DISSERTAÇÃO MARINA MATTARAIA - portal.cps.sp.gov.br · Prof. Dr. Luiz Felipe Pondé Profa. Dra....

download DISSERTAÇÃO MARINA MATTARAIA - portal.cps.sp.gov.br · Prof. Dr. Luiz Felipe Pondé Profa. Dra. Marília Macorin de Azevedo São Paulo, 28 de maio de 2018 . 3 À Ana Mattaraia e

If you can't read please download the document

Transcript of DISSERTAÇÃO MARINA MATTARAIA - portal.cps.sp.gov.br · Prof. Dr. Luiz Felipe Pondé Profa. Dra....

CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA SOUZA

UNIDADE DE PS-GRADUAO, EXTENSO E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO E DESENVOLVIMENTO

DA EDUCAO PROFISSIONAL

MARINA MATTARAIA

EDUCAO PROFISSIONAL CORPORATIVA PARA A GESTO DO INVESTIMENTO

SOCIAL PRIVADO: ESTUDO SOBRE UMA EMPRESA DE CONCESSO DE

INFRAESTRUTURA NAS AMRICAS DO SUL, CENTRAL E DO NORTE

So Paulo

Maio de 2018

MARINA MATTARAIA

EDUCAO PROFISSIONAL CORPORATIVA PARA A GESTO DO INVESTIMENTO

SOCIAL PRIVADO: ESTUDO SOBRE UMA EMPRESA DE CONCESSO DE

INFRAESTRUTURA NAS AMRICAS DO SUL, CENTRAL E DO NORTE

Dissertao apresentada como exigncia

parcial para a obteno do ttulo de Mestre em

Gesto e Desenvolvimento da Educao

Profissional do Centro Estadual de Educao

Tecnolgica Paula Souza, no Programa de

Mestrado Profissional em Gesto e

Desenvolvimento da Educao Profissional,

sob a orientao da Profa. Dra. Celi Langhi.

So Paulo

Maio de 2018

FICHA ELABORADA PELA BIBLIOTECA NELSON ALVES VIANA FATEC-SP / CPS

Mattaraia, Marina

M435e Educao profissional corporativa para a gesto do investimento social privado: estudo sobre uma empresa de concesso de infraestrutura nas Amricas do Sul, Central e do Norte. So Paulo: CPS, 2018.

106 f. : il.

Orientador: Profa. Dra. Celi Langhi Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e

Desenvolvimento da Educao Profissional) Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, 2018.

1. Educao Profissional. 2. Educao corporativa. 3. Ensino a

distncia . 4. Gesto do investimento social. I. Langhi, Celi. II. Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza. III. Ttulo.

CRB8-8390

2

MARINA MATTARAIA

EDUCAO PROFISSIONAL CORPORATIVA PARA A GESTO DO INVESTIMENTO

SOCIAL PRIVADO: ESTUDO SOBRE UMA EMPRESA DE CONCESSO DE

INFRAESTRUTURA NAS AMRICAS DO SUL, CENTRAL E DO NORTE

Profa. Dra. Celi Langhi

Prof. Dr. Luiz Felipe Pond

Profa. Dra. Marlia Macorin de Azevedo

So Paulo, 28 de maio de 2018

3

Ana Mattaraia e Eloisa Mattaraia:

luzes na minha vida, que fazem com que cada esforo valha a

pena e me estimulam a perseguir constantemente o caminho da

aprendizagem.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Profa. Dra. Celi Langhi por sua constante motivao, presso e exigncia,

que possibilitou que esta dissertao pudesse ser escrita.

Agradeo ao Prof. Dr. Luiz Felipe Pond por ceder gentilmente seu tempo e preciosa

contribuio para que esta pesquisadora pudesse incrementar o contedo deste trabalho.

Agradeo a Profa. Marilia Azevedo pelas observaes e presena constante para garantir

a qualidade das entregas no curso de ps-graduao.

Agradeo a Profa. Helena Peterossi pela brilhante conduo da unidade de extenso e

ps-graduao do Centro Paula Souza.

Agradeo ao Walter Rodrigues pelo apoio e reviso do trabalho na fase final.

Agradeo a Eloisa e Ana Mattaraia que contriburam significativamente para o resultado

desta dissertao.

Agradeo tambm aos funcionrios e colegas do Grupo CCR pela participao na

pesquisa e colaborao na disponibilizao de documentos para constituir esta dissertao.

Um agradecimento especial a todos os funcionrios do mestrado sempre solcitos e

prestativos.

5

O investimento em conhecimento sempre paga os melhores juros.

Benjamin Franklin

6

RESUMO

MATTARAIA, M. Educao profissional corporativa para a gesto do investimento social privado: estudo sobre uma empresa de concesso de infraestrutura nas Amricas do Sul, Central e do Norte. 106 f. Dissertao apresentada para o Programa de Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional da Unidade de Ps-Graduao, Extenso e Pesquisa do Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2018.

O investimento social privado parte integrante da realidade das corporaes, e sua prtica

requer a atuao de profissionais capacitados para que, alm de entenderem a temtica, possam

utilizar as aes praticadas para agregar valor aos conglomerados empresariais. O objetivo

verificar se, na opinio dos colaboradores que atuam numa organizao de concesso de

infraestrutura, denominada Grupo CCR, importante disseminar os contedos e aes

relacionados gesto do investimento social que so praticadas e se isto pode ser viabilizado

por meio de um curso a distncia via Internet. O mtodo de pesquisa utilizado foi exploratrio,

por meio de um estudo de caso, com abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu por meio

de uma pesquisa documental e uma pesquisa do tipo survey. Por meio da pesquisa documental

foi identificado como a organizao faz a gesto de seu investimento social, com a

exemplificao de alguns projetos, programas e campanhas. Com a pesquisa do tipo survey

foram coletadas e analisadas as opinies de 1.237 colaboradores sobre a gesto do investimento

social privado praticado e a importncia da disseminao desses contedos para o pblico

interno. Os resultados indicaram que para os colaboradores importante que ocorra a

disseminao dos contedos relacionados ao investimento social privado e que o melhor meio

para isso, dadas as caractersticas da organizao, um curso a distncia, via Internet. A partir

desse resultado foi elaborada uma proposta de curso a distncia sobre investimento social

corporativo.

PALAVRAS-CHAVE: Educao Profissional; Educao Corporativa; Ensino a Distncia;

Gesto do Investimento Social.

7

ABSTRACT

MATTARAIA, M. Corporate professional education for the management of private social investment: study on an infrastructure concession company in South, Central and North America. 106 f. Dissertation presented for the Professional Master's Program in Management and Development of Professional Education of the Post-Graduation, Extension and Research Unit of the State Center of Technological Education Paula Souza, So Paulo, 2018.

Private social investment is an integral part of the reality of corporations, and their practice

requires the performance of trained professionals so that, in addition to understanding the issue,

they can use the actions practiced adding value to the business conglomerates. The objective is

to verify if, in the opinion of employees who work in an infrastructure concession organization,

called the CCR Group, it is important to disseminate the contents and actions related to the

social investment management that are practiced and if this can be made feasible through a

course distance via the Internet. The research method used was exploratory, through a case

study, with a qualitative approach. Data collection took place through documentary research

and a survey-type survey. Through documentary research was identified how the organization

manages its social investment, with the exemplification of some projects, programs and

campaigns. With the research of the type survey were collected and analyzed the opinions of

1,237 employees on the management of the private social investment practiced and the

importance of the dissemination of these contents to the internal public. The results indicated

that for the collaborators it is important that the contents related to private social investment

occur, and that the best way to do this, given the characteristics of the organization, is a distance

course, via the Internet. From this result a proposal for a distance course on corporate social

investment was elaborated.

KEYWORDS: Professional Education; Corporative education; Distance learning; Social

Investment Management.

8

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Resumo das principais informaes sobre leis de incentivo............................... 27

Quadro 2 Nmeros do Programa Caminhos para a Cidadania de 2002 a 2014.................. 51

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Objetivos do desenvolvimento sustentvel............................................................80

Figura 2 Autorizao para utilizao de dados para a pesquisa........................................... 81

Figura 3 Comunicao eletrnica para resposta pesquisa................................................. 82

Figura 4 Questionrio de pesquisa....................................................................................... 83

Figura 5 Questionrio de pesquisa....................................................................................... 84

Figura 6 Curso sobre gesto do investimento social privado Abertura............................ 85

Figura 7 Curso sobre gesto do investimento social privado Apresentao..................... 86

Figura 8 Curso sobre gesto do investimento social privado Texto inicial...................... 87

Figura 9 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1........................... 87

Figura 10 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 88

Figura 11 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 88

Figura 12 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 89

Figura 13 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 89

Figura 14 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 90

Figura 15 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 90

Figura 16 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 91

Figura 17 Curso sobre gesto do investimento social privado Mdulo 1......................... 91

Figura 18 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 92

Figura 19 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 92

Figura 20 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 93

Figura 21 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 93

Figura 22 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 94

Figura 23 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 94

Figura 24 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 95

Figura 25 Gesto do investimento social privado - Gesto de processos Mdulo 2........ 95

Figura 26 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 96

Figura 27 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 96

Figura 28 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 97

Figura 29 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 97

Figura 30 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 98

Figura 31 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 98

Figura 32 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 99

10

Figura 33 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 99

Figura 34 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3..........100

Figura 35 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3........... 100

Figura 36 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3............ 101

Figura 37 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3............ 101

Figura 38 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3............ 102

Figura 39 Gesto do investimento social privado Sobre o programa Mdulo 3............ 102

Figura 40 Mensurao, avaliao e resultados Mdulo 4................................................. 103

Figura 41 Mensurao, avaliao e resultados Mdulo 4................................................. 103

