Dissertação Rodrigo

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Filosofia e Ciências Campus de Marília RODRIGO FLORENCIO DE ATAYDE AS TICs NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: CRENÇAS DE UMA PROFESSORA E DE SEUS ALUNOS DE GRADUAÇÃO MARÍLIA 2010

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Exame geral de defesa apresentada à Universidade Estadual “Julio de Mesquita Filho”, como parte dos requisitos para obtenção de título de Mestre em Educação. Área de Concentração 1: Ensino na Educação Brasileira. Linha 03 - Abordagens Pedagógicas do Ensino de Linguagens Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mariangela Braga Norte.

Transcript of Dissertação Rodrigo

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

    Faculdade de Filosofia e Cincias Campus de Marlia

    RODRIGO FLORENCIO DE ATAYDE

    AS TICs NO PROCESSO DE FORMAO DE PROFESSORES DE LNGUA

    ESTRANGEIRA: CRENAS DE UMA PROFESSORA E DE SEUS ALUNOS

    DE GRADUAO

    MARLIA

    2010

  • 2

    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

    Faculdade de Filosofia e Cincias Campus de Marlia

    RODRIGO FLORENCIO DE ATAYDE

    AS TICs NO PROCESSO DE FORMAO DE PROFESSORES DE LNGUA

    ESTRANGEIRA: CRENAS DE UMA PROFESSORA E DE SEUS ALUNOS

    DE GRADUAO

    Exame geral de defesa apresentada Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obteno de ttulo de Mestre em Educao. rea de Concentrao 1: Ensino na Educao Brasileira. Linha 03 - Abordagens Pedaggicas do Ensino de Linguagens

    Orientadora: Prof. Dr. Mariangela

    Braga Norte.

    Marlia

    2010

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    Ficha Catalogrfica

    Servio de Biblioteca e Documentao UNESP - Campus de Marlia

    Atayde, Rodrigo Florncio de.

    A862t As TICs no processo de formao de

    professores de lngua estrangeira : crenas de

    uma professora e de seus alunos de graduao /

    Rodrigo Florncio de Atayde. Marlia, 2010. 144 f. ; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, 2010.

    Bibliografia: f. 114-119.

    Orientador: Profa. Dra. Maringela Braga Norte.

    1. Tecnologia da informao e comunicao Usos e crenas. 2. Lngua estrangeira Formao de professores. 3. Ensino superior Inovaes tecnolgicas. I. Autor. II. Ttulo.

    CDD 420.7

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    RODRIGO FLORENCIO DE ATAYDE

    AS TICs NO PROCESSO DE FORMAO DE PROFESSORES DE LNGUA

    ESTRANGEIRA: CRENAS DE UMA PROFESSORA E DE SEUS ALUNOS

    DE GRADUAO

    Exame geral de defesa apresentada Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obteno de ttulo de Mestre em Educao. rea de Concentrao 1: Ensino na Educao Brasileira. Linha 03 - Abordagens Pedaggicas do Ensino de Linguagens Orientadora: Prof. Dr. Mariangela Braga Norte.

    Dissertao para obteno do ttulo de Mestre em Educao

    Data de Aprovao: 28/ 07 / 2010 BANCA EXMINADORA Presidente e Orientador: ________________________________________

    Prof. Dr. Mariangela Braga Norte Prof. Dr. do Departamento de Cincia da Informao da Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp Marlia-SP.

    Membro Titular: _______________________________________ Prof. Dr. Cleide Antonia Rapucci Prof. Dr. do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Cincias e Letras Unesp Assis-SP

    Membro Titular: ________________________________________

    Prof. Dr. Dagoberto Buim Arena Prof. Dr. do Departamento de Didtica da Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp Marlia-SP

    Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Filosofia e Cincias UNESP MARLIA-SP.

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    Agradecimentos

    Maria, Maria

    um dom, uma certa magia

    Uma fora que nos alerta

    Uma mulher que merece

    Viver e amar

    Como outra qualquer

    Do planeta

    Maria, Maria

    o som, a cor, o suor

    a dose mais forte e lenta

    De uma gente que r

    Quando deve chorar

    E no vive, apenas aguenta

    Mas preciso ter fora

    preciso ter raa

    preciso ter gana sempre

    Quem traz no corpo a marca

    Maria, Maria

    Mistura a dor e a alegria

    Mas preciso ter manha

    preciso ter graa

    preciso ter sonho sempre

    Quem traz na pele essa marca

    Possui a estranha mania

    De ter f na vida.... (Milton Nascimento e Fernando Brant)

    Encontrei em Milton Nascimento minhas sensaes para explicar o tom que

    me deram as Marias da minha vida. As Marias Terezas, as Tutas, as Inezes,

    as Lenas, as Angelas e tantas outras que marcaram os caminhos que percorri

    ao som da mquina de costurar, por dar cor de um esprito transparente que

    o corpo traz na essncia de sua alma, pelos tantos pes, bolos e belisces

    que me ensinaram como exemplo de um trabalho digno e pela dose mais

    forte de carinho, amor e de respeito que demostraram a mim.

    Trago um inexplicavel sentimento de gratido, de amor e de carinho pelos

    meus pais pela grande oportunidade de viver os prazeres de uma vida

    simples tocada pela toada de uma viola sertaneja.

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    Ao meu irmo e esposa agradeo a energia recproca que trocamos durante

    a realizao de nossos cursos. Ao meu sobrinho que em sua pureza de

    criana aprendeu logo cedo que o papai e o titio esto estudando.

    Agradeo a Prof. Dr. Mariangela Braga pela pessoa humana que , pela

    enorme generosidade e simplicidade com que me recebeu para esta

    orientao, ainda pela responsabilidade e confiana que depositou e,

    sobretudo pela liberdade de criao que me concedeu.

    Agradeo ao professor Eduardo Manzini, pelas contribuies nas questes

    metodolgicas, aos professores Dr. Dagoberto Buim Arena, Prof. Dr. Cleide

    Antonia Rapucci e Prof. Dr. Stela Miller que gentilmente aceitaram

    contribuir para construo deste trabalho.

    Mi muchas gracias aos alunos que participaram desta pesquisa, ficaro

    lembranas de bons momentos.

    professora e amiga Mrcia por me acolher em suas aulas e mostrar-se

    transparente, sem medo do desafio de trabalhar com as TICs.

    Aos meus amigos Karina, Reinaldo, Milena, Fausto, Breila, Enzo e Adriana

    que contriburam doando muitas voltas de alegria e felicidade e a todos que

    mesmo de longe compartilharam comigo muitas emoes.

    Ao meu grande amigo e companheiro Rmulo que compartilhou grandes

    momentos deste trabalho, que este lhe sirva como estmulo em sua

    profisso.

    No posso esquecer a minha fiel companheira Juanita que me acompanha por

    muitos anos dormindo sobre meus ps enquanto estudava e latindo para me

    acordar.

    A CAPES pelo apoio financeiro que tanto auxiliou na realizao deste

    trabalho.

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    ABRAZO

    Un simple abrazo nos enternece el corazn;

    nos da la bienvenida y nos hace ms llevadera la vida.

    Un abrazo es una forma de compartir alegras

    as como tambin los momentos tristes que se nos presentan.

    Es tan solo una manera de decir a nuestros amigos

    que los queremos y que nos preocupamos uno por el otro

    porque los abrazos fueron hechos para darlos a quienes queremos.

    El abrazo es algo grandioso.

    Es la manera perfecta para demostrar el amor que sentimos

    cuando no conseguimos la palabra justa.

    Es maravilloso porque tan slo un abrazo dado con mucho cario,

    hace sentir bien a quien se lo damos, sin importar el lugar ni el idioma

    porque siempre es entendido.

    Por estas razones y por muchas ms...

    hoy te envo mi ms clido abrazo.

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    RESUMO

    ATAYDE, Rodrigo Florncio. As TICs no processo de formao de professores

    de lngua estrangeira: crenas de uma professora e de seus alunos de

    graduao. 2010. 144 f. Dissertao - (Mestrado em Educao) Faculdade de

    Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2010.

    A presente pesquisa, de natureza qualitativa, teve por objetivo observar nas

    relaes que graduandos e professores estabelecem com as Tecnologias de

    Informao e Comunicao (TICs), suas crenas em relao ao uso das TICs

    durante o processo de formao de professores de lngua estrangeira. Para

    tanto, buscamos no curso de Letras a disciplina Laboratrio de Lnguas como

    ambiente para levantamento das crenas dos graduandos e da professora em

    relao ao discurso e ao uso das TICs. Buscou-se, tambm, propiciar

    professora e aos alunos participantes atividades prticas com propsito de

    observar possveis mudanas das crenas dos envolvidos em relao ao

    discurso e ao uso das TICs. Assim, adotamos uma abordagem contextual

    (Barcelos, 2001) para o estudo das crenas e, para tal, o contexto histrico,

    poltico, ideolgico, cultural e social dos envolvidos. A coleta de dados ocorreu

    durante a disciplina Laboratrio de Lnguas ministradas no curso de Letras

    durante dois semestres de trinta e seis horas aulas cada. Os participantes

    desta pesquisa foram 16 alunos da disciplina e a professora que ministrou as

    aulas. Como instrumento para coleta de dados recorrermos aplicao de

    questionrios, autobiografias, entrevistas semi-estruturadas realizada com os

    alunos e com a professora todas gravadas em udio, observao de aulas,

    sesso de visionamento, dirio do pesquisador, gravao de aulas em vdeo e

    udio. Os dados revelam que os graduandos e a professora possuem crenas

    em comum relao disciplina Laboratrio de Lnguas, pois ora reconhecem a

    importncia das TICs numa sociedade altamente tecnolgica, ora apresentam

    contradies entre discurso e prtica em relao e ao uso das TICs. No

    entanto, possvel notar mudanas positivas nos discurso que apontam

    mudanas nas relaes dos graduandos e da professora frente s TICs.

    Palavras chaves: Tecnologia da Informao e Comunicao, Lngua

    Estrangeira, Crenas.

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    Abstract

    ATAYDE, Rodrigo Florncio. The ICT in the graduation process as foreign

    language teacher: professor and pupils graduation beliefs. 2010. 144 f.

    Dissertao - (Mestrado em Educao) Faculdade de Filosofia e Cincias,

    Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2010.

