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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA Natal-RN 2015.1 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ANÁLISE DA DINÂMICA DEPOSICIONAL DAS PRAIAS DE CACIMBINHA E DO MADEIRO, TIBAU DO SUL RN, BRASIL JOYCE CLARA VIEIRA FERREIRA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

Natal-RN

2015.1

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ANÁLISE DA DINÂMICA DEPOSICIONAL DAS PRAIAS DE

CACIMBINHA E DO MADEIRO, TIBAU DO SUL – RN, BRASIL

JOYCE CLARA VIEIRA FERREIRA

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JOYCE CLARA VIEIRA FERREIRA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ANÁLISE DA DINÂMICA DEPOSICIONAL DAS PRAIAS DE

CACIMBINHA E DO MADEIRO, TIBAU DO SUL – RN, BRASIL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para

obtenção do título de mestre em Dinâmica Socioambiental

e Reestruturação do Território.

Orientador: Prof. Dr. Erminio Fernandes.

Natal-RN

2015.1

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JOYCE CLARA VIEIRA FERREIRA

ANÁLISE DA DINÂMICA DEPOSICIONAL DAS PRAIAS DE

CACIMBINHA E DO MADEIRO, TIBAU DO SUL – RN, BRASIL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para

obtenção do título de mestre em Dinâmica Socioambiental

e Reestruturação do Território.

Natal, _____/______/______.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Prof. Dr. Erminio Fernandes

Orientador

_______________________________________________________

Profª Drª. Zuleide Maria Carvalho Lima

Examinadora Interna (PPGE)

_______________________________________________________

Prof Dr. Antônio Jeovah de Andrade Meireles

Examinador Externo (UFC - PRODEMA)

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Dedico este trabalho a todos que de alguma

forma me ajudaram na elaboração e aos

admiradores das belíssimas paisagens das praias

de Cacimbinha e Madeiro, Tibau do Sul-RN.

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Agradecimentos

O ato de pesquisar, por mais das vezes, faz com que o pesquisador se isole no universo

do seu objeto de estudo, no entanto trabalhos como o que aqui está sendo apresentado

demandam certa dependência de pessoas amigas, disponíveis a colaborar em prol do

desenvolvimento científico e ao mesmo tempo do desenvolvimento pessoal do pesquisador.

Desse modo, julgamos que é de grande relevância destinar, ainda que em poucas palavras,

alguns agradecimentos a pessoas que ao longo desta jornada acadêmica contribuíram para

realização desta dissertação e para meu amadurecimento científico.

Primeiramente agradeço ao meu Deus pelo dom da vida. Agradeço a minha família e

ao meu noivo Arthur Torquato . Agradeço aos meus amigos e companheiros de campanhas

de campo: Cleanto, Celhinho, Jorginho e Felipe. Agradeço também aos bolsistas de iniciação

científica que me ajudaram nas análises laboratoriais Erick Jordan e Paulo Sérgio. Realmente

sem eles, nada seria possível!

Agradeço a Ivaniza e ao meu querido amigo Moacir pela disponibilidade em

colaborar. Agradeço a querida Professora Doutora Zuleide que sempre esteve disponível para

elucidar meus questionamentos. Ao meu orientador Professor Doutor Erminio Fernandes que

sempre me apoiou ao longo de minha vida acadêmica e que a mim confiou o desenvolvimento

de parte do projeto intitulado “Estudo hidromorfodinâmico do sistema praia-falésia-duna,

enfatizando os processos de erosão e sedimentação costeiras e suas implicações

socioambientais no espaço urbano do município de Tibau do Sul, RN, Brasil.”.

Agradeço a minha turma de mestrado pela amizade ao longo destes dois anos de curso,

agradeço de uma maneira especial aos colegas da linha III, os geoambientais: Cris, Ralyne,

Yuri, Jaci, Umbelina, Jin e Antonio. Agradeço a Fernanda, Jomara, Fablênia e a Rafael.

Agradeço ao Professor Doutor Fransualdo pela oportunidade de participar do PROCAD

Casadinho na UNESP em Presidente Prudente, agradeço ao Professor Doutor Cezar Leal que

me recebeu de maneira muito acolhedora em seu grupo de pesquisa GADIS. Por fim,

agradeço ao CNPq pela concessão da bolsa de pesquisa e aos secretários do PPGE Elaine e

André sempre disponíveis a ajudar.

A todos muitíssimo obrigada!

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“O presente é a chave para o passado”

J. Hutton (1726 - 1797)

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Resumo

As praias de Cacimbinha e do Madeiro estão inseridas no litoral oriental do estado do Rio

Grande do Norte, mais precisamente no município de Tibau do Sul. Diante dos indicativos de

erosão na costa deste município e dos processos costeiros atuantes nas praias, buscou-se,

como objetivo geral desta pesquisa, compreender a evolução do ambiente deposicional da

praia de Cacimbinha, além de caracterizar os depósitos das praias de Cacimbinha e do

Madeiro conforme os compartimentos geomorfológicos identificados nas praias; diferenciar,

sedimentologicamente, as feições costeiras que possivelmente interagem com a praia de

Cacimbinha; identificar possíveis relações entre os sedimentos das feições costeiras e os

depósitos da praia de Cacimbinha; entender quais processos deposicionais predominaram em

cada fácies praial depositada; e identificar os prováveis ambientes de sedimentação e sua

energia deposicional por meio dos materiais encontrados na praia de Cacimbinha. Para isso, o

estudo aportou-se em pesquisas bibliográficas e de campo, ambas pautadas em trabalhos

acadêmicos, leis, conceitos e teorias concernentes à geografia física, geomorfologia do

quaternário, geologia sedimentar e estratigrafia. Dessa forma, os procedimentos

metodológicos foram subdivididos em três etapas: Etapa pré-campo: onde foram realizados os

trabalhos de gabinete; Etapa campo: momento voltado para aquisição das amostragens das

fácies de sedimentação; e Etapa pós-campo: que consistiu na análise e integração dos dados

processados adquiridos ao longo da pesquisa. Sendo assim, os resultados alcançados

evidenciaram fácies deposicionais com energias diferenciadas nos compartimentos de relevo,

praia e terraço. Com a finalização das análises sedimentares, bem como, suas interpretações,

associadas à arquitetura das seções montadas embasadas nas perfurações, tornou-se possível

remontar o histórico evolutivo deste trecho praial. Portanto, pode-se dizer que estudos

voltados para as áreas costeiras são de grande importância, uma vez que, em todo mundo, a

maior parte dos grandes sítios urbanos estão assentados sob depósitos de idade quaternária e,

nesse sentido, este trabalho contribui para o conhecimento da dinâmica sedimentar desta

praia, servido como suporte científico para gestão e planejamento desta área que está voltada,

principalmente, para o turismo estrangeiro.

Palavras-chaves: Geografia física, Quaternário costeiro, Fácies sedimentares, Sistema

deposicional, Tibau do Sul-RN.

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Abstract

The Cacimbinha and Madeiro beaches are located in the eastern coast of Rio Grande do Norte

state, in the municipality of Tibau do Sul. Given the indicative of erosion in the coast of this

district and the coastal processes acting on the beaches, the global aim of this project is

comprehend the evolution of depositional environment on the Cacimbinha beach, moreover,

the project seeks to characterize deposits from the Cacimbinha and Madeiro beaches,

according to the geomorphologic compartments identified on these beaches; distinguish the

coastal features which possibly interact with the Cacimbinha beach; identify the potential

relationship between the sediments from the coastal features and the deposits from

Cacimbinha beach; understand which depositional processes that prevail at each facies

deposited on the beach; and identify the probable sedimentary environments and its energy of

deposition through of the materials recorded on the Cacimbinha beach. This study was based

on previous bibliographic and field research, both guided by academic works, laws, concepts

and theories concerning the physical geography, geomorphology of the quaternary,

sedimentary geology and stratigraphy. Thus, the methodology was divided in three steps: Pre-

field step: office work was performed; Field step: Sampling of facies of sedimentation; Pos-

Field step: analysis and integration of data obtained during the research period. Thus, the

results showed deposicional facies with distinguished energy in the relief compartments,

beach and terrace. After the sedimentary analysis and its interpretation linked to the

architecture of the mounted sections based on drilling, it became possible to trace the

evolutionary history of this stretch of beach. Therefore, it can be stated that studies performed

on coastal areas are of great importance, as long as, around the world, the most part of urban

zones are seated on deposits of quaternary age and, then this work improve the knowledge

regarding the sedimentary dynamics of this beach, becoming scientific support for

management and planning of this area which focus on, mainly, the foreign tourism.

Keywords: Physical geography, Coastal quaternary, Sedimentary facies, Depositional system,

Tibau do Sul-RN.

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Sumário

Notas Introdutórias 11

Área de estudo: Praia de Cacimbinha e Praia do Madeiro, Tibau do Sul-RN/Brasil. 13

Capítulo 01: Caminhos da pesquisa: métodos e técnicas 18

1.1 Teoria Geral dos Sistemas 19

1.1.1 Praias de Cacimbinha e do Madeiro sob uma ótica sistêmica 20

1.2 Referencial metodológico 21

1.3 Análise dos depósitos sedimentares: Período Quaternário 22

1.4 Procedimentos metodológicos 25

1.4.1 Etapa pré-campo: trabalhos de gabinete 26

1.4.2 Etapa campo: aquisição dos dados 28

1.4.3 Etapa pós-campo: análise e correlação dos dados 32

1.4.3.1 Análises sedimentológicas 32

1.4.3.1.1 Morfometria e morfoscopia dos grãos 35

1.4.3.1.2 Quantificação de matéria orgânica 38

1.4.3.1.3 Quantificação do teor de carbonato de cálcio CaCO3 40

1.4.3.1.4 Determinação da cor dos sedimentos 40

Capítulo 02: Compartimentação geomorfológica e caracterização

sedimentológica das feições costeiras das praias de Cacimbinha e do Madeiro,

Tibau do Sul-RN

42

2.1 Dunas da praia de Cacimbinha 48

2.2 Grupo Barreiras (Tabuleiro costeiro) e falésias das praias de Cacimbinha e do 53

Madeiro

2.3 Terraço e cone de dejeção das praias de Cacimbinha e do Madeiro 59

2.4 Praia de Cacimbinha e praia do Madeiro 64

2.4.1 Morfodinâmica dos pontos A, B, C e D 64

2.4.1.1 Hidrodinâmica dos pontos A, B, C e D 65

2.4.1.1.1 Altura de onda (Hb) 65

2.4.1.1.2 Período de onda (T) 67

2.4.1.1.3 Deriva Litorânea (longshore currents) 68

2.4.1.2 Topografia praial dos pontos A, B, C e D 71

2.4.1.3 Análise sedimentológica das amostras 73

2.4.1.4 Interpretações sobre a morfodinâmica das praias de Cacimbinha e do Madeiro 77

2.5 Considerações sobre os depósitos das praias de Cacimbinha e do Madeiro 78

2.6 Período Quaternário e variações do nível do mar 83

Capítulo 03: Evolução do sistema deposicional da praia de Cacimbinha:

caracterização e correlação dos depósitos sedimentares

87

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3.1 Sistema deposicional e fácies sedimentares 88

3.1.2 Considerações sobre o sistema deposicional do Ponto A localizado na praia de

Cacimbinha 89

3.1.3 Considerações sobre o sistema deposicional do Ponto B localizado na praia de

Cacimbinha 101

3.2 Histórico evolutivo da praia de Cacimbinha, Tibau do Sul-RN 114

Capítulo 04: Considerações finais 126

Referências 130

Apêndices 136

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Notas Introdutórias

As praias oceânicas caracterizam-se como ambientes de sedimentação e de transição

entre o continente e o oceano, exercendo proteção a grande porção emersa terrestre. Este

ambiente deposicional está submetido às intempéries da tríade continente, atmosfera e oceano,

podendo ser classificado como um dos ambientes mais susceptíveis a resposta das variações

do nível do mar. As variações do nível do mar ou mudanças eustáticas podem ocorrer por

diversos motivos, como as mudanças climáticas, movimentos terrestres globais e movimentos

terrestres locais (eventos de subsidência ou soerguimento ocasionado pelo acúmulo

sedimentar).

São os agentes exógenos os responsáveis pelos processos de erosão, transporte e

deposição de sedimentos ao longo das costas. No entanto, os processos erosivos, muitas

vezes, podem ocasionar problemas quando há a ocupação irregular destas áreas. No que se

refere ao quadro populacional da zona costeira, é importante destacar que “cerca de dois

terços da população mundial vivem na zona costeira, que corresponde a menos de 15% da

superfície terrestre” (SOUZA et. al., p. 130, 2005). Ramos-Pereira (2008) aponta que 60 de 77

centros urbanos localizados na América Latina situam-se no litoral e que 60% desta

população residem numa faixa de 100 km de largura ao longo da linha de costa, o que

possibilita caracterizar a zona costeira como um lugar de pressão demográfica e de grande

fragilidade ambiental.

Por esses motivos, Souza (2005) relata que países como Espanha, Alemanha, Estados

Unidos e Japão investem milhões de dólares em estudos, manutenção e recuperação de suas

praias oceânicas. Conforme Ramos-Pereira (2008) a intensificação dos estudos voltados à

dinâmica ambiental da zona costeira se deve, principalmente, a quatro fatores:

I – a instalação maciça da população;

II – o desenvolvimento de atividades de lazer;

III – a conscientização de que os bens naturais podem extinguir-se;

IV – e a descaracterização paisagística do espaço costeiro.

Nesse sentido, este trabalho tem como tema a geografia do ambiente costeiro, com

ênfase no estudo dos depósitos sedimentares de idade quaternária das praias de Cacimbinha e

do Madeiro, ambas situadas no município de Tibau do Sul, litoral oriental do estado do Rio

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Grande do Norte. Pois, por meio deste estudo será possível entender a evolução do relevo

praial considerando a ação antrópica, uma vez que optou-se por analisar o período mais

recente da história geológica da Terra no qual o homem faz parte, assumindo papel de agente

modificador do relevo e de seu substrato. Logo, segundo Casseti (2005), ao inserir o homem e

suas atuações na análise dos processos de formação do relevo, este trabalho assume clara

relevância enquanto temática de interesse geográfico.

Tal compreensão fornece importantes informações para a reconstituição do passado

geológico/geomorfológico das praias de Cacimbinha e do Madeiro, além de contribuir para a

elaboração de prognósticos, auxiliando no planejamento e gestão desta área que está voltada,

principalmente, para o turismo estrangeiro.

Conforme Suguio (2001) os estudos que abordam os depósitos sedimentares

quaternários são de grande valia, uma vez que, em todo mundo a maior parte dos sítios

urbanos, incluindo as grandes obras de engenharia civil, estão assentados sob estes depósitos

e por isso é necessário ter o conhecimento dos mesmos. Corroborando com esta ideia e de

maneira geral, Tricart (1979) afirma que,

nuestro ambiente ecológico se modifica incesantemente. Está caracterizado por una dinámica que se manifiesta mediante unas interacciones entre diversos elementos.

Para utilizar mejor este medio ambiente [...], sin destruirlo, para protegerlo contra

las degradaciones que le harían incapazes de permitir la existência biológica del

hombre, debemos conocer esta dinámica, y tener en cuenta estas interdependências.

[...] La comprensión global de nuestro medio ambiente, necessária pra su utilización

y para su protección, debe referirse fundamentalmente a su dinámica. (TRICART,

1979, p.15)

Nesse sentido, os estudos voltados para o conhecimento do ambiente costeiro são

relevantes na medida em que se deseja implantar de maneira sustentável residências,

empreendimentos ou estruturas para o desenvolvimento de diversas atividades econômicas e

urbanísticas, tendo em vista um melhor aproveitamento dos recursos naturais, objetivando,

assim, obter um melhor gerenciamento costeiro e impedir quaisquer tipos de adversidades às

gerações futuras. Pois, como Tricart (1979) bem ressalta em sua obra, é necessário o

conhecimento da dinâmica do ambiente e suas interações para uma melhor convivência entre

o homem e o meio em que habita.

Considerando a importância dos estudos litorâneos para um estado como o Rio

Grande do Norte que explora em demasia a ocupação antrópica de suas praias, esta pesquisa,

contribui para o conhecimento das interações dos sistemas das praias do Madeiro e,

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principalmente, Cacimbinha através de fenômenos que ocorreram no passado, expressos por

meio dos depósitos sedimentares.

Por fim, o déficit de trabalhos que tratem da temática aqui proposta também é algo

que chama a atenção e, em grande medida, valoriza esse trabalho que possui como cenário

uma área que pouco vem sendo estudada e que não possui nenhuma análise semelhante à que

aqui foi proposta, o que justifica, mais uma vez, a importância do tema escolhido tanto para o

município quanto para o Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia da UFRN.

Área de estudo: praia de Cacimbinha e praia do Madeiro, Tibau do Sul-RN/Brasil.

Dona de uma das paisagens mais admiráveis do estado do Rio Grande do Norte, as

praias de Cacimbinha e do Madeiro situam-se no litoral oriental no estado, no município de

Tibau do Sul que possui as seguintes coordenadas geográficas: 06° 11’ 13,2” Latitude Sul e

35° 05’ 31,2” Longitude Oeste (CPRM, 2005). Tibau do Sul limita-se ao norte com o

município de Arês, ao sul com o município de Vila Flor, a oeste com os municípios de Arês e

Goianinha e a leste com o oceano Atlântico. O acesso pode ser realizado por meio da BR-101

até a cidade de Goianinha, depois se segue na RN-003 em direção leste, chegando à zona

costeira de Tibau do Sul, mais precisamente na praia de Cacimbinha e, posteriormente, na

praia do Madeiro, como pode ser observado no mapa de localização (Figura 01).

Segundo Ferreira (2012), o município de Tibau do Sul está voltado, principalmente,

para a atividade turística, fato este que se explica devido às atratividades naturais que são

encontradas nessa região, além da infraestrutura hoteleira disposta a serviço dos turistas que

visitam as praias do município de Tibau do Sul, das quais a praia da Pipa é a mais evidenciada

no contexto nacional e internacional.

Com o aumento desta atividade nos últimos anos, a malha urbana foi se expandindo

irregularmente ocasionando problemas como a impermeabilização dos solos, desmatamentos,

destruição das dunas e falésias, acúmulo de resíduos sólidos e efluentes não tratados,

intensificação de processos erosivos, etc.. Estes problemas atrelados à dinâmica natural

litorânea podem gerar situações de perigo e/ou risco1 tanto para a população residente quanto

para quem visita o município.

1 Conforme Jr. Marandola e Hogan (2004) risco e perigo são conceitos diferentes, logo possuem distinções em

suas definições. Os autores denominam perigo como sendo o fenômeno em si, como por exemplo, um

movimento de massa na escarpa de uma montanha onde contenha pessoas habitando, pode ser caracterizado

como perigo. Enquanto que o risco seria a probabilidade deste evento ocorrer e prejudicar estas pessoas.

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Figura 01: Localização das praias de Cacimbinha e do Madeiro.

Fotos: Joyce Clara

LEGENDA

10/03/2012

25/11/2011

30/09/2011

30/09/2011

Ponto A

Ponto B

Ponto C

Ponto D

PRAIAS DE CACIMBINHA E DO MADEIRO

Estado doRio Grande do Norte Município de Tibau do Sul

Oceano atlântico

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Ainda segundo Ferreira (2012), as praias de Cacimbinha e Madeiro apresentam

características de costas em processo de erosão em boa parte de seu arco praial. Tais

características foram apontadas por Souza et. al. (2005) e identificadas na área de estudo, são

elas: pós-praia estreita e por vezes inexistente; destruição de estruturas artificiais (bares,

hotéis, restaurantes); presença de falésia com indicativos de erosão (ravinas, marcas de

escorregamento e material coluvial em formato de cone de dejeção em seu sopé); e acúmulo

de minerais pesados associados a outras evidências erosivas de alta energia (raízes expostas

de coqueiros).

Diante disso, atenta-se para necessidade de se realizar estudos voltados ao

entendimento da dinâmica ambiental destas praias, uma vez que Tibau do Sul apresenta

indícios de um crescimento urbano irregular e acelerado. Desse modo, esforços para se

alcançar este entendimento, contribuem, em grande medida, nos momentos de crise,

auxiliando os órgãos governamentais em suas medidas preventivas, oferecendo apoio

científico por meio de produtos acadêmicos.

Assim, buscou-se responder, através deste trabalho, algumas inquietações

relacionadas às praias de Cacimbinha e do Madeiro:

1) As formas de relevo atuais presentes nas praias de Cacimbinha e do Madeiro é resultado de

quais processos deposicionais?

2) Considerando os aspectos granulométricos, cor, morfométricos e morfoscópicos dos

sedimentos encontrados nos depósitos, questiona-se: quais as características ambientais em

que estes sedimentos foram depositados?

3) Qual a área fonte dos sedimentos e quais os prováveis tipos de transportes que predominam

nas praias?

4) Como ocorreu a sequência evolutiva dos depósitos sedimentares das praias de Cacimbinha

e do Madeiro?

Diante destes questionamentos acredita-se que, hipoteticamente, na praia de

Cacimbinha é possível identificar camadas de sedimentos pertencentes à praia e a falésia,

além de identificar interações entre a praia e o terraço, sendo possível correlacionar os

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depósitos praiais com os depósitos do terraço. Portanto, acredita-se que há possibilidade de se

deparar com diversas lentes de argila e silte relacionadas aos períodos chuvosos onde ocorre a

erosão, transporte e deposição de materiais finos (silte e argila) provenientes da falésia na

praia, ou seja, interação entre o continente e o oceano.

Assim, visando ampliar e aprimorar os estudos relacionados às praias em questão

buscou-se focar nos estudos sedimentológicos dos depósitos praiais, uma vez que no trabalho

monográfico de Ferreira (2012) este estudo foi pouco contemplado, sendo necessário um

maior nível de detalhamento.

Além disso, destaca-se também a contribuição de Pierri (2008), que realizou dentre

outros feitos, o monitoramento da praia do Madeiro e a análise sedimentológica por dois anos

nesta localidade, porém esta análise foi realizada nos sedimentos superficiais, não atingindo

os estratos sedimentares mais antigos, impossibilitando remontar um passado mais longínquo

desta área, sendo, também, um dos pontos justificáveis e impulsionadores para a conclusão

deste trabalho.

Contudo, visando traçar direcionamentos a esta dissertação, foram elaborados alguns

objetivos:

Objetivo geral:

Compreender a evolução e a dinâmica deposicional das praia de Cacimbinha situada

no município de Tibau do Sul/RN, Brasil.

Objetivos específicos:

a) Caracterizar os depósitos das praias de Cacimbinha e do Madeiro conforme os

compartimentos geomorfológicos;

b) Diferenciar, sedimentologicamente, as feições costeiras que possivelmente interagem

com a praia de Cacimbinha;

c) Identificar possíveis relações entre os sedimentos das feições costeiras e os depósitos da

praia de Cacimbinha;

d) Entender quais processos deposicionais predominaram em cada fácies praial depositada;

e) Identificar os prováveis ambientes de sedimentação e sua energia deposicional por meio

dos materiais encontrados na praia de Cacimbinha.

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Desse modo, para contribuir no alcance dos objetivos elencados, é interessante

ressaltar que esta dissertação será subdividida em três capítulos e uma parte final relativa às

considerações finais do estudo desenvolvido, como pode ser visto a seguir (Esquema 01):

SUBDIVISÃO DOS CAPÍTULOS

Quadro 01: Subdivisão dos capítulos da dissertação

O esquema apresentado (Esquema 01) refere-se à subdivisão dos capítulos desta

dissertação, que foram pensados da seguinte forma: o primeiro capítulo aborda os métodos e

as técnicas empregados na pesquisa para se atingir os objetivos propostos, sendo pautado em

uma bibliografia específica voltada ao assunto; o segundo capítulo enfatiza a caracterização

das feições sedimentares presentes nas praias de Cacimbinha e do Madeiro por meio da

subdivisão de relevo em feições homogêneas (compartimentação geomorfológica), atentando

para as interações dos depósitos com as praias; O terceiro capítulo consiste na apresentação

dos dados e nas análises realizadas, onde foi possível construir seções estratigráficas e

estabelecer correlações dos depósitos permitindo montar o histórico de evolução praial de

Cacimbinha. Por fim, foram elencadas considerações finais acerca do estudo desenvolvido,

buscando estabelecer conexões coerentes com os resultados alcançados nesta dissertação.

• Caminhos da pesquisa: métodos e técnicas Capítulo 1

•Compartimentação geomorfológica e caracterização sedimentológica das feições costeiras das praias de Cacimbinhas e do Madeiro, Tibau do Sul-RN

Capítulo 2

•Sistema deposicional das praias de Cacimbinhas e do Madeiro: caracterização e correlação dos depósitos sedimentares

Capítulo 3

• Considerações finais Capítulo 4

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CAPÍTULO 1

Caminhos da pesquisa: métodos e técnicas

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Este capítulo tem por objetivo detalhar os procedimentos metodológicos adotados ao

longo da pesquisa, além de apresentar algumas considerações concernentes ao referencial

teórico e metodológico empregados nesta dissertação. A princípio foi realizada uma discussão

acerca da Teoria Geral dos Sistemas de Bertalanffy e seus rebatimentos na ciência geográfica,

em seguida buscou-se apresentar a área de estudo sob a ótica desta teoria. No que se refere ao

referencial metodológico desta pesquisa, foi realizada uma reflexão acerca dos três níveis de

tratamento para pesquisas geomorfológicas estabelecidos por Ab’Saber (1969) com ênfase no

segundo nível de tratamento considerado o mais contemplado neste trabalho. Além disso,

ressaltam-se algumas limitações e considerações metodológicas que permeiam os estudos

desenvolvidos nos depósitos pertencentes ao período quaternário, uma vez que esta pesquisa

teve como alvo estes depósitos. Por fim, foram apresentadas as três etapas operacionais para o

desenvolvimento desta pesquisa: etapa pré-campo, etapa-campo e etapa pós-campo.

1.1 Teoria Geral dos Sistemas

No momento da elaboração desta dissertação julgou-se pertinente realizar uma breve

reflexão acerca do referencial teórico que será adotado nesta pesquisa. Assim sendo, este

trabalho está pautado na Teoria Geral dos Sistemas (TGS) criada pelo biólogo austríaco

Ludwing Von Bertalanffy no ano de 1901 que possui como característica marcante a

aplicabilidade em diversas áreas de conhecimento, tais como: ecologia (primeira a utilizá-la),

economia, administração, embriologia e a própria ciência geográfica.

Na esfera geográfica esta teoria emergiu na década de 1950 no período em que a

corrente filosófica neopositivista influenciava o pensamento científico mundial, refletindo,

consequentemente, em transformações no âmbito geográfico. Tais transformações resultaram

no surgimento da Nova Geografia ou Geografia Teorética-quantitativa voltada ao

desenvolvimento de estudos referentes ao planejamento (GOMES, 2009), porém foi através

de seu emprego na Geografia Física que esta teoria ganhou maior aceitação e aplicabilidade

perdurando até a contemporaneidade.

Com caráter holístico, de acordo com Gomes (2009), a TGS buscou formular

princípios válidos para os sistemas de modo geral, independentemente da área de

conhecimento. “um sistema pode ser compreendido como um conjunto de fenômenos que se

processam mediante fluxos de matéria e de energia. Esses fluxos originam relações de

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dependência mútua entre os fenômenos.” (TRICART, 1977, p. 19), onde cada fenômeno pode

ser considerado como um subsistema.