Figura 42 Exerccio prtico Mdulo 4.............................................................................. 104

Figura 43 Exerccio prtico Mdulo 4.............................................................................. 104

Figura 44 Exerccio prtico Mdulo 4.............................................................................. 105

Figura 45 Exerccio prtico Mdulo 4.............................................................................. 105

Figura 46 Exerccio prtico Mdulo 4.............................................................................. 106

Figura 47 Concluso Mdulo 4 ........................................................................................ 106

11

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Contato com algum tipo de curso a distncia.......................................................58

Grfico 2 Efetividade do ensino a distncia......................................................................... 58

Grfico 3 Satisfao quanto ao material online para contribuir com a formao................ 59

Grfico 4 Participao em cursos, dinmicas ou fruns sobre gesto do investimento

social........................................................................................................................................ 60

Grfico 5 Cursos, dinmicas ou frum virtual sobre gesto do investimento social........... 60

Grfico 6 Cursos, dinmicas ou frum presencial sobre responsabilidade social

corporativa............................................................................................................................... 61

Grfico 7 Cursos, dinmicas, frum virtual sobre responsabilidade social corporativa...... 62

Grfico 8 Questionamento sobre aprendizagem significativa............................................. 62

Grfico 9 Participao em cursos, dinmicas ou fruns sobre aprendizagem significativa.63

Grfico 10 Atratividade da flexibilidade de horrio e contedo para capacitao ............. 64

Grfico 11 Conhecimento a respeito do programa Caminhos para a Cidadania................64

12

SUMRIO

INTRODUO ................................................................................................................ 13

CAPTULO 1 FUNDAMENTAO TERICA ........................................................... 20

1.1 Gesto do investimento social corporativo ................................................................ 20

1.1.1 A gesto do desenvolvimento social pelas leis de incentivo fiscal .............................. 25

1.1.2 Gesto do desenvolvimento social luz dos objetivos do desenvolvimento sustentvel 29

1.1.3 Programas corporativos para a capacitao de profissionais para a gesto do

investimento social .............................................................................................................. 34

1.2 Educao Corporativa ................................................................................................ 35

1.2.1 Ensino a distncia ..................................................................................................... 40

1.2.2 O ensino a distncia e a aprendizagem significativa ................................................... 44

CAPTULO 2 ESTUDO DE CASO: GESTO DO INVESTIMENTO SOCIAL POR

MEIO DAS AES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DO GRUPO CCR ............ 48

2.1 Pesquisa documental: gesto do investimento social por meio das aes de

responsabilidade social no Grupo CCR .......................................................................... 48

2.1.1 Atuao do Instituto CCR .......................................................................................... 50

2.1.2 Campanhas socioambientais de utilidade pblica ....................................................... 54

2.2 Pesquisa do tipo Survey ............................................................................................... 57

CAPTULO 3 DISCUSSO DOS RESULTADOS ......................................................... 66

CONCLUSO ................................................................................................................... 73

REFERNCIAS ............................................................................................................... 75

ANEXOS .......................................................................................................................... 80

APNDICES .................................................................................................................... 82

13

INTRODUO

As organizaes modernas precisam acompanhar de forma constante as necessidades e

mudanas apresentadas pelo mercado globalizado. O papel dessas organizaes, por sua vez,

no se resume mais a apenas gerar lucro, principalmente se suas atividades podem causar

impactos socioambientais. A principal forma pela qual essas organizaes demonstram sua

preocupao com esses impactos so as aes sociais praticadas, ou seja, a maneira pela qual

essas empresas realizam a responsabilidade social corporativa.

Entende-se por responsabilidade social a preocupao do ente principal, seja pblico

seja privado, coletivo ou individual, com o desenvolvimento social de todas as pessoas ou coisas

envolvidas em seu ciclo de vida ou em sua cadeia de produo tais como comunidades,

consumidores, meio ambiente etc. A responsabilidade social est associada conciliao das

esferas social, ambiental e econmica.

Com a globalizao dos mercados, surgiu uma nova dinmica que vem alterando o perfil

corporativo e estratgico das organizaes. Alm da adequao aos novos padres de eficincia

e qualidade, crescem as exigncias por uma reformulao profunda da cultura e da filosofia que

orientam as aes institucionais e a isto denomina-se responsabilidade social, gesto do

investimento social ou, ainda, responsabilidade socioambiental (CABRAL-CARDOSO, 2002;

FARIA, SOUERBRONN, 2008; SILVEIRA, PETRINI, 2016).

A responsabilidade social corporativa pode ser entendida como uma forma de conduzir

os negcios da empresa de tal maneira que a torna parceira e corresponsvel pelo

desenvolvimento social das regies onde atua. Programas na rea de educao, cidadania,

desenvolvimento esportivo, cultural, sade e qualidade de vida so trabalhados em aes

recorrentes, projetos especficos, campanhas sazonais e aes a fim de corroborar e legitimar a

aderncia e aceitao nas reas de atuao dessas organizaes.

De acordo com Eugnio (2009), exigir responsabilidade social a uma unidade

econmica implica reconhecer que a empresa no s administradora do capital dos seus

acionistas, mas tambm impacta nos fatores de produo junto s comunidades em sua rea de

atuao.

Esse assunto tomou tal relevncia que os conglomerados empresariais iniciaram um

processo de divulgao e tentam atrelar o desempenho econmico-financeiro com as boas

14

prticas na gesto de seu investimento social. Segundo demonstra em seu site1, a Bolsa de

Valores de So Paulo, atualmente denominada B3, crescente a quantidade de empresas nos

ltimos anos que informam, publicamente, a adoo de prticas socialmente responsveis,

ainda que no exista um consenso acadmico e empresarial sobre a conceituao e a

abrangncia de responsabilidade social. Basicamente, tais prticas so direcionadas aos

pblicos interno e externo da organizao, buscando atender aos interesses e expectativas dos

diferentes stakeholders.

Assumindo que empresas sustentveis geram valor para o acionista no longo prazo, pois,

supostamente, esto mais preparadas para enfrentar riscos econmicos, sociais e ambientais, a

Bolsa de Valores de So Paulo (B3) lanou em 2005 o ndice de Sustentabilidade Empresarial

(ISE) composto por empresas selecionadas de capital aberto que possuem prticas de

responsabilidade social sob os enfoques econmico-financeiro, social, ambiental, governana

corporativa e natureza dos produtos.

A dcima terceira carteira do ndice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) que vigora

de 02 de janeiro de 2018 a 04 de janeiro de 2019 validada tecnicamente (desde sua criao)

pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundao Getulio Vargas (GVces) rene 33

aes de 30 companhias. Alm disso, o ISE representa 12 setores e soma R$ 1,28 trilho em

valor de mercado. Esse montante equivale a 41,47% do total do valor das companhias com

aes negociadas na B3 com base no fechamento de 21/11/2017.

O exemplo supracitado auxilia o entendimento de como o tema responsabilidade social

vem ganhando espao. A Bolsa de Valores Brasileira formalizou a incluso da temtica gesto

do investimento social por meio da aplicao de um questionrio estruturado, o denominado

ndice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Isto demonstra a importncia de se tratar o tema

de forma planejada e de como o mercado est, aos poucos, absorvendo o assunto e incluindo-o

na mensurao do desempenho dos conglomerados empresariais.

Cabe alertar ainda que a responsabilidade social, no que lhe concerne, no deve ser

confundida com marketing social, ou seja, a responsabilidade social tem significados diferentes

em contextos diversos e est relacionada a diferentes cenrios. Ela pode ser associada ideia

de responsabilidade legal. Ela tambm pode significar um comportamento socialmente

responsvel no sentido tico ou ainda incluir os impactos diretos e os que afetam terceiros, o

que envolve toda a cadeia produtiva e o ciclo de vida dos produtos.

1 Mais dados e informaes sobre a B3 podem ser acessados em: www.b3.com.br

15

A responsabilidade social desdobra-se em mltiplas exigncias: relaes de parceria

entre clientes e fornecedores, produo com qualidade, satisfao dos usurios, contribuies

para o desenvolvimento da comunidade; investimentos em pesquisa tecnolgica, conservao

do meio ambiente, participao de funcionrios nos resultados e nas decises das empresas,

respeito aos direitos dos cidados, no discriminao dos gneros, raas, idades, etnias,

religies, ocupaes, preferncias sexuais, investimentos em segurana do trabalho e em

desenvolvimento profissional.

A responsabilidade social pode ser vista ademais como uma das estratgias para manter

ou aumentar a rentabilidade e potencializar o desenvolvimento das organizaes. Esse resultado

pode ser observado na busca do consumidor por produtos e prticas que propiciam melhorias

para o meio ambiente e a comunidade. Alm disso, o crescimento econmico s ser possvel

se estiver alicerado em bases slidas e, portanto, deve haver um desenvolvimento de

estratgias empresariais competitivas que passem por solues ambientalmente sustentveis,

socialmente corretas e economicamente viveis (ASHLEY, 2000).

J o marketing social um processo que aplica conceitos e tcnicas para criar,

comunicar e entregar valor de forma a influenciar comportamentos do pblico-alvo que

beneficiem a sociedade (sade pblica, segurana, meio ambiente e comunidades), assim como

o prprio pblico-alvo (KOTLER, 2010).

Kotler (2010), quando cunhou o termo marketing social, percebeu que os princpios do

marketing tradicional de venda de produtos poderiam tambm ser usados para causas sociais,

na venda de ideias, atitudes e comportamentos. O objetivo principal de toda estratgia de

marketing social o de atenuar ou eliminar problemas sociais. Assim, o marketing social

muito usado por rgos pblicos e empresas do terceiro setor que trabalham em suas campanhas

para conscientizao, doaes e afins. O intuito envolver a populao em uma causa e elas

funcionam justamente por no serem motivadas por interesses comerciais, mas sim genunos

interesses de causa social. O pblico consegue se identificar com essa causa e sensibilizado

por ela, passando a fazer parte daquilo.

