seja a primeira que interessa aos
sujeitos dispostos em conhecer novos lugares Numa tentativa de mudar a rotina do
dia-a-dia os turistas procuram ampliar os conhecimentos de novos lugares e
estabelecem um contato de diferentes culturas entre o seu lugar de origem ou
residecircncia fixa (o lugar de seu trabalho semanal rotineiro) e o desconhecido (o lugar
novo a ser visitado) O lazer dessa forma torna-se componente fundamental para
se entender a dinacircmica espacial do turismo Segundo Martins (2004) o habitante de
uma cidade abre novos e espantosos capiacutetulos no relacionamento com o territoacuterio
(MARTINS 2004 p 16) ao conhecer novos lugares que natildeo pertencem ao seu
cotidiano Camargo relaciona o lazer a uma escolha pessoal do indiviacuteduo dentro de
um tempo precioso onde se pode exercitar com mais criatividade as alternativas de
accedilatildeo ou participaccedilatildeo (CAMARGO 2003 p 11) Nesse caso o indiviacuteduo ao praticar
o turismo tem certa liberdade de escolher os espaccedilos onde pretende exercer suas
atividades voltadas para seu descanso
Levando-se em consideraccedilatildeo que a ciecircncia a tecnologia e a informaccedilatildeo
hoje redefinem novos paradigmas sociais como os da produccedilatildeo industrial do
mercado e dos serviccedilos inclusive os de comportamento pode-se concluir que o
lazer torna-se uma praacutetica importante para o estabelecimento de novos fluxos
econocircmico-sociais fluxos esses que redefinem novas praacuteticas espaciais Segundo
Rodrigues (1999)
O acesso ao conhecimento eacute relevante para a atraccedilatildeo de novos capitais influenciando de maneira decisiva a adoccedilatildeo de novas necessidades alterando-se os haacutebitos de consumo Nesse particular o eterno mito do retorno seraacute reforccedilado pela miacutedia que vem incentivando de forma bastante agressiva a busca da natureza () (RODRIGUES 1999 p 18)
29
Esse novo tipo de lazer mais ligado ao ritmo da modernidade entra num
circuito da troca (CARLOS 2002) em que aacutereas do planeta situam-se no processo
de comercializaccedilatildeo dos lugares A liberdade individual entatildeo passa a ser cooptada
pelo mercado onde o turista participa desse processo de escolha dos lugares de
forma passiva Poreacutem que tipo de lazer eacute esse Segundo Carlos (2002) o lazer da
sociedade moderna muda seu sentido e passa a ser inserido natildeo como uma
atividade espontacircnea mas sim como uma forma de desenvolvimento da sociedade
do consumo
Tal fato significa que o lazer se torna uma necessidade Isto eacute no curso do desenvolvimento da reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais produz-se nova atividade produtiva diferenciada com ocupaccedilotildees especializadas que produz um novo espaccedilo e ou novas formas de uso deste espaccedilo (CARLOS 2002 p 25)
Segundo ainda a mesma autora essas necessidades provocam um
sentimento de estranhamento mas que por outro lado tornam os lugares como
espaccedilos de espetaacuteculo onde o turista pratica um lazer passivo porque eacute mediado
pelos grandes agentes do capital do turismo Aleacutem de serem ordenados pelos
agentes do capital vinculados ao turismo a produccedilatildeo de novos espaccedilos desperta
tambeacutem o interesse de outros agentes que pretendem a partir das praacuteticas
turiacutesticas organizar o espaccedilo de forma sistematizada e racional Sendo assim a
figura do Estado torna-se imprescindiacutevel no que se refere ao planejamento do
espaccedilo turiacutestico Tal planejamento eacute voltado para a formaccedilatildeo de territoacuterios
destinados ao lazer caracterizados por meio de uma referecircncia espacial de cada
lugar Os planejamentos seguem assim uma ordem de produtividade em que
dependem do grande fluxo de visitantes O espaccedilo eacute concebido segundo um
pensamento em que sua funcionalidade aleacutem de ser voltado para o lazer deve
estar em conexatildeo com a geraccedilatildeo de divisas Com isso o turismo passa da esfera do
simples lazer e da busca de novos lugares para ocupar uma importacircncia referente
ao reordenamento espacial Eacute a partir do interesse do Estado em promover o
turismo em um lugar que surgem tambeacutem possibilidades de transformaccedilotildees dos
lugares com o intuito de desencadear um desenvolvimento Percebe-se entatildeo que
30
a loacutegica de reordenamento dos territoacuterios a partir de uma oacutetica do Estado estaacute
associada agrave ideacuteia de desenvolvimento de um determinado lugar Ao turismo cabe
com isso ter um papel fundamental na elaboraccedilatildeo das poliacuteticas de desenvolvimento
A literatura sobre o desenvolvimento do setor turiacutestico tem apresentado
variados temas que situam o ordenamento territorial e o progresso econocircmico-social
como principais fundamentos de seu processo entendendo-se o turismo como um
dos elementos fundadores do lazer moderno da sociedade atual sua repercussatildeo
no espaccedilo geograacutefico requer natildeo soacute uma condiccedilatildeo teacutecnica como tambeacutem situaccedilotildees
em que o desenvolvimento da atividade sirva como um fator de melhoria para a
populaccedilatildeo local inserida no processo de transformaccedilatildeo espacial Destarte o turismo
procura estabelecer diversas estrateacutegias para que seus desdobramentos possam
mitigar seus impactos sociais ambientais e culturais a fim de promover
concatenaccedilatildeo entre a geraccedilatildeo de divisas da atividade e a melhoria da qualidade de
vida da populaccedilatildeo local
Hoje o debate sobre o desenvolvimento e o turismo muitas vezes serve de
justificativa para que muitos governos possam inserir a atividade dentro dos
territoacuterios com o intuito de impulsionar o turismo a todo o custo sempre relacionando
o turismo agrave ideacuteia de progresso social Sendo assim o desenvolvimento torna-se
apenas um artifiacutecio manipulado por autoridades de Estado e tambeacutem pela iniciativa
privada que vecircem o turismo como uma saiacuteda para o atraso social de um lugar
Este quadro de caracteriacutesticas e atributos que satildeo relacionados agrave questatildeo do
desenvolvimento de forma equivocada na sua maioria muito se deve agrave proacutepria
histoacuteria do desenvolvimento conforme se tem analisado na literatura cientiacutefica Isto
quer dizer que a indefiniccedilatildeo do que seja desenvolvimento contribui amplia a
complexidade do termo e gera consequumlecircncias soacutecio-espacias
No que diz respeito agrave esfera do turismo a realidade dessa situaccedilatildeo natildeo seria
diferente posto que as anaacutelises feitas pelos oacutergatildeos planejadores de
desenvolvimento natildeo levam em consideraccedilatildeo uma maior efetividade da populaccedilatildeo
quando o assunto eacute inserir a dinacircmica do turismo em um lugar Com isso o turismo
destaca-se notadamente como uma atividade que gera lucro poreacutem em certos
casos desassociada da qualidade de vida de uma populaccedilatildeo A essa condiccedilatildeo
31
apresenta-se tambeacutem uma disparidade de realidades quando se debate sobre
desenvolvimento Isto porque nos paiacuteses ricos (paiacuteses centrais) a poliacutetica de
desenvolvimento segue uma realidade peculiar e o que se vecirc eacute uma tentativa de
seguir as mesmas diretrizes e estrateacutegias espaciais natildeo levando em consideraccedilatildeo a
realidade de paiacuteses em que variaacuteveis como renda per capta escolaridade sauacutede e
infra-estrutura satildeo muito diacutespares Dessa forma tenta-se ratificar um
desenvolvimento do turismo nos mesmos moldes de paiacuteses como Franccedila Espanha
Estados Unidos Itaacutelia onde a atividade eacute uma praacutetica jaacute consolidada
Rodrigues (2002) ao comentar a relaccedilatildeo entre o turismo e seus efeitos nos
paiacuteses perifeacutericos situa a necessidade de chamar a atenccedilatildeo para pesquisas e
discussotildees sobre a temaacutetica do desenvolvimento Segundo a autora
Os efeitos do turismo demandam urgecircncia e seriedade nas pesquisas particularmente nos paiacuteses de economia perifeacuterica localizados no mundo intertropical com praias paradisiacuteacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimocircnio mundial Natildeo menos importantes satildeo os estudos visando agrave avaliaccedilatildeo da dimensatildeo econocircmica do fenocircmeno tendo em vista sua importacircncia no desenvolvimento com base local ou seja voltado para a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo dos lugares e regiotildees onde novos projetos se encontram em fase de implantaccedilatildeo ou em aacutereas que jaacute sofreram degradaccedilotildees devido ao uso indiscriminado e necessitam de estrateacutegias urgentes para a mitigaccedilatildeo dos impactos (RODRIGUES 2002 p 9)
Essa relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o turismo demanda uma importacircncia
que estaacute assentada na diminuiccedilatildeo de seus possiacuteveis impactos ressaltada nos
documentos que retratam tal temaacutetica Dessa forma o desenvolvimento surge como
uma tentativa de suplantar os impactos causados pelos processos de transformaccedilatildeo
espacial que estatildeo relacionados ao turismo
Durante muitos anos a ideacuteia de desenvolvimento esteve associada agrave ideacuteia de
crescimento Isso fez com que a literatura desenvolvida por especialistas da aacuterea
influenciasse governos ao se defrontarem com a possibilidade de implementar o
desenvolvimento em um determinado paiacutes ou regiatildeo Essa noccedilatildeo de
32
desenvolvimento encontra no turismo um dos vetores desse possiacutevel crescimento
tornando o turismo panaceacuteia para todos os males sociais (ROCHA 2002)
Alguns roacutetulos satildeo criados com a finalidade de ampliar o leque de discussotildees
sobre a eficaacutecia e consistecircncia do desenvolvimento do turismo Atualmente o
Estado investe consideravelmente suas accedilotildees de poliacuteticas de desenvolvimento no
chamado turismo sustentaacutevel numa tentativa de associar harmonicamente a
questatildeo da geraccedilatildeo de lucro com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Rocha (2002)
ainda faz uma criacutetica contundente a respeito desse novo modelo de
desenvolvimento do turismo onde a preservaccedilatildeo do meio ambiente torna-se o
centro das discussotildees envolvendo o significado de desenvolvimento Segundo o
autor o governo brasileiro imprime um discurso ambientaliacutestico por meio do qual a
preocupaccedilatildeo com uma possiacutevel destruiccedilatildeo da natureza estaacute ligada agrave ideacuteia de
sustentabilidade econocircmica e social
O discurso hegemocircnico e tambeacutem do governo brasileiro sobre a importacircncia do desenvolvimento do setor cada vez mais se recheia de expressotildees de caraacuteter ambientaliacutestico numa tentativa de convencer que o incentivo oferecido eacute motivado pela preocupaccedilatildeo ecoloacutegica haja vista ser esta atividade uma alternativa para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel Na praacutetica entretanto eacute impossiacutevel negar a mercantilizaccedilatildeo da natureza e da cultura consideradas as principais mateacuterias-primas para o turismo ecoloacutegico ou ecoturismo (ROCHA 2002 p 163)
Segundo ainda o mesmo autor essas premissas natildeo fogem agraves caracteriacutesticas
do turismo tradicional pois carregam no seu cerne a condiccedilatildeo de crescer para
atingir o desenvolvimento seria entatildeo uma espeacutecie de artificializaccedilatildeo da natureza
Souza (1997) estabelece um importante contraponto a essa noccedilatildeo
equivocada que permeia a noccedilatildeo de desenvolvimento Segundo o autor a literatura
cientiacutefica que trata da questatildeo do desenvolvimento negligenciou o espaccedilo e ou o
reduziu a uma visatildeo economicista (SOUZA 1997) A ideacuteia de melhoria estava
associada a de bem-estar material percebida por exemplo nos trabalhos de Rodan
(1964) Ainda mais que os teoacutericos sobre o desenvolvimento afirmassem que para
haver o desenvolvimento de uma regiatildeo deprimida economicamente sua
33
industrializaccedilatildeo deveria ser forte extraindo os recursos naturais necessaacuterios para
superar a pobreza de um lugar Este uacuteltimo autor argumentava naquela eacutepoca que
uma induacutestria somente alcanccedilaria um tamanho oacutetimo se houvesse uma ampla aacuterea
para seu desenvolvimento para que diminuiacutesse assim as possibilidades de risco
marginal (RODAN 1964 p 252)
Outros autores que seguiram esta mesma linha de pensamento sobre o
significado de desenvolvimento como Baran (1964) estabelecem que para haver
algum tipo de mudanccedila na sociedade que levasse agraves melhorias sociais de uma
naccedilatildeo a classe meacutedia de um paiacutes deprimido2 deveria se posicionar contra as
mazelas produzidas pelo capitalismo crescente Segundo este autor haveria uma
melhor distribuiccedilatildeo da renda se houvesse um consumo da populaccedilatildeo poreacutem o
problema eacute que esse consumo das coisas que geram os fluxos econocircmicos de um
paiacutes eacute praticado por uma pequena elite residente nas aacutereas mais privilegiadas
Nesse sentido os gastos realizados pela elite local estatildeo concentrados em coisas
supeacuterfluas como os artigos de luxo A consequumlecircncia para Baran (1964) eacute que natildeo
se concretiza uma forma de poupar as riquezas da populaccedilatildeo logo o
desenvolvimento do lugar natildeo se estabelece Ainda segundo o mesmo autor o que
de fato provoca a insustentabilidade econocircmica de um lugar eacute a pouca oportunidade
de investimentos do grande capital Percebe-se entatildeo que a oportunidade de
desenvolvimento estaacute intimamente condicionada pelos investimentos empresariais
Toda a infra-estrutura do lugar deveria estar em consonacircncia com a produtividade
de uma empresa Sendo assim
Natildeo resta duacutevida que a ausecircncia de economias externas e a inadequaccedilatildeo do meio econocircmico nos paiacuteses subdesenvolvidos constituem fatores desestimulantes aos investimentos em projetos industriais Natildeo haacute meios de preencher rapidamente essas deficiecircncias Investimentos de grande porte supotildeem a preexistecircncia de investimentos tambeacutem de grande porte Estradas usinas eleacutetricas redes ferroviaacuterias e casas tecircm que ser construiacutedas antes para que o empresaacuterio ache rentaacutevel investir em novas induacutestrias (BARAN 1964 p 91)
2 Vale lembrar que a expressatildeo economia deprimida eacute muito visualizada nos trabalhos de economistas do poacutes-guerra em que estes se referiam aos paiacuteses subdesenvolvidos principalmente os que ainda estabeleciam uma dependecircncia econocircmica muito forte com os paiacuteses centrais Os trabalhos sobre esse tipo de desenvolvimento ganharam destaque principalmente a partir dos anos 1950 na Europa e nos EUA
34
Esse tipo de teoria apesar de se referir a um contexto natildeo muito atual ainda
deixa influecircncias muito fortes no que diz respeito agrave abordagem especiacutefica do
desenvolvimento relacionado com a economia de um lugar Para os paiacuteses
subdesenvolvidos essa realidade suplantaria a necessidade do desenvolvimento
econocircmico de uma sociedade de um paiacutes pobre Ou seja haveria uma mudanccedila na
estrutura social de um paiacutes se houvesse um maior investimento no consumo dos
materiais necessaacuterios para um progresso econocircmico
O paradigma do desenvolvimento econocircmico preencheu vaacuterios debates ao
longo dos uacuteltimos anos referindo-se principalmente agrave forma de consumo de bens
industrializados ou ainda a induacutestria e seus efeitos na economia de um lugar eacute que
desencadeariam um processo de melhoria social Hirschman (1985) por exemplo
analisa a situaccedilatildeo financeira de um paiacutes para alcanccedilar a superaccedilatildeo de problemas
soacutecio-econocircmicos Para o autor o controle fiscal por parte do Estado repercute em
um aumento de divisas para uma naccedilatildeo Assim sendo para que os efeitos fiscais
sejam um mecanismo de desenvolvimento eficaz a habilidade de taxar deve ser
combinada com a habilidade de investir (HIRSCHMAN 1985 p 44) Sem essa
condiccedilatildeo aumenta-se ainda mais o problema da burocracia e o entrave para o
crescimento o alcance do desenvolvimento adviria atraveacutes do que ele chama de
efeitos em cadeia nos quais investimentos realizados em um paiacutes quando bem
estruturados repercutem em processo de desencadeamento da produccedilatildeo Ou seja
fazendo uma associaccedilatildeo com a praacutetica turiacutestica o processo de efeitos em cadeia
do turismo ocasionaria um processo de desenvolvimento em outras atividades que
gerassem o desenvolvimento em um lugar como por exemplo a educaccedilatildeo
saneamento baacutesico e assim por diante Esse processo de repercussatildeo em cadeia
ocorreria tambeacutem juntamente com uma mobilidade espacial onde a novidade ou o
novo produto do processo de desenvolvimento econocircmico aconteceria em um outro
lugar e assim sucessivamente
Esse conjunto de caracteriacutesticas pertinente ao conceito de desenvolvimento
para Souza (1997) revela uma espeacutecie de redistribuiccedilatildeo com crescimento em que
as ideacuteias conservadoras da economia eram o substrato teoacuterico principal Sendo
assim desenvolvimento sempre esteve associado agrave ideacuteia de incremento econocircmico
ou ainda ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agrave renda nacional per
35
capta Tal condiccedilatildeo alcanccedila um aspecto exclusivamente quantitativo em que a
produtividade eacute o motor de seu funcionamento Eacute nesse sentido entatildeo que
Tomar o desenvolvimento econocircmico como sinocircnimo de desenvolvimento tout court eacute com efeito uma impropriedade porque se aquele se refere ao processo em cujo bojo uma sociedade consegue produzir bens em maior quantidade de melhor qualidade e com mais eficiecircncia ele concerne a meios e natildeo a fins (SOUZA 1997 p 14)
Dessa forma o autor coloca em xeque o paradigma do desenvolvimento
questionando suas limitaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas que em consequumlecircncia
estatildeo limitadas tambeacutem nas accedilotildees referentes ao espaccedilo geograacutefico Por outro lado
ele defende a ideacuteia de que o desenvolvimento deve ultrapassar a barreira do
quantitativismo ou seja fazer com que a noccedilatildeo de crescimento seja superada
possibilitando entender o desenvolvimento a partir do espaccedilo socialmente construiacutedo
(SOUZA 1997 2002 2004) onde a populaccedilatildeo local torna-se o sujeito crucial na
construccedilatildeo do que venha a ser desenvolvimento Eacute nesse sentido entatildeo que a ideacuteia
de desenvolvimento eacute intriacutenseca a de que o espaccedilo social eacute condiccedilatildeo para sua
reproduccedilatildeo Sendo assim torna-se possiacutevel o alcance da justiccedila social
independente da escala seja ela local nacional ou ateacute mesmo internacional A ideacuteia
de autonomia desta forma acaba por se tornar o paracircmetro fundamental para a
concepccedilatildeo do que venha a ser o desenvolvimento soacutecio-espacial Segundo o autor
a autonomia eacute vista a partir de um conjunto de significaccedilotildees imaginaacuterias que estatildeo
na raiz histoacuterico-cultural de uma sociedade Sobre esse assunto o autor relata que
A autonomia de um grupo para adotar uma concepccedilatildeo especiacutefica de desenvolvimento ou mais amplamente um modo de vida particular exige a consideraccedilatildeo desse grupo natildeo isoladamente mas no contexto de sua relaccedilatildeo com outros grupos (em qualquer escala do local ao internacional) sempre agrave luz do seguinte desafio por um lado eacute preciso respeitar a alteridade do Outro e a incomensurabilidade de universos culturais distintos () Ou seja a autonomia eacute um princiacutepio que exige a consideraccedilatildeo do plano interno (a igualdade de chances de participaccedilatildeo na tomada de decisotildees relevantes para a vida social) mas igualmente que se leve em conta o plano externo (os interesses legiacutetimos do Outro natildeo importando o quanto ele seja diferente de noacutes mesmos) conforme um princiacutepio de natildeo-intervenccedilatildeo (SOUZA 1997 p 21)
36
Tal situaccedilatildeo natildeo seria diferente quando se remete agrave repercussatildeo espacial do
turismo em um lugar visto que o turismo figura atualmente como uma saiacuteda para
um possiacutevel desenvolvimento Nesse sentido natildeo escapa agrave ideacuteia de participaccedilatildeo da
sociedade local nas tomadas de decisatildeo sobre o destino de um lugar
principalmente se aos olhos da iniciativa privada e do Estado a atividade turiacutestica
parecer algo rentaacutevel O turismo como outra atividade social e econocircmica torna-se
entatildeo objeto de discussatildeo por parte da sociedade envolvida no processo de
turistificaccedilatildeo do lugar Seria o que Rodrigues (2002) chama de contrariar a
racionalidade econocircmica vigente
Em um outro trabalho Souza (2002) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre o
turismo e o desenvolvimento Para que o turismo gere desenvolvimento eacute
necessaacuterio saber quem ganha e quem perde com a atividade turiacutestica Isto
dependeria pelo menos de trecircs grupos a populaccedilatildeo da aacuterea de origem dos turistas
os turistas propriamente e a populaccedilatildeo da aacuterea de destinos dos turistas Vale
ressaltar que esses trecircs grupos natildeo podem ser vistos de forma homogecircnea pois a
diferenccedila interna entre eles ou seja quem ganha e quem perde eacute algo relativo aos
anseios de quem pratica a atividade turiacutestica em um lugar Para estabelecer essa
relaccedilatildeo torna-se fundamental natildeo perder de vista a autonomia e o grau de
complexidade que eacute gerado pelo contraste cultural que o fenocircmeno do turismo pode
causar Souza (2002) estabelece entatildeo que a autonomia eacute importante para gerir os
destinos e disciplinar o turismo (SOUZA 2002 p 20) E o grau de diferenccedila
baseia-se sobretudo na disparidade econocircmico-financeira de um grupo de turistas
e a populaccedilatildeo local (principalmente se essa populaccedilatildeo for pobre) Para o autor
apesar de o turismo gerar impactos soacutecio-ambientais ele pode estabelecer um
aprendizado entre culturas tatildeo diversas ou seja ao inveacutes de se ajustar a uma
realidade o turismo pode ser um fator de um desenvolvimento soacutecio-espacial
contribuindo assim para a melhoria e para o bem-estar da populaccedilatildeo residente e
dos turistas visitantes
37
22 Sistema de Objetos e de Accedilotildees a espacialidade da atividade turiacutestica
De iniacutecio a emergecircncia do turismo enquanto uma atividade de lazer da
modernidade levanta uma seacuterie de questionamentos quando o espaccedilo eacute produto
condiccedilatildeo e meio daquela atividade A relaccedilatildeo entre o turismo e o espaccedilo eacute bastante
marcada por impactos soacutecio-ambientais Menos ou mais complexos esses
fenocircmenos representam a reproduccedilatildeo da atividade Isto quer dizer que sem espaccedilo
natildeo haacute turismo
O espaccedilo do turismo portanto eacute marcado por inuacutemeras relaccedilotildees sociais que
difundem a dinacircmica da atividade mundo afora e por conseguinte estabelece novos
paradigmas de comportamento Assim a sociedade moderna amplia espaccedilos
atraveacutes da praacutetica turiacutestica Por ser uma atividade soacutecio-econocircmica que produz um
fasciacutenio nas pessoas ao conhecerem novos lugares o turismo produz um
sentimento de conquista de novos espaccedilos com a finalidade do lazer Sendo assim
para que exista essa condiccedilatildeo o espaccedilo geograacutefico eacute dotado de atrativos com o
intuito de chamar a atenccedilatildeo de turistas Tais atrativos figuram como um alicerce para
a fixaccedilatildeo temporaacuteria das pessoas ou seja a intenccedilatildeo eacute fazer com que o espaccedilo
seja modificado para atender a uma demanda turiacutestica
Dessa forma deve-se entender como Santos (2002) que o espaccedilo eacute um
conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees Nesse sentido
tratar do espaccedilo do turismo requer essa condiccedilatildeo sem a qual o mesmo natildeo procede
sua dinacircmica Deve-se ressaltar que a dinacircmica espacial que o turismo impotildee eacute
tambeacutem condicionada segundo um contexto histoacuterico segundo ainda sua natureza
histoacuterica onde os agentes transformadores do espaccedilo iratildeo desempenhar um
processo diferencial no que diz respeito agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade Cada
objeto espacial e consequumlentemente suas accedilotildees determinadoras estaratildeo
condicionadas de acordo com um tempo histoacuterico
Santos (2002) ainda ressalta que de fato o que caracteriza o espaccedilo
geograacutefico satildeo os objetos mediados pela teacutecnica empregada por cada accedilatildeo
subsequumlente concebidos para o exerciacutecio de certas finalidades intencionalmente
38
fabricados e intencionalmente localizados (SANTOS 2002 p 166) A atividade
turiacutestica estaacute situada num processo de construccedilatildeo de objetos teacutecnicos que estatildeo de
acordo com determinadas finalidades ou objetivos mediados por assim dizer pela
teacutecnica Tais objetos simulam a ideacuteia de superaccedilatildeo da natureza por possuiacuterem
qualidades superiores agrave da ordem natural Nesse sentido o turismo ao criar
espaccedilos voltados para as praacuteticas do lazer procura ser o mais eficaz possiacutevel para
que o consumo do espaccedilo (CRUZ 2001) seja o vetor de transformaccedilatildeo dos lugares
Na abordagem sobre o significado de espaccedilo Santos (2002) afirma que
O espaccedilo eacute formado por um conjunto indissociaacutevel solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees natildeo considerados isoladamente mas como o quadro uacutenico no qual a histoacuteria se daacute No comeccedilo era a natureza selvagem formada por objetos naturais que ao longo da histoacuteria vatildeo sendo substituiacutedos por objetos fabricados objetos teacutecnicos mecanizados e depois ciberneacuteticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma maacutequina Atraveacutes da presenccedila desses objetos hidroeleacutetricas faacutebricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espaccedilo eacute marcado por esses acreacutescimos que lhe datildeo algum conteuacutedo extremamente teacutecnico (SANTOS 2002 a p 63)
Dessa forma a abordagem sobre o espaccedilo estaacute contida dentro de um grau de
complexidade que envolve natureza e homem Cada vez mais em que se apresenta
o domiacutenio do homem sobre a natureza esta tende a ser artificial sendo entatildeo os
objetos artificializados pelo homem As accedilotildees impostas interagem e datildeo vida agrave
dinacircmica espacial onde os objetos lhe datildeo a forma de como se apresentam na
realidade e por outro lado elas ao longo do tempo condicionam novas formas
novos objetos espaciais
Esse momento de exploraccedilatildeo da natureza eacute muito mais evidente a partir das
grandes transformaccedilotildees que o homem provocou com o advento da modernidade
Isto quer dizer que a rapidez com que os processos sociais foram se modificando ao
longo dos anos fez com que o espaccedilo se tornasse mais complexo do ponto de vista
das relaccedilotildees sociais Ao analisar os sistemas de objetos Santos (2002) relata que
hoje o mundo se torna muito mais de objetos do que de coisas Antes o mundo era
39
das coisas porque estavam no ritmo da natureza Atualmente no chamado meio
teacutecnico-cientiacutefico e informacional (SANTOS 1994) as coisas tendem a ser objetos
pelo fato de haver uma constante desnaturalizaccedilatildeo Sendo assim o valor simboacutelico
dos objetos eacute muito maior do que o valor das coisas
Essa realidade se aplica ao turismo A partir da praacutetica da atividade turiacutestica o
espaccedilo tende a sofrer mudanccedilas bruscas que estatildeo de acordo com uma ordem que
eacute a ordem do capital Os objetos espaciais do turismo por excelecircncia satildeo objetos
de grandes transformaccedilotildees espaciais mediados por accedilotildees de agentes do capital e
tambeacutem pelos turistas O turismo torna-se com isso um importante veiacuteculo de
produccedilatildeo de espaccedilos Esses espaccedilos do turismo natildeo se aplicam apenas no mundo
concreto antes disso estatildeo dentro do imaginaacuterio do turista no momento em que ele
cria uma expectativa de conhecer o outro a sua ligaccedilatildeo produz entatildeo novos
lugares novos espaccedilos possibilitando assim uma maior rapidez no que diz
respeito agrave sua transformaccedilatildeo Tais circunstacircncias satildeo ainda mais visiacuteveis quando
outros agentes do setor turiacutestico reforccedilam a ideacuteia do belo ou ainda do que seja
atrativo Tal produccedilatildeo do espaccedilo imaginaacuterio turiacutestico eacute para Rodrigues (1999)
uma captaccedilatildeo do imaginaacuterio coletivo na tentativa de uma resposta Segundo a
autora a miacutedia eacute responsaacutevel pelo processo de criaccedilatildeo da fantasia do espaccedilo
turiacutestico a ser visitado Criam-se cenaacuterios os mais belos possiacuteveis onde o estiacutemulo
estaacute concentrado nas paisagens fabricadas com o que haacute de melhor Ainda nas
palavras de Santos (2002b) a ordem espacial assim resultante eacute tambeacutem
intencional (SANTOS 2002b p 166) Com isso percebe-se a forma pela qual a
miacutedia introduz novos siacutembolos que entram no jogo dialeacutetico da produccedilatildeo de objetos
espaciais voltados para a expansatildeo da atividade turiacutestica
Reconhecendo o espaccedilo como aspecto central na anaacutelise do turismo a
geografia representa uma importante aacuterea de estudos para esse fenocircmeno visto
que esse tipo de relaccedilatildeo social se faz atraveacutes do consumo dos espaccedilos Rodrigues
(1999) procura estabelecer paracircmetros de anaacutelises teoacutericos e metodoloacutegicos para se
entender como ocorre o processo de constituiccedilatildeo dos elementos que formam o
espaccedilo turiacutestico A autora toma como base Santos (1985) para analisar os
elementos fundadores do espaccedilo turiacutestico Segundo a autora o espaccedilo do turismo eacute
formado por pelo menos cinco elementos
40
a) os homens que se caracterizam na figura dos turistas Estes na verdade
satildeo a proacutepria demanda turiacutestica ou seja homens e mulheres e tambeacutem os agentes
responsaacuteveis por grandes firmas internacionais ou ainda os agentes de viagens
turiacutesticas
Segundo a autora a demanda turiacutestica eacute originaacuteria na sua maioria dos
grandes centros urbanos especialmente as metroacutepoles onde estatildeo concentrados
trabalhadores de classe meacutedia e alta providos de tempo e dinheiro para efetivar seu
deslocamento no espaccedilo rumo ao destino turiacutestico Ao chegarem os visitantes
entram em contato com a populaccedilatildeo residente do nuacutecleo receptor de turismo A
populaccedilatildeo local natildeo eacute um elemento menos importante dentro do espaccedilo turiacutestico
(RODRIGUES 1999 p 66) Esta relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo viajante (os turistas) e a
populaccedilatildeo residente (populaccedilatildeo local) nem sempre se daacute da forma mais harmocircnica
possiacutevel pois o contato intercultural entre os povos provoca algumas rupturas que
em certos casos desencadeiam processos de transformaccedilatildeo cultural
b) O outro elemento estaacute constituiacutedo na figura das firmas que satildeo
responsaacuteveis por toda a produccedilatildeo de bens serviccedilos de um sistema turiacutestico Agrave
atividade turiacutestica esse elemento estaacute diretamente ligado ao serviccedilo de hospedagem
(as cadeias hoteleiras) bem como agraves agecircncias de turismo que de certa forma
tambeacutem constituem cadeias
As firmas caracterizam-se pela promoccedilatildeo da atividade turiacutestica usando o
marketing para promover da melhor forma possiacutevel o produto turiacutestico a ser
comercializado Por esse motivo elas atuam em redes internacionais (redes globais)
especializadas no setor turiacutestico Suas funccedilotildees correspondem sobretudo a uma
ordem geral da empresa ou seja o mesmo serviccedilo que eacute prestado num paiacutes como o
Brasil de certa maneira eacute o mesmo prestado em um paiacutes como a Franccedila por
exemplo Essa situaccedilatildeo torna-se possiacutevel por ocorrer na era da globalizaccedilatildeo na
qual os mercados estatildeo unificados independentes de pertencerem a paiacuteses ricos ou
pobres As accedilotildees das firmas ocorrem de forma uniforme no processo turiacutestico Para
a autora as novas relaccedilotildees que se estabelecem em escala mundial e local podem
desarticular o local do regional e do nacional ignorando-se as fronteiras do Estado-
Naccedilatildeo (RODRIGUES 1999 p 66)
41
c) Outro elemento do espaccedilo turiacutestico satildeo as instituiccedilotildees que correspondem
agraves superestruturas (1999 p 67) Este elemento concentra-se nas accedilotildees ditadas por
oacutergatildeos internacionais ou nacionais de promoccedilatildeo do turismo Oacutergatildeos como a OMT
(Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo) com sede na Espanha OMC (Organizaccedilatildeo
Mundial do Comeacutercio) outras instituiccedilotildees como a EMBRATUR (Empresa Brasileira
de Turismo esta com caraacuteter de instituto) ou ainda o Ministeacuterio do Turismo satildeo
exemplos de atores sociais que ditam regras e ordenam o espaccedilo geograacutefico do
turismo a fim de promover a expansatildeo da atividade Pode-se perceber entatildeo que
as instituiccedilotildees satildeo em certos momentos a proacutepria figura do Estado desmembrado
nos seus oacutergatildeos de planejamento e gestatildeo do espaccedilo turiacutestico Por outro lado as
instituiccedilotildees correspondem a oacutergatildeos supranacionais que atuam em acircmbito
internacional
d) O quarto elemento componente do espaccedilo turiacutestico satildeo as infra-estruturas
ou seja as redes de transporte comunicaccedilotildees saneamento baacutesico coleta de lixo
tratamento de esgoto ou serviccedilo de ajuda aos turistas como as casas de cacircmbio e a
seguranccedila As infra-estruturas satildeo componentes de organizaccedilatildeo do espaccedilo para o
recebimento do turista Este elemento que parece simples eacute bastante complexo
pois seu volume e conteuacutedo devem estar dimensionados de acordo com a demanda
pelo menos com a demanda atual de um nuacutecleo turiacutestico (RODRIGUES1999 p
69) A infra-estrutura aleacutem de ser elemento do espaccedilo turiacutestico torna-se tambeacutem
condiccedilatildeo fundamental para a fixaccedilatildeo do turista no lugar a ser visitado Sem uma boa
infra-estrutura os serviccedilos turiacutesticos ficam comprometidos ocasionando assim uma
queda na demanda de viajantes Deve-se ressaltar tambeacutem que a infra-estrutura
turiacutestica pode estar associada a um espaccedilo voltado exclusivamente para a
atividade desvinculando-se da realidade local aumentando dessa maneira as
disparidades soacutecio-espaciais
e) O uacuteltimo e quinto elemento eacute o meio ecoloacutegico que segundo Santos
(1985) eacute o conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do
trabalho humano (SANTOS apud RODRIGUES 1999 p 69) Refere-se
principalmente ao meio natural onde estatildeo assentados os outros quatro elementos
anteriores Seria outrora o meio ambiente poreacutem cada vez mais modificado pelo
homem Eacute a natureza primeira sendo cada vez mais modificada transformando-se
42
em segunda natureza onde impera o mundo da teacutecnica ou tecnosfera (SANTOS
2002 a) No caso do turismo o meio ecoloacutegico eacute cada vez mais valorizado nos dias
atuais com o chamado turismo sustentaacutevel ou ainda turismo ecoloacutegico A volta agrave
natureza bucoacutelica com poucas interferecircncias do homem torna-se um novo objeto
de consumo do turismo por parte dos viajantes Eacute uma forma de valorizaccedilatildeo das
paisagens mais exuberantes e que provocam uma sensaccedilatildeo de tranquumlilidade numa
tentativa de atenuar os impactos ambientais gerados pelo turismo de massa
A repercussatildeo espacial do turismo estaacute marcada por um conjunto de formas
funccedilotildees processos e estruturas (SANTOS 1985) Dentro de uma totalidade
espacial os elementos formadores do espaccedilo do turismo ocorrem em conjunto
Dessa forma natildeo se pode deixar de afirmar que os objetos espaciais do turismo
carregam em si caracteriacutesticas que estatildeo em comum acordo com um contexto
histoacuterico da atividade
A espacialidade turiacutestica tambeacutem se faz a partir de impactos no meio
ambiente com a construccedilatildeo de grandes objetos espaciais voltados para o lazer A
tentativa de promover a todo custo a expansatildeo da atividade resulta em contrastes
no espaccedilo original que de certa forma natildeo correspondem agrave histoacuteria ou cultura do
lugar Alguns pesquisadores julgam o turismo como um produtor de natildeo-lugares o
que resultaria na confirmaccedilatildeo de que a praacutetica do turismo estaacute a serviccedilo do capital
Carlos (2002) sustenta a ideacuteia da transformaccedilatildeo do espaccedilo pelo turismo como um
sentimento de perda do lugar ou ainda da identidade Poreacutem ressalta que antes
do sentimento de perda do espaccedilo original ter um valor de falta deve-se entender
que esse jogo de relaccedilotildees faz parte do processo de construccedilatildeo do espaccedilo no mundo
moderno Dessa forma como o turismo eacute movido pelas diretrizes do capital o
espaccedilo torna-se uma mercadoria que estaacute agrave venda num processo de troca
produzindo-se assim a natildeo-identidade respeitando muito mais o tempo do dinheiro
do que o tempo da sociedade local Segundo ainda a mesma autora o turismo
transforma tudo o que toca em artificial cria um mundo fictiacutecio e mistificado de lazer ilusoacuterio onde o espaccedilo se transforma em cenaacuterio para o espetaacuteculo para uma multidatildeo amorfa mediante uma criaccedilatildeo de uma seacuterie
de atividades que conduzem a passividade produzindo apenas a ilusatildeo da evasatildeo e desse modo o real eacute metamorfoseado transfigurado para
43
seduzir e fascinar Aqui o sujeito se entrega agraves manipulaccedilotildees desfrutando a proacutepria alienaccedilatildeo e a dos outros (CARLOS 2002 p 26)
De acordo com essa perspectiva o espaccedilo do turismo torna-se um espaccedilo
vazio sem sentido e sem espessura (CARLOS 2002) porque natildeo haacute nele uma
identidade A espacialidade do turismo pode dessa maneira ser a mesma (no
sentido de homogecircneo) em todo o mundo A relaccedilatildeo que se estabelece a partir
desses espaccedilos eacute uma relaccedilatildeo entre a induacutestria e o homem que aqui torna-se um
sujeito passivo diante da criaccedilatildeo de belos cenaacuterios onde as imagens parciais
refletem parcialmente a totalidade do lugar O lugar segundo a autora eacute um produto
das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na dimensatildeo do vivido construindo vaacuterios
significados sociais que satildeo marcados pelo tempo social O tempo do turismo
segundo essa loacutegica eacute um tempo da maacutequina sem vida e condicionado pela forccedila
das movimentaccedilotildees financeiras Como exemplo desses espaccedilos onde o tempo eacute
controlado o lazer da sociedade moderna natildeo eacute de forma espontacircnea os resorts
representam a expressatildeo do que seja um natildeo-lugar Configuram-se como espaccedilos
descontextualizados do entorno original uma vez que suas accedilotildees estatildeo mais no
mundo das representaccedilotildees do que nas materialidades que nos envolvem
(HAESBAERT 2004) constituindo assim uma ordem que estaacute subjacente a um
tipo de turismo global dentro do lugar
Dessa forma as espacialidades do turismo podem ser caracterizadas pelo
ritmo das empresas em que o seu novo espaccedilo eacute o mundo (SANTOS 2002) Tenta-
se com isso construir uma hegemonia de tempos de turismo acelerando cada vez
mais a produccedilatildeo de espaccedilos homogecircneos com o intuito de promover o lazer na
sociedade moderna
44
23 O Estado e as estrateacutegias de planejamento e de desenvolvimento da atividade turiacutestica
O debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas de turismo nos uacuteltimos tempos tem sido
aprofundado frequumlentemente pela crescente demanda da atividade nas mais
diversas partes do planeta A discussatildeo sobre as poliacuteticas puacuteblicas portanto estaacute
intimamente ligada agrave questatildeo do desenvolvimento de um lugar Mais precisamente
o Estado passa a ser o principal agente de discussatildeo e aplicaccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Nesse sentido eacute necessaacuterio estabelecer uma anaacutelise do seu papel nas
tomadas de decisotildees Isto quer dizer que a discussatildeo sobre as accedilotildees do Estado
envolve uma reparticcedilatildeo do territoacuterio que vai da escala nacional agrave escala local Para
tal efeito o debate teacutecnico sobre o planejamento do espaccedilo envolve atores sendo
eles caracterizados pelas funccedilotildees teacutecnicas (agentes de governo) ou ainda a
populaccedilatildeo residente em uma aacuterea a ser atingida
A partir da deacutecada de 1980 com a crescente modificaccedilatildeo da economia
mundial as accedilotildees do Estado tecircm sofrido mudanccedilas com o intuito de atender agraves
transformaccedilotildees recentes do capital internacional A estrutura econocircmica dos paiacuteses
por sua vez eacute modificada a partir de um novo conjunto de poliacuteticas estabelecidas
principalmente no decorrer da crescente onda neoliberal O Estado passa a ceder
mais lugar agrave iniciativa privada no interior das decisotildees que se referem aos setores
de infra-estrutura Observa-se desta forma uma gradativa isenccedilatildeo das
responsabilidades antes de inteira competecircncia do poder puacuteblico O que hoje passa
a ser estruturada com uma maior ampliaccedilatildeo das grandes empresas de uma forma
geral termina por acarretar em ocircnus para a sociedade Produz-se entatildeo um
campo de incertezas nas poliacuteticas puacuteblicas em que vaacuterios interesses dos atores
sociais envolvidos satildeo aflorados
Satildeo estabelecidos novos recortes territoriais que estatildeo situados em um
enfraquecimento do Estado ao mesmo tempo em que a presenccedila da iniciativa
privada se torna mais evidente A adequaccedilatildeo das escalas globais estatildeo mais para
as empresas do que para o desenvolvimento pleno da sociedade O ritmo das
economias segue portanto uma transformaccedilatildeo ditada pela velocidade das grandes
empresas o que faz com que se estabeleccedila uma nova forma de entendimento das
45
poliacuteticas puacuteblicas Segundo Cruz (2001) estas devem ser pensadas e conduzidas
pelo governo do contraacuterio ficam vinculadas agraves iniciativas privadas
Para Coelho (2000) essa crescente demanda dos interesses privados sobre
o puacuteblico precisa ser considerada a partir de um quadro poliacutetico-econocircmico no que
diz respeito aos processos soacutecio-culturais e ambientais dessa nova fase do
capitalismo Isto porque o que estaacute em jogo eacute um novo modelo de desenvolvimento
econocircmico a crescente reduccedilatildeo da capacidade do Estado em articular as accedilotildees
puacuteblicas e tambeacutem porque se trata de uma conjuntura de crise econocircmico-poliacutetica
por qual passam os governos A autora defende3 quatro tipos de abordagens sobre
os estudos de poliacuteticas puacuteblicas
A primeira estaria no acircmbito dos atores que podem ser puacuteblicos ou privados
mas que estatildeo referendadas nas suas diversas decisotildees e accedilotildees ou seja accedilotildees
ligadas ao interesses desses sujeitos O intuito portanto seria de entender seus
papeacuteis a partir das poliacuteticas adotadas no que diz respeito ao desenvolvimento
regional e da mitigaccedilatildeo dos problemas ambientais A segunda abordagem diz
respeito agrave investigaccedilatildeo das formas de atuaccedilatildeo conflitantes ou associativas dos
atores puacuteblicos ou privados e de seus esforccedilos em compartilharem entre si a busca
se soluccedilotildees de problemas ambientais (COELHO 2000 p 125) A terceira
abordagem tem como entendimento o exame das negociaccedilotildees do Estado nos
setores onde satildeo executadas as poliacuteticas puacuteblicas ou seja faz-se necessaacuteria uma
investigaccedilatildeo do momento em que se elaboram as poliacuteticas e o confrontamento com
outros tipos de poliacuteticas de outras ordens como por exemplo poliacuteticas industriais
minerais fundiaacuterias entre outras A quarta abordagem estaacute situada dentro da
perspectiva de uma superaccedilatildeo das poliacuteticas tradicionais Postula-se com isso uma
inserccedilatildeo ainda maior de poliacuteticas alternativas que mostrem diretrizes de um outro
tipo de desenvolvimento em que a gestatildeo participativa da sociedade possa ser
valorizada ampliando dessa maneira o debate a respeito das poliacuteticas puacuteblicas e
outros interesses sociais envolvidos Segundo ainda a autora
3 As anaacutelises de Coelho (2000) estatildeo voltadas para a questatildeo mineral do Estado do Paraacute poreacutem em um acircmbito geral tal perspectiva se faz muito vaacutelida para entendermos a atual conjuntura por qual passa o Estado nos uacuteltimos anos ou seja um entendimento geral sobre as noccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas
46
Torna-se necessaacuterio sem duacutevida distinguir a loacutegica que norteia as empresas isto eacute uma loacutegica voltada para a produccedilatildeo do lucro ampliado e a que conduz a atuaccedilatildeo poliacutetica que visa manter o poder e para isso recorre a alianccedilas e a negociaccedilotildees sobretudo quando a legitimidade do Estado acha-se ameaccedilada (COELHO 2000 p 125)
Nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas assumem um caraacuteter multi e
interdisciplinar (COELHO 2000 p 125) o que faz com que os processos soacutecio-
espaciais abarcados nos planejamentos governamentais sejam redefinidos no
acircmbito das esferas municipais estaduais e federais
No setor turiacutestico tal realidade natildeo seria diferente Levando-se em
consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo permanente entre o setor privado e o Estado o turismo teve
um crescimento consideraacutevel nos uacuteltimos dececircnios e isso fez com que novas
territorialidades aflorassem e novas relaccedilotildees entre o Estado a iniciativa privada e a
populaccedilatildeo local fossem redefinidas
Para Cruz (2001) o turismo tornou-se nos uacuteltimos tempos um vetor muito
importante para a economia mundial Nesse sentido vaacuterias satildeo as intervenccedilotildees
espaciais que satildeo resultantes de uma necessidade de adequaccedilatildeo do lugar turiacutestico
agraves novas demandas do mercado Sendo o turismo uma loacutegica econocircmico-social
organizada torna-se importante a estruturaccedilatildeo de um sistema de objetos que
podem ser definidos por serviccedilos como hospedagens alimentaccedilatildeo transportes sob
um conjunto de accedilotildees que incrementam os diversos objetos espaciais voltados para
a praacutetica turiacutestica Esse conjunto de accedilotildees pode ser entendido como as poliacuteticas
puacuteblicas de turismo A partir dessa configuraccedilatildeo o lugar turiacutestico se distingue de
outros lugares mas para que o lugar transformado pelas praacuteticas turiacutesticas situe-
se como uma dimensatildeo espacial diferentes das outras torna-se necessaacuteria a
presenccedila do Estado como indutor das accedilotildees decorridas de poliacuteticas Assim Cruz
(2001) enfatiza
O modo como se daacute a apropriaccedilatildeo de uma determinada parte do espaccedilo geograacutefico pelo turismo depende da poliacutetica puacuteblica de turismo que se leva a cabo no lugar Agrave poliacutetica puacuteblica de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientem o desenvolvimento soacutecio-espacial da atividade tanto no que tange agrave esfera puacuteblica como no que se refere agrave
47
iniciativa privada Na ausecircncia da poliacutetica puacuteblica o turismo se daacute a revelia ou seja ao sabor de iniciativas e interesses particulares (CRUZ 2001 p 9)
Como um exemplo da ineficiecircncia das poliacuteticas puacuteblicas de turismo os resorts
expressam verdadeiros confinamentos espaciais Eles constituem as limitaccedilotildees das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo setoriais Nesses espaccedilos a iniciativa privada impotildee um
ritmo proacuteprio em que as leis do mercado sobressaem em detrimento de normas
gerais exemplificadas nas poliacuteticas de governo o que faz desses objetos uma
manifestaccedilatildeo do mundo no lugar (LUCHIARI 1999)
Percebe-se assim que a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de turismo
deve levar em consideraccedilatildeo o fator da organizaccedilatildeo soacutecio-espacial ditada pelas
novidades que o fenocircmeno do turismo oferece ao mesmo tempo em que deve situar
a importacircncia do lugar ou melhor das relaccedilotildees sociais contidas no lugar as
pessoas propriamente ditas seus sentidos e interesses De fato tal procedimento
torna-se complicado pois o ritmo da modernidade eacute por demais diferente do ritmo
das pessoas configura-se dessa forma uma sensaccedilatildeo de estranhamento ao
novo o que faz das poliacuteticas de turismo uma unidade da desunidade
(BERMAN
2003) Eacute nesse sentido portanto que as poliacuteticas puacuteblicas de turismo muitas vezes
encontram-se dissociadas da realidade local
Uma outra questatildeo que permeia a discussatildeo sobre as poliacuteticas de turismo
estaacute centrada no debate sobre a importacircncia do territoacuterio na construccedilatildeo dessas
poliacuteticas isto porque quando se retrata a relaccedilatildeo entre o territoacuterio e o turismo
necessariamente a abordagem sobre o reordenamento torna-se fundamental dada
a relevacircncia do territoacuterio turistificado Nesse sentido toda accedilatildeo decorrente dos
planejamentos de governo ou precisamente as poliacuteticas de turismo visam
sobretudo o reordenamento do territoacuterio
Santos e Silveira (2001) entendem que o territoacuterio passa a ter valor quando
este eacute usado o que faz com que exista uma necessidade sistemaacutetica de uma
constituiccedilatildeo territorial Para os autores
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Uma periodizaccedilatildeo eacute necessaacuteria pois os usos satildeo diferentes nos diversos momentos histoacutericos Cada periodizaccedilatildeo se caracteriza por extensotildees diversas de formas de uso marcadas por manifestaccedilotildees particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a princiacutepios gerais como a histoacuteria particular e a histoacuteria global (SANTOS SILVEIRA 2001 p 20)
No que diz respeito ao territoacuterio a teacutecnica atraveacutes da histoacuteria justifica as
intervenccedilotildees e a sua proacutepria constituiccedilatildeo resultando assim em um grande sistema
teacutecnico permeado pela materialidade Para os autores o uso do territoacuterio pode ser
definido por uma seacuterie de elementos que constituem um sistema de engenharia
(SANTOS SILVEIRA 2001 p 21) que soacute satildeo perceptiacuteveis pelo dinamismo da
economia e da sociedade que podem ser desde o simples movimento da populaccedilatildeo
ateacute a criaccedilatildeo de leis e normas para a regulaccedilatildeo da sociedade Com efeito podemos
inserir aiacute poliacuteticas puacuteblicas de turismo
Para Haesbaert (2002) por exemplo o territoacuterio adquire o caraacuteter de
alternativo por ser associado agrave condiccedilatildeo de esperanccedila ou seja um outro territoacuterio eacute
possiacutevel com mais justiccedila e igualdade para os grupos sociais que nele residem
Torna-se alternativo tambeacutem pelo fato de incorporar novas perspectivas teoacutericas
para situar os homens no espaccedilo
Outra importante abordagem sobre o territoacuterio eacute a que Knafou (2001) faz
associando-o ao turismo Segundo o autor eacute a partir do turista que a definiccedilatildeo sobre
territoacuterio pode ser melhor entendida Ele eacute o sujeito que estaacute em constante
movimento tornando-se um constante estrangeiro Com efeito em virtude de sua
mobilidade o turista recoloca a discussatildeo da ideologia do enraizamento da ligaccedilatildeo
privilegiada com o lugar (KNAFOU 2001 p 64) Nesse sentido o territoacuterio do
turismo estaacute em constante movimento produzindo novos lugares e novas relaccedilotildees
do outro com o habitante nativo essa situaccedilatildeo explica portanto a liberdade efetiva
do turista Tal situaccedilatildeo permite com que se faccedila uma anaacutelise das trecircs fontes de
turistificaccedilatildeo dos lugares4
4 O autor natildeo define exatamente o conceito de turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos mas parte de uma relaccedilatildeo que existe entre os fluxos econocircmicos e os turistas Por um outro lado chama a atenccedilatildeo de que a turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos tecircm o propoacutesito de constituir a base de uma abordagem cientiacutefica do turismo (KNAFOU 2001 p 71)
49
A primeira fonte para Knafou (2001) reside no fato de que os turistas eacute que
estatildeo na origem do turismo Isso quer dizer que antes de existirem produtos do
turismo satildeo os turistas que produzem os lugares atraveacutes de sua constante
mobilidade ou seja de suas viagens
A segunda fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares estaacute centralizada no mercado E
nesta condiccedilatildeo satildeo os produtos turiacutesticos que estatildeo agrave frente dos turistas natildeo mais
as praacuteticas turiacutesticas em si Poreacutem quando o mercado toma para si a
responsabilidade exclusiva de produzir produtos pode natildeo levar em consideraccedilatildeo a
importacircncia das praacuteticas turiacutesticas como uma condiccedilatildeo de criaccedilatildeo dos produtos O
principal perigo ao qual os operadores do mercado turiacutestico devem fazer face eacute o de
ignorar de subestimar ou de analisar tarde demais a evoluccedilatildeo mesmo das
modificaccedilotildees nas praacuteticas turiacutesticas (KNAFOU 2001 p 70)
A terceira e uacuteltima fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares pertence aos promotores
e planejadores territoriais Para o autor diferentemente das duas primeiras fontes
esta eacute mais ou menos bem territorializada (KNAFOU 2001 p 71) pois estatildeo
intimamente ligadas a um lugar E consequumlentemente essa relaccedilatildeo estaacute ligada ao
desenvolvimento dos lugares Poreacutem o autor reforccedila que o principal perigo com o
qual se defrontam os promotores territoriais eacute o fato de ignorarem o mercado e as
praacuteticas dos turistas ou delas fazerem representaccedilotildees errocircneas (KNAFOU 2001 p
71)
No geral essas trecircs situaccedilotildees satildeo condiccedilotildees para se estabelecer uma
relaccedilatildeo entre o turismo e o territoacuterio
A primeira relaccedilatildeo a que Knafou (2001) faz alusatildeo eacute que podem existir
territoacuterios sem turismo Tal situaccedilatildeo revela os lugares onde o turismo ainda natildeo se
faz presente Poreacutem pode-se afirmar que todo territoacuterio apesar de natildeo ser
completamente envolvido pelas praacuteticas turiacutesticas pode vir a ser Isto porque o
avanccedilo das teacutecnicas do meio teacutecnico-cientiacutefico e informacional a que Santos (2003)
se refere eacute um vetor de raacutepidas transformaccedilotildees dos territoacuterios Como diz o proacuteprio
Knafou (2001)
50
Em contrapartida com o progresso dos transportes e com a difusatildeo da ideacuteia segundo a qual todo o espaccedilo mundial eacute entatildeo acessiacutevel haacute cada vez menos territoacuterios sem turistas Tanto mais que efetivamente os turistas podem ir a qualquer parte ou quase Mas sempre em nuacutemero e sob formas que permitem fazer os lugares viver (KNAFOU 2001 p 72)
A segunda relaccedilatildeo fala sobre a possibilidade de existir tambeacutem turismo sem
territoacuterio Nessa situaccedilatildeo natildeo eacute o turista que provoca o consumo dos lugares mas
quem o faz eacute o mercado juntamente com outros agentes participantes desse
processo como o Estado por exemplo Nesse sentido o territoacuterio torna-se produto
mercadoloacutegico na sua essecircncia Knafou (2001) ainda ratifica
Estaacute-se entatildeo em presenccedila de lugares de passagem de territoacuterio de outros onde o turista soacute faz uma incursatildeo ou ateacute uma excursatildeo Frequumlentemente eacute este territoacuterio impropriamente qualificado que se planeja por e pelo turismo (KNAFOU 2001 p 72)
A terceira relaccedilatildeo segundo o autor eacute que podem enfim existir territoacuterios
turiacutesticos Essa relaccedilatildeo portanto marca a produccedilatildeo dos territoacuterios pelos turistas Ou
seja eacute nessa condiccedilatildeo que as diversas relaccedilotildees soacutecio-espaciais satildeo possiacuteveis e
que de fato o fenocircmeno do turismo alcanccedila outras dimensotildees espaciais O autor
ressalta a delicada relaccedilatildeo entre o espaccedilo e o planejamento Segundo ele natildeo se
pode planejar o espaccedilo do turismo em si unicamente pois do contraacuterio estaraacute se
desprezando a sociedade nele contido
A importacircncia do territoacuterio para o turismo eacute sobretudo condiccedilatildeo para o
planejamento e elaboraccedilatildeo de poliacuteticas espaciais voltadas para o setor A poliacutetica de
turismo natildeo se daacute plenamente de forma isolada o que faz com que se ampliem as
discussotildees sobre as intervenccedilotildees espaciais em que outros setores da sociedade se
fazem presentes Eacute importante portanto a articulaccedilatildeo das poliacuteticas de turismo com
outras poliacuteticas setoriais como por exemplo as poliacuteticas urbanas de transporte de
seguranccedila entre outros
51
Fonseca (2005) demonstra que as poliacuteticas puacuteblicas e em especial as de
turismo tiveram maior relevacircncia a partir da reestruturaccedilatildeo do modo capitalista de
produccedilatildeo no iniacutecio dos anos 1970 A crise do sistema provocou entatildeo uma seacuterie de
mudanccedilas na economia poliacutetica mundial e fez com que os Estados se rearticulassem
em seus setores para que pudessem enfrentar as consequumlecircncias das
transformaccedilotildees econocircmicas mundiais A autora destaca que antes de analisar as
poliacuteticas puacuteblicas eacute necessaacuterio se entender como o Estado mudou suas estrateacutegias
ao longo dos anos ou seja entender a que contexto histoacuterico-social o Estado
pertence Segundo a autora
Agrave medida que a organizaccedilatildeo social assume determinadas caracteriacutesticas e emergem novas mudanccedilas o Estado tambeacutem vai assumindo novas funccedilotildees e se amoldando para atender agraves necessidades e agraves demandas do contexto social e econocircmico no qual estaacute inserido Os Estados soacute podem ser entendidos em seus contextos histoacutericos (FONSECA 2005 p 81)
A autora apresenta uma evoluccedilatildeo do quadro das poliacuteticas puacuteblicas de turismo
segundo o contexto histoacuterico em que elas estatildeo inseridas O primeiro momento
refere-se a uma fase artesatilde onde o periacuteodo fordista se manifestava nas praacuteticas
turiacutesticas mundiais atraveacutes de um incremento quantitativo do turismo Isso era muito
perceptiacutevel atraveacutes de programas ofensivos de conquista de mercados
internacionais (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) O intuito das poliacuteticas
puacuteblicas de turismo portanto era o de fazer crescer a economia dos paiacuteses
receptores com medidas de geraccedilatildeo de renda equiliacutebrio financeiro e de
arrecadaccedilatildeo entre outros
O segundo momento corresponde ao periacuteodo que marca a crise de
acumulaccedilatildeo periacuteodo este que se estende dos anos 1970 ateacute o iniacutecio dos anos 1980
(FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) Devido agraves profundas consequumlecircncias da
crise do regime de acumulaccedilatildeo o turismo passa a ter um papel importante dentro da
economia dos paiacuteses Eacute nesse momento tambeacutem que a atividade turiacutestica passa a
ser relevante no que diz respeito aos seus impactos sociais por conta de seu
crescimento raacutepido os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas de turismo satildeo redefinidos a
fim de que este possa contribuir para o bem-estar da populaccedilatildeo residente
52
Por fim o terceiro momento surge a partir de meados dos anos de 1980
Nesse periacuteodo a economia mundial eacute fortemente influenciada pelo regime neoliberal
o que faz com que a atividade turiacutestica desponte como um dos segmentos basilares
do desenvolvimento econocircmico Os elaboradores das poliacuteticas de turismo
(influenciados pela onda neoliberal) vecircem o turismo como um segmento estrateacutegico
para a competitividade no mercado O turismo portanto assume uma caracteriacutestica
empresarial o que com efeito influencia as novas poliacuteticas de turismo elaboradas
pelos governos (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005 p 88)
Nesse sentido a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas de turismo eacute antes de tudo um
modo peculiar de intervenccedilatildeo espacial em que se combinam o jogo complexo de
normas governamentais e sociedade tornando a relaccedilatildeo soacutecio-espacial mais
complexa O acuacutemulo de novas informaccedilotildees e teacutecnicas faz com que o territoacuterio
delimitado pelas poliacuteticas puacuteblicas de turismo seja um condicionante para as
estrateacutegias espaciais pensadas pelo Estado e pela iniciativa privada Nessa relaccedilatildeo
o resultado das accedilotildees tambeacutem pode se dar de forma desigual na medida em que
uma minoria possa prevalecer em detrimento da maioria isso significa entatildeo a
dissonacircncia que existe na concepccedilatildeo do espaccedilo pensado pelas poliacuteticas puacuteblicas e
o espaccedilo a ser modificado
O agrupamento das decisotildees sobre as poliacuteticas de turismo a serem
estabelecidas assim como suas repercussotildees espaciais encontram campo feacutertil na
Amazocircnia em destaque o Paraacute As estrateacutegias espaciais oriundas de pensamentos
concebidas pelo Estado estabelecem um estreitamento com as praacuteticas de
desenvolvimento No que se refere ao turismo essas estrateacutegias apresentam uma
configuraccedilatildeo que tem na expansatildeo da atividade o seu principal foco Para que a
Amazocircnia situe-se como um espaccedilo planejado e dotado de uma logiacutestica que
propicie a atividade a construccedilatildeo de planos de desenvolvimento torna-se uma
saiacuteda E esta realidade estaacute presente em documentos como os Planos de Turismo
da Amazocircnia I e II respectivamente elaborados em 1977 e 1992 No Paraacute o PDT-
PA constitui-se o primeiro documento estadual que reuacutene as diretrizes necessaacuterias
para o fomento ao turismo
O que se percebe portanto eacute que a elaboraccedilatildeo de planos de
desenvolvimento de turismo em uma regiatildeo como a Amazocircnia constitui-se
53
sobretudo como verdadeiros reflexos das concepccedilotildees de Estado na forma mais
concreta de suas accedilotildees e intervenccedilotildees no espaccedilo
54
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PARAacute
55
31 A expansatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia
A combinaccedilatildeo entre o turismo e regiatildeo amazocircnica natildeo eacute algo novo no que se
refere agraves poliacuteticas puacuteblicas Devido a sua diversidade de recursos naturais a
Amazocircnia tornou-se um locus para investimentos de governos sempre interessados
em uma prosperidade principalmente econocircmica A condiccedilatildeo para que isso
ocorresse baseava-se em pelo menos dois fatores O primeiro era o de povoar uma
regiatildeo que estava (ainda estaacute) abaixo das estatiacutesticas oficiais de governo A
populaccedilatildeo da Amazocircnia entatildeo estaria sujeita agrave poliacuteticas de incentivo maciccedilo de
migraccedilotildees de pessoas de outras regiotildees para que pudessem estimular o
crescimento populacional e o povoamento A segunda estaria vinculada a uma
aproximaccedilatildeo econocircmico-industrial que estivesse no ritmo das economias das
regiotildees Sul e Sudeste Sendo assim esse cenaacuterio seria o tipo ideal para que a
regiatildeo pudesse sair de seu atraso econocircmico
Tal situaccedilatildeo configura-se como ponto de partida para que a atividade turiacutestica
venha a ser um dos elementos importantes nas poliacuteticas de desenvolvimento do
paiacutes O turismo encara dessa forma uma postura de estimulador de um caminho
mais curto e eficaz para um possiacutevel desenvolvimento da regiatildeo No que diz respeito
a isso Cruz (2003) ressalta
De celeiro do mundo a berccedilo do extrativismo a Amazocircnia Legal tem seu destino mais uma vez traccedilado em funccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais Mas as decisotildees sobre as formas de exploraccedilatildeo do territoacuterio amazocircnico satildeo poliacuteticas e tecircm muito mais a ver com a divisatildeo internacional do trabalho e com o mercado internacional do turismo do que com sua geologia geomorfologia fauna e flora (CRUZ 2003 p 98)
Para o turismo a Amazocircnia constitui-se um dos espaccedilos mais proacutesperos a
serem explorados por agentes envolvidos na sua dinacircmica internacional Para isso
a regiatildeo recebe um novo sistema de objetos e de accedilotildees modificados em funccedilatildeo de
sua realidade e sua especificidade natural Trata-se portanto de re-inserir a
56
Amazocircnia na rota mundial de turismo destacando-a como um dos cenaacuterios mais
exuberantes no que diz respeito ao seu potencial paisagiacutestico e natural
No tocante a essa situaccedilatildeo a reinvenccedilatildeo da Amazocircnia para o turismo (CRUZ
2003) parte de um princiacutepio maior que eacute seu desenvolvimento Com isso a regiatildeo a
partir da loacutegica de expansatildeo da atividade comeccedila a ser pensada por oacutergatildeos do
governo que promovem accedilotildees voltadas para o incremento de uma infra-estrutura
peculiar na regiatildeo5 assim como estabelece novas diretrizes de mercado que
contemplam a exploraccedilatildeo racionalizada do turismo
Para tanto os agentes envolvidos no processo de turistificaccedilatildeo da regiatildeo
amazocircnica aproveitam caracteriacutesticas tipicamente regionais como a hospitalidade
do povo amazocircnida para transformar em atrativo turiacutestico Nesse sentido Cruz
(2003) ao abordar a ideacuteia de hospitalidade turiacutestica argumenta que seu sentido estaacute
sobretudo ligado a um sistema de objetos e de accedilotildees do fazer turiacutestico A ideacuteia do
receber bem o turista no que se refere ao carisma alegria e educaccedilatildeo por parte
daqueles que estatildeo ligados agrave atividade turiacutestica na regiatildeo circunscreve-se em uma
realidade onde uma infra-estrutura eacute necessaacuteria
A criaccedilatildeo de uma hospitalidade turiacutestica em territoacuterios amazocircnicos envolve de um lado a criaccedilatildeo de uma materialidade necessaacuteria ao fazer turiacutestico como a implementaccedilatildeo de estruturas relacionadas agrave acessibilidade agrave hospedagem e ao lazer dos visitantes De outro lado envolve tambeacutem aspectos intangiacuteveis e igualmente fundamentais para a ocorrecircncia de um turismo organizado como a capacitaccedilatildeo profissional e promoccedilatildeo turiacutestica Destarte instala-se para e pelo turismo na regiatildeo um novo sistema de objetos e de accedilotildees que recriam o espaccedilo amazocircnico agora orientado pela loacutegica de um uso turiacutestico (CRUZ 2003 p 94)
Tal hospitalidade envolve accedilotildees antes planejadas por pessoas envolvidas no
processo de atraccedilatildeo do turista para a regiatildeo Amazocircnica algo que natildeo depende
exclusivamente dos residentes mas sim de um planejamento voltado para a infra-
estrutura e o preparo das pessoas (CRUZ 2003) A partir desses propoacutesitos eacute que a
Amazocircnia entra no ritmo ou circuito da atividade turiacutestica ou seja a estrateacutegia de
5 Apesar do fluxo de turistas na regiatildeo ser ainda pequeno a infra-estrutura necessaacuteria para atender tal demanda estaacute baseada principalmente na construccedilatildeo e reforma de estradas no aumento e promoccedilatildeo de passagens aeacutereas e na construccedilatildeo de lodges e hoteacuteis de redes nacionais e internacionais que se apropriam da temaacutetica regional (floresta natural) para construiacuterem objetos espaciais bem caracteriacutesticos como eacute o caso dos hoteacuteis de florestas no estado do Amazonas
57
inserccedilatildeo e expansatildeo do turismo na regiatildeo agrega requisitos de ordem global e
padronizada
Levando em consideraccedilatildeo a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas do turismo a
partir da deacutecada de 1970 o governo federal realizou uma seacuterie de medidas voltadas
para a expansatildeo da atividade na Amazocircnia entre elas especificamente estavam os
planos de desenvolvimento da regiatildeo ou PDAS (e tambeacutem os planos de turismo da
Amazocircnia I e II) Nestes planos estavam esboccediladas de uma forma bem ampla as
estrateacutegias espaciais e acima de tudo a concepccedilatildeo de desenvolvimento a qual a
regiatildeo amazocircnica estava subordinada
Tais planos congregavam ideais de transformaccedilatildeo ampla e situavam as accedilotildees
destinadas a retirar a Amazocircnia de seu atraso econocircmico e social No tocante ao
turismo jaacute no segundo Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia6 a atividade era
encarada como um processo em expansatildeo e por isso mesmo natildeo mereceria ficar
em segundo plano As prioridades destacadas referiam-se principalmente em
setorizar a atividade turiacutestica onde as cidades que jaacute reuniam certa infra-estrutura
(apoio logiacutestico ao turismo) seriam pontos estrateacutegicos de atraccedilatildeo de investimentos
provindos do governo
O estiacutemulo do Estado resumia-se aos investimentos em apoio teacutecnico e na
ampliaccedilatildeo do sistema de objetos da regiatildeo como por exemplo as estradas de
rodagem Para isso era de interesse do governo na eacutepoca facilitar o acesso agrave regiatildeo
atraveacutes dos transportes e das comunicaccedilotildees garantidos tambeacutem por um serviccedilo de
hoteacuteis eficiente
A criaccedilatildeo de algumas diretrizes orientadoras para o fomento da atividade
estavam calcadas sobretudo numa reorganizaccedilatildeo e readequaccedilatildeo da atividade a
partir do planejamento das accedilotildees voltadas para o desenvolvimento da regiatildeo Os
planos turiacutesticos jaacute eram vistos como soluccedilatildeo para a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais
e contemplavam de maneira uniforme e integrada o apoio agrave criaccedilatildeo de empresas
estaduais destinadas agrave promoccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade (BRASIL 1977)
6 Elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior e com a organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo da SUDAM (Superintendecircncia de Desenvolvimento da Amazocircnia) datado de abril de 1976
58
Os principais destinos urbanos da Amazocircnia como Manaus Beleacutem
Santareacutem e Satildeo Luiz seriam os primeiros a receber a infra-estrutura necessaacuteria
para o planejamento da atividade Em outro momento a construccedilatildeo de um plano
diretor regional de meacutedio a longo prazo deveria estudar as perspectivas de
mercados nacionais e internacionais onde se verificavam problemas a serem
solucionados com o planejamento pensado para as cidades com atrativos turiacutesticos
No II plano de desenvolvimento da Amazocircnia as outras diretrizes satildeo de
cunho mais especiacuteficos e se destinam agraves alternativas jaacute visualizadas perante o
potencial natural da regiatildeo entre elas estatildeo
a) A implantaccedilatildeo de parques florestais para fins turiacutesticos a criaccedilatildeo de um
sistema regional de informaccedilotildees estatiacutesticas e medidas para a preservaccedilatildeo de aacutereas
de interesse turiacutestico
b) Criaccedilatildeo de empresas de turismo nas unidades da federaccedilatildeo incorporando-
as ao sistema regional integrado ao turismo
c) Coordenaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia junto a
cada entidade interessada com a finalidade de acelerar o desenvolvimento setorial
d) Atrair o turismo nacional para a regiatildeo atraveacutes de estudos de implantaccedilatildeo
de centros de apoio turiacutestico ao longo das rodovias federais e estaduais pelos
oacutergatildeos intervenientes SUDAM (Superintendecircncia do Desenvolvimento da
Amazocircnia) DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens) DER s
(Departamento Estadual de Rodovias) EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo)7 e empresas estaduais
e) Continuaccedilatildeo do apoio aos programas de fornecimento de aacutegua energia e
saneamento por parte da SUDAM com o apoio da infra-estrutura ao
desenvolvimento e ampliaccedilatildeo do setor (BRASIL 1977 p 79-80)
7 Durante um longo periacuteodo (desde sua fundaccedilatildeo) a EMBRATUR foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo turismo nacional promoccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de projetos em geral destinados ao fomento da atividade turiacutestica no paiacutes A partir de 2003 especificamente no governo do entatildeo presidente Luis Inaacutecio Lula da Silva a EMBRATUR deixa de ser empresa e passa a ser instituto tendo um fim especiacutefico de promover o turismo nacional no exterior
59
Vale ressaltar que nesta eacutepoca o plano de desenvolvimento da Amazocircnia
entendia o turismo como um setor em expansatildeo poreacutem demonstra em linhas gerais
suas reais intenccedilotildees em relaccedilatildeo agrave atividade natildeo realizando portanto um estudo ou
diagnoacutestico mais especiacutefico sobre a atividade Sua dimensatildeo revela nesse sentido
uma ligaccedilatildeo com as ideacuteias de crescimento que outrora influenciaram (e ainda
influenciam) as concepccedilotildees gerais de planejamentos regionais
O caraacuteter generalista do turismo que se configura no plano entende que o
espaccedilo regional eacute carente de densidade teacutecnica apropriada agrave expansatildeo da
atividade por isso existe a necessidade de implementaccedilatildeo de setores especiacuteficos
destinados a reestruturar o espaccedilo regional como por exemplo as rodovias e as
redes de telecomunicaccedilotildees Nesse sentido o espaccedilo amazocircnico do turismo agrave
eacutepoca era entendido enquanto um espaccedilo a ser modificado por agentes que
estivessem interessados em investir na dotaccedilatildeo de atrativos turiacutesticos
principalmente as empresas do trade turiacutestico amazocircnico
Visto que a atividade turiacutestica era promissora e que seria uma possibilidade
para a geraccedilatildeo de renda e lucro o governo federal na eacutepoca lanccedila o primeiro Plano
de Turismo da Amazocircnia8 com o intuito de (re) organizar o setor a fim de que se
pudessem alcanccedilar niacuteveis satisfatoacuterios de crescimento econocircmico
O primeiro plano por sua vez apresenta a regiatildeo como uma regiatildeo
diferenciada das outras por ser um produto com uma paisagem iacutempar e por isso
seus recursos naturais satildeo encarados como elementos importantes para uma
vocaccedilatildeo e aptidatildeo turiacutestica Tais caracteriacutesticas eram entendidas como um
pressuposto ou alternativa para auxiliar no progresso econocircmico e social da regiatildeo
(BRASIL 1977) Nesse sentido segundo o proacuteprio documento9
Como se vecirc estamos diante de dois incomensuraacuteveis o turismo e a Amazocircnia De um lado o turismo que possibilita quase tudo De outro a
8 O primeiro Plano de Turismo da Amazocircnia foi elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior em 1977 no governo militar a partir do consoacutercio PLANAVE-PROCHNIK e com o apoio teacutecnico da EMBRATUR A supervisatildeo do Plano ficou a cargo da SUDAM O plano ainda se divide em dois volumes o primeiro diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo e diagnoacutestico da regiatildeo e o segundo contempla os prognoacutesticos poliacuteticas diretrizes e instrumentos e a programaccedilatildeo do Plano 9 Nota de apresentaccedilatildeo do superintendente da SUDAM Hugo de Almeida
60
Amazocircnia potencialmente riquiacutessima em termos de aproveitamento como induacutestria rentaacutevel multiplicadora de divisas cambiais (BRASIL 1977 p 7)
O primeiro PTA resume assim as ideacuteias de que a Amazocircnia eacute um cenaacuterio
propiacutecio agrave expansatildeo da atividade turiacutestica colocando-a como um produto a ser
comercializaacutevel As concepccedilotildees contidas no plano priorizavam accedilotildees com as
estrateacutegias mais amplas que por sua vez estavam definidas no Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia Sua funccedilatildeo especiacutefica estava destinada a levantar
dados sobre a infra-estrutura dos estados e assim definir as estrateacutegias comerciais
para que a regiatildeo pudesse se situar como um destino turiacutestico importante Os eixos
gerais do PTA natildeo seguiam uma poliacutetica nacional de turismo mas sim uma poliacutetica
de desenvolvimento sustentada pelo PDA O processo de configuraccedilatildeo da atividade
turiacutestica era encarado como um ramo da economia que estava associado agraves
diretrizes e interesses especiacuteficos natildeo tendo portanto uma autonomia poliacutetica
Seguindo este conjunto de ideacuteias os objetivos gerais (finais) do primeiro PTA
estavam circunscritos a uma visatildeo de crescimento da atividade com a possibilidade
de geraccedilatildeo de renda e emprego atraveacutes de uma ocupaccedilatildeo territorial efetiva da
regiatildeo de uma maior participaccedilatildeo da atividade no que diz respeito agraves diacutevidas dos
Estados e municiacutepios e em uma valorizaccedilatildeo e defesa dos recursos ecoloacutegicos
(BRASIL 1977) Esses objetivos ainda eram detalhados e pretendiam alcanccedilar uma
renda regional aumentar os investimentos no setor hoteleiro e criar empregos
diretos Atraveacutes de uma visatildeo economicista o PTA visava reduzir as desigualdades
sociais da Amazocircnia e assim constituir-se um documento importante para tal fim
O II Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia tem como seu objetivo principal o crescimento do produto regional e a reduccedilatildeo de desigualdades inter-regionais O Plano de Turismo da Amazocircnia procura ser um dos instrumentos para o atendimento desse objetivo sendo que toda a estrateacutegia de desenvolvimento do turismo aqui apresentada visa tal fim (BRASIL 1977 p 37)
61
Tal caracteriacutestica natildeo iraacute se diferenciar a partir da constituiccedilatildeo do I Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia da Nova Repuacuteblica10 No que diz respeito ao setor
turiacutestico poucas foram as alteraccedilotildees importantes que se destacaram no documento
De uma forma geral o turismo ainda eacute visto como uma atividade que precisa de um
grande incentivo por parte dos governos estaduais e iniciativa privada Sua
dimensatildeo ainda gira em torno do crescimento econocircmico e vecirc o turismo como uma
possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda Seus objetivos estatildeo estruturados em
dois
a) Aumentar a participaccedilatildeo do turismo no desenvolvimento econocircmico e social da regiatildeo atraveacutes da geraccedilatildeo de renda e emprego com menores custos econocircmicos e sociais b) acrescer quantitativa e qualitativa a oferta turiacutestica a fim de motivar novos segmentos de mercado proporcionando aumento da renda e gasto meacutedio do turista na regiatildeo (BRASIL 1986 p 63)
Tais objetivos norteiam outras diretrizes com o intuito de fazer valer as
estrateacutegias pensadas no Plano Nessas diretrizes a estrutura de concepccedilatildeo sobre a
atividade turiacutestica ainda se manteacutem a mesma no que se refere aos planos
anteriores a de entender o turismo como uma atividade econocircmica e com a
perspectiva de crescimento Setores como investimentos na oferta turiacutestica
ampliaccedilatildeo da melhoria da infra-estrutura de comunicaccedilotildees e transportes incentivo agrave
hotelaria satildeo pontos comuns em relaccedilatildeo a outros documentos
O que haacute de novo poreacutem estaacute pautado na elaboraccedilatildeo na aacuterea de recursos
humanos e no apoio agrave realizaccedilatildeo de eventos 11 Outro ponto de destaque eacute a
formaccedilatildeo de oacutergatildeos especiacuteficos na aacuterea do planejamento turiacutestico Tal caracteriacutestica
eacute responsaacutevel por estruturar novos projetos e poliacuteticas regionais de incentivo ao
crescimento da atividade Percebe-se tambeacutem um aspecto importante no que tange
agrave interiorizaccedilatildeo do turismo O planejamento do turismo estaria concentrado na
formaccedilatildeo dos poacutelos de crescimento pois a difusatildeo de novos pontos (BRASIL 1986)
expressaria uma das atividades de desenvolvimento A partir dessa estruturaccedilatildeo o
10 Documento elaborado pelo Ministeacuterio do Interior e pela SUDAM Sua execuccedilatildeo e coordenaccedilatildeo ficou a cargo da SUDAM datada de dezembro de 1986 Na verdade este eacute o terceiro documento ou Plano de Desenvolvimento voltado para regiatildeo amazocircnica A partir da redemocratizaccedilatildeo tornou-se o I Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia 11 O que se constituiria em uma espeacutecie de turismo de eventos
62
PDA da Nova Repuacuteblica enquadra o turismo como uma poliacutetica setorial de cunho
econocircmico estabelecendo assim metas de meacutedio e longo prazo
A relaccedilatildeo entre a Amazocircnia e o turismo aprofunda-se ainda mais ao longo
dos anos subsequumlentes estabelecendo com isso novas diretrizes de uso racional
da regiatildeo Em 1992 eacute lanccedilado o II Plano de Turismo da Amazocircnia12 com o intuito de
mudar a forma pela qual o turismo eacute encarado na regiatildeo O grande diferencial
expresso nesse documento eacute a ecircnfase dada ao desenvolvimento sustentaacutevel que
de acordo com as ideacuteias contidas no documento seria a alternativa mais viaacutevel para
associar desenvolvimento regional com conservaccedilatildeo dos recursos naturais No que
tange a isso o PTA expotildee em suas diretrizes gerais
A existecircncia do produto turiacutestico especialmente o ecoloacutegico estaacute de certa forma condicionada agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais Componente fundamental na estrutura da produccedilatildeo no contexto da induacutestria turiacutestica os recursos naturais representam um dos pilares do poder de atratividade do produto turiacutestico regional Em funccedilatildeo disso eacute economicamente viaacutevel que a expansatildeo do turismo na Amazocircnia obedeccedila aos criteacuterios de sustentabilidade dos ecossistemas (BRASIL 1992 p7)
Assim sendo a composiccedilatildeo do trade turiacutestico regional estaacute em funccedilatildeo dos
paracircmetros do desenvolvimento sustentaacutevel O espaccedilo amazocircnico para o turismo a
partir disso muda sua funcionalidade e adquire uma nova concepccedilatildeo pautada sob o
roacutetulo da sustentabilidade Os objetivos criados aliam a ideacuteia de crescimento
econocircmico a de qualidade de vida para a populaccedilatildeo local reordenando por sua vez
as poliacuteticas regionais de desenvolvimento
Tendo como base uma poliacutetica de turismo voltada para a sustentabilidade da
regiatildeo o segmento do chamado turismo de natureza ou ecoturismo ganha forccedila e
se torna ainda mais a estrateacutegia adequada para que ocorra a expansatildeo da
atividade
12 Ligado agrave secretaria do Desenvolvimento Regional elaborado e executado pela SUDAM com o apoio de entidades como PNUD (Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento) BASA (Banco da Amazocircnia) e SUFRAMA (Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus)
63
Em 1998 o PROECOTUR13 tornou-se o documento que expressou as
vertentes ligadas agrave ideacuteia do turismo de natureza ou turismo sustentaacutevel Neste
documento o governo federal centrou esforccedilos para viabilizar a concretizaccedilatildeo do
PROECOTUR nos nove estados da regiatildeo amazocircnica Tendo em vista a utilizaccedilatildeo
racional dos recursos naturais presentes e sabendo de seu potencial paisagiacutestico o
programa estaacute configurado segundo os objetivos e programas especiacuteficos para cada
Estado da federaccedilatildeo14
Como objetivo geral o PROECOTUR defende a viabilidade do ecoturismo
como o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel ideal para a regiatildeo amazocircnica
(BRASIL 1998) Seus objetivos especiacuteficos estatildeo estruturados da seguinte forma
I- Proteger e desenvolver os atrativos turiacutesticos da regiatildeo por meio de
medidas como a criaccedilatildeo de parques e reservas com manejo especiacutefico
para o ecoturismo
II- Criar um ambiente de estabilidade para investimentos de ecoturismo
mediante definiccedilatildeo de poliacuteticas e normas e do fortalecimento dos
oacutergatildeos de gestatildeo ambiental e desenvolvimento turiacutestico estaduais
regionais e nacionais
III- Viabilizar operacionalmente empreendimentos de ecoturismo por meio
da realizaccedilatildeo de estudos de mercados da identificaccedilatildeo
desenvolvimento e adaptaccedilatildeo agrave regiatildeo de tecnologias para a geraccedilatildeo
de energia tratamento de afluentes etc e da sua disponibilizaccedilatildeo dos
resultados para investidores privados
IV- Viabilizar financeiramente empreendimentos de ecoturismo mediante a
ampliaccedilatildeo de linhas de creacutedito especiacuteficas para o segmento e
13 Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazocircnia Legal criado na gestatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia junto ao Ministeacuterio do Meio Ambiente dos Recursos Hiacutedricos e da Amazocircnia Legal A elaboraccedilatildeo deste programa diz respeito agrave fase de preacute-investimentos 14 Vale lembrar que os oacutergatildeos federais envolvidos na execuccedilatildeo do PROECOTUR aleacutem de estarem representados pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia ainda eacute constituiacutedo pelo Grupo Teacutecnico de Coordenaccedilatildeo do Ecoturismo pelo Nuacutecleo de Gestatildeo do PROECOTUR e atuando nos Estados pelos Grupos Teacutecnicos Operacionais (GTOs)
64
V- Melhorar ampliar ou implantar a infra-estrutura baacutesica necessaacuteria para
viabilizar o aumento do fluxo turiacutestico para a Amazocircnia Legal (BRASIL
1998 p 7)
Atraveacutes desse conjunto de objetivos o PROECOTUR de acordo com seus
oacutergatildeos interligados procura enfatizar o turismo como uma ferramenta capaz de
mudar o quadro social e econocircmico da regiatildeo Em seus desdobramentos o
programa chama a atenccedilatildeo para a necessidade de impor a regiatildeo amazocircnica como
um destino turiacutestico a ser melhor apresentado no trade nacional e internacional Para
isso utiliza estrateacutegias espaciais em cada estado Tais estrateacutegias estatildeo baseadas
na criaccedilatildeo e ou incremento dos poacutelos ecoturiacutesticos implantados Esses poacutelos jaacute
apresentam infra-estrutura (estradas portos aeroportos hoteacuteis hospitais entre
outros) necessaacuteria para iniciaccedilatildeo dos programas de intervenccedilatildeo do PROECOTUR
Neste caso a infra-estrutura de cada poacutelo serve como uma preacute-condiccedilatildeo para que
os objetivos propostos se tornem concretos
Outro ponto de destaque presente nos objetivos especiacuteficos do programa
consiste no envolvimento dos agentes participantes na viabilizaccedilatildeo dos
empreendimentos de ecoturismo De acordo com os objetivos especiacuteficos natildeo se
percebe claramente os agentes que podem ser beneficiados nas operaccedilotildees e accedilotildees
dos empreendimentos turiacutesticos poreacutem em linhas gerais pode-se perceber que a
ideacuteia do desenvolvimento sustentaacutevel a partir do programa estaacute sublinhada nas
diretrizes dos investimentos financeiros na regiatildeo No que diz respeito a essa ideacuteia
o PROECOTUR estaacute dividido em uma fase de preacute-investimentos na qual eacute feito um
diagnoacutestico das ofertas turiacutesticas a serem desenvolvidas e em uma fase de
investimentos na qual os programas de intervenccedilotildees econocircmico-espaciais satildeo
efetivamente executados garantidos sobretudo na criaccedilatildeo dos poacutelos de ecoturismo
da regiatildeo
Conforme essa estrutura o PROECOTUR apresenta-se como um documento
de cunho oficial criado pelo Estado na tentativa de viabilizar o desenvolvimento de
aacutereas com problemas econocircmicos e sociais colocando a Amazocircnia como prioritaacuteria
65
para o desenvolvimento sustentaacutevel O turismo mais uma vez aparece como uma
atividade capaz de solucionar dificuldades soacutecio-econocircmicas
Outro estudo sobre turismo no Brasil foi finalizado em 2002 o PNMT15 Este
programa tinha como intenccedilatildeo uma maior dinamizaccedilatildeo da atividade turiacutestica a partir
de diretrizes nacionais na qual o municiacutepio era a escala de atuaccedilatildeo da atividade
turiacutestica Neste enfoque a capacitaccedilatildeo de agentes puacuteblicos e privados era a
intenccedilatildeo do programa onde os mesmos eram responsaacuteveis por serem
multiplicadores locais dando importacircncia ao turismo no desenvolvimento soacutecio-
econocircmico (PNMT 2002) Neste caso a participaccedilatildeo das comunidades na gestatildeo
de seus proacuteprios recursos tornava-se um fator fundamental (PNMT 2002)
O objetivo geral do programa era fomentar o desenvolvimento turiacutesticos dos
municiacutepios com base na sustentabilidade econocircmica social ambiental cultural e
poliacutetica (PNMT 2002 p 80) Assim a ideacuteia principal do PNMT era de descentralizar
o planejamento do turismo e principalmente suas accedilotildees Os municiacutepios seriam
responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de infra-estrutura necessaacuteria para a operacionalidade da
atividade turiacutestica
No estado do Paraacute por exemplo diversos foram os municiacutepios que foram
escolhidos para integrarem o quadro da municipalizaccedilatildeo do turismo16 entre eles
(bem como para os outros municiacutepios brasileiros) havia uma divisatildeo dos municiacutepios
turiacutesticos (MT) e municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) Os municiacutepios turiacutesticos
satildeo aqueles consolidados onde o turismo eacute efetivo Jaacute os municiacutepios com potencial
turiacutestico satildeo aqueles que possuem recursos naturais e culturais expressivos
(PNMT 2002 p 30) ou seja atraveacutes de um maior fomento por parte dos governos
locais estes municiacutepios poderiam se consolidados no trade
Entre alguns municiacutepios turiacutesticos (MT) estatildeo Abaetetuba Bacarena Beleacutem
Braganccedila Marabaacute Salinoacutepolis Santareacutem Tucuruiacute Vigia Cametaacute Outros
municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) satildeo Castanhal Colares Curuccedilaacute Monte
Alegre Paragominas Parauapebas
15 Programa Nacional de Municipalizaccedilatildeo do Turismo 16 Eram os proacuteprios municiacutepios que solicitavam entrada no PNMT Havia a solicitaccedilatildeo formal aos oacutergatildeos estaduais delegados da EMBRATUR
66
Natildeo obstante a isso para a Amazocircnia ideacuteias como PNMT deveriam ser
difundidas a partir da forccedila simboacutelica que a floresta representa ou mais
propriamente do segmento ecoturismo onde a natureza surge como o principal
atrativo para o fomento de poliacuteticas puacuteblicas fazendo com que a exuberacircncia da
natureza seja o diferencial para atraccedilatildeo de turistas
Nesse sentido a relaccedilatildeo do turista com a ideacuteia de ecoturismo faz Coelho
(1999) afirmar que tal relaccedilatildeo funda-se no princiacutepio de uma viagem de aventura que
impulsione um sentido de retorno agrave natureza natildeo tatildeo devastada pelo homem nos
grandes centros urbanos Para a autora
Ao contraacuterio do personagem de Charles Chaplin no filme Luzes da Cidade o turista que preza a natureza sente-se fascinado pela luz do dia o verde da mata a escuridatildeo ou luar na selva pela vida ao ar livre e pela comida natural (COELHO 1999 p 56 - 57)
Contudo a relaccedilatildeo entre a teoria do ecoturismo e sua praacutetica se mostra em
sua grande maioria dissonante O que pode ser verificado no discurso de agentes
interessados em investir pesadamente no setor e nas populaccedilotildees tradicionais
atingidas A ideacuteia de que o ecoturismo pode trazer justiccedila social traz agrave tona
externalidades negativas (COELHO 1999) que por sua vez geram desigualdades
sociais O discurso praacutetico de crescimento da atividade turiacutestica neste caso muda
de foco poreacutem sua composiccedilatildeo ainda permanece a mesma Sendo uma atividade
tambeacutem econocircmica o ecoturismo produz acumulaccedilatildeo de capital e geraccedilatildeo de lucro
para os grandes agentes de mercado particularizando espaccedilos e segregando a
sociedade Segundo ainda Coelho (1999)
As discrepacircncias entre teoria e praacutetica satildeo no entanto possiacuteveis de existir e podem tornar perigosas as relaccedilotildees entre sociedades locais empresas e ecoturistas Estas defasagens entre praacutetica e teoria tornam os riscos e dilemas a serem discutidos e corrigidos pelos defensores do ecoturismo ainda mais preocupantes Tais riscos satildeo atribuiacutedos agrave estreita visatildeo de natureza edificada pelos ecologistas e imitadas por empresaacuterios e alguns profissionais oportunistas do ecoturismo (o que natildeo pode ser confundido com senso de oportunidade) Estes colaboradores dos primeiros
67
desprovidos de comprometimento com a realidade e os valores culturais ora tentam mostrar uma natureza distorcida pelos siacutembolos artificialmente valorizados ou mantidos ora apresentar uma realidade agrave medida das expectativas da clientela ocultando o que haacute de fundamental na natureza visitada (COELHO 1999 p 59)
A ideacuteia de que o ecoturismo na Amazocircnia atenua os impactos ambientais
torna-se portanto fraacutegil no que diz respeito principalmente agrave sociedade ou
populaccedilatildeo residente que natildeo faz parte dos processos de decisotildees sobre as
atividades planejadas para o turismo
Figueiredo (1999) por exemplo expotildee algumas ideacuteias que para ele satildeo
equivocadas sobre o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel aplicado agrave regiatildeo
amazocircnica Para o autor a partir da grande aceitaccedilatildeo das ideacuteias provindas de que o
ecoturismo torna-se um elemento fundamental para o melhor desenvolvimento
sustentaacutevel criam-se conjuntamente mitos e com isso ideacuteias deturpadas sobre
esse modelo Entre elas a da instalaccedilatildeo de objetos espaciais de baixo custo e sua
forma de exploraccedilatildeo Para o autor essa eacute uma proposta que precisa ser revista
Mesmo sob o roacutetulo de alternativo o ecoturismo carrega consigo a loacutegica de
mercado pautada sobretudo nos ganhos da atividade
O conjunto dessas ideacuteias todavia eacute o iniacutecio de uma mudanccedila importante
dentro do cenaacuterio amazocircnico especificamente do estado do Paraacute que atraveacutes de
documentos e estudos especiacuteficos para o turismo fazem do ecoturismo uma meta a
ser buscada dentro de accedilotildees voltadas para um mercado especiacutefico desse setor com
provaacuteveis repercussotildees soacutecio-culturais
32 O turismo no estado do Paraacute um breve balanccedilo
A atividade turiacutestica no Estado do Paraacute vem ao longo dos anos mudando seu
caraacuteter de forma consideraacutevel seja em relaccedilatildeo ao volume de turistas visitantes no
estado seja nas estrateacutegias de mercado para o alcance de novos nuacutemeros que
faccedilam crescer a atividade Mesmo antes do Plano de Desenvolvimento de Turismo
68
do Paraacute se consolidar como documento norteador das atividades turiacutesticas as
poliacuteticas de incentivo ao setor tecircm ganhado destaque nas esferas de governo a
partir de programas especiacuteficos ou entatildeo a partir de um redirecionamento das
estrateacutegias e da participaccedilatildeo do empresariado fazendo com que o produto turiacutestico
paraense tenha maior visibilidade em outros mercados
A partir de um crescimento do setor turiacutestico a busca pelo desenvolvimento
da atividade e de suas potencialidades econocircmicas tornou-se marca importante para
que o Estado pudesse criar estrateacutegias de desenvolvimento social Com isso
poliacuteticas puacuteblicas passaram a dar mais ecircnfase neste setor criando assim novas
oportunidades de decisatildeo dentro das poliacuteticas de desenvolvimento
Nesse sentido um ponto importante satildeo os dados feitos a partir de
estatiacutesticas referentes ao processo de turistificaccedilatildeo do espaccedilo paraense17 Eles
refletem o quantitativo referente ao nuacutemero de turistas visitantes tanto estrangeiros
como nacionais e o nuacutemero de hoteacuteis e suas respectivas ocupaccedilotildees de acordo com
as temporadas (alta estaccedilatildeo e baixa estaccedilatildeo) Por mais que os nuacutemeros revelem um
quadro limitado da realidade do turismo no Paraacute mostram o fluxo de pessoas e de
empresas interessadas em investir no setor e em especial no aspecto diferencial do
Paraacute que se assenta na ideacuteia do turismo de natureza
O Brasil ainda eacute considerado um destino turiacutestico pouco procurado no mundo
Paiacuteses como Franccedila EUA Espanha ainda satildeo classificados como os maiores
destinos turiacutesticos do planeta No que diz respeito agrave estrutura interna brasileira
outros estados figuram como os mais procurados como eacute o caso do Rio de Janeiro
seguido dos estados do Nordeste em especial do Estado do Cearaacute e Bahia (ABAV
2006)
No caso do Paraacute o turismo ainda natildeo se constitui como uma das atividades
mais rentaacuteveis o que lhe garante posiccedilotildees medianas no que diz respeito aos
estados do Brasil mais visitados Tal situaccedilatildeo despertou no governo do Estado uma
17 Os dados estatiacutesticos aqui apresentados referem-se especificamente aos levantamentos feitos a partir de 1995 ano que se iniciou o governo de Almir Gabriel e que se estendeu ateacute 2002 (reeleiccedilatildeo) O quadro poliacutetico do governo natildeo se alterou com a sucessatildeo feita pelo entatildeo governo Simatildeo Jatene Neste sentido as estrateacutegias de mercado ora pensadas pelo oacutergatildeo de turismo do Estado - PARATUR tambeacutem natildeo se alteraram neste periacuteodo o que faz com que todas as informaccedilotildees e anaacutelises possam ser entendidas a partir do periacuteodo especificado
69
necessidade de investir mais no setor a fim de motivar um maior nuacutemero de
visitantes estrangeiros e nacionais Nesse sentido o que se percebe eacute uma entrada
gradual de pessoas no Estado ao longo dos uacuteltimos dez anos Alguns dados
estatiacutesticos mostram a relaccedilatildeo entre os produtos ofertados e o nuacutemero de pessoas
visitantes Os indicadores de turismo do Paraacute revelam o fluxo de turistas no Estado
no periacuteodo de um ano Os nuacutemeros presentes mostram de forma organizada
iacutendices de atividades que estatildeo relacionadas a um maior ou menor nuacutemero de
turistas no Paraacute
De acordo com o relatoacuterio estatiacutestico do governo18 em 2004 por exemplo a
oferta hoteleira do Estado teve um acreacutescimo em relaccedilatildeo aos outros anos anteriores
Em 2003 era de 68 jaacute no ano seguinte essa taxa subiu para 97 (PARAacute 2004)
representando uma maior solidificaccedilatildeo do setor A presenccedila de um maior nuacutemero de
hoteacuteis representa por sua vez um aumento de disponibilidade de leitos para que
turistas possam ter uma maior acomodaccedilatildeo Poreacutem ainda persiste um maior
nuacutemero de hoteacuteis na capital pelo fato de haver uma rede de infra-estrutura mais
adequada e de maior facilidade para o traslado do turista
Tomando como base o fluxo de visitantes estrangeiros o Estado apresenta
uma oscilaccedilatildeo entre os seus destinos o que natildeo garante uma uniformidade entre os
visitantes de diversas nacionalidades como mostra a tabela 1 a partir de dados
fornecidos pela PARATUR do ano de 2004
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003- 2004
P A Iacute S E S
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 03
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 04
VARIACcedilAtildeO
ESTADOS UNIDOS
FRANCcedilA
3248
3227
2785
3811
-1425
1810
18 Elaborado e executado pela PARATUR
70
GUIANA FRANCESA
ALEMANHA
JAPAtildeO
PORTUGAL
ITAacuteLIA
INGLATERRA
SURINAME
ESPANHA
HOLANDA
ARGENTINA
CANADAacute
AUSTRIA
CHILE
BELGICA
BOLIacuteVIA
OUTROS
-
1720
1380
913
1274
701
531
743
1083
531
637
-
955
361
-
2527
49
1417
1124
880
1661
831
977
1173
977
586
1124
244
1319
147
244
3323
-
-1762
-1855
-361
3038
1854
8399
5787
-979
1036
7645
-
3812
-5928
-
3150
T O T A L 21232 22672 678
FONTE Adaptado de PARATUR (2004 p32)
Como se pode perceber na tabela acima natildeo existe uma uniformidade entre
o nuacutemero de visitantes Paiacuteses como os EUA mostram um decreacutescimo de -14 25
Jaacute outros paiacuteses desenvolvidos como a Franccedila mostram uma presenccedila maior no
intervalo considerado elevando o fluxo migratoacuterio para 1810 Apesar de em
nuacutemeros absolutos a Itaacutelia natildeo superar os outros paiacuteses supracitados o seu
mercado emissor em relaccedilatildeo ao Paraacute tem uma variaccedilatildeo positiva de 3038 Essas
variaccedilotildees ainda se comportam de forma reduzida se comparadas a outros centros
turiacutesticos do paiacutes e ainda satildeo incipientes se comparados a outros centros mundiais
71
Outra questatildeo importante que deve ser avaliada diz respeito agrave sazonalidade
que marca as atividades turiacutesticas no Paraacute Por mais que essa situaccedilatildeo venha
mudando ao longo dos anos o Estado ainda vive um turismo de datas festivas
como eacute o caso do mecircs de outubro com a festividade religiosa do Ciacuterio de Nazareacute
Festa essa que assume atualmente um caraacuteter muito mais turiacutestico do que
propriamente religioso
A sazonalidade torna-se um entrave para o crescimento da atividade turiacutestica
no Paraacute visto que essa condiccedilatildeo ainda se manifesta em outros poacutelos de turismo do
Estado que congregam tambeacutem outras manifestaccedilotildees culturais e naturais como
por exemplo a festa do Saireacute em Santareacutem (que ocorre no mecircs de setembro no poacutelo
Tapajoacutes) o periacuteodo do festival da pesca esportiva em Tucuruiacute (poacutelo Araguaia -
Tocantins) e ainda o turismo de veraneio em Salinoacutepolis (o fluxo maior de pessoas
se daacute no mecircs de julho - poacutelo Amazocircnia Atlacircntica) Dessa forma tomando como base
a condiccedilatildeo de sazonalidade no estado a tabela 2 abaixo revela em nuacutemeros a
quantidade de leitos dos hoteacuteis ocupados na condiccedilatildeo de pernoite nos anos de
2002 2003 e 2004
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados do estado do Paraacute - 2002 2003 e 2004
MEcircS
2002
2003
2004
JANEIRO
32655
36652
38047
FEVEREIRO
30423
35783
40088
MARCcedilO
39811
36854
45912
ABRIL
38421
38724
43956
MAIO
41016
40326
47772
JUNHO
34663
36274
51354
72
JULHO
41918
42600
46168
AGOSTO
44162
40927
57209
SETEMBRO
40878
43364
50354
OUTUBRO
41309
47715
61215
NOVEMBRO
40653
45739
56851
DEZEMBRO
34105
35751
46227
TOTAL
460014
480709
585153
FONTE PARATUR (2004 p 26)
Como se percebe apesar de existir um acreacutescimo no fluxo de pessoas ao
longo dos anos ainda persiste uma concentraccedilatildeo em um periacuteodo mais especiacutefico do
ano devido agraves peculiaridades que esses meses proporcionam ao turista interno e
externo A sazonalidade turiacutestica no Paraacute portanto torna-se um fator importante
para se entender a concentraccedilatildeo espacial de pessoas visitantes Em outros
momentos tais lugares natildeo vivenciam um ritmo de circulaccedilatildeo de pessoas
semelhante aos meses em que o turismo eacute predominante ocasionando ausecircncia em
massa das pessoas desses lugares afetando por sua vez a economia relacionada
ao turismo nas cidades
Um outro fator importante a ser percebido diz respeito agrave acessibilidade ou
seja a forma pela qual o turista chega ao Estado do Paraacute Neste caso os nuacutemeros
apesar de refletirem uma parcela da realidade mostram que o meio de transporte
mais utilizado eacute o aviatildeo (transporte aeacutereo) A distacircncia do Paraacute em relaccedilatildeo aos
centros emissores do paiacutes torna-se um indicativo para que o fluxo de passageiros
que chegam por via aeacuterea seja ainda maior comparado a outros meios de
transporte como ocircnibus ou carro Os dados da PARATUR (2004) revelam esse
comparativo
73
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0
A v iatilde o
A u to m oacute v e l
O n ib u s
N a v io
N atilde o E s p e c
T u r is ta s b r a s ile ir o s e o tr a n s p o r te u t i l iz a d o p a r a c h e g a r a o E s ta d o
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 2004
RESIDEcircNCIA
PERMANEN
AVIAtildeO
CAR
OcircNIBUS
NAVIO
NESP
TOTAL
BRASIL 107675
575
14565
78 6242 33 3815 20
54965
294 187261
EXTERIOR 15294 674
537 24 147 06 1124 49
5570 246 22672
TOTAL 122969
586
15102
72 6389 30 4939 24
60535
288
209933
FONTE PARATUR (2004)
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao
Estado do Paraacute
FONTE PARATUR (2004)
O transporte aeacutereo eacute caro o fluxo de pessoas que visitam o Paraacute natildeo eacute tatildeo
