DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MESTRADO EM DESIGN …livros01.livrosgratis.com.br/cp128927.pdf · Aos...

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI Engracia M.Loureiro da Costa Llaberia DESIGN DE JÓIAS: DESAFIOS CONTEMPORÃNEOS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MESTRADO EM DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU São Paulo, 2009

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  • UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    Engracia M.Loureiro da Costa Llaberia

    DESIGN DE JIAS:

    DESAFIOS CONTEMPORNEOS

    DISSERTAO DE MESTRADO

    MESTRADO EM DESIGN

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU

    So Paulo, 2009

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  • ___________________________________________________ design de jias _____

    Engracia Costa Llaberia

    UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    Engracia M.Loureiro da Costa Llaberia

    DESIGN DE JIAS:

    DESAFIOS CONTEMPORNEOS

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao Stricto Sensu em Design Mestrado, da

    Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Mestre em Design

    Orientador: Prof.PhD Jofre Silva

    So Paulo, 2009

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    Engracia Costa Llaberia

    UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

    Engracia M.Loureiro da Costa Llaberia

    DESIGN DE JIAS:

    DESAFIOS CONTEMPORNEOS

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao Stricto Sensu em Design Mestrado, da

    Universidade Anhembi Morumbi, como requisito parcial

    para obteno do ttulo de Mestre em

    em Design. Aprovada pela seguinte Banca

    Examinadora:

    Prof. PhD Jofre Silva.

    Orientador e Coordenador

    Mestrado em Design Anhembi Morumbi

    Profa. Dra. Denise Dantas

    USP e SENAC-SP

    Profa. Dra. Kthia Castilho

    Universidade Anhembi Morumbi

    So Paulo, 2009

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    Engracia Costa Llaberia

    Todos os direitos reservados. proibida a reproduo total ou parcial

    do trabalho sem autorizao da Universidade, do autor e do

    orientador.

    Engracia M.Loureiro da Costa Llaberia

    Coordenadora e Professora do Curso de

    Graduao Tecnolgica em Design de Jias

    da Universidade Anhembi Morumbi. Diretora

    de Design da AJESP, Associao dos

    Joalheiros do Estado de So Paulo. Designer,

    graduada pela Escola Superior de Desenho

    Industrial, ESDI/UERJ, e em Comunicao

    Social, com habilitao em Publicidade e

    Relaes Pblicas, pela Universidade Estcio

    de S. Atua como Designer de Jias desde

    1986.

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    Engracia Costa Llaberia

    Dedicatria

    Dedico este trabalho ao meu tio/pai Walter de Mattos

    Loureiro (in memoriam) e minha av/me, Alzira de Mattos

    Loureiro (in memoriam), Marilza da Silva (minha me preta).

    A eles, a quem eu devo o incentivo aos meus estudos desde

    o incio da minha vida e com quem aprendi a alegria de viver

    e partilhar.

    Aos meus pais, por terem me dado a oportunidade da vida,

    Aurora (in memoriam) e Jos Ferreira da Costa (in

    memoriam).

    A Luiz Llaberia, pela companheirismo.

    De modo especial, dedico aos meus filhos, Luiz Felipe e

    Marcelo, por serem o grande alicerce para tudo o que almejei

    construir, na esperana de deixar-lhes como herana o

    exemplo da nica conquista que vale realmente a pena, o

    conhecimento.

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    Agradecimentos

    Aos meus professores do Mestrado que me auxiliaram na volta vida acadmica, depois de mais de 25 anos atuando profissionalmente, longe das cadeiras de sala de aula como aluna. Pelo acolhimento, carinho, incentivo e orientao, e, acima de tudo, pacincia, sou muito grata a todos.

    Profa. Patricia Passos, pela competncia e pelo carinho com que me auxiliou na estruturao deste trabalho.

    Agradeo aos meus alunos dos cursos de Design Digital, Design Grfico e aos de Design de Jias da Universidade Anhembi Morumbi, cujas dvidas e discusses enriqueceram de modo especial esta pesquisa. Pelo muito que aprendi com vocs, obrigada!

    Agradeo com especial distino aos profissionais e empresrios que me auxiliaram nas entrevistas e visitas s suas fbricas, confiando-me todas as suas questes em relao ao setor e suas inquietaes em relao ao design e aos designers.

    Agradeo a cio Morais, Diretor Executivo do IBGM, e do sistema AJESP/SINDIJIAS, por confiar no meu trabalho e me ter auxiliado fornecendo todas as informaes necessrias para que eu pudesse realizar esta pesquisa.

    A Jorge Nelson, da Goldbacker, Presidente da AJESP, pelo apoio e incentivo

    . Hcliton Santini, Presidente do IBGM, Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, no s por sua participao com seu depoimento para esta dissertao, mas por todo o seu trabalho de incentivo constante ao design de jias no Brasil, sempre amigo e disposto a nos ouvir.

    A Fulvio Drago e Odair Zambom, Diretores da ALJ, Associao Limeirense de Jias e a Jos Simes, seu Presidente, pelo acolhimento e apoio. Acima de tudo, pela cortesia e respeito com que nos receberam.

    A Rodolfo Santero, Presidente da ADOR, Associazione Designers Orafi de Milo, Itlia, pelo apoio constante, tendo respondido s dvidas apontadas por esta pesquisa e pelas parcerias que mantemos

    Cristina Filipe, Presidente da PIN, Associao Portuguesa de Joalheria Contempornea, pela ateno em responder s questes levantadas por esta pesquisa.

    Aos empresrios, Roberto e Osni Storel, da Osni Storel Jias, Tufi Geara Karam, da Joalheria Geara Karam do Sul e Pierangelli Mora da Corsage,

    Aos designers, Eliania Rosetti, Chis Lanza, Maria Jos Cavalcante, Michel Striemer, Monica Martins, Flavia Malamam, Paula Kadam e Larissa Venturini.

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    Engracia Costa Llaberia

    Em Limeira, agradeo Guimmy (Flavia Malamam e Fulvio Drago), ACP, de Antonio Carlos Paroli e Carlos Paroli, Kadam de Paula Kadam, FAB Bijouterias de Reginaldo Dalfr, pela gentileza com que nos receberam e a enorme generosidade em fornecer informaes sobre seus trabalhos na visita realizada s suas fbricas por iniciativa da ALJ, na pessoa de seu Diretor Fulvio Drago.

    Antonia Costa,assistente do Mestrado da Universidade Anhembi Morumbi, por sua ajuda sempre em me atender com tanta ateno e carinho.

    Especial agradecimento ao meu professor, orientador e amigo, Jofre Silva, de quem sempre ouvi palavras de incentivo durante todo o longo processo de desenvolvimento deste estudo, especialmente pela pacincia e carinho com esta nova aluna.

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    Resumo

    Este estudo trata do Design de Jias Contemporneo e os desafios em relao demanda do

    mercado de trabalho por profissionais habilitados a desenvolver produtos que sejam resultado de

    pesquisa do usurio, das tendncias de comportamentos e do conhecimento da produo

    industrial e artesanal. Um profissional de design que atue com procedimentos de projeto e seus

    processos, atravs da metodologia de desenvolvimento do produto em suas vrias etapas. Dessa

    forma, procura-se aqui delinear parmetros para atuao desses profissionais junto a empresas

    do setor joalheiro e seus segmentos afins, o de folheados e bijuterias industriais, ou mesmo como

    empreendedores no desenvolvimento de suas prprias colees, tendo como base a atividade

    projetual e o conhecimento do conjunto de saberes multidisciplinares do qual o Design faz parte

    enquanto atividade. Para tanto, buscou-se identificar as diversas reas de criao joalheira,

    especialmente no Brasil, comparando eventualmente com o que ocorre em outros pases, como

    forma de entender o processo criativo dos diferentes profissionais e suas prticas, trazendo

    esclarecimento e orientando tambm a formao de novos designers. Esta pesquisa vem de

    encontro a um anseio do setor produtivo joalheiro que tem procurado posicionar seus produtos no

    mercado internacional, com crescente aceitao em alguns segmentos. No entanto, este setor

    necessita de uma identidade prpria e v no design seu grande elemento de diferenciao.

    A presente dissertao apresenta tambm um roteiro inicial para o desenvolvimento de um projeto

    de design de jias, como forma de enfatiz-lo como elemento de distino do trabalho do designer

    e destaca o desenho, tanto o artstico quanto o tcnico, como principal meio de comunicao entre

    designer e cliente, propondo um futuro estudo nessa rea.

    Palavras-chave:

    design de jias, joalheria artesanal, joalheria industrial, projeto de joalheria.