Desse modo, um sistema pode ser entendido tanto pelas suas relações internas,

quanto pelas relações externas com outros sistemas e que o limite superior de todos os

sistemas seria o universo. Portanto, a realidade pode ser concebida como uma cadeia de

subsistemas integrantes de um sistema maior (universo). É nesta perspectiva que se entende a

área de estudo, através de um conjunto de sistemas, subsistemas e elementos atuando de

maneira interligada, em constante troca de matéria e energia em busca do equilíbrio dinâmico.

É importante salientar que TGS tornou-se de grande aplicação na Geografia Física,

indicando caminhos metodológicos aos pesquisadores desta área, além de dar suporte às

discussões no tocante ao espaço geográfico, levando em consideração as dinâmicas

ambientais e a inserção do homem enquanto agente modificador do espaço e, por vezes,

condicionado pelo mesmo. Por fim, podem ser apontados exemplos de trabalhos e

pesquisadores clássicos que se apoiaram nesta teoria: a Ecodinâmica de Jean Tricart (1977);

os esquemas classificatórios de Sotchava (1977, 1978) e de Bertrand (1972); além dos

preceitos de Hack (1960) na geomorfologia (RODRIGUES, 2001, p. 72).

1.1.1 Praias de Cacimbinha e do Madeiro sob uma ótica sistêmica

Por meio da teoria citada e conforme avaliado em visitas na área de estudo pôde-se

estabelecer um nexo entre a Teoria Geral dos Sistemas e a empiria, deste modo, para uma

melhor visualização, foi montado um esquema da área durante as aulas da componente

curricular “Análise de sistemas ambientais” que levou a uma reflexão teórica das praias de

Cacimbinha e do Madeiro.

Através deste esquema (Figura 2) foi possível observar o sistema praia de

Cacimbinha e praia do Madeiro e os principais subsistemas envolvidos (falésia, duna, homem,

atmosfera, oceano e praia). Dessa forma, através da concepção teórica aqui proposta, foi

possível realizar conexões entre entradas, processamentos, saídas e retroação de energia e

matéria deste sistema costeiro.

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Figura 02: Sistema e subsistemas das praias de Cacimbinha e do Madeiro.

Foto: Erminio Fernandes.

Além disso, ressalta-se que para realizar uma análise pautada na teoria aqui

proposta é preciso perceber que “as unidades menores se organizam em entidades mais

complexas, mas em que o todo é dependente da manutenção das características das partes

constituintes” (RAMOS-PEREIRA, 2008, p. 28), ou seja, a partir das partes (pontos de

amostragem sedimentar) torna-se possível entender o todo (praias de Cacimbinha e do

Madeiro) e mais, é preciso perceber que uma intervenção pontual em um dado fragmento de

praia pode alterar a paisagem do lugar, uma vez que se trata de um sistema aberto, onde

ocorrem constantes trocas de matéria e de energia.

Portanto, a teoria aplicada a este exercício de reflexão sistemática a partir da

paisagem, permitiu delinear o emprego da metodologia deste trabalho, a começar pela escolha

dos pontos amostrados que levou em consideração as interações da área.

1.2 Referencial metodológico

No que se refere ao referencial metodológico desta dissertação, cabe aqui ressaltar

que foram utilizados os três níveis de tratamento para pesquisas geomorfológicas estabelecido

por Ab’Sáber (1969): compartimentação morfológica, levantamento da estrutura superficial e

o estudo da fisiologia da paisagem.

19/11/2009

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De acordo com Ab’Sáber (1969), os estudos geomorfológicos devem atentar para a

compartimentação do relevo da área a ser estudada, nesse sentido, para melhor compreensão,

a área foi dividida em compartimentos topográficos expressos por meio de mapas no estudo

de Ferreira (2012), além disso, estes compartimentos foram caracterizados e descritos

geomorfologicamente. Neste trabalho foram realizadas algumas modificações, incluindo

feições erosivas e deposicionais.

No que se refere ao segundo nível de tratamento (levantamento da estrutura

superficial), deve-se levar em conta as “informações minuciosas dos depósitos geológicos

recentes, feições geomorfológicas pretéritas, depósitos coluviais de vertente, [...] que levam a

uma interpretação genética e cronológica das formas do relevo.” (Ross, 1991, p.37). Neste

trabalho este nível foi atingido através das análises das amostras retiradas por tradagem, onde

foram observadas, descritas e correlacionadas as sequências sedimentares contidas ao longo

dos perfis estratigráficos. Logo, este nível de tratamento foi o mais contemplado nesta

dissertação.

O terceiro e último nível refere-se à fisiologia da paisagem, compreendida como o

estudo dos processos morfoclimáticos e pedogênicos atuais, ou seja, o estudo da situação do

relevo atual, que é produto das relações morfodinâmicas resultantes da ação do próprio relevo

e de fatores externos enfatizando o uso e ocupação do homem no modelado (CASSETI,

2005). Este nível foi atingindo no trabalho de Ferreira (2012), por meio do estudo

morfodinâmico das praias e será resgatado e reinterpretado nesta dissertação, além disso, este

nível de tratamento foi evidenciado, também, por meio dos perfis topográficos transversais às

praiais coletados durante as perfurações na forma de topossequências.

1.3 Análise dos depósitos sedimentares: Período Quaternário

Ainda visando atingir os objetivos deste trabalho, tornou-se imprescindível a adoção

de aportes metodológicos provenientes da geologia sedimentar e da geomorfologia. Nesta

perspectiva, merece atenção a teoria do Uniformitarismo ou Uniformismo enunciada pelos

pesquisadores J. Hutton (1726 - 1797) e C. Lyell (1797-1875) que tem como princípio a

seguinte afirmação, o presente é a chave do passado. De maneira mais clara, esta teoria visa

buscar respostas para fenômenos referentes a períodos geológicos pretéritos com base nos

fenômenos ocorridos no presente (SUGUIO, 1999, p. 27).

O recorte temporal escolhido neste trabalho, o Período Quaternário, conduz o

pesquisador ao uso do método de pesquisa integrada (SUGUIO, 1999), no qual fica

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estabelecido um enlace entre a geologia sedimentar e a geomorfologia, além da

multidisciplinariedade, onde se leva em consideração as interações atmosféricas,

oceanográficas, além da biosfera, incluindo-se o homem. O que faz o pesquisador associar o

método de pesquisa integrada a teoria proposta por Bertalanffy.

Assim, a exemplo da aplicabilidade do método de pesquisa integrada, destacam-se os

trabalhos elaborados por Bigarella ambos publicados no ano de 1965. Em tais trabalhos foram

percebidas correlações dos sedimentos encontrados nos depósitos estudados com eventos

glaciais e interglaciais ocorridos no hemisfério Norte. Além destes, outros estudos merecem

destaque, tais como:

O Modelo Evolutivo Geral de Dominguez et. al. (1981);

O estudo de Corrêa (1990) – Evolução paleogeográfica das costas sul e sudeste do

Brasil de natureza glacioestática (últimos 30.000 anos);

O estudo de Barreto et. al. (2004) no Rio Grande do Norte onde, foram datados

terraços marinhos pleistocênicos de 210.000 anos A.P.;

A Transgressão Cananéia ou Cananeiense (Suguio e Martin, 1978) ocorrida no

estado de São Paulo ou Penúltima Transgressão; ocorrida entre Bahia e Pernambuco

(Bittencourt et. al., 1979); e no sistema ilhas-barreiras/lagunas III, no Rio Grande do

Sul (Villwock et. al., 1986).

Metodologias específicas para estudos de depósitos quaternários merecem ser

discutidas, pois estes depósitos possuem características limitantes ao emprego de técnicas de

pesquisa utilizadas na tradicional análise estratigráfica de sequências sedimentares. Essas

limitações estão intimamente associadas à idade deste período geológico recente que se reflete

no pouco desenvolvimento de materiais oriundos de processos intempéricos. Mello (1994)

aponta que os depósitos quaternários possuem rasa espessura sedimentar, além de distribuição

espacial descontínua, atrelado a pouca variabilidade evolutiva, o que restringe o emprego

adequado da paleontologia por meio da bioestratigrafia e da cronoestratigrafia.

No tocante a classificação dos depósitos quaternários, estes podem ser denominados

de unidades aloestratigráficas (allostratigraphy), que fazem parte das ditas “Novas

estratigrafias” ou mesmo fácies de sedimentação. A designação “Novas estratigrafias” foi

sugerida por Walker (1990) e possuem como características a divisão de sequências

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sedimentares em pacotes genéticos por meio de discordâncias além de levar em consideração

as ciclicidades2 nas sequências deposicionais. Conforme Suguio,

No presente momento existem, pelo menos, quatro tipos de estratigrafias que tentam

subdividir as sequências sedimentares em pacotes genéticos, separados entre si por

superfícies de discordância: a aloestratigrafia (allostratigraphy), a estratigrafia de

sequências (sequence stratigraphy), a sequência estratigráfica genética (genetic

stratigraphic sequence), a sismoestratigrafia (seismostratigraphy). (SUGUIO, 2003,

p. 311)

Portanto, conforme o Código Estratigráfico Norteamericano (2010) - North American

Commission on Stratigraphic Nomenclature - N.A.C.S - uma unidade aloestratigráfica pode

ser considerada um corpo sedimentar estratiforme, que pode ser mapeado e delimitado por

descontinuidades. Visando exemplificar a classificação aloestratigráfica recorreu-se a imagem

proposta por Suguio (2003) (Figura 03).

Figura 03: Exemplo de classificação aloestratigráfica de depósitos aluviais (fluviais) e lacustres em um gráben

(modificado de NACSN, 1983) Fonte: Suguio, 2003.

Segundo Mello (1994), foi a partir de 1983 que este Código passou a considerar as

unidades aloestratigráficas voltadas, principalmente, para os estudos quaternários, além desta

informação, outro ponto alegado por este mesmo autor diz respeito à aloestratigrafia ser

passível de aplicação a depósitos sedimentares de qualquer idade, contexto geológico e escala.

Diante disso, justifica-se a escolha destas unidades para o desenvolvimento deste trabalho.

Contudo, a análise estratigráfica deve levar em conta algumas leis, consideradas

antigas, porém não ultrapassadas, e de grande importância no diagnóstico das pesquisas: Lei

de Steno-Smith ou da superposição; Lei da horizontalidade original; Lei a continuidade

original; Lei de Walter. Estas leis serão descritas a seguir, conforme Suguio (2003).

2 A exemplo destes ciclos pode-se citar os ciclos orbitais de Milankovitch.

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Lei de Steno-Smith ou da superposição – esta lei afirma que a camada sedimentar mais

nova situa-se no topo e a mais antiga na base da sequência, caso não haja deformações

secundárias.

Lei da horizontalidade original – refere-se a sedimentos depositados subaquaticamente

que se apresentam em camadas horizontais ou próximas a este formato e paralelas ou

quase-paralelas à superfície da terra.

Lei a continuidade original – diz respeito à forma deposicional das camadas em meio

aquático. Estas deveriam se estender, na época de deposição, em todas as direções até

adelgar-se e desaparecer como resultado da não deposição ou por não ter atingido a

borda da bacia.

Lei de Walter ou Lei de correlação de fácies – esta lei revela que a sucessão vertical de

fácies3, tanto em sequências transgressivas como regressivas, refletem a ordem da

distribuição horizontal das mesmas fáceis.

Assim, partindo do princípio de cada lei mencionada, torna-se possível entender a

forma como os sedimentos foram depositados nas praias e como correlaciona-los com as

sequências dos outros pontos onde serão coletados os registros sedimentares. Portanto, com

base nestes preceitos, o pesquisador estará salvaguardado teórica e metodologicamente,

garantindo assim, a cientificidade de sua pesquisa.

1.4 Procedimentos metodológicos

Para uma melhor sistematização, os procedimentos metodológicos foram

subdivididos em três etapas: etapa pré-campo: trabalhos de gabinete; etapa campo: aquisição

dos dados; e etapa pós-campo: análise e correlação dos dados; que serão apresentadas no

quadro a seguir (Quadro 02):

3 Refere-se às características sedimentológicas e fossilíferas de um membro, de uma formação ou de um grupo

de depósitos sedimentares. (SUGUIO, 2003, p.291).

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INTEGRAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.4.1 ETAPA PRÉ-CAMPO: TRABALHOS DE GABINETE

- Pesquisa bibliográfica e iconográfica;

- Interpretação de produtos de sensores remotos para auxiliar na elaboração de

mapas.

1.4.2 ETAPA CAMPO: AQUISIÇÃO DOS DADOS

- Reconhecimento da área de estudo: definição de malha amostral para realização

das perfurações com auxílio de trado.

- Realização da 1ª campanha: visita às praias de Cacimbinha e do Madeiro para

prospecção preliminar com auxílio de trado e levantamento topográfico.

- Realização da 2ª campanha: buscou auxiliar na identificação de feições

geomorfológicas das praias de Cacimbinha e do Madeiro e coletar amostras

subsuperficiais dos depósitos litorâneos para elaboração da carta de assinaturas

da área;

- Realização da 3ª campanha: objetivou coletar amostras profundas por meio de

trado nos compartimentos de relevo (terraço, pós-praia e estirâncio), além de

realizar levantamento topográfico dos Pontos A e B.

1.4.3 ETAPA PÓS-CAMPO: ANÁLISE E CORRELAÇÃO DOS DADOS

- Elaboração de mapas temáticos;

- Acomodação e tratamento preliminar das amostras (secagem e quarteamento

para obtenção de amostras representativas);

- Descrição das amostras e análise sedimentológica;

- Elaboração de seções (ou perfis) estratigráficas;

- Análise e correlação dos dados adquiridos;

Integração dos dados

ELABORAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Quadro 02: quadro de integração dos procedimentos metodológicos

1.4.1 Etapa pré-campo: trabalhos de gabinete

Na etapa pré-campo para embasar esta pesquisa foi realizada uma pesquisa

bibliográfica acerca do tema escolhido, utilizando-se de livros, monografias, dissertações,

teses, artigos científicos, periódicos e páginas eletrônicas, bem como, o levantamento de

registros iconográficos e sua respectiva análise, constituindo, assim, o referencial teórico

desta dissertação. Dentre as obras atuais, referentes ao assunto abordado, foram consultados

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alguns trabalhos que serão citados e, posteriormente, serão apontadas suas contribuições para

o desenvolvimento desta dissertação.

O estudo de Tessler e Goya (2005) contribui para o entendimento da herança

geológica/geomorfológica no tocante as transformações da costa brasileira, para isso, os

autores remontaram o histórico de evolução a partir do período Jurássico (há cerca de 150

milhões de anos) até os dias atuais com o intuito de explicar a atual configuração do litoral

brasileiro. Merecem destaque também, as contribuições postas referentes ao Quaternário

brasileiro.

Horn Filho, et. al (2007), abordou em seu trabalho apresentado ao congresso realizado

pela ABEQUA (Associação Brasileira de Estudos do Quaternário 2007) o estudo dos sistemas

deposicionais costeiros e a paleogeografia da planície costeira das folhas Jaguaruna e Lagoa

de Garopaba do Sul, situadas no sul de Santa Catarina. Neste trabalho os autores trouxeram

como discussão a importância de se levar em consideração as flutuações do nível relativo do

mar em estudos sobre evolução devido ao aporte de sedimentos que é condicionado por estas

flutuações, além de traçar um modelo paleogeográfico para tal área sintetizando-os em 5

estágios evolutivos: I - regressão do Pleistoceno inferior; II - transgressão do Pleistoceno

superior; III - regressão após o máximo do Pleistoceno superior; IV - transgressão do

Holoceno e; V - regressão do Holoceno. Diante disso, é reconhecida a relevância deste

trabalho uma vez que foi abordado o tema paleogeografia atrelado ao estudo dos sistemas

deposicionais costeiros, se configurando, dessa forma, como um importante referencial

teórico para esta dissertação.

O trabalho de Amin Júnior (2004) remontou o histórico geológico/geomorfológico do

sistema praia-duna de Pinheira localizada no litoral Centro-Sul do estado de Santa Catarina,

onde se traçou um estudo sedimentológico comparativo destes ambientes. Tal estudo

conseguiu tecer significativas conclusões a respeito da evolução holocênica deste litoral, a

principal refere-se ao constante aporte de sedimentos oferecido para progradação da barreira

que ali se encontra. Para chegar a esta conclusão, o autor coletou amostras superficiais e de

testemunhos ao longo do trecho estudado para análise dos estratos outrora depositados.

O objetivo do trabalho de Martinho (2008) foi analisar os fatores responsáveis pelas

variações espaço-temporais na morfologia dos campos de dunas localizados entre Torres e

Mostarda no estado do Rio Grande do Sul e compreender sua evolução ao longo do holoceno

médio e tardio (últimos 5.000 anos) por meio de amostras de testemunhos.

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Bittencourt, et. al (1983) trouxe em seu trabalho contribuições para os estudos

paleogeográficos do litoral da região Nordeste do Brasil, mais precisamente para o estado de

Sergipe e Alagoas. As contribuições mencionadas consistem na confecção de um mapa no

qual foram espacializados os depósitos quaternários costeiros, além de trazer considerações a

respeito da evolução paleogeográfica quaternária desta região a partir do máximo de

Transgressão Mais Antiga até a década de 1980, através da análise de testemunhos, sendo

possível identificar 6 eventos considerados mais significativos naquela área.

Outra contribuição importante foi a de Barreto et. al (2004) que apresentou um mapa

geológico/geomorfológico do Quaternário costeiro do Rio Grande do Norte enfatizado os

depósitos eólicos. Este estudo utilizou-se de imagens aéreas e de satélite, datações com 14

C

em rochas praias e depósitos de paleomangues, além de datações por termoluminescência em

sedimentos eólicos e marinhos. A importância deste estudo está na utilização da cartografia

elaborada e nas metodologias aplicadas para se obter os resultados.

Voltando-se para estudos realizados nas praias de Cacimbinha e do Madeiro, podem-

se destacar as contribuições de Amaral (2001), Silva et. al (2003) Santos Júnior, et. al (2005),

Scudelari, et. al (2005), Severo (2005), Pierri (2008) e Ferreira (2012). Os estudos citados

tiveram como foco a erosão costeira do município de Tibau do Sul, voltando-se para a

morfodinâmica praial e para os processos erosivos instalados nas falésias daquela região.

Ainda nesta etapa foram selecionados alguns produtos de sensores remotos para

elaboração de mapas temáticos, tais como imagens de satélite e fotografias aéreas das praias,

o que auxiliou na compreensão dos processos costeiros.

1.4.2 Etapa campo: aquisição dos dados

Na etapa campo foi realizado o reconhecimento da área de estudo para definição da

malha amostral. O critério de seleção destes pontos foi embasado no estudo idealizado por

Ferreira (2012), ou seja, utilizaram-se os mesmos pontos em que foram realizados os

monitoramentos dos perfis transversais nas praias estudadas.

No entanto, após a 1ª campanha de campo, foi percebido que a porção norte da área

de estudo (Praia de Cacimbinha) apresentou atributos geomorfológicos/sedimentológicos de

maior interesse em detrimento da porção sul, uma vez que Cacimbinha possui alguns trechos

marcados pela presença de terraços formados junto às falésias que pouco são afetados pela

ação das ondas do mar, fazendo com que estas áreas possuam um registro sedimentar mais

preservado. Dessa forma, tal escolha justifica-se pelo fato da preservação do registro

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sedimentar, além de dá continuidade aos estudos iniciados nesta área contemplando,

principalmente, o levantamento da estrutura superficial da paisagem (Ab’Sáber, 1969).

Esta campanha de campo teve por objetivo checar os tipos de materiais existentes no

substrato sedimentar das praias, além de ter sido fundamental para escolha dos procedimentos

técnicos aplicados na área, dessa maneira, neste primeiro momento, foram realizados

levantamentos topográficos nos quatros pontos de monitoramento (A, B, C e D) do trabalho

de Ferreira (2012) e algumas perfurações com auxílio de trado que resultaram na elaboração

de perfis, bem como suas correlações, e no exame de qualificação de mestrado. Os

levantamentos topográficos foram realizados com auxílio de nível topográfico, mira, trena,

piquetes e planilha de anotações, obtendo como produto final um banco de dados, que por

meio deste pôde-se elaborar perfis topográficos (Figura 04).

|

Figura 04: A: Levantamento de perfil topográfico realizado na praia de Cacimbinha (Ponto B).

Foto: Jorge Luis. B: Tradagem realizada na praia de Cacimbinha (Ponto A). Foto: Arthur Torquato.

Além disso, foram utilizados dois tipos de trado, um de caneco e um holandês

(Figura 05) para perfurar a praia e adquirir as amostras das camadas de sedimentos outrora

depositados, para isso, foram utilizados: lona, trena, marreta, pá para limpeza da área a ser

perfurada, papel milimetrado, lápis de cor e câmera digital. Todavia, é importante salientar

que o foco das amostragens foram os seguintes compartimentos de relevo praial: terraço, pós-

praia e estirâncio. Estes compartimentos podem ser observados no registro fotográfico

explicativo (Figura 06).

25/06/2014

A

13/12/2014

B

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Figura 05: Esquema de perfuração realizado nas praias com base em Boulet (1993).

Figura 06: Compartimentos geomorfológicos da praia de Cacimbinha.

Foto: Joyce Clara

05/05/2012

TERRAÇO COSTEIRO

PÓS-PRAIA

ESTIRÂNCIO LINHA DE COSTA

DUNA FRONTAL

DUNA FIXA

MOVIMENTOS DE MASSA

FALÉSIA

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O método de amostragem por topossequência foi embasado na proposta de Boulet

(1993), onde se realiza uma perfuração no início do perfil e uma no final do perfil, caso não se

obtenha uma sequência das camadas de sedimento, perfura-se entre os dois furos e assim,

sucessivamente, até encontrar a sequência dos materiais que são alvos de mapeamento (Figura

05). O uso do trado na elaboração dos perfis verticais foi o que melhor atendeu as

expectativas no que se refere a aquisição dos materiais para as análises de laboratório, porém

para verificar algumas estruturas sedimentares foram checados alguns perfis expostos devido

a exumação ocasionada pelos processos erosivos.

A segunda campanha de campo buscou identificar as feições geomorfológicas das

praias de Cacimbinha e do Madeiro e coletar amostras subsuperficiais dos depósitos

litorâneos de cada feição para elaboração da carta de assinaturas da área. A carta de

assinaturas é composta por informações acerca dos materiais constituintes dos depósitos, estas

informações consistem em: ponto de retirada da amostra, nome da amostra, localização

geográfica, textura (classificação pela média e por Folk), cor da amostra (seca e úmida), teor

de carbonato, teor de matéria orgânica, morfometria e morfoscopia, provável ambiente de

sedimentação e provável período geológico. A carta de assinaturas contribuiu na

caracterização dos materiais encontrados na área de estudo e que possivelmente podem

interagir com os depósitos das praias, servindo como parâmetro comparativo.

A terceira e ultima campanha de campo objetivou realizar levantamento topográfico

dos perfis A e B e coletar amostras profundas por meio de trado (holandês e de caneco) nos

compartimentos de relevo (terraço, pós-praia e estirâncio). As amostras foram coletadas e

acondicionadas em sacos plásticos devidamente etiquetados, em seguida foram encaminhadas

ao Laboratório de Geografia Física da UFRN (LabGeoFis) (Figura 07).

Figura 07: A: Organização das amostras no LabGeoFis. Foto: Joyce Clara

B: Preparação das amostras no LabGeoFis. Foto: Ivaniza Sales

05/11/2014 05/11/2014

A B

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1.4.3 Etapa pós-campo: análise e correlação dos dados

Na etapa pós-campo, foram elaborados alguns mapas temáticos, tais como: mapa de

localização, geomorfológico e o mapa de espacialização dos pontos amostrados com auxílio

do software ArcGIS 9.3 - ArcMap e ArcCatalog (ESRI). Ainda nesta etapa, foram realizados

os trabalhos de laboratório no LabGeoFis, bem como, a elaboração das seções, ou seja, perfis

estratigráficos com auxílio do programa Corel Draw X4.

1.4.3.1 Análises sedimentológicas

Ao chegar no LabGeoFis as amostras passaram por processo de secagem em estufa a

105°C, em seguida foram quarteadas obtendo-se frações representativas para os

procedimentos de pipetagem, peneiramento (Anexo 01), morfometria, morfoscopia (Anexo

02), teor de carbonato (Anexo 03), teor de matéria orgânica (Anexo 04) e cor dos sedimentos

conforme tabela de Munsell.

Para a classificação textural dos sedimentos, foi utilizado o método da pipeta

conforme Embrapa (1997) e Camargo et. al (2009) fundamentado na lei de Stokes

objetivando separar os sedimentos finos, ou seja, silte e argila. Este método baseia-se na

temperatura da amostra misturada com água destilada e solução dispersante, e no tempo

percorrido após agitação da proveta. Estes procedimentos foram embasados na Tabela 01,

apresentada no trabalho de Camargo et. al (2009).

Tabela 01: Temperatura e tempo de decantação utilizados na separação de silte e argila conforme lei de Stokes.

Fonte: Camargo et. al (2009)

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33

Em seguida utilizou-se o método do peneiramento a seco, pois apresenta melhores

resultados para fração areia em relação aos processos de sedimentação, estes últimos, podem

gerar erros relativamente maiores “devidos à dependência da velocidade de queda da forma e

propriedades de superfície dos grãos, das variações de densidade dos materiais individuais

componentes dos sedimentos, etc.” (SUGUIO, 1973, p.48). Segundo Muehe (2011), em

sedimentos de praia, utiliza-se um jogo de peneiras com séries predispostas em meio em meio

phi (Φ) (por fornecer um melhor detalhamento da curva granulométrica) e um agitador de

peneiras (rot-up) por cerca de 15 minutos. Na tabela de Dimensão dos grãos (Tabela 02)

pode-se observar a dimensão do grão em milímetros por intermédio da escala de Wentworth e

o Φ da escala de Krubein correspondente.

Tabela 02: Dimensão dos grãos em milímetros e o Φ correspondente.

Fonte: Suguio (1973), Dias (2004).

Após o peneiramento, a fração detida em cada peneira foi pesada e registrada, feito

isso, os resultados foram inseridos e processados no software Sistema de Análises

Granulométricas (SAG) da Universidade Federal Fluminense, contribuindo na interpretação

dos dados.

Tal programa dispõe de resultados baseados em parâmetros de estatística descritiva

(ROGERSON, 2012). A média e a mediana foram realizadas conforme o valor do peso dos

sedimentos detidos nas peneiras e alimentados no SAG. As medidas de assimetria e curtose

foram realizadas com base em histogramas gerados, além disso, o programa permite a

elaboração de gráficos de frequência cumulativa.

Segundo Suguio (1973), as medidas de tendência central (média) são consideradas de

grande importância, pois caracterizam a classe granulométrica mais frequente na amostra. A

granulação média de um sedimento indica a ordem de magnitude dos tamanhos dos grãos,

DIMENSÃO DOS GRÃOS EM MILÍMETROS

E ɸ (Phi) CORRESPONDENTE D (mm) Φ (Phi)

> 2.000 -1.0

1.000 0.0

0.500 1.0

0.250 2.0

0.125 3.0

0.063 4.0

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34

além disso, contribuem para descoberta do sentido do transporte sedimentar ocorrido em um

dado ambiente.