    The present research by qualitative nature had the aim to observe the relations

    of the pupils and professors establish with the Information and Communication

    Technologies (ICT), their beliefs regarding to the use of ICTs during the

    graduation process as a Foreign Language Teachers. Therefore, we searched

    in the Language Degree course the Language Laboratory discipline as

    environment to raising the pupils and professor beliefs in relation to the speech

    and use of ICTs. We searched as well, provide to the professor and pupils

    practice activities with the purpose to observe possible changes in the students

    beliefs regarding to the speech and use of ICTs. Thus, we adopted a contextual

    approach (Barcelos, 2001) to the study of beliefs and the historical, political,

    ideological, cultural and social context of the students. The data were collected

    during the Language Laboratory disciplines taught in the Language Degree

    course during two semesters of thirty six hours each. The participants of this

    research were sixteen students of this discipline and the teacher that taught

    them. The data were collected through questionnaires, autobiography, semi-

    structured interviews realized with the pupils and professor all recorded in

    audio, observation in class, viewing sessions, researcher diary, and audiovisual

    classes recordings. Data reveals that the pupils and professor have their own

    beliefs in common relation to the Language Laboratory discipline; therefore they

    know the importance of ICTs in a highly technological society, and however

    they present contradictions between speech and practice in relation and use of

    ICTs. Nevertheless, it is possible to notice positive changes in the speech that

    points to changes in the student and professors relation front ICTs.

    Key-Words: Information and Communication Technologies (ICT), Foreign

    Language and Beliefs.

  • 10

    LISTA DE ABREVIAES

    PALAVRA SIGLA

    Aluno identificado (A primeira letra do nome) (aluno X)

    Lngua estrangeira LE

    Laboratrio de Lnguas LL

    Professora Observada PO

    Tecnologias de Informao e Comunicao TICs

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: ......................................................................................................... 34

    Quadro 2: ......................................................................................................... 35

  • 11

    SUMRIO

    1 Introduo.................................................................................................... 14

    1.1 Problematizao e justificativa da pesquisa............................................... 16

    1.2 Objetivos..................................................................................................... 17

    1.3 Perguntas de pesquisa............................................................................... 18

    1.4 Natureza e metodologia da pesquisa......................................................... 18

    1.5 Organizaes da dissertao..................................................................... 19

    2 Metodologias da Pesquisa.........................................................................20

    2.1 Natureza da pesquisa .................................................................................20

    2.2 Descrio do Ambiente................................................................................23

    2.3 Disciplina Laboratrio de Lnguas............................................................... 25

    2.4 Participantes da Pesquisa ......................................................................... 26

    2.4.1 Alunos...................................................................................................... 26

    2.4.2 professores.............................................................................................. 27

    2.5 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados ................................... 28

    2.5.1Questionrio ............................................................................................. 29

    2.4.2 Entrevista .................................................................................................30

    2.5.3 Autobiografias ..........................................................................................32

    2.5.4 Sesso de Visionamento .........................................................................32

    2.5.5 Observao de aulas ...............................................................................33

    2.5.6 Atividades propostas ................................................................................36

    2.5.6.1 Mini-curso Informtica da Comunidade ............................................. 36

    2.5.6.2 Uma experincia On_line.......................................................................37

    2.5.6.2 Elaborao de um Plano de aula..........................................................39

    2. 6 Procedimentos de anlise de dados ..........................................................40

    3 Fundamentao Terica.............................................................................. 42

    3.1 Histrico do curso de Letras .......................................................................42

    3.1.2 Viso histrica da informtica na educao............................................ 45

    3.1.3 Informtica na educao: tipos de abordagem.........................................47

    3.1.3.1 Vises da tecnologia .............................................................................49

    3.1.3.2 Abordagem Instrucionista e Construcionista.........................................50

    3.1.3.3 Abordagem por ciclos ou espiral............................................................53

    3.2 Formao de professores...........................................................................55

  • 12

    3.2.1 Conceito de Mtodo..................................................................................56

    3.2.2 Alguns tipos de Mtodos...........................................................................59

    3.2.3 Abordagem Comunicativa.........................................................................61

    3.2.4 Abordagem reflexiva e a formao de professores................................. 63

    3.2.5 Mdia, Educao e formao de professores.......................................... 68

    3.3 Conceito de crenas .................................................................................. 72

    3.3.1 Crenas na formao inicial..................................................................... 75

    4 Anlise e Discusso dos Dados .................................................................78

    4.1 Questionrio ............................................................................................... 78

    4.1.1 Questionrio aplicado aos alunos ........................................................... 79

    4.1.2 Questionrio aplicado a professora ........................................................ 80

    4.2 Entrevistas.................................................................................................. 80

    4.2.1 Motivos a cerca da escolha do curso e pela lngua estrangeira.............. 82

    4.2.2 Crenas em relao carga horria de LE para formao do

    professor........................................................................................................... 89

    4.2.3 Crenas sobre a disciplina Laboratrio de Lnguas na formao do

    professor de LE................................................................................................. 91

    4.2.4 Crenas em relao as TICs para formao em lngua

    estrangeira.........................................................................................................94

    4.2.5 Mudana de crenas em relao carga horria.....................................95

    4.2.6 Contribuies da disciplina laboratrio de lnguas na formao do

    professor em LE................................................................................................ 97

    4.2.7 Contribuies das TICs na formao do professor em lngua

    estrangeira.......................................................................................................102

    4.3 Entrevista com a professora da disciplina Laboratrio de Lnguas...........103

    4.4 Sesso de Visionamento ......................................................................... 107

    4.5 Autobiografias............................................................................................109

    5 Consideraes Finais................................................................................ 111

    REFERNCIAS ..............................................................................................114

    ANEXO A ........................................................................................................120

    APNDICE A...................................................................................................122

    APNDICE B ..................................................................................................123

    APNDICE C ..................................................................................................126

    APNDICE D ..................................................................................................127

  • 13

    APNDICE E ..................................................................................................128

    APNDICE F ..................................................................................................137

    APNDICE G ..................................................................................................138

    APNDICE H ..................................................................................................144

  • 14

    1 Introduo

    A histria do homem na Terra pautada por seu desenvolvimento social,

    intelectual e tecnolgico. De Johannes Gutenberg a Bill Gates, pessoas que

    revolucionaram os meios de informao e comunicao no mundo

    contemporneo, a humanidade tem evoludo por meio de suas relaes com

    seus inventos tecnolgicos, transformando continuamente a prpria histria.

    Concordamos com Litto (1999, p. 89) quando diz estamos vivendo uma

    transformao que mudar a poltica e a economia do futuro. As tecnologias de

    informao e comunicao (TICs) so responsveis por impulsionar uma

    verdadeira mudana social, digital. Tal transformao expandiu-se alm mar,

    modificando seu conceito, sobretudo seu uso, inundando as salas de aulas

    com equipamentos de ltima gerao, mas com remadores pouco preparados

    para navegar por esses mares.

    Sendo assim, temos a sensao de que os corredores escolares esto

    cheios de mquinas de ensinar de Skinner, fileiras de computadores

    afundando-se no processo ensino e aprendizagem, muitas vezes esquecidos

    num mundo impregnado de informaes advindas de diferentes fontes, onde

    somos "educados" por estas novas tecnologias de informao e comunicao a

    todo instante (TOSCHI, 2005).

    O uso das TICs no sistema educacional como recurso que contribui para

    construo do conhecimento individual e coletivo tem sido aligeirado pelas

    polticas para o uso das TICs na educao. Moraes (2006) afirma que desde as

    suas origens a poltica de informtica e a informtica na educao brasileira

    so contraditrias dependentes e subordinadas aos padres internacionais,

    no se ocupando em atender aos direitos e necessidades da maioria excluda

    da populao, em atender as demandas educacionais, sobretudo as demandas

    em relao formao, seja geral ou de capacitao tecnolgica. (MORAES,

    2006, p. 16)

    Neste contexto, h quem evite ou reduz o uso das TICs na suposio de

    que prejudica o processo de ensino e aprendizagem, devido falta de infra-

    estrutura tecnolgica nos ambientes educacionais e a falta de polticas, mas

  • 15

    tambm devido formao inicial de professores e suas crenas em relao ao

    uso das tecnologias na construo do conhecimento.

    Muitos estudos sobre formao de professores de lnguas estrangeiras

    (LE) tem sido alvo de pesquisas tanto em contexto nacional encontramos Moita

    Lopes (1996); Almeida Filho (1999); Leffa (2001), quanto ao contexto

    internacional Richards e Lockhart (1994); Zeichner e Liston (1996); Richards

    (1998).

    J os estudos acerca de crenas comeam a ser alvo de pesquisas no

    exterior por volta da dcada de oitenta e no Brasil em meados de noventa

    (BARCELOS, 2004). Barcelos (2001) atenta para os diversos termos para o

    conceito de crenas em outras reas do conhecimento como a Psicologia,

    Filosofia, Educao e na Lingustica Aplicada.

    Para Silva (2007) crescente os estudos sobre o tema, sobretudo na

    lingustica aplicada onde o termo pode ser compreendido como conhecimento

    metacognitivo (WENDEN, 1986), crenas (WENDEN, 1986), crenas

    culturais (GARDNER, 1988), teorias folclrico-lingustica de aprendizagem

    (MILLER e GINSBERG, 1995 apud BARCELOS, 2004), cultura de aprender

    (ALMEIDA FILHO, 1998) e cultura de aprender lnguas (BARCELOS, 1995),

    dentre outros termos empregados para se referir s crenas sobre

    aprendizagem de lnguas (SILVA, 2007 p. 242).

    De acordo com Barcelos (1995) o desenvolvimento do mtodo de

    investigao que de maneira geral, baseia-se na anlise da fala/escrita e das

    aes dos participantes, classificado em abordagem normativa,

    metacognitiva e contextual. A autora (2000) advoga ainda sobre a necessidade

    de estudos contextuais, atentando para a construo de um referencial de

    formao inicial de professor que leve em conta a identidade dos contextos

    sociais brasileiros.

    Embora muitos desses problemas sejam alvos de pesquisas,

    pretendemos discutir a incluso das TICs no processo de formao inicial de

    professores de lnguas estrangeiras observando as relaes que os

    graduandos estabelecem com as TICs e quais os motivos que os levam a

    estabelecerem tais relaes. Neste sentido, buscamos compreender nas

    relaes que os sujeitos estabelecem com o objeto e como suas crenas

  • 16

    podem interferir no processo de formao profissional. Desta forma,

    consideramos os problemas histricos referente ao processo de formao de

    professores, bem como, os motivos abordados pelos graduandos como foras

    reguladoras em relao ao uso das TICs na apropriao do conhecimento.

