DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SOBRE ZPE RIA DE AVEIRO.pdf
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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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"A verdadeira sabedoria consiste em saber como aumentar o bem-estar do
mundo." (Benjamin Franklin)
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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Agradecimentos
A elaboração deste trabalho só foi possível com a ajuda de várias pessoas, que de forma
desinteressada, direta ou indiretamente, contribuíram para o resultado final. É nestas horas
que não devemos esquecer quem nos ajudou e quem esteve connosco nos momentos mais
difíceis, não esquecendo aqueles que, de certa forma, foram privados com a minha
ausência em momentos e etapas fundamentais para a afirmação da sua educação. Nesse
sentido, o meu primeiro agradecimento não poderia deixar de ser dirigido aos meus Filhos e
à minha Esposa pelas ausências como Pai e Marido durante os cinco anos da Licenciatura e
Mestrado. Expresso, também, os meus agradecimentos, ao Professor Doutor José Gomes,
meu orientador, que mesmo nos momentos de maior trabalho, não deixou de estar presente,
e que sempre “lutou” para que não me afastasse dos objetivos propostos; ao meu amigo
Eng. Gilberto Silva, pela preciosa ajuda nas questões relacionadas com a Biogeografia e
Fitogeografia; ao Professor Gil Rito Gonçalves, Departamento de Matemática - Faculdade
de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, pela ajuda inicial na área da Deteção
Remota; ao Professor Doutor António Campar pela ajuda na reclassificação da carta de
solos da ZPE Ria de Aveiro; ao Professor Marcello Benigno Filho, Prof. do Curso Sup. de
Tecnologia em Geoprocessamento (IFPB), pela disponibilidade mostrada sempre que
solicitado; ao Giovanni Manghi, através da lista de Portugal do fórum da OSGEO, pela
preciosa ajuda para que fosse possível utilizar, de modo correcto, os programas p.mapper e
Mapserver, e Quantum gis; ao Eng. Carlos Ferreira, pelo inestimável apoio com que nos
distinguiu, nas muitas tarefas executadas em webmapping e Arcgis Desktop; ao Dr. Carlos
Silva, Amigo e Colega de mestrado pelo levantamento fotográfico efetuado.
Um agradecimento pessoal é devido, também, à Administração da Região Hidrográfica
Centro, pela cedência dos dados relativos ao estado das massas de água da Ria de Aveiro
e fontes poluidoras e, ainda, ao ICNB pela disponibilização da cartografia dos habitats
naturais da ZPE Ria de Aveiro. Bem-hajam todos!
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PLANO NÃO PAGINADO DO TRABALHO
RESUMO
ABSTRACT
CAPíTULO I - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
3. A RIA DE AVEIRO
3.1. Localização geográfica
3.2. Estrutura e Tectónica da Bacia
3.3. Enquadramento lito-estratigráfico
3.3.1. Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovício
3.3.2. Triásico Superior
3.3.3. Jurássico Inferior (Liásico)
3.3.4 Cretácico
3.3.5. Plio-Plistocénico
3.3.6. Holocénico - Depósitos Modernos
3.4. Dados relativos aos elementos do clima
3.5. Hidrologia
3.5.1 Hidrogeologia
3.5.2. Hidrologia
3.6. Evolução Morfologia
4. A ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL RIA DE AVEIRO (PTZPE0004)
4.1. Plano sectorial da Rede Natura 2000
4.1.1. A Rede Natura 2000
4.1.2. Diretiva Aves
4.1.3. Diretiva Habitats
4.2. Caracterização da ZPE Ria de Aveiro
4.3. Valores Naturais
4.3.1 Biótopos Corine
4.4. Uso do Solo
4.4.1 Territórios artificializados
4.4.2. Áreas agrícolas e agroflorestais (bocage, campos de arroz e pequenos
bosques ripícolas)
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4.4.3. Florestas e meios naturais e seminaturais (dunas arborizadas e bosque
ripícola)
4.4.4. Zonas húmidas (Bancos intertidais e salinas, Sapais e Caniçais)
4.4.5. Corpos de água
4.4.6. Praias, dunas e areias
4.4.7. Oceano ( Zona marinha próxima da costa)
4.5. Distribuição da Fauna
4.5.1 Metodologia aplicada à classificação de espécies prioritárias para a
conservação na ZPE da Ria de Aveiro
5. CLASSIFICAÇÃO BIOGEOGRÁFICA
5.1. Índices Bioclimáticos
5.1.1. Índice de Continentalidade (Ic)
5.1.2. Índice de Termicidade (It) e Índice de Termicidade Compensado (Itc)
5.1.3. Índice Ombrotérmico (Io)
5.1.4. Índices Ombrotérmicos Estivais Compensados
5.2. Classificação Bioclimática
5.2.1. Determinação do Macroclima
5.2.2. Determinação do Bioclima
5.3. Determinação do andar bioclimático
5.5. Bioclimatologia da Ria de Aveiro
CAPITULO II - ANÁLISE MULTICRITÉRIO EM AMBIENTE SIG PARA ELABORAÇÃO
DE CARTAS DE VULNERABILIDADE
1. ANÁLISE MULTICRITÉRIO – fundamentos processuais e metodológicos
1.1. Tarefas, técnicas e procedimentos processuais em ambiente SIG para Análise
Multicritério (AM)
1.3. Analytic Hierarchy Process
1.3.1. O Processo de Hierarquização do AHP
1.4. AHP e a Gestão de Projetos
2. VARIÁVEIS E CRITÉRIOS UTILIZADOS
2.1. Habitats Naturais
2.2. Suscetibilidade à erosão
2.3. Distribuição da Fauna
2.4. Ictiofauna: rotas dos migradores
2.5. Estado das massas de água da “Ria de Aveiro”
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2.6. Proximidade à malha urbana
2.7. Proximidade à malha viária
2.8. Ponderação das variáveis
3. ANÁLISE DE RESULTADOS
4. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DA ZPE/SIC RIA DE AVEIRO
4.1. Orientações gerais
4.2. Orientações específicas
4.2.1. Considerações sobre boas práticas para a boa gestão das áreas
Analisadas
CAPITULO III - OS SIG E A INTERNET. CONCEÇÃO DO WEBSIG REDE-AVEIRO
1. OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) E A INTERNET
2. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO
2.1. Programas utilizados no desenvolvimento do WEBSIG -RIA
2.1.1. MapServer
2.1.2. p.mapper
2.1.3. PostgreSQL/PostGIS
2.2. Configuração do WebSIG - RIA
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE TABELAS
ÍNDICE DE GRÁFICOS
ANEXO I - DADOS CLIMATOLÓGICOS DAS ESTAÇÕES DE ESTARREJA, S.
JACINTO E DUNAS DE MIRA
ANEXO II - TABELAS DE SINTETIZAÇÃO DOS VALORES FAUNÍSTICOS POR
BIÓTOPO E POR UTM 10X10
ANEXO III - TABELAS DE CÁLCULO DE VEE DA FAUNA DA ZPE RIA DE AVEIRO
ANEXO IV - WEBSIG – RIA. MANUAL DO UTILIZADOR
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RESUMO
A Zona de Proteção Especial Ria de Aveiro é uma importante e extensa zona húmida,
caracterizada por um sistema lagunar complexo, constituído por uma rede principal de
canais de maré permanentemente ligados e por uma zona terminal de esteiros com canais
estreitos e de baixas profundidades sendo ligada ao mar através da barra de Aveiro.
Considerada como a zona húmida mais importante do norte do país, alberga grande
diversidade de comunidades vegetais halófilas e sub-halófilas, assume-se como uma área
muito importante no país para diversas espécies de aves migratórias e para a avifauna
nidificante, verificando-se a ocorrência de diversas espécies de aves abrangidas pelo Anexo
I da Diretiva Habitats.
A necessidade de preservação dos valores naturais, quer botânicos, quer faunísticos,
assume-se, hoje, como um assunto de elevada relevância.
Pretende-se, com este estudo, elaborar um ensaio metodológico para a sua gestão
ecológica a partir da determinação de áreas prioritárias de conservação que serão,
futuramente, referenciadas a partir da elaboração da carta de vulnerabilidades.
A definição de áreas prioritárias com base em ensaios de modelação em SIG tem sido
amplamente aplicada a uma variedade de situações, entre elas, a definição de áreas ou
regiões prioritárias para espécies animais ou vegetais.
Através da análise da carta de vulnerabilidade, podem-se traçar algumas linhas orientadoras
gerais e específicas para uma gestão mais eficaz da ZPE em estudo.
Ao longo dos últimos anos a Internet tem-se assumido, no que respeita à disponibilização de
grandes quantidades de informação georreferenciada, como um meio privilegiado e com um
enorme potencial de crescimento, permitindo o acesso a diversos utilizadores de
funcionalidades SIG.
A elaboração e disponibilização de dados a partir de um websig permite uma melhor
compreensão e enquadramento da área de estudo assim como a interpretação crítica dos
resultados obtidos com base na metodologia proposta.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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ABSTRACT
The Special Protection Zone Ria de Aveiro is an important and extensive wetland lagoon
system characterized by a complex consisting of a core network of tidal channels and
permanently connected by a terminal zone of estuaries with narrow channels and shallow
depths being linked overboard through the bar Aveiro.
Considered as the most important wetland in the north, home to a great diversity of plant
communities and sub-halophilic - halophilic, assumed as a very important area in the country
for several species of migratory birds and nesting for birds, verifying the occurrence of
different species of birds listed in Annex I of the Habitats Directive.
The need for preservation of natural values, either botanical or wildlife, it is assumed today,
as a matter of high importance.
It is intended with this study, develop a test methodology for its environmental management
from the determination of priority conservation areas that will be in the future, referenced
from the drafting of the letter of vulnerabilities.
The definition of priority areas based on tests in GIS modeling has been widely applied to a
variety of situations, including the definition of priority areas or regions for animal or plant
species.
Through analysis of the vulnerability letter, one can draw some general and specific
guidelines for more effective management of the SPA study.
Over recent years, the Internet has assumed with regard, to the availability of large amounts
of geo-referenced information, as a privileged means and with a huge growth potential,
allowing users access to many features of GIS.
The development and availability of data from a web mapping allows a better understanding
and framework of the study area as well as the critical interpretation of results based on the
proposed methodology.
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CAPíTULO I
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
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1. INTRODUÇÃO
A Ria de Aveiro1 é uma laguna costeira de pequena profundidade, separada do mar por um
cordão dunar, que que ocupa um setor litoral situado entre Ovar e a Barrinha de
Mira, desenvolvendo-se paralelamente à linha de costa (CONDE, 2007).
As massas de água da laguna ocupam diversos canais, separados por pequenas ilhas de
origem aluvionar, lagunar, marinha e fluvial. No interior de alguns canais desaguam vários
pequenos rios e também o rio Vouga, sendo este último responsável pela maior parte da
água doce que aflui à laguna. Estes rios, nos canais onde confluem, formam pequenos
estuários que acabam por se intercomunicar, prolongando-se até à proximidade da Barra.
Com uma formação recente e evolução rápida, a Ria de Aveiro é uma zona particularmente
sensível, alvo de pressões de várias ordens e, desde cedo, muito intervencionada pelo
Homem.
As características abióticas desta região (baixa profundidade, elevada turbidez, natureza
lodosa do seu substrato, flutuações de temperatura, salinidade e oxigénio),
associadas a uma elevada produtividade biológica, criam excelentes condições para a sua
colonização por diversas espécies com elevada importância económica (CONDE, 2007).
A elevada biodiversidade desta zona permite uma exploração dos recursos2 bastante
expressiva, recorrendo a uma enorme diversidade de artes e métodos de pesca, muitos dos
quais artesanais e característicos da região. A atividade piscatória assume elevada
importância sócio-económica, com vários centros piscatórios situados em redor da Ria de
Aveiro (Costa Nova, S. Jacinto, Torreira, Ovar, etc.). As condições existentes na laguna e
nas zonas limítrofes, de transição, permitem ainda a prática de outras atividades, das
quais se destacam, pelas suas características e importância, a salicultura, a agricultura, a
orizicultura e a pecuária.
A necessidade de preservação dos valores naturais, quer botânicos, quer faunísticos,
assume-se, hoje, como um assunto de elevada relevância. Neste contexto, a Comunidade
Europeia, através do projeto “Rede Natura 2000” procurou intervir, no sentido da
salvaguarda dos principais valores dos países que a constituem, pela criação de uma
rede de locais de relativo valor para a conservação, os quais foram selecionados com base
na presença de habitats naturais (Diretiva Habitats)3 e com base em valores faunísticos
(Diretiva Aves)4.
Assim, consoante a importância da área a preservar, tendo por base as duas diretivas atrás
1 Denominação que será sempre utilizada em relação à Ria de Aveiro em alternância com ZPE Ria de Aveiro consoante a
abordagem se refira especificamente à ria em si, ou à área classificada como Zona de Proteção Especial (ZPE). 2 Recursos haliêuticos – recursos resultantes da atividade da pesca.
3 DIRETIVA 92/43/CEE DO CONSELHO de 21 de Maio de 1992 relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da
flora selvagens. 4 DIRETIVA 79/409/CEE DO CONSELHO de 2 de Abril de 1979 relativa à conservação das aves selvagens.
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referidas, o Plano sectorial da Rede Natura 2000 apresenta uma lista nacional de áreas
designadas por Zona de Proteção Especial5 (ZPE), áreas especialmente criadas para a
preservação da fauna, e Sítio de Importância Comunitária (SIC), onde a preservação dos
habitats naturais assume o papel de maior importância.
Para além do papel de elevada relevância para a avifauna, não só como zona de
nidificação e invernada, mas também de passagem de migradores, que determinou a
criação da Zona de Proteção Especial PTZPE004 – Ria de Aveiro por Decreto-Lei n.º 384-
B/99 de 23 de setembro de 1999, também a riqueza em habitats, nomeadamente os que se
referem ao Anexo B-I da Diretiva Habitats, “Estuários” (Código: 1130), “Prados salgados
atlânticos” (Código: 1330) e “Dunas com Salix repens ssp. argentea” (Código: 2170),
determinou a proposta de criação de Sítio de Importância Comunitária que deverá ser
publicada ainda este ano em Diário da Républica, passando assim a acumular os estatutos
de ZPE e SIC.
Devido à sua enorme complexidade, num misto de interesses públicos e privados, onde nem
sempre os interesses pela conservação regem estes espaços, e onde a complexidade de
legislação, devido à existência de uma listagem bastante grande de instituições com
diferentes jurisdições na gestão da Ria, torna-se necessário, até porque nem todos os
espaços dentro da ria são iguais ou têm o mesmo interesse para a conservação, determinar
áreas prioritárias de conservação tendo em conta as orientações de gestão definidas para a
conservação da fauna, da flora e dos habitats que determinaram a criação deste espaço
como ZPE e futuro SIC.
Com este trabalho, pretende-se desenvolver uma metodologia em ambiente SIG que, de
algum modo, permita contribuir para a definição de áreas prioritárias de conservação
aplicável não só à ZPE da Ria de Aveiro, mas a todas as áreas classificadas a nível nacional
dependendo da especificidade de cada uma delas tendo partindo de critérios definidos com
base na riqueza da fauna, flora e habitats, assim como nas orientações de gestão definidas
aquando da criação das mesmas.
5 A cada área da Rede Natura 2000 é atribuído um código que começa pela sigla PT. Para as ZPE o código inicia-se por
PTZPE e para os SIC por PTCON.
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2. METODOLOGIA
O trabalho em apreciação visa o desenvolvimento de uma metodologia que possa ser
aplicada à Rede Natura 2000 na qualidade de ferramenta de apoio à decisão,
nomeadamente na contribuição para a definição de áreas prioritárias de conservação.
A fórmula adotada para a estrutura deste trabalho caracteriza-se pela sua sub-divisão em
três capítulos distintos, sequencializados e articulados numa lógica relacional que culmina
na discussão de alguns dos resultados obtidos.
O Capítulo I corresponde à caracterização física da Ria de Aveiro, nomeadamente a área da
Zona de Proteção Especial, onde a revisão bibliográfica assume um papel fundamental
selecionando-se a informação mais relevante para este trabalho, dado que a Ria de Aveiro
se encontra bastante documentada em vários estudos de caracterização, promovidos por
várias entidades e universidades.
São ainda identificados e mapeados os valores naturais, nomeadamente habitats naturais e
uso do solo que resultam do tratamento de informação da proposta do SIC (Sítio de
Importância Comunitária) Ria de Aveiro e do tratamento da Carta Corine Land Cover do igeo
e o mapeamento da distribuição de “valores faunísticos” e “valores faunísticos prioritários”
resultantes da adaptação ao local da metodologia utilizada por Palmeirim et al. (1994), tendo
por base, dados disponíveis no portal do Instituto da Conservação da Natureza e da
Biodiversidade (ICNB), dados do “Atlas das Aves que Nidificam em Portugal” e dados
constantes no trabalho de CONDE (2007).
O Capítulo II contempla o desenvolvimento de um ensaio metodológico para elaboração de
uma “Carta de Vulnerabilidades” que permite a classificação e a identificação de áreas
prioritárias de conservação, mas serve também como documento de base para a elaboração
de propostas de gestão para a área da ZPE Ria de Aveiro, decorrente de um processo de
análise multicritério em ambiente SIG, que assentou na informação dos valores naturais,
apurados no Capítulo I, em conjunto com as definições físicas do território mais pertinentes
para o estudo, assim como a integração de fatores de perturbação para a fauna, como a
atividade do homem e a poluição.
O Capítulo III assenta na apresentação de resultados em ambiente web, que estão também
acessíveis a partir de um Websig (de nossa autoria), disponível a partir do endereço url
“http://rede-aveiro.no-ip.org/index.htm”, que reúne toda a informação geográfica utilizada no
trabalho assim como o produto final, a identificação das áreas prioritárias de conservação na
ZPE da Ria de Aveiro. A discussão de alguns dos resultados que, por qualquer razão, ou
critério, considerámos como mais importantes, foi também objecto da nossa preocupação,
que materializámos na parte final deste capítulo.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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O software utilizado para a elaboração das cartas foi o ArcGis 10.0 (ESRI). A informação de
base utilizada, em formato shapefile, de distribuição gratuita, foi retirada dos sites das
próprias entidades, IgeoE, ICNB e Agência Portuguesa do Ambiente (APA), sendo sempre
identificada a fonte de dados relativa a cada uma das cartas produzidas. Completando a
moldura relativa à bases de dados utilizados, são de referir os dados relativos ao ao estado
das massas de água da ria e fonte de poluição cedidos pela ARH Centro.
Para elaboração do “WebSIG - RIA” recorreu-se a software OpenSource com destaque para
as seguintes aplicações/serviços/protocolos:
- Quantum Gis 1.8,
- Mapserver
- p.mapper
- PostgreSQL 9.0
- PostGIS 2.0
- PgAdmin III
Foram também utilizados, ainda que a título de testes comparativos os softwares SIG
MapWindow GIS e gvSIG.
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3. A RIA DE AVEIRO
3.1. Localização geográfica
A designada “Ria de Aveiro” é um sistema lagunar complexo, constituído por uma rede
principal de canais de maré permanentemente ligados, mesmo em condições de baixa-mar,
de águas vivas e, por uma zona terminal de espraiados, com canais estreitos e de baixas
profundidades (esteiros), que funcionam como reservatórios de água e que ficam desligados
dos canais principais durante parte do ciclo de marés (fig.1).
A Laguna de Aveiro situa-se, quase na sua totalidade, no Distrito de Aveiro, entre os
paralelos 40º 52’ e 40º 30’ N, e abrange os concelhos ribeirinhos de Ovar, Estarreja,
Murtosa, Aveiro, Ílhavo e Vagos e, ainda, Mira, pertencendo já, este último, ao distrito de
Coimbra (CARRABAU, 2005). Abrange, ainda, parte dos concelhos de Albergaria-a-Velha,
Águeda e Oliveira do Bairro, estes não confinando com o espaço lagunar em si.
Figura 1 - Enquadramento geográfico da Zona de Proteção Especial Ria de Aveiro. Elaboração própria.
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A população residente nos 10 concelhos (tabela 1) cuja área espacial integra a ZPE da Ria
de Aveiro, fixou-se, em 2011 em 341 322 habitantes (INE, 2012). Deste total, estima-se que
residam dentro dos limites da ZPE entre 20000 a 25000 habitantes.
Tabela 1 - População Residente nos concelhos da Ria de Aveiro. Fonte: INE (2012)
Local de residência
População residente (N.º) por Local de residência e Sexo; Decenal (1)
Período de referência dos dados 2011
Sexo
HM H M
N.º N.º N.º
Portugal 10561614 5047387 5514227
Continente 10047083 4799593 5247490
Centro 2327580 1111400 1216180
Águeda 47729 22898 24831
Albergaria-a-Velha 25252 12229 13023
Aveiro 78450 37123 41327
Estarreja 26997 13016 13981
Ílhavo 38598 18409 20189
Murtosa 10585 5097 5488
Oliveira do Bairro 23028 10914 12114
Ovar 55377 26666 28711
Vagos 22851 10976 11875
Mira 12465 5902 6563
Total 341332 163230 178102
3.2. Estrutura e Tectónica da Bacia
A área de estudo é afetada por tectónica de natureza, predominantemente, distensiva,
provavelmente devida à reativação de falhas tardi-hercínicas, que originou a fracturação em
blocos, segundo dois eixos aproximadamente ortogonais (BENTA, 2007).
Estão presentes algumas falhas e acidentes ducteis importantes. Destacam-se a falha
Porto-Tomar a Este e o anticlinal Mogofores-Febres-Tocha, a sul (fig.2). Os dobramentos
são muito pouco acentuados, com inclinações suaves nos flancos, sendo a componente
vertical (gravítica) a mais relevante (ROCHA, 1993 apud BENTA, 2007).
Duas estruturas em abóboda, bastante fraturadas, formam o alinhamento estrutural
Palhaça-Mamarrosa-Febres, que divide a área da carta 16-C (Vagos) em duas partes
distintas: uma interior, constituída por estruturas sinclinais e anticlinais e outra exterior
(Oeste) que apenas inclina suavemente para WNW (BARBOSA, 1981 apud BENTA, 2007).
A tectonização afetou claramente todos os sedimentos até ao final do Cretácico, enquanto
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que os depósitos Quaternários, que ocorrem a oeste do alinhamento estrutural Palhaça-
Mamarrosa-Febres, se apresentam apenas ligeiramente basculados para NW (idem). De
acordo com o mesmo autor, na obra citada, a acção fracturante da tectónica está
largamente representada por falhas, geralmente subverticais, que se orientam segundo dois
sistemas ortogonais. São falhas de tipo “rotacional” e “em teclas de piano”, que provocam
compartimentação em blocos com rejeitos variáveis da ordem da dezena de metros. A
provável existência de uma falha Febres-Campanas (oculta pelos sedimentos Quaternários)
entre as Argilas de Vagos e os Grés da Palhaça, implica um rejeito entre as duas unidades,
da ordem dos 100 metros (idem).
Figura 2 - Esquema estrutural da sub-bacia norte-lusitânica. Zonas de fracturação indicadas a pontilhado (SOARES et al., 1993 apud BENTA, 2007).
A rede de drenagem é, em alguns casos, reflexo da rede de fraturação, sendo o rio Boco um
bom exemplo da sua influência (ROCHA, 1993). Para além da divisão estrutural à escala da
região, com consequências importantes a essa escala, existe um aspeto estrutural muito
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importante à escala local que importa sublinhar. Trata-se do efeito, no paleorelevo,
produzido pelo período fortemente erosivo que afetou a área após a deposição das Argilas
de Aveiro-Ílhavo-Vagos. Efetivamente, a erosão sulcou a superfície do topo desta formação,
produzindo um emaranhado de paleocanais, em tudo idêntico ao que atualmente se verifica
nas zonas mais aplanadas da bacia. Estes paleocanais foram, posteriormente, cobertos por
sedimentos muito mais recentes, não consolidados e com forte contraste geomecânico
relativamente à formação encaixante (BENTA, 2007). Este é tanto maior quanto mais
consolidadas forem as Argilas de Aveiro no local. A este aspeto tem de ser atribuída a maior
relevância, dadas as consequências geotécnicas que daí advêm, especialmente quanto ao
dimensionamento das malhas de prospeção geotécnica (idem).
Este aspeto tem particular importância nos setores Central e Ocidental da bacia, onde o
Cretácico é mais carbonatado e mais consolidado, constituídos por calcários, margas e
argilas fortemente consolidadas, e onde ocorrem os materiais de cobertura mais brandos,
areias, areias lodosas e lodos (idem).
3.3. Enquadramento lito-estratigráfico
A Bacia Sedimentar de Aveiro (denominação que utilizaremos para a Ria de Aveiro em todo
o capítulo referente ao enquadramento geológico), encontra-se implantada no setor
setentrional da Bacia Lusitânica (fig.3a) e no grande grupo de unidades sedimentares que a
Orla Meso-Cenozóica Ocidental Portuguesa constitui.
Figura 3 - Implantação da Bacia Sedimentar de Aveiro. Fonte: MARINHEIRO, 2008.
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Segundo MARINHEIRO, 2008 citando PENA DOS REIS et al., 1992; BERNARDES, 1992 e
BENTA, 2007, a Bacia Sedimentar de Aveiro (fig.3b) fica situada entre o Maciço Hespérico,
delimitado pela falha Porto-Tomar a Leste, o alinhamento Tocha-Febres-Mogofores, a Sul, e
o Oceano Atlântico, a Oeste. Segundo o mesmo autor (op. cit.), analisando TEIXEIRA &
ZBYSZEWSKY, 1976, trata-se de uma vasta bacia sedimentar depositada sobre um soco
Paleozóico.
Na evolução lito-estratigráfica da Bacia Sedimentar de Aveiro, de acordo com TEIXEIRA &
ZBYSZEWSKY (op. cit.), existem sete unidades lito-estratigráficas, referidas da mais antiga
para a mais recente:
Formações quaternárias – Aluviões; dunas e areias eólicas; areias e cascalheiras.
Formações quaternárias (depósitos modernos) - Aluviões atuais, Areias de praia e
Areias de duna;
Formações plio-plistocénicas - Depósitos de Praias Antigas e os Depósitos de
Terraços Fluviais
Formações cretácicas – Arenitos e aretinos arcósicos;
Formações carbonatadas do Jurássico Inferior (Liásico) – Conglomerados, arenitos,
calcários, calcários dolomíticos, calcários margosos, margas;
Formações Triásico superior – Grés vermelhos (de Silves), conglomerados, margas,
calcários geral/dolomíticos;
Materiais rochosos do Complexo xisto-grauváquico.
A figura 4 (a, b e c) apresenta uma proposta de evolução dos limites dos domínios de
sedimentação desde o Cabo da Roca a Ovar entre o final do Cenomaniano Superior e o
Cretácico Superior (Senoniano), de acordo com BENTA (2007).
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a) - Domínios de sedimentação b) -Domínios de sedimentação na no final do Cenomaniano Superior base do Turoniano Inferior
c) - Limites da Sedimentação no Cretácico Superior (Senoniano), adaptado deLauverjat (1982)
Figura 4 - Evolução dos domínios de sedimentação na bacia sedimentar de Aveiro. Fonte: BENTA (2007).
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A Bacia Sedimentar de Aveiro é preenchida, essencialmente, por sedimentos do Cretácico e
do Quaternário, depositados em ambientes predominantemente lagunares com episódios,
ou mais marinhos, ou mais continentais. Tudo indica que, desde o Cretácico Superior, o
sistema sedimentar Laguna-Ilha Barreira, ocupa uma parte significativa da Bacia Sedimentar
de Aveiro (BENTA, 2007). O substrato da Bacia Sedimentar de Aveiro é essencialmente
formado por xistos e micaxistos do Proterozóico, aflorantes na bordadura NE da bacia e
posicionados a profundidades crescentes para Oeste (idem).
Conforme a figura 5, as formações ocorrentes são datadas do Quaternário (Holocénico e
Plistocénico) e do Cretácico (Apciano e Maastrichtiano) e estão representadas,
respetivamente, por Depósitos Modernos (aluviões atuais, areias de praia e areias de
dunas), Depósitos do Plistocénico (depósitos de praias antigas, terraços fluviais e blocos
residuais) e Formações do Cretácico (JAPA, 1993 apud MARINHEIRO, 2008).
Figura 5 - Carta Litológica da ZPE Ria de Aveiro. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponibilizados pelo Atlas do Ambiente – Agência Portuguesa do Ambiente.
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3.3.1. Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovício
Na região de Aveiro, o Complexo xisto-grauváquico está materializado pelos Xistos de
Arada, que são xistos argilosos finos sub-verticais, frequentemente, muito alterados. Afloram
a nordeste da área em estudo, e têm ocorrência mais profunda em direcção ao Atlântico.
Efectivamente, foram registados a 92,23m de profundidade em Cacia, 209m em Esgueira e
305m em Ílhavo, TEIXEIRA & ZBYSZEWSKY (1976). Sobre eles assentam os materiais
cretácicos, onde as Argilas de Aveiro-Ílhavo-Vagos, se incluem. Em áreas mais restritas, os
xistos formam o substrato subjacente ao Triásico e aos Depósitos modernos (BENTA,
2007).
3.3.2. Triásico Superior
Na região o Triásico tem expressão local. Cartografado no extremo Este-Sudeste da área de
estudo, e representado pelos Arenitos de Eirol, que são arenitos e conglomerados bem
consolidados, dispostos em bancadas, facilmente identificáveis pelas suas tonalidades
avermelhadas.
3.3.3. Jurássico Inferior (Liásico)
O Jurássico na bacia de Aveiro, compreende, essencialmente, uma extensa mancha, que é
constituída por calcários, calcários margosos e margas.
Para ROCHA, 1993, citado por BENTA, 2007, sobre as margas e os calcários Liásicos
(Jurássico inferior) assenta, discordantemente, uma formação gresosa do Cretácico.
Observa-se uma importante descontinuidade na sequência deposicional, que proporciona
considerável lacuna estratigráfica. Estão ausentes os sedimentos correspondentes ao
Jurássico Médio e Superior e parte do Cretácico Inferior, isto é, a um lapso temporal de
cerca de 55 Ma (Toarciano-Apciano), facto que sugere uma notável descida do nível do mar.
3.3.4 Cretácico
Esta é a unidade que, a par com os Depósitos Modernos, tem um desenvolvimento mais
importante na região de Aveiro (crf. Fig.5). Dela fazem parte materiais do Cretácico Médio
(Aptiano-Albiano e Cenomaniano-Turoniano), Cretácico Médio a Cretácico Superior
(Turoniano-Santoniano) e Cretácico Superior (Senoniano).
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Cretácico Médio (Aptiano-Albiano)
Os terrenos mais antigos cartografados na unidade Cretácica correspondem aos Arenitos de
Requeixo, segundo TEIXEIRA & ZBYSZEWSKY, 1976.
Trata-se de arenitos margosos ou argilosos, esbranquiçados, acinzentados ou
acastanhados que formam um complexo gresoso, com uma espessura que ultrapassa a
centena de metros, e que assenta sobre as camadas do Triásico ou sobre os xistos Ante-
Ordovícicos. No sector Sudeste da bacia, os arenitos de Requeixo assentam sobre as
margas Liásicas, anteriormente referidas.
Cretácico Médio (Cenomaniano-Turoniano)
A Norte do acidente da Nazaré, o mar aberto manteve-se durante o Cenomaniano Superior
e o Turoniano Inferior. O limite entre estes dois estádios não é marcado por nenhuma
alteração expressiva, sedimentológica ou paleogeográfica. Pelo contrário, o Turoniano
aparece como continuação do Cenomaniano. Daí que subsista alguma incerteza quanto ao
referido limite (LAUVERJAT, 1982 apud BENTA, 2007).
Cretácico Médio a Cretácico Superior (Turaniano-Santoniano)
Com a emersão da maior parte do setor setentrional, antes do Turoniano Inferior, e com a
zona de subsidência deslocada a Norte do eixo Mogofores-Tocha, apenas uma restrita área,
centrada em Mira, preserva a sedimentação marinha (BENTA, 2007).
Cretácico Superior (Senoniano)
Entre o final do Cretácico e a deposição das unidades Pós-Cretácico, interpõe-se um largo
período temporal, (cerca de 60 ± 5 MA), dominantemente erosivo, segundo Soares et al.
(1982).
A nível global, a passagem do Cretácico ao Terciário e marcada por uma "crise geológica",
com modificações climáticas abruptas, supostamente responsáveis pela extinção de grande
número de espécies, entre as quais os dinossáurios. Tais condições ambientais anómalas
desconhecidas deixaram o seu registo no chamado "limiar argiloso Cretácico-Terciário",
sobre o qual, investigações de natureza mineralógica e geoquímica têm revelado anomalias
significativas, suportando interpretações que invocam causas terrestres e extraterrestres
(ROCHA, 1996).
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3.3.5. Plio-Plistocénico
Segundo TEIXEIRA e ZBYSZEWSKI (1976), fazem parte desta unidade os Depósitos de
Praias Antigas e os Depósitos de Terraços Fluviais.
