Dissertação MCTA Nalba Lúcia Gomes da...
-
Upload
phungnguyet -
Category
Documents
-
view
220 -
download
0
Transcript of Dissertação MCTA Nalba Lúcia Gomes da...
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL
NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA
ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO
MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL
E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA
JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)
CAMPINA GRANDE 2010
NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA
ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO
MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL
E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA
JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção do título de mestre.
ORIENTADOR: Dr. RÔMULO ROMEU DA NÓBREGA ALVES
CO-ORIENTADOR: Dr. HENRIQUE DOUGLAS MELO COUTINHO
CAMPINA GRANDE 2010
É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do
autor, título, instituição e ano da dissertação
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB
S586z Silva, Nalba Lúcia Gomes da.
Zooterápicos utilizados em comunidades rurais do município de Sumé, semiárido da Paraíba, Nordeste do Brasil e avaliação da atividade antibacteriana da gordura da jibóia Boa constrictor (Linnaeus, 1758) [manuscrito] / Nalba Lúcia Gomes da Silva. – 2010.
102 f. : il. color. Digitado Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental),
Centro de Ciências e Tecnologias, Universidade Estadual da Paraíba, 2010.
“Orientação: Prof. Dr. José Rômulo Romeu da Nóbrega
Alves, Departamento de Biologia”. “Co-orientação: Pro. Dr. Henrique Douglas Melo Coutinho”. 1. Etnobiologia. 2. Etnozoologia. 3. Zooterapia. 4. Animais.
I. Título.
22. ed. CDD 591.7
NALBA LÚCIA GOMES DA SILVA
ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO
MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL
E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA
JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)
Banca Examinadora:
_________________________________________________ Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
(Orientador)
__________________________________________________ Prof. Dr. Henrique Douglas Melo Coutinho
(Co-Orientador)
_________________________________________________ Prof. Dr. José da Silva Mourão
(Examinador interno)
__________________________________________________ Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida
(Examinador externo)
Dedicatória
Ao meu pai, por estar tão presente na minha vida, mesmo depois da sua ausência física.
A minha mãe, por seu exemplo de coragem e companheirismo, minha grande inspiração.
Aos meus irmãos, Normando e Ana Célia, por me deixarem fazer parte de suas vidas.
Aos meus irmãos e irmãs da Comunidade São Miguel Arcanjo, por me ajudarem na busca do Reino.
Agradecimentos
• A Deus, pelo dom da vida e por todas as pessoas que amo;
• Ao prof. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, pela orientação, compreensão e
dedicação a este trabalho;
• Ao prof. Henrique Douglas Melo Coutinho, pela co-orientação nesta pesquisa;
• Aos professores e colegas do Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental –
UEPB, por todo o aprendizado;
• A todos os entrevistados nesta pesquisa, por compartilharam conosco seus
conhecimentos, experiências e sabedoria;
• As agentes comunitárias de saúde Zenilda Maria Ramos da Silva, Tânia Maria
Silva e Euda Maria Chaves, por todo o apoio e companheirismo no trabalho de
campo nas comunidades rurais de Sumé/PB;
• Ao Laboratório de Zoologia da Universidade Regional do Cariri – URCA;
• A Felipe Ferreira, pela valorosa participação neste trabalho;
• A Cinthia Costa, Vivyane Falcão, Wedson Souto e Cássio Oliveira, pela
colaboração, e presteza quando foi necessário;
• Aos professores José da Silva Mourão e Alberto Kioharu Nishida, por suas
participações nesta banca;
• A professora Dilma Trovão, por todo incentivo que me dispensou em minha
vida acadêmica;
• A toda a minha família e amigos, pelo incentivo e apoio durante este trabalho;
• A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste
trabalho;
• A todos os aqueles que se dedicam a formação de cidadãos mais conscientes e
responsáveis com o meio ambiente e com a sociedade.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUÇÃO GERAL..................................................................................... 10
1.2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................. 14
1.2.1 Bioma Caatinga............................................................................................... 14
1.2.2 Etnobiologia e Etnozoologia........................................................................... 14
1.2.3 Etnofarmacologia ........................................................................................... 17
1.2.4 Etnomedicina.................................................................................................. 18
1.2.5 Zooterapia ...................................................................................................... 19
1.2.6 Répteis............................................................................................................. 21
2. CAPÍTULO I – ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDA DES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE DO BRASIL.....................................................................................
23
RESUMO................................................................................................................. 24
ABSTRACT............................................................................................................. 25
2.1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 26
2.2 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 29
2.2.1 Descrição da área de estudo............................................................................ 29
2.2.2 Coletas de dados.............................................................................................. 31
2.2.3 Análise dos dados............................................................................................ 32
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 34
2.3.1 Recursos zooterápicos..................................................................................... 34
2.3.2. Doenças e remédios....................................................................................... 37
2.3.3 Aspectos culturais dos zooterápicos............................................................... 46
2.3.4 Perfil sócioeconômico dos informantes.......................................................... 48
2.3.5 Implicações ecológicas................................................................................... 50
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 62
3. CAPÍTULO II – AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERI ANA DA GORDURA DA JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758).........................
63
RESUMO................................................................................................................. 64
ABSTRACT............................................................................................................. 65
3.1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 66
3.2 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 70
3.2.1 Material zoológico.......................................................................................... 70
3.2.2 Preparação do óleo de Boa constrictor (OBC)............................................... 70
3.2.3 Cepas............................................................................................................... 70
3.2.4 Drogas............................................................................................................. 71
3.2.5 Teste de suscetibilidade as drogas.................................................................. 71
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 72
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 79
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 80
ANEXOS................................................................................................................. 98
Termo de compromisso livre e esclarecido.............................................................. 99
Termo de compromisso dos pesquisadores.............................................................. 100
Formulário de coletas de dados................................................................................ 101
LISTA DE FIGURAS
Capítulo I
Figura 1. Localização geográfica da área de estudo.................................................... 30
Figura 2. Classificação taxonômica das espécies utilizadas como zooterápicos na
área estudada..................................................................................................
34
Figura 3. Tupinambis merianae – Tejuaçú, animal usado como zooterápico no
município de Sumé, Paraíba..........................................................................
38
Figura 4. Quantitativo das matérias-primas animais usadas para fins medicinais........ 42
Figura 5. Animais usados para fins medicinais nas comunidades pesquisadas.
Acima (esquerda) Conepatus semistriatus (tacaca); acima (direita)
Callithrix jacchus (Sagui); abaixo (esquerda) Meleagris gallopavo (peru)
e Gallus domesticus (galinha); abaixo (direita) cauda de Euphractus
sexcinctus (Tatu-peba) e Dasypus novemcinctus (tatu-
verdadeiro).....................................................................................................
43
Figura 6. Recipientes contendo mel de Apis mellifera (esquerda) e Partamora
cupira (direita)...............................................................................................
46
Figura 7. Iguana iguana – Camaleão, réptil utilizado para fins medicinais no
município de Sumé/PB..................................................................................
47
Figura 8. Distribuição por faixa etária dos informantes da pesquisa............................ 48
Figura 9. Distribuição por nível de renda mensal dos informantes da pesquisa........... 49
Figura 10. Distribuição por grau de escolaridade dos informantes da pesquisa............. 49
Capítulo II
Figura 1. Boa constrictor, animal usado na medicina tradicional................................. 67
LISTA DE TABELAS
Capítulo I
Tabela 1.
Lista de doenças e agravos tratados com zooterápicos de acordo com CID
10 – Classificação Internacional de Doenças e Agravos Relacionados à
Saúde. (OMS, 2000)......................................................................................
39
Tabela 2.
Fator de Consenso dos informantes por categorias de doenças.....................
44
Tabela 3. Animais usados para fins medicinais em comunidades rurais do Cariri
Paraibano.......................................................................................................
53
Tabela 1.
Capítulo II
Concentração Inibitória Mínima de Óleo de Boa Constrictor (µg/mL)........
70
Tabela 2. Concentração Inibitória Mínima de Óleo de Boa Constrictor isolado e
associado à aminoglicosídeos (µg/mL).........................................................
70
10
1. INTRODUÇÃO GERAL
Fatores sociais, econômicos e culturais têm um papel fundamental em
determinar como os indivíduos e comunidades usam os recursos naturais (NAZAREA
et al. 1998), de forma que, a ação das diversas sociedades modela a natureza e seus
diversos habitats, construindo um território (DIEGUES et al. 1999). Ao longo dos
tempos a humanidade foi adquirindo um grande e diversificado conhecimento sobre a
utilidade das espécies e estabelecendo interações com recursos biológicos, o que tem
sido estudado através da etnociências. Nos últimos anos, informações etnoecológicas
têm representado importante ferramenta para estudos conservacionistas, auxiliando no
conhecimento da flora, fauna, e ecologia dos ambientes, indicando vários elementos
úteis para o desenvolvimento de uma região (FERNANDES-PINTO; MARQUES,
2004).
No Bioma Caatinga, recursos naturais vêm sendo utilizados de diversos modos,
tais como na alimentação, tratamento de doenças (medicinal), madeira (energia e
construção) e forragem. O uso de animais para tratamento de doenças é comum na
região, embora poucos trabalhos tenham sido realizados sobre o assunto (ALVES;
ROSA, 2007). A escassez de trabalhos sobre zooterapia no Brasil, assim como ocorre
em todo o mundo, tem contribuído para que a importância dos recursos zooterápicos
venha sendo subestimada no país (ALVES, 2006).
A conservação de animais e plantas de importância medicinal usados
popularmente gera questões relevantes com respeito à sustentabilidade. Algumas das
espécies usadas na medicina popular encontram-se ameaçadas de extinção (SILVA et
al., 2001; ALVES; ROSA, 2005; 2007) e a demanda criada pela medicina tradicional é
considerada uma das causas de exploração irracional de algumas espécies. Neste
11
contexto, evidencia-se a necessidade de estudos que enfoquem não somente a
documentação dos usos tradicionais de animais e plantas para fins terapêuticos, mas
também os aspectos culturais e ecológicos associados a tais práticas (ALVES; ROSA,
2005).
O uso de animais medicinais ou seus produtos, não se restringe a utilização
popular tradicional, mas estender-se à utilização pela indústria farmacêutica. Uma
porção significante das drogas atualmente disponíveis são derivados de animais
(ALVES; ROSA, 2005). O mercado mundial de medicamentos obtidos de produtos
naturais atinge hoje vários bilhões de dólares (COUTINHO, 2008). Com valor
econômico incalculável em diversas atividades, o maior potencial da biodiversidade
brasileira está, atualmente, na área de desenvolvimento de novos fármacos. A
terapêutica atual, com medicamentos de ações específicas sobre receptores, canais
iônicos e enzimas não teria sido alcançada sem a contribuição dos produtos naturais de
plantas, das toxinas animais e dos microrganismos (CRAGG et al., 1997; PANDEY,
1998; SHU, 1998). Como aponta Pieroni et al. (2002), os constituintes químicos e ações
farmacológicas de produtos medicinais de origem animal são conhecidos e os estudos
etnofarmacológicos focados nesse tipo de remédio são importantes a fim esclarecer a
sua eventual utilidade terapêutica.
No Semi-árido brasileiro, animais são amplamente usados para fins medicinais
(Alves 2009), de forma que a região pode ser usada como um estudo de caso buscando
aumentar nosso conhecimento acerca dos recursos faunísticos usados na medicina
tradicional, alertando para a necessidade de proteger a biodiversidade e o conhecimento
tradicional. É importante ressaltar ainda que a grande maioria dos animais medicinais
vem sendo consumida com pouca ou nenhuma comprovação de suas propriedades
farmacológicas, propagadas por usuários ou comerciantes. O presente estudo tem como
12
finalidade obter informações relativas aos vários aspectos da zooterapia, bem como,
uma caracterização do contexto sócio-cultural em que se dá a utilização dos recursos
zooterápicos no semiárido paraibano, além de realizar a investigação farmacológica de
uma espécie selecionada (Boa constrictor).
O trabalho está composto por esta Introdução Geral, que também apresenta
uma breve revisão da literatura, no tópico Referencial Teórico. Os resultados do
trabalho são apresentados e discutidos em capítulos distintos: Zooterápicos utilizados
em comunidades rurais do município de Sumé, semiárido da Paraíba, Nordeste do
Brasil e Avaliação da atividade antibacteriana da gordura da jibóia Boa constrictor
(Linnaeus, 1758)
13
1.2 REFERENCIAL TEÓRICO
1.2.1 Bioma Caatinga
O Nordeste do Brasil é coberto em sua maior parte por uma vegetação xerófila,
de fisionomia e florística variadas, denominada Caatinga (RODAL et al., 1992),
apresentando espécies arbóreo-arbustivas, cactáceas e ervas, dispersas por toda parte. A
Caatinga engloba uma área de aproximadamente 910.000 Km², incluindo, além do
Nordeste, onde ocupa mais de 70%, áreas marginais de Minas Gerais e Espírito Santo,
equivalendo em torno de 11% do território nacional (EMBRAPA, 1996). De acordo
com Rodal et al (1992), o clima é dominado por uma longa estação seca, as chuvas são
caracterizadas como torrenciais e irregulares, havendo períodos de extrema deficiência
hídrica, denominados de seca, que têm ocorrido com freqüência irregular a cada 10 a 20
anos. A região se caracteriza por apresentar temperaturas elevadas e ser a região mais
seca do país. A sua variabilidade espacial e temporal de precipitação é elevada, o que é
característico de climas semi-áridos. Os índices, de um ano para outro, apresentam
desvio de até 200% (ARRUDA, 1997).
As heterogeneidades dos ecossistemas presentes na caatinga demonstram o alto
grau de especialização que a comunidade foi submetida a se adaptar. As plantas
pertencentes à vasta zona de domínio das Caatingas não possuem características
uniformes, mas cada espécie detêm características intrínsecas que associadas aos fatores
ambientais que as permeiam, as distribuem de modo que suas áreas de ocorrência têm
um grau de sobreposição razoável. Tal fato permite identificar áreas nucleares, que se
diferenciam de áreas marginais justamente por terem maior número de características
14
consideradas básicas (SILVA et al, 2004). O conjunto florístico apresenta altos índices
de endemismo (ANDRADE-LIMA, 1966), com cerca de 30% da flora descrita de
caráter endêmico (GIULIETTI et al., 2002).
Na fauna da Caatinga, já há registros de 187 de abelhas (ZANELLA;
MARTINS, 2003), 240 de peixes (ROSA et al., 2003), 167 de répteis e anfíbios
(RODRIGUES, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves (SILVA et al., 2003) e 148
espécies de mamíferos (OLIVEIRA et al., 2003) cujo o grau de endemismo varia de 3 a
57% (LEAL et al., 2005). Estes valores demonstram que a caatinga possui uma
biodiversidade igual ou superior às demais florestas secas do mundo (LEAL et al.,
2003).
O semi-árido nordestino se apresenta como um dos mais populosos em nível
mundial se comparado com demais domínios semi-áridos, o adensamento humano,
atípico para uma região semi-árida, acentua a debilidade do seu ecossistema, e exigi
maior preocupação com a escassez dos recursos naturais (FRANCELINO et al, 2003).
1.2.2 Etnobiologia e Etnozoologia
A espécie humana possui uma interdependência com os demais elementos
bióticos do meio, que tem sido explicada pela hipótese da biofilia, segundo a qual o
homem teve 99% de sua história evolutiva intimamente envolvida com outros seres
vivos, tendo desenvolvido um significativo sistema informacional acerca das espécies e
do ambiente, que se traduz nos saberes, crenças e práticas culturais relacionados com a
fauna de cada lugar (SANTOS-FITA; COSTA-NETO, 2007). “Desse modo, as atitudes
15
do homem direcionadas aos animais evoluíram bem antes das primeiras tentativas de
representá-los tanto nas artes e na história quanto nas ciências” (SAX, 2001).
A etnobiologia parte da visão compartilhada da ciência sobre o mundo natural,
conforme definição de Posey (1987a):
A etnobiologia é essencialmente o estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da
biologia. Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza no sistema
de crenças e de adaptação do homem a determinantes ambientais. Neste
sentido, a etnobiologia relaciona-se com a ecologia humana, mas
enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em
estudo (p. 15).
No Brasil, os modos de interação homem/fauna vêm sendo registrados desde a
época colonial (PISO, 1957). No entanto, de acordo com Costa-Neto (2004), os estudos
de etnozoologia ainda são escassos quando comparados com aqueles devotados à
etnobotânica.
O prefixo etno tem sido utilizado por designar, de maneira sintetizada, os modos
que as sociedades compreendem o mundo (MARTIN, 1995). Assim, o termo
etnobiologia significa “forma com que as diferentes populações humanas percebem,
classificam e entendem os recursos naturais” (CLÉMENT, 1998); quando o prefixo etno
é usado seguido do nome de uma ciência, como biologia ou zoologia, dá a entender que
os pesquisadores dessas áreas estão buscando as percepções de sociedades locais dentro
desses contextos (HAVERROTH, 1997).
O processo de formação do campo da etnobiologia e, por conseguinte, da
etnozoologia, foi estudado por Clément (1998). “Para este autor, três fases,
denominadas pré-clássica, clássica e pós-clássica, testemunham tanto as mudanças de
16
atitude quanto o enfoque teórico metodológico dos pesquisadores ao longo do tempo”
(SANTOS-FITA; COSTA-NETO, 2007).
De acordo com Nolan & Robbins (2001), a percepção, identificação e
classificação dos elementos faunísticos por parte de uma dada sociedade são
influenciadas tanto pelo significado emotivo quanto pelas atitudes culturalmente
construídas direcionadas aos animais. O comportamento humano frente aos animais é
formado pelo conjunto de valores, conhecimentos e percepções, bem como, pela
natureza das relações que os seres humanos mantêm com esses organismos (DREWS,
2002). Incluindo-se diferentes manifestações humanas frente à fauna, sejam estas,
inspiradas pela afeição, repúdio, reverência ou desprezo, indicando, por vezes, crendices
e aspectos cinegéticos locais (ROCHA-MENDES et al, 2005).
Tendo em vista, que o conhecimento zoológico tradicional é o resultado de
muitas gerações de saberes acumulados, experimentação e troca de informação
(ELLEN, 1997), espera-se que os conhecimentos que sociedades tradicionais possuem
sobre o comportamento, hábitos alimentares, reprodução e propriedades terapêuticas de
animais possam ser aproveitados tecnicamente para acumular informação zoológica e
iniciar ensaios de manejo e uso sustentável das espécies (MARTÍNEZ, 1995).
É imprescindível reafirmar que o conhecimento zoológico tradicional é sempre
situacional e modificável. Ele pode variar qualitativa e quantitativamente, inclusive de
acordo com o gênero, faixa etária e nível de empatia com o animal (ELLEN, 1997).
Porém, diante da escassez de registros de caráter biológico sobre a zooterapia, destaca-
se a possibilidade da perda de informações que poderiam subsidiar pesquisas
etnobiológicas, com formulações de hipóteses, inclusive no aspecto etnofarmacológico,
além de programas de saúde pública culturalmente planejados (SILVA et al, 2004).