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    Abstracts

    This work is about contemporary jewelry design and the challenges that designers face in

    developing, designing and creating products to meet the real demand of industries in the todays

    market. This paper discusses specific methodologies and directions that professionals can employ

    to develop successful products that are a result of users research, behavioral trends analysis and

    understanding craft and industrial production. This study proposes that design professionals be

    trained to rely upon, and to follow disciplines related to projects and their associated processes

    throughout all of the stages of product development. This work attempts to define universal

    parameters that jewelry designers in all market segments, including gold plated and costume

    jewelry, could use to even produce their own collections based on the project requirements as a

    whole. So it presents an initial study about the development of a jewelry design project

    methodology, focusing on the drawing, rendering or technical, as the primary communication

    language between designer and his client, and also proposes a future research in this field. To

    reach our objectives of improving design process in the productive sector and to guiding new

    designers training, weve investigated the different jewelry segments, especially in Brazil. The goal

    being to better understand the distinct creative processes and current practices of the different

    professionals, The hope of this research is to fulfill the jewelry sectors need for improving

    positioning of the Brazilian product in the international market and to achieve a strong identity that

    results from design as a distinguishing element.

    Keywords:

    Jewelry design, craftsman jewelry, industrial jewelry, jewelry project

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    Engracia Costa Llaberia

    'Problemas modernos' requerem solues modernas e todas as

    formas modernas devem refletir os novos materiais e novas exigncias

    do nosso tempo.

    Otto Wagner, 1895

    em Modern Architektur,

    discurso inaugural na Academy of Fine Arts

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    Engracia Costa Llaberia

    Lista de Figuras

    Figura 01 Clementina Duarte, Conjunto Passion, 2003 .................................................................. 31

    Figura 02 Ruth Grieco. colar Puzzle, finalista do "Diamonds are Fun" HRD, 2005 ........................ 32

    Figura 03 Cardoso & Filho Joalheiro, foto de 1942........................................................................ 33

    Figura 04 Eliania Rosetti - Prmio IBGM de Design de Jias - 1 Lugar .......................................... 38

    Figura 05 Lena Garrido 1 lugar - Prmio IBGM de Design de Jias 1999 ..................................... 39

    Figura 06 Denise Costa - 1 lugar - Prmio IBGM de Design de Jias 1999 ................................... 39

    Figura 07 Virginia Moraes - 2 lugar Prmio IBGM de Design de Jias 1999........... . .....................40

    Figura 08 Andreia Niccio - 1 lugar - Prmio IBGM de Design de Jias 1999................................ 40

    Figura 09 Larissa venturini, 1 lugar, ALJDesigner 2009 ............................................................... 41

    Figura 11 Bancada de joalheria local de trabalho do joalheiro/ourives ....................................... 43

    Figura 12 Joalheria artesanal, corte de chapa de metal ................................................................ 47

    Figura 13 Emmy Van Leersum, anel Broken Lines, 1982 ............................................................. 51

    Figura 14 Gijs Bakker, bracelete em prata, 1995 .......................................................................... 52

    Figura 15 Gijs Bakker, Broche Stretched Yellow Brooch, 2008 ..................................................... 52

    Figura 16 Ana Margarida Carvalho , PIN broche, 2007 ............................................................... 55

    Figura 17 Isabel Worm, PIN - Arquitectnico, 2006 ...................................................................... 55

    Figura 18 Ute Kolar, Anello Fiore, 2003 ....................................................................................... 56

    Figura 19 Giorgio Cecchetto . anel Gamma, 2002 ........................................................................ 56

    Figura 20 Paolo Marcolongo - anel Sobre o Mar, 2001 ................................................................. 57

    Figura 21 Paolo Marcolongo anel, 2009 .................................................................................... 58

    Figura 22 Barbara Uderzo - jia de autor, 2008 ........................................................................... 58

    Figura 23 HOBO, colar Symphony II, 2009 ................................................................................... 59

    Figura 24 H.Stern, Coleao Oscar Niemeyer, 2009 ........................................................................ 61

    Figura 25 H.Stern, Coleo Niemeyer, Anis Pampulha, 2009 ....................................................... 62

    Figura 26 H.Stern, Coleo Niemeyer, Bracelete Copan, 2009 ....................................................... 62

    Figura 27 Reny Golcman, pingente, maio de 2003 ........................................................................ 66

    Figura 28 Reny Golcman, pingente, abril 2003 ..................................................................................66

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    Figura 29 Alexander Calder, The Jealous Husband necklace [ca.1949] ......................................... 66

    Figura 30 Alexander Calder, broche V for Victory [c.1944]..................................... ................... 67

    Figura 31 Alexander Calder, bracelete [c.1948] ............................................................................ 67

    Figura 32 Sophia Vari - anis e seus moldes, 1992 ..................................................................... 68

    Figura 33 Mauboussin, colar, 1925 ............................................................................................. 70

    Figura 34 Gerard Sandoz, pingente, 1928 .................................................................................... 71

    Figura 35 Jean Fouquet, colar, 1925-30 ...................................................................................... 71

    Figura 36 Renata Porto. Zona D - Galeria Nova.Jia, 2007 ............................................................ 77

    Figura 37 Maria Jos Cavalcanti, anel em ouro branco, 2009 ........................................................ 79

    Figura 38 Maria Jos Cavalcanti, escultura, 2009......................................................................... 79

    Figura 39 Ruth Grieco. Brincos. Alta Joalheria, 2003 ................................................................... 80

    Figura 40 Chis Lanza, anel em ouro com topzio, 2005 ............................................................... 82

    Figura 41 Chis Lanza. Jia premiada no Concurso Prolas do Tahiti, 2007 ................................... 82

    Figura 42 Caio Mouro - Bracelete em prata, [ca. 1970] ............................................................... 84

    Figura 43 Paula Mouro, Pulseira Passarela, 2006 ....................................................................... 84

    Figura 44 Edson Fragoaz, anel, 2009 .......................................................................................... 85

    Figura 45 Amador Prado. Anel, [s.d.] ......................................................................................... 88

    Figura 46 The Graces brinco Coleo Modular 5 sentidos, 2009 ................................................ 91

    Figura 47 Manoel Bernardes. 1 lugar Premio IBGM Design de Jias 2008 ................................... 92

    Figura 48 Denoir e Ruth Grieco, anel de prolas, 2008 ................................................................ 92

    Figura 49 Anel da Coleo Silverbacker, 2007 ........................................................................... 106

    Figura 50 Bracelete da Coleo Silverbacker, 2007 .................................................................... 106

    Figura 51 Ilustrao de jia de produo industrial em Rhinoceros 3D ....................................... 107

    Figura 52 Monica Martins- Rendering 3D 2000 ....................................................................... 108

    Figura 53 Equipamento de corte a laser, empresa FAB Bijouterias, Limeira, 2009........................ 109

    Figura 54 Sequncia do resultado do corte a laser e corrente, FAB Bijouterias .......................... 109

    Figura 55 Coleo Luiza Brunet, Catlogo Avon, 1994 ............................................................... 111

    Figura 56 Daisy Lima Coleo de bijuterias Santa Audacia, 2008 ............................................. 115

    Figura 57 Imagem Jias - Argola folheada a ouro, 2009 ............................................................. 115

    Figura 58 Any Jias - Argola em ouro 18k, 2009 ....................................................................... 115

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    Figura 59 Bijuteria - Anel de metal com banho de prata, 2009 .................................................... 116

    Figura 60 Anel folheado Coleo Caminho das Pedras, 2009 ..................................................... 116

    Figura 61 Anel em ouro branco 18k, Quiedz, 2009 ..................................................................... 116

    Figura 62 Motorola V70 - celular com cristais Swarovski ............................................................ 127

    Figura 63 Desenho e ficha e tcnica, Liliane Mancebo (2008) .................................................... 129

    Figura 64 Desenho de detalhamento de construo, Liliane Mancebo (2008) .............................. 130

    Figura 65 Desenho de ilustrao, Liliane Mancebo (2008) ......................................................... 131

    Figura 66 Georges Deraisme, desenho Alfinete de Chapu Mulheres, 1900 ................................. 134

    Figura 67 Georges Deraisme, desenho de broche, 1897 ............................................................. 134

    Figura 68 Estudos em guache, [s.d.] ........................................................................................ 136

    Figura 69 Estudos em guache para relgios-braceletes [s.d.] ..................................................... 137

    Figura 70 Georges Fouquet. Desenho pingente, 1927 ................................................................. 138

    Figura 71 Georges Fouquet, Desenho pingente chins, 1924 ..................................................... 138

    Figura 72 Desenho 3D, Eliania Rosetti, 2009 ............................................................................. 139

    Figura 73 Desenho. Marlene Knuth, ADOR, 1996 ....................................................................... 140

    Figura 74 Cristina Asnaghi, anel em projeo ortogonal. 2000 ................................................... 141

    Figura 75 Eliza Pucci, Desenho de bracelete, 2000 .................................................................... 142

    Figura 76 Liliane Mancebo (2008) ............................................................................................. 144

    Figura 77 Jinks Mc Grath, preparao de um aro de metal ......................................................... 147

    Figura 78 Jinks Mc Grath, modelagem em metal (2007) ............................................................. 147

    Figura 79 Carlos Salem. Processo de modelagem em cera ......................................................... 148

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    Lista de Abreviaturas e Siglas

    AJESP Associao dos Joalheiros do Estado de So Paulo

    ALJ Associao Limeirense de Jias

    ARJEP Associao dos Relojoeiros e Joalheiros do Estado do Paran

    HRD - Hoge Raad voor Diamant (HRD) ou Diamond High Council Alto Conselho do Diamante, Anturpia, Bgica.