expressivo Por outro lado as estradas que datildeo acesso aos mais distantes lugares
do territoacuterio (pontos de turismo) encontram-se em estado de maacute conservaccedilatildeo
necessitando de reparos o que impossibilita um maior fluxo interno de turismo no
estado Sendo assim o aviatildeo ainda se torna o meio de locomoccedilatildeo mais procurado
poreacutem com valores de mercado que inviabilizam uma maior frequumlecircncia de turistas
74
No tocante agrave ocupaccedilatildeo de empregos os dados indicam um acreacutescimo dos
mesmos nas atividades relacionadas ao turismo Em 1999 a criaccedilatildeo de empregos
diretos correspondia a um universo de 14605 postos de trabalhos (PARAacute 2004) Jaacute
no ano seguinte 2000 este nuacutemero altera-se para 16340 Em escala exponencial
esse nuacutemero chega em 2002 num patamar de 17841 empregos diretos Como os
dados oficiais do governo mostram uma relaccedilatildeo em que a cada um emprego direto
formado existem trecircs indiretos (OMT apud PARAacute 2004) o total de empregos
gerados em 2002 concentra-se em 71364 postos de trabalhos (PARAacute 2004)
Percebe-se portanto que os dados estatiacutesticos natildeo revelam os tipos de trabalhos
gerados pela crescente demanda de turismo no Estado ou ainda sua qualidade
fazendo com que se gerem duacutevidas sobre a relaccedilatildeo turismo e geraccedilatildeo de emprego
Por outro lado essa crescente demanda do turismo no Estado estaacute alicerccedilada
em uma maior divulgaccedilatildeo do setor em outros mercados emissores fazendo com que
o produto paraense possa ser mais percebido em outros lugares do Brasil e do
mundo Nesse sentido o marketing torna-se uma ferramenta importante para se
entender a promoccedilatildeo desses lugares ou espaccedilos turistificados que chamam a
atenccedilatildeo do turista
Nielsen (2002) faz uma interessante anaacutelise a respeito das atividades
relacionadas ao marketing Para o autor as informaccedilotildees assumem dois caminhos
diferentes e complementares a informaccedilatildeo que depende de quem fornece e a
informaccedilatildeo que depende de quem recebe Estabelece-se assim uma rede de
informaccedilotildees que pode ser fluida se a informaccedilatildeo no seu transcurso for bem
direcionada ou natildeo fluida se for o contraacuterio Nesse caso em primeiro lugar a
informaccedilatildeo de quem gera normalmente eacute atribuiacuteda aos oacutergatildeos e agecircncias de
turismo que compotildeem esse sistema como as agecircncias de viagens operadoras e o
proacuteprio Estado quando assume este papel de divulgador das informaccedilotildees de seu
produto turiacutestico
As informaccedilotildees geradas pelo marketing satildeo cruciais pois envolvem motivos
legais de seguranccedila e motivos que possam gerar lucros Quando se tem uma
informaccedilatildeo por motivos comerciais eacute necessaacuterio saber o potencial do
comportamento do turista em relaccedilatildeo agrave busca desses dados (NIELSEN 2002)
sendo essa forma a que possibilita uma melhor interaccedilatildeo entre quem fornece a
75
informaccedilatildeo e quem a recebe Assim sendo para o autor os oacutergatildeos que tomam
conta desse serviccedilo devem estar munidos de potencial para que natildeo surjam grandes
problemas quanto agrave promoccedilatildeo de eventos entre outros serviccedilos ligados ao turismo
O autor ainda chama a atenccedilatildeo para a clareza com que essas informaccedilotildees
satildeo repassadas Para Nielsen (2002) para que isso ocorra com maior satisfaccedilatildeo eacute
preciso que haja objetividade no momento de informar um produto turiacutestico Para o
autor
[] Um pouco menos de apresentaccedilatildeo e mais de discussatildeo sobre vendas faz com que o cliente note o benefiacutecio percebido em continuar a ouvir o representante de vendas e assim natildeo ignorar a mensagem (NIELSEN 2002 p 81)
Diante disso as informaccedilotildees que concentram generalidades podem gerar
impactos negativos sobre os turistas causando problemas de relacionamento entre
o turista e os lugares Para o autor portanto o marketing deve estar fundamentado
numa comunicaccedilatildeo eficiente e proporcionar o melhor serviccedilo turiacutestico possiacutevel
garantindo assim uma base econocircmica soacutelida e uma tomada de decisotildees concisa
Muitos desses elementos apresentados por Nielsen (2002) apesar de
estarem relacionados aos aspectos comerciais e de serviccedilos do marketing revelam
elementos importantes para se entender a loacutegica de construccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos
lugares que tecircm potenciais turiacutesticos Tomando como base as divulgaccedilotildees feitas
pela PARATUR a fim de que possa promover o produto turiacutestico paraense as
informaccedilotildees geradas sempre procuram mostrar o lado bom para o turista a fim de
proporcionar um ambiente de bem-estar no qual o turista ao vir para o Estado do
Paraacute possa se sentir bem e aproveitar sua estada Por outro lado os aspectos
negativos como pobreza urbana ou desigualdades de um modo geral natildeo se
constituem elementos nas propagandas de Estado
No que diz respeito aos folhetos as informaccedilotildees geradas estatildeo pautadas na
criaccedilatildeo de cenaacuterios paradisiacuteacos onde o espaccedilo reduz-se agrave pequenas imagens
Aleacutem disso os conteuacutedos das informaccedilotildees vislumbram uma situaccedilatildeo de competiccedilatildeo
76
com outros lugares do Brasil que tecircm potencialidades turiacutesticas enfatizando suas
peculiaridades A companhia de turismo do Estado tem se empenhado em divulgar o
Paraacute dessa forma Em um folheto de propaganda destinado aos turistas franceses
por exemplo (uma das maiores demandas de mercados emissores para a regiatildeo) as
informaccedilotildees estatildeo associadas agrave importacircncia e dimensatildeo da floresta aliado a um
conforto que eacute encontrado na cidade grande no caso a capital Beleacutem
Paraacute a obra-prima da Amazocircnia No extremo Norte do Brasil em plena Amazocircnia o estado do Paraacute reserva ao visitante diferentes paisagens da floresta virgem e fechada agrave amplidatildeo das praias oceacircnicas Do clima quente uacutemido e ensolarado agraves chuvas refrescantes e agrave aacutegua abundante dos igarapeacutes lagos cachoeiras praias de mar e de rios afluentes do Amazonas e Tocantins Suas rotas satildeo diversificadas coloridas cheias de ricas e variadas manifestaccedilotildees culturais temperadas com uma culinaacuteria baseada na extraordinaacuteria diversidade de fauna e flora amazocircnicas O Paraacute oferece uma experiecircncia uacutenica conhecer a floresta tropical sem se deixar de lado o conforto da civilizaccedilatildeo (PARAacute p 3 sd)
Para que haja portanto um enriquecimento do cenaacuterio espacial criado pelas
propagandas de marketing a necessidade de impor uma condiccedilatildeo uacutenica (PARAacute
sd) faz com que se enalteccedilam fragmentos do territoacuterio com o propoacutesito de que se
possa lanccedilar ao mercado uma imagem positiva a respeito do produto turiacutestico
paraense
Para Coelho (1999) quando o turismo faz referecircncias agraves peculiaridades da
regiatildeo em especial do Estado do Paraacute proporciona um distanciamento entre as
belezas cecircnicas que satildeo encontradas nos pontos turiacutesticos e as sociedades locais
que estatildeo situadas nesses lugares Quando as comunidades ou sociedades locais
fazem parte da propaganda e do marketing do turismo estes sujeitos aparecem
como mitificados (COELHO 1999 p 69) Nesse sentido satildeo tratados apenas
como meros habitantes caracterizando a distacircncia desses indiviacuteduos de seu
entorno Para a autora a comunidade representa uma visatildeo fragmentada onde se
fala de uma parcela sem se importar com sua inserccedilatildeo num conjunto de sociedade
local e regional (COELHO 1999 p 69)
77
Em um outro tipo de informaccedilatildeo o relatoacuterio de atividades de turismo do
Estado tambeacutem eacute apresentado o crescimento da atividade e como as atividades
estatildeo proporcionando uma mudanccedila na poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo Segundo
a PARATUR (2004) em 2004 o nuacutemero de visitantes alcanccedilou a marca histoacuterica de
meio milhatildeo de turistas o que possibilitou a geraccedilatildeo de mais de cinco mil empregos
diretos e indiretos No que diz respeito agrave movimentaccedilatildeo financeira 100 milhotildees de
doacutelares circularam no Estado (PARAacute 2004) Esse resultado reflete segundo o
oacutergatildeo a firme poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo desenvolvida pelo Governo do
Estado atraveacutes de investimentos diretos e de uma agressiva poliacutetica de marketing
(PARAacute 2004 p 3) Percebe-se assim que a divulgaccedilatildeo de aspectos que
demonstrem grandeza ou crescimento constitui-se como uma estrateacutegia do Estado
ocultando com isso os possiacuteveis conflitos e interesses que envolvem os agentes
que fazem parte do trade turiacutestico Tal estrateacutegia eacute muito comum nas accedilotildees que
envolvem marketing e promoccedilatildeo de produtos
O marketing para o Estado do Paraacute pode ser caracterizado como uma
ferramenta de promoccedilatildeo do turismo em outros lugares apropriando-se de imagens
que retratam os principais siacutembolos da cultura e natureza paraenses ao mesmo
tempo em que esconde a dinacircmica soacutecio-espacial marcada por conflitos e
desigualdades Esse contexto torna-se portanto conveniente para que os produtos
turiacutesticos possam adentrar em uma escala de competitividade de novos mercados
garantidores de demanda turiacutestica
33 A importacircncia da atividade turiacutestica no Novo Paraacute
Em 1995 a partir da posse do governador Almir Gabriel tem-se o iniacutecio do
programa de governo Novo Paraacute que implanta uma nova forma de gestatildeo
governamental baseada nas atividades estrateacutegicas de governo ou chamado de
planejamento estrateacutegico Nesse tipo de planejamento a esfera estatal passa por
modificaccedilotildees no que se refere agrave gestatildeo Essa situaccedilatildeo eacute principalmente perceptiacutevel
quando a administraccedilatildeo de um governo eacute voltada para uma inserccedilatildeo no mercado
como uma espeacutecie de funccedilatildeo primordial e mantenedora de uma boa administraccedilatildeo
78
O programa Novo Paraacute pode ser caracterizado pelo tripeacute agroinduacutestria
mineraccedilatildeo e turismo (NOVO PARAacute 2002) sendo estes vetores da transformaccedilatildeo
econocircmica e social A dimensatildeo do programa reflete-se nas reestruturaccedilotildees
espaciais que o governo implementa principalmente no que se refere agrave infra-
estrutura Tal perspectiva eacute um dos traccedilos desse modelo de gestatildeo governamental
que impotildee ao Estado uma postura do tipo empresariamento
A concepccedilatildeo desse modelo implica portanto a estruturaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento cuja unidade se construiraacute a partir da diversidade das partes que requer accedilotildees diferenciadas em cada espaccedilo considerado Isso impotildee sem duacutevida poliacuteticas puacuteblicas cada vez mais voltadas para o fortalecimento de espaccedilos sub-regionais ou seja das municipalidades e dos consoacutercios municipais reconhecendo que eacute na sua cidade na sua vila que as pessoas se defrontam com seus problemas (PARAacute 2002 p 2)
Os caminhos que supostamente levam ao desenvolvimento do Estado usam
um novo gerenciamento (ARANTES 2002) para dar respostas competitivas aos
desafios que a globalizaccedilatildeo impotildee aos governos tanto numa escala micro como
numa escala macro espacial Nesse sentido a ideacuteia parte de um planejamento
estrateacutegico que ratifique a competiccedilatildeo entre os lugares desencadeando em
investimentos de capital tecnologia atraccedilatildeo de novas induacutestrias entre outros
estipulando assim uma nova realidade para o mercado
No que se refere ao turismo o programa Novo Paraacute apresenta formulaccedilotildees
consideraacuteveis no que diz respeito aos seus objetivos e diretrizes como
fortalecimento de sua instituiccedilatildeo representativa a PARATUR Sendo assim a
atividade turiacutestica no Paraacute passa a ser mais divulgada em outros centros emissores
apoiada sobretudo nas accedilotildees de marketing que a instituiccedilatildeo desenvolve
Entre outras accedilotildees importantes que se destacam no Projeto estaacute o
fortalecimento do turismo nos municiacutepios do interior do Estado atraveacutes do
planejamento e coordenaccedilatildeo por parte do governo Dessa forma a atividade do
turismo comeccedila a se descentralizar ocasionado em gestatildeo municipalizada Nesse
sentido os prefeitos das cidades do interior do estado passam a incorporar o turismo
como um dos vetores de desenvolvimento de suas cidades Para isso a maacutequina
79
administrativa faz um rearranjo institucional para se adequar agrave loacutegica do turismo
tornando-o um empreendimento firme e competitivo
A questatildeo do fortalecimento institucional do turismo no interior do territoacuterio
paraense eacute uma das principais estrateacutegias espaciais desse modelo de gestatildeo o qual
eacute materializado no Plano de Desenvolvimento do Turismo (PDT-PA) atraveacutes da
criaccedilatildeo dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo As cidades que reuacutenem as
melhores infra-estruturas urbanas satildeo consideradas cidades-sedes desses poacutelos
Atraveacutes desse sistema pretende-se em termos gerais fazer com que as cidades
mais proacuteximas dos poacutelos possam adquirir o crescimento da atividade por meio de
uma espeacutecie de irradiaccedilatildeo As administraccedilotildees locais a partir dessa estrutura devem
realizar atividades que fomentem o turismo ao mesmo tempo em que devem
estimular a entrada de capitais privados interessados em investir no lugar
Uma outra dimensatildeo presente nas poliacuteticas de turismo visiacuteveis no projeto estaacute
assentada na garantia da expansatildeo do ecoturismo Este por sinal torna-se um item
importante no chamado turismo alternativo Nesse caso as accedilotildees previstas no
PROECOTUR satildeo assimiladas nesta fase do Novo Paraacute principalmente no que se
refere ao uso da Floresta Amazocircnica A ideacuteia de natureza vincula-se ao sustentaacutevel
da regiatildeo ou ainda de seu uso com baixa degradaccedilatildeo ambiental Este eacute um dos
pontos que o programa defende para o turismo no estado Coelho (1999) chama a
atenccedilatildeo para a ideacuteia de que o ecoturismo ao mesmo tempo em que promove essa
espeacutecie de retorno agrave natureza pode natildeo garantir a viabilidade econocircmica para os
agentes sociais ou comunidades tradicionais envolvidos nesse processo A autora
ainda acrescenta que para natildeo haver essa frustraccedilatildeo para as sociedades
tradicionais eacute necessaacuterio que se tenha uma
() visatildeo integrada de natureza e sociedade da adoccedilatildeo de uma concepccedilatildeo de gestatildeo democraacutetica (por definiccedilatildeo) compartilhada consciente e responsaacutevel da atividade envolvendo sempre diferentes atores sociais Depende tambeacutem do entendimento por parte dos diferentes atores sociais envolvidos de que natildeo lhes interessa qualquer ecoturismo mas um ecoturismo modelo (diferente dos modelos convencionais voltados para o turismo tradicional de massa ou para o turismo puramente comercial) onde se busca permanentemente a conciliaccedilatildeo entre teoria e praacutetica (COELHO 1999 p 70)
80
Outro tipo de vetor importante pauta-se na ideacuteia do tratamento diferencial e o
apoio financeiro para a iniciativa privada interessada em investir no setor Com esse
tipo de apoio o Governo do Estado promove uma maior abertura ao setor privado no
que tange aos investimentos do turismo Nesse sentido o nuacutemero de empresas eacute
ainda maior devido aos incentivos fiscais gerados pelo governo possibilitando
tambeacutem uma nova relaccedilatildeo setor puacuteblico-privado
Aliada a esta perspectiva outra caracteriacutestica complementar eacute a
intensificaccedilatildeo de produtos turiacutesticos paraenses junto aos mercados nacional e
internacional Para isto a realizaccedilatildeo de roteiros turiacutesticos (NOVO PARAacute 2002)
torna-se ferramenta fundamental para a consolidaccedilatildeo desse vetor
Atraveacutes da realizaccedilatildeo e implantaccedilatildeo dos roteiros turiacutesticos o Projeto Novo
Paraacute intensifica ainda mais os eventos na aacuterea do turismo alternativo
principalmente aqueles ligados ao atrativo da floresta Com os roteiros os espaccedilos
de turismos no estado tornam-se ainda mais especiacuteficos exercendo dessa forma
um poder de influecircncia nos turistas ao visitarem os lugares escolhidos
antecipadamente pelas operadoras e agecircncias do trade
Para Fonseca (2005) por exemplo esses estiacutemulos que proveacutem das novas
estrateacutegias de planejamento na verdade satildeo condicionantes de novas
competitividades (FONSECA 2005) O setor turiacutestico natildeo foge agrave regra dos mercados
econocircmicos e por isso necessita fazer com que haja uma maior circulaccedilatildeo de capital
no espaccedilo O ambiente da competitividade por sua vez eacute influenciado diretamente
pelo poder puacuteblico atraveacutes da criaccedilatildeo de externalidades positivas para que possa
promover maior competitividade ao produto turiacutestico E como exemplo disso no
Programa Novo Paraacute essa realidade se faz presente A possibilidade de geraccedilatildeo
de capital extra-local (FONSECA 2005) eacute um estiacutemulo para que haja uma
competiccedilatildeo com os agentes econocircmicos locais gerando dessa forma conflitos por
mercados Por mais que um dos vetores do Programa seja o de estimular o turismo
comunitaacuterio (NOVO PARAacute 2002) a competiccedilatildeo com a iniciativa privada estrangeira
torna-se desleal
Outro ponto forte dentro dessa poliacutetica eacute o da criaccedilatildeo de empregos no setor
de turismo Para Fonseca (2005) esse setor de acordo com as poliacuteticas de turismo
81
passa por constante mudanccedila estrutural A reorganizaccedilatildeo do processo de trabalho
atraveacutes do sistema just in time (TAVARES apud FONSECA 2005) eacute uma das bases
de transformaccedilatildeo do setor de trabalho turiacutestico Neste processo a otimizaccedilatildeo do
trabalho coloca de um lado uma maior especializaccedilatildeo do trabalho poreacutem de outro
estimula a sua precarizaccedilatildeo A autora indica seis consequumlecircncias desse processo
-Grande nuacutemero de trabalhadores temporaacuterios -Elevado percentual de matildeo-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual nos cargos superiores -Elevado nuacutemero de trabalhadores clandestinos (nos paiacuteses desenvolvidos) -Baixa remuneraccedilatildeo se comparados a outros segmentos econocircmicos -Elevado nuacutemero de horas de trabalho -Baixo grau de sindicalizaccedilatildeo (FONSECA 2005 p 148)
Dentro dessas caracteriacutesticas apontadas por Fonseca (2005) Harvey (2005)
afirma que esses processos de movimentaccedilatildeo do capital pelo espaccedilo podem ser
beneacuteficos aos capitalistas como por exemplo a ideacuteia que Fonseca (2005) cita sobre
o elevado nuacutemero de horas de trabalho Poreacutem ainda de acordo com Harvey (2005)
no que se refere agrave qualidade de trabalho tal caracteriacutestica eacute socialmente negativa
Mesmo assim Harvey ressalta que essa condiccedilatildeo eacute importante para se manter uma
produccedilatildeo da organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2005 2005 p 145) Neste caso
questotildees referentes ao emprego por exemplo de acordo com Fonseca (2005) natildeo
fogem agrave regra quando o assunto eacute o aumento da produtividade por parte do capital
Em relaccedilatildeo ao Estado do Paraacute e ainda no que se refere agrave questatildeo de
geraccedilatildeo de emprego no estado a partir da atividade do turismo a ideacuteia do emprego
torna-se algo problemaacutetico principalmente porque o Paraacute ainda estaacute em processo
de mudanccedilas lentas quando o assunto eacute turismo Com isso essa situaccedilatildeo provoca
por sua vez geraccedilotildees de empregos do tipo sazonal ou seja situaccedilotildees em que a
matildeo-de-obra condizente agrave atividade turiacutestica no Paraacute eacute verificada ou se manifesta
de periacuteodos em periacuteodos fazendo com que propagandas sobre a geraccedilatildeo de
emprego e renda veiculados pelo Estado mereccedilam um cuidado maior ao serem
analisadas pois de um lado o planejamento se volta para a pretensatildeo de criar
empregos no setor do turismo por outro a condiccedilatildeo social se comporta de uma
forma instaacutevel quanto aos empregos e condiccedilotildees de trabalho
82
4 O PDT-PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE
DESENVOLVIMENTO
83
41 Diretrizes e estrutura do PDT-PA
A construccedilatildeo de um plano de turismo sempre estaacute cercada de motivos e
interesses os quais se relacionam a uma intervenccedilatildeo espacial Natildeo obstante
pensar em uma forma de plano eacute pensar diretamente nessa intervenccedilatildeo mediada
por interesses de agentes que a produzem Nesse sentido o resultado de sua
construccedilatildeo eacute necessariamente o reflexo de decisotildees e concepccedilotildees arroladas no
momento de sua construccedilatildeo Com isso um plano de turismo natildeo se apresenta de
forma neutra assim como suas accedilotildees e programas decorrentes de sua elaboraccedilatildeo
o que nos leva a entender que qualquer estrateacutegia de desenvolvimento estaacute
subjacente a valores poliacuteticos (SOUZA 2000) onde se inclui tambeacutem interesses de
agentes envolvidos daiacute a pertinecircncia de uma natildeo neutralidade nos planos de
desenvolvimento de turismo
Os modelos de planos de turismos natildeo se mantiveram os mesmos ao longo
dos anos sempre precisaram de transformaccedilotildees e adaptaccedilotildees para que pudessem
atender agraves novas demandas de mercado A tocircnica do discurso mantida foi a de que
a partir da construccedilatildeo de um plano de turismo o desenvolvimento seria mais faacutecil E
neste sentido o governo no transcorrer dos tempos foi e ainda eacute o maior
incentivador dessa praacutetica garantindo-lhe sua regulamentaccedilatildeo e ateacute mesmo a
construccedilatildeo de uma infra-estrutura capaz de atender agraves novas exigecircncias do
mercado
Neste caso o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Paraacute natildeo
foge agrave regra quando o assunto eacute a transformaccedilatildeo do espaccedilo paraense a partir das
praacuteticas turiacutesticas Aleacutem de garantir um maior fluxo da economia a partir do turismo
ele legitima a presenccedila de agentes interessados em investir racionalmente na
tomada de decisotildees que interessem ao aumento dessa atividade no espaccedilo
paraense Eacute de fato no PDT-PA que estaacute contida toda a argumentaccedilatildeo do Governo
em prol da atividade facilitando assim sua promoccedilatildeo
Estruturalmente o PDT-PA estaacute dividido em trecircs grandes seccedilotildees que
correspondem aos momentos distintos de sua elaboraccedilatildeo
84
A primeira grande seccedilatildeo diz respeito ao diagnoacutestico feito pela empresa de
consultoria contratada para a elaboraccedilatildeo do plano19
Na introduccedilatildeo do plano haacute uma justificativa referente agrave ideacuteia do
desenvolvimento Nesta parte o interesse do Governo do Estado eacute de fazer do
documento um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentaacutevel dos
recursos disponiacuteveis na natureza paraense A cultura aqui eacute apresentada sob a
forma de recurso e adquire um valor importante no que se refere ao turismo
Segundo as proacuteprias palavras do documento
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Ainda no tocante a esta seccedilatildeo as justificativas feitas em relaccedilatildeo a assuntos
como crescimento e sustentabilidade natildeo podem ser vistas como atividades
isoladas Do contraacuterio permite-se uma maior participaccedilatildeo do Estado no que se
refere ao fomento de outros fatores cruciais para o desenvolvimento da atividade
como infra-estrutura e planejamento integrado colocando o turismo como uma
atividade econocircmica racionalmente conduzida por um processo de planejamento
econocircmico espacial
Para que o plano de desenvolvimento do turismo pudesse ser estruturado
como tal foi necessaacuterio haver uma vinculaccedilatildeo com outro projeto antecedente
intitulado Projeto Beija-Flor 20
Ainda na introduccedilatildeo do documento os criteacuterios de construccedilatildeo do plano
aparecem como elementos que identificam sua forma de elaboraccedilatildeo como
19 A empresa referente chama-se THR Assessoria em Turismo Hotelaria e Recreaccedilatildeo O Plano teve seu momento de elaboraccedilatildeo final em outubro de 2001 20 Este Projeto foi desenvolvido no periacuteodo do segundo governo de Almir Gabriel no periacuteodo de 1999 a 2002
85
compilaccedilatildeo e anaacutelises de documentos existentes que retratam o turismo no Paraacute
folders que divulguem a imagem do Estado em outros lugares
Aleacutem disso o trabalho de campo realizado pela empresa de consultoria
estava estruturado em pesquisas e observaccedilotildees feitas em trecircs momentos distintos
No primeiro eram feitas entrevistas com turistas que chegavam a Beleacutem
atraveacutes de seus desembarques no aeroporto internacional da capital A respeito
disso natildeo eacute mencionado no documento quais tipos ou padrotildees de turistas que a
pesquisa da empresa solicita ou de onde eles vinham Outro detalhe eacute que outros
lugares de chegada a Beleacutem natildeo satildeo mencionados no plano como eacute o caso do
Terminal Rodoviaacuterio de Beleacutem Hildegardo da Silva Nunes e dos portos fluviais
situados ao longo da capital Para a empresa responsaacutevel a finalidade da pesquisa
era a de identificar como atrair fluxos turiacutesticos maiores para o Estado (PARAacute
2001 p 6) tendo como base o fluxo de pessoas que desembarcassem pelo
aeroporto de Beleacutem
Ainda dentro da pesquisa realizada alguns elementos se destacam como a)
o motivo de viagem natildeo fosse de negoacutecios b) houvesse pelo menos um pernoite no
estado c) estivesse dentro da composiccedilatildeo previamente estruturada da amostra
(PARAacute 2001 p 6)
Em um segundo momento da pesquisa sua realizaccedilatildeo estava pautada nos
maiores centros operadores e emissivos de turismo do Brasil ou seja Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais A mesma foi baseada em entrevistas pessoais com
os proprietaacuterios eou diretores das operadoras buscou-se identificar as principais
questotildees relacionadas com a promoccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos
paraenses (PARAacute 2001 p 7) Com isso a intenccedilatildeo principal da empresa
contratada para elaborar o plano era a de identificar o que falta para o Paraacute ser um
bom destino turiacutestico ou no que se refere ao ambiente de mercado o que falta para
o estado ser um forte concorrente no trade turiacutestico nacional Nesta ocasiatildeo o
principal criteacuterio de escolha esteve ligado agraves empresas que jaacute trabalhavam com o
produto turiacutestico paraense e com isso perceber quais dificuldades foram apontadas
por elas e quais soluccedilotildees poderiam ser apresentadas no que tange ao aumento de
volume de turistas para o Estado
86
Em um terceiro momento a escala internacional foi levada em consideraccedilatildeo
no que diz respeito agraves pesquisas de mercado Neste ponto a empresa responsaacutevel
explica em linhas gerais que o mercado internacional de turismo no Paraacute eacute
fragilizado
Partindo do pressuposto de que o turismo internacional praticamente inexiste no Paraacute a pesquisa procurou detalhar o mercado potencial existente nos principais paiacuteses do Mercosul da Europa e nos EUA A pesquisa identificou o perfil do consumidor os produtos mais demandados a forma de comercializaccedilatildeo etc (PARAacute 2001 p 7)
Essas anaacutelises portanto estatildeo desenvolvidas no transcorrer da elaboraccedilatildeo
do plano de turismo o que eacute demonstrado quando eacute feita a apreciaccedilatildeo sobre a
situaccedilatildeo do mercado externo de turismo paraense Tal estrateacutegia de mercado estaacute
pautada numa abordagem do tipo transescalar como lembra Vainer (2002) na qual
os mercados regionais locais e internacionais satildeo privilegiados
Para a empresa responsaacutevel a importacircncia da pesquisa se resumia mais a
um caraacuteter propositivo do que investigativo (PARAacute 2001) procurando saber quais
as deficiecircncias do estado no que concerne o avanccedilo do turismo Neste sentido a
intenccedilatildeo da empresa juntamente com o governo do Paraacute era de perceber quais os
problemas para propor soluccedilotildees estrateacutegias que mudassem o quadro de uma baixa
inserccedilatildeo do mercado turiacutestico paraense nas escalas nacional e internacional Neste
caso A pesquisa foi mais propositiva do que investigativa Ou seja procurou
identificar o que o Paraacute necessita fazer para concorrer nestes poderosos mercados
emissores de turistas (PARAacute 2001 p 7)
No tocante agrave elaboraccedilatildeo definitiva do plano a empresa responsaacutevel procurou
divulgar o plano entre os agentes promotores do turismo no Paraacute Neste caso o
documento especifica que o plano ainda foi discutido entre profissionais do ramo
bem como o proacuteprio gabinete do governador Em outras palavras no PDT-PA a
elaboraccedilatildeo completa ficou por conta da empresa de assessoria em turismo
THR
os agentes de Estado assim como planejadores teacutecnicos e empresaacuterios Neste
87
caso outros representantes da sociedade civil ou lideranccedilas populares natildeo satildeo
citados no documento Segundo o documento
Estas estrateacutegias programas e grupo de accedilotildees foram apresentados em reuniotildees nos vaacuterios poacutelos com as lideranccedilas puacuteblicas e privadas e as mesmas passaram por um processo de aperfeiccediloamento em funccedilatildeo dos resultados obtidos nestas discussotildees Depois de incorporadas as sugestotildees advindas das reuniotildees nos poacutelos o trabalho foi rediscutido no acircmbito da Paratur da Secretaria de Produccedilatildeo e do proacuteprio Gabinete do Governador do Estado Apoacutes o Plano ter sido submetido a consenso nestas esferas o mesmo foi apresentado em um seminaacuterio para cerca de 400 empresaacuterios teacutecnicos e autoridades (PARAacute 2001 p 8)
A ideacuteia de planejamento e elaboraccedilatildeo de um documento como o PDT-PA eacute
contraacuteria agrave ideacuteia que Souza (2004) defende sobre os instrumentos de planejamento
por mais relevantes e criativos que sejam [os instrumentos de planejamento e
gestatildeo] soacute adquirem verdadeira importacircncia ao terem sua operacionalizaccedilatildeo
(regulamentaccedilatildeo) e sua implementaccedilatildeo influenciadas e controladas pelos cidadatildeos
(SOUZA 2004 p 321) Neste caso deve-se especificar qual ideacuteia de cidadatildeo que
se almeja nesse processo ou seja aquele que natildeo se reduz aos atores
hegemocircnicos de um setor econocircmico rentaacutevel como eacute o turismo Pelo contraacuterio esta
perspectiva assume um caraacuteter ainda mais amplo de participaccedilatildeo popular de todos
aqueles envolvidos neste processo de intervenccedilatildeo espacial
O plano ao privilegiar certos grupos da sociedade paraense circunscreve o
poder de decisatildeo sobre o desenvolvimento do turismo para poucos Lideranccedilas
populares ou agentes do circuito inferior da economia (SANTOS 2002) natildeo tecircm voz
nem tampouco vez no processo de construccedilatildeo de um documento como o PDT-PA
As decisotildees sobre a atividade turiacutestica no Paraacute portanto satildeo desiguais e
excludentes
A segunda seccedilatildeo intitulada Conteuacutedo do Plano apresenta um amplo
diagnoacutestico da situaccedilatildeo do turismo paraense Nesta parte do plano existem
caracteriacutesticas que satildeo associadas agrave atividade turiacutestica no estado como recursos
naturais infra-estrutura demandas e organizaccedilatildeo do oacutergatildeo responsaacutevel pela
setorizaccedilatildeo do turismo no Paraacute a PARATUR
88
Em um primeiro momento no que diz respeito agrave ideacuteia de recursos turiacutesticos
o plano oferece uma descriccedilatildeo dos elementos naturais presentes no estado como
recursos potencializaacuteveis para uma exploraccedilatildeo racionalizada por parte de agentes
que operam no setor de investimentos do turismo O documento chama atenccedilatildeo
para as ideacuteias de recursos turiacutesticos e acessibilidade Neste caso em especial o
plano toma a linguagem dos recursos naturais do estado pela forma de acesso a
eles em outros termos os lugares que apresentam uma maior facilidade de fluxos
dos turistas apresentam por conseguinte uma importacircncia a mais quanto agrave
exploraccedilatildeo Como exemplo
Ao norte do Estado (margem esquerda do Rio Amazonas na Guiana Paraense) o relevo se mostra um pouco mais acidentado o suficiente para criar rios com diversas cachoeiras e corredeiras o que se constitui em grande atrativo para turismo de aventura No extremo-norte a topografia apresenta maiores elevaccedilotildees Poreacutem as dificuldades de acesso e a presenccedila de grandes extensotildees de reservas indiacutegenas impedem que estes recursos se transformem em produtos turiacutesticos a curto prazo (PARAacute 2001 p 11 grifo nosso)
Assim sendo o interesse por espaccedilos que possibilitem uma maior
acessibilidade e que jaacute apresentem certa notoriedade torna-se um fator importante
para que haja uma facilitaccedilatildeo da entrada de investimentos turiacutesticos Neste caso os
espaccedilos selecionados e que tecircm maiores preferecircncias por investimentos externos
tecircm tendecircncia a seres dinacircmicos do ponto de vista da acumulaccedilatildeo do capital
O consumo dos lugares ou ainda de seus atrativos satildeo diferenciados de outros
espaccedilos dentro do territoacuterio paraense Exemplos como fauna flora gastronomia
cobertura vegetal patrimocircnio cultural aparecem no Plano como elementos dados
prontos a serem dinamizados e em uma outra perspectiva comercializados Sobre
isso o proacuteprio PDT-PA mostra
Contudo dispor de bons recursos natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para se constituir um destino competitivo Os recursos e atrativos podem ser usados e desfrutados Mas para isto eacute necessaacuterio que sejam acessiacuteveis que estejam minimamente equipados acondicionados e sinalizados que enfim permitam a praacutetica de atividades ordenadas e organizadas etc (PARAacute 2001 p 12)
89
Tal situaccedilatildeo tambeacutem eacute constatada pelo plano na seccedilatildeo Infra-estrutura e
equipamentos baacutesicos onde se torna presente a ideacuteia de que no estado do Paraacute a
infra-estrutura estaacute aqueacutem de dinacircmica intensa exigida pelo turismo de massa
A partir de um diagnoacutestico amplo averiguado nas principais cidades que apresentam
os recursos turiacutesticos o plano expotildee de forma clara as possibilidades de acessos
por meios de transporte como por exemplo por via terrestre fluvial e aeacuterea
A partir disso o plano exibe uma relaccedilatildeo interessante entre os meios de
transporte e as peculiaridades naturais do estado Para que haja uma maior
facilidade de acesso e fluxo turiacutestico intenso o plano mostra um tipo de comentaacuterio
contraacuterio a uma das maiores especificidades naturais do estado e da regiatildeo
amazocircnica os rios Segundo as proacuteprias palavras do PDT-PA
Os transportes se constituem em um problema dadas as dimensotildees do Estado O Paraacute conta com 4215km de rodovias asfaltadas o que para seu tamanho eacute uma extensatildeo ainda muito pequena Aleacutem disto a grande pluviosidade da regiatildeo torna a manutenccedilatildeo desta rede muito dispendiosa e vaacuterias rodovias tecircm sua trafegabilidade afetada nos periacuteodos de chuvas mais intensas (PARAacute 2001 p 16)
Nesse sentido ainda
Por esta razatildeo o transporte fluvial eacute o mais utilizado na regiatildeo amazocircnica Apesar da rede hidrograacutefica paraense ser das maiores do mundo a sinuosidade dos rios e obstaacuteculos naturais tornam as viagens fluviais demoradas o que dificulta certos segmentos de demanda que dispotildeem de pouco tempo para viagens (PARAacute 2001 p 16)
Levando em consideraccedilatildeo essa perspectiva o transporte mais adequado para
que haja um maior fluxo da atividade turiacutestica eacute o transporte aeacutereo que por sinal
dentro das perspectivas globais de transporte para o turismo de uma forma geral eacute
o tipo de transporte que mais se adapta agrave rapidez que o turismo precisa para
estabelecer os trajetos de viagens
Conforme o plano a densidade de fluxos de pessoas que visitam o Paraacute eacute
baixa caracterizando dessa forma uma natildeo equiparaccedilatildeo com outros poacutelos
90
turiacutesticos nacionais jaacute desenvolvidos Neste aspecto o plano revela a necessidade
de se ampliarem as ofertas de vocircos para a regiatildeo Como a intenccedilatildeo do plano nesta
seccedilatildeo eacute de diagnosticar os problemas a ecircnfase dada agrave questatildeo da infra-estrutura
de transportes eacute situada nos poacutelos de turismo do estado de acordo com a maior
acessibilidade que eles podem oferecer
O documento afirma a importacircncia da infra-estrutura como um dos
componentes fundamentais para que os sistemas turiacutesticos (BOULLOacuteN 2002)
possam funcionar adequadamente Em consonacircncia com o Estado a iniciativa
privada promove alteraccedilotildees no espaccedilo para que o processo de implantaccedilatildeo da infra-
estrutura possa se adequar a uma demanda turiacutestica Neste caso haacute uma tentativa
por parte do documento em imprimir um ritmo moderno da economia (BOULLOgraveN
2002) no territoacuterio paraense fazendo com que haja uma rearticulaccedilatildeo entre as
estruturas produtivas De outro modo a construccedilatildeo eou reforma das estradas bem
como de portos e principalmente aeroportos satildeo condiccedilotildees importantes para a maior
dinacircmica espacial do turismo adaptando progressivamente o estado do Paraacute a uma
feiccedilatildeo global da economia voltada para a atividade
No estado do Paraacute a situaccedilatildeo da infra-estrutura ainda eacute deficiente Neste
caso antes mesmo de atender agraves necessidades de um turismo latente as infra-
estruturas de um modo geral natildeo conseguem nem mesmo atender as demandas
gerais da populaccedilatildeo paraense em consequumlecircncia a atividade turiacutestica ainda
encontra dificuldades de se fixar no espaccedilo Voltando essa ideacuteia para as cidades
paraenses que satildeo apresentadas o plano denuncia a ineficiecircncia ou maacute
conservaccedilatildeo dos diversos segmentos de infra-estrutura no estado fazendo com que
ainda exista uma concentraccedilatildeo das atividades turiacutesticas na capital (Beleacutem) Assim
os demais poacutelos em relaccedilatildeo agrave capital tornam-se defasados segundo este criteacuterio
Essa situaccedilatildeo reflete-se tambeacutem na seccedilatildeo serviccedilos turiacutesticos do estado
Tais serviccedilos satildeo identificados principalmente por um tipo de estrutura que atende
diretamente ao mercado turiacutestico como por exemplo os hoteacuteis redes de agecircncias
de viagens e operadoras Eacute interessante salientar que a relaccedilatildeo entre a infra-
estrutura e os serviccedilos eacute direta principalmente levando-se em consideraccedilatildeo os
objetos espaciais que condicionam o estabelecimento dos serviccedilos de turismo como
estradas saneamento baacutesico rede de esgoto e seguranccedila Para que os serviccedilos
91
turiacutesticos possam ser bem efetivados no espaccedilo eacute preciso que haja um equiliacutebrio
no que se refere ao bom andamento das infra-estruturas do contraacuterio as
consequumlecircncias satildeo a de pouco movimento de turistas ou dificuldade de divulgaccedilatildeo
dos produtos turiacutesticos A este respeito o Plano enfoca o seguinte diagnoacutestico
A estrutura empresarial do setor turiacutestico paraense eacute esparsa e atomizada A maioria das empresas (hoteacuteis operadoras) satildeo de pequeno porte e de propriedade familiar movimentam salvo algumas exceccedilotildees volumes de negoacutecios reduzidos (PARAacute 2001 p 23) (sic)
Dentro de uma visatildeo de mercado o plano enfatiza que essas caracteriacutesticas
satildeo empecilhos para que haja um avanccedilo no setor por natildeo serem condizente com
avanccedilos tecnoloacutegicos e uma inserccedilatildeo mais raacutepida na rede mundial ou trade
turiacutestico freando assim a qualidade do produto Por conseguinte a condiccedilatildeo de
negatividade que os atrativos turiacutesticos passam eacute tambeacutem um fator de preocupaccedilatildeo
por parte dos agentes que investem no setor impossibilitando assim um reajuste
no setor que movimenta as accedilotildees econocircmicas (HALL 2001)
A visatildeo do plano neste caso eacute de criar uma expectativa de melhoria de
planejamento turiacutestico como lembra Hall (2001) fazendo com que os impactos
negativos diagnosticados no estado sejam suavizados perante uma reestruturaccedilatildeo
do territoacuterio mediante a implantaccedilatildeo de serviccedilos turiacutesticos de qualidade Tudo isso
com o intuito de fomentar o turismo paraense O plano mostra que as limitaccedilotildees
apresentadas pelo estado impedem o crescimento da atividade bem como de
- Impulsionar processos de inovaccedilatildeo e melhora da qualidade - Ter acesso agrave tecnologia avanccedilada - Ter acesso agraves informaccedilotildees de alta qualidade - Ter acesso a recursos humanos de bom niacutevel de capacitaccedilatildeo - Implementar foacutermulas de comercializaccedilatildeo mais eficientes (PARAacute 2001 p 24)
A medida que a concorrecircncia dos mercados turiacutesticos se acirra os governos
tendem a entrar nesse jogo para que haja uma maior atraccedilatildeo para seu produto
92
turiacutestico E eacute nesse ponto que reside a soluccedilatildeo de problemas como a infra-estrutura
e serviccedilos que estejam direcionados ao mercado do turismo haacute portanto um
reordenamento espacial voltado para atender a tal demanda A insuficiecircncia desse
setor se reflete diretamente no nuacutemero de agecircncia de turismo assim como no
nuacutemero de hoteacuteis No plano como resultado de um diagnoacutestico feito nesse setor foi
elaborado um graacutefico de diferenciaccedilatildeo das unidades hoteleiras por cada poacutelo de
turismo do Estado21
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico
Beleacutem
57
Tapajoacutes
8
Araguaia
Tocantins
15
Marajoacute
6
Xinguacute
Costa
Atlacircntica
10
4
FONTE Adaptado de PARATUR apud PARAacute (2001)
Associado ao conjunto de serviccedilos e infra-estrutura o PDT-PA enfatiza os
tipos de produtos turiacutesticos comercializados no Estado Destaque se faz para o
segmento interesse geral (PARAacute 2001) e ecoturismo visto que no Paraacute sua
divulgaccedilatildeo eacute ampla nos destinos nacionais e internacionais mais procurados
Os poacutelos quando classificados sempre trazem informaccedilotildees referentes ao
ecoturismo mantendo portanto a bandeira de divulgaccedilatildeo deste segmento
A operacionalizaccedilatildeo desses segmentos se faz atraveacutes dos pacotes turiacutesticos
que as operadoras montam e oferecem ao turista quando este chega principalmente
a Beleacutem Tais pacotes satildeo monitorados por guias e pessoas especiacuteficas da aacuterea
Para que se efetuem os pacotes a partir do ordenamento feito pelas
operadoras de turismo instaladas no estado eacute necessaacuterio que haja uma
comercializaccedilatildeo nos mercados compradores atraveacutes de sua divulgaccedilatildeo Por outro
lado este ainda se constitui um problema que o estado do Paraacute junto agrave PARATUR
21 Dados referentes agrave elaboraccedilatildeo do Plano feita em 2001
93
encontra Os mercados consumidores (uma forma geral de nomear os turistas de
outros lugares do paiacutes e do mundo) natildeo costumam associar seus tempos de lazer e
feacuterias agraves visitas feitas agrave Amazocircnia em especial ao estado do Paraacute Em geral os
destinos mais visitados continuam sendo os mais divulgados atraveacutes de um
processo de marketing e miacutedia amplo que os mesmos fazem E neste ponto se
destacam os estados da regiatildeo Nordeste do Brasil bem como estados da regiatildeo
sudeste como Rio de Janeiro e Satildeo Paulo por possuiacuterem um conjunto ou sistema
de turismo mais avanccedilado do que os da Amazocircnia paraense O graacutefico na paacutegina
seguinte elaborado pela THR mostra de forma clara essa situaccedilatildeo
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais
()22
0 10 20 30 40 50 60 70
Fortaleza
Natal
Maceioacute
Fernando de Noronha
Recife
Salvador
Pantanal
Interior de S Paulo
Chapada Diamantina
Amazocircnia
Porto Seguro
Serras Gauacutechas
Lenccediloacuteis Maranhenses
Cidades Histoacutericas Mineiras
Chapada dos Veadeiros
Serra da Canastra
Comandatuba
Serra dos Pirineus
Serra do Cipoacute
FONTE PARAacute (2001)
Nesta seccedilatildeo de diagnoacutestico do PDT-PA a postura dos consumidores ao
elegerem os espaccedilos de lazer em relaccedilatildeo aos produtos turiacutesticos paraenses
22 Curiosamente esta pesquisa feita pela THR natildeo menciona o Rio de Janeiro como uma dos principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras de turismo Mais estranho ainda eacute que a THR afirma no PDT-PA que as empresas participantes da pesquisa possuem grande tradiccedilatildeo no setor (PARAacute 2001 p 41) e por isso mesmo sendo o Rio de Janeiro um dos estados que recebe mais turistas no Brasil e no mundo sua ausecircncia enquanto destino turiacutestico em escala nacional e internacional suscita duacutevidas quanto agrave abrangecircncia da pesquisa
94
sempre associam a ideacuteia de que jaacute visitaram outros lugares ou seja os principais
destinos turiacutesticos brasileiros (como mostra o graacutefico) Neste caso a preferecircncia dos
turistas em relaccedilatildeo ao Paraacute deixa-lhe como uma segunda opccedilatildeo na preferecircncia
desses visitantes Esse perfil de turista eacute apontado pelo Plano da seguinte forma
a) Satildeo turistas que buscam produtos ligados agrave natureza b) Jaacute conhecem o Brasil e especialmente o Nordeste c) Buscam conhecer novas culturas d) Buscam experiecircncias ligadas agrave aventuras e) Possuem elevado poder aquisitivo f) Possuem faixas etaacuterias mais elevadas g) Residem em grandes centros urbanos h) Os estrangeiros possuem mais interesse que os brasileiros (PARAacute 2001 p 43)
Tal condiccedilatildeo apontada de antematildeo pelo Plano reflete-se em outras duas
seccedilotildees demanda turiacutestica do Paraacute e organizaccedilatildeo institucional do turismo Esta
uacuteltima refere-se diretamente agraves accedilotildees que a PARATUR desenvolve no estado a fim
de fomentar a atividade turiacutestica Segundo o Plano a PARATUR ainda estaacute
organizada de forma incipiente e ligada a outras secretarias de estado natildeo criando
assim uma espeacutecie de autonomia institucional Nas cidades do interior as
organizaccedilotildees voltadas para o turismo satildeo deficientes geralmente ligadas agrave
secretarias de induacutestria comeacutercio ou esporte fazendo com que seus investimentos
natildeo se decircem de forma especiacutefica para o setor
De uma forma bem ampla o PDT-PA estrutura seus conjuntos de objetivos
em algumas subseccedilotildees Os objetivos finais podem ser entendidos enquanto
objetivos gerais de um Plano de desenvolvimento e neste sentido trazem consigo
um posicionamento poliacutetico de interferecircncia soacutecio-econocircmica e espacial O elemento
marcante eacute a ideacuteia da competitividade Marca por sinal dos planejamentos
territoriais que privilegiam uma realidade econocircmica
Esta parte do plano tem uma estrutura voltada para uma ampliaccedilatildeo ou
melhoria do mercado turiacutestico no Paraacute tanto que seu conteuacutedo revela prioridades
tais como a atratividade que estaacute assentada na ideacuteia de relaccedilatildeo que os produtos
turiacutesticos paraense tecircm de se adequar agraves demandas de turistas visitantes
95
Outra prioridade ou elemento eacute a produtividade que revela o valor
patrimonial (PARAacute 2001 p 55) que um produto turiacutestico pode ter Em outras
palavras eacute perceber o niacutevel ou grau de produtividade que um produto turiacutestico pode
ter E nesse sentido fazer com que esse elemento possa perdurar em longo prazo
evitando assim sua saturaccedilatildeo
Aleacutem dessas prioridades destaca-se o marketing que torna o produto o
suporte principal de propaganda e venda em outros setores Neste caso o
marketing caracteriza-se por uma tentativa constante de oferecimento do produto em
outras praccedilas ou seja existe uma verdadeira propaganda do Paraacute enquanto produto
a ser comercializaacutevel
Nielsen (2002) lembra que o marketing torna-se uma estrateacutegia muito proacutexima
a de turismo A tentativa de que essa estrateacutegia possa atingir com maior facilidade
diferentes classes como estudantes profissionais da aacuterea acadecircmicos empresas
governo miacutedia e pessoas de uma forma geral faz do marketing uma soluccedilatildeo
interessante para o turismo O Plano de Turismo do Estado utiliza-o como
ferramenta que tem a possibilidade de convencer pessoas do que haacute de melhor no
Estado tendo o turista como seu principal objetivo A utilizaccedilatildeo desse instrumento eacute
diversificada folders viacutedeos feiras workshops amostras de produtos que satildeo
fabricados por empresas ou feitos por artesatildeos satildeo especificidades do marketing
Constitui-se como uma forma de ampliaccedilatildeo mercadoloacutegica de um setor especiacutefico
Mostra-se portanto uma estreita ligaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o marketing
Nesse sentido o PDT-PA tenta aproximar ao maacuteximo atributos da propaganda para
que os produtos turiacutesticos ganhem notoriedade mercado afora
Junto a esses trecircs elementos a gestatildeo finaliza a ideacuteia de competitividade
presente no plano constituindo assim uma nova forma de fluidez agrave atividade
turiacutestica no Estado A partir de um novo olhar administrativo em que o turismo se
insere a gestatildeo torna-se um instrumento poliacutetico de administraccedilatildeo puacuteblica que
revela intenccedilotildees e tomadas de decisotildees importantes para um bom andamento de
um planejamento Neste caso a gestatildeo de uma atividade turiacutestica proporcionada
pelo plano deve congregar os uacuteltimos trecircs elementos citados de forma conjunta e
indissociaacutevel Assim o objetivo final do plano assim se apresenta
96
Converter o Paraacute em um destino turiacutestico preferencial para os mercados nacional e internacional mediante um desenvolvimento turiacutestico competitivo e sustentaacutevel que contribua decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do Paraacute gerando maior bem estar material e maior bem estar emocional (PARAacute 2001 p 55)
Percebe-se por sua vez que o objetivo do plano natildeo se restringe agraves
transformaccedilotildees do setor turiacutestico no territoacuterio paraense mas acima de tudo
apresenta-se como plataforma de transformaccedilatildeo social tanto do ponto de vista da
materialidade (bem estar material) quanto da imaterialidade (bem estar emocional)
Portanto o turismo a partir de uma diretriz voltada para o mercado pretende uma
ampla mudanccedila soacutecio-espacial
Outros objetivos do plano integram esta seccedilatildeo como objetivos de negoacutecios
os quais estatildeo voltados para um incremento maior da demanda de investimentos
gerados a partir do aumento do volume da atividade no Paraacute Com essa perspectiva
espera-se portanto estabelecer um crescimento sustentaacutevel do turismo no Estado
segundo as proacuteprias ideacuteias do Plano Esta seccedilatildeo organiza-se em trecircs objetivos
especiacuteficos que integram esta sub-seccedilatildeo
- Incrementar o volume da demanda nacional e internacional
- Incrementar a permanecircncia meacutedia
- Incrementar o gasto turiacutestico (PARAacute 2001 p 56)
Assim como
Para que o estado do Paraacute seja convertido em um destino turiacutestico e com isso os reflexos dos fluxos turiacutesticos possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua populaccedilatildeo eacute preciso maximizar a renda da atividade Esta maximizaccedilatildeo deveraacute ser feita atraveacutes da ampliaccedilatildeo do nuacutemero de turistas quer sejam turistas domeacutesticos quer sejam turistas internacionais (PARAacute 2001 p 56)
No que se refere agrave ideacuteia de crescimento o plano tambeacutem apresenta a seccedilatildeo
objetivos de crescimento na qual natildeo define precisamente o que seja crescimento
97
O plano adota a ideacuteia de metas de mercado estabelecidas pela empresa
responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do plano - THR Como exemplo dessas metas a serem
alcanccediladas o PDT-PA apresenta um quadro onde se cria uma expectativa de
aumento do turismo atraveacutes de alguns criteacuterios O quadro assim estaacute definido
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001
2006
Turistas em 2006200000
Pernoites em 20061400000
Receita por turistasUS$1400 (7 dias)
Receita totalUS$280000000
Novas habitaccedilotildees ateacute 20064500
Investimento em habitaccedilotildees ateacute 2006US140 milhotildees
Outros investimentos ateacute 2006US$120 milhotildees
Novos empregos diretos ateacute 200626000
Novos empregos indiretos ateacute 200628000
FONTE Adaptado de PARAacute (2001)
Nesse sentido tais metas tornam-se fundamentais para se concretizar as
estrateacutegias espaciais que o Plano adota a fim de espacializar suas pretensotildees23
Esse conjunto de accedilotildees eacute concretizado na terceira parte do Plano (seccedilatildeo C ) onde
as propostas e objetivos do PDT-PA traduzem-se em programas de intervenccedilatildeo
espacial A seccedilatildeo programas e accedilotildees do plano estaacute estruturada de acordo com os
elementos jaacute citados atratividade produtividade gestatildeo e marketing
Como uma forma de enfatizar essas estrateacutegias o plano integra esses
elementos a partir de um graacutefico assim exposto
23 Esta ideacuteia seraacute objeto de anaacutelise no item 43 deste trabalho intitulado A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
98
Graacutefico 4 Estrateacutegias eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT PA
FONTE PARAacute (2001 p 93)
Nesta seccedilatildeo esses elementos datildeo vazatildeo aos objetivos propostos Como
elemento principal e tambeacutem norteador das accedilotildees eou estrateacutegias eacute a
competitividade nesta seccedilatildeo do Plano em especial que norteia a estrutura do
turismo no estado do Paraacute ou ainda de uma realidade possiacutevel de ser
implementada desde que as diretrizes oferecidas pelo plano sejam estabelecidas
Natildeo se deve perder de vista portanto que o quadro comparativo que se apresenta
no Plano leva em consideraccedilatildeo esses pontos especiacuteficos que o PDT-PA atraveacutes da
THR julga ser necessaacuterio para haver uma transformaccedilatildeo na realidade turiacutestica do
Estado
99
Como consequumlecircncia disso as accedilotildees estatildeo divididas nesses criteacuterios da
seguinte forma
Quadro 2 Programas e Accedilotildees Siacutentese
Programa Accedilotildees
Paraacute Atratividade
A-1 Criaccedilatildeo de Gestores e Experiecircncias Turiacutesticas A-2 Ampliaccedilatildeo e Modernizaccedilatildeo dos Meios de Hospedagem Paraenses A-3 Sinalizaccedilatildeo Turiacutestica A-4 Melhoria das Condiccedilotildees Ambientais dos Municiacutepios Turiacutesticos A-5 Embelezamento Urbano e Melhorias de Infra-estrutura A-6 Ordenaccedilatildeo Urbaniacutestica dos Municiacutepios Turiacutesticos A-7 Sistema de Padrotildees e Selos de Qualidade A-8 Paraacute Hospitalidade A-9 Postos de Informaccedilotildees Turiacutesticas A-10 Instituto Internacional de pesquisa sobre o Ecotuismo
Paraacute Produtividade
P-1 Inventaacuterio Classificaccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo dos Recursos Turiacutesticos P-2 Criaccedilatildeo de Grupos de Competitividade Locais P-3 Criaccedilatildeo de Empresas em Joint Ventures P-4 Capacitaccedilatildeo ProfissionalEmpresarial P-5 FormaccedilatildeoCapacitaccedilatildeo de Pessoal de Base P-6 Simplificaccedilatildeo do Processo de Abertura de Novas Empresas P-7 Mecanismos de Financiamentos e Estiacutemulos Fiscais P-8 Desenvolvimento Tecnoloacutegico P-9 Sistema de Reconhecimento e Premiaccedilatildeo agrave Profissionalizaccedilatildeo
Paraacute Marketing
M-1 Criaccedilatildeo de Grupos de Marketing por Produtos M-2 Criaccedilatildeo de uma Infra-estrutura de Marketing M-21 Unidades Locais de Marketing
ULM S M-22 Bases de Dados M-23 Banco de Imagens M- 24 Sistema de Inteligecircncia de Mercado M-3 Articulaccedilatildeo de um Sistema de Venda e Comunicaccedilatildeo M-31 Workshops M-32 Feiras de Promoccedilatildeo Turiacutestica M-33 Site Inspection Service M-34 Manual de Vendas M-35 Seminaacuterios de Vendas M-36 Fam Trips M-37 Material Promocional M-38 Publicidade M-39 Propaganda M-310 Web Paraacute M-311 Marketing Direto
Paraacute Gestatildeo G-1 Comissatildeo Estadual de Turismo G-2 Conselho Estadual de Turismo G-3 Sistema de Indicadores de Sustentabilidade
FONTE Adaptado de Paraacute (2001 p 95)
Eacute importante lembrar que natildeo se privilegiaraacute uma anaacutelise de todos os
elementos presentes em cada uma das accedilotildees propostas pelo Plano Poreacutem a
100
anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo das estrateacutegias espaciais e do modelo de
desenvolvimento proposto torna-se o foco principal deste trabalho a ser feita no
proacuteximo capiacutetulo Em relaccedilatildeo ao quadro apresentado pelo PDT-PA ele eacute uma
siacutentese de todas as accedilotildees planejadas e da concepccedilatildeo de turismo proposta pelo
Estado atraveacutes do Plano No desenrolar dessas accedilotildees eacute que as espacialidades se
mostram enquanto resultado de pensamentos e concepccedilotildees de espaccedilos voltados
para o turismo tornando-se dessa forma perceptiacutevel suas intenccedilotildees desejos e
usos pretendidos pelo Governo do Estado Para tanto no rol das accedilotildees (accedilatildeo A-1
por exemplo) estatildeo inseridos os objetivos o puacuteblico alvo as justificativas e as
atividades necessaacuterias para o desenvolvimento da atividade Essa estrutura entatildeo
deve ser entendida como uma ampla diretriz presente em todos os poacutelos de turismo
do Estado Neste caso a estrutura do plano com todas as subdivisotildees mostra-se
assim organizado (quadro 3 p 101)
101
Quadro 3 Quadro sinoacutetico da estrutura do plano de desenvolvimento do turismo do Paraacute (PDT PA)
FONTE Adaptado de PARAacute (2007)
A- DIAGNOacuteSTICO INTERNO DA SITUACcedilAtildeO ATUAL DO TURISMO PARAENSE
1 Os recursos turiacutesticos
2 As infra-estruturas e equipamentos baacutesicos
3 Os serviccedilos turiacutesticos 4 Os produtos turiacutesticos 5 A comercializaccedilatildeo dos
produtos turiacutesticos 6 A demanda turiacutestica 61 Anaacutelise Quantitativa
62 Anaacutelise Qualitativa
63 Os Mercados Emissores e a Posiccedilatildeo Competitiva do Paraacute
7 Organizaccedilatildeo Institucional do Turismo
- Nesta seccedilatildeo do plano a empresa contratada pelo governo do estado apresenta um amplo diagnoacutestico da situaccedilatildeo em que o turismo do Paraacute se encontra Egrave feito uma anaacutelise de acordo com padrotildees jaacute estipulados pela empresa THR como recursos serviccedilos produtos demanda e inclusive a (re)organizaccedilatildeo do oacutergatildeo de turismo do Paraacute
PARATUR Todas as seccedilotildees procuram destacar os pontos negativos em relaccedilatildeo ao crescimento da atividade no territoacuterio paraense de acordo com os poacutelos de turismo
- O diagnoacutestico feito pelo plano reduz-se ao aspecto econocircmico natildeo considerando as demais instancias da sociedade A negatividade constatada pelo documento eacute afirmada atraveacutes de dados estatiacutesticos Procura enfatizar a conceitos como precarizaccedilatildeo deficiecircncia dos produtos limitaccedilotildees entre outros sempre relacionado somente aos aspectos de mercado
B- OBJETIVOS E ESTRATEacuteGIAS
1 Objetivos 2 Estrateacutegias de
Desenvolvimento Turiacutestico 3 Plano de Comercializaccedilatildeo
20012003 4 Proposta de Estrutura
Organizativa da PARATUR
- Depois de realizar o diagnoacutestico o plano procura enfatizar quais as necessidades a serem estimuladas para que haja o desenvolvimento do turismo no Paraacute Aqui a condiccedilatildeo das estrateacutegias de mercado se sobressaem como condiccedilatildeo de transformaccedilatildeo econocircmica
- Os aspectos de mercado mais uma vez se tornam elementos bastante enfatizados a ideacuteia de competitividade torna-se norteadora das accedilotildees para o desenvolvimento do turismo Neste sentido a ideacuteia de natureza reduz-se a uma concepccedilatildeo de consumo em espaccedilos selecionados
C- PROGRAMAS E ACcedilOtildeES
1 Programa Paraacute Atratividade 2 Programa Paraacute Produtividade 3 Programa Paraacute Marketing 4 Programa Paraacute Gestatildeo
- Siacutentese das accedilotildees programadas pelo plano Essas accedilotildees devem obedecer aos programas em cada poacutelo do estado
- Mesmo seguindo uma ideacuteia de competitividade natildeo haacute uma explicaccedilatildeo mais detalhada sobre as accedilotildees e programas
102
42 A concepccedilatildeo de turismo no PDT PA
Para que se possa entender a concepccedilatildeo de turismo de um Plano de
intervenccedilatildeo espacial eacute necessaacuterio fazer uma relaccedilatildeo de suas intenccedilotildees com o
tipo ou modelo de planejamento proposto pelo mesmo Quando se retrata a
ideacuteia do que seja um modelo de planejamento a ideologia ligada ao
planejamento revela-se nas entrelinhas de um documento como o PDT-PA ou
em uma dimensatildeo espacial mais concreta nas repercussotildees espaciais que satildeo
feitas atraveacutes de uma gestatildeo puacuteblica de Estado
Neste caso o fundamento principal para se saber o tipo de concepccedilatildeo
de turismo que se veicula no PDT-PA eacute a mensagem que o documento traz
consigo como nos lembra Franco (2005) Quando feita essa anaacutelise as
projeccedilotildees e ideacuteias de planejamento de turismo ressaltam-se e se ligam a uma
ideacuteia maior Desde jaacute eacute importante salientar que um Plano natildeo se faz de forma
neutra e apoliacutetica pelo contraacuterio em todo momento existem nuanccedilas
mostradas em sua leitura ou na sua execuccedilatildeo enquanto programa de
intervenccedilatildeo espacial
Hall (2001) faz uma importante retomada do conceito de planejamento
distinguumlindo-o da ideacuteia de plano Para o autor quando se faz referecircncia ao
termo planejamento a ideacuteia de poliacutetica surge como elemento fundador e
mediador de um processo Por isso que em alguns momentos essas duas
noccedilotildees aparecem como ambiacuteguas e de difiacutecil definiccedilatildeo Hall (2001) assim
escreve
O problema surge porque embora as pessoas percebam que o planejamento tem um significado mais geral tendem a se lembrar do conceito de plano como uma representaccedilatildeo fiacutesica ou graacutefica Consequumlentemente imaginam que planejamento deve incluir a preparaccedilatildeo de tal representaccedilatildeo (HALL 2001 p 24)
Revelar portanto a concepccedilatildeo de turismo no PDT-PA requer a
habilidade de saber associar a que tipo de poliacutetica puacuteblica o mesmo estaacute
103
vinculado Neste caso a estrutura do plano de turismo do Paraacute jaacute se torna um
indiacutecio dessa perspectiva
Ao estruturar o plano em trecircs seccedilotildees parte A (diagnoacutestico) parte B
(objetivos) parte C (programas e accedilotildees) o plano oferece uma perspectiva
inicial de como estaacute disposto o pensamento sobre as intervenccedilotildees e ou
mudanccedilas no espaccedilo paraense Dessa forma jaacute existe uma apropriaccedilatildeo
territorial para fins gerais de planejamento dando ecircnfase agrave dimensatildeo da
atividade turiacutestica como norteador dessas mudanccedilas Neste sentido pensar o
espaccedilo eacute pensaacute-lo de forma turistificada O plano por sua vez permite esse
pensamento ainda de forma estruturada
Uma das condiccedilotildees que servem para traduzir a ideacuteia de turismo
presente no documento eacute a ecircnfase dada ao mercado Os elementos naturais
do estado neste caso apresentam-se como objetos que tecircm valores
importantes para seu consumo As belezas naturais do espaccedilo paraense como
noccedilatildeo de atrativo turiacutestico satildeo exemplos disso Neste sentido como pano de
fundo dessa associaccedilatildeo haacute por parte do PDT-PA (leia-se no caso os agentes
da elaboraccedilatildeo de forma direta e indireta - Estado e THR) a ideacuteia de que esses
espaccedilos satildeo acessiacuteveis a partir de seu valor de troca o que estimula por
assim dizer a vinda de pessoas de fora do estado com o intuito de promover a
circulaccedilatildeo do capital a partir da compra desses produtos em territoacuterio
paraense
Como justificativa atenuante da condiccedilatildeo de consumo das belezas
naturais e de sua possiacutevel degradaccedilatildeo ambiental o plano apresenta a ideacuteia de
melhoria da qualidade de vida que adveacutem por conseguinte do consumo dos
espaccedilos turistificados Tal condiccedilatildeo eacute mostrada de forma clara logo no iniacutecio
da construccedilatildeo do documento
O Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute foi contratado pelo Governo estadual visando definir estrateacutegias para que a atividade se desenvolva de forma que traga melhoria de qualidade de vida agrave populaccedilatildeo paraense Considerando a riqueza de atrativos da Amazocircnia paraense e seu grande apelo sobre mercados emissores de turistas e o crescimento dos segmentos de viagens
104
voltadas agrave natureza o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito significativas para que o turismo seja importante instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
De acordo com essa condiccedilatildeo a pretensatildeo de criar espaccedilos funcionais
ou ainda voltados para a atividade turiacutestica eacute clara Nesta sequumlecircncia percebe-
se tambeacutem a imprecisatildeo do termo melhoria da qualidade de vida No
documento este eacute assunto que natildeo estaacute bem fundamentado o que deixa
lacunas quanto agrave ideacuteia O PDT-PA prefere explicar como se daacute a formataccedilatildeo do
documento os agentes importantes na construccedilatildeo do documento e as
condiccedilotildees necessaacuterias para a elaboraccedilatildeo do mesmo natildeo explicando assim a
noccedilatildeo de melhoria da qualidade de vida do povo paraense
O processo de turismo depende de um conjunto de elementos infra-estruturais que natildeo se encontram isolados no setor econocircmico de prestaccedilatildeo de serviccedilos Assim o seu planejamento setorial deve se integrar ao sistema de planejamento global do Estado Portanto para a elaboraccedilatildeo do Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute a equipe teacutecnica de trabalho tomou por base os investimentos anteriores feitos pelo Governo em termos de planejamento Com esta premissa o Projeto Beija-Flor foi o ponto de partida a partir do qual o Plano de Desenvolvimento foi estruturado (PARAacute 2001 p 5)
A preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade de vida eacute suplantada pela
questatildeo mais impactante referente ao modo de desenvolver ou fazer crescer a
atividade turiacutestica Por conseguinte a noccedilatildeo da melhoria da qualidade de vida
adquire um outro sentido ou seja aquele onde a populaccedilatildeo paraense soacute
poderia alcanccedilar qualidade de vida dentro dos paracircmetros aqui propostos pelo
PDT-PA
Sobre a relaccedilatildeo entre o turismo e a natureza o plano demonstra assim
o interesse pelo o ecoturismo na Amazocircnia especialmente no Paraacute O Estado
e iniciativa privada mostram-se agentes importantes quanto ao fomento desse
segmento de turismo principalmente porque o mesmo mostra-se uma
alternativa aos modelos de turismo do tipo sol e praia o que levado em
105
consideraccedilatildeo a peculiaridade da floresta tropical esse segmento teria uma
relaccedilatildeo proacutespera com a realidade natural do estado A divulgaccedilatildeo dessa
modalidade de turismo eacute muito comum nas revistas especializadas o que torna
o ecoturismo uma espeacutecie de moda como lembra Coelho (1999) Essas
revistas mostram atraveacutes das imagens a imponecircncia da natureza com pouca
interferecircncia humana utilizando-se portanto de imagens residuais de
Paraiacutesos Eldorados ou Santuaacuterios ecoloacutegicos em diferentes partes do mundo
(COELHO 1999 p 66) Nestes termos a sobrepujanccedila da natureza em
relaccedilatildeo ao homem eacute evidente Este uacuteltimo torna-se uma condiccedilatildeo de elemento
que quase natildeo se representa com a mesma intensidade que haacute nas imagens
Neste caso os interesses do turismo vecircm agrave tona em detrimento de uma
sociedade local No plano essa ideacuteia se materializa na concepccedilatildeo de turismo
(ecoturismo) voltado para a regiatildeo (poacutelo) do Marajoacute
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugados As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Portanto relaccedilatildeo homem (sociedade) e natureza no PDT-PA teorizada
haacute pouco natildeo se difere por completo Natureza aqui ganha um sentido de
valor de troca (capitalista diga-se de passagem) restando ao homem
amazocircnico (mais especificamente paraense) a ideacuteia de que a exploraccedilatildeo
racional dos atrativos naturais do estado paraense pode trazer melhorias de
qualidade de vida O homem em questatildeo deixa de ser problematizado
enquanto sujeito principal no entendimento do que seja natureza para dar
lugar a uma estrutura ainda maior que eacute a loacutegica global dos fluxos turiacutesticos
Revela-se neste ponto do plano de turismo do Estado uma realidade que
desloca o homem amazocircnico da accedilatildeo da construccedilatildeo de seu espaccedilo
Coelho (1999) ainda salienta a ideacuteia da apropriaccedilatildeo do discurso
ecoloacutegico ou em outros termos do discurso da natureza como sendo uma
ferramenta de persuasatildeo para aqueles que estejam interessados em visitar o
106
atrativo turiacutestico Amazocircnico (em destaque para o paraense) Tal praacutetica eacute feita
de forma especiacutefica no plano de turismo do estado quando o mesmo apresenta
a natureza da floresta amazocircnica como o diferencial na conquista de novos
mercados de turismo tanto em acircmbito nacional como internacional
Para o PDT-PA a PARATUR viabiliza outras ferramentas de promoccedilatildeo
das belezas do Estado mostrando atraveacutes de revistas especializadas em
turismo folders cartazes entre outros Essas ferramentas ajudam a consolidar
o processo de divulgaccedilatildeo do Estado como uma seara a ser explorada pelas
atividades turiacutesticas Coelho (1999) nos daacute um exemplo desse tipo de
propaganda feita
Natildeo haacute lugar nenhum no mundo com o potencial turiacutestico da Amazocircnia Mas haacute um lugar na Amazocircnia que aleacutem desse potencial ainda oferece incentivos aos empresaacuterios para que eles invistam no seu negoacutecio o Estado do Paraacute O Governo do Paraacute estaacute querendo tanto ter a sua empresa no Estado que estaacute concedendo incentivos fiscais incentivos financeiros incentivos de caraacuteter infra-estrutural e compensaccedilatildeo de incentivos privados na realizaccedilatildeo de obras de infra-estrutura puacuteblica para a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos no territoacuterio paraense Alguns poucos exemplo de muitas vantagens que a empresa leva indo para o Paraacute empreacutestimo em valor correspondente a ateacute 75 do ICMS para pagamento em 10 anos Incentivos fiscais poacute 5 anos Isto eacute de lei Lei n 5943 Agora o que natildeo estaacute na lei nem precisa eacute o mundo intenso de oportunidades de negoacutecios que a Amazocircnia paraense oferece aos empreendedores interessados em desafios e principalmente em novos negoacutecios lucrativos (PARAacute apud COELHO 1999 p 67)
Especificamente no plano essa condiccedilatildeo de oferta de um produto
turiacutestico concretiza-se a partir da concepccedilatildeo de marketing defendida pelo
documento Elementos como eficaacutecia capacidade vantagens competiccedilatildeo
ampliam o universo ao posicionar o territoacuterio paraense como o proacuteprio produto
turiacutestico A intenccedilatildeo portanto eacute de uma conversatildeo espacial abrangente para o
mercado Neste sentido o plano define a ideacuteia de marketing da seguinte forma
O MARKETING determinaraacute a capacidade do destino para se adaptar agrave demanda vender com eficaacutecia fidelizar clientes e
107
identificar permanentemente novas fontes de vantagens competitivas (PARAacute 2001 p 55)
No tocante agrave qualidade de vida defendida pelo PDT-PA o documento
deixa clara a condiccedilatildeo de crescimento como necessaacuteria para obtenccedilatildeo da
qualidade de vida Segundo o plano esta ideacuteia deve estar associada agrave
pretensatildeo de converter o estado em um destino turiacutestico onde seus reflexos
(PARAacute 2001) eacute que repercutem na qualidade de vida do povo paraense Tais
reflexos segundo o plano associam-se agrave maximizaccedilatildeo do fluxo de turistas no
territoacuterio paraense Contudo o plano natildeo deixa claro como esses reflexos
seratildeo transformados em melhorias para a populaccedilatildeo Nisso o documento
afirma a necessidade de permanecircncia dos turistas
O incremento da renda do turismo poderaacute ser alcanccedilado tambeacutem pelo aumento da permanecircncia dos turistas que jaacute visitam o Paraacute Ao ser oferecida maior variedade de produtos e produtos de melhor qualidade a permanecircncia meacutedia do turista se amplia e consequumlentemente seu niacutevel de gastos se aumenta (PARAacute 2001 p 56)
Souza (1997 2000 2002 2004) amplia a discussatildeo sobre a importacircncia
da qualidade de vida pra que haja em uma dimensatildeo maior a justiccedila social o
que no plano reduz-se agrave questatildeo do incremento ou crescimento do mercado
Para o autor a qualidade de vida por muito tempo sempre foi vista ou
apreciada de forma acriacutetica possibilitando assim uma visatildeo uacutenica de que uma
sociedade soacute a consegue atraveacutes de conquistas ou soma de bens materiais
Para o autor tratar de qualidade de vida dentro dos programas de
desenvolvimento assim como de planos de desenvolvimento eacute natildeo deixar de
lado a questatildeo de justiccedila social Juntas essas duas dimensotildees quando bem
efetivadas a partir de uma gestatildeo comprometida com o social garantem um
mudanccedila social positiva E nesse sentido a espacialidade da sociedade
envolvida no processo deve ser levada em consideraccedilatildeo O espaccedilo para
qualquer efeito de mudanccedila eacute a arena referencial simboacutelicoidentitaacuterio e
108
condicionador (SOUZA 2004 p 61) Quando negligenciado ou ateacute mesmo
distorcido de interesses sociais claros pode ser alvo de um economicismo ou
na apreciaccedilatildeo do termo pode sofrer de um reducionismo Como siacutentese o
autor em questatildeo argumenta No que tange agrave melhoria da qualidade de vida
ela corresponde agrave crescente satisfaccedilatildeo das necessidades - tanto baacutesicas
quanto natildeo baacutesicas tanto materiais quanto imateriais - de uma parcela cada
vez maior da populaccedilatildeo (SOUZA 2004 p 62)
Esta condiccedilatildeo defendida por Souza (2004) revela que a ideacuteia de justiccedila
social natildeo pode ser percebida de forma homogecircnea ter visatildeo uacutenica Neste
caso Souza (2004) se baseia em uma concepccedilatildeo aristoteacutelica de que justiccedila eacute
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual (HELLER apud
SOUZA 2004)
Eacute a partir dessa situaccedilatildeo que a ideacuteia de qualidade de vida construiacuteda
pelo PDT-PA natildeo considera a diversidade da sociedade local paraense O que
de fato se vecirc eacute que por conta de uma intensidade de fluxos e geraccedilotildees de
conquistas materiais o turismo traria a possibilidade de melhorar a vida do
paraense O turismo neste caso em especial eacute visto como uma soluccedilatildeo para
uma possiacutevel deficiecircncia ou inadequaccedilatildeo que a sociedade local estaria vivendo
no presente Portanto o Estado atraveacutes do plano deposita essa condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida por meio da expansatildeo do turismo
Ainda sobre a qualidade de vida o plano natildeo faz distinccedilatildeo do termo
generalizando-o e condicionando-o ao crescimento da atividade turiacutestica Isso
ainda eacute confirmado ainda pela ideacuteia de sustentabilidade que em termos gerais
tambeacutem eacute exposta pelo documento Neste caso o proacuteprio plano natildeo especifica
que tipo de sustentabilidade pretende confirmar com o ordenamento territorial
que eacute proposto Por outro lado essa condiccedilatildeo eacute somente citada como uma
pseudo-forma de afirmar uma espeacutecie de retorno social a partir da concepccedilatildeo
de turismo que eacute defendida pelo PDT-PA
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente
109
se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Nesse sentido essas questotildees que surgem por completo no documento
indicam uma tomada do turismo por parte do Estado a fim de tornaacute-lo viaacutevel o
que se confirma com a elaboraccedilatildeo do PDT-PA Apesar de Nicolaacutes (2001)
afirmar a ideacuteia de que turismo antes de ser uma praacutetica econocircmica eacute acima de
tudo uma praacutetica social as atividades geradas pela construccedilatildeo do plano de
turismo evidenciam uma perspectiva de cunho econocircmico tendo a sociedade
um lugar secundarizado nas concepccedilotildees de turismo por parte do Estado Para
o autor por exemplo
En esta liacutenea por el contrario postulamos que el turismo es antes que todo una praacutectica social colectiva que integra mecanismos distintos de relacioacuten al espacio a la identidad y al Otro Por ende maacutes que una actividad econoacutemica el turismo es una praacutectica generadora de actividad econoacutemica en la misma forma que la religioacuten el deporte o la guerra (NICOLAacuteS 2001 p 40)
O plano por sua vez prefere dar condiccedilatildeo ao mercado como elemento
capaz de transformar uma realidade social Deixando por sua vez o consumo
como principal norteador dessa condiccedilatildeo Assim o plano continua
Da mesma forma a busca de segmentos de demanda com outras expectativas de consumo de produtos com maior valor agregado pode contribuir para que o gasto se amplie e consequumlentemente a renda derivada do turismo (PARAacute 2001 p 56)
O turismo defendido pelo plano ainda expotildee outros elementos
importantes que ampliam a ideacuteia de consumo No tocante agraves manifestaccedilotildees
culturais o PDT-PA eacute expliacutecito ao defender a condiccedilatildeo da cultura como recurso
110
a ser apropriado pelo Estado e em seguida fomentado para que haja uma
maior atraccedilatildeo de pessoas Manifestaccedilotildees soacutecio-culturais histoacutericas como Ciacuterio
de Nazareacute (este acontecendo no poacutelo Beleacutem) e o Ccedilaireacute (no poacutelo Tapajoacutes)
reduzem-se agrave condiccedilatildeo do exoacutetico do diferente e por isso mesmo recebem o
status de potencial turiacutestico Neste sentido a atenccedilatildeo dada pelo documento
tem o intuito de dar uma outra feiccedilatildeo referente ao mercado fazendo com que
as manifestaccedilotildees histoacutericas da sociedade paraense reduzam-se a esta
dimensatildeo A ideacuteia de natureza para o plano tambeacutem natildeo se diferencia dessa
condiccedilatildeo Ainda mais os espaccedilos com potencial turiacutestico satildeo assim
caracterizados por uma relaccedilatildeo de troca No que se referem alguns aspectos
da cultura paraense e agrave ideacuteia de natureza o plano caracteriza-os da seguinte
forma
O Paraacute conta com recursos de base de indubitaacutevel valor e de grande potencial desde recursos naturais (rios ilhas lagos praias floresta amazocircnica flora e fauna etc) ateacute recursos culturais (patrimocircnio histoacuterico artiacutestico e monumental numerosas etnias indiacutegenas e quilombos artesanato folclore) e manifestaccedilotildees culturais vivas de grande notoriedade como eacute o caso do Ciacuterio de Nazareacute e do Ccedilaireacute (PARAacute 2001 p 11)
Eacute neste sentido que Hall (2001) diz que a construccedilatildeo de uma poliacutetica
puacuteblica antes de tudo requer um conjunto de valores crenccedilas ideologias ou
visatildeo de sociedade Por isso ela deve ser sempre encarada de acordo com um
ambiente poliacutetico O que faz com que a atividade turiacutestica sendo ela uma
atividade de cunho social natildeo fuja dessas caracteriacutesticas citadas Neste ponto
conceber um tipo de turismo eacute por em praacutetica um tipo de poliacutetica puacuteblica que
envolve esses valores No PDT-PA as caracteriacutesticas de mercado se fazem
presentes principalmente quando se tenta transformar o territoacuterio paraense
como espaccedilo importante para fluxos econocircmicos mundiais Esta constataccedilatildeo
pode ser percebida nas intencionalidades que o plano revela como mostra uma
das figuras de reordenamento espacial proposto pelo documento
111
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
FONTE PARAacute (2001 p 68)
No que se refere agrave concepccedilatildeo de turismo interessante notar que o
plano em nenhum momento define explicitamente o que seja turismo
deixando assim uma lacuna quanto a esta ideacuteia Contudo em suas linhas o
documento opta por apresentar caracteriacutesticas peculiares agrave concepccedilatildeo de
mercado muito usual do chamado turismo de massa
A forma como o PDT-PA estaacute estruturado eacute reflexo da pretensatildeo de se
pensar o espaccedilo paraense como um todo voltado para o trade Palavras como
demanda oferta turiacutestica potencialidade objetivo de negoacutecios objetivos de
crescimento fazem com que o universo do documento se circunscreva a ideacuteia
de crescimento da atividade turiacutestica
Comentaacuterio Diferentemente de um conviacutevio mais proacuteximo das realidades locais o resort oferece (como o proacuteprio nome em inglecircs sugere) um refuacutegio ao turista ao chegar a esses lugares A ideacuteia eacute que estes lugares standartizados oferecem tranquumlilidade distacircncia do tumulto que as cidades grandes apresentam no dia-a-dia
112
Sua fundamentaccedilatildeo teoacuterica se encontra diluiacuteda em propostas que visam
a entrada de mais turistas para que assim exista transformaccedilatildeo da realidade
paraense Por isso a necessidade de se fazer divisotildees em seccedilotildees que tecircm
como meta o incremento de valores de mercado Do diagnoacutestico (primeira parte
do plano) aos seus objetivos (segunda parte do plano) o documento estaacute
voltado para uma maior abertura e expansatildeo da atividade turiacutestica o que cria
uma expectativa de controle dos espaccedilos e das pessoas para melhor atender agrave
atividade do turismo Mesmo natildeo definindo seu conceito de turismo tais
caracteriacutesticas apontam para uma ideacuteia de reproduccedilatildeo ampliada do capital
O que Carlos (2002) entende da seguinte forma
A induacutestria turiacutestica reforccedila a hierarquia social produzindo espaccedilos diferenciados exclusivos fechados A caracteriacutestica do espaccedilo produzido eacute a do homogecircneo altamente excludente com ausecircncia de identidade O lugar eacute apenas o que pode ser visto fotografado e depois esquecido (CARLOS 2002 p 32)
Neste sentido quando o plano afirma ser importante a maximizaccedilatildeo da
ampliaccedilatildeo de turistas (PARAacute 2001) percebe-se que a loacutegica de crescimento e
ampliaccedilatildeo de pessoas que vecircm ao estado com o intuito do consumo torna-se
beneacutefica para uma transformaccedilatildeo de uma realidade paraense utilizando-se
para tanto estrateacutegias de modificaccedilotildees e alteraccedilotildees do territoacuterio ou ainda
estrateacutegias espaciais Tema a ser abordado na proacutexima seccedilatildeo
43 A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
Uma anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo que um governo carrega natildeo se
limita agraves suas ideacuteias eacute necessaacuterio espacializaacute-las ou seja dar um formato
concreto ou ainda espacial ao conjunto de formulaccedilotildees por quais passam os
planejamentos voltados para o desenvolvimento da atividade Sendo assim
torna-se difiacutecil pensar a loacutegicas das ideacuteias que datildeo vez ao fenocircmeno do turismo
113
sem associaacute-las a uma loacutegica espacial O PDT-PA articula as ideacuteias de modo a
pensaacute-las de acordo com um tipo de espaccedilo tambeacutem concebido em forma de
planejamento mas que todavia natildeo se torna distante de ser efetivado visto
que a construccedilatildeo de um plano de desenvolvimento do tipo do PDT-PA passa
pelas matildeos do Estado para que seja construiacutedo
Santos (2002) ao afirmar que o espaccedilo eacute um conjunto indissociaacutevel
solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio entre sistemas de objetos e sistemas de
accedilotildees daacute razatildeo agrave unicidade entre o tempo e o espaccedilo no qual se pode
perceber a uniatildeo por completo entre o homem e o meio Caracteriza-se assim
uma ideacuteia de totalidade que haacute no espaccedilo Mediante essa situaccedilatildeo em relaccedilatildeo
agrave praacutetica turiacutestica sua espacialidade requer uma dimensatildeo totalizante entre
objetos e accedilotildees que condizem a uma maior movimentaccedilatildeo da atividade
turiacutestica pelo espaccedilo
Neste sentido a ideacuteia de uma espacializaccedilatildeo do turismo remete-se a
uma imbricada relaccedilatildeo que haacute entre a atividade turiacutestica e o seu
reordenamento espacial o que se perceber tambeacutem um constante
reordenamento do territoacuterio onde a praacutetica do turismo necessita se espacializar
Cruz (2001) por exemplo quando fala em reordenamento dos territoacuterios afirma
que a ideacuteia do consumo dos espaccedilos pelo turismo e sua produccedilatildeo de territoacuterios
deve ser um fator de mediaccedilatildeo nesse processo
Tal condiccedilatildeo eacute tambeacutem fator importante para se visualizar a
espacializaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de turismo que se datildeo no espaccedilo a fim
de mostrar o processo de articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees e suas
materializaccedilotildees Neste caso cabe pensar o papel do Estado na tomada de
decisotildees sobre os reordenamentos espaciais
Hall (2001) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o
Governo Segundo o autor o turismo jaacute se tornou parte integrante da maacutequina
administrativa Neste caso a poliacutetica puacuteblica para o turismo eacute tudo que o
governo decide fazer ou natildeo com relaccedilatildeo ao setor (HALL 2001 p 26) Poreacutem
a descrenccedila na poliacutetica governamental faz com que o setor ofereccedila mais erros
do que acertos nas tomadas de decisotildees o que desestabiliza o setor de uma
114
forma geral E neste campo inserem-se as formas de reordenamento espacial
a partir de uma loacutegica do turismo na qual a mesma eacute a que impotildee o ritmo de
mudanccedila nos lugares
Levando-se nem consideraccedilatildeo a realidade paraense tanto de
planejamento como de gestatildeo o PDT-PA oferece um conjunto de estrateacutegias
materializadas nos lugares selecionados pela empresa responsaacutevel pela
elaboraccedilatildeo do plano em conjunto com a esfera estatal Tais lugares agregam
valor de mercado importante para o incremento da atividade e que dizem
respeito agraves ideacuteias pensadas sobre o turismo Neste conjunto de estrateacutegias
definidas as informaccedilotildees satildeo bem articuladas possibilitando assim perceber
como a atividade turiacutestica deve proceder no espaccedilo Com isso o plano entende
de uma forma geral que as estrateacutegias de turismo devem ser concentradas a
partir da estrutura feita em poacutelos de desenvolvimento Tal consideraccedilatildeo foi feita
a partir do projeto Beija-Flor24 que elegeu cidades do estado do Paraacute que
reunissem algum tipo de infra-estrutura necessaacuteria para estabelecer bases de
sustentaccedilatildeo do desenvolvimento do turismo Os poacutelos recebem os nomes das
regiotildees onde se inserem a saber Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes
AraguaiaTocantins e Xingu Segundo as proacuteprias palavras do plano
Com base nestes seis poacutelos cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivo agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5)
24 O projeto Beija-Flor eacute um estudo feito antes da consolidaccedilatildeo do PDT-PA Foi uma estrateacutegia pensada no governo Almir Gabriel para articular a construccedilatildeo do plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute A partir desse estudo eacute que as definiccedilotildees para a escolha dos poacutelos foram definidas conforme feito no PDT-PA
115
A partir dessa estrutura eacute que se pretende alcanccedilar as metas
pretendidas pelo Governo Feita em poacutelos torna-se constante e por isso
mesmo reflete uma reordenaccedilatildeo do territoacuterio paraense em grande intensidade
de forma a garantir a maior fluidez da atividade turiacutestica Cada poacutelo mostra uma
qualidade referente a um produto o grau de estruturaccedilatildeo seu formato e
principalmente a expectativa de um mercado consumidor (PARAacute 2001) Estes
elementos somados garantem a viabilidade dos poacutelos de turismo no estado
O reordenamento do espaccedilo eacute assegurado assim a partir de uma expectativa
do consumo do espaccedilo o que facilita o maior incremento de um sistema de
objetos (SANTOS 2002) criando uma maior dinacircmica espacial O mapa da
paacutegina posterior mostra a divisatildeo e a identificaccedilatildeo dos espaccedilos (sedes dos
poacutelos) turiacutesticos no Paraacute
116
MAPA 1 Sede dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
117
Neste caso deve-se perceber que o funcionamento da teoria dos poacutelos
obedece a uma loacutegica de totalidade do espaccedilo onde esse mesmo eacute concebido
a partir da atividade turiacutestica Como o proacuteprio plano ressalta considerar as
cidades ou sedes-poacutelos como o lugar de irradiaccedilatildeo do crescimento da atividade
turiacutestica eacute dar vazatildeo ao processo de espacializaccedilatildeo do fenocircmeno Natildeo satildeo
todas as cidades que conteacutem os recursos ou infra-estruturas necessaacuterias para
o bom andamento da atividade mas as cidades que jaacute possuem certa condiccedilatildeo
antecipatoacuteria para a dinamizaccedilatildeo do poacutelo polarizando assim a atividade
Uma outra questatildeo importante que deve ser levada em consideraccedilatildeo eacute
que esse tipo de espacializaccedilatildeo ou ordenamento territorial feito no estado estaacute
baseado em uma concepccedilatildeo de espaccedilo a de poacutelos de crescimento
Perroux (1967) mostra que a ideacuteia do poacutelo eacute uma forma de entender que
natildeo eacute o espaccedilo em sua totalidade necessaacuterio para o avanccedilo de uma empresa
ou setor da economia mas sim alguns espaccedilos que jaacute demandam uma
antecipaccedilatildeo ou como dito outrora que jaacute tecircm uma infra-estrutura
Para Perroux (1967) o espaccedilo sempre mereceu uma leitura muito
teacutecnica e menos precisa do que o tempo (PERROUX 1967 p 147) Neste
caso o interesse eacute perceber que o espaccedilo tem uma funccedilatildeo econocircmica e que
pode facilitar os fluxos econocircmico-industriais (BREITBACH 1988 ANDRADE
1977) A concepccedilatildeo de espaccedilo para Perroux (1967) eacute portanto econocircmica
Neste sentido a funccedilatildeo dos poacutelos de crescimento eacute a de possibilitar o aumento
da economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo deprimida (PERROUX 1967)
Para entender a transformaccedilatildeo dessa ideacuteia diretamente no espaccedilo o
autor faz uma comparaccedilatildeo da ideacuteia de crescimento com o surgimento e relaccedilatildeo
da induacutestria com o espaccedilo Para o autor um dos aspectos da estrutura de uma
economia de Estado-Naccedilatildeo eacute
A propagaccedilatildeo do crescimento duma induacutestria (ou grupos de induacutestrias) O aparecimento duma induacutestria nova ou o crescimento duma induacutestria existente propagam-se por intermeacutedio dos preccedilos fluxos antecipaccedilotildees No decurso de periacuteodos mais longos os
118
produtos duma induacutestria ou grupos de induacutestrias profundamente transformados e por vezes dificilmente reconheciacuteveis em comparaccedilatildeo com seu esboccedilo inicial possibilitam novas invenccedilotildees que datildeo origem a novas induacutestrias (PERROUX 1967 p 164)
A partir dessa estrutura pode-se perceber uma aproximaccedilatildeo com a ideacuteia
de poacutelos de turismo O PDT-PA assimila a condiccedilatildeo de que a presenccedila de um
aparato tecnoloacutegico voltado para turismo deve estar presente em uma sede ou
cidade - sede A partir dessa configuraccedilatildeo espacial as atividades iratildeo se
desenvolver em formas de ondas concecircntricas possibilitando uma irradiaccedilatildeo
do crescimento em aacutereas proacuteximas ao poacutelo ou sede Em comparaccedilatildeo com a
ideacuteia de Perroux (1967) as induacutestrias na verdade satildeo o fio condutor desse
crescimento Poreacutem no que diz respeito agraves accedilotildees do Estado para o fomento do
turismo a intenccedilatildeo eacute promover uma entrada ainda maior de empresas que
estejam interessadas em investir no setor Dessa forma gradativamente o
universo das empresas no ramo do turismo aumentaraacute provocando segundo a
ideacuteia do plano um crescimento das divisas geradas a partir do fluxo intenso
das atividades Neste sentido Perroux (1967) ainda afirma que
O fato rudimentar mais consistente eacute este o crescimento natildeo surge em toda a parte ao mesmo tempo manifesta-se com intensidades variaacuteveis em pontos ou poacutelos de crescimento propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos finais variaacuteveis no conjunto da economia (PERROUX 1967 p 164)
O autor ainda conclui afirmando
Examinar esta modalidade de crescimento eacute tornar expliacutecita e susceptiacutevel de tratamento cientiacutefico uma perspectiva jaacute patente em vaacuterios trabalhos de elaboraccedilatildeo teoacuterica imposta pela observaccedilatildeo dos paiacuteses de crescimento retardado manifesta na poliacutetica dos Estados modernos (PERROUX 1967 p 165)
119
Jaacute o plano entende a importacircncia da estruturaccedilatildeo dos poacutelos a partir de
espaccedilos selecionados pelo Governo do Estado Estes satildeo os lugares do
territoacuterio paraense que reuacutenem melhores condiccedilotildees de se desenvolver o
sistema turiacutestico Segundo o plano
Com base nestes seis poacutelos [Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes AraguiaTocantins e Xingu] cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivos agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5 grifo nosso)
O lugar que Perroux (1967) daacute agrave empresa motriz do ponto de vista
espacial pode ser entendido no plano de turismo do Estado como sendo as
regiotildees que o documento apresenta como regiotildees ou poacutelos que possibilitam o
crescimento do turismo No que se refere agrave espacializaccedilatildeo do turismo no Paraacute
a divisatildeo dos poacutelos estaacute situada em uma noccedilatildeo de regionalizaccedilatildeo das accedilotildees do
turismo colocando em evidecircncia as riquezas naturais que cada uma delas tecircm
Neste caso a teoria de Perroux (1967) se faz presente nas estrateacutegias
espaciais do PDT-PA
Cada poacutelo de turismo tem uma praacutetica diferente que corresponde a sua
peculiaridade enquanto produto turiacutestico a ser promovido para as operadoras
de turismo
No poacutelo Beleacutem por exemplo a estrateacutegia espacial desse tipo de poacutelo eacute
levar em consideraccedilatildeo a histoacuteria que a capital Beleacutem em convergecircncia com
muitos tipos culturais que acontecem nas cidades proacuteximas No plano existe
120
um quadro de posicionamento das maiores demandas das atividades culturais
ou naturais que estatildeo relacionadas com as escalas domeacutestica nacional ou
internacional As informaccedilotildees demonstram na verdade onde o poder puacuteblico
pode incentivar com maior rapidez o tipo de praacutetica turiacutestica que ocorre em
cada poacutelo Assim pretende-se cercar em todos os lugares as possibilidades de
arranco para o incremento do turismo
Quadro 4 Estrateacutegias de produtomercado poacutelo de Beleacutem
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico
Regional Nacional Internacional
Estadas curtas
Estadas longas
Eventos
Cruzeiros
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
Como se pode perceber os mercados geograacuteficos (domeacutestico regional
nacional e internacional) satildeo associados aos tipos de negoacutecios de turismo
que possibilitam um processo de alimentaccedilatildeo do capital Nesta perspectiva o
turismo no Poacutelo Beleacutem tem uma funcionalidade que o distingue dos demais
Como a cidade eacute a principal entrada para os maiores fluxos de pessoas e de
produtos que chegam do restante do paiacutes e do mundo essa eacute a forma pela
qual o plano tem a oferecer ao turista quando chega agrave cidade Neste caso
como Beleacutem tem a finalidade de sediar o seu proacuteprio poacutelo as demais cidades
que se localizam agraves suas proximidades participam dessa loacutegica de expansatildeo
FONTE PARAacute (2001 p 58)
121
das atividades do turismo Ainda mais porque eacute a partir de Beleacutem que a
dimensatildeo espacial do poacutelo ganha efeitos territoriais no estado todo
Cada poacutelo em especial eacute marcado pelo que o plano chama de
estrateacutegias de posicionamento Estas tecircm a funccedilatildeo de apresentar de forma
sucinta o que cada poacutelo tem a oferecer de acordo com as modalidades Sendo
assim o poacutelo Beleacutem apresenta as seguintes estrateacutegias
Quadro 5 Estrateacutegias de posicionamento do poacutelo Beleacutem
Global A entrada a um mundo fascinante
Estadas Curtas
A maior concentraccedilatildeo de experiecircncias no menor tempo
Estadas longas Um mundo a ser descoberto
Eventos As forccedilas da natureza
Reuniotildees Trabalhando no jardim
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 59)
De forma geral a apresentaccedilatildeo feita pelo plano no que diz respeito agraves
estrateacutegias de posicionamento satildeo elementos oferecidos na forma da
propaganda feita para esses setores do turismo Percebe-se tambeacutem uma
pretensatildeo de fazer um marketing do estado do Paraacute nas mais diversas escalas
122
sendo estas ligadas agraves demandas especiacuteficas que se interessam pelo tipo de
turismo praticado Com isso a ideacuteia eacute intensificar esses procedimentos fazendo
com que no final do processo se alcance a totalizaccedilatildeo do espaccedilo Portanto
levando em consideraccedilatildeo esses princiacutepios a criaccedilatildeo do poacutelo torna-se uma
ferramenta fundamental
No que diz respeito ao poacutelo Costa Atlacircntica a peculiaridade natural do
sol e praia eacute um dos principais atrativos a serem destacados no estado
Poreacutem como mesmo atesta o plano as outras modalidades de turismo a
serem praticadas neste poacutelo podem ser bem desenvolvidas desde que haja um
fomento necessaacuterio por parte do Estado
Para o poacutelo Costa Atlacircntica os mercados domeacutestico e regional se
destacam nesse processo de turistificaccedilatildeo dos lugares Os mercados nacional
e internacional ficam deslocados em relaccedilatildeo a essas demandas especiacuteficas A
abrangecircncia espacial torna-se mais limitada tanto do ponto de vista dos
mercados como do ponto de vista espacial O quadro abaixo sintetiza as accedilotildees
pretendidas pelo Governo do Estado no que diz respeito ao poacutelo Costa
Atlacircntica
Quadro 6 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Costa Atlacircntica
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional Nacional Internacional
Sol e Praia
Eventos
Reuniotildees
Esportes Aquaacuteticos
Melhor Idade
Pesca Esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 59)
123
Os mercados geograacuteficos de sol e praia no poacutelo Costa Atlacircntica satildeo
mais fortes em cidades como Salinoacutepolis e Marapanim Estas cidades
representam em parte a estrateacutegia de reunir os artifiacutecios necessaacuterios para
atrair turistas para esta regiatildeo Neste caso o plano de turismo do estado
apropria-se das peculiaridades regionais deste poacutelo para ressaltar a
importacircncia de ter a cultura como elemento atrativo para turistas Essa ideacuteia eacute
expressa nas estrateacutegias de posicionamento que o plano descreve enquanto
documento
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica
Sol e Praia Centro de Feacuterias de muacuteltiplas atividades enfocadas no recurso praia de mar divertido e adequado para famiacutelias com crianccedilas
Eventos O reino do Carimbo
Melhor idade A vida tranquumlila agrave beira-mar
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 p 59)
O poacutelo Marajoacute eacute um dos mais importantes quanto ao fomento da
atividade turiacutestica Neste poacutelo segundo o PDT-PA a modalidade do ecoturismo
torna-se um fator de identidade com o mercado nacional principalmente As
accedilotildees a serem desenvolvidas nessa aacuterea privilegiam um contato com a
natureza Os trajetos planejados pelas operadoras seguem uma loacutegica
racionalizada de conhecer os espaccedilos da regiatildeo do Marajoacute Nesse sentido o
incremento agraves atividades turiacutesticas ligadas a esse setor satildeo mais presentes
com o intuito de chamar a atenccedilatildeo de um segmento diferenciado Com a
perspectiva do ecoturismo a identidade de uma Amazocircnia paraense vem agrave
tona como um dos princiacutepios norteadores do crescimento do turismo No
124
tocante ao ecoturismo Rocha (2002) mostra que este uacuteltimo eacute um segmento
que tem notoacuteria expansatildeo e nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas de turismo
tendem a privilegiar tais modalidades a fim de estabelecer formas de geraccedilatildeo
de desenvolvimento O quadro abaixo mostra como o PDT-PA relaciona os
principais atrativos de turismo no poacutelo Marajoacute dando destaque ao ecoturismo
enquanto um mercado que tem uma ecircnfase em escala nacional
Quadro 8 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Marajoacute
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 60)
O comentaacuterio acerca do ecoturismo nesse poacutelo assim se define
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugadas As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Mercados geograacuteficos
NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo rural
Cultural
Praias
Turismo educacional
Melhor Idade
125
Tal situaccedilatildeo ainda eacute reforccedilada pela estrateacutegia de posicionamento
presente no documento que afirma ser necessaacuterio dar um conteuacutedo positivo agrave
percepccedilatildeo do Marajoacute (PARAacute 2001 p 61)
No que se refere ao poacutelo AraguaiaTocantins as estrateacutegias espaciais
pensadas pelo documento satildeo afirmadas como negoacuteciosmercados (PARAacute
2001) o que de certa forma faz com que as mesmas se diferenciem quanto agrave
sua especificidade e capacidade de atuar nos mercados regional nacional e
internacional tendo como escopo a competitividade O quadro abaixo
evidencia esta realidade
Quadro 9 Estrateacutegias de produto mercado do AraguaiaTocantins
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional
Nacional
Internacional
Pesca Esportiva
Reuniotildeeseventos
Atividades ecoturiacutesticas
Atividades aquaacuteticas
Sol e praia
Turismo Industrial
Turismo Educacional
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 62)
Outro poacutelo presente nas estrateacutegias espaciais do plano eacute o Tapajoacutes
Segundo o documento o poacutelo Tapajoacutes tem uma grande perspectiva para o
segmento turismo ecoloacutegico (PARAacute 2001) Tendo como sede a cidade de
Santareacutem o poacutelo Tapajoacutes segundo o plano tambeacutem tem a facilidade de
incrementar a pesca esportiva Suas prioridades neste caso concentram-se
126
mais nos mercados nacional e internacional para este segmento conforme
mostra o quadro
Quadro 10 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Tapajoacutes
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico Regional Nacional
Internacional
Ecoturismo (viagens de interesse especial viagens de aventura)
Pesca esportiva
Cruzeiros fluviais
Esportes acuaacuteticos
Turismo eacutetnico-raiacutezes
Sol e praia
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 63)
Por fim o poacutelo Xingu mostra uma peculiaridade voltada para o
ecoturismo que na anaacutelise do documento eacute o poacutelo que mais reuacutene condiccedilotildees
de atratividade turiacutestica por conta de seus valores naturais Segundo o plano
() O Poacutelo Xingu que contempla rios fauna e flora conjugados eacute perfeito para o ecoturismo As particularidades deste grandioso cenaacuterio fazem com que este seja o entorno ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 64)
127
Neste sentido o PDT-PA organiza suas estrateacutegias espaciais para o
poacutelo da seguinte forma
