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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Mestre em Desenvolvimento e Perturbações da Linguagem na Criança – Área
de Especialização em Terapia da Fala e Perturbações da Linguagem, realizada sob a
orientação científica da Professora Doutora Ana Castro e da Professora Doutora Haydée
Fiszbein Wertzner.
Apoio financeiro de uma bolsa de estudo do programa de bolsas Luso-Brasileiras
Santtander Totta para estudantes universitários.
Declaro que esta Dissertação é o resultado da minha investigação pessoal e independente.
O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas
no texto, nas notas e na bibliografia.
A candidata,
____________________
Lisboa, 4 de abril de 2015.
Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a
designar.
A orientadora,
____________________
Lisboa, 4 de abril de 2015.
i
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer e expressar a minha profunda gratidão a todos os intervenientes
deste percurso repleto de desafios, adversidades e glórias sem os quais não seria
possível realizar este trabalho.
Em primeiro lugar, quero expressar o meu apreço às minhas orientadoras
Professora Doutora Haydée Fiszbein Wertzner e Professora Doutora Ana Castro por
terem aceite orientar o presente trabalho de investigação, pelos conhecimentos
transmitidos, pelo apoio, incentivos e por sempre acreditarem no meu trabalho.
Agradeço a toda a minha família de São Paulo, por me terem recebido muito
bem e fazerem com que a minha aventura dos quatro meses chegasse a bom porto.
Agradeço em especial à Professora Doutora Haydée Fiszbein Wertzner e à sua família
(marido e filha); à mãe Rute e ao pai João; à Doutora Luciana Pagan-Neves e as
meninas do LIFF (Laboratório de Investigação Fonoaudiológica de Fonologia) Danira
Tavares e Tatiane Barrozo por terem sido a minha família, as minhas búsulas e as
minhas conselheiras em São Paulo. Vocês estão no meu coração.
Agradeço também ao Professor Doutor Hélder Alves, pela contribuição na
análise estatística, pela paciência e disponibilidade revelada para a realização da análise
dos resultados e pelas horas de reuniões com as minhas dúvidas.
Para a concretização deste trabalho realço a importância da cooperação dos
terapeutas da fala para a constituição da amostra dos casos do português europeu e o
livre acesso à base de dados do LIFF , o meu muito obrigada pois sem estes dados não
teria sido possível a execução deste trabalho.
Aos meus colegas de trabalho (Leroy Merlin de Alfragide) por terem aturado o
meu mau feitio durante estes dois anos.
À minha amiga e terapeuta da fala Ana Paula Micaelo pelas palavras de
incentivo e por ouvir os meus desabafos dos obstáculos e dos sucessos.
Às colegas de mestrado Andreia Bernardo, Patrícia Teixeira e Mariana Salvador
pelas experiências partilhadas e pelos ensinamentos no decorrer destes dois anos.
Ao Doutor Sérgio Gaitas pela amizade e pela revisão do presente trabalho.
ii
Agradeço a toda a família Santos, família Oleiro e família Ferreira pelas palavras
de incentivo, pela motivação e por sempre acreditarem no meu trabalho e no meu
resultado.
Ao Domingos por todos os momentos que passamos juntos durante o nosso
caminho, pela paciência de me ouvir, pelo apoio em todas as etapas difíceis da minha
vida, pela amizade e acima de tudo pelo amor.
À minha avó Fernanda, onde quer que esteja tenho a certeza de que está muito
orgulhosa e muito presente, obrigada avó pelas tuas palavras de motivação ao longo da
minha licenciatura, pelo teu orgulho e pelo teu carinho.
Finalmente, os agradecimentos principais vão para os meus pais, Ana Paula e
Vasco, pelo apoio e orgulho incondiconal, pelas palavras de incentivo, por ouvirem as
minhas frustações, pela motivação de ser mais e melhor, por tudo e tudo e acima de tudo
pelo seu fiel amor.
Muito obrigada a todos.
iii
RESUMO
Medidas Fonológicas em crianças com perturbação dos sons da fala. Estudo
comparativo entre o português europeu e o português brasileiro.
ANA FILIPA BARROS DOS SANTOS
Objetivo: O objetivo deste estudo é comparar as características de dois grupos de
crianças com diagnóstico de Perturbação dos Sons da Fala (PSF), falantes de português
europeu (PE) e falantes de português brasileiro (PB), considerando um conjunto de
medidas fonológicas que incluem Percentagem de Consoantes Corretas (PCC),
Percentagem de Consoantes Corretas Revista (PCC-R), Process Density Index (PDI),
Índices Absolutos (IA) e Índices Relativos (IR) de Substituição, Omissão e Distorção,
tipos de Processos Fonológicos e Percentagem de Acerto por Fonema (PAF). Método:
Neste estudo participaram dezoito crianças com diagnóstico de Perturbação dos Sons da
Fala (PSF), com idades compreendidas entre os cinco anos e dois meses e os sete anos e
11 meses, sendo doze do sexo masculino e seis do sexo feminino, divididas em dois
grupos - falantes de português europeu (GPE) e falantes de português brasileiro (GPB)
- emparelhadas por idade, sexo e valor de PCC. A partir da análise das transcrições
fonéticas constantes nas folhas de registo de cada subteste de nomeação de cada sujeito
- Teste Fonético-Fonológico - Avaliação de Linguagem Pré-Escolar (TFF - ALPE)
(Mendes et al., 2009) para o português europeu, e provas de fonologia do Teste de
Linguagem Infantil ABFW (Andrade et al., 2004) para o português brasileiro,- foram
calculadas e comparadas as medidas fonológicas referidas, recorrendo a testes
estatísticos (paramétricos e não paramétricos). Resultados: O emparelhamento do GPE
com o GPB foi bem sucedido. Não existiram diferenças estatísticamente significativas
nas medidas fonológicas em estudo entre o GPE e o GPB. No Estudo 1, não existiram
diferenças nos tipos de erros à exceção do erro de omissão. No Estudo 2, no GPE
verificamos um menor número de erros de distorção e um maior número de erros de
omissão. Existem algumas particularidades devido à variante da língua, nomeadamente
no processo fonológico de PAL e de DESV. Conclusão: Esta investigação permitiu
realizar a comparação do GPE e do GPB com a utilização de dois instrumentos recolha
de dados diferentes. Os resultados foram de encontro ao que é descrito por outros
estudos nesta área de investigação. As poucas diferenças que se observaram podem ser
explicadas pelas diferenças existentes entre os sistemas fonético-fonológicos das duas
variedades linguísticas. É extremamente importante a metodologia de recolha de dados
para a avaliação das PSF. A mais valia desta pesquisa é o contributo de indicadores
clínicos para diagnóstico, prognóstico e intervenção terapêutica nas PSF.
Palavras-chave: Perturbação dos Sons da Fala (PSF), desenvolvimento fonológico,
medidas fonológicas, avaliação da linguagem, português europeu, português brasileiro,
terapeuta da fala.
iv
ABSTRACT
Phonological Measures in children whit Speech Sound Disorder. Comparative
study between the European Portuguese and Brazilian Portuguese.
ANA FILIPA BARROS DOS SANTOS
Objetive: The objetive of this study is to compare the characteristics of two groups of
children diagnosed with Speech Sound Disorder (SSD), one speaking European
Portuguese (EP) and another Brazilian Portuguese (BP), by considering a set of
phonologic measures that include the Percentage of Consonants Correct (PCC),
Percentage of Consonants Correct-Revised (PCC-R), Process Density Index (PDI),
Absolut indexes (IA) and Relative indexes (IR), substituon, omission, distortion, types
of phonological processes and Percentage phoneme hit (PAF). Method: Eighteen
children, twelve masculine and six feminine, ages comprised between five years and
two months and seven years and eleven months, diagnosed with Speech Sound Disorder
(SSD) participated in this study. The children were divided in two groups (GPE and
GPB), and grouped by age, gender e PCC value. From the analysis of the phonetic
transcriptions present in the record sheets of each child in thenomination subtest - Teste
Fonético-Fonológico - Avaliação de Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE) (Mendes et
al., 2009)for European Portugueseand phonology tests fromTeste de Linguagem Infantil
ABFW (Andrade et al., 2004) for the Brazilian Portuguese – the phonologic measures
were determined and compared using statistic tests (parametric and non-parametric).
Results: The combination of the GPE with the GPB was successful. There were no
statistic differences in the phonologic measures studied in both groups. In Study 1, there
were no differences in the type o errors between groups, except for the error of
omission. In Study 2, less errors of distortion and higher error of omission were
observed for GPE. There are some particularities due to the language variant, namely
the phonological process of PAL and the DESV.Conclusion: This investigation allowed
the comparison of the EPG and BPG by recurring to two different instruments of data
collection. These results are in agreement with what has been previously described in
other studies in this research area. The small differences observed can be explained by
the existing differences between the phonetic-phonological systems of the two linguistic
varieties.The methodology used to collect the data for SSD evaluation is of high
importance. This research highly contributes with clinical indicators of diagnose,
prognoses and therapeutic intervention on SSD.
Keywords: Speech Sound Disorder, Phonological Impairments, Language Assessment,
speech therapist.
v
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Classificação articulatória tradicional das consoantes do PE ………………...8
Tabela 2. Classificação articulatória tradicional das consoantes do PB………………...8
Tabela 3. Etapas do desenvolvimento fonológico……………………………………..11
Tabela 4. Comparação das faixas etárias de aquisição dos fonemas obtidos no TFF-
ALPE para o PE e obtidas no ABFW para o PB……………………………………….20
Tabela 5. Comparação das faixas etárias de supressão dos processos fonológicos do PE
obtidos no TFF-ALPE (2003) e de Castro et al. (1997, 1999) e em PB segundo
Wertzner (2000, 2003)………………………………………………………………….24
Tabela 6. Características das crianças do grupo de falantes nativos de português
europeu (GPE) e do grupo de falantes nativos de português brasileiro (GPB)………...30
Tabela 7. Medidas fonológicas………………………………………………………...31
Tabela 8. Escala da PCC……………………………………………………………….32
Tabela 9. Processos fonológicos analisados nos diferentes testes de avaliação e
respetiva correspondência………………………………………………………………35
Tabela 10. Nomenclatura, definição e exemplos dos processos fonológicos no PE…..36
Tabela 11. Possibilidade de ocorrência de cada fonema, grupos consonânticos e
arquifonemas nos instrumentos de recolha de dados utilizados………………………..37
Tabela 12. Possibilidade de ocorrência de cada fonema, grupo consonântico e
arquifonema para as 12 palavras em comum nos dois instrumentos de recolha de dados
utilizados………………………………………………………………………………..38
Tabela 13. Lista de palavras utilizadas nos testes……………………………………...39
Tabela 14. Ocorrência dos processos fonológicos e o número de consoantes corretas
para as 12 palavras……………………………………………………………………...40
Tabela 15. Número de consoantes corretas para as 12 palavras……………………….40
Tabela 16. Distribuição de frequência e percentagem por sexo……………………….44
Tabela 17. Média e desvios padrão para as variáveis PCC e idade……………………44
vi
Tabela 18. Média, desvios padrão para as variáveis PCC-R, PDI, IAS, IRS, IAD, IRD,
IAO, IRO……………………………………………………………………………….46
Tabela 19. Média, desvios padrão e teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e
IAD……………………………………………………………………………………..46
Tabela 20. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do
GPE……………………………………………………………………………………..48
Tabela 21. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do
GPB…………………………………………………………………………………….48
Tabela 22. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas nasais……………………..50
Tabela 23. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas orais………………………50
Tabela 24. PAF de cada criança nas consoantes fricativas…………………………….51
Tabela 25. PAF de cada criança nas consoantes líquidas laterais e vibrantes…………51
Tabela 26. PAF de cada criança nos grupos consonânticos…………………………...52
Tabela 27. Médias e desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS,
IAO, IRO, IAD e IRD para as crianças falantes de PE e para as crianças falantes de PB,
teste t e teste de Mann-Whitney………………………………………………………..54
Tabela 28. Média, desvios padrão e teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e
IAD……………………………………………………………………………………..55
Tabela 29. Média, desvios padrão, resultados do teste de Mann-Whitney e teste
ANOVA de Friedman para os processos fonológicos no GPE e no GPB……………...55
Tabela 30. Médias dos processos fonológicos no GPE e no GPB (teste ANOVA de
Friedman)……………………………………………………………………………….56
Tabela 31. Descrição dos resultados para PAF, média e desvios padrão para as crianças
falantes de PE e falantes de PB………………………………………………………...57
Tabela 32. Média, desvios padrão para as variáveis totais de diferentes processos
fonológicos, total de ocorrência dos processos fonológicos e número de consoantes
corretas no GPE e no GPB……………………………………………………………..58
vii
ÍNDICE DE TABELAS – APÊNDICES
1. Apêndice 1
Tabela 1. Palavras e transcrição fonética do TFF-ALPE da prova de nomeação para
oPE (Mendes et al., 2009)……………………………………………………………...93
Tabela 2. Palavras do ABFW da prova de nomeação (Wertzner et al., 2004) e
transcrição fonética…………………………………………………………………..…95
2. Apêncide 2
Tabela 1. Médias e desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média
das ordens para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO……………………………...96
Tabela 2. Média das ordens e teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e IAD….96
3. Apêndice 3
Tabela 1. Média e desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média
das ordens para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO……………………………...97
Tabela 2. Média das ordens para as variáveis IAS, IAO e IAD no GPE e no GPB…...97
Tabela 3. Média das ordens, valores de U e p para os processos fonológicos entre o
GPE e o GPB…………………………………………………………………………...97
Tabela 4. Média das ordens no teste ANOVA de Friedman para os processos
fonológicos no GPE e no GPB…………………………………………………………98
Tabela 5. Descrição dos resultados para PAF, média das ordens e teste de Mann-
Whitney para o GPE e o GPB………………………………………………………….98
Tabela 6. Média das ordens para PAF do GPE e do GPB……………………………..99
Tabela 7. Média das ordens para as variáveis totais de diferentes processos fonológicos,
total de ocorrência dos processos fonológicos e número de consoantes corretas no GPE
e no GPB………………………………………………………………………………..99
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
ABFW Teste de Linguagem Infantil nas áreas de Fonologia, Vocabulário, Fluência e Pragmática
ANT Anteriorização
C Consoante
DES Despalatalização
DESV Desvozeamento
DP Desvio Padrão
EF Ensurdecimento de Fricativa
EP Ensurdecimento de Plosiva
FP Frontalização de Palatal
FV Frontalização de Velar
GPB Grupo de crianças falantes do português brasileiro
GPE Grupo de crianças falantes do português europeu
HC Harmonia Consonantal
IAD Índice Absoluto de Distorção
IAO Índice Absoluto de Omissão
IAS Índice Absoluto de Substituição
IRD Índice Relativo de Distorção
IRO Índice Relativo de Omissão
IRS Índice Relativo de Substituição
LIFF Laboratório de Investigação Fonoaudiologa de Fonologia
M Média
OCF Omissão da Consoante Final
OCL Oclusão
OP Outros Processos
PA Processos Adicionais
PAF Percentagem de Acerto por Fonema
PAL Palatalização
PB Português Brasileiro
PCC Percentagem de Consoantes Corretas
PCC-R Percentagem de Consoantes Corretas-Revista
PDI Process Density Index (Índice de Densidade de Processos Fonológicos)
ix
PE Português Europeu
PF Processos Fonológicos
PF Plosivação de Fricativa
POS Posteriorização
POSP Posteriorização para Palatal
POSV Posteriorização para Velar
PSF Perturbação dos Sons da Fala
RGC Redução do Grupo Consonântico
RS Redução de Sílaba
RSA Redução de Sílaba Átona
SCF Simplificação de Consoante Final
SEC Simplificação de Encontro Consonantal
SF Sonorização de Fricativa
SL Simplificação de Líquida
SP Sonorização de Plosiva
TFF-ALPE Teste Fonético-Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar
V Vogal
x
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... i
RESUMO ........................................................................................................................ iii
ABSTRACT .................................................................................................................... iv
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................... v
ÍNDICE DE TABELAS – APÊNDICES ....................................................................... vii
LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... viii
ÍNDICE ............................................................................................................................. x
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ......................................................... 7
1.1 Os sistemas fonético-fonológicos do Português Europeu (PE) e do Português Brasileiro
(PB) ........................................................................................................................................... 7
1.2 Aquisição do Sistema Fonológico do PE e do PB ....................................................... 10
1.3 Perturbações dos Sons da Fala .................................................................................... 13
1.4 Avaliação das Perturbações Fonológicas .................................................................... 17
1.5 Medidas Fonológicas................................................................................................... 21
1.5.1. Percentagem de consoantes corretas (PCC), Percentagem de consoantes corretas revista
(PCC-R)................................................................................................................................... 21
1.5.2 PDI ................................................................................................................................. 22
1.5.3 Índices Absolutos e Relativos ........................................................................................ 22
1.5.4 Processos Fonológicos ................................................................................................... 22
CAPÍTULO II – METODOLOGIA ............................................................................... 25
2.1 Objetivo do estudo e questões de investigação ........................................................... 25
2.2 Tipo de Estudo ............................................................................................................ 26
2.3 Participantes ................................................................................................................ 26
2.4 Material ....................................................................................................................... 27
2.5 Procedimento ............................................................................................................... 28
2.5.1 Seleção da amostra de fala e emparelhamento dos grupos ............................................. 28
2.5.2 Medidas Fonológicas...................................................................................................... 30
2.5.2.1 Estudo 1 ....................................................................................................................... 31
2.5.2.2. Estudo 2 ...................................................................................................................... 38
2.6 Análise estatística ........................................................................................................ 41
CAPÍTULO III – RESULTADOS ................................................................................. 43
3.1 Verificação do sucesso do emparelhamento da amostra ............................................. 44
xi
3.2 Estudo 1 ....................................................................................................................... 45
3.2.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS, IRS) 45
3.2.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão, distorção) mais frequente. ................. 46
3.2.3 Processos fonológicos .................................................................................................... 47
3.2.4 Comparação da PAF....................................................................................................... 49
3.3 Estudo 2 ....................................................................................................................... 53
3.3.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC, PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS,
IRS) ......................................................................................................................................... 53
3.3.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão, distorção) mais frequente. ................ 54
3.3.3 Comparação dos processos fonológicos ......................................................................... 55
3.3.4 Inventário fonético ......................................................................................................... 56
CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO ..................................................................................... 59
4.1 Discussão dos Resultados ............................................................................................ 59
4.1.1 Estudo 1 ................................................................................................................... 60
4.1.2 Estudo 2 ................................................................................................................... 64
4.2 Limitações do Estudo e Propostas para Estudos Futuros ............................................ 67
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 71
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 75
ANEXOS ........................................................................................................................ 83
Anexo 1. Folha de registo do Teste TFF-ALPE ............................................................. 83
Anexo 2. Folha de registo do Teste ABFW ................................................................... 89
APÊNDICES .................................................................................................................. 93
Apêndice 1. Palavras dos instrumentos de avaliação e transcrição fonética .................. 93
Apêndice 2. Tabelas - Estudo 1 ...................................................................................... 96
Apêndice 3. Tabelas - Estudo 2 ...................................................................................... 97
1
INTRODUÇÃO
Até ao momento, não existem estudos publicados que comparem as
características fonológicas de crianças com diagnóstico de Perturbação Fonológica em
crianças falantes do português europeu (PE) e crianças falantes do português brasileiro
(PB). No entanto, existem estudos que fazem a comparação de outras línguas,
nomeadamente o espanhol e o inglês, e que mostram a importância da utilização de
determinadas medidas fonológicas para o diagnóstico da Perturbação Fonológica.
Sabe-se que a definição da classificação das Perturbações Fonológicas tem
sofrido alterações no decorrer das últimas décadas. Na literatura americana, nos anos 80
e 90, esta perturbação foi denominada de Phonological Disorders e, a partir de 2003 foi
introduzida a nomenclatura Speech Sounds Disorders (Shriberg, 2003). No decorrer dos
tempos também outros termos surgiram, como perturbação fonológica, perturbação
fonética ou perturbação mista. Considerando que existe uma divergência na
nomenclatura utilizada pelos terapeutas da fala, para o estabelecimento do diagnóstico
das Perturbações Fonológicas é importante clarificar as diferenças entre as definições de
PL (perturbação da linguagem), PEDL (“Specific Language Impairment” – perturbação
específica do desenvolvimento da linguagem) e de PSF (Perturbação dos Sons da Fala/
Perturbação Fonológica).
Assim, o termo mais utilizado atualmente na prática clínica é Perturbação dos
Sons da Fala (PSF), tradução literal da nomenclatura americana e é esta nomenclatura
que vai ser utilizada no decorrer do presente estudo.
Existem poucos estudos publicados para o português europeu de características
fonológicas com crianças com perturbação da linguagem (PL). No entanto existem
estudos para outras línguas (Bortolini e Leonard, 2000; Gillon, 2000b; Hesketh, Adams,
Nightingale, e Hall, 2000; Maillart e Parisse, 2006; Owen, Dromi, e Leonard, 2001;
Roberts, Rescorla, Giroux, e Stevens, 1998) que demonstram que as crianças com PL
apresentam diversas alterações fonológicas. As crianças com PL realizam muitos
processos fonológicos atípicos ao seu desenvolvimento e apresentam uma reduzida
percentagem de consoantes corretas (PCC) no seu discurso (Lousada, 2012). Segundo a
American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) (1993), uma perturbação de
linguagem (PL) (“language disorder” ou “language impairment”) é uma perturbação
2
ao nível da compreensão e/ou da expressão da linguagem oral ou escrita. A perturbação
pode envolver a forma (fonologia, morfologia e sintaxe), o conteúdo (semântica), e o
uso da linguagem (pragmática). A PL constituí um grupo heterogêneo de crianças e com
a finalidade de compreender esta característica inúmeras definições têm sido utilizadas.
A PEDL (“Specific Language Impairment”) é considerada quando as crianças
apresentam uma perturbação significativa da linguagem, apesar dos fatores que
usualmente acompanham estes problemas (a alteração cognitiva, a deficiência auditiva,
a lesão neurológica, a alteração da estrutura e da função oral, e a perturbação da
interacção com pessoas e objectos) não estarem presentes (Leonard, 1998). A PEDL é
definida como um início tardio e desenvolvimento lento da linguagem que não seja
devido a um défice sensorial (auditivo) ou motor, deficiência mental, distúrbio
psicopatológicos, privação socioafetiva, lesões ou disfunções cerebrais evidentes (Rapin
& Allen, 1983 cit in Castro Rebolledo, R. et al. 2004; Bishop & Leonard, 2001). Uma
criança com PEDL apresenta assincronia na aquisição das diferentes componentes da
linguagem, podendo apresentar, ao longo do seu desenvolvimento, diferentes
desempenhos nas quatro componentes da linguagem (semântica, fonologia,
morfossintática e pragmática). A PEDL caracteriza-se por ser um desvio ao
desenvolvimento normal da linguagem que não segue as etapas ditas “normais”, onde se
verifica também um compromisso das funções executivas vias superiores (atenção,
concentração e abstração) por parte da criança (Bishop, 2001).
É importante realizar um levantamento da definição de PSF, ou perturbação
fonológica, no decorrer da evolução dos tempos. Assim, Ingram, 1976 caracteriza a
perturbação fonológica como uma alteração no sistema fonológico do indivíduo. Na
classificação DSM IV, a perturbação fonológica é definida como uma incapacidade de
produzir os sons da fala adquadamente para o que é esperado na idade da criança.
