Dissertação Mestrado Herculano
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO - MESTRADO
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ESTADO, POLÍTICA E EDUCAÇÃO - NEPEPE
DIZ-ME COM QUEM ANDAS...E TE DIREI QUEM ÉS:
a Psicologia no Rio Grande do Norte,
do Padre Monte ao curso da Universidade Federal
Herculano Ricardo Campos
NATAL - RN
1 9 9 8
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DIZ-ME COM QUEM ANDAS...E TE DIREI QUEM ÉS:
a Psicologia no Rio Grande do Norte,
do Padre Monte ao curso da Universidade Federal
Dissertação apresentada ao Mestrado em
Educação da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para fins de
obtenção do grau de Mestre em
Educação.
Orientador: Prof. Dr. Oswaldo H. Yamamoto
NATAL - RN
1 9 9 8
3
3
Catalogação na publicação. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”.
Divisão de Serviços Técnicos.
Campos, Herculano Ricardo
Diz-me com quem andas...E te direi
quem és: a Psicologia no Rio Grande do
Norte, do Padre Monte ao curso da
Universidade Federal/Herculano Ricardo
Campos. Natal: [s.n.], 1998.
84p.
Dissertaçào (Mestrado) - Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Centro de
Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de
Educação.
1. Psicologia - Rio Grande do Norte -
História - Tese. 2. Psicologia - UFRN - Tese.
3. Psicologia - Educação - Tese. I. título.
RN/UF/BCZM CDU 159.9(813.2) (091)
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Dissertação apresentada ao Mestrado em Educação da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para fins de obtenção do grau de Mestre em Educação, sob avaliação
da seguinte banca examinadora:
Presidente: ______________________________________
Primeiro Examinador: ______________________________________
Segundo Examinador: _____________________________________
Examinador Suplente: ______________________________________
Avaliação Concedida:___________
5
5
À Marieta, Isadora e Valéria
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- RESUMO
Partindo do pressuposto de que a compreensão do quadro atual da
formação em Psicologia no Rio Grande do Norte exige o resgate da
constituição dessa modalidade de atividade acadêmico-profissional, este
estudo objetivou descrever e discutir as condições do evolver do ensino e
do exercício profissional no estado, desde os anos 30 até a criação e
consolidação do curso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), no início dos anos 80, um divisor de águas da Psicologia norte-
rio-grandense. O trabalho foi desenvolvido através de a) entrevistas
abertas, desenvolvidas junto a professores e ex-professores do curso de
Psicologia da UFRN, professores de disciplinas de Psicologia ofertadas
antes da criação do curso e profissionais que atuavam no estado e b)
pesquisa documental, de artigos e livros dos primeiros personagens a
tratar de Psicologia no estado, diversos diplomas legais e bibliografia
publicada. Conclui-se que, embora não se possa negar a influência das
formações trazidas pelos primeiros professores, desenvolvidas nas
Faculdades de Medicina, de Serviço Social e Filosofia, Ciências e Letras,
a criação do curso de Psicologia pode ser considerado como uma
“ruptura” com a prática anterior, o quadro atual expressando as marcas da
fragilidade das condições de constituição da Psicologia no estado.
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- ABSTRACT
From the standpoint that the study of the past is a condition to understand the
present, this study aimed to describe and to discuss the development of the
professional training and pratice of psychologists in the state of Rio Grande do
Norte (Northeast of Brazil) since the decade of 30 until the creation of the
undergraduate course in Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN) in
the early 80s, a landmark in the history of Psychology in the state. The study
was based in a) open interviews with present and former Psychology teachers
and b) analysis of official documents and other written materials produced in
the period. As a conclusion, we suggest that despite the undeniable influence of
these early developments of Psychology in Rio Grande do Norte, the creation of
the undergraduate course of Psychology in UFRN should be considered more as
a rupture than a continuity with former traditions. Thus, the present state of art
of Psychology in the state of Rio Grande do Norte can be considered as a
consequence of the frail conditions of its constitution.
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SUMÁRIO
- DEDICATÓRIA
- RESUMO
- ABSTRACT
- INTRODUÇÃO..............................................................................
1
1. O APORTE DA PSICOLOGIA “CIENTÍFICA” NO BRASIL E
O QUADRO ATUAL NO PAÍS E NO ESTADO............................
10
1.1. Desenvolvimento social, educação e Psicologia no Brasil................ 10
1.2. A formação acadêmica e o exercício profissional............................ 19
1.2.1. A formação acadêmica em Psicologia................................................. 21
1.2.2. O exercício profissional do psicólogo.................................................. 24
2. O ENSINO DE PSICOLOGIA QUE ANTECEDE AO CURSO
DA UFRN.........................................................................................
31
2.1. A Psicologia como “Filosofia”.......................................................... 31
2.2. O ensino superior de Psicologia no Rio Grande do Norte............... 33
2.2.1. A Psicologia Geral............................................................................. 34
2.2.2. A Psicologia da Educação................................................................... 35
2.2.3. O CEPA............................................................................................. 36
2.2.4. A Psicologia Médica........................................................................... 43
3. O CURSO DE PSICOLOGIA DA UFRN....................................... 46
3.1. A criação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte......... 46
3.2. A UFRN e a reforma universitária.................................................. 50
3.3. O curso de Psicologia........................................................................ 54
- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................... 70
- BIBLIOGRAFIA............................................................................ 75
- ENTREVISTAS REALIZADAS................................................... 83
- ANEXOS........................................................................................ 84
9
9
“A psicologia de hoje é filha da psicologia de ontem; a
psicologia de hoje faz mais sentido se compreendermos
como chegou a ser como é. A História determina, até
certo ponto, os problemas estudados, a maneira de
estudá-los e, até mesmo, a linguagem a ser usada para
falar a respeito dos problemas.
Portanto, o estudo da história pode oferecer perspectivas,
indicar diretrizes, mostrar a origem das idéias, ajudar a
evitar enganos já cometidos anteriormente por outros e
mostrar de que maneira coisas variadas ajustam-se entre
si”.
(WERTHEIMER, p.10)
- INTRODUÇÃO
Em um estudo sobre áreas de atuação da Psicologia, Bastos (1988, p.167) defende
a tese de que estas sejam definidas sobretudo a partir de critérios sociológicos, enfatizando
sua moldura através dos “círculos de relações, padrões de referência e avaliação do trabalho
distintos”, vividos efetivamente pelos profissionais. A sua atenção está voltada para o
psicólogo/indivíduo que cria com seus parceiros “um conjunto de relações sociais, valores e
papéis, dentro do ambiente de trabalho...”.
É na intenção da proposição acima, de um olhar sobre um cotidiano formado por
relações entre instituições e sujeitos sociais e históricos1, que este trabalho foi realizado. Da
mesma forma, não poderia passar despercebida a indicação de Pfromm Netto (1979-1981,
p.237), de que
o passado da Psicologia no Brasil liga-se fundamentalmente à tradição do pensamento
ocidental e, mais precisamente, europeu, que direta ou indiretamente os portugueses nos
comunicaram...Em mais de três séculos de história (e, até certo ponto, até o presente) o
Brasil refletiu, bem ou mal, essa condição de herdeiro de uma cultura luso-européia, e
1. A respeito da discussão sobre “cotidiano” ver o estudo de Yamamoto (1997), que traça um
panorama da questão sob o ponto de vista do marxismo. Afirma que “a categoria axial para a
consideração da temática do cotidiano, e que permite equacionar de forma consistente as questões
colocadas, como a da particularidade e da superação é a totalidade” (p.59-60). Conclui dizendo
que “a temática do cotidiano concebida como a prevalência do nível microscópico, pela
impugnação das possibilidades de síntese, não pode ser uma questão para a tradição marxista”
(p.60-61), a não ser que a mesma seja tratada sob o ponto de vista do “arsenal heurístico elaborado
por Marx”.
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isto também se aplica aos primórdios das considerações de natureza psicológica em
nosso País.
Este trabalho parte da realidade da Psicologia como se afigura hoje, em busca de
mudanças tanto em sua prática, quanto nos modelos teórico-metodológicos que a
fundamentam, procurando reconstituir as condições que propiciaram a criação do curso de
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como um momento
do próprio desenvolvimento da Psicologia no Brasil.
A hipótese subjacente é que o resgate da constituição dessa modalidade de
atividade acadêmico-profissional é condição para a compreensão do atual quadro da
formação de psicólogos no estado.
Nenhum outro estudo semelhante sobre o tema, referente ao Rio Grande do Norte,
foi identificado, ressalvadas as pesquisas de Yamamoto (1988, 1996b); Yamamoto,
Siqueira, Oliveira (1997) e Yamamoto, Carvalho, Maia (1997) sobre as condições da
formação acadêmica e do exercício profissional existentes no estado, citadas ao longo deste
trabalho, as quais, claramente, tomam como referência a realidade consolidada do curso
de Psicologia da UFRN.
O vácuo de estudos sobre o tema, no estado, traduz o pioneirismo da abordagem
presente neste trabalho, bem como sua importância no sentido de resgatar uma série de
acontecimentos atinentes às instituições de ensino superior, que deram origem a UFRN,
contribuindo, assim, para a história da UFRN e do próprio Rio Grande do Norte.
Este trabalho situa-se na tradição dos estudos que, desenvolvidos por psicólogos,
procuram realizar uma análise da própria Psicologia, em aspectos como formação
acadêmica e exercício profissional. Tal perspectiva foi pioneiramente encampada por Sílvia
Leser de Mello que, já no final dos anos 60, fez uma pesquisa sobre a situação da Psicologia
no estado de São Paulo (Mello,1975), a qual ainda hoje tem servido de referência para
diversos estudiosos do tema.
No âmbito deste trabalho, considera-se psicológica a idéia que faça referência
explícita à Psicologia, aparecendo como análise psicológica de qualquer tema (como por
exemplo, “Psicologia das Mãos”).
Embora a pesquisa não indique o momento exato em que tais idéias dão lugar à
ciência, objetivando, quantificando as análises, ainda assim indica as instituições e muitas
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das pessoas responsáveis por essa transformação, não deixando dúvidas quanto à sua
ocorrência. Logo, de acordo com a indicação de Massimi, Campos, Brozek (1996, p.29),
busca este trabalho uma contribuição científica à “História da Psicologia” no Rio Grande do
Norte, envolvendo seus domínios da “História das Idéias Psicológicas” e da “História da
Psicologia Científica”.
Esta pesquisa tomou como referência a produção intelectual de alguns personagens
do período histórico estudado, como artigos e livros; documentos institucionais desse
período, como resoluções, minutas e atas; algumas informações escritas de próprio punho,
por personagens do período; publicações na mídia escrita da época; o conteúdo de
depoimentos orais, de personagens vivos dessa história e a bibliografia publicada.
Como afirma Drawin (1988, p.243-244), “a objetividade...nas Ciências Humanas é
um momento na autoprodução histórica do sujeito, o que requer um tipo de inteligibilidade
que inclua, além da dilucidação dos nexos causais dos fenômenos, a compreensão do
significado que neles se sedimenta”.
Embora a análise documental e bibliográfica tenha se revelado mais frutífera para a
perspectiva emprestada a este trabalho, não se pode deixar de registrar os significados
sedimentados nos personagens vivos dessa realidade estadual, visto que ampliam o âmbito
da nossa atenção ao referirem-se a uma Psicologia enlaçada com pessoas e instituições que
encontravam-se fora do âmbito restrito das relações entre aquelas diretamente envolvidas
com movimentos de natureza estritamente psicológica, fora dos procedimentos técnicos
atualmente adotados pela ciência psicológica e, também, fora do Brasil.
Os depoimentos têm grande importância na pesquisa, configurando parte
significativa do seu traço de originalidade, inclusive porque são muito escassas as fontes
bibliográficas sobre o tema, referentes ao período e ao local estudados. Contudo, merecem
ser tomados como visão particular, logo parcial, dos acontecimentos. Por este motivo, sua
citação no texto, ou é imprescindível ou é apenas ilustrativa, de modo a não restar dúvida ao
leitor quanto ao critério da escolha.
É de forma parcial que este trabalho deve ser encarado, na medida em que opta-se
por entrevistar alguns personagens, e outros não; por citar, ou não, trechos dos depoimentos
gravados; e na medida em que compõe uma particular compreensão da articulação entre as
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participações particulares de alguns indivíduos e instituições do estado consigo mesmos, e
com o contexto social e psicológico brasileiros.
Procura-se mostrar o entrecruzamento da realidade estadual com a nacional, em
muitas das suas características, através da referência a obras de outros pesquisadores
nacionais do tema; a documentos oficiais ou oficiosos2 pertinentes à Psicologia no RN; e ao
testemunho oral obtido através de entrevistas abertas registradas em áudio, com
personagens vivos, principalmente ligados à realidade do Rio Grande do Norte3.
Julga-se necessário esclarecer que, não obstante ter entrevistado um número maior
de pessoas do que aquelas que efetivamente estão citadas no texto, a ausência de vários
nomes deve-se à direção que foi imprimida neste trabalho. Visto que esta não compromete
as condições nas quais foram realizadas as entrevistas, refiro-me nesta introdução aos
procedimentos adotados para sua efetivação. Uma lista com o nome de todos os
entrevistados, e os respectivos data e local da entrevista, encontra-se ao final do trabalho.
Muito embora não seja objetivo deste estudo realizar uma discussão sobre os
métodos da história, torna-se necessário esclarecer que a opção de trabalhar com o
testemunho oral de alguns personagens do período em tela, bem como fazer referência aos
estudos de Massimi, Campos, Brozek (1996), que articulam a pesquisa historiográfica da
Psicologia com os métodos da “nova história cultural”, não significa que optou-se por tal
perspectiva histórica.
2. A aceitação de um documento oficioso levou em conta o fato do mesmo ter sido produzido num
momento específico, de referência fundamental neste trabalho, por um personagem da época ou
estudioso do tema, com trabalho publicado.
3. Foram realizadas 23 entrevistas, com 22 diferentes personagens da história da Psicologia no RN.
Dessas, apenas em duas foram tomadas notas por escrito do testemunho oral do entrevistado; todas
as outras foram gravadas em fitas cassette de 60 minutos. Contudo, nem todas estão referidas ao
longo do texto.
Foi entrevistado um personagem que, embora dizendo respeito à história da Psicologia no estado,
não o é de forma direta, pois não exerceu sua prática profissional no RN. Outro personagem foi
entrevistado duas vezes, visto que em várias outras entrevistas há referência a ele, levantando
aspectos importantes da sua participação na história da Psicologia no RN, que não tinham sido
explorados no primeiro momento. Houve procura, sem retorno, de outras pessoas para a entrevista.
Dois dos entrevistados são ex-alunos da primeira turma do curso, e atuais professores do
Departamento de Psicologia.
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Entende-se que a referência a indivíduos particulares, a análise da subjetividade
“não invalida o conhecimento histórico”, na medida em que busque sempre iluminar a
compreensão do geral, ou seja, uma articulação entre as micro e macro estruturas: “existem
imbricações políticas, sociais, ideológicas, econômicas, todos os fatores que influenciam o
que acontece na história” (Costa, 1998). Assim sendo, comunga-se com a opinião de Costa
(1998, p.8), quando esta afirma que
A nova história criticou o reducionismo econômico e social. Ela trouxe a outra dimensão,
que tinha sido negligenciada, do discurso, da cultura, do ideológico, das instituições.
Mas caiu no extremo de descolar esta dimensão do seu todo. É uma história que nega a
existência de um processo histórico, ela não analisa de que forma passado e presente se
vinculam, porque não te dá elementos para entender isso. As pessoas se perdem na
análise do particular.
O que observa-se é que, muito embora possamos ler em Massimi (1996) uma
referência à bidimensionalidade da história, a respeito do que concorda-se no geral, não tem
sido esta a tônica dos trabalhos realizados no Brasil, e de que temos conhecimento.
Segundo a autora:
Os caminhos da História das Mentalidades entrelaçam-se com os da História Cultural,
cujo objetivo principal é definir os modos em que, em diferentes lugares e momentos,
uma determinada realidade social é construída, pensada e transmitida. O espaço cultural
desta História é bidimensional, abrangendo a produção cultural na especificidade de um
gênero ou disciplina em suas relações com a totalidade social em que se origina.
A referência feita acima, às teses de Bastos (1988) e Pfromm Netto (1979-1981),
deve-se à orientação metodológica e à indicação histórica que sugerem. Sob a perspectiva
da História, embora remetendo aos tempos da colônia e do império, o foco central deste
trabalho são os períodos denominados por Pessotti (1975) de universitário e profissional
da Psicologia brasileira4. O primeiro teria começado em 1934, no início da era Vargas da
política brasileira, com a criação da primeira universidade no país, a Universidade de São
4. Entende-se, neste trabalho, “Psicologia brasileira” como um desenvolvimento peculiar da
Psicologia em território brasileiro, distinta da americana ou da européia, face a opção preferencial
dos responsáveis pela Psicologia no país de aplicação, em detrimento da produção de
conhecimentos, observada como prioridade naqueles países.
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Paulo (USP)5, e o segundo parte da época da regulamentação da profissão de psicólogo, em
1962.
A análise presente neste trabalho tem como horizonte o ano de 1980, muito
embora haja referências a acontecimentos posteriores a essa data. Este limite é devido ao
fato de que, neste ano, foi aprovado oficialmente o primeiro currículo do curso de
Psicologia da UFRN, em funcionamento desde 1977, bem como foi criado o Departamento
de Psicologia. No nosso entender, estes dois eventos expressam a consolidação do processo
de criação do curso, em relação ao que, o mais que se segue, foi conseqüência.
Ao optar-se por trabalhar a partir de um momento específico do desenvolvimento
da Psicologia, no Brasil e no estado, não se deixa de considerar, contudo, que o período
universitário designa um conjunto de ações e de atores sociais, políticos e culturais, entre
os quais os psicólogos, a respeito dos quais não houve corte histórico, fazendo parte, coisas
e pessoas, da totalidade processual de suas histórias.
Assim, muito embora o foco da pesquisa esteja nos períodos citados, a história
referente aos períodos anteriores, pré-institucional e institucional, é também levantada, por
conta do seu valor intrínseco, e porque amplia e esclarece a história dos períodos
posteriores.
No primeiro capítulo apresenta-se as condições encontradas pela Psicologia para
desenvolver-se no Brasil, bem como elabora-se um quadro da realidade atual da formação
acadêmica e do exercício profissional na área. Trata-se de mostrar as articulações entre os
modelos europeu e norte americano que aportam no Brasil, com os fatos sócio-políticos que
fizeram as conjunturas do período. E, em face daquelas articulações, esclarecer as
características do ensino e da prática de Psicologia conformados em nosso país. Aqui, como
ao longo de todo o trabalho, busca-se esclarecer as determinações da base material sobre a
produção cultural6.
5. Neste trabalho há referência a duas universidades como sendo, ambas, as primeiras criadas no
Brasil. A Universidade do Rio de Janeiro, criada em 1920, que não passou da agregação de
algumas escolas foi, de direito, a primeira universidade. Contudo, de fato, a primeira universidade
de acordo com o Estatuto das Universidades Brasileiras foi a Universidade de São Paulo, criada em
1934. 6. Não obstante a complexidade da discussão a respeito das relações entre infraestrutura e
superestrutura, a qual não é objetivo deste trabalho, é importante esclarecer que parte-se do
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O segundo capítulo faz uma retrospectiva da presença da Psicologia no Rio Grande
do Norte, antes da criação do curso da Universidade Federal. Apresenta as concepções dos
clérigos que, pioneiramente, por meio da Filosofia, introduzem a Psicologia na cena
intelectual do estado e esclarece as condições com que disciplinas de Psicologia foram
surgindo, em algumas instituições de ensino superior.
O terceiro e último capítulo apresenta as condições por meio das quais foi gestado
o curso de Psicologia da UFRN, esclarecendo sobre a criação da própria Universidade, as
modificações por ela sofridas em face da Reforma do Ensino superior, em 1968, as
justificativas para a criação de um curso de Psicologia, o primeiro currículo, os alunos e
professores, as condições de funcionamento etc.
A história da Psicologia no estado, bem como a do curso, em particular, são
entendidas enquanto expressão das ações de indivíduos particulares em instituições também
particulares, moldados e moldando as conjunturas sociais e educacionais, do estado e do
país, ao longo do período estudado.
É particularmente gratificante para mim a realização deste trabalho, visto ser,
também, um personagem daquela história. Ex-aluno da terceira turma do curso de
Psicologia da UFRN, entre março de 1979 e dezembro de 1983, vivi intensamente a
profícua conjuntura daquele período. Portanto, este trabalho tem o sabor do reencontro com
personagens, e a retomada de idéias, muito significativos na minha formação; representa
mesmo uma possibilidade ímpar de esclarecer muitos acontecimentos controversos do
período, fazendo justiça a seus protagonistas.
Vivia-se, no fim dos anos 70 e começo dos 80, o início do processo de
redemocratização do país, depois de 15 anos de ditadura militar, com grande efervescência
dos movimentos populares, reorganização livre dos partidos políticos, crescente
participação estudantil, inclusive com a reorganização da União Nacional de Estudantes
(UNE), organização dos professores nas associações docentes (ADs), e profundo
questionamento de professores e estudantes de Psicologia de todo país, a respeito dos rumos
que esta deveria tomar.
princípio de que o mundo da cultura não está imune à base produtiva, que encontra-se em algum
nível e de alguma forma vinculado àquele, compondo a “totalidade concreta” a que se refere
Lukács (1974).
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Nesse processo, aprendi o que eram greves estudantis, participei da representação
estudantil em diversos órgãos colegiados da administração universitária, bem como fui
membro da direção de outros órgãos de representação estudantil, como Centro Acadêmico
(CA) e Diretório Acadêmico (DA). Fui não só aluno de alguns dos personagens
entrevistados para este trabalho, como também parceiro de alguns em várias lutas políticas,
e crítico e até oponente de outros. Portanto, aproximei-me mais de alguns, e menos de
outros; fui mais querido por uns, e menos por outros.
Conseqüentemente, é compreensível que alguns entrevistados tenham se mostrado
reticentes, tanto no momento do convite para gravar entrevista, quanto no momento de
registrarem seu depoimento, emitirem algumas opiniões etc. Não obstante, é importante
destacar a disponibilidade demonstrada por todos para darem sua versão dos
acontecimentos, explicarem opções e falarem sobre os caminhos trilhados. Em algumas
vezes, tal disponibilidade foi grande o bastante para que entrevistados abrissem seus
arquivos particulares, e emprestassem documentos da época, não encontrados nos arquivos
públicos pesquisados.
Foram particularmente gratificantes os momentos, horas, minutos, em que se
deram as entrevistas, pela conversa franca, aberta, característica de todas elas, sem exceção.
Tanto é que houve falas para serem gravadas, e outras ditas em off, com o gravador
desligado. Principalmente, foram muitos os momentos de riso, ao lembrar-se fatos
picarescos daqueles períodos. Sem sombra de dúvidas, foram momentos privilegiados de
um aprendizado que nenhum livro jamais permitiria, e a todos que com ele colaboraram
fica o meu profundo agradecimento.