Quadro 11 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Xingu
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo de aventuras
Turismo de interesse especial
Pesca esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 64)
Os poacutelos presentes nessa loacutegica do plano apresentam assim a ideacuteia de
uma racionalizaccedilatildeo do espaccedilo paraense Essa perspectiva julga a natureza
como um recurso em funccedilatildeo da atividade turiacutestica Neste caso a concepccedilatildeo de
turismo do plano mais ainda a concepccedilatildeo de espaccedilo presente contribui para
uma ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de forma homogecircnea Para cada poacutelo portanto
apresenta-se uma estrateacutegia de mercado que necessariamente coincide com a
atratividade dos lugares Eacute nesse momento que o espaccedilo paraense ganha uma
nova ordem que eacute aquela da ordem dos fluxos de turismo Palavras de forte
apelo turiacutestico como se vecirc no poacutelo Xingu paraiacuteso da pesca esportiva (PARAacute
2001 p 61) ou ainda a ideacuteia de aventura (no caso do poacutelo Tapajoacutes) satildeo
essenciais para a esfera do marketing
Fazendo-se uma associaccedilatildeo com as ideacuteia de Perroux (1969) a intenccedilatildeo
de criar poacutelos eacute fazer com que eles sejam sedes de empresas Estas entatildeo
seriam responsaacuteveis pela transformaccedilatildeo econocircmica de uma regiatildeo Mas o
128
documento natildeo especifica se satildeo as empresas os agentes da transformaccedilatildeo
nem tampouco outros atores do turismo que possam integrar a essa estrateacutegia
de desenvolvimento econocircmico no estado como pequenos e medos
empresaacuterios setor informal da economia entre outros Por outro lado o plano
prefere falar que atraveacutes da consolidaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos (PARAacute
2001) eacute que a irradiaccedilatildeo do crescimento seraacute possiacutevel Assim natildeo haacute no
documento uma clara participaccedilatildeo sobre os sujeitos encarregados da dinacircmica
econocircmica feita por poacutelos Contudo segundo ainda esta concepccedilatildeo a intenccedilatildeo
do plano eacute que esses espaccedilos selecionados precisam ter condiccedilotildees de infra-
estrutura para suportar a demanda turiacutestica necessaacuteria (PARAacute 2001) Com
isso como natildeo haacute o esclarecimento sobre os agentes o poacutelos (de turismo)
podem ser constituiacutedos tanto pela induacutestria motriz (PERROUX 1969
BREITBACH 1988 ANDRADE 1977) como por outros agentes que
desencadeie o crescimento inclusive a populaccedilatildeo de uma forma geral A
intenccedilatildeo acima de tudo eacute que os espaccedilos selecionados tenham
potencialidade turiacutestica (PARAacute 2001) e capacidade de incremento econocircmico
no mercado
As estrateacutegias de posicionamento (PARAacute 2001) de cada poacutelo por
exemplo estatildeo estrategicamente posicionadas para outros espaccedilos Isso quer
dizer que os atrativos turiacutesticos de cada poacutelo correspondem em grande parte a
uma demanda de turistas de outros estados e paiacuteses principalmente aqueles
que tenham condiccedilotildees de estabelecer consumo dos produtos vendidos nos
poacutelos Por mais que o mercado regional seja um aquecedor do turismo
paraense em muitos momentos vale-se da sazonalidade ou seja os
movimentos feitos por grande parte dos turistas tecircm como espaccedilo emissor a
capital Beleacutem Para o plano essa perspectiva precisa mudar e se associar agrave
expansatildeo do mercado turiacutestico Daiacute a importacircncia de associar as
caracteriacutesticas de cada poacutelo agraves demandas de outros estados e paiacuteses e
estabelecer um marketing favorecendo a propaganda do estado Em outras
palavras o PDT-PA propotildee atraveacutes dos poacutelos uma adequaccedilatildeo de perfil dos
tipos de turistas aos recursos naturais do estado como mostra a figura na
paacutegina seguinte
129
Figura 2 Lodge Pesca Esportiva
FONTE PARAacute (2001 p70)
Comentaacuterio Proposta de empreendimento turiacutestico peculiar aos poacutelos de crescimento que conteacutem um potencial para a pesca esportiva Na figura pode-se perceber uma estilizaccedilatildeo das casas ou espaccedilos de acomodaccedilatildeo para os turistas bem como do tipo de natureza que eacute concebida pelo plano uma espeacutecie de pseudo-adequaccedilatildeo ao estilo de vida dos pescadores regionais ou ainda a construccedilatildeo de um simulacro voltado para o lazer
Neste caso pensar uma concepccedilatildeo de turismo eacute no mesmo sentido
pensar uma concepccedilatildeo de espaccedilo impregnada de valores e desejos por parte
daqueles que objetivam mudanccedilas a partir de uma loacutegica do turismo Isso
demonstra em outros termos que o plano de desenvolvimento de turismo do
estado eacute um documento que utiliza os espaccedilos na forma de poacutelos de
crescimento (PERROUX 1969) para focalizar e implementar sua concepccedilatildeo de
turismo Por mais que as peculiaridades dos atrativos turiacutesticos se destaquem
no cenaacuterio paraense a loacutegica global desse fenocircmeno eacute a mesma O espaccedilo
assume uma dimensatildeo de aptidatildeo paisagiacutestica (SILVEIRA 2002) Ou seja um
conjunto ou reuniatildeo de elementos que estatildeo na esfera do visiacutevel e que
constituem a esfera do siacutembolo ou da representaccedilatildeo dos lugares Satildeo
vantajosos para o circuito do capital e para o desenvolvimento das atividades
turiacutesticas (SILVEIRA 2002)
130
44 Espaccedilo turismo e desenvolvimento desvelando propostas e intenccedilotildees
O momento de entender a proposta de desenvolvimento apresentada
por um plano torna-se uma siacutentese poreacutem natildeo menos importante Enquanto
pretensatildeo os ideais do desenvolvimento podem ser claros o suficiente pois
estatildeo na grande maioria materializados na forma de documentos
planejamentos planos de desenvolvimento e claro na forma de poliacuteticas
puacuteblicas (setorizadas ou amplas) Tal dificuldade expotildee incondicionadamente
interesses dos agentes que pensam o desenvolvimento
Neste sentido falar da importacircncia do desenvolvimento requer pensar
uma profunda transformaccedilatildeo natildeo soacute dos espaccedilos mas acima de tudo da
sociedade como um todo Por mais que a proposta de desenvolvimento natildeo
atinja diversas classes sociais ou abarque os conflitos que entre elas existem
(em muitos casos os conflitos entre as classes sociais satildeo ignorados por
autoridades que fazem propostas sobre o desenvolvimento acirrando-os ainda
mais) mesmo assim o que estaacute em jogo eacute um conjunto de accedilotildees que visam agrave
transformaccedilatildeo da sociedade
No turismo essa realidade natildeo seria diferente ainda mais porque ora
as propostas de desenvolvimento desse setor apresentam-se enquanto
setorizadas (somente do e para a atividade do turismo) ora ligadas a outros
setores estrateacutegicos das poliacuteticas puacuteblicas como economia urbanizaccedilatildeo
saneamento entre outros
Natildeo necessariamente o desenvolvimento conteacutem em suas
formulaccedilotildees as dimensotildees social e econocircmica (esta uacuteltima mais valorizada)
como forma e conteuacutedo nas tomadas de decisotildees que satildeo implementadas pelo
Estado Neste processo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas aparece como
instrumento de accedilatildeo necessaacuterio ao processo do desenvolvimento As poliacuteticas
puacuteblicas satildeo portanto a forma pela qual o processo de desenvolvimento se daacute
Hall (2001) ao tratar das dimensotildees do planejamento poliacutetica e plano
faz uma importante diferenciaccedilatildeo Para o autor a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
131
puacuteblicas eacute um ato poliacutetico e nesse sentido elas estatildeo inteiramente ligadas agraves
decisotildees e caracteriacutesticas econocircmicas culturais sociais e claro ideoloacutegicas o
que as isenta de qualquer tipo de neutralidade
Segundo ainda o mesmo autor o planejamento eacute uma ferramenta
importante para se pensar a dinacircmica das poliacuteticas puacuteblicas pois integra uma
relaccedilatildeo entre passado presente e futuro ou seja uma caracteriacutestica
fundamental do planejamento eacute sua constante dinamicidade ou um
pensamento que natildeo pretende ser estaacutetico no espaccedilo e no tempo
No que diz respeito ao plano Hall (2001) afirma que este se refere a um
conjunto de decisotildees ou ainda accedilotildees a serem desenvolvidas no futuro Isto
quer dizer que as ideacuteias contidas em um plano satildeo a siacutentese de pensamentos
elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e planejamentos feitos pelo governo Em um plano
esses elementos aparecem de forma concretizada ou materializada O que
facilita de uma forma geral a visualizaccedilatildeo das accedilotildees (muitas vezes elaboradas
sob a forma de programas de intervenccedilatildeo)
Em uma dimensatildeo mais ampla a condiccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de um plano
reflete as intenccedilotildees gerais sobre o que seja o desenvolvimento Eacute neste ponto
que a relaccedilatildeo entre o plano de turismo do Paraacute e a questatildeo sobre
desenvolvimento revela-se um ponto importante a ser analisado Neste sentido
o espaccedilo paraense eacute a base de materializaccedilatildeo das ideologias pensadas pelo
Estado e tambeacutem reflexo das intervenccedilotildees jaacute feitas para garantir o
desenvolvimento da atividade turiacutestica Para tanto ideacuteias como melhoria da
qualidade de vida riqueza dos atrativos da Amazocircnia paraense (PARAacute 2001)
estatildeo associados a uma conversatildeo para o mercado tanto que o Paraacute
apresenta condiccedilotildees significativas para que o turismo seja importante
instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
Neste caso percebe-se que a visatildeo estrateacutegica do plano para o
desenvolvimento estaacute referendada por uma relaccedilatildeo promissora entre a
potencialidade natural do Paraacute e a potencialidade econocircmico-financeira que o
mesmo pode gerar Por um outro lado assim como na questatildeo sobre a
concepccedilatildeo de turismo em nenhum momento o plano discute ou afirma qual
132
sua concepccedilatildeo de desenvolvimento mostrando assim sua fragilidade nesse
criteacuterio Seu conteuacutedo referente agrave dimensatildeo do desenvolvimento natildeo requer
uma apreciaccedilatildeo conceitual mas sim a identificaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos e
suas estrateacutegias mercadoloacutegicas
Hall (2001) destaca os tipos de planejamentos a partir da atividade
turiacutestica em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento Nesse sentido o autor
ressalta a importacircncia de natildeo se perceber o planejamento a partir de uma
dimensatildeo econocircmica pois este se realizado desta forma mostra na praacutetica
suas imperfeiccedilotildees e limites O autor faz uma anaacutelise de um tipo de
desenvolvimento
o desenvolvimento sustentaacutevel
fazendo com que a ideacuteia
de meio ambiente se torne o centro das discussotildees sobre planejamento da
atividade turiacutestica O autor eacute claro ao enfatizar a dimensatildeo unilateral da
abordagem econocircmica no desenvolvimento Para ele a mesma quando
utilizada como uacutenica interpretaccedilatildeo de um plano reduz a importacircncia de um
documento a dados econocircmicos desencadeando assim resultados isolados
ou ainda consequumlecircncias nada positivas para o meio ambiente e para a
sociedade Qualquer indicador de desenvolvimento baseado no valor
monetaacuterio da produccedilatildeo estaacute sujeito a imperfeiccedilotildees teacutecnicas e conceituais
(SMITH apud HALL 2001 p 22)
As iniciativas de mercado pensadas pelo governo do Estado satildeo
detalhadamente expostas no documento definidas principalmente sob a forma
de estrateacutegias (parte B do plano) mostrando etapas de uma espeacutecie de
desenvolvimento econocircmico A ideacuteia de crescimento com sustentabilidade
(PARAacute 2001) aparece como se fosse apecircndice do desenvolvimento econocircmico
pretendido pelo Governo atraveacutes do PDT-PA mesmo assim tal ideacuteia natildeo eacute
conceituada tampouco problematizada no documento
Como uma forma de contribuir para a ideacuteia de desenvolvimento Souza
(2002) oferece uma anaacutelise importante que tem o intuito de criar um novo
paradigma conceitual Essa questatildeo tambeacutem se aplica ao turismo enquanto
uma ferramenta de desenvolvimento local O autor procura ir aleacutem das
concepccedilotildees de desenvolvimento tradicional e procura estabelecer uma
diferenccedila entre o desenvolvimento econocircmico (forma tradicional e tambeacutem a
133
mais usual nos planejamentos) e o desenvolvimento soacutecio-espacial (alternativa
ao economicismo) Para o autor pelo fato do turismo ser uma atividade
complexa e que implica em impactos positivos e negativos na sociedade e no
meio ambiente ele merece um destaque qualificado nas teorias sobre o
desenvolvimento
Para Souza (2002) o desenvolvimento ao longo dos anos veio
sublinhado como sinocircnimo de desenvolvimento econocircmico o que se configura
na relaccedilatildeo entre o crescimento econocircmico ou seja referente ao Produto
Nacional Bruto (PNB) ou Produto Interno Bruto de um paiacutes (PIB) e a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste caso essa relaccedilatildeo eacute suficiente para perceber
a concepccedilatildeo de desenvolvimento que o PDT-PA pensa para o Paraacute Quando
em sua introduccedilatildeo o plano designa a ideacuteia de sustentabilidade e de melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo paraense em funccedilatildeo do crescimento
(PARAacute 2001) na verdade a concepccedilatildeo de mercado paira como principal e
esta encerra a condiccedilatildeo para que haja o desenvolvimento do turismo no
territoacuterio paraense A ecircnfase nos processos sobre atratividade marketing
produccedilatildeo e gestatildeo (PARAacute 2001) satildeo elementos essenciais para se perceber o
forte conteuacutedo mercadoloacutegico inerente ao documento
No plano de turismo do estado do Paraacute o governo se esforccedila para
chamar a atenccedilatildeo dos turistas que vecircm de fora do estado Eacute preciso fazer a
propaganda de seu lugar mostrar atraveacutes do marketing e divulgaccedilatildeo que o
Paraacute eacute um espaccedilo interessante a ser desfrutado Em suas linhas gerais o
plano destaca a beleza exoacutetica da natureza amazocircnica e dos valores culturais
para atrair turistas Esses espaccedilos como afirma Boulloacuten (2002) devem estar
dotados de um bom sistema turiacutestico em outras palavras a infra-estrutura do
lugar deve estar concernente ao melhor trajeto das pessoas que visitam os
lugares diferentes Poreacutem ao tomar essa ideacuteia como estrateacutegia de
desenvolvimento os espaccedilos selecionados para a praacutetica do turismo (os poacutelos)
excluem o restante do territoacuterio paraense ou ainda estes uacuteltimos devem estar
sintonizados com a loacutegica de desenvolvimento proposta pelo governo Poreacutem
lembrando que a loacutegica de construccedilatildeo de poacutelos a partir da teoria de Perroux
(1969) natildeo permite que o crescimento se decirc em todos os lugares haacute um
134
campo de forccedilas (PERROUX 1969) que atua em um espaccedilo especiacutefico Daiacute a
loacutegica dos poacutelos Nesse sentido o desenvolvimento do turismo no Paraacute natildeo se
daacute de forma homogecircnea privilegiando por outro lado as cidades que reuacutenem
infra-estrutura adequada causando assim um desenvolvimento
desequilibrado no territoacuterio
No tocante agrave questatildeo do conforto ao turista o plano concentra esforccedilos
ao tentar oferecer aos que visitam o estado tudo o que haacute de melhor pois satildeo
eles os responsaacuteveis diretos pela geraccedilatildeo de lucro no local de destino O
plano ao conceber os espaccedilos natildeo estabelece uma necessidade de somente
melhorar ou ampliar os espaccedilos com potencial turiacutestico Aleacutem disso eacute no
conforto e comodidade do turista ao visitar o Paraacute que esses espaccedilos satildeo
pensados (concebidos) ou quando jaacute prontos satildeo incrementados Eacute nesse
momento que o papel do Estado eacute fundamental para se entender o processo
de reestruturaccedilatildeo espacial
O diferencial neste ponto satildeo as peculiaridades espaciais O turista visita
outros lugares com o intuito de conhecer o diferente o inusitado o exoacutetico E
neste sentido busca algo diferente em sua vida Pensando nessa situaccedilatildeo o
Governo do Estado do Paraacute faz uma adequaccedilatildeo desses espaccedilos
O PDT-PA concebe neste caso espaccedilos voltados para a funcionalidade
turiacutestica Tais espaccedilos estatildeo estruturados de forma a atender diretamente a
necessidade dos que visitam a Amazocircnia paraense por isso os turistas satildeo o
objetivo final do plano Eacute atraveacutes da entrada deles que a dinacircmica turiacutestica
acontece No documento existem imagens que pensam o bem-estar do turista
de acordo com os aspectos naturais da regiatildeo As imagens neste caso
tornam-se um importante recurso estrateacutegico para se pensar mercados
interessados em investir nesses espaccedilos concebidos pelo Estado a fim de
fomentar o turismo
135
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza)
FONTE PARAacute (2001 p 69)
A pouca ecircnfase dada aos conceitos que estatildeo associados ao
desenvolvimento do turismo eacute uma marca constante no plano A ideacuteia de
qualidade de vida (um aspecto importante das temaacuteticas do desenvolvimento) eacute
reduzida a uma pequena parte do plano localizada na sua introduccedilatildeo Como
fora mostrado nos capiacutetulos anteriores a decisatildeo do plano eacute fazer uma
caracterizaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos paraenses A qualidade de vida adviria
de uma maior rentabilidade gerada a partir do incremento econocircmico desses
produtos tanto que para o plano o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito
significativas para que o turismo seja um importante instrumento de
desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001) Neste sentido mais uma
Comentaacuterio Na figura mostra-se um exemplo de descanso em volta de uma natureza criada que eacute como mostra no documento uma peculiaridade desses espaccedilos O turista portanto ao desfrutar desse tipo de serviccedilo identifica-se com a regionalidade dos lugares apropriados estrategicamente pelo turismo Essa regionalidade por outro lado eacute reduzida a este universo causando assim uma simulaccedilatildeo
136
vez o reducionismo se faz presente na anaacutelise sobre o desenvolvimento
causando desta forma sua debilidade
O PDT-PA ainda faz uma abordagem destacaacutevel sobre tipos de espaccedilos
de lazer que se encontram em consonacircncia com a estrutura dos poacutelos Tais
espaccedilos reuacutenem condiccedilotildees favoraacuteveis para a praacutetica do turismo e de forma
ampla para o desenvolvimento da atividade e o seu consequumlente crescimento
econocircmico para o estado Para o plano a construccedilatildeo desses espaccedilos serve de
referecircncia para atrair turistas pois na sua concepccedilatildeo os valores no que se
refere agrave natureza lazer na Amazocircnia paraense satildeo importantes para o fomento
agrave atividade turiacutestica Como afirma o plano A natureza amazocircnica com sua
extraordinaacuteria riqueza de flora e fauna constituem o maior atrativo do Paraacute
(PARAacute 2001 p 71) Percebe-se com isso que a apropriaccedilatildeo da natureza
segundo esses princiacutepios torna-se um caminho importante para o
desenvolvimento A figura da paacutegina seguinte mostra mais uma ideacuteia pensada
pelo plano para a transformaccedilatildeo do territoacuterio paraense
137
Figura 4 Resort aventura e natureza
FONTE PARAacute 2001 p 71
Comentaacuterio A atividade gerada nesses espaccedilos torna-se um fator importante para o desenvolvimento do turismo Neles o consumo da paisagem bem como da natureza eacute um estimulador de riqueza e por isso passa a ser uma estrateacutegia para o crescimento econocircmico
Harvey (2004) apresenta um argumento interessante sobre esses
espaccedilos imaginados principalmente quando satildeo pensados a partir de
planejamentos para a organizaccedilatildeo espacial de um lugar Para o autor o
chamado utopismo de livre organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2004) funciona
atraveacutes de espaccedilos fechados como uma economia isolada (HARVEY 2004)
com o intuito de controlar natildeo soacute o espaccedilo mas o tempo tambeacutem garantindo
assim uma possibilidade de mudanccedila social e histoacuterica Neste caso os
processos sociais satildeo controlados reprimidos atraveacutes de uma forma espacial
fixa (HARVEY 2004) O plano afirma que a construccedilatildeo desses lugares eacute
baseada numa preacute-seleccedilatildeo onde a beleza paisagiacutestica e a riqueza da fauna e
da flora devem ser destacadas (PARAacute 2001) facilitando com isso seu uso
Com isso as ideacuteias de desenvolvimento a partir do PDT-PA podem ser
percebidas a partir de um universo econocircmico onde este eacute o carro chefe da
138
transformaccedilatildeo do turismo e da sociedade Os elementos de mercado presentes
no documento como as estrateacutegias comerciais a propaganda o marketing a
seleccedilatildeo de espaccedilos marcam uma concepccedilatildeo especiacutefica da poliacutetica puacuteblica
pensada pelo Estado paraense para o turismo As accedilotildees decorrentes dessas
poliacuteticas quando materializadas no espaccedilo tendem agrave mudanccedilas consideraacuteveis
no que diz respeito agrave sociedade Como siacutentese dessas poliacuteticas o PDT-PA traz
um posicionamento que tambeacutem eacute o reflexo do que se pensa sobre o turismo e
desenvolvimento Neste sentido tais poliacuteticas soacute podem se tornar efetivas se
houver o espaccedilo como condiccedilatildeo para esse processo o que garante por assim
dizer que o desenvolvimento da atividade turiacutestica tambeacutem soacute pode ser feito
mediante essa condiccedilatildeo espacial
139
5 CONCLUSOtildeES
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma seacuterie de efeitos e processos que produzem diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida nos usos de recursos nas relaccedilotildees com o ambiente e nas formas poliacuteticas e culturais (David Harvey 2004)
140
No trecho destacado da paacutegina anterior David Harvey procura analisar o
que ele chama de desenvolvimento geograacutefico desigual sendo este uma
proposta alternativa agrave ideacuteia de globalizaccedilatildeo Para Harvey (2004) o processo de
globalizaccedilatildeo do capitalismo atingiu um estaacutegio muito complexo e por isso
mesmo o conceito de globalizaccedilatildeo natildeo daacute mais conta de explicar as recentes
transformaccedilotildees que o mundo estaacute passando Eacute necessaacuterio para ele esboccedilar
um argumento capaz de articular a dialeacutetica das escalas Tais escalas
necessariamente devem estar pensadas entre o micro (que para ele estaacute
representada na figura do corpo humano) e o macro (os processos globais que
ocorrem em todo o planeta) Dessa forma segundo Harvey (2004) as nuanccedilas
soacutecio-espaciais podem se tornar mais claras e a sociedade como um todo natildeo
fica a mercecirc das transformaccedilotildees que o sistema capitalista impotildee no mundo
fazendo com que qualquer mudanccedila natildeo seja tomada de forma acriacutetica
Ainda pode-se afirmar logo de iniacutecio que pensar em poliacuteticas puacuteblicas
de turismo eacute pensar em seus efeitos e processos que produzem as diferenccedilas
geograacuteficas de um lugar Por isso entendido como ponto de discussatildeo central
desse trabalho a anaacutelise de um plano enquanto um documento que une as
possibilidades de transformaccedilatildeo de um lugar requer pensar de forma dialeacutetica
um elemento que iraacute produzir as diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida de
uma sociedade ou em uma cultura como diz Harvey (2004)
Poreacutem deve-se entender que a construccedilatildeo de um plano de turismo
refere-se agrave processos de construccedilatildeo de espaccedilos a partir de uma loacutegica estatal
Ou seja analisar a poliacutetica puacuteblica de turismo eacute antes de tudo relacionaacute-la a
uma ideologia de Estado
Neste caso as transformaccedilotildees mundiais que o turismo de mercado vem
causando em sua grande maioria satildeo fruto de uma relaccedilatildeo com o Estado
pois eacute este uacuteltimo que se torna o principal aliado nas negociaccedilotildees sobre o lazer
a partir do turismo
O alcance dessa relaccedilatildeo eacute tatildeo intensa que os governos ao pensarem no
turismo como elemento integrante de seu sistema de governo produzem
artifiacutecios que possibilitam as grandes empresas hoteleiras as agecircncias de
141
turismo locais os operadores grupos associados entre outros (ou na
linguagem comum de quem trabalha no ramo do trade turiacutestico) a terem mais
acessibilidade a espaccedilos Neste processo atraveacutes de estudos teacutecnicos eacute que
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo elaboram documentos necessaacuterios ao avanccedilo
desses agentes no espaccedilo Surgem portanto os planos de turismo como
siacutentese da organizaccedilatildeo das ideacuteias pensadas (arquitetadas) pelo Estado e por
representantes do ramo turiacutestico Como bem lembra Cruz (2001) as poliacuteticas
puacuteblicas natildeo satildeo estrategicamente pensadas de forma adequada pelo Estado
ela pode ficar ao sabor das iniciativas privadas ou ficar agrave revelia delas Nisto
reside portanto os interesses dos agentes privados em fazer com que o
processo de construccedilatildeo de planos de turismo por parte do Estado possa
garantir uma intervenccedilatildeo mais raacutepida
A Amazocircnia sem duacutevida nenhuma nos uacuteltimos tempos tem-se
transformado em um dos espaccedilos privilegiados para a expansatildeo da atividade
turiacutestica Num amplo espaccedilo como este a praacutetica do lazer ganha um
diferencial associado agrave questatildeo de se estar mais proacuteximo de espaccedilos naturais
ou selvagens O exoacutetico da floresta eacute um objeto que devidamente apropriado
pelos promotores de turismo (no sentido de estrateacutegia de mercado) passa a
ser consumido a partir de viagens diferentes dos circuitos tradicionais como as
praias de litoral O encanto da floresta sua suntuosidade exuberacircncia satildeo
elementos muito divulgados em folders ou propagandas em outros mercados
emissores a fim de atrair turistas para a regiatildeo Os estados que compotildeem a
regiatildeo amazocircnica neste caso articulam-se para promover ainda mais esse
novo foco de mercado e tambeacutem possibilidade de geraccedilatildeo de divisas
Ao discutir a importacircncia do plano de Turismo para o Paraacute necessaacuterio
se fez pensar de forma inerente o que se veicula em termos de ideacuteias
estrateacutegias ou modelos de desenvolvimento que satildeo detalhados num
documento como esse Neste caso natildeo basta somente afirmar a ideacuteia de que
o Estado eacute um agente facilitador dos processos de turismo em seu espaccedilo As
ideacuteias estrateacutegias modelos de desenvolvimento estatildeo assim unidos em
concepccedilotildees de turismo espacialidades noccedilotildees de desenvolvimento Sendo
142
assim o PDT-PA mesmos natildeo definindo ou conceituando devidamente
mostra elementos que estatildeo associados a esses criteacuterios
No que diz respeito por exemplo agrave concepccedilatildeo de turismo que eacute
veiculada no plano o documento eacute enfaacutetico ao revelar a importacircncia do Paraacute
como novo espaccedilo a ser convertido em trade Dado o interesse por parte do
plano uma concepccedilatildeo do voltada ao mercado surge nas entrelinhas do
documento sendo esta importante para o desenvolvimento da atividade
Esta concepccedilatildeo permite visualizar o interesse por parte do Estado em
tornar o territoacuterio paraense um potencial turiacutestico ou um grande celeiro de
oportunidade de negoacutecios voltados para o setor Neste sentido elementos
importantes como natureza tornam-se objetos e satildeo valorizados nessa
relaccedilatildeo na qual agentes de mercado do turismo se utilizam de fragmentos dos
espaccedilos naturais principalmente aqueles que demonstram uma beleza cecircnica
com potenciais de mercado A natureza passa a ser objeto de troca de
mercado Eacute o proacuteprio espaccedilo que se torna foco de atenccedilatildeo da construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas Atraveacutes de uma maciccedila propaganda a utilizaccedilatildeo da
paisagem passa a ser o recurso de apoio na venda desses espaccedilos que
entram no circuito da troca (CARLOS 2002) ou na produccedilatildeo da artificialidade
Uma outra ideacuteia que estaacute associada agrave concepccedilatildeo de turismo de
mercado e que por conseguinte o plano de turismo do Paraacute adota baseia-se
no princiacutepio de que o turismo sempre eacute beneacutefico agrave sociedade local e que por
isso mesmo traz em sua bagagem a condiccedilatildeo de melhoria da qualidade de
vida e de novas percepccedilotildees sobre o meio ambiente
Ideacuteias como sustentabilidade ou crescimento sustentaacutevel aparecem nos
primeiros paraacutegrafos do documento poreacutem natildeo satildeo devidamente exploradas
ou sequer conceituadas Isto provoca uma sensaccedilatildeo de que o turismo eacute
panaceacuteia para todos os males (ROCHA 2002) Neste caso o PDT-PA revela-
se fragilizado e reducionista quanto agrave questatildeo do que seja a melhoria da
qualidade de vida e o que seja sustentabilidade soacutecio-ecoloacutegica A ideacuteia de
que o plano fora definido de forma estrateacutegica para garantir a melhoria da
qualidade de vida para a populaccedilatildeo paraense estaacute calcada em princiacutepios
143
exclusivos de cunho mercadoloacutegico Toda essa estrutura estaacute voltada para um
maior incremento da atividade turiacutestica no estado fortalecendo assim uma
concepccedilatildeo muito forte sobre a ideacuteia de mercadificaccedilatildeo dos espaccedilos (SOUZA
2002)
No que diz respeito ao foco das estrateacutegias espaciais adotadas pelo
plano este eacute abrangente e pensa o territoacuterio por completo a partir das meso-
regiotildees internas do Estado O peso dado agrave seleccedilatildeo das regiotildees turiacutesticas faz
com que a transformaccedilatildeo do turismo no Paraacute se decirc de forma totalizante Neste
caso o territoacuterio paraense eacute pensado de forma abrangente a partir dos lugares
(cidades com infra-estrutura) que jaacute tecircm uma preacute-disponibilidade que
congregam os atrativos turiacutesticos necessaacuterios para tornar este lugar em um
potencial turiacutestico
A estrutura feita em poacutelos (Beleacutem Costa Atlacircntica Araguaia Tocantins
Xingu Tapajoacutes e Marajoacute) permite visualizar a possibilidade de valorizaccedilatildeo
desses espaccedilos a partir de suas peculiaridades Permite tambeacutem em uma
dimensatildeo teoacuterico-conceitual maior visualizar uma adaptaccedilatildeo das teorias dos
poacutelos de crescimento de Perroux (1969) Este autor entendia que para uma
economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo pudesse fluir melhor era necessaacuterio
se fragmentar os espaccedilos em subespaccedilos ou em outras palavras em regiotildees
produtivas que facilitassem o fluxo de mercado esse fluxo era garantindo
acima de tudo pela presenccedila da induacutestria a qual reunia as condiccedilotildees de
transformaccedilatildeo econocircmica de um lugar Isto quer dizer que o PDT-PA a partir
das estrateacutegias espaciais feitas por poacutelos pensa o espaccedilo paraense de forma
racional e de forma que privilegie induacutestrias do turismo inteiramente voltadas
para o mercado Pois nessa situaccedilatildeo o importante eacute dar flexibilidade agraves
empresas que atuam nos espaccedilos privilegiados (PERROUX 1969) natildeo
levando em consideraccedilatildeo ou mencionado outros agentes da economia que
possam integrar o mercado do turismo Percebe-se assim uma maior fluidez
aos agentes do circuito superior da economia (SANTOS 2004)
Nessa situaccedilatildeo cria-se a ilusatildeo de que as sedes das regiotildees poacutelos pelo
fato de reunirem condiccedilotildees preacutevias para um arranque de crescimento
econocircmico possibilitam com que gradativamente as cidades que se localizam
144
ao redor da sede possam ter o tipo de desenvolvimento da atividade turiacutestica
arrolada no centro entendendo-se aiacute que as cidades possam ter a mesma
intensidade de desenvolvimento No plano essa situaccedilatildeo eacute mais clara quando
se faz um diagnoacutestico das potencialidades de cada regiatildeo do estado de
acordo com a geraccedilatildeo de um objetivo pautado na relaccedilatildeo entre produtividade
atratividade gestatildeo e marketing (PARAacute 2001) sempre com o intuito de
garantir a competitividade dos espaccedilos Como um outro elemento que
contempla essa visatildeo de turismo o governo do estado do Paraacute define uma
concepccedilatildeo de turismo e as estrateacutegias espaciais com o intuito ainda maior de
promover um desenvolvimento tanto da atividade enquanto uma perspectiva
setorial como uma perspectiva de cunho soacutecio-econocircmico E neste sentido a
ideacuteia de desenvolvimento baseia-se em uma concepccedilatildeo expliacutecita de
desenvolvimento econocircmico ou que atribui aos ideais econocircmicos as
perspectivas de um mercado global
Nessa situaccedilatildeo dois elementos marcam a proposta de desenvolvimento
descrita no plano de turismo Segundo as ideacuteias de Souza (1997 2000 2001
2004) o que basicamente caracteriza o desenvolvimento do tipo econocircmico eacute
o crescimento econocircmico e a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste sentido a
estrutura do documento mostra-se enveredada para o caminho do
desenvolvimento de mercado assinalando as divisotildees necessaacuterias para se
alcanccedilar as metas previstas pelo Governo do Estado O slogan da
competitividade aparece como elemento norteador nas accedilotildees do documento
principalmente quando em sua proposta a reestruturaccedilatildeo de outros elementos
como marketing gestatildeo produtividade e atratividade devem estar associados a
condiccedilatildeo do que seja o desenvolvimento do turismo no Paraacute e em uma
dimensatildeo mais ampla da sociedade e de seu modo de pensar e agir sobre o
que seja turismo e melhoria da qualidade de vida
Segundo o documento a assertiva do crescimento deve associar-se agrave
questatildeo da sustentabilidade Poreacutem como foi analisado o debate da
sustentabilidade aparece condicionado ou como um apecircndice do mercado Eacute
nesse sentido de fato que o crescimento assume uma postura quantitativa
pois a necessidade de fazer com que o turismo assuma uma responsabilidade
145
de transformaccedilatildeo social eacute aquela em que os indiviacuteduos devem ser estimulados
pelo consumo Sendo assim eacute atraveacutes deste uacuteltimo que a condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida viraacute No plano haacute situaccedilotildees que mostram que a
deficiecircncia de produtos turiacutesticos (recursos naturais) deve ser melhorada para
que haja assim o consumo por parte daqueles que conseguem desfrutar do
lazer no estado
Como consequumlecircncia por um lado pelo baixo niacutevel de conhecimento e compreensatildeo turiacutestica do Paraacute no canal de venda e comercializaccedilatildeo e por outro pela debilidade ou inexistecircncia de uma accedilatildeo de comercializaccedilatildeo e promoccedilatildeo sistemaacutetica por parte da induacutestria turiacutestica paraense a niacutevel individual ou coletivo a presenccedila e venda de ofertas de produtos e destinos turiacutesticos paraenses eacute muito reduzida (PARAacute 2001 p 39)
A outra dimensatildeo da perspectiva do desenvolvimento econocircmico a que
Souza (1997 2000 2001 2004) atribui diz respeito agrave modernizaccedilatildeo
tecnoloacutegica E neste ponto o PDT-PA torna-se enfaacutetico ao diagnosticar a infra-
estrutura do estado como precaacuteria e ineficiente aos comandos de uma rede de
serviccedilos turiacutesticos que precisa de uma infra-estrutura baacutesica para funcionar
bem Nas palavras do documento
Sem duacutevida o atraso acumulado e as particularidades fiacutesicas da regiatildeo amazocircnica explicam em boa parte as dificuldades encontradas Entretanto desde a perspectiva de um desenvolvimento turiacutestico equilibrado e competitivo a soluccedilatildeo destes problemas [infra-estrutura e equipamentos baacutesicos] deve ser considerada dentre a primeira linha de prioridade (PARAacute 2001 p 16 grifo nosso)
Percebe-se portanto que nesse ponto para que haja um melhor
rendimento da atividade turiacutestica eacute necessaacuterio que o Estado seja o mediador e
veiacuteculo de construccedilatildeo das infra-estruturas turiacutesticas Neste caso haacute que se
destacar que a construccedilatildeo de infra-estruturas do tipo estradas portos
aeroportos hospitais rede de seguranccedila rede de saneamento e esgoto de
146
cidades com potenciais turiacutesticos natildeo atendem uacutenica e exclusivamente a este
setor pois por sua caracteriacutestica proacutepria o turismo eacute um segmento eacute um setor
das atividades econocircmico-sociais de um Estado e por isso mesmo outras
atividades econocircmicas e sociais se utilizam desses espaccedilos (fixos) que a
esfera estatal realiza em diversos lugares Poreacutem o que se deve afirmar aqui
eacute que pelo fato de que o Governo do Estado dar um privileacutegio maior ao turismo
de massa (aquele concernente ao fluxo global da economia) esses
equipamentos e infra-estruturas estatildeo pensados concebidos articulados e
decididos em primeiro plano para os agentes de classes sociais que podem
circular capital de forma mais raacutepida A dita sociedade local aqui fica em
segundo plano ou possivelmente marginalizada desse processo de melhoria
do espaccedilo o que faz com que o outro lado da moeda ou seja aqueles que natildeo
tecircm condiccedilotildees de usufruir deste tipo de turismo fiquem em uma situaccedilatildeo de
desequiliacutebrio social principalmente no que tange aos requisitos baacutesicos do que
seja a melhor qualidade de vida como educaccedilatildeo sauacutede lazer e diversatildeo
transporte e seguranccedila
Outra ideacuteia eacute aquela baseada em Harvey (2004) de que o planejamento
das formas espaciais natildeo deve dissociar de um conteuacutedo espacial onde as
diversas maneiras de pensar a dimensatildeo do social necessitam de uma
articulaccedilatildeo que focalizem a justiccedila social Harvey (2004) se pergunta como eacute
possiacutevel tornar clara essa articulaccedilatildeo entre as formas espaciais e os
conteuacutedos a fim de criar uma modalidade mais dialeacutetica e que decirc uma
importacircncia consideraacutevel ao espaccedilo Sendo assim um plano de
desenvolvimento de turismo da envergadura do PDT-PA enquanto um
documento que reuacutene possibilidades natildeo soacute de mudanccedilas da atividade
turiacutestica mas de uma dimensatildeo da sociedade pode em todo caso ser um
passo para que as formas espaciais e os processos espaciais estejam em prol
de um projeto social mais justo e solidaacuterio com aqueles que fazem parte do rol
de ideacuteias do desenvolvimento Apropriando-se das ideacuteias de Harvey (2004) o
fechamento ou a possibilidade de se realizar algo concretamente natildeo pode
estar distante nos planejamentos puacuteblicos Do contraacuterio forma-se um hiato
entre o que o Estado pensa em termos de projetos poliacuteticos e a sociedade
147
Neste sentido o PDT-PA constitui-se um plano limitado em sua proposta
para o desenvolvimento ou ainda enquanto um instrumento de mudanccedila
social Em primeiro lugar do ponto de vista econocircmico (que eacute o principal
elemento trabalhado pelo plano) o documento pensa um tipo de economia
voltado para setores da sociedade que reuacutenem condiccedilotildees de estabelecer
consumo de produtos turiacutesticos selecionados e especiacuteficos como eacute o caso de
resorts fluviais (PARAacute 2001 p 73) Nestes espaccedilos consumo eacute seletivo e
por isso mesmo exclui a possibilidade de uma maior interaccedilatildeo com outras
partes do territoacuterio paraense Em segundo lugar como consequumlecircncia do
primeiro a ideacuteia de contato com outras culturas (outras pessoas) em territoacuterio
paraense natildeo se aplica no plano Os espaccedilos pensados pelo documento ao
inveacutes de estabelecerem uma abrangecircncia de trocas sociais estimulam o
confinamento das pessoas que vecircm de fora o que faz com que o turista
conheccedila partes do territoacuterio paraense e natildeo o todo com suas diferenccedilas de
costumes haacutebitos conflitos Haacute portanto uma estandardizaccedilatildeo dos lugares
Tambeacutem existe uma limitaccedilatildeo teoacuterico-conceitual na elaboraccedilatildeo do plano
Por ser um documento muito pragmaacutetico funcionalista (tem a funccedilatildeo de
fornecer dados para o crescimento do turismo no estado) concentra-se em
aspectos caracteriacutesticas estrateacutegias de mercado diagnoacutesticos da realidade
turiacutestica do estado deixando de lado ou ateacute mesmo negligenciando uma
filiaccedilatildeo ideoloacutegica clara dificultando sua identidade teoacuterica
E por fim o plano apresenta ideacuteias muito proacuteximas de um planejamento
estrateacutegico Com a ajuda de oacutergatildeos especializados na promoccedilatildeo (marketing)
dos lugares como eacute o caso da contrataccedilatildeo da THR o Estado pensa o espaccedilo
paraense como um espaccedilo competitivo inspirado sobretudo numa
competiccedilatildeo do tipo empresarial A partir da conscientizaccedilatildeo da mundializaccedilatildeo
da economia e da comunicaccedilatildeo (VAINER 2002 p 76) esses espaccedilos
pretendem ser mais competitivos por isso o espaccedilo aqui eacute condicionado
principalmente por um ritmo econocircmico natildeo assumindo outras feiccedilotildees sociais
Eacute com isso portanto que aqui natildeo se pretende negar qualquer
possibilidade de se praticar turismo ainda mais a partir de ideacuteias que ora satildeo
elaboradas pelos governos mas sim de se pensar que um outro tipo de turismo
148
eacute possiacutevel aquele em que as medidas de mercado natildeo assumam as decisotildees
por completo dessa atividade Aleacutem disso a praacutetica do turismo pode estar de
fato alicerccedilada na condiccedilatildeo de uma praacutetica social acima de tudo
149
REFEREcircNCIAS
150
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20
HUGO ROGEacuteRIO HAGE SERRA
A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO E DE SUA ESPACIALIDADE
NO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DE TURISMO DO
PARAacute (PDT-PA)
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Geografia do Instituto
de Filosofia e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal do Paraacute (PPGEO IFCH
UFPA) como requisito agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Geografia
DATA DE DEFESA___________2007
CONCEITO______________________
BANCA EXAMINADORA
Profordm Drordm Saint-Clair Cordeiro da Trindade Juacutenior
(Orientador)
Profordf Drordf Janete Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira
(Examinadora interna)
Profordm Drordm Siacutelvio Joseacute de Lima Figueiredo
(Examinador Externo)
iii
21
Incondicionalmente agrave Julieta Serra Agrave sua maneira
acima de todos e abaixo de Deus soube se esforccedilar
para que este se tornasse possiacutevel Nela inspiro-me
para que um dia eu consiga ser no miacutenimo um
cidadatildeo batalhador e justo Matildee com certeza vocecirc
estaacute em todos os meus momentos Obrigado
iv
22
AGRADECIMENTOS
Triste eacute aquele que natildeo sabe agradecer Mais ainda quando acha que em um
trabalho cientiacutefico (seja de qual envergadura for imagine-se ainda uma
dissertaccedilatildeo) seu esforccedilo eacute uacutenico e exclusivamente seu Ledo engano Em um
trabalho como esse as pessoas aparecem e desaparecem mas deixam suas
marcas as quais se tornam eternas pelo menos em funccedilatildeo desse momento
Como este eacute um momento em que o autor de um trabalho cientiacutefico tem sua
liberdade entatildeo ponho-me a relatar loacutegico atraveacutes das palavras (e acima delas de
seus conteuacutedos) as pessoas as marcas que deixaram nesta curta passagem de uma
poacutes-graduaccedilatildeo Aos que me conhecem (e os que natildeo conhecem passam a conhecer
um pouco agora) sabem que o momento de agradecer para mim eacute um momento tatildeo
importante quanto o de fazer um trabalho cientiacutefico Aiacute vatildeo elas pessoas ou natildeo
Em primeiriacutessimo lugar nunca esqueccedilo de agradecer a Deus do meu jeito agrave
minha maneira sem ceticismo e com bastante feacute
Em segundo e em especial agrave minha famiacutelia Julieta e Felipe Serra que
mesmo faltando um souberam me completar no espiacuterito e na mateacuteria nas
decisotildees e no apoio Sem vocecircs meus caros eu natildeo existiria
De um modo especial natildeo posso esquecer dos momentos mais doces que
vivi e ainda vivo ao lado de Keila Lopes de Almeida Sua presenccedila meiga e amiga
me fascinou Sou grato a vocecirc pela compreensatildeo paciecircncia (haja) mas sobretudo
pelo seu amor que sem exageros me confortou e me deu mais forccedila para a
concretizaccedilatildeo desse projeto A vocecirc dizer obrigado natildeo basta
Aqui abro um paraacutegrafo em especial para agradecer a Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Juacutenior meu orientador Nesse caso as palavras de agradecimento se
misturam entre a amizade e a responsabilidade pois tenho muito a agradecer a
vocecirc por sua competecircncia responsabilidade eacutetica e discernimento das coisas que
nos cercam Este momento tambeacutem eacute especial porque vocecirc o permitiu Natildeo tenho
duacutevidas de que a Geografia da Amazocircnia deve muito a vocecirc e eu lhe agradeccedilo por
ter me conduzido a sua maneira a um novo mundo da ciecircncia (ainda que em
poucos momentos) e ter aberto as portas de uma Geografia diferente Obrigado meu
amigo
v
23
Natildeo posso deixar de mencionar a figura de Genylton Rocha que atraveacutes de
sua alegria inigualaacutevel entregou-me sua amizade sincera e duradoura Seus votos
de crenccedila em minha pessoa sua ajuda sua disponibilidade me fizeram abrir os
olhos para as possibilidades Sou grato a vocecirc (e vocecirc sabe disso) por tudo o que
fez enquanto amigo e professor de minha formaccedilatildeo afinal vocecirc faz parte do time
dos professores que marcam Natildeo tenha duacutevida meu caro que se tenho um
pouco de garra para ensinar geografia devo em grande parte a vocecirc Valeu Rocha
Outra pessoa indispensaacutevel nesse momento eacute Goretti Tavares Aliaacutes meus
agradecimentos a vocecirc se estendem desde meu trabalho de conclusatildeo de curso
quando vocecirc depositou confianccedila em mim Se este mestrado existe eacute porque vocecirc
impocircs seu ritmo e perseveranccedila para que isso acontecesse Obrigado entatildeo por
essa oportunidade
Tambeacutem quero deixar registrado aqui meu agradecimento agrave Prof Dra Janete
Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira e ao Prof Dr Silvio Lima Figueiredo por se
disporem fazer parte da banca de avaliaccedilatildeo de minha dissertaccedilatildeo A vocecircs
obrigado
Outras figuras tambeacutem foram importantes nesses 24 meses de mestrado
Uma delas o presente-ausente Marcos Alexandre Pimentel da Silva que natildeo de
modo direto mas fora dos muros da universidade dentro de suas possibilidades me
apoiou quando precisei Espero que nossa amizade dure Obrigado
Ao Maacutercio Douglas por sua presteza em momentos de trabalho em que
precisei de livros e dicas cientiacuteficas Apesar do pouco contato natildeo esqueci de vocecirc
meu amigo Obrigado pela forccedila
Ao jovem Estevatildeo Barbosa que atraveacutes de sua simplicidade e amizade
permitiu que nossa relaccedilatildeo passasse dos cinco anos Uma pessoa como vocecirc eacute
para sempre Um grande abraccedilo
Aqui tambeacutem natildeo deixo de mencionar os colegas de mestrado (dos quais
em sua maioria tornei-me amigo) Com vocecircs as discussotildees que naqueles
momentos travamos foram importantes para a minha formaccedilatildeo Jorge Alex Augusta
Willame Aacutelvaro (o estranho no ninho mas que se mostrou uma pessoa muito
acessiacutevel durante esse periacuteodo quando precisei de seus auxiacutelios) Cleacutedson Luiz
entre outros que possibilitaram um pouco do crescimento deste curso
Natildeo posso esquecer o paulista mais paraense que jaacute conheci Omar Abrahatildeo
Que bom que o espiacuterito de nossa terra lhe fez uma pessoa mais alegre mais festiva
vi
24
Espero que possamos construir outros laccedilos de amizade Para vocecirc tambeacutem quero
deixar meu obrigado
De uma maneira geral quero agradecer aos professores do mestrado em
geografia A partir de suas palavras pude alcanccedilar novos horizontes no meu
conhecimento cientiacutefico A vocecircs obrigado mesmo
Natildeo posso tambeacutem deixar de ser grato agrave Iranilda Moraes pela sua
disponibilidade em confeccionar o mapa de minha dissertaccedilatildeo Obrigado pela ajuda
Aos professores e colegas de profissatildeo que ao perceberem um pouco do
aperreio de ser estudante de poacutes-graduaccedilatildeo e professor de ensino fundamental ao
mesmo tempo ainda assim acreditaram em mim neste periacuteodo E por isso meu
obrigado fica aqui registrado Aiacute vatildeo eles Prof Rosa Prof Luiza Barata Prof
Leidiane Prof Gilson Carlos Prof Vander Prof Joatildeo Prof Samara Prof
Ayholacircndia (obrigado pelo esforccedilo na correccedilatildeo deste trabalho) Prof Odimar Prof
Tony Prof Joatildeo de Barros entre outros Obrigado por tudo
E por falar em ensino fundamental e tambeacutem por uacuteltimo poreacutem natildeo menos
importante essa histoacuteria (melhor dizendo essa geografia) de estudar para um curso
de poacutes-graduaccedilatildeo soacute pocircde ter efeitos concretos em meio agraves aulas dadas no bairro
do Che Guevara (municiacutepio de Marituba - PA) precisamente na escola Nilson Pinto
que apesar do nome pocircde ser o iniacutecio de minha caminhada para este curso Meu
obrigado aos alunos tambeacutem pode ser estendido como a esperanccedila de um dia
melhor Que o (bom) produto de meus estudos possa ter o retorno mais raacutepido a
pessoas como eles que mesmo na adversidade de uma pobreza urbana e tambeacutem
metropolitana sempre que possiacutevel puderam criar expectativas e possibilidades de
uma vida melhor A vocecircs meus pequenos obrigado
vii
vii
25
Haacute os que observam a realidade como ela
eacute e se perguntam por quecirc E haacute os que
imaginam a realidade como ela nunca foi e
se perguntam por que natildeo
BERNARD SHAW
viii
26
RESUMO
A atividade turiacutestica enquanto uma atividade soacutecio-econocircmica e espacial tem a
possibilidade de criar e recriar espaccedilos de acordo com interesses de agentes
envolvidos nesse processo Na esteira desse movimento o Estado entendido
enquanto um agente fomentador do turismo cria mecanismos de controle e
gerenciamento da atividade a fim de potencializaacute-la com o intuito de promover sua
expansatildeo econocircmica pelos espaccedilos Nesse sentido um dos resultados dessa
intervenccedilatildeo espacial se constitui na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas setoriais que
objetivam assim a reestruturaccedilatildeo espacial Tais poliacuteticas refletem o jogo de
interesses entre o Estado agentes de mercado e agentes sociais de uma forma
geral A partir desse contexto de acordo com uma perspectiva metodoloacutegica da
anaacutelise de conteuacutedo este trabalho tem como objetivo analisar as concepccedilotildees e
espacialidades veiculadas no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Estado do
Paraacute
PDT-PA Leva-se em conta ainda que o produto das poliacuteticas puacuteblicas tem
como pretensatildeo a geraccedilatildeo de desenvolvimento o que retoma de uma forma mais
complexa a relaccedilatildeo entre os agentes envolvidos na turistificaccedilatildeo dos espaccedilos
Palavras-chave Plano Planejamento Turismo PDT-PA Paraacute
ix
27
ABSTRACT
The tourist activity while a social- economic and spatial activity has possibility of to
create and (re) create spaces in accord with agents interests involved on this
process On this movement the State intended while a tourist agent fomenter
creates mechanisms of control and management of the activity with the objective to
potent with intuit to promote your economic expansion by the spaces In this way on
of the results of this spatial intervention constitute on formulations of sectarian s
publics policies that objective thus the spatial restructure These politics reflexes the
game of interests between the State market agents and socials agents of the
general way Since of this context in accord with a methodological perspective of
contends analyze this work has the objective to analyze the conceptions and
spatialities putted on Paraacute s State Tourism Development Plan
TDP
PA
Understanding yet that product of policies politics has the pretension the generation
of development that s takes again of a complex form the relation between involved
agents on touristification of spaces
Key words Plan Planing Tourism PDT-PA Paraacute
x
28
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
111
Figura 2 Lodge Pesca esportiva 129
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza) 135
Figura 4 Resort Aventura e Natureza 137
Mapa 1 Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001-2006 97
Quadro 2 Programas e accedilotildees-siacutentese 99
Quadro 3 Quadro Sinoacutetico da Estrutura do Plano de Desenvolvimento do Turismo do estado do Paraacute 101
Quadro 4 Estrateacutegias de ProdutoMercado Poacutelo Beleacutem 120
Quadro 5 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Beleacutem 121
Quadro 6 Estrateacutegias de ProdutoMercado do Poacutelo Costa Atlacircntica 122
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica 123
Quadro 8 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Marajoacute 124
Quadro 9 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo AraguaiaTocantins 125
Quadro 10 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Tapajoacutes 126
Quadro 11 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Xingu 127
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao estado do Paraacute 73
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico 92
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais () 93
Graacutefico 4 Estrateacutegia eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT-PA 98
xi
29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003 2004 69
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados no estado do Paraacute 2002 2003 2004 71
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 73
xii
30
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO ix
ABSTRACT x
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES xi
1 INTRODUCcedilAtildeO 15
2 TURISMO ESPACcedilO E PLANEJAMENTO 26
21 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 27
22 SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMAS DE ACcedilOtildeES A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 37
23 O ESTADO E AS ESTRATEacuteGIAS DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 44
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO PARAacute 54
31 A EXPANSAtildeO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NA AMAZOcircNIA 55
32 O TURISMO NO ESTADO DO PARAacute UM BREVE BALANCcedilO 67
33 A IMPORTAcircNCIA DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NO NOVO PARAacute
77
4 O PDT
PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO 82
41 DIRETRIZES E ESTRUTURAS DO PDT-PA 83
42 A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO NO PDT-PA 102
43 A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA UMA ANAacuteLISE DO CONCEBIDO 112
44 ESPACcedilO TURISMO E DESENVOLVIMENTO DESVELANDO PROPOSTAS E INTENCcedilOtildeES 130
xiii
31
5 CONCLUSOtildeES 139
REFEREcircNCIAS 149
xiv
32
1 INTRODUCcedilAtildeO
16
A praacutetica do turismo pode ser caracterizada como algo recente dentro dos
debates geograacuteficos A partir da deacutecada de 1960 esse fenocircmeno vem despertando
interesse dentro das anaacutelises espaciais e tem conseguido ampliar novas discussotildees
que se tornaram importantes e que de certa forma referem-se principalmente ao
espaccedilo modificado pelas constantes viagens e pelo conhecimento de novos
territoacuterios (MOESCH 2002) De certa forma isso fez com que o turismo ao longo do
tempo modificasse paisagens e estabelecesse contatos interculturais Uma de suas
principais caracteriacutesticas eacute o fato de estar atrelado a uma praacutetica essencialmente
econocircmica sendo comumente denominado de uma induacutestria sem chamineacutes
(NICOLAS 2001)
Na esteira desse movimento a modernidade impotildee ao turismo um ritmo que
estaacute diretamente ligado ao consumo especialmente ao consumo do espaccedilo
(RODRIGUES 1999) Tal momento da modernidade implica em mudanccedilas sociais e
espaciais Eacute nesse ponto que a relaccedilatildeo da geografia com o turismo se faz presente
pois a mesma analisa os fatos sociais intriacutensecos agrave atividade dentro da loacutegica do
capital ou seja aquela que produz espaccedilos voltados para o turismo Com isso
altera-se a noccedilatildeo de que o turismo eacute uma praacutetica exclusivamente econocircmica Para
autores como Cruz (2001) a geografia do turismo refere-se agrave uma dimensatildeo soacutecio-
espacial Essa dimensatildeo pode ser tomada ainda numa escala planetaacuteria onde o
consumo do espaccedilo obedece a uma loacutegica global
Considerando-se a expansatildeo da atividade turiacutestica em acircmbito global a
intervenccedilatildeo espacial do turismo tende a se efetivar no territoacuterio a partir de um estudo
teacutecnico ou seja a partir da constataccedilatildeo de que um determinado lugar tem um
potencial turiacutestico favoraacutevel para o desenvolvimento da atividade Nesse sentido
vaacuterios estudos datildeo-se a partir do planejamento do turismo buscando potencializar
os atrativos locais
As caracteriacutesticas globais estatildeo presentes nas espacialidades do turismo
fenocircmeno este que conjuga valores universais de lazer em formatos padronizados
Vale destacar que as praacuteticas turiacutesticas se valem do consumo do espaccedilo formando
entatildeo o sistema da oferta do produto (o espaccedilo social) e da procura (aqui
caracterizado principalmente pela demanda turiacutestica)
17
A partir do momento em que a loacutegica da produccedilatildeo turiacutestica destaca-se no
espaccedilo sua configuraccedilatildeo social eacute alterada conforme interesses dos agentes
produtores do espaccedilo No momento de ser apropriado pela praacutetica turiacutestica o
espaccedilo se complexifica ainda mais e por ser uma atividade em que o espaccedilo eacute um
recurso o turismo estrutura-se em uma loacutegica de ampliaccedilatildeo de lugares voltados
para a praacutetica do lazer desencadeando o que Knafou (1999) chama de territoacuterios
turiacutesticos Certamente o espaccedilo eacute fundamental agrave atividade turiacutestica e por isso o
espaccedilo do turismo pode ser entendido como uma reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de
produccedilatildeo
Com isso as accedilotildees que resultam na metamorfose do espaccedilo estatildeo
vinculadas agraves concepccedilotildees de espaccedilo estrategicamente pensadas pelos atores
envolvidos Tais concepccedilotildees refletem a ideacuteia de espaccedilo que se pretende construir
para o turismo Muitas dessas ideacuteias estatildeo estritamente vinculadas ao planejamento
feito pelo Estado voltado para a atividade Para Lefebvre (1976) por exemplo o que
mais chama a atenccedilatildeo para a questatildeo do entendimento do que seja espaccedilo satildeo as
reproduccedilotildees das relaccedilotildees de produccedilatildeo processo este que se daacute em todo o mundo
em todas as dimensotildees da vida social no se trata de localizar en el espacio
preexistente una necessidad o una funcioacuten sino al contrario de espacializar una
actividad social vinculada a una praacutetica en su conjunto produciendo un espacio
apropriado (LEFEBVRE 1976 p 9)
No que diz respeito agraves caracteriacutesticas econocircmicas da atividade turiacutestica
muitos paiacuteses dependem em muito de seus circuitos mundiais Sua importacircncia gira
em torno da potencialidade turiacutestica que um lugar pode oferecer o que o torna um
grande aliado para o incremento da economia Torna-se por isso condicionante
fundamental no que se refere ao desenvolvimento de um lugar isto porque a
dinacircmica do capital eacute mediada pelo consumo dos lugares que utiliza atrativos
turiacutesticos de belas paisagens naturais e ou natildeo naturais ou ainda pauta-se na ideacuteia
do exoacutetico do diferente
Dentro dessa loacutegica o fenocircmeno turiacutestico amplia-se nos diversos lugares do
planeta causando muitas vezes uma profunda desarticulaccedilatildeo da estrutura soacutecio-
espacial do lugar o que leva a entender que o turismo pode ser visto como um
desarticulador de culturas locais para servir a uma loacutegica maior do consumo dos
18
lugares ou ainda de fomentar a economia A ideacuteia de desenvolvimento nesse
sentido estaria ligada ao consumo dos atrativos turiacutesticos dos lugares o que geraria
a capacidade do lucro ou divisas para um Estado mesmo que a sensaccedilatildeo de
negatividade ou de desarticulaccedilatildeo de culturashaacutebitos locais aconteccedila nos diferentes
espaccedilos onde o turismo esteja presente
A ideacuteia da transformaccedilatildeo dos lugares a partir do fenocircmeno do turismo
alicerccedila-se na capacidade do mesmo ser uma atividade contraditoacuteria ou ainda
hiacutebrida (BECKER 2002) poreacutem combinada Ao mesmo tempo em que o turismo
destroacutei (desarticula) os lugares ele os constroacutei ou impotildee uma nova dinacircmica
Luchiari (1999) por exemplo percebe que o turismo natildeo pode ser analisado apenas
do ponto de vista negativo ou destruidor Neste sentido tal praacutetica assume uma
postura de complexidade no mundo contemporacircneo por isso impulsiona novas
transformaccedilotildees Segundo a autora
O fenocircmeno contemporacircneo do turismo coloca-se como um vetor contraditoacuterio e emblemaacutetico neste processo acentua a produccedilatildeo dos lugares de consumo e o consumo dos lugares Mas natildeo pode ser tomado apenas do ponto de vista negativo como um desarticulador voraz de antigas formas e funccedilotildees sociais que em um processo linear destroacutei o velho substituindo-o pelo novo (LUCHIARI 1999 p 10)
Por mais que o turismo provoque mudanccedilas constantes e raacutepidas no lugar
existe ao mesmo tempo a possibilidade de novas sociabilidades juntamente com
um processo de revalorizaccedilatildeo de um lugar A articulaccedilatildeo entre o novo e o velho
acarreta uma forma hiacutebrida do espaccedilo socialmente produzido (LUCHIARI 1999)
Novos e antigos agentes espaciais aparecem nessa nova teia de relaccedilotildees tendo
como base a ampliaccedilatildeo do capital mediante a geraccedilatildeo de lucro O espaccedilo jaacute natildeo eacute
mais o mesmo ele eacute impulsionado pelo vetor das grandes viagens e dos negoacutecios o
que faz com que ele tenha uma nova composiccedilatildeo refletindo uma nova dinacircmica
soacutecio-espacial e tambeacutem uma nova funcionalidade
A dinacircmica do turismo estaacute alicerccedilada na necessidade de viajar e de
conhecer novos lugares O homem jaacute traz consigo a necessidade de viajar que estaacute
19
associada a uma liberdade por conhecer coisas diferentes Romero apud Rodrigues
(1999 p 27) afirma que o homem eacute um viajante por natureza uma vez que suas
necessidades e desejos estatildeo fora de si mesmos Segundo esse autor para viajar
deve-se partir do conhecido para o desconhecido Eacute a partir da praacutetica social da
viagem que o homem produz novos territoacuterios O turismo assim seria um fio
condutor dessa constante mobilidade Cruz (2001) ao relacionar turismo e produccedilatildeo
de espaccedilos afirma que o turismo eacute a uacutenica atividade social que consome
elementarmente o espaccedilo (CRUZ 2001 p v) Apesar de tal afirmaccedilatildeo suscitar
duacutevidas quanto agrave exclusividade do turismo em relaccedilatildeo ao espaccedilo isso mostra como
a atividade turiacutestica estaacute diretamente vinculada ao consumo do mesmo
Rodrigues (1999) prefere falar que o turismo define dois tipos de consumos
do espaccedilo De um lado existe o consumo consuptivo que se esgota em si mesmo
e de outro o consumo produtivo que ao contraacuterio do primeiro natildeo se esgota em si
mesmo Com efeito o turista ao realizar viagens pelo mundo afora cria uma
expectativa comparada ao seu desejo de conhecer aquele lugar Nesse sentido
como afirma Urry (1996) o olhar
do turista passa a ser decisivo na sua relaccedilatildeo
com os lugares turiacutesticos Segundo Urry (1996) esse eacute um dos motivos pelo qual a
induacutestria do turismo tem que realmente tornar o espaccedilo um produto a ser bem
consumido o olhar do turista natildeo pode ser deslocado para as paisagens feias
porque essas natildeo alimentam o desejo de retorno ao lugar O autor amplia o debate
sobre o enfoque social de que o turismo faz parte por mais que os serviccedilos
caracterizem uma induacutestria haacute uma interaccedilatildeo social profunda nessa relaccedilatildeo
Segundo o autor
A ecircnfase dada agrave qualidade da interaccedilatildeo social entre os produtores e os consumidores dos serviccedilos turiacutesticos significa que o desenvolvimento dessa induacutestria natildeo se explica simplesmente em termos de determinantes econocircmicos () Torna-se igualmente necessaacuterio examinar uma gama de
mudanccedilas culturais que transformam as expectativas das pessoas em relaccedilatildeo agravequilo que elas querem contemplar () (URRY 1996 p 64)
Isso nos mostra que o turismo eacute fundamentado em uma seacuterie de conflitos
sociais inerentes agrave produccedilatildeo do espaccedilo Tais conflitos apresentam alguns agentes
20
importantes como o proacuteprio turista as empresas de viagens e o Estado Esses
atores entrelaccedilam-se e alteram a composiccedilatildeo do espaccedilo produzido pela dinacircmica do
turismo consubstanciando em uma nova visatildeo de mundo mais complexa e mais
dinacircmica Essa visatildeo do turismo estaacute preocupada com transformaccedilotildees ocorridas
durante o processo de globalizaccedilatildeo como produto do capitalismo mundial Segundo
Carlos (2002) o espaccedilo geograacutefico por conta da incessante busca pelo prazer dos
lugares oferecidos em pacotes turiacutesticos vem sendo cada vez mais objeto
mercadoloacutegico de troca ou seja o espaccedilo torna-se mercadoria fazendo com que o
mesmo se especialize ainda mais a partir das praacuteticas turiacutesticas
O espaccedilo socialmente produzido reuacutene objetos espaciais capazes de dar
conta de estruturas globais decorrentes do fluxo de turistas em toda a parte do
planeta A criaccedilatildeo de resorts parques temaacuteticos entre outros amplia cada vez mais
a importacircncia do turismo ao mesmo tempo em que estabelece uma espeacutecie de
confinamento do espaccedilo reunindo as necessidades baacutesicas para a reproduccedilatildeo do
turismo
Carlos (2002) estabelece uma criacutetica interessante ao fenocircmeno do turismo de
massa praticado em diversas partes do mundo Segundo a autora a induacutestria do
turismo transforma tudo o que toca em artificial o lazer natildeo estabelece mais um
sentido de originalidade dentro de cada cultura tudo eacute artificializado e
estandartizado e as relaccedilotildees sociais dessa forma satildeo relaccedilotildees superficiais em que
o lucro e a vontade por comprar aparecem em detrimento de um contato com as
culturas diferentes Segundo a autora o turismo eacute capaz de produzir espaccedilos onde
haacute a natildeo-identidade com o lugar (CARLOS 2002 p 26)
Na tentativa de utilizar o turismo como uma possiacutevel saiacuteda para o
desenvolvimento dos lugares o Estado lanccedila matildeo de artifiacutecios para que haja a
efetivaccedilatildeo da praacutetica do turismo associada agrave transformaccedilatildeo do territoacuterio Eacute desse
modo que o turismo amplia as condiccedilotildees de transformaccedilatildeo do espaccedilo e o lazer
adquire expressividade entre as poliacuteticas puacuteblicas
Para tanto o planejamento da atividade turiacutestica torna-se um instrumento
capaz de realizar mudanccedilas espaciais que repercutem na estrutura do lugar
modificando a paisagem no sentido de viabilizar seu dinamismo Poreacutem muitas
21
vezes o planejamento pode ser visto a partir de uma oacutetica exclusivamente
econocircmica e com isso o desenvolvimento do turismo acaba por natildeo considerar
aspectos sociais relevantes para o estudo teacutecnico do setor ou ateacute mesmo os
possiacuteveis impactos soacutecio-ambientais causados pela instalaccedilatildeo da aparelhagem
turiacutestica como por exemplo resorts cadeias de hoteacuteis etc Isto porque de uma
forma geral o turismo no atual contexto da globalizaccedilatildeo estaacute muito mais voltado
para a ordenaccedilatildeo dos territoacuterios a partir de uma loacutegica de mercado que permite
muito mais a competiccedilatildeo entre os lugares do que o desenvolvimento social
Ligado agraves poliacuteticas puacuteblicas de governo de um Estado o planejamento
turiacutestico evoca ideacuteias e concepccedilotildees de espaccedilo cultura economia poliacutetica e
sociedade Hall (2001) ao descrever a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas para o
turismo faz uma ressalva de que elas expressam ideacuteias ligadas a um tipo de
governo e suas accedilotildees satildeo decorrentes de uma estrutura loacutegica pensada pelo Estado
numa intervenccedilatildeo espacial
A elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eacute antes de tudo uma atividade poliacutetica e essas satildeo influenciadas por caracteriacutesticas econocircmicas sociais e culturais da sociedade assim como pelas estruturas formais de governo e outros aspectos do sistema poliacutetico A poliacutetica deve portanto ser encarada como uma consequumlecircncia do ambiente poliacutetico dos valores e das ideologias da distribuiccedilatildeo de poder das estruturas institucionais e dos processos de tomada de decisatildeo (HALL 2001 p 26)
Cruz (2001) destaca a importacircncia de haver uma poliacutetica puacuteblica de turismo
que leve em consideraccedilatildeo o desenvolvimento soacutecio-espacial do lugar Para isso o
Estado torna-se o principal agente responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo ou idealizaccedilatildeo das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo colocando metas e diretrizes para que haja uma
melhor efetivaccedilatildeo Segundo a autora quando a esfera puacuteblica natildeo toma a iniciativa
de um planejamento que considere os aspectos soacutecio-espaciais as poliacuteticas ficam a
criteacuterio das intenccedilotildees da iniciativa privada e interesses particulares de outros
agentes do setor (CRUZ 2001)
No Brasil a tomada das poliacuteticas puacuteblicas de turismo tem sido orientada para
o planejamento da atividade no sentido de promover sua expansatildeo e consolidaccedilatildeo
22
no mercado global do setor Como o Estado brasileiro possui grandes complexos
regionais as poliacuteticas de turismo seguem uma tendecircncia de organizaccedilatildeo a partir da
elaboraccedilatildeo de projetos regionais ou ainda dos proacuteprios estados constituindo-se um
rol de planejamentos que se diferenciam regional ou localmente Isto quer dizer que
por mais que exista uma poliacutetica nacional de turismo implementada pelo governo
federal brasileiro as regiotildees promovem projetos de turismo diferentes umas das
outras Poreacutem o que haacute de comum eacute que as poliacuteticas de turismo estatildeo dentro de um
sistema de turismo (BOULLOacuteN 2002) ou seja as estruturas locais estatildeo
destinadas a aumentar o fluxo turiacutestico assim como o bem estar do turista Os
serviccedilos turiacutesticos devem entatildeo satisfazer o prazer e o conforto do turista ao
mesmo tempo em que multiplica as oportunidades de lazer (BOULLOacuteN 2002 p 37)
Eacute nesse sentido que Hall (2001) define poliacuteticas de turismo como decisotildees
poliacuteticas sobre o futuro de um lugar e sobre o ordenamento do espaccedilo Tais
poliacuteticas por exemplo no plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute satildeo antes
de tudo uma forma de pensar o espaccedilo a partir de uma concepccedilatildeo voltada ao
turismo
Para poder incrementar ou fomentar o setor turiacutestico o Estado atraveacutes dos
governos municipais e estaduais lanccedila uma estrateacutegia agrave sociedade que se torna
bandeira slogan ou propaganda de governo a de que o turismo eacute capaz de gerar
desenvolvimento e bem-estar social Nesse sentido o planejamento do espaccedilo
voltado para a atividade turiacutestica entra em cena com o intuito de validar tal
perspectiva e acima de tudo fazer dessa situaccedilatildeo um ponto positivo para ganhar
adesatildeo social O planejamento do turismo leva em consideraccedilatildeo uma seacuterie de
outros fatores que conjugados demandam uma grande articulaccedilatildeo do governo com
outros setores para fazer funcionar tal processo
Dada agrave exposiccedilatildeo das ideacuteias cabe neste trabalho levantar as seguintes
questotildees 1) Qual eacute a concepccedilatildeo de turismo sustentada pelo Governo do Estado e
visualizada no PDT-PA 2) Que estrateacutegias espaciais estatildeo inseridas no plano a fim
de fomentar a atividade turiacutestica no territoacuterio paraense e 3) Qual a importacircncia do
turismo enquanto um fator de desenvolvimento para o territoacuterio paraense segundo
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo voltadas para o Estado
23
A tomada de decisotildees por parte do Estado no que se refere agrave elaboraccedilatildeo de
um plano de turismo como o PDT-PA levanta a ideacuteia de uma conciliaccedilatildeo entre a
produtividade e a funccedilatildeo social (OSMONT 2002) A elaboraccedilatildeo de um plano de
desenvolvimento de turismo traz em seu interior um novo entendimento do espaccedilo
a ser transformado mediante accedilotildees concebidas em tal documento O Estado do
Paraacute se vecirc entatildeo como um novo
palco de accedilotildees que tecircm como objetivo final
transformar seu espaccedilo em um novo roteiro turiacutestico mundial Tal sentido de novo
perpassa por pelo menos duas caracteriacutesticas gerais A primeira diz respeito ao
novo enquanto um mercado turiacutestico diferenciado de outros do tipo sol e praia
caracteriacutesticos por exemplo da regiatildeo Nordeste brasileira Nesse contexto a
perspectiva do plano eacute fazer com que o turista se sinta atraiacutedo pelo o que o Estado
oferece de mais abundante ou seja sua natureza verde ou propriamente falando
de uma parte da Amazocircnia diferente das outras pelo fato de apresentar natildeo
somente caracteriacutesticas naturais mas tambeacutem por mostrar cultura e histoacuteria
peculiares
O outro tipo de novo refere-se diretamente ao desenvolvimento que o
turismo pode gerar no Estado E nesse sentido o esforccedilo para que isso aconteccedila eacute
resultante de obras e articulaccedilotildees que o governo propotildee aos sujeitos que estejam
dispostos a mudar a realidade social do Estado Percebe-se portanto que o turismo
figura como um dos pilares responsaacuteveis para tirar o Estado do atraso econocircmico
em que vive bem como para tornaacute-lo um elemento de legitimidade social perante agrave
populaccedilatildeo residente Esse fasciacutenio que o fenocircmeno do turismo causa requer pensar
antes nas concepccedilotildees e estrateacutegias formuladas pelo governo na construccedilatildeo do
plano
A estrutura do plano em seu objetivo maior traduz de forma sinteacutetica o que
estaacute representado nas accedilotildees dos programas vinculados ao documento Essa
realidade potildee em praacutetica a formulaccedilatildeo de novas estrateacutegias econocircmicas voltadas
para uma espeacutecie de internacionalizaccedilatildeo dos espaccedilos ou ainda no que diz respeito
ao turismo pela atraccedilatildeo ampliada de consumidores (SAacuteNCHEZ 1999 p 3)
Eacute neste sentido que este trabalho tem como objetivo geral analisar a
concepccedilatildeo de turismo presente no Plano de Desenvolvimento de Turismo do estado
do Paraacute assim como suas espacialidades ou seja as estrateacutegias espaciais
24
pensadas pelo estado paraense na tomada de decisotildees sobre o turismo associadas
agrave condiccedilatildeo de desenvolvimento dessa atividade Para tanto estatildeo contemplados
ainda neste trabalho alguns objetivos especiacuteficos importantes como
a) Identificar e analisar a concepccedilatildeo de turismo que estaacute presente no PDT-PA
veiculada pelo Governo de Estado
b) Identificar e analisar as possiacuteveis estrateacutegias espaciais ou seja suas
espacialidades inseridas eou subjacentes no PDT-PA
c) Perceber e analisar a importacircncia do turismo como fator de
desenvolvimento face agraves poliacuteticas voltadas para o setor concebidas pelo governo a
partir do PDT-PA
Para que o percurso dessa pesquisa seja efetivado a metodologia aqui
utilizada estaacute estruturada na anaacutelise sistemaacutetica do documento principal PDT-PA
ou ainda a anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 2003)
Nesse sentido de acordo com Bardin (2003) a anaacutelise de conteuacutedo permite
realizar uma especificidade das mensagens ou a comunicaccedilatildeo das ideacuteias contidas
em um documento uma espeacutecie de anaacutelise categorial das temaacuteticas abordadas
(TRIVINtildeOS 1987 BARDIN 2003)
Seguindo esta metodologia o plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
permite olhares diversos sobre sua temaacutetica principal o turismo Poreacutem aqui este
trabalho tem como diretriz fazer uma anaacutelise do tipo geograacutefica na qual o espaccedilo
paraense natildeo surge como receptaacuteculo das manifestaccedilotildees do turismo mas sim
como condiccedilatildeo e produto das relaccedilotildees sociais
Para tanto a estrutura desta anaacutelise segue em trecircs seccedilotildees importantes A
primeira de cunho teoacuterico faz um balanccedilo das obras que tratam de questotildees
fundamentais como o espaccedilo a partir de Santos (1997 2001 2002 2004)
Planejamento e Poliacuteticas Puacuteblicas (CRUZ 2001) que neste momento apoacuteiam-se
nas accedilotildees do Estado enquanto agente importante para a elaboraccedilatildeo de praacuteticas
envolvendo a dinacircmica de construccedilatildeo de espaccedilos voltados para a atividade turiacutestica
25
Esses elementos teoacutericos satildeo cruciais para a anaacutelise dos fundamentos aqui
aplicados
Na segunda seccedilatildeo do trabalho procura-se mostrar como o turismo tornou-se
peccedila importante nas estrateacutegias do Estado principalmente na tomada do
desenvolvimento Seguindo a metodologia da anaacutelise de conteuacutedo o estudo de
documentos importantes como os Planos de Turismo para a Amazocircnia assim como
dados referentes agrave praacutetica do turismo satildeo necessaacuterios para tecer um comentaacuterio
geral de como o turismo eacute tratado pelo Estado (federal e estadual) ao longo dos
anos Na sequumlecircncia ainda nesta parte do trabalho a anaacutelise do Programa Novo
Paraacute mostra-se pertinente pois este a partir de uma estrateacutegia do Governo do
Estado do Paraacute torna-se um documento que reuacutene as principais diretrizes para a
elaboraccedilatildeo do PDT-PA
Na uacuteltima parte ocorre a anaacutelise e sistematizaccedilatildeo das principais ideacuteias
contidas no Plano de Turismo do Paraacute Sua estrutura concepccedilatildeo espacialidade
estrateacutegia e sua noccedilatildeo de desenvolvimento fundamentam-se como eixo norteador
desta pesquisa Neste momento a tentativa eacute de expor os argumentos apresentados
pelo Estado a partir do plano e relacionaacute-los com os fundamentos cientiacutefico-
geograacuteficos que aqui satildeo privilegiados
Por fim na seccedilatildeo Consideraccedilotildees Finais as perguntas elaboradas no
decorrer desta pesquisa e fruto de debates criados ao longo da construccedilatildeo desse
projeto procuram ser respondidas tentando assim mostrar o aspecto analiacutetico-
geograacutefico presente no Plano
26
2 Turismo Espaccedilo e Planejamento
27
21 O turismo como fator de desenvolvimento consideraccedilotildees iniciais
O turismo vem provocando profundas alteraccedilotildees nas estruturas econocircmicas
sociais e culturais do mundo e isso se torna condiccedilatildeo para um aprofundamento de
seus estudos principalmente aqueles de dimensatildeo espacial Tal fato requer uma
anaacutelise mais aprofundada sobre os conceitos que envolvem o turismo
principalmente agravequeles que estatildeo ligados agrave condiccedilatildeo do desenvolvimento Este por
sua vez tem sido um elemento recorrente nos debates sobre as accedilotildees provenientes
do turismo Por isso mesmo as repercussotildees mundiais dessa atividade tecircm
chamado a atenccedilatildeo natildeo soacute de pessoas ligadas agrave reproduccedilatildeo da atividade mas
tambeacutem de pesquisadores interessados em analisar como a atividade turiacutestica estaacute
relacionada com o fator do desenvolvimento e de certa forma como eles se
espacializam
No ano de 2005 quase 7 milhotildees de turistas estrangeiros visitaram o Brasil
(ABAV 2006) Segundo a ABAV foi o maior nuacutemero de turistas que visitaram o paiacutes
em toda a sua histoacuteria Apesar de ser ainda um nuacutemero muito inferior ao dos paiacuteses
centrais como a Franccedila e os EUA (SILVA 1998) a movimentaccedilatildeo financeira no ano
de 2005 no Brasil gerou um crescimento de 1983 em relaccedilatildeo ao ano de 20041
desencadeando um lucro de US$ 3222 bilhotildees (ABAV 2006)
Segundo Silva (1998) a projeccedilatildeo que a Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo faz
para o ano de 2010 eacute que o turismo deveraacute empregar 250 milhotildees de pessoas (OMT
apud SILVA 1998 p102) e ainda para 2020 que a China seraacute o primeiro paiacutes do
mundo com o maior nuacutemero de estrangeiros (cerca de 196 milhotildees) seguido dos
Estados Unidos (102 milhotildees) Franccedila (93 milhotildees) e Espanha (71 milhotildees) Para a
Ameacuterica do Sul a projeccedilatildeo ainda eacute muito pequena em relaccedilatildeo aos paiacuteses que jaacute
recebem um grande fluxo de turistas estrangeiros Poreacutem mesmo assim as
instituiccedilotildees governamentais procuram estabelecer metas e diretrizes que
incrementam o setor turiacutestico a fim de promover a expansatildeo do mesmo De certo o
que se deve destacar a partir desses dados eacute que existe uma verdadeira difusatildeo
1 Estes nuacutemeros referem-se a uma pesquisa feita pelo Banco Central no iniacutecio de 2006 a pedido da Associaccedilatildeo Brasileira de Agecircncias de Viagens (ABAV)
28
espacial do turismo no mundo inteiro e que oacutergatildeos privados e estatais procuram
meios de divulgaccedilatildeo ao mesmo tempo em que fortalecem ainda mais o fomento da
atividade turiacutestica Essas caracteriacutesticas fazem do fenocircmeno turiacutestico um consumidor
de espaccedilos (CRUZ 2001) e sua reproduccedilatildeo depende dessa condiccedilatildeo
A expansatildeo da atividade turiacutestica fez com que o espaccedilo geograacutefico ampliasse
suas caracteriacutesticas e tambeacutem adquirisse uma nova funcionalidade a dos espaccedilos
voltados para o lazer Essa caracteriacutestica talvez seja a primeira que interessa aos
sujeitos dispostos em conhecer novos lugares Numa tentativa de mudar a rotina do
dia-a-dia os turistas procuram ampliar os conhecimentos de novos lugares e
estabelecem um contato de diferentes culturas entre o seu lugar de origem ou
residecircncia fixa (o lugar de seu trabalho semanal rotineiro) e o desconhecido (o lugar
novo a ser visitado) O lazer dessa forma torna-se componente fundamental para
se entender a dinacircmica espacial do turismo Segundo Martins (2004) o habitante de
uma cidade abre novos e espantosos capiacutetulos no relacionamento com o territoacuterio
(MARTINS 2004 p 16) ao conhecer novos lugares que natildeo pertencem ao seu
cotidiano Camargo relaciona o lazer a uma escolha pessoal do indiviacuteduo dentro de
um tempo precioso onde se pode exercitar com mais criatividade as alternativas de
accedilatildeo ou participaccedilatildeo (CAMARGO 2003 p 11) Nesse caso o indiviacuteduo ao praticar
o turismo tem certa liberdade de escolher os espaccedilos onde pretende exercer suas
atividades voltadas para seu descanso
Levando-se em consideraccedilatildeo que a ciecircncia a tecnologia e a informaccedilatildeo
hoje redefinem novos paradigmas sociais como os da produccedilatildeo industrial do
mercado e dos serviccedilos inclusive os de comportamento pode-se concluir que o
lazer torna-se uma praacutetica importante para o estabelecimento de novos fluxos
econocircmico-sociais fluxos esses que redefinem novas praacuteticas espaciais Segundo
Rodrigues (1999)
O acesso ao conhecimento eacute relevante para a atraccedilatildeo de novos capitais influenciando de maneira decisiva a adoccedilatildeo de novas necessidades alterando-se os haacutebitos de consumo Nesse particular o eterno mito do retorno seraacute reforccedilado pela miacutedia que vem incentivando de forma bastante agressiva a busca da natureza () (RODRIGUES 1999 p 18)
29
Esse novo tipo de lazer mais ligado ao ritmo da modernidade entra num
circuito da troca (CARLOS 2002) em que aacutereas do planeta situam-se no processo
de comercializaccedilatildeo dos lugares A liberdade individual entatildeo passa a ser cooptada
pelo mercado onde o turista participa desse processo de escolha dos lugares de
forma passiva Poreacutem que tipo de lazer eacute esse Segundo Carlos (2002) o lazer da
sociedade moderna muda seu sentido e passa a ser inserido natildeo como uma
atividade espontacircnea mas sim como uma forma de desenvolvimento da sociedade
do consumo
Tal fato significa que o lazer se torna uma necessidade Isto eacute no curso do desenvolvimento da reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais produz-se nova atividade produtiva diferenciada com ocupaccedilotildees especializadas que produz um novo espaccedilo e ou novas formas de uso deste espaccedilo (CARLOS 2002 p 25)
Segundo ainda a mesma autora essas necessidades provocam um
sentimento de estranhamento mas que por outro lado tornam os lugares como
espaccedilos de espetaacuteculo onde o turista pratica um lazer passivo porque eacute mediado
pelos grandes agentes do capital do turismo Aleacutem de serem ordenados pelos
agentes do capital vinculados ao turismo a produccedilatildeo de novos espaccedilos desperta
tambeacutem o interesse de outros agentes que pretendem a partir das praacuteticas
turiacutesticas organizar o espaccedilo de forma sistematizada e racional Sendo assim a
figura do Estado torna-se imprescindiacutevel no que se refere ao planejamento do
espaccedilo turiacutestico Tal planejamento eacute voltado para a formaccedilatildeo de territoacuterios
destinados ao lazer caracterizados por meio de uma referecircncia espacial de cada
lugar Os planejamentos seguem assim uma ordem de produtividade em que
dependem do grande fluxo de visitantes O espaccedilo eacute concebido segundo um
pensamento em que sua funcionalidade aleacutem de ser voltado para o lazer deve
estar em conexatildeo com a geraccedilatildeo de divisas Com isso o turismo passa da esfera do
simples lazer e da busca de novos lugares para ocupar uma importacircncia referente
ao reordenamento espacial Eacute a partir do interesse do Estado em promover o
turismo em um lugar que surgem tambeacutem possibilidades de transformaccedilotildees dos
lugares com o intuito de desencadear um desenvolvimento Percebe-se entatildeo que
30
a loacutegica de reordenamento dos territoacuterios a partir de uma oacutetica do Estado estaacute
associada agrave ideacuteia de desenvolvimento de um determinado lugar Ao turismo cabe
com isso ter um papel fundamental na elaboraccedilatildeo das poliacuteticas de desenvolvimento
A literatura sobre o desenvolvimento do setor turiacutestico tem apresentado
variados temas que situam o ordenamento territorial e o progresso econocircmico-social
como principais fundamentos de seu processo entendendo-se o turismo como um
dos elementos fundadores do lazer moderno da sociedade atual sua repercussatildeo
no espaccedilo geograacutefico requer natildeo soacute uma condiccedilatildeo teacutecnica como tambeacutem situaccedilotildees
em que o desenvolvimento da atividade sirva como um fator de melhoria para a
populaccedilatildeo local inserida no processo de transformaccedilatildeo espacial Destarte o turismo
procura estabelecer diversas estrateacutegias para que seus desdobramentos possam
mitigar seus impactos sociais ambientais e culturais a fim de promover
concatenaccedilatildeo entre a geraccedilatildeo de divisas da atividade e a melhoria da qualidade de
vida da populaccedilatildeo local
Hoje o debate sobre o desenvolvimento e o turismo muitas vezes serve de
justificativa para que muitos governos possam inserir a atividade dentro dos
territoacuterios com o intuito de impulsionar o turismo a todo o custo sempre relacionando
o turismo agrave ideacuteia de progresso social Sendo assim o desenvolvimento torna-se
apenas um artifiacutecio manipulado por autoridades de Estado e tambeacutem pela iniciativa
privada que vecircem o turismo como uma saiacuteda para o atraso social de um lugar
Este quadro de caracteriacutesticas e atributos que satildeo relacionados agrave questatildeo do
desenvolvimento de forma equivocada na sua maioria muito se deve agrave proacutepria
histoacuteria do desenvolvimento conforme se tem analisado na literatura cientiacutefica Isto
quer dizer que a indefiniccedilatildeo do que seja desenvolvimento contribui amplia a
complexidade do termo e gera consequumlecircncias soacutecio-espacias
No que diz respeito agrave esfera do turismo a realidade dessa situaccedilatildeo natildeo seria
diferente posto que as anaacutelises feitas pelos oacutergatildeos planejadores de
desenvolvimento natildeo levam em consideraccedilatildeo uma maior efetividade da populaccedilatildeo
quando o assunto eacute inserir a dinacircmica do turismo em um lugar Com isso o turismo
destaca-se notadamente como uma atividade que gera lucro poreacutem em certos
casos desassociada da qualidade de vida de uma populaccedilatildeo A essa condiccedilatildeo
31
apresenta-se tambeacutem uma disparidade de realidades quando se debate sobre
desenvolvimento Isto porque nos paiacuteses ricos (paiacuteses centrais) a poliacutetica de
desenvolvimento segue uma realidade peculiar e o que se vecirc eacute uma tentativa de
seguir as mesmas diretrizes e estrateacutegias espaciais natildeo levando em consideraccedilatildeo a
realidade de paiacuteses em que variaacuteveis como renda per capta escolaridade sauacutede e
infra-estrutura satildeo muito diacutespares Dessa forma tenta-se ratificar um
desenvolvimento do turismo nos mesmos moldes de paiacuteses como Franccedila Espanha
Estados Unidos Itaacutelia onde a atividade eacute uma praacutetica jaacute consolidada
Rodrigues (2002) ao comentar a relaccedilatildeo entre o turismo e seus efeitos nos
paiacuteses perifeacutericos situa a necessidade de chamar a atenccedilatildeo para pesquisas e
discussotildees sobre a temaacutetica do desenvolvimento Segundo a autora
Os efeitos do turismo demandam urgecircncia e seriedade nas pesquisas particularmente nos paiacuteses de economia perifeacuterica localizados no mundo intertropical com praias paradisiacuteacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimocircnio mundial Natildeo menos importantes satildeo os estudos visando agrave avaliaccedilatildeo da dimensatildeo econocircmica do fenocircmeno tendo em vista sua importacircncia no desenvolvimento com base local ou seja voltado para a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo dos lugares e regiotildees onde novos projetos se encontram em fase de implantaccedilatildeo ou em aacutereas que jaacute sofreram degradaccedilotildees devido ao uso indiscriminado e necessitam de estrateacutegias urgentes para a mitigaccedilatildeo dos impactos (RODRIGUES 2002 p 9)
Essa relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o turismo demanda uma importacircncia
que estaacute assentada na diminuiccedilatildeo de seus possiacuteveis impactos ressaltada nos
documentos que retratam tal temaacutetica Dessa forma o desenvolvimento surge como
uma tentativa de suplantar os impactos causados pelos processos de transformaccedilatildeo
espacial que estatildeo relacionados ao turismo
Durante muitos anos a ideacuteia de desenvolvimento esteve associada agrave ideacuteia de
crescimento Isso fez com que a literatura desenvolvida por especialistas da aacuterea
influenciasse governos ao se defrontarem com a possibilidade de implementar o
desenvolvimento em um determinado paiacutes ou regiatildeo Essa noccedilatildeo de
32
desenvolvimento encontra no turismo um dos vetores desse possiacutevel crescimento
tornando o turismo panaceacuteia para todos os males sociais (ROCHA 2002)
Alguns roacutetulos satildeo criados com a finalidade de ampliar o leque de discussotildees
sobre a eficaacutecia e consistecircncia do desenvolvimento do turismo Atualmente o
Estado investe consideravelmente suas accedilotildees de poliacuteticas de desenvolvimento no
chamado turismo sustentaacutevel numa tentativa de associar harmonicamente a
questatildeo da geraccedilatildeo de lucro com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Rocha (2002)
ainda faz uma criacutetica contundente a respeito desse novo modelo de
desenvolvimento do turismo onde a preservaccedilatildeo do meio ambiente torna-se o
centro das discussotildees envolvendo o significado de desenvolvimento Segundo o
autor o governo brasileiro imprime um discurso ambientaliacutestico por meio do qual a
preocupaccedilatildeo com uma possiacutevel destruiccedilatildeo da natureza estaacute ligada agrave ideacuteia de
sustentabilidade econocircmica e social
O discurso hegemocircnico e tambeacutem do governo brasileiro sobre a importacircncia do desenvolvimento do setor cada vez mais se recheia de expressotildees de caraacuteter ambientaliacutestico numa tentativa de convencer que o incentivo oferecido eacute motivado pela preocupaccedilatildeo ecoloacutegica haja vista ser esta atividade uma alternativa para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel Na praacutetica entretanto eacute impossiacutevel negar a mercantilizaccedilatildeo da natureza e da cultura consideradas as principais mateacuterias-primas para o turismo ecoloacutegico ou ecoturismo (ROCHA 2002 p 163)
Segundo ainda o mesmo autor essas premissas natildeo fogem agraves caracteriacutesticas
do turismo tradicional pois carregam no seu cerne a condiccedilatildeo de crescer para
atingir o desenvolvimento seria entatildeo uma espeacutecie de artificializaccedilatildeo da natureza
Souza (1997) estabelece um importante contraponto a essa noccedilatildeo
equivocada que permeia a noccedilatildeo de desenvolvimento Segundo o autor a literatura
cientiacutefica que trata da questatildeo do desenvolvimento negligenciou o espaccedilo e ou o
reduziu a uma visatildeo economicista (SOUZA 1997) A ideacuteia de melhoria estava
associada a de bem-estar material percebida por exemplo nos trabalhos de Rodan
(1964) Ainda mais que os teoacutericos sobre o desenvolvimento afirmassem que para
haver o desenvolvimento de uma regiatildeo deprimida economicamente sua
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industrializaccedilatildeo deveria ser forte extraindo os recursos naturais necessaacuterios para
superar a pobreza de um lugar Este uacuteltimo autor argumentava naquela eacutepoca que
uma induacutestria somente alcanccedilaria um tamanho oacutetimo se houvesse uma ampla aacuterea
para seu desenvolvimento para que diminuiacutesse assim as possibilidades de risco
marginal (RODAN 1964 p 252)
Outros autores que seguiram esta mesma linha de pensamento sobre o
significado de desenvolvimento como Baran (1964) estabelecem que para haver
algum tipo de mudanccedila na sociedade que levasse agraves melhorias sociais de uma
naccedilatildeo a classe meacutedia de um paiacutes deprimido2 deveria se posicionar contra as
mazelas produzidas pelo capitalismo crescente Segundo este autor haveria uma
melhor distribuiccedilatildeo da renda se houvesse um consumo da populaccedilatildeo poreacutem o
problema eacute que esse consumo das coisas que geram os fluxos econocircmicos de um
paiacutes eacute praticado por uma pequena elite residente nas aacutereas mais privilegiadas
Nesse sentido os gastos realizados pela elite local estatildeo concentrados em coisas
supeacuterfluas como os artigos de luxo A consequumlecircncia para Baran (1964) eacute que natildeo
se concretiza uma forma de poupar as riquezas da populaccedilatildeo logo o
desenvolvimento do lugar natildeo se estabelece Ainda segundo o mesmo autor o que
de fato provoca a insustentabilidade econocircmica de um lugar eacute a pouca oportunidade
de investimentos do grande capital Percebe-se entatildeo que a oportunidade de
desenvolvimento estaacute intimamente condicionada pelos investimentos empresariais
Toda a infra-estrutura do lugar deveria estar em consonacircncia com a produtividade
de uma empresa Sendo assim
Natildeo resta duacutevida que a ausecircncia de economias externas e a inadequaccedilatildeo do meio econocircmico nos paiacuteses subdesenvolvidos constituem fatores desestimulantes aos investimentos em projetos industriais Natildeo haacute meios de preencher rapidamente essas deficiecircncias Investimentos de grande porte supotildeem a preexistecircncia de investimentos tambeacutem de grande porte Estradas usinas eleacutetricas redes ferroviaacuterias e casas tecircm que ser construiacutedas antes para que o empresaacuterio ache rentaacutevel investir em novas induacutestrias (BARAN 1964 p 91)
2 Vale lembrar que a expressatildeo economia deprimida eacute muito visualizada nos trabalhos de economistas do poacutes-guerra em que estes se referiam aos paiacuteses subdesenvolvidos principalmente os que ainda estabeleciam uma dependecircncia econocircmica muito forte com os paiacuteses centrais Os trabalhos sobre esse tipo de desenvolvimento ganharam destaque principalmente a partir dos anos 1950 na Europa e nos EUA
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Esse tipo de teoria apesar de se referir a um contexto natildeo muito atual ainda
deixa influecircncias muito fortes no que diz respeito agrave abordagem especiacutefica do
desenvolvimento relacionado com a economia de um lugar Para os paiacuteses
subdesenvolvidos essa realidade suplantaria a necessidade do desenvolvimento
econocircmico de uma sociedade de um paiacutes pobre Ou seja haveria uma mudanccedila na
estrutura social de um paiacutes se houvesse um maior investimento no consumo dos
materiais necessaacuterios para um progresso econocircmico
O paradigma do desenvolvimento econocircmico preencheu vaacuterios debates ao
longo dos uacuteltimos anos referindo-se principalmente agrave forma de consumo de bens
industrializados ou ainda a induacutestria e seus efeitos na economia de um lugar eacute que
desencadeariam um processo de melhoria social Hirschman (1985) por exemplo
analisa a situaccedilatildeo financeira de um paiacutes para alcanccedilar a superaccedilatildeo de problemas
soacutecio-econocircmicos Para o autor o controle fiscal por parte do Estado repercute em
um aumento de divisas para uma naccedilatildeo Assim sendo para que os efeitos fiscais
sejam um mecanismo de desenvolvimento eficaz a habilidade de taxar deve ser
combinada com a habilidade de investir (HIRSCHMAN 1985 p 44) Sem essa
condiccedilatildeo aumenta-se ainda mais o problema da burocracia e o entrave para o
crescimento o alcance do desenvolvimento adviria atraveacutes do que ele chama de
efeitos em cadeia nos quais investimentos realizados em um paiacutes quando bem
estruturados repercutem em processo de desencadeamento da produccedilatildeo Ou seja
fazendo uma associaccedilatildeo com a praacutetica turiacutestica o processo de efeitos em cadeia
do turismo ocasionaria um processo de desenvolvimento em outras atividades que
gerassem o desenvolvimento em um lugar como por exemplo a educaccedilatildeo
saneamento baacutesico e assim por diante Esse processo de repercussatildeo em cadeia
ocorreria tambeacutem juntamente com uma mobilidade espacial onde a novidade ou o
novo produto do processo de desenvolvimento econocircmico aconteceria em um outro
lugar e assim sucessivamente
Esse conjunto de caracteriacutesticas pertinente ao conceito de desenvolvimento
para Souza (1997) revela uma espeacutecie de redistribuiccedilatildeo com crescimento em que
as ideacuteias conservadoras da economia eram o substrato teoacuterico principal Sendo
assim desenvolvimento sempre esteve associado agrave ideacuteia de incremento econocircmico
ou ainda ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agrave renda nacional per
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capta Tal condiccedilatildeo alcanccedila um aspecto exclusivamente quantitativo em que a
produtividade eacute o motor de seu funcionamento Eacute nesse sentido entatildeo que
Tomar o desenvolvimento econocircmico como sinocircnimo de desenvolvimento tout court eacute com efeito uma impropriedade porque se aquele se refere ao processo em cujo bojo uma sociedade consegue produzir bens em maior quantidade de melhor qualidade e com mais eficiecircncia ele concerne a meios e natildeo a fins (SOUZA 1997 p 14)
Dessa forma o autor coloca em xeque o paradigma do desenvolvimento
questionando suas limitaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas que em consequumlecircncia
estatildeo limitadas tambeacutem nas accedilotildees referentes ao espaccedilo geograacutefico Por outro lado
ele defende a ideacuteia de que o desenvolvimento deve ultrapassar a barreira do
quantitativismo ou seja fazer com que a noccedilatildeo de crescimento seja superada
possibilitando entender o desenvolvimento a partir do espaccedilo socialmente construiacutedo
(SOUZA 1997 2002 2004) onde a populaccedilatildeo local torna-se o sujeito crucial na
construccedilatildeo do que venha a ser desenvolvimento Eacute nesse sentido entatildeo que a ideacuteia
de desenvolvimento eacute intriacutenseca a de que o espaccedilo social eacute condiccedilatildeo para sua
reproduccedilatildeo Sendo assim torna-se possiacutevel o alcance da justiccedila social
independente da escala seja ela local nacional ou ateacute mesmo internacional A ideacuteia
de autonomia desta forma acaba por se tornar o paracircmetro fundamental para a
concepccedilatildeo do que venha a ser o desenvolvimento soacutecio-espacial Segundo o autor
a autonomia eacute vista a partir de um conjunto de significaccedilotildees imaginaacuterias que estatildeo
na raiz histoacuterico-cultural de uma sociedade Sobre esse assunto o autor relata que
A autonomia de um grupo para adotar uma concepccedilatildeo especiacutefica de desenvolvimento ou mais amplamente um modo de vida particular exige a consideraccedilatildeo desse grupo natildeo isoladamente mas no contexto de sua relaccedilatildeo com outros grupos (em qualquer escala do local ao internacional) sempre agrave luz do seguinte desafio por um lado eacute preciso respeitar a alteridade do Outro e a incomensurabilidade de universos culturais distintos () Ou seja a autonomia eacute um princiacutepio que exige a consideraccedilatildeo do plano interno (a igualdade de chances de participaccedilatildeo na tomada de decisotildees relevantes para a vida social) mas igualmente que se leve em conta o plano externo (os interesses legiacutetimos do Outro natildeo importando o quanto ele seja diferente de noacutes mesmos) conforme um princiacutepio de natildeo-intervenccedilatildeo (SOUZA 1997 p 21)
36
Tal situaccedilatildeo natildeo seria diferente quando se remete agrave repercussatildeo espacial do
turismo em um lugar visto que o turismo figura atualmente como uma saiacuteda para
um possiacutevel desenvolvimento Nesse sentido natildeo escapa agrave ideacuteia de participaccedilatildeo da
sociedade local nas tomadas de decisatildeo sobre o destino de um lugar
principalmente se aos olhos da iniciativa privada e do Estado a atividade turiacutestica
parecer algo rentaacutevel O turismo como outra atividade social e econocircmica torna-se
entatildeo objeto de discussatildeo por parte da sociedade envolvida no processo de
turistificaccedilatildeo do lugar Seria o que Rodrigues (2002) chama de contrariar a
racionalidade econocircmica vigente
Em um outro trabalho Souza (2002) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre o
turismo e o desenvolvimento Para que o turismo gere desenvolvimento eacute
necessaacuterio saber quem ganha e quem perde com a atividade turiacutestica Isto
dependeria pelo menos de trecircs grupos a populaccedilatildeo da aacuterea de origem dos turistas
os turistas propriamente e a populaccedilatildeo da aacuterea de destinos dos turistas Vale
ressaltar que esses trecircs grupos natildeo podem ser vistos de forma homogecircnea pois a
diferenccedila interna entre eles ou seja quem ganha e quem perde eacute algo relativo aos
anseios de quem pratica a atividade turiacutestica em um lugar Para estabelecer essa
relaccedilatildeo torna-se fundamental natildeo perder de vista a autonomia e o grau de
complexidade que eacute gerado pelo contraste cultural que o fenocircmeno do turismo pode
causar Souza (2002) estabelece entatildeo que a autonomia eacute importante para gerir os
destinos e disciplinar o turismo (SOUZA 2002 p 20) E o grau de diferenccedila
baseia-se sobretudo na disparidade econocircmico-financeira de um grupo de turistas
e a populaccedilatildeo local (principalmente se essa populaccedilatildeo for pobre) Para o autor
