DISSERTAÇÃO_Análise técnica e econômica da produção de alface americana irrigada por...

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ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA IRRIGADA POR GOTEJAMENTO JOAQUIM ALVES DE LIMA JUNIOR 2008

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  • ANLISE TCNICA E ECONMICA DA PRODUO DE ALFACE AMERICANA

    IRRIGADA POR GOTEJAMENTO

    JOAQUIM ALVES DE LIMA JUNIOR

    2008

  • JOAQUIM ALVES DE LIMA JUNIOR

    ANLISE TCNICA E ECONMICA DA PRODUO DE ALFACE AMERICANA IRRIGADA POR GOTEJAMENTO

    Dissertao apresentada Universidade Federal de Lavras como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Agrcola, rea de concentrao em Engenharia de gua e Solo, para obteno do ttulo de Mestre.

    Orientador

    Prof. Dr. Geraldo Magela Pereira

    LAVRAS MINAS GERAIS - BRASIL

    2008

  • Ficha Catalogrfica Preparada pela Diviso de Processos Tcnicos da Biblioteca Central da UFLA

    Lima Junior, Joaquim Alves de. Anlise tcnica e econmica da produo de alface americana irrigada por gotejamento / Joaquim Alves de Lima Junior. Lavras : UFLA, 2008. 74 p. : il. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Lavras, 2008.

    Orientador: Geraldo Magela Pereira. Bibliografia.

    1.Manejo da irrigao. 2. Ambiente protegido. 3. Anlise econmica. 4. Dfict hdrico. I. Universidade Federal de Lavras. II. Ttulo.

    CDD 635.5287

  • JOAQUIM ALVES DE LIMA JUNIOR

    ANLISE TCNICA E ECONMICA DA PRODUO DE ALFACE AMERICANA IRRIGADA POR GOTEJAMENTO

    Dissertao apresentada Universidade Federal de Lavras como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Agrcola, rea de concentrao em Engenharia de gua e Solo, para obteno do ttulo de Mestre.

    APROVADA em 01 de agosto de 2008

    Prof. Dr. Jony Eishi Yuri UNINCOR

    Prof. Dr. Luiz Fernando Coutinho de Oliveira UFG

    Prof. Dr. Geraldo Magela Pereira UFLA

    (Orientador)

    LAVRAS MINAS GERAIS BRASIL

  • A virtude do sucesso

    floresce da sua fora de determinao.

    Lima Junior.

    Aos meus pais, Joaquim Alves e Maria Jos, pelo amor, carinho e dedicao na

    minha formao pessoal e profissional.

    Aos meus irmos, Antnio Alves Loris e Ana Cladia Blau, pela

    oportunidade que Deus me deu de t-los como Irmos.

    minha sobrinha Catarina e ao meu futuro sobrinho-afilhado, pois a alegria

    transmitida por uma criana sincera e sem maldade diante do mundo atual.

    Aos meus avs vivos e aos que se foram, saudades.

    A todos os meus tios e tias, em especial Socorro Alves, Maria das Dores e Ana

    Alves, pela colaborao e assistncia durante a minha vida acadmica.

    Ao meu falecido tio Antnio Alves de Lima Filho, pelos votos de confiana e

    respeito.

    DEDICO.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela minha existncia.

    Universidade Federal de Lavras (UFLA) e ao Departamento de Engenharia,

    pela oportunidade de realizao do curso.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES),

    pela concesso da bolsa de auxlio e ao CNPq, pelas concesses de bolsas de

    produtividade e iniciao cientfica.

    Ao professor e orientador Geraldo Magela Pereira, pelo ensino, apoio e

    dedicao prestados neste trabalho.

    Aos professores co-orientadores Rovilson Jos de Souza e Luz Fernando

    Coutinho de Oliveira, pelo auxlio na conduo do experimento e observaes

    que propiciaram a melhoria desta dissertao.

    Ao profissional e Professor Jony Eishi Yuri (UNINCOR), pela colaborao na

    doao das mudas de alface americana e sugestes apresentadas neste trabalho.

    Aos demais professores do curso de ps-graduao em Engenharia Agrcola do

    Departamento de Engenharia, pelos ensinamentos transmitidos.

    Aos funcionrios do Departamento de Engenharia, Nenm, Jos Lus, Gilson,

    Daniela, Juliana e Sandra, e do Setor de Olericultura, Sr. Pedro, Sr. Milton e

    Leandro, pela grande ajuda e servios prestados no decorrer do experimento.

    Ao bolsista de Iniciao Cientfica (IC) Gustavo Guerra e ao meu amigo

    Edlson, pela amizade e ajuda na conduo do experimento.

    Aos meus amigos de curso Luciano alface, Lessandro Gacho, Henrique

    sequinho, Carolina, Marcelo Viola, Flvio Coro e Rodrigo cabelo pela

    amizade, convvio e companheirismo, e aos demais colegas do curso de

    Engenharia Agrcola, pela convivncia e companheirismo.

  • Aos meus amigos de repblica Edlson Santos e edo Santos, e ao meu amigo

    Andr Luiz sarara pela amizade e fora nos momentos difceis.

    A todos que contriburam para o xito deste trabalho cientfico.

  • BIOGRAFIA

    JOAQUIM ALVES DE LIMA JUNIOR, filho de Joaquim Alves de

    Lima e Maria Jos Borcm de Lima, nasceu em Belm Par, no dia 01 de

    junho de 1983.

    Em 1998, concluiu o ensino fundamental na Escola Estadual Cnego

    Calado, em Igarap-Au-PA. O ensino mdio foi concludo em 2001, no Centro

    Educacional Acesso, em Belm.

    Cursou Engenharia Agronmica na Universidade Federal Rural da

    Amaznia-UFRA, de fevereiro de 2002 a novembro de 2006. Foi bolsista de

    iniciao cientfica dos seguintes programas: PIBIC-UFRA, PIBIC-CNPq e

    FUNTEC-PA, de 2003 a 2006, desenvolvendo trabalhos relacionados a

    melhoramentos de plantas, fertilidade do solo, produo vegetal e em manejo de

    irrigao. Exerceu o cargo de monitor da disciplina Economia Rural, na UFRA,

    no perodo de maio a novembro de 2006.

    Cursou engenharia de agrimensura em nvel tcnico no Centro Federal

    de Educao Tecnolgica do Par - CEFET, de fevereiro de 2005 a outubro de

    2006.

    Ingressou no curso de Mestrado em Engenharia Agrcola, rea de

    concentrao em engenharia de gua e solo, em fevereiro de 2007.

  • SUMRIO Pgina

    RESUMO...............................................................................................................i ABSTRACT .........................................................................................................ii 1 INTRODUO.................................................................................................1 2 REFERENCIAL TERICO ..............................................................................4 2.1 A cultura da alface ..........................................................................................4 2.2 O cultivo em ambiente protegido....................................................................7 2.3 Exigncias climticas......................................................................................9 2.4 Manejo da irrigao ......................................................................................11 2.5 Instrumentos utilizados no manejo da irrigao ...........................................14 2.6 Funo de produo ......................................................................................16 3 MATERIAL E MTODOS ............................................................................19 3.1 Caracterizao da rea experimental ............................................................19 3.1.1 Clima..........................................................................................................20 3.1.2 Solo ............................................................................................................21 3.2 Delineamento experimental e tratamentos....................................................25 3.3 Sistema e manejo da irrigao ......................................................................27 3.4 Conduo do experimento ............................................................................30 3.5 Caractersticas vegetativas e produtivas .......................................................32 3.5.1 Altura de plantas ........................................................................................32 3.5.2 Massa fresca total.......................................................................................32 3.5.3 Massa fresca da cabea comercial .............................................................32 3.5.4 Circunferncia da cabea comercial ..........................................................33 3.5.5 Nmero de folhas internas .........................................................................33 3.5.6 Massa fresca dos talos................................................................................33 3.5.7 Massa fresca do sistema radicular..............................................................33 3.5.8 Produtividade total e comercial .................................................................33 3.5.9 Eficincia no uso da gua (EUA)...............................................................34 3.6 Anlise estatstica .........................................................................................34 3.7 Funo de produo e anlise econmica ................................................34 4 RESULTADOS E DISCUSSO.....................................................................40 4.1 Resultados gerais do experimento ................................................................40 4.1.1 Parmetros climticos na casa de vegetao..............................................40 4.1.2 Avaliao do sistema de irrigao .............................................................42

  • 4.1.3 Lminas de irrigao e tenso de gua no solo..........................................43 4.2 Avaliao da massa fresca total e comercial.................................................47 4.3 Avaliao da altura de plantas e nmero de folhas internas .........................50 4.4 Circunferncia da cabea comercial, massa fresca do talo e massa do sistemaradicular da planta...................................................................................54 4.5 Produtividade total e comercial ....................................................................58 4.6 Eficincia no uso da gua .............................................................................60 4.7 Lmina tima de irrigao ............................................................................63 5 CONCLUSES ...............................................................................................67 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................68

  • i

    RESUMO LIMA JNIOR, Joaquim Alves de. Anlise tcnica e econmica da produo de alface americana irrigada por gotejamento. 2008. 74p. Dissertao (Mestrado em Engenharia Agrcola/Engenharia de gua e Solo) Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.1

    A alface uma das hortalias folhosas mais consumidas pela populao brasileira, destacando-se os estados de So Paulo e Minas Gerais como os principais produtores e consumidores. Visando reduzir as dificuldades do produtor no cultivo da alface americana, especificamente quanto falta de informaes tcnicas sobre o momento oportuno de irrigar e a quantidade de gua a ser aplicada, aliada a uma anlise econmica do processo, objetivou-se estudar o efeito de diferentes lminas de gua sobre os rendimentos produtivos e econmicos da alface americana. O experimento foi realizado na Universidade Federal de Lavras, no perodo de maro a maio de 2008 em casa de vegetao. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com cinco tratamentos e quatro repeties. Os tratamentos foram constitudos de cinco fatores de evaporao, sendo W1, W2, W3, W4 e W5, correspondentes a 0,30 EVm; 0,60 EVm; 0,90 EVm; 1,20 EVm e 1,50 EVm, respectivamente, baseado na lmina evaporada de um minitanque instalado dentro da casa de vegetao. A alface americana, cultivar Raider-plus, foi transplantada no espaamento de 0,30 x 0,30 m, irrigada por gotejamento, com gotejadores autocompensantes de 1,76 L h-1 de vazo, espaados de 0,3 m. Os resultados permitiram concluir que a maior eficincia no uso da gua (563,07 kg.ha-1.mm-1) ocorreu com a aplicao da lmina de irrigao de 74,53 mm, correspondente ao fator de reposio de gua de 30%; a mxima produtividade comercial, 35.308 kg.ha-1, foi estimada com a aplicao da lmina de 204,3 mm, correspondente ao fator de reposio de 101%; considerando o preo do fator gua (R$ 0,67 mm-1) e o preo da alface americana (R$ 0,90 kg-1), a lmina economicamente tima foi 203,9 mm, resultando em uma produtividade comercial praticamente igual mxima fsica.

    _________________________ 1Comit-orientador: Geraldo Magela Pereira UFLA (Orientador), Luiz Fernando Coutinho de Oliveira UFG e Rovilson Jos de Souza UFLA.