Merece ressalva o descaso a que as instituições públicas relegam sua memória. O
arquivo geral da UFRN mostrou-se órfão de registros dos acontecimentos acadêmicos por
anos a fio, respondendo com um pesaroso “incinerados” à procura de inúmeros
documentos. A inteligibilidade do processo histórico foi dada, fundamentalmente, na
medida em que as entrevistas iam se sucedendo, e os entrevistados referiam-se a outros
protagonistas, que eram entrevistados, e assim sucessivamente.
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17
Alguns momentos da pesquisa, a que denomino arqueológicos, lembraram o
trabalho dos mineradores, quando precisam lavar o cascalho para que o ouro assente no
fundo da batéia. Foram muitos os fragmentos de conversas considerados para a
compreensão do processo histórico estudado, obtidos após reiterados papos informais, pelos
corredores da UFRN, com pessoas que sempre tinham uma contribuição a mais a dar. A
biblioteca da Academia Norte-Riograndense de Letras foi muito solicitada, e lá encontrou-
se importantes referências bibliográficas, principalmente sobre a UFRN, mas também sobre
os primórdios da Psicologia no estado.
Fundamentais foram os momentos partilhados com meu orientador, o Professor
Dr. Oswaldo H. Yamamoto, pela lucidez e profundidade das suas análises, sempre me
remetendo para além da compreensão isolada dos fatos. A amizade, o carinho, a paciência e
a atenção demonstrados ao longo de todo processo de trabalho, se por um lado foram a sua
senha para a busca de radicalidade nas questões apresentadas, por outro, significaram o
estimulante suficiente para eu vencer tantas noites na frente do computador.
Em que pese a pertinência e o alcance de inúmeros questionamentos e sugestões
formulados por ele, é necessário dizer que minhas análises, na grande maioria das vezes,
ficaram aquém do solicitado. Logo, é certo que dificilmente chegaria ao ponto atingido se
não contasse com sua ajuda, muito embora as falhas e os limites deste trabalho sejam
expressão das minhas limitações.
Importante, também, o registro da contribuição oferecida pelos colegas do grupo
de pesquisa, alguns dos quais, como Adriana, Frank e Gilmara, foram a campo e ajudaram
na coleta dos dados. A idéia dos grupos, do Departamento de Psicologia, a exemplo de
bases de pesquisa, observada no Programa de Pós-graduação em Educação da UFRN, é
muito frutífera, em termos de produção de conhecimentos. Eu tive a sorte, ao participar da
base em Marxismo e Educação, de receber a colaboração profunda e cuidadosa de vários
outros colegas, notadamente do professor Dr. Antonio Cabral Neto, aos quais muito devo
do meu aprendizado. Todas essas pessoas foram verdadeiramente responsáveis pela
dimensão coletiva da elaboração deste estudo.
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18
Na verdade, a lista daqueles a quem devo parcela significativa deste trabalho não é
pequena e, para não correr o risco de cometer injustiças, deixando de citar alguém, páro por
aqui, não sem antes enviar meus sinceros agradecimentos a todos.
Não posso deixar de citar o apoio institucional recebido da CAPES, nem tampouco
a leitura cuidadosa da Profa. Margareth Régia de Lára Menezes, que normatizou as
referências bibliográficas.
Assim, embora reconhecendo muitos limites, é antes de mais nada com muita
esperança que proponho o mergulho nessa história da Psicologia do Rio Grande do Norte e
do Brasil.
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1. O APORTE DA PSICOLOGIA NO BRASIL E O QUADRO ATUAL
NO PAÍS E NO ESTADO
1.1. Desenvolvimento social, educação e Psicologia no Brasil
Certamente que se pode dizer que a Psicologia é um corpo de conhecimentos,
assim como um conjunto de técnicas. Estas são, pelo menos em parte, articuladas a
parcelas daqueles conhecimentos, ou seja, aos sistemas psicológicos.
De acordo com Rosas (1995, p.62-63),
em 1919, todos os chamados sistemas psicológicos contemporâneos (o estruturalismo,
o funcionalismo, o behaviorismo, o gestaltismo e, impropriamente, a psicanálise)
tinham elaborado as linhas de força de suas hipóteses(...) Quanto à Psicologia
Aplicada, implícita no funcionalismo, encontrava em desafios concretos propostos pela
educação, pelo trabalho e pela psiquiatria, a estimulação necessária para a criação de
técnicas que facilitassem o diagnóstico e a intervenção do psicólogo.
Os sistemas são fruto do movimento desencadeado por pesquisadores como
Wundt, Ribot que, no final século XIX, valendo-se do “campo epistemológico que lhe era
fornecido pelas ciências experimentais de ordem psicoquímica ou biológica” (Japiassu,
1977, p.42), buscavam a criação de uma Psicologia “científica”, experimental, racional e
objetiva, que se contrapusesse à especulação filosófica de cunho psicológico, até então
observada. Quanto à “Psicologia Aplicada”, foi no sentido da especialização do
profissional liberal, ancorado na psicometria, que ela caminhou.
Tomando como referência o que afirma Patto (1984), a nova disciplina, que
surgia nas emergentes sociedades capitalistas européias da segunda metade do século
XIX, buscava suprir as necessidades apresentadas pelo industrialismo de então, de
selecionar, orientar, adaptar e racionalizar os indivíduos e seu trabalho.
Para Massimi (1990, p.43), é na medida em que transparece “a funcionalidade do
saber sobre a subjetividade humana, no âmbito do projeto social de formação de cidadãos
e indivíduos bem-adaptados ao meio e atuantes como partes produtivas do organismo
civil”, necessários ao desenvolvimento da ordem capitalista já consolidada em vários
países, que transparece o sentido da construção da Psicologia durante o século XIX. A
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20
Psicologia, “enquanto disciplina científica e recurso técnico-pragmático”, surge para
atender necessidades culturais e sociais no seio das sociedades modernas.
É por meio do trabalho dos médicos, inicialmente, e dos educadores, em seguida,
ainda no século XIX, que a Psicologia dita “científica” aporta no Brasil. Aquele era um
momento caracterizado por uma progressiva complexificação da sociedade brasileira,
época da Proclamação da República, o que facilitava o desenvolvimento de novas idéias.
Era possível identificar no país uma pequena burguesia composta por intelectuais, padres
e militares; uma burguesia industrial procurando espaço e os imigrantes (Romanelli,
1984).
A parceria com a Medicina traz como conseqüência o empréstimo do modelo
médico de atendimento, de base fenomenológica, aplicado individualmente e em
consultórios, bem como a importação das teorias e técnicas produzidas na Europa e
Estados Unidos.
Essa tendência de importação de certos modelos culturais e profissionais
instalou-se entre nós desde a época colonial. Ali, quando a formação intelectual dos
jovens se dava na Europa, principalmente na França, até o conhecimento fruto de
experiências em terras brasileiras era publicado no exterior, e não no país. O continente
europeu era referência para tudo que se fazia ou dizia na colônia.
As faculdades de Medicina eram consideradas como lugar privilegiado para o
exercício da Psicologia, visto que a Psiquiatria tinha muitas perguntas por responder e
necessitava de apoio. Destacaram-se as faculdades do Rio de Janeiro e da Bahia: o grupo
carioca trabalhava com Neuropsiquiatria, Psicofisiologia e Neurologia puras; o baiano
com Criminologia, Psiquiatria Forense, Higiene Mental e aplicação social da Psicologia.
As orientações teóricas com intenção de cientificidade, importadas inicialmente
pelos psicologistas brasileiros, foram a psicofisiológica e experimental e a da Psicologia
clínica e Psiquiatria. A primeira, junto com a análise experimental do comportamento,
era representada por Estelita Tapajós, Veríssimo de Castro e Henrique Roxo, além de
outros. A segunda, era representada por Plínio Olinto, Juliano Moreira e outros.
Esse movimento de importação cultural e intelectual, repetido pelos médicos que
lidavam com a Psicologia, deve ser entendido de acordo com o que escreve Miceli (1979,
21
21
p.xix) sobre os intelectuais brasileiros do período de 1920 a 1945, dentre os quais
incluímos, certamente, os psicologistas, que expressavam as “preferências e opções das
antigas classes dirigentes (brasileiras) em matéria de importação cultural”.
Certamente não se pode esquecer as influências exercidas por acontecimentos
que tiveram repercussão mundial, e que marcaram o início deste século, como a I Guerra
Mundial, a Revolução Bolchevique ou o crack da bolsa de Nova York, em 1929.
Contudo, apesar dessa marcada opção internacionalista no início do século, a
formação superior que se iniciava já na década de 30, nela incluídas disciplinas de
Psicologia, era lastreada pela “ênfase dada à nossa realidade”, reflexo da ideologia
nacionalista predominante, muito saudada por intelectuais e artistas da época. É suposto,
então, que aqueles ainda psicólogos de ofício fossem igualmente influenciados pela
agitação social, cultural e política vivida no Brasil, ao longo das décadas de 20, 30 e 40,
que contou, por exemplo, com o advento da Segunda República, o Estado Novo, a
Semana de Arte Moderna, o Tenentismo, a criação do Partido Comunista.
Considera-se pouco provável que qualquer profissional daquele período,
enquanto intelectual, ficasse imune aos acontecimentos que, no dizer de Miceli (1979,
p.xvi),
assinalam transformações decisivas nos planos econômico (crise do setor agrícola
voltado para a exportação, aceleração dos processos de industrialização e urbanização,
crescente intervenção do Estado em setores chaves da economia etc.), social
(consolidação da classe operária e da fração de empresários industriais, expansão das
profissões de nível superior, de técnicos especializados e de pessoal administrativo nos
setores público e privado etc.), político (revoltas militares, declínio político da
oligarquia agrária, abertura de novas organizações partidárias, expansão dos aparelhos
do Estado etc.) e cultural (criação de novos cursos superiores, expansão da rede de
instituições culturais públicas, surto editorial etc.).
Na efervescência intelectual do período, em São Paulo, o catálogo da Editora
Revista do Brasil - ligada ao grupo O Estado de São Paulo, e considerada a “mais
importante da Primeira República”, expressando as idéias dos principais intelectuais da
época, ligados de alguma forma à oligarquia cafeeira e perrepista - registrava nomes de
educadores e sociólogos, bem como a indicação de “obras diversas em Direito, Psiquismo
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e ocultismo” (Miceli, 1979, p.5). De acordo com Rosas (1995, p.70), “...laboratórios à
Wundt floresceram no Rio de Janeiro e, sobretudo, em São Paulo, a partir do final do
século XIX e ampliaram-se nos primeiros decênios do século XX”.
Pesssotti (1975; 1988) concebe uma divisão do desenvolvimento histórico da
Psicologia brasileira em quatro etapas ou períodos: pré-institucional, institucional,
universitário e profissional. Esta periodização, muito embora careça de relações mais
amplas entre a história da Psicologia, propriamente dita, e as condições sócio-culturais nas
quais se deu, tem os méritos de um trabalho pioneiro, que permite uma visão panorâmica
daquele desenvolvimento.
De acordo com o citado autor, a primeira etapa abrange o momento
imediatamente posterior ao descobrimento do Brasil, com os escritos dos missionários, até
a criação das faculdades de Medicina, em meados do século XIX; a segunda, estende-se
daí até a criação da Universidade de São Paulo (USP), primeira universidade brasileira,
em 1934; a seguinte vai do início dos anos trinta até 1962, ano da regulamentação da
profissão; a última, profissional, começa justamente com a regulamentação da profissão
de psicólogo, em 27 de agosto de 1962.
A produção da etapa pré-institucional era mais filosófico/especulativa7, efetuada
por clérigos ou profissionais sem vinculação institucional. Aparentemente dissociada da
Psicologia “científica” que viria a seguir, a produção desta etapa, ao contrário, muito
influenciou os caminhos daquela, através da docência exercida por vários dos seus mestres
filósofos, dentre eles muitos padres, nas faculdades de Pedagogia, Serviço Social,
Filosofia e nas escolas normais, de onde saíram muitos futuros psicólogos.
7. O termo ‘filosófico’, neste contexto, é empregado em contraste com científico, como duas formas
distintas, embora relacionadas, de produção de saber. É do âmbito da Filosofia da Ciência e da
Epistemologia a polêmica à respeito do status científico da Psicologia, situando-se em plano
secundário neste trabalho. Interessa aqui, apenas, o que é tacitamente aceito pela literatura
psicológica que, grosso modo, divide a história da Psicologia em dois momentos: um que remonta à
Grécia antiga, e se estende até meados do século XIX, caracterizado por uma Psicologia do
espírito, no sentido imaterial do termo, discussão de idéias. E um outro que, refletindo o
surgimento do capitalismo e do liberalismo - do individualismo, portanto -, no século XIX, requer o
tratamento objetivo da realidade, medindo, pesando, quantificando; e conseqüentemente, o
estabelecimento de uma ciência racional e positiva do indivíduo.
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Na etapa institucional, dá-se o exercício da Psicologia pelos médicos e,
posteriormente, pelos pedagogos em instituições isoladas, consolidando muito mais a
perspectiva clínica e psiquiátrica, embora com a forte presença da psicometria.
Um breve olhar sobre a produção do início desta etapa remete-nos ao final do
século XIX e início do século XX, quando alguns acontecimentos, pessoas e lugares
foram fundamentais para construir a face da “Psicologia científica”, que se instalava no
país. Em 1836, no Rio De Janeiro, foi publicado Paixões e Afetos da Alma, de Manuel
Inácio de Figueiredo Jaime; em 1900, Henrique Roxo escrevia: Duração dos Atos
Psíquicos Elementares, sob influência da análise experimental do comportamento,
iniciada por Pavlov, no mesmo período. Roxo também orientou os primeiros estudos
práticos com testes no Brasil, realizados por Fernandes Figueira, em 1918, com as provas
de Binet-Simon, no Hospício Nacional.
É durante esta etapa, também, que começa o ensino de Psicologia, fruto da
Reforma Benjamin Constant, de 1890, que introduziu noções de Psicologia à disciplina
Pedagogia, no currículo das escolas normais.
Embora a Reforma seja considerada o marco inicial do ensino de Psicologia, é
importante registrar que o ensino superior começa, no Brasil, desde o período da colônia,
passando por muitos percalços até o efetivo surgimento da primeira universidade.
Como afirma Antunes (1991, p.50), de início
o ensino superior herdado da colônia sofreu grandes modificações a partir de 1808
quando, com a transferência da Corte para o Brasil, novas necessidades surgiram,
fazendo-se necessária uma estrutura para a formação de quadros para os aparatos
repressivo e administrativo da sociedade brasileira. Neste sentido, são adotadas
medidas para a efetiva instalação do ensino superior no país...
Somente em 1920 é criada uma primeira universidade brasileira, por
determinação do Governo Federal, a do Rio de Janeiro. Contudo, de acordo com
Romanelli (1984, p.132), “não passou, porém, essa primeira criação, da agregação de três
escolas superiores existentes no Rio: a Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina e a
Escola politécnica”.
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Inclusive, todo o desenvolvimento seguinte das universidades, no Brasil, está
comprometido com a manutenção da característica apontada por Romanelli (1984), em
relação à Universidade do Rio de Janeiro de, como diz Fernandes (1975, p.74), serem
mais “uma conglomeração de escolas superiores”.
Na década seguinte da mesma etapa institucional, no interior de um outro agitado
processo social, tem efeito a reorganização do sistema de ensino superior. Romanelli
(1984, p.127) defende a tese de que, “desde 1930, cresceu a defasagem existente entre
educação e desenvolvimento no Brasil (...) [devido] às contradições políticas causadas
pela luta entre as várias facções das camadas dominantes na estrutura do poder”.
Um aspecto dessa luta registra antes, em 1924, no Rio de Janeiro, a criação da
Associação Brasileira de Educação (ABE). Ela concretizava, de acordo com Romanelli
(1984, p.129), as idéias de um grupo de educadores que pretendia “sensibilizar o poder
público e a classe dos educadores para os problemas mais cruciantes da educação nacional
e a necessidade urgente de se tomarem medidas concretas para equacionar e resolver esses
problemas”.
Eram os representantes das idéias liberais, inspirados em Dewey, que vinham
defender a propagação da democracia liberal, crentes de que a extensão da escolaridade
para todos significava a mesma igualdade de oportunidades e justiça social (Patto, 1981).
Valiam-se de experiências vividas na Europa e Estados Unidos, conhecidas como
“Movimento de Escolas Novas”, divulgadas no Brasil a partir dos trabalhos de Carneiro
Leão. As batalhas ideológicas entre esses renovadores e os conservadores, identificados
com os grupos católicos, teve como ápice a publicação do “Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nacional”, em 1932, que pregava o atrelamento do desenvolvimento econômico
ao educacional, estendendo-se ao processo de confecção do projeto de lei das Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, então em desenvolvimento.
O Governo Provisório de Getúlio Vargas, que assumira em 1930, na perspectiva
de se viabilizar administrativamente e, sob a influência das idéias que consideravam os
técnicos e especialistas “indispensáveis para o progresso do país”, criou o Ministério da
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Educação, chefiado por Francisco Campos. Este, tratou de reformar a educação,
possibilitando
uma estrutura orgânica ao ensino secundário, comercial e superior. Era a primeira vez
que uma reforma atingia profundamente a estrutura do ensino e, o que é importante, era
pela primeira vez imposta a todo o território nacional. Era, pois, o início de uma ação
mais objetiva do Estado em relação à educação (Romanelli, 1984, p.131).
Em conseqüência desse conjunto de fatores, tivemos a criação da primeira
Universidade com base nos Estatutos das Universidades, que foi a Universidade de São
Paulo (USP), em janeiro de 1934, marco do início do “período universitário”. Ela é fruto
do “núcleo de estudos humanísticos de alto nível que era a Escola Normal de São Paulo,
depois Instituto de Educação Caetano de Campos” (Pessotti, 1988, p.26), transformado na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. A Faculdade era considerada “a medula do
sistema”, e tinha por objetivo “a formação de professores para o magistério secundário e a
realização de altos estudos desinteressados e a pesquisa” (Romanelli, 1984, p.132-133).
A respeito do ensino superior de Psicologia, Mello (1975, p.33) afirma que
em São Paulo, até 1931, (quando pela primeira vez uma disciplina psicológica passa a
fazer parte do currículo de um curso universitário), era inexistente o ensino superior da
Psicologia, embora desde 1893 uma disciplina com esse nome já fizesse parte do
currículo da Escola Normal da Cidade de São Paulo, e do currículo da 6a série dos
ginásios.
Somente muitos anos mais tarde, em 1953, observa-se a criação do primeiro
curso de Psicologia, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ)
(Mancebo, 1997, p.20).
Este evento representou o abandono da tradicional formação psicológica nos
cursos de Medicina, Pedagogia, Filosofia, ou das escolas normais, a qual, de acordo com
Pessotti (1988, p.28), informava sobre “teorias, sistemas e algumas técnicas de pesquisa e
de diagnóstico, mas não [habilitava] aplicadores da Psicologia à clínica, à escola ou ao
trabalho”.
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A partir do primeiro curso criado favoreceu-se, então, por um lado, a
obrigatoriedade de ensino da Psicologia, em vários cursos superiores, livrando-se ela de
ser considerada “disciplina opcional, acessória da psiquiatria ou da neurologia” e, por
outro lado, a sua autonomização enquanto disciplina, em relação à utilização médica e
aplicação escolar (Pessotti, 1988).
Naquele momento, de acordo com Pessotti (1988, p.27), vários foram os aspectos
a exercer marcante influência sobre o ensino de Psicologia:
a vinda de professores estrangeiros...; a formação de bibliotecas mais ricas; criação de
uma carreira em Psicologia...; o surgimento da influência da psicologia norte-
americana ao lado do influxo de orígem francesa ou européia (Massi, 1989); a
associação de uma psicologia geral e experimental à formação filosófica ou sociológica
e a vinculação de uma psicologia educacional à formação em Pedagogia.
A formação tradicional, desenvolvida em hospitais psiquiátricos, institutos de
pesquisas, escolas isoladas, num certo sentido, carrega para dentro da Universidade seus
princípios organizativos, suas particularidades estruturais, seus problemas.
Segundo Pessotti (1988), o período universitário já trazia consigo a característica
desenvolvida a partir do período anterior, institucional, iniciado em meados do século
XIX, no interior das Faculdades de Medicina. Tratava-se do desenvolvimento de uma
Psicologia voltada menos para a pesquisa básica, produção de conhecimentos,
experimentação, como na Europa e Estados Unidos, e mais para as técnicas, a aplicação
das teorias desenvolvidas naqueles países. Esse movimento teve efeito por intermédio,
fundamentalmente, da prática clínica individual e da psicometria.
Na época da regulamentação da profissão em 1962, existiam, apenas, uns poucos
cursos em funcionamento que prosseguiam a tradição de pesquisa, entre os quais o da
USP e o da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). O primeiro,
seguindo a tradição das cadeiras de Psicologia Educacional e Psicologia, da antiga
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; o outro, mantendo a tradição do Instituto de
Psicologia (Pfromm Netto,1981).
Anita Cabral (apud Mello, 1975, p.37), diz que
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O ensino da Psicologia nas escolas normais, nas Seções de Pedagogia das Faculdades
de Filosofia, em instituições especializadas como as Sociedades Pestalozzi, o Instituto
de Seleção e Orientação Profissional e a própria Escola de Sociologia e Política de São
Paulo, é sempre primariamente orientado para fins práticos, não de pesquisa.
Como assinala Rosas (1995, p.71), “não foi a psicologia teórica, mas a aplicada,
nas suas modalidades médica e pedagógica (...) que se desenvolveu no Brasil, a partir dos
anos 20”. A esse respeito, também, Hutz e Adair (1996, p.145) afirmam que
em contraste com a Europa e Estados Unidos, a psicologia não começou como uma
ciência experimental, no Brasil. Ao contrário, nasceu como um campo de aplicação na
medicina e posteriormente na educação, ou como tema da discussão filosófica. Ainda
que algumas experiências fossem desenvolvidas no Rio de Janeiro e São Paulo, a
psicologia não se estabeleceu como um empreendimento científico no Brasil, até muito
recentemente8.
A realidade social e política brasileira dos anos 50 e início dos 60, quando
começam a ser criados os cursos de Psicologia, foi marcada por um peculiar momento em
que se observava o declínio do modelo getulista de desenvolvimento, gestado,
principalmente, a partir de 1945.
De acordo com Ianni (1978, p.53),
a política de massas foi a vida e morte do modelo getuliano de desenvolvimento
econômico. Durante uma das etapas mais importantes das lutas pela industrialização no
Brasil (1914-64) criaram-se as condições institucionais, políticas e culturais [grifos
nossos] mínimas para a consolidação de uma civilização propriamente urbano-
industrial. Nesses anos - em especial depois de 1945 - as massas começaram a
participar em algumas decisões políticas e na formulação dos alvos do progresso
nacional.