    1.1 Problematizao e justificativa da pesquisa

    Na literatura sobre formao de professores observa-se que cada vez

    maior a quantidade de trabalhos que propem investigar a formao docente,

    principalmente na rea do ensino de lnguas estrangeiras. Segundo Celani

    (1997), as pesquisas com foco na formao docente despontam por volta da

    dcada de oitenta. Nesse momento toda a ateno volta-se para a

    aprendizagem, ou seja, para o desenvolvimento formal e consciente da lngua

    com embasamento terico obtido atravs da explicitao de regras (BOHN e

    VANDRESSEN, 1988).

    Durante muitos anos, acreditou-se que o mtodo AGT conhecido como

    abordagem da gramtica e traduo era suficiente para que o aluno

    compreendesse uma lngua estrangeira e seu uso comunicativo (BOHN e

    VANDRESSEN, 1988). Muitas pessoas aprenderam lnguas assim e dessa

    forma, foram criando e fixando suas concepes sobre o ensino e

    aprendizagem de lngua estrangeira.

    O ensino norteado apenas pela gramtica-traduo, no mais o

    desejvel nem para os professores, nem para os alunos, alm de descumprir

    as orientaes dos PCNs que garantem que aprendizagem de lngua

    estrangeira deve contribuir para o processo educacional como todo, muito alm

    da aquisio de um conjunto de habilidades lingsticas (BRASIL, PCNs, 1998,

    p.37). Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases para o ensino Fundamental

    (LDB - 9394/96) tem por objetivo a formao bsica do cidado mediante a

    compreenso do ambiente natural e social, compreenso do sistema poltico,

    da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade.

  • 17

    Ainda de acordo com esses documentos, o uso das TICs deve ocorrer

    em todos os nveis de formao. Assim, as TICs assumem papel importante na

    formao de professor de LE, segundo (MASSETO, 2003) a tecnologia

    apresenta-se como meio, como instrumento para colaborar no desenvolvimento

    do processo de aprendizagem.

    Dessa forma, compreendemos as TICs como elemento importante na

    formao inicial do professor de LE e a sala de aula como ambiente para

    observao de interao com base na abordagem contextual em relao ao

    uso e apropriao destes elementos como objeto de interao cultural e social.

    A opo pela investigao no curso de Letras, mais especificamente a

    disciplina de laboratrio de lnguas oferecida no sexto e stimo semestres do

    curso, baseia-se principalmente em virtude a proximidade de ingresso no

    mercado de trabalho e na importncia privilegiar essa fase, pois segundo

    Vieira-Abraho (1999), a formao inicial de professores ainda carece de

    contribuies na formao destes profissionais (VIEIRA-ABRAHO, 1999).

    Sendo assim, esta pesquisa se justifica pelo fato de poder contribuir para

    a formao e reflexo dos graduandos e tambm da professora responsvel

    pela disciplina. Nesse sentido, analisar suas crenas facilita compreender como

    podem interferir no processo ensino e aprendizagem de lngua estrangeira em

    relao ao uso das TICs, alm de contribuir para futuras pesquisas na rea de

    ensino de lnguas estrangeiras e tecnologias.

    1.2 Objetivo

    O objetivo geral desta pesquisa est focado nas crenas dos graduandos e

    de uma professora em relao ao uso das tecnologias de informao e

    comunicao (TICs), busca-se tambm, fazer um levantamento dessas crenas

    com base nos discurso e nas aes dos envolvidos junto as TICs. Pretende-se

    contribuir com atividades prticas com intuito de analisar possveis mudanas

    no discurso e nas aes pedaggicas da professora e dos graduandos.

  • 18

    Portanto, para compreender estas relaes e promover modificaes,

    necessrio investigar as crenas inferidas do discurso e das aes dos

    participantes (BARCELOS, 2001).

    1.3 Perguntas de pesquisa:

    Com base nos objetivos as perguntas de pesquisa que nortearam a

    discusso so:

    Quais as crenas dos graduandos e da professora em relao ao uso

    das tecnologias de informao e comunicao no processo de formao do

    professores de lngua estrangeira?

    Quais as possveis modificaes podem ser apontadas no discurso e

    nas aes dos participantes em relao ao uso das TICs a partir das atividades

    propostas?

    1.4 Natureza e metodologia de pesquisa

    Adotamos neste trabalho os procedimentos metodolgicos da pesquisa-

    ao de cunho qualitativo por julgar mais adequado neste contexto de

    pesquisa. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), uma pesquisa qualitativa

    envolve a obteno de dados descritivos uma vez que o contato entre

    pesquisador e pesquisados d-se de forma direta e cuja nfase no processo

    e no no produto.

    Nessa perspectiva, foi preciso priorizar o trabalho durante as atividades

    de reflexo junto aos graduandos partindo de sua atuao sobre o meio.

  • 19

    Portanto, prope-se uma metodologia para apropriao e construo de novos

    conhecimentos. Alm disso, segundo Ldke e Andr (1986), este tipo de

    investigao viabiliza ao pesquisador o contato direto e prolongado com o

    ambiente e a situao a ser analisada, envolve a obteno de dados

    descritivos por meio da interao.

    Nesse sentido, foram utilizados nessa pesquisa os seguintes

    instrumentos: questionrios fechados aplicados juntos aos alunos e professora,

    entrevistas semi estruturadas, observao de aulas, gravaes em udio e

    vdeo de algumas aulas que julgamos necessrias, sesso de visionamento,

    registros em dirios do pesquisador e autobiografia dos alunos.

    1.5 Organizao da dissertao

    Esta exposio est organizada em quatro partes subsequentes a esta

    introduo, na qual composta pela problematizao, justificativa, objetivos,

    perguntas de pesquisa, bem como sua natureza.

    A segunda parte dedicada metodologia adotada, ao contexto da

    pesquisa, aos participantes envolvidos, os instrumentos e aos procedimentos

    para coleta e anlise dos dados.

    Na terceira parte, so apresentados os fundamentos tericos que

    embasaram esta pesquisa, subdivididos em trs sees. Na primeira, um breve

    histrico sobre o curso de Letras no Brasil. Em seguida uma discusso sobre

    Informtica na Educao e na formao pr-servio de professores. Por fim,

    alguns conceitos sobre crenas e diferentes abordagens de estudo pertinentes

    formao de professores buscando compreender sua relao com as TICs.

    A anlise dos dados compe a quarta parte, nesta so discutidas as

    crenas dos participantes em contexto apresentado, bem como possveis

    modificaes das crenas em relao ao uso das TIC que podem ter sido

    influncias pelas atividades propostas durante a disciplina.

  • 20

    Na quinta e ltima parte, so apresentadas as consideraes finais em

    relao a todo o processo, suas contribuies sobre a compreenso das

    crenas em relao TICs na busca de possveis mudanas.

    Por fim, segue as referncias bibliogrficas que fundamentaram esta

    pesquisa, os apndices, os modelos de questionrio, modelos de entrevistas e

    entrevistas, autobiografias e outras informaes relevantes.

  • 21

    2. Metodologia de Pesquisa

    A metodologia de pesquisa utilizada apresentada em seis sees, a

    primeira trata da natureza da pesquisa, a segunda apresenta descrio do

    contexto, a terceira apresenta a disciplina Laboratrio de Lnguas, na quarta

    esto os participantes da pesquisa, a quinta seo traz os instrumentos para

    coleta de dados e por fim, os procedimentos utilizados para anlise dos dados.

    2.1 Natureza da Pesquisa

    Procuramos neste momento descrever nossa metodologia que deu

    suporte para o desenvolvimento da pesquisa. Assim, adotamos os

    procedimentos metodolgicos que orientam uma abordagem de pesquisa-ao

    de cunho qualitativo por julgar mais adequado neste contexto de pesquisa.

    De acordo com Andr (1998), a abordagem qualitativa surge no final do

    sculo XIX e tem suas bases na pesquisa social uma vez que os mtodos de

    investigao das cincias fsicas e naturais, no so suficientes para

    compreender os fenmenos humanos e sociais. Para Bogdan e Biklen (1994)

    as pesquisas qualitativas pertenciam a

    [...] um campo que era anteriormente dominado pelas questes da mensurao, definies operacionais, variveis, testes de hipteses e estatstica alargou-se para contemplar uma metodologia de investigao que enfatiza a descrio, a induo, a teoria fundamentada e o estudo das percepes pessoais. Designamos esta abordagem por Investigao Qualitativa. (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 11)

    De acordo com Bogdan e Biklen (1994), uma pesquisa qualitativa

    envolve a obteno de dados descritivos uma vez que o contato entre

    pesquisador e pesquisados d-se de forma direta e cuja nfase est no

    processo e no no produto.

    Esta abordagem, tambm chamada de naturalstica ou naturalista por

    alguns pesquisadores, busca em sua essncia o estudo de fenmenos em seu

  • 22

    acontecer natural, pois no envolve manipulao de variveis e tambm no

    tem carter experimental (ANDR, 1998, p. 17). Segundo a autora a pesquisa

    qualitativa busca: a) interpreta o comportamento humano da perspectiva dos

    participantes (professor, alunos e pesquisador); b) explora o ambiente

    naturalstico ou natural sem controlar variveis; c) garante validade atravs de

    fontes de informao mltiplas (dirios da pesquisadora, notas de campo,

    gravaes em udio e vdeo, questionrios e entrevistas); d) no procura

    generalizaes alm do contexto da pesquisa; e) tem o foco no processo e tem

    flexibilidade, ou seja, no apresenta ciclos lineares, mas fases flexveis.

    Segundo Andr (1998, p. 27), na abordagem qualitativa pode-se

    encontrar vrios tipos de pesquisas como a etnogrfica, de estudo de caso,

    pesquisa participante e pesquisa-ao. Dentre estas, destacamos a pesquisa-

    ao e a pesquisa etnogrfica, por considerar grande parte das caractersticas

    deste trabalho.