17
Ao mostrar os diferentes modos em que o conhecimento sobre o mundo natural
está organizado em todo grupo humano, a etnobiologia oferece um tipo de relativismo
pelo qual é possível reconhecer outros modelos de apropriação da natureza não
necessariamente baseados no racionalismo e pragmatismo da ciência vigente. A
etnobiologia também serve de mediadora entre as diferentes culturas ao assumir seu
papel como disciplina dedicada à compreensão e respeito mútuo entre os povos
(POSEY, 1987).
1.2.3 Etnofarmacologia
A etnofarmacologia compreende uma divisão da etnobiologia, sendo uma
disciplina voltada para o estudo do complexo conjunto de relações entre plantas,
animais e sociedades humanas presentes ou pretéritas (BERLIN, 1992). Como
estratégia na investigação de animais e plantas usados para fins medicinais, a
abordagem etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto às
comunidades que fazem uso da fauna ou flora local com estudos químicos e
farmacológicos realizados em laboratórios especializados. Neste aspecto, a seleção
etnofarmacológica de espécies animais e vegetais para pesquisa e desenvolvimento
baseados na informação de um efeito terapêutico, pode se constituir num valioso atalho
para descoberta de fármacos. Por se basear em informações de utilidade terapêutica, a
etnofarmacologia pode levar a identificação de produtos com mecanismos de ação
desconhecidos, ao contrário da abordagem mecanicista, que se baseia na interferência
dos produtos em teste com mecanismos farmacodinâmicos predeterminados
(ELISABETSKY, 1993).
18
Alguns problemas dificultam o aproveitamento da biodiversidade no Brasil para
o desenvolvimento de novos fármacos, o que cria a necessidade do estabelecimento de
políticas e ações de caracterização, conservação e proteção da diversidade genética
vegetal, como também a criação de indústrias de base tecnológicas, além da formação e
qualificação de recursos humanos. Não menos importantes são as ações relacionadas à
propriedade intelectual e industrial, cujas leis vigentes são passíveis de alterações para
melhor adequação ao panorama atual, visando oferecer melhor controle e vigilância os
processos de bioprospecção no território nacional (COUTINHO, 2008). Nesse sentido,
a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio
de Janeiro em junho de 1992, deu ensejo a uma ampla discussão sobre o assunto. A
CDB têm como objetivos a conservação da diversidade biológica, a utilização
sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios
derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante o acesso a estes recursos e a
transferência de tecnologia da forma adequada, levando em conta todos os direitos sobre
tais recursos e tecnologias através do financiamento adequado (STROBL, 2000).
1.2.4 Etnomedicina
A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 80% das necessidades
com cuidados de saúde nos países em desenvolvimento são resolvidas através das
práticas tradicionais (WHO, 2002). O uso de animais e plantas na atenção primária à
saúde corresponde uma necessidade para muitos que não dispõe de recursos para outras
formas de tratamento (ALVES, 2006). O Nordeste do Brasil apresenta uma das menores
rendas per capita do país (BRASIL, 2006), refletindo, conseqüentemente, no
19
desenvolvimento de atitudes em relação à saúde que inclui o uso de recursos biológicos
como alternativa terapêutica. Embora, de acordo com Costa-Neto (1999), a
etnomedicina tem tido um papel importante nas práticas de saúde de pessoas
pertencentes às diferentes classes sociais em todo Brasil.
Etnomedicina é a totalidade de saúde, conhecimento, valores, crenças,
habilidades e práticas de membros de uma sociedade incluindo todas as atividades
clínicas e não-clínicas que relatam para os necessitados de saúde (WHO, 2002). Na
etnomedicina, também considerada medicina tradicional são utilizados produtos da
fauna e flora. O uso de produtos silvestres como medicamento é uma característica inata
do homem, tanto quanto em outros animais (COSTA-NETO, 1996).
Ainda segundo a OMS, as práticas da medicina tradicional expandiram-se
globalmente na última década do século passado e ganharam popularidade. Essas
práticas são incentivadas tanto por profissionais que atuam na rede básica de saúde dos
países em desenvolvimento, como por aqueles que trabalham a medicina convencional é
predominante no sistema de saúde local (BRASIL, 2006).
1.2.5 Zooterapia
Desde épocas antigas os animais e os produtos derivados de seus órgãos e de
diferentes partes de seus corpos constituem parte do inventário das substâncias
medicinais usadas em muitas culturas, e tais usos ainda existem na medicina popular
dos dias atuais. Os arquivos, os papiros, e outras fontes históricas escritas de tratados de
medicina, demonstram como é antiga a prática de usar animais e seus derivados para
fins medicinais (LEV, 2003).
20
Documentos históricos indicam que o uso de animais medicinais no Brasil vem
desde a colonização (ALMEIDA, 2005). Entretanto, somente a partir dos anos 80,
estudos vêm demonstrando a importância da zooterapia para comunidades tradicionais
em diferentes regiões do Brasil (ALVES, 2006). Uma revisão recente sobre o tema
aponta que 287 espécies animais usadas na medicina tradicional no Brasil, embora esse
número possa ser ainda maior, se considerarmos que ainda são incipientes os estudos
sobre o tema (ALVES et al., 2007). A título de comparação, enquanto 3722 trabalhos
foram publicados acerca do uso de plantas medicinais no Brasil (CALIXTO, 2005),
apenas 28 trabalhos que tratam especificamente sobre o uso de animais para fins
medicinais foram publicados até o momento. A escassez de trabalhos sobre zooterapia
no Brasil, assim como ocorre em todo o mundo, tem contribuído para que a importância
dos recursos zooterápicos venha sendo subestimada no país.
Embora até mesmo o Ministério da Saúde através da Política Nacional de
Medicamentos reconheça a importância das pesquisas nessa área, como parte essencial
da Política Nacional de Saúde, no âmbito de suas diretrizes para o desenvolvimento
tecnológico, preconiza que “[...] deverá ser continuado e expandido o apoio às pesquisas
que visem ao aproveitamento do potencial terapêutico da flora e fauna nacionais,
enfatizando a certificação de suas propriedades medicamentosas” (BRASIL, 1998).
O uso de animais medicinais ocorre tanto em áreas rurais quanto em áreas
urbanas. Nas cidades, os animais medicinais são comercializados por erveiros em
mercados e feiras livres espalhados por todo o país (COSTA-NETO, 1999; ALMEIDA
& ALBUQUERQUE, 2002; SILVA et al., 2003; ALVES, 2007). Algumas espécies
animais comercializadas para uso medicinal estão registradas em livros e listas de
espécies raras ou ameaçadas e uma das causas se atribui à pressão exercida pelo
excessivo extrativismo (ALVES & ROSA, 2007). São evidentes as implicações
21
ecológicas, culturais, sociais e de saúde pública associadas a tal modalidade de uso da
fauna, a necessidade de estudos que visem inventariar as espécies animais utilizadas
para fins medicinais são fundamentais, assim como o contexto sócio-cultural associado
a esses usos.
Por outro lado, é importante salientar que o uso de animais devido ao seu valor
medicinal é uma das formas de utilização da diversidade biológica (CELSO, 1992). Por
séculos, povos indígenas vêm coletando plantas e animais sem ameaçar a dinâmica
populacional das espécies devido ao baixo nível de exploração (ANYINAM, 1995).
Begossi e Braga (1992) sugerem que animais utilizados na medicina caseira podem
estar sendo preservados como fonte de remédios. Embora algumas das espécies
medicinais estejam ameaçadas e o uso seja um fator adicional de pressão sobre essas
espécies, pode-se perceber que o impacto dessa prática é pouco expressivo nas áreas
estudadas, sobretudo quando comparado a outros fatores, como a degradação de habitat
e captura desses animais para outros fins que não medicinais, causas evidentes do
declínio populacional de algumas espécies (ALVES, 2006). Desse modo, é importante
deixar claro que, apesar da prática da etnomedicina por populações tradicionais não
estar dissociada da degradação ambiental, ela é uma parte integral da cultura de povos
indígenas em muitas partes do mundo, tendo uma interface fechada com ecossistemas
locais, conforme explicita Anyinam (1995).
1.2.6 Répteis
O Brasil possui uma das maiores diversidades biológicas do mundo em répteis, e
deve ocupar a terceira colocação na relação de países com maior riqueza de espécies,
atrás somente da Austrália e do México (BENÍCIO et al, 2009) No Brasil são
22
encontradas 708 espécies de répteis naturalmente ocorrentes e se reproduzindo em
nosso país, sendo: 36 quelônios; 06 jacarés; 237 lagartos; 64 anfisbênias; e 365
serpentes (SBH, 2009).
Sendo que, diversas espécies de répteis são utilizadas para fins terapêuticos,
tanto na medicina tradicional, quanto na medicina convencional. Vários trabalhos vêm
sendo realizados com o intuito de descrever as propriedades clínico-farmacológicas de
substâncias isoladas a partir de répteis. Liu et al. (2008) demonstram o efeito anti-tumor
de extratos do lagarto Gecko japonicus (Boulenger, 1885) amplamente utilizado na
medicina tradicional chinesa. As lisozimas das tartarugas Trionyx sinensis (Wiegmann,
1835), Amyda cartilagenea (Boddaert, 1770) e Chelonia mydas (Linnaeus, 1758)
demonstraram uma alta atividade bactericida (Thammasirirak et al., 2006). Morais et al.
(2009) relataram a atividade anti-coagulante da anti-trombina do veneno da serpente
Bothrops jararaca (Wied,1824). Ciscotto et al. (2009) descreveram a atividade
bactericida e antiparasitária do ácido L-amino oxidase proveniente do veneno de B.
jararaca.
Dentre os diversos répteis utilizados na medicina popular no Brasil, encontra-se
a Boa constrictor (Linnaeus, 1758), usada em diversas regiões do país (COSTA-NETO,
1999; ALVES et al., 2009). Segundo Fordham et al. (2007) e Todd & Andrews (2008),
as jibóias apresentam um tamanho variável, podendo chegar a quatro metros de
comprimento, com corpo cilíndrico e ligeiramente comprimido nas laterais,
evidenciando uma forte musculatura constritora. O sistema de acasalamento conforme
descritos por Isaza et al. (1993); Bertona & Chiaraviglio (2003) e Chiaraviglio et al.
(2003) é poligâmico. Sendo sua gordura utilizada na medicina popular, para tratar
doenças como: reumatismo, dor de ouvido e de garganta, entre outras (ALVES, 2009;
ALVES; ROSA, 2006).
23
CAPÍTULO I
2- ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES
RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA
PARAÍBA, NORDESTE DO BRASIL.
24
ZOOTERÁPICOS UTILIZADOS EM COMUNIDADES RURAIS DO
MUNICÍPIO DE SUMÉ, SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE D O BRASIL.
RESUMO
O presente capítulo objetivou documentar e analisar o uso de animais para fins
medicinais em comunidades rurais do município de Sumé/PB, semiárido nordestino, A
pesquisa foi realizada de dezembro de 2008 a setembro de 2009, através de
questionários semiestruturados, sendo entrevistados 92 informantes. Foram
identificadas 57 espécies de animais usadas para fins medicinais, destas, 40 vertebrados
e 17 invertebrados, distribuídas em 08 categorias taxonômicas, destacando-se, com
maior número de citações: mamíferos (16), aves (12) e insetos (13) As espécies mais
citados pelos informantes foram: Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) –
Tejuaçú (86 citações); Partamora cupira - Abelha cupira (84 citações); Gallus
domesticus (Linnaeus, 1758) - Galinha (76 citações); Apis mellifera (Linnaeus, 1758) -
Abelha italiano (58 citações); Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) – Cágado (55
citações); Foram citadas 93 doenças e agravos tratadas com animais medicinais. A
categoria de doenças com maior número de citações de uso foi: doenças do aparelho
respiratório (443 citações). Os resultados sugerem que a prática do uso de zooterápicos
na região é persistente e que o conhecimento popular sobre essas práticas de cura é parte
integrante da cultura da região. Assim, é evidente a necessidade de um aprofundamento
nos estudos referentes à zooterapia, no sentido da compreensão da interação
homem/ambiente/cultura, buscando conciliar a cultura regional e a conservação da
fauna.
Palavras-chave: Etnozoologia, Zooterapia, Medicina tradicional.
25
ABSTRACT
The present chapter aimed to document and analyze the use of animals for medical
purposes in rural communities from the country of Sumé/PB, which is located in the
northeastern semiarid. The research was realized from December 2008 to September
2009, through semi-structured questionnaires, and 92 informants were interviewed. 57
animal species used for medical purposes were identified, among these, 40 vertebrate
and 17 invertebrate ones, distributed in 08 taxonomic categories, being posted, with the
largest number of citations: mammals (16), birds (12) and insects (13). The most cited
species by the informants were: Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) –
“Tejuaçú” (86 citations); Partamora cupira – “Cupira bee” (84 citations); Gallus
domesticus (Linnaeus, 1758) - Hen (76 citations); Apis mellifera (Linnaeus, 1758) –
“Italian bee” (58 citations); Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) – Tortoise (55
citations). 93 diseases and injuries treated with medical animals were cited. The
category of diseases with the largest number of citations of use was the respiratory
diseases (443 citations). The results suggest that the practice of using zootherapeutic in
the mentioned region is frequent and that the popular knowledge about these healing
practices is part of the culture of the region. Thus, it is evident the need of a deepening
in the studies that refer to the zootherapy, towards understanding the interaction
man/environment/culture, seeking to conciliate the regional culture and the wildlife
conservation.
Key words: Ethnozoology, Zootherapy, Traditional Medicine
26
2.1 INTRODUÇÃO
A ligação entre biodiversidade e a saúde humana é especialmente
importante em países subdesenvolvidos. A biodiversidade é uma fonte inestimável de
informação e matéria-prima que suporta sistemas de saúde. A medicina tradicional é
amplamente disponível e geralmente acessível à maioria de povos. Em muitos países em
desenvolvimento, grande parte da população, especialmente em áreas rurais, depende
principalmente da medicina tradicional para os cuidado básicos com saúde, porque é
mais barato e acessível do que a medicina oficial (SOFOWORA, 1993; LUOGA et al.,
2000; WHO, 2002). Além disso, a medicina tradicional é também mais aceita porque se
insere no contexto sócio-cultural das pessoas (TABUTI et al., 2003).
O Brasil é reconhecido por sua biodiversidade, possuindo uma riqueza biológica
que torna-se ainda mais importante quando associada a sua sociodiversidade, que
envolve vários povos e comunidades, com visões, saberes e práticas culturais próprias
(BRASIL, 2009).Dentre as diferentes formas de uso da biodiversidade pelas
comunidades tradicionais destaca-se a sua utilização como recurso terapêutico
(ANYINAM, 1995; SOUTO et al, 1999; ALMEIDA, 2005; COSTA-NETO, 1999;
2004; ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; LEV, 2003; SILVA et al, 2004; ALVES et
al , 2008; ALVES; ROSA, 2005; FERREIRA et al, 2009).
No Brasil, desde 1980 várias publicações mostram a importância de zooterápicos
para comunidades tradicionais de distintos contextos ambientais, sociais e culturais
(ALVES; ROSA; SANTANA, 2007a). Atualmente, sabe-se que pelo menos 290
animais são usados para propósitos medicinais no país (ALVES, 2008). Este número
está certamente subestimado, visto que a quantidade de estudos no tema é muito
27
limitada e se concentra principalmente em algumas localidades do Norte e Nordeste do
país, sobretudo em áreas costeiras e região Amazônica (por exemplo, ALVES; ROSA,
2007; BRANCH; SILVA, 1983; FIGUEIREDO, 1994; COSTA-NETO; MARQUES,
2000). Comparativamente, os biomas menos conhecido são a Caatinga e o Cerrado, dois
ecossistemas com graus de impacto bastante elevados (LEAL et al, 2005), para os quais
poucas informações sobre espécies medicinais estão disponíveis (ALVES et al, 2008),
embora nos últimos dois anos os trabalhos sobre o tema vem sendo realizados na
caatinga. Esse bioma, altamente ameaçado, cobre uma área vasta do Nordeste do Brasil,
sendo fonte de muitos recursos naturais pouco estudados, muitos dos quais usados para
fins medicinais (LEAL et al, 2005; ARAÚJO; CASTRO; ALBUQUERQUE, 2007;
ALBUQUERQUE et al, 2007).
Estudos sobre usos tradicionais de recursos faunísticos são de grande
importância para assuntos ligados à biologia de conservação, políticas de saúde pública,
manejo sustentável dos recursos naturais e prospecção biológica (ALVES, 2008). No
Nordeste do Brasil, especialmente na região semi-árida, animais e plantas são
extensamente usadas na medicina tradicional e tem papel significante em práticas
curativas (ALVES, 2009). A zooterapia forma uma parte integrante da cultura local, e
informações sobre animais e os seus usos são passadas de geração a geração através do
conhecimento de oral.
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é documentar práticas zooterápicas em
comunidades rurais do Cariri Paraibano, mais especificamente do município de Sumé,
bem como, caracterizar o contexto sociocultural em que se dá a utilização dos recursos
zooterápicos nessas localidades. O estudo será desenvolvido em torno dos seguintes
questionamentos: Quais espécies animais são usadas como remédios? Quais são as
28
partes usadas para preparar os remédios? Quais são as doenças tratadas? Discute ainda
as implicações associadas a conservação das espécies exploradas.
29
2.2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.2.1 Descrição da área de estudo
A pesquisa foi realizada em comunidades rurais do município de Sumé, que está
localizado na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental, centro do
estado da Paraíba. O município limita-se ao Norte com São José dos Cordeiros, Amparo
e Itapetim (PE); ao Sul com Camalaú e Monteiro; a Leste com Serra Branca e Congo; e
a Oeste com Ouro Velho, Prata e Monteiro. Possui uma área de 864 Km², representando
1,53 % da área do estado. Distante 276 Km da capital do estado, João Pessoa/PB
(Figura 1). Suas coordenadas geográficas são 07º 40' 18" de latitude Sul e 36º 52' 48" de
longitude Oeste (EMBRAPA, 2006). A vegetação é basicamente composta por Caatinga
hiperxerófila com trechos de Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do
tipo tropical semi-árido, com a pluviosidade média anual de cerca de 695mm e
temperatura média anual de 26,5ºC (ALBUQUERQUE et al., 2002).
A população do município é de 17.085 habitantes (IBGE, 2009), sendo o
segundo maior município de Cariri Ocidental Paraibano, em termos populacionais.
Destes habitantes, aproximadamente 66% residem na zona urbana e 34% na zona rural.
Apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,658 (ADH, 2004).