apesar de o turismo gerar impactos soacutecio-ambientais ele pode estabelecer um
aprendizado entre culturas tatildeo diversas ou seja ao inveacutes de se ajustar a uma
realidade o turismo pode ser um fator de um desenvolvimento soacutecio-espacial
contribuindo assim para a melhoria e para o bem-estar da populaccedilatildeo residente e
dos turistas visitantes
37
22 Sistema de Objetos e de Accedilotildees a espacialidade da atividade turiacutestica
De iniacutecio a emergecircncia do turismo enquanto uma atividade de lazer da
modernidade levanta uma seacuterie de questionamentos quando o espaccedilo eacute produto
condiccedilatildeo e meio daquela atividade A relaccedilatildeo entre o turismo e o espaccedilo eacute bastante
marcada por impactos soacutecio-ambientais Menos ou mais complexos esses
fenocircmenos representam a reproduccedilatildeo da atividade Isto quer dizer que sem espaccedilo
natildeo haacute turismo
O espaccedilo do turismo portanto eacute marcado por inuacutemeras relaccedilotildees sociais que
difundem a dinacircmica da atividade mundo afora e por conseguinte estabelece novos
paradigmas de comportamento Assim a sociedade moderna amplia espaccedilos
atraveacutes da praacutetica turiacutestica Por ser uma atividade soacutecio-econocircmica que produz um
fasciacutenio nas pessoas ao conhecerem novos lugares o turismo produz um
sentimento de conquista de novos espaccedilos com a finalidade do lazer Sendo assim
para que exista essa condiccedilatildeo o espaccedilo geograacutefico eacute dotado de atrativos com o
intuito de chamar a atenccedilatildeo de turistas Tais atrativos figuram como um alicerce para
a fixaccedilatildeo temporaacuteria das pessoas ou seja a intenccedilatildeo eacute fazer com que o espaccedilo
seja modificado para atender a uma demanda turiacutestica
Dessa forma deve-se entender como Santos (2002) que o espaccedilo eacute um
conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees Nesse sentido
tratar do espaccedilo do turismo requer essa condiccedilatildeo sem a qual o mesmo natildeo procede
sua dinacircmica Deve-se ressaltar que a dinacircmica espacial que o turismo impotildee eacute
tambeacutem condicionada segundo um contexto histoacuterico segundo ainda sua natureza
histoacuterica onde os agentes transformadores do espaccedilo iratildeo desempenhar um
processo diferencial no que diz respeito agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade Cada
objeto espacial e consequumlentemente suas accedilotildees determinadoras estaratildeo
condicionadas de acordo com um tempo histoacuterico
Santos (2002) ainda ressalta que de fato o que caracteriza o espaccedilo
geograacutefico satildeo os objetos mediados pela teacutecnica empregada por cada accedilatildeo
subsequumlente concebidos para o exerciacutecio de certas finalidades intencionalmente
38
fabricados e intencionalmente localizados (SANTOS 2002 p 166) A atividade
turiacutestica estaacute situada num processo de construccedilatildeo de objetos teacutecnicos que estatildeo de
acordo com determinadas finalidades ou objetivos mediados por assim dizer pela
teacutecnica Tais objetos simulam a ideacuteia de superaccedilatildeo da natureza por possuiacuterem
qualidades superiores agrave da ordem natural Nesse sentido o turismo ao criar
espaccedilos voltados para as praacuteticas do lazer procura ser o mais eficaz possiacutevel para
que o consumo do espaccedilo (CRUZ 2001) seja o vetor de transformaccedilatildeo dos lugares
Na abordagem sobre o significado de espaccedilo Santos (2002) afirma que
O espaccedilo eacute formado por um conjunto indissociaacutevel solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees natildeo considerados isoladamente mas como o quadro uacutenico no qual a histoacuteria se daacute No comeccedilo era a natureza selvagem formada por objetos naturais que ao longo da histoacuteria vatildeo sendo substituiacutedos por objetos fabricados objetos teacutecnicos mecanizados e depois ciberneacuteticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma maacutequina Atraveacutes da presenccedila desses objetos hidroeleacutetricas faacutebricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espaccedilo eacute marcado por esses acreacutescimos que lhe datildeo algum conteuacutedo extremamente teacutecnico (SANTOS 2002 a p 63)
Dessa forma a abordagem sobre o espaccedilo estaacute contida dentro de um grau de
complexidade que envolve natureza e homem Cada vez mais em que se apresenta
o domiacutenio do homem sobre a natureza esta tende a ser artificial sendo entatildeo os
objetos artificializados pelo homem As accedilotildees impostas interagem e datildeo vida agrave
dinacircmica espacial onde os objetos lhe datildeo a forma de como se apresentam na
realidade e por outro lado elas ao longo do tempo condicionam novas formas
novos objetos espaciais
Esse momento de exploraccedilatildeo da natureza eacute muito mais evidente a partir das
grandes transformaccedilotildees que o homem provocou com o advento da modernidade
Isto quer dizer que a rapidez com que os processos sociais foram se modificando ao
longo dos anos fez com que o espaccedilo se tornasse mais complexo do ponto de vista
das relaccedilotildees sociais Ao analisar os sistemas de objetos Santos (2002) relata que
hoje o mundo se torna muito mais de objetos do que de coisas Antes o mundo era
39
das coisas porque estavam no ritmo da natureza Atualmente no chamado meio
teacutecnico-cientiacutefico e informacional (SANTOS 1994) as coisas tendem a ser objetos
pelo fato de haver uma constante desnaturalizaccedilatildeo Sendo assim o valor simboacutelico
dos objetos eacute muito maior do que o valor das coisas
Essa realidade se aplica ao turismo A partir da praacutetica da atividade turiacutestica o
espaccedilo tende a sofrer mudanccedilas bruscas que estatildeo de acordo com uma ordem que
eacute a ordem do capital Os objetos espaciais do turismo por excelecircncia satildeo objetos
de grandes transformaccedilotildees espaciais mediados por accedilotildees de agentes do capital e
tambeacutem pelos turistas O turismo torna-se com isso um importante veiacuteculo de
produccedilatildeo de espaccedilos Esses espaccedilos do turismo natildeo se aplicam apenas no mundo
concreto antes disso estatildeo dentro do imaginaacuterio do turista no momento em que ele
cria uma expectativa de conhecer o outro a sua ligaccedilatildeo produz entatildeo novos
lugares novos espaccedilos possibilitando assim uma maior rapidez no que diz
respeito agrave sua transformaccedilatildeo Tais circunstacircncias satildeo ainda mais visiacuteveis quando
outros agentes do setor turiacutestico reforccedilam a ideacuteia do belo ou ainda do que seja
atrativo Tal produccedilatildeo do espaccedilo imaginaacuterio turiacutestico eacute para Rodrigues (1999)
uma captaccedilatildeo do imaginaacuterio coletivo na tentativa de uma resposta Segundo a
autora a miacutedia eacute responsaacutevel pelo processo de criaccedilatildeo da fantasia do espaccedilo
turiacutestico a ser visitado Criam-se cenaacuterios os mais belos possiacuteveis onde o estiacutemulo
estaacute concentrado nas paisagens fabricadas com o que haacute de melhor Ainda nas
palavras de Santos (2002b) a ordem espacial assim resultante eacute tambeacutem
intencional (SANTOS 2002b p 166) Com isso percebe-se a forma pela qual a
miacutedia introduz novos siacutembolos que entram no jogo dialeacutetico da produccedilatildeo de objetos
espaciais voltados para a expansatildeo da atividade turiacutestica
Reconhecendo o espaccedilo como aspecto central na anaacutelise do turismo a
geografia representa uma importante aacuterea de estudos para esse fenocircmeno visto
que esse tipo de relaccedilatildeo social se faz atraveacutes do consumo dos espaccedilos Rodrigues
(1999) procura estabelecer paracircmetros de anaacutelises teoacutericos e metodoloacutegicos para se
entender como ocorre o processo de constituiccedilatildeo dos elementos que formam o
espaccedilo turiacutestico A autora toma como base Santos (1985) para analisar os
elementos fundadores do espaccedilo turiacutestico Segundo a autora o espaccedilo do turismo eacute
formado por pelo menos cinco elementos
40
a) os homens que se caracterizam na figura dos turistas Estes na verdade
satildeo a proacutepria demanda turiacutestica ou seja homens e mulheres e tambeacutem os agentes
responsaacuteveis por grandes firmas internacionais ou ainda os agentes de viagens
turiacutesticas
Segundo a autora a demanda turiacutestica eacute originaacuteria na sua maioria dos
grandes centros urbanos especialmente as metroacutepoles onde estatildeo concentrados
trabalhadores de classe meacutedia e alta providos de tempo e dinheiro para efetivar seu
deslocamento no espaccedilo rumo ao destino turiacutestico Ao chegarem os visitantes
entram em contato com a populaccedilatildeo residente do nuacutecleo receptor de turismo A
populaccedilatildeo local natildeo eacute um elemento menos importante dentro do espaccedilo turiacutestico
(RODRIGUES 1999 p 66) Esta relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo viajante (os turistas) e a
populaccedilatildeo residente (populaccedilatildeo local) nem sempre se daacute da forma mais harmocircnica
possiacutevel pois o contato intercultural entre os povos provoca algumas rupturas que
em certos casos desencadeiam processos de transformaccedilatildeo cultural
b) O outro elemento estaacute constituiacutedo na figura das firmas que satildeo
responsaacuteveis por toda a produccedilatildeo de bens serviccedilos de um sistema turiacutestico Agrave
atividade turiacutestica esse elemento estaacute diretamente ligado ao serviccedilo de hospedagem
(as cadeias hoteleiras) bem como agraves agecircncias de turismo que de certa forma
tambeacutem constituem cadeias
As firmas caracterizam-se pela promoccedilatildeo da atividade turiacutestica usando o
marketing para promover da melhor forma possiacutevel o produto turiacutestico a ser
comercializado Por esse motivo elas atuam em redes internacionais (redes globais)
especializadas no setor turiacutestico Suas funccedilotildees correspondem sobretudo a uma
ordem geral da empresa ou seja o mesmo serviccedilo que eacute prestado num paiacutes como o
Brasil de certa maneira eacute o mesmo prestado em um paiacutes como a Franccedila por
exemplo Essa situaccedilatildeo torna-se possiacutevel por ocorrer na era da globalizaccedilatildeo na
qual os mercados estatildeo unificados independentes de pertencerem a paiacuteses ricos ou
pobres As accedilotildees das firmas ocorrem de forma uniforme no processo turiacutestico Para
a autora as novas relaccedilotildees que se estabelecem em escala mundial e local podem
desarticular o local do regional e do nacional ignorando-se as fronteiras do Estado-
Naccedilatildeo (RODRIGUES 1999 p 66)
41
c) Outro elemento do espaccedilo turiacutestico satildeo as instituiccedilotildees que correspondem
agraves superestruturas (1999 p 67) Este elemento concentra-se nas accedilotildees ditadas por
oacutergatildeos internacionais ou nacionais de promoccedilatildeo do turismo Oacutergatildeos como a OMT
(Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo) com sede na Espanha OMC (Organizaccedilatildeo
Mundial do Comeacutercio) outras instituiccedilotildees como a EMBRATUR (Empresa Brasileira
de Turismo esta com caraacuteter de instituto) ou ainda o Ministeacuterio do Turismo satildeo
exemplos de atores sociais que ditam regras e ordenam o espaccedilo geograacutefico do
turismo a fim de promover a expansatildeo da atividade Pode-se perceber entatildeo que
as instituiccedilotildees satildeo em certos momentos a proacutepria figura do Estado desmembrado
nos seus oacutergatildeos de planejamento e gestatildeo do espaccedilo turiacutestico Por outro lado as
instituiccedilotildees correspondem a oacutergatildeos supranacionais que atuam em acircmbito
internacional
d) O quarto elemento componente do espaccedilo turiacutestico satildeo as infra-estruturas
ou seja as redes de transporte comunicaccedilotildees saneamento baacutesico coleta de lixo
tratamento de esgoto ou serviccedilo de ajuda aos turistas como as casas de cacircmbio e a
seguranccedila As infra-estruturas satildeo componentes de organizaccedilatildeo do espaccedilo para o
recebimento do turista Este elemento que parece simples eacute bastante complexo
pois seu volume e conteuacutedo devem estar dimensionados de acordo com a demanda
pelo menos com a demanda atual de um nuacutecleo turiacutestico (RODRIGUES1999 p
69) A infra-estrutura aleacutem de ser elemento do espaccedilo turiacutestico torna-se tambeacutem
condiccedilatildeo fundamental para a fixaccedilatildeo do turista no lugar a ser visitado Sem uma boa
infra-estrutura os serviccedilos turiacutesticos ficam comprometidos ocasionando assim uma
queda na demanda de viajantes Deve-se ressaltar tambeacutem que a infra-estrutura
turiacutestica pode estar associada a um espaccedilo voltado exclusivamente para a
atividade desvinculando-se da realidade local aumentando dessa maneira as
disparidades soacutecio-espaciais
e) O uacuteltimo e quinto elemento eacute o meio ecoloacutegico que segundo Santos
(1985) eacute o conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do
trabalho humano (SANTOS apud RODRIGUES 1999 p 69) Refere-se
principalmente ao meio natural onde estatildeo assentados os outros quatro elementos
anteriores Seria outrora o meio ambiente poreacutem cada vez mais modificado pelo
homem Eacute a natureza primeira sendo cada vez mais modificada transformando-se
42
em segunda natureza onde impera o mundo da teacutecnica ou tecnosfera (SANTOS
2002 a) No caso do turismo o meio ecoloacutegico eacute cada vez mais valorizado nos dias
atuais com o chamado turismo sustentaacutevel ou ainda turismo ecoloacutegico A volta agrave
natureza bucoacutelica com poucas interferecircncias do homem torna-se um novo objeto
de consumo do turismo por parte dos viajantes Eacute uma forma de valorizaccedilatildeo das
paisagens mais exuberantes e que provocam uma sensaccedilatildeo de tranquumlilidade numa
tentativa de atenuar os impactos ambientais gerados pelo turismo de massa
A repercussatildeo espacial do turismo estaacute marcada por um conjunto de formas
funccedilotildees processos e estruturas (SANTOS 1985) Dentro de uma totalidade
espacial os elementos formadores do espaccedilo do turismo ocorrem em conjunto
Dessa forma natildeo se pode deixar de afirmar que os objetos espaciais do turismo
carregam em si caracteriacutesticas que estatildeo em comum acordo com um contexto
histoacuterico da atividade
A espacialidade turiacutestica tambeacutem se faz a partir de impactos no meio
ambiente com a construccedilatildeo de grandes objetos espaciais voltados para o lazer A
tentativa de promover a todo custo a expansatildeo da atividade resulta em contrastes
no espaccedilo original que de certa forma natildeo correspondem agrave histoacuteria ou cultura do
lugar Alguns pesquisadores julgam o turismo como um produtor de natildeo-lugares o
que resultaria na confirmaccedilatildeo de que a praacutetica do turismo estaacute a serviccedilo do capital
Carlos (2002) sustenta a ideacuteia da transformaccedilatildeo do espaccedilo pelo turismo como um
sentimento de perda do lugar ou ainda da identidade Poreacutem ressalta que antes
do sentimento de perda do espaccedilo original ter um valor de falta deve-se entender
que esse jogo de relaccedilotildees faz parte do processo de construccedilatildeo do espaccedilo no mundo
moderno Dessa forma como o turismo eacute movido pelas diretrizes do capital o
espaccedilo torna-se uma mercadoria que estaacute agrave venda num processo de troca
produzindo-se assim a natildeo-identidade respeitando muito mais o tempo do dinheiro
do que o tempo da sociedade local Segundo ainda a mesma autora o turismo
transforma tudo o que toca em artificial cria um mundo fictiacutecio e mistificado de lazer ilusoacuterio onde o espaccedilo se transforma em cenaacuterio para o espetaacuteculo para uma multidatildeo amorfa mediante uma criaccedilatildeo de uma seacuterie
de atividades que conduzem a passividade produzindo apenas a ilusatildeo da evasatildeo e desse modo o real eacute metamorfoseado transfigurado para
43
seduzir e fascinar Aqui o sujeito se entrega agraves manipulaccedilotildees desfrutando a proacutepria alienaccedilatildeo e a dos outros (CARLOS 2002 p 26)
De acordo com essa perspectiva o espaccedilo do turismo torna-se um espaccedilo
vazio sem sentido e sem espessura (CARLOS 2002) porque natildeo haacute nele uma
identidade A espacialidade do turismo pode dessa maneira ser a mesma (no
sentido de homogecircneo) em todo o mundo A relaccedilatildeo que se estabelece a partir
desses espaccedilos eacute uma relaccedilatildeo entre a induacutestria e o homem que aqui torna-se um
sujeito passivo diante da criaccedilatildeo de belos cenaacuterios onde as imagens parciais
refletem parcialmente a totalidade do lugar O lugar segundo a autora eacute um produto
das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na dimensatildeo do vivido construindo vaacuterios
significados sociais que satildeo marcados pelo tempo social O tempo do turismo
segundo essa loacutegica eacute um tempo da maacutequina sem vida e condicionado pela forccedila
das movimentaccedilotildees financeiras Como exemplo desses espaccedilos onde o tempo eacute
controlado o lazer da sociedade moderna natildeo eacute de forma espontacircnea os resorts
representam a expressatildeo do que seja um natildeo-lugar Configuram-se como espaccedilos
descontextualizados do entorno original uma vez que suas accedilotildees estatildeo mais no
mundo das representaccedilotildees do que nas materialidades que nos envolvem
(HAESBAERT 2004) constituindo assim uma ordem que estaacute subjacente a um
tipo de turismo global dentro do lugar
Dessa forma as espacialidades do turismo podem ser caracterizadas pelo
ritmo das empresas em que o seu novo espaccedilo eacute o mundo (SANTOS 2002) Tenta-
se com isso construir uma hegemonia de tempos de turismo acelerando cada vez
mais a produccedilatildeo de espaccedilos homogecircneos com o intuito de promover o lazer na
sociedade moderna
44
23 O Estado e as estrateacutegias de planejamento e de desenvolvimento da atividade turiacutestica
O debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas de turismo nos uacuteltimos tempos tem sido
aprofundado frequumlentemente pela crescente demanda da atividade nas mais
diversas partes do planeta A discussatildeo sobre as poliacuteticas puacuteblicas portanto estaacute
intimamente ligada agrave questatildeo do desenvolvimento de um lugar Mais precisamente
o Estado passa a ser o principal agente de discussatildeo e aplicaccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Nesse sentido eacute necessaacuterio estabelecer uma anaacutelise do seu papel nas
tomadas de decisotildees Isto quer dizer que a discussatildeo sobre as accedilotildees do Estado
envolve uma reparticcedilatildeo do territoacuterio que vai da escala nacional agrave escala local Para
tal efeito o debate teacutecnico sobre o planejamento do espaccedilo envolve atores sendo
eles caracterizados pelas funccedilotildees teacutecnicas (agentes de governo) ou ainda a
populaccedilatildeo residente em uma aacuterea a ser atingida
A partir da deacutecada de 1980 com a crescente modificaccedilatildeo da economia
mundial as accedilotildees do Estado tecircm sofrido mudanccedilas com o intuito de atender agraves
transformaccedilotildees recentes do capital internacional A estrutura econocircmica dos paiacuteses
por sua vez eacute modificada a partir de um novo conjunto de poliacuteticas estabelecidas
principalmente no decorrer da crescente onda neoliberal O Estado passa a ceder
mais lugar agrave iniciativa privada no interior das decisotildees que se referem aos setores
de infra-estrutura Observa-se desta forma uma gradativa isenccedilatildeo das
responsabilidades antes de inteira competecircncia do poder puacuteblico O que hoje passa
a ser estruturada com uma maior ampliaccedilatildeo das grandes empresas de uma forma
geral termina por acarretar em ocircnus para a sociedade Produz-se entatildeo um
campo de incertezas nas poliacuteticas puacuteblicas em que vaacuterios interesses dos atores
sociais envolvidos satildeo aflorados
Satildeo estabelecidos novos recortes territoriais que estatildeo situados em um
enfraquecimento do Estado ao mesmo tempo em que a presenccedila da iniciativa
privada se torna mais evidente A adequaccedilatildeo das escalas globais estatildeo mais para
as empresas do que para o desenvolvimento pleno da sociedade O ritmo das
economias segue portanto uma transformaccedilatildeo ditada pela velocidade das grandes
empresas o que faz com que se estabeleccedila uma nova forma de entendimento das
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poliacuteticas puacuteblicas Segundo Cruz (2001) estas devem ser pensadas e conduzidas
pelo governo do contraacuterio ficam vinculadas agraves iniciativas privadas
Para Coelho (2000) essa crescente demanda dos interesses privados sobre
o puacuteblico precisa ser considerada a partir de um quadro poliacutetico-econocircmico no que
diz respeito aos processos soacutecio-culturais e ambientais dessa nova fase do
capitalismo Isto porque o que estaacute em jogo eacute um novo modelo de desenvolvimento
econocircmico a crescente reduccedilatildeo da capacidade do Estado em articular as accedilotildees
puacuteblicas e tambeacutem porque se trata de uma conjuntura de crise econocircmico-poliacutetica
por qual passam os governos A autora defende3 quatro tipos de abordagens sobre
os estudos de poliacuteticas puacuteblicas
A primeira estaria no acircmbito dos atores que podem ser puacuteblicos ou privados
mas que estatildeo referendadas nas suas diversas decisotildees e accedilotildees ou seja accedilotildees
ligadas ao interesses desses sujeitos O intuito portanto seria de entender seus
papeacuteis a partir das poliacuteticas adotadas no que diz respeito ao desenvolvimento
regional e da mitigaccedilatildeo dos problemas ambientais A segunda abordagem diz
respeito agrave investigaccedilatildeo das formas de atuaccedilatildeo conflitantes ou associativas dos
atores puacuteblicos ou privados e de seus esforccedilos em compartilharem entre si a busca
se soluccedilotildees de problemas ambientais (COELHO 2000 p 125) A terceira
abordagem tem como entendimento o exame das negociaccedilotildees do Estado nos
setores onde satildeo executadas as poliacuteticas puacuteblicas ou seja faz-se necessaacuteria uma
investigaccedilatildeo do momento em que se elaboram as poliacuteticas e o confrontamento com
outros tipos de poliacuteticas de outras ordens como por exemplo poliacuteticas industriais
minerais fundiaacuterias entre outras A quarta abordagem estaacute situada dentro da
perspectiva de uma superaccedilatildeo das poliacuteticas tradicionais Postula-se com isso uma
inserccedilatildeo ainda maior de poliacuteticas alternativas que mostrem diretrizes de um outro
tipo de desenvolvimento em que a gestatildeo participativa da sociedade possa ser
valorizada ampliando dessa maneira o debate a respeito das poliacuteticas puacuteblicas e
outros interesses sociais envolvidos Segundo ainda a autora
3 As anaacutelises de Coelho (2000) estatildeo voltadas para a questatildeo mineral do Estado do Paraacute poreacutem em um acircmbito geral tal perspectiva se faz muito vaacutelida para entendermos a atual conjuntura por qual passa o Estado nos uacuteltimos anos ou seja um entendimento geral sobre as noccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas
46
Torna-se necessaacuterio sem duacutevida distinguir a loacutegica que norteia as empresas isto eacute uma loacutegica voltada para a produccedilatildeo do lucro ampliado e a que conduz a atuaccedilatildeo poliacutetica que visa manter o poder e para isso recorre a alianccedilas e a negociaccedilotildees sobretudo quando a legitimidade do Estado acha-se ameaccedilada (COELHO 2000 p 125)
Nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas assumem um caraacuteter multi e
interdisciplinar (COELHO 2000 p 125) o que faz com que os processos soacutecio-
espaciais abarcados nos planejamentos governamentais sejam redefinidos no
acircmbito das esferas municipais estaduais e federais
No setor turiacutestico tal realidade natildeo seria diferente Levando-se em
consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo permanente entre o setor privado e o Estado o turismo teve
um crescimento consideraacutevel nos uacuteltimos dececircnios e isso fez com que novas
territorialidades aflorassem e novas relaccedilotildees entre o Estado a iniciativa privada e a
populaccedilatildeo local fossem redefinidas
Para Cruz (2001) o turismo tornou-se nos uacuteltimos tempos um vetor muito
importante para a economia mundial Nesse sentido vaacuterias satildeo as intervenccedilotildees
espaciais que satildeo resultantes de uma necessidade de adequaccedilatildeo do lugar turiacutestico
agraves novas demandas do mercado Sendo o turismo uma loacutegica econocircmico-social
organizada torna-se importante a estruturaccedilatildeo de um sistema de objetos que
podem ser definidos por serviccedilos como hospedagens alimentaccedilatildeo transportes sob
um conjunto de accedilotildees que incrementam os diversos objetos espaciais voltados para
a praacutetica turiacutestica Esse conjunto de accedilotildees pode ser entendido como as poliacuteticas
puacuteblicas de turismo A partir dessa configuraccedilatildeo o lugar turiacutestico se distingue de
outros lugares mas para que o lugar transformado pelas praacuteticas turiacutesticas situe-
se como uma dimensatildeo espacial diferentes das outras torna-se necessaacuteria a
presenccedila do Estado como indutor das accedilotildees decorridas de poliacuteticas Assim Cruz
(2001) enfatiza
O modo como se daacute a apropriaccedilatildeo de uma determinada parte do espaccedilo geograacutefico pelo turismo depende da poliacutetica puacuteblica de turismo que se leva a cabo no lugar Agrave poliacutetica puacuteblica de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientem o desenvolvimento soacutecio-espacial da atividade tanto no que tange agrave esfera puacuteblica como no que se refere agrave
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iniciativa privada Na ausecircncia da poliacutetica puacuteblica o turismo se daacute a revelia ou seja ao sabor de iniciativas e interesses particulares (CRUZ 2001 p 9)
Como um exemplo da ineficiecircncia das poliacuteticas puacuteblicas de turismo os resorts
expressam verdadeiros confinamentos espaciais Eles constituem as limitaccedilotildees das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo setoriais Nesses espaccedilos a iniciativa privada impotildee um
ritmo proacuteprio em que as leis do mercado sobressaem em detrimento de normas
gerais exemplificadas nas poliacuteticas de governo o que faz desses objetos uma
manifestaccedilatildeo do mundo no lugar (LUCHIARI 1999)
Percebe-se assim que a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de turismo
deve levar em consideraccedilatildeo o fator da organizaccedilatildeo soacutecio-espacial ditada pelas
novidades que o fenocircmeno do turismo oferece ao mesmo tempo em que deve situar
a importacircncia do lugar ou melhor das relaccedilotildees sociais contidas no lugar as
pessoas propriamente ditas seus sentidos e interesses De fato tal procedimento
torna-se complicado pois o ritmo da modernidade eacute por demais diferente do ritmo
das pessoas configura-se dessa forma uma sensaccedilatildeo de estranhamento ao
novo o que faz das poliacuteticas de turismo uma unidade da desunidade
(BERMAN
2003) Eacute nesse sentido portanto que as poliacuteticas puacuteblicas de turismo muitas vezes
encontram-se dissociadas da realidade local
Uma outra questatildeo que permeia a discussatildeo sobre as poliacuteticas de turismo
estaacute centrada no debate sobre a importacircncia do territoacuterio na construccedilatildeo dessas
poliacuteticas isto porque quando se retrata a relaccedilatildeo entre o territoacuterio e o turismo
necessariamente a abordagem sobre o reordenamento torna-se fundamental dada
a relevacircncia do territoacuterio turistificado Nesse sentido toda accedilatildeo decorrente dos
planejamentos de governo ou precisamente as poliacuteticas de turismo visam
sobretudo o reordenamento do territoacuterio
Santos e Silveira (2001) entendem que o territoacuterio passa a ter valor quando
este eacute usado o que faz com que exista uma necessidade sistemaacutetica de uma
constituiccedilatildeo territorial Para os autores
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Uma periodizaccedilatildeo eacute necessaacuteria pois os usos satildeo diferentes nos diversos momentos histoacutericos Cada periodizaccedilatildeo se caracteriza por extensotildees diversas de formas de uso marcadas por manifestaccedilotildees particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a princiacutepios gerais como a histoacuteria particular e a histoacuteria global (SANTOS SILVEIRA 2001 p 20)
No que diz respeito ao territoacuterio a teacutecnica atraveacutes da histoacuteria justifica as
intervenccedilotildees e a sua proacutepria constituiccedilatildeo resultando assim em um grande sistema
teacutecnico permeado pela materialidade Para os autores o uso do territoacuterio pode ser
definido por uma seacuterie de elementos que constituem um sistema de engenharia
(SANTOS SILVEIRA 2001 p 21) que soacute satildeo perceptiacuteveis pelo dinamismo da
economia e da sociedade que podem ser desde o simples movimento da populaccedilatildeo
ateacute a criaccedilatildeo de leis e normas para a regulaccedilatildeo da sociedade Com efeito podemos
inserir aiacute poliacuteticas puacuteblicas de turismo
Para Haesbaert (2002) por exemplo o territoacuterio adquire o caraacuteter de
alternativo por ser associado agrave condiccedilatildeo de esperanccedila ou seja um outro territoacuterio eacute
possiacutevel com mais justiccedila e igualdade para os grupos sociais que nele residem
Torna-se alternativo tambeacutem pelo fato de incorporar novas perspectivas teoacutericas
para situar os homens no espaccedilo
Outra importante abordagem sobre o territoacuterio eacute a que Knafou (2001) faz
associando-o ao turismo Segundo o autor eacute a partir do turista que a definiccedilatildeo sobre
territoacuterio pode ser melhor entendida Ele eacute o sujeito que estaacute em constante
movimento tornando-se um constante estrangeiro Com efeito em virtude de sua
mobilidade o turista recoloca a discussatildeo da ideologia do enraizamento da ligaccedilatildeo
privilegiada com o lugar (KNAFOU 2001 p 64) Nesse sentido o territoacuterio do
turismo estaacute em constante movimento produzindo novos lugares e novas relaccedilotildees
do outro com o habitante nativo essa situaccedilatildeo explica portanto a liberdade efetiva
do turista Tal situaccedilatildeo permite com que se faccedila uma anaacutelise das trecircs fontes de
turistificaccedilatildeo dos lugares4
4 O autor natildeo define exatamente o conceito de turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos mas parte de uma relaccedilatildeo que existe entre os fluxos econocircmicos e os turistas Por um outro lado chama a atenccedilatildeo de que a turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos tecircm o propoacutesito de constituir a base de uma abordagem cientiacutefica do turismo (KNAFOU 2001 p 71)
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A primeira fonte para Knafou (2001) reside no fato de que os turistas eacute que
estatildeo na origem do turismo Isso quer dizer que antes de existirem produtos do
turismo satildeo os turistas que produzem os lugares atraveacutes de sua constante
mobilidade ou seja de suas viagens
A segunda fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares estaacute centralizada no mercado E
nesta condiccedilatildeo satildeo os produtos turiacutesticos que estatildeo agrave frente dos turistas natildeo mais
as praacuteticas turiacutesticas em si Poreacutem quando o mercado toma para si a
responsabilidade exclusiva de produzir produtos pode natildeo levar em consideraccedilatildeo a
importacircncia das praacuteticas turiacutesticas como uma condiccedilatildeo de criaccedilatildeo dos produtos O
principal perigo ao qual os operadores do mercado turiacutestico devem fazer face eacute o de
ignorar de subestimar ou de analisar tarde demais a evoluccedilatildeo mesmo das
modificaccedilotildees nas praacuteticas turiacutesticas (KNAFOU 2001 p 70)
A terceira e uacuteltima fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares pertence aos promotores
e planejadores territoriais Para o autor diferentemente das duas primeiras fontes
esta eacute mais ou menos bem territorializada (KNAFOU 2001 p 71) pois estatildeo
intimamente ligadas a um lugar E consequumlentemente essa relaccedilatildeo estaacute ligada ao
desenvolvimento dos lugares Poreacutem o autor reforccedila que o principal perigo com o
qual se defrontam os promotores territoriais eacute o fato de ignorarem o mercado e as
praacuteticas dos turistas ou delas fazerem representaccedilotildees errocircneas (KNAFOU 2001 p
71)
No geral essas trecircs situaccedilotildees satildeo condiccedilotildees para se estabelecer uma
relaccedilatildeo entre o turismo e o territoacuterio
A primeira relaccedilatildeo a que Knafou (2001) faz alusatildeo eacute que podem existir
territoacuterios sem turismo Tal situaccedilatildeo revela os lugares onde o turismo ainda natildeo se
faz presente Poreacutem pode-se afirmar que todo territoacuterio apesar de natildeo ser
completamente envolvido pelas praacuteticas turiacutesticas pode vir a ser Isto porque o
avanccedilo das teacutecnicas do meio teacutecnico-cientiacutefico e informacional a que Santos (2003)
se refere eacute um vetor de raacutepidas transformaccedilotildees dos territoacuterios Como diz o proacuteprio
Knafou (2001)
50
Em contrapartida com o progresso dos transportes e com a difusatildeo da ideacuteia segundo a qual todo o espaccedilo mundial eacute entatildeo acessiacutevel haacute cada vez menos territoacuterios sem turistas Tanto mais que efetivamente os turistas podem ir a qualquer parte ou quase Mas sempre em nuacutemero e sob formas que permitem fazer os lugares viver (KNAFOU 2001 p 72)
A segunda relaccedilatildeo fala sobre a possibilidade de existir tambeacutem turismo sem
territoacuterio Nessa situaccedilatildeo natildeo eacute o turista que provoca o consumo dos lugares mas
quem o faz eacute o mercado juntamente com outros agentes participantes desse
processo como o Estado por exemplo Nesse sentido o territoacuterio torna-se produto
mercadoloacutegico na sua essecircncia Knafou (2001) ainda ratifica
Estaacute-se entatildeo em presenccedila de lugares de passagem de territoacuterio de outros onde o turista soacute faz uma incursatildeo ou ateacute uma excursatildeo Frequumlentemente eacute este territoacuterio impropriamente qualificado que se planeja por e pelo turismo (KNAFOU 2001 p 72)
A terceira relaccedilatildeo segundo o autor eacute que podem enfim existir territoacuterios
turiacutesticos Essa relaccedilatildeo portanto marca a produccedilatildeo dos territoacuterios pelos turistas Ou
seja eacute nessa condiccedilatildeo que as diversas relaccedilotildees soacutecio-espaciais satildeo possiacuteveis e
que de fato o fenocircmeno do turismo alcanccedila outras dimensotildees espaciais O autor
ressalta a delicada relaccedilatildeo entre o espaccedilo e o planejamento Segundo ele natildeo se
pode planejar o espaccedilo do turismo em si unicamente pois do contraacuterio estaraacute se
desprezando a sociedade nele contido
A importacircncia do territoacuterio para o turismo eacute sobretudo condiccedilatildeo para o
planejamento e elaboraccedilatildeo de poliacuteticas espaciais voltadas para o setor A poliacutetica de
turismo natildeo se daacute plenamente de forma isolada o que faz com que se ampliem as
discussotildees sobre as intervenccedilotildees espaciais em que outros setores da sociedade se
fazem presentes Eacute importante portanto a articulaccedilatildeo das poliacuteticas de turismo com
outras poliacuteticas setoriais como por exemplo as poliacuteticas urbanas de transporte de
seguranccedila entre outros
51
Fonseca (2005) demonstra que as poliacuteticas puacuteblicas e em especial as de
turismo tiveram maior relevacircncia a partir da reestruturaccedilatildeo do modo capitalista de
produccedilatildeo no iniacutecio dos anos 1970 A crise do sistema provocou entatildeo uma seacuterie de
mudanccedilas na economia poliacutetica mundial e fez com que os Estados se rearticulassem
em seus setores para que pudessem enfrentar as consequumlecircncias das
transformaccedilotildees econocircmicas mundiais A autora destaca que antes de analisar as
poliacuteticas puacuteblicas eacute necessaacuterio se entender como o Estado mudou suas estrateacutegias
ao longo dos anos ou seja entender a que contexto histoacuterico-social o Estado
pertence Segundo a autora
Agrave medida que a organizaccedilatildeo social assume determinadas caracteriacutesticas e emergem novas mudanccedilas o Estado tambeacutem vai assumindo novas funccedilotildees e se amoldando para atender agraves necessidades e agraves demandas do contexto social e econocircmico no qual estaacute inserido Os Estados soacute podem ser entendidos em seus contextos histoacutericos (FONSECA 2005 p 81)
A autora apresenta uma evoluccedilatildeo do quadro das poliacuteticas puacuteblicas de turismo
segundo o contexto histoacuterico em que elas estatildeo inseridas O primeiro momento
refere-se a uma fase artesatilde onde o periacuteodo fordista se manifestava nas praacuteticas
turiacutesticas mundiais atraveacutes de um incremento quantitativo do turismo Isso era muito
perceptiacutevel atraveacutes de programas ofensivos de conquista de mercados
internacionais (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) O intuito das poliacuteticas
puacuteblicas de turismo portanto era o de fazer crescer a economia dos paiacuteses
receptores com medidas de geraccedilatildeo de renda equiliacutebrio financeiro e de
arrecadaccedilatildeo entre outros
O segundo momento corresponde ao periacuteodo que marca a crise de
acumulaccedilatildeo periacuteodo este que se estende dos anos 1970 ateacute o iniacutecio dos anos 1980
(FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) Devido agraves profundas consequumlecircncias da
crise do regime de acumulaccedilatildeo o turismo passa a ter um papel importante dentro da
economia dos paiacuteses Eacute nesse momento tambeacutem que a atividade turiacutestica passa a
ser relevante no que diz respeito aos seus impactos sociais por conta de seu
crescimento raacutepido os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas de turismo satildeo redefinidos a
fim de que este possa contribuir para o bem-estar da populaccedilatildeo residente
52
Por fim o terceiro momento surge a partir de meados dos anos de 1980
Nesse periacuteodo a economia mundial eacute fortemente influenciada pelo regime neoliberal
o que faz com que a atividade turiacutestica desponte como um dos segmentos basilares
do desenvolvimento econocircmico Os elaboradores das poliacuteticas de turismo
(influenciados pela onda neoliberal) vecircem o turismo como um segmento estrateacutegico
para a competitividade no mercado O turismo portanto assume uma caracteriacutestica
empresarial o que com efeito influencia as novas poliacuteticas de turismo elaboradas
pelos governos (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005 p 88)
Nesse sentido a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas de turismo eacute antes de tudo um
modo peculiar de intervenccedilatildeo espacial em que se combinam o jogo complexo de
normas governamentais e sociedade tornando a relaccedilatildeo soacutecio-espacial mais
complexa O acuacutemulo de novas informaccedilotildees e teacutecnicas faz com que o territoacuterio
delimitado pelas poliacuteticas puacuteblicas de turismo seja um condicionante para as
estrateacutegias espaciais pensadas pelo Estado e pela iniciativa privada Nessa relaccedilatildeo
o resultado das accedilotildees tambeacutem pode se dar de forma desigual na medida em que
uma minoria possa prevalecer em detrimento da maioria isso significa entatildeo a
dissonacircncia que existe na concepccedilatildeo do espaccedilo pensado pelas poliacuteticas puacuteblicas e
o espaccedilo a ser modificado
O agrupamento das decisotildees sobre as poliacuteticas de turismo a serem
estabelecidas assim como suas repercussotildees espaciais encontram campo feacutertil na
Amazocircnia em destaque o Paraacute As estrateacutegias espaciais oriundas de pensamentos
concebidas pelo Estado estabelecem um estreitamento com as praacuteticas de
desenvolvimento No que se refere ao turismo essas estrateacutegias apresentam uma
configuraccedilatildeo que tem na expansatildeo da atividade o seu principal foco Para que a
Amazocircnia situe-se como um espaccedilo planejado e dotado de uma logiacutestica que
propicie a atividade a construccedilatildeo de planos de desenvolvimento torna-se uma
saiacuteda E esta realidade estaacute presente em documentos como os Planos de Turismo
da Amazocircnia I e II respectivamente elaborados em 1977 e 1992 No Paraacute o PDT-
PA constitui-se o primeiro documento estadual que reuacutene as diretrizes necessaacuterias
para o fomento ao turismo
O que se percebe portanto eacute que a elaboraccedilatildeo de planos de
desenvolvimento de turismo em uma regiatildeo como a Amazocircnia constitui-se
53
sobretudo como verdadeiros reflexos das concepccedilotildees de Estado na forma mais
concreta de suas accedilotildees e intervenccedilotildees no espaccedilo
54
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PARAacute
55
31 A expansatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia
A combinaccedilatildeo entre o turismo e regiatildeo amazocircnica natildeo eacute algo novo no que se
refere agraves poliacuteticas puacuteblicas Devido a sua diversidade de recursos naturais a
Amazocircnia tornou-se um locus para investimentos de governos sempre interessados
em uma prosperidade principalmente econocircmica A condiccedilatildeo para que isso
ocorresse baseava-se em pelo menos dois fatores O primeiro era o de povoar uma
regiatildeo que estava (ainda estaacute) abaixo das estatiacutesticas oficiais de governo A
populaccedilatildeo da Amazocircnia entatildeo estaria sujeita agrave poliacuteticas de incentivo maciccedilo de
migraccedilotildees de pessoas de outras regiotildees para que pudessem estimular o
crescimento populacional e o povoamento A segunda estaria vinculada a uma
aproximaccedilatildeo econocircmico-industrial que estivesse no ritmo das economias das
regiotildees Sul e Sudeste Sendo assim esse cenaacuterio seria o tipo ideal para que a
regiatildeo pudesse sair de seu atraso econocircmico
Tal situaccedilatildeo configura-se como ponto de partida para que a atividade turiacutestica
venha a ser um dos elementos importantes nas poliacuteticas de desenvolvimento do
paiacutes O turismo encara dessa forma uma postura de estimulador de um caminho
mais curto e eficaz para um possiacutevel desenvolvimento da regiatildeo No que diz respeito
a isso Cruz (2003) ressalta
De celeiro do mundo a berccedilo do extrativismo a Amazocircnia Legal tem seu destino mais uma vez traccedilado em funccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais Mas as decisotildees sobre as formas de exploraccedilatildeo do territoacuterio amazocircnico satildeo poliacuteticas e tecircm muito mais a ver com a divisatildeo internacional do trabalho e com o mercado internacional do turismo do que com sua geologia geomorfologia fauna e flora (CRUZ 2003 p 98)
Para o turismo a Amazocircnia constitui-se um dos espaccedilos mais proacutesperos a
serem explorados por agentes envolvidos na sua dinacircmica internacional Para isso
a regiatildeo recebe um novo sistema de objetos e de accedilotildees modificados em funccedilatildeo de
sua realidade e sua especificidade natural Trata-se portanto de re-inserir a
56
Amazocircnia na rota mundial de turismo destacando-a como um dos cenaacuterios mais
exuberantes no que diz respeito ao seu potencial paisagiacutestico e natural
No tocante a essa situaccedilatildeo a reinvenccedilatildeo da Amazocircnia para o turismo (CRUZ
2003) parte de um princiacutepio maior que eacute seu desenvolvimento Com isso a regiatildeo a
partir da loacutegica de expansatildeo da atividade comeccedila a ser pensada por oacutergatildeos do
governo que promovem accedilotildees voltadas para o incremento de uma infra-estrutura
peculiar na regiatildeo5 assim como estabelece novas diretrizes de mercado que
contemplam a exploraccedilatildeo racionalizada do turismo
Para tanto os agentes envolvidos no processo de turistificaccedilatildeo da regiatildeo
amazocircnica aproveitam caracteriacutesticas tipicamente regionais como a hospitalidade
do povo amazocircnida para transformar em atrativo turiacutestico Nesse sentido Cruz
(2003) ao abordar a ideacuteia de hospitalidade turiacutestica argumenta que seu sentido estaacute
sobretudo ligado a um sistema de objetos e de accedilotildees do fazer turiacutestico A ideacuteia do
receber bem o turista no que se refere ao carisma alegria e educaccedilatildeo por parte
daqueles que estatildeo ligados agrave atividade turiacutestica na regiatildeo circunscreve-se em uma
realidade onde uma infra-estrutura eacute necessaacuteria
A criaccedilatildeo de uma hospitalidade turiacutestica em territoacuterios amazocircnicos envolve de um lado a criaccedilatildeo de uma materialidade necessaacuteria ao fazer turiacutestico como a implementaccedilatildeo de estruturas relacionadas agrave acessibilidade agrave hospedagem e ao lazer dos visitantes De outro lado envolve tambeacutem aspectos intangiacuteveis e igualmente fundamentais para a ocorrecircncia de um turismo organizado como a capacitaccedilatildeo profissional e promoccedilatildeo turiacutestica Destarte instala-se para e pelo turismo na regiatildeo um novo sistema de objetos e de accedilotildees que recriam o espaccedilo amazocircnico agora orientado pela loacutegica de um uso turiacutestico (CRUZ 2003 p 94)
Tal hospitalidade envolve accedilotildees antes planejadas por pessoas envolvidas no
processo de atraccedilatildeo do turista para a regiatildeo Amazocircnica algo que natildeo depende
exclusivamente dos residentes mas sim de um planejamento voltado para a infra-
estrutura e o preparo das pessoas (CRUZ 2003) A partir desses propoacutesitos eacute que a
Amazocircnia entra no ritmo ou circuito da atividade turiacutestica ou seja a estrateacutegia de
5 Apesar do fluxo de turistas na regiatildeo ser ainda pequeno a infra-estrutura necessaacuteria para atender tal demanda estaacute baseada principalmente na construccedilatildeo e reforma de estradas no aumento e promoccedilatildeo de passagens aeacutereas e na construccedilatildeo de lodges e hoteacuteis de redes nacionais e internacionais que se apropriam da temaacutetica regional (floresta natural) para construiacuterem objetos espaciais bem caracteriacutesticos como eacute o caso dos hoteacuteis de florestas no estado do Amazonas
57
inserccedilatildeo e expansatildeo do turismo na regiatildeo agrega requisitos de ordem global e
padronizada
Levando em consideraccedilatildeo a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas do turismo a
partir da deacutecada de 1970 o governo federal realizou uma seacuterie de medidas voltadas
para a expansatildeo da atividade na Amazocircnia entre elas especificamente estavam os
planos de desenvolvimento da regiatildeo ou PDAS (e tambeacutem os planos de turismo da
Amazocircnia I e II) Nestes planos estavam esboccediladas de uma forma bem ampla as
estrateacutegias espaciais e acima de tudo a concepccedilatildeo de desenvolvimento a qual a
regiatildeo amazocircnica estava subordinada
Tais planos congregavam ideais de transformaccedilatildeo ampla e situavam as accedilotildees
destinadas a retirar a Amazocircnia de seu atraso econocircmico e social No tocante ao
turismo jaacute no segundo Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia6 a atividade era
encarada como um processo em expansatildeo e por isso mesmo natildeo mereceria ficar
em segundo plano As prioridades destacadas referiam-se principalmente em
setorizar a atividade turiacutestica onde as cidades que jaacute reuniam certa infra-estrutura
(apoio logiacutestico ao turismo) seriam pontos estrateacutegicos de atraccedilatildeo de investimentos
provindos do governo
O estiacutemulo do Estado resumia-se aos investimentos em apoio teacutecnico e na
ampliaccedilatildeo do sistema de objetos da regiatildeo como por exemplo as estradas de
rodagem Para isso era de interesse do governo na eacutepoca facilitar o acesso agrave regiatildeo
atraveacutes dos transportes e das comunicaccedilotildees garantidos tambeacutem por um serviccedilo de
hoteacuteis eficiente
A criaccedilatildeo de algumas diretrizes orientadoras para o fomento da atividade
estavam calcadas sobretudo numa reorganizaccedilatildeo e readequaccedilatildeo da atividade a
partir do planejamento das accedilotildees voltadas para o desenvolvimento da regiatildeo Os
planos turiacutesticos jaacute eram vistos como soluccedilatildeo para a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais
e contemplavam de maneira uniforme e integrada o apoio agrave criaccedilatildeo de empresas
estaduais destinadas agrave promoccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade (BRASIL 1977)
6 Elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior e com a organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo da SUDAM (Superintendecircncia de Desenvolvimento da Amazocircnia) datado de abril de 1976
58
Os principais destinos urbanos da Amazocircnia como Manaus Beleacutem
Santareacutem e Satildeo Luiz seriam os primeiros a receber a infra-estrutura necessaacuteria
para o planejamento da atividade Em outro momento a construccedilatildeo de um plano
diretor regional de meacutedio a longo prazo deveria estudar as perspectivas de
mercados nacionais e internacionais onde se verificavam problemas a serem
solucionados com o planejamento pensado para as cidades com atrativos turiacutesticos
No II plano de desenvolvimento da Amazocircnia as outras diretrizes satildeo de
cunho mais especiacuteficos e se destinam agraves alternativas jaacute visualizadas perante o
potencial natural da regiatildeo entre elas estatildeo
a) A implantaccedilatildeo de parques florestais para fins turiacutesticos a criaccedilatildeo de um
sistema regional de informaccedilotildees estatiacutesticas e medidas para a preservaccedilatildeo de aacutereas
de interesse turiacutestico
b) Criaccedilatildeo de empresas de turismo nas unidades da federaccedilatildeo incorporando-
as ao sistema regional integrado ao turismo
c) Coordenaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia junto a
cada entidade interessada com a finalidade de acelerar o desenvolvimento setorial
d) Atrair o turismo nacional para a regiatildeo atraveacutes de estudos de implantaccedilatildeo
de centros de apoio turiacutestico ao longo das rodovias federais e estaduais pelos
oacutergatildeos intervenientes SUDAM (Superintendecircncia do Desenvolvimento da
Amazocircnia) DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens) DER s
(Departamento Estadual de Rodovias) EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo)7 e empresas estaduais
e) Continuaccedilatildeo do apoio aos programas de fornecimento de aacutegua energia e
saneamento por parte da SUDAM com o apoio da infra-estrutura ao
desenvolvimento e ampliaccedilatildeo do setor (BRASIL 1977 p 79-80)
7 Durante um longo periacuteodo (desde sua fundaccedilatildeo) a EMBRATUR foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo turismo nacional promoccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de projetos em geral destinados ao fomento da atividade turiacutestica no paiacutes A partir de 2003 especificamente no governo do entatildeo presidente Luis Inaacutecio Lula da Silva a EMBRATUR deixa de ser empresa e passa a ser instituto tendo um fim especiacutefico de promover o turismo nacional no exterior
59
Vale ressaltar que nesta eacutepoca o plano de desenvolvimento da Amazocircnia
entendia o turismo como um setor em expansatildeo poreacutem demonstra em linhas gerais
suas reais intenccedilotildees em relaccedilatildeo agrave atividade natildeo realizando portanto um estudo ou
diagnoacutestico mais especiacutefico sobre a atividade Sua dimensatildeo revela nesse sentido
uma ligaccedilatildeo com as ideacuteias de crescimento que outrora influenciaram (e ainda
influenciam) as concepccedilotildees gerais de planejamentos regionais
O caraacuteter generalista do turismo que se configura no plano entende que o
espaccedilo regional eacute carente de densidade teacutecnica apropriada agrave expansatildeo da
atividade por isso existe a necessidade de implementaccedilatildeo de setores especiacuteficos
destinados a reestruturar o espaccedilo regional como por exemplo as rodovias e as
redes de telecomunicaccedilotildees Nesse sentido o espaccedilo amazocircnico do turismo agrave
eacutepoca era entendido enquanto um espaccedilo a ser modificado por agentes que
estivessem interessados em investir na dotaccedilatildeo de atrativos turiacutesticos
principalmente as empresas do trade turiacutestico amazocircnico
Visto que a atividade turiacutestica era promissora e que seria uma possibilidade
para a geraccedilatildeo de renda e lucro o governo federal na eacutepoca lanccedila o primeiro Plano
de Turismo da Amazocircnia8 com o intuito de (re) organizar o setor a fim de que se
pudessem alcanccedilar niacuteveis satisfatoacuterios de crescimento econocircmico
O primeiro plano por sua vez apresenta a regiatildeo como uma regiatildeo
diferenciada das outras por ser um produto com uma paisagem iacutempar e por isso
seus recursos naturais satildeo encarados como elementos importantes para uma
vocaccedilatildeo e aptidatildeo turiacutestica Tais caracteriacutesticas eram entendidas como um
pressuposto ou alternativa para auxiliar no progresso econocircmico e social da regiatildeo
(BRASIL 1977) Nesse sentido segundo o proacuteprio documento9
Como se vecirc estamos diante de dois incomensuraacuteveis o turismo e a Amazocircnia De um lado o turismo que possibilita quase tudo De outro a
8 O primeiro Plano de Turismo da Amazocircnia foi elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior em 1977 no governo militar a partir do consoacutercio PLANAVE-PROCHNIK e com o apoio teacutecnico da EMBRATUR A supervisatildeo do Plano ficou a cargo da SUDAM O plano ainda se divide em dois volumes o primeiro diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo e diagnoacutestico da regiatildeo e o segundo contempla os prognoacutesticos poliacuteticas diretrizes e instrumentos e a programaccedilatildeo do Plano 9 Nota de apresentaccedilatildeo do superintendente da SUDAM Hugo de Almeida
60
Amazocircnia potencialmente riquiacutessima em termos de aproveitamento como induacutestria rentaacutevel multiplicadora de divisas cambiais (BRASIL 1977 p 7)
O primeiro PTA resume assim as ideacuteias de que a Amazocircnia eacute um cenaacuterio
propiacutecio agrave expansatildeo da atividade turiacutestica colocando-a como um produto a ser
comercializaacutevel As concepccedilotildees contidas no plano priorizavam accedilotildees com as
estrateacutegias mais amplas que por sua vez estavam definidas no Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia Sua funccedilatildeo especiacutefica estava destinada a levantar
dados sobre a infra-estrutura dos estados e assim definir as estrateacutegias comerciais
para que a regiatildeo pudesse se situar como um destino turiacutestico importante Os eixos
gerais do PTA natildeo seguiam uma poliacutetica nacional de turismo mas sim uma poliacutetica
de desenvolvimento sustentada pelo PDA O processo de configuraccedilatildeo da atividade
turiacutestica era encarado como um ramo da economia que estava associado agraves
diretrizes e interesses especiacuteficos natildeo tendo portanto uma autonomia poliacutetica
Seguindo este conjunto de ideacuteias os objetivos gerais (finais) do primeiro PTA
estavam circunscritos a uma visatildeo de crescimento da atividade com a possibilidade
de geraccedilatildeo de renda e emprego atraveacutes de uma ocupaccedilatildeo territorial efetiva da
regiatildeo de uma maior participaccedilatildeo da atividade no que diz respeito agraves diacutevidas dos
Estados e municiacutepios e em uma valorizaccedilatildeo e defesa dos recursos ecoloacutegicos
(BRASIL 1977) Esses objetivos ainda eram detalhados e pretendiam alcanccedilar uma
renda regional aumentar os investimentos no setor hoteleiro e criar empregos
diretos Atraveacutes de uma visatildeo economicista o PTA visava reduzir as desigualdades
sociais da Amazocircnia e assim constituir-se um documento importante para tal fim
O II Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia tem como seu objetivo principal o crescimento do produto regional e a reduccedilatildeo de desigualdades inter-regionais O Plano de Turismo da Amazocircnia procura ser um dos instrumentos para o atendimento desse objetivo sendo que toda a estrateacutegia de desenvolvimento do turismo aqui apresentada visa tal fim (BRASIL 1977 p 37)
61
Tal caracteriacutestica natildeo iraacute se diferenciar a partir da constituiccedilatildeo do I Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia da Nova Repuacuteblica10 No que diz respeito ao setor
turiacutestico poucas foram as alteraccedilotildees importantes que se destacaram no documento
De uma forma geral o turismo ainda eacute visto como uma atividade que precisa de um
grande incentivo por parte dos governos estaduais e iniciativa privada Sua
dimensatildeo ainda gira em torno do crescimento econocircmico e vecirc o turismo como uma
possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda Seus objetivos estatildeo estruturados em
dois
a) Aumentar a participaccedilatildeo do turismo no desenvolvimento econocircmico e social da regiatildeo atraveacutes da geraccedilatildeo de renda e emprego com menores custos econocircmicos e sociais b) acrescer quantitativa e qualitativa a oferta turiacutestica a fim de motivar novos segmentos de mercado proporcionando aumento da renda e gasto meacutedio do turista na regiatildeo (BRASIL 1986 p 63)
Tais objetivos norteiam outras diretrizes com o intuito de fazer valer as
estrateacutegias pensadas no Plano Nessas diretrizes a estrutura de concepccedilatildeo sobre a
atividade turiacutestica ainda se manteacutem a mesma no que se refere aos planos
anteriores a de entender o turismo como uma atividade econocircmica e com a
perspectiva de crescimento Setores como investimentos na oferta turiacutestica
ampliaccedilatildeo da melhoria da infra-estrutura de comunicaccedilotildees e transportes incentivo agrave
hotelaria satildeo pontos comuns em relaccedilatildeo a outros documentos
O que haacute de novo poreacutem estaacute pautado na elaboraccedilatildeo na aacuterea de recursos
humanos e no apoio agrave realizaccedilatildeo de eventos 11 Outro ponto de destaque eacute a
formaccedilatildeo de oacutergatildeos especiacuteficos na aacuterea do planejamento turiacutestico Tal caracteriacutestica
eacute responsaacutevel por estruturar novos projetos e poliacuteticas regionais de incentivo ao
crescimento da atividade Percebe-se tambeacutem um aspecto importante no que tange
agrave interiorizaccedilatildeo do turismo O planejamento do turismo estaria concentrado na
formaccedilatildeo dos poacutelos de crescimento pois a difusatildeo de novos pontos (BRASIL 1986)
expressaria uma das atividades de desenvolvimento A partir dessa estruturaccedilatildeo o
10 Documento elaborado pelo Ministeacuterio do Interior e pela SUDAM Sua execuccedilatildeo e coordenaccedilatildeo ficou a cargo da SUDAM datada de dezembro de 1986 Na verdade este eacute o terceiro documento ou Plano de Desenvolvimento voltado para regiatildeo amazocircnica A partir da redemocratizaccedilatildeo tornou-se o I Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia 11 O que se constituiria em uma espeacutecie de turismo de eventos
62
PDA da Nova Repuacuteblica enquadra o turismo como uma poliacutetica setorial de cunho
econocircmico estabelecendo assim metas de meacutedio e longo prazo
A relaccedilatildeo entre a Amazocircnia e o turismo aprofunda-se ainda mais ao longo
dos anos subsequumlentes estabelecendo com isso novas diretrizes de uso racional
da regiatildeo Em 1992 eacute lanccedilado o II Plano de Turismo da Amazocircnia12 com o intuito de
mudar a forma pela qual o turismo eacute encarado na regiatildeo O grande diferencial
expresso nesse documento eacute a ecircnfase dada ao desenvolvimento sustentaacutevel que
de acordo com as ideacuteias contidas no documento seria a alternativa mais viaacutevel para
associar desenvolvimento regional com conservaccedilatildeo dos recursos naturais No que
tange a isso o PTA expotildee em suas diretrizes gerais
A existecircncia do produto turiacutestico especialmente o ecoloacutegico estaacute de certa forma condicionada agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais Componente fundamental na estrutura da produccedilatildeo no contexto da induacutestria turiacutestica os recursos naturais representam um dos pilares do poder de atratividade do produto turiacutestico regional Em funccedilatildeo disso eacute economicamente viaacutevel que a expansatildeo do turismo na Amazocircnia obedeccedila aos criteacuterios de sustentabilidade dos ecossistemas (BRASIL 1992 p7)
Assim sendo a composiccedilatildeo do trade turiacutestico regional estaacute em funccedilatildeo dos
paracircmetros do desenvolvimento sustentaacutevel O espaccedilo amazocircnico para o turismo a
partir disso muda sua funcionalidade e adquire uma nova concepccedilatildeo pautada sob o
roacutetulo da sustentabilidade Os objetivos criados aliam a ideacuteia de crescimento
econocircmico a de qualidade de vida para a populaccedilatildeo local reordenando por sua vez
as poliacuteticas regionais de desenvolvimento
Tendo como base uma poliacutetica de turismo voltada para a sustentabilidade da
regiatildeo o segmento do chamado turismo de natureza ou ecoturismo ganha forccedila e
se torna ainda mais a estrateacutegia adequada para que ocorra a expansatildeo da
atividade
12 Ligado agrave secretaria do Desenvolvimento Regional elaborado e executado pela SUDAM com o apoio de entidades como PNUD (Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento) BASA (Banco da Amazocircnia) e SUFRAMA (Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus)
63
Em 1998 o PROECOTUR13 tornou-se o documento que expressou as
vertentes ligadas agrave ideacuteia do turismo de natureza ou turismo sustentaacutevel Neste
documento o governo federal centrou esforccedilos para viabilizar a concretizaccedilatildeo do
PROECOTUR nos nove estados da regiatildeo amazocircnica Tendo em vista a utilizaccedilatildeo
racional dos recursos naturais presentes e sabendo de seu potencial paisagiacutestico o
programa estaacute configurado segundo os objetivos e programas especiacuteficos para cada
Estado da federaccedilatildeo14
Como objetivo geral o PROECOTUR defende a viabilidade do ecoturismo
como o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel ideal para a regiatildeo amazocircnica
(BRASIL 1998) Seus objetivos especiacuteficos estatildeo estruturados da seguinte forma
I- Proteger e desenvolver os atrativos turiacutesticos da regiatildeo por meio de
medidas como a criaccedilatildeo de parques e reservas com manejo especiacutefico
para o ecoturismo
II- Criar um ambiente de estabilidade para investimentos de ecoturismo
mediante definiccedilatildeo de poliacuteticas e normas e do fortalecimento dos
oacutergatildeos de gestatildeo ambiental e desenvolvimento turiacutestico estaduais
regionais e nacionais
III- Viabilizar operacionalmente empreendimentos de ecoturismo por meio
da realizaccedilatildeo de estudos de mercados da identificaccedilatildeo
desenvolvimento e adaptaccedilatildeo agrave regiatildeo de tecnologias para a geraccedilatildeo
de energia tratamento de afluentes etc e da sua disponibilizaccedilatildeo dos
resultados para investidores privados
IV- Viabilizar financeiramente empreendimentos de ecoturismo mediante a
ampliaccedilatildeo de linhas de creacutedito especiacuteficas para o segmento e
13 Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazocircnia Legal criado na gestatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia junto ao Ministeacuterio do Meio Ambiente dos Recursos Hiacutedricos e da Amazocircnia Legal A elaboraccedilatildeo deste programa diz respeito agrave fase de preacute-investimentos 14 Vale lembrar que os oacutergatildeos federais envolvidos na execuccedilatildeo do PROECOTUR aleacutem de estarem representados pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia ainda eacute constituiacutedo pelo Grupo Teacutecnico de Coordenaccedilatildeo do Ecoturismo pelo Nuacutecleo de Gestatildeo do PROECOTUR e atuando nos Estados pelos Grupos Teacutecnicos Operacionais (GTOs)
64
V- Melhorar ampliar ou implantar a infra-estrutura baacutesica necessaacuteria para
viabilizar o aumento do fluxo turiacutestico para a Amazocircnia Legal (BRASIL
1998 p 7)
Atraveacutes desse conjunto de objetivos o PROECOTUR de acordo com seus
oacutergatildeos interligados procura enfatizar o turismo como uma ferramenta capaz de
mudar o quadro social e econocircmico da regiatildeo Em seus desdobramentos o
programa chama a atenccedilatildeo para a necessidade de impor a regiatildeo amazocircnica como
um destino turiacutestico a ser melhor apresentado no trade nacional e internacional Para
isso utiliza estrateacutegias espaciais em cada estado Tais estrateacutegias estatildeo baseadas
na criaccedilatildeo e ou incremento dos poacutelos ecoturiacutesticos implantados Esses poacutelos jaacute
apresentam infra-estrutura (estradas portos aeroportos hoteacuteis hospitais entre
outros) necessaacuteria para iniciaccedilatildeo dos programas de intervenccedilatildeo do PROECOTUR
Neste caso a infra-estrutura de cada poacutelo serve como uma preacute-condiccedilatildeo para que
os objetivos propostos se tornem concretos
Outro ponto de destaque presente nos objetivos especiacuteficos do programa
consiste no envolvimento dos agentes participantes na viabilizaccedilatildeo dos
empreendimentos de ecoturismo De acordo com os objetivos especiacuteficos natildeo se
percebe claramente os agentes que podem ser beneficiados nas operaccedilotildees e accedilotildees
dos empreendimentos turiacutesticos poreacutem em linhas gerais pode-se perceber que a
ideacuteia do desenvolvimento sustentaacutevel a partir do programa estaacute sublinhada nas
diretrizes dos investimentos financeiros na regiatildeo No que diz respeito a essa ideacuteia
o PROECOTUR estaacute dividido em uma fase de preacute-investimentos na qual eacute feito um
diagnoacutestico das ofertas turiacutesticas a serem desenvolvidas e em uma fase de
investimentos na qual os programas de intervenccedilotildees econocircmico-espaciais satildeo
efetivamente executados garantidos sobretudo na criaccedilatildeo dos poacutelos de ecoturismo
da regiatildeo
Conforme essa estrutura o PROECOTUR apresenta-se como um documento
de cunho oficial criado pelo Estado na tentativa de viabilizar o desenvolvimento de
aacutereas com problemas econocircmicos e sociais colocando a Amazocircnia como prioritaacuteria
65
para o desenvolvimento sustentaacutevel O turismo mais uma vez aparece como uma
atividade capaz de solucionar dificuldades soacutecio-econocircmicas
Outro estudo sobre turismo no Brasil foi finalizado em 2002 o PNMT15 Este
programa tinha como intenccedilatildeo uma maior dinamizaccedilatildeo da atividade turiacutestica a partir
de diretrizes nacionais na qual o municiacutepio era a escala de atuaccedilatildeo da atividade
turiacutestica Neste enfoque a capacitaccedilatildeo de agentes puacuteblicos e privados era a
intenccedilatildeo do programa onde os mesmos eram responsaacuteveis por serem
multiplicadores locais dando importacircncia ao turismo no desenvolvimento soacutecio-
econocircmico (PNMT 2002) Neste caso a participaccedilatildeo das comunidades na gestatildeo
de seus proacuteprios recursos tornava-se um fator fundamental (PNMT 2002)
O objetivo geral do programa era fomentar o desenvolvimento turiacutesticos dos
municiacutepios com base na sustentabilidade econocircmica social ambiental cultural e
poliacutetica (PNMT 2002 p 80) Assim a ideacuteia principal do PNMT era de descentralizar
o planejamento do turismo e principalmente suas accedilotildees Os municiacutepios seriam
responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de infra-estrutura necessaacuteria para a operacionalidade da
atividade turiacutestica
No estado do Paraacute por exemplo diversos foram os municiacutepios que foram
escolhidos para integrarem o quadro da municipalizaccedilatildeo do turismo16 entre eles
(bem como para os outros municiacutepios brasileiros) havia uma divisatildeo dos municiacutepios
turiacutesticos (MT) e municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) Os municiacutepios turiacutesticos
satildeo aqueles consolidados onde o turismo eacute efetivo Jaacute os municiacutepios com potencial
turiacutestico satildeo aqueles que possuem recursos naturais e culturais expressivos
(PNMT 2002 p 30) ou seja atraveacutes de um maior fomento por parte dos governos
locais estes municiacutepios poderiam se consolidados no trade
Entre alguns municiacutepios turiacutesticos (MT) estatildeo Abaetetuba Bacarena Beleacutem
Braganccedila Marabaacute Salinoacutepolis Santareacutem Tucuruiacute Vigia Cametaacute Outros
municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) satildeo Castanhal Colares Curuccedilaacute Monte
Alegre Paragominas Parauapebas
15 Programa Nacional de Municipalizaccedilatildeo do Turismo 16 Eram os proacuteprios municiacutepios que solicitavam entrada no PNMT Havia a solicitaccedilatildeo formal aos oacutergatildeos estaduais delegados da EMBRATUR
66
Natildeo obstante a isso para a Amazocircnia ideacuteias como PNMT deveriam ser
difundidas a partir da forccedila simboacutelica que a floresta representa ou mais
propriamente do segmento ecoturismo onde a natureza surge como o principal
atrativo para o fomento de poliacuteticas puacuteblicas fazendo com que a exuberacircncia da
natureza seja o diferencial para atraccedilatildeo de turistas
Nesse sentido a relaccedilatildeo do turista com a ideacuteia de ecoturismo faz Coelho
(1999) afirmar que tal relaccedilatildeo funda-se no princiacutepio de uma viagem de aventura que
impulsione um sentido de retorno agrave natureza natildeo tatildeo devastada pelo homem nos
grandes centros urbanos Para a autora
Ao contraacuterio do personagem de Charles Chaplin no filme Luzes da Cidade o turista que preza a natureza sente-se fascinado pela luz do dia o verde da mata a escuridatildeo ou luar na selva pela vida ao ar livre e pela comida natural (COELHO 1999 p 56 - 57)
Contudo a relaccedilatildeo entre a teoria do ecoturismo e sua praacutetica se mostra em
sua grande maioria dissonante O que pode ser verificado no discurso de agentes
interessados em investir pesadamente no setor e nas populaccedilotildees tradicionais
atingidas A ideacuteia de que o ecoturismo pode trazer justiccedila social traz agrave tona
externalidades negativas (COELHO 1999) que por sua vez geram desigualdades
sociais O discurso praacutetico de crescimento da atividade turiacutestica neste caso muda
de foco poreacutem sua composiccedilatildeo ainda permanece a mesma Sendo uma atividade
tambeacutem econocircmica o ecoturismo produz acumulaccedilatildeo de capital e geraccedilatildeo de lucro
para os grandes agentes de mercado particularizando espaccedilos e segregando a
sociedade Segundo ainda Coelho (1999)
As discrepacircncias entre teoria e praacutetica satildeo no entanto possiacuteveis de existir e podem tornar perigosas as relaccedilotildees entre sociedades locais empresas e ecoturistas Estas defasagens entre praacutetica e teoria tornam os riscos e dilemas a serem discutidos e corrigidos pelos defensores do ecoturismo ainda mais preocupantes Tais riscos satildeo atribuiacutedos agrave estreita visatildeo de natureza edificada pelos ecologistas e imitadas por empresaacuterios e alguns profissionais oportunistas do ecoturismo (o que natildeo pode ser confundido com senso de oportunidade) Estes colaboradores dos primeiros
67
desprovidos de comprometimento com a realidade e os valores culturais ora tentam mostrar uma natureza distorcida pelos siacutembolos artificialmente valorizados ou mantidos ora apresentar uma realidade agrave medida das expectativas da clientela ocultando o que haacute de fundamental na natureza visitada (COELHO 1999 p 59)
A ideacuteia de que o ecoturismo na Amazocircnia atenua os impactos ambientais
torna-se portanto fraacutegil no que diz respeito principalmente agrave sociedade ou
populaccedilatildeo residente que natildeo faz parte dos processos de decisotildees sobre as
atividades planejadas para o turismo
Figueiredo (1999) por exemplo expotildee algumas ideacuteias que para ele satildeo
equivocadas sobre o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel aplicado agrave regiatildeo
amazocircnica Para o autor a partir da grande aceitaccedilatildeo das ideacuteias provindas de que o
ecoturismo torna-se um elemento fundamental para o melhor desenvolvimento
sustentaacutevel criam-se conjuntamente mitos e com isso ideacuteias deturpadas sobre
esse modelo Entre elas a da instalaccedilatildeo de objetos espaciais de baixo custo e sua
forma de exploraccedilatildeo Para o autor essa eacute uma proposta que precisa ser revista
Mesmo sob o roacutetulo de alternativo o ecoturismo carrega consigo a loacutegica de
mercado pautada sobretudo nos ganhos da atividade
O conjunto dessas ideacuteias todavia eacute o iniacutecio de uma mudanccedila importante
dentro do cenaacuterio amazocircnico especificamente do estado do Paraacute que atraveacutes de
documentos e estudos especiacuteficos para o turismo fazem do ecoturismo uma meta a
ser buscada dentro de accedilotildees voltadas para um mercado especiacutefico desse setor com
provaacuteveis repercussotildees soacutecio-culturais
32 O turismo no estado do Paraacute um breve balanccedilo
A atividade turiacutestica no Estado do Paraacute vem ao longo dos anos mudando seu
caraacuteter de forma consideraacutevel seja em relaccedilatildeo ao volume de turistas visitantes no
estado seja nas estrateacutegias de mercado para o alcance de novos nuacutemeros que
faccedilam crescer a atividade Mesmo antes do Plano de Desenvolvimento de Turismo
68
do Paraacute se consolidar como documento norteador das atividades turiacutesticas as
poliacuteticas de incentivo ao setor tecircm ganhado destaque nas esferas de governo a
partir de programas especiacuteficos ou entatildeo a partir de um redirecionamento das
estrateacutegias e da participaccedilatildeo do empresariado fazendo com que o produto turiacutestico
paraense tenha maior visibilidade em outros mercados
A partir de um crescimento do setor turiacutestico a busca pelo desenvolvimento
da atividade e de suas potencialidades econocircmicas tornou-se marca importante para
que o Estado pudesse criar estrateacutegias de desenvolvimento social Com isso
poliacuteticas puacuteblicas passaram a dar mais ecircnfase neste setor criando assim novas
oportunidades de decisatildeo dentro das poliacuteticas de desenvolvimento
Nesse sentido um ponto importante satildeo os dados feitos a partir de
estatiacutesticas referentes ao processo de turistificaccedilatildeo do espaccedilo paraense17 Eles
refletem o quantitativo referente ao nuacutemero de turistas visitantes tanto estrangeiros
como nacionais e o nuacutemero de hoteacuteis e suas respectivas ocupaccedilotildees de acordo com
as temporadas (alta estaccedilatildeo e baixa estaccedilatildeo) Por mais que os nuacutemeros revelem um
quadro limitado da realidade do turismo no Paraacute mostram o fluxo de pessoas e de
empresas interessadas em investir no setor e em especial no aspecto diferencial do
Paraacute que se assenta na ideacuteia do turismo de natureza
O Brasil ainda eacute considerado um destino turiacutestico pouco procurado no mundo
Paiacuteses como Franccedila EUA Espanha ainda satildeo classificados como os maiores
destinos turiacutesticos do planeta No que diz respeito agrave estrutura interna brasileira
outros estados figuram como os mais procurados como eacute o caso do Rio de Janeiro
seguido dos estados do Nordeste em especial do Estado do Cearaacute e Bahia (ABAV
2006)
No caso do Paraacute o turismo ainda natildeo se constitui como uma das atividades
mais rentaacuteveis o que lhe garante posiccedilotildees medianas no que diz respeito aos
estados do Brasil mais visitados Tal situaccedilatildeo despertou no governo do Estado uma
17 Os dados estatiacutesticos aqui apresentados referem-se especificamente aos levantamentos feitos a partir de 1995 ano que se iniciou o governo de Almir Gabriel e que se estendeu ateacute 2002 (reeleiccedilatildeo) O quadro poliacutetico do governo natildeo se alterou com a sucessatildeo feita pelo entatildeo governo Simatildeo Jatene Neste sentido as estrateacutegias de mercado ora pensadas pelo oacutergatildeo de turismo do Estado - PARATUR tambeacutem natildeo se alteraram neste periacuteodo o que faz com que todas as informaccedilotildees e anaacutelises possam ser entendidas a partir do periacuteodo especificado
69
necessidade de investir mais no setor a fim de motivar um maior nuacutemero de
visitantes estrangeiros e nacionais Nesse sentido o que se percebe eacute uma entrada
gradual de pessoas no Estado ao longo dos uacuteltimos dez anos Alguns dados
estatiacutesticos mostram a relaccedilatildeo entre os produtos ofertados e o nuacutemero de pessoas
visitantes Os indicadores de turismo do Paraacute revelam o fluxo de turistas no Estado
no periacuteodo de um ano Os nuacutemeros presentes mostram de forma organizada
iacutendices de atividades que estatildeo relacionadas a um maior ou menor nuacutemero de
turistas no Paraacute
De acordo com o relatoacuterio estatiacutestico do governo18 em 2004 por exemplo a
oferta hoteleira do Estado teve um acreacutescimo em relaccedilatildeo aos outros anos anteriores
Em 2003 era de 68 jaacute no ano seguinte essa taxa subiu para 97 (PARAacute 2004)
representando uma maior solidificaccedilatildeo do setor A presenccedila de um maior nuacutemero de
hoteacuteis representa por sua vez um aumento de disponibilidade de leitos para que
turistas possam ter uma maior acomodaccedilatildeo Poreacutem ainda persiste um maior
nuacutemero de hoteacuteis na capital pelo fato de haver uma rede de infra-estrutura mais
adequada e de maior facilidade para o traslado do turista
Tomando como base o fluxo de visitantes estrangeiros o Estado apresenta
uma oscilaccedilatildeo entre os seus destinos o que natildeo garante uma uniformidade entre os
visitantes de diversas nacionalidades como mostra a tabela 1 a partir de dados
fornecidos pela PARATUR do ano de 2004
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003- 2004
P A Iacute S E S
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 03
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 04
VARIACcedilAtildeO
ESTADOS UNIDOS
FRANCcedilA
3248
3227
2785
3811
-1425
1810
18 Elaborado e executado pela PARATUR
70
GUIANA FRANCESA
ALEMANHA
JAPAtildeO
PORTUGAL
ITAacuteLIA
INGLATERRA
SURINAME
ESPANHA
HOLANDA
ARGENTINA
CANADAacute
AUSTRIA
CHILE
BELGICA
BOLIacuteVIA
OUTROS
-
1720
1380
913
1274
701
531
743
1083
531
637
-
955
361
-
2527
49
1417
1124
880
1661
831
977
1173
977
586
1124
244
1319
147
244
3323
-
-1762
-1855
-361
3038
1854
8399
5787
-979
1036
7645
-
3812
-5928
-
3150
T O T A L 21232 22672 678
FONTE Adaptado de PARATUR (2004 p32)
Como se pode perceber na tabela acima natildeo existe uma uniformidade entre
o nuacutemero de visitantes Paiacuteses como os EUA mostram um decreacutescimo de -14 25
Jaacute outros paiacuteses desenvolvidos como a Franccedila mostram uma presenccedila maior no
intervalo considerado elevando o fluxo migratoacuterio para 1810 Apesar de em
nuacutemeros absolutos a Itaacutelia natildeo superar os outros paiacuteses supracitados o seu
mercado emissor em relaccedilatildeo ao Paraacute tem uma variaccedilatildeo positiva de 3038 Essas
variaccedilotildees ainda se comportam de forma reduzida se comparadas a outros centros
turiacutesticos do paiacutes e ainda satildeo incipientes se comparados a outros centros mundiais
71
Outra questatildeo importante que deve ser avaliada diz respeito agrave sazonalidade
que marca as atividades turiacutesticas no Paraacute Por mais que essa situaccedilatildeo venha
mudando ao longo dos anos o Estado ainda vive um turismo de datas festivas
como eacute o caso do mecircs de outubro com a festividade religiosa do Ciacuterio de Nazareacute
Festa essa que assume atualmente um caraacuteter muito mais turiacutestico do que
propriamente religioso
A sazonalidade torna-se um entrave para o crescimento da atividade turiacutestica
no Paraacute visto que essa condiccedilatildeo ainda se manifesta em outros poacutelos de turismo do
Estado que congregam tambeacutem outras manifestaccedilotildees culturais e naturais como
por exemplo a festa do Saireacute em Santareacutem (que ocorre no mecircs de setembro no poacutelo
Tapajoacutes) o periacuteodo do festival da pesca esportiva em Tucuruiacute (poacutelo Araguaia -
Tocantins) e ainda o turismo de veraneio em Salinoacutepolis (o fluxo maior de pessoas
se daacute no mecircs de julho - poacutelo Amazocircnia Atlacircntica) Dessa forma tomando como base
a condiccedilatildeo de sazonalidade no estado a tabela 2 abaixo revela em nuacutemeros a
quantidade de leitos dos hoteacuteis ocupados na condiccedilatildeo de pernoite nos anos de
2002 2003 e 2004
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados do estado do Paraacute - 2002 2003 e 2004
MEcircS
2002
2003
2004
JANEIRO
32655
36652
38047
FEVEREIRO
30423
35783
40088
MARCcedilO
39811
36854
45912
ABRIL
38421
38724
43956
MAIO
41016
40326
47772
JUNHO
34663
36274
51354
72
JULHO
41918
42600
46168
AGOSTO
44162
40927
57209
SETEMBRO
40878
43364
50354
OUTUBRO
41309
47715
61215
NOVEMBRO
40653
45739
56851
DEZEMBRO
34105
35751
46227
TOTAL
460014
480709
585153
FONTE PARATUR (2004 p 26)
Como se percebe apesar de existir um acreacutescimo no fluxo de pessoas ao
longo dos anos ainda persiste uma concentraccedilatildeo em um periacuteodo mais especiacutefico do
ano devido agraves peculiaridades que esses meses proporcionam ao turista interno e
externo A sazonalidade turiacutestica no Paraacute portanto torna-se um fator importante
para se entender a concentraccedilatildeo espacial de pessoas visitantes Em outros
momentos tais lugares natildeo vivenciam um ritmo de circulaccedilatildeo de pessoas
semelhante aos meses em que o turismo eacute predominante ocasionando ausecircncia em
massa das pessoas desses lugares afetando por sua vez a economia relacionada
ao turismo nas cidades
Um outro fator importante a ser percebido diz respeito agrave acessibilidade ou
seja a forma pela qual o turista chega ao Estado do Paraacute Neste caso os nuacutemeros
apesar de refletirem uma parcela da realidade mostram que o meio de transporte
mais utilizado eacute o aviatildeo (transporte aeacutereo) A distacircncia do Paraacute em relaccedilatildeo aos
centros emissores do paiacutes torna-se um indicativo para que o fluxo de passageiros
que chegam por via aeacuterea seja ainda maior comparado a outros meios de
transporte como ocircnibus ou carro Os dados da PARATUR (2004) revelam esse
comparativo
73
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0
A v iatilde o
A u to m oacute v e l
O n ib u s
N a v io
N atilde o E s p e c
T u r is ta s b r a s ile ir o s e o tr a n s p o r te u t i l iz a d o p a r a c h e g a r a o E s ta d o
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 2004
RESIDEcircNCIA
PERMANEN
AVIAtildeO
CAR
OcircNIBUS
NAVIO
NESP
TOTAL
BRASIL 107675
575
14565
78 6242 33 3815 20
54965
294 187261
EXTERIOR 15294 674
537 24 147 06 1124 49
5570 246 22672
TOTAL 122969
586
15102
72 6389 30 4939 24
60535
288
209933
FONTE PARATUR (2004)
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao
Estado do Paraacute
FONTE PARATUR (2004)
O transporte aeacutereo eacute caro o fluxo de pessoas que visitam o Paraacute natildeo eacute tatildeo
expressivo Por outro lado as estradas que datildeo acesso aos mais distantes lugares
do territoacuterio (pontos de turismo) encontram-se em estado de maacute conservaccedilatildeo
necessitando de reparos o que impossibilita um maior fluxo interno de turismo no
estado Sendo assim o aviatildeo ainda se torna o meio de locomoccedilatildeo mais procurado
poreacutem com valores de mercado que inviabilizam uma maior frequumlecircncia de turistas
74
No tocante agrave ocupaccedilatildeo de empregos os dados indicam um acreacutescimo dos
mesmos nas atividades relacionadas ao turismo Em 1999 a criaccedilatildeo de empregos
diretos correspondia a um universo de 14605 postos de trabalhos (PARAacute 2004) Jaacute
no ano seguinte 2000 este nuacutemero altera-se para 16340 Em escala exponencial
esse nuacutemero chega em 2002 num patamar de 17841 empregos diretos Como os
dados oficiais do governo mostram uma relaccedilatildeo em que a cada um emprego direto
formado existem trecircs indiretos (OMT apud PARAacute 2004) o total de empregos
gerados em 2002 concentra-se em 71364 postos de trabalhos (PARAacute 2004)
Percebe-se portanto que os dados estatiacutesticos natildeo revelam os tipos de trabalhos
gerados pela crescente demanda de turismo no Estado ou ainda sua qualidade
fazendo com que se gerem duacutevidas sobre a relaccedilatildeo turismo e geraccedilatildeo de emprego
Por outro lado essa crescente demanda do turismo no Estado estaacute alicerccedilada
em uma maior divulgaccedilatildeo do setor em outros mercados emissores fazendo com que
o produto paraense possa ser mais percebido em outros lugares do Brasil e do
mundo Nesse sentido o marketing torna-se uma ferramenta importante para se
entender a promoccedilatildeo desses lugares ou espaccedilos turistificados que chamam a
atenccedilatildeo do turista
Nielsen (2002) faz uma interessante anaacutelise a respeito das atividades
relacionadas ao marketing Para o autor as informaccedilotildees assumem dois caminhos
diferentes e complementares a informaccedilatildeo que depende de quem fornece e a
informaccedilatildeo que depende de quem recebe Estabelece-se assim uma rede de
informaccedilotildees que pode ser fluida se a informaccedilatildeo no seu transcurso for bem
direcionada ou natildeo fluida se for o contraacuterio Nesse caso em primeiro lugar a
informaccedilatildeo de quem gera normalmente eacute atribuiacuteda aos oacutergatildeos e agecircncias de
turismo que compotildeem esse sistema como as agecircncias de viagens operadoras e o
proacuteprio Estado quando assume este papel de divulgador das informaccedilotildees de seu
produto turiacutestico
As informaccedilotildees geradas pelo marketing satildeo cruciais pois envolvem motivos
legais de seguranccedila e motivos que possam gerar lucros Quando se tem uma
informaccedilatildeo por motivos comerciais eacute necessaacuterio saber o potencial do
comportamento do turista em relaccedilatildeo agrave busca desses dados (NIELSEN 2002)
sendo essa forma a que possibilita uma melhor interaccedilatildeo entre quem fornece a
75
informaccedilatildeo e quem a recebe Assim sendo para o autor os oacutergatildeos que tomam
conta desse serviccedilo devem estar munidos de potencial para que natildeo surjam grandes
problemas quanto agrave promoccedilatildeo de eventos entre outros serviccedilos ligados ao turismo
O autor ainda chama a atenccedilatildeo para a clareza com que essas informaccedilotildees
satildeo repassadas Para Nielsen (2002) para que isso ocorra com maior satisfaccedilatildeo eacute
preciso que haja objetividade no momento de informar um produto turiacutestico Para o
autor
[] Um pouco menos de apresentaccedilatildeo e mais de discussatildeo sobre vendas faz com que o cliente note o benefiacutecio percebido em continuar a ouvir o representante de vendas e assim natildeo ignorar a mensagem (NIELSEN 2002 p 81)
Diante disso as informaccedilotildees que concentram generalidades podem gerar
impactos negativos sobre os turistas causando problemas de relacionamento entre
o turista e os lugares Para o autor portanto o marketing deve estar fundamentado
numa comunicaccedilatildeo eficiente e proporcionar o melhor serviccedilo turiacutestico possiacutevel
garantindo assim uma base econocircmica soacutelida e uma tomada de decisotildees concisa
Muitos desses elementos apresentados por Nielsen (2002) apesar de
estarem relacionados aos aspectos comerciais e de serviccedilos do marketing revelam
elementos importantes para se entender a loacutegica de construccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos
lugares que tecircm potenciais turiacutesticos Tomando como base as divulgaccedilotildees feitas
pela PARATUR a fim de que possa promover o produto turiacutestico paraense as
informaccedilotildees geradas sempre procuram mostrar o lado bom para o turista a fim de
proporcionar um ambiente de bem-estar no qual o turista ao vir para o Estado do
Paraacute possa se sentir bem e aproveitar sua estada Por outro lado os aspectos
negativos como pobreza urbana ou desigualdades de um modo geral natildeo se
constituem elementos nas propagandas de Estado
No que diz respeito aos folhetos as informaccedilotildees geradas estatildeo pautadas na
criaccedilatildeo de cenaacuterios paradisiacuteacos onde o espaccedilo reduz-se agrave pequenas imagens
Aleacutem disso os conteuacutedos das informaccedilotildees vislumbram uma situaccedilatildeo de competiccedilatildeo
76
com outros lugares do Brasil que tecircm potencialidades turiacutesticas enfatizando suas
peculiaridades A companhia de turismo do Estado tem se empenhado em divulgar o
Paraacute dessa forma Em um folheto de propaganda destinado aos turistas franceses
por exemplo (uma das maiores demandas de mercados emissores para a regiatildeo) as
informaccedilotildees estatildeo associadas agrave importacircncia e dimensatildeo da floresta aliado a um
conforto que eacute encontrado na cidade grande no caso a capital Beleacutem
Paraacute a obra-prima da Amazocircnia No extremo Norte do Brasil em plena Amazocircnia o estado do Paraacute reserva ao visitante diferentes paisagens da floresta virgem e fechada agrave amplidatildeo das praias oceacircnicas Do clima quente uacutemido e ensolarado agraves chuvas refrescantes e agrave aacutegua abundante dos igarapeacutes lagos cachoeiras praias de mar e de rios afluentes do Amazonas e Tocantins Suas rotas satildeo diversificadas coloridas cheias de ricas e variadas manifestaccedilotildees culturais temperadas com uma culinaacuteria baseada na extraordinaacuteria diversidade de fauna e flora amazocircnicas O Paraacute oferece uma experiecircncia uacutenica conhecer a floresta tropical sem se deixar de lado o conforto da civilizaccedilatildeo (PARAacute p 3 sd)
Para que haja portanto um enriquecimento do cenaacuterio espacial criado pelas
propagandas de marketing a necessidade de impor uma condiccedilatildeo uacutenica (PARAacute
sd) faz com que se enalteccedilam fragmentos do territoacuterio com o propoacutesito de que se
possa lanccedilar ao mercado uma imagem positiva a respeito do produto turiacutestico
paraense
Para Coelho (1999) quando o turismo faz referecircncias agraves peculiaridades da
regiatildeo em especial do Estado do Paraacute proporciona um distanciamento entre as
belezas cecircnicas que satildeo encontradas nos pontos turiacutesticos e as sociedades locais
que estatildeo situadas nesses lugares Quando as comunidades ou sociedades locais
fazem parte da propaganda e do marketing do turismo estes sujeitos aparecem
como mitificados (COELHO 1999 p 69) Nesse sentido satildeo tratados apenas
como meros habitantes caracterizando a distacircncia desses indiviacuteduos de seu
entorno Para a autora a comunidade representa uma visatildeo fragmentada onde se
fala de uma parcela sem se importar com sua inserccedilatildeo num conjunto de sociedade
local e regional (COELHO 1999 p 69)
77
Em um outro tipo de informaccedilatildeo o relatoacuterio de atividades de turismo do
Estado tambeacutem eacute apresentado o crescimento da atividade e como as atividades
estatildeo proporcionando uma mudanccedila na poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo Segundo
a PARATUR (2004) em 2004 o nuacutemero de visitantes alcanccedilou a marca histoacuterica de
meio milhatildeo de turistas o que possibilitou a geraccedilatildeo de mais de cinco mil empregos
diretos e indiretos No que diz respeito agrave movimentaccedilatildeo financeira 100 milhotildees de
doacutelares circularam no Estado (PARAacute 2004) Esse resultado reflete segundo o
oacutergatildeo a firme poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo desenvolvida pelo Governo do
Estado atraveacutes de investimentos diretos e de uma agressiva poliacutetica de marketing
(PARAacute 2004 p 3) Percebe-se assim que a divulgaccedilatildeo de aspectos que
demonstrem grandeza ou crescimento constitui-se como uma estrateacutegia do Estado
ocultando com isso os possiacuteveis conflitos e interesses que envolvem os agentes
que fazem parte do trade turiacutestico Tal estrateacutegia eacute muito comum nas accedilotildees que
envolvem marketing e promoccedilatildeo de produtos
O marketing para o Estado do Paraacute pode ser caracterizado como uma
ferramenta de promoccedilatildeo do turismo em outros lugares apropriando-se de imagens
que retratam os principais siacutembolos da cultura e natureza paraenses ao mesmo
tempo em que esconde a dinacircmica soacutecio-espacial marcada por conflitos e
desigualdades Esse contexto torna-se portanto conveniente para que os produtos
turiacutesticos possam adentrar em uma escala de competitividade de novos mercados
garantidores de demanda turiacutestica
33 A importacircncia da atividade turiacutestica no Novo Paraacute
Em 1995 a partir da posse do governador Almir Gabriel tem-se o iniacutecio do
programa de governo Novo Paraacute que implanta uma nova forma de gestatildeo
governamental baseada nas atividades estrateacutegicas de governo ou chamado de
planejamento estrateacutegico Nesse tipo de planejamento a esfera estatal passa por
modificaccedilotildees no que se refere agrave gestatildeo Essa situaccedilatildeo eacute principalmente perceptiacutevel
quando a administraccedilatildeo de um governo eacute voltada para uma inserccedilatildeo no mercado
como uma espeacutecie de funccedilatildeo primordial e mantenedora de uma boa administraccedilatildeo
78
O programa Novo Paraacute pode ser caracterizado pelo tripeacute agroinduacutestria
mineraccedilatildeo e turismo (NOVO PARAacute 2002) sendo estes vetores da transformaccedilatildeo
econocircmica e social A dimensatildeo do programa reflete-se nas reestruturaccedilotildees
espaciais que o governo implementa principalmente no que se refere agrave infra-
estrutura Tal perspectiva eacute um dos traccedilos desse modelo de gestatildeo governamental
que impotildee ao Estado uma postura do tipo empresariamento
A concepccedilatildeo desse modelo implica portanto a estruturaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento cuja unidade se construiraacute a partir da diversidade das partes que requer accedilotildees diferenciadas em cada espaccedilo considerado Isso impotildee sem duacutevida poliacuteticas puacuteblicas cada vez mais voltadas para o fortalecimento de espaccedilos sub-regionais ou seja das municipalidades e dos consoacutercios municipais reconhecendo que eacute na sua cidade na sua vila que as pessoas se defrontam com seus problemas (PARAacute 2002 p 2)
Os caminhos que supostamente levam ao desenvolvimento do Estado usam
um novo gerenciamento (ARANTES 2002) para dar respostas competitivas aos
desafios que a globalizaccedilatildeo impotildee aos governos tanto numa escala micro como
numa escala macro espacial Nesse sentido a ideacuteia parte de um planejamento
estrateacutegico que ratifique a competiccedilatildeo entre os lugares desencadeando em
investimentos de capital tecnologia atraccedilatildeo de novas induacutestrias entre outros
estipulando assim uma nova realidade para o mercado
No que se refere ao turismo o programa Novo Paraacute apresenta formulaccedilotildees
consideraacuteveis no que diz respeito aos seus objetivos e diretrizes como
fortalecimento de sua instituiccedilatildeo representativa a PARATUR Sendo assim a
atividade turiacutestica no Paraacute passa a ser mais divulgada em outros centros emissores
apoiada sobretudo nas accedilotildees de marketing que a instituiccedilatildeo desenvolve
Entre outras accedilotildees importantes que se destacam no Projeto estaacute o
fortalecimento do turismo nos municiacutepios do interior do Estado atraveacutes do
planejamento e coordenaccedilatildeo por parte do governo Dessa forma a atividade do
turismo comeccedila a se descentralizar ocasionado em gestatildeo municipalizada Nesse
sentido os prefeitos das cidades do interior do estado passam a incorporar o turismo
como um dos vetores de desenvolvimento de suas cidades Para isso a maacutequina
79
administrativa faz um rearranjo institucional para se adequar agrave loacutegica do turismo
tornando-o um empreendimento firme e competitivo
A questatildeo do fortalecimento institucional do turismo no interior do territoacuterio
paraense eacute uma das principais estrateacutegias espaciais desse modelo de gestatildeo o qual
eacute materializado no Plano de Desenvolvimento do Turismo (PDT-PA) atraveacutes da
criaccedilatildeo dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo As cidades que reuacutenem as
melhores infra-estruturas urbanas satildeo consideradas cidades-sedes desses poacutelos
Atraveacutes desse sistema pretende-se em termos gerais fazer com que as cidades
mais proacuteximas dos poacutelos possam adquirir o crescimento da atividade por meio de
uma espeacutecie de irradiaccedilatildeo As administraccedilotildees locais a partir dessa estrutura devem
realizar atividades que fomentem o turismo ao mesmo tempo em que devem
estimular a entrada de capitais privados interessados em investir no lugar
Uma outra dimensatildeo presente nas poliacuteticas de turismo visiacuteveis no projeto estaacute
assentada na garantia da expansatildeo do ecoturismo Este por sinal torna-se um item
importante no chamado turismo alternativo Nesse caso as accedilotildees previstas no
PROECOTUR satildeo assimiladas nesta fase do Novo Paraacute principalmente no que se
refere ao uso da Floresta Amazocircnica A ideacuteia de natureza vincula-se ao sustentaacutevel
da regiatildeo ou ainda de seu uso com baixa degradaccedilatildeo ambiental Este eacute um dos
pontos que o programa defende para o turismo no estado Coelho (1999) chama a
atenccedilatildeo para a ideacuteia de que o ecoturismo ao mesmo tempo em que promove essa
espeacutecie de retorno agrave natureza pode natildeo garantir a viabilidade econocircmica para os
agentes sociais ou comunidades tradicionais envolvidos nesse processo A autora
ainda acrescenta que para natildeo haver essa frustraccedilatildeo para as sociedades
tradicionais eacute necessaacuterio que se tenha uma
() visatildeo integrada de natureza e sociedade da adoccedilatildeo de uma concepccedilatildeo de gestatildeo democraacutetica (por definiccedilatildeo) compartilhada consciente e responsaacutevel da atividade envolvendo sempre diferentes atores sociais Depende tambeacutem do entendimento por parte dos diferentes atores sociais envolvidos de que natildeo lhes interessa qualquer ecoturismo mas um ecoturismo modelo (diferente dos modelos convencionais voltados para o turismo tradicional de massa ou para o turismo puramente comercial) onde se busca permanentemente a conciliaccedilatildeo entre teoria e praacutetica (COELHO 1999 p 70)
80
Outro tipo de vetor importante pauta-se na ideacuteia do tratamento diferencial e o
apoio financeiro para a iniciativa privada interessada em investir no setor Com esse
tipo de apoio o Governo do Estado promove uma maior abertura ao setor privado no
que tange aos investimentos do turismo Nesse sentido o nuacutemero de empresas eacute
ainda maior devido aos incentivos fiscais gerados pelo governo possibilitando
tambeacutem uma nova relaccedilatildeo setor puacuteblico-privado
Aliada a esta perspectiva outra caracteriacutestica complementar eacute a
intensificaccedilatildeo de produtos turiacutesticos paraenses junto aos mercados nacional e
internacional Para isto a realizaccedilatildeo de roteiros turiacutesticos (NOVO PARAacute 2002)
torna-se ferramenta fundamental para a consolidaccedilatildeo desse vetor
Atraveacutes da realizaccedilatildeo e implantaccedilatildeo dos roteiros turiacutesticos o Projeto Novo
Paraacute intensifica ainda mais os eventos na aacuterea do turismo alternativo
principalmente aqueles ligados ao atrativo da floresta Com os roteiros os espaccedilos
de turismos no estado tornam-se ainda mais especiacuteficos exercendo dessa forma
um poder de influecircncia nos turistas ao visitarem os lugares escolhidos
antecipadamente pelas operadoras e agecircncias do trade
Para Fonseca (2005) por exemplo esses estiacutemulos que proveacutem das novas
estrateacutegias de planejamento na verdade satildeo condicionantes de novas
competitividades (FONSECA 2005) O setor turiacutestico natildeo foge agrave regra dos mercados
econocircmicos e por isso necessita fazer com que haja uma maior circulaccedilatildeo de capital
no espaccedilo O ambiente da competitividade por sua vez eacute influenciado diretamente
pelo poder puacuteblico atraveacutes da criaccedilatildeo de externalidades positivas para que possa
promover maior competitividade ao produto turiacutestico E como exemplo disso no
Programa Novo Paraacute essa realidade se faz presente A possibilidade de geraccedilatildeo
de capital extra-local (FONSECA 2005) eacute um estiacutemulo para que haja uma
competiccedilatildeo com os agentes econocircmicos locais gerando dessa forma conflitos por
mercados Por mais que um dos vetores do Programa seja o de estimular o turismo
comunitaacuterio (NOVO PARAacute 2002) a competiccedilatildeo com a iniciativa privada estrangeira
torna-se desleal
Outro ponto forte dentro dessa poliacutetica eacute o da criaccedilatildeo de empregos no setor
de turismo Para Fonseca (2005) esse setor de acordo com as poliacuteticas de turismo
81
passa por constante mudanccedila estrutural A reorganizaccedilatildeo do processo de trabalho
atraveacutes do sistema just in time (TAVARES apud FONSECA 2005) eacute uma das bases
de transformaccedilatildeo do setor de trabalho turiacutestico Neste processo a otimizaccedilatildeo do
trabalho coloca de um lado uma maior especializaccedilatildeo do trabalho poreacutem de outro
estimula a sua precarizaccedilatildeo A autora indica seis consequumlecircncias desse processo
-Grande nuacutemero de trabalhadores temporaacuterios -Elevado percentual de matildeo-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual nos cargos superiores -Elevado nuacutemero de trabalhadores clandestinos (nos paiacuteses desenvolvidos) -Baixa remuneraccedilatildeo se comparados a outros segmentos econocircmicos -Elevado nuacutemero de horas de trabalho -Baixo grau de sindicalizaccedilatildeo (FONSECA 2005 p 148)
Dentro dessas caracteriacutesticas apontadas por Fonseca (2005) Harvey (2005)
afirma que esses processos de movimentaccedilatildeo do capital pelo espaccedilo podem ser
beneacuteficos aos capitalistas como por exemplo a ideacuteia que Fonseca (2005) cita sobre
o elevado nuacutemero de horas de trabalho Poreacutem ainda de acordo com Harvey (2005)
no que se refere agrave qualidade de trabalho tal caracteriacutestica eacute socialmente negativa
Mesmo assim Harvey ressalta que essa condiccedilatildeo eacute importante para se manter uma
produccedilatildeo da organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2005 2005 p 145) Neste caso
questotildees referentes ao emprego por exemplo de acordo com Fonseca (2005) natildeo
fogem agrave regra quando o assunto eacute o aumento da produtividade por parte do capital
Em relaccedilatildeo ao Estado do Paraacute e ainda no que se refere agrave questatildeo de
geraccedilatildeo de emprego no estado a partir da atividade do turismo a ideacuteia do emprego
torna-se algo problemaacutetico principalmente porque o Paraacute ainda estaacute em processo
de mudanccedilas lentas quando o assunto eacute turismo Com isso essa situaccedilatildeo provoca
por sua vez geraccedilotildees de empregos do tipo sazonal ou seja situaccedilotildees em que a
matildeo-de-obra condizente agrave atividade turiacutestica no Paraacute eacute verificada ou se manifesta
de periacuteodos em periacuteodos fazendo com que propagandas sobre a geraccedilatildeo de
emprego e renda veiculados pelo Estado mereccedilam um cuidado maior ao serem
analisadas pois de um lado o planejamento se volta para a pretensatildeo de criar
empregos no setor do turismo por outro a condiccedilatildeo social se comporta de uma
forma instaacutevel quanto aos empregos e condiccedilotildees de trabalho
82
4 O PDT-PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE
DESENVOLVIMENTO
83
41 Diretrizes e estrutura do PDT-PA
A construccedilatildeo de um plano de turismo sempre estaacute cercada de motivos e
interesses os quais se relacionam a uma intervenccedilatildeo espacial Natildeo obstante
pensar em uma forma de plano eacute pensar diretamente nessa intervenccedilatildeo mediada
por interesses de agentes que a produzem Nesse sentido o resultado de sua
construccedilatildeo eacute necessariamente o reflexo de decisotildees e concepccedilotildees arroladas no
momento de sua construccedilatildeo Com isso um plano de turismo natildeo se apresenta de
forma neutra assim como suas accedilotildees e programas decorrentes de sua elaboraccedilatildeo
o que nos leva a entender que qualquer estrateacutegia de desenvolvimento estaacute
subjacente a valores poliacuteticos (SOUZA 2000) onde se inclui tambeacutem interesses de
agentes envolvidos daiacute a pertinecircncia de uma natildeo neutralidade nos planos de
desenvolvimento de turismo
Os modelos de planos de turismos natildeo se mantiveram os mesmos ao longo
dos anos sempre precisaram de transformaccedilotildees e adaptaccedilotildees para que pudessem
