DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM RECURSOS … · ii ministÉrio da educaÇÃo universidade federal de...

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM RECURSOS NATURAIS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SOCIEDADES E RECUROS NATURAIS TÍTULO: Diagnóstico e prognóstico socioeconômico e ambiental das nascentes do riacho das piabas (PB) AUTOR: VENEZIANO GUEDES DE SOUSA 2010

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  • DISSERTAO DE MESTRADO EM RECURSOS NATURAIS REA DE CONCENTRAO: SOCIEDADES E RECUROS NATURAIS

    TTULO: Diagnstico e prognstico socioeconmico e ambiental das nascentes do riacho das piabas (PB)

    AUTOR: VENEZIANO GUEDES DE SOUSA

    2010

  • ii

    MINISTRIO DA EDUCAO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM RECURSOS NATURAIS

    VENEZIANO GUEDES DE SOUSA

    DIAGNSTICO E PROGNSTICO SOCIOECONMICO E AMBIENTAL DAS NASCENTES DO RIACHO DAS PIABAS (PB)

    ORIENTADOR: PROF. DR. JGERSON PINTO GOMES PEREIRA

    Campina Grande (PB) 2010

  • iii

    DIAGNSTICO E PROGNSTICO SOCIOECONMICO E AMBIENTAL

    DAS NASCENTES DO RIACHO DAS PIABAS (PB)

    VENEZIANO GUEDES DE SOUSA

    Orientador Prof. Dr. Jgerson Pinto Gomes Pereira

    Imagem Google Earth 2010 adaptada para identificar a rea de estudo (tracejado em verde) e a rede hdrica principal (tracejo em branco).

    Campina Grande (PB) 2010

  • iv

    VENEZIANO GUEDES DE SOUSA

    DIAGNSTICO E PROGNSTICO SOCIOECONMICO E AMBIENTAL DAS NASCENTES DO RIACHO DAS PIABAS (PB)

    Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande em cumprimento s exigncias para obter o Grau de Mestre.

    rea de Concentrao: Sociedade e Recursos Naturais

    Linha de Pesquisa: Manejo Integrado de Bacias Hidrogrficas

    Orientador: Professor Doutor Jgerson Pinto Gomes Pereira

    Campina Grande (PB) 2010

  • v

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG

    S725d Sousa, Veneziano Guedes de Diagnstico e prognstico socioeconmico e ambiental das nascentes

    do Riacho das Piabas (PB) / Veneziano Guedes de Sousa. - Campina Grande, 2010.

    125 f : il. color.

    Dissertao (Mestrado em Recursos Naturais) Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais.

    Referncias. Orientador: Prof. Dr. Jgerson Pinto Gomes Pereira.

    1. Percepo Ambiental. 2. Planejamento de Ambincia. 3. Polticas Pblicas 4. Recursos Naturais. 5. Sustentabilidade I. Ttulo.

    CDU 556.51(813.3)(043)

  • vi

    DEDICATRIA

    Em memria de minha amada

    inesquecvel Vozinha, Erotides Guedes de

    Sousa, querida Mezinha, Zuleica Guedes

    de Sousa e meu afetuoso Papaidrinho

    Antonio Vital do Rego.

    Dedico esse momento especial de

    minha vida lembrana materna e paterna

    dessas almas maravilhosas que viveram

    comigo longa data, sempre ajudando-me a

    superar os obstculos e que me deixaram

    para retornar ao plano espiritual.

    Veneziano Guedes de Sousa

  • vii

    AGRADECIMENTOS

    Ao nosso Pai eterno e seu poder universal.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Recursos Naturais da UFCG que permitiu

    entender que desenvolvimento s existe com sustentabilidade, emergidos da

    abordagem sistmica.

    Ao Programa de Demanda Social da CAPES, que garantiu atravs da bolsa, os

    proventos necessrios para a dedicao exclusiva ao curso.

    Ao meu orientador, o Professor Dr. Jgerson Pinto Gomes Pereira, pela sua

    simplicidade e modo de vida simbionte, ensinou-me pacientemente seu ofcio.

    Aos avaliadores, a Prof. Doutora Leilian C. Dantas e a Prof. Doutora Dilma

    M.B.M. Trovo pelas crticas que muito contriburam com o resultado qualitativo dessa

    pesquisa.

    Prof. Doutora Soahd A. R. Farias, por estar sempre disposta a cooperar,

    academicamente Idem aos professores doutores Fernando Garcia, Jos Dantas Neto e

    Carlos Minor Tomiyoshi.

    Aos professores doutores ministradores dos componentes curriculares que cursei

    no Programa: Gesinaldo A. Cndido e Egdio L. Furlanetto, Vera L. A. de Lima,

    Annemarie Knig, Beatriz S. O. Ceballos, Erivaldo Barbosa, Marx Prestes, Jos I. B. de

    Brito e nio Pereira, Jos G. V. Baracuhy, Waleska Lira, Pedro V. Azevedo

    (coordenador) que nivelaram minha racionalidade cientfica na trajetria que escolhi de

    buscar a compreenso do discurso ambientalista e fortalec-lo em contra ponto ao

    modelo de desenvolvimento posto.

    vivncia saudvel com todos os amigos do LICTA/UFCG e de outras

    reparties que direta ou indiretamente colaboraram para a construo desse objetivo,

    em especial, aos colegas ps-graduandos, doutorando Valdir Cesarino, Talden Farias,

    Bruno Abreu e Silvana Neto, e mestrando Sandra Sereide e Jos Romero, durante toda

    estada acadmica.

    existncia de todos os familiares, em especial, Antonio Augusto do Rgo

    Costa (Pai); Nilda Gondin (Mamedrinha); Eunice, Ernestina, Zlia, Lurdinha e Beb

  • viii

    (Tias); Carlinhos, Abel e Evandro (Tios); Fernando, Alexandre, Veneziano Vital, Vital

    Filho e Raquel (irmos).

    minha esposa Ktia C. S Cavalcante e sua me, pela capacidade de entender

    minhas necessidades profissionais e por todos os momentos de dificuldades e da minha

    ausncia, em decorrncia deste objetivo.

    Aos meus filhos Ana K. S. Guedes e Vincius G. S. Guedes por suas essncias

    afetuosas, dando-me fora e entendimento diante das grandes dificuldades do cotidiano.

    A todos os atores da microbacia Riacho das Piabas que me receberam em seus

    confins e contriburam na realizao desse estudo.

    Aos amigos que viveram, apoiaram e favoreceram a descontrao, em especial,

    Edvaldo Ren Nensin (in memriam) que foi at a semana dessa defesa de dissertao

    companheiro inseparvel das trilhas em off Road.

    E a vida, por ser nosso maior bem, que no sabemos ainda am-la.