Os primeiros habitantes da região onde hoje está localizado o município foram
os índios Sucurús. Sumé surgiu a partir de um povoado chamado São Thomé, habitado
por colonos interessados em instalar fazendas de gado, utilizando estrutura já existente
deixada pelos índios Sucurús. Estes, aliados dos portugueses, participaram na defesa da
capitania contra a tribo dos Tapuias. O povoado de São Thomé foi elevado a Vila em
1819, com o lançamento da pedra fundamental da Capela de Nossa Senhora da
Conceição. (SILVA, 2008). O município teve sua emancipação política no ano de
1951, quando até então, era distrito da cidade de Monteiro.
31
2.2.2 Coletas de Dados
O trabalho de campo foi realizado de dezembro de 2008 a setembro de 2009,
junto a comunidades rurais do município de Sumé/PB. Durante os primeiros contatos
com a população local, foram identificados “especialistas locais”, ou seja, pessoas da
comunidade que são reconhecidas como detentoras de maior conhecimento acerca do
uso de animais para fins medicinais. Além dos especialistas, também foram
entrevistadas pessoas que demonstravam utilizar estes recursos. As informações foram
obtidas através de questionários semi-estruturados, complementadas por entrevistas
livres e conversas informais (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004). Antes de cada
entrevista foi explicada a natureza e os objetivos da pesquisa e solicitada à permissão
aos entrevistados para registrar as informações. A presente pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba – CEP/UEPB
(Protocolo n° 0126.0.133000-09).
As entrevistas foram realizadas individualmente, abordando os seguintes
aspectos: nome do animal medicinal, partes utilizadas, doenças tratadas, forma como o
animal foi adquirido, a percepção dos informantes sobre a disponibilidade daquele
recurso (animal) no ambiente, a forma de aquisição do conhecimento sobre os animais
medicinais e os motivos pelos quais, essa forma de tratamento é escolhida. Além das
questões relacionadas ao perfil socioeconômico dos informantes, como: grau de
escolaridade, estado civil, atividade profissional, renda mensal e assistência médica
disponível.
A identificação das espécies foi realizada de forma semelhante ao procedimento
realizado por Alves e Rosa (2006), onde os animais foram identificados das seguintes
32
formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2) fotografias ou 3)
através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados com a
fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).
2.2.3 Análise dos Dados
De início foi organizada uma lista dos animais citados e suas indicações
terapêuticas. Subseqüentemente, uma listagem com todas as espécies identificadas e
suas respectivas famílias. Todas as doenças tratadas pelos zooterápicos citados foram
agrupadas em categorias e codificadas (Tabela 1), com base na Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10 (OMS, 2000): 1)
Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias; 2) Neoplasias; 3) Doenças do sangue e dos
órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários; 4) Doenças Endócrinas,
Nutricionais e Metabólicas; 5) Transtornos Mentais e Comportamentais; 6) Doenças do
Sistema Nervoso; 7) Doenças do Olho e Anexos; 8) Doenças do Ouvido e da Apófise
Mastóide; 9) Doenças do Aparelho Circulatório; 10) Doenças do Aparelho Respiratório;
11) Doenças do Aparelho Digestivo; 12) Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo; 13)
Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo; 14) Doenças do Aparelho
Geniturinário; 15) Gravidez, Parto e Puerpério; 16) Sintomas, Sinais e Achados
Anormais de Exames Clínicos; 17) Lesões, Envenenamento e Algumas Outras
Conseqüências de Causas Externas. Foi ainda adicionada uma categoria, denominada de
“doenças indefinidas”, onde foram agrupadas as doenças com sintomas não específicos.
33
Fator de consenso
Para estimar a variabilidade de uso dos animais citados foi calculado o “Fator de
consenso dos informantes” (FCI), adaptado de Heinrich et al. (1998), (Tabela 2). Essa
análise permite identificar quais categorias de doenças apresentaram maior importância
nas comunidades pesquisadas. O FCI foi calculado através da seguinte fórmula:
1
nar naFCI
nar
−=−
Onde: FCI = Fator de consenso dos informantes; nar = somatório de usos registrados
por cada informante para uma categoria; na = número de espécies indicadas na
categoria.
Valor de uso
Para cada animal citado, calculou-se o seu respectivo valor de uso (adaptado da
proposta de PHILLIPS et al., 1994), (Tabela 3). O valor de uso demonstra a importância
relativa da espécie conhecida localmente, e é calculado através da seguinte fórmula:
UVU
n=∑
Onde: VU = valor de uso da espécie; U = número de citações por espécie; n = número
de informantes.
34
2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.3.1 Recursos zooterápicos
No presente estudo, foram entrevistados 92 informantes, sendo 67 do sexo
feminino e 25 do sexo masculino, todos residentes na zona rural do município de
Sumé/PB. As localidades pesquisadas foram os sítios Caititu, Olho D’Água do Padre,
Conceição, Porteiras, Riacho das Porteiras, Cachoeirinha de Cima, Cachoeirinha de
Baixo e o Distrito de Pio X. Foram identificadas 57 espécies de animais usadas para fins
medicinais, destas, 40 são vertebrados e 17 invertebrados, distribuídas em 08 categorias
taxonômicas (Figura 2), dentre as quais destacam-se, com maior número de citações:
mamíferos (16 citações), insetos (13 citações), aves (12 citações) e répteis (9 citações).
13
1
2
1
3
9
12
16
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Número de espécies
Insecta
Arachnida
Amphibia
Mollusca
Peixes
Reptilia
Aves
Mammalia
Cat
egor
ia ta
xonôm
ica
Figura 2. Classificação taxonômica das espécies utilizadas como zooterápicas na área estudada.
As espécies mais citadas pelos informantes foram: Tupinambis merianae
(Duméril & Bibron, 1839) – Tejuaçú (86 citações); Partamora cupira - Abelha cupira
(84 citações); Gallus domesticus (Linnaeus, 1758) - Galinha (76 citações); Apis
35
mellifera (Linnaeus, 1758) - Abelha italiana (58 citações); Phrynops geoffroanus
(Schweigger, 1812) – Cágado (55 citações); Bos taurus (Linnaeus, 1758) – Boi (46
citações); Crotalus durissus (Linnaeus, 1758) - Cascavel (41 citações); Ovis aries
(Linnaeus, 1758) – Carneiro (41 citações); Nasutitermes macrocephalus (Silvestri,
1903) - Cupim (32 citações); Melipona scutellaris (Latreille, 1811) - Abelha uruçu (28
citações); Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785) - Tacacá (gambá, jarita) (27
citações).
O número de espécies animais registrados nesta pesquisa é relevante, sobretudo,
quando comparado a outras pesquisas sobre zooterapia, como em: Branch & Silva
(1983) que relatam 33 espécies animais usadas em Alter do Chão no Estado do Pará;
Begossi (1992) que reporta o uso de 10 espécies na Ilha de Búzios em São Paulo;
Marques (1995) registrou o uso de 56 espécies em Várzea de Marituba/AL e Freitas
(1996) indica 17 espécies usadas em Maceió também no Estado de Alagoas. Costa-Neto
(1999) relata 16 espécies em Feira de Santana e 23 espécies usadas no município de
Remanso também na Bahia (COSTA-NETO, 2000). Seixas & Begossi (2001) reportam
16 espécies utilizadas para fins medicinais na Ilha Grande no Rio de Janeiro. No Estado
do Pernambuco destacam-se as pesquisas de Almeida & Albuquerque (2002) com 18
espécies usadas em Caruaru; Silva et al. (2004b) com também 18 espécies no Recife e
37 espécies em Santa Cruz do Capibaribe registradas por Alves et al (2008). Rodrigues
(2006) reporta o uso de 29 espécies no Parque Nacional de Jaú, Amazonas, e Ferreira et
al (2009) relatam a utilização de 41 espécies nas cidades do Crato e Juazeiro do Norte
no Ceará.
Assim como em outros trabalhos de zooterapia realizados no Brasil
(MARQUES, 1995; C0STA NETO, 1999b; SOUTO; ANDARADE & SOUZA, 2001;
ALVES, 2006) foram registrados animais de múltiplo uso medicinal, como é o caso do
36
Bos taurus, cujas partes derivadas (banha, urina, manteiga, fel e tutano), são utilizados
para tratar enfermidades como: conjuntivite, resfriado, tosse, picada de abelha,
ferimento, inflamação garganta, inchação, frieira, rachadura nos pés, anemia, dor
muscular, sinusite, dor de cabeça, rouquidão, problemas de visão, ferida de boca,
estrepada, furúnculo, diabetes, queimadura. Outro animal de potencialidades múltiplas é
o Tupinambis merianae (Figura 3), cuja banha, língua e carne são utilizadas no
tratamento de tosse, crise garganta, mordedura de cobra, gasto, ferimento, dor de
ouvido, gastrite, reumatismo, ferimento, dores nas juntas, congestão, rouquidão,
problemas de audição, problemas de visão. Destacamos ainda espécies como espécies
de múltiplas indicações terapeuticas: Apis mellifera, Phrynops geoffroanus, Crotalus
durissus, Gallus domesticus, Ovis aries, Partomora Cupira., Melipona scutellaris,
Iguana iguana .
Ficou evidenciado durante as entrevistas que os animais medicinais são obtidos
nas áreas dos ecossistemas próximos as residências dos entrevistados, e raramente as
espécies são obtidas em localidades distantes. De acordo com Alves (2006), “o uso dos
recursos locais e facilmente acessíveis certamente está relacionado a aspectos históricos
(ou seja, conhecimento medicinal focado em espécies locais, refletindo a transmissão do
conhecimento através de diferentes gerações) e às restrições financeiras que limitam o
acesso à recursos alóctones”. Uma tendência similar foi registrada por Adeola (1992),
que observou que uso de animais para medicina preventiva e curativa estava relacionado
à zona ecológica nas quais os usuários vivem, bem como, a relativa abundância das
espécies em cada zona. Da mesma forma, Apaza et al. (2003), em estudo realizado em
florestas tropicais bolivianas, constataram que a abundância dos animais estava
correlacionada com a maior probabilidade de uso. De fato, é esperado que em
comunidades que vivem próximas a uma maior diversidade de ambientes, com uma
37
maior acessibilidade de recursos zooterápicos, o consumo de animais seja mais
acentuado para os diferentes usos, inclusive para fins medicinais.
Alguns dos animais relatados, neste trabalho, também são utilizados na medicina
tradicional de outros países. No Sudão, A. mellifera é usado para o tratamento de úlceras
gástricas, G. domesticus é usado para tosses e Ovis aries é usado no tratamento de
gengivite (EL-KAMALI, 2000). No México, C. durissus e Coragyps atratus são
utilizados para auxiliar partos, falta de ar, inchaço e ataque epilético (VÁZQUEZ et al.,
2006). Na Índia Pavo cristatus é usado para tratar infecções na orelha e dores
musculares, Sus scrofa e G. domesticus são utilizados para o tratamento de reumatismo,
mordida de cobra, queimaduras e impotência sexual (KAKATI et al., 2006;
MAHAWAR; JAROLI 2006, 2007, 2008; NEGI; PALYAL, 2007).
2.3.2 Doenças e remédios
Na medicina popular, o termo “doença” é utilizado de forma ampla para se
referir tanto às enfermidades de origem personalística (provocadas por um agente
humano ou sobrenatural) quanto àquelas de origem naturalística (provocadas pela
intervenção de causas ou forças naturais), incluindo-se desde estados dolorosos a
perturbações de ordem psíquica (FOSTER, 1983).
Nesta pesquisa, foram indicadas 93 doenças e agravos relacionados à saúde
tratadas com animais medicinais (Tabela 1). As categorias de doenças com maior
número de citações de uso foram: doenças do aparelho respiratório (443); doenças do
sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (108); Sintomas, Sinais e Achados
Anormais de Exames Clínicos (76); Lesões, Envenenamento e Algumas Outras
Conseqüências de Causas Externas (74). Esses dados corroboram com outras pesquisas
realizadas sobre o uso de zooterápicos, como no estudo de Alves (2006), realizada nas
38
regiões do Norte e Nordeste Brasileiro onde doenças do aparelho respiratório e doenças
do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo aparecem respectivamente como as
mais citadas. Costa-Neto (1999), também constatou em estudo realizado no Estado da
Bahia que animais medicinais são freqüentemente usados para tratar doenças
respiratórias. Resultado semelhante foi encontrado por Silva et al, (2004), em pesquisa
realizada em mercados públicos na cidade do Recife/PE.
Entre as categorias de doenças mais importantes tratadas com zooterápicos
citadas na presente pesquisa, algumas coincidem com categorias tratadas com plantas
medicinais, principalmente doenças do sistema respiratório (ALMEIDA;
ALBUQUERQUE, 2002; GAZZANEO et al., 2005; ALVES, 2006), para as quais é
comum o uso associado de produtos derivados de plantas e animais (ALVES; ROSA,
2007).
Figura 3. Tupinambis merianae – Tejuaçú, animal usado como zooterápico no
município de Sumé, Paraíba. (Foto: David Barkasy)
39
Tabela 1. Lista de doenças e agravos tratados com zooterápicos de acordo com CID 10 – Classificação Internacional de Doenças e Agravos Relacionados à Saúde (OMS, 2000).
Categorias
Doenças e agravos citados pelos informantes e respectivo CID
N° de citações
Total de doenças
Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias
Amebíase (A06.9), caxumba (B26.9), coqueluche (A37.9), diarréia (A09), sarampo (B05.9), rubéola (B06.9), erisipela (A46), frieira (B35.3), verruga (B07)
61 09
Neoplasias Câncer (C80), câncer de próstata (C61)
17 02
Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos imunitários
Anemia (D64.9)
08 01
Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas
Diabetes (E14), desnutrição (E46)
10 02
Transtornos Mentais e Comportamentais
Depressão (F32.9), alcoolismo (F10.), Impotência sexual (F52.2), insônia (F51.0)
21 04
Doenças do Sistema Nervoso
Epilepsia(G40.9), enxaqueca (G43.9)
09 02
Doenças do Olho e Anexos Cegueira (H54.7), conjuntivite (H10.9)
28 02
Doenças do Ouvido e da Apófise Mastóide
Dor de ouvido (H92.0), inflamação no ouvido (H83.9), surdez (H91.9)
41 03
Doenças do Aparelho Circulatório
Hemorróidas (I84.8), febre reumática (I00), varizes (I83.9)
18
03
Doenças do Aparelho Respiratório
Tosse (R05), dor de garganta (R07.0), inflamação na garganta (J02.9), gripe (J11.1), asma (J45.9), bronquite(J40), resfriado (J00), tosse brava, falta de ar (R06.8), sinusite (J32.9)
433 10
40
Tabela 1. Continuação
Categorias
Doenças e agravos citados pelos informantes e respectivo CID
N° de citações
Total de doenças
Doenças do Aparelho Digestivo
Congestão (K31.8), constipação intestinal (K59.0), dor de dente (K08.9), dor no estômago (R10.1), gastrite (K29.7), úlcera gástrica (K25), hepatite (K73.9), indigestão (K30), hérnia (K46.9), Ferida de Boca (Afta) (K12.0)
47
10
Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo
Eczema (L30.3), dermatite (L30.9), furúnculo (L02.9), coceira (L29.9), pano branco
21 05
Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo
Reumatismo (M79.0), artrose (M19.9), artrite (M13.9), dor nos ossos (M89.8), torcicolo (M43.6), Dor na coluna (M54.9), dor reumática (M79.1), dores musculares (M79.1), esporão (M77.3), inflamação no pé (M86.7)
108 10
Doenças do Aparelho Geniturinário
Inflamação de útero (N71.9), inflamação na uretra (N36.9)
04 02
Gravidez, Parto e Puerpério Dor de parto (O64)
03 01
Sintomas, Sinais e Achados Anormais de Exames Clínicos
Edema (R60.9), tontura (R42), rouquidão (R49.0), falta de apetite (R63.0), dor de cabeça (R51), fraqueza (R53), rachadura nos pés (R23.4)
76 07
Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de Causas Externas
Mordedura de serpente (T63.0), picada de abelha (T63.9), queimaduras (T30.0), fratura (T14.2), luxação (T14.3), machucado (T14.0), pancada (T14.2), ferimento (T14.1)
74 08
41
Tabela 1. Continuação
Categorias
Doenças e agravos citados pelos informantes e respectivo CID
N° de citações
Total de doenças
Doenças Indefinidas Ferimento com espinho, estrepada, ferida, cansaço, nariz entupido, “coração lento”, dores em geral, “reima de dente”, “ferida de tira”, “puxado de criança”, memória fraca, crescimento dos ossos dos pés
69 12
TOTAL 93
A obtenção dos remédios se dá mediante a utilização do espécime inteiro, de
partes dos seus corpos ou produtos extraídos deles (Figura 4), como a banha e sebo
(gordura), mel, leite, manteiga, cera, urina, fezes, sangue, carne, pele, ossos, cauda,
pêlos, penas, dente, unha, abdome, cabeça, “moela”, língua, testículos, estômago, “fel”
(bílis), vísceras e fígado. Dentre esses produtos a banha destacou-se como o mais
citado, tendência também encontrada em outros estudos (ALVES; SOUTO, 1998;
COSTA-NETO, 1999a, 1999b; SOUTO et al,1999; LIMA, 2000; ALMEIDA, 2001). A
maioria dessas matérias-primas tem sido registrada em outros trabalhos acerca da
utilização humana dos recursos zooterápicos no Brasil (MARQUES, 1995; BEGOSSI &
BRAGA, 1992; COSTA-NETO, 1999b, ALVES, 2006), o que sugere que essa prática é
amplamente disseminada não apenas na região, mas também em outras partes do país.
Isto evidencia a importância de compreender as práticas zooterápicas no contexto da
conservação da biodiversidade no Brasil.
Os recursos zooterápicos identificados na pesquisa apresentaram valor de uso
(VU) que variou de 0,01 a 0,93. A maioria das espécies registradas apresentou baixo
VU, sendo que, 62% destas, foram inferior a 0,10 (Tabela 3). Tais dados indicam uma
considerável variação no uso das espécies. Aquelas que apresentaram maior valor de
42
uso foram o Tupinambis merianae, com VU = 0,93, Partamora cupira VU = 0,84 e
Gallus domesticus VU = 0,83
0
50
100
150
200
250
300
350
Ou
tro
s
Lín
gu
a
San
gu
e
Lei
te
Ab
do
me
Mo
ela
Cer
a
Pen
as
Osso
s
Ceb
o
Ovo
s
Uri
na
Co
rpo
inte
iro
Fez
es
Man
teig
a
Car
ne
Mel
Ban
ha
Partes usadas
Núm
ero
de c
itaçõ
es
Figura 4. Matérias-primas animais usadas para fins medicinais no município de Sumé, Paraíba.
As categorias de doenças citadas que apresentaram um maior número de
espécies animais usados foram: doenças do aparelho respiratório (n=31), Sintomas,
Sinais e Achados Anormais de Exames Clínicos (n=15) e Algumas Doenças Infecciosas
e Parasitárias (N=13). Já as categorias menos citadas foram: Gravidez, Parto e
Puerpério (1 espécie, 3 citações de uso), ,Doenças do Aparelho Geniturinário (2 espécie,
4 citações de uso); Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns transtornos
imunitários (2 espécie, 8 citações de uso).