    Segundo Thiollent (2001), pesquisa-ao possibilita ao pesquisador

    desempenhar um papel ativo diante dos problemas encontrados durante o

    acompanhamento das aulas. Portanto, prope-se uma metodologia de ensino e

    aprendizagem para apropriao e construo de novos conhecimentos para o

    professor. Alm disso, de acordo com Ldke e Andr (1986), este tipo de

    investigao viabiliza ao pesquisador o contato direto e prolongado com o

    ambiente e a situao a ser analisada, envolve a obteno de dados

    descritivos por meio da interao. Thiollent (2001) conclui:

    A pesquisa-ao um tipo de pesquisa social com base emprica que concebida e realizada em estreita associao com uma ao ou com a resoluo de um problema coletivo e no qual pesquisador e participantes representativos da situao ou do problema esto envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

    Desta forma, o pesquisador precisa trabalhar de modo cooperativo e

    participativo em sua investigao. Para Andr (1995), o professor enquanto

    sujeito de sua prpria ao produtor de conhecimento e deve refletir como se

    (re)apropriar do conhecimento para reconstruir sua prtica docente. Andr

    (1995) comenta Martins (1989) em relao ao confronto entre formao

    acadmica do professor e prtica de sala de aula que gera uma didtica

  • 23

    prtica que envolve pressupostos que precisam ser analisados em

    profundidade.

    Desta forma, buscamos enfoque no processo dos trabalhos

    desenvolvidos durante as aulas, pois no visvamos apenas resultados, mas a

    compreenso do comportamento dos envolvidos no processo em relao ao

    contexto o qual ocorrem (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 16).

    Os referidos autores destacam cinco caractersticas da investigao

    qualitativa: (1) a fonte direta de dados o ambiente natural e o investigador o

    instrumento principal para coleta de dados; (2) os dados coletados so

    descritivos; (3) o interesse do investigador centra-se, sobretudo nos processos;

    (4) a anlise dos dados feita pelo investigador de uma forma indutiva; (5) o

    investigador interessa-se por compreender o significado que os participantes

    atribuem s suas experincias. Nessa perspectiva, preciso priorizar o

    trabalho durante as atividades junto aos graduandos e a professora.

    Considerando que este trabalho envolve uma variedade de elementos a

    serem investigados, encontramos na pesquisa etnogrfica bases

    metodolgicas no sentido de analisar um conjunto de crenas e suas possveis

    mudanas. Segundo Manzini (2003), para cumprir certos requisitos especficos

    da etnografia, preciso longa permanncia do pesquisador em campo, alm do

    uso de categorias sociais na anlise de dados. Contudo, com a inteno de

    investigar na formao do professor suas crenas em relao ao uso das TICs,

    a partir dos trabalhos realizados em sala de aula.

    Por esse conceito os participantes da pesquisa representam uma

    funo dentro de um domnio cultural mais abrangente, a escola, que por sua

    vez se constitui de outras unidades menores, como: eventos de sala de aula,

    atividades prticas, reunio de professores, reunio de diretores etc. Assim,

    quando discorremos sobre o sentido de domnio cultural, buscamos dialogar

    com as ideias de Almeida Filho (1998) e Barcelos (1995) sobre a cultura de

    aprender lngua estrangeira.

    Nesse sentido, buscamos em Barcelos (2001) uma abordagem para

    investigao de crenas sobre aprendizagem de lnguas. A autora apresenta

    trs abordagens, uma abordagem normativa que infere as crenas atravs de

    um conjunto pr-determinado de afirmaes. A segunda abordagem,

    metacognitiva, utiliza auto-relatos e entrevistas para inferir as crenas sobre

  • 24

    aprendizagem de lnguas. A terceira abordagem, contextual usa ferramentas

    etnogrficas e entrevistas para investigar as crenas atravs de afirmaes e

    aes (BARCELOS, 2001, p. 75).

    Desta forma, buscamos formular as questes de investigao com base

    nesta terceira abordagem a qual orienta para a compreenso dos fenmenos

    em toda a sua complexidade em seu acontecer histrico. Isto , a situao

    pesquisada no precisa ser criada artificialmente, pois esta abordagem

    considera o prprio acontecer como desenvolvimento de seu processo de

    criao.

    Segundo Andr (1998) as tcnicas de observao participante,

    entrevista e anlise de documentos para coleta e anlise de dados tambm so

    caractersticas da pesquisa etnogrfica. Segundo a autora, a tcnica de

    observao participante supe que o pesquisador possui um grau de interao

    com a situao estudada, afetando-a e sendo por ela afetado. J na entrevista,

    o pesquisador busca aprofundar as questes e esclarecer os problemas

    observados e os documentos so utilizados para contextualizar o fenmeno e

    completar as informaes coletadas. (ANDR, 1998, p. 28).

    Assim, tomamos como base uma metodologia de pesquisa-ao de

    cunho qualitativo com bases etnogrficas para coleta de dados e a fim de obter

    informaes dos participantes envolvidos nesta pesquisa acerca de suas

    ideias, sentimentos, planos, crenas, bem como origem social, educacional e

    financeira (FINK; KOSECOFF, 1985, apud GUNTHER, 1999, p. 231).

    2.2 Descrio do Ambiente

    Descrever o ambiente bem como os procedimentos de coleta de dados,

    naturalmente, no uma tarefa fcil, pois envolve muitos fatores que interferem

    na descrio. O ambiente deve ser compreendido como espao onde a

    interao entre os participantes e pesquisador torna-se um momento nico.

    Desta forma, limitamos a apresentar alguns desses fatores que caracterizam

    este ambiente.

  • 25

    Com base nos autores e teorias que apontamos nas sesses anteriores,

    pretendo posicionar o pesquisador deste trabalho no ambiente de coleta de

    dados. Buscamos nos princpios ticos a base principal para realizao desta

    investigao. Portanto, antes de percorrer os corredores da instituio e

    descrever um local fsico, situaes descontextualizadas e a interao desses

    elementos, apresentamos o projeto de pesquisa e o termo de consentimento

    (Apndice A), pedimos autorizao ao responsvel pela instituio onde

    ocorreu esta pesquisa e tambm aos graduandos e professor envolvido.

    Salientamos ainda que esse trabalho esta de acordo com as normas do comit

    de tica da Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp campus de Marlia.

    A coleta de dados ocorreu em uma fundao municipal de ensino

    superior, Faculdade de Tecnologia de Birigui (Fateb), localizada no municpio

    de Birigui, a noroeste do Estado de So Paulo.

    Esta instituio foi criada atravs da Lei Municipal n 2255 de 07 de maio

    de 1985, com o objetivo de implantar cursos superiores relacionados rea de

    produo caladista e tambm de suporte tecnolgico aos demais setores,

    visando formao de mo-de-obra qualificada e desenvolvimento de

    tecnologias. Assim, foram criadas condies para o desenvolvimento dos dois

    primeiros cursos superiores da cidade sendo Administrao de Empresas e

    Bacharel em Informtica.

    Em Setembro de 2000, foram protocolados projetos de dois novos

    cursos: Licenciatura em Cincias Biolgicas e Licenciatura em Letras

    Portugus/Ingls e Literaturas e Portugus / Espanhol e Literaturas. O curso de

    Letras foi aprovado por parecer CEE 123/03, publicado em D.O.E de

    11/04/2003, homologado pela Secretaria da Educao em 23/04/2003, e

    instalado em 02/02/2004, sendo que este ano de 2009 forma-se a segunda

    turma do curso de Letras. O curso de Cincias Biolgicas foi aprovado em

    primeira fase, mas no foi instalado at o presente momento por deciso da

    Mantenedora.

    Atualmente a instituio possui seis cursos de formao superior sendo:

    trs cursos em licenciatura: Matemtica, Pedagogia, Letras e trs cursos em

    Bacharel: Sistema de Informao, Administrao de Empresas e Desenho

    Industrial respectivamente. Cabe lembrar que existem algumas turmas

    concluindo o curso de Bacharel em Informtica.

  • 26

    O espao geogrfico desta instituio contabiliza dois campi, o primeiro

    e mais antigo, composto por quatro pavilhes. No primeiro h seis salas de

    aulas dedicadas ao curso de Letras, o segundo com mais seis salas de aulas

    dedicadas aos cursos de Matemtica e Bacharel em Informtica, o terceiro

    dedicado aos cursos de Sistema de Informao e Desenho Industrial, o qual

    possui uma marcenaria e o ltimo aos cursos de Pedagogia e Administrao de

    Empresas. H tambm uma biblioteca que ocupa uma rea total de 228 m2,

    composta por duas salas de estudo e o restante do espao destinado ao

    acervo de livros e publicaes peridicas, rea de estudo, rea administrativa e

    rea com computadores. Consta com um acervo de aproximadamente 12.300

    obras (livros, dicionrios, enciclopdias, catlogos, manuais, monografias,

    dissertaes, teses, e materiais audiovisuais) e 7.000 fascculos de publicaes

    peridicas.

    Existe ainda um polo de informtica o qual composto por trs

    Laboratrios de Informtica composto por aproximadamente 30 computadores

    Windows XP 2003, projetor multimdia, fones de ouvidos, caixas de som

    individuais e uma coletiva, microfones alm de alguns CD-ROM em cada

    laboratrio. H tambm um laboratrio de fotografia, udio e vdeo para uso

    comum.

    O segundo campus formado por mais trs laboratrios de Informtica,

    especifico para os cursos de Desenho Industrial, Sistema de Informao e

    administrao de Empresa.

    2.3 Disciplina Laboratrio de Lnguas

    A coleta de dados para esta pesquisa ocorreu em dois semestres letivos

    do curso de Letras. A grade curricular do curso de Letras da referida faculdade

    composta pela disciplina Laboratrio de Lnguas, tal disciplina ministrada

    para os graduandos das habilitaes em lnguas estrangeiras: Espanhol e

    Ingls. A disciplina oferecida durante o sexto e stimo semestre do curso e

  • 27

    ministrada para as duas habilitaes juntas. Segue em anexo ementa da

    disciplina (Anexo A).

    A coleta ocorreu junto professora da disciplina e aos graduandos que

    iniciavam o sexto semestre do curso de Letras e os acompanhou at o final do

    stimo semestre. Cronologicamente o primeiro semestre da disciplina teve seu

    inicio em 07 de agosto de 2008 e seu trmino em 04 de dezembro de 2008, j

    o segundo semestre iniciou em 10 de fevereiro de 2009 e trmino em 24 de

    junho de 2009.

    Cada semestre da disciplina compe 36 horas aulas sendo ministrada

    uma vez por semana, com duas horas aulas de durao, totalizando 72 horas

    no decorrer dos dois semestres.

    As aulas podem ser ministradas na sala de aula ou no laboratrio de

    informtica descrito anteriormente de acordo com o interesse do professor.

