Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de...
Transcript of Dissertação - Neusa Maria de Andrade - Programa de ... · Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de...
UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO
DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística
Reversa nas Redes de Suprimentos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração.
NEUSA MARIA DE ANDRADE
São Paulo
2017
UNIVERSIDADE PAULISTA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO
DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística
Reversa nas Redes de Suprimentos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Flávio R. Macau
NEUSA MARIA DE ANDRADE
São Paulo
2017
Andrade, Neusa Maria de. Comunidades de prática e ciclos da gestão do conhecimento: resultados da logística reversa nas redes de suprimentos. / Neusa Maria de Andrade. - 2017. 123 f.: il.
Dissertação de Mestrado Apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista, São Paulo, 2017.
Área de concentração: Redes. Orientador: Prof. Dr. Flávio Romero Macau. 1. Ciclo da Gestão do Conhecimento. 2. Comunidades de Prática.
3. Redes de Suprimentos. 4. Logística Reversa. 5. Política Nacional de Resíduos Sólidos I. Macau, Flávio Romero (orientador). II. Título.
NEUSA MARIA DE ANDRADE
COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO
DO CONHECIMENTO: Resultados da Logística
Reversa nas Redes de Suprimentos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção do título de mestre em Administração.
Aprovado em:
Banca Examinadora:
__________________________________________________/___/_____
Orientador: Prof. Dr. Flávio R. Macau
Universidade Paulista – UNIP
__________________________________________________/___/_____
Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblum
Universidade Paulista – UNIP
__________________________________________________/___/_____
Prof. Dr. André Saito
SBGC- Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento
DEDICATÓRIA
Aos meus Mestres
Aos meus pais Celso e Lourdes,
In Memoriam
Aos meus avós Cesário e Ladislau
Pedro Araújo, Marina Galvão, Fernando Siqueira Marques, Zarcy Casagrande
AGRADECIMENTOS
Ao orientador Prof Flávio Macau.
Aos professores da banca examinadora Prof. Dr. Arnaldo Ryngelblun e Prof.
Dr. André Saito.
Aos professores da UNIP: Ernesto Giglio, Renato Telles, Márcio Machado,
Celso Rimoli e João Maurício Boaventura.
Aos amigos da UNIP do Mestrado em Administração.
Aos amigos, secretárias e professores da UNIP do doutorado em Engenharia
de Produção: Pedro Luiz Costa Neto, Oduvaldo Vendrametto, Márcia Terra, João
Gilberto, Rodrigo Franco Gonçalves.
Às famílias Andrade e Araujo e suas redes de conexões que a cada dia nos
enche de alegria, amizade e amor.
Às forças do universo que nos conectam a amigos e companheiros preciosos
na jornada.
EPÍGRAFE
“A little knowledge that acts is worth infinitely more than much knowledge that
is idle.”
“Um pouco de conhecimento em ação vale infinitamente mais do que muito
conhecimento parado.”
Kahlil Gibran (1883-1931)
RESUMO
Comunidades de Prática apresentam-se como oportunidade de estudo enquanto
ambientes e instrumentos para difusão de práticas de Gestão de Conhecimento nas
organizações, que têm suas redes e cadeias de suprimentos afetadas pelas
demandas de uma sociedade mais consciente e um consumidor mais exigente. Os
requisitos de descarte e remanufatura da logística reversa, que no Brasil é
normatizada pela PNRS (lei nº 12.305/10) e traz o conceito de responsabilidade
compartilhada, pode gerar economias e vantagens competitivas, mas exige soluções
integradas entre empresas e sociedade para atender aos parâmetros do
desenvolvimento sustentável. Esse trabalho tem como objetivo investigar resultados
da conversão do conhecimento observados em Comunidades de Prática de
Logística Reversa baseadas nos Ciclos da Gestão do Conhecimento de Dalkir, que
elenca como ocorre a aplicação e a reutilização do conhecimento. A revisão da
literatura está sustentada pelos principais conceitos sobre Comunidades de Prática,
Logística Reversa e Ciclos da Gestão do Conhecimento e contextualizada numa
rede que propicia o intercâmbio de informações e conhecimento entre os membros.
A pesquisa foi realizada na cidade de São Paulo, através de um survey exploratório
e a coleta de dados ocorreu em dez grupos compostos por cooperativas de
reciclagem, fabricantes de insumos, beneficiadoras e especialistas em logística
reversa que formam a rede. Os resultados mostraram que o grupo interage e
compartilha informações que possibilitam a colaboração, o reuso e a aplicação de
conhecimentos que geram novos processos, artefatos, produtos e redes
considerados como evidências para este trabalho.
Palavras-chave: Ciclo da Gestão do Conhecimento. Comunidades de Prática.
Redes de Suprimentos. Logística Reversa. Política Nacional de Resíduos Sólidos.
ABSTRACT
Communities of Practice present themselves as an opportunity to study as
environments and instruments for the dissemination of KM practices in organizations,
which have their networks and supply chains affected by the demands of a more
conscious society and a more demanding consumer. The reverse logistics disposal
and remanufacturing requirements, which in Brazil is regulated by Brazilian´s policy
on solid waste determinate by law No. 12,305/10 and brings the concept of shared
responsibility can generate savings and competitive advantages, but requires
integrated solutions between companies and society to meet the parameters
sustainable development. This work aims to investigate results of the knowledge
conversion observed in Reverse Logistics Practice Communities based on the
Dalkir´s Knowledge Management Cycles that covers how the application and reuse
of knowledge occurs. The review of the literature is supported by the main concepts
on Communities of Practice, Reverse Logistics and Knowledge Management Cycles
and contextualized in a network that fosters the exchange of information and
knowledge among members. The research was carried out in the city of São Paulo,
through an exploratory survey and data collection took place in ten groups composed
of recycling cooperatives, manufactures, beneficiaries and reverse logistics
specialists that form the network. The results showed that the group interacts and
shares information that enables collaboration, reuse and application of knowledge
that generate new processes, artifacts, products and networks considered as
evidence for this work.
Keywords: Knowledge Management Cycle. Communities of Practice. Supply Chain.
Networks. Reverse Logistics. Brazilian Policy on Solid Waste.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Dimensões da conversão do conhecimento ............................................. 25
Figura 2 – A espiral do conhecimento ....................................................................... 27
Figura 3 – A espiral de Ba ......................................................................................... 28
Figura 4 – Gestão do Conhecimento e Negócios ...................................................... 30
Figura 5 – Modelo do Ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir .......................... 36
Figura 6 – Espiral do Ciclo da GC de Dalkir .............................................................. 37
Figura 7 – Inter-relação dos três elementos estruturais das CoP .............................. 44
Figura 8 – Fluxo do descarte consciente de resíduos ............................................... 60
Figura 9 – Características da rede ............................................................................ 81
Figura 10 – Tipo de participação no grupo ou comunidade ...................................... 88
Figura 11 – Conhecimento sobre o tema .................................................................. 89
Figura 12 – Importância do tema Logística Reversa para a sociedade ..................... 89
Figura 13 – Questão 1 – O Tema da LR é amplamente discutido no grupo ou
comunidade? ............................................................................................................. 90
Figura 14 – Questão 2 – A PNRS é amplamente debatida? ..................................... 90
Figura 15 – Questão 3 – A discussão do tema produz resultados práticos? ............. 91
Figura 16 – Questão 4 – O grupo pode ser considerado uma rede que auxilia nas
tarefas diárias? .......................................................................................................... 92
Figura 17 – Questão 5 – O aconselhamento e a troca de experiências facilitam nas
tarefas do dia a dia? .................................................................................................. 93
Figura 18 – Questão 6 – As experiências já se transformaram em soluções? .......... 94
Figura 19 – Questão 7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas na
rede? ......................................................................................................................... 94
Figura 20 – Questão 8 – Novos Integrantes trazem novos interesses e soluções? .. 95
Figura 21 – Questão 9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas
no seu trabalho? ........................................................................................................ 96
Figura 22 – Questão 10 – O grupo facilita que novos processos e políticas sejam
incorporados na rotina? ............................................................................................. 96
Figura 23 – Questão 11 – O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas
maneiras de realizar as tarefas? ............................................................................... 97
Figura 24 – Questão 12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para
facilitar a divulgação das informações para seus membros? .................................... 98
Figura 25 – Questão 13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente
atualizados pelos membros do grupo? ...................................................................... 98
Figura 26 – Questão 14 – A minha experiência profissional já foi ou pode ser
aproveitada no grupo ou comunidade? ..................................................................... 99
Figura 27 – Questão 15 – O grupo ou a rede de CoP já criou novos produtos e
serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na
organização em que trabalho? ................................................................................ 100
Figura 28 – Importância da Logística Reversa para a sociedade............................ 105
Figura 29 – Você concorda com a frase? ................................................................ 105
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Categorias de busca SPELL e SCIELLO ................................................ 21
Tabela 2 – Categorias de busca EBSCO RESEARCH ............................................. 21
Tabela 3 – Cooperativas conveniadas a PMSP ........................................................ 82
Tabela 4 – Materiais encontrados no lixo .................................................................. 83
Tabela 5 – Volumes coletados pela limpeza urbana em São Paulo .......................... 84
Tabela 6 – Responsabilidades pelo recolhimento do lixo .......................................... 86
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – As Oito Dimensões do Conhecimento (Tácito e Explícito) ..................... 25
Quadro 2 – Resumo dos Modelos de Gestão do Conhecimento .............................. 32
Quadro 3 – As principais abordagens sobre Ciclo da Gestão do Conhecimento ...... 33
Quadro 4 – As duas fases do processo no Ciclo de GC de Dalkir ............................ 37
Quadro 5 – Benefícios para os membros da comunidade ........................................ 42
Quadro 6 – Comparação resumida das estruturas de associação ............................ 43
Quadro 7 – Elementos estruturais que caracterizam as CoP .................................... 44
Quadro 8 – Características Comuns das CoP ........................................................... 45
Quadro 9 – Grau de engajamento nas CoP .............................................................. 45
Quadro 10 – As CoP ao longo do tempo nas organizações ...................................... 48
Quadro 11 – Resultados de experiências obtidas com as CoP ................................. 49
Quadro 12 – Vantagens e desvantagens das experiências obtidas com as CoP .... 50
Quadro 13 – Primeiro Ciclo – Indicadores de valor imediato da CoP ........................ 52
Quadro 14 – Segundo Ciclo – Indicadores de capital de conhecimento ou de valor
potencial .................................................................................................................... 53
Quadro 15 – Terceiro Ciclo – Indicadores de conhecimentos aplicados à prática .... 54
Quadro 16 – Quarto Ciclo – Indicadores de valor potencial das CoP ....................... 55
Quadro 17 – Quinto Ciclo – Indicadores de valor que refletem o sucesso ................ 56
Quadro 18 – Evolução da necessidade do desenvolvimento sustentável ................. 61
Quadro 19 – Sistemas de logística reversa em implantação pela PNRS .................. 62
Quadro 20 – Impactos da Lei nº 12.305/10 ............................................................... 63
Quadro 21 – Características do survey ..................................................................... 68
Quadro 22 – Passos para aplicação do survey ......................................................... 68
Quadro 23 – As fases da pesquisa ........................................................................... 69
Quadro 24 – Principais conceitos e autores para elaboração do questionário .......... 71
Quadro 25 – Questões e indicadores de conhecimentos aplicados à prática ........... 73
Quadro 26 – Procedimento da coleta de dados ........................................................ 79
Quadro 27 – Grupos de respondentes ...................................................................... 87
Quadro 28 – Resumo de percentuais das questões 1 a 6 ...................................... 101
Quadro 29 – Resumo de percentuais das questões 7 a 13 .................................... 101
Quadro 30 – Resumo das evidências ..................................................................... 104
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APQC – American Productivity & Quality Center
CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem
CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals
CoP – Comunidade de Prática
CRA – Conselho Regional de Administração
GE.LOG – Grupo de Excelência em Logística Reversa
GC – Gestão do Conhecimento
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
KM – Knowledge Management (Gestão do Conhecimento)
LR – Logística Reversa
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos
SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento
SCC – Supply Chain Council
SCM – Supply Chain Management
SCOR – Supply Chain Operations Reference
SCM – Supply Chain Management
TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15
1.1 Contextualização e problema de pesquisa .................................................... 17
1.2 Justificativa .................................................................................................... 18
1.3 Objetivos ....................................................................................................... 19
1.4 Estrutura do trabalho ..................................................................................... 20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 21
2.1 Revisão bibliográfica ..................................................................................... 21
2.2 Estudos sobre o Conhecimento..................................................................... 24
2.3 Conhecimento Organizacional....................................................................... 26
2.4 A Gestão do Conhecimento .......................................................................... 31
2.5 O Modelo de avaliação da GC de Dalkir ....................................................... 35
2.6 Redes e Comunidades de Prática ................................................................. 38
2.7 Redes de Aprendizado e Conhecimento ....................................................... 40
2.8 Comunidades de Prática ............................................................................... 41
2.9 Comunidades de Prática e resultados para as organizações ........................ 47
2.10 Comunidades de Prática e indicadores dos Ciclos da GC ........................... 50
2.11 Comunidades de Prática de Logística Reversa ............................................ 56
2.12 Logística Reversa e a PNRS ........................................................................ 57
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 65
3.1 Plano metodológico ....................................................................................... 65
3.2 O Método Survey ........................................................................................... 67
3.3 Pré-teste: versão piloto do questionário ........................................................ 70
3.4 O refinamento do questionáro ....................................................................... 72
3.5 Modelo de questionário refinado ................................................................... 74
3.6 Grupos de respondentes ............................................................................... 75
3.7 A Coleta de dados ......................................................................................... 79
3.8 Análise dos dados ......................................................................................... 80
4 RESULTADOS ..................................................................................................... 81
4.1 Contexto e características da rede ................................................................ 81
4.2 Perfil dos respondentes ................................................................................. 86
4.3 Percepção sobre Logística Reversa .............................................................. 88
4.4 Conexões nas redes ou comunidades .......................................................... 91
4.5 Práticas e Aprendizados ................................................................................ 93
4.6 Coleta de evidências ..................................................................................... 99
4.7 Proposições ................................................................................................. 100
5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 107
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 113
APÊNDICE I - CARTA CONVITE ........................................................................... 118
APÊNDICE II - QUESTIONÁRIO PILOTO .............................................................. 119
APÊNDICE III - QUESTIONÁRIO REFINADO ....................................................... 122
15
1 INTRODUÇÃO
As civilizações passam periodicamente por rupturas que tendem a reorganizar
instituições, valores, políticas e estruturas, de modo a afetar os posicionamentos das
organizações e suas respectivas vantagens competitivas, interferindo na maneira
como as mesmas realizam negócios, sendo o conhecimento a ferramenta que
habilita transformar informação eficaz em ação e que se converte em resultados e
produtividade (DRUCKER, 2002).
O modo como observamos e aprendemos se traduz em novos
conhecimentos, conforme Hessen (2000), e esse pensamento mantém coerência
com as novas demandas da sociedade que tem necessidade de buscar soluções
eficazes e atender um consumidor exigente e informado, requisitando cada vez mais
das organizações que os processos sejam eficientes e continuamente melhorados.
O conhecimento reside no indivíduo, para Nonaka, Takeuchi (1997), e no
ambiente organizacional para Davenport, Prusak (1998) pode ser considerado tanto
ativo intangível quanto recurso estratégico, além de vetor para a melhoria da
competitividade empresarial, sendo que transferência e o compartilhamento de
conhecimentos podem transformar empresas, sociedade e a economia.
A Gestão do Conhecimento (GC) segundo Nonaka, Takeuchi (1997) baseia-
se no pressuposto da conjugação entre conhecimentos implícitos (tácitos) e
conhecimentos declarados (explícitos), que ao serem conectados criam um
processo espiral capaz de gerar novas redes de conhecimento capaz de ampliar
tanto horizontes organizacionais, quanto individuais.
A GC propicia ainda a formação de alianças estratégicas, sendo a troca de
informações para aquisição, produção, distribuição, disseminação e
compartilhamento de conhecimentos que permitem gerar benefícios entre eles:
exploração de economias de escala, melhorias de custos de entrada em novos
mercados ou segmentos e diversos diferenciais de competitividade (HUBER, 1991;
DRUCKER, 2002; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; KOGUT, 2000).
A complexidade das transações no mundo moderno é um fator determinante
para as organizações que passaram a operar em rede e não de forma isolada,
segundo Nohria (1992). Novas demandas da sociedade pós-industrial, de acordo
com Gulati (1998), incidem numa intensa necessidade de trocas, compartilhamentos
e alianças para o desenvolvimento conjunto de produtos, serviços e tecnologias.
16
As redes podem ser estudadas por diversos ângulos, aspectos e ou campos
de estudo segundo Sacomano Neto, Truzzi (2004), mas não existe um consenso
sobre as mesmas, que dependentem das condições de formação, intenções,
recursos e estratégias, além de governança, regras de conduta e interações.
Comunidades de Prática (CoP) é um termo utilizado para designar redes ou
grupos informais que têm por essência o uso do conhecimento para promover o
processo de aprendizado a partir de aplicações práticas que aparece nas obras de
Lave, Wenger (1991) e Wenger et al. (2011). As CoP formam-se através de um
domínio de interesse, cujo objetivo e afinidades auto selecionam os participantes a
partir da identificação e de conhecimentos especializados e tem a finalidade de gerar
e trocar conhecimentos de forma duradoura, gerando compromisso e senso de
identificação entre os membros que passam a produzir novos produtos ou serviços
para a comunidade.
A APQC (American Productivity & Quality Center) mostra em recente
pesquisa de 2016, que mais de dois terços das organizações utilizam comunidades
de prática para implantação da GC e diversas empresas como: Xerox, Monsanto,
Accenture, British Petroleum trazem exemplos bem sucedidos de lições aprendidas
a partir de Comunidades de Prática (APQC, 2016; DALKIR, 2005).
Ao inter-relacionar as atividades das Comunidades de Prática (CoP) com as
principais abordagens sobre GC, Dalkir (2005) criou um modelo de avaliação que
permite identificar dentro de uma organização quais são as fontes e respectivos
ciclos de conhecimento, de modo que uma vez que possam ser identificados, podem
ser mensurados, reaplicados e reutilizados.
O modelo do Ciclo da GC de Dalkir (2005) apresenta sete etapas distintas em
duas fases: A primeira compreende aspectos qualitativos e não mensuráveis que
consistem na captura, criação, codificação, compartilhamento e acesso, e a
segunda, com aspectos considerados quantitativos e mensuráveis, que versam
sobre a aplicação e reutilização do conhecimento.
Estes conhecimentos quando aplicados ou reutilizados em determinado
contexto podem ser entendidos como resultados tangíveis, mas isso não ocorre de
forma sequencial e é importante assegurar a retroalimentação e a conversão dos
mesmos em novos produtos, processos, etc. (DALKIR, 2005).
Os conceitos sobre Logística Reversa (LR) apontados por Reis et al. (2015)
mostram que trata-se de um processo estratégico que vai além dos fluxos de
informação capaz de gerar novos conhecimentos imprescindíveis para as
17
organizações e aprendizado no gerenciamento adequado para as demandas dos
clientes. A incorporação da logística reversa nas redes de suprimentos e em suas
cadeias engloba todo o ciclo de vida do produto, incluindo-se, por exemplo, o
descarte, o tratamento dos resíduos, a reutilização, a reciclagem e em alguns casos,
aspectos reversos de devolução que visam atender a novas exigências da
sociedade (REIS et al., 2015; ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).
No Brasil, em virtude da exigência legal ditada pela Lei nº 12.305/10, que
regulamenta a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), empresas de diversos
portes estão sendo requisitadas a implantar a logística reversa em suas operações,
redes de suprimentos e respectiva cadeia produtiva (PNRS, 2010).
O presente estudo visa investigar resultados da conversão do conhecimento
observados em Comunidades de Prática de Logística Reversa, conforme a segunda
fase do modelo proposto por Dalkir (2005) de modo que os mesmos possam ser
aplicados ou reutilizados em determinado segmento ou contexto organizacional.
O método de condução de pesquisa foi realizado através de um survey
exploratório, que segundo Forza (2002) caracteriza-se como adequado quando há a
necessidade de obtenção de informações preliminares sobre um tema que se
encontra ainda em estágio inicial de investigação, de modo que possa fornecer
bases e profundidade para futuros trabalhos.
1.1 Contextualização e problema de pesquisa
Por motivações éticas, como uma sociedade em busca de novos valores e
sustentabilidade, ou por disposições legais, como a Lei nº 12.305/10 (PNRS), as
organizações tendem a se adaptar, seja simplesmente para continuar sobrevivendo,
para alinhar a estratégia com as novas exigências ou para atender melhor seus
clientes, tornando-se mais produtivas e competitivas. Desse modo, buscam novos
conhecimentos e instrumentos capazes de garantir esses resultados, mas segundo
Nonaka, Takeuchi (1997, p. 116), “Em termos restritos, o conhecimento só é criado
por indivíduos, e uma organização não pode criar conhecimento sem indivíduos.”.
Os paradigmas da Sociedade em Rede exigem a criação de novas formas de
atuação das organizações, sendo que as Comunidades de Prática são ambientes
colaborativos e de interação que ajudam seus membros a se conectar, compartilhar
informações e conhecimentos e transformam-se em instrumentos para difusão e
Gestão do Conhecimento.
18
O problema de pesquisa deseja identificar se tais comunidades contribuem
para o desenvolvimento de novos produtos, serviços, processos, e se essas
contribuições práticas e resultados que possam ser evidenciados e utilizados em
determinado segmento ou contexto organizacional.
1.2 Justificativa
O conhecimento representa a base determinante para o comportamento
inteligente, competente do indivíduo, grupo e organizações, mas apenas uma
reflexão consciente das lições aprendidas e melhores práticas permitirá que as
empresas alavanquem esses ativos. Estudos sobre a transição entre “Sociedade de
Consumo” e “Sociedade do Conhecimento” estão presentes na obra de Castells
(2005), que fala do paradigma do uso massivo de comunicações em redes e da
propagação da informação que se transforma em conhecimento, recurso difícil de
capitalizar nas organizações, que conta com alguns instrumentos para ajudar no
gerenciamento, sendo o modelo do Ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir
apropriado para analisar se esses conhecimentos tornam-se novos ativos, recursos
ou processos.
A Sociedade Brasileira da Gestão do Conhecimento (SBGC) diz que as
práticas de GC devem apoiar o negócio para se obtenham resultados mensuráveis e
almejados pelas organizações, mas que novos estudos que interligam a GC com
Comunidades de Prática estão ainda em desenvolvimento. A APQC (American
Productivity & Quality Center) entende que várias empresas já utilizam Comunidades
de Prática (CoP) como instrumentos para implantar a Gestão do Conhecimento, uma
vez que essas agregam pessoas em torno de interesses comuns, especialmente
sobre um assunto ou tema, e tem como principal finalidade a aplicação prática do
aprendizado, a promoção do conhecimento e de responsabilidades no grupo,
através da geração de novos produtos, processos, etc. (SBGC, 2016; APQC, 2016).
As Redes de Suprimentos, pela ótica tradicional, dividem a logística em
atividades primárias (ou chaves) e de suporte (ou apoio), mas Brito et al. (2004) e
Rogers, Tibben-Lembke (1998) mostram que a Logística Reversa (LR) depende de
toda a informação disponível e de forma organizada de modo a assegurar os
controele do processo, que é iniciado quando um cliente declara a necessidade de
devolução de um produto para seu fabricante. O tema da logística reversa, que é
uma exigência legal ditada pela Lei nº 12.305/10 que regulamenta a Política
19
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), proporciona discussões estrategicamente
importantes para as organizações e suas Redes de Suprimentos (PNRS, 2010).
O desenvolvimento de novos conhecimentos está relacionado com a
capacidade da organização de processar essas informações de forma organizada e
uma vez que as relações e fluxos de conhecimentos possam ser vistos, avaliados e,
segundo Dalkir (2005) é possível mudar a gama de comportamentos e com isso
seus respectivos resultados, o que faz das Comunidades de Prática instrumentos
para empresas de diversos portes requisitadas a implantar a logística reversa em
suas operações, a fim de atender à obrigatoriedade da Lei nº 12.305/10 (PNRS).
Este trabalho apresenta as seguintes proposições: Comunidades de prática
de Logística Reversa propiciam a criação e transferência de conhecimentos em suas
redes?; Há evidências sobre experiências da comunidade que foram transformadas
em soluções para a rede?; O tema de domínio logística reversa é fonte de
informação e conhecimento e interesse dos membros da comunidade?; A Política
Nacional de Resíduos Sólidos proporciona discussões estratégicas para a
comunidade e respectiva rede?
O tema justifica-se como oportunidade de estudo, uma vez que as CoP
tornam-se ambientes para difusão de práticas de GC. A proposta é apresentar os
principais conceitos sobre Comunidades de Prática, Logística Reversa e ciclos de
Gestão do Conhecimento (GC) e evidenciar se houve a conversão de
conhecimentos em novos artefatos, processos, iniciativas e negócios nos grupos
pesquisados.
1.3 Objetivos
Este trabalho tem como objetivo geral investigar resultados da conversão do
conhecimento observados em Comunidades de Prática de Logística Reversa e tem
como objetivos específicos:
1. Apresentar conceitos sobre Comunidades de Prática.
2. Apresentar conceitos de Logística Reversa.
3. Apresentar os ciclos de Gestão do Conhecimento.
4. Inter-relacionar os conceitos CoP e GC, LR e PNRS.
5. Identificar contribuições da GC para as CoP.
6. Apontar a influência da Lei nº 12.305/10 nos resultados e soluções.
20
1.4 Estrutura do trabalho
O primeiro capítulo é formado pela introdução, que apresenta as premissas
que sustentam a pesquisa, os objetivos do estudo, o problema e a justificativa. O
capítulo seguinte traz a fundamentação teórica que trata da Gestão do
Conhecimento e apresenta os temas tratados e respectivos autores, além de uma
breve visão sobre a inter-relação entre Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) e Logística Reversa no Brasil que contextualiza como essa lei rege e gera
responsbilidade compartilhada na gestão de resíduos. O capítulo 3 descreve o
método e as etapas de realização da pesquisa, que utilizou a aplicação de um
survey piloto que foi refinado a fim de atingir os objetivos propostos. O capítulo 4
contextualiza a rede e os grupos que formam a comunidade e apresenta os
resultados de acordo com as proposições. O capítulo 5 apresenta a conclusão, as
limitações do estudo e recomendações para futuras pesquisas. O último capítulo
mostra as referências utilizadas.
21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Revisão bibliográfica
Este capítulo apresenta os estudos e abordagens que dão sustentação
teórica à pesquisa e tem por objetivo mostrar as teorias e autores que se conectam
ao longo do trabalho.
A tabela 1 mostra os resultados obtidos do passo inicial de busca desses
trabalhos, tanto pelos títulos quanto pela indexação das palavras-chaves e
combinação dos termos compostos, realizada nos portais Scielo e Spell, que são
reconhecidos no Brasil como fontes de dados para artigos científicos. As respostas
foram tabuladas em 06 de abril de 2016 e a pesquisa foi realizada somente com
palavras em língua portuguesa.