atender agraves novas demandas de mercado A tocircnica do discurso mantida foi a de que
a partir da construccedilatildeo de um plano de turismo o desenvolvimento seria mais faacutecil E
neste sentido o governo no transcorrer dos tempos foi e ainda eacute o maior
incentivador dessa praacutetica garantindo-lhe sua regulamentaccedilatildeo e ateacute mesmo a
construccedilatildeo de uma infra-estrutura capaz de atender agraves novas exigecircncias do
mercado
Neste caso o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Paraacute natildeo
foge agrave regra quando o assunto eacute a transformaccedilatildeo do espaccedilo paraense a partir das
praacuteticas turiacutesticas Aleacutem de garantir um maior fluxo da economia a partir do turismo
ele legitima a presenccedila de agentes interessados em investir racionalmente na
tomada de decisotildees que interessem ao aumento dessa atividade no espaccedilo
paraense Eacute de fato no PDT-PA que estaacute contida toda a argumentaccedilatildeo do Governo
em prol da atividade facilitando assim sua promoccedilatildeo
Estruturalmente o PDT-PA estaacute dividido em trecircs grandes seccedilotildees que
correspondem aos momentos distintos de sua elaboraccedilatildeo
84
A primeira grande seccedilatildeo diz respeito ao diagnoacutestico feito pela empresa de
consultoria contratada para a elaboraccedilatildeo do plano19
Na introduccedilatildeo do plano haacute uma justificativa referente agrave ideacuteia do
desenvolvimento Nesta parte o interesse do Governo do Estado eacute de fazer do
documento um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentaacutevel dos
recursos disponiacuteveis na natureza paraense A cultura aqui eacute apresentada sob a
forma de recurso e adquire um valor importante no que se refere ao turismo
Segundo as proacuteprias palavras do documento
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Ainda no tocante a esta seccedilatildeo as justificativas feitas em relaccedilatildeo a assuntos
como crescimento e sustentabilidade natildeo podem ser vistas como atividades
isoladas Do contraacuterio permite-se uma maior participaccedilatildeo do Estado no que se
refere ao fomento de outros fatores cruciais para o desenvolvimento da atividade
como infra-estrutura e planejamento integrado colocando o turismo como uma
atividade econocircmica racionalmente conduzida por um processo de planejamento
econocircmico espacial
Para que o plano de desenvolvimento do turismo pudesse ser estruturado
como tal foi necessaacuterio haver uma vinculaccedilatildeo com outro projeto antecedente
intitulado Projeto Beija-Flor 20
Ainda na introduccedilatildeo do documento os criteacuterios de construccedilatildeo do plano
aparecem como elementos que identificam sua forma de elaboraccedilatildeo como
19 A empresa referente chama-se THR Assessoria em Turismo Hotelaria e Recreaccedilatildeo O Plano teve seu momento de elaboraccedilatildeo final em outubro de 2001 20 Este Projeto foi desenvolvido no periacuteodo do segundo governo de Almir Gabriel no periacuteodo de 1999 a 2002
85
compilaccedilatildeo e anaacutelises de documentos existentes que retratam o turismo no Paraacute
folders que divulguem a imagem do Estado em outros lugares
Aleacutem disso o trabalho de campo realizado pela empresa de consultoria
estava estruturado em pesquisas e observaccedilotildees feitas em trecircs momentos distintos
No primeiro eram feitas entrevistas com turistas que chegavam a Beleacutem
atraveacutes de seus desembarques no aeroporto internacional da capital A respeito
disso natildeo eacute mencionado no documento quais tipos ou padrotildees de turistas que a
pesquisa da empresa solicita ou de onde eles vinham Outro detalhe eacute que outros
lugares de chegada a Beleacutem natildeo satildeo mencionados no plano como eacute o caso do
Terminal Rodoviaacuterio de Beleacutem Hildegardo da Silva Nunes e dos portos fluviais
situados ao longo da capital Para a empresa responsaacutevel a finalidade da pesquisa
era a de identificar como atrair fluxos turiacutesticos maiores para o Estado (PARAacute
2001 p 6) tendo como base o fluxo de pessoas que desembarcassem pelo
aeroporto de Beleacutem
Ainda dentro da pesquisa realizada alguns elementos se destacam como a)
o motivo de viagem natildeo fosse de negoacutecios b) houvesse pelo menos um pernoite no
estado c) estivesse dentro da composiccedilatildeo previamente estruturada da amostra
(PARAacute 2001 p 6)
Em um segundo momento da pesquisa sua realizaccedilatildeo estava pautada nos
maiores centros operadores e emissivos de turismo do Brasil ou seja Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais A mesma foi baseada em entrevistas pessoais com
os proprietaacuterios eou diretores das operadoras buscou-se identificar as principais
questotildees relacionadas com a promoccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos
paraenses (PARAacute 2001 p 7) Com isso a intenccedilatildeo principal da empresa
contratada para elaborar o plano era a de identificar o que falta para o Paraacute ser um
bom destino turiacutestico ou no que se refere ao ambiente de mercado o que falta para
o estado ser um forte concorrente no trade turiacutestico nacional Nesta ocasiatildeo o
principal criteacuterio de escolha esteve ligado agraves empresas que jaacute trabalhavam com o
produto turiacutestico paraense e com isso perceber quais dificuldades foram apontadas
por elas e quais soluccedilotildees poderiam ser apresentadas no que tange ao aumento de
volume de turistas para o Estado
86
Em um terceiro momento a escala internacional foi levada em consideraccedilatildeo
no que diz respeito agraves pesquisas de mercado Neste ponto a empresa responsaacutevel
explica em linhas gerais que o mercado internacional de turismo no Paraacute eacute
fragilizado
Partindo do pressuposto de que o turismo internacional praticamente inexiste no Paraacute a pesquisa procurou detalhar o mercado potencial existente nos principais paiacuteses do Mercosul da Europa e nos EUA A pesquisa identificou o perfil do consumidor os produtos mais demandados a forma de comercializaccedilatildeo etc (PARAacute 2001 p 7)
Essas anaacutelises portanto estatildeo desenvolvidas no transcorrer da elaboraccedilatildeo
do plano de turismo o que eacute demonstrado quando eacute feita a apreciaccedilatildeo sobre a
situaccedilatildeo do mercado externo de turismo paraense Tal estrateacutegia de mercado estaacute
pautada numa abordagem do tipo transescalar como lembra Vainer (2002) na qual
os mercados regionais locais e internacionais satildeo privilegiados
Para a empresa responsaacutevel a importacircncia da pesquisa se resumia mais a
um caraacuteter propositivo do que investigativo (PARAacute 2001) procurando saber quais
as deficiecircncias do estado no que concerne o avanccedilo do turismo Neste sentido a
intenccedilatildeo da empresa juntamente com o governo do Paraacute era de perceber quais os
problemas para propor soluccedilotildees estrateacutegias que mudassem o quadro de uma baixa
inserccedilatildeo do mercado turiacutestico paraense nas escalas nacional e internacional Neste
caso A pesquisa foi mais propositiva do que investigativa Ou seja procurou
identificar o que o Paraacute necessita fazer para concorrer nestes poderosos mercados
emissores de turistas (PARAacute 2001 p 7)
No tocante agrave elaboraccedilatildeo definitiva do plano a empresa responsaacutevel procurou
divulgar o plano entre os agentes promotores do turismo no Paraacute Neste caso o
documento especifica que o plano ainda foi discutido entre profissionais do ramo
bem como o proacuteprio gabinete do governador Em outras palavras no PDT-PA a
elaboraccedilatildeo completa ficou por conta da empresa de assessoria em turismo
THR
os agentes de Estado assim como planejadores teacutecnicos e empresaacuterios Neste
87
caso outros representantes da sociedade civil ou lideranccedilas populares natildeo satildeo
citados no documento Segundo o documento
Estas estrateacutegias programas e grupo de accedilotildees foram apresentados em reuniotildees nos vaacuterios poacutelos com as lideranccedilas puacuteblicas e privadas e as mesmas passaram por um processo de aperfeiccediloamento em funccedilatildeo dos resultados obtidos nestas discussotildees Depois de incorporadas as sugestotildees advindas das reuniotildees nos poacutelos o trabalho foi rediscutido no acircmbito da Paratur da Secretaria de Produccedilatildeo e do proacuteprio Gabinete do Governador do Estado Apoacutes o Plano ter sido submetido a consenso nestas esferas o mesmo foi apresentado em um seminaacuterio para cerca de 400 empresaacuterios teacutecnicos e autoridades (PARAacute 2001 p 8)
A ideacuteia de planejamento e elaboraccedilatildeo de um documento como o PDT-PA eacute
contraacuteria agrave ideacuteia que Souza (2004) defende sobre os instrumentos de planejamento
por mais relevantes e criativos que sejam [os instrumentos de planejamento e
gestatildeo] soacute adquirem verdadeira importacircncia ao terem sua operacionalizaccedilatildeo
(regulamentaccedilatildeo) e sua implementaccedilatildeo influenciadas e controladas pelos cidadatildeos
(SOUZA 2004 p 321) Neste caso deve-se especificar qual ideacuteia de cidadatildeo que
se almeja nesse processo ou seja aquele que natildeo se reduz aos atores
hegemocircnicos de um setor econocircmico rentaacutevel como eacute o turismo Pelo contraacuterio esta
perspectiva assume um caraacuteter ainda mais amplo de participaccedilatildeo popular de todos
aqueles envolvidos neste processo de intervenccedilatildeo espacial
O plano ao privilegiar certos grupos da sociedade paraense circunscreve o
poder de decisatildeo sobre o desenvolvimento do turismo para poucos Lideranccedilas
populares ou agentes do circuito inferior da economia (SANTOS 2002) natildeo tecircm voz
nem tampouco vez no processo de construccedilatildeo de um documento como o PDT-PA
As decisotildees sobre a atividade turiacutestica no Paraacute portanto satildeo desiguais e
excludentes
A segunda seccedilatildeo intitulada Conteuacutedo do Plano apresenta um amplo
diagnoacutestico da situaccedilatildeo do turismo paraense Nesta parte do plano existem
caracteriacutesticas que satildeo associadas agrave atividade turiacutestica no estado como recursos
naturais infra-estrutura demandas e organizaccedilatildeo do oacutergatildeo responsaacutevel pela
setorizaccedilatildeo do turismo no Paraacute a PARATUR
88
Em um primeiro momento no que diz respeito agrave ideacuteia de recursos turiacutesticos
o plano oferece uma descriccedilatildeo dos elementos naturais presentes no estado como
recursos potencializaacuteveis para uma exploraccedilatildeo racionalizada por parte de agentes
que operam no setor de investimentos do turismo O documento chama atenccedilatildeo
para as ideacuteias de recursos turiacutesticos e acessibilidade Neste caso em especial o
plano toma a linguagem dos recursos naturais do estado pela forma de acesso a
eles em outros termos os lugares que apresentam uma maior facilidade de fluxos
dos turistas apresentam por conseguinte uma importacircncia a mais quanto agrave
exploraccedilatildeo Como exemplo
Ao norte do Estado (margem esquerda do Rio Amazonas na Guiana Paraense) o relevo se mostra um pouco mais acidentado o suficiente para criar rios com diversas cachoeiras e corredeiras o que se constitui em grande atrativo para turismo de aventura No extremo-norte a topografia apresenta maiores elevaccedilotildees Poreacutem as dificuldades de acesso e a presenccedila de grandes extensotildees de reservas indiacutegenas impedem que estes recursos se transformem em produtos turiacutesticos a curto prazo (PARAacute 2001 p 11 grifo nosso)
Assim sendo o interesse por espaccedilos que possibilitem uma maior
acessibilidade e que jaacute apresentem certa notoriedade torna-se um fator importante
para que haja uma facilitaccedilatildeo da entrada de investimentos turiacutesticos Neste caso os
espaccedilos selecionados e que tecircm maiores preferecircncias por investimentos externos
tecircm tendecircncia a seres dinacircmicos do ponto de vista da acumulaccedilatildeo do capital
O consumo dos lugares ou ainda de seus atrativos satildeo diferenciados de outros
espaccedilos dentro do territoacuterio paraense Exemplos como fauna flora gastronomia
cobertura vegetal patrimocircnio cultural aparecem no Plano como elementos dados
prontos a serem dinamizados e em uma outra perspectiva comercializados Sobre
isso o proacuteprio PDT-PA mostra
Contudo dispor de bons recursos natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para se constituir um destino competitivo Os recursos e atrativos podem ser usados e desfrutados Mas para isto eacute necessaacuterio que sejam acessiacuteveis que estejam minimamente equipados acondicionados e sinalizados que enfim permitam a praacutetica de atividades ordenadas e organizadas etc (PARAacute 2001 p 12)
89
Tal situaccedilatildeo tambeacutem eacute constatada pelo plano na seccedilatildeo Infra-estrutura e
equipamentos baacutesicos onde se torna presente a ideacuteia de que no estado do Paraacute a
infra-estrutura estaacute aqueacutem de dinacircmica intensa exigida pelo turismo de massa
A partir de um diagnoacutestico amplo averiguado nas principais cidades que apresentam
os recursos turiacutesticos o plano expotildee de forma clara as possibilidades de acessos
por meios de transporte como por exemplo por via terrestre fluvial e aeacuterea
A partir disso o plano exibe uma relaccedilatildeo interessante entre os meios de
transporte e as peculiaridades naturais do estado Para que haja uma maior
facilidade de acesso e fluxo turiacutestico intenso o plano mostra um tipo de comentaacuterio
contraacuterio a uma das maiores especificidades naturais do estado e da regiatildeo
amazocircnica os rios Segundo as proacuteprias palavras do PDT-PA
Os transportes se constituem em um problema dadas as dimensotildees do Estado O Paraacute conta com 4215km de rodovias asfaltadas o que para seu tamanho eacute uma extensatildeo ainda muito pequena Aleacutem disto a grande pluviosidade da regiatildeo torna a manutenccedilatildeo desta rede muito dispendiosa e vaacuterias rodovias tecircm sua trafegabilidade afetada nos periacuteodos de chuvas mais intensas (PARAacute 2001 p 16)
Nesse sentido ainda
Por esta razatildeo o transporte fluvial eacute o mais utilizado na regiatildeo amazocircnica Apesar da rede hidrograacutefica paraense ser das maiores do mundo a sinuosidade dos rios e obstaacuteculos naturais tornam as viagens fluviais demoradas o que dificulta certos segmentos de demanda que dispotildeem de pouco tempo para viagens (PARAacute 2001 p 16)
Levando em consideraccedilatildeo essa perspectiva o transporte mais adequado para
que haja um maior fluxo da atividade turiacutestica eacute o transporte aeacutereo que por sinal
dentro das perspectivas globais de transporte para o turismo de uma forma geral eacute
o tipo de transporte que mais se adapta agrave rapidez que o turismo precisa para
estabelecer os trajetos de viagens
Conforme o plano a densidade de fluxos de pessoas que visitam o Paraacute eacute
baixa caracterizando dessa forma uma natildeo equiparaccedilatildeo com outros poacutelos
90
turiacutesticos nacionais jaacute desenvolvidos Neste aspecto o plano revela a necessidade
de se ampliarem as ofertas de vocircos para a regiatildeo Como a intenccedilatildeo do plano nesta
seccedilatildeo eacute de diagnosticar os problemas a ecircnfase dada agrave questatildeo da infra-estrutura
de transportes eacute situada nos poacutelos de turismo do estado de acordo com a maior
acessibilidade que eles podem oferecer
O documento afirma a importacircncia da infra-estrutura como um dos
componentes fundamentais para que os sistemas turiacutesticos (BOULLOacuteN 2002)
possam funcionar adequadamente Em consonacircncia com o Estado a iniciativa
privada promove alteraccedilotildees no espaccedilo para que o processo de implantaccedilatildeo da infra-
estrutura possa se adequar a uma demanda turiacutestica Neste caso haacute uma tentativa
por parte do documento em imprimir um ritmo moderno da economia (BOULLOgraveN
2002) no territoacuterio paraense fazendo com que haja uma rearticulaccedilatildeo entre as
estruturas produtivas De outro modo a construccedilatildeo eou reforma das estradas bem
como de portos e principalmente aeroportos satildeo condiccedilotildees importantes para a maior
dinacircmica espacial do turismo adaptando progressivamente o estado do Paraacute a uma
feiccedilatildeo global da economia voltada para a atividade
No estado do Paraacute a situaccedilatildeo da infra-estrutura ainda eacute deficiente Neste
caso antes mesmo de atender agraves necessidades de um turismo latente as infra-
estruturas de um modo geral natildeo conseguem nem mesmo atender as demandas
gerais da populaccedilatildeo paraense em consequumlecircncia a atividade turiacutestica ainda
encontra dificuldades de se fixar no espaccedilo Voltando essa ideacuteia para as cidades
paraenses que satildeo apresentadas o plano denuncia a ineficiecircncia ou maacute
conservaccedilatildeo dos diversos segmentos de infra-estrutura no estado fazendo com que
ainda exista uma concentraccedilatildeo das atividades turiacutesticas na capital (Beleacutem) Assim
os demais poacutelos em relaccedilatildeo agrave capital tornam-se defasados segundo este criteacuterio
Essa situaccedilatildeo reflete-se tambeacutem na seccedilatildeo serviccedilos turiacutesticos do estado
Tais serviccedilos satildeo identificados principalmente por um tipo de estrutura que atende
diretamente ao mercado turiacutestico como por exemplo os hoteacuteis redes de agecircncias
de viagens e operadoras Eacute interessante salientar que a relaccedilatildeo entre a infra-
estrutura e os serviccedilos eacute direta principalmente levando-se em consideraccedilatildeo os
objetos espaciais que condicionam o estabelecimento dos serviccedilos de turismo como
estradas saneamento baacutesico rede de esgoto e seguranccedila Para que os serviccedilos
91
turiacutesticos possam ser bem efetivados no espaccedilo eacute preciso que haja um equiliacutebrio
no que se refere ao bom andamento das infra-estruturas do contraacuterio as
consequumlecircncias satildeo a de pouco movimento de turistas ou dificuldade de divulgaccedilatildeo
dos produtos turiacutesticos A este respeito o Plano enfoca o seguinte diagnoacutestico
A estrutura empresarial do setor turiacutestico paraense eacute esparsa e atomizada A maioria das empresas (hoteacuteis operadoras) satildeo de pequeno porte e de propriedade familiar movimentam salvo algumas exceccedilotildees volumes de negoacutecios reduzidos (PARAacute 2001 p 23) (sic)
Dentro de uma visatildeo de mercado o plano enfatiza que essas caracteriacutesticas
satildeo empecilhos para que haja um avanccedilo no setor por natildeo serem condizente com
avanccedilos tecnoloacutegicos e uma inserccedilatildeo mais raacutepida na rede mundial ou trade
turiacutestico freando assim a qualidade do produto Por conseguinte a condiccedilatildeo de
negatividade que os atrativos turiacutesticos passam eacute tambeacutem um fator de preocupaccedilatildeo
por parte dos agentes que investem no setor impossibilitando assim um reajuste
no setor que movimenta as accedilotildees econocircmicas (HALL 2001)
A visatildeo do plano neste caso eacute de criar uma expectativa de melhoria de
planejamento turiacutestico como lembra Hall (2001) fazendo com que os impactos
negativos diagnosticados no estado sejam suavizados perante uma reestruturaccedilatildeo
do territoacuterio mediante a implantaccedilatildeo de serviccedilos turiacutesticos de qualidade Tudo isso
com o intuito de fomentar o turismo paraense O plano mostra que as limitaccedilotildees
apresentadas pelo estado impedem o crescimento da atividade bem como de
- Impulsionar processos de inovaccedilatildeo e melhora da qualidade - Ter acesso agrave tecnologia avanccedilada - Ter acesso agraves informaccedilotildees de alta qualidade - Ter acesso a recursos humanos de bom niacutevel de capacitaccedilatildeo - Implementar foacutermulas de comercializaccedilatildeo mais eficientes (PARAacute 2001 p 24)
A medida que a concorrecircncia dos mercados turiacutesticos se acirra os governos
tendem a entrar nesse jogo para que haja uma maior atraccedilatildeo para seu produto
92
turiacutestico E eacute nesse ponto que reside a soluccedilatildeo de problemas como a infra-estrutura
e serviccedilos que estejam direcionados ao mercado do turismo haacute portanto um
reordenamento espacial voltado para atender a tal demanda A insuficiecircncia desse
setor se reflete diretamente no nuacutemero de agecircncia de turismo assim como no
nuacutemero de hoteacuteis No plano como resultado de um diagnoacutestico feito nesse setor foi
elaborado um graacutefico de diferenciaccedilatildeo das unidades hoteleiras por cada poacutelo de
turismo do Estado21
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico
Beleacutem
57
Tapajoacutes
8
Araguaia
Tocantins
15
Marajoacute
6
Xinguacute
Costa
Atlacircntica
10
4
FONTE Adaptado de PARATUR apud PARAacute (2001)
Associado ao conjunto de serviccedilos e infra-estrutura o PDT-PA enfatiza os
tipos de produtos turiacutesticos comercializados no Estado Destaque se faz para o
segmento interesse geral (PARAacute 2001) e ecoturismo visto que no Paraacute sua
divulgaccedilatildeo eacute ampla nos destinos nacionais e internacionais mais procurados
Os poacutelos quando classificados sempre trazem informaccedilotildees referentes ao
ecoturismo mantendo portanto a bandeira de divulgaccedilatildeo deste segmento
A operacionalizaccedilatildeo desses segmentos se faz atraveacutes dos pacotes turiacutesticos
que as operadoras montam e oferecem ao turista quando este chega principalmente
a Beleacutem Tais pacotes satildeo monitorados por guias e pessoas especiacuteficas da aacuterea
Para que se efetuem os pacotes a partir do ordenamento feito pelas
operadoras de turismo instaladas no estado eacute necessaacuterio que haja uma
comercializaccedilatildeo nos mercados compradores atraveacutes de sua divulgaccedilatildeo Por outro
lado este ainda se constitui um problema que o estado do Paraacute junto agrave PARATUR
21 Dados referentes agrave elaboraccedilatildeo do Plano feita em 2001
93
encontra Os mercados consumidores (uma forma geral de nomear os turistas de
outros lugares do paiacutes e do mundo) natildeo costumam associar seus tempos de lazer e
feacuterias agraves visitas feitas agrave Amazocircnia em especial ao estado do Paraacute Em geral os
destinos mais visitados continuam sendo os mais divulgados atraveacutes de um
processo de marketing e miacutedia amplo que os mesmos fazem E neste ponto se
destacam os estados da regiatildeo Nordeste do Brasil bem como estados da regiatildeo
sudeste como Rio de Janeiro e Satildeo Paulo por possuiacuterem um conjunto ou sistema
de turismo mais avanccedilado do que os da Amazocircnia paraense O graacutefico na paacutegina
seguinte elaborado pela THR mostra de forma clara essa situaccedilatildeo
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais
()22
0 10 20 30 40 50 60 70
Fortaleza
Natal
Maceioacute
Fernando de Noronha
Recife
Salvador
Pantanal
Interior de S Paulo
Chapada Diamantina
Amazocircnia
Porto Seguro
Serras Gauacutechas
Lenccediloacuteis Maranhenses
Cidades Histoacutericas Mineiras
Chapada dos Veadeiros
Serra da Canastra
Comandatuba
Serra dos Pirineus
Serra do Cipoacute
FONTE PARAacute (2001)
Nesta seccedilatildeo de diagnoacutestico do PDT-PA a postura dos consumidores ao
elegerem os espaccedilos de lazer em relaccedilatildeo aos produtos turiacutesticos paraenses
22 Curiosamente esta pesquisa feita pela THR natildeo menciona o Rio de Janeiro como uma dos principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras de turismo Mais estranho ainda eacute que a THR afirma no PDT-PA que as empresas participantes da pesquisa possuem grande tradiccedilatildeo no setor (PARAacute 2001 p 41) e por isso mesmo sendo o Rio de Janeiro um dos estados que recebe mais turistas no Brasil e no mundo sua ausecircncia enquanto destino turiacutestico em escala nacional e internacional suscita duacutevidas quanto agrave abrangecircncia da pesquisa
94
sempre associam a ideacuteia de que jaacute visitaram outros lugares ou seja os principais
destinos turiacutesticos brasileiros (como mostra o graacutefico) Neste caso a preferecircncia dos
turistas em relaccedilatildeo ao Paraacute deixa-lhe como uma segunda opccedilatildeo na preferecircncia
desses visitantes Esse perfil de turista eacute apontado pelo Plano da seguinte forma
a) Satildeo turistas que buscam produtos ligados agrave natureza b) Jaacute conhecem o Brasil e especialmente o Nordeste c) Buscam conhecer novas culturas d) Buscam experiecircncias ligadas agrave aventuras e) Possuem elevado poder aquisitivo f) Possuem faixas etaacuterias mais elevadas g) Residem em grandes centros urbanos h) Os estrangeiros possuem mais interesse que os brasileiros (PARAacute 2001 p 43)
Tal condiccedilatildeo apontada de antematildeo pelo Plano reflete-se em outras duas
seccedilotildees demanda turiacutestica do Paraacute e organizaccedilatildeo institucional do turismo Esta
uacuteltima refere-se diretamente agraves accedilotildees que a PARATUR desenvolve no estado a fim
de fomentar a atividade turiacutestica Segundo o Plano a PARATUR ainda estaacute
organizada de forma incipiente e ligada a outras secretarias de estado natildeo criando
assim uma espeacutecie de autonomia institucional Nas cidades do interior as
organizaccedilotildees voltadas para o turismo satildeo deficientes geralmente ligadas agrave
secretarias de induacutestria comeacutercio ou esporte fazendo com que seus investimentos
natildeo se decircem de forma especiacutefica para o setor
De uma forma bem ampla o PDT-PA estrutura seus conjuntos de objetivos
em algumas subseccedilotildees Os objetivos finais podem ser entendidos enquanto
objetivos gerais de um Plano de desenvolvimento e neste sentido trazem consigo
um posicionamento poliacutetico de interferecircncia soacutecio-econocircmica e espacial O elemento
marcante eacute a ideacuteia da competitividade Marca por sinal dos planejamentos
territoriais que privilegiam uma realidade econocircmica
Esta parte do plano tem uma estrutura voltada para uma ampliaccedilatildeo ou
melhoria do mercado turiacutestico no Paraacute tanto que seu conteuacutedo revela prioridades
tais como a atratividade que estaacute assentada na ideacuteia de relaccedilatildeo que os produtos
turiacutesticos paraense tecircm de se adequar agraves demandas de turistas visitantes
95
Outra prioridade ou elemento eacute a produtividade que revela o valor
patrimonial (PARAacute 2001 p 55) que um produto turiacutestico pode ter Em outras
palavras eacute perceber o niacutevel ou grau de produtividade que um produto turiacutestico pode
ter E nesse sentido fazer com que esse elemento possa perdurar em longo prazo
evitando assim sua saturaccedilatildeo
Aleacutem dessas prioridades destaca-se o marketing que torna o produto o
suporte principal de propaganda e venda em outros setores Neste caso o
marketing caracteriza-se por uma tentativa constante de oferecimento do produto em
outras praccedilas ou seja existe uma verdadeira propaganda do Paraacute enquanto produto
a ser comercializaacutevel
Nielsen (2002) lembra que o marketing torna-se uma estrateacutegia muito proacutexima
a de turismo A tentativa de que essa estrateacutegia possa atingir com maior facilidade
diferentes classes como estudantes profissionais da aacuterea acadecircmicos empresas
governo miacutedia e pessoas de uma forma geral faz do marketing uma soluccedilatildeo
interessante para o turismo O Plano de Turismo do Estado utiliza-o como
ferramenta que tem a possibilidade de convencer pessoas do que haacute de melhor no
Estado tendo o turista como seu principal objetivo A utilizaccedilatildeo desse instrumento eacute
diversificada folders viacutedeos feiras workshops amostras de produtos que satildeo
fabricados por empresas ou feitos por artesatildeos satildeo especificidades do marketing
Constitui-se como uma forma de ampliaccedilatildeo mercadoloacutegica de um setor especiacutefico
Mostra-se portanto uma estreita ligaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o marketing
Nesse sentido o PDT-PA tenta aproximar ao maacuteximo atributos da propaganda para
que os produtos turiacutesticos ganhem notoriedade mercado afora
Junto a esses trecircs elementos a gestatildeo finaliza a ideacuteia de competitividade
presente no plano constituindo assim uma nova forma de fluidez agrave atividade
turiacutestica no Estado A partir de um novo olhar administrativo em que o turismo se
insere a gestatildeo torna-se um instrumento poliacutetico de administraccedilatildeo puacuteblica que
revela intenccedilotildees e tomadas de decisotildees importantes para um bom andamento de
um planejamento Neste caso a gestatildeo de uma atividade turiacutestica proporcionada
pelo plano deve congregar os uacuteltimos trecircs elementos citados de forma conjunta e
indissociaacutevel Assim o objetivo final do plano assim se apresenta
96
Converter o Paraacute em um destino turiacutestico preferencial para os mercados nacional e internacional mediante um desenvolvimento turiacutestico competitivo e sustentaacutevel que contribua decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do Paraacute gerando maior bem estar material e maior bem estar emocional (PARAacute 2001 p 55)
Percebe-se por sua vez que o objetivo do plano natildeo se restringe agraves
transformaccedilotildees do setor turiacutestico no territoacuterio paraense mas acima de tudo
apresenta-se como plataforma de transformaccedilatildeo social tanto do ponto de vista da
materialidade (bem estar material) quanto da imaterialidade (bem estar emocional)
Portanto o turismo a partir de uma diretriz voltada para o mercado pretende uma
ampla mudanccedila soacutecio-espacial
Outros objetivos do plano integram esta seccedilatildeo como objetivos de negoacutecios
os quais estatildeo voltados para um incremento maior da demanda de investimentos
gerados a partir do aumento do volume da atividade no Paraacute Com essa perspectiva
espera-se portanto estabelecer um crescimento sustentaacutevel do turismo no Estado
segundo as proacuteprias ideacuteias do Plano Esta seccedilatildeo organiza-se em trecircs objetivos
especiacuteficos que integram esta sub-seccedilatildeo
- Incrementar o volume da demanda nacional e internacional
- Incrementar a permanecircncia meacutedia
- Incrementar o gasto turiacutestico (PARAacute 2001 p 56)
Assim como
Para que o estado do Paraacute seja convertido em um destino turiacutestico e com isso os reflexos dos fluxos turiacutesticos possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua populaccedilatildeo eacute preciso maximizar a renda da atividade Esta maximizaccedilatildeo deveraacute ser feita atraveacutes da ampliaccedilatildeo do nuacutemero de turistas quer sejam turistas domeacutesticos quer sejam turistas internacionais (PARAacute 2001 p 56)
No que se refere agrave ideacuteia de crescimento o plano tambeacutem apresenta a seccedilatildeo
objetivos de crescimento na qual natildeo define precisamente o que seja crescimento
97
O plano adota a ideacuteia de metas de mercado estabelecidas pela empresa
responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do plano - THR Como exemplo dessas metas a serem
alcanccediladas o PDT-PA apresenta um quadro onde se cria uma expectativa de
aumento do turismo atraveacutes de alguns criteacuterios O quadro assim estaacute definido
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001
2006
Turistas em 2006200000
Pernoites em 20061400000
Receita por turistasUS$1400 (7 dias)
Receita totalUS$280000000
Novas habitaccedilotildees ateacute 20064500
Investimento em habitaccedilotildees ateacute 2006US140 milhotildees
Outros investimentos ateacute 2006US$120 milhotildees
Novos empregos diretos ateacute 200626000
Novos empregos indiretos ateacute 200628000
FONTE Adaptado de PARAacute (2001)
Nesse sentido tais metas tornam-se fundamentais para se concretizar as
estrateacutegias espaciais que o Plano adota a fim de espacializar suas pretensotildees23
Esse conjunto de accedilotildees eacute concretizado na terceira parte do Plano (seccedilatildeo C ) onde
as propostas e objetivos do PDT-PA traduzem-se em programas de intervenccedilatildeo
espacial A seccedilatildeo programas e accedilotildees do plano estaacute estruturada de acordo com os
elementos jaacute citados atratividade produtividade gestatildeo e marketing
Como uma forma de enfatizar essas estrateacutegias o plano integra esses
elementos a partir de um graacutefico assim exposto
23 Esta ideacuteia seraacute objeto de anaacutelise no item 43 deste trabalho intitulado A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
98
Graacutefico 4 Estrateacutegias eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT PA
FONTE PARAacute (2001 p 93)
Nesta seccedilatildeo esses elementos datildeo vazatildeo aos objetivos propostos Como
elemento principal e tambeacutem norteador das accedilotildees eou estrateacutegias eacute a
competitividade nesta seccedilatildeo do Plano em especial que norteia a estrutura do
turismo no estado do Paraacute ou ainda de uma realidade possiacutevel de ser
implementada desde que as diretrizes oferecidas pelo plano sejam estabelecidas
Natildeo se deve perder de vista portanto que o quadro comparativo que se apresenta
no Plano leva em consideraccedilatildeo esses pontos especiacuteficos que o PDT-PA atraveacutes da
THR julga ser necessaacuterio para haver uma transformaccedilatildeo na realidade turiacutestica do
Estado
99
Como consequumlecircncia disso as accedilotildees estatildeo divididas nesses criteacuterios da
seguinte forma
Quadro 2 Programas e Accedilotildees Siacutentese
Programa Accedilotildees
Paraacute Atratividade
A-1 Criaccedilatildeo de Gestores e Experiecircncias Turiacutesticas A-2 Ampliaccedilatildeo e Modernizaccedilatildeo dos Meios de Hospedagem Paraenses A-3 Sinalizaccedilatildeo Turiacutestica A-4 Melhoria das Condiccedilotildees Ambientais dos Municiacutepios Turiacutesticos A-5 Embelezamento Urbano e Melhorias de Infra-estrutura A-6 Ordenaccedilatildeo Urbaniacutestica dos Municiacutepios Turiacutesticos A-7 Sistema de Padrotildees e Selos de Qualidade A-8 Paraacute Hospitalidade A-9 Postos de Informaccedilotildees Turiacutesticas A-10 Instituto Internacional de pesquisa sobre o Ecotuismo
Paraacute Produtividade
P-1 Inventaacuterio Classificaccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo dos Recursos Turiacutesticos P-2 Criaccedilatildeo de Grupos de Competitividade Locais P-3 Criaccedilatildeo de Empresas em Joint Ventures P-4 Capacitaccedilatildeo ProfissionalEmpresarial P-5 FormaccedilatildeoCapacitaccedilatildeo de Pessoal de Base P-6 Simplificaccedilatildeo do Processo de Abertura de Novas Empresas P-7 Mecanismos de Financiamentos e Estiacutemulos Fiscais P-8 Desenvolvimento Tecnoloacutegico P-9 Sistema de Reconhecimento e Premiaccedilatildeo agrave Profissionalizaccedilatildeo
Paraacute Marketing
M-1 Criaccedilatildeo de Grupos de Marketing por Produtos M-2 Criaccedilatildeo de uma Infra-estrutura de Marketing M-21 Unidades Locais de Marketing
ULM S M-22 Bases de Dados M-23 Banco de Imagens M- 24 Sistema de Inteligecircncia de Mercado M-3 Articulaccedilatildeo de um Sistema de Venda e Comunicaccedilatildeo M-31 Workshops M-32 Feiras de Promoccedilatildeo Turiacutestica M-33 Site Inspection Service M-34 Manual de Vendas M-35 Seminaacuterios de Vendas M-36 Fam Trips M-37 Material Promocional M-38 Publicidade M-39 Propaganda M-310 Web Paraacute M-311 Marketing Direto
Paraacute Gestatildeo G-1 Comissatildeo Estadual de Turismo G-2 Conselho Estadual de Turismo G-3 Sistema de Indicadores de Sustentabilidade
FONTE Adaptado de Paraacute (2001 p 95)
Eacute importante lembrar que natildeo se privilegiaraacute uma anaacutelise de todos os
elementos presentes em cada uma das accedilotildees propostas pelo Plano Poreacutem a
100
anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo das estrateacutegias espaciais e do modelo de
desenvolvimento proposto torna-se o foco principal deste trabalho a ser feita no
proacuteximo capiacutetulo Em relaccedilatildeo ao quadro apresentado pelo PDT-PA ele eacute uma
siacutentese de todas as accedilotildees planejadas e da concepccedilatildeo de turismo proposta pelo
Estado atraveacutes do Plano No desenrolar dessas accedilotildees eacute que as espacialidades se
mostram enquanto resultado de pensamentos e concepccedilotildees de espaccedilos voltados
para o turismo tornando-se dessa forma perceptiacutevel suas intenccedilotildees desejos e
usos pretendidos pelo Governo do Estado Para tanto no rol das accedilotildees (accedilatildeo A-1
por exemplo) estatildeo inseridos os objetivos o puacuteblico alvo as justificativas e as
atividades necessaacuterias para o desenvolvimento da atividade Essa estrutura entatildeo
deve ser entendida como uma ampla diretriz presente em todos os poacutelos de turismo
do Estado Neste caso a estrutura do plano com todas as subdivisotildees mostra-se
assim organizado (quadro 3 p 101)
101
Quadro 3 Quadro sinoacutetico da estrutura do plano de desenvolvimento do turismo do Paraacute (PDT PA)
FONTE Adaptado de PARAacute (2007)
A- DIAGNOacuteSTICO INTERNO DA SITUACcedilAtildeO ATUAL DO TURISMO PARAENSE
1 Os recursos turiacutesticos
2 As infra-estruturas e equipamentos baacutesicos
3 Os serviccedilos turiacutesticos 4 Os produtos turiacutesticos 5 A comercializaccedilatildeo dos
produtos turiacutesticos 6 A demanda turiacutestica 61 Anaacutelise Quantitativa
62 Anaacutelise Qualitativa
63 Os Mercados Emissores e a Posiccedilatildeo Competitiva do Paraacute
7 Organizaccedilatildeo Institucional do Turismo
- Nesta seccedilatildeo do plano a empresa contratada pelo governo do estado apresenta um amplo diagnoacutestico da situaccedilatildeo em que o turismo do Paraacute se encontra Egrave feito uma anaacutelise de acordo com padrotildees jaacute estipulados pela empresa THR como recursos serviccedilos produtos demanda e inclusive a (re)organizaccedilatildeo do oacutergatildeo de turismo do Paraacute
PARATUR Todas as seccedilotildees procuram destacar os pontos negativos em relaccedilatildeo ao crescimento da atividade no territoacuterio paraense de acordo com os poacutelos de turismo
- O diagnoacutestico feito pelo plano reduz-se ao aspecto econocircmico natildeo considerando as demais instancias da sociedade A negatividade constatada pelo documento eacute afirmada atraveacutes de dados estatiacutesticos Procura enfatizar a conceitos como precarizaccedilatildeo deficiecircncia dos produtos limitaccedilotildees entre outros sempre relacionado somente aos aspectos de mercado
B- OBJETIVOS E ESTRATEacuteGIAS
1 Objetivos 2 Estrateacutegias de
Desenvolvimento Turiacutestico 3 Plano de Comercializaccedilatildeo
20012003 4 Proposta de Estrutura
Organizativa da PARATUR
- Depois de realizar o diagnoacutestico o plano procura enfatizar quais as necessidades a serem estimuladas para que haja o desenvolvimento do turismo no Paraacute Aqui a condiccedilatildeo das estrateacutegias de mercado se sobressaem como condiccedilatildeo de transformaccedilatildeo econocircmica
- Os aspectos de mercado mais uma vez se tornam elementos bastante enfatizados a ideacuteia de competitividade torna-se norteadora das accedilotildees para o desenvolvimento do turismo Neste sentido a ideacuteia de natureza reduz-se a uma concepccedilatildeo de consumo em espaccedilos selecionados
C- PROGRAMAS E ACcedilOtildeES
1 Programa Paraacute Atratividade 2 Programa Paraacute Produtividade 3 Programa Paraacute Marketing 4 Programa Paraacute Gestatildeo
- Siacutentese das accedilotildees programadas pelo plano Essas accedilotildees devem obedecer aos programas em cada poacutelo do estado
- Mesmo seguindo uma ideacuteia de competitividade natildeo haacute uma explicaccedilatildeo mais detalhada sobre as accedilotildees e programas
102
42 A concepccedilatildeo de turismo no PDT PA
Para que se possa entender a concepccedilatildeo de turismo de um Plano de
intervenccedilatildeo espacial eacute necessaacuterio fazer uma relaccedilatildeo de suas intenccedilotildees com o
tipo ou modelo de planejamento proposto pelo mesmo Quando se retrata a
ideacuteia do que seja um modelo de planejamento a ideologia ligada ao
planejamento revela-se nas entrelinhas de um documento como o PDT-PA ou
em uma dimensatildeo espacial mais concreta nas repercussotildees espaciais que satildeo
feitas atraveacutes de uma gestatildeo puacuteblica de Estado
Neste caso o fundamento principal para se saber o tipo de concepccedilatildeo
de turismo que se veicula no PDT-PA eacute a mensagem que o documento traz
consigo como nos lembra Franco (2005) Quando feita essa anaacutelise as
projeccedilotildees e ideacuteias de planejamento de turismo ressaltam-se e se ligam a uma
ideacuteia maior Desde jaacute eacute importante salientar que um Plano natildeo se faz de forma
neutra e apoliacutetica pelo contraacuterio em todo momento existem nuanccedilas
mostradas em sua leitura ou na sua execuccedilatildeo enquanto programa de
intervenccedilatildeo espacial
Hall (2001) faz uma importante retomada do conceito de planejamento
distinguumlindo-o da ideacuteia de plano Para o autor quando se faz referecircncia ao
termo planejamento a ideacuteia de poliacutetica surge como elemento fundador e
mediador de um processo Por isso que em alguns momentos essas duas
noccedilotildees aparecem como ambiacuteguas e de difiacutecil definiccedilatildeo Hall (2001) assim
escreve
O problema surge porque embora as pessoas percebam que o planejamento tem um significado mais geral tendem a se lembrar do conceito de plano como uma representaccedilatildeo fiacutesica ou graacutefica Consequumlentemente imaginam que planejamento deve incluir a preparaccedilatildeo de tal representaccedilatildeo (HALL 2001 p 24)
Revelar portanto a concepccedilatildeo de turismo no PDT-PA requer a
habilidade de saber associar a que tipo de poliacutetica puacuteblica o mesmo estaacute
103
vinculado Neste caso a estrutura do plano de turismo do Paraacute jaacute se torna um
indiacutecio dessa perspectiva
Ao estruturar o plano em trecircs seccedilotildees parte A (diagnoacutestico) parte B
(objetivos) parte C (programas e accedilotildees) o plano oferece uma perspectiva
inicial de como estaacute disposto o pensamento sobre as intervenccedilotildees e ou
mudanccedilas no espaccedilo paraense Dessa forma jaacute existe uma apropriaccedilatildeo
territorial para fins gerais de planejamento dando ecircnfase agrave dimensatildeo da
atividade turiacutestica como norteador dessas mudanccedilas Neste sentido pensar o
espaccedilo eacute pensaacute-lo de forma turistificada O plano por sua vez permite esse
pensamento ainda de forma estruturada
Uma das condiccedilotildees que servem para traduzir a ideacuteia de turismo
presente no documento eacute a ecircnfase dada ao mercado Os elementos naturais
do estado neste caso apresentam-se como objetos que tecircm valores
importantes para seu consumo As belezas naturais do espaccedilo paraense como
noccedilatildeo de atrativo turiacutestico satildeo exemplos disso Neste sentido como pano de
fundo dessa associaccedilatildeo haacute por parte do PDT-PA (leia-se no caso os agentes
da elaboraccedilatildeo de forma direta e indireta - Estado e THR) a ideacuteia de que esses
espaccedilos satildeo acessiacuteveis a partir de seu valor de troca o que estimula por
assim dizer a vinda de pessoas de fora do estado com o intuito de promover a
circulaccedilatildeo do capital a partir da compra desses produtos em territoacuterio
paraense
Como justificativa atenuante da condiccedilatildeo de consumo das belezas
naturais e de sua possiacutevel degradaccedilatildeo ambiental o plano apresenta a ideacuteia de
melhoria da qualidade de vida que adveacutem por conseguinte do consumo dos
espaccedilos turistificados Tal condiccedilatildeo eacute mostrada de forma clara logo no iniacutecio
da construccedilatildeo do documento
O Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute foi contratado pelo Governo estadual visando definir estrateacutegias para que a atividade se desenvolva de forma que traga melhoria de qualidade de vida agrave populaccedilatildeo paraense Considerando a riqueza de atrativos da Amazocircnia paraense e seu grande apelo sobre mercados emissores de turistas e o crescimento dos segmentos de viagens
104
voltadas agrave natureza o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito significativas para que o turismo seja importante instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
De acordo com essa condiccedilatildeo a pretensatildeo de criar espaccedilos funcionais
ou ainda voltados para a atividade turiacutestica eacute clara Nesta sequumlecircncia percebe-
se tambeacutem a imprecisatildeo do termo melhoria da qualidade de vida No
documento este eacute assunto que natildeo estaacute bem fundamentado o que deixa
lacunas quanto agrave ideacuteia O PDT-PA prefere explicar como se daacute a formataccedilatildeo do
documento os agentes importantes na construccedilatildeo do documento e as
condiccedilotildees necessaacuterias para a elaboraccedilatildeo do mesmo natildeo explicando assim a
noccedilatildeo de melhoria da qualidade de vida do povo paraense
O processo de turismo depende de um conjunto de elementos infra-estruturais que natildeo se encontram isolados no setor econocircmico de prestaccedilatildeo de serviccedilos Assim o seu planejamento setorial deve se integrar ao sistema de planejamento global do Estado Portanto para a elaboraccedilatildeo do Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute a equipe teacutecnica de trabalho tomou por base os investimentos anteriores feitos pelo Governo em termos de planejamento Com esta premissa o Projeto Beija-Flor foi o ponto de partida a partir do qual o Plano de Desenvolvimento foi estruturado (PARAacute 2001 p 5)
A preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade de vida eacute suplantada pela
questatildeo mais impactante referente ao modo de desenvolver ou fazer crescer a
atividade turiacutestica Por conseguinte a noccedilatildeo da melhoria da qualidade de vida
adquire um outro sentido ou seja aquele onde a populaccedilatildeo paraense soacute
poderia alcanccedilar qualidade de vida dentro dos paracircmetros aqui propostos pelo
PDT-PA
Sobre a relaccedilatildeo entre o turismo e a natureza o plano demonstra assim
o interesse pelo o ecoturismo na Amazocircnia especialmente no Paraacute O Estado
e iniciativa privada mostram-se agentes importantes quanto ao fomento desse
segmento de turismo principalmente porque o mesmo mostra-se uma
alternativa aos modelos de turismo do tipo sol e praia o que levado em
105
consideraccedilatildeo a peculiaridade da floresta tropical esse segmento teria uma
relaccedilatildeo proacutespera com a realidade natural do estado A divulgaccedilatildeo dessa
modalidade de turismo eacute muito comum nas revistas especializadas o que torna
o ecoturismo uma espeacutecie de moda como lembra Coelho (1999) Essas
revistas mostram atraveacutes das imagens a imponecircncia da natureza com pouca
interferecircncia humana utilizando-se portanto de imagens residuais de
Paraiacutesos Eldorados ou Santuaacuterios ecoloacutegicos em diferentes partes do mundo
(COELHO 1999 p 66) Nestes termos a sobrepujanccedila da natureza em
relaccedilatildeo ao homem eacute evidente Este uacuteltimo torna-se uma condiccedilatildeo de elemento
que quase natildeo se representa com a mesma intensidade que haacute nas imagens
Neste caso os interesses do turismo vecircm agrave tona em detrimento de uma
sociedade local No plano essa ideacuteia se materializa na concepccedilatildeo de turismo
(ecoturismo) voltado para a regiatildeo (poacutelo) do Marajoacute
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugados As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Portanto relaccedilatildeo homem (sociedade) e natureza no PDT-PA teorizada
haacute pouco natildeo se difere por completo Natureza aqui ganha um sentido de
valor de troca (capitalista diga-se de passagem) restando ao homem
amazocircnico (mais especificamente paraense) a ideacuteia de que a exploraccedilatildeo
racional dos atrativos naturais do estado paraense pode trazer melhorias de
qualidade de vida O homem em questatildeo deixa de ser problematizado
enquanto sujeito principal no entendimento do que seja natureza para dar
lugar a uma estrutura ainda maior que eacute a loacutegica global dos fluxos turiacutesticos
Revela-se neste ponto do plano de turismo do Estado uma realidade que
desloca o homem amazocircnico da accedilatildeo da construccedilatildeo de seu espaccedilo
Coelho (1999) ainda salienta a ideacuteia da apropriaccedilatildeo do discurso
ecoloacutegico ou em outros termos do discurso da natureza como sendo uma
ferramenta de persuasatildeo para aqueles que estejam interessados em visitar o
106
atrativo turiacutestico Amazocircnico (em destaque para o paraense) Tal praacutetica eacute feita
de forma especiacutefica no plano de turismo do estado quando o mesmo apresenta
a natureza da floresta amazocircnica como o diferencial na conquista de novos
mercados de turismo tanto em acircmbito nacional como internacional
Para o PDT-PA a PARATUR viabiliza outras ferramentas de promoccedilatildeo
das belezas do Estado mostrando atraveacutes de revistas especializadas em
turismo folders cartazes entre outros Essas ferramentas ajudam a consolidar
o processo de divulgaccedilatildeo do Estado como uma seara a ser explorada pelas
atividades turiacutesticas Coelho (1999) nos daacute um exemplo desse tipo de
propaganda feita
Natildeo haacute lugar nenhum no mundo com o potencial turiacutestico da Amazocircnia Mas haacute um lugar na Amazocircnia que aleacutem desse potencial ainda oferece incentivos aos empresaacuterios para que eles invistam no seu negoacutecio o Estado do Paraacute O Governo do Paraacute estaacute querendo tanto ter a sua empresa no Estado que estaacute concedendo incentivos fiscais incentivos financeiros incentivos de caraacuteter infra-estrutural e compensaccedilatildeo de incentivos privados na realizaccedilatildeo de obras de infra-estrutura puacuteblica para a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos no territoacuterio paraense Alguns poucos exemplo de muitas vantagens que a empresa leva indo para o Paraacute empreacutestimo em valor correspondente a ateacute 75 do ICMS para pagamento em 10 anos Incentivos fiscais poacute 5 anos Isto eacute de lei Lei n 5943 Agora o que natildeo estaacute na lei nem precisa eacute o mundo intenso de oportunidades de negoacutecios que a Amazocircnia paraense oferece aos empreendedores interessados em desafios e principalmente em novos negoacutecios lucrativos (PARAacute apud COELHO 1999 p 67)
Especificamente no plano essa condiccedilatildeo de oferta de um produto
turiacutestico concretiza-se a partir da concepccedilatildeo de marketing defendida pelo
documento Elementos como eficaacutecia capacidade vantagens competiccedilatildeo
ampliam o universo ao posicionar o territoacuterio paraense como o proacuteprio produto
turiacutestico A intenccedilatildeo portanto eacute de uma conversatildeo espacial abrangente para o
mercado Neste sentido o plano define a ideacuteia de marketing da seguinte forma
O MARKETING determinaraacute a capacidade do destino para se adaptar agrave demanda vender com eficaacutecia fidelizar clientes e
107
identificar permanentemente novas fontes de vantagens competitivas (PARAacute 2001 p 55)
No tocante agrave qualidade de vida defendida pelo PDT-PA o documento
deixa clara a condiccedilatildeo de crescimento como necessaacuteria para obtenccedilatildeo da
qualidade de vida Segundo o plano esta ideacuteia deve estar associada agrave
pretensatildeo de converter o estado em um destino turiacutestico onde seus reflexos
(PARAacute 2001) eacute que repercutem na qualidade de vida do povo paraense Tais
reflexos segundo o plano associam-se agrave maximizaccedilatildeo do fluxo de turistas no
territoacuterio paraense Contudo o plano natildeo deixa claro como esses reflexos
seratildeo transformados em melhorias para a populaccedilatildeo Nisso o documento
afirma a necessidade de permanecircncia dos turistas
O incremento da renda do turismo poderaacute ser alcanccedilado tambeacutem pelo aumento da permanecircncia dos turistas que jaacute visitam o Paraacute Ao ser oferecida maior variedade de produtos e produtos de melhor qualidade a permanecircncia meacutedia do turista se amplia e consequumlentemente seu niacutevel de gastos se aumenta (PARAacute 2001 p 56)
Souza (1997 2000 2002 2004) amplia a discussatildeo sobre a importacircncia
da qualidade de vida pra que haja em uma dimensatildeo maior a justiccedila social o
que no plano reduz-se agrave questatildeo do incremento ou crescimento do mercado
Para o autor a qualidade de vida por muito tempo sempre foi vista ou
apreciada de forma acriacutetica possibilitando assim uma visatildeo uacutenica de que uma
sociedade soacute a consegue atraveacutes de conquistas ou soma de bens materiais
Para o autor tratar de qualidade de vida dentro dos programas de
desenvolvimento assim como de planos de desenvolvimento eacute natildeo deixar de
lado a questatildeo de justiccedila social Juntas essas duas dimensotildees quando bem
efetivadas a partir de uma gestatildeo comprometida com o social garantem um
mudanccedila social positiva E nesse sentido a espacialidade da sociedade
envolvida no processo deve ser levada em consideraccedilatildeo O espaccedilo para
qualquer efeito de mudanccedila eacute a arena referencial simboacutelicoidentitaacuterio e
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condicionador (SOUZA 2004 p 61) Quando negligenciado ou ateacute mesmo
distorcido de interesses sociais claros pode ser alvo de um economicismo ou
na apreciaccedilatildeo do termo pode sofrer de um reducionismo Como siacutentese o
autor em questatildeo argumenta No que tange agrave melhoria da qualidade de vida
ela corresponde agrave crescente satisfaccedilatildeo das necessidades - tanto baacutesicas
quanto natildeo baacutesicas tanto materiais quanto imateriais - de uma parcela cada
vez maior da populaccedilatildeo (SOUZA 2004 p 62)
Esta condiccedilatildeo defendida por Souza (2004) revela que a ideacuteia de justiccedila
social natildeo pode ser percebida de forma homogecircnea ter visatildeo uacutenica Neste
caso Souza (2004) se baseia em uma concepccedilatildeo aristoteacutelica de que justiccedila eacute
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual (HELLER apud
SOUZA 2004)
Eacute a partir dessa situaccedilatildeo que a ideacuteia de qualidade de vida construiacuteda
pelo PDT-PA natildeo considera a diversidade da sociedade local paraense O que
de fato se vecirc eacute que por conta de uma intensidade de fluxos e geraccedilotildees de
conquistas materiais o turismo traria a possibilidade de melhorar a vida do
paraense O turismo neste caso em especial eacute visto como uma soluccedilatildeo para
uma possiacutevel deficiecircncia ou inadequaccedilatildeo que a sociedade local estaria vivendo
no presente Portanto o Estado atraveacutes do plano deposita essa condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida por meio da expansatildeo do turismo
Ainda sobre a qualidade de vida o plano natildeo faz distinccedilatildeo do termo
generalizando-o e condicionando-o ao crescimento da atividade turiacutestica Isso
ainda eacute confirmado ainda pela ideacuteia de sustentabilidade que em termos gerais
tambeacutem eacute exposta pelo documento Neste caso o proacuteprio plano natildeo especifica
que tipo de sustentabilidade pretende confirmar com o ordenamento territorial
que eacute proposto Por outro lado essa condiccedilatildeo eacute somente citada como uma
pseudo-forma de afirmar uma espeacutecie de retorno social a partir da concepccedilatildeo
de turismo que eacute defendida pelo PDT-PA
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente
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se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Nesse sentido essas questotildees que surgem por completo no documento
indicam uma tomada do turismo por parte do Estado a fim de tornaacute-lo viaacutevel o
que se confirma com a elaboraccedilatildeo do PDT-PA Apesar de Nicolaacutes (2001)
afirmar a ideacuteia de que turismo antes de ser uma praacutetica econocircmica eacute acima de
tudo uma praacutetica social as atividades geradas pela construccedilatildeo do plano de
turismo evidenciam uma perspectiva de cunho econocircmico tendo a sociedade
um lugar secundarizado nas concepccedilotildees de turismo por parte do Estado Para
o autor por exemplo
En esta liacutenea por el contrario postulamos que el turismo es antes que todo una praacutectica social colectiva que integra mecanismos distintos de relacioacuten al espacio a la identidad y al Otro Por ende maacutes que una actividad econoacutemica el turismo es una praacutectica generadora de actividad econoacutemica en la misma forma que la religioacuten el deporte o la guerra (NICOLAacuteS 2001 p 40)
O plano por sua vez prefere dar condiccedilatildeo ao mercado como elemento
capaz de transformar uma realidade social Deixando por sua vez o consumo
como principal norteador dessa condiccedilatildeo Assim o plano continua
Da mesma forma a busca de segmentos de demanda com outras expectativas de consumo de produtos com maior valor agregado pode contribuir para que o gasto se amplie e consequumlentemente a renda derivada do turismo (PARAacute 2001 p 56)
O turismo defendido pelo plano ainda expotildee outros elementos
importantes que ampliam a ideacuteia de consumo No tocante agraves manifestaccedilotildees
culturais o PDT-PA eacute expliacutecito ao defender a condiccedilatildeo da cultura como recurso
110
a ser apropriado pelo Estado e em seguida fomentado para que haja uma
maior atraccedilatildeo de pessoas Manifestaccedilotildees soacutecio-culturais histoacutericas como Ciacuterio
de Nazareacute (este acontecendo no poacutelo Beleacutem) e o Ccedilaireacute (no poacutelo Tapajoacutes)
reduzem-se agrave condiccedilatildeo do exoacutetico do diferente e por isso mesmo recebem o
status de potencial turiacutestico Neste sentido a atenccedilatildeo dada pelo documento
tem o intuito de dar uma outra feiccedilatildeo referente ao mercado fazendo com que
as manifestaccedilotildees histoacutericas da sociedade paraense reduzam-se a esta
dimensatildeo A ideacuteia de natureza para o plano tambeacutem natildeo se diferencia dessa
condiccedilatildeo Ainda mais os espaccedilos com potencial turiacutestico satildeo assim
caracterizados por uma relaccedilatildeo de troca No que se referem alguns aspectos
da cultura paraense e agrave ideacuteia de natureza o plano caracteriza-os da seguinte
forma
O Paraacute conta com recursos de base de indubitaacutevel valor e de grande potencial desde recursos naturais (rios ilhas lagos praias floresta amazocircnica flora e fauna etc) ateacute recursos culturais (patrimocircnio histoacuterico artiacutestico e monumental numerosas etnias indiacutegenas e quilombos artesanato folclore) e manifestaccedilotildees culturais vivas de grande notoriedade como eacute o caso do Ciacuterio de Nazareacute e do Ccedilaireacute (PARAacute 2001 p 11)
Eacute neste sentido que Hall (2001) diz que a construccedilatildeo de uma poliacutetica
puacuteblica antes de tudo requer um conjunto de valores crenccedilas ideologias ou
visatildeo de sociedade Por isso ela deve ser sempre encarada de acordo com um
ambiente poliacutetico O que faz com que a atividade turiacutestica sendo ela uma
atividade de cunho social natildeo fuja dessas caracteriacutesticas citadas Neste ponto
conceber um tipo de turismo eacute por em praacutetica um tipo de poliacutetica puacuteblica que
envolve esses valores No PDT-PA as caracteriacutesticas de mercado se fazem
presentes principalmente quando se tenta transformar o territoacuterio paraense
como espaccedilo importante para fluxos econocircmicos mundiais Esta constataccedilatildeo
pode ser percebida nas intencionalidades que o plano revela como mostra uma
das figuras de reordenamento espacial proposto pelo documento
111
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
FONTE PARAacute (2001 p 68)
No que se refere agrave concepccedilatildeo de turismo interessante notar que o
plano em nenhum momento define explicitamente o que seja turismo
deixando assim uma lacuna quanto a esta ideacuteia Contudo em suas linhas o
documento opta por apresentar caracteriacutesticas peculiares agrave concepccedilatildeo de
mercado muito usual do chamado turismo de massa
A forma como o PDT-PA estaacute estruturado eacute reflexo da pretensatildeo de se
pensar o espaccedilo paraense como um todo voltado para o trade Palavras como
demanda oferta turiacutestica potencialidade objetivo de negoacutecios objetivos de
crescimento fazem com que o universo do documento se circunscreva a ideacuteia
de crescimento da atividade turiacutestica
Comentaacuterio Diferentemente de um conviacutevio mais proacuteximo das realidades locais o resort oferece (como o proacuteprio nome em inglecircs sugere) um refuacutegio ao turista ao chegar a esses lugares A ideacuteia eacute que estes lugares standartizados oferecem tranquumlilidade distacircncia do tumulto que as cidades grandes apresentam no dia-a-dia
112
Sua fundamentaccedilatildeo teoacuterica se encontra diluiacuteda em propostas que visam
a entrada de mais turistas para que assim exista transformaccedilatildeo da realidade
paraense Por isso a necessidade de se fazer divisotildees em seccedilotildees que tecircm
como meta o incremento de valores de mercado Do diagnoacutestico (primeira parte
do plano) aos seus objetivos (segunda parte do plano) o documento estaacute
voltado para uma maior abertura e expansatildeo da atividade turiacutestica o que cria
uma expectativa de controle dos espaccedilos e das pessoas para melhor atender agrave
atividade do turismo Mesmo natildeo definindo seu conceito de turismo tais
caracteriacutesticas apontam para uma ideacuteia de reproduccedilatildeo ampliada do capital
O que Carlos (2002) entende da seguinte forma
A induacutestria turiacutestica reforccedila a hierarquia social produzindo espaccedilos diferenciados exclusivos fechados A caracteriacutestica do espaccedilo produzido eacute a do homogecircneo altamente excludente com ausecircncia de identidade O lugar eacute apenas o que pode ser visto fotografado e depois esquecido (CARLOS 2002 p 32)
Neste sentido quando o plano afirma ser importante a maximizaccedilatildeo da
ampliaccedilatildeo de turistas (PARAacute 2001) percebe-se que a loacutegica de crescimento e
ampliaccedilatildeo de pessoas que vecircm ao estado com o intuito do consumo torna-se
beneacutefica para uma transformaccedilatildeo de uma realidade paraense utilizando-se
para tanto estrateacutegias de modificaccedilotildees e alteraccedilotildees do territoacuterio ou ainda
estrateacutegias espaciais Tema a ser abordado na proacutexima seccedilatildeo
43 A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
Uma anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo que um governo carrega natildeo se
limita agraves suas ideacuteias eacute necessaacuterio espacializaacute-las ou seja dar um formato
concreto ou ainda espacial ao conjunto de formulaccedilotildees por quais passam os
planejamentos voltados para o desenvolvimento da atividade Sendo assim
torna-se difiacutecil pensar a loacutegicas das ideacuteias que datildeo vez ao fenocircmeno do turismo
113
sem associaacute-las a uma loacutegica espacial O PDT-PA articula as ideacuteias de modo a
pensaacute-las de acordo com um tipo de espaccedilo tambeacutem concebido em forma de
planejamento mas que todavia natildeo se torna distante de ser efetivado visto
que a construccedilatildeo de um plano de desenvolvimento do tipo do PDT-PA passa
pelas matildeos do Estado para que seja construiacutedo
Santos (2002) ao afirmar que o espaccedilo eacute um conjunto indissociaacutevel
solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio entre sistemas de objetos e sistemas de
accedilotildees daacute razatildeo agrave unicidade entre o tempo e o espaccedilo no qual se pode
perceber a uniatildeo por completo entre o homem e o meio Caracteriza-se assim
uma ideacuteia de totalidade que haacute no espaccedilo Mediante essa situaccedilatildeo em relaccedilatildeo
agrave praacutetica turiacutestica sua espacialidade requer uma dimensatildeo totalizante entre
objetos e accedilotildees que condizem a uma maior movimentaccedilatildeo da atividade
turiacutestica pelo espaccedilo
Neste sentido a ideacuteia de uma espacializaccedilatildeo do turismo remete-se a
uma imbricada relaccedilatildeo que haacute entre a atividade turiacutestica e o seu
reordenamento espacial o que se perceber tambeacutem um constante
reordenamento do territoacuterio onde a praacutetica do turismo necessita se espacializar
Cruz (2001) por exemplo quando fala em reordenamento dos territoacuterios afirma
que a ideacuteia do consumo dos espaccedilos pelo turismo e sua produccedilatildeo de territoacuterios
deve ser um fator de mediaccedilatildeo nesse processo
Tal condiccedilatildeo eacute tambeacutem fator importante para se visualizar a
espacializaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de turismo que se datildeo no espaccedilo a fim
de mostrar o processo de articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees e suas
materializaccedilotildees Neste caso cabe pensar o papel do Estado na tomada de
decisotildees sobre os reordenamentos espaciais
Hall (2001) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o
Governo Segundo o autor o turismo jaacute se tornou parte integrante da maacutequina
administrativa Neste caso a poliacutetica puacuteblica para o turismo eacute tudo que o
governo decide fazer ou natildeo com relaccedilatildeo ao setor (HALL 2001 p 26) Poreacutem
a descrenccedila na poliacutetica governamental faz com que o setor ofereccedila mais erros
do que acertos nas tomadas de decisotildees o que desestabiliza o setor de uma
114
forma geral E neste campo inserem-se as formas de reordenamento espacial
a partir de uma loacutegica do turismo na qual a mesma eacute a que impotildee o ritmo de
mudanccedila nos lugares
Levando-se nem consideraccedilatildeo a realidade paraense tanto de
planejamento como de gestatildeo o PDT-PA oferece um conjunto de estrateacutegias
materializadas nos lugares selecionados pela empresa responsaacutevel pela
elaboraccedilatildeo do plano em conjunto com a esfera estatal Tais lugares agregam
valor de mercado importante para o incremento da atividade e que dizem
respeito agraves ideacuteias pensadas sobre o turismo Neste conjunto de estrateacutegias
definidas as informaccedilotildees satildeo bem articuladas possibilitando assim perceber
como a atividade turiacutestica deve proceder no espaccedilo Com isso o plano entende
de uma forma geral que as estrateacutegias de turismo devem ser concentradas a
partir da estrutura feita em poacutelos de desenvolvimento Tal consideraccedilatildeo foi feita
a partir do projeto Beija-Flor24 que elegeu cidades do estado do Paraacute que
reunissem algum tipo de infra-estrutura necessaacuteria para estabelecer bases de
sustentaccedilatildeo do desenvolvimento do turismo Os poacutelos recebem os nomes das
regiotildees onde se inserem a saber Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes
AraguaiaTocantins e Xingu Segundo as proacuteprias palavras do plano
Com base nestes seis poacutelos cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivo agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5)
24 O projeto Beija-Flor eacute um estudo feito antes da consolidaccedilatildeo do PDT-PA Foi uma estrateacutegia pensada no governo Almir Gabriel para articular a construccedilatildeo do plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute A partir desse estudo eacute que as definiccedilotildees para a escolha dos poacutelos foram definidas conforme feito no PDT-PA
115
A partir dessa estrutura eacute que se pretende alcanccedilar as metas
pretendidas pelo Governo Feita em poacutelos torna-se constante e por isso
mesmo reflete uma reordenaccedilatildeo do territoacuterio paraense em grande intensidade
de forma a garantir a maior fluidez da atividade turiacutestica Cada poacutelo mostra uma
qualidade referente a um produto o grau de estruturaccedilatildeo seu formato e
principalmente a expectativa de um mercado consumidor (PARAacute 2001) Estes
elementos somados garantem a viabilidade dos poacutelos de turismo no estado
O reordenamento do espaccedilo eacute assegurado assim a partir de uma expectativa
do consumo do espaccedilo o que facilita o maior incremento de um sistema de
objetos (SANTOS 2002) criando uma maior dinacircmica espacial O mapa da
paacutegina posterior mostra a divisatildeo e a identificaccedilatildeo dos espaccedilos (sedes dos
poacutelos) turiacutesticos no Paraacute
116
MAPA 1 Sede dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
117
Neste caso deve-se perceber que o funcionamento da teoria dos poacutelos
obedece a uma loacutegica de totalidade do espaccedilo onde esse mesmo eacute concebido
a partir da atividade turiacutestica Como o proacuteprio plano ressalta considerar as
cidades ou sedes-poacutelos como o lugar de irradiaccedilatildeo do crescimento da atividade
turiacutestica eacute dar vazatildeo ao processo de espacializaccedilatildeo do fenocircmeno Natildeo satildeo
todas as cidades que conteacutem os recursos ou infra-estruturas necessaacuterias para
o bom andamento da atividade mas as cidades que jaacute possuem certa condiccedilatildeo
antecipatoacuteria para a dinamizaccedilatildeo do poacutelo polarizando assim a atividade
Uma outra questatildeo importante que deve ser levada em consideraccedilatildeo eacute
que esse tipo de espacializaccedilatildeo ou ordenamento territorial feito no estado estaacute
baseado em uma concepccedilatildeo de espaccedilo a de poacutelos de crescimento
Perroux (1967) mostra que a ideacuteia do poacutelo eacute uma forma de entender que
natildeo eacute o espaccedilo em sua totalidade necessaacuterio para o avanccedilo de uma empresa
ou setor da economia mas sim alguns espaccedilos que jaacute demandam uma
antecipaccedilatildeo ou como dito outrora que jaacute tecircm uma infra-estrutura
Para Perroux (1967) o espaccedilo sempre mereceu uma leitura muito
teacutecnica e menos precisa do que o tempo (PERROUX 1967 p 147) Neste
caso o interesse eacute perceber que o espaccedilo tem uma funccedilatildeo econocircmica e que
pode facilitar os fluxos econocircmico-industriais (BREITBACH 1988 ANDRADE
1977) A concepccedilatildeo de espaccedilo para Perroux (1967) eacute portanto econocircmica
Neste sentido a funccedilatildeo dos poacutelos de crescimento eacute a de possibilitar o aumento
da economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo deprimida (PERROUX 1967)
Para entender a transformaccedilatildeo dessa ideacuteia diretamente no espaccedilo o
autor faz uma comparaccedilatildeo da ideacuteia de crescimento com o surgimento e relaccedilatildeo
da induacutestria com o espaccedilo Para o autor um dos aspectos da estrutura de uma
economia de Estado-Naccedilatildeo eacute
A propagaccedilatildeo do crescimento duma induacutestria (ou grupos de induacutestrias) O aparecimento duma induacutestria nova ou o crescimento duma induacutestria existente propagam-se por intermeacutedio dos preccedilos fluxos antecipaccedilotildees No decurso de periacuteodos mais longos os
118
produtos duma induacutestria ou grupos de induacutestrias profundamente transformados e por vezes dificilmente reconheciacuteveis em comparaccedilatildeo com seu esboccedilo inicial possibilitam novas invenccedilotildees que datildeo origem a novas induacutestrias (PERROUX 1967 p 164)
A partir dessa estrutura pode-se perceber uma aproximaccedilatildeo com a ideacuteia
de poacutelos de turismo O PDT-PA assimila a condiccedilatildeo de que a presenccedila de um
aparato tecnoloacutegico voltado para turismo deve estar presente em uma sede ou
cidade - sede A partir dessa configuraccedilatildeo espacial as atividades iratildeo se
desenvolver em formas de ondas concecircntricas possibilitando uma irradiaccedilatildeo
do crescimento em aacutereas proacuteximas ao poacutelo ou sede Em comparaccedilatildeo com a
ideacuteia de Perroux (1967) as induacutestrias na verdade satildeo o fio condutor desse
crescimento Poreacutem no que diz respeito agraves accedilotildees do Estado para o fomento do
turismo a intenccedilatildeo eacute promover uma entrada ainda maior de empresas que
estejam interessadas em investir no setor Dessa forma gradativamente o
universo das empresas no ramo do turismo aumentaraacute provocando segundo a
ideacuteia do plano um crescimento das divisas geradas a partir do fluxo intenso
das atividades Neste sentido Perroux (1967) ainda afirma que
O fato rudimentar mais consistente eacute este o crescimento natildeo surge em toda a parte ao mesmo tempo manifesta-se com intensidades variaacuteveis em pontos ou poacutelos de crescimento propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos finais variaacuteveis no conjunto da economia (PERROUX 1967 p 164)
O autor ainda conclui afirmando
Examinar esta modalidade de crescimento eacute tornar expliacutecita e susceptiacutevel de tratamento cientiacutefico uma perspectiva jaacute patente em vaacuterios trabalhos de elaboraccedilatildeo teoacuterica imposta pela observaccedilatildeo dos paiacuteses de crescimento retardado manifesta na poliacutetica dos Estados modernos (PERROUX 1967 p 165)
119
Jaacute o plano entende a importacircncia da estruturaccedilatildeo dos poacutelos a partir de
espaccedilos selecionados pelo Governo do Estado Estes satildeo os lugares do
territoacuterio paraense que reuacutenem melhores condiccedilotildees de se desenvolver o
sistema turiacutestico Segundo o plano
Com base nestes seis poacutelos [Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes AraguiaTocantins e Xingu] cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivos agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5 grifo nosso)
O lugar que Perroux (1967) daacute agrave empresa motriz do ponto de vista
espacial pode ser entendido no plano de turismo do Estado como sendo as
regiotildees que o documento apresenta como regiotildees ou poacutelos que possibilitam o
crescimento do turismo No que se refere agrave espacializaccedilatildeo do turismo no Paraacute
a divisatildeo dos poacutelos estaacute situada em uma noccedilatildeo de regionalizaccedilatildeo das accedilotildees do
turismo colocando em evidecircncia as riquezas naturais que cada uma delas tecircm
Neste caso a teoria de Perroux (1967) se faz presente nas estrateacutegias
espaciais do PDT-PA
Cada poacutelo de turismo tem uma praacutetica diferente que corresponde a sua
peculiaridade enquanto produto turiacutestico a ser promovido para as operadoras
de turismo
No poacutelo Beleacutem por exemplo a estrateacutegia espacial desse tipo de poacutelo eacute
levar em consideraccedilatildeo a histoacuteria que a capital Beleacutem em convergecircncia com
muitos tipos culturais que acontecem nas cidades proacuteximas No plano existe
120
um quadro de posicionamento das maiores demandas das atividades culturais
ou naturais que estatildeo relacionadas com as escalas domeacutestica nacional ou
internacional As informaccedilotildees demonstram na verdade onde o poder puacuteblico
pode incentivar com maior rapidez o tipo de praacutetica turiacutestica que ocorre em
cada poacutelo Assim pretende-se cercar em todos os lugares as possibilidades de
arranco para o incremento do turismo
Quadro 4 Estrateacutegias de produtomercado poacutelo de Beleacutem
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico
Regional Nacional Internacional
Estadas curtas
Estadas longas
Eventos
Cruzeiros
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
Como se pode perceber os mercados geograacuteficos (domeacutestico regional
nacional e internacional) satildeo associados aos tipos de negoacutecios de turismo
que possibilitam um processo de alimentaccedilatildeo do capital Nesta perspectiva o
turismo no Poacutelo Beleacutem tem uma funcionalidade que o distingue dos demais
Como a cidade eacute a principal entrada para os maiores fluxos de pessoas e de
produtos que chegam do restante do paiacutes e do mundo essa eacute a forma pela
qual o plano tem a oferecer ao turista quando chega agrave cidade Neste caso
como Beleacutem tem a finalidade de sediar o seu proacuteprio poacutelo as demais cidades
que se localizam agraves suas proximidades participam dessa loacutegica de expansatildeo
FONTE PARAacute (2001 p 58)
121
das atividades do turismo Ainda mais porque eacute a partir de Beleacutem que a
dimensatildeo espacial do poacutelo ganha efeitos territoriais no estado todo
Cada poacutelo em especial eacute marcado pelo que o plano chama de
estrateacutegias de posicionamento Estas tecircm a funccedilatildeo de apresentar de forma
sucinta o que cada poacutelo tem a oferecer de acordo com as modalidades Sendo
assim o poacutelo Beleacutem apresenta as seguintes estrateacutegias
Quadro 5 Estrateacutegias de posicionamento do poacutelo Beleacutem
Global A entrada a um mundo fascinante
Estadas Curtas
A maior concentraccedilatildeo de experiecircncias no menor tempo
Estadas longas Um mundo a ser descoberto
Eventos As forccedilas da natureza
Reuniotildees Trabalhando no jardim
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 59)
De forma geral a apresentaccedilatildeo feita pelo plano no que diz respeito agraves
estrateacutegias de posicionamento satildeo elementos oferecidos na forma da
propaganda feita para esses setores do turismo Percebe-se tambeacutem uma
pretensatildeo de fazer um marketing do estado do Paraacute nas mais diversas escalas
122
sendo estas ligadas agraves demandas especiacuteficas que se interessam pelo tipo de
turismo praticado Com isso a ideacuteia eacute intensificar esses procedimentos fazendo
com que no final do processo se alcance a totalizaccedilatildeo do espaccedilo Portanto
levando em consideraccedilatildeo esses princiacutepios a criaccedilatildeo do poacutelo torna-se uma
ferramenta fundamental
No que diz respeito ao poacutelo Costa Atlacircntica a peculiaridade natural do
sol e praia eacute um dos principais atrativos a serem destacados no estado
Poreacutem como mesmo atesta o plano as outras modalidades de turismo a
serem praticadas neste poacutelo podem ser bem desenvolvidas desde que haja um
fomento necessaacuterio por parte do Estado
Para o poacutelo Costa Atlacircntica os mercados domeacutestico e regional se
destacam nesse processo de turistificaccedilatildeo dos lugares Os mercados nacional
e internacional ficam deslocados em relaccedilatildeo a essas demandas especiacuteficas A
abrangecircncia espacial torna-se mais limitada tanto do ponto de vista dos
mercados como do ponto de vista espacial O quadro abaixo sintetiza as accedilotildees
pretendidas pelo Governo do Estado no que diz respeito ao poacutelo Costa
Atlacircntica
Quadro 6 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Costa Atlacircntica
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional Nacional Internacional
Sol e Praia
Eventos
Reuniotildees
Esportes Aquaacuteticos
Melhor Idade
Pesca Esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 59)
123
Os mercados geograacuteficos de sol e praia no poacutelo Costa Atlacircntica satildeo
mais fortes em cidades como Salinoacutepolis e Marapanim Estas cidades
representam em parte a estrateacutegia de reunir os artifiacutecios necessaacuterios para
atrair turistas para esta regiatildeo Neste caso o plano de turismo do estado
apropria-se das peculiaridades regionais deste poacutelo para ressaltar a
importacircncia de ter a cultura como elemento atrativo para turistas Essa ideacuteia eacute
expressa nas estrateacutegias de posicionamento que o plano descreve enquanto
documento
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica
Sol e Praia Centro de Feacuterias de muacuteltiplas atividades enfocadas no recurso praia de mar divertido e adequado para famiacutelias com crianccedilas
Eventos O reino do Carimbo
Melhor idade A vida tranquumlila agrave beira-mar
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 p 59)
O poacutelo Marajoacute eacute um dos mais importantes quanto ao fomento da
atividade turiacutestica Neste poacutelo segundo o PDT-PA a modalidade do ecoturismo
torna-se um fator de identidade com o mercado nacional principalmente As
accedilotildees a serem desenvolvidas nessa aacuterea privilegiam um contato com a
natureza Os trajetos planejados pelas operadoras seguem uma loacutegica
racionalizada de conhecer os espaccedilos da regiatildeo do Marajoacute Nesse sentido o
incremento agraves atividades turiacutesticas ligadas a esse setor satildeo mais presentes
com o intuito de chamar a atenccedilatildeo de um segmento diferenciado Com a
perspectiva do ecoturismo a identidade de uma Amazocircnia paraense vem agrave
tona como um dos princiacutepios norteadores do crescimento do turismo No
124
tocante ao ecoturismo Rocha (2002) mostra que este uacuteltimo eacute um segmento
que tem notoacuteria expansatildeo e nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas de turismo
tendem a privilegiar tais modalidades a fim de estabelecer formas de geraccedilatildeo
de desenvolvimento O quadro abaixo mostra como o PDT-PA relaciona os
principais atrativos de turismo no poacutelo Marajoacute dando destaque ao ecoturismo
enquanto um mercado que tem uma ecircnfase em escala nacional
Quadro 8 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Marajoacute
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 60)
O comentaacuterio acerca do ecoturismo nesse poacutelo assim se define
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugadas As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Mercados geograacuteficos
NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo rural
Cultural
Praias
Turismo educacional
Melhor Idade
125
Tal situaccedilatildeo ainda eacute reforccedilada pela estrateacutegia de posicionamento
presente no documento que afirma ser necessaacuterio dar um conteuacutedo positivo agrave
percepccedilatildeo do Marajoacute (PARAacute 2001 p 61)
No que se refere ao poacutelo AraguaiaTocantins as estrateacutegias espaciais
pensadas pelo documento satildeo afirmadas como negoacuteciosmercados (PARAacute
2001) o que de certa forma faz com que as mesmas se diferenciem quanto agrave
sua especificidade e capacidade de atuar nos mercados regional nacional e
internacional tendo como escopo a competitividade O quadro abaixo
evidencia esta realidade
Quadro 9 Estrateacutegias de produto mercado do AraguaiaTocantins
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional
Nacional
Internacional
Pesca Esportiva
Reuniotildeeseventos
Atividades ecoturiacutesticas
Atividades aquaacuteticas
Sol e praia
Turismo Industrial
Turismo Educacional
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 62)
Outro poacutelo presente nas estrateacutegias espaciais do plano eacute o Tapajoacutes
Segundo o documento o poacutelo Tapajoacutes tem uma grande perspectiva para o
segmento turismo ecoloacutegico (PARAacute 2001) Tendo como sede a cidade de
Santareacutem o poacutelo Tapajoacutes segundo o plano tambeacutem tem a facilidade de
incrementar a pesca esportiva Suas prioridades neste caso concentram-se
126
mais nos mercados nacional e internacional para este segmento conforme
mostra o quadro
Quadro 10 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Tapajoacutes
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico Regional Nacional
Internacional
Ecoturismo (viagens de interesse especial viagens de aventura)
Pesca esportiva
Cruzeiros fluviais
Esportes acuaacuteticos
Turismo eacutetnico-raiacutezes
Sol e praia
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 63)
Por fim o poacutelo Xingu mostra uma peculiaridade voltada para o
ecoturismo que na anaacutelise do documento eacute o poacutelo que mais reuacutene condiccedilotildees
de atratividade turiacutestica por conta de seus valores naturais Segundo o plano
() O Poacutelo Xingu que contempla rios fauna e flora conjugados eacute perfeito para o ecoturismo As particularidades deste grandioso cenaacuterio fazem com que este seja o entorno ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 64)
127
Neste sentido o PDT-PA organiza suas estrateacutegias espaciais para o
poacutelo da seguinte forma
Quadro 11 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Xingu
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo de aventuras
Turismo de interesse especial
Pesca esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 64)
Os poacutelos presentes nessa loacutegica do plano apresentam assim a ideacuteia de
uma racionalizaccedilatildeo do espaccedilo paraense Essa perspectiva julga a natureza
como um recurso em funccedilatildeo da atividade turiacutestica Neste caso a concepccedilatildeo de
turismo do plano mais ainda a concepccedilatildeo de espaccedilo presente contribui para
uma ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de forma homogecircnea Para cada poacutelo portanto
apresenta-se uma estrateacutegia de mercado que necessariamente coincide com a
atratividade dos lugares Eacute nesse momento que o espaccedilo paraense ganha uma
nova ordem que eacute aquela da ordem dos fluxos de turismo Palavras de forte
apelo turiacutestico como se vecirc no poacutelo Xingu paraiacuteso da pesca esportiva (PARAacute
2001 p 61) ou ainda a ideacuteia de aventura (no caso do poacutelo Tapajoacutes) satildeo
essenciais para a esfera do marketing
Fazendo-se uma associaccedilatildeo com as ideacuteia de Perroux (1969) a intenccedilatildeo
de criar poacutelos eacute fazer com que eles sejam sedes de empresas Estas entatildeo
seriam responsaacuteveis pela transformaccedilatildeo econocircmica de uma regiatildeo Mas o
128
documento natildeo especifica se satildeo as empresas os agentes da transformaccedilatildeo
nem tampouco outros atores do turismo que possam integrar a essa estrateacutegia
de desenvolvimento econocircmico no estado como pequenos e medos
empresaacuterios setor informal da economia entre outros Por outro lado o plano
prefere falar que atraveacutes da consolidaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos (PARAacute
2001) eacute que a irradiaccedilatildeo do crescimento seraacute possiacutevel Assim natildeo haacute no
documento uma clara participaccedilatildeo sobre os sujeitos encarregados da dinacircmica
econocircmica feita por poacutelos Contudo segundo ainda esta concepccedilatildeo a intenccedilatildeo
do plano eacute que esses espaccedilos selecionados precisam ter condiccedilotildees de infra-
estrutura para suportar a demanda turiacutestica necessaacuteria (PARAacute 2001) Com
isso como natildeo haacute o esclarecimento sobre os agentes o poacutelos (de turismo)
podem ser constituiacutedos tanto pela induacutestria motriz (PERROUX 1969
BREITBACH 1988 ANDRADE 1977) como por outros agentes que
desencadeie o crescimento inclusive a populaccedilatildeo de uma forma geral A
intenccedilatildeo acima de tudo eacute que os espaccedilos selecionados tenham
potencialidade turiacutestica (PARAacute 2001) e capacidade de incremento econocircmico
no mercado
As estrateacutegias de posicionamento (PARAacute 2001) de cada poacutelo por
exemplo estatildeo estrategicamente posicionadas para outros espaccedilos Isso quer
dizer que os atrativos turiacutesticos de cada poacutelo correspondem em grande parte a
uma demanda de turistas de outros estados e paiacuteses principalmente aqueles
que tenham condiccedilotildees de estabelecer consumo dos produtos vendidos nos
poacutelos Por mais que o mercado regional seja um aquecedor do turismo
paraense em muitos momentos vale-se da sazonalidade ou seja os
movimentos feitos por grande parte dos turistas tecircm como espaccedilo emissor a
capital Beleacutem Para o plano essa perspectiva precisa mudar e se associar agrave
expansatildeo do mercado turiacutestico Daiacute a importacircncia de associar as
caracteriacutesticas de cada poacutelo agraves demandas de outros estados e paiacuteses e
estabelecer um marketing favorecendo a propaganda do estado Em outras
palavras o PDT-PA propotildee atraveacutes dos poacutelos uma adequaccedilatildeo de perfil dos
tipos de turistas aos recursos naturais do estado como mostra a figura na
paacutegina seguinte
129
Figura 2 Lodge Pesca Esportiva
FONTE PARAacute (2001 p70)
Comentaacuterio Proposta de empreendimento turiacutestico peculiar aos poacutelos de crescimento que conteacutem um potencial para a pesca esportiva Na figura pode-se perceber uma estilizaccedilatildeo das casas ou espaccedilos de acomodaccedilatildeo para os turistas bem como do tipo de natureza que eacute concebida pelo plano uma espeacutecie de pseudo-adequaccedilatildeo ao estilo de vida dos pescadores regionais ou ainda a construccedilatildeo de um simulacro voltado para o lazer
Neste caso pensar uma concepccedilatildeo de turismo eacute no mesmo sentido
pensar uma concepccedilatildeo de espaccedilo impregnada de valores e desejos por parte
daqueles que objetivam mudanccedilas a partir de uma loacutegica do turismo Isso
demonstra em outros termos que o plano de desenvolvimento de turismo do
estado eacute um documento que utiliza os espaccedilos na forma de poacutelos de
crescimento (PERROUX 1969) para focalizar e implementar sua concepccedilatildeo de
turismo Por mais que as peculiaridades dos atrativos turiacutesticos se destaquem
no cenaacuterio paraense a loacutegica global desse fenocircmeno eacute a mesma O espaccedilo
assume uma dimensatildeo de aptidatildeo paisagiacutestica (SILVEIRA 2002) Ou seja um
conjunto ou reuniatildeo de elementos que estatildeo na esfera do visiacutevel e que
constituem a esfera do siacutembolo ou da representaccedilatildeo dos lugares Satildeo
vantajosos para o circuito do capital e para o desenvolvimento das atividades
turiacutesticas (SILVEIRA 2002)
130
44 Espaccedilo turismo e desenvolvimento desvelando propostas e intenccedilotildees
O momento de entender a proposta de desenvolvimento apresentada
por um plano torna-se uma siacutentese poreacutem natildeo menos importante Enquanto
pretensatildeo os ideais do desenvolvimento podem ser claros o suficiente pois
estatildeo na grande maioria materializados na forma de documentos
planejamentos planos de desenvolvimento e claro na forma de poliacuteticas
puacuteblicas (setorizadas ou amplas) Tal dificuldade expotildee incondicionadamente
interesses dos agentes que pensam o desenvolvimento
Neste sentido falar da importacircncia do desenvolvimento requer pensar
uma profunda transformaccedilatildeo natildeo soacute dos espaccedilos mas acima de tudo da
sociedade como um todo Por mais que a proposta de desenvolvimento natildeo
atinja diversas classes sociais ou abarque os conflitos que entre elas existem
(em muitos casos os conflitos entre as classes sociais satildeo ignorados por
autoridades que fazem propostas sobre o desenvolvimento acirrando-os ainda
mais) mesmo assim o que estaacute em jogo eacute um conjunto de accedilotildees que visam agrave
transformaccedilatildeo da sociedade
No turismo essa realidade natildeo seria diferente ainda mais porque ora
as propostas de desenvolvimento desse setor apresentam-se enquanto
setorizadas (somente do e para a atividade do turismo) ora ligadas a outros
setores estrateacutegicos das poliacuteticas puacuteblicas como economia urbanizaccedilatildeo
saneamento entre outros
Natildeo necessariamente o desenvolvimento conteacutem em suas
formulaccedilotildees as dimensotildees social e econocircmica (esta uacuteltima mais valorizada)
como forma e conteuacutedo nas tomadas de decisotildees que satildeo implementadas pelo
Estado Neste processo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas aparece como
instrumento de accedilatildeo necessaacuterio ao processo do desenvolvimento As poliacuteticas
puacuteblicas satildeo portanto a forma pela qual o processo de desenvolvimento se daacute
Hall (2001) ao tratar das dimensotildees do planejamento poliacutetica e plano
faz uma importante diferenciaccedilatildeo Para o autor a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
131
puacuteblicas eacute um ato poliacutetico e nesse sentido elas estatildeo inteiramente ligadas agraves
decisotildees e caracteriacutesticas econocircmicas culturais sociais e claro ideoloacutegicas o
que as isenta de qualquer tipo de neutralidade
Segundo ainda o mesmo autor o planejamento eacute uma ferramenta
importante para se pensar a dinacircmica das poliacuteticas puacuteblicas pois integra uma
relaccedilatildeo entre passado presente e futuro ou seja uma caracteriacutestica
fundamental do planejamento eacute sua constante dinamicidade ou um
pensamento que natildeo pretende ser estaacutetico no espaccedilo e no tempo
No que diz respeito ao plano Hall (2001) afirma que este se refere a um
conjunto de decisotildees ou ainda accedilotildees a serem desenvolvidas no futuro Isto
quer dizer que as ideacuteias contidas em um plano satildeo a siacutentese de pensamentos
elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e planejamentos feitos pelo governo Em um plano
esses elementos aparecem de forma concretizada ou materializada O que
facilita de uma forma geral a visualizaccedilatildeo das accedilotildees (muitas vezes elaboradas
sob a forma de programas de intervenccedilatildeo)
Em uma dimensatildeo mais ampla a condiccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de um plano
reflete as intenccedilotildees gerais sobre o que seja o desenvolvimento Eacute neste ponto
que a relaccedilatildeo entre o plano de turismo do Paraacute e a questatildeo sobre
desenvolvimento revela-se um ponto importante a ser analisado Neste sentido
o espaccedilo paraense eacute a base de materializaccedilatildeo das ideologias pensadas pelo
Estado e tambeacutem reflexo das intervenccedilotildees jaacute feitas para garantir o
desenvolvimento da atividade turiacutestica Para tanto ideacuteias como melhoria da
qualidade de vida riqueza dos atrativos da Amazocircnia paraense (PARAacute 2001)
estatildeo associados a uma conversatildeo para o mercado tanto que o Paraacute
apresenta condiccedilotildees significativas para que o turismo seja importante
instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
Neste caso percebe-se que a visatildeo estrateacutegica do plano para o
desenvolvimento estaacute referendada por uma relaccedilatildeo promissora entre a
potencialidade natural do Paraacute e a potencialidade econocircmico-financeira que o
mesmo pode gerar Por um outro lado assim como na questatildeo sobre a
concepccedilatildeo de turismo em nenhum momento o plano discute ou afirma qual
132
sua concepccedilatildeo de desenvolvimento mostrando assim sua fragilidade nesse
criteacuterio Seu conteuacutedo referente agrave dimensatildeo do desenvolvimento natildeo requer
uma apreciaccedilatildeo conceitual mas sim a identificaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos e
suas estrateacutegias mercadoloacutegicas
Hall (2001) destaca os tipos de planejamentos a partir da atividade
turiacutestica em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento Nesse sentido o autor
ressalta a importacircncia de natildeo se perceber o planejamento a partir de uma
dimensatildeo econocircmica pois este se realizado desta forma mostra na praacutetica
suas imperfeiccedilotildees e limites O autor faz uma anaacutelise de um tipo de
desenvolvimento
o desenvolvimento sustentaacutevel
fazendo com que a ideacuteia
de meio ambiente se torne o centro das discussotildees sobre planejamento da
atividade turiacutestica O autor eacute claro ao enfatizar a dimensatildeo unilateral da
abordagem econocircmica no desenvolvimento Para ele a mesma quando
utilizada como uacutenica interpretaccedilatildeo de um plano reduz a importacircncia de um
documento a dados econocircmicos desencadeando assim resultados isolados
ou ainda consequumlecircncias nada positivas para o meio ambiente e para a
sociedade Qualquer indicador de desenvolvimento baseado no valor
monetaacuterio da produccedilatildeo estaacute sujeito a imperfeiccedilotildees teacutecnicas e conceituais
(SMITH apud HALL 2001 p 22)
As iniciativas de mercado pensadas pelo governo do Estado satildeo
detalhadamente expostas no documento definidas principalmente sob a forma
de estrateacutegias (parte B do plano) mostrando etapas de uma espeacutecie de
desenvolvimento econocircmico A ideacuteia de crescimento com sustentabilidade
(PARAacute 2001) aparece como se fosse apecircndice do desenvolvimento econocircmico
pretendido pelo Governo atraveacutes do PDT-PA mesmo assim tal ideacuteia natildeo eacute
conceituada tampouco problematizada no documento
Como uma forma de contribuir para a ideacuteia de desenvolvimento Souza
(2002) oferece uma anaacutelise importante que tem o intuito de criar um novo
paradigma conceitual Essa questatildeo tambeacutem se aplica ao turismo enquanto
uma ferramenta de desenvolvimento local O autor procura ir aleacutem das
concepccedilotildees de desenvolvimento tradicional e procura estabelecer uma
diferenccedila entre o desenvolvimento econocircmico (forma tradicional e tambeacutem a
133
mais usual nos planejamentos) e o desenvolvimento soacutecio-espacial (alternativa
ao economicismo) Para o autor pelo fato do turismo ser uma atividade
complexa e que implica em impactos positivos e negativos na sociedade e no
meio ambiente ele merece um destaque qualificado nas teorias sobre o
desenvolvimento
Para Souza (2002) o desenvolvimento ao longo dos anos veio
sublinhado como sinocircnimo de desenvolvimento econocircmico o que se configura
na relaccedilatildeo entre o crescimento econocircmico ou seja referente ao Produto
Nacional Bruto (PNB) ou Produto Interno Bruto de um paiacutes (PIB) e a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste caso essa relaccedilatildeo eacute suficiente para perceber
a concepccedilatildeo de desenvolvimento que o PDT-PA pensa para o Paraacute Quando
em sua introduccedilatildeo o plano designa a ideacuteia de sustentabilidade e de melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo paraense em funccedilatildeo do crescimento
(PARAacute 2001) na verdade a concepccedilatildeo de mercado paira como principal e
esta encerra a condiccedilatildeo para que haja o desenvolvimento do turismo no
territoacuterio paraense A ecircnfase nos processos sobre atratividade marketing
produccedilatildeo e gestatildeo (PARAacute 2001) satildeo elementos essenciais para se perceber o
forte conteuacutedo mercadoloacutegico inerente ao documento
No plano de turismo do estado do Paraacute o governo se esforccedila para
chamar a atenccedilatildeo dos turistas que vecircm de fora do estado Eacute preciso fazer a
propaganda de seu lugar mostrar atraveacutes do marketing e divulgaccedilatildeo que o
Paraacute eacute um espaccedilo interessante a ser desfrutado Em suas linhas gerais o
plano destaca a beleza exoacutetica da natureza amazocircnica e dos valores culturais
para atrair turistas Esses espaccedilos como afirma Boulloacuten (2002) devem estar
dotados de um bom sistema turiacutestico em outras palavras a infra-estrutura do
lugar deve estar concernente ao melhor trajeto das pessoas que visitam os
lugares diferentes Poreacutem ao tomar essa ideacuteia como estrateacutegia de
desenvolvimento os espaccedilos selecionados para a praacutetica do turismo (os poacutelos)
excluem o restante do territoacuterio paraense ou ainda estes uacuteltimos devem estar
sintonizados com a loacutegica de desenvolvimento proposta pelo governo Poreacutem
lembrando que a loacutegica de construccedilatildeo de poacutelos a partir da teoria de Perroux
(1969) natildeo permite que o crescimento se decirc em todos os lugares haacute um
134
campo de forccedilas (PERROUX 1969) que atua em um espaccedilo especiacutefico Daiacute a
loacutegica dos poacutelos Nesse sentido o desenvolvimento do turismo no Paraacute natildeo se
daacute de forma homogecircnea privilegiando por outro lado as cidades que reuacutenem
infra-estrutura adequada causando assim um desenvolvimento
desequilibrado no territoacuterio
No tocante agrave questatildeo do conforto ao turista o plano concentra esforccedilos
ao tentar oferecer aos que visitam o estado tudo o que haacute de melhor pois satildeo
eles os responsaacuteveis diretos pela geraccedilatildeo de lucro no local de destino O
plano ao conceber os espaccedilos natildeo estabelece uma necessidade de somente
melhorar ou ampliar os espaccedilos com potencial turiacutestico Aleacutem disso eacute no
conforto e comodidade do turista ao visitar o Paraacute que esses espaccedilos satildeo
pensados (concebidos) ou quando jaacute prontos satildeo incrementados Eacute nesse
momento que o papel do Estado eacute fundamental para se entender o processo
de reestruturaccedilatildeo espacial
O diferencial neste ponto satildeo as peculiaridades espaciais O turista visita
outros lugares com o intuito de conhecer o diferente o inusitado o exoacutetico E
neste sentido busca algo diferente em sua vida Pensando nessa situaccedilatildeo o
Governo do Estado do Paraacute faz uma adequaccedilatildeo desses espaccedilos
O PDT-PA concebe neste caso espaccedilos voltados para a funcionalidade
turiacutestica Tais espaccedilos estatildeo estruturados de forma a atender diretamente a
necessidade dos que visitam a Amazocircnia paraense por isso os turistas satildeo o
objetivo final do plano Eacute atraveacutes da entrada deles que a dinacircmica turiacutestica
acontece No documento existem imagens que pensam o bem-estar do turista
de acordo com os aspectos naturais da regiatildeo As imagens neste caso
tornam-se um importante recurso estrateacutegico para se pensar mercados
interessados em investir nesses espaccedilos concebidos pelo Estado a fim de
fomentar o turismo
135
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza)
FONTE PARAacute (2001 p 69)
A pouca ecircnfase dada aos conceitos que estatildeo associados ao
desenvolvimento do turismo eacute uma marca constante no plano A ideacuteia de
qualidade de vida (um aspecto importante das temaacuteticas do desenvolvimento) eacute
reduzida a uma pequena parte do plano localizada na sua introduccedilatildeo Como
fora mostrado nos capiacutetulos anteriores a decisatildeo do plano eacute fazer uma
caracterizaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos paraenses A qualidade de vida adviria
de uma maior rentabilidade gerada a partir do incremento econocircmico desses
produtos tanto que para o plano o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito
significativas para que o turismo seja um importante instrumento de
desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001) Neste sentido mais uma
Comentaacuterio Na figura mostra-se um exemplo de descanso em volta de uma natureza criada que eacute como mostra no documento uma peculiaridade desses espaccedilos O turista portanto ao desfrutar desse tipo de serviccedilo identifica-se com a regionalidade dos lugares apropriados estrategicamente pelo turismo Essa regionalidade por outro lado eacute reduzida a este universo causando assim uma simulaccedilatildeo
136
vez o reducionismo se faz presente na anaacutelise sobre o desenvolvimento
causando desta forma sua debilidade
O PDT-PA ainda faz uma abordagem destacaacutevel sobre tipos de espaccedilos
de lazer que se encontram em consonacircncia com a estrutura dos poacutelos Tais
espaccedilos reuacutenem condiccedilotildees favoraacuteveis para a praacutetica do turismo e de forma
ampla para o desenvolvimento da atividade e o seu consequumlente crescimento
econocircmico para o estado Para o plano a construccedilatildeo desses espaccedilos serve de
referecircncia para atrair turistas pois na sua concepccedilatildeo os valores no que se
refere agrave natureza lazer na Amazocircnia paraense satildeo importantes para o fomento
agrave atividade turiacutestica Como afirma o plano A natureza amazocircnica com sua
extraordinaacuteria riqueza de flora e fauna constituem o maior atrativo do Paraacute
(PARAacute 2001 p 71) Percebe-se com isso que a apropriaccedilatildeo da natureza
segundo esses princiacutepios torna-se um caminho importante para o
desenvolvimento A figura da paacutegina seguinte mostra mais uma ideacuteia pensada
pelo plano para a transformaccedilatildeo do territoacuterio paraense
137
Figura 4 Resort aventura e natureza
FONTE PARAacute 2001 p 71
Comentaacuterio A atividade gerada nesses espaccedilos torna-se um fator importante para o desenvolvimento do turismo Neles o consumo da paisagem bem como da natureza eacute um estimulador de riqueza e por isso passa a ser uma estrateacutegia para o crescimento econocircmico
Harvey (2004) apresenta um argumento interessante sobre esses
espaccedilos imaginados principalmente quando satildeo pensados a partir de
planejamentos para a organizaccedilatildeo espacial de um lugar Para o autor o
chamado utopismo de livre organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2004) funciona
atraveacutes de espaccedilos fechados como uma economia isolada (HARVEY 2004)
com o intuito de controlar natildeo soacute o espaccedilo mas o tempo tambeacutem garantindo
assim uma possibilidade de mudanccedila social e histoacuterica Neste caso os
processos sociais satildeo controlados reprimidos atraveacutes de uma forma espacial
fixa (HARVEY 2004) O plano afirma que a construccedilatildeo desses lugares eacute
baseada numa preacute-seleccedilatildeo onde a beleza paisagiacutestica e a riqueza da fauna e
da flora devem ser destacadas (PARAacute 2001) facilitando com isso seu uso
Com isso as ideacuteias de desenvolvimento a partir do PDT-PA podem ser
percebidas a partir de um universo econocircmico onde este eacute o carro chefe da
138
transformaccedilatildeo do turismo e da sociedade Os elementos de mercado presentes
no documento como as estrateacutegias comerciais a propaganda o marketing a
seleccedilatildeo de espaccedilos marcam uma concepccedilatildeo especiacutefica da poliacutetica puacuteblica
pensada pelo Estado paraense para o turismo As accedilotildees decorrentes dessas
poliacuteticas quando materializadas no espaccedilo tendem agrave mudanccedilas consideraacuteveis
no que diz respeito agrave sociedade Como siacutentese dessas poliacuteticas o PDT-PA traz
um posicionamento que tambeacutem eacute o reflexo do que se pensa sobre o turismo e
desenvolvimento Neste sentido tais poliacuteticas soacute podem se tornar efetivas se