Diante do exposto, infere-se que responsabilidade social e marketing social indicam

aes e intenes diferentes. Enquanto a responsabilidade social pratica a gesto do

investimento social privado, o marketing social atua de forma a enfatizar a comunicao de

aes ou produtos relacionados rea social com o objetivo de induzir a simpatia dos diversos

pblicos s causas comunicadas.

16

importante observar que os dois conceitos envolvem investimentos por parte das

organizaes. A responsabilidade social consiste em identificar e estruturar aes, projetos e

programas sociais e, a partir da, executar a gesto propriamente dita do investimento social, ou

seja, organizar o que se quer fazer, desde o tema a ser trabalhado at o oramento para que a

ao acontea, pblicos envolvidos, perodo e local de atuao, abrangncia e tudo o que se

fizer necessrio para concretizar a ao. J o marketing social consiste em comunicar as aes

desenvolvidas por organizaes com fins lucrativos ou no. Aes estas que sempre estaro

centradas em conceitos de desenvolvimento social, ou seja, a funo do marketing social

comunicar quais aes sociais foram desenvolvidas pelas instituies.

Aps analisar a diferena entre responsabilidade social e marketing social, a opo

terica para este trabalho a da responsabilidade social que, a partir de agora, passar a ser

denominada por investimento social corporativo por ser um termo mais apropriado para as

aes realizadas atualmente.

Como o investimento social corporativo deixou de ser opcional para viabilizar suas

aes, as organizaes de grande porte entendidas como as que atuam de forma consistente

para tratar o tema estruturam, planejam e atuam para estabelecer vnculos com seus diversos

pblicos. Estas organizaes estruturam no s departamentos completos com diferentes perfis

profissionais dedicados ao investimento social corporativo como muitas vezes criam empresas

de propsito especfico para gerenciar o assunto. So os institutos e fundaes dos

conglomerados empresariais, na maior parte das vezes, as empresas criadas para liderar o

tema em seus conglomerados empresariais.

No entanto, importante admitir que a gesto do investimento social corporativo ainda

um tema pouco explorado, praticamente desconhecido nas organizaes, embora tenha um

valor fundamental capaz de gerar diferenciais em termos de competitividade e sobrevivncia

desta em um futuro prximo (FARIA e SAUERBRONN, 2008).

Vale destacar tambm que os termos e discusses sobre esta temtica so relativamente

novos, um tanto quanto volteis e sempre sujeitos a novas variveis a depender do

desenvolvimento poltico, econmico e social presentes. Segundo artigo de Silveira e Petrini

(2016), em suas pesquisas sobre os termos responsabilidade social corporativa e

desenvolvimento sustentvel, foram localizados apenas 197 artigos, escritos por 402 autores,

vinculados a 246 instituies de 43 pases. Considerando-se a vasta oportunidade de aes e

anlises, a bibliografia disponvel sobre o tema ainda escassa, o que dificulta ainda mais um

embasamento terico consistente e uma proposta de desenvolvimento, anlise, monitoramento

17

e proposies sobre o assunto. Por outro lado, isso permite uma ampla possibilidade de

enriquecimento e produo bibliogrfica, posto que a temtica vem sendo amplamente

discutida e tem ganhado adeptos ao redor do globo.

Atualmente as organizaes, para se tornarem adeptadas dessa temtica, no podem

produzir apenas informaes estritamente financeiras ou sobre sua produo. Devem tambm

adotar uma postura socialmente responsvel, passando pela divulgao de informaes sociais

e ambientais que desenvolvem. Isso requer que insiram em seus objetivos gerais e diretrizes o

tratamento dos impactos socioambientais causados por suas atividades.

Essas informaes, por seu turno, devem ser difundidas para o maior nmero de

stakeholders (pblicos de interesse) para que sejam agentes divulgadores e multiplicadores das

boas prticas propostas por essas aes. Um dos principais stakeholders de uma organizao

seu pblico interno formado por seus colaboradores.

Para que os colaboradores possam atuar como agentes divulgadores e multiplicadores

das aes que envolvem o investimento social corporativo, as organizaes devem apresentar

processos de gesto de pessoas adequados. Uma das principais formas para que isso ocorra de

forma satisfatria envolve a formao de competncias prprias para isso, ou seja, um conjunto

de conhecimentos, habilidades e atitudes que capacitam o profissional para atuar diante desse

tipo de assunto.

Uma forma que as empresas atualmente utilizam para facilitar esse processo e

promovam o desenvolvimento dos colaboradores a educao corporativa. Esse tipo de

educao auxilia na integrao entre as competncias exigidas pelas organizaes com as

competncias apresentadas pelos colaboradores. Ela favorece o alinhamento entre os

conhecimentos, habilidades e atitudes necessrios com os que os colaboradores apresentam at

o momento. Isso permite que os profissionais se adequem s necessidades da organizao e

esta, por sua vez, tenha a sua disposio profissionais melhores preparados. Esse tipo de ao

auxilia as organizaes e os colaboradores a: alavancar oportunidades de mercado, criar

relacionamentos mais profundos com clientes e impulsionar a organizao para um novo futuro

(MEISTER, 1999; EBOLI, 2004).

No caso especfico do investimento social corporativo, as aes organizacionais

ocorrem de forma contnua e dinmica e seus resultados devem ser divulgados de forma

imediata. Isso requer que a divulgao das aes para os colaboradores seja gil e constante. E,

18

para atingir esse tipo de objetivo, as tecnologias da informao em geral e os cursos a distncia,

via Internet, de forma mais especfica, mostram-se como alternativas viveis.

Esse tipo de curso tambm se justifica dada a dinmica das organizaes que tendem a

trabalhar, cada vez mais, com equipes enxutas, cujos membros nem sempre se localizam no

mesmo ambiente fsico. No caso da disseminao sobre o investimento social corporativo, a

diversidade e quantidade de aes que as equipes de trabalho realizam no permite que sejam

adotados os modelos de capacitao tradicionais, como os programas presenciais (EBOLI,

2004).

nesse sentido que as ferramentas eletrnicas e, em especfico, os cursos a distncia,

podem ser eficazes para colaborar com a capacitao dos colaboradores no que diz respeito s

aes relacionadas gesto do investimento social. Por meio desses cursos possvel divulgar

informaes sobre as aes da organizao e registrar conhecimentos sobre as melhores prticas

adotadas capazes de subsidiar futuras tomadas de decises sobre os negcios da empresa.

Partindo de algumas reflexes e vivncias prticas da autora sobre a necessidade de uma

capacitao especfica para a gesto do investimento social e considerando os avanos e

flexibilidade que a educao a distncia realizada via Internet parece proporcionar, em especial

se for pensada como uma soluo rpida, atual e efetiva, surge a seguinte questo norteadora

desta dissertao: na opinio dos colaboradores, que atuam numa organizao de concesso de

infraestrutura denominada Grupo CCR, importante disseminar os contedos e aes

relacionados gesto do investimento social que so praticadas e isto pode ser viabilizado por

meio de um curso a distncia via Internet?

importante lembrar que o Grupo CCR2 atua nas Amricas com maior intensidade em

vrios Estados brasileiros como So Paulo, Rio de Janeiro, Paran, Mato Grosso do Sul e Bahia.

E sua escolha se deu por ser uma das empresas que figuram entre os 10 maiores investidores

sociais privados do pas. A gesto do investimento social praticada realizada por meio de uma

empresa que compe o grupo, mas que tem propsito especfico voltado exclusivamente para

gerir as aes de responsabilidade social, intitulada Instituto CCR. Tendo-se em vista que a

empresa desenvolve suas atividades em uma vasta rea geogrfica, ministrar programas de

desenvolvimento ou capacitaes nos locais de trabalho, tende a ser uma tarefa complexa, seja

2 No anexo B desta dissertao se encontra um documento de autorizao da empresa para a realizao das pesquisas e tambm para a utilizao de seu nome.

19

pela inflexibilidade de horrios, seja pela indisponibilidade de profissionais, ausncia de

espaos fsicos adequados ou verba disponvel.

O objetivo geral da pesquisa checar o conhecimento dos respondentes sobre os

contedos e aes relacionados gesto do investimento social que so praticadas pela

companhia, sua relevncia e se os respondentes esto aptos e/ou dispostos a utilizar ferramentas

especficas online para disseminar este tipo de contedo.

Os objetivos especficos se propem: analisar quais aes o Grupo CCR j desenvolveu

para fins de gesto do investimento social; identificar se os profissionais do Grupo CCR tm o

mnimo de conhecimento sobre as aes j realizadas pela organizao; analisar se os

colaboradores j tiveram algum tipo de experincias com cursos a distncia via Internet, em

especial sobre gesto do investimento social.

Este trabalho est organizado em trs captulos mais a concluso. No primeiro so

apresentados os conceitos de investimento social corporativo, educao corporativa e as

oportunidades potenciais que o ensino a distncia via Internet pode gerar, principalmente no

que diz respeito sua capacidade de potencializar a aquisio de conhecimento no ambiente de

trabalho, mesmo diante de equipes e de colaboradores que atuam em regies geogrficas

distantes tanto da sede da organizao quanto uns dos outros.

No segundo captulo foram descritos os mtodos de pesquisa e de coleta de dados. A

pesquisa foi exploratria, por meio de um estudo de caso, com abordagem qualitativa. A coleta

de dados ocorreu por meio de levantamento bibliogrfico e documental e de uma pesquisa do

tipo survey. Na pesquisa documental constam dados sobre a atuao, modelo de governana e

dimenso do Grupo CCR e seu Instituto intitulado Instituto CCR, responsvel pelas aes de

investimento social corporativo da organizao. A pesquisa do tipo survey contou com a

aplicao de um questionrio eletrnico de mltipla escolha para 1.237 colaboradores sobre o

interesse em participar de um curso a distncia sobre gesto do investimento social.