  • ii

    ABSTRACT

    LIMA JUNIOR, Joaquim Alves de. Technical and economical analysis for the crisphead lettuce production under dripping. 2008. 74p. Dissertation (Master in Agricultural Engineering/Water Engineering and Soil) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brazil.

    Lettuce is one of the vegetables mostly consumed by the Brazilian population, being the states of So Paulo and Minas Gerais the main producers and consumers. With the aim of reducing the difficulties faced by the producers on cultivating the crisphead lettuce, specifically those related to the lack of technical information about the right time to irrigate and the quantity of water to be applied, allied to the processs economical analysis, a study was carried out in order to determine the effect of various depths on the yielding and economical efficiencies of the crisphead lettuce. The experiment was conducted at the Universidade Federal de Lavras, from March to May 2008 in greenhouse. The experiment was done according to a randomized block design, with five treatments and four repetitions. The treatments, which constituted of five evaporation factors, namely W1, W2 ,W3, W4 and W5, having the respective values of 0.30 EVm; 0.60EVm; 0.90EVm; 1.20EVm; 1.50EVm, were done based upon an evaporated depths of a reduced pan installed inside a greenhouse. Raider-plus crisphead lettuce, was transplanted on 0.3 X 0.3 m spacing, and irrigated through dripping with self-compensating drippers having a 1.76 L h-1 discharge, and spaced by 0.3 m from each other. The results showed that, the highest water application effectiveness (563.07 kg.ha-1 .mm-1) was achieved by applying a 74.53 mm irrigation depth, which corresponded to a 30% water reposition; the maximum commercial productivity, 35.308 kg.ha-1, was estimated by applying a 204.3 mm depths, which corresponded to water reposition factor of 101%; when considering the water factor price (R$ 0.67 mm -1) as well as the crisphead lettuce price (R$ 0.90 kg-1), the optimal economical depths was that of 203.9 mm, that resulted on a commercial productivity practically equal to the physical maximum. _________________________ 1Guidance Committee: Geraldo Magela Pereira UFLA (Adviser), Luiz Fernando Coutinho de Oliveira UFG e Rovilson Jos de Souza UFLA.

  • 1

    1 INTRODUO

    A alface (Lactuca sativa L.) a hortalia folhosa mais importante na

    dieta da populao brasileira, sendo consumida na forma de salada. No incio da

    dcada de 1980, foi introduzido no Brasil um novo grupo de alface repolhuda

    crespa conhecida como alface americana. A sua grande aceitao pelas redes de

    fast food se deve principalmente pela capacidade de manter suas

    caractersticas fsicas quando em contato com altas temperaturas, por exemplo,

    no interior dos sanduches, e tambm por conservar-se por um perodo de tempo

    maior aps a colheita, isto , apresentar maior capacidade de armazenamento

    (Yuri et al., 2002).

    Incentivadas principalmente pelas redes de fast food, algumas regies

    tm recebido destaque na produo desta cultura. O Sul de Minas, por apresentar

    um clima favorvel ao seu cultivo durante o ano todo ( recomendada altitude

    entre 800 e 1100 metros) e estar geograficamente localizado prximo a trs

    grandes centros consumidores (Belo Horizonte, So Paulo e Rio de Janeiro), tem

    utilizado tcnicas que possibilitam obter maior produtividade e qualidade dos

    produtos. Na regio ao redor de Lavras-MG so produzidas mensalmente,

    aproximadamente, 1000 toneladas de alface americana, com mercado garantido

    pela empresa Refricon, intermediria da McDonalds (Yuri et al., 2002).

    Em geral, as hortalias tm seu desenvolvimento intensamente

    influenciado pelas condies de umidade do solo. A deficincia de gua ,

    normalmente, um dos fatores mais limitantes obteno de produtividades

    elevadas e produtos de boa qualidade, mas o excesso tambm pode ser

    prejudicial. A reposio de gua ao solo por irrigao, na quantidade e no

    momento oportuno, decisiva para o sucesso da horticultura (Marouelli et al.,

    1996).

  • 2

    O mtodo de irrigao que atende s condies de ambiente protegido,

    que possibilita o umedecimento adequado do solo sem ocasionar efeitos

    deletrios cultura o localizado, sendo o gotejamento o sistema mais

    empregado.

    Dentre as dificuldades que os produtores irrigantes da regio de Lavras

    tm encontrado destacam-se a falta de informaes especficas sobre o momento

    adequado de iniciar a irrigao e a quantidade de gua a ser aplicada na cultura

    da alface americana. Assim sendo, na maioria das vezes, a irrigao baseada

    somente na ao prtica do irrigante, o que poder resultar num aumento dos

    custos de produo, queda na produtividade, maior incidncia de doenas e uso

    inadequado dos recursos hdricos.

    Segundo Volpe & Churata-Masca (1988), existem vrios mtodos para

    efetuar-se o manejo da gua de irrigao e, dentre eles, destaca-se o do tanque

    Classe A, devido sua facilidade de operao, ao custo relativamente baixo e,

    principalmente, possibilidade de instalao prxima cultura a ser irrigada. No

    entanto, visando diminuir o custo do tanque Classe A e devido ao espao

    reduzido no interior das casas de vegetao, tem-se adotado tanques de

    evaporao com dimenses reduzidas (minitanque), como alternativa para a

    estimativa da evapotranspirao.

    Desse modo, so necessrios estudos que avaliem o momento oportuno

    de irrigar e a quantidade de gua a ser aplicada, aliada a uma anlise econmica

    do processo, sendo indispensvel para isso o conhecimento de parmetros

    relacionados s plantas, ao solo e ao clima e tambm ao custo de produo.

    Diante do exposto, o presente trabalho foi realizado com os seguintes

    objetivos:

    9 Avaliar os efeitos de diferentes lminas de gua sobre o comportamento produtivo da alface americana irrigada por gotejamento.

  • 3

    9 Determinar a funo de produo da alface americana , tendo como varivel dependente a produtividade comercial e varivel independente a

    lmina de gua, visando a anlise econmica.

  • 4

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 A cultura da alface

    A alface uma hortalia pertencente famlia Asteraceae, sendo uma

    planta herbcea, delicada, com caule diminuto, no ramificado, ao qual se

    prendem as folhas. Estas folhas so grandes, lisas ou crespas, agrupando-se ou

    no em forma de uma cabea (Filgueira, 2000).

    A alface americana possui colorao das folhas externas verde-escura e

    a parte interna apresenta colorao creme-amarelada e aspecto crocante que se

    mantm, mesmo em contato com alimentos quentes e, por isso, sendo muito

    utilizada em sanduches pelas redes de lanchonetes (Bueno, 1998).

    O sistema radicular da alface do tipo pivotante, podendo atingir at 60

    cm de profundidade, sendo que as ramificaes exploram efetivamente de 15 a

    30 cm de solo, faixa considerada de grande importncia quando se faz uso de

    tcnicas de irrigao e fertirrigao. Portanto, aconselhvel avaliar o sistema

    radicular nos diferentes estgios de desenvolvimento da planta no prprio local

    de cultivo, para um melhor conhecimento da profundidade efetiva. Dessa forma,

    quando as caractersticas do solo e do sistema radicular so levadas em conta, o

    manejo da irrigao pode ser ajustado s condies momentneas da cultura

    (Santos, 2002).

    A alface uma planta tpica de inverno, capaz inclusive de resistir a

    geadas leves. Seu ciclo anual, encerrando a fase vegetativa quando a planta

    atinge o maior desenvolvimento das folhas. Essa, por ser uma hortalia de ciclo

    curto e crescimento rpido, muito exigente quanto s condies climticas,

    disponibilidade de gua e de nutrientes para que ocorra um acelerado incremento

    massa fresca.

  • 5

    A cultura da alface utilizada na alimentao humana desde 500 anos

    a.C.; hortalia originria do Leste do Mediterrneo foi muito popular na Roma

    antiga e introduzida na Europa pelos romanos (Davis et al., 1997, citados por

    Silva, 2005). Difundiu-se rapidamente para a Frana, Inglaterra e,

    posteriormente, para toda a Europa, mostrando-se tratar-se de uma cultura muito

    popular e de uso extensivo. No continente americano foi trazida pelos

    colonizadores por volta do sculo XV e desde 1647 cultivada no Brasil (Ryder

    & Whitaker, 1976, citados por Silva, 2005).

    Em relao ao mercado brasileiro, a alface a principal folhosa tanto em

    termos de produo quanto de consumo. consumida in natura e, nestas

    condies, apresenta a seguinte composio mdia por 100 gramas de matria

    fresca: gua 94%; energia 18 kcal; protena 1,3 g; carboidratos totais 3,5

    g; fibra 0,7 g; clcio 68 mg; fsforo 25 mg; ferro 1,4 mg; potssio 264

    mg; vitamina A 1.900 UI; tiamina 0,05 mg; riboflavina 0,08 mg; niacina

    0,4 mg; vitamina C 18 mg; portanto, tima fonte de vitaminas e sais

    minerais, destacando-se o seu alto teor em vitamina A (Shizuto, 1983, citado por

    Yuri, 2000; Sgarbieri, 1987; Katayama, 1993).

    Segundo Maluf (2001), a alface classificada em cinco grupos distintos,

    de acordo com o aspecto das folhas e o fato de as mesmas reunirem-se ou no

    para a formao de uma cabea repolhuda, conforme segue:

    tipo romana: apresentam folhas alongadas, duras, com nervuras claras e protuberantes, no formando cabeas imbricadas, mas fofas. Tm pouca

    aceitao pelos consumidores brasileiros. Ex.: Romana Branca de Paris,

    Romana Balo e Gallega de Inverno;

    alface de folhas lisas: as folhas so lisas, mais ou menos delicadas, no formando uma cabea repolhuda, mas uma roseta de folhas. Ex.: Bab

    de Vero, Monalisa AG-819, Regina 71;

  • 6

    alface de folhas e crespas: as folhas so crespas, soltas, consistentes, no formando uma cabea repolhuda, mas uma roseta de folhas. Ex: Grand

    Rapids, Slow Bolting, Vernica, Vera, Vanessa, Brisa e Marisa AG-216;

    repolhuda lisa ou repolhuda manteiga: apresenta cabeas com folhas tenras, lisas, de cor verde clara e com aspecto oleoso. Ex.: White Boston,

    Brasil 48, Brasil 303, Carolina AG-576, Elisa, Aurlia, Floresta, Glria

    e Vivi;

    repolhuda crespa ou alface americana (Crisphead lettuce): apresenta cabea crespa, folhas com nervuras salientes e imbricadas, semelhantes

    ao repolho. Ex.: Great Lakes, Mesa 659, Salinas, Tain, Iara, Madona

    AG-605, Lucy Brown, Lorca, Legacy e Raider. Esta ltima cultivar foi

    selecionada pela Asgrow e apresenta um ciclo de 75 dias a partir da

    sementeira sendo 48 a 58 dias a partir do transplantio. O tamanho da

    planta de mdio a grande, com peso mdio variando entre 700 a

    1200g. As folhas so duras e de colorao verde clara. Possuem cabea

    de tamanho mdio a grande, com tima compacidade, peso e uma boa

    tolerncia ao pendoamento (Alvarenga, 1999; Yuri, 2000).