Depósitos de Praias Antigas
Os Depósitos de Praias Antigas formam o recobrimento de uma importante parcela das
formações Cretácicas, sendo que, no bordo Nordeste da bacia, ocorrem diretamente sobre
os Xistos de Arada do Complexo Xisto Grauváquico, que constitui o soco Ante-Ordovícico
(BENTA, 2007). São depósitos constituídos, essencialmente, por areias finas ou grosseiras
e cascalheiras com calhaus rolados, dispostos em leitos que podem atingir espessura
significativa. As suas cores, habitualmente, claras, e o acentuado rolamento patente nos
seus clastos, dos mais finos aos mais grosseiros, evidenciam a sua génese (idem).
Depósitos de Terraços Fluviais
Os Depósitos de Terraços Fluviais são similares aos Depósitos de Praias, distinguindo-se
destes por evidenciarem granulometria, geralmente mais grosseira e ocuparem níveis
relativamente baixos adjacentes ao rio Vouga. A sua ocorrência é, também,
geograficamente muito mais restrita (BENTA, 2007).
3.3.6. Holocénico - Depósitos Modernos
A constituição geológica da região demonstra a existência de duas zonas de características
diversas, uma a Leste e outra a Oeste da linha que, partindo de Esmoriz, Ovar, Estarreja,
Salreu, Canelas, Angeja, vai cortar o Vouga bastante a montante e segue por Cacia, Aveiro,
Vagos, Mira ate ao Cabo Mondego. A Leste ficam os terrenos mais antigos, a Oeste os
terrenos de formação recente constituídos por sedimentação marítima e fluvial. Nesta linha
aparecem calhaus rolados, como se verifica nos declives de Cacia, Esgueira, Aveiro, sinal
de que foram batidos pelo mar em época relativamente recente (PORTO DE AVEIRO, 1998
apud MARINHEIRO, 2008).
Os depósitos modernos são constituídos, essencialmente, por Aluviões atuais, Areias de
praia e Areias de duna.
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Aluviões Atuais
A área a Oeste do eixo Aveiro-Ílhavo-Vagos está ocupada, predominantemente, pelos
Depósitos Modernos, principalmente, pelas aluviões atuais, designação atribuída na carta às
aluviões que circundam a Ria de Aveiro (crf. Fig.5) e que são constituídas por lodos, por
lodos arenosos, por lodos micáceos, por lodos com conchas, por areias lodosas e por areias
grosseiras, por vezes, com calhaus rolados, que assentam sobre o substrato (BENTA,
2007). As aluviões atuais formam as regiões baixas do litoral, incluindo as margens e o leito
da laguna, e caracterizados pela predominância de areias finas e siltes. A composição
granulométrica varia de 20 a 90% de areias, 10 a 80% de silte e 0 a 30% de argila. A
distribuição destes materiais é condicionada pela hidrodinâmica lagunar (JAPA, 1993).
Areias de Praias
As areias de praia formam um extenso cordão litoral, que se estende com direção Nordeste
Sudoeste em toda a região, limitado a Leste por dunas cuja altura máxima se situa entre 11
e 15 m (JAPA, 1993) e interrompido apenas pela abertura do canal da Barra (BENTA, 2007).
Sao areias médias e grosseiras que por vezes tem algum areão. As areias de praias estão
em permanente movimento devido a variação da ondulação provocada pelo vento (FACÃO,
2009).
Areias de Duna
Como que coroando o cordão litoral, estendendo-se para Leste, surgem as areias de duna,
que, em alguns locais, formam cobertura relativamente extensa, cobertura arenosa eólica
que assenta sobre as formações sedimentares do Cretácico e do Quaternário (BARBOSA,
1981).
Segundo Nuno Pimentel do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências,
Universidade de Lisboa (site consultado http://metododirecto.pt), as areias de praia e de
duna têm características bastante distintas, em resultado dos processos físicos e químicos
que presidiram ao seu transporte e deposição.
Ao nível dos grãos individuais, as areias de praia apresentam-se roladas ou sub-roladas e
com superfície brilhante (em parte devido à ação química da água do mar); a areia pode ser
mais ou menos grosseira (depende da energia da praia) e a calibragem do conjunto deve
ser boa a moderada, podendo ser abundantes os bioclastos6, além do quartzo
6 Fósseis e seus fragmentos
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predominante. Nas areias de Duna, os grãos são em geralmente rolados, mas a superfície
apresenta-se baça ou picotada (devido ao choque entre os grãos), sendo a areia não
grosseira e a calibragem do conjunto sempre boa (quase só quartzo), (idem).
Segundo o mesmo autor, estas características-padrão podem ser um pouco modificadas,
em função da proveniência dos grãos, ou seja, do local ou ambiente de onde provêm e do
tempo que tiveram para evoluir no novo ambiente. Assim, um rio que lance abundantes
areias num litoral irá gerar areias de praia com características (ainda) fluviais (grãos sub-
angulosos, pouco brilhantes, pouco calibrados, com grãos de naturezas variadas
(feldspatos, micas, litoclastos) se não houver tempo suficiente para elas evoluírem na praia.
De igual modo, é frequente as areias de dunas litorais provirem da praia adjacente, podendo
apenas alguns grãos ter adquirido as novas características tipicamente eólicas.
As dunas eólicas, não obstante serem das geoformas mais típicas e conhecidas das regiões
áridas são, em simultâneo, um dos sistemas morfológicos mais representativos das regiões
litorais, mesmo sob clima húmido (ALMEIDA, 2009).
Os fatores (agentes e processos) intervenientes na génese de dunas litorais são
essencialmente:
O vento, pela sua velocidade e pelo regime e direção dominante (mais favorável
quando sopra do lado do mar) e, também, pelo transporte eólico de sedimentos que
condiciona o próprio tipo de vegetação;
O afluxo de sedimentos arenosos às praias, pela possibilidade de formar praias
largas (no norte de Portugal as dunas são mais frequentes junto a embocaduras de
rios);
A topografia, por facilitar ou dificultar a progressão das areias para o interior (idem).
Segundo o autor, das inúmeras classificações de dunas (quase uma por cada autor que se
dedica ao seu estudo) destacam-se algumas das mais diferenciadas e, eventualmente, com
melhor aplicação à nossa realidade:
A classificação ecológico-dinâmica, muito usada pelos biólogos, e que distingue as
dunas brancas, das cinzentas e das verdes, pela cobertura vegetal.
A classificação dinâmica separa as dunas longitudinais, das oblíquas e das
transversais pelo seu alinhamento face aos ventos dominantes.
A classificação morfodinâmica que divide as dunas em dois grandes grupos, as
imóveis e as transgressivas (KENNETH PYE, 1983).
A classificação topo-dinâmica a qual dá importância não só à morfologia, mas
também à inserção na topografia pré-existente e à dinâmica (GERMAN FLOR,
1998).
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“Como as dunas se formam graças à atuação conjugada de fatores como o vento, o
abastecimento em areia, a vegetação e a existência de uma topografia favorável, plana, por
exemplo, decerto um ou mais destes fatores atuam de modo distinto numa e noutra área”
(ALMEIDA, 2009).
3.4. Dados relativos aos elementos do clima
Na caracterização climática da Ria de Aveiro, foram utilizadas as Normais Climatológicas
publicadas pelo Instituto de Meteorologia, relativas às estações de Estarreja (1965-1977), S.
Jacinto (1954-1980) e Dunas de Mira (1941-1970). Com base nesses dados (Anexo I) foram
elaborados os diagramas ombrotérmicos para cada uma das estações (gráficos 1, 2 e 3).
Os valores anuais médios da temperatura são bastante semelhantes nas três estações,
13,9ºC em Estarreja, 14,2ºC em S. Jacinto e 14,8ºC nas Dunas de Mira.
A amplitude anual da temperatura média mensal é da ordem dos 10ºC em Estarreja e 8,5ºC
a 9,5ºC no litoral nas estações de S. Jacinto e Dunas de Mira.
Os valores médios da temperatura máxima diária, que ocorrem nos meses de julho e
agosto, variam entre 22ºC em São Jacinto e 24,9ºC em Estarreja e os valores mínimos entre
3,8ºC, em Estarreja e 6,3ºC em São Jacinto, nos meses de dezembro e janeiro.
O valor total anual de precipitação é da ordem dos 995,2 a 1151,6 mm, e o período chuvoso
estende-se, em regra, de outubro a março.
No período considerado, o mês de maior pluviosidade é janeiro registando-se valores das
médias mensais entre os 144 e os 173 mm. Os valores mais baixos ocorreram nas estações
do litoral - São Jacinto e Dunas de Mira, nos mêses de dezembro e janeiro respectivamente,
sendo que a variação do número de dias com precipitação elevada (R > 10,0mm) apresenta
uma variação idêntica à anterior.
A humidade relativa do ar é elevada em toda a área de estudo, com todas as estações a
apresentar valores médios anuais da ordem dos 80% a 84% às 9h7. As variações ao longo
dos meses do ano e ao longo do dia são reduzidas, em particular nas estações do litoral
(UNIR@RIA, 2007).
Nas estações do litoral os rumos dominantes do vento nos meses de primavera/verão são
sobretudo N e NW e nos meses de outono / inverno S e SE.
Os rumos que apresentam maior frequência , em termos anuais, são N nas estações de
Dunas de Mira e de São Jacinto, com 41% e 27,2%, respetivamente. As velocidades dos
ventos nas estações do litoral apresentam valores médios anuais da ordem dos 7/8 até aos
7 Segundo Intituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (1985), o valor apresentado às 9 horas é
muito semelhante ao valor médio diário em Portugal Continental.
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18/20 km/h. Na estação de Dunas de Mira as calmas não têm expressão (0,1%) sendo que,
na estação de São Jacinto, as calmas surgem com cerca de 16,4% de frequência, valor que
não apresenta grande variação em termos anuais (idem).
Gráfico 1 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de Estarreja. Fonte: FIGUEIREDO (2004)
Gráfico 2 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de São Jacinto. Fonte: FIGUEIREDO (2004)
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Gráfico 3 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climatológica das Dunas de Mira. Fonte: FIGUEIREDO (2004)
Os nevoeiros ocorrem com maior frequência nas estações junto do litoral, cerca de 30 dias
por ano, formando-se principalmente nos meses mais quentes, julho e agosto.
O número total de dias no ano, com nebulosidade elevada, apresenta valores da ordem dos
115 a 130 dias, tendo os valores mais pequenos ocorrido nas estações do litoral (idem).
3.5. Hidrologia
3.5.1 Hidrogeologia
Na região existem numerosas captações feitas por poços ou por furos que aproveitam as
águas dos depósitos de praias e de terraços, e das areias de dunas. A base destes
sedimentos, muito permeáveis, contacta, geralmente, com as camadas impermeáveis das
argilas cretácicas ou dos xistos anteordovícicos, proporcionando a formação de aquíferos
freáticos de baixa qualidade aproveitados, principalmente, para a irrigação agrícola.
Geralmente estas captações não apresentam, por norma, qualidade para o abastecimento
público.
Muito mais importantes como reserva aquífera para abastecimento público, são os níveis
aquíferos confinados das camadas greso-argilosas, da base do Senoniano, e das camadas
areníticas, do Cenomaniano-Albiano-Apciano (Arenitos de Requeixo). A estes níveis são
captadas águas para abastecimento público de Aveiro, de Ílhavo e de Vagos. As camadas
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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aquíferas evidenciam uma depressão no substrato, de direção SE/NW, situada no intervalo
entre Aveiro e Ílhavo, aprofundando-se para NW (TEIXEIRA e ZBYSZEWSKI, 1976 apud
BENTA, 2007). Estas captações profundas encontram os níveis aquíferos a profundidades
que não ultrapassam os 300 metros (BENTA, 2007).
3.5.2. Hidrologia
A Ria de Aveiro caracteriza-se como um corpo de água baixo e ramificado, com 45km de
comprimento e 10km de largura, que cobre uma área de cerca de 47km² na maré cheia e
43km² na maré baixa. Os volumes de água do mar que entram na laguna variam entre 25 e
90 milhões de m³ , para amplitudes de maré na ordem de 1 a 3m, respetivamente
(BORREGO et al. 1994). As correntes de circulação das massas de água geram forças e
arrastamento que provocam a movimentação dos sedimentos arenosos e lodosos que a
formam, estabelecendo-se situações de equilíbrio dinâmico que condicionam a morfologia
lagunar (BORREGO et al. 1994). A sua ligação ao mar dá-se através de uma barra existente
no cordão litoral, a barra de Aveiro, aberta artificialmente em 1808.
Os principais cursos de água afluentes à ria de Aveiro são o rio Vouga, o rio Antuã, o rio
Boco e a ribeira da Corujeira, dos quais apresentamos algumas das suas principais
características:
O rio Vouga, com uma bacia hidrográfica de 2.673km², desagua no canal Principal.
Os principais afluentes são o rio Caima na margem direita e o rio Águeda na margem
esquerda, este com um importante subafluente, o rio Cértima. A área da bacia
hidrográfica do Caima é de 196,4km² e a do Águeda de 971,8km², dos quais
541,4km² pertencem ao rio Cértima.
O rio Antuã desagua na zona interior do canal de São Jacinto e a sua bacia
hidrográfica ocupa uma área de 149,2km².
As bacias hidrográficas dos rios Vouga e Antuã representam cerca de 75% da área
drenante para a Ria.
O rio Boco desagua na zona interior do canal de Ílhavo e a ribeira da Corujeira
desagua na zona interior do canal de Mira por intermédio de um conjunto afluentes e
de valas.
Mas as massas hídricas em presença permitem destacar algumas lagoas de água doce,
cujas mais significativas são a Pateira de Fermentelos e a Pateira de Frossos.
A Pateira de Fermentelos constitui um alargamento do rio Cértima, antes da sua
confluência com o rio Águeda e é alimentada também pela ribeira do Pano.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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A Pateira de Frossos é uma pequena massa de água pantanosa na margem do rio
Vouga.
A Ria tem uma tendência natural para o assoreamento, pelo que, para contrariar esta
tendência têm vindo a ser efetuadas regularmente obras de dragagem, verificando-se assim
que, em média, a profundidade da ria de Aveiro aumentou 0,4m entre 1952/53 e 1987/88.
No entanto, estas obras abrangeram principalmente as áreas portuárias, incluindo o canal
de São Jacinto/Ovar, o canal do Parrachil e o canal do Espinheiro.
Nas zonas mais espraiadas da Ria de Aveiro, onde não houve dragagens, regista-se, pelo
contrário, uma tendência geral para o assoreamento.
Estas obras de expansão do porto foram responsáveis por algumas modificações
significativas na circulação da água na laguna. O aumento da profundidade dos canais nas
áreas do porto favorece a progressão da água salina, o que se traduz por uma diminuição
da disponibilidade de água doce para irrigação, causando a salinização dos solos e
modificando, deste modo, os padrões de salinidade e condições de vida da laguna. Este
problema tem levado ao estudo de construção de diques que evitem a intrusão salina nos
campos agrícolas, sobretudo no Baixo Vouga Lagunar (CONDE, 2007).
Simultaneamente, e como aspeto positivo, a Ria de Aveiro contribui para um natural controlo
da eutrofização das águas lagunares.
Atualmente, o aprofundamento dos canais para navegação de navios de maior calado tem
provocado o aumento da amplitude das marés devido à extração de grandes massas de
areia e lodo, permitindo assim a entrada na laguna de um maior volume de água do mar.
É ainda importante notar a tendência para o recuo contínuo da linha de costa, relacionado
com o período transgressivo e acentuado pelas inúmeras ações antrópicas, entre Espinho e
cabo Mondego, verificada no período de 1954 a 1990 (BORREGO et al. 1994).
A sul da Torreira, principalmente junto do molhe Norte da Barra de Aveiro, ocorreu uma
grande acumulação até cerca de 1984 e em 1990 foi observável um ligeiro recuo entre a
praia de S. Jacinto e o molhe Norte da Barra. No troço entre a Praia da Barra até ao Sul da
Praia da Vagueira, a tendência global é para um forte recuo (CONDE, 2007).
Tratando-se de uma área topograficamente plana, ela é, todavia, contrastada pela existência
de uma escarpa que, a Nordeste, assinala a linha de costa anterior ao desenvolvimento dos
processos sedimentares que deram origem à faixa lagunar. A zona litoral formada pela
laguna, por depósitos de areias e de praia apresenta uma ligeira inclinação de Norte para
Sul ( o que ajuda a explicar o amplo desenvolvimento do canal que se estende em direção a
Mira). A Sudoeste, o rio Vouga desenvolve uma extensa planície aluvial com 3 a 5m acima
do nível do mar, que está sujeita a inundações.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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O cordão litoral é marcado por uma sequência de cotas superiores a 10m de altitude (10 a
16m, sensivelmente), no sentido Nordeste/Sudoeste. Este cordão dunar separa as faixas de
praias marinhas e lagunares.
A topografia suavemente ondulada da zona de transição, com cotas inferiores a 100m, é
marcada, pontualmente, por uma vertente Norte-Sul. A instalação nesta zona das linhas de
água que correm de Este para a laguna é responsável por uma sequência de perfis de vales
encaixados, por vezes de mais de 50m, alternando com secções de vales mais largos
(CONDE, 2007).
3.6. Evolução Morfologia
A Ria de Aveiro corresponde, em boa medida, a uma formação sedimentar recente cujas
formas atuais têm origem no período pós-glaciar de subida rápida do nível do mar. Durante
esta subida a faixa costeira ficou submersa e os vales dos rios foram inundados pelo mar.
Os rios, as ondas com as correntes litorais associadas e as correntes de maré transportam
sedimentos que tendem a depositar-se nas áreas mais calmas. Os estuários e as lagunas
costeiras desenvolvem-se, geralmente, em formações sedimentares nas quais predominam
processos de acumulação de materiais detríticos, e onde a acumulação pode ser rápida.
As bacias estuarinas são muito variadas, quer em termos de forma quer em termos de
génese, e podem ser classificadas de acordo com a sua morfologia ou com a sua estrutura
salina. Em ambos os casos depende, entre outros factores, do modo como a água doce do
rio se mistura com a água salgada do mar em resultado das correntes provocadas pela
descarga de água doce e pelas marés.
Segundo MARINHEIRO (2008), de acordo com a classificação dos estuários proposta por
PRITCHARD (1952)8, na década de 50, a Ria de Aveiro pode ser incluída no tipo
morfológico “Estuário fechado por barras de areia”. As suas características específicas
resultam do sistema de barras de areia ter, neste caso, um grande desenvolvimento ao
longo da costa, o qual ultrapassa muito a área onde entra o principal rio (Vouga), incluindo,
por isso, vários outros rios que desaguam na massa de água estuarina em pontos distantes
da foz do Rio Vouga. Por esta razão a Ria de Aveiro tem também características lagunares,
sendo a sua massa de água influenciada pela contribuição dos vários rios afluentes.
8 Na obra “Estuarine hydrography” publicada em 1952, Pritchard considera os seguintes tipos morfológicos:
- Estuários em planície costeira (vales submersos de rios); - Estuários fechados por barras de areia (vales de rios submersos em que a sedimentação recente foi suficientemente importante para competir com a subida do nível do mar); - Fiordes (vales profundos de origem glaciar); - Outros (origem tectónica); Por sua vez, a classificação dos estuários com base na estrutura salina estabelece os seguintes tipos: - Bem misturado (na secção transversal observa-se homogeneidade vertical da salinidade, podendo ocorrer variação lateral); - Parcialmente misturado (na secção transversal observa-se variação transversal observa-se variação vertical da salinidade);
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Analisando a morfologia da Ria de Aveiro podemos descrevê-la como um sistema de canais
de grande desenvolvimento longitudinal, e organizados em forma arborescente por
ramificações sucessivas a partir do ponto único de comunicação com o mar (cfr. fig.1). Os
extremos dos vários canais transformam-se no leito dos vários rios afluentes. Em cada um
destes canais pode observar-se a existência de um pequeno sub-estuário com
características de estrutura salina específicas e influenciando também o campo de
salinidade de todo o sistema. Digamos que, na prática, estamos perante uma estrutura do
tipo fractal, na medida em que o princípio de auto-semelhança de qualquer parte do todo
está bem presente em qualquer das sub-unidades da ria que se observe.
A Laguna de Aveiro é muito recente e apresenta uma evolução muito dinâmica, como é
característico dos sistemas litorais. Sofreu um processo evolutivo que durou
aproximadamente 800 anos e que foi interrompido no século XVIII através da ação humana.
O seu equilíbrio dinâmico tem-se mantido artificialmente, como resultado de constantes
intervenções de engenharia na embocadura e que permitiram a manutenção da ligação ao
mar.
É difícil imaginar locais como aqueles onde hoje se erguem Ovar, Estarreja, Aveiro, Mira ou
Tocha diretamente banhados pelo mar. No entanto, assim foi em tempos recuados, época
em que uma ampla baía antecedeu a laguna contemporânea. Esta última adquiriu a sua
formação atual entre os séculos X e XVII através do desenvolvimento de duas flechas
arenosas, uma progredindo de Espinho para Sul e outra, subindo em latitude a partir do
Cabo Mondego.
A baía localizada entre Espinho e o Cabo Mondego originou a Ria de Aveiro através de
processos de deposição de areias com formação de cordões dunares litorais e de um
sistema de ilhas no interior da laguna que se desenvolveram ao longo de cerca de 800 anos.
A diminuição da influência marinha e o progressivo assoreamento da laguna foram
processos que se acentuaram ao longo da sua evolução e tiveram um efeito importante na
alteração das características ecológicas e sócio-económicas da laguna (CARRABAU, 2005).
O isolamento da laguna do mar provocou profundas alterações sócio-económicas, através
de importantes reduções nas principais atividades lagunares: pesca e salicultura9.
No século XIV, a costa formava um recorte curvilíneo, colocando algumas povoações em
contato direto com o mar, como é o caso de Ovar, Estarreja, Salreu, Angeja, Cacia, Aveiro,
Ílhavo, Vagos, Portomar e Mira, assim como diversos cursos de água tais como os rios
Vouga, Águeda e Antuã. Este facto encontra-se documentado no Portulano de Petrus
Visconti de 1313.
9 É curioso constatar que esta crise económica motivou a intervenção humana numa tentativa de manter aberta a
comunicação com o oceano e assim travar o processo evolutivo natural de assoreamento e isolamento da laguna.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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Com a formação do Cordão Litoral e da Laguna Interior, que se conclui no século XVIII, os
rios Vouga e Águeda passam a desaguar na Ria “… como se fossem raios de um círculo
que nela tivesse o seu centro…” (AMORIM GIRÃO, 1935 apud RODRIGUES, 2007).
A barra foi fixada definitivamente no local onde se encontra atualmente, a 3 de abril de 1808,
marcando o fim de um processo de evolução natural da laguna (RODRIGES, 2007).
Para além da fixação da barra, a construção de um canal artificial com 1,3 km de
comprimento e 350m de largura permitiu o aumento da amplitude das marés na Ria,
facilitando a comunicação com o mar (RODRIGUES, 2007). O recurso a dragagens
frequentes do canal permitiu manter a profundidade necessária para a navegação em
direção ao porto de Aveiro, assim como controlar a evolução da Ria. Além disso, as
alterações no regime hidrológico também permitiram uma descarga rápida do escoamento
dos rios, prevenindo a ocorrência de cheias e a acumulação de sedimentos a montante
(BORREGO et al., 2006).
Entre 1949 e 1958 a barra artificial foi sujeita a várias reformulações e o molhe Norte foi
prolongado em 500m (1983-1987). Estas intervenções permitiram melhorar as condições de
navegabilidade da barra, apesar do prolongamento dos molhes ter vindo a condicionar toda
a dinâmica sedimentar local, induzindo modificações na deriva litoral e na evolução da linha
de costa - dinâmica geomorfológica da região e, consequentemente, na sua morfologia. Das
alterações induzidas pelos molhes é de salientar a acumulação de sedimentos a Norte de S.
Jacinto, o desenvolvimento de um banco externo à Ria e a intensificação do recuo da linha
de costa a Sul da barra (RODRIGUES, 2007).
O aumento progressivo do prisma da maré levou a um aumento da salinidade na Ria, de tal
forma que, no inverno durante a maré-alta, a água marinha atinge uma distância de mais
3Km a montante do ecossistema da Ria comparativamente a 1980 (BORREGO et al. 2006).
A barra artificial, que se mantém no mesmo local até hoje, continua a ser uma fonte de
problemas, na medida em que permanece a tendência para o assoreamento da laguna e da
embocadura por ação da deriva litoral que tende a repor os fundos aprofundados
artificialmente (BORREGO et al. 2006).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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4. A ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL RIA DE AVEIRO (PTZPE0004)
4.1. Plano sectorial da Rede Natura 2000
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 115-A/2008, de 21 de julho, veio aprovar o Plano
Sectorial da Rede Natura 2000 (PSRN2000) relativo ao território continental (fig.6).
Tratando-se de um plano sectorial, de acordo com regime jurídico dos Instrumentos de
Gestão Territorial (IGT), este constitui-se como um “instrumento de programação ou de
concretização das diversas políticas com incidência na organização do território”,
estabelecendo, entre outros aspetos, “a articulação da política sectorial em causa com os
demais instrumentos de gestão territorial aplicáveis”. Assim, o PSRN2000 constitui um
instrumento, de âmbito nacional, que vincula as entidades públicas (central e local),
estabelecendo princípios e regras a definir em instrumentos de gestão territorial vinculativos
para particulares.
Figura 6 - Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SIC e ZPE). Elaboração própria. Fonte: ICNB
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Este plano foi elaborado à escala (1:100.000) para o território continental identificando uma
lista de Sítios, estabelecidos com base nos critérios da Diretiva Habitats e as áreas
classificadas como Zonas de Proteção Especial (ZPE), criadas ao abrigo da Diretiva Aves10.
Este Plano caracteriza os habitats naturais e seminaturais presentes nos Sítios e ZPE e
define as orientações estratégicas para a gestão do território abrangido por aquelas áreas
de modo a garantir a sua conservação.
4.1.1. A Rede Natura 2000
A Rede Natura 2000 pode caracterizar-se como uma rede ecológica para o espaço
Comunitário da União Europeia resultante da aplicação das Diretivas nº 79/409/CEE
(Diretiva Aves) e nº 92/43/CEE (Diretiva Habitats) que tem como finalidade assegurar a
conservação a longo prazo das espécies e dos habitas mais ameaçados da Europa,
contribuindo para estancar a perda de biodiversidade. Constitui o principal instrumento para
a conservação da natureza na União Europeia.
A Rede Natura 2000, que se aplica-se também ao meio marinho, é composta por:
Zonas de Proteção Especial (ZPE), estabelecidas ao abrigo da Diretiva Aves, que se
destinam essencialmente a garantir a conservação das espécies de aves, e seus
habitats, listadas no seu Anexo I, e das espécies de aves migratórias cuja ocorrência
seja regular;
Zonas Especiais de Conservação (ZEC), agora designadas de Sítios de Importância
Comunitária (SIC), criadas ao abrigo da Diretiva Habitats, com o objetivo expresso
de "contribuir para assegurar a Biodiversidade, através da conservação dos habitats
naturais (Anexo I)11 e dos habitats de espécies da flora e da fauna selvagens (Anexo
II), considerados ameaçados no espaço da União Europeia".
Nestas áreas de importância comunitária para a conservação de determinados habitats e
espécies, as atividades humanas deverão ser compatíveis com a preservação destes
valores, visando uma gestão sustentável do ponto de vista ecológico, económico e social.
A garantia da prossecução destes objetivos passa necessariamente por uma articulação da
política de conservação da natureza com as restantes políticas sectoriais, nomeadamente,
agrossilvopastoril, turística ou de obras públicas, por forma a encontrar os mecanismos para
que os espaços incluídos na Rede Natura 2000 sejam espaços vividos e geridos de uma
forma sustentável.
10
De ambas as Diretivas daremos conta em fase mais adiantada do trabalho. 11
Neste capítulo sempre que nos referimos a Anexo (I, II, II…) referimo-nos aos anexos das respetivas Diretivas e não a Anexos do trabalho.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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4.1.2. Diretiva Aves
A Diretiva Comunitária 79/409/CEE visa a conservação de todas as espécies de aves que
ocorrem naturalmente no estado selvagem no território europeu dos Estados-membros ao
qual é aplicável o Tratado. Para a concretização deste objetivo, cada um dos Estados
Membros tomará as medidas necessárias para garantir a proteção das populações
selvagens das várias espécies de aves no seu território da União Europeia, estabelecendo
um regime geral para a sua proteção e gestão.
Esta Diretiva, que se aplica tanto às aves como aos seus habitats, ovos e ninhos, impõe a
necessidade de proteger áreas suficientemente vastas de cada um dos diferentes habitats
utilizados pelas diversas espécies, regulamenta o comércio de aves selvagens, limita a
atividade da caça a um conjunto de espécies e em determinadas condições e períodos e
proíbe certos métodos de captura e abate
Inclui uma lista com espécies de aves que, conjuntamente com as espécies migradoras de
ocorrência regular, requerem a designação de Zonas de proteção especial, isto é, as
espécies para as quais cada Estado Membro da União Europeia deverá classificar as
extensões e os habitats do seu território que se revelem de maior importância para a sua
conservação (Anexo I).
4.1.3. Diretiva Habitats
A Diretiva 92/43/CEE tem como principal objetivo contribuir para assegurar a conservação
dos habitats naturais (Anexo I) e de espécies da flora e da fauna selvagens (Anexo II), com
exceção das aves (protegidas pela Diretiva Aves) considerados ameaçados no território da
União Europeia.
Cria uma rede ecológica coerente de Zonas Especiais de Conservação (ZEC), selecionadas
com base em critérios específicos (Anexo III) com o nome de Rede Natura 2000, que
também inclui as Zonas de Proteção Especial (ZPE) designadas ao abrigo da Diretiva Aves.
Estabelece ainda um regime de proteção estrito das espécies selvagens constantes do seu
Anexo IV, que identifica as espécies da fauna e flora selvagens que requerem uma proteção
rigorosa, mesmo fora das áreas que integram a Rede Natura 2000. Esta Diretiva regula a
captura, o abate, a colheita das espécies, a detenção, o transporte e o comércio, bem como
a perturbação da fauna e a destruição de áreas importantes para as diferentes fases do seu
ciclo de vida. No Anexo V figuram as espécies de interesse comunitário cuja captura na
natureza e exploração pode ser objeto de medidas de gestão. O Anexo VI contém uma lista
dos métodos e meios de captura e abate e meios de transporte proibidos.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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4.2. Caracterização da ZPE Ria de Aveiro
A Ria de Aveiro, pela biodiversidade que sustenta, complexidade morfológica e estrutural,
considerável dimensão e, sobretudo, por se tratar de uma região com características
biogeográficas e ecológicas únicas em Portugal, é uma importante área húmida do centro do
país, encontrando-se, por isso, classificada como Zona de Proteção Especial (PTZPE0004)
através do Decreto-Lei n.º 384-B/99, de 23 de setembro. Esta classificação abrange uma
superfície de 51.406,63 ha, 60% dos quais correspondem a área terrestre e 40% a área
marinha, ou seja, 30 669,71ha e 20 736,92ha, respetivamente (tabela 2).
Tabela 2 - Ocupação da área da ZPE por concelho. Fonte: ICNB
CONCELHO ÁREA(ha) % DO
CONCELHO OCUPADA
%DA ZPE NO CONCELHO
Águeda 2.115.476 6% 4%
Albergaria-a-Velha 1.831.804 12% 4%
Aveiro 9.574.323 49% 19%
Estarreja 2.749.201 26% 5%
Ílhavo 2.298.560 31% 4%
Mira 359.092 3% 1%
Murtosa 5.839.115 81% 11%
Oliveira do Bairro 731.323 8% 1%
Ovar 3.031.323 21% 6%
Vagos 1.512.910 9% 3%
A Ria constitui uma área importante do país, por acolher diversas espécies de aves
migratórias e avifauna nidificante, verificando-se a ocorrência de diversas espécies (Anexo I)
abrangidas pela referida Diretiva. É, como já referimos, uma importante e extensa zona
húmida, caracterizada por um sistema lagunar complexo, constituído por uma rede principal
de canais de maré permanentemente ligados e por uma zona terminal de esteiros com
canais estreitos e de baixas profundidades sendo ligada ao mar através da barra de Aveiro.
Destaca-se a existência de extensas áreas de sapal, salinas, áreas significativas de caniço e
importantes áreas de bocage, associadas a áreas agrícolas, onde se incluem as abrangidas
pelo Aproveitamento Hidro-Agrícola do Vouga. Estas áreas apresentam-se como
importantes locais de alimentação e reprodução para diversas espécies de aves, sendo que
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a área alberga regularmente mais de 20.000 aves aquáticas, e um total de cerca de 173
espécies, com particular destaque para o elevado número de aves limícolas.
De notar que a ZPE suporta, regularmente, mais do que 1% da população biogeográfica de
Alfaiate (Recurvirostra avosett), de Negrola Melanitta nigr), de Borrelho-grande-de-coleira
Charadrius hiaticula e de Borrelho-de-coleira interrompida Charadrius alexandrinus e
alberga ainda concentrações significativas de espécies de importância comunitária (Anexo
I). Refere-se ainda a importância da Ria de Aveiro para várias espécies de passeriformes
migradores.