No terceiro captulo constam a anlise e discusso dos resultados da pesquisa bem como

uma proposta de interveno, por meio de um curso a distncia, via Internet. Para finalizar, so

apresentadas a Concluso, Referncias, Apndices e Autorizao do Grupo CCR para a

realizao do Estudo e divulgao do nome da referida organizao bem como o detalhamento

do curso a distncia promovido na proposta desse trabalho.

20

CAPTULO 1 FUNDAMENTAO TERICA

Este captulo apresenta inicialmente a necessidade de as organizaes de grande porte

investirem em programas de gesto do investimento social e a comunicao das aes que

desenvolvem para seu corpo de funcionrios.

Na sequncia, so apresentados conceitos de educao corporativa e os principais

recursos que utilizam para que haja o alinhamento entre as competncias das organizaes e as

competncias dos colaboradores. Tambm so analisados os principais tipos de ferramentas que

esse tipo de educao utiliza.

1.1 Gesto do investimento social corporativo

Os primeiros estudos que tratam de sustentabilidade e de responsabilidade social de

maneira estruturada tiveram incio nos Estados Unidos na dcada de 1950 e na Europa nos anos

de 1960 (FARIA e SAUERBRONN, 2008). As primeiras manifestaes sobre este tema

surgiram no incio do sculo entre 1905 e 1916. No entanto, tais manifestaes no receberam

apoio, uma vez que foram consideradas de cunho socialista. Foi somente em 1953, nos Estados

Unidos, com o livro Social Responsabilities of the Businessman de Howard Bowen que o tema

recebeu ateno e ganhou espao.

Na dcada de 1970 surgiram associaes de profissionais interessados em estudar o

tema tais como a American Accouting Association e a American Institute of Certified Public

Accountants. a partir da que a responsabilidade social deixa de ser uma simples curiosidade

e se transforma num novo campo de estudo. A responsabilidade social revela-se ento um fator

decisivo para o desenvolvimento e crescimento das empresas.

A partir de sua origem, o modelo de interao empresa-sociedade vem sendo rediscutido

amplamente sob a tica do desenvolvimento local sustentvel, partindo da premissa de que

nenhuma organizao da sociedade civil, com fins lucrativos ou no, pode sobreviver em um

ambiente instvel e desigual. Ao mesmo tempo, as empresas tm assumido cada vez mais o

papel de provedoras de bens comuns e tm sido chamadas atuao social, tanto pelas

comunidades quanto pelo prprio governo. A isto denomina-se gesto do investimento social

corporativo e/ou privado, (gesto das aes de) responsabilidade social empresarial ou, ainda,

(gesto das aes de) responsabilidade social corporativa.

21

Conforme descrito na introduo deste trabalho, optou-se nessa dissertao pelo termo

gesto do investimento social corporativo ou investimento social corporativo para representar

a tratativa de todos os temas relacionados. No entanto, como em parte da literatura consultada

utiliza-se da nomenclatura denominada responsabilidade social corporativa, cabe neste

trabalho conceitu-la.

O conceito de responsabilidade social corporativa pode ser percebido como complexo e

dinmico, com significados diferentes em contextos diversos e estar relacionado a diferentes

ideias. De acordo com Montana e Charnov (2010), o grau de envolvimento da organizao com

as aes de responsabilidade social pode se dar em trs nveis.

No primeiro nvel, a abordagem da obrigao social: supe ser o objetivo principal de

uma empresa o sucesso econmico e que, portanto, a empresa deveria meramente satisfazer as

responsabilidades sociais mnimas impostas pela legislao. Stoner e Freeman (1994)

apresentam que h apenas uma responsabilidade social das empresas: usar seus recursos e suas

energias em atividades destinadas a aumentar seus lucros, contanto que obedeam s regras do

jogo e participem de uma competio aberta e livre, sem danos ou fraudes.

No segundo nvel, a abordagem da responsabilidade social supe no serem as metas da

empresa meramente econmicas, mas tambm sociais e que a empresa deveria destinar recursos

para a realizao dessas metas. Stoner e Freeman (1994) citam que h uma frrea lei de

responsabilidade afirmando que no longo prazo quem no usa o poder de modo que a sociedade

considere responsvel tende a perd-lo.

No terceiro nvel, fala-se sobre a sensibilidade social: supe no ter a empresa apenas

metas econmicas e sociais, mas que tambm precisa antecipar-se aos problemas sociais do

futuro e agir agora para responder a esses problemas.

A seguir so apresentadas definies para o tema tratado neste trabalho: gesto do

investimento social privado, ainda com a variao da nomenclatura, ou seja, tratando o tema,

por vezes, como responsabilidade social, conforme a literatura por meio da qual foi realizado

este trabalho.

A primeira definio vem do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento

Sustentvel citada na obra de Melo Neto e Froes, (1999, p.87) Responsabilidade Social

Corporativa o comprometimento permanente dos empresrios de adotar um comportamento

tico e contribuir para o desenvolvimento econmico, melhorando simultaneamente a qualidade

22

de vida de seus empregados e de suas famlias, da comunidade local e da sociedade como um

todo.

Responsabilidade social pode ser definida ainda como o compromisso que uma

organizao deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem

positivamente, agindo proativamente e coerentemente no que tange a seu papel especfico na

sociedade e a sua prestao de contas para com ela. A organizao assume obrigaes de carter

moral, alm das estabelecidas em lei, mesmo que no diretamente vinculadas a suas atividades,

mas que possam contribuir para o desenvolvimento sustentvel dos povos (ASHLEY, 2000,

p.98).

A responsabilidade social empresarial, de acordo com a definio do The World Bank3

(2017), o compromisso de contribuir para o desenvolvimento econmico-sustentvel

trabalhando em conjunto com os empregados, suas famlias, a comunidade local e a sociedade

em geral para melhorar sua qualidade de vida de forma que seja bom tanto para as empresas

como para os demais agentes com quem ela atua.

O conceito de investimento social privado, de acordo com o Grupo de Institutos,

Fundaes e Empresas (GIFE)4, o repasse voluntrio de recursos de forma planejada,

monitorada e sistemtica para projetos sociais, ambientais e culturais. Incluem-se neste

universo as aes protagonizadas por empresas, fundaes e institutos de origem empresarial

ou institudos por famlias, comunidades ou indivduos. Os elementos fundamentais intrnsecos

ao conceito de investimento social privado que diferenciam essa prtica das aes

assistencialistas so: a preocupao com planejamento, monitoramento e avaliao dos

projetos; a estratgia voltada para resultados sustentveis de impacto e transformao social e

o envolvimento da comunidade no desenvolvimento da ao. O Investimento Social Privado

pode ser alavancado por meio de incentivos fiscais concedidos pelo poder pblico e tambm

pela alocao de recursos no financeiros e intangveis.

Ao longo dos ltimos 20 anos, organizaes que atuam na linha da qualificao do

investimento social privado buscam promover uma agenda que contribua para a promoo da

qualidade de vida e do desenvolvimento humano, fortalecendo a intersetorialidade e a

aproximao do investimento proveniente de recursos privados com polticas pblicas.

3 Banco Mundial 4 Para mais informaes sobre o Grupo de Institutos, Fundaes e Empresas (GIFE), acesse: www.gife.org.br.

23

Com isso, busca-se a ampliao da participao democrtica e a efetividade de

programas e projetos que, muitas vezes, acabam se sobrepondo no campo e, assim, tornando-

se pouco transformadores.

Diante desse cenrio e num contexto em que o exerccio da gesto do investimento

social corporativo deve contribuir para o desenvolvimento sustentvel, importante que se

realize uma anlise sobre como uma empresa de grande porte poder conciliar os interesses do

seu negcio com as necessidades e expectativas do governo e das comunidades em seu entorno

(ALVES; FERRAZ; KAMEL, 2012).

Segundo o Livro Verde da Comisso Europeia (2001), a responsabilidade social um

conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntria, contribuir para uma

sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Com base nesse pressuposto, a gesto das

empresas no pode, e/ou no deve ser norteada apenas para o cumprimento de interesses dos

proprietrios das mesmas, mas tambm pelos de outros detentores de interesses, como os

trabalhadores, as comunidades locais, os clientes, os fornecedores, as autoridades pblicas, os

concorrentes e a sociedade em geral.

Cabral-Cardoso (2002) afirma que o conceito de responsabilidade social deve ser

entendido nos nveis interno e externo. O nvel interno relaciona-se com os trabalhadores e,

mais genericamente, com todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por

conseguinte, podem influenciar no alcance de seus resultados. O nvel externo tem em conta as

consequncias das aes de uma organizao sobre os seus componentes externos,

nomeadamente, o ambiente, os seus parceiros de negcio e meio envolvente.

Responsabilidade social diz respeito ao cumprimento dos deveres e obrigaes dos

indivduos e empresas para com a sociedade em geral. Do ponto de vista da responsabilidade

social corporativa, verifica-se um conjunto amplo de aes que beneficiam a sociedade e as

corporaes que so tomadas pelas empresas, levando em considerao a economia, educao,

meio ambiente, sade, transporte, moradia, atividades locais e governo. Essas aes otimizam

ou criam programas sociais, trazendo benefcio mtuo entre a empresa e a comunidade,

melhorando a qualidade de vida dos funcionrios, a atuao da empresa e da prpria populao.