Tabela 1 – Categorias de busca SPELL e SCIELLO
Categorias de busca Resultados totais
no Spell
Resultados
totais no Scielo
Logística Reversa 41 38
Comunidades de Prática 19 193
Gestão do Conhecimento 191 851
Logística Reversa + Comunidades de Prática 0 0
Logística Reversa + Gestão do Conhecimento 0 0
Fonte: Elaboração da autora.
As buscas realizadas no Ebsco Research também ocorreram no dia 06 de
abril de 2016, com os mesmos critérios anteriores, sendo que os termos compostos
foram colocados entre aspas. O resultado está listado na tabela 2.
Tabela 2 – Categorias de busca EBSCO RESEARCH
Categoria de busca Resultados
Reverse Logistics 2.227
Knowledge Management 80.665
Communities of practice 14.788
Reverse Logistics + Knowledge Management 5
Communities of practice + Reverse Logistics 0
Fonte: Elaboração da autora.
22
A revisão da pesquisa foi realizada através de uma nova busca repetida nos
mesmos portais em 06 de janeiro de 2017, retornando valores similares aos
apresentados nas tabelas 1 e 2 da combinação das palavras-chaves: Logística
Reversa + Gestão do Conhecimento, Logística Reversa + Comunidades de Prática
(Scielo, Spell) e Reverse Logistics + Knowledge Management, Communities of
practice + Reverse Logistics (Ebsco), com exceção de um único artigo de 2015
apontando a combinação de Logística Reversa e Gestão do Conhecimento, mas
tratava-se de uma pesquisa sobre o conhecimento da importância do descarte de
materiais perigosos e seus impactos no meio-ambiente, realizada no distrito de São
Luiz, Canoas, no Rio Grande do Sul, o qual não resultou em novas contribuições.
A primeira verificação dos termos indicou também que os conceitos
pesquisados apresentavam teorias e nomenclaturas variadas sobre Gestão do
Conhecimento (GC), sendo que a escolha dos autores adotados teve como
finalidade atender aos objetivos do trabalho.
A conceituação de Comunidades de Prática (CoP) é dada por Wenger (1998),
que diz que as mesmas são redes e não simplesmente equipes de trabalho, e
formam-se por interesses e afinidades entre os membros em torno de um tema de
domínio comum com o objetivo de gerar e trocar conhecimentos de forma prática.
Segundo Wenger (2011) esses arranjos estão fundamentados em quatro
pilares: 1) a identidade, que traz o significado e traduz a capacidade para encontrar
sentido; 2) a prática social, que exprime a vivência partilhada de recursos e as
perspectivas dos indivíduos participantes; 3) a formação da comunidade e 4) o
reconhecimento da legitimidade da participação dos membros.
Os aspectos da criação e difusão do conhecimento foram colhidos a partir de
Nonaka, Takeuchi (2008) e o conhecimento organizacional a partir de Davenport,
Prusak (1998), no qual se encontra o conhecimento enquanto subsídio para a
melhoria do capital intelectual que contribui para melhoria da competitividade.
A interação contínua e dinâmica entre conhecimento tácito e explícito
apresentada por Nonaka, Takeuchi (1997) é utilizada para ilustrar os aspectos da
GC e a criação do conhecimento organizacional como a capacidade que uma
organização tem de criar, disseminar e incorporar conhecimento a produtos,
serviços, sistemas, etc.
O conceito de Ba de Nonaka, Takeuchi (2008), enquanto contexto
compartilhado se inter-relaciona com Wenger et al. (2002) que elencam como
23
componentes estruturais das Comunidades de Prática: o domínio, a comunidade e a
prática.
O Ciclo da Gestão do Conhecimento nas Comunidades de Prática está
fundamentado na teoria de Dalkir (2005) que diz que esse processo passa pelas
etapas de criação e captura, contextualização, compartilhamento e disseminação,
aquisição e aplicação, avaliação, atualização e reutilização de conhecimento.
Os conceitos sobre logística são apontados por Reis et al. (2015, p. 141) e
também em Slack et al. (2002), Brito et al. (2004) como um processo de
gerenciamento estratégico, do transporte à armazenagem, que depende dos fluxos
de informação a ele relacionados, cujo conhecimento é fundamental para melhoria
do atendimento e redução de custos nas empresas.
As definições de Logística Reversa (LR) estão em Brito et al. (2004), Rogers,
Tibben-Lembke (1998), Lambert (2008) e basicamente referem-se ao controle de
entradas e processo iniciado quando um cliente declara a necessidade de devolução
de um produto. Leite (2003) trata a LR como um ciclo produtivo e de negócios, com
o retorno de bens de pós-venda e pós-consumo, de forma a agregar as
organizações valores de imagem, econômicos, legais, etc.
As características das Redes de Suprimentos e sua cadeia são vistas a partir
de Lambert (2008) e a definição será a do Council of Supply Chain Management
Professionals (CSCMP) citado por Reis et al. (2015, p. 28) “uma cadeia de
suprimentos é representada por uma série de agentes interligados por uma
operação logística que tem a finalidade de entregar um produto que tenha valor
perante o consumidor final”. E por Kogut (2000) que destaca sete pontos que
cooperam para melhorar a competitividade:
1) Interconectividade: dispositivo de conexão que forma grupos e estruturas
mais complexas, os quais criam redes.
2) Interdependência: necessidade de dependência recíproca para enfrentar
desafios com a finalidade de auxílio mútuo entre as partes.
3) Fluxo rápido: presença de alto tráfego e volume de informações.
4) Tempo curto de resposta: que visa atender a um consumidor cada vez
mais exigente.
5) Flexibilidade de produção: variabilidade das saídas e uso de tecnologias
para atender ao processo produtivo.
24
6) Uso do conhecimento coletivo: que visa tornar os recursos cada vez mais
competentes e eficazes na solução dos problemas.
7) Compartilhamento e trocas significativas: contempla a capacidade de se
criar, trocar e disseminar dados e informações.
2.2 Estudos sobre o Conhecimento
A obra An essay concerning human understanding, de John Locke, em 1690
tratou de questões referentes à origem e essência do conhecimento, que mais tarde
foram abordadas por Hessen (2000) e Davenport, Prusak (1998), os quais dizem
que o conhecimento é uma mistura fluida, que combina informações, insights,
valores e experiências, e permite incorporar e avaliar novas experiências, num ciclo
contínuo.
No século XVI, surgiu uma linha de pensamento que deu origem à
investigação racional que se propunha a encontrar conhecimento embasado em
dados, de acordo com as leis da natureza, de modo que pudesse ser confrontado
com a realidade (HESSEN, 2000).
O conhecimento pode ser classificado em duas frentes distintas: como
explícito, quando está declarado, podendo ser articulado na linguagem formal, por
meio de expressões matemáticas, linguagem, manuais, internet, filmes, etc. e como
tácito, quando é difícil de ser formalmente expressado ou exteriorizado, possui baixa
ou nenhuma documentação ou registro, sendo que esse segundo tipo é incorporado
à experiência individual e envolve fatores intangíveis como: crenças, perspectivas e
sistemas de valores (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).
Nonaka, Takeuchi (2008) afirmam que existem diferenças básicas entre o
pensamento japonês e o ocidental sobre o conhecimento, sendo que os orientais
consideram que sua criação não ocorre a partir de um processo sequencial, mas
depende de uma interação contínua e dinâmica entre conhecimento tácito e explícito
ao longo do tempo e de quatro fatores: externalização, combinação, internalização e
socialização, que formam uma espiral, conforme ilustra a figura 1, a seguir.
25
Figura 1 – Dimensões da conversão do conhecimento
Fonte: Nonaka, Takeuchi (1997).
O conhecimento só pode ser criado por indivíduos, mas para se transformar o
conhecimento tácito (pessoal e informal) em conhecimento explícito (formal e
sistemático) são necessárias metodologias, tecnologias e estruturas capazes de
captar, atualizar e transferir o conhecimento que segundo Nonaka, Takeuchi (1997),
ocorre em oito dimensões, conforme quadro 1.
Quadro 1 – As Oito Dimensões do Conhecimento (Tácito e Explícito)
CONHECIMENTO TÁCITO CONHECIMENTO EXPLÍCITO
Simultâneo e análogo. Difícil de ser codificado. Sequencial. Classificado em documentos,
práticas e treinamentos.
Subjetivo, intuição e palpites (enraizado na ação).
Armazenado em rotinas, práticas e
procedimentos.
Objetivo. Pode ser facilmente expressado por
palavras e números.
Não pode ser totalmente comunicado, mas
apenas percebido.
Codificado e estruturado, transmissível em
linguagem formal e sistemática.
Talentos, habilidades e experiências acumuladas. Racional, agregado facilmente por dedução
lógica ou estudo formal.
Fonte: Adaptado de Nonaka, Takeuchi (1997).
Os conhecimentos tácitos e explícitos são indissociáveis, ou seja, para que
haja criação e transferência de conhecimento é necessário que haja interação entre
essas duas formas, e também entre o indivíduo e o ambiente. Nonaka, Takeuchi
(2008) definem isso como conversão do conhecimento e afirmam que a Gestão do
26
Conhecimento abrange dados, informações e conhecimento e aborda formas tácitas
e explícitas dos mesmos (NONAKA; TAKEUCHI, 2008).
É importante notar que nos dias atuais a Sociedade faz uso massivo da
combinação de dados e informações. Dados, enquanto elementos diretamente
observáveis ou verificáveis e conhecimento, como informação interpretada,
categorizada, aplicada e revisada, sendo a análise dessas informações que
produzem o conhecimento.
O conhecimento então necessariamente passa pela interpretação de dados
que se convertem em informações, as quais são somadas a experiências e
conduzem a tomada de decisão. Por exemplo: a razão da escolha de um filme pode
ser derivada da combinação de vários dados (ator, tema, mensagem), a escolha do
cinema pode ser pelo horário, localização, etc., e a decisão de ir àquele cinema
naquele horário e utilizar o metrô, pode se dar pela experiência anterior (não
necessariamente do mesmo agente), de que não é possível encontrar lugar para se
estacionar no local (HESSEN, 2000; DALKIR 2005).
O conhecimento tácito reside “apenas na cabeça das pessoas” e é derivado
de experiências pessoais, por isso é difícil de ser articulado e até mesmo de ser
traduzido em palavras e gráficos, o que contrasta com o conhecimento explícito, que
pode ser capturado em imagens, gravações e documentos diversos (DALKIR, 2005).
O conhecimento pode ser considerado como ativo intangível que se tornou
fundamental para o desenvolvimento da economia e da sociedade. A importância do
processo de transferência e circulação do conhecimento é um atributo capaz de
produzir inovação intensiva, desse modo, a Gestão do Conhecimento passa a ter
importante papel para as organizações e se constitui como ferramenta para o
incremento da pesquisa e inovação, especialmente no contexto de intercâmbio de
informações e redes de empresas (GUECHTOULI et al., 2013).
2.3 Conhecimento Organizacional
Se quiserem sobreviver ou ganhar competitividade, as empresas precisam se
adaptar e se ajustar de algum modo, e para isso devem considerar suas bases de
conhecimento e seu modelo de aquisição e tratamento do conhecimento emergente
como estratégia de valor, a fim de maximizar a eficiência e a eficácia em toda a
organização (SBGC, 2016).
27
Historicamente foi o sucesso das inovações das empresas japonesas o fator-
chave que levou Nonaka, Takeuchi (1997) a pensar e criar o modelo em espiral e
suas estratégias de captura e codificação do conhecimento. Os autores então
identificaram quatro processos de conversão do conhecimento:
1) Socialização: De conhecimento tácito para conhecimento tácito.
2) Exteriorização: De conhecimento tácito para conhecimento explícito.
3) Combinação: De conhecimento explícito para conhecimento explícito.
4) Interiorização: De conhecimento explícito para conhecimento tácito.
A espiral do conhecimento (figura 2) inicia-se no nível individual e vai
ascendendo e ampliando a interação que cruza fronteiras entre pessoas, seções,
divisões, organizações, transformando-se numa rede de conhecimentos
entrelaçados em níveis ontológicos superiores que se transformam. Nessa rede, a
interação entre conhecimento tácito e conhecimento explícito terá uma escala cada
vez maior.
Figura 2 – A espiral do conhecimento
Fonte: Nonaka, Takeuchi (1997).
O conhecimento humano é criado e expandido através da interação social
entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito, sendo o conhecimento tácito
mobilizado e ampliado organizacionalmente através dos quatro modos de conversão
28
No entanto, “uma organização não pode criar por si só conhecimento” (NONAKA;
TAKEUCHI, 1997, p. 82).
O conceito de lugar que dá significado ao conhecimento foi denominado por
Nonaka, Takeuchi (2008) como Ba, ou seja, um contexto compartilhado em
movimento que cria e utiliza o conhecimento dos indivíduos, conforme mostra a
figura 3. O Ba deve ser entendido como interações que ocorrem em determinado
lugar e como uma organização não é capaz de criar conhecimento sem os
indivíduos, ela pode ser vista como uma configuração orgânica de vários Ba.
Figura 3 – A espiral de Ba
Fonte: Nonaka, Takeuchi (2008).
O conhecimento pode ser considerado um recurso intangível para as
organizações, sendo que o conhecimento individual complementa o conhecimento
organizacional tornando-o mais forte e amplia a base do repositório organizacional,
através de habilidades, competências, pensamentos, ideias, além de criar inovações
(NONAKA; TAKEUCHI, 2008; PRAHALAD; HAMEL, 1997).
O conhecimento empresarial para Davenport, Prusak (1998) refere-se a como
as organizações gerenciam seu capital intelectual e tratam da criação do
conhecimento, que ocorre em três níveis: individual, no grupo e organizacional.
Prahalad, Hamel (1990) afirmam que uma organização não pode tornar-se
competitiva sem indivíduos. Dutra (2011) diz que as pessoas, ao desenvolverem
29
suas próprias capacidades, transferem para a organização seu aprendizado, e
desse modo ganham condições para enfrentar novos desafios.
Se por um lado temos as organizações, com um conjunto próprio de
competências e patrimônio de conhecimento, por outro lado temos as pessoas, que
interagem de forma ininterrupta, formando-se a espiral de conhecimento, da qual as
organizações não podem prescindir (DUTRA, 2001; NONAKA; TAKEUCHI, 1997;
PRAHALAD; HAMEL, 1990).
Na década de 1990, a principal preocupação do empresariado concentrava-se
principalmente em qualidade e produtividade, mas o foco deslocou-se para um
padrão mais sustentável incluindo-se a GC como instrumento para enfrentar novos
desafios. A necessidade das organizações de criarem vantagens competitivas,
compreender e atender novas exigências da sociedade mostra que cada vez mais
as empresas dependem da transformação do conhecimento individual em
conhecimento normativo organizacional (FRANCO, 2008).
A GC enquanto mobilização sistemática do conhecimento incorpora cinco
atividades principais: identificação, criação, armazenamento, compartilhamento e
aplicação do conhecimento, numa forma espiral (NONAKA; TAKEUCHI, 1997;
DAVENPORT; PRUSAK, 1998; WENGER et al., 2002).
A Gestão do Conhecimento (GC) é um ativo que propicia também a formação
de alianças estratégicas e troca de informações entre parceiros. Quando os atores
das organizações participam das etapas de aquisição, produção, distribuição,
disseminação e compartilhamento do conhecimento isso permite criar benefícios
como: exploração de economias de escala; melhoria de custos de entrada em novos
mercados ou segmentos e diferenciais de competitividade (HUBER, 1991;
WENGER, 2002).
O enfoque na gestão do conhecimento leva a empresa a rever suas
estratégias, sua estrutura e seus valores e promove diferencial competitivo ao
valorizar e utilizar estrategicamente ativos intangíveis como o conhecimento
individual e organizacional (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; NONAKA; TAKEUCHI,
2008):
À medida que as companhias buscam novas formas de alavancar seus recursos para ganhar mais vantagens competitivas, a consciência de que o conhecimento que existe dentro de uma empresa é um de seus recursos mais importantes tem aumentado (NONAKA; TAKEUCHI, 1994).
30
Os conceitos base da Gestão do Conhecimento presentes nos trabalhos de
pesquisadores como Nonaka, Takeuchi (1997) e Davenport, Prusak (1998)
trouxeram grande impulso para as organizações ao enfatizarem a importância do
conhecimento como elemento para o desenvolvimento e a competitividade, gerando
valor agregado a produtos, serviços e processos (SBGC, 2016).
Entre os benefícios das boas práticas de Gestão do Conhecimento estão:
aumento da produtividade, lucratividade, desenvolvimento de competências
individuais e organizacionais, melhoria de processos, solução de problemas e
inovação (SBGC, 2016).
No encontro SBGC, que discutiu o tema da maturidade em Gestão do
Conhecimento, realizado em 25 de agosto de 2016, em São Paulo, o tema da GC foi
apresentado como uma área de estudo cujos conceitos, métodos e práticas ainda
estão em evolução. Postulou-se que um dos desafios das empresas está em “aplicar
a gestão do conhecimento de forma alinhada aos negócios" a fim de gerar
resultados sempre incrementais, confome figura 4.
Figura 4 – Gestão do Conhecimento e Negócios
Fonte: SBGC (2016).
31
2.4 A Gestão do Conhecimento
Drucker (2002) cunhou o termo trabalhador do conhecimento e Nonaka,
Takeuchi (1997) apontaram a correlação entre competitividade das empresas e
ativos de conhecimento e são trabalhos e autores que também balizam a criação de
uma disciplina chamada Gestão do Conhecimento (GC).
Baseadas no capital intelectual e do conjunto de conhecimentos existentes
nos indivíduos que auxiliam as organizações, as práticas de GC surgiram na década
de 1990, inicialmente como modelo gerencial para empresas que visavam
desenvolver produtos e serviços inovadores em busca de vantagens competitivas
(NONAKA; TAKEUCHI, 2008).
O modelo de Gestão do Conhecimento de Nonaka, Takeuchi (1995) centra-se
em espirais de conhecimento que explicam a transformação do conhecimento tácito
em conhecimento explícito e, em seguida, transformam-se novamente como base
para o indivíduo, grupo e inovação organizacional.
Cada etapa dos principais processos de GC que contemplam descrições
detalhadas permitirá identificar e localizar as principais fontes de conhecimento
dentro das empresas, de modo que o conhecimento possa ser recriado e validado
por meio de experiências reais (DALKIR, 2005).
A GC deve passar por cinco fases ou processos, segundo Dalkir (2005), que
vão desde obtenção ou criação do conhecimento (e ocorre por meio de projetos,
experimentação, raciocínio, contratação de pessoas, etc.); análise (que trata da
seleção de temas e conceitos para aprofundamento); síntese ou reconstrução
(capacidade de gerar hipóteses); codificação e modelagem (que implica num modelo
coerente para futuras pesquisas) até a formação de repositório (que pressupõe que
o armazenamento seja corretamente documentado em livros, manuais, etc.).
Huber apud Macau (2010) apresenta a gestão do conhecimento
organizacional como: aquisição de conhecimento, distribuição e interpretação de
informações, além de memória organizacional. O autor afirma que a capacidade de
uma empresa de processar informações está relacionada ao desenvolvimento do
conhecimento, mudando a sua gama de comportamentos possíveis, resultando em
uma ampla gama de opções para atuar através de processos que são
frequentemente interpessoais ou sociais. No entanto, é importante ressaltar que
existem diversos e variados modelos de GC, conforme mostrado no quadro 2.
32
Quadro 2 – Resumo dos Modelos de Gestão do Conhecimento
AUTOR MODELOS DE GESTAO DO CONHECIMENTO
Beer (1981); Bennet e Bennet (2004)
Partem do pressuposto de que a organização é um sistema inteligente complexo e adaptativo, tratando-a como uma entidade viva. A gestão do conhecimento está relacionada à criatividade, resolução de problemas, tomada de decisão e implementação.
Wiig (1993) Sense-making – parte do princípio de que para o conhecimento ser útil e valioso precisa estar organizado; desta forma, o foco está na definição de diferentes níveis de internalização do conhecimento.
Nonaka, Takeuchi (1995)
SECI – baseia-se na crença de que conhecimento (tácito e explícito) pode ser codificado, armazenado e transmitido e de que a criação do conhecimento não se dá por um processo linear, sendo dependente de contínua interação entre conhecimento tácito e explícito. Segundo os autores, a gestão do conhecimento se desenvolve por meio de: socialização, externalização, compartilhamento e internalização do conhecimento.
Von Krogh e Roos (1995)
Fazem a distinção entre conhecimento individual e conhecimento social, trazendo uma visão epistemológica da gestão do conhecimento.
Choo (1998) Tem como foco a relação entre os elementos da informação e a efetividade na tomada de decisão.
Boisot (1998) I-Space – é baseado no conceito de "boa informação", de bens de informação que são altamente dependentes dos seus receptores e emissores num processo de comunicação. O compartilhamento de conhecimento exige que remetentes e receptores estejam integrados em um contexto comum sob um esquema de codificação da informação. Os dados são compreendidos por meio da relação entre receptores e emissores via processos de codificação e abstração.
Heisig (2001) O modelo é composto de quatro processos: criação, armazenamento, distribuição e aplicação.
McElroy (2002) O conhecimento existe apenas depois de ser produzido e depois disso pode ser capturado, classificado e compartilhado. Divide a criação do conhecimento em dois grandes processos: produção do conhecimento e integração do conhecimento. Introduz dois novos conceitos: o lado da demanda e o lado do fornecimento.
Probst, Raub e Romhart (2002)
A gestão do conhecimento é dinâmica em constante evolução. Envolve oito componentes que formam dois ciclos, um interno e outro externo. O ciclo interno é composto pelas etapas de: identificação, aquisição, desenvolvimento, distribuição, utilização e preservação. Existindo dois outros processos no ciclo externo que fornecem a direção para todo o ciclo de vida da gestão do conhecimento: os alvos do conhecimento e a avaliação do conhecimento.
Fonte: Sohn et al. (2014).
A GC também pode ser entendida como método de mobilização do
conhecimento com a finalidade de alcançar objetivos estratégicos e melhorar o
desempenho da organização por meio da interação e integração de pessoas,
tecnologia e processos, de forma a criar, compartilhar e aplicar conhecimento de
maneira sistemática e integrada para alcançar resultados pretendidos, além de
aumentar a capacidade de conhecimento coletivo dos indivíduos, equipes e de toda
a organização, sendo que algumas das principais abordagens que dissertam sobre
33
ciclos da GC estão resumidamente descritas no quadro 3 (BATISTA, 2012;
NONAKA; TAKEUCHI, 2008; DALKIR, 2005).
Quadro 3 – As principais abordagens sobre Ciclo da Gestão do Conhecimento
Fonte: Adaptado de Batista (2012); Evans et al. (2015).
Wiig (1993) apud Evans at al (2015, p. 14) foi o primeiro a falar da
necessidade de um modelo prático para GC, sendo que os autores dizem que o
conhecimento é "um dos conceitos mais nebulosos e difíceis encontrados nos
esforços pragmáticos para a realização de negócios”.
O modelo de Wiig (1993) está baseado no princípio de que, para que o
conhecimento seja útil e valioso deve ser organizado, e isso pode ser feito por meio
de formulários, por exemplo (DALKIR, 2005).
Os estudos de Wiig (1993) pontuam que a construção do conhecimento passa
pelo aprender com a experiência pessoal, com a educação formal, o treinamento, os
meios de comunicação, livros, pares, etc., que se tornam instrumentos para o
CICLOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO Principais Abordagens
AUTOR (A) OBRA ANO CONSTRUTOS
WIIG Knowledge management foundations: Thinking about thinking. How people and organizations create, represent and use knowledge
1993 Desenvolver, reter, compartilhar e usar. A construção do conhecimento pressupõe aprender com a experiência pessoal, com a educação formal e treinamento; fontes de inteligência, meios de comunicação, livros e pares.
MEYER e ZACK
The design and development of information products
1996 Focam mais aspectos da arquitetura de produtos e ferramentas de informação. Aquisição / Repositório de pesquisa / Resultados. Fontes / Refinamento / Armazenamento / Distribuição / Apresentação.
BUKOWITZ WILLIAMS
Manual de Gestão do Conhecimento: Ferramentas e Técnicas que criam valor para a empresa
2002 Processos Táticos: obtenha, utilize, aprenda e contribua. Processos Estratégicos: avalie, construa, mantenha e descarte.
McELROY The new knowledge management: Complexity, learning, and sustainable innovation
2003 Aprendizagem individual e coletiva. Formulação de asserções de conhecimento. Aquisição da informação. Validação do conhecimento. Integração do conhecimento.
34
armazenamento, uso e intercâmbio do conhecimento. E tanto a retenção quanto o
compartilhamento permitem sua reutilização de diversas maneiras, de acordo com o
contexto e finalidade, levam a novos desenvolvimentos (DALKIR, 2005; BATISTA,
2012; EVANS et al., 2015).
Meyer e Zack (1996) apud Dalkir (2005) falam que a ênfase da GC deve se
concentrar nos aspectos inerentes à arquitetura de produtos, ferramentas de busca,
informação, aquisição, repositórios, fontes de refinamento, armazenamento,
distribuição e apresentação de resultados.
Os processos táticos e estratégicos estão descritos na obra de Bukowitz e
Williams (2002) que estruturam a GC como: os processos táticos decompostos em:
obtenção, utilização, aprendizagem e contribuição, e os processos estratégicos
decompostos em: avaliação, construção, manutenção e descarte (DALKIR, 2005).
Aspectos complexos da aprendizagem individual e coletiva são tratados por
McElroy (2003), que fala sobre formulações, processos de aquisição e validação da
informação, e de que modo se transformam em novos conhecimentos que passam a
integrar as experiências (DALKIR, 2005).
O modelo de Von Krogh e Roos (1995) adota uma abordagem de
epistemologia organizacional que enfatiza que o conhecimento reside tanto na
mente dos indivíduos quanto nas relações que se formam com outras pessoas.
Choo e Weick (1998) adotaram uma abordagem que se concentra em como
os elementos de informação são alimentados em ações organizacionais, criando
conhecimento que ajude nas tomadas de decisão. Dalkir (2005) indica que o modelo
proposto por Choo (1998) é um dos mais viáveis e realísticos encontrados na
literatura e tem como ponto forte o tratamento das etapas do ciclo de vida da gestão
do conhecimento e sua influência na tomada de decisão organizacional para o
desenvolvimento de estratégias.
O entendimento de que uma organização funciona e depende de sistemas
inteligentes, adaptativos e complexos de Beer (1981), Bennet e Bennet (2004) é
particularmente adequado e parte do pressuposto de que uma empresa é uma
entidade viva e a gestão do conhecimento estaria relacionada à criatividade para
auxiliar na resolução de problemas, tomadas de decisão e implementação de
soluções.
O conhecimento pode estar tanto na cabeça dos indivíduos, quanto
armazenado em um banco de dados segundo Dalkir (2005) que diz que o mesmo
35
deve ser visto como base para originar novas reivindicações e resultar em novos
ciclos como condição para as organizações conduzirem seus negócios, mas isso
depende de que a empresa disponha de estrutura que contemple produtos e ou
serviços, clientes, recursos, pessoas, capital, estrutura e instalações.