4.3. Valores Naturais
No Baixo Vouga Lagunar destacam-se, fundamentalmente, quatro grandes unidades de
paisagem: o bocage, os sistemas húmidos, o campo aberto e a floresta. Esta classificação,
resulta da quantidade e qualidade da água presente na região, aspetos que determinam por
sua vez as características do solo e, consequentemente, as diferentes utilizações que dele
podem ser feitas.
A paisagem de Bocage é um tipo de habitat raro em Portugal, caracterizado pela
compartimentação do espaço rural através de sebes vivas, normalmente constituídas por
salgueiros, amieiros, carvalhos, pilriteiros e sabugueiros, e onde se pode encontrar uma
elevada diversidade faunística.
Os sistemas húmidos, pelas inúmeras funções ecológicas que desempenham, representam
um habitat de elevada importância, sendo sobretudo dominados na região, por formações
vegetais como o juncal e o caniçal.
Na paisagem de campo aberto observam-se importantes produções agrícolas, o que confere
à região grande importância socio-económica.
Já a norte de Aveiro, principalmente junto à faixa dunar é a floresta a que mais se destaca,
sendo a mancha mais importante a correspondente à Reserva Natural das Dunas de S.
Jacinto.
Associado a estas unidades de paisagem, a ria de Aveiro apresenta uma riqueza faunística
notável, estando grande parte das espécies presentes protegidas por convenções
internacionais.
De acordo com UNIR@RIA ( 2007), a fauna da ria de Aveiro possui uma vasta lista de
espécies já inventariadas entre a quais:
21 espécies de mamíferos,
173 espécies de aves,
9 espécies de répteis,
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12 espécies de anfíbios,
64 espécies de peixes.
A nível da avifauna, 80 (46%) das 173 espécies inventariadas constam do anexo II da
Convenção de Berna como "estritamente protegidas", enquanto 131 são consideradas
"protegidas" pela mesma Convenção.
Das 19 espécies de patos inventariadas, 5 são consideradas raras ou vulneráveis em
Portugal no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Das 31 espécies de aves
limícolas, 3 são consideradas raras ou vulneráveis. Ambas as espécies de cegonhas são,
também, consideradas ameaçadas, bem como uma das espécies de garças. As aves de
rapina estão representadas com 3 espécies ameaçadas (uma delas "em perigo"), outras
tantas com estatuto "indeterminado" e ainda uma "insuficientemente conhecida".
A Ria alberga, ainda, mais de 1% dos efetivos da população de Alfaiate (Recurvirostra
avosetta) e de Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula), o que permite, por si só, a
sua inclusão na Lista das Zonas Húmidas de Importância Internacional, de acordo com a
Convenção de Ramsar12.
Quanto aos mamíferos, a Lontra (Lutra lutra), que ocorre em muitos canais da Ria, é
também considerada "estritamente protegida", sendo, por exemplo, o Ouriço-cacheiro
(Erinaceus europaeus) indicado no Anexo V considerados como espécie "protegida".
No que respeita aos anfíbios, 4 das espécies presentes são consideradas "estritamente
protegidas", e uma outra, o Tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai) é um endemismo na
zona oeste da Península Ibérica. Uma das espécies da repteis é, também, considerada
estritamente protegida e o Largarto-de-água (Lacerta schreiberi) é um endemismo da zona
oeste da Península Ibérica. De acordo com a Convenção de Berna, todas as espécies de
anfíbios e repteis constantes no Anexo III, são consideradas protegidas (Anexo III) .
Relativamente aos invertebrados, foram inventariados cerca de 230 espécies na
componente macrozoobentónica13 e cerca de 100 espécies na componente
macrozooplanctónica14.
12
Convenção de Ramsar é uma convenção sobre zonas húmidas e constitui um tratado inter-governamental adotado em 2 de fevereiro de 1971, na cidade iraniana de Ramsar, relativo à conservação e ao uso racional das zonas húmidas. Deste então, e até hoje, já assinaram esta convenção cerca de 150 países, entre os quais Portugal, que contribui com 17 sítios Ramsar para os cerca de 1430 existentes nos cinco continentes (Fonte: Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade). 13
As comunidades de invertebrados bentónicos são formadas por animais subaquáticos que vivem sobre ou enterrados no substrato do fundo do mar. Englobam vários grupos distintos, como os cnidários (anémonas), os anelídeos (minhocas), os moluscos (bivalves e búzios) e os artrópodes (isópodes, anfípodes, camarões e caranguejos), que constituem alimento para uma importante diversidade de peixes e aves. 14
A comunidade macrozooplanctónica é formada por pequenos crustáceos, moluscos, vermes aquáticos, entre outros. São importantes na manutenção do equilíbrio do ambiente aquático, podendo atuar como reguladores da comunidade fitoplanctônica (utilizando-a como alimento) e na reciclagem de nutrientes, além de servirem de alimento para diversas espécies de peixes.
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4.3.1 Biótopos Corine
O Projeto Biótopos Corine teve como objetivo efetuar uma compilação das componentes
físicas e biológicas mais importantes para a Conservação do Meio Ambiental na
Comunidade Europeia. Os locais incluídos no Projeto Biótopos caracterizam-se pela
existência, na área, de espécies florísticas e faunísticas vulneráveis e de unidades
fitossociológicas, pelo "valor do Sítio" relativamente a certo nível taxonómico e "valor do
Sítio relativamente a um sintaxon de unidades", assim como pelo valor geológico,
geomorfológico ou paisagístico do Sítio.
Embora os biótopos Corine não tenham valor legal, na realidade são indicativos de
sensibilidade da área como é o caso da ZPE da Ria de Aveiro, e serviram de base ao
levantamento realizado para a construção da lista da Rede Natura, sendo o seu zonamento,
em parte, coincidente com estas áreas.
A Ria de Aveiro apresenta-se na sua totalidade identificada como biótopo CORINE
(C12100019), juntamente com outros 11, assumindo estes uma posição de sub-biótopo, já
que estão integrados dentro da sua área.
4.4. Uso do Solo
Apesar da importância dos biótopos CORINE para a quantificação do valor ecológico da
área em estudo, a classificação dos biótopos da ZPE (fig.7) foi elaborada com base na carta
Corine Land Cover 2006, que atualiza a ocupação do solo entre 2000 e 2006, no
seguimento das anteriores, CLC90 e CLC00.
A classificação do uso do solo, através da carta Corine Land Cover, está dividida em 3
níveis (Nível 1 = 5 classes; Nível 2 = 15 classes; Nível 3 = 44 classes), permitindo ser
adaptada ás necessidades especificas de cada estudo, e sintetizar as suas 44 classes.
Assim, para este estudo utilizou-se a classificação de Nível 1, com a inclusão de duas
classes, “Praias, dunas e areias” (3.3.1 – classificação nível 3) e “Oceano” (5.2.3 –
Classificação nível 3), que foram separadas das suas classes de nível 1, “Florestas e meios
naturais e semi-naturais” e “Corpos de água” respectivamente.
O objectivo desta classificação adaptada prende-se basicamente com a necessidade de
adotarmos um critério único no que respeita à descrição dos valores naturais, fauna e flora,
assim como à elaboração da carta de distribuição da fauna (ponto 4.5. deste capítulo).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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Figura 7 - Carta de reclassificação do uso do solo da ZPE ria de Aveiro. Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Corine Land Cover 2006
Assim, como resultado da nova classificação, a ZPE Ria de Aveiro foi classificada em 7
classes distintas (gráfico 4):
Territórios artificializados;
Áreas agrícolas e agroflorestais;
Florestas e meios naturais e seminaturais;
Zonas húmidas;
Corpos de água;
Praias, dunas e areias;
Oceano.
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Gráfico 4 - Área ocupada por cada biótopo na ZPE (%).
De acordo com a classificação do uso do solo e tendo em consideração os valores florísticos
e faunísticos presentes, apresenta-se de seguida uma descrição sumária duas unidades
atrás descritas
4.4.1 Territórios artificializados
Os territórios artificializados correspondem à área menos expressiva dentro dos limites da
ZPE, e dele fazem parte basicamente o tecido urbano(fig.8) e as áreas industriais.
Nos estudos consultados não há qualquer referência à fauna e à flora; no entanto, os
estudos de fauna e flora urbana podem-nos trazer algumas surpresas, nomeadamente aos
mais céticos, os que acham que o meio urbano não tem qualquer vida selvagem associada.
Figura 8 – Áreas habitacionais na Ria de Aveiro. Casa típica da Costa Nova.
3%
19%
10%
14%10%
2%
42%
Territórios artificializados
Áreas agrícolas e agro-florestais
Florestas e meios naturaise semi-naturais
Zonas húmidas
Corpos de água
Praias, dunas e areias
Oceano
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4.4.2. Áreas agrícolas e agroflorestais (bocage, campos de arroz e pequenos bosques
ripícolas)
Flora
Como consequência da intervenção humana, as espécies do bosque ripícola estão
organizadas em sebes que delimitam campos de pastagens ou de outras culturas de
regadio, formando um sistema agrícola designado por "bocage" (UNIR@RIA, 2007).
Neste tipo de sistema, nomeadamente (fig.9) a vegetação arbórea é dominada pelo Amieiro-
negro (Frangus alnus) e pelo Salgueiro-preto (Salix atrocinerea).
Figura 9 – Paisagem de “Bocage” do Baixo-Vouga lagunar
Tabela 3 - Espécies do estrato herbáceo mais frequentes
Nome comum Nome ciêntifico
Bredo-roxo Amaranthus lividus
Hera Hedera helix
Armoles-silvestres Atriplex prostrata
Mata-jornaleiros Aster squamatus
Camomila-romana Chamaemelum nobile
Leituga-dos-montes Leontodon taraxacoides
Tasneira-da-água Senecio aquaticus
Trepadeira-das-sebes Calystegia sepium subsp. Sepium
Marroio-de-água Lycopus europaeus
Erva-coelheira Lotus pedunculatus
Salgueirinha Lythrum salicaria
Alfacinha-do-rio Samolus valerandi
Erva-do-pobre Ranunculus flammula
Baldélia-ranunculada Baldellia ranunculoides
Erva-fina Agrotis stolonifera
Milhã Digitaria sanguinalis
Graminhão Paspalum paspalodes
Caniço Phragmites australis
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Nas sebes, onde a diversidade florística é maior, ocorrem espécies arbóreas como o
Carvalho (Quercus robur), o Loureiro (Laurus nobilis), o Amieiro (Alnus glutinosa), o Freixo
(Fraxinus angustifolia) e Salgueiros (Salix alba e Salix sp.). Para além das espécies
arbóreas, ocorrem algumas espécies arbustivas e trepadeiras (Crataegus monogyna, Rubus
sp, Lonicera periclymenum, Ruscus aculeatus, Calystegia sepium, Calystegia soldanella,
Cuscuta australis). No estrato herbáceo estão representadas mais de duas centenas de
espécies, sendo as mais frequentes as constantes da tabela 3.
Fauna
O “Bocage” é um sistema misto constituído por sebes e pastagens, áreas alagáveis e
arrozais, o que o torna um suporte de uma rica comunidade ornitológica, que engloba
Passeriformes, Columbiformes, Cuculiformes, Ciconiidae, Ardeidae, Accipitrioformes,
Falconiformes, Anatidae e Charadriiformes. Entre os diversos taxa referidos, salientam-se o
dos Passeriformes, pela sua maior riqueza em espécies e elevada densidade de indivíduos.
Entre eles destacam-se como grupo mais bem representado as Alvéolas (família
Motacillidae), os Chapins (família Paridae) e as Felosas (família Sylvidae). Relativamente
aos mamíferos salientam-se a Doninha (Mustela nivalis) e a Lontra (Lutra lutra).
Os “arrozais” são utilizados sobretudo como zona de alimentação, destacando-se as
seguintes espécies: Cegonha-branca (Ciconia ciconia), Garça-real (Ardea cinerea) Gaivota-
argntea (Larus argentatus), Pato-real (Anas platyrhynchos), Borelho-grande-de-coleira
(Charadrius hiatícula), o Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa) e Perna-longa
(Himantopus himantopus).
4.4.3. Florestas e meios naturais e seminaturais (dunas arborizadas e bosque ripícola)
Flora
As “dunas arborizadas” localizam-se numa faixa adjacente à duna primária no cordão litoral
norte, entre o Furadouro e São Jacinto e estendem-se mais para o interior sendo
classificadas como “Matas Nacionais”.
Os povoamentos das dunas arborizadas têm uma estrutura muito simplificada,
apresentando na maior parte da sua extensão unicamente espécies do estrato arbóreo,
nomeadamente o Pinheiro-bravo (Pinus pinaster). O estrato arbustivo está presente em
pequenas quantidades e é constituído por espécies tais como, a Acácia (Acacia longifolia), o
Sargaço (Cistus salvifolius), a Giesta-das-sebes (Cytisus grandiflorus), a Giesta-das-serras
Cytisus striatus), a Camarinha (Corema album), o Samouco (Myrica faya), o Tojo-bonito
(Stauracanthus genistoide) e o Tojo-arnal (Ulex europaeus). Nos locais onde o lençol
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freático se torna mais superficial, surgem salgueiros (Salix arenia e Salix atrocinerea) e o
Amieiro (Alnus glutinosa), formando no conjunto uma floresta mista de coníferas e folhosas.
O estrato herbáceo é escasso, sendo frequentes as espécies a Aira praecox (nome comum
desconhecido), a Erva-sapa (Agrostis curtisii), a Erva-pinchoneira (Corynephorus
canescens), a Perpétua-das-areias (Helichrysum italicum), o Bunho (Scirpus holoschoenus)
e a Erva-mata-pulga (Odontites tenuifolia).
Nas áreas em que o estrato arbustivo é muito pobre denota-se a presença de grandes
manchas de líquenes e musgos, no solo e nas árvores.
Os bosques ripícolas (fig.10) desenvolvem-se em solos húmidos ou margens de esteiros e
canais, com uma baixa concentração salina, ou seja, zonas não inundáveis, mas próximas
da água. Na ria de Aveiro demarca-se uma área relativamente contínua desde Salreu até ao
Baixo Vouga.
Em Salreu, a vegetação arbórea é dominada por duas espécies, Amieiro-negro (Frangula
alnus) e o Salgueiro (Salix atrocinerea). No Baixo Vouga encontram-se espécies arbóreas
tais como o Carvalho (Quercus robur), o Loureiro (Laurus nobilis), o Amieiro (Alnus
glutinosa), o Freixo (Fraxinus angustifolia), várias espécies de Salgueiros (Salix alba, Salix
sp.) e a Tamargueira (Tamarix africana), nas áreas junto ao sapal.
Figura 10 – Bosque ripícola constituido principalmente pela associação Amieiro – Salgueiro e Freixo.
Como espécies arbustivas e trepadeiras estão presentes, o Pilriteiro (Crataegus monogyna),
Rubus sp.15, a Madresilva (Lonicera periclymenum), a Gilbardeira (Ruscus aculeatus), a
Trepadeira-das-sebes (Calystegia sepium subsp. Sepium), a Couve-marinha (Calystegia
soldanella) e as Meadas (Cuscuta australis subsp. Tinei).
Fauna
Nas “dunas arborizadas” e nomeadamente na mata de São Jacinto (RNDSJ) existe uma
diversificada comunidade de aves, onde sobressaem como grupos mais representativos as
15
A abreviatura "sp." (zoologia) ou "spec." (botânica) é usada quando o nome da espécie não pode ou não interessa ser explicitado. A abreviatura "spp." (plural) indica "várias espécies".
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aves de rapina diurnas e noturnas e os Passeriformes. O Açor (Accipiter gentilis) e o Bufo
pequeno (Asio otus), têm, ambos estatuto de ameaçados destacando-se entre as aves
rapina.
Este habitat apesar de ser tipicamente florestal é ainda relevante para diversas espécies de
aves aquáticas. Até à década de 80 existiu uma colónia de nidificação mista de Garça-
boeira (Bubulcus ibis) e de Garça-branca (Egretta garzetta).
Existe há 14 anos uma pateira artificial que proporciona condições de sossego e proteção
para as aves invernantes, tendo sido inventariadas 12 espécies de Anatídeos, para além de
outras aves aquáticas. As espécies que merecem destaque são o Pato-real (Anas
platyrhynchos), o marrequinho (Anas crecca), a Piadeira (Anas penelope), a Frisada (Anas
strepera) e a Garça-real (Ardea cinerea) (UNIR@RIA, 2007).
4.4.4. Zonas húmidas (Bancos intertidais e salinas, Sapais e Caniçais)
Flora
Os sapais ocupam solos halomórficos, com quantidades importantes de matéria orgânica. A
vegetação dos sapais tem características dinâmicas e influentes no ecossistema estuarino.
Provoca o intercâmbio entre os sapais e os estuários, ao exportar a matéria orgânica sob a
forma de detritos e ao receber das águas estuarinas nutrientes minerais e orgânicos,
atuando como agente depurador. Este processo confere-lhes uma elevada produtividade, e
como tal condições favoráveis ao desenvolvimento de uma fauna diversificada. Devido ao
fluxo e refluxo da maré, o sapal fica submerso e intervém ativamente nas trocas de
nutrientes solúveis e insolúveis entre o estuário e a água do mar.
As plantas vasculares que constituem os sapais toleram a salinidade e o alagamento
periódico. As espécies que se observam com mais regularidade nos sapais dos canais de
Mira e de Ovar são:
A Gramata (Sarcocornia perennis), a Salicórnia (Salicornia ramosissima) (fig.11), a
Morraça (Spartina maritima) e a Erva-do-brejo (Triglochin maritima) no sapal baixo;
O Junco-das-esteiras (Juncus maritimus), a Erva-do-brejo (Triglochin maritima) e a
Gramata16 (Halimione portucaloides) a níveis mais elevados;
A Tamargueira (Tamarix africana) surge na transição para o meio terrestre;
O Caniço (Phragmites australis) está mais adaptada às zonas menos húmidas e de
salinidade reduzida.
Nos sapais do Baixo Vouga a diversidade existente é mais elevada quando comparada com
os acima descritos, existindo mesmo espécies não típicas. Destacam-se como espécies
16
Nome vulgar atribuído a várias espécies tais como a Sarcocornia perennis, a Salicornea europaea, a Salicornia ramosissima (mais conhecida por Salicónia) e Halimione portucaloides.
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mais abundantes e frequentes, o Malmequer-da-praia (Aster tripolium), a Serralha-da-praia
(Sonchus maritimus), a Alface-dos-rios (Samolus valerandi), o Caniço (Phragmites australis)
e vários Juncos como o Scirpus maritimus, o Juncus maritimuse e a Triglochin striata.
De acordo com a Diretiva 92/43/CEE, relativa à preservação dos habitats naturais e da
fauna e flora selvagens, os sapais com vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies
dos lodaçais são um tipo de habitat de interesse comunitário.
Os caniçais são formações quase puras de Caniço (Phragmites australis), que ocorrem
sobretudo nas zonas da periferia nascente da laguna, em locais de baixa salinidade,
fazendo a transição para o meio terrestre e dulçaquícola. Em algumas áreas da laguna
formam grandes manchas, muito densas.
Figura 11 - Fotos da Salicórnia e do Junco.
Fauna
Os bancos intertidais mais extensos na zona central em associação com o delta do rio
Vouga, apresenta uma abundante fauna bentónica, sobretudo nas zonas de maior influência
marinha. Estas vasas são importantes como áreas de alimentação das populações de
limícolas invernantes que utilizam a Ria. As “salinas” constituem um importante habitat
alternativo para as aves limícolas invernantes, pois não só proporcionam alimento, mesmo
durante a preia-mar, como também refúgio de maré alta e abrigo contra o vento.
Da abundante fauna bentónica rica em espécies que caracteriza os bancos intertidais
destacam-se os bivalves, que constituem uma importante fonte de rendimento dos
profissionais da pesca das várias comunidades ribeirinhas. As aves, essencialmente as
limícolas, também beneficiam desta riqueza, utilizando os bancos intertidais como habitat de
alimentação.
As salinas acolhem 45% dos efetivos invernantes na Ria, embora as ilhas acolham um
maior número de espécies. As espécies Pilrito comum (Calidris. alpina), Perna-vermelha
(Tringa totanus), Maçarico-de-bicodireito (Limosa limosa) e o Maçarico-das-rochas (Actitis
hypoleucos) são as espécies a destacar nas salinas, pela importância que assumem no
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contexto dos efetivos invernantes na laguna. Registe-se que duas das três espécies que
nidificam na ria de Aveiro, utilizam como habitat preferencial, as salinas. A população
nidificante do Perna-longa (Himantopus himantopus) depende quase exclusivamente das
salinas (IDAD, 1994 apud UNIR@RIA, 2007).
Destacam-se ainda no contexto nacional as espécies que apresentaram, em 1993, efetivos
superiores a 20% dos totais nacionais, são elas o Borrelho-grande-de-coleira
(Calidris.hiaticula), o Pilrito comum (Calidris alpina), o Maçarico-das-rochas (Actitis
hypoleucos) e a Tarambola dourada (Pluvialis apricaria). Merece ainda relevo, entre as
outras espécies o Alfaiate (Recurvirostra avosetta) espécie considerada vulnerável e cuja
população invernante é importante na ria de Aveiro, mas também a nível nacional,
representando, em 1993, 7% da população.
No que diz respeito aos sapais, para UNIR@RIA, 2007 segundo o Relatório R 3.2 (IDAD,
1994), a ecologia dos “sapais” da ria de Aveiro é praticamente desconhecida,
nomeadamente no que respeita às relações tróficas. Torna-se, no entanto, evidente que
este habitat apresenta uma diversificada fonte de alimento para certas aves, nomeadamente
para a Garça-vermelha (Ardea purpurea), a Garça-real (Ardea cinerea) e a Garça-branca-
pequena (Egretta garzetta), aves de rapina como o Milhafre-preto (Milvus milvus) e Águia-
sapeira (Circus aeruginosus) e ainda algumas espécies de passeriformes. Os sapais são
também utilizados como dormitório pelas garças e como refúgio de maré alta pelas
limícolas.
O habitat “caniçais” desempenha um papel de grande importância para as aves, pois
proporciona-lhes alimento abundante, condições favoráveis para abrigo e nidificação de
várias espécies. Nos caniçais nidificam e alimentam-se diversas espécies de Rallidae17,
Motacilidae18 e Sylvidae19, o Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis), o Pato-real (Anas
platyrhynchus), a Garça-pequena (Ixobrychus minutus), e as duas espécies consideradas
vulneráveis em Portugal a Garça-vermelha (Ardea purpurea) e a Águia-sapeira (Circus
aeroginosus). Os efetivos destas espécies, na ria de Aveiro, assumem importância no
contexto nacional, em especial a Águia-sapeira, com uma população de cerca de 30 % do
total nacional. A importância dos caniçais verifica-se também na época de inverno, onde
acolhem dormitórios de Águia-sapeira e de diversos passeriformes.
17
Rallidae é uma família de aves Gruiformes que inclui as saracuras, sanãs, galinhas-d'água, pintos-d'água, frangos-d'água e carquejas. 18
Motacilidae é a subfamília de aves passeriformes que inclui as petinhas, os caminheiros e as alvéolas. O grupo conta com cerca de 58 espécies, classificadas em cinco géneros. 19
Sylvidae é uma família de aves da ordem Passeriformes, onde se classificam a maioria das felosas e toutinegras.
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4.4.5. Corpos de água
Flora
Este habitat caracteriza-se pela existência de uma cobertura vegetal denominada moliço,
constituída por plantas vasculares e algas. O moliço apresenta uma composição variável
consoante a localização, dado os gradientes de salinidade se alterarem ao longo dos canais.
No entanto, as espécies de plantas vasculares que o constituem são basicamente a
Zostera marina, Zostera noltii, Potamogeton pectinatus, Ruppia cirrhosa e Ruppia maritima.
Para além das plantas vasculares, são também constituintes do moliço algumas algas20,
sendo as dominantes as carófitas Laprothamnium populosum e Chara sp., a rodófita
Gracillaria verrucosa e as clorófitas Ulva sp., Enteromorpha sp. e espécies filamentosas
(SILVA, 1985 apud UNIR@RIA, 2007).
A área de moliço tem vindo a decrescer, provavelmente devido ao aumento do
hidrodinamismo nos canais da Ria e ao aumento de salinidade das águas. As manchas mais
importantes ocorrem no canal de Ovar e no extremo sul do canal de Mira.
Na zona húmida das lagoas de água doce podemos distinguir dois habitats: a vegetação do
leito da lagoa e a vegetação das margens e pequenas ilhas, apenas parcialmente submersa.
No primeiro caso, a vegetação do leito é constituída por plantas vasculares, que incluem a
Serralha (Potamogeton sp), a Erva-pinheirinha (Myriophylum aquaticum), a Urticulária
(Utricularia australis), o Rabo-de-raposa (Ceratophylum demersum) e a Elódea-comum
(Elodea canadensis), para além de algas microscópicas como Chara sp e Nitella sp. A
vegetação marginal é dominada pelo Caniço (Phragmites australis) que forma manchas
densas. Para além do caniço, as espécies mais frequentes são os Juncos Eleocharis
palustris e Eleocharis multicaulis, o Bunho (Scirpus lacustris) e a Tabúa (Thypha latifolia).
Fauna
No habitat “corpos de água” apenas o zooplâncton e o necton são relativamente bem
conhecidos na Ria. Encontram-se também, interagindo com a massa de água, os
organismos que vivem associados ao leito, os bentos (ou bentonitos). Relativamente ao
holoplâncton21 verifica-se que é sobretudo constituído por copépodes e cladóceros e o
meroplâncton por estádios larvares de gastrópodes, bivalves, decápodes e poliquetas e por
ovos e larvas de peixes. A componente animal de macrobentos está representada
essencialmente por poliquetas, moluscos e crustáceos (decápodes, isópodes e anfípodes),
enquanto a componente vegetal macrobentónica é constituída sobretudo por plantas
20
Não conseguimos encontrar a denominação comum das espécies mencionadas. 21
Holoplâncton é o conjunto dos organismos que passam todo o seu ciclo de vida na coluna de água, fazendo parte do plâncton.
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vasculares e por algumas espécies de algas macroscópicas, que constituem o moliço.
Saliente-se que a meiofauna22, a microfauna e a microflora da ria de Aveiro, são
taxocenoses23 ainda desconhecidas.
Já o necton24 é bastante diversificado tendo-se registado na década de 80 cerca de 64
espécies de peixes.
Existem quatro categorias ecológicas da ictiofauna que merecem destaque, pela diversidade
de espécies e/ou abundância que apresentam:
espécies marinhas ocasionais, que entram na laguna com as marés. Neste grupo
destacam-se a Sardinha (Sardina pilchardus), o Caboz-negro (Gobius niger), o
Bodião (Symphodus bailoni), a Dourada (Sparus aurata), o Ruivo (Trigla lucerna), o
Peixe-pau-lira (Callionymus lyra), o Rodovalho (Scophtalmus rhombus) e a Galeota-
menor ( Ammodytes tobianus);
espécies marinhas dependentes do meio lagunar, que beneficiam de alimento
existente na laguna, e por outro lado, da proteção que a laguna proporciona durante
as fases juvenis do seu ciclo de vida, destacando-se os Mugilídeos, Lisa aurata, Lisa
ramada e Lisa saliens (as três espécies de Tainha), o Robalo (Dicenthrachus labrax)
e a Solha-das-pedras (Platichthys flesus);
espécies sedentárias, bem adaptadas às condições de instabilidade das
características abióticas da laguna, salientando-se a Atherina presbyter e Atherina
boyeri, ambas conhecidas como Peixe-rei;
espécies migradoras, destacando-se a Enguia (Anguilla anguilla).
Como é referido em IDAD, 1994 no Relatório R6 citado por UNIR@RIA, 2007, “A
abundância de peixe, nomeadamente de pequenas dimensões, como é o caso de espécies
sedentárias, representa um fator importante na manutenção de populações viáveis de aves
e mamíferos que dependem essencialmente deste tipo de alimento. Este é o caso de
espécies de garças, de andorinhas-do-mar e da lontra. Os organismos bentónicos também
assumem grande importância no ecossistema, como fonte de alimento para outros níveis
tróficos.”
As lagoas de água doce incluem-se neste habitat merecendo destaque, a Pateira de
Fermentelos e a Pateira de Frossos. A informação disponível sobre a Pateira é muito
escassa, verificando-se uma total ausência de referências a mamíferos, repteis e anfíbios,
22
A meiofauna ou meiobentos é o conjunto de animais que vivem enterrados no solo ou no sedimento de ecossistemas aquáticos e que ficam retidos em amostras passadas por peneiras com malhas de 0,0045 mm a 0,05 mm. Esses organismos desempenham um importante papel no ciclo de nutrientes e no fluxo de energia dos níveis inferiores para os superiores na rede trófica marinha, estuarina, dos lagos e do solo de ecossistemas terrestres. 23
Taxocenose é um grupo de espécies com identidade taxoonómica (reino, filo, classe...) que pode ou não possuir similaridade nas suas distribuições geográficas ou papéis ecológicos. 24
Em biologia marinha e limnologia chama-se nécton ao conjunto dos animais aquáticos que se movem livremente na coluna de água, com o auxílio dos seus órgãos de locomoção: as barbatanas ou outros apêndices. Fazem parte deste grupo os peixes, a maioria dos crustáceos, os mamíferos marinhos e outros.
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mas havendo, contudo, alguma informação relativa à avifauna e à ictiofauna. Nas pateiras
podem considerar-se duas unidades: a zona húmida, que engloba as águas livres e a
vegetação alagada das margens e ilhas, onde domina o caniço, juntamente com a tabúa e o
bunho e a zona marginal, que engloba o bosque ripícola associado a "bocage".
A zona permanentemente alagada da lagoa é povoada sobretudo por espécies de peixes da
família Cyprinidae como o Pimpão (Carassius sp), o Barbo (Barbus bocagei), o Ruivaco
(Rutilus sp) e a Carpa (Cyprinus carpio). É também citada a ocorrência da Enguia (Anguilla
anguilla) e do Achigã (Micropterus salmoides). As águas da pateira são ainda colonizadas
pelo Lagostim-de-água-doce (Procambarus clarkii), espécie exótica abundante que levanta
problemas ao desenvolvimento das outras espécies.
As águas livres são também utilizadas, como zona de alimentação, por algumas espécies de
aves tais como a Galinha-de-água (Gallinula chloropus), o Galeirão (Fulica atra), o Frango-
de-água (Rallus aquaticus), o Mergulhão (Tachybatus rufocolis) e o Pato-real (Anas
platyrhyncus). Estas espécies utilizam ainda a áreas de vegetação palustre como habitat de
nidificação e proteção. Para além das espécies mencionadas também a Garça-vermelha
(Ardea purpurea), a Garça-branca-pequena (Egretta garzetta), o Guarda-rios (Alcedo athis),
a Águia-sapeira (Circus aeruginosus), a Felosa-uniclolor (Locustella luscinoides) e o
Rouxinol-dos-caniços (Acrocephalus sp), utilizam a vegetação palustre como habitat de
alimentação e/ou nidificação.
Entre os mamíferos, a Lontra (Lutra lutra) merece, pelo seu estatuto de conservação,
atenção especial.
Este mamífero faz uso da zona húmida como local de alimentação, dependendo da zona
marginal da lagoa para se abrigar.
Na zona marginal ocorrem diversas espécies de aves, destacando-se pela sua grande
diversidade, os Passeriformes, entre eles o Papa-moscas (Muscicapa striata), o Pisco-de-
peito-ruivo (Erithacus rubecula), a Toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla), o
Verdilhão (Carduelis chloris), a Carriça (Troglodytes troglodytes) e o Chapim-real (Parus
major). Podem ocorrer ainda aves de rapina como o Milhafre-preto (Milvus migrans) e a
Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo).
4.4.6. Praias, dunas e areias
Flora
As dunas têm características deficitárias para o desenvolvimento do biota, dado serem um
habitat arenoso instável, seco e pobre em nutrientes. Contudo existem espécies,
denominadas pioneiras, que as colonizam dado possuírem processos adaptativos para tal.
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Na faixa de areias em estabilização apenas existem espécies muito resistentes, para
suportarem a ação dos salpicos marinhos, do vento forte, da secura e da quase inexistência
de elementos nutricionais, espécies estas que se referenciam nas linhas abaixo:
O Feno-das-areias (Elymus farctus subespécie boreali – atlanticus) é a espécie
dominante que aparece junto ao limite superior da maré, ocupando locais inóspitos;
O Estorno (Ammophila arenaria subespécie arundinacea) aparece isntalado nas
dunas mais altas, com a tarefa importante de fixar as dunas através do seu sistema
radicular (fig.12).
Existem também inventariadas como espécies com características similares às anteriores, a
Eruca-marinha (Cakile maritima), a Couve-marítima (Calystegia soldanella) e os
Cordeirinhos-da-praia (Otanthus maritimus). As restantes espécies presentes neste habitat
são mais vulneráveis e como tal instalam-se nas zonas mais afastadas da praia, pois as
condições edáficas e microclimáticas favorecem o seu desenvolvimento.