houver o espaccedilo como condiccedilatildeo para esse processo o que garante por assim
dizer que o desenvolvimento da atividade turiacutestica tambeacutem soacute pode ser feito
mediante essa condiccedilatildeo espacial
139
5 CONCLUSOtildeES
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma seacuterie de efeitos e processos que produzem diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida nos usos de recursos nas relaccedilotildees com o ambiente e nas formas poliacuteticas e culturais (David Harvey 2004)
140
No trecho destacado da paacutegina anterior David Harvey procura analisar o
que ele chama de desenvolvimento geograacutefico desigual sendo este uma
proposta alternativa agrave ideacuteia de globalizaccedilatildeo Para Harvey (2004) o processo de
globalizaccedilatildeo do capitalismo atingiu um estaacutegio muito complexo e por isso
mesmo o conceito de globalizaccedilatildeo natildeo daacute mais conta de explicar as recentes
transformaccedilotildees que o mundo estaacute passando Eacute necessaacuterio para ele esboccedilar
um argumento capaz de articular a dialeacutetica das escalas Tais escalas
necessariamente devem estar pensadas entre o micro (que para ele estaacute
representada na figura do corpo humano) e o macro (os processos globais que
ocorrem em todo o planeta) Dessa forma segundo Harvey (2004) as nuanccedilas
soacutecio-espaciais podem se tornar mais claras e a sociedade como um todo natildeo
fica a mercecirc das transformaccedilotildees que o sistema capitalista impotildee no mundo
fazendo com que qualquer mudanccedila natildeo seja tomada de forma acriacutetica
Ainda pode-se afirmar logo de iniacutecio que pensar em poliacuteticas puacuteblicas
de turismo eacute pensar em seus efeitos e processos que produzem as diferenccedilas
geograacuteficas de um lugar Por isso entendido como ponto de discussatildeo central
desse trabalho a anaacutelise de um plano enquanto um documento que une as
possibilidades de transformaccedilatildeo de um lugar requer pensar de forma dialeacutetica
um elemento que iraacute produzir as diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida de
uma sociedade ou em uma cultura como diz Harvey (2004)
Poreacutem deve-se entender que a construccedilatildeo de um plano de turismo
refere-se agrave processos de construccedilatildeo de espaccedilos a partir de uma loacutegica estatal
Ou seja analisar a poliacutetica puacuteblica de turismo eacute antes de tudo relacionaacute-la a
uma ideologia de Estado
Neste caso as transformaccedilotildees mundiais que o turismo de mercado vem
causando em sua grande maioria satildeo fruto de uma relaccedilatildeo com o Estado
pois eacute este uacuteltimo que se torna o principal aliado nas negociaccedilotildees sobre o lazer
a partir do turismo
O alcance dessa relaccedilatildeo eacute tatildeo intensa que os governos ao pensarem no
turismo como elemento integrante de seu sistema de governo produzem
artifiacutecios que possibilitam as grandes empresas hoteleiras as agecircncias de
141
turismo locais os operadores grupos associados entre outros (ou na
linguagem comum de quem trabalha no ramo do trade turiacutestico) a terem mais
acessibilidade a espaccedilos Neste processo atraveacutes de estudos teacutecnicos eacute que
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo elaboram documentos necessaacuterios ao avanccedilo
desses agentes no espaccedilo Surgem portanto os planos de turismo como
siacutentese da organizaccedilatildeo das ideacuteias pensadas (arquitetadas) pelo Estado e por
representantes do ramo turiacutestico Como bem lembra Cruz (2001) as poliacuteticas
puacuteblicas natildeo satildeo estrategicamente pensadas de forma adequada pelo Estado
ela pode ficar ao sabor das iniciativas privadas ou ficar agrave revelia delas Nisto
reside portanto os interesses dos agentes privados em fazer com que o
processo de construccedilatildeo de planos de turismo por parte do Estado possa
garantir uma intervenccedilatildeo mais raacutepida
A Amazocircnia sem duacutevida nenhuma nos uacuteltimos tempos tem-se
transformado em um dos espaccedilos privilegiados para a expansatildeo da atividade
turiacutestica Num amplo espaccedilo como este a praacutetica do lazer ganha um
diferencial associado agrave questatildeo de se estar mais proacuteximo de espaccedilos naturais
ou selvagens O exoacutetico da floresta eacute um objeto que devidamente apropriado
pelos promotores de turismo (no sentido de estrateacutegia de mercado) passa a
ser consumido a partir de viagens diferentes dos circuitos tradicionais como as
praias de litoral O encanto da floresta sua suntuosidade exuberacircncia satildeo
elementos muito divulgados em folders ou propagandas em outros mercados
emissores a fim de atrair turistas para a regiatildeo Os estados que compotildeem a
regiatildeo amazocircnica neste caso articulam-se para promover ainda mais esse
novo foco de mercado e tambeacutem possibilidade de geraccedilatildeo de divisas
Ao discutir a importacircncia do plano de Turismo para o Paraacute necessaacuterio
se fez pensar de forma inerente o que se veicula em termos de ideacuteias
estrateacutegias ou modelos de desenvolvimento que satildeo detalhados num
documento como esse Neste caso natildeo basta somente afirmar a ideacuteia de que
o Estado eacute um agente facilitador dos processos de turismo em seu espaccedilo As
ideacuteias estrateacutegias modelos de desenvolvimento estatildeo assim unidos em
concepccedilotildees de turismo espacialidades noccedilotildees de desenvolvimento Sendo
142
assim o PDT-PA mesmos natildeo definindo ou conceituando devidamente
mostra elementos que estatildeo associados a esses criteacuterios
No que diz respeito por exemplo agrave concepccedilatildeo de turismo que eacute
veiculada no plano o documento eacute enfaacutetico ao revelar a importacircncia do Paraacute
como novo espaccedilo a ser convertido em trade Dado o interesse por parte do
plano uma concepccedilatildeo do voltada ao mercado surge nas entrelinhas do
documento sendo esta importante para o desenvolvimento da atividade
Esta concepccedilatildeo permite visualizar o interesse por parte do Estado em
tornar o territoacuterio paraense um potencial turiacutestico ou um grande celeiro de
oportunidade de negoacutecios voltados para o setor Neste sentido elementos
importantes como natureza tornam-se objetos e satildeo valorizados nessa
relaccedilatildeo na qual agentes de mercado do turismo se utilizam de fragmentos dos
espaccedilos naturais principalmente aqueles que demonstram uma beleza cecircnica
com potenciais de mercado A natureza passa a ser objeto de troca de
mercado Eacute o proacuteprio espaccedilo que se torna foco de atenccedilatildeo da construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas Atraveacutes de uma maciccedila propaganda a utilizaccedilatildeo da
paisagem passa a ser o recurso de apoio na venda desses espaccedilos que
entram no circuito da troca (CARLOS 2002) ou na produccedilatildeo da artificialidade
Uma outra ideacuteia que estaacute associada agrave concepccedilatildeo de turismo de
mercado e que por conseguinte o plano de turismo do Paraacute adota baseia-se
no princiacutepio de que o turismo sempre eacute beneacutefico agrave sociedade local e que por
isso mesmo traz em sua bagagem a condiccedilatildeo de melhoria da qualidade de
vida e de novas percepccedilotildees sobre o meio ambiente
Ideacuteias como sustentabilidade ou crescimento sustentaacutevel aparecem nos
primeiros paraacutegrafos do documento poreacutem natildeo satildeo devidamente exploradas
ou sequer conceituadas Isto provoca uma sensaccedilatildeo de que o turismo eacute
panaceacuteia para todos os males (ROCHA 2002) Neste caso o PDT-PA revela-
se fragilizado e reducionista quanto agrave questatildeo do que seja a melhoria da
qualidade de vida e o que seja sustentabilidade soacutecio-ecoloacutegica A ideacuteia de
que o plano fora definido de forma estrateacutegica para garantir a melhoria da
qualidade de vida para a populaccedilatildeo paraense estaacute calcada em princiacutepios
143
exclusivos de cunho mercadoloacutegico Toda essa estrutura estaacute voltada para um
maior incremento da atividade turiacutestica no estado fortalecendo assim uma
concepccedilatildeo muito forte sobre a ideacuteia de mercadificaccedilatildeo dos espaccedilos (SOUZA
2002)
No que diz respeito ao foco das estrateacutegias espaciais adotadas pelo
plano este eacute abrangente e pensa o territoacuterio por completo a partir das meso-
regiotildees internas do Estado O peso dado agrave seleccedilatildeo das regiotildees turiacutesticas faz
com que a transformaccedilatildeo do turismo no Paraacute se decirc de forma totalizante Neste
caso o territoacuterio paraense eacute pensado de forma abrangente a partir dos lugares
(cidades com infra-estrutura) que jaacute tecircm uma preacute-disponibilidade que
congregam os atrativos turiacutesticos necessaacuterios para tornar este lugar em um
potencial turiacutestico
A estrutura feita em poacutelos (Beleacutem Costa Atlacircntica Araguaia Tocantins
Xingu Tapajoacutes e Marajoacute) permite visualizar a possibilidade de valorizaccedilatildeo
desses espaccedilos a partir de suas peculiaridades Permite tambeacutem em uma
dimensatildeo teoacuterico-conceitual maior visualizar uma adaptaccedilatildeo das teorias dos
poacutelos de crescimento de Perroux (1969) Este autor entendia que para uma
economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo pudesse fluir melhor era necessaacuterio
se fragmentar os espaccedilos em subespaccedilos ou em outras palavras em regiotildees
produtivas que facilitassem o fluxo de mercado esse fluxo era garantindo
acima de tudo pela presenccedila da induacutestria a qual reunia as condiccedilotildees de
transformaccedilatildeo econocircmica de um lugar Isto quer dizer que o PDT-PA a partir
das estrateacutegias espaciais feitas por poacutelos pensa o espaccedilo paraense de forma
racional e de forma que privilegie induacutestrias do turismo inteiramente voltadas
para o mercado Pois nessa situaccedilatildeo o importante eacute dar flexibilidade agraves
empresas que atuam nos espaccedilos privilegiados (PERROUX 1969) natildeo
levando em consideraccedilatildeo ou mencionado outros agentes da economia que
possam integrar o mercado do turismo Percebe-se assim uma maior fluidez
aos agentes do circuito superior da economia (SANTOS 2004)
Nessa situaccedilatildeo cria-se a ilusatildeo de que as sedes das regiotildees poacutelos pelo
fato de reunirem condiccedilotildees preacutevias para um arranque de crescimento
econocircmico possibilitam com que gradativamente as cidades que se localizam
144
ao redor da sede possam ter o tipo de desenvolvimento da atividade turiacutestica
arrolada no centro entendendo-se aiacute que as cidades possam ter a mesma
intensidade de desenvolvimento No plano essa situaccedilatildeo eacute mais clara quando
se faz um diagnoacutestico das potencialidades de cada regiatildeo do estado de
acordo com a geraccedilatildeo de um objetivo pautado na relaccedilatildeo entre produtividade
atratividade gestatildeo e marketing (PARAacute 2001) sempre com o intuito de
garantir a competitividade dos espaccedilos Como um outro elemento que
contempla essa visatildeo de turismo o governo do estado do Paraacute define uma
concepccedilatildeo de turismo e as estrateacutegias espaciais com o intuito ainda maior de
promover um desenvolvimento tanto da atividade enquanto uma perspectiva
setorial como uma perspectiva de cunho soacutecio-econocircmico E neste sentido a
ideacuteia de desenvolvimento baseia-se em uma concepccedilatildeo expliacutecita de
desenvolvimento econocircmico ou que atribui aos ideais econocircmicos as
perspectivas de um mercado global
Nessa situaccedilatildeo dois elementos marcam a proposta de desenvolvimento
descrita no plano de turismo Segundo as ideacuteias de Souza (1997 2000 2001
2004) o que basicamente caracteriza o desenvolvimento do tipo econocircmico eacute
o crescimento econocircmico e a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste sentido a
estrutura do documento mostra-se enveredada para o caminho do
desenvolvimento de mercado assinalando as divisotildees necessaacuterias para se
alcanccedilar as metas previstas pelo Governo do Estado O slogan da
competitividade aparece como elemento norteador nas accedilotildees do documento
principalmente quando em sua proposta a reestruturaccedilatildeo de outros elementos
como marketing gestatildeo produtividade e atratividade devem estar associados a
condiccedilatildeo do que seja o desenvolvimento do turismo no Paraacute e em uma
dimensatildeo mais ampla da sociedade e de seu modo de pensar e agir sobre o
que seja turismo e melhoria da qualidade de vida
Segundo o documento a assertiva do crescimento deve associar-se agrave
questatildeo da sustentabilidade Poreacutem como foi analisado o debate da
sustentabilidade aparece condicionado ou como um apecircndice do mercado Eacute
nesse sentido de fato que o crescimento assume uma postura quantitativa
pois a necessidade de fazer com que o turismo assuma uma responsabilidade
145
de transformaccedilatildeo social eacute aquela em que os indiviacuteduos devem ser estimulados
pelo consumo Sendo assim eacute atraveacutes deste uacuteltimo que a condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida viraacute No plano haacute situaccedilotildees que mostram que a
deficiecircncia de produtos turiacutesticos (recursos naturais) deve ser melhorada para
que haja assim o consumo por parte daqueles que conseguem desfrutar do
lazer no estado
Como consequumlecircncia por um lado pelo baixo niacutevel de conhecimento e compreensatildeo turiacutestica do Paraacute no canal de venda e comercializaccedilatildeo e por outro pela debilidade ou inexistecircncia de uma accedilatildeo de comercializaccedilatildeo e promoccedilatildeo sistemaacutetica por parte da induacutestria turiacutestica paraense a niacutevel individual ou coletivo a presenccedila e venda de ofertas de produtos e destinos turiacutesticos paraenses eacute muito reduzida (PARAacute 2001 p 39)
A outra dimensatildeo da perspectiva do desenvolvimento econocircmico a que
Souza (1997 2000 2001 2004) atribui diz respeito agrave modernizaccedilatildeo
tecnoloacutegica E neste ponto o PDT-PA torna-se enfaacutetico ao diagnosticar a infra-
estrutura do estado como precaacuteria e ineficiente aos comandos de uma rede de
serviccedilos turiacutesticos que precisa de uma infra-estrutura baacutesica para funcionar
bem Nas palavras do documento
Sem duacutevida o atraso acumulado e as particularidades fiacutesicas da regiatildeo amazocircnica explicam em boa parte as dificuldades encontradas Entretanto desde a perspectiva de um desenvolvimento turiacutestico equilibrado e competitivo a soluccedilatildeo destes problemas [infra-estrutura e equipamentos baacutesicos] deve ser considerada dentre a primeira linha de prioridade (PARAacute 2001 p 16 grifo nosso)
Percebe-se portanto que nesse ponto para que haja um melhor
rendimento da atividade turiacutestica eacute necessaacuterio que o Estado seja o mediador e
veiacuteculo de construccedilatildeo das infra-estruturas turiacutesticas Neste caso haacute que se
destacar que a construccedilatildeo de infra-estruturas do tipo estradas portos
aeroportos hospitais rede de seguranccedila rede de saneamento e esgoto de
146
cidades com potenciais turiacutesticos natildeo atendem uacutenica e exclusivamente a este
setor pois por sua caracteriacutestica proacutepria o turismo eacute um segmento eacute um setor
das atividades econocircmico-sociais de um Estado e por isso mesmo outras
atividades econocircmicas e sociais se utilizam desses espaccedilos (fixos) que a
esfera estatal realiza em diversos lugares Poreacutem o que se deve afirmar aqui
eacute que pelo fato de que o Governo do Estado dar um privileacutegio maior ao turismo
de massa (aquele concernente ao fluxo global da economia) esses
equipamentos e infra-estruturas estatildeo pensados concebidos articulados e
decididos em primeiro plano para os agentes de classes sociais que podem
circular capital de forma mais raacutepida A dita sociedade local aqui fica em
segundo plano ou possivelmente marginalizada desse processo de melhoria
do espaccedilo o que faz com que o outro lado da moeda ou seja aqueles que natildeo
tecircm condiccedilotildees de usufruir deste tipo de turismo fiquem em uma situaccedilatildeo de
desequiliacutebrio social principalmente no que tange aos requisitos baacutesicos do que
seja a melhor qualidade de vida como educaccedilatildeo sauacutede lazer e diversatildeo
transporte e seguranccedila
Outra ideacuteia eacute aquela baseada em Harvey (2004) de que o planejamento
das formas espaciais natildeo deve dissociar de um conteuacutedo espacial onde as
diversas maneiras de pensar a dimensatildeo do social necessitam de uma
articulaccedilatildeo que focalizem a justiccedila social Harvey (2004) se pergunta como eacute
possiacutevel tornar clara essa articulaccedilatildeo entre as formas espaciais e os
conteuacutedos a fim de criar uma modalidade mais dialeacutetica e que decirc uma
importacircncia consideraacutevel ao espaccedilo Sendo assim um plano de
desenvolvimento de turismo da envergadura do PDT-PA enquanto um
documento que reuacutene possibilidades natildeo soacute de mudanccedilas da atividade
turiacutestica mas de uma dimensatildeo da sociedade pode em todo caso ser um
passo para que as formas espaciais e os processos espaciais estejam em prol
de um projeto social mais justo e solidaacuterio com aqueles que fazem parte do rol
de ideacuteias do desenvolvimento Apropriando-se das ideacuteias de Harvey (2004) o
fechamento ou a possibilidade de se realizar algo concretamente natildeo pode
estar distante nos planejamentos puacuteblicos Do contraacuterio forma-se um hiato
entre o que o Estado pensa em termos de projetos poliacuteticos e a sociedade
147
Neste sentido o PDT-PA constitui-se um plano limitado em sua proposta
para o desenvolvimento ou ainda enquanto um instrumento de mudanccedila
social Em primeiro lugar do ponto de vista econocircmico (que eacute o principal
elemento trabalhado pelo plano) o documento pensa um tipo de economia
voltado para setores da sociedade que reuacutenem condiccedilotildees de estabelecer
consumo de produtos turiacutesticos selecionados e especiacuteficos como eacute o caso de
resorts fluviais (PARAacute 2001 p 73) Nestes espaccedilos consumo eacute seletivo e
por isso mesmo exclui a possibilidade de uma maior interaccedilatildeo com outras
partes do territoacuterio paraense Em segundo lugar como consequumlecircncia do
primeiro a ideacuteia de contato com outras culturas (outras pessoas) em territoacuterio
paraense natildeo se aplica no plano Os espaccedilos pensados pelo documento ao
inveacutes de estabelecerem uma abrangecircncia de trocas sociais estimulam o
confinamento das pessoas que vecircm de fora o que faz com que o turista
conheccedila partes do territoacuterio paraense e natildeo o todo com suas diferenccedilas de
costumes haacutebitos conflitos Haacute portanto uma estandardizaccedilatildeo dos lugares
Tambeacutem existe uma limitaccedilatildeo teoacuterico-conceitual na elaboraccedilatildeo do plano
Por ser um documento muito pragmaacutetico funcionalista (tem a funccedilatildeo de
fornecer dados para o crescimento do turismo no estado) concentra-se em
aspectos caracteriacutesticas estrateacutegias de mercado diagnoacutesticos da realidade
turiacutestica do estado deixando de lado ou ateacute mesmo negligenciando uma
filiaccedilatildeo ideoloacutegica clara dificultando sua identidade teoacuterica
E por fim o plano apresenta ideacuteias muito proacuteximas de um planejamento
estrateacutegico Com a ajuda de oacutergatildeos especializados na promoccedilatildeo (marketing)
dos lugares como eacute o caso da contrataccedilatildeo da THR o Estado pensa o espaccedilo
paraense como um espaccedilo competitivo inspirado sobretudo numa
competiccedilatildeo do tipo empresarial A partir da conscientizaccedilatildeo da mundializaccedilatildeo
da economia e da comunicaccedilatildeo (VAINER 2002 p 76) esses espaccedilos
pretendem ser mais competitivos por isso o espaccedilo aqui eacute condicionado
principalmente por um ritmo econocircmico natildeo assumindo outras feiccedilotildees sociais
Eacute com isso portanto que aqui natildeo se pretende negar qualquer
possibilidade de se praticar turismo ainda mais a partir de ideacuteias que ora satildeo
elaboradas pelos governos mas sim de se pensar que um outro tipo de turismo
148
eacute possiacutevel aquele em que as medidas de mercado natildeo assumam as decisotildees
por completo dessa atividade Aleacutem disso a praacutetica do turismo pode estar de
fato alicerccedilada na condiccedilatildeo de uma praacutetica social acima de tudo
149
REFEREcircNCIAS
150
ANDRADE M Espaccedilo polarizaccedilatildeo e desenvolvimento a teoria dos poacutelos de desenvolvimento e a realidade nordestina 4 ed Satildeo Paulo Grijalbo 1977
ALMEIDA M Fragmentaccedilotildees do espaccedilo brasileiro e as poliacuteticas de turismo In ENCONTRO DE GEOacuteGRAFOS DA AMEacuteRICA LATINA 10 2005 Satildeo Paulo Anais Satildeo Paulo USP 2005 1 CD- rom
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21
Incondicionalmente agrave Julieta Serra Agrave sua maneira
acima de todos e abaixo de Deus soube se esforccedilar
para que este se tornasse possiacutevel Nela inspiro-me
para que um dia eu consiga ser no miacutenimo um
cidadatildeo batalhador e justo Matildee com certeza vocecirc
estaacute em todos os meus momentos Obrigado
iv
22
AGRADECIMENTOS
Triste eacute aquele que natildeo sabe agradecer Mais ainda quando acha que em um
trabalho cientiacutefico (seja de qual envergadura for imagine-se ainda uma
dissertaccedilatildeo) seu esforccedilo eacute uacutenico e exclusivamente seu Ledo engano Em um
trabalho como esse as pessoas aparecem e desaparecem mas deixam suas
marcas as quais se tornam eternas pelo menos em funccedilatildeo desse momento
Como este eacute um momento em que o autor de um trabalho cientiacutefico tem sua
liberdade entatildeo ponho-me a relatar loacutegico atraveacutes das palavras (e acima delas de
seus conteuacutedos) as pessoas as marcas que deixaram nesta curta passagem de uma
poacutes-graduaccedilatildeo Aos que me conhecem (e os que natildeo conhecem passam a conhecer
um pouco agora) sabem que o momento de agradecer para mim eacute um momento tatildeo
importante quanto o de fazer um trabalho cientiacutefico Aiacute vatildeo elas pessoas ou natildeo
Em primeiriacutessimo lugar nunca esqueccedilo de agradecer a Deus do meu jeito agrave
minha maneira sem ceticismo e com bastante feacute
Em segundo e em especial agrave minha famiacutelia Julieta e Felipe Serra que
mesmo faltando um souberam me completar no espiacuterito e na mateacuteria nas
decisotildees e no apoio Sem vocecircs meus caros eu natildeo existiria
De um modo especial natildeo posso esquecer dos momentos mais doces que
vivi e ainda vivo ao lado de Keila Lopes de Almeida Sua presenccedila meiga e amiga
me fascinou Sou grato a vocecirc pela compreensatildeo paciecircncia (haja) mas sobretudo
pelo seu amor que sem exageros me confortou e me deu mais forccedila para a
concretizaccedilatildeo desse projeto A vocecirc dizer obrigado natildeo basta
Aqui abro um paraacutegrafo em especial para agradecer a Saint-Clair Cordeiro da
Trindade Juacutenior meu orientador Nesse caso as palavras de agradecimento se
misturam entre a amizade e a responsabilidade pois tenho muito a agradecer a
vocecirc por sua competecircncia responsabilidade eacutetica e discernimento das coisas que
nos cercam Este momento tambeacutem eacute especial porque vocecirc o permitiu Natildeo tenho
duacutevidas de que a Geografia da Amazocircnia deve muito a vocecirc e eu lhe agradeccedilo por
ter me conduzido a sua maneira a um novo mundo da ciecircncia (ainda que em
poucos momentos) e ter aberto as portas de uma Geografia diferente Obrigado meu
amigo
v
23
Natildeo posso deixar de mencionar a figura de Genylton Rocha que atraveacutes de
sua alegria inigualaacutevel entregou-me sua amizade sincera e duradoura Seus votos
de crenccedila em minha pessoa sua ajuda sua disponibilidade me fizeram abrir os
olhos para as possibilidades Sou grato a vocecirc (e vocecirc sabe disso) por tudo o que
fez enquanto amigo e professor de minha formaccedilatildeo afinal vocecirc faz parte do time
dos professores que marcam Natildeo tenha duacutevida meu caro que se tenho um
pouco de garra para ensinar geografia devo em grande parte a vocecirc Valeu Rocha
Outra pessoa indispensaacutevel nesse momento eacute Goretti Tavares Aliaacutes meus
agradecimentos a vocecirc se estendem desde meu trabalho de conclusatildeo de curso
quando vocecirc depositou confianccedila em mim Se este mestrado existe eacute porque vocecirc
impocircs seu ritmo e perseveranccedila para que isso acontecesse Obrigado entatildeo por
essa oportunidade
Tambeacutem quero deixar registrado aqui meu agradecimento agrave Prof Dra Janete
Mariacutelia Gentil Coimbra de Oliveira e ao Prof Dr Silvio Lima Figueiredo por se
disporem fazer parte da banca de avaliaccedilatildeo de minha dissertaccedilatildeo A vocecircs
obrigado
Outras figuras tambeacutem foram importantes nesses 24 meses de mestrado
Uma delas o presente-ausente Marcos Alexandre Pimentel da Silva que natildeo de
modo direto mas fora dos muros da universidade dentro de suas possibilidades me
apoiou quando precisei Espero que nossa amizade dure Obrigado
Ao Maacutercio Douglas por sua presteza em momentos de trabalho em que
precisei de livros e dicas cientiacuteficas Apesar do pouco contato natildeo esqueci de vocecirc
meu amigo Obrigado pela forccedila
Ao jovem Estevatildeo Barbosa que atraveacutes de sua simplicidade e amizade
permitiu que nossa relaccedilatildeo passasse dos cinco anos Uma pessoa como vocecirc eacute
para sempre Um grande abraccedilo
Aqui tambeacutem natildeo deixo de mencionar os colegas de mestrado (dos quais
em sua maioria tornei-me amigo) Com vocecircs as discussotildees que naqueles
momentos travamos foram importantes para a minha formaccedilatildeo Jorge Alex Augusta
Willame Aacutelvaro (o estranho no ninho mas que se mostrou uma pessoa muito
acessiacutevel durante esse periacuteodo quando precisei de seus auxiacutelios) Cleacutedson Luiz
entre outros que possibilitaram um pouco do crescimento deste curso
Natildeo posso esquecer o paulista mais paraense que jaacute conheci Omar Abrahatildeo
Que bom que o espiacuterito de nossa terra lhe fez uma pessoa mais alegre mais festiva
vi
24
Espero que possamos construir outros laccedilos de amizade Para vocecirc tambeacutem quero
deixar meu obrigado
De uma maneira geral quero agradecer aos professores do mestrado em
geografia A partir de suas palavras pude alcanccedilar novos horizontes no meu
conhecimento cientiacutefico A vocecircs obrigado mesmo
Natildeo posso tambeacutem deixar de ser grato agrave Iranilda Moraes pela sua
disponibilidade em confeccionar o mapa de minha dissertaccedilatildeo Obrigado pela ajuda
Aos professores e colegas de profissatildeo que ao perceberem um pouco do
aperreio de ser estudante de poacutes-graduaccedilatildeo e professor de ensino fundamental ao
mesmo tempo ainda assim acreditaram em mim neste periacuteodo E por isso meu
obrigado fica aqui registrado Aiacute vatildeo eles Prof Rosa Prof Luiza Barata Prof
Leidiane Prof Gilson Carlos Prof Vander Prof Joatildeo Prof Samara Prof
Ayholacircndia (obrigado pelo esforccedilo na correccedilatildeo deste trabalho) Prof Odimar Prof
Tony Prof Joatildeo de Barros entre outros Obrigado por tudo
E por falar em ensino fundamental e tambeacutem por uacuteltimo poreacutem natildeo menos
importante essa histoacuteria (melhor dizendo essa geografia) de estudar para um curso
de poacutes-graduaccedilatildeo soacute pocircde ter efeitos concretos em meio agraves aulas dadas no bairro
do Che Guevara (municiacutepio de Marituba - PA) precisamente na escola Nilson Pinto
que apesar do nome pocircde ser o iniacutecio de minha caminhada para este curso Meu
obrigado aos alunos tambeacutem pode ser estendido como a esperanccedila de um dia
melhor Que o (bom) produto de meus estudos possa ter o retorno mais raacutepido a
pessoas como eles que mesmo na adversidade de uma pobreza urbana e tambeacutem
metropolitana sempre que possiacutevel puderam criar expectativas e possibilidades de
uma vida melhor A vocecircs meus pequenos obrigado
vii
vii
25
Haacute os que observam a realidade como ela
eacute e se perguntam por quecirc E haacute os que
imaginam a realidade como ela nunca foi e
se perguntam por que natildeo
BERNARD SHAW
viii
26
RESUMO
A atividade turiacutestica enquanto uma atividade soacutecio-econocircmica e espacial tem a
possibilidade de criar e recriar espaccedilos de acordo com interesses de agentes
envolvidos nesse processo Na esteira desse movimento o Estado entendido
enquanto um agente fomentador do turismo cria mecanismos de controle e
gerenciamento da atividade a fim de potencializaacute-la com o intuito de promover sua
expansatildeo econocircmica pelos espaccedilos Nesse sentido um dos resultados dessa
intervenccedilatildeo espacial se constitui na formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas setoriais que
objetivam assim a reestruturaccedilatildeo espacial Tais poliacuteticas refletem o jogo de
interesses entre o Estado agentes de mercado e agentes sociais de uma forma
geral A partir desse contexto de acordo com uma perspectiva metodoloacutegica da
anaacutelise de conteuacutedo este trabalho tem como objetivo analisar as concepccedilotildees e
espacialidades veiculadas no Plano de Desenvolvimento de Turismo do Estado do
Paraacute
PDT-PA Leva-se em conta ainda que o produto das poliacuteticas puacuteblicas tem
como pretensatildeo a geraccedilatildeo de desenvolvimento o que retoma de uma forma mais
complexa a relaccedilatildeo entre os agentes envolvidos na turistificaccedilatildeo dos espaccedilos
Palavras-chave Plano Planejamento Turismo PDT-PA Paraacute
ix
27
ABSTRACT
The tourist activity while a social- economic and spatial activity has possibility of to
create and (re) create spaces in accord with agents interests involved on this
process On this movement the State intended while a tourist agent fomenter
creates mechanisms of control and management of the activity with the objective to
potent with intuit to promote your economic expansion by the spaces In this way on
of the results of this spatial intervention constitute on formulations of sectarian s
publics policies that objective thus the spatial restructure These politics reflexes the
game of interests between the State market agents and socials agents of the
general way Since of this context in accord with a methodological perspective of
contends analyze this work has the objective to analyze the conceptions and
spatialities putted on Paraacute s State Tourism Development Plan
TDP
PA
Understanding yet that product of policies politics has the pretension the generation
of development that s takes again of a complex form the relation between involved
agents on touristification of spaces
Key words Plan Planing Tourism PDT-PA Paraacute
x
28
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
111
Figura 2 Lodge Pesca esportiva 129
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza) 135
Figura 4 Resort Aventura e Natureza 137
Mapa 1 Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute 116
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001-2006 97
Quadro 2 Programas e accedilotildees-siacutentese 99
Quadro 3 Quadro Sinoacutetico da Estrutura do Plano de Desenvolvimento do Turismo do estado do Paraacute 101
Quadro 4 Estrateacutegias de ProdutoMercado Poacutelo Beleacutem 120
Quadro 5 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Beleacutem 121
Quadro 6 Estrateacutegias de ProdutoMercado do Poacutelo Costa Atlacircntica 122
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica 123
Quadro 8 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Marajoacute 124
Quadro 9 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo AraguaiaTocantins 125
Quadro 10 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Tapajoacutes 126
Quadro 11 Estrateacutegia de ProdutoMercado do Poacutelo Xingu 127
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao estado do Paraacute 73
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico 92
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais () 93
Graacutefico 4 Estrateacutegia eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT-PA 98
xi
29
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003 2004 69
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados no estado do Paraacute 2002 2003 2004 71
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 73
xii
30
SUMAacuteRIO
AGRADECIMENTOS v
RESUMO ix
ABSTRACT x
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES xi
1 INTRODUCcedilAtildeO 15
2 TURISMO ESPACcedilO E PLANEJAMENTO 26
21 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 27
22 SISTEMAS DE OBJETOS E SISTEMAS DE ACcedilOtildeES A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 37
23 O ESTADO E AS ESTRATEacuteGIAS DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA 44
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DO PARAacute 54
31 A EXPANSAtildeO DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NA AMAZOcircNIA 55
32 O TURISMO NO ESTADO DO PARAacute UM BREVE BALANCcedilO 67
33 A IMPORTAcircNCIA DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA NO NOVO PARAacute
77
4 O PDT
PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO 82
41 DIRETRIZES E ESTRUTURAS DO PDT-PA 83
42 A CONCEPCcedilAtildeO DE TURISMO NO PDT-PA 102
43 A ESPACIALIDADE DA ATIVIDADE TURIacuteSTICA UMA ANAacuteLISE DO CONCEBIDO 112
44 ESPACcedilO TURISMO E DESENVOLVIMENTO DESVELANDO PROPOSTAS E INTENCcedilOtildeES 130
xiii
31
5 CONCLUSOtildeES 139
REFEREcircNCIAS 149
xiv
32
1 INTRODUCcedilAtildeO
16
A praacutetica do turismo pode ser caracterizada como algo recente dentro dos
debates geograacuteficos A partir da deacutecada de 1960 esse fenocircmeno vem despertando
interesse dentro das anaacutelises espaciais e tem conseguido ampliar novas discussotildees
que se tornaram importantes e que de certa forma referem-se principalmente ao
espaccedilo modificado pelas constantes viagens e pelo conhecimento de novos
territoacuterios (MOESCH 2002) De certa forma isso fez com que o turismo ao longo do
tempo modificasse paisagens e estabelecesse contatos interculturais Uma de suas
principais caracteriacutesticas eacute o fato de estar atrelado a uma praacutetica essencialmente
econocircmica sendo comumente denominado de uma induacutestria sem chamineacutes
(NICOLAS 2001)
Na esteira desse movimento a modernidade impotildee ao turismo um ritmo que
estaacute diretamente ligado ao consumo especialmente ao consumo do espaccedilo
(RODRIGUES 1999) Tal momento da modernidade implica em mudanccedilas sociais e
espaciais Eacute nesse ponto que a relaccedilatildeo da geografia com o turismo se faz presente
pois a mesma analisa os fatos sociais intriacutensecos agrave atividade dentro da loacutegica do
capital ou seja aquela que produz espaccedilos voltados para o turismo Com isso
altera-se a noccedilatildeo de que o turismo eacute uma praacutetica exclusivamente econocircmica Para
autores como Cruz (2001) a geografia do turismo refere-se agrave uma dimensatildeo soacutecio-
espacial Essa dimensatildeo pode ser tomada ainda numa escala planetaacuteria onde o
consumo do espaccedilo obedece a uma loacutegica global
Considerando-se a expansatildeo da atividade turiacutestica em acircmbito global a
intervenccedilatildeo espacial do turismo tende a se efetivar no territoacuterio a partir de um estudo
teacutecnico ou seja a partir da constataccedilatildeo de que um determinado lugar tem um
potencial turiacutestico favoraacutevel para o desenvolvimento da atividade Nesse sentido
vaacuterios estudos datildeo-se a partir do planejamento do turismo buscando potencializar
os atrativos locais
As caracteriacutesticas globais estatildeo presentes nas espacialidades do turismo
fenocircmeno este que conjuga valores universais de lazer em formatos padronizados
Vale destacar que as praacuteticas turiacutesticas se valem do consumo do espaccedilo formando
entatildeo o sistema da oferta do produto (o espaccedilo social) e da procura (aqui
caracterizado principalmente pela demanda turiacutestica)
17
A partir do momento em que a loacutegica da produccedilatildeo turiacutestica destaca-se no
espaccedilo sua configuraccedilatildeo social eacute alterada conforme interesses dos agentes
produtores do espaccedilo No momento de ser apropriado pela praacutetica turiacutestica o
espaccedilo se complexifica ainda mais e por ser uma atividade em que o espaccedilo eacute um
recurso o turismo estrutura-se em uma loacutegica de ampliaccedilatildeo de lugares voltados
para a praacutetica do lazer desencadeando o que Knafou (1999) chama de territoacuterios
turiacutesticos Certamente o espaccedilo eacute fundamental agrave atividade turiacutestica e por isso o
espaccedilo do turismo pode ser entendido como uma reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de
produccedilatildeo
Com isso as accedilotildees que resultam na metamorfose do espaccedilo estatildeo
vinculadas agraves concepccedilotildees de espaccedilo estrategicamente pensadas pelos atores
envolvidos Tais concepccedilotildees refletem a ideacuteia de espaccedilo que se pretende construir
para o turismo Muitas dessas ideacuteias estatildeo estritamente vinculadas ao planejamento
feito pelo Estado voltado para a atividade Para Lefebvre (1976) por exemplo o que
mais chama a atenccedilatildeo para a questatildeo do entendimento do que seja espaccedilo satildeo as
reproduccedilotildees das relaccedilotildees de produccedilatildeo processo este que se daacute em todo o mundo
em todas as dimensotildees da vida social no se trata de localizar en el espacio
preexistente una necessidad o una funcioacuten sino al contrario de espacializar una
actividad social vinculada a una praacutetica en su conjunto produciendo un espacio
apropriado (LEFEBVRE 1976 p 9)
No que diz respeito agraves caracteriacutesticas econocircmicas da atividade turiacutestica
muitos paiacuteses dependem em muito de seus circuitos mundiais Sua importacircncia gira
em torno da potencialidade turiacutestica que um lugar pode oferecer o que o torna um
grande aliado para o incremento da economia Torna-se por isso condicionante
fundamental no que se refere ao desenvolvimento de um lugar isto porque a
dinacircmica do capital eacute mediada pelo consumo dos lugares que utiliza atrativos
turiacutesticos de belas paisagens naturais e ou natildeo naturais ou ainda pauta-se na ideacuteia
do exoacutetico do diferente
Dentro dessa loacutegica o fenocircmeno turiacutestico amplia-se nos diversos lugares do
planeta causando muitas vezes uma profunda desarticulaccedilatildeo da estrutura soacutecio-
espacial do lugar o que leva a entender que o turismo pode ser visto como um
desarticulador de culturas locais para servir a uma loacutegica maior do consumo dos
18
lugares ou ainda de fomentar a economia A ideacuteia de desenvolvimento nesse
sentido estaria ligada ao consumo dos atrativos turiacutesticos dos lugares o que geraria
a capacidade do lucro ou divisas para um Estado mesmo que a sensaccedilatildeo de
negatividade ou de desarticulaccedilatildeo de culturashaacutebitos locais aconteccedila nos diferentes
espaccedilos onde o turismo esteja presente
A ideacuteia da transformaccedilatildeo dos lugares a partir do fenocircmeno do turismo
alicerccedila-se na capacidade do mesmo ser uma atividade contraditoacuteria ou ainda
hiacutebrida (BECKER 2002) poreacutem combinada Ao mesmo tempo em que o turismo
destroacutei (desarticula) os lugares ele os constroacutei ou impotildee uma nova dinacircmica
Luchiari (1999) por exemplo percebe que o turismo natildeo pode ser analisado apenas
do ponto de vista negativo ou destruidor Neste sentido tal praacutetica assume uma
postura de complexidade no mundo contemporacircneo por isso impulsiona novas
transformaccedilotildees Segundo a autora
O fenocircmeno contemporacircneo do turismo coloca-se como um vetor contraditoacuterio e emblemaacutetico neste processo acentua a produccedilatildeo dos lugares de consumo e o consumo dos lugares Mas natildeo pode ser tomado apenas do ponto de vista negativo como um desarticulador voraz de antigas formas e funccedilotildees sociais que em um processo linear destroacutei o velho substituindo-o pelo novo (LUCHIARI 1999 p 10)
Por mais que o turismo provoque mudanccedilas constantes e raacutepidas no lugar
existe ao mesmo tempo a possibilidade de novas sociabilidades juntamente com
um processo de revalorizaccedilatildeo de um lugar A articulaccedilatildeo entre o novo e o velho
acarreta uma forma hiacutebrida do espaccedilo socialmente produzido (LUCHIARI 1999)
Novos e antigos agentes espaciais aparecem nessa nova teia de relaccedilotildees tendo
como base a ampliaccedilatildeo do capital mediante a geraccedilatildeo de lucro O espaccedilo jaacute natildeo eacute
mais o mesmo ele eacute impulsionado pelo vetor das grandes viagens e dos negoacutecios o
que faz com que ele tenha uma nova composiccedilatildeo refletindo uma nova dinacircmica
soacutecio-espacial e tambeacutem uma nova funcionalidade
A dinacircmica do turismo estaacute alicerccedilada na necessidade de viajar e de
conhecer novos lugares O homem jaacute traz consigo a necessidade de viajar que estaacute
19
associada a uma liberdade por conhecer coisas diferentes Romero apud Rodrigues
(1999 p 27) afirma que o homem eacute um viajante por natureza uma vez que suas
necessidades e desejos estatildeo fora de si mesmos Segundo esse autor para viajar
deve-se partir do conhecido para o desconhecido Eacute a partir da praacutetica social da
viagem que o homem produz novos territoacuterios O turismo assim seria um fio
condutor dessa constante mobilidade Cruz (2001) ao relacionar turismo e produccedilatildeo
de espaccedilos afirma que o turismo eacute a uacutenica atividade social que consome
elementarmente o espaccedilo (CRUZ 2001 p v) Apesar de tal afirmaccedilatildeo suscitar
duacutevidas quanto agrave exclusividade do turismo em relaccedilatildeo ao espaccedilo isso mostra como
a atividade turiacutestica estaacute diretamente vinculada ao consumo do mesmo
Rodrigues (1999) prefere falar que o turismo define dois tipos de consumos
do espaccedilo De um lado existe o consumo consuptivo que se esgota em si mesmo
e de outro o consumo produtivo que ao contraacuterio do primeiro natildeo se esgota em si
mesmo Com efeito o turista ao realizar viagens pelo mundo afora cria uma
expectativa comparada ao seu desejo de conhecer aquele lugar Nesse sentido
como afirma Urry (1996) o olhar
do turista passa a ser decisivo na sua relaccedilatildeo
com os lugares turiacutesticos Segundo Urry (1996) esse eacute um dos motivos pelo qual a
induacutestria do turismo tem que realmente tornar o espaccedilo um produto a ser bem
consumido o olhar do turista natildeo pode ser deslocado para as paisagens feias
porque essas natildeo alimentam o desejo de retorno ao lugar O autor amplia o debate
sobre o enfoque social de que o turismo faz parte por mais que os serviccedilos
caracterizem uma induacutestria haacute uma interaccedilatildeo social profunda nessa relaccedilatildeo
Segundo o autor
A ecircnfase dada agrave qualidade da interaccedilatildeo social entre os produtores e os consumidores dos serviccedilos turiacutesticos significa que o desenvolvimento dessa induacutestria natildeo se explica simplesmente em termos de determinantes econocircmicos () Torna-se igualmente necessaacuterio examinar uma gama de
mudanccedilas culturais que transformam as expectativas das pessoas em relaccedilatildeo agravequilo que elas querem contemplar () (URRY 1996 p 64)
Isso nos mostra que o turismo eacute fundamentado em uma seacuterie de conflitos
sociais inerentes agrave produccedilatildeo do espaccedilo Tais conflitos apresentam alguns agentes
20
importantes como o proacuteprio turista as empresas de viagens e o Estado Esses
atores entrelaccedilam-se e alteram a composiccedilatildeo do espaccedilo produzido pela dinacircmica do
turismo consubstanciando em uma nova visatildeo de mundo mais complexa e mais
dinacircmica Essa visatildeo do turismo estaacute preocupada com transformaccedilotildees ocorridas
durante o processo de globalizaccedilatildeo como produto do capitalismo mundial Segundo
Carlos (2002) o espaccedilo geograacutefico por conta da incessante busca pelo prazer dos
lugares oferecidos em pacotes turiacutesticos vem sendo cada vez mais objeto
mercadoloacutegico de troca ou seja o espaccedilo torna-se mercadoria fazendo com que o
mesmo se especialize ainda mais a partir das praacuteticas turiacutesticas
O espaccedilo socialmente produzido reuacutene objetos espaciais capazes de dar
conta de estruturas globais decorrentes do fluxo de turistas em toda a parte do
planeta A criaccedilatildeo de resorts parques temaacuteticos entre outros amplia cada vez mais
a importacircncia do turismo ao mesmo tempo em que estabelece uma espeacutecie de
confinamento do espaccedilo reunindo as necessidades baacutesicas para a reproduccedilatildeo do
turismo
Carlos (2002) estabelece uma criacutetica interessante ao fenocircmeno do turismo de
massa praticado em diversas partes do mundo Segundo a autora a induacutestria do
turismo transforma tudo o que toca em artificial o lazer natildeo estabelece mais um
sentido de originalidade dentro de cada cultura tudo eacute artificializado e
estandartizado e as relaccedilotildees sociais dessa forma satildeo relaccedilotildees superficiais em que
o lucro e a vontade por comprar aparecem em detrimento de um contato com as
culturas diferentes Segundo a autora o turismo eacute capaz de produzir espaccedilos onde
haacute a natildeo-identidade com o lugar (CARLOS 2002 p 26)
Na tentativa de utilizar o turismo como uma possiacutevel saiacuteda para o
desenvolvimento dos lugares o Estado lanccedila matildeo de artifiacutecios para que haja a
efetivaccedilatildeo da praacutetica do turismo associada agrave transformaccedilatildeo do territoacuterio Eacute desse
modo que o turismo amplia as condiccedilotildees de transformaccedilatildeo do espaccedilo e o lazer
adquire expressividade entre as poliacuteticas puacuteblicas
Para tanto o planejamento da atividade turiacutestica torna-se um instrumento
capaz de realizar mudanccedilas espaciais que repercutem na estrutura do lugar
modificando a paisagem no sentido de viabilizar seu dinamismo Poreacutem muitas
21
vezes o planejamento pode ser visto a partir de uma oacutetica exclusivamente
econocircmica e com isso o desenvolvimento do turismo acaba por natildeo considerar
aspectos sociais relevantes para o estudo teacutecnico do setor ou ateacute mesmo os
possiacuteveis impactos soacutecio-ambientais causados pela instalaccedilatildeo da aparelhagem
turiacutestica como por exemplo resorts cadeias de hoteacuteis etc Isto porque de uma
forma geral o turismo no atual contexto da globalizaccedilatildeo estaacute muito mais voltado
para a ordenaccedilatildeo dos territoacuterios a partir de uma loacutegica de mercado que permite
muito mais a competiccedilatildeo entre os lugares do que o desenvolvimento social
Ligado agraves poliacuteticas puacuteblicas de governo de um Estado o planejamento
turiacutestico evoca ideacuteias e concepccedilotildees de espaccedilo cultura economia poliacutetica e
sociedade Hall (2001) ao descrever a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas para o
turismo faz uma ressalva de que elas expressam ideacuteias ligadas a um tipo de
governo e suas accedilotildees satildeo decorrentes de uma estrutura loacutegica pensada pelo Estado
numa intervenccedilatildeo espacial
A elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eacute antes de tudo uma atividade poliacutetica e essas satildeo influenciadas por caracteriacutesticas econocircmicas sociais e culturais da sociedade assim como pelas estruturas formais de governo e outros aspectos do sistema poliacutetico A poliacutetica deve portanto ser encarada como uma consequumlecircncia do ambiente poliacutetico dos valores e das ideologias da distribuiccedilatildeo de poder das estruturas institucionais e dos processos de tomada de decisatildeo (HALL 2001 p 26)
Cruz (2001) destaca a importacircncia de haver uma poliacutetica puacuteblica de turismo
que leve em consideraccedilatildeo o desenvolvimento soacutecio-espacial do lugar Para isso o
Estado torna-se o principal agente responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo ou idealizaccedilatildeo das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo colocando metas e diretrizes para que haja uma
melhor efetivaccedilatildeo Segundo a autora quando a esfera puacuteblica natildeo toma a iniciativa
de um planejamento que considere os aspectos soacutecio-espaciais as poliacuteticas ficam a
criteacuterio das intenccedilotildees da iniciativa privada e interesses particulares de outros
agentes do setor (CRUZ 2001)
No Brasil a tomada das poliacuteticas puacuteblicas de turismo tem sido orientada para
o planejamento da atividade no sentido de promover sua expansatildeo e consolidaccedilatildeo
22
no mercado global do setor Como o Estado brasileiro possui grandes complexos
regionais as poliacuteticas de turismo seguem uma tendecircncia de organizaccedilatildeo a partir da
elaboraccedilatildeo de projetos regionais ou ainda dos proacuteprios estados constituindo-se um
rol de planejamentos que se diferenciam regional ou localmente Isto quer dizer que
por mais que exista uma poliacutetica nacional de turismo implementada pelo governo
federal brasileiro as regiotildees promovem projetos de turismo diferentes umas das
outras Poreacutem o que haacute de comum eacute que as poliacuteticas de turismo estatildeo dentro de um
sistema de turismo (BOULLOacuteN 2002) ou seja as estruturas locais estatildeo
destinadas a aumentar o fluxo turiacutestico assim como o bem estar do turista Os
serviccedilos turiacutesticos devem entatildeo satisfazer o prazer e o conforto do turista ao
mesmo tempo em que multiplica as oportunidades de lazer (BOULLOacuteN 2002 p 37)
Eacute nesse sentido que Hall (2001) define poliacuteticas de turismo como decisotildees
poliacuteticas sobre o futuro de um lugar e sobre o ordenamento do espaccedilo Tais
poliacuteticas por exemplo no plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute satildeo antes
de tudo uma forma de pensar o espaccedilo a partir de uma concepccedilatildeo voltada ao
turismo
Para poder incrementar ou fomentar o setor turiacutestico o Estado atraveacutes dos
governos municipais e estaduais lanccedila uma estrateacutegia agrave sociedade que se torna
bandeira slogan ou propaganda de governo a de que o turismo eacute capaz de gerar
desenvolvimento e bem-estar social Nesse sentido o planejamento do espaccedilo
voltado para a atividade turiacutestica entra em cena com o intuito de validar tal
perspectiva e acima de tudo fazer dessa situaccedilatildeo um ponto positivo para ganhar
adesatildeo social O planejamento do turismo leva em consideraccedilatildeo uma seacuterie de
outros fatores que conjugados demandam uma grande articulaccedilatildeo do governo com
outros setores para fazer funcionar tal processo
Dada agrave exposiccedilatildeo das ideacuteias cabe neste trabalho levantar as seguintes
questotildees 1) Qual eacute a concepccedilatildeo de turismo sustentada pelo Governo do Estado e
visualizada no PDT-PA 2) Que estrateacutegias espaciais estatildeo inseridas no plano a fim
de fomentar a atividade turiacutestica no territoacuterio paraense e 3) Qual a importacircncia do
turismo enquanto um fator de desenvolvimento para o territoacuterio paraense segundo
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo voltadas para o Estado
23
A tomada de decisotildees por parte do Estado no que se refere agrave elaboraccedilatildeo de
um plano de turismo como o PDT-PA levanta a ideacuteia de uma conciliaccedilatildeo entre a
produtividade e a funccedilatildeo social (OSMONT 2002) A elaboraccedilatildeo de um plano de
desenvolvimento de turismo traz em seu interior um novo entendimento do espaccedilo
a ser transformado mediante accedilotildees concebidas em tal documento O Estado do
Paraacute se vecirc entatildeo como um novo
palco de accedilotildees que tecircm como objetivo final
transformar seu espaccedilo em um novo roteiro turiacutestico mundial Tal sentido de novo
perpassa por pelo menos duas caracteriacutesticas gerais A primeira diz respeito ao
novo enquanto um mercado turiacutestico diferenciado de outros do tipo sol e praia
caracteriacutesticos por exemplo da regiatildeo Nordeste brasileira Nesse contexto a
perspectiva do plano eacute fazer com que o turista se sinta atraiacutedo pelo o que o Estado
oferece de mais abundante ou seja sua natureza verde ou propriamente falando
de uma parte da Amazocircnia diferente das outras pelo fato de apresentar natildeo
somente caracteriacutesticas naturais mas tambeacutem por mostrar cultura e histoacuteria
peculiares
O outro tipo de novo refere-se diretamente ao desenvolvimento que o
turismo pode gerar no Estado E nesse sentido o esforccedilo para que isso aconteccedila eacute
resultante de obras e articulaccedilotildees que o governo propotildee aos sujeitos que estejam
dispostos a mudar a realidade social do Estado Percebe-se portanto que o turismo
figura como um dos pilares responsaacuteveis para tirar o Estado do atraso econocircmico
em que vive bem como para tornaacute-lo um elemento de legitimidade social perante agrave
populaccedilatildeo residente Esse fasciacutenio que o fenocircmeno do turismo causa requer pensar
antes nas concepccedilotildees e estrateacutegias formuladas pelo governo na construccedilatildeo do
plano
A estrutura do plano em seu objetivo maior traduz de forma sinteacutetica o que
estaacute representado nas accedilotildees dos programas vinculados ao documento Essa
realidade potildee em praacutetica a formulaccedilatildeo de novas estrateacutegias econocircmicas voltadas
para uma espeacutecie de internacionalizaccedilatildeo dos espaccedilos ou ainda no que diz respeito
ao turismo pela atraccedilatildeo ampliada de consumidores (SAacuteNCHEZ 1999 p 3)
Eacute neste sentido que este trabalho tem como objetivo geral analisar a
concepccedilatildeo de turismo presente no Plano de Desenvolvimento de Turismo do estado
do Paraacute assim como suas espacialidades ou seja as estrateacutegias espaciais
24
pensadas pelo estado paraense na tomada de decisotildees sobre o turismo associadas
agrave condiccedilatildeo de desenvolvimento dessa atividade Para tanto estatildeo contemplados
ainda neste trabalho alguns objetivos especiacuteficos importantes como
a) Identificar e analisar a concepccedilatildeo de turismo que estaacute presente no PDT-PA
veiculada pelo Governo de Estado
b) Identificar e analisar as possiacuteveis estrateacutegias espaciais ou seja suas
espacialidades inseridas eou subjacentes no PDT-PA
c) Perceber e analisar a importacircncia do turismo como fator de
desenvolvimento face agraves poliacuteticas voltadas para o setor concebidas pelo governo a
partir do PDT-PA
Para que o percurso dessa pesquisa seja efetivado a metodologia aqui
utilizada estaacute estruturada na anaacutelise sistemaacutetica do documento principal PDT-PA
ou ainda a anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 2003)
Nesse sentido de acordo com Bardin (2003) a anaacutelise de conteuacutedo permite
realizar uma especificidade das mensagens ou a comunicaccedilatildeo das ideacuteias contidas
em um documento uma espeacutecie de anaacutelise categorial das temaacuteticas abordadas
(TRIVINtildeOS 1987 BARDIN 2003)
Seguindo esta metodologia o plano de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
permite olhares diversos sobre sua temaacutetica principal o turismo Poreacutem aqui este
trabalho tem como diretriz fazer uma anaacutelise do tipo geograacutefica na qual o espaccedilo
paraense natildeo surge como receptaacuteculo das manifestaccedilotildees do turismo mas sim
como condiccedilatildeo e produto das relaccedilotildees sociais
Para tanto a estrutura desta anaacutelise segue em trecircs seccedilotildees importantes A
primeira de cunho teoacuterico faz um balanccedilo das obras que tratam de questotildees
fundamentais como o espaccedilo a partir de Santos (1997 2001 2002 2004)
Planejamento e Poliacuteticas Puacuteblicas (CRUZ 2001) que neste momento apoacuteiam-se
nas accedilotildees do Estado enquanto agente importante para a elaboraccedilatildeo de praacuteticas
envolvendo a dinacircmica de construccedilatildeo de espaccedilos voltados para a atividade turiacutestica
25
Esses elementos teoacutericos satildeo cruciais para a anaacutelise dos fundamentos aqui
aplicados
Na segunda seccedilatildeo do trabalho procura-se mostrar como o turismo tornou-se
peccedila importante nas estrateacutegias do Estado principalmente na tomada do
desenvolvimento Seguindo a metodologia da anaacutelise de conteuacutedo o estudo de
documentos importantes como os Planos de Turismo para a Amazocircnia assim como
dados referentes agrave praacutetica do turismo satildeo necessaacuterios para tecer um comentaacuterio
geral de como o turismo eacute tratado pelo Estado (federal e estadual) ao longo dos
anos Na sequumlecircncia ainda nesta parte do trabalho a anaacutelise do Programa Novo
Paraacute mostra-se pertinente pois este a partir de uma estrateacutegia do Governo do
Estado do Paraacute torna-se um documento que reuacutene as principais diretrizes para a
elaboraccedilatildeo do PDT-PA
Na uacuteltima parte ocorre a anaacutelise e sistematizaccedilatildeo das principais ideacuteias
contidas no Plano de Turismo do Paraacute Sua estrutura concepccedilatildeo espacialidade
estrateacutegia e sua noccedilatildeo de desenvolvimento fundamentam-se como eixo norteador
desta pesquisa Neste momento a tentativa eacute de expor os argumentos apresentados
pelo Estado a partir do plano e relacionaacute-los com os fundamentos cientiacutefico-
geograacuteficos que aqui satildeo privilegiados
Por fim na seccedilatildeo Consideraccedilotildees Finais as perguntas elaboradas no
decorrer desta pesquisa e fruto de debates criados ao longo da construccedilatildeo desse
projeto procuram ser respondidas tentando assim mostrar o aspecto analiacutetico-
geograacutefico presente no Plano
26
2 Turismo Espaccedilo e Planejamento
27
21 O turismo como fator de desenvolvimento consideraccedilotildees iniciais
O turismo vem provocando profundas alteraccedilotildees nas estruturas econocircmicas
sociais e culturais do mundo e isso se torna condiccedilatildeo para um aprofundamento de
seus estudos principalmente aqueles de dimensatildeo espacial Tal fato requer uma
anaacutelise mais aprofundada sobre os conceitos que envolvem o turismo
principalmente agravequeles que estatildeo ligados agrave condiccedilatildeo do desenvolvimento Este por
sua vez tem sido um elemento recorrente nos debates sobre as accedilotildees provenientes
do turismo Por isso mesmo as repercussotildees mundiais dessa atividade tecircm
chamado a atenccedilatildeo natildeo soacute de pessoas ligadas agrave reproduccedilatildeo da atividade mas
tambeacutem de pesquisadores interessados em analisar como a atividade turiacutestica estaacute
relacionada com o fator do desenvolvimento e de certa forma como eles se
espacializam
No ano de 2005 quase 7 milhotildees de turistas estrangeiros visitaram o Brasil
(ABAV 2006) Segundo a ABAV foi o maior nuacutemero de turistas que visitaram o paiacutes
em toda a sua histoacuteria Apesar de ser ainda um nuacutemero muito inferior ao dos paiacuteses
centrais como a Franccedila e os EUA (SILVA 1998) a movimentaccedilatildeo financeira no ano
de 2005 no Brasil gerou um crescimento de 1983 em relaccedilatildeo ao ano de 20041
desencadeando um lucro de US$ 3222 bilhotildees (ABAV 2006)
Segundo Silva (1998) a projeccedilatildeo que a Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo faz
para o ano de 2010 eacute que o turismo deveraacute empregar 250 milhotildees de pessoas (OMT
apud SILVA 1998 p102) e ainda para 2020 que a China seraacute o primeiro paiacutes do
mundo com o maior nuacutemero de estrangeiros (cerca de 196 milhotildees) seguido dos
Estados Unidos (102 milhotildees) Franccedila (93 milhotildees) e Espanha (71 milhotildees) Para a
Ameacuterica do Sul a projeccedilatildeo ainda eacute muito pequena em relaccedilatildeo aos paiacuteses que jaacute
recebem um grande fluxo de turistas estrangeiros Poreacutem mesmo assim as
instituiccedilotildees governamentais procuram estabelecer metas e diretrizes que
incrementam o setor turiacutestico a fim de promover a expansatildeo do mesmo De certo o
que se deve destacar a partir desses dados eacute que existe uma verdadeira difusatildeo
1 Estes nuacutemeros referem-se a uma pesquisa feita pelo Banco Central no iniacutecio de 2006 a pedido da Associaccedilatildeo Brasileira de Agecircncias de Viagens (ABAV)
28
espacial do turismo no mundo inteiro e que oacutergatildeos privados e estatais procuram
meios de divulgaccedilatildeo ao mesmo tempo em que fortalecem ainda mais o fomento da
atividade turiacutestica Essas caracteriacutesticas fazem do fenocircmeno turiacutestico um consumidor
de espaccedilos (CRUZ 2001) e sua reproduccedilatildeo depende dessa condiccedilatildeo
A expansatildeo da atividade turiacutestica fez com que o espaccedilo geograacutefico ampliasse
suas caracteriacutesticas e tambeacutem adquirisse uma nova funcionalidade a dos espaccedilos
voltados para o lazer Essa caracteriacutestica talvez seja a primeira que interessa aos
sujeitos dispostos em conhecer novos lugares Numa tentativa de mudar a rotina do
dia-a-dia os turistas procuram ampliar os conhecimentos de novos lugares e
estabelecem um contato de diferentes culturas entre o seu lugar de origem ou
residecircncia fixa (o lugar de seu trabalho semanal rotineiro) e o desconhecido (o lugar
novo a ser visitado) O lazer dessa forma torna-se componente fundamental para
se entender a dinacircmica espacial do turismo Segundo Martins (2004) o habitante de
uma cidade abre novos e espantosos capiacutetulos no relacionamento com o territoacuterio
(MARTINS 2004 p 16) ao conhecer novos lugares que natildeo pertencem ao seu
cotidiano Camargo relaciona o lazer a uma escolha pessoal do indiviacuteduo dentro de
um tempo precioso onde se pode exercitar com mais criatividade as alternativas de
accedilatildeo ou participaccedilatildeo (CAMARGO 2003 p 11) Nesse caso o indiviacuteduo ao praticar
o turismo tem certa liberdade de escolher os espaccedilos onde pretende exercer suas
atividades voltadas para seu descanso
Levando-se em consideraccedilatildeo que a ciecircncia a tecnologia e a informaccedilatildeo
hoje redefinem novos paradigmas sociais como os da produccedilatildeo industrial do
mercado e dos serviccedilos inclusive os de comportamento pode-se concluir que o
lazer torna-se uma praacutetica importante para o estabelecimento de novos fluxos
econocircmico-sociais fluxos esses que redefinem novas praacuteticas espaciais Segundo
Rodrigues (1999)
O acesso ao conhecimento eacute relevante para a atraccedilatildeo de novos capitais influenciando de maneira decisiva a adoccedilatildeo de novas necessidades alterando-se os haacutebitos de consumo Nesse particular o eterno mito do retorno seraacute reforccedilado pela miacutedia que vem incentivando de forma bastante agressiva a busca da natureza () (RODRIGUES 1999 p 18)
29
Esse novo tipo de lazer mais ligado ao ritmo da modernidade entra num
circuito da troca (CARLOS 2002) em que aacutereas do planeta situam-se no processo
de comercializaccedilatildeo dos lugares A liberdade individual entatildeo passa a ser cooptada
pelo mercado onde o turista participa desse processo de escolha dos lugares de
forma passiva Poreacutem que tipo de lazer eacute esse Segundo Carlos (2002) o lazer da
sociedade moderna muda seu sentido e passa a ser inserido natildeo como uma
atividade espontacircnea mas sim como uma forma de desenvolvimento da sociedade
do consumo
Tal fato significa que o lazer se torna uma necessidade Isto eacute no curso do desenvolvimento da reproduccedilatildeo das relaccedilotildees sociais produz-se nova atividade produtiva diferenciada com ocupaccedilotildees especializadas que produz um novo espaccedilo e ou novas formas de uso deste espaccedilo (CARLOS 2002 p 25)
Segundo ainda a mesma autora essas necessidades provocam um
sentimento de estranhamento mas que por outro lado tornam os lugares como
espaccedilos de espetaacuteculo onde o turista pratica um lazer passivo porque eacute mediado
pelos grandes agentes do capital do turismo Aleacutem de serem ordenados pelos
agentes do capital vinculados ao turismo a produccedilatildeo de novos espaccedilos desperta
tambeacutem o interesse de outros agentes que pretendem a partir das praacuteticas
turiacutesticas organizar o espaccedilo de forma sistematizada e racional Sendo assim a
figura do Estado torna-se imprescindiacutevel no que se refere ao planejamento do
espaccedilo turiacutestico Tal planejamento eacute voltado para a formaccedilatildeo de territoacuterios
destinados ao lazer caracterizados por meio de uma referecircncia espacial de cada
lugar Os planejamentos seguem assim uma ordem de produtividade em que
dependem do grande fluxo de visitantes O espaccedilo eacute concebido segundo um
pensamento em que sua funcionalidade aleacutem de ser voltado para o lazer deve
estar em conexatildeo com a geraccedilatildeo de divisas Com isso o turismo passa da esfera do
simples lazer e da busca de novos lugares para ocupar uma importacircncia referente
ao reordenamento espacial Eacute a partir do interesse do Estado em promover o
turismo em um lugar que surgem tambeacutem possibilidades de transformaccedilotildees dos
lugares com o intuito de desencadear um desenvolvimento Percebe-se entatildeo que
30
a loacutegica de reordenamento dos territoacuterios a partir de uma oacutetica do Estado estaacute
associada agrave ideacuteia de desenvolvimento de um determinado lugar Ao turismo cabe
com isso ter um papel fundamental na elaboraccedilatildeo das poliacuteticas de desenvolvimento
A literatura sobre o desenvolvimento do setor turiacutestico tem apresentado
variados temas que situam o ordenamento territorial e o progresso econocircmico-social
como principais fundamentos de seu processo entendendo-se o turismo como um
dos elementos fundadores do lazer moderno da sociedade atual sua repercussatildeo
no espaccedilo geograacutefico requer natildeo soacute uma condiccedilatildeo teacutecnica como tambeacutem situaccedilotildees
em que o desenvolvimento da atividade sirva como um fator de melhoria para a
populaccedilatildeo local inserida no processo de transformaccedilatildeo espacial Destarte o turismo
procura estabelecer diversas estrateacutegias para que seus desdobramentos possam
mitigar seus impactos sociais ambientais e culturais a fim de promover
concatenaccedilatildeo entre a geraccedilatildeo de divisas da atividade e a melhoria da qualidade de
vida da populaccedilatildeo local
Hoje o debate sobre o desenvolvimento e o turismo muitas vezes serve de
justificativa para que muitos governos possam inserir a atividade dentro dos
territoacuterios com o intuito de impulsionar o turismo a todo o custo sempre relacionando
o turismo agrave ideacuteia de progresso social Sendo assim o desenvolvimento torna-se
apenas um artifiacutecio manipulado por autoridades de Estado e tambeacutem pela iniciativa
privada que vecircem o turismo como uma saiacuteda para o atraso social de um lugar
Este quadro de caracteriacutesticas e atributos que satildeo relacionados agrave questatildeo do
desenvolvimento de forma equivocada na sua maioria muito se deve agrave proacutepria
histoacuteria do desenvolvimento conforme se tem analisado na literatura cientiacutefica Isto
quer dizer que a indefiniccedilatildeo do que seja desenvolvimento contribui amplia a
complexidade do termo e gera consequumlecircncias soacutecio-espacias
No que diz respeito agrave esfera do turismo a realidade dessa situaccedilatildeo natildeo seria
diferente posto que as anaacutelises feitas pelos oacutergatildeos planejadores de
desenvolvimento natildeo levam em consideraccedilatildeo uma maior efetividade da populaccedilatildeo
quando o assunto eacute inserir a dinacircmica do turismo em um lugar Com isso o turismo
destaca-se notadamente como uma atividade que gera lucro poreacutem em certos
casos desassociada da qualidade de vida de uma populaccedilatildeo A essa condiccedilatildeo
31
apresenta-se tambeacutem uma disparidade de realidades quando se debate sobre
desenvolvimento Isto porque nos paiacuteses ricos (paiacuteses centrais) a poliacutetica de
desenvolvimento segue uma realidade peculiar e o que se vecirc eacute uma tentativa de
seguir as mesmas diretrizes e estrateacutegias espaciais natildeo levando em consideraccedilatildeo a
realidade de paiacuteses em que variaacuteveis como renda per capta escolaridade sauacutede e
infra-estrutura satildeo muito diacutespares Dessa forma tenta-se ratificar um
desenvolvimento do turismo nos mesmos moldes de paiacuteses como Franccedila Espanha
Estados Unidos Itaacutelia onde a atividade eacute uma praacutetica jaacute consolidada
Rodrigues (2002) ao comentar a relaccedilatildeo entre o turismo e seus efeitos nos
paiacuteses perifeacutericos situa a necessidade de chamar a atenccedilatildeo para pesquisas e
discussotildees sobre a temaacutetica do desenvolvimento Segundo a autora
Os efeitos do turismo demandam urgecircncia e seriedade nas pesquisas particularmente nos paiacuteses de economia perifeacuterica localizados no mundo intertropical com praias paradisiacuteacas e reservas naturais quantitativa e qualitativamente reconhecidas como patrimocircnio mundial Natildeo menos importantes satildeo os estudos visando agrave avaliaccedilatildeo da dimensatildeo econocircmica do fenocircmeno tendo em vista sua importacircncia no desenvolvimento com base local ou seja voltado para a melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo dos lugares e regiotildees onde novos projetos se encontram em fase de implantaccedilatildeo ou em aacutereas que jaacute sofreram degradaccedilotildees devido ao uso indiscriminado e necessitam de estrateacutegias urgentes para a mitigaccedilatildeo dos impactos (RODRIGUES 2002 p 9)
Essa relaccedilatildeo entre o desenvolvimento e o turismo demanda uma importacircncia
que estaacute assentada na diminuiccedilatildeo de seus possiacuteveis impactos ressaltada nos
documentos que retratam tal temaacutetica Dessa forma o desenvolvimento surge como
uma tentativa de suplantar os impactos causados pelos processos de transformaccedilatildeo
espacial que estatildeo relacionados ao turismo
Durante muitos anos a ideacuteia de desenvolvimento esteve associada agrave ideacuteia de
crescimento Isso fez com que a literatura desenvolvida por especialistas da aacuterea
influenciasse governos ao se defrontarem com a possibilidade de implementar o
desenvolvimento em um determinado paiacutes ou regiatildeo Essa noccedilatildeo de
32
desenvolvimento encontra no turismo um dos vetores desse possiacutevel crescimento
tornando o turismo panaceacuteia para todos os males sociais (ROCHA 2002)
Alguns roacutetulos satildeo criados com a finalidade de ampliar o leque de discussotildees
sobre a eficaacutecia e consistecircncia do desenvolvimento do turismo Atualmente o
Estado investe consideravelmente suas accedilotildees de poliacuteticas de desenvolvimento no
chamado turismo sustentaacutevel numa tentativa de associar harmonicamente a
questatildeo da geraccedilatildeo de lucro com a preservaccedilatildeo do meio ambiente Rocha (2002)
ainda faz uma criacutetica contundente a respeito desse novo modelo de
desenvolvimento do turismo onde a preservaccedilatildeo do meio ambiente torna-se o
centro das discussotildees envolvendo o significado de desenvolvimento Segundo o
autor o governo brasileiro imprime um discurso ambientaliacutestico por meio do qual a
preocupaccedilatildeo com uma possiacutevel destruiccedilatildeo da natureza estaacute ligada agrave ideacuteia de
sustentabilidade econocircmica e social
O discurso hegemocircnico e tambeacutem do governo brasileiro sobre a importacircncia do desenvolvimento do setor cada vez mais se recheia de expressotildees de caraacuteter ambientaliacutestico numa tentativa de convencer que o incentivo oferecido eacute motivado pela preocupaccedilatildeo ecoloacutegica haja vista ser esta atividade uma alternativa para o chamado desenvolvimento sustentaacutevel Na praacutetica entretanto eacute impossiacutevel negar a mercantilizaccedilatildeo da natureza e da cultura consideradas as principais mateacuterias-primas para o turismo ecoloacutegico ou ecoturismo (ROCHA 2002 p 163)
Segundo ainda o mesmo autor essas premissas natildeo fogem agraves caracteriacutesticas
do turismo tradicional pois carregam no seu cerne a condiccedilatildeo de crescer para
atingir o desenvolvimento seria entatildeo uma espeacutecie de artificializaccedilatildeo da natureza
Souza (1997) estabelece um importante contraponto a essa noccedilatildeo
equivocada que permeia a noccedilatildeo de desenvolvimento Segundo o autor a literatura
cientiacutefica que trata da questatildeo do desenvolvimento negligenciou o espaccedilo e ou o
reduziu a uma visatildeo economicista (SOUZA 1997) A ideacuteia de melhoria estava
associada a de bem-estar material percebida por exemplo nos trabalhos de Rodan
(1964) Ainda mais que os teoacutericos sobre o desenvolvimento afirmassem que para
haver o desenvolvimento de uma regiatildeo deprimida economicamente sua
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industrializaccedilatildeo deveria ser forte extraindo os recursos naturais necessaacuterios para
superar a pobreza de um lugar Este uacuteltimo autor argumentava naquela eacutepoca que
uma induacutestria somente alcanccedilaria um tamanho oacutetimo se houvesse uma ampla aacuterea
para seu desenvolvimento para que diminuiacutesse assim as possibilidades de risco
marginal (RODAN 1964 p 252)
Outros autores que seguiram esta mesma linha de pensamento sobre o
significado de desenvolvimento como Baran (1964) estabelecem que para haver
algum tipo de mudanccedila na sociedade que levasse agraves melhorias sociais de uma
naccedilatildeo a classe meacutedia de um paiacutes deprimido2 deveria se posicionar contra as
mazelas produzidas pelo capitalismo crescente Segundo este autor haveria uma
melhor distribuiccedilatildeo da renda se houvesse um consumo da populaccedilatildeo poreacutem o
problema eacute que esse consumo das coisas que geram os fluxos econocircmicos de um
paiacutes eacute praticado por uma pequena elite residente nas aacutereas mais privilegiadas
Nesse sentido os gastos realizados pela elite local estatildeo concentrados em coisas
supeacuterfluas como os artigos de luxo A consequumlecircncia para Baran (1964) eacute que natildeo
se concretiza uma forma de poupar as riquezas da populaccedilatildeo logo o
desenvolvimento do lugar natildeo se estabelece Ainda segundo o mesmo autor o que
de fato provoca a insustentabilidade econocircmica de um lugar eacute a pouca oportunidade
de investimentos do grande capital Percebe-se entatildeo que a oportunidade de
desenvolvimento estaacute intimamente condicionada pelos investimentos empresariais
Toda a infra-estrutura do lugar deveria estar em consonacircncia com a produtividade
de uma empresa Sendo assim
Natildeo resta duacutevida que a ausecircncia de economias externas e a inadequaccedilatildeo do meio econocircmico nos paiacuteses subdesenvolvidos constituem fatores desestimulantes aos investimentos em projetos industriais Natildeo haacute meios de preencher rapidamente essas deficiecircncias Investimentos de grande porte supotildeem a preexistecircncia de investimentos tambeacutem de grande porte Estradas usinas eleacutetricas redes ferroviaacuterias e casas tecircm que ser construiacutedas antes para que o empresaacuterio ache rentaacutevel investir em novas induacutestrias (BARAN 1964 p 91)
2 Vale lembrar que a expressatildeo economia deprimida eacute muito visualizada nos trabalhos de economistas do poacutes-guerra em que estes se referiam aos paiacuteses subdesenvolvidos principalmente os que ainda estabeleciam uma dependecircncia econocircmica muito forte com os paiacuteses centrais Os trabalhos sobre esse tipo de desenvolvimento ganharam destaque principalmente a partir dos anos 1950 na Europa e nos EUA
34
Esse tipo de teoria apesar de se referir a um contexto natildeo muito atual ainda
deixa influecircncias muito fortes no que diz respeito agrave abordagem especiacutefica do
desenvolvimento relacionado com a economia de um lugar Para os paiacuteses
subdesenvolvidos essa realidade suplantaria a necessidade do desenvolvimento
econocircmico de uma sociedade de um paiacutes pobre Ou seja haveria uma mudanccedila na
estrutura social de um paiacutes se houvesse um maior investimento no consumo dos
materiais necessaacuterios para um progresso econocircmico
O paradigma do desenvolvimento econocircmico preencheu vaacuterios debates ao
longo dos uacuteltimos anos referindo-se principalmente agrave forma de consumo de bens
industrializados ou ainda a induacutestria e seus efeitos na economia de um lugar eacute que
desencadeariam um processo de melhoria social Hirschman (1985) por exemplo
analisa a situaccedilatildeo financeira de um paiacutes para alcanccedilar a superaccedilatildeo de problemas
soacutecio-econocircmicos Para o autor o controle fiscal por parte do Estado repercute em
um aumento de divisas para uma naccedilatildeo Assim sendo para que os efeitos fiscais
sejam um mecanismo de desenvolvimento eficaz a habilidade de taxar deve ser
combinada com a habilidade de investir (HIRSCHMAN 1985 p 44) Sem essa
condiccedilatildeo aumenta-se ainda mais o problema da burocracia e o entrave para o
crescimento o alcance do desenvolvimento adviria atraveacutes do que ele chama de
efeitos em cadeia nos quais investimentos realizados em um paiacutes quando bem
estruturados repercutem em processo de desencadeamento da produccedilatildeo Ou seja
fazendo uma associaccedilatildeo com a praacutetica turiacutestica o processo de efeitos em cadeia
do turismo ocasionaria um processo de desenvolvimento em outras atividades que
gerassem o desenvolvimento em um lugar como por exemplo a educaccedilatildeo
saneamento baacutesico e assim por diante Esse processo de repercussatildeo em cadeia
ocorreria tambeacutem juntamente com uma mobilidade espacial onde a novidade ou o
novo produto do processo de desenvolvimento econocircmico aconteceria em um outro
lugar e assim sucessivamente
Esse conjunto de caracteriacutesticas pertinente ao conceito de desenvolvimento
para Souza (1997) revela uma espeacutecie de redistribuiccedilatildeo com crescimento em que
as ideacuteias conservadoras da economia eram o substrato teoacuterico principal Sendo
assim desenvolvimento sempre esteve associado agrave ideacuteia de incremento econocircmico
ou ainda ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e agrave renda nacional per
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capta Tal condiccedilatildeo alcanccedila um aspecto exclusivamente quantitativo em que a
produtividade eacute o motor de seu funcionamento Eacute nesse sentido entatildeo que
Tomar o desenvolvimento econocircmico como sinocircnimo de desenvolvimento tout court eacute com efeito uma impropriedade porque se aquele se refere ao processo em cujo bojo uma sociedade consegue produzir bens em maior quantidade de melhor qualidade e com mais eficiecircncia ele concerne a meios e natildeo a fins (SOUZA 1997 p 14)
Dessa forma o autor coloca em xeque o paradigma do desenvolvimento
questionando suas limitaccedilotildees teoacutericas e metodoloacutegicas que em consequumlecircncia
estatildeo limitadas tambeacutem nas accedilotildees referentes ao espaccedilo geograacutefico Por outro lado
ele defende a ideacuteia de que o desenvolvimento deve ultrapassar a barreira do
quantitativismo ou seja fazer com que a noccedilatildeo de crescimento seja superada
possibilitando entender o desenvolvimento a partir do espaccedilo socialmente construiacutedo
(SOUZA 1997 2002 2004) onde a populaccedilatildeo local torna-se o sujeito crucial na
construccedilatildeo do que venha a ser desenvolvimento Eacute nesse sentido entatildeo que a ideacuteia
de desenvolvimento eacute intriacutenseca a de que o espaccedilo social eacute condiccedilatildeo para sua
reproduccedilatildeo Sendo assim torna-se possiacutevel o alcance da justiccedila social
independente da escala seja ela local nacional ou ateacute mesmo internacional A ideacuteia
de autonomia desta forma acaba por se tornar o paracircmetro fundamental para a
concepccedilatildeo do que venha a ser o desenvolvimento soacutecio-espacial Segundo o autor
a autonomia eacute vista a partir de um conjunto de significaccedilotildees imaginaacuterias que estatildeo
na raiz histoacuterico-cultural de uma sociedade Sobre esse assunto o autor relata que
A autonomia de um grupo para adotar uma concepccedilatildeo especiacutefica de desenvolvimento ou mais amplamente um modo de vida particular exige a consideraccedilatildeo desse grupo natildeo isoladamente mas no contexto de sua relaccedilatildeo com outros grupos (em qualquer escala do local ao internacional) sempre agrave luz do seguinte desafio por um lado eacute preciso respeitar a alteridade do Outro e a incomensurabilidade de universos culturais distintos () Ou seja a autonomia eacute um princiacutepio que exige a consideraccedilatildeo do plano interno (a igualdade de chances de participaccedilatildeo na tomada de decisotildees relevantes para a vida social) mas igualmente que se leve em conta o plano externo (os interesses legiacutetimos do Outro natildeo importando o quanto ele seja diferente de noacutes mesmos) conforme um princiacutepio de natildeo-intervenccedilatildeo (SOUZA 1997 p 21)
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Tal situaccedilatildeo natildeo seria diferente quando se remete agrave repercussatildeo espacial do
turismo em um lugar visto que o turismo figura atualmente como uma saiacuteda para
um possiacutevel desenvolvimento Nesse sentido natildeo escapa agrave ideacuteia de participaccedilatildeo da
sociedade local nas tomadas de decisatildeo sobre o destino de um lugar
principalmente se aos olhos da iniciativa privada e do Estado a atividade turiacutestica
parecer algo rentaacutevel O turismo como outra atividade social e econocircmica torna-se
entatildeo objeto de discussatildeo por parte da sociedade envolvida no processo de
turistificaccedilatildeo do lugar Seria o que Rodrigues (2002) chama de contrariar a
racionalidade econocircmica vigente
Em um outro trabalho Souza (2002) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo entre o
turismo e o desenvolvimento Para que o turismo gere desenvolvimento eacute
necessaacuterio saber quem ganha e quem perde com a atividade turiacutestica Isto
dependeria pelo menos de trecircs grupos a populaccedilatildeo da aacuterea de origem dos turistas
os turistas propriamente e a populaccedilatildeo da aacuterea de destinos dos turistas Vale
ressaltar que esses trecircs grupos natildeo podem ser vistos de forma homogecircnea pois a
diferenccedila interna entre eles ou seja quem ganha e quem perde eacute algo relativo aos
anseios de quem pratica a atividade turiacutestica em um lugar Para estabelecer essa
relaccedilatildeo torna-se fundamental natildeo perder de vista a autonomia e o grau de
complexidade que eacute gerado pelo contraste cultural que o fenocircmeno do turismo pode
causar Souza (2002) estabelece entatildeo que a autonomia eacute importante para gerir os
destinos e disciplinar o turismo (SOUZA 2002 p 20) E o grau de diferenccedila
baseia-se sobretudo na disparidade econocircmico-financeira de um grupo de turistas
e a populaccedilatildeo local (principalmente se essa populaccedilatildeo for pobre) Para o autor
apesar de o turismo gerar impactos soacutecio-ambientais ele pode estabelecer um
aprendizado entre culturas tatildeo diversas ou seja ao inveacutes de se ajustar a uma
realidade o turismo pode ser um fator de um desenvolvimento soacutecio-espacial
contribuindo assim para a melhoria e para o bem-estar da populaccedilatildeo residente e
dos turistas visitantes
37
22 Sistema de Objetos e de Accedilotildees a espacialidade da atividade turiacutestica
De iniacutecio a emergecircncia do turismo enquanto uma atividade de lazer da
modernidade levanta uma seacuterie de questionamentos quando o espaccedilo eacute produto
condiccedilatildeo e meio daquela atividade A relaccedilatildeo entre o turismo e o espaccedilo eacute bastante
marcada por impactos soacutecio-ambientais Menos ou mais complexos esses
fenocircmenos representam a reproduccedilatildeo da atividade Isto quer dizer que sem espaccedilo
natildeo haacute turismo
O espaccedilo do turismo portanto eacute marcado por inuacutemeras relaccedilotildees sociais que
difundem a dinacircmica da atividade mundo afora e por conseguinte estabelece novos
paradigmas de comportamento Assim a sociedade moderna amplia espaccedilos
atraveacutes da praacutetica turiacutestica Por ser uma atividade soacutecio-econocircmica que produz um
fasciacutenio nas pessoas ao conhecerem novos lugares o turismo produz um
sentimento de conquista de novos espaccedilos com a finalidade do lazer Sendo assim
para que exista essa condiccedilatildeo o espaccedilo geograacutefico eacute dotado de atrativos com o
intuito de chamar a atenccedilatildeo de turistas Tais atrativos figuram como um alicerce para
a fixaccedilatildeo temporaacuteria das pessoas ou seja a intenccedilatildeo eacute fazer com que o espaccedilo
seja modificado para atender a uma demanda turiacutestica
Dessa forma deve-se entender como Santos (2002) que o espaccedilo eacute um
conjunto indissociaacutevel de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees Nesse sentido
tratar do espaccedilo do turismo requer essa condiccedilatildeo sem a qual o mesmo natildeo procede
sua dinacircmica Deve-se ressaltar que a dinacircmica espacial que o turismo impotildee eacute
tambeacutem condicionada segundo um contexto histoacuterico segundo ainda sua natureza
histoacuterica onde os agentes transformadores do espaccedilo iratildeo desempenhar um
processo diferencial no que diz respeito agraves mudanccedilas ocorridas na sociedade Cada
objeto espacial e consequumlentemente suas accedilotildees determinadoras estaratildeo
condicionadas de acordo com um tempo histoacuterico
Santos (2002) ainda ressalta que de fato o que caracteriza o espaccedilo
geograacutefico satildeo os objetos mediados pela teacutecnica empregada por cada accedilatildeo
subsequumlente concebidos para o exerciacutecio de certas finalidades intencionalmente
38
fabricados e intencionalmente localizados (SANTOS 2002 p 166) A atividade
turiacutestica estaacute situada num processo de construccedilatildeo de objetos teacutecnicos que estatildeo de
acordo com determinadas finalidades ou objetivos mediados por assim dizer pela
teacutecnica Tais objetos simulam a ideacuteia de superaccedilatildeo da natureza por possuiacuterem
qualidades superiores agrave da ordem natural Nesse sentido o turismo ao criar
espaccedilos voltados para as praacuteticas do lazer procura ser o mais eficaz possiacutevel para
que o consumo do espaccedilo (CRUZ 2001) seja o vetor de transformaccedilatildeo dos lugares
Na abordagem sobre o significado de espaccedilo Santos (2002) afirma que
O espaccedilo eacute formado por um conjunto indissociaacutevel solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio de sistemas de objetos e sistemas de accedilotildees natildeo considerados isoladamente mas como o quadro uacutenico no qual a histoacuteria se daacute No comeccedilo era a natureza selvagem formada por objetos naturais que ao longo da histoacuteria vatildeo sendo substituiacutedos por objetos fabricados objetos teacutecnicos mecanizados e depois ciberneacuteticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma maacutequina Atraveacutes da presenccedila desses objetos hidroeleacutetricas faacutebricas fazendas modernas portos estradas de rodagem estradas de ferro cidades o espaccedilo eacute marcado por esses acreacutescimos que lhe datildeo algum conteuacutedo extremamente teacutecnico (SANTOS 2002 a p 63)
Dessa forma a abordagem sobre o espaccedilo estaacute contida dentro de um grau de
complexidade que envolve natureza e homem Cada vez mais em que se apresenta
o domiacutenio do homem sobre a natureza esta tende a ser artificial sendo entatildeo os
objetos artificializados pelo homem As accedilotildees impostas interagem e datildeo vida agrave
dinacircmica espacial onde os objetos lhe datildeo a forma de como se apresentam na
realidade e por outro lado elas ao longo do tempo condicionam novas formas
novos objetos espaciais
Esse momento de exploraccedilatildeo da natureza eacute muito mais evidente a partir das
grandes transformaccedilotildees que o homem provocou com o advento da modernidade
Isto quer dizer que a rapidez com que os processos sociais foram se modificando ao
longo dos anos fez com que o espaccedilo se tornasse mais complexo do ponto de vista
das relaccedilotildees sociais Ao analisar os sistemas de objetos Santos (2002) relata que
hoje o mundo se torna muito mais de objetos do que de coisas Antes o mundo era
39
das coisas porque estavam no ritmo da natureza Atualmente no chamado meio
teacutecnico-cientiacutefico e informacional (SANTOS 1994) as coisas tendem a ser objetos
pelo fato de haver uma constante desnaturalizaccedilatildeo Sendo assim o valor simboacutelico
dos objetos eacute muito maior do que o valor das coisas
Essa realidade se aplica ao turismo A partir da praacutetica da atividade turiacutestica o
espaccedilo tende a sofrer mudanccedilas bruscas que estatildeo de acordo com uma ordem que
eacute a ordem do capital Os objetos espaciais do turismo por excelecircncia satildeo objetos
de grandes transformaccedilotildees espaciais mediados por accedilotildees de agentes do capital e
tambeacutem pelos turistas O turismo torna-se com isso um importante veiacuteculo de
produccedilatildeo de espaccedilos Esses espaccedilos do turismo natildeo se aplicam apenas no mundo
concreto antes disso estatildeo dentro do imaginaacuterio do turista no momento em que ele
cria uma expectativa de conhecer o outro a sua ligaccedilatildeo produz entatildeo novos
lugares novos espaccedilos possibilitando assim uma maior rapidez no que diz
respeito agrave sua transformaccedilatildeo Tais circunstacircncias satildeo ainda mais visiacuteveis quando
outros agentes do setor turiacutestico reforccedilam a ideacuteia do belo ou ainda do que seja
atrativo Tal produccedilatildeo do espaccedilo imaginaacuterio turiacutestico eacute para Rodrigues (1999)
uma captaccedilatildeo do imaginaacuterio coletivo na tentativa de uma resposta Segundo a
autora a miacutedia eacute responsaacutevel pelo processo de criaccedilatildeo da fantasia do espaccedilo
turiacutestico a ser visitado Criam-se cenaacuterios os mais belos possiacuteveis onde o estiacutemulo
estaacute concentrado nas paisagens fabricadas com o que haacute de melhor Ainda nas
palavras de Santos (2002b) a ordem espacial assim resultante eacute tambeacutem
intencional (SANTOS 2002b p 166) Com isso percebe-se a forma pela qual a
miacutedia introduz novos siacutembolos que entram no jogo dialeacutetico da produccedilatildeo de objetos
espaciais voltados para a expansatildeo da atividade turiacutestica
Reconhecendo o espaccedilo como aspecto central na anaacutelise do turismo a
geografia representa uma importante aacuterea de estudos para esse fenocircmeno visto
que esse tipo de relaccedilatildeo social se faz atraveacutes do consumo dos espaccedilos Rodrigues
(1999) procura estabelecer paracircmetros de anaacutelises teoacutericos e metodoloacutegicos para se
entender como ocorre o processo de constituiccedilatildeo dos elementos que formam o
espaccedilo turiacutestico A autora toma como base Santos (1985) para analisar os
elementos fundadores do espaccedilo turiacutestico Segundo a autora o espaccedilo do turismo eacute
formado por pelo menos cinco elementos
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a) os homens que se caracterizam na figura dos turistas Estes na verdade
satildeo a proacutepria demanda turiacutestica ou seja homens e mulheres e tambeacutem os agentes
responsaacuteveis por grandes firmas internacionais ou ainda os agentes de viagens
turiacutesticas
Segundo a autora a demanda turiacutestica eacute originaacuteria na sua maioria dos
grandes centros urbanos especialmente as metroacutepoles onde estatildeo concentrados
trabalhadores de classe meacutedia e alta providos de tempo e dinheiro para efetivar seu
deslocamento no espaccedilo rumo ao destino turiacutestico Ao chegarem os visitantes
entram em contato com a populaccedilatildeo residente do nuacutecleo receptor de turismo A
populaccedilatildeo local natildeo eacute um elemento menos importante dentro do espaccedilo turiacutestico
(RODRIGUES 1999 p 66) Esta relaccedilatildeo entre a populaccedilatildeo viajante (os turistas) e a
populaccedilatildeo residente (populaccedilatildeo local) nem sempre se daacute da forma mais harmocircnica
possiacutevel pois o contato intercultural entre os povos provoca algumas rupturas que
em certos casos desencadeiam processos de transformaccedilatildeo cultural
b) O outro elemento estaacute constituiacutedo na figura das firmas que satildeo
responsaacuteveis por toda a produccedilatildeo de bens serviccedilos de um sistema turiacutestico Agrave
atividade turiacutestica esse elemento estaacute diretamente ligado ao serviccedilo de hospedagem
(as cadeias hoteleiras) bem como agraves agecircncias de turismo que de certa forma
tambeacutem constituem cadeias
As firmas caracterizam-se pela promoccedilatildeo da atividade turiacutestica usando o
marketing para promover da melhor forma possiacutevel o produto turiacutestico a ser
comercializado Por esse motivo elas atuam em redes internacionais (redes globais)
especializadas no setor turiacutestico Suas funccedilotildees correspondem sobretudo a uma
ordem geral da empresa ou seja o mesmo serviccedilo que eacute prestado num paiacutes como o
Brasil de certa maneira eacute o mesmo prestado em um paiacutes como a Franccedila por
exemplo Essa situaccedilatildeo torna-se possiacutevel por ocorrer na era da globalizaccedilatildeo na
qual os mercados estatildeo unificados independentes de pertencerem a paiacuteses ricos ou
pobres As accedilotildees das firmas ocorrem de forma uniforme no processo turiacutestico Para
a autora as novas relaccedilotildees que se estabelecem em escala mundial e local podem
desarticular o local do regional e do nacional ignorando-se as fronteiras do Estado-
Naccedilatildeo (RODRIGUES 1999 p 66)
41
c) Outro elemento do espaccedilo turiacutestico satildeo as instituiccedilotildees que correspondem
agraves superestruturas (1999 p 67) Este elemento concentra-se nas accedilotildees ditadas por
oacutergatildeos internacionais ou nacionais de promoccedilatildeo do turismo Oacutergatildeos como a OMT
(Organizaccedilatildeo Mundial do Turismo) com sede na Espanha OMC (Organizaccedilatildeo
Mundial do Comeacutercio) outras instituiccedilotildees como a EMBRATUR (Empresa Brasileira
de Turismo esta com caraacuteter de instituto) ou ainda o Ministeacuterio do Turismo satildeo
exemplos de atores sociais que ditam regras e ordenam o espaccedilo geograacutefico do
turismo a fim de promover a expansatildeo da atividade Pode-se perceber entatildeo que
as instituiccedilotildees satildeo em certos momentos a proacutepria figura do Estado desmembrado
nos seus oacutergatildeos de planejamento e gestatildeo do espaccedilo turiacutestico Por outro lado as
instituiccedilotildees correspondem a oacutergatildeos supranacionais que atuam em acircmbito
internacional
d) O quarto elemento componente do espaccedilo turiacutestico satildeo as infra-estruturas
ou seja as redes de transporte comunicaccedilotildees saneamento baacutesico coleta de lixo
tratamento de esgoto ou serviccedilo de ajuda aos turistas como as casas de cacircmbio e a
seguranccedila As infra-estruturas satildeo componentes de organizaccedilatildeo do espaccedilo para o
recebimento do turista Este elemento que parece simples eacute bastante complexo
pois seu volume e conteuacutedo devem estar dimensionados de acordo com a demanda
pelo menos com a demanda atual de um nuacutecleo turiacutestico (RODRIGUES1999 p
69) A infra-estrutura aleacutem de ser elemento do espaccedilo turiacutestico torna-se tambeacutem
condiccedilatildeo fundamental para a fixaccedilatildeo do turista no lugar a ser visitado Sem uma boa
infra-estrutura os serviccedilos turiacutesticos ficam comprometidos ocasionando assim uma
queda na demanda de viajantes Deve-se ressaltar tambeacutem que a infra-estrutura
turiacutestica pode estar associada a um espaccedilo voltado exclusivamente para a
atividade desvinculando-se da realidade local aumentando dessa maneira as
disparidades soacutecio-espaciais
e) O uacuteltimo e quinto elemento eacute o meio ecoloacutegico que segundo Santos
(1985) eacute o conjunto de complexos territoriais que constituem a base fiacutesica do
trabalho humano (SANTOS apud RODRIGUES 1999 p 69) Refere-se
principalmente ao meio natural onde estatildeo assentados os outros quatro elementos
anteriores Seria outrora o meio ambiente poreacutem cada vez mais modificado pelo
homem Eacute a natureza primeira sendo cada vez mais modificada transformando-se
42
em segunda natureza onde impera o mundo da teacutecnica ou tecnosfera (SANTOS
2002 a) No caso do turismo o meio ecoloacutegico eacute cada vez mais valorizado nos dias
atuais com o chamado turismo sustentaacutevel ou ainda turismo ecoloacutegico A volta agrave
natureza bucoacutelica com poucas interferecircncias do homem torna-se um novo objeto
de consumo do turismo por parte dos viajantes Eacute uma forma de valorizaccedilatildeo das
paisagens mais exuberantes e que provocam uma sensaccedilatildeo de tranquumlilidade numa
tentativa de atenuar os impactos ambientais gerados pelo turismo de massa
A repercussatildeo espacial do turismo estaacute marcada por um conjunto de formas
funccedilotildees processos e estruturas (SANTOS 1985) Dentro de uma totalidade
espacial os elementos formadores do espaccedilo do turismo ocorrem em conjunto
Dessa forma natildeo se pode deixar de afirmar que os objetos espaciais do turismo
carregam em si caracteriacutesticas que estatildeo em comum acordo com um contexto
histoacuterico da atividade
A espacialidade turiacutestica tambeacutem se faz a partir de impactos no meio
ambiente com a construccedilatildeo de grandes objetos espaciais voltados para o lazer A
tentativa de promover a todo custo a expansatildeo da atividade resulta em contrastes
no espaccedilo original que de certa forma natildeo correspondem agrave histoacuteria ou cultura do
lugar Alguns pesquisadores julgam o turismo como um produtor de natildeo-lugares o
que resultaria na confirmaccedilatildeo de que a praacutetica do turismo estaacute a serviccedilo do capital
Carlos (2002) sustenta a ideacuteia da transformaccedilatildeo do espaccedilo pelo turismo como um
sentimento de perda do lugar ou ainda da identidade Poreacutem ressalta que antes
do sentimento de perda do espaccedilo original ter um valor de falta deve-se entender
que esse jogo de relaccedilotildees faz parte do processo de construccedilatildeo do espaccedilo no mundo
moderno Dessa forma como o turismo eacute movido pelas diretrizes do capital o
espaccedilo torna-se uma mercadoria que estaacute agrave venda num processo de troca
produzindo-se assim a natildeo-identidade respeitando muito mais o tempo do dinheiro
do que o tempo da sociedade local Segundo ainda a mesma autora o turismo
transforma tudo o que toca em artificial cria um mundo fictiacutecio e mistificado de lazer ilusoacuterio onde o espaccedilo se transforma em cenaacuterio para o espetaacuteculo para uma multidatildeo amorfa mediante uma criaccedilatildeo de uma seacuterie
de atividades que conduzem a passividade produzindo apenas a ilusatildeo da evasatildeo e desse modo o real eacute metamorfoseado transfigurado para
43
seduzir e fascinar Aqui o sujeito se entrega agraves manipulaccedilotildees desfrutando a proacutepria alienaccedilatildeo e a dos outros (CARLOS 2002 p 26)
De acordo com essa perspectiva o espaccedilo do turismo torna-se um espaccedilo
vazio sem sentido e sem espessura (CARLOS 2002) porque natildeo haacute nele uma
identidade A espacialidade do turismo pode dessa maneira ser a mesma (no
sentido de homogecircneo) em todo o mundo A relaccedilatildeo que se estabelece a partir
desses espaccedilos eacute uma relaccedilatildeo entre a induacutestria e o homem que aqui torna-se um
sujeito passivo diante da criaccedilatildeo de belos cenaacuterios onde as imagens parciais
refletem parcialmente a totalidade do lugar O lugar segundo a autora eacute um produto
das relaccedilotildees entre o homem e a natureza na dimensatildeo do vivido construindo vaacuterios
significados sociais que satildeo marcados pelo tempo social O tempo do turismo
segundo essa loacutegica eacute um tempo da maacutequina sem vida e condicionado pela forccedila
das movimentaccedilotildees financeiras Como exemplo desses espaccedilos onde o tempo eacute
controlado o lazer da sociedade moderna natildeo eacute de forma espontacircnea os resorts
representam a expressatildeo do que seja um natildeo-lugar Configuram-se como espaccedilos
descontextualizados do entorno original uma vez que suas accedilotildees estatildeo mais no
mundo das representaccedilotildees do que nas materialidades que nos envolvem
(HAESBAERT 2004) constituindo assim uma ordem que estaacute subjacente a um
tipo de turismo global dentro do lugar
Dessa forma as espacialidades do turismo podem ser caracterizadas pelo
ritmo das empresas em que o seu novo espaccedilo eacute o mundo (SANTOS 2002) Tenta-
se com isso construir uma hegemonia de tempos de turismo acelerando cada vez
mais a produccedilatildeo de espaccedilos homogecircneos com o intuito de promover o lazer na
sociedade moderna
44
23 O Estado e as estrateacutegias de planejamento e de desenvolvimento da atividade turiacutestica
O debate sobre as poliacuteticas puacuteblicas de turismo nos uacuteltimos tempos tem sido
aprofundado frequumlentemente pela crescente demanda da atividade nas mais
diversas partes do planeta A discussatildeo sobre as poliacuteticas puacuteblicas portanto estaacute
intimamente ligada agrave questatildeo do desenvolvimento de um lugar Mais precisamente
o Estado passa a ser o principal agente de discussatildeo e aplicaccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Nesse sentido eacute necessaacuterio estabelecer uma anaacutelise do seu papel nas
tomadas de decisotildees Isto quer dizer que a discussatildeo sobre as accedilotildees do Estado
envolve uma reparticcedilatildeo do territoacuterio que vai da escala nacional agrave escala local Para
tal efeito o debate teacutecnico sobre o planejamento do espaccedilo envolve atores sendo
eles caracterizados pelas funccedilotildees teacutecnicas (agentes de governo) ou ainda a
populaccedilatildeo residente em uma aacuterea a ser atingida
A partir da deacutecada de 1980 com a crescente modificaccedilatildeo da economia
mundial as accedilotildees do Estado tecircm sofrido mudanccedilas com o intuito de atender agraves
transformaccedilotildees recentes do capital internacional A estrutura econocircmica dos paiacuteses
por sua vez eacute modificada a partir de um novo conjunto de poliacuteticas estabelecidas
principalmente no decorrer da crescente onda neoliberal O Estado passa a ceder
mais lugar agrave iniciativa privada no interior das decisotildees que se referem aos setores
de infra-estrutura Observa-se desta forma uma gradativa isenccedilatildeo das
responsabilidades antes de inteira competecircncia do poder puacuteblico O que hoje passa
a ser estruturada com uma maior ampliaccedilatildeo das grandes empresas de uma forma
geral termina por acarretar em ocircnus para a sociedade Produz-se entatildeo um
campo de incertezas nas poliacuteticas puacuteblicas em que vaacuterios interesses dos atores
sociais envolvidos satildeo aflorados
Satildeo estabelecidos novos recortes territoriais que estatildeo situados em um
enfraquecimento do Estado ao mesmo tempo em que a presenccedila da iniciativa
privada se torna mais evidente A adequaccedilatildeo das escalas globais estatildeo mais para
as empresas do que para o desenvolvimento pleno da sociedade O ritmo das
economias segue portanto uma transformaccedilatildeo ditada pela velocidade das grandes
empresas o que faz com que se estabeleccedila uma nova forma de entendimento das
45
poliacuteticas puacuteblicas Segundo Cruz (2001) estas devem ser pensadas e conduzidas
pelo governo do contraacuterio ficam vinculadas agraves iniciativas privadas
Para Coelho (2000) essa crescente demanda dos interesses privados sobre
o puacuteblico precisa ser considerada a partir de um quadro poliacutetico-econocircmico no que
diz respeito aos processos soacutecio-culturais e ambientais dessa nova fase do
capitalismo Isto porque o que estaacute em jogo eacute um novo modelo de desenvolvimento
econocircmico a crescente reduccedilatildeo da capacidade do Estado em articular as accedilotildees
puacuteblicas e tambeacutem porque se trata de uma conjuntura de crise econocircmico-poliacutetica
por qual passam os governos A autora defende3 quatro tipos de abordagens sobre
os estudos de poliacuteticas puacuteblicas
A primeira estaria no acircmbito dos atores que podem ser puacuteblicos ou privados
mas que estatildeo referendadas nas suas diversas decisotildees e accedilotildees ou seja accedilotildees
ligadas ao interesses desses sujeitos O intuito portanto seria de entender seus
papeacuteis a partir das poliacuteticas adotadas no que diz respeito ao desenvolvimento
regional e da mitigaccedilatildeo dos problemas ambientais A segunda abordagem diz
respeito agrave investigaccedilatildeo das formas de atuaccedilatildeo conflitantes ou associativas dos
atores puacuteblicos ou privados e de seus esforccedilos em compartilharem entre si a busca
se soluccedilotildees de problemas ambientais (COELHO 2000 p 125) A terceira
abordagem tem como entendimento o exame das negociaccedilotildees do Estado nos