O SAG também fornece medidas de grau de dispersão em torno da tendência central

(desvio médio, desvio padrão, desvio dos quartéis). De maneira mais clara, essas medidas

mostram o espalhamento da amostra em torno da tendência central. Já os gráficos de

frequência cumulativa “podem dar indicações fornecidas pelos histogramas sobre a natureza

de frequência granulométrica dos sedimentos” (SUGUIO, 1973, p. 75). A partir do gráfico

gerado observa-se que a classe modal se encontra na parte central da curva, onde é possível

reconhecer, visualmente, o tipo de amostra tratada. O gráfico de curvas acumulativas típicas

de alguns sedimentos (Gráfico 01) exemplifica modelos de comportamento de curvas

acumulativas em quatro tipos de depósitos.

Gráfico 01: Curvas acumulativas típicas de alguns sedimentos

(Segundo Krumbein e Sloss, 1963.). Fonte: Suguio (1973).

As curvas podem apresentar mesma granulometria média e mesmo grau de

dispersão, todavia podem ter assimetria diferente. A assimetria refere-se à tendência dos

dados dispersarem de um lado ou para outro lado (direita ou esquerda), assim esta pode ser

positiva ou negativa. No caso de positiva, a cauda do gráfico de frequência de distribuição

granulométrica (Suguio, 1973, p.77) estará para o lado direito onde se encontram as frações

granulométricas mais finas, caso a curva apresente-se do lado esquerdo, a amostra estará

voltada para as frações grosseiras.

A curtose também é uma medida utilizada na análise de sedimentos, ela consiste no

grau de achatamento de uma curva em relação à curva representativa de uma distribuição

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normal e indica “a razão de espalhamento médio das caudas da distribuição em relação ao

desvio padrão” (SUGUIO, 1973, p. 89). A curtose pode ser muito platicúrtica, platicúrtica,

mesocúrtica, leptocúrtica, muito leptocúrtica ou extremamente leptocúrtica.

Os valores de curtose muito altos ou muito baixos podem sugerir que um tipo de

material foi transportado de uma determinada área-fonte e depositado sem perder suas características originais. A curva platicúrtica mostra um espalhamento de

sedimentos mais finos e mais grossos nas caudas, indicando mistura de diferentes

sub-populações. A ausência de espalhamento de sedimentos nas curvas leptocúrticas

indica sedimentos bem selecionados na parte central da distribuição. (JESUS e

ANDRADE, 2013, p. 5).

Diante disso, Suguio (1973) fornece como suporte para interpretação desses dados

alguns estudos sobre correlações de comportamento estatístico dos sedimentos, como por

exemplo, a assimetria e a curtose são os parâmetros que melhor indicam a diferenciação de

ambientes; e as areias de dunas possuem assimetria positiva quando comparadas aos

sedimentos praiais. Dessa forma, essas informações contribuíram para a análise dos resultados

indicados pelo SAG.

O programa dispõe também de classificações granulométricas, tais como:

Classificação textural de Folk, Classificação Larsonneur, Classificação Shepart e

Classificação pela média. Neste trabalho foram utilizadas a classificação pela média e a

classificação de Folk.

Portanto, os resultados fornecidos pelo SAG contribuíram para a análise das

amostras no que se refere à textura, quantidade de determinado tipo de granulometria na

amostra, energia do ambiente de sedimentação; além de permitir um rápido diagnóstico da

amostragem (devido aos gráficos fornecidos), atrelado à teoria e aos conceitos da

sedimentologia.

Por fim, ainda com relação aos dados estatísticos gerados, é importante salientar que

estes também foram avaliados com ajuda do software “Past Paleontological Statistics”

utilizando a análise de agrupamento (clusters analysis) pela variância mínima (Ward’s) que

possui como enfoque a variabilidade em cada grupo (LANDIM, 2011, p.69). O resultado

gerado permitiu definir grupos de amostras apresentados em forma de gráficos dendrogramas.

1.4.3.1.1 Morfometria e morfoscopia dos grãos

A morfometria corresponde ao formato dos grãos quanto ao seu grau de esfericidade

e de rolamento (ou arredondamento). Estas informações contribuem na análise acerca do

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ambiente deposicional pertencente ao conjunto de sedimentos analisados, além de entender o

histórico de transporte dos mesmos. Todavia, algumas observações devem ser consideradas

no momento da interpretação dessas características dos grãos como bem ressalta Suguio

(1973):

Conforme o autor, o arredondamento dos sedimentos induz a um grau de maturidade4,

desse modo, as areias só atingem maturidade quando passam por diversos ciclos

sucessivos e apresentam grãos moderadamente ou bem arredondados.

No caso de material conglomerático, o arredondamento é ocasionado em tempo menor

quando comparado ao tempo em que as areias levam para o atingir.

Outra nota importante refere-se à dimensão das partículas e seu arredondamento, sendo

que as partículas de tamanho maior tende a ser mais arredondadas em detrimento das

partículas menores, isso se deve ao fato da partícula menor ser transportada por

suspensão e as maiores por meio de desgaste mecânico.

Contudo, de acordo com Dias (2004), muitas foram as tentativas de se desenvolver

métodos práticos para determinação do rolamento dos grãos. No entanto, foi em meados do

século XX que Powers (1954) propôs uma escala visual e prática para determinação destas

características, e ainda hoje continua sendo utilizada por vários pesquisadores do mundo. Tal

escala foi subdividida em 6 classes: muito angular, angular, sub-angular, sub-rolado, rolado,

bem rolado. (Figura 07 e 08).

Figura 07: Escala de rolamento de Power

(1953). a- muito angular; b – angular; c -

4 Refere-se a uma medida de aproximação dos sedimentos de natureza clástica de um tempo final, onde durante o

passar deste tempo os processos genéticos foram efetivos.

Figura 08: Escala de rolamento de Power (1953) indicando

a baixa e a alta esfericidade dos grãos. Fonte: Dias (2004).

ALTA

ESFERICIDADE

BAIXA

ESFERICIDADE

MUITO

ANGULAR

ANGULAR SUB

ANGULAR SUB

ROLADO ROLADO MUITO

ROLADO

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37

sub- angular; d -sub-rolado; e – rolado; f -

bem rolado. Fonte: Dias (2004).

Através desta escala, identificaram-se as propriedades morfométricas dos grãos dos

compartimentos selecionados (terraço, pós-praia e estirâncio) da praia de Cacimbinha.

Conforme Dias (2004), a análise morfoscópica consiste na identificação de marcas existentes

sobre a superfície dos grãos que de certa forma, registram a “história” dos mesmos. Essas

marcas possibilitam desvendar o passado destes sedimentos, permitindo tecer algumas

considerações a respeito do modo como os grãos foram transportados, se os mesmos

encontram-se há muito tempo no ciclo sedimentar, quais foram os agentes de transporte, etc..

Assim, Cailleux (1942) propôs três categorias para classificação de grãos quanto seu

aspecto morfoscópico, são elas: NU – angulosos (Non-Usées); EL – boleados brilhantes

(Émoussés-luisants) e; RM – arredondados baços (Ronds-Mats). É interessante destacar a

expansão desta classificação a partir dos estudos de Rougerie (1957) que definiu mais 9

categorias de grãos referentes aos aspectos morfoscópicos.

Figura 09: análise morfoscópica e morfométrica dos sedimentos

Foto: Ivaniza Sales

Todavia, a morfoscopia realizada nas amostras fez uso da classificação de Cailleux

(1942) (Figura 09). Onde as categorias estabelecidas definem o tipo de transporte

predominante nos grãos analisados:

12/11/2014

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NU – angulosos (Non-Usées) – origina-se do intemperismos das rochas. Estes grãos

apresentam características de inserção recente no ciclo sedimentar: angulosos, com

arestas cortantes e brilho gorduroso;

EL – boleados brilhantes (Émoussés-luisants) – possui contornos mais ou menos

arredondados, com aspecto brilhante devido ao suave atrito entre os grãos dentro

d’água.

RM – arredondados baços (Ronds-Mats) – são grãos com aspecto fosco e desgastado

devido ao atrito entre os mesmos e os obstáculos, são típicos de materiais

transportados pela ação eólica. (DIAS, 2004, p. 53).

Portanto, a metodologia empregada para a análise morfométrica e morfoscópica

consistiu na homogeneização da amostra, quarteamento, peneiramento a úmido (peneira de

0,063 phi) e separação de 100 grãos da mesma para análise comparativa com a escala de

Powers (1954) e a classificação de Cailleux (1942). Para este procedimento foi necessário o

auxílio de pinça e lupa binocular, ambas disponíveis no LabGeoFis. Ao final, efetuou-se o

tratamento estatístico dos dados por meio de uma média simples. É importante destacar que os

mesmos sedimentos podem ser utilizados para o exame morfoscópico e morfométrico,

concomitantemente.

1.4.3.1.2 Quantificação de matéria orgânica

Para determinação do teor de matéria orgânica das amostras trabalhadas foram

realizados alguns testes empregando o método da calcinação no material coletado em campo,

utilizando como base referencial alguns trabalhos acadêmicos, tais como, Silva, Torrado e

Abreu Júnior (1999); Conceição et. al (1999); e Paula et. al. (2009).

O equipamento utilizado para calcinação consiste em um forno muffla da marca Jung

modelo LF0612 com potencial térmico atingindo 1.200°C, revestida com epóxi eletrostático,

abertura do tipo bandeja, controlador térmico e indicação digital da temperatura (Figura 10

A). Para definir a temperatura e o tempo de permanência que a amostra foi submetida, foram

realizados alguns testes que resultaram na subtração da matéria orgânica das amostras

representativas.

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Figura 10: A: forno muffla da marca Jung modelo LF0612 pertencente ao LabGeoFis. B: Amostra acomodada

em cadinho após queima de material orgânico. C: Pesagem do material em balança de precisão no LabGeoFis.

D: Preparação das amostras para identificação da cor. Fotos: Joyce Clara e Ivaniza Sales.

Assim, a temperatura estabelecida foi de 500°C durante 5 horas, o que representou

numa queima eficiente do material orgânico presente na amostra representativa de 10g

(Figura 10 B). Dessa forma, foram estabelecidos parâmetros para a queima da matéria

orgânica: a velocidade de aquecimento em graus e o tempo estimado em minutos. Desse

modo, a temperatura estabelecida foi de 510°C por um período de 300 minutos (5 horas),

sendo que o forno permaneceu 2 horas (tempo de patamar) nesta temperatura para concluir a

queima do material orgânico. Esses valores foram escolhidos pela quantidade de amostra

representativa que foi utilizada, equivalente a 10g para viabilizar o processo de queima.

As amostras foram acomodadas em cadinhos com pesos conhecidos e levadas a

muffla (Figura 10 C). Após a queima do material orgânico realizou-se a diferença entre o peso

da amostra com matéria orgânica menos o peso da amostra retirada da muffla sem a presença

de matéria orgânica.

20/10/2014 21/10/2014

21/10/2014 22/10/2014

A B

C D

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1.4.3.1.3 Quantificação do teor de carbonato de cálcio CaCO3

A determinação do teor de carbonatos nas amostras possui importância no que se

refere às análises em amostras clásticas, assim, subtraíram-se os carbonatos de cálcio das

amostras aqui trabalhadas. Para isso tomou-se como referência a metodologia utilizada nos

trabalhos de Santana e Costa (2008) e Lima (2004) que consiste na separação de 10g de

amostra representativa e ataque com ácido clorídrico diluído a 10%. As amostras passaram 24

horas sob ação do ácido dentro de beckers inseridos na capela do LabGeoFis. Após este

procedimento, as amostras foram lavadas, para retirada do ácido, e em seguida foram

encaminhadas para estufa para posterior pesagem e quantificação do carbonato: peso final

menos peso inicial.

1.4.3.1.4 Determinação da cor dos sedimentos

A cor dos sedimentos está relacionada com suas características mineralógicas e

químicas, conforme Suguio (1973) as cores podem ser primárias (originais) existentes antes

do soterramento dos grãos ou secundárias (epigenéticas) resultantes das mudanças ocorridas

após soterramento. Conforme o autor, tonalidades escuras variando entre tons de cinza e preto

podem está associadas à presença de matéria orgânica, manganês, óxidos ou sufetos de metais

(podem indicar condições fortemente redutoras), enquanto que a cor branca pode está

relacionada à ausência destes compostos. As diversas tonalidades avermelhadas, amareladas e

acastanhadas estão vinculadas a presença de hidróxido de ferro e indicam condições de

oxidação.

De maneira mais clara pode-se dizer que cores escuras associadas à presença de

matéria orgânica podem está associadas a ambientes que favorecem a preservação deste

material, como lagoas com má circulação de água e ambiente de mar raso sem maré; os

sedimentos cinzentos não são indicativos de ambientes específicos, podendo ocorrer em

diversos lugares; a cor primária vermelha está associada aos ambientes de clima quente em

terras emersas, onde ocorre alternância de estações quentes e secas e estações chuvosas. Além

disso, camadas alternadas de sedimentos com colorações distintas sugerem depósitos de

leques aluviais, planícies de inundação e deltas, podendo ocorrer em sedimentos marinhos.

Contudo, segundo Suguio (2003), no que se refere ao exame da cor dos sedimentos,

este deve ser realizado sob condições aproximadamente iguais, ou seja, deve-se umedecer ou

secar os sedimentos antes da análise e realiza-la sob regime de luz semelhante para que haja

um padrão de percepção visual das cores. Dessa maneira, para auxiliar na determinação desta

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característica foi utilizada a tabela de Munsell (2009) considerando os seguintes aspectos

referentes à cor dos sedimentos das praias de Cacimbinha e do Madeiro: matiz, valor e croma

(Figura 10 D). Ressalta-se que estes aspectos foram observados nas amostras úmidas e secas,

posteriormente os resultados foram registrados em fichas.

Conforme Embrapa (1997) a matiz refere-se a gama de cores do espectro solar, ou

seja, são as cores do espectro eletromagnético que são representadas por um número e uma ou

duas letras na porção superior da folha pertencente a tabela de Munsell. O valor representa a

tonalidade da cor, sendo esta mais clara ou mais escura, na tabela este elemento é observado

na porção esquerda da folha. E o croma representa a pureza da cor, traduz a saturação ou

intensidade do colorido, sendo este representado por um número localizado na parte inferior

da folha. Por fim, estes procedimentos metodológicos adotados nesta etapa desta pesquisa

visou corroborar para a elaboração de cartas de assinaturas (Anexo 5) dos depósitos da área,

contribuindo na conclusão deste trabalho.

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CAPÍTULO 02

Compartimentação geomorfológica e caracterização sedimentológica das feições

costeiras das praias de Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN

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Este capítulo tem por objetivo caracterizar o ambiente de sedimentação da área de

pesquisa por meio de compartimentos geomorfológicos e identificar os depósitos aos quais as

praias receberam/recebem contribuições e que estão inseridos no sistema praia-duna-falésia

de Cacimbinha e do Madeiro, desse modo foi elaborada uma carta de assinatura contendo

informações sobre as análises realizadas em laboratório no sentido de auxiliar no

desenvolvimento deste capítulo (Figura 11). O estudo deste ambiente associado aos processos

que o envolve é de grande importância no que se refere ao potencial de uso e ocupação, de

preservação, bem como, estudos de paralometria5.

Dessa forma, para atender ao que aqui está sendo proposto, torna-se importante

elucidar o que se entende por ambiente de sedimentação. De maneira geral, este ambiente

pode ser considerado “como âmbito geográfico de acumulação” (MENDES, 1972, p. 10) que

ocorre quando o agente transportador do sedimento perde competência para carregá-lo, logo

“o local onde o sedimento é deixado e se acumula, é chamado de local de deposição, ou mais

comumente, ambiente de deposição” (NETTO, 1980, p. 19).

Para Suguio (2003) as “porções da superfície terrestre com propriedades físicas,

químicas e biológicas bem definidas e diferentes das apresentadas pelas áreas adjacentes”

podem ser consideradas como ambientes de sedimentação (SUGUIO, 2003, p. 205). De forma

mais complementar, um ambiente de sedimentação pode ser entendido como “a parte da

superfície terrestre onde se acumulam, ou se acumularam, sedimentos e cujas características

físicas, químicas e biológicas são distintas dos terrenos adjacentes.” (SILVA et. al, 2008, p.

17).

Conforme Suguio (2003) os ambientes de sedimentação ou deposição podem ser

classificados como, desértico, glacial, fluvial, lacustre, deltaico, lagunar, estuarino, planície de

maré, praia e sedimentação marinha. Todavia, Silva et. al (2008) aponta além desses, outros

tipos de ambientes, tais como, os de leques aluviais e os ambientes marinhos rasos. De acordo

com Mendes (1972), a classificação dos ambientes varia conforme os autores e sugere a

subdivisão de Twenhofel que adota preceitos geográficos para classificar os ambientes de

sedimentação (Quadro 03).

5 Paralometria é o “estudo da articulação do litoral, ou seja, a relação entre a costa real e a costa envolvente com

a extensão da frente costeira e a superfície continental correspondente. Esta noção é de especial valor para a

geografia comparada de zonas costeiras.” (GUERRA, 2009, p. 463).

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SEDIMENTOS BRUTOS DOS DEPÓSITOS ENCONTRADOS NAS PRAIAS DE CACIMBINHA E DO MADEIRO, TIBAU DO SUL-RN:

Figura 11: Carta de assinatura dos depósitos encontrados nas praias de Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN.

DATA DA COLETA: 03/05/2014

TEXTURA TEXTURA

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

PELA MÉDIA DE FOLK (1954) CÓDIGO NOME DA COR CÓDIGO NOME DA COR % %

PONTO AAreia lamosa com presença

AREIA MÉDIA de cascalho, probremente ROSADO

selecionada, mesocúrtica,

aproximadamente simétrica.

PONTO B

2 - FALÉSIA BRUNO-CLARO Areia, moderadamente BRUNO- BRUNO-

ACINZENTADA selecionada, leptocúrtica e CLARO- AMARELADO-

aproximadamente simétrica ACINZENTADO CLARO

Areia, muito bem selecionada,

leptocúrtica e BRUNO- 7,5YR5/3 BRUNO

aproximadamente simétrica CLARO

Areia com cascalho esparso,

moderadamente selecionada, VERMELHO VERMELHO

leptocúrtica e CLARO

aproximadamente simétrica.

Areia com cascalho esparso,

moderadamente selecionada, 10YR6/8 AMARELO- BRUNO-FORTE 0 0

platicurtica, assimetria positiva. BRUNADO

PONTO C

Areia, muito bem selecionada, CINZENTO-MUITO

platicúrtica e ESCURO

aproximadamente simétrica.

PONTO D

Areia com cascalho esparso,

pobremente selecionada, com CINZENTO 10YR4/3 BRUNO

curtose mesocúrtica e

aproximadamente simétrica.

Areia, muito bem selecionada, 7.5YR4/1

platicúrtica e CINZENTO- 5Y5/1 CINZENTO

aproximadamente simétrica. ESCURO

AVALIAÇÃO DOS DEPÓSITOSERA CENOZOICA

PROVÁVEL PERÍODO

5 - DUNA PARABÓLICA

CINZENTO 10YR3/1

ÚMIDA

CORCOORDENADAS UTM SAD 69 ZN 25S

UTM X UTMY

7 - FALÉSIA VEGETADA TOPO

270979 9311712

5YR6/1

8 - FALÉSIA VEGETADA FACE

10YR5/1

2.5YR5/64 - TOPO DA FALÉSIA VERMELHO 2,5YR6/8

93127842701196 - FALÉSIA VEGETADA FACE

269776

3 - DUNA FRONTAL

CaCO3 M.O

CARTA DE ASSINATURAS DAS PRAIAS DE CACIMBINHAS E DO MADEIRO

0

5

22.5YR8/31 - TOPO DA FALÉSIA

269515 9315166

AMOSTRA

7.5YR6/3

2.5Y7/3

0

2

DADOS DAS AMOSTRAS

SECA A 105°C

7,5YR6/3

9

8

6

21

9313806

2 10

1

2

7,5YR5/6

2YR6/4

NEOGENE

NEOGENE

NEOGENE

QUATERNARY

QUATERNARY

NEOGENE

NEOGENE

NEOGENE

BRUNO-CLARO

AREIA MÉDIA

AREIA MÉDIA

AREIA MÉDIA

AREIA GROSSA

AREIA MUITO FINA

AREIA MÉDIA

AREIA MÉDIA

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Quadro 03: Ambientes de sedimentação mista e marinha. Fonte das informações: Mendes (1972)

Como foram ressaltados, os ambientes de sedimentação possuem propriedades

físicas, químicas e biológicas bem definidas. Segundo Suguio (2003), as propriedades físicas

envolvem os agentes exógenos como os ventos atmosféricos (velocidade, direção), as águas

(ondas, correntes), chuvas, clima etc. As propriedades químicas se referem à composição da

água, composição geoquímica das rochas e parâmetros físico-químicos como Ph e Eh.

Enquanto que as propriedades biológicas integram a fauna e a flora incluindo suas

intervenções nos depósitos.

São nestes ambientes, submetidos às condições físicas, químicas e biológicas,

que se inserem os depósitos sedimentares “Resultantes do acúmulo de materiais desagregados

das diferentes rochas que aparecem no globo terrestre” (GUERRA, 2009, p. 190). Os

depósitos sedimentares podem ter origem fluvial, marinha, eólica, glacial, coluvial, química

e/ou orgânica e podem conter sedimentos de tipologias variadas, ou seja, podem ser

dentríticos, químicos ou orgânicos.

Na localidade em que se inserem as praias de Cacimbinha e do Madeiro, foi possível

assinalar alguns depósitos sedimentares (conforme sua origem) que contribuem para

manutenção deste sistema costeiro, tais como, depósitos eólicos, depósitos fluviais, depósitos

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coluviais e depósitos mistos. São nestes tipos de depósitos que este estudo irá se desenvolver,

pois através da caracterização dos mesmos é possível entender a influência de cada um no

substrato sedimentar da praia de Cacimbinha através das perfurações e análises

sedimentológicas.

Por meio da imagem a seguir (Figura 11) observam-se alguns compartimentos de

relevo que contém depósitos sedimentares e que interagem no ambiente litorâneo de

Cacimbinha, recebendo e fornecendo sedimentos entre si, numa constante permuta sob

condições ambientais específicas desta área.

Figura 11: Imagem aérea da praia de Cacimbinha indicando os compartimentos de relevo onde estão inseridos os

depósitos do ambiente litorâneo de Cacimbinha. Foto: Ronaldo Diniz (IDEMA)

De forma mais abrangente, apresenta-se o mapa de compartimentação das praias de

Cacimbinha e do Madeiro (Figura 12) definindo os limites dos compartimentos de relevo

presentes nas praias, além disso, evidenciam-se alguns processos erosivos (ravinas) e de

acumulação (cone de dejeção). Contudo torna-se importante abstrair do produto cartográfico,

a abrangência dos compartimentos de relevo da área, bem como, suas interações. Os

compartimentos delimitados foram agrupados e identificados da seguinte forma: dunas

(frontais e parabólica), Grupo Barreiras (Tabuleiro costeiro) e falésias, terraço e cones de

dejeção, praia (pós-praia, estirâncio e antepraia) e arenitos ferruginosos (neste caso, os

TABULEIRO

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arenitos se inserem como unidades da paisagem). Desse modo, foram elaboradas algumas

considerações acerca destes compartimentos ao longo do texto.

Figura 12: Mapa de compartimentação geomorfológica conforme Ab’Sáber (1969).

Elaboração cartográfica: Joyce Clara.

L.C: direção

da linha de

costa

L.C

N

340° NW

Oceano atlântico

PONTO A

PONTO B

PONTO C

PONTO D

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A partir da delimitação dos compartimentos geomorfológicos das praias de

Cacimbinha e do Madeiro, foram coletadas amostras em cada segmento de relevo, que foram

encaminhadas e analisadas em laboratório, objetivando caracterizar os compartimentos e seus

respectivos depósitos. Ressalta-se também que para conclusão deste capítulo foi realizada

uma pesquisa bibliográfica enfocada nos estudos desenvolvidos nos compartimentos de relevo

da área, o que possibilitou auxiliar na caracterização e distinção dos ambientes de

sedimentação, e na identificação das interações existentes no sistema praia-duna-falésia de

Cacimbinha e do Madeiro, podendo ser conferidos a seguir.

2.1 Dunas da praia de Cacimbinha

As dunas são depósitos de sedimentos acumulados pela ação dos ventos que fazem

parte do conjunto de sistemas ambientais costeiros, onde são processadas diversas interações

físicas, biológicas, químicas, climáticas e, por mais das vezes, antrópicas. Conforme Guerra

(2009), as dunas são montes de areias quartzosas móveis ou não, depositados pela ação dos

ventos. Todavia, é importante destacar que as dunas podem ser compostas por sedimentos de

diferentes origens, não se restringindo apenas as dunas de areias quartzozas.

A ação deste agente transportador imprime características específicas na aparência

dos grãos no que se refere a propriedade morfoscópica brilho, que geralmente apresenta-se

fosco (sem brilho) devido microcrateras de impacto ocasionadas pelo transporte eólico. Além

disso, os grãos possuem coloração avermelhada ocasionada pelo recobrimento dos sedimentos

com óxido e/ou hidróxido de ferro. Os detritos que compõem as dunas, geralmente,

apresentam areias quartzosas bem selecionadas predispostas em forma de estratificações

cruzadas (Suguio, 2003, p. 211).

No que se refere à tipologia de dunas estas podem assumir diversas formas conforme

o tipo de sedimento constituinte, eficácia dos ventos e cobertura vegetal. As formas foram

identificadas por McKee (1979) apud Silva et. al (2008) e apontadas por Suguio (2003) e

Giannini et. al (2008) (Figura 13). Segundo Suguio (2003) quando as acumulações de areias

eólicas ultrapassam no máximo algumas centenas de quilômetros quadrados podem ser

consideradas como campo de duna (dunefield).

Nesse sentido, Sousa et. al (2012) destacam que a localidade onde se inserem as

praias de Cacimbinha e do Madeiro possui um complexo campo de dunas parabólicas com

orientação SE-NW recobertas parcialmente por vegetação do tipo restinga arbustiva.

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As dunas parabólicas possuem forma de “U” (Figura 13 G) e “são controladas por

estabilização parcial ligada a existência de vegetação e/ou nível freático alto, daí sua

ocorrência quase exclusiva em campos de duna de áreas úmidas”. (SILVA et. al, 2008, p. 77).

No que se refere ao entendimento do depósito dunar da praia de Cacimbinha, o

estudo de Sousa et. al (2012) desenvolvido em uma duna parabólica, atenta para presença de

poucos sedimentos com aparência fosca. Como foi dito, os ambientes de deposição eólica,

geralmente possuem, em sua maioria, sedimentos quartzosos com ausência de brilho (foscos),

entretanto Suguio (1973) explica que diante de um período geologicamente pequeno não é

possível reproduzir um aspecto fosco nos grãos, pois não houve tempo suficiente para que os

mesmos fossem retrabalhados pela ação eólica.

A - transversal, B- barcanóide, C – barcana, D – linear ou “seif”, E – estrela, F- reversa, G –

parabólica, H- ruptura de deflação ou blowout, I – dômica.

As setas indicam a direção dos ventos.

Figura 12: Tipologia de dunas conforme McKee (1979).

Fonte: adaptado de Giannini et. al (2008, p. 77)

Conforme Sousa et. al (2012), este período geologicamente pequeno ocorrido na área

pode ter sua gênese associada a um soerguimento de parte do Grupo Barreiras que provocou

uma interrupção na troca de sedimentos entre a duna e a praia, e que apesar disso, “a dinâmica

erosiva natural sobre a referida duna continua atuante, porém de forma lenta e progressiva”

(SOUSA et. al., 2012, p. 536).