As dunas móveis do cordão litoral com Ammophila arenaria e as dunas fixadas com
vegetação herbácea, são habitats naturais de interesse comunitário abrangidos pela Diretiva
92/43/CEE, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e flora selvagens.
Figura 12 – Foto do Estorno, e da Couve-marítima
Fauna
As praias são utilizadas essencialmente pelas aves invernantes, pois durante o resto do ano
a perturbação neste habitat é intensa. Além das espécies de aves marinhas predominantes
nesta área do litoral português, os Laridae e Sternidae, já referidos, ocorrem neste habitat
algumas espécies de limícolas, com destaque para o Pilrito-da-areia (Calidris alba) e o
Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus). Esta última é uma espécie
citada como nidificante nas dunas litorais, nomeadamente na Reserva Natural das Dunas de
São Jacinto.
Verifica-se ainda que a zona posterior da duna é povoada por uma comunidade de
pequenos mamíferos, que suportam predadores ativos como a Raposa (Vulpes vulpes) e
por diversas espécies de aves de rapina que nidificam na área florestal.
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4.4.7. Oceano ( Zona marinha próxima da costa)
No habitat “zona marinha próxima da costa” destacam-se duas espécies de mamíferos, o
Golfinho-comum (Delphinus delphis), o Bôto (Phocoena phocoena) e as aves marinhas,
invernantes ou com passagem migratória neste local. As famílias de aves mais bem
representadas em número de espécies e/ou número de indivíduos são os Laridae,
Sternidae, Alcidae, Sulidae e Anatidae. A população invernante do Pato-negro (Melanitta
nigra) apresenta importantes concentrações, no contexto nacional, e representa mais de 1%
da população da Europa Ocidental (UNIR@RIA, 2007).
4.5. Distribuição da Fauna
A ria de Aveiro é considerada internacionalmente como Important Bird Area (IBA) e justifica-
se pela presença de uma população residente de Águia-sapeira (Circus aeruginosus - 13
casais), populações nidificantes de Garçote (Ixobrychus minutus - frequente), Garça-
vermelha (Ardea pupurea - 150 a 200 casais), Pernilongo (Himamtopus himamtopus - 50 a
100 casais), Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus - comum), Chilreta
(Sterna albifrons - 10 a 15 casais), e populações invernantes de Águia-sapeira (47 a 50
indivíduos), Alfaiate (Recurvirostra avosetta - 800 a 1.800 indivíduos), Borrelho-grande-de-
coleira (Charadrius hiaticula - 860 a 1.800 indivíduos), Borrelho-de-coleira-interrompida (660
a 6.000 indivíduos) e Pilrito-de-peito-preto (Calidris alpina - 7.800 a 10.700 indivíduos). Além
disso, alberga regularmente mais de 20.000 aves aquáticas invernantes, sendo de destacar
o elevado número de certas espécies de aves limícolas, tais como de Pilrito-de-peito-preto
(Calidris alpina) e de Borrelho-de-coleira-interrompida. Na zona marinha registam-se
grandes concentrações de Negrola (Melanitta nigra), (COSTA et al., 2003).
A classificação da ZPE deve-se essencialmente à riqueza de avifauna que a ria possui. Para
a elaboração da carta de distribuição da fauna utilizaram-se os dados recolhidos e tratados
por CONDE (2007), tendo sido adaptados à classificação dos biótopos seguindo a
classificação de nível 1 da carta Corine Land Cover, conforme foi descrito em capítulo
anterior , uma vez que CONDE (2007) utilizou uma classificação diferente.
A área de estudo foi dividida em 14 quadrículas 10x10km, tendo por base as cartas militares
1:25000 sendo cada quadrícula analisada de acordo com o número e tipo de
biótopos/habitats e com o número e as espécies de fauna presentes. Esta análise permite,
dentro de cada quadrícula, distinguir qual o tipo de biótopo/habitat que consegue reunir um
maior efetivo de espécies.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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A sintetização das tabelas elaboradas por CONDE (2007) e a elaboração cartográfica a
partir das mesmas, permitiu uma análise comparativa de distribuição dos valores faunísticos,
pelos biótopos da ria, isolando assim as áreas de maior quantitativo faunístico (ANEXO II).
De acordo com as orientações de gestão e as motivações que levaram à criação das ZPE’s,
o estatuto de conservação da espécie apresenta-se como um fator determinante.
Partindo da mesma metodologia em relação à distribuição da avifauna por quadrículas e
classes de uso do solo, foi elaborada uma carta de distribuição da fauna prioritária, tendo
por finalidade comparar a relação entre nº total de espécies e nº total de espécies prioritárias
por classe de uso do solo. O tratamento dos dados foi elaborado de acordo com a
metodologia descrita no ponto seguinte.
4.5.1 Metodologia aplicada à classificação de espécies prioritárias para a
conservação na ZPE da Ria de Aveiro
O método escolhido para a seleção de espécies prioritárias para a conservação na área da
ZPE - Ria é um método assenta num processo de classificação, cujo princípio radica na
utilização de critérios que têm em conta, simultaneamente, o estatuto de ameaça e a
responsabilização política que Portugal tem na sua conservação, a distribuição das espécies
em Portugal e na Europa, e a sua sensibilidade. Este método foi sugerido por PALMEIRIM
et al.,(1994) para o Plano de Ordenamento da Área de Paisagem Protegida do Sudoeste
Alentejano e Costa Vicentina, tendo sido posteriormente adaptado e utilizado no Plano de
Ordenamento da Reserva Natural das Dunas de São Jacinto (ICN, 2002).
Neste caso, utilizaram-se espécies de vertebrados terrestres – herpetofauna, avifauna,
mamofauna (Anexo II) – para a classificação, porque estas espécies têm um papel
importante nos processos e padrões da comunidade e porque é possível determinar as suas
distribuições numa escala prática e útil (JENNINGS, 2000 in AMARO, 2001 apud CONDE,
2007). De acordo com o método escolhido, foram consideradas três classes para a
avaliação das espécies:
Estatuto de Conservação (EC);
Estatuto Biogeográfico (EBg);
Sensibilidade (SEN).
Cada classe encontra-se dividida em várias categorias, correspondentes a uma pontuação
entre 0 e 10. Com base na ponderação das variáveis consideradas, das quais seguidamente
se dará conta, resulta o conceito de “Valor Ecológico da Espécie” (VEE), obtido a partir do
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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somatório das três classes avaliadas e cujo contradomínio de valores corresponde ao
intervalo (0 - 100). Deste modo, tem-se,
VEE = EC + EB + SEN
Figura 13 - Sintetização do processo de classificação de espécies prioritárias.
A figura 13, dá-nos conta, de uma forma sintética, do processo de valorização ecológica da
espécie. Este processo foi aplicado a cada uma das espécies utilizadas neste estudo, e a
sua classificação individual consta das tabelas do Anexo II deste trabalho.
Estatuto de conservação (EC)
EC = LV + Berna + Bona + DH + DA + IUCN
Esta classe valoriza as espécies consideradas mais ameaçadas e as que o Estado
Português se obrigou a salvaguardar por Convenções Internacionais e por Directivas
Comunitárias (ICN, 2007). O valor do Estatuto de Conservação será obtido pelo somatório
dos seguintes parâmetros:
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a) Estatuto no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (LV).
10 – em perigo
8 – vulnerável ou indeterminado
6 – rara
3 – insuficientemente conhecida
0 – espécie não ameaçada
b) Convenção de Berna (Berna)
10 – espécies incluídas no Anexo II
4 – espécies incluídas no Anexo III
0 – espécies não incluídas na Convenção
c) Convenção de Bona (Bona)
10 – espécies incluídas no anexo I (espécies migradoras ameaçadas)
5 – espécies incluídas no anexo II (espécies migradoras cujo estado de conservação
é desfavorável e que devem ser objeto de acordos internacionais para a sua
conservação)
0 – espécies não incluídas na Convenção
d) Diretivas Habitats (DH)
10 – espécies prioritárias incluídas no Anexo II, onde constam as espécies animais
prioritárias de interesse comunitário, cuja conservação exige a designação de zonas
especiais de conservação
9 – espécies incluídas no Anexo II, onde constam as espécies animais de interesse
comunitário, cuja conservação exige a designação de zonas especiais de
conservação
5 – espécies incluídas no Anexo IV, onde constam as espécies animais de interesse
comunitário que exigem uma proteção rigorosa
0 – espécies não incluídas nos anexos
e) Diretiva Aves (DA)
10 – espécies prioritárias incluídas no Anexo I, relativo às espécies de aves
prioritárias de interesse comunitário, cuja conservação requer a designação de zonas
de proteção especial
9 – espécies incluídas no Anexo I, relativo às espécies de aves de interesse
comunitário, cuja conservação requer a designação de zonas de proteção especial
0 – espécies não incluídas nos anexos
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
59
f) Estatuto no Livro Vermelho da IUCN (International Union for Conservation of Nature)
10 – em perigo
8 – vulnerável ou indeterminado
6 – rara
3 – insuficientemente conhecida
0 – espécie não ameaçada
Estatuto Biogeográfico (EBg)
Esta classe exprime a relevância das populações em função da representatividade nacional
e internacional sendo calculada através da seguinte fórmula:
EBg = G + P
em que,
G – Distribuição Global; P – Distribuição em Portugal
a) Distribuição Global (G)
10 - Península Ibérica
8 - Península Ibérica e sul de França
4 - menos de 30% da Europa
0 - distribuição alargada
b) Distribuição em Portugal (P)
10 - Localizada
6 - menos de 1/3 do país
3 - 1/3 a 2/3 do país
0 - mais de 2/3 do país
Sensibilidade (SEN)
Esta classe reflecte a fragilidade biológica das espécies através da medida de algumas
características biológicas intrínsecas que poderão potenciar o risco de extinção.
Considerando que esta avaliação se pode revestir de alguma dificuldade e/ou
subjectividade, serão utilizados apenas dois parâmetros que se consideram de maior relevo
biológico e que ainda não estão contemplados em nenhuma das classes anteriores,
eliminando-se assim algum carácter de redundância e sobretudo de subjectividade da
avaliação (ICN, 2007). É obtida pelo somatório de dois parâmetros:
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
60
SEN = H+R
em que,
H – Especialização em termos de habitat ; R – Dependência para a reprodução
a) Especialização em termos de habitat (H)
10 - espécie muito especializada, dependente de biótopos pouco
abundantes
5 - espécie com uma situação intermédia
0 - espécie de elevada plasticidade, ou dependente de biótopos abundantes
b) Dependência para a reprodução (R)
10 - reprodução confirmada
8 - reprodução provável, não confirmada
6 - reprodução possível, não confirmada
Os dados tratados, que foram objecto de apresentação e apreciação (Anexo III), depois de
cartografados, permitem-nos fazer uma análise mais detalhada na definição de zonas de
maior importância para a fauna, nomeadamente para as aves (fig.14).
Figura 14 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística por biótopo da ZPE Ria de Aveiro. Elaboração própria.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
61
A quadrícula UTM 10x10km (5) é a que apresenta o maior número de espécies (aves,
mamíferos, répteis e anfíbios). No entanto, as duas quadrículas adjacentes, 4 e 6,
apresentam um número de espécies não muito discrepante das 163 espécies que ocorrem
na quadrícula 5 (tabela 4).
Pode-se estabelecer um certo paralelismo entre esta maior variedade de ocorrências de
espécies com a maior diversidade de biótopos que as quadrículas 5 e 6 oferecem. Contudo,
o biótopo que apresenta um maior número de espécies é o dos campos agrícolas (cfr.
fig.14) que, naquela zona, estão muitas vezes próximos ou mesmo rodeadas por linhas de
água. Estas áreas de campos agrícolas, apesar da intervenção regular do homem, incluindo
as que formam as zonas de “bocage” – pequenos campos agrícolas delimitados por sebes
de árvores – servem de refúgio para muitas espécies de animais, principalmente de aves.
Tabela 4 - Sintetização de espécies da fauna por Quadrícula UTM 10x10km
Quadrícula (UTM)
Avifauna (Nº total de Espécies)
Mamofauna (Nº total de Espécies)
Herpetofauna (Nº total de Espécies)
Nº total de espécies por quadrícula
1 99 22 0 121
2 76 19 0 95
3 101 20 1 122
4 121 19 11 151
5 136 17 10 163
6 128 18 10 156
7 21 5 0 26
8 105 19 3 127
9 70 4 17 91
10 68 18 9 94
11 81 18 1 100
12 75 18 4 97
13 63 17 4 84
14 64 18 6 88
Por determinação das espécies prioritárias de acordo com o score25 final de cada uma delas
(tabela 5), selecionaram-se as 25 espécies com o score mais elevado correspondendo a 1/8
25
Para representar as áreas com maior expressão em espécies prioritárias, Conde (2008) utilizou as 25 espécies com maior valorização ecológica, seguindo a metodologia de Palmeirim et al. (1994), o que corresponde a cerca de 1/8 do total das
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do número total de espécies com que se trabalhou (199 espécies: 153 de aves, 25 de
herpetofauna e 22 de mamíferos). No entanto com o score atribuído à vigésima quinta,
temos quatro espécies ajustando-se assim para um total de 28.
Tabela 5 - Score de Espécies Prioritárias segundo a metodologia de Palmeirim et al. (1994)
Nº Espécie Total
1 Chioglossa lusitanica 64
2 Platalea leucorodia 61
3 Plegadis falcinellus 55
4 Ciconia nigra 54
5 Circus aeroginosus 54
6 Ardeola ralloides 53
7 Lacerta schreiberi 53
8 Sterna albifrons 52
9 Coracias garrulus 50
10 Rana iberica 48
11 Himantopus himantopus 46
12 Recurvirostra avosetta 46
13 Chlidonias hybrida 45
14 Ardea purpurea 44
15 Milvus milvus 43
16 Ciconia ciconia 42
17 Lutra lutra 41
18 Pelobates cultripes 41
19 Anas strepera 40
20 Charadrius alexandrinus 40
21 Ixobrychus minutus 39
22 Discoglossus galganoi 38
23 Locustella luscinoides 38
24 Sylvia undata 38
25 Circus cyaneus 37
25 Egretta garzetta 37
25 Eptesicus serotinus 37
25 Uria aalgae 37
Uma das constatações prioritárias reside no facto de as mesmas quadrículas (4, 5 e 6)
possuírem a maior variedade de espécies com maior cotação nas tabelas de
estabelecimento de espécies prioritárias de conservação, incluindo agora a quadrícula 3,
área essencialmente de sapal onde estão presentes entre 13 a 15 espécies com maior
estatudo de VEE (o número máximo de espécies com maior estatuto de VEE por quadrícula
é de 15). Assim, este núcleo de quatro quadrículas (3, 4, 5 e 6) caracteriza-se como a área
de maior importância para a conservação da avifauna, devendo assim ser levado em conta
nas orientações de gestão definidas pelo plano sectorial da rede natura 2000 para a ZPE
Ria de Aveiro.
espécies constantes das tabelas do Anexo II. Tal facto resulta da adaptação da metodologia utilizada pelo autor à metodologia sugerida por Palmeirim et al. (1996), e que aqui resolvemos respeitar.
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63
Como esperado, com a aplicação desta metodologia verificou-se que as zonas com maior
dominância de zonas de sapal, do salgado, e campos agrícolas (bocage) são, de facto, as
que merecem maior atenção para a conservação. Desta forma, e de modo objectivo, as
áreas a conservar incluem a zona do Baixo Vouga Lagunar, a área de sapal e de salgado da
parte mais central da laguna, áreas incluídas nas quadrículas UTM referenciadas por 3, 4, 5
e 6 (fig.15).
Figura 15 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística prioritária por biótopo da ZPE Ria de
Aveiro. Elaboração própria.
5. CLASSIFICAÇÃO BIOGEOGRÁFICA
Em termos muito sintéticos, poder-se-ia dizer que a Biogeografia é o ramo da Geografia que
tem como objecto de estudo a análise e a explicação da distribuição dos seres vivos na
superfície da Terra.
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64
Está estreitamente relacionada com a Fitogeografia (que restringe o seu domínio às
plantas), uma vez que grande parte das suas tipologias se baseia na análise da distribuição
de táxones vegetais indígenas e respetivas comunidades (COSTA et al. 1998).
Situado na faixa ocidental da Península Ibérica, Portugal faz parte da área biogeográfica
com maior riqueza florística do continente Europeu (RIVAS-MARTÍNEZ et al., In 1999
CASTROVIEJO, 1997 apud FIGUEIREDO, 2004), podendo ser dividido em duas Regiões
pertencentes ao Reino Holártico:
Região Eurosiberiana: caracterizada por uma aridez estival nula ou muito ligeira
mas nunca superior a dois meses. Área onde o valor da precipitação média mensal é
inferior a duas vezes a temperatura média mensal (P<2Ti) e em que a precipitação
estival compensa a evapotranspiração evitando, assim, o esgotamento das reservas
hídricas do solo.
Região Mediterrânica26: região onde escasseiam as chuvas de verão, existindo pelo
menos dois meses em que a precipitação média mensal é inferior ao dobro da
temperatura média mensal (P<2Ti).
As características das áreas que constituem as Regiões determinam a vegetação climácica
existente em cada uma delas: bosques caducifólios na Região Eurosiberiana e bosques
perenifólios e marcescentes na região Mediterrânica. Assim, segundo COSTA et al., (1998),
a área de estudo localiza-se precisamente na zona de transição entre a Região
Eurossiberiana e a Região Mediterrânica e tem o seguinte enquadramento biogeográfico:
REGIÃO EUROSSIBERIANA
SUB-REGIÃO ATLÂNTICO-MEDIOEUROPEIA
SUPERPROVÍNCIA ATLÂNTICA
PROVÍNCIA CANTABRO-ATLÂNTICA
SUBPROVÍNCIA GALAICO-ASTURIANA
SETOR GALAICO-PORTUGUÊS
SUBSETOR MINIENSE
SUPERDISTRITO MINIENSE LITORAL
REGIÃO MEDITERRÂNICA
SUB-REGIÃO MEDITERRÂNICA OCIDENTAL
SUPERPROVÍNCIA MEDITERRÂNICA IBERO-ATLÂNTICA
26
Alguns autores (e.g. Fernando Rebelo) preferem utilizar o termo Mediterrâneo, defendendo tratar-se da forma gramatical mais correcta; neste trabalho, utilizaremos o termo tal como está plasmado nas obras consultadas, sem com isso anunciar a tomada de qualquer partido, embora nos pareça mais ajustada a posição de Fernando Rebelo.
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65
PROVÍNCIA GADITANO-ONUBO-ALGARVIENSE
SETOR DIVISÓRIO PORTUGUÊS
SUBSETOR BEIRENSE LITORAL
SUBSETOR OESTE-ESTREMENHO
SUPERDISTRITO COSTEIRO PORTUGUÊS
O Superdistrito Miniense Litoral (fig.16) inclui a maior parte do Subsetor Miniense e
compreende as áreas mais setentrionais da orla portuguesa e as áreas de baixa altitude do
NO de Portugal. Apresenta como vegetação climácica climatófila27 os carvalhais
mesotemperados e termotemperados da associação Rusco aculeati-Quercetum roboris,
embora estes se encontrem atualmente limitados a pequenas áreas. Nas zonas litorais a
vegetação característica inclui vegetação dunar atlântica do Otantho-Ammophiletum e
Iberidetum procumbentis, vegetação de zonas salgadas do Limonio-Juncetum maritimi,
Puccinellio maritimae-Arthrocnemetum perenis e Inulo crithmoidis-Elymetum pycnanthi e
vegetação de arribas do Crithmo-Armerietum pubigerae, Sagino maritimae-Cochlearietum
danicae e Cisto salvifolii-Ulicetum humilis (COSTA et al. 1998).
Figura 16 - Enquadramento biogeográfico da Ria de Aveiro de acordo com COSTA et al., (1998).
27
Em fitossociologia distinguem-se dois tipos fundamentais de vegetação climácica com papel relevante na construção da paisagem: a climatófila e a edafófila. A vegetação climácica climatófila desenvolve-se em biótopos cuja humidade edáfica depende exclusivamente do regime pluvial do território, encontrando-se, por isso, na estreita dependência do macroclima AGUIAR et al., 2000.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
66
Inserida na Região Mediterrânica, a Província Gaditano-Onubo-Algarviense, essencialmente
litoral, encerra uma flora e vegetação ricas em endemismos paleomediterrânicos,
paleotropicais lianóides e lauróides de folhas coriáceas. Inclui o Setor Divisório Português,
que se inicia a norte da Ria de Aveiro e se prolonga pelo vale do Mondego até à base da
Serra do Açor. Consiste num território litoral maioritariamente plano, com algumas serras de
baixa altitude, onde se encontra vegetação de grande originalidade. Destacam-se os cercais
do Arisaro-Quercetum broteroi, os sobreirais do Asparago aphylli-Quercetum suberis, os
azinhais do Lonicero implexae-Quercetum rotundifoliae, os carvalhais de carvalho-roble
Viburno tini-Quercetum roboris e os zambujais do Viburno tini-Oleetum sylvestris, que
constituem as cabeças de séries climatófilas observadas neste território (COSTA et al,.
2001). A Província Gaditano-Onubo-Algarviense inclui também o Subsetor Beirense Litoral,
essencialmente silicioso, com a exceção das “ilhas” calcárias da Serra da Boa Viagem e
Cantanhede. É a área de ótimo biogeográfico dos carvalhais termófilos de carvalho-
alvarinho do Rusco-aculeati-Quercetum roboris viburnetosum tini. Contudo, grande parte do
território é ocupada por bosques de sobreiro – Asparago aphylli- Quercetum suberis e pelas
etapas subseriais (COSTA et al., 1998).
O Subsetor Oeste-Estremenho, o Superdistrito Costeiro Português, é um território litoral
constituído por dunas, areias e arribas calcárias, que se estendem desde a Ria de Aveiro
até ao Cabo da Roca. É neste território que se verifica a transição das comunidades
atlânticas para as mediterrânicas, observando-se o Otantho-Ammophiletum australis,
Honkenio-Euphorbietum peplis e Rubio longifoliae-Coremetum albi a Norte de Peniche e o
Iberidetum procumbentis a Norte de Quiaios.
São exclusivas do território Myrico fayo-Arbutetum unedonis, Stauracantho genistoidis-
Coremetum, Dactylo marinae-Limonietum plurisquamati, Salvio scaleroidis-Ulicetum densi
variante de Daphne maritima, Cisto-Ulicetum humilis lavanduletosum luisieri.
Assinalam-se ainda no território Euphorbio paraliae-Agropyretum junceiformis, Srophulario
sublyratae-Suaedetum verae, Limonietum multifloro-virgatae, Daphne maritimae-Ulicetum
congesti e Parapholido incurvae-Catopodietum marini (COSTA et al., 2001).
5.1. Índices Bioclimáticos
A precipitação e a temperatura são elementos climáticos que mais influenciam o
desenvolvimento e distribuição das plantas na Terra sendo por isso, os parâmetros mais
utilizados no cálculo dos índices que permitem definir as relações clima/vegetação de um
território (HONRADO, 2003). Os índices mais representativos da relação clima/vegetação e
por isso, os mais correntemente calculados, são o Índice de Termicidade, o Índice de
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
67
Termicidade Compensado, o Índice Ombrotérmico, os Índices Ombrotérmicos Estivais
Compensados e o Índice de Continentalidade (HONRADO, 2001 e HONRADO, 2003).
5.1.1. Índice de Continentalidade (Ic)
O Índice de Continentalidade (Ic) permite caracterizar o território relativamente ao rigor da
estação estival e invernal, isto é determina a amplitude térmica verificada entre o mês mais
quente e o mês mais frio do ano. Calcula-se pela diferença entre a temperatura média dos
meses mais quentes e mais frios do ano, em graus centígrados:
Ic = Tmáx – Tmin
Um clima é tanto mais continental quanto maior for a amplitude térmica anual verificada
(HONRADO, 2003; LOIDI et al. 1997). Mares, lagos e oceanos têm um efeito amenizador da
temperatura, atenuando a amplitude térmica, enquanto que montanhas e o distanciamento
do mar favorecem a continentalidade (RIVAS-MARTÍNEZ, 1993 apud HONRADO, 2003).
5.1.2. Índice de Termicidade (It) e Índice de Termicidade Compensado (Itc)
Índice de termicidade (It), é a soma em décimas de grau de T (temperatura média anual), m
(temperatura média das mínimas do mês mais frio) e M (temperatura médiadas máximas do
mês mais frio). Representa-se pela fórmula:
It = 10.(T+M+m)
Sendo:
T - temperatura média anual;
M - a temperatura média das máximas do mês mais frio (O mês mais frio será o que
apresentar menor valor de Ti isto é, menor temperatura média mensal);
m - a temperatura média das mínimas do mês mais frio.
Este índice pondera a intensidade do rigor invernal, factor limitante para muitas plantas e
comunidades vegetais, e mostra uma elevada correlação com a vegetação, principalmente
para os climas quentes e temperados (COSTA et al., 1993). Desta forma permitiu propor o
conceito de piso bioclimático (termotipo), como sendo um determinado espaço ambiental
que se sucede numa clisérie28 em altitude ou latitude de vegetação (RIVAS-MARTINEZ et
al., 2000) Nas zonas extratropicais da Terra (ao norte e ao sul do paralelo 23º N e S), haverá
necessidade de compensar o valor do índice de termicidade (It), devido ao excesso de frio
28
Clisérie é uma distribuição escalonada dos diferentes tipos de vegetação, que são determinadas por variações no clima.
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68
ou de temperança destes territórios de clima continental ou hiperoceânico acentuado; criou-
se o índice de termicidade compensado (Itc), que é dado pela expressão:
Itc = It ± C
Assim, para zonas extratropicais hiperoceânicas o valor de compensação é obtido
multiplicando-se por 15 o resultado da subtração entre 11 e o Índice de Continentalidade (Ic)
da estação:
C = 15.(11-Ic)
5.1.3. Índice Ombrotérmico (Io)
O Índice Ombrotérmico permite distinguir, dentro do mesmo termotipo, diversos tipos de
vegetação em função da precipitação local observada. Relaciona os regimes pluviométrico e
termométrico, fornecendo uma indicação aproximada da quantidade de água disponível para
ser utilizada pelas plantas.
Os intervalos de precipitação (ombrotipos) calculam-se pelo quociente, multiplicado por 10,
entre a soma da precipitação média (Pp - mm) dos meses em que a temperatura média é
superior a zero graus centígrados e a soma, em décimos de grau, das temperaturas médias
mensais superiores a zero graus centígrados (HONRADO, 2001; HONRADO, 2003):
Io = 10.Pp / Tp
5.1.4. Índices Ombrotérmicos Estivais Compensados
Estes índices relacionam os regimes pluviométrico e termométrico dos meses de verão,
fornecendo uma indicação do balanço hídrico do sistema solo-planta-atmosfera durante o
período estival. Calculam-se os índices relativos a qualquer mês do trimestre de verão (Iosi),
ao bimestre mais quente (Ios2), ao trimestre mais quente (Ios3) e ao quadrimestre mais
quente (Ios4), de acordo com as seguintes fórmulas (HONRADO, 2001; 2003):
Iosi = Pi / Ti
Ios2 = (Pjulho + Pagosto)/(Tjulho +Tagosto )
Ios3 = (Pjunho + Pjulho + Pagosto)/(Tjunho + Tjulho + Tagosto )
Ios4 = (Pmaio+Pjunho+Pjulho+Pagosto)/(Tmaio+Tjunho+Tjulho+Tagosto)
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69
5.2. Classificação Bioclimática
Os parâmetros e índices climáticos mencionados são utilizados na caracterização
bioclimática do território, seguindo-se normalmente uma sequência como a proposta por
HONRADO (2001 e 2003), que adiante retomaremos:
5.2.1. Determinação do Macroclima
A nível global considera-se a existência de 5 macroclimas: Polar, Boreal, Temperado,
Mediterrânico e Tropical, estando apenas representados em Portugal o Temperado e
Mediterrânico (RIVAS-MATÍNEZ et al. 1999, HONRADO, 2003). O macroclima Mediterrânico
(tabela 6) é caracterizado por um período de aridez igual ou superior a dois meses
coincidente com os meses de verão. Verifica-se um período seco de pelo menos dois
meses, em que a precipitação (mm) é inferior ao dobro da temperatura (ºC), período esse
em que se atingem os valores mais baixos do ano (HONRADO, 2003). O macroclima
Temperado apresenta aridez estival nula ou nunca superior a dois meses e um regime de
precipitações regularmente distribuído ao longo do ano (HONRADO, 2003).
Tabela 6 - Macroclimas representados em Portugal (RIVAS-MARTINEZ et al. 1999, HONRADO,
2003).
Mediterrânico Temperado
Aridez (P<2T) em pelo menos 2 meses de verão
Aridez estival nula ou nunca superior a 2 meses
Pelo menos dois dos seguintes valores: T<25ºC, m<10ºC e Itc<580
Pelo menos dois dos seguintes valores: T<21ºC, M<18ºC e Itc<470
Ios2 ≤2 e Iosc ≤2 Ios2 >2 e Iosc >2 se Ios2 ≤2
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
70
Tabela 7 - Valores dos Índices Ombrotérmicos compensáveis que permitem discriminar os macroclimas Temperado e Mediterrânico
29.
Io Ios2 Ios3 Ios4
2,0< Io ≤3,6 >1,9 >1,9 >2,0
3,6< Io ≤4,8 >1,8 >1,9 >2,0
4,8< Io ≤6,0 >1,7 >1,8 >2,0
6,0< Io ≤8,0 >1,5 >1,8 >2,0
8,0< Io ≤10,0 >1,2 >1,6 >2,0
10,0< Io ≤12,0 >0,7 >1,4 >2,0
Io > 12,0 >2,0
Nas áreas de transição entre os macroclimas Temperado e Mediterrânico, a determinação
do macroclima é feita com recurso aos Índices Ombrotérmicos Estivais Compensáveis.
Assim o macroclima é Temperado se Ios2 >2,0; ou se Ios4 >2,0 desde que Ios2 e Ios3 se situem
acima dos valores limites indicados na tabela 7 (HONRADO, 2003).
5.2.2. Determinação do Bioclima
Os macroclimas Temperado e Mediterrânico dividem-se respetivamente em 4 e 5 bioclimas,
em função dos valores dos Índices Ombrotérmico (Io) e de Continentalidade (Ic) (RIVAS-
MARTÍNEZ et al., 1999; HONRADO, 2001; HONRADO, 2003), tal como descriminado na
tabela 8.
Tabela 8 - Bioclimas a considerar na classificação bioclimática da Península Ibérica (RIVAS-MARTINEZ et al., 1999 in HONRADO, 2003).
Macrobioclima Temperado Macrobioclima Mediterrânico
bioclima Ic Io bioclima Ic Io
Temperado hiperoceânico
<11 >3,2 Mediterrânico pluvi-estacional oceânico
≤21 >2,0
Temperado oceânico 11-21 >3,2 Mediterrânico pluvi-estacional continental
>21 >2,2
Temperado continental >21 >3,2 Mediterrânico xérico oceânico ≤21 1,0-2,0
Temperado xérico ≥7 ≤3,2 Mediterrânico xérico continental >21 1,0-2,2
Mediterrânico desértico oceânico ≤21 0,1-1,0
29
Se Ios2 > 2 o macroclima é Temperado, Ios2 <2 pode também serTemperado se Ios4 >2, desde que Ios2 e Ios3 se situem acima dos valores indicados na tabela (Rivas-Martínez et al. 1999, Rivas-Martínez et al. in Honrado 2003;).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
71
Em função dos critérios acima referidos, em Portugal apenas se encontram representados
os bioclimas Temperado Hiperoceânico, Temperado Oceânico, Mediterrânico Pluvi-
estacional e Mediterrânico Xérico Oceânico (HONRADO, 2001 e HONRADO, 2003).
5.3. Determinação do andar bioclimático
A divisão dos territórios em andares bioclimáticos é feita através da interceção de um
termoclima e ombroclima (fig.17). Para a determinação do termotipo são utilizados os
índices de termicidade e de termicidade compensados, ou a temperatura positiva anual no
caso dos termotipos mais frios; para o cálculo do ombrotipo é utilizado o índice
ombrotérmico anual. Cada termotipo e ombrotipo podem ainda ser subdivididos em dois
horizontes: superior e inferior (Honrado, 2001; 2003). Para a Península Ibérica foram
definidos os seguintes termotipos (tabela 9) e ombrotipos (tabela 10).
Tabela 9 - Termotipos presentes na Península Ibérica e respetivos valores de It
(RIVAS-MARTINEZ et al., 2002).