Andrade (2008) diz que a perturbação fonológica é uma dificuldade na produção, uso ou
organização dos sons da fala (substituição de um som por outro, omissão ou distorção)
com ausência de patologia associada (deficiência mental, espetro do autismo,
dificuldades motoras). Segundo Wertzner (2012) a perturbação fonológica consiste
numa alteração da fala e linguagem com elevada ocorrência na população infantil que
tem como principal característica a produção inadequada dos sons durante a fala.
Considerando as definições acima apresentadas, verificamos a sobreposição de aspetos
fonológicos e fonéticos na PSF.
3
A produção de fala das crianças com PSF é caracterizada por um valor baixo de
Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) e pela existência de processos fonológicos
(Lousada, 2012). Assim, este estudo pretende verificar se as crianças falantes de PE e de
PB diferem em relação a um conjunto de medidas fonológicas usualmente utilizadas na
prática clínica do terapeuta da fala. Vão ser analisados e comparados para observar as
diferenças entre os dois grupos dos sujeitos, crianças falantes do português europeu e
crianças falantes do português brasileiro (GPE e GPB), onze medidas fonológicas:
Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) (Shriberg e Kwiatkowiski, 1982),
Percentagem de Consoantes Corretas-Revisto (PCC-R) (Shriberg, et al., 1997), Process
Density Index (PDI) (Edwards, 1992), Índice Relativo de Substituição (IRS), Índice
Relativo de Distorção (IRD), Índice Relativo de Omissão (IRO), Índice Absoluto de
Substituição (IAS), Índice Absoluto de Distorção (IAD), Índice Absoluto de Omissão
(IAO) (Shriberg, et al., 1997), tipos de Processos Fonológicos (PF) (Ingram, 1989) e
Percentagem de Acerto por Fonema (PAF) (índice novo proposto nesta investigação). A
relevância de comparar o desempenho das crianças falantes de PE com as crianças
falantes de PB nas 11 medidas fonológicas em estudo prende-se com os sistemas
fonológicos serem próximos nas duas variantes da língua.
Existem instrumentos de avaliação padronizados para auxiliar a identificação de
problemas relacionados com as perturbações fonológicas. Estes testes estão
standardizados para uma determinada população e fornecem dados normativos para a
análise, comparação e constatação de algum problema nesta área.
É importante realçar a pertinência da avaliação do terapeuta da fala nas PSF, já
que se esta avaliação for realizada precocemente e através de um diagnóstico diferencial
pode ser um bom indicador para o desenvolvimento das habilidades fonológicas de cada
criança e para a aprendizagem da leitura e da escrita, uma vez que inúmeros problemas
de aprendizagem estão relacionados com perturbações de caráter fonológico.
O objetivo primordial deste trabalho é assim comparar o desempenho de
crianças falantes de PE e das crianças falantes de PB com idades compreendidas entre
os cinco anos e zero meses e os sete anos e os 11 meses, com diagnóstico em Terapia da
Fala de PSF analisando um conjunto de 11 medidas fonológicas. Com este objetivo
pretendemos responder às seguintes questões de investigação:
4
1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na
prova de nomeação de imagens, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD
e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos;
2) Identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais
frequente em ambas as amostras;
3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com
PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;
4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes
nativos de PE e nos falantes nativos de PB;
5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e
falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema
(PAF).
Para responder a estas questões foram realizados dois estudos neste trabalho: o
primeiro estudo (Estudo 1) corresponde à análise e comparação das medidas
fonológicas para a amostra de fala dos sub-testes de nomeação dos instrumentos de
avaliação selecionados para esta pesquisa; o segundo estudo (Estudo 2) corresponde à
análise e comparação das medidas fonológicas para a amostra de fala das 12 palavras
comuns nos dois testes de avaliação.
Pretende-se ainda com esta investigação contribuir para a descrição da
importância das medidas fonológicas na avaliação de crianças com PSF falantes de PE e
de PB, o que ajudará os terapeutas da fala/fonoaudiólogos a melhorar a avaliação e a
estabelecer um diagnóstico diferencial na área das perturbações da linguagem, em
particular da fonologia. O presente trabalho irá também contribuir para o conhecimento
das medidas fonológicas que podem ser utilizadas na avaliação de casos com PSF bem
como dos processos fonológicos que podem ser semelhantes na variante da língua do
português (PE vs. PB).
O conteúdo da dissertação encontra-se divídido em quatro capítulos. Na presente
secção (Introdução), são apresentadas as motivações do estudo, definem-se os objetivos
a alcançar, colocam-se as questões de investigação e situa-se o impacto futuro bem
como a estrutura da dissertação.
5
No capítulo I são inicialmente apresentados alguns aspetos que estão
relacionadas com a temática desta pesquisa, nomeadamente: as diferenças entre o
português europeu e o português brasileiro no que respeita aos seus sitemas
fonológicos; as perturbações dos sons da fala; a avaliação das perturbações fonológicas
e as medidas fonológicas.
O método é descrito no capítulo II: o tipo de estudo, a caracterização da amostra
através da casuística, o material utilizado para a avaliação dos sujeitos, os
procedimentos realizados para a seleção da amostra e para o cálculo de todas as medidas
fonológicas para o Estudo 1 e 2.
No capítulo III são apresentados os resultados obtidos: os resultados do Estudo
1, onde se procede à descrição da comparação das medidas fonológicas entre o
português europeu (PE) e o português brasileiro (PB) e os resultados do Estudo 2 tendo
em conta a amostra de fala das 12 palavras em comuns nos dois instrumentos de
avaliação utilizados.
No capítulo IV são discutidos os resultados apresentados no Capítulo III com
referência aos resultados que estão descritos de estudos anteriores. São apresentadas as
limitações da presente pesquisa e são anunciadas as propostas para futuros estudos.
A conclusão remete-nos para um sumário desta pesquisa. Segue-se uma
descrição das principais conclusões obtidas nos dois estudos realizados.
Por fim, são apresentadas no anexo as folhas de registo dos instrumentos de
recolha de dados utilizados nesta pesquisa e no apêndice as tabelas que no decorrer do
texto são referidas.
6
7
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Neste capítulo serão apresentadas algumas características fonológicas do
português europeu (PE) e do português brasileiro (PB). É apresentada brevemente a
evolução do conhecimento das perturbações fonológicas e dos testes e medidas de
avaliação existentes para efetuar este diagnóstico. Mais em detalhe, serão descritas as
onze medidas fonológicas (PCC; PCC-R; PDI; IRS; IRO; IRD; IAS; IAO; IAD; tipos de
Processos Fonológicos e Percentagem de Acerto por Fonema) que serão usadas neste
estudo.
1.1 Os sistemas fonético-fonológicos do Português Europeu (PE) e do
Português Brasileiro (PB)
A linguagem é dividida em diferentes módulos, nomeadamente a fonologia (sons
e respetivas combinações), a morfologia (formação e estrutura interna das palavras), a
sintaxe (organização das palavras em frases), a semântica (significados das palavras e a
interpretação das combinações de palavras), e a pragmática (adequação ao contexto de
comunicação) (Sim-Sim, 1998; Bochner e Jones, 2003).
A fonologia remete para a organização dos sons numa dada língua. Engloba o
estudo do conjunto de segmentos consonânticos e vocálicos que podem ser combinados
dentro de certas possibilidades específicas de cada língua, originando as sílabas que
quando agrupadas dão por sua vez origem às palavras (Mateus, Falé e Freitas, 2005;
Bonilha e Keske-Soares, 2007; Lima, 2009).
Numa cadeia sonora que corresponde a uma palavra podemos identificar
unidades que, substituídas por outras, provocam alterações de significado. Estas
unidades são denominadas por fonemas. Os fonemas do PE e do PB que constituem o
sistema fonológico são consoantes, vogais e semivogais (Mateus et al., 2005).
No presente trabalho vamos apenas dar ênfase às diferenças no sistema
fonológico consonantal do PE e do PB, uma vez que são estes sons mais afetados e
alterados nas Perturbações dos Sons da Fala (PSF). Consideramos para o PE a variedade
da norma padrão Lisboa – Coimbra e para o PB a variedade de São Paulo.
De seguida, apresentamos na Tabela 1 e na Tabela 2 os sistemas consonantais do
PE e do PB, respetivamente. Na Tabela 1 encontra-se a descrição sistema fonológico do
8
PE para a norma padrão Lisboa-Coimbra (Mateus et al., 2003). Na Tabela 2
consideramos a variedade linguística de São Paulo e apresentamos os fones e variantes
fonéticas (como o / ɫ/ e as africadas) para o PB (Silva, 2007).
Modo de
Articulação Oclusivas Fricativas Lateral Vibrante
Nasalidade Oral Nasal Oral
Vozeamento Voz N Voz Voz N Voz Voz N Voz Voz N Voz Voz N Voz
Po
nto
de
art
icu
laçã
o
Bilabial b p m
Labiodental v f
Dental d t s
Alveolar n l ɾ
Palatal ɲ ʒ ʃ ʎ
Velar g k
Uvular R
Tabela 1. Classificação articulatória tradicional das consoantes de PE. Adaptado de Mateus et al. 2005. Legenda: Voz = som vozeado; N Voz = som não vozeado.
Modo de
Articulação Oclusivas Africadas
Fricativas
Nasal Tepe Vibrante Retroflexa Lateral
Vozeamento Voz N
Voz
Voz N
Voz
Voz N
Voz
Voz
Po
nto
de
art
icu
laçã
o
Bilabial b p m
Labiodental v f
Dental ou
Alveolar
d t z s n ɾ ɾ ɹ l ɫ
Alveopalatal dʒ tʃ ʒ ʃ
Palatal ɲ y ʎ
Velar g k ɣ χ
Glotal ɦ h
Tabela 2. Classificação articulatória das consoantes de PB. Adaptado de Silva, 2007.
Legenda: Voz = som vozeado; N Voz = som não vozeado.
Tanto no PE como no PB podemos dividir as consoantes em quatro categorias:
oclusivas, fricativas, nasais, laterais e vibrantes. As consoantes oclusivas são /p, t, k, b,
d, g/; as consoantes fricativas são /f, s, ʃ, v, z, ʒ/; as consoantes nasais orais são /m, n, ɲ/;
/l, ʎ/ são as consoantes laterais /ɾ, R/ (Mateus et al., 2005).
Podemos constatar outras diferenças ao nível fonético entre o PE e o PB: o PB
possui consoantes alveopalatais, africadas [tʃ], [dʒ] sendo a primeira não vozeada e a
segunda vozeada; apresenta uma consoante fricativa velar não vozeada [X] que é
característica da pronúncia típica do carioca bem como a consoante fricativa velar
vozeada [ɣ] onde ocorre uma fricção audível na região velar; a consoante fricativa glotal
não vozeada [h] e a consoante fricativa glotal vozeada [ɦ] que são típicas da pronúncia
do dialeto de Belo Horizonte não ocorre fricção audível no trato vocal; no PE a
consoante [ɾ] é denominada de consoante alveolar, vibrante, vozeada que corresponde à
9
consoante [ɾ] no PB; a consoante [ɾ] no PB tem a nomenclatura de tepe, alveolar,
vozeada é uniforme na posição intervocálica e em alguns dialetos na posição final de
palavra; a consoante [ɹ] é característica do dialeto caipira do /ɾ/ em final de palavra é
denominada de retroflexa, alveolar, vozeada (Silva, 2007).
Apesar de os sistemas fonológicos do PE e do PB serem muito semelhantes,
Frota e Vigário (2001) descrevem diferenças entre o ritmo do PE e do PB que são
explicadas pela divergência de algumas propriedades fonéticas e fonológicas. Uma das
características do PE é a redução de vogais átonas, que são frequentemente apagadas, o
que não se verifica no PB. Ao nível fonológico também se verifica que, embora as
sílabas sejam semelhantes entre PE e PB, quanto ao tipo e complexidade, no PE é usual
a formação de sequências de consoantes em consequência da redução do vocalismo
átono, já no PB é comum a epêntese vocálica quebrar a sequência consonântica. Outro
aspeto ao nível fonético em que o PB difere do PE diz respeito aos fonemas /t/ e /d/ que
são produzidos como africadas [tʃ]e [dʒ], quando seguidos de /i/ tónico e átono e antes
de /ɛ/ postónico em alguns dialetos do PB. Existem também diferenças na realização das
líquidas em coda: no PB a vibrante /ɾ/ em coda pode ser realizada também como uma
vibrante uvular [R], ou como uma fricativa velar [x] e em coda final pode ser suprimida
ou realizada como uma aspiração [h]. Do mesmo modo, o fonema /l/ no PB em coda
ocorre a vocalização lateral em posiçao final de sílaba e neste caso temos um segmento
com características articulatórias de uma vogal [u] que é transcrita fonéticamente como
[w], e no PE é velarizado (Mateus & Andrade, 2000). Quanto à fricativa /s/ em coda, no
PB realiza-se como [s] e [z] enquanto no PE é produzida como [ʒ],[ʃ] e [z] (Mateus &
Andrade, 2000 e Silva, 2007).
Segundo Callou e Leite (1990), citado por Mateus, & Andrade (2002), no PB, a
modificação da posição da consoante final tem ido mais longe com a perda do caráter
consonantal, a consoante líquida lateral deu lugar à consoante glide velar [w]. Assim,
por exemplo, a palavra “mal” é produzida como [máɫ] no PE e [máw] no PB. No PE o
final de palavra corresponde às consoantes [R], [X] e [h] do PB ou simplesmente
desaparece como no caso da palavra “amar” no PE em comparação com [amáR]/
[amáX]/ [amáh]/ [amá] no PB.
Outra diferença já mencionada entre o PE e o PB é a do processo do vocalismo
átono que tem consequências nas vogais átonas e na estrutura fonética. No PE, este
processo leva a uma elevada redução das vogais acentuadas quando sobre elas se
10
aplicam as regras da geometria de traços. Quando existe este processo de redução de
vogais atónas, no PB verifica-se em menor ocorrência do que no PE (Mateus et al,
2005).
1.2 Aquisição do Sistema Fonológico do PE e do PB
O desenvolvimento fonológico apresenta diferentes estágios (Yavas,1988;
Ingram,1989) . O estágio pré-linguístico é o primeiro estágio e decorre de zero anos e
um mês a um ano e zero meses de idade. Este caracteriza-se pela realização do balbúcio,
em que a criança produz diversos sons sem qualquer significado. O estágio das
primeiras cinquenta palavras é o segundo estágio e ocorre nas idades compreendidas
entre um ano e zero meses e um anos e seis meses. Caracteriza-se pelo início da relação
estável de sons com significado. O terceiro estágio denomina-se por estágio de
desenvolvimento fonémico e ocorre em crianças de um ano e seis meses a quatro anos e
zero meses de idade. Este estágio corresponde a uma estabilidade entre o som produzido
e o padrão da língua alvo. A criança começa a produzir palavras de grande
complexidade fonológica (Yavas, 1988; Ingram 1976; Stele-Gammon, 1985, Avila,
2000 e Ghisleni, 2009).
Gordon-Brannan e Weiss (2007) concordam que o desenvolvimento do sistema
fonológico ocorre de forma contínua e decorre ao longo dos estágios acima
mencionados, acrescentando um quarto estágio, que consiste na estabilização do sistema
fonológico da criança de quatro anos e zero meses a oito anos e zero meses de idade. As
crianças realizam uma boa produção linguística das palavras simples e de algumas
palavras complexas e começam a aprender a ler e a escrever, o que aumenta o seu
conhecimento fonológico, de forma explícita.
Na Tabela 3 podemos consultar uma síntese do desenvolvimento fonológico das
crianças na faixa etária dos [4:0 – 6:11], de acordo com diversos autores. Nesta faixa
etária, que irá ser alvo do presente estudo, as crianças apresentam um crescimento
intensificado do domínio e da maturação da fonologia marcado pelo início de uma nova
etapa, a consciência fonológica (Mendes et al, 2009; Castro, 1999; Sim Sim, 1998;
Guimarães, 1997; Stampe, 1969).
11
Faixa etária
[4:0 – 6:11]
Fonologia
Compreensão Expressão
Mendes et
al., (2009)
[4:0 - 4:6] ocorre a aquisição das
fricativas; consoantes líquidas /l/
e / ɾ/ dentro do grupo
consonântico adquirida entre [5:0
– 5:6] e [4:0 – 4:6]
respetivamente.
Antes dos quatro anos desaparece o processo de
oclusão.
[4:0 – 4:12] os processos de despalatalização,
palatalização e desvozeamento desaparecem.
Entre os [6:0 – 6:11] ocorre o desaparecimento da
omissão da consoante final, a redução do grupo
consonântico e a redução da sílaba átona.
Castro
(1999)
A criança conhece as regras do
seu sistema linguístico – sabe
como os sons se distribuem e se
organizam. Repertório
fonológico dominado.
Existem alguns processos fonológicos que
permanecem depois dos quatro anos: semivocalização
de líquida, redução da sílaba átona, redução do grupo
consonântico e oclusão.
Sim Sim
(1998)
Conhecem e dominam o sistema
de sons da sua língua materna.
[4:0 – 5:0] aparecem os indicadores de consciência
fonológica, extinção de todos os processos
fonológicos por volta dos 5:0.
Guimarães
(1997)
Conhecimento dos sons da
língua, descriminação auditiva de
pares mínimos.
Persistência de alguns processos fonológicos, tais
como omissão do grupo consonântico, anteriorização
das consoantes /k/,/g/ e /ɲ/; oclusão de fricativas /f/,
/v/, /s/ e /z/; semivocalização do /ɾ/; substituição de /ɾ
por /l/; oscilação entre laterais; epêntese de grupos
consonânticos e redução de grupos consonânticos.
Stampe
(1969) -----------
Durante a idade pré-escolar existe a ocorrência de
substituições, omissões e distorções.
Tabela 3. Etapas do desenvolvimento fonológico.
Os dados normativos são essenciais para a avaliação clínica do terapeuta da fala
e para o estabelecimento da intervenção terapêutica. Estes dados normativos,
representam o desenvolvimento típico das crianças sem patologia em idades
cronológicas específicas. Para o PE existem alguns estudos publicados sobre o
desenvolvimento fonético- fonológico (Castro, Gomes, Vicente & Neves, 1997; Castro,
Neves, Gomes & Vicente, 1999; Guerreiro & Frota, 2010 referido por Mendes et al.,
2009).
Freitas (1997) referido por Mendes et al., (2009) refere que na aquisição
segmental em primeiro lugar a criança adquire as consoantes oclusivas, depois as
fricativas e, por último as líquidas. Um estudo de Marques (2001) em 40 crianças com
quatro anos de idade na análise da aquisição de consoantes e de grupos consonânticos
mostrou que as crianças dominam todas as consoantes à exceção das fricativas [s, z, ʒ] e
do grupo consonântico [kɾ] (Mendes et al., 2009).
Em Silvério et al. (1995), referido por Guimarães e Grilo (1997), considera-se
que no PE os grupos consonânticos [pl], [bl], [kl], [gl] e o [fl] são adquiridos dos três
anos e seis meses aos quatro anos e seis meses de idade. Já os grupos [pɾ], [bɾ], [tɾ], [dɾ],
[kɾ], [gɾ] e [fɾ] são adquiridos pelas crianças entres os quatro anos e seis meses aos
cinco anos e seis meses de idade.
12
Ao consultar o TFF ALPE (Mendes et al., 2009) verificamos que a faixa etária
em que 75% das crianças produziram corretamente as consoantes /p, t, k, b, d, g, f, s, ʃ,
v, m, n, ɲ, R/ é [3:0 – 3:6[. A maioria das crianças pertencentes à amostra deste
instrumento de avaliação produzem corretamente as consoantes /l, ʎ, ʃ/ em final de
sílaba na faixa etária [3:6 – 3:12[. Na faixa etária dos [4:0 – 4:6[ as crianças produziram
corretamente as consoantes /z, ʒ, ɾ/ e os grupos consonânticos /pl, kl, fl/. O fonema /ɾ/
em final de sílaba é produzido corretamente na faixa etária dos [4:6 – 4;12[ bem como
os grupos consonânticos /fr, vr, br, kr/. Os grupos consonânticos /pr, tr, dr, gr/ e [ɫ] em
posição final de sílaba são os últimos a serem produzidos corretamente por 75% das
crianças que participaram neste estudo na faixa etária dos [5:0 – 5:6[.
Wertzner (1994) e Galea (2008) citados por Fernandes, Mendes e Navas (2010),
defendem que, no PB, os grupos consonânticos [pɾ], [bɾ], [gɾ], [kɾ] e o [gl] em posição
inicial são adquiridos aos quatro anos de idade. Aos quatro anos e seis meses são
adquiridos os grupos [dɾ], [fɾ], [kl] e o [fl] em posição inicial. O grupo [tɾ] é adquirido
aos cinco anos de idade, o [bl] aos cinco anos e seis meses e o [pl] aos seis anos e seis
meses, todos em posição inicial.
Muitas abordagens têm sido estudadas, o que contribui para o que hoje se sabe
sobre o processo de aquisição fonológica. Uma das abordagens é a Teoria da Fonologia
Natural estudada por Stampe (1969). Esta teoria tem por base os processos fonológicos.
Os processos fonológicos são “operações mentais que ocorrem na fala de modo
a substituir uma classe de sons ou sequência de sons, que apresentam uma dificuldade
comum à capacidade para a fala do indivíduo, por uma classe idêntica mas em que a
propriedade causadora da dificuldade não se encontra presente” (Guerreiro & Frota,
2010, pp. 57 - 58). Esta teoria permitiu identificar os “erros” de fala das crianças e na
definição original os processos fonológicos não são mais do que uma simplificação ou
uma alteração estrutural da fala adulta que a crianças realiza no seu discurso durante o
processo de desenvolvimento (Guerreiro & Frota, 2010).
Segundo Rebelo & Vital (2006), Sim-Sim (2008), Mendes et al., (2009),
Huggette & Frota (2010) na faixa etária dos [3:0 – 4:11[ a criança já reconhece todos os
sons da língua materna, entre os quatro e os cinco anos de idade a criança suprime os
processos fonológicos de palatalização e despalatalização e na faixa etária dos [5:0 –
13
5:11[ realiza os processos fonológicos de redução de grupo consonântico, redução de
sílaba átona e semivocalização de líquida.
1.3 Perturbações dos Sons da Fala
A definição da classificação das Perturbações Fonológicas tem sofrido alterações
no decorrer das últimas décadas. Principalmente na literatura americana, nos anos 80 e
90, esta perturbação foi denominada de phonological disorders e a partir de 2000 foi
introduzida a nomenclatura Speech Sounds Disorders (Shriberg, 2003). Como já foi
referido na Introdução, neste trabalho será utilizada a nomenclatura de Perturbação dos
Sons da Fala (PSF), tradução literal deste termo (Speech Sounds Disorders) para o
português europeu.
Segundo Ingram (1976), DSM - IV (2002), Wertzner (2012), a PSF consiste
numa alteração no sistema fonológico de uma criança, a principal característica é a
incapacidade de a criança produzir adequadamente os sons da fala com o que é esperado
para a sua idade e para o seu desenvolvimento fonológico. Esta incapacidade leva à
produção incorreta dos sons da fala e pode incluir erros de seleção, na produção e na
ordenação dos sons em sílabas ou em palavras. Estes erros caracterizam-se por:
omissões, substituições ou distorções dos sons da fala.