  • ix

    SUMRIO

    DEDICATRIA.......................................................................................................... vi

    AGRADECIMENTOS ................................................................................................ vii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................... xi

    LISTA DE FIGURAS................................................................................................... xiii

    LISTA DE TABELAS................................................................................................... xv

    LISTA DE GRFICOS................................................................................................. xvii

    RESUMO....................................................................................................................... xviii

    ABSTRACT.................................................................................................................. xix

    1 INTRODUO......................................................................................................... 1

    1.1 Objetivo geral........................................................................................................... 2

    1.2 Objetivos especficos............................................................................................... 2

    2 REVISO DE LITERATURA................................................................................. 3

    2.1 Microbacias hidrogrficas e recursos hdricos......................................................... 3

    2.2 Meio ambiente (ambincia) e manejo de bacia hidrogrfica.................................... 7

    2.3 Nascentes, impactos antrpicos e polticas pblicas................................................ 11

    3 MATERIAL E MTODOS...................................................................................... 17

    3.1 Caracterizao da rea de estudo.............................................................................. 17

    3.1.1 Localizao............................................................................................................ 17

    3.1.2 Contextualizao de aspectos variados................................................................. 18

    3.2 Procedimentos metodolgicos.................................................................................. 20

    3.2.1 Linhas gerais da metodologia usada...................................................................... 20

    3.2.2 Escolha da rea de estudo e adaptao dos questionrios..................................... 21

    3.2.3 A estratgia metodolgica adaptada para trabalhar a microbacia.......................... 22

    4 RESULTADOS E DISCUSSO.............................................................................. 27

    4.1 Localizao das propriedades visitadas onde foram entrevistados os proprietrios 29

    4.2 Diagnsticos............................................................................................................. 32

    4.2.1 Diagnstico do fator social.................................................................................... 32

    4.2.2 Diagnstico do fator econmico............................................................................ 39

    4.2.3 Diagnstico do fator tecnolgico........................................................................... 45

    4.2.4 Diagnstico do fator ambiental.............................................................................. 52

    4.2.5 Diagnstico socioeconmico................................................................................. 56

  • x

    4.3 Prioridades das nascentes do Riacho das Piabas de acordo com os entrevistados.. 58

    4.4 Prognsticos............................................................................................................. 62

    4.4.1 Varivel demogrfica - indicadores do fator social .............................................. 62

    4.4.2 Varivel habitao - indicadores do fator social .................................................. 63

    4.4.3 Varivel disponibilidade de alimentos - indicadores do fator social.................... 65

    4.4.4 Varivel participao organizacional - indicadores do fator social...................... 67

    4.4.5 Salubridade do trabalho rural indicadores do fator social.................................. 68

    4.4.6 Aplicabilidade da legislao - indicadores do fator social.................................... 69

    4.4.7 Prognstico dos indicadores do fator econmico................................................... 71

    4.4.8 Prognstico dos indicadores do fator tecnolgico................................................. 74

    4.4.9 Prognsticos dos indicadores ambientais da microbacia....................................... 75

    5 CONCLUSES.......................................................................................................... 79

    6 REFERNCIAS DE LITERATURA...................................................................... 80

    7 APNDICE................................................................................................................ 89

    7.1 Formulrio aplicado nas nascentes do Riacho das Piabas........................................ 89

    7.2 Resumo de valores modais obtidos por localidade e geral....................................... 105

    7.3 Aspectos de sensoriamento remoto da MBHRP...................................................... 107

    7.4 Aparncia nativa da ambincia nas cabeceiras do Riacho das Piabas....................... 108

  • xi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABEAS Associao Brasileira de Ensino Agrcola Superior

    ANA Agncia Nacional de guas

    APA rea de Proteo Ambiental

    APP rea de Proteo Permanente

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CIDIAT Centro Interamericano de Desarrollo Integral de Aguas y Tierras

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    CNRT Conselho Nacional de Recursos Hdricos

    COMEA Coordenao de Meio Ambiente

    CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

    DA Diagnstico Ambiental

    DFC Diagnstico Fsico Conservacionista

    DSE Diagnstico Socioeconmico

    DTHA Diagnstico de Tecnologias Hdricas Alternativas

    FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Servio

    GPS Sistema de Posicionamento Global

    LICTA Laboratrio Interdisciplinar de Cincias e Tecnologias Agroambientais

    MBH Microbacia Hidrogrfica

    MBHRP Microbacia Hidrogrfica Riacho das Piabas

    MMA Ministrio do Meio Ambiente

    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    ONG Organizao No Governamental

    PB Estado da Paraba

    PERH Plano Estadual de Recursos Hdricos

    PNEA Poltica Nacional de Educao Ambiental

    PNMA Poltica Nacional de Meio Ambiente

    PNRH Poltica Nacional de Recursos Hdricos

    Q Quadro

    PSF Programa de Sade da Famlia

    RL Reserva Legal

  • xii

    SEPLAN Secretaria de Planejamento

    SINE Sistema nacional de empregos

    TCU Tribunal de Contas da Unio

    UEPB Universidade Estadual da Paraba

    UFCG Universidade Federal de Campina Grande

    UCDA Unidade Crtica de Deteriorao Ambiental

    UCDE Unidade Crtica de Deteriorao Econmica

    UCDS Unidade Crtica de Deteriorao Social

    UCDSE Unidade Crtica de Deteriorao Socioeconmica

    UCDT Unidade Crtica de Deteriorao Tecnolgica

  • xiii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Desenho esquemtico de uma bacia hidrogrfica, ANA (2002)............. 3

    Figura 2 Desenho esquemtico do domnio da ambincia (linha tracejada),

    Rocha1997............................................................................................... 7

    Figura 3 Mapa de Localizao da Microbacia Riacho das Piabas. Org.: Fernandes

    neto, Silvana............................................................................................. 17

    Figura 4 Trecho do Riacho das Piabas identificado na malha de drenagem natural

    AESA (2009), adaptado............................................................. .............. 19

    Figura 5 Organograma de concepo e hierarquizao do questionrio

    estruturado para ser aplicado nas nascentes da MBHRP. Fonte: o autor.. 22

    Figura 6 Aspecto de limites entre a reserva do Louzeiro e o centro da cidade de

    Campina Grande. Imagem do autor.......................................................... 29

    Figura 7 Aspecto de segmento rural da MBHRP. Imagem do autor....................... 29

    Figura 8 Mapa das propriedades visitadas nas nascentes da MBHRP adaptado a

    partir do Google Earht 3D 2010 / Org.: Fernandes neto, Silvana............. 30

    Figura 9. Unidade residencial existente. Imagem do autor...................................... 33

    Figura 10 Madeira retirada da microbacia para fins de uso energtico. Imagem do

    autor.......................................................................................................... 33

    Figura 11 Roado de subsistncia na rea de estudo. Imagem do

    autor.......................................................................................................... 40

    Figura 12 Crrego sem proteo de vegetao ciliar. Imagem do

    autor.......................................................................................................... 40

    Figura 13 Ocorrncia de barramento como reserva hdrica para diversos fins.

    Imagem do autor...................................................................................... 49

    Figura 14 Circulao de animais comum no entorno da microbacia. Imagem do

    autor......................................................................................................... 49

  • xiv

    Figura 15 Individuo isolado denominado pau ferro (Caesalpinia frrea Mart ex

    Tul.) presumido anteceder ao descobrimento do Brasil. Imagem do

    autor.......................................................................................................... 53

    Figura 16 Elemento da fauna como a iguana (Iguana iguana ) sofre com a reduo

    dos espaos verdes. Imagem do autor...................................................... 53

    Figura 17 Coleta de resduos slidos e uso do animal de trabalho. Localidade de

    Jenipapo, divisa dos trs municpios. Imagem do autor........................... 60

    Figura18 Acesso de Jenipapo para Campina Grande. Imagem do autor................. 60

    Figura19 Agravo ambincia em funo do corte indevido de frutferas. Oiti.