Macrobioclima Temperado Macrobioclima Mediterrânico
Intervalo de It Termotipo Intervalo de It Termotipo
355 a 410 Termotemperado
Inferior 400 a 450
Termomediterrânico Inferior
300 a 355 Termotemperado
Superior 350 a 400
Termomediterrânico Superior
240 a 300 Mesotemperado Inferior 280 a 350 Mesomediterrânico
Inferior
180 a 240 Mesotemperado
Superior 210 a 280
Mesomediterrânico Superior
100 a 180 Supratemperado Inferior 145 a 210 Supramediterrânico
Inferior
<100(800<Tp<1100) Supratemperado
Superior 80 a 145
Supramediterrânico Superior
<100(590<Tp<800) Orotemperado Inferior <80(675<Tp<900) Oromediterrânico Inferior
<100(380<Tp<590) Orotemperado Superior <80(450<Tp<675) Oromediterrânico
Superior
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Figura 17 – Modelação em SIG dos Termotipos e Ombrotipos presentes em Portugal. Fonte: MESQUITA (2005)
Tabela 10 - Ombrotipos para a Península Ibérica e respetivos valores de Io (RIVAS-MARTINEZ et al.2002)
Ombrotipo Intervalo de Io
Seco Inferior 2,0 a 2,8
Seco Superior 2,8 a 3,6
Sub-húmido Inferior 3,6 a 4,8
Sub-húmido Superior 4,8 a 6,0
Húmido Inferior 6,0 a 9,0
Húmido Superior 9,0 a 12,0
Hiper-húmido Inferior 12,0 a 18, 0
Hiper-húmido Superior 18, 0 a 24, 0
Ultra-hiper-húmido >24,0
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5.5. Bioclimatologia da Ria de Aveiro
A caracterização bioclimática de um território implica a recolha de parâmetros termométricos
e pluviométricos registados em estações climatológicas e udométricas.
De entre estes selecionam-se os mais representativos em relação à variabilidade da
vegetação e elaboram-se índices, recorrendo a fórmulas que combinam os parâmetros, e
que permitem determinar a relação entre a distribuição das comunidades vegetais e o clima
(LOIDI et al. 1997 apud FIGUEIREDO, 2004).
Nas tabelas 11, 12 e 13 estão representados os valores dos principais parâmetros
climáticos, obtidos por análise dos dados climatológicos relativos às estações de Estarreja,
São Jacinto e Dunas de Mira, e que serviram de base ao cálculo dos índices bioclimáticos,
através dos quais foi possível efetuar a diagnose bioclimática da área de estudo.
Tabela 11 - Dados climáticos calculados para a Ria de Aveiro.
Estação Tp Pp T M m Tmáx Tmin P<2T
Estarreja 1.668 1.151,6 13,9 13,8 3,8 19,1 8,8 2 meses
São Jacinto 1.704 960,6 14,2 13,6 6,3 18,6 10,0 3 meses
Dunas Mira 1.776 995,2 14,8 14,4 5 19,0 9,7 3 meses
Em que:
Tp - Temperatura positiva anual calculada pela soma das temperaturas médias dos
meses com temperatura média positiva. No caso de todos os meses terem
temperatura média positiva, este valor é numericamente igual ao produto da
temperatura média anual por 12;
Pp - Precipitação positiva anual calculada pela soma das precipitações totais dos
meses com temperatura média superior a 0ºC. No caso de todos os meses terem
temperatura média positiva, este valor é numericamente igual ao valor da
precipitação total anual;
T - Temperatura Média Anual;
M - Temperatura Média das Máximas do mês mais frio, sendo o mês mais frio o que
tiver menor valor de temperatura média mensal;
m - temperatura Média das Mínimas do mês mais frio;
Tmáx - Temperatura Média do mês mais quente;
Tmin - Temperatura Média do mês mais frio.
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Tabela 12 - Valores dos Índices Bioclimáticos calculados para as três estações analisadas
Estação It C Itc Ic Io Iosc2 Iosc3 Iosc4 Inverno Pav30
Estarreja 315 10,5 325,5 10,3 6,90 0,93 1,47 2,32 Temperado 12
São Jacinto 341 36 377 8,6 5,64 0,68 2,54 1,73 Quente 12
Dunas Mira 348 25,5 373,5 9,3 5,60 0,52 0,76 1,37 Quente 12
Tabela 13 - Diagnose bioclimática (Macrobioclima, Termotipo e Ombrotipo) relativa às estações climatológicas analisadas
Estação Altitude
(m) Macrobioclima Termotipo Ombrotipo
Estarreja 26 Mediterrânico Pluvi- Estacional Oceânico
Mesomediterrânico Inferior
Húmido Inferior
São Jacinto 8 Mediterrânico Pluvi- Estacional Oceânico
Mesomediterrânico Inferior
Sub-Húmido Superior
Dunas de Mira
14 Mediterrânico Pluvi- Estacional Oceânico
Mesomediterrânico Inferior
Sub-Húmido Superior
De acordo com os resultados obtidos pela respetiva análise e cálculo dos parâmetros e
índices bioclimáticos, pode concluir-se que a região onde se localiza a Ria de Aveiro sofre
acentuada influência oceânica, o que se reflete quer na amenidade das temperaturas
registadas quer no regime de precipitações tipicamente mediterrâneo. Os elevados valores
de Precipitação Total Anual (Pp), que variam entre 995,2 e 1151,6 mm, conferem à área um
caráter Húmido Inferior a Sub-Húmido Superior, como pode constatar-se na tabela 13. O
período seco corresponde aos três meses de verão, nas estações climatológicas de São
Jacinto e Dunas de Mira, restringindo-se a dois meses (julho e agosto) na estação
climatológica de Estarreja. Assim, de acordo com a tipologia bioclimática de RIVAS-
MARTINEZ et al,. (2002), conclui-se que a Ria de Aveiro possui um Bioclima Mediterrânico
Pluvi-Estacional Oceânico, situando-se no andar bioclimático Mesomediterrânico Inferior
Súb-Húmido Superior a Húmido Inferior.
30 Pav – n.º de meses do ano cuja temperatura média mensal é superior a 3.5ºC.
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CAPITULO II
ANÁLISE MULTICRITÉRIO EM AMBIENTE SIG
PARA ELABORAÇÃO DE CARTAS DE VULNERABILIDADE
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1. ANÁLISE MULTICRITÉRIO – fundamentos processuais e metodológicos
A ZPE - Ria de Aveiro é considerada como a zona húmida mais importante do norte do país,
albergando grande diversidade de comunidades vegetais halófilas e sub-halófilas,
representando consequentemente a área mais importante de ocorrência do habitat 1130
(Estuários). Destaca-se, também, por constituir a área onde o habitat 1330 (Juncais e
prados-juncais da aliança Glauco maritimae-Juncion maritimi) apresenta maior expressão no
território nacional (ICNB, 2011).
É uma área fundamental para espécies de lampreia e a enguia, já que lhes assegura
condições ecológicas essenciais ao sucesso das suas migrações reprodutoras, garantindo a
conectividade entre o mar e os cursos de água doce, que constituem os locais de desova
para espécies como a lampreia-marinha (Petromyzon marinus), sável (Alosa alosa) e a
savelha (Alosa fallax). Também a lampreia-de-riacho, que mesmo residente, depende
destes cursos de água para completando todo o seu ciclo de via em meio dulciaquícola
(ICNB, 2011).
Apresenta ainda uma grande variedade de espécies animais, conforme foi descrito em
capítulo anterior, justificando desta forma a classificação como Zona de Proteção Especial e
a proposta a Sítio de Importância Comunitária. É uma área sujeita a várias pressões, o que
justifica a nossa preocupação em elaborar um ensaio metodológico para a sua gestão
ecológica a partir da determinação de áreas prioritárias de conservação que nos serão
referenciadas a partir da elaboração da carta de vulnerabilidades.
A definição de áreas prioritárias com base em processos analíticos desenvolvidos em
ambiente SIG tem sido amplamente aplicada a uma variedade de situações, entre elas, a
definição de áreas ou regiões prioritárias para espécies animais ou vegetais (VALENTE,
2005). De acordo com este autor citado na obra de PIRES (2005), segundo a norma UNE
15008 EX:2000, o termo vulnerabilidade reflete a potencial afetação de pessoas, bens e
ambiente devido à ocorrência de um determinado evento. Todavia, considerando os
objetivos definidos para esta dissertação, o termo vulnerabilidade ecológica refere-se à
potencial afetação dos valores naturais presentes na área em estudo – fauna e habitats
naturais – por fatores de perturbação naturais e antrópicos.
Foram utilizadas várias cartas temáticas do Atlas do Ambiente, cartas de distribuição da
fauna (elaboração própria), cartografia de habitats naturais cedida pelo ICNB, dados do
estado das massas de água cedidos pela ARH Centro, e ainda dados sobre as estradas
disponibilizados gratuitamente pelo Projeto Openstreetmap. Toda a parte referente ao
geoprocessamento foi desenvolvida em ambiente SIG Desktop, com recurso ao Arcgis 10.0
(ESRI).
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A ponderação das variáveis foi efetuada de acordo com a Analytic Hierarchy Process (AHP)
- Análise Multicritério, utilizada por SAATY (1991) transposta para ambiente SIG e todo o
processo será descrito etapa a etapa, após uma breve revisão bibliográfica sobre esta
matéria.
1.1. Tarefas, técnicas e procedimentos processuais em ambiente SIG para Análise
Multicritério (AM)
A Análise Multicritério é um método desenvolvido por VOOGD (1983) que é constituído por
técnicas que visam o apoio à tomada de decisão com base em múltiplos critérios. Os
processos de tomada de decisão baseiam-se em assunções teóricas de considerável
grau de incerteza e subjetividade, existindo a natural dificuldade em selecionar os critérios
necessários a representação do fenómeno, e em estabelecer a relação entre os critérios
(EAKIN & BOJORQUEZ-TAPIA, apud 2008 MARTINS, 2010). Neste quadro contextual, a
AM proporciona um método transparente que fundamenta e dinamiza os modelos de
tomada de decisão.
De seguida, damos conta da definição dos conceitos básicos da AM (decisão; objetivo;
atributo; critério; fatores; exclusão;) e dos procedimentos e etapas que fundamentam a
prossecução (definição do problema, estruturação hierárquica, avaliação do pesos dos
critérios, regras de decisão, análise de sensibilidade).
A tomada de decisão é um processo apoiado na inventariação e seleção entre alternativas,
o que poderá corresponder a uma localização, a diferentes planos ou hipóteses (RAMOS &
MENDES, 2001 apud MARTINS, 2010) ou a classificação/quantificação. Os critérios são
meios de julgamento, ou regras que testam o grau de ajustamento das diferentes
alternativas ao processo de decisão (HWANG & YOON, 1981 in MALCZEWSKI, 1999 apud
MARTINS, 2010), estruturando-se em termos genéricos em objetivos e atributos.
Segundo MALCZEWSKI (1999), os objetivos descrevem o estado de condição de um
sistema, relacionando-se, e/ou derivando dos atributos, e indicando quais os objetivos ideais
no processo de decisão. A maximização do espectro do objetivo dá-se com a definição de
um conjunto amplo de atributos, dado que estes caracterizam as propriedades dos
elementos e processos do mundo real, sendo mensuráveis qualitativamente e
quantitativamente (MALCZEWSKI, 1999). Os atributos são classificados em dois grupos: os
fatores e as restrições/exclusões (RAMOS & MENDES, 2001 apud MARTINS, 2010). Os
fatores são os atributos das alternativas de decisão que são aplicados na avaliação de
desempenho de cada alternativa, e traduzem a variação da aptidão de um dado objetivo no
modelo (MALCZEWSKI, 1999; RAMOS & MENDES, 2001; RASHED & WEEKS, 2003 apud
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MARTINS, 2010). As restrições são fatores de exclusão das alternativas em ponderação.
Por exemplo, na localização de um hospital numa região sismicamente vulnerável, as
parcelas de território a determinada distância das falhas geológicas, deveriam ser excluídas
do processo de tomada de decisão.
A AM é um processo metodológico constituído por cinco fases, que se inicia com a definição
do problema. Na primeira fase o decisor define e reconhece as dimensões do modelo de
análise, e reflete sobre as diferenças entre o estado desejado e o estado atual do sistema,
de modo a considerá-lo nas condições prévias do processo de decisão (MALCZEWSKI,
1999). No nível subsequente é esquematizada a estrutura hierárquica dos critérios de
avaliação do problema de decisão, ou seja, é a fase na qual são definidos os objetivos e os
atributos (fatores/restrições) que o estruturam.
A terceira fase - de estimação do peso dos critérios de decisão, deve permitir quantificar a
importância relativa dos critérios constituintes da estrutura hierárquica do modelo. O peso
atribuído a objetivos e atributos é substanciado num principio comparativo da importância
relativa entre estes elementos. Esta é uma fase preponderante no processo de decisão,
dado que a sobrevalorização ou subvalorização dos critérios poderá repercutir-se na
(in)consistência do modelo de tomada de decisão (RAMOS & MENDES, 2001 apud
MARTINS, 2010). No âmbito do trabalho proposto, utilizámos o método desenvolvido por
SAATY (1980) - Analytic Hierarchy Process (AHP), cujo enquadramento metodológico
apresentamos no ponto seguinte.
Para MARTINS (2010), a regra de decisão é a quarta fase de implementação da AM, e de
acordo com STARR & ZELENY (1977) in MALCZEWSKI (1999), este procedimento permite
a ordenação das alternativas de decisão. As regras de decisão agregam os critérios
ordenando as alternativas, ou decidindo qual das alternativas é preferível, por comparação
com o conjunto de opções elencadas.
A quinta (e última) fase é de implementação da análise de sensibilidade, cuja orientação se
processa em prol de dois objetivos. O primeiro, determina se as ações desenvolvidas
durante o processo foram perturbadas por variações ocorridas nos inputs de entrada do
modelo e, num segundo plano, como processo exploratório que permite ao utilizador
assimilar a profundidade da estrutura do problema de decisão (MALCZEWSKI, 1999). O
processo tem a sua conclusão com a descrição das recomendações em função dos
resultados gerados na avaliação multicritério (MARTINS, 2010).
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1.3. Analytic Hierarchy Process
O AHP é um método eficaz para a tomada de decisão, pois identifica a melhor opção dentro
das alternativas possíveis e ajuda na determinação de prioridades, considerando aspetos
quantitativos e qualitativos. Através da redução de decisões complexas a decisões
comparativas par a par, o AHP divide-se em estruturação, julgamentos e síntese dos
resultados.
O decisor, para aplicar o AHP, define o objetivo geral e, assim, seleciona os atributos para
alcançar a meta. Os elementos deverão estar estruturados hierarquicamente.
Comparado a uma árvore, à medida que se afasta da raiz (objetivo), temos fatores mais
específicos, e os mais extremos (as folhas) representam os fatores ou critérios de avaliação.
Assim, quanto mais genéricos forem os atributos, mais altos eles deverão estar na
hierarquia. As alternativas ficam na base da árvore, abaixo do último nível de atributos.
Esse arranjo permite fazer com que seja possível para o decisor focalizar cada parte de todo
o complexo problema, com isso obter prioridades através de uma simples comparação par a
par baseada nos dados obtidos pelo decisor.
A grande vantagem do método AHP é permitir que o decisor atribua pesos relativos para
múltiplos critérios31, ou múltiplas alternativas para um dado critério, de forma intuitiva, ao
mesmo tempo em que realiza uma comparação par a par entre os mesmos. Isso permite
que, mesmo quando duas variáveis são incomparáveis, com os conhecimentos e a
experiência das pessoas, pode-se reconhecer qual dos critérios é mais importante (SAATY,
1991).
A forma como este processo de hierarquização se aplica será explicada no ponto seguinte,
e a sua aplicação ao caso de estudo nos pontos seguintes.
1.3.1. O Processo de Hierarquização do AHP
Como anteriormente se tentou demonstrar, o método AHP contempla um processo de
decomposição por hierarquias e síntese pela identificação de relações através de escolha
consciente. A tomada de decisões está ligada à avaliação das alternativas, todas
satisfazendo um conjunto de objetivos pretendidos. O problema está em escolher a
alternativa que melhor satisfaz o conjunto total de objetivos. Estamos interessados em obter
pesos numéricos para alternativas com relação a sub-objetivos e, para sub-objetivos com
relação a objetivos de ordem mais elevada (SAATY, 1991). O meio de estruturar
logicamente objetivos e sub-objetivos do problema de decisão é pela hierarquia, como
31
Processo por nós utilizado neste trabalho – a atribuição do peso para cada uma das variáveis ou critérios.
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descrito anteriormente. SILVA et al (2011) citando GRANDZOL (2005) descreve que,
através de comparações aos pares em cada nível da hierarquia baseadas na escala de
prioridades do AHP, os participantes desenvolvem pesos relativos, chamados de
prioridades, para diferenciar a importância dos critérios.
Para se fazer bom uso da escala de prioridades, entretanto, é preciso compreender o que
são os julgamentos no método criado por SAATY. Um julgamento ou comparação é a
representação numérica de uma relação entre dois elementos que possuem o mesmo par.
O grupo de todos esses julgamentos pode ser representado numa matriz quadrada, na qual
os elementos são comparados com eles mesmos. Cada julgamento representa a
dominância de um elemento da coluna à esquerda sobre um elemento na linha do topo
(SAATY, 1994). A escala recomendada por este autor (1991) vai de “1 a 9”, em que “1”
significa a indiferença de importância de um critério em relação ao outro, e “9” significa a
extrema importância de um critério sobre outro, com estágios intermediários de importância
entre esses níveis “1” e “9” (tabela 14). Além disso, desconsiderando as comparações entre
os próprios critérios, que representam “1” na escala, apenas metade das comparações
precisa ser feita, porque a outra metade constitui-se das comparações recíprocas na matriz
de comparações, que são os valores recíprocos já comparados.
Tabela 14 - Escala numérica de SAATY (1991): Fonte: SILVA et al (2011)
O julgamento reflete as respostas de duas perguntas: qual dos dois elementos é mais
importante com respeito a um critério de nível superior, e com que intensidade, usando a
escala de “1” a “9” É importante notar que o elemento mais importante da comparação é
sempre usado como um valor inteiro da escala, e que o menos importante, representa o
inverso dessa unidade. Se o elemento linha é menos importante do que o elemento/coluna
da matriz (tabela 15), entramos com o valor recíproco na posição correspondente da matriz.
Devido à relação de reciprocidade e à necessidade de consistência entre duas atividades ou
critérios, os recíprocos dos valores acima de zero são inseridos na matriz criada quando
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uma comparação entre duas atividades já foi realizada. O processo é robusto, porque
diferenças subtis em uma hierarquia na prática não se tornam decisivas.
As posições da diagonal serão sempre “1”, na medida em que um elemento é igualmente
importante a ele mesmo. Para preencher os outros elementos da matriz fora da diagonal,
fazem-se os julgamentos e determina-se a intensidade de importância de acordo com a
tabela 9, que apresenta a escala de comparações empregadas no método. Para as
comparações inversas, isto é, na parte inferior esquerda da matriz, colocam-se os valores
recíprocos dos da parte superior direita da mesma.
No caso da Matriz A (tabela 10), observa-se pela parte superior direita que todos os
elementos-linha eram mais dominantes do que os elementos-coluna, pois todas as posições
estão com números maiores que 1. Lê-se: A é 5 vezes mais dominante do que B e 6 vezes
mais dominante do que C.
Tabela 15 - Exemplo de matriz pareada de comparação. Fonte: VETTORAZZI (2006)
A consistência da matriz deve ser garantida, a partir de uma quantidade básica de dados,
todos os outros podem ser logicamente deduzidos. Se A é 5 vezes mais dominante do que
B, e A é 6 vezes mais dominante que C, então A=5B e A=6C. Logo, B/ C = 6/5 = posição (B,
C). Portanto, se o julgamento da posição (B, C) for diferente de 6/5, então a matriz é
inconsistente, como ocorre na Matriz A. Para avaliar a consistência da matriz deve atender-
se a:
1) Definir o problema e o que se procura saber. Expor as suposições refletidas na
definição do problema, identificar partes envolvidas, checar como estas definem o problema
e suas formas de participação no AHP.
2) Decompor o problema desestruturado em hierarquias sistemáticas, do topo
(objetivo geral) para o último nível (fatores mais específicos, usualmente as alternativas).
Caminhando do topo para a extremidade, a estrutura do AHP contém objetivos, critérios
(parâmetros de avaliação) e classificação de alternativas (medição da adequação da
solução para o critério). Cada nó é dividido em níveis apropriados de detalhes. Quanto mais
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critérios, menos importante cada critério individual se torna, e a compensação é feita pela
atribuição de pesos para cada critério. É importante certificarmo-nos de que os níveis sejam
consistentes internamente e completos, e que as relações entre eles estejam claras.
3) Construir uma matriz de comparação paritária entre os elementos do nível inferior
e os do nível imediatamente acima. Em hierarquias simples, cada elemento de nível inferior
afeta todos os elementos do nível superior. Em outras hierarquias, elementos de nível
inferior afetam somente alguns elementos do nível superior, requerendo a construção de
matrizes únicas.
4) Fazer os julgamentos para completar as matrizes. Para isso, são necessários n (n
- 1) /2 julgamentos para uma matriz n x n, sendo n o número de linhas e colunas. O analista
ou grupo participante julga se A domina o elemento B. Se afirmativo, inserir o número na
célula da linha de A com a coluna de B. A posição coluna A com linha B terá o valor
recíproco. Assim prossegue-se com o preenchimento da matriz. Os valores inseridos são os
da escala de comparação, os quais constam na tabela 9.
5) Calcular o índice de consistência (IC). Se não for satisfatório, refazer julgamentos.
De acordo com SAATY (1991), para se obter um valor para a consistência de uma matriz
positiva recíproca (matriz criada no Passo 4), o seu autovalor máximo deveria ser igual a n
(dimensão da matriz). No caso de uma matriz ser consistente, precisamos de n -1
comparações paritárias já que, a partir delas, as outras podem ser deduzidas logicamente.
O autovetor (medida de consistência do julgamento) indica a ordem de prioridade. O
método da análise hierárquica busca o autovalor máximo, λmax, que pode ser calculado
pela multiplicação da matriz de julgamentos A (Passo 4) pelo vetor coluna de prioridades
computado (w), seguido da divisão desse novo vetor encontrado (A*w), pelo primeiro vetor
w, chegando-se ao valor de λmax.
Cabe lembrar que Aw= λ w e, que no método da análise hierárquica, Aw= λmax w. Para o
cálculo de λmax, utiliza-se a fórmula abaixo:
Como regra geral, se o índice de consistência for menor do que 0.1, então há consistência
para prosseguir com os cálculos do AHP. Se for maior do que 0.1 recomenda-se que
julgamentos sejam refeitos (por exemplo, reescrevendo questões do questionário ou
recategorizando elementos) até que a consistência aumente.
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SAATY (1991) sugere também o uso da Razão de Consistência, que considera o IC e o
Índice Randómico (IR)32, que varia com o tamanho n da amostra.
Saaty (1991) propõe uma tabela com os índices randómicos (IR) de matrizes de ordem 1 a
15 calculados em laboratório, conforme exibido na tabela 16.
Tabela 16 - Identificação do Índice Randómico Médio. Fonte: SAATY (1991)
6) Analisar as matrizes para estabelecer as prioridades locais e globais, comparar as
alternativas e selecionar a melhor opção. SAATY (1994) mostra que há dois meios de
sintetizar as prioridades locais das alternativas, usando prioridades globais dos critérios: o
modo distributivo e o modo ideal. No distributivo, os pesos das alternativas somam 1. É
adotado quando há dependência entre as alternativas e uma prioridade unitária é distribuída
entre elas, ou seja, quando o objetivo é escolher uma alternativa que é melhor em relação a
outras. Segundo SILVA et al., (2011), alguns autores, como GRANDZOL (2005), defendem
que o modo distributivo é apropriado para alocação proporcional de um benefício.
Traduzindo numericamente o exemplo do autor, três alternativas com relação de
dependência A, B e C teriam prioridades como A=0.2, B=0.5 e C=0.3, que totalizam 1.0. Já
o modo ideal, é utilizado para obter a melhor alternativa entre alternativas distintas e sem
relação de dependência. Nesse modo, as prioridades locais das alternativas são divididas
pelo maior valor entre elas. Isso é feito para cada critério, e a alternativa torna-se ideal de
valor 1. Se as alternativas são suficientemente distintas, sem dependência nas definições, o
modo ideal seria o meio de síntese. No exemplo citado de A, B e C, B seria a alternativa
ideal com prioridade 1.0 (= 0.5 ÷ 0.5), C teria prioridade 0.6 (= 0.3 ÷ 0.5) e A teria prioridade
0.4 (= 0.2 ÷ 0.5).
1.4. AHP e a Gestão de Projetos Segundo SILVA et al., (2011), para GRANDZOL (2005), a metodologia do AHP agrega valor
no planeamento de um projeto, ao tratar de prioridades, de parâmetros ótimos e de seleção
de alternativas.
32
O índice randónico representa o valor que seria obtido numa matriz de comparações pareada de ordem n em que não fossem feitos julgamentos lógicos. A tabela foi obtida depois de bastantes ensaios desenvolvidos por SAATY (1980).
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O grupo de alternativas a serem escolhidas compõe a motivação da tomada de decisão que,
para SAATY (1994), é um processo que envolve os seguintes passos:
Estruturar um problema com um modelo que mostre os elementos-chave do
problema e suas relações;
Expor julgamentos que refletem conhecimento, sentimentos e emoções;
Representar os julgamentos com números significativos;
Usar esses números para calcular as prioridades dos elementos da hierarquia;
Sintetizar esses resultados para determinar um resultado geral;
Analisar a sensibilidade a mudanças de julgamento.
Com a teoria explicada nesta seção, observa-se que o método AHP atende a esses critérios
de processo de tomada de decisão. O AHP decompõe um problema em subproblemas e
depois agrega as soluções dos subproblemas em uma solução geral. Facilita a tomada de
decisão ao organizar percepções, sentimentos, julgamentos e memórias em uma estrutura
que exibe as forças influentes na decisão e que gera um resultado numérico e conclusivo.
Também por essa razão o método AHP pode ser usado pela teoria de Gestão de Projetos:
Ajuda a estruturar o Planeamento e a tomada de decisões e, ao mesmo tempo, a Gestão de
Projetos depende de Planeamento para tomada de decisões. No estudo em questão, o AHP
apoia a Gestão de Projeto na determinação de áreas prioritárias de conservação, através da
elaboração da carta de vulnerabilidade para apoio na gestão ecológica da ZPE Ria de
Aveiro.
2. VARIÁVEIS E CRITÉRIOS UTILIZADOS
Para a elaboração da carta de vulnerabilidade ecológica da ZPE - Ria, foram selecionadas
as variáveis julgadas mais pertinentes para o estudo em causa (fig.18), tendo sido
posteriormente reclassificadas segundo critérios que passaremos a definir. Importa ainda
referir que o estudo da vulnerabilidade incide unicamente na área terrestre (incluindo a área
lagunar) da ZPE - Ria. Assim, ss variáveis utilizadas foram:
1 - Habitats Naturais (importância segundo a Directiva Habitats);
2 - Suscetibilidade à erosão;
3 - Distribuição da Fauna;
4 - Ictiofauna – rotas dos migradores;
5 - Estado das massas de água da ria de Aveiro;
6 - Proximidade à malha urbana
7 - Proximidade à malha viária
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De entre as variáveis utilizadas, a valorização ecológica é dada pelas variáveis 1, 3 e 4,
sendo as condicionantes representadas pelas variáveis 2, 5, 6 e 7.
Cada um dos fatores das variáveis foi reclassificado de 1 a 5 de acordo com o seu grau de
importância para a variável (exemplo: para a suscetibilidade à proximidade da malha viária
foram criados buffers múltiplos de 50m, em que o polígono assim criado relativo aos 50m
mais próximos à malha viária corresponde ao nível 5, ou seja, ao nível mais crítico). O peso
de cada uma das variáveis será determinado de acordo com o método AHP.
Figura 18 - Esquema de elaboração da carta de vulnerabilidade. Elaboração própria.
2.1. Habitats Naturais
As classes de vulnerabilidade foram determinadas em função das tarefas processuais
anteriormente referidas e dos processos de reclassificação das variáveis consideradas,
processos que foram já igualmente referidos. Correspondem a 5 níveis/classes:
1 – Reduzida
2 – Reduzida a Moderada
3 – Moderada
4 – Moderada a Elevada
5 – Elevada
De modo a clarificar alguns dos conceitos utilizados devemos referir que, por exemplo, a
ZPE - Ria de Aveiro é considerada como a zona húmida mais importante do Norte do país
(ICNB,2011), albergando grande diversidade de comunidades vegetais halófitas e sub-
halófitas numa extensa área estuarina, representando consequentemente a área mais
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importante de ocorrência do habitat 1130 (Estuários). Destaca-se, também, o habitat 1330
(juncais e prados-juncais da aliança Glauco maritimae-Juncion maritimi) por constituir a área
onde apresenta maior expressão no território nacional (tabela 17).
Tabela 17 – Habitats Naturais e seminaturais da ZPE Ria de Aveiro. Fonte: ICNB (2008).
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Conforme mostra a figura 19, na envolvente do complexo estuarino estão representados
diversos habitats ripícolas, nomeadamente o habitat 91E0 (Florestas aluviais de Alnus
glutinosa e Fraxinus excelsior), e na zona litoral, os habitats dunares (2110, 2120, 2130,
2150, 2170, 2190, 2270 e 2330) são constituídos por comunidades vegetais raras, tais como
matagais densos de Salix arenaria em depressões dunares que sofrem habitualmente
encharcamento sazonal mais ou menos prolongado (habitat 2170). Neste habitat, que está
presente em vários países da região biogeográfica Atlântica, mas na Região Biogeográfica
Mediterrânica apenas ocorre em Portugal, de forma pontual, podemos encontrar uma fração
considerável da fauna das dunas litorais) nas Dunas de Mira, Gândara e Gafanhas e na Ria
de Aveiro. A sua posição finícola em Portugal confere a este habitat um assinalável
interesse biogeográfico e conservacionista (ICNB, 2011).
Figura 19 - Cartografia dos Habitats Naturais da ZPE Ria de Aveiro. Elaboração própria.
Fonte: ICNB (2011).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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Os critérios utilizados para a reclassificação da carta dos habitats da ZPE - Ria de Aveiro
foram de acordo com o grau de importância atribuído pela Diretiva Habitats da seguinte
forma (fig. 20):
Habitats de Conservação Prioritária
5 = Prioritários: 1150; 2130; 2150; 2270; 4020; 91E0.
4 = Ocorrência na Península Ibérica ou apenas em Portugal e ainda os pertencentes
à tabela de habitats de conservação prioritária mas da qual não há referência ao seu
caracter endémico (não definidos como prioritários): 1320; 1330; 1420; 2110; 2120;
2170; 2190; 9230
Outros
3 = 1110; 1130; 1140; 1310; 1420; 2110; 2120; 2330; 3150; 3280; 6420; 92D
Não se atribuíram valores abaixo do nível 3 por considerarmos que todos os habitats
naturais presentes na Ria de Aveiro têm a sua importância e o seu valor, quando os
consideramos isolados, em mosaico ou em associação com a fauna.
Figura 20 - Reclassificação da carta dos habitats, segundo a metodologia proposta.
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2.2. Suscetibilidade à erosão
A carta de suscetibilidade à erosão foi elaborada de acordo com os critérios da tabela 18
(cfr., por favor), tendo a sua reclassificação obedecido a critérios segundo a especificidade
de cada uma das variáveis.
Tabela 18 - Variáveis e critérios utilizados para elaboração da carta de suscetibilidade à erosão.
Fonte: NASCIMENTO & DOMINGUEZ, 2009.
Assim, para a reclassificação procedeu-se da seguinte forma:
Geologia (G) – A reclassificação fez-se igualmente numa escala de 1 a 5, onde o
valor 1, corresponde às rochas mais antigas (e mais consolidadas) e o valor 5 (valor
de maior fragilidade) às mais recentes.
Solos (S) – A reclassificação da carta dos solos fez-se de acordo com a maturidade
pedogenética onde o valor 1 corresponde a solos mais evoluídos, e o valor 5 a solos
menos evoluídos.
Declividade (D) – Esta carta não foi utilizada, dado não ter expressividade para o
estudo em questão, pelo facto de praticamente toda ela ser plana apresentando em
algumas zonas declividades mais elevadas, ainda assim abaixo dos 4%.
Classes de uso do solo (US) - Para estabelecer as classes de suscetibilidade para os
diferentes tipos de uso da terra levou-se em consideração o papel da vegetação
como manto protetor da paisagem. A cobertura vegetal responde pela estabilidade
dos processos morfodinâmicos, preconiza TRICART (1977). Para o autor, a
cobertura vegetal densa apresenta capacidade de travar o “desencadeamento de
processos mecânicos da morfogénese”. A baixa energia para a remoção de material
e transporte, favorece os processos pedogenéticos enquanto restringe os processos
morfogenéticos. Por outro lado, a falta de cobertura florestal densa contribui para a
instabilidade ambiental, com o desenvolvimento da morfogénese. De acordo com
CHRISTOFOLETTI (1974) apud NASCIMENTO & DOMINGUEZ (2009), as
características da cobertura vegetal vão influenciar na variedade das modalidades e
intensidade dos processos, contribuindo para a acumulação ou subtração de
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90
matéria. Ainda de acordo com os mesmos autores, referidos na obra de ROSS,
(1991) a remoção da cobertura vegetal, parcial ou total, tornando o terreno exposto,
facilita o escoamento pluvial concentrado e diminuindo a infiltração de água no solo.