    IBGM Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos

    RDG Rede Gacha de Design

    SINDIJIAS Sindicato da Indstria de Joalheria, Bijuteria e Lapidao de Gemas do Estado de So Paulo.

    SINTRAJOIAS Sindicato dos Trabalhadores Joalheiros do Estado de So Paulo

    WGC World Gold Council - Conselho Mundial do Ouro

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    Engracia Costa Llaberia

    Sumrio

    Resumo ......................................................................................................................................4

    Abstracts ...................................................................................................................................5

    Lista de Figuras .........................................................................................................................7

    Lista de Abreviaturas e Siglas ................................................................................................. 10

    Introduo ................................................................................................................................ 12

    1. O design e a jia ................................................................................................................... 15

    1.1 Design: projeto, produto e indstria ................................................................................. 18

    1.2 O design de jias e os paradigmas da contemporaneidade: mercado e usurio .............. 27

    2. O design de jias no Brasil .................................................................................................. 30

    2.1 O Design nas Instituies, Concursos e Exposies ....................................................... 37

    3. Da criao produo ......................................................................................................... 42

    3.1 Artesania: a joalheria de produo artesanal ................................................................... 42

    3.2 Joalheria Experimental: Nova Joalheria e Joalheria Contempornea ............................ 48

    3.3 Joalheria autoral: Jia de Autor e Jia de Arte ................................................................. 60

    3.3.1 A arte e a Jia no sc.XX ....................................................................................................... 68

    3.3.2 A Joalheria Autoral contempornea no Brasil ......................................................................... 75

    3.4 Produo Industrial do setor joalheiro .............................................................................. 89

    3.4.1 Jias, folheados e bijuterias .................................................................................................103

    4. A construo do projeto .................................................................................................... 117

    4.1 Estgios da Metodologia de Projeto: produto e coleo ................................................ 120

    4.2 Briefing: direo conceitual do projeto ........................................................................... 121

    4.3 Aspecto social e cultural do mercado ............................................................................ 123

    4.4 Dimenso visual do desenho na indicao de formas, materiais e tcnicas ................... 127

    4.5 O desenvolvimento do projeto ....................................................................................... 143

    5. Consideraes Finais ........................................................................................................ 151

    6. Referncias ........................................................................................................................ 154

    7. Glossrio ............................................................................................................................ 160

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    8. Anexos ............................................................................................................................... 162

    8.1 Pesquisa Nacional do Mercado Consumidor de Jias IBGM ...... .............................162

    8.2 Compradores x no-compradores ................................................................................ 163

    8.3 Tamanho do mercado em R$ e tipos ............................................................................ 164

    8.4 Regulamento do Concurso Jia Fashion Design IBGM /2006 ..................................... 165

    8.5 Visitas e entrevistas ...................................................................................................... 167

    8.5.1 Entrevistas....................................................................................................................... 168

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    Engracia Costa Llaberia

    Introduo

    Esta pesquisa prope a ampliar a compreenso do universo da criao joalheira,

    posicionando e definindo as atividades profissionais do designer de jias em

    funo de demandas especficas do mercado de trabalho contemporneo. Na

    abordagem do processo criativo, a jia analisada tanto como objeto de arte

    quanto como produto seriado resultante de um procedimento industrial em suas

    inseres sociais, culturais e comerciais. O estudo busca apontar os diferentes

    campos de atuao que compem o setor joalheiro.

    A jia de arte, a de autor e at mesmo a jia feita por artesos costumam ser

    identificadas como produtos de design. Atividades que tm em comum a criao

    e a configurao de objetos. No entanto, so essencialmente diversas,

    especialmente no que diz respeito concepo destes artefatos, isto , como

    resultado da necessidade de expresso pessoal ou atendendo a uma demanda

    especfica de um cliente ou pblico. Neste ponto estas reas se separam e se

    definem.

    Sem estabelecer qualquer juzo de valor que posicione de forma superior uma ou

    outra atividade, o objetivo esta pesquisa o de entender os aspectos desta

    diversidade, colaborando com o setor joalheiro e com aqueles que nele desejam

    atuar. Este estudo no questiona a maneira como atualmente todos os criadores

    de jias so tratados como designers, sem observar a natureza de suas prticas

    e as conseqncias geradas no mercado de trabalho profissional pela falta de

    entendimento de suas propostas.

    A inteno principal desta dissertao a de considerar as caractersticas que

    possibilitam conhecer, por meio da anlise da metodologia de desenvolvimento

    do projeto de design, o profissional de criao de jias com habilidade para lidar

    com aspectos e elementos de projeto. Um profissional inserido nas relaes com

    o mercado, apto a atender s demandas do setor produtivo joalheiro, especficas

    do desenvolvimento e lanamento de colees de jias e seus segmentos afins

    no setor produtivo joalheiro.

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    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    Este tema est no centro da discusso do design, se funcional ou se permeado

    por parmetros que o enquadram no domnio da arte. E, desta forma, a questo

    aqui baseada na anlise da atividade profissional de diversos criadores de

    jias, considerando desde a produo individual at a seriada, de produo

    industrial, e o objeto/produto resultante deste trabalho, na relao que estabelece

    com as empresas do setor joalheiro em todos os seus trs segmentos: o de jias

    em materiais preciosos, o de folheados e o de bijuterias (componentes

    produzidos em processo industrial).

    Para tanto, a metodologia desta pesquisa qualitativa complementa a coleta de

    dados obtida atravs da literatura do campo do design em geral com visitas

    tcnicas e entrevistas semi-estruturadas de profissionais envolvidos no setor

    joalheiro, contando com a importante contribuio das informaes fornecidas

    pelos empresrios dos diferentes segmentos e instituies. Foram realizadas

    visitas a fbricas nas cidades de Limeira, Santos e So Paulo, bem como a

    ateliers de joalheiros e escolas de joalheria, possibilitando entrevistar

    profissionais de criao que atuam direta e indiretamente nas diferentes reas

    ligadas ao setor produtivo.

    Este trabalho apresenta inicialmente o contexto da jia e do design na

    contemporaneidade, destacando as diversas possibilidades de atuao dos seus

    profissionais. Desta forma, o captulo 1 aborda a questo do conceito de design

    para posicionar os elementos necessrios que contribuem para o entendimento

    do tema desta pesquisa.

    O captulo 2 traz aspectos da histria da joalheria no Brasil e seu contexto atual.

    Instituies como o IBGM, a AJESP/SINDIJIAS e a ALJ, tm tido papel

    importante na valorizao do design nacional com a promoo de exposies e

    concursos, os quais tero ateno especial neste captulo. No captulo 3 ser

    abordada em itens especficos, a joalheria autoral (produo manual/artesanal)

    com todas as suas nuances como Jia de Autor e de Arte, alm da Alta Joalheria

    de produo exclusiva e a comercial. Nele tambm vista a joalheria chamada

    industrial ou comercial de produo seriada, analisando separadamente os

    segmentos de jias, o de folheados e o de bijuterias, a partir das consideraes

    sobre suas especificidades. Este captulo apresenta um breve estudo da Alta

    Joalheria e dos movimentos do incio do sculo XX, por sua relevncia no

    entendimento da joalheria contempornea.

  • 14

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    A partir do captulo 4 ser estudado o projeto e o papel da metodologia para o

    desenvolvimento do design de jias especificamente em suas diversas etapas,

    abordadas aqui de modo geral, sem considerar particularidades em relao

    produo de cada segmento do setor joalheiro, entendendo que a complexidade

    da produo em cada um mereceria uma dissertao exclusivamente dedicada a

    este estudo.

    O captulo 4 tratar do desenho, artstico e tcnico, como forma de

    apresentao do resultado do projeto dos designers, uma vez que este pode ser

    considerado, sob um certo aspecto desta anlise, o produto final de seu trabalho,

    dando destaque ao desenho de produo (tcnico) como principal meio de

    comunicao entre designer e oficina (do atelier de produo artesanal

    indstria).

    As consideraes e os resultados finais desta pesquisa no captulo 5 ajudam a

    perceber o design de jias como rea de atividade complexa, com diferentes

    nuances, onde h espao tanto para a criao individual, traduzida nas tcnicas

    tradicionais de ourivesaria ou em experimentaes que caracterizam a joalheria

    contempornea, bem como para a criao contextualizada em projetos de design

    voltados para a produo seriada, industrial

    O captulo 6 apresentar as fontes bibliogrficas que serviram de base para este

    estudo e o captulo 7 trar um pequeno glossrio de termos mais especficos de

    joalheria utilizados nesta pesquisa. Por fim, no captulo 8, sero apresentados os

    anexos com documentos que complementam as informaes apresentadas,

    alm de um comentrio sobre as visitas e a transcrio das entrevistas

    realizadas com profissionais e empresrios,.