    Licania tomentosa L. Imagem do autor................................................... 60

    Figura 20 Impacto de queimadas sobre a flora e fauna dependente. Imagem do

    autor.......................................................................................................... 60

    Figura 21 Imagem Landsat TM_5, ano 2007 adaptada identificando rea de estudo

    com pontos de GPS e aspectos de vegetao e solo. Fonte: o autor........ 107

    Figura 22 Olho dgua de seu Bir, regio municipal de Campina Grande. Imagem

    do autor..................................................................................................... 108

    Figura 23 Barragem estourada, regio municipal de Lagoa Seca. Imagem do

    autor............................................................................................................ 108

    Figura 24 Corpo dgua de pequeno porte na regio municipal de Puxinan.

    Imagem do autor....................................................................................... 108

    Figura 25 Nascentes tpicas da rea de estudo. Imagem do autor............................. 108

    Figura 26 Vegetao predominante do bioma Mata Atlntica. Imagem do autor..... 108

    Figura 27 Vegetao predominante do bioma Caatinga. Imagem do autor............... 108

  • xv

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Diagnstico do fator social com nfase para a UCDS das nascentes do Riacho

    das Piabas......................................................................................................... 32

    Tabela 2. Comparativo de vrios autores com relao ao diagnstico social encontrado

    em microbacias hidrogrficas no Estado da Paraba........................................ 37

    Tabela 3. Diagnstico do fator econmico enfatizando a UCDE das nascentes do Riacho

    das Piabas. ........................................................................................................ 39

    Tabela 4. Comparativo de vrios autores com relao ao diagnstico econmico

    encontrado em microbacias hidrogrficas no Estado da Paraba...................... 44

    Tabela 5. Diagnstico do fator tecnolgico com realce para UCDT das cabeceiras do

    Riacho Piabas. .................................................................................................. 45

    Tabela 6. Comparativo de vrios autores com relao ao diagnstico tecnolgico

    encontrado em microbacias hidrogrficas no Estado da Paraba....................... 52

    Tabela 7. Diagnstico do fator ambiental com nfase para a UCDA das nascentes da

    microbacia Riacho das Piabas........................................................................... 53

    Tabela 8. Comparativo de vrios autores com relao ao diagnstico ambiental

    encontrado em microbacias hidrogrficas no Estado da Paraba...................... 55

    Tabela 9. Valores do diagnstico socioeconmico da MBHRP por localidade e geral

    observando maiores e menores degradaes por varivel e fator.... 57

    Tabela 10. Informaes detalhadas sobre as prioridades observadas dentro do universo

    de 60 entrevistados, com ordem 1 (maior prioridade), ordem 4 (menor

    prioridade) e frequncia superior ou igual a 7 repostas... 59

    Tabela 11. Detalhamento das prioridades, segundo os proprietrios entrevistados nas

    nascentes de forma comparada por municpio e no geral...................... 61

    Tabela 12. Frequncia de resposta dos entrevistados da MBHRP com valores de moda

    dos indicadores da varivel demografia............................................................ 63

    Tabela 13. Frequncia resposta dos 60 entrevistados das nascentes da MBHRP com os

    valores de moda dos indicadores da varivel habitao................................ 64

  • xvi

    Tabela 14. Frequncia de resposta dos entrevistados das nascentes da MBHRP com

    valores de moda dos indicadores da varivel disponibilidade de alimentos....... 65

    Tabela 15. Frequncia das resposta dos entrevistados das nascentes do Riacho das

    Piabas, com os valores de moda da varivel participao organizacional......... 67

    Tabela 16. Frequncia de resposta do universo entrevistado nas nascentes da MBHRP,

    com valores modais da varivel salubridade do trabalho rural.......................... 68

    Tabela 17. Frequncia de resposta dos entrevistados da nascente da MBHRP com os

    valores modais dos indicadores e da varivel aplicabilidade da legislao..... 70

    Tabela 18. Frequncia de resposta dos 60 entrevistados da MBHRP com valores de

    moda dos indicadores da varivel produo............................... 71

    Tabela 19. Frequncia de respostas dos entrevistados das nascente da MBHRP com os

    valores modais dos indicadores da varivel animais de trabalho................ 72

    Tabela 20. Frequncia de resposta dos 60 entrevistados da MBHRP com os valores de

    moda dos indicadores da varivel animais de produo.................................. 72

    Tabela 21. Freqncia de resposta dos entrevistados das nascente da MBHRP, com

    valores de moda da varivel comercializao, crdito e rendimento............. 73

    Tabela 22. Fator tecnolgico. Frequncia de resposta do universo entrevistado na

    MBHRP com os valores modais dos indicadores da varivel tecnolgica..... 74

    Tabela 23. Fator tecnolgico. Frequncia de resposta dos entrevistados da MBHRP com

    os valores de moda dentro da varivel maquinrio e verticalizao da

    produo (industrializao rural)....................................................... .... 75

    Tabela 24. Fator ambiental. Frequncia de resposta dos 60 entrevistados das nascentes

    do Riacho das Piabas, com os valores de moda dos indicadores da varivel

    ambiental......................................................................................................... 76

    Tabela 25. Apresentao dos valores modais (socioeconmico e tecnolgico) por

    localidade e geral da MBHRP.... 105

  • xvii

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Reta da deteriorao social das nascentes do Riacho das Piabas............ 36

    Grfico 2 Reta da deteriorao econmica das nascentes do Riacho das Piabas.... 43

    Grfico 3 Reta da deteriorao tecnolgica das nascentes do Riacho das Piabas... 51

    Grfico 4 Reta da deteriorao ambiental das nascentes do Riacho das Piabas...... 54

    Grfico 5 Problemas prioritrios relados pelos entrevistados nas nascentes do

    Riacho das Piabas, (PB)........................................................................

    58

  • xviii

    DIAGNSTICO E PROGNSTICO SOCIOECONMICO E AMBIENTAL

    DAS NASCENTES DO RIACHO DAS PIABAS (PB)

    RESUMO

    Os fragmentos de vegetao em zonas urbanas esto sendo reduzidos e

    comprometem, assim, a estabilidade de bacias hidrogrficas e a sobrevivncia dos seres

    vivos nos tempos atuais e futuro. Inseridas na Serra da Borborema (PB) as nascentes de

    gua doce da microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas (rea deste estudo)

    compreendem um territrio rural e urbano (Mata do Louzeiro) geopoliticamente

    integrante de trs municpios (Puxinan, Lagoa Seca, Campina Grande) que ainda

    detm resqucios da flora e da fauna nativa. O objetivo principal desta pesquisa foi

    conhecer os indicadores socioeconmicos, tecnolgicos e ambientais e avaliar o grau de

    deteriorao dessa regio suplementar polticas publicas diante da recm criada regio

    metropolitana de Campina Grande. Consoantes adaptaes a metodologia proposta por

    Baracuhy (2001) e baseado em Rocha (1997) se construiu questionrios estruturados

    com escores de 1 a 10, em que se atribuiu condio ideal (valor 1) e no outro extremo,

    os maiores problemas (valor 10). Realizadas as entrevistas junto aos moradores das

    nascentes, foram, a partir dos dados obtidos, geradas equaes lineares que

    demonstraram deteriorao da ambincia social (29,33%), econmica (67,59%),

    tecnolgica (75,82%) e ambiental (42,86%) decorrentes do uso inadequado dos recursos

    naturais e da inexistncia de polticas pblicas. Como prioridade os entrevistados

    relataram a deficincia de segurana, pssimas estradas, insuficincia da assistncia

    mdica e odontolgica e inexistncia tcnico rural. Como prognstico geral se

    recomenda urgente criao de polticas pblicas especficas convivncia de base

    ecolgica conservando a diversidade tnica, social e biolgica na regio das nascentes e

    que internalize os suplementos oriundos da pesquisa das instituies de ensino, antes e

    durante suas vigncias.