O artigo Corporate Social Responsibility Carroll (1999) demonstrou que na literatura o

conceito de responsabilidade social o mesmo desde o incio, o que muda so apenas os

questionamentos e as prticas desenvolvidas, principalmente porque os processos de mudanas

e de evoluo alteram as relaes entre a sociedade e as organizaes. J descritas as definies

24

sobre o tema, ser utilizada, conforme abordado anteriormente, a expresso gesto do

investimento social corporativo ou apenas investimento social para tratar todos os temas

relacionados a responsabilidade social.

As organizaes que atuam com investimento social se beneficiam de muitas formas e,

a principal delas, a proteo e o fortalecimento de sua marca e reputao, favorecendo sua

imagem, uma vez que a credibilidade passa a ser uma importante vantagem, um diferencial

competitivo no mundo globalizado.

O investimento social corporativo pode ser visto como um elemento atrativo tambm se

analisando os aspectos econmicos, dado que muitos investidores individuais e institucionais

percebem o retorno garantido, principalmente no que diz respeito s dedues fiscais e

abatimento de impostos. No entanto, Carroll (1999) reitera ainda ser bastante embrionria a

anlise aprofundada do tema por falta de dados estruturados e sries histricas de diferentes

fontes para que haja uma base comparativa.

Segundo este Censo GIFE (2014), h no Brasil um desafio estrutural de produzir dados

confiveis sobre a atuao de organizaes da sociedade civil. A escassez de informaes

pblicas e acessveis que possibilitem conhecer quem so e o que fazem as organizaes

privadas que trabalham pela construo do bem pblico refora a importncia de iniciativas

ainda que restritas de produo de dados para aproximar as organizaes desse universo. Ainda

que no corresponda ao universo total de investidores sociais no pas, a principal publicao

sobre o tema no Brasil, pois oferece uma amostra representativa dessas entidades, permitindo

assim construir uma srie histrica consistente e de longo prazo que contribua para uma melhor

compreenso desse campo.

importante ressaltar que a gesto do investimento social atua de forma dinmica e

heterognea, uma vez que depende de caracterizar os investidores sociais, monitorar tendncias

e fazer projees, o que oferece uma srie de desafios na construo de um nico instrumento

de pesquisa aplicvel a instituies que carregam significativas diferenas.

O Censo Gife de 2014 expe que a educao tem sido, h vrios anos, a rea temtica

com maior participao dos investidores sociais do campo privado no Brasil. De acordo com

sua afirmao, apenas dezessete (17%) dos 113 associados que participaram do estudo

declararam no atuar nessa rea.

O desafiador cenrio da educao brasileira, a aposta dos investidores sociais nas

oportunidades geradas pela educao para o desenvolvimento individual e social e a potencial

25

contribuio dela para a reduo das desigualdades esto entre os principais fatores

mobilizadores da deciso das noventa e seis organizaes que declararam atuar nesse campo.

Apesar da alta prioridade dada pelos investidores sociais privados educao, sua legitimidade

como ator relevante nesse cenrio ainda no unanimemente reconhecida. As iniciativas

promovidas por institutos, fundaes e empresas, no raramente enfrentam resistncias

(CENSO GIFE, 2014).

Tomando como base as informaes coletadas por meio do Censo GIFE (2014),

constata-se a necessidade de se trabalhar na capacitao e na transmisso de conhecimentos

especficos dos interlocutores da empresa na gesto do investimento social. Cabe enfatizar

tambm que, para que o investimento social corporativo seja perene, desejvel que as

companhias faam adeso a compromissos voluntrios pblicos e, preferencialmente, de

alcance global.

1.1.1. A gesto do desenvolvimento social pelas leis de incentivo fiscal

rgos governamentais criaram uma espcie de renncia fiscal para incentivar a cultura,

o esporte e o social, ou seja, o governo abriu mo de parte dos impostos (que recebe de pessoas

ou empresas) para destinar aos projetos diversos. Com isso, por meio de deduo de impostos,

pessoas e empresas tm a opo de destinar uma parte do imposto (que j teria que pagar ao

governo) para projetos culturais, esportivos e sociais sua escolha. Assim, projetos dessa

espcie tm mais chances de acontecer, ajudando a mudar e a transformar o cenrio de uma

comunidade, de uma regio ou de um pas.

Para que se enquadre nas leis de incentivo fiscal, necessrio que haja um proponente,

pessoa fsica ou jurdica, capaz de estruturar um projeto para que o incentivo seja concedido.

Esses projetos so avaliados pelas comisses de anlise compostas por/ou designadas por. Os

principais pontos avaliados pelas comisses de anlise de projeto so: interesse pblico;

compatibilidade de custos; capacidade demonstrada pelo gestor do projeto e atendimento da

legislao.

Os percentuais de renncia variam por tipo de projeto e tipo de incentivo e so em

mbito federal oriundos do imposto de renda; no mbito estadual do recolhimento de ICMS e

na esfera municipal h o ISS e o IPTU por exemplo. Para a descrio neste trabalho sero

26

detalhadas as leis de incentivo utilizadas em mbito federal, entenda-se, as leis cujas renncias

advm do imposto de renda.

As principais leis brasileiras que abordam incentivos fiscais para o investimento social

privado, em mbito federal so: Lei Federal de incentivo Cultura ou Lei Rouanet, Lei do

Audiovisual, Lei de Incentivo ao Esporte, Marco Regulatrio das Organizaes da Sociedade

Civil para FUMCAD Fundo Municipal da Criana e Adolescente ou FIA Fundo da infncia

e Adolescncia, Programa Nacional de Apoio Ateno Oncolgica PRONON e Programa

Nacional de Apoio Ateno da Sade da Pessoa com Deficincia PRONAS/PCD.

A seguir apresentado um resumo destas leis de incentivo, seguindo informaes

disponibilizadas no portal eletrnico Quero Incentivar5. A Lei Federal de incentivo Cultura

ou Lei Rouanet (portal eletrnico Quero Incentivar, 2018) tem por objetivo estimular a

produo e difuso cultural. regulada pelo Ministrio da Cultura. As pessoas fsicas podem

incentivar no limite de 6% do imposto devido ou a restituir no exerccio vigente e as pessoas

jurdicas desde que as empresas sejam tributadas em lucro real, deduzindo at 4% do imposto

de renda devido.

Por exemplo: se uma empresa paga R$ 10 milhes de Imposto de Renda ao governo

poder destinar, portanto, R$ 400 mil para incentivar e patrocinar um projeto cultural, obtendo

as contrapartidas de exposio de um patrocnio normal. Esse valor vir como forma de deduo

ou abatimento no imposto de renda do ano seguinte.

A Lei do Audiovisual (portal eletrnico Quero Incentivar, 2018), que se assemelha

Lei Rouanet, tambm tem por objetivo estimular a produo e difuso cultural, no entanto tem

o foco exclusivo para as artes audiovisuais. Ela regulada pelo Ministrio da Cultura e quem

pode incentivar so pessoas fsicas no limite de 6% do imposto devido ou a restituir no exerccio

vigente ou pessoas jurdicas desde que as empresas sejam tributadas em lucro real, deduzindo

at 4% do imposto de renda devido.

A Lei de Incentivo ao Esporte (portal eletrnico Quero Incentivar, 2018) que foi

sancionada em dezembro de 2006 estimula pessoas e empresas a patrocinarem e fazer doaes

para projetos esportivos e paradesportivos em troca de incentivos fiscais. De acordo com essa

lei, pessoas fsicas podem obter descontos que podem chegar a 6% no valor do imposto de renda

devido. Nesse caso cabe ao contribuinte decidir se quer us-lo em sua totalidade ou no no

incentivo ao esporte. J para pessoa jurdica tributada com base no lucro real, multinacionais,

5 No Portal Quero Incentivar possvel obter mais informaes. Para acessar, v ao: www.queroincentivar.com.br.

27

conglomerados dos setores bancrio, industrial, de transporte areo e empresas de

telecomunicaes, o desconto de at 1% sobre o imposto devido.

O Marco Regulatrio das Organizaes da Sociedade Civil para FUMCAD Fundo

Municipal da Criana e Adolescente ou FIA Fundo da Infncia e Adolescncia (portal

eletrnico Quero Incentivar, 2018) tem por objetivo desenvolver aes em benefcio da infncia

e da adolescncia e regulado pelos Conselhos Municipais dos Direitos da Criana e do

Adolescente. Nesta modalidade, h o abatimento de 100% do valor incentivado at o limite de

1% do imposto de renda devido pela pessoa jurdica e 6% pela pessoa fsica. Empresas

tributadas em lucro real (com faturamento acima de R$ 48 milhes) podem investir em projetos

que apoiem crianas e adolescentes e que foram aprovados neste marco regulatrio.

O Programa Nacional de Apoio Ateno Oncolgica PRONON e Programa

Nacional de Apoio Ateno da Sade da Pessoa com Deficincia PRONAS/PCD (portal

eletrnico Quero Incentivar, 2018) so leis de incentivo sade e tm regras e critrios prprios

para o credenciamento de instituies e para apresentao, recebimento, anlise, aprovao,

execuo, acompanhamento, prestao de contas e avaliao de resultados de projetos

estipulados pelo Ministrio da Sade.

Conforme previsto na lei, a deduo dos valores despendidos a ttulo de doao ou

patrocnio pelas pessoas fsicas s poder ocorrer at o ano de 2020, e pelas pessoas jurdicas

at o ano de 2021.

Para facilitar a anlise sobre as leis de incentivo foi elaborado o Quadro 1, que contm

um resumo sobre as principais informaes sobre cada uma delas.