O consenso cultural das diferentes categorias registradas foi consideravelmente
alto, variando entre 0,66 e 0,93, sendo que 72% das categorias apresentaram FCI > 0,80.
As categorias que apresentaram os valores de consenso mais elevados foram: Gravidez,
Parto e Puerpério com FCI = 1,0; Doenças do Aparelho Respiratório com FCI = 0,93;
43
seguido por Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de Causas
Externas e Doenças do Olho e Anexos com FCI = 0,92 para as duas categorias e ainda
Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo apresentando FCI = 0,91.
As categorias que apresentaram menos consenso entre os informantes foram: Doenças
Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas e Doenças do Aparelho Geniturinário, ambas
com FCI = 0,66; e Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo com FCI = 0,70 (Tabela 2).
Figura 5. Animais usados para fins medicinais nas comunidades pesquisadas. Acima (esquerda)
Conepatus semistriatus (tacaca); acima (direita) Callithrix jacchus (Sagui); abaixo (esquerda)
Meleagris gallopavo (peru) e Gallus domesticus (galinha); abaixo (direita) cauda de
Euphractus sexcinctus (Tatu-peba) e Dasypus novemcinctus (tatu-verdadeiro) (Fotos: Nalba
Gomes).
44
Tabela 2 - Fator de Consenso dos informantes por categorias de doenças.
Legenda: A - Algumas Doenças Infecciosas e Parasitárias; B - Neoplasias; C - Doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns
transtornos imunitários; D - Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas; E - Transtornos Mentais e Comportamentais; F - Doenças do
Sistema Nervoso; G - Doenças do Olho e Anexos; H - Doenças do Ouvido e da Apófise Mastóide; I - Doenças do Aparelho Circulatório; J -
Doenças do Aparelho Respiratório; L - Doenças do Aparelho Digestivo; M - Doenças da Pele e do Tecido Subcutâneo; N - Doenças do Sistema
Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo; O - Doenças do Aparelho Geniturinário; P - Gravidez, Parto e Puerpério; Q - Sintomas, Sinais e Achados
Anormais de Exames Clínicos; R - Lesões, Envenenamento e Algumas Outras Conseqüências de Causas Externas; S – Doenças Indefinidas.
Categorias de Doenças
A B C D E F G H I J L M N O P Q R S
Espécies
13 03 02 04 04 03 03 08 03 31 12 07 11 02 01 15 07 09
% das espécies
9,42 2,17 1,45 2,89 2,89 2,17 2,17 5,79 2,17 22,46 8,69 5,07 7,97 1,45 0,72 10,87 5,07 6,52
Citações de uso
61 17 08 10 21 09 28 41 18 433 47 21 108 04 03 76 74 69
% das citações de uso
5,82 1,62 0,76 0,95 2,0 0,86 2,71 3,91 1,72 41,32 4,49 2,0 10,31 0,38 0,29 7,25 7,06 6,58
FCI 0,80 0,87 0,86 0,66 0,85 0,75 0,92 0,82 0,88 0,93 0,76 0,70 0,91 0,66 1,0 0,81 0,92 0,88
45
Um importante aspecto associado ao uso de animais medicinais está relacionado
à saúde pública (ALVES & ROSA, 2006). Alves (2006), em seu trabalho sobre
zooterapia nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, observou que as condições sanitárias
de manutenção e estocagem dos produtos zooterápicos mostraram-se precárias,
evidenciando a possibilidade de contaminações microbiológicas e alertando para o risco
que isso pode acarretar a saúde dos usuários. Visitas domiciliares evidenciaram
estocagem inadequada de alguns produtos sem os devidos cuidados com a higiene
(Figura 6). Esta prática não parece preocupar boa parte dos usuários, que demonstram
desconhecerem as graves conseqüências que a manipulação inadequada de um
zooterápico ou qualquer produto utilizado como remédio pode trazer a saúde. Alves &
Rosa (2005) recomendam a implementação de medidas sanitárias para controle do uso
medicinal de produtos zooterápicos, tendo em vista suas implicações para saúde
pública.
Um outro aspecto importante diz respeito as possíveis reações adversas causados
por zooterápicos. Sabe-se que alguns produtos naturais (derivado de plantas, animais e
minerais) usados na medicina tradicional podem causar sérios efeitos adversos (DE
SMET, 1991). Porém, neste estudo, a grande maioria dos entrevistados não relatou
efeitos adversos relacionados ao uso dos animais medicinais.
46
Figura 6. Recipientes contendo mel de Apis mellifera – Abelha italiana (esquerda) e
Partamora cupira – Abelha cupira (direita), (Foto: Nalba Gomes).
2.3.3 Aspectos culturais dos zooterápicos
Além dos aspectos biológicos, os fatores econômicos e sócio-culturais
influenciam a relação dos povos locais e o uso dos recursos zooterápicos. As atividades
cotidianas das comunidades humanas também parecem influenciar na escolha das
espécies medicinais (ALVES, 2006).
Na medicina popular um aspecto muito presente é o componente mágico-
religioso, traduzido na forma das chamadas “simpatias”. As simpatias são definidas por
Sales (1991) como o emprego da força do pensamento, através de um ritual, para ajudar
a resolver problemas do cotidiano e possível cura para problemas de saúde. Neste
trabalho foram registradas simpatias com a utilização de animais, partes deles ou ainda
restos de sua alimentação, onde os informantes enfatizam que a pessoa acometida da
doença que vai ser tratada através da simpatia não pode saber o que esta ingerindo ou o
que está sendo usado no ritual, “se a pessoa soube o que tá tomando, o remédio não
serve”. Um exemplo é o Cyanocorax cyanopogon, ave cujos restos de sua alimentação
47
é dada a criança para curar asma, sendo que a mesma não pode saber do que se trata. A
mesma simpatia é associada a Leptotila rufaxilla, sendo usada para o tratamento da
bronquite. A espécie Gryllus assimilis é utilizada no combate a verruga, conforme
descrito no depoimento de um dos informantes: “a pessoa esfrega o grilo na verruga, e
dispois solta o bicho ainda vivo”. Tanto a crença na eficácia dos produtos animais,
como o componente místico do fenômeno zooterápico estariam incluídos em uma
dimensão ideológica (MARQUES, 1999).
A interrelação entre crenças populares e zooterapia tem sido registrada em
diferentes localidades do Brasil (BRANCH & SILVA, 1983; BEGOSSI & BRAGA,
1992; MARQUES, 1995; COSTA- NETO, 1999a; ALVES & ROSA, 2007), revelando
que essa “ligação” deve ser considerada na realização de estudos científicos, e ao se
projetar programas da saúde pública para comunidades humanas que utilizam a
medicina tradicional. Em alguns casos, a compreensão dos fatores culturais relacionadas
a determinadas doenças pode ser essencial para um tratamento eficaz (ALVES, 2006).
Figura 7. Iguana iguana - Camaleão, réptil utilizado para fins medicinais no município de Sumé/PB (Foto: Nalba Gomes)
48
2.3.4 Perfil sócioeconômico dos informantes
Os entrevistados possuem idade entre 26 e 85 anos, distribuídos em várias
faixas etárias (Figura 8), com média de idade de 57 anos. Um total de 87% dos
informantes possui mais de 40 anos, destacando-se a faixa etária acima de 70 anos com
o maior número de informantes (30). Estes resultados ratificam o que se preconiza na
medicina popular, uma vez, que o conhecimento adquirido ao longo dos tempos por
comunidades locais é transmitido por aqueles mais experientes, os mais idosos,
conforme vários informantes relataram quando indagados sobre a forma de aquisição do
conhecimento sobre os zooterápicos afirmando ter aprendido com os “mais velhos”.
Alguns também relataram que as gerações mais jovens não demonstram interesse em
aprender “essas coisas de antigamente”, (“ esse povo novo não quer sabê dessas coisa”).
Vários foram os relatos sobre como as gerações mais jovens menosprezam o
conhecimento popular das gerações mais velhas.
2
12
23
10
17
30
0
5
10
15
20
25
30
35
20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 70 e mais
Faixa etária
N. d
e in
form
ant
es
Figura 8. Distribuição por faixa etária dos informantes da pesquisa.
49
No que diz respeito à atividade ocupacional, 74% dos indivíduos entrevistados,
declaram como profissão agricultor, sendo ainda registradas a participação de outras
profissões, como: auxiliar de serviços gerais (3), merendeira (2), vaqueiro (2), agente
comunitário de saúde (6), professora (2). Com relação ao aspecto financeiro, a renda
salarial mensal ficou com prevalência em torno de 1 salário mínimo (Figura 9), o que
possivelmente deve estar relacionado com o fato de 45% dos entrevistados serem
aposentados.
34
41
10
0
7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Menos de 1 saláriomínimo
1 salário mínimo 2 a 3 saláriosmínimos
Mais de 3 saláriosmínimos
Não declarou
Renda mensal
N. d
e in
form
ant
es
Figura 9. Distribuição por nível de renda mensal dos informantes da pesquisa.
O grau de escolaridade dos entrevistados é baixo, 41 % destes não são
alfabetizados, sendo que 17 se declararam analfabetos e 21 afirmaram saber apenas
assinar o nome, a prevalência foi de pessoas com o ensino fundamental incompleto (25)
(Figura 10), e apenas 2 informantes possuíam curso superior.
50
17
2118
25
2 1
6
2
0
5
10
15
20
25
30
Analfabeto Apenas escreve
o nome
Lê e escreve Ensino fund.
incomplento
Ensino fund.
complento
Ensino médio
incompleto
Ensino médio
completo
Curso Superior
Grau de escolaridade
N. d
e in
form
ant
es
Figura 10. Distribuição por grau de escolaridade dos informantes da pesquisa.
2.3.5 Implicações ecológicas
Dos animais citados nesta pesquisa, apenas 11 espécies são provenientes de
criação doméstica (galinha, peru, carneiro, boi, porco), sendo os demais animais
silvestres. A zooterapia, como qualquer outra forma de uso da fauna pelos seres
humanos, tem implicações ecológicas, considerando que muitas espécies protegidas por
lei e outras ameaçadas de extinção são utilizadas na confecção de remédios, sendo
capturadas em seus habitats e muitas vezes vendidas livremente em mercados públicos.
Uma grande preocupação no uso de zooterápicos é que na maioria das vezes o
animal tem que ser sacrificado para que possa ser utilizados como “remédio”, ao
contrário dos fitoterápicos, prática em que muitos dos “remédios” são feitos a partir das
folhas e frutos ou partes do caule, o que não causa a morte do espécime. Porém, um
aspecto observado foi que raramente os animais são mortos, exclusivamente com o
intuito de se obter as matérias primas para os remédios. Em muitos casos, estes são
apenas subprodutos aproveitados, como exemplo, podemos citar o Tejuaçú (Tupinambis
merianae), cuja carne é considerada por muitos como uma iguaria, sendo o objetivo
51
principal de sua captura. Seus subprodutos tais como banha e língua são utilizados
como remédios. Outro exemplo é a cobra cascavel (Crotalus durissus), considerada um
animal que oferece risco ao ser humano e as “criações”, de forma que é geralmente
abatida apenas por precaução ou controle (ALVES et al, 2009), e seus subprodutos são
aproveitados na zooterapia. Tal observação concorda com Moura e Marques (2008),
que destacam que uma característica comum em frações de animais, ou mesmo em
animais inteiros usados como medicinais, é a sua inutilidade para outros fins. Em
pesquisa realizada em Remanso, Bahia, esses autores observaram que mais da metade
(55%) das frações/produtos utilizados são subprodutos de animais. Esses autores
destacam ainda que, embora estudos sobre a zooterapia popular brasileira ainda não
tenham se voltado para a análise quantitativa de uso de sobras ou subprodutos animais,
a prática é bem documentada em listagens de zooterápicos obtidas com populações
tradicionais em diferentes estados do Brasil (ALMEIDA, 2005; SOUTO et al, 1999;
ALVES; ROSA, 2005, 2006; ALVES, 2009; SILVA et al, 2004; POSEY, 1987b;
LIMA, 2000; COSTA-NETO, 1996, 1999b). Essa prática já havia sido observada por
Holanda (1984) para a primeira metade do século XX, quando o autor relata o uso,
como amuletos e remédios, de partes de animais silvestres consideradas impróprias para
a alimentação ou manufatura de couros, afirmando que a utilidade medicinal destas
partes era bastante arraigada na mentalidade popular da época. Cita, entre as partes
passíveis de uso, os chifres, os dentes, as unhas, os ossos, os cascos, as couraças e as
gorduras.
Nos estudos sobre zooterapia é muito comum o relato de obtenção de
zooterápicos através de comercialização em mercados públicos (SOUTO et al, 1999;
ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; SILVA et al, 2004; ALVES, 2007; ALVES;
ROSA, 2007; ANDRADE; COSTA-NETO, 2006), o que resulta em uma pressão
52
adicional sobre espécies exploradas. Porém, nas entrevistas realizadas nesta pesquisa,
foram poucos os relatos de pessoas que compram o zooterápico, sendo que a grande
maioria captura os animais próximo a sua residência e prepara o “remédio” de forma
caseira, exceção apenas para os zooterápicos supostamente feitos à base de óleo de
baleia e banha do peixe boi, zooterápicos de uso tradicional no Brasil, mas que em
virtude do status de conservação e grau de dificuldade de sua obtenção podem estarem
sendo adulterados, sendo portanto substituídos por produtos derivados de animais
domésticos .
Foi possível verificar, que a maioria dos informantes (80%) percebe a
diminuição na disponibilidade dos recursos faunísticos da região, conforme
depoimentos: “Tudo diminuiu, a nação tá aumentado de mais, não sobra nada”, “ Hoje
as coisas (recursos naturais) tão mais limitada”. A percepção do risco de extinção de
algumas espécies ficou bem evidenciada por alguns entrevistados “tem bicho que você
quase não acha mais, tá muito difícil de encontrá”. Por outro lado, alguns entrevistados
(15%) afirmaram de que disponibilidade de animais continuam “quase” a mesma,
conforme depoimento: “os bicho tão por aí, procurando agente acha, num é como
antigamente, mais ainda tem”.
53
Tabela 3. Animais usados para fins medicinais em comunidades rurais do Cariri Paraibano.
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
INSECTA Apidae Apis mellifera (Linnaeus, 1758) Abelha italiano
58 0,63 Mel Tosse, gripe, garganta, amebíase, úlcera, gastrite, fraqueza, bronquite, câncer, resfriado
Scaptotrigona sp. Abelha canudo
14 0,15 Mel Hérnia, tosse, impotência sexual
Espécie não identificada Abelha capucho
02 0,02 Ferrão “Coração lento”
Partamora cupira (Smith, 1863). Abelha cupira
84 0,91 Mel, cera Tosse, gripe, garganta, ferida de boca, enxaqueca, doenças de olhos, rouquidão, carnosidade nos olhos, sinusite, hemorróidas
Lestrimelitta limao (Smith, 1863) Abelha limão
01 0,01 Cera Tontura
Melipona marginata (Lepeletier, 1836) Abelha manduri
01 0,01 Mel Tosse
Melipona scutellaris (Latreille, 1811) Abelha uruçu
28 0,30 Mel Tosse, gripe, problemas dos nervos, fraqueza, garganta, ferida de boca, gasto
Scaptotrigona tubiba (Smith, 1863) Abelha tubiba
02 0,02 Mel Tosse, amebíase, hemorróidas
54
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
Formicidae Atta cephalotes (Linnaeus, 1758) Tanajura
12 0,13 Abdome Inflamação na garganta, câncer
Blattidae Periplaneta americana (Linnaeus, 1758) Barata
01 0,01 Corpo inteiro Fraqueza, diarréia
Isoptera Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903) Cupim
32 0,35 Corpo inteiro Asma, cansaço, sarampo, tosse, rubéola, falta de ar, dor de cabeça, coqueluche
Gryllidae Gryllus assimilis (Fabricius, 1775) Grilo
01 0,01 Corpo inteiro (simpatia)
Verruga
Família e espécie não identificadas Zebrinha (Maria de barro) 06 0,06 Cera, casa Caxumba
AMPHIBIA Bufonidae Rhinella jimi (Stevaux, 2002). Sapo
01 0,01 Banha Dor na coluna
Ranidae Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) Rã
04 0,04 Carne Inflamação na garganta
55
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
MOLLUSCA Família não identificada Lesma , espécie não identificada
01 0,01 Corpo inteiro Pano branco
ARACHNIDA Família não identificada Lasiodora sp. Caranguejeira
01 0,01 Dente (simpatia) Reima de dente
PEIXES Erythrinidae Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra
01 0,01 Banha Problemas de audição
Prochilodontidae Prochilodus argenteus (Spix & Agassiz, 1829) Curimatã
02 0,02 Banha, carne Ferida, tosse
Sciaenidae Cynoscion leiarchus (Cuvier, 1830) Pescada branca
03 0,03 Cabeça Falta de ar
REPTILIA Testudinidae Chelonoidis carbonaria (Spix, 1824) Jabuti
06 0,06 Urina Eczema
56
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
Chelidae Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) Cágado
55 0,59 Banha, urina Garganta, gasto, queimadura, gastrite, ferida, asma, cansaço, puxado, dor de ouvido, ferida de boca, eczema, diarréia, rouquidão, reumatismo, úlcera varicose
Família e espécie não identificadas Tartaruga
01 0,01 Urina Erisipela, eczema
Teiidae Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839) Tejuaçú
86 0,93 Banha, língua, carne Crise garganta, tosse, mordedura de cobra, gasto, ferimento, dor de ouvido, gastrite, reumatismo, corte, ferimento, dores nas juntas, congestão, rouquidão, problemas de audição, problemas de visão
Viperidae Crotalus durissus (Linnaeus, 1758) Cascavel
41 0,44 Banha Asma, ferimento, reumatismo, puxado, gastrite, dor de ouvido, dor nos ossos, câncer, bronquite, câncer de próstata, dor nas juntas, estrepada, dor de dente, fratura, crescimento dos ossos do pé, artrose, artrite, hemorróidas
Boidae Epicrates cenchria (Linnaeus, 1758) Salamanta
01 0,01 Banha Inflamação na garganta
Boa constrictor (Linnaeus, 1758) Jibóia
01 0,01 Banha Reumatismo, inflamação na garganta
57
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
Iguanidae Iguana iguana (Linnaeus, 1758) Camaleão
19 0,21 Carne, banha, pele Tosse, coqueluche, tosse brava, erisipela, mordedura de cobra, ferida, dor na coluna
Tropiduridae Tropidurus hispidus (Spix, 1825) Lagartixa
04 0,04 Pele Pano branco, crise de garganta
AVES Phasianidae Gallus domesticus (Linnaeus, 1758) Galinha
76 0,83 Banha, ovos, fígado, sangue, penas, pele da moela
Garganta, asma, desnutrição, febre reumática, nariz entupido, constipação intestinal, hepatite, má digestão, fraqueza, dor de parto, garganta, congestão, tosse, estrepada, rouquidão
Pavo cristatus(Linnaeus, 1758) Pavão
02 0,02 Penas Asma
Coturnix coturnix (Linnaeus, 1758) Cordoniz
13 0,14 Penas mordedura de cobra
Meleagrididae Meleagris gallopavo (Linnaeus, 1758) Peru
01 0,01 Escova Asma
Numida meleagris (Linnaeus, 1758) Guiné
01 0,01 Carne Tosse comprida
58
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
Anatidae Anas platyrhynchos (Linnaeus, 1758) Pato
17 0,18 Ovos Bronquite, fraqueza, asma, falta de apetite, problemas de nervos, epilepsia, falta de memória, fraqueza sexual, dor de parto
Netta erythrophthalma (Wied-Neuwied, 1833 Paturi
01 0,01 Ovos Insônia
Anser sp. Ganso
16 0,17 Fezes Asma
Trochilidae Beija-flor
02 0,02 Ninho Asma
Corvidae Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) Cancão
02 0,02 Resto da alimentação (simpatia)
Asma
Cathartidae Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Urubu
04 0,04 Ossos, fígado Asma, bronquite, alcoolismo
Columbidae Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) Juriti
07 0,08 Pele da moela Doenças de olhos, viridia
59
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
MAMMALIA Trichechidae Trichecus manatus (Linnaeus, 1758) Peixe boi
05 0,05 Banha Dor nos ossos, dor de ouvido, dor nas juntas, reumatismo
Família e Espécie não identificadas Baleia
01 0,01 Óleo Problemas intestinais
Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Raposa
09 0,10 Banha Reumatismo, eczema, inflamação de útero
Canis familiaris (Linnaeus, 1758) Cachorro
09 0,10 Fezes, urina Sarampo, verruga
Dasypodidae Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Tatu-verdadeiro
03 0,03 Cauda Surdez, dor de ouvido
(Euphractus sexcinctus) (Linnaeus, 1758) Tatu-peba
02 0,02 Cauda Surdez, dor de ouvido
Mustelidae Conepatus semistriatus (Boddaert, 1785). Tacacá (gambá, jarita)
27 0,29 Carne, banha, ossos Reumatismo, febre reumática, dor nos ossos
60
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
Caviidae Kerodon rupestris (Wied, 1820) Mocó
04 0,04 Carne, fezes, cabeça, Fraqueza, inflamação na uretra, gasto, dor de ouvido, nascimento de dente
Cavia aperea (Erxleben, 1777) Preá
01 0,01 Carne Dentição
Callithricidae Callithrix jacchus (Linnaeus, 1758). Sagüi
09 0,10 Carne Bronquite, puxado de criança, asma
Suidae Sus scrofa (Linnaeus, 1758) Porco
02 0,02 Banha, testículos Ferimento a tiro, epilepsia, asma, bronquite
Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) Tamanduá
01 0,01 Ossos Reumatismo
Bovidae Bos taurus (Linnaeus, 1758) Boi
46 0,54 Urina, manteiga, bucho, fel, tutano, banha
Conjuntivite, resfriado, tosse, picada de abelha, ferimento, inflamação garganta, inchação, frieira, rachadura nos pés, anemia, dor muscular, sinusite, dor de cabeça, rouquidão, visão, ferida de boca, estrepada, furúnculo, diabetes, queimadura
61
Tabela 3. Continuação
Família/Espécie/Nome popular N° de citações
Valor de uso Partes ou produtos usados
Doenças tratadas
Ovis aries (Linnaeus, 1758) Carneiro
41 0,44 Banha, sebo Machucado, pancada, corte, estrepada, ferimento, dores nas juntas, reumatismo, dor nos músculos, esporão, luxação, inchaço, rachaduras nos pés, edemas, torcicolo
Equidae Equus asinus (Linnaeus, 1758) Jumento
09 0,10 Leite Gasto, hepatite, desnutrição, anemia, fraqueza
Felidae Puma yagouaroundi (Geoffroy, 1803) Gato do mato
01 0,01 Carne Inflamação na garganta
62
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados nos possibilitam concluir que o uso de animais para fins
medicinais nas comunidades pesquisadas é bastante acentuado, e que estas demonstram
possuir um relativo conhecimento acerca da fauna local e a utilização da mesma no
processo saúde-doença.