    Palavras-chave: Percepo ambiental, planejamento de ambincia, polticas pblicas,

    recursos naturais, sustentabilidade

  • xix

    SOCIAL, ECONOMIC AND ENVIRONMENT DIAGNOSIS AND

    PROGNOSTIC OF SPRINGS RIAHO DAS PIABAS (PB)

    ABSTRACT

    The fragments of vegetation in urban areas are being reduced and this

    compromises the stability of watersheds and the survival of living beings, now and in

    the future. The springs of Riacho das Piabas are located in the Serra da Borborema (PB)

    and are fresh water. It is an area included in a rural and urban area (Mata do Louzeiro)

    that integrals three cities (Puxinan, Lagoa Seca and Campina Grande) that still has

    remnants of native flora and fauna. The main objective of this research was to

    understand the social, economic, technological and environmental aspects and assess of

    degree deterioration of this region to further policies as helping to manage the newly

    established metropolitan area of Campina Grande. In accordance with the methodology

    proposed by Baracuhy (2001) and based in Rocha (1997) a questionnaires was prepared

    with scores of 1 to 10, which best condition 1 and worst condition 10. The data obtained

    after the interviews generated linear equations that showed deterioration social

    (29.33%), economic (67.59%), technology (75.82%) and environmental (42.86%) for

    inadequate use of natural resources and the absence of public policies. The respondents

    said that the priority was the safety deficiency, the poor roads, insufficient of medical

    and dental care and lack of technical worker assistance. As a general prognosis it is

    recommended that attention is urgently given to introduce a basic policy in this region

    for the springs maintaining the ethnic, social and biological aspects.

    Keyworks: Environment perception, planning of enriroment, public politics, natural resources, diversity

  • 1

    1 INTRODUO

    Poucas cidades da regio semirida possuem resqucios de vegetao nativa em

    seu territrio urbano, diferentemente de vrias cidades de pases desenvolvidos.

    As cidades de Campina Grande, Puxinan, e Lagoa Seca no Estado da Paraba,

    tm o privilgio de possu-los compondo um territrio com parcela de meio rural e

    urbana geopoliticamente integrante desses trs municpios, ainda pouco estudado pela

    literatura acadmica. Essa regio conhecida como as nascentes de gua doce da

    microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas, na Serra da Borborema, a rea deste

    estudo.

    O planejamento desse meio fsico (rural e urbano) em nvel de ambincia (meio

    ambiente) tem sido feito at os dias atuais por artifcios tradicionais que no consideram

    o uso de metodologias ambientalmente corretas.

    Os impactos ambientais sobre a microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas tem

    produzido tenses de alta magnitude sobre os intricados ecossistemas ali existente, e

    que vem aumentando a velocidade de deteriorao desses recursos naturais, com

    destaque para a reduo da rea verde e biota associada, que nestes ltimos quinze anos,

    vem colocando em dvida a capacidade de resilincia da regio por mais uma dcada

    (SOUSA, 2003).

    A rede hdrica que corta toda regio nomeia a microbacia e serviu de logstica

    para o comeo do povoamento que deu origem a cidade Campina Grande. A proposta

    deste estudo investigou a integridade ecolgica da microbacia Riacho das Piabas no

    trecho rural que compe suas principais nascentes e a Reserva urbana do Louzeiro.

    O estudo da ambincia atravs de diagnsticos e prognsticos socioeconmico,

    tecnolgico e ambiental adaptado para integrar ruralidade e urbanizao da rea, prope

    a introduo de padres de desenvolvimento sustentvel, no intuito de reduzir a presso

    demogrfica sobre os recursos naturais, durante a transio para modos de produo

    inovadores e ecologicamente compatveis com a manuteno da diversidade tnica,

    social e biolgica local.

    As nascentes da microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas tem em mdia 6

    quilmetros de extenso por 1,5 quilmetros de largura e sua rea espacial integrante

    politicamente de trs municpios: Puxinan e Lagoa Seca, a montante, estendendo-se

  • 2

    pela Reserva do Louzeiro em rea urbana da Cidade de Campina Grande, a jusante,

    (SOUSA, 2006).

    O presente estudo permitiu diagnosticar o sistema fsico, antrpico e bitico,

    bem como a deteriorao da diversidade social, tnica e biolgica, durante o processo

    de fragmentao das reas nativas, prognosticar indicadores que integrados em polticas

    pblicas de gesto ambiental da rea, suplementaro com eficincia o desenvolvimento

    local compatvel com os padres de sustentabilidade que lhes exigem suporte.

    1.1 Objetivo geral

    Conhecer os indicadores socioeconmicos, tecnolgicos e ambientais das

    nascentes do Riacho das Piabas, na Serra da Borborema (PB) e avaliar a ambincia

    desse segmento de microbacia para inferir o grau de desenvolvimento e de

    sustentabilidade ecolgica a favorecer s polticas pblicas.

    1.2 Objetivos especficos

    Estabelecer o permetro da microbacia do Riacho das Piabas no trecho de suas

    nascentes e rede hdrica principal;

    Conhecer os aspectos socioeconmicos, tecnolgicos e ambientais aplicando

    questionrios estruturados aos residentes locais;

    Diagnosticar o grau de deteriorao dos fatores de ambincia da microbacia;

    Conceber prognsticos e suplementos s polticas pblicas de gesto ambiental e

    territorial para serem introduzidos na regio das nascentes.

  • 3

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Microbacias hidrogrficas e recursos hdricos

    A microbacia hidrogrfica uma rea fisiogrfica drenada por um curso de gua

    ou por um sistema de cursos de gua conectados e que convergem, direta ou

    indiretamente, para um leito ou para um espelho de gua (BERTONI e LOMBARDI

    NETO, 1999)

    A microbacia hidrogrfica a rea que drena as guas das chuvas, por ravinas,

    canais e tributrios, para um curso principal, com vazo efluente convergindo para uma

    nica sada e desaguando em outro rio, com sua dimenso inferior a 20.000 ha,

    (ROCHA, 1997).

    A bacia, a sub-bacia ou a microbacia formada por divisores de gua e por uma

    rede, padro ou sistema de drenagem, caracterizados pela sua forma, extenso,

    densidade e tipo (Figura 1). A sub-bacia, pode ser dividida em vrias microbacias,

    assim como a microbacia pode ser subdividida em minibacias e as minibacias pode

    ainda se dividir em sees ABEAS (2001).