O aprofundamento da autora nas abordagens de Wiig (1993), Bukowitz e
Williams (2000), McElroy (2003), Meyer e Zack (1996), segundo Batista (2012),
permitiu a formulação de um modelo bem sucedido de avaliação para os Ciclos da
Gestão do Conhecimento.
2.5 O Modelo de avaliação da GC de Dalkir
Os principais modelos teóricos de GC enfatizam que os mesmos podem
ajudar as organizações a encontrar uma fórmula ou roteiro válido para que a gestão
do conhecimento consiga produzir artefatos de acordo com objetivos estratégicos
dos negócios, ainda que só parcialmente (BATISTA, 2012).
Um programa sustentável de GC tem como elementos-chave a gestão
eficiente e efetiva de memória organizacional, além de papéis e responsabilidades
bem definidos. Um modelo coerente de processos, baseado no conhecimento, é
crucial para a GC, sendo que modelos ajudam a juntar as diferentes peças de um
quebra-cabeça levando a uma melhor compreensão de todo o panorama, que não
ocorre de forma sequencial, e por isso é importante assegurar que o conhecimento
seja sustentado, mas é preciso atualizá-lo e retroalimentá-lo de forma permanente,
gerando assim novos conhecimentos, produtos, processos, etc. (DALKIR, 2005).
Os modelos de GC selecionados por Dalkir (2005) consideram uma
abordagem que leva em consideração pessoas, processos, organização e
tecnologia, além de literatura amplamente criticada e discutida por profissionais,
acadêmicos e pesquisadores, bem como testes de campo que trazem confiabilidade
e validade.
O modelo de avaliação dos Ciclos da Gestão do Conhecimento de Dalkir
(2005) visa à identificação de novos conhecimentos considerados como resultados
tangíveis reaplicados de acordo com contexto e finalidade. O desenvolvimento do
conhecimento se relaciona com a capacidade da organização de processar
informações, mudando a gama de comportamentos possíveis e com isso seus
respectivos resultados, que passam pelas etapas de criação, captura,
36
contextualização, compartilhamento e disseminação, aquisição e aplicação,
avaliação, atualização e reutilização, conforme apresentado na figura 5.
Figura 5 – Modelo do Ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir
Fonte: Dalkir (2005).
Ao se identificarem as fontes de retroalimentação do conhecimento é possível
visualizar uma espiral cujo polo forma uma curva plana que gira em torno de um
ponto central. Dalkir (2005) afirma que é possível medir de forma explícita como os
conhecimentos são transferidos, quais redes, práticas e incentivos estão instituídos,
e como a aquisição, testes e reaplicação desses conhecimentos permitem a
identificação da efetividade do know-how transferido para o repositório de
conhecimento organizacional.
Da captura até a retroalimentação do conhecimento, conforme indica a figura
6, considera-se que o conhecimento tácito é o know-how, o saber fazer, e o
conhecimento explícito, aquele que representa a documentação dos processos,
métodos, técnicas, etapas e ou ferramentas que foram empregados para se chegar
ao resultado final, transformando-se em um produto, serviço, processo, etc.
37
Figura 6 – Espiral do Ciclo da GC de Dalkir
Fonte: Elaborado pela autora com base em Dalkir (2005).
A proposta da autora destaca-se por considerar que o conhecimento torna-se
útil e valioso para as organizações quando está organizado, e uma vez que as
relações sociais e esses fluxos possam ser vistos, também podem ser mensurados e
avaliados. O modelo em questão totaliza sete etapas apresentadas em duas fases,
conforme mostra o quadro 4.
Quadro 4 – As duas fases do processo no Ciclo de GC de Dalkir
FASE REQUISITO DO CICLO DA GESTÃO DO
CONHECIMENTO ATRIBUTO
FASE I DO
CICLO DA GC
Captura
Criação
Codificação
Compartilhamento
Acesso
Qualitativos e não
mensuráveis.
FASE II DO
CICLO DA GC
Aplicação do conhecimento
Reutilização do conhecimento
Quantitativos e
mensuráveis
Fonte: Adaptado de Dalkir (2005) e Batista (2012).
Normalmente, o conhecimento tácito tende a ser muito valioso, mas
apresenta um paradigma que reside no fato de que é mais difícil articulá-lo como
38
conceito, como, por exemplo, "memória organizacional", "história", etc., evidenciado
apenas como referência, mas sem resultados ou dados observáveis.
A autora propõe que para a avaliação dos ciclos da GC é necessário a
criação de modelos e linguagens claras que contemplem taxonomias e conceitos
chaves como: formação de capital intelectual, memória e aprendizagem
organizacional, resultados que podem ser observados nas comunidades de prática.
Para a autora, a GC tem uso bastante apropriado nas Comunidades de
Prática, que são diferentes de outros tipos de associações, cujo objetivo primário é
desenvolver e partilhar conhecimentos, a partir de três pilares:
− Domínio de conhecimento – que se relaciona com a ideia de que seus
membros devem se aperfeiçoar num domínio de conhecimento
− Resultados Práticos – que se relaciona a partilha de experiências,
criação e desenvolvimento de repertórios e as pessoas só se tornarão
especialistas se vivenciarem práticas comuns.
− Retorno à comunidade – que se relaciona ao grupo social em que ocorre
a partilha de conhecimento, no qual a identidade e as perspectivas são
mais ou menos similares.
2.6 Redes e Comunidades de Prática
O conceito de redes é utilizado por vários campos de estudos, como a
Antropologia, a Ciência Política, a Psicologia, a Sociologia e os Estudos
Organizacionais e não há como negar a abrangência e a subjetividade do termo
redes (SACOMANO NETO; TRUZZI, 2004).
Autores como Guechtouli et al. (2013) interessam-se por estudos que falam
sobre a importância das redes e suas propriedades, mostrando que as inúmeras
transações repetidamente produzidas pelas interações entre os diversos indivíduos
(atores ou membros) constituem-se como elementos centrais para a efetiva
transferência de conhecimentos.
Existem diversas abordagens, como apontam Grandori e Soda (1995), que
propõem que as redes se formam e apresentam basicamente três abordagens (i)
econômica; (ii) organizacional; e (iii) social. Castells (2005) é um auor que enfatiza
mais aspectos sociais e afirma que o atual modo de organização da sociedade já
está em rede e é a tecnologia de comunicação que possibilita isso, sendo o
39
conhecimento tanto o paradigma quanto a ferramenta de uma nova sociedade em
formação (GIGLIO; CARVALHO, 2013).
Pesquisas sobre redes também se interessam pelas transações entre os
atores, fluxos de conteúdos, informações, transparência, velocidade, constância,
além das relações de poder, sinais sociais de cooperação e de confiança, bem como
de parâmetros que indiquem o grau de engajamento e desenvolvimento dos
membros e atores. As organizações procuram operar em rede para enfrentar novos
paradigmas da sociedade que traz novos desafios e também novas oportunidades
(GIGLIO; CARVALHO, 2013).
No campo organizacional, segundo Sohn et al. (2014) as redes podem ser
aplicadas através de joint-ventures, alianças e parcerias estratégicas, distritos
industriais, etc. Augusto de Franco (2008) fala que através de uma rede pessoal
várias redes poderão estar conectadas, mesmo que todos membros não estejam
cientes da existência disso (e de sua rede de relacionamentos) e que muitas redes
se formam porque os participantes estão empenhados em algum tipo de ligação, ou
ainda domínio de interesse especial (FRANCO, 2008).
A sociedade em rede está então caracterizada por novas configurações de
espaço e tempo, relações de negócios, de produção, consumo, poder e de
experiências compartilhadas que são regidas por condições de interdependência e
entrelaçamento indissociável entre fatores sociais e econômicos, tecnologia de
informação e identidade de grupo (GIGLIO; CARVALHO, 2013):
[...] o paradigma a ser seguido pelo pesquisador determinará seus argumentos em busca da essencialidade do fenômeno, mas todos já estamos em rede, variando a estrutura e os conteúdos dos fluxos, uma vez que as mudanças são imprevisíveis e constantes (GIGLIO; CARVALHO, 2013, p. 253).
Segundo Giglio, Carvalho (2013), o tema Redes é bastante amplo e ainda se
encontra em aberto. Essa afirmação também está nos estudos de Nohria, Ecles
(1992), Gulati (1998), Castells (2005) e Balestrin (2006) e esse fenômeno, do ponto
de vista do conhecimento, é observado por diferentes ângulos em Castells (2005) e
está conectada com a afirmação de Nonaka, Takeuchi (1995) que diz que o
conhecimento pode tornar-se uma fonte de vantagem competitiva e que tem impacto
crítico para o sucesso das organizações, portanto das redes.
40
2.7 Redes de Aprendizado e Conhecimento
A lógica da Sociedade em Rede induz as organizações a incluir em seus
modelos de negócios o conhecimento como recurso estratégico e dessa perspectiva
nascem novas formas de agir, gerir, compartilhar e converter o conhecimento
(HIMANEN, 2001).
O construtivismo social vê o conhecimento não como uma entidade objetiva.
Membros de um grupo produzem conhecimento por suas interações e desse modo
uma memória coletiva é criada, mas o conhecimento é produzido por meio de
entendimentos compartilhados que emergem por meio de interações sociais
(DALKIR, 2005).
O conhecimento como ativo intangível, segundo Wenger et al. (2011), evolui a
partir do reconhecimento e da validação dos pares nas comunidades das quais
participamos, de modo que sem o contexto de comunidades, o conhecimento
humano não faz sentido.
Numa perspectiva de rede, as conexões funcionam como laços, fornecendo
acesso aos fluxos de informação e intercâmbio de aprendizagem, sendo que a
conectividade e a difusão das informações expandem-se de forma exponencial. E se
isso aumenta a chance de acesso útil, também potencializa o nível de ruído que
pode implicar na perda da mensagem (FRANCO, 2008).
O senso comum diz que, se por um lado redes ajudam a difundir
conhecimento (considerado como recurso de aprendizagem) e permitem alta
conectividade, também cobram seu preço, por conta do elevado nível de
espontaneidade e imprevisibilidade sendo os fluxos de informação captados,
interpretados e propagados de forma inesperada (FRANCO, 2008).
No contexto de redes, Guechtouli et al. (2013) consideram as CoP como um
tipo específico de rede, com características similares às apontadas pelos principais
estudiosos do assunto, do ponto de vista de topologia, dinâmica, relacionamentos,
interatividade e diversidade entre os atores, tornando-se um ambiente bastante
apropriado para se gerenciar e compartilhar conhecimentos.
O reempacotamento do conhecimento é um valor importante, que pode
envolver as pessoas, a tecnologia da informação, ou a mistura dos dois. O valor de
aprendizagem em uma rede deriva da capacidade de desenvolver uma intenção
coletiva para promover o conhecimento em torno de um tema ou domínio, sendo
41
esse o principal desafio e que mantém viva uma comunidade de prática, na qual o
valor deriva de acesso a ricas fontes de informação, oferecendo múltiplas
perspectivas, diálogos, respostas, consultas e ajuda de terceiros.
2.8 Comunidades de Prática
O termo “Redes” é usado para descrever uma teia cujas relações, interações
e conexões têm diversos motivos para se conectar. O termo “Comunidade de
Prática” também define uma rede, só que formada por pessoas que gravitam em
torno de aprendizagem, fluxos de informação e domínio de interesse, cujas ligações
e resoluções se dão para resolver problemas e produzir novos conhecimentos.
CoP e Redes apresentam processos de estruturação distintos. As redes
levam a várias perspectivas de conexão, e as CoP agregam participantes mais
comprometidos com um aprendizado específico, no qual o principal valor é a
aquisição de novas habilidades, competências ou conhecimentos.
Para cunhar o termo Comunidade de Prática, Wenger (1998) partiu do
conceito de que o aprendizado é um ato social e de que as CoP oferecem um
ambiente de aprendizado forte, baseado em trocas de informação tanto síncronas
quanto assíncronas, permitindo que o conhecimento organizacional se desenvolva e
promova o aprendizado coletivo e a inovação organizacional.
Questões como assimetria, densidade e número de interações estão
presentes em todas as redes e Comunidades de Prática, mas estas últimas
conferem também aos participantes (atores ou membros), a sensação de
pertencimento a partir da identificação com um tema ou interesse específico
(WENGER, 2011; GUECHTOULI et al., 2013).
O assunto CoP estuda a reunião informal de pessoas que se agregam por
interesses comuns, especialmente um assunto ou tema, e que têm como principal
finalidade a aplicação prática do aprendizado e a promoção do conhecimento no
grupo, promovendo responsabilidades no processo.
Organizações diversas como Xerox, Monsanto, Accenture, British Petroleum
trazem exemplos bem sucedidos de implantação de GC a partir de Comunidades de
Prática, sendo que algumas delas propiciam especialmente a criação de ferramentas
para aproveitamento de lições aprendidas, como é o caso da Chevron, que utiliza
42
em seus processos de perfuração as lições disponíveis para novas operações com
características semelhantes (DALKIR, 2005).
Essas empresas introduziram sistemas pelos quais aprendem antes, durante
e após a realização de um projeto, que proporciiona economia concreta de custos ao
introduzir a GC nos processos de aprendizagem e que trazem benefícios e valores
que se propagam a curto e longo prazo.
As CoP, quando funcionam adequadamente, tornam-se exemplos para o
desenvolvimento e aprendizado em grupo ao longo do tempo, conforme apresentado
no quadro 5, promovendo benefícios e valores de impacto na difusão de
conhecimentos, tanto para as organizações quanto para os membros da rede, que
se torna uma comunidade.
Quadro 5 – Benefícios para os membros da comunidade
Para as organizações Para a comunidade
valo
res a
curt
o p
razo
Acesso ao conhecimento;
Maior capacidade para contribuir com a equipe;
Confiança para sua abordagem dos problemas;
Participação mais significativa;
Sentimento de pertencimento;
Capacidade para desenvolver novas estratégias;
Surgimento de capacidades não planejadas.
Ajuda para fazer contato com especialistas;
Estímulo ao aprendizado;
Enfrentamento dos desafios cotidianos no
trabalho;
Aumento da autoconsciência;
Aumento da autoconfiança;
Propicia espaço não ameaçador que
propicia a geração de novas ideias e ações.
valo
res a
lo
ngo p
razo
Fórum para a expansão de habilidades e
competências;
Rede para manter-se atualizado sobre um
campo de estudo;
Melhor reputação profissional;
Aumento da liquidez e da empregabilidade;
Forte senso de identificação profissional.
Aumenta o compromisso;
Aumenta a reputação profissional dos
membros.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2002) e Batista (2012).
O modelo de Wenger (1998) pressupõe que as CoP formam um grupo de
pessoas que compartilham paixão por alguma coisa, e que isso promove uma
interação regular e fomenta o aprendizado, permitindo aos membros realizar suas
tarefas cada vez melhor, de modo que isso constrói e gera gestão do conhecimento.
O trabalho da Comunidade de Prática é desenvolver a parceria de
aprendizagem que cria uma identidade em torno de uma agenda comum. O trabalho
na rede consiste em melhorar a conectividade entre as pessoas, de forma a
43
aumentar a extensão e a densidade da rede por reforçar as conexões já existentes,
permitindo novas conexões e respostas rápidas.
Uma CoP pode ser entendida de maneira distinta de outras estruturas e pode
ter como propósito, por exemplo, desenvolver produtos e serviços que possam servir
a um determinado segmento de mercado ou contexto organizacional. As CoP
diferem de outros tipos de associações, conforme quadro 6.
Quadro 6 – Comparação resumida das estruturas de associação
ESTRUTURA PROPÓSITO
OU OBJETIVO
FORMA DE
PARTICIPAÇÃO
FORMAS DE
AGREGAÇÃO
DURAÇÃO
PERENIDADE
COMUNIDADES
DE PRÁTICA
Definir seu
lugar ou papel
na comunidade;
desenvolver
expertise de
seus membros.
Autosselecionado
por interesses
comuns.
Afinidades,
envolvimento e
identificação
com a expertise
ou base prática.
Enquanto houver
interesse em melhorar
a prática ou
compromisso tácito.
EQUIPE DE
TRABALHO
FORMAL
Realizar
determinado
trabalho que foi
definido para o
time.
Qualquer um que
foi determinado
para compor a
equipe.
Por tarefa,
performance e
metas
contínuas.
Prazo determinado até
a conclusão.
EQUIPE DE
PROJETO E/OU
FORÇA-TAREFA
Visa atender
tarefa
específica.
Definido pela
gerência.
Por marcos do
projeto e metas
bastante claras.
Até que o projeto ou a
tarefa seja encerrado,
normalmente durante
tempo determinado
REDES NÃO
FORMALIZADAS
Coletar e
compartilhar
informações de
interesse
comum.
Entendimento de
valor recíproco e
aceitação.
Percepção de
valor na
conexão.
Desejo de
pertencer e
participar da
Rede.
Enquanto houver
razões para conexão e
compartilhamento de
informações.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de Wenger, Mcdermott & Snyder (2002).
Os elementos estruturais das CoP, cujo entrelaçamento está ilustrado na
figura 7, têm suas descrições elencadas segundo Wenger, McDermott e Snyder
(2002), no quadro 7.
O domínio é o que legitima a comunidade pela afirmação dos propósitos e
valores dos participantes, inspira seus membros a contribuir, participar, e orienta
seus aprendizados, trazendo significado para as ações e atividades.
44
Figura 7 – Inter-relação dos três elementos estruturais das CoP
Fonte: Wenger (2002).
Quadro 7 – Elementos estruturais que caracterizam as CoP
ELEMENTO DESCRIÇÃO
DOMÍNIO
Quais temas, tópicos e assuntos de interesse auxiliam os membros a
desenvolverem uma compreensão compartilhada criando um senso de identidade
comum, por quais motivos as pessoas se reúnem, a temática tratada no grupo e os
tópicos que atraem seus membros.
COMUNIDADE
A frequência dos encontros, as formas de interação entre os membros, a mediação
de conflitos e as políticas para novos admitidos, a fim de criar um ambiente propício
para o aprendizado, por meio de interação e relacionamentos.
PRÁTICA
Os membros das CoP desenvolvem algum tipo de prática, repertório de recursos
(experiências, histórias, ferramentas) que são compartilhados entre os membros,
incluindo-se o acesso ao conhecimento persistido, as normas para seus membros e
outros que possam se beneficiar dessas habilidades.
Fonte: Wenger (2002).
A comunidade é formada por pessoas – por meio da definição de papéis que
se engajam em atividades conjuntas – as quais se auxiliam mutuamente ao
compartilharem informações, de forma a produzir confiança e equilíbrio entre vários
interesses que se transformam em prática a partir das interações entre membros, do
conjunto de ideias, das ferramentas, informações, estilos, linguagens, histórias e
documentos.
As características básicas das CoP estão descritas no site do Banco Mundial,
conforme mostra o quadro 8. Seus estágios de desenvolvimento passam pelo nível
45
de engajamento de seus membros e diferentes graus de participação, conforme
ilustra o quadro 9, baseado em Wenger, McDermott e Snyder (2002) que sugerem
que o engajamento é uma das principais características desses arranjos.
Quadro 8 – Características Comuns das CoP
CARACTERÍSTICAS
BÁSICAS DESCRIÇÃO
EMPREENDIMENTO AGREGADOR
Os membros estão lá para realizar algo de forma contínua, algum tipo de trabalho em comum, e enxergam claramente o propósito de seu trabalho como uma “missão”.
ENGAJAMENTO MÚTUO
Os membros da comunidade interagem uns com os outros não apenas no curso do que estão realizando, mas para entender o trabalho, para definir como é feito o mesmo, para mudar o como está sendo feito. Por meio desse engajamento mútuo os membros também estabelecem suas identidades no trabalho.
REPERTÓRIO COMPARTILHADO
Os membros da comunidade não apenas têm um trabalho em comum, mas também métodos, ferramentas e mesmo linguagem, histórias e padrões de comportamento como contexto cultural do trabalho.
Fonte: Perguntas frequentes sobre CoP – Banco Mundial. Disponível em <http://www.ecvet-team>. Acesso em 16 de fevereiro de 2016.
Quadro 9 – Grau de engajamento nas CoP
ENGAJAMENTO DEFINIÇÃO
Grupo principal Grupo com menor número de pessoas cujo envolvimento fundamental traz valor para a CoP.
Participação completa Indivíduo reconhecido como praticante ou especialista, que é atraído por ter interesse nos temas tratados pela CoP.
Participação periférica Indivíduo pertencente a CoP, mas com grau menor de envolvimento. Geralmente são novatos ou ainda com baixo compromisso com as práticas.
Participação transacional Indivíduo fora da CoP que interage ocasionalmente.
Acesso passivo Universo de pessoas com acesso aos artefatos produzidos pela CoP.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger, McDermott e Snyder (2002).
Ao discutir como incentivar o aprendizado dentro de uma comunidade,
Wenger (1998) alerta sobre as dificuldades com que se pode deparar quando se
pretende extrair o conhecimento de uma prática e afirma que o aprendizado está tão
ligado à prática que normalmente não é percebido, e que ocorre a partir das
46
interações na rede com outros indivíduos. E, conforme aponta Granovetter (1985),
também depende do grau da variável imersão (embedded) do ator.
São as atividades dos participantes e o grau de entendimento comum e de
participação que possibilitam o engajamento que determina o funcionamento das
CoP e não seus limites físicos, presença, fronteiras. Numa CoP, a prática deve ser
indissociável da teoria, e os novatos devem aprendem com veteranos e com o
tempo (WENGER et al., 2002).
Lave e Wenger (1991) falam da legitimidade da participação dos atores nas
CoP e sua estrutura específica depende de um corpo de pessoas experientes ou
especialistas que serão fonte de conhecimento para os novatos que poderão, no
futuro, tornar-se especialistas a partir da prática, incrementando suas competências
a partir de sua participação, mas isso não ocorre de forma isolada, desse modo os
autores apresentam sete princípios fundamentais para se desenhar, implantar e
cultivar uma CoP de sucesso. São eles:
1. Projetar ou elaborar um desenho que permita ou contribua para
evolução permanente. Isso pressupõe identificar quais elementos são
catalisadores e a presença constante de coordenadores e especialistas.
2. Contemplar perspectivas internas e externas e estabelecer diálogo.
Demanda que indivíduos que ainda não pertençam à comunidade sejam
subsídios valiosos para engajar a participação desses elementos
externos.
3. Motivar e atrair diferentes níveis de participação. Pressupõe que o
interesse pessoal não seja o único motivo de atração.
4. Desenvolver espaços públicos e privados para a comunidade.
Pressupõe criar atividades tanto em nível aberto quanto em nível restrito.
5. Concentrar e manter foco no valor. Pressupõe produzir resultados que
atraiam os integrantes. É desejável que a comunidade descubra seu
potencial.
6. Combinar familiaridade e motivação. Pressupõe oferecer um ambiente
favorável para o compartilhamento de ideias, busca de ajuda e
atualização técnica de forma confiável.
7. Criar ritmo. Refere-se ao estágio de desenvolvimento da comunidade.
Isso inclui atividades como encontros, conferências, web site, almoços,
projetos e eventos especiais.
47
2.9 Comunidades de Prática e resultados para as organizações
Segundo Batista (2012), as CoP trazem benefícios para as organizações,
como o desenvolvimento de novas estratégias, geração de novas ideias, linhas de
negócio, resolução de problemas, transferência de melhores práticas, recrutamento
e manutenção de talentos, desenvolvimento de competências e isso requer a
presença de três traços principais: 1) Compromisso mútuo assumido entre os
membros; 2) Empreendimento e repertório comum de rotinas; 3) Conhecimentos e
regras tácitas de conduta.
Por meio das ações das CoP, as empresas podem obter vantagens como a
realização de novas alianças e parcerias estratégicas, compartilhamento de
conhecimentos. As CoP propiciam resoluções mais rápidas de problemas,
minimizando retrabalhos e reduzindo limitações geográficas e esforços, ao oferecer
opções para colaboração e permitir o auto-desenvolvimento, estimulando a criação,
disseminação e compartilhamento de informações (WENGER et al., 2002).
Uma comunidade de prática é caracterizada, sobretudo, pela oportunidade de
seus membros desenvolverem suas capacidades, construindo conhecimento por
meio do intercâmbio mútuo de múltiplas experiências, bem como por meio da
incorporação de uma competência socialmente legitimada (WENGER, 1998;
WENGER et al., 2002).
Desse modo, organizações que consigam incorporar em sua estratégia o
conhecimento como elemento unificador podem construir novas capacidades
organizacionais baseadas na aprendizagem. Assim, as CoP podem emergir do
espaço social entre equipes de projeto e de diversas redes (SBGC, 2016).
No documento do Banco Mundial Taking Communities of Practice Global
Session Brief, as comunidades de prática foram identificadas como um excelente
caminho para que os grupos pudessem aprender e compartilhar conhecimento,
melhorar suas práticas e apoiar a colaboração, tanto dentro como entre as
organizações, sendo esse um dos motivos pelos quais as empresas se interessam
por criar e implantar CoP (WORLD BANK, 2016).
No Banco Mundial, as CoP são extremamente numerosas e diversificadas,
com mais de 100 grupos temáticos (TGs) a fim cobrir grande variedade de tópicos.
Além disso, existe um grupo específico criado pela necessidade de partilhar ideias e
boas práticas entre as CoP (WORLD BANK, 2016).
48
No Banco Mundial os grupos temáticos são criados a partir de lacunas de
conhecimento em uma área específica e desse modo, muitas comunidades de
prática são criadas e avaliadas de diferentes maneiras e diferentes indicadores, a
fim de capturar, organizar, disseminar conhecimentos e experiências sobre temas de
específicod em todo o mundo. Embora haja diificuldades ao se medir, alguns
indicadores mostram que o conhecimento compartilhado é amplamente utilizado e
as boas práticas e lições aprendidas são disseminadas e tem importância para os
membros e organizações, conforme mostra o quadro 10 (WORLD BANK, 2016):
Como promotor de conhecimento globalmente, o Banco Mundial facilita a interação regular das equipes e suporta o compartilhamento de conhecimentos práticos, decorrentes da experiência do programa. Por sua vez, esse conhecimento experiencial então pode ser usado para moldar a política, ou o desenho ou a evolução de um programa (WORLD BANK, 2016).
Quadro 10 – As CoP ao longo do tempo nas organizações
IMPORTÂNCIA NO CURTO PRAZO IMPORTÂNCIA NO LONGO PRAZO
mem
bro
s Ajuda para enfrentar desafios;
acesso ao conhecimento de especialistas;
trabalho agradável;
reconhecimento da importância do trabalho
realizado.
Desenvolvimento pessoal;
melhoria da reputação;
identidade profissional;
formação de redes de relacionamento;
confiança em si próprio.
org
an
ização
Solução de problemas;
economia de tempo;
compartilhamento do conhecimento;
sinergia entre unidades, equipes;
reutilização de recursos.
Melhoria da capacidade estratégica;
tendência a inovação;
retenção de talentos;
novas estratégias;
manter-se no mesmo nível da concorrência.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2002) e Batista (2012).
A liderança e associação às CoP é voluntária e aberta a todos os funcionários
do banco mundial e, por vezes, ao público. Algumas recebem financiamento e a
rede abriga mais de três mil comunidades de prática, com a intenção de reunir um
grupo de pessoas que resolvem se aglutinar para realizar empreendimentos comuns
em torno de um domínio de conhecimento, especialmente ligados ao
desenvolvimento e ao bem estar da humanidade (WORLD BANK, 2016).