setores onde satildeo executadas as poliacuteticas puacuteblicas ou seja faz-se necessaacuteria uma
investigaccedilatildeo do momento em que se elaboram as poliacuteticas e o confrontamento com
outros tipos de poliacuteticas de outras ordens como por exemplo poliacuteticas industriais
minerais fundiaacuterias entre outras A quarta abordagem estaacute situada dentro da
perspectiva de uma superaccedilatildeo das poliacuteticas tradicionais Postula-se com isso uma
inserccedilatildeo ainda maior de poliacuteticas alternativas que mostrem diretrizes de um outro
tipo de desenvolvimento em que a gestatildeo participativa da sociedade possa ser
valorizada ampliando dessa maneira o debate a respeito das poliacuteticas puacuteblicas e
outros interesses sociais envolvidos Segundo ainda a autora
3 As anaacutelises de Coelho (2000) estatildeo voltadas para a questatildeo mineral do Estado do Paraacute poreacutem em um acircmbito geral tal perspectiva se faz muito vaacutelida para entendermos a atual conjuntura por qual passa o Estado nos uacuteltimos anos ou seja um entendimento geral sobre as noccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas
46
Torna-se necessaacuterio sem duacutevida distinguir a loacutegica que norteia as empresas isto eacute uma loacutegica voltada para a produccedilatildeo do lucro ampliado e a que conduz a atuaccedilatildeo poliacutetica que visa manter o poder e para isso recorre a alianccedilas e a negociaccedilotildees sobretudo quando a legitimidade do Estado acha-se ameaccedilada (COELHO 2000 p 125)
Nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas assumem um caraacuteter multi e
interdisciplinar (COELHO 2000 p 125) o que faz com que os processos soacutecio-
espaciais abarcados nos planejamentos governamentais sejam redefinidos no
acircmbito das esferas municipais estaduais e federais
No setor turiacutestico tal realidade natildeo seria diferente Levando-se em
consideraccedilatildeo a relaccedilatildeo permanente entre o setor privado e o Estado o turismo teve
um crescimento consideraacutevel nos uacuteltimos dececircnios e isso fez com que novas
territorialidades aflorassem e novas relaccedilotildees entre o Estado a iniciativa privada e a
populaccedilatildeo local fossem redefinidas
Para Cruz (2001) o turismo tornou-se nos uacuteltimos tempos um vetor muito
importante para a economia mundial Nesse sentido vaacuterias satildeo as intervenccedilotildees
espaciais que satildeo resultantes de uma necessidade de adequaccedilatildeo do lugar turiacutestico
agraves novas demandas do mercado Sendo o turismo uma loacutegica econocircmico-social
organizada torna-se importante a estruturaccedilatildeo de um sistema de objetos que
podem ser definidos por serviccedilos como hospedagens alimentaccedilatildeo transportes sob
um conjunto de accedilotildees que incrementam os diversos objetos espaciais voltados para
a praacutetica turiacutestica Esse conjunto de accedilotildees pode ser entendido como as poliacuteticas
puacuteblicas de turismo A partir dessa configuraccedilatildeo o lugar turiacutestico se distingue de
outros lugares mas para que o lugar transformado pelas praacuteticas turiacutesticas situe-
se como uma dimensatildeo espacial diferentes das outras torna-se necessaacuteria a
presenccedila do Estado como indutor das accedilotildees decorridas de poliacuteticas Assim Cruz
(2001) enfatiza
O modo como se daacute a apropriaccedilatildeo de uma determinada parte do espaccedilo geograacutefico pelo turismo depende da poliacutetica puacuteblica de turismo que se leva a cabo no lugar Agrave poliacutetica puacuteblica de turismo cabe o estabelecimento de metas e diretrizes que orientem o desenvolvimento soacutecio-espacial da atividade tanto no que tange agrave esfera puacuteblica como no que se refere agrave
47
iniciativa privada Na ausecircncia da poliacutetica puacuteblica o turismo se daacute a revelia ou seja ao sabor de iniciativas e interesses particulares (CRUZ 2001 p 9)
Como um exemplo da ineficiecircncia das poliacuteticas puacuteblicas de turismo os resorts
expressam verdadeiros confinamentos espaciais Eles constituem as limitaccedilotildees das
poliacuteticas puacuteblicas de turismo setoriais Nesses espaccedilos a iniciativa privada impotildee um
ritmo proacuteprio em que as leis do mercado sobressaem em detrimento de normas
gerais exemplificadas nas poliacuteticas de governo o que faz desses objetos uma
manifestaccedilatildeo do mundo no lugar (LUCHIARI 1999)
Percebe-se assim que a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de turismo
deve levar em consideraccedilatildeo o fator da organizaccedilatildeo soacutecio-espacial ditada pelas
novidades que o fenocircmeno do turismo oferece ao mesmo tempo em que deve situar
a importacircncia do lugar ou melhor das relaccedilotildees sociais contidas no lugar as
pessoas propriamente ditas seus sentidos e interesses De fato tal procedimento
torna-se complicado pois o ritmo da modernidade eacute por demais diferente do ritmo
das pessoas configura-se dessa forma uma sensaccedilatildeo de estranhamento ao
novo o que faz das poliacuteticas de turismo uma unidade da desunidade
(BERMAN
2003) Eacute nesse sentido portanto que as poliacuteticas puacuteblicas de turismo muitas vezes
encontram-se dissociadas da realidade local
Uma outra questatildeo que permeia a discussatildeo sobre as poliacuteticas de turismo
estaacute centrada no debate sobre a importacircncia do territoacuterio na construccedilatildeo dessas
poliacuteticas isto porque quando se retrata a relaccedilatildeo entre o territoacuterio e o turismo
necessariamente a abordagem sobre o reordenamento torna-se fundamental dada
a relevacircncia do territoacuterio turistificado Nesse sentido toda accedilatildeo decorrente dos
planejamentos de governo ou precisamente as poliacuteticas de turismo visam
sobretudo o reordenamento do territoacuterio
Santos e Silveira (2001) entendem que o territoacuterio passa a ter valor quando
este eacute usado o que faz com que exista uma necessidade sistemaacutetica de uma
constituiccedilatildeo territorial Para os autores
48
Uma periodizaccedilatildeo eacute necessaacuteria pois os usos satildeo diferentes nos diversos momentos histoacutericos Cada periodizaccedilatildeo se caracteriza por extensotildees diversas de formas de uso marcadas por manifestaccedilotildees particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a princiacutepios gerais como a histoacuteria particular e a histoacuteria global (SANTOS SILVEIRA 2001 p 20)
No que diz respeito ao territoacuterio a teacutecnica atraveacutes da histoacuteria justifica as
intervenccedilotildees e a sua proacutepria constituiccedilatildeo resultando assim em um grande sistema
teacutecnico permeado pela materialidade Para os autores o uso do territoacuterio pode ser
definido por uma seacuterie de elementos que constituem um sistema de engenharia
(SANTOS SILVEIRA 2001 p 21) que soacute satildeo perceptiacuteveis pelo dinamismo da
economia e da sociedade que podem ser desde o simples movimento da populaccedilatildeo
ateacute a criaccedilatildeo de leis e normas para a regulaccedilatildeo da sociedade Com efeito podemos
inserir aiacute poliacuteticas puacuteblicas de turismo
Para Haesbaert (2002) por exemplo o territoacuterio adquire o caraacuteter de
alternativo por ser associado agrave condiccedilatildeo de esperanccedila ou seja um outro territoacuterio eacute
possiacutevel com mais justiccedila e igualdade para os grupos sociais que nele residem
Torna-se alternativo tambeacutem pelo fato de incorporar novas perspectivas teoacutericas
para situar os homens no espaccedilo
Outra importante abordagem sobre o territoacuterio eacute a que Knafou (2001) faz
associando-o ao turismo Segundo o autor eacute a partir do turista que a definiccedilatildeo sobre
territoacuterio pode ser melhor entendida Ele eacute o sujeito que estaacute em constante
movimento tornando-se um constante estrangeiro Com efeito em virtude de sua
mobilidade o turista recoloca a discussatildeo da ideologia do enraizamento da ligaccedilatildeo
privilegiada com o lugar (KNAFOU 2001 p 64) Nesse sentido o territoacuterio do
turismo estaacute em constante movimento produzindo novos lugares e novas relaccedilotildees
do outro com o habitante nativo essa situaccedilatildeo explica portanto a liberdade efetiva
do turista Tal situaccedilatildeo permite com que se faccedila uma anaacutelise das trecircs fontes de
turistificaccedilatildeo dos lugares4
4 O autor natildeo define exatamente o conceito de turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos mas parte de uma relaccedilatildeo que existe entre os fluxos econocircmicos e os turistas Por um outro lado chama a atenccedilatildeo de que a turistificaccedilatildeo dos lugares e dos espaccedilos tecircm o propoacutesito de constituir a base de uma abordagem cientiacutefica do turismo (KNAFOU 2001 p 71)
49
A primeira fonte para Knafou (2001) reside no fato de que os turistas eacute que
estatildeo na origem do turismo Isso quer dizer que antes de existirem produtos do
turismo satildeo os turistas que produzem os lugares atraveacutes de sua constante
mobilidade ou seja de suas viagens
A segunda fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares estaacute centralizada no mercado E
nesta condiccedilatildeo satildeo os produtos turiacutesticos que estatildeo agrave frente dos turistas natildeo mais
as praacuteticas turiacutesticas em si Poreacutem quando o mercado toma para si a
responsabilidade exclusiva de produzir produtos pode natildeo levar em consideraccedilatildeo a
importacircncia das praacuteticas turiacutesticas como uma condiccedilatildeo de criaccedilatildeo dos produtos O
principal perigo ao qual os operadores do mercado turiacutestico devem fazer face eacute o de
ignorar de subestimar ou de analisar tarde demais a evoluccedilatildeo mesmo das
modificaccedilotildees nas praacuteticas turiacutesticas (KNAFOU 2001 p 70)
A terceira e uacuteltima fonte de turistificaccedilatildeo dos lugares pertence aos promotores
e planejadores territoriais Para o autor diferentemente das duas primeiras fontes
esta eacute mais ou menos bem territorializada (KNAFOU 2001 p 71) pois estatildeo
intimamente ligadas a um lugar E consequumlentemente essa relaccedilatildeo estaacute ligada ao
desenvolvimento dos lugares Poreacutem o autor reforccedila que o principal perigo com o
qual se defrontam os promotores territoriais eacute o fato de ignorarem o mercado e as
praacuteticas dos turistas ou delas fazerem representaccedilotildees errocircneas (KNAFOU 2001 p
71)
No geral essas trecircs situaccedilotildees satildeo condiccedilotildees para se estabelecer uma
relaccedilatildeo entre o turismo e o territoacuterio
A primeira relaccedilatildeo a que Knafou (2001) faz alusatildeo eacute que podem existir
territoacuterios sem turismo Tal situaccedilatildeo revela os lugares onde o turismo ainda natildeo se
faz presente Poreacutem pode-se afirmar que todo territoacuterio apesar de natildeo ser
completamente envolvido pelas praacuteticas turiacutesticas pode vir a ser Isto porque o
avanccedilo das teacutecnicas do meio teacutecnico-cientiacutefico e informacional a que Santos (2003)
se refere eacute um vetor de raacutepidas transformaccedilotildees dos territoacuterios Como diz o proacuteprio
Knafou (2001)
50
Em contrapartida com o progresso dos transportes e com a difusatildeo da ideacuteia segundo a qual todo o espaccedilo mundial eacute entatildeo acessiacutevel haacute cada vez menos territoacuterios sem turistas Tanto mais que efetivamente os turistas podem ir a qualquer parte ou quase Mas sempre em nuacutemero e sob formas que permitem fazer os lugares viver (KNAFOU 2001 p 72)
A segunda relaccedilatildeo fala sobre a possibilidade de existir tambeacutem turismo sem
territoacuterio Nessa situaccedilatildeo natildeo eacute o turista que provoca o consumo dos lugares mas
quem o faz eacute o mercado juntamente com outros agentes participantes desse
processo como o Estado por exemplo Nesse sentido o territoacuterio torna-se produto
mercadoloacutegico na sua essecircncia Knafou (2001) ainda ratifica
Estaacute-se entatildeo em presenccedila de lugares de passagem de territoacuterio de outros onde o turista soacute faz uma incursatildeo ou ateacute uma excursatildeo Frequumlentemente eacute este territoacuterio impropriamente qualificado que se planeja por e pelo turismo (KNAFOU 2001 p 72)
A terceira relaccedilatildeo segundo o autor eacute que podem enfim existir territoacuterios
turiacutesticos Essa relaccedilatildeo portanto marca a produccedilatildeo dos territoacuterios pelos turistas Ou
seja eacute nessa condiccedilatildeo que as diversas relaccedilotildees soacutecio-espaciais satildeo possiacuteveis e
que de fato o fenocircmeno do turismo alcanccedila outras dimensotildees espaciais O autor
ressalta a delicada relaccedilatildeo entre o espaccedilo e o planejamento Segundo ele natildeo se
pode planejar o espaccedilo do turismo em si unicamente pois do contraacuterio estaraacute se
desprezando a sociedade nele contido
A importacircncia do territoacuterio para o turismo eacute sobretudo condiccedilatildeo para o
planejamento e elaboraccedilatildeo de poliacuteticas espaciais voltadas para o setor A poliacutetica de
turismo natildeo se daacute plenamente de forma isolada o que faz com que se ampliem as
discussotildees sobre as intervenccedilotildees espaciais em que outros setores da sociedade se
fazem presentes Eacute importante portanto a articulaccedilatildeo das poliacuteticas de turismo com
outras poliacuteticas setoriais como por exemplo as poliacuteticas urbanas de transporte de
seguranccedila entre outros
51
Fonseca (2005) demonstra que as poliacuteticas puacuteblicas e em especial as de
turismo tiveram maior relevacircncia a partir da reestruturaccedilatildeo do modo capitalista de
produccedilatildeo no iniacutecio dos anos 1970 A crise do sistema provocou entatildeo uma seacuterie de
mudanccedilas na economia poliacutetica mundial e fez com que os Estados se rearticulassem
em seus setores para que pudessem enfrentar as consequumlecircncias das
transformaccedilotildees econocircmicas mundiais A autora destaca que antes de analisar as
poliacuteticas puacuteblicas eacute necessaacuterio se entender como o Estado mudou suas estrateacutegias
ao longo dos anos ou seja entender a que contexto histoacuterico-social o Estado
pertence Segundo a autora
Agrave medida que a organizaccedilatildeo social assume determinadas caracteriacutesticas e emergem novas mudanccedilas o Estado tambeacutem vai assumindo novas funccedilotildees e se amoldando para atender agraves necessidades e agraves demandas do contexto social e econocircmico no qual estaacute inserido Os Estados soacute podem ser entendidos em seus contextos histoacutericos (FONSECA 2005 p 81)
A autora apresenta uma evoluccedilatildeo do quadro das poliacuteticas puacuteblicas de turismo
segundo o contexto histoacuterico em que elas estatildeo inseridas O primeiro momento
refere-se a uma fase artesatilde onde o periacuteodo fordista se manifestava nas praacuteticas
turiacutesticas mundiais atraveacutes de um incremento quantitativo do turismo Isso era muito
perceptiacutevel atraveacutes de programas ofensivos de conquista de mercados
internacionais (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) O intuito das poliacuteticas
puacuteblicas de turismo portanto era o de fazer crescer a economia dos paiacuteses
receptores com medidas de geraccedilatildeo de renda equiliacutebrio financeiro e de
arrecadaccedilatildeo entre outros
O segundo momento corresponde ao periacuteodo que marca a crise de
acumulaccedilatildeo periacuteodo este que se estende dos anos 1970 ateacute o iniacutecio dos anos 1980
(FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005) Devido agraves profundas consequumlecircncias da
crise do regime de acumulaccedilatildeo o turismo passa a ter um papel importante dentro da
economia dos paiacuteses Eacute nesse momento tambeacutem que a atividade turiacutestica passa a
ser relevante no que diz respeito aos seus impactos sociais por conta de seu
crescimento raacutepido os objetivos das poliacuteticas puacuteblicas de turismo satildeo redefinidos a
fim de que este possa contribuir para o bem-estar da populaccedilatildeo residente
52
Por fim o terceiro momento surge a partir de meados dos anos de 1980
Nesse periacuteodo a economia mundial eacute fortemente influenciada pelo regime neoliberal
o que faz com que a atividade turiacutestica desponte como um dos segmentos basilares
do desenvolvimento econocircmico Os elaboradores das poliacuteticas de turismo
(influenciados pela onda neoliberal) vecircem o turismo como um segmento estrateacutegico
para a competitividade no mercado O turismo portanto assume uma caracteriacutestica
empresarial o que com efeito influencia as novas poliacuteticas de turismo elaboradas
pelos governos (FAYOS-SOLA apud FONSECA 2005 p 88)
Nesse sentido a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas de turismo eacute antes de tudo um
modo peculiar de intervenccedilatildeo espacial em que se combinam o jogo complexo de
normas governamentais e sociedade tornando a relaccedilatildeo soacutecio-espacial mais
complexa O acuacutemulo de novas informaccedilotildees e teacutecnicas faz com que o territoacuterio
delimitado pelas poliacuteticas puacuteblicas de turismo seja um condicionante para as
estrateacutegias espaciais pensadas pelo Estado e pela iniciativa privada Nessa relaccedilatildeo
o resultado das accedilotildees tambeacutem pode se dar de forma desigual na medida em que
uma minoria possa prevalecer em detrimento da maioria isso significa entatildeo a
dissonacircncia que existe na concepccedilatildeo do espaccedilo pensado pelas poliacuteticas puacuteblicas e
o espaccedilo a ser modificado
O agrupamento das decisotildees sobre as poliacuteticas de turismo a serem
estabelecidas assim como suas repercussotildees espaciais encontram campo feacutertil na
Amazocircnia em destaque o Paraacute As estrateacutegias espaciais oriundas de pensamentos
concebidas pelo Estado estabelecem um estreitamento com as praacuteticas de
desenvolvimento No que se refere ao turismo essas estrateacutegias apresentam uma
configuraccedilatildeo que tem na expansatildeo da atividade o seu principal foco Para que a
Amazocircnia situe-se como um espaccedilo planejado e dotado de uma logiacutestica que
propicie a atividade a construccedilatildeo de planos de desenvolvimento torna-se uma
saiacuteda E esta realidade estaacute presente em documentos como os Planos de Turismo
da Amazocircnia I e II respectivamente elaborados em 1977 e 1992 No Paraacute o PDT-
PA constitui-se o primeiro documento estadual que reuacutene as diretrizes necessaacuterias
para o fomento ao turismo
O que se percebe portanto eacute que a elaboraccedilatildeo de planos de
desenvolvimento de turismo em uma regiatildeo como a Amazocircnia constitui-se
53
sobretudo como verdadeiros reflexos das concepccedilotildees de Estado na forma mais
concreta de suas accedilotildees e intervenccedilotildees no espaccedilo
54
3 O TURISMO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DO PARAacute
55
31 A expansatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia
A combinaccedilatildeo entre o turismo e regiatildeo amazocircnica natildeo eacute algo novo no que se
refere agraves poliacuteticas puacuteblicas Devido a sua diversidade de recursos naturais a
Amazocircnia tornou-se um locus para investimentos de governos sempre interessados
em uma prosperidade principalmente econocircmica A condiccedilatildeo para que isso
ocorresse baseava-se em pelo menos dois fatores O primeiro era o de povoar uma
regiatildeo que estava (ainda estaacute) abaixo das estatiacutesticas oficiais de governo A
populaccedilatildeo da Amazocircnia entatildeo estaria sujeita agrave poliacuteticas de incentivo maciccedilo de
migraccedilotildees de pessoas de outras regiotildees para que pudessem estimular o
crescimento populacional e o povoamento A segunda estaria vinculada a uma
aproximaccedilatildeo econocircmico-industrial que estivesse no ritmo das economias das
regiotildees Sul e Sudeste Sendo assim esse cenaacuterio seria o tipo ideal para que a
regiatildeo pudesse sair de seu atraso econocircmico
Tal situaccedilatildeo configura-se como ponto de partida para que a atividade turiacutestica
venha a ser um dos elementos importantes nas poliacuteticas de desenvolvimento do
paiacutes O turismo encara dessa forma uma postura de estimulador de um caminho
mais curto e eficaz para um possiacutevel desenvolvimento da regiatildeo No que diz respeito
a isso Cruz (2003) ressalta
De celeiro do mundo a berccedilo do extrativismo a Amazocircnia Legal tem seu destino mais uma vez traccedilado em funccedilatildeo de suas caracteriacutesticas naturais Mas as decisotildees sobre as formas de exploraccedilatildeo do territoacuterio amazocircnico satildeo poliacuteticas e tecircm muito mais a ver com a divisatildeo internacional do trabalho e com o mercado internacional do turismo do que com sua geologia geomorfologia fauna e flora (CRUZ 2003 p 98)
Para o turismo a Amazocircnia constitui-se um dos espaccedilos mais proacutesperos a
serem explorados por agentes envolvidos na sua dinacircmica internacional Para isso
a regiatildeo recebe um novo sistema de objetos e de accedilotildees modificados em funccedilatildeo de
sua realidade e sua especificidade natural Trata-se portanto de re-inserir a
56
Amazocircnia na rota mundial de turismo destacando-a como um dos cenaacuterios mais
exuberantes no que diz respeito ao seu potencial paisagiacutestico e natural
No tocante a essa situaccedilatildeo a reinvenccedilatildeo da Amazocircnia para o turismo (CRUZ
2003) parte de um princiacutepio maior que eacute seu desenvolvimento Com isso a regiatildeo a
partir da loacutegica de expansatildeo da atividade comeccedila a ser pensada por oacutergatildeos do
governo que promovem accedilotildees voltadas para o incremento de uma infra-estrutura
peculiar na regiatildeo5 assim como estabelece novas diretrizes de mercado que
contemplam a exploraccedilatildeo racionalizada do turismo
Para tanto os agentes envolvidos no processo de turistificaccedilatildeo da regiatildeo
amazocircnica aproveitam caracteriacutesticas tipicamente regionais como a hospitalidade
do povo amazocircnida para transformar em atrativo turiacutestico Nesse sentido Cruz
(2003) ao abordar a ideacuteia de hospitalidade turiacutestica argumenta que seu sentido estaacute
sobretudo ligado a um sistema de objetos e de accedilotildees do fazer turiacutestico A ideacuteia do
receber bem o turista no que se refere ao carisma alegria e educaccedilatildeo por parte
daqueles que estatildeo ligados agrave atividade turiacutestica na regiatildeo circunscreve-se em uma
realidade onde uma infra-estrutura eacute necessaacuteria
A criaccedilatildeo de uma hospitalidade turiacutestica em territoacuterios amazocircnicos envolve de um lado a criaccedilatildeo de uma materialidade necessaacuteria ao fazer turiacutestico como a implementaccedilatildeo de estruturas relacionadas agrave acessibilidade agrave hospedagem e ao lazer dos visitantes De outro lado envolve tambeacutem aspectos intangiacuteveis e igualmente fundamentais para a ocorrecircncia de um turismo organizado como a capacitaccedilatildeo profissional e promoccedilatildeo turiacutestica Destarte instala-se para e pelo turismo na regiatildeo um novo sistema de objetos e de accedilotildees que recriam o espaccedilo amazocircnico agora orientado pela loacutegica de um uso turiacutestico (CRUZ 2003 p 94)
Tal hospitalidade envolve accedilotildees antes planejadas por pessoas envolvidas no
processo de atraccedilatildeo do turista para a regiatildeo Amazocircnica algo que natildeo depende
exclusivamente dos residentes mas sim de um planejamento voltado para a infra-
estrutura e o preparo das pessoas (CRUZ 2003) A partir desses propoacutesitos eacute que a
Amazocircnia entra no ritmo ou circuito da atividade turiacutestica ou seja a estrateacutegia de
5 Apesar do fluxo de turistas na regiatildeo ser ainda pequeno a infra-estrutura necessaacuteria para atender tal demanda estaacute baseada principalmente na construccedilatildeo e reforma de estradas no aumento e promoccedilatildeo de passagens aeacutereas e na construccedilatildeo de lodges e hoteacuteis de redes nacionais e internacionais que se apropriam da temaacutetica regional (floresta natural) para construiacuterem objetos espaciais bem caracteriacutesticos como eacute o caso dos hoteacuteis de florestas no estado do Amazonas
57
inserccedilatildeo e expansatildeo do turismo na regiatildeo agrega requisitos de ordem global e
padronizada
Levando em consideraccedilatildeo a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas especiacuteficas do turismo a
partir da deacutecada de 1970 o governo federal realizou uma seacuterie de medidas voltadas
para a expansatildeo da atividade na Amazocircnia entre elas especificamente estavam os
planos de desenvolvimento da regiatildeo ou PDAS (e tambeacutem os planos de turismo da
Amazocircnia I e II) Nestes planos estavam esboccediladas de uma forma bem ampla as
estrateacutegias espaciais e acima de tudo a concepccedilatildeo de desenvolvimento a qual a
regiatildeo amazocircnica estava subordinada
Tais planos congregavam ideais de transformaccedilatildeo ampla e situavam as accedilotildees
destinadas a retirar a Amazocircnia de seu atraso econocircmico e social No tocante ao
turismo jaacute no segundo Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia6 a atividade era
encarada como um processo em expansatildeo e por isso mesmo natildeo mereceria ficar
em segundo plano As prioridades destacadas referiam-se principalmente em
setorizar a atividade turiacutestica onde as cidades que jaacute reuniam certa infra-estrutura
(apoio logiacutestico ao turismo) seriam pontos estrateacutegicos de atraccedilatildeo de investimentos
provindos do governo
O estiacutemulo do Estado resumia-se aos investimentos em apoio teacutecnico e na
ampliaccedilatildeo do sistema de objetos da regiatildeo como por exemplo as estradas de
rodagem Para isso era de interesse do governo na eacutepoca facilitar o acesso agrave regiatildeo
atraveacutes dos transportes e das comunicaccedilotildees garantidos tambeacutem por um serviccedilo de
hoteacuteis eficiente
A criaccedilatildeo de algumas diretrizes orientadoras para o fomento da atividade
estavam calcadas sobretudo numa reorganizaccedilatildeo e readequaccedilatildeo da atividade a
partir do planejamento das accedilotildees voltadas para o desenvolvimento da regiatildeo Os
planos turiacutesticos jaacute eram vistos como soluccedilatildeo para a efetivaccedilatildeo de poliacuteticas setoriais
e contemplavam de maneira uniforme e integrada o apoio agrave criaccedilatildeo de empresas
estaduais destinadas agrave promoccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade (BRASIL 1977)
6 Elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior e com a organizaccedilatildeo e execuccedilatildeo da SUDAM (Superintendecircncia de Desenvolvimento da Amazocircnia) datado de abril de 1976
58
Os principais destinos urbanos da Amazocircnia como Manaus Beleacutem
Santareacutem e Satildeo Luiz seriam os primeiros a receber a infra-estrutura necessaacuteria
para o planejamento da atividade Em outro momento a construccedilatildeo de um plano
diretor regional de meacutedio a longo prazo deveria estudar as perspectivas de
mercados nacionais e internacionais onde se verificavam problemas a serem
solucionados com o planejamento pensado para as cidades com atrativos turiacutesticos
No II plano de desenvolvimento da Amazocircnia as outras diretrizes satildeo de
cunho mais especiacuteficos e se destinam agraves alternativas jaacute visualizadas perante o
potencial natural da regiatildeo entre elas estatildeo
a) A implantaccedilatildeo de parques florestais para fins turiacutesticos a criaccedilatildeo de um
sistema regional de informaccedilotildees estatiacutesticas e medidas para a preservaccedilatildeo de aacutereas
de interesse turiacutestico
b) Criaccedilatildeo de empresas de turismo nas unidades da federaccedilatildeo incorporando-
as ao sistema regional integrado ao turismo
c) Coordenaccedilatildeo da implantaccedilatildeo da atividade turiacutestica na Amazocircnia junto a
cada entidade interessada com a finalidade de acelerar o desenvolvimento setorial
d) Atrair o turismo nacional para a regiatildeo atraveacutes de estudos de implantaccedilatildeo
de centros de apoio turiacutestico ao longo das rodovias federais e estaduais pelos
oacutergatildeos intervenientes SUDAM (Superintendecircncia do Desenvolvimento da
Amazocircnia) DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens) DER s
(Departamento Estadual de Rodovias) EMBRATUR (Empresa Brasileira de
Turismo)7 e empresas estaduais
e) Continuaccedilatildeo do apoio aos programas de fornecimento de aacutegua energia e
saneamento por parte da SUDAM com o apoio da infra-estrutura ao
desenvolvimento e ampliaccedilatildeo do setor (BRASIL 1977 p 79-80)
7 Durante um longo periacuteodo (desde sua fundaccedilatildeo) a EMBRATUR foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo turismo nacional promoccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de projetos em geral destinados ao fomento da atividade turiacutestica no paiacutes A partir de 2003 especificamente no governo do entatildeo presidente Luis Inaacutecio Lula da Silva a EMBRATUR deixa de ser empresa e passa a ser instituto tendo um fim especiacutefico de promover o turismo nacional no exterior
59
Vale ressaltar que nesta eacutepoca o plano de desenvolvimento da Amazocircnia
entendia o turismo como um setor em expansatildeo poreacutem demonstra em linhas gerais
suas reais intenccedilotildees em relaccedilatildeo agrave atividade natildeo realizando portanto um estudo ou
diagnoacutestico mais especiacutefico sobre a atividade Sua dimensatildeo revela nesse sentido
uma ligaccedilatildeo com as ideacuteias de crescimento que outrora influenciaram (e ainda
influenciam) as concepccedilotildees gerais de planejamentos regionais
O caraacuteter generalista do turismo que se configura no plano entende que o
espaccedilo regional eacute carente de densidade teacutecnica apropriada agrave expansatildeo da
atividade por isso existe a necessidade de implementaccedilatildeo de setores especiacuteficos
destinados a reestruturar o espaccedilo regional como por exemplo as rodovias e as
redes de telecomunicaccedilotildees Nesse sentido o espaccedilo amazocircnico do turismo agrave
eacutepoca era entendido enquanto um espaccedilo a ser modificado por agentes que
estivessem interessados em investir na dotaccedilatildeo de atrativos turiacutesticos
principalmente as empresas do trade turiacutestico amazocircnico
Visto que a atividade turiacutestica era promissora e que seria uma possibilidade
para a geraccedilatildeo de renda e lucro o governo federal na eacutepoca lanccedila o primeiro Plano
de Turismo da Amazocircnia8 com o intuito de (re) organizar o setor a fim de que se
pudessem alcanccedilar niacuteveis satisfatoacuterios de crescimento econocircmico
O primeiro plano por sua vez apresenta a regiatildeo como uma regiatildeo
diferenciada das outras por ser um produto com uma paisagem iacutempar e por isso
seus recursos naturais satildeo encarados como elementos importantes para uma
vocaccedilatildeo e aptidatildeo turiacutestica Tais caracteriacutesticas eram entendidas como um
pressuposto ou alternativa para auxiliar no progresso econocircmico e social da regiatildeo
(BRASIL 1977) Nesse sentido segundo o proacuteprio documento9
Como se vecirc estamos diante de dois incomensuraacuteveis o turismo e a Amazocircnia De um lado o turismo que possibilita quase tudo De outro a
8 O primeiro Plano de Turismo da Amazocircnia foi elaborado pelo antigo Ministeacuterio do Interior em 1977 no governo militar a partir do consoacutercio PLANAVE-PROCHNIK e com o apoio teacutecnico da EMBRATUR A supervisatildeo do Plano ficou a cargo da SUDAM O plano ainda se divide em dois volumes o primeiro diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo e diagnoacutestico da regiatildeo e o segundo contempla os prognoacutesticos poliacuteticas diretrizes e instrumentos e a programaccedilatildeo do Plano 9 Nota de apresentaccedilatildeo do superintendente da SUDAM Hugo de Almeida
60
Amazocircnia potencialmente riquiacutessima em termos de aproveitamento como induacutestria rentaacutevel multiplicadora de divisas cambiais (BRASIL 1977 p 7)
O primeiro PTA resume assim as ideacuteias de que a Amazocircnia eacute um cenaacuterio
propiacutecio agrave expansatildeo da atividade turiacutestica colocando-a como um produto a ser
comercializaacutevel As concepccedilotildees contidas no plano priorizavam accedilotildees com as
estrateacutegias mais amplas que por sua vez estavam definidas no Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia Sua funccedilatildeo especiacutefica estava destinada a levantar
dados sobre a infra-estrutura dos estados e assim definir as estrateacutegias comerciais
para que a regiatildeo pudesse se situar como um destino turiacutestico importante Os eixos
gerais do PTA natildeo seguiam uma poliacutetica nacional de turismo mas sim uma poliacutetica
de desenvolvimento sustentada pelo PDA O processo de configuraccedilatildeo da atividade
turiacutestica era encarado como um ramo da economia que estava associado agraves
diretrizes e interesses especiacuteficos natildeo tendo portanto uma autonomia poliacutetica
Seguindo este conjunto de ideacuteias os objetivos gerais (finais) do primeiro PTA
estavam circunscritos a uma visatildeo de crescimento da atividade com a possibilidade
de geraccedilatildeo de renda e emprego atraveacutes de uma ocupaccedilatildeo territorial efetiva da
regiatildeo de uma maior participaccedilatildeo da atividade no que diz respeito agraves diacutevidas dos
Estados e municiacutepios e em uma valorizaccedilatildeo e defesa dos recursos ecoloacutegicos
(BRASIL 1977) Esses objetivos ainda eram detalhados e pretendiam alcanccedilar uma
renda regional aumentar os investimentos no setor hoteleiro e criar empregos
diretos Atraveacutes de uma visatildeo economicista o PTA visava reduzir as desigualdades
sociais da Amazocircnia e assim constituir-se um documento importante para tal fim
O II Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia tem como seu objetivo principal o crescimento do produto regional e a reduccedilatildeo de desigualdades inter-regionais O Plano de Turismo da Amazocircnia procura ser um dos instrumentos para o atendimento desse objetivo sendo que toda a estrateacutegia de desenvolvimento do turismo aqui apresentada visa tal fim (BRASIL 1977 p 37)
61
Tal caracteriacutestica natildeo iraacute se diferenciar a partir da constituiccedilatildeo do I Plano de
Desenvolvimento da Amazocircnia da Nova Repuacuteblica10 No que diz respeito ao setor
turiacutestico poucas foram as alteraccedilotildees importantes que se destacaram no documento
De uma forma geral o turismo ainda eacute visto como uma atividade que precisa de um
grande incentivo por parte dos governos estaduais e iniciativa privada Sua
dimensatildeo ainda gira em torno do crescimento econocircmico e vecirc o turismo como uma
possibilidade de geraccedilatildeo de emprego e renda Seus objetivos estatildeo estruturados em
dois
a) Aumentar a participaccedilatildeo do turismo no desenvolvimento econocircmico e social da regiatildeo atraveacutes da geraccedilatildeo de renda e emprego com menores custos econocircmicos e sociais b) acrescer quantitativa e qualitativa a oferta turiacutestica a fim de motivar novos segmentos de mercado proporcionando aumento da renda e gasto meacutedio do turista na regiatildeo (BRASIL 1986 p 63)
Tais objetivos norteiam outras diretrizes com o intuito de fazer valer as
estrateacutegias pensadas no Plano Nessas diretrizes a estrutura de concepccedilatildeo sobre a
atividade turiacutestica ainda se manteacutem a mesma no que se refere aos planos
anteriores a de entender o turismo como uma atividade econocircmica e com a
perspectiva de crescimento Setores como investimentos na oferta turiacutestica
ampliaccedilatildeo da melhoria da infra-estrutura de comunicaccedilotildees e transportes incentivo agrave
hotelaria satildeo pontos comuns em relaccedilatildeo a outros documentos
O que haacute de novo poreacutem estaacute pautado na elaboraccedilatildeo na aacuterea de recursos
humanos e no apoio agrave realizaccedilatildeo de eventos 11 Outro ponto de destaque eacute a
formaccedilatildeo de oacutergatildeos especiacuteficos na aacuterea do planejamento turiacutestico Tal caracteriacutestica
eacute responsaacutevel por estruturar novos projetos e poliacuteticas regionais de incentivo ao
crescimento da atividade Percebe-se tambeacutem um aspecto importante no que tange
agrave interiorizaccedilatildeo do turismo O planejamento do turismo estaria concentrado na
formaccedilatildeo dos poacutelos de crescimento pois a difusatildeo de novos pontos (BRASIL 1986)
expressaria uma das atividades de desenvolvimento A partir dessa estruturaccedilatildeo o
10 Documento elaborado pelo Ministeacuterio do Interior e pela SUDAM Sua execuccedilatildeo e coordenaccedilatildeo ficou a cargo da SUDAM datada de dezembro de 1986 Na verdade este eacute o terceiro documento ou Plano de Desenvolvimento voltado para regiatildeo amazocircnica A partir da redemocratizaccedilatildeo tornou-se o I Plano de Desenvolvimento da Amazocircnia 11 O que se constituiria em uma espeacutecie de turismo de eventos
62
PDA da Nova Repuacuteblica enquadra o turismo como uma poliacutetica setorial de cunho
econocircmico estabelecendo assim metas de meacutedio e longo prazo
A relaccedilatildeo entre a Amazocircnia e o turismo aprofunda-se ainda mais ao longo
dos anos subsequumlentes estabelecendo com isso novas diretrizes de uso racional
da regiatildeo Em 1992 eacute lanccedilado o II Plano de Turismo da Amazocircnia12 com o intuito de
mudar a forma pela qual o turismo eacute encarado na regiatildeo O grande diferencial
expresso nesse documento eacute a ecircnfase dada ao desenvolvimento sustentaacutevel que
de acordo com as ideacuteias contidas no documento seria a alternativa mais viaacutevel para
associar desenvolvimento regional com conservaccedilatildeo dos recursos naturais No que
tange a isso o PTA expotildee em suas diretrizes gerais
A existecircncia do produto turiacutestico especialmente o ecoloacutegico estaacute de certa forma condicionada agrave conservaccedilatildeo dos recursos naturais Componente fundamental na estrutura da produccedilatildeo no contexto da induacutestria turiacutestica os recursos naturais representam um dos pilares do poder de atratividade do produto turiacutestico regional Em funccedilatildeo disso eacute economicamente viaacutevel que a expansatildeo do turismo na Amazocircnia obedeccedila aos criteacuterios de sustentabilidade dos ecossistemas (BRASIL 1992 p7)
Assim sendo a composiccedilatildeo do trade turiacutestico regional estaacute em funccedilatildeo dos
paracircmetros do desenvolvimento sustentaacutevel O espaccedilo amazocircnico para o turismo a
partir disso muda sua funcionalidade e adquire uma nova concepccedilatildeo pautada sob o
roacutetulo da sustentabilidade Os objetivos criados aliam a ideacuteia de crescimento
econocircmico a de qualidade de vida para a populaccedilatildeo local reordenando por sua vez
as poliacuteticas regionais de desenvolvimento
Tendo como base uma poliacutetica de turismo voltada para a sustentabilidade da
regiatildeo o segmento do chamado turismo de natureza ou ecoturismo ganha forccedila e
se torna ainda mais a estrateacutegia adequada para que ocorra a expansatildeo da
atividade
12 Ligado agrave secretaria do Desenvolvimento Regional elaborado e executado pela SUDAM com o apoio de entidades como PNUD (Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento) BASA (Banco da Amazocircnia) e SUFRAMA (Superintendecircncia da Zona Franca de Manaus)
63
Em 1998 o PROECOTUR13 tornou-se o documento que expressou as
vertentes ligadas agrave ideacuteia do turismo de natureza ou turismo sustentaacutevel Neste
documento o governo federal centrou esforccedilos para viabilizar a concretizaccedilatildeo do
PROECOTUR nos nove estados da regiatildeo amazocircnica Tendo em vista a utilizaccedilatildeo
racional dos recursos naturais presentes e sabendo de seu potencial paisagiacutestico o
programa estaacute configurado segundo os objetivos e programas especiacuteficos para cada
Estado da federaccedilatildeo14
Como objetivo geral o PROECOTUR defende a viabilidade do ecoturismo
como o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel ideal para a regiatildeo amazocircnica
(BRASIL 1998) Seus objetivos especiacuteficos estatildeo estruturados da seguinte forma
I- Proteger e desenvolver os atrativos turiacutesticos da regiatildeo por meio de
medidas como a criaccedilatildeo de parques e reservas com manejo especiacutefico
para o ecoturismo
II- Criar um ambiente de estabilidade para investimentos de ecoturismo
mediante definiccedilatildeo de poliacuteticas e normas e do fortalecimento dos
oacutergatildeos de gestatildeo ambiental e desenvolvimento turiacutestico estaduais
regionais e nacionais
III- Viabilizar operacionalmente empreendimentos de ecoturismo por meio
da realizaccedilatildeo de estudos de mercados da identificaccedilatildeo
desenvolvimento e adaptaccedilatildeo agrave regiatildeo de tecnologias para a geraccedilatildeo
de energia tratamento de afluentes etc e da sua disponibilizaccedilatildeo dos
resultados para investidores privados
IV- Viabilizar financeiramente empreendimentos de ecoturismo mediante a
ampliaccedilatildeo de linhas de creacutedito especiacuteficas para o segmento e
13 Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazocircnia Legal criado na gestatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia junto ao Ministeacuterio do Meio Ambiente dos Recursos Hiacutedricos e da Amazocircnia Legal A elaboraccedilatildeo deste programa diz respeito agrave fase de preacute-investimentos 14 Vale lembrar que os oacutergatildeos federais envolvidos na execuccedilatildeo do PROECOTUR aleacutem de estarem representados pela Secretaria de Coordenaccedilatildeo da Amazocircnia ainda eacute constituiacutedo pelo Grupo Teacutecnico de Coordenaccedilatildeo do Ecoturismo pelo Nuacutecleo de Gestatildeo do PROECOTUR e atuando nos Estados pelos Grupos Teacutecnicos Operacionais (GTOs)
64
V- Melhorar ampliar ou implantar a infra-estrutura baacutesica necessaacuteria para
viabilizar o aumento do fluxo turiacutestico para a Amazocircnia Legal (BRASIL
1998 p 7)
Atraveacutes desse conjunto de objetivos o PROECOTUR de acordo com seus
oacutergatildeos interligados procura enfatizar o turismo como uma ferramenta capaz de
mudar o quadro social e econocircmico da regiatildeo Em seus desdobramentos o
programa chama a atenccedilatildeo para a necessidade de impor a regiatildeo amazocircnica como
um destino turiacutestico a ser melhor apresentado no trade nacional e internacional Para
isso utiliza estrateacutegias espaciais em cada estado Tais estrateacutegias estatildeo baseadas
na criaccedilatildeo e ou incremento dos poacutelos ecoturiacutesticos implantados Esses poacutelos jaacute
apresentam infra-estrutura (estradas portos aeroportos hoteacuteis hospitais entre
outros) necessaacuteria para iniciaccedilatildeo dos programas de intervenccedilatildeo do PROECOTUR
Neste caso a infra-estrutura de cada poacutelo serve como uma preacute-condiccedilatildeo para que
os objetivos propostos se tornem concretos
Outro ponto de destaque presente nos objetivos especiacuteficos do programa
consiste no envolvimento dos agentes participantes na viabilizaccedilatildeo dos
empreendimentos de ecoturismo De acordo com os objetivos especiacuteficos natildeo se
percebe claramente os agentes que podem ser beneficiados nas operaccedilotildees e accedilotildees
dos empreendimentos turiacutesticos poreacutem em linhas gerais pode-se perceber que a
ideacuteia do desenvolvimento sustentaacutevel a partir do programa estaacute sublinhada nas
diretrizes dos investimentos financeiros na regiatildeo No que diz respeito a essa ideacuteia
o PROECOTUR estaacute dividido em uma fase de preacute-investimentos na qual eacute feito um
diagnoacutestico das ofertas turiacutesticas a serem desenvolvidas e em uma fase de
investimentos na qual os programas de intervenccedilotildees econocircmico-espaciais satildeo
efetivamente executados garantidos sobretudo na criaccedilatildeo dos poacutelos de ecoturismo
da regiatildeo
Conforme essa estrutura o PROECOTUR apresenta-se como um documento
de cunho oficial criado pelo Estado na tentativa de viabilizar o desenvolvimento de
aacutereas com problemas econocircmicos e sociais colocando a Amazocircnia como prioritaacuteria
65
para o desenvolvimento sustentaacutevel O turismo mais uma vez aparece como uma
atividade capaz de solucionar dificuldades soacutecio-econocircmicas
Outro estudo sobre turismo no Brasil foi finalizado em 2002 o PNMT15 Este
programa tinha como intenccedilatildeo uma maior dinamizaccedilatildeo da atividade turiacutestica a partir
de diretrizes nacionais na qual o municiacutepio era a escala de atuaccedilatildeo da atividade
turiacutestica Neste enfoque a capacitaccedilatildeo de agentes puacuteblicos e privados era a
intenccedilatildeo do programa onde os mesmos eram responsaacuteveis por serem
multiplicadores locais dando importacircncia ao turismo no desenvolvimento soacutecio-
econocircmico (PNMT 2002) Neste caso a participaccedilatildeo das comunidades na gestatildeo
de seus proacuteprios recursos tornava-se um fator fundamental (PNMT 2002)
O objetivo geral do programa era fomentar o desenvolvimento turiacutesticos dos
municiacutepios com base na sustentabilidade econocircmica social ambiental cultural e
poliacutetica (PNMT 2002 p 80) Assim a ideacuteia principal do PNMT era de descentralizar
o planejamento do turismo e principalmente suas accedilotildees Os municiacutepios seriam
responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de infra-estrutura necessaacuteria para a operacionalidade da
atividade turiacutestica
No estado do Paraacute por exemplo diversos foram os municiacutepios que foram
escolhidos para integrarem o quadro da municipalizaccedilatildeo do turismo16 entre eles
(bem como para os outros municiacutepios brasileiros) havia uma divisatildeo dos municiacutepios
turiacutesticos (MT) e municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) Os municiacutepios turiacutesticos
satildeo aqueles consolidados onde o turismo eacute efetivo Jaacute os municiacutepios com potencial
turiacutestico satildeo aqueles que possuem recursos naturais e culturais expressivos
(PNMT 2002 p 30) ou seja atraveacutes de um maior fomento por parte dos governos
locais estes municiacutepios poderiam se consolidados no trade
Entre alguns municiacutepios turiacutesticos (MT) estatildeo Abaetetuba Bacarena Beleacutem
Braganccedila Marabaacute Salinoacutepolis Santareacutem Tucuruiacute Vigia Cametaacute Outros
municiacutepios com potencial turiacutesticos (MPT) satildeo Castanhal Colares Curuccedilaacute Monte
Alegre Paragominas Parauapebas
15 Programa Nacional de Municipalizaccedilatildeo do Turismo 16 Eram os proacuteprios municiacutepios que solicitavam entrada no PNMT Havia a solicitaccedilatildeo formal aos oacutergatildeos estaduais delegados da EMBRATUR
66
Natildeo obstante a isso para a Amazocircnia ideacuteias como PNMT deveriam ser
difundidas a partir da forccedila simboacutelica que a floresta representa ou mais
propriamente do segmento ecoturismo onde a natureza surge como o principal
atrativo para o fomento de poliacuteticas puacuteblicas fazendo com que a exuberacircncia da
natureza seja o diferencial para atraccedilatildeo de turistas
Nesse sentido a relaccedilatildeo do turista com a ideacuteia de ecoturismo faz Coelho
(1999) afirmar que tal relaccedilatildeo funda-se no princiacutepio de uma viagem de aventura que
impulsione um sentido de retorno agrave natureza natildeo tatildeo devastada pelo homem nos
grandes centros urbanos Para a autora
Ao contraacuterio do personagem de Charles Chaplin no filme Luzes da Cidade o turista que preza a natureza sente-se fascinado pela luz do dia o verde da mata a escuridatildeo ou luar na selva pela vida ao ar livre e pela comida natural (COELHO 1999 p 56 - 57)
Contudo a relaccedilatildeo entre a teoria do ecoturismo e sua praacutetica se mostra em
sua grande maioria dissonante O que pode ser verificado no discurso de agentes
interessados em investir pesadamente no setor e nas populaccedilotildees tradicionais
atingidas A ideacuteia de que o ecoturismo pode trazer justiccedila social traz agrave tona
externalidades negativas (COELHO 1999) que por sua vez geram desigualdades
sociais O discurso praacutetico de crescimento da atividade turiacutestica neste caso muda
de foco poreacutem sua composiccedilatildeo ainda permanece a mesma Sendo uma atividade
tambeacutem econocircmica o ecoturismo produz acumulaccedilatildeo de capital e geraccedilatildeo de lucro
para os grandes agentes de mercado particularizando espaccedilos e segregando a
sociedade Segundo ainda Coelho (1999)
As discrepacircncias entre teoria e praacutetica satildeo no entanto possiacuteveis de existir e podem tornar perigosas as relaccedilotildees entre sociedades locais empresas e ecoturistas Estas defasagens entre praacutetica e teoria tornam os riscos e dilemas a serem discutidos e corrigidos pelos defensores do ecoturismo ainda mais preocupantes Tais riscos satildeo atribuiacutedos agrave estreita visatildeo de natureza edificada pelos ecologistas e imitadas por empresaacuterios e alguns profissionais oportunistas do ecoturismo (o que natildeo pode ser confundido com senso de oportunidade) Estes colaboradores dos primeiros
67
desprovidos de comprometimento com a realidade e os valores culturais ora tentam mostrar uma natureza distorcida pelos siacutembolos artificialmente valorizados ou mantidos ora apresentar uma realidade agrave medida das expectativas da clientela ocultando o que haacute de fundamental na natureza visitada (COELHO 1999 p 59)
A ideacuteia de que o ecoturismo na Amazocircnia atenua os impactos ambientais
torna-se portanto fraacutegil no que diz respeito principalmente agrave sociedade ou
populaccedilatildeo residente que natildeo faz parte dos processos de decisotildees sobre as
atividades planejadas para o turismo
Figueiredo (1999) por exemplo expotildee algumas ideacuteias que para ele satildeo
equivocadas sobre o modelo de desenvolvimento sustentaacutevel aplicado agrave regiatildeo
amazocircnica Para o autor a partir da grande aceitaccedilatildeo das ideacuteias provindas de que o
ecoturismo torna-se um elemento fundamental para o melhor desenvolvimento
sustentaacutevel criam-se conjuntamente mitos e com isso ideacuteias deturpadas sobre
esse modelo Entre elas a da instalaccedilatildeo de objetos espaciais de baixo custo e sua
forma de exploraccedilatildeo Para o autor essa eacute uma proposta que precisa ser revista
Mesmo sob o roacutetulo de alternativo o ecoturismo carrega consigo a loacutegica de
mercado pautada sobretudo nos ganhos da atividade
O conjunto dessas ideacuteias todavia eacute o iniacutecio de uma mudanccedila importante
dentro do cenaacuterio amazocircnico especificamente do estado do Paraacute que atraveacutes de
documentos e estudos especiacuteficos para o turismo fazem do ecoturismo uma meta a
ser buscada dentro de accedilotildees voltadas para um mercado especiacutefico desse setor com
provaacuteveis repercussotildees soacutecio-culturais
32 O turismo no estado do Paraacute um breve balanccedilo
A atividade turiacutestica no Estado do Paraacute vem ao longo dos anos mudando seu
caraacuteter de forma consideraacutevel seja em relaccedilatildeo ao volume de turistas visitantes no
estado seja nas estrateacutegias de mercado para o alcance de novos nuacutemeros que
faccedilam crescer a atividade Mesmo antes do Plano de Desenvolvimento de Turismo
68
do Paraacute se consolidar como documento norteador das atividades turiacutesticas as
poliacuteticas de incentivo ao setor tecircm ganhado destaque nas esferas de governo a
partir de programas especiacuteficos ou entatildeo a partir de um redirecionamento das
estrateacutegias e da participaccedilatildeo do empresariado fazendo com que o produto turiacutestico
paraense tenha maior visibilidade em outros mercados
A partir de um crescimento do setor turiacutestico a busca pelo desenvolvimento
da atividade e de suas potencialidades econocircmicas tornou-se marca importante para
que o Estado pudesse criar estrateacutegias de desenvolvimento social Com isso
poliacuteticas puacuteblicas passaram a dar mais ecircnfase neste setor criando assim novas
oportunidades de decisatildeo dentro das poliacuteticas de desenvolvimento
Nesse sentido um ponto importante satildeo os dados feitos a partir de
estatiacutesticas referentes ao processo de turistificaccedilatildeo do espaccedilo paraense17 Eles
refletem o quantitativo referente ao nuacutemero de turistas visitantes tanto estrangeiros
como nacionais e o nuacutemero de hoteacuteis e suas respectivas ocupaccedilotildees de acordo com
as temporadas (alta estaccedilatildeo e baixa estaccedilatildeo) Por mais que os nuacutemeros revelem um
quadro limitado da realidade do turismo no Paraacute mostram o fluxo de pessoas e de
empresas interessadas em investir no setor e em especial no aspecto diferencial do
Paraacute que se assenta na ideacuteia do turismo de natureza
O Brasil ainda eacute considerado um destino turiacutestico pouco procurado no mundo
Paiacuteses como Franccedila EUA Espanha ainda satildeo classificados como os maiores
destinos turiacutesticos do planeta No que diz respeito agrave estrutura interna brasileira
outros estados figuram como os mais procurados como eacute o caso do Rio de Janeiro
seguido dos estados do Nordeste em especial do Estado do Cearaacute e Bahia (ABAV
2006)
No caso do Paraacute o turismo ainda natildeo se constitui como uma das atividades
mais rentaacuteveis o que lhe garante posiccedilotildees medianas no que diz respeito aos
estados do Brasil mais visitados Tal situaccedilatildeo despertou no governo do Estado uma
17 Os dados estatiacutesticos aqui apresentados referem-se especificamente aos levantamentos feitos a partir de 1995 ano que se iniciou o governo de Almir Gabriel e que se estendeu ateacute 2002 (reeleiccedilatildeo) O quadro poliacutetico do governo natildeo se alterou com a sucessatildeo feita pelo entatildeo governo Simatildeo Jatene Neste sentido as estrateacutegias de mercado ora pensadas pelo oacutergatildeo de turismo do Estado - PARATUR tambeacutem natildeo se alteraram neste periacuteodo o que faz com que todas as informaccedilotildees e anaacutelises possam ser entendidas a partir do periacuteodo especificado
69
necessidade de investir mais no setor a fim de motivar um maior nuacutemero de
visitantes estrangeiros e nacionais Nesse sentido o que se percebe eacute uma entrada
gradual de pessoas no Estado ao longo dos uacuteltimos dez anos Alguns dados
estatiacutesticos mostram a relaccedilatildeo entre os produtos ofertados e o nuacutemero de pessoas
visitantes Os indicadores de turismo do Paraacute revelam o fluxo de turistas no Estado
no periacuteodo de um ano Os nuacutemeros presentes mostram de forma organizada
iacutendices de atividades que estatildeo relacionadas a um maior ou menor nuacutemero de
turistas no Paraacute
De acordo com o relatoacuterio estatiacutestico do governo18 em 2004 por exemplo a
oferta hoteleira do Estado teve um acreacutescimo em relaccedilatildeo aos outros anos anteriores
Em 2003 era de 68 jaacute no ano seguinte essa taxa subiu para 97 (PARAacute 2004)
representando uma maior solidificaccedilatildeo do setor A presenccedila de um maior nuacutemero de
hoteacuteis representa por sua vez um aumento de disponibilidade de leitos para que
turistas possam ter uma maior acomodaccedilatildeo Poreacutem ainda persiste um maior
nuacutemero de hoteacuteis na capital pelo fato de haver uma rede de infra-estrutura mais
adequada e de maior facilidade para o traslado do turista
Tomando como base o fluxo de visitantes estrangeiros o Estado apresenta
uma oscilaccedilatildeo entre os seus destinos o que natildeo garante uma uniformidade entre os
visitantes de diversas nacionalidades como mostra a tabela 1 a partir de dados
fornecidos pela PARATUR do ano de 2004
Tabela 1 Fluxo de turistas estrangeiros 2003- 2004
P A Iacute S E S
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 03
No DE HOacuteSPEDE
JAN a DEZ 04
VARIACcedilAtildeO
ESTADOS UNIDOS
FRANCcedilA
3248
3227
2785
3811
-1425
1810
18 Elaborado e executado pela PARATUR
70
GUIANA FRANCESA
ALEMANHA
JAPAtildeO
PORTUGAL
ITAacuteLIA
INGLATERRA
SURINAME
ESPANHA
HOLANDA
ARGENTINA
CANADAacute
AUSTRIA
CHILE
BELGICA
BOLIacuteVIA
OUTROS
-
1720
1380
913
1274
701
531
743
1083
531
637
-
955
361
-
2527
49
1417
1124
880
1661
831
977
1173
977
586
1124
244
1319
147
244
3323
-
-1762
-1855
-361
3038
1854
8399
5787
-979
1036
7645
-
3812
-5928
-
3150
T O T A L 21232 22672 678
FONTE Adaptado de PARATUR (2004 p32)
Como se pode perceber na tabela acima natildeo existe uma uniformidade entre
o nuacutemero de visitantes Paiacuteses como os EUA mostram um decreacutescimo de -14 25
Jaacute outros paiacuteses desenvolvidos como a Franccedila mostram uma presenccedila maior no
intervalo considerado elevando o fluxo migratoacuterio para 1810 Apesar de em
nuacutemeros absolutos a Itaacutelia natildeo superar os outros paiacuteses supracitados o seu
mercado emissor em relaccedilatildeo ao Paraacute tem uma variaccedilatildeo positiva de 3038 Essas
variaccedilotildees ainda se comportam de forma reduzida se comparadas a outros centros
turiacutesticos do paiacutes e ainda satildeo incipientes se comparados a outros centros mundiais
71
Outra questatildeo importante que deve ser avaliada diz respeito agrave sazonalidade
que marca as atividades turiacutesticas no Paraacute Por mais que essa situaccedilatildeo venha
mudando ao longo dos anos o Estado ainda vive um turismo de datas festivas
como eacute o caso do mecircs de outubro com a festividade religiosa do Ciacuterio de Nazareacute
Festa essa que assume atualmente um caraacuteter muito mais turiacutestico do que
propriamente religioso
A sazonalidade torna-se um entrave para o crescimento da atividade turiacutestica
no Paraacute visto que essa condiccedilatildeo ainda se manifesta em outros poacutelos de turismo do
Estado que congregam tambeacutem outras manifestaccedilotildees culturais e naturais como
por exemplo a festa do Saireacute em Santareacutem (que ocorre no mecircs de setembro no poacutelo
Tapajoacutes) o periacuteodo do festival da pesca esportiva em Tucuruiacute (poacutelo Araguaia -
Tocantins) e ainda o turismo de veraneio em Salinoacutepolis (o fluxo maior de pessoas
se daacute no mecircs de julho - poacutelo Amazocircnia Atlacircntica) Dessa forma tomando como base
a condiccedilatildeo de sazonalidade no estado a tabela 2 abaixo revela em nuacutemeros a
quantidade de leitos dos hoteacuteis ocupados na condiccedilatildeo de pernoite nos anos de
2002 2003 e 2004
Tabela 2 Pernoites gerados nos estabelecimentos de hospedagem cadastrados do estado do Paraacute - 2002 2003 e 2004
MEcircS
2002
2003
2004
JANEIRO
32655
36652
38047
FEVEREIRO
30423
35783
40088
MARCcedilO
39811
36854
45912
ABRIL
38421
38724
43956
MAIO
41016
40326
47772
JUNHO
34663
36274
51354
72
JULHO
41918
42600
46168
AGOSTO
44162
40927
57209
SETEMBRO
40878
43364
50354
OUTUBRO
41309
47715
61215
NOVEMBRO
40653
45739
56851
DEZEMBRO
34105
35751
46227
TOTAL
460014
480709
585153
FONTE PARATUR (2004 p 26)
Como se percebe apesar de existir um acreacutescimo no fluxo de pessoas ao
longo dos anos ainda persiste uma concentraccedilatildeo em um periacuteodo mais especiacutefico do
ano devido agraves peculiaridades que esses meses proporcionam ao turista interno e
externo A sazonalidade turiacutestica no Paraacute portanto torna-se um fator importante
para se entender a concentraccedilatildeo espacial de pessoas visitantes Em outros
momentos tais lugares natildeo vivenciam um ritmo de circulaccedilatildeo de pessoas
semelhante aos meses em que o turismo eacute predominante ocasionando ausecircncia em
massa das pessoas desses lugares afetando por sua vez a economia relacionada
ao turismo nas cidades
Um outro fator importante a ser percebido diz respeito agrave acessibilidade ou
seja a forma pela qual o turista chega ao Estado do Paraacute Neste caso os nuacutemeros
apesar de refletirem uma parcela da realidade mostram que o meio de transporte
mais utilizado eacute o aviatildeo (transporte aeacutereo) A distacircncia do Paraacute em relaccedilatildeo aos
centros emissores do paiacutes torna-se um indicativo para que o fluxo de passageiros
que chegam por via aeacuterea seja ainda maior comparado a outros meios de
transporte como ocircnibus ou carro Os dados da PARATUR (2004) revelam esse
comparativo
73
0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0
A v iatilde o
A u to m oacute v e l
O n ib u s
N a v io
N atilde o E s p e c
T u r is ta s b r a s ile ir o s e o tr a n s p o r te u t i l iz a d o p a r a c h e g a r a o E s ta d o
Tabela 3 Fluxo de hoacutespedes na hotelaria cadastrada segundo residecircncia permanente e meio de transporte utilizado 2004
RESIDEcircNCIA
PERMANEN
AVIAtildeO
CAR
OcircNIBUS
NAVIO
NESP
TOTAL
BRASIL 107675
575
14565
78 6242 33 3815 20
54965
294 187261
EXTERIOR 15294 674
537 24 147 06 1124 49
5570 246 22672
TOTAL 122969
586
15102
72 6389 30 4939 24
60535
288
209933
FONTE PARATUR (2004)
Graacutefico 1 Relaccedilatildeo entre turistas e os meios de transporte para chegar ao
Estado do Paraacute
FONTE PARATUR (2004)
O transporte aeacutereo eacute caro o fluxo de pessoas que visitam o Paraacute natildeo eacute tatildeo
expressivo Por outro lado as estradas que datildeo acesso aos mais distantes lugares
do territoacuterio (pontos de turismo) encontram-se em estado de maacute conservaccedilatildeo
necessitando de reparos o que impossibilita um maior fluxo interno de turismo no
estado Sendo assim o aviatildeo ainda se torna o meio de locomoccedilatildeo mais procurado
poreacutem com valores de mercado que inviabilizam uma maior frequumlecircncia de turistas
74
No tocante agrave ocupaccedilatildeo de empregos os dados indicam um acreacutescimo dos
mesmos nas atividades relacionadas ao turismo Em 1999 a criaccedilatildeo de empregos
diretos correspondia a um universo de 14605 postos de trabalhos (PARAacute 2004) Jaacute
no ano seguinte 2000 este nuacutemero altera-se para 16340 Em escala exponencial
esse nuacutemero chega em 2002 num patamar de 17841 empregos diretos Como os
dados oficiais do governo mostram uma relaccedilatildeo em que a cada um emprego direto
formado existem trecircs indiretos (OMT apud PARAacute 2004) o total de empregos
gerados em 2002 concentra-se em 71364 postos de trabalhos (PARAacute 2004)
Percebe-se portanto que os dados estatiacutesticos natildeo revelam os tipos de trabalhos
gerados pela crescente demanda de turismo no Estado ou ainda sua qualidade
fazendo com que se gerem duacutevidas sobre a relaccedilatildeo turismo e geraccedilatildeo de emprego
Por outro lado essa crescente demanda do turismo no Estado estaacute alicerccedilada
em uma maior divulgaccedilatildeo do setor em outros mercados emissores fazendo com que
o produto paraense possa ser mais percebido em outros lugares do Brasil e do
mundo Nesse sentido o marketing torna-se uma ferramenta importante para se
entender a promoccedilatildeo desses lugares ou espaccedilos turistificados que chamam a
atenccedilatildeo do turista
Nielsen (2002) faz uma interessante anaacutelise a respeito das atividades
relacionadas ao marketing Para o autor as informaccedilotildees assumem dois caminhos
diferentes e complementares a informaccedilatildeo que depende de quem fornece e a
informaccedilatildeo que depende de quem recebe Estabelece-se assim uma rede de
informaccedilotildees que pode ser fluida se a informaccedilatildeo no seu transcurso for bem
direcionada ou natildeo fluida se for o contraacuterio Nesse caso em primeiro lugar a
informaccedilatildeo de quem gera normalmente eacute atribuiacuteda aos oacutergatildeos e agecircncias de
turismo que compotildeem esse sistema como as agecircncias de viagens operadoras e o
proacuteprio Estado quando assume este papel de divulgador das informaccedilotildees de seu
produto turiacutestico
As informaccedilotildees geradas pelo marketing satildeo cruciais pois envolvem motivos
legais de seguranccedila e motivos que possam gerar lucros Quando se tem uma
informaccedilatildeo por motivos comerciais eacute necessaacuterio saber o potencial do
comportamento do turista em relaccedilatildeo agrave busca desses dados (NIELSEN 2002)
sendo essa forma a que possibilita uma melhor interaccedilatildeo entre quem fornece a
75
informaccedilatildeo e quem a recebe Assim sendo para o autor os oacutergatildeos que tomam
conta desse serviccedilo devem estar munidos de potencial para que natildeo surjam grandes
problemas quanto agrave promoccedilatildeo de eventos entre outros serviccedilos ligados ao turismo
O autor ainda chama a atenccedilatildeo para a clareza com que essas informaccedilotildees
satildeo repassadas Para Nielsen (2002) para que isso ocorra com maior satisfaccedilatildeo eacute
preciso que haja objetividade no momento de informar um produto turiacutestico Para o
autor
[] Um pouco menos de apresentaccedilatildeo e mais de discussatildeo sobre vendas faz com que o cliente note o benefiacutecio percebido em continuar a ouvir o representante de vendas e assim natildeo ignorar a mensagem (NIELSEN 2002 p 81)
Diante disso as informaccedilotildees que concentram generalidades podem gerar
impactos negativos sobre os turistas causando problemas de relacionamento entre
o turista e os lugares Para o autor portanto o marketing deve estar fundamentado
numa comunicaccedilatildeo eficiente e proporcionar o melhor serviccedilo turiacutestico possiacutevel
garantindo assim uma base econocircmica soacutelida e uma tomada de decisotildees concisa
Muitos desses elementos apresentados por Nielsen (2002) apesar de
estarem relacionados aos aspectos comerciais e de serviccedilos do marketing revelam
elementos importantes para se entender a loacutegica de construccedilatildeo e divulgaccedilatildeo dos
lugares que tecircm potenciais turiacutesticos Tomando como base as divulgaccedilotildees feitas
pela PARATUR a fim de que possa promover o produto turiacutestico paraense as
informaccedilotildees geradas sempre procuram mostrar o lado bom para o turista a fim de
proporcionar um ambiente de bem-estar no qual o turista ao vir para o Estado do
Paraacute possa se sentir bem e aproveitar sua estada Por outro lado os aspectos
negativos como pobreza urbana ou desigualdades de um modo geral natildeo se
constituem elementos nas propagandas de Estado
No que diz respeito aos folhetos as informaccedilotildees geradas estatildeo pautadas na
criaccedilatildeo de cenaacuterios paradisiacuteacos onde o espaccedilo reduz-se agrave pequenas imagens
Aleacutem disso os conteuacutedos das informaccedilotildees vislumbram uma situaccedilatildeo de competiccedilatildeo
76
com outros lugares do Brasil que tecircm potencialidades turiacutesticas enfatizando suas
peculiaridades A companhia de turismo do Estado tem se empenhado em divulgar o
Paraacute dessa forma Em um folheto de propaganda destinado aos turistas franceses
por exemplo (uma das maiores demandas de mercados emissores para a regiatildeo) as
informaccedilotildees estatildeo associadas agrave importacircncia e dimensatildeo da floresta aliado a um
conforto que eacute encontrado na cidade grande no caso a capital Beleacutem
Paraacute a obra-prima da Amazocircnia No extremo Norte do Brasil em plena Amazocircnia o estado do Paraacute reserva ao visitante diferentes paisagens da floresta virgem e fechada agrave amplidatildeo das praias oceacircnicas Do clima quente uacutemido e ensolarado agraves chuvas refrescantes e agrave aacutegua abundante dos igarapeacutes lagos cachoeiras praias de mar e de rios afluentes do Amazonas e Tocantins Suas rotas satildeo diversificadas coloridas cheias de ricas e variadas manifestaccedilotildees culturais temperadas com uma culinaacuteria baseada na extraordinaacuteria diversidade de fauna e flora amazocircnicas O Paraacute oferece uma experiecircncia uacutenica conhecer a floresta tropical sem se deixar de lado o conforto da civilizaccedilatildeo (PARAacute p 3 sd)
Para que haja portanto um enriquecimento do cenaacuterio espacial criado pelas
propagandas de marketing a necessidade de impor uma condiccedilatildeo uacutenica (PARAacute
sd) faz com que se enalteccedilam fragmentos do territoacuterio com o propoacutesito de que se
possa lanccedilar ao mercado uma imagem positiva a respeito do produto turiacutestico
paraense
Para Coelho (1999) quando o turismo faz referecircncias agraves peculiaridades da
regiatildeo em especial do Estado do Paraacute proporciona um distanciamento entre as
belezas cecircnicas que satildeo encontradas nos pontos turiacutesticos e as sociedades locais
que estatildeo situadas nesses lugares Quando as comunidades ou sociedades locais
fazem parte da propaganda e do marketing do turismo estes sujeitos aparecem
como mitificados (COELHO 1999 p 69) Nesse sentido satildeo tratados apenas
como meros habitantes caracterizando a distacircncia desses indiviacuteduos de seu
entorno Para a autora a comunidade representa uma visatildeo fragmentada onde se
fala de uma parcela sem se importar com sua inserccedilatildeo num conjunto de sociedade
local e regional (COELHO 1999 p 69)
77
Em um outro tipo de informaccedilatildeo o relatoacuterio de atividades de turismo do
Estado tambeacutem eacute apresentado o crescimento da atividade e como as atividades
estatildeo proporcionando uma mudanccedila na poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo Segundo
a PARATUR (2004) em 2004 o nuacutemero de visitantes alcanccedilou a marca histoacuterica de
meio milhatildeo de turistas o que possibilitou a geraccedilatildeo de mais de cinco mil empregos
diretos e indiretos No que diz respeito agrave movimentaccedilatildeo financeira 100 milhotildees de
doacutelares circularam no Estado (PARAacute 2004) Esse resultado reflete segundo o
oacutergatildeo a firme poliacutetica de valorizaccedilatildeo do turismo desenvolvida pelo Governo do
Estado atraveacutes de investimentos diretos e de uma agressiva poliacutetica de marketing
(PARAacute 2004 p 3) Percebe-se assim que a divulgaccedilatildeo de aspectos que
demonstrem grandeza ou crescimento constitui-se como uma estrateacutegia do Estado
ocultando com isso os possiacuteveis conflitos e interesses que envolvem os agentes
que fazem parte do trade turiacutestico Tal estrateacutegia eacute muito comum nas accedilotildees que
envolvem marketing e promoccedilatildeo de produtos
O marketing para o Estado do Paraacute pode ser caracterizado como uma
ferramenta de promoccedilatildeo do turismo em outros lugares apropriando-se de imagens
que retratam os principais siacutembolos da cultura e natureza paraenses ao mesmo
tempo em que esconde a dinacircmica soacutecio-espacial marcada por conflitos e
desigualdades Esse contexto torna-se portanto conveniente para que os produtos
turiacutesticos possam adentrar em uma escala de competitividade de novos mercados
garantidores de demanda turiacutestica
33 A importacircncia da atividade turiacutestica no Novo Paraacute
Em 1995 a partir da posse do governador Almir Gabriel tem-se o iniacutecio do
programa de governo Novo Paraacute que implanta uma nova forma de gestatildeo
governamental baseada nas atividades estrateacutegicas de governo ou chamado de
planejamento estrateacutegico Nesse tipo de planejamento a esfera estatal passa por
modificaccedilotildees no que se refere agrave gestatildeo Essa situaccedilatildeo eacute principalmente perceptiacutevel
quando a administraccedilatildeo de um governo eacute voltada para uma inserccedilatildeo no mercado
como uma espeacutecie de funccedilatildeo primordial e mantenedora de uma boa administraccedilatildeo
78
O programa Novo Paraacute pode ser caracterizado pelo tripeacute agroinduacutestria
mineraccedilatildeo e turismo (NOVO PARAacute 2002) sendo estes vetores da transformaccedilatildeo
econocircmica e social A dimensatildeo do programa reflete-se nas reestruturaccedilotildees
espaciais que o governo implementa principalmente no que se refere agrave infra-
estrutura Tal perspectiva eacute um dos traccedilos desse modelo de gestatildeo governamental
que impotildee ao Estado uma postura do tipo empresariamento
A concepccedilatildeo desse modelo implica portanto a estruturaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento cuja unidade se construiraacute a partir da diversidade das partes que requer accedilotildees diferenciadas em cada espaccedilo considerado Isso impotildee sem duacutevida poliacuteticas puacuteblicas cada vez mais voltadas para o fortalecimento de espaccedilos sub-regionais ou seja das municipalidades e dos consoacutercios municipais reconhecendo que eacute na sua cidade na sua vila que as pessoas se defrontam com seus problemas (PARAacute 2002 p 2)
Os caminhos que supostamente levam ao desenvolvimento do Estado usam
um novo gerenciamento (ARANTES 2002) para dar respostas competitivas aos
desafios que a globalizaccedilatildeo impotildee aos governos tanto numa escala micro como
numa escala macro espacial Nesse sentido a ideacuteia parte de um planejamento
estrateacutegico que ratifique a competiccedilatildeo entre os lugares desencadeando em
investimentos de capital tecnologia atraccedilatildeo de novas induacutestrias entre outros
estipulando assim uma nova realidade para o mercado
No que se refere ao turismo o programa Novo Paraacute apresenta formulaccedilotildees
consideraacuteveis no que diz respeito aos seus objetivos e diretrizes como
fortalecimento de sua instituiccedilatildeo representativa a PARATUR Sendo assim a
atividade turiacutestica no Paraacute passa a ser mais divulgada em outros centros emissores
apoiada sobretudo nas accedilotildees de marketing que a instituiccedilatildeo desenvolve
Entre outras accedilotildees importantes que se destacam no Projeto estaacute o
fortalecimento do turismo nos municiacutepios do interior do Estado atraveacutes do
planejamento e coordenaccedilatildeo por parte do governo Dessa forma a atividade do
turismo comeccedila a se descentralizar ocasionado em gestatildeo municipalizada Nesse
sentido os prefeitos das cidades do interior do estado passam a incorporar o turismo
como um dos vetores de desenvolvimento de suas cidades Para isso a maacutequina
79
administrativa faz um rearranjo institucional para se adequar agrave loacutegica do turismo
tornando-o um empreendimento firme e competitivo
A questatildeo do fortalecimento institucional do turismo no interior do territoacuterio
paraense eacute uma das principais estrateacutegias espaciais desse modelo de gestatildeo o qual
eacute materializado no Plano de Desenvolvimento do Turismo (PDT-PA) atraveacutes da
criaccedilatildeo dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo As cidades que reuacutenem as
melhores infra-estruturas urbanas satildeo consideradas cidades-sedes desses poacutelos
Atraveacutes desse sistema pretende-se em termos gerais fazer com que as cidades
mais proacuteximas dos poacutelos possam adquirir o crescimento da atividade por meio de
uma espeacutecie de irradiaccedilatildeo As administraccedilotildees locais a partir dessa estrutura devem
realizar atividades que fomentem o turismo ao mesmo tempo em que devem
estimular a entrada de capitais privados interessados em investir no lugar
Uma outra dimensatildeo presente nas poliacuteticas de turismo visiacuteveis no projeto estaacute
assentada na garantia da expansatildeo do ecoturismo Este por sinal torna-se um item
importante no chamado turismo alternativo Nesse caso as accedilotildees previstas no
PROECOTUR satildeo assimiladas nesta fase do Novo Paraacute principalmente no que se
refere ao uso da Floresta Amazocircnica A ideacuteia de natureza vincula-se ao sustentaacutevel
da regiatildeo ou ainda de seu uso com baixa degradaccedilatildeo ambiental Este eacute um dos
pontos que o programa defende para o turismo no estado Coelho (1999) chama a
atenccedilatildeo para a ideacuteia de que o ecoturismo ao mesmo tempo em que promove essa
espeacutecie de retorno agrave natureza pode natildeo garantir a viabilidade econocircmica para os
agentes sociais ou comunidades tradicionais envolvidos nesse processo A autora
ainda acrescenta que para natildeo haver essa frustraccedilatildeo para as sociedades
tradicionais eacute necessaacuterio que se tenha uma
() visatildeo integrada de natureza e sociedade da adoccedilatildeo de uma concepccedilatildeo de gestatildeo democraacutetica (por definiccedilatildeo) compartilhada consciente e responsaacutevel da atividade envolvendo sempre diferentes atores sociais Depende tambeacutem do entendimento por parte dos diferentes atores sociais envolvidos de que natildeo lhes interessa qualquer ecoturismo mas um ecoturismo modelo (diferente dos modelos convencionais voltados para o turismo tradicional de massa ou para o turismo puramente comercial) onde se busca permanentemente a conciliaccedilatildeo entre teoria e praacutetica (COELHO 1999 p 70)
80
Outro tipo de vetor importante pauta-se na ideacuteia do tratamento diferencial e o
apoio financeiro para a iniciativa privada interessada em investir no setor Com esse
tipo de apoio o Governo do Estado promove uma maior abertura ao setor privado no
que tange aos investimentos do turismo Nesse sentido o nuacutemero de empresas eacute
ainda maior devido aos incentivos fiscais gerados pelo governo possibilitando
tambeacutem uma nova relaccedilatildeo setor puacuteblico-privado
Aliada a esta perspectiva outra caracteriacutestica complementar eacute a
intensificaccedilatildeo de produtos turiacutesticos paraenses junto aos mercados nacional e
internacional Para isto a realizaccedilatildeo de roteiros turiacutesticos (NOVO PARAacute 2002)
torna-se ferramenta fundamental para a consolidaccedilatildeo desse vetor
Atraveacutes da realizaccedilatildeo e implantaccedilatildeo dos roteiros turiacutesticos o Projeto Novo
Paraacute intensifica ainda mais os eventos na aacuterea do turismo alternativo
principalmente aqueles ligados ao atrativo da floresta Com os roteiros os espaccedilos
de turismos no estado tornam-se ainda mais especiacuteficos exercendo dessa forma
um poder de influecircncia nos turistas ao visitarem os lugares escolhidos
antecipadamente pelas operadoras e agecircncias do trade
Para Fonseca (2005) por exemplo esses estiacutemulos que proveacutem das novas
estrateacutegias de planejamento na verdade satildeo condicionantes de novas
competitividades (FONSECA 2005) O setor turiacutestico natildeo foge agrave regra dos mercados
econocircmicos e por isso necessita fazer com que haja uma maior circulaccedilatildeo de capital
no espaccedilo O ambiente da competitividade por sua vez eacute influenciado diretamente
pelo poder puacuteblico atraveacutes da criaccedilatildeo de externalidades positivas para que possa
promover maior competitividade ao produto turiacutestico E como exemplo disso no
Programa Novo Paraacute essa realidade se faz presente A possibilidade de geraccedilatildeo
de capital extra-local (FONSECA 2005) eacute um estiacutemulo para que haja uma
competiccedilatildeo com os agentes econocircmicos locais gerando dessa forma conflitos por
mercados Por mais que um dos vetores do Programa seja o de estimular o turismo
comunitaacuterio (NOVO PARAacute 2002) a competiccedilatildeo com a iniciativa privada estrangeira
torna-se desleal
Outro ponto forte dentro dessa poliacutetica eacute o da criaccedilatildeo de empregos no setor
de turismo Para Fonseca (2005) esse setor de acordo com as poliacuteticas de turismo
81
passa por constante mudanccedila estrutural A reorganizaccedilatildeo do processo de trabalho
atraveacutes do sistema just in time (TAVARES apud FONSECA 2005) eacute uma das bases
de transformaccedilatildeo do setor de trabalho turiacutestico Neste processo a otimizaccedilatildeo do
trabalho coloca de um lado uma maior especializaccedilatildeo do trabalho poreacutem de outro
estimula a sua precarizaccedilatildeo A autora indica seis consequumlecircncias desse processo
-Grande nuacutemero de trabalhadores temporaacuterios -Elevado percentual de matildeo-de-obra feminina nos postos de trabalho inferiores e baixo percentual nos cargos superiores -Elevado nuacutemero de trabalhadores clandestinos (nos paiacuteses desenvolvidos) -Baixa remuneraccedilatildeo se comparados a outros segmentos econocircmicos -Elevado nuacutemero de horas de trabalho -Baixo grau de sindicalizaccedilatildeo (FONSECA 2005 p 148)
Dentro dessas caracteriacutesticas apontadas por Fonseca (2005) Harvey (2005)
afirma que esses processos de movimentaccedilatildeo do capital pelo espaccedilo podem ser
beneacuteficos aos capitalistas como por exemplo a ideacuteia que Fonseca (2005) cita sobre
o elevado nuacutemero de horas de trabalho Poreacutem ainda de acordo com Harvey (2005)
no que se refere agrave qualidade de trabalho tal caracteriacutestica eacute socialmente negativa
Mesmo assim Harvey ressalta que essa condiccedilatildeo eacute importante para se manter uma
produccedilatildeo da organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2005 2005 p 145) Neste caso
questotildees referentes ao emprego por exemplo de acordo com Fonseca (2005) natildeo
fogem agrave regra quando o assunto eacute o aumento da produtividade por parte do capital
Em relaccedilatildeo ao Estado do Paraacute e ainda no que se refere agrave questatildeo de
geraccedilatildeo de emprego no estado a partir da atividade do turismo a ideacuteia do emprego
torna-se algo problemaacutetico principalmente porque o Paraacute ainda estaacute em processo
de mudanccedilas lentas quando o assunto eacute turismo Com isso essa situaccedilatildeo provoca
por sua vez geraccedilotildees de empregos do tipo sazonal ou seja situaccedilotildees em que a
matildeo-de-obra condizente agrave atividade turiacutestica no Paraacute eacute verificada ou se manifesta
de periacuteodos em periacuteodos fazendo com que propagandas sobre a geraccedilatildeo de
emprego e renda veiculados pelo Estado mereccedilam um cuidado maior ao serem
analisadas pois de um lado o planejamento se volta para a pretensatildeo de criar
empregos no setor do turismo por outro a condiccedilatildeo social se comporta de uma
forma instaacutevel quanto aos empregos e condiccedilotildees de trabalho
82
4 O PDT-PA PENSANDO O ESPACcedilO E O TURISMO COMO FATORES DE
DESENVOLVIMENTO
83
41 Diretrizes e estrutura do PDT-PA
A construccedilatildeo de um plano de turismo sempre estaacute cercada de motivos e
interesses os quais se relacionam a uma intervenccedilatildeo espacial Natildeo obstante
pensar em uma forma de plano eacute pensar diretamente nessa intervenccedilatildeo mediada
por interesses de agentes que a produzem Nesse sentido o resultado de sua
construccedilatildeo eacute necessariamente o reflexo de decisotildees e concepccedilotildees arroladas no
momento de sua construccedilatildeo Com isso um plano de turismo natildeo se apresenta de
forma neutra assim como suas accedilotildees e programas decorrentes de sua elaboraccedilatildeo
o que nos leva a entender que qualquer estrateacutegia de desenvolvimento estaacute
subjacente a valores poliacuteticos (SOUZA 2000) onde se inclui tambeacutem interesses de
agentes envolvidos daiacute a pertinecircncia de uma natildeo neutralidade nos planos de
desenvolvimento de turismo
Os modelos de planos de turismos natildeo se mantiveram os mesmos ao longo
dos anos sempre precisaram de transformaccedilotildees e adaptaccedilotildees para que pudessem
atender agraves novas demandas de mercado A tocircnica do discurso mantida foi a de que
a partir da construccedilatildeo de um plano de turismo o desenvolvimento seria mais faacutecil E
neste sentido o governo no transcorrer dos tempos foi e ainda eacute o maior
incentivador dessa praacutetica garantindo-lhe sua regulamentaccedilatildeo e ateacute mesmo a
construccedilatildeo de uma infra-estrutura capaz de atender agraves novas exigecircncias do
mercado
Neste caso o Plano de Desenvolvimento do Turismo do Estado do Paraacute natildeo
foge agrave regra quando o assunto eacute a transformaccedilatildeo do espaccedilo paraense a partir das
praacuteticas turiacutesticas Aleacutem de garantir um maior fluxo da economia a partir do turismo
ele legitima a presenccedila de agentes interessados em investir racionalmente na
tomada de decisotildees que interessem ao aumento dessa atividade no espaccedilo
paraense Eacute de fato no PDT-PA que estaacute contida toda a argumentaccedilatildeo do Governo
em prol da atividade facilitando assim sua promoccedilatildeo
Estruturalmente o PDT-PA estaacute dividido em trecircs grandes seccedilotildees que
correspondem aos momentos distintos de sua elaboraccedilatildeo
84
A primeira grande seccedilatildeo diz respeito ao diagnoacutestico feito pela empresa de
consultoria contratada para a elaboraccedilatildeo do plano19
Na introduccedilatildeo do plano haacute uma justificativa referente agrave ideacuteia do
desenvolvimento Nesta parte o interesse do Governo do Estado eacute de fazer do
documento um modelo de desenvolvimento que garanta o uso sustentaacutevel dos
recursos disponiacuteveis na natureza paraense A cultura aqui eacute apresentada sob a
forma de recurso e adquire um valor importante no que se refere ao turismo
Segundo as proacuteprias palavras do documento
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Ainda no tocante a esta seccedilatildeo as justificativas feitas em relaccedilatildeo a assuntos
como crescimento e sustentabilidade natildeo podem ser vistas como atividades
isoladas Do contraacuterio permite-se uma maior participaccedilatildeo do Estado no que se
refere ao fomento de outros fatores cruciais para o desenvolvimento da atividade
como infra-estrutura e planejamento integrado colocando o turismo como uma
atividade econocircmica racionalmente conduzida por um processo de planejamento
econocircmico espacial
Para que o plano de desenvolvimento do turismo pudesse ser estruturado
como tal foi necessaacuterio haver uma vinculaccedilatildeo com outro projeto antecedente
intitulado Projeto Beija-Flor 20
Ainda na introduccedilatildeo do documento os criteacuterios de construccedilatildeo do plano
aparecem como elementos que identificam sua forma de elaboraccedilatildeo como
19 A empresa referente chama-se THR Assessoria em Turismo Hotelaria e Recreaccedilatildeo O Plano teve seu momento de elaboraccedilatildeo final em outubro de 2001 20 Este Projeto foi desenvolvido no periacuteodo do segundo governo de Almir Gabriel no periacuteodo de 1999 a 2002
85
compilaccedilatildeo e anaacutelises de documentos existentes que retratam o turismo no Paraacute
folders que divulguem a imagem do Estado em outros lugares
Aleacutem disso o trabalho de campo realizado pela empresa de consultoria
estava estruturado em pesquisas e observaccedilotildees feitas em trecircs momentos distintos
No primeiro eram feitas entrevistas com turistas que chegavam a Beleacutem
atraveacutes de seus desembarques no aeroporto internacional da capital A respeito
disso natildeo eacute mencionado no documento quais tipos ou padrotildees de turistas que a
pesquisa da empresa solicita ou de onde eles vinham Outro detalhe eacute que outros
lugares de chegada a Beleacutem natildeo satildeo mencionados no plano como eacute o caso do
Terminal Rodoviaacuterio de Beleacutem Hildegardo da Silva Nunes e dos portos fluviais
situados ao longo da capital Para a empresa responsaacutevel a finalidade da pesquisa
era a de identificar como atrair fluxos turiacutesticos maiores para o Estado (PARAacute
2001 p 6) tendo como base o fluxo de pessoas que desembarcassem pelo
aeroporto de Beleacutem
Ainda dentro da pesquisa realizada alguns elementos se destacam como a)
o motivo de viagem natildeo fosse de negoacutecios b) houvesse pelo menos um pernoite no
estado c) estivesse dentro da composiccedilatildeo previamente estruturada da amostra
(PARAacute 2001 p 6)
Em um segundo momento da pesquisa sua realizaccedilatildeo estava pautada nos
maiores centros operadores e emissivos de turismo do Brasil ou seja Satildeo Paulo
Rio de Janeiro e Minas Gerais A mesma foi baseada em entrevistas pessoais com
os proprietaacuterios eou diretores das operadoras buscou-se identificar as principais
questotildees relacionadas com a promoccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos
paraenses (PARAacute 2001 p 7) Com isso a intenccedilatildeo principal da empresa
contratada para elaborar o plano era a de identificar o que falta para o Paraacute ser um
bom destino turiacutestico ou no que se refere ao ambiente de mercado o que falta para
o estado ser um forte concorrente no trade turiacutestico nacional Nesta ocasiatildeo o
principal criteacuterio de escolha esteve ligado agraves empresas que jaacute trabalhavam com o
produto turiacutestico paraense e com isso perceber quais dificuldades foram apontadas
por elas e quais soluccedilotildees poderiam ser apresentadas no que tange ao aumento de
volume de turistas para o Estado
86
Em um terceiro momento a escala internacional foi levada em consideraccedilatildeo
no que diz respeito agraves pesquisas de mercado Neste ponto a empresa responsaacutevel
explica em linhas gerais que o mercado internacional de turismo no Paraacute eacute
fragilizado
Partindo do pressuposto de que o turismo internacional praticamente inexiste no Paraacute a pesquisa procurou detalhar o mercado potencial existente nos principais paiacuteses do Mercosul da Europa e nos EUA A pesquisa identificou o perfil do consumidor os produtos mais demandados a forma de comercializaccedilatildeo etc (PARAacute 2001 p 7)
Essas anaacutelises portanto estatildeo desenvolvidas no transcorrer da elaboraccedilatildeo
do plano de turismo o que eacute demonstrado quando eacute feita a apreciaccedilatildeo sobre a
situaccedilatildeo do mercado externo de turismo paraense Tal estrateacutegia de mercado estaacute
pautada numa abordagem do tipo transescalar como lembra Vainer (2002) na qual
os mercados regionais locais e internacionais satildeo privilegiados
Para a empresa responsaacutevel a importacircncia da pesquisa se resumia mais a
um caraacuteter propositivo do que investigativo (PARAacute 2001) procurando saber quais
as deficiecircncias do estado no que concerne o avanccedilo do turismo Neste sentido a
intenccedilatildeo da empresa juntamente com o governo do Paraacute era de perceber quais os
problemas para propor soluccedilotildees estrateacutegias que mudassem o quadro de uma baixa
inserccedilatildeo do mercado turiacutestico paraense nas escalas nacional e internacional Neste
caso A pesquisa foi mais propositiva do que investigativa Ou seja procurou
identificar o que o Paraacute necessita fazer para concorrer nestes poderosos mercados
emissores de turistas (PARAacute 2001 p 7)
No tocante agrave elaboraccedilatildeo definitiva do plano a empresa responsaacutevel procurou
divulgar o plano entre os agentes promotores do turismo no Paraacute Neste caso o
documento especifica que o plano ainda foi discutido entre profissionais do ramo
bem como o proacuteprio gabinete do governador Em outras palavras no PDT-PA a
elaboraccedilatildeo completa ficou por conta da empresa de assessoria em turismo
THR
os agentes de Estado assim como planejadores teacutecnicos e empresaacuterios Neste
87
caso outros representantes da sociedade civil ou lideranccedilas populares natildeo satildeo
citados no documento Segundo o documento
Estas estrateacutegias programas e grupo de accedilotildees foram apresentados em reuniotildees nos vaacuterios poacutelos com as lideranccedilas puacuteblicas e privadas e as mesmas passaram por um processo de aperfeiccediloamento em funccedilatildeo dos resultados obtidos nestas discussotildees Depois de incorporadas as sugestotildees advindas das reuniotildees nos poacutelos o trabalho foi rediscutido no acircmbito da Paratur da Secretaria de Produccedilatildeo e do proacuteprio Gabinete do Governador do Estado Apoacutes o Plano ter sido submetido a consenso nestas esferas o mesmo foi apresentado em um seminaacuterio para cerca de 400 empresaacuterios teacutecnicos e autoridades (PARAacute 2001 p 8)
A ideacuteia de planejamento e elaboraccedilatildeo de um documento como o PDT-PA eacute
contraacuteria agrave ideacuteia que Souza (2004) defende sobre os instrumentos de planejamento
por mais relevantes e criativos que sejam [os instrumentos de planejamento e
gestatildeo] soacute adquirem verdadeira importacircncia ao terem sua operacionalizaccedilatildeo
(regulamentaccedilatildeo) e sua implementaccedilatildeo influenciadas e controladas pelos cidadatildeos
(SOUZA 2004 p 321) Neste caso deve-se especificar qual ideacuteia de cidadatildeo que
se almeja nesse processo ou seja aquele que natildeo se reduz aos atores
hegemocircnicos de um setor econocircmico rentaacutevel como eacute o turismo Pelo contraacuterio esta
perspectiva assume um caraacuteter ainda mais amplo de participaccedilatildeo popular de todos
aqueles envolvidos neste processo de intervenccedilatildeo espacial
O plano ao privilegiar certos grupos da sociedade paraense circunscreve o
poder de decisatildeo sobre o desenvolvimento do turismo para poucos Lideranccedilas
populares ou agentes do circuito inferior da economia (SANTOS 2002) natildeo tecircm voz
nem tampouco vez no processo de construccedilatildeo de um documento como o PDT-PA
As decisotildees sobre a atividade turiacutestica no Paraacute portanto satildeo desiguais e
excludentes
A segunda seccedilatildeo intitulada Conteuacutedo do Plano apresenta um amplo
diagnoacutestico da situaccedilatildeo do turismo paraense Nesta parte do plano existem
caracteriacutesticas que satildeo associadas agrave atividade turiacutestica no estado como recursos
naturais infra-estrutura demandas e organizaccedilatildeo do oacutergatildeo responsaacutevel pela
setorizaccedilatildeo do turismo no Paraacute a PARATUR
88
Em um primeiro momento no que diz respeito agrave ideacuteia de recursos turiacutesticos
o plano oferece uma descriccedilatildeo dos elementos naturais presentes no estado como
recursos potencializaacuteveis para uma exploraccedilatildeo racionalizada por parte de agentes
que operam no setor de investimentos do turismo O documento chama atenccedilatildeo
para as ideacuteias de recursos turiacutesticos e acessibilidade Neste caso em especial o
plano toma a linguagem dos recursos naturais do estado pela forma de acesso a
eles em outros termos os lugares que apresentam uma maior facilidade de fluxos
dos turistas apresentam por conseguinte uma importacircncia a mais quanto agrave
exploraccedilatildeo Como exemplo
Ao norte do Estado (margem esquerda do Rio Amazonas na Guiana Paraense) o relevo se mostra um pouco mais acidentado o suficiente para criar rios com diversas cachoeiras e corredeiras o que se constitui em grande atrativo para turismo de aventura No extremo-norte a topografia apresenta maiores elevaccedilotildees Poreacutem as dificuldades de acesso e a presenccedila de grandes extensotildees de reservas indiacutegenas impedem que estes recursos se transformem em produtos turiacutesticos a curto prazo (PARAacute 2001 p 11 grifo nosso)
Assim sendo o interesse por espaccedilos que possibilitem uma maior
acessibilidade e que jaacute apresentem certa notoriedade torna-se um fator importante
para que haja uma facilitaccedilatildeo da entrada de investimentos turiacutesticos Neste caso os
espaccedilos selecionados e que tecircm maiores preferecircncias por investimentos externos
tecircm tendecircncia a seres dinacircmicos do ponto de vista da acumulaccedilatildeo do capital
O consumo dos lugares ou ainda de seus atrativos satildeo diferenciados de outros
espaccedilos dentro do territoacuterio paraense Exemplos como fauna flora gastronomia
cobertura vegetal patrimocircnio cultural aparecem no Plano como elementos dados
prontos a serem dinamizados e em uma outra perspectiva comercializados Sobre
isso o proacuteprio PDT-PA mostra
Contudo dispor de bons recursos natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para se constituir um destino competitivo Os recursos e atrativos podem ser usados e desfrutados Mas para isto eacute necessaacuterio que sejam acessiacuteveis que estejam minimamente equipados acondicionados e sinalizados que enfim permitam a praacutetica de atividades ordenadas e organizadas etc (PARAacute 2001 p 12)
89
Tal situaccedilatildeo tambeacutem eacute constatada pelo plano na seccedilatildeo Infra-estrutura e
equipamentos baacutesicos onde se torna presente a ideacuteia de que no estado do Paraacute a
infra-estrutura estaacute aqueacutem de dinacircmica intensa exigida pelo turismo de massa
A partir de um diagnoacutestico amplo averiguado nas principais cidades que apresentam
os recursos turiacutesticos o plano expotildee de forma clara as possibilidades de acessos
por meios de transporte como por exemplo por via terrestre fluvial e aeacuterea
A partir disso o plano exibe uma relaccedilatildeo interessante entre os meios de
transporte e as peculiaridades naturais do estado Para que haja uma maior
facilidade de acesso e fluxo turiacutestico intenso o plano mostra um tipo de comentaacuterio
contraacuterio a uma das maiores especificidades naturais do estado e da regiatildeo
amazocircnica os rios Segundo as proacuteprias palavras do PDT-PA
Os transportes se constituem em um problema dadas as dimensotildees do Estado O Paraacute conta com 4215km de rodovias asfaltadas o que para seu tamanho eacute uma extensatildeo ainda muito pequena Aleacutem disto a grande pluviosidade da regiatildeo torna a manutenccedilatildeo desta rede muito dispendiosa e vaacuterias rodovias tecircm sua trafegabilidade afetada nos periacuteodos de chuvas mais intensas (PARAacute 2001 p 16)
Nesse sentido ainda
Por esta razatildeo o transporte fluvial eacute o mais utilizado na regiatildeo amazocircnica Apesar da rede hidrograacutefica paraense ser das maiores do mundo a sinuosidade dos rios e obstaacuteculos naturais tornam as viagens fluviais demoradas o que dificulta certos segmentos de demanda que dispotildeem de pouco tempo para viagens (PARAacute 2001 p 16)
Levando em consideraccedilatildeo essa perspectiva o transporte mais adequado para
que haja um maior fluxo da atividade turiacutestica eacute o transporte aeacutereo que por sinal
dentro das perspectivas globais de transporte para o turismo de uma forma geral eacute
o tipo de transporte que mais se adapta agrave rapidez que o turismo precisa para
estabelecer os trajetos de viagens
Conforme o plano a densidade de fluxos de pessoas que visitam o Paraacute eacute
baixa caracterizando dessa forma uma natildeo equiparaccedilatildeo com outros poacutelos
90
turiacutesticos nacionais jaacute desenvolvidos Neste aspecto o plano revela a necessidade
de se ampliarem as ofertas de vocircos para a regiatildeo Como a intenccedilatildeo do plano nesta
seccedilatildeo eacute de diagnosticar os problemas a ecircnfase dada agrave questatildeo da infra-estrutura
de transportes eacute situada nos poacutelos de turismo do estado de acordo com a maior
acessibilidade que eles podem oferecer
O documento afirma a importacircncia da infra-estrutura como um dos
componentes fundamentais para que os sistemas turiacutesticos (BOULLOacuteN 2002)
possam funcionar adequadamente Em consonacircncia com o Estado a iniciativa
privada promove alteraccedilotildees no espaccedilo para que o processo de implantaccedilatildeo da infra-
estrutura possa se adequar a uma demanda turiacutestica Neste caso haacute uma tentativa
por parte do documento em imprimir um ritmo moderno da economia (BOULLOgraveN
2002) no territoacuterio paraense fazendo com que haja uma rearticulaccedilatildeo entre as
estruturas produtivas De outro modo a construccedilatildeo eou reforma das estradas bem
como de portos e principalmente aeroportos satildeo condiccedilotildees importantes para a maior
dinacircmica espacial do turismo adaptando progressivamente o estado do Paraacute a uma
feiccedilatildeo global da economia voltada para a atividade
No estado do Paraacute a situaccedilatildeo da infra-estrutura ainda eacute deficiente Neste
caso antes mesmo de atender agraves necessidades de um turismo latente as infra-
estruturas de um modo geral natildeo conseguem nem mesmo atender as demandas
gerais da populaccedilatildeo paraense em consequumlecircncia a atividade turiacutestica ainda
encontra dificuldades de se fixar no espaccedilo Voltando essa ideacuteia para as cidades
paraenses que satildeo apresentadas o plano denuncia a ineficiecircncia ou maacute
conservaccedilatildeo dos diversos segmentos de infra-estrutura no estado fazendo com que
ainda exista uma concentraccedilatildeo das atividades turiacutesticas na capital (Beleacutem) Assim
os demais poacutelos em relaccedilatildeo agrave capital tornam-se defasados segundo este criteacuterio
Essa situaccedilatildeo reflete-se tambeacutem na seccedilatildeo serviccedilos turiacutesticos do estado
Tais serviccedilos satildeo identificados principalmente por um tipo de estrutura que atende
diretamente ao mercado turiacutestico como por exemplo os hoteacuteis redes de agecircncias
de viagens e operadoras Eacute interessante salientar que a relaccedilatildeo entre a infra-
estrutura e os serviccedilos eacute direta principalmente levando-se em consideraccedilatildeo os
objetos espaciais que condicionam o estabelecimento dos serviccedilos de turismo como
estradas saneamento baacutesico rede de esgoto e seguranccedila Para que os serviccedilos
91
turiacutesticos possam ser bem efetivados no espaccedilo eacute preciso que haja um equiliacutebrio
no que se refere ao bom andamento das infra-estruturas do contraacuterio as
consequumlecircncias satildeo a de pouco movimento de turistas ou dificuldade de divulgaccedilatildeo
dos produtos turiacutesticos A este respeito o Plano enfoca o seguinte diagnoacutestico
A estrutura empresarial do setor turiacutestico paraense eacute esparsa e atomizada A maioria das empresas (hoteacuteis operadoras) satildeo de pequeno porte e de propriedade familiar movimentam salvo algumas exceccedilotildees volumes de negoacutecios reduzidos (PARAacute 2001 p 23) (sic)
Dentro de uma visatildeo de mercado o plano enfatiza que essas caracteriacutesticas
satildeo empecilhos para que haja um avanccedilo no setor por natildeo serem condizente com
avanccedilos tecnoloacutegicos e uma inserccedilatildeo mais raacutepida na rede mundial ou trade
turiacutestico freando assim a qualidade do produto Por conseguinte a condiccedilatildeo de
negatividade que os atrativos turiacutesticos passam eacute tambeacutem um fator de preocupaccedilatildeo
por parte dos agentes que investem no setor impossibilitando assim um reajuste
no setor que movimenta as accedilotildees econocircmicas (HALL 2001)
A visatildeo do plano neste caso eacute de criar uma expectativa de melhoria de
planejamento turiacutestico como lembra Hall (2001) fazendo com que os impactos
negativos diagnosticados no estado sejam suavizados perante uma reestruturaccedilatildeo
do territoacuterio mediante a implantaccedilatildeo de serviccedilos turiacutesticos de qualidade Tudo isso
com o intuito de fomentar o turismo paraense O plano mostra que as limitaccedilotildees
apresentadas pelo estado impedem o crescimento da atividade bem como de
- Impulsionar processos de inovaccedilatildeo e melhora da qualidade - Ter acesso agrave tecnologia avanccedilada - Ter acesso agraves informaccedilotildees de alta qualidade - Ter acesso a recursos humanos de bom niacutevel de capacitaccedilatildeo - Implementar foacutermulas de comercializaccedilatildeo mais eficientes (PARAacute 2001 p 24)
A medida que a concorrecircncia dos mercados turiacutesticos se acirra os governos
tendem a entrar nesse jogo para que haja uma maior atraccedilatildeo para seu produto
92
turiacutestico E eacute nesse ponto que reside a soluccedilatildeo de problemas como a infra-estrutura
e serviccedilos que estejam direcionados ao mercado do turismo haacute portanto um
reordenamento espacial voltado para atender a tal demanda A insuficiecircncia desse
setor se reflete diretamente no nuacutemero de agecircncia de turismo assim como no
nuacutemero de hoteacuteis No plano como resultado de um diagnoacutestico feito nesse setor foi
elaborado um graacutefico de diferenciaccedilatildeo das unidades hoteleiras por cada poacutelo de
turismo do Estado21
Graacutefico 2 Distribuiccedilatildeo da capacidade de hospedagem por poacutelo turiacutestico
Beleacutem
57
Tapajoacutes
8
Araguaia
Tocantins
15
Marajoacute
6
Xinguacute
Costa
Atlacircntica
10
4
FONTE Adaptado de PARATUR apud PARAacute (2001)
Associado ao conjunto de serviccedilos e infra-estrutura o PDT-PA enfatiza os
tipos de produtos turiacutesticos comercializados no Estado Destaque se faz para o
segmento interesse geral (PARAacute 2001) e ecoturismo visto que no Paraacute sua
divulgaccedilatildeo eacute ampla nos destinos nacionais e internacionais mais procurados
Os poacutelos quando classificados sempre trazem informaccedilotildees referentes ao
ecoturismo mantendo portanto a bandeira de divulgaccedilatildeo deste segmento
A operacionalizaccedilatildeo desses segmentos se faz atraveacutes dos pacotes turiacutesticos
que as operadoras montam e oferecem ao turista quando este chega principalmente
a Beleacutem Tais pacotes satildeo monitorados por guias e pessoas especiacuteficas da aacuterea
Para que se efetuem os pacotes a partir do ordenamento feito pelas
operadoras de turismo instaladas no estado eacute necessaacuterio que haja uma
comercializaccedilatildeo nos mercados compradores atraveacutes de sua divulgaccedilatildeo Por outro
lado este ainda se constitui um problema que o estado do Paraacute junto agrave PARATUR
21 Dados referentes agrave elaboraccedilatildeo do Plano feita em 2001
93
encontra Os mercados consumidores (uma forma geral de nomear os turistas de
outros lugares do paiacutes e do mundo) natildeo costumam associar seus tempos de lazer e
feacuterias agraves visitas feitas agrave Amazocircnia em especial ao estado do Paraacute Em geral os
destinos mais visitados continuam sendo os mais divulgados atraveacutes de um
processo de marketing e miacutedia amplo que os mesmos fazem E neste ponto se
destacam os estados da regiatildeo Nordeste do Brasil bem como estados da regiatildeo
sudeste como Rio de Janeiro e Satildeo Paulo por possuiacuterem um conjunto ou sistema
de turismo mais avanccedilado do que os da Amazocircnia paraense O graacutefico na paacutegina
seguinte elaborado pela THR mostra de forma clara essa situaccedilatildeo
Graacutefico 3 Principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras nacionais
()22
0 10 20 30 40 50 60 70
Fortaleza
Natal
Maceioacute
Fernando de Noronha
Recife
Salvador
Pantanal
Interior de S Paulo
Chapada Diamantina
Amazocircnia
Porto Seguro
Serras Gauacutechas
Lenccediloacuteis Maranhenses
Cidades Histoacutericas Mineiras
Chapada dos Veadeiros
Serra da Canastra
Comandatuba
Serra dos Pirineus
Serra do Cipoacute
FONTE PARAacute (2001)
Nesta seccedilatildeo de diagnoacutestico do PDT-PA a postura dos consumidores ao
elegerem os espaccedilos de lazer em relaccedilatildeo aos produtos turiacutesticos paraenses
22 Curiosamente esta pesquisa feita pela THR natildeo menciona o Rio de Janeiro como uma dos principais destinos brasileiros vendidos pelas operadoras de turismo Mais estranho ainda eacute que a THR afirma no PDT-PA que as empresas participantes da pesquisa possuem grande tradiccedilatildeo no setor (PARAacute 2001 p 41) e por isso mesmo sendo o Rio de Janeiro um dos estados que recebe mais turistas no Brasil e no mundo sua ausecircncia enquanto destino turiacutestico em escala nacional e internacional suscita duacutevidas quanto agrave abrangecircncia da pesquisa
94
sempre associam a ideacuteia de que jaacute visitaram outros lugares ou seja os principais
destinos turiacutesticos brasileiros (como mostra o graacutefico) Neste caso a preferecircncia dos
turistas em relaccedilatildeo ao Paraacute deixa-lhe como uma segunda opccedilatildeo na preferecircncia
desses visitantes Esse perfil de turista eacute apontado pelo Plano da seguinte forma
a) Satildeo turistas que buscam produtos ligados agrave natureza b) Jaacute conhecem o Brasil e especialmente o Nordeste c) Buscam conhecer novas culturas d) Buscam experiecircncias ligadas agrave aventuras e) Possuem elevado poder aquisitivo f) Possuem faixas etaacuterias mais elevadas g) Residem em grandes centros urbanos h) Os estrangeiros possuem mais interesse que os brasileiros (PARAacute 2001 p 43)
Tal condiccedilatildeo apontada de antematildeo pelo Plano reflete-se em outras duas
seccedilotildees demanda turiacutestica do Paraacute e organizaccedilatildeo institucional do turismo Esta
uacuteltima refere-se diretamente agraves accedilotildees que a PARATUR desenvolve no estado a fim
de fomentar a atividade turiacutestica Segundo o Plano a PARATUR ainda estaacute
organizada de forma incipiente e ligada a outras secretarias de estado natildeo criando
assim uma espeacutecie de autonomia institucional Nas cidades do interior as
organizaccedilotildees voltadas para o turismo satildeo deficientes geralmente ligadas agrave
secretarias de induacutestria comeacutercio ou esporte fazendo com que seus investimentos
natildeo se decircem de forma especiacutefica para o setor
De uma forma bem ampla o PDT-PA estrutura seus conjuntos de objetivos
em algumas subseccedilotildees Os objetivos finais podem ser entendidos enquanto
objetivos gerais de um Plano de desenvolvimento e neste sentido trazem consigo
um posicionamento poliacutetico de interferecircncia soacutecio-econocircmica e espacial O elemento
marcante eacute a ideacuteia da competitividade Marca por sinal dos planejamentos
territoriais que privilegiam uma realidade econocircmica
Esta parte do plano tem uma estrutura voltada para uma ampliaccedilatildeo ou
melhoria do mercado turiacutestico no Paraacute tanto que seu conteuacutedo revela prioridades
tais como a atratividade que estaacute assentada na ideacuteia de relaccedilatildeo que os produtos
turiacutesticos paraense tecircm de se adequar agraves demandas de turistas visitantes
95
Outra prioridade ou elemento eacute a produtividade que revela o valor
patrimonial (PARAacute 2001 p 55) que um produto turiacutestico pode ter Em outras
palavras eacute perceber o niacutevel ou grau de produtividade que um produto turiacutestico pode
ter E nesse sentido fazer com que esse elemento possa perdurar em longo prazo
evitando assim sua saturaccedilatildeo
Aleacutem dessas prioridades destaca-se o marketing que torna o produto o
suporte principal de propaganda e venda em outros setores Neste caso o
marketing caracteriza-se por uma tentativa constante de oferecimento do produto em
outras praccedilas ou seja existe uma verdadeira propaganda do Paraacute enquanto produto
a ser comercializaacutevel
Nielsen (2002) lembra que o marketing torna-se uma estrateacutegia muito proacutexima
a de turismo A tentativa de que essa estrateacutegia possa atingir com maior facilidade
diferentes classes como estudantes profissionais da aacuterea acadecircmicos empresas
governo miacutedia e pessoas de uma forma geral faz do marketing uma soluccedilatildeo
interessante para o turismo O Plano de Turismo do Estado utiliza-o como
ferramenta que tem a possibilidade de convencer pessoas do que haacute de melhor no
Estado tendo o turista como seu principal objetivo A utilizaccedilatildeo desse instrumento eacute
diversificada folders viacutedeos feiras workshops amostras de produtos que satildeo
fabricados por empresas ou feitos por artesatildeos satildeo especificidades do marketing
Constitui-se como uma forma de ampliaccedilatildeo mercadoloacutegica de um setor especiacutefico
Mostra-se portanto uma estreita ligaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o marketing
Nesse sentido o PDT-PA tenta aproximar ao maacuteximo atributos da propaganda para
que os produtos turiacutesticos ganhem notoriedade mercado afora
Junto a esses trecircs elementos a gestatildeo finaliza a ideacuteia de competitividade
presente no plano constituindo assim uma nova forma de fluidez agrave atividade
turiacutestica no Estado A partir de um novo olhar administrativo em que o turismo se
insere a gestatildeo torna-se um instrumento poliacutetico de administraccedilatildeo puacuteblica que
revela intenccedilotildees e tomadas de decisotildees importantes para um bom andamento de
um planejamento Neste caso a gestatildeo de uma atividade turiacutestica proporcionada
pelo plano deve congregar os uacuteltimos trecircs elementos citados de forma conjunta e
indissociaacutevel Assim o objetivo final do plano assim se apresenta
96
Converter o Paraacute em um destino turiacutestico preferencial para os mercados nacional e internacional mediante um desenvolvimento turiacutestico competitivo e sustentaacutevel que contribua decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos habitantes do Paraacute gerando maior bem estar material e maior bem estar emocional (PARAacute 2001 p 55)
Percebe-se por sua vez que o objetivo do plano natildeo se restringe agraves
transformaccedilotildees do setor turiacutestico no territoacuterio paraense mas acima de tudo
apresenta-se como plataforma de transformaccedilatildeo social tanto do ponto de vista da
materialidade (bem estar material) quanto da imaterialidade (bem estar emocional)
Portanto o turismo a partir de uma diretriz voltada para o mercado pretende uma
ampla mudanccedila soacutecio-espacial
Outros objetivos do plano integram esta seccedilatildeo como objetivos de negoacutecios
os quais estatildeo voltados para um incremento maior da demanda de investimentos
gerados a partir do aumento do volume da atividade no Paraacute Com essa perspectiva
espera-se portanto estabelecer um crescimento sustentaacutevel do turismo no Estado
segundo as proacuteprias ideacuteias do Plano Esta seccedilatildeo organiza-se em trecircs objetivos
especiacuteficos que integram esta sub-seccedilatildeo
- Incrementar o volume da demanda nacional e internacional
- Incrementar a permanecircncia meacutedia
- Incrementar o gasto turiacutestico (PARAacute 2001 p 56)
Assim como
Para que o estado do Paraacute seja convertido em um destino turiacutestico e com isso os reflexos dos fluxos turiacutesticos possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sua populaccedilatildeo eacute preciso maximizar a renda da atividade Esta maximizaccedilatildeo deveraacute ser feita atraveacutes da ampliaccedilatildeo do nuacutemero de turistas quer sejam turistas domeacutesticos quer sejam turistas internacionais (PARAacute 2001 p 56)
No que se refere agrave ideacuteia de crescimento o plano tambeacutem apresenta a seccedilatildeo
objetivos de crescimento na qual natildeo define precisamente o que seja crescimento
97
O plano adota a ideacuteia de metas de mercado estabelecidas pela empresa
responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do plano - THR Como exemplo dessas metas a serem
alcanccediladas o PDT-PA apresenta um quadro onde se cria uma expectativa de
aumento do turismo atraveacutes de alguns criteacuterios O quadro assim estaacute definido
Quadro 1 Metas do PDT-PA 2001
2006
Turistas em 2006200000
Pernoites em 20061400000
Receita por turistasUS$1400 (7 dias)
Receita totalUS$280000000
Novas habitaccedilotildees ateacute 20064500
Investimento em habitaccedilotildees ateacute 2006US140 milhotildees
Outros investimentos ateacute 2006US$120 milhotildees
Novos empregos diretos ateacute 200626000
Novos empregos indiretos ateacute 200628000
FONTE Adaptado de PARAacute (2001)
Nesse sentido tais metas tornam-se fundamentais para se concretizar as
estrateacutegias espaciais que o Plano adota a fim de espacializar suas pretensotildees23
Esse conjunto de accedilotildees eacute concretizado na terceira parte do Plano (seccedilatildeo C ) onde
as propostas e objetivos do PDT-PA traduzem-se em programas de intervenccedilatildeo
espacial A seccedilatildeo programas e accedilotildees do plano estaacute estruturada de acordo com os
elementos jaacute citados atratividade produtividade gestatildeo e marketing
Como uma forma de enfatizar essas estrateacutegias o plano integra esses
elementos a partir de um graacutefico assim exposto
23 Esta ideacuteia seraacute objeto de anaacutelise no item 43 deste trabalho intitulado A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
98
Graacutefico 4 Estrateacutegias eou condiccedilotildees de funcionamento do PDT PA
FONTE PARAacute (2001 p 93)
Nesta seccedilatildeo esses elementos datildeo vazatildeo aos objetivos propostos Como
elemento principal e tambeacutem norteador das accedilotildees eou estrateacutegias eacute a
competitividade nesta seccedilatildeo do Plano em especial que norteia a estrutura do
turismo no estado do Paraacute ou ainda de uma realidade possiacutevel de ser
implementada desde que as diretrizes oferecidas pelo plano sejam estabelecidas
Natildeo se deve perder de vista portanto que o quadro comparativo que se apresenta
no Plano leva em consideraccedilatildeo esses pontos especiacuteficos que o PDT-PA atraveacutes da
THR julga ser necessaacuterio para haver uma transformaccedilatildeo na realidade turiacutestica do
Estado
99
Como consequumlecircncia disso as accedilotildees estatildeo divididas nesses criteacuterios da
seguinte forma
Quadro 2 Programas e Accedilotildees Siacutentese
Programa Accedilotildees
Paraacute Atratividade
A-1 Criaccedilatildeo de Gestores e Experiecircncias Turiacutesticas A-2 Ampliaccedilatildeo e Modernizaccedilatildeo dos Meios de Hospedagem Paraenses A-3 Sinalizaccedilatildeo Turiacutestica A-4 Melhoria das Condiccedilotildees Ambientais dos Municiacutepios Turiacutesticos A-5 Embelezamento Urbano e Melhorias de Infra-estrutura A-6 Ordenaccedilatildeo Urbaniacutestica dos Municiacutepios Turiacutesticos A-7 Sistema de Padrotildees e Selos de Qualidade A-8 Paraacute Hospitalidade A-9 Postos de Informaccedilotildees Turiacutesticas A-10 Instituto Internacional de pesquisa sobre o Ecotuismo
Paraacute Produtividade
P-1 Inventaacuterio Classificaccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo dos Recursos Turiacutesticos P-2 Criaccedilatildeo de Grupos de Competitividade Locais P-3 Criaccedilatildeo de Empresas em Joint Ventures P-4 Capacitaccedilatildeo ProfissionalEmpresarial P-5 FormaccedilatildeoCapacitaccedilatildeo de Pessoal de Base P-6 Simplificaccedilatildeo do Processo de Abertura de Novas Empresas P-7 Mecanismos de Financiamentos e Estiacutemulos Fiscais P-8 Desenvolvimento Tecnoloacutegico P-9 Sistema de Reconhecimento e Premiaccedilatildeo agrave Profissionalizaccedilatildeo
Paraacute Marketing
M-1 Criaccedilatildeo de Grupos de Marketing por Produtos M-2 Criaccedilatildeo de uma Infra-estrutura de Marketing M-21 Unidades Locais de Marketing
ULM S M-22 Bases de Dados M-23 Banco de Imagens M- 24 Sistema de Inteligecircncia de Mercado M-3 Articulaccedilatildeo de um Sistema de Venda e Comunicaccedilatildeo M-31 Workshops M-32 Feiras de Promoccedilatildeo Turiacutestica M-33 Site Inspection Service M-34 Manual de Vendas M-35 Seminaacuterios de Vendas M-36 Fam Trips M-37 Material Promocional M-38 Publicidade M-39 Propaganda M-310 Web Paraacute M-311 Marketing Direto
Paraacute Gestatildeo G-1 Comissatildeo Estadual de Turismo G-2 Conselho Estadual de Turismo G-3 Sistema de Indicadores de Sustentabilidade
FONTE Adaptado de Paraacute (2001 p 95)
Eacute importante lembrar que natildeo se privilegiaraacute uma anaacutelise de todos os
elementos presentes em cada uma das accedilotildees propostas pelo Plano Poreacutem a
100
anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo das estrateacutegias espaciais e do modelo de
desenvolvimento proposto torna-se o foco principal deste trabalho a ser feita no
proacuteximo capiacutetulo Em relaccedilatildeo ao quadro apresentado pelo PDT-PA ele eacute uma
siacutentese de todas as accedilotildees planejadas e da concepccedilatildeo de turismo proposta pelo
Estado atraveacutes do Plano No desenrolar dessas accedilotildees eacute que as espacialidades se
mostram enquanto resultado de pensamentos e concepccedilotildees de espaccedilos voltados
para o turismo tornando-se dessa forma perceptiacutevel suas intenccedilotildees desejos e
usos pretendidos pelo Governo do Estado Para tanto no rol das accedilotildees (accedilatildeo A-1
por exemplo) estatildeo inseridos os objetivos o puacuteblico alvo as justificativas e as
atividades necessaacuterias para o desenvolvimento da atividade Essa estrutura entatildeo
deve ser entendida como uma ampla diretriz presente em todos os poacutelos de turismo
do Estado Neste caso a estrutura do plano com todas as subdivisotildees mostra-se
assim organizado (quadro 3 p 101)
101
Quadro 3 Quadro sinoacutetico da estrutura do plano de desenvolvimento do turismo do Paraacute (PDT PA)
FONTE Adaptado de PARAacute (2007)
A- DIAGNOacuteSTICO INTERNO DA SITUACcedilAtildeO ATUAL DO TURISMO PARAENSE
1 Os recursos turiacutesticos
2 As infra-estruturas e equipamentos baacutesicos
3 Os serviccedilos turiacutesticos 4 Os produtos turiacutesticos 5 A comercializaccedilatildeo dos
produtos turiacutesticos 6 A demanda turiacutestica 61 Anaacutelise Quantitativa
62 Anaacutelise Qualitativa
63 Os Mercados Emissores e a Posiccedilatildeo Competitiva do Paraacute
7 Organizaccedilatildeo Institucional do Turismo
- Nesta seccedilatildeo do plano a empresa contratada pelo governo do estado apresenta um amplo diagnoacutestico da situaccedilatildeo em que o turismo do Paraacute se encontra Egrave feito uma anaacutelise de acordo com padrotildees jaacute estipulados pela empresa THR como recursos serviccedilos produtos demanda e inclusive a (re)organizaccedilatildeo do oacutergatildeo de turismo do Paraacute
PARATUR Todas as seccedilotildees procuram destacar os pontos negativos em relaccedilatildeo ao crescimento da atividade no territoacuterio paraense de acordo com os poacutelos de turismo
- O diagnoacutestico feito pelo plano reduz-se ao aspecto econocircmico natildeo considerando as demais instancias da sociedade A negatividade constatada pelo documento eacute afirmada atraveacutes de dados estatiacutesticos Procura enfatizar a conceitos como precarizaccedilatildeo deficiecircncia dos produtos limitaccedilotildees entre outros sempre relacionado somente aos aspectos de mercado
B- OBJETIVOS E ESTRATEacuteGIAS
1 Objetivos 2 Estrateacutegias de
Desenvolvimento Turiacutestico 3 Plano de Comercializaccedilatildeo
20012003 4 Proposta de Estrutura
Organizativa da PARATUR
- Depois de realizar o diagnoacutestico o plano procura enfatizar quais as necessidades a serem estimuladas para que haja o desenvolvimento do turismo no Paraacute Aqui a condiccedilatildeo das estrateacutegias de mercado se sobressaem como condiccedilatildeo de transformaccedilatildeo econocircmica
- Os aspectos de mercado mais uma vez se tornam elementos bastante enfatizados a ideacuteia de competitividade torna-se norteadora das accedilotildees para o desenvolvimento do turismo Neste sentido a ideacuteia de natureza reduz-se a uma concepccedilatildeo de consumo em espaccedilos selecionados
C- PROGRAMAS E ACcedilOtildeES
1 Programa Paraacute Atratividade 2 Programa Paraacute Produtividade 3 Programa Paraacute Marketing 4 Programa Paraacute Gestatildeo
- Siacutentese das accedilotildees programadas pelo plano Essas accedilotildees devem obedecer aos programas em cada poacutelo do estado
- Mesmo seguindo uma ideacuteia de competitividade natildeo haacute uma explicaccedilatildeo mais detalhada sobre as accedilotildees e programas
102
42 A concepccedilatildeo de turismo no PDT PA
Para que se possa entender a concepccedilatildeo de turismo de um Plano de
intervenccedilatildeo espacial eacute necessaacuterio fazer uma relaccedilatildeo de suas intenccedilotildees com o
tipo ou modelo de planejamento proposto pelo mesmo Quando se retrata a
ideacuteia do que seja um modelo de planejamento a ideologia ligada ao
planejamento revela-se nas entrelinhas de um documento como o PDT-PA ou
em uma dimensatildeo espacial mais concreta nas repercussotildees espaciais que satildeo
feitas atraveacutes de uma gestatildeo puacuteblica de Estado
Neste caso o fundamento principal para se saber o tipo de concepccedilatildeo
de turismo que se veicula no PDT-PA eacute a mensagem que o documento traz
consigo como nos lembra Franco (2005) Quando feita essa anaacutelise as
projeccedilotildees e ideacuteias de planejamento de turismo ressaltam-se e se ligam a uma
ideacuteia maior Desde jaacute eacute importante salientar que um Plano natildeo se faz de forma
neutra e apoliacutetica pelo contraacuterio em todo momento existem nuanccedilas
mostradas em sua leitura ou na sua execuccedilatildeo enquanto programa de
intervenccedilatildeo espacial
Hall (2001) faz uma importante retomada do conceito de planejamento
distinguumlindo-o da ideacuteia de plano Para o autor quando se faz referecircncia ao
termo planejamento a ideacuteia de poliacutetica surge como elemento fundador e
mediador de um processo Por isso que em alguns momentos essas duas
noccedilotildees aparecem como ambiacuteguas e de difiacutecil definiccedilatildeo Hall (2001) assim
escreve
O problema surge porque embora as pessoas percebam que o planejamento tem um significado mais geral tendem a se lembrar do conceito de plano como uma representaccedilatildeo fiacutesica ou graacutefica Consequumlentemente imaginam que planejamento deve incluir a preparaccedilatildeo de tal representaccedilatildeo (HALL 2001 p 24)
Revelar portanto a concepccedilatildeo de turismo no PDT-PA requer a
habilidade de saber associar a que tipo de poliacutetica puacuteblica o mesmo estaacute
103
vinculado Neste caso a estrutura do plano de turismo do Paraacute jaacute se torna um
indiacutecio dessa perspectiva
Ao estruturar o plano em trecircs seccedilotildees parte A (diagnoacutestico) parte B
(objetivos) parte C (programas e accedilotildees) o plano oferece uma perspectiva
inicial de como estaacute disposto o pensamento sobre as intervenccedilotildees e ou
mudanccedilas no espaccedilo paraense Dessa forma jaacute existe uma apropriaccedilatildeo
territorial para fins gerais de planejamento dando ecircnfase agrave dimensatildeo da
atividade turiacutestica como norteador dessas mudanccedilas Neste sentido pensar o
espaccedilo eacute pensaacute-lo de forma turistificada O plano por sua vez permite esse
pensamento ainda de forma estruturada
Uma das condiccedilotildees que servem para traduzir a ideacuteia de turismo
presente no documento eacute a ecircnfase dada ao mercado Os elementos naturais
do estado neste caso apresentam-se como objetos que tecircm valores
importantes para seu consumo As belezas naturais do espaccedilo paraense como
noccedilatildeo de atrativo turiacutestico satildeo exemplos disso Neste sentido como pano de
fundo dessa associaccedilatildeo haacute por parte do PDT-PA (leia-se no caso os agentes
da elaboraccedilatildeo de forma direta e indireta - Estado e THR) a ideacuteia de que esses
espaccedilos satildeo acessiacuteveis a partir de seu valor de troca o que estimula por
assim dizer a vinda de pessoas de fora do estado com o intuito de promover a
circulaccedilatildeo do capital a partir da compra desses produtos em territoacuterio
paraense
Como justificativa atenuante da condiccedilatildeo de consumo das belezas
naturais e de sua possiacutevel degradaccedilatildeo ambiental o plano apresenta a ideacuteia de
melhoria da qualidade de vida que adveacutem por conseguinte do consumo dos
espaccedilos turistificados Tal condiccedilatildeo eacute mostrada de forma clara logo no iniacutecio
da construccedilatildeo do documento
O Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute foi contratado pelo Governo estadual visando definir estrateacutegias para que a atividade se desenvolva de forma que traga melhoria de qualidade de vida agrave populaccedilatildeo paraense Considerando a riqueza de atrativos da Amazocircnia paraense e seu grande apelo sobre mercados emissores de turistas e o crescimento dos segmentos de viagens
104
voltadas agrave natureza o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito significativas para que o turismo seja importante instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
De acordo com essa condiccedilatildeo a pretensatildeo de criar espaccedilos funcionais
ou ainda voltados para a atividade turiacutestica eacute clara Nesta sequumlecircncia percebe-
se tambeacutem a imprecisatildeo do termo melhoria da qualidade de vida No
documento este eacute assunto que natildeo estaacute bem fundamentado o que deixa
lacunas quanto agrave ideacuteia O PDT-PA prefere explicar como se daacute a formataccedilatildeo do
documento os agentes importantes na construccedilatildeo do documento e as
condiccedilotildees necessaacuterias para a elaboraccedilatildeo do mesmo natildeo explicando assim a
noccedilatildeo de melhoria da qualidade de vida do povo paraense
O processo de turismo depende de um conjunto de elementos infra-estruturais que natildeo se encontram isolados no setor econocircmico de prestaccedilatildeo de serviccedilos Assim o seu planejamento setorial deve se integrar ao sistema de planejamento global do Estado Portanto para a elaboraccedilatildeo do Plano de Desenvolvimento Turiacutestico do Estado do Paraacute a equipe teacutecnica de trabalho tomou por base os investimentos anteriores feitos pelo Governo em termos de planejamento Com esta premissa o Projeto Beija-Flor foi o ponto de partida a partir do qual o Plano de Desenvolvimento foi estruturado (PARAacute 2001 p 5)
A preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade de vida eacute suplantada pela
questatildeo mais impactante referente ao modo de desenvolver ou fazer crescer a
atividade turiacutestica Por conseguinte a noccedilatildeo da melhoria da qualidade de vida
adquire um outro sentido ou seja aquele onde a populaccedilatildeo paraense soacute
poderia alcanccedilar qualidade de vida dentro dos paracircmetros aqui propostos pelo
PDT-PA
Sobre a relaccedilatildeo entre o turismo e a natureza o plano demonstra assim
o interesse pelo o ecoturismo na Amazocircnia especialmente no Paraacute O Estado
e iniciativa privada mostram-se agentes importantes quanto ao fomento desse
segmento de turismo principalmente porque o mesmo mostra-se uma
alternativa aos modelos de turismo do tipo sol e praia o que levado em
105
consideraccedilatildeo a peculiaridade da floresta tropical esse segmento teria uma
relaccedilatildeo proacutespera com a realidade natural do estado A divulgaccedilatildeo dessa
modalidade de turismo eacute muito comum nas revistas especializadas o que torna
o ecoturismo uma espeacutecie de moda como lembra Coelho (1999) Essas
revistas mostram atraveacutes das imagens a imponecircncia da natureza com pouca
interferecircncia humana utilizando-se portanto de imagens residuais de
Paraiacutesos Eldorados ou Santuaacuterios ecoloacutegicos em diferentes partes do mundo
(COELHO 1999 p 66) Nestes termos a sobrepujanccedila da natureza em
relaccedilatildeo ao homem eacute evidente Este uacuteltimo torna-se uma condiccedilatildeo de elemento
que quase natildeo se representa com a mesma intensidade que haacute nas imagens
Neste caso os interesses do turismo vecircm agrave tona em detrimento de uma
sociedade local No plano essa ideacuteia se materializa na concepccedilatildeo de turismo
(ecoturismo) voltado para a regiatildeo (poacutelo) do Marajoacute
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugados As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Portanto relaccedilatildeo homem (sociedade) e natureza no PDT-PA teorizada
haacute pouco natildeo se difere por completo Natureza aqui ganha um sentido de
valor de troca (capitalista diga-se de passagem) restando ao homem
amazocircnico (mais especificamente paraense) a ideacuteia de que a exploraccedilatildeo
racional dos atrativos naturais do estado paraense pode trazer melhorias de
qualidade de vida O homem em questatildeo deixa de ser problematizado
enquanto sujeito principal no entendimento do que seja natureza para dar
lugar a uma estrutura ainda maior que eacute a loacutegica global dos fluxos turiacutesticos
Revela-se neste ponto do plano de turismo do Estado uma realidade que
desloca o homem amazocircnico da accedilatildeo da construccedilatildeo de seu espaccedilo
Coelho (1999) ainda salienta a ideacuteia da apropriaccedilatildeo do discurso
ecoloacutegico ou em outros termos do discurso da natureza como sendo uma
ferramenta de persuasatildeo para aqueles que estejam interessados em visitar o
106
atrativo turiacutestico Amazocircnico (em destaque para o paraense) Tal praacutetica eacute feita
de forma especiacutefica no plano de turismo do estado quando o mesmo apresenta
a natureza da floresta amazocircnica como o diferencial na conquista de novos
mercados de turismo tanto em acircmbito nacional como internacional
Para o PDT-PA a PARATUR viabiliza outras ferramentas de promoccedilatildeo
das belezas do Estado mostrando atraveacutes de revistas especializadas em
turismo folders cartazes entre outros Essas ferramentas ajudam a consolidar
o processo de divulgaccedilatildeo do Estado como uma seara a ser explorada pelas
atividades turiacutesticas Coelho (1999) nos daacute um exemplo desse tipo de
propaganda feita
Natildeo haacute lugar nenhum no mundo com o potencial turiacutestico da Amazocircnia Mas haacute um lugar na Amazocircnia que aleacutem desse potencial ainda oferece incentivos aos empresaacuterios para que eles invistam no seu negoacutecio o Estado do Paraacute O Governo do Paraacute estaacute querendo tanto ter a sua empresa no Estado que estaacute concedendo incentivos fiscais incentivos financeiros incentivos de caraacuteter infra-estrutural e compensaccedilatildeo de incentivos privados na realizaccedilatildeo de obras de infra-estrutura puacuteblica para a instalaccedilatildeo de novos empreendimentos no territoacuterio paraense Alguns poucos exemplo de muitas vantagens que a empresa leva indo para o Paraacute empreacutestimo em valor correspondente a ateacute 75 do ICMS para pagamento em 10 anos Incentivos fiscais poacute 5 anos Isto eacute de lei Lei n 5943 Agora o que natildeo estaacute na lei nem precisa eacute o mundo intenso de oportunidades de negoacutecios que a Amazocircnia paraense oferece aos empreendedores interessados em desafios e principalmente em novos negoacutecios lucrativos (PARAacute apud COELHO 1999 p 67)
Especificamente no plano essa condiccedilatildeo de oferta de um produto
turiacutestico concretiza-se a partir da concepccedilatildeo de marketing defendida pelo
documento Elementos como eficaacutecia capacidade vantagens competiccedilatildeo
ampliam o universo ao posicionar o territoacuterio paraense como o proacuteprio produto
turiacutestico A intenccedilatildeo portanto eacute de uma conversatildeo espacial abrangente para o
mercado Neste sentido o plano define a ideacuteia de marketing da seguinte forma
O MARKETING determinaraacute a capacidade do destino para se adaptar agrave demanda vender com eficaacutecia fidelizar clientes e
107
identificar permanentemente novas fontes de vantagens competitivas (PARAacute 2001 p 55)
No tocante agrave qualidade de vida defendida pelo PDT-PA o documento
deixa clara a condiccedilatildeo de crescimento como necessaacuteria para obtenccedilatildeo da
qualidade de vida Segundo o plano esta ideacuteia deve estar associada agrave
pretensatildeo de converter o estado em um destino turiacutestico onde seus reflexos
(PARAacute 2001) eacute que repercutem na qualidade de vida do povo paraense Tais
reflexos segundo o plano associam-se agrave maximizaccedilatildeo do fluxo de turistas no
territoacuterio paraense Contudo o plano natildeo deixa claro como esses reflexos
seratildeo transformados em melhorias para a populaccedilatildeo Nisso o documento
afirma a necessidade de permanecircncia dos turistas
O incremento da renda do turismo poderaacute ser alcanccedilado tambeacutem pelo aumento da permanecircncia dos turistas que jaacute visitam o Paraacute Ao ser oferecida maior variedade de produtos e produtos de melhor qualidade a permanecircncia meacutedia do turista se amplia e consequumlentemente seu niacutevel de gastos se aumenta (PARAacute 2001 p 56)
Souza (1997 2000 2002 2004) amplia a discussatildeo sobre a importacircncia
da qualidade de vida pra que haja em uma dimensatildeo maior a justiccedila social o
que no plano reduz-se agrave questatildeo do incremento ou crescimento do mercado
Para o autor a qualidade de vida por muito tempo sempre foi vista ou
apreciada de forma acriacutetica possibilitando assim uma visatildeo uacutenica de que uma
sociedade soacute a consegue atraveacutes de conquistas ou soma de bens materiais
Para o autor tratar de qualidade de vida dentro dos programas de
desenvolvimento assim como de planos de desenvolvimento eacute natildeo deixar de
lado a questatildeo de justiccedila social Juntas essas duas dimensotildees quando bem
efetivadas a partir de uma gestatildeo comprometida com o social garantem um
mudanccedila social positiva E nesse sentido a espacialidade da sociedade
envolvida no processo deve ser levada em consideraccedilatildeo O espaccedilo para
qualquer efeito de mudanccedila eacute a arena referencial simboacutelicoidentitaacuterio e
108
condicionador (SOUZA 2004 p 61) Quando negligenciado ou ateacute mesmo
distorcido de interesses sociais claros pode ser alvo de um economicismo ou
na apreciaccedilatildeo do termo pode sofrer de um reducionismo Como siacutentese o
autor em questatildeo argumenta No que tange agrave melhoria da qualidade de vida
ela corresponde agrave crescente satisfaccedilatildeo das necessidades - tanto baacutesicas
quanto natildeo baacutesicas tanto materiais quanto imateriais - de uma parcela cada
vez maior da populaccedilatildeo (SOUZA 2004 p 62)
Esta condiccedilatildeo defendida por Souza (2004) revela que a ideacuteia de justiccedila
social natildeo pode ser percebida de forma homogecircnea ter visatildeo uacutenica Neste
caso Souza (2004) se baseia em uma concepccedilatildeo aristoteacutelica de que justiccedila eacute
tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual (HELLER apud
SOUZA 2004)
Eacute a partir dessa situaccedilatildeo que a ideacuteia de qualidade de vida construiacuteda
pelo PDT-PA natildeo considera a diversidade da sociedade local paraense O que
de fato se vecirc eacute que por conta de uma intensidade de fluxos e geraccedilotildees de
conquistas materiais o turismo traria a possibilidade de melhorar a vida do
paraense O turismo neste caso em especial eacute visto como uma soluccedilatildeo para
uma possiacutevel deficiecircncia ou inadequaccedilatildeo que a sociedade local estaria vivendo
no presente Portanto o Estado atraveacutes do plano deposita essa condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida por meio da expansatildeo do turismo
Ainda sobre a qualidade de vida o plano natildeo faz distinccedilatildeo do termo
generalizando-o e condicionando-o ao crescimento da atividade turiacutestica Isso
ainda eacute confirmado ainda pela ideacuteia de sustentabilidade que em termos gerais
tambeacutem eacute exposta pelo documento Neste caso o proacuteprio plano natildeo especifica
que tipo de sustentabilidade pretende confirmar com o ordenamento territorial
que eacute proposto Por outro lado essa condiccedilatildeo eacute somente citada como uma
pseudo-forma de afirmar uma espeacutecie de retorno social a partir da concepccedilatildeo
de turismo que eacute defendida pelo PDT-PA
A elaboraccedilatildeo de um plano como este pode contribuir para que o processo de desenvolvimento do turismo se acelere e principalmente
109
se encaminhe dentro de um modelo de crescimento sustentaacutevel onde os recursos naturais e culturais sejam valorizados e preservados na plenitude de sua identidade regional (PARAacute 2001 p 5)
Nesse sentido essas questotildees que surgem por completo no documento
indicam uma tomada do turismo por parte do Estado a fim de tornaacute-lo viaacutevel o
que se confirma com a elaboraccedilatildeo do PDT-PA Apesar de Nicolaacutes (2001)
afirmar a ideacuteia de que turismo antes de ser uma praacutetica econocircmica eacute acima de
tudo uma praacutetica social as atividades geradas pela construccedilatildeo do plano de
turismo evidenciam uma perspectiva de cunho econocircmico tendo a sociedade
um lugar secundarizado nas concepccedilotildees de turismo por parte do Estado Para
o autor por exemplo
En esta liacutenea por el contrario postulamos que el turismo es antes que todo una praacutectica social colectiva que integra mecanismos distintos de relacioacuten al espacio a la identidad y al Otro Por ende maacutes que una actividad econoacutemica el turismo es una praacutectica generadora de actividad econoacutemica en la misma forma que la religioacuten el deporte o la guerra (NICOLAacuteS 2001 p 40)
O plano por sua vez prefere dar condiccedilatildeo ao mercado como elemento
capaz de transformar uma realidade social Deixando por sua vez o consumo
como principal norteador dessa condiccedilatildeo Assim o plano continua
Da mesma forma a busca de segmentos de demanda com outras expectativas de consumo de produtos com maior valor agregado pode contribuir para que o gasto se amplie e consequumlentemente a renda derivada do turismo (PARAacute 2001 p 56)
O turismo defendido pelo plano ainda expotildee outros elementos
importantes que ampliam a ideacuteia de consumo No tocante agraves manifestaccedilotildees
culturais o PDT-PA eacute expliacutecito ao defender a condiccedilatildeo da cultura como recurso
110
a ser apropriado pelo Estado e em seguida fomentado para que haja uma
maior atraccedilatildeo de pessoas Manifestaccedilotildees soacutecio-culturais histoacutericas como Ciacuterio
de Nazareacute (este acontecendo no poacutelo Beleacutem) e o Ccedilaireacute (no poacutelo Tapajoacutes)
reduzem-se agrave condiccedilatildeo do exoacutetico do diferente e por isso mesmo recebem o
status de potencial turiacutestico Neste sentido a atenccedilatildeo dada pelo documento
tem o intuito de dar uma outra feiccedilatildeo referente ao mercado fazendo com que
as manifestaccedilotildees histoacutericas da sociedade paraense reduzam-se a esta
dimensatildeo A ideacuteia de natureza para o plano tambeacutem natildeo se diferencia dessa
condiccedilatildeo Ainda mais os espaccedilos com potencial turiacutestico satildeo assim
caracterizados por uma relaccedilatildeo de troca No que se referem alguns aspectos
da cultura paraense e agrave ideacuteia de natureza o plano caracteriza-os da seguinte
forma
O Paraacute conta com recursos de base de indubitaacutevel valor e de grande potencial desde recursos naturais (rios ilhas lagos praias floresta amazocircnica flora e fauna etc) ateacute recursos culturais (patrimocircnio histoacuterico artiacutestico e monumental numerosas etnias indiacutegenas e quilombos artesanato folclore) e manifestaccedilotildees culturais vivas de grande notoriedade como eacute o caso do Ciacuterio de Nazareacute e do Ccedilaireacute (PARAacute 2001 p 11)
Eacute neste sentido que Hall (2001) diz que a construccedilatildeo de uma poliacutetica
puacuteblica antes de tudo requer um conjunto de valores crenccedilas ideologias ou
visatildeo de sociedade Por isso ela deve ser sempre encarada de acordo com um
ambiente poliacutetico O que faz com que a atividade turiacutestica sendo ela uma
atividade de cunho social natildeo fuja dessas caracteriacutesticas citadas Neste ponto
conceber um tipo de turismo eacute por em praacutetica um tipo de poliacutetica puacuteblica que
envolve esses valores No PDT-PA as caracteriacutesticas de mercado se fazem
presentes principalmente quando se tenta transformar o territoacuterio paraense
como espaccedilo importante para fluxos econocircmicos mundiais Esta constataccedilatildeo
pode ser percebida nas intencionalidades que o plano revela como mostra uma
das figuras de reordenamento espacial proposto pelo documento
111
Figura 1 Resort Fluvial do tipo Aventura na Amazocircnia
FONTE PARAacute (2001 p 68)
No que se refere agrave concepccedilatildeo de turismo interessante notar que o
plano em nenhum momento define explicitamente o que seja turismo
deixando assim uma lacuna quanto a esta ideacuteia Contudo em suas linhas o
documento opta por apresentar caracteriacutesticas peculiares agrave concepccedilatildeo de
mercado muito usual do chamado turismo de massa
A forma como o PDT-PA estaacute estruturado eacute reflexo da pretensatildeo de se
pensar o espaccedilo paraense como um todo voltado para o trade Palavras como
demanda oferta turiacutestica potencialidade objetivo de negoacutecios objetivos de
crescimento fazem com que o universo do documento se circunscreva a ideacuteia
de crescimento da atividade turiacutestica
Comentaacuterio Diferentemente de um conviacutevio mais proacuteximo das realidades locais o resort oferece (como o proacuteprio nome em inglecircs sugere) um refuacutegio ao turista ao chegar a esses lugares A ideacuteia eacute que estes lugares standartizados oferecem tranquumlilidade distacircncia do tumulto que as cidades grandes apresentam no dia-a-dia
112
Sua fundamentaccedilatildeo teoacuterica se encontra diluiacuteda em propostas que visam
a entrada de mais turistas para que assim exista transformaccedilatildeo da realidade
paraense Por isso a necessidade de se fazer divisotildees em seccedilotildees que tecircm
como meta o incremento de valores de mercado Do diagnoacutestico (primeira parte
do plano) aos seus objetivos (segunda parte do plano) o documento estaacute
voltado para uma maior abertura e expansatildeo da atividade turiacutestica o que cria
uma expectativa de controle dos espaccedilos e das pessoas para melhor atender agrave
atividade do turismo Mesmo natildeo definindo seu conceito de turismo tais
caracteriacutesticas apontam para uma ideacuteia de reproduccedilatildeo ampliada do capital
O que Carlos (2002) entende da seguinte forma
A induacutestria turiacutestica reforccedila a hierarquia social produzindo espaccedilos diferenciados exclusivos fechados A caracteriacutestica do espaccedilo produzido eacute a do homogecircneo altamente excludente com ausecircncia de identidade O lugar eacute apenas o que pode ser visto fotografado e depois esquecido (CARLOS 2002 p 32)
Neste sentido quando o plano afirma ser importante a maximizaccedilatildeo da
ampliaccedilatildeo de turistas (PARAacute 2001) percebe-se que a loacutegica de crescimento e
ampliaccedilatildeo de pessoas que vecircm ao estado com o intuito do consumo torna-se
beneacutefica para uma transformaccedilatildeo de uma realidade paraense utilizando-se
para tanto estrateacutegias de modificaccedilotildees e alteraccedilotildees do territoacuterio ou ainda
estrateacutegias espaciais Tema a ser abordado na proacutexima seccedilatildeo
43 A espacialidade da atividade turiacutestica uma anaacutelise do concebido
Uma anaacutelise da concepccedilatildeo de turismo que um governo carrega natildeo se
limita agraves suas ideacuteias eacute necessaacuterio espacializaacute-las ou seja dar um formato
concreto ou ainda espacial ao conjunto de formulaccedilotildees por quais passam os
planejamentos voltados para o desenvolvimento da atividade Sendo assim
torna-se difiacutecil pensar a loacutegicas das ideacuteias que datildeo vez ao fenocircmeno do turismo
113
sem associaacute-las a uma loacutegica espacial O PDT-PA articula as ideacuteias de modo a
pensaacute-las de acordo com um tipo de espaccedilo tambeacutem concebido em forma de
planejamento mas que todavia natildeo se torna distante de ser efetivado visto
que a construccedilatildeo de um plano de desenvolvimento do tipo do PDT-PA passa
pelas matildeos do Estado para que seja construiacutedo
Santos (2002) ao afirmar que o espaccedilo eacute um conjunto indissociaacutevel
solidaacuterio e tambeacutem contraditoacuterio entre sistemas de objetos e sistemas de
accedilotildees daacute razatildeo agrave unicidade entre o tempo e o espaccedilo no qual se pode
perceber a uniatildeo por completo entre o homem e o meio Caracteriza-se assim
uma ideacuteia de totalidade que haacute no espaccedilo Mediante essa situaccedilatildeo em relaccedilatildeo
agrave praacutetica turiacutestica sua espacialidade requer uma dimensatildeo totalizante entre
objetos e accedilotildees que condizem a uma maior movimentaccedilatildeo da atividade
turiacutestica pelo espaccedilo
Neste sentido a ideacuteia de uma espacializaccedilatildeo do turismo remete-se a
uma imbricada relaccedilatildeo que haacute entre a atividade turiacutestica e o seu
reordenamento espacial o que se perceber tambeacutem um constante
reordenamento do territoacuterio onde a praacutetica do turismo necessita se espacializar
Cruz (2001) por exemplo quando fala em reordenamento dos territoacuterios afirma
que a ideacuteia do consumo dos espaccedilos pelo turismo e sua produccedilatildeo de territoacuterios
deve ser um fator de mediaccedilatildeo nesse processo
Tal condiccedilatildeo eacute tambeacutem fator importante para se visualizar a
espacializaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de turismo que se datildeo no espaccedilo a fim
de mostrar o processo de articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees e suas
materializaccedilotildees Neste caso cabe pensar o papel do Estado na tomada de
decisotildees sobre os reordenamentos espaciais
Hall (2001) faz uma anaacutelise da relaccedilatildeo que haacute entre o turismo e o
Governo Segundo o autor o turismo jaacute se tornou parte integrante da maacutequina
administrativa Neste caso a poliacutetica puacuteblica para o turismo eacute tudo que o
governo decide fazer ou natildeo com relaccedilatildeo ao setor (HALL 2001 p 26) Poreacutem
a descrenccedila na poliacutetica governamental faz com que o setor ofereccedila mais erros
do que acertos nas tomadas de decisotildees o que desestabiliza o setor de uma
114
forma geral E neste campo inserem-se as formas de reordenamento espacial
a partir de uma loacutegica do turismo na qual a mesma eacute a que impotildee o ritmo de
mudanccedila nos lugares
Levando-se nem consideraccedilatildeo a realidade paraense tanto de
planejamento como de gestatildeo o PDT-PA oferece um conjunto de estrateacutegias
materializadas nos lugares selecionados pela empresa responsaacutevel pela
elaboraccedilatildeo do plano em conjunto com a esfera estatal Tais lugares agregam
valor de mercado importante para o incremento da atividade e que dizem
respeito agraves ideacuteias pensadas sobre o turismo Neste conjunto de estrateacutegias
definidas as informaccedilotildees satildeo bem articuladas possibilitando assim perceber
como a atividade turiacutestica deve proceder no espaccedilo Com isso o plano entende
de uma forma geral que as estrateacutegias de turismo devem ser concentradas a
partir da estrutura feita em poacutelos de desenvolvimento Tal consideraccedilatildeo foi feita
a partir do projeto Beija-Flor24 que elegeu cidades do estado do Paraacute que
reunissem algum tipo de infra-estrutura necessaacuteria para estabelecer bases de
sustentaccedilatildeo do desenvolvimento do turismo Os poacutelos recebem os nomes das
regiotildees onde se inserem a saber Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes
AraguaiaTocantins e Xingu Segundo as proacuteprias palavras do plano
Com base nestes seis poacutelos cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivo agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5)
24 O projeto Beija-Flor eacute um estudo feito antes da consolidaccedilatildeo do PDT-PA Foi uma estrateacutegia pensada no governo Almir Gabriel para articular a construccedilatildeo do plano de desenvolvimento de turismo do Paraacute A partir desse estudo eacute que as definiccedilotildees para a escolha dos poacutelos foram definidas conforme feito no PDT-PA
115
A partir dessa estrutura eacute que se pretende alcanccedilar as metas
pretendidas pelo Governo Feita em poacutelos torna-se constante e por isso
mesmo reflete uma reordenaccedilatildeo do territoacuterio paraense em grande intensidade
de forma a garantir a maior fluidez da atividade turiacutestica Cada poacutelo mostra uma
qualidade referente a um produto o grau de estruturaccedilatildeo seu formato e
principalmente a expectativa de um mercado consumidor (PARAacute 2001) Estes
elementos somados garantem a viabilidade dos poacutelos de turismo no estado
O reordenamento do espaccedilo eacute assegurado assim a partir de uma expectativa
do consumo do espaccedilo o que facilita o maior incremento de um sistema de
objetos (SANTOS 2002) criando uma maior dinacircmica espacial O mapa da
paacutegina posterior mostra a divisatildeo e a identificaccedilatildeo dos espaccedilos (sedes dos
poacutelos) turiacutesticos no Paraacute
116
MAPA 1 Sede dos Poacutelos de Desenvolvimento do Turismo do Paraacute
117
Neste caso deve-se perceber que o funcionamento da teoria dos poacutelos
obedece a uma loacutegica de totalidade do espaccedilo onde esse mesmo eacute concebido
a partir da atividade turiacutestica Como o proacuteprio plano ressalta considerar as
cidades ou sedes-poacutelos como o lugar de irradiaccedilatildeo do crescimento da atividade
turiacutestica eacute dar vazatildeo ao processo de espacializaccedilatildeo do fenocircmeno Natildeo satildeo
todas as cidades que conteacutem os recursos ou infra-estruturas necessaacuterias para
o bom andamento da atividade mas as cidades que jaacute possuem certa condiccedilatildeo
antecipatoacuteria para a dinamizaccedilatildeo do poacutelo polarizando assim a atividade
Uma outra questatildeo importante que deve ser levada em consideraccedilatildeo eacute
que esse tipo de espacializaccedilatildeo ou ordenamento territorial feito no estado estaacute
baseado em uma concepccedilatildeo de espaccedilo a de poacutelos de crescimento
Perroux (1967) mostra que a ideacuteia do poacutelo eacute uma forma de entender que
natildeo eacute o espaccedilo em sua totalidade necessaacuterio para o avanccedilo de uma empresa
ou setor da economia mas sim alguns espaccedilos que jaacute demandam uma
antecipaccedilatildeo ou como dito outrora que jaacute tecircm uma infra-estrutura
Para Perroux (1967) o espaccedilo sempre mereceu uma leitura muito
teacutecnica e menos precisa do que o tempo (PERROUX 1967 p 147) Neste
caso o interesse eacute perceber que o espaccedilo tem uma funccedilatildeo econocircmica e que
pode facilitar os fluxos econocircmico-industriais (BREITBACH 1988 ANDRADE
1977) A concepccedilatildeo de espaccedilo para Perroux (1967) eacute portanto econocircmica
Neste sentido a funccedilatildeo dos poacutelos de crescimento eacute a de possibilitar o aumento
da economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo deprimida (PERROUX 1967)
Para entender a transformaccedilatildeo dessa ideacuteia diretamente no espaccedilo o
autor faz uma comparaccedilatildeo da ideacuteia de crescimento com o surgimento e relaccedilatildeo
da induacutestria com o espaccedilo Para o autor um dos aspectos da estrutura de uma
economia de Estado-Naccedilatildeo eacute
A propagaccedilatildeo do crescimento duma induacutestria (ou grupos de induacutestrias) O aparecimento duma induacutestria nova ou o crescimento duma induacutestria existente propagam-se por intermeacutedio dos preccedilos fluxos antecipaccedilotildees No decurso de periacuteodos mais longos os
118
produtos duma induacutestria ou grupos de induacutestrias profundamente transformados e por vezes dificilmente reconheciacuteveis em comparaccedilatildeo com seu esboccedilo inicial possibilitam novas invenccedilotildees que datildeo origem a novas induacutestrias (PERROUX 1967 p 164)
A partir dessa estrutura pode-se perceber uma aproximaccedilatildeo com a ideacuteia
de poacutelos de turismo O PDT-PA assimila a condiccedilatildeo de que a presenccedila de um
aparato tecnoloacutegico voltado para turismo deve estar presente em uma sede ou
cidade - sede A partir dessa configuraccedilatildeo espacial as atividades iratildeo se
desenvolver em formas de ondas concecircntricas possibilitando uma irradiaccedilatildeo
do crescimento em aacutereas proacuteximas ao poacutelo ou sede Em comparaccedilatildeo com a
ideacuteia de Perroux (1967) as induacutestrias na verdade satildeo o fio condutor desse
crescimento Poreacutem no que diz respeito agraves accedilotildees do Estado para o fomento do
turismo a intenccedilatildeo eacute promover uma entrada ainda maior de empresas que
estejam interessadas em investir no setor Dessa forma gradativamente o
universo das empresas no ramo do turismo aumentaraacute provocando segundo a
ideacuteia do plano um crescimento das divisas geradas a partir do fluxo intenso
das atividades Neste sentido Perroux (1967) ainda afirma que
O fato rudimentar mais consistente eacute este o crescimento natildeo surge em toda a parte ao mesmo tempo manifesta-se com intensidades variaacuteveis em pontos ou poacutelos de crescimento propaga-se segundo vias diferentes e com efeitos finais variaacuteveis no conjunto da economia (PERROUX 1967 p 164)
O autor ainda conclui afirmando
Examinar esta modalidade de crescimento eacute tornar expliacutecita e susceptiacutevel de tratamento cientiacutefico uma perspectiva jaacute patente em vaacuterios trabalhos de elaboraccedilatildeo teoacuterica imposta pela observaccedilatildeo dos paiacuteses de crescimento retardado manifesta na poliacutetica dos Estados modernos (PERROUX 1967 p 165)
119
Jaacute o plano entende a importacircncia da estruturaccedilatildeo dos poacutelos a partir de
espaccedilos selecionados pelo Governo do Estado Estes satildeo os lugares do
territoacuterio paraense que reuacutenem melhores condiccedilotildees de se desenvolver o
sistema turiacutestico Segundo o plano
Com base nestes seis poacutelos [Beleacutem Costa Atlacircntica Marajoacute Tapajoacutes AraguiaTocantins e Xingu] cuja extensatildeo e composiccedilatildeo de municiacutepios foi estabelecida pelo Governo Estadual foram identificadas as unidades municipais prioritaacuterias para etapa inicial do Plano de desenvolvimento do turismo Estes municiacutepios tambeacutem foram determinados pelo Governo Estadual de acordo com um criteacuterio objetivo de produtos turiacutesticos consolidados Aleacutem disto a priorizaccedilatildeo adotada significa o reconhecimento de que estes municiacutepios dispotildeem de maior grau de potencial pela forccedila de seus atrativos e o miacutenimo de infra-estrutura jaacute instalada em uma primeira etapa A partir destes seis poacutelos a tendecircncia eacute do turismo ir se desenvolvendo atraveacutes de ondas concecircntricas ateacute atingir a totalidade de cada poacutelo Considerando inclusive a integraccedilatildeo do mercado intermunicipal de produtos turiacutesticos natildeo necessariamente exclusivos agrave aacuterea fiacutesica de municiacutepio prioritaacuterio podendo agregar recursos de municiacutepios vizinhos sempre que ocorrer demanda significativa (PARAacute 2001 p 5 grifo nosso)
O lugar que Perroux (1967) daacute agrave empresa motriz do ponto de vista
espacial pode ser entendido no plano de turismo do Estado como sendo as
regiotildees que o documento apresenta como regiotildees ou poacutelos que possibilitam o
crescimento do turismo No que se refere agrave espacializaccedilatildeo do turismo no Paraacute
a divisatildeo dos poacutelos estaacute situada em uma noccedilatildeo de regionalizaccedilatildeo das accedilotildees do
turismo colocando em evidecircncia as riquezas naturais que cada uma delas tecircm
Neste caso a teoria de Perroux (1967) se faz presente nas estrateacutegias
espaciais do PDT-PA
Cada poacutelo de turismo tem uma praacutetica diferente que corresponde a sua
peculiaridade enquanto produto turiacutestico a ser promovido para as operadoras
de turismo
No poacutelo Beleacutem por exemplo a estrateacutegia espacial desse tipo de poacutelo eacute
levar em consideraccedilatildeo a histoacuteria que a capital Beleacutem em convergecircncia com
muitos tipos culturais que acontecem nas cidades proacuteximas No plano existe
120
um quadro de posicionamento das maiores demandas das atividades culturais
ou naturais que estatildeo relacionadas com as escalas domeacutestica nacional ou
internacional As informaccedilotildees demonstram na verdade onde o poder puacuteblico
pode incentivar com maior rapidez o tipo de praacutetica turiacutestica que ocorre em
cada poacutelo Assim pretende-se cercar em todos os lugares as possibilidades de
arranco para o incremento do turismo
Quadro 4 Estrateacutegias de produtomercado poacutelo de Beleacutem
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico
Regional Nacional Internacional
Estadas curtas
Estadas longas
Eventos
Cruzeiros
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
Como se pode perceber os mercados geograacuteficos (domeacutestico regional
nacional e internacional) satildeo associados aos tipos de negoacutecios de turismo
que possibilitam um processo de alimentaccedilatildeo do capital Nesta perspectiva o
turismo no Poacutelo Beleacutem tem uma funcionalidade que o distingue dos demais
Como a cidade eacute a principal entrada para os maiores fluxos de pessoas e de
produtos que chegam do restante do paiacutes e do mundo essa eacute a forma pela
qual o plano tem a oferecer ao turista quando chega agrave cidade Neste caso
como Beleacutem tem a finalidade de sediar o seu proacuteprio poacutelo as demais cidades
que se localizam agraves suas proximidades participam dessa loacutegica de expansatildeo
FONTE PARAacute (2001 p 58)
121
das atividades do turismo Ainda mais porque eacute a partir de Beleacutem que a
dimensatildeo espacial do poacutelo ganha efeitos territoriais no estado todo
Cada poacutelo em especial eacute marcado pelo que o plano chama de
estrateacutegias de posicionamento Estas tecircm a funccedilatildeo de apresentar de forma
sucinta o que cada poacutelo tem a oferecer de acordo com as modalidades Sendo
assim o poacutelo Beleacutem apresenta as seguintes estrateacutegias
Quadro 5 Estrateacutegias de posicionamento do poacutelo Beleacutem
Global A entrada a um mundo fascinante
Estadas Curtas
A maior concentraccedilatildeo de experiecircncias no menor tempo
Estadas longas Um mundo a ser descoberto
Eventos As forccedilas da natureza
Reuniotildees Trabalhando no jardim
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 59)
De forma geral a apresentaccedilatildeo feita pelo plano no que diz respeito agraves
estrateacutegias de posicionamento satildeo elementos oferecidos na forma da
propaganda feita para esses setores do turismo Percebe-se tambeacutem uma
pretensatildeo de fazer um marketing do estado do Paraacute nas mais diversas escalas
122
sendo estas ligadas agraves demandas especiacuteficas que se interessam pelo tipo de
turismo praticado Com isso a ideacuteia eacute intensificar esses procedimentos fazendo
com que no final do processo se alcance a totalizaccedilatildeo do espaccedilo Portanto
levando em consideraccedilatildeo esses princiacutepios a criaccedilatildeo do poacutelo torna-se uma
ferramenta fundamental
No que diz respeito ao poacutelo Costa Atlacircntica a peculiaridade natural do
sol e praia eacute um dos principais atrativos a serem destacados no estado
Poreacutem como mesmo atesta o plano as outras modalidades de turismo a
serem praticadas neste poacutelo podem ser bem desenvolvidas desde que haja um
fomento necessaacuterio por parte do Estado
Para o poacutelo Costa Atlacircntica os mercados domeacutestico e regional se
destacam nesse processo de turistificaccedilatildeo dos lugares Os mercados nacional
e internacional ficam deslocados em relaccedilatildeo a essas demandas especiacuteficas A
abrangecircncia espacial torna-se mais limitada tanto do ponto de vista dos
mercados como do ponto de vista espacial O quadro abaixo sintetiza as accedilotildees
pretendidas pelo Governo do Estado no que diz respeito ao poacutelo Costa
Atlacircntica
Quadro 6 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Costa Atlacircntica
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional Nacional Internacional
Sol e Praia
Eventos
Reuniotildees
Esportes Aquaacuteticos
Melhor Idade
Pesca Esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 59)
123
Os mercados geograacuteficos de sol e praia no poacutelo Costa Atlacircntica satildeo
mais fortes em cidades como Salinoacutepolis e Marapanim Estas cidades
representam em parte a estrateacutegia de reunir os artifiacutecios necessaacuterios para
atrair turistas para esta regiatildeo Neste caso o plano de turismo do estado
apropria-se das peculiaridades regionais deste poacutelo para ressaltar a
importacircncia de ter a cultura como elemento atrativo para turistas Essa ideacuteia eacute
expressa nas estrateacutegias de posicionamento que o plano descreve enquanto
documento
Quadro 7 Estrateacutegias de Posicionamento do Poacutelo Costa Atlacircntica
Sol e Praia Centro de Feacuterias de muacuteltiplas atividades enfocadas no recurso praia de mar divertido e adequado para famiacutelias com crianccedilas
Eventos O reino do Carimbo
Melhor idade A vida tranquumlila agrave beira-mar
FONTE Adaptado de PARAacute (2001 p 59)
O poacutelo Marajoacute eacute um dos mais importantes quanto ao fomento da
atividade turiacutestica Neste poacutelo segundo o PDT-PA a modalidade do ecoturismo
torna-se um fator de identidade com o mercado nacional principalmente As
accedilotildees a serem desenvolvidas nessa aacuterea privilegiam um contato com a
natureza Os trajetos planejados pelas operadoras seguem uma loacutegica
racionalizada de conhecer os espaccedilos da regiatildeo do Marajoacute Nesse sentido o
incremento agraves atividades turiacutesticas ligadas a esse setor satildeo mais presentes
com o intuito de chamar a atenccedilatildeo de um segmento diferenciado Com a
perspectiva do ecoturismo a identidade de uma Amazocircnia paraense vem agrave
tona como um dos princiacutepios norteadores do crescimento do turismo No
124
tocante ao ecoturismo Rocha (2002) mostra que este uacuteltimo eacute um segmento
que tem notoacuteria expansatildeo e nesse sentido as poliacuteticas puacuteblicas de turismo
tendem a privilegiar tais modalidades a fim de estabelecer formas de geraccedilatildeo
de desenvolvimento O quadro abaixo mostra como o PDT-PA relaciona os
principais atrativos de turismo no poacutelo Marajoacute dando destaque ao ecoturismo
enquanto um mercado que tem uma ecircnfase em escala nacional
Quadro 8 Estrateacutegias de Produto Mercado do Poacutelo Marajoacute
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (2001 p 60)
O comentaacuterio acerca do ecoturismo nesse poacutelo assim se define
O entorno que compotildee o ecoturismo eacute perfeito no Poacutelo Marajoacute que contempla rios campos fauna e flora conjugadas As particularidades da Ilha fazem que este seja o cenaacuterio ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 61)
Mercados geograacuteficos
NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo rural
Cultural
Praias
Turismo educacional
Melhor Idade
125
Tal situaccedilatildeo ainda eacute reforccedilada pela estrateacutegia de posicionamento
presente no documento que afirma ser necessaacuterio dar um conteuacutedo positivo agrave
percepccedilatildeo do Marajoacute (PARAacute 2001 p 61)
No que se refere ao poacutelo AraguaiaTocantins as estrateacutegias espaciais
pensadas pelo documento satildeo afirmadas como negoacuteciosmercados (PARAacute
2001) o que de certa forma faz com que as mesmas se diferenciem quanto agrave
sua especificidade e capacidade de atuar nos mercados regional nacional e
internacional tendo como escopo a competitividade O quadro abaixo
evidencia esta realidade
Quadro 9 Estrateacutegias de produto mercado do AraguaiaTocantins
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados Domeacutestica Regional
Nacional
Internacional
Pesca Esportiva
Reuniotildeeseventos
Atividades ecoturiacutesticas
Atividades aquaacuteticas
Sol e praia
Turismo Industrial
Turismo Educacional
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 62)
Outro poacutelo presente nas estrateacutegias espaciais do plano eacute o Tapajoacutes
Segundo o documento o poacutelo Tapajoacutes tem uma grande perspectiva para o
segmento turismo ecoloacutegico (PARAacute 2001) Tendo como sede a cidade de
Santareacutem o poacutelo Tapajoacutes segundo o plano tambeacutem tem a facilidade de
incrementar a pesca esportiva Suas prioridades neste caso concentram-se
126
mais nos mercados nacional e internacional para este segmento conforme
mostra o quadro
Quadro 10 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Tapajoacutes
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestico Regional Nacional
Internacional
Ecoturismo (viagens de interesse especial viagens de aventura)
Pesca esportiva
Cruzeiros fluviais
Esportes acuaacuteticos
Turismo eacutetnico-raiacutezes
Sol e praia
Reuniotildees
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 63)
Por fim o poacutelo Xingu mostra uma peculiaridade voltada para o
ecoturismo que na anaacutelise do documento eacute o poacutelo que mais reuacutene condiccedilotildees
de atratividade turiacutestica por conta de seus valores naturais Segundo o plano
() O Poacutelo Xingu que contempla rios fauna e flora conjugados eacute perfeito para o ecoturismo As particularidades deste grandioso cenaacuterio fazem com que este seja o entorno ideal para a realizaccedilatildeo de atividades de ecoturismo fazendo deste negoacutecio uma oportunidade rentaacutevel e proacutespera (PARAacute 2001 p 64)
127
Neste sentido o PDT-PA organiza suas estrateacutegias espaciais para o
poacutelo da seguinte forma
Quadro 11 Estrateacutegias de produto mercado do poacutelo Xingu
Mercados geograacuteficos NegoacuteciosMercados
Domeacutestica
Regional
Nacional
Internacional
Ecoturismo
Turismo de aventuras
Turismo de interesse especial
Pesca esportiva
CONVENCcedilOtildeES
Prioridade alta
Prioridade meacutedia
Prioridade baixa
FONTE PARAacute (20021 p 64)
Os poacutelos presentes nessa loacutegica do plano apresentam assim a ideacuteia de
uma racionalizaccedilatildeo do espaccedilo paraense Essa perspectiva julga a natureza
como um recurso em funccedilatildeo da atividade turiacutestica Neste caso a concepccedilatildeo de
turismo do plano mais ainda a concepccedilatildeo de espaccedilo presente contribui para
uma ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de forma homogecircnea Para cada poacutelo portanto
apresenta-se uma estrateacutegia de mercado que necessariamente coincide com a
atratividade dos lugares Eacute nesse momento que o espaccedilo paraense ganha uma
nova ordem que eacute aquela da ordem dos fluxos de turismo Palavras de forte
apelo turiacutestico como se vecirc no poacutelo Xingu paraiacuteso da pesca esportiva (PARAacute
2001 p 61) ou ainda a ideacuteia de aventura (no caso do poacutelo Tapajoacutes) satildeo
essenciais para a esfera do marketing
Fazendo-se uma associaccedilatildeo com as ideacuteia de Perroux (1969) a intenccedilatildeo
de criar poacutelos eacute fazer com que eles sejam sedes de empresas Estas entatildeo
seriam responsaacuteveis pela transformaccedilatildeo econocircmica de uma regiatildeo Mas o
128
documento natildeo especifica se satildeo as empresas os agentes da transformaccedilatildeo
nem tampouco outros atores do turismo que possam integrar a essa estrateacutegia
de desenvolvimento econocircmico no estado como pequenos e medos
empresaacuterios setor informal da economia entre outros Por outro lado o plano
prefere falar que atraveacutes da consolidaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos (PARAacute
2001) eacute que a irradiaccedilatildeo do crescimento seraacute possiacutevel Assim natildeo haacute no
documento uma clara participaccedilatildeo sobre os sujeitos encarregados da dinacircmica
econocircmica feita por poacutelos Contudo segundo ainda esta concepccedilatildeo a intenccedilatildeo
do plano eacute que esses espaccedilos selecionados precisam ter condiccedilotildees de infra-
estrutura para suportar a demanda turiacutestica necessaacuteria (PARAacute 2001) Com
isso como natildeo haacute o esclarecimento sobre os agentes o poacutelos (de turismo)
podem ser constituiacutedos tanto pela induacutestria motriz (PERROUX 1969
BREITBACH 1988 ANDRADE 1977) como por outros agentes que
desencadeie o crescimento inclusive a populaccedilatildeo de uma forma geral A
intenccedilatildeo acima de tudo eacute que os espaccedilos selecionados tenham
potencialidade turiacutestica (PARAacute 2001) e capacidade de incremento econocircmico
no mercado
As estrateacutegias de posicionamento (PARAacute 2001) de cada poacutelo por
exemplo estatildeo estrategicamente posicionadas para outros espaccedilos Isso quer
dizer que os atrativos turiacutesticos de cada poacutelo correspondem em grande parte a
uma demanda de turistas de outros estados e paiacuteses principalmente aqueles
que tenham condiccedilotildees de estabelecer consumo dos produtos vendidos nos
poacutelos Por mais que o mercado regional seja um aquecedor do turismo
paraense em muitos momentos vale-se da sazonalidade ou seja os
movimentos feitos por grande parte dos turistas tecircm como espaccedilo emissor a
capital Beleacutem Para o plano essa perspectiva precisa mudar e se associar agrave
expansatildeo do mercado turiacutestico Daiacute a importacircncia de associar as
caracteriacutesticas de cada poacutelo agraves demandas de outros estados e paiacuteses e
estabelecer um marketing favorecendo a propaganda do estado Em outras
palavras o PDT-PA propotildee atraveacutes dos poacutelos uma adequaccedilatildeo de perfil dos
tipos de turistas aos recursos naturais do estado como mostra a figura na
paacutegina seguinte
129
Figura 2 Lodge Pesca Esportiva
FONTE PARAacute (2001 p70)
Comentaacuterio Proposta de empreendimento turiacutestico peculiar aos poacutelos de crescimento que conteacutem um potencial para a pesca esportiva Na figura pode-se perceber uma estilizaccedilatildeo das casas ou espaccedilos de acomodaccedilatildeo para os turistas bem como do tipo de natureza que eacute concebida pelo plano uma espeacutecie de pseudo-adequaccedilatildeo ao estilo de vida dos pescadores regionais ou ainda a construccedilatildeo de um simulacro voltado para o lazer
Neste caso pensar uma concepccedilatildeo de turismo eacute no mesmo sentido
pensar uma concepccedilatildeo de espaccedilo impregnada de valores e desejos por parte
daqueles que objetivam mudanccedilas a partir de uma loacutegica do turismo Isso
demonstra em outros termos que o plano de desenvolvimento de turismo do
estado eacute um documento que utiliza os espaccedilos na forma de poacutelos de
crescimento (PERROUX 1969) para focalizar e implementar sua concepccedilatildeo de
turismo Por mais que as peculiaridades dos atrativos turiacutesticos se destaquem
no cenaacuterio paraense a loacutegica global desse fenocircmeno eacute a mesma O espaccedilo
assume uma dimensatildeo de aptidatildeo paisagiacutestica (SILVEIRA 2002) Ou seja um
conjunto ou reuniatildeo de elementos que estatildeo na esfera do visiacutevel e que
constituem a esfera do siacutembolo ou da representaccedilatildeo dos lugares Satildeo
vantajosos para o circuito do capital e para o desenvolvimento das atividades
turiacutesticas (SILVEIRA 2002)
130
44 Espaccedilo turismo e desenvolvimento desvelando propostas e intenccedilotildees
O momento de entender a proposta de desenvolvimento apresentada
por um plano torna-se uma siacutentese poreacutem natildeo menos importante Enquanto
pretensatildeo os ideais do desenvolvimento podem ser claros o suficiente pois
estatildeo na grande maioria materializados na forma de documentos
planejamentos planos de desenvolvimento e claro na forma de poliacuteticas
puacuteblicas (setorizadas ou amplas) Tal dificuldade expotildee incondicionadamente
interesses dos agentes que pensam o desenvolvimento
Neste sentido falar da importacircncia do desenvolvimento requer pensar
uma profunda transformaccedilatildeo natildeo soacute dos espaccedilos mas acima de tudo da
sociedade como um todo Por mais que a proposta de desenvolvimento natildeo
atinja diversas classes sociais ou abarque os conflitos que entre elas existem
(em muitos casos os conflitos entre as classes sociais satildeo ignorados por
autoridades que fazem propostas sobre o desenvolvimento acirrando-os ainda
mais) mesmo assim o que estaacute em jogo eacute um conjunto de accedilotildees que visam agrave
transformaccedilatildeo da sociedade
No turismo essa realidade natildeo seria diferente ainda mais porque ora
as propostas de desenvolvimento desse setor apresentam-se enquanto
setorizadas (somente do e para a atividade do turismo) ora ligadas a outros
setores estrateacutegicos das poliacuteticas puacuteblicas como economia urbanizaccedilatildeo
saneamento entre outros
Natildeo necessariamente o desenvolvimento conteacutem em suas
formulaccedilotildees as dimensotildees social e econocircmica (esta uacuteltima mais valorizada)
como forma e conteuacutedo nas tomadas de decisotildees que satildeo implementadas pelo
Estado Neste processo o conjunto de poliacuteticas puacuteblicas aparece como
instrumento de accedilatildeo necessaacuterio ao processo do desenvolvimento As poliacuteticas
puacuteblicas satildeo portanto a forma pela qual o processo de desenvolvimento se daacute
Hall (2001) ao tratar das dimensotildees do planejamento poliacutetica e plano
faz uma importante diferenciaccedilatildeo Para o autor a elaboraccedilatildeo de poliacuteticas
131
puacuteblicas eacute um ato poliacutetico e nesse sentido elas estatildeo inteiramente ligadas agraves
decisotildees e caracteriacutesticas econocircmicas culturais sociais e claro ideoloacutegicas o
que as isenta de qualquer tipo de neutralidade
Segundo ainda o mesmo autor o planejamento eacute uma ferramenta
importante para se pensar a dinacircmica das poliacuteticas puacuteblicas pois integra uma
relaccedilatildeo entre passado presente e futuro ou seja uma caracteriacutestica
fundamental do planejamento eacute sua constante dinamicidade ou um
pensamento que natildeo pretende ser estaacutetico no espaccedilo e no tempo
No que diz respeito ao plano Hall (2001) afirma que este se refere a um
conjunto de decisotildees ou ainda accedilotildees a serem desenvolvidas no futuro Isto
quer dizer que as ideacuteias contidas em um plano satildeo a siacutentese de pensamentos
elaboraccedilatildeo de poliacuteticas e planejamentos feitos pelo governo Em um plano
esses elementos aparecem de forma concretizada ou materializada O que
facilita de uma forma geral a visualizaccedilatildeo das accedilotildees (muitas vezes elaboradas
sob a forma de programas de intervenccedilatildeo)
Em uma dimensatildeo mais ampla a condiccedilatildeo de elaboraccedilatildeo de um plano
reflete as intenccedilotildees gerais sobre o que seja o desenvolvimento Eacute neste ponto
que a relaccedilatildeo entre o plano de turismo do Paraacute e a questatildeo sobre
desenvolvimento revela-se um ponto importante a ser analisado Neste sentido
o espaccedilo paraense eacute a base de materializaccedilatildeo das ideologias pensadas pelo
Estado e tambeacutem reflexo das intervenccedilotildees jaacute feitas para garantir o
desenvolvimento da atividade turiacutestica Para tanto ideacuteias como melhoria da
qualidade de vida riqueza dos atrativos da Amazocircnia paraense (PARAacute 2001)
estatildeo associados a uma conversatildeo para o mercado tanto que o Paraacute
apresenta condiccedilotildees significativas para que o turismo seja importante
instrumento de desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001 p 5)
Neste caso percebe-se que a visatildeo estrateacutegica do plano para o
desenvolvimento estaacute referendada por uma relaccedilatildeo promissora entre a
potencialidade natural do Paraacute e a potencialidade econocircmico-financeira que o
mesmo pode gerar Por um outro lado assim como na questatildeo sobre a
concepccedilatildeo de turismo em nenhum momento o plano discute ou afirma qual
132
sua concepccedilatildeo de desenvolvimento mostrando assim sua fragilidade nesse
criteacuterio Seu conteuacutedo referente agrave dimensatildeo do desenvolvimento natildeo requer
uma apreciaccedilatildeo conceitual mas sim a identificaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos e
suas estrateacutegias mercadoloacutegicas
Hall (2001) destaca os tipos de planejamentos a partir da atividade
turiacutestica em relaccedilatildeo agrave questatildeo do desenvolvimento Nesse sentido o autor
ressalta a importacircncia de natildeo se perceber o planejamento a partir de uma
dimensatildeo econocircmica pois este se realizado desta forma mostra na praacutetica
suas imperfeiccedilotildees e limites O autor faz uma anaacutelise de um tipo de
desenvolvimento
o desenvolvimento sustentaacutevel
fazendo com que a ideacuteia
de meio ambiente se torne o centro das discussotildees sobre planejamento da
atividade turiacutestica O autor eacute claro ao enfatizar a dimensatildeo unilateral da
abordagem econocircmica no desenvolvimento Para ele a mesma quando
utilizada como uacutenica interpretaccedilatildeo de um plano reduz a importacircncia de um
documento a dados econocircmicos desencadeando assim resultados isolados
ou ainda consequumlecircncias nada positivas para o meio ambiente e para a
sociedade Qualquer indicador de desenvolvimento baseado no valor
monetaacuterio da produccedilatildeo estaacute sujeito a imperfeiccedilotildees teacutecnicas e conceituais
(SMITH apud HALL 2001 p 22)
As iniciativas de mercado pensadas pelo governo do Estado satildeo
detalhadamente expostas no documento definidas principalmente sob a forma
de estrateacutegias (parte B do plano) mostrando etapas de uma espeacutecie de
desenvolvimento econocircmico A ideacuteia de crescimento com sustentabilidade
(PARAacute 2001) aparece como se fosse apecircndice do desenvolvimento econocircmico
pretendido pelo Governo atraveacutes do PDT-PA mesmo assim tal ideacuteia natildeo eacute
conceituada tampouco problematizada no documento
Como uma forma de contribuir para a ideacuteia de desenvolvimento Souza
(2002) oferece uma anaacutelise importante que tem o intuito de criar um novo
paradigma conceitual Essa questatildeo tambeacutem se aplica ao turismo enquanto
uma ferramenta de desenvolvimento local O autor procura ir aleacutem das
concepccedilotildees de desenvolvimento tradicional e procura estabelecer uma
diferenccedila entre o desenvolvimento econocircmico (forma tradicional e tambeacutem a
133
mais usual nos planejamentos) e o desenvolvimento soacutecio-espacial (alternativa
ao economicismo) Para o autor pelo fato do turismo ser uma atividade
complexa e que implica em impactos positivos e negativos na sociedade e no
meio ambiente ele merece um destaque qualificado nas teorias sobre o
desenvolvimento
Para Souza (2002) o desenvolvimento ao longo dos anos veio
sublinhado como sinocircnimo de desenvolvimento econocircmico o que se configura
na relaccedilatildeo entre o crescimento econocircmico ou seja referente ao Produto
Nacional Bruto (PNB) ou Produto Interno Bruto de um paiacutes (PIB) e a
modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste caso essa relaccedilatildeo eacute suficiente para perceber
a concepccedilatildeo de desenvolvimento que o PDT-PA pensa para o Paraacute Quando
em sua introduccedilatildeo o plano designa a ideacuteia de sustentabilidade e de melhoria
da qualidade de vida da populaccedilatildeo paraense em funccedilatildeo do crescimento
(PARAacute 2001) na verdade a concepccedilatildeo de mercado paira como principal e
esta encerra a condiccedilatildeo para que haja o desenvolvimento do turismo no
territoacuterio paraense A ecircnfase nos processos sobre atratividade marketing
produccedilatildeo e gestatildeo (PARAacute 2001) satildeo elementos essenciais para se perceber o
forte conteuacutedo mercadoloacutegico inerente ao documento
No plano de turismo do estado do Paraacute o governo se esforccedila para
chamar a atenccedilatildeo dos turistas que vecircm de fora do estado Eacute preciso fazer a
propaganda de seu lugar mostrar atraveacutes do marketing e divulgaccedilatildeo que o
Paraacute eacute um espaccedilo interessante a ser desfrutado Em suas linhas gerais o
plano destaca a beleza exoacutetica da natureza amazocircnica e dos valores culturais
para atrair turistas Esses espaccedilos como afirma Boulloacuten (2002) devem estar
dotados de um bom sistema turiacutestico em outras palavras a infra-estrutura do
lugar deve estar concernente ao melhor trajeto das pessoas que visitam os
lugares diferentes Poreacutem ao tomar essa ideacuteia como estrateacutegia de
desenvolvimento os espaccedilos selecionados para a praacutetica do turismo (os poacutelos)
excluem o restante do territoacuterio paraense ou ainda estes uacuteltimos devem estar
sintonizados com a loacutegica de desenvolvimento proposta pelo governo Poreacutem
lembrando que a loacutegica de construccedilatildeo de poacutelos a partir da teoria de Perroux
(1969) natildeo permite que o crescimento se decirc em todos os lugares haacute um
134
campo de forccedilas (PERROUX 1969) que atua em um espaccedilo especiacutefico Daiacute a
loacutegica dos poacutelos Nesse sentido o desenvolvimento do turismo no Paraacute natildeo se
daacute de forma homogecircnea privilegiando por outro lado as cidades que reuacutenem
infra-estrutura adequada causando assim um desenvolvimento
desequilibrado no territoacuterio
No tocante agrave questatildeo do conforto ao turista o plano concentra esforccedilos
ao tentar oferecer aos que visitam o estado tudo o que haacute de melhor pois satildeo
eles os responsaacuteveis diretos pela geraccedilatildeo de lucro no local de destino O
plano ao conceber os espaccedilos natildeo estabelece uma necessidade de somente
melhorar ou ampliar os espaccedilos com potencial turiacutestico Aleacutem disso eacute no
conforto e comodidade do turista ao visitar o Paraacute que esses espaccedilos satildeo
pensados (concebidos) ou quando jaacute prontos satildeo incrementados Eacute nesse
momento que o papel do Estado eacute fundamental para se entender o processo
de reestruturaccedilatildeo espacial
O diferencial neste ponto satildeo as peculiaridades espaciais O turista visita
outros lugares com o intuito de conhecer o diferente o inusitado o exoacutetico E
neste sentido busca algo diferente em sua vida Pensando nessa situaccedilatildeo o
Governo do Estado do Paraacute faz uma adequaccedilatildeo desses espaccedilos
O PDT-PA concebe neste caso espaccedilos voltados para a funcionalidade
turiacutestica Tais espaccedilos estatildeo estruturados de forma a atender diretamente a
necessidade dos que visitam a Amazocircnia paraense por isso os turistas satildeo o
objetivo final do plano Eacute atraveacutes da entrada deles que a dinacircmica turiacutestica
acontece No documento existem imagens que pensam o bem-estar do turista
de acordo com os aspectos naturais da regiatildeo As imagens neste caso
tornam-se um importante recurso estrateacutegico para se pensar mercados
interessados em investir nesses espaccedilos concebidos pelo Estado a fim de
fomentar o turismo
135
Figura 3 Wellness (Sauacutede Amazocircnica em resort de aventura e natureza)
FONTE PARAacute (2001 p 69)
A pouca ecircnfase dada aos conceitos que estatildeo associados ao
desenvolvimento do turismo eacute uma marca constante no plano A ideacuteia de
qualidade de vida (um aspecto importante das temaacuteticas do desenvolvimento) eacute
reduzida a uma pequena parte do plano localizada na sua introduccedilatildeo Como
fora mostrado nos capiacutetulos anteriores a decisatildeo do plano eacute fazer uma
caracterizaccedilatildeo dos produtos turiacutesticos paraenses A qualidade de vida adviria
de uma maior rentabilidade gerada a partir do incremento econocircmico desses
produtos tanto que para o plano o Paraacute apresenta condiccedilotildees muito
significativas para que o turismo seja um importante instrumento de
desenvolvimento econocircmico e social (PARAacute 2001) Neste sentido mais uma
Comentaacuterio Na figura mostra-se um exemplo de descanso em volta de uma natureza criada que eacute como mostra no documento uma peculiaridade desses espaccedilos O turista portanto ao desfrutar desse tipo de serviccedilo identifica-se com a regionalidade dos lugares apropriados estrategicamente pelo turismo Essa regionalidade por outro lado eacute reduzida a este universo causando assim uma simulaccedilatildeo
136
vez o reducionismo se faz presente na anaacutelise sobre o desenvolvimento
causando desta forma sua debilidade
O PDT-PA ainda faz uma abordagem destacaacutevel sobre tipos de espaccedilos
de lazer que se encontram em consonacircncia com a estrutura dos poacutelos Tais
espaccedilos reuacutenem condiccedilotildees favoraacuteveis para a praacutetica do turismo e de forma
ampla para o desenvolvimento da atividade e o seu consequumlente crescimento
econocircmico para o estado Para o plano a construccedilatildeo desses espaccedilos serve de
referecircncia para atrair turistas pois na sua concepccedilatildeo os valores no que se
refere agrave natureza lazer na Amazocircnia paraense satildeo importantes para o fomento
agrave atividade turiacutestica Como afirma o plano A natureza amazocircnica com sua
extraordinaacuteria riqueza de flora e fauna constituem o maior atrativo do Paraacute
(PARAacute 2001 p 71) Percebe-se com isso que a apropriaccedilatildeo da natureza
segundo esses princiacutepios torna-se um caminho importante para o
desenvolvimento A figura da paacutegina seguinte mostra mais uma ideacuteia pensada
pelo plano para a transformaccedilatildeo do territoacuterio paraense
137
Figura 4 Resort aventura e natureza
FONTE PARAacute 2001 p 71
Comentaacuterio A atividade gerada nesses espaccedilos torna-se um fator importante para o desenvolvimento do turismo Neles o consumo da paisagem bem como da natureza eacute um estimulador de riqueza e por isso passa a ser uma estrateacutegia para o crescimento econocircmico
Harvey (2004) apresenta um argumento interessante sobre esses
espaccedilos imaginados principalmente quando satildeo pensados a partir de
planejamentos para a organizaccedilatildeo espacial de um lugar Para o autor o
chamado utopismo de livre organizaccedilatildeo espacial (HARVEY 2004) funciona
atraveacutes de espaccedilos fechados como uma economia isolada (HARVEY 2004)
com o intuito de controlar natildeo soacute o espaccedilo mas o tempo tambeacutem garantindo
assim uma possibilidade de mudanccedila social e histoacuterica Neste caso os
processos sociais satildeo controlados reprimidos atraveacutes de uma forma espacial
fixa (HARVEY 2004) O plano afirma que a construccedilatildeo desses lugares eacute
baseada numa preacute-seleccedilatildeo onde a beleza paisagiacutestica e a riqueza da fauna e
da flora devem ser destacadas (PARAacute 2001) facilitando com isso seu uso
Com isso as ideacuteias de desenvolvimento a partir do PDT-PA podem ser
percebidas a partir de um universo econocircmico onde este eacute o carro chefe da
138
transformaccedilatildeo do turismo e da sociedade Os elementos de mercado presentes
no documento como as estrateacutegias comerciais a propaganda o marketing a
seleccedilatildeo de espaccedilos marcam uma concepccedilatildeo especiacutefica da poliacutetica puacuteblica
pensada pelo Estado paraense para o turismo As accedilotildees decorrentes dessas
poliacuteticas quando materializadas no espaccedilo tendem agrave mudanccedilas consideraacuteveis
no que diz respeito agrave sociedade Como siacutentese dessas poliacuteticas o PDT-PA traz
um posicionamento que tambeacutem eacute o reflexo do que se pensa sobre o turismo e
desenvolvimento Neste sentido tais poliacuteticas soacute podem se tornar efetivas se
houver o espaccedilo como condiccedilatildeo para esse processo o que garante por assim
dizer que o desenvolvimento da atividade turiacutestica tambeacutem soacute pode ser feito
mediante essa condiccedilatildeo espacial
139
5 CONCLUSOtildeES
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma seacuterie de efeitos e processos que produzem diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida nos usos de recursos nas relaccedilotildees com o ambiente e nas formas poliacuteticas e culturais (David Harvey 2004)
140
No trecho destacado da paacutegina anterior David Harvey procura analisar o
que ele chama de desenvolvimento geograacutefico desigual sendo este uma
proposta alternativa agrave ideacuteia de globalizaccedilatildeo Para Harvey (2004) o processo de
globalizaccedilatildeo do capitalismo atingiu um estaacutegio muito complexo e por isso
mesmo o conceito de globalizaccedilatildeo natildeo daacute mais conta de explicar as recentes
transformaccedilotildees que o mundo estaacute passando Eacute necessaacuterio para ele esboccedilar
um argumento capaz de articular a dialeacutetica das escalas Tais escalas
necessariamente devem estar pensadas entre o micro (que para ele estaacute
representada na figura do corpo humano) e o macro (os processos globais que
ocorrem em todo o planeta) Dessa forma segundo Harvey (2004) as nuanccedilas
soacutecio-espaciais podem se tornar mais claras e a sociedade como um todo natildeo
fica a mercecirc das transformaccedilotildees que o sistema capitalista impotildee no mundo
fazendo com que qualquer mudanccedila natildeo seja tomada de forma acriacutetica
Ainda pode-se afirmar logo de iniacutecio que pensar em poliacuteticas puacuteblicas
de turismo eacute pensar em seus efeitos e processos que produzem as diferenccedilas
geograacuteficas de um lugar Por isso entendido como ponto de discussatildeo central
desse trabalho a anaacutelise de um plano enquanto um documento que une as
possibilidades de transformaccedilatildeo de um lugar requer pensar de forma dialeacutetica
um elemento que iraacute produzir as diferenccedilas geograacuteficas nos modos de vida de
uma sociedade ou em uma cultura como diz Harvey (2004)
Poreacutem deve-se entender que a construccedilatildeo de um plano de turismo
refere-se agrave processos de construccedilatildeo de espaccedilos a partir de uma loacutegica estatal
Ou seja analisar a poliacutetica puacuteblica de turismo eacute antes de tudo relacionaacute-la a
uma ideologia de Estado
Neste caso as transformaccedilotildees mundiais que o turismo de mercado vem
causando em sua grande maioria satildeo fruto de uma relaccedilatildeo com o Estado
pois eacute este uacuteltimo que se torna o principal aliado nas negociaccedilotildees sobre o lazer
a partir do turismo
O alcance dessa relaccedilatildeo eacute tatildeo intensa que os governos ao pensarem no
turismo como elemento integrante de seu sistema de governo produzem
artifiacutecios que possibilitam as grandes empresas hoteleiras as agecircncias de
141
turismo locais os operadores grupos associados entre outros (ou na
linguagem comum de quem trabalha no ramo do trade turiacutestico) a terem mais
acessibilidade a espaccedilos Neste processo atraveacutes de estudos teacutecnicos eacute que
as poliacuteticas puacuteblicas de turismo elaboram documentos necessaacuterios ao avanccedilo
desses agentes no espaccedilo Surgem portanto os planos de turismo como
siacutentese da organizaccedilatildeo das ideacuteias pensadas (arquitetadas) pelo Estado e por
representantes do ramo turiacutestico Como bem lembra Cruz (2001) as poliacuteticas
puacuteblicas natildeo satildeo estrategicamente pensadas de forma adequada pelo Estado
ela pode ficar ao sabor das iniciativas privadas ou ficar agrave revelia delas Nisto
reside portanto os interesses dos agentes privados em fazer com que o
processo de construccedilatildeo de planos de turismo por parte do Estado possa
garantir uma intervenccedilatildeo mais raacutepida
A Amazocircnia sem duacutevida nenhuma nos uacuteltimos tempos tem-se
transformado em um dos espaccedilos privilegiados para a expansatildeo da atividade
turiacutestica Num amplo espaccedilo como este a praacutetica do lazer ganha um
diferencial associado agrave questatildeo de se estar mais proacuteximo de espaccedilos naturais
ou selvagens O exoacutetico da floresta eacute um objeto que devidamente apropriado
pelos promotores de turismo (no sentido de estrateacutegia de mercado) passa a
ser consumido a partir de viagens diferentes dos circuitos tradicionais como as
praias de litoral O encanto da floresta sua suntuosidade exuberacircncia satildeo
elementos muito divulgados em folders ou propagandas em outros mercados
emissores a fim de atrair turistas para a regiatildeo Os estados que compotildeem a
regiatildeo amazocircnica neste caso articulam-se para promover ainda mais esse
novo foco de mercado e tambeacutem possibilidade de geraccedilatildeo de divisas
Ao discutir a importacircncia do plano de Turismo para o Paraacute necessaacuterio
se fez pensar de forma inerente o que se veicula em termos de ideacuteias
estrateacutegias ou modelos de desenvolvimento que satildeo detalhados num
documento como esse Neste caso natildeo basta somente afirmar a ideacuteia de que
o Estado eacute um agente facilitador dos processos de turismo em seu espaccedilo As
ideacuteias estrateacutegias modelos de desenvolvimento estatildeo assim unidos em
concepccedilotildees de turismo espacialidades noccedilotildees de desenvolvimento Sendo
142
assim o PDT-PA mesmos natildeo definindo ou conceituando devidamente
mostra elementos que estatildeo associados a esses criteacuterios
No que diz respeito por exemplo agrave concepccedilatildeo de turismo que eacute
veiculada no plano o documento eacute enfaacutetico ao revelar a importacircncia do Paraacute
como novo espaccedilo a ser convertido em trade Dado o interesse por parte do
plano uma concepccedilatildeo do voltada ao mercado surge nas entrelinhas do
documento sendo esta importante para o desenvolvimento da atividade
Esta concepccedilatildeo permite visualizar o interesse por parte do Estado em
tornar o territoacuterio paraense um potencial turiacutestico ou um grande celeiro de
oportunidade de negoacutecios voltados para o setor Neste sentido elementos
importantes como natureza tornam-se objetos e satildeo valorizados nessa
relaccedilatildeo na qual agentes de mercado do turismo se utilizam de fragmentos dos
espaccedilos naturais principalmente aqueles que demonstram uma beleza cecircnica
com potenciais de mercado A natureza passa a ser objeto de troca de
mercado Eacute o proacuteprio espaccedilo que se torna foco de atenccedilatildeo da construccedilatildeo de
poliacuteticas puacuteblicas Atraveacutes de uma maciccedila propaganda a utilizaccedilatildeo da
paisagem passa a ser o recurso de apoio na venda desses espaccedilos que
entram no circuito da troca (CARLOS 2002) ou na produccedilatildeo da artificialidade
Uma outra ideacuteia que estaacute associada agrave concepccedilatildeo de turismo de
mercado e que por conseguinte o plano de turismo do Paraacute adota baseia-se
no princiacutepio de que o turismo sempre eacute beneacutefico agrave sociedade local e que por
isso mesmo traz em sua bagagem a condiccedilatildeo de melhoria da qualidade de
vida e de novas percepccedilotildees sobre o meio ambiente
Ideacuteias como sustentabilidade ou crescimento sustentaacutevel aparecem nos
primeiros paraacutegrafos do documento poreacutem natildeo satildeo devidamente exploradas
ou sequer conceituadas Isto provoca uma sensaccedilatildeo de que o turismo eacute
panaceacuteia para todos os males (ROCHA 2002) Neste caso o PDT-PA revela-
se fragilizado e reducionista quanto agrave questatildeo do que seja a melhoria da
qualidade de vida e o que seja sustentabilidade soacutecio-ecoloacutegica A ideacuteia de
que o plano fora definido de forma estrateacutegica para garantir a melhoria da
qualidade de vida para a populaccedilatildeo paraense estaacute calcada em princiacutepios
143
exclusivos de cunho mercadoloacutegico Toda essa estrutura estaacute voltada para um
maior incremento da atividade turiacutestica no estado fortalecendo assim uma
concepccedilatildeo muito forte sobre a ideacuteia de mercadificaccedilatildeo dos espaccedilos (SOUZA
2002)
No que diz respeito ao foco das estrateacutegias espaciais adotadas pelo
plano este eacute abrangente e pensa o territoacuterio por completo a partir das meso-
regiotildees internas do Estado O peso dado agrave seleccedilatildeo das regiotildees turiacutesticas faz
com que a transformaccedilatildeo do turismo no Paraacute se decirc de forma totalizante Neste
caso o territoacuterio paraense eacute pensado de forma abrangente a partir dos lugares
(cidades com infra-estrutura) que jaacute tecircm uma preacute-disponibilidade que
congregam os atrativos turiacutesticos necessaacuterios para tornar este lugar em um
potencial turiacutestico
A estrutura feita em poacutelos (Beleacutem Costa Atlacircntica Araguaia Tocantins
Xingu Tapajoacutes e Marajoacute) permite visualizar a possibilidade de valorizaccedilatildeo
desses espaccedilos a partir de suas peculiaridades Permite tambeacutem em uma
dimensatildeo teoacuterico-conceitual maior visualizar uma adaptaccedilatildeo das teorias dos
poacutelos de crescimento de Perroux (1969) Este autor entendia que para uma
economia de um Estado-Naccedilatildeo ou regiatildeo pudesse fluir melhor era necessaacuterio
se fragmentar os espaccedilos em subespaccedilos ou em outras palavras em regiotildees
produtivas que facilitassem o fluxo de mercado esse fluxo era garantindo
acima de tudo pela presenccedila da induacutestria a qual reunia as condiccedilotildees de
transformaccedilatildeo econocircmica de um lugar Isto quer dizer que o PDT-PA a partir
das estrateacutegias espaciais feitas por poacutelos pensa o espaccedilo paraense de forma
racional e de forma que privilegie induacutestrias do turismo inteiramente voltadas
para o mercado Pois nessa situaccedilatildeo o importante eacute dar flexibilidade agraves
empresas que atuam nos espaccedilos privilegiados (PERROUX 1969) natildeo
levando em consideraccedilatildeo ou mencionado outros agentes da economia que
possam integrar o mercado do turismo Percebe-se assim uma maior fluidez
aos agentes do circuito superior da economia (SANTOS 2004)
Nessa situaccedilatildeo cria-se a ilusatildeo de que as sedes das regiotildees poacutelos pelo
fato de reunirem condiccedilotildees preacutevias para um arranque de crescimento
econocircmico possibilitam com que gradativamente as cidades que se localizam
144
ao redor da sede possam ter o tipo de desenvolvimento da atividade turiacutestica
arrolada no centro entendendo-se aiacute que as cidades possam ter a mesma
intensidade de desenvolvimento No plano essa situaccedilatildeo eacute mais clara quando
se faz um diagnoacutestico das potencialidades de cada regiatildeo do estado de
acordo com a geraccedilatildeo de um objetivo pautado na relaccedilatildeo entre produtividade
atratividade gestatildeo e marketing (PARAacute 2001) sempre com o intuito de
garantir a competitividade dos espaccedilos Como um outro elemento que
contempla essa visatildeo de turismo o governo do estado do Paraacute define uma
concepccedilatildeo de turismo e as estrateacutegias espaciais com o intuito ainda maior de
promover um desenvolvimento tanto da atividade enquanto uma perspectiva
setorial como uma perspectiva de cunho soacutecio-econocircmico E neste sentido a
ideacuteia de desenvolvimento baseia-se em uma concepccedilatildeo expliacutecita de
desenvolvimento econocircmico ou que atribui aos ideais econocircmicos as
perspectivas de um mercado global
Nessa situaccedilatildeo dois elementos marcam a proposta de desenvolvimento
descrita no plano de turismo Segundo as ideacuteias de Souza (1997 2000 2001
2004) o que basicamente caracteriza o desenvolvimento do tipo econocircmico eacute
o crescimento econocircmico e a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica Neste sentido a
estrutura do documento mostra-se enveredada para o caminho do
desenvolvimento de mercado assinalando as divisotildees necessaacuterias para se
alcanccedilar as metas previstas pelo Governo do Estado O slogan da
competitividade aparece como elemento norteador nas accedilotildees do documento
principalmente quando em sua proposta a reestruturaccedilatildeo de outros elementos
como marketing gestatildeo produtividade e atratividade devem estar associados a
condiccedilatildeo do que seja o desenvolvimento do turismo no Paraacute e em uma
dimensatildeo mais ampla da sociedade e de seu modo de pensar e agir sobre o
que seja turismo e melhoria da qualidade de vida
Segundo o documento a assertiva do crescimento deve associar-se agrave
questatildeo da sustentabilidade Poreacutem como foi analisado o debate da
sustentabilidade aparece condicionado ou como um apecircndice do mercado Eacute
nesse sentido de fato que o crescimento assume uma postura quantitativa
pois a necessidade de fazer com que o turismo assuma uma responsabilidade
145
de transformaccedilatildeo social eacute aquela em que os indiviacuteduos devem ser estimulados
pelo consumo Sendo assim eacute atraveacutes deste uacuteltimo que a condiccedilatildeo de
melhoria da qualidade de vida viraacute No plano haacute situaccedilotildees que mostram que a
deficiecircncia de produtos turiacutesticos (recursos naturais) deve ser melhorada para
que haja assim o consumo por parte daqueles que conseguem desfrutar do
lazer no estado
Como consequumlecircncia por um lado pelo baixo niacutevel de conhecimento e compreensatildeo turiacutestica do Paraacute no canal de venda e comercializaccedilatildeo e por outro pela debilidade ou inexistecircncia de uma accedilatildeo de comercializaccedilatildeo e promoccedilatildeo sistemaacutetica por parte da induacutestria turiacutestica paraense a niacutevel individual ou coletivo a presenccedila e venda de ofertas de produtos e destinos turiacutesticos paraenses eacute muito reduzida (PARAacute 2001 p 39)
A outra dimensatildeo da perspectiva do desenvolvimento econocircmico a que
Souza (1997 2000 2001 2004) atribui diz respeito agrave modernizaccedilatildeo
tecnoloacutegica E neste ponto o PDT-PA torna-se enfaacutetico ao diagnosticar a infra-
estrutura do estado como precaacuteria e ineficiente aos comandos de uma rede de
serviccedilos turiacutesticos que precisa de uma infra-estrutura baacutesica para funcionar
bem Nas palavras do documento
Sem duacutevida o atraso acumulado e as particularidades fiacutesicas da regiatildeo amazocircnica explicam em boa parte as dificuldades encontradas Entretanto desde a perspectiva de um desenvolvimento turiacutestico equilibrado e competitivo a soluccedilatildeo destes problemas [infra-estrutura e equipamentos baacutesicos] deve ser considerada dentre a primeira linha de prioridade (PARAacute 2001 p 16 grifo nosso)
Percebe-se portanto que nesse ponto para que haja um melhor
rendimento da atividade turiacutestica eacute necessaacuterio que o Estado seja o mediador e
veiacuteculo de construccedilatildeo das infra-estruturas turiacutesticas Neste caso haacute que se
destacar que a construccedilatildeo de infra-estruturas do tipo estradas portos
aeroportos hospitais rede de seguranccedila rede de saneamento e esgoto de
146
cidades com potenciais turiacutesticos natildeo atendem uacutenica e exclusivamente a este
setor pois por sua caracteriacutestica proacutepria o turismo eacute um segmento eacute um setor
das atividades econocircmico-sociais de um Estado e por isso mesmo outras
atividades econocircmicas e sociais se utilizam desses espaccedilos (fixos) que a
esfera estatal realiza em diversos lugares Poreacutem o que se deve afirmar aqui
eacute que pelo fato de que o Governo do Estado dar um privileacutegio maior ao turismo
de massa (aquele concernente ao fluxo global da economia) esses
equipamentos e infra-estruturas estatildeo pensados concebidos articulados e
decididos em primeiro plano para os agentes de classes sociais que podem
circular capital de forma mais raacutepida A dita sociedade local aqui fica em
segundo plano ou possivelmente marginalizada desse processo de melhoria
do espaccedilo o que faz com que o outro lado da moeda ou seja aqueles que natildeo
tecircm condiccedilotildees de usufruir deste tipo de turismo fiquem em uma situaccedilatildeo de
desequiliacutebrio social principalmente no que tange aos requisitos baacutesicos do que
seja a melhor qualidade de vida como educaccedilatildeo sauacutede lazer e diversatildeo
transporte e seguranccedila
Outra ideacuteia eacute aquela baseada em Harvey (2004) de que o planejamento
das formas espaciais natildeo deve dissociar de um conteuacutedo espacial onde as
diversas maneiras de pensar a dimensatildeo do social necessitam de uma
articulaccedilatildeo que focalizem a justiccedila social Harvey (2004) se pergunta como eacute
possiacutevel tornar clara essa articulaccedilatildeo entre as formas espaciais e os
conteuacutedos a fim de criar uma modalidade mais dialeacutetica e que decirc uma
importacircncia consideraacutevel ao espaccedilo Sendo assim um plano de
desenvolvimento de turismo da envergadura do PDT-PA enquanto um
documento que reuacutene possibilidades natildeo soacute de mudanccedilas da atividade
turiacutestica mas de uma dimensatildeo da sociedade pode em todo caso ser um
passo para que as formas espaciais e os processos espaciais estejam em prol
de um projeto social mais justo e solidaacuterio com aqueles que fazem parte do rol
de ideacuteias do desenvolvimento Apropriando-se das ideacuteias de Harvey (2004) o
fechamento ou a possibilidade de se realizar algo concretamente natildeo pode
estar distante nos planejamentos puacuteblicos Do contraacuterio forma-se um hiato
entre o que o Estado pensa em termos de projetos poliacuteticos e a sociedade
147
Neste sentido o PDT-PA constitui-se um plano limitado em sua proposta
para o desenvolvimento ou ainda enquanto um instrumento de mudanccedila
social Em primeiro lugar do ponto de vista econocircmico (que eacute o principal
elemento trabalhado pelo plano) o documento pensa um tipo de economia
voltado para setores da sociedade que reuacutenem condiccedilotildees de estabelecer
consumo de produtos turiacutesticos selecionados e especiacuteficos como eacute o caso de
resorts fluviais (PARAacute 2001 p 73) Nestes espaccedilos consumo eacute seletivo e
por isso mesmo exclui a possibilidade de uma maior interaccedilatildeo com outras
partes do territoacuterio paraense Em segundo lugar como consequumlecircncia do
primeiro a ideacuteia de contato com outras culturas (outras pessoas) em territoacuterio
paraense natildeo se aplica no plano Os espaccedilos pensados pelo documento ao
inveacutes de estabelecerem uma abrangecircncia de trocas sociais estimulam o
confinamento das pessoas que vecircm de fora o que faz com que o turista
conheccedila partes do territoacuterio paraense e natildeo o todo com suas diferenccedilas de
costumes haacutebitos conflitos Haacute portanto uma estandardizaccedilatildeo dos lugares
Tambeacutem existe uma limitaccedilatildeo teoacuterico-conceitual na elaboraccedilatildeo do plano
Por ser um documento muito pragmaacutetico funcionalista (tem a funccedilatildeo de
fornecer dados para o crescimento do turismo no estado) concentra-se em
aspectos caracteriacutesticas estrateacutegias de mercado diagnoacutesticos da realidade
turiacutestica do estado deixando de lado ou ateacute mesmo negligenciando uma
filiaccedilatildeo ideoloacutegica clara dificultando sua identidade teoacuterica
E por fim o plano apresenta ideacuteias muito proacuteximas de um planejamento
estrateacutegico Com a ajuda de oacutergatildeos especializados na promoccedilatildeo (marketing)
dos lugares como eacute o caso da contrataccedilatildeo da THR o Estado pensa o espaccedilo
paraense como um espaccedilo competitivo inspirado sobretudo numa
competiccedilatildeo do tipo empresarial A partir da conscientizaccedilatildeo da mundializaccedilatildeo
da economia e da comunicaccedilatildeo (VAINER 2002 p 76) esses espaccedilos
pretendem ser mais competitivos por isso o espaccedilo aqui eacute condicionado
principalmente por um ritmo econocircmico natildeo assumindo outras feiccedilotildees sociais
Eacute com isso portanto que aqui natildeo se pretende negar qualquer
possibilidade de se praticar turismo ainda mais a partir de ideacuteias que ora satildeo
elaboradas pelos governos mas sim de se pensar que um outro tipo de turismo
148
eacute possiacutevel aquele em que as medidas de mercado natildeo assumam as decisotildees
por completo dessa atividade Aleacutem disso a praacutetica do turismo pode estar de
fato alicerccedilada na condiccedilatildeo de uma praacutetica social acima de tudo
149
REFEREcircNCIAS
150
ANDRADE M Espaccedilo polarizaccedilatildeo e desenvolvimento a teoria dos poacutelos de desenvolvimento e a realidade nordestina 4 ed Satildeo Paulo Grijalbo 1977
ALMEIDA M Fragmentaccedilotildees do espaccedilo brasileiro e as poliacuteticas de turismo In ENCONTRO DE GEOacuteGRAFOS DA AMEacuteRICA LATINA 10 2005 Satildeo Paulo Anais Satildeo Paulo USP 2005 1 CD- rom
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