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Nas análises realizadas nos sedimentos da duna parabólica de Cacimbinha pôde-se

observar características muito semelhantes às encontradas no estudo de Sousa et. al (2012).

Desse modo, este depósito apresentou sedimentos com coloração (10YR6/8) amarelo brunado

quando secos (podendo indicar condições de oxidação) e (7,5YR5/6) bruno-forte quando

úmidos, em sua maioria, os grão foram considerados como não esféricos, subarredondados e

vítreos. Conforme classificação de Folk, foram encontradas areias grossas com cascalho

esparso, moderadamente selecionadas, platicúrtica (indicando mistura de diferentes sub-

populações), com assimetria positiva (isto é, tendendo para frações mais finas) (Figura 14).

Os sedimentos não apresentaram carbonatos de cálcio e matéria orgânica em sua composição,

salienta-se que a amostra analisada foi retirada da porção central da duna, onde se localiza o

blowout por isso a ausência de vegetação.

Figura 13: sedimentos pertencentes à duna parabólica localizada na praia de Cacimbinha (PB – Ponto B)

observados em lupa binocular disponível no LabGeoFis e resultados da morfoscopia. Foto: Joyce Clara

Esses resultados refletem a condição do ambiente deposicional da duna Cacimbinha,

onde se encontra uma classificação pela média denominada de areia grossa, mas que

apresenta uma diversidade de sedimentos com granulometrias diferentes que provavelmente

devem ser originados da falésia. A duna parabólica com areia grossa, reflete um ambiente de

alta energia sob influência dos ventos de SE que incidem sobre esta região e são capazes de

selecionar este tipo de material nesta localidade.

Salienta-se que interação dos sistemas falésia e duna também pôde ser comprovada

no trabalho de Sousa et. al. (2012), através da presença de sedimentos silto-argilosos contido

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nas análises das amostras retiradas da duna por meio de coletores de partículas aero-dunar6

(Figura 14). O resultado da captura destes sedimentos pode ser conferido no gráfico de

distribuição das classes granulométricas de sedimentos em função da altura (cm) no coletor B,

denominado Sousa et. al (2012), evidenciando o percentual de silte e de argila (Gráfico 02).

O material proveniente da falésia é adicionado aos sedimentos da duna Cacimbinha,

não obstante a ação eólica tem originado duas pequenas bacias de deflação, exumando o

substrato rochoso do Grupo Barreiras (Formação Potengi). Além desta feição erosiva foram

observados fluxos gravitacionais de massa que “ocorre no flanco superior direito da duna,

visível pela queda de blocos arenosos e exposição de raízes, configurado pelas escarpas de

blowout” (SOUSA et. al., 2012, p. 536) e a presença da ação antrópica através do uso de

veículos tracionados nas dunas (Figura 15).

6 Estes coletores foram feitos com tubos de PVC de 50 mm diâmetro, compartimentados verticalmente em 7

segmentos de 15 cm, ficando o primeiro segmento rente ao solo e o último a 1,2 m de altura.

Figura 15: Blowout da duna de Cacimbinha, vista do topo para a praia, limitada à esquerda por escarpa erosiva e formação vegetal à direita. Fonte: Sousa et. al, (2012)

Figura 14: Coletor de amostras. Fonte: Sousa et. al, (2012)

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Gráfico 02: Distribuição das classes granulométricas de sedimentos em função da altura (cm) no coletor B

evidenciando o percentual de silte e de argila. Fonte: adaptado de Sousa et. al, (2012)

Entretanto, Ferreira (2012) atenta, também para presença de dunas frontais nas praias

de Cacimbinha e do Madeiro. Segundo Hesp (2002), as dunas frontais (dunas embrionárias,

crista de retenção, crista de praia, dunas transversais ou cordão de dunas paralelos) “são

cristas dunares arenosas vegetalizadas formadas nos setores mais próximos do mar das faixas

de pós-praia” (HESP, 2002, p. 119) separadas entre elas por depressões cônicas. Estas dunas

podem conter em sua composição fragmentos das falésias, uma vez que foram observados

processos erosivos na falésia.

Nas análises de laboratório, apesar da feição morfológica ser semelhante, a duna

frontal estudada apresentou características diferenciadas da duna parabólica de Cacimbinha.

Sendo composta por areias com granulometria média, muito bem selecionadas, leptocúrtica e

aproximadamente simétrica (indicando um ambiente de transição entre a praia, duna e

sedimentos de rio). O depósito não apresentou carbonatos de cálcio em sua composição.

Todavia, no decorrer deste trabalho será percebida uma semelhança entre este

depósito e a falésia bruno-claro-acinzentada, tal fato explica-se pela contribuição de

sedimentos que a falésia ao erodir deposita sobre a duna frontal. No que se refere à

morfometria e a morfoscopia, a duna apresentou em sua maioria, sedimentos não esféricos,

subangulares e vítreos (Figura 16). Além disso, observa-se alguns sedimentos com coloração

(10YR6/8) amarelo brunado que podem ser derivados da porção mais avermelhada da falésia,

que aqui está sendo denominada de pós-barreiras.

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Figura 16: sedimentos pertencentes à duna frontal localizada na praia de Cacimbinha observados em lupa

binocular disponível no LabGeoFis e resultados da morfoscopia. Foto: Joyce Clara

A amostra retirada da duna frontal apresentou uma seleção muito boa, refletindo-se

na curtose (leptocúrtica), tal fato pode ser explicado pela ação eólica incidindo sobre os

sedimentos disponibilizados tanto pela praia quanto pela falésia que possuem características

muito semelhantes (areia média), diferentemente dos depósitos da duna parabólica que recebe

contribuições dos sedimentos de coloração avermelhada que provavelmente podem fazer

parte do Pós-barreiras e, portanto composto por frações granulométricas bastante variadas.

Quanto ao formato dos grãos, estes indicam que podem ter sido submetidos a

condições de transporte hidrodinâmico/praial por apresentarem baixa esfericidade e brilho

vítreo. Esta ultima característica (vítrea) pode está associada, também, ao pouco tempo de

retrabalhamento dos grãos no sistema costeiro dunar, fazendo com que o grão preserve esta

propriedade. Por fim, acredita-se que a maior população de detritos subangulares implica em

um baixo retrabalhamento dos grãos pelo agente de transporte, uma vez que os mesmos

apresentam muitas arestas em seu formato.

2.2 Grupo Barreiras (Tabuleiro costeiro) e falésias das praias de Cacimbinha e do Madeiro

As praias de Cacimbinha e do Madeiro estão inseridas no que corresponde à bacia

sedimentar da margem continental brasileira denominada Pernambuco/Paraíba

(MABESOONE e ALHEIROS, 1988 apud PIERRI, 2008; SOUZA-LIMA et. al., 2003). Esta

bacia limita-se ao sul pelo lineamento Pernambuco que a separa da bacia de Sergipe-Alagoas;

12/11/2014

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ao norte pelo Alto de Touros (divisa com a bacia Potiguar) e a oeste com o sistema de falhas

de borda, segregando a mesma do embasamento pertencente à Província Borborema.

Conforme Souza-Lima et. al., (2003) a bacia sedimentar Pernambuco/Paraíba é

composta pelas sub-bacias de Olinda, Alhandra, Miriri, Canguaretama e Natal. Para tanto,

conforme Pierri (2008), esta bacia possui sedimentos com idades que variam do Cretáceo ao

Terciário, sendo recobertos por depósitos de origem quaternária.

Segundo Cunha (2004), as falésias localizadas no litoral oriental do estado do Rio

Grande do Norte, estão esculpidas em depósitos pertencentes ao Grupo Barreiras e são

encontradas numa extensão considerável do litoral brasileiro, estendendo-se desde Rio de

Janeiro até o litoral do estado do Pará. As falésias podem ser consideradas como “um ressalto

não coberto pela vegetação, com declividades muito acentuadas e de alturas variadas,

localizado na linha de contato entre a terra e o mar” (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 133).

Todavia na área de estudo foram percebidas falésias com a presença de vegetação densa.

Rosseti (2008) atenta que as falésias podem ser classificadas como ativas (ou vivas)

ou inativas (ou mortas ou paleofalésias). As ativas são escarpas com declividade elevada e

que estão suscetíveis a ação marinha, responsável pela modelagem da mesma, ocasionando o

solapamento da base e consequentemente a ocorrência de quedas de blocos (Figura 17 A). As

inativas são falésias que não sofrem mais com a ação marinha e estão moderadamente

estáveis e cobertas pela vegetação (ROSSETI, 2008).

Figura 17: A - falésia ativa com presença de vegetação localizada na praia do Madeiro. B – Falésia inativa

protegida por um terraço localizada na praia de Cacimbinha. 31/08/2012.

Na área de estudo observam-se essas duas tipologias de falésia, sendo que as falésias

inativas estão protegidas por terraços ou por dunas frontais (Figura 17 B), além disso,

observam-se marcas de escorregamento nas falésias ativas indicando queda de blocos. No que

A B

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se refere à vegetação existem falésias ativas com cobertura vegetal e falésias inativas sem

cobertura vegetal.

Rosseti (2008) atenta que parte das falésias possuem alguns trechos de material

pertencente ao pós-barreiras, depósito sedimentar diferenciado que se caracteriza,

basicamente, pela presença de paleodunas. As paleodunas estão presentes no litoral do estado

do Rio Grande do Norte no trecho entre Tibau do Sul e Cajueiro, onde na parte oriental do

litoral apresentam formas alongadas com direção noroeste. As paleodunas são consideradas

como depósitos de sedimentos quarternários formados pela ação dos ventos alísios e fixados

pela vegetação atual, recobrindo parte dos sedimentos do Grupo Barreiras.

Sedimentologicamente, de acordo com Brasil (1981), são depósitos constituídos por areias

quartzosas, bem selecionadas compostas por grãos bem arredondados.

Com base em Brasil (1981), o Grupo Barreiras possui uma área de 1390 Km² com

profundidades que alcançam até 25 km sendo em sua superfície geomorfologicamente plano.

Conforme Villwock (2005), os sedimentos encontrados no Grupo Barreiras possuem idade

Terciária e foram retrabalhados no Pleistoceno e no Holoceno, dando origem aos Tabuleiros

Costeiros que formam a paisagem da região em que o estudo está sendo desenvolvido.

De acordo com Cunha (2004), os sedimentos pertencentes ao Barreiras no estado do

Rio Grande do Norte e em Pernambuco é designado de Grupo Barreiras por abranger outras

formações, tais como a Formação Macaíba, Formação Potengi e Formação Riacho Morno7,

compostas por camadas e lentes de depósitos clásticos, os quais têm granulometria

diversificada (seixos quartzosos, areias arcosianas e argilas caulínicas pouco consolidadas).

Através do mapa faciológico da bacia Pernambuco-Paraíba, observa-se que a origem

sedimentar dos depósitos pertencentes ao Grupo Barreiras é predominantemente fluvial

(Figura 18).

7 Encontradas somente no estado do Rio Grande do Norte, conforme Cunha (2004).

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Figura 18: Mapa faciológico da Bacia Pernambuco-Paraíba

Fonte: Adaptado de Alheiros e Lima Filho (1991) apud Pierri (2008)

Ainda sobre o Grupo Barreiras, é importante lembrar que este, conforme Diniz

(2002) possui a característica de ser entrecortado por alguns vales de rios e estuários no Rio

Grande do Norte, apresentando em sua composição

[...] areias quartzosas a subarcosianas, de coloração variegada (creme, vermelho,

laranja, roxo etc.), medianamente selecionados, com aspecto maciço, ocasionalmente com níveis argilosos e sílticos intercalados, sobre os quais se

desenvolvem, por vezes, espodossolos com espessuras que atingem até 2 m.”

(DINIZ, 2002, p. 53)

No que se refere às análises dos depósitos do Grupo Barreiras inseridos nas praias de

Cacimbinha e do Madeiro, considerou-se a feição escarpada para as análises

sedimentológicas, assim pôde-se distinguir dois tipos de falésias conforme sua localização:

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falésias localizadas na porção norte (com vegetação esparsa e por vezes inexistente) e falésias

localizadas na porção sul (com vegetação desenvolvida). A diferenciação destes depósitos

reside na presença de vegetação que reflete condições de substrato e microclima distintos.

Nas análises dos depósitos da porção norte (pontos A e B) foram identificados três

tipos de depósitos díspares, que foram denominados de topo da falésia do ponto A, falésia

bruno-claro acinzentada do ponto B e topo da falésia vermelho do ponto B (Figura 19).

No topo da falésia do ponto A foram identificadas areias com textura média. Na

classificação de Folk foram visualizadas areias lamosas com presença de cascalho,

pobremente selecionadas, mesocúrtica, aproximadamente simétrica. Na falésia bruno-claro

acinzentada do ponto B foram identificadas areia média, moderadamente selecionada,

leptocúrtica e aproximadamente simétrica, apresentando um pequeno percentual de carbonato

(5%) e um pouco de matéria orgânica (2%). Esta amostra foi retirada do topo da falésia, onde

a cobertura avermelhada foi erodida. Segundo Barreto et. al. (2004) esta cobertura

provavelmente foi erodida conforme variação do grau de exposição e dissecação do relevo.

Dessa forma, em momentos de mais mar baixo que o atual (períodos de glaciação), este

depósito atuaria como principal área fonte de sedimentos para as dunas desta região.

Sedimentologicamente nesta cobertura avermelhada (topo da falésia vermelho do

ponto B) foram observadas areias médias com cascalho esparso, moderadamente selecionada,

leptocúrtica e aproximadamente simétrica apresentando um pequeno percentual de carbonato

(1%) e um pouco de matéria orgânica (2%). Diante disso, considerando a posição

predominante dos ventos (S - SE) e os depósitos analisados entende-se que havia uma porção

que recobria a falésia esbranquiçada e que a mesma pode ter sido erodida e depositada sobre a

duna parabólica de Cacimbinha, o que explicaria sua coloração (10YR6/8) amarelo brunado

quando secos (indicando condições de oxidação).

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Figura 19: Pontos de amostragens (1 e 2) da falésia e seus respectivos sedimentos (área de abrangência do Ponto

B). Foto: Imagem aérea de Ronaldo Diniz - IDEMA

Figura 20: Pontos de amostragens (1 e 2) da falésia e seus respectivos sedimentos (área de abrangência do Ponto

D). Foto: Imagem aérea de Ronaldo Diniz - IDEMA

Na porção sul da área, correspondente aos pontos C e D foram identificadas falésias

com vegetação bem desenvolvida apresentando em seu topo e escarpa o desenvolvimento

pedogenético, tal afirmação aporta-se nas análises em lupa binocular que apresentaram como

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característica pedológica o atributo diagnósticos estrutura granular grumosa muito pequena (1

mm <), além da presença de matéria orgânica (9%) e terra fina seca ao ar (TFSA).

No topo das falésias os sedimentos foram identificados como areia com cascalho

esparso na coloração (5YR6/1) cinzenta quando seca e (10YR4/3) bruno quando úmida,

pobremente selecionada, mesocúrtica e aproximadamente simétrica. No que se as análises

morfométricas e morfoscópicas, os grãos apresentaram, em sua maioria, formas esféricas,

angulares e vítreas. A forma esférica indica que provavelmente estes sedimentos não foram

transportados pela praia, uma vez que o padrão sedimentar praial assume formas achatadas e

alongadas, todavia a característica vítrea remete a um transporte por vias aquáticas (neste

caso, pode ser derivado dos fluxos sedimentares que formaram o Grupo Barreiras no período

Neógeno).

Na face da falésia dos pontos C e D, foram identificadas características semelhantes

entre seus sedimentos, porém distintas do topo das falésias: areias, muito bem selecionadas,

platicúrticas e aproximadamente simétricas. Com presença de matéria orgânica (valores entre

10% e 8%) em sua composição e um pequeno percentual de carbonato de cálcio (2%). No que

se refere a morfoscopia e morfometria os sedimentos da falésia do ponto C apresentaram-se

arredondados (indicando maturidade), opacos e esféricos (indicando uma provável ação

eólica), as análises da falésia do ponto D mostraram em maior proporção sedimentos

angulares, vítreos e esféricos (indicando transporte aquático) (Figura 20). Isso leva a crer que

provavelmente estes depósitos não foram transportados em ambiente praial.

Diante disso, entende-se que a caracterização destes depósitos é de grande

importância no que tange o desenvolvimento deste trabalho, uma vez que a escarpa do Grupo

Barreiras assume papel de área fonte de sedimentos para as praias de Cacimbinha e do

Madeiro, fato este observado pelas lentes de sedimentos lutáceos depositadas devida ação dos

processos erosivos instalados nas bordas dos tabuleiros costeiros, os quais desagregam

partículas que migram rumo às praias.

2.3 Terraço e cone de dejeção das praias de Cacimbinha e do Madeiro

O terraço encontrado na praia de Cacimbinha apresenta na sua escarpa lentes de

sedimentos argilosos, areias e minerais pesados, onde se notam claramente períodos

deposicionais distintos. No estudo de Ferreira (2012), foi sacado um testemunho com poucos

centímetros de profundidade, onde foi possível observar a integração entre a falésia e a praia.

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No que se refere à descrição do testemunho (Quadro 04), Ferreira (2012) aponta que

as amostras na coloração vermelha amarelada (5YR 5/8) com pequenas porções brancas (5YR

8/1) ou vermelha amarelada (5YR 5/8) provavelmente são provenientes das falésias, que ao

sofrerem erosão geram como produto final sedimentos nestas colorações. Enquanto que a

areia de coloração mais clara, marrom muito pálida (10YR 7/4) pode resultar da ação de

marés excepcionais que conseguem transportar estes sedimentos e depositá-los junto ao sopé

da falésia ou do transporte dos sedimentos da duna frontal por meio da ação eólica.

Quadro 04: Descrição de testemunho do terraço do ponto B.

Fonte da classificação de cores: Munsell (2009).

0,0-5,0 → TEXTURA ARENOSA – (5YR 5/8) vermelho amarelado.

5,0-6,5 → TEXTURA ARENOSA – (5YR 5/8) vermelho amarelado com

intercalação de textura silto-argilosa - (5YR 8/1) branco.

6,5-10,8 → TEXTURA ARENOSA - mais grossa (5YR 5/8) vermelho

amarelado - com grãos de quartzo variando de 2 a 4 cm.

10,8-13,9 → TEXTURA ARENOSA – (10YR 7/4) bruno muito claro-

acinzentado.

13,9-16,0 → TEXTURA ARENOSA com argila - intercalação mais

acentuada de argila (5YR 8/1) branco e (5YR 5/8) vermelho amarelado.

16,0-18,5 → TEXTURA ARENOSA - (10YR 7/4) bruno muito claro-

acinzentado.

18,5-22,7 → TEXTURA ARENOSA - (5YR 5/8) vermelho amarelado com

argila na coloração (5YR6/8) vermelho amarelado.

22,7-24,5 → TEXTURA ARENOSA - (10YR 7/4) bruno muito claro-

acinzentado.

24,5-25,7 → TEXTURA ARENOSA - (10YR 7/4) bruno muito claro-

acinzentado.

DESCRIÇÃO DO TESTEMUNHO – TERRAÇO COSTEIRO EM

CACIMBINHA

Intervalo: 0,0-70 cm Recuperação: 50,3 cm Recuperado (%):71,43

Localização: UTM: X: 269786 Y: 9313801

25,7-29,5 → TEXTURA ARENOSA – (10YR 7/4) bruno muito claro-acinzentado com presença de

minerais pesados (10YR 3/2) bruno-acinzentado muito escuro.

29,5-30,5 → AREIA - (10YR 7/4) bruno muito claro-acinzentado com argila (5YR 5/8) vermelho

amarelado.

30,5-31,0 → lente de minerais pesados (10YR 3/2) bruno-acinzentado muito escuro.

31,0-50,3 → AREIA - (10YR 7/4) bruno muito claro-acinzentado.

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61

Foram percebidos, também, sedimentos de coloração mais escura, castanha

acinzentado muito escura (10YR 3/2) que refletem a maior capacidade de transporte da praia,

por se tratar de minerais pesados (mais densos que o quartzo e o feldspato). O testemunho,

também, foi submetido ao ataque com ácido clorídrico (HCl) para verificação do teor de

carbonatos, porém não foi percebida reação.

Assim, ao verificar a alternância de cores dos sedimentos depositados no terraço,

associando com observações de campo pode-se dizer que a presença de lentes de argila na

coloração vermelha amarelada (5YR 5/8) referem-se a períodos de deposição de sedimentos

advindos da falésia, portanto em momentos de chuva em que ocorre maior erosão da mesma.

Já a coloração mais clara, marrom muito pálida (10YR 7/4) com material silte-argiloso refere-

se à deposição praial ou da duna frontal.

Apesar da análise superficial deste testemunho, foi possível entender que estes ciclos

de sedimentação podem acontecer tanto no presente como em tempos remotos, e foi através

desta amostragem que a pesquisa em fase de desenvolvimento ganhou impulso para ser

realizada, visando descobrir como estes ciclos se processaram no espaço e, se possível, no

tempo. Além disso, ressalta-se que não apenas nesta localidade encontram-se depósitos deste

tipo, mas sim ao longo de todo arco praial e de maneira fragmentada. No próximo capítulo

serão apresentados dados sobre os sedimentos encontrados neste terraço. De antemão

apresenta-se um corte de pouco mais que 60 cm, realizado nesta feição geomorfológica,

buscando evidenciar estruturas sedimentares (Figura 21). As estruturas visualizadas podem

ser denominadas de plano-paralelas, típica de depósitos do compartimento praial pós-praia

conforme Fávera (2001) (Figura 22).

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62

As estratificações são estruturas sedimentares encontradas nos depósitos ou em

rochas sedimentares, em ambiente praial elas podem ser classificadas segundo Fávera (2001)

como sendo: cruzadas, plano-paralelas, cruzada de baixo ângulo, cruzada hummocky, cruzada

ondular-lenticular, cruzada lenticular.

Acima deste terraço, estão postas formas geomorfológicas denominadas de cones de

dejeção que, sedimentologicamente, podem ser chamadas de depósitos sedimentares de tálus

(Figura 23). Segundo Press et. al (2006) este depósito é constituído por fragmentos rochosos,

acumulados a partir da queda de blocos, que ficam aglomerados no sopé de penhascos. Estes

depósitos tendem a se acumular lentamente por gravidade, formando uma encosta de material

rochoso ao longo da base do penhasco, logo estes sedimentos podem ser correlacionados com

os afloramentos de mesmo material encontrados na encosta. Na área de estudo estes depósitos

também se formam pela ação da gravidade devido a planos de fraqueza encontrados nas

rochas pertencentes ao Grupo Barreiras.

Figura 21: Estruturas sedimentares adaptado de Fávera (2001)

Figura 22: Estruturas sedimentares

plano-paralelas no terraço costeiro

localizado no Ponto B.

05/07/2014

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63

Figura 23: Depósitos de tálus próximo ao ponto B

Foto: Joyce Clara

Os depósitos de tálus ou solos coluviais são encontrados sob o terraço e o

compartimento pós-praia ao longo das praias de Cacimbinha e do Madeiro. Ao relatar

problemas relacionados aos processos erosivos instalados nas falésias de Tibau do Sul, Silva

et. al (2003) aponta que os depósitos de tálus quando presentes na base da falésia, no

compartimento pós-praia, protegem sua base da ação incisiva das ondas.

“Quando a base das falésias encontra-se livre da presença dos depósitos de tálus a

tendência é que inicialmente a ação das ondas, solapando a base, causem a formação

de incisões. Estas incisões por sua vez ocasionam instabilidade basal e consequente

formação de depósitos de talus na base das falésias” (SILVA, et. al, 2003 p.4)

Quanto à origem desta acumulação sedimentar, o autor atribui às erosões

ocasionadas pelo solapamento da base da falésia, além da ação do escoamento das águas

pluviais associado a movimentos gravitacionais de massa (deslizamentos, tombamentos,

quedas ou movimentos complexos). Ao analisar os depósitos de tálus das praias de

Cacimbinha e do Madeiro, encontraram-se como resultado, areias com cascalho esparso,

pobremente selecionadas (devida as formas como foram depositadas: por queda e/ou

lentamente), leptocúrtica e aproximadamente simétricas. Além disso, segundo Suguio (1973)

esse tipo de depósito não apresenta estratificações.

05/07/2014

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64

2.4 Praia de Cacimbinha e praia do Madeiro

Antes de tudo, se faz importante apresentar algumas definições a respeito do conceito

de praia. De uma maneira mais ampla, a praia pode ser considerada como “um conjunto de

sedimentos, depositados ao longo do litoral, que se encontra em constante movimento.”

(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 133). Para Souza et. al (2005), as praias podem ser

consideradas como

[...] depósitos de material inconsolidado, como areia e cascalho, formados na

interface entre terra e mar ou outro corpo aquoso de grandes dimensões (rios, lagos),

e que são retrabalhados por processos atuais associados a ondas, marés, ventos e correntes geradas por esses três agentes. (SOUZA et. al, 2005, p.130).

Segundo Suguio (2003), o ambiente praial corresponde à área perimetral de um

corpo aquoso, dominada por ondas e composta por material granular inconsolidado que

recebe significativas influências do sistema costeiro. Brown et. al., (1991) apud Lima (2004),

faz uma observação a respeito do termo ambiente praial, para o autor, este deve ser

considerado de maior abrangência em detrimento do termo praia, uma vez que, o primeiro

abrange tanto a porção emersa do prisma praial quando a porção submersa.

As praias oceânicas podem ser consideradas como depósitos sedimentares

quaternários transicionais, assim como, cordões litorâneos, deltaicos, lagunares e eólicos

encontrados na planície costeira. Segundo Press (2008), os sedimentos que constituem estes

depósitos são classificados como clásticos, químicos e biológicos, e podem ser considerados

como registros das condições ambientais da superfície terrestre de tempos remotos, uma vez

que, suas características apontam o ambiente de sedimentação ao qual foram depositados.

2.4.1 Morfodinâmica dos pontos A, B, C e D

A morfodinâmica praial pode ser compreendida como “um método de estudo o qual

integra observações morfológicas e dinâmicas numa descrição mais completa e coerente da

praia e zona de arrebentação” (CALLIARI et. al, 2003, p. 63). Este tipo de estudo deve levar

em consideração dentre outros fatores, o clima de ondas, ventos, inclinação e tipo do assoalho

submerso; material constituinte da praia; clima e tempo.

Dessa forma, de acordo com Muehe (2009) foram desenvolvidos seis modelos de

variabilidade espacial da praia e zona de surfe pela Escola Australiana de Geomorfologia.

Esses modelos, considerados como estado ou estágios morfodinâmicos, são caracterizados por

dois estágios extremos (dissipativo e refletivo) e quatro intermediários (banco e calha

longitudinal; banco e praia de cúspides; bancos transversais; e terraço de baixa mar).

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65

No estudo de Ferreira (2012), foram apresentada algumas considerações a respeito da

fisiologia da paisagem das praias de Cacimbinha e do Madeiro, contemplando a

caracterização e compreensão dos dados hidrodinâmicos, dos perfis topográficos e do

transporte de sedimentos ao longo da linha de costa das praias.

O referido trabalho foi realizado nos meses de março, abril, maio, junho, julho,

agosto e setembro do ano de 2012 nas marés de sizígia correspondentes ao período de lua

cheia, totalizando oito monitoramentos, sendo que no mês de agosto foram realizados dois

monitoramentos em função do regime lunar. Portanto, como foi mencionado, serão

apresentadas algumas considerações sobre estes dados.