A PSF afeta crianças com desenvolvimento inteletual, auditivo, psicomotor e
social adequados, que apresentam, no entanto, dificuldades específicas nos aspetos
cognitivo-linguísticos perceptivos e/ou de produção de fala, e estas nem sempre são
possíveis de serem identificadas (Ingram, 1976; Grunwell, 1981).
Shriberg e Kwiatkowski (1982) citado por Coutinho (2012) apontam que a PSF
é uma perturbação com elevada ocorrência em crianças com dificuldades de
comunicação e classificam-no de acordo com os processos fonológicos, o inventário
fonético, as características da voz e de prosódia, bem como com aspetos psicossociais.
Estes autores consideram os processos fonológicos de eliminação da consoante final,
redução do encontro consonântico, redução da sílaba átona, oclusão, simplificação de
líquida, despalatalização, anteriorização e assimilação como os mais importantes para a
língua inglesa. Em 1985, Stoel-Gammon e Dunn definiram a PSF como um padrão
atípico no processo de aquisição do sistema fonológico, ou seja, as crianças que não
14
seguem o padrão de desenvolvimento esperado para a língua, durante este processo,
apresentam esta perturbação (Coutinho, 2012).
Elbert e Gierut (1986) descrevem que a PSF se caracteriza pela dificuldade em
produzir os sons da fala, além do uso inadequado das regras do sistema fonológico da
língua que incluem fonemas, a sua distribuição e os tipos de estruturas silábicas.
As crianças com PSF têm características de fala similares, tais como: inventário
de sons reduzido, uso preferencial de estruturas silábicas simples e uso de um número
limitado de processos fonológicos, em geral semelhantes aos das crianças normais,
sendo que algumas apresentam ainda processos idiossincráticos (Stoel-Gammon, Dunn,
1985; Grunwell, 1989).
A avaliação feita pelo terapeuta da fala é realizada a partir dos dados da fala da
criança (nomeação, repetição e discurso provocado e /ou espontâneo). Assim, é
importante distinguir o que afeta a fala e a linguagem nas PSF. A fala distingue-se da
linguagem na medida em que a primeira é uma exteriorização da segunda, através da
explicitação de ideias ou conteúdos. A fala carece de todas as atividades conjuntas dos
sistemas respiratório, fonatório e articulatório e concretizada na produção de elementos
sonoros da língua, estruturados para obter sentidos através de um complexo sistema
fonoarticulatório. Este conceito deriva em duas direções, paralelas e convergentes: a
estrutura anatómo-fisiológica de cada indivíduo e uma convenção coletiva que é
utilizada por todos os membros de uma comunidade, a língua (Lima, 2009).
Para realizar a actividade da fala é necessário possuir uma coordenação
neuromotora dos músculos interferentes na fonação, respiração e articulação, sendo que
estes controlam as áreas especificas do sistema nervoso central e os órgãos da
articulação que os músculos enervam. Estas estruturas periféricas ou articuladores
deverão apresentar condições físicas e funcionais capazes de produzir um som. Alguma
alteração na morfologia externa ou numa relação neurofisiológica da actividade
articulatória resulta num quadro de patologia (Lima, 2009). Já para Sim-Sim (1998) a
fala é a produção da linguagem na variante fónica, realizada através do processo de
articulação de sons.
De acordo com American Speech and Hearing Association (ASHA) (2007),
“Language is a socially shared code, or conventional system, that represents ideas
15
through the use of arbitrary symbols and rules that govern combinations of these
symbols.”
A linguagem verbal pressupõe regras complexas de uso dos símbolos que
permitem a organização dos sons, palavras, frases e respectivo significado, tal como
pressupõe um objectivo e uma intencionalidade. Com a aquisição destas regras, o
indivíduo vai desenvolvendo competências para perceber a linguagem (linguagem
compreensiva) e para formular/produzir linguagem (linguagem expressiva). Ao
conhecimento implícito destas regras chama-se competência linguística. A criança que
adquira competência linguística, poderá fazer uso da linguagem, uma vez ter
competência para lhe dar forma, conteúdo e uso. A primeira concede ao falante a
capacidade de usar regras para combinar sons e formar palavras – fonologia -, conhecer
a organização e estrutura interna das palavras – morfologia – e, consequentemente as
regras que permitem combinar palavras para construir uma variedade infinita de frases –
sintaxe. O conteúdo, relacionado com o significado e regras que governam a semântica,
pode ser literal ou não-literal. O falante irá interpretá-lo mediante a informação extraída
do contexto, bem como do conhecimento que o próprio tem sobre os conceitos,
nomeadamente o conhecimento lexical. Por último, o uso, permite ao falante servir-se
das regras que regulam a utilização da linguagem nos diversos contextos sociais. Estas
regras, estudadas pela pragmática, regulam os motivos pelos quais os seres humanos
comunicam, nomeadamente as intenções ou funções comunicativas (e.g. cumprimentar,
perguntar, responder, pedir informações, informar, expressar sentimentos, etc.). Os
princípios que regem a conversação como o, iniciar, o manter e finalizar, também dizem
respeito à pragmática Bloom e Lahey (1978, citados por Bernstein et al., 2002).
A aquisição da linguagem oral é um “processo de apropriação subconsciente de
um sistema linguístico, via exposição, sem que para tal seja necessário um mecanismo
formal de ensino.” (Sim-Sim, 1995, citado por Sim-Sim, 1998). Sendo este, um
processo natural e espontâneo, independente de aprendizagem formal, cumpre o
alargamento de aquisições, iniciadas logo após o nascimento e que vai sofrendo
reestruturações contínuas correspondentes aos processos de maturação que ocorrem
concomitantemente com domínios graduais da estrutura formal da Língua.
Andrade (2008) estabeleceu os critérios de diagnóstico para a PSF segundo o
DSM IV-TR são: i) esta perturbação manifesta-se clínicamente através da incapacidade
16
para usar sons da fala esperados para o nível etário do sujeito, tais como: dificuldades na
produção, uso ou organzação dos sons (por exemplo, substituição de um som por outro),
omissão, nomeadamente consoantes finais e distorções; ii) as dificuldades decorrentes
desta perturbação interferem no rendimento escolar, no desempenho profissional e na
comunicação; iii) caso estejam presentes outros problemas, tais como uma deficiência
mental, uma dificuldade motora da fala, um défice sensorial, um contexto familiar e
social adverso, as dificuldades de linguagem manifestadas excedem o que seria
normalmente esperado para esta perturbação.
Numa revisão de estudos de prevalência Law et al., (2000), estimam que a
prevalência das perturbações da fala na população inglesa ocorre entre 2.3% a 24.6%.
Feldman (2005) menciona que a prevalência das perturbações da fala ocorre entre 3 a
6% das crianças em idade escolar, em idade pré-escolar a prevalência é de 15%.
No Brasil, Shirmer, Fontoura e Nunes (2004) referem que, as alterações de
linguagem atingem 3 a 15% das crianças brasileiras. Andrade (1997) avaliou 2980
crianças e a prevalência das perturbações da fala e da linguagem em crianças de 11 anos
foi de 4,19%.
Segundo a literatura brasileira, a PSF é uma perturbação mais frequente nos
sujeitos do sexo masculino e é importante na altura da avaliação compreender o meio
cultural e linguístico do sujeito. Cerca de 2% das crianças entre os seis e os sete anos de
idade apresentam uma PSF, moderada a grave; a partir dos 17 anos, a prevalência
diminui para os 0.5%. É importante também considerar para a PSF os antecedentes
familiares (Andrade, 2008). Em Portugal existem alguns estudos de prevalência.
Pedrosa e Temudo (2004) defendem que, embora a prevalência das perturbações da fala
e da linguagem seja desconhecida, cerca de 1% das crianças chegam à idade escolar
com uma perturbação grave na linguagem. Este estudo refere também que as
perturbações predominam no sexo masculino. Caldeira, Gonçalves e Pereira (2004)
defendem que entre 3% a 6% das crianças são afetadas por uma perturbação da
linguagem. Silva e Peixoto (2008) realizaram um estudo e concluíram que das 748
crianças avaliadas 48,2% apresentava qualquer alteração ao nível da linguagem e/ou
fala, com uma prevalência de 27,3%.
Dodd et al., (1989) classificaram as crianças com PSF em três subtipos: aquelas
com atraso na aquisição fonológica, nesse a criança faz uso de processos fonológicos
que fazem parte do desenvolvimento normal de crianças mais novas; aquelas que fazem
17
uso de processos sistemáticos, porém não se verificam por aqueles em desenvolvimento
típico e por fim aquelas crianças que cometem erros inconsistentes.
Dodd e McComark em 1995 propuseram quatro subgrupos para a classificação da
PSF: 1) refere-se à criança com uma dificuldade de articulação de um determinado som;
2) a criança apenas com atraso na aquisição fonológica; 3) uso de processos fonológicos
não esperados (inabilidade na organização do sistema fonológico) e 4) a criança faz
erros inconsistentes, tendo um melhor desempenho nas provas de imitação.
Para Gierut (1998), a PSF pode ter uma causa de natureza fonética, quando há
inabilidade de articular sons da fala envolvendo componentes motores (apraxia) ou de
causa fonológica, quando há uma dificuldade cognitivo-linguística, ou seja, a
representação fonológica dos sons está alterada.
Em 2010, Shriberg et al., numa revisão dos estudos anteriores proposeram uma
nova classificação das PSF (Shriberg, 1999, 2002; Shriberg et al., 2003; Shriberg et al.,
2005). Propuseram que esta pode ser classificada de acordo com a tipologia e etiologia.
A tipologia foi dividida pelos autores em: atraso de fala, perturbação motor de fala e
erros de fala, sendo que as duas primeiras divisões são esperadas para idade entre 3 e 9
anos, e a última entre 6 e 9 anos. Já a etiologia da PSF foi subdividida em cinco
subtipos: cognitivo-linguístico, perceptivo auditivo, psicossocial, controle motor da fala
e refinamento da fala.
Tendo em conta as definições de PSF apresentadas pelos diferentes autores, é
importante referir que para este trabalho não foram considerados os subtipos de PSF que
os autores consideram, embora na amostra dos falantes nativos de PE e dos falantes
nativos de PB os vários subtipos de PSF possam estar presentes.
1.4 Avaliação das Perturbações Fonológicas
Para elaborar o diagnóstico em PSF, é necessário realizar uma avaliação com
dados da linguagem oral (compreensão e expressão), escrita e leitura, testes de
fonologia, de processamento fonológico, sistema mio-funcional oral, estimulabilidade,
diadococinéticos e audiométricos (comportamentais e eletrofisiológicos) (Penã-Books e
Hedge, 2000; Khan, 2002; Wertzner, 2004; Castro, 2004 e Wertzner; Papp; Galea,
2006).
18
Os testes de fonologia são os mais importantes para a realização do diagnóstico
da PSF, e constam de três provas: imitação, nomeação e fala espontânea. Na prova de
imitação solicita-se à criança que repita uma palavra ou uma frase. Na nomeação é
apresentando um estímulo visual à criança e espera-se que esta verbalize a palavra
correta. A fala espontânea pode ser recolhida de forma direta ou indireta. Na fala
espontânea direta são colocadas à criança questões, em oposição na indireta a criança é
estimulada pela introdução de um tópico ou de uma história para produzir um discurso.
(Wertzner et al., 2004).
Existem instrumentos de recolha de dados standartizados para a população
portuguesa e brasileira: para o PE, a Prova de Avaliação de Capacidades Articulatórias
(P.A.C.A.) (Batista, 2009), o Teste de articulação CPUC (Castro et al., 2001), Prova de
avaliação da articulação de sons em contexto de frase para o PE (Vicente et al., 2006), o
Teste de Avaliação da Produção Articulatória das Consoantes do PE (TAPAC-PE)
(Faria e Falé, 2001), o Teste de Articulação Verbal (Guimarães & Grilo, 1998), e o
Teste Fonético-Fonológico (TFF-ALPE) (Mendes et al., 2009), e para o PB, o Teste de
Linguagem Infantil ABFW (Andrade et al., 2004) e Avaliação Fonológica da Criança
(Yavas et al., 2002), que usa a imagem com desenhos temáticos. Para o PE:
Para o presente estudo os testes utilizados para a recolha de dados dos sujeitos
foram: Teste Fonético-Fonológico sub teste de nomeação (TFF-ALPE) (Mendes et al.,
2009) para as crianças falantes do português europeu e o Teste de Linguagem Infantil
ABFW sub teste de fonologia prova de nomeação (Wertzner, 2004) para o grupo de
sujeitos do português brasileiro.
O TFF-ALPE destina-se a avaliar a linguagem em idade pré-escolar na
componente da fonologia. É um teste psicométrico com referência à norma que pretende
avaliar as àreas da fonética e fonologia em crianças dos 3 anos aos 6 anos e 11 meses e
auxilia o terapeuta da fala na elaboração de um diagnóstico diferencial entre perturbação
articulatória e perturbação fonológica. No que diz respeito à fonética este teste avalia a
capacidade de articulação verbal de consoantes, vogais e grupos consonânticos do
português europeu. Ao nível fonológico, o TFF-ALPE avalia o tipo e percentagem de
ocorrência de processos fonológicos e a inconsistência na produção repetida da mesma
palavra (Mendes et al, 2009).
Este teste é constituído pelo subteste fonético, subteste fonológico, subteste de
inconsistência e inventário fonético, tendo sido apenas utilizado para este estudo, o
19
subteste fonológico (prova de nomeação). O subteste fonológico permite avaliar a
ocorrência dos processos fonológicos de omissão da consoante final, redução da sílaba
átona pré-tónica, redução do grupo consonântico, semivocalização da líquida [l],
oclusão, anteriorização, despalatalização, posteriorização, palatalização e
desvozeamento através da nomeação de um conjunto de imagens que representam
palavras frequentes no vocabulário das crianças destas idades, selecionadas com base no
corpus de frequência do português fundamental. A partir deste subteste é possível
calcular a percentagem de ocorrência de cada processo fonológico (Mendes et al, 2009).
O tempo de aplicação total do teste é de 15 a 20 minutos. O processo de
validação do TFF-ALPE teve por base uma técnica de amostragem estratificada, sendo
a sua amostra considerada representativa da população. Deste processo fizeram parte
723 crianças, provenientes de Portugal Continental e Insular, das quais 48,82% são do
género feminino e 51,17% do género masculino. Especificamente no subteste
fonológico a amostra é constituída por 716 crianças devido ao facto dos registos com
transcrição fonética de 7 crianças se encontrarem ausentes. Foram constituídos 8 grupos
para cada género com 6 meses de intervalo (dos 3:00-3:06 aos 6:06-6:12). O TFF-ALPE
tem uma boa consistência interna, apresentando um α de Cronbach de 0,96. Não se
conhece a consistência interna específica do subteste fonológico. O referido teste é
constituído por um conjunto de 67 imagens, correspondendo cada uma dela a uma
palavra alvo. A metodologia de aplicação consiste em apresentar à criança uma imagem
correspondente à palavra alvo e solicitar a nomeação através da instrução: “O que é?”
(Mendes et al., 2009).
O teste de Linguagem Infantil ABFW (Andrade et al., 2004) permite avaliar
crianças de dois aos 12 anos de idade nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e
pragmática e é constituído por quatro partes. O objetivo do ABFW é a obtenção de
dados para a precisão do diagnóstico das perturbações da linguagem.
Na parte da fonologia é avaliado o inventário fonético da criança e os catorze
processos fonológicos. São fornecidos os parâmetros comparativos por idade tanto para
a análise tradicional como para a dos processos fonológicos. Esta parte é constituída por
duas provas: a prova de imitação e de nomeação. Na prova de nomeação o examinador
solicita à criança que diga o nome da figura mostrada. As trinta e quatro (34) figuras são
apresentadas em formato de prancha com a medida de 12 cm x 21 cm. Esta prova deve
ser aplicada a crianças entre os três anos e os 12 anos de idade com uma perturbação
20
fonológica de causa desconhecida e sem, aparentemente nenhuma lesão central ou
periférica (Wertzner, 2004).
Tendo como base o desenvolvimento típico do sistema fonológico das crianças
na Tabela 4 observa-se a comparação do domínio de fonemas obtidos no TFF-ALPE
(Mendes et al., 2009) para o PE com as obtidas no ABFW (Wertzner, 2000 e 2003) para
o PB.
Fonema Faixa etária
TFF-ALPE Wertzner (2000; 2003)
p [3:0-3:6] [3:6]
t [3:0-3:6] [3:6]
k [3:0-3:6] [3:6]
b [3:0-3:6] [3:6]
d [3:0-3:6] [3:6]
g [3:0-3:6] [3:6]
f [3:0-3:6] [3:6]
v [3:0-3:6] [3:6]
ʃ [3:0-3:6] [3:6]
z [4:0-4:6] [3:6]
s [3:0-3:6] [3:6]
ʒ [4:0-4:6] [3:6]
m [3:0-3:6] [3:6]
n [3:0-3:6] [3:6]
ɲ [3:0-3:6] [3:6]
l [3:6-4:0] [3:6]
ʎ [3:6-4:0] [4:0]
R [3:0-3:6] [3:6]
ɾ [4:0-4:6] [3:6]
ʃ em posição final de sílaba [3:6-4:0] [4:0]
l em grupo consonântico [4:0-4:6] [6:6]
ɾ em posição final de sílaba [4:6-5:0] [5:6]
ɾ em grupo consonântico [5:0-5:6] [5:0]
Tabela 4. Comparação das faixas etárias de aquisição dos fonemas obtidas no TFF-ALPE para o PE e
obtidas no ABFW para o PB. Adaptado de Mendes, et.al 2009
Pela análise da Tabela 4, verificamos que existem sons que são adquiridos
dentro da mesma faixa etária pelas crianças portuguesas e brasileiras, e que existem
outros que apresentam uma variação de meses na sua aquisição. Assim, os fonemas /p,
t, k, b, d, g, f, v, ʃ, s, m, n, ɲ, l, R/ são adquiridos até aos três anos e seis meses com a
exceção do fonema /ʎ/ que é adquirido até aos quatro anos de idade. Já para os fonemas
/z, ʒ, ɾ/, para o /l, ɾ / em posição de grupo consonântico e para o /ɾ/ em posição final de
sílaba verificamos que existem uma diferença de aproximadamente dois anos na idade
de aquisição estabelecida por Mendes et al., 2009 e Wertzner et al., 2004. Para Mendes
21
et al., (2009) a aquisição destes fonemas pode ocorrer entre a faixa etária [4:6 – 4:12[ e
dos grupos consonânticos até ao final dos cinco anos e seis meses, enquanto que para
Wertzner et al., (2004) a aquisição dos fonemas /z, ʒ, ɾ/ e do /l, ɾ / em posição final
ocorre aos três anos e seis meses e os grupos consonânticos estão adquiridos até aos
quatro anos de idade.
1.5 Medidas Fonológicas
A identificação dos marcadores linguísticos de perturbação é estudada por
diferentes autores. Existem autores que reportam a forma como a PSF se manifesta do
ponto de vista linguístico (Dodd, 1995; Broonfield e Dodd, 2004) e outros autores que
procuram estabelecer sub-tipos de PSF tendo em conta as características etiológicas e os
diferentes tipos de perturbações fonológicas (Shriberg 2005, 2010). Este estudo centra-
se na primeira perspetiva.
Diferentes medidas linguísticas (fonéticas e fonológicas) são referenciadas na
prática clínica e na investigação internacional das PSF, sendo as mais utilizadas:
Percentagem de Consoantes Corretas (PCC), Percentagem de Consoantes Corretas-
Revisto (PCC-R), Process Density Index (PDI), Índice Relativo de Substituição (IRS),
Índice Relativo de Distorção (IRD), Índice Relativo de Omissão (IRO), Índice Absoluto
de Substituição (IAS), Índice Absoluto de Distorção (IAD), Índice Absoluto de
Omissão (IAO) e tipos de Processos Fonológicos. Para o presente estudo foi criada uma
medida a: Percentagem de Acerto por Fonema (PAF). Assim, neste estudo vamos
analisar e comparar as diferenças destas onze medidas fonológicas em duas amostras de
sujeitos com PSF em duas variedades da língua portuguesa, o PE e o PB.
Seguidamente apresenta-se em detalhe cada uma delas.
1.5.1. Percentagem de consoantes corretas (PCC), Percentagem
de consoantes corretas revista (PCC-R)
O índice da percentagem de consoantes corretas (PCC) (Shriberg e
Kwiatkowiski, 1982) é utilizado, para determinar a gravidade da alteração fonológica de
forma quantitativa. A partir dele é possível classificar o PSF em leve (mais de 85% de
consoantes corretas), levemente-moderado (entre 65% e 85%), moderadamente severo
22
(entre 50% e 65%) e severo (abaixo de 50%). O PCC considera como erro as omissões,
substituições e distorções e é indicado para crianças com perturbação fonológica entre
os três e os seis anos de idade.
Mais tarde, para comparar falantes de diversas idades e com características de
fala distintas foi proposto o PCC Revisto (PCC-R), que considera como erro apenas as
substituições e omissões (Shriberg et al., 1997).
1.5.2 PDI
Em 1992, Edwards estudou outra medida de gravidade para a PSF designada por
Process Density Index (PDI). Esta medida representa a média de processos fonológicos
utilizados na palavra da amostra do teste, é calculada através da operação numérica de
divisão do número de processos fonológicos utilizados pelo número de palavras de uma
determinada amostra de fala.
1.5.3 Índices Absolutos e Relativos
Os índices absolutos (IA) são calculados pela divisão do número de erros
específicos de omissão, substituição e distorção pelo número de sons presente na
amostra da criança. Os índices relativos (IR) são calculados através da divisão do
número de erros específicos pelo número de erros produzidos. Estudos realizados para o
PB indicaram que a substituição foi o tipo de erro mais encontrado, em crianças com
PSF, tanto no IA como no IR (Shriberg et al., 1997; Wertzner, Santos, Pagan-
Neves,2012).
1.5.4 Processos Fonológicos
Em idade pré-escolar as crianças podem manifestar ainda alguns processos
fonológicos decorrentes do desenvolvimento normal. No entanto, a sua manutenção
além da idade esperada pode ser um indicativo de patologia (Wertzner & Pagan-Neves,
2012). Ingram (1976) define os processos fonológicos como qualquer simplificação
sistemática que ocorra na classe de sons (Stoel-Gammon e Dunn, 1985; Fey, 1992;
(Wertzner & Pagan-Neves, 2012).
23
Quando a criança não consegue organizar os sons da sua língua em combinações
compatíveis e surgem alterações de fones ou de fonemas designam-se essas alterações
por processos fonológicos. Estes são recursos utilizados pela criança perante as suas
limitações (Mateus, Falé e Freitas, 2005; Mendes et al., 2009).
Na literatura, há três tipos mais citados de processos fonológicos: os de estrutura
silábica, que alteram a estrutura silábica da palavra seguindo a tendência geral de
redução das palavras à estrutura consoante vogal (CV); os de substituição, em que há a
mudança de um som por outro de outra classe, às vezes atingindo toda uma classe de
sons; e os de assimilação, em que os sons mudam tornando-se similares a um que vem
antes ou depois dele (Ingram, 1976; Weiss 1979, cit. por Grunwell 1997).