    A pertinncia do tema desta pesquisa se deve ao momento do setor joalheiro,

    quando se busca encontrar uma identidade prpria para a criao joalheira no

    Brasil e percebe-se uma crescente necessidade de profissionalizao da rea,

    especialmente dentro do segmento industrial, o que se dar atravs da

    identificao do perfil do profissional de Design de Jias e o conjunto de saberes

    exigidos em sua atuao.

  • 15

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    1. O design e a jia

    Em meio a um universo de referncias simblicas, culturais e histricas da arte e

    do design, o cenrio contemporneo da joalheria apresenta uma nova face,

    incorporando aspectos inerentes ao nosso tempo, dentro de possibilidades

    criativas diversas como o da produo artesanal e o da produo industrial.

    Entende-se, atravs da prtica, que h uma forma de pensar (idealizar) o

    objeto na perspectiva do trabalho do artista, distinta da perspectiva do designer.

    Isto porque a arte pressupe uma expresso pessoal que se traduz atravs de

    experimentaes formais e de materiais, buscando a melhor representao de

    emoes e questionamentos pessoais.

    J no design busca-se trazer para o objeto a melhor soluo para questes que

    so trazidas por um pblico/usurio ou grupo definido, relacionadas suas

    necessidades, expectativas e anseios, a quem se dirige a criao.

    O design, ou desenho industrial, a rea do conhecimento

    que trata do planejamento, da programao e do projeto dos

    objetos com os quais o homem lida em seu cotidiano, assim

    como dos ambientes em que mantm seu espao de

    vida.(ESDI, 2009).

    Assim, pressupe uma forma de analisar o objeto em si, atravs de seu

    processo criativo e produtivo, considerando seu uso e as relaes com esse

    usurio em suas dimenses estruturais, funcionais, culturais e simblicas.

    De acordo com o ICSID, International Council of Society of Industrial Design,

    entidade internacional das sociedades de design, com sede na Finlndia,

    encontramos a seguinte definio:

    Design uma atividade criativa cujo objetivo estabelecer as

    qualidades multifacetadas de objetos, processos, servios e

    seus sistemas em todos os seus ciclos de vida. Portanto, o

    design o fator central da humanizao inovadora de

    tecnologias e o fator crucial de intercmbio cultural e

  • 16

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    econmico.(...) Design diz respeito a produtos, servios e

    sistemas concebidos com ferramentas, organizaes e lgica

    introduzidas pela industrializao no apenas quando

    produzidos por processos de srie. O adjetivo "industrial"

    adicionado a design, relaciona-se ao termo indstria ou em

    seu significado de setor produtivo ou em seu antigo

    significado de atividade industrial.(ICSID, 2009, traduo

    nossa)1

    Assim, sintetizando, deve-se inicialmente conceituar o design nesta pesquisa

    como desenho industrial, enquanto campo de estudo do objeto e das

    necessidades sociais, como profisso cuja formao envolve disciplinas capazes

    de abranger conhecimentos de diversas reas na soluo dos problemas que se

    apresentam dentro do seu campo de atuao e de cada rea com suas

    especificidades, e basicamente como atividade que tem a funo de estabelecer

    um dilogo entre designer, cliente (empresa), produto e usurio. Produto aqui

    significando o resultado de qualquer produo material (REDIG, 2006, p.172).

    Especialmente no que diz respeito jia enquanto design de produto, considera-

    se ser o conceito que envolve a criao joalheira sob a perspectiva da

    metodologia de projeto de grande interesse de estudo para o setor joalheiro

    nesse momento. Assim posicion-la possibilitar que as empresas a entendam

    como parte de suas estratgias de negcios e atendam objetivamente

    demanda do mercado a que se destina.

    Falar em produto e mercado pressupe a produo em pequena ou grande

    escala envolvendo todos os parmetros a ela inerentes. O papel do designer o

    de pesquisar e definir a criao, observando e compreendendo o contexto em

    que est inserida, tanto em relao ao potencial produtivo como de seu pblico.

    Dever conhecer e atender ao usurio em sua totalidade, isto , em seus

    aspectos fsicos, psquicos, cognitivos, culturais, sociais, econmicos e

    ecolgicos. (ibidem, p.172).

    Assim, parte-se do princpio de que a Joalheria de Autor, tem como proposta a

    necessidade da prpria expresso pessoal do artista e o designer, em

    contraposio, adotando a metodologia de desenvolvimento de projeto de

  • 17

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    produtos, atua a partir de uma necessidade ou demanda especfica de outro

    sujeito que no ele mesmo.

    Esta discusso nos remete ao que trata Maldonado (1991) quando comenta a

    questo existente na Itlia quanto a haver um design quente e um outro frio.

    Maldonado refere-se ao discurso de Alessandro Mendini, arquiteto, designer e

    professor, embora no o citando textualmente, o que far Dijon de Moraes

    (1997, p.137) referindo-se justamente sobre sua colocao em relao

    produo do objeto feito em pouca quantidade, com poucos meios e destinado

    ao usurio artstico-cultural de pouca sujeio social (ibidem, p.137), ao que

    chamou de design quente, em contraposio ao design destinado produo

    industrial, com produo em srie, o design frio.

    Mas no se pretende aqui entrar na discusso do art design, como chamado

    por alguns estudiosos este design quente, j que se considera por premissa para

    esta pesquisa o design enquanto atividade projetual inserido em contextos, com

    pblico (usurio) definido, a quem se dirige a criao e no como resultado da

    necessidade pessoal de expresso do designer. O design com objetivos

    especficos na soluo de problemas, e no apenas como a arte da

    configurao, Esta postura nos distanciaria da prtica do design de jias hoje

    junto a empresas como demanda real do mercado de trabalho profissional que,

    embora baseado na inspirao pessoal, no prescinde do saber tcnico voltado

    para o atendimento a um pblico especfico e os parmetros que a partir dele se

    estabelecem para produo, oposto idia de uma jia criada, como o que prega

    Mendini, a partir dos prprios parmetros de satisfao pessoal do artista..

    Sobre isso discorre Mendini: Foge-me a palavra projeto como

    definio de alguma coisa que se pode prever, metodizar e

    aplicar. Portanto, no repudio, mas mudo a direo; penso um

    objeto assim como um pintor pensa a pintura: liberto-me de

    tudo, dos condicionamentos funcionais e acentuo, exaspero,

    dou preferncia funo esttica (...) os meus projetos so

    endereados aqueles poucos que interessam ao meu

    discurso.(ibidem, p.140).

    Nesta pesquisa considera-se a afirmao de Mendini mais prxima da produo

    autoral, que embora envolva o design, o considera como configurao dos

    objetos, sujeitando-o ao gosto pessoal do seu criador.

  • 18

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    Especificamente na rea de criao de jias observa-se na contemporaneidade

    um grande universo de possibilidades de atuao to diversas quanto esta que a

    trata como configurao esttica, ou como habilidade manual na experimentao

    de tcnicas e materiais, tanto quanto como atividade projetual, prpria do campo

    interdisciplinar do conhecimento do qual o Design faz parte. A pesquisa

    procurar mostrar atravs dos exemplos os diferentes nichos de atuao e

    aplicaes distintas da palavra design nessas atividades, exigindo uma maior

    reflexo para seu entendimento, evitando a banalizao de seu uso,

    descaracterizando-a.

    _______________________________________________________________________________

    Notas: 1. ICSID Design Definition

    Design concerns products, services and systems conceived

    with tools, organisations and logic introduced by

    industrialisation - not just when produced by serial processes.

    The adjective "industrial" put to design must be related to the

    term industry or in its meaning of sector of production or in its

    ancient meaning of "industrious activity". Thus, design is an

    activity involving a wide spectrum of professions in which

    products, services, graphics, interiors and architecture all take

    part. Together, these activities should further enhance - in a

    choral way with other related professions - the value of

    life.(ICSID, 2009)

    ______________________________________________________________________________

    1.1 Design: projeto, produto e indstria

    Durante muito tempo, buscou-se delinear a atuao do designer (industrial) de

    jias. Mas o entendimento do design atravs de um vis que o situa como

    desenho e configurao esttica de objetos ou artefatos, como o senso

    comum, dominou o setor atravs do prprio posicionamento de muitos autores de

  • 19

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    jias, o que impossibilitou que se definisse objetivamente sua rea de ao como

    servio prestado junto a indstrias, de onde vem a maior demanda por sua

    atuao.

    Como j afirmado inicialmente, no se discute aqui a maneira como atualmente

    so tratados todos os criadores de jias como designers. A inteno principal a

    de considerar as caractersticas que possibilitam conhecer atravs da anlise de

    sua metodologia de desenvolvimento de projeto de design, o profissional de

    criao de jias que possua habilidade para lidar com aspectos e elementos de

    projeto, inserido nas relaes com o mercado, apto a atender a demandas do

    setor produtivo joalheiro, especficas do desenvolvimento e do lanamento de

    colees de jias.