2.4.1.1 Hidrodinâmica dos pontos A, B, C e D

A necessidade de se coletar dados hidrodinâmicos consiste em determinar o potencial

de transporte sedimentar atribuído ao movimento das correntes marinhas. Estes dados foram

coletados mediante as marés altas de sizígia no período vespertino dos dias monitorados no

ano de 2012.

Oceanograficamente, as ondas que predominaram foram as do tipo mergulhante

(plunging) conforme classificação de Galvin (1968) apud Hoefel (1998), com alturas e

períodos expressos por meio de gráficos. Assim, serão descritos os parâmetros

hidrodinâmicos coletados em campo: altura de onda (Hb), período de onda (T) e velocidade

da corrente de deriva litorânea.

2.4.1.1.1 Altura de onda (Hb)

Os dados de altura de onda resultaram em um gráfico que permitiu demonstrar o

comportamento dos pontos ao longo do período estudado (Gráfico 02). Dessa forma,

analisando os resultados obtidos, destaca-se que o mês de março representou a exceção dos

demais, pois a hidrodinâmica fora monitorada em apenas dois pontos: Ponto A e Ponto D.

Onde se puderam perceber maiores médias de altura de onda no Ponto A (0,97 m).

Ao observar os dados expressos do mês de abril nota-se que a maior média de altura

de onda (Hb) registrada foi no ponto B (1,50 m), em contrapartida o ponto A apresentou a

menor média (0,98 m), comportamento semelhante ao ponto D (1,00 m). Já o ponto C exibiu

média de 1,13 m. (Gráfico 03).

Com relação ao mês de maio, assim como no mês anterior, a estação de

monitoramento B apresentou as maiores médias de altura de onda (1,86 m) seguida do ponto

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66

C (1,76 m). As menores médias foram registradas no Ponto D (0,70 m) seguida do Ponto A

(1,42).

Tomando como referência o monitoramento de junho, percebe-se que o ponto A

indicou as maiores médias de altura (1,14 m) seguido do Ponto B (0,86 m), ponto C (0,84 m)

e ponto D (0,80 m).

Gráfico 02: Altura de onda (Hb)

Com base no trecho do gráfico que representa o monitoramento hidrodinâmico do

mês de julho, observou-se nos pontos A (2,55 m) e B (2,33 m) as maiores alturas de onda. Em

contrapartida as estações C e D revelaram as menores alturas de onda: 2,17 m e 2,05 m,

respectivamente.

Diferentemente dos demais monitoramentos, a atividade de campo realizada no dia

05 de agosto de 2012, apresentou a estação C como dona das maiores alturas de onda (1,52

m), seguida do ponto D (1,43 m). As estações B (1,18 m) e A (1,19 m) apresentaram as

menores médias.

Os dados relativos ao monitoramento hidrodinâmico do dia 31 de agosto, mostrou

que o ponto C, apresentou as maiores médias de altura de onda (Hb), assim como no mês

anterior, entretanto neste mês foi correspondente a 2,82 m.

O comportamento do mês de setembro mostrou-se de forma decrescente. Nesse

sentido, as alturas de onda foram diminuindo do ponto A ao ponto D, isto é, de norte para sul.

Apresentando as seguintes médias: 1,11 m; 1,05 m; 0,76 m; e 0,41 m, respectivamente.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

m

Monitoramentos

Gráfico da altura de onda

De março a setembro de 2012

Ponto A

Ponto B

Ponto C

Ponto D

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67

Ao analisar as alturas de onda de cada ponto, conclui-se que as menores encontram-

se no ponto D e as maiores ondas estão localizadas no ponto A. Conclui-se também que com

base nos monitoramentos realizados no mês de junho, percebeu-se maior altura de onda em

todos os pontos, refletindo-se em erosão em todos os pontos, com exceção do ponto A, onde

houve deposição.8

Nos monitoramentos realizados no mês de agosto, o ponto C apresentou as maiores

ondas em detrimento dos demais pontos. Por fim, outro aspecto interessante foi observado nos

monitoramentos do dia 31 de agosto e do mês de setembro, onde o ponto D não apresentou

zona de surfe e as ondas quebravam próximas à praia junto ao estirâncio com declividade

média de 42° apresentando um perfil comparável ao estado modal praial reflexivo9.

2.4.1.1.2 Período de onda (T)

O período das ondas foi monitorado conforme metodologia proposta em Muehe

(2011) gerando dados que foram tratados e resultaram na confecção do gráfico de período de

ondas (T).

Ao analisar o mesmo (Gráfico 03), pode-se concluir que os períodos de onda não

tiveram grandes variações. Os maiores período de onda foram registrados nos seguintes

monitoramentos e pontos, respectivamente: março (Ponto D), abril (Ponto C), maio (Ponto

A), junho (Ponto B), julho (Ponto B), 05 de agosto (Ponto D), 31 de agosto (Ponto A) e

setembro (Ponto A).

Os menores períodos notificados ocorreram nos monitoramentos e pontos: março

(Ponto A), abril (Ponto A), maio (Ponto B), junho (Ponto A), julho (Ponto D), 05 de agosto

(Ponto C), 31 de agosto (Ponto B) e setembro (Ponto D).

8 Serão realizadas correlações com os dados de ventos das praias de Cacimbinha e do Madeiro para análise da

hidrodinâmica da área. Os dados de vento utilizados estão disponíveis em Ferreira (2012). 9 Para compreensão dos estágios ou estados morfodinâmicos de praias consultar Muehe (2009) e Hoefel (1998).

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68

Gráfico 03: Período de onda (T)

2.4.1.1.3 Deriva Litorânea (longshore currents)

A corrente de deriva litorânea assume papel fundamental no transporte de sedimentos

ao longo da costa (HOEFEL, 1998; SOUZA, 2005). Para tecer aferições a respeito do

comportamento desta corrente, antes de tudo, se faz importante realizar uma análise da

imagem aérea a seguir (Figura 24), para se ter uma breve noção da atuação desta corrente ao

longo da costa das praias de Cacimbinha e Madeiro.

Ao ver o percurso da pluma de sedimentos que deriva paralelamente as praias, pode-

se afirmar que a área na qual se inserem os pontos monitorados recebe parte do aporte

sedimentar da foz do rio Curimataú e do rio Catú e segue de forma paralela à costa. Contudo,

é notória a formação de um vórtice ocasionado pela morfologia da costa oriental (forma da

letra grega zeta ()), que faz com que possivelmente, retire sedimentos da porção sul da área

de estudo (ver círculo).

Esta pluma (coloração mais clara) indica o percurso dos sedimentos e o

comportamento hidrodinâmico dos mesmos, além de mostrar o comportamento do ângulo de

incidência de ondas. Ao observar a imagem nota-se que próximo à porção central da área de

estudo, a deriva litorânea encontra-se paralela à praia, fato esse observado em campo, onde

em todos os dias de monitoramento o ângulo de incidência das ondas tornou-se quase nulo,

tornando-se difícil a aquisição deste dado.

0

5

10

15

Seg

Monitoramentos

Período de ondas (Seg)

De março a setembro de 2012

Ponto A

Ponto B

Ponto C

Ponto D

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69

Figura 24: Fotografia aérea das praias do município de Tibau do Sul. Fonte: Secretaria do

Patrimônio da União, 1969.

No que se refere à capacidade da velocidade da corrente de deriva litorânea, esta foi

quantificada conforme Lima (2004) e Nunes (2005) apresentando resultados que foram

expressos em forma de gráfico (Gráfico 04).

Nesse sentido, é importante notificar que no mês de março foram coletados dados

apenas dos pontos A e D, além disso, no mês de junho não foram coletados os dados do ponto

A. Porém, ao observar o gráfico de velocidade de deriva litorânea, podem-se tecer algumas

considerações a respeito da velocidade desta corrente na área de estudo.

Quanto as maiores velocidades de corrente litorânea, afirma-se que no mês de março

o ponto A sobressaiu-se em detrimento do ponto D, apresentando as maiores velocidades. O

mesmo ocorreu no monitoramento do mês de abril, só que dessa vez, o ponto A superou todos

os pontos.

No monitoramento de maio, o ponto B se destacou dos demais, seguido do ponto C.

Permitindo concluir que a maior velocidade de transporte estava localizada no centro do

Área de estudo

Remoção de sedimentos

Sentido da deriva

litorânea

N

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70

trecho de praia analisado. Pois tanto o ponto A quanto o ponto D apresentaram as menores

velocidades, quase idênticas.

Gráfico 04: Velocidade da corrente de deriva litorânea (m/s)

Analisando o monitoramento de junho, o ponto C merece destaque, pois apresentou a

maior velocidade diferentemente dos demais pontos, dos quais o D exibiu as menores taxas.

Todavia é válido ressaltar que não foram coletados dados no ponto A. Em julho as maiores

velocidades foram registradas no ponto A e a menor, diferentemente dos meses anteriores, foi

registrada no ponto C.

O monitoramento do dia 05/08 assumiu comportamento semelhante ao do mês de

maio, entretanto o ponto que apresentou as menores velocidades foi o ponto A. Em 31 de

agosto observou-se um comportamento crescente do gráfico, sendo assim, assume-se que a

velocidade aumentou do ponto A para o ponto D, ou seja, de norte para sul. No mês seguinte,

setembro, o ponto B apresentou as maiores velocidades de corrente seguido do ponto A. Já a

estação C apresentou as menores velocidades.

Assim, conclui-se que as velocidades de corrente de deriva litorânea de cada trecho

analisado variaram bastante no período monitorado. Portanto, registrou-se que na maioria das

vezes o ponto D (meses de março, maio e junho) possuiu a menor capacidade de transporte

pela água, provavelmente pela proteção do promontório. Já os pontos A, B e C apresentaram

potenciais semelhantes de transporte.

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

m/s

Monitoramentos

Gráfico de velocidade da corrente de deriva litorânea (m/s)

De março a setembro de 2012

Ponto A

Ponto B

Ponto C

Ponto D

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71

2.4.1.2 Topografia praial dos pontos A, B, C e D

Como foi mencionado, foram selecionados quatro pontos de monitoramento (Figura

25), com isso pôde-se observar que o ponto A (Gráfico 05) apresentou uma maior

dinamicidade topográfica, ocorrendo sucessivas erosões e deposições de sedimentos, podendo

ser sintetizada da seguinte forma: erosão (abril), deposição (maio, junho, julho), erosão (05 de

agosto), deposição (31 de agosto) e erosão (setembro).

Figura 25: Ortofotocarta - pontos de localização dos perfis nas praias de Cacimbinha e do Madeiro.

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Ponto A

Gráfico 05: Perfis do Ponto A

Ponto B

Gráfico 06: Perfis do Ponto B

Ponto C

Gráfico 07: Perfis do Ponto C

Ponto D

Gráfico 08: Perfis do Ponto D

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 C1-10/03/2012

C2-07/04/2012

C3-05/05/2012

C4-03/06/2012

C5-04/07/2012

C6-05/08/2012

C7-31/08/2012

C8-30/09/2012

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 C1-10/03/2012

C2-07/04/2012

C3-05/05/2012

C4-03/06/2012

C5-04/07/2012

C6-05/08/2012

C7-31/08/2012

C8-30/09/2012

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110

C1-10/03/2012

C2-07/04/2012

C3-05/05/2012

C4-03/06/2012

C5-04/07/2012

C6-05/08/2012

C7-31/08/2012

C8-30/09/2012

-7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

C1-10/03/2012

C2-07/04/2012

C3-05/05/2012

C4-03/06/2012

C5-04/07/2012

C6-05/08/2012

C7-31/08/2012

C8-30/09/2012

A

B

C

D

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73

O Ponto B (Gráfico 06) erodiu e depositou de maneira semelhante ao Ponto A,

entretanto nos últimos quatro monitoramentos (julho, 05 de agosto, 31 de agosto e setembro),

houve um processo deposicional.

O ponto C (Gráfico 07) apresentou comportamento erosivo durante o período

monitorado, sendo que no mês de setembro observou-se uma deposição sedimentar no

compartimento de praia estirâncio.

Por fim, o ponto D (Gráfico 08) exibiu perfis semelhantes ao Ponto C, ou seja, houve

um rebaixamento na topografia praial e um aumento no mês de setembro em todos os

compartimentos de relevo praial.

2.4.1.3 Análise sedimentológica das amostras

Foram coletados sedimentos nos três compartimentos de relevo praial (pós-praia,

estirâncio e antepraia) para verificação da distribuição granulométrica e entendimento dos

ambientes deposicionais.

Embasando-se nas considerações de Suguio (1973), a análise granulométrica

permitiu caracterizar e classificar os sedimentos das praias de Cacimbinha e Madeiro. No

entanto, a análise foi realizada, apenas, no material proveniente do campo realizado no mês de

março. Foi realizada a pipetagem e o peneiramento, sendo a primeira destinada à

quantificação dos sedimentos finos (Tabela 03).

Pipetagem (Março de 2012)

Ponto A Argila + Silte

Pós-praia 0,0031

Estirâncio 0,0042

Antepraia 0,0039

Ponto B

Pós-praia 0,0287

Estirâncio 0,0062

Antepraia 0,0041

Ponto C

Pós-praia 0,0055

Estirâncio 0,0047

Antepraia 0,0047

Ponto D

Pós-praia 0,0024

Estirâncio 0,0039

Antepraia 0,0058

Tabela 03: Análise dos sedimentos finos (silte + argila).

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74

A partir das análises foram observadas que em todas as amostras encontraram-se

sedimentos de frações mais finas, provavelmente, estes sedimentos são provenientes das

falésias que bordejam este litoral. Nesse sentido, o compartimento pós-praia do ponto B

exibiu a maior quantidade de sedimentos finos em virtude da ausência de vegetação e dos

processos erosivos de sua falésia. Enquanto que o ponto D apresentou a menor quantidade por

apresentar vegetação mais densa.

Quanto aos sedimentos grossos, realizou-se o peneiramento a seco utilizando-se da

classificação proposta por Folk (1954). Através dos resultados obtidos, notou-se que no ponto

D foi constatada maior presença de sedimentos na fração areia fina nos compartimentos

estirâncio e antepraia, com exceção do pós-praia que apresentou sedimentos médios. Os

pontos B e C, localizados no centro da área, apresentaram areias com granulometria média em

todos os compartimentos, sendo que o ponto B apresentou sedimentos mais grossos que o

ponto C (Gráfico 09). O ponto A apresentou sedimentos na fração areia média nos

compartimentos estirâncio e antepraia, já o pós-praia apresentou areias predominantemente

finas.

Abreviações:

PA PP: Ponto A Pós-praia; PA EST: Ponto A estirâncio; PA ANT: Ponto A antepraia.

PB PP: Ponto B Pós-praia; PB EST: Ponto B estirâncio; PB ANT: Ponto B antepraia.

PC PP: Ponto C Pós-praia; PC EST: Ponto C estirâncio; PC ANT: Ponto C antepraia.

PD PP: Ponto D Pós-praia; PD EST: Ponto D estirâncio; PD ANT: Ponto D antepraia.

Gráfico 09: Curvas cumulativas dos compartimentos pós-praia, estirâncio e antepraia dos Pontos A, B, C e D.

0

10

20

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Abertura das peneiras (mm)

C U R V A S G R A N U L O M É T I C A S

PA PP PA ES PA ANT PB PP PB ES PB ANT

PC PP PC ES PC ANT PD PP PD ES PD ANT

g

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75

Ao examinar o gráfico de curvas cumulativas (Gráfico 10), de maneira geral, foram

percebidos três tipos de comportamento nas curvas, que foram ratificados por meio de análise

estatística (Gráfico 10), podendo-se afirmar que há três grupos distintos: Grupo 1, Grupo 2 e

Grupo 3, sendo que os Grupos 2 e 3 são aproximadamente semelhantes. A apreciação

estatística foi realizada através do programa “Past Paleontological Statistics” por meio de

análise de clusters empregando-se o método Ward’s.

Gráfico 10: Apreciação estatística (dendrograma) por meio de análise de clusters utilizando-se do método de

Ward nas amostras dos compartimentos pós-praia, estirâncio e antepraia dos Pontos A, B, C e D.

No Grupo 1, observam-se as amostras com granulometria mais fina (PD ANT; PD

EST; PA PP; PC ANT; PC EST). O Grupo 3 é representado pelas amostras PC PP; PA ANT;

PB ANT e apresentaram granulometrias tendentes para frações de areias mais grossas. As

demais amostras (PB PP; PB EST; PA EST e PD PP) enquadram-se no Grupo 2 apresentando

curvas cumulativas encontradas na parte central do gráfico, e portanto, representam a maioria

das amostras. Assim, com base nestas observações, foi constatado que cada compartimento de

relevo praial possui um padrão sedimentológico (Figura 26).

Os compartimentos estirâncio e antepraia dos pontos A e B apresentaram padrões

semelhantes, o mesmo ocorre nos pontos C e D, o que permite afirmar a existência de

diferentes dinâmicas deposicionais nas praias de Cacimbinha e do Madeiro em virtude das

condições ambientais locais. Desse modo, a porção norte da área pode ser classificada como

mais dinâmica (Pontos A e B), em detrimento da porção sul (Pontos C e D), uma vez que a

primeira apresentou sedimentos com granulometria média, tendendo para frações grosseiras.

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Já os pontos C e D apresentaram nos compartimentos estirâncio e antepraia, sedimentos na

fração areia média tendendo a areia fina, o que indica um ambiente de menor dinâmica.

Figura 26: Distribuição dos grupos de sedimentos na fração areia média tendendo para fina (Grupo 1), média

(Grupo 2) e média tendendo para grossa (Grupo 3).

Fotos: Ronaldo Diniz (IDEMA, 31/03/2010).

Quanto ao grau de selecionamento dos grãos, a variação dos pontos ficou entre bem

selecionados (compartimentos pós-praia e estirâncio) a moderadamente selecionados

(compartimento antepraia). Todos os pontos apresentaram classificação quanto a curtose:

mesocúrtica (curvas de distribuição normal (MUEHE,2011) com exceção do estirâncio do

ponto A (leptocúrtica – sedimento bem selecionado na parte central da distribuição –

configuração esbelta).

PONTO A - PÓS-PRAIA: GRUPO 1 PONTO A - ESTIRÂNCIO: GRUPO 2 PONTO A - ANTEPRAIA: GRUPO 3

PONTO B - PÓS-PRAIA: GRUPO 2 PONTO B - ESTIRÂNCIO: GRUPO 2 PONTO B - ANTEPRAIA: GRUPO 3

PONTO C - PÓS-PRAIA: GRUPO 3 PONTO C - ESTIRÂNCIO: GRUPO 1 PONTO C - ANTEPRAIA: GRUPO 1

PONTO D - PÓS-PRAIA: GRUPO 2 PONTO D - ESTIRÂNCIO: GRUPO 1 PONTO D - ANTEPRAIA: GRUPO 1

PÓS-PRAIA

ESTIRÂNCIO

ANTEPRAIA

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Quanto ao grau de simetria, os pontos apresentaram variações entre

aproximadamente simétricos na maioria dos compartimentos, e assimetria negativa (tendendo

para o lado das frações grossas) nos pontos A (estirâncio e antepraia) e C (Pós-praia). Com

exceção da antepraia pertencente ao ponto D que apresentou assimetria positiva (tendência

para material fino). (SUGUIO, 1973)

Portanto, pôde-se concluir que os sedimentos analisados das praias de Cacimbinha e

do Madeiro possuem granulometrias que variam de areia média a areia fina, bem

selecionada/moderadamente selecionada, mesocúrtica e aproximadamente assimétrica.

2.4.1.4 Interpretações sobre a morfodinâmica das praias de Cacimbinha e do Madeiro

Diante do que foi apresentado, torna-se importante destacar algumas interpretações a

respeito da morfodinâmica praial de Cacimbinha e do Madeiro, tais como: os quatro pontos

monitorados apresentaram comportamentos topográficos distintos no que se refere aos

momentos de erosão e deposição (emagrecimento e engorda) nas praias. O ponto A

apresentou engorda praial no inverno e emagrecimento no verão, assumindo um caráter

cíclico.

Os pontos C e D apresentaram um comportamento semelhante entre si, porém

contrário ao ponto A, ou seja, engordam no verão e emagrecem no inverno. O ponto B, por

sua vez, apresentou as menores variações topográficas, permitindo classificá-lo como o ponto

mais estável em relação aos processos de erosão/deposição praial. No que se refere a

velocidades de corrente de deriva litorânea (m/s) verificou-se que na maioria das vezes as

maiores velocidades expressam no perfil praial remoção de sedimentos. Os maiores períodos

de onda estão associados, na maioria das vezes, às maiores taxas de deposição e as maiores

alturas de onda foram percebidas no mês de julho, onde ocorreu deposição nos ponto A e B

em detrimento de uma erosão nos pontos C e D.

Diante dos resultados apresentados foi possível perceber variações topográficas nas

praias, o que permite afirmar que cada fragmento praial comporta-se de maneira distinta e

mais ainda, torna-se possível concluir que no inverno a porção norte da área que corresponde

à praia de Cacimbinha, comporta maior volume de sedimentos quando comparada a porção

sul (praia do Madeiro) no mesmo período. Em março ocorreu uma inversão, isto é, a porção

sul comportou maior quantidade de sedimentos quando comparada a porção norte da área.

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Quanto aos resultados da análise sedimentológica, pode-se aferir que o Ponto A

apresentou sedimentos de tamanho médio nos compartimentos estirâncio e antepraia, já o pós-

praia conteve sedimentos predominantemente finos, provavelmente, ocasionado pela erosão

da falésia. No Ponto B foi identificada a incidência predominante de sedimentos médios em

todos os compartimentos praiais, assim como no Ponto C. O testemunho retirado do terraço

ratificou a ocorrência de sucessivos processos de deposição (praia/falésia) ocasionados pela

sazonalidade climática e marítima. Por fim, no ponto D foi constatada maior presença de

sedimentos finos nos compartimentos estirâncio e antepraia, fato este justificado pelo contato

direto das águas com o promontório provocando erosão, com exceção do pós-praia que

apresentou sedimentos médios.

2.5 Considerações sobre as assinaturas dos depósitos das praias de Cacimbinha e do Madeiro

As análises realizadas no LabGeoFis permitiram a elaboração de alguns gráficos

representativos dos valores encontrados para algumas análises quantitativas. Utilizando das

informações abstraídas de esforços realizados no entendimento das análises granulométricas

em diversos estudos, puderam-se tecer algumas considerações acercar destes produtos visuais.

No que se refere às curvas granulométricas dos materiais estudados (Gráfico 10),

pode-se dizer que a maioria dos depósitos apresentou granulometrias enquadrada em areias

com presença de cascalho, todavia as análises das curvas acumulativas evidenciaram uma

inclinação das curvas para esquerda do gráfico indicando sedimentos finos, sendo que a face

da falésia vegetada do ponto D se sobressaiu em detrimento dos demais depósitos como o

depósito mais tendencioso para fração areia grossa. Enquanto que a falésia do ponto C

apresentou maior proporção de sedimentos finos.

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Gráfico 10: Curvas de frequência cumulativa dos depósitos das praias de Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN.

Gráfico 11: Apreciação estatística (dendrograma) por meio de análise de clusters utilizando-se do método de Ward para os valores de frequência acumulativa.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Porcen

tagen

s retidas a

cum

ula

das

Abertura das peneiras (mm)

C U R V A S ACUMULATIVAS DOS DEPÓSITOS DAS

PRAIAS DE CACIMBINHAS E DO MADEIRO

Duna frontal do ponto B

Falésia bruno-claro acinzentado da falésia do ponto B

Topo da falésia do ponto A

Topo da falésia vermelho do ponto B

Falésia vegetada face da falésia do ponto D

Falésia vegetada face da falésia do ponto C

Falésia vegetada topo da falésia do ponto D

Duna parabólica do ponto B

Abreviações:

PA TF: Topo da falésia do ponto A

PB FBCA: Falésia bruno-claro acinzentado da falésia do ponto B

PB DF: Duna frontal do ponto B

PB TFV: Topo da falésia vermelho do ponto B

PB DP: Duna parabólica do ponto B

PC FVT: Falésia vegetada face da falésia do ponto C

PD FVT: Falésia vegetada topo da falésia do ponto D

PD FVF: Falésia vegetada face da falésia do ponto D

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Estatisticamente, a análise de clusters por meio do método de Ward (Gráfico 11)

proporcionou uma melhor visualização das similaridades dos sedimentos dos depósitos, sendo

possível observar alguns pares semelhantes de amostras, apesar de se tratar de depósitos

distintos.

Para representação conjunta da morfometria dos sedimentos foram realizados três

tipos de gráficos para melhor interpretação (Gráfico 12, Gráfico 13 e Gráfico 14). Desse

modo, pôde-se perceber uma maior variação morfométrica na amostra denominada de falésia

bruno-claro acinzentada do ponto B, enquanto que nas falésias do ponto D apresentaram

menor variação. A classificação subarredondada esteve presente na maioria dos sedimentos

dos depósitos, permitindo considerar que os sedimentos das falésias das praias de Cacimbinha

e do Madeiro tendem a serem classificados como maduros.

Os sedimentos da porção avermelhada da falésia localizada no ponto B apresentaram

características semelhantes (referentes à tipologia encontrada) aos sedimentos encontrados na

duna parabólica e na duna frontal de Cacimbinha, ratificando ainda mais a contribuição do

primeiro depósito para o segundo citado. Apesar das observações de campo indicar uma forte

interação dos sistemas duna frontal e falésia, a duna frontal apresentou alguns sedimentos

com características semelhantes à falésia bruno claro acinzentada, acredita-se que este fato

justifica-se por se tratar de um ambiente onde a ação eólica predomina ocorrendo uma perda

das demais populações de sedimentos pela ação dos ventos.

Gráfico 12: Morfometria dos depósitos das praias de Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN.

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Gráfico 13: Apreciação estatística (dendrograma) por meio de análise de clusters utilizando-se do método de

Ward para análise de morfometria.

Gráfico 14: Morfometria dos depósitos das praias de Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN.

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10

Dis

tan

ce

PA

TF

PB

DP

PB

FB

CA

PC

FV

F

PD

FV

T

PD

FV

F

PB

DF

PB

TF

V

Abreviações:

PA TF: Topo da falésia do ponto A

PB FBCA: Falésia bruno-claro acinzentado da falésia do ponto B

PB DF: Duna frontal do ponto B

PB TFV: Topo da falésia vermelho do ponto B

PB DP: Duna parabólica do ponto B

PC FVT: Falésia vegetada face da falésia do ponto C

PD FVT: Falésia vegetada topo da falésia do ponto D

PD FVF: Falésia vegetada face da falésia do ponto D

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Finalizando a análise, com auxilio de lupa binocular, foram agrupados os aspectos

vitricidade e opacidade e esfericidade e não esfericidade (Gráfico 15) resultando nas seguintes

conclusões: o ponto A apresentou grãos vítreos e esféricos, assim como o topo da falésia

vermelho do ponto B e o topo da falésia vegetada do ponto D, indicando transporte pela água

(grãos vítreos) em ambiente de rio, uma vez que a literatura aponta que o Grupo Barreiras

possui depósitos fluviais. Neste aspecto analisado, a duna frontal assemelha-se com a duna

parabólica apresentando sedimentos vítreos e não esféricos, o que leva a crer que outrora os

sedimentos da duna parabólica foram retrabalhados pelo ambiente praial pelo fato de

apresentar partículas alongadas.