Quadro 1 Resumo das principais informaes sobre leis de incentivo

Legislao Abrangncia Instncias % de renncia

Rouanet Produo e difuso da

cultura

Ministrio da Cultura

4% pessoa jurdica

6% pessoa fsica

Audiovisual Produo e difuso das artes

audiovisuais

Ministrio da Cultura

1% pessoa jurdica

6% pessoa fsica

Esporte Estmulo ao

desenvolvimento esportivo e

paradesportivo

Ministrio do Esporte

1% pessoa jurdica

6% pessoa fsica

28

FUMCAD Desenvolver aes em

benefcio da infncia e da

adolescncia

Fundo Municipal da

Criana e do

Adolescente

1% pessoa jurdica

6% pessoa fsica

PRONON Desenvolver projetos de

apoio ao tratamento de

cncer

Ministrio da Sade

1% pessoa jurdica

6% pessoa fsica

PRONAS Desenvolver projetos de

apoio aos diversos

tratamentos de sade

Ministrio da Sade

1% pessoa jurdica

6% pessoa fsica

Fonte: Baseado no contedo do Portal Quero Incentivar.6

importante destacar que estas leis no concorrem entre si, excetuando-se as leis

Rouanet e Audiovisual. Portanto, somando-se estas legislaes de incentivo at 8% do imposto

de renda devido pode ser destinado diretamente ao desenvolvimento e fomento de projetos

culturais, esportivos e sociais.

Desta forma, tanto a pessoa fsica quanto a pessoa jurdica, que j seria tributada, podem

destinar diretamente o recurso disponvel para apoio a projetos nessas reas em vez de

simplesmente repassar estes tributos ao Governo Federal.

importante observar que a gesto do investimento social est intrinsecamente ligada

questo do desenvolvimento sustentvel. A expresso desenvolvimento sustentvel utilizada

para designar um modelo econmico que busque conciliar desenvolvimento econmico

preservao e manuteno dos recursos naturais disponveis. Segundo a ONU (Organizao

das Naes Unidas), desenvolvimento sustentvel definido como aquele que satisfaz as

necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das geraes futuras de suprir suas

prprias necessidades.

Este conceito foi apresentado em um estudo realizado pela ONU em 1987 chamado

Nosso futuro comum7. Entre dezenas de recomendaes, apresentam duas preocupaes

fundamentais: a preservao do meio ambiente para as futuras geraes garantindo recursos

6 Mais informaes podem ser acessadas no site: www.queroincentivar.com.br.

7 Para saber mais detalhes sobre o conceito e as recomendaes, o link direto para o documento : http://www.un-

documents.net/our-common-future.pdf.

29

naturais para a subsistncia da espcie humana e demais seres vivos e a diminuio da fome e

da pobreza estimulando o desenvolvimento social que, segundo o estudo a causa, mas, ao

mesmo tempo, tambm provoca o desequilbrio ecolgico e pelo alto padro de consumo.

Desta maneira, o estmulo produo cultural que auxilia na conscientizao e

conhecimento dos conceitos e relevncia dos cuidados socioambientais, o desenvolvimento de

projetos esportivos, o cuidado com as crianas e adolescentes e o fomento aos cuidados com a

sade so itens essenciais para auxiliar na corroborao da importncia de se tratar este tema.

1.1.2 Gesto do desenvolvimento social luz dos objetivos do desenvolvimento sustentvel

De acordo com Munck e Souza (2008), o planeta constitudo de vrias sociedades e

cada sociedade dependente da ao de inmeros personagens sociais. Desta forma, a busca

por um desenvolvimento sustentvel fator resultante de aes realizadas em nveis micro e

macrossociais. Dentre esses atores sociais destacam-se as organizaes.

No mbito das atuais tendncias de relacionamento entre os participantes desse

contexto, verifica-se, de modo crescente, a aproximao dos interesses das organizaes

produtivas privadas e da sociedade, o que resulta em esforos mltiplos para o atendimento de

objetivos compartilhados. Novos modelos de organizaes emergem como reflexo da

convergncia entre metas econmicas e sociais, envolvendo a preocupao com a elevao do

padro de qualidade de vida de suas comunidades. As empresas como organizaes cidads

recebem a incumbncia tica da sociedade de desenvolverem um processo de responsabilidade

social em suas tomadas de deciso, embora a consecuo desta convergncia no seja um

caminho rpido, como coloca Kon (2013).

Ainda que esse comportamento organizacional de aderir a movimentos intra e

interorganizacionais vinculados ao desenvolvimento sustentvel seja merecedor de crticas e de

anlises com a inteno de averiguar os reais interesses que levam as empresas a participarem

dessa mobilidade social, necessrio reconhecer que, apesar de muitos questionamentos, algo

j tem sido feito pelas organizaes. Tais aes geralmente fazem parte das estratgias da

organizao e regem seu comportamento socioeconmico. Por isso, em face do desafio de se

tornarem agentes sociais efetivamente representativos na busca por um desenvolvimento

sustentvel, as organizaes tm aprimorado suas prticas de gesto em caminhos estratgicos

que as auxiliem a oferecer respostas a tais demandas.

30

De acordo com Castello e Castello (2013), importante verificar que ao longo das

ltimas dcadas est recaindo sobre as organizaes uma grande presso da sociedade por

melhorias nas condies de vida das pessoas e na preservao ambiental. Isso reflexo, em

muitos casos, da impossibilidade do Estado em atender s demandas geradas pelo processo de

globalizao. Uma vez identificadas estas deficincias, existe a busca por novos agentes que se

proponham a preench-lo. Dentre as opes que se apresentam, est a ao dos grupos

empresariais sobre o tema, materializada por meio da responsabilidade socioambiental nas

organizaes.

Segundo Souza e Costa (2012), o volume de recursos investidos em prticas ligadas

responsabilidade social tem apresentado grandes elevaes e adquirido maior relevncia no

cenrio mundial. Se antes a lucratividade era buscada por essas empresas de qualquer maneira,

considerando a sociedade e os empregados apenas como unidades econmicas de produo,

agora cresce a preocupao com o meio ambiente e com o retorno para as diferentes partes que

afetam ou que so afetadas por suas atividades (os chamados stakeholders), evidenciando-se no

mundo dos negcios a preocupao com o desenvolvimento sustentvel. Os investimentos

socialmente responsveis englobam decises com o objetivo duplo de atingir retorno financeiro

e social. Presume-se que, para que haja desenvolvimento sustentvel, necessrio que as

empresas planejem e executem aes levando em conta, simultaneamente, dimenses

econmicas, ambientais e sociais, com vistas sua continuidade e manuteno de boas

relaes no longo prazo.

Apesar de os fatores de curto prazo causarem maior influncia na formao de opinio

e na disseminao de novas ideias, por meio de aes de longo prazo que se conseguem

resultados mais slidos quanto a mudana de cultura na busca por um consumo consciente e

preocupado com o meio ambiente e a sociedade onde est inserido: a busca pelo verdadeiro

desenvolvimento sustentvel, conforme constatam Bordin e Pasqualotto (2013).

Em 2015, a Organizao das Naes Unidas (ONU) lanou uma iniciativa global com

o compromisso de at 2030 mudar o cenrio mundial, considerando diversos assuntos e

aspectos de utilidade pblica que contemplam desde reas como educao e sade at

infraestrutura e erradicao da misria. Esta iniciativa denominada Objetivos do

Desenvolvimento Sustentvel (ODS).

De acordo com a poltica externa divulgada pelo Itamaraty, foram concludas em agosto

de 2015 as negociaes que culminaram na adoo em setembro dos Objetivos de

Desenvolvimento Sustentvel (ODS) por ocasio da Cpula das Naes Unidas para o

31

Desenvolvimento Sustentvel. Processo iniciado em 2013, seguindo mandato emanado da

Conferncia Rio+20 (ocorrida em 2012), os ODS devero orientar as polticas nacionais e as

atividades de cooperao internacional nos prximos quinze anos, sucedendo e atualizando os

Objetivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM).

Foram elencados 17 Objetivos e 169 metas, envolvendo temticas diversificadas, como

erradicao da pobreza, segurana alimentar e agricultura, sade, educao, igualdade de

gnero, reduo das desigualdades, energia, gua e saneamento, padres sustentveis de

produo e de consumo, mudana do clima, cidades sustentveis, proteo e uso sustentvel

dos oceanos e dos ecossistemas terrestres, crescimento econmico inclusivo, infraestrutura e

industrializao, governana, e meios de implementao. A partir da governos e,

consequentemente, empresas que comungam dos mesmos valores esto se estruturando e

traando suas estratgias para a gesto do investimento social, baseados nestes objetivos.

A Organizao das Naes Unidas (ONU) tem diversos ramos de atuao. Para chegar

aos princpios que norteiam as empresas, ser descrita, a seguir, a rea que congrega as aes

direcionadas ao segmento empresarial, denominada Pacto Global. O Pacto Global uma

iniciativa desenvolvida pelo ex-secretrio-geral da ONU, Kofi Annan, com o objetivo de

mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoo, em suas prticas de negcios,

de valores fundamentais e internacionalmente aceitos nas reas de direitos humanos, relaes

de trabalho, meio ambiente e combate corrupo refletidos em 10 princpios. Essa iniciativa

conta com a participao de agncias das Naes Unidas, empresas, sindicatos, organizaes

no governamentais e demais parceiros necessrios para a construo de um mercado global

mais inclusivo e igualitrio (TAMIOZZO e KEMPFER, 2016). Hoje j so mais de 12 mil

organizaes signatrias articuladas por cerca de 150 redes ao redor do mundo.

As empresas participantes do Pacto Global so diversificadas e representam diferentes

setores da economia, regies geogrficas e buscam gerenciar seu crescimento de uma maneira

responsvel, que contemple os interesses e preocupaes de suas partes interessadas incluindo

funcionrios, investidores, consumidores, organizaes militantes, associaes empresariais e

comunidade.