    O uso desta nomenclatura, design e designers, vem sendo feito

    indiscriminadamente e serve para definir trabalhos artesanais e industriais,

    considerando o conceito de design apenas como funo de configurao, de

    elaborao da forma. Mas no campo da joalheria, em funo de ser j de

    domnio pblico a adoo da nomenclatura design para identificar todo o trabalho

    de criao, no importando se artesanal ou de projetos industriais, no ser

    neste estudo objeto de contestao, nem se pretende aqui defender qualquer

    teoria que invalide sua utilizao. Prope-se apenas a constatao das diferentes

    atividades como forma de se compreender a abrangncia da atuao de cada

    profissional e esclarecer o mercado de trabalho quanto sua funo.

    Virgnia Moraes, designer e pesquisadora comenta:

    interessante perceber que as designaes internacionais

    no nomeiam o profissional e sim o estilo da jia produzida.

    Isso porque um profissional completo pode atuar nas duas

    reas, ser multidisciplinar. O autor de jias tambm pode

    atuar como designer se projetar para outrem, e o designer

    pode ser o autor, se possuir seu prprio atelier e produzir

    peas autorais. Mas so duas especialidades diversas dentro

    da mesma rea. Concordo com os termos autor de jias para

    joalheria de autor, artista joalheiro para a joalheria artstica e

    joalheiro para joalheria contempornea, mas designer de

    jias autorais definitivamente no existe (MORAES, 2009).

  • 20

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    A profisso de designer de jias recente e pouco conhecida para a grande

    maioria das pessoas. Joaquim Redig (2006, p.170) comenta que muitos

    profissionais de diversas reas como ceramistas, decoradores, cabeleireiros,

    doceiros, citando tambm joalheiros, so hoje chamados designers por um

    equvoco da prpria mdia. De acordo com o artigo, Redig identifica e diferencia a

    atuao do designer pela aplicao da metodologia de desenvolvimento de

    projeto de design.

    Mas a joalheria na contemporaneidade um universo amplo de possibilidades

    criativas, e este designer que trabalha a partir de metodologias projetuais tal

    como o identifica Redig, tem espao para atuao junto s empresas de todos os

    segmentos do setor joalheiro, como os j citados anteriormente, o de jias em

    materiais preciosos, o de folheados e o de bijuterias.

    Mais do que o profissional de criao enquanto arte, o designer na

    contemporaneidade o responsvel pela criao atrelada ao posicionamento da

    jia enquanto produto e as relaes com o usurio, enquanto consumidor, onde

    todos os aspectos relacionados devem assim ser considerados:

    [...] assim o desenho, como meio expressivo de um estilo na

    produo, deduz as suas formas no s de um conjunto de

    exigncias tcnicas e prticas, mas do modo particular com

    que aquele complexo produtivo particular responde quelas

    exigncias. (ARGAN, 2001, p.122).

    Criao de jias atividade onde h espao para a produo manual, artesanal

    nas tcnicas tradicionais de ourivesaria, bem como para a produo industrial em

    grande ou pequena escala, desenvolvida com metodologia de projeto de design

    como o de qualquer outro produto industrial ou artesanal que tenha o objetivo

    de consumo e no somente de fruio pelo pblico, como comenta Farbiarz

    (2008), em relao ao conceito de produto.

    Maldonado comenta que projetar a forma significa coordenar, integrar e

    articular todos os fatores que fazem parte do processo de configurao de um

    produto, mas tambm de sua produo (MALDONADO, 1991, p.14).

  • 21

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    E, mais precisamente, alude-se tanto aos fatores relativos

    utilizao, fruio e ao consumo individual ou social do

    produto (fatores funcionais, simblicos ou culturais) como aos

    que se relacionam com sua produo (fatores tcnico-

    econmicos, tcnico-construtivos, tcnico-sistmicos, tcnico-

    produtivos e tcnico-distributivos) (ibidem, p.14).

    A questo do projeto tem sido tambm colocada em relao produo de arte

    ou artesanal, mas neste estudo procuramos enfocar o projeto como ao que

    envolve conhecimentos e habilidades multidisciplinares no desenvolvimento de

    objetos que renem o trabalho e a tcnica de vrios profissionais em diferentes

    etapas do trabalho, inerente ao processo industrial, o que caracteriza o design

    industrial ou de produto. J o objeto artesanal , em geral, de domnio de um

    nico indivduo, desde a concepo, produo at a sua distribuio.

    O projeto em design se configura como o processo de

    elaborao do conjunto de documentos necessrios

    execuo de qualquer objeto, seja este de qualquer dimenso

    ou caracterstica, tendo sido desenvolvido a partir da

    construo do problema em multiplicadas derivaes, por

    exemplo: quanto a seu significado, quanto a aspectos de

    produo, quanto a mltiplos aspectos de uso e

    funcionamento, quanto ao impacto no meio ambiente, quanto

    s ferramentas projetivas, entre outras tantas (LEITE, 2008,

    p.272).

    Um dos principais elementos do design que se destaca nestas consideraes o

    que diz respeito anlise do mercado por parte do criador, como elemento

    norteador e como fator determinante e diferenciador da atividade do profissional

    do design dentro do setor joalheiro.

    Assim, a pesquisa das necessidades do usurio ou de um grupo de usurios,

    leva definio de parmetros da criao, significando o direcionamento de

    estilos, materiais e processos dentro de um objetivo de mercado, que atribuio

    do designer e da sua prtica de projeto, colocando o foco da ateno e da

    observao no pblico/usurio.

    Para Lbach (2000) o objeto deve ser analisado dentro do projeto de design por

    sua dimenso simblica na comunicao que se estabelece com o usurio.

  • 22

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    Comenta ainda que as necessidades dos grupos so detectadas atravs de

    pesquisas feitas pelas prprias empresas industriais e seu resultado se traduz

    em produtos que tm fabricao em massa, satisfazendo as necessidades do

    homem atravs de suas funes no processo de utilizao. Cumpre lembrar

    que as consideraes de Lbach carregam o contexto do momento em que foi

    escrito, por volta dos anos 70 e algumas consideraes devem ser trazidas para

    o olhar da contemporaneidade.

    O autor destaca que h aspectos na produo industrial que so influenciados

    por mltiplos fatores:

    Na produo industrial, ao contrrio do que ocorre com o

    arteso, no pode haver um nico responsvel pelo resultado.

    Tudo o que existe produto dos vrios fatores de influncia

    que, por sua vez, deveriam ser o resultado das necessidades

    e aspiraes do usurio, mas ao contrrio so

    determinados principalmente pelas caractersticas das

    matrias-primas e de processos de fabricao, por aspectos

    de organizao comercial e de vendas dos fabricantes e pela

    conduta dos concorrentes (LBACH, 2000, p.40).

    To Design enquanto ao, designing como atividade (J.Jones, 1992, p.3) aqui

    entendida como o ato de projetar, isto , design enquanto processo, comum a

    diversas reas (grfico, produto, moda...) na adoo de metodologias especficas

    no processo de design. Neste processo se estabelecem as relaes entre o

    designer industrial e o objeto (Lbach, 200, p.139), caracterizando assim o

    design industrial ou de produto.

    Em joalheria, o termo design utilizado para designar todas as atividades

    criativas possveis dentro do ato de se criar e produzir jias. Muitos dos

    profissionais que se identificam hoje como designers, no possuem

    qualquerformao ou informao na rea de desenvolvimento de projetos e a

    atribuio deste nome ao seu trabalho se d em funo do ato de configurar os

    objetos ou artefatos de adorno, ou muitas vezes at, pelo ato de criar atravs de

    desenhos (ilustraes), freqentemente distante dos aspectos produtivos e do

    desenho de produo. Cumpre lembrar que mesmo os desenhos que eram feitos

    para as grandes casas joalheiras no sculo 19 e 20, eram baseados na sua

    produo, com especificaes de metais e gemas preciosas. Destaque-se o

  • 23

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    trabalho de Georges Deraisme que era gravador, cinzelador, modelador e

    desenhista (CHAZAL,2002,p.177) e seus desenhos possuam detalhamento

    tcnico e quando no, os aspectos construtivos eram evidenciados no desenho

    baseando-se na sua prtica como joalheiro. Seu trabalho como desenhista ser

    mostrado no captulo 5.

    O estudo procurar mostrar o equvoco no uso do termo design para o desenho

    de ilustrao de jias. Este entendimento tem custado a perda de credibilidade

    do trabalho do designer junto a empresas, como foi possvel constatar atravs de

    entrevistas feitas para esta dissertao com empresrios do setor joalheiro, que

    de forma unnime se referem ao despreparo do profissional que a eles se

    apresenta como designer, com desconhecimento dos processos de produo.

    Fulvio Drago, Diretor da ALJ, Associao Limeirense de Jias, proprietrio da

    empresa Splendida de jias de prata, durante a entrevista para esta pesquisa,

    comenta enfaticamente sobre a necessidade de uma formao do designer

    voltada para a prtica da produo industrial e que englobe o conhecimento de

    todos os segmentos do setor joalheiro.