Gráfico 15: Gráfico comparativo das características de cristalinidade e esfericidade dos depósitos das praias de

Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN.

Por fim, os sedimentos das falésias do ponto C apresentaram morfoscopia opaca e

formato esférico, demonstrando que a maior parcela dos sedimentos desta localidade

provavelmente foram retrabalhados pelos ventos. O ponto D não apresentou padrão muito

claro, uma vez que todas as tipologias foram identificadas nos sedimentos. Diante das análises

aqui desenvolvidas entendem-se os motivos pelos quais as praias apresentam sedimentos na

fração areia média com cascalho esparso em grande parte de seus compartimentos, tal fato

justifica-se pela disponibilidade sedimentar das áreas fontes encontradas naquela região.

0 20 40 60 80

TOPO DA FALÉSIA PA

FALÉSIA BRUNO-CLARO

ACINZENTADA PB

DUNA FRONTAL PB

TOPO DA FALÉSIA VERMELHOPB

DUNA PARABÓLICA PB

FALÉSIA VEGETADA FACE PC

FALÉSIA VEGETADA TOPO PD

FALÉSIA VEGETADA FACE PD

CRISTALINIDADE (%) E ESFERICIDADE (%)

OPACO VÍTREO NÃO ESFÉRICO ESFERICO

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2.6. Período Quaternário e variações do nível do mar

O período Quaternário pode ser caracterizado como o mais recente da história

geológica do nosso planeta no qual o homem faz parte enquanto agente modificador das

paisagens. Este período pode ser subdividido em duas épocas denominadas de holoceno (mais

recente, últimos 10.000 anos) e pleistoceno (1,6 a 2 milhões de anos). Conforme Labouriau-

Salgado (2007), a subdivisão destas épocas foi marcada pela extinção de determinados grupos

de fósseis (Figura 27).

Figura 27: Subdivisão do período quaternário com base em Salgado-Labouriau (2007) e na Carta internacional de

cronoestratigrafia da Comissão Internacional sobre Estratigrafia10.

O período Quaternário foi caracterizado por grandes modificações climáticas que

geraram períodos muito frios (glaciações) e períodos muito quentes (secas) afetando os

ventos, as precipitações e a umidade do ar. Tais interferências climáticas, resultaram na

modificação do relevo e da vegetação dos continentes (Labouriau-Salgado, 2007), sendo que

grande parte destes registros estão expressos nos sedimentos de ambientes praiais, rios,

lagoas, lagos, estuários, dentre outros.

Essas mudanças no quadro climático afetaram as costas do mundo todo por meio de

subidas e descidas do nível do mar. Os movimentos eustáticos geram registros deposicionais

nas regiões costeiras (Figura 28) e podem ser denominados de transgressivo (avanço do mar

rumo ao continente) ou regressivo (recuo do mar rumo ao oceano).

10 Disponível em: http://www.stratigraphy.org/ICSchart/ChronostratChart2014-02.pdf

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Figura 28: registro sedimentar gerados por movimentos eustáticos.

Fonte: Adaptado de https://geojiram.wordpress.com/o-cabo-mondego/

Segundo Suguio (2005), os primeiros indícios destes movimentos observados na

costa brasileira foram registrados há cerca de 160 anos atrás por Chales Darwin, que

observou na costa pernambucana a subida do nível do mar no Holoceno através de rochas

praiais soerguidas.

Conforme Suguio et. al (2005) antigas paleolinhas de costa podem ser observadas

por meio de alguns indicadores, como por exemplo, lineamentos de rochas praiais, presença

de sedimentos bioclásticos e siliciclásticos mais grossos que os adjacentes e concentração de

minerais pesados. Em situações de recuo da linha de costa, podem ocorrer registros rochosos

encrustados de carapaças de organismos marinhos em locais mais elevados que o nível atual

do mar, indicando que outrora o mar estava nesta região.

Os trabalhos realizados por Suguio et. al. (1985,1986) contribuiram para elaboração

de curvas de variação do nível do mar para diversos pontos da costa brasileira (Bahia, Rio de

Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina) num período entre entre 7.000 anos atrás e os

dias atuais. Nestas curvas observa-se um comportamento muito semelhante no que se refere

aos períodos de avanço e retração de linha de costa (Figura 29), observa-se que existem três

intervalos de elevação e uma queda acentuada até o presente.

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Figura 29: Variação entre 7.000 anos atrás e os dias atuais.

Fonte: Suguio et. al., (1985) apud Tessler e Goya (2005).

Figura 30: A: Gráfico de variação do nível médio do mar no período entre 1870 e 2000. B: Gráfico de variação

do nível médio do mar no período entre 1993 e 2013. Fonte: NASA Goddard Space Flight Center, 2014.

Contudo, dados em forma de gráficos apresentados por satélites da NASA e outros

meios de medição apontam oscilações ao longo do período entre 1870 e 2000, porém

apresentam uma tendência crescente do nível médio do mar. Em um período mais recente,

entre os anos de 1993 e 2013, observa-se comportamento semelhante, refletindo um aumento

de pouco mais que 0,56 m do nível médio do mar (Figura 30).

Assim, é de fundamental importância abstrair que as flutuações marinhas ocorreram

ao longo do tempo geológico deixando registros nos depósitos, em outras palavras, ressalta-

se, a existência de vários períodos marcados por oscilações climáticas que se refletiram na

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configuração da linha de costa oceânica, tornando-se de grande importância os estudos que

tratam da evolução costeira uma vez que muitas cidades, como Tibau do Sul, estão assentadas

sob áreas costeiras passíveis de transformações.

Por fim, atenta-se que o modelo mais completo destes tipos de registros foi

estabelecido para o estado da Bahia (DOMINGUEZ ET. AL., 1981), onde foram identificados

8 estágios de evolução paleogeográfica, sendo este Modelo de Evolução Geral aplicável do

estado do Rio de Janeiro (até Macaé) até o estado de Pernambuco se estendendo para o Rio

Grande do Norte. Neste sentido, alguns questionamentos acerca deste modelo poderiam ser

levantados, como por exemplo, será que este modelo corresponde à evolução paleogeográfica

tercio-quaternária do litoral oriental do Rio Grande do Norte, mais precisamente a costa de

Tibau do Sul?

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CAPÍTULO 03

Evolução do sistema deposicional da praia de Cacimbinha: caracterização e correlação

dos depósitos sedimentares

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O terceiro capítulo intitulado “Evolução do sistema deposicional da praia de

Cacimbinha: caracterização e correlação dos depósitos sedimentares” tem como foco

apresentar e caracterizar as fácies deposicionais ou unidades aloestratigráficas da praia de

Cacimbinha. O selecionamento deste fragmento praial foi embasado nos resultados da

morfodinâmica praial realizada no trabalho de Ferreira (2012) associada aos resultados

preliminares apresentados no exame de qualificação desta dissertação, realizado no primeiro

trimestre do ano de 2014, que consistiu na perfuração de seções nos pontos A, B, C e D.

Diante dos resultados, foi possível entender que a porção norte da área de estudo

apresenta maior conservação dos depósitos sedimentares em detrimento da porção sul. Desse

modo, as perfurações foram concentradas na praia de Cacimbinha e resultaram na

apresentação e caracterização das fácies deposicionais ou unidades aloestratigráficas, bem

como, contribuíram para o entendimento das interações do sistema praial e sua evolução

deposicional.

Ressalta-se que as fácies sedimentares desses depósitos foram definidas a partir das

características apresentadas pelos corpos sedimentares em profundidade por meio das análises

disponíveis no LabGeoFis já citadas anteriormente. Assim, para auxiliar na representação

destes resultados utilizou-se de procedimentos metodológicos similares ao segundo capítulo

dessa dissertação, onde se optaram pela elaboração de duas cartas de assinaturas,

correspondentes aos compartimentos geomorfológicos terraço e praia. Além disso, foram

elaboradas seções sedimentares e suas respectivas correlações.

O motivo pelo qual se realizou essa subdivisão (terraço e praia) consiste na maior

conservação de materiais no terraço em detrimento da praia, logo se assume que o terraço

possui dinâmica diferenciada da praia, preservando seus depósitos das intempéries marítimas

enquanto que a praia apresenta-se mais dinâmica, possuindo fácies mais recentes, uma vez

que preserva menos seus depósitos em virtude da dinâmica marinha constante.

Destarte, a partir da observação do número de fácies geradas, pôde-se ratificar mais

ainda a diferenciação de ambientes de deposição numa mesma localidade. Portanto, foram

trabalhados neste capítulo os pontos A e B correspondentes à porção norte da área,

denominada de praia de Cacimbinha.

3.1 Sistema deposicional e fácies sedimentares

Antes de dar início a este capítulo, torna-se de fundamental importância atentar para

a recapitulação de ideias e para inserção de novas. Nesse sentido, é importante atentar que as

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interpretações aqui desenvolvidas pautaram-se em algumas leis da geologia sedimentar, tais

como, lei de Steno-Smith ou da superposição, lei da horizontalidade original, lei da

continuidade original e lei de correlação das fácies (Walter).

O conceito de sistemas deposicionais foi escolhido por estar pautado na Teoria Geral

dos Sistemas e por está diretamente relacionado à lei de correlação das fácies de Walter

(1893-1894), como bem ressalta Suguio (2003). Conforme Sawakuchi e Giannini (2006), a

ideia de sistema está relacionada ao fato dos sistemas deposicionais de uma bacia se

comunicar entre si através de entradas e saídas de sedimentos de cada subsistema. Isto pôde

ser observado nas praias de Cacimbinha e do Madeiro, uma vez que, este sistema praial

recebe e troca sedimentos com outros sistemas adjacentes (duna, falésia...) como ficou

evidenciado no segundo capítulo.

Segundo Suguio (2003) o termo fácies remete a ideia de aspecto ou aparência, e

conforme Guerra (2009) pode ser considerado como um “conjunto de caracteres de ordem

litológica e paleontológica que permite conhecer as condições em que se realizaram os

depósitos” (GUERRA, 2009, p. 263), dessa forma, Mendes (1972) afirma que ao se descobrir

a natureza da fácies, torna-se possível o entendimento das condições ambientais de deposição,

nesse sentido parâmetros estatísticos como curtose e assimetria foram utilizados na elucidação

dos ambientes deposicionais presentes na área de estudo, como sugeriram os trabalhos de

Martins (1965), Suguio (1973) e Dias (2004). Diante disso, foram descritos os pacotes de

sedimentos encontrados na praia de Cacimbinha e foram relatadas algumas considerações a

respeito dos mesmos.

3.1.2 Considerações sobre o sistema deposicional do Ponto A localizado na praia de

Cacimbinha

No ponto A foram realizadas onze perfurações com auxílio de trado (holandês e de

caneco), sendo distribuídas da seguinte maneira: sete perfurações no terraço e quatro nos

compartimentos pós-praia e estirâncio superior (Figura 31). Através destas amostragens foi

possível detectar sete fácies sedimentares e, portanto, sete tipos de materiais distintos

correspondentes a momentos de deposição diferenciados no terraço. Enquanto que na praia

foram detectadas quatro fácies deposicionais (Figura 32).

Nas perfurações realizadas no terraço localizado no ponto A foram identificadas sete

fácies sedimentares demonstrando, também, períodos deposicionais distintos. É importante

destacar que todas as fácies apresentaram textura areia média com exceção da sétima fácies

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que apresentou textura fina, logo, a diferenciação das mesmas contou com as demais

características dos sedimentos abordadas na carta de assinatura, tais como, textura conforme

classificação de Folk, cor, teor de carbonato, teor de matéria orgânica, morfoscopia e

morfometria dos grãos.

A primeira fácies sedimentar depositada no terraço possui como características,

sedimentos classificados como areia moderadamente selecionada, mesocúrtica,

aproximadamente simétrica, com coloração variando entre cinzento escuro a preto. Os

resultados da morfometria e da morfoscopia indicaram a presença de grãos subarredondados,

não esféricos (achatados) e opacos, o que pode indicar inicialmente um transporte praial

seguido pelo eólico, uma vez que os grãos apresentam-se opacos. A fácies não apresentou

teores de carbonato e de matéria orgânica. Acredita-se que a fase deposicional reflete uma alta

energia por apresentar em sua composição minerais pesados11

e ausência de vegetação. É

interessante destacar que os minerais pesados exigem alta energia do ambiente para serem

transportados e depositados.

A segunda fácies deposicional indica uma diminuição da energia do ambiente, uma

vez que também é composta por sedimentos praiais (mineral principal: quartzo), havendo uma

redução na concentração de minerais pesados. Desse modo, esta fácies foi marcada pelos

sedimentos de praia depositados mediante uma energia inferior a segunda fácies de

sedimentação.

Assim, esta fácies possui como características: areias moderadamente selecionadas,

platicúrtica, com assimetria positiva. O fato da amostra apresentar curva platicúrtica indica

uma mistura de diferentes sub-populações (material fino e material grosso), todavia a

assimetria positiva reflete uma tendência para sedimentos mais finos, indicando uma menor

dinâmica de sedimentação. A fácies apresentou um teor de carbonato muito baixo (1%) o que

pode ser considerado desprezível diante do método que foi empregado na quantificação de

CaCO3, além disso não foi registrado presença de matéria orgânica (o que indica um certo

dinamismo no que se refere as condições erosão/deposição). Os resultados da morfometria e

da morfoscopia refletiram grãos subarredondados, não esféricos e vítreos, o que leva a

11 Segundo Dias (1994) os minerais pesados são sedimentos, originários de rochas cristalinas, onde ocorrem

normalmente de maneira acessória, cuja densidade é superior a do mineral quartzo e do mineral feldspato.

Segundo Araujo et. al. (2010), os minerais pesados (cádmio, cromo, cobre, estanho, chumbo, zinco, cianeto etc.) também podem ser encontrados no runoff de áreas urbanizadas, e em grandes concentrações causam danos à vida

aquática, além de se acumular em organismos de peixes e moluscos que fazem parte do cardápio humano.

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entender que se trata de sedimentos retrabalhados pela dinâmica praial, envolvendo transporte

por vias aquáticas.

A terceira fácies sedimentar indica uma composição muito destoante das fácies

anteriores, apresentando cores que variam de (5YR6/4) bruno-avermelhado-claro e (5YR5/6)

vermelho-amarelado, muito semelhante ao material encontrado na falésia desta região.

Texturalmente, a fácies apresentou areia com cascalho esparso, bem selecionada, leptocúrtica

(ratificando o grau de selecionamento da população de grãos), aproximadamente simétrica

(indicando valores de moda, média e mediana iguais); além disso, esta fácies apresentou teor

de matéria orgânica (2%) que pode ser derivado tanto da encosta da falésia, como pelo fato de

uma longa exposição às intempéries ambientais propícias a uma colonização vegetacional.

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Figura 31: Seções realizadas na praia de Cacimbinha (Ponto A)

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979)

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Figura 32: Correlação das seções realizadas na praia de Cacimbinha (Ponto A), evidenciando as fácies deposicionais.

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979)

4ª Fácies

(Terraço)

5ª Fácies

(Terraço)

6ª Fácies

(Terraço)

3ª Fácies

(Terraço)

2ª Fácies

(Terraço)

1ª Fácies

(Terraço)

7ª Fácies

(Terraço)

4ª Fácies

(Praia)

3ª Fácies

(Praia)

2ª Fácies

(Praia)

1ª Fácies

(Praia)

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No que se refere à morfometria e a morfoscopia identificaram-se grãos angulares

(indicativo de baixa maturidade em detrimento dos demais grãos de mesmo tamanho

granulométrico encontrados na área), esféricos (compreende-se que não foram transportados

pela praia) e vítreos (o que pode indica transporte aquático). A primeira, segunda e terceira

fácies pode ser evidenciadas na figura a seguir (Figura 33):

Figura 33: Contato entre as fácies 1, 2 e 3 localizadas no Ponto A na praia de Cacimbinha.

Foto: Cleanto Carlos.

A quarta fácies de sedimentação também exibiu propriedades semelhantes as da

falésia, todavia apresentou algumas características diferenciadas da fácies anteriormente

depositada, indicando um novo momento de deposição. É importante destacar que, segundo

Suguio (1973), a similaridade entre a cor dos sedimentos (variando entre bruno avermelhado e

avermelhado) e a falésia, ocorre pelo fato da área fonte de sedimentos estar limitada por uma

zona escarpada, com um alto gradiente altimétrico, e pelo fato de está localizada próxima ao

sítio de deposição, o que mantém as cores dos depósitos muito semelhantes. Tal fato leva a

ratificar a origem destes sedimentos.

Desse modo, a quarta fácies apresentou areia com cascalho esparso, moderadamente

selecionada, leptocúrtica, aproximadamente simétrica. No que se refere às cores, esta fácies

apresentou cores mais claras (vermelho claro quando seca, variando para vermelho quando

úmida) que a fácies anterior, o que pode indicar uma deposição seguida de um período

climaticamente mais seco. No que se refere à morfometria e a morfoscopia foram

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evidenciados sedimentos angulares, não esféricos e vítreos, refletindo um pouco desgaste da

superfície dos sedimentos em meio aquoso em ambiente díspar da praia.

A quinta fácies foi marcada por sedimentos com cores que variam de (5YR6/4)

bruno-avermelhado-claro quando secos a (2,5YR5/4) bruno avermelhado quando úmidos,

contendo em sua composição sedimentar areias com cascalho esparso, moderadamente

selecionadas, muito leptocúrtica (ausência de espalhamento na curva cumulativa indicando

sedimentos bem selecionados na parte central da distribuição) e assimetria negativa (ou seja,

tendendo para grãos mais grossos). Essas características indicam uma energia maior em

detrimento das deposições anteriores em virtude do comportamento da assimetria apresentada

pela amostra, apesar de apresentar um teor de 2% de matéria orgânica que pode ter sido

colonizada posteriormente à deposição. O cascalho esparso pode ser indicativo de um pacote

coluvional, uma vez que a fácies apresenta sedimentos de tamanhos variados. As

características morfométricas e morfoscópicas apontam para grãos subarredondados, não

esféricos e vítreos, o que pode indicar a possibilidade dos grãos terem sido retrabalhados em

um ambiente praial.

A sexta fácies deposicional trás consigo areias com cascalho esparso, bem

selecionadas, leptocúrtica (ausência de espalhamento na curva cumulativa indicando

sedimentos bem selecionados na parte central da distribuição) e aproximadamente simétrica.

Sua cor variou conforme o grau de umidade, sendo (7,5YR5/4) bruno quando seca e

(7,5YR5/6) bruno forte quando úmida. As características morfométricas e morfoscópicas

apontam para sedimentos subarredondados, esféricos e vítreos, o que leva a crer que os

sedimentos são de origem continental.

A sétima fácies sedimentar corresponde a sedimentos com granulometria fina,

classificados como areia, moderadamente selecionada, mesocúrtica, assimetria positiva. O

fato desta fácies apresentar granulometria fina, reflete possibilidades da atuação do vento

como agente transportador responsável pela sua deposição. Esta porção do terraço possui uma

vegetação do tipo restinga, o que leva a considerar que esta área está propícia a formação de

uma duna frontal, todavia as marés excepcionais acabam por atingir esta estrutura

geomorfológica, impedindo a formação da mesma. A coloração dos sedimentos quando secos

foi identificada como (7.5YR5/1) bruno claro e quando úmidos apresentaram coloração

(7.5YR2.5/1) bruno, indicando sedimentos semelhantes aos da praia. As características

morfométricas e morfoscópicas indicam sedimentos subarredondados, não esféricos e vítreos,

ou seja, são sedimentos oriundos de um pouco retrabalhamento eólico e praial.

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Gráfico 16: Curvas de frequência cumulativa dos depósitos do terraço de Cacimbinha – Ponto A.

Contudo, ao analisar as curvas cumulativas das fácies deposicionais do terraço

localizado no ponto A (Gráfico 16), foi possível perceber que, apesar das análises apontarem

para areias com textura média, há uma tendência dos sedimentos para as frações finas, uma

vez que a maioria das curvas volta-se para porção esquerda do gráfico. Os resultados das

análises das fácies sedimentares localizadas no terraço do Ponto A podem ser conferidos em

sua Carta de assinaturas (Figura 34). Os gráficos referentes à morfometria e morfoscopia dos

sedimentos do terraço podem ser conferidos nos anexos 06 e 07, respectivamente.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Po

rcen

tag

en

s retid

as a

cu

mu

lad

as

Abertura das peneiras (mm)

C U R V A S ACUMULATIVAS DAS FÁCIES DO TERRAÇO LOCALIZADO NO PONTO A - PRAIA DE CACIMBINHA

1ª FÁCIES 2ª FÁCIES 3ª FÁCIES 4ª FÁCIES

5ªFÁCIES 6ªFÁCIES 7ªFÁCIES

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SEDIMENTOS BRUTOS DAS FÁCIES ENCONTRADAS NO TERRAÇO DE CACIMBINHA (PONTO A), TIBAU DO SUL-RN:

Figura 34: Carta de assinatura das fácies sedimentares do terraço da praia de Cacimbinha (Ponto A), Tibau do Sul-RN.

TEXTURA TEXTURA

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

PELA MÉDIA DE FOLK (1954) CÓDIGO NOME DA COR CÓDIGO NOME DA COR % %

Areia moderadamente selecionada

mesocúrtica, assimetria

positiva

Areia com cascalho esparso, bem

selecionada, leptocúrtica,

aproximadamente simétrica.

Areia com cascalho esparso, BRUNO-

moderadamente selecionada, AVERMELHADO- BRUNO-

muito leptocúrtica, assimetria CLARO AVERMELHADO

negativa.Areia com cascalho esparso,

moderadamente selecionada, VERMELHO-

leptocúrtica, aproximadamente CLARO

simétrica

Areia com cascalho esparso, bem BRUNO-selecionada, leptocúrtica, AVERMELHADO- VERMELHO-

aproximadamente simétrica. CLARO AMARELADO

Areia, moderadamente CINZENTO

selecionada, platicúrtica, CINZENTO ESCURO

assimetria positiva.

Areia moderadamente selecionada

mesocúrtica, aproximadamente CINZENTO MUITO simétrica ESCURO

CARTA DE ASSINATURAS DAS PRAIAS DE CACIMBINHAS - PONTO A (TERRAÇO)

269776 9313806

7ª FÁCIES AREIA FINA 7.5YR5/1 7.5YR2.5/1BRUNO CLARO BRUNO 10

ERA CENOZOICA

PROVÁVEL PERÍODO

QUATERNARY

UTMYSECA A 105°C ÚMIDA

COORDENADAS UTM SAD 69 ZN 25S COR

CaCO3 M.OUTM X

AREIA MÉDIA 5YR6/4 2,5YR5/4 1

1AREIA MÉDIA 7,5YR5/4 BRUNO 7,5YR5/6 BRUNO-FORTE 0

2

21VERMELHO2,5YR5/62,5YR6/6

7.5YR4/17.5YR6/1AREIA MÉDIA

AREIA MÉDIA 5YR3/1 5YR2.5/1 PRETO

6ª FÁCIES

5ª FACIES

4ª FACIES

3ª FACIES

2ª FACIES

1ª FACIES

CARACTERÍSTICAS DAS FÁCIES

FÁCIES

01

AREIA MÉDIA

215YR5/65YR6/4AREIA MÉDIA

0 0

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No que se refere à porção praial que abrange os compartimentos pós-praia e

estirâncio, foram identificados quatro fácies de sedimentação. Antes de tudo, torna-se

importante destacar a ausência de vegetação nestas fácies, o que corresponde à dinâmica

praial acentuada, além disso, ressalta-se que a última fácies depositada apresentou uma

pequena quantidade de carbonatos correspondente a ultima maré que deixou registrada

algumas pequenas conchas na face praial.

A primeira fácies é composta por sedimentos arenosos com presença de muitas lentes

de minerais pesados o que tornou a amostra com coloração (10YR6/2) cinzento-brunado-claro

quando seca e (10YR3/1) cinza muito escura quando úmida. Conforme classificação de Folk,

a fácies apresentou areias médias, moderadamente selecionadas, leptocúrtica, com assimetria

positiva (tendendo para grãos finos). Apesar da fácies apresentar assimetria positiva, ela exibe

grande quantidade de minerais pesados que indicam alta energia. As características

morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos arredondados, não esféricos e

vítreos, típicos de grãos retrabalhados em ambiente praial.

A segunda fácies sedimentar possui areias médias, bem selecionadas, apresentando

curvas leptocúrtica (sedimentos bem selecionados na parte central da distribuição),

aproximadamente simétricas (isto é, valores da moda, da média e da mediana

aproximadamente semelhantes). As características morfométricas e morfoscópicas apontam

para sedimentos subarredondados, não esféricos e vítreos, típicos de sedimentos retrabalhados

em ambiente de praia.

A terceira fácies sedimentar possui em sua composição areias finas, moderadamente

selecionadas, mesocúrticas e assimetria positiva (tendendo para grãos finos). A classificação

pela média indicando areias finas, bem como, a assimetria positiva e a curva mesocúrtica da

amostra, levam a entender que o agente transportador desta fácies sedimentar foi o vento,

associado a um período mais seco que possibilitou a remobilização de partículas mais finas. A

morfometria e a morfoscopia exibiram resultados semelhantes às fácies anteriores: sedimentos

subarredondados, não esféricos e vítreos.

A quarta e última fácies sedimentar depositada possui características semelhantes a

segunda fácies sedimentar, apresentando areias médias, bem selecionadas, aproximadamente

simétricas, com exceção da curva mesocúrtica (curva normal). As características

morfométricas e morfoscópicas apontam para resultados semelhantes às fácies anteriores:

grãos subarredondados, não esféricos e vítreos, típicos de sedimentos retrabalhados em

ambiente de praia.

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Gráfico 17: Curvas de frequência cumulativa dos depósitos da praia de Cacimbinha – Ponto A.

Ao analisar as curvas cumulativas das fácies praiais localizadas no ponto A (Gráfico

17), pôde-se perceber que elas possuem maior inclinação para esquerda do gráfico onde se

situam as frações granulométricas mais finas. Destaca-se que as curvas representantes da

primeira e a quarta fácies apresentam tendência para as frações muito finas, enquanto que a

segunda fácies destaca-se das demais por apresentar uma tendência para as frações mais

grossas. Os resultados das análises realizadas nas fácies sedimentares localizadas no ponto A

podem ser conferidos na Carta de assinatura (Figura 35). Os gráficos referentes à

morfometria, morfoscopia, bem como, os sedimentos constituintes das fácies da praia podem

ser conferidos nos anexos 08, 09 e 10, respectivamente.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Po

rcen

tag

en

s retid

as a

cu

mu

lad

as

Abertura das peneiras (mm)

C U R V A S ACUMULATIVAS DAS FÁCIES DO TERRAÇO LOCALIZADO NO PONTO A - PRAIA DE CACIMBINHA

1ª FÁCIES 2ª FÁCIES 3ª FÁCIES 4ª FÁCIES

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SEDIMENTOS BRUTOS DAS FÁCIES ENCONTRADAS NA PRAIA DE CACIMBINHA (PONTO A), TIBAU DO SUL-RN:

Figura 35: Carta de assinatura das fácies sedimentares da praia de Cacimbinha (Ponto A), Tibau do Sul-RN.

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979).