    Esta disciplina baseada nas orientaes do Ministrio da Educao e Cultura

    (MEC) que traz esta disciplina citada no currculo mnimo obrigatrio para os

    cursos de Letras.

    Ao contrrio do que se imaginam, as velhas cabines dos laboratrios de

    lnguas estrangeiras foram substitudas por computadores de ltima gerao,

    mas suas prticas continuam sendo conduzidas de maneira dogmtica. Esta

    disciplina busca romper com as barreiras impostas pelo ensino pautado na

    gramtica, busca na interao com o outro e com as tecnologias suporte para

    formao profissional e aprendizagem da lngua alvo.

    2.4 Participantes da pesquisa

    Os participantes envolvidos nesta pesquisa so 16 graduandos do curso

    superior em Letras e a professora que ministrou as aulas de laboratrio de

    lnguas. A seguir apresentamos os participantes separadamente.

    2.4.1 Alunos

  • 28

    Os graduandos participantes desta pesquisa so treze mulheres sendo

    duas alunas reprovadas na disciplina, conta ainda com a participao de trs

    homens. Dos dezesseis graduandos quatorze optaram pela habilitao em

    Lngua Espanhola e apenas dois em Lngua Inglesa.

    Os graduandos que participaram da pesquisa possuem idades variadas

    entre vinte e dois anos a quarenta anos de idade, possuem diferentes domnios

    culturais, sociais e econmicos. Alguns participantes terminaram o ensino

    mdio e imediatamente ingressaram no curso superior, outros estava h mais

    de 15 anos sem estudar. Contudo, no podemos deixar de lembrar que so

    pais de famlias, so mes, filhos, trabalhadores, so estudantes brasileiros em

    busca de sua formao ou talvez em busca do simples desejo, o sonho de ser

    professor.

    Cabe esclarecer que na grade curricular do curso de Letras a no

    primeiro semestre do curso a disciplina Introduo a Informtica com durao

    de 36 horas aula. Embora, esta disciplina faa parte da grade curricular alguns

    graduandos tm dificuldade em manusear o computador. Podemos comprovar

    este fato tanto nas respostas das entrevistas, quanto dos questionrios. Por

    isso, elaboramos e oferecemos aos graduandos um mini-curso Informtica da

    Comunidade, alm de atividades a pedido da professora, as quais

    apresentaro no item 2.5.6.

    2.4.2 Professor

    Com o intuito de contextualizar os participantes desta pesquisa,

    buscamos conhecer a professora da disciplina laboratrio de lnguas. Para

    tanto, aplicamos um questionrio inicial para levantamento de dados

    preliminares, durante os semestres realizamos uma entrevista, aplicamos uma

    autobiografia alm da observao das aulas, a fim de levantar as crenas no

    discurso da professora.

    Com estes instrumentos foi possvel levantar a formao da professora

    observada, a mesma cursou ensino fundamental e mdio em uma escola

  • 29

    pblica localizada no interior do Estado de So Paulo, cidade esta em que

    mora e trabalha atualmente (2010). Em 2002 concluiu curso de Letras

    licenciatura plena em Portugus/Espanhol pela Universidade Estadual Paulista

    Julio de Mesquita Filho (UNESP) cmpus de Assis. No ano seguinte iniciou

    um curso de especializao na mesma instituio em que se graduou, a

    mesma realizou ainda alguns cursos de aperfeioamento em lngua espanhola

    no Uruguai e Argentina. No primeiro semestre de 2009 iniciou seu curso de

    mestrado em literatura comparada em lngua espanhola pela Universidade

    Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) cmpus de Trs Lagoas.

    A referida professora leciona acerca de oito anos ministrando as

    disciplina de lngua portuguesa em uma escola pblica e lngua espanhola em

    um colgio particular e escolas de idiomas. Alm disso, leciona a quatro anos

    na Faculdade de Tecnologia de Birigui (FATEB) instituio onde foi realizado

    este trabalho de pesquisa, ministrando as disciplina de lngua espanhola,

    lingstica aplicada ao ensino de lnguas estrangeiras e a disciplina de

    laboratrio de lnguas.

    2.5 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados

    Pesquisas qualitativas exigem um tratamento diferenciado em relao

    aos instrumentos e procedimentos para coleta de dados. De acordo com

    Romanelli (1998), Silverman (2000) entre outros, necessrio manter longa

    permanncia do pesquisador no ambiente pesquisado. Sendo assim, a coleta

    de dados ocorreu em dois semestres letivos o qual teve inicio em agosto de

    2008 e trmino em julho de 2009.

    A coleta de dados ocorreu durante os dois semestres da disciplina

    laboratrio de lnguas, primeiro buscamos levantar as crenas dos graduandos

    e da professora a partir do discurso e das aes dos participantes em relao

    s tecnologias de informao e comunicao no processo de formao de

    professor de LE, mais especificamente com o computador e seus recursos

    como Internet. Tambm, buscamos observar possveis mudanas das crenas

  • 30

    no decorrer dos dois semestres, sobretudo aps algumas atividades propostas

    em conjunto com a professora do grupo.

    Durante os dois semestres em que a disciplina foi ministrada foram

    aplicados nos participantes da pesquisa os seguintes instrumentos e

    procedimentos para coleta de dados: questionrios com perguntas fechadas e

    abertas, entrevistas semi estruturadas, autobiografias e uma sesso de

    visionamento. As notas de campo, observao de aulas, gravaes de aulas

    em udio e vdeo buscam obter dados da prtica dos envolvidos em sala de

    aula.

    Elaboramos tambm, a pedido da professora, algumas atividades

    prticas e desenvolvidas junto aos graduandos e so apresentadas aqui como

    instrumentos de coletas de dados, pois foi possvel observar mudanas no

    discurso e nas aes dos participantes. Outros instrumentos tambm foram

    utilizados para acompanhamento das atividades realizadas tanto em sala de

    aula quanto no laboratrio de informtica.

    2.5.1 Questionrio

    Segundo Vieira-Abraho (2006) um questionrio pode conter perguntas

    fechadas e abertas. Para Gnther (1999), o questionrio utilizado como

    instrumento na coleta de dados, pode ser definido como um conjunto de

    perguntas sobre um determinado tpico que no testa a habilidade do

    respondente, mas busca sua opinio, seus interesses, aspectos de

    personalidade e informaes bibliogrficas (GNTHER, 1999, p. 232).

    Neste trabalho, utilizamos tambm como mtodo para levantamento de

    dados um survey, termo em ingls para questionrio com perguntas fechadas,

    pois este permite coletar informao de pessoas acerca de suas ideias, planos,

    bem como origem social, educacionais e financeiros (FINK; KOSECOFF, 1985,

    apud Gunther, 1999).

    O questionrio foi elaborado com a ferramenta Google docs publicado

    pelo site da Google em 21 de agosto de 2008 no seguinte endereo

    eletrnicohttp://spreadsheets.google.com/embeddedform?key=phLuGjHnEbVN

  • 31

    nbv4yBWemag (ltimo acesso dia 14/05/2010) (Apndice B). Com esse,

    buscando levar alguns dados preliminares que julgamos necessrios. Dos

    dezesseis graduandos que participaram da pesquisa apenas um aluno no

    respondeu o questionrio.

    2.5.2 Entrevistas

    O uso de entrevistas destaca-se na coleta de dados, pois permite aos

    respondentes expressarem livremente, bem como decidirem o que dizer e

    como faz-lo (Manzini, 2003, p. 23). Desta forma, foi organizado um roteiro de

    entrevista semi-estruturada, composto por questes abertas como ferramentas

    para coleta de dados e organizadas em categorias temticas (Manzini, 2003).

    Nesta pesquisa foram realizadas duas entrevistas com a proposta de

    coletar dados. A primeira entrevista ocorreu na segunda quinzena de junho de

    2008, antes de iniciar o primeiro semestre da disciplina Laboratrio de Lnguas,

    pois buscvamos levantar as crenas dos participantes em relao s TICs,

    sobretudo em relao ao computador, suas ferramentas e aplicativos. Uma

    segunda entrevista foi aplicada em julho e agosto de 2009 aps o trmino do

    segundo semestre da disciplina. Esta buscou verificar o desenvolvimento dos

    alunos e possveis mudanas das crenas em relao formao dos

    graduandos frente s TICs.

    A escolha pela entrevista semi-estruturada se deu pela necessidade de

    buscar maiores informaes que possibilitam ao graduando relatar sobre suas

    expectativas em relao ao curso, sua formao profissional e sua relao com

    as TICs, mas, sobretudo, possibilita ao pesquisador observar nesses dados

    fatores que esto intrinsecamente relacionados sua formao sociocultural.

    Rea & Parker (2000), alertam que o pesquisador deve estar familiarizado

    com a populao a ser pesquisada em termos de escolha de palavras,

    expresses coloquiais e do jargo a ser usado nas perguntas. Nesse sentido,

    os participantes da pesquisa representam uma funo dentro de um domnio

    cultural mais abrangente, a escola, que por sua vez se constitui de outras

  • 32

    unidades menores, como: eventos de sala de aula, reunies de pais, reunio

    de professores, reunio de diretores etc.

    Considerando que este trabalho envolve uma variedade de elementos a

    serem investigados, optou-se por entrevistas a fim de verificar as crenas e

    analisar suas possveis mudanas em relao ao uso das TICs durante a

    disciplina de Laboratrio de Lnguas, onde os dados coletados foram utilizados

    como instrumentos para anlise, pois segundo Romanelli (1998) no

    decorrer da entrevista, no apenas o pesquisador que penetra na existncia do outro; tambm este avalia o interlocutor e constri uma imagem dele, atribuindo-lhe uma identidade. (ROMANELLI, 1998, p. 126).

    Assim, foi elaborado um roteiro piloto de entrevista semi-estruturada

    (Apndice C) com o intudo de testar o roteiro, submetemos o mesmo anlise

    de trs juzes a fim de verificar falhas ou lacunas no instrumento que

    possibilitariam dar dupla interpretao dos assuntos abordados nas questes,

    conseqentemente, deturparia as respostas (Manzini, 1990/1991). Aps a

    anlise e verificao do roteiro pelos juzes, aplicamos a entrevista teste em

    dois alunos do quinto semestre do curso de Letras sendo um graduando em

    lngua inglesa e outro em lngua espanhola.