Uma indicação da ebulição política e social que o país vivia, nessa época, é dada
por Moraes (1989, p.24), para quem a passagem das décadas de 50 e 60 é marcada por
“euforia desenvolvimentista, acelerada politização da sociedade, amplos debates sobre a
eficácia revolucionária da arte, explosão de reivindicações de trabalhadores urbanos e
8. Tradução nossa.
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rurais...”. Uma das reivindicações que eram feitas, capitaneada pelos estudantes da classe
média, clamava por mais vagas na universidade.
Na medida em que crescia o grau de contradição entre a situação social e política
internas, gestadas na década de 50, e os objetivos do capital imperialista para a América
Latina, este se articulou com setores do capital nativo para criar as condições políticas e
ideológicas de justificativa e manutenção do golpe de estado de março de 1964.
Os governos militares, com administração de perfil tecnocrático, foram
responsáveis pela supressão das liberdades individuais, pela reforma do ensino, pela
mudança da face do país: da “democracia” ao autoritarismo, do desenvolvimento
nacionalizado e independente à submissão aos interesses do capital imperialista
americano.
Portanto, foi a partir do estado de tensão interno que, levado ao paroxismo, gerou
o golpe militar, que a Psicologia brasileira teve de conviver, no seu desafio de
desenvolver-se enquanto formação acadêmica autônoma e prática profissional,
regulamentada. Sem esquecer as influências de um mundo em ebulição.
1.2. A formação acadêmica e o exercício profissional do psicólogo
O período profissional, caracterizado pelo exercício legal e formação específicas
em Psicologia é o último, na classificação de Pessotti (1975; 1988), tendo início em 27 de
agosto de 1962, após a promulgação da Lei n. 4.119.
Embora surgida no contexto das profundas reformas de base que a sociedade
cobrava e o governo populista acenava para o país, a profissão logo se viu envolvida na
crise social instalada a partir de 1964, de modo que os efeitos dela em muito contribuiram
para conformar as características da formação e exercício, observadas até grande parte dos
anos 80.
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29
Refletindo sobre aquelas influências, Coimbra (1995, p.34) diz que, no Brasil dos
anos 70,
Acredita-se que a aproximação, a descoberta de si mesmo, a liberação das repressões, a
busca da autenticidade e do calor humano são fatores essenciais para o bom andamento
de uma sociedade. As categorias políticas são transformadas em categorias
psicológicas; o importante não é o que se faz, mas o que se sente. Ou seja, há um
esvaziamento político, há uma psicologização do cotidiano e da vida social.
Por outro lado, conquanto o “individualismo autoritário” gestado a partir de 1964
tenha levado à exarcebação “os fatos da vida pessoal e os motivos íntimos” (Mancebo,
1997, p.26-27), aqueles anos 70 também foram palco de reações das organizações de
esquerda, dos estudantes, da igreja, dos trabalhadores, da sociedade civil organizada,
caracterizando a força das ações coletivas de contestação ao status quo político e social
vigente no país.
Muito provavelmente também porque o modelo econômico vigente na época,
chamado de “milagre”, dava sinais visíveis de deterioração, os anos 70 e 80 são marcados
pelos conflitos entre facções militares, enfraquecimento da aliança entre os militares e
setores da burguesia e o crescimento da oposição ao Regime no interior da sociedade civil,
desembocando no movimento das “Diretas Já”, em 1984.
A mobilização pela eleição direta foi um amplo movimento popular supra-
partidário. Sua inviabilização, por segmentos da coalizão ampla, abre a perspectiva da
“transição pactuada pelo alto”. Tanto que o apoio à candidatura Tancredo Neves, no
colégio eleitoral, extrapolou “setores da burguesia”, compondo um arco amplo,
ocasionalmente no mesmo campo ideológico.
As dissenções e reorganizações observadas no período davam conta de uma séria
crise política no Regime. Os movimentos de oposição, na sociedade civil, exigiam a volta
do Estado de Direito; pediam o fim da tortura, repressão, dos crimes praticados contra os
direitos humanos; denunciavam a corrupção; criticavam a política econômica: os
trabalhadores se posicionavam contra o arrocho salarial, e uma parte da burguesia contra a
estatização; as políticas sociais (habitação, transporte, saúde, educação etc) eram
30
30
questionadas não somente pelo setor popular, mas também por vários segmentos da classe
média.
Observava-se o crescimento dos movimentos no campo da saúde - médicos,
dentistas, enfermeiros etc - e a população que reclamava do atendimento; na área
habitacional; nas áreas rurais; na Igreja. No final dos anos 70, assistiu-se à reconstrução da
União Nacional dos Estudantes (UNE), bem como ao crescimento do movimento docente
universitário, organizado nas associações de docentes (AD’s). A partir de 1978,
começaram as grandes greves metalúrgicas no ABC paulista (Yamamoto, 1996a) .
O movimento de organização dos estudantes de Psicologia, também observado
em todo país a partir dos anos 70, desembocou na estruturação da comissão organizada de
estudantes de Psicologia (COEP), e nas comissões paritárias de estudantes e professores.
Além de expressar o processo mais geral de organização da sociedade civil no
Brasil, esta mobilização era fruto, mais especificamente, da reação à tentativa do governo
de implantar o projeto DAU-MEC (Departamento de Assuntos Universitários do
Ministério da Educação e Cultura), de 1978, defendido pelo então Deputado Federal por
São Paulo, Salvador Julianelli. O projeto tratava da regulamentação da profissão do
psicólogo de forma danosa para estes, na medida em que atribuía aos médicos o poder de
definir as condições de funcionamento das instituições e o uso das técnicas de intervenção
psicológica.
Assim, a formação e o exercício desenvolvidos naquele período encontravam-se
sob espaços muito bem demarcados de apoio e de oposição, notadamente a partir dos
acontecimentos de março de 1964, se bem que muitos apoios se expressassem na forma de
alheamento.
Não é sem razão, a partir de então, a crítica aos modelos já cristalizados do
exercício profissional, observada desde o final dos anos 60 (Mello, 1975), nem tampouco
a busca de uma “Psicologia alternativa” (Yamamoto, 1987).
1.2.1. A formação acadêmica em Psicologia.
De acordo com Rosas, Rosas, Xavier (1988, p.41), em 1987 o número de
psicólogos atuando no Brasil, com base em levantamento do Conselho Federal de
31
31
Psicologia, era de 54.458 profissionais, dos quais menos de 7%, ou seja, 3.773, sob a
jurisdição do CRP-02, na região nordeste do país. O Conselho abrangia, então, os estados
de Pernambuco, com cinco cursos; Paraíba, três; Ceará, um; Alagoas, um e Rio Grande do
Norte, também com um curso; destes, seis eram oficiais.
Mesmo partindo da realidade de que aproximadamente a metade dos
profissionais não tem (ainda hoje) registro em Conselho, de acordo com o citado estudo,
dos profissionais no âmbito do CRP-02 menos de 5% (183 psicólogos) atuavam no Rio
Grande do Norte. Em 1989, esse número se eleva para 234 profissionais, “representando
um crescimento de cerca de 30% em dois anos” (Yamamoto, 1988, p.4); desse total, 37
residiam e atuavam fora de Natal, a capital do estado. Em agosto de 1995, seis anos
depois, o total cresce, ainda de acordo com o CRP-02, para 448 profissionais.
No ano de 1994, existiam 111 cursos de Psicologia no Brasil, com uma oferta de
13.944 vagas. A maioria delas era oferecida no interior de universidades privadas, em que
a maior parte dos professores tinha apenas graduação ou especialização, regidos pelo
regime horista (Brasil, 1996).
A formação acadêmica que tem habilitado os profissionais do país, desde meados
dos anos 50, é organizada em segmentos ou áreas. Em face do caráter do ensino
ministrado, genérico e pouco profundo, a debilidade no nível da graduação tem levado os
profissionais a buscar uma complementação da formação após a obtenção do grau de
psicólogo.
No Rio Grande do Norte, a formação de nível superior em Psicologia é oferecida
por uma única instituição, a UFRN, de modo que a conformação do exercício profissional
dos psicólogos no estado, em geral, é de responsabilidade exclusiva dela (77,4%).
Expressando a deficiência crônica da formação, nacionalmente constatada, estudo
de Yamamoto, Spinelli, Carvalho (1996, p.285) afirma que “o curso da UFRN é
conduzido por um corpo docente numericamente insuficiente para dar conta da
diversidade de campos e tendências da psicologia”; naquele ano, o Departamento de
Psicologia contava com 31 professores no quadro permanente.
O curso da UFRN foi criado em 1976, no bojo do processo de expansão do
ensino superior brasileiro observado a partir do final dos anos sessenta, quando
32
32
proliferaram os cursos de Psicologia pelo país9. Começou suas atividades no ano seguinte,
1977, formando a primeira turma em 1982. Embora hoje a oferta seja de 60 vagas por
vestibular anual, em 1988 era de 35 vagas. Até o primeiro semestre de 1989 haviam sido
formados 219 profissionais, sendo que no segundo semestre de 1994 o número de
estudantes cadastrados no curso era de 338 (Yamamoto, Siqueira, Oliveira, 1997).
De acordo com a formação na UFRN, no último ano do curso, exige-se a opção
por apenas uma das áreas tradicionais de estágio curricular obrigatório (clínica, escolar,
organizacional) ou, a nova opção, por Hospitalar. A maioria esmagadora dos profissionais
que optou pela área clínica, quando se vê na contingência de ter que assumir outra área
durante o exercício profissional, via de regra transporta os ensinamentos da clínica para
aquela nova área, expressando um enviesamento do estágio.
Analisando as razões para a escolha da área de estágio, em muito devido às
identificações desenvolvidas pelos estudantes, ao longo do curso, com as orientações
teóricas dos professores e considerando o baixo índice de interesse pela educação
expresso naquelas escolhas, estudo de Yamamoto, Spinelli, Carvalho (1996, p.275)
conclui “que a orientação imprimida pelos docentes envolvidos na área escolar na
universidade não parece ser satisfatória”.
Da mesma forma, constituindo um viés da formação, enquanto aproximadamente
a metade dos pesquisados afirma que a abordagem Existencial-Humanista foi prioridade
durante o curso, “é a Psicanálise a abordagem preferida entre os psicólogos em sua prática
profissional” (Yamamoto, Carvalho, Maia, 1997, p.5).
De acordo com o documento do MEC (Brasil, 1996), que dá um panorama da
Psicologia no país, algo em torno de 84% dos concluintes dos cursos são do sexo
feminino. Em 1996 havia 94.311 psicólogos inscritos nos diversos Conselhos Regionais
de Psicologia, os quais representam apenas 50% de todos os psicólogos formados no
Brasil.
9. Para ilustrar esta afirmação temos uma síntese do quadro de psicólogos registrados no MEC,
apresentada por Rosas, Rosas, Xavier (1988): 1962, 15 psicólogos; 1965, 161; 1968, 1.133; 1970,
3.056; 1982, 33.522.
33
33
Também no RN, a exemplo do quadro acima, observa-se o predomínio do sexo
feminino (88,4%); da juventude dos profissionais (75,3% com até 40 anos) e da sua
concentração na capital do estado (92,6%). A grande maioria dos que trabalha com
Psicologia exerce mais de uma atividade, sendo que a renda de aproximadamente a
metade deles é de 3 a 6 salários mínimos.
Resumindo, então, com base no citado documento do Ministério da Educação
(Brasil,1996, p.2-3), a formação assume a seguinte configuração:
justaposição de diferentes concepções e métodos, sem a desejável integração dos
conhecimentos que poderia instrumentalizar a atuação profissional ou o
desenvolvimento de estudos e pesquisas;(...)[a expectativa é que] o psicólogo a ser
formado deveria ser um profissional cuja atuação ocorreria principalmente na clínica, a
partir de uma formação centrada no conhecimento das disciplinas científicas que
possibilitam o conhecimento da personalidade e da psicopatologia.
A pós-graduação é caracterizada mais como extensão da graduação, e menos como
formação do pesquisador.
Considerando os trabalhos de Yamamoto e colaboradores, citados acima, não
parece haver dúvida de que características peculiares locais conformam uma formação
acadêmica, perfeitamente integrada no quadro nacional.
1.2.2. O exercício profissional do psicólogo.
No contexto das mudanças observadas no país a partir de meados da década de
60, teve início a prática regulamentada da profissão de psicólogo, pela Lei no 4.119, de 27
de agosto de 1962. A regulamentação torna patente a opção pelo modelo de profissional
generalista, legalmente apto para atuar em qualquer das áreas da Psicologia: ensino,
clínica, escolar e/ou trabalho etc.
A pesquisa realizada por Mello (1975) em 1969, que resultou no seu pioneiro
estudo sobre a situação da formação e do exercício profissional dos psicólogos no estado
de São Paulo, quando o número de psicólogos era de apenas 198 profissionais, evidencia
a procura pelas áreas tradicionais do ensino, clínica, escolar e industrial. Além da
formação inadequada, resumida acima, o exercício profissional desenvolvido em áreas
34
34
específicas caracterizava, também, a opção pelo veio liberal, despreocupado com a
produção de conhecimentos e ampliação do acesso aos serviços do psicólogo.
Ressalte-se, com base naquela pesquisa, que a prática da grande maioria dos
psicólogos (60%) estava voltada, prioritariamente, para a área clínica, com 76% deles
trabalhando em consultório particular. Estes dados revelavam o conservadorismo no
exercício profissional de Psicologia em plena década de 70 do século XX, herdeiro de um
modelo gestado no século XIX, amplamente identificado com o modelo médico de
atendimento.
Tendo como referência uma maior inserção social do psicólogo, Mello criticava
aquela opção e, otimisticamente, defendia que a Psicologia brasileira tinha condições e
necessitava ser mais do que uma “atividade de luxo”. Num trabalho em que também se
posicionava sobre a opção profissional dos psicólogos brasileiros, Botomé (1979) avaliava
que, em face das estatísticas sobre a renda média da população, comparada com o que era
cobrado pelos psicólogos nos atendimentos individuais de consultório, apenas 15% da
população teria acesso aos serviços oferecidos; daí, questionava se os 85% restantes
prescindiam desses serviços.
Somente um pouco depois, na esteira do estudo de Mello, Yamamoto (1988)
publica os resultados de levantamento semelhante desenvolvido no Rio Grande do Norte,
cujos dados confirmavam aqueles do primeiro estudo: 59,1%, a grande maioria, atuava na
área clínica; 13,4% eram da área organizacional; 10,1% faziam ensino e pesquisa e 8,1%
eram da área escolar.
Os incômodos decorrentes de tantos questionamentos, internos à Psicologia, bem
como os confrontos com o regime militar contribuíram para que crescesse e se afirmasse,
desde os anos 70 e, notadamente durante os 80, a consciência de que era necessário
construir uma “Psicologia alternativa”, tanto em termos teóricos quanto práticos. Assim,
usando a perspectiva da “Psicologia comunitária”, muitas experiências foram vividas em
bairros da periferia das grandes cidades, em pequenos aglomerados rurais, em fazendas
coletivas. A sustentação teórica vinha de muitas orientações como, nos trabalhos de Sylvia
Lane e Wanderley Codo, da PUC/SP, o referencial marxista10
.
10
. Lane (1981); Lane, Andery, Spink (1981); Lane & Codo (1984).
35
35
O exercício profissional em comunidades não era novidade, em termos de
proposta, visto que no período pós segunda Grande Guerra e durante a década de 50, a
Organização das Nações Unidas (ONU) já manifestava interesse pelos trabalhos dessa
ordem, como parte de sua estratégia para a América Latina11
. Certamente, a inovação
estava na Psicologia encampar tal perspectiva de ação, considerando sua tradição
acadêmica de orientação clínica e de atendimento individual, muito embora essa nova
perspectiva, como indicado de maneira geral por Ammann (1980), não significasse por si
só a certeza de transformação na prática profissional dos psicólogos12
.
Assim é que, uma década depois do estudo de Mello, um outro, organizado pelo
Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo e pelo Conselho Regional de Psicologia,
6a Região (SPESP/CRP-6, 1984), confirma os dados conhecidos, indicando que 79% dos
psicólogos registrados no estado de São Paulo optaram pela área clínica. Yamamoto,
Siqueira, Oliveira (1997, p.42), no Rio Grande do Norte, também confirmam a tendência:
Psicologia da Saúde 67,5%; Psicologia do Trabalho 14,4%; Educacional 10,1% e outras.
Logo, mesmo em face das alternativas surgidas, ainda nos anos 90 mantém-se a
prioridade pela perspectiva adaptadora do indivíduo, quer seja à família, ao cônjuge, ao
emprego, à sociedade etc, herdada desde a orígem européia, bem como a opção pela
atuação do psicólogo como profissional liberal.
Não obstante, estudos recentes, que dão conta da formação e da prática
profissional em Psicologia no Brasil (Mello, 1996a; Yamamoto, 1996b; Yamamoto,
11
. A respeito do sentido histórico assumido pelos trabalhos no campo do “desenvolvimento de
comunidade”, no Brasil, consultar Ammann (1980). Segundo ela, “institucionalizado pela ONU
[Organização das Nações Unidas] após a II Guerra Mundial o Desenvolvimento de Comunidade é
postulado num momento histórico em que as grandes potências - lideradas pelos Estados Unidos e
Rússia - deflagram a chamada “guerra fria” pela conquista do primado político, econômico e
ideológico de um mundo supostamente bipolarizado” (p.29). 12
. Na Psicologia, muitas das referências bibliográficas que serviram de lastro para vários trabalhos,
pretensamente renovadores da prática profissional, remetiam a Basaglia (e suas experiências de
Trieste; Moffatt (e a “Peña Carlos Gardel”); Laing; Cooper; Szasz, Reich, Roberto Freire. No Rio
Grande do Norte, nestes anos noventa, há um embate teórico-ideológico explícito, envolvendo os
profissionais das áreas pública e privada de saúde, que tem como pano de fundo a chamada
‘reforma psiquiátrica’, decorrente de concepção surgida no bojo do movimento de
redirecionamento da prática do profissional de saúde mental.
36
36
Siqueira, Oliveira, 1997), confirmam a tendência configurada desde o estudo do Conselho
Regional, 6a região (1995), de surgimento, tanto de novas áreas de formação quanto de
novos espaços de trabalho. Essa tendência se aprofundou entre as décadas de 80 e 90,
inclusive como conseqüência do relativo clima de liberdade de expressão, observado a
partir do final dos anos 70.
Nesses trabalhos mais recentes, os novos espaços parecem remeter os psicólogos
a um compromisso com os grupos sociais que tradicionalmente não tinham acesso aos
seus serviços, bem como é sugerida a transformação da área clínica em área de saúde,
em face do aumento do número de profissionais que, muito embora desenvolvendo
atividades clínicas, o fazem em outros espaços que não o consultório particular: 9,4%
atuando em hospitais; 4,8% em escolas; 4,2% em “outros” locais.
De acordo com Yamamoto, Siqueira, Oliveira (1997, p.57-58),
é interessante observar que um considerável contingente de atividades são realizadas
no setor público...Estes dados que, por um lado, podem refletir uma tendência de
absorção de contingentes ponderáveis de trabalhadores pelo setor público no estado,
podem, por outro, indicar uma possibilidade aberta aos profissionais de psicologia para
uma atuação mais substantiva no setor de prestação pública de serviços para setores da
população sem acesso direto ao atendimento privado.
Num outro estudo, Yamamoto, Carvalho, Maia (1997, p.3), salientam a inovação
quanto à conquista de novos espaços de trabalho para o psicólogo no Rio Grande do
Norte, como os campos Social, Forense e Hospitalar, bem como as mudanças que
implicaram uma redefinição da antiga área clínica: observa-se o “predomínio da área da
Saúde, se aí incluirmos as atividades clínicas exercidas tanto nos consultórios quanto nos
equipamentos públicos de saúde”.
Na mesma perspectiva, o já citado documento do MEC (Brasil, 1996, p.4-5)
sobre a Psicologia brasileira, quanto ao exercício da profissão afirma que, aos poucos, o
psicólogo abandona o modelo tradicional de um
profissional voltado para a mensuração/avaliação de aspectos psicológicos e com um
raio de intervenção restrito a diagnosticar e lidar com problemas de ajustamento, [para
se preocupar com] “as questões de saúde”. [Esse deslocamento tem levado à presença
de psicólogos em hospitais], “não apenas para pacientes internados por problemas
37
37
mentais”, [postos de saúde, creches], “superando uma atuação puramente remediativa,
envolvendo-se em ações de atenção primária e secundária.
Têm se configurado novas áreas de atuação, como a Psicologia
social/comunitária, jurídica, do trânsito, do esporte etc, implicando aumento e
diversificação da clientela, inovação de procedimentos e técnicas, integração em equipes
multiprofissionais. Essas mudanças parecem apontar para a construção de um novo
modelo de exercício profissional, permeável a segmentos populacionais antes excluídos e
o abandono da hegemonia do modelo de profissional liberal.
Essa inovação é merecedora de destaque, no mínimo, porque expressa uma
ampliação do âmbito do exercício profissional de Psicologia. Porém, há necessidade de
outras investigações sobre o conteúdo e as possibilidades dessa atuação, visto que tanto
têm sido constatadas práticas tradicionais em novos espaços (Yamamoto & Campos,
1997), já que tal mobilidade, necessariamente, não indica uma maior e mais crítica
consciência social, quanto as condições impostas pela atual hegemonia neoliberal
(Yamamoto, 1996c) põem em xeque os limites de uso dos espaços conquistados.
A exemplo do ensino e das áreas organizacional e clínica, também a área escolar
sofre a influência das intervenções de caráter psicométrico e clínico, configurando um
desenvolvimento que não pode ser entendido desvinculado do desenvolvimento da
Psicologia brasileira como um todo.
Para ilustrar essa influência, tomemos o exemplo do psiquiatra Ulisses
Pernambucano de Mello Sobrinho que, em 1925, em Recife, criou o Instituto de Seleção e
Orientação Profissional. “Pernambucano e seus auxiliares aplicavam provas de nível
mental e de aptidão, entre outros instrumentos psicológicos” (Soares, 1979).
O trabalho que apresentou, como condição para o ingresso na Escola Normal de
Recife, em 1918, era sobre ‘Classificação de Crianças Anormais’, em que indica a
importância da educação dos deficientes mentais. Ele, a partir de 1923, na oportunidade
em que ocupava o cargo de Diretor da Escola Normal daquele estado, sugeria também a
aplicação de testes de aptidão e a substituição dos critérios de idade cronológica pelos de
idade mental, no contexto de uma ampla e radical reforma pedagógica.
Assim, pioneira no uso da teoria psicológica para experiências práticas, inclusive
no campo da Educação, a Medicina vem imprimir na Psicologia brasileira uma
38
38
significativa influência dos modelos biológico e físico de ciência, empírico, experimental,
racional.
Em vários laboratórios, criados junto a instituições educacionais, predominava a
busca de patologias orgânicas para explicar desvios e/ou desajustes das crianças. Uma das
conseqüências daquela visão médica foi a criação, em 1938, no Instituto de Hygiene de
São Paulo, da Clínica de Orientação Infantil, junto ao Serviço de Inspeção Médico-
Escolar, coordenada pelo psiquiatra Durval Marcondes.