Grunwell (1985, cit. por Grunwell 1997) e Dean et al., (1996, cit. por Grunwell
1997), separam-nos em apenas dois grupos, processos/simplificações estruturais e
sistémicas. Khan e Lewis (2002) fazem outra classificação: processos de redução, de
modo e posição e de vozeamento. Ingram (1981) classifica-os em processos de estrutura
silábica, substituição e assimilação e atualmente esta é a tipologia mais utilizada
(Bankson & Bernthal, 2004; Bowen, 1999; Gordon-Brannan & Weiss, 2007; Hodson,
2004; Mendes et al., 2009; Smit, 2004; Shipley & MacAfee, 2009; Weiner, 1979; Yavas
et al., 2002).
Estudos com crianças falantes do PB com PSF mostram uma variação no
número ao nível dos processos fonológicos caracterizados. Segundo Wertzner & Pagan-
Neves (2012), os processos fonológicos que ocorrem com maior incidência são:
simplificação do encontro consonantal, simplificação de líquidas, eliminação da
consoante final, frontalização da palatal, ensurdecimento de fricativas, ensurdecimento
de plosivas, plosivação de fricativas, frontalização de velar e posteriorização para
palatal. Lamprecht (1991,1993), num estudo com 12 crianças falantes do PB com PSF
na faixa etária dos dois anos e nove meses aos cinco anos e cinco meses, verificou que
os processos fonológicos mais utilizados por estas crianças foram também: a redução do
encontro consonantal, o apagamento de líquida, o apagamento de fricativa, a
substituição de líquida, a anteriorização de palatal, a dessonorização, a posteriorização
de fricativa e a metátese. Outro estudo de Wertzner (2007) com 44 crianças com PSF
mostrou que os processos fonológicos mais ocorrentes foram: a simplificação de
líquida, o ensurdecimento de fricativa e a simplificação do encontro consonantal.
24
Para o PE relativamente à ocorrência dos processos, Castro, Gomes, Vicente e
Neves (1997, 1999) citado por Mendes et al., (2009) realizaram um estudo com 183
crianças falantes do PE, com idades entre os três e os cinco anos e com
desenvolvimento típico. Os resultados demonstraram uma diminuição da existência de
processos fonológicos ao longo do desenvolvimento da criança. Guerreiro e Frota
(2010) descreveram o tipo e a frequência da ocorrência dos processos fonológicos
utilizados em 43 crianças de cinco anos de idade, observaram que os processos de
substituição apresentam uma frequência reduzida e que os processos de simplificação de
estruturas silábicas complexas (omissão de consoante final e redução de grupo
consonântico) foram os mais significativos (Mendes et al., 2009).
Lousada (2012) realizou um estudo comparativo com 14 crianças com
perturbação da linguagem (PL) e 14 crianças com o desenvolvimento típico. Os
resultados obtidos mostraram que as crianças com PL apresentaram dificuldades graves
ao nível do desenvolvimento fonológico. Estas dificuldades estão relacionadas com a
percentagem reduzida de consoantes corretas e pela elevada ocorrência de processos
fonológicos típicos nas crianças com PL quando comparadas com as crianças com o
desenvolvimento normal. Verificou também, que as crianças com PL apresentam
processos fonológicos que não são marcadores línguisticos no desenvolvimento
fonológico normal.
Na Tabela 7 está presente a comparação das idades de supressão dos processos
fonológicos do PE no TFF-ALPE (Mendes et. al, 2009) e em Castro et al. (1997; 1999)
e do PB (Wertzner, 2000, 2003) com crianças com desenvolvimento típico.
Processos Fonológicos TFF-ALPE
(2003) Castro et.al (1997; 1999)
Wertzner
(2000; 2003)
Oclusão [3:0-3:6] >[4:0] [2:6]
Posteriorização [3:0-3:6] --- [3:6]
Anteriorização [3:0-3:6] --- [3:0]
Despalatalização [4:0-4:6] >[4:0] [3:6]
Palatalização [4:0-4:6] >[4:0] [4:6]
Desvozeamento [5:0-5:6] >[4:0] ---
Omissão de consoante final [6:6-7:0] >[5:0] [7:0]
Redução do grupo consonântico [6:6-7:0] >[5:0] [7:0]
Semivocalização de líquida [6:6-7:0] >[4:0] [3:6]
Redução de sílaba átona pré-tónica >[6:6-7:0] >[4:0] [2:6]
Tabela 5. Comparação das faixas etárias de supressão dos processos fonológicos do PE obtidas no TFF-
ALPE (2003) e de Castro et al. (1997; 1999) e em PB segundo Wertzner (2000; 2003). Adaptado de
Mendes et al., (2003) e Wertzner et al. (2004).
25
CAPÍTULO II – METODOLOGIA
O presente capítulo inicia-se com a apresentação do objetivo do estudo e das
questões de investigação. De seguida apresenta-se uma descrição do tipo de estudo,
das caraterísticas das crianças que participam neste estudo, do método de recolha de
dados e dos instrumentos utilizados para a obtenção dos dados.
Seguidamente, são descritos os procedimentos utilizados para a seleção da
amostra e emparelhamento dos grupos, as medidas fonológicas utilizadas e as
especificidades do Estudo 1 e do Estudo 2.
Apresenta-se finalmente uma breve caraterização da análise estatística efetuada.
2.1 Objetivo do estudo e questões de investigação
O objetivo principal deste estudo é comparar o desempenho de crianças falantes
nativas de PE e das crianças falantes nativas de PB com idades compreendidas entre os
cinco anos e zero meses e os sete anos e os 11 meses, com diagnóstico de PSF
analisando um conjunto de 11 medidas fonológicas. Com este objetivo pretendemos
responder às seguintes questões de investigação:
1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na
prova de nomeação de imagens, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD
e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos;
2) Identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais
frequente em ambas as amostras;
3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com
PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;
4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes
nativos de PE e nos falantes nativos de PB;
5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e
falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema
(PAF).
26
2.2 Tipo de Estudo
A presente investigação é um estudo comparativo (Almada & Freire, 2007) que
pretende descrever e comparar as medidas fonológicas entre crianças falantes nativas de
português europeu (GPE) e crianças falantes nativas de português brasileiro (GPB).
Esta pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa, corresponde ao
Estudo 1. Este estudo pretende analisar e comparar as onze medidas fonológias
selecionadas para a presente investigação (PCC, PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD, IRS,
IRO, IRD, PAF e tipos de Processos Fonológicos) nos dois grupos de sujeitos (GPE e
GPB) tendo em conta a amostra de fala dos sub-testes de nomeação dosteste de
avaliação utilizados. A segunda etapa, que consiste no o Estudo 2, as onze medidas
fonológicas utilizadas para a comparação entre o GPE e o GPB foram iguais às do
Estudo 1, sendo que no Estudo 2, foi considerado apenas o universo de 12 palavras em
comum nos dois testes de avaliação.
2.3 Participantes
Nesta investigação (Estudo 1 e Estudo 2) participaram 18 crianças com
diagnóstico de Perturbação dos Sons da Fala (PSF) falantes de duas variedades de
português (PE e PB), com idades compreendidas entre os cinco anos e dois meses e os
sete anos e um mês (M = 70.77, DP = 9.27), sendo 12 crianças do sexo masculino e seis
do sexo feminino. Estas 18 crianças estão divididas em dois grupos: nove do grupo de
crianças falantes de português europeu (GPE) e nove do grupo de crianças falantes de
português brasileiro (GPB). Em ambos os grupos, seis crianças são do sexo masculino e
três do sexo feminino.
Todas as crianças participantes deste estudo foram diagnosticadas com
Perturbação dos Sons da Fala (PSF). As crianças do GPB foram avaliadas e
diagnosticadas no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Fonologia (LIFF),
do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo. As crianças do GPE foram indicadas por
Terapeutas da Fala em exercício profissional em clínicas e escolas particulares da área
metropolitana de Lisboa.
Com o objetivo de maximizar a equivalência entre os dois grupos, cada criança
do GPE foi emparelhada com uma criança do GPB relativamente a três variáveis: faixa
27
etária, sexo e a Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) estabelecida por Shriberg e
Kwiatkowski (1982). O GPE foi inicialmente emparelhado com GPB pelas variáveis:
idade e sexo. Posteriormente, para evitar o cruzamento de dados entre o GPE e o GPB
foi necessário estabelecer mais um critério de emparelhamento. Assim, para além das
variáveis idade e sexo, GPE foi emparelhado com o GPB, tendo em conta a escala
criada por Shriberg e Kwiatkowski (1982) de Percentagem de Consoantes Corretas
(PCC). Este emparelhamento é explicado em detalhe na seção 2.5.1.
Poder-se-á assim afirmar que, segundo Almeida e Freire (2007), foi constituída
para este estudo uma amostra por conveniência.
Em suma, os critérios de inclusão definidos para os participantes desta
investigação foram:
1) Crianças que apresentem, como diagnóstico, uma Perturbação dos Sons da
Fala (PSF), com idades compreendidas entre os 5:0 e os 7:11 anos;
2) Crianças falantes nativas do português europeu (constituição do GPE);
3) Crianças falantes nativas do português brasileiro (constituição do GPB);
4) As crianças falantes de PE terem sido submetidas à prova de nomeação do
Teste Fonético-fonológico TFF-ALPE (Mendes et.al., 2009);
5) As crianças falantes de PB terem sido submetidas à prova de nomeação da
parte de Fonologia do Teste de Linguagem Infantil ABFW (Wertzner, 2004)1;
6) Tanto as crianças do GPE como do GPB já terem frequentado sessões de
Terapia da Fala ou estarem em acompanhamento em Terapia da Fala.
2.4 Material
Para este estudo recorremos a dois instrumentos de recolha de dados um para
cada grupo de falantes: para as crianças do GPE o subteste de nomeação do Teste
Fonético-Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE) (Mendes et
al., 2009) (Anexo 1) e para as crianças do GPB a prova de nomeação da área de
Fonologia (Wertzner, 2004) do Teste de Linguagem Infantil nas áreas de fonologia,
vocabulário, fluência e pragmática – ABFW (Andrade CR, Befi-Lopes DM, Fernandes
FD, Wertzner HF, 2004) (Anexo 2). Os sujeitos foram avaliados individualmente em
sala com ruído reduzido. A avaliação de cada sujeito durou em média 45 minutos, o
1 Para as crianças do GPE e do GPB foram utilizados os resultados das avaliações iniciais (estudo retrospetivo).
28
tempo de uma sessão de avaliação em Terapia da Fala. Os dados para este estudo foram
recolhidos tendo em conta o método indicado nos manuais de cada instrumento de
recolha de dados.
A produção de palavras isoladas para os sujeitos do GPE foi obtida através da
aplicação da prova de nomeação do Teste Fonético-Fonológico – Avaliação da
Linguagem Pré-escolar (TFF-ALPE) (Mendes et al., 2009). Este teste contém 67
imagens com 187 consoantes. O TFF-ALPE avalia a capacidade de produção das
consoantes e das vogais do português europeu através da nomeação de 67 imagens.
Para os sujeitos do GPB a amostra de fala foi recolhida através da aplicação da
prova de nomeação do Teste de linguagem infantil – ABFW na área de fonologia,
(Wertzner, 2004). Este teste é constituído por 34 imagens com 90 consoantes. Avalia o
sistema fonológico da criança através do inventário fonético e das regras fonológicas,
está desenhado para ser aplicado em crianças com idades compreendidas entre os três
anos e zero meses aos 12 anos e 0 meses com diagnóstico de PSF. A prova de
nomeação é constituída por 34 figuras. A criança tem de dizer o nome da figura que
observa.
As palavras utilizadas nos dois instrumentos de recolha de dados e a respetiva
transcrição fonética alvo das palavras considerada tanto para o GPE como para o GPB
encontram-se no Apêndice 1 Tabelas 1 e 2.
2.5 Procedimento
A presente investigação foi aprovada pela Comissão de Ética da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo sob o número 206/14 em sessão no dia 6 de
agosto de 2014. Por se tratar de um estudo retrospetivo e tendo em conta a legislação
brasileira em vigor, dispensa a assinatura de um novo consentimento informado por
parte dos participantes do estudo ou do representante legal.
2.5.1 Seleção da amostra de fala e emparelhamento dos grupos
A amostra de fala dos sujeitos do GPE utilizada para esta pesquisa foi recolhida
por Terapeutas da Fala em exercício profissional. Inicialmente, a investigadora solicitou
a Terapeutas da Fala o envio de casos com os seguintes critérios: crianças com idades
29
compreendidas entre os cinco anos e dois meses e os sete anos e 11 meses, que tenham
sido avaliadas com o teste TFF-ALPE e que tenham acompanhamento em Terapia da
Fala. Os profissionais de saúde contactados da área da grande Lisboa procederam à
seleção dos casos, tendo em conta os critérios definidos e os seus registos clínicos.
Posteriormente, estes mesmos profissionais cederam os dados de cada caso clínico via
correio eletrónico. O terapeuta da fala enviou uma breve descrição do caso com os
dados da criança e as folhas de registo do subteste de nomeação do Teste Fonético-
Fonológico – Avaliação da Linguagem Pré-Escolar (TFF-ALPE) (Mendes et al., 2009)
para a investigadora. O anonimato dos participantes para esta investigação foi
salvaguardado tendo em conta os parâmetros éticos e deontológicos de cada país
(Portugal e Brasil). No caso do Brasil uma vez que a amostra de crianças falantes de PB
pertence a uma base de dados do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em
Fonologia (LIFF) da Faculdade de Medicina de São Paulo a priori os consentimentos
informados foram assinados com a autorização da participação em vários estudos dentro
do laboratório. O estudo é retrospetivo e as questões éticas foram salvaguardadas pelo
terapeuta da fala/fonoaudiologo que realizou a avaliação à criança.
Após a verificação de que todos os sujeitos do GPE preenchiam os critérios de
inclusão estabelecidos, foi realizado um emparelhamento com os casos da base de dados
do LIFF, isto é, os casos das crianças falantes nativas de PE foram emparelhados com
os casos das crianças falantes nativa de PB. Este emparelhamento foi efetuado tendo em
conta, a faixa etária da criança, o sexo e a escala da PCC estabelecidas por Shriberg e
Kwiatkowski (1982). Esta medida fonológica (PCC) é particularmente importante
porque garante a equivalência entre os grupos (GPE e GPB) e porque fornece a
informação do grau de gravidade da PSF considerando a escala estabelecida pelos
autores.
Apresenta-se na Tabela 6 o emparelhamento2 realizado entre os dois grupos
(GPE e GPB) de acordo com os critérios definidos.
2 A verificação do sucesso do emparelhamento do GPE com o GPB é reportada no Capítulo III.
30
Tabela 6. Características das crianças do grupo de falantes nativos de português europeu (GPE) e do
grupo de falantes nativos de português brasileiro (GPB).
Para o emparelhamento de idade foram consideradas as faixas etárias: 5:0-5:3;
5:4-5:7; 5:8-6:1; 6:2-6:5; 6:6-6:9; 6:10-7:0; 7:1-7:4; 7:5-7:8; 7:9-7:11. Para o
emparelhamento da PCC foram considerados os valores: <49%; entre 50% e 64% entre
65 e 84% e >85% (Shiberg & Kwiatkowski, 1982). Considerando os diferentes graus de
severidade da PCC estabelecidos por Shiberg & Kwiatkswski (1982), esta amostra é
constituída para cada grupo de falantes por: um sujeito 50%-64% (moderado a severo);
seis sujeitos 65%-84% (leve a moderado) e dois sujeitos >85% (leve), ou seja, a maioria
dos participantes desta pesquisa apresenta uma PSF de gravidade leve a moderada.
2.5.2 Medidas Fonológicas
A partir da análise das transcrições fonéticas que constam nas folhas de registo
de cada instrumento de recolha de dados, foram calculadas as medidas fonológicas em
estudo. Assim, foram analisadas as onze medidas: PCC; PCC-R; PDI; IRS; IRO; IRD;
IAS; IAO; IAD; os tipos de Processos Fonológicos e PAF.
Neste estudo (Estudo 1 e Estudo 2), estas medidas foram calculadas para as
provas de nomeação de imagens dos dois instrumentos de recolha de dados utilizados.
Estas medidas fornecem evidências para estabelecer o diagnóstico em PSF. Estas
diferentes medidas vão dar a possibilidade aos Terapeutas da Fala de caracterizarem as
PSF.
Retomando a informação do capítulo I, sintetizamos na Tabela 7 as medidas
fonológicas utilizadas nesta investigação e a sua respetiva definição.
GPE GPB
Caso Idade (meses) Sexo PCC (%) Caso Idade (meses) Sexo PCC (%)
1 62 M 84,49 1 62 M 80
2 74 M 77.01 2 74 M 75.56
3 68 M 54.01 3 68 M 57.78
4 68 M 67.38 4 73 M 68.89
5 86 F 80.75 5 86 F 77.58
6 71 M 90.37 6 73 M 92.22
7 85 F 95.19 7 85 F 90
8 61 F 65.78 8 62 F 85.56
9 62 M 74.33 9 60 M 73.33
31
Medidas
Fonológicas Definição
PCC
Percentagem dos sons consonantais produzidos corretamente numa amostra de fala
através da divisão do número de consoantes corretas pelo número total de consoantes
presentes na amostra de fala (Shriberg e Kwiatkowski,1982).
PCC-R Percentagem dos sons consonantais produzidos corretamente, considerando as
distorções como acerto (Shriberg e Kwiatkowski,1982).
PDI Média dos processos fonológicos utilizados calculada através da divisão do número
total de processos fonológicos pelo número de palavras analisadas.
IR Índice Relativo para os erros de omissão, substituição e distorção calculado pela
divisão do número de erros específicos pelo número total de erros produzidos.
IA
Índice Absoluto para os erros de omissão, substituição e distorção calculado pela
divisão do número de erros específicos pelo número de sons presentes na amostra de
fala.
PF
Número de vezes que a criança apresenta a incapacidade de produzir corretamente um
determinado som que é esperado para a sua idade - substituições, omissões e distorções
dos sons da fala.
PAF
Percentagem do acerto por fonema dos sons dos consonantais calculada pela divisão do
número de vezes que a criança produziu corretamente determinado fonema pelo
número de vezes que esse fonema está presente na amostra de fala.
Tabela 7. Medidas fonológicas.
No Estudo 1, para o cálculo da PCC, do PDI, dos índices absolutos e relativos e
tipos de processos fonológicos do PE, foi utilizado um corpus de 65 palavras: não foram
analisadas as palavras olho e unha, pelo motivo do sub-teste fonológico do TFF-ALPE
(Mendes et al., 2009) não contabilizar estas palavras. Já no caso do inventário fonético
aplicado para o cálculo da PAF, foi considerado o corpus total das 67 palavras. Para o
PB foi utilizado um universo de 34 palavras para análisar e comparar as medidas
fonológicas. Para o Estudo 2, a amostra de fala utilizada para calcular todas as medidas
fonológicas, foi das 12 palavras comuns (Vassoura, Mesa, Sapato, Faca, Peixe, Cama,
Garfo, Prato, Pasta, Dedo, Zebra, Planta) entre os instrumentos de recolha de dados
para o GPE e para o GPB.
2.5.2.1 Estudo 1
Relativamente ao Estudo 1, este consiste na comparação do desenpenho das
crianças falantes nativos de PE e das crianças falantes nativos de PB com PSF
analisando o conjunto das 11 medidas fonológicas em estudo. Para realizar esta
comparação consideramos a amostra de fala das crianças recolhida através das provas
de nomeação dos dois instrumentos de recolha de dados utilizados (um instrumento para
cada variante da língua portuguesa).
32
PCC e PCC-R
O primeiro índice a ser calculado foi a percentagem de consoantes corretas
(PCC) para PE uma vez que serviu de critério de emparelhamento. Esta medida é
calculada pela divisão das consoantes corretas pelo número total de consoantes da prova
(Shiberg e Kwiatkowski, 1982). Para estes autores, este índice considera quatro graus de
gravidade como a Tabela 8 descreve. Este valor é apresentado em percentagem, e as
substituições, omissões e distorções são consideradas como erro. É importante referir
que a escala dos graus de gravidade foi proposta para a língua inglesa, tendo sido,
posteriormente, adotada para outras línguas.
Percentagem de Consoantes Corretas (PCC) Gravidade
>85%
65% a 84%
50% a 64%
<49%
Leve
Leve a moderado
Moderamente a Severo
Severo
Tabela 8. Escala da PCC
Em seguida foi calculado o índice de Percentagem de Consoantes Corretas
Revisto (PCC-R) (Shiberg, et al., 1997) para ambas as populações em estudo. Esta
medida calcula a percentagem de sons consonantais produzidos corretamente, mas
considera as distorções realizadas pelo falante como acerto, e não como erro como a
PCC. Shiberg e Kwiatkowski (1982) consideram que o PCC é útil para comparar
crianças dos três aos seis anos de idade; já o PCC-R tem sido mais utilizado na literatura
em diferentes estudos quando envolve crianças de várias idades e diferentes
características, tais como, crianças com surdez congénita, crianças com perturbações do
desenvolvimento e crianças com perturbação do espectro do autismo ou síndromes.
PDI
O terceiro índice a ser calculado foi o Process Density Index (PDI; Edwards,
1992), que corresponde à média de processos fonológicos utilizados nas palavras de
amostra de fala. Esta medida é calculada através da divisão do número total de
processos fonológicos pelo número de palavras analisadas na amostra. Segundo a
autora, este índice pode ser visto como uma medida de potencial clínico para a
gravidade e/ou inteligibilidade fonológica, não apresenta escala de gravidade.
33
IR e IA
Em seguida foram calculados os índices absolutos (IA) e os índices relativos
(IR) para a substituição, omissão e distorção de cada amostra de fala. Os IA são
calculados pela divisão do número de erros específicos de omissão, substituição e
distorção pelo número de sons presente na amostra da criança, em comparação os
índices relativos (IR) são calculados através da divisão do número de erros específicos
pelo número de erros produzidos (Shriberg et al., 1997).
Processos Fonológicos
Em ambos os instrumentos usados na recolha de dados para esta investigação, as
diferentes autoras dos dois testes de avaliação, consideraram a possibilidade de
existência de outros processos fonológicos que são considerados como idiossincráticos.
Os processos de harmonia consonantal (HC), sonorização de oclusivas (SP) e de
fricativas (SF) que são contabilizados no ABFW (Wertzner, 2004) não estão presentes
no TFF-ALPE (Mendes et al., 2009), assim para o presente estudo estes processos não
vão ser analisados.
O sub-teste de nomeação do TFF-ALPE (Mendes et al., 2009) identifica a
percentagem de ocorrência dos seguintes processos fonológicos: omissão da consoante
final (OCF); redução da sílaba átona pré-tónica (RSA); redução do grupo consonântico
(RGC); semivocalização de líquida (SL); despalatalização (DES); palatalização (PAL);
desvozeamento (DESV); oclusão (OCL); anteriorização (ANT) e posteriorização
(POST). Este teste está estandardizado para a população do português europeu com
idades compreendidas entre os três anos e zero meses e os seis anos e 11 meses e os
dados foram obtidos tendo em conta o método descrito no manual.
A prova de fonologia do ABFW (Wertzner, 2004) analisa os seguintes processos
fonológicos: redução de sílaba (RS); harmonia consonantal (HC); plosivação de
fricativas (PF); posteriorização para velar (POSV); posteriorização para palatal (POSV);
frontalização de velares (FV); frontalização de palatal (FP); simplificação de líquidas
(SL); simplificação do encontro consonantal (SEC); simplificação da consoante final
(SCF); sonorização de plosivas (SP); sonorização de fricativas (SF); ensurdecimento de
plosivas (EP) e ensurdecimento de fricativas (EF).
34
Para os dois instrumentos de recolha de dados foram contabilizados os outros
processos (idiossincráticos), mas não vão ser analisados.