    Desta forma, para chegar ao roteiro definitivo da entrevista (Apndice D),

    foi necessrio ter claro a proposta do tema do projeto e somente aps da

    aplicao da entrevista piloto e definida as questes e aplicamos a entrevista

    nos outros alunos. Cabe esclarecer que dos dezesseis graduando apenas um

    no deu entrevista.

    No entanto, para a aplicao deste instrumento de coleta de dados, foi

    necessrio que os participantes autorizassem a gravao da entrevista

    concordando com os itens presentes no termo de consentimento livre e

    esclarecido (Apndice A) para que pudssemos grav-las em udio. Aps a

    realizao das entrevistas, as mesmas foram transcritas de acordo com os

    procedimentos apontados por Marcuschi (1986) (Apndice E).

    Assim, a escolha pela entrevista semi-estruturada se deu pela

    necessidade de buscar maiores informaes que possibilitassem aos

    graduando e a professora relatarem sobre suas expectativas em relao ao

  • 33

    curso, sua formao profissional e sobre os aspectos lingsticos

    comunicativos.

    2.5.3 Autobiografias

    Alm das entrevistas e da observao participante, muitos dados podem

    ser obtidos de maneira menos formal, pois segundo Gil (1996), anlise

    qualitativa depende de fatores tais como a natureza dos dados coletados, a

    extenso da amostra, os instrumentos e os pressupostos tericos que norteiam

    a investigao.

    Assim, aps o perodo de observao, pedimos aos graduandos que

    redigissem uma autobiografia na busca de averiguar fatos que marcaram sua

    vida em relao lngua estrangeira. Este objeto de coleta foi baseado na

    proposta de Johnson (1999) e aplicado em 30 de junho de 2009.

    De acordo com Johnson (1999), traamos algumas orientaes para a

    realizao da autobiografia (Apndice F), abordamos alguns assuntos que

    versavam sobre experincias na vida escolar, aulas que julgavam boas ou

    ruins, o que seria uma boa aula, buscou tambm levantar temas sobre a

    relao dos participantes com as TICs, com o computador e aspectos que

    acreditam que favorecem ou dificultam o uso das TICs em sala de aula. Dos

    dezesseis alunos, oito redigiram a autobiografia.

    2.5.4 Sesso de Visionamento

    Segundo Vieria-Abraho (2006) chamado de sesso de visionamento

    o momento em que o pesquisador trs para o grupo pesquisado uma gravao

    em vdeo de um momento importante do grupo para que possam observar e

    refletir sobre suas aes e discursos a respeito de um determinado assunto ou

    situao.

  • 34

    Neste trabalho foi utilizada uma sesso de visionamento, nela buscamos

    mostrar aos participantes uma das aulas observadas e gravaes em vdeo

    com o intuito de instigar o graduando sobre suas prprias aes e gerar

    possveis reflexes acerca das mesmas (VIEIRA-ABRAHO, 2006).

    A realizao desta sesso de visionamento ocorreu dia 06 de maio de

    2009, nesta apresentamos uma aula gravada em vdeo no do dia 10 de maro

    de 2009, nela os graduandos apresentaram uma atividade que versava sobre a

    realizao de planos de aulas cujo tema era: Aula de lngua estrangeira para

    turmas iniciais ou intermedirias. Esta atividade apresentada com mais

    detalhes no item 2.5.6.2 Elaborao de um Plano de aula.

    Para realizao desta gravao, seguimos as orientaes de Vieira-

    Abraho (2006, p.227) a respeito de gravaes para sesso de visionamento

    as quais compem: a) obteno de permisso para a filmagem de todos os

    participantes e responsveis por menores; b) considerao de dados obtidos

    por esse instrumento aps total familiarizao entre pesquisador e informantes.

    Portanto, nossa gravao s ocorreu aps oito meses de trabalho junto aos

    participantes, com autorizao de todos e participao da professora

    responsvel pelo gripo.

    Neta sesso os participantes puderam observar suas prticas em sala

    de aula, pois ao apresentar seus planos os graduandos vivenciaram momentos

    de prtica em sala de aula como professores. Esta sesso de visionamento

    tambm foi gravada em vdeo com intuito de garantir maiores informaes

    sobre este momento, sobre os comentrios da professora da disciplina e dos

    prprios graduandos em relao a sua atuao como professor. Portanto,

    sesses de visionamento possibilitam aos participantes momentos de reflexo

    sobre seu discurso e suas prticas.

    2.5.5 Observao de aulas

    Segundo Vieira-Abraho (2006) existe dois tipos de observao, h a

    observao participante e a no participante. Na primeira existe interferncia

    direta ou indireta do pesquisador, j na segunda observao no-participante o

  • 35

    papel do pesquisador observar e registrar suas impresses mantendo-se

    distante dos participantes da pesquisa. Assim, consideramos que este trabalho

    enquadra-se na primeira proposta de observao.

    No decorrer do segundo semestre de 2008 foram observadas 36 aulas

    com durao de cinqenta minutos cada aula. As aulas foram ministradas as

    quintas-feiras das 21h00min horas at as 22h40min. J no primeiro semestre

    de 2009 tambm foram observadas as 36 aulas de cinqenta minutos cada.

    Entretanto, as dez primeiras aulas foram ministradas as teras-feiras das

    19h00min horas s 20h50min. O restante das aulas foi ministrado s quartas-

    feiras das 21h00min horas s 22h40min.

    A seguir elaboramos duas tabelas uma por semestre para apresentar o

    cronograma das aulas da professora observadas pelo pesquisador. O

    cronograma conta tambm com as atividades elaboradas pelo pesquisador em

    conjunto com a professora responsvel. As atividades foram elaboradas a

    pedido da professora e tambm por alguns graduandos visto que tinham

    necessidade de compreender melhor as TICs

    Cronograma das aulas observadas no segundo semestre de 2008

    Agosto Dia Aula/Durao Tpicos das aulas

    07/08/08 1 e 2 total de 120

    Aula acerca dos instrumentos oferecidos pela rede e busca de cursos grtis de lnguas. A professora justificou a presena do pesquisador em sala e o mesmo apresentou esta proposta de trabalho

    14/08/08 3 e 4 total de 120

    Atividade de udio para pronncia, fontica e fonologia de vocbulos e frases.

    21/08/08 5 e 6 total de 120

    Aplicao do questionrio pela ferramenta Google docs Busca na internet de cursos grtis em espanhol e ingls. Inicio do curso via on line. (Curso elaborada pelo pesquisador e pela professora.)

    28/08/08 7 e 8 total de 120

    Realizao do curso on line.

    Setembro 04/09/08 9 e 10 total de 120

    Realizao do curso on line.

    11/09/08 11 e 12 total de 120

    Realizao do curso on line e avaliao do curso.

    18/09/08 13 e 14 total de 120

    Pesquisa critica sobre a obra El Lazarillo de Tormes e Romeo e Julieta. Elaborao de uma apresentao em Power point e vdeos para apresentao na semana cultural.

    25/09/08 15 e 16 total de 120

    Elaborao da apresentao em Power point e vdeos para apresentao na semana cultural.

  • 36

    Outubro 02/10/08 17 e 18 total de 120

    Preparao para prova, reviso dos tempos verbais e pronncia.

    09/10/08 19 e 20 total de 120

    Avaliao regimental.

    16/10/08 21 e 22 total de 120

    Pesquisa sobre Educao a Distancia e sobre e-learning e cursos superiores que oferecem esta modalidade, avaliao destes cursos.

    23/10/08 23 e 24 total de 120

    Investigao e preparao de um seminrio sobre a cultura de pases de lngua espanhola e inglesa para apresentao na Semana Cultural organizada pela coordenao da faculdade.

    30/10/08 25 e 26 total de 120

    Prtica oral para apresentao do seminrio na Semana Cultural.

    Novembro 06/11/08 27 e 28 total de 120

    Semana Cultural Formao cultural do professor. Apresentao das atividades.

    13/11/08 29 e 30 total de 120

    Discusso sobre as TICs como apoio para compreenso auditiva como elemento de formao do professor.

    20/11/08 31 e 32 total de 120

    Atividade de udio e-book, interpretao de histrias literrias.

    27/11/08 33 e 34 total de 120

    Finalizao das atividades do e-book.

    Dezembro 04/12/08 35 e 36 total de 120

    Avaliao regimental final.

    Quadro 1: Cronograma das aulas observadas no segundo semestre de 2008

    Cronograma das aulas observadas no primeiro semestre de 2009

    Fevereiro Dia Aula / Durao Tpicos das aulas

    10/02/09 36 e 38 total de 120

    Primeira aula: Compreenso auditiva dos textos: os alunos deveriam selecionar texto, ouvir-los e fazer um relatrio. Segunda aula: Busca de sites para elaborao de planos de aulas para nvel inicial e intermedirio. Uso de internet.

    17/02/09 39 e 40 total de 120

    Trabalho para resoluo de exerccios de fontica e fonologia. Seleo de temas para os planos de aulas de lngua.

    Maro 03/03/09 41 e 42 total de 120

    Atividades gramatical, textual e udio preparatrio para prova D.E.L.E e TOEFL, nvel Intermedirio uso de internet.

    10/03/09 43 e 44 total de 120

    Exposio em sala de aula dos planos de aula de espanhol para alunos iniciantes e intermedirios.

    17/03/09 45 e 46 total de 120

    Compreenso auditiva, exerccios variados de fontica e fonologia preparatrios para D.E.L.E. e TOEFL.

    24/03/09 47 e 48 total de 120

    Pesquisa gramatical realizada na internet Espanhol:www.estudarespanhol.com.br Ingls: http://www.bbc.co.uk/ worldservice/learningenglish/language/

    31/03/09 49 e 50 total de 120

    Continuao da atividade anterior. Professora fez avaliao das atividades com udio e escrita.

    Abril

    07/04/09 51 e 52 total de 120

    Trabalho de compreenso auditiva por meio de CD e depois por vdeo em DVD.

    14/04/09 53 e 54 total de Avaliao regimental

  • 37

    120 28/04/09 55 e 56 total de

    120 Exerccio oral e de escuta preparatrio para o D.E.L.E e TOEFL com uso de CD e texto escrito.

    Maio 06/05/09 57 e 58 total de 120

    Sesso de Visionamento com os graduando sobre os planos de aulas apresentadas no dia 10/03.

    13/05/09 59 e 60 total de 120

    Compreenso auditiva e de leitura de atividades na internet pr-selecionadas pela professora.