TEXTURA TEXTURA

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

PELA MÉDIA DE FOLK (1954) CÓDIGO NOME DA COR CÓDIGO NOME DA COR % %

Areia bem selecionada,

mesocúrtica, aproximadamente BRUNO MUITO CLARO

simétrica ACINZENTEDO

Areia moderadamente selecionada

mesocúrtica, assimetria

positiva

Areia, bem selecionada,

leptocúrtica, aproximadamente BRUNO MUITO CLARO BRUNO-CLARO-

simétrica ACINZENTEDO ACINZENTADO

Areia moderadamente selecionada

leptocúrtica, assimetria CINZENTO- CINZENTO MUITO

positiva ESCURO

COORDENADAS UTM SAD 69 ZN 25SFÁCIES

CARACTERÍSTICAS DAS FÁCIES

CARTA DE ASSINATURAS DAS PRAIAS DE CACIMBINHAS - PONTO A (PRAIA)

3ª FÁCIES

2ª FÁCIES

1ª FÁCIES

4ª FACIES

QUATERNARY

PROVÁVEL PERÍODO

BRUNADO-CLARO

1BRUNO-AMARELADO10YR5/4

AREIA FINA 7.5YR5/1 CINZENTO 7.5YR2.5/1

0

269776

AREIA MÉDIA 10YR8/2 10YR36/3 0 0

PRETO 0 0

AREIA MÉDIA 10YR6/2 10YR3/1 0 0

10YR7/3AREIA MÉDIA

9313806

ERA CENOZOICACOR

CaCO3 M.OUTM X UTMY

SECA A 105°C ÚMIDA

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3.1.3 Considerações sobre o sistema deposicional do Ponto B localizado na praia de

Cacimbinha

No ponto B foram realizadas dez perfurações com auxílio de trado (caneco e

holandês), sendo distribuídas do seguinte modo: três perfurações no terraço e sete nos

compartimentos pós-praia e estirâncio superior (Figura 36). No que se refere às fácies de

sedimentação ou unidade aloestratigráficas, foram identificadas em profundidade oito fácies

no terraço localizado próximo ao sopé da falésia e cinco fácies distribuídas ao longo deste

trecho praial, indicando momentos deposicionais distintos (Figura 37).

Destaca-se que todas as fácies localizadas no terraço apresentaram como

característica textural areias média, desse modo, assim como no Ponto A, a diferenciação das

mesmas contou com as demais características dos depósitos abordadas na carta de assinatura,

tais como, textura conforme classificação de Folk, cor, teor de carbonato, teor de matéria

orgânica, morfoscopia e morfometria dos grãos.

Como foi mencionado, foram identificadas em profundidade oito fácies no terraço

localizado no Ponto B, sendo a primeira fácies composta por areias com cores (7.5YR7/2)

cinza rosado quando seca e (7.5YR5/3) bruno quando úmida. As areias foram classificadas

como moderadamente selecionadas, apresentaram curva mesocúrtica e assimetria positiva (ou

seja, tendendo para frações mais finas). A aparência rosada dos sedimentos reflete uma leve

interação com os depósitos silte-argilosos da falésia, isso provavelmente pode explicar a

assimetria positiva apresentada pela análise estatística. Além disso, as características

morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos, em sua maioria, subarredondados,

não esféricos e opacos, indicando um pouco retrabalhamento praial em detrimento do eólico.

A segunda fácies é marcada por areias moderadamente selecionada, mesocúrtica,

assimetria negativa (tendendo para frações grossas). As cores da amostra foram classificadas

conforme carta de Munsell (2009) como sendo (7.5YR6/1) cinzento quando seca e quando

úmida (7.5YR4/1) cinzento escuro. As características morfométricas e morfoscópicas

apontam para sedimentos subarredondados, não esféricos e opacos, que indicam um

retrabalhamento praial e eólico.

A terceira fácies praial é representada por sedimentos na fração areia com cascalho

esparso, moderadamente selecionada, com curva mesocúrtica, aproximadamente simétrica.

Quando homogeneizados, os depósitos apresentaram cores que variaram entre (7.5YR7/2)

cinza rosado (5YR6/6) quando seca e (5YR6/6) amarelo avermelhado quando úmida

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indicando presença de sedimentos advindos do topo avermelhado da falésia localizada

próxima ao sítio deposicional. O depósito também expôs um pequeno teor de matéria

orgânica (2%). As características morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos

subarredondados, não esféricos e esféricos (atentando para uma mistura de sedimentos

pertencentes ao ambiente de praia e sedimentos de origem continental), e opacos

(retrabalhados pelos ventos).

A quarta fácies sedimentar possui em sua constituição areias com coloração

(7.5YR7/1) cinza claro quando seca e (7.5YR7/2) cinza rosado quando úmida, bem

selecionadas, apresentando curva leptocúrtica (indicando sedimentos bem selecionados na

parte central da distribuição), aproximadamente simétrica. A fácies apresentou um baixo teor

de matéria orgânica (equivalente a 1%). As características morfométricas e morfoscópicas

apontam para sedimentos subarredondados, não esféricos e opacos, indicando influência

praial e eólica.

A quinta fácies de sedimentação apresenta em sua composição areia com cascalho

esparso ((10R7/4) vermelho-claro-acinzentado quando seca e quando úmida (10R6/6)

vermelho claro), moderadamente selecionada, leptocúrtica, aproximadamente simétrica. As

características morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos subarredondados,

não esféricos e opacos. Esta deposição é indicativa de uma mistura de sedimentos oriundos da

falésia com sedimentos retrabalhados por vias eólicas, além disso, foi registrada a presença de

matéria orgânica (equivalente a 3%) que pode ter sido colonizada posteriormente a deposição,

uma vez que não há presença significativa de vegetação na encosta deste trecho praial. Outra

explicação para presença de vegetação consiste na possibilidade da mesma existir antes da

deposição desta fácies.

A sexta fácies é composta por areia com cascalho esparso, moderadamente

selecionada, mesocúrtica, aproximadamente simétrica. Este depósito possui coloração

(7.5YR6/1) cinzento quando seco e (7.5YR4/1) cinzento escuro quando úmido. Foi registrada

a presença de matéria orgânica (equivalente a 3%). As características morfométricas e

morfoscópicas apontam para sedimentos arredondados, esféricos e vítreos.

Diante dos atributos da sexta fácies deposicional, pôde-se considerar que o material

aparentemente possui origem praial, apesar do exame de morfometria apresentar a maioria de

grãos esféricos, além disso, registrou-se a presença de minerais pesados refletindo em sua

coloração, indicando alta energia. Todavia, esta fácies deposicional também recebeu

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103

contribuições da falésia, uma vez que possui em sua composição sedimentos com coloração

variando entre amarelo e avermelhado, além de apresentar sedimentos com aspecto esférico.

A sétima fácies apresenta em sua composição areia com cascalho esparso na cor

(10R7/4) vermelho-claro-acinzentado quando seca e quando úmida, pobremente selecionada,

mesocúrtica, assimetria negativa (tendendo para sedimentos grossos), com presença de

matéria orgânica (equivalente a 3%). Diante do material analisado concluiu-se que este

depósito pode ser derivado de fluxos gravitacionais advindos da falésia, pois a má seleção do

material sedimentar e a presença de cascalho levam a concluir que este material pode ter

derivado de um depósito de tálus. Além disso, o exame morfométrico e morfoscópico

apontam para sedimentos subarredondados, esféricos e não esféricos (indicando mistura de

ambientes – praia e continente), e vítreos (transporte aquático).

A oitava fácies e última a ser depositada corresponde a um material com coloração

(2.5YR7/4) bruno-avermelhado-claro (aspecto exibido no exame da amostra seca e úmida),

composto por areias com cascalho esparso, pobremente selecionadas, apresentando curva

mesocúrtica e aproximadamente simétrica.

As características morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos

subarredondados, não esféricos e opacos. Esta fácies deposicional, considerada mais recente,

possui forte influência da falésia pela coloração que exibe, enquanto que os sedimentos com

aspecto foscos podem possuir origem eólica, desse modo, assumiu-se hipoteticamente que a

duna frontal localizada próxima ao Ponto B pudesse atuar como área fonte de sedimentos.

Todavia, ao comparar os sedimentos em lupa binocular não foram identificadas

semelhanças entre os depósitos de duna frontal e 8ª fácies (Figura 38), assim esta fácies pode

ser composta por sedimentos da praia e da falésia que outrora tiveram como agente

transportador o vento. Por fim, foi detectada a presença de matéria orgânica (3%), justificada

pelo fato de se encontrar sobre a superfície e por apresentar certa estabilidade permitindo o

desenvolvimento vegetacional.

Ao analisar o dendrograma elaborado para os compartimentos de relevo terraço e

praia, ambos localizados no ponto A (gráfico 18), foi observada apenas uma maior

similaridade entre a primeira fácies do terraço e a terceira fácies da praia. As demais

semelhanças granulométricas foram identificadas entre os depósitos dos compartimentos

analisados, ou seja, as fácies localizadas no terraço apresentaram similaridades entre si, do

mesmo modo ocorreu entre as fácies da praia.

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Gráfico 18: Apreciação estatística por meio de análise de clusters utilizando-se do método de Ward para os

valores de frequência acumulativa do terraço e da praia de Cacimbinha – Ponto A.

112

96

80

64

48

32

16

Dis

tan

ce

1 T

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RA

ÇO

3 P

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4 P

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5 T

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Figura 36: Seções realizadas na praia de Cacimbinha (Ponto B).

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979)

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Figura 37: Correlação das seções realizadas na praia de Cacimbinha (Ponto B), evidenciando as fácies deposicionais.

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979)

3ª Fácies

(Terraço)

4ª Fácies

(Terraço)

6ª Fácies

(Terraço)

2ª Fácies

(Terraço)

1ª Fácies

(Terraço)

5ª Fácies

(Terraço)

7ª Fácies

(Terraço)

8ª Fácies

(Terraço)

4ª Fácies

(Praia)

3ª Fácies (Praia)

2ª Fácies

(Praia)

1ª Fácies

(Praia)

5ª Fácies

(Praia)

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107

Figura 38:Comparação entre os sedimentos da 8ª fácies deposicional e a duna frontal localizada próxima ao

Ponto B. Foto: Joyce Clara.

Por fim, ao analisar as curvas de frequência cumulativa das fácies pertencentes ao

terraço do Ponto B (gráfico 19), foi possível observar que a maioria dos depósitos possui

inclinação de suas curvas voltadas para o lado esquerdo do gráfico, indicando uma tendência

para as frações granulométricas mais finas, neste sentido destacam-se as terceira e quarta

fácies que se mostraram com maior tendência para sedimentos muito finos.

Gráfico 19: Curvas de frequência cumulativa dos depósitos do terraço de Cacimbinha – Ponto A.

0

10

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30

40

50

60

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110

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Po

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tag

en

s retid

as a

cu

mu

lad

as

Abertura das peneiras (mm)

C U R V A S ACUMULATIVAS DAS FÁCIES DO TERRAÇO LOCALIZADO NO PONTO B - PRAIA DE CACIMBINHA

1ª FÁCIES 2ª FÁCIES 3ª FÁCIES 4ª FÁCIES

5ªFÁCIES 6ªFÁCIES 7ªFÁCIES 8ªFÁCIES

12/11/2014 19/12/2014

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108

Os resultados das análises realizadas nas fácies de sedimentação do terraço

localizado no ponto B podem ser conferidos na Carta de assinaturas (Figura 39). Por fim, os

gráficos referentes à morfometria e morfoscopia dos sedimentos constituintes das fácies do

terraço podem ser conferidos nos anexos 11 e 12, respectivamente.

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109

SEDIMENTOS BRUTOS DAS FÁCIES ENCONTRADAS NO TERRAÇO DE CACIMBINHA (PONTO B), TIBAU DO SUL-RN:

Figura 39: Carta de assinatura das fácies sedimentares do terraço da praia de Cacimbinha (Ponto B), Tibau do Sul-RN.

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979).

TEXTURA TEXTURA

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

PELA MÉDIA DE FOLK (1954) CÓDIGO NOME DA COR CÓDIGO NOME DA COR % %

Areia com cascalho esparço, BRUNO- BRUNO-

pobremente selecionada, AVERMELHADO- AVERMELHADO-

mesocúrtica, aproximadamente CLARO CLARO

simétrica

Areia com cascalho esparço, VERMELHO- VERMELHO-

pobremente selecionada, CLARO- CLARO-

mesocúrtica, assimetria

negativa

Areia com cascalho esparço,

moderadamente selecionada, CINZENTO

mesocúrtica, aproximadamente

simétrica

Areia com cascalho esparço, VERMELHO- VERMELHO-

moderadamente selecionada, CLARO- CLARO

leptocúrtica, aproximadamente

simétrica

Areia, bem selecionada,

leptocúrtica, aproximadamente CINZA-CLARO CINZA-ROSADO

simétrica

Areia com cascalho esparço,

moderadamente selecionada, AMARELO-mesocúrtica, aproximadamente AVERMELHADO-

simétrica

Areia moderadamente CINZENTO

selecionada, mesocúrtica, CINZENTO ESCURO

assimetria negativa

Areia, moderadamente

selecionada, mesocúrtica, CINZA-ROSADO BRUNO

assimetria positiva.

FÁCIES

CARTA DE ASSINATURAS DAS PRAIAS DE CACIMBINHAS - PONTO B (TERRAÇO)

1ª FÁCIES

2ª FÁCIES

3ª FÁCIES

4ª FÁCIES

5ª FÁCIES

6ª FÁCIES

7ª FÁCIES

8ª FÁCIES

AREIA MÉDIA 7.5YR7/2 7.5YR5/3 1 0

AREIA MÉDIA 7.5YR6/1 7.5YR4/1 1 1

AREIA MÉDIA 7.5YR7/2 ROSADO 5YR6/61 2

AREIA MÉDIA 7.5YR7/1 7.5YR7/2 1 1

ACINZENTADOAREIA MÉDIA 10R7/4 10R6/6 1 3

AREIA MÉDIA 7.5YR6/1 7.5YR4/1 CINZENTO ESCURO 1 3

ACINZENTADO ACINZENTADOAREIA MÉDIA 10R7/4 10R6/4 1 3

QUATERNARY

AREIA MÉDIA 2.5YR7/4 2.5YR7/4 1 3

269776 9313806

CARACTERÍSTICAS DAS FÁCIESERA CENOZOICA

COORDENADAS UTM SAD 69 ZN 25S COR

CaCO3 M.OUTM X UTMY

SECA A 105°C ÚMIDAPROVÁVEL PERÍODO

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110

No que se refere à porção praial que abrange os compartimentos pós-praia e

estirâncio, localizados no Ponto B, foram analisadas cinco fácies de sedimentação com

variação granulométrica representada por areias médias, grossas e finas. Todavia, a

caracterização das fácies sedimentares também contou com uma carta de assinatura dos

depósitos praiais (Figura 40), assumindo grande relevância enquanto instrumento de

elucidação das fácies sedimentares, contribuindo na caracterização das mesmas.

A primeira fácies depositada possui areias finas, moderadamente selecionadas,

apresentando curva mesocúrtica, aproximadamente simétrica. A granulometria apresentada

por este depósito está associada a um ambiente de baixa energia, pois as areias finas podem

ser transportadas facilmente pela ação eólica ou por um meio aquático de baixa energia. As

características morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos subarredondados,

não esféricos e opacos. A característica opaca dos sedimentos remete ao transporte eólico,

logo os sedimentos depositados na primeira fácies sedimentar foram retrabalhados pelos

ventos.

Todavia este depósito apresentou minerais pesados em sua composição, o que pode

comprometer a análise do material, no que se refere à energia do ambiente que foi depositado,

uma vez que este tipo de material está associado a ambientes de alta energia marinha. Tais

lentes de mineral pesado se refletiram na coloração da amostra, que se apresentou (5YR3/1)

cinzenta muito escura quando seca e (5YR2.5/1) preta quando úmida.

A segunda fácies evidenciada demonstra sedimentos na fração areia grossa com

cascalho esparso, moderadamente selecionada, apresentando curva mesocúrtica e

aproximadamente simétrica. Tais características podem indicar uma deposição relativa a um

momento de alta energia em virtude da granulometria grossa dos grãos. A cor do depósito

variou entre (10YR7/4) bruno-muito-claro-acinzentado quando seco e (10YR5/6) bruno

amarelado quando úmido. No exame de morfometria e morfoscopia foram identificados

sedimentos variando entre muito angular, subangular e subarredondados, não esféricos e

opacos e vítreos, ou seja, a análise apresentou sedimentos bem diversificados compondo este

depósito.

A terceira fácies sedimentar apresenta areias de tamanho médio com cascalho

esparso e coloração (7.5YR7/4) rosado quando seca e (7.5YR4/4) bruno quando úmida. As

areias foram classificadas como moderadamente selecionadas, apresentando curva

leptocúrtica, aproximadamente simétrica. Foi registrada a presença de matéria orgânica (1%),

provavelmente derivada do terraço.

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111

SEDIMENTOS BRUTOS DAS FÁCIES ENCONTRADAS NA PRAIA DE CACIMBINHA (PONTO B), TIBAU DO SUL-RN:

Figura 40: Carta de assinatura das fácies sedimentares da praia de Cacimbinha (Ponto B), Tibau do Sul-RN.

Legenda fundamentada no trabalho de Reinson (1979).

TEXTURA TEXTURA

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

PELA MÉDIA DE FOLK (1954) CÓDIGO NOME DA COR CÓDIGO NOME DA COR % %

Areia com cascalho esparso,

bem selecionada, leptocúrtica, VERMELHO-

aproximadamente simétrica AMARELADO

Areia bem selecionada,

mesocúrtica, aproximadamente BRUNO MUITO CLARO

simétrica ACINZENTADO

Areia com cascalho esparso,

moderadamente selecionada

leptocúrtica, aproximadamente

simétrica

Areia com cascalho esparso,

moderadamente selecionada BRUNO MUITO CLARO

mesocúrtica, aproximadamente ACINZENTADO

simétrica

Areia moderadamente selecionada

mesocúrtica, aproximadamente CINZENTO MUITO

simétrica ESCURO1ª FÁCIES

2ª FÁCIES

3ª FÁCIES

4ª FÁCIES

5ª FÁCIES

FÁCIES

CARTA DE ASSINATURAS DAS PRAIAS DE CACIMBINHAS - PONTO B (PRAIA)

AREIA FINA 5YR3/1 5YR2.5/1 PRETO 0 0

AREIA GROSSA 10YR7/4 10YR5/6 BRUNO-AMARELADO 0 0

QUATERNARY

AREIA MÉDIA 10YR7/3 10YR5/4 BRUNO-AMARELADO 0 0

AREIA MÉDIA 7.5YR7/4 ROSADO269776 9313806

AREIA MÉDIA 7.5YR7/4 ROSADO 5YR4/6 1 1

7.5YR4/4 BRUNO 2 1

CARACTERÍSTICAS DAS FÁCIESERA CENOZOICA

COORDENADAS UTM SAD 69 ZN 25S COR

CaCO3 M.OUTM X UTMY

SECA A 105°C ÚMIDAPROVÁVEL PERÍODO

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112

As características morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos

subangulares, não esféricos, opacos e vítreos. As características dos depósitos apontam para

sedimentos retrabalhados pelo mar em virtude de seu aspecto não esférico, todavia, os

sedimentos também apresentam aspecto fosco o que pode remeter a um transporte eólico. Por

fim, os grãos amarelados também indicam influência dos sedimentos da falésia.

A quarta fácies está representada por areias médias, bem selecionadas, apresentando

curva mesocúrtica, aproximadamente simétrica. As cores variaram entre (10YR7/3) bruno-

muito-claro-acinzentado quando seca e (10YR5/4) bruno amarelado quando úmida. As

características morfométricas e morfoscópicas apontam para sedimentos subangulares e

subarredondados, não esféricos e esféricos, opacos e vítreos. As características da

morfoscopia e da morfometria apontaram sedimentos bem diversificados, desse modo

entende-se que os grãos são oriundos do continente e da praia e foram retrabalhados sob

influência do transporte eólico e marinho.

A quinta fácies e última a ser depositada na praia de Cacimbinha localizada no Ponto

B apresentou cores variando entre (7.5YR7/4) rosado quando seca e (5YR4/6) vermelho

amarelado quando úmida, a classificação granulométrica apresentou areias médias com

cascalho esparso, bem selecionadas, leptocúrtica, aproximadamente simétrica, com presença

de matéria orgânica (1%).

No exame de morfometria e morfoscopia os sedimentos foram identificados como

subarredondados, não esféricos e vítreos. As características do material apontam para uma

influência dos depósitos do terraço, devida coloração, presença de matéria orgânica e de

cascalho em sua composição granulométrica. Todavia, estes grãos aparentemente foram

retrabalhados pela ação do mar, uma vez que se apresentam achatados e vítreos. A quarta e

quinta fácies sedimentares podem ser evidenciadas na figura 41.

Contudo, ao analisar as curvas cumulativas das fácies da praia de Cacimbinha, mais

precisamente do Ponto B (Gráfico 20), foi percebida uma maior inclinação das curvas para

porção esquerda do gráfico, ou seja, percebeu-se que as fácies possuem uma tendência

textural voltada para as frações granulométricas finas, com destaque para terceira e quarta

fácies que se apresentaram como o depósito composto pela maior quantidade de areias finas,

em detrimento da segunda fácies, considerada, texturalmente, a mais grossa de todas.

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113

Figura 41: Perfuração realizada na praia de Cacimbinha (ponto B) evidenciando o contato entre a 4º fácies e a 5ª

fácies. Foto: Joyce clara

Gráfico 20: Curvas de frequência cumulativa dos depósitos da praia de Cacimbinha – Ponto B.

No que se refere aos dois compartimentos analisados (praia e terraço,) no ponto B

foram identificadas maiores paridades entre as fácies do terraço e da praia (gráfico 21),

quando comparado ao ponto A (gráfico 18), dessa forma foram detectadas as seguintes

similaridades entre as fácies: A primeira fácies do terraço e a segunda fácies da praia; a

segunda fácies do terraço e quinta fácies da praia; e a terceira fácies da praia é similar a

segunda fácies do terraço e quinta fácies da praia, e a quarta fácies do terraço.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Po

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as a

cu

mu

lad

as

Abertura das peneiras (mm)

C U R V A S ACUMULATIVAS DAS FÁCIES DA PRAIA LOCALIZADA NO PONTO B - PRAIA DE CACIMBINHA

1ª FÁCIES 2ª FÁCIES 3ª FÁCIES 4ª FÁCIES 5ªFÁCIES

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114

Gráfico 21: Apreciação estatística por meio de análise de clusters utilizando-se do método de Ward para os

valores de frequência acumulativa do terraço e da praia de Cacimbinha – Ponto B.

Apesar de apresentar maiores similaridades granulométrica entre os materiais, ao

analisar as demais características dos depósitos na carta de assinatura, não foram percebidas

muitas semelhanças, desse modo, não se puderam tecer grandes correlações entre as fácies do

terraço e as fácies praiais. Por fim, os gráficos referentes à morfometria, morfoscopia, bem

como, os sedimentos constituintes das fácies da praia podem ser conferidos nos anexos 13, 14

e 15, respectivamente.

3.2 Histórico evolutivo da praia de Cacimbinha, Tibau do Sul-RN

Com base nos perfis sedimentológicos dos pontos analisados, foram observados

diferentes momentos de deposição em compartimentos geomorfológicos distintos. No

compartimento denominado de terraço, observaram-se sedimentos enquadrados na

classificação de Folk, na fração areia média com cascalho esparso, além disso, foi registrada,

pelo procedimento da pipetagem, a presença de material fino (silte e argila), provavelmente,

advindo de uma deposição coluvial derivada da falésia na qual preencheu uma depressão

côncava (sotavento) seguida de acumulação de areia que poderia ser uma duna frontal. O

modelo de uma duna frontal apresentado por Hesp (2002) consiste em acumulações de areia

80

72

64

56

48

40

32

24

16

8

Dis

tan

ce

1 T

ER

RA

ÇO

2 P

RA

IA

3 T

ER

RA

ÇO

5 T

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RA

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6 T

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ÇO

8 T

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7 T

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1 P

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4 P

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4 T

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5 P

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115

seguidas de depressões côncavas, sendo estas feições encontradas em grande parte desta área

(Figura 42). Além de ser uma região de sotavento, a depressão se acentua devido à formação

de fluxos de águas que acontecem em momentos de precipitação.

(Figura 42): Duna frontal seguida por uma depressão côncava. Foto: Joyce Clara

Portanto, em meio à diversidade de sedimentos encontrados nestes depósitos, pode-

se dizer que o terraço é composto, principalmente, por depósitos coluviais oriundos das

falésias, e que este material preencheu uma depressão côncava, sendo este modelo pode ser

aplicado para os dois pontos localizados na praia de Cacimbinha (Ponto A e B).

No que se refere o processo de deposição, esta pode ter sido ocasionada por

processos erosivos instalados na falésia. Esses processos foram originados pela ação das

águas pluviais que ao escoarem pela encosta formam ravinas devido à velocidade do fluxo de

água nas encostas, associada ao gradiente das falésias e a extrapolação da capacidade de

absorção de água do substrato formador dos tabuleiros costeiros.

Segundo Guerra (2009) estudos desenvolvidos em estações experimentais nos EUA

apontam que 80% do transporte de sedimentos se dão nestas feições erosivas, logo as

localidades onde estão instaladas as ravinas disponibilizam a maior parte dos sedimentos para

06/08/2011

ZONA DE BARLAVENTO

ZONA DE SOTAVENTO

DEPRESÃO CÔNCOVA

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116

o terraço e praia. Neste contexto, durante o desenvolvimento desta pesquisa, foi possível

acompanhar, visualmente, a evolução de uma ravina instalada na falésia do Ponto A durante

os anos de 2012, 2013, 2014 e 2015. (Figura 43)

Figura 43: Evolução de uma ravina localizada no Ponto A, disponibilizando sedimentos silto-argilosos para praia

de Cacimbinha. Fotos: Joyce Clara

A maior parte do material erodido nesta vertente converge para o terraço localizado

no ponto A. As chuvas tem o papel de carrear consigo a porção clástica e a matéria orgânica

derivada da vegetação colonizada na falésia. Além disso, parte do material oxidado

proveniente da falésia também é transportado pela chuva e pela gravidade o que também

explica, a presença de cascalho esparso em algumas fácies. Para melhor elucidação da

evolução do terraço, foi montado um esquema (Figura 44).

No esquema observam-se cinco situações, que indicam momentos deposicionais

diferenciados, que podem ser descritos da seguinte forma: Situação 01: Formação da duna

frontal sob berma: nesta situação o mar (em situação de maré muito alta) depositou areias no

compartimento pós-praia gerando uma berma seguida de uma depressão côncava. Ao mesmo

tempo em que o mar deposita seus sedimentos, os ventos de sudeste (predominantes nesta

região) também depositam partículas mais finas diante de situações climaticamente mais secas

que propiciam a remobilização destas granulometrias.

Situação 02: Fluxo de sedimentos e desenvolvimento de restinga na duna frontal:

passado um período com marés mais baixas, foi possível iniciar a colonização da vegetação

da duna embrionária, e as falésias continuaram a liberar sedimentos para depressão côncava,

principalmente em períodos chuvosos.

Situação 03: Preenchimento de depressão côncava gerada pela crista de duna:

durante períodos mais úmidos, ou seja, períodos de chuva intensificam-se as deposições da

falésia sob o terraço, preenchendo-o ainda mais por meio de depósitos de origem

gravitacional.

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117

Situação 04: Ação marinha incidindo sobre a duna frontal: em períodos de preamar

de sizígia associados a ventos muito fortes e ao baixo estoque sedimentar da praia,

intensificando a erosão marinha, as ondas são capazes de atingir a face escarpada da duna

frontal, exumando suas estruturas plano-paralelas.