    Figura 1. Desenho esquemtico de uma bacia hidrogrfica, ANA (2002).

    Os recursos hdricos so as guas superficiais ou subterrneas disponveis para

    qualquer tipo de uso de regio ou bacia. O Brasil possui doze regies hidrogrficas

    definidas pelo Conselho Nacional de Recursos Hdricos (CNRH) nas quais as

  • 4

    distribuies e as condies de acesso gua so bastante diferenciadas. Existem

    regies com elevado potencial hdrico e gua de boa qualidade, at regies semi-ridas,

    com chuvas mal distribudas, alm de reas urbanas com srios problemas de poluio e

    inundaes (BRASIL, 2003).

    A implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos est regulamentada

    pela Lei 9.984/00 que criou a Agncia Nacional de aguas (ANA). Cabe a este rgo

    federal, vinculada ao Ministrio do Meio Ambiente (MMA) supervisionar, controlar e

    avaliar as aes e atividades decorrentes do cumprimento da legislao federal

    pertinente aos recursos hdricos. Com esse novo dispositivo, o direito de uso de recursos

    hdricos em corpos de gua de domnio da Unio se dar por intermdio de autorizao

    (outorga) em articulao com os Comits de Bacia Hidrogrfica, para a cobrana pelo

    uso de recursos hdricos de domnio da Unio (MILAR, 2001).

    De acordo com a Lei das guas (N. 9.433/1997), em seu art. 1, a Poltica

    Nacional de Recursos Hdricos (PNRH) baseia-se nos fundamentos de que a gua um

    bem de domnio pblico; um recurso natural limitado, dotado de valor econmico; que

    em situaes de escassez o uso prioritrio o consumo humano e a dessedentao de

    animais; a gesto dos recursos hdricos deve sempre proporcionar o uso mltiplo das

    guas; a bacia hidrogrfica a unidade territorial para implementao da PNRH e

    atuao do sistema nacional de gerenciamento e a gesto dos recursos hdricos que deve

    ser descentralizada e contar com a participao do poder pblico, dos usurios e das

    comunidades (Brasil,1997).

    A gua potvel reconhecidamente um recurso vulnervel, finito, e j escasso

    em quantidade e qualidade, por isso, trata-se de um bem econmico. , portanto,

    fundamental que se disponha de instrumentos legais, essenciais ao equilbrio da oferta e

    da demanda para garantir o desenvolvimento sustentvel (RODRIGUES, 1997).

    A sua utilizao econmica fez com que a gua passasse a ser reconhecida como

    um recurso hdrico, semelhante aos recursos minerais quando utilizados

    economicamente. Essa condio de escassez racionalizada pela cobrana de um valor

    que no Brasil est amparado pelo princpio do usurio pagador, inserido na legislao

    brasileira (FONSECA, 2006).

    Oliveira (1999) afirma que o gerenciamento do uso da gua com o objetivo de

    preservar os recursos hdricos e ambientais, deve ser realizado em trs nveis sistmicos:

  • 5

    Nvel macro - abrangendo os sistemas hidrogrficos;

    Nvel meso abrangendo os sistemas pblicos urbanos de abastecimento de

    gua e de coleta de esgoto sanitrio;

    Nvel micro abrangendo os sistemas prediais, industriais e institucionais.

    Na Regio Nordeste tem como caracterstica climtica a distribuio espacial

    irregular dos recursos hdricos, sua baixa produo nos mananciais em perodos de

    estiagem a ocorrncia de embasamento cristalino em grande parcela do territrio; a

    deficincia de investimentos para aproveitamento de novos mananciais, ocorrncia de

    guas salobras ou poludas devido s condies naturais ou precrias de preservao e

    conservao de suas bacias hidrogrficas, respondendo negativamente no atendimento

    da demanda por gua para diversos usos, especialmente para o abastecimento humano

    (ANA, 2009).

    A escassez dos recursos hdricos juntamente com a poluio tm severas

    consequncias sociais econmicas e ambientais, uma vez que comprometem o

    equilbrio do ecossistema dificultando a conservao da flora e da fauna e a diluio de

    efluentes; provocando doenas por causa da m qualidade ou por sua falta em

    quantidade suficiente para as necessidades mnimas; impede o desenvolvimento

    socioeconmico, industrial e da agricultura [...] o que provoca conflitos regionais, como

    os ocorridos entre a Turquia e o Iraque pelas guas do Rio Eufrates; entre a Sria, Israel

    e a Jordnia pelas guas do rio Jordo e mananciais das colinas de Gola; entre o Brasil,

    a Argentina e o Paraguai pelas guas do Rio Paran para a gerao de energia eltrica e,

    que por causa desses conflitos a gua tem sido chamada de ouro azul do terceiro

    milnio em funo do valor econmico que lhe atribudo (PHILIPPI & MARTINS,

    2005).

    A gua um dos bens mais preciosos e importantes, por ser imprescindvel para

    a sobrevivncia das populaes. Contudo, com o crescimento demogrfico e o

    desenvolvimento industrial e tecnolgico acelerados, as poucas fontes disponveis esto

    comprometidas ou correndo risco de deteriorao. A poluio dos mananciais, o

    desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigao, a

    impermeabilizao do solo, entre tantas outras aes do homem moderno, so

    responsveis pela contaminao e morte da gua. A cobrana pelo uso da gua um

  • 6

    dos principais instrumentos para incentivar os agentes econmicos a evitar o

    desperdcio e a poluio (MACHADO, 2005).

    Poucas cidades brasileiras tm um sistema de manejo de guas usadas com reuso

    eficiente do ponto de vista ambiental. Os rios recebem ainda efluente das indstrias e

    podem ser alvo de vazamentos acidentais de produtos qumicos e de petrleo, entre

    outros. O crescimento das cidades tem provocado impermeabilizao dos solos e a

    consequente reduo da infiltrao da gua das chuvas com a produo de mais resduos

    slidos e esgoto a cada ano. Apenas 20% do esgoto urbano passam por alguma estao

    de tratamento para remoo de poluentes antes de chegarem aos cursos dgua. Outro

    aspecto relevante o da qualidade da gua dos mananciais, diretamente relacionada s

    formas de uso e ocupao dos solos, tanto no meio rural quanto no espao urbano

    (BRASIL, 2003).

    Em regies onde os recursos naturais solo e gua so escassos, como nas regies

    ridas e semi-ridas por exemplo, o manejo integrado de bacias hidrogrficas

    essencial devido complexidade das interaes entre seus elementos, fazendo-se

    necessrio uma reflexo para que se possa alcanar um manejo sustentvel avaliando-se

    o planejamento do uso do solo e seu manejo; exatido na taxao dos recursos hdricos

    em nvel regional, nacional e global; avaliao econmica e ambiental envolvendo os

    aspectos custos e benefcios; preveno de poluio; educao ambiental com

    treinamento para o profissional e para o pblico em geral (TYSON, 1995).

    Ao longo do tempo vrias aes isoladas foram realizadas para amenizar a

    escassez da gua nas regies semi-ridas, sem xito de solues adequadas e definitivas.