    Segundo Silva (2005), no ano de 2002, a produo mundial foi de

    aproximadamente 17,28 milhes de toneladas de alface, em uma rea de 791.144

    ha. Em 2007, o volume de alface comercializado no Companhia de Entrepostos

    e Armazns Gerais de So Paulo (CEAGESP ) - SP foi de 28.389 toneladas, com

    mdia mensal de 2.366 toneladas (Agrianual, 2008). Ainda, segundo a mesma

    fonte no ano de 2005, para o qinqnio 2000 2004, a participao percentual

    em funo de engradados comercializados de alface americana foi de 19%,

    obtendo o segundo lugar no grupo das folhosas, ficando frente do grupo lisa

    (18%) e romana (2%), perdendo apenas para o grupo crespa, lder no mercado

    que obteve uma participao de 61 % do total comercializado no CEAGESP-SP

    (Agrianual, 2005).

  • 7

    2.2 O cultivo em ambiente protegido

    As culturas protegidas tornaram-se um sistema de produo muito

    difundido na agricultura devido necessidade de fornecer produtos in natura e

    de boa qualidade ao longo do ano.

    O cultivo de hortalias em condies protegidas utilizando o prprio

    solo como substrato a forma mais difundida no mundo, principalmente em

    pases em desenvolvimento (Silva & Marouelli, 1998). Entre as hortalias mais

    cultivadas nesse ambiente no Brasil destacam-se o pimento, a alface, o tomate e

    o pepino (Vecchia & Koch, 1999).

    A alface uma hortalia extremamente sensvel a variaes climticas.

    Isso acarreta comprometimento na parte comercial da planta, devido foras

    sazonais importantes, tais como temperaturas acima de 20 C e fotoperodo

    longo. As conseqncias dessas foras podem ser observadas em plantas com o

    ciclo reprodutivo precocemente acelerado (pendoamento e florescimento

    precoces) (Nagai & Lisbo, 1980), caractersticas extremamente indesejveis, j

    que inutilizam a planta para o consumo.

    Sob esse aspecto, o cultivo protegido vem apresentando crescente

    adoo pelos produtores de alface, em razo da possibilidade do controle parcial

    dos fatores ambientais adversos (Souza et al., 1994), da facilidade do manejo da

    cultura, da reduo de riscos, da previsibilidade e da constncia da produo.

    No cultivo protegido as principais finalidades, quando sob estrutura de

    proteo, so anular os efeitos negativos das baixas temperaturas, da geada, do

    vento, do granizo, do excesso de chuva bem como encurtar o ciclo de produo,

    aumentar a produtividade e obter produtos de melhor qualidade (Sganzerla,

    1995).

  • 8

    Neste sentido, Segovia et al. (1997) compararam as cultivares de alface

    Brasil 202, White Boston e Regina, no inverno, em Santa Maria (RS), dentro e

    fora de uma casa de vegetao com cobertura de polietileno. Observaram

    maiores valores de rea foliar, nmero de folhas por planta, massa fresca da

    parte area, matria seca de folhas, do sistema radicular, do caule e total nas

    plantas cultivadas no interior da casa de vegetao. A relao parte area e

    sistema radicular tambm foi maior no interior. As plantas apresentaram maior

    taxa de crescimento no interior. Com base no exposto, eles afirmaram que

    possvel obter uma produo mais precoce e de melhor qualidade em ambiente

    protegido do que aquela obtida com o cultivo tradicional.

    O uso dessa tecnologia, no entanto, apresenta algumas limitaes. Uma

    delas a exigncia em irrigao, j que esta a nica forma de repor a gua

    consumida pela cultura, isto , entrada de gua, deve ser pela irrigao.

    O cultivo da alface sob estufa agrcola, alm de permitir a utilizao

    intensiva da terra e do capital, permite sua produo de maneira controlada,

    dependendo menos das condies climticas e com melhor aproveitamento dos

    insumos. Possibilita tambm a distribuio da produo ao longo do ano,

    regularizando a oferta e proporcionando ao produtor a possibilidade de evitar

    pocas de menor preo (Rodrigues et al., 1997).

    Zambolim et al. (1999) afirmam que a temperatura do ar e do solo e a

    umidade do ar so maiores em ambiente protegido. Scatolini (1996) relata um

    maior efeito da cobertura plstica sobre as temperaturas mximas com valores

    variando de 1,2 0C a 4,4 0C acima das observadas externamente. Esse

    pesquisador obteve uma diferena mdia de 4,3 0C entre a temperatura mxima

    interna e a externa, sendo maior no interior da casa de vegetao. O autor cita

    alguns trabalhos em que a temperatura mdia do ar maior no interior da casa

    de vegetao e outros em que no houve diferenas significativas. Isso pode

    acontecer em funo dos locais onde foram desenvolvidos os trabalhos e do

  • 9

    aspecto construtivo da casa de vegetao. Se houver possibilidade de manejar

    cortinas laterais ou se as laterais tiverem apenas tela antiafdica, provavelmente,

    as temperaturas tanto dentro quanto fora da casa de vegetao sero

    semelhantes.

    Evangelista (1999) obteve ligeira diferena entre as temperaturas e

    umidade relativa do ar no interior e na parte externa de uma casa de vegetao

    em Lavras-MG. Tanto a temperatura mxima do ar quanto a mdia e a mnima

    foram maiores no interior da casa de vegetao. Porm, os valores de umidade

    relativa mdia e mnima foram inferiores no interior. Ele justificou essas

    diferenas como sendo devido interrupo do processo convectivo pela

    cobertura plstica, o que impedia as trocas de ar com a parte externa da casa de

    vegetao. As laterais eram revestidas com tela plstica (clarite) fixa.

    Gonalves (2002), analisando o comportamento da alface em ambiente

    protegido, relatou que a absoro de gua pelas plantas depende

    fundamentalmente da quantidade de gua disponvel no solo e da demanda

    atmosfrica. A demanda atmosfrica condicionada principalmente pela

    radiao solar, velocidade do vento, temperatura e dficit de saturao do ar.

    Todos esses elementos sofrem alteraes sob ambiente de proteo, resultando

    em diferena de consumo de gua em relao ao ambiente externo.

    2.3 Exigncias climticas

    A alface adapta-se em diversas partes do mundo sendo apreciada por

    milhares de pessoas. Suas exigncias maiores quanto ao clima so

    principalmente para temperatura e luminosidade. Resiste a baixas temperaturas e

    geadas leves. Normalmente, as temperaturas timas de crescimento encontram-

    se entre 15 e 20 0C, e temperaturas noturnas inferiores a 200C favorecem a

    formao de cabea. A fase reprodutiva favorecida por dias longos e

  • 10

    temperaturas acima de 200C, sendo acelerada medida que a temperatura

    aumenta (Yuri, 2000).

    Segundo Cermeo (1990) e Sganzerla (1995), analisando o

    comportamento da alface em relao sua amplitude trmica, verificaram que a

    temperatura mxima no deve ultrapassar 30oC e a temperatura mnima 6oC,

    associadas a outras condies, como a umidade relativa do ar, a variedade e a

    forma de irrigao adotada.

    O volume de produo da alface varia em funo da poca de cultivo ao

    longo do ano. Yuri (2000) trabalhou com cultivares de alface em Santo Antnio

    do Amparo, MG, em duas pocas do ano, referentes aos meses de setembro a

    dezembro (poca 2) e fevereiro a maio (poca 1). Obteve, para a cultivar Raider,

    peso mdio da cabea comercial significativamente maior (996,27 g) para o

    cultivo na poca 1 em relao ao da poca 2 (415,00g). Durante a conduo do

    experimento foram registradas as temperaturas mdias mximas e mnimas nas

    pocas de cultivo, respectivamente, 28,3C e 15,4 C para a poca 2 e 28,5C e

    13,9C para a poca 1. Alm da temperatura, o fotoperodo tambm afeta a

    planta, pois a alface exige dias curtos durante a fase vegetativa e dias longos

    para que ocorra o pendoamento. Segundo Conti (1994) o comprimento do dia

    no problema para o cultivo de vero no Brasil, pois as cultivares europias

    importadas j esto adaptadas a dias mais longos do que os que ocorrem no pas.

    A expanso da cultura est se transferindo para as reas de latitudes menores,

    conseqentemente, o fotoperodo no obstculo. Entretanto, em condies de

    menores latitudes, verifica-se o aumento da temperatura. Nestas situaes h a

    necessidade de se escolher reas de elevadas altitudes. Portanto, a altitude do

    local outro fator que deve ser levado em considerao, pois influencia

    diretamente na temperatura, sendo que regies de menor altitude no so

    adequadas ao plantio de vero.

  • 11

    Cermeo (1990) afirma que a umidade relativa do ar necessria ao bom

    desenvolvimento vegetativo da alface deve ficar na faixa de 60% a 80%. No

    entanto, de acordo com seu estgio fisiolgico, apresenta melhor desempenho

    com valores inferiores a 60%. Umidade relativa muito elevada favorece a

    incidncia de doenas, fato que condiciona um dos fatores limitantes para

    cultura produzida em casa de vegetao.

    2.4 Manejo da irrigao

    A gua uns dos fatores determinantes para a produo de alimentos e,

    por isso, a sua falta ou excesso influencia diretamente a produtividade de uma

    cultura, tornando indispensvel o seu manejo racional para se conseguir a

    maximizao da produo (Reichardt, 1978).

    Jensen (1983), citado por Monteiro (2004) conceitua o manejo da

    irrigao como sendo a forma de planejamento e tomada de deciso que o

    produtor deve adotar para se obter o mximo de rendimento da cultura. Para que

    uma atividade agrcola irrigada funcione de modo racional, dois aspectos devem

    ser levados em considerao: o retorno econmico da cultura irrigada e os custos

    de instalao, manuteno e operao do sistema, sendo a irrigao localizada a

    apropriada para condies de agricultura intensiva e de alto retorno econmico

    (Benami & Ofen, 1993, citados por Monteiro, 2004).

    A alface uma das hortalias mais exigentes em gua durante o seu

    perodo de desenvolvimento, o que influencia de forma decisiva a produtividade

    e a qualidade comercial da cabea.

    Na cultura da alface as irrigaes devem ser freqentes e abundantes,

    devido ampla rea foliar e a evapotranspirao intensiva, bem como ao sistema

    radicular delicado e superficial e elevada capacidade de produo. Quando

    irrigadas adequadamente, as folhas so tenras e as cabeas grandes.

    Experimentos realizados com irrigao demonstram que, o peso da planta e a

  • 12

    produtividade aumentam linearmente com a quantidade de gua aplicada, at se

    atingir o mximo de produo, a partir do qual h uma queda em funo do

    excesso de umidade no solo (Filgueira, 2000).

    Para a alface americana o sistema de irrigao mais utilizado o

    gotejamento (Maluf, 1996). Diversos trabalhos procuram estabelecer para a

    cultura da alface uma lmina de gua condizente s condies edafoclimticas

    de uma determinada regio, ou mais especificamente de um local, baseando-se

    na porcentagem de evaporao do tanque Classe A (Gomes, 2001).

    Gomes (2001) submeteu a cultura de alface americana cv. Brown a

    quatro diferentes lminas evaporadas do Tanque Classe A (25, 50, 75 e 100%),

    por gotejamento, e verificou que as lminas baseadas em 25 e 50% submeteram

    a cultura s condies de dficits hdricos, obtendo menores valores para os

    parmetros de produtividade e de parte area. Os melhores resultados se deram

    quando se utilizou a reposio de lmina igual a 100%.

    Andrade Jnior (1994), avaliando o efeito de quatro lminas de irrigao

    na alface (25; 50; 75 e 100 % da evaporao do tanque Classe A) sobre o

    comportamento fisiolgico e produtivo de uma cultivar do tipo americana (Mesa

    659), em cultivo protegido, obteve melhores resultados de nmero de folhas,

    rea foliar e matria seca durante o crescimento para os nveis de irrigao

    correspondentes a 50 e 75 % da evaporao do tanque Classe A (ECA). No final

    do ciclo os melhores resultados de nmero de folhas, rea foliar, matria seca e

    produtividade foram proporcionados pelo nvel de 75 % da ECA. A eficincia

    no uso da gua apresentou resposta linear e decrescente com o acrscimo dos

    nveis de irrigao aplicados.

    Forero et al. (1979), citados por Andrade Jnior (1994), estudando o

    efeito de diferentes lminas de irrigao aplicadas por gotejamento na alface

    utilizando nveis de 60, 80 e 100% da evaporao do tanque Classe A,

  • 13

    verificaram que a maior produtividade (52,05 t.ha-1) foi obtida com a aplicao

    do fator de evaporao igual a 100% da ECA.

    Hamada (1993) avaliando o efeito de quatro lminas (60, 80, 100 e 120

    % da evaporao diria, obtida do tanque Classe A) na cultura da alface tipo lisa,

    irrigada por gotejamento, obtendo maior valor de matria seca total acumulada

    (13 g.planta-1) com o fator de evaporao de 100% da ECA.

    Para as variveis produtividades total e comercial, os melhores

    resultados se deram na aplicao da lmina de 120% da evaporao do Tanque

    Classe A. No entanto, a maior eficincia no uso da gua foi obtida no tratamento

    com a menor lmina aplicada (60% da ECA).

    Trabalhando com tenso de gua no solo, Frenz & Lechl (1981), citados

    por Andrade Jnior (1994) conduziram um experimento em casa de vegetao

    com o objetivo de determinar a tenso ideal de gua no solo para um adequado

    desenvolvimento da cultura da alface. O sistema utilizado foi o gotejamento e os

    tratamentos de tenso foram 6, 14, 22 e 30 kPa. A tenso de 14 kPa

    proporcionou a maior quantidade de matria fresca (264 g.planta-1) e

    produtividade (42 t.ha-1), totalizando uma lmina de 56 mm e freqncia de 4

    dias. J Araki & Goto (1983), citados por Andrade Jnior (1994), observaram a

    faixa compreendida entre as tenses de 20 e 30 kPa como timas para o

    crescimento da cultura e obteno de cabeas com 1.430 g.planta-1. A lmina

    total aplicada nesse caso foi de 140 mm.

    Santos (2002), avaliando o efeito de diferentes tenses de gua no solo

    sobre o comportamento produtivo da alface americana cv. Raider em ambiente

    protegido, verificou que, para a obteno de maiores produtividades (total e

    comercial), plantas mais altas, com maior nmero de folhas internas, maior peso

    de massa fresca da parte comercial e maior dimetro de caule, as irrigaes

    devem ser realizadas quando as tenses de gua no solo a 0,15 m de

    profundidade estiverem em torno de 15 kPa. A produtividade da cultura reduziu-

  • 14

    se linearmente em funo do aumento da tenso da gua no solo no intervalo

    entre 15 e 89 kPa; o mesmo acontecendo com a altura de plantas, nmero de

    folhas internas, peso da massa fresca da parte comercial e dimetro do caule.

    Silva & Marouelli (1998) afirmam que, em geral, as tenses de gua no

    solo devem ficar compreendidas entre 10 e 30 kPa, no caso do cultivo em

    ambiente protegido com irrigao por gotejamento, para a maioria das

    hortalias.

    O ideal no manejo da irrigao a combinao de mtodos. Na

    combinao do tensimetro com o tanque Classe A, o tensimetro usado para

    determinar o momento da irrigao e checar as condies de umidade do solo e

    o tanque Classe A para determinar a lmina de gua de reposio (Carrijo et al.,

    1999).

    2.5 Instrumentos utilizados no manejo da irrigao

    Para o manejo adequado da gua de irrigao necessrio o controle

    dirio da umidade do solo e/ou da evapotranspirao, durante todo o ciclo de

    desenvolvimento da cultura. Para tanto, indispensvel o conhecimento de

    parmetros relacionados s plantas, ao solo e ao clima, para se determinar o

    momento oportuno de irrigar e a quantidade de gua a ser aplicada. Isso pode ser

    baseado em critrios relacionados ao status da gua no solo e nas plantas, na

    taxa de evapotranspirao da cultura ou na combinao de dois ou mais deles.

    Dentre os vrios equipamentos existentes no mercado para o manejo da

    irrigao destaca-se o tanque Classe A, em virtude do custo relativamente baixo

    e do fcil manejo. O tanque Classe A tem a vantagem de medir a evaporao de

    uma superfcie de gua livre, associada aos efeitos integrados da radiao solar,

    do vento, da temperatura e da umidade do ar (Bernardo et al., 2005).

    O evapormetro em questo consiste de um recipiente circular de ao

    galvanizado, com 121 cm de dimetro interno e 25,5 cm de profundidade. O

  • 15

    tanque deve ser instalado sobre um estrado de madeira de 10 cm de altura e estar

    cheio de gua, de modo que o nvel mximo fique a 5 cm da borda superior. A

    oscilao mxima do nvel de gua dentro do tanque no deve ser superior a 2,5

    cm (Marouelli et al., 1996). Esse tanque foi desenvolvido pelo Servio

    Meteorolgico Norte Americano (U.S.W.B) e de uso generalizado, inclusive

    no Brasil (Pereira et al., 1997).

    Medeiros et al. (1997), comparando a evaporao medida em um tanque

    Classe A e em tanque evaporimtrico reduzido (minitanque), dentro e fora da

    casa de vegetao, verificaram que a evaporao do minitanque foi em mdia

    15% maior do que a do tanque Classe A, enquanto que dentro da estufa

    correspondeu a 47% da evaporao medida na estao meteorolgica.

    O uso do minitanque no interior da casa de vegetao para a realizao

    do manejo da irrigao apresenta as seguintes vantagens: um instrumento de

    menor custo e de operao mais fcil, alm de ocupar reduzido espao.

    O monitoramento da tenso de gua no solo constitui em uma tcnica

    fundamental para o manejo da irrigao. Figuerdo (1998) recomendou o uso de

    tensimetro para executar a medida do potencial mtrico do solo, em funo da

    facilidade de aquisio, da simplicidade no manuseio e do baixo custo do

    equipamento.

    Os tensimetros so recomendados para a utilizao no limite de

    preciso para medidas inferiores a 75 kPa (Bernardo et al., 2005). Porm,

    teoricamente se pode medir at 100 kPa, mas, na prtica, acima de 80 kPa o ar

    comea a penetrar na cpsula porosa. No entanto, se o interesse do pesquisador

    for medir tenses acima da faixa de uso da tensiometria, podem-se utilizar

    blocos de resistncia eltrica (Guerra et al., 1994; Figuerdo, 1998; Oliveira et

    al., 1999).

    Os blocos de resistncia eltrica, em geral revestidos de gesso, so

    capazes de fornecer informaes confiveis quando a tenso da gua no solo est

  • 16

    entre 100 e 1500 kPa. Porm, deve-se ter ateno com alguns fatores que

    influenciam negativamente as leituras, como a temperatura, a salinidade do solo,

    as caractersticas fsicas do gesso utilizado na fabricao dos blocos e a

    disperso de corrente eltrica no solo (Gornat & Silva, 1990).

    Os blocos disponveis no mercado so feitos de diversos materiais

    porosos que vo desde o tecido de nylon e fibra-de-vidro at aos blocos de

    gesso-resinado, moldados em diferentes formas. Os blocos possuem no seu

    interior um sistema de eletrodos que basicamente consiste de dois fios eltricos

    finos ligados, cada um, a uma pequena tela de ao inox (Gomide, 1998).

    Shock et al. (2002), citados por Santos (2002), fizeram uma comparao

    entre tensimetros e blocos de resistncia eltrica (Watermark sensor model

    200SS) e obtiveram boa correlao entre esses sensores, na medio da tenso de

    gua no solo, para a faixa de alcance dos tensimetros em diversos ciclos de

    molhamento e secagem do solo.

    2.6 Funo de produo

    Define-se uma funo de produo como sendo as relaes tcnicas

    entre um conjunto especfico de fatores envolvidos num processo produtivo

    qualquer e a produo fsica possvel de se obter com a tecnologia existente

    (Ferguson, 1988).

    Dos fatores de produo, a gua e os fertilizantes so aqueles que mais

    limitam os rendimentos com maior freqncia. Desse modo, o controle da

    irrigao e da fertilidade do solo constitui critrio preponderante para o xito da

    agricultura. A utilizao das funes de produo permite encontrar solues

    teis na otimizao do uso da gua e dos fertilizantes na agricultura ou na

    previso de rendimentos culturais (Frizzone, 1986).

    Oliveira (1993) mencionou que muitos trabalhos de pesquisa envolvendo

    irrigao e fertilizantes apontam recomendaes genricas que objetivam a

  • 17

    obteno de produtividades fsicas mximas, sem qualquer preocupao com a

    economicidade. Resultados de pesquisas que embasam essas informaes

    podero torn-los inviveis do ponto de vista econmico, pois a mxima

    produtividade biolgica, geralmente, no corresponde com o ponto timo

    econmico.

    Dentre os modelos matemticos comumente empregados para representar

    a funo de produo gua-cultura destaca-se: o tipo linear, o potencial e o

    exponencial (Bernardo, 1998). No entanto, quando se trabalha com lmina total

    aplicada, normalmente, usa-se um modelo polinomial do segundo grau

    (Frizzone, 1987; Oliveira, 1993; Carvalho, 1995; Pereira, 2005), o qual na

    maioria dos trabalhos foi o que melhor representou a estimativa de produo,

    sendo justificado pela mxima eficincia econmica, com o uso da

    produtividade mxima ou do lucro mximo.

    Vilas-Boas (2006), trabalhando com a cultura da alface na regio de

    Lavras-MG, avaliando diferentes lminas de irrigao, obteve uma

    produtividade mxima de 33.225 kg ha-1 aplicando uma lmina de 244,9 mm. J

    a lmina de maior retorno econmico foi 244,2 mm, resultando uma

    produtividade de 33.224 kg ha-1.

    Carvalho (1995), trabalhando com a cultura da cenoura, observou que o

    ponto de maior produtividade comercial foi estimado em 36.000 kg ha-1 com

    uma lmina de irrigao de 443 mm e o ponto correspondente ao maior retorno

    econmico foi estimado em 438 mm, com uma produtividade de 35.900 kg ha-1,

    tendo o custo varivel tido pouca influncia na determinao da lmina de

    mximo retorno econmico.

    A produtividade de uma cultura depende de vrios fatores de produo. De

    uma maneira geral, a funo de produo gua-cultura pode ser expressa

    conforme a Equao 1, a seguir:

  • 18

    )x,...,x,f(xY n21= (1) em que:

    Y = produo do cultivo;

    xn = fator varivel que afeta a produo do cultivo.

    Estas funes de produo so obtidas empiricamente e ajustadas pela

    anlise de regresso, fixando a varivel dependente (produtividade) e variando a

    ou as variveis independentes (lmina de gua, doses de fertilizantes...).

    Frizzone (1986) mencionou que as variveis da funo de produo gua-

    cultura podem ser expressas de diferentes maneiras. A varivel independente

    gua pode ser representada pela transpirao, evapotranspirao, lmina de gua

    aplicada durante o ciclo etc. Ao usurio da irrigao mais interessante utilizar

    como varivel independente a lmina de gua aplicada parcela, mesmo que

    apenas parte dela seja usada no processo de evapotranspirao. Em geral, a

    varivel dependente refere-se produtividade agrcola comercial de gros,

    frutos, matria verde ou seca, etc. Por fim, as funes de produo gua-cultura

    so particularmente importantes para as anlises de produo agrcola quando a

    gua escassa. Para o processo de planejamento, essas funes constituem o

    elemento bsico de deciso dos planos de desenvolvimento e, relativamente

    operao de projetos de irrigao, permitem tomar decises sobre planos timos

    de cultivo e ocupao de rea para produo econmica com base na gua

    disponvel.

  • 19

    3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Caracterizao da rea experimental

    O experimento foi conduzido em casa de vegetao situada nas

    dependncias da rea experimental do Departamento de Engenharia da

    Universidade Federal de Lavras, no perodo compreendido entre os meses de

    maro a maio de 2008. A UFLA situa-se no municpio de Lavras, regio sul de

    Minas Gerais, que est numa altitude mdia de 910 metros e coordenadas

    geogrficas 2114S, Latitude Sul e 4500W, Longitude Oeste.

    As casas de vegetao foram construdas utilizando-se pilares de madeira

    (eucalipto tratado) e teto tipo arco de material metlico, apresentando 2,5 m de

    p-direito, 4,0 m de altura no ponto mais alto, 13 m de comprimento e 7,0 m de

    largura, cobertas com filme de polietileno de baixa densidade transparente,

    aditivado anti-UV com espessura de 150 micras e as laterais fechadas com tela

    antiafdeo (Figura1).

  • 20

    FIGURA 1 Vista geral do experimento no interior da casa de vegetao.

    UFLA, Lavras, MG, 2008.

    3.1.1 Clima

    De acordo com a classificao de Kppen (Dantas et al., 2007), a regio

    apresenta um clima Cwa, ou seja, clima temperado chuvoso (mesotrmico), com

    inverno seco e vero chuvoso, temperatura mdia do ms mais frio inferior a

    18oC e superior a 3oC; o vero apresenta temperatura mdia do ms mais quente

    superior a 22oC. Lavras apresenta temperatura do ar mdia anual de 19,4 oC,

    umidade relativa do ar mdia de 76,2% e tem uma precipitao mdia anual de

    1529,7mm, bem como uma evaporao mdia anual de 1034,3 mm (Brasil,

    1992).

    Os dados meteorolgicos no interior do ambiente, foram obtidos de uma

    estao porttil e automtica, marca DAVIS, modelo VANTAGE PRO 2,

    instalada dentro da casa de vegetao, com monitoramento dirio da

    temperatura e da umidade relativa do ar.

  • 21

    3.1.2 Solo

    O solo da rea experimental foi originalmente classificado como

    Latossolo Vermelho Distrofrrico, segundo a Embrapa (1999).

    Para a determinao da curva caracterstica de gua no solo, amostras de

    solo foram coletadas na camada de 0 a 25 cm e levadas ao Laboratrio do

    Departamento de Cincia do Solo da Universidade Federal de Lavras.

    As amostras de solo com estrutura deformada (terra fina seca ao ar)

    foram colocadas em cilindros de PVC e, depois de saturadas, foram levadas para

    uma bancada dotada de funil de Haines para determinao dos pontos de baixa

    tenso (0, 2, 4, 6, 8 e 10 kPa) e para o extrator de Richards para os pontos de

    maiores tenses (33, 100, 500 e 1500 kPa).

    Empregando o modelo computacional SWRC, desenvolvido por

    Dourado Neto et al. (1995), foi gerada a Equao 2, ajustada segundo modelo

    desenvolvido por Genuchten (1980), que descreve o comportamento da umidade

    do solo em funo da tenso. A partir da equao e dos valores observados foi

    gerada a curva de reteno de gua no solo para a camada em estudo,

    apresentada na Figura 2.

    ( )

    ( )[ ]0,3451,5280,6861 0,4580,263 ++= 9971,02 =r (2)

    em que:

    = umidade atual (cm3. cm-3);

    = tenso de gua no solo (kPa).

  • 22

    0,01

    0,10

    1,00

    10,00

    100,00

    1000,00

    10000,00

    0,000 0,100 0,200 0,300 0,400 0,500 0,600 0,700 0,800

    Tenso (kPa)

    Umidade (cm3.cm-3)

    Observado (0 - 25cm) Modelo (0 - 25cm) FIGURA 2 Curva caracterstica de gua no solo obtida utilizando o modelo

    descrito por Genuchten (1980). UFLA, Lavras, MG, 2008.

    Partindo da equao ajustada para descrever a curva de reteno e

    considerando uma tenso de gua no solo correspondente a 10 kPa (Carvalho et

    al., 1996) foi encontrado o valor correspondente umidade na capacidade de

    campo de cc = 0,4258 cm3.cm-3 para a camada de 0 a 0,25 m. Os resultados das anlises qumicas e fsicas das amostras de solo

    coletadas na rea experimental encontram-se na Tabela 1. De acordo com

    Gomes et al. (1999) e com os resultados da anlise do solo no foi preciso

    realizar a correo da acidez do solo, pois, o ndice de saturao por bases (V)

    foi superior ao recomendado para a cultura da alface (70%).

    Tens

    o (k

    Pa)

  • 23

    TABELA 1 Anlise qumica e fsica de amostras de solo coletadas na rea experimental. UFLA, Lavras, MG, 2008.*

    AMOSTRAS** SIGLA DESCRIO UNIDADE 0 a 0,25m

    pH Em gua (1:2,5) - 6,4(AF) P Fsforo (Mehlich 1) mg/dm3 41,7(MB) K Potssio mg/dm3 52 (M) Ca Clcio Cmol/dm3 4,4 (MB) Mg Magnsio Cmol/dm3 0,3 (b) Al Alumnio Cmol/dm3 0 (mb)

    H+Al Ac. Potencial Cmol/dm3 1,2 (b) SB Soma bases Cmol/dm3 4,7 (B) (t) CTC efetiva Cmol/dm3 4,7 (B) (T) CTC a pH 7,0 Cmol/dm3 6 (M) V Sat. Bases % 80 (B) m Sat. Alumnio % 0 (mb)

    MO Mat. Orgnica dag/kg 2,3 (M) P-rem Fsforo remanescente mg/l 8,4 (B)

    Zn Zinco mg/dm3 7,4 (A) Fe Ferro mg/dm3 41(B) Mn Mangans mg/dm3 63,7 (A) Cu Cobre mg/dm3 4,0 (A) B Boro mg/dm3 0,6 (M) S Enxofre mg/dm3 49,2 (MB)

    Areia - dag/kg 14 Silte - dag/kg 35

    Argila - dag/kg 51 Textura Classe textural - A

    Ms Massa especfica solo g/cm3 1,09 *Realizadas no DCS/UFLA. **A = alto; B = bom; MB = muito bom; b = baixo; M = mdio; mb = muito baixo. AM= acidez fraca. (Alvarez et al., 1999). A = argilosa.

    Quanto ao preparo do solo para o plantio, foram realizados dois

    revolvimentos do solo com uso de uma enxada rotativa, com o objetivo de

    descompactar e promover a aerao do solo, visando o bom desenvolvimento do

    sistema radicular da cultura.

  • 24

    Os canteiros foram construdos manualmente e, aproveitando a mesma

    operao, foi efetuada a incorporao da adubao de plantio. A adubao de

    plantio foi feita sete dias antes do transplantio das mudas, baseada nos resultados

    obtidos na anlise qumica de solo (Tabela 1) e informaes obtidas junto ao

    Engenheiro Agrnomo e Consultor Dr. Jony Eishi Yuri*. Para este

    procedimento foi utilizado o fertilizante Nutrisafra 2 B Plus na quantidade de

    1500 kg.ha-1 ou 150 g.m- de canteiro. Esse fertilizante contm em sua frmula

    4% de N; 12% de P2O5; 8% de K2O; 5% de Ca; 0,05% de B; 10% de Torta de

    Mamona e 10% de Termofosfato.

    Devido aos valores de matria orgnica, obtidos na anlise de solo, e

    presena de torta de mamona no fertilizante utilizado para a adubao de plantio,

    optou-se em no utilizar outras fontes de matria orgnica durante a conduo do

    experimento. As quantidades de nutrientes fornecidas pela adubao de plantio e

    transformadas em kg.ha-1 foram: 60 para N; 79,2 para P; 99,6 para K; 75 para Ca

    e 0,75 para B.

    ______________________ *Comunicao pessoal. YURI, J. E. 2008. Universidade Vale do Rio Verde, UNINCOR, Av. Castelo Branco, 82, Centro, 37410-000 Trs Coraes-MG.

  • 25

    3.2 Delineamento experimental e tratamentos

    Foi empregado o delineamento em blocos casualizados (DBC), tendo

    sido utilizados cinco tratamentos e quatro repeties, perfazendo um total de 20

    parcelas. Os tratamentos constituram-se de cinco lminas de gua com base na

    evaporao do minitanque, sendo:

    W1 lmina de irrigao referente a 30% da evaporao do minitanque;

    W2 - lmina de irrigao referente a 60% da evaporao do minitanque;

    W3 - lmina de irrigao referente a 90% da evaporao do minitanque;

    W4 - lmina de irrigao referente a 120% da evaporao do minitanque;

    W5 - lmina de irrigao referente a 150% da evaporao do minitanque.

    O minitanque tem a forma circular, construdo em chapa galvanizada

    com 60,5 cm de dimetro (50% do dimetro do tanque Classe A), 25,4 cm de

    profundidade, e apoiado sobre estrado de madeira, este com altura de 15 cm

    acima do solo. O minitanque foi instalado no centro de uma das casas de

    vegetao, conforme Figura 3.

  • 26

    FIGURA 3 Minitanque evaporimtrico utilizado no experimento. UFLA,

    Lavras, MG, 2008.

    As parcelas experimentais tiveram as dimenses de 1,20m de largura e

    2,40 m de comprimento (2,88 m2). Foram utilizadas quatro linhas de plantas

    espaadas de 0,30 m e 0,30 m entre plantas, perfazendo-se um total de 32 por

    parcela. Foram consideradas teis as plantas das linhas centrais, sendo

    descartadas nestas linhas duas plantas no incio e duas no final (parcela til com

    0,72 m2 e 8 plantas), conforme esquema ilustrativo na Figura 4.