A perspectiva médica na Educação encontrou forte apoio nos testes psicológicos,
tanto contribuindo para a popularização, quanto para o aperfeiçoamento deles. A busca de
diagnóstico e tratamento dos escolares, que selecionava os “mais aptos” à escola, ao
progresso nos estudos e às profissões, era efetuada através da avaliação de prontidão e do
nível intelectual.
Naquele processo, fundamentalmente psicométrico e clínico, forjava-se um dos
modelos de atuação do psicólogo escolar que, a despeito das críticas e da apresentação de
modelo alternativo, encontra-se em plena atividade até então, final do século XX.
Por outro lado, a partir de 1975, a Seção de Psicologia do Departamento de
Assistência ao Escolar, tanto do estado quanto do município de São Paulo, estado pioneiro
na aplicação dos conhecimentos da Psicologia Escolar na esfera pública, fora
transformada em serviço de Psicologia Escolar, deixando as clínicas e inserindo-se nas
escolas, visando ao “aumento da produtividade do sistema de ensino” e, efetivamente,
atingindo mais amplamente a clientela de primeiro grau.
Posteriormente, a partir de 1985, depois de promulgada a Lei estadual n0. 7348,
de 24/07/85, a atuação do psicólogo escolar em São Paulo estende-se para creches e pré-
escolas, onde passa a atender, principalmente, a clientela das classes populares. De acordo
com Yazzle (1990, p.45) essa prática é, ainda, marcada pelo
atendimento clínico a casos individuais, envolvendo psicodiagnósticos e organização
de classes de Educação Especial para deficientes mentais, bem como o
encaminhamento de casos com ‘distúrbios de comportamento’ e seu acompanhamento
na escola... [e ainda] palestras a pais e professores sobre aspectos comportamentais...
Não obstante, é de fato na década de oitenta que os psicólogos escolares, em todo
o Brasil, começam a pensar num novo modelo de atuação. Sem dúvida, esta nova
39
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perspectiva tinha muito a dever ao surgimento dos cursos de Psicologia, em todo país, e
principalmente à Lei 4.119/62, de regulamentação da profissão, na medida em que
estabeleceu áreas de atuação para os psicólogos, ou seja, ensino, clínica, trabalho e
escolar, mas não só.
Certamente, um novo modelo de atuação no âmbito da Psicologia escolar, a
exemplo da clínica, também dizia respeito à busca por “alternativas” de atendimento e por
uma maior inserção social do psicólogo, desencadeada a partir da reflexão crítica sobre o
conjunto da realidade social, política e cultural do país.
Contudo, na linha dos trabalhos de Yamamoto & Campos (1997) e Yamamoto
(1996c), tomando como referência a perspectiva neoliberal de enxugamento do Estado e a
progressiva diminuição dos postos de trabalho das diversas instituições, cabe-nos refletir
sobre se a direção, acima indicada, deixaria ao psicólogo outra alternativa senão
resguardar-se nas práticas de profissional liberal, prestador de serviço. Nesse caso, quem
seriam os novos clientes deste profissional? Como garantir alternativas à perspectiva
elitizante da Psicologia?
Por outro lado, se as mudanças observadas na prática profissional afiguram-se
promissoras, resta pensar sobre a formação dos profissionais para atuarem nessas novas
modalidades de ação. Os estudos citados insistem na tecla da deficiência do ensino de
Psicologia para os futuros profissionais, fenômeno que se articula com a degradação do
ensino de terceiro grau no Brasil, na esteira da ampliação do sistema nos anos pós-
reforma.
Como referido, é exatamente nesses anos, marcados em parte pela multiplicação
pouco criteriosa do ensino superior, sobretudo pela via do sistema privado. E, em parte,
pelo controle ideológico que amordaça o debate acadêmico, que a Psicologia avança no
Brasil.
Ao invés de constituir caso isolado no país, o exercício profissional da Psicologia
no Rio Grande do Norte replica o quadro nacional na grande maioria das suas
características, em que pesem as peculiaridades da formação na UFRN. Quais são essas
peculiaridades? Como se conformaram historicamente?
40
40
2. O ENSINO DE PSICOLOGIA QUE ANTECEDE AO CURSO DA UFRN
2.1. A Psicologia como “Filosofia”
Desde os anos 30 que, no Rio Grande do Norte, aparecem os primeiros escritos
relacionados à Psicologia. Caracterizavam-se pela pena livre, sem preocupação científica,
mais expressão da curiosidade e do espírito perspicaz de dois irmãos, um depois do outro
clérigos a serviço da santa madre igreja. Alimentados intelectualmente pela filosofia
tomista e a grega clássica de Aristóteles, o Cônego Monte, primeiro, e Nivaldo Monte
(D.), depois, introduzem no Rio Grande do Norte a reflexão de base psicológica.
Com base nos dados disponíveis, tudo nos faz crer que as idéias que exprimiam
marcaram a formação de boa parte dos profissionais das áreas humanística e social, no
estado, até depois da década de 60.
Luiz Gonzaga do Monte, o Cônego Monte, morreu em 1944, aos 39 anos de
idade. Segundo seu irmão, “inclusive porque esquecia de comer, de tanto estudar”
(Monte,1997). Era considerado um homem que
Elevou-se, sem sair do ambiente do seminário onde sempre viveu, a nível cultural raras
vezes atingido. Contou, no início de sua carreira científica, com as luzes, o estímulo e a
compreensão de D. José Pereira Alves, cuja biblioteca lhe foi, sem reservas,
franqueada. Tornou-se autodidata (Navarro, 1976, p.261).
Nos anos trinta, o Cônego Monte escreveu um grande número de pequenos
artigos, versando sobre os mais variados temas. Artigos como o intitulado “Freud”,
publicado originalmente em “A Ordem”, jornal da Arquidiocese de Natal, de 18 de
outubro de 1936 (Navarro, 1976, p.69) [anexo 1] e “Falência do Materialismo em
Biologia”, publicado no mesmo jornal, em 21 de outubro de 1936 (Navarro, 1976, p.71)
[anexo 2], são exemplos das suas reflexões sobre a Psicologia.
É interessante perceber a atualidade do Cônego Monte com a sua época,
apresentando as idéias freudianas no momento mesmo em que aquele pensador vienense
estava no auge da sua produção, embora próximo da morte. A discussão que faz, original
na forma de mostrar a diferenciação conseguida por Freud em relação ao modelo
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41
wundtiano, é evidência das suas informações sobre Psicologia, bem como sobre Filosofia
da Ciência.
O Cônego também escreveu um livro, de sugestivo nome: Fundamentos
Biológicos da Castidade, a respeito do qual diz Henrique Tanner de Abreu, professor da
Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil:
A extensa e seleta bibliografia e as citações mostram a louvável preocupação de
senhorear o assunto apropriando-se das noções mais importantes e de interesse para a
matéria a desenvolver. Nela figuram tratados de anatomia, histologia, fisiologia,
endocrinologia, psiquiatria, psicopatologia sexual, etc... (Navarro, 1976, p.8).
Da mesma forma que seu irmão, embora já abrigado por algumas instituições de
formação (vide anexo 5), desde o início dos anos 40 Nivaldo Monte (D.) escreveu pelo
menos três livros que versavam “exclusivamente” sobre Psicologia: Formação do Caráter
(1942); no ano de 1966 esse livro estava na 6a edição [anexo 3]. Formando para a Vida
(1948); que em 1967 estava na 7a edição. Os Temperamentos (1953) [anexo 4].
Nivaldo Monte (D.) coordenou e ensinou a disciplina de Psicologia Afetiva nos
cursos de Preparação ao Casamento realizados em 1949, e durante os anos de 1951 a
1962, promovidos pelo Clube de Jovens para um Mundo Melhor (ex clube Maria de La
Luz) e Juventude Independente Católica Feminina [anexo 5]; lecionou Psicologia geral,
infantil e aplicada à educação (12 de abril de 1945 a 8 de maio de 1963), na Escola
Normal de Natal; Psicologia, na Escola de Serviço Social, (a partir de 2 de junho de 1945)
e Psicologia, na Escola Doméstica (1959 e 1960) (vide anexo 4).
Ele também foi responsável por uma série de “Conferências sôbre Psicologia”, na
Juventude Feminina Católica Brasileira, de Natal, cujos temas foram: Contribuição da
biotipologia para a formação humana (05 de setembro de 1948); A constituição e
Psicologia do temperamento colérico (07 de novembro de 1948); A Psicologia da
afetividade (20 de março de 1949); Psicologia da moda (15 de maio de 1949); Psicologia
da dança (11 de dezembro de 1949); A psicologia das mãos (15 de abril de 1951); e A
psicologia das mãos - Conclusão (27 de maio de 1951), [anexo 6].
As idéias desses dois pioneiros vão sendo propagadas por algumas instituições de
ensino superior do estado, notadamente a Escola de Serviço Social, de modo que muitos
dos responsáveis pelas disciplinas do primeiro currículo do curso de Psicologia da UFRN,
42
42
como é o caso das pedagogas e de vários técnicos do Serviço de Psicologia Aplicada
(SEPA) - órgão independente, que com o curso passou a local de estágio na área clínica -,
bem como muitos dos professores do Ciclo Básico, tiveram-nas como referência durante
sua própria formação.
Os trabalhos do Cônego Monte e de Nivaldo Monte (D.) coincidem no aspecto
filosófico do tratamento dos assuntos e em vários dos assuntos tratados, com alguns
daqueles referidos por Pessotti (1975) ao final do período pré-institucional e início do
institucional, ou seja, quando a Psicologia “filosófica” começa a ceder espaço à Psicologia
“científica”, desenvolvida nas Faculdades de Medicina do Rio e Bahia.
Embora não seja melhor analisada no contexto deste trabalho, visto que as
instituições propriamente de ensino superior identificam-se mais com nosso objeto de
análise, não se pode esquecer a referência ao papel desempenhado pelas antigas escolas
normais na transmissão do saber psicológico, como é o caso da Escola Normal de Natal,
“fundada antes de 1875” (Antunes, 1991, p.53), nem ao que representou a criação do
“centro de pesquisas educacionais e museu pedagógico”, o Pedagogium, fundado no Rio
de Janeiro em 1890, para o desenvolvimento da prática psicológica.
2.2. O ensino superior de Psicologia no Rio Grande do Norte
Em termos de ensino superior, foi no interior da Escola de Serviço Social,
fundada pela Juventude Feminina Católica Brasileira de Natal, dirigida por Nivaldo
Monte (D.), em 1945, que se inicia a transmissão das idéias e dos sistemas psicológicos
conhecidos. A Escola foi criada num contexto nacional de profunda ebulição social,
cultural, política e econômica, de consolidação da personalidade da nação brasileira e,
nela, as idéias da Psicologia especulativa e romântica, ministradas nas suas salas-de-aulas,
começam a sofrer as influências da vertente “científica”.
Quando, em 1971, o Boletim N0 15 (p.202 e segs.) [anexo 7], da segunda
quinzena de agosto de 1971, fornece uma visão panorâmica da evolução da situação da
Psicologia no estado, (que, naquela época, estava circunscrita à UFRN), além da docência,
com as disciplinas de Psicologia Geral, no Instituto de Ciências Humanas, Departamento
de Estudos Sociais, Psicologia da Educação, na Faculdade de Educação e a disciplina de
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43
Psicologia Médica, na Faculdade de Medicina, havia a experimentação psicométrica e o
estudo psicanalítico, no SEPA.
2.2.1. A Psicologia Geral
A Escola de Serviço Social de Natal era uma unidade de ensino superior,
particular, que manteve inalterada sua estrutura de ensino desde 1945, enquanto não se
engajou num projeto mais amplo, de universidade.
Em 1958, ela foi agregada à Universidade do Rio Grande do Norte (URN) e,
desde 1960, à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Acompanhando o
movimento de federalização das escolas agregadas, em outubro de 1969 a Escola foi
incorporada definitivamente à UFRN, pelo Decreto-Lei n.997, embora o aproveitamento
dos professores tenha sido efetuado somente dois anos mais tarde (Melo, 1991, p.88).
Em setembro de 1969, para viabilizar a incorporação da Escola pela UFRN, visto
que antes desta oportunidade não era composta por departamentos, mas apenas por
disciplinas, de acordo com o Of. Circular N0 06 [anexo 8] a Congregação de Professores
da Escola reúne-se e elege o novo Conselho Departamental, integrado pelos
Departamentos de Ciências Sociais (chefiado por Renira Mota de Lucena e por Artur
Marinho de Medeiros); Serviço Social (chefiado por Maria do Nascimento Bezerra e
Maria Lúcia Santos F. da Silva); e o de Cultura Religiosa e Filosófica (chefiado por
Manuel Barbosa de V. Filho (Pe.) e Heitor de Araújo Sales (Pe.)].
Somente em 1969, depois de incorporada à UFRN, a criação dos departamentos
facilita o desenvolvimento, por um lado, da especialidade do Assistente Social num curso
superior designado Serviço Social e, por outro, fortalece a docência de Educação e das
Ciências Humanas, na figura dos professores que ali foram lotados.
No ano de 1971, fundiu seus departamentos, passando a ter apenas dois, o de
Teoria e Fundamentos do Serviço Social, (cuja chefe era Terezinha de Queiroz Aranha, e
sub-chefe Marlúzia de Souza Saldanha) e o de Metodologia e Aplicação do Serviço
Social, (chefiado por Maria Ligia de Souza Montenegro).
O antigo Departamento de Ciências Sociais vincula-se ao Instituto de Ciências
Humanas de modo que, de acordo com Lucena Filho (1997), para se acomodar às
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exigências do regime militar, que procurava diluir as Ciências Sociais no contexto
universitário, naquele ano de 1971 é criado o Departamento de Estudos Sociais, constando
dos professoes de Psicologia, Sociologia, Antropologia, História e Geografia.
Compunham o quadro da disciplina de Psicologia, do Departamento de Ciências
Sociais, depois Estudos Sociais: “Nivaldo Monte (D.), Neide Varela Santiago, Lourdes
Bezerra Varela, Abigail de Andrade Souza [e] Marlúcia de Paiva Oliveira” (vide anexo 8).
Quando, em 1971, são expedidas as “Portarias declaratórias de aproveitamento”
dos servidores, duas entre as pessoas acima, Neide Varela Santiago e Marlúcia de Paiva
Oliveira, não acompanharam a lotação no Instituto de Ciências Humanas, Departamento
de Ciências Sociais da UFRN, de acordo com o Boletim de Pessoal N0 15, de agosto de
1971 (vide anexo 7), optando pela lotação no Departamento de Educação.
Assim, observa-se que os ex-professores da Escola de Serviço Social vão
migrando, no interior da UFRN, para as Ciências Sociais/Humanas e para a Educação,
carregando com eles algumas concepções a respeito do quefazer psicológico, bem como
algumas experiências com a sua aplicação.
Foram justamente os professores que se encontravam no Instituto de Ciências
Humanas que vêm a ser os responsáveis pela disciplina Psicologia geral, no curso de
Psicologia que seria criado.
2.2.2. A Psicologia da Educação
A história da Faculdade de Educação funde-se com a de uma outra importante
instituição potiguar, a Fundação José Augusto (FJA), criada a 8 de abril de 1962 por
Aluízio Alves, então governador do estado, tendo entre suas finalidades “a manutenção da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal...” [FFCL] (Melo, 1991, p.61).
A origem da FFCL é devida à encampação pela Fundação da antiga Faculdade de
Filosofia de Natal (FFN), criada pela Associação de Professores do Rio Grande do Norte,
em 12 de março de 1955. As atividades curriculares da FFN, contudo, só tiveram início no
dia 7 de março de 1957, com os cursos de História, Geografia e Letras Neolatinas. Em
1960, mais dois novos cursos foram instalados: o de Pedagogia e o de Didática.
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45
A partir de 1962, a FFCL foi um dos canais de propagação da Psicologia, no
estado, através da docência na disciplina de Psicologia da Educação, do seu curso de
Pedagogia. Ela funcionou até junho de 1968, como estabelecimento agregado à UFRN.
A disciplina ali ministrada, assim como a Psicologia da Educação oferecida na
Faculdade de Educação, era oferecida, tanto quanto ainda hoje, “como parte do bloco das
disciplinas pedagógicas da formação do professor”. Seu foco principal era os processos
de ensino-aprendizagem, com interfaces com o desenvolvimento humano.
Além do mais, a FFCL representou um dos espaços privilegiados para a fruição
da cultura e da moda da época: “No seu primeiro período de atividades, (março de 1957 a
janeiro de 1963), sob a direção de Edgar Barbosa, ofereceu a Faculdade de Filosofia ao
magistério do Estado exatamente 132 novos professores, técnicos de ensino,
pesquisadores e humanistas...” (Melo, 1991, p.70).
Pelo seu auditório
concentraram-se quase todas as atividades culturais e cívicas da cidade, através de
conferências, recitais, reuniões científicas. Vale recordar a exibição da primeira peça
do Teatro Universitário, (“Procura-se uma Rosa”); ... recitais de Procópio Ferreira;
“Les Comediens de l’Orangérie” (conjunto da “Maison de France”) ... o 10 Curso de
Folclore Brasileiro, ministrado por Luís da Câmara Cascudo ... (Melo, 1991, p.71).
Quando, em 6 de dezembro de 1965, realiza-se a escolha do novo diretor da
FFCL, o agraciado é Francisco Quinho Chaves Filho. Posteriormente, o mesmo é
reconduzido ao cargo, nele continuando até a incorporação da Faculdade à UFRN, em
1968 (Melo, 1991, p.73).
A federalização da FFCL deu origem à Faculdade de Educação da UFRN, em
1968, assim se explicando porque a disciplina que fazia parte do currículo do curso de
Pedagogia da FFCL migrou para a Educação da UFRN. A força do curso de Pedagogia era
devida, em grande escala, a uma outra instituição pertencente à FFCL, qual seja o SEPA.
2.2.3. O CEPA
Em 1965, quando Hélio Mamede de Freitas Galvão dirigia a Fundação José
Augusto, Quinho Chaves, então diretor da FFCL, cria aquele que vem a ser um marco
fundamental da Psicologia no RN, o Centro de Psicologia Aplicada (CEPA) [anexo 9].
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46
No CEPA, foi desenvolvido um sem número de iniciativas no âmbito da
Psicologia, como é o caso dos primeiros trabalhos com instrumentos de medida.
O Centro perseguia o modelo de cientificidade buscado pela Psicologia de então,
calcado fundamentalmente nas práticas psicométrica e clínica. Sua primeira diretora foi
uma pedagoga, Vanilda Pereira Paiva Chaves, visto que no Rio Grande do Norte, naquela
época, não existia psicólogo atuando13
[anexo 10].
A idéia de Quinho Chaves, quando ele criou o CEPA, [era] desenvolver um tipo de
atendimento à saúde mental diferentemente do que fazia o Hospital Colônia14
... A
Psiquiatria era muito restrita às concepções do Dr. Severino Lopes, calcada
fundamentalmente na internação, no choque elétrico, na ingestão de drogas (Lima,
1997).
Quinho Chaves é um psiquiatra potiguar que fez formação no Recife, em 1961, e
residência médica no Rio de Janeiro, em 1962 e 1963. No Recife, foi técnico da equipe de
José Otávio Freitas Júnior, o qual havia criado ali um serviço de Psicologia que, inclusive,
aplicava testes de aptidão para motoristas, e que viria a ser modelo para o CEPA.
No Rio, chegou a assistente de Leme Lopes na área clínica, sendo responsável
por sessões de eletro-choques “nas damas da alta sociedade do Rio”, clientes daquele
renomado psiquiatra, o qual prescrevia por escrito ao assistente: “meia ampola de
‘fenobarbital securital’ na veia, para tirar os efeitos dos ataques crônicos do
13
. De acordo com o Ofício N0 066/97 PRES CRP-13, de 12 de junho de 1997 (vide anexo 10), os
primeiros profissionais inscritos neste Conselho Regional de Psicologia foram Maria Ruth Dantas
de Araújo, CRP-13/0019; Luzinete Pessoa L. Holliday, CRP-13/0020; Margit Elen R. Alvenga,
CRP-13/0022; Benedita Cruz de Macedo, CRP-13/0028; Candida M. Melo F. de Souza, CRP-
13/0029; Rosa de Fátima Torres de Lima, CRP-13/0031; Nilza Maria Molina Mendes, CRP-
13/0036. 14
. O Hospital Colônia Dr. João da Costa Machado, que teve esse psiquiatra como seu idealizador,
muito lutando por sua construção, é o hospital para “doentes mentais”do estado do Rio Grande do
Norte, substituindo ao antigo “Hospital de Alienados de Natal”. Foi oficialmente inaugurado em 15
de janeiro de 1957, pelo então Governador Dinarte de Medeiros Mariz e pelo então Presidente da
República Juscelino Kubitschek, tendo como primeiro diretor o psiquiatra Pedro Coelho da Silva.
“O Hospital Colônia começaria a funcionar ainda que precariamente a partir do dia 20 de julho de
1957... Na ocasião se contabilizou um total de duzentos e setenta e um pacientes e mais vinte e um
servidores residentes, totalizando duzentas e noventa e duas pessoas transferidas [do Hospital de
Alienados], de ambos os sexos, adultos e crianças, delinquentes e não delinquentes, contribuintes e
não contribuintes, sendo que dos duzentos e setenta e um pacientes transferidos, apenas noventa e
cinco deles tinham algum tipo de tratamento administrado” (Sucar, 1993, p.113-114).
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eletrochoque, e checar a densidade do colchão, que deveria se duro para evitar quebra
óssea” (Chaves Filho, 1997).
Como afirma Chaves Filho (1996, p.108), sua formação foi “médica, de
especialização calcada no Instituto de Psiquiatria da então Universidade do Brasil, sob a
orientação do mestre Leme Lopes...”.
Pode-se inferir daí que sua formação era voltada para a Neuropsiquiatria,
Psicofisiologia e Neurologia puras, de acordo com as indicações de Pessotti (1975) citadas
anteriormente neste trabalho. Com base nesse autor, a linha da Psicologia Clínica e da
Psiquiatria era largamente utilizada pelos psicólogos brasileiros, inclusive porque, na
medida em que se associavam à Medicina - e à Biologia por extensão - garantiam a paz
epistemológica e aumentavam seu status.
Sendo médico, então, Quinho Chaves não teve dúvidas quanto a direção à seguir.
Em conseqüência daquela orientação, “O enfoque dado ao CEPA, naquele momento, era o
clínico. Buscava-se e pesquisava-se no comportamento, a sua patologia, o anormal”
(Chaves Filho, 1996, p.110 ). Além de criar o CEPA e dirigir a FFCL da Fundação José
Augusto, Quinho Chaves também veio a ser o primeiro diretor da Faculdade de Educação,
criada na UFRN, em 1968, com a encampação da FFCL.
É importante destacar que a formação e a experiência deste médico o afastavam
do conhecimento psicológico produzido até então por clérigos, no estado, de caráter
marcadamente especulativo. E perceber também que, embora a Medicina o tivesse posto
em contato com idéias semelhantes às propagadas na Faculdade de Medicina de Natal, a
partir do início dos anos sessenta, foram as teses psicanalíticas associadas com a Educação
e a psicometria, que marcaram sua orientação para o CEPA e o curso de Pedagogia da
FFCL.