    A necessidade desta definio se d especialmente porque a relao que se

    estabelece na prtica da criao industrial deste profissional, entre a criao de

    arte e o design, vem gerando grandes mal-entendidos na contratao de

    designers pelas empresas. Em reunio da Diretoria da AJESP, realizada em

    novembro de 2007, alguns empresrios declararam-se resistentes contratao

    de designers, por considerarem que os profissionais que assim se apresentam s

    suas indstrias desenvolvem um trabalho artstico, seja com ilustraes ou com

    modelos de joalheria artesanal, distanciado da realidade dos processos

    produtivos e dos parmetros de mercado dos produtos industriais. Esta

    informao foi dada tambm, praticamente em unanimidade, pelos empresrios

    que concederam entrevista para esta dissertao.

    Como foi o caso da Storel Jias, atravs de seu proprietrio, Sr Osni Storel, que

    afirmou ter grande dificuldade em encontrar um designer que entenda de

    produo para o desenvolvimento de suas colees, hoje comercializadas em

    conhecidas redes de joalherias de prata. Relatou que com freqncia

    procurado por profissionais que a ele chegam apresentando catlogos de

    desenhos, como ilustraes, muitas vezes propondo jias que so inviveis de

    serem fabricadas ou que so difceis de serem executadas nos processos

  • 24

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    adotados por sua indstria, encarecendo a produo ou inviabilizando-a

    tecnicamente. Hoje compra desenhos avulsos, mas de uma profissional a quem

    fez acompanhar a modelagem dentro da fbrica, ganhando assim experincia e

    conhecimento do processo de produo.

    A cultura que se difundiu sobre o design de jias no Brasil, particularmente,

    permitiu que se consagrasse o equvoco em considerar todo o trabalho de

    criao, ainda que por ilustraes de jias, seja identificado como design,

    gerando estas distores no mercado de trabalho. Este fato permitiu ainda que a

    denominao seja utilizada indiscriminadamente e comum ouvir-se falar em

    designers-artesos, artistas-designers, designers desenhistas at mesmo em

    artigos publicados em mdias relacionadas ao prprio setor.

    Entende-se mais claramente a questo quando se analisa o fato de que na

    lngua portuguesa persiste a dificuldade do entendimento em relao palavra

    design, especialmente por ser um anglicismo, uma palavra importada para dentro

    do nosso universo. A falta de uma traduo precisa tem levado ao entendimento,

    de um modo geral de que design se relaciona configurao, a padres

    estticos associados beleza. A prpria mdia tem contribudo para a confuso

    que se estabeleceu e que acabou por atingir de fato a atividade profissional do

    designer em todos os setores. Hoje comum vermos na mdia em geral a

    utilizao inadequada do nome para atividades como design de sabonete, cake

    design, design de sobrancelhas, entre outras.

    O que diferencia um designer industrial, por exemplo, de um

    cake designer (!) ou um hair designer (!!) termos usados

    pela mdia a metodologia. Porque para resolver problemas

    s vezes altamente complexos os designers precisam de

    metodologia.(REDIG, 2006, p.170).

    Apenas como forma de aprofundar o posicionamento da utilizao desta

    nomenclatura nesta pesquisa cabe analisar aqui sua definio.

    O idioma portugus no possui uma palavra ou expresso literal que traduza

    design. O ingls e o espanhol possuem as que distinguem o desenho artstico do

    desenho de projeto ou planificao (distinto do desenho tcnico), a saber: draw e

    design, assim como dibujo e diseo.

  • 25

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    Sobre a identificao profissional Gomes (1998) cita um estudo de Ricard onde

    destaca a diferena em relao s palavras design e diseo e que para ele o

    diseo, explicando o papel do desenhador nas sociedades industriais, seria

    defini-lo como:

    O arquiteto do produto industrial. Com efeito, todos os

    produtos industriais, como toda obra humana, necessitam ser

    criados antes de serem fabricados. So necessrias umas

    etapas prvias de reflexo, ideao e projeto nas quais se

    define como dever ser aquilo que se vai fabricar. O

    conjunto destas etapas constitui a fase que chamamos el

    proceso de diseo (RICARD, 1989, p.1,apud. GOMES.1998,

    p.88).

    Gomes destaca que o motivo de Ricard enfatizar que diseo e design so a

    mesma coisa se deve ao fato de haver l, da mesma forma que aqui, diversos

    outros profissionais que se apresentam como designers sem terem sido

    treinados profissionalmente para isso. E exemplificando cita costureiros,

    decoradores, cabeleireiros entre outros, o que tem atrapalhado e distorcido a

    compreenso do que vem a ser o Desenho Industrial ou, simplesmente,

    Desenho. (ibidem, p.89).

    Para tanto citou a conceituao de diseo que Ricard indica, apresentada pela

    ADIFAD Associao de Desenho Industrial de Fomento de Artes Decorativas

    de Barcelona:

    Los trminos diseo y diseador figuram em nuestro

    dicctionario desde hace siglos... De hecho, fue ela ADI FAD

    quien impuls su actualizacin cuando adopt el trmino

    diseo para definir, in idioma castellano, la nueva disciplina

    creativa denominada internacionalmente design (RICARD,

    apud. Op.cit, p.31).

    Um estudo realizado por Joaquim Redig em 1977, apresentou as diversas

    possibilidades de transpor este conceito para o idioma portugus. Quando da

    fundao da ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial, em 1963, no havia

    sido possvel registr-la com o nome de Escola Superior de Design, como

    constava de sua proposta, por conta da prpria lei que no permitia a utilizao

  • 26

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    de palavras estrangeiras para a identificao de um curso acadmico pblico.

    Naquele momento, o mais aceito foi traduzir a atividade de design para desenho

    industrial. (REDIG, 1977 apud. GOMES, 1998)

    Assim, a questo do design de jias no Brasil, na contemporaneidade, passa

    pela prpria discusso conceitual do que estamos chamando de design no nosso

    pas.

    O conceito de design compreende a concretizao de uma

    idia em forma de projetos ou modelos, mediante a

    construo e configurao resultando em um produto

    industrial passvel de produo em srie. O design estaria,

    ento, realizando o processo configurativo. Definindo design

    industrial como um processo de adaptao dos produtos de

    uso, fabricados industrialmente, s necessidades fsicas e

    psquicas dos usurios ou grupos de usurios. (LBACH,

    2001, p.16).

    Por esse motivo, na identificao do trabalho do designer de jias seriadas ou de

    produo industrial, foi estudada pela Diretoria de Design da AJESP, Associao

    dos Joalheiros do Estado de So Paulo, da qual a pesquisadora faz parte, a

    possibilidade de se adotar a nomenclatura de designer industrial ou de designer

    de produto, como a identificao do profissional responsvel pelas etapas de

    criao de colees, trabalhando junto s equipes multidisciplinares da empresa,

    desenvolvendo o briefing em colaborao com estes profissionais e

    posteriormente todas as etapas de desenvolvimento do projeto at seu

    lanamento no mercado.

    No entanto no setor joalheiro, em funo de ser j de domnio pblico a adoo

    da nomenclatura design para identificar todo o trabalho de criao de jias,

    independente de se referir a jias artesanais ou as de projetos industriais,

    pretende-se apresentar com este estudo bases para a correo de sua utilizao.

    Assim sero pontuadas as diferentes reas em que atuam os profissionais como

    forma de oferecer melhor entendimento ao setor, enquanto mercado de trabalho

    para o designer, como desenhista industrial.

    Faz-se necessrio, no entanto, estabelecer um termo e o conceito a ele

    associado que identifique objetivamente o profissional que realiza a etapa de

  • 27

    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    criao da jia, enquanto objeto resultante de produo industrial, como meio de

    evitar maiores desentendimentos e colaborar na pesquisa sobre o setor e na

    formao dos profissionais, favorecendo a reflexo e a discusso sobre sua

    rea de atuao.

    Desta forma, entende-se fundamentalmente neste estudo que designers so os

    profissionais que atuam com mtodos de projeto e contam com formao

    especfica para tal. Assim na prtica, para efeito de utilizao junto s empresas,

    o termo designer de jias o desenhista industrial de jias, pode ser visto como a

    correta identificao para este profissional que trabalha no desenvolvimento de

    projetos de produtos e atua junto s indstrias. E ser tratado como autor de

    jias nesta dissertao, o que desenvolve suas criaes a partir de sua

    expresso pessoal, independente de ser produzido por sua prpria manufatura

    ou se realizado por outro ourives/joalheiro.

    1.2 O design de jias e os paradigmas da

    contemporaneidade: mercado e usurio

    O mercado atual de design de jias exige no s o planejamento de um projeto

    de design, mas tambm habilidades de percepo de grupos de usurios, suas

    afinidades e suas necessidades, sendo quase sempre firmada por seus aspectos

    simblicos.

    Rafael Cardoso Denis declara que:

    A natureza essencial do trabalho de design no reside nem

    nos seus processos e nem nos seus produtos, mas em uma

    conjuno muito particular de ambos: mais precisamente na

    maneira em que os processos de design incidem sobre os

    seus produtos, investindo-os de significados alheios sua

    natureza intrnseca (DENIS, 1998, p.17).