O Pacto Global no um instrumento regulatrio, um cdigo de conduta obrigatrio ou

um frum para policiar as polticas e prticas gerenciais. uma iniciativa voluntria dado que

fornece diretrizes para a promoo do crescimento sustentvel e da cidadania por meio de

lideranas corporativas comprometidas e inovadoras. O Pacto Global, desta forma, tem o

32

objetivo de dar complementaridade s prticas de responsabilidade social empresarial e ser um

compromisso mundial (UNGC United Nations Global Compact, 2016).

A Rede Brasil do Pacto Global da ONU representou em 2017 a 4 maior rede local com

mais de 700 signatrios. Atuando em parceria com o Programa das Naes Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), est sob a gesto de um comit com quase 40 organizaes de

referncia em sustentabilidade e empresas lderes em setores estratgicos para a economia

brasileira (PACTO GLOBAL, 2015).

Cabe ainda destacar que, para que se possa alinhar as expectativas de atuao das

empresas, so consideradas as seguintes premissas: negcios baseados em princpios: para

qualquer empresa, a sustentabilidade comea com a integridade, com operaes que respeitam

as responsabilidades fundamentais nas reas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e

combate corrupo em uma linguagem universal para a responsabilidade corporativa e uma

estrutura para orientar todas as empresas, independentemente de seu tamanho, complexidade

ou localizao; fortalecimento da sociedade: empresas sustentveis olham alm de suas prprias

paredes e tomam aes para apoiar as comunidades ao redor delas.

Alm desses fatores apresentados, h ainda algumas questes relevantes. A pobreza,

conflitos, fora de trabalho sem instruo e escassez de recursos tambm so questes

estratgicas para o sucesso dos negcios e sua viabilidade. Soma-se a isso o compromisso da

liderana: a liderana de uma empresa deve comunicar para toda sua estrutura que est

comprometida com a sustentabilidade.

Liderana tambm significa promover aes em reas-chave como ajustes nas polticas

e prticas, alinhamento de assuntos governamentais, treinamento e motivao dos funcionrios,

aplicao da sustentabilidade na cadeia de suprimentos e divulgao de esforos e resultados;

relatrio de progresso: como a principal medida de prestao de contas, os participantes do

Pacto Global devem produzir um relatrio anual, direcionado aos stakeholders da empresa com

uma prova de seus esforos para operar de forma responsvel e em apoio sociedade e ao

local: as empresas atuam dentro de naes e comunidades com diferentes expectativas sobre o

que significa o negcio responsvel.

Para ajudar as empresas com a sustentabilidade empresarial em diferentes pases, o

Pacto Global tem mais de 85 redes locais que apoiam seus signatrios atravs da promoo de

aprendizagem, relatrios, networking e promoo de parcerias com o objetivo de promover a

compreenso da sustentabilidade em cada pas.

33

O propsito importante e as empresas esto se estruturando para a realizao destas

diretrizes, segundo Costa e cols. (2016). Esta nova concepo de desenvolvimento implica na

quebra de paradigmas at ento considerados intransponveis em uma sociedade

mercadocntrica. O enfoque econmico estaria sendo substitudo por um conceito mais amplo

de desenvolvimento sustentvel no qual as metas de crescimento esto associadas aos esforos

de reduo dos efeitos nocivos.

Diante de tal complexidade, torna-se preponderante o reposicionamento das estratgias

empresariais que devem buscar referncias para atender s novas exigncias legais de mercado

e da sociedade em geral. Faz-se necessria a atuao integrada envolvendo empresas, governo

e sociedade civil organizada em face dos grandes desafios postos pelo desenvolvimento

sustentvel.

Em sntese, se for considerada a gesto do desenvolvimento social luz dos objetivos

do desenvolvimento sustentvel, nota-se que esta representa uma forma de gesto que prope

que a empresa se relacione de forma tica, transparente e responsvel com os diversos pblicos

com os quais ela tem interface.

O investimento social privado pode ser considerado um dos caminhos que as

organizaes podem adotar para realizarem projetos sociais de forma mais efetiva. E, para que

se diferenciem das doaes, as aes devem fazer parte de seu planejamento, para que tenha

acompanhamento sistemtico com relao aos impactos gerados e da periodicidade em que

ocorrem. Diferencia-se tambm de uma ao assistencialista por ter sua estratgia voltada para

resultados sustentveis de impacto e transformao social, e por contar com a participao da

comunidade no desenvolvimento da ao.

O investimento social privado prev resultados voltados para a inovao, mudana de

paradigma, impacto social e retorno do capital filantrpico investido, tornando-se, desse modo,

estratgico para as empresas. Esse investimento tende a favorecer as parcerias, pois ao decidir

fazer um investimento social as empresas devem fazer de forma participativa, dialogando com

os atores sociais envolvidos, principalmente com a comunidade beneficiada, os funcionrios e

o governo.

Neste caso, por meio do dilogo com a comunidade pautados no respeito, na tica e

na vontade de se construir algo em conjunto, que o investimento social tende a quebrar o modelo

de relacionamento marcado pelo paradigma assistencialista da filantropia tradicional e passar a

34

ser elemento de construo do desenvolvimento local sustentvel, pois o pblico tende a se

empoderar do projeto desenvolvido e a manter a sua continuidade.

O investimento social, portanto, constitui uma importante ferramenta para fomentar o

desenvolvimento sustentvel no que tange ao relacionamento com a comunidade de forma a

gerar impactos sociais positivos permanentes, contribuindo assim com a melhoria da qualidade

de vida das pessoas e o desenvolvimento local. um elemento fundamental para corroborar o

papel da empresa na sociedade.

E uma das principais interfaces entre a empresa, sua atuao responsvel e os pblicos

impactados so os funcionrios tambm chamados de colaboradores. A atitude das

organizaes que se preocupam com a capacitao de seu pessoal percebida e gera um clima

saudvel de profissionalismo e reconhecimento.

Partindo-se do princpio que um conglomerado empresarial tem sua gesto do

investimento social bem fundamentada, esse grupo pode utilizar-se de um programa de

capacitao para multiplicar tais contedos, isto , torna-se fundamental que os colaboradores

conheam essas aes e as utilize no seu dia a dia de trabalho.

1.1.3. Programas corporativos para a capacitao de profissionais para a gesto do

investimento social

O processo de reestruturao produtiva pelo qual tem passado a economia exige do

mercado de trabalho constantes adaptaes e aprimoramentos. A crescente competitividade e a

busca por melhores nveis de produtividade requerem investimentos cada vez mais elevados

em qualificao profissional (VIDIGAL e VIDIGAL, 2012).

Para que as corporaes consigam multiplicar de forma eficiente suas prticas de gesto

do investimento social necessrio que sejam estruturados programas corporativos. Esses

programas tm por objetivo tanto o desenvolvimento profissional e pessoal dos colaboradores

da empresa, quanto adaptao dos mesmos para atuarem com tarefas especficas.

No caso do investimento social privado, as organizaes podem desenvolver programas

de capacitao para seus colaboradores para que, alm de conhecerem as aes realizadas,

saibam como utilizar esses conhecimentos em suas atividades profissionais. Por isso o prximo

item deste trabalho apresenta os programas de educao corporativa desenvolvidos pelas

35

organizaes, os quais envolvem os processos de capacitao em geral e que podero envolver,

de forma mais especfica, capacitaes relacionadas ao investimento social privado.

1.2 Educao Corporativa

Um caminho para que se possam multiplicar de forma efetiva as aes de investimento

social privado para o maior nmero de pessoas (funcionrios) dentro de uma organizao por

meio de um processo educacional estruturado. No ambiente empresarial esses programas

geralmente so conhecidos como educao corporativa.

A educao corporativa compreende a filosofia que orienta todas as atividades

realizadas para identificar, modelar, difundir e aperfeioar os perfis essenciais para o sucesso

de uma organizao. Ela busca as condies favorveis de inovao, flexibilidade e motivao

para um melhor ambiente interno, melhor relacionamento com o ambiente externo e maiores

resultados para o negcio.

As primeiras abordagens sobre educao corporativa foram desenvolvidas a partir do

ano de 1990 (MEISTER, 1999). Contudo, somente a partir dos anos 2000 que as empresas

brasileiras passaram a utiliz-lo (BOLI, 2004). A educao corporativa pode ser vista como

um elo dentro das organizaes para que seus colaboradores se apropriem dos conhecimentos

adquiridos (durante o processo educativo) e possam aplic-los sempre que necessrio. A

educao corporativa tambm pode ser considerada como uma alavancadora de oportunidades

de mercado, seja pelo destaque competitivo, seja pelo relacionamento desenvolvido,

contribuindo para que a empresa esteja mais preparada para sobreviver aos desafios vindouros

(CARVALHO, 2006).

No contexto da educao corporativa os conhecimentos adquiridos e desenvolvidos nos

ambientes organizacionais devem ter cunho prtico, para que o profissional chegue ao mercado

de trabalho com uma viso real de desenvolvimento de trabalho conseguindo conectar a teoria

prtica. Lastres e Abigail (1999) destacam na obra Informao e Globalizao na era do

Conhecimento a importncia do preparo dos profissionais nas organizaes para o

enfrentamento da realidade do mundo corporativo. A crescente capacidade de codificao de

conhecimentos e a maior velocidade, confiabilidade e baixo custo de transmisso,

armazenamento e processamento de grandes quantidades destes conhecimentos e de outros

36

tipos de informao implicam a necessidade do investimento em treinamento e qualificao,

organizao e coordenao de processos.

As mudanas nas formas de gesto e de organizao empresarial geram maior

flexibilidade e maior integrao das diferentes funes das empresas (pesquisa, produo,

administrao, marketing etc.), assim como maior interligao nas empresas (destacando-se os

casos de integrao entre usurios, produtores, fornecedores e prestadores de servios) e destas

com outras instituies, estabelecendo-se novos padres de relacionamento e mudanas no

perfil dos diferentes agentes envolvidos, passando-se a exigir um nvel de qualificao muito

mais amplo dos trabalhadores (LASTRES, ABIGAIL, 1999).