Assim, muito embora a produção especulativa faça eco na Psicologia do Rio
Grande do Norte, através dos inúmeros professores formados sob a forte influência dos
clérigos, a disciplina da Faculdade de Medicina e o CEPA vêm significar a consolidação
de uma nova perspectiva para os interessados no tema. Não se pode falar em ruptura, nem
tampouco em continuidade: a tradição filosófica perdia muito do seu espaço para a
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perspectiva científica, mas continuava presente na formação desenvolvida no interior de
certas escolas, como a de Serviço Social.
Instalado em 15 de agosto de 1965, na FFCL, já em fevereiro de 1967 o CEPA é
transferido para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no processo que
federalizou a Faculdade de Filosofia, deixando de ser Centro, e passando a Serviço de
Psicologia Aplicada (SEPA). “Em julho de 1968, com a nova estrutura da UFRN, foi
encampado conjuntamente com a Faculdade de Filosofia, passando à condição de Órgão
Complementar, diretamente vinculado à Reitoria15
” (Melo, 1991, p.81).
O Centro, depois Serviço, teve em muitas das suas alunas na cadeira de
Psicologia da Educação, do curso de Pedagogia da FFCL, as responsáveis pelo seu
desenvolvimento e direção. Foram personagens daquele período, enquanto
os primeiros técnicos estagiários, Abigail Aquino de Andrade, Dalvanira Lucena,
Rosali Maria de Melo Liberato, Neide Varela Santiago, Ana Maria Leite de Melo, Irmã
Marcília Sales, Cleide Miriam Wanderlei, e Maria Nadja Amorim, além do Sr. João
Faustino Ferreira Neto (UFRN, 1969, p.98).
Aquele espaço de disseminação de conhecimentos e de prática psicológicos não
foge à tradição que marca os ógãos com essa finalidade, abundantes na história da
Psicologia brasileira, notadamente a partir do período institucional (Pessotti, 1975). O
mais comum era encontrá-los no interior das faculdades de Medicina, ancorado nas
práticas psicofisiológicas, ou como laboratórios isolados de apoio às ações educativas
(como foi o caso do Pedagogium).
O SEPA, ainda que criado por um psiquiatra, foi inicialmente serviço do curso de
Pedagogia da FFCL, tendo sua direção entregue a uma pedagoga, assim recebendo tanto
as influências da Psicologia clínica e Psiquiatria, com seu criador, quanto as da
psicométrica e experimental, no seu veio educacional.
Comparando com o processo mais amplo de desenvolvimento da Psicologia no
Brasil, sua história identifica-se mais com os trabalhos desenvolvidos por Ulisses
15
. Mesmo depois da federalização da Faculdade de Filosofia da Fundação José Augusto pela
UFRN, e mesmo depois da instalação da UFRN no Campus Universitário, o SEPA continua
funcionando como um órgão complementar, sem vinculação com curso ou departamento algum, na
rua Mipibú, mudando de endereço somente em meados dos anos setenta, quando foi transferido
para o campus central da UFRN.
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Pernambucano, que associava Psiquiatria e Pedagogia, utilizando-se de instrumentos de
medida psicológicos para avaliar o nível mental de escolares.
Além de cursos sobre procedimentos para aplicação de testes, como o
Psicodiagnóstico Mio-Kinético (PMK) e o Rorscharch, realizavam “reuniões ‘científicas’,
para discutir como melhorar a Psicologia, como adquirir uma bibliografia...” (Chaves
Filho, 1997), bem como estudos de casos clínicos e palestras sobre temas médicos
(Lucena, 1996).
No ano de 1969, o SEPA dispunha dos seguintes setores de serviços organizados:
a) aplicação de testes;
b) acompanhamento e estudo de casos;
c) pesquisa;
d) serviço de estagiários, que aplicavam “testes mentais”, faziam orientação
educativa e “tarefas ligadas ao ensino e à pesquisa de Psicologia nos seus diversos ramos”
(Universidade..., 1969, p.99) [anexo 11].
Contudo, somente a partir do início dos anos oitenta, depois de iniciadas as
atividades do curso de Psicologia da UFRN, quando os futuros formandos daquele curso
requisitam estágio e o SEPA volta-se para atendê-los, começa a prestar serviços
psicoterápicos.
É interessante notar uma mudança sofrida pelo SEPA, ainda antes da sua
transferência para o campus universitário, ocorrida em 1982. Até a criação do curso de
Psicologia, em 1976, atendia aos estagiários do curso de Pedagogia da FFCL,
primeiramente, e Faculdade de Educação, depois; quando o curso foi criado, por questões
de diversas ordens, passa a atender somente aos estagiários do curso de Psicologia. Ainda
assim preserva, até o momento, o setor de Psicopedagogia, com alguns técnicos com
formação pedagógica.
Na medida em que as ações do Serviço foram se consolidando na cidade,
chegando a aplicar testes de aptidão para oficial do Exército, “para motoristas e para
candidatos a juiz” [de direito], foi ficando claro que não podia desenvolver uma prática
“improvisada”, desenvolvida “autodidaticamente por pedagogos”.
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50
Foi por isso que, acatando sugestão de Paulo Rosas, então membro do Conselho
Regional de Psicologia, no sentido do SEPA regularizar sua situação, por intermédio “do
professor José Pires” (Correia, 1997) convidaram Ana Lúcia Lobo e Francisco Correia,
psicólogos pernambucanos, a virem semanalmente a Natal, ministrar
uma espécie de seminário para essa turma [do SEPA]; faziam aquelas aplicações de
testes mais sofisticados, treinavam muitos dos nossos pedagogos até no teste de
Rorschach, figurando como participantes do quadro legal [da instituição]. [Assim,] o
Centro passou a ser legal porque tinha dois psicólogos (Chaves Filho, 1997).
A contratação dos dois psicólogos pernambucanos, os primeiros a desenvolver atividades
com a Psicologia no estado do Rio Grande do Norte, deu-se, assim, a “dois de janeiro de
197116
. Nesta época, não existia nenhum psicólogo em Natal, nem se cogitava a criação
de um curso de Psicologia” (Correia, 1997). Vieram prestar serviços à UFRN, de acordo
com um contrato que
se referia a atividades didáticas e psicológicas, porque nós íamos ensinar na
Faculdade de Educação a disciplina: Testes e Medidas Educacionais, e prestar
serviços de Psicologia, em termos de atendimento e assessoria a estudantes e
professores da Universidade (Correia, 1997).
Assim, embora as atividades docentes tenham sido suspensas após o quarto ano,
mantiveram-se as técnicas, “de atendimento”. Ana Lobo, desenvolveu seus trabalhos até
1980 e Francisco Correia, manteve o vínculo até 1989.
No início dos anos setenta, “em março de 1972”, chega a Natal, proveniente do
Rio Grande do Sul, a psicóloga Nilza Maria Molina Mendes. Graduada em Psicologia pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), concluiu os estudos em
196817
. Sofreu a influência direta dos professores “psiquiatras, com formação
psicanalítica”, a tal ponto que seu estágio supervisionado foi no Manicômio Judiciário do
Rio Grande do Sul, com uma bolsa de trabalho de “atendente psiquiátrico”. E seu
16
. Grifos nossos. 17
. Alguns médicos psiquiatras potiguares, como Eduardo Afonso, Eduardo Moura e José Robério
Seabra de Moura, fizeram a residência no sul, “com o pessoal da psicanálise, do Rio G. do Sul”
(Araújo, 1996), recebendo influências teóricas, inclusive, semelhantes àquelas recebidas por Nilza
Molina. Alguns desses médicos, posteriormente, passam a compor o corpo docente do curso de
psicologia da UFRN.
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51
posterior primeiro emprego, no mesmo local, foi como atendente psiquiátrico (Mendes,
1997).
Sua vinda, associada a questão de ordem pessoal, é devida ao “convite do Reitor
na época, Genário Fonseca. Ele havia me convidado para a direção do SEPA; para
dirigir o órgão porque ele gostaria que fosse dirigido por um psicólogo, e não tinha um
psicólogo em Natal, naquela época” (Mendes, 1997).
Somente no final daquele mesmo ano de 1972 chega à Natal, proveniente de
Brasília, onde concluiu sua formação na Universidade de Brasília (UNB), “toda dentro da
abordagem behaviorista” (Lima, 1997), a psicóloga potiguar Rosa de Fátima Torres de
Lima, primeira psicóloga natalense.
Rosa de Fátima integrou a comissão instituída pelo Diretor do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes (CCHLA), João Batista Ferreira da Silva, em 1976, que analisou
a viabilidade de imediata instalação do curso de Psicologia da UFRRN [anexo 12], bem
como veio a ser escolhida primeira chefe do Departamento de Psicologia da UFRN
[anexos 13 e 14].
Assim, de 1972 até fevereiro de 1975, Nilza Molina vem a ser a primeira diretora
do SEPA com formação específica em Psicologia. Antes, de 1968 a 1970, sucedendo à
primeira diretora, no cargo desde 1965, a direção coube à pedagoga Neide Varela Santiago
[anexo 15]. Neide Varela foi sucedida por Maria Selma Porpino, antes que Nilza Molina
assumisse. Posteriormente, depois do afastamento de Nilza Molina, quem assume, em
março de 1976, é Maria Nazaré Mendes; em 10 de março de 1977 assume Maria da
Conceição Lucena; assume em seguida Rosali Liberato, em 09 de março de 1978, e passa
novamente para Conceição Lucena. É durante o mandato de Conceição Lucena, 1977-
1980, que o SEPA começa a receber estagiários do curso de Psicologia da UFRN, cujas
atividades foram iniciadas em 197718
.
Significativamente, de 1965 até 1972, o SEPA fora dirigido somente por
pedagogas que, além de estudarem psicanálise, valiam-se da psicometria para desenvolver
18
. A diretora seguinte, de 1980 a 1985, foi Maria Ruth Souza Dantas de Araújo, seguida por
Maria Dalva Gomes A. S. Menezes, ambas psicólogas, sendo que a última é egressa do próprio
curso de Psicologia da UFRN.
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estudos em áreas como Desenvolvimento e Aprendizagem. Somente em 1980, uma outra
psicóloga assumiu a direção, depois dos mandatos de Nilza Molina.
Neste momento, é importante ressaltar que a grande maioria dos profissionais
lotados no SEPA viriam a ser futuras docentes, do curso de Psicologia que seria criado na
UFRN.
Não resta dúvida que o SEPA representou uma das bases sobre que se assenta a
Psicologia no Rio Grande do Norte. Sua criação favoreceu ao desenvolvimento de uma
concepção e de técnicas científicas de abordagem dos problemas psicológicos, permitiu o
estudo sistemático das idéias psicanalíticas, introduziu o que havia de mais moderno na
psicometria e contribuiu com a pesquisa educacional.
Muito embora o “enfoque clínico”, como se referiu Chaves Filho (1996), fosse o
adotado pelo Serviço, desde sua criação, a articulação com a Educação e a ausência de
psicólogos nos seus quadros iniciais favoreceu mais ao desenvolvimento da psicometria, e
menos ao modelo médico, de atendimento individualizado e em consultório, que só é
incorporado depois de criado o curso de Psicologia da UFRN, quando os alunos
precisaram estagiar.
Assim, a área clínica, desde o primeiro momento do curso, foi estabelecida com
força suficiente a ponto de redirecionar os caminhos do SEPA. No Rio Grande do Norte,
em face da observada carência de psicólogos, a clínica recebe influência de Quinho
Chaves, pela sua prática psiquiátrica, como também de outros psiquiatras, como é o caso
de Severino Lopes, criador da cadeira de Psicologia Médica, na Faculdade de Medicina, e
do primeiro hospital privado para doentes mentais, no estado.
Portanto, tendo em vista a história pessoal desses dois psiquiatras, mesmo
exercendo a clínica, Quinho Chaves contribui mais com a disseminação e estudo dos
testes psicólogicos, e a aplicação da Psicologia à Educação. Severino Lopes, por outro
lado, centra-se nas afecções mentais e influencia, sobremaneira, a clínica do “doente
mental”.
2.2.4. A Psicologia Médica
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53
Criada em 1955, em 1963 a Faculdade de Medicina do Rio Grande do Norte traz
a Psicologia para o interior da formação médica, ou seja, dois anos antes de Quinho
Chaves criar o SEPA. A disciplina tratava a Psicologia numa perspectiva profundamente
diferente daquela oferecida, tanto pela Escola de Serviço Social, quanto pela FFCL, no
sentido de nem ser meramente especulativa, nem tampouco habilitadora para o uso de
testes.
A formação dos profissionais de Medicina era embasada na Fenomenologia,
principalmente, e disseminava a perspectiva do profissional liberal. É suposto acreditar
que, a exemplo do que acontecera em outros estados do país (ver Mello, 1975), a
proximidade com a Medicina influenciou definitivamente o ensino e o exercício
profissional de Psicologia, no Rio Grande do Norte, na direção para a área clínica.
No ano de 1963, de conformidade com a Lei n. 3.849, de 18 de dezembro de
1960, “a cadeira de Psicologia Médica é transformada em disciplina” (Melo, 1991, p.66).
Oferecida no terceiro ano do curso geral de Medicina da UFRN, esta disciplina foi criada
por iniciativa do psiquiatra Severino Lopes, que a justifica em face da “necessidade
havida no Brasil e no mundo de se incluir no currículo médico essa disciplina” (Lopes,
1997). Ele se espelhou na iniciativa do psiquiatra Maurício de Medeiros, do Rio de
Janeiro, que ali “criou um Departamento de Psicologia Médica, em 1950” (Lopes, 1997).
De acordo com os registros disponíveis é possível dizer que, antes de Quinho
Chaves, Severino Lopes é o primeiro psiquiatra a tomar, em termos profissionais, a
iniciativa de uma “abordagem científica da Psicologia”, no estado, e o faz notadamente no
curso de Medicina, no qual a orientação teórica dos médicos estava calcada no
positivismo biológico e no fisiologismo, de modo que sua ênfase teórica é
predominantemente fenomenológica. Segundo ele, “essa disciplina era uma espécie de
complementação, ou substituição do afastamento do médico do homem em si, os
problemas humanísticos em si, pelas constantes descobertas científicas...” (Lopes,
1997).19
19
. No ano de 1946, o psiquiatra João da Costa Machado criou, na Escola de Serviço Social de
Natal, a cadeira de Psiquiatria e Higiene Mental. A princípio compondo o grupo de João Machado,
identificado com as concepções da “psiquiatria social” e responsável, nos anos 40, pela criação
provisória da Sociedade de Higiene Mental do Seridó, nos moldes da Sociedade de Assistência a
54
54
Ao contrário de Quinho Chaves, que concluíra sua formação no Rio de Janeiro,
Severino Lopes fez formação médica na Bahia, entre 1946 e 1951, onde segundo Pessotti
(1975), predominavam estudos de Criminologia, Psiquiatria Forense, Higiene Mental e a
aplicação social da Psicologia. Pelo ângulo da Psiquiatria, ele se diz influenciado “mais
pela escola alemã, de Kraepelin, Schneider, Jaspers, predominando o sentido científico
da observação, da sistemática de trabalho, das interpretações” (Lopes, 1997).
Parece devido supor, nessa formação desenvolvida na Bahia, uma certa influência
das noções de anatomia patológica, que teve no médico italiano Cesare Lombroso um dos
seus expoentes.
Os conteúdos da disciplina oferecida na Faculdade de Medicina de Natal
são alguns pontos da Psicologia geral: inteligência, instintividade, linguagem,
pensamento; técnicas de abordagem; conceito de Psicologia; temperamento;
Psicologia em ciência, em educação, em indústrias; escolas: Reflexológica,
Associacionista, Psicanalítica, Gestalt, Fenomenologia... (Lopes, 1997).
Aluno da disciplina de Psicologia Médica ministrada por Severino Lopes, em
1964, e de 1973 a 1976 professor da mesma disciplina, o psiquiatra Eduardo Afonso
Júnior afirma que foi justamente durante o terceiro ano do curso de Medicina que teve
despertado seu “interesse pela Psiquiatria”, quando começou “a fazer plantões em
hospitais psiquiátricos”. Ele chegou a assistente de Severino Lopes, vindo a ser
plantonista na Casa de Saúde Natal, de propriedade do seu professor. Considera
importante a disciplina cursada, pela ênfase dada “à relação médico-paciente” e “à
história do paciente”:
claro que existia uma orientação, que eu diria mais alemã, da compreensão do
homem, dentro da compreensão do Kurt Schneider, do Kraepelin, do Jaspers, mas
havia uma preocupação com a questão da relação médico-paciente” (Afonso
Júnior,1997).
Psicopatas de Natal, Severino Lopes e outros psiquiatras rompem com esta Sociedade e constituem
a Sociedade Heitor Carrilho, “tendo como meta prioritária no momento de sua fundação, a
construção e instalação de uma escola para deficientes mentais” (Sucar, 1993, p.81; 104). Severino
Lopes, ainda, junto com os psiquiatras Otto Júlio Marinho e Aldo Vieira Xavier, vem a ser
responsável, em 1956, pela criação do primeiro hospital psiquiátrico privado do estado, a Casa de
Saúde Natal (Sucar, 1993, p.107).
55
55
O papel de Eduardo Afonso é importante no contexto deste trabalho, visto ser ele
um pioneiro no sentido de trazer as idéias psicanalíticas para dentro da Faculdade de
Medicina, através da sua docência na disciplina de Psicologia Médica, e posteriormente
para o curso de Psicologia da UFRN, através da disciplina ‘Psicanálise’. Segundo ele, a
abordagem “psicanalítica era citada, mas a compreensão fenomenológica era a mais
depurada”.
Teria sido ele, então, um dos primeiros a discutir sistematicamente na Faculdade
de Medicina de Natal as idéias de Freud e Melanie Klein, influenciado que fora durante os
estudos de pós-graduação, desenvolvidos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Eu era considerado um psiquiatra dinâmico, isto é, um psiquiatra que não mais se
preocupava apenas com a questão psicofarmacológica, ou fenomenológica, e incluía
no seu arsenal de trabalho a Psicanálise, como importante para o trabalho da relação
médico-paciente (Afonso Júnior, 1997).
Como já referido, fora da Faculdade de Medicina, nas “reuniões científicas” de
trabalho e discussões entre os componentes do Centro de Psicologia Aplicada (CEPA),
sob a supervisão do psiquiatra Francisco Quinho Chaves Filho, já se discutia os trabalhos
de Freud e Melanie Klein, desde meados dos anos sessenta. E também, desde 1972
encontrava-se em Natal, dirigindo o Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA), a psicóloga
gaúcha Nilza Maria Molina Mendes, formada no final dos anos sessenta, sob influência
da Psicanálise, no Rio Grande do Sul. Assim, é dentre esses pioneiros da Psicanálise, no
Rio Grande do Norte, que Eduardo Afonso se inclui.
Foi grande a importância da disciplina de formação médica, no sentido de ela ser
um canal privilegiado por onde fluíram idéias psicológicas, e mais especificamente idéias
psicanalíticas chegadas, a princípio, até aos estudantes de Medicina. E importante,
conseqüentemente, por conta da influência exercida sobre o curso de Psicologia da UFRN
pelos diversos médicos/psiquiatras que lá ministraram disciplinas como “Psicanálise”,
criada no início dos anos 80 e ministrada, inicialmente, por Eduardo Afonso.
Assim, de um lado a Faculdade de Medicina e de outro a Escola de Serviço
Social e a FFCL, são as instituições responsáveis pelo ministério de ensino superior de
Psicologia, no estado, até que fosse criado o curso da UFRN.
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56
3. O CURSO DE PSICOLOGIA DA UFRN
3.1. A criação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Vimos, então, como as diversas disciplinas psicológicas de ensino superior
criadas no estado, notadamente em Natal, desenvolveram-se e migraram para a UFRN,
durante a década de 60: a da Escola de Serviço Social, que vai se alojar no Departamento
de Estudos Sociais do Instituto de Ciências Humanas; a da Pedagogia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), que vai para a Faculdade de Educação e a Psicologia
Médica, que nasce na Faculdade de Medicina.
A federalização da já referida FFCL representou, como veremos com detalhes
mais adiante, o passo decisivo para a criação da UFRN. Esta precisou, para que realmente
fosse criada, da iniciativa de vários grupos, embora houvesse disposição para tanto por
parte do governo federal.
Seria errônea a impressão de que a trajetória perseguida para a implantação de
uma universidade, no estado, fora linear e livre de problemas. Ao contrário, esta história
se insere no quadro mais geral do desenvolvimento do ensino superior no Brasil,
efetivamente instalado a partir do período imperial e repleto dos fluxos e refluxos das
conjunturas sócio-econômicas observadas desde então.
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) fora criada em 18 de
dezembro de 1960, quando Dinarte de Medeiros Mariz governava o estado. A criação da
Universidade Federal foi decorrência da federalização da Universidade do Rio Grande do
Norte, criada a 25 de junho de 1958, depois de sancionada a Lei n. 2.307, quando o
mesmo Governador resolveu integrar algumas das faculdades isoladas já existentes.
Já funcionavam em Natal as Faculdades de Farmácia (1920/1923) e Odontologia
(1923); Serviço Social (1945); Direito (1949); Medicina (1955); Filosofia [então mantida
pela Associação de Professores do RN (1955)] - que só inicia suas atividades em 1957.
Porém, foram primeiramente federalizadas as Faculdades de Medicina, Farmácia,
Odontologia, Direito e a Escola de Engenharia (Melo, 1991, p.56).
Com efeito, funcionam em Natal as Faculdades de Direito e de Farmácia e
Odontologia, criadas e mantidas pelo Estado; e as de Medicina, Filosofia e Escola de
57
57
Serviço Social, pertencentes a entidades particulares ... Importa mencionar que já se
encontram criadas e em processo de organização para obterem do Governo Federal
autorização para funcionamento, a Escola de Engenharia (criada pelo Governo
Estadual) e a Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais de Natal,
mantida pela Sociedade Norte-Rio-Grandense de Ensino (UFRN, 1969, pp.8-9).
A criação da UFRN acontece dentro do período considerado como desaguadouro
das transformações ocorridas no país a partir do nascimento da Segunda República, nos
anos trinta. As décadas de 50 e 60 foram vividas sob os efeitos do esgotamento do modelo
econômico de industrialização via substituição de importações, posto em prática por
governos populistas.
Com uma origem que se confunde com os acontecimentos político-sociais do
período,
“A história da Universidade Federal do Rio Grande do Norte começa no dia 8 de
março de 1958, quando esteve em Natal Jurandy Lodi, Diretor do Ensino Superior ...
trazendo em sua companhia o Dr. José Teixeira Dias, Chefe de Seção do Ministério, o
qual sugeriu ao professor Onofre Lopes20
a criação de uma Universidade no Estado...”
(Universidade..., 1969, p.7).