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    Engracia Costa Llaberia

    Lbach (2000) fala da configurao simblico-funcional dos produtos j nos anos

    70, considerando-o como o segundo princpio pelo quais os produtos de uso

    podem ser configurados e cuja aplicao influenciada pela sociedade, sendo o

    primeiro princpio o da configurao prtico-funcional (Bauhaus). Considera que

    o homem tem como uma de suas necessidades essenciais o reconhecimento

    dentro de um grupo social, o que dita sua conduta como forma de afirmao

    pessoal em relao a este grupo.

    O incio da ascenso social muitas vezes orientado pelo

    modelo das camadas sociais mais altas, perseguindo-se os

    seus nveis de vida e as suas formas de conduta. Esta

    orientao, na maioria dos casos, leva a uma imitao de

    certos padres sociais. Isto pode ser por meio do

    comportamento, do modo de vestir, da forma de falar, mas

    tambm mediante o uso de produtos industriais preferidos

    pelos grupos de referncia. (LBACH, 2000, p.94).

    Este conceito de projeto, fala da capacidade de associar a criao emoo

    associada a situaes que o objeto desperta junto a seu usurio o que, em

    relao jia, provavelmente um dos fatores determinantes da escolha e

    motivao para compra, considerando tambm o custo final como igualmente

    relevante.

    O importante frisar que a busca pelo atendimento aos

    anseios mais particularizados do cliente representa a

    importncia que se d o objeto em nossas vidas que, de fato,

    como vimos, algo que vai alm dos aspectos pragmticos

    de uso. (COELHO, 2006, p. 165).

    A joalheria e, portanto, o design de jias, na contemporaneidade, caminha

    atrelado ao conhecimento de seu usurio, percebendo comportamentos, as

    interaes e as modificaes que se vo se apresentando nesta relao.

    O Design Estratgico fala hoje das possibilidades de negcios percebidas

    atravs da anlise de usurios e de mercados, adaptando-se s estratgias das

    empresas. De acordo com Marcelo Farias, consultor especialista em Design

    Estratgico, destacou em palestra durante o evento Transitus, na Universidade

    Anhembi Morumbi, em novembro de 2008, que o projeto de design hoje deve

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    Engracia Costa Llaberia

    fazer parte das estratgias de negcios, significando incluir as aes de

    desenvolvimento do produto nos objetivos da empresa. O produto do design

    passa a ser tambm o resultado dos interesses, dos potenciais e das

    necessidades do mercado a que se dirige.

    Assim, o design de jias assume a funo de objetivar a criao em relao ao

    usurio, ao mercado. Significa ter neste profissional e em sua formao, como

    identificao de sua competncia, a habilidade em lidar com todas as variveis e

    parmetros deste produto, ainda que signifique a produo de jias exclusivas,

    com limitada produo seriada, Desta forma, define-se mais claramente a

    diferena existente entre o processo criativo do objeto artstico e do objeto

    industrial.

    Muitas empresas, no entanto, ainda no descobriram o valor do design, no s

    como pesquisa esttica, mas como este elemento de estratgias competitivas e

    de diferenciao das empresas.

    O conhecimento da produo a partir da justificativa das escolhas determinantes

    dos elementos do projeto, significando o direcionamento de materiais e

    processos dentro de um objetivo de mercado, atribuio do designer e da sua

    prtica de projeto, fazendo da atuao deste profissional uma atividade

    importante para as empresas.

    Assim, uma viso geral de mercado, pblico, noes de marketing; processos e

    custos de produo, como materiais, metais e gemas; modelagem;

    desenvolvimento de colees associadas identidade da empresa;

    acompanhamento e direcionamento da criao de embalagens e displays,

    conhecimento de seus pontos de venda, so indispensveis ao designer de

    jias, enquanto orientao e acompanhamento, como forma de assegurar a

    viabilizao do conceito inicial do projeto.

    O designer de jias torna-se, desta forma, por exigncia do prprio mercado, um

    profissional com habilidades e conhecimentos multidisciplinares e este novo perfil

    vem sendo delineado pelas necessidades das empresas do setor joalheiro,

    manifestadas objetivamente pelos empresrios que procuram as entidades que

    os representam, como pode ser constatado atravs das entrevistas realizadas

    com seus diretores, como cio Morais, da AJESP/IBGM, e Fulvio Drago, da ALJ.

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    Engracia Costa Llaberia

    2. O design de jias no Brasil

    A profisso de designer de jias no Brasil relativamente nova e pouco

    conhecida para a grande maioria das pessoas.

    Criao de jias atividade onde h espao para a produo manual, artesanal

    nas tcnicas tradicionais de ourivesaria/joalheria, bem como para a produo

    industrial em grande ou pequena escala, desenvolvida com metodologia de

    projeto de design como o de qualquer outro objeto ou artefato de produo

    industrial que tenha o objetivo de consumo e no somente de fruio pelo

    pblico, como comenta Fabiarz (2008), em relao ao conceito de produto.

    Cidda Siqueira Campos comenta:

    De posse de sua maioridade, o design de jias brasileiro,

    construdo artesanalmente como um grande patchwork

    cultural, uma demonstrao de nossa capacidade criativa

    proveniente da identificao com a diversidade de nossas

    razes (CAMPOS,2007,p.72).

    O design de jias no Brasil no possua at bem pouco tempo uma formao

    especfica. Sem projeto acadmico, com escolas de cursos livres, e poucas

    referncias tcnicas bibliogrficas que dessem indicaes para a capacitao

    dos profissionais para a rea. Ainda hoje h poucos trabalhos publicados

    voltados para o assunto, especialmente no que diz respeito ao design de jias

    em sua metodologia de projeto.

    Pode-se constatar o autodidatismo na atuao de muitos designers na rea. O

    conhecimento relacionado produo industrial tem nascido na prtica desses

    profissionais junto s empresas, vivendo o que ficou conhecido como o cho de

    fbrica, isto , o conhecimento adquirido da vivncia dentro das indstrias e

    oficinas, acompanhando a produo e todas as etapas destes processos.

    possvel perceber claramente duas reas de atuao fundamentais em

    relao criao de jias no Brasil, considerando seu processo criativo e de

    produo: a joalheria artesanal e a da jia seriada de produo industrial.

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    Engracia Costa Llaberia

    Por jia artesanal entende-se:

    Processo utilizado por um ourives ou pelo artista joalheiro

    para a fabricao de uma jia exclusiva de acordo com

    procedimentos manuais ou a jia que tem como caracterstica

    ser de produo limitada. (MANCEBO, 2008, p.130)

    Nos anos 70, nomes como Caio Mouro, Bobi Stepanenko, Reny Golcman, mais

    adiante Miriam Mamber e Miriam Korolkovas despontavam na joalheria de arte,

    produzindo peas com carter de pesquisa e reflexo em relao aos tradicionais

    padres da joalheria. Renato Wagner (1980) fala na joalheria contempornea

    brasileira que se desenvolveu em suas prprias condies de inspirao.

    Figura 01 Clementina Duarte, conjunto Passion, 2003

    Colar em ouro e turmalinas. Alta Joalheria de Arte Fonte: , acesso em julho 2009

    Na chamada Alta Joalheria destacavam-se j nos anos 60 criadores como

    Clementina Duarte que entre outros destaques, teve suas jias presenteadas

    http://www.joiabr.com.br/

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    Engracia Costa Llaberia

    Rainha Elizabeth em1974.

    Ruth Grieco inicia seu trabalho em joalheria tambm por volta da dcada de

    70 e aps fazer o curso na Escola Nova comeou a produo de suas criaes

    em seu atelier com outros ourives e hoje reconhecida internacionalmente,

    tendo recebido diversos prmios. O que vemos a seguir foi finalista do Diamonds

    are Fun, promovido pelo HRD da Blgica.

    Figura 02 Ruth Grieco. Colar Puzzle, finalista do "Diamonds are Fun" HRD, 2005 Blgica. 2005. Ouro branco e diamantes.

    Fonte: < www.joiabr.com.br>, acesso em fevereiro de 2009

    Em 1969, no Rio de Janeiro, o Atelier Mouro de Caio Mouro rompia com o

    padro tradicional das jias importadas que eram comuns no mercado naquele

    momento. Surgiram as primeiras escolas de joalheria como a Escola Nova de

    Ricardo Mattar, a de Renato Camargo e a de Bobi Stepanenko e mais frente a

    de Miriam Korolkovas, a Escola Oficina. Estas escolas tratavam da joalheria de

    arte e de autor, onde os alunos aprendiam tcnicas de ourivesaria tradicional,

    mas tambm eram incentivados a novas experimentaes de materiais e

    tcnicas.

    Foram tambm iniciadas diversas escolas com a mesma proposta e hoje so em

    grande nmero principalmente em So Paulo, como a Arte Futura, California 120,

    Belarte, Atelier Marcia Pompei, entre outras. Em Minas Gerais, a primeira dentro

    dessa renovao em joalheria foi a Escola Mineira de joalheira, de Marcos

    Augusto, referncia no ensino da arte joalheira, formando os principais joalheiros

    e designers mineiros, onde tambm iniciou Bobi Stepanenko.

    http://www.joiabr.com.br/

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    Engracia Costa Llaberia

    O marco do incio da joalheria industrial no Brasil se deu por volta dos anos 70,

    como nos informa cio Morais, Diretor Executivo da AJESP/IBGM.