    20/05/09 61 e 62 total de 120

    Trabalho sobre as habilidade e competncias de compreenso auditiva e de expresso escrita.

    27/05/09 63 e 64 total de 120

    Atividade de escrita de compreenso de udio sobre textos em e-book.

    Junho 03/06/09 65 e 66 total de 120

    Exerccio na internet de compreenso auditiva e escrita dos textos em e-book.

    10/06/09 67 e 68 total de 120

    Algumas atividades de udio e de gramtica desenvolvidas na internet para preparao da prova.

    17/06/09 69 e 70 total de 120

    Avaliao regimental final

    24/06/09 71 e 72 total de 120

    Prova D.E.L.E Nivel intermedirio.

    Quadro 2: Cronograma das aulas observadas no primeiro semestre de 2009

    2.5.6 Atividades propostas

    As atividades realizadas durante a disciplina foram elaboradas pela

    professora responsvel pela disciplina. Entretanto, elaboramos algumas

    atividades em conjunto com a professora. Outras atividades foram elaboradas

    e aplicadas pelo pesquisador com autorizao da professora. A seguir

    apresentaremos estas atividades com maiores detalhes.

    2.5.6.1 Mini-curso Informtica da Comunidade

    Logo no inicio desta investigao, notamos que as tecnologias, mais

    especificamente o computador era para alguns alunos objeto que causava

    pavor verdadeiro pnico mesmo (aluno V entrevista realizada em 31/07/08).

    Encontramos falas semelhantes a esta em outras entrevistas, entretanto, de

  • 38

    acordo com o questionrio (Apndice B) respondido pelos graduandos

    obtivemos repostas divergentes e que podem ser comprovadas pela

    observao do pesquisador nas prticas dos graduandos. Este curso foi

    elaborado com o propsito de oferecer aos graduando um pouco mais de

    segurana no manuseio do computador, suas ferramentas, bem como os

    recursos da internet. No entanto, para realizao do mesmo, foi necessrio

    autorizao da coordenao e da direo da instituio.

    A durao deste mini-curso foi de 10 horas aulas ministradas durante

    cinco sbados, de 13 de setembro a 11 de outubro de 2008, das 14 horas s

    16 horas. Os encontros aconteciam no laboratrio de Informtica da prpria

    faculdade equipado com 30 computadores. Participaram deste desta atividade

    18 alunos sendo 10 alunos do curso de Letras e 08 alunos do curso de

    Pedagogia.

    preciso esclarecer que esta atividade foi oferecida para auxiliar os

    graduandos nas dificuldades que tinham em operar a mquina. Desta forma,

    sugerimos aos participantes que trabalhassem em duplas e escolhessem um

    tema de interesse comum para desenvolvermos durante os encontros e

    apresentado no ltimo encontro.

    As duplas utilizavam ferramentas de busca na internet, ferramentas

    operacionais do Windows Explore, Power Point, editor de texto entre outros.

    Nosso objetivo era oferecer oportunidades de uso efetivo tanto das ferramentas

    que o computador oferece quanto dos recursos disponibilizados pela internet.

    De forma geral, buscamos em nossos encontros atentar para as

    dificuldades que os participantes tinham em relao ao uso da mquina. Assim,

    nossos encontros no eram apenas para coleta de dados, embora, conscientes

    de que ocorreram interferncias nas relaes de uso com a mquina.

    2.5.6.2 - Uma experincia On_line

    O sonho e o desejo de ser professor talvez seja a resposta para esta

    proposta de trabalho, pois ser professor em meio a uma revoluo tecnolgica

    exige compreender uma nova gerao de leitores digitais e tambm de

  • 39

    excludos digitais. Contudo, com a introduo das tecnologias de informao e

    comunicao (TICs) no sistema educacional h quem evite ou reduz seu uso

    na suposio de que prejudica o processo ensino/aprendizagem, talvez devido

    falta de infra-estrutura tecnolgica que muitas escolas enfrentam, mas,

    sobretudo pela falta de formao inicial e/ou continua do professor em como

    lidar com as TICs.

    Desta forma, o professor sente-se inseguro, indeciso na preparao de

    aulas e naturalmente exclui o uso desses recursos em sala de aula,

    consequentemente distancia-se de uma realidade que inevitvel. Portanto,

    pelo fato de muitos professores desconhecem as possibilidades que estes

    recursos podem ofertar tanto para o educador quanto para o educando, este

    trabalho tem como objetivo oferecer aos graduandos oportunidade de realizar

    um curso on line na formao inicial de professores de lnguas estrangeiras

    (LE) frente s TICs. No entanto, almejar mudanas de crenas, significa

    identificar pressupostos ou motivos que levam o graduando ao uso ou no das

    TICs.

    No Brasil no que diz respeito formao e crenas, destacam-se

    autores como Vieira Abraho (2005), Almeida Filho (1998); Barcelos, (2001),

    para estes, crenas est relacionada cultura de aprender e ensinar lnguas.

    Para tanto, foi elaborado e oferecido aos graduandos do sexto semestre do

    curso de Letras um curso on line.

    Esta atividade foi desenvolvida junto professora da disciplina, pois a

    mesma preocupada em oferecer aos graduandos a oportunidade de utilizar

    esse recurso, nos pediu sugestes na elaborao da proposta. Sugerimos um

    levantamento de cursos on_line oferecidos gratuitamente em sites da internet

    para familiarizao da ferramenta, tivemos como base o site

    http://br.geocities.com/mariangelanorte elaborado pela professora Mariangela

    Braga. Aps levantamento, seleo do curso e inscrio os alunos deveriam

    realizar as atividades propostas.

    A realizao do curso teve durao de oito horas aulas, iniciou em 21 de

    agosto de 2008 e terminou em 11 de setembro de 2008. A disciplina laboratrio

    de lngua ministrada sempre em aulas duplas. Portanto, o primeiro dia

    (21/08/2008) foi para levantamento e seleo do curso e os outros trs para

    desenvolvimento do curso.

  • 40

    Para acompanhamento das atividades realizadas durante o curso, foi

    proposto aos graduandos a elaborao de um Dirio Virtual (Apendice G).

    Nossa inteno inicial era que os alunos criassem um blog para publicar suas

    impresses, dvidas, questionamentos em relao experincia de realizar um

    curso desta modalidade. Entretanto, atendendo aos pedidos dos graduandos,

    pois alegavam terem dificuldades em postar os textos no blog, sugerimos um

    Dirio Virtual para que os registros das atividades fossem realizados, assim

    os participantes utilizaram o programa Microsoft Office Word (2003) para

    realizar seus registros.

    Este trabalho buscou integrar pesquisa e ensino na formao inicial alm

    de oferecer meios para o desenvolvimento lingustico e comunicativo do

    professor de LE. Nessa perspectiva, foi preciso priorizar o trabalho durante as

    atividades junto aos graduandos.

    Os dados coletados representam que a realizao do curso corroborou

    para formao inicial, bem como a interao dos graduandos em relao ao

    uso das TICs. De acordo com os relatos, a experincia foi desafiadora, mas

    fundamental para que pudessem aprimorar sua formao. Contudo, com todas

    as dificuldades encontradas pelos alunos pode-se constatar uma mudana nas

    crenas. Naturalmente, este trabalho no limita nem esgota as anlises dos

    resultados.

    2.5.6.2 Elaborao de um Plano de aula

    Com o intuito de oferecer aos graduandos a oportunidade de por em

    prtica seus conhecimentos em relao lngua estrangeira e em relao ao

    uso das TICs, foi sugerido professora do grupo uma atividade cuja proposta

    era a elaborao de um plano de aula sobre o tema: Aula de lngua

    estrangeira para turmas iniciais ou intermedirias, nela buscvamos observar

    quais recursos tecnolgicos os alunos utilizariam no plano de aula.

    Esta atividade foi apresentada a professora que gentilmente aceitou, em

    dezembro de 2008 para que a mesma pudesse inserir em seu planejamento

    semestral. Esta atividade foi realizada em dois momentos, o primeiro ocorreu

  • 41

    em 10 de fevereiro de 2009, neste a professora apresentou a proposta aos

    alunos que aceitaram com muito entusiasmo, a mesma orientou os alunos em

    seus planos. O segundo momento foi apresentao dos planos de aulas que

    ocorreu em 10 de maro de 2009.

    Aproveitamos a oportunidade para gravar em vdeo a apresentao dos

    planos para realizao da sesso de visionamento. Entretanto, cabe lembrar

    que a aula foi gravada com a devida autorizao dos alunos e da professora.

    2.6 Procedimentos de anlise de dados

    Os procedimentos para anlise de dados adotados nesta pesquisa esto

    voltados para a triangulao das informaes que surgiram a partir dos

    instrumentos de coleta como questionrio, entrevistas gravadas, autobiografias,

    gravaes de aulas e observao feitas pelo do pesquisador, as quais foram

    focadas na interao dos participantes com as TICs.

    Primeiro fizemos uma reunio com a professora responsvel pela

    disciplina para apresentar nossa proposta de pesquisa. Depois, aplicamos as

    entrevistas que possibilitaram dois momentos para coleta de dados. A primeira

    entrevista realizada em junho de 2008 que possibilitou levantar as crenas dos

    participantes (alunos e professora) nos discurso em relao s TICs. O

    segundo momento de entrevistas foi realizado em junho e agosto de 2009 e s

    ocorreu aps a realizao dos dois semestres da disciplina laboratrio de

    lnguas. Neste momento, buscamos identificar no discurso dos graduandos

    possveis mudanas nas crenas em relao s TICs.

    O questionrio possibilitou levantar informaes gerais sobre os

    participantes (alunos e professora) (questionrio aplicado junto professora

    apndice H) e sobre o uso cotidiano que fazem das TICs. Os dados levantados

    nos questionrios e na primeira entrevista forneceram informaes para

    elaborarmos as atividades, para a segunda entrevistas e base para observao

    das aulas.

    As atividades propostas ofereceram oportunidades prticas aos

    graduandos para sua formao, fato que pode alterar as crenas dos

  • 42

    participantes tanto no discurso quanto nas prticas. Desta forma, as

    observaes das aulas possibilitaram mapear as crenas dos graduandos a

    respeito da prtica pedaggica, tendo como base sua interao com as TICs e

    possibilitou observar as crenas da professora durante sua prtica pedaggica.

    Por fim, a sesso de visionamento e as autobiografias possibilitaram

    tambm, informaes a respeito do discurso dos participantes e nelas

    buscamos identificar possveis mudanas nas crenas dos participantes.