    Por sua vez, o manejo integrado de microbacias hidrogrficas, introduz novo padro de

    desenvolvimento sustentvel da regio, que tem a preocupao de preservar

    efetivamente os recursos naturais, integrando o homem ao meio. A interao homem-

    ecossistema inicia-se por um planejamento do uso dos recursos naturais para o

    desenvolvimento de planos e aes de ocupao do espao fsico (BARACUHY, 2001).

    O Manejo Integrado de Bacias Hidrogrficas no Brasil ainda incipiente.

    Consultando a literatura especializada em reas correlatas, nota-se que menos de 1% das

    microbacias do pas apresenta algum tipo de trabalho cientfico integrado (ROCHA,

    1997)

  • 7

    2.2 Meio ambiente (ambincia) e manejo de bacia hidrogrfica

    No Brasil, para os fins previstos na Legislao, se entende por meio ambiente o

    conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e

    biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (Brasil, 1981).

    Conforme Mota (2001) o meio ambiente um sistema aberto e interdependente

    profundamente afetado pelas atividades humanas que lhe causam danos s vezes

    irreparveis, sendo necessrio conciliar-se o aproveitamento econmico com a

    sustentabilidade ambiental que um dos grandes desafios do nosso tempo, com

    inevitveis repercusses nas geraes que viro. Para enfrentar esse desafio,

    indispensvel uma rigorosa valorao econmica dos recursos naturais, como base para

    adoes de estratgias sociais e polticas pblicas, e para a criao de instrumentos

    apropriados de gesto institucional que dem eficcia as polticas assim concebidas.

    De acordo com o artigo 225 da Constituio Federativa do Brasil todos tm

    direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

    essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder pblico e coletividade o

    dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes (Brasil, 1988).

    Para Rocha (1997) meio e ambiente, so de certo modo sinnimos havendo

    quem entenda que, se existe meio ambiente, dever haver 1/2 de ambiente ou mesmo

    um ambiente inteiro. Para evitar estas incoerncias, deve-se usar a palavra adequada

    ambincia (Figura 2).

    Figura 2. Desenho esquemtico do domnio da Ambincia (linha tracejada), Rocha 1997.

  • 8

    Atualmente o mundo moderno classifica a ambincia em vertical e horizontal. A

    ambincia vertical atinge, aproximadamente, 1.000 km acima da litosfera e,

    aproximadamente, 100 m abaixo do nvel mdio dos oceanos e mares. A ambincia

    horizontal ocupa todas as reas rurais e urbanas, portanto toda a superfcie da litosfera e

    avana para os oceanos at 200 milhas nuticas, sendo todo esse espao suscetvel de

    poluio pelo homem (ROCHA, 1997).

    Segundo Batista (2008) a ambincia neste contexto refere-se tanto a deteriorao

    das condies scio-culturais, ambientais e econmicas como a falta de aproveitamento

    das suas potencialidades. Sob esse ponto de vista, ambas as situaes convivem em

    relao sistmica, como duas faces da mesma moeda.

    Um recurso hdrico antropizado estende esse impacto ao longo da rea

    geogrfica de sua drenagem, que a bacia hidrogrfica (SOUSA, 2006). Por sua vez, o

    seu manejo integrado introduz a novo padro de sustentabilidade que tem a preocupao

    de preservar, efetivamente, os recursos naturais, integrando o homem ao meio. Essa

    interao homem x ecossistema inicia-se por um planejamento do uso dos recursos

    naturais para o desenvolvimento de planos e aes de ocupao desse espao fsico,

    atravs da realizao de diversos diagnsticos, entre eles o socioeconmico-ambiental e

    fsico conservacionista (BARACUHY, 2001).

    Segundo Rocha (1997) no manejo de bacias hidrogrficas utilizam-se 3

    diagnsticos bsicos, que formam a roda viva da degradao ambiental estes

    diagnsticos (socioeconmico, fsico-conservacionista e ambiental) so a base para

    demonstrar o quanto uma bacia est degradada. De acordo com o autor, no caso de

    microbacias os trs diagnsticos respondem pela ordem de prioridade de manejo.

    Baracuhy (2001) em experincia pioneira aplicou esses diagnsticos para anlise

    qualitativa e quantitativa da degradao no semi-rido do Brasil. Na composio deste

    diagnstico atribuiu pesos com amplitudes segundo critrio prprio, adaptando-os para

    a realidade do semi-rido paraibano o modelo criado (ROCHA, 1997).

    Para Giasson et al. (1995) o diagnstico o levantamento de todos os

    parmetros necessrios para a compreenso da propriedade rural com o meio, utilizando

    informaes obtidas dos relatrios de levantamento de solos, mapas climticos, anurios

    estatsticos, entrevistas com tcnicos e com o produtor, pesquisa de campo, fotografias

  • 9

    areas e investigao da propriedade. O planejamento propriamente dito trabalha essas

    informaes obtidas no diagnstico, buscando solues para a explorao acontecer

    com a melhoria da qualidade de vida do produtor e a menor deteriorao ambiental.

    De acordo com Mendona (2005) o diagnstico scio-econmico caracteriza a

    populao residente na rea da microbacia hidrogrfica, permitindo atravs da avaliao

    socioeconmica da comunidade compreender a representao social no seu processo de

    degradao ambiental. A metodologia consiste em levantar, atravs da aplicao de

    questionrios, informaes objetivando caracterizao da comunidade, segundo seus

    sistemas de produo, uso do solo e nvel de capitalizao. O levantamento de acordo

    com Rocha (1997) e Rocha e Kurtz (2007) dos dados efetuado, em nvel de ncleo

    familiar rural, por meio das entrevistas.

    O diagnstico socioeconmico visa analisar a situao social, econmica e

    tecnolgica, por fim a situao socioeconmica da populao do meio rural (produtor e

    ncleo familiar), no sentido de se avaliar, por microbacia, a deteriorao das famlias ali

    residentes. Com isso, tm-se condies de elaborar recomendaes em um projeto no

    sentido de elevar a qualidade e o nvel de vida na respectiva sub-bacia hidrogrfica.

    Agindo assim e diminuindo a deteriorao socioeconmica, ter-se- uma melhoria do

    ambiente quanto s deterioraes fsicas e ambientais (ROCHA & KURTZ, 2007).

    A deteriorao segundo Rocha (1997) conceituada como qualquer alterao

    das propriedades fsicas, qumicas ou biolgicas dos recursos naturais renovveis (solo,

    gua, ar, fauna, entre outros) causada por alguma forma de energia ou elementos

    produzidos pela atividade humana. A deteriorao corresponde soma da rea de

    conflito com a rea destinada a florestamentos.

    Para anlise da degradao local, alm do diagnstico fsico-conservacionista e

    do diagnstico socioeconmico, existe um terceiro diagnstico que juntamente com os

    outros fornece parmetros para anlise da degradao total. o diagnstico ambiental

    no qual a anlise da degradao se d mediante a aplicao de questionrio ambiental

    formulado segundo critrios do prprio autor. O diagnstico ambiental composto por

    aspectos qualitativos e quantitativos, com a diferena de amplitude menor em relao

    aos outros diagnsticos (ROCHA, 1997); (ROCHA E KURTZ, 2007); (BARACUHY,

    2001); (MENDONA, 2005).