Evidenciou-se também, que o uso de zooterápicos é mais comum em doenças
que acometem a população com mais frequência, como é o caso das doenças do
aparelho respiratório (inflamação na garganta, tosse, gripe e asma).
Dentre os animais mais utilizados na medicina popular destacaram-se tanto
animais de criação doméstica, quanto, animais silvestres.
O conhecimento popular sobre essas práticas de cura, referenciando-a como
parte integrante da cultura da região, mostra a necessidade de um aprofundamento nos
estudos referentes à zooterapia, no sentido da compreensão da interação
homem/ambiente/cultura, tendo em vista a provável existência de fontes de substâncias
farmacologicamente ativas, e principalmente, buscando conciliar a cultura regional e a
conservação da fauna.
63
CAPÍTULO II
3- AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA
GORDURA DA JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)
64
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DA GORDURA DA
JIBÓIA Boa constrictor (Linnaeus, 1758)
RESUMO
O presente capítulo objetivou avaliar a atividade antibacteriana da gordura
corporal da jiboia (Boa constrictor) quando empregado isoladamente ou em combinação
com antibióticos e discute as implicações ecológicas do uso deste remédio tradicional.
Os exemplares de Boa constrictor foram coletados no município de Crato, Estado do
Ceará, Brasil, durante o mês de novembro de 2009. Óleo de Boa constrictor (OBC) foi
extraído da gordura localizada na região ventral da serpente. Os experimentos foram
realizados com isolados clínicos de Escherichia coli (EC27) e Staphylococcus aureus
358 (SA358), assim como cepas padrões de Escherichia coli (EC - ATCC25922), de
Staphylococcus aureus (SA- ATCC12692), de Proteus vulgaris (PV-ATCC 13315) e de
Pseudomonas aeruginosa (PA-ATCC 15442). As drogas utilizadas foram gentamicina,
canamicina, amicacina, neomicina. A concentração inibitória mínima (CIM) dos
antibióticos e OBC foram determinadas por ensaios de microdiluição. Para a avaliação
do óleo como modulador da atividade antibiótica, a CIM dos antibióticos foram
determinados com a presença do óleo (32 µg/mL) em concentrações sub-inibitórias, e as
placas foram incubadas por 24 horas a 37 º C. No presente estudo foi evidenciada a
ineficácia de OBC, do ponto de vista clínico, contra doenças causadas por agentes
bacterianos quando aplicado isoladamente. Porém, o OBC possui uma atividade
sinérgica quando associado a antibióticos aminoglicosídeos com exceção a canamicina,
para EC27, e gentamicina, para SA358. A CIM de amicacina contra EC27 foi de 156
µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM de neomicina contra
EC27 foi de 625 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. A CIM de
gentamicina contra EC27 foi de 19,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 2,4
µg/mL. A CIM de canamicina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas quando associado
a OBC foi de 4,9 µg/mL. A CIM de amicacina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas
em associação a OBC foi de 2,4 µg/mL. A CIM de neomicina contra SA358 foi de
312,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 2,4 µg/mL.
Palavras-chave: Etnofarmacologia, Boa constrictor, zooterapia.
65
ABSTRACT
The present chapter aimed to evaluate the antibacterial activity of the jiboia (Boa
constrictor) body fat when used alone or combined with antibiotics, and discusses the
ecological implications of this traditional medicine use. Specimens of Boa constrictor
were collected in the city of Crato, Ceará State, Brazil, during the month of November
2009. Boa constrictor oil (BCO) was extracted from the body fat located in the ventral
region of the snake. The experiments were performed with clinical isolates of
Escherichia coli (EC27) and Staphylococcus aureus 358 (SA358), as well as
Escherichia coli (EC - ATCC25922), Staphylococcus aureus (SA- ATCC12692),
Proteus vulgaris (PV-ATCC 13315) and Pseudomonas aeruginosa (PA-ATCC 15442)
strains patterns. The drugs used were gentamicin, kanamycin, amikacin, and neomycin.
The minimum inhibitory concentration (MIC) of the antibiotics and BCO were
determined by microdilution tests. For the evaluation of the oil as a modulator of the
antibiotic activity, the MIC of antibiotics were determined in the presence of oil (32
µg/mL) in sub-inhibitory concentrations, and the plates were incubated for 24 hours at
37° C. In the present study, it was evidenced the inefficiency of BCO, from the clinical
point of view, against diseases caused by bacterial agents when applied alone. However,
the BCO has a synergistic activity when associated with aminoglycoside antibiotics
except for kanamycim to EC27, and gentamicin, to SA358. The MIC of neomycin
against EC27 was 625 µg/mL, but when combined with BCO, it was 4,9 µg/mL. The
MIC of gentamicin against EC27 was 19,5 µg/mL, but when associated with BCO, it
was 2,4 µg/mL. The MIC of kanamycin against SA358 was 312,5 µg/mL, but when
associated with BCO, it was 4,9 µg/mL. The MIC of amikacin against SA358 was 312,5
µg/mL, but in association with BCO, it was 2,4 µg/mL. The MIC of neomycin against
SA358 was 312,5 µg/mL, but when associated with BCO, was 2,4 µg/mL.
Key-words: Ethnopharmacology, Boa constrictor, zootherapy.
66
3.1. INTRODUÇÃO
A biodiversidade vem sendo uma fonte de recursos para o tratamento de doenças
e, dessa forma, populações humanas têm desenvolvido várias práticas e técnicas sobre o
uso da biodiversidade e acumulando um amplo conhecimento acerca das propriedades
terapêuticas e medicinais de animais, plantas e minerais, que representam uma
importante alternativa na substituição de medicamentos alopáticos (KURSAR et al.,
2007; ALVES, 2009).
Animais, e os produtos deles derivados, são ingredientes essenciais na
preparação de muitos remédios tradicionais e provavelmente são usados desde épocas
pré-históricas (LEV, 2003; SILVA et al., 2004; ALMEIDA, 2007; FERREIRA et al.,
2009a). Alves (2008) documentou o uso de pelo menos 290 diferentes espécies de
animais utilizados na medicina popular no Brasil, dentre a quais Boa constrictor
(Linnaeus, 1758), uma das serpentes mais freqüentemente utilizada em diferentes
regiões do país (COSTA-NETO, 1999; ALVES et al., 2007a,b, 2009).
B. constrictor (família Boidae) é uma serpente que pode apresentar um
comprimento médio de 3,5 m; de hábito arborícola, mas podendo apresentar hábitos
terrestres; possuem atividade noturna e diurna (VANZOLINI et al., 1980). Alimenta-se
de mamíferos, aves (VITT; VANGILDER, 1983; MARTINS; OLIVEIRA, 1998) e
lagartos. São encontradas nas áreas neotropicais (México, Américas Central e do Sul,
Antilhas, Ilhas Dominica e St. Lucia). São serpentes vivíparas e geralmente a cópula
acontece do outono até o inicio do inverno. O tamanho da prole pode variar de 18 a 41
embriões (PETERS et al., 1986).
67
B. constrictor é amplamente utilizada por comunidades tradicionais como
matéria prima de muitos remédios populares (COSTA-NETO, 2000; ANDRADE;
COSTA-NETO, 2006; ALVES et al, 2007b; ALVES et al., 2008a,b; ALVES et al
2009a), e produtos medicinais derivados da espécie são vendidos nos mercados públicos
em todo nordeste do Brasil (PINTO; MADURO, 2003; ALVES; ROSA 2007a).
Figura 1. Boa constrictor, animal usado na medicina tradicional. (Foto: Wayne Lynch)
O produto mais utilizado para fins zooterápicos de B. constrictor é a sua gordura
(ALVES, 2009). Entre as várias aplicações atribuídas a este óleo estão os tratamentos
de: reumatismo, doença pulmonar, trombose, furúnculos, tuberculose, dor de estômago,
edema, picada de cobra, câncer, dor, inchaço, prevenção de aborto, dor no corpo,
inflamação, pé de atleta, calos, tumores, rachaduras na sola dos pés, bócio, dor de
ouvido, dor de garganta, artrose, picada de inseto, mordida de cão, erisipela, trombose,
asma, tensão no pescoço, tensão muscular (ALVES, 2009; ALVES; ROSA, 2006,
2007a, b).
68
Muitas das doenças tratadas com produtos obtidos a partir de B. constrictor estão
associadas a infecções bacterianas, o que sugere que eles podem conter componentes
antibacterianos. Entretanto estudos laboratoriais de avaliação da eficácia deste remédio
popular ainda não foram realizados.
Nos últimos anos, vem aumentando a atenção dada aos animais tanto
vertebrados quanto invertebrados, como fontes de novos medicamentos (CHIVIAN,
2002). Animais têm sido testados pelas companhias farmacêuticas como fontes de
drogas para a ciência médica moderna (COX, 1999) e o percentual de substâncias de
origem animal utilizadas para a produção de medicamentos essenciais é bastante
significativo (ALVES; ROSA, 2007). Hunt & Vicent (2006) e Mayer & Gustafson
(2008) afirmam que os recursos faunísticos vêm sendo testados para a produção e/ou
isolamento de compostos bioativos. Rashid et al. (2009) isolou e purificou um
polissacarídeos da esponja Celtodoryx girardae que possui uma importante atividade
anti-viral contra Herpes simplex. Stankevicins et al. (2008) avaliaram a atividade anti-
mutagênica, de extratos da esponja Arenosclera brasiliensis. Barros et al. (2007) isolou
um tipo de heparina da ascidia Styela plicata com um alto poder anestésico.
Por outro lado estudos também apontam a ineficácia de alguns produtos
utilizados na medicina tradicional no tratamento de algumas doenças e/ou sintomas.
Ferreira et al., (2009c) mostram que a gordura de Tupinambis merianae não inibe
crescimento bacteriano, ou seja, não e recomendado para o tratamento de doenças tipo
dor de ouvido e infecções, para as quais são popularmente utilizadas. De cerca de
25.000 pedidos de registro de medicamentos tradicionais, que foram analisados pelas
autoridades da Malásia, cerca de 37,3% foram rejeitados com base em considerações de
segurança ou da sua eficiência (ANG; LEE, 2006). Esses resultados apontam a
69
necessidade de avaliar a atividade biológica dos produtos naturais utilizados na
medicina tradicional.
Estudos sobre usos tradicionais de recursos de origem animal devem levar em
consideração aspectos de biologia da conservação e de políticas de saúde pública. No
campo da gestão sustentável dos recursos naturais, têm tido destaque a bioprospecção,
pela sua importância primordial para a utilização sustentável (ALVES, 2009;
FERREIRA et al., 2009b).
O presente trabalho avalia a atividade antibacteriana da gordura corporal de Boa
constrictor quando empregado isoladamente ou em combinação com antibióticos e
discute as implicações ecológicas do uso deste remédio tradicional.
70
3.2 MATERIAIS E MÉTODOS
3.2.1. Material zoológico
Os exemplares de Boa constrictor foram coletados no município de Crato (7 º 14
'03 "S x 39 º 24' 34" W), Estado do Ceará, Brasil, durante o mês de novembro de 2009.
Os animais foram anestesiados com Ketamina (50 mg / ml), sacrificados para remover a
gordura do corpo, e seus restos mortais depositados no Laboratório de Zoologia da
Universidade Regional do Cariri – URCA.
3.2.2 Preparação do óleo de Boa constrictor (OBC)
Óleo foi extraído da gordura localizada na região ventral da serpente. A extração
foi realizada por quatro horas em um aparelho de Soxhlet, utilizando hexano como
solvente. Após a mistura ser decantada e filtrada, o óleo foi seco em banho-maria a 70 º
C por 2 horas e, posteriormente, armazenadas em um freezer para as análises
posteriores. A solução de teste de gordura purificada foi preparado a partir de 10 mg da
amostra congelada dissolvido em 1 mL de dimetilsulfóxido (DMSO - Merck,
Darmstadt, Alemanha), produzindo uma concentração inicial de 10 mg / mL, esta
solução foi então diluída para 1024 µg/mL.
3.2.3. Cepas
Os experimentos foram realizados com isolados clínicos de Escherichia coli
(EC27), resistentes a baixos níveis de neomicina e gentamicina, bem como, a
tobramicina, gentamicina e canamicina, e com isolados de Staphylococcus aureus 358
(SA358) resistente a diversos aminoglicosídeos (FREITAS et al, 1999; COUTINHO et
al., 2005). As linhagens padrões de Escherichia coli (EC - ATCC25922), de
71
Staphylococcus aureus (SA- ATCC12692), de Proteus vulgaris (PV-ATCC 13315) e de
Pseudomonas aeruginosa (PA-ATCC 15442) foram utilizados como controles positivos
e foram mantidos em heart infusion agar slants (HIA, Difco). Antes dos ensaios, as
células foram cultivadas durante a noite a 37 º C em brain heart infusion (BHI, Difco).
3.2.4 Drogas
Gentamicina, canamicina, amicacina, neomicina foram obtidos da Sigma
Chemical Corp, St. Louis, MO, USA. Todas as drogas foram dissolvidas em água estéril
antes do uso.
3.2.5 Teste de suscetibilidade as drogas
A concentração inibitória mínima (CIM) de OBC em BHI foram determinadas
por ensaios de microdiluição utilizando suspensões de 105 cfu/ml e as concentrações de
drogas que vão de 1 to 1024µg/mL (em duas diluições de série) (JAVADPOUR et al.,
1996). A CIM é definida como a menor concentração da droga na qual nenhum
crescimento bacteriano é observado. Para a avaliação do óleo como modulador da
atividade antibiótica, o CIM dos antibióticos foram determinados com a presença do
óleo (32 µg/mL) em concentrações sub-inibitórias, e as placas foram incubadas por 24
horas a 37 º C, numa faixa de 2500 a 2,4 µg/mL.
72
3. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados indicam que OBC não apresentou atividade antibacteriana
relevante contra as linhas bacterianas padrão ou multi-resistentes (Tabela 1),
demonstrando que não existe fundamentação farmacológica para o uso desses
zooterápico como um antibiótico para o tratamento de doenças como dores de ouvido
ou dores de garganta geralmente causados por agentes bacterianos.
Tabela 1. CIM de OBC (µg/mL) EC27 EC ATCC
25922 SA 358 SA ATCC
12692 PV ATCC
13315 PA ATCC
15442 OBC 512 512 512 512 256 512
Foi avaliado se OBC poderia demonstrar um atividade bactericida, contra
linhagens bacterianas multirresistentes, quando combinado com antibióticos (Tabela 2).