A partir das provas de nomeação do ABFW (Wertzner, 2004) e do TFF-ALPE
(Mendes et al., 2009) foram analisados os processos fonológicos para isto foi construída
uma tabela no programa Excel com as palavras alvo de cada teste, com o número total
de consoantes corretas, com a produção da criança, com os números de processos
fonológicos, com o número de consoantes corretas que a criança produziu e o número
de substituições de omissões e de distorções.
Devido à diferente nomenclatura utilizada num e noutro instrumento de recolha
de dados, foi necessário estabelecer uma correspondência entre os processos
fonológicos utilizados para o PE e para o PB No presente trabalho optou-se pela
designação dos processos fonológicos tal como consta no instrumento de recolha de
dados TFF-ALPE (Mendes et al., 2009). Os dois processos de ensurdecimento que
estão discriminados no instrumento de recolha de dados ABFW (Wertzner, 2004) foram
considerados um só (e os seus valores somados) para efeitos de comparação com o
processo de desvozeamento do TFF-ALPE. Na Tabela 9, apresenta-se a
correspondência entre os processos fonológicos do PE e do PB, exemplo de palavras e o
número de ocorrência dos processos.
35
Teste ABFW (PB) Teste TFF-ALPE (PE)
Processos Fonológicos Exemplo O Processos Fonológicos Exemplo O
Redução de sílaba – RS /pato/ - [pa] 45 Redução da Sílaba átona pré-tónica - RSA /sapato/ - [´patu] 22
Plosivação de fricativas – PF /sapu/ - [tapu] 23 Oclusão - OCL /faca/ - [´pakɐ] 34
Posteriorização para velar – POSV /tatu/ - [kaku] 12 Posteriorização -POS /gato/ - [´gaku] 26
Posteriorização de palatal – POSP /sapu/ - [ʃapu] 11 Palatalização - PAL /vassoura/ - [vɐˈʃoɾɐ] 10
Frontalização de velares – FV /karu/ - [taru] 9 Anteriorização - ANT /café/ - [tɐ´fɛ] 29
Frontalização de palatal – FP /ʃave/ - [save] 5 Despalatalização - DES /chapéu/ - [sɐˈpew] 17
Simplificação de líquida – SL /miʎu/ - [milu] ou [miyu] 11 Semivocalização de líquida - SL /kabelo/ - [ka´bewu] 19
Simplificação do encontro
consonantal - SEC /pɾatu/ - [patu] ou [platu] 8 Redução do grupo consonântico - RGC /pratu/ - [´patu] 19
Simplificação da consoante final –
SCF /paʃta/ - [pata] 5 Omissão da consoante final - OCF /flor/ - [´flo] 28
Ensurdecimento de plosivas – EP /dedu/ - [tetu] 14 Desvozeamento - DESV /jip/ - [ʃˈip] 6
Ensurdecimento de fricativas – EF /vazu/ - /fasu/ 9
Harmonia consonantal - HC /makaku/ - [kakaku] 45
Processos adicionais - PA Sonorização de plosivas – SP /patu/ - [badu] 21
Sonorização de fricativas – SF /faka/ - [vaka] 14
Outros Processos – OP
Tabela 9. Processos fonológicos analisados nos diferentes testes de avaliação e a respetiva
correspondência.
Legenda: O = ocorrência do número de vezes do processo fonológico.
Seguidamente, na Tabela 10 apresentamos a nomenclatura e a definição dos
diferentes processos fonológicos para o PE. No decorrer do presente trabalho é esta a
nomenclatura que vai ser utilizada quando nos referimos aos processos fonológicos
(Grunwell, 1987; Khan & Lewis, 2002; Miccio & Scarpino, 2008; Smit, 2004; citado
por Mendes et al., 2009).
36
Processo Fonológico Definição Exemplo
Omissão da consoante final (OCF) Omissão de consoantes em posição final de
sílaba, em posição medial ou final de palavra. Flor - [´flo]
Redução de sílaba átona pré-tónica (RSA) Omissão de uma sílaba átona pré-tónica. Sapato - [´patu]
Redução do grupo consonântico (RGC) Omissão de um elemento do grupo
consonântico. Prato - [´patu]
Semivocalização de líquida (SL) A consoante líquida é substituída por uma
semivogal. Cabelo - [kɐ´bewu]
Despalatalização (DES) A consoante fricativa palatal é substituída por
uma fricativa dental. Chapéu - [sɐ´pew]
Palatalização (PAL) A consoante fricativa dental é substituída por
uma fricativa palatal. Vassoura - [vɐ´ʃoɾɐ]
Desvozeamento (DESV) Uma consoante vozeada é substituída por uma
não vozeada. Jipe - [´ʃip]
Oclusão (OCL) Uma consoante fricativa é substituída por uma
consoante oclusiva. Faca - [´pakɐ]
Anteriorização (ANT) Uma consoante velar é substituída por uma
consoante dental. Café - [tɐ´fɛ]
Posteriorização (POS) Uma consoante dental é substituída por uma
consoante velar. Gato - [´gaku]
Tabela 10. Nomenclatura, definição e exemplo dos processos fonológicos no PE.
PAF
Para esta investigação foi elaborada uma medida nova com a finalidade de
verificar a percentagem de acertos por fonema (PAF) na amostra de fala de cada
criança. Esta medida foi criada com o objetivo de verificar qual o inventário fonético de
cada criança tendo em conta a percentagem de acerto de fonema consonantais, e assim
auxiliar o terapeuta da fala na elaboração do diagnóstico e no plano terapêutico para a
intervenção. Esta percentagem é calculada, através da divisão do número de vezes que
a criança produziu corretamente determinado fonema consonantal pelo número de vezes
que esse mesmo fonema aparece na amostra de fala. Com esta medida é possível
verificar quais os sons presentes e ausentes no inventário fonético da criança. Para o
inventário fonético/estabelecimento da medida de percentagem de acerto por fonema
(PAF) foram contabilizados os acertos em três tipos de estrutura silábica (CV, CVC e
CCV) para o formato CV considerou-se as sílabas em posição inicial e final. Os
encontros consonânticos também foram contabilizados para a contagem dos fonemas da
amostra de fala dos instrumentos de recolha de dados utilizados nesta pesquisa. A
justificação para este critério de contabilizar apenas os fonemas nestas posições
silábicas deve-se a que o teste ABFW (Wertzner, 2004) apresenta esta contagem (e.g. na
palavra sapato o fonema /p/ não é contabilizado porque está em posição medial de
palavra). A distorção não foi considerada como acerto. No caso da substituição e da
37
omissão foram consideradas como erro e não foram contabilizadas para o cálculo desta
medida fonológica (PAF).
Na Tabela 11 são apresentadas as possibilidades de ocorrência de cada fonema
nos dois instrumentos de recolha de dados para o Estudo 1.
Fonemas
TFF-ALPE – sub teste
de nomeação
ABFW – prova de fonologia
sub teste de nomeação
Ocorrência Ocorrência
p 11 4
t 16 7
k 16 4
b 3 3
d 3 3
g 8 3
f 5 4
v 5 2
ʃ 14 2
z 3 3
s 5 6
ʒ 3 2
m 4 3
n 3 2
ɲ 1 1
l 11 2
ʎ 1 1
R 2 2
ɾ 14 4
pr 2 1
br 3 2
vr 1 1
tr 2 1
dr 2 0
kr 1 1
gr 2 0
fr 1 0
bl 0 1
pl 1 1
kl 0 0
gl 0 0
fl 1 0
Arq /S/ 0 2
Arq /R/ 0 3
Tabela 11. Possibilidades de ocorrência de cada fonema, grupos consonânticos e arquifonemas nos
instrumentos de recolha utilizados.
38
2.5.2.2. Estudo 2
O Estudo 2 consiste na comparação do desempenho das crianças crianças
falantes nativas de PE e das crianças nativas de PB com diagnóstico de PSF analisando
as 11 medidas fonológicas, tendo em conta as palavras comuns que estão presentes nos
dois instrumentos de recolha de dados utilizados para esta investigação (a prova de
nomeação do teste TFF - ALPE (Mendes et al., 2009) e o subteste de nomeação da
prova de fonologia do teste ABFW (Wertzner, 2004)). Foram analisadas as mesmas
medidas fonológicas descritas anteriormente para o Estudo 1.
Para o Estudo 2, na Tabela 12 é considerada a ocorrência de cada fonema e dos
encontros consonânticos das 12 palavras comuns aos dois instrumentos de recolha de
dados3.
Fonemas Ocorrência
p 2
t 4
k 2
b 1
d 3
g 1
f 2
v 1
ʃ 1
z 2
s 1
m 2
l 1
ɾ 1
pr 1
br 1
vr 1
pl 1
Tabela 12. Possibilidade de ocorrência de cada fonema e dos encontros consonânticos para as 12 palavras
em comum nos dois instrumentos de recolha de dados utilizados.
Na Tabela 13, observam-se as palavras que constituem os estímulos dos dois
instrumentos de recolha de dados utilizados bem como as palavras que são comuns.
Estes dois instrumentos de recolha de dados têm em comum 14 palavras. Para este
estudo foram consideradas 12 palavras. Excluímos as palavras livro e balde, já que os
3 Não foram considerados os arqifonemas na seleção das 12 palavras.
39
processos fonológicos e a representação fonológica para as duas variantes da língua
portuguesa (PE e PB) divergem nestas duas palavras. Estas duas palavras podem
apresentar diferenças na representação fonética entre o PE e o PB ([livɾu] vrs [[livɾw]4 e
[baɫde] vrs [bawd ʒi]) (simplificação de líquida).
Palavras alvo prova de nomeação do TFF-ALPE Palavras alvo prova de nomeação
do ABFW
Palavras presentes em
ambos os testes
Peras, Sapato, Jipe, Televisão, Rato, Pente, Cabelo,
Faca, Bola, Dedo, Balde, Gato, Água, Café, Vassoura,
Chapéu, Caixa, Peixe, Chave, Zebra, Mesa, Janela,
Queijo, Cama, Nariz, Telefone, Carro, Comer, Lua, Sol,
Brincar, Cobra, Três, Quatro, Olho, Estrela, Prato,
Soprar, Frango, Gravata, Tigre, Dragão, Vidro, Planta,
Bicicleta, Flor, Porco, Porta, Unha, Gordo, Carne,
Força, Formiga, Garfo, Alto, Almofada, Calças,
Colchão, Polvo, Hospital, Pesca, Pasta, Ponte, Umbigo.
Palhaço, Bolsa, Tesoura, Cadeira,
Galinha, Vassoura, Cebola, Xícara,
Mesa, Navio, Livro, Sapo, Tambor,
Sapato, Balde, Faca, Fogão, Peixe,
Relógio, Cama, Anel, Milho,
Cachorro, Blusa, Garfo, Trator,
Prato, Pasta, Dedo, Braço, Girafa,
Zebra, Planta, Cruz.
Vassoura, Mesa, Livro,
Sapato, Balde, Faca, Peixe,
Cama, Garfo, Prato, Pasta,
Dedo, Zebra, Planta.
Tabela 13. Lista de palavras utilizadas nos testes.
As 12 palavras foram analisadas tendo em conta os mesmos procedimentos
descritos anteriormente para o Estudo 1. Foram calculadas as 11 medidas fonológicas
do Estudo 1 para esta amostra de fala (12 palavras)., O número de ocorrência dos
processos fonológicos e o número de consoantes corretas foram contabilizados para este
corpus de 12 palavras comuns aos dois instrumentos de recolha de dados. A Tabela 14
descreve a ocorrência dos processos e o número de consoantes de cada palavra e a
Tabela 15 o número de consoantes corretas para este corpus.
4 A representação fonétia da palavra “livro” pode ser igual para o PE e para o PB. Consideramos que podem existir
diferenças na produção desta palavra referente à pronúncia ser rápida ou lenta. No entanto, esta palavra não foi
considerada no Estudo 2.
40
Palavras
Processos Fonológicos Número de
consoantes RSA OCL POS PAL ANT DES SL RGC OCF DESV PA
Vassoura 1 2 0 1 0 0 1 0 0 1 3
Mesa 1 1 0 1 0 0 0 0 0 1 2
Sapato 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 3
Faca 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 2
Peixe 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 2
Cama 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 2
Garfo 1 1 0 0 1 0 0 0 1 1 3
Prato 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 3
Pasta 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 3
Dedo 1 0 2 0 0 0 0 0 0 2 3
Zebra 1 1 0 1 0 0 0 1 0 2 2
Planta 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 3
Total 12 palavras 12 8 6 4 3 1 1 3 2 7 47 31
Tabela 14. Ocorrência dos processos fonológicos e número de consoantes corretas para as 12 palavras.
Legenda: Redução de Sílaba Átona (RSA); Oclusão (OCL); Posteriorização (POS); Palatalização (PAL);
Anteriorização (ANT); Despalatalização (DES); Simplificação de Líquida (SL); Redução de Grupo Consonântico
(RGC); Omissão de Consoante Final (OCF); Desvozeamento (DESV); Processos Adicionais (PA).
Tabela 15. Número de consoantes corretas para as 12 palavras.
Consoantes Número de consoantes corretas
p 2
t 4
k 2
b 0
d 2
g 1
f 2
s 1
ʃ 1
v 1
z 2
m 2
l 0
ɾ 1
pr 1
br 1
vr 0
pl 1
41
2.6 Análise estatística
Em primeiro lugar, para verificar a normalidade das variáveis em estudo
recorremos ao teste Shapiro-Wilk. Em todas as análises adotamos α = 0.05. Tal significa
que o erro máximo adotado é de 5%. Assim, os valores p´s ≤ 0.05 indicam diferenças
estatisticamente significativas.
Quando no teste estatístico de Shapiro-Wilk o p ≤ 0.05, a distribuição das
variáveis afasta-se significativamente da normal, pelo que recorremos a testes não
paramétricos (teste Mann-Whitney e Teste ANOVA de Friedman). Se o valor de p>
0.05 a distribuição das variáveis é considerada estatisticamente normal e recorremos a
testes paramétricos (teste t-Student).
Incialmente, recorremos ao teste de Shapiro-Wilk para verificar se as variáveis
idade e PCC revelam distribuição normal. Recorremos ao teste t-Student para verificar o
sucesso do emparelhamento entre as crianças falantes de PE e as crianças falantes de PB
nas variáveis idade e PCC.
Assumimos no Estudo 1 as variáveis: IAS; IAO; IRO; IAD; IRD; no GPE e no
GPB foram comparadas por meio do teste de Mann-Whitney (Fisher &Van Belle,
1993), uma vez que o teste de Shapiro-Whilk revelou que a distribuição das variáveis
afastavam-se significativamente da normal (W´s ≤ 0.882, p´s ≤ 0.026). Recorremos ao
teste t-Student para as seguintes variáveis em análise no Estudo 1: PCC; PCC-R; PDI;
IRS. O teste de normalidade revelou que estas variáveis apresentam distribuição normal
(p´s > 0.05).
No Estudo 1, não foi possível comparar os seguintes fonemas e grupos
consonânticos: arquifonema /S/, arquifonema /R/, /dɾ/; /gɾ/, /fɾ/, /bl/ e /fl/, uma vez que
não se verificou a sua ocorrência nos dois testes utilizados para os dois grupos de
falantes.
No Estudo 1, os resultados dos Processos Fonológicos (PF) e da Percentagem de
Acerto por Fonema (PAF) são apresentados tendo em conta os valores reais do GPE e
do GPB. Não consideramos nenhuma análise estatística uma vez que o número de
ocorrência dos processos fonológicos e da PAF nas crianças falantes de PE é diferente
do número de ocorrência das crianças falantes de PB. Assim, consideramos pertinente a
realização do Estudo 2 uma vez que vai responder com maior exatidão estatística aos
objetivos 3, 4 e 5 estabelecidos para o estudo.
42
No Estudo 2, recorremos ao teste de t-Student para as variáveis PCC-R, IAS,
IRS. Foi utilizado o teste de Mann-Whitney para as variáveis PDI, IAD, IAO, IRD,
IRO, Processos Fonológicos e PAF.
Optou-se no corpo do texto do Capítulo III por apresentar nas tabelas os valores
das médias reais e desvios padrão, remetendo para apêndice as tabelas com os valores
extraídos das análises estatísticas (média das ordens) utilizadas para cada variável em
estudo. Assim, no Apêndice 2 poderá consultar as tabelas referentes ao Estudo 1 e no
Apêndice 3 as tabelas com os dados do Estudo 2.
43
CAPÍTULO III – RESULTADOS
Neste capítulo apresentam-se os resultados do estudo e a respetiva análise, tendo
como base as questões de investigação definidas no capítulo II e aqui retomadas:
1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na
prova de nomeação de figuras, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAD, IAO e
IRS, IRD, IRO e ao número de processos fonológicos;
2) Identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais
frequente em ambas as amostras;
3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com
PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;
4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes
nativos de PE e nos falantes nativos de PB;
5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e
falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema
(PAF).
A apresentação dos resultados divide-se em três partes: Na primeira iremos
verificar o sucesso do emparelhamento dos critérios de seleção da amostra. Na segunda
parte, vão ser apresentados os resultados referentes ao Estudo 1, comparando o
desempenho do GPE e do GPB com PSF analisando as medidas fonológicas (PCC,
PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD, IRS, IRO, IRD, PAF e PF) em todos os dados recolhidos.
Na terceira parte, iremos expor os resultados correspondentes ao Estudo 2, comparando
o desempenho do GPE e do GPB com PSF analisando as medidas fonológicas (PCC,
PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD, IRS, IRO, IRD, PAF e PF) apenas nas 12 palavras
comuns aos dois instrumentos de recolha de dados.
44
3.1 Verificação do sucesso do emparelhamento da amostra
Nesta secção, pretendemos verificar o sucesso do emparelhamento da amostra.
Os critérios para o emparelhamento das crianças pertencentes à amostra deste estudo
(Estudo 1 e Estudo 2) foram: a idade (faixa etária), o sexo e o nível de gravidade de
PCC, de acordo com Shiberg e Kwiatkowski, (1982) e Wertzner, et al. (2014).
Como já apresentado no capítulo II, neste estudo participaram dezoito crianças
de ambos os sexos (12 do sexo masculino e seis do sexo feminino), com idades
compreendidas entre os 60 e os 86 meses (M = 70.77, DP = 9.27). Das dezoito crianças,
9 possuem como língua nativa o PE e outras 9 crianças o PB (9 crianças são de
nacionalidade portuguesa e 9 de nacionalidade brasileira). Os dados relevantes
apresentam-se nas Tabelas 16 e 17.
Tabela 16. Distribuição de frequência e percentagem por sexo.
GPE GPB Teste t Teste Mann-Whitney
Média DP Média DP
Idade (meses) 70.66 9.53 70.88 9.58 U = 41.5, p = 0.92
PCC (%) 76.59 12.9 77.7 10.67 t (16) = - 0.213, p = 0.54
Tabela 17. Média e DP para a variável PCC e idade.
A verificação do sucesso do emparelhamento do GPE com o GPB, foi realizada
primeiramente recorrendo ao teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade das
variáveis idade e nível de gravidade de PCC. Verificamos que para a variável idade a
distribuição não é normal (W(18) = 0.86, p = 0.014), e para a variável PCC a
distribuição é normal (W(18) = 0.97, p = 0.83); já a variável idade não apresenta
nenhuma variação nos dois grupos, pois existem seis participantes do sexo masculino e
três do sexo feminino no GPE e no GPB, assumindo-se que o emparelhamento é
perfeito.
Seguidamente, foram realizados testes para verificar se existiam diferenças entre
os dois grupos relativamente a cada uma das variáveis (idade e PCC). Para a variável
Sexo
PE PB Total
Masculino N 6 6 12
% 33.35 33.35 66.7
Feminino N 3 3 6
% 16.65 16.65 33.3
45
idade o teste de Mann-Whitney revelou não existirem diferenças entre as crianças
falantes de PE e de PB (U = 41.5, p = 0.92). No que se refere à variável PCC,
recorremos ao teste t-Student e este revelou não existirem diferenças entre os dois
grupos de falantes (t (16) = -0.213, p = 0.54). Os resultados indicam que para a variável
PCC os falantes de PE apresentaram uma média e desvio padrão de M = 76.59, DP =
12.90 em comparação aos falantes de PB M = 77.70, DP = 10.67.
Concluímos que, o emparelhamento entre os dois grupos (GPE e GPB) foi bem
conseguido, já que não se verificam diferenças estatísticamente significativas entre o
GPE e o GPB nas variáveis idade e PCC. Observamos ainda que, na amostra existe uma
maior prevalência de casos do sexo masculino (seis par três do sexo feminino). Este
dado de prevalência está conforme o descrito na literatura para os casos de perturbações
fonológicas.
3.2 Estudo 1
3.2.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC-R, PDI, IAD,
IRD, IAO, IRO, IAS, IRS)
Nesta secção pretendemos dar resposta ao primeiro objetivo: verificar se o
desempenho das crianças falantes nativas de PE e das crianças nativas de PB com PSF
diferem nas medidas fonológicas: PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS e IRS 5.
Para calcular a PCC-R, o PDI e o IRS realizamos a comparação dos dois grupos
de sujeitos (GPE e GPB). relativamente às médias e DP destas medidas fonológicas
(PCC-R, PDI e IRS) foram calculadas através do teste t-Student. Para as medidas IAS,
IAD, IRD, IAO, IRO, os resultados foram obtidos através do teste de Mann-Whitney,
dado que estas variáveis apresentavam uma distribuição não normal.6
Na Tabela 18 observamos a comparação das medidas entre o GPE e o GPB.
5 A medida fonológica PCC já foi analisaem 3.1. As medidas fonológicas: processos fonológicos e PAF vão ser
analisaseguidamente em 3.2.3 e 3.2.4 respectivamente. 6 Remete-se para o Apêndice 2 as tabelas com as médias de ordens.
46
GPE GPB Teste t Teste de Mann-Whitney
Média DP Média DP
PCC-R 76.65 12.81 75.19 10.51 t(16) = 0.26, p = 0.79
PDI 0.65 0.34 0.55 0.33 t (16) =0.63, p = 0.53
IAS 0.16 0.18 0.16 0.10 U = 49.5, p = 0.42
IRS 0.52 0.25 0.59 0.32 t(16) = 0.52, p =0.6
IAO 0.14 0.17 0.03 0.04 U = 16, p = 0.03
IRO 0.44 0.28 0.12 0.16 U = 11, p = 0.008
IAD 0.001 0.003 0.06 0.078 U = 56, p = 0.08
IRD 0.002 0.07 0.28 0.35 U = 56, p = 0.08
Tabela 18. Média, desvios padrões para as variáveis PCC-R, PDI, IRS, IAD, IRD, IAO, IRO e IAS.7
Nota: PCC-R (percentagem); PDI e IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e IRD (valores podem variar entre 0 e 1)
Em relação às medidas fonológicas PCC-R, PDI e IRS verificamos que não
existem diferenças estatísticamente significativas. Relativamente às medidas
fonológicas IAS, IAD e IRD, verificamos também não existirem diferenças
significativas entre o GPE e o GPB.
Já no que se refere, às medidas correspondentes aos erros de omissão (IAO e
IRO), verificamos que existem diferenças significativas. Tanto no IAO como no IRO,
os participantes do GPE realizaram mais omissões do que os participantes do GPB .
3.2.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão,
distorção) mais frequente.