  • 10

    Rocha (1997) comenta, ademais, a respeito da utilizao subdiagnsticos. Nesse

    entendimento Baracuhy (2001) em sua interveno no semi-rido formulou um

    subdiagnstico denominado tecnologias hdricas alternativas, uma vez que a nfase

    do manejo so os recursos hdricos alternativos, se contribui assim de forma direta, para

    a seleo de localidades que no possuem, de maneira significativa, as tecnologias

    presentes (barragem subterrnea, poo amazonas e terraceamento) que a priori se

    aplicam no manejo.

    De acordo com Rocha (1997) as concluses e recomendaes oriundas dos

    diagnsticos bsicos resultam no prognstico e explica que, a exemplo do que ocorre na

    medicina em que o mdico solicita vrios exames ao paciente e elabora o diagnstico

    aps a anlise desses exames e recomenda o medicamento certo, da mesma forma na

    unidade de manejo, so elaborados os diagnsticos e so prognosticadas as solues

    provveis. O prognstico, portanto, direciona as provveis reas mais adequadas ao

    manejo. O manejo sustentvel feito posteriormente anlise da degradao local.

    Na pesquisa o manejo pretendido se configura como sustentvel por dois

    aspectos: primeiro por ser produzido a partir de diagnsticos de degradao ambiental

    voltados para a sustentabilidade dos recursos naturais (uma vez que so baseados em

    princpios conservacionistas) Rocha (1997); segundo pela utilizao de tecnologias

    alternativas que so conhecidas como promotoras de desenvolvimento local no semi-

    rido (MEDEIROS, 2004). O presente estudo de manejo, portanto, realizado a partir

    destas duas premissas se configurou como sustentvel.

    O manejo ambiental tem por objetivo recuperar, conservar e proteger as

    unidades espaciais, estruturadas e complexas, cujos elementos, atores e fatores, sejam

    biticos, fsicos, socioeconmicos que mantm relaes interdependentes (FILHO &

    LIMA, 2000).

    Conforme Lima-e-Silva et al. (1999) manejo significa a aplicao de programas

    de utilizao dos ecossistemas, naturais ou artificiais baseados em princpios

    ecolgicos, de modo que mantenham da melhor forma possvel as comunidades

    vegetais e/ou animais como fontes teis de produtos biolgicos para os humanos, e,

    tambm como fontes de conhecimento cientfico e lazer.

  • 11

    O Art. 2 da Lei N 9,985/2000 estabelece que o manejo do uso humano da

    natureza, compreende a preservao, a manuteno, a utilizao sustentvel, a

    restaurao e a recuperao do ambiente natural, para que se possa produzir o maior

    benefcio, em bases sustentveis s atuais geraes mantendo seu potencial de satisfazer

    as necessidades e aspiraes das geraes futuras, e garantindo a sobrevivncia dos

    seres vivos em geral (BRASIL, 2000).

    Conforme Rosrio & Brennsen (1994) melhorias na qualidade de vida esto

    sendo exigidas cada vez mais pela sociedade atual e esse fato est diretamente

    relacionado com a qualidade do meio ambiente. Sendo assim, uma melhor qualidade de

    vida depende de planejamento e organizao do ambiente, pois interferncias indevidas

    no mesmo podem conduzir a ruptura da estabilidade dos sistemas que o compem, com

    reflexos inevitveis na organizao econmica e social.

    De acordo com Cirilo (2008) a falta de planejamento de recursos hdricos,

    derivado de um histrico de polticas pblicas equivocadas, considerando que o

    problema no escassez de gua, pois a mesma existe em quantidade modesta, porm

    suficiente, a problemtica maior, portanto, est ligada ao seu manejo coerente e

    sustentvel.

    2.3 Nascentes, impactos antrpicos e polticas pblicas

    As cabeceiras e nascentes possuem guas correntes, com o seu surgimento ou

    brotamento do interior do solo e composio qumica variada, dependendo da regio.

    Popularmente tambm chamada de olho da gua e bica da gua pode-se apresentar

    na mata de galeria (CRUZ, 1999)

    As nascentes so ambientes singulares, com uma complexidade ambiental ainda

    pouco interpretada. So elementos hidrolgicos de importncia primeira para a

    dinmica fluvial, pois marcam a passagem da gua subterrnea para a superficial pela

    exfiltrao. A gua das chuvas, ao atingir o solo, infiltra e percola para os aquferos

    mais profundos ou escoa superficialmente para os rios, rapidamente drenada para fora

    da bacia sob ao da gravidade em canais hidrogrficos. A emergncia da questo de

    proteo das nascentes est particularmente presente em espaos urbanos e a falta dessa

    proteo ao longo do tempo, em parte devido ineficincia de operacionalizao do

  • 12

    aparato legal associado aos diversos interesses especulativos e imobilirios culminando

    com a destruio das nascentes (FELIPPE & MAGALHES, 2003).

    O sistema de nascentes deve ser preservado e constitudo pela vegetao solos

    rochas e relevo das reas adjacentes montante. As nascentes quaisquer que sejam as

    suas localizaes, de acordo com a Lei federal 4.771, de 15 de setembro de 1965 so

    consideradas reas de Preservao Permanente (APP) sendo necessria a preservao

    da rea em um raio de 50m de cada nascente (GOMES, 2005).

    A gua est em constante movimento e ao circular se infiltra no ar, na terra, na

    agricultura, nas indstrias, nas casas, nos edifcios, em nosso prprio corpo. Por ele e

    com ela a vida flui e, assim, o ser vivo no se relaciona com a gua: ele gua (PORTO

    GONALVES, 2004).

    A partir da Constituio Federal de 1988, ficou estabelecido que todos os corpos

    dgua so de domnio pblico. Isto significa que nenhum proprietrio de terra tem a

    posse da gua que brota em sua rea (MAZZINI, 2003).

    Devido ao Plano Nacional de Recursos Hdricos, os proprietrios de terra tm o

    direito ao uso dos recursos hdricos atravs da outorga da gua, sendo um instrumento

    da Poltica Nacional dos Recursos Hdricos atravs da Lei Federal 9.433 de 08 de

    janeiro de 1997, (Brasil, 2004).

    O problema da superpopulao do planeta tambm preocupante. Segundo dados

    mencionados no Suplemento de Population Reports (GREEN, n. 10), no ano de 1988, a

    situao de alguns pases j era crtica destacando-se o percentual de habitantes sem

    gua potvel: Etipia 83%, Afeganisto 79%, Marrocos 41%, Paraguai 67%, Haiti 60%

    e Polnia 11%. Imagine-se esse quadro ante o crescimento populacional. Os recursos

    naturais permanecero os mesmos e a populao da terra duplicar em 41 anos.

    A Poltica Nacional do Meio Ambiente inovou introduzindo no art. 14, 1, da Lei

    N. 6.938/1981 a responsabilidade objetiva. Por ela o poluidor, independentemente da

    existncia de culpa, obrigado a indenizar ou reparar os danos causados ao meio

    ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade, ademais, o referido dispositivo deu

    legitimidade ao Ministrio Pblico para ingressar em juzo com ao de

    responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente (BRASIL, 1981).

  • 13

    O meio ambiente sustenta diretamente a vida humana e no h como dissoci-los.