    No entanto, embora a dcada de 70 tenha sido marcada pelo crescimento da

    joalheria industrial, tem-se o registro de empresas anteriores, como a Jias

    Cardoso de Limeira, interior de SP, fundada em 1942, que trabalhava com ouro

    e materiais preciosos, como nos conta Carlos Paroli, da Empresa ACP, neto do

    Sr. Cardoso, proprietrio, que chegou a contar com 100 funcionrios (figura 03).

    Chegou a ser a maior no pas, aps gerenciada pela Sra. Ima Cardoso, sua

    viva, assumiu a gerncia por 18 anos,tendo migrado para a produo de jias

    folheadas aps mudanas na economia que alteraram a demanda do mercado.

    Figura 03 Cardoso & Filho Joalheiro, foto de 1942

    Loja de Eduardo Cardoso que foi a primeira de Limeira de acordo com Carlos Paroli da ACP, seu neto. Fonte: acervo da famlia (2009)

    Entre os primeiros funcionrios, muitos foram abrindo suas prprias empresas.

    Hoje se tem em Limeira um plo industrial de jias folheadas, considerado o

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    Engracia Costa Llaberia

    maior da Amrica Latina, com cerca de 450 indstrias formais, estimando-se

    haver igual nmero aproximadamente das informais, de acordo com Fulvio

    Drago, Diretor da ALJ. So empresas envolvidas direta ou indiretamente na

    produo de folheados e bijuterias, seja na fabricao de componentes, no bruto,

    como chamada a produo sem acabamentos, na oferta de servios, como

    galvanizao e eletroformao, ou na fabricao de suas prprias colees.

    Em So Paulo, como relata o Sr. Osni Storel, durante a entrevista que concedeu

    para esta entrevista no dia 14 de julho de 2009, j havia empresas trabalhando

    com a linha de produo industrial. A sua prpria iniciou em 1964, quando abriu

    seu primeiro escritrio. Comenta que naquela poca j havia empresas como a

    Trevis Jias e a Totis que tinham muitos empregados, trabalhando com

    estamparia.

    A partir da dcada de 90 o design de jias feito no Brasil dedicado reproduo

    seriada passa a ser reconhecido como profisso pelos empresrios e como

    importante elemento de distino frente crescente competio no mercado

    interno e externo,

    Feito de muitas nuances, misturando-se com a joalheria artesanal, mas

    impulsionado pelas indstrias nascentes do setor joalheiro, o design passou a

    ocupar um papel de destaque, tanto junto ao mercado consumidor, agregando

    valor e identidade aos produtos das empresas, como junto ao mercado de

    trabalho que passou a valorizar a formao deste profissional.

    O grande desafio do designer de jias contemporneo passou a ser a

    transposio da cultura tradicional de criao e produo de jias nicas para o

    desenvolvimento de jias, produzidas em srie com aceitao comercial.

    Atualmente j existem dois cursos de Graduao Tecnolgica em Design de

    Jias, um no Rio de Janeiro na Universidade Veiga de Almeida com durao de

    dois anos, e em So Paulo o primeiro o da Universidade Anhembi Morumbi,

    iniciado em fevereiro de 2009. A Faculdade Santa Marcelina j possua uma

    disciplina de Design de Jias dentro do seu curso de Moda e acaba de lanar

    uma ps-graduao em Acessrios de Moda que inclui a joalheria. O curso de

    Design de Jias do Istituto Europeo di Design, tradicional na Itlia, com durao

    de 3 anos, teve seu incio no Brasil em 2006, mas como curso livre. No Sul a

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    Engracia Costa Llaberia

    Ulbra tem se destacado no ensino do Design de Jias voltado para a produo

    industrial. Ainda em Minas a UEMG, Centro de Estudos em Design de Gemas e

    Jias, possui um curso de ps-graduao Latu Sensu e um curso especfico de

    design de lapidao, coordenado por um dos poucos especialistas no setor,

    Adriano Moll.

    Entre outros, a exportao pode ser vista como um dos principais fatores de

    incentivo ao surgimento de um design que busca estabelecer uma identidade

    brasileira como elemento de diferenciao em um mercado mundial competitivo.

    Mercado este caracterizado por culturas tradicionais joalheiras, como a italiana, a

    francesa e a alem que se tornaram fonte de inspirao para as indstrias

    nascentes no Brasil e em outros pases, durante muito tempo.

    Algumas empresas tambm produziam peas em escala

    industrial e de boa qualidade, porm com pouca diferenciao

    em design, salvo raras excees. No quadro geral, o que

    tnhamos era a maioria dos produtores ofertando peas de

    origem estrangeira ou cpia delas (SANTINI, 2004, p. 73).

    Esta identidade brasileira est mais relacionada a gemas e a materiais como os

    chamados alternativos, como capim dourado, sementes, jarina (conhecida

    marfim vegetal), madeira, entre outros.

    O design como identidade e referncia da cultura brasileira, hoje reconhecido

    pelo setor empresarial como o grande fator de diferenciao e destaque para o

    nosso produto no mercado externo, para onde j se dirige boa parte de nossa

    produo, como destacou Hcliton Santini, Presidente do IBGM, Instituto

    Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos, (2002). Atravs do incentivo do Instituto,

    com o lanamento do Prmio IBGM de Design de Jias, Hcliton Santini

    lembrou tambm, durante palestra na AJESP em maro de 2009, Associao

    dos Joalheiros do Estado de So Paulo, que com esta iniciativa buscou-se

    despertar o setor para a importncia do design brasileiro e que hoje o Prmio

    serve para consolidar a identidade de nosso pas, enquanto referncia cultural.

    Por outro lado, novas caractersticas do mercado consumidor foram constatadas

    atravs de pesquisa do mercado de jias realizada em 2005 (a mais recente e

    ainda vlida ainda em 2009), patrocinada pela FIESP, AngloGold Ashanti,

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    Engracia Costa Llaberia

    Sindijias-SP e IBGM,* revelando um pblico consumidor de jias que

    representa 44% da populao urbana, entre os que compraram jias nos ltimos

    12 meses do perodo considerado pela pesquisa, e h mais de 12 meses,

    dividido tecnicamente de modo equilibrado entre as classes A, B e C/D. No

    entanto, a classe A lidera com pequena margem porcentual de 35% do mercado,

    com grande destaque para o interior do estado de So Paulo, no conjunto dos

    segmentos de classes de consumidores. (anexos 1 e 2).

    Em funo destas caractersticas de demanda do mercado a joalheria foi

    ganhando uma nova face, buscando em processos de produo industrial uma

    soluo de menor custo final para atender a um maior nmero de pessoas.

    Foi possvel observar-se uma busca crescente no mercado por jias mais

    comerciais, com custo baixo e de uso cotidiano, acessvel a um pblico maior,

    especialmente entre as classes B e C, conforme a mesma pesquisa. No entanto,

    qualidade de materiais e acabamentos so tambm exigncias desse novo grupo

    de consumidores que valoriza o adorno como elemento de diferenciao pessoal

    e status, como validao pessoal junto a seu grupo social.

    Essa jia comercial passou a ter uma caracterstica prpria do sistema industrial

    de produo, onde a diviso do trabalho faz com que uma mesma jia seja

    confeccionada em diversas etapas realizadas por diferentes profissionais,

    incluindo processos industriais e de manufatura.

    A empresa Goldbaker, uma das maiores e mais antigas indstrias do segmento

    de jias em materiais preciosos, bem como a Lup Jias, destacada no segmento

    de folheados em So Paulo, por exemplo, empresas com as quais a

    pesquisadora trabalhou no desenvolvimento de colees, contam hoje com uma

    equipe numerosa, onde pequenos grupos de funcionrios executam diferentes

    etapas da produo de uma pea, iniciando a partir do desenho entregue pelo

    designer, seguindo-se as tarefas de modelagem, fundio, acabamentos,

    cravao, banhos e polimentos, em diferentes locais da empresa.

    Observe-se o crescimento de empresas como a Vivara que hoje conta com mais

    de 90 lojas e comercializa jias em ouro e agora tambm em prata e ao, de

    produo industrial, com custo mdio, possibilitando o acesso de um pblico

    mais amplo.

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    _______________________________________ design de jias ______

    Engracia Costa Llaberia

    Assim foi que a joalheria no Brasil, a partir dos anos 90, assume um papel

    diferenciado e importante como setor produtivo, com significativo aumento no

    volume de suas vendas no mercado interno e em suas exportaes, no s

    atravs das empresas de produo seriada, mas tambm na produo individual

    de pequenos joalheiros., como Guerreiro e Pedro Brando, alm de Carla Amorim

    que hoje j possui uma rede de lojas.

    Destacando-se tambm o crescimento dos segmentos de folheados e bijuterias,

    ultrapassando o segmento de jias em materiais preciosos, como destaca cio

    Morais, Diretor do IBGM.

    2.1 O Design nas Instituies, Concursos e

    Exposies

    O IBGM foi fundado em 1977 e representa o Brasil na CIBJO, Confederao