Nesta secção pretendemos responder ao objetivo 2: identificar qual o tipo de erro
- substituição, omissão ou distorção - mais frequente no GPE e no GPB.
Para comparar a ocorrência dos diferentes tipos de erros no GPE e no GPB,
recorremos ao teste não paramétrico ANOVA de Friedman, realizando um teste para
cada grupo de falantes.
GPE GPB
Média DP Teste Friedman
ᵡ2(2) = 11.02, p = 0.004
Média DP Teste Friedman
ᵡ2(2) = 5.09, p = 0.078
IAS 0.16 0.18 0.16 0.10
IAO 0.14 0.17 0.03 0.04
IAD 0.001 0.003 0.06 0.07
Tabela 19. Média, DP e Teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO e IAD8
7 Podemos consultar no Apêncice 4 a Tabela 1 com os valores das médias de ordens das variáveis em
estudo. 8 No Apêndice 4 podemos consultar a Tabela 2 com os valores das médias das ordens para as varáveis IAS, IAO e
IAD.
47
Para o GPB o teste de Friedman não identificou diferenças entre os tipos de
erros (ᵡ2
= 5.09, p = 0.078). No que diz respeito ao GPE, o teste revelou diferenças entre
os tipos de erros (ᵡ2
= 11.02, p = 0.004). Para verificar as diferenças específicas,
recorremos ao cálculo das diferenças entre os pares dos diferentes tipos de erros (vide
Tabela 19). Este cálculo indicou que a frequência de erros de omissão e substituição é
maior do que a frequência dos erros de distorção, não se tendo verificado diferenças
entre as frequências dos erros de omissão e de substituição.
Tendo em conta que os resultados dos índices absolutos e relativos para os erros
de substituição, omissão e distorção indicaram as mesmas diferenças optamos por
apresentar apenas os resultados referentes à medida fonológica índice absoluto (IA).
Concluímos que, para o GPB todos os erros (IAS, IAD, IAO) apresentam igual
frequência e, para o GPE o teste de Friedman revelou existirem diferenças na ocorrência
dos erros de IRO – IRD (p = 0.02) e nos erros de IRD – IRS (p = 0.01).
3.2.3 Processos fonológicos
Nesta secção do capítulo dos resultados pretendemos dar resposta ao objetivo 3:
verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com PSF
diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB.
Existem alguns processos fonológicos que foram excluídos para a realização
desta comparação.Trata-se de três processos que só se verificam no PB e, por este
motivo não podem ser comparados com o PE, são eles harmonia consonantal (HC)9,
sonorização de plosiva (SP)10
e sonorização de fricativa (SF)11
.
Os resultados apresentados nas Tabelas 20 e 21 correspondem à percentagem de
ocorrência dos processos fonológicos tendo em conta o número de ocorrência de cada
processo e as vezes que a criança realizou o processo. A Tabela 20 apresenta os
resultados obtidos para o GPE e a Tabela 21 os resultados para o GPB. Não foi possível
realizar uma análise inferencial uma vez que o número de ocorrência dos processos
fonológicos é diferente nos dois instrumentos de recolha de dados utilizados, assim
realizamos uma análise descritiva.
9 No PE este processo designa-se por harmonia. 10 No PE este processo designa-se por vozeamento de oclusivas. 11 No PE este processo designa-se por vozeamento de fricativas.
48
Tabela 20. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do GPE.
Legenda: RSA = Redução de sílaba atóna; OCL = Oclusão; POS = Posteriorização; PAL = Palatalização; ANT =
Anteriorização; DES = Despalatalização; SL = Simplificação de líquida; RGC = Redução do grupo consonântico;
OCF = Omissão da consoante final; DESV = Desvozeamento; n=número de possiveis ocorrências do processo nos
diferentes testes de avaliação; PE = portugues europeu; PB = português brasileiro.
Processos Fonológicos
RSA
(n=45)
OCL
(n=23)
POS
(n=12)
PAL
(n=11)
ANT
(n=9)
DES
(n=5)
SL
(n=11)
RGC
(n=8)
OCF
(n=5)
DESV
(n=23)
1 0 0 0 0 0 20 0 12.5 0 0
2 0 0 0 0 0 0 9.09 0 0 86.95
3 0 0 0 9.1 0 40 36.4 100 40 86.95
4 0 39.13 0 0 0 40 45.45 100 80 0
5 0 0 0 0 0 0 0 0 80 26.08
6 0 0 0 0 0 0 9.09 25 0 0
7 0 0 0 0 0 0 0 75 60 0
8 0 0 0 0 0 100 0 25 40 0
9 0 0 0 0 55.56 100 45.45 100 0 0
Tabela 21. Percentagem da ocorrência dos processos fonológicos por cada criança do GPB.
Legenda: RSA = Redução de sílaba atóna; OCL = Oclusão; POS = Posteriorização; PAL = Palatalização; ANT =
Anteriorização; DES = Despalatalização; SL = Simplificação de líquida; RGC = Redução do grupo consonântico;
OCF = Omissão da consoante final; DESV = Desvozeamento; n=número de possiveis ocorrências do processo nos
diferentes testes de avaliação; PE = portugues europeu; PB = português brasileiro.
Ao analisar as Tabelas 20 e 21, verificamos que o processo de RSA e POS são
constantes sem ocorrência no GPB, isto é, nenhuma criança pertencente à amostra de
falantes nativos de PB realizou este processo. Tanto para o GPE como para o GPB,
algumas crianças pretencentes à amostra não produziram determinado processo
fonológico, no entanto qualquer criança falante nativa do PE e falante nativa do PB
realizou no mínimo três processos fonológicos. No GPE, menos de três criança
realizaram os processos de ANT e DESV. No GPB, verificamos que os processos de
Processos Fonológicos
RSA
(n=22)
OCL
(n=34)
POS
(n=26)
PAL
(n=10)
ANT
(n=29)
DES
(n=17)
SL
(n=19)
RGC
(n=19)
OCF
(n=28)
DESV
(n=6)
1 9.09 0 0 0 0 94.12 15.79 21.05 7.14 0
2 13.6 0 23.08 50 0 29.41 42.11 73.68 7.14 0
3 22.73 64.71 38.5 0 34.5 23.53 89.47 94.74 53.27 0
4 45.5 5.88 0 0 0 58.82 42.19 100 35.71 0
5 45.5 0 96.2 40 0 5.88 15.79 0 3.57 0
6 0 29.4 0 0 0 0 5.3 84.2 0 0
7 45.5 0 0 0 0 35.29 0 0 0 0
8 22.73 88.2 23.08 60 34.5 11.76 42.11 52.63 10.71 33.33
9 22.73 29.4 0 40 0 0 26.32 94.74 0 33.33
49
OCL, PAL e ANT foram realizados por uma criança. Ao consultar as Tabelas 20 e 21,
podemos observar que os processos fonológicos com maior ocorrência para o GPE e
para o GPB foram: DES, SL, RGC e OCF.
3.2.4 Comparação da PAF
Nesta secção pretendemos responder aos objetivos 4 e 5: Verificar se o
inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes nativos de PE e nos
falantes nativos de PB e identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes
de PE e falantes nativos de PB produzem com menor Percentagem de Acertos por
Fonema (PAF) (comparação do GPE e do GPB no inventário fonético e PAF ).
Nas Tabelas 22, 23, 24, 25 e 26 podem ser consultadas as percentagens de acerto
por fonema de cada criança, por modo de articulação das consoantes: oclusivas nasais
(Tabela 22); oclusivas orais (Tabela 23); fricativas (Tabela 24); laterais e vibrantes
(Tabela 25); grupos consonânticos (Tabela 26). Considerou-se o fonema adquirido
quando a criança obteve uma percentagem ≥ 75% no acerto do fonema, parcialmente
adquirido 74% - 50% e não adquirido quando a percentagem é < 50%, de acordo com
Shriberg e Kwiatkowski (1982).
Ao observarmos a Tabela 22, consideramos que as consoantes oclusivas nasais
estão adquiridas para ambas as crianças desta amostra. Os fonemas /m/ e /ɲ/ apresentam
uma percentagem de acerto por fonema de 100% para as crianças falantes de PE e para
as crianças falantes de PB. Já o fonema /n/ está também adquirido pelas crianas falantes
de PB mas tem uma percentagem menor no GPE, com quatro crianças do GPE sem
valores de produção de 100%.
50
Modo Oclusivas nasais
Fonema m n ɲ
GPE
(n = 4)
GPB
(n = 3)
GPE
(n = 3)
GPB
(n = 2)
GPE
(n = 1)
GPB
(n = 1)
1 100 100 66,66 100 100 100
2 100 100 66,66 100 100 100
3 100 100 66,66 100 100 100
4 100 100 100 100 100 100
5 100 100 100 100 100 100
6 100 100 100 100 100 100
7 100 100 100 100 100 100
8 100 100 66,66 100 100 100
9 100 100 100 100 100 100
Tabela 22. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas nasais.
Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro; cor verde: ≥
75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); cor vermelha < 50% (fonema não
adquirido).
No que se refere às consoantes oclusivas orais, na Tabela 23, verificamos que os
fonemas /p/ e /k/ estão adquiridos para o GPE e para o GPB. O fonema /b/ para as
crianças falantes nativas de PE está parcialmente adquirido (uma criança apresenta
66,66%) ou adquirido (oito crianças produziram corretamente esta consoante) enquanto
que para as crianças falantes nativas de PB três das crianças que pertencem a esta
amostra não têm este fonema adquirido.
Modo Oclusivas Orais
Fonema b p d t g k
GPE
(n = 3)
GPB
(n = 3)
GPE
(n = 11)
GPB
(n = 4)
GPE
(n = 5)
GPB
(n = 4)
GPE
(n = 16)
GPB
(n = 7)
GPE
(n = 8)
GPB
(n = 3)
GPE
(n = 16)
GPB
(n = 4)
1 100 100 100 100 100 100 100 100 87,5 100 100 100
2 66,66 33,33 100 100 40 0 93,75 85,71 100 0 100 100
3 100 33,33 100 100 100 25 93,75 85,71 75 0 100 100
4 100 100 100 75 100 100 100 100 100 100 100 100
5 100 100 100 100 0 50 12,5 100 100 100 100 100
6 100 33,33 100 100 100 75 100 100 100 33,33 100 100
7 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
8 100 100 100 100 80 100 81,25 71,42 87,5 100 100 100
9 100 100 100 100 100 100 100 100 100 66,66 100 25
Tabela 23. PAF de cada criança nas consoantes oclusivas orais.
Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;
cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%
cor vermelha (fonema não adquirido).
Na Tabela 24, podemos observar os resultados de cada criança de PE e de PB
para as consoantes fricativas, verificamos que os fonemas /z/, /s/, /ʒ/ e /ʃ/ são os
51
fonemas com uma percentagem de acerto menor para as crianças falantes nativas de PE
e para as crianças nativas de PB.
Modo Fricativas
Fonema v f z s ʒ ʃ
GPE
(n = 5)
GPB
(n = 2)
GPE
(n = 5)
GPB
(n = 4)
GPE
(n = 3)
GPB
(n = 3)
GPE
(n = 5)
GPB
(n = 6)
GPE
(n = 3)
GPB
(n = 2)
GPE
(n = 14)
GPB
(n = 2)
1 100 100 100 100 100 100 80 16,66 0 50 14,28 100
2 100 0 100 100 0 0 60 100 100 0 57,14 100
3 80 0 0 100 33,33 33,33 0 83,33 0 50 71,4 50
4 80 100 100 100 100 33,33 100 33,33 33,33 0 35,71 0
5 100 0 100 100 100 33,33 40 33,33 100 0 92,85 0
6 80 0 100 100 100 33,33 100 33,33 100 100 100 100
7 100 100 100 100 100 33,33 100 0 0 0 42,85 0
8 40 100 20 100 100 66,66 40 33,33 33,33 0 71,42 0
9 100 100 100 100 66,66 100 80 100 33,33 0 85,71 0
Tabela 24. PAF de cada crianças nas consoantes fricativas.
Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;
cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%
cor vermelha (fonema não adquirido).
A consoante líquida lateral /ʎ/ está adquirida para as nove crianças falantes
nativas de PB. Já para as crianças falantes nativas de PE quatro crianças não tem
adquirido este fonema. O mesmo acontece para a consoante líquida vibrante /R/ (vide
Tabela 25). A consoante lateral /l/ tem diferenças no GPE e no GPB, para o GPB esta
consoante está adquirida para todos os falantes nativos de PB.
Modo Laterais Vibrantes
Fonema l ʎ ɾ R
GPE
(n = 11)
GPB
(n = 2)
GPE
(n = 1)
GPB
(n = 1)
GPE
(n = 15)
GPB
(n = 1)
GPE
(n = 2)
GPB
(n = 2)
1 81,81 100 100 100 86,66 100 100 100
2 63,63 100 100 100 80 100 100 100
3 9,09 100 0 100 20 25 0 100
4 18,18 100 0 100 13,33 0 0 100
5 100 100 0 100 100 100 100 100
6 100 100 100 100 86,66 100 100 100
7 100 100 100 100 100 100 100 100
8 45,45 100 0 100 20 75 0 100
9 63,63 100 100 100 6,66 25 100 100
Tabela 25. PAF de cada criança nas consoantes líquidas laterais e vibrantes.
Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;
cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%
cor vermelha (fonema não adquirido).
52
Ao observarmos a Tabela 26, podemos concluir que a aquisição dos grupos
consonânticos é a mais problemática quer para as crianças falantes de PE quer para as
crianças falantes de PB. Por exemplo, os grupos consonânticos [vr], [kr] e [pl] cinco
crianças falantes de PE e cinco crianças falantes de PB não tem adquirido estes
fonemas.
Modo Grupos consonânticos
Fonema pr br vr tr kr pl
GPE
(n =
2)
GPB
(n =
1)
GPE
(n =
3)
GPB
(n =
2)
GPE
(n =
1)
GPB
(n =
1)
GPE
(n =
3)
GPB
(n =
2)
GPE
(n =
1)
GPB
(n =
1)
GPE
(n =
1)
GPB
(n =
1)
1 100 100 100 100 100 100 50 100 100 100 100 100
2 0 100 0 0 0 0 0 100 0 100 100 100
3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 100 0 0
4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
5 100 100 100 100 100 100 0 100 100 100 100 100
6 0 100 33,33 50 0 100 0 100 0 100 100 0
7 100 0 100 0 100 0 100 0 100 0 100 100
8 50 100 0 100 100 100 50 100 0 100 0 0
9 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Tabela 26. PAF de cada criança para os grupos consonânticos. Legenda: n = número de ocorrência de acertos; GPE = português europeu; GPB = português brasileiro;
cor verde: ≥ 75% (fonema adquirido); cor laranja 74% - 50% (fonema parcialmente adquirido); < 50%
cor vermelha (fonema não adquirido).
Ao observarmos as Tabelas 22, 23, 24, 25 e 26, concluímos que o fonema /p/
está adquirido para o GPE e para o GPB. Os fonemas /l, ʎ, ɾ/ estão adquiridos 100%
para os falantes nativos de PB. Os fonemas que apresentaram mais dificuldades, isto é,
mais de três crianças pretencentes à amostra do GPE e do GPB com percentagem de
acerto por fonema < a 70% , são /b, d, g, v, z, s, ʒ, ʃ, ɾ/ e todos os grupos consonânticos.
53
3.3 Estudo 2
A amostra do Estudo 2 é constituída pelos mesmos participantes do Estudo 1
mas considera apenas 12 palavras comuns aos dois testes de avaliação. Os objetivos
estabelecidos para o Estudo 2 são os mesmos do Estudo 1, a saber:
1) Verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na
prova de nomeação de figuras, no que se refere a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD e
IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos;
2) Identificar qual o tipo de erro – substituição, omissão ou distorção – mais
frequente em ambas as amostras;
3) Verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em crianças com
PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes nativas de PB;
4) Verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos falantes
nativos de PE e nos falantes nativos de PB;
5) Identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e
falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema
(PAF).
3.3.1 Comparação das medidas fonológicas (PCC, PCC-R, PDI,
IAD, IRD, IAO, IRO, IAS, IRS)12
Nesta secção vamos dar resposta ao primeiro objetivo: verificar se o
desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB diferem na prova de nomeação
nas 12 palavras comuns dos dois instrumentos de recolha de dados analisando as
medidas fonológicas em estudo (PCC, PCC-R, PDI, IAD, IRD, IAO, IRO, IAS e IRS).
Para calcular a PCC, PCC-R, o IAS e o IRS recorremos ao teste t-Student,
(W(18) ≤ 0.959, p´s ≥ 0.051). Para as restantes medidas (PDI, IAD, IRD, IAO, IRO) foi
utilizado o teste de Mann-Whitney (W (18) ≤ 0.84, p´s ≥ 0.007).
Como podemos observar na Tabela 27, verificamos não existirem diferenças
significativas nas medidas PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e IRD.
12 Estas nove medidas são analisadas neste item. As medidas fonológicas: processos fonológicos e PAF são
analisadas nos pontos 3.3.3 e 3.3.4, respetivamente.
54
PE PB Teste t Teste Mann-Whitney
Média DP Média DP
PCC 80.28 11.22 79.58 11.86 t(16) = 0.129, p = 0.87
PCC-R 79.92 10.67 73.11 7.56 t(16) = 1.56, p = 0.10
PDI 0.5 0.28 0.57 0.52 U = 39.5, p = 0.93
IAS 0.13 0.07 0.15 0.11 t(16) = -0.46, p = 0.26
IRS 0.61 0.31 0.54 0.33 t(16) = 0.47, p = 0.76
IAO 0.06 0.06 0.04 0.06 U = 30.5, p = 0.38
IRO 0.32 0.33 0.15 0.22 U = 29.5, p = 0.34
IAD 0.003 0.01 0.06 0.07 U = 56, p = 0.19
IRD 0.05 0.16 0.30 0.38 U = 55.5, p = 0.19
Tabela 27. Médias e Desvios padrão para as variáveis PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e
IRD para as crianças falantes de PE e para crianças falantes de PB Teste t e Teste de Mann-Whitney. 13
Em suma, concluímos que todas as medidas em estudo, quando consideradas as
12 palavras comuns, não apresentam diferenças estatísticamente significativas entre o
GPE e o GPB.
3.3.2 Identificar o tipo de erro (substituição, omissão,
distorção) mais frequente.
Nesta secção pretendemos responder ao objetivo 2: identificar qual o tipo de erro
mais frequente no grupo de crianças falantes nativas de PE e no grupo de crianças
falantes nativas de PB.
Para comparar a ocorrência dos diferentes tipos de erros (substituição, omissão,
distorção) no GPE e no GPB, recorremos ao teste não paramétrico ANOVA de
Friedman, realizando um teste para cada grupo de falantes. Verificamos que os
resultados para as medidas fonológicas índices relativos e índices absolutos de cada
grupo de falantes foram iguais. Apresentamos apenas os valores dos índices absolutos
de substituição, omissão e distorção para as crianças falantes nativas de PE e para as
crianças falantes nativas de PB.
Ao consultarmos a Tabela 28, verificamos que para o GPB o teste de Friedman
não identificou diferenças entre os tipos de erros (p = 0.25). No entanto, para o GPE o
mesmo teste revela que existem diferenças ᵡ2(2) = 9.6, p = 0.008, especificamente entre
os erros de distorção e de substituição (p = 0.014). Nos erros de distorção e omissão e
de omissão e substituição no GPE não existem diferenças (p’s = 0.47).
13 No Apêndice 5 podemos consultar a Tabela 1 com os valores das médias das ordens para as variáveis PDI, IAO,
IRO, IAD e IRD.
55
PE PB
Média DP Teste Friedman
ᵡ2(2) = 9.6, p =0.008
Média DP Teste Friedman
ᵡ2(2) = 2.77, p = 0.25
IAS 0.13 0.079 0.15 0.11
IAO 0.06 0.06 0.04 0.06
IAD 0.003 0.01 0.06 0.08
Tabela 28. Média, desvios padrão e Teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO, IAD14
.
3.3.3 Comparação dos processos fonológicos
Nesta seção vamos verificar o objetivo 3: verificar se os processos fonológicos
com maior ocorrência em crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE
e nas crianças falantes nativas de PB.
Para comparar o número de ocorrências nos processos fonológicos foi utilizado
o teste de Mann-Whitney. Os processos de HC, SP, SF não fazem parte desta
comparação, uma vez que estes processos apenas se verificam isoladamente o PB, sendo
considerados como outros processos (OP) no PE.
Processos Fonológicos
M/ DP
U p GPE GPB
RSA
OCL
POS
PAL
ANT
DES
SL
RGC
OCF
DESV
0.00/ 0.00
9.72/ 16.27
11.11/ 27.62
36.11/ 33.33
0.00/ 0.00
55.5/ 52.70
33.3/ 50.00
48.15/ 41.20
16.66/ 35.35
1.58/ 4.76
0.00/ 0.00
2.77/ 8.33
0.00/ 0.00
2.77/ 8.33
7.41/ 22.23
33.33/ 50.00
33.33/ 50.00
48.11/ 44.46
38.88/ 41.66
28.58/ 39.77
40,5
28
31,5
15,5
45
31,5
40,5
41
53,5
56
1,00
0,30
0,44
0,024
0,73
0,43
1,00
1,00
0,26
0,20
Tabela 29. Médias e desvios padrão, resultados do teste de Mann-Whitney para os processos fonológicos
no GPE e no GPB.
Legenda: OCL = Oclusão; PAL = Palatalização; ANT = Anteriorização; DES = Despalatalização; SL = Simplificação
de líquida; RGC = Redução do grupo consonântico; OCF = Omissão da consoante final; DESV = Desvozeamento;
PE = Português Europeu; PB = Português Brasileiro; U = valor de Mann-Whiteny; p = significância exata.
Nota: valores de M e DP em percentagem.
Ao observarmos a Tabela 29, constatamos que, o teste de Mann-Whiteny
revelou que existe diferença significativa no processo de PAL (p < 0.05). No GPE, as
14No Apêndice 5 podemos consultar a Tabela 2 com os valores das médias de ordens para as variáveis IAS, IAO e
IAD.
56
crianças realizaram mais PAL (M= 36.11, DP = 33.33) do que no GPB (M = 2.77, DP =
8.33;U = 15.5; p = 0.024). Concluímos que apenas o processo de palatalização difere
entre os grupos de crianças falantes nativas de PE e crianças falantes nativas de PB. Os
processos fonológicos de RSA (M = 0.00, DP = 0.00) e SL (M= 33.3, DP = 50.00)
foram constantes para as duas variantes da língua portuguesa (U´s = 40.5; p´s = 1.00)15
.
Para comparar os processos fonológicos com maior ocorrência no GPE (ᵡ2 (9) =
25.03, p = 0.003) e no GPB (ᵡ2 (9) = 25.92, p = 0.002) recorremos ao teste ANOVA de
Friedman16
. Na Tabela 30, podemos observar que, no GPB o processo fonológico com
maior ocorrência é a redução de grupo consonântico (RGC) e que no GPE os processos
com maior ocorrência são palatalização (PAL), despalatalização (DES) e redução de
grupo consonântico (RGC).
Processos
Fonológicos M
GPE GPB
RSA
OCL
POS
PAL
ANT
DES
SL
RGC
OCF
DESV
0.00 a
9.72 a,b
11.11 a,b
36.11 b
0.00 a
55.5 b
33.33 a,b
48.15 b
16.66 a,b
1.58 a,b
0.00 a
2.77 a
0.00 a
2.77 a
7.41 a
33.3 a,b
33.33 a,b
48.11 b
38.88 a, b
28.58 a,b
Tabela 30. Média dos processos fonológicos no GPE e no GPB (teste ANOVA de Friedman).