Os resultados mostram que OBC possui uma atividade sinérgica quando associado a
antibióticos aminoglicosídeos com exceção a canamicina, para EC27, e gentamicina,
para SA358. Os resultados indicam a eficiência do uso da gordura de B. constrictor em
associação com antibióticos para o tratamento de doenças causadas por agentes
bacterianos.
Tabela 2. CIM de OBC isolado e associado a aminoglicosídeos (µg/mL)
Antibióticos MIC EC27 OBC(32 µg/mL) + antibiótico
MIC SA358 OBC(32 µg/mL) + antibiótico
OBC 512 - 512 - Canamicina 1250 1250 312,5 4,9 Amicacina 156 4,9 312,5 2,4 Neomicina 625 4,9 312,5 2,4 Gentamicina 19,5 2,4 4,9 4,9
A busca por novos fármacos derivados de produtos naturais se intensificou nos
últimos anos (KONG et al., 2009). Harvey (2008) relatou que 225 medicamentos de
73
fontes naturais estavam em estágios de desenvolvimento e, destas, 24 foram extraídos
de animais. Deve-se ressaltar que a busca de medicamentos naturais deve ser promovida
associada ao uso não-destrutivo do habitat e promova a saúde humana, bem como, o
apoio ao desenvolvimento econômico e a conservação (KURSAR et al., 2007).
No presente estudo foi evidenciada a ineficácia de OBC, do ponto de vista
clínico, contra doenças causadas por agentes bacterianos quando aplicado isoladamente.
A menor concentração de inibição de OBC foi de 256 µg/mL contra a linhagem de P.
vulgaris. Para as demais linhagens bacterianas o CIM de OBC foi de 512 µg/mL.
Falodum et al. (2008) avaliaram a atividade bactericida da gordura de B. constrictor
contra linhagens de S. aureus, B. subtilis, Streptococcus spp, E. coli, P. aeruginosa
utilizando disco de difusão. Estas concentrações são consideradas clinicamente
ineficazes, pois seria necessário uma dose muito elevada para atingir esta concentração
a nível plasmático (HOUGHTON et al., 2007).. Nesse trabalho os autores afirmam que
a gordura de B. constrictor possui atividade antibacteriana. Porém, essa metodologia
utilizada não permite determinar a concentração em que a gordura inibe o crescimento
bacteriano, como pode ser deduzido através da técnica de diluições seriadas
(HADACEK; GREGER, 2000). Dessa forma, a atividade antibacteriana pode ser
indicada, mas não comparada com os dados obtidos nesse trabalho.
Quantos aos testes de atividade bactericida de OBC associado a
aminoglicosídeos, os resultados obtidos mostram uma significativa atividade
moduladora de OBC quando combinado aos antibióticos aminoglicosídeos. Nos
ensaios realizados com EC27 somente não houve sinergismo a associação de OBC e
canamicina (ambos com CIM de 1250 µg/mL). O CIM de amicacina contra EC27 foi de
156 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM de neomicina
contra EC27 foi de 625 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM
74
de gentamicina contra EC27 foi de 19,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 2,4
µg/mL.
Nos ensaios realizados com SA358, não houve sinergismo na associação de
gentamicina a OBC (ambos com MIC de 4,9 µg/mL). O CIM de canamicina contra
SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas quando associado a OBC foi de 4,9 µg/mL. O CIM de
amicacina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas em associação a OBC foi de 2,4
µg/mL. O CIM de neomicina contra SA358 foi de 312,5 µg/mL, mas quando associado
a OBC foi de 2,4 µg/mL. Esses são os primeiros dados sobre a atividade moduladora da
gordura de B. constricitor contra linhagens bacterianas.
Os ácidos graxos podem mostrar atividade antibacteriana, principalmente os
insaturados, por afetar a síntese bacteriana endógena de ácidos graxos (ZHENG et al.,
2005). A gordura corporal de B. constrictor apresenta 62,34% e 37,66% de insaturados
e ácidos graxos saturados, respectivamente. A composição do OBC foi: ácido mirístico,
ácido palmítico, ácido esteárico, ácido palmítico, ácido oléico, vacênico, ácido linoleico,
ácido araquidônico (McCUE, 2008).
Os resultados obtidos para Boa constrictor diferem daqueles obtidos para outros
répteis. Por exemplo, Ferreira et al. (2009c) avaliaram a atividade moduladora da
gordura de Tupinambis merianae frente a linhagens bacterianas. Os resultados
indicaram que a gordura corporal de T. merianae não aumenta a eficácia dos
aminoglicosídeos contra as linhagens de bactérias testadas. A CIM de amicacina e
neomicina combinado com a gordura corporal do T. merianae. não demonstrou
nenhuma potenciação dos antibióticos contra E. coli ou S. aureus. Os aminoglicosídeos
testados (canamicina e gentamicina), demonstraram uma redução na sua eficácia contra
a E. coli ou S. aureus quando combinada com a gordura corporal do T. merianae.
75
Vários produtos provenientes de animais vêm sendo testados contra agentes
bacterianos mostrando uma eficiente atividade biológica. Bosch et al. (2009)
identificaram e isolaram um peptídeo denominado hidramacina-1 de Hydra com
atividade contra bactérias. Li et al. (2009) isolou um nova quinona sesquiterpeno,
proveniente da esponja Dysidea villosa, com potencial de atividade contra bactérias.
Adhya et al (2009) isolou uma lectina, massa molecular de 47 kDa, de um bivalve
Macoma birmanica que inibe o crescimento de bactérias gram-positivas e gram-
negativas. Stow & Beattie (2008) revisam os mecanismos de defesa de insetos sociais
contra microorganismos e afirmam que alguns destes compostos como terpenóides e
peptídeos podem ser utilizados na medicina no combate contra bactérias patógenas.
Duas proteínas retiradas de Branchiostoma belcheri demonstraram uma atividade
antibactericida (FAN et al., 2008; JU et al. 2009). Wang et al. (2009) isolou uma
proteína (hepcidina) do sistema imune do peixe Pseudosciaena crocea demonstrando
uma atividade antibactericida e antifúngica. Conlon et al., (2006) relatam peptídeos, do
tipo japonicina-2, com atividade antibactericida proveniente de extratos da pele do sapo
Rana chaochiaoensis. Park et al (2009) isolou proteína do tipo lactoforicina do leite de
Bos taurus com atividade contra bactérias.
Em relação a atividade moduladora de antibióticos poucos trabalhos mostram a
ação de zooterápicos para essa finalidade. Coutinho et al. (2009, 2010) relatam a
atividades de decoctos do cupim Nasutitermes corniger contra linhagens bactérias
multirresistentes. Nesses trabalhos, os decoctos apresentaram atividade sinergística
quando associado a neomicina, canamicina e gentamicina.
Chin et al. (2006) afirmam que 87% das categorias de doenças quem acometem
humanos são tratados com produtos naturais. Alves et al. (2007a, b) e Alves et al.
(2009a) alertam sobre exploração dos recursos naturais utilizados na medicina
76
tradicional. Hunt & Vincent (2006) advertem que a bioprospecção de recursos naturais
para a produção de novos fármacos pode resultar na exploração da biodiversidade, com
impactos diretos e negativos sobre estas fontes.
Várias espécies de animais utilizadas na medicina tradicional estão ameaçadas
de extinção e são comercializadas abertamente. Não há dados sobre a atividade
biológica desses recursos embora o tráfico dessas espécies seja comum (ALVES;
ROSA, 2005, 2007c).
Servheen (1999) afirma que 14 espécies de ursos, presentes em lista da IUCN,
são comercializadas dentro e fora da China para o uso medicinal. No Brasil, Alves et al.
(2009) listou um total de 44 espécies de répteis utilizados para medicamentos ou fins
mágico/religiosos, e 23 (52,3%) são consideradas ameaçadas de extinção. A realização
de testes farmacológicos dos produtos provenientes de animais ameaçados de extinção é
de extrema importância, pois validar ou não essa prática e propor medidas para um uso
racional e sustentável é imprescindível para a manutenção das espécies
(ALBUQUERQUE et al, 2007; ALVES et al., 2009). O caso dos rinocerontes é
exemplar. O uso de chifres de rinocerontes na medicina tradicional tem sido apontado
como uma das principais causas de declínio populacional desses animais (SHEELINE,
1987). Embora produtos zooterápicos derivados dessa espécie tenham eficácia
comprovada, como aponta a pesquisa de But (1990), que demonstrou uma importante
atividade anti-pirética dos chifres de rinoceronte, o impacto de tais usos sobre as
populações naturais desses animais deve ser melhor analisado, e alternativas
terapêuticas devem ser consideradas.
Muitos répteis são usados pelos seres humanos para diversos fins, tais como:
alimentos, medicamentos, ou como animais de estimação. Alves et al., (2009) listou
nove espécies de répteis (incluindo B. constrictor) que são utilizados no Brasil, para fins
77
alimentares e medicinais. Embora a legislação brasileira proíba a comercialização de
animais silvestres, animais inteiros ou suas partes podem ser facilmente encontradas à
venda em mercados públicos para diferentes finalidades (ALVES; PEREIRA-FILHO
2007, ALVES et al 2007a). Os múltiplos usos humanos desses animais representam
uma fonte adicional de pressão ambiental sobre estas espécies, embora o grau exato de
impacto deva ser bem avaliado e contextualizado (ALVES; ROSA 2006; ALVES et al,
2007b, ALVES et al 2009b). De acordo com McMichael & Beaglehole (2000), muitos
dos problemas atuais de saúde pública têm suas raízes na desigualdade sócio-econômica
e nos padrões de consumo imprudente que põem em risco a sustentabilidade futura. Há
a necessidade de promover a conservação e proteger as espécies utilizadas para fins
medicinais tendo em vista todo o potencial dessas espécies, pois a bioprospecção prevê
um incentivo para a conservação das mesmas (KURSAR et al., 2007).
Esta situação demonstra a importância da produção de estudos mais detalhados
enfocando as interações entre seres humanos e répteis, objetivando avaliar as
verdadeiras implicações do uso destes animais para fins medicinais e para desenvolver
estratégias viáveis para a sua conservação (FERREIRA et al., 2009c).
A caça e o comércio de animais silvestres, entre essas B. constrictor, é proibido
no Brasil. Porém, o comércio para uso dessas espécies como animais de estimação pode
ser realizado através da obtenção de espécies criadas em cativeiro, reduzindo assim a
pressão em populações selvagens (MAREŠOVÁ & FRYNTA, 2008). Segundo Alves et
al. (2009), uma proposta viável poderia ser a criação de cooperativas nas comunidades
rurais para produzir estes répteis para o mercado de medicamentos e fins
mágico/religiosos. Estas cooperativas produziriam um certo número de espécies de
répteis para fins comerciais, com a devida autorização e regulamentação das agências
78
governamentais e orientação dos especialistas da área (biólogos, veterinários e
zootecnistas).
Diante do exposto, estratégias para o uso racional de produtos de B. constrictor
devem ser idealizadas para a conservação dessa espécie. Faz-se necessário também, que
as agências governamentais de meio ambiente e saúde intensifiquem o controle sobre a
comercialização de produtos derivados de animais em mercados públicos, considerando
que o uso comercial indiscriminado de espécies nativas para fins medicinais tem sido
citado como uma das prováveis causas do declínio de populações de muitas plantas e
espécies animais (ALVES; ROSA, 2005, 2007a, b).
79
3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apontam que a gordura de Boa constrictor não possui atividade
bactericida, do ponto de vista clínico, porém quando associado a antibióticos, a gordura
demonstrou uma significativa atividade sinérgica (com exceção a canamicina, para E.
coli, e gentamicina, para S. aureus).
O uso e comércio de produtos derivados de Boa constrictor exercem uma
pressão adicional sobre as populações selvagens da espécie, dessa forma fica evidente a
necessidade de: desenvolvimento de planos de gestão para o uso racional e sustentável
desta espécie; e a realização de mais pesquisas sobre a utilização da gordura corporal de
Boa constrictor no tratamento outras doenças.
80
REFERÊNCIAS
ABBOTT, A. Survey questions safety of alternative medicine. Nature. 436, p.898–898, 2005. ABBOTT, N.C., White, A.R., Ernst, E. Complementary medicine. Nature. p. 381, 361, 1996. ADEOLA M.O. Importance of wild Animals and their parts in the culture, religious festivals, and traditional medicine, of Nigeria. Environ Conserv. 19(2):125-134, 1992. ADH. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Brasília: Plano Nacional para o Desenvolvimento (PNUD), 2004. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/dl/unico/AtlasIDH2000.exe>. Acesso em: 03/01/09 ALBUQUERQUE, U.P.; MONTEIRO, J.M.; RAMOS, M.A.; AMORIM, E.L.C. Medicinal and magic plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.110, p. 76-91, 2007. ALBUQUERQUE, U.P.; LUCENA, R.F.P. Métodos e técnicas para coleta de dados. In: ALBUQUERQUE, U.P.; LUCENA, R.F.P. Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. NUPEEA/Livro Rápido: Recife p.37-62, 2004. ALBUQUERQUE, A.W.; LOMBARDI NETO, F.; SRINIVASAN, V.S. et al. Manejo da cobertura do solo e de práticas conservacionistas nas perdas de solo e água em Sumé, PB. Rev. bras. eng. agríc. ambient., vol.6, no.1, p.136-141, Jan./Abr. 2002. ALMEIDA, A. V. Zooterapia indígena brasileira do século XVII nas obras de Guilherme Piso, Georg Marcgrave e Joannes de Laet. Sitientibus Série Ciências Biológicas. 7 (3), p. 261-272, 2007. ALMEIDA, A. V. Prescrições zooterápicas indígenas brasileiras nas obras de Guilherme Piso (1611–1679). In: ALVES, A.G.C., LUCENA, R.F.P., ALBUQUERQUE, U.P. (Eds.), Atualidades em Etnobiologia e Etnoecologia. Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, Nuppea, pp. 47–60, 2005. ALMEIDA C.F.C.B.R.; ALBUQUERQUE U.P. Uso de plantas e animais medicinais no estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): Um estudo de caso. Interciência, v. 27, 2002.
81
ALMEIDA C.F.C.B.R. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no estado de Pernambuco: um estudo de caso no Agreste. Monografia, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, 60 p., 2001. ALVES, R. R. N. Fauna used in popular medicine in Northeast Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. 5:1, 2009 ALVES, R.R.N.; LIMA, H.N.; TAVARES, M.C.; SOUTO, W.M.S.; BARBOZA, R.R.D.; VASCONCELLOS, A. Animal-based remedies as complementary medicines in Santa Cruz do Capibaribe, Brazil. BMC Complementary and Alternative Medicine, v.8, p. 44, 2008. ALVES, R.R.N., ROSA, I.L.. Zootherapy goes to town: The use of animal-based remedies in urban areas of NE and N Brazil. Journal of Ethnopharmacology. v. 113, p. 541-555, 2007a ALVES, R.R.N; ROSA, I.L. Zootherapeutic practics among fishing communities in North and Northeast Brazil. A comparison. Journal of Ethnopharmacology, v. 111, 2007b. ALVES, R.R.N., PEREIRA-FILHO, G.A. Commercialization and use of snakes on North and Northeastern Brazil: implications for conservation and management. Biodiversity and Conservation. 16, p. 969–985, 2007. ALVES, R.R.N. Uso e comércio de animais para fins medicinais e mágico-religiosos no Norte e Nordeste do Brasil. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas). Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 252f , 2006 ALVES, R.R.N.; ROSA, I.L. From cnidarians to mammals: The use of animals as remedies in fishing communities in NE Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.107, p. 259–276, 2006. ALVES, R.R.N.; ROSA, I.L. Why study the use of animal products in traditional medicines? Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 1, p.1-5, 2005. ALVES, R.R.N., ROSA, I.L., SANTANA, G. G. The role of animal-derived remedies as complementary medicine in Brazil. BioScience. 57(11),1-7,2007a.
82
ALVES, R.R.N, VIEIRA, W.L.S., SANTANA, G.G. Reptiles used in traditional folk medicine: conservation implications. Biodiversity and Conservation. 7(1), p. 2037-2049, 2007b. ALVES, R.R.N., NETO, N.A.L., BROOKS, S.E., et al. Commercialization of animal-derived remedies as complementary medicine in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology , 2009a. ALVES, R.R.N., MENDONÇA, L.E.T., CONFESSOR, M.V.A., et al. Hunting strategies used in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 5: p.1-12, 2009b. ALVES, A. G. C.; SOUTO, F. J. B. Etnoecologia do cágado d’água Phrynops spp (Testudinomorpha: Chelidae) no Açude Bodocongó, Campina Grande, Paraíba. Resumos do III Simpósio de Etnobiologia e Etnoecologia, São Carlos, Brasil, p. 83, 1998. ANDRADE, J. N.; COSTA-NETO, E. M. O comércio de produtos zooterápicos na cidade de Feira de Santana, Bahia, Brasil. Sitientibus v. 6, p. 37-43, 2006. ANDRADE-LIMA, D. Vegetação. Atlas Nacional do Brasil. V. 2. IBGE. Conselho Nacional de Geografia, Rio de Janeiro: 1966. ANG, H.H., LEE, K.L. Contamination of mercury in tongkat Ali hitam herbal preparations. Food and Chemical Toxicology v. 44, p.1245–1259, 2006. ANYINAM, C. Ecology and ethnomedicine: exploring links between current environmental crisis and indigenous medical practices, Soc. Sci. Med. v. 40, n. 3, 321–329, 1995. APAZA, L.; GODOY, R.; WILKIE, D., BYRON, E., HUANCA, O., LEONARD,W.L., PEREZ, E.; REYES-GARCIA, V.; VADEZ, V. Markets and the use of wild animals for traditional medicine: a case study among the Tsimane’ Amerindians of the Bolivian rain Forest. Journal of Ethnobiology v. 23, p.47–64, 2003. ARAUJO, E.L.; CASTRO, C.C.; ALBUQUERQUE, U. P. Dynamics of Brazilian Caatinga—A Review Concerning the Plants, Environment and People. Functional Ecosystems and Communities 1:15–29, 2007.