    Assim, os instrumentos foram analisados em conjunto a fim de verificar

    se a ocorrncia que surgia em um instrumento aparecia em outros tambm

    para que fossem agrupados em categorias temticas (Manzini, 2003). Assim,

    ao agrupar as informaes em categorias temticas foi possvel analisar e

    triangular os dados de modo que pudessem responder nossas perguntas de

    pesquisa.

  • 43

    3 FUNDAMENTAO TERICA

    Neste captulo buscamos discutir as bases tericas que fundamentam esta

    pesquisa. Inicialmente ser apresentado um perfil histrico do curso de

    Letras. Apresentamos um pouco da histria da Informtica na Educao. Em

    seguida passo pela formao do professor de lngua estrangeira buscando

    na pedagogia dos mtodos a base terica para discutir a relao entre

    mdias, educao e formao de professores. Por fim, os diferentes

    conceitos sobre crenas trazidas na literatura recente, suas diferentes

    abordagens pertinentes formao de professores e sua relao com as

    TICs.

    3.1 Histrico do curso de Letras

    Faz-se necessrio traar um breve perfil histrico do curso de

    Licenciatura em Letras. A primeira lei que estabeleceu o currculo mnimo foi

    aprovada em 19 de outubro de 1962, cujo artigo primeiro trazia:

    O currculo mnimo dos cursos que habilitam licenciatura em Letras compreende 8 matrias escolhidas na forma abaixo indicada, alm das matrias pedaggicas fixadas em Resoluo Especial: (1) Lngua Portuguesa; (2) Literatura Portuguesa; (3) Literatura Brasileira; (4) Lngua Latina; (5) Lingustica; (6) Trs matrias escolhidas dentre as seguintes: a) Cultura Brasileira; b) Teoria da Literatura; c) Uma lngua estrangeira moderna; d) Literatura correspondente a lngua escolhida; e) Literatura Latina; f) Filologia Romnica; g) Lngua Grega; h) Literatura Grega (apud Paiva, 2005, p. 245)

    Dessa forma, lngua estrangeira entrava no papel das lnguas optativas,

    tinha um papel secundrio. Nesse momento no havia prtica pedaggica,

    pensava-se numa perspectiva conteudista.

    De acordo com Paiva (2005, p. 346) apenas a partir de 1969 foram

    introduzidas as matrias pedaggicas, sendo obrigatria a Prtica de Ensino.

    Esse currculo vigorou por aproximadamente 34 anos e influencia, ainda, at

  • 44

    hoje os cursos de Letras. Durante todo esse perodo a prtica em Lngua

    Estrangeira, ficava a cargo dos pedagogos.

    A preocupao com a qualidade dos cursos de licenciatura comea a ser

    alvo do Ministrio da Educao e Cultura (MEC) na dcada de noventa, o qual

    elaborou a Lei no. 9.394 Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Em 1996

    com a aprovao da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) foi abolida a

    obrigatoriedade de currculos mnimos, surgindo no lugar s diretrizes

    curriculares, seguindo os seguintes princpios, objetivos e metas.

    Princpios:

    Liberdade na composio de carga horria e na especificao nas

    unidades de estudos a serem ministradas;

    Incentivar uma slida formao geral, permitindo vrios tipos de

    formao e habilitaes diferenciadas em um mesmo programa;

    Estimular prticas de estudo independentes, visando uma

    progressiva autonomia;

    Encorajar o aproveitamento do conhecimento fora do ambiente

    escolar;

    Articular a teoria com a prtica (valorizao da pesquisa individual

    e coletiva).

    Objetivos e Metas:

    Autonomia na definio dos currculos (etapa de formao inicial

    do professor em um processo contnuo);

    Carga horria mnima (flexibilizao do tempo de acordo com a

    disponibilidade do aluno);

    Aperfeioar a estruturao modular (oferta de cursos

    seqenciais);

    Contemplar orientaes para atividades de estgio (incentivar

    habilidades, competncias fora do ambiente escolar);

    Contribuir para a inovao do projeto pedaggico.

  • 45

    As diretrizes aprovadas em 03 de abril de 2001 afirmam que os cursos

    de graduao em Letras, devero ter estruturas flexveis. O professor tem

    duplo papel de ser responsvel pelos contedos e funo de orientador,

    influenciando na qualidade de formao do aluno.

    Paiva (2005) relata sobre os domnios mnimos que os profissionais em

    Letras devem ter mltiplas competncias em relao ao uso da(s) lngua(s)

    materna e estrangeira, para atuarem como professores, pesquisadores,

    crticos, literrios, tradutores e intrpretes.

    Os currculos eram organizados de forma tradicional, sem coerncia

    entre objetivos e o perfil do egresso. Havia uma bibliografia desatualizada, a

    teoria no dialogava com a prtica e a metodologia era centrada nos

    professores (WIDDONSON, 1979. p.22). No entanto, a partir de fevereiro de

    2004, as licenciaturas passaram para 2800 horas, sendo 400 horas para

    prtica; 400 de estgio supervisionado que deve funcionar como uma instncia

    de formao pr-servio e continuada; 1800 horas de contedos curriculares e

    200 horas para atividades acadmico-cientfico-cultural (PAIVA, 2005. p. 352).

    Um dos pontos reformulados refere-se ao item trs do artigo 43 para

    educao superior que busca:

    III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigao cientifica, visando o desenvolvimento da cincia e da tecnologia e da criao e difuso da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive (LDB, 1996. p. 17).

    Por esta legislao, compreendemos que as tecnologias so frutos do

    desenvolvimento cientifico e no objeto para desenvolvimento social. J com a

    reformulao dos currculos para os cursos de licenciatura, a legislao prev o

    preparo do professor para utilizao de novas tecnologias de informao e

    comunicao bem como a articulao com projetos na formao pr-servio e

    continuada, com orientao e acompanhamento sistemticos (PAIVA, 2005

    p.352).

    As tecnologias para o ensino distncia tambm tema discutido na

    formao do professor, de acordo com a portaria n. 2.253 do MEC de 18 de

    outubro de 2001 presumem que o ensino pode ser ministrado por meio de

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    mtodo no presencial com base na Lei n. 9.394, de 1996 o qual no poder

    ultrapassar vinte por cento do tempo previsto do respectivo currculo.

    Outro documento redigido e divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos

    e Pesquisas Educacionais (INEP) prev tambm a criao de salas ambientes

    para prtica de ensino (licenciatura em Lngua Portuguesa e Lnguas

    estrangeiras); Laboratrio de multimdia/lnguas; Laboratrio de Informtica

    para todas as habilidades e Laboratrio de traduo e interpretao. Assim,

    concordamos com a criao de laboratrios tecnolgicos para prtica de

    lnguas, mas salientamos ainda que seja preciso atentar para formao inicial

    dos professores para lidar com as novas tecnologias de informao e

    comunicao (TICs).

    3.1.2 Viso histrica da informtica na educao

    Historicamente as Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs)

    permaneceram por muito tempo restrito ao universo militar ou aos grandes

    centros universitrios. O tema informtica era assunto para poucos e a sua

    massificao frente sociedade, comeou a aparecer sob a forma de

    oportunidade para uma maior qualificao e conseqentemente mais

    oportunidades no mercado de trabalho (MORAES, 2006).

    Neste cenrio, a tendncia tecnicista adotada pelo governo brasileiro,

    em sua grande parte, foi resultado de presses externas para a aquisio de

    softwares educativos, produtos estes de uma ideologia mercadolgica que

    exclua o carter educacional e propiciou a base de sustentao poltica

    apenas dos atores diretamente ou indiretamente ligados que se beneficiam

    com os bens que a informtica proporciona, afastando do processo os que dela

    no so proprietrios, material e culturalmente (MORAES, 2006. P. 37).

    Em meio a um cenrio catico, de confronto entre vrios setores da

    sociedade, o inicio das polticas de informtica no Brasil marcado oficialmente

    pela determinao do governo brasileiro de criar uma reserva de mercado para

    as indstrias nacionais de aparelhos ligados informtica, mas essa luta vem

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    do vislumbramento da Marinha na construo de um computador nacional

    (OLIVEIRA, 1997).

    As polticas de informtica em nosso pas estavam subordinadas ao

    Conselho de Segurana Nacional e a interesses estrangeiros e econmicos, o

    governo brasileiro, timidamente, ofereceu alguns programas voltados para a

    integrao e disseminao da informtica no sistema educacional como o

    Programa FORMAR (1986) que buscava formar professores e tcnicos para

    atuar na rede de ensino, o Programa Nacional de Informtica Educativa

    PRONINFE tinha como referencial pedaggico a teoria construtivista de Piaget,

    j os programas GNESE e EUREKA (MORAES, 2006), buscavam uma

    perspectiva histrica baseada na teoria de Vigotsky. O Projeto EDUCOM,

    segundo (Oliveira, 1997), tinha como objetivo desenvolver pesquisas

    multidisciplinares voltadas para o processo ensino-aprendizagem, este

    culminou no PROINFO. Entretanto, Moraes (2006) discorre sobre esses

    projetos como uma formao aligeirada e descontinuada em relao ao projeto

    poltico pedaggico.

    Mesmo com a criao dos programas de capacitao ou de formao de

    agentes catalisadores da Informtica Educativa o sistema educacional no

    conseguia integrar em suas prticas as orientaes estabelecidas pelos

    documentos oficiais referente informtica no sistema educacional (OLIVEIRA,

    1997).

    Muitos dos programas vigentes atingiam uma pequena parcela dos

    professores das escolas e deixava de lado a formao inicial do graduando das

    reas do magistrio. Assim, nossa preocupao est focada nesse grupo de

    profissionais que esto na transio entre graduandos e futuros professores.

    De acordo com as Leis de Diretrizes e Bases (LDB, 1996), o formando

    deve ter domnio dos contedos bsicos que so objetos dos processos

    ensino/aprendizagem, dos mtodos e tcnicas pedaggicas para a

    transposio dos conhecimentos, deve tambm, compreender sua formao

    profissional como processo contnuo, autnomo e permanente, alm de fazer

    uso de novas tecnologias (GIMENEZ, 2005).

    Contudo, conclumos que os cursos superiores de magistrio ainda

    esto atrelados aos grilhes de uma poltica que assumiu superficialmente as

    tecnologias de informao e comunicao. Paralelo a isso, as TICs continuam

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    sua expanso histrico s