Por fim, a situação 05: Erosão marinha sobre a duna frontal: representa a situação

após a erosão marinha ocorrida na situação 04. A situação 05 configura a duna frontal

erodida, disponibilizando sedimentos e material orgânico para o sistema praial. Todavia,

levando em consideração as análises dos depósitos, serão descritas, a seguir, os momentos

deposicionais através das fácies identificadas no terraço e na praia.

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118

EVOLUÇÃO DOS TERRAÇOS DE CACIMBINHA

Figura 44: Evolução dos terraços localizados na praia de Cacimbinha, Tibau do Sul-RN.

Situação 01: Formação da duna frontal sob berma Situação 02: Fluxo de sedimentos e

desenvolvimento de restinga na duna frontal

Situação 03: Preenchimento de depressão

côncava gerada pela crista de duna

Situação 04: Ação marinha incidindo sobre a duna

frontal

Situação 05: Erosão marinha sobre a duna frontal

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119

No terraço localizado no Ponto A foram identificados sete momentos deposicionais

distintos no terraço e quatro localizados na praia. Esses pacotes sedimentares com

características peculiares foram analisados em laboratório o que possibilitou remontar uma

parte do histórico evolutivo de Cacimbinha.

A primeira fácies deposicional imprime um ambiente com dinâmica acentuada, uma

vez que foram encontradas concentrações de minerais pesados em sua composição, associadas

à ausência de vegetação. Atrelado a isso, foram percebidos indicativos de transporte

sedimentar induzido pela praia, pois morfometricamente os grãos se apresentaram achatados.

No entanto, a maior parte dos grãos encontrou-se foscos, permitindo afirmar que a ação eólica

retrabalhou estes sedimentos outrora depositados.

Em seguida, ocorreu um momento de diminuição energética deste ambiente, o que

permitiu a deposição da segunda fácies sedimentar com menor concentração de minerais

pesados e composta por areias moderadamente selecionadas com assimetria positiva. Estas

areias que compõem a segunda fácies deposicional localizada no Ponto A foram,

provavelmente, transportadas pela hidrodinâmica praial, uma vez que apresentam sedimentos

achatados e vítreos em sua composição.

Após estes dois momentos deposicionais iniciais, ocorre um terceiro momento

marcado por um material sedimentar muito destoante das fácies anteriores, apresentado cores

que variaram de (5YR6/4) bruno-avermelhado-claro e (5YR5/6) vermelho-amarelado,

semelhante ao material encontrado no topo da falésia desta região. Esta fácies apresentou

matéria orgânica em sua composição que pode ser derivada da encosta da falésia, ou pelo fato

desta fácies ter ficado muito tempo exposta, levando a uma colonização vegetacional.

Sedimentologicamente, a terceira fácies apresentou em sua composição areias com

cascalho, sendo seus grãos angulares (indicativo de baixa maturidade em detrimento dos

demais grãos de mesmo tamanho granulométrico encontrados na área), esféricos

(compreende-se que não foram transportados pela praia) e vítreos (o que pode indica

transporte aquático) indicando uma deposição advinda da falésia.

Essas características podem remeter a duas situações: ao transporte fluvial turbulento

ocorrido durante os fluxos do Período Neógeno (Terciário), ou pode se tratar de cascalhos

oriundos das concreções ferruginosas ou outros materiais produtos de cimentação ou

neoformação após a deposição do Barreiras em tempos recentes, portanto entende-se que o

material originou-se da falésia. Como os sedimentos apresentaram-se bem selecionado,

provavelmente esta deposição não ocorreu de forma célere, ou seja, não se trata de um

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120

depósito de tálus, uma vez que neste tipo de depósito o material constituinte é mau

selecionado, logo se trata de uma deposição gradativa.

Após esta deposição, foi identificado um novo momento deposicional promovido

pela falésia. Sedimentologicamente, os materiais se assemelham, porém o atributo cor

mostrou-se diferenciado da fácies anterior. A cor apresentada pela quarta fácies foi

classificada como mais clara que a cor apresentada pela terceira fácies, ou seja, trata-se de um

vermelho claro quando seco, variando para vermelho quando úmida, o que pode indicar uma

deposição seguida de um período climaticamente mais seco que fez com que os sedimentos

ficassem mais claros.

Em seguida, ouve a deposição da quinta fácies, marcada por areias com cascalho

esparso, moderadamente selecionadas, muito leptocúrtica e assimetria negativa. Essas

características indicam uma energia maior em detrimento das deposições anteriores em

virtude do comportamento da assimetria e da presença de cascalho. O cascalho esparso pode

ser indicativo de um pacote coluvional, uma vez que a fácies apresenta sedimentos de

tamanhos variados. As características morfométricas e morfoscópicas apontam para grãos

subarredondados, não esféricos e vítreos, o que pode indicar a possibilidade dos grãos terem

sido retrabalhados em um ambiente praial.

A sexta fácies apresentou-se mais escura que as demais ((7,5YR5/4) bruno quando

seca e (7,5YR5/6) bruno forte quando úmida) composta por material orgânico, colonizado e

disperso em sua superfície, o que indica certa estabilidade. A cor do material associado às

características morfoscópicas (grãos esféricos e vítreos) levam a crer que são clásticos de

origem continental. Além disso, a boa seleção dos grãos indica ambiente deposicional

semelhante ao da terceira fácies sedimentar.

Por fim, a sétima fácies sedimentar corresponde à porção do terraço que possui uma

vegetação do tipo restinga, fixada em sedimentos com granulometria fina, o que remete a um

transporte eólico capaz de condicionar o desenvolvimento de uma duna frontal. Todavia, as

marés excepcionais acabam por atingir esta estrutura geomorfológica, impedindo a formação

e evolução da mesma. Ademais, pautando-se na análise visual das estruturas sedimentares

desta feição, perceberam-se estruturas plano-paralelas correspondentes a deposição marinha e

continental, uma vez que existem camadas alternadas de sedimentos praiais e de sedimentos

advindos da falésia em sua composição. As características morfométricas e morfoscópicas

apontaram para sedimentos pouco retrabalhados pelos ventos.

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121

Ao finalizar a análise do terraço, foram iniciadas as análises das fácies localizadas na

praia de Cacimbinha, mais precisamente no ponto A, abrangendo os compartimentos de

relevo pós-praia e estirâncio. Desse modo, foram identificados quatro fácies de sedimentação

ausentes de vegetação, o que indicou uma alta dinamicidade nos dois compartimentos. Além

disso, não foi possível traçar correlações consistentes acerca das fácies depositadas no terraço

e na praia, uma vez que ambos possuem ciclos de deposição e de conservação diferenciados.

A primeira fácies deposicional aponta para uma possível alta de energia ambiental

em virtude da presença dos minerais pesados em sua composição, no entanto a amostra

apontou uma assimetria positiva indicativa de uma tendência para os grãos finos. Além disso,

a fácies possui sedimentos retrabalhados pelo mar uma vez que a análise morfoscópica

apontou para sedimentos não esféricos e vítreos, típicos de grãos retrabalhados em ambiente

praial.

Passado o momento de alta energia praial, notou-se a deposição de uma nova fácies

sedimentar denominada de segunda fácies. Esta por sua vez, apresenta indícios de um

momento de maior calmaria deposicional, uma vez que não foram encontrados minerais

pesados na composição desta fácies. Os sedimentos apresentaram indícios de retrabalhamento

praial (grãos não esféricos e vítreos).

Ao término da inserção completa da segunda fácies sedimentar, deposita-se a terceira

fácies em um ambiente de baixa energia indicado pela sua composição textural que revela

sedimentos finos, provavelmente remobilizados pelos ventos perante uma condição temporal

seca capaz de promover o selecionamento e a movimentação das partículas mais finas por

suspensão.

Por fim, ao término deste momento de calmaria ambiental, o sistema praial depositou

sua quarta e última fácies sedimentar sob condições de maior energia capaz de sedimentar

grãos com textura média, muito semelhantes a segunda fácies depositada na praia. Os

aspectos dos grãos que compõem esta fácies se assemelham com os das demais depositadas

previamente, ou seja, são sedimentos subarredondados, não esféricos e vítreos, típicos de

sedimentos retrabalhados em ambiente de praia.

No ponto B foram identificados oito momentos deposicionais distintos no terraço e

cinco localizados na praia. As fácies deposicionais apresentaram características peculiares

identificadas nas análises de laboratório o que possibilitou associá-las e remontar uma parte

do histórico evolutivo da praia de Cacimbinha.

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122

Nesse sentido, a primeira fácies deposicional verificada no ponto B apresentou uma

mistura de materiais derivados da falésia e da ação marinha, o que leva a acreditar que esta

fácies sedimentar pode ter sido depositada em um ambiente de alta energia (presença de

minerais pesados) associado a um período chuvoso que possibilitou a erosão e transporte dos

sedimentos da falésia acarretando na pigmentação rosada do material. A morfoscopia desta

fácies indicou a presença de sedimentos foscos, o que leva a acreditar que estes sedimentos

também foram retrabalhados pela ação eólica.

Após esta deposição ocorreu uma nova fácies sedimentar, porém acredita-se que em

um período mais seco que o anterior, pois a mesma não apresentou pigmentação rosada. No

entanto, a fácies apresentou sedimentos com textura arenosa média, misturados com material

pesado indicando uma alta energia ambiental. Contudo os grãos também apresentaram

sedimentos achatados e foscos indicando retrabalhamento praial e pela ação eólica.

O momento de alta energia deste ambiente continuou à medida que na terceira fácies

praial foram identificadas areias com granulometria grossa. As cores que os sedimentos

exibiram durante os testes com a carta de Munsell (2009) (cinza rosado quando seca e

amarelo avermelhado quando úmida) indicam que esta fácies pode ser fruto de sedimentos

resultantes de uma atividade erosiva no topo das falésias encontradas na praia de Cacimbinha,

sendo o material retrabalhado por processos costeiros de alta energia capazes de selecionar

sedimentos com granulometria grossa. Observou-se que estes sedimentos se assemelham ao

material encontrado na duna parabólica localizada no Ponto B, todavia, em virtude da direção

dos ventos (SE), acredita-se que esta duna não oferece grandes contribuições a praia de

Cacimbinha, logo o material provavelmente deve ser fruto das falésias.

Com a análise da quarta fácies sedimentar, foi percebida uma diminuição na energia

deste ambiente, que se refletiu na deposição de areias com granulometria média, apresentando

leve pigmentação rosada referente a uma influência da falésia, todavia a maior parcela dos

sedimentos apresentaram grãos não esféricos e opacos, o que indica uma influência da praia e

da ação eólica.

Após a deposição da quarta fácies, surge uma nova deposição ocorrida sob condições

ambientais de energia similares a anterior, e que pode ser resultante de uma mistura de

sedimentos oriundos da falésia com sedimentos retrabalhados pelas ações eólicas. Além disso,

foi registrada a maior quantidade de matéria orgânica (equivalente a 3%) que indica,

provavelmente, que esta fácies foi colonizada por vegetação, uma vez que, atualmente, não há

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presença significativa de vegetação na encosta para disponibilizar material orgânico para

praia.

A sexta fácies sedimentar surge em um ambiente de elevada energia apresentando

em sua composição minerais pesados em meio a um material semelhante aos sedimentos

praiais. Através da análise morfoscópica foram identificados grãos com aspecto vítreo e

esférico, provavelmente se trata de sedimentos retrabalhados por vias aquáticas. Desse modo,

possivelmente ocorreu uma maré excepcional que conseguiu atingir a superfície do terraço e

depositou este material, todavia esta fácies deposicional também recebeu contribuições da

falésia, uma vez que possui em sua composição sedimentos com coloração variando entre

amarelo e avermelhado, além de apresentar sedimentos com aspecto esférico. Após este

evento ocorreu um período de estabilidade a ponto de desenvolver vegetação na composição

desta fácies.

Em seguida ocorreu um período mais úmido, no qual foram depositados sedimentos

advindos da falésia com coloração avermelhada (sétima fácies), compostos, texturalmente,

por areias médias com presença de cascalho, apresentando assimetria negativa, ou seja, a

amostra possui tendência para as frações grossas, e um baixo grau de selecionamento. Estima-

se que este depósito pode ser derivado de fluxos gravitacionais advindos da falésia, fazendo

com que o material fosse depositado gerando um depósito de tálus.

Finalmente, ocorre a mais recente deposição situada no terraço localizado no ponto

B, denominada de oitava fácies sedimentar, com características muito semelhantes a sétima

fácies, porém com coloração mais clara que a anterior. O processo deposicional desta fácies

assemelha-se com a fácies anterior devido depósito apresentar indícios de uma origem

associada a fluxos gravitacionais advindos da falésia.

Após a finalização da análise do terraço, foram iniciadas as análises das fácies

localizadas na praia de Cacimbinha, mais precisamente no ponto B, abrangendo os

compartimentos de relevo pós-praia e estirâncio. Desse modo, foram identificadas cinco

fácies de sedimentação, sendo que duas apresentaram influência da falésia (terceira e quinta

fácies) e mostraram em suas análises a presença de material orgânico, provavelmente

derivado do terraço. Além disso, não foi possível traçar correlações consistentes acerca das

fácies depositadas no terraço e na praia, uma vez que ambos possuem ciclos de deposição e de

conservação diferenciados.

A primeira deposição ocorrida na praia foi denominada de primeira fácies e poderia

ter acontecido sob condições de calmaria, uma vez que, os sedimentos apresentaram em suas

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análises granulométricas material com textura fina. Esta tipologia textural pode ser indicativa

de um ambiente mais seco e com atividade eólica predominante, capaz de remobilizar

partículas mais finas. A influência dos ventos na deposição desta fácies foi ratificada pela

presença de sedimentos foscos identificados no exame morfoscópico. Todavia este depósito

apresentou grande concentração de minerais pesados em sua composição, indicando alta

energia. Desse modo, supõe-se que este material foi depositado pelo mar e em seguida

ocorreu um período mais seco capaz de misturar esta tipologia de sedimentos.

Em seguida, as condições do ambiente praial foram intensificadas energeticamente,

refletindo na deposição da segunda fácies sedimentar composta por areias quartzozas grossas

composta por grãos retrabalhados pelo mar e grãos de origem continental. Em seguida

ocorreu uma diminuição da energia ambiental propiciando a deposição da terceira fácies

praial.

A terceira fácies apresenta uma influência de sedimentos advindos da falésia,

apresentando em sua composição areias com textura média, presença de material orgânico,

material pesado e um pequeno teor de carbonato (2%). As características dos depósitos

apontam para sedimentos retrabalhados pelo mar em virtude de seu aspecto não esférico,

todavia, os sedimentos também apresentam aspecto fosco o que pode remeter a um transporte

eólico. Por fim, os grãos amarelados também indicam influência dos sedimentos da falésia

que podem ter sido transportados em período chuvoso.

Sob condições energéticas semelhantes, ocorreu a deposição da quarta fácies

sedimentar. As características da morfoscopia e da morfometria apontaram sedimentos bem

diversificados, desse modo entende-se que os grãos são oriundos do continente e da praia e

foram retrabalhados por meio do transporte eólico e aquático. Porém a influência da falésia

não se torna marcante nesta fácies, o que leva a entender que a quarta fácies foi depositada em

um período climaticamente mais seco.

Por fim, a quinta fácies e última depositada na praia de Cacimbinha localizada no

Ponto B é indicativa de grande interação com os sedimentos da falésia/terraço, uma vez que

apresentou cores variando entre (7.5YR7/4) rosado quando seca e (5YR4/6) vermelho

amarelado quando úmida. Todavia a energia do ambiente de deposição é a mesma quando se

analisa a granulometria. Desse modo, acredita-se que esta fácies foi depositada em um

período chuvoso.

Diante do exposto, pode-se dizer que de maneira geral, sedimentologicamente, os

terraços apresentaram grãos subarredondados e não esféricos. No que se refere à cristalinidade

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o terraço localizado no Ponto A apresentou grãos vítreos (indicando transporte aquático) e o

terraço do Ponto B grãos foscos (indicando transporte por vias aéreas).

No tocante às praias, sedimentologicamente, elas apresentaram grãos

subarredondados, não esféricos e vítreos, todavia no ponto B notou-se, também, a presença de

grãos foscos indicando retrabalhamento eólico. As praias apresentaram na maior parte das

análises, textura sedimentar denominada areia média, o que pode ser explicado quando

analisada as texturas da maioria dos depósitos presentes na praia de Cacimbinha e do Madeiro

(ver capítulo 2).

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Capítulo 04: Considerações finais

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Ao término desta dissertação, algumas considerações acerca dos resultados

alcançados, bem como a retomada de algumas ideias, merecem ser destacadas neste capítulo

final. Desse modo, no que se refere ao segundo capítulo denominado “Compartimentação

geomorfológica e caracterização sedimentológica das feições costeiras das praias de

Cacimbinha e do Madeiro, Tibau do Sul-RN” pôde-se perceber, por meio das análises

sedimentológicas, interações entre os sistemas ambientais presentes nas praias, o que fez

remeter a Teoria Geral dos Sistemas.

Os depósitos de dunas costeiras de Cacimbinha, apesar de compartilhar uma mesma

porção geográfica, possuem características diferenciadas devido à área fonte de sedimentos,

neste caso atenta-se para composição da duna parabólica localizada no ponto B e para

composição da duna frontal situada próximo ao mesmo ponto. A primeira feição recebe

sedimentos, principalmente, da carapaça que recobre as falésias bruno-claro-acinzentadas,

enquanto que a segunda recebe maiores contribuições de sedimentos da praia e da falésia

bruno-claro-acinzentada.

No tocante a evolução deste fragmento costeiro, concluiu-se que parte desta carapaça

avermelhada (provavelmente pertencente ao Pós-Barreiras), exposta às condições

intempéricas deste ambiente (principalmente relacionada à dinâmica eólica e pluvial), atrelada

a possíveis pontos de fraqueza pertencentes às rochas constituintes, foi intemperizada, erodida

e transportada para duna parabólica de Cacimbinha e a ação eólica tratou de selecionar os

sedimentos tornando-os com aspecto grosso com cascalho esparso, moderadamente

selecionados, apresentando curva platicúrtica (indicando mistura de diferentes sub-

populações), com assimetria positiva (isto é, tendendo para frações mais finas).

As dunas frontais desta localidade também recebem contribuições da falésia, porém

da falésia bruno-claro-acinzentada, que por sua vez, pode ter sua atividade erosiva

intensificada pela ação antrópica, uma vez que este local serve como um dos pontos de acesso

à praia de Cacimbinha. Esta pequena intervenção antrópica contribuiria para deposição na

duna frontal, uma vez que disponibiliza sedimentos para este sistema.

As falésias encontradas na paisagem da praia do Madeiro possuem características

diferenciadas das falésias dos pontos A e B localizados na praia de Cacimbinha. As falésias

do Madeiro apresentaram uma cobertura pedogenética desenvolvida, uma vez que foram

identificados alguns dos atributos diagnósticos do solo em análise de campo e laboratório. As

falésias apresentaram em sua composição matéria orgânica, textura composta por areia, silte e

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argila (TFSA - terra fina seca ao ar) e estrutura pedológica denominada de granular grumosa

muito pequena (1 mm <).

No tocante ao terceiro capítulo desta dissertação, intitulado “Evolução do sistema

deposicional da praia de Cacimbinha: caracterização e correlação dos depósitos

sedimentares” pôde-se concluir que de fato há uma subdivisão entre o terraço e a praia de

Cacimbinha, uma vez que foram identificadas dinâmicas ambientais e momentos de

deposição diferenciados.

O terraço encontrado na praia de Cacimbinha é composto, principalmente, por

depósitos coluviais oriundos das falésias que, por sua vez, preencheram uma depressão

côncava formada pelo princípio de geração de uma duna frontal. A análise das praias

apresentaram sedimentos com tamanhos diversificados (finos, médios e grossos), porém a

textura areia média prevaleceu na maior parte das fácies deposicionais, fato este explicado

devido área fonte de sedimentos existente Cacimbinha possuir material clástico nesta mesma

textura.

A morfometria e morfoscopia dos sedimentos presentes nas fácies do terraço

localizado no ponto B apresentaram indícios que se trata de um ambiente com sedimentos

retrabalhados pelo mar e pela ação eólica, enquanto que no terraço do ponto A existe um

registro de transporte aquático impresso nos sedimentos com formato achatado refletindo um

retrabalhamento pela praia.

A praia localizada no ponto A apresentou sedimentos achatados e vítreos, indicando

grande influência hidrodinâmica neste trecho, enquanto que a praia localizada no ponto B

apresentou sedimentos vítreos refletindo o transporte aquático, porém apresentou também

sedimentos foscos indicando transporte eólico. No ponto A foram identificadas estruturas

plano-paralelas na face do cordão dunar, indicando que se trata de uma duna originada de uma

berma praial.

No que se refere aos momentos de deposição, a praia de Cacimbinha apresenta duas

fases deposicionais relativas aos períodos chuvosos, uma vez que se percebeu a presença de

materiais oriundos da falésia depositados sob a praia, evidenciados na primeira e terceira

fácies dos pontos A e B. Todavia, nota-se uma maior deposição dos sedimentos advindos da

falésia no Ponto B devida maior escassez vegetacional, fazendo com que a falésia não consiga

reter os sedimentos, além disso, neste ponto percebem-se as maiores feições erosivas da área

responsáveis pela maior liberação de material sedimentar.

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A hipótese que fora levantada no início deste trabalho, que consistia na identificação

de depósitos de praia e da falésia presentes na praia foi confirmada. Porém, não foi possível

correlacionar os depósitos praiais com os depósitos do terraço, uma vez que, estes depósitos

possuem tempo de sedimentação diferente.

Contudo diante do exposto, atenta-se que devido à fragilidade das encostas das

falésias de Cacimbinha, bem como sua tendência a erosão praial em detrimento da ablação,

torna-se de grande relevância atentar para um controle de uso e ocupação dos compartimentos

de relevo praia, tabuleiro e zonas próximas as bordas das falésias. Pois, através do

conhecimento da dinâmica deste ambiente foi possível identificar entradas e saídas deste

sistema, o que possibilitou identificar pontos de menor e maior fragilidade ambiental.

Portanto, a finalização deste trabalho buscou contribuir para geografia do ambiente

costeiro de Tibau do Sul, auxiliando no conhecimento da dinâmica da praia do Madeiro e

principalmente de Cacimbinha, identificada por meio da metodologia de Ab’Sáber (1969).

Além disso, esta dissertação servirá de auxílio aos gestores para tomadas de decisões no que

se refere ao planejamento urbano/ambiental deste município, que tem como maior patrimônio

suas paisagens costeiras e que por isso devem conservá-la para garantir o turismo, o lazer, as

atividades econômicas, etc.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 01: Ficha de análise granulométrica

PESO INICIAL:______________________________ PESO INICIAL:______________________________ PESO INICIAL:______________________________

Peneira (mm) PHI Peso (g) Peneira (mm) PHI Peso (g) Peneira (mm) PHI Peso (g)

2,000 -1 2,000 -1 2,000 -1

1,400 -0,5 1,400 -0,5 1,400 -0,5

1,000 0 1,000 0 1,000 0

0,750 0,5 0,750 0,5 0,750 0,5

0,500 1 0,500 1 0,500 1

0,350 1,5 0,350 1,5 0,350 1,5

0,250 2 0,250 2 0,250 2

0,177 2,5 0,177 2,5 0,177 2,5

0,125 3 0,125 3 0,125 3

0,088 3,5 0,088 3,5 0,088 3,5

0,064 4 0,064 4 0,064 4

> 4 µm < 64 µm 4,7 > 4 µm < 64 µm 4,7 > 4 µm < 64 µm 4,7

< 4  µm 8,5 < 4  µm 8,5 < 4  µm 8,5

RESULTADO TOTAL: RESULTADO TOTAL: RESULTADO TOTAL:

PROJETO TIBAU DO SUL - RN

ANÁLISE GRANULOMÉTRICA - PENEIRAMENTO

Amostra: _____________________ Amostra: _____________________ Amostra: _____________________

DATA:______/______/________

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APÊNDICE 02: Ficha para morfoscopia e morfometria

ESFERICIDADE 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Esférico

Não Esférico

ARREDONDAMENTO

Muito Angular

Angular

Subangular

Subarredondado

Arredondado

Muito Arredondado

CRISTALINIDADE

Vítreo

Oxidado

Opaco

Observações:

OBSERVAÇÕES

OBSERVAÇÕES

OBSERVAÇÕES GERAIS

Amostra: Descrição Geral:

TOTAL

Data: Hora:

PARTÍCULA PARTÍCULA TOTAL

TOTAL

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APÊNDICE 03: Ficha de quantificação de carbonato de cálcio (CaCO3)

AMOSTRA PESO INICIAL PESO DO BÉCKER PESO DO BÉCKER + AMOSTRA PESO FINAL %

FICHA DE QUANTIFICAÇÃO DE CaCO3

DATA DA ANÁLISE ________________________

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APÊNDICE 04: Ficha de quantificação de matéria orgânica

AMOSTRA PESO INICIAL PESO FINAL %

FICHA DE QUANTIFICAÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA

DATA DA ANÁLISE ________________________

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APÊNDICE 05: Modelo de carta de assinatura dos depósitos

DATA DA COLETA:_____________

TEXTURA TEXTURA

CLASSIFICAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

PELA MÉDIA DE FOLK (1954) CÓDIGO NOME DA COR CÓDIGO NOME DA COR % %

SONDAGEM Nº______

AVALIAÇÃO DOS DEPÓSITOS

CARTA DE ASSINATURAS - LOCALIDADE:DADOS DAS AMOSTRAS

ERA CENOZOICA

AMOSTRA

COORDENADAS UTM SAD 69 ZN 25S COR

CaCO3 M.OUTM X UTMY

SECA A 105°C ÚMIDAPROVÁVEL PERÍODO

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APENDICE 06: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DO TERRAÇO

LOCALIZADO NO PONTO A

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APENDICE 07: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOSCÓPICA DO TERRAÇO LOCALIZADO NO PONTO A

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APENDICE 08: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAPRAIA

LOCALIZADA NO PONTO A

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APENDICE 09: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOSCÓPICA DAPRAIA LOCALIZADA NO PONTO A

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APENDICE 10: SEDIMENTOS CONSTITUINTES DAS FÁCIES SEDIMENTARES DA PRAIA

LOCALIZADA NO PONTO A

SEDIMENTOS DAS FÁCIES CONSTITUÍNTES DA PRAIA DE CACIMBINHA –

PONTO A

1ª FÁCIES 2ª FÁCIES

3ª FÁCIES 4ª FÁCIES

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APENDICE 11: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DO TERRAÇO

LOCALIZADO NO PONTO B

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APENDICE 12: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOSCÓPICA DO TERRAÇO LOCALIZADO NO PONTO B

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APENDICE 13: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAPRAIA

LOCALIZADA NO PONTO B

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APENDICE 14: GRÁFICOS RESULTANTES DA ANÁLISE MORFOSCÓPICA DAPRAIA LOCALIZADA NO PONTO B

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APENDICE 15: SEDIMENTOS CONSTITUINTES DAS FÁCIES SEDIMENTARES DA PRAIA

LOCALIZADA NO PONTO B

SEDIMENTOS DAS FÁCIES CONSTITUÍNTES DA PRAIA DE CACIMBINHA –

PONTO B

1ª FÁCIES 2ª FÁCIES

3ª FÁCIES 4ª FÁCIES

5ª FÁCIES