Desta maneira de acordo com os critérios estabelecidos por TRICART (1977),
CREPANI et al., (1996), TAGLIANI (2002), e NASCIMENTO & DOMINGUEZ (2005),
foram adotados os valores mais baixos, entre 1 e 3 para os terrenos protegidos que
apresentam maior densidade da cobertura vegetal, enquanto e os valores de 4 e 5
para as áreas desprovidas de vegetação tais como as dunas e campos agrícolas e
ainda a área da ria sob influência das marés.
A carta de suscetibilidade foi determinada a partir da reclassificação das 3 cartas atrás
descritas (geologia, solo e classes de uso do solo), elaborada em arcmap, utilizando a
calculadora raster com a seguinte fórmula (fig.21):
G*0,33 + S*0,33 + US*0,33 = Suscetibilidade à erosão
Figura 21 - Carta de susceptibilidade à erosão, segundo a metologia proposta.
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2.3. Distribuição da Fauna
A distribuição da fauna foi elaborada de acordo com a sintetização dos valores faunísticos
por biótopo e por UTM 10X10 (Capítulo I, ponto 4.5). Os critérios utilizados para a
reclassificação da carta dos valores faunísticos da ZPE Ria de Aveiro foram a quantidade de
espécies presentes por classe de uso do solo/UTM 10x10, numa escala de 1 a 5, onde o
valor 1 assume a menor importância e o valor 5 de maior importância correspondendo aos
habitats (refira-se habitat, neste caso, como classes de uso do solo), com maior número de
espécies presentes (fig.22).
Figura 22 - Reclassificação da carta de distribuição da fauna, segundo a metodologia proposta.
2.4. Ictiofauna: rotas dos migradores
Na tabela 19 estão identificadas as espécies insuficientemente representadas cuja
ocorrência na ria de Aveiro justifica a sua classificação como Sítio. Com exceção de
Lampetra planeri são todas espécies migradoras anádromas.
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Tabela 19 - Espécies insuficientemente representadas. Fonte: ICNB (2012)
A lampreia-marinha, Petromyzon marinus Linnaeus, 1758 é uma espécie migradora
anádroma que desenvolve grande parte do seu ciclo de vida em ambiente marinho,
deslocando-se os adultos para o ambiente dulciaquícola a fim de se reproduzirem.
A ria de Aveiro é um sistema de transição entre os meios marinho e dulciaquícola,
pelo que a ocorrência de lampreia-marinha é transitória, na sua passagem em
direção ao rio ou ao mar.
Apesar de se tratar de uma espécie pouco frequente na própria ria (REBELO &
POMBO, 2001) depende em absoluto deste ecótono na sua migração reprodutora.
Segundo ALMEIDA et al. (2005), a bacia hidrográfica do Vouga apresenta
disponibilidade de zonas com condições adequadas para a sua reprodução as quais
ocorrem, sobretudo, em zonas superiores dos cursos de água doce.
A lampreia-de-riacho, Lampetra planeri é uma espécie residente1 que completa todo
o seu ciclo de vida em meio dulciaquícola de rios permanentes.
As populações existentes no rio Vouga constituem uma das três Unidades Evolutivas
Significativas, pelo que tem de ser assegurado o reconhecimento e proteção da
herança genética e manutenção do seu potencial evolutivo (ALMEIDA et al. 2004).
Cada uma das populações isoladas pode possuir adaptações específicas às
condições ecológicas do local, e os esforços de conservação devem ser dirigidos
para a preservação da integridade genética de cada grupo, porque a não
conservação destes “stocks” distintos pode reduzir o potencial evolutivo da espécie
(ALVES et al. 2001).
O sável, Alosa alosa é uma espécie migradora anádroma, que passa a maior parte
do seu ciclo de vida em ambiente marinho. O declínio da área de ocupação e da
qualidade do habitat, conduziu a um decréscimo no número de subpopulações e de
indivíduos maduros (ROGADO et al., 2005c), conferindo-lhe a categoria de ameaça
“Em Perigo” (CABRAL et al., 2005). As ameaças mais graves são as que incidem na
fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destacam a construção de
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barragens que alteram as zonas de desova ou impedem o seu acesso, a alteração
do regime natural de caudais, a poluição, a exploração de inertes e a sobrepesca
(ROGADO et al., 2005c).
Tal como as restantes espécies anádromas, utiliza a bacia hidrográfica do Vouga
para completar o seu ciclo de vida, utilizando a ria de Aveiro para aceder às zonas de
reprodução.
A migração reprodutora inicia-se durante o mês de março e prolonga-se até ao final
do mês de julho. A maioria dos reprodutores morre após a desova.
A savelha, Alosa fallax) é uma espécie migradora anádroma cuja redução da área de
ocupação e da qualidade do habitat provocou um declínio no número de
subpopulações, conferindo-lhe a categoria de ameaça Vulnerável (CABRAL et al.,
2005). A construção de barragens que alteram as zonas de desova ou impedem o
seu acesso, a alteração do regime natural de caudais, a poluição, a exploração de
inertes e a sobrepesca são os principais fatores de ameaça para a sobrevivência
desta espécie nos rios portugueses (ROGADO et al., 2005d).
Segundo este autor (op. Cit.) a savelha reproduz-se em água doce ou, em algumas
situações, na parte superior da zona estuarina, e os juvenis passam por uma fase de
duração variável em meio estuarino. À semelhança do sável, entre maio e julho
efetua a migração para se reproduzir, efetuando contudo migrações de menor
amplitude. Após a desova migra de volta para o mar, podendo reproduzir-se mais
duas ou três vezes nos anos seguintes.
As lampreias e clupeídeos acima referidos estão insuficientemente representados na
Região Mediterrânica, sendo que em Portugal a Lampetra planeri apenas ocorre nesta
região biogeográfica.
São espécies que, para além de enfrentarem as ameaças comuns à maioria das espécies
aquícolas, apenas se reproduzem uma vez, dado que o final da desova coincide com a
morte do reprodutor. Excetua-se Alosa fallax que após a desova migra de volta para o mar,
embora sofra alguma mortalidade após este período crítico do seu ciclo de vida (ICNB,
2011).
Na ria de Aveiro estas espécies ocorrem em toda a área lagunar da ria, bem como nos seus
principais tributários, nomeadamente os rios Vouga, Águeda e Antuã.
Para o trabalho valorizaram-se os locais de ocorrência destas espécies tendo a carta sido
reclassificada de acordo com a ocorrência em duas classes:
Locais onde ocorre = 5
Locais onde não ocorre = 3
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Justifica-se a categorização 3 dos locais onde não ocorrem estas espécies devido ao facto
de existirem outras espécies da ictiofauna, cada uma com a sua importância e que
dependem destes ecossistemas para a sua sobrevivência e para completarem o seu ciclo
reprodução e de vida (fig.23).
Figura 23 - Reclassificação da carta das rotas do migradores (ictiofauna), segundo a metodologia proposta.
2.5. Estado das massas de água da “Ria de Aveiro”
A qualidade da água tem interferência direta na vida animal da ria, quer para a ictiofauna,
quer para a restante fauna, nomeadamente as aves que utilizam a ria como fonte de
alimentação, nomeadamente nas zonas de sapal, praias de vaza e no salgado. Para o
estudo em causa foi apenas utilizada informação relativa à poluição da água, disponibilizada
pela ARH Centro, referente ao estado das massas de água.
As massas de água são classificadas de “Mau” a “Excelente”. Na “Ria de Aveiro” as massas
de água estão classificadas de “Medíocre” a “Bom”.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
95
Assim, conforme a classificação, a reclassificação fez-se da seguinte forma (fig.24):
Bom = 2
Razoável = 3
Medíocre = 4
Figura 24 - Reclassificação da carta do estado das massas de água da Ria de Aveiro, segundo a metodologia proposta.
2.6. Proximidade à malha urbana
Apesar de considerarmos que, em termos gerais, as espécies animais conseguem
desenvolver bons mecanismos de adaptação à atividade antrópica, a proximidade às áreas
habitacionais pode ser considerada também como um fator de perturbação. Não sendo
muito certo quantificar uma distância correta em relação à malha urbana sobre o efeito de
perturbação, consideraram-se as distâncias que utilizadas em relação ao efeito das vias de
comunicação sobre a fauna, com um valor máximo de 600m.
Para o estudo em causa, criámos uma simulação de perturbação até ao 500m, com buffers
de 100m, onde o efeito de perturbação vai diminuindo à medida que nos distanciamos das
áreas habitadas (fig.25).
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
96
Figura 25 - Reclassificação da carta de próximidade à malha urbana segundo a metodologia proposta.
2.7. Proximidade à malha viária
O efeito de perturbação foi verificado em diversas espécies de aves e em diferentes tipos de
habitats e pode atingir os 3500m, embora o valor mais razoável a considerar seja uma
distância de 1000m (REIJNEN et al. 1997 in GARCIA, 2004 apud ICNB, 2008). Em Portugal,
o estudo da influência da proximidade da A2 na distribuição e densidade do sisão
demonstrou que a densidade de machos territoriais é menor nas faixas mais próximas da
autoestrada, relativamente às faixas mais afastadas.
A abundância de machos territoriais nos primeiros 600m foi metade do valor verificado na
restante faixa da área de estudo. Verificou-se que o maior número de territórios se situava
entre os 600 e os 800m de distância à A2, e consideraram provável que o efeito de
perturbação seja exercido com maior intensidade até aos 600-800m de distância (GARCIA
2004 apud ICNB, 2008).
O nível de ruído, que se mantém elevado até pelo menos 500m da estrada, parece ser o
fator mais relevante na redução das densidades de aves junto destas (REIJNEN et al. 1995
e FORMAN & DEBLINGER 2000 in GARCIA, 2004 apud ICNB, 2008). Uma explicação
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
97
possível para esta diminuição de efetivos é a perturbação no padrão de comunicação entre
as aves, com a consequente dificuldade dos machos atraírem as fêmeas.
Por outro lado, o ruído do tráfego pode causar stress nas aves ocorrendo um afastamento
destas relativamente à estrada, principalmente das fêmeas. Estes dois aspetos podem
causar uma diminuição no sucesso de reprodução e contribuir para uma redução da
densidade populacional de aves nidificantes.
Além da perturbação sonora, a perturbação visual poderá também ser relevante nos
primeiros 10 a 25m, e depende muito do perfil da estrada, já que nos troços em escavação
os veículos não são visíveis para as aves que se encontram no solo (GARCIA, 2004 apud
ICNB, 2008).
Elaboração da carta do efeito de perturbação pela malha viária:
Estradas Nacionais e/ou outras estradas asfaltadas, criámos buffers múltiplos com
intervalos de 50m até aos 250 metros de proximidade. Estas, são estradas de menor
tráfego, em relação às quais os seus impactos são, de algum modo minimizados
pelo efeito de barreira da vegetação (arbórea ou arbustiva).
Autoestradas e Linha de caminho de ferro, com buffers múltiplos de 120m até aos
600m de proximidade (fig.26).
Figura 26 - Reclassificação da carta de proximidade à malha viária segundo a metodologia proposta.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
98
Em termos muito sintéticos, a reclassificação das cartas atrás discriminadas, dão-nos conta
do grau de vulnerabilidade que cada factor representa para os valores naturais em causa.
Aqui ficamos com uma perceção representantiva da forma como cada um destes factores ou
variáveis vão determinar o resultado final (crf. Fig. 27), depois de ponderados os pesos de
cada um. Aliás, neste processo de elaboração da carta de vulnerabilidades, foi talvez o
factor correspondente à “ponderação” das variáveis, a parte mais dificil de todo o processo,
validar cientificamente o peso que cada uma das variáveis iria ter no processo de “Álgebra”
final, o que foi feito com recurso à Anállise Multicritério, nomeadamente ao Analytic
Hierarchy Process (ou análise hierárquica), conforme descrito no ponto seguinte.
2.8. Ponderação das variáveis
A metodologia utilizada foi a Analytic Hierarchy Process, teoria da análise hierárquica
introduzida por SAATY (1991), anteriormente referida de modo detalhado, que, recordando,
consiste na redução do estudo de sistemas a uma sequência de comparações aos pares,
seguindo a escala recomendada pelo autor. Foi elaborada uma matriz pareada de
comparação (tabela 20) que permitiu estabelecer o peso final de cada uma das
variáveis, tendo sido calculado o índice de consistência em 1,40%, um valor muito fiável
de acordo com o modelo proposto pelo autor (op.cit.) na medida em que, se o índice de
consistência for menor que 10% há consistência para prosseguir com os cálculos.
Tabela 20 - Matriz pareada de comparação
Matriz de Comparação
Variáveis A B C D E F G
A 1,00 3,00 1,00 3,00 0,33 0,33 0,33
B 1,00 1,00 1,00 0,33 0,20 0,20 0,20
C 1,00 1,00 1,00 1,00 0,33 0,33 0,33
D 1,00 1,00 1,00 1,00 0,33 1,00 0,33
E 3,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,00 1,00
F 3,00 1,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,00
G 1,00 3,00 1,00 3,00 1,00 1,00 1,00
Soma 11,00 11,00 9,00 12,33 4,20 4,87 4,20
Em que:
A – Suscetibilidade à erosão;
B – Proximidade à malha urbana
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C – Estado das massas de água da ria de Aveiro;
D – Proximidade à malha viária
E – Suscetibilidade dos Habitats Naturais
F – Distribuição da Fauna;
G – Ictiofauna – rotas dos migradores;
Como se referiu antes, SAATY (1991) sugere também o uso da Razão de Consistência, que
considera o Índice de Consistência e o Índice Randômico (IR), que varia com o tamanho (n)
da amostra. De acordo com os cálculos efetuados, a Razão de Consistência foi de 1.06%,
valor bem abaixo do limite dos 10%, a partir do qual devemos rever a nossa matriz. Assim,
perante os resultados apurados, validados pelos valores dos índices de Consistência e da
Razão de Consistência, utilizaram-se as ponderações já normalizadas para as variáveis,
constantes da tabela 21, correspondente ao campo “priority vetor”.
Tabela 21 - Matriz pareada de comparação normalizada
Matriz Normalizada sum Ponderação 0,091 0,273 0,111 0,243 0,079 0,068 0,079 0,866 14,43% 0,091 0,091 0,111 0,027 0,048 0,041 0,048 0,409 6,81% 0,091 0,091 0,111 0,081 0,079 0,068 0,079 0,522 8,70% 0,091 0,091 0,111 0,081 0,079 0,205 0,079 0,659 10,98% 0,273 0,091 0,333 0,081 0,238 0,205 0,238 1,222 20,36% 0,273 0,091 0,111 0,243 0,238 0,205 0,238 1,162 19,36% 0,091 0,273 0,111 0,243 0,238 0,205 0,238 1,162 19,36%
soma 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 6,000 100,0%
Índice de
Consistência (IC) 1,40% n = 7
Razão de
Consistência (RC) 1.06%
Estabelecido o peso de cada uma das variáveis, toda a parte de processamento dos mapas
foi elaborado em ambiente SIG (ArcGis 10) utilizando a seguinte fórmula, que permitiu a
elaboração do cartograma apresentado na figura 27:
A*0.15+B*0.07+C*0.09+D*0.11+E*0.20+F*0.19+G*0.19
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
100
Figura 27 - Zonamento da vulnerabilidade após o processo de reclassificação, segundo o método Natural Breaks.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
101
3. ANÁLISE DE RESULTADOS
Analisando os resultados apresentados na carta de vulnerabilidade verificamos que, de um
modo geral, toda a ZPE - Ria apresenta com vulnerabilidade Moderada a Elevada,
característica que podemos atribuir às zonas estuarinas, na qualidade de unidade
biogeográfica (Habitat 1130). As áreas mais sensíveis localizam-se essencialmente em
biótopos dependentes das marés, como lodaçais e sapais associados ao Rio Vouga e seus
afluentes e ao braço Norte da Ria de Aveiro (crf. fig.15).
Estas áreas destacam-se das restantes principalmente por albergarem espécies com muito
interesse para a conservação. Refere-se, assim, que nas áreas de sapal e lodaçal, assim
como na área central da área de estudo, onde também ocorrem estes biótopos (Habitats
1110, 1140 e 1330), verifica-se a ocorrência de espécies como a Garça-vermelha ou a
Águia-pesqueira, destacando-se na linha de costa, a ocorrência da Negrola.
Também a área correspondente ao bocage, se apresenta com uma vulnerabilidade elevada,
nomeadamente devido à presença do Habitat 91E0. Esta área corresponde ao local onde foi
inventariado o maior número de espécies da fauna assim como a presença de habitats
prioritários.
A zona do antigo salgado caracteriza-se como uma área muito importante para alimentação
e refúgio de avifauna em especial limícolas e larídeos, salientando-se a ocorrência de várias
espécies com estatuto de conservação desfavorável.
A pateira de Fermentelos e toda a área envolvente apresentam igualmente uma
vulnerabilidade moderada a elevada e elevada, devido a factores tais como a proximidade à
malha viária, ao aglomerado populacional, à ocorrência de espécies migradoras da
ictiofauna, assim como local de excelência para as aves.
Ao nível do litoral, salienta-se toda a faixa litoral a norte da Torreira e alguns locais dentro da
Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto onde ocorrem vários habitats naturais dunares
(2130, 2150+2270+2330 e 2110+2120), assim como a ocorrência de várias espécies de
aves migradoras e algumas residentes.
A Sul de Aveiro, no canal de Mira, os fatores com maior influência para a vulnerabilidade
moderada a elevada são de ordem antrópica, principalmente a perturbação provocada pela
proximidade à malha viária e urbana.
É possível comparar as similaridades no resultado final do ensaio aqui apresentado com um
estudo produzido pela DHV, S.A para POLIS LITORAL Ria de Aveiro em 2011, no capítulo
referente à análise biofísica e ambiental (Estudo de Atividades Económicas e suas
Dinâmicas – Relatório Final, 103-140), onde as áreas de maior vulnerabilidade coincidem
com as deste trabalho, havendo contudo algumas diferenças, nomeadamente no que diz
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
102
respeito à área da pateira e Fermentelos e alguns locais da área lagunar, devido ao facto de
introduzirmos fatores de perturbação antrópica, não aconteceu nesse estudo (crf. Fig .28).
Figura 28 - Classificação da sensibilidade dos valores ecológicos. Fonte: Polis Litoral Ria de Aveiro, 2011.
4. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DA ZPE/SIC RIA DE AVEIRO
4.1. Orientações gerais
A “Ria de Aveiro” encontra-se numa área densamente povoada, com crescimento urbano e
industrial relevante. A poluição da água, proveniente sobretudo de efluentes industriais
constitui assim um dos principais fatores negativos a que a ria está sujeita. A redução dos
habitats naturais na região tem sido causada por drenagem e conversão de zonas húmidas
para utilização agrícola, abandono da salicultura e conversão de salinas em aquiculturas, e
também pela expansão urbano-turística que se verifica na zona litoral.
As comunidades dunares encontram-se ameaçadas pela invasão de espécies exóticas,
fundamentalmente do género Acacia, constituindo uma das principais ameaças ao equilíbrio
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103
ecológico dos habitats da ria. Refira-se, ainda, as intervenções que induzem alterações
significativas na dinâmica da ria, como as resultantes das dragagens, abertura de canais e
desassoreamentos efetuados no porto de Aveiro. Outras ameaças que afetam a ria,
nomeadamente as que produzem consequências para os peixes migradores, são as que
incidem na fase continental do seu ciclo de vida, das quais se destaca a construção de
barragens e açudes, que alteram as zonas de desova ou impedem o seu acesso. Também a
exploração de inertes, a limpeza das margens e do leito do rio, a alteração do regime natural
de caudais (devido à exploração dos recursos e ao regime de exploração das barragens) e a
captura de exemplares com fins comerciais (pesca profissional e furtiva) têm contribuído
para o declínio destas espécies.
Em relação aos habitats, a gestão da ZPE/SIC Ria de Aveiro deverá ser dirigida
prioritariamente para a conservação dos habitats lagunares, ripícolas e dunares, devido à
presença de habitats prioritários, assim como aos elevados graus de vulnerabilidade que lhe
são conferidos pela carta agora apresentada.
Deverá dar particular atenção à preservação dos diversos habitats associados ao
ecossistema estuarino (lodaçais, sapais, vegetação halófila), assim como à conservação ou
recuperação das zonas dulciaquícolas terrestres, promovendo, por exemplo, a manutenção
da vegetação ribeirinha autóctone e condicionado as intervenções nas margens e leito de
linhas de água, fundamentais ainda à conservação de diversas espécies da fauna.
Um dos aspetos fundamentais é a melhoria da qualidade da água, através de um correto
tratamento de efluentes industriais e domésticos, sendo igualmente relevante acautelar as
intervenções que induzem alterações significativas na dinâmica da ria, como as resultantes
das dragagens, abertura de canais e desassoreamentos. A proteção da zona húmida passa
ainda por evitar a sua redução devido a drenagem e conversão dos habitats de sapal.
Considerando a importância da manutenção da conectividade longitudinal entre o mar e as
áreas propícias para a desova (rios) das espécies de peixes migradoras diádronas, deverão
ser evitadas ou corrigidas intervenções que resultem na interrupção da continuidade
longitudinal dos cursos de água. Deverão também ser evitadas ou corrigidas algumas
práticas de pesca lesivas para os recursos haliêuticos.
É, ainda, de salientar a importância da preservação dos sistemas dunares assegurando,
nomeadamente, um correto ordenamento da ocupação urbana, agrícola e turística sobre
esta faixa costeira, de forma a conciliar o seu usufruto com a conservação dos valores
naturais em presença. Ações a privilegiar no sentido de garantir a sustentabilidade da
dinâmica natural dos habitats apontam no sentido da proteção das depressões húmidas
dunares, e da proteção e manutenção da duna secundária. Neste sentido, recomenda-se
também, o controlo de espécies invasoras, sobretudo da acácia.
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104
Em relação à fauna, as orientações de gestão deverão ser dirigidas prioritariamente para a
conservação das aves aquáticas e passeriformes migradores. Neste âmbito deverá ser
encarada como fundamental a manutenção e restauração da área húmida e do seu mosaico
de habitats, promovendo a coexistência de habitats de alimentação (vasas e salinas),
habitats de nidificação e repouso (sapais) e corredores de migração (galerias ripícolas e
bosquetes) e assegurar a sua qualidade ambiental a curto, médio e longo prazo.
Deverá também ser garantida a preservação dos habitats marinhos desta ZPE, importantes
para a preservação de algumas espécies da avifauna.
As atuais atividades que se praticam na área, sejam elas ligadas à pesca, à aquicultura,
exploração do sal ou turísticas, deverão ser compatibilizadas com os objetivos de
conservação da natureza, através da promoção de boas práticas ambientais e do
zonamento de áreas sensíveis (instrumentos de gestão territorial). Outro aspecto de
particular importância, consiste na promoção da qualidade da água ( e na sua proteção)
melhorando a eficácia de fiscalização sobre a emissão de poluentes.
Na área do Aproveitamento Hidro-Agrícola do Vouga, para além das orientações de gestão
identificadas, deverão ver-se cumpridas as exigências das boas práticas agrícolas em vigor,
complementadas pela monitorização da qualidade da água e a preservação das galerias
ripícolas. Ainda relativamente à poluição das águas causada ou induzida por nitratos de
origem agrícola, bem como à sua propagação, deve ser dado cumprimento ao programa de
ação para a zona vulnerável nº 2, de proteção ao aquífero quaternário de Aveiro (PSRN,
2000).
Assim, tendo em conta o que acabámos de descrever, podemos sintetizar as orientações
gerais nos seguintes pontos:
a) Conservação das aves aquáticas e passeriformes migradores – manutenção e
restauração da área húmida e dos seu mosaico de habitats, promovendo a coexistência de
habitats de alimentação, nidificação e repouso e corredores de migração:
Preservação dos habitats marinhos;
Compatibilização das atividades económicas com a conservação da natureza,
através da promoção de boas práticas ambientais e do zonamento de áreas
sensíveis;
Garantir a qualidade da água melhorando a eficácia de fiscalização sobre a
emissão de poluentes e monitorizando a mesma.
b) Cumprir as exigências das boas práticas agrícolas em vigor no Aproveitamento
Hidroagrícola do Vouga, monitorizando a qualidade da água, e a preservação das galerias
ripícolas:
Promover a manutenção de prados húmidos;
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105
Conservar/promover sebes, bosquetes e arbustos;
Manter práticas de pastoreio extensivo;
Restringir usos de agroquímicos/adotar técnicas alternativas;
Incrementar a sustentabilidade económica com interesse para a conservação das
espécies;
Condicionar a florestação;
Conservar/recuperar povoamentos florestais autóctones;
Conservar/recuperar vegetação dos estratos herbáceo e arbustivo;
Impedir introdução de espécies florestais não autóctones/controlar as existentes.
c) Outros usos e Atividades:
Condicionar a construção de infraestruturas e a expansão urbano-turística;
Reduzir a mortalidade acidental associada a linhas de transporte de energia;
Regular usos de açudes e charcas;
Manter/recuperar salinas;
Condicionar intervenções nas margens e leito de linhas de água;
Condicionar a pesca, e a apanha com artes que revolvam o fundo;
Implementar gestão cinegética compatível com a preservação das espécies,
incluindo a interdição do uso do chumbo;
Ordenar atividades de recreio e lazer.
4.2. Orientações específicas
A área da “Ria de Aveiro” é abrangida pela Zona de Proteção Especial, a Reserva Natural
das Dunas de São Jacinto e, futuramente, o SIC, assim como diversas zonas húmidas
consideradas muito sensíveis. Desta situação resultam diversos tipos de condicionantes ao
uso e ocupação do espaço, nomeadamente no que diz respeito à implantação das
atividades económicas e às formas do exercício dessas atividades, de modo a minimizar os
impactos por elas causado.
A delimitação em 9 áreas (fig.29) teve em consideração a classificação da área de estudo
quanto à sensibilidade ecológica, bem como as atuais utilizações humanas do território.
Assim, procurou-se estabelecer unidades territoriais que expressassem a importância
ecológica para as espécies e habitats.
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Fig.29 - Delimitação das áreas analisadas
Desta forma, cada área foi delimitada e caracterizada considerando um conjunto de fatores
ecológicos, biofísicos e sociais: sensibilidade ecológica determinada pela presença de áreas
classificadas, habitats naturais, áreas sensíveis para a avifauna e ocorrência de espécies de
flora e fauna protegidas tendo em consideração a utilização do plano de água e da margem,
nomeadamente ao nível dos canais de navegação preferenciais, biótopos e usos do solo,
em particular, os mais relevantes para a avifauna como sejam sapais e zonas entre marés,
salinas, zonas agrícolas, bosques e bosquetes, dunas e praias e galerias ripícolas.
4.2.1. Considerações sobre boas práticas para a boa gestão das áreas Analisadas
1 - Área com predominância de sapal e vários canais da ria de Aveiro, incluindo ainda áreas
de agricultura com espaços naturais e seminaturais, culturas temporárias de regadio e
floresta mista e de folhosas.
Salienta-se a importância da área de sapal como área de reprodução, abrigo e alimentação
de avifauna (como é o caso de aves limícolas, a garça-vermelha ou a águia sapeira), e
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107
áreas de nursery33 e passagem de ictiofauna (e.g. lampreia) ocorrendo diversas espécies
com estatuto de conservação desfavorável.
Pela sua sensibilidade a nível ecológico recomenda-se que este seja um local de
passagem no que concerne ao turismo náutico de recreio (em especial
embarcações motorizadas), devendo ser condicionado na altura mais sensível
para a avifauna (período de Invernada e reprodutor, sendo a época mais crítica
entre o início de março e meados de maio);
Condicionar o desassoreamento de canais/margens ao mínimo indispensável,
devendo avaliar-se caso a caso, de acordo com a sua localização, as
características e âmbito da intervenção;
Condicionar a dragagem e a substituição de zonas húmidas por práticas
agrícolas e pecuárias intensivas.
2 - Braço de ria rodeado por Sapal e culturas temporárias de regadio, circundadas por tecido
urbano descontínuo, onde se regista a presença de espécies com estatuto de conservação
desfavorável.
Pela sua proximidade a uma área muito sensível, recomenda-se que nesta área
o canal seja utilizado apenas para passagem no caso do turismo náutico (em
especial embarcações motorizadas), devendo ser condicionado na altura mais
sensível para a avifauna (período de invernada e reprodutor, sendo a época mais
crítica entre o início de março e meados de maio).
Pela sua sensibilidade recomenda-se que o desassoreamento de
canais/margens seja condicionado ao mínimo indispensável, devendo avaliar-se
caso a caso, de acordo com a sua localização, as características e âmbito da
intervenção.
3 - Extensa área de sapal (na sua maioria de vulnerabilidade elevada, segundo a nossa
carta), sendo uma das área mais importantes da Ria de Aveiro ao nível de conservação de
espécies prioritárias, nomeadamente avifauna (área muito importante para reprodução,
abrigo e alimentação), ictiofauna (funcionando como nursery tanto para espécies estuarinas
como marinhas) e invertebrados estuarinos.
Zona do antigo Salgado de Aveiro, com presença de canais da ria e predominância de
salinas e aquaculturas litorais ocorrendo também algumas áreas de sapal. A área é
atravessada pela A25. Trata-se de uma área importante para alimentação e refugio de
avifauna em especial limícolas e larídeos, classificada, segundo a nossa carta, como área
de vulnerabilidade moderada a elevada, salientando-se a ocorrência de várias espécies com
estatuto de conservação desfavorável, .
33
Áreas de desova.
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108
Área de sensibilidade máxima, atravessada por um canal cuja navegação deve ser
bastante restrita, em especial no caso de embarcações motorizadas. O período mais
crítico diz respeito ao período de Invernada e reprodutor de avifauna e reprodutor de
ictiofauna, em especialmente março e maio.
Condicionar a dragagem e substituição de zonas húmidas por práticas agrícolas e
pecuárias intensivas.
Área com enorme potencial para o turismo de natureza e cultural, podendo
desempenhar uma função importante ao nível da formação e sensibilização
ambiental, promovendo ainda atividades económicas tradicionais sustentáveis e
rentáveis.
4 - Zona mais agrícola com algum sapal, culturas temporárias de regadio, arrozais,
agricultura com espaços naturais e seminaturais, pastagens permanentes e vegetação
herbácea natural. A área agrícola com espaços naturais caracteriza-se por se tratar de
parcelas com culturas anuais e plurianuais separadas por uma rede de sebes/bosquetes.
Este mosaico rural, denominado “Bocage” é um raro habitat característico do Baixo Vouga
Lagunar (em Portugal apenas existe nesta região, e é invulgar em toda a Europa) que
contribui para a grande diversidade biológica da área, salientando-se a presença de
espécies como a águia-sapeira, a garça vermelha e diversos passeriformes invernantes.
Nesta área, podemos encontrar o Rio Vouga rodeado de pastagens permanentes, culturas
temporárias e culturas temporárias de regadio. Devido à presença de algumas espécies com
estatuto de conservação desfavorável, salientando-se a presença de aves aquáticas
importantes, tais como a garça-vermelha e a águia sapeira, estamos perante uma área de
sensibilidade elevada.
Deverá dar-se enfase à manutenção da prática agrícola e pecuária extensiva, em
especial na área de “Bocage” (área de extrema importância, tanto do ponto de
vista ecológico como cultural);
Condicionar a dragagem e a substituição de zonas húmidas por práticas
agrícolas e pecuárias intensivas.
5 - Antigos arrozais atualmente ocupados por áreas de sapal. Ocorrência de culturas
temporárias de sequeiro (zonas palustres) e área agrícola com espaços naturais e
seminaturais, rodeado por florestas mistas e de resinosas. De um modo geral, podemos
dizer que se trata de uma área rodeada por tecido urbano descontinuo..
Deverá condicionar-se a dragagem e a substituição de zonas húmidas por
práticas agrícolas e pecuárias intensivas.
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109
6 - Praia e sistemas dunares, matos e culturas temporárias de sequeiro e de regadio. Esta
unidade de paisagem, tal como foi caracterizada anteriormente, representa uma área menos
humanizada e já sem presença de área lagunar.
Salienta-se ainda que, toda a zona marinha, incluindo a área de praia e dunas, inclui áreas
importantes para espécies de aves marinhas com estatuto de conservação desfavorável,
como é o caso pato-negro (ou negrola) e algumas limícolas.
Entre a praia e sistemas dunares e a Ria ocorre essencialmente área agrícola com espaços
naturais e seminaturais e algumas manchas de floresta de folhosas.
A área entre as dunas e a Ria está ocupada por agricultura com espaços naturais e
seminaturais, florestas mistas e tecido urbano.
Na margem oposta do canal predominam as áreas agrícolas com culturas temporárias de
sequeiro e uma pequena área de sapal, as quais estão circundadas por uma matriz urbana.
Área que pode ser aproveitada para o turismo de natureza, recreio e lazer;
Devem ser aproveitados os caminhos e estradas secundárias existentes. A
abertura de novos caminhos ser condicionada.