Acompanhar as mudanas do mundo corporativo quesito fundamental para que as

organizaes tenham profissionais aptos a atuar assegurando, assim, sua sobrevivncia no

mercado de trabalho. Para isso as organizaes precisam preparar melhor seus profissionais

para atuarem nesse cenrio complexo. Espera-se que as empresas desempenhem uma funo

ativa no desenvolvimento das pessoas, implantando sistemas educacionais que privilegiem o

aprimoramento de atitudes, posturas e habilidades, e no apenas conhecimento tcnico e

instrumental. Por um lado, a educao corporativa surge como uma soluo ao desenvolvimento

de pessoas capazes de refletir criticamente sobre a realidade organizacional, propondo

modificaes constantes em favor da competitividade. Por outro lado, tambm h de se

considerar que a educao corporativa no age somente nas pessoas, mas tambm, nos

processos organizacionais e, portanto, na cultura de alto desempenho na busca de resultados

organizacionais (EBOLI, 2004).

Santos e Silva (2011) descrevem que num ambiente empresarial instvel, distribudo

geograficamente ao redor do globo e exigente tecnicamente, encontrar e manter talentos ser o

grande desafio. As empresas com tendncia prosperidade sero aquelas que estiverem mais

bem preparadas para atrair, desenvolver e reter indivduos que possuem as qualificaes,

perspectivas e experincia necessrias para dirigir a empresa global. Ainda segundo Santos e

Silva (2011), a organizao que tem vantagem competitiva sustentvel frente aos concorrentes

posiciona-se estrategicamente a partir dos recursos que possui e que so nicos, agregam valor

e no passvel a imitao. Entende-se que a troca de competncias se faz entre a organizao

e as pessoas. Este processo contnuo em que a empresa possibilita que o conhecimento seja

compartilhado entre as pessoas, enriquecendo-as e preparando-as para que possam enfrentar

novos desafios, agregando valor a empresa por meio de sua atuao e transferncia de

37

conhecimento, tornando-a mais competitiva pode ser bem representada por meio das prticas

de educao corporativa.

Vale ressaltar, portanto, que o conhecimento vem se transformando no recurso mais

importante para agrega valor aos negcios. Os programas tradicionais de treinamento j no

atendem mais s necessidades de capacitao e atualizao exigidas pela dinmica do mercado.

Os programas precisam estar alinhados s estratgias do negcio. O funcionrio precisa adquirir

a habilidade de compreender o conhecimento transmitido num treinamento e contextualiz-lo

na prtica, bem como criar solues para os novos e constantes problemas que vo surgindo

(MARTINS, OLIVEIRA, VILAS BOAS, 2005).

As empresas precisam enfrentar esse cenrio de maneira proativa. A capacidade de

ajustar-se s novas exigncias e desenvolver seu capital intelectual torna-se uma questo de

sobrevivncia. Logo, imprescindvel que as organizaes criem mecanismos visando o

envolvimento das pessoas no desenvolvimento da empresa, o que refora, ainda mais, a

relevncia da educao corporativa neste contexto. Cada vez mais o trabalho em rede, a maior

mobilidade no desempenho das funes, a maior comunicao e a distribuio do poder ganham

destaque, favorecendo o desenvolvimento do potencial dos colaboradores e auxiliando, dessa

forma, na criao do potencial corporativo.

Nesse sentido, parte-se para o entendimento de que a necessidade de aprender e se

adaptar s necessidades da empresa tem impulsionado as organizaes, a partir de mudanas

em seus modelos de gesto, a adotarem procedimentos que viabilizem a formao de seus

colaboradores (ABREU, GONALVES, PAGNOZZI, 2003). Cabe ainda contextualizar que a

educao corporativa, conforme descrito por Dias (2012), baseia-se no objetivo principal de

identificar e desenvolver as competncias crticas para que a empresa atinja os resultados

esperados de seu negcio e na misso de formar e desenvolver os talentos na gesto de negcios,

promovendo a gesto do conhecimento organizacional (gerao, assimilao, difuso e

aplicao) por meio de um processo de aprendizagem ativa e continua.

De acordo com Dias (2012), o conceito de educao corporativa a partir da leitura de

Eboli (2010) corresponde implantao de sete fatores:

a) objetivo principal: desenvolver competncias do negcio e no habilidades individuais; b) foco do aprendizado: a aprendizagem organizacional em detrimento do conhecimento individual; c) escopo: atuao estratgica, focando a organizao como um todo e no somente o indivduo;

38

d) nfase dos programas: desenvolver as competncias crticas da organizao necessrias para a implantao da estratgia corporativa; e) pblico-alvo: pblico interno (funcionrios) e externos (familiares, clientes, fornecedores, distribuidores, parceiros comerciais e comunidade); f) local: fsico ou virtual; g) resultado: aumentar a competitividade da organizao e no somente as habilidades individuais. (Dias, 2012, p. 33-34).

Uma vez o foco definido, um objetivo traado e um pblico identificado e um local

predeterminado em que os conceitos sero aplicados, a chance de se obter um resultado

satisfatrio torna-se mais provvel. Para Eboli (2004), as melhores prticas de educao

corporativa manifestam-se na importncia dos lderes e gestores assumirem seu papel de

educadores. Para isso fundamental o envolvimento e responsabilidade destes para com a

educao e aprendizagem de suas equipes, fazendo com que se comprometam com o sistema.

O lder que consegue criar um ambiente em que seu time tenha condies de expressar,

de questionar, de expor dificuldades e sugerir melhorias, tem a possibilidade de ser percebido

como preocupado com o progresso de seus colaboradores. Esta percepo tende a desenvolver

um local propcio no apenas para trabalhar, mas tambm para aprender e educar. Ainda de

acordo com Eboli (2004), trabalho, aprendizagem e educao iro se associar e integrar cada

vez mais vida corporativa e a prtica da liderana educadora ser o alicerce para a construo

do ideal organizacional almejado. A eficcia dos programas de educao corporativa est

relacionada ao contedo ministrado, s teorias de aprendizagem envolvidas e ao formato e

ferramentas disponveis para o desenvolvimento das aes de educao corporativa.

No contexto empresarial, as corporaes podem, ainda, desenvolver uma universidade

corporativa ou aplicar programas especficos e pontuais. O contedo a ser ministrado, enquanto

o formato, pode ser aplicado de forma presencial, de forma mista ou a distncia. Analisando os

aspectos fsicos, algumas instituies possuem seus prprios espaos para a realizao de suas

aes educativas.

Tambm podem utilizar outros espaos como universidades e hotis para a realizao

de cursos e programas, enquanto outras aplicam a educao corporativa pela modalidade

distncia, proporcionando o aprendizado por meio de um ambiente virtual. Uma das

caractersticas mais dominantes desta forma de ensino (ensino a distncia) a flexibilidade, j

que o aluno tem maior liberdade para escolher o local e a hora para aprender. Isso tambm

implica em reduo de custos (CARVALHO, 2006). importante destacar que devem-se

priorizar as estratgias pedaggicas em comparao importncia dada ao espao fsico,

39

oferecendo um contedo adequado atrelado a uma teoria de aprendizagem que se mostre efetiva

para a finalidade a que se destina (MARTINS, OLIVEIRA, VILAS BOAS, 2005).

Para a efetividade da educao corporativa, cabe destacar ser necessrio considerar as

caractersticas dos participantes. Caractersticas estas que consistem em fatores fsicos e sociais

e estados comportamentais associados aos aprendentes. Mesmo essas sendo anteriores

realizao da ao educacional, podem afetar os resultados almejados. As caractersticas, como

expem Zerbini e Abbad (2008), podem ser elencadas nas categorias: repertrio de entrada

conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, expectativas e experincias adquiridas pelo

participante antes da ao educacional; sociodemogrficas perfil fisionmico da clientela e

perfil profissional e funcional do participante; psicossociais variveis relativas

personalidade, caractersticas cognitivas e atitudinais; motivacionais motivao para aprender

e a motivao para transferir; cognitivo-comportamentais as estratgias cognitivas, as

comportamentais e as autorregulatrias utilizadas pelo participante para aprender.

A compreenso de tais caractersticas fundamental para os planejadores instrucionais

(professores, tutores, facilitadores ou multiplicadores) realizarem escolhas adequadas de

estratgias, meios e procedimentos instrucionais ao perfil dos aprendentes. Ainda segundo as

autoras Zerbini e Abbad (2008), importante realizar estudos sobre essas variveis no processo

de planejamento e programas de educao corporativa, visando ao envolvimento dos

funcionrios nas aes educacionais propostas e diminuio dos ndices de evaso.

A educao corporativa tambm tem se valido, cada vez mais, do uso de recursos

multimdia, principalmente pela possibilidade de acesso simultneo a muitas pessoas distantes

fisicamente. Um outro ponto de vantagem que se coloca, o fator financeiro, posto que custos

podem ser reduzidos (uma vez que no se necessita de um espao fsico especfico para este

fim), sem prejudicar a aquisio dos conhecimentos. Cabe ressaltar ainda que o investimento

em educao corporativa pode ser visto como um dos diferenciais competitivos das empresas

(CARVALHO e ABBAD, 2006; SOUZA, 2012).

A partir do exposto, nota-se que as novas tecnologias voltadas aprendizagem so

vantajosas para a infraestrutura educacional das empresas, principalmente para aquelas que

propem programas de ensino a distncia, mediados por videoconferncias, cursos via Internet

ou Intranet, ou outros tipos de recursos, uma vez que os colaboradores no precisaro se

ausentar da empresa ou de seus postos de trabalho par