83
ARRUDA, M.B. Conservação, Ecologia humana e sustentabilidade na Caatinga: Estudos da região do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) . Série Meio Ambiente em Debate. Brasília, DF: IBAMA; n.13, 1997,96 p. AURICCHIO, P., SALOMÃO, M.G., (Orgs.) Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e didáticos. Instituto Pau Brasil de História Natural, São Paulo, 2002. BALAMURUGAN, M., PARTHASARATHI, K., COOPERB, E.L., et al. Anti-inflammatory and anti-pyretic activities of earthworm extract—Lampito mauritii (Kinberg). Journal of Ethnopharmacology. v.121, p.330–332, 2009. BARROS, C.M., et al. The Hemolymph of the Ascidian Styela plicata (Chordata-Tunicata) Contains Heparin inside Basophil-like Cells and a Unique Sulfated Galactoglucan in the Plasma Journal Biological Chemistry. 282: 1615-1626, 2007. BEGOSSI, A. Food taboos at Búzios Island (Brazil): their significance and relation to folk medicine. Journal of Ethnobiology. v.12, p. 117–139, 1992. BEGOSSI, A.; BRAGA, F.M.S. Food taboos and folk medicine among fishermen from the Tocantins River, Amazoniana n.12, p.101–118, 1992. BENÍCIO, R.A.; SARMENTO, O. C.; FONSECA, M.G. Levantamento preliminar das serpentes de ocorrência no campus da UFPI, Picos, Piauí. In Anais do II Simpósio de Produtividade em Pesquisa - II Encontro de Iniciação Científica do IFPI. Piauí, Brasil, 2009. BERLIN, B. Ethnobiological Classification: Principles of categorization of plants and animals in traditional societies. Princeton: Princeton University, 1992. BERTONA, M.; CHIARAVIGLIO, M. Reproductive biology, mating aggregations, and sexual dimorphism of the argentine boa constrictor (Boa constrictor occidentalis). J. Herpet. 37(3):510-516, 2003. BOSCH, T. C. G., AUGUSTIN, R., ANTON-ERXLEBEN, F., et al. Uncovering the evolutionary history of innate immunity: The simple metazoan Hydra uses epithelial cells for host defence. Developmental and Comparative Immunology. v. 33, p.559–569, 2009.
84
BRANCH, L.; SILVA, M.F. Folkmedicine in Alter do Chão, Pará, Brazil. Acta Amazônica. v. 13, p.737–797, 1983. BRASIL , Ministério da Saúde. Programa nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília, 136 p., 2009. BRASIL , Ministério da Saúde. Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos. A fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos. Brasília, 148p., 2006. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Comunicação Social: contas regionais do Brasil de 2004, 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=734 > Acesso em: 18/09/2008. BRASIL , Ministério do Meio Ambiente (MMA). Lista Nacional das espécies de invertebrados aquáticos e peixes sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotacão. Instrução normativa no. 5, de 21 de maio de 2004. Diário Oficial da União, 102, pp. 136–142, 2004. BRASIL , Ministério da Saúde. Portaria n°. 3.916, de 30 de outubro de 1998. Aprova a política nacional de medicamentos. Disponível em: http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=751 Acesso em: 10/10/09. CALVET-MIR, L.; REYES-GARCÍA, V.; TANNER, S. Is there a divide between local medicinal knowledge and Western medicine? A case study among native Amazonians in Bolivia. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. 4:18, 2008. CELSO R. Criação de condições e incentivos para a conservação local de biodiversidade. In: SPETH JC; HOLDGATE MW; TOLBA MK (eds) A estratégia global da biodiversidade. Diretrizes de ação para estudar, salvar e usar de maneira sustentável e justa a riqueza biótica da Terra. Rio de Janeiro, WRI/UICN/PNUMA, p. 92–93, 1992. CHEEPTHAM, N., TOWERS, G.H.N. Light-mediated activities of some Thai medicinal plant teas. Fitoterapia. v.73, p. 651–662, 2002. CHIARAVIGLIO, M.; BERTONA, M.; SIRONI M.; LUCINO, S. Intrapopulation variation in life history traits of Boa constrictor occidentalis in Argentina. Amphibia-Reptilia 24(1):65-74, 2003.
85
CHIVIAN, E. Biodiversity: Its importance to human health Center for Health and the Global Environment. Harvard Medical School, 2002. CISCOTTO, P.; AVILA, R. A. M.; COELHO, E.A.F., et al. Antigenic, microbicidal and antiparasitic properties of an L-amino acid oxidase isolated from Bothrops jararaca snake venom. Toxicon. 53, 330–340, 2009. CLÉMENTE, D. The historical foundations of ethnobiology (1860-1899). Journal of Ethnobiology, vol.18, n. 2: p.161-187, 1998. CONLON, J. M. et al. Purification and properties of laticeptin, an antimicrobial peptide from skin secretions of the South American frog Leptodactylus laticeps. Protein & Peptide Letters. 13:355–359, 2006. COSTA-NETO, E.M. Insetos como recursos alimentares nativos no semi-árido do estado da Bahia, nordeste do Brasil. Zonas Áridas n. 8, p.33-40, 2004. COSTA-NETO, E.M.; PACHECO, J.M. Utilização medicinal de insetos no povoado de Pedra Branca, Santa Terezinha, Bahia, Brasil. Biotemas, 18 (1): 113 - 133, 2005. COSTA-NETO, E.M. Conhecimento e usos tradicionais de recursos faunísticos por uma comunidade afro-brasileira: resultados preliminares. Interciência, v. 25 n. 9, p. 423-431, dez. 2000. COSTA-NETO, E. M. Barata é um santo remédio: Introdução à zooterapia popular no Estado da Bahia. Universidade Estadual de Feira de Santana, Brasil, 103 p., 1999a. COSTA-NETO, E. M. Traditional use and sale of animals as medicines in Feira de Santana City, Bahia, Brazil. In: Indigenous Knowledge and Development Monitor, julho 1999. 1999b. Disponível em http://www.nvffic.nl/ciran/ikdm/72/medeiros.html. COSTA-NETO, E.M.. Folk taxonomy and cultural significance of “abeia” (Insecta, Hymenoptera) to the Pankararé, northeastern Bahia State, Brazil. Journal of Ethnobiology 18(1): p.1-13,1998. COSTA-NETO E.M. Faunistic resources used as medicines by na afro-brazilian community from Chapada Diamantina National Park, State of Bahia, Brazil, Sitientibus, Feira de Santana, n 15, 1996.
86
COUTINHO, H.D.M.; VASCONCELLOS, A.; FREIRE-PESSÔA, H.L.; GADELHA, C.A.; GADELHA, T.S.; ALMEIDA-FILHO, G.G. Natural products from the termite Nasutitermes corniger lowers aminoglycoside minimum inhibitory concentrations. Pharmacognosy Magazine, v. 6, 1-4, 2010 COUTINHO, H.D.M.; VASCONCELLOS, A.; LIMA, M.A.; ALMEIDA-FILHO, G.G.; ALVES, R.R.N. Termite usage associated with antibiotic therapy: enhancement of aminoglycoside antibiotic activity by natural products of Nasutitermes corniger (Motschulsky 1855). BMC Complementary and Alternative Medicine, 9:35, 2009. COUTINHO, H.D.M, Atividade antibacteriana e fototóxica de produtos naturais da região do Cariri, Ceará. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas). Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2008 COUTINHO, H.D.M.; CORDEIRO, L.N.; BRINGEL, K.P. Antibiotic resistance of pathogenic bacteria isolated from the population of Juazeiro do Norte – Ceará. Rev. Bras. de Ciências da Saúde. v.09, p.127-138, 2005. COX, P.A. Ethnopharmacology and the search for new drugs. In Bioactive Compounds from Plants. Edited by: Anonymous. Ciba Foundation Symposium 154. Wiley Interscience, New York; 1990. CRAGG, G.M.; NEWMAN, D.J.; SNADER, K.M. Natural products in drug discovery and development. Journal of Natural Products, v. 60, p. 52-60, 1997. DE SMET, P.A.G.M. Is there any danger in using traditional remedies? Journal of Ethnopharmacolgy. v. 32, p. 43-50, 1991. DIEGUES, C. A et al. Biodiversidade e comunidades tradicionais no Brasil: Os saberes tradicionais e a Biodiversidade no Brasil. NUPAUB-USP, PROBIO-MMA, CNPq, São Paulo, 1999. DREWS, C. Attitudes, knowledge and wild animals as pets in Costa Rica. Anthrozoös, 15 (2): 119-138, 2002. EL-KAMALI, H.H. Folk medicinal use of some animal products in Central Sudan. Journal of Ethnopharmacology.72: 279–282, 2000. ELISABETSKY, E. The status of ethnopharmacology in Brazil. J. Ethnopharmacology, v. 38, p.137, 1993.
87
ELLEN, R. Indigenous knowledge of the rainforest: perception, extraction and conservation. (1997) Disponível: http://www.lucy.ukc.acuk/Rainforest/malon.htm. Acesso em 06/02/2007. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Urbanização nos Municípios da Paraíba, Campinas, 21 mar. 2006a. Disponível em: < http://www.urbanizacao.cnpm.embrapa.br/conteudo/uf/pb.html>. Acesso em: 07/01/2009. FAN, C., ZHANG, S., LI, L., CHAO, Y. Fibrinogen-related protein from amphioxus Branchiostoma belcheri is amultivalent pattern recognition receptor with a bacteriolytic activity. Molecular Immunology. v.45, p.3338–3346, 2008. FERNANDES-PINTO; MARQUES J.G.W. Conhecimento Etnoecológico de Pescadores Artesanais de Quaraqueçaba (PR). In: DIEGUES, A.C. (Org.). Enciclopédia Caiçara. São Paulo: Ed. Hucitec-NUPAUB-CEC/USP, v.1, 382 pp., 2004. FERREIRA, F.S., BRITO, S.V., RIBEIRO, S.C., et al. 2009. Animal-based folk remedies sold in public markets in Crato and Juazeiro do Norte, Ceará, Brazil. BMC Complementary and Alternative Medicine, 9:17. FIOT, J., SANON, S., AZAS, N., MAHIOU, V., et al. Phytochemical and pharmacological study of roots and leaves of Guiera senegalensis JF Gmel (Combretaceae). Journal of Ethnopharmacology 106: 173–178, 2006. FITZERALD, L.A., CHIANI, J.M., DONADIO, O.E. Tupinambis lizards in Argentina: implementing management of a traditionally exploited resouce. In: Neotropical wildlife use and conservation. University of Chicago, Chicago. p.303-316, 1991. FORDHAM, D.A.; GEORGES, A.; BARRY, W.B. Demographic response of snake-necked turtles correlates with indigenous harvest and feral pig predation in tropical northern Australia. Journal Anim. Ecol. 76(6):1231-1243, 2007. FOSTER, G. M. Introduction a l’ethnomédicine. In: BANNERMAN, RH; BURTON, V; WEN-CHIEN, C (eds.). Médicine traditionelle et couverture des soins de santé. Geneva: OMS, 1983. FRANCELINO, M. R. et al. Contribuição da caatinga na sustentabilidade de projetos de assentamentos no sertão norte-rio-grandense. Revista Árvore. Viçosa, v.27, n.1, p.79-86, 2003.
88
FREITAS, F.I., GUEDES-STEHLING, E., SIQUEIRA-JÚNIOR, J.P. Resistance to gentamicin and related aminoglycosides in Staphylococcus aureus isolated in Brazil. Letters in Applied Microbiology . 29(3), p.197-201, 1999. FREIRE, F.C.J. Répteis utilizados na medicina popular no Estado de Alagoas. Monografia de especialização. Universidade Federal de Alagoas, Departamento de Biologia; 1996. GIBBONS, J.W., SCOTT, D.E., RYAN, T.J., et al. The global decline of reptiles, déjà vu amphibians. BioScience. v. 50,p.653–666, 2000. GIULIETTI, A. M. et al. Espécies endêmicas da caatinga. In: SAMPAIO, E. V. S. B.; GIULIETTI, A. M.; VIRGÍNIO, J.; GAMARRA-ROJAS, C. F. L. (eds.). Vegetação e flora da caatinga. Recife: APNE/CNIP, 2002. p. 103-118. GRANOWITZ, E. V., BROWN, R. B. Antibiotic adverse aeactions and drug interactions Critical Care Clinics. v.24, p.421–442, 2008. GUERRINI, A., BRUNI, R., MAIETTI, S., et al. Ecuadorian stingless bee (Meliponinae) honey: A chemical and functional profile of an ancient health product. Food Chemistry. v.114, p.1413–1420, 2009. HADACEK F, GREGER H. Testing of Antifungal Natural Products:Methodologies, Comparability of Results and Assay Choice. Phytochem. Anal. v.11, p.137–147, 2000. HAVERROTH, M. Etnobotânica: uma revisão teórica. Antropologia em primeira mão. Florianópolis, v. 20, p. 1-46, 1997. HARVEY, A. L. Natural products in drug discovery. Drug Discovery Today. 13, p. 894-901, 2008. HEINRICH M. et al. Medicinal plants in Mexico: healers’ consensus and cultural importance. Social Science and Medicine,n. 47, p.1863-1875, 1998. HENDERSON, R. W.; T. W. P.MICUCCI; G. PUORTO &R. W. BOURGEOIS. Ecological correlates and patterns in the distribution of neotropical boines (Serpentes: Boidae): a preliminary assessment. Herpetological Natural History 3: 15-27, 1995. HOLANDA S.B. Caminhos e fronteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1984.
89
HOREAU, L.; DASILVA, E. J. Medicinal Plants: a re-emerging health aid. Journal of Biotechnology, v. 2, n.2 p. 56-70, 1999. HOUGHTON, P.J.; HOWES, M.J.; LEE, C.C.; STEVENTON, G. Uses and abuses of in vitro tests in ethnopharmacology: visualizing an elephant. Journal of Ethnopharmacology v.110, p.391–400, 2007. HSIEH, S.C., LAI, J.N., CHEN, P.C., et al. Development of activesafety surveillance system for traditional Chinese medicine: an empirical study in treating climacteric women. Pharmacoepid and Drug Safety. 15, 889–899, 2006. HUNT, B., VINCENT, A.C.J. Scale and Sustainability of Marine Bioprospecting for Pharmaceuticals. Ambio. 35(2), p.57-64, 2006. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IB GE). Canal Cidades@. Brasília, 2009. Disponível em :< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm>. Acesso em: 20/08/2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IB GE). Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária 2005/IBGE. Departamento de População e Indicadores Sociais, Rio de Janeiro, 2006. ISAZA, R., ACKERMAN, N.; JACOBSON, E.L. Ultrasound imaging of the celomic structures in the Boa constrictor (Boa-Constrictor). Vet. Radiol. Ultrasound. 34(6): 445-450, 1993. JAVADPOUR, M.M., JUBAN, M.M., LO, W.C., et al. De novo antimicrobial peptides with low mammalian cell toxicity. Journal Medical Chemistry. v. 39, p.3107–3113, 1996. JU, L., ZHANG, S., LIANG, Y., et al. Identification, expression and antibacterial activity of a tachylectin-related homolog in amphioxus Branchiostoma belcheri with implications for involvement of the digestive system in acute phase response. Fish & Shellfish Immunology. 26, 235–242, 2009. KAKATI, L.N.; AO, B.; DOULO, V. Indigenous knowledge of zootherapeutic use of vertebrate origin by the Ao tribe of Nagaland. Journal Human Ecology. 19(3): 163-167, 2006.
90
KONG, D., LI, X., ZHANG, H. Where is the hope for drug discovery? Let history tell the future. Drug Discovery Today v.14, p.115-119, 2009. KUNIN, W.E., LAWTON, J.H., 1996. Does biodiversity matter? Evaluating the case or conserving species. In Biodiversity: a biology of numbers and differences Edited by: Gaston KJ. Blackwell Science. p.283-308, 1996. LEAL, I.R.; SILVA, J.M.C.; TABARELLI, M.; Jr., T.E.L. Mudando o curso da conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil. Megadiversidade, v.1, n.1, p. 139-146, 2005. LEAL, I.R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. Ecologia e Conservação da Caatinga: Uma Introdução ao Desafio. In: Leal IR, Tabarelli M, Silva JMC (Ed.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. LEV, E. Traditional healing with animals (zootherapy): medieval to present-day Levantine practice, Journal of Ethnopharmacology, n.86, p.107–118, 2003. LIMA, D. C. de O. Conhecimentos e práticas populares envolvendo insetos na região em torno da Usina Hidrelétrica de Xingo (Sergipe e Alagoas). Monografia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Brasil, 56 p., 2000. LIU, F., WANG, J., WANG, S., et al. Antitumor and mechanism of Gecko on human esophageal carcinoma cell lines in vitro and xenografted sarcoma 180 in Kunming mice. World Journal of Gastroenterology. 7, 3990-3996, 2008. LOPEZ, A., HUDSON, B., TOWERS, G.H.N. Antiviral and antimicrobial activities of Colombian medicinal plants, Journal of Ethnopharmacology. v. 77, p.189 –196, 2001. LUOGA EJ; WITKOSKI ETF; BALKWILL K. Differential utilization and ethnobotany of trees in Kitulanghalo forest reserve and surrounding communal lands, eastern Tanzania. Economic Botany, v. 54, 2000. MAHAWAR, M. M.; JAROLI, D.P. Traditional zootherapeutic studies in India: a review. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. 4:17, 2008. MAHAWAR, M. M.; JAROLI, D.P. Traditional knowledge on zootherapeutic uses by the Saharia tribe of Rajasthan, India. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. 3:25, 2007.
91
MAHAWAR, M. M.; JAROLI, D.P. Animals and their products utilized as medicines by the in habitants surrounding the Ranthambhore National Park, India. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 2:46, 2006. MAYER, A.M.S.; GUSTAFSON, K.R. Antitumor and Cytotoxic Compounds. European Journal of Cancer 44:2357-2387, 2008. MAREŠOVÁ, J.; FRYNTA, D. Noah's Ark is full of common species attractive to humans: The case of boid snakes in zoos. Ecological Economics 64: 554 – 558, 2008. MARQUES, J.G.W. O olhar (des)multiplicado. O papel do interdisciplinar e do qualitativo na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. In: AMOROZO, M.C.M.; MINGG, L.C. & SILVA, S.M.P. (eds.). Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. UNESP/CNPq, Rio Claro, Brasil, p.31-46. 2002 MARQUES, J. G. W. Dinâmica cultural e planejamento ambiental: sustentar não é congelar. In: Bastos-Filho, J. B. (ed.). Cultura e desenvolvimento: a sustentabilidade cultural em questão. PRODEMA-UFAL, Maceió, Brasil, p. 41 – 68, 1999. MARQUES, J.G.W. Fauna medicinal: Recurso do ambiente ou ameaça à biodiversidade? Mutum. 1(1),4, 1997. MARQUES, J.G.W. Pescando pescadores: etnoecologia abrangente no baixo São Francisco alagoano. NUPAUB/USP. São Paulo, 1995. MARQUES, O.A.V., ETEROVIC, A. & ENDO, W. Seasonal activity of snakes in the Atlantic Forest in southeastern Brazil. Amphibia-Reptilia 22(1), p.103-111, 2001. MARTIN, G.J. Ethnobotany, a methods manual. London, Chapman & Hall, 1995. MARTÍNEZ, C. E. Etnobiología de los Cofanes de Dureno. Publicaciones del Museo Ecuatoriano de Ciencias Naturales, Quito, Ecuador, 207p., 1995. McCUE, M.D. Fatty acid analyses may provide insight into the progression of starvation among squamate reptiles. Comparative Biochemistry and Physiology, Part A, 151, 239–246, 2008.