A náutica de recreio, desportos náuticos, turismo de recreio e lazer deve ser
direcionado sobretudo para o eixo “rodoviário-fluviário” Norte-Sul que acompanha
as estradas N327 (São Jacinto Furadouro) e EM 592 (Barra-Vagueira), pois para
além de ser já bastante utilizado corresponde também, a área onde se regista
menos valor do ponto de vista conservacionista;
Deve ser salvaguarda toda a zona dunar que acompanha esse eixo, devendo
promover-se a conservação deste ecossistema, seus habitats e espécies,
devendo o acesso às dunas ser condicionado;
Na margem oposta do canal deve-se promover o turismo de natureza, recreio e
lazer devendo aproveitar-se os caminhos e estradas secundárias existentes. A
abertura de novos caminhos deve ser condicionada.
7 - Reserva Natural de São Jacinto. Salienta-se a ocorrência de dunas bem conservadas
(areias da praia, duna primária, zona interdunar e duna secundária) destacando-se, ao nível
de flora, a presença de comunidades dunares importantes. No interior da reserva ocorrem
algumas lagoas com elevada importância para a avifauna aquática;
Ao nível de floresta predominam as resinosas e uma grande expansão de plantas exóticas e
invasoras. Nas áreas mais baixas e húmidas ocorre ainda vegetação ripícola, salientando-se
os salgueirais, caniçais e juncais.
As Orientações de gestão neste espaço deverão cumprir o disposto no Plano de
Ordenamento em vigor aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/2005 de
21 de março.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
110
Promover a conservação do ecossistema dunar e dos seus habitats e espécies;
Assegurar a conservação e a valorização do património natural da área protegida
e da zona de proteção especial em que se encontra integrada;
Promover a investigação científica e o conhecimento sobre o património natural
da zona em que se insere, bem como a monitorização de espécies, habitats e
ecossistemas;
Assegurar a informação, sensibilização, formação e participação do público, bem
como incentivar e mobilizar a sociedade civil para a conservação dos
ecossistemas dunares e zonas húmidas litorais.
8 - Entre a área de dunas e a ria verifica-se predominância de matos e florestas de
resinosas com alguma presença de culturas temporária de regadio e sequeiro.
Zona dunar com predominância de florestas de resinosas, áreas de matos e culturas
temporárias de regadios, com algum tecido urbano descontinuo.
Deve ser salvaguarda toda a zona dunar que acompanha esse eixo, devendo
promover-se a conservação do ecossistema dunar, seus habitats e espécies,
devendo o acesso às dunas ser condicionado.
9 – Os principais fatores de ameaça associados à Pateira de Fermentelos prendem-se
essencialmente com a atividade agrícola e pecuária, a contaminação da água e dos solos
por efluentes tanto urbanos como industriais. Também a invasão de espécies de flora
exóticas são um problema grave nesta lagoa. Encontram-se também graves problemas
ligados à redução da área de superfícies e ao assoreamento. No caso particular da Pateira
de Fermentelos as orientações de gestão centram-se em grupos específicos de
Passeriformes, isto porque todas elas são espécies que estão inseridas em habitats que têm
vindo a sofrer com a contínua alteração do uso dos solos, com o aumento da poluição da
águas, destruição das zonas de abrigo e de nidificação como também ao aumento da
construção de infrastruturas, como linhas de alta tensão que têm vindo a contribuir para a
diminuição dos efetivos populacionais. Dentro destas espécies temos a Garça-vermelha
(Ardea purpúrea), a Garça-pequena (Ixobrychus minutos), a Andorinha-do-mar-anâ (Sterna
albifrons), passeriformes migradores das galerias ripícolas e também passeriformes
migradores de matos e bosques.
Promover a conservação do ecossistema lagunar, dos seus habitats e espécies;
promover condições tanto de refugio como de nidificação;
melhorar a qualidade da água;
restringir o uso de agroquímicos de modo a minimizar a contaminação de solo
através das águas de escoamento;
Regular o corte e a queima dos caniçais.
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CAPITULO III
OS SIG E A INTERNET – CONCEÇÃO DO WEBSIG REDE-AVEIRO
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1. OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) E A INTERNET
No que respeita à disponibilização de grandes quantidades de informação georreferenciada,
ao longo dos últimos anos, a Internet tem-se assumido como um meio privilegiado e com um
enorme potencial de crescimento, permitindo o acesso a diversos utilizadores de
funcionalidades SIG sem que estes necessitem, quer de possuir conhecimentos avançados
neste tipo de ferramentas, quer de ser proprietários de licenças de aplicações SIG, bastando
apenas de disporem de um computador com ligação à Internet.
Segundo YANG et al. (2004) in BARRIGUINHA (2008), “os novos mercados da Internet têm
sido apontados como uma das principais razões para a atual expansão dos SIG e da sua
utilização nas mais diversas vertentes, transformando os SIG num meio de comunicação ao
fornecerem informação e conhecimento ao público”.
Antes da difusão via Internet, os SIG encontravam-se, numa primeira fase, armazenados em
“mainframes”, acedidos via terminais remotos, tendo evoluído posteriormente para os SIG
desktop instalados em computadores pessoais, não existindo partilha de informação ou,
caso ela existisse, o acesso à mesma dependia sempre do tipo de software SIG instalado
nos servidores.
Surgem então os WebSIG que, tal como referem TANGE et al. (2003) in BARRIGUINHA
(2008), combinam “duas poderosas tecnologias: os SIG (para análise e integração de dados
geospaciais), e a Internet (garante de conectividade, gestão e partilha de informação a um
nível global)”.
Para GILLIARY (2005) in CAPUTI (2006) “WebSIG é um SIG distribuído através de uma
rede de computadores para integrar, disseminar e comunicar informações geográficas
visualmente na Web”.
Já MITCHEL (2005) preconiza que a disponibilização de mapas através da web pode
decompor-se em dois tipos: estático e dinâmico. Para este autor, a disponibilização de
mapas estáticos encontra-se presente em qualquer página web, uma vez que esses mapas
não são mais do que imagens previamente produzidas. Este tipo de mapas são muito fáceis
de obter e não implicam a utilização de quaisquer tecnologias especiais. No entanto, e tal
como refere este autor, a disponibilização de mapas dinâmicos (e interativos) exige a
utilização de tecnologias e de conhecimentos.
Nesta situação o utilizador consegue interagir com a interface web, podendo alterar a escala
de visualização, ativar ou desativar temas, etc.
Independentemente do conceito, que pode varia em função da sensibilidade dos autores e
da sua formação científica de base, um WebSIG será sempre um serviço, constituído por
cinco componentes básicos:
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Cliente (Browser Web – Internet Explorer, Firefox, Safari, etc.);
Servidor de Internet (Web Server – IIS, Apache, etc.) e/ou servidor de aplicações;
Uma linguagem de programação (PHP, Java, Python, entre outras);
Servidor de mapas (ArcIMS, GeomediaWebMap, MapServer, GeoServer, entre
outros);
Servidor de dados (PostgreSQL/PostGIS, ArcSDE, entre outros).
Um serviço WebSIG materializa-se numa forma de comunicação Cliente/Servidor (fig.30)
através de protocolos pré-definidos, onde o cliente envia um pedido ao servidor através de
um browser de Internet, recorrendo a uma aplicação programada com linguagens
compatíveis com sistemas de informação web (2). De seguida, o servidor de mapas (3)
interpreta o pedido, adquire os dados pretendidos e armazenados no servidor de dados (4),
manipula-os, produz uma imagem (5) e envia-os ao cliente via HTTP (6).
O cliente serve como interface para que os utilizadores possam interagir com os dados
espaciais e com as funções de análise fornecidas pelo WebSIG. Exemplos de clientes:
HTML, Plug-in, Java Applets, etc).
Figura 30 - Esquema de funcionamento de websig.
O servidor de Internet, usualmente designado por servidor de Hypertext Transfer Protocol
(HTTP), permite responder às requisições dos browsers de Internet via HTTP. Segundo
PENG et al. (2003) in BARRIGUINHA (2008), as principais funções do servidor de
aplicações passam pelo estabelecimento, manutenção e o termo da ligação entre o servidor
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
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de Internet e o servidor de mapas. O servidor de mapas pode ser definido, segundo os
autores anteriormente referidos, como o componente central, uma vez que é ele que
processa os pedidos dos clientes e gera resultados. É através do servidor de mapas que se
disponibilizam funções tradicionais dos SIG como seja, filtros de pesquisa, análise espacial,
criação de mapas, etc. A informação gerada por este servidor pode ser uma simples
imagem num formato JPEG, GIF, TIFF, etc. ou através de diversos níveis de informação
filtrada e enviada para o cliente para que o utilizador final a manipule. Por fim, o servidor de
dados que, tal como o próprio nome sugere, fornece dados (espaciais ou não).
Para recorrer a este tipo de soluções/serviços WebSIG, existem diversas tecnologias, tanto
proprietárias (ArcGIS Server, Geomedia Web Map, Autodesk MapGuide Enterprise, etc.),
como Open source (QuantumGIS, GRASS, gvSIG, PostgreSQL/PostGIS, MapServer,
GeoServer, Degree, MapBender, entre outros).
A escolha da tecnologia que melhor se adapta à solução WebSIG a implementar não é fácil;
no entanto, o custo elevado das soluções comerciais (tanto de aquisição inicial como de
manutenção e atualização de licenças), a diminuição do preço dos computadores e a
crescente popularidade dos mapas distribuídos via Internet, impulsionou o desenvolvimento
de inúmeros projetos Open Source, permitindo o acesso a tecnologias SIG a baixo custo ou
mesmo a custo zero (CALDEWEYHER et al, 2006 apud SILVA, 2008).
SILVA (2008) refere que a “proliferação de diferentes sistemas de informação proprietários,
com estruturas de base próprias, tem criado problemas significativos na partilha de
informação geográfica, devido à existência de formatos incompatíveis e à dificuldade de
acesso aos diversos recursos através de um único interface, simples e gratuito”.
Assim, importa então destacar o papel da Fundação do Software Livre (Free Software
Foundation - FSF), através do projeto GNU34 (Gnu´s Not UNIX) e, em particular, do Open
Geospatial Consortium, INC (OGC), para alterar este panorama. A FSF definiu quatro
fundamentos do software livre (UCHOA, et al. 2005 apud CONDEÇA, 2009) também
conhecidos pelas 4 liberdades:
Liberdade de executar o programa, para qualquer propósito;
Liberdade de estudar como o programa funciona, adaptá-lo para as suas
necessidades; acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade;
Liberdade de redistribuir cópias possibilitando o apoio a outros utilizadores/clientes;
Liberdade de aperfeiçoar o programa, de modo a que toda a comunidade beneficie.
34
GNU é um projeto iniciado por Richard Stallman em 1984, e atualmente a FSF é a principal organização que patrocina o projeto. O objetivo do projeto é criar um sistema operacional, chamado GNU, baseado em software livre. A palavra “livre” em “software livre” refere-se à liberdade, não ao preço. Podemos ou não pagar para obter software do projeto GNU, mas uma vez em sua posse, temos 4 liberdades específicas para o utilizar.
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O OGC é uma organização internacional sem fins lucrativos que foi fundada em 1994, conta
atualmente com 384 membros (empresas de software proprietário, entidades
governamentais e universidades), que em conjunto desenvolvem processos e serviços para
desenvolver especificações SIG abertas (OpenGIS® Specifications) para interfaces que
suportem soluções interoperáveis e que possam ser disponibilizadas via WebSIG, wireless
ou através de mainstreams (OGC, 2009). Segundo DAVIS (2007) esta é uma organização
que visa a definição de (open) standards para os dados geoespaciais e serviços baseados
em localização (LBS) e que tem por objetivos estratégicos:
Providenciar standards livres e abertos ao mercado e demais utilizadores;
Liderar a nível mundial a criação e o estabelecimento de standards que permitam
que conteúdos geoespaciais e serviços possam ser suavemente integrados nos
processos de negócio das empresas e do público em geral;
Facilitar a adoção de arquiteturas geoespaciais abertas, no ambiente das
empresas;
Promover standards para suportar a formação de novos mercados e de
aplicações;
tecnológicas geoespaciais;
Acelerar a assimilação por parte do mercado da interoperabilidade.
Segundo GOODCHILD et al. (1997) in SILVA (2008), interoperabilidade pode ser definida
como:
Tornar aberta a estrutura interna dos arquivos de dados;
Viabilizar a capacidade de conversão de dados entre o software;
Popularizar a interação com o utilizador.
Ainda segundo o mesmo autor, “a interoperabilidade tem como principal objetivo estabelecer
padrões que permitam o acesso e a partilha de informação geográfica num ambiente em
rede recorrendo a um interface universal”.
Neste estudo, o autor refere que a utilização da Internet para acesso e partilha da
informação geográfica veio acelerar o processo que permite ao utilizador utilizar e manipular
informação independentemente da sua origem e formato, conduzindo ao desenvolvimento
dos Web Services (interface que descreve um conjunto de operações na Internet recorrendo
a diversas normas standard, destacando-se o XML, SOAP, WSDL e UDDI1).
Com efeito, são já vários os sistemas/serviços que seguem as especificações OGC, das
quais se destacam:
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WMS (Web Map Service) – define quatro protocolos (GetCapabilities, GetMap,
GetFeatureInfo e DescribeLayer), permitindo a criação de um mapa como uma
imagem (JPG, PNG ou GIF); não permite operações de manipulação dos dados,
quer para adequar a sua simbologia quer para efetuar operações de
geoprocessamento;
WFS (Web Feature Service) – neste caso o servidor envia ao cliente dados sob a
forma vetorial, permitindo ao cliente manipular a informação recebida, gravar ou
exportar para outros formatos e efetuar operações de geoprocessamento: o
formato de receção dos dados é o GML - Geography Markup Language (standard
OGC);
WCS (Web Coverage Service) – é um serviço que fornece dados matriciais e que
podem ser, à semelhança do WFS, manipulados pelo utilizador;
GML (Geography Markup Language) – baseado em XML e que foi desenvolvido
para permitir a transferência e armazenamento de informações geográficas.
Por último, importa ainda fazer referência ao conceito Infraestrutura de Dados Espaciais
(IDE), que tem tido nos últimos anos uma forte implementação. Exemplo disso é Diretiva da
União Europeia (Diretiva n.º 2007/2/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de
março de 2007 e que foi transposta para a legislação nacional, através do Decreto-Lei n.º
180/2009) que estabelece a criação de uma infraestrutura de informação geográfica na
Comunidade Europeia (INSPIRE). O objetivo da iniciativa INSPIRE é, segundo o SNIG
(2004), “promover a disponibilização de informação de natureza espacial, utilizável na
formulação, implementação e avaliação das políticas da União Europeia”.
Segundo NEBERT (2004) in FURTADO (2006), o conceito de IDE “é usado para designar
um conjunto de tecnologias, políticas e envolvimento de instituições (principalmente as
organizações produtoras de cartografia) que promovam a disponibilidade e acesso a dados
espaciais”. Com este conceito promove-se a oferta de serviços de acesso à informação
geográfica, utilizando para tal catálogos que permitam saber onde se encontra a informação
(…). Este sistema “é mais do que um simples conjunto de dados e base de dados
geograficamente distribuídos: deve fornecer serviços para a sua pesquisa, como podem ser
acedidos e possuir aplicações que permitam a sua visualização”.
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2. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO
2.1. Programas utilizados no desenvolvimento do WEBSIG -RIA
2.1.1. MapServer
MapServer é um software de código aberto e gratuito para processamento de dados
geográficos escrito em linguagem “C+”. MapServer foi originalmente desenvolvido pela
Universidade de Minnesota (UMN) no projeto ForNet em cooperação com a NASA e com o
Departamento de Recursos Naturais de Minnesota. Mais tarde, foi hospedado pelo projeto
TerraSip, um projeto patrocinado pela NASA entre os UMN e um consórcio de gestão de
interesses terra. MapServer é agora um projeto da OSGeo (não se disse o que era este
organismo), e é mantido por um número crescente de desenvolvedores de todo o mundo. É
apoiado por um grupo diversificado de organizações que financiam melhorias e
manutenção, e administrado dentro OSGeo.
No geral uma aplicação MapServer é composta pelos seguintes elementos:
Dados;
Mapfile;
Formulário de inicialização (necessário para o funcionamento do MapServer em
modo CGI);
Template.
Os dados de entrada devem estar armazenados numa base de dados ou dentro de uma
pasta no computador. Neste projeto os dados serão armazenados no PostgreSQL/PostGIS.
Termos e conceitos
O Mapfile é um ficheiro com extensão .map, no qual se executam as definições e as
configurações para o processamento de mapas. É o ficheiro base para configuração das
aplicações (fig.31). É escrito em formato de texto puro e o ficheiro é lido pelo MapServer
para processar os mapas. É neste ficheiro que definimos os mapas a serem apresentados, o
caminho para ir buscar os dados para processar os mapas, as cores, os símbolos, as
legendas, etc. O Mapfile define como os mapas serão apresentados ao cliente (utilizador).
Um exemplo simples de um ficheiro Mapfile é mostrado na figura que se segue:
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Figura 31 - Estrutura básica de um arquivo map para representar um polígono. Fonte FILHO, 2009
Formulário de inicialização: É uma declaração em HTML que envia ao executável do
MapServer os parâmetros básicos para inicialização da aplicação (a localização do Mapfile e
o URL do MapServer CGI). O template define como é que os componentes gerados pelo
MapServer tais como, mapas, legendas, barras de escala, etc., serão apresentados ao
utilizador e de que maneira o utilizador vai interagir com a aplicação.
O MapServer pode basicamente ser utilizado de 3 maneiras: CGI, MapScript e
WebServices.
Common Gateway Interface (CGI)35: É a maneira mais simples de trabalhar com uma
aplicação MapServer. Usando o MapServer em modo CGI (fig.21) é necessário que o
ficheiro executável (mapserv.exe) esteja colocado numa pasta específica dentro do servidor
Web (cgi-bin no servidor Web Apache). O executável mapserv.exe recebe os parâmetros de
inicialização da aplicação webmapping, processa as requisições feitas solicitadas e retorna
ao navegador o resultado (mapas, legendas, barra de escala e etc.)
MapScript: O MapScript estende as funcionalidades do MapServer para as linguagens de
programação (linguagem script), disponibiliza os recursos do MapServer às linguagens de
programação. Assim, pode-se construir aplicações usando os recursos do MapServer e os
recursos da sua linguagem de programação preferida, atingindo um grau de personalização
ou customização que não é possível atingir quando usamos o Mapserver em modo CGI.
O MapServer em modo MapScript está disponível para as seguintes linguagens de
programação: PHP, Python, Perl, Ruby, TCL, Java e C#.
35
CGI é um acrónimo para a expressão inglesa Common Gateway Interface. Consiste numa importante tecnologia que permite gerar páginas dinâmicas, permitindo a um navegador passar parâmetros para um programa alojado num servidor web. Assim, designam-se por scripts CGI os pequenos programas que interpretam esses parâmetros e geram a página depois de os processar.
MAP EXTENT –54 –29.5 –48 –25.5 UNITS DD INTERLACE ON SIZE 600 400 IMAGECOLOR 224 224 224 SHAPEPATH ‘../SHAPES’
LAYER DATA ‘Municipios’ NAME ‘municipios.shp’ TYPE POLYGON
CLASS COLOR 32 210 32 OUTLINECOLOR 0 0 0
END #class END #layer END #map
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As especificações WMS, WFS e WCS do Open Geospatial Consortium (OGC) são
implementadas pelo MapServer e isto permite que se possam desenvolver aplicações que
fazem o MapServer funcionar como um serviço de mapas via Web. Assim, pode-se utilizar o
MapServer para disponibilizar dados via Web que poderão ser acedidos usando software
desktop tais como QuantumGIS, ArcView, ArcExplorer, Jump ou uDIG.
Figura 32 - Esquema de Funcionamento do Mapserver em modo CGI. Fonte: FILHO, 2009
Basicamente o MapServer funciona do seguinte modo: O utilizador através do navegador
Web faz a requisição do mapa (fig.32), o pedido é aceite pelo servidor Web Apache que
passa os argumentos ao executável do Mapserver (mapserv.exe). O MapServer acessa o
ficheiro Mapfile e com base nas definições desta executa o pedido e gera o mapa-imagem a
partir dos dados que podem estar numa base de dados, num arquivo de dados ou num local
remoto dentro de uma rede. O Apache passa ao navegador Web o HTML com o mapa
resultante.
O MapServer pode utilizar informação gesopacial em modelo de dados vetorial e em modelo
de dados raster. Entre os dados vetoriais destacamos os seguintes: shapefile, coverage-
ArcInfo, ambos da ESRI, Oracle Spatial, PostgreSQL/PostGIS, MySQL/MySQL Spatial,
Mapinfo TAB e MIF/MID, Miscrostation DGN. Dos dados matricias (ou raster) destacamos os
seguintes formatos: TIFF/GeoTIFF, GIF, PNG, ERDAS, JPEG e todos os formatos do
GDAL36.
36
GDAL (Geospatial Data Abstraction Library) é uma biblioteca para ler e escrever dados geoespaciais em formato raster, e é utilizado sob a licença X/MIT no estilo permissivo de software livre pela Open Source Geospatial Foundation.
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O MapServer pode ser instalado em diferentes sistemas operativos tais como Windows,
Linux, Solaris, Mac Os ou FreeBSD.
2.1.2. p.mapper
O p.mapper é uma aplicação que permite ao utilizador visualizar as informações e interagir
com ela. Foi desenvolvido para oferecer uma aplicação WebGIS baseada em MapServer e
em PHP/Mapscript. Funciona com todos os formatos de dados suportados pelo Mapserver e
implementa padrões OGC para WMS. Com p.mapper, de uma maneira fácil e simples,
podemos configurar um ambiente servidor/cliente, uma funcionalidade completa e várias
modalidades para facilitar a configuração de uma aplicação MapServer.
As suas características mais importantes são:
DHTML (DOM) interface zoom/pan, zoom/pan através das teclas do teclado, da roda
do rato e do mapa de referência mapa;
fácil configuração de layout;
funções de consulta e pesquisa de atributos, incluindo sugestões e caixas de
seleção; resultados de consultas com ligações à base de dados e hiperlinks;
funções de impressão em HTML e PDF;
janelas pop-up e de diálogo em DHTML, identificação pop-up com o movimento do
mouse sobre o mapa;
função de medição de distância e cálculo de área;
adição de etiquetas com pontos de interesse no mapa.
Possiu ainda outras funcionalidades de fácil configuração que podem ser adaptadas
consoante a necessidade do programador.
O p.mapper funciona em conjunto com Mapserver desde a versão 4.2 e é multiplataforma,
sendo possível instalar o framework em ambiente MS Windows, GNU/Linux e Mac OSX.
2.1.3. PostgreSQL/PostGIS
A base de dados do projeto, que designámos de WebSIG-RIA, foi construída no software
PostgreSQL/PostGIS. O PostgreSQL é um dos mais populares e avançados sistemas de
gestão de bases de dados (SGBD) relacional com código aberto. O PostgreSQL possui uma
ferramenta para administração da base de dados chamada pgAdmin III que permite, entre
outras funcionalidades, a execução e o carregamento de ficheiros de linguagem SQL. Uma
base de dados espacial é um tipo de base de dados que tem capacidades de armazenar
dados com informações de caráter espacial. O PostgreSQL por si só não consegue criar
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base de dados espaciais sendo necessário usar uma extensão que lhe permite manipular
dados espaciais. Esta extensão ou módulo é o PostGIS que, geralmente, é ser instalado
durante ou depois da instalação do PostgreSQL.
O PostGIS acrescenta aos dados de uma tabela em execução em ambiente PostGreSQL,
uma coluna chamada Coluna Geométrica na qual todos os registos têm uma descrição
espacial. Deste modo, pode-se dizer que as tabelas do PostGIS são tabelas espaciais.
O projeto WKT raster37 estende as capacidades do PostGIS, habilitando-o a trabalhar com
dados raster (matriciais).
O projeto WKT raster é um projeto bastante novo e está definitivamente incorporado à
versão PostGIS 2.0. A ideia do WKT é permitir que os utilizadores carreguem na base de
dados imagens e usem a linguagem SQL para consultar e analisar os dados. Toda a
implementação do PostGIS Raster é baseada no novo tipo de dados RASTER que
suportara operações entre dados vetoriais e matriciais sem distinção, aumentando ainda
mais a fama de "melhor extensão espacial do mundo" do PostGIS (FOSS Brasil, 2011).
2.2. Configuração do WebSIG - RIA
Os arquivos que compõem a configuração do p.mapper dependem das funções pretendidas
para o WebSIG - RIA, nomeadamente, ao nível das funções de pesquisa e de layout.
Independentemente de pretendermos desenvolver um WebSIG mais ou menos estruturado,
há dois ficheiros fundamentais para que a aplicação funcione: o ficheiro .map (utilizaremos
como o exemplo o p.mapper_demo.map – que vêm com a instalação do ms4w) e o ficheiro
config_default.xml.
p.mapper_demo.map - este é o Mapfile que contém as configurações do mapa -
projeções, a extensão do mapa, formatação, barra de escala, layers de mapas, etc;
ou seja, é neste ficheiro que estão os caminhos para toda a informação a
disponibilizar na “nossa” aplicação/webservice, assim como as configurações atrás
descritas.
Config_default.xml - ficheiro de configuração requer a edição em várias secções. É
neste ficheiro que definimos os plugin’s ativos (export, transparency,..), o caminho do
ficheiro de configuração de pesquisa para a busca de atributos exibido na Table of
Content (TOC), grupos pré-definidos (visíveis no início), o início e o fim de escala
para controlo deslizante de zoom, cor de realce para seleção, resolução de
impressão em PDF, níveis de DPI para o mapa de download, etc. Este ficheiro
37
PostGIS WKT Raster é um projeto em desenvolvimento que visa dar suporte aos dados Raster no PostGIS. O objetivo é implementar um tipo RASTER como o tipo GEOMETRY implementado no PostGIS e oferecer um conjunto de funções SQL (como Intersects) que operam de forma integrada em vetores e raster.
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contém uma lista de variáveis e parâmetros que possuem um valor predefinido e
alteramos conforme as nossas necessidades, permitindo-nos comandar a
informação contida no ficheiro .map.
A nossa, como qualquer outra aplicação semelhante, podem ser personalizadas, bastando
para isso possuir bons conhecimentos, ao nível da escrita em html, php e java. Para o
trabalho em questão, além das funções que vêm com a instalação do MapServer +
p.mapper, introduzimos ainda uma função de pesquiza avançada através do plugin “query
editor” e “hyperlink" que nos permite hyperligações com a internet com ficheiros
hospedados em qualquer local.
Para ativar as funções do “query editor” tivemos que proceder à configuração do ficheiro
js_config.php (fig.33) além das configurações nos ficheiros .map e config_default.xml
(fig.34).
js_config.php - ficheiro das definições de alguns acessórios extras como por exemplo
a definição da lista de seleção da escala, ativar o modo pan se o botão direito do rato
é pressionado, unidades de medida (distância e área), linhas e estilos de polígonos
para a medição, botões de funções entre outras definições.
Figura 33 - Configuração do código do “query editor” no ficheiro js_config.php.
Figura 34 – Configuração do código do “query editor” no ficheiro config_default.xml.
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Foram ainda elaboradas as configurações nos ficheiros de impressão que nos permitem
imprimir cartas em pdf com os conteúdos selecionados. Para melhor compreender a
utilização do WebSIG - RIA que criámos com o obejtivo de dsiponibilizar um vasto leque de
informações sobrte o assunto em estudo e sobre a área em questão, serviço que se
encontra disponível para conculta no endereço url: http://rede-aveiro.no-ip.org/index.htm - foi
elaborado um manual de utilizador que se encontra no Anexo IV.
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CONCLUSÃO
De facto, a “Ria de Aveiro” pela sua complexidade, como sistema lagunar que é, pelas suas
interações entre o meio natural e o humanizado, pela fragilidade que apresenta, em
consonância com os seus pares, os ecossistemas estuarinos, pela dependência a que está
sujeita às medidas de ordenamento territorial, numa tentativa de encontro de uma gestão
cada vez mais direcionada para a valorização do património natural, justifica, por si só, os
exercícios académicos como um meio para promover uma gestão racional do território,
tendo em vista a preservação dos valores naturais, históricos e patrimoniais
O trabalho proposto, não pretendeu apresentar propostas para a gestão da Ria, no seu
todo, antes pelo contrário, procurámos centrar-nos nos propósitos iniciais - o contributo para
a gestão da rede natura2000, e os valores naturais presentes na Ria de Aveiro.
Como área privilegiada que é, em função dos valores naturais que congrega, justifica-se por
si só, a proposta agora apresentada pelo ICNB como Sítio de Importância Comunitária,
passando a acumular o Estatuto de ZPE, IBA e SIC, não esquecendo que dela faz parte
integrante também a Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto.
Pretendeu-se com este estudo contribuir para uma melhor gestão deste espaço, numa
perspectiva de valorização do património natural, nomeadamente ao nível da fauna e dos
habitats naturais, ao abrigo de duas diretivas fundamentais para a conservação da natureza,
a Diretiva Aves e a Diretiva Habitats.
Com o exercício apresentado, de acordo com a metodologia desenvolvida por SAATY
(1991), o Analytic Hierarchy Process, uma das formas da Análise Multicritério, conseguimos
isolar as áreas de maior vulnerabilidade no sentido ecológico. Falamos em ecológico, pois
esta análise reflete as áreas de maior vulnerabilidade não para as espécies em si, mas
numa perspectiva da sua integração com a paisagem pois não esquecemos que o homem
também é parte integrante e que suas ações interferem direta e indiretamente na evolução
da paisagem e, por conseguinte, no comportamento das espécies.
Os resultados foram bastante positivos, quando comparados com outros exercícios
desenvolvidos anteriormente. O facto de utilizarmos a metodologia AHP em ambiente SIG,
permitiu-nos modelar os cenários apresentados, com a validação científica que lhe é devida,
pois esta metodologia permite dar alguma flexibilidade ao conhecimento empírico e científico
que o técnico tem, da área. Como em todo o desenvolvimento de metodologias de análise
tivemos os nossos constrangimentos, os quais foram, todavia, ultrapassados com a
experimentação nos mais variados campos, com a revisão dos indicadores, com a
reformulação das perguntas, etc, num acurado exercício de ensaio, erro e aprendizagem.
Apesar das fragilidades que lhe reconhecemos, este trabalho pretendeu constituir apenas
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mais um ensaio metodológico para abordagem científica da gestão de unidades de
paisagem classificadas, a qual permitiu isolar os locais de maior vulnerabilidade, e traçar
linhas orientadoras de gestão otimizada, tendo em vista os valores de vulnerabilidade
obtidos e cartografados, o que permitiu a formulação de uma proposta de zonamento
geoespacial.
A transposição para ambiente web, permite uma melhor contextualização dos resultados
apurados, pois podemos sobrepor as variáveis utilizadas na elaboração do trabalho o
impondo-nos a obrigatoriedade de um exercício intelectual de fácil compreensão que nos
guia ao resultado final.
Não podemos ainda deixar de referir a enorme complexidade que é a elaboração dos
websigs. É fundamental a compreensão dos programas e sistemas utilizados, assim como a
consolidação de conhecimentos ao nível da programação e de manipulação de linguagens
fundamentais para que os objetivos propostos funcionem em ambiente web. Falamos aqui
em matérias que vão para além da aprendizagem desenvolvida neste mestrado, que se
referem a programação pura em linguagens, html, php, java, pearl, python, c++ entre outras.
Assim, perante os factos aqui apresentados, concluímos, ou melhor, confirmamos a ideia
apriorística que já nos vinculava, de que a integração dos SIG como ferramenta de apoio à
decisão, é cada vez mais um recurso metodológico imprescindível para a tomada de
decisão, e, neste caso concreto, uma peça fundamental para a contribuição da gestão dos
espaços naturais. Apesar deste exercício se referir a uma área concreta da Rede
Natura2000, pretende-se que, mutatis mutandis, a mesma possa ser utilizada em toda
Rede, e, ainda, com a devida prudência que requer qualquer processo de generalização
e/ou de extrapolação, este ensaio metodológico possa ser adaptado à análise e gestão de
outras áreas da Rede Nacional de Áreas Protegidas, atualmente sob a tutela do ICNF.