    No entanto, as foras de mercado nem sempre atingem o ponto de equilbrio ideal para

    atender s necessidades de todos os elementos nele envolvidos. Nesse momento, cabe a

    atuao do Estado, de forma a determinar limites e a preservar o bem comum. A

    Constituio Federal alou o direito fundamental do povo tanto ao meio ambiente

    equilibrado como ao desenvolvimento econmico e social. Esses trs elementos formam

    a base do desenvolvimento sustentvel. O equilbrio desses fatores (interesses)

    resultar na prosperidade almejada (BRASIL, 2007).

    O processo de desenvolvimento regional e local deve ser compatibilizado com as

    caractersticas das reas em questo, considerando o uso adequado e racional dos

    recursos naturais e a aplicao de tecnologias e de formas de organizao que respeitem

    os ecossistemas naturais e os padres scio-culturais (BRESSAN, 1996).

    De acordo com MMA (1998) os recursos biolgicos so indispensveis

    reproduo econmica, social e cultural das populaes. Ademais, o uso sustentvel da

    biodiversidade pressupe a manuteno da cobertura vegetal e isso assegura os servios

    ambientais dos ecossistemas naturais.

    Para Beck (1994) a crescente importncia da questo ambiental em si mesma,

    uma evidncia da emergncia da questo dos riscos como problema central das

    sociedades contemporneas. Independentemente da aceitao desta perspectiva,

    evidente que, na rea ambiental, a idia de risco parte necessria de qualquer anlise

    que busque compreender, como as atividades antrpicas de grande escala provocam

    alteraes no meio ambiente e afetam a sade da populao, as atividades econmicas

    pr-existentes, as condies sanitrias e mesmo, as condies paisagsticas e as estticas

    das diversas reas.

    Algumas estimativas indicam que atualmente 40% da produo lquida primria

    terrestre da biosfera, em termos de apropriao de recursos naturais e energia, j esto

    comprometidas para consumo humano. Este percentual oferece a dimenso da escala de

    presena das atividades humanas no planeta como estimativa e aponta limite bastante

    restrito ao crescimento ao mesmo tempo que requer rigor ao avano tecnolgico que

    atenuem estas restries (MOTTA, 1997).

  • 14

    De acordo com Andrade (1997) a avaliao de impactos ambientais constitui um

    instrumento da poltica ambiental formado por um conjunto de procedimentos capazes

    de assegurar a realizao de um exame sistemtico dos possveis danos decorrentes de

    uma determinada ao (projeto, programa, plano ou poltica) bem como de suas

    alternativas. Essa avaliao tem como objetivo revelar ao pblico e aos responsveis

    pela tomada de deciso os resultados levantados, com nfase nas possveis

    consequncias que a referida ao pode gerar, uma vez posta em prtica.

    No passado recente do Brasil, o fator impacto ambiental tem sido muito utilizado

    para descrever as relaes entre atividades humanas e o meio ambiente, mais

    especificamente, a partir da Resoluo 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente

    (CONAMA). A categoria passou a constituir o pilar central do ordenamento jurdico

    que define alguns dos principais instrumentos de nossa poltica ambiental (TORRES,

    1999).

    O licenciamento ambiental o instrumento fundamental na busca do

    desenvolvimento sustentvel. Sua contribuio direta e visa encontrar o convvio

    equilibrado entre a ao econmica do homem e o meio ambiente onde este se insere.

    Busca-se a compatibilidade do desenvolvimento econmico e da livre iniciativa com o

    meio ambiente, dentro de sua capacidade de regenerao e permanncia (BRASIL,

    2007)

    Conforme Mller (1995) conservar o meio ambiente passa a ser a forma de

    valorizar o homem. Assim, entende-se que o que se busca, com a proteo ambiental,

    desenvolver condies para aumentar o conforto, a sade e a alimentao, entre outros

    que compem a elevada qualidade de vida. At recentemente, o aumento do conforto e

    a qualidade de vida dava-se a custa de maior saque da natureza. O reconhecimento da

    limitao daqueles recursos e a sbita conscincia de que no se pode exaurir, alm do

    produto, a prpria capacidade produtiva do patrimnio natural, tem incentivado o

    desenvolvimento de novas tecnologias para bem empregar o potencial de bens naturais

    disponveis.

    A compreenso dos padres e processos ecolgicos ocorrendo nas reas

    remanescentes de vegetao nativa crucial para gesto e conservao da

    biodiversidade neles contida. Este conhecimento auxiliar na determinao do papel

    desempenhado pelos fragmentos florestais de distintos tamanhos em uma rede de

  • 15

    reservas e contribuiro para o planejamento e manejo das reservas (SCARIOT &

    SEVILHA, 2000).

    Apesar da escassez de dados disponveis, importante entender a dinmica

    destas reas remanescentes de florestas nativas para melhor manejar as mesmas,

    orientando, assim, as polticas de conservao. A preocupao dos gestores dos recursos

    deve ser no sentido de explorar as consequncias das perturbaes causadas pela

    fragmentao, e, assim, conceber regimes de manejo e uso da terra que mantenham a

    biodiversidade (WHITMORE, 1997).

    As polticas pblicas podem ser agrupadas em trs grandes segmentos: polticas

    econmicas, incluindo neste grupo as polticas cambial, financeira e tributria; polticas

    sociais, englobando as polticas de educao, sade e previdncia; e polticas

    territoriais, que compreende polticas de meio ambiente, urbanizao, regionalizao e

    de transportes ( MORAIS, 1994).

    Segundo Pal (1987) no h uma definio nica para polticas pblicas na

    literatura acadmica, entretanto, h algumas tentativas de definio: uma poltica pode

    ser considerada como um grupo de aes ou "no aes" em contraposio a decises

    ou aes especficas; uma srie de decises interrelacionadas tomadas por um ator

    poltico ou grupo de atores polticos objetivando a seleo de objetivos e meios de

    atingi-los dentro de uma situao especfica.

    Em termos gerais, poltica pblica pode ser definida como "tudo o que o governo

    faz", no entanto, h distino entre decises e polticas. As primeiras so tomadas todos

    os dias e em grande quantidade, muitas vezes como simples reao s circunstncias. As

    polticas pblicas esto acima das decises, e em geral produto de planejamento

    (REIS & MOTTA, 1994).

    Historicamente, pode-se perceber um grande distanciamento entre as polticas

    pblicas de desenvolvimento econmico e as de proteo ambiental. Isto porque quando

    se trata de meio ambiente, a abrangncia dos efeitos/custos relativos ao emprego de uma

    determinada tcnica ou poltica muito maior que a abrangncia dos benefcios. As

  • 16

    atuais leis e polticas pblicas de meio ambiente no so suficientes para diminuir a

    perda da biodiversidade. (CLARK & DOWNES, 1995).

    Dentre as propostas que podem ser discutidas para a melhor integrao de

    polticas pblicas, com vistas melhoria da eficincia na implantao de uma poltica

    estadual de conservao e uso sustentvel da biodiversidade, incluem-se: a necessidade

    de reviso de incentivos fiscais e subsdios governamentais relacionados ao uso da terra;

    o desenvolvimento de mecanismos econmicos de incentivo conservao e uso

    sustentado; a promoo da agricultura sustentvel; o planejamento de uso e manejo de

    solo e reas de conