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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA INGRID LOPES BARBOSA Desenvolvimento de métodos de análise de drogas de abuso em dried urine spots (DUS) por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas sequencial (LCMS/MS) CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

INGRID LOPES BARBOSA

Desenvolvimento de métodos de análise de drogas de abuso em dried urine

spots (DUS) por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas

sequencial (LC–MS/MS)

CAMPINAS

2018

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INGRID LOPES BARBOSA

Desenvolvimento de métodos de análise de drogas de abuso em dried urine

spots (DUS) por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas

sequencial (LC–MS/MS)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de

Química da Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título

de Mestra em Química na área de Química Analítica

Orientador: Prof. Dr. Marcos Nogueira Eberlin

Co-Orientador: Prof. Dr. José Luiz da Costa

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA

PELA ALUNA INGRID LOPES BARBOSA, ORIENTADA PELO PROF. DR. MARCOS

NOGUEIRA EBERLIN.

CAMPINAS

2018

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Ficha catalográfica

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BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Marcos Nogueira Eberlin (Orientador)

Profa. Dra. Carla Beatriz Grespan Bottoli (IQ-UNICAMP)

Prof. Dr. Paulo César Pires Rosa (FCF-UNICAMP)

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do(a) aluno(a).

Este exemplar corresponde à redação final da

Dissertação de Mestrado defendida pela aluna

INGRID LOPES BARBOSA, aprovada pela

Comissão Julgadora em 22 de fevereiro de 2018.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu

irmão e melhor amigo Teddi por todo

apoio e por sempre acreditar em mim

mesmo quando eu não consigo.

À minha mãe, Mônica, por ser o

meu exemplo de mulher guerreira e ao

meu pai, Walter, por ter despertado em

mim o amor pelas ciências exatas.

Ao meu namorado, Felipe, por

ser tão compreensivo, paciente e

companheiro.

Amo vocês !

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AGRADECIMENTOS

Agradeço...

... A Deus pela oportunidade de obter e gerar conhecimento, contribuindo

para a sociedade.

... À minha família por sempre estar presente, mesmo com mais de 500 km de

distância, especialmente minha avó Lilia pelo seu amor infinito.

...Ao meu namorado, Felipe e à sua família, que sempre torceu por mim e me

recebeu de braços abertos. Cristina, Paula, Laura e Ilva: muito obrigada!

... Aos meus orientadores Profs. Drs. Marcos e José Luiz pela

oportunidade de trabalhar em seus grupos de pesquisa.

...Aos colegas de trabalho não só por compartilharem seus

conhecimentos comigo como pelos momentos de riso e de descontração. Não

poderia deixar de citar vocês: Gustavo Duarte, Thais Lino, José Paz, Fernanda

Negrão, Ana Carolina Aguiar, Pedro Vendramini, Célio Fernando, Fábio Santos,

Adriana Godoy, Danielle Rocha, Damila Morais, Kelly Cunha, Jandyson Machado,

Ildenize Cunha, Guilherme Tripodi e Mariana Baptistão.

...Às minhas ex e atuais housemates Isadora Lopes, Maria Rodrigues,

Ludmila Magalhães e Isabela Sato pelo companheirismo de sempre.

...Aos meus amigos juiz-foranos que nunca deixaram de estar do meu

lado, especialmente: Marcelo Machado, Xênia Souza, Gabriele Repossi, Jomara

Fernandes e Isabela Lacerda.

...Finalmente, à banca examinadora do exame de qualificação Profas.

Dras. Ana Valéria Colnaghi Simionatu Cantú e Carla Beatriz Grespan Bottoli pelas

críticas que levaram à construção deste trabalho e também à banca examinadora

desta defesa pela disponibilidade e estar presente e contribuir ainda mais.

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CITAÇÕES

“Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.”

(Allan Kardec)

“Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o

coração, dedicar-se a ele.”

(Siddhartha Gautama)

“Agradeço todas as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído

do lugar. As facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam

muito.”

(Chico Xavier)

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RESUMO

Para atender ao interesse jurídico da necessidade de armazenamento de amostra, a

aplicação de métodos de coleta que garantam alta estabilidade em pequenos volumes

de fluidos biológicos tem se tornado popular e tem sido explorado por laboratórios

clínicos e forenses. Uma das técnicas mais empregadas neste contexto é a dried blood

spots (DBS). De forma análoga ao sangue, é possível realizar análises toxicológicas

de drogas de abuso em urina utilizando este tipo de amostragem, que passa a ser

conhecido como dried urine spots (DUS) e, embora esta técnica ainda não tenha sido

tão difundida, ela é de notável interesse, supondo que compartilhe das mesmas

vantagens do DBS. Considerando as baixas concentrações nas quais essas drogas

são encontradas em matrizes biológicas, técnicas que possuam grande

detectabilidade e sensibilidade são necessárias. Para suprir estas necessidades, a

cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas sequencial (LC–MS/MS)

tem sido referenciada como padrão-ouro nos laboratórios de toxicologia analítica, e é

a técnica escolhida. Neste trabalho, o objetivo foi o desenvolvimento de métodos

analíticos simples de amostragem por DUS com análise por LC–MS/MS que

pudessem ser aplicados em exames de confirmação e quantificação de duas das

drogas de abuso mais utilizadas no mundo, a cocaína (COC) e o tetraidrocanabinol

(THC), e seus principais metabólitos encontrados na urina. Para preparar os cartões

de DUS, amostras de urina (20 µL) foram adicionadas em cartões Whatman 903

Protein Saver seguido por 2 horas de secagem em condições ambiente. A solução

extratora foi otimizada para cada droga separadamente, bem como o procedimento.

Para a COC e três de seus principais metabólitos – benzoilecgonina (BZE), éster

metilecgonina (EME) e cocaetileno (CET) – o método desenvolvido apresentou boa

linearidade em um intervalo de 25 a 1000 ng mL-1 (r ≥ 0,996), e as imprecisões intra e

inter-dias foram sempre inferiores a 18%, com exatidão contida no intervalo de 82-

120%. A estabilidade foi mantida por pelo menos 90 dias mesmo quando armazenada

em condições ambiente. O método desenvolvido foi aplicado na quantificação de

amostras reais com sucesso. Para o THC e seus metabólitos – 11-hidróxi-Δ9-

tetraidrocanabinol (THC-OH) e 11-nor-9-carboxi-Δ9-tetraidrocanabinol (THC-COOH) –

o desenvolvimento de metodologias que ofereçam melhor reprodutibilidade e

detectabilidade ainda são necessários, o que requer mais estudos.

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ABSTRACT

In order to attend to the juridical necessity of sample storage, the use of collection

devices which guarantees higher stability and requires small amounts of biological

fluids have become popular and explored in clinical and forensic laboratories. One of

the most applied technique in this context is the dried blood spots (DBS). Similarly to

blood, it is possible to perform toxicological analysis of drugs of abuse in urine using

the same technique, known as dried urine spots (DUS) and, although this technique

has not been explored as much, it is of notable interest supposing that they share the

same advantages as DBS. Considering the low concentrations in which these drugs

are found in the matrices, techniques that hold great detectability and sensitivity are

needed. In order to fulfill these necessities, liquid chromatography coupled to tandem

mass spectrometry (LC–MS/MS) has been heralded as “gold standard” in analytical

toxicology laboratories and is the technique of choice. In this work, the goal was to

develop simple analytical methods for DUS and LC-MS/MS that could be applied in

the confirmation and quantification of two of the most abused drugs worldwide, cocaine

(COC) and tetrahydrocannabinol (THC) and their main metabolites found in urine. To

prepare DUS cards, spiked urine samples (20 µL) were spotted onto Whatman 903

Protein Saver cards followed by 2 hours air-drying. The extraction solutions were

optimized in each case such as the procedures. For COC and three of its main

metabolites – benzoylecgonine (BZE), ecgonine methyl ester (EME) and cocaethylene

(CET) – the developed method presented good linearity from 25 to 1000 ng mL-1 (r ≥

0,996) and intra-assay and inter-assay imprecision was always inferior to 18% with

accuracy in an interval ranging from 82 to 120%. Stability was maintained in up to 90

days even when kept under ambient conditions. The developed method was

successfully applied in the quantification of real case samples. For THC and its

metabolites - 11-Hydroxy-Δ9-tetrahydrocannabinol (THC-OH) and 11-Nor-9-carboxy-

Δ⁹-tetrahydrocannabinol (THC-COOH) – methodologies that offer greater

reproducibility are still needed and further studies are required.

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Lista de Figuras

Figura 1. Relação do número de publicações contendo o termo “dried blood spots” no

texto entre 2007 e até fevereiro de 2018. .................................................................. 22

Figura 2. Relação do número de publicações contendo o termo “dried blood spots” no

texto entre 2007 e até fevereiro de 2018. .................................................................. 23

Figura 3. Classificação da cromatografia pelas formas físicas das fases móveis e

estacionárias (adaptado, [27]). .................................................................................. 24

Figura 4. Representação esquemática dos componentes básicos de um cromatógrafo

líquido de alta eficiência (adaptado, [28]). ................................................................. 26

Figura 5. Representação esquemática dos componentes básicos de um

espectrômetro de massas (adaptado, [30]). .............................................................. 26

Figura 6. Faixas de aplicação das técnicas de ionização utilizadas em associação

com a cromatografia líquida de alta eficiência (adaptado, [34]). ............................... 27

Figura 7. Principais formas de apresentação da cocaína (a) cloridrato de cocaína (b)

crack, base livre preparada por alcalinização do cloridrato. ...................................... 30

Figura 8. Principais vias de biotransformação da cocaína quando administrada em

humanos. As estruturas moleculares representadas correspondem a (a)

benzoilecgonina (BZE), (b) éster metilecgonina (EME) e (c) cocaetileno (CET). ...... 31

Figura 9. Estrutura molecular dos principais componentes da cannabis: (a) THC (b)

CBN e (c) CBD. ......................................................................................................... 33

Figura 10. Principal via de biotransformação do Δ9-THC (a), gerando inicialmente os

metabólitos de fase I (b) 11-OH-THC e (c) THC-COOH por reações de oxidação e

posteriormente o metabólito de fase II (c) THC-COOH-gluc através da glicuronidação.

.................................................................................................................................. 34

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Figura 11. Representação esquemática do preparo das amostras de DUS em papel

Whatman® 903 Protein saver card, próprio para receber matrizes biológicas. ......... 39

Figura 12. Superfície de resposta da desejabilidade para um planejamento

experimental do tipo simplex centroide, onde a predição aponta para o valor de ótimo

global. ........................................................................................................................ 48

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Parâmetros de gradiente da fase móvel para separação da cocaína e seus

metabólitos por LC-MS. ............................................................................................. 41

Tabela 2. Parâmetros obtidos para os MRM no modo positivo (ESI-(+)) por LC-

MS/MS: Íon precursor selecionado (Q1), íons produto (Q3) voltagens das transições

para os analitos e padrão interno. ............................................................................. 42

Tabela 3. Gradientes da fase móvel para separação do THC e seus metabólitos por

LC-MS. ...................................................................................................................... 43

Tabela 4. Valores de condições da fonte operando nos modos de eletrospray positivo

(ESI-(+)) e negativo (ESI-(-)). .................................................................................... 43

Tabela 5. Parâmetros MRM operando no (a) modo positivo (ESI-(+)) e (b) modo

negativo (ESI-(-)) de aquisição. ................................................................................. 44

Tabela 6. Valores de coeficientes das regressões lineares e seus intervalos de

confiança (n=5, 95%) onde a representa a inclinação da curva, b o intercepto com o

eixo y e r o coeficiente de correlação. ....................................................................... 51

Tabela 7. Valores de concentração, imprecisão (C.V.) e exatidão (bias) para o LQ do

método. ..................................................................................................................... 52

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Lista de Abreviaturas e Siglas

ACN Acetonitrila

AE Acetato de Etila

APCI Ionização Química à Pressão Atmosférica

APPI Fotoionização à Pressão Atmosférica

BZE Benzoilecgonina

CA Controle Alto

CB Controle Baixo

CM Controle Médio

CET Cocaetileno

CID Dissociação Induzida por Colisão

COC Cocaína

COC-d3 Cocaína deuterada

DBS Dried Blood Spots

DCM Diclorometano

DMS Dried Matrix Spots

DUS Dried Urine Spots

EME Éster Metilecgonina

ESI Ionização por Electrospray

FT-ICR Ressonância Ciclotrônica de Íons por Transformada de

Fourier

GC Cromatografia Gasosa

GC-MS Cromatografia Gasosa acoplada à Espectrometria de

Massas

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HEX Hexano

HPLC Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

HPLC-MS Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada à

Espectrometria de Massas

m/z Razão massa/carga

LD Limite de Detecção

LQ Limite de Quantificação

MeOH Metanol

MS Espectrometria de Massas

MS/MS Espectrometria de Massas Sequencial

MTBE Éter metil terc-butílico

QqQ Triplo Quadrupolo

QTOF Quadrupolo-Tempo de Vôo

QTrap Quadrupolo-Armadilha de íons

THC Tetraidrocanabinol

Δ9-THC Delta-9-tetraidrocanabinol

Δ9-THC-d3 Delta-9-Tetraidrocanabinol deuterado

THC Tetraidrocanabinol

THC-d3 Tetraidrocanabinol deuterado

THC-COOH 11-nor-9-carboxi-delta-9-tetraidrocanabinol

THC-COOH-d3 11-nor-9-carboxi-delta-9-tetraidrocanabinol deuterado

THC-COOH-gluc 11-nor-9-carboxi-delta-9-tetraidrocanabinol conjugado

com ácido glicurônico

THC-OH 11-hidróxi-tetraidrocanabinol

TLC Cromatografia em Camada Delgada

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Trap Armadilha de íons

TOF Tempo de Vôo

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Sumário

1. Introdução ..................................................................................... 18

1.1. As Ciências Forenses ................................................................................ 18

1.2. Dried Urine Spots (DUS) ............................................................................ 21

1.3. Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas (HPLC-

MS) aplicado à Química Forense ........................................................................ 24

1.4. Drogas de abuso ........................................................................................ 29

1.4.1. Cocaína .......................................................................................................... 29

1.4.2. THC ................................................................................................................ 33

2. Objetivos ....................................................................................... 36

3. Materiais e Métodos ...................................................................... 37

3.1. Materiais ...................................................................................................... 37

3.1.1. Materiais e solventes .......................................................................................... 37

3.1.2. Padrão referência de cocaína e metabólitos ....................................................... 37

3.1.3. Padrão referência de THC e metabólitos ............................................................ 37

3.1.4. Equipamentos e acessórios ................................................................................ 38

3.1.5 Amostras Positivas .............................................................................................. 38

3.2. Metodologia ................................................................................................... 39

3.2.1. Cocaína .............................................................................................................. 39

3.2.2. THC .................................................................................................................... 40

3.3. Aquisição de Dados ...................................................................................... 41

3.3.1. Cocaína .............................................................................................................. 41

3.3.2. THC .................................................................................................................... 42

3.4. Processamento de dados ............................................................................. 44

3.4.1. Cocaína .............................................................................................................. 44

3.4.2. THC .................................................................................................................... 44

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3.5. Validação do Método .................................................................................... 45

3.5.1. Cocaína .............................................................................................................. 45

3.6. Aplicação em amostras reais ....................................................................... 47

3.6.1. Cocaína .............................................................................................................. 47

4. Resultados e discussões ............................................................. 48

4.1. Cocaína .......................................................................................................... 48

4.1.1. Otimização Experimental .................................................................................... 48

4.1.2. Validação da metodologia ................................................................................... 50

4.1.3. Aplicação ............................................................................................................ 60

4.2. THC ................................................................................................................. 62

5. Conclusões ................................................................................... 67

6. Referências ................................................................................... 69

7. Anexos ........................................................................................... 75

Anexo 1. Parecer do comitê de ética. ................................................................. 75

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18

1. Introdução

1.1. As Ciências Forenses

Do ponto de vista histórico, considera-se que foi em meados do século XIX, após

um grande desenvolvimento das ciências básicas como a química, a toxicologia, a

biologia, a física e a medicina que surgiram também os estudos acerca das ciências

forenses. Nesta época, o juiz Hans Gross (1874-1915) foi um dos primeiros estudiosos

a perceber a importância e aplicabilidade que os conhecimentos científicos adquiridos

poderiam ter na resolução dos crimes e ficou conhecido como fundador da

criminalística e da criminologia. A partir de então, a investigação de evidências em

quantidades traço e mortes suspeitas, antes analisadas de forma subjetiva, ganharam

grande destaque [1].

Em janeiro de 1910, Edmond Locard (1877-1966) foi o responsável pela criação

do primeiro laboratório científico da polícia no mundo, o Laboratório de Polícia Técnica

de Lyon, localizado em Lyon, na França. Além disto, Locard foi o responsável pela

criação de um dos princípios fundamentais das ciências forenses: todo contato deixa

um vestígio (Princípio da troca). Em 1918, este estudioso publicou o Tratado de

Criminalística, uma série de livros de sete volumes produzidos manualmente. Ele

continuou seus trabalhos e pesquisas até sua morte [2].

A criminalística tem como objetivo principal o reconhecimento e interpretação de

indícios materiais extrínsecos, relativos ao crime ou à identidade do criminoso. A

investigação criminal inicia-se pelo exame do local do crime, com a coleta dos

vestígios, os quais, caso confirmados possuírem relação com o fato delituoso, tornam-

se indícios. Deste modo, a química forense é uma importante ferramenta aliada da

criminalística, uma vez que esta ciência irá se utilizar de análises inorgânicas e

orgânicas ou toxicológicas de forma a caracterizar as evidências de um crime [3].

As análises inorgânicas e orgânicas clássicas envolvem a apreciação de vestígios

como resíduos de pólvora (GSR, do inglês, Gun Shot Residues – resíduos de disparo

de armas de fogo); traços de tintas; fibras; exames metalográficos; de drogas de abuso

e outras substâncias orgânicas in natura; vidros e cerâmicas; explosivos e resíduos

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de incêndio, entre os mais variados tipos de materiais. Por sua vez, as análises

toxicológicas visam isolar, identificar e, sempre que necessário, quantificar álcool,

drogas e seus metabólitos, praguicidas e outras substâncias em matrizes biológicas

[2].

Para que as análises toxicológicas sejam realizadas de forma inequívoca, a

escolha do material biológico a ser analisado e a metodologia a ser empregada devem

ser feitas através de conhecimentos científicos da droga em si, tais como sua origem

e mecanismos de ação. Sendo assim, faz-se necessário reconhecer primeiramente

três elementos: a existência de uma substância química (agente), os efeitos que as

drogas terão nas células ou organismo vivos que influenciarão as funções corporais

por meio de mudanças bioquímicas nos fluidos e tecidos (toxicodinâmica), e a forma

com que o organismo irá absorver, distribuir, biotransformar e eliminar esta droga

(toxicocinética) [4].

Os principais fluidos biológicos utilizados na rotina laboratorial são sangue (ou

seus derivados soro e plasma) e urina. Porém, existem diversas outras matrizes

biológicas que podem ser utilizadas em análises toxicológicas como: saliva, bile,

humor vítreo, líquido cefalorraquidiano, conteúdo gástrico e cabelo. Apesar de o

sangue representar um dos fluidos mais importantes nessas análises, uma vez que

existem diversas metodologias bem estabelecidas com grande quantidade de dados

e informações encontrados na literatura, sua janela de detecção, ou seja, o tempo no

qual é possível detectar laboratorialmente drogas em uma amostra é curto.

Geralmente, em casos onde se deseja uma janela de detecção um pouco maior, em

escala de dias, amostras de urina podem ser usadas no lugar do sangue, onde

geralmente os metabólitos, substâncias produzidas no organismo através da

biotransformação da droga, serão detectados. Além disto, quando as análises se

objetivam a avaliar o uso após alguns meses ou o uso contínuo, o cabelo é a matriz

mais empregada, e fornece uma estimativa do tempo em que esta substância foi

utilizada [5].

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Primeiramente, essas amostras passam por uma triagem, ou seja, exames não

específicos cujo objetivo é excluir grupos e indicar uma possível substância. Como

exemplo de exames de triagem pode-se citar os imunoensaios. Dentro dos

laboratórios, estas amostras seguirão para testes de confirmação e quantificação, que

serão feitos utilizando instrumentos analíticos de maior especificidade e sensibilidade,

como cromatografia gasosa ou cromatografia líquida de alta eficiência acoplados à

espectrometria de massas. É importante também ressaltar que, para que estes

resultados tenham validade do ponto de vista judicial, é importante que a cadeia de

custódia seja mantida através da documentação de cada etapa pela qual ela for

submetida, tornando possível o rastreamento da posse e manuseio, evitando

questionamentos sobre a validade do material analisado [6].

Posteriormente à seleção da amostra a ser coletada, o acondicionamento e

preservação dos indícios de forma correta é de fundamental importância para a

perícia, sobretudo quando se trata de vestígios que serão posteriormente analisados

em laboratório, assegurando resultados que representem de fato o material coletado

no local do crime. Portanto, recipientes especiais e específicos devidamente

etiquetados e identificados são utilizados na coleta dos vestígios. Além disto,

conforme preconiza o Artigo 170 do Código de Processo Penal (CPP, Decreto-lei nº

3.689, de 3 de outubro de 1941): Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão

material suficiente para a eventualidade de nova perícia [7]. Desta forma, para cada

amostra submetida à análise em laboratórios forenses, uma parte deverá ser

armazenada até o fim do processo judicial, visando garantir o direito de ampla defesa,

onde ao acusado é reservado o direito de contestar a prova, caso se mostre

pertinente.

No caso da urina, a coleta é feita geralmente em tubos de plástico e as amostras

são encaminhadas para a análise logo em seguida. Quando os procedimentos

laboratoriais não podem ser realizados imediatamente ou há necessidade de

armazenamento da amostra, o ideal é que sejam estocadas em geladeira em

temperaturas de 2 a 8 ºC, por até 7 dias, ou em congelador (-20 ºC ou menos) quando

mais tempo for necessário. Contudo, nas análises toxicológicas de rotina, a guarda do

material coletado frequentemente é dificultada, ou até mesmo inviável, uma vez que

a quantidade de amostra disponível nem sempre é suficiente para que as análises

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possam ser realizadas mais de uma vez, e muitas substâncias tóxicas e/ou seus

produtos de biotransformação são instáveis nos fluidos biológicos [8]. Diversos

estudos reportam a estabilidade de diferentes drogas em diferentes matrizes

biológicas [9-13], através dos quais é possível notar que perda de analito ocorre, mais

frequentemente, por fenômenos químicos como reações de hidrólise e oxidação ou

ainda por fenômenos físicos como volatilização e precipitação. Além disso, alguns

analitos possuem, ainda, tendência a aderir à superfície plástica ou de vidro do

recipiente de acondicionamento dependendo de suas propriedades físico-químicas

[14,15]. De maneira geral, a estabilidade é dependente principalmente de três fatores:

temperatura, onde amostras armazenadas sob refrigeração tendem a ser muito mais

estáveis do que em temperatura ambiente; pH do meio; e tipo de matriz biológica.

Porém, mesmo quando armazenadas em condições otimizadas, nem sempre a

estabilidade é suficiente para que a amostra seja confiável até o fim do processo

judicial. Além disto, os métodos convencionais de análise empregados rotineiramente

nos laboratórios forenses se utilizam de volumes muito grandes, na escala de

mililitros, de amostras. Sendo assim, a aplicação de novos métodos de coleta de

material e amostragem que se utilizam de amostras na escala de microlitros são de

grande interesse.

1.2. Dried Urine Spots (DUS)

A técnica de amostragem de sangue seco em papel, denominada dried blood spots

(DBS), é amplamente reconhecida e utilizada em casos clínicos desde a década de

1960 [16]. Embora sua principal aplicação seja o monitoramento de distúrbios

metabólicos hereditários em recém-nascidos, nos últimos anos tem recebido cada vez

mais atenção, levando ao desenvolvimento de diversas técnicas com aplicação em

diferentes campos de estudo [17-19]. A amostragem consiste em, através de uma

punção no dedo, recolher uma gota de sangue capilar em um papel coletor, próprio

para receber a amostra que, após secagem em condições ambientes, é armazenada

até que as análises possam ser realizadas.

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22

A Figura 1 retrata que há um número crescente de trabalhos envolvendo esta

técnica nos últimos 10 anos, segundo os bancos de dados SciFinder e Scopus, para

artigos científicos completos publicados em periódicos. Inclusive, ao comparar uma

busca realizada em até fevereiro de 2018 com o ano de 2008 em sua totalidade, o

número de trabalhos é similar. O grande interesse acerca deste tipo de amostragem

está relacionado às suas inúmeras vantagens, como o uso de volumes de amostra

muito baixos, em escala de microlitros, maior estabilidade dos analitos e facilidade de

armazenamento e transporte. A maior estabilidade fornecida se deve ao processo de

secagem da matriz, o qual inibe as reações de hidrólise química e enzimática,

assegurando maior estabilidade mesmo quando armazenadas em condições de

temperatura ambiente. Além disto, há inativação de enzimas e patógenos, o que torna

a manipulação mais segura para o analista [20].

Figura 1. Relação do número de publicações contendo o termo “dried blood spots” no texto

entre 2007 e até fevereiro de 2018.

De forma análoga ao DBS, é possível a realização de análises toxicológicas de

drogas de abuso em outras matrizes, como urina (dried urine spots, DUS) [21,22],

plasma (dried plasma spots, DPS) [23], soro do sangue (dried serum spots, DSS) e

líquido cefalorraquidiano (dried cerebrospinal spots, DCSF) [24]. Entre estas, destaca-

se a técnica de DUS, uma vez que, depois do sangue, esta matriz é a mais empregada

rotineiramente nos laboratórios de toxicologia clínica e forense, uma vez que a janela

de detecção da droga, principalmente na forma de metabólitos, é bem maior que no

sangue, fazendo com que esta possa ser encontrada dias após a sua ingestão,

enquanto o corpo ainda está eliminando esta substância.

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23

Portanto, supondo que compartilhe as vantagens inerentes ao DBS, o

desenvolvimento de técnicas de preparo e de análises para DUS tornam-se de grande

interesse. Porém, esta é uma alternativa bem menos explorada até então, e, por ser

uma técnica menos desenvolvida, ainda não foi introduzida para uso rotineiro. Na

Figura 2, tem-se uma relação do número de trabalhos envolvendo esta técnica nos

últimos 10 anos em até fevereiro de 2018, onde é possível notar que o número de

publicações acerca desta técnica ainda permanece bastante escasso.

Figura 2. Relação do número de publicações contendo o termo “dried blood spots” no texto

entre 2007 e até fevereiro de 2018.

Além das vantagens anteriormente citadas, é importante também ressaltar que

a quantidade de amostra necessária para análise é muito pequena (em escala de

microlitros), gerando menores custo de transporte e armazenamento.

Muito embora o pequeno volume de amostra seja uma vantagem, principalmente

do ponto de vista jurídico no que concerne à necessidade de armazenamento, as

principais limitações desta técnica no âmbito forense se dão devido ao fato de que

geralmente as drogas de abuso e seus metabólitos estão presentes em concentrações

muito baixas, em escalas de ng mL-1 nas matrizes biológicas. Em virtude destas baixas

concentrações e da complexidade destas matrizes, técnicas analíticas que garantam

boa detectabilidade, sensibilidade e seletividade são necessárias no desenvolvimento

de uma metodologia apropriada. Sendo assim, a cromatografia líquida acoplada à

espectrometria de massas (HPLC-MS), conhecida por ser tida como técnica padrão-

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24

ouro [25] dentro da química forense, é uma ferramenta poderosa e, por isto, técnica

de escolha na grande maioria dos casos onde as técnicas de DBS ou DUS são

aplicadas.

1.3. Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas (HPLC-

MS) aplicado à Química Forense

Segundo Lanças [26], a cromatografia pode ser definida como uma técnica de

separação na qual os componentes são distribuídos entre duas fases: uma fixa e de

grande área superficial denominada fase estacionária (FE), e outra denominada fase

móvel (FM), um fluído que percola através da fase estacionária carregando os

analitos, que terão diferentes coeficientes de distribuição entre essas duas fases.

Diversos tipos de cromatografia podem ser encontrados na literatura e estas diferem

entre si de acordo com o estado físico da FM e da FE e os diferentes tipos de interação

possíveis entre os solutos e estas fases. Existem diversas formas de classificar as

diferentes formas de cromatografia, porém, considera-se a mais importante a

classificação baseada no mecanismo de separação, que poderá se dar por processos

físicos, químicos ou mecânicos, de acordo com as formas físicas presentes nas fases

estacionárias e móveis. A Figura 3 retrata as classificações cromatográficas de acordo

com as formas físicas das fases móveis e estacionárias.

Figura 3. Classificação da cromatografia pelas formas físicas das fases móveis e estacionárias (adaptado, [27]).

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25

Entre as técnicas convencionalmente utilizadas para atender às necessidades

das ciências forenses, destaca-se a cromatografia em diferentes variações:

cromatografia em camada delgada (thin-layer chromatography, TLC), cromatografia

gasosa (gas chromatography, GC) e a cromatografia líquida de alta eficiência (high

performance liquid chromatography, HPLC). Muito embora nos laboratórios de rotina

a cromatografia gasosa seja a mais empregada devido ao seu baixo custo e pela

existência de uma biblioteca que facilita as interpretações dos resultados, o que é

importante quando se trabalha com alta demanda, a HPLC também é bastante

utilizada, principalmente para compostos não voláteis ou termicamente instáveis.

Outra classificação bastante importante baseia-se na polaridade relativa das

fases. No caso da cromatografia gasosa, a fase móvel é inerte (como os gases hélio

e nitrogênio) e a separação ocorre devido a interações das moléculas dos

componentes da amostra com a fase estacionária somente. Porém, nas

cromatografias líquidas, sejam planares ou em colunas, a polaridade de ambas as

fases é importante. Chama-se de “cromatografia líquida com fase normal” quando a

FE é mais polar do que a FM, e “cromatografia com fase reversa” quando se tem o

inverso. A utilização de uma ou outra é escolhida de acordo com a polaridade dos

analitos que se deseja separar. Em aplicações forenses nas quais são monitoradas

drogas de abuso e seus metabólitos em matrizes biológicas, a cromatografia líquida

em fase reversa é a mais comumente utilizada.

Na cromatografia líquida, a fase móvel é líquida e a fase estacionária é sólida. A

HPLC se difere da convencional por utilizar colunas recheadas com material

especialmente preparado e fase móvel pressurizada com auxílio de bombas de alta

pressão. Na Figura 4 é possível encontrar todas as unidades básicas que compõem

um sistema de HPLC.

Após separação cromatográfica na coluna, os analitos são enviados

separadamente para um detector. O uso de detectores como ultravioleta, índice de

refração, espalhamento de luz, fluorescência, ou outros, quando aliados a um

software, permitem análises quantitativas dos componentes da mistura. Contudo,

estas técnicas são bastante limitadas quanto a especificidade dos analitos, não sendo

sempre adequadas para amostras biológicas. Em laboratórios de química forense,

uma técnica confirmatória obrigatoriamente é requerida quando a identidade química,

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ou seja, a análise qualitativa dos compostos é necessária. Desta forma, a utilização

da espectrometria de massas como técnica hifenada é praticamente imprescindível,

uma vez que é a que melhor fornece as informações estruturais necessárias [29].

Figura 4. Representação esquemática dos componentes básicos de um cromatógrafo

líquido de alta eficiência (adaptado, [28]).

Um espectrômetro de massas é composto de quatro partes principais, conforme

descrito na Figura 5: um sistema de introdução de amostra, que pode ser por inserção

direta ou utilizando alguma técnica de separação; uma fonte de ionização, um

analisador de massas e um detector. Enquanto a fonte de ionização converte

moléculas em íons, o analisador de massas resolve estes íons em função da sua

relação massa/carga (m/z) antes de serem medidos pelo detector.

Figura 5. Representação esquemática dos componentes básicos de um espectrômetro de

massas (adaptado, [30]).

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27

Existem diversas opções de fontes de ionização e uma das formas de escolha

adequada é considerar o modo de introdução da amostra no sistema: fontes de

ionização para amostras já presentes em fase gasosa são diferentes daquelas que

recebem as amostras em fase líquida. Algumas opções de fonte de ionização

utilizadas com a cromatografia líquida de alta eficiência incluem a ionização por

electrospray (Electrospray Ionization, ESI) [31], ionização química à pressão

atmosférica (Atmospheric Pressure Chemical Ionization, APCI) [32] e fotoionização à

pressão atmosférica (Atmospheric Pressure Photoionization, APPI) [33]. Esta

ionização pode ser feita nos modos positivo e/ou negativo, ou seja, análise de cátions

e ânions respectivamente, de acordo com a presença de grupos funcionais presentes

na estrutura do composto a ser estudado. Na grande maioria dos trabalhos

publicados, ESI é o método de ionização de escolha mais utilizado quando aplicada a

técnica de HPLC hifenada à MS (HPLC-MS). De acordo com a Figura 6, é possível

notar que, realizando-se a escolha de acordo com a razão m/z e polaridade dos

compostos, esse modo de ionização é o mais abrangente, porém APCI e APPI são

complementares ao ESI e úteis para análises de compostos apolares e termicamente

estáveis.

Figura 6. Faixas de aplicação das técnicas de ionização utilizadas em associação com a cromatografia líquida de alta eficiência (adaptado, [34]).

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28

Quanto aos analisadores de massas, os mais comumente empregados são:

quadrupolo [35], armadilha de íons (Ion Trap, Trap) [36], tempo de vôo (Time of Flight,

TOF) [37], Orbitrap [38], e Ressonância Ciclotrônica de Íons com Transformada de

Fourier (Fourier Transform Ion Cyclotron Resonance, FT-ICR) [39]; Espectrômetros

de massas híbridos ou sequenciais referem-se à combinação de dois ou mais

analisadores e podem auxiliar na identificação dos compostos de interesse. Por meio

de experimentos de dissociação induzida por colisão (Collision Induced Dissociation,

CID), que podem ser realizados tanto em analisadores híbridos (ex. triplo quadrupolo

(QqQ), quadrupolo-TOF (QTOF) ou quadrupolo-armadilha de íons (QTRAP)) quanto

em analisadores de trap, é possível selecionar compostos e depois fragmentá-los.

Desta forma, o perfil de fragmentação da espécie fornece informações adicionais para

confirmação do composto de interesse, uma vez que muitas drogas e seus

metabólitos possuem massas similares e irão apresentar a mesma razão m/z, os íons

produto formados após a colisão serão capazes de diferenciá-las.

HPLC-MS utilizando ionização por electrospray é a técnica de escolha para

aplicação de análises qualitativas e quantitativas em amostras biológicas complexas.

A separação cromatográfica prévia pode reduzir a complexidade e amenizar os efeitos

de matriz durante a ionização. As colunas mais utilizadas são a C18 em fase reversa

para aplicação em drogas com características mais apolares e a HILIC (Hydrophilic

Interaction Liquid Chromatography) para separação cromatográfica de compostos

polares e hidrofílicos. A escolha da coluna deverá ser realizada de acordo com a

abrangência requerida pelo estudo.

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29

1.4. Drogas de abuso

Para este estudo, a cocaína (COC) e a maconha (THC) foram as escolhidas,

uma vez que, segundo ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes

(UNODC), estas se encontram entre as drogas mais cultivadas, traficadas e

consumidas do mundo [40]. Além disto, é importante ressaltar que uma vez que a

matriz biológica de trabalho é a urina, o desenvolvimento do método deve ser

realizado focando nos principais produtos de biotransformação, ou metabólitos

encontrados.

1.4.1. Cocaína

Com registros que datam de mais de 5000 anos, o costume de mascar as folhas

da planta Erythroxylum coca era uma prática historicamente difundida e rotineira

principalmente nos países da América do Sul, porém, apenas no final do século XIX é

que a cocaína foi extraída pela primeira vez desta planta e seu uso foi empregado em

várias finalidades, como o terapêutico. No início do século XX ocorreu a popularização

do seu consumo por aspiração nasal, prática que acarretou em milhares de mortes e,

consequentemente, à sua proibição [41]. De acordo com o relato anual da UNODC

em 2017, o Brasil representa o país de tráfico mais intenso de COC e crack na América

do Sul e o segundo maior mercado do mundo [40].

Em sua forma purificada, o sal cloridrato de cocaína (Figura 7 (a)) é um sólido

branco hidrossolúvel e seu uso ocorre, mais frequentemente, por aspiração intranasal

ou dissolvida em água para uso endovenoso. Além disto, através da alcalinização do

sal há formação do crack (Figura 7 (b)), variante que, por sua vez, é mais volátil e por

este motivo é consumida através do fumo.

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Figura 7. Principais formas de apresentação da cocaína (a) cloridrato de cocaína (b) crack, base livre preparada por alcalinização do cloridrato.

Independentemente da forma como é consumida, esta droga de abuso é um

estimulante do sistema nervoso central (SNC), e seus efeitos incluem euforia,

excitação, insônia e supressão do apetite. Estes efeitos se dão por conta do

mecanismo de ação da droga no SNC onde tal substância bloqueia a reabsorção de

noradrenalina, dopamina e serotonina, monoaminas relacionadas à função da

memória. Os níveis altos de concentração sinápticas dessas aminas resultam em

maior senso de alerta, bem-estar e euforia. Subsequentemente, a depleção destas

substâncias resulta em depressão e desconforto, levando ao usuário a tomar novas

doses e mais elevadas [42].

No organismo, a COC rapidamente é quase completamente biotransformada e

desativada. Ela sofre extensa biotransformação, e a benzoilecgonina (BZE), formada

por hidrólise hepática mediada pela carboxilesterase no fígado ou espontânea, é o

principal metabólito formado. Embora este produto de transformação não possua

atividade farmacológica alguma, o grande interesse nesta substância se dá devido ao

seu tempo de vida nas matrizes biológicas, que é seis vezes maior do que ao da COC.

Além disto, reações de hidrólise mediadas por esterases plasmáticas e hepáticas

através da enzima colinesterase dão origem a um segundo metabólito, o éster

metilecgonina (EME). Na urina, cerca de 1 a 5 % da droga ingerida é eliminada na

forma de composto inalterado, 15 a 50 % na forma de BZE, 15 a 35 % na forma de

EME e o restante em demais metabólitos que podem ser formados [43].

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Além disso, quando há consumo concomitante de etanol pelo indivíduo, um

outro metabólito pode estar presente, resultante do processo da transesterificação da

COC, o cocaetileno (CET) [44]. Este produto de transformação é bioativo e pode

colaborar para o aumento do tempo de efeito da cocaína no organismo, além dele

próprio apresentar maior toxicidade. As estruturas moleculares dos principais

metabólitos da COC podem ser observadas na Figura 8.

Figura 8. Principais vias de biotransformação da cocaína quando administrada em humanos. As estruturas moleculares representadas correspondem a (a) benzoilecgonina

(BZE), (b) éster metilecgonina (EME) e (c) cocaetileno (CET).

Diversos trabalhos na literatura [8,45,46] reportam a estabilidade da COC e

seus metabólitos em matrizes biológicas. Estes estudos apontam que os principais

fatores que irão influenciar na estabilidade ao longo do tempo são a temperatura de

armazenamento, pH e a matriz biológica. De maneira geral, a estabilidade das drogas

de abuso e seus metabólitos aumenta com a diminuição da temperatura e, para a

cocaína, uma vez que em urina somente a hidrólise não-enzimática pode ocorrer, o

pH é o fator de maior importância na estabilidade dos analitos, sendo que condições

mais ácidas (pH = 5) são favoráveis em relação a condições mais básicas (pH = 8).

Em 1994, Dugan et al. [11] demonstraram que mesmo após 12 meses de

armazenamento em condições de pH = 5 e sob refrigeração em congelador (-20 ºC),

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32

a BZE ainda continuava estável, diferentemente da COC, demonstrando que este

metabólito é mais estável que a própria droga de abuso.

Para a técnica de DBS, é possível encontrar na literatura alguns trabalhos que

reportam o desenvolvimento de métodos de análise e quantificação para a COC e

seus principais metabólitos. [21,47,48]. Através do estudo da estabilidade para COC,

BZE e EME em concentrações de 10 e 50 ng mL-1, mantidos em condições de 4 e -

20 ºC, foi possível observar que estes analitos se mantiveram estáveis por pelo menos

6 meses sob condição de -20 ºC. Porém, o mesmo não ocorreu em 4 ºC.

Para análises em DUS, dois trabalhos já foram reportados na literatura para

COC ou metabólitos. Em 2013, Otero-Fernández et al. [48] otimizaram um método de

extração para opióides, COC e BZE. Porém, não existe dado algum de estabilidade

para estes compostos nesta matriz. Ainda em 2013, Lee et al. [21] desenvolveram um

método de análise e quantificação de 19 drogas em DUS, entre elas a BZE. A

estabilidade foi testada por 30 dias em temperatura ambiente, sem exposição ao ar

ou à luz. Em uma concentração de 100 ng mL-1, este analito apresentou uma perda

menor que o erro permitido para o método, sendo ainda útil para análise. Apesar disto,

ainda não existem trabalhos que estudem a estabilidade da EME e CET e em períodos

mais longos. Sendo assim, pode-se dizer que, quanto ao DUS, os trabalhos presentes

na literatura ainda são bastante limitados e estudos mais detalhados são necessários.

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1.4.2. THC

A Cannabis é um gênero de angiosperma da família Cannabaceae, que, sendo

classificada em somente uma espécie (Cannabis sativa L.), suas variedades são

divididas em diversas subespécies, sendo as três principais a sativa indica (C. sativa

subsp. sativa), indica (C. sativa subsp. indica) e ruderalis (C. sativa subsp. ruderalis)

[50]. De uma maneira geral, estas plantas possuem mais de 489 constituintes, dentre

os quais cerca de 70 são canabinóides, localizados especialmente em suas folhas e

inflorescências. Estas substâncias são classificadas em dois grupos: psicoativas, as

quais são as responsáveis pelos efeitos fisiológicos e psicológicos, como o

tetraidrocanabinol (Δ9-THC ou simplesmente THC), e não-psicoativas, como

canabinol (CBN) e canabidiol (CBD), mostrados na Figura 9 [50].

Figura 9. Estrutura molecular dos principais componentes da cannabis: (a) THC (b) CBN e (c) CBD.

Muito embora os primeiros registros de uso destas plantas datem de mais de

2700 anos a.C. pela farmacopeia chinesa, apenas em 1964 o THC foi isolado pela

primeira vez, levando ao descobrimento de um importante sistema neurotransmissor

endógeno denominado sistema endocanabinóide. Este sistema é amplamente

distribuído no cérebro e no corpo, sendo responsável por inúmeras funções vitais

significativas [51].

As duas formas de abuso predominantes são por via oral ou inalatória

(pulmonar), sendo esta última a mais utilizada. Quando fumado, o THC é rapidamente

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absorvido, sendo prontamente distribuído para o cérebro e outros órgãos. Uma vez

que este composto é muito lipossolúvel, sua biotransformação ocorre no fígado,

catalisada pelas enzimas citocromo P450, cuja função é oxidar esta espécie de forma

a torná-la mais hidrossolúvel para que seja facilmente excretada do organismo. Ao

todo, mais de 100 produtos de biotransformação do Δ9-THC já foram identificados,

porém, a rota majoritária é uma primeira oxidação desta droga formando a 11-hidroxi-

Δ9-tetrahidrocanabinol (11-OH-THC) que, sendo ainda mais ativo que o Δ9-THC, irá

sofrer uma nova oxidação e gerando o 11-nor-9-carboxi-Δ9-tetrahidrocanabinol (THC-

COOH). Este último, por fim, é conjugado com o ácido glicurônico (THC-COOH-gluc)

sendo esta a forma mais abundantemente presente na urina [52]. Um esquema

representativo deste processo pode ser observado na Figura 10.

Figura 10. Principal via de biotransformação do Δ9-THC (a), gerando inicialmente os metabólitos de fase I (b) 11-OH-THC e (c) THC-COOH por reações de oxidação e

posteriormente o metabólito de fase II (c) THC-COOH-gluc através da glicuronidação.

Desta forma, a excreção do Δ9-THC do organismo se dá majoritariamente

através dos produtos de biotransformação hidroxilados e carboxilados, conjugados ou

não com o ácido glicurônico. Deste total, 65% é eliminado nas fezes e 25% na urina

Entre os metabólitos ácidos, THC-COOH conjugado ao ácido glucuronídeo é o

principal em urina, enquanto que o THC-OH predomina nas fezes. Menos de 1% do

Δ9-THC é eliminado inalterado na urina [53].

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35

O tempo transcorrido desde a última utilização da droga até a obtenção do

último resultado positivo em uma amostra de urina é chamado “período de detecção”.

De acordo com a literatura, dentro de 5 dias de 80 a 90% do THC é excretado em

forma de seus metabólitos [54,55]. Sendo assim, o tempo de detecção adotado após

o fumo de cigarros, utilizando o valor de 15 ng mL-1 como valor mínimo (cut off) para

concentração de seus principais metabólitos, é de 2 a 5 dias, podendo ser maior em

usuários crônicos.

Em análises laboratoriais de rotina, geralmente é analisada e quantificada a

concentração de THC-COOH livre total presente na urina. Para que isto seja possível,

é necessário que, antes que a amostra seja quantificada, se realize uma etapa de

clivagem do ácido conjugado geralmente realizada através de hidrólise básica ou

enzimática [56].

Quanto à estabilidade destes metabólitos, estudos realizados demonstram a

sua dependência com a temperatura, pH e o tipo de material onde está armazenado

[57,58]. Apesar de Dugan et al. [11] reportarem perda de apenas 1% para

canabinóides e seus metabólitos em urina após um ano de armazenamento a -20 ºC,

outros autores [59] apresentaram perdas muito mais significativas em menos tempo,

exibindo resultados contraditórios.

Em DBS, é possível encontrar dois estudos na literatura onde há

desenvolvimento de métodos de identificação e quantificação de THC e seus

principais metabólitos [60,61]. Mercoli et al. [61] testaram a estabilidade do THC, THC-

OH e THC-COOH em até 3 meses de armazenamento, obtendo resultados

satisfatórios uma vez que ao final do estudo a perda foi menor que 10%. Para o DUS

não foi possível encontrar na literatura estudos reportando o desenvolvimento de um

método de análise do THC e seus metabólitos, levando a necessidade de estudos

neste sentido.

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2. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo principal o desenvolvimento de métodos de

análise de drogas de abuso em DUS por cromatografia líquida acoplada à

espectrometria de massas sequencial (LC-MS/MS). Para isto, foram selecionadas

duas substâncias psicoativas amplamente empregadas como drogas de abuso e seus

respectivos metabólitos: a cocaína (COC) e o tetraidrocanabinol (THC).

Para o desenvolvimento de um método de amostragem em DUS, o trabalho

contou com etapas como otimização do preparo de amostra e da extração.

Posteriormente, o método desenvolvido necessitou passar por um processo de

validação utilizando o guia da Scientific Working Group for Forensic Toxicology

(SWGTOX) [62], onde as principais figuras de mérito avaliadas foram linearidade,

precisão e exatidão, limite de detecção (LD), limite de quantificação (LQ), integridade

de diluição e estudos de interferência como efeito matriz e seletividade. Além disto,

uma vez que umas das potenciais vantagens oferecidas pelo método seria a grande

estabilidade fornecida, um estudo foi realizado a fim de verificar se os critérios

desejados foram atendidos.

Uma vez desenvolvido e validado o método de DUS, o trabalho teve como

objetivo aplicar em amostras reais para análises qualitativas e quantitativas.

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37

3. Materiais e Métodos

3.1. Materiais

3.1.1. Materiais e solventes

Para as manchas de urina secas, utilizou-se o papel Whatman Protein Saver

Card 903, próprio para receber matrizes biológicas. Como solventes foram utilizados

metanol e acetonitrila grau HPLC (J.T.Baker, USA), hexano, acetato de etila, éter

metil-terc-butílico, clorofórmio e diclorometano grau HPLC (Sigma-Aldrich, USA) e

água ultrapurificada ou Milli-Q (Merck, BRA).

3.1.2. Padrão referência de cocaína e metabólitos

Os padrões certificados de referência e marcados isotopicamente (deuterados)

utilizados na preparação da curva de calibração foram a cocaína (COC) e a cocaína

deuterada (COC-d3), e seus principais metabólitos encontrados na urina:

benzoilecgonina (BZE), éster metilecgonina (EME) e cocaetileno (CET) (Cerilliant,

USA).

3.1.3. Padrão referência de THC e metabólitos

Os padrões certificados de referência e marcados isotopicamente (deuterados)

utilizados na preparação da curva de calibração foram o delta-9-tetraidrocanabinol

(Δ9-THC) ou simplesmente tetraidrocanabinol (THC) e o delta-9-tetraidrocanabinol

deuterado (Δ9-THC-d3) ou simplesmente tetraidrocanabinol deuterado (THC-d3) e

seus principais metabólitos: 11-hidroxi-Δ9-tetrahidrocanabinol (11-OH-THC), 11-nor-

9-carboxi-Δ9-tetrahidrocanabinol (THC-COOH) de referência e deuterado (THC-

COOH-d3) e conjugado com o ácido glicurônico (THC-COOH-gluc) (Cerilliant, USA).

.

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3.1.4. Equipamentos e acessórios

Para o preparo das amostras, cartões de papel filtro Whatman® 903 (Sigma-

Aldrich, USA) foram obtidos para coleta e armazenamento das amostras.

Na extração das amostras, utilizou-se um agitador do tipo multi-vórtex

(Heidolph, GER), referido neste trabalho somente como “vórtex” e uma centrífuga

cllínica (Benchmark Scientific, USA). Além disto, para secagem do solvente foi

utilizado um concentrador a vácuo do tipo SpeedVac (Eppendorf, GER).

Para análise dos compostos, a separação cromatográfica foi realizada através

de uma coluna para HPLC do tipo C18 (Atlantis T3, 3.0 x 150 mm, 3 μm, Waters®). Os

equipamentos de cromatografia líquida de alta eficiência e espectrômetros de massas

utilizados foram um shimadzu LCMS-8040 (Shimadzu Corp., JPN), sistema que

possui um cromatógrafo líquido de alta eficiência acoploado à um espectrômetro de

massas que utiliza fonte de ionização por electrospray e analisador de massas

sequencial do tipo triplo quadrupolo e um HPLC Agilent 1260 Infinity Binary (Agilent

Technologies, USA) acoplado a um espectrômetro de massas ABSciex 5500QTRAP

(ABSciex, SIN), utilizando como fonte de ionização por electrospray e analizador

sequencial do tipo QTrap.

3.1.5 Amostras Positivas

Amostras positivas foram fornecidas pelo Laboratório de Toxicologia

Analítica (LTA-CIATox), localizado no Centro de Controle de Intoxicações do Hospital

de Clínicas da UNICAMP. As amostras foram armazenadas em freezer (-20 °C) até o

fim das análises para posterior descarte apropriado. Os experimentos foram

conduzidos usando protocolos e condições aprovadas pelo Comitê de Ética (CAAE

58187816.6.0000.5404) presente no Anexo 1.

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3.2. Metodologia

Às amostras de urina negativas (coletadas de indivíduos que não fazem uso de

fármacos ou drogas de abuso), foram adicionadas soluções padrão das drogas de

abuso e seus metabólitos em proporção de 9:1(v/v) urina:padrão em diferentes níveis

de concentração. Para o preparo das amostras, procedimentos já descritos na

literatura foram utilizados como ponto de partida [17,19,21] e, posteriormente,

adaptados para otimização da extração.

3.2.1. Cocaína

A partir das amostras de urina dopadas com padrão de referência da COC e

seus principais metabólitos (BZE, EME e CET), em sete níveis distintos de

concentração (25; 50; 100; 250; 500; 750 e 1000 ng mL-1), 20 µL foram coletados e

adicionados ao papel Whatman® 903. Este volume foi otimizado de forma a ser o

suficiente para preencher o círculo contido no papel suporte (Ø = 12 mm) sem

ultrapassar as bordas tracejadas. Em seguida, deixou-se secar as amostras por 2

horas em condições ambientes. Após secagem, discos (Ø = 5 mm) foram retirados do

cartão utilizando um furador de papel e transferidos para tubos de polipropileno, onde

puderam seguir para extração ser armazenadas. A representação esquemática do

preparo de amostra do DUS pode ser encontrada na Figura 11.

Figura 11. Representação esquemática do preparo das amostras de DUS em papel Whatman® 903 Protein saver card, próprio para receber matrizes biológicas.

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A extração foi realizada com 300 µL de uma solução de metanol:água (6:4, v/v)

e ácido fórmico 0,1% contendo o padrão interno, COC-d3 (10 ng mL-1) com agitação

em vórtex durante 15 minutos seguidos por 5 minutos de centrifugação a 10.000 rpm

em temperatura ambiente. Finalmente, 150 µL do sobrenadante foram transferidos

para vials e submetidos a análise.

3.2.2. THC

Às amostras de urina foram adicionados os padrões de Δ9-THC e seus

metabólitos em uma proporção de 9:1 entre urina:padrão (v/v), obtendo concentrações

finais em um intervalo de 10 a 500 ng mL-1, em seis níveis diferentes de concentração

(10, 25, 50, 100, 250 e 500 ng mL-1), e padrão interno (THC-COOH-d3 e Δ9-THC-d3)

com concentração de 100 ng mL-1. O preparo das amostras seguiu procedimento

similar ao descrito na sessão 3.1.1 para a cocaína, e, após secagem os discos (Ø = 5

mm) transferidos para tubos de polipropileno foram submetidos a uma etapa de

hidrólise básica.

Nesta etapa, foram adicionados 250 µL de uma solução de NaOH com

concentração de 1 mol L-1, seguida de incubação à 70 ºC por 25 minutos em estufa.

Ao esfriar a solução, adicionou-se 250 µL de ácido acético glacial P.A.

Para extração, 1000 µL de solvente orgânico, a ser detalhado na sessão 4.2.,

foram adicionados e a extração foi realizada com agitação em vórtex por 15 minutos

seguidos de centrifugação por 5 minutos (10.000 rpm). Em seguida, 800 µL da fase

orgânica foram transferidas para outro tubo de polipropileno e levados a evaporação

em um concentrador a vácuo (SpeedVac) por cerca de 45 minutos a 45 ºC. Após

secagem, os analitos foram reconstituídos em 150 µL de metanol, transferidos para

vials e levados ao sistema para análise por LC-MS/MS.

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3.3. Aquisição de Dados

3.3.1. Cocaína

A separação cromatográfica foi realizada através da injeção de 15 µL das

amostras em um sistema Shimadzu UHPLC NEXERA acoplado a um Shimadzu MS

8040, com analisador de massas do tipo triplo quadrupolo. Utilizou-se uma coluna C18

(Atlantis T3, 3.0 x 150 mm, 3 μm, Waters®) para separação dos componentes em uma

corrida em modo de eluição gradiente com duração total de 16 minutos, de acordo

com a Tabela 1, onde a fase móvel consistiu de formiato de amônio 2 mM e 0,1% de

ácido fórmico em (A) água e (B) metanol.

No espectrômetro de massas, os experimentos foram realizados utilizando o

modo de aquisição conhecido como monitoramento múltiplo de reações (MRM),

operando em modo positivo de ionização por eletrospray (ESI-(+)), onde cada analito

foi identificado por sua razão massa/carga (m/z) em pelo menos duas transições: uma

primeira, de quantificação, e uma segunda, de confirmação dos compostos. As

condições da fonte para operar no modo de ESI(+) foram otimizadas e estabelecidas

como: voltagem do capilar 4.5 kV, temperatura de dessolvatação 250 ºC, temperatura

do bloco de aquecimento a 400 ºC, vazão do gás de secagem (N2) de 15 L min-1,

vazão do gás nebulizador (N2) a 3 L min-1 e gás de colisão (Ar) 230 kPa. As razões

m/z das transições MRM, bem como as energias necessárias para estas foram

estabelecidas para cada analito e podem ser encontradas na Tabela 2.

Tabela 1. Parâmetros de gradiente da fase móvel para separação da cocaína e seus

metabólitos por LC-MS.

Tempo (min)

Vazão (μL min-1)

A (%)

B (%)

0,5 400 95 5 10 400 5 95 13 400 5 95

13,10 400 95 5 16 400 95 5

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3.3.2. THC

Para as análises foram injetados 20 µL de amostra, utilizando a separação

cromatográfica em um HPLC 1260 Infinity através de uma coluna C18 (Atlantis T3, 3.0

x 150 mm, 3 μm, Waters®) em eluição por gradiente de acordo com a Tabela 3, onde

a fase móvel (A) consiste de 0,1% de ácido fórmico em água e (B) metanol. Após

separação cromatográfica, os analitos foram detectados por espectrometria de

massas através de um ABSciex 5500QTRAP, utilizando como fonte de ionização por

electrospray e analizador sequencial do tipo QTrap. Para cada substância, foram

selecionadas duas transições, sendo a mais intensa utilizada para quantificação e a

segunda para confirmação. Como o THC apresentou melhor comportamento para

ionização por eletrospray em modo positivo (ESI-(+)) e os demais analitos em modo

negativo (ESI-(-)), o método foi construído utilizando a técnica de polarity switch. Esta

técnica permite monitorar íons positivos e negativos concomitantemente através da

mudança de polaridade constante durante a corrida.

Tabela 2. Parâmetros obtidos para os MRM no modo positivo (ESI-(+)) por LC-MS/MS: Íon

precursor selecionado (Q1), íons produto (Q3) voltagens das transições para os analitos e

padrão interno.

Q1

(m/z) Q3

(m/z) tR

(min) Q1 (V)

CE (V)

Q3 (V)

COC

304

182 7,20 -14 -20 -20 82 7,20 -14 -31 -16

BZE

290 168 7,30 -14 -17 -19 105 7,30 -30 -28 -21

EME

200

182 2,15 -21 -14 -21 82 2,15 -20 -27 -17

CET

318

196 7,80 -14 -19 -22 82 7,80 -14 -30 -16

COC-d3

307

185 7,20 -15 -20 -19 85 7,20 -15 -33 -16

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43

As condições da fonte operando nos modos de ESI-(+) e ESI-(-) otimizadas

podem ser encontradas na Tabela 4. Ainda, os valores de m/z dos íons monitorados

nas transições MRM, bem como as energias necessárias para gerar estes foram

estabelecidas para cada analito e estão presentes na Tabela 5.

Tabela 3. Gradientes da fase móvel para separação do THC e seus metabólitos por LC-MS.

Tempo (min)

Vazão (μL min-1)

A (%)

B (%)

0 300 95 5

1 300 95 5

7 300 5 95

14 300 5 95

14,3 300 95 5

22 300 95 5

Tabela 4. Valores de condições da fonte operando nos modos de eletrospray positivo (ESI-

(+)) e negativo (ESI-(-)).

Curtain Gas

(CUR)

(V)

Collision Gas

(CAD)

(V)

IonSpray Voltage

(IS)

(V)

Temperature (TEM)

(°C)

Ion Source Gas 1 (GS1)

(V)

Ion Source Gas 2 (GS2)

(V)

Entrance Potencial

(EP)

(V) ESI-(+)

30 4 5000 650 55 70 10

ESI- (-)

30 6 -4500 650 55 70 -10

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3.4. Processamento de dados

3.4.1. Cocaína

Os dados adquiridos foram processados utilizando o software Labsolutions

(versão 5.53 SP2, Shimadzu, Kyoto, Japan), onde foi realizada a análise no programa

Quant Browser na identificação e integração dos picos cromatográficos e construção

das curvas analíticas para quantificação.

3.4.2. THC

Os dados foram adquiridos utilizando o software Analyst® (versão 1.5.2,

Applied Biosystems, Foster City, USA) e analisados utilizando o software MultiQuant

(versão 3.0.1, Applied Biosystems, Foster City, USA) para integração dos picos

cromatográficos e construção das curvas de calibração para análises quantitativas.

Tabela 5. Parâmetros MRM operando no (a) modo positivo (ESI-(+)) e (b) modo negativo (ESI-

(-)) de aquisição.

(a) Q1 (m/z)

Q3 (m/z)

tr (min)

DP (V)

CE (V)

CXP (V)

THC

315,0

193,2 17,20 51 29 17 123,1 17,20 51 45 13

THC-d3

318,2

196,2 17,25 111 31 5 122,9 17,25 111 41 19

(b) Q1 (m/z)

Q3 (m/z)

tr (min)

DP (V)

CE (V)

CXP (V)

THC-COOH

343,03

299,1 15,60 -50 -28 -13

245 15,60 -50 -38 -25

THC-OH

329,35

311,1 15,30 -175 -26 -15 268 15,30 -175 -36 -17

THC-COOH-d3

346,39

302,2 15,60 -165 -28 -13 248,1 15,60 -165 -38 -11

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3.5. Validação do Método

3.5.1. Cocaína

Para validação, seguiu-se o guia internacional de toxicologia forense, SWGTOX

[63] e foram avaliadas as figuras de mérito anteriormente citada nos objetivos:

linearidade, LD e LQ, precisão e exatidão, presença de interferentes, efeito de matriz

e integridade de diluição. Além disto, foi realizado um estudo de estabilidade em três

diferentes condições de temperatura de armazenamento em um período de até 90

dias.

A linearidade foi testada estabelecendo um intervalo no qual geralmente se

encontram os valores de amostras em casos reais, englobando principalmente o valor

de corte (cut off) dos metabólitos em urina, ou seja, a concentração mínima para que

a amostra seja considerada positiva nos laboratórios de rotina forense internacionais.

Para avaliação da linearidade, estas curvas foram construídas em quintuplicatas

obtendo assim os parâmetros da curva e avaliando, através de testes estatísticos, a

variância entre os resíduos apresentados, a fim de escolher o melhor método de

ponderação.

Os valores LD e LQ representam, respectivamente, a menor concentração da

substância avaliada que pode ser detectada e quantificada no procedimento

experimental. Estes parâmetros foram calculados baseando na razão sinal/ruído (S/N)

do pico (S/N = 3 para o LD, S/N = 10 para o LQ). Uma vez que diferentes analitos

apresentam diferentes LQ, foi escolhido como limite inferior do método a concentração

do analito que apresentou maior LQ.

Para que fossem avaliadas a exatidão e precisão do método foram construídas,

por cinco dias distintos, curvas analíticas para quantificação de amostras de

concentrações conhecidas, denominadas controle (quality control, QC). Três

concentrações escolhidas, sendo definidas como controle baixo (CB), controle médio

(CM) e controle alto (CA) foram avaliadas em triplicata em cada dia, a fim de avaliar

exatidão e precisão dentro de um dia (intra-dia, n=3) durante cinco dias (inter-dias,

n=15). A precisão é expressa através do coeficiente de variação (C.V.), sendo que

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este deve ser sempre menor ou igual a 20%, ou seja, o método pode ter até 20% de

imprecisão. A exatidão é medida por um intervalo (bias) em que mostra o quanto,

também em porcentagem, cada amostra desvia do valor teórico ou nominal, sendo

aceita amostras com até 20% de inexatidão (80-120% da concentração nominal).

Os estudos de interferência foram realizados para testar a credibilidade do

método. Sendo assim, a seletividade do método foi avaliada quando em presença de

outros compostos comumente encontrados conjuntamente com a COC e para o efeito

de matriz, uma vez que a matriz biológica pode conter compostos que podem interferir

na análise e afetar a ionização dos analitos ao se trabalhar com ESI. Além disto,

amostras negativas de voluntários foram testadas para avaliar a presença de falso

positivo. A integridade de diluição foi avaliada uma vez que estes analitos podem ser

encontrados na matriz biológica frequentemente em concentrações maiores que o

limite de quantificação superior do método.

Para o estudo de estabilidade, amostras armazenadas em três condições

diferentes de temperatura: ambiente, geladeira (4 ºC) e freezer (-20 ºC); mantidas livre

de umidade através da utilização de sílica em gel, foram avaliadas em intervalos de 3,

7, 15, 30, 60 e 90 dias.

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3.6. Aplicação em amostras reais

3.6.1. Cocaína

Para testar a metodologia desenvolvida, cinco amostras previamente indicadas

como positivas através de testes de imunoensaio, fornecidas pelo Laboratório de

Toxicologia Analítica (LTA-CIATox) da UNICAMP, foram analisadas e quantificadas

através da técnica de DUS.

A quantificação das amostras foi realizada através da construção de uma curva no

intervalo de 25 a 1000 ng mL-1, conforme o método validado, com adição do padrão

de referência em acetonitrila em urina em proporção de 9:1 (urina:padrão). Tanto para

a curva quanto para as amostras reais, 20 µL foram adicionados no papel Whatman®

903 seguindo o procedimento de preparo de amostra e extração previamente

indicados na sessão 3.2.1, porém, uma vez que algumas amostras apresentaram

concentrações de cocaína ou seus metabólitos acima do limite superior de

quantificação da curva (1000 ng mL-1), estas foram submetidas à diluição conforme o

necessário para que estivessem contidas no intervalo validado. A diluição das

amostras positivas foi realizada utilizando amostra de urina controle anteriormente à

sua adição no papel.

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4. Resultados e discussões

4.1. Cocaína

4.1.1. Otimização Experimental

A mistura de solventes foi otimizada por um planejamento experimental do tipo

simplex-centroide, construído através do software Design-Expert (DX 6.0.4.). Para

este planejamento, extrações usando metanol (MeOH), acetonitrila (ACN) puros ou

misturas de dois solventes (1:1, v/v) ou três solventes (1:1:1, v/v/v) foram testados em

triplicata, com um total de 21 experimentos. Para encontrar a combinação ótima, ou

seja, aquela capaz de extrair em maior quantidade todos os analitos simultaneamente,

a área total de cada analito foi utilizada como resposta. As condições otimizadas são

dadas por uma função denominada desejabilidade, a qual fornece, através de uma

superfície de resposta, um ponto de ótimo global denominado predição (0 ≤ predição

≤ 1). Para a COC e seus metabólitos a combinação de solventes predita como ótimo

global foi de metanol:água (6:4, v/v), onde um valor de 0,96 de predição indica que

96% das respostas, ou seja, área dos analitos, atingirão o seu máximo. Esta

informação pode ser encontrada na Figura 11. Além disto, o uso de ácido fórmico 0,1%

na extração foi também testado, levando a resultados ainda melhores.

Figura 12. Superfície de resposta da desejabilidade para um planejamento experimental do tipo simplex centroide, onde a predição aponta para o valor de ótimo global.

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Após extração dos analitos da matriz do DUS, a separação analítica foi realizada,

conforme gradiente informado na Tabela 1, gerando um cromatograma onde é

possível identificar e quantificar a cocaína e seus metabólitos, conforme pode ser

observado na Figura 12.

Figura 12. Cromatogramas representativos da (a) COC e seus metabólitos (b) BZE, (c) EME

and (d) CET mais o padrão interno plus (e) COC-d3 em suas duas principais transições,

quantificação e confirmação respectivamente, obtidos por ESI-(+) para amostras de DUS em

concentrações de 500 ng mL-1.

Através de relações matemáticas é possível obter o valor do tempo de

retardadamento (𝑡 ) (Eq. 1) da fase móvel para dada vazão de solvente de acordo

com as dimensões da coluna cromatográfica.

𝑡 = ,

Onde 𝑉 corresponde ao volume da coluna e 𝐹 é a vazão da fase móvel

utilizada.

Eq. 1

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Para este método, cuja vazão de fase móvel utilizada foi de 400 µL min-1 e, de

acordo com a dimensões da coluna utilizada (3.0 x 150 mm) o valor calculado para o

𝑡 foi de 2,11 min. Ao analisar os tempos de eluição dos compostos no cromatograma

de separação, concluiu-se que a EME possui uma retenção muito fraca com a fase

estacionária, o que faz com que este analito provavelmente co-elua com diversas

impurezas contidas nas amostras, chamadas de interferentes, o que pode causar uma

supressão iônica, ou seja, uma perda de sinal do composto alvo, gerando desvios

maiores na precisão e exatidão de réplicas de injeção e extração.

Os valores das razões m/z para o íon precursor e suas transições, bem como

as voltagens utilizadas, juntamente com os tempos de retenção (tR) podem ser

encontrados na Tabela 2 (página 38).

4.1.2. Validação da metodologia

Segundo a SAMHSA (Substance Abuse and Mental Health Services

Administration), para que uma amostra seja considerada positiva, emprega-se um

valor de corte de 100 ng mL-1 [63] para a BZE. Portanto, a linearidade foi estudada em

um intervalo de 25 a 1000 ng mL-1. As curvas foram construídas com adição de padrão

em amostras de urina controle avaliando a razão das áreas de cada analito (área do

padrão de referência/área do padrão interno) em quintuplicata em função de sete

níveis distintos de concentração (25, 50, 100, 250, 500, 750 e 1000 ng mL-1).

Aplicando o teste estatístico (Teste F, Eq 2.) para análise da variância foi possível

concluir que existe heterocedasticidade, ou seja, uma tendência entre os resíduos.

𝐹 = 𝑠

𝑠

Onde 𝑠 corresponde a variância no nível mais alto de concentração e 𝑠 a

variância no nível mais baixo de concentração da curva analítica. Se o valor da F

calculado experimentalmente for maior que aquele fornecido em tabela, escolhido de

Eq. 2

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51

acordo com o nível e confiança e número de graus de liberdade das replicatas, há

heterocedasticidade entre os dados.

Como para todos os analitos avaliados em quintuplicata foi possível notar

comportamento heterocedástico, fez-se necessária a aplicação de um método de

ponderação a fim de minimizar estas tendências. Para estes analitos, nesta faixa de

concentração, foi escolhida a ponderação 1/x, uma vez que esta foi a que apresentou

os melhores ajustes, ou seja, menores erros de exatidão para os diferentes níveis da

curva. Na Tabela 6 é possível encontrar os valores obtidos para a regressão linear

sendo a o coeficiente angular da curva e b o coeficiente linear. Além disto, o

coeficiente de correlação (r) também pode ser encontrado.

Os valores de LD e LQ, avaliados respectivamente levando em consideração

valores de S/N ≥ 3 e S/N ≥ 10, foram de 0,1 e 1 ng mL-1 para o CET; 1 e 5 ng mL-1

para a COC e BZE; 15 e 25 ng mL-1 para a EME. Uma vez que o maior LQ do

instrumento obtido para os analitos foi de 25 ng mL-1 para a EME, este foi definido

como o LQ para a curva de calibração. Para validação deste valor como LQ do

método, amostras fortificadas contendo esta concentração foram avaliada por três

dias em triplicatas (n = 9), sendo quantificada por regressão linear através de curva

de calibração construída no mesmo dia, fornecendo valores de imprecisão aceitos

para o método (C.V. ≤ 11,3%) bem como de exatidão com intervalo de 80,0 a 114,5%.

Informações mais detalhadas podem ser encontradas na Tabela 7.

Tabela 6. Valores de coeficientes das regressões lineares e seus intervalos de confiança (n=5,

95%) onde a representa a inclinação da curva, b o intercepto com o eixo y e r o coeficiente de

correlação.

a ± I.C. (n = 5, 95%)

b ± I.C. (n = 5, 95%)

r ± I.C. (n = 5, 95%)

COC 1,43 ± 0,08 -1,73 ± 3,00 0,996 ± 0,003

BZE 1,15 ± 0,06 -3,60 ± 2,95 0,997 ± 0,001

EME 0,198 ± 0,007 -0,072 ± 1,180 0,996 ± 0,002

CET 1,27 ± 0,09 -2,00 ± 4,06 0,996 ± 0,003

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52

A imprecisão (CV (%)) e exatidão (bias) foram avaliadas dentro de um mesmo

dia em triplicata (intra-dia, n = 3) durante 5 dias (inter-dias, n = 15) para 3 diferentes

níveis de concentração. A imprecisão mede o quanto as replicatas desviam entre si

em relação ao valor de concentração calculado por meio de regressão linear, e a

exatidão o quanto elas se aproximam da concentração nominal. Os erros encontrados

para as análises de exatidão dentro de um único dia se encontram em uma faixa de

85,6-118,0% e para os 5 dias de análises de 81,6%-119,7%. Os dados estão

sumarizados na Tabela 8.

Para os estudos de interferência, primeiramente 10 amostras controle foram

analisadas com intuito de testar falsos positivos, o que não foi encontrado. Outro

estudo realizado foi a adição de 28 outras drogas de abuso ou fármacos comumente

encontrados em usuários de cocaína, contidos na Tabela 9 e adicionadas em

concentrações finais de 1000 ng mL-1 em amostras contendo o limite de quantificação

inferior da curva.

Conc. ± I.C.

(ng mL-1) (n = 9, 95%) C.V.

(%) (n = 9)

bias (%) (n = 9)

26,4 ± 0,1 9,8 102,3-114,5

26,6 ± 0,8 7,6 105,8-108,2

25,6 ± 1,1 11,3 80,0-109,0

26,4 ± 0,7 6,6 109,1-110,5

Tabela 7. Valores de concentração, imprecisão (C.V.) e exatidão (bias) para o LQ do método.

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Os valores calculados das concentrações obtidas dos analitos após adição dos

potenciais interferentes estão presentes na Tabela 10. Os valores de exatidão foram

calculados em relação à concentração nominal (LQ = 25 ng mL-1) e estiveram sempre

em um intervalo de 80,1 a 119,6% de exatidão.

Intra-dia Inter-dia

Conc. ± I.C.

(ng mL-1) (n=3, 95%)

C.V. (%)

(n=3)

bias (%)

(n=15)

Conc. ± I.C.

(ng mL-1) (n=15, 95%)

C.V. (%)

(n=15)

bias (%)

(n=15)

COC CB 72,6 ± 0,8 3,0 93,6-99,2 78,5 ± 0,5 7,6 93,6-119,7

CM 399,6 ± 6,8 4,4 95,5-104,3 402,2 ± 1,9 6,1 93,3-111,7

CA 851,6 ± 15,0 4,6 102,0-111,6 791,9 ± 5,6 8,0 83,5-114,8

BZE CB 75,4 ± 1,9 6,6 95,8-108,1 78,1 ± 0,3 4,8 95,8-108,5

CM 405,4 ± 7,2 4,6 96,1-105,1 39,3 ± 1,1 3,6 94,1-105,1

CA 809,3 ± 20,6 6,6 93,7-106,7 768,9 ± 4,8 8,2 83,4-112,0

EME CB 73,4 ± 5,0 17,9 87,6-118,0 75,9 ± 0,6 11,3 81,6-118,2

CM 375,9± 13,5 9,3 85,6-103,1 387,8 ± 2,3 7,7 85,6-106,8

CA 763,8 ± 28,6 9,7 86,2-104,8 774,7 ± 4,8 8,0 84,2-111,3

CET CB 77,8 ± 2,0 6,6 96,9-110,6 80,4 ± 0,4 7,12 92,9-115,0

CM 416,5 ± 7,6 4,7 98,5-107,8 400,1± 1,3 4,2 93,2-107,8

CA 811,7 ± 20,9 6,7 94,1-107,4 791,9 ± 4,8 8,0 89,7-113,8

Tabela 9. Relação dos fármacos e drogas adicionadas às amostras a fim de testar a

seletividade do método.

Amostra Seleção de compostos adicionados (1000 ng mL-1) 1 1-fenobarbital, fenitoína, carbamazepina, secobarbital,butalbital, pentobarbital, ácido

valpróico, carbamazepina, fenobarbital-d5 2 fentanil, tiofentanil, acrilfentanil, valenilfentanil 3 diazepam, nitrazepam, alprazolam, bromazepan 4 acetaminofem, sildenafil, piperazina, fluoxetina, cetamina 5 pirrolidinopentiofenona, metilona, etilona, metilenodioxipirovalerona, nafirona, 4-

fluormetcatinona

Tabela 8. Concentração média e valores obtidos no estudo de precisão e exatidão do método.

Os valores foram obtidos através de análises em triplicata para um mesmo dia (n = 3) durante

cinco dias diferentes (n = 15) e foram avaliados para concentrações de CB (75 ng mL-1), CM (400

ng mL-1) e CA (800 ng mL-1).

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O efeito matriz foi avaliado considerando as concentrações teóricas finais dos

controles baixo e alto (CB e CA) e comparando em percentual a área total dos

cromatogramas dos analitos obtidas em solvente (metanol, puro) e quando adicionada

em matriz após extração de amostras controle. Comparando as áreas obtidas do

padrão em matriz e do padrão em solvente foi possível notar um efeito de matriz

positivo, aumentando a área dos cromatogramas e variando entre 101,1 e 119,7%

para o controle baixo, e um efeito de matriz negativo, reduzindo a área total dos

cromatogramas de 99,4 até 88,7% para o controle alto. Os valores para cada analito

podem ser encontrados na Tabela 11. De acordo com o guia de validação utilizado,

os erros, imprecisão e exatidão, devem ser sempre inferiores a 20%. Neste caso, com

o efeito da matriz gerou erros menores do que os limites permitidos pelo guia, seria

possível o desenvolvimento do método e validação dos compostos em solvente puro,

sem necessidade de adição em matriz biológica uma vez que seu efeito é

relativamente baixo. Contudo, por ser mais confiável, o método foi validado com

adição de matriz, mas em rotinas laboratoriais onde curvas devem ser constantemente

Amostra Concentração (ng mL-1)

Exatidão (%)

COC

1 26,8 93,0 2 26,6 93,7 3 25,3 99,0 4 26,4 94,6 5 29,1 83,6

BZE

1 25,3 98,8 2 23,9 104,5 3 25,0 100,1 4 23,9 104,3 5 25,0 100,0

EME

1 30,0 80,1 2 22,5 110,2 3 20,1 119,6 4 27,3 90,7 5 25,0 99,9

CET

1 27,5 89,9 2 28,4 86,3 3 27,3 91,0 4 26,3 94,6 5 25,8 96,8

Tabela 10. Concentração calculada quando adicionada cada amostra contendo

interferentes e sua exatidão em relação à concentração do analito (25 ng mL-1).

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construídas para quantificação, não haveria necessidade de adição de padrão em

urina para avaliar amostras positivas.

Tabela 11. Valores percentuais da interferência da matriz na área total dos cromatogramas

nas concentrações de controle (CB = 75 ng mL-1 e CA = 800 ng mL-1).

Muito embora para o método desenvolvido o limite de concentração superior

seja de 1000 ng mL-1, em muitos casos a concentração de cocaína e seus metabólitos

encontrados na urina fornecem valores acima, principalmente para usuários crônicos.

Nestes casos, diluições devem feitas de forma a obter um valor de concentração que

possa ser quantificado pela curva analítica proposta. A integridade da diluição é um

parâmetro importante a ser avaliado nestes casos, uma vez que estes testes

asseguram que a exatidão e a precisão não sejam impactadas significantemente

quando a amostra é diluída. Desta forma, testaram-se dois diferentes níveis de

diluição: 1:10 e 1:20, em quintuplicatas (n = 5) para as quatro substâncias de interesse

(COC, BZE, EME e CET). De uma maneira geral, exceto no caso da EME, o erro

associado à diluição se mostrou crescente conforme a amostra foi mais diluída. Para

as diluições de 1:10, os valores de imprecisão foram sempre inferiores a 11,3%, e a

exatidão esteve sempre contida em intervalo de 89,0 a 114,7%. No caso das diluições

de 1:20, a imprecisão esteve sempre menor que 7,4%, e a exatidão contida em

intervalo de 86,1 a 112,6%. Os valores de erro individuais bem como as concentrações

calculadas, levando em conta o fator de diluição, podem ser encontrados na Tabela

12 e se encontram dentro dos limites requeridos pelo método, confirmando que estas

diluições podem ser feitas sem prejuízos às análises.

COC-d3 COC BZE EME CET

CB 101,0 105,4 104,3 119,7 106,4

CA 91,4 88,7 94,4 90,6 92,2

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Para o estudo de estabilidade, as amostras foram armazenadas nos controles

baixo (75 ng mL-1) e alto (800 ng mL-1) em três diferentes condições de

armazenamento: ambiente, geladeira (4 °C) e freezer (-20 °C), utilizando sílica em gel

para manter as amostras livres de umidade. As amostras preparadas foram

quantificadas para a COC e seus metabólitos no dia em que foram preparadas, e as

amostras armazenadas foram analisadas em intervalos de 3, 7, 15, 30, 60 e 90 dias

para que a estabilidade fosse testada. Para que o analito fosse considerado estável,

era necessário que as concentrações calculadas após cada intervalo de tempo

apresentassem desvios menores do que aqueles aceitos pelo método. Ou seja, que

os valores de concentração encontrados deveriam estar entre 80 a 120% do inicial.

Após o estudo para todo o intervalo proposto, foi possível notar que a estabilidade da

COC, BZE e CET foi mantida para até 90 dias em todas as condições de

armazenamento. Para a EME, inicialmente observou-se uma queda da concentração

com valores de concentração abaixo de 80% do valor inicial no intervalo de 15 dias,

Tabela 12. Valores obtidos para estudo da integridade de diluição para uma amostra padrão

de concentração nominal 5000 ng mL-1.

Fator de

Diluição

Concentração

(ng mL-1)

C.V.

(%) (n=5)

bias

(%)

COC 1:10 5269,2 0,5 104,8-106,1

1:20 5189,1 6,7 98,2-111,9

BZE 1:10 4765,8 3,1 91,5-98,5

1:20 4625,7 4,8 87,2-98,7

EME 1:10 5105,4 11,3 89,0-114,7

1:20 4647,0 6,0 86,1-98,5

CET 1:10 4970,7 1,6 97,7-101,9

1:20 5071,1 7,4 92,2-112,6

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quando mantido em geladeira para ambos CB e CA; porém, no dia 30, as

concentrações voltaram a se encaixar no intervalo permitido, levando a acreditar que

os erros tenham sido devido à curva construída neste dia. Uma vez que a EME coelui

logo no início da corrida juntamente com outros interferentes, os erros para este

analito geralmente são os maiores. Sendo assim, este estudo foi repetido neste

mesmo intervalo obtendo valores de concentração onde a estabilidade foi mantida

para 15 dias, confirmando a suspeita de que tenha sido um erro pontual. Os resultados

obtidos podem ser observados para o CB pela Figura 13 e para o CA na Figura 14.

Através dos gráficos de estabilidade foi possível notar que todos os analitos

provaram ser igualmente estáveis em todas as situações de armazenamento,

demonstrando que, para técnica de DUS, a temperatura de armazenamento não

possui grande influência na estabilidade.

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Figura 13. Estabilidade em 0, 3, 7, 15, 30, 60 e 90 dias para amostras do controle baixo (75 ng mL-1) para as amostras de (a) COC, (b) BZE, (c) EME e (d) CET, mantidas em três

diferentes condições de temperatura: ambiente, geladeira (4 °C) e freezer (-20 °C).

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Figura 14. Estabilidade em 0, 3, 7, 15, 30, 60 e 90 dias para amostras do controle alto (800 ng mL-1) para as amostras de (a) COC, (b) BZE, (c) EME e (d) CET mantidas em três diferentes condições de temperatura: ambiente, geladeira (4 °C) e freezer (-20 °C).

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60

4.1.3. Aplicação

Através do método de DUS com análise por LC-MS/MS foi possível quantificar as

cinco amostras positivas. Uma vez que a maioria destas amostras apresentaram

valores de concentrações de cocaína ou metabólitos maior do que o limite superior da

curva, diluições das amostras foram necessárias. As amostras que apresentaram

valores acima do LQ do método (25 ng mL-1) foram quantificadas em triplicata, e as

concentrações encontradas, tais como seus desvios, estão presentes na Tabela 13.

Tabela 13. Resultados encontrados na aplicação do método de DUS para amostras positivas

em triplicata (n=3).

Através da quantificação das amostras positivas foi possível observar que, como

citado anteriormente, a maior parte da droga de abuso em estudo é excretada na urina

na forma de seus metabólitos, sendo o BZE o metabólito presente em maior

concentração seguido pelo EME. Assim, estas duas substâncias apresentaram

valores de concentração expressivos em todas as amostras, diferentemente da

Amostra Fator de Diluição

Conc. ± I.C. (ng mL-1) (n=3, 95%)

C.V. (%) (n=3)

COC 1 1:10 - - 2 1:500 28822,7 ± 1461,2 2,0

3 1:1 - - 4 1:10 3364,2 ± 74,3 0,9 5 1:1 - -

BZE 1 1:10 2300,3 ± 464,9 8,1 2 1:500 237647,2 ± 3515,7 0,6 3 1:1 369,6 ± 13,3 1,5 4 1:10 3122,8 ± 122,7 1,6 5 1:10 1609,8 ± 309,0 7,7

EME 1 1:10 1219,4 ± 69,8 2,3 2 1:500 103856,2 ± 144,2 0,6 3 1:1 49,6 ± 7,9 6,4 4 1:10 2850,6 ± 188,1 2,7 5 1:1 423,5 ± 91,0 8,6

CET 1 1:10 - - 2 1:500 - - 3 1:1 - - 4 1:10 2254,6 ± 82,2 1,5 5 1:1 34,8 ± 4,9 5,7

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cocaína que apresentou valores considerados positivos pelo método apenas para

duas das cinco amostras (2 e 4).

Uma vez que as amostras analisadas foram cedidas por um centro de controle

de intoxicações, estas geralmente vêm de usuários frequentes ou que consumiram a

droga em altas quantidades, o que justifica as altas concentrações encontradas e que

levaram à necessidade de diluição na maior parte das amostras, exceto para a

amostra 3 e a 5 para alguns dos compostos. Muito embora no caso da amostra 2 o

fator de diluição necessário tenha sido de 1:500, e, do ponto de vista dos guias de

validação fosse interessante testar a credibilidade deste fator, a concentração das

soluções dos padrões de referência presentes no laboratório não permitiram este

estudo. Todavia, as triplicatas das amostras apresentaram um coeficiente de variação

baixo (C.V. ≤ 8,6%), indicando uma boa precisão nas análises.

Como também mencionado anteriormente, o CET é um metabólito que será

encontrado apenas em casos em que, juntamente com o uso da cocaína, houve

consumo de álcool. Sendo assim, a amostra 4 foi a única que apresentou este

metabólito em quantidades expressivas, próximas aos demais metabólitos.

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62

4.2. THC

A primeira etapa para iniciar o desenvolvimento do método consistiu-se na

otimização instrumental. Após a obtenção dos parâmetros instrumentais por infusão

direta para o espectrômetro de massas (ABSciex 5500QTRAP) e a otimização das

condições cromatográficas, foi possível obter os dados apresentados na Tabela 5

(página 39) que geraram os cromatogramas representado na Figura 15. Uma vez que

o THC apresentou uma melhor ionização no modo positivo (ESI-(+)) e seus

metabólitos no modo negativo (ESI-(-)), a cromatografia foi otimizada no modo de

polarity switch, que permite a aquisição de ambos modos de ionização em uma única

análise.

Conforme mencionado, grande parte do principal metabólito encontrado na

urina, o THC-COOH, encontra-se conjugado com ácido glicurônico, o que faz com que

uma etapa de hidrólise seja necessária para quantificá-lo em sua forma livre. Portanto,

uma reação de hidrólise básica foi adicionada utilizando-se de procedimentos

empregados na rotina e encontrados na literatura [64].

Posteriormente à hidrólise, a adição de ácido acético glacial é necessária uma

vez que o pKa do THC e seus metabólitos são, respectivamente, pKaTHC = 10,6 (THC),

pKaTHC-OH = 3,7 (THC-OH) e pKaTHC-COOH = 4,1 (THC-COOH). Portanto, uma maior

recuperação da extração é fornecida quando realizada em valores de pH em torno de

THC-OH

THC-COOH +

THC-COOH-d3

THC +

THC-d3

ESI (+)

ESI (-)

Figura 15. Cromatograma de polarity switch da separação do THC (ESI-(+)) e

seus metabólitos (ESI-(-)).

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63

3, nos quais todas as espécies de interesse se encontram em suas formas não

dissociadas e possuem maior afinidade com os solventes orgânicos.

De acordo com a SAMHSA [63], os valores sugeridos de corte (cut off) em

ensaios preliminares e confirmação do THC e seus principais metabólitos em urina

são, respectivamente, 50 e 15 ng mL-1 em análises de rotina, geralmente realizadas

por GC-MS. Sendo assim, houve uma necessidade de que a curva analítica fosse

construída em um intervalo de, pelo menos,10 a 500 ng mL-1 em seis níveis de

concentração (10, 25, 50, 100, 250 e 500 ng mL-1) e padrão interno (THC-COOH-d3 e

Δ9-THC-d3) com concentração em 100 ng mL-1. Devido à baixa reprodutibilidade na

extração destes analitos, a adição de padrão interno se fez necessária juntamente

com a adição dos analitos na urina de forma com que ambos fossem extraídos juntos,

minimizando os erros das razões entre as áreas dos analitos pelas áreas do padrão

interno.

Após realizar o preparo de amostra conforme previamente detalhado e

submetê-la à hidrólise e subsequente acidificação do meio, foi necessário otimizar a

extração dos analitos. Como solvente de extração foram testados aqueles mais

comumente utilizados para esta droga de abuso: hexano (HEX), acetato de etila (AE),

éter metil-terc-butílico (MTBE), diclorometano (DCM) e clorofórmio (CHCl3). Além

disto, foram testadas misturas de solventes, como HEX:AE (8:2, v/v) e CHCl3:AE (6:4,

v/v) conforme propostos na literatura [65]. Para cada um destes solventes, um volume

de 1000 µL foi adicionado, uma vez que em extrações líquido-líquido é recomendado

que se utilize um volume de solvente orgânico que possua pelo menos duas vezes o

volume da fase aquosa. A área total extraída dos analitos para os diferentes solventes

e misturas destes foram comparadas e analisadas individualmente para cada analito,

e podem ser observadas na Figura 16.

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64

Figura 16. Gráfico de colunas referentes à área total extraída de cada analito nos diferentes

solventes de extração para amostras em concentração de 100 ng mL-1.

Analisando as áreas totais extraídas, foi possível perceber que solventes mais

polares irão favorecer a extração dos metabólitos, uma vez que estes também se

mostram polares. Porém, as misturas de solventes foram, de fato, as mais favoráveis

para todos, o que está de acordo com o relatado por Nestic et al [65].

Além disto, outros parâmetros testados com intuito de melhorar a recuperação

dos analitos foram o tempo de extração e o material do recipiente utilizado nesta

etapa. A necessidade de se testar o material do tubo no qual a extração é realizada

se deu devido ao fato de que diversos trabalhos na literatura reportam que o THC, por

possuir propriedades lipofílicas, possui grande afinidade principalmente pelos

materiais plásticos como polipropileno, o que poderia diminuir a área total extraída

uma vez que poderia haver perda de analito por adesão às paredes do tubo [66].

Assim, foi construído um planejamento experimental do tipo Planejamento

Fatorial (D-Optimal) (Design-Expert 6.0.4). Neste planejamento, três fatores foram

avaliados: tempo de extração (1), solvente de extração (2) e material do tubo (3). O

fator 1 foi avaliado em três níveis (15, 30 e 45 minutos); o fator 2, em dois níveis

(hexano ou hexano: acetato de etila 9:1, v:v), e o fator 3, também em dois níveis

(polipropileno ou vidro). As áreas totais obtidas para a extração utilizando as diferentes

combinações dos fatores, propostas pelo software, foram inseridas como resposta

para que, através da função de desejabilidade fosse possível obter a combinação que

favorecesse ao mesmo tempo todos os analitos. O planejamento experimental

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

THC THC-OH THC-COOH THC-d3 THC-COOH-d3

Áre

a T

ota

l

HEX MTBE DCM AE CHCl3 HEX:AE (8:2) CHCl3:AE (6:4)

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65

retornou 4 soluções com desejabilidade próximas e maiores que 0,3 que podem ser

observadas na Tabela 14.

Através dos resultados deste planejamento, foi possível observar que para as

soluções encontradas os valores de desejabilidade, além de serem bastante similares,

são baixos e estão longe do máximo ideal (1,0). Além disto, foi possível notar que,

para os fatores testados, a dependência da área total extraída em função do tempo

foi irrelevante, uma vez que tempos de extração maiores não foram suficientes para

extrair os analitos em quantidades relevantemente maiores. Além disto, a

dependência com o tipo de material utilizado na extração também se demonstrou

irrelevante. O único fator que, a princípio, demonstrou relevância foi o tipo de solvente

extrator a ser utilizado, uma vez que as 4 principais soluções encontradas apontaram

para uma mistura de solventes, confirmando mais uma vez os resultados da Figura .

Uma vez que um maior tempo de extração não apresentou um aumento das

áreas totais extraídas, é possível que tenha ocorrido saturação do solvente. Para

testar essa hipótese, extrações realizadas com um mesmo solvente (1000 µL) durante

30 minutos, sem interrupção, foram comparadas com duas extrações consecutivas de

15 minutos de duração, onde após 15 minutos a primeira alíquota de solvente foi

recolhida e transferida para outro tubo e um novo solvente foi adicionado para mais

15 minutos de extração. Este teste foi realizado em três níveis distintos de

concentração para os analitos (10, 100 e 500 ng mL-1). Os resultados obtidos podem

ser encontrados na Figura 17.

Tabela 14. Resultado do planejamento experimental. Os valores de área total média dos

cromatogramas são dados como resposta.

Solução Tempo Solvente Material THC THC-OH

THC-COOH

THC-d3

THC-COOH-

d3

Desejabilidade

1 15 HEX:AE Vidro 9234 29761 168600 52125 259053 0,387 2 45 HEX:AE Plástico 12834 30257 179975 20713 267189 0,375 3 15 HEX:AE Plástico 12760 28939 138640 17963 229014 0,327 4 45 HEX:AE Vidro 9307 31080 209935 10104 297228 0,318

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Figura 17. Área total dos analitos extraídos em uma única extração de 30 minutos e em duas

extrações consecutivas em 15 minutos cada.

Através das áreas totais extraídas, foi possível confirmar a hipótese de que

duas extrações consecutivas são mais eficientes na extração dos analitos do que uma

única extração. Além disto, quanto maior a concentração dos compostos maior a

diferença da área total extraída, indicando que pode haver uma saturação pelo

solvente.

Apesar de vários testes terem sido realizados no intuito de otimizar a extração,

ainda não foi possível obter uma metodologia que pudesse ser validada. Os principais

problemas encontrados neste caso foram a detectabilidade do método, uma vez que

os valores de corte para o principal metabólito encontrado em urina, o THC-COOH, é

de 15 ng mL-1, e as amostras de DUS passam por diversas etapas de extração, onde

podem ocorrer perdas, além de diluição dos analitos. Outro problema encontrado foi

a reprodutibilidade, uma vez que os erros relacionados à imprecisão (C.V.) se

encontravam sempre em valores muito altos, o que era minimizado para as razões

dos analitos em relação ao padrão interno quando este era adicionado juntamente

porém, isto não foi o suficiente para validação da metodologia.

0

2500000

5000000

30 min 15 + 15min

30 min 15 + 15min

30 min 15 + 15min

10 ng mL-¹ 100 ng mL-¹ 500 ng mL-¹

Áre

a T

ota

l dos

C

rom

ato

gram

as

Concentração dos Analitos

THC-COOH

THC-OH

THC

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5. Conclusões

Para a cocaína e seus metabólitos o método desenvolvido se demonstrou

simples e eficiente, uma vez que as etapas de preparo da amostra e extração dos

analitos não são longas e/ou tediosas e os resultados obtidos demonstraram boa

reprodutibilidade e seletividade, com desvios sempre dentro dos valores aceitos pelo

guia de validação (SWGTOX). Além disto, todas as análises em DUS foram realizadas

utilizando somente volumes de 20 µL de urina por amostra, sem a necessidade de

armazenamento de grandes volumes. Os estudos realizados em três condições de

temperatura de armazenamento (ambiente, geladeira e freezer) indicaram que tanto

para a COC quanto para seus metabólitos (BZE, EME e CET) a estabilidade pode ser

preservada em pelo menos até 90 dias, sendo esta independente da temperatura, o

que seria mais uma grande vantagem desta técnica, uma vez que estas amostras

podem ser facilmente armazenadas em envelopes, mesmo mantidas em condições

ambiente e livres de umidade. Além disto, como a estabilidade da COC e seus

metabólitos em urina geralmente é dependente do pH, no método de DUS, onde a

matriz é seca, não há necessidade de controle deste parâmetro. Outra grande

vantagem do DUS é que a manipulação e transporte dessas amostras é muito mais

simples e segura do que os métodos convencionais. Nas amostras positivas, o método

desenvolvido se mostrou adequado na quantificação, com valores de imprecisão entre

as triplicatas consideravelmente baixo e aceito pelo guia de validação (C.V. ≤ 8,6) para

triplicatas de extração.

Para o THC e seus metabólitos, diversos estudos foram realizados no intuito de

desenvolver um método de preparo de amostra e extração pós-hidrólise. Estes testes

permitiram concluir que os tempos de extração para estes analitos não influenciam

tanto na eficiência da extração, e, neste caso, extrações consecutivas são mais

eficientes. Além disto, uma vez que estes analitos possuem polaridades distintas entre

si, misturas de solvente são mais eficazes do que um único solvente de extração.

Outro fator que se demonstrou irrelevante é o material do tubo recipiente onde a

amostra é extraída. Apesar de todos os testes realizados, não foi possível o

desenvolvimento de um método que atendesse aos requisitos do guia de validação

seguido durante o trabalho (SWGTOX) e, portanto, a reprodutibilidade e

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detectabilidade da técnica necessitam de ajustes para que um método eficiente seja

desenvolvido e validado.

De uma forma geral, a técnica possui diversas vantagens mencionadas

anteriormente pela literatura e comprovadas durante os experimentos. Porém, apesar

de ser uma das principais vantagens do DUS, o pequeno volume de amostra utilizado,

na escala de microlitros, também pode ser uma desvantagem, tendo em vista que

técnicas com grande poder de detectabilidade e sensibilidade serão essenciais nos

estudos e muitas vezes podem não ser o suficiente, como no estudo aplicado ao THC

neste trabalho.

Finalmente, a técnica de DUS requer preparos simples, e uma vez que

metodologias bem estabelecidas sejam validadas, esta pode ser uma substituição das

técnicas convencionais de amostragem e pode ser inserida em rotina de laboratórios

de toxicologia clínica e forense.

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7. Anexos

Anexo 1. Parecer do comitê de ética.