Apesar das faculdades já existentes, a Universidade Federal que surgia
necessitava atender a uma exigência constante do artigo 40 da Lei n. 3.849, de 18 de
dezembro de 1960, que federalizou a Universidade do Rio Grande do Norte e criou a
Universidade de Santa Catarina, no sentido de que, num prazo de três anos, o Poder
20
. Onofre Lopes da Silva, eleito em primeiro lugar numa lista tríplice votada pela comunidade
universitária, e nomeado Reitor em 29 de janeiro de 1959, muito em face da sua identificação com
o Regime militar que empalma o poder em 1964, em que pese o reconhecimento ao seu trabalho,
teve as condições necessárias para se perpetuar na Reitoria por doze anos, bem como para adaptar a
UFRN às propostas oriundas dos gabinetes da Reforma Universitária. Como exemplo estaria a
implantação do ‘ciclo básico’, que a UFRN foi pioneira e campo de teste. “O entusiasmo sempre
presente na equipe de homens responsáveis pela direção do Ensino Superior do Rio Grande do Norte
encontrou respaldo na reformulação da política de ensino traçada para o Brasil pelo Governo Revolucionário.
Acompanhando a evolução das medidas institucionais implantadas no País, notadamente a partir de
1968, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte procurou ajustar suas atividades de ensino e de
administração à nova ordem programada para a Universidade brasileira. A reforma encontrou na UFRN toda
uma estrutura que ansiava por sua implantação. Motivo porque, embora ainda não em vigor o novo estatuto, o
Reitor Onofre Lopes, após estudos efetuados pela Comissão de Implantação da Reforma Universitária,
determinou as providências necessárias ao funcionamento, em 1970, do Primeiro Ciclo Geral de Estudos”
(Lima, Melo, 1971, p.39).
58
58
Executivo “promoveria a criação ou agregação à URN de uma Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras” (Melo, 1991, p.55).
Visto que a Faculdade de Filosofia, mantida pela Associação de Professores, fora
encampada pelo Governo do Estado, na gestão de Aluízio Alves, em 1963, integrando-se
à Fundação José Augusto, restava a alternativa da federalização desta Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, da Fundação.
Porém, expressão de querelas entre os antigos quadros udenistas21
, o grupo
responsável pela criação da Fundação (Alves) era inimigo político daquele responsável
pela criação da Universidade (Mariz); visto que aquele não tinha interesse em favorecer a
este, cedendo a Faculdade, o impasse estava instalado.
Por outro lado, insatisfeitos com os salários pagos a professores e funcionários da
FFCL, estudantes e professores desencadeiam um movimento grevista. Como o então
presidente da Fundação José Augusto, Hélio Galvão, não acenasse com a perspectiva de
atender às reivindicações alegando falta de condições financeiras e, como o próprio
governo do Estado “se isentasse” de participação no problema, os grevistas propuseram a
federalização da Faculdade.
21
. Dinarte De Medeiros Mariz era um fazendeiro e comerciante, bastante influente na política da
região do Seridó do Rio Grande do Norte, e chamado “coronel”, pela força econômica e pelo poder
em armas, que dispunha desde o combate à Coluna Prestes, e no movimento revolucionário que, em
8 de outubro de 1930, depôs o Governador Juvenal Lamartine, ou seja, a Revolução de 30. Nesta
oportunidade, conspirou para a sublevação do 290 Batalhão de Caçadores, “acantonado em Santa
Luzia do Cabugi”, junto com “um grupo de sargentos que também conspirava” (Spinelli, 1996,
p.25). “Estava em contacto com elementos da Aliança Liberal da corrente liberal em Natal” (idem),
e com a mudança do poder coube-lhe a prefeitura de Caicó. Posteriormente, em 1932, foi membro
da União Democrática Norte Rio-Grandense, que rompera com a Aliança Liberal, se afastando dos
cafeístas e tenentistas, e se aproximando dos derrotados do antigo Regime Republicano. Em 1933,
ajudou a fundar o Partido Popular do Rio Grande do Norte, e fez parte da sua primeira diretoria;
este partido chegou ao poder, no Estado, em outubro de 1935. Aluízio Alves se iniciou na vida
pública como jornalista e radialista. “Em 1942, como repórter do jornal A República, (...) [lançou e
organizou] uma “campanha de assistência aos flagelados” da seca daquele ano. E dalí, até 1946,
esteve envolvido em praticamente todos os projetos de assistência social que se realizaram no
Estado. Ao mesmo tempo, tornava-se popular através de dois programas de rádio, (...) : o Glória
Brasil, dedicado aos pracinhas que lutavam na Itália e a Oração da Ave Maria, transmitido
diariamente às 18:00 horas”. Foi pela primeira vez eleito deputado federal pela União Democrática
Nacional (UDN) em 1946. Depois de vários mandatos como deputado pleiteou a legenda da UDN
para governo do estado, nas eleições de 1960 quando, “seu arqui-inimigo a partir de de 1958 e
antigo protetor Dinarte Mariz, governador do Estado, assegurou [a legenda] para seu aliado Djalma
Marinho” (Silva, 1982, p.24-25).
59
59
Tratando-se de estabelecimento vinculado ao Estado, embora agregado à Universidade,
a Reitoria comunicou o fato ao Exmo. Sr. Ministro da Educação e Cultura, solicitando
as soluções cabíveis. Pelo Aviso Ministerial n. 2.555, a Faculdade de Filosofia passou
a ser administrada pela Reitoria da UFRN e mantida com recursos da Diretoria do
Ensino Superior (Universidade..., 1969, p.73).
A luta dos professores da Faculdade em prol da federalização revelou-se frutífera,
requerendo muita negociação. Entre os líderes encontravam-se Quinho Chaves, Romildo
Gurgel - que assumiu o “marketing” do movimento contra Hélio Galvão; Pedro Zacarias -
então presidente do Diretório Acadêmico; e João Faustino, que sucederia a Pedro Zacarias
na presidência do Diretório. Eles, primeiramente, foram ao encontro do ex-governador
Dinarte Mariz, no Rio de Janeiro, recebendo dele o aval para a inclusão da Faculdade na
Universidade Federal. Em seguida, foram ter com o governador da época, o Monsenhor
Walfredo Gurgel, que embora pertencente ao grupo político de Aluízio Alves, também
aceitou a proposta de federalização (Chaves Filho, 1997).
Posteriormente, aproveitando a estada do Ministro da Educação, Raimundo
Nunes de Aragão, no Recife, o grupo foi ao encontro dele e ouviu, além de incentivos à
idéia, orientações sobre o procedimento junto ao governo estadual e ao Ministério da
Educação e Cultura (MEC). De acordo com o MEC, o governo do Estado deveria ceder à
Universidade, como prova da intenção de federalização da Faculdade, um imóvel para
situar a futura estrutura.
Assim foi feito, de modo que o governo estadual, apesar das pressões em
contrário, cedeu um imóvel na Praça Pedro Velho, zona central de Natal, conhecida como
Praça Cívica, onde atualmente funciona o Colégio Estadual de I e II graus Professor
Anísio Teixeira, concluindo a federalização da FFCL e as conseqüentes criação da
Faculdade de Educação e consolidação da UFRN:
Posteriormente, por sugestão do Reitor ao MEC, o Governo, pelo decreto presidencial
n. 62.380, de 11 de março de 1968, autorizou o aproveitamento da Faculdade de
Filosofia na organização da Faculdade de Educação22
e Institutos de Ciências
Humanas e Letras e Artes, constantes da nova estrutura da Universidade”
(Universidade, 1969, p.73).
22
. Grifos nosssos.
60
60
Cabia à nova Faculdade de Educação o antigo curso de Pedagogia; as 4as
séries
dos cursos de Geografia, História e Letras, da já antiga Faculdade de Filosofia (UFRN,
1969, p.74), vêm a constituir o Instituto de Educação e as licenciaturas. Naquela
oportunidade, o curso de Letras é alocado no Instituto de Letras e Artes, os cursos de
Geografia e História no Instituto de Ciências Humanas e o curso de Matemática no
Instituto de Matemática (Melo, 1991, p.82).
3.2. A UFRN e a reforma universitária
Logo após o golpe militar de março de 1964, o governo buscava encobrir seu
elevado grau de autoritarismo e violência com uma atitude democrático-representativa, na
medida em que não tinha fechado o Congresso e também permitia o funcionamento do
Poder Judiciário.
Assim, contraditoriamente, se a violência configurava um aspecto da realidade do
período entre 1964 e 1968, por outro lado obsevava-se o aprofundamento das
reivindicações da classe média trabalhadora da cidade e do campo e dos estudantes, e o
crescimento da produção cultural da esquerda pequeno-burguesa. De acordo com Schwarz
(1978, p.62), não obstante a
intervenção e terror nos sindicatos, terror na zona rural, rebaixamento geral de salários,
expurgo especialmente nos baixos escalões das forças Armadas, inquérito militar na
Universidade, invasão de igrejas, dissolução das organizações estudantis, censura,
suspensão de habeas corpus etc, ... a presença cultural da esquerda não foi liquidada
naquela data, e mais, de lá para cá [1969] não parou de crescer... Apesar da ditadura da
direita há relativa hegemonia cultural da esquerda no país.
Naquele período, além da intelectualidade de esquerda estudar, ensinar, editar,
filmar, falar etc
o movimento estudantil realizou grandes mobilizações contra o governo; o movimento
sindical dos trabalhadores começou a sofrer um processo de renovação e de resistência
à política econômica, culminando com as greves operárias de Contagem (MG) e
Osasco (SP) em 1968; setores da Igreja Católica associaram-se à luta oposicionista...
(Germano, 1994, p.65).
61
61
Na mesma oportunidade, foi fundada a Frente Ampla de esquerda, por personagens como
Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, entre outros.
De acordo com Schwarz (1978, p.62), “esta solução de continuidade” articulada
entre os militares e a esquerda brasileira do período permaneceu até 1968, “quando nova
massa havia surgido, capaz de dar força material à ideologia: os estudantes, organizados
em semi-clandestinidade”. Para o autor,
somente em fins de 68 a situação volta a se modificar, quando é oficialmente
reconhecida a existência de guerra revolucionária no Brasil. Para evitar que ela se
popularize, o policialismo torna-se verdadeiramente pesado, com delação estimulada e
protegida, a tortura assumindo proporções pavorosas, e a imprensa de boca fechada
(Schwarz, 1978, p.72).
Na medida em que o protesto estudantil se exacerbava e unia, contra o Regime
Militar, setores da sociedade civil, o Governo, por seu lado, aumentava a busca de saídas
para a crise. Observou-se à formação de grupos e comissões por iniciativa do Executivo e
mesmo do Legislativo, como o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária (GTRU), em
2 de julho de 1968. Buscavam uma saída para o impasse, de modo a obter legitimidade e
estabelecer o controle da situação. Muito embora às custas da edição de seguidos atos
institucionais e atos complementares, que abriram espaço para a autoritária constituição de
1967, a saída foi encontrada: recrudescia a violência.
Um aspecto dela foi vivido no interior das instituições de ensino, e
particularmente de ensino superior. Após decretar o Ato Institucional no
5 (AI 5), e o
Decreto Lei 477 para o âmbito da educação, e certificar-se de que tinha total poder sobre
a sociedade, em 1968, no contexto de uma ampla reforma de todo o ensino do país, o
governo militar edita a Lei no 5.540/68, da Reforma Universitária. De acordo com os
princípios da “racionalidade, eficiência e produtividade” a universidade foi
departamentalizada, teve a matrícula dos alunos efetuada por disciplina e instituiu o
regime de créditos, entre outras mudanças.
Para ser coerente com a noção de Estado de Segurança Nacional o governo,
através da Reforma, incorporou a estrutura e tentou inviabilizar um projeto de
universidade crítica e democrática, ao reprimir e despolitizar o espaço acadêmico.
Incorporava as experiências e demandas formuladas por Rudolph Atcon, pelos assessores
62
62
da United States Agency for International Development (USAID), pela comissão Meira
Matos etc.
[o governo] ...tomou por base a ‘teoria do capital humano’- que estabelece um vínculo
direto entre educação e mercado de trabalho, educação e produção - e a Ideologia da
Segurança Nacional. “A ordem era desmobilizar, integrar os estudantes no processo de
desenvolvimento, porém, sem contestação ao Regime (Germano, 1994, p.105).
Com isso, consolidou o caminho para a vitória de uma tendência que surgira
desde os tempos da “Guerra Fria”, crescera “no final dos governos Dutra e JK” e se
instalou definitivamente no “governo Castelo Branco”, qual fosse a de “desnacionalização
do campo educacional” (Cunha, Góes, 1989, p.33).
A reforma do ensino superior teve características muito peculiares. Uma primeira
foi o caráter privatista, que punha nas mãos dos empresários a responsabilidade de atender
a reivindicação por mais vagas. O ensino pago é justificado pelo Regime, porque o Estado
não tem recursos para atender toda a demanda por universidades, devendo se voltar para
os mais necessitados e para os setores prioritários definidos pelo sistema produtivo:
professores de nível médio; Medicina e outras profissões da saúde; Engenharia; outras
profissões da área tecnológica; técnicos intermediários.
Tal política, de fato, logrou aumentar o número de matrículas, de 93.200 em
1960, para 1.017.630, em 1974 (Fernandes, 1975, p.38; 53). Contudo, isto foi conseguido
graças ao grande contingente de alunos freqüentando o ensino privado, cerca 75% do
contingente de 1,5 milhão de estudantes, em 1980 (Cunha, Góes, 1989, p.61).
Ao se desobrigar de grande parcela do ensino público e repassar recursos para a
iniciativa privada, o Estado somente agudizou o quadro de injustiça social, pois instituiu
uma rede de ensino pública, de boa qualidade, à qual aqueles que mais têm acesso são os
alunos de maior poder aquisitivo, enquanto que aos outros resta a rede privada e
empresarial, de qualidade duvidosa.
Outra diretriz da reforma foi o investimento em pós-graduação e pesquisa,
desenvolvido, principalmente, pela estrutura universitária pública. Ela permite dizer que o
regime, contraditoriamente, possibilitava às Ciências Humanas o exercício crítico, social e
político, tanto do regime político vigente, quanto do próprio capitalismo, no âmbito
universitário. De acordo com Coutinho (1981), “nem tudo foram sombras na cultura
63
63
brasileira” do período, visto existir “uma prática acadêmica vigorosa e crítica de inegáveis
repercussões políticas”, muito importante na resistência à ditadura e nas lutas
redemocratizantes dos anos 70.
Vale dizer, contudo, que a crítica ao regime só vem a aparecer a partir de meados
dos anos 70, notadamente no interior dos encontros da Sociedade Brasileira para o
Progresso das Ciências (SBPC). Antes desse momento, a univesidade caracterizava-se por
um verdadeiro vazio de idéias.
Em relação à Reforma Universitária, Fernandes (1975, p.215) nos chama a
atenção para o fato de que “pela primeira vez se tenta equacionar os problemas do ensino
superior tendo em vista relações entre meios e fins, questões de custeio e de captação de
recursos, problemas de crescimento e de programação ou planejamento educacionais”.
Porém, mesmo no auge do recrudescimento da violência institucional, depois de
1968, que abria mão da ideologia e se valia das armas, Yamamoto (1996a) identifica uma
“ambiguidade”, na relação entre o Estado e a inteligentzia, nos moldes da “solução de
continuidade” apontada por Schwarz (1978) para o período entre 1964 e 1968. Para ele,
com base na solução,
Não somente as instituições foram relativamente preservadas, como também a própria
atividade acadêmico-científica experimenta um considerável incremento. O ensino
superior no Brasil expande-se de maneira notável no período, com a criação de
universidades oficiais em praticamente todas as unidades da federação, além de
diversas universidades confessionais... Tal expansão será marcada também - e de forma
decisiva - pela intensiva privatização do ensino colocada em prática pelos governos
militares (Schwarz, 1978, p.29-30).
Note-se, entretanto, que não obstante o grande crescimento do número de escolas,
a censura e o controle ideológico exercidos sobre elas, principalmente as públicas, as
transforma em “instituições esvaziadas e burocratizadas”.
A UFRN, no espírito da Reforma Universitária, mas adiantando-se a muitas das
suas determinações, começava a modificar sua estrutura. “Na realidade, a nova legislação
federal de ensino veio permitir a remoção dos óbices e pontos de estrangulamento que
impedia a dinâmica universitária, para possibilitar o surgimento de um sistema de ensino
superior, flexível e atuante...” (Lima, Melo, 1971, p.39).
64
64
Com a reforma, implantada pioneiramente pela UFRN a partir de 1970, os cursos
de graduação foram divididos em dois ciclos de estudos, ou seja, o 10
Ciclo (ou Ciclo
Geral de Estudos) e o 20
Ciclo (ou Ciclo Profissional).
Dando prosseguimento às reformulações previstas no decreto presidencial N0
62.380, de 11 de março de 1968, que integrou a FFCL na Faculdade de Educação da
UFRN, contando com o aproveitamento dos professores e pessoal administrativo da antiga
Faculdade de Filosofia, além da estrutura da Faculdade de Educação, criaram-se os
Institutos de Ciências Humanas e de Letras e Artes da UFRN.
No ano de 1971, o Instituto de Ciências Humanas tinha como diretor João Batista
Ferreira da Silva, e vice-diretora Dalva de Oliveira. Havia, neste momento, três
departamentos, a saber: Departamento de História (chefiado por Geraldo Batista de Araújo
e Claudio Augusto Pinto Galvão); Departamento de Geociências (chefiado por Dalva de
Oliveira e por José Alfran Galvão) e o Deparamento de Fundamentos Sócio-Econômicos
e Filosóficos (chefiado por Agnelo Dantas Barreto (Pe.) e por Augusto Carlos Garcia de
Viveiros).
É a partir deste último Departamento, depois que o mesmo passou a denominar-
se de Estudos Sociais, que é criado o curso de Psicologia.
3.3. O curso de Psicologia
Em que pese o contexto da severa repressão implantada a partir de 1968, parcela
significativa dos intelectuais brasileiros começava a se organizar, no clima de
“profissionalização - particularmente presente dentro das ciências sociais”. Valendo-se da
estrutura de pós-graduação - mestrado e doutorado -, implantada no início dos anos 60 e
incrementada depois da reforma universitária, os intelectuais transformaram-se em
referência para a “crítica ao Estado autoritário e suas políticas específicas” (Yamamoto,
1996a).
Foi, principalmente, no interior do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
(CEBRAP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) que abrigaram-
se as pessoas responsáveis pela maior parte da produção intelectual de oposição ao
regime. A voz desses grupos fez-se ouvir, notadamente, no interior da Sociedade
65
65
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que assumira a partir de 1976 um
destacado papel na luta pela redemocratização.
A utilização do espaço da SBPC para a contestação ao regime permaneceu até o
início dos anos 80, a partir de quando seus membros redefiniram seus objetivos,
retomando prioritariamente a perspectiva científica. Fruto da organização daquele período
anterior, contudo, despontaram as associações de moradores, organizadas em prol de
melhores “condições materiais de vida”; as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da
Igreja Católica, que contribuiam com a organização de “formas de ação coletiva”; o “novo
sindicalismo”, que acenava com a “reorganização do movimento operário” e a
reestruturação partidária, cuja “Nova Lei Orgânica dos Partidos Políticos” acabava com o
bipartidarismo (Yamamoto, 1996a).
No contexto daquelas mudanças, a UFRN fazia suas adequações administrativas
e acadêmicas. Algumas delas convergiam no sentido da organização do curso de
Psicologia, como foi o caso da redistribuição dos professores das antigas escolas, muito
embora não tenha havido qualquer reunião, discussão oficial para tratar do assunto.
Naquela oportunidade, vários professores que não quiseram permanecer no
Departamento de Educação, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), foram
lotados no Departamento de Estudos Sociais, do Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes (CCHLA). “[Muitos] pedagogos estavam lotados no Departamento de Estudos
Sociais, porque a disciplina Psicologia I, oferecida a toda área humanística [da UFRN],
era desse Departamento” (Alves, 1997).
São os pedagogos, junto com os médicos-psiquiatras e os psicólogos que
chegavam a Natal e íam para a UFRN, que vêm a ser responsáveis pela grande maioria das
disciplinas oferecidas no início do curso de Psicologia.
Correia (1997) fala de uma “cooperação interdisciplinar”, observada no início do
curso, entre o “o psiquiatra, o psicólogo novo, que chegava, e a Pedagogia, que já
existia”.
É possível identificar justificativas diversas para a criação de um curso de
Psicologia em Natal, desde aquelas de teor eminentemente pessoal, às quais as referências
parecem meras especulações, àquelas outras mais propriamente acadêmicas.
66
66
Alguns referem-se à necessidade de atender à esposa do cartunista Henfil23
, que
morava em Natal, na época, e que havia interrompido seus estudos porque aqui não existia
o curso; outros referem-se à disputa intermunicipal entre Natal e João Pessoa, que atestava
a desvantagem de Natal, visto na outra cidade terem sido criados logo dois cursos de
Psicologia; outros, ainda, referem-se aos interesses daqueles que já trabalhavam com
Psicologia, no estado, como era o caso dos profissionais do SEPA.
Enfim, é possível que todos esses fatores e outros mais, juntos, tenham
sensibilizado os administradores universitários da época, notadamente o Reitor Domingos
Gomes de Lima, que numa viagem aos Estados Unidos encontra Quinho Chaves, e discute
com ele a importância e viabilidade de criação do curso (Chaves Filho, 1997).
O Reitor desconsiderou parecer em contrário à criação do curso, emitido pelo
grupo responsável por analisar a viabilidade de fazê-lo, já em 1977 e, ainda em 1976,
decretou sua criação, para funcionar a partir de 1977 [anexo 16].
De acordo com Lucena Filho (1997),
a revolução (sic) deu muito dinheiro para a Universidade, expandiu a Universidade
como um modo de neutralizar a classe média. Foi nessa época que apareceu o regime
de tempo integral, Copertid, Retid etc, com melhoria substancial nos salários dos
professores. As universidades ganhavam mais verbas, se tivessem absorção de mais
estudantes, implicando aumento significativo do número de vagas por cursos,
contratação de professores, ampliação de quadros etc. Vários cursos foram ampliados
na Universidade [UFRN], até mesmo por sugestão do próprio MEC; e nessa onda de
criação de cursos veio a criação do curso de Psicologia. O curso de Psicologia tem
23
. Na verdade, a julgar pelo lugar que Henfil ocupou em Natal, pelas amizades que granjeou, não é
demais tal referência. No capítulo dedicado a Henfil em Natal, no livro O Rebelde do Traço
(Moraes, 1997) deixa muito claro o quanto foi intensa a passagem dele pela cidade, pondo-a em
ebulição. Observe-se algumas citações: “Natal, aposto dez aí. Natal é o grande lugar” (p.222)... No
feriado de 10 de maio de 1976, Henfil e Berenice desembarcaram no Aeroporto Augusto Severo e
hospedaram-se com Solange e Graco na avenida Getúlio Vargas, próximo à ladeira do Sol”
(p.223)... “O jornalista Woden Madruga, colunista da Tribuna do Norte, soltou fogos...” (p.223)...