92
McMICHAEL A.J.; BEAGLEHOLE R. The changing global context of public health. Lancet. 356: 495-499, 2000. MORAIS, K. B.; VIEIRA, C. O.; HIRATA, I. Y., et al. Bothrops jararaca antithrombin: Isolation, characterization and comparison with other animal antithrombins. Comparative Biochemistry and Physiology. 152, 171–176, 2009. MOURA, F.B.P.; MARQUES, J.G. W. Zooterapia popular na Chapada Diamantina: uma medicina incidental? Ciência & Saúde Coletiva. 13, 2179-2188, 2008. NAZAREA, V.; et al. Defining indicators which make sense to local: Intra-cultural variation in perceptions of natural resources. Human Organization 57, p. 159-170, 1998. NEGI, C. S.; PALYAL, V. S. Traditional uses of animal products in medicine and rituals by the Shoka Tribes of District Pithoragarh, Uttaranchal, India. Ethno-Medicine. 1(1): 47-54, 2007. NOLAN, J. M.; ROBBINS, M. C. E. Emotional meaning and the cognitive organization of ethnozoological domains. Journal of Linguistic Anthropology, 11 (2): 240-249, 2001. NORMILE, D. The new face of traditional Chinese medicine. Science. 299, 188–190, 2003. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CI ÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Culture and Health: Orientation Textes: Word Decade for Cultural Development 1988-1997, Document CLT/DEC/PRO. Paris, 129p. 1996. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). CID-10 - Classificação Internacional de Doenças e Agravos Relacionados à Saúde. 8ª ed., vol. 1; 3. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. PALOMBO, E.A. Phytochemicals from traditional medicinal plants used in the treatment of diarrhoea: Modes of action and effects on intestinal function. Phytotherapy Research. 20, 717–724, 2006. PANDEY, R.C. Prospecting for potentially new pharmaceuticals from natural sources. Medical Research Reviews, v.18, p. 333-346, 1998.
93
PARK, T., KIM, T., CHOI, S., et al. Cloning, expression, isotope labeling, purification, and characterization of bovine antimicrobial peptide, lactophoricin in Escherichia coli. Protein Expression and Purification. 65, p. 23–29, 2009. PETERS, J.A., OREJAS-MIRANDA, B. & VANZOLINI, P.E. Catalogue of Neotropical Squamata. Smithsonian Institution Press, Washington and London, 1986. PHILLIPS, O. et al Quantitative ethnobotany and Amazonian conservation. Conservation Biology n. 8, p.225–24. , 1994. PIZZATTO, L. Ecomorfologia e estratégias reprodutivas nos Boidae (Serpentes), com ênfase nas espécies neotropicais. Campinas. Tese (Doutorado, Ecologia) - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, 2006. 151p. PIERONI, A.; GIUSTI, M.E.; GRAZZINI, A. Animal remedies in the folk medicinal practices of the Lucca and Pistoia Provinces, Central Italy; in Fleurentin J, Pelt JM, Mazars G (eds): Des sources du savoir aux médicaments du futur / From the Sources of Knowledge to the Medicines of the Future. Proceedings of the 4th European Colloquium of Ethnopharmacology. Paris, IRD Editions, pp 371–375, 2002. PISO, G. História natural e médica da Índia Ocidental - 1658. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1957. POSEY, D. A. Etnobiologia: teoria e prática. In: RIBEIRO, B. (org.). Suma Etnológica Brasileira. Petrópolis: FINEP/Vozes, v1, 1987a. POSEY, D. A. Temas e inquirições em etnoentomologia: algumas sugestões quanto à geração de hipóteses. Boletim Museu Paraense Emilio Göeldi, v. 3 n. 2, p. 99-134, 1987b. POSEY, D.A. Os Kayapó e a natureza. Ciência Hoje, v. 2, n.12, p. 35-41, 1984. RASHID, Z. M.; LAHAYE, E.; DEFER, D.; DOUZENEL, P.; PERRIN, B.; BOURGOUGNON, N.; SIRE, O. Isolation of a sulphated polysaccharide from a recently discovered sponge species (Celtodoryx girardae) and determination of its anti-herpetic activity. International Journal of Biological Macromolecules. v. 44, p. 286-293, 2009. RINALDI, A. C. Antimicrobial peptides from amphibian skin: an expanding scenario. Current Opinion in Chemical Biology. 6, p.799–804, 2002.
94
ROCHA-MENDES et al, Mamíferos do município de Fênix, Paraná, Brasil: etnozoologia e conservação. Rev. Bras. de Zoologia, v. 22 (4), p. 991-1002, 2005 RODAL, M.J.N, et al Manual sobre métodos de estudo florístico e fitosociológicos: ecossistema caatinga. Sociedade Bôtanica do Brasil, São Paulo, 1992, p. 29 RODRIGUES, E. Plants and animals utilized as medicines in the Jaú National Park (JNP), Brazilian Amazon. Phytotherapy Research. v. 20, p. 378–391, 2006. RODRIGUES, M.T. Herpetofauna da Caatinga. In: LEAL IR, TABARELLI, M, SILVA, JMC (Ed.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, p.181-236, 2003. ROSA, R.S. et al. Diversidade, padrões de distribuição e conservação dos peixes da Caatinga. In: LEAL IR, TABARELLI, M, SILVA, JMC (Ed.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, p.135-181, 2003. SAADOUN, A., CABRERA, M. C. A review of the nutritional content and technological parameters of indigenous sources of meat in South America. Meat Science. 80, 570–581, 2008. SALES, N.R. Simpatias e segredos populares. Rio de Janeiro: Pallas, 1991. SANTOS-FITA, D.; COSTA-NETO, E. M. As interações entre os seres humanos e os animais: a contribuição da etnozoologia. Biotemas, vol. 20, n. 4, p. 99-110, 2007. SAX, B. The mythical zoo: an A-Z of animals in world myth, legend, and literature . ABC-CLIO Inc., Santa Bárbara, USA, 298p. 2001. SAZIMA, I.; HADDAD, C.F.B. Répteis da Serra do Japi. In: MORELLATO, L.P.C. (Ed.), História Natural da Serra do Japi: ecologia e preservação de uma área florestal no sudeste do Brasil. Universidade Estadual de Campinas/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Campinas, SP. p.212-235, 1992. SEIXAS, C.S.; BEGOSSI, A. Ethnozoology of fishing communities from Ilha Grande (Atlantic forest coast, Brazil). Journal of Ethnobiology. v. 21, p. 107–135, 2001.
95
SERVHEEN, C. The trade in bears and bear parts. Pages 33–38 in C. Servheen, S. Herrero, and B. Peyton, compilers, editors. Bears — Status survey and conservation action plan. IUCN/SSC Bear and Polar Bear Specialist Groups, IUCN, Grand, Switzerland, Cambridge, UK, 1999. SHANG, A.; HUWILER-MÜNTENER, K.; NARTEY, L., et al., 2005. Are the clinical effects of homoeopathy placebo effects? Comparative study of placebo-controlled trials of homoeopathy and allopathy. Lancet. 366, 726–732. SHEELINE, L. Is there a future in the wild for rhinos? TRAFFIC /U.S.A./ 7(4), l-6,24, 1987. SHIN, Y.; YANG C., JOO, M., et al. Patterns of using complementary and alternative medicine by stroke patients at two University Hospitals in Korea. Evidence-based. Complementary and Alternative Medicine. 5(2), 231–235, 2008. SHU, Y.Z. Recent natural products based drug development: A pharmaceutical industry perspective. Journal of Natural Products, v.61, p.1053-1071, 1998. SILLITOE, P. The development of indigenous knowledge: a new applied anthropology. Current Anthropology v. 39, n. 2, p. 223-252, 1998. SILVA, J.M.C.; SOUZA, M.A.; BIEBER, A.G.D.; CARLOS, C.J. Aves da Caatinga: Status, uso do habitat e sensitividade. In: LEAL IR, TABARELLI, M, SILVA, JMC (Ed.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, p.237-274, 2003. SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. Biodiversidade da caatinga: Ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004a. SILVA, M.L.V.; ALVES, A.G.C.; ALMEIDA, A.V.A. A zooterapia no Recife (Pernambuco): uma articulação entre as práticas e a história. Biotemas, v. 20, p. 95-116, 2004b. SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA - SBH. Brazilian reptiles: list of species, 2009. Disponível em < http://www.sbherpetologia.org.br> Acesso em 20/01/2010.
96
SOFOWORA A. Medicinal plants and traditional medicine in áfrica, 2ª ed, Spectrum Books Ltda: Ibadan, 1993 SOUTO, F. J. B.; ANDRADE, C. T. da S.; SOUZA, A. F. de. Uma abordagem etnoecológica sobre a zooterapia na medicina popular em Andaraí, Chapada Diamantina, Bahia. Anais do I Encontro Baiano de Etnobiologia e Etnoecologia, Feira de Santana, Brasil, p. 181-190, 1999. SPETH, J.C.; HOLDGATE, M.W.; TOLBA, M.K. A estratégia global da biodiversidade. Diretrizes de ação para estudar, salvar e usar de maneira sustentável e justa a riqueza biótica da terra. WRI/UICN/PNUMA. Rio de Janeiro, 1992. STANKEVICINS, L.; AIUB, C.A.F.; MAZZEI, J.L. et al Cytotoxic, mutagenic and antimutagenic screening of Arenosclera brasiliensis acetone and ethanol extracts. Genetics and Molecular Research 7 (2): 542-548, 2008 STILL, J. Use of animal products in traditional Chinese medicine: environmental impact and health hazards. Complement Ther Med. 11, p. 118-122, 2003. STOW, A.; BEATTIE , A.J. Chemical and genetic defenses against disease in insect societies. Brain, Behavior and Immunity , 22:1009-1013, 2008. STROBL, W.R. The role of natural products in a modern drug discovery program. Drug Discovery Today, v.5, p. 29-41, 2000. SUBRAMANIAN, S., ROSS, N. W., MACKINNON, S. L. Comparison of antimicrobial activity in the epidermal mucus extracts of fish. Comparative Biochemistry and Physiology. 150, p. 85–92, 2008. TABUTI JRS; LYE KA. Traditional medicine in Bulamogi county, Uganda: its practitioners, users and viability. Journal of Ethnopharmacology, v. 85, 2003. THAMMASIRIRAK, S.; PONKHAM, P.; PREECHARRAM, S.; et al. Purification, characterization and comparison of reptile lysozymes. Comparative Biochemistry and Physiology. 143: 209–217, 2006. TODD B.D.; ANDREWS K.M. Response of a reptile guild to forest harvesting. Conserv. Biol. 22(3):753-761, 2008.
97
UETZ, P. TIGR. Reptile database. Accessible at http://www.reptile-database.org. Captured on March 2009, 2009. URBINA-CARDONA, J. N. Conservation of neotropical herpetofauna: Research trends and challenges. Tropical Conservation Science. 1(4), 359-375. VANDEBROEK, I., THOMAS, E., SANCA, S., et al. Comparison of health conditions treated with traditional and biomedical health care in a Quechua community in rural Bolivia. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. 4:1, 2008. VANZOLINI, P. E., RAMOS-COSTA, A. M. M., VITT, L. J. Répteis das Caatingas. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, Brasil,1980. VÁSQUEZ, P. E.; MÉNDEZ, R. M.; GUIASCÓN, O. G. R.; PIÑENA, E. J. R. Uso medicinal da la fauna silvestre em los Altos de Chiapas, México. Interciência. 31 (7) 491-499, 2006. WAKE, D. B. Climate change implicated in amphibian and lizard declines. PNAS. 104, p. 8201–8202, 2007. WANG, J. et al. Effects of immune additive on the quantity and phagocytosis of leucocytes in Pseudosciana croces (Richardson). Marine Science 25(9): 44–46, 2001. WHO- World Health Organization . Traditional Medicine Strategy 2002–2005. World Health Organization, Geneva, 2002 ZANELLA, F.C.V.; MARTINS, C.F. Abelhas da Caatinga: Biogeografia, Ecologia e Conservção. In: LEAL IR, TABARELLI, M, SILVA, JMC (Ed.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, p.75-134, 2003. ZHENG, C.J.; YOO, J.S.; LEE, T.G., CHO, H.Y., KIM, Y.H., KIM, W.G. Fatty acid synthesis is a target for antibacterial activity of unsaturated fatty acids. FEBS Letters. 579, 5157-5162, 2005.
99
TERMO DE COMPROMISSO LIVRE E ESCLARECIDO
Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, eu
_______________________________________, em pleno exercício dos meus direitos
me disponho a participar da pesquisa “USO DE ANIMAIS PARA FINS MEDICINAIS
POR COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ/PB”, sob a
responsabilidade do pesquisador Rômulo Romeu da Nóbrega Alves.
O meu consentimento em participar se deu após ter sido informado pelo pesquisador, de
que:
1. A pesquisa se justifica pela necessidade de se compreender o contexto sócio-
cultural em que se dá o uso de animais para fins terapêuticos e avaliar as
implicações ecológicas sobre as espécies potencialmente exploradas, buscando
assim a utilização sustentável das mesmas.
2. Seu objetivo é caracterizar o contexto sócio-cultural em que se dá a utilização
de recursos zooterápicos nas comunidades rurais avaliadas no município de
Sumé/PB.
3. Minha participação é voluntária, tendo eu a liberdade de desistir a qualquer
momento sem risco de qualquer penalização.
4. Será garantido o meu anonimato e guardado sigilo de dados confidenciais.
5. Caso sinta necessidade de contatar o pesquisador durante e/ou após a coleta de
dados, poderei fazê-lo pelo telefone 87217354.
6. Ao final da pesquisa se for do meu interesse, terei livre acesso ao conteúdo da
mesma, podendo discutir os dados com o pesquisador.
Não haverá riscos ou benefícios aos entrevistados em decorrência desta
pesquisa.
Sumé, ____ de ____________ de _______.
__________________________ _________________________ Participante Pesquisador ________________________
Orientanda
100
TERMO DE COMPROMISSO DOS PESQUISADORES
Por este termo de responsabilidade, nós abaixo-assinados, respectivamente, autor
e colaboradores da pesquisa intitulada “USO DE ANIMAIS PARA FINS
MEDICINAIS POR COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE SUMÉ/PB”,
assumimos cumprir fielmente as diretrizes regulamentadores emanadas da Resolução n°
196/96 do Conselho Nacional de Saúde/MS e suas Complementares, outorgada pelo
decreto n° 93833, de 24 de janeiro de 1987, visando assegurar os direitos e deveres que
dizem respeito a comunidade científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e ao Estado, e a
Resolução/UEPB/CONSEPE/10/20011 DE 10/10/2001.
Reafirmamos, outrossim, nossa responsabilidade indelegável e intransferível,
mantendo em arquivo todas as informações inerentes à presente pesquisa, respeitando a
confiabilidade e sigilo das fichas correspondentes a cada sujeito incluído na pesquisa,
por um período de cinco anos após o término desta. Apresentaremos semestralmente e
sempre que solicitado pelo CEP/UEPB (Conselho de Ética em Pesquisa/Universidade
Estadual da Paraíba), ou CONEP (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa) ou, ainda,
as curadorias envolvidas no presente estudo, relatório sobre andamento da pesquisa,
comunicando ainda ao CEP/UEPB, qualquer eventual modificação proposta no
supracitado projeto.
Declaramos ainda que o presente projeto não será desenvolvido em instituição,
mas em áreas rurais do município de Sumé, Paraíba.
Campina Grande, 15 de Abril de 2009.
___________________________________ Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
___________________________________ Nalba Lúcia Gomes da Silva
101
FORMULÁRIO DE COLETAS DE DADOS
USO MEDICINAL DE ANIMAIS
Cidade/Sítio:________________________________________Data:___/____/_____. N° do entrevistado: __________________________Idade: _______ Sexo: _______ Atividade principal: _______________________ Outras: _______________________
PARA CADA ANIMAL RESPONDER AS QUESTÕES SEGUINTES
1. Nome do animal medicinal__________________ Parte do animal______________ Doença(s): ___________________________________ Modo de uso: Existe alguma planta que pode substituir (serve pra mesma doença) ( ) Sim ( ) Não. Como consegue adquirir o remédio (animal)? ( ) Captura ( ) Compra ( )Pede pra alguém conseguir Lugar de coleta do animal: Petrechos de captura (Com que pega o animal): Disponibilidade do animal: ( ) Tem muito ( ) Tem pouco ( ) Antes tinha mais Se ta diminuindo, por quê? Conhece alguém que usou e ficou curado? ( ) sim ( ) não ( ) o próprio 2. Nome do animal medicinal__________________ Parte do animal______________ Doença(s): ___________________________________ Modo de uso: Existe alguma planta que pode substituir (serve pra mesma doença) ( ) Sim ( ) Não. Como consegue adquirir o remédio (animal)? ( ) Captura ( ) Compra ( )Pede pra alguém conseguir Lugar de coleta do animal: Petrechos de captura (Com que pega o animal): Disponibilidade do animal: ( ) Tem muito ( ) Tem pouco ( ) Antes tinha mais Se ta diminuindo, por quê? Conhece alguém que usou e ficou curado? ( ) sim ( ) não ( ) o próprio 3. Nome do animal medicinal__________________ Parte do animal______________ Doença(s): ___________________________________ Modo de uso: Existe alguma planta que pode substituir (serve pra mesma doença) ( ) Sim ( ) Não. Como consegue adquirir o remédio (animal)? ( ) Captura ( ) Compra ( )Pede pra alguém conseguir Lugar de coleta do animal:
102
Petrechos de captura (Com que pega o animal): Disponibilidade do animal: ( ) Tem muito ( ) Tem pouco ( ) Antes tinha mais Se ta diminuindo, por quê? Conhece alguém que usou e ficou curado? ( ) sim ( ) não ( ) o próprio
PERGUNTAS GERAIS
01. O uso desses produtos medicinais (animais e plantas) é antigo (opinião dos entrevistados)?
( ) Sim ( ) Não 02. Hoje se usa menos animais medicinais que antigamente?
( ) Sim ( ) Não ( ) Mesma coisa Porquê? __________________________.
03. Como você aprendeu que esse remédio curava as doenças citadas? 04. Sempre usou algum animal como remédio? ( ) Sim ( ) Não 05. Porque você usa animais medicinais como remédio? ( ) São fáceis de adquirir ( ) Acha melhor que remédio de farmácia ( ) Não tem dinheiro para comprar remédios de farmácia 06. O senhor (a) prefere usar animais medicinais ou se tratar usando remédios de farmácia? Por quê?
PERFIL SÓCIO-ECONOMICO Estado Civil ( ) casado ( ) solteiro ( ) separado ( ) desquitado ( ) divorciado. Grau de instrução ( )analfabeto ( ) apenas escreve o nome ( ) apenas lê ( ) lê e escreve ( )1ºgrau incompleto ( ) completo ( )2º grau incompleto ( ) completo Dados da atividade mensal, Renda mensal. Em que trabalha atualmente?________________________ Qual a renda mensal?______________ Assistência médica Costuma ir ao medico? ( )sim ( )não ( )às vezes / Com que freqüência?_____________________ Como você analisa o atendimento médico disponível?
Obrigado!