Nota: valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p < 0.05, valores de M em percentagem.
3.3.4 Inventário fonético
Nesta secção pretendemos responder aos objetivos 4 e 5: se o inventário
fonético difere nos falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB e quais os
fonemas que as crianças falantes nativas de PE e as crianças falantes nativas de PB
produzem com menor valor de percentagem de acerto por fonema (PAF).
Para proceder à comparação do inventário fonológico , incluindo alguns grupos
consonânticos, das 12 palavras comuns entre o GPE e o GPB recorremos ao teste de
15 Ver Tabela 3 presente no Apêndice 5, para consultar as médias das ordens referentes aos processos fonológicos
para o GPE e para o GPB. 16 Ver Tabela 4 do Apêndice 5, para consultar as médias das ordens dos resultados do teste de ANOVA de Friedman
para os processos fonológicos do GPE e do GPB.
57
Mann-Whitney. Para verificar qual o fonema com menor valor de PAF no GPE e no
GPB recorremos ao teste ANOVA de Friedman.
Tabela 31. Descrição dos resultados para a PAF, média e desvios padrão, para as crianças falantes de PE
e de PB. 17
Nota: valores de M e DP em percentagem. Valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p< 0.05
A consulta da Tabela 31 permite verificar que, o teste de Mann-Whitney não
identifica diferenças estatisticamente significativas do inventário fonético entre as
crianças falantes nativas de PE e crianças falantes nativas de PB fonema a fonema.
No que se refere ao fonema com menor percentagem de acerto, para o GPE, o
teste de Friedman revelou o fonema /ʃ/; já no GPB foi o fonema /z/ que obteve um valor
menor de percentagem de acerto18
. Na Tabela 31, podemos ainda observar os fonemas
não adquiridos em cada grupo. Assim para o GPE, o fonema com menor percentagem
de acerto foi o /ʃ/, e para o GPB verificamos que as crianças não tem adquiridos os
fonemas /ʃ/, /z/ e os grupos consonânticos [br] e [pl]. Concluímos que tanto para o GPE
como para o GPB as crianças pertencentes a esta amostra não tem adquirido o fonema
/ʃ/.
Para verificar o total de diferentes processos fonológicos, o total de ocorrência
de processos fonológicos e o número de consoantes corretas que diferem no GPE e no
GPB recorremos ao teste Mann-Whitney.
17 Os valores das médias de ordens para a PAF no GPE e no GPB podem ser consultados na Tabela 5 do Apêndice 5. 18 Para consultar as médias das ordens ver Tabela 5 Apêndice 5.
Fonema M/ DP Teste Mann-Whitney
GPE GPB U p
p 100/ 0.00 b 100/ 0.00 b 40,5 1,00
t 91.66/ 25.00 b 94.44/ 16.66 b 41 1,00
k 100/ 0.00 b 94.44/ 16.66 b 36 0,73
d
g
f
s
ʃ
v
z
m
ɾ
pr
br
pl
77.77/ 44.09 b
100/ 0.00 b
77.77/ 44.09 b
55.55/ 52.70 a,b
22.22/ 44.09 a
77.77/ 44.09 b
72.22/ 44.09 a,b
100/ 0.00 b
66.67/ 50.00 a,b
33.33/ 50.00 a,b
55.55/ 52.70 a,b
55.55/ 52.70 a,b
72.22/ 44.09 a,b
55.55/ 52.70 a
100/ 0.00 b
55.55/ 52.70 a,b
44.44/ 52.70 a
66.06/ 50.00 a,b
38.88/ 33.33 a
100/ 0.00 b
66.67/ 50.00 a,b
55.55/ 52.70 a,b
44.44/ 52.70 a
44.44/ 52.70 a
37
22,5
49,5
40,5
49,5
36
21,5
40,5
40,5
49,5
36
36
0,80
0,11
0,44
1,00
0,44
0,73
0,09
1,00
1,00
0,44
0,73
0,73
58
GPE GPB Teste Mann-
Whitney Média DP Média DP
Total de diferentes processos fonológicos 3.55 2.06 2.88 1.83 U = 34.00, p = 0.60
Total de ocorrência de processos fonológicos
(n = 47) 6.00 3.39 6.00 3.96 U = 39.50, p = 0.93
Número de consoantes corretas (n= 31) 24.88 3.48 24.66 3.67 U = 42.00, p = 0.93
Tabela 32. Média e desvios padrão para as variáveis totais de diferentes processos fonológicos, ocorrência
de processos e para o número de consoantes corretas no GPE e no GPB19
.
Legenda: GPE = grupo de crianças falantes do português europeu; GPB = grupo de crianças falantes do
português brasileiro; n = número de possíveis ocorrências; U = valor de Mann-Whitney; p = significância
exata.
Como podemos observar, na Tabela 32, não existem diferenças significativas
entre os grupos de falantes. Verificamos que o total de ocorrência de processos
fonológicos nesta amostra de 12 palavras comuns nos dois instrumentos de recolha de
dados tem uma média igual tanto para as crianças falantes nativas de PE (M = 6.00; DP
= 3.39) como para as crianças falantes nativas de PB (M = 6.00; DP = 3.96, U = 39.50,
p = 0.93).
19No Apêndice 5 Tabela 7 podemos consultar o valor das médias das ordens referentes as esta variáveis.
59
CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO
Após a apresentação e a análise estatística dos resultados, nesta secção,
pretendemos discutir os resultados obtidos tendo em conta as questões de investigação
definidas inicialmente e a revisão da literatura.
No presente estudo foram analisadas algumas medidas fonológicas que podem
contribuir para a maior precisão de diagnóstico nas PSF, nomeadamente, PCC, PCC-R,
IAS, IRS, IAD, IRD, IAO, IRO, PAF, inventário fonético e os processos fonológicos. A
discussão é apresentada para cada um dos estudos separadamente.
4.1 Discussão dos Resultados
Para melhor conhecer as características das PSF em crianças falantes nativas de
PE e em crianças falantes nativas de PB foi realizada esta investigação, constituída por
dois estudos (Estudo 1 e Estudo 2).
Na presente investigação foram analisados algumas medidas fonológicas que
contribuem para a precisão do diagnóstico em PSF. O objetivo deste estudo foi
comparar o desempenho das crianças falantes nativas de PE e das crianças falantes
nativas de PB com PSF analisando um conjunto de 11 medidas fonológicas. Os
resultados obtidos neste estudo vão ao encontro das expectativas iniciais. Era expetável
não existirem substanciais diferenças entre o GPE e o GPB, uma vez que estamos
perante duas variedades linguísticas com um sistema fonológico muito semelhante.
No Estudo 1, com uma maior amostra de fala, com estímulos iguais e diferentes,
nas medidas fonológicas mais gerais não exitiram diferenças entre o GPE e o GPB;
houve sim diferença no tipo de erro. No GPE ocorreram mais erros de omissão e
substituição do que de distorção, não se verificaram diferenças significativas entre os
erros de omissão e de substituição. No GPB não verificamos diferenças estatísticamente
significativas entre os erros. Já no Estudo 2, com um universo de palavras menor (12
palavras), os resultados mostram que não há diferenças nas manifestações das medidas
fonológicas em estudo, apenas existe a exceção da diferença no processo fonológico de
palatalização (PAL).
60
Importa saber qual o motivo de não existirem diferenças entre as medidas
fonológicas (intragrupo no GPB e o porquê do processo de DESV não ocorrer no GPE).
O Estudo 2 fechou as possibilidades de existirem diferenças entre o GPE e o GPB. O
Estudo 2 é mais consistente, uma vez que a amostra de fala é igual para ambos os
grupos, apesar de não ser possível verificar as consoantes em todas as posições e de não
ser possível controlar todas as variáveis.
De seguida, iremos sintetizar as conclusões a que foi possível chegar e
discutimos os resultados do Estudo 1 e do Estudo 2 à luz dos objetivos definidos, de
forma a verificar em que medida os resultados respondem às questões.
4.1.1 Estudo 1
Nesta seção vamos sintetizar e discutir os resultados obtidos no Estudo 1 à luz
das questões de investigação traçadas inicialmente.
Objetivo 1) verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB
difere na prova de nomeação de imagens, no que se a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO,
IAD e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos.
Com este objetivo pretendíamos verificar se o GPE e o GPB com PSF diferem
relativamente a: PCC, PCC-R, PDI, IAS, IAO, IAD e IRS, IRD e IRO e ao número de
processos fonológicos. Os resultados confirmam que relativamente ao PCC e PCC-R
não existiram diferenças, o que mostra que o emparelhamento dos sujeitos pretencentes
à amostra foi bem conseguido.
Para as medidas PDI, IAS, IRS, IAD e IRD não se verificaram diferenças
estatísticamente significativas entre as crianças falantes nativas de PE e as crianças
falantes nativas de PB. Através da medida fonológica PDI concluímos que, as crianças
falantes nativas de PE produzem em média mais processos fonológicos do que as
crianças falantes nativas de PB. Os resultados indicam que existem diferenças
significativas para as medidas fonológicas de IAO e de IRO, em que no GPE se
observam mais erros de omissão do que no GPB.
No que diz respeito aos erro de omissão, a literatura indica que este tipo de erro
é o que menos ocorre nas diversas línguas do mundo (Wertzner, H.F., Santos, P.I.,
61
Pagan-Neves, L.O., 2012; 2014). Já em relação à distorção este tipo de erro nem sempre
é fácil de ser detetado pelo terapeuta da fala, porque depende da perceção e da
discriminação, e muitas vezes não é transcrito, sobretudo em registos realizados no
momento da produção, sem gravação aúdio ouvida posteriormente ou com recurso a
um júri para validar as transcrições fonéticas. A distorção é um erro típico durante o
desenvolvimento linguístico da criança que tende a desaparecer à medida que esta
evolui, caso estejamos perante uma patologia de caratér fonético (Lousada, 2012).
Na patologia, a ocorrência de menos erros de distorção e mais erros de omissão
não é típica das crianças com PSF; acontece mais nos casos de crianças com
Perturbação Específica da Línguagem (Speech Language Impairment) (Wertzner,
2012), daí que para o GPE possamos estar perante uma amostra não homogénea, com
casos com outro diagnóstico. É de extrema importância fornecer marcadores clínicos e
metodologias para que o terapeuta da fala efetue a recolha da amostra de fala e
estabeleça o diagnóstico diferencial de PSF.
Objetivo 2) identificar qual o tipo de erro – substituição, omissão ou distorção
– mais frequente em ambas as amostras.
Para averiguar qual o tipo de erro mais frequente no GPE e no GPB, analisamos
as medidas fonológicas de índice absoluto dos três tipos de erros (substituição, omissão
e distorção). Na comparação dos diferentes tipos de erros no GPB os resultados
revelaram não existirem diferenças entre as medidas IAD, IAO e IRS. As crianças
falantes nativas de PE apresentam diferenças significativas entre as medidas IAO-IAD e
IAD-IAS, verificamos que estas crianças realizaram mais erros de omissão e de
substituição.
Estudos realizados em crianças com PSF falantes nativas de PB (Wertzner,
Santos, Pagan-Neves 2012; 2014) mostram que o tipo de erro mais predominante é o de
substituição para as crianças com uma maior gravidade de PSF. Este dado reforça os
resultados obtidos neste estudo, uma vez que para o GPE o erro com maior ocorrência
foi o de substituição.
62
Objetivo 3) verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em
crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes
nativas de PB.
Objetivo 4) verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos
falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB.
Objetivo 5) identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes
nativos de PE e falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de
Acertos por Fonema (PAF).
Para dar resposta aos objetivos 3, 4 e 5 foi realizada uma análise descritiva dos
resultados.
No que diz respeito ao objetivo 3, os resultados revelaram que nenhuma criança
do GPB realizou os processos fonológicos de RSA e POS. Este dado está relacionado
com as diferenças no processo de redução do vocalismo átono, que ocorre com grande
extensão em PE e não em PB. Assim, em PE as sílabas átonas são mais vulneráveis e
podem reduzir nestes casos de PSF, o que não acontece no PB.
Para as crianças falantes nativas de PB os processos fonológicos mais comuns
são: SL, RGC, OCF, DES e DESV e para as crianças falantes nativas de PE são: RSA,
OCL, POS, DES, SL, RGC, OCF.
Consideramos maior ocorrência dos processos fonológicos, quando três ou mais
crianças pretencentes à amostra realizaram o processo,verificamos que, os processos
fonológicos comuns com maior ocorrência entre o GPE e o GPB são: DES, SL, RGC,
OCF e DESV.
Os processos de SL, RGC e OCF estão descritos em diferentes estudos como os
de maior ocorrência para a população brasileira (Oliveira e Wertzner, 2000; Wertzner,
H.F., 2002; Papp, 2003; Papp e Wertzner, 2006; Wertzner, et al., 2006, 2007; Castro,
2009). O presente estudo fornece evidências de que a presença deste processos
fonológicos determina o estabelecimento do diagnóstico de PSF nas crianças falantes
nativas de PB. Para o PE os processos fonológicos mais significativos descritos na
literatura (Guerreiro e Frota, 2010) para a população com desenvolvimento típico, são a
OCF e a RGC. Neste estudo, estes processos foram também detetados no GPE. Assim,
com a análise dos processos fonológicos conseguimos de uma forma clara, objetiva e
eficaz propor que os processos fonológicos OCF e RGC são os comuns quando estamos
63
perante um caso de PSF (Yavas, Hermandorena & Lamprecht, 2002 in Guerreiro e
Frota 2010).
No que diz respeito ao inventário fonético das crianças com PSF falantes nativas
de PE e crianças falantes nativas de PB, para responder aos objetivos 4 e 5, podemos
concluir que, não difere nas consoantes oclusivas nasais /m/ e /ɲ/ e nas consoantes
oclusivas orais /p/ e /k/. Os fonemas com menor PAF tanto para as crianças falantes
nativas de PE como para as crianças falantes nativas de PB são as fricativas /z/, /s/, /ʒ/ e
/ʃ/ e que alguns grupos consonânticos, como [vr], [kr] e [pl], não estão adquiridos para
estas crianças. Considerando que uma criança tem o seu inventário fonológico completo
por volta dos seis anos de idade, quando a sua fala é semelhante à fala de um adulto,
para o GPE e para o GPB os resultados dos fonemas /m, ɳ, p, k/ vão ao encontro do
descrito na literatura, uma vez que, estão adquiridos e que devem estar adquiridos até
aos três anos e seis meses. Os resultados são também compatíveis com os do estudo de
Moutinho e Lima (2007), que consideram que as consoantes fricativas tem uma
aquisição mais tardia.
Já Wertzner (2000) e Freitas (1997) assumem que os últimos fonemas a serem
adquiridos são as líquidas, o que para esta amostra de falantes com PSF não se
observou, talvez porque os contextos de líquidas /ɾ, l/ em ataque complexo (grupos
consonânticos) foram contabilizados isoladamente e não integrados nos contextos de
líquidas /ɾ, l/ em ataques simples e codas, adquiridos mais precocemente que os dos
ataques complexos (Freitas, 1997).
No que respeita aos grupos consonânticos, Lamprecht, et. al, (2004) nos seus
estudos referem que aos cinco anos de idade os grupos consonânticos estão dominados e
estabilizados, mas o que se observa nas crianças com PSF deste estudo é que a sua
maioria não tem adquirido os grupos consonânticos [vr, kr, pl]. Dada a aquisição mais
tardia dos ataques complexos (grupos consonânticos), que integram líquidas, os
resultados da aquisição dos grupos consonânticos parecem ser compatíveis com o
observados por Wertzner (2000) e Freitas (1997) para o PB e para o PE.
64
4.1.2 Estudo 2
Nesta secção vamos sintetizar e discutir os resultados obtidos no Estudo 2, tendo
em conta os objetivos traçados inicialmente. Os objetivos para este estudo são iguais
aos do Estudo 1. Os procedimentos e análises utilizados foram os mesmos. Neste estudo
apenas foram contabilizadas as 12 palavras em comum nos dois instrumentos de recolha
de dados utilizados para as crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes
nativas de PB
Objetivo 1) verificar se o desempenho dos sujeitos com PSF do GPE e do GPB
difere na prova de nomeação de imagens, no que se a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO,
IAD e IRS, IRO, IRD e ao número de processos fonológicos.
No que respeita a este objetivo, pretendemos verificar se o desempenho dos
sujeitos com PSF falantes nativos de PE e falantes nativos de PB nas diferentes provas
de nomeação de figuras nas 12 palavras comuns diferem nas medidas fonológicas em
estudo. Os resultados obtidos mostram que as medidas PCC, PCC-R, PDI, IAS, IRS,
IAO, IRO, IAD e IRD não apresentam diferenças estatísticamente significativas entre o
GPE e o GPB. O IRS foi a medida fonológica que obteve uma média mais elevada tanto
para o GPE como para o GPB. Este facto confirma os estudos que apontam os erros de
substituição como os que ocorrem com mais frequência nas crianças com PSF
(Wertzner, H.F., Santos, P.I., Pagan-Neves, L.O., 2012; 2014).
No caso das medidas fonológicas PCC e PCC-R já era de esperar este resultado
uma vez que, o emparelhamento dos sujeitos da amostra foi feito com base nestas
medidas. Um estudo de Wertzner, et al. (2012) refere que entre estas duas medidas
fonológicas não existem diferenças, mas sim uma forte correlação, de 87.80% entre o
PCC e o PCC-R (Wertzner, H.F., Santos, P.I., Pagan-Neves, L.O., 2012).
Objetivo 2) identificar qual o tipo de erro – substituição, omissão ou distorção
– mais frequente em ambas as amostras.
Com este objetivo pretendemos verificar qual o tipo de erro mais frequente para
as crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes nativas de PB. Os
resultados mostram que o erro mais frequente para o GPE e para o GPB é o de
65
substituição. Existem diferenças nos tipos de erros para o GPE e para o GPB entre o
IAD – IAS. Este dado coincide com os estudos de Wertzner, H.F., Santos, P.I., Pagan-
Neves, L.O., (2012; 2014) já referidos.
resultados coincidentes com os resultados apresentados no Estudo 1. Tal pode
dever-se a um de dois motivos: ou as crianças não realizam este tipo de erro, ou os
terapeutas da fala na sua recolha e análise de dados não foram sensíveis a esta alteração
e efetuam um diagnóstico com subreposição entre PEL e PSF.
Objetivo 3) verificar se os processos fonológicos com maior ocorrência em
crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas crianças falantes
nativas de PB.
No que se refere a este objetivo, os resultados mostram que o processo de PAL é
o único processo que verificamos existir diferenças estatísticamente significativas entre
o GPE e o GPB. O grupo de crianças falantes nativas de PE produziu com maior
ocorrência o processo de PAL do que o grupo de crianças falantes nativas de PB.
Segundo Castro et al. (1997; 1999), Mendes et al., (2003), Wertzner et al. (2004) o
processo de PAL deve desaparecer até aos quatro anos e seis meses de idade. Este
processo não está descrito na literatura como sendo o mais frequente nas crianças com
PSF, o que pode ser um novo marcador línguistico para a intervenção dos Terapeutas da
Fala, pelo menos para crianças falantes nativas de PE.
Segundo a comparação dos grupos de crianças (GPE e GPB), verificamos que os
processos fonológicos RSA e SL são os que ocorrem com menor frequência para as
crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes nativas de PB, ao contrário do
observado no Estudo 1. Este resultado vai ao encontro ao estudado por Wertzner (2007)
que refere a SL como um dos processos fonológicos menos frequente, já que as líquidas
são das últimas consoantes a ser adquiridas.
Para Mendes et al., (2009) a supressão dos processos fonológicos SL e RSA só
ocorre na faixa etária [6:6 – 6:12[. Este dado é conforme os resultados deste estudo,
uma vez que a média de idades dos participantes do estudo é de cinco anos e oito meses.
Os mesmos autores consideram que as consoantes líquidas laterais (/l, ʎ/) só são
produzidas corretamente na faixa etária dos [3:6 – 3:12[, já as consoantes líquidas
66
vibrantes (/ɾ, R/) são produzidas corretamente pelas crianças na faixa etária dos [4:0 –
4:6[ (Mendes et al., 2009).
Na comparação intragrupos de falantes verificamos que os processos com maior
ocorrência para o GPE são PAL, DES e RGC e para o GPB o processo fonológico de
RGC. Assim, podemos concluir que, na comparação entre as crianças falantes nativas
de PE e as crianças falantes nativas de PB o processo comum e com maior ocorrência é
RGC. Segundo Mendes et al., (2009), Castro, et al. (1997; 1999) e Wertzner (200;
2003) o processo de RGC é um dos últimos a ser suprimido pelas crianças, só por volta
dos sete anos de idade é que as crianças apresentam a fala igual à fala padrão de um
adulto. Uma vez que a média de idades das crianças do GPE e do GPB é de cinco anose
oito meses, o processo de RGC pode ser considerado ainda referente ao
desenvolvimento típico e não decorrente da PSF que estes sujeitos apresentam.
Através da comparação entre o número total de diferentes processos
fonológicos, o número total de processos fonológicos e o número total de consoantes
corretas para o GPE e o GPB os resultados mostram que o número total de ocorrência
dos processos fonológicos é igual para os grupos (GPE e GPB). Este resultado vai ao
encontro do resultado do PDI, já que não verificamos diferenças no número de
processos fonológicos.
Objetivo 4) verificar se o inventário fonético das crianças com PSF difere nos
falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB.
Objetivo 5) identificar quais os fonemas que as crianças com PSF falantes
nativos de PE e falantes nativos de PB produzem com menor de Percentagem de
Acertos por Fonema (PAF).
Por fim, para verificar os objetivos 4 e 5 deste estudo analisamos os seguintes
fonemas /t, k, d, g, f, s, ʃ, v, z, m, ɾ, pr, br, pl/ das produções das crianças com PSF no
GPE e no GPB nas 12 palavras comuns (vassoura, mesa, sapato, faca, peixe, cama,
garfo, prato, pasta, dedo, zebra, planta) que constam nos instrumentos de recolha de
dados utilizados para esta investigação.
67
Os resultados revelaram que, não existem diferenças estatísticamente
significativas no inventário fonológico das crianças falantes nativas de PE em
comparação com as crianças falantes nativas de PB. Este resultado era esperado, uma
vez que existem poucas diferenças do ponto de vista fonológico nas duas variantes da
língua portuguesa.
Na comparação intragrupos os resultados revelaram que para o GPE o fonema
/ʃ/ obteve uma menor percentagem de acerto por fonema (PAF) e para o GPB os
fonemas com menor PAF foram /z, ʃ, g/ e os grupos consonânticos [br, pl]. Este
resultado está relacionado com o processo de PAL (a consoante fricativa dental é
substituída por uma fricativa palatal) uma vez que a maioria das crianças não têm
adquiridos os fonemas /ʃ, g/ (e.g. a palavra vassoura é produzida como [vɐˈʃoɾɐ]) e com
o processo fonológico de DES (consoante fricativa palatal é substituída por uma
fricativa dental) já que tanto no GPE como no GPB as crianças não tem aquirido o
fonema /ʃ/ (e.g. a palavra chapéu é produzida como [sɐˈpɛw]).
Concluimos que a grande contribuição do Estudo 2 é que, ao analisarmos o
mesmo universo de palavras para as duas variantes da língua portuguesa (PE e PB),
confirmamos as poucas diferenças nas medidas fonológicas estudadas e identificamos o
que é efetivamente diferente. Assim, os fonemas comuns aos dois grupos (GPE e GPB)
que estão adquiridos são /p, t, k, f, m/. O fonema com menor PAF tanto para o GPE
como para o GPB é / ʃ/, isto é, podemos considerar que para esta amostra de crianças
este fonema não está adquirido e pode ser um marcador linguístico de PSF para
estabelecer um plano de intervenção terapêutico.
4.2 Limitações do Estudo e Propostas para Estudos Futuros
No decorrer de todo o processo de investigação, surgiram algumas questões que
levaram a uma reflexão sobre as limitações e conduziram ao levantamento de novas
questões e hipóteses de investigação importantes a serem exploradas no futuro.
Nesta investigação realizamos a primeira comparação entre crianças falantes
nativas de PE e de crianças falantes nativas de PB com PSF conhecida na literatura na
ocorrência das diferentes medidas fonológicas com relevância científica e clínica.
Esta investigação pretende permitir um refinamento dos critérios de diagnóstico
para as PSF. Os resultados para o GPE, com mais distorções que substituições de sons,
68
revelam uma possível sobreposição de diagnóstico entre uma Perturbação Específica da
Linguagem (PEL) e uma Perturbação dos Sons da Fala (PSF). Seria então importante
verificar outras avaliações como medidas completares para o diagnóstico. É importante
ainda referir que o processo de transcrição e análise dos dados recolhidos, não
recorrendo a posterior audição de registo áudio para verificação ou validação por júri,
pode ter influenciado também a classificação como substituição ou distorção de sons, já
que a metodologia de recolha de dados utilizada no LIFF para o GPB foi diferente da
metodologia utilizada pelos terapeutas da fala da área da grande Lisboa para o GPE.
Para a presente investigação foi difícil conseguir um número mais elevado de
sujeitos falantes nativos de PE. Tal facto deve-se a que muitos profissionais em
exercício não utilizarem ainda na sua prática clínica o instrumento de recolha de dados
que foi proposto como sendo um critério de inclusão (TFF-ALPE) e não utilizarem a
mesma terminologia para o diagnóstico de casos de PSF, ou seja, muitas vezes utilizam
diferentes outras terminologias, como perturbação fonológica, perturbação fonética ou
perturbação mista, para estabelecer um diagnóstico em PSF.
Apesar de os resultados responderem aos objetivos inicialmente estabelecidos, o
número de amostra pode de algum modo ter influenciado os resultados no que diz
respeito às diferenças estatísticamente significativas e marginalmente significativas. O
método de recolha e análise de dados ter sido diferente no PE e no PB é também uma
limitação e um fator a considerar num estudo futuro. É de extrema importância que as
amostras de fala das crianças fiquem registadas em áudio para poderem ser analisadas
com mais rigor, nomeadamente por diferentes transcritores, num júri. Assim, sugere-se
que os dados recolhidos por parte dos terapeutas da fala em Portugal incluam a gravação
em áudio ou a filmagem na avaliação de uma criança. Ainda que não recorram
posteriormente a júri, podem confirmar as transcrições registadas no momento da
produção. Como já referido, a metodologia no GPE não foi aferida para as nove
crianças enquanto que no GPB existe uma uniformização de critérios de recolha e
análise dos dados (existe gravação video e áudio e uma revisão feita por um júri para a
transcrição fonética). O protocolo do GPB é mais rigoroso e mais sistemático do ponto
de vista clínico e permite no futuro efectuar comparações da evolução do caso ou até
mesmo fazer uma reavaliação.
A presente investigação está direcionada para uma intervenção terapêutica, em
que, através dos resultados obtidos, o terapeuta da fala consegue elaborar
69
hierarquicamente o seu plano de intervenção, considerando as necessidades de cada
criança. Assim, esta investigação para além da comparação entre as crianças falantes
nativas de PE e das crianças falantes nativas de PB pode contribuir para estabelecer ou
confirmar marcadores clínicos para o diagnóstico em PSF e contribuir para a
identificação de prioridades na intervenção terapêutica.
Para estudos futuros sugerimos que a amostra seja mais alargada, que a análise
não seja restrita a provas de nomeação de palavras, incluindo contextos de repetição e
de discurso espontâneo. É igualmente importante estabelecer uma metodologia que
defina um protocolo de recolha e análise de dados em contexto clínico rigoroso, mas
simultaneamente exequível, para se poderem efetuar estudos comparativos. Seria
interessante realizar este mesmo estudo comparativo com uma amostra maior e
controlar o método de recolha de dados utilizando as 12 palavras em comum que
constam nos dois instrumentos de recolha de dados utilizados para esta investigação
para o GPE e o GPB.
Diferentes abordagens pedagógicas e os diferentes meios sócio-económicos
onde cada grupo de crianças se enquadra tanto no PE como no PB é um fator a
considerar para os resultados obtidos nesta investigação e em estudos futuros, uma vez
que não foi fator de inclusão nem variável controlada o tipo de ensino onde as crianças
estão inseridas ou o meio sócio-económico de cada criança.
Em suma, apesar de existirem diferenças nos resultados das medidas
fonológicas, nomeadamente nos erros de omissão e no processo fonológico de PAL,
observa-se que as características de crianças com PSF falantes nativas de PE e de
crianças com PSF falantes nativas de PB são semelhantes, e as medidas fonológicas
consideradas neste estudo podem auxiliar o terapeuta da fala no diagnóstico de uma
PSF. Para tal é necessário que este profissional seja rigoroso na recolha e na análise dos
dados para estabelecer um diagnóstico correto e uma intervenção direcionada para a
problemática de cada criança com PSF.
70
71
CONCLUSÃO
A presente investigação teve como objetivo principal comparar o desenpenho de
crianças falantes nativas de PE e de crianças falantes nativas de PB com idades
compreendidas entre cinco anos e zero meses e os sete anos e 11 meses e com
diagnóstico de PSF em Terapia da Fala analisando 11 medidas fonológicas.
Para este estudo foram utilizados dois instrumentos de recolha de dados: para o
PE foi utilizado o subteste de nomeação do teste TFF-ALPE (Mendes et al., 2009) e
para o PB o sub teste de nomeação do teste de fonologia do ABFW (Wertzner,. 2004).
Para o Estudo 1 a amostra de fala contemplou o corpus total das palavras dos testes
referidos e para o Estudo 2 a amostra de fala incluiu apenas 12 palavras comuns
constantes nos dois instrumentos de recolha de dados.
As conclusões enunciadas são um complemento aos resultados e à discussão,
apresentados no capítulo III e IV respetivamente. A presente investigação (Estudo 1 e
Estudo 2) procurou responder às seguintes questões: 1) verificar se o desempenho dos
sujeitos com PSF do GPE e do GPB difere na prova de nomeação de imagens, no que se
a PCC, PCC-R, PDI e IAS, IAO, IAD e IRS, IRO, IRD e ao número de processos
fonológicos; 2) identificar qual o tipo de erro - substituição, omissão ou distorção - mais
frequente em ambas as amostras; 3) verificar se os processos fonológicos com maior
ocorrência em crianças com PSF diferem nas crianças falantes nativas de PE e nas
crianças falantes nativas de PB; 4) verificar se o inventário fonético das crianças com
PSF difere nos falantes nativos de PE e nos falantes nativos de PB; 5) identificar quais
os fonemas que as crianças com PSF falantes nativos de PE e falantes nativos de PB
produzem com menor de Percentagem de Acertos por Fonema (PAF).
Retomemos os critérios de inclusão para a amostra desta investigação e
concluímos que o emparelhamento dos casos do GPE como os casos do GPB foi bem
conseguido, pois não existiram diferenças estatísticamente significativas no que se
refere à faixa etária e à escala de PCC.
Concluímos que no Estudo 1, o desempenho das crianças com PSF falantes
nativas de PE e crianças falantes nativas de PB foi semelhante, ou seja, não existiram
diferenças para as medidas PCC-R, PDI, IRS, IAS, IAO, IRO, IAD e IRD entre o GPE
e o GPB. Para a segunda questão, em ambos os grupos o tipo de erro com maior
ocorrência foi o de substituição. Os resultados mostraram que as crianças falantes
72
nativas de PE realizaram menos erros de distorção e as crianças falantes nativas de PB
menos erros de omissão. Em relação à questão se os processos fonológicos diferem,
verificamos que o processo de RSA e POS são constantes sem ocorrência para o PB,
isto é, nenhuma criança pertencente da amostra realizou este processo. Outro tipo de
comparações para a questão 3 no Estudo 1, não foi possível de executar uma vez que a
ocorrência por processos fonológicos para o PE é diferente para o PB. Para a questão 4
e 5 podemos concluir que os grupos consonânticos [kr], [vr] e [pl] são os mais
problemáticos tanto para o GPE como para o GPB. Com uma percentagem de 100% de
acerto por fonema estão os fonemas /m/ e /ɲ/ para o GPE e para o GPB. Os fonemas
como uma menor PAF são as fricativas /z/, /s/, /ʃ/ e /ʒ/ tanto para o GPE como para o
GPB.
Por fim no Estudo 2, verificamos que, tal como no Estudo 1, o desempenho das
crianças com PSF no GPE e no GPB não apresenta diferenças estatisticamente
significativas nas medidas fonológicas em estudo. O tipo de erro com maior ocorrência
foi o de substituição para as crianças falantes nativas de PE e para as crianças falantes
nativas de PB. Para responder à questão 3 só verificamos diferença no processo de PAL
que os sujeitos do GPE produzem com maior ocorrência do que os sujeitos do GPB. Na
comparação do GPE com o GPB nos processos fonológicos, no GPE os processos com
maior ocorrência são OCL, POS e DES e no GPB são ANT, OCF e DESV. Já na
comparação de pares entre o GPE e GPB verificamos que o processo comum com maior
ocorrência é RGC. Para as crianças falantes nativas do PE também verificamos através
da comparação intragrupos os processos de PAL e DES como os de maior ocorrência.
Com a utilização das 12 palavras comuns aos dois instrumentos de recolha de dados
verificamos, no que diz respeito ao inventário fonológico, que não existem diferenças
estatísticamente significativas. O GPB produzem com menos PAF os fonemas /g, ʃ, z/ e
os grupos consonânticos [br] e [pl]. Concluímos que, o fonema comum com menor PAF
para os falantes nativos de PE e para os falantes nativos de PB é o /ʃ/.
No que diz respeito ao total de diferentes processos, ao total de ocorrência de
processos fonológicos e ao número de consoantes corretas, no Estudo 2, concluímos que
as crianças falantes nativas de PE e as crianças falantes nativas de PB apresentaram
igual desempenho no número de ocorrência de processos fonológicos e no número de
consoantes corretas.
73
Atendendo aos resultados obtidos e tendo em conta as questões de investigação,
concluímos:
1. não existiram diferenças essenciais nas medidas fonológicas no GPE e no
GPB;
2. no Estudo 1, não existiram diferenças nos tipos de erros à exceção do erro de
omissão;
3. no Estudo 2, no GPE verificamos um menor número de erros de distorção e
um maior número de erros de omissão;
4. no Estudo 2, existem algumas particularidades devido à variante da língua,
nomeadamente no processo fonológico de PAL, que verificamos uma ocorrência maior
para o GPE. No que diz respeito ao processo de RSA os falantes nativos de PE e os
falantes nativos de PB não realizaram este processo que tinham ocorrido no Estudo 1 no
GPE.
Os pontos 2 e 3 acima descritos apontam para a mesma conclusão, ou seja,
existem três possibilidades para estes resultados: a possibilidade do diagnóstico ser
diferente (utilização de nomenclaturas diferentes para as mesmas caraterísticas) PSF vr.
PEDL; a não homogeneidade do GPE; ou a possibilidade de os terapeutas da ala em
Portugal possuírem pouca sensíbilidade para as transcrições de distorções (casos de
sigmatismo).
Assim, é importante tentar em estudos futuros compreender melhor os motivos
para a ausência e presença de diferenças entre os grupos (GPE e GPB): os instrumentos
de recolha de dados utilizados para a avaliação, apesar das diferenças, parecem permitir
a comparação entre os falantes nativos de PE e os falantes nativos de PB, mas poderá
haver influência do método de recolha e registo de dados por parte dos profissionais em
Portugal, bem como da homogeneidade da amostra dos participantes do GPE
relativamente ao diagnóstico (PSF ou PEDL).
Consideramos que o presente trabalho contribui para o conhecimento da PSF e
das medidas fonológicas, para a caracterização das diferenças entre PE e e PB, e pode
contribuir para o estabelecimento de marcadores clínicos e para a sensibilização dos
terapeutas da fala para a importância do rigor na recolha e registo de dados para
estabelecer um diagnóstico, um prognóstico e uma intervenção terapêutica adequada.
74
Considera-se que realizar uma avaliação completa do ponto de vista fonológico é
fulcral para o estabelecimento de um diagnóstico diferencial nas PSF. Acredita-se que
esta investigação é um contributo para o estabelecimento futuro de um protocolo de
avaliação que contemple todas as variáveis em estudo, é uma mais valia para a
investigação nesta área, pois reforça algumas perspectivas estudadas anteriormente e é
um “grão de areia” na investigação portuguesa e no auxílio do trabalho diário do
terapeuta da fala.
75
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83
ANEXOS
Anexo 1. Folha de registo do Teste TFF-ALPE
84
85
86
87
88
89
Anexo 2. Folha de registo do Teste ABFW
90
91
92
93
APÊNDICES
Apêndice 1. Palavras dos instrumentos de avaliação e transcrição
fonética
Palavra Transcrição Fonética
Peras ´peɾɐʃ
Sapato sɐ´patu
Jipe ´ʒip
Televisão tɨlɨvi´zɐw
Rato ´Ratu
Pente ´pet
Cabelo kɐ´belu
Faca ´fakɐ
Bola ´bɔlɐ
Dedo ´dedu
Olho ˈoʎu
Balde ´baɫdɨ
Gato ´gatu
Água ´agwɐ
Café kɐˈfɛ
Vassoura ˈvɐsoɾɐ
Chapéu ʃɐˈpɛw
Caixa ˈkajʃɐ
Peixe ˈpɐjʃɨ
Chave ˈʃavɨ
Zebra ˈzebɾɐ
Mesa ˈmezɐ
Janela ˈʒɐnɛlɐ
Unha ˈuŋɐ
Queijo ˈkɐiʒu
Cama ˈkɐmɐ
Nariz nɐˈɾiʃ
Telefone tɨlɨˈfɔn
Carro ˈkaʀu
Comer kuˈmeɾ
Lua ˈluɐ
Sol ˈsɔɫ
Brincar bɾiˈkaɾ
Cobra ˈkɔbɾɐ
Três ˈtɾeʃ
Quatro ˈkwatɾu
Estrela ɨʃˈtɾelɐ
Prato ˈpɾatu
94
Tabela 1. Palavras e transcrição fonética do TFF-ALPE da prova de nomeação para oPE (Mendes et al.,
2009).
Palavra Transcrição Fonética
Soprar suˈpɾaɾ
Frango ˈfɾɐgu
Gravata gɾɐˈvatɐ
Tigre ˈtigɾɨ
Dragão dɾɐˈgɐw
Vidro ˈvidɾu
Creme ˈkɾɛm
Escrever ɨʃkɾɨˈveɾ
Livro ˈlivɾu
Planta ˈplɐtɐ
Bicicleta bisiˈklɛtɐ
Flor ˈfloɾ
Porco ˈpoɾku
Porta ˈpɔɾtɐ
Gordo ˈgoɾdu
Carne ˈkaɾnɨ
Força ˈfoɾsɐ
Formiga fuɾˈmigɐ
Garfo ˈgaɾfu
Alto ˈaɫtu
Almofada aɫmuˈfadɐ
Calças ˈkaɫsɐʃ
Colchão koɫˈʃɐw
Polvo ˈpoɫvu
Hospital ɔʃpiˈtaɫ
Pesca ˈpɛʃkɐ
Pasta ˈpaʃtɐ
Ponte ˈpotɨ
Umbigo uˈbigu
95
Palavra Transcrição Fonética
Palhaço pa' ʎ asw
Bolsa 'bowsa
Tesoura tʃi'zoɾa
Cadeira ka'deɾa
Galinha ga'liɲa
Vassoura va'soɾa
Cebola se'bola
Xícara 'ʃikaɾa
Mesa 'meza
Navio na'viw
Livro 'livɾw
Sapo 'sapw
Tambor tã'boɾ
Sapato sa'patw
Balde 'bawdʒɪ
Faca 'faka
Fogão ˈfɔgɐw
Peixe 'peʃɪ
Relógio xe'lɔʒiw
Cama 'kãma
Anel a'nɛw
Milho 'miʎw
Cachorro ka'ʃoxw
Blusa 'bluza
Garfo 'gaɾfw
Trator 'tɾatoɾ
Prato 'pɾatw
Pasta 'pasta
Dedo 'dedw
Braço 'bɾasw
Girafa ʒi'ɾafa
Zebra 'zebɾa
Planta 'plãta
Cruz 'kɾus
Tabela 2. Palavras do ABFW da prova de nomeação (Wertzner et al., 2004) e transcrição fonética20
.
20
Esta trancrição fonético foi realizada pela investigadora com a ajuda de uma aluna de mestrado do LIFF
e da Professora Doutora Haydee Wertzner.
96
Apêndice 2. Tabelas - Estudo 1
GPE GPB
Teste t Teste Mann-Whitney Média DP
Média das
Ordens Média DP
Média das
Ordens
PCC-R 76.65 12.81 75.19 10.51 t(16) = 0.26, p = 0.79
PDI 0.65 0.34 0.55 0.33 t (16) =0.63, p = 0.53
IAS 8.50 10.50 U = 49.5, p = 0.42
IRS 0.52 0.25 0.59 0.32 t(16) = 0.52, p =0.6
IAO 12.22 6.78 U = 16, p = 0.03
IRO 12.78 6.22 U = 11, p = 0.008
IAD 7.78 11.22 U = 56, p = 0.08
IRD 7.78 11.22 U = 56, p = 0.08
Tabela 1. Média, desvios padrões para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média das ordens
para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO.
GPE GPB
Média de
ordens Teste Friedman
ᵡ2(2) = 11.02, p = 0.004
Média de
ordens Teste Friedman
ᵡ2(2) = 5.09, p = 0.078
IAS 2.50 2.56
IAO 2.39 1.56
IAD 1.11 1.89
Tabela 2. Média de ordens e Teste de Friedman para as variáveis IAS, IAO, IAD
97
Apêndice 3. Tabelas - Estudo 2
GPE GPB
Teste t Teste Mann-
Whitney Média DP
Média
das
Ordens
Média DP Média das
Ordens
PCC 80.28 11.22 79.58 11.86 t(16) = 0.129, p = 0.87
PCC-R 79.92 10.67 73.11 7.56 t(16) = 1.56, p = 0.10
PDI 9.61 9.39 U = 39.5, p = 0.93
IAS 0.13 0.07 0.15 0.11 t(16) = -0.46, p = 0.26
IRS 0.61 0.31 0.54 0.33 t(16) = 0.47, p = 0.76
IAO 10.61 8.39 U = 30.5, p = 0.38
IRO 10.72 8.28 U = 29.5, p = 0.34
IAD 7.78 11.22 U = 56, p = 0.19
IRD 7.83 11.17 U = 55.5, p = 0.19
Tabela 1. Média, desvios padrões para as variáveis PCC, PCC-R, IAS e IRS e média das ordens
para as variáveis PDI, IAD, IRD, IAO e IRO,
Nota: PCC e PCC-R (percentagem); PDI, IAS, IRS, IAO, IRO, IAD e IRD (valores podem
variar entre 0 e 1)
GPE GPB
Média das ordens Teste Friedman
ᵡ2(2) = 9.6, p =0.008
Média das
ordens Teste Friedman
ᵡ2(2) = 2.77, p = 0.25
IAS 2.67 2.39
IAO 2.00 1.67
IAD 1.33 1.94
Tabela 2. Média das ordens para as variáveis IAS, IAO e IAD noGPE e no GPB.
Tabela 3. Média das ordens, valores de U e p para os processos fonológicos entre o GPE e o GPB.
Processos Fonológicos Média das ordens
U p GPE GPB
RSA
OCL
POS
PAL
ANT
DES
SL
RGC
OCF
DESV
9,50
10,89
10,50
12,28
9,00
10,50
9,50
9,44
8,06
7,78
9,50
8,11
8,50
6,72
10,00
8,50
9,50
9,56
10,94
11,22
40,5
28
31,5
15,5
45
31,5
40,5
41
53,5
56
1,00
0,30
0,44
0,024
0,73
0,43
1,00
1,00
0,26
0,20
98
Processos
Fonológicos
Teste Friedman
Média de ordens
GPE GPB
RSA
OCL
POS
PAL
ANT
DES
SL
RGC
OCF
DESV
3.89 a
5.28 a,b
5.00 a,b
7.00 b
3.89 a
7.17 b
5.94 a,b
7.44 b
5.11 a,b
4.28 a,b
4.17 a
4.56 a
4.17 a
4.44 a
4.61 a
6.17 a,b
6.17 a,b
7.72 b
6.83 a, b
6.17 a,b
Tabela 4. Média de ordens no teste ANOVA de Friedman para os processos fonológicos no GPE
e no GPB. Nota: valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p < 0.05
Fonema Média das ordens Teste Mann-Whitney
GPE GPB U p
p 9,50 9,50 40,5 1,00
t 9,44 9,56 41 1,00
k 10,00 9,00 36 0,73
d
g
f
s
ʃ
v
z
m
ɾ
pr
br
pl
9,89
11,50
8,50
9,50
8,50
10,00
11,61
9,50
9,50
8,50
10,00
10,00
9,11
7,50
10,50
9,50
10,50
9,00
7,39
9,50
9,50
10,50
9,00
9,00
37
22,5
49,5
40,5
49,5
36
21,5
40,5
40,5
49,5
36
36
0,80
0,11
0,44
1,00
0,44
0,73
0,09
1,00
1,00
0,44
0,73
0,73
Tabela 5. Descrição dos resultados para a PAF, média das ordens, teste de Mann-Whitney para o GPE e o
GPB.
99
Tabela 6. Média das ordens para a PAF o GPE e o GPB.
Nota: valores com letras diferentes em coluna são diferentes a p< 0.05
Tabela 7. Média das ordens para as variáveis totais de diferentes processos fonológicos, total de
ocorrência de processos fonológicos e número de consoantes correta para o GPE e GPB.
Fonema Teste de Friedman
PE PB
p 10.11b 10.56b
t 9.44b 10.11b
k 10.11b 10.00b
d
g
f
s
ʃ
v
z
m
ɾ
pr
br
pl
8.39b
10.11b
8.39b
6.67a,b
4.17a
8.44b
7.94a,b
10.11b
7.61a,b
5.06a,b
6.72a,b
6.72a,b
8.39a,b
7.00a
10.56b
7.06a,b
6.17a
7.89a,b
4.67a
10.56b
7.83a,b
7.00a,b
6.17a
6.06a
Média das ordens Teste Mann-Whitney
GPE GPB
Total de diferentes processos fonológicos 10.22 8.78 U = 34.00, p = 0.60
Total de ocorrência de processos fonológicos (n = 47) 9.61 9.39 U = 39.50, p = 0.93
Número de consoantes corretas (n= 31) 9.33 9.67 U = 42.00, p = 0.93