Ao longo do tempo, organizações de diversos segmentos experimentaram
implementar Comunidades de Prática, tanto para atender suas próprias
necessidades quanto para compartilhar ou atrair novos conhecimentos de
especialistas. O quadro 11 exemplifica algumas experiências das organizações ao
longo do tempo.
49
Quadro 11 – Resultados de experiências obtidas com as CoP
Organizações Área de atuação Ano de
implantação
Experiências
IBM Serviços de tecnologia
1995 Mais de 60 CoPs criaram novos conhecimentos diversos.
BANCO MUNDIAL
(WORLD BANK)
Instituição financeira
1996 Mais de 120 CoPs com cerca de 2.000 membros e resultados globais.
ANDERSEN CONSULTORIA
Consultoria 1996
Aquisição de uma cultura baseada na colaboração e no trabalho em equipe economizando em custos e aumentando a produtividade.
ERNEST E YOUNG Consultoria 1997 Reutilização de informações e documentos criados para casos anteriores e semelhantes.
FORD Automotiva 1999 Aumento de eficiência na produção.
SCHUMBERGER Serviços de tecnologia
2000 Criação de cultura de compartilhamento do conhecimento.
XEROX Serviços de tecnologia
2000 Geração do conhecimento e inicialização do processo de identificação de competências centrais.
WATSON WYATT Consultoria 2000 Compartilhamento do conhecimento entre diferentes ambientes da organização.
DEPARTAMENTO DE DEFESA (USA)
Administração pública
2001 Aceleração das decisões corporativas, economia de custos e aumento de produtividade.
INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO E TECNOLOGIA (IBICT)
Administração pública
2007 Melhoria da aprendizagem organizacional.
Fonte: Adaptado de Roberts (2006) e Wenger et al. (2002).
Alguns trabalhos sobre CoP também falam da sua importância ao longo do
tempo, dos benefícios para seus membros e para a organização ou, ainda, como
ajudar a enfrentar desafios e agregar valor ao permitir compartilhamentos entre
profissões ou situações de trabalho, equipes, estruturas organizacionais, unidades
de negócios, formando novos relacionamentos e redes.
O quadro 12 mostra que as CoP podem apresentar uma série de vantagens
como um ambiente específico para as organizações e suas redes e uma ferramenta
para desenvolvimento, compartilhamento e gerenciamento de conhecimento
50
especializado. A adoção de CoP pode trazer desvantagens, especialmente para
organizações que não se adaptam a mudanças constantes.
Quadro 12 – Vantagens e desvantagens das experiências obtidas com as CoP
VANTAGENS DESVANTAGENS
Ferramenta para desenvolvimento,
compartilhamento e gerenciamento de
conhecimento especializado e fórum para
benchmarking.
Propicia assumir riscos com o apoio da
comunidade.
Permite a realização de pesquisas para
implementar estratégias.
Ambiente para resolução de problemas,
aumento da coordenação, padronização e
sinergia.
Melhoria nos padrões de qualidade,
conhecimentos repetitivos e retrabalho.
Dissolução de barreiras departamentais.
Flexibilidade da comunicação.
Geração de novos conhecimentos.
Necessidade da cultura do voluntarismo.
Manutenção permanente de conteúdos.
Alguns temas demandam alta dependência de
tecnologia.
Estabelecimento de ligações conforme os
objetivos (econômicos, ou sociais).
Dependente da natureza das relações
(doméstica, pública, ou comercial).
Sucesso pode estar vinculado ou depender do
tamanho ou do número de atores, da
densidade ou do número de ligações na rede.
A estabilidade ou perenidade é dependente do
domínio, do assunto ou do tema de interesse.
Necessidade constantes de mudanças.
Análise de mudanças.
Fonte: Adaptado pela autora com base em Wenger (1998) e Batista (2012).
A aplicação e a disseminação de conhecimento nas redes formadas pelas
CoP dependerá do grau de maturidade, de forma que permita ajudar a organização
a aprender e a responder com eficácia a problemas como a alocação de recursos,
tomada decisões, alinhamento de obrigações, etc.
2.10 Comunidades de Prática e indicadores dos Ciclos da GC
Desde a construção até a manutenção de uma CoP é preciso que alguns
elementos sejam permanentemente avaliados ao longo do tempo, por exemplo:
atenção às tendências e questões-chave sobre o domínio ou tema, número mínimo
ou ideal de pessoas e participantes, requisitos de admissão de membros e
patrocinadores, funções dos líderes e facilitadores, ferramentas e tecnologias de
suporte e atividades de divulgação e catálise.
Capturar dados e indexá-los permite criar indicadores que podem ser
comparados ao longo do tempo e isso possibilita avaliar efeitos, minimizar riscos ou
maximizar resultados, sendo uma tarefa de avaliação que precisa ser levada em
51
consideração nas CoP. Wenger et al. (2011) criaram um quadro conceitual que
fornece exemplos de indicadores divididos em cinco ciclos e que tem como objetivo
promover um sistema de avaliação que indica atalhos para a construção de
Comunidades de Prática.
Uma visão geral sobre o modelo conceitual de Wenger et al. (2011) estão
elencadas nos quadros 13 a 17 que mostra que para serem construídos os
indicadores, dependem de várias fontes de dados e instrumentos e de uma estrutura
para captação, conforme o objetivo do respectivo ciclo.
O primeiro ciclo procura captar indicadores que analisam as atividades,
participação e interatividade nas CoP e seu alcance na Rede, levando-se em
consideração aspectos que podem ser afetados pela aprendizagem social.
O segundo ciclo pretende captar indicadores de capital de conhecimento, ou
seja, qual é seu valor potencial e como ele é produzido. O terceiro ciclo busca
capturar o valor de como essa aprendizagem é aplicada, isto é, que diferença as
CoP fazem na vida prática das pessoas e, de algum modo, em que contexto.
O quarto ciclo analisa aspectos de desempenho relacionados ao uso de
conhecimento, das relações sociais, como esse valor é realizado e que diferença
isso faz para as pessoas e organizações. O ponto aqui é encontrar métricas de
desempenho relacionadas com as contribuições potenciais das comunidades e
redes.
O quinto ciclo interessa-se especialmente em entender o relacionamento com
os diversos públicos ou stakeholders, de modo que a compreensão desses
indicadores possibilite a avaliação dos sucessos obtidos, e quais alterações devem
ser levadas em conta, tanto em relação aos participantes quanto em relação ao
ambiente.
− Ciclo 1 – Indicadores de atividades e participação na rede ou valor imediato
Os indicadores para esse ciclo referem-se às atividades das comunidades e
das redes. Aqui a intenção é capturar em números qual o valor imediato, ou seja, o
que acontece e qual intensidade de discussões e desafios resulta das experiências
das CoP em termos de ligações e conexões nas redes, quais são as interações e
participações dos membros e como isso se reflete em reputação para a comunidade
(quadro 13).
52
Quadro 13 – Primeiro Ciclo – Indicadores de valor imediato da CoP
INDICADOR
INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS
Nível de Networking Listas de contatos. Número total de pessoas.
Novas conexões feitas.
Características dos participantes ativos.
Nível de participação
Participação em reuniões.
Logs e estatísticas do site.
Listas de participantes.
Sistemas de teleconferência.
Número de inscrições.
Pessoas que se inscreveram.
Nível de atividade ou responsividade
Quantidade de respostas.
Pontualidade das respostas.
Número de consultas.
Periodicidade das reuniões.
Nível de engajamento Intensidade de discussões.
Desafios dos pressupostos.
Número de consultas.
Periodicidade das reuniões.
Qualidade das interações Debates sobre questões importantes.
Feedback sobre a qualidade das respostas a consultas.
Nível de diversão.
Experiência da prática para o espaço de aprendizagem.
Participação e valor da participação
Formulário de feedback. Pessoas que retornam para a Comunidade
Valor das conexões Relatórios pessoais.
Freqüência de interações.
Nível de colaboração Projetos. Projetos comuns e número de projetos em co-autoria.
Reflexos na comunidade Meta-conversas sobre a rede. Reputação da rede.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).
Ciclo 2 – Indicadores de capital de conhecimento ou de valor potencial
Indicadores para esse ciclo refletem os vários tipos de conhecimento
produzidos pela CoP. Esses conhecimentos têm o valor potencial de mudar ou
ampliar competências e habilidades dos membros participantes através da
aprendizagem? Elas ocorrem pelo caráter social, humano, ou ainda em decorrência
do uso da estrutura? (quadro 14).
53
Quadro 14 – Segundo Ciclo – Indicadores de capital de conhecimento ou de valor potencial
INDICADOR
INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS
Competências adquiridas
Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.
Testes e pesquisas.
Informações recebidas Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.
Reflexões da própria comunidade.
Mudança de perspectiva
Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.
Interesse em atividades de aprendizagem e liderança.
Inspiração Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.
Taxas de retenção de membros.
Confiança Autorrelato / Formulário de feedback/ entrevistas.
Iniciativas e ou riscos assumidos trazendo problemas difíceis e falhas da prática. Tipos e intensidade das
relações sociais Técnicas de análise de redes sociais (SNA)
Número de amigos, blogs, links.
Forma estrutural da rede
Gráficos de densidade de rede.
Agrupamentos distintos dentro de uma rede mais ampla.
Pessoas que agem como gargalos entre agrupamentos ou conectores.
Determinadas métricas podem ser aplicadas, por exemplo, removendo certas pessoas influentes ou certos tipos de links.
Nível de confiança Links/ Formulário de feedback/ entrevistas.
Número de referências ou recomendações da rede.
Produção de ferramentas
Quantidade e tipos de saída. Documentos que informam resultados práticos.
Qualidade de saída Avaliação de produtos.
Freqüência de downloads.
Avaliação de produtos.
Freqüência de downloads.
Documentação Resumos de eventos e discussões.
Perguntas frequentes.
Arquivos e bases de dados.
Reputação na Comunidade
Cobertura de temas relevantes. Comentários de partes interessadas.
Links para o site da comunidade.
Novas aprendizagens Autorrelato / Interesse em atividades de aprendizagem e liderança.
Sistemas de avaliação.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).
Ciclo 3 – Indicadores de conhecimentos aplicados à prática
O uso de conhecimento, suas ferramentas e relações requer melhor
sondagem qualitativa, uma vez que a informação não está prontamente disponível,
sendo que a coleta e a organização desse tipo de informação podem ajudar os
participantes a refletirem sobre como eles realizam suas relações sociais, o que
delas deriva, como aprendem com os outros, como isso é aplicado na prática e que
diferença isso faz no contexto das suas vidas (quadro 15).
54
Quadro 15 – Terceiro Ciclo – Indicadores de conhecimentos aplicados à prática
INDICADOR
INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS
Implementação de
conselhos, soluções e
insights
Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Acompanhamento de como os
membros têm se adaptado ou
utilizado o aconselhamento de
uma comunidade ou rede. Desta
forma o aprendizado coletivo
continua através da aplicação na
prática.
Inovação na prática Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Novas maneiras de fazer as
coisas.
Novas perspectivas.
Adoção de linguagem e ou novos
conceitos.
Uso de ferramentas e
documentos para informar
a prática
Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Feedback sobre documentos e
ferramentas de pessoas que as
tenham utilizado são indicadores
de valor.
Reutilização de produtos
ou serviços
Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Estimativa de reutilização e
proporção dos mesmos.
Uso de conexões sociais Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Arranjos colaborativos.
Aproveitando conexões nas
realizações das tarefas.
Inovação Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Emprego de novos processos ou
políticas.
Transferência de práticas
de aprendizagem
Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Uso das comunidades, redes ou
outros processos e ferramentas
para a aprendizagem em outros
contextos.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).
Ciclo 4 – Indicadores de melhoria de desempenho ou de valor realizado
Os aspectos de desempenho, tanto dos membros da rede quanto das
organizações em que estão engajados, podem ser afetados pelo uso intensivo da
aprendizagem social, e aqui o que se busca é saber qual a influência da rede em
que estão inseridos e quais resultados finais são encontrados, de modo que há
diferentes medições possíveis, dependendo dos segmentos e setores a que serão
aplicados (quadro 16).
55
Para agências governamentais, por exemplo, interessa medir a melhoria de
desempenho nos níveis de velocidade e qualidade do serviço ou satisfação do
cidadão. Para organizações educacionais, a satisfação e realizações dos alunos, e
para organizações sem fins lucrativos, a melhoria da qualidade de vida, saúde, etc.
Empresas comerciais podem querem medir melhorias como: participação de
mercado, rentabilidade, produtividade e uso de ativos. Índices esses que, muitas
vezes, já são objetos de medição, mas saber a influência da rede ou da comunidade
nessas métricas pode ser de grande valor.
A reputação dos membros da comunidade pode “respingar” na reputação
organizacional e as métricas e indicadores desse ciclo podem ainda ser comparadas
aos resultados obtidos nos ciclos 2 e 3.
Quadro 16 – Quarto Ciclo – Indicadores de valor potencial das CoP
INDICADOR
INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS
Desempenho
pessoal
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Velocidade e precisão.
Feedback dos clientes.
Realizações.
Desempenho
organizacional
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Satisfação do cliente.
Métricas de negócio.
Resultados do indicador.
Avaliações de projeto.
Reputação
organizacional
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Capacidade de atrair projetos
relacionados ao domínio ou tema.
Produtos do
conhecimento
como desempenho
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Novos clientes.
Clientes interessados em
conhecimento.
Entrega direta de produtos de
conhecimento aos clientes.
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).
Ciclo 5 – Indicadores de valor que refletem o sucesso
Indicadores para este ciclo refletem o que conta como sucesso tanto para os
participantes quanto para o ambiente em que estão engajados e que diferença isso
faz para as partes interessadas, de modo que os valores obtidos possam ser
avaliados e reformulados (quadro 17).
56
Quadro 17 – Quinto Ciclo – Indicadores de valor que refletem o sucesso
INDICADOR
INSTRUMENTOS FONTES DE DADOS
Aspirações da
Comunidade
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Nova agenda de aprendizagem.
Novo discurso sobre o valor.
Nova visão.
Avaliação Autorrelato / Formulário de
feedback/ entrevistas.
Follow-up.
Novas métricas.
Novos processos de
avaliação.
Relacionamentos com as
partes interessadas
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Diferentes conversas com as
partes interessadas.
Envolvimento das partes
interessadas
Novos conjuntos de
expectativas.
Mudanças institucionais Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Novas direções estratégicas
que refletem o novo
entendimento.
Surgimento de novos
modelos
Autorrelato / Formulário de feedback/
entrevistas.
Follow-up.
Novos sistemas sociais,
institucionais, jurídicos ou
políticos (emergentes ou
criados).
Fonte: Adaptado pela autora de Wenger et al. (2011) e Dalkir (2005).
2.11 Comunidades de Prática de Logística Reversa
As fronteiras entre as CoP e redes não são fixas e estão continuamente
mudando. Mesmo pequenas organizações podem beneficiar-se de uma comunidade
de prática específica, que pode fazer parte de um grande número de constelações,
de onde surgem inúmeras interações e práticas. “Comunidades interorganizacionais
de prática ajudam a manter a experiência interna reforçando relacionamentos com
parceiros” (WENGER et al., 2002, p. 220).
Inicialmente o valor principal de uma CoP pode ser apenas encontrar
soluções para pequenos problemas de seus membros, mas, com o tempo, ao
promover interação com outras redes, compartilhando experiências, eventos,
atividades e conhecimento a todos os integrantes, tende a trazer, criar ou
implementar novas soluções para desafios como os impostos por uma lei que
afetará o cotidiano da sociedade, das empresas e toda sua cadeia produtiva.
Dentro das organizações que precisam utilizar a LR, as práticas de GC
podem apoiar negócios que desejam utilizar melhor seus recursos de aprendizagem,
57
gerar valor e obter resultados produtivos. Isso está expresso no site da SBGC que
tem por finalidade:
[...] promover a integração entre academia, terceiro setor e organizações públicas e privadas interessadas em praticar, desenvolver e pesquisar o tema Gestão do Conhecimento para o aumento da efetividade das organizações, a competitividade do País e a qualidade de vida das pessoas (SBGC, 2016).
A conexão entre uma Comunidade de Prática que tem a Logística Reversa
como domínio ou tema está no atendimento de fatores como: interconectividade,
interdependência, fluxo rápido, tempo curto de resposta, flexibilidade, uso do
conhecimento coletivo, constância de compartilhamento e trocas.
Organizações que se beneficiarem do processo de logística reversa podem
obter melhor vantagem competitiva, economias ou ainda construção ou preservação
da imagem. A LR aborda aspectos do ciclo de vida do produto, inclusive os reversos,
que devem retornar para o ponto de origem onde podem ser descartados,
reparados, reutilizados ou reciclados, e isso implica em práticas que podem tornar-
se estratégicas para as organizações e a sociedade atual (ROGERS; TIBBEN-
LEMBKE, 2001; BRITO et al., 2004).
Seguindo esses critérios, as CoP que praticam a LR de resíduos sólidos
precisarão estar conectadas com empresas, tecnólogos, governos, cooperativas,
catadores, etc. para gerar novos conhecimentos para atender à lei 12.305/10, que
estabelece a PNRS:
Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange [...] recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa [...] (Cap. III, Seção II, Art. 31, IV, PNRS, 2012).
2.12 Logística Reversa e a PNRS
Uma economia baseada no conhecimento traz maior complexidade aos
mercados, que devem incorporar a velocidade das mudanças, evolução das
tecnologias, aumento da concorrência, expansão, melhoria das condições de
fornecimento e a tendência de que as organizações não estejam limitadas apenas
às suas cadeias produtivas.
58
As responsabilidades do grupo e dos indivíduos em relação aos resultados
finais obtidos nas organizações são temas apresentados por Davenport et al. (1990).
Lambert et al. (1998) que mostram uma estrutura conceitual e um modelo normativo
que evidencia que uma cadeia de suprimentos abrange vários processos-chave a
serem gerenciados e controlados.
A cadeia de suprimentos, segundo Slack et al. (2002), envolve
necessariamente a interligação entre empresas e pessoas dentro e fora da
organização, formando-se assim redes, o que está em total sinergia com processos
de Gestão do Conhecimento nas organizações.
A cadeia ou rede de suprimentos incorpora três grandes conjuntos de
atividades empresariais, entre eles processos de negócios, organização e pessoas,
tecnologias, iniciativas, práticas e sistemas. Organizações que almejam alcançar
qualidade em suas redes de suprimentos devem considerar a qualidade dos cinco
aspectos de suas operações: planejamento, suprimento, produção, entrega e retorno
(COSTA NETO; CANUTO, 2010).
Durante um longo período, a logística reversa tinha pouca importância frente
às demais atividades das organizações, mas devido a fatores tecnológicos que
permitem maior cobrança e à conscientização da sociedade, a LR vem adquirindo
novo status nas atividades das cadeias de suprimento (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE,
1998; BRITO et al., 2004).
A logística empresarial, conforme Ballou (2006) foi muitas vezes tratada de
modo fragmentado pelas organizações, que inicialmente focavam apenas nas
funcionalidades, sem lidar com o gerenciamento do conhecimento e os autores do
tema que na época apenas discutiam custos de transações e benefícios para se
ofertar produtos e serviços no lugar e tempo apropriado e apenas dois tipos de
logística: 1) logística de abastecimento ou interna; 2) distribuição física ou externa.
As atividades-chave da logística são a gestão de estoques; o processamento de
pedidos e o transporte. As atividades de suporte ou apoio são a armazenagem,
compras, gestão de informações, o manuseio de materiais e embalagem (BALLOU,
2006; COSTA NETO; CANUTO, 2010).
Desse modo, a logística consiste numa atividade integradora que influencia o
ambiente de negócios e abrange toda a cadeia de suprimentos, oferecendo
oportunidades de otimização de custos e melhorias no serviço, especialmente no
atendimento aos clientes. A cadeia de suprimentos traz consequências para todo o
59
meio-ambiente na gestão de seus fluxos materiais (sólido, líquido, gasoso e
energético), sendo que os processos devem considerar todo o ciclo de vida, desde o
desenvolvimento, embalagem, armazenagem, transporte, uso, reparo,
reaproveitamento e descarte, ou seja, em todas as fases da produção.
O ciclo de vida de um produto pode ser visto como uma série de etapas que
vão desde o seu desenvolvimento, a obtenção de matérias-primas e insumos, o
processo produtivo, o consumo e até a disposição final. A integração dos processos
de negócios, desde o consumidor final até o fornecedor primário, que interliga
clientes e fornecedores, é uma das técnicas que trazem inovação para gestão de
fluxos de materiais e seu reuso.
A logística reversa apresenta definições que foram evoluindo ao longo do
tempo e visa também reduzir os resíduos, desde sua origem até seu consumo, e
reutilizar todos os materiais possíveis, aumentando seu ciclo de reutilização. Nos
anos 80, Rogers, Tibben-Lembke (1998) apresentaram um conceito de logística que
modificou o modo de ver o ciclo de vida do produto, incluindo o movimento contrário
ao fluxo direto na cadeia de suprimentos que permite a redução dos resíduos, a
recuperação de materiais descartados, ou seu respectivo retorno ao mercado,
através de reprocessamento e reinserção no ciclo produtivo (figura 8):
O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999, p. 121).
A evolução do conceito está apresentado em Reis et al. (2015) que fornece a
definição de logística do Council of Supply Chain management Professionals
(CSCMP), como sendo a parte do Supply Chain Management (SCM) que planeja,
implementa e controla o fluxo e o armazenamento eficiente e eficaz direto e reverso
de bens, serviços e das informações relacionadas, desde o ponto de origem até o
ponto de consumo, com o propósito de atender às exigências dos clientes,
produtividade e qualidade final.
O modelo SCOR (Supply Chain Operations Reference) desenvolvido pelo
Supply Chain Council (SCC) enfatiza a ideia de que cada nó da rede deve
desempenhar seu papel para garantir a satisfação dos seus clientes e que uma
60
única ligação fraca prejudica a qualidade de desempenho de toda a rede e,
consequentemente, dos seus produtos e serviços.
Figura 8 – Fluxo do descarte consciente de resíduos
Fonte: Adaptado pela autora de Rogers, Tibben-Lembke (1998) e OCDE (1987).
A sociedade moderna espera das organizações que elas conheçam bem e
possam gerenciar suas atividades logísticas, com especial atenção ao “efeito
chicote”, no qual uma pequena perturbação em qualquer ponta da cadeia pode
causar distúrbios cada vez maiores, podendo trazer graves consequências para toda
a rede (REIS et al., 2015).
As redes de suprimentos podem se utilizar da logística reversa como parte de
suas estratégias de negócios. A preocupação com o meio ambiente, a intensificação
da fiscalização, as exigências no cumprimento de normas e leis estimulam as
empresas a abarcar aspectos de sustentabilidade em seus processos reversos.
Ballou (2006, p.26), diz que “a Logística Empresarial é um campo relativamente
novo do estudo da gestão integrada, das áreas tradicionais das finanças, marketing
e produção”, que reúne um conjunto de processos de negócios e componentes
gerenciais integrados e compartilhamento de informações integradas.
Os novos paradigmas da sociedade enfatizam também que as organizações
devem formular suas estratégias de forma a atender toda a cadeia de valor e
respectivos rastros, também conhecido como “pegada ambiental”.
61
As extremas mudanças climáticas, os desastres ambientais e o alto consumo
acenderam um alerta que fez a sociedade entender que é preciso viver em
ambientes mais saudáveis e aproveitar melhor os recursos disponíveis na natureza,
isso afeta os processos e desenvolvimento de produtos nas empresas que, de certo
modo, podem contribuir para a conscientização e difusão de boas práticas, ao
estabelecer estratégias que atendam premissas do desenvolvimento sustentável. O
quadro 18 mostra a evolução desse conceito.
Quadro 18 – Evolução da necessidade do desenvolvimento sustentável
Ano Evento
1986 Acidente nuclear da usina Chernobyl.
1988 Constatação de graves desastres ambientais.
1988 Primeira reunião entre governantes e cientistas sobre as mudanças climáticas.
1990 Painel intergovernamental sobre mudanças climáticas.
Protocolo de Kyoto com propósito de reduzir em 5,2% a emissão de gás em relação ao índice de 1990 e estabilizar as emissões de dióxido de carbono.
1992 Eco 92 impulsionou a preocupação com o desenvolvimento sustentável.
1999 Criação do Índice Dow Jones de Sustentabilidade.
2002 Eco 2002 ou Rio +10 acertos e falhas das ações relativas ao meio ambiente mundial.
2012 Eco 2012 – evolução do conceito de sustentabilidade e práticas de controle ambiental.
Fonte: Elaborado pela autora.
A logística reversa entra em sintonia com as premissas do conceito de
Desenvolvimento Sustentável apresentado pela World Comission Environment and
Development (WCED) que traz a seguinte recomendação: “atender as necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender as
suas próprias necessidades” (OCDE, 1987).
A LR modifica também o conceito de lixo, sua necessidade de tratamento e
disposição final, e nasce de uma sociedade marcada por intenso desenvolvimento
industrial e tecnológico que, segundo Franco (2000), tem uma produção de resíduos
sem precedentes na história da humanidade e precisa lidar corretamente com o
descarte.
A logística reversa no Brasil parte do conceito de responsabilidade
compartilhada, que é um dos temas centrais capaz de fomentar novos negócios e
mudanças para empresas brasileiras, redes e respectiva cadeia produtiva e pode
62
gerar economias em remanufatura e isso vai exigir um trabalho conjunto, como
descrito na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Ao tratar do lixo urbano, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é
considerada um marco histórico da gestão ambiental no Brasil, tendo como princípio
a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população,
impulsionando o retorno dos produtos às indústrias fabricantes.
A PNRS traz impacto e obrigações legais, mas também oportunidades ao
fundamentar quais são as responsabilidades compartilhadas que cria novas
demandas, processos, negócios, empresas, associações e traz vantagens para a
sociedade e grupos de diversos setores, que podem se beneficiar da lei que rege o
funcionamento da logística reversa no Brasil.
São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos: [...] integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos (Cap. II, art. 6º, XII).
Em seu capítulo III, Seção I, a PNRS traz desafios como a implantação de
instrumentos que encorajam a coleta seletiva e seus respectivos sistemas de
logística reversa, entre outras ferramentas relacionadas à implementação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos definidos pelos
planos de gestão integrada nos munícipios e respectivos acordos setoriais com
status de implantação, conforme quadro 19.
Quadro 19 – Sistemas de logística reversa em implantação pela PNRS
Cadeia Produtiva Status de implantação
Embalagens plásticas de óleos lubrificantes
Acordo setorial assinado em 19/12/2012. Publicado em 07/02/2013.
Lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista
Acordo setorial assinado em 27/11/2014. Publicado em 12/03/2015.
Embalagens em geral Acordo setorial assinado em 25/11/2015. Publicado em 27/11/2015.
Produtos eletroeletrônicos e seus componentes
10 propostas de acordo setorial recebidas até junho de 2013. Proposta unificada em negociação desde janeiro de 2014 com próxima etapa de consulta pública.
Medicamentos 03 propostas de acordo setorial recebidas até abril de 2014 e ainda em negociação para novas operações nas redes de suprimentos. Projeto em etapa de consulta pública.
Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2016).
63
A PNRS tem como objetivos manter a qualidade ambiental, a redução,
reutilização, reciclagem e padronização de produtos sustentáveis, o
desenvolvimento de tecnologias limpas, a redução do volume de resíduos perigosos,
o fomento do uso de recicláveis e reciclados, o incentivo a gestão integrada, a
cooperação técnica e financeira, a capacitação em resíduos sólidos, a regularidade
no manejo de resíduos e a prioridade nas contratações sustentáveis (materiais
recicláveis e reciclados), a integração de catadores de recicláveis, a análise do ciclo
de vida do produto, melhoria do processo produtivo e a rotulagem ambiental. O
quadro 20 ilustra impactos da adoção da lei 12.305/10 para empresas, sociedade e
governo e respectivas responsabilidades de cada parte.
Quadro 20 – Impactos da Lei nº 12.305/10
PARA AS EMPRESAS PARA A SOCIEDADE PARA O GOVERNO
É obrigatório controlar custos e medir a qualidade do serviço.
Reciclagem deve avançar. Prefeituras passam a fazer a compostagem.
Marco legal estimulará ações empresariais.
Geração de mais negócios com impacto na geração de renda.
Novos instrumentos financeiros impulsionarão a reciclagem.
Mais produtos retornarão à indústria após o uso pelo consumidor.
Catadores reduzem riscos à saúde e aumentam renda em cooperativas.
Cooperativas são contratadas pelos municípios para coleta e reciclagem.
Aumento na quantidade e melhoria da qualidade da matéria prima reciclada.
Os lixões precisarão ser erradicados.
Municípios farão plano de metas sobre resíduos com participação dos catadores.
Trabalhadores deverão ser treinados e capacitados para ampliar produção.
Responsabilização pelo descarte correto.
Conscientização sobre o descarte correto.
Fonte: PNRS (2012).
Existem vários modelos para tratamento de resíduos, como o uso de aterros
sanitários, que é uma técnica que basicamente consiste da compactação dos
resíduos no solo periodicamente coberto com terra ou outro material inerte. Os
resíduos coletados, dependendo de suas propriedades e características físico-
químicas, formas de contenção e disposição, em especial os resíduos perigosos,
exigem cuidados específicos, que no Brasil são determinados pelas normas da
ABNT: NBR 10004:2004 e NBR 12808:1993.
A reciclagem é a finalização de vários processos pelos quais passam os
materiais que seriam descartados e se inicia apenas após a coleta, separação e
processamento por meio de um conjunto de procedimentos que possibilita a
64
recuperação do material descartado, que é reintroduzido no ciclo produtivo visando à
produção de novos bens (ALVES, 2003).
Um exemplo ainda fora da regulamentação é o controle e fiscalização da
cadeia de produtos farmacêuticos e medicamentos, cuja destinação final desses
resíduos e suas respectivas boas práticas de fabricação são regulamentadas pela
ANVISA e pelo CONAMA, essas normas não tratam ainda da responsabilidade
compartilhada de cada ente da cadeia farmacêutica e não abordam a questão dos
resíduos de medicamentos domiciliares.
O take-back de medicamentos está implantado de forma diferente em países
como Alemanha, Espanha, França, Itália, Portugal, Suécia, Austrália, Canadá e
Estados Unidos. É importante notar que experiências de pós-consumo, fluxo reverso
e reinserção de materiais no ciclo produtivo ocorrem tanto com o fim da vida útil do
produto quanto por questões ambientais (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016).
Para exemplificar, somente quanto à questão dos resíduos eletrônicos são
produzidas no Brasil 370 mil toneladas ao ano, ou seja, quase 2 kg de resíduo por
habitante, sendo que apenas 2% desse montante são reciclados de forma
responsável. Nesse cenário, a participação e conscientização dos consumidores
para o descarte adequado de computadores, celulares, eletrodomésticos e outros
aparelhos depende também do apoio dos lojistas e fabricantes (PREFEITURA DE
SÃO PAULO, 2016).
Assim vale frisar que novas oportunidades de negócio podem estar ligadas à
criação de modelos que privilegiam a aprendizagem organizacional (como atributo
da Gestão de Conhecimento), a criação e inovação no ciclo produtivo e a sistemas e
controles do fluxo na cadeia de suprimentos que dependem da formulação de
estrátegias de negócios que atendam aos parâmetros do desenvolvimento
sustentável.
Dessa forma, o debate do tema da Logística Reversa nessas Comunidades
de Prática (que por sua natureza conseguem interligar teoria e prática) pode
potencializar processos importantes para a prosperidade organizacional e sociedade
(WENGER, 2011; DRUCKER, 1999).
65
3 METODOLOGIA
3.1 Plano metodológico
A utilização de métodos científicos pode ser entendida como um conjunto de
atividades sistemáticas e racionais que permite alcançar os objetivos propostos por
meio de conhecimentos válidos (LAKATOS, 1991).
O método científico é a teoria da investigação, que alcança seus objetivos
quando se propõe a cumprir as etapas que vão desde o descobrimento do problema,
passando pelos instrumentos, soluções, até a correção de hipóteses, teorias,
procedimentos, que dão início a um novo ciclo de investigação (YIN, 1994).
A pesquisa é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo,
que requer rigor científico e constitui o caminho para se conhecer a realidade, ainda
que parcialmente. Consiste das seguintes fases: escolha do tema, levantamento de
dados, formulação do problema, definição dos termos, construção das hipóteses ou
proposições, indicação de variáveis, delimitação da pesquisa, amostragem, seleção
de métodos e técnica, organização do instrumental, teste de instrumentos e
procedimentos (LAKATOS; MARCONI, 1991).
Uma pesquisa tem como requisito básico permitir que seus resultados sejam
passíveis de comparação e replicação. Para isso ela deve ser objetiva e confiável
em todas as fases e utilizar uma terminologia comum sobre o significado de
variáveis e sua operacionalização (GIL, 2007).
Os métodos, técnicas e instrumentais devem estar adequados e ser
selecionados de forma a atender diretamente os requisitos do problema a ser
estudado, e a coleta de dados só pode ser iniciada após a elaboração dos
instrumentos, que deve ter ligação com a teoria (LAKATOS; MARCONI, 1991).
Todos os métodos ou multimétodos apresentam vantagens e desvantagens,
mas na medida em que um problema específico é examinado como fenômeno
contemporâneo deve estar diretamente associado ao objetivo da pesquisa e dentro
de seu contexto (YIN, 1994).
De acordo com a natureza da pesquisa, então, se escolhem as técnicas que
serão empregadas e a determinação da amostra, que deverá ser representativa o
suficiente para apoiar as conclusões e partir para a coleta e registro dos dados, para
posterior análise.
66
A escolha do método e da estratégia metodológica deve-se ao pressuposto
de que será possível a obtenção de dados em níveis, perspectivas e fontes de
evidência, podendo-se incluir diversas sistemáticas que não foram ainda totalmente
estudadas (YIN, 1994).
A criação de um método de investigação é importante na elaboração de um
trabalho científico e visa a conseguir informações sobre determinados aspectos da
realidade, levando a uma melhor compreensão de uma situação dentro de seu
contexto. É importante determinar qual metodologia melhor esclarece e cria
condições para realizar tal investigação, qual lente e estratégia serão adotadas,
tanto para as premissas do método, quanto para os objetivos e a pergunta de
pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 1991).
A pesquisa de campo é utilizada quando o objetivo do investigador é
conseguir informações e conhecimentos acerca de um problema para o qual se
procura uma resposta, para a descoberta de novos fenômenos ou, ainda, das
relações entre fenômenos conhecidos. Consiste também na observação de fatos e
fenômenos que se presume relevante analisar (YIN, 1994).
A primeira fase de uma pesquisa de campo é a realização de uma
investigação bibliográfica que serve para identificar o status de trabalhos já
realizados sobre o tema e as opiniões mais contundentes sobre o assunto. O tema
da pesquisa é o assunto que se deseja provar ou desenvolver e, ao se formular um
problema, diz-se de maneira explícita, clara e compreensível com qual dificuldade
deverá se deparar e como será resolvida (YIN, 1994).
Na fase de execução da pesquisa procede-se a coleta, elaboração, análise,
interpretação e representação dos dados e conclusão. A amostra nada mais é que
uma parcela ou subconjunto selecionado da população a ser pesquisada, escolhida
por conveniência.
Os estudos exploratórios têm por objetivo descrever o fenômeno
detalhadamente e de forma sistemática, através de amostragens flexíveis. As
pesquisas de campo não podem abrir mão dos pré-testes que convergem para
estudos de grupos, instituições, indivíduos ou comunidades, e o método de
abordagem hipotético-dedutivo, com procedimento estruturalista como parte da
investigação de um fenômeno concreto, é analisado a partir de um modelo dentro de
uma realidade estruturada, a fim de que a análise possa explicar a totalidade do
fenômeno, assim como sua variabilidade aparente (LAKATOS; MARCONI, 1991).
67
Uma variável pode ser considerada uma medida ou classificação que
apresenta valores ou propriedades passíveis de mensuração. No universo da ciência
ocorrem observações de fatos, fenômenos, comportamentos, etc., de onde se
buscam hipóteses, proposições, e daí surgem teorias, fatores determinantes e as
relações de causa-efeito ou correlações.
3.2 O Método Survey
O método de pesquisa Survey refere-se a um tipo particular de pesquisa
social empírica que pode incluir censos demográficos, de mercado, sociais, etc. É
classificada, quanto ao seu propósito, em explanatória, exploratória ou descritiva e
pode ser realizada principalmente através de questionários e guias de entrevistas e
descrita como a obtenção de dados ou informações e características, opiniões ou
ações de determinado grupo, através de um instrumento de pesquisa. O survey
constitui-se num método apropriado para pesquisas que ainda se encontram em
estágios iniciais de investigação e que tenham por objetivo a obtenção de
informações preliminares sobre um tema, de modo que possa oferecer bases e
profundidade para futuras pesquisas (FORZA, 2002).
O instrumento serve para responder questões do “o que?”, “por que?”,
“como?” e “quanto?” através de questionários de múltipla escolha em que se
escolhem ou completam os dados (com ou sem assistência) e ou entrevistas, que
podem ser estruturadas ou semiestruturadas e aplicadas de forma pessoal, por
telefone ou por sistemas de mensagens (BABBIE, 1999).
O quadro 21 mostra um resumo das características de um survey que,
quando objetiva a busca de relações causais com uma teoria, denomina-se
explanatório. É exploratório quando deseja familiarizar-se ou identificar-se com
conceitos, ou com um tópico, e é descritivo quando visa identificar quais situações,
eventos, atitudes ou opiniões se manifestam numa determinada população (FORZA,
2002).
68
Quadro 21 – Características do survey
CARACTERÍSTICAS OBJETIVOS
Tamanho da população Coleta de informações de muitas pessoas ou de número relativo.
Tipo de amostra Investigação de todos os membros de um grupo ou apenas de
uma amostra da população alvo.
Tipo de coleta de dados Direta, de forma padronizada, por meio de questionários ou
entrevistas.
Quando utilizar Resultados de programas e políticas sociais ou levantamentos e
avaliação de processos.
Para que Inferências sobre a população alvo ou sobre aspectos
influenciadores.
O que perguntar Atitudes, crenças, opiniões, conhecimentos, comportamentos,
planos e experiências.
Fonte: Adaptado pela autora de Babbie (1999).
O quadro 22 mostra os passos para condução do instrumento e como pode
ser usado como recurso inicial para uma investigação que permite ultrapassar ideias
e conexões sobre a temática, tornando-a mais rigorosa à medida que vai sendo
produzida (BABBIE, 1999; FORZA, 2002).
Quadro 22 – Passos para aplicação do survey
PASSO ETAPA TAREFAS
1 Relacionamento com nível teórico Definiir construto (definições operacionais).
Criar proposições (hipóteses).
Definir fronteiras (unidade de análise e população).
2 Projeção do survey Considerar principais restrições.
Especificar necessidades de informação.
Designar amostra alvo.
Selecionar método para coleta de dados
Desenvolver instrumentos de mensuração
3 Realização de teste piloto Testar procedimentos de aplicação do survey.
Testar procedimentos de tratamento dos que não
responderam, dados perdidos e limpeza dos mesmos.
Avaliar a qualidade da mensuração
4 Coleta de dados para o teste da
teoria
Aplicar o survey
Tratar os que não responderam e dados perdidos.
Entrar com dados e fazer limpeza.
Avaliar a qualidade da mensuração.
5
Análise de dados Analisar dados de forma preliminar.
Testar as hipóteses.
6 Geração de relatório Desenhar as implicações teóricas.
Prover informações para a replicação.
Fonte: Adaptado pela autora de Forza (2002).
69
Nos estágios preliminares de um survey exploratório, a pesquisa pode ajudar
a determinar os conceitos a serem medidos em relação ao fenômeno de interesse,
bem como melhor medi-los, a fim de descobrir novas facetas do fenômeno. O
instrumento prevê o uso combinado de técnicas diversas como questionários on-line,
entrevistas estruturadas, não estruturadas, sejam elas aplicadas face a face, por
telefone, skype, whatsapp, etc.
O modelo teórico pretende relacionar as ligações entre os conceitos e
posteriormente pode ajudar a descobrir ou fornecer evidências da associação entre
os conceitos e validar limites de uma teoria. Forza (2002) indica que um survey
precisa ser aplicado em número adequado de respondentes e buscar um
refinamento, que é realizado através do pré-teste. Desse modo, este trabalho está
dividido em duas fases que se complementam e compreende as tarefas descritas no
quadro 23.
Quadro 23 – As fases da pesquisa
FASE TAREFAS
1 Realizar pesquisa bibliográfica e de conceitos.
Identificar CoP de LR.
Elaborar questionário de acordo com a teoria.
Convidar participantes selecionados.
Aplicar questionário pré-teste.
Analisar os dados resultados do pré-teste.
Ajustar e refinar o questionário.
2 Designar amostra alvo.
Selecionar o método para a coleta de dados.
Convidar base expandida para participação.
Enviar questionário refinado on-line.
Aplicar entrevistas estruturadas.
Coletar dados capturados.
Analisar dados.
Apresentar resultados.
Escrever conclusões.
Fonte: Elaborado pela autora.
Para este estudo, escolheu-se a pesquisa de campo do tipo exploratória
descritiva, como método de investigação empírica, uma vez que o objetivo é
aumentar a familiaridade do pesquisador com o ambiente e fenômeno, a fim de se
clarificar os conceitos através de procedimentos sistemáticos. Para a condução da
pesquisa será utilzado como instrumento um survey, que visa realizar o
70
levantamento de fases iniciais da investigação do fenômeno (nas quais geralmente
não há nenhum modelo e os conceitos precisam ainda ter melhor entendimento) a
fim de descobrir novas possibilidades e dimensões da população de interesse.
O método foi escolhido por convergir com a finalidade de identificar-se e
familiarizar-se com os conceitos, uma vez que pretende investigar questões que
ocorrem no momento presente ou recente, trata de situações reais do ambiente para
as quais não é possível determinar variáveis dependentes e independentes. A
aplicação feita de forma impressa ou eletrônica através de instrumento pré-definido
para obter descrições quantitativas de determinada população, sendo em alguns
casos passível de assistência no preenchimento.
A intenção neste trabalho é que os fatos descobertos pela pesquisa empírica
possam esclarecer os conceitos mostrados nas teorias, como um meio para
interpretar, criticar ou revelar, compreender ou explicar o fenômeno de forma mais
ampla.
3.3 Pré-teste: versão piloto do questionário
A versão piloto do questionário teve origem a partir da teoria, e o modelo de
questionário está disponível no apêndice II. A oportunidade de testar o questonário
piloto surgiu a partir dos resultados da combinação dos termos “reciclagem +
logística reversa” realizada no Google dia 01 de junho de 2016 às 14h 59min, que
redirecionou para os sites www.recicleiros.org.br e www.rotadareciclagem.com.br e
desencadeou as seguintes ações:
1. Elaborar listagem das empresas que apareceram.
2. Entrar em contato por e-mail solicitando telefones de contato.
3. Contatar por telefone para obter indicações.
4. Ligar para contato indicado e confirmar visitação.
5. Visitar contato indicado e aplicar questionários.
6. Analisar dificuldades de preenchimento e entendimento.
A partir desses passos surgiu a indicação da Cooperativa Central Tietê de
reciclagem, cujos gestores, dirigentes e cooperados já participam de uma rede de
comercialização de materiais descartados e fazem a separação de produtos pós-
consumo e logística reversa para diversas organizações como: Tetrapak e Pepsi-Co.
71
Foi então contatada a Central Tietê, que aceitou participar da pesquisa, sendo
que a cooperativa recebe, recicla ou reaproveita lixo descartado, faz coleta, triagem,
reciclagem, processamento, beneficiamento e comercialização de sucatas e
resíduos sólidos urbanos como: embalagens longa vida, metais, papel branco,
plástico e vidro, agendou-se a aplicação do piloto, que teve por objetivo detectar
possíveis dificuldades de preenchimento e de entendimento, além de medir a
resistência dos respondentes.
No dia 14 de junho de 2016, a versão do questionário piloto (disponível no
apêndice II) foi então aplicada de forma presencial em 21 cooperados da Central
Tietê, localizada na Av. Salim Farah Maluf, 179, no bairro do Tatuapé, na cidade de
São Paulo. As questões foram elaboradas a partir da teoria, com escala de Likert
com 5 alternativas, conforme mostra o quadro 24.
Quadro 24 – Principais conceitos e autores para elaboração do questionário
CONCEITO TEORIAS OU MODELOS
Comunidades de Prática como paradigmas de rede. Lave, Wenger (1991); Sacomano Neto, Truzzi (2004); Nohria (1992); Gulati (1998).
Logística Reversa como tema de domínio que legitima a comunidade pela afirmação dos propósitos e valores dos participantes.
Wenger et al. (2002); Reis et al. (2015);
Rogers, Tibben-Lembke (1998);
PNRS (2012).
Legitimidade da participação dos membros na comunidade/rede.
Lave, Wenger (1991); Wenger et al. (2002).
Práticas e aprendizados. Dalkir (2005); Wenger (2011); Nonaka Takeuchi (1997);
Davenport, Prusak (1998).
Ciclos da Gestão do Conhecimento:
Ciclo 2. Indicadores de capital de conhecimento ou de valor potencial.
Ciclo 3. Indicadores de conhecimentos aplicados à prática.
Dalkir (2005); Reis et al. (2015);
Rogers, Tibben-Lembke (1998);
PNRS (2012).
Fonte: Elaborado pela autora.
A aplicação do pré-teste pôde então detectar que o número inicial de trinta e
quatro questões era excessivo, tornando cansativa a aplicação (que na versão
refinada do questionário ficou reduzida a quinze). Outra observação coletada
informalmente refere-se à percepção do grupo, que desconhece o que seja uma
comunidade de prática, apesar de o trabalho realizado oferecer todos os elementos
estruturais de uma CoP propostos por Wenger (2011), e de redes propostos por
Kogut (2000): interconectividade, interdependência, tempo curto de resposta,
flexibilidade de produção, uso do conhecimento coletivo, compartilhamento e trocas
significativas.
72
3.4 O refinamento do questionáro
O questionário foi inicialmente concebido para ser aplicado em duas etapas
com vinte e nove questões e cinco níveis de concordância pela escala de Likert, e
cinco questões para a entrevista que visava coletar evidências, quando as duas
últimas perguntas indicassem que houve reutilização e conversão de conhecimentos
em novos produtos, serviços, processos. Esse projeto inicial não se mostrou muito
prático e adequado para aplicação na realidade das cooperativas e isso gerou a
necessidade de criar uma nova versão mais concisa.
Uma vez refinadas as questões, o survey foi gerado de forma eletrônica por
meio do Google Forms, ferramenta gratuita oferecida pelo Google para
desenvolvimento de questionários online e disponível em:
<https://www.google.com/intl/pt-BR/forms/about/>.
A versão refinada está disponível no apêndice III e, a seguir, é apresentado
como foram desenvolvidas as novas questões. A questão 1 visa relacionar a
comunidade com seu tema de domínio. A questão 2 refere-se especificamente ao
impacto da PNRS, e a questão 3, conforme Dalkir (2005), visa entender se existem
resultados práticos.
As questões 4 a 7 foram formuladas para entender o funcionamento do grupo
e se o mesmo trabalha em conjunto, de forma a produzir experiências que se
transformam em prática a partir das interações entre os membros (WENGER et al.,
2011). As questões 8 a 11 tratam de aspectos de aprendizagem, novos membros e
ferramentas que contém implícitas novas ideias, informações, linguagens, histórias e
documentos e norteiam-se pelos conceitos de Dalkir (2005) de que as CoP
contribuem com esses elementos de forma prática. As questões 11 a 13 baseiam-se
em Davenport, Prussak (1997) que tratam do conjunto de repositórios.
Para captar o perfil dos grupos de respondentes o apoio teórico foi
encontrado em Wenger et al. (2002), que fala que o domínio legitima a comunidade
pela afirmação dos propósitos e valores dos participantes e isso inspira os membros
a contribuir, participar e orientar seus aprendizados, trazendo significado para as
ações e atividades. A reformulação resultou então em 13 questões de múltipla
escolha pela escala likert e cinco níveis de concordância e 2 questões para
entrevistas das evidências, sendo que o quadro 25 apresenta um resumo de como
foi elaborada cada uma delas, sua relação com a teoria, tema e indicador.
73
Quadro 25 – Questões e indicadores de conhecimentos aplicados à prática
QUESTÃO PROPOSTA TEMA INDICADOR BASE TEÓRICA
1 – O tema Logística Reversa é amplamente discutido no grupo ou comunidade?
Logística Reversa
Domínio do tema Logística Reversa
Wenger (1998); Wenger et al. (2002)
2 – A Política Nacional de Resíduos Sólidos é amplamente debatida no grupo ou comunidade?
Logística Reversa
Conhecimento da PNRS
Rogers, Tibben-Lembke (1998);
Brito et al. (2004)
3 – A discussão do tema produz resultados práticos, propostas e novas soluções para o dia a dia?
Resultados Práticos
Conversão de conhecimento em soluções
Dalkir (2005)
4 – O grupo de trabalho pode ser considerado uma rede que permite diversas conexões que auxiliam nas realizações das tarefas diárias?
Redes enquanto arranjos sociais colaborativos
Uso de conexões sociais e respectivo
aproveitamento
Castells (2005); Guechtouli et al. (2013);
Reis et al. (2015)
5 – O aconselhamento e a troca de experiências com diversos especialistas no grupo facilita a realização das tarefas?
Comunidade de Prática
Aconselhamento e troca de experiências entre especialistas e membros da comunidade
Wenger (1998); Wenger et al. (2002);
Wenger (2011); Dalkir (2005)
6 – As experiências trocadas no grupo já se transformaram em alguma solução prática aplicada na sua vida profissional?
Comunidade de Prática
Implementação de soluções práticas
Wenger (1998); Wenger, McDermott e Snyder (2002)
7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas nas suas redes e relacionamentos? profissionais?
Comunidade de Prática
Admissão de novos membros na CoP
Wenger (1998); Wenger, McDermott e Snyder (2002)
8 – Novos integrantes trazem novos interesses e soluções para o grupo?
Comunidade de Prática
Admissão de novos membros na CoP
Wenger (1998); Wenger, McDermott e Snyder (2002)
9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?
Uso das comunidades para promover aprendizagem
Melhoria nas práticas de aprendizagem e aprendizagem organizacional
Wenger, McDermott e Snyder (2002)
Wenger (2011)
10 – O grupo facilita que novos processos ou novas políticas sejam incorporados na sua rotina?
Inovação de processos
Uso da ferramenta de rede para incentivar novos conceitos
SBGC (2015); Dalkir (2005); Davenport, Prussak (1997)
11 – O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?
Inovação na prática
Uso da rede como ferramenta para incentivo à Inovação
Nonaka, Takeuchi (1997);
Davenport, Prussak (1997)
12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?
Transformação do conhecimento tácito em explícito
Uso das redes como ferramentas de incentivo
Nonaka, Takeuchi (1997, 1998); Dalkir (2005)
13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?
Repositórios Documentos atualizados
Wenger (2011); Dalkir (2005); Davenport, Prussak (1997)
Fonte: Elaborado pela autora.
74
3.5 Modelo de questionário refinado
O questionário mostrado a seguir foi aplicado via web (na forma online) e
presenciamente (na forma impressa), com assistência aos respondentes. A
elaboração das perguntas foi balizada pelas definições de Guechtouli et al. (2013),
Dalkir (2005), Lave, Wenger (1991), Wenger et al. (2011), Brito et al. (2004), Reis et
al. (2015), Rogers, Tibben-Lembke (1998).
Identificação do grupo ou comunidade
Nome do grupo ou comunidade:
Número de total de participantes: ( )
Identificação individual do respondente
Nome do respondente
E-mail:
Tipo de participação no grupo/ comunidade:
( ) Especialista ( ) Líder ( ) Coordenador ( ) Membro ( ) Convidado ( ) Cliente ( ) Patrocinador
Tema Logística Reversa
Conhecimento do tema: ( ) Especialista/Profissional da área ( ) Estudioso/Curioso ( ) Parte interessada
Importância do tema para a sociedade: ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Obrigatória ( ) Não sei
Você concorda com a frase?
“A Logística Reversa pode ser entendida como movimento contrário ao fluxo direto
de produtos na cadeia de suprimentos, capaz de gerar ambientes mais saudáveis e
melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, contribuindo para melhorar a
sustentabilidade”. ( ) Concordo: ( ) Discordo ( ) Não Sei
75
Responda as alternativas a seguir de acordo com o quanto você concorda ou discorda que elas afetam o
desenvolvimento de tarefas no seu dia a dia.
TEMA DE DOMÍNIO E CONHECIMENTOS
Legenda: CT = Concordo totalmente; C = Concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = Discordo totalmente
1 – O tema Logística Reversa é amplamente discutido no grupo ou comunidade?
2 – A Política Nacional de Resíduos Sólidos é amplamente debatida no grupo ou comunidade?
3 – A discussão do tema produz resultados práticos, propostas e novas soluções para o seu dia-dia?
4 – O grupo de trabalho pode ser considerado uma rede que permite diversas conexões que auxiliam nas realizações das tarefas diárias?
5 – O aconselhamento e a troca de experiências com diversos especialistas no grupo facilita a realização das tarefas do dia a dia?
6 – As experiências trocadas no grupo já se transformaram em alguma solução prática aplicada na sua vida profissional?
7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas nas suas redes e relacionamentos profissionais?
8 – Novos integrantes trazem novos interesses e soluções para o grupo?
9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?
10 – O grupo facilita que novos processos ou novas políticas sejam incorporados na sua rotina?
11- O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?
12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?
13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?
ENTREVISTA COLETA DE EVIDÊNCIAS
14. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP Tipo: ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças
Quais: ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem
15. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho
Tipo: ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças
Quais: ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem
3.6 Grupos de respondentes
Para participar da pesquisa foram convidados grupos e associações que
lidam com o tema da logística reversa, participam de redes ou comunidades que
76
atendiam aos requisitos da pesquisa e se mostraram disponíveis. A coleta dos
dados e informações de campo foi realizada por amostragem por conveniência. A
seguir apresentam-se as nomenclaturas dos grupos divididos por tipo de
participação na comunidade. São considerados especialistas: GE.LOG (CRA-SP),
Ibaplac Produtos Recicláveis, Sinctronics Centro de Inovação. Como parte
interessada foram consideradas as empresas TetraPak e PepsiCo, que apoiam as
ações do Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), e como membros,
as cooperativas Coopercaps, Nossos Valores e Central Tiet que fazem parte da
Rede de comercialização zona sul.