“Por ironia, Henfil tornou-se amigo do peito do engenheiro Fernando Bezerra, que presidia o
Sindicato da Indústria da Construção Civil... (p.226)... “Na casa de Fernando e Candinha Bezerra
[em Muriú], reunia-se o grupo composto pelos irmãos Nélio e Nei Dias, pelo médico José Carlos
(Zeca) Passos e pelo casal Robério e Margarida Seabra de Moura... (p.229)... “As batidas cardíacas
da rapaziada se aceleraram quando Henfil desenhou minicartuns especialmente para Maturi
(p.232)... “Henfil apoiou a formação da Coojornat, uma cooperativa de jornalistas de Natal...
(p.232)...” etc.
67
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que ser criado para que nós possamos ter mais verbas para a Universidade (Lucena
Filho,1997).
Diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes na época da criação do
curso, coube a João Batista Ferreira da Silva criar, através da Portaria N0 010/76-DC, de
28 de maio de 1976 (vide anexo 12), uma comissão composta por quatro professores,
Agnelo Dantas Barreto, José Pires, Maria Dilma Ferreira de Siqueira e Rosa de Fátima
Andrade Lima, para “estudarem a viabilidade de funcionamento do Curso de Psicologia, a
ser criado pela Universidade”.
Com base em Lima (1997), outras pessoas cujos nomes não constam no
documento oficial de designação da comissão, também dela participaram, como é o caso
de Neide Varela Santiago, Ruth Dantas de Araújo e Nilza Molina.
A respeito do parecer emitido por essa Comissão, contrário ao início imediato do
funcionamento do curso, Lucena Filho (1997) justifica-o dizendo que
a base toda [de professores do Departamento de Estudos Sociais e do Centro de
Ciências Humanas, necessários para ministrarem as disciplinas previstas no
currículo do curso] era de professores pedagogos, uns poucos começando a pensar
em mestrado; o SEPA era [a instituição] mais técnica que nós tínhamos em
Psicologia, mas ainda pouco estruturado... Então, o Departamento [na figura da
comissão citada acima] se pronunciou como sendo uma temeridade criar o curso
naquele ano [1976]. Eu me pronunciei contra a criação, como Diretor [sic], porque
eu sabia o ônus que ía me dar; nessa época nós tínhamos orçamento-programa, e a
Psicologia veio sem estar no planejamento. No primeiro ano do curso de Psicologia
eu tive que [destinar] quase setenta por cento do meu orçamento: tive que criar o
laboratório, trazer professor visitante - sem que se fizesse uma boa seleção. Eu pedia
um ano para preparar laboratórios, trazer técnicos, fazer estudos de currículos etc. O
curso saiu a fórceps. A pressão para criação era toda externa ao estado... e depois
veio a pressão dos estudantes dos dois primeiros anos, sobre mim”.
Para Lima (1997), uma das poucas psicólogas em Natal até a criação do curso, e
participante, tanto da comissão que avaliou a viabilidade de criação, quanto das discussões
para elaboração do primeiro currículo, o clima geral daquele momento, em relação à
criação de um curso de Psicologia na UFRN, era de
preocupação, porque o corpo docente ía ser muito resumido; não tínhamos
psicólogos, praticamente. Tinha as pedagogas que desempenhavam muito bem as suas
funções no SEPA, de trabalho com aplicação e correção de testes... O grupo era muito
68
68
pequeno para (levar) o curso de Psicologia, com todas as suas peculiaridades e
características”.
Nessa linha de raciocínio, Araújo (1997) diz que, ao saber das orientações para a
criação do curso, “ficou estarrecida”; acha que “a comissão foi suficientemente lúcida,
para dar um ‘não”.
Não obstante tais opiniões, portanto, e mesmo “antes da comissão apresentar
suas conclusões, a imprensa de Natal já divulgou que o curso de Psicologia estava a ser
criado, na UFRN, por ordem do reitor” (Siqueira, 1997).
A criação deu-se através da Resolução no 27/76, do Conselho Universitário
(CONSUNI), de 06 de julho de 1976 (vide anexo 16), sendo a aprovação efetuada através
da Resolução no 89/76, do Conselho Superior de Ensino e Pesquisa (CONSEPE), de 29 de
setembro do mesmo ano. O início do seu funcionamento foi em 1977, tendo Abigail de
Andrade Souza como primeira coordenadora. A Ata da primeira reunião do Colegiado do
Curso de Psicologia [anexo 17] ([ver também anexos 18, 19 e 20]), realizada em 18 de
maio de 1977, só registra a presença da psicóloga Maria Ruth D. de Araújo, embora o
nome da também psicóloga Nilza Molina constasse da lista. De acordo com a Ata, os
demais professores presentes à reunião não eram psicólogos.
Fica patente, nesta Ata do Colegiado do Curso, que estava a ser criado um curso
de Psicologia sem psicólogos. Faltava àquela experiência uma série de condições muito
importantes no que diz respeito ao bom andamento do curso como, quadro docente em
número e qualificação adequado, laboratórios equipados e, não menos importante, uma
massa crítica que tivesse a Psicologia nos seus horizontes de estudo.
Ainda que o SEPA também fosse espaço para produção de pesquisas e promoção
de palestras e debates, o mais comum era que, quando não se voltasse para temas de
Educação, familiares às pedagogas que lá trabalhavam, limitasse suas atividades à
prestação generalizada de serviços, fundamentalmente baseada na psicometria.
Após a decisão do Reitor, em 1976, de criar um curso de Psicologia na UFRN,
foi desencadeado um grande processo de discussão, notadamente por um grupo de pessoas
que tinha a responsabilidade de elaborar o primeiro currículo. Tendo por base o currículo
mínimo exigido pelo MEC, visando ao desmembramento das disciplinas nele contidas, o
69
69
grupo valeu-se do exemplo de currículos de outras universidades, cotejando-os em face
das prioridades estabelecidas para a UFRN.
De acordo com Lima (1997), as discussões iniciais se deram no sentido de
“colocar as disciplinas que atendessem a todas as áreas, como optativas”, visto que tal
preocupação não era observada por todas as universidades: “por exemplo, as psicologias
escolares, nem sempre têm” [em todos os currículos]. Também participante, entre outras
pessoas, das discussões para a montagem do currículo, Correia (1997) diz que levou
material de outras instituições, a título de aprendizagem. Então, eu peguei, por
exemplo, currículos das escolas de Psicologia que já existiam em Recife, e nós
analisávamos isso; ajudei, inclusive, na elaboração de alguns programas, como é o
caso da disciplina de Psicologia Social, que foi uma cadeira que eu lecionei durante
alguns anos, na Faculdade de Filosofia do Recife. Eu acompanhei a nascente do
curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - embora não
tenha lecionado no curso.
Quando começa suas atividades, em 1977, o curso de Psicologia da UFRN conta
com um currículo [anexo 21] composto por 50 disciplinas “regulares” ou obrigatórias,
sendo 15 no I Ciclo, e 35 no II Ciclo, distribuidas de acordo com a Resolução 001/79 -
CONSEPE, de 05 de janeiro de 1979. No intervalo entre as resoluções 001/79 e 031/80 é
publicada uma Minuta de Resolução que introduz algumas modificaçoes no primeiro
currículo, como mudança de nome e fusão de disciplinas e criação de outras. Nela, ainda,
não se observava referência ao Departamento de Psicologia [anexo 22].
Em seguida às modificações observadas na Minuta, a Resolução 031/80 -
CONSEPE estabelece a “aprovação do currículo do curso de Psicologia” (Melo,1991,
p.159), ou seja, do primeiro currículo oficial, já bem diferente daquele observado no início
do curso[anexo 23].
O código das disciplinas nesse currículo referia-se ao Departamento de
Psicologia, criado em agosto de 1980 (Melo, 1991, p.163), quando José Oscar Pereira da
Silva era o chefe do Departamento de Estudos Sociais, do qual o novo departamento
estava sendo desmembrado. Em 20 de outubro de 1981, Rosa de Fátima Torres de Lima
assume como primeira chefe e, no dia 24 de novembro de 1981, procede à realização da
primeira reunião (vide anexos 13 e 14).
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70
Professores de diversos outros Departamentos da UFRN ministraram aulas no
curso, como por exemplo, as pedagogas do Departamento de Educação, que assumiram as
disciplinas do bloco de aprendizagem. Outras disciplinas, da área de Patologia, foram
assumidas pelo Departamento de Medicina Clínica, para serem ministradas por
psiquiatras; e, ainda outras, como Sociologia, Filosofia etc, que compunham a grade
curricular, em geral eram ministradas por professores dos departamentos específicos
(Alves, 1997).
Um ano mais tarde, em 1981, certamente fruto da tentativa de criar um currículo
mais adequado às expectativas de estudantes e professores, observa-se à edição da
resolução N0 177/81 - CONSEPE, de 10 de julho de 1981 [anexo 24], que “aprova
modificações no Currículo do Curso de Psicologia”. As novas modificações, conformando
um segundo currículo [anexo 25], não fazem parte deste estudo, visto que considera-se o
momento da aprovação oficial do primeiro currículo como sendo expressão da
consolidação daquele curso.
Os quadros 4 e 5 permitem visualizar a distribuição das disciplinas, ao longo das
resoluções e das modificações trazidas por elas, na vigência do primeiro currículo oficial.
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Quadro 4. Configuração do I Ciclo de Estudos.
Resolução 01/79 Minuta Resolução 031/80
Língua Portuguesa I LET 1001 LET 1001 LET 1001
Filosofia I FHG 1001 FHG 1001 FIL 1001
Metodologia da Ciência FHG 1004 FHG 1004 FIL 1004
Est. de Probls. Brasileiros I FHG 1301 FHG 1301 EPB 1001
Est. de Probls. Brasileiros II FHG 1302 FHG 1302 EPB 1002
Sociologia I ESO 1301 ESO 1301 ESO 1301
Antropologia I ESO 1101 ESO 1101 ESO 1101
Língua Inglesa IX LET 1029 LET 1029 LET 1029
Língua Francesa IX LET 1019 LET 1019 LET 1019
Métodos Estatísticos MAT 1052 MAT 1052 MAT 1052
Fisiologia VI DFS 1012 DFS 1012 DFS 1012
Fisiologia VII DFS 1013 DFS 1013 DFS 1013
Biologia BIO 1001 Biologia V (renomeada) BIO 1028 BIO 1028
Psicologia Geral (nova) ESO 1426 PSI 1006
Elementos de Matemática MAT 1002 FUSÃO
Elementos de Estatística MAT 1018 FUSÃO
Elementos de Mat. e Est. MAT 1016 MAT 1016
Fonte: Resolução 01/79 CONSEPE; Minuta de Resolução; e Resolução 031/80 CONSEPE.
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Quadro 5. Configuração do II Ciclo de Estudos.
Resolução 01/79 Minuta Resolução 031/80
Psicologia V (Teorias e Sistemas da Psicologia I) ESO 1405 ESO 1405 PSI 1007
Psicologia VI (Teorias e Sistemas da Psicologia II) ESO 1406 ESO 1406 PSI 1008
Psicologia VII (Teorias e Sistemas da Psicologia III) ESO 1407 EXTINTA
Psicologia VIII (Psicologia Geral e Experimental I) ESO 1408 Psic. Experimental I ESO
1408
PSI 1009
Psicologia IX (Psicologia Geral e Experimental II) ESO
1409
Psic. Experimental II ESO 1409 PSI 1010
Psicologia X (Psicologia Geral e Experimental III) ESO
1410
EXTINTA
Psicologia XI (Psicologia do Desenvolvimento I) ESO 1411 ESO 1427 PSI 1011
Psicologia XII (Psicologia do Desenvolvimento II) ESO 1412 ESO 1428 PSI 1012
Psicologia XIII (Psicologia da Personalidade I) ESO 1413 ESO 1429 PSI 1013
Psicologia XIV (Psicologia da Personalidade II) ESO 1414 ESO 1430 PSI 1014
Psicologia XV (Psicologia Social I) ESO 1415 ESO 1431 PSI 1015
Psicologia XVI (Psicologia Social II) ESO 1416 ESO 1432 PSI 1016
Psicologia XVII (Psic. do Esc. e Probls. de Aprend. I) ESO 1417 ESO 1417 PSI 1017
Psicologia XVIII (Psic. do Esc. e Probls. de Aprend.II)ESO 1418 ESO 1418 PSI 1018
Psicologia XIX (Psicologia da Indústria) ESO 1419 EXTINTA
Métodos e Técnicas de Pesquisa Psicológica I ESO 1016 ESO 1433 PSI 1019
Métodos e Técnicas de Pesquisa Psicológica II ESO 1017 ESO 1434 PSI 1020
Técnicas de Exames Psicológicos I ESO 1018 ESO 1018 PSI 1021
Técnicas de Exame Psicológico II ESO 1019 ESO 1019 PSI 1022
Técnicas de Exame Psicológico III ESO 1020 ESO 1020 PSI 1023
T.E.P. IV ESO 1435 PSI 1024
Técnicas Projetivas I ESO 1021 EXTINTA
Técnicas Projetivas II ESO 1022 EXTINTA
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Técnicas Projetivas III ESO 1023 EXTINTA
Ética Profissional ESO 1024 ESO 1024 PSI 1025
Teorias e Técnicas Psicoterápicas I ESO 1025 ESO 1436 PSI 1026
Teorias e Técnicas Psicoterápicas II ESO 1026
ESO 1437 PSI 1027
Quadro 5 (Conclusão)
Resolução 01/79
Dinâmica de Grupo e Relações Humanas I ESO 1027
Minuta
EXTINTA
Resolução 031/80
Dinâmica de Grupo e Relações Humanas II ESO 1028 EXTINTA
Seleção e Orientação Profissional ESO 1029 S.O.P. I ESO 1438 PSI 1028
S.O.P. II ESO 1439 PSI 1029
Aconselhamento Psicológico ESO 1030 ESO 1440 PSI 1030
Psicologia da Aprendizagem I EDU 1407 EDU 1407 EDU 1407
Psicologia da Aprendizagem II EDU 1408 EDU 1408 EDU 1408
Fisiologia VIII DFS 1014 EXTINTA
Psicopatologia Geral MCL 1013 FUSÃO
Psicopatologia Especial MCL 1014 FUSÃO
Psicopt. Geral e Esp.MCL 1017 MCL 1017
Fonte: Resolução 01/79 CONSEPE; Minuta de Resolução; e Resolução 031/80 CONSEPE.
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74
Além das disciplinas acima, todas regulares e obrigatórias, e das disciplinas de
Estágio I e II, e Pesquisa I e II, que só foram cursadas pela primeira vez em 1982, no ano
de 1979 o currículo do curso de Psicologia da UFRN contava com 18 disciplinas
complementares. Até 1981, 32 complementares eram divididas por áreas: 8, na área de
Psicologia Educacional; 6, na área de Psicologia do Trabalho; 10, na área de Psicologia
Geral; e 8, na área de Psicologia Clínica.
Compõe o elenco das regulares, as disciplinas obrigatórias do currículo mínimo e mais
aquelas consideradas, pelo Colegiado de Curso, como indispensáveis à capacitação
profissional. As complementares têm por finalidade a formação do aluno em áreas
específicas da profissão [Minuta de Resolução (vide anexo 22)].
Não obstante, continuavam a oferecer disciplinas junto ao curso de Psicologia os
departamentos de Letras, Estudos de Problemas Brasileiros, Estudos Sociais, Matemática,
Fisiologia e Biologia, no ciclo I. No ciclo II, os departamentos de Educação e Medicina
Clínica. Assim, de um total de 42 disciplinas, 17 (40,4%) eram oferecidas por outros
departamentos, no ano de 1981.
Na medida em que se procedia a reformulações curriculares, buscando adequar o
curso às novas realidades impostas para a formação do psicólogo, alunos e professores
desempenhavam papel fundamental na avaliação das condições existentes e na cobrança
de melhor estrutura. Ainda que fosse pequeno o número das pessoas do estado envolvidas
com a Psicologia para discutir uma formação mais adequada, o fato de que todos os
primeiros professores-psicólogos serem provenientes de outros cursos de Psicologia do
país, bem como de que a primeira turma de alunos contar com a experiência de outra
graduação por parte de vários dentre eles, permitiu a troca de informações, bem como a
progressiva melhora das condições de funcionamento do curso.
Chegado à Natal e à UFRN, em 1977, o psicólogo Márcio José Capriglione (1997)
lembra da expressão do espírito da época tanto na Universidade quanto no curso de
Psicologia:
Era uma efervescência muito grande, todo mundo querendo participar... havia a
emergência de ínumeras ‘verdadeiras’ lideranças estudantis. A gente sentia o
próprio C.A. [Centro Acadêmico] de Psicologia, que era um dos CAs mais fortes
durante (pelo menos) os três primeiros anos [do funcionamento do curso da UFRN].
Eles eram proibidos, antes existia apenas os Diretórios Acadêmicos [D.A.], e com
eles passa a existir uma estrutura por curso. Existia uma vontade política de
participar muito grande.
75
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A configuração final do primeiro currículo foi fruto, justamente, da mobilização
de alunos e professores que estavam insatisfeitos com o “número excessivo de
disciplinas obrigatórias resultantes de um grande desdobramento das matérias do
currículo mínimo do Conselho Federal de Educação (CFE)”; com o “encadeamento
desnecessário de pré-requisitos que levava o curso quase à situação de seriado,
prejudicando grandemente os alunos que se desnivelaram”; e com a “ausência de um
encaminhamento para áreas de especialização visando a opção do aluno no estágio
supervisionado” (Justificativa Para Modificação do Currículo do Curso de Psicologia
[anexo 26]).
Não representa surpresa o fato de os estudantes e professores se organizarem, já
naquela época, para estudar e propor mudanças ao currículo criado e experimentado
somente há dois anos, e de lograrem êxito nas suas reivindicações [anexo 26],
considerando-se o profundo sentimento de revitalização da sociedade civil, como
indicado anteriormente.
Enquanto o período entre 1962 e 1968, do ponto de vista da universidade
brasileira, em que havia poucas escolas, engatinhando no sentido de se autonomizarem
enquanto produtoras de conhecimento, fosse marcado pelo modelo da USP, “da
universidade como uma instituição homogênea, integrada, e não fragmentada”
(Cunha,1988, p.135), o período entre 1968 e 1975 caracterizou-se mais pela proliferação
de escolas, muito embora funcionando de forma isolada, sem intercâmbio entre as áreas
do ensino e da pesquisa, e sem articulação entre seus vários cursos.
Esta última foi, justamente, a época do controle severo garantido pelo AI 5,
prenhe do vazio da participação, do debate, da criação e da vida.
Ressalte-se que foi, também, o período em que observou-se a um
desenvolvimento horizontal da Psicologia no Brasil, não só com o aumento do número de
cursos, que vinha na esteira do crescimento do número de escolas, como também do
surgimento de um sem número de técnicas, teorias, experiências.
O profundo controle ideológico exercido pelo Governo, principalmente a partir
de 1968, da mesma forma que gerou uma considerável despolitização do espaço
acadêmico, do científico, também implicou uma severa psicologização do social, como já
referido. O debate no âmbito da Psicologia ficava circunscrito a tendências que não
ousavam questionar o status quo conformado pela doutrina da segurança nacional.
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76
Dessa forma, tendo como centro o neo-pragmatismo norte-americano, o debate
psicológico centrava-se na discussão Skinner X Rogers, ou seja, tecnicismo X
humanismo.
Na verdade, tanto uma quanto outra tendência caracterizavam-se por uma essencial
despolitização24
.
Por volta de meados dos anos 70, superada parcela da realidade de opressão, já
no contexto da luta pela redemocratização do país, observava-se a estudantes de
Psicologia, professores e psicólogos lutando por mudanças curriculares, práticas
alternativas e novos espaços de trabalho. O seu movimento de organização, presente em
todo país, desembocou na estruturação da comissão organizada de estudantes de
Psicologia (COEP), e nas comissões paritárias de estudantes e professores.
Na UFRN, ecoando o que se passava no resto do país, esses setores organizaram-
se e desencadearam um movimento que percorreu caminhos bem particulares, como a
greve deflagrada pelos estudantes, por melhorias nas instalações do curso, em 1980,
famosa por ser considerada a primeira greve em Natal.
Posteriormente, houve mais algumas greves, com notável repercussão na mídia,
como a que questionava posição tomada pela então Diretora do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Maria da Graça Viveiros, que não nomeou a Coordenadora de
curso escolhida pelo voto da maioria dos alunos, a professora Zeneide F. Alves. .
O inusitado de uma greve na universidade, naquela época, devía-se,
principalmente, ao fato de que o aparato de repressão dos governos militares não estava
desmontado, constituindo presença, tanto física quanto imaginária, no seio da organização
estudantil; no caso da UFRN, registrava-se a presença da famigerada Assessoria de
Segurança Interna (ASI). E inusitado, também, porque a repressão havia destruído
brutalmente todos os resquícios de organização de que se tinha lembrança. De acordo
com Silva (1989, p.156),
24
. Enquanto Rogers sequer se questionava a respeito da dimensão social do “homem” proposto
por ele, Skinner problematizava o tema, embora oferecendo respostas insatisfatórias a certas
perguntas, na medida em que desconsiderava as dimensões do poder econômico e político.
Como disse Mannheim (1962, p.85), ninguém planificou os planificadores. Segue-se, portanto,
que estes se recrutaram entre os grupos já existentes. Tudo dependerá, portanto, de
qual desses grupos, com suas perspectivas próprias, produzirá a energia,
a decisão e a capacidade de domínio da vasta máquina social da vida
moderna.
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77
Em decorrência da excessiva repressão desencadeada pelo poder militar contra os
movimentos populares, registrou-se um refluxo generalizado dos movimentos sociais,
incluindo o ME [movimento estudantil], notadamente a nível estadual. A despeito das
investidas repressivas ao ME, quer a nível ideológico, quer a nível físico, atingindo as
sedes das entidades estudantis, seus acervos documentais e suas lideranças, na maioria
confinadas em prisões, o setor estudantil foi um dos poucos que chegou a ensaiar uma
resistência a curto prazo.
Com base na mesma autora (Silva, 1989, p.52), “a consolidação do ME
universitário estadual se dá nos cinco anos iniciais da década de 60, paralelamente à
ascensão dos movimentos populares a nível nacional”.
O movimento estudantil local, a partir do final dos anos 70, estava organizado na
forma de Diretório Central de Estudantes (DCE), com poder de representatividade para
todos os estudantes da UFRN, inclusive os campi do interior; Diretórios Acadêmicos
(DAs), um para cada Centro de estudos e criavam-se os Centros Acadêmicos (Cas), que
representavam os estudantes de um curso, além da UNE, nacional.
De acordo com Linhares (1997), um aspecto importante a ser destacado
enquanto característica do curso de Psicologia é o aluno:
De um modo geral, o aluno de Psicologia é muito curioso, muito aberto a coisas
novas... eu tive oportunidade de dar aulas e conviver com alunos de vários outros
cursos, e ver que o aluno de Psicologia é muito irreverente, questionador, busca
muito as coisas e pressiona, muitas vezes. Houve uma época quando, no geral, a
participação [estudantil] na Universidade era muito maior do que hoje, em que foi
fundamental a participação do aluno na construção do curso... apesar dos exageros.
Pinheiro (1997) se diz levado a achar
que os estudantes daquele momento, início dos anos oitenta até 1986, no máximo, em
muitos sentidos ‘tocaram’ o curso de Psicologia. Eu acho que eles fizeram
professores acordar, mudar o jeito de trabalhar, melhorar a qualidade do que faziam.
Naquele momento, os estudantes ajudaram a imprimir o feitio do curso de Psicologia.
Os profissionais de Psicologia também estavam a se organizar no estado,
naquela época, inclusive por conta do já referido projeto do deputado Salvador Julianelli.
Capriglione (1997), diz que fez parte da “associação profissional de Psicologia [do Rio
Grande do Norte], junto com outros professores, no final dos anos setenta, início dos
oitenta”.
Além dos estudantes e psicólogos, foi muito importante a organização docente
daquele período, quer no interior dos cursos de Psicologia, quer num âmbito mais geral
da universidade brasileira. Visto que até bem pouco tempo o regime militar detinha a
78
78
hegemonia do poder, todo o conjunto de mobilizações de caráter oposicionista, no campo
popular ou no âmbito da classe média, significava uma ameaça à mais àquele poder que,
diga-se, já não respondia com a mesma coesão do início do regime.
O movimento nacional de docentes, que se organizou a partir de São Paulo,
levou para dentro das universidades as reivindicações de democratização e reformas,
representando, portanto, a oposição política na academia. Vários professores que, no
estado, assumiram a direção da entidade docente na UFRN, faziam parte do curso de
Psicologia. Esta situação criou uma grande proximidade entre o movimento político mais
amplo, da sociedade como um todo, com o movimento particular dos docentes e com o
movimento interno ao curso.
Portanto, no processo de reorganização social da sociedade brasileira, os
psicólogos deparavam-se com uma discussão interna à Psicologia, até certo ponto estéril
em face da conjuntura. Mas também uma outra, exterior, profundamente articulada ao
movimento sócio-político da época, que implicava a organização docente. Esse quadro,
transposto para a realidade da UFRN, levou a que se conformassem dois claros blocos
dentro do Departamento de Estudos Sociais, e depois de Psicologia, com posições
políticas antagônicas - ainda que nem todos tivessem clareza dessas posições25
.
A configuração desses blocos teve sérias implicações sobre a história do curso de
Psicologia, na medida em que se identificava nos componentes de uma e de outra facção
perspectivas teóricas particulares, orientações também particulares para o exercício
profissional e até áreas de atuação diferenciadas.
Vem daí o mal-estar até hoje experimentado por alguns professores ao se
referirem àquele período. Ainda que opiniões diferentes existissem, bem como
concepções políticas, é óbvio que não seriam bastante para opor de forma tão radical dois
grupos de professores, dentro de um mesmo Departamento, se os tempos fossem outros,
como agora. Contudo aquele foi um período em que não cabiam dúvidas, indefinições ou
acordos: ou está comigo, ou contra mim; ou pelo menos tudo conspirava para que assim
parecesse.
25
. Dentre as polarizações que marcaram o período, uma que teve forte influência no nordeste
foi a xenofobia, como que identificando o conjunto expressivo de docentes vindos de outras
regiões, particularmente do sudeste, com posições políticas progressistas e ameaçadoras ao
status quo. Para uma análise, ver Lyra (1981).
79
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Foi nesse clima que surgiu uma espécie de ojeriza, pobre de crítica, a certas áreas
do fazer psicológico, de modo a anatemizar alguns professores. Por outro lado, uma certa
incapacidade pedagógica, aliada com a prepotência atinente aos representantes dos donos
do poder, levou a que algumas opções metodológicas, assumidas em sala-de-aula por
alguns professores, posto que não adequadamente compreendidas, fossem usadas contra
eles.
O caso mais evidente foi a demissão da professora Maria Emília Yamamoto pelo
então diretor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Jardelino Lucena Filho.
Visto que a professora tinha ligações com aquele movimento oposicionista, e
aproveitando-se de que a mesma empregara em sala-de-aula recursos didático-
pedagógicos que implicavam a atribuição de uma mesma nota a todos os alunos26
, o
diretor concluiu pela sua inadequação para o cargo, orientando o Departamento de
Pessoal a não renovar-lhe o contrato.
Em face de tal decisão, a professora entrou com recurso junto à Associação de
Docentes da UFRN (ADURN), tendo como respaldo um documento escrito por outra
professora, Neide Varela Santiago, atestando a propriedade do seu procedimento didático.
Por outro lado, os estudantes desencadearam um forte movimento de pressão, um dos
primeiros na UFRN no contexto da abertura política, reforçando a importância da
professora para o curso, de tal monta que a administração recuou da sua decisão e a
recontratou.
Situações como essas são ilustrativas do contexto no qual o curso de Psicologia
da UFRN se consolidava, enquanto espaço privilegiado de formação dos psicólogos, no
estado. A aprovação oficial do seu primeiro currículo, depois das mobilizações de
estudantes e professores, e a criação do Departamento de Psicologia, ambas ocorridas no
ano de 1980, caracterizam, no nosso entender, aquela consolidação, encerrando-se assim
um primeiro momento da existência do curso.
26
. Trata-se do programa de estudos individualizados, fundamentado nas propostas de Keller
(1968).
80
80
- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação acadêmica de Psicologia no Brasil, a exemplo do processo educativo
como um todo, sempre esteve profundamente articulada ao movimento social e
econômico geral, conformado historicamente. Em face disto, vimos procurando, neste
trabalho, articular o desenvolvimento das instituições responsáveis por ministrarem
disciplinas de Psicologia no Rio Grande do Norte, tanto com o movimento da Psicologia
no Brasil, quanto com o da sociedade brasileira.
Visto que nossa intenção foi, primeiramente, iluminar as condições do
surgimento do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e
tendo em conta que o mesmo foi criado após a Reforma Universitária posta em prática
pelo regime político que se instalou no país a partir de 1964, são justamente as
conjunturas sociais, a partir de então, que melhor servirão como base para nossas análises
e, por isso, referimo-nos às mesmas reincidentemente.
Ao perquerir em que medida as condições de ensino da Psicologia no Rio
Grande do Norte, anteriores à criação do curso da UFRN, influenciaram na conformação
do quadro atual por ele apresentado, não se poderia ter deixado de fazer referência às
condições gerais do ensino superior no país, notadamente entre 1968 e 1975, que muita
influência exerceram sobre toda a prática acadêmica e o exercício profissional
posteriores.
Se, como dissemos no primeiro capítulo, só recentemente, aos poucos, o
profissional de Psicologia parece abandonar o modelo psicométrico e clínico para se
preocupar com questões mais gerais de saúde e, se a formação desse profissional ainda se
caracteriza pela falta de integração dos saberes, pela ênfase nas disciplinas voltadas para o
conhecimento da personalidade e psicopatologia, então cabía-nos perguntar como se
conformaram tais características, qual sua ligação com seu passado e de qual passado se
fala.
Particularmente no Rio Grande do Norte, estado que teve sua universidade
federal transformada em campo de provas das resoluções da Reforma do Ensino, cabía-
nos observar em que medida a formação oferecida nas faculdades e escolas isoladas,
desde os anos 40, articulou-se com as orientações dos governos militares e configurou o
quadro atual local, no geral idêntico ao quadro nacional.
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Uma das conclusões a que se pode chegar, em face do material pesquisado, é que
o primeiro currículo do curso refletiu a falta de uma massa crítica sobre a Psicologia, no
estado, naquela época. Talvez seja muito ideal pensar que efetivamente existisse, mesmo
até pouco tempo, um grupo de pessoas pensando e produzindo na área, de tal forma
articuladas que pudessem representar uma massa crítica. Em geral, observam-se
movimentos muito auto-excludentes, corporativistas inclusive, de influência restrita.
O que ficou evidente, contudo, é que a não ser em algumas poucas instituições,
como a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e em certas
áreas, como clínica e educação, nada se falava sobre Psicologia, no estado, até meados
dos anos setenta.
A organização daquele currículo obedeceu à preocupação, apenas, de cumprir as
orientações constantes do currículo mínimo elaborado pelo Conselho Federal de
Educação, sem expressar maiores articulações entre a formação que seria oferecida e o
profissional formado por meio dela.
Aqui, também, uma ressalva é oportuna. Não se considera que, mesmo
atualmente, o estudante que se torna profissional reflita a formação que recebe. Uma
porcentagem pequena de informações, válidas para o exercício profissional, é fixada.
Contudo, a realidade sobre a qual chamamos atenção é a da organização do primeiro
currículo do curso, posto que naquela experiência as pessoas tinham antes de tudo a força
de vontade e o sentido da abnegação, e menos experiência da tarefa. O currículo foi
organizado a partir de outros, “importados” de Pernambuco, da Paraíba, do Rio de
Janeiro, de São Paulo etc. Certamente que as diferenças entre as faculdades, naquela
época, não eram tantas, posto que a Psicologia ainda engatinhava, depois de ser
regulamentada em 1962 e andar às voltas com o Currículo Mínimo do MEC.
Refletiu também, aquele primeiro currículo, o arranjo efetuado no sentido de se
garantir professores, em número e diversidade suficientes para dar conta do elenco das
disciplinas nele constantes. Assumia uma disciplina aquele professor que tivesse o
mínimo de formação adequada para tanto, pouco importando se ele tivera experiência
anterior de docência ou se ele se integrava aos objetivos mais gerais da formação de
psicólogos.
Foi nesse contexto que, além dos primeiros psicólogos chegados a Natal,
pedagogos, médicos e outros profissionais assumiram as disciplinas do curso,
emprestando-lhes a orientação da sua formação pessoal. Aqui não vai qualquer crítica
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pessoal, particular, a algum daqueles mestres dos primeiros momentos. Pelo contrário, vai
o reconhecimento de que eles assumiram o que lhes estava sendo imposto (vide o
processo de criação do curso), e que naquelas condições fizeram tudo que lhes era
possível fazer.
A criação do curso de Psicologia da UFRN significou a definição de uma
estrutura para a formação de profissionais, na área, e a referência para quase tudo que
tratava do tema, no estado, mesmo não obedecendo a um processo que contivesse a
preparação necessária para a conformação que veio a assumir. A estrutura do curso
representava uma ruptura em relação às práticas psicológicas desenvolvidas até então.
Logo, não é de se estranhar que o quadro atual, da formação acadêmica e do exercício
profissional, seja aquele apresentado no primeiro capítulo e acima referido.
A “discussão acerca da perspectiva descontinuista versus a perspectiva
continuista, na Historiografia da Psicologia” (Massimi, Campos, Brozeq, 1996, p.47), nos
informa que ao considerar que não há um “objeto único” e nem uma “terminologia
unívoca na História da Psicologia, Smith apud Massimi, Campos, Brozeq (1996) e
Danzinger apud Massimi, Campos, Brozeq (1996) permitem concluir que há uma
“descontinuidade profundamente enraizada no pensamento psicológico, e visível ao longo
da história” (Massimi, Campos, Brozeq, 1996, p.47).
Por outro lado, “numa perspectiva continuísta ... o saber psicológico
desenvolver-se-ía de modo linear e cumulativo, não havendo cortes entre História da
Psicologia Científica e História das Idéias Psicológicas” (Massimi, Campos, Brozeq,
1996, p.47).
A afirmação de que o curso rompera uma tradição do fazer psicológico, no Rio
Grande do Norte, posta em face da discussão acima, requer a precisão daquele
rompimento, que diz muito mais respeito ao aspecto de quais instituições abrigavam a
formação e o exercício e de quais profissionais, majoritariamente, participavam daquelas
atividades.
Não obstante a ruptura ser um fato, pelo menos nos níveis acima, é certo que
pontes foram traçadas entre as práticas e os praticantes, os professores e suas concepções,
nas instituições que foram se desenvolvendo no estado, desde os anos 40, e o curso de
Psicologia criado na UFRN, em meados dos anos 70. Assim, a perspectiva da
continuidade não pode ser deixada de lado na compreensão daquela realidade.
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A influência dos clérigos pode ser observada desde o Departamento de Estudos
Sociais, do qual o de Psicologia é originário, e permaneceu até início dos anos 80. Ou
seja, muito embora recuando para o âmbito estrito da Filosofia, a sua lógica estava sendo
usada para formar os futuros psicólogos do estado.
A Psicologia médica aperfeiçoou o discurso psiquiátrico, associou-se com a
Psicanálise e não parou mais de ganhar adeptos. Os médicos interessados, primeiro, em
Fisiologia e Psicopatologia e, posteriormente, também em Psicanálise, compõem até hoje
o quadro de professores do curso, embora membros de departamentos do Centro de
Ciências da Saúde.
Esta área tem significado especial porque, a exemplo do resto do país, é ela que
define o modelo do exercício profissional para a grande maioria dos psicólogos do Rio
Grande do Norte. O atendimento individual em consultório, da mesma forma que o perfil
do profissional liberal, que se faz sozinho na vida a partir do exercício técnico de um
saber, reforça a identificação patente do psicólogo com o médico. Até na rede pública, em
que a democratização dos serviços deveria ser a meta, o modelo médico é tomado de
empréstimo por muitos psicólogos do estado.
Quanto à Educação, diversos pedagogos que encontravam-se lotados no SEPA,
na época da criação do curso de Psicologia, integraram-se a ele ou vieram a ser
professores de uma ou outra disciplina. É certo dizer - e a polêmica sobre a
predominância do Behaviorismo27
numa certa conjuntura do curso ilumina esta afirmação
- que a Pedagogia sempre esteve muito perto da Psicologia no Rio Grande do Norte.
Inclusive, muitos pedagogos obtiveram, posteriormente, o diploma de psicólogos. Na
verdade, sem o curso de Pedagogia da antiga FFCL e da Faculdade de Educação da
UFRN, teria sido praticamente impossível criar o curso de Psicologia.
27
. Alguns, dentre os primeiros professores do curso, referem-se a certa predominância das
concepções comportamentalistas, seja em face da influência das pedagogas, seja dos psicólogos
provenientes da USP. Assim é que, para Afonso Júnior (1997), o curso trazia no seu início a
marca de “uma linha muito ligada à reflexologia skinneriana...As teorias behavioristas
imperavam...Me parece que isso foi produto das relações com a Pedagogia, com os
pedagogos”. Chaves Filho (1997) afirma que quando voltou em 1979, depois de estudos pós-
graduados, “todas as pré-escolas de Natal eram behavioristas”. Capriglione (1997) diz achar
que “o primeiro currículo foi feito muito à imagem e semelhança do currículo da USP...Era
muito experimental, de base behaviorista”. Na mesma linha de raciocínio Santiago (1997), que
fez parte do grupo que avaliou a possibilidade de criação e da comissão de montagem do curso,
diz que quando chegou ao Departamento de Psicologia Escolar da USP, em 1971, para realizar
estudos de pós-graduação, “o Behaviorismo estava no auge”.
84
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Por outro lado, até hoje, ainda cabe ao Departamento de Educação a oferta da
disciplina de Psicologia da Educação, para as licenciaturas.
E, por fim, o SEPA, por se tratar do espaço em que a teoria se faz prática, a
ciência técnica, sempre permitiu visualizar com mais clareza a ruptura entre as idéias
psicológicas e a Psicologia como ciência. Modificou-se bastante depois de iniciadas as
atividades do curso, tendo a psicometria continuado a ser utilizada, embora na forma de
apoio às atividades psicoterápicas. O amplo atendimento à comunidade, todo com base
em testes psicológicos, deu lugar a um atendimento restrito, articulado com as ações dos
estagiários.
O curso de Psicologia, assim, teve o mérito de concentrar as disciplinas que eram
utilizadas em vários cursos e, desta forma, proceder a uma reflexão mais aprofundada
sobre seu conteúdo, favorecendo mudanças qualitativas.
Logo, por tudo isso, aumenta a certeza de que a história do curso de Psicologia
da UFRN percorre meandros que só ficam claros na medida em que inserida no contexto
mais amplo do desenvolvimento sócio-econômico brasileiro, bem como do processo mais
geral de renovação da Psicologia no Brasil.
Isto quer dizer que, embora a Psicologia local tenha um desenvolvimento
particular, levando em conta as instituições implicadas naquele processo, é necessário
incluí-la na dinâmica maior da constituição da Psicologia no Brasil e da ebulição da
sociedade brasileira, para entendê-lo em suas determinações mais gerais.
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- BIBLIOGRAFIA
AFONSO JÚNIOR, E. [Entrevista concedida a Herculano R. Campos sobre a
Psicologia no Rio Grande do Norte]. Natal, 26 de maio de 1997. (fita cassete).
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Ciência, p.11-38, 1997.
93
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- ENTREVISTAS REALIZADAS
nome data e local
. Maria da Conceição Lucena 16/2/96, Natal/RN
. Maria Ruth Souza Dantas de Araújo 16/2/96, Natal/RN
. Zeneide Ferreira Alves 28/2/97, Natal/RN
. Paulo da Silveira Rosas 26/3/97, Natal/RN
. Hermano Machado Ferreira Lima 23/4/97, Natal/RN
. Francisco Quinho Chaves Filho 28/4/97, Natal/RN
. Nilza Maria Molina Mendes 07/5/97, Natal/RN
. Nivaldo Monte (D.) 08/5/97, Natal/RN
. Severino Lopes da Silva 22/5/97, Natal/RN
. Jardelino de Lucena Filho 22/5/97, Natal/RN
. Eduardo Afonso Júnior 26/5/97, Natal/RN
. Neide Varela Santiago 27/5/97, Natal/RN
. Rosa de Fátima Torres Lima 07/7/97, Natal/RN
. Cosma Nogueira Linhares 08/7/97, Natal/RN
. Eulália Maria Chaves Maia 17/7/97, Natal/RN
. Márcio José Capriglione 17/7/97, Natal/RN
. Edna Núbia Oliveira de Moura 28/7/97, Natal/RN
. José de Queiroz Pinheiro 01/8/97, Natal/RN
. Maria Ruth Souza Dantas de Araújo 13/8/97, Natal/RN
. Francisco Correia 22/8/97, Recife/PE
. Maria Dilma Ferreira de Siqueira 28/8/97, Natal/RN
. Denise Dantas de Araújo Jofily 04/9/97, Natal/RN
. Paulo Fernandes de Oliveira 08/9/97, Natal/RN
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- ANEXOS
1. Artigo do Pe. Monte: Freud (01 folha)..................................................................................... ...................
2. Artigo do Pe. Monte: Falência do Materialismo em Biologia (02 folhas)....................................................
3. Capa de um dos livros de D. Nivaldo: Os Temperamentos (01 folha).........................................................
4. Lista de livros escritos por D. Nivaldo, e de instituições onde ele ensinou, redigida de próprio punho (01
folha)....................................................................................................................... ......................................
5. Atestado concedido a D. Nivaldo Monte, como professor e coordenador de disciplina de Psicologia (01
folha)....................................................................................................................... ......................................
6. Atestado concedido a D. Nivaldo, como conferencista sobre Psicologia (01 folha)......................................
7. Boletim do Pessoal, Ano VIII, 2a quinzena de agosto de 1971, N
0 15, DP-UFRN (06 folhas)......................
8. Ofício Circular N0 06, de 23 de setembro de 1969, ESS-UFRN (02 folhas).................................................
9. Certidão de fundação do SEPA (01 folha)................................................................ ..................................
10. Ofício N0 066/97 PRES CRP-13, João Pessoa, 12 de junho de 1997, com nomes e respectivos CRPs dos
primeiros inscritos nesse Conselho, em Natal (01 folha).................................................... .............................
11. Publicação do Setor de Ensino e Pesquisa do SEPA (34 folhas)............................................................. ...
12. Portaria N0 010/76, de 28 de maio de 1976, designando comissão para estudar a viabilidade de
funcionamento do curso de Psicologia (01 folha).............................................................................. ..............
13. Ata da primeira reunião ordinária do Departamento de Psicologia, em 24 de novembro de 1981 (03
folhas)...................................................................................................................... .....................................
14. Ata da segunda reunião ordinária do Departamento de Psicologia, em 11 de dezembro de 1981 (03
folhas)...................................................................................................................... .....................................
15. Certidão concedida a Neide Varela, como diretora do SEPA (01 folha)....................................................
16. Resolução N0 27/76-CONSUNI, de 06 de julho de 1976, aprovando a criação do curso de Psicologia (01
folha)........................................................................................ .....................................................................
17. Ata da 1a reunião do colegiado do curso de Psicologia, em 18 de maio de 1977 (02 folhas)......................
18. Ata da 1a sessão ordinária e 2
a reunião
do colegiado do curso de Psicologia, em 07 de janeiro de 1980 (03
folhas)....................................................................................... .............................. ...............................
19. Ata da 2a sessão ordinária e 3
a reunião do colegiado do curso de Psicologia, em 13 de fevereiro de 1980
(04 folhas).................................................................................................................. ...................................
20. Ata da 3a sessão ordinária e 4
a reunião do colegiado do curso de Psicologia, em 06 de maio de 1980 (02
folhas)...................................................................................................................... .....................................
21. Anexo a Resolução 001/79-CONSEPE, de 05 de janeiro de 1979, lista de disciplinas do curso de
Psicologia (03 folhas)....................................................................................................... ..............................
22. Minuta de Resolução, com adendo ao currículo baixado pela Resolução N0 01/79-CONSEPE (14
folhas)...................................................................................................................... .....................................
23. Primeiro currículo oficial do curso de Psicologia (05 folhas)................................................................ ....
24. Resolução N0 177/81-CONSEPE, de 10 de julho de 1981, aprovando modificações no 1
o currículo do
curso de Psicologia (05 folhas).......................................................................................................................
25. Segundo currículo oficial do curso de Psicologia (05 folhas)............................................................. ........
26. Justificativa para modificação do currículo do curso de Psicologia, de acordo com pesquisa realizada
pelas professoras Helena Cláudia e Dilma Siqueira (01 folha)................................................................. .......
27. Publicação da Tribuna do Norte, de 05 de março de 1978, com lista de professores aprovados em
concurso, para a disciplina de Psicologia de alguns departamentos da UFRN (02 folhas)...............................
28. Lista com os nomes dos diversos professores do Departamento de Psicologia da UFRN, até junho de
1992 (01 folha).............................................................................................................. ................................
29. Histórico escolar de uma aluna da primeira turma do curso de Psicologia, em que fica patente o elenco de
disciplinas cursadas (01 folha).............................................................................................. .....................
30. Relação dos concluintes da primeira turma do curso de Psicologia, em 81.2 (01 folha).............................
31. Relação dos concluintes da segunda turma do curso de Psicologia, em 82.2 (02 folhas)............................
32. Boletim de Pessoal N0 085, de 02 de junho de 1982, UFRN, autorizando modificações no 2
o currículo do
curso de Psicologia (03 folhas).............................................................................................................