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A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
ÍNDICE
RESUMO Pag.8
ABSTRACT
Pag.9
CAPíTULO I - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
1. INTRODUÇÃO Pag.12
2. METODOLOGIA Pag.14
3. A RIA DE AVEIRO Pag.16
3.1. Localização geográfica Pag.16
3.2. Estrutura e Tectónica da Bacia Pag.17
3.3. Enquadramento lito-estratigráfico Pag.19
3.3.1. Complexo Xisto-Grauváquico Ante-Ordovício Pag.23
3.3.2. Triásico Superior Pag.23
3.3.3. Jurássico Inferior (Liásico) Pag.23
3.3.4 Cretácico Pag.23
3.3.5. Plio-Plistocénico Pag.25
3.3.6. Holocénico - Depósitos Modernos Pag.25
3.4. Dados relativos aos elementos do clima Pag.28
3.5. Hidrologia Pag.30
3.5.1 Hidrogeologia Pag.30
3.5.2. Hidrologia Pag.31
3.6. Evolução Morfologia Pag.33
4. A ZONA DE PROTEÇÃO ESPECIAL RIA DE AVEIRO (PTZPE0004) Pag.36
4.1. Plano sectorial da Rede Natura 2000 Pag.36
4.1.1. A Rede Natura 2000 Pag.37
4.1.2. Diretiva Aves Pag.38
4.1.3. Diretiva Habitats Pag.38
4.2. Caracterização da ZPE Ria de Aveiro Pag.39
4.3. Valores Naturais Pag.40
4.3.1 Biótopos Corine Pag.42
4.4. Uso do Solo Pag.42
4.4.1 Territórios artificializados Pag.44
4.4.2. Áreas agrícolas e agroflorestais (bocage, campos de arroz e
pequenos bosques ripícolas) Pag.45
4.4.3. Florestas e meios naturais e seminaturais (dunas arborizadas e Pag.46
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
bosque ripícola)
4.4.4. Zonas húmidas (Bancos intertidais e salinas, Sapais e Caniçais) Pag.48
4.4.5. Corpos de água Pag.51
4.4.6. Praias, dunas e areias Pag.53
4.4.7. Oceano ( Zona marinha próxima da costa) Pag.55
4.5. Distribuição da Fauna Pag.55
4.5.1 Metodologia aplicada à classificação de espécies prioritárias para a
conservação na ZPE da Ria de Aveiro Pag.56
5. CLASSIFICAÇÃO BIOGEOGRÁFICA Pag.63
5.1. Índices Bioclimáticos Pag.66
5.1.1. Índice de Continentalidade (Ic) Pag.67
5.1.2. Índice de Termicidade (It) e Índice de Termicidade Compensado
(Itc) Pag.67
5.1.3. Índice Ombrotérmico (Io) Pag.68
5.1.4. Índices Ombrotérmicos Estivais Compensados Pag.68
5.2. Classificação Bioclimática Pag.69
5.2.1. Determinação do Macroclima Pag.69
5.2.2. Determinação do Bioclima Pag.70
5.3. Determinação do andar bioclimático Pag.71
5.5. Bioclimatologia da Ria de Aveiro
Pag.73
CAPITULO II - ANÁLISE MULTICRITÉRIO EM AMBIENTE SIG PARA ELABORAÇÃO DE
CARTAS DE VULNERABILIDADE
1. ANÁLISE MULTICRITÉRIO – fundamentos processuais e metodológicos Pag.76
1.1. Tarefas, técnicas e procedimentos processuais em ambiente SIG para
Análise Multicritério (AM) Pag.77
1.3. Analytic Hierarchy Process Pag.79
1.3.1. O Processo de Hierarquização do AHP Pag.79
1.4. AHP e a Gestão de Projetos Pag.83
2. VARIÁVEIS E CRITÉRIOS UTILIZADOS Pag.84
2.1. Habitats Naturais Pag.85
2.2. Suscetibilidade à erosão Pag.89
2.3. Distribuição da Fauna Pag.91
2.4. Ictiofauna: rotas dos migradores Pag.91
2.5. Estado das massas de água da “Ria de Aveiro” Pag.94
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
2.6. Proximidade à malha urbana Pag.95
2.7. Proximidade à malha viária Pag.96
2.8. Ponderação das variáveis Pag.98
3. ANÁLISE DE RESULTADOS Pag.101
4. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DA ZPE/SIC RIA DE AVEIRO Pag.102
4.1. Orientações gerais Pag.102
4.2. Orientações específicas Pag.105
4.2.1. Considerações sobre boas práticas para a boa gestão das áreas
Analisadas Pag.106
CAPITULO III - OS SIG E A INTERNET – CONCEÇÃO DO WEBSIG REDE-
AVEIRO
1. OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) E A INTERNET Pag.112
2. DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO Pag.117
2.1. Programas utilizados no desenvolvimento do WEBSIG -RIA Pag.117
2.1.1. MapServer Pag.117
2.1.2. p.mapper Pag.120
2.1.3. PostgreSQL/PostGIS Pag.120
2.2. Configuração do WebSIG - RIA Pag.121
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Enquadramento geográfico da Zona de Proteção Especial Ria de
Aveiro. Pag.16
Figura 2 - Esquema estrutural da sub-bacia norte-lusitânica. Pag.18
Figura 3 - Implantação da Bacia Sedimentar de Aveiro. Pag.19
Figura 4 - Evolução dos domínios de sedimentação na bacia sedimentar de
Aveiro. Pag.21
Figura 5 - Carta Litológica da ZPE Ria de Aveiro. Pag.22
Figura 6 - Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SIC e ZPE). Pag.36
Figura 7 - Carta de reclassificação do uso do solo da ZPE ria de Aveiro. Pag.44
Figura 8 - Áreas habitacionais na Ria de Aveiro Pag.44
Figura 9 - Paisagem de “Bocage” do Baixo-Vouga lagunar Pag.45
Figura 10 - Bosque ripícola constituido principalmente pela associação Amieiro –
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Salgueiro e Freixo. Pag.47
Figura 11 - Fotos da Salicórnia e do Junco Pag.49
Figura 12 – Foto do Estorno, e da Couve-marítima Pag.54
Figura 13 - Sintetização do processo de classificação de espécies prioritárias. Pag.57
Figura 14 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística por biótopo da ZPE
Ria de Aveiro. Pag.60
Figura 15 - Carta de distribuição da biodiversidade faunística prioritária por
biótopo da ZPE Ria de Aveiro. Pag.63
Figura 16 - Enquadramento biogeográfico da Ria de Aveiro. Pag.65
Figura 17 - Modelação em SIG dos Termotipos e Ombrotipos presentes em
Portugal. Pag.72
Figura 18 - Esquema de elaboração da carta de vulnerabilidade. Pag.85
Figura 19 - Cartografia dos Habitats Naturais da ZPE Ria de Aveiro. Pag.87
Figura 20 - Reclassificação da carta dos habitats. Pag.88
Figura 21 - Carta de susceptibilidade à erosão. Pag.90
Figura 22 - Reclassificação da carta de distribuição da fauna. Pag.91
Figura 23 - Reclassificação da carta das rotas do migradores (ictiofauna). Pag.94
Figura 24 - Reclassificação da carta do estado das massas de água da Ria de
Aveiro. Pag.95
Figura 25 - Reclassificação da carta de próximidade à malha urbana. Pag.96
Figura 26 - Reclassificação da carta de proximidade à malha viária. Pag.97
Figura 27 - Zonamento da vulnerabilidade após o processo de reclassificação,
segundo o método Natural Breaks. Pag.100
Figura 28 - Classificação da sensibilidade dos valores ecológicos. Pag.102
Fig.29 - Delimitação das áreas analisadas Pag.106
Figura 30 - Esquema de funcionamento de websig. Pag.113
Figura 31 - Estrutura básica de um arquivo map para representar um polígono. Pag.118
Figura 32 - Esquema de Funcionamento do Mapserver em modo CGI. Pag.119
Figura 33 - Configuração do código do “query editor” no ficheiro js_config.php. Pag.122
Figura 34 – Configuração do código do “query editor” no ficheiro
config_default.xml. Pag.122
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - População Residente nos concelhos da Ria de Aveiro. Pag.17
Tabela 2 - Ocupação da área da ZPE por concelho. Pag.39
Tabela 3 - Espécies do estrato herbáceo mais frequentes Pag.45
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Tabela 4 - Sintetização de espécies da fauna por Quadrícula UTM 10x10km Pag.61
Tabela 5 - Score de Espécies Prioritárias segundo a metodologia de Palmeirim et
al (1994) Pag.62
Tabela 6 - Macroclimas representados em Portugal. Pag.69
Tabela 7 - Valores dos Índices Ombrotérmicos compensáveis. Pag.70
Tabela 8 - Bioclimas a considerar na classificação bioclimática da Península
Ibérica. Pag.70
Tabela 9 - Termotipos presentes na Península Ibérica e respetivos valores de It. Pag.71
Tabela 10 - Ombrotipos para a Península Ibérica e respetivos valores Io Pag.72
Tabela 11 - Dados climáticos calculados para a Ria de Aveiro. Pag.73
Tabela 12 - Valores dos Índices Bioclimáticos calculados para as três estações
analisadas Pag.74
Tabela 13 - Diagnose bioclimática relativa às estações climatológicas analisadas Pag.74
Tabela 14 - Escala numérica de SAATY (1991). Pag.80
Tabela 15 - Exemplo de matriz pareada de comparação. Pag.81
Tabela 16 - Identificação do Índice Randómico Médio. Pag.83
Tabela 17 - Habitats Naturais e seminaturais da ZPE Ria de Aveiro Pag.86
Tabela 18 - Variáveis e critérios utilizados para elaboração da carta de
suscetibilidade à erosão Pag.89
Tabela 19 - Espécies insuficientemente representadas. Pag.92
Tabela 20 - Matriz pareada de comparação Pag.98
Tabela 21 - Matriz pareada de comparação normalizada Pag.99
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de Estarreja. Pag.29
Gráfico 2 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climática de São Jacinto. Pag.29
Gráfico 3 - Diagrama Ombrotérmico para a Estação Climatológica das Dunas de
Mira. Pag.30
Gráfico 4 - Área ocupada por cada biótopo na ZPE (%). Pag.44
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
ANEXO I
DADOS CLIMATOLÓGICOS DAS ESTAÇÕES DE ESTARREJA,
S. JACINTO E DUNAS DE MIRA
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
ANEXO II
TABELAS DE SINTETIZAÇÃO DOS VALORES FAUNÍSTICOS POR BIÓTOPO E POR
UTM 10X10
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Qu
ad
rícu
la 1
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 46 21 67
Florestas e meios naturais e seminaturais 33 9 42
Zonas húmidas 44 8 52
Corpos de água 16 0 16
Praias, dunas e areias 29 5 34
Oceano 5 2 7
Nº de espécies de Herpetofauna 0
Qu
ad
rícu
la 2
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 46 19 65
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 28 7 35
Corpos de água 16 0 16
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 0
Qu
ad
rícu
la 3
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 51 17 68
Florestas e meios naturais e seminaturais 38 7 45
Zonas húmidas 37 8 45
Corpos de água 17 0 17
Praias, dunas e areias 35 5 40
Oceano 5 2 7
Nº de espécies de Herpetofauna 1
Qu
ad
rícu
la 4
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 69 15 84
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 53 8 61
Corpos de água 17 0 0
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 11
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Qu
ad
rícu
la 5
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 51 13 64
Florestas e meios naturais e seminaturais 37 8 45
Zonas húmidas 62 8 70
Corpos de água 27 0 27
Praias, dunas e areias 35 5 40
Oceano 5 2 7
Nº de espécies de Herpetofauna 10
Qu
ad
rícu
la 6
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 82 18 100
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 65 8 73
Corpos de água 25 0 25
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 10
Qu
ad
rícu
la 7
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 0 0 0
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 0 0 0
Corpos de água 0 0 0
Praias, dunas e areias 17 3 20
Oceano 5 2 7
Nº de espécies de Herpetofauna 0
Qu
ad
rícu
la 8
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 42 47 59
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 52 8 60
Corpos de água 16 0 16
Praias, dunas e areias 16 3 19
Oceano 5 2 7
Nº de espécies de Herpetofauna 3
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Q
uad
rícu
la 9
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 44 18 62
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 12 4 16
Corpos de água 21 0 0
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 4
Qu
ad
rícu
la 1
0
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 45 18 63
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 12 4 16
Corpos de água 21 0 0
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 9
Qu
ad
rícu
la 1
1
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 40 16 56
Florestas e meios naturais e seminaturais 12 6 18
Zonas húmidas 29 4 33
Corpos de água 19 0 19
Praias, dunas e areias 19 1 20
Oceano 4 2 6
Nº de espécies de Herpetofauna 1
Qu
ad
rícu
la 1
2
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 43 17 60
Florestas e meios naturais e seminaturais 2 7 9
Zonas húmidas 31 5 36
Corpos de água 16 0 16
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 4
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Qu
ad
rícu
la 1
3
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 42 17 58
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 12 4 16
Corpos de água 19 0 19
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 4
Qu
ad
rícu
la 1
4
Biótopo Nº esp. Avifauna Nº esp. Mamofauna Total
Territórios artificializados 0 0 0
Áreas agrícolas e agroflorestais 42 17 59
Florestas e meios naturais e seminaturais 0 0 0
Zonas húmidas 12 4 16
Corpos de água 21 0 21
Praias, dunas e areias 0 0 0
Oceano 0 0 0
Nº de espécies de Herpetofauna 6
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
ANEXO III
TABELAS DE CÁLCULO DE VEE DA FAUNA DA ZPE RIA DE AVEIRO
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Mamofauna Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Apodemus sp. Rato-do-comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10
Arvicola sapidus Rata-de-água 0 0 0 0 0 0 0 4 0 4 5 10 15 19
Crocidura russula Musaranho de dentes brancos 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 10 10 18
Delphinus delphis Golfinho 0 10 0 5 0 0 15 ? ? ? ? ? ? ?
Eptesicus serotinus Morcego 0 10 9 5 0 0 24 4 0 4 5 8 13 37
Erinaceus europaeus Ouriço-cacheiro 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Genetta genetta Gineta 0 4 0 0 0 0 4 8 0 8 0 6 6 18
Lutra lutra Lontra 3 10 0 9 0 8 30 0 0 0 5 6 11 41
Meles meles Texugo 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 8 8 12
Microtus agrestis Rato-do-campo-de-rabo-curto 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Microtus lusitanicus Rato-cego 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Mus musculus Rato-caseiro 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Mus spretus Ratinho-ruivo 0 0 0 0 0 0 0 8 0 8 0 10 10 18
Mustela nivalis Doninha 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 8 8 12
Myotis myotis Morcego-rato-grande 8 10 5 10 0 0 33 4 ?? 5 8 13 ???
Oryctolagus cuniculus Coelho-bravo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Phoconea phoconea Boto 8 10 0 10 0 8 36 ? ? ? ? ? ? 36
Ratus sp. Ratazana 0 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0 10 10 13
Sorex araneus Musaranho-comum - - - - - - - - - - - - - -
Talpa occidentalis Toupeira 0 0 0 0 0 0 0 4 0 4 0 8 8 12
Vulpes vulpes Raposa 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8 8 8
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Herpetofauna Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Alytes obstretricans Sapo-parteiro-comum 0 10 0 5 0 0 15 0 6 6 5 10 15 36
Anguis fragilis Cobra-de-vidro 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 19
Bufo bufo Sapo-comum 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 19
Chioglossa lusitanica Salamandra-ibérica 8 10 0 10 0 0 28 10 6 16 10 10 20 64
Coronella girondica Cobra-lisa-meridional 0 4 0 5 0 0 9 4 6 10 0 10 10 25
Discoglossus galganoi Rã de focinho ponteagudo 0 4 0 9 0 0 13 10 0 10 5 10 15 38
Hyla arborea Rela arborícola 0 4 0 5 0 0 9 4 3 7 5 10 15 31
Lacerta lepida Sardão 0 10 0 0 0 0 10 4 0 4 0 10 10 24
Lacerta schreiberi Lagarto de água 0 10 0 10 0 0 20 10 3 13 10 10 20 53
Malpolom monspessulanus Cobra rateira 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 10 10 18
Natrix maura Cobra de água viperina 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 5 10 15 23
Natrix natrix Cobra de água 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Pelobates cultripes Sapo de unha negra 0 10 0 5 0 0 15 8 3 11 5 10 15 41
Pelodytes punctatus Sapinho de verrugas verdes 0 4 0 9 0 0 4 4 3 7 5 10 15 24
Pleurodeles waltl Salamandra de costelas
salientes 0 4 0 0 0 0 4 10 0 10 5 10 15 29
Podarcis bocagei Lagartixa de bocage 0 4 0 0 0 0 4 10 3 13 5 10 15 32
Podarcis hispanica Lagartixa 0 4 0 0 0 0 4 8 3 11 0 10 10 25
Psammodromus algirus Lagartixa do mato comum 0 4 0 0 0 0 4 8 0 8 0 10 10 22
Rana iberica Rã ibérica 0 10 0 5 0 0 15 10 3 13 10 10 20 48
Rana perezzi Rã-verde 0 4 0 0 0 0 4 8 0 8 5 10 15 27
Salamandra salamandra Salamandra de pintas amarelas
0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 19
Triturus boscai Tritão de ventre laranja 0 4 0 0 0 0 4 10 0 10 5 10 15 29
Triturus marmoratus Tritão-marmorado 0 4 0 5 0 0 9 8 0 8 5 10 15 32
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Aves Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Asio flammeus Coruja-do-nabal 6 10 0 0 9 0 25 0 0 0 5 0 5 30
Asio otus Bufo-pequeno 3 10 0 0 0 0 13 0 0 0 0 10 10 23
Athene noctua Mocho-galego 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Aythya ferina Zarro-comum 0 4 5 0 0 0 9 0 3 3 5 0 5 17
Aythya fuligula Negrinha 0 4 5 0 0 0 9 0 3 3 5 0 5 17
Branta bernicla ou Anser
anser Ganso-bravo 0 4 5 0 0 0 9 4 0 4 0 0 0 13
Bulbucus ibis Garça-boieira 0 10 0 0 0 0 10 4 0 4 0 0 0 14
Calidris alba Pilrito-d´areia 0 10 5 0 0 0 15 4 3 7 5 0 5 27
Calidris alpina Pilrito-comum 0 10 5 0 0 0 15 0 3 3 5 0 5 23
Calidris canutus Seixoeira 0 4 5 0 0 0 9 4 3 7 5 0 5 21
Calidris ferruginea Pilrito-de-bico-amarelo 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 5 0 5 20
Calidris maritima Pilrito-escuro 10 10 5 0 0 0 25 0 3 3 5 0 5 33
Calidris minuta Pilrito-pequeno 0 10 5 0 0 0 15 4 3 7 5 0 5 27
Callandrela brachydactyla Calhandrinha-comum 0 10 0 0 9 0 19 4 0 4 0 10 10 33
Caprimulgus europaeus Noitibó 3 10 0 0 9 0 22 0 0 0 0 10 10 32
Carduelis cannabina Pintarroxo-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Carduelis carduelis Pintassilgo 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Carduelis chloris Verdilhão-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 10 20
Carduelis spinus Lugre 0 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10
Cettia cetti Rouxinol-bravo 0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 5 10 15 15
Charadrius hiaticula Borrelho-grande-de-coleira 0 10 5 0 0 0 15 4 6 10 5 0 5 30
Charadrius
alexandrinus
Borrelho-de-coleira
interrompida 0 10 5 0 0 0 15 4 6 10 5 10 15 40
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Chlidonias hybrida Gaivina-dos-pauis 10 10 0 0 10 0 30 0 0 0 5 10 15 45
Chlidonias niger Gaivina-preta 0 10 0 0 9 0 19 0 0 0 0 0 0 19
Ciconia ciconia Cegonha-branca 8 10 5 0 9 0 32 4 10 14 5 10 15 42
Ciconia nigra Cegonha-negra 8 10 5 0 10 0 33 0 6 6 5 10 15 54
Circus aeroginosus Tartaranhão-ruivo-dos-pauis 8 10 5 0 9 0 32 4 3 7 5 10 15 54
Circus cyaneus Tartaranhão-azulado 8 10 5 0 9 0 32 0 0 0 5 0 5 37
Cisticola juncidis Fuinha-dos-juncos 0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 0 10 10 29
Columba livia Pombo-das-rochas 3 4 0 0 0 0 7 0 0 0 5 10 15 22
Columba palambus Pombo-torcaz 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Coracias garrulus Rolieiro 10 10 5 0 10 0 35 0 0 0 5 10 15 50
Corvus corone Gralha-preta 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Delichon urbica Andorinha-dos-beirais 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Dendrocopos major Pica-pau-malhado 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Eemberiza schoeniclus Escrevedeira-dos-caniços 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 5 0 5 15
Egretta garzetta Garça-branca 0 10 0 0 9 0 19 0 3 3 5 10 15 37
Estrilda astrild Bico-de-lacre 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Falco subbuteo Ógea 8 10 5 0 0 0 23 0 0 0 0 10 10 33
Falco tinnunculus Peneireiro-vulgar 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 10 10 25
Ficedula hypoleuca Papa-moscas - - - - - - - - - - - - - -
Fratercula arctica Papagaio-do-mar 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 0 5 9
Fringilla coelebs Tentilhão-comum 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Fullica atra Galeirão 0 4 0 0 0 0 4 0 3 3 5 10 15 22
Fulmarus glacialis Fulmar-glacial - - - - - - - - - - - - - -
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Galerida cristata Cotovia-de-poupa 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Gallinago gallinago Narceja-comum 6 0 5 0 0 0 11 0 0 0 5 0 5 16
Gallinula chloropus Galinha-de-água 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 5 10 15 15
Garrulus glandarius Gaio-comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Haemantopus ostralegus Ostraceiro 0 4 0 0 0 0 4 4 3 7 5 0 5 16
Himantopus himantopus Perna-longa 0 10 5 0 9 0 24 4 3 7 5 10 15 46
Hippolais polyglota Felosa-poliglota 0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 0 10 10 29
Hirundo rustica Andorinha-das-chaminés 0 10 0 0 0 0 10 0 3 3 0 10 10 23
Hyla arborea Rela arborícola 0 4 0 5 0 0 9 4 3 7 5 10 15 31
Ixobrychus minutus Garça-pequena 0 10 5 0 9 0 24 0 0 0 5 10 15 39
Jynx torquilla Torcicolo 3 10 0 0 0 0 13 0 0 0 10 10 20 33
Lanius excubitor Picanço-real 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Larus argentatus Gaivota-argentea 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Larus fuscus Gaivota-de-asa-escura 0 10 0 0 9 0 19 4 6 10 0 0 0 29
Larus ridibundus Guincho-comum 0 4 0 0 0 0 4 0 6 6 0 0 0 10
Limnodromus scolopaceus Maçarico-de-bico-comprido - - - - - - - - - - - - - -
Limosa lapponica Fuselo 0 4 5 0 0 0 9 4 0 4 5 0 5 18
Limosa limosa Maçarico-de-bico-direito 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14
Locustella luscinoides Felosa-unicolor 8 10 5 0 0 0 23 0 0 0 5 10 15 38
Loxia curvirostra Cruza-bico 8 10 0 0 0 0 18 0 0 0 0 10 10 28
Lymnocryptes minimus Narceja-galega 3 4 5 0 0 0 12 0 0 0 5 0 5 17
Malpolom monspessulanus Cobra rateira 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 10 10 18
Melanitta fusca Pato-fusco - - - - - - - - - - - - - -
Mergus serrator Merganso-de-poupa 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 10 15 24
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Milaria calandra Trigueirão 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Milvus migrans Milhafre-preto 0 10 5 0 10 0 25 0 0 0 0 10 10 35
Milvus milvus Milhafre-real 8 10 5 0 10 0 33 0 0 0 0 10 10 43
Motacilla alba Alvéola-branca 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Motacilla cinerea Alvéola-cinzenta 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 0 10
Motacilla flava Alvéola-flava 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Numenius arquata Maçarico-real 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14
Numenius phaeopus Maçarico-galego 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14
Otus scops Mocho-d´orelhas 3 10 0 0 0 0 13 0 0 0 0 10 10 23
Pandion haliaetus guia-pesqueira 10 10 5 0 9 0 34 0 0 0 0 0 0 34
Parus cristatus Chapim-de-poupa 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Passer domesticus Pardal-comum 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 0
Passer montanus Pardal-montês 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 14
Phalocrocorax carbo Corvo-marinho 0 4 0 0 0 0 4 4 0 4 0 0 0 8
Philomachus pugnax Combatente 6 4 5 0 9 0 24 0 0 0 5 0 5 29
Phoconea phoconea Boto 8 10 0 10 0 8 36 ? ? ? ? ? ? 36
Phylloscopues trochilus Felosinha-ibérica 0 10 5 0 0 0 15 0 10 10 0 10 10 35
Phylloscopus collybita Felosa-comum 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 0 0 15
Pica pica Pega 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Picus viridis Pica-pau-verde 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Platalea leucorodia Colhereiro 8 10 5 0 9 0 32 4 10 14 5 10 15 61
Plegadis falcinellus Maçarico-preto 10 10 5 0 10 0 35 0 0 0 10 10 20 55
Pluvialis apricaria Tarambola-dourada 0 4 5 0 9 0 18 4 6 10 5 0 5 33
Pluvialis squatarola Tarambola-cinzenta 0 4 5 0 0 0 9 4 6 10 5 0 5 24
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Podiceps nigrocolis Mergulhão-de-pescoço-preto 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 5 0 15 15
Prunella modularis Ferreirinha-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 0 0 10
Rallus aquaticus Frango-dágua 0 4 0 0 0 0 4 0 3 3 5 10 15 22
Recurvirostra avosetta Alfaiate 8 10 5 0 9 0 24 4 3 7 5 10 15 46
Regulus regulus Estrelinha 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 0 0 15
Rissa tridactyla Gaivota-tridáctila 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0 0 4
Saxicola torquata Cartaxo-comum 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Scopolax rusticola Galinhola 3 4 5 0 0 0 12 0 3 3 5 10 15 30
Serinus serinus Chamariz 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Stercorarius skua Moleiro-grande 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4
Sterna albifrons Andorinha-do-mar-anã 8 10 0 0 9 0 27 4 6 10 5 10 15 52
Sterna hirundo Andorinha-do-mar-comum 0 10 0 0 9 0 19 0 6 6 5 0 5 30
Sterna sandvicensis Garajau-comum 0 10 0 0 9 0 19 4 3 7 5 0 5 31
Streptopelia decaoto Rola-turca 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 10 10
Streptopelia turtur Rola-comum 8 4 0 0 0 0 12 0 0 0 0 10 10 22
Strix aluco Coruja-do-mato 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Sturnus unicolor Estorninho-preto 0 10 0 0 0 0 10 4 0 4 0 10 10 24
Sturnus vulgaris Estorninho-malhado 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Sula bassana ou Morus
bassana Ganso-patola 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Sylvia atricapilla Toutinegra-de-barrete
preto 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 10 10 25
Sylvia borin Toutinegra-das-figueiras 8 10 5 0 0 0 23 0 0 0 0 10 10 33
Sylvia communis Papa-amoras 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 0 10 10 25
Sylvia melanocephala Toutinegra-de-cabeça preta
0 10 5 0 0 0 15 4 0 4 0 10 10 29
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Est. Conserv. (EC) Est. Bio. (Ebg) Sensib. (SEN) VEE
Espécie Nome comum LV Berna Bona DH DA IUCN Total G P Total H R Total Total
Sylvia undata Felosa-do-mato 0 10 5 0 9 0 24 4 0 4 0 10 10 38
Tachybaptus ruficollis Mergulhão-pequeno 0 10 0 0 0 0 10 0 3 3 5 10 15 28
Tringa nebularia Perna-verde 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14
Tringa ochropus Pássaro-bique-bique 0 10 5 0 0 0 15 0 0 0 5 0 5 20
Tringa totanus Perna-vermelha 0 4 5 0 0 0 9 0 3 3 5 10 15 27
Troglodytes troglodytes Carriça 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Turdus merula Melro-preto 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Turdus viscivorus Tordoveia 0 4 0 0 0 0 4 0 0 0 0 10 10 14
Tyto alba Coruja-das-torres 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Upupa epops Poupa 0 10 0 0 0 0 10 0 0 0 0 10 10 20
Uria aalgae Airo 8 4 0 0 10 0 22 0 0 0 5 10 15 37
Vanellus vanellus Abibe 0 4 5 0 0 0 9 0 0 0 5 0 5 14
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
ANEXO IV
WEBSIG – RIA
MANUAL DO UTILIZADOR
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
INTRODUÇÃO
Com este manual pretende-se orientar o usuário na utilização do Visualizador de Mapas
rede-aveiro. Desta forma, os conteúdos a seguir serão apresentados de uma forma visual.
PÁGINA INICIAL
PÁGINA DO MAPA
Ao aceder à página principal do visualizador Webgis, destacam-se duas janelas:
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
• Janela de conteúdo (de informação geográfica): localizada na
parte direita da tela, onde se encontram todas as camadas de
informação com os seus respetivos símbolos para a sua
representação. Para além das várias camadas de informação
estatística (incluindo os limites estatísticos), podemos visualizar
ainda cartografia de base (Limites Administrativos, tais como limites
de Concelho e Freguesia, etc.);
• Janela de visualização: localizada na parte esquerda da tela, é aqui que se visualizam os
elementos gráficos conforme a camada de informação selecionada.
MAPA PRINCIPAL
É nesta janela que são apresentadas as diferentes camadas de informação geográfica, em
diferentes escalas. Temos possibilidade de interagir, com o ponteiro do rato, utilizando
botões como ampliar, reduzir, arrastar(pan), identificar, medir, entre outros. Clicando sobre o
valor da escala aparecem diferentes opções de escolha, proporcionando-nos visualizar
mapas com maior ou menor detalhe de informação. No entanto, é possível especificar
diretamente a escala que deseja utilizar, preenchendo-a no espaço de barra fixa. Da mesma
forma, pode-se usar a barra móvel, para mudar de escala instantaneamente, deslocando-a
para cima ou para baixo.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
Barra Fixa Barra Móvel
BARRA DE FERRAMENTAS (vertical)
A barra de ferramentas contem diversas opções para uma consulta rápida e interação com o
mapa, contem opções avançadas como descarga de dados temáticos e impressão conforme
a escala.
VER EXTENSÃO TOTAL – Mostra a vista de toda a extensão do país.
VOLTAR – Regressa à vista anterior do mapa.
SEGUINTE – Regressa à vista posterior do mapa.
VER SELEÇÃO – Permite visualizar todo o resultado duma seleção.
AMPLIAR – permite visualizar uma área do mapa com maior detalhe. Depois de ter
selecionado o botão, escolha a área do mapa que pretende ampliar e faça um
“click”, ou desenhe um quadrado ou retângulo.
REDUZIR – para visualizar uma área maior do mapa. Depois de ter selecionado o
botão, escolha a área do mapa que pretende reduzir e faça um “click”.
ARRASTAR – permite mover o mapa em diferentes direções, para o qual deve
manter pressionado o botão esquerdo do rato e arrastar para a direção desejada.
IDENTIFICAR – permite consultar e exportar dados, a partir de um “click”, da tabela
de atributos das camadas de informação que estão ativas na janela de conteúdo.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
MEDIR – permite medir a distância entre dois pontos (linha), calcular o perímetro e área de
um polígono. Por exemplo, clicar com ponteiro do rato no ponto de origem e traçar uma
linha, fazendo depois duplo “click” no ponto de destino. Na parte inferior direita da janela
aparece a distância a que corresponde. Para o caso de medição de perímetro ou área deve-
se desenhar o conjunto de linhas ou o polígono desejado, finalizando com duplo “click” para
se obter a medição
AUTO-IDENTIFICAR – permite visualizar a tabela de atributo de uma camada de
informação selecionada, com uma simples localização do ponteiro do rato sobre o elemento
(polígono, linha ou ponto). Por só ser possível consultar uma camada de informação de
cada vez, o usuário deve escolher antes a camada que deseje consultar na janela “Aplicar
na camada”:
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SELECIONAR – permite selecionar, visualizar e exportar dados da tabela de atributos de
um elemento (polígono, linha ou ponto), ou conjunto de elementos de uma determinada área
do mapa. Note-se que mesmo que estejam ativadas várias camadas de informação só é
apresentada na tabela de atributo dados referentes somente da primeira camada
selecionada.
1ºPasso - Ativar a ferramenta
2ºPasso – Escolher a camada de informação que deseja consultar na janela “Aplicar
na camada”:
3ºPasso – Selecionar com o ponteiro do rato, o(s) elemento(s) a consultar. A
modalidade de seleção nesse caso pode ser um “click” ou desenhar um quadrado ou
retângulo.
A Zona de Proteção Especial (ZPE) Ria de Aveiro. Ensaio metodológico para a construção de uma carta de Vulnerabilidades para apoio à gestão ecológica da paisagem 2012
QUERY EDITOR – esta ferramenta permite ao utilizador realizar consultas sobre
atributos de uma determinada camada de informação (layer). Ela funciona sobre uma
camada de informação de cada vez.
O quadro “QueryEditor” contém 4 divisões de preenchimento:
• Spatial data: janela onde se seleciona a camada a consultar – Layer name.
• Attribute: janela onde se escolhe o nome, tipo, operadores de grandeza e valor do
atributo, sobre o qual vai-se realizar a consulta – Nome; Type; Comparison; Value.
• Operator: permite a escolha de outros operadores – NOT; AND; OR; ().
• Generated Query: janela onde é apresentada por extensão a consulta “query” que se
pretende.
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EXPORTAR DADOS
Para exportar dados, no fim da tabela de atributos, selecione o tipo de ficheiro que deseje
exportar (XLS, CSV ou PDF) clicando na bolinha do lado esquerdo e de seguida no botão
Salvar mapa. Para finalizar escolhe o local onde deseja guardar o ficheiro.
Podemos igualmente imprimir cartas com a respetiva legenda, bastando para tal clicar em
“imprimir”, a seguir clicar em “criar arquivo pdf”, depois “criar página de impressão” e o
resultado é o que aparece na imagem, uma carta com as camadas selecionadas.
Todo o layout pode ser configurado da forma e adaptado ao websig.