GE.LOG (CRA-SP)
http://crasp.gov.br/wp/grupos_de_excelencia/adm-de-operacoes-empresariais-e-
logistica-2/
O Grupo de Excelência em Administração de Cadeias Produtivas e Logística
Empresarial (GE.LOG) do Centro do Conhecimento do Conselho Regional de
Administração de São Paulo (CRA-SP) tem como objetivo gerar e compartilhar
conhecimentos relativos às áreas de atuação profissional, servindo como um
ambiente para fomento e discussões sobre temas e tendências. Fundado em 2009,
é uma comunidade de empresários, executivos, administradores e sociedade em
geral que tem por objetivo o desenvolvimento de análises sobre logística empresarial
e cadeias produtivas de diferentes setores.
IBAPLAC
www.ibaplac.com.br
A Ibaplac Produtos Recicláveis desenvolve e aplica tecnologias para
reaproveitamento do lixo, por exemplo, embalagens longa vida como matéria-prima
para criar novos produtos, entre eles telhas ecológicas feitas de material 100%
reciclável recebido de cooperativas. O processo de produção consiste em colocar o
material numa prensa eletrotérmica de 150º C que funde plástico e alumínio. A
transformação cria um produto barato de alta resistência e durabilidade, que oferece
garantia de 30 anos, capaz de permitir isolamento térmico, e o processo de
vulcanização permite que se necessário o produto possa ser novamente reciclado.
77
Para alimentar a produção, são retiradas por mês do meio-ambiente em média dois
milhões de embalagens de longa vida para produção dessas telhas.
SINCTRONICS
www.sintronics.com.br
A Sinctronics é um centro de inovação em tecnologia sustentável que faz
coleta, identificação de materiais, recomposição, reciclagem, reinserção e gestão da
coleta e logística reversa, além do rastreamento de todo o processo, a fim de
garantir a adequada destinação e atender aos requisitos governamentais e tem
processos de GC implantados.
CEMPRE
http://cempre.org.br/sobre/id/1/institucional
O Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) foi fundado em
1992 e funciona como uma associação sem fins lucrativos, mantida por empresas
privadas de diversos setores. Dedica-se à promoção da reciclagem e do conceito de
gerenciamento integrado do lixo, com a finalidade de conscientizar a sociedade
sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem por meio de publicações,
pesquisas técnicas, seminários e bancos de dados. Os programas de
conscientização são dirigidos principalmente para formadores de opinião, empresas,
acadêmicos e organizações não governamentais (ONGs). As empresas que apoiam
o CEMPRE e concordaram em participar da pesquisa foram a TetraPak e a PepsiCo.
REDE DE COMERCIALIZAÇÃO ZONA SUL
http://www.redecomzonasul.com.br/index.php/sobre-a-rede-4/
Composta por cooperativas de catadores com grande experiência na coleta,
triagem e venda de resíduos recicláveis foi criada em setembro de 2014 e
atualmente é integrada por 17 cooperativas, 10 na cidade de São Paulo e 7 na
região de Campinas. A rede surgiu a partir de projeto patrocinado pela PepsiCo que
possibilitou a aquisição de recursos e melhorias nas condições de trabalho, além da
criação de um modelo de negócio com propósito de ampliar, profissionalizar e
fortalecer a comercialização por meio de parcerias entre as cooperativas
associadas. Realiza encontros, reuniões, capacitações e estudos de mercado para
78
os membros. O impacto social da atividade se traduz em inclusão e cidadania para
desempregados, jovens, idosos e egressos do sistema carcerário. Aceitaram
participar da pesquisa as cooperativas Coopercaps, Central Tietê e Nossos Valores
e destacam-se para essa pesquisa alguns objetivos dessa rede:
Realizar estudos de mercado e prospectar compradores para o setor de
resíduos pós-consumo.
Articular cooperativas de Catadores de Resíduos Sólidos para realizarem
comercialização em conjunto e gerar melhores oportunidades de negócios
no setor de reciclagem, viabilizando a comercialização em rede.
Contribuir para a profissionalização dos catadores organizados em
cooperativas
Auxiliar as empresas na implantação de ações de responsabilidade
compartilhada na gestão dos resíduos, atendendo as determinações da
PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10).
COOPERCAPS
www.coopercaps.com.br
A COOPERCAPS – Cooperativa de Coleta Seletiva de Capela do Socorro,
surgiu em 2001 no bairro Capela do Socorro, após um curso de capacitação para 30
desempregados. Expandiu-se a partir de 2002, quando o autódromo de Interlagos
autorizou a coleta de recicláveis em evento da Fórmula I, que viabilizou a coleta de
cinco toneladas de material reciclável e a aquisição de uma prensa manual. Conta
com 93 catadores e processa em média 200 toneladas por mês, que geram, após
pagar despesas de INSS, em torno de R$ 1.400,00 para cada cooperado.
NOSSOS VALORES
A cooperativa não possui site e utiliza um galpão emprestado da Prefeitura de
São Paulo. Possui 42 cooperados e processa em torno de 80 toneladas por mês de
material reciclado o que proporciona a renda de R$ 800,00 para seus colaboradores.
CENTRAL TIETÊ
A Central Tietê não possui site. A coleta seletiva gera faturamento mensal
aproximado de R$ 40.000,00 ao processar 150 toneladas mês de material reciclado
79
que é retirado do meio ambiente e proporciona renda para 41 colaboradores e suas
famílias. Disponibilizou informações e contatos com a Prefeitura, além da aplicação
do teste piloto o que viabilizou a adaptação do mesmo também para o público de
catadores.
3.7 A Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no período de 26 de setembro de 2016 a 07
de dezembro de 2016, obtida por conveniência dos que responderam aos convites
de participação, conforme modelo no apêndice I.
A operação foi realizada da seguinte forma: nas cooperativas, os
questionários foram aplicados de forma presencial, de acordo com a disponibilidade
de agenda das partes. Visando principalmente facilitar a interlocução com os grupos
de especialistas (que tem menor disponibilidade de agenda), os mesmos foram
convidados a responder o formulário on-line, através do envio de um link por e-mail.
Após o envio do link foi realizado um acompanhamento por telefone para obtenção
de um retorno mínimo desejado para aplicação pelo menos em 40% dos
convidados. O quadro 26 mostra quais foram os procedimentos adotados que
permitiram realizar a coleta de dados que viabilizou a pesquisa. Os dados foram
posteriormente inseridos numa base de dados para tabulação e relatórios e análise.
Quadro 26 – Procedimento da coleta de dados
Objetivo Indicação da Teoria Procedimentos
População Coleta de informações de muitas pessoas ou de número relativo
Envio de 221 convites para 10 grupos selecionados
Amostra Investigação de todos os membros de um grupo ou apenas de uma amostra da população alvo.
Aplicação do survey com 92 respondentes
Tipo de coleta de dados Direta, de forma padronizada, por meio de questionários ou entrevistas.
Questionários e entrevistas
Tipo de pergunta Atitudes, crenças, opiniões, conhecimentos, comportamentos, planos e experiências.
Opiniões e experiências
O que Resultados de programas e políticas sociais ou levantamentos e avaliação de processos.
Levantamento de resultados
Para que Inferências sobre a população alvo ou sobre aspectos influenciadores.
Aspectos influenciadores
Fonte: Elaborado pela autora.
80
3.8 Análise dos dados
Para garantir resultados robustos e válidos relacionados ao modelo
conceitual, a pesquisa deve assegurar as seguintes etapas que foram realizadas:
tabulação dos dados, análise das respostas, formatação dos resultados, elaboração
e apresentação das conclusões, redação final e defesa. A tabulação dos dados e a
geração das figuras foram realizadas através do Google.Forms e os dados
percentuais apresentados nos gráficos tiveram as casas decimais excluídas nos
textos que são apresentados em blocos para facilitar o entendimento.
O trabalho em questão é um survey exploratório, com corte tranversal (a
coleta de dados ocorreu num determinado momento), com amostra por conveniência
(os participantes foram escolhidos por estarem disponíveis), cujo tamanho da
amostra foi delimitado no momento em que não houve mais contribuições agregadas
na aplicação dos questionários. As análises a seguir mostram as variáveis nominais,
isto é, os elementos foram agrupados por atributo dos percentuais de concordância
obtidos.
81
4 RESULTADOS
O presente trabalho se propõe a investigar contribuições de Comunidades de
Prática de Logística Reversa baseadas nos Ciclos da Gestão do Conhecimento,
para isso foi necessário examinar, além dos grupos pesquisados, suas inter-
relações, características, estrutura e contexto que determina as possibilidades de
intercâmbio de informações entre as partes, uma vez que os respectivos níveis de
maturidade em relação ao conhecimento e sua respectiva gestão são muito
diversos. Os resultados apresentados a seguir oferecerem uma visão geral do
contexto, a caracterização da rede e os percentuais obtidos e analisados na
aplicação do survey nas cooperativas de reciclagem, fabricantes de insumos,
empresas beneficiadoras e especialistas da área.
4.1 Contexto e características da rede
A rede é formada por cooperativas de reciclagem, fabricantes de insumos,
empresas beneficiadoras e especialistas da área, elementos que têm uma
identidade entrelaçada pelo domínio logística reversa, conforme mostra a figura 9.
Figura 9 – Características da rede
Fonte: Elaborada pela autora.
82
Caracterizada pela necessidade de troca de conhecimentos sobre a PNRS, a
rede forma uma comunidade de interessados sobre o assunto, com pessoas que
trabalham, têm histórias, experiências, ferramentas, formas diversas de resolução de
problemas e algumas práticas compartilhadas.
No Brasil, as cooperativas de reciclagem têm importante papel e os catadores
de lixo ganham destaque tanto como agentes ambientais quanto de uma economia
solidária. Para atender à legislação, a Prefeitura de São Paulo passou a dividir as
responsabilidades da coleta seletiva com essa parcela da sociedade e atualmente o
município de São Paulo contempla um universo de 907 pessoas, distribuídas em 21
cooperativas conveniadas, conforme tabela 3 (PREFEITURA DE SÃO PAULO,
2016).
Tabela 3 – Cooperativas conveniadas a PMSP
Rede Cooperativa Ton/dia Total de cooperados
Redesul Nova Esperança 1,31 15
Redesul Coopermiti 1,04 25
Redesul Cooperpac 1,88 33
Redesul Central Tietê 3,79 41
Redesul Nossos Valores 2,84 42
Redesul Coopermyre 7,56 43
Redesul Cooperleste 13,63 50
Redesul Nova conquista 5,97 58
Redesul Cooper vivabem 10,95 70
Redesul Coopercaps 12,9 93
Redesul Coopere centro 9,92 126
Paulista Coopervila 2,59 29
Paulista Chico Mendes 0,78 33
Paulista Vira lata 6,40 53
Não informado Ágape Fênix 2,40 16
Não informado Cooperunião 1,10 18
Não informado Crescer 3,49 28
Não informado Vitória da Penha 4,06 33
Não informado Sem fronteiras 4,17 49
Não informado Cooperação 8,81 52
Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).
Nas cooperativas os processos, a produtividade e a lucratividade, além do
rendimento de seus cooperados, dependem de troca permanente de conhecimentos
em torno do domínio de interesse (separação correta de materiais para logística
83
reversa) com empresas de reciclagem, produtores de embalagens e órgãos
governamentais.
Segundo a PNRS (2010), a preferência na realização da segregação dos
resíduos sólidos deve ser dada às cooperativas ou associações de catadores, que
podem ser remuneradas pelo serviço e pela comercialização dos materiais e, apesar
de a logística reversa reunir atividades de pós-venda ou pós-consumo, como o
conserto em garantia, troca, reuso, o foco desse trabalho concentra-se na
remanufatura, descarte apropriado ou aspectos de reciclagem de materiais como
papel, papelão, vidro, metais e plásticos e também alguns produtos industrializados,
que após o término de sua vida útil são classificados como recicláveis, ou
reutilizáveis, e geram grande quantidade de resíduos sólidos, conforme mostra a
tabela 4.
Tabela 4 – Materiais encontrados no lixo
Material Itens
Plásticos Garrafas, embalagens de produtos de limpeza
Potes de cremes, xampus
Sacos, sacolas e saquinhos de leite
Brinquedos
Não recicláveis Papéis plastificados, metalizados ou parafinados (embalagens de biscoito) Cerâmicas, vidros pirex e similares e acrílico
Alumínio Latinhas de cerveja e refrigerante
Esquadrias e molduras de quadros
Metais ferrosos Molas e latas
Papel e papelão Jornais, revistas, impressos em geral
Caixas de papelão
Embalagens longa vida
Vidro Frascos, garrafas
Vidros de conserva
Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).
Na cidade de São Paulo, pesquisas indicam que o senso comum não faz
distinção na separação do lixo e resíduos orgânicos, embalagens, resíduos
altamente contaminantes como: pilhas, baterias, pneus, equipamentos eletrônicos e
medicamentos são descartados da mesma forma, o que inviabiliza a coleta
inteligente e posterior tratamento. Estima-se ainda que cada habitante do planeta
84
produza aproximadamente 1,5 kg de lixo por dia, resultando em volumes cujo
manejo se torna cada vez mais oneroso e desafiador (FRANCO, 2000).
Observa-se como tendência mundial nas grandes cidades a necessidade de
se apresentar crescentes ganhos ambientais que são dependentes de operações de
infraestrutura e logística para coleta de resíduos sólidos. Dados de 2013 da
International Solid Waste Association (ISWA) indicam que mais de 50% da
população mundial não tem acesso a serviços de coleta de lixo. A fase inicial da
logística que compreende a coleta e o transporte do lixo representa entre 40% a
60% dos custos, sendo o investimento nesta etapa, que resulta em melhor avaliação
dos serviços por parte da população.
A logística e as tecnologias são adotadas de forma variada em cada local e
dependem da realidade e do contexto, não existindo uma receita única, pois a
extensão territorial, a mão de obra disponível, o nível de conscientização ambiental,
o engajamento da população e o orçamento de cada município são determinantes
para tais escolhas.
O município de São Paulo é a maior cidade do país, o que por si só constitui
um diferencial que deve ser considerado e se reflete nos expressivos números e
volume de resíduos gerados, conforme a tabela 5 apresentada a seguir.
Tabela 5 – Volumes coletados pela limpeza urbana em São Paulo
(jan a dez 2015)
Tipo de lixo Coleta em toneladas
Alimentos vencidos 8
Animais 509
Diversos 350.480
Entulho 484.930
Feira livre 92.846
Poda 42.075
Rejeito 8.284
Resíduos de boca de lobo 9.867
Resíduos de córregos 141.339
Resíduos de piscinões 181.232
Varrição 106.815
Resíduos de saúde 288.047
Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).
A coleta seletiva é uma escolha que requer destinação correta e uma lógica
de consumo e descarte, com atividades que compreendem a reciclagem de papel,
plástico, vidro e metais, resíduos, que depois de serem recolhidos devem ser
encaminhados para as centrais de coleta.
85
Com tecnologia europeia e adaptada para a realidade brasileira, capaz de
identificar e separar automaticamente os resíduos de acordo com sua composição,
São Paulo conta com duas Centrais Mecanizadas de Triagem (CMT), cada uma com
capacidade para processar 250 toneladas de resíduos por dia. Em poucos bairros
existem sistemas de contêineres para a coleta mecanizada, que permitem à
população a liberdade de horários para dispor resíduos (PREFEITURA DE SÃO
PAULO, 2016).
Um bom exemplo de material reaproveitado e de grande valor, tanto para as
cooperativas quanto para os catadores individuais, são as embalagens Tetrapak que
permitem estocar alimentos por longo tempo e passaram a ser produzidas no Brasil
em 1978. O produto, quando descartado corretamente, tem alta durabilidade. A
empresa investe em soluções para a reciclagem e oferece apoio técnico para
cooperativas de catadores e parcerias com o governo. Nos centros de triagem, os
diferentes tipos de materiais recicláveis são separados, compactados em fardos e
enviados para a indústria recicladora. Após o consumo, as embalagens seguem
para a coleta seletiva e as fibras de papel recicladas podem transformar-se em
caixas de papelão, chapas, entre outros (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016).
Na seção de sustentabilidade do site da Tetrapak está descrito o processo
que ensina como polietileno e o alumínio podem ser destinados à fabricação de
placas e telhas para a construção civil, matéria-prima que também poderá servir
posteriormente para a confecção de canetas, vassouras etc. O polietileno, quando
submetido à separação térmica, é transformado em parafina, que pode ser usada
como combustível ou aditivo em lubrificantes e detergentes. O alumínio é
recuperado na forma de pó ou lingotes de alta pureza e retorna para a indústria de
fundição (TETRAPAK, 2016).
O município de São Paulo possui diversos instrumentos que versam sobre a
organização de sistemas de coleta seletiva para os fabricantes e geradores de
resíduos sólidos, como a lei municipal nº 14.973/09 e a lei nº 15.572/12, que dispõe
sobre adoção dos critérios socioambientais no desenvolvimento e implantação de
políticas e programas como o plano de gestão integrada de resíduos sólidos
(PGIRS), mas é a lei federal de 2010, 12.305/10, ou PNRS, que estabelece a
obrigação de fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores,
empresas de serviços públicos de limpeza urbana e sociedade e rege como deverá
ser a recuperação dos resíduos a fim de minimizar problemas decorrentes do não
86
aproveitamento, da não reutilização ou reciclagem dos materiais, sendo que outras
dezenas de resoluções caracterizam os prejuízos ambientais, sociais e econômicos
(PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016).
A PNRS (2010), além de indicar a responsabilidade compartilhada pela
gestão dos resíduos sólidos, como mostra a tabela 6 a seguir, também considera
que cada parte – indústria, comércio, distribuidores e cidadãos – deve obedecer ao
mote: “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos
sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.
Tabela 6 – Responsabilidades pelo recolhimento do lixo
Tipos de lixo Responsável
Domiciliar Prefeitura
Comercial Prefeitura
Público Prefeitura
Serviços de Saúde Prefeitura
Industrial Gerador
Portos, aeroportos e terminais ferroviários e rodoviários Gerador
Entulho Gerador
Fonte: Prefeitura de São Paulo (2016).
No país, os modelos adotados para logística reversa e comunicação com a
sociedade sobre os efeitos do lixo são ainda precários e não oferecem infraestrutura
adequada para que o sistema funcione, e assim a população não se sente
responsável por fazer a separação correta dos resíduos. A qualidade do material
descartado também conta com poucas empresas, salvo exceções, que assumem
responsabilidade pela destinação das embalagens de seus produtos; além do que
isso ainda não é visto como um negócio que pode se diversificar e ter escala. O
tópico a seguir mostra os resultados de aplicação da pequisa.
4.2 Perfil dos respondentes
Neste tópico serão apresentados os respectivos percentuais das respostas
obtidas no survey agrupados por blocos: a) perfil dos respondentes, b) percepção do
grupo sobre o tema da logística reversa, c) participação dos membros na rede e
comunidade, d) práticas e aprendizados, e) evidências de conversão de
conhecimentos. Nessa versão do questionário não foi prevista a inserção de
87
perguntas sobre idade, sexo e escolaridade dos respondentes, porém foram dados
colhidos para identificação dos grupos e o tipo de participação na comunidade.
Foram convidadas a participar da pesquisa diversas empresas, organizações
não governamentais, associações, cooperativas e grupos que de alguma forma têm
atividades relacionadas à logística reversa conceitualmente ou na prática, ou que de
algum modo são afetadas, motivadas, tentam solucionar ou aprimorar processos de
descarte de resíduos sólidos, por meio de diversas iniciativas.
Entre os que sinalizaram positivamente para responder a pesquisa
encontram-se especialistas, recicladores, beneficiadores, cooperativas de catadores,
fabricantes de insumos, comerciantes e consumidores, que totalizaram 221
(duzentos e vinte e um) convites e 92 (noventa e dois) respondentes que
efetivamente participaram e estão elencados no quadro 27.
Quadro 27 – Grupos de respondentes
Rede Organização Tipo Amostra Respondentes
Comunidade GE.LOG Grupo de especialistas 9 8
Reciclador SINTRONICS Empresa especializada 10 2
Reciclador IBAPLAC Empresa especializada 2 2
Cooperativa Central Tietê Cooperativas 41 19
Cooperativa COOPERCAPS Cooperativas 93 38
Cooperativa Nossos Valores Cooperativas 42 10
Insumos TetraPak Fabricante 2 2
Insumos PepsiCo Fabricante 2 2
Outros Pão de Açucar/
Ponto de coleta
Ponto de coleta no
comerciante
1 1
Outros Diversos Sociedade Civil 19 10
TOTAIS 221 92
Fonte: Elaborado pela autora.
A participação no grupo indica como os membros percebem sua inserção na
rede, sendo que, ao utilizar um discurso compartilhado, isso se reflete nas
respectivas perspectivas sobre o mundo e na definição das identidades individuais, o
que torna as relações sustentáveis e implica no modo como ocorre a transferência
de práticas de aprendizagem para crescimento e sustentação da própria
comunidade (LAVE; WENGER 1991; SACOMANO NETO; TRUZZI, 2004; NOHRIA;
1992; GULATI, 1998).
88
Figura 10 – Tipo de participação no grupo ou comunidade
Fonte: Elaborado pela autora.
O tipo de participação na rede foi indicado pelos próprios respondentes e
apresenta os seguintes valores: 1% se dizem especialistas, 2% líderes, 7%
coordenadores, 84% membros e 6% se apresentam como convidados. Nenhum
respondente se identificou como patrocinador ou cliente, apesar de as empresas
Tetrapak e PepsiCo, que adotam um modelo de participação e incentivo, serem
efetivamente patrocinadoras dessas comunidades.
4.3 Percepção sobre Logística Reversa
As respostas desse questionamento mostram a importância do tema da
logística reversa, partindo-se da premissa que a mesma pode ser considerada como
um processo capaz de planejar e controlar custos e fluxo de matéria-prima, estoque,
produto acabado e informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o
ponto de origem, de forma eficiente e eficaz, produzir o fluxo reverso ou ainda o
descarte apropriado de bens (pós-vendas ou pós-consumo), por meio dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor, seja por natureza legal, econômica,
ecológica, de imagem etc. (LEITE, 2003; REIS et al., 2015; ROGERS; TIBBEN-
LEMBKE, 1998).
Quanto ao conhecimento ou domínio do tema da logística reversa, que
representa a identidade, o interesse da comunidade, e como os membros participam
de atividades e discussões, se ajudam e compartilham informações, a pesquisa
apresenta os resultados conforme mostra a figura 11. Dos 92 respondentes, 7%,
89
denominam-se especialistas, 89% consideram-se empresa ou parte interessada no
tema, e 4% estudiosos ou curiosos pelo tema de domínio.
Figura 11 – Conhecimento sobre o tema
Fonte: Elaborado pela autora.
Também foi questionada a importância da Logística Reversa para a
sociedade, sendo que 20% responderam que consideram importante, 20% muito
importante, 26% obrigatório e 34% não souberam informar, conforme a figura 12.
Figura 12 – Importância do tema Logística Reversa para a sociedade
Fonte: Elaborado pela autora.
Um dos grandes desafios para a implantação da logística reversa no Brasil é
o nível de organização da cadeia econômica de reciclagem, quando comparada a
experiências de gestão especialmente de Áustria, Holanda e Bélgica, que têm as
mais altas taxas de reciclagem de resíduos e que recebem suporte de ações que
visam a apoiar a criação e o fortalecimento de organizações do setor. Para viabilizar
o alcance das metas propostas de recuperação de resíduos secos no Brasil e elevar
90
os índices atuais dos produtos e embalagens gerados pós-consumo e garantr a
efetividade da recuperação dos resíduos, como prevê a PNRS, o primeiro
questionamento deseja saber se o tema é amplamente debatido no grupo e
apresentou os seguintes índices: 11% disseram que discordam totalmente, 9%
dizem ser indiferentes ou desconhecer, 13% discordam, 20% concordam totalmente
e 47% concordam, conforme indicado na figura 13.
Figura 13 – Questão 1 – O Tema da LR é amplamente discutido no grupo ou comunidade?
Fonte: Elaborado pela autora.
Do mesmo modo a pergunta 2 é sobre o quanto a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) é debatida no grupo que como demonstrado pela figura
14, obtiveram-se os seguintes resultados: 6% disseram que discordam totalmente,
12% desconhecem ou se dizem indiferentes, 11% discordam, 20% concordam
totalmente e 51% concordam.
Figura 14 – Questão 2 – A PNRS é amplamente debatida?
Fonte: Elaborado pela autora.
91
A questão número 3 foi elaborada em conformidade com os ciclos da Gestão
do Conhecimento de Dalkir (2005), especialmente a terceira etapa, que passa pela
identificação de novos conhecimentos como resultantes do aprendizado no dia a dia,
os quais se transformam em soluções, de acordo com o contexto e finalidade.
Essa questão está também entrelaçada aos objetivos da pesquisa, que
pretende saber se discutir o assunto ou tema de domínio da logística reversa
promove resultados práticos no grupo. A figura 15 mostra os seguintes resultados:
6% disseram que discordam totalmente e 6% discordam que discutir o tema não traz
resultados práticos, 11% dizem que são indiferentes ou não sabem opinar. No
entanto, 55% concordam e 22% concordam totalmente e afirmam que discutir o
tema produz resultados práticos.
Figura 15 – Questão 3 – A discussão do tema produz resultados práticos?
Fonte: Elaborado pela autora.
4.4 Conexões nas redes ou comunidades
Participar ativamente de uma rede permite conhecer o que outros membros
da rede sabem, o que podem fazer e como contribuem. Tais conhecimentos são
detectados através de histórias compartilhadas, conversas e interações, jargões e
atalhos para as comunicações que criam um processo contínuo de engajamento
(LAVE; WENGER, 1991; WENGER et al., 2002; GUECHTOULI et al., 2013).
As redes podem ser vistas como arranjos sociais colaborativos, construídas
através de relacionamentos e conexões dos membros, que permitem que os
92
mesmos aprendam entre si. O aspecto interessante é que para haver
aproveitamento dessas conexões não é necessário que todos os membros
compartilhem o mesmo espaço, se conheçam ou trabalhem diariamente juntos
(CASTELLS, 2005; GUECHTOULI et al., 2013; FRANCO, 2016).
A questão número 4 investiga se o grupo se considera uma rede e se isso
auxilia na realização de tarefas. 2% disseram que discordam totalmente, 17% se
dizem indiferentes ou desconhecem o assunto e 5% discordam, 24% concordam
totalmente e mais da metade do grupo, ou seja, 52% concordam que o grupo é uma
rede e auxilia nas tarefas diárias, e que isso melhora os resultados organizacionais,
produz respostas rápidas, redução de tempo e custos e melhoria na qualidade das
decisões, conforme indica a figura 16.
Figura 16 – Questão 4 – O grupo pode ser considerado uma rede que auxilia nas tarefas diárias?
Fonte: Elaborado pela autora.
Os dados que serão apresentados a seguir mostram aspectos do
funcionamento e dinâmica da rede. A questão de número 5 destina-se a investigar
se a troca de experiências facilita o cotidiano e parte dos conceitos de Wenger,
(2011) e Dalkir (2005), que dizem que o aconselhamento e a troca de experiências
com diversos especialistas no grupo facilitam a realização das tarefas nas
Comunidades de Prática.
Apenas 1% discorda totalmente da questão apresentada, 4% disseram que
discordam, 17% se dizem indiferentes ou não sabem, 51% concordam e 27%
concordam totalmente com a premissa apontada, conforme a figura 17.
93
Figura 17 – Questão 5 – O aconselhamento e a troca de experiências facilitam nas tarefas do dia a dia?
Fonte: Elaborado pela autora.
4.5 Práticas e Aprendizados
Entre os objetivos específicos do estudo está apresentar o conceito sobre
Comunidades de Prática, de modo a ilustrar como esses organismos permitem que
seus membros possam aprender continuamente a fim de implementar soluções
práticas para o grupo (WENGER, 1998; WENGER; MCDERMOTT; SNYDER, 2002).
As práticas e aprendizados estão intrinsecamente ligados aos valores de
curto e de longo prazo, à cultura e dinâmica da rede, que permitirá ou não, a
conversão de conhecimentos em soluções, velocidade nas decisões, discussões e
fluxo de informações e criação e propagação de ambientes de inovação ou
ferramentas específicas e outros artefatos (DALKIR, 2005; WENGER et al., 2011;
NONAKA; TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT; PRUSAK, 1998).
A questão número 6 relaciona-se ao entendimento do grupo sobre se
experiências convertem-se em soluções práticas e se as mesmas são utilizadas na
vida profissional. A pergunta utilizada foi: As experiências trocadas no grupo já se
transformaram em alguma solução prática aplicada na sua vida profissional?
Os resultados indicados na figura 18 mostram que mais de metade dos
respondentes, ou seja, 56% concordam e 23% concordam totalmente; apenas 4%
disseram que discordam, 17% se dizem indiferentes ou desconhecem. Não houve
quem discordasse totalmente.
94
Figura 18 – Questão 6 – As experiências já se transformaram em soluções?
Fonte: Elaborado pela autora.
A questão 7 foi elaborada a partir dos conceitos de Wenger (2011), a fim de
se compreender se o grupo valoriza a admissão de novos membros na CoP, algo
que permite a circulação de ideias, interesses e conhecimentos que, ao serem
socializados, podem criar novas soluções que transbordam para toda a rede. A
figura 19 mostra os valores obtidos e apresentados no gráfico com 62% dos
respondentes dizendo que concordam que o grupo facilita que novas pessoas sejam
incorporadas a rede, 13% concordam totalmente, 20% se dizem indiferentes ou
desconhecem se isso ocorre, e apenas 5% discordam.
Figura 19 – Questão 7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas na rede?
Fonte: Elaborado pela autora.
95
A questão 8 foi elaborada a partir de Wenger (2011). Por meio dela se deseja
compreender se esses novos integrantes são vistos como ativos de conhecimento
para o grupo. Os percentuais apresentados na figura 20 mostram que 22% dos
respondentes não sabem se novos membros podem acrescentar novos interesses e
soluções para o grupo, 6% discordam da afirmação, 1% discorda totalmente, 54%
concordam e 17% concordam totalmente, o que mostra que a maior parcela dos
respondentes está de acordo com a mesma.
Figura 20 – Questão 8 – Novos Integrantes trazem novos interesses e soluções?
Fonte: Elaborado pela autora.
Produzir sinergia no grupo é algo importante para as comunidades de prática.
Saberes, tecnologias e ferramentas são vistos como recursos para implementação
de estratégias e propiciam uma melhor coordenação e padronização dos
procedimentos a serem adotados pela equipe (LAVE; WENGER, 1991).
O uso de tecnologias pode ser importante para a troca de experiências sobre
um tema tão dinâmico e pode facilitar a criação de alianças baseadas na
informação, de acordo com os quatro modos de conversão do conhecimento
propostos por Nonaka, Takeuchi (1997). A questão 9, então, foi elaborada para
entender se o grupo promove ou incentiva o aprendizado por meio do emprego de
novas tecnologias e ferramentas, e se isso incentiva aos membros a buscar novos
conhecimentos. A figura 21 mostra que 20% dos respondentes concordam
totalmente, 48% concordam, 29% não sabem ou são indiferentes, 3% discordam;
não houve quem discordasse totalmente.
96
Figura 21 – Questão 9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?
Fonte: Elaborado pela autora.
Davenport, Prussak (1998) falam da importância de se manter os repositórios
de documentos atualizados para a padronização de processos, estabelecimento e
disseminação de melhores práticas e rotinas de trabalho. Essas teorias subsidiaram
a elaboração das questões 10 a 13.
Segundo Dalkir (2005) e Wenger (2011), o sentimento de pertencer a um
grupo viabiliza que novos processos ou políticas, membros e ferramentas sejam
incorporados ao dia a dia. Assim, a questão 10 pergunta se o grupo facilita a
ocorrência de produção e a rotina de trabalho, sendo que 60% disseram que
concordam, 14% concordam totalmente, 21% dizem ser indiferentes ou
desconhecer, 4% discordam e 1% discorda totalmente, conforme mostra a figura 22.
Figura 22 – Questão 10 – O grupo facilita que novos processos e políticas sejam incorporados na rotina?
Fonte: Elaborado pela autora.
97
As definições de Wenger, McDermott e Snyder (2002) sobre as CoP enquanto
grupos de pessoas que compartilham um tema, uma preocupação, um conjunto de
problemas ou a busca de soluções, nos quais aprofundam conhecimento e
experiências práticas por meio de contínuas interações ilustra os resultados
mostrados na figura 23, sendo que 2% disseram que discordam totalmente, 21% se
dizem indiferentes ou desconhecem se isso realmente ocorre. 3% discordam e 14%
concordam totalmente, 60% concordam.
O uso das redes como ferramenta pode incentivar e introduzir novos
conceitos, práticas e processos que induzem e fomentam a inovação. A questão 11
destina-se a entender se o grupo promove essas ideias junto a seus membros
apresentando novas perspectivas ou maneiras de realizar suas tarefas (DALKIR,
2005; SBGC, 2016; DAVENPORT; PRUSSAK, 1997).
Figura 23 – Questão 11 – O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?
Fonte: Elaborado pela autora.
A questão 12 enfatiza se o grupo ou a comunidade incentiva o uso da
documentação para facilitar a transferência de conhecimento (tácito para explícito).
Os números revelam que quase metade dos respondentes, ou seja, 41% dizem que
desconhecem esses processos formais ou escritos, 3% disseram que discordam
totalmente, 14% discordam e dizem que não existem, 34% concordam e 8%
concordam totalmente, conforme a figura 24.
98
Figura 24 – Questão 12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?
Fonte: Elaborado pela autora.
Wenger et al. (2002) dizem da necessidade de haver ampla discussão sobre
o tema de domínio dentro do próprio grupo de atuação para melhorar as
experiências da comunidade. Dalkir (2005) enfatiza que existe uma necessidade
permanente de se fomentar a produção de documentos para consulta e é importante
que os mesmos estejam permanentemente atualizados, sejam de fácil acesso e
organizados em reposiórios, para que possam ser incorporados à cultura e ao
debate. A questão 13 mostra que os números obtidos referentes a essa afirmação
apontam que 19% discordam e 4% discordam totalmente; 45% não sabem ou
desconhecem e 5% concordam totalmente e 27% concordam que esses
documentos estejam atualizados, conforme mostra a figura 25.
Figura 25 – Questão 13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?
Fonte: Elaborado pela autora.
99
4.6 Coleta de evidências
As questões 14 e 15 visam saber se quando os membros ou integrantes
desses grupos interagem de alguma maneira, trabalham em conjunto ou socializam
conhecimentos, são possibilitadas a geração de novas soluções, artefatos, produtos
que podem ser consideradas evidências para toda a rede.
O ciclo da Gestão do Conhecimento de Dalkir (2005) prevê que é possível
medir os resultados de captura e criação, contextualização e atualização, aquisição
e aplicação, compartilhamento para disseminação de uma cultura de conhecimento,
de modo que desperte nos membros da rede a capacidade de desenvolver e
multiplicar expertises específicas em torno de práticas e processos.
Desse modo a questão 14 buscou investigar se a experiência profissional foi
(ou pode ser) aproveitada. O resultado é que quase metade dos respondentes, ou
seja, 47% disseram que já tiveram aproveitadas algumas de suas experiências
profissionais e acreditam que isso possa se reverter em novos produtos e serviços,
mudanças, novos processos, criação de parcerias e alianças, entre outros, conforme
indica a figura 26.
Figura 26 – Questão 14 – A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada no grupo ou comunidade?
Fonte: Elaborado pela autora.
O aproveitamento das experiências e o reconhecimento de seus profissionais,
inclusive fomentando a participar e interagir de forma variada com outras empresas
e organizações estão nos planos de empresas como PepsiCo e Tetrapak, que
100
investem em parcerias e na lógica de trabalho em rede, focando-se nas próprias
expertises, mas sem deixar de apoiar projetos que possam de alguma forma trazer
para essas empresas novas ideias. A figura 27 mostra os resultados para a pergunta
15, que busca saber se o grupo já criou novos produtos ou serviços que vale a pena
colocar em prática na organização em que trabalha. Os números indicam que
apenas 23% acreditam nisso.
Figura 27 – Questão 15 – O grupo ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho?
Fonte: Elaborado pela autora.
4.7 Proposições
As proposições formuladas visam chegar ao entendimento sobre a
importância das comunidades de prática e o respectivo uso das ferramentas de
gestão do conhecimento no processo de criação, aquisição e transformação de
conhecimentos enquanto alavanca para demais processos, garantindo
aprendizagem contínua de forma integrada ao trabalho, que se converte em
resultados.
Os quadros a seguir mostram um panorama dos percentuais das respostas
obtidas de acordo com a respectiva abordagem principal. Foi obtido um valor médio
de 69% (somando-se aqueles que concordam e concordam totalmente) para a
maioria das afirmações. Vale ressaltar que essa média cai pela metade (37%) para
as duas últimas questões que estão diretamente ligadas à documentação, ou à
conversão de conhecimento tácito em explícito.
101
Quadro 28 – Resumo de percentuais das questões 1 a 6
Questao 1 2 3 4 5 6 7 ABORDAGEM TEMA LR PNRS RESULTADOS COP TAREFAS SOLUÇOES NOVOS
MEMBROS
C totalmente 21% 20% 22% 24% 27% 23% 13%
Concorda 47% 51% 55% 52% 51% 57% 62%
Indif/não sabe 9% 12% 11% 17% 19% 17% 20%
Discorda 13% 11% 7% 4% 2% 3% 5%
Dtotalmente 11% 7% 6% 2% 1% 0% 0%
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Elaborado pela autora.
Quadro 29 – Resumo de percentuais das questões 7 a 13
Questao 8 9 10 11 12 13 SOMA ABORDAGEM NOVOS
INTERESSES NOVAS
FERRAMENTAS
NOVOS PROCESSOS
NOVAS PERSPECTIVAS
CONVERSÃO DE CONHECIMENTO
REPOSI TORIOS
VALOR MÉDIO QUESTÕES
C totalmente 17% 20% 14% 14% 8% 5% 17%
Concorda 54% 48% 60% 60% 34% 27% 52%
Indif/não sabe 22% 29% 21% 21% 41% 45% 22%
Discorda 5% 3% 4% 3% 14% 19% 7%
D totalmente 1% 0% 1% 2% 3% 4% 2%
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: Elaborado pela autora.
As respostas a seguir mostram a análise dos valores percentuais
apresentados nos quadros acima para cada uma das proposições apresentadas.
P1. Comunidades de prática de logística reversa propiciam a criação e a
transferência de conhecimentos em suas redes?
As CoP têm como princípio o caráter intangível do conhecimento e
disponibilizam um ambiente para conectar pessoas, incentivando o desenvolvimento
e o compartilhamento de ideias e estratégias, exigindo interação contínua e
desenvolvimento de valores similares, compartilhamento de metas e interesses
comuns; troca e desenvolvimento de novos conhecimentos; aplicação de práticas
comuns (WENGER, 1998; WENGER et al., 2002).
Pode-se considerar que a proposição é válida e tem resulltado afirmativo,
uma vez que o grupo em questão é caracterizado pela interação em torno do tema
que permite a construção de novos conhecimentos por meio do intercâmbio de
experiências e atividades conjuntas, o que, conforme Nonaka, Takeuchi (1997), faz
com que os membros se auxiliem mutuamente.
102
Os conhecimentos são articulados segundo a necessidade e o nível de
participação na comunidade. A GE.LOG, a Sintronics, a ibaplac, a TetraPak e a
PepsiCo constituem-se como especialistas e empresas que formam um grupo de
profissionais experientes e qualificados com o domínio de saberes teóricos, e que se
beneficiam da Logística Reversa.
Foi possível evidenciar durante o período de entrevistas nas cooperativas
Central Tietê, Coopercaps e Nossos Valores (e entre outras participantes da rede)
que elas trocam experiências diárias referentes às metas de produção, produtividade
dos cooperados, dificuldade de busca de materiais, formação de preço e diversos
problemas que necessitam da articulação, compartilhamento e troca de
conhecimentos e experiências por diversas razões, tanto entre as próprias
cooperativas, quanto entre os pontos de coleta de material reciclado.
A PepsiCo mostrou-se exemplo de empresas que investe em ações de
conscientização sobre coleta seletiva e reciclagem e oferece apoio, inclusive
financeiro, para capacitação e treinamento das cooperativas de catadores, para que
nos centros de triagem os diferentes tipos de materiais sejam separados
corretamente e retornem a indústria.
A Tetrapak compartilha conhecimentos em todos os níveis, tanto através de
sua equipe de engenheiros, quanto de terceiros. As embalagens tetrapak são
compactadas em fardos são corretamente aproveitadas na indústria recicladora que
as transforma em novos produtos, como exemplo, as ecotelhas que são
comercializadas pela Ibaplac.
A criação e comercialização do produto EcoTelha, desenvolvido pela empresa
Iblapac, nasce a partir de materiais reciclados da caixa de leite Tetrapak. O
conhecimento dos engenheiros sobre os tipos materiais e suas propriedades
térmicas fizeram ocorrer o transbordo para os catadores, que passaram a utilizar a
EcoTelha em suas próprias construções e de acordo com o conceito de Ba de
Nonaka, Takeicuhi (2008), transforma a organização num espaço compartilhado,
que serve também como instrumento para as relações e fornece uma plataforma
para o avanço do conhecimento individual e coletivo.
Existe ainda uma necessidade de alta interação diária entre a Prefeitura
Municipal de São Paulo, as empresas que fazem a coleta e os catadores que se
integram às cooperativas, sendo necessário articular conhecimentos entre
profissionais diversos para mapear setores, emitir relatórios, cumprir metas, etc. Mas
103
o problema aqui é que, apesar de existir necessidade de documentar as
experiências e resultados, grande parte dos colaboradores tem baixa formação
escolar e por esse motivo prefere o conhecimento tácito em detrimento do explícito.
Isso fica evidenciado pelos números obtidos para a questão 13, que trata dos
reposítórios e documentação, na qual 45% dizem não saberem ou serem
indiferentes e 5% desconhecem e metade da população pesquisada não dá
importância para a existência de documentação.
Outro valor não esperado da pesquisa e para o qual é necessário fazer uma
ressalva é que apesar da coleta de evidências ter mostrado experiências bastante
positivas de conversão de conhecimentos, os resultados apresentados para a
pergunta 15 do survey, indicam que apenas 23% acreditam que o grupo já criou
novos produtos ou serviços que vale a pena implementar na organização em que
trabalham. Esse número pode mostrar tanto descrença, quanto falta de
conhecimento dessas iniciativas, o que pode se caracterizar por uma falha de
comunicação em relação à divulgação de resultados práticos. Isso pode também,
sinalizar para a necessidade de aprofundamento da pesquisa ao longo do tempo.
P2. Há evidências sobre experiências da comunidade transformadas em
soluções para a rede?
De acordo com Wenger, McDermott, Snyder (2002) a interação ocorre entre
os membros da rede ao compartilharem informações que passam a incorporar novas
competências socialmente legitimadas. Os resultados das questões 6, 8, 10 e 11
trazem uma média de 58% de concordância de que o grupo propicia novas
soluções, interesses e processos para o grupo.
Em termos de conhecimentos, as cooperativas formaram uma comunidade
que atrai especialistas do setor e interesse de investimento e parcerias com
empresas como a PepsiCo e Tetrapak, que oferecem máquinas, dinheiro e
capacitação. Isso amplia a visão dos seus cooperados e profissionaliza a gestão.
Um exemplo dessas experiências é o surgimento e formalização da Rede de
Comercialização Zona Sul, que emergiu da necessidade das cooperativas de se
associarem e criarem um modelo de parcerias e arranjos produtivos com metas
estratégicas compartilhadas de crescimento e comercialização coletiva, tanto para
sobreviver quanto para crescer.
104
Essa proposição é válida e foi possível evidenciar a produção de novos
conhecimentos, práticas e processos, que estão listadas como resultados e
expeiências e aparecem de forma resumida no quadro 30.
Quadro 30 – Resumo das evidências
Grupo Problema Solução Resultado
TETRAPAK
Estabelecer prática de recompensas para reconhecimento de comportamentos desejados de acordo com estratégia da organização.
Criação de arena para a resolução de problemas.
Execução de um planejamento estratégico.
Reputação junto aos clientes.
Alianças baseadas no conhecimento.
Garantia de qualidade reforçada.
IBAPLAC
Desenvolvimento de novo produto para aproveitar oportunidades de mercado de acordo com a capacidade produtiva.
Parceria com cooperativas para recebimento de matéria-prima.
Criação do produto Ecotelha com sucesso.
COOPERCAPS
Recursos para implementação de estratégias de comercialização.
Aquisição de novos conhecimentos.
Formação de Rede.
Parceria com PepsiCo e projeto Gaia de capacitação.
Criação da Rede Sul de comercialização.
Recebimento de recursos não planejados.
Fonte: Elaborado pela autora.
P3. O tema de domínio da logística reversa é fonte de informação e
conhecimento e interesse?
A primeira questão do survey buscou saber o quanto o tema é debatido,
sendo que 20% afirmaram que concordam totalmente e 47% concordam que o tema
é debatido na comunidade. Nas entrevistas também foi detectado que existem
reuniões periódicas para se debater a logística reversa e suas implicações com a
PNRS e isso ajuda as empresas na formulação das estratégias de negócios,
projeção, adequação e concepção de produtos e para maximizar o ciclo de vida e
atender princípios do desenvolvimento sustentável.
A logística reversa ganha status ao incluir no ambiente de negócios o fluxo
reverso da cadeia de suprimentos, desde sua produção até o consumidor final, tanto
para materiais quanto para informações, o que é reforçado pela visão do grupo
sobre a importância do tema para a sociedade, sendo que 20% responderam que
consideram importante, ou muito importante, 26% consideram obrigatório e 34% não
souberam informar, conforme a figura 28.
105
Figura 28 – Importância da Logística Reversa para a sociedade
Fonte: Elaborado pela autora.
Para reforçar a proposição e obter qual o entendimento do grupo sobre o
conceito ou tema de domníio foi apresentada a seguinte frase “A Logística Reversa
pode ser entendida como movimento contrário ao fluxo direto de produtos, sendo
capaz de gerar ambientes mais saudáveis através do aproveitamento dos recursos,
contribuindo assim para melhorar a sustentabilidade”. 50% concordaram com a
afirmação, 4% discordaram e 46% não souberam responder, conforme mostra a
figura 29.
Figura 29 – Você concorda com a frase?
Fonte: Elaborado pela autora.
importante 20%
muito importante
20%
obrigatório 26%
não souberam informar
34%
Importância da Logística Reversa para a sociedade
106
P4. A PNRS proporciona discussões estratégicas para a comunidade e
respectiva rede?
A pergunta 2 do survey é sobre o quanto a Política Nacional de Resíduos
Sólidos é debatida no grupo, sendo que 20% concordam totalmente e 51%
concordam. A pergunta 3 quer saber se discutir o tema traz resultados práticos,
sendo que 55% concordam, e 22% concordam totalmente.
As entrevistas mostraram que o grupo oferece oportunidade de debater sobre
a importânica da redução de resíduos desde sua origem até seu consumo e
reutilização, e que isso se torna fonte de discussão entre os membros, de modo que
a PNRS gera para o grupo empregos, renda, diminuição do impacto ambiental, além
de conhecimento sobre atribuições de papéis e responsabilidades.
A PNRS tem importante papel ao normatizar as responsabildades
compartilhadas, criando potencial estratégico para a geração de vantagens
competitivas e desse modo, atende um consumidor mais exigente, que também
requer outra visão de mercado das organizações e precisa cuidar do descarte
apropriado. Esse consumidor requer das empresas uma visão completa do ciclo de
vida do produto, de forma a gerar novos conhecimentos, o que é feito por meio da
troca entre especialistas e novatos que se interessam pelo tema da PNRS e acabam
por aprender e compartilhar informações pertinentes ao tema.
107
5 CONCLUSÕES
O objetivo geral dessa pesquisa foi investigar possíveis contribuições de
Comunidades de Prática de Logística Reversa baseadas nos Ciclos da Gestão do
Conhecimento alcançado através da coleta de evidências, as quais foram
detalhadas no capítulo de resultados que traz como um dos exemplos, a criação de
um novo produto feito de materiais reciclados (Ecotelha), que nasce a partir da troca
de conhecimentos e experiências entre especialistas e novatos.
O primeiro objetivo específico foi conceituar Comunidades de Prática, o que
permitiu descrever seu funcionamento, forma de organização, níveis de participação,
e resultou na descoberta da importância das experiências e resultados práticos do
tema para o contexto organizacional. Isso também permitiu Identificar que as
práticas dessas comunidades proporcionam benefícios aos seus membros, entre
eles a expansão das habilidades e competências por meio do acesso a outras
experiências alinhadas ao domínio de conhecimento, que reforçam a identidade
profissional e a capacidade de contribuir com a equipe, o que cria um sentimento de
pertencimento.
O objetivo levou ainda a encontrar fontes de estudo de entidades como APQC
e SBGC que foram utlizadas para ilustrar o trabalho. Ambas afirmam que as CoP
estão assumindo papel-chave na gestão do conhecimento e viabilizam um ambiente
que permite abrir diálogo entre perspectivas internas e externas. A APQC afirma que
existem ainda diversas perguntas a serem feitas sobre como projetar comunidades
eficazes e mantê-las ativas ao longo do tempo, de forma a atender seus propósitos e
a SBGC entende que é fundamental que isso esteja alinhado à maneira como as
organizações geram seus negócios (APQC, 2016; SBGC, 2016).
O segundo objetivo específico foi apresentar conceitos de Logística Reversa
como atividade integradora nas organizações que afeta toda a cadeia de
suprimentos, e cujasatividades vão desde a gestão de estoques até o manuseio de
materiais, embalagens e informações que influenciam todo o ambiente de negócios,
oferecendo oportunidades para otimização de custos ou melhorias nos serviços,
especialmente no atendimento aos clientes, em consonância com as necessidades
de uma sociedade mais exigente e consciente (BALLOU, 2006; COSTA NETO,
CANUTO, 2010).
108
A revisão da literatura desse tópico mostrou que o conceito apontado por
Rogers, Tibben-Lembke (1998) introduziu nas organizações um novo modo de ver o
ciclo de vida do produto, incluindo o movimento contrário ao fluxo direto na cadeia
de suprimentos, de modo a permitir a redução dos resíduos, a recuperação de
materiais descartados ou respectivo retorno ao mercado, através de
reprocessamento e reinserção no ciclo produtivo. Assim constatou-se que
organizações que almejam alcançar qualidade em suas Redes de Suprimentos se
beneficiam ao tratar a logística reversa de modo integrado, ou como parte da
estratégia de negócios, para alcançar a qualidade em suas operações de
planejamento, suprimento, produção, entrega e retorno.
A logística reversa está ainda em sintonia com o conceito de
Desenvolvimento Sustentável fornecido pela World Comission Environment and
Development (WCED) e modifica também o atual conceito de lixo, sua necessidade
de tratamento e disposição final em uma sociedade marcada por intenso
desenvolvimento industrial e tecnológico, cuja produção de resíduos precisa lidar
corretamente com altos volumes de descarte. A LR tem evoluído nos últimos anos,
principalmente em virtude de seu potencial estratégico para a criação de vantagens
competitivas e sustentáveis como área da logística empresarial que engloba tanto o
ciclo logístico de materiais quanto de informações das atividades da cadeia de
suprimentos, desde a fonte de produção até o consumidor final.
A logística reversa visa também reduzir resíduos desde sua origem até seu
consumo, e reutilizar todos os materiais possíveis, aumentar o ciclo na produção e
evitar a destruição ambiental, que não se resume apenas a emissão de poluentes
industriais na natureza, mas também a correta destinação desses itens, que pode
ser o retorno ao mercado, o reprocessamento, a reinserção, para a qual a gestão do
conhecimento pode contribuir muito, incluindo-se a minimização de custos.
O terceiro objetivo específico foi o de apresentar os ciclos de Gestão do
Conhecimento, que visa a explicitar e medir como os conhecimentos são
transferidos, quais redes, práticas e incentivos estão instituídos e como é realizada a
aquisição e a reaplicação dos mesmos, de modo a criar know-how a ser transferido
para o repositório de conhecimento organizacional. Novos conhecimentos permitem
mudar o modo de pensar e agir e tornam os indivíduos mais capacitados, ajudando
na compreensão do próprio ambiente, atividades e processos, e criam novas
soluções e resultados.
109
O quarto objetivo especifíco foi inter-relacionar os conceitos CoP e GC, LR e
PNRS, sendo que a revisão da literatura permitiu mostrar que os conceitos de
Nonaka, Takeiuchi (1997) e Davenport, Prusak (1998) sobre a criação do
conhecimento organizacional, Wenger et al. (2011) sobre Comunidades de Prática,
Dalkir (2005) sobre os ciclos da GC, e Rogers, Tibben-Lembke (1998), Brito et al.
(2004), Reis et al. (2015) sobre logística reversa encontram pontos de convergência
a partir de elementos da conversão do conhecimento e sua externalização (por meio
da escrita) e internalização (através de experiências compartilhadas e socializadas
por meio da interação). Esses conceitos se conectam com o tema logística reversa,
que privilegia aspectos e elementos que estão também presentes na CoP, como a
interconectividade, interdependência, fluxo rápido, tempo curto de resposta,
flexibilidade.
O quinto objetivo específico foi identificar contribuições da GC para as
Comunidades de Prática. A GC a princípio tinha como ênfase o uso de tecnologias e
ferramentas, e entre 2000 e 2005 passou a focar nas experiências dos indivíduos e
no conhecimento tácito, foi quando surgiram as comunidades de prática descritas
por Wenger, Mcdermott e Snyder (2002), cuja função principal era conectar as
pessoas para compartilhamento de experiências profissionais e aprofundamento em
determinado domínio do saber. Após 2005, a GC passa a focar na produção
coletiva, que além de resolver problemas pode trazer inovações através das lições
aprendidas, assim as organizações passam a enxergar a necessidade do
conhecimento como fonte de retroalimentação, compartilhamento e trocas
significativas. Assim a Gestão do Conhecimento pode transformar-se em importante
instrumento capaz de facilitar na conscientização sobre papéis e responsabilidade
compartilhada (tratada pela PNRS), de modo que o descarte do lixo e a logística
reversa possam passar a ser vistas como negócio, e assim assumir caráter
estratégico.
O sexto objetivo específico foi apontar a influência da Lei nº 12.305/10 nos
resultados e soluções, o que pode ser encontrado no exemplo da Coopercaps,
cooperativa que se beneficiou e se beneficia diretamente da normatização da PNRS
e, em virtude disso, recebeu recursos e sofreu processo de incubação apoiado pela
PepsiCo, com acompanhamento e plano de ação fundamentado na sustentabilidade.
Isso fez com que a mesma assumisse uma posição de liderança no relacionamento
110
com outras cooperativas e com os demais atores da cadeia produtiva de resíduos,
criando a Rede de Comercialização Zona Sul.
As proposições apresentadas estão devidamente detalhadas no capítulo de
resultados, mas é possível afirmar que as proposições 1 e 2 se interligam e que
comunidades de prática de logística reversa propiciam a criação e transferência de
conhecimentos em suas redes. Foram encontradas evidências sobre essas
experiências transformadas em soluções, como a formação de uma nova rede de
comercialização, cuja parceria entre as cooperativas proporcionou aos membros
novas capacitações e criou novos processos com efetiva troca dados, informações e
conhecimentos que trazem benefícios, como a formação de preço conjunto para a
comercialização de materiais reciclados, e ainda compartilhamento de recursos para
atender as demandas do mercado.
Do mesmo modo, as proposições 3 e 4 estão interconectadas, sendo que o
tema de domínio logística reversa é fonte de informação e conhecimento e interesse
dos membros, tanto que o grupo faz reuniões periódicas para análise de parcerias,
produtos e modelos de serviços. Por estarem diretamente ligadas à Política Nacional
de Resíduos Sólidos essas reuniões proporcionam também discussões estratégicas
para a comunidade, que precisa estar constantemente atualizada sobre novas
regras, acordos setoriais e respectivas mudanças na legislação que impactam
diretamente nas cooperativas, na indústria e nos beneficiários da logística reversa.
Entretanto, uma das dificuldades encontradas consistiu na pouca ou nenhuma
formação escolar da maioria dos trabalhadores das cooperativas, o que demandou
assistência na aplicação dos questionários. Outra dificuldade foi obter a participação
do setor privado (que não deseja ou não pode) compartilhar suas lições aprendidas
para maximizar o ciclo de vida de produtos, desde sua concepção, o que de certo
modo fomentaria uma produção mais responsável.
A pesquisa sinaliza que foi possível articular parcerias através da formação de
redes, mas é necessário que estratégias de políticas de reuso, reciclagem e
tratamento de resíduos e processos ambientalmente sustentáveis ocorram dentro de
um plano de ampliação na oferta de serviços e gestão compartilhada das demandas,
para as quais são necessários conhecimentos que podem ser propiciados por
comunidades de prática.
Uma possível contribuição desse trabalho é que esse tipo de grupo possibilita
a conexão entre profissionais altamente qualificados e especialistas (ou que já
possuem prática e experiência) com novatos (ou gente ainda em processo de
111
aprendizagem), o que segundo Nonaka, Takeuchi (1997), também não deixa de ser
uma preocupação, uma vez que os mais experientes e qualificados acham difícil
articular, compartilhar e trocar conhecimentos com mais jovens, por diversas razões.
Outra contribuição pode estar relacionada ao espaço que existe para futuros
estudos sobre a inter-relação do ciclo da GC (capturar e criar, contextualizar,
atualizar, adquirir e aplicar, compartilhar e disseminar) no desenvolvimento e
multiplicação de expertises, práticas e processos, de modo que a estratégia de
implantação da GC nessas comunidades depende muito da relação com zeladores,
especialistas e multiplicadores de conhecimentos que podem fomentar a melhoria
contínua na qualidade por meio da criação de ferramentas de incentivo atreladas ao
cumprimento de metas que já estão determinadas pela PNRS.
A PNRS fomenta também ações de educação ambiental e a implantação do
processo de logística reversa, que conta com iniciativas de financiamento
governamental como o Fundo Paulistano de Coleta Seletiva, Logística Reversa e
Inclusão de Catadores, que incentiva empresas do setor a fazer uso de programas
com essa finalidade.
O estudo sobre as CoP de Logística Reversa propicia avançar no
detalhamento de processos para produzir novos conhecimentos que sejam capazes
de atrair investimentos e tecnologias sobre destinação do lixo e conversão em novos
produtos e serviços, de modo a atender a sociedade e suas demandas. O setor
privado pode ainda gerar novas lógicas de negócios, garantir e incentivar a
participação da sociedade no processo, sendo que organizações como PepsiCo e
Tetrapak propiciaram transformações nas cooperativas, mas que ainda precisam
vencer o desafio de transformar conhecimento tácito em conhecimento explícito.
Essas comunidades tendem a constituir a GC como uma ferramenta para o
trabalhador, sendo um meio para facilitar suas atividades profissionais, mas é
importante observar que a produtividade deve privilegiar quesitos de qualidade em
vez da quantidade, de modo que o conhecimento faça com que os colaboradores
sejam mais produtivos, responsáveis e cientes da sua própria contribuição,
autonomia e capacidade de inventividade contínua (DRUCKER, 1999).
Limitações
Este trabalho está limitado a um instrumento de coleta que não contempla
sistemas de governança, modelos de gestão e maturidade em GC, além de
112
indicadores diversos e de aspectos legais. Os atributos das redes também não
foram devidamente medidos e não foram utilizados softwares para tanto.
Sugestão de futuros trabalhos
O trabalho mostrou vertentes que podem apresentar-se como oportunidades
para vários novos estudos sobre o tema. Na área de gestão de conhecimento, por
exemplo, a criação de interfaces e tecnologias: geração de planos de gestão da
comunidade, lições aprendidas e melhores práticas que permitam elencar
conquistas e alavancar ativos de conhecimento; propostas para mapeamento da
maturidade e estágios de evolução a fim de indicar aos responsáveis as melhores
práticas para a comunidade, pontos fortes e fragilidades e sistemas de indicadores
de sustentabilidade, como instrumento que pode contribuir com a sociedade.
Áreas como a Engenharia, por exemplo, podem contribuir com o
desenvolvimento de inovações que permitam melhorar a vida do trabalhador,
ampliar ganhos de escala na cadeia econômica da reciclagem ou aproximando a
indústria de transformação. Na área de educação, a sociedade também carece de
conscientização sobre o descarte correto, sendo que existem fundos disponíveis
para planos de negócio e ativação da rede de participantes, sendo necessário
integrar universidades, associações e patrocinadores para dar suporte e efetividade
à implantação da logística reversa de embalagens, incluindo-se no processo os
catadores de material reciclável. Enfim existe uma gama de opções que podem ser
exploradas, tanto como estudo como quanto oportunidade de negócio.
113
REFERÊNCIAS
ABEPRO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO –: Anais eletrônicos da Associação Brasileira de Engenharia de Produção: A avaliação dos canais de distribuição reversos da embalagem de pet pós-consumo no rio de janeiro com base em redes interorganizacionais. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/publicacoes/index.asp?pchave= LOG%CDSTICA+REVERSA&ano=2014&x=7&y=14>. Acesso em: 05 out. 2015, às 16h15min.
ALVES, R. O. Análise da viabilidade econômica da implantação de uma indústria de reciclagem de embalagens e PET na região de Ouro Preto. Monografia de Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Ouro Preto, dez, 2003. Disponível em: <http://www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria/download/CadernosDeHistoria-0414.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2016, às 01h56min.
APQC – Communities of practice: what works and what's new – APQC's. Webinar, December 2016. Disponível em: <https://www.apqc.org/knowledge-base>. Acesso em: 15 dez. 2016, às 10h30.
BABBIE, Earl. Métodos de pesquisa de Survey. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. Porto Alegre: Bookman, 2001.
BALLOU, R.H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 1995.
BATISTA, Fábio Ferreira Organizador. Experiências internacionais de implementação da gestão do conhecimento no setor público. Rio de Janeiro. IPEA, 2016.
______. Proposta de Modelo de Gestão do Conhecimento para Administração Pública. Brasília: IPEA, 2012.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 3 ago. 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 05 jan. 2016.
BRITO, Marisa P.; DEKKER, Rommert; FLAPPER, Simme Douwe P. – Reverse Logistics. Rotterdam: Econometric Institute, Erasmus University Rotterdam, 2004.
BUKOWITZ, W. R.; WILLIAMS, R. L. Manual de Gestão do Conhecimento. Tradução: Carlos Alberto Silveira Netto Soares. Porto Alegre: Bookman, 2002.
114
CASTELLS, M.; CARDOSO, G. A Sociedade em rede. Do conhecimento à acção política. Lisboa: Imprensa Nacional, 2005.
COSTA NETO, P. L. de O.; CANUTO, S. A. Administração com Qualidade: conhecimentos para a gestão moderna. 1 ed. São Paulo: Blucher, 2010.
COUNCIL OF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT PROFESSIONALS (CSCMP) Supply Chain Management/Logistics Management Definitions. Disponível em: <http://www.cscmp.org>. Acesso em 30 set. 2015.
DALKIR, Kimiz. The Knowledge Cycle in Knowledge management in theory and practice. Amsterdam: Elsevier, 2005.
DAVENPORT, T.H.; PRUSAK, L. Working Knowledge – how organizations manages what they know. Boston: Harvard Business School Press, 1998.
DRUCKER, P. O melhor de Peter Drucker: A sociedade. São Paulo: Nobel, 2002.
______. Knowledge-worker productivity: the biggest challenge. California Management Review, v. 41, n. 2, p. 79-94, 1999
DUTRA, Joel Souza (Org). Gestão por competências: um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. São Paulo: Gente, 2001.
EVANS M.; DALKIR K.; BIDIAN C. A Holistic View of the Knowledge Life Cycle: The Knowledge Management Cycle (KMC) Model. The Electronic Journal of Knowledge Management, vol. 12 Issue 2 (pp. 85-97). Disponível em: <www.ejkm.com>. Acesso em: 23 nov. 2015, às 22h13.
FRANCO, T. R. Coleta seletiva de lixo domiciliar: estudos para implantação. Monografia (Bacharelado) - Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2000. Disponível em: <http://www.ichs.ufop.br/cadernosdehistoria/download/CadernosDeHistoria-0414.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2016 às 14h18min.
FRANCO, A. Escola de redes: tudo que é sustentável tem o padrão de rede. Sustentabilidade empresarial e responsabilidade corporativa no século 21. Curitiba:.vol. 2. Sociedade do Conhecimento. ARCA, 2008.
FORZA, C. Survey research in operations management: a process-based perspective.– International Journal of Operations & Production Management. Padova: Universitá di Padova, vol. 22, No. 2, pp. 152-194, 2002.
GIGLIO, E.; KWASNICKA, E. O lugar do consumidor nos textos sobre rede. XXIX Congresso EnAnpad. Brasília: ANPAD, 2005.
GIGLIO, E.; CARVALHO, M. As Transformações das Redes de Negócios de Turismo na Perspectiva da Teoria Social: o caso da Vila de Paranapiacaba – SP. Turismo em Análise. São Paulo ISSN 1984-4867. vol. 24, nº. 2. Agosto 2013.
115
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GRANDORI, A.; SODA, G. “Inter-firm networks: Antecedents, mechanisms and forms”. Organization Studies, vol. 16, n. 2, p. 183-214, 1995.
GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. The American Journal of Sociology. Chicago, vol. 91, nº 3, pp. 481-510, 1985.
GUECHTOULI, W; ROUCHER, J; ORILLARD, M. Structuring knowledge transfer from experts to newcomers. Journal of Knowledge Management. Paris: vol. 17. nº 1, pp. 47-68. Emerald Group, 2013.
GULATI, Ranjay. Alliances and Networks. Strategic Management Journal. Illinois: vol. 19, pp. 293-317. Abril, 1998.
HAMEL, G; PRAHALAD, C.K. Competing for the future. Boston: Harvard Business School Press, 1994.
HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. Tradução: João Vergílio G. Cutter. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
HIMANEN, P. The hacker ethic, and the spirit of information age – A radical approach to philosophy of business. Los Angeles: Randon House, 2001.
HUBER, G.P. Organizational learning: the contributing processes and the literatures. Organization Science, vol. 2, Issue 1, pp. 88-115, 1991.
KOGUT, Bruce. The network as knowledge: Generative rules and the emergence of structure. Strategic Management Journal. Chichester: vol. 21, nº 3; p. 405, 2000.
KOGUT, B.; ZANDER, U. What firms do? Coordination, identity, and learning. Organization Science. New York, vol. 7, nº 5, setembro-outubro, 1996.
LAKATOS, E.; MARCONI, M. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1991.
______. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1993.
LAMBERT, D. M.; COOPER, M. C. Issues in Supply Chain Management. Industrial Marketing Management, vol. 29, nº 1, pp. 65-83, janeiro 2000.
LAMBERT, D. M. The eight essential supply chain management processes. Supply Chain Management Review, vol. 8, nº 6; pp. 18-25, setembro 2004.
LAMBERT, D. M.; DOUGLAS M. Supply Chain Management: Processes, partnerships, performance. 3 ed. Sarasota: Supply Chain Management Institute, 2008.
116
LAVE, J.; WENGER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. New York: Cambridge, 1991.
LEITE, P.R. Logística Reversa: Meio ambiente e Competitividade. São Paulo: P. Hall, 2003.
MACAU, Flávio R. Knowledge effect on firm performance in manufacturing and service firms. 2010. Tese de Doutorado em Administração. São Paulo: Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/4509>. Acesso em: 09 out. 2015.
McELROY, M. W. A Framework For Knowledge Management. In: The New Knowledge Management: Complexity, Learning and Sustainable Innovation. Burlington: Butterworth & Heinemann,, 2003.
MEYER, M. e ZACK, M. The design and implementation products. Sloan Management Review. Boston: nº 37 (3): pp. 43-59, 1996.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR). Disponível em: <http://www.sinir.gov.br/web/guest/logistica-reversa>. Acesso em: 19 nov. 2016, às 13h07 min.
NOHRIA, N. Is a network perspective a useful way of studying organizations? In NOHRIA, N.; ECLES, R. Networks and organizations: Structure, form, and action. Boston: Harvard Business School, 1992.
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. The knowledge creating company: how Japanese companies create the dynamics of innovation. Oxford: Oxford University Press, 1994.
______; ______. Criação de Conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram dinâmica da inovação. 16 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.
______; ______. Gestão do Conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008.
PRAHALAD, C. K.; RAMASWAMY, V. O Futuro da Competição: Como desenvolver diferenciais inovadores em parceria com os clientes. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
PORTER, Michael E. The Competitive advantage of Nations. Londres: The Macmilillan Press, 1990.
PREFEITURA DE SÃO PAULO. São Paulo, cidade limpa: gestão de resíduos sólidos e limpeza urbana para 12 milhões de pessoas. São Paulo: CECOM, 2016.
REIS, J. G. M. et al. Qualidade em Redes de Suprimentos: A qualidade aplicada ao Supply Chain Management. São Paulo: Atlas, 2015.
117
ROGERS, D. S.; TIBBEN-LEMBKE, R. S. Going Backwards: Reverse Logistics Trends and Practices. – University of Nevada, Reno Center for Logistics Management – Reverse Logistics Executive Council, Nevada, 1998.
SACOMANO NETO, M.; TRUZZI, O. M. S.. Configurações Estruturais e Relacionais da Rede de Fornecedores: uma Resenha Compreensiva. Revista de Administração da USP. São Paulo. vol. 39, nº 3, pp. 255-263, 2004.
SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.Encontro SBGC – Maturidade em gestão do conhecimento. Prodam. São Paulo, realizado em 25 de agosto de 2016.
SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
SOHN, A. P. L. et al. Redes de Empresas e Gestão Interorganizacional do Conhecimento. KM BRASIL. 12º Congresso de Gestão do Conhecimento – SBGC. São Paulo 2014.
TETRAPAK, Ações de sustentabilidade no Brasil. Disponível em: <http://www.tetrapak.com/br/sustainability/reciclagem-no-brasill>. Acesso em: 19 dez. 2016, 16h12min.
WENGER, E. Communities of Practice: learning, meaning and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
WENGER, E. A Community of leading knowledge-based organizations dedicated to networking, benchmarking and sharing Best of practices: A Guide do managing Knowledge. Cambridge: Harvard Business School Press, 2002.
WENGER, E.; MCDERMONT, R.; SNYDER, W. M. Seven Principles for Cultivating Communities of Practice. Cultivating Communities of Practice: a Guide to Managing Knowledge.Boston: Harvard Business School Press, 2002.
WENGER, E.; TRAYNER B.; de LAAT, M. Promoting and assessing value creation in communities and networks: a conceptual framework -- Rapport 18 -- Ruud de Moor Centrum – Heerlen: Open University of Netherlands, 2011.
WIIG, K. Knowledge management foundations. Arlington: Schema Press, 1993.
WORLD BANK. The World Bank Group. Collaboration for Development. Taking Communities of Practice Global Session Brief. Disponível em: <https://collaboration.worldbank.org/groups/knowledge-hubs>. Acesso em: 09 fev. 2016.
YIN, R. K. Case study research: design and methods. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994.
118
APÊNDICE I - CARTA CONVITE
CARTA CONVITE PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA
Programa de Pós-graduação em Administração
São Paulo, 26 de Outubro de 2016.
Prezados Senhores,
Esta carta tem por objetivo convidá-los a participar de uma pesquisa sobre o tema:
COMUNIDADES DE PRÁTICA E CICLOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
Resultados da Logística Reversa nas Redes de Suprimentos
A pesquisa compõe a dissertação de mestrado de NEUSA MARIA DE ANDRADE, aluna do Programa
de Pós- Graduação da UNIP, reconhecido pelo MEC e recomendado pela CAPES.
Gostaríamos de ressaltar alguns pontos importantes:
1) Garantia de sigilo absoluto das informações conforme Código Internacional de Ética em
Pesquisa;
2) A pesquisa on-line contém 15 questões e levará até 15 minutos do seu tempo;
3) A pesquisa tem caráter exploratório e as respostas serão consideradas de forma agregada;
4) A pesquisa está dividida em duas partes e eventualmente os resultados poderão conduzir a
uma eventual entrevista não obrigatória.
5) Os resultados serão disponibilizados aos participantes e poderão ser replicados nos seus
sites ou em materiais que desejar.
Agradecemos antecipadamente sua disposição e esperamos que o conhecimento obtido e a análise
dos resultados possam contribuir para o entendimento e a aplicação prática dos temas.
Neusa Maria de Andrade
Pesquisadora
Orientador: Professor Doutor Flávio R. Macau
119
APÊNDICE II - QUESTIONÁRIO PILOTO
PRIMEIRA VERSÃO DE QUESTIONÁRIO PILOTO
PERFIL DO RESPONDENTE
(*) campos obrigatórios
Nome da CoP:
Papel/Responsabilidade:
Tipo de participação (*): ( ) núcleo ( ) especialista ( ) líder ( ) coordenação ( ) outro
Participante desde: ------/------/---------
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nome da Empresa/Organização:
Atividade principal da organização:
Produtos ou serviços da organização
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Nome do Respondente (*):
E-mail (*):
Cargo:
Telefone Celular:
Participante de outras CoP ou Redes (*)? ( ) sim ( ) não
Formação:
Escolha UMA alternativa que mais traduz sua percepção sobre as questões a seguir:
TEMA DE DOMÍNIO E CONHECIMENTOS
Legenda: CT = Concordo totalmente; C = concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = discordo totalmente
1. O tema LR proporciona discussões sobre temas que são estrategicamente importantes para mim como profissional.
2. Ao participar de uma COP de LR sinto que estou envolvido em algo GRANDE em relação ao tema tratado.
3. A CoP de LR já me propiciou a criação de novos conhecimentos sobre LR
4. Utilzo a CoP como fonte de informação e conhecimento
5. A CoP me agrega novos conhecimentos sobre o assunto
6. Os documentos sobre o tema na CoP estão permanentemente atualizados pelos membros
7. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP
8. O modo como o tema LR é abordado na CoP é apaixonante e agrega valor para a organização em que atuo
9. Posso contribuir com novos conhecimentos na CoP
10. O Acesso ao conhecimento na CoP é fácil e prático
120
PARTICIPAÇÃO DOS MEMBROS NA REDE E COMUNIDADE
Legenda: CT = Concordo totalmente; C = concordo; I = Indiferente; D = Discordo; DT = discordo totalmente
11. Os coordenadores e os membros da comunidade assumem voluntariamente responsabilidades gerenciais, permitindo assim que a comunidade cresça de forma ordenada.
12. O grupo de especialistas e formadores de opinião atualiza e compartilha informações permanentemente
13. É importante a presença de especialistas e um respeitado membro da comunidade deve atuar como coordenador.
14. A CoP se inter-relaciona com outras CoPs formando novas redes
15. O sucesso DEPENDE de uma pessoa ou grupo chave que detém alguma responsabilidade ativa na condução da CoP
16. Novos membros são atraídos porque têm algo a aprender e a contribuir
17. As ligações entre os membros estimulam o estreitamento de relacionamentos, debates e troca de experiências face a face ou via WEB tanto entre os membros aumenta a coesão da CoP
18. As conexões entre os integrantes ocorrem tanto em ambiente público (fóruns e encontros), quanto de forma privada
19. Novos integrantes trazem sempre novos interesses e soluções
20. A CoP propicia RICA INTERAÇÃO entre os membros.
PRÁTICAS E APRENDIZADOS
Legenda: CT = Concordo totalmente; C = concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = discordo totalmente
21. Os assuntos abordados na CoP ou a rede de CoP estão presentes no dia a dia do negócio no qual estou envolvido
22. A CoP ou a rede de CoP propicia e auxilia na atualização técnica de seus membros
23. É possível compartilhar práticas e aprendizados com outros membros através da CoP
24. A CoP incentiva novas práticas de LR e os membros do COP aprendem coisas novas e se preparam para futuros trabalhos
25. A CoP propicia e auxilia na atualização técnica de seus membros.
26. A CoP ou a rede de CoP me permite melhor especialização no assunto LR
27. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho
28. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a minha organização
29. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a sociedade
121
COLETA DE EVIDÊNCIAS
30. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP
Assinale o Tipo: ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças
Assinale quais ? ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da Gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria do transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem
outros descreva_________________________
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
31. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho
Assinale o Tipo. ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças
Assinale quais. ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem
outros descreva_________________________
32. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a minha organização
Tipo: ( ) produtos ( ) serviços ( ) produtos e serviços ( ) processos ( ) novas parcerias e alianças ( ) outros
outros descreva_________________________
33. As experiências compartilhadas sobre LR trouxeram novas soluções para a sociedade
Tipo: ( ) produtos ( ) serviços ( ) produtos e serviços ( ) processos ( ) novas parcerias e alianças
outros descreva_________________________
34. A minha expeirência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP
Tipo: ( ) produtos ( ) serviços ( ) produtos e serviços ( ) processos ( ) novas parcerias e alianças
( ) outros descreva_________________________
122
APÊNDICE III - QUESTIONÁRIO REFINADO
QUESTIONÁRIO VERSÃO REFINADA
Identificação do grupo ou comunidade
Nome do grupo ou comunidade:
Número de total de participantes: ( )
Identificação individual do respondente
Nome do respondente
E-mail:
Tipo de participação no grupo/ comunidade:
( ) Especialista ( ) Líder ( ) Coordenador ( ) Membro ( ) Convidado ( ) Cliente ( ) Patrocinador
Tema Logística Reversa
Conhecimento do tema: ( ) Especialista/Profissional da área ( ) Estudioso/Curioso ( ) Parte interessada
Importância do tema para a sociedade: ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Obrigatória ( ) Não sei
Você concorda com a frase?
“A Logística Reversa pode ser entendida como movimento contrário ao fluxo direto
de produtos na cadeia de suprimentos capaz de gerar ambientes mais saudáveis e
melhor aproveitamento dos recursos disponíveis contribuindo para melhorar a
sustentabilidade”.
( ) Concordo: ( ) Discordo ( ) Não Sei
Responda as alternativas a seguir de acordo com o quanto você concorda ou discorda que elas afetam o desenvolvimento de tarefas no seu dia a dia.
TEMA DE DOMÍNIO E CONHECIMENTOS
Legenda: CT = Concordo totalmente; C = Concordo; I = Indiferente/Desconheço; D = Discordo; DT = Discordo totalmente
1 – O tema Logística Reversa é amplamente discutido no grupo ou comunidade?
2 – A Política Nacional de Resíduos Sólidos é amplamente debatida no grupo ou comunidade?
3 – A discussão do tema produz resultados práticos, propostas e novas soluções para o seu dia-dia?
4 – O grupo de trabalho pode ser considerado uma rede que permite diversas conexões que auxiliam nas realizações das tarefas diárias?
5 – O aconselhamento e a troca de experiências com diversos especialistas no grupo facilitam a realização das tarefas do dia a dia?
123
6 – As experiências trocadas no grupo já se transformaram em alguma solução prática que pode aplicada na sua vida profissional?
7 – O grupo facilita que novas pessoas sejam incorporadas nas suas redes e relacionamentos profissionais?
8 – Novos integrantes trazem novos interesses e soluções para o grupo?
9 – O grupo incentiva a aprender e a usar novas ferramentas no seu trabalho?
10 – O grupo facilita que novos processos ou novas políticas sejam incorporados na sua rotina?
11- O uso do grupo ajuda a ver novas perspectivas ou novas maneiras de realizar as tarefas?
12 – A comunidade incentiva a produção de documentos para facilitar a divulgação das informações para seus membros?
13 – Os documentos sobre o tema são permanentemente atualizados pelos membros do grupo?
ENTREVISTA COLETA DE EVIDÊNCIAS 14. A minha experiência profissional já foi ou pode ser aproveitada na CoP Tipo. ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças
Quais: ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem
15. A CoP ou a rede de CoP já criou novos produtos e serviços que pelo menos um deles vale a pena ser adquirido ou implementado na organização em que trabalho
Tipo. ( ) novos produtos ( ) novos serviços ( ) novos produtos e serviços ( ) mudança de processos ( ) mudança na cadeia produtiva ( ) mudança na logística ( ) mudança na logística reversa ( ) novas parcerias e alianças
Quais. ( ) melhoria do fluxo ( ) melhoria do tráfego e volume de informações. ( ) melhoria do tempo de resposta ( ) flexibilidade de produção ( ) controle de entradas ( ) melhoria da gestão de estoques ( ) melhoria do processamento de pedidos ( ) melhoria dos transportes ( ) melhoria na armazenagem ( ) melhoria de compras e suprimentos ( ) melhoria nos sistemas de gestão de informações ( ) melhoria do manuseio de materiais e embalagem