  • 27

    1,2

    2,4

    0,3

    0,3

    m

    m

    m

    mPlantas Alface

    Delimitador de parcela

    Parcela til

    Sensores de Umidade 12,5 e 25 cm

    Tubogotejador NAAN PC 1,60 L/h

    Tubulaao polietileno 16mm (PEBD)

    FIGURA 4 Esquema de uma parcela experimental com o sistema de irrigao

    implantado e os sensores de umidade. UFLA, Lavras, MG, 2008.

    3.3 Sistema e manejo da irrigao

    Para aplicao dos tratamentos utilizou-se um sistema de irrigao por

    gotejamento, sendo os emissores do tipo in-line inseridos no tubo no momento

    da extruso (auto-compensantes e no-drenantes) e distanciados entre si de 0,30

    m. Os gotejadores modelo NAAN PC foram testados e resultou em uma vazo

    mdia de 1,76 L.h-1 para uma presso de servio em torno de 180 kPa. O

    tubogotejador (DN 16 mm) foi posicionado na parcela, de forma a atender duas

    fileiras de plantas, conforme mostrado na Figura 4.

    A fim de mensurar a vazo nominal do gotejador e do coeficiente de

    uniformidade de distribuio de gua (CU) do sistema de irrigao, foram

    realizados testes utilizando o procedimento recomendado por Merrian & Keller

    (1978), citados por Cabello (1996), em que se escolhe uma subunidade e nela se

    selecionam quatro laterais: a primeira, a situada a 1/3 do incio, a situada a 2/3 e

    a ltima. Em cada lateral, selecionam-se quatro emissores, o primeiro, o situado

  • 28

    a 1/3, o situado a 2/3 e o ltimo, sendo coletadas vazes destes emissores e, a

    partir da Equao 3, calcula-se o coeficiente de uniformidade.

    No caso do sistema de irrigao em questo foram sorteados os

    tratamentos W1 e W4 e foram avaliados todos os emissores das quatro

    repeties dos respectivos tratamentos.

    a

    25

    qq

    CU = (3)

    em que:

    CU = coeficiente de uniformidade de distribuio;

    q25 = mdia das 25% menores vazes coletadas (L.h-1);

    qa = mdia das vazes coletadas (L.h-1).

    Alm do coeficiente de uniformidade foi determinado tambm o

    coeficiente de variao total de vazo, conforme metodologia apresentada por

    Bralts & Kesner (1978), citados por Cabello (1996). O coeficiente de variao

    total (CVt) a relao entre o desvio padro das vazes e a vazo mdia. Indica

    como est a uniformidade da vazo na subunidade estudada. Cabello (1996)

    apresentou uma classificao da uniformidade de distribuio de gua de acordo

    com o valor do CVt. Se o CVt for maior que 0,4 a uniformidade inaceitvel; de

    0,4 a 0,3 baixa; de 0,3 a 0,2 aceitvel; de 0,2 a 0,1 muito boa e de 0,1 a 0

    excelente.

    As linhas laterais foram conectadas s linhas de derivao de polietileno

    (PEBD DN 16 mm); estas, por sua vez, foram conectadas s linhas principais

    (PVC DN 35 mm; PN 40) que tinham, no seu incio, vlvulas de comando

    eltrico (solenides) localizadas na sada do cabeal de controle. Foi utilizada

    uma vlvula para cada tratamento; tais vlvulas eram acionadas por meio de um

    controlador programvel (TOTAL CONTROL 12 STATIONS), previamente

  • 29

    programado, em cada irrigao, para funcionar o tempo necessrio visando repor

    a lmina de gua referente evaporao medida atravs do minitanque. A

    instalao, leitura e manejo do tanque foram realizados conforme

    recomendaes de Marouelli et al. (1986), Volpe & Churata-Masca (1988) e

    Bernardo et al. (2005).

    A lmina de gua aplicada, com uma freqncia de dois dias, foi

    calculada considerando-se a porcentagem da evaporao (K) medida no perodo

    previsto entre duas irrigaes (2 dias), de acordo com cada tratamento e a

    eficincia de aplicao de gua do sistema de irrigao, conforme a Equao 4.

    Ei

    EVm.KLI = (4) em que:

    LI = lmina de irrigao a ser aplicada em cada tratamento (mm);

    Evm = evaporao do minitanque medida no perodo (mm);

    Ei = eficincia de aplicao de gua do sistema (0,90);

    K = frao da evaporao de cada tratamento.

    As diferentes lminas de irrigao, para cada tratamento, foram obtidas

    mediante diferentes tempos de funcionamento das linhas de gotejadores. Esse

    tempo foi obtido a partir da vazo mdia dos gotejadores, do espaamento entre

    plantas e entre linhas de plantio, apresentado na Equao 5.

    e.q

    LI.Sp.SlpTi = ( 5 )

    em que:

    Ti = tempo de irrigao para cada tratamento (h);

    LI = lmina de irrigao a ser aplicada no tratamento (mm);

    Sp = espaamento entre plantas (0,30 m);

  • 30

    Slp = espaamento entre linhas de plantas (0,30 m);

    e = nmero de emissores por planta (0,5);

    q= vazo mdia do gotejador (l,76 L.h-1).

    O monitoramento da umidade do solo foi efetuado por meio de

    tensimetros (tratamentos W3, W4 e W5). Nos demais tratamentos (W1 e W2) a

    umidade do solo foi monitorada por sensores do tipo GMS (Grain Matrix Sensor

    - Watermark) fabricados pela Irrometer, Inc. Para isso, foi instalada uma

    bateria de quatro tensimetros digitais ( dois a 12,5 cm e dois a 25,0 cm de

    profundidade) para monitorar as tenses, sorteada entre as parcelas de cada

    tratamento. Os tensimetros foram instalados no alinhamento da cultura, entre

    duas plantas e ficaram 10 cm distanciados entre si em cada bateria.

    As leituras das tenses foram realizadas diariamente no intervalo das

    8:00 s 9:00 horas, com tensmetro digital de puno com preciso de 0,03% e

    leitor digital GMS. Os valores de tenso foram utilizados para monitorar a

    umidade do solo em cada tratamento.

    3.4 Conduo do experimento

    No trabalho foi utilizada a alface americana cv. Raider-Plus, por ser de

    grande aceitabilidade pelos produtores de Lavras e regio e por apresentar

    elevada demanda pelas empresas de fast foods e consumidores.

    As mudas foram doadas por um produtor do municpio de Trs Pontas,

    MG, as quais foram semeadas em bandejas de isopor de 288 clulas preenchidas

    com o substrato comercial Plantmax HT, especfico para o cultivo da alface.

    Aps 30 dias da semeadura, ocasio em que as mudas j se encontravam com

    quatro folhas definitivas, foi efetuado o transplantio para os canteiros.

    Do transplantio, ocorrido em 9 de abril de 2008, at o incio da

    diferenciao dos tratamentos (14/04) foram realizadas, por quatro dias,

  • 31

    irrigaes em todos os cinco tratamentos, totalizando uma lmina de 24 mm.

    Este procedimento teve como objetivo proporcionar um melhor pegamento e a

    uniformizao no desenvolvimento inicial das mudas.

    Toda a adubao de cobertura foi feita via fertirrigao e seguindo as

    recomendaes da 5a aproximao (Gomes et al., 1999) e tambm as

    consideraes do engenheiro agrnomo e consultor Dr. Jony Eishi Yuri. Os

    adubos utilizados foram: Nitrato de Potssio, Nitrato de Clcio e Sulfato de

    Magnsio, em funo das suas solubilidades altas, com ndices de salinidade

    relativamente baixos. As adubaes de cobertura forneceram durante todo o

    ciclo da cultura as quantidades em kg.ha-1 de 55,34 de N; 0,0 de P2O5, sendo que

    todo o P foi fornecido pela adubao de plantio; 74,16 de K2O; 40,46 de Ca;

    12,21 de Mg e 15,6 de S.

    Foi utilizada para a realizao das fertirrrigaes uma bomba de injeo

    de fertilizante marca AMIAD modelo TMB WP 10 com capacidade mxima

    de injeo de 60 L.h-1 de fertilizante.

    O total de nutrientes fornecidos para a cultura corresponde soma da

    adubao de plantio com a de cobertura totalizou a quantidade em kg.ha-1 de:

    115,34 de N; 79,20 de P2O5; 173,76 de K2O; 115,46 de Ca; 12,20 de Mg e 15,60

    de S.

    Com o objetivo de prevenir sintomas de deficincias nutricionais que

    poderiam aparecer durante desenvolvimento da cultura, foram feitas trs

    aplicaes de fertilizante foliar (Nitrofoska A) durante todo o ciclo da alface: a

    primeira com 12 dias aps o transplantio (DAT); a segunda com 26 DAT; e a

    terceira com 35 DAT. O fertilizante foliar Nitrofoska A possui em sua frmula

    as seguintes concentraes de nutrientes: 10% de N; 4% de P2O5; 7% de K2O;

    0,02% de B; 0,05% de Cu; 0,02% de Mn.

    Para o controle das plantas invasoras foi feita a aplicao do herbicida

    Roundup, para eliminao das mais resistentes capina manual, antes da

  • 32

    sistematizao do solo com uso da enxada rotativa. Durante a conduo do

    experimento, as plantas invasoras, que eventualmente ocorriam, foram

    eliminadas atravs de capinas manuais. O controle fitossanitrio foi realizado

    atravs de inspees peridicas na rea experimental, no sendo detectada a

    presena significativa de pragas e doenas durante o perodo de realizao do

    experimento.

    3.5 Caractersticas vegetativas e produtivas

    A colheita foi realizada no dia 30 de maio de 2008, quando as plantas

    atingiram seu mximo desenvolvimento vegetativo, ponto este caracterizado

    quando a cabea da alface americana apresentou-se bem enfolhada e compacta.

    Imediatamente depois da colheita, procedeu-se s avaliaes das parcelas teis,

    sendo todas as repeties colhidas e avaliadas no mesmo dia.

    3.5.1 Altura de plantas

    A altura das plantas foram coletadas com o auxlio de duas rguas. A

    medida foi feita desde a superfcie do solo, ficando uma rgua perpendicular

    outra formando um ngulo de 90; os resultados foram expressos em cm,

    representados pela mdia de oito plantas.

    3.5.2 Massa fresca total

    Depois de colhidas e as razes cortadas, foram realizadas as pesagens das

    plantas de cada parcela, em balana digital com preciso de 5 g, e os resultados

    foram expressos em gramas, representados pela mdia de oito plantas.

    3.5.3 Massa fresca da cabea comercial

    Aps a retirada das folhas externas obteve-se a parte comercial para a

    indstria (cabea comercial). A cabea comercial geralmente apresenta-se

    compacta, de colorao creme ou branca e com nervuras salientes (Mota, 1999).

  • 33

    3.5.4 Circunferncia da cabea comercial

    A circunferncia da cabea comercial foi medida com o auxlio de uma

    fita mtrica no ponto mediano de oito plantas, para a obteno do valor mdio.

    3.5.5 Nmero de folhas internas

    Aps a medida da circunferncia da cabea comercial efetuou-se a

    retirada das folhas internas da cabea comercial, que foram contadas e o

    resultado da contagem foi representado pela mdia de oito plantas.

    3.5.6 Massa fresca dos talos

    Posteriormente retirada e a contagem de todas as folhas internas da

    cabea comercial, o restante, ou a sobra, classificado como sendo talo. Os talos

    das oito plantas de cada parcela foram pesados em balana digital com preciso

    de 0,01 g e os resultados foram expressos em gramas, mdia de oito plantas.

    3.5.7 Massa fresca do sistema radicular

    Efetuou-se a pesagem do sistema radicular de cada planta, e para isso foi retirado o solo com auxlio de gua corrente, que em seguida foi colocado dentro

    de uma estufa por 60 minutos temperatura de 30C.

    3.5.8 Produtividade total e comercial

    Com base nas dimenses das parcelas e considerando o espao entre elas

    estimou-se a populao de plantas por hectare. O valor encontrado foi de 79.262

    plantas por hectare e a partir das mdias de massa fresca, tanto da parte total

    quanto da comercial, estimou-se a produtividade total e comercial,

    respectivamente.

  • 34

    3.5.9 Eficincia no uso da gua (EUA)

    A eficincia do uso da gua foi determinada pela relao entre os

    valores da produtividade total (kg.ha-1) e as respectivas quantidades de gua

    consumidas em cada tratamento durante o cultivo, sendo os resultados expressos

    em kg.ha-1.mm-1.

    3.6 Anlise estatstica

    A obteno da anlise de varincia pelo teste F e as anlises de

    regresso, ambas ao nvel mnimo 5% e 1% de probabilidade, foram efetuadas

    com o auxlio do software SISVAR para Windows, verso 4.0 (Ferreira, 2000).

    O modelo estatstico dado por: ij i j ijy t b = + + + , em que: ijy o valor da varivel dependente no j-simo bloco que recebeu a i-sima lmina de

    irrigao, uma constante inerente a cada observao; it o efeito da i-sima lmina de irrigao, com i = 1,..., 5; jb o efeito do j-simo bloco, com j = 1, ...,

    4; i j o erro experimental associado ao valor da varivel dependente no j-simo bloco que recebeu a i-sima lmina de irrigao, normalmente distribudo com

    mdia zero e varincia 2 .

    3.7 Funo de produo e anlise econmica

    Para obteno da funo de produo foi utilizada a anlise de regresso

    entre a varivel dependente (produtividade comercial) e a varivel independente

    (lmina de gua). O modelo empregado foi o polinomial do segundo grau,

    conforme a Equao 6.

  • 35

    2c.wb.waY ++= (6)

    em que:

    Y = produtividade comercial (kg.ha-1);

    w = lmina total de gua aplicada (mm);

    a, b e c = parmetros da equao, tendo como hipteses que b>0 e c

  • 36

    Minas Gerais adquiriram o quilo da alface ao preo de R$0,90.kg-1 (cotao de

    junho/2008), sendo o custo de produo estimado por planta de R$ 0,20, para

    cada 20.000 plantas produzidas. Esse preo foi considerado para efeito de

    anlise econmica no presente estudo.

    O preo do fator gua (Pw) foi estimado pelos custos da energia para o

    bombeamento e os custos de manuteno e operao do sistema de irrigao.

    Devido presena constante de variao dos fatores estimadores do preo do

    fator gua, tornando os custos do mesmo de difcil quantificao, justificou-se a

    fixao de alguns parmetros, tais como:

    mtodo de irrigao: localizada por gotejamento com acionamento automtico;

    rea: 10.000 m2 ; nmero de plantas por hectare: 79.262; altura manomtrica total: 300 kPa (30 mca); vazo da motobomba: 11,63 m3.h-1; eficincia do conjunto motobomba: 50%; vida til do sistema de irrigao: 10 anos; utilizao: 4 ciclos de cultura por ano.

    Nessas condies o custo do sistema de irrigao foi de R$ 7.172,23,

    includo a bomba e o motor monofsico, o tubogotejador, o injetor de

    fertilizante, o controlador com 6 estaes, a chave de partida, vlvulas

    solenides, a tubulao de suco e recalque alm das conexes.

    No clculo da depreciao do sistema (fator de recuperao de capital),

    consideraram-se a taxa de juros anual de 10% e a vida til do equipamento de 10

    anos, chegando-se a um fator de 0,1627 que, multiplicado ao custo do sistema de

  • 37

    irrigao, gerou-se o custo de amortizao dos fatores mantidos constantes de

    R$ 1.167,23.

    O custo de manuteno e operao do sistema de irrigao foi

    considerado sobre 2% do seu valor de aquisio (Zocoler, 2001), o que equivale

    a R$ 143,45.ha-1 ano-1 ou R$ 35,86.ha-1 por ciclo da cultura ao ano.

    Para obteno do custo da energia eltrica de bombeamento da gua

    foram considerados os seguintes itens: motobomba de 3 cv, irrigao diria de

    duas horas e seis minutos, com 52 dias de cultivo. O valor do kWh, fornecido

    pela concessionria de energia eltrica CEMIG para o ms de junho de 2008, foi

    de R$ 0,29. O custo total de energia eltrica para o bombeamento foi estimado

    em R$ 85,86.ha-1.

    Nesta anlise, no se considerou o efeito dos fatores mantidos constantes

    no experimento (custeio agrcola). Logo, foi considerada apenas a influncia do

    custo operacional efetivo, ou seja, o custo de manuteno do sistema de

    irrigao e o custo da energia consumida no bombeamento de cada tratamento

    para o clculo do preo do fator gua.

    Desta forma, o custo operacional efetivo foi calculado somando-se o

    custo de manuteno e operao do sistema e o custo da energia consumida no

    bombeamento referente ao tratamento W3; assim, chegou-se ao valor de R$

    121,72.ha-1.ciclo da cultura-1.

    O custo de R$ 0,67 mm-1.ha-1 de gua aplicada foi calculado, dividindo-

    se o custo operacional efetivo pela lmina total aplicada ao tratamento W3,

    tomado como referencial para esta anlise econmica.

    Sob a hiptese de que L(W) tem um mximo e que a gua o nico

    fator varivel tem-se a expresso 9:

  • 38

    0wPwy

    yPwL(w) =

    =

    (9)

    em que:

    y.Pwy

    = valor da produtividade fsica marginal do fator gua (w);

    wy

    = produtividade fsica marginal do fator gua (w).

    A produtividade fsica marginal (PFMa) do fator varivel o aumento

    no produto fsico total decorrente do emprego de uma unidade adicional do fator

    varivel. Graficamente, o PFMa representa a declividade do produto total ou da

    funo de produo em um determinado nvel do fator varivel e o indicador

    das eficincias tcnica e econmica do experimento.

    Da expresso (9), obtm-se o indicador de eficincia econmica,

    conforme a expresso 10.

    yP

    Pwy w=

    (10)

    A expresso (10) mostra que o lucro se maximiza (considerando a gua

    como nico fator varivel) se a derivada primeira da produtividade em relao

    lmina total de gua (produto fsico marginal da gua) for igual relao entre

    os preos do fator e da alface.

    Portanto, da Equao 6, obtm-se a Equao 11:

  • 39

    yPwP2.c.wb

    wy ==

    (11)

    Da Equao 11, obteve-se a lmina de irrigao tima econmica para

    as condies desse trabalho, considerando como fator varivel o total de lmina

    de gua aplicada com os demais insumos utilizados no experimento constantes.

  • 40

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Resultados gerais do experimento

    4.1.1 Parmetros climticos na casa de vegetao

    Para caracterizao das condies climticas do interior da casa de

    vegetao durante a conduo do experimento foram confeccionados grficos

    com dados relativos temperatura e umidade relativa mxima, mdia e

    mnima do ar, apresentados nas Figuras 5 e 6, respectivamente.

    Observa-se na Figura 5 que, a mdia das temperaturas mdias ocorrida

    no interior da casa de vegetao foi 20,3 C, as mximas variaram entre 21,7 C

    e 31,7C e as mnimas ficaram entre 7,8 a 18,9 C.

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    8 13 18 23 28 33 38 43 48 53

    Dias aps transplanstio

    Tem

    pera

    tura

    (C

    )

    Temp. Mx. Temp. Md. Temp.Mn.

    FIGURA 5 Temperatura (0C) mnima, mdia e mxima do ar ocorrida no interior da casa de vegetao. UFLA, Lavras, MG, 2008.

  • 41

    102030405060708090

    100

    8 13 18 23 28 33 38 43 48 53

    Dias aps transplantio

    Um

    idad

    e re

    lativ

    a (%

    )

    UR Mx. UR Md. UR Mn

    FIGURA 6 Umidade relativa (%) mnima, mdia e mxima ocorrida no interior da casa de vegetao. UFLA, Lavras, MG, 2008.

    A mdia das umidades relativas mdias do ar mensurada na estao foi

    67,2 %, sendo que a umidade relativa mxima variou entre 78 e 95% e a mnima

    variou entre 25 e 66% (Figura 6).

    A temperatura do ar favorvel ao crescimento da alface fica em torno de

    30oC e a mnima situa-se em torno de 6oC, para a maioria das cultivares,

    enquanto a umidade relativa do ar mais adequada ao bom desenvolvimento da

    alface varia de 60% a 80% (Cermeo, 1990; Sganzerla, 1995). Verificou-se,

    nesse estudo, que a mdia da temperatura e da umidade relativa do ar se

    encontram dentro da faixa tima recomendada pelos autores citados.

    Na ltima semana do perodo experimental houve a incidncia de focos

    localizados do fungo denominado odio (Oidium spp.), que tem sua ocorrncia

    facilitada por temperaturas amenas em conjunto com baixos ndices de umidade

    relativa do ar. No entanto, no foi realizado o controle do mesmo, em virtude do

    baixo ndice de incidncia, demonstrando no comprometimento nos resultados

    das variveis analisadas.

  • 42

    A evaporao do minitanque, coletada diariamente entre as 8 e 9

    horas durante o perodo de conduo do experimento e aplicao dos

    tratamentos, est apresentada na Figura 7. A evaporao mxima diria foi de

    5,02 mm, a mnima de 1,09 mm e a mdia resultou em 3,10 mm. Verifica-se

    que no perodo de 23 a 26 DAT os valores da EV foram reduzidos devido a

    uma queda na temperatura e um aumento na umidade relativa do ar ( Figura 5

    e 6).

    0,00,51,01,52,02,53,03,54,04,55,05,5

    4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52

    Dias aps transplantio (DAT)

    Evap

    ora

    o m

    inita

    nque

    (mm

    )

    FIGURA 7 Evaporao diria do minitanque, ocorrida no interior da casa de

    vegetao. UFLA, Lavras, MG, 2008.

    4.1.2 Avaliao do sistema de irrigao

    Como os gotejadores tinham uma faixa de compensao de vazo

    compreendida entre as presses de 60 a 410 kPa, procurou-se manter a presso

    de funcionamento no final das linhas laterais prxima a 180 kPa, por meio de

    uma vlvula reguladora de presso instalada no cabeal de controle.

  • 43

    As parcelas correspondentes aos tratamentos de W1 e W3 foram

    submetidas ao teste de uniformidade de vazo. A vazo mdia dos gotejadores

    foi de 1,73 L.h-1, um pouco acima do valor indicado pelo fabricante (1,6 L.h-1).

    O coeficiente de uniformidade de distribuio de gua encontrado foi de

    98,13%, significando que a gua foi uniformemente distribuda nas parcelas em

    qualquer nvel de irrigao, no se constituindo em uma fonte de variao

    adicional no ensaio, alm da prevista pela aplicao dos diferentes coeficientes

    de evaporao atribudos aos tratamentos.

    Calculou-se tambm o coeficiente de variao total de vazo (CVt), que

    foi de 0,0184, confirmando a boa uniformidade de vazo nos tratamentos. O CVt

    um dos parmetros usados para diagnosticar problemas provenientes de um

    projeto inadequado, falta de reguladores de presso ou mesmo desajuste dos

    mesmos (Cabello, 1996).

    4.1.3 Lminas de irrigao e tenso de gua no solo

    Com o objetivo de uniformizar o estabelecimento da cultura foram

    realizadas irrigaes dirias, por meio de um sistema de microasperso, at 4

    dias aps transplantio (DAT), totalizando 24 mm de lmina aplicada em cada

    tratamento. Para a anlise estatstica das caractersticas fsicas e produtivas da

    alface americana foi considerada a soma das irrigaes feitas antes e aps o

    incio dos tratamentos.

    Os valores acumulados das lminas aplicadas aps a diferenciao dos

    tratamentos encontram-se na Figura 8 obtidos a partir da adoo dos

    coeficientes 0,30 (W1), 0,60 (W2), 0,90 (W3), 1,20 (W4) e 1,50 (W5) sobre a

    evaporao do minitanque (EVm). Observa-se na fase inicial do experimento

    uma pequena diferenciao entre as lminas de irrigao. Essa diferena foi

    acentuando-se durante o experimento e, no final do ciclo da cultura, aos 52

    DAT, as lminas de irrigao aplicadas aps a diferenciao foram de 50,5;

  • 44

    104,6; 157; 209,4 e 261,7 mm nos tratamentos W1, W2, W3, W4 e W5,

    respectivamente. A lmina aplicada no tratamento W5 foi cinco vezes

    superior lmina aplicada no tratamento W1, evidenciando ter ocorrido uma

    ampla variao no teor de gua no solo para o desenvolvimento da alface.

    0

    40

    80

    120

    160

    200

    240

    280

    4 10 16 22 28 34 40 46 52Dias aps transplante (DAT)

    Lm

    ina

    acum

    ulad

    a (m

    m)

    30% 60% 90% 120% 150%

    FIGURA 8 Lmina de irrigao acumulada aplicada nos tratamentos W1, W2, W3, W4 e W5 ao longo do ciclo da cultura. UFLA, Lavras, MG, 2008.

    Para a anlise estatstica das caractersticas fsicas e produtivas da

    alface americana foi considerada a soma das irrigaes feitas antes e aps o

    incio dos tratamentos, denominada de lmina total, conforme Tabela 2.

  • 45

    TABELA 2 Valores de lminas de gua aplicadas (mm) nos tratamentos ao longo do ciclo da cultura da alface americana. UFLA, Lavras, MG, 2008.

    Lmina Bruta Aplicada (mm) Tratamentos Dia da Irrigao

    0,30 (W1)

    0,60 (W2)

    0,90 (W3)

    1,20 (W4)

    1,50 (W5)

    15/abr 1,66 3,49 5,23 6,97 8,72 17/abr 3,04 6,24 9,36 12,48 15,60 19/abr 2,36 4,89 7,34 9,78 12,23 21/abr 2,10 4,37 6,56 8,75 10,93 23/abr 1,64 3,43 5,15 6,87 8,58 25/abr 2,71 5,57 8,36 11,15 13,93 27/abr 2,48 5,12 7,68 10,24 12,80 29/abr 3,18 6,52 9,78 13,04 16,30 1/mai 2,64 5,44 8,16 10,88 13,60 3/mai 1,16 2,48 3,72 4,96 6,20 5/mai 1,51 3,18 4,77 6,36 7,95 7/mai 2,61 5,37 8,06 10,75 13,43 9/mai 2,01 4,17 6,26 8,35 10,43

    11/mai 2,35 4,87 7,30 9,73 12,17 13/mai 1,75 3,67 5,50 7,33 9,17 15/mai 1,72 3,60 5,40 7,20 9,00 17/mai 2,07 4,29 6,44 8,59 10,73 19/mai 1,63 3,42 5,13 6,84 8,55 21/mai 2,77 5,70 8,55 11,40 14,25 23/mai 2,17 4,53 6,80 9,07 11,33 25/mai 1,96 4,07 6,11 8,15 10,18 27/mai 2,68 5,51 8,27 11,03 13,78 29/mai 2,28 4,72 7,08 9,47 11,80

    Sub-total 50,53 104,63 157,02 209,37 261,67 Lmina mdia 2,20 4,55 6,83 9,10 11,38 Tempo mdio de irrigao (h) 0,22 0,47 0,70 0,93 1,16 Lmina inicial 24,00 24,00 24,00 24,00 24,00 Lmina total 74,53 128,63 181,02 233,37 285,67

  • 46

    Os dados referentes ao monitoramento da umidade do solo

    encontram-se na Tabela 3, contendo os valores mnimos, mximos e mdios

    de tenses de gua no solo para cada tratamento durante o perodo

    experimental, nas diferentes profundidades de instalao dos sensores de

    umidade do solo. As leituras foram realizadas momentos antes de se iniciar

    as irrigaes.

    TABELA 3 Valores mnimos, mximos e mdios da tenso (kPa) de gua no solo em funo dos nveis de irrigao. UFLA, Lavras MG, 2008.

    Mnimo Mximo Mdio Tratamento Prof. (m) (kPa) (kPa) (kPa) 0,125 21,0 116,0 42,9 0,30 (W1) 0,25 13,0 114,0 35,5 0,125 11,0 43,0 21,8 0,60 (W2) 0,25 12,0 36,0 23,6 0,125 6,8 35,8 13,2 0,90 (W3) 0,25 5,5 23,5 11,4 0,125 5,8 16,8 10,6 1,20 (W4) 0,25 4,5 14,5 8,9 0,125 5,8 15,8 9,7 1,50 (W5) 0,25 4,5 13,5 8,3

    Observa-se na Tabela 3, que os valores das tenses no tratamento W1

    mantiveram-se acima dos limites adequados para a maioria das hortalias,

    conforme vrios autores citados por Pires et al. (2001). De um modo geral, os

    tratamentos W3 e W4, as tenses mdias permaneceram entre 13,2 e 10,6 kPa,

    sendo este intervalo abaixo do considerado timo por Santos (2002), que obteve

    maior produtividade da alface americana realizando o manejo da irrigao com a

    tenso de 15 kPa na profundidade de 0,15 m.

    Devido demanda crescente de gua pela cultura nos diferentes

    estgios fenolgicos da planta, as mdias das tenses dos tratamentos

    aumentaram ao longo do experimento provavelmente, apresentado dficit

  • 47

    hdrico no solo crescente nos tratamentos W1 e W2, justificando pelo

    aumento do consumo de gua em virtude do aumento da rea foliar durante a

    conduo do perodo experimental.

    Nota-se que o nvel de irrigao de W4 e W5 a tenso mnima

    ocorrida foi de 5,8 kPa, indicando que a umidade do solo ficou abaixo do teor

    correspondente capacidade de campo, resultando provavelmente numa

    diminuio do arejamento do solo e lixiviao de nutrientes, prejudicando a

    produo da alface, conforme ser visto mais adiante.

    Observa-se que as tenses mdias dos tratamentos W2, W3 e W4

    encontraram-se dentro da faixa limite compreendida entre 10 e 30 kPa, esta

    considerada tima segundo Silva & Marouelli (1998).

    No entanto, a anlise posterior dos parmetros vegetativos e

    produtivos da alface, em funo da aplicao de diferentes lminas de gua,

    permitir definir qual o valor adequado da tenso de gua no solo.

    4.2 Avaliao da massa fresca total e comercial

    De acordo com a anlise de varincia, as lminas de irrigao

    empregadas no experimento exerceram influncia na massa fresca total (MFT) e

    massa fresca da cabea comercial (MFCC), pelo teste F, a 5% e 1% de

    probabilidade, respectivamente (Tabela 4). Observa-se ainda que, para as

    variveis em estudo, o DBC, a 5% de probabilidade, no foi significativo, no

    justificando, portanto, o controle local, devido rea experimental apresentar

    um grau satisfatrio de homogeneidade; logo, o delineamento neste caso poderia

    ser o inteiramente casualizado.

    TABELA 4 Resumo das anlises de varincia e de regresso para massa

    fresca total (MFT) e da cabea comercial (MFCC), em funo de lminas de irrigao. UFLA, Lavras, MG, 2008.

  • 48

    Q.M. Fonte de Variao G.L.

    MFT MFCC Lmina 4 49844,33 * 26020,8 ** Bloco 3 3766,69 ns 3687,56 ns

    Resduo 12 10638,20 3413,62 Mdia - 726,53 375,51

    C.V. (%) - 14,20 15,56 Linear 1 67648,14 * 33457,68 **

    Quadrtica 1 120400,43 ** 57768,79 ** Desvios 2 5664,37 ns 6428,37 ns Resduo 12 10638,20 3413,62

    Em que: ns no significativo pelo teste F, * e ** significativos a 5 e 1% de probabilidade pelo teste F, respectivamente.

    Observa-se, na Figura 9, que as variveis em estudo foram influenciadas

    pelas lminas de gua repostas ao solo.

    Os resultados da anlise de varincia para massa fresca total e comercial

    mostraram que estas caractersticas podem ser explicadas por uma regresso

    linear simples ou quadrtica, com nvel de significncia de 5%, tendo a segunda

    opo apresentado maior coeficiente de determinao (R2), como pode ser visto

    na Figura 9. Esse efeito quadrtico indica haver um acrscimo na massa fresca

    total e comercial, medida que se aumentaram as lminas de irrigao at os

    valores de 203,6 mm e 204,0 mm, correspondente a 101,2% e 101,4% de

    reposio de gua ao solo, respectivamente. Sendo os valores mdios

    encontrados de 726,53 g e 375,51 g para a massa fresca total e comercial,

    respectivamente.

  • 49

    MFT = -0,0166x2 + 6,7612x + 139,27R2 = 0,9432

    MFCC = -0,0115x2 + 4,6915x - 32,77R2 = 0,8765

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    60 100 140 180 220 260 300

    Lmina de irrigao (mm)

    Mas

    sa F

    resc

    a (g

    )

    .

    FIGURA 9 Valores mdios, observados e estimados, de massa fresca total

    (MFT) e massa fresca da cabea comercial (MFCC) de alface americana, em funo das lminas de irrigao. UFLA, Lavras, MG, 2008.

    Esses resultados apresentam certa aproximao com os obtidos por

    Andrade Jnior & Klar (1997) que, estudando o efeito de quatro nveis de

    irrigao, baseado na evaporao do Tanque Classe A (ECA) (0,25; 0,50; 0,75; e

    1,00), utilizando irrigao por gotejamento na cultura da alface tipo americana,

    obtiveram valor mximo para massa fresca por planta de 818,7 g, com o nvel de

    irrigao correspondente a 75% da ECA.

    Da mesma forma, Hamada (1993) observou comportamento quadrtico

    semelhante, testando o efeito de quatro lminas, 60, 80, 100 e 120 % da

    evaporao diria, obtida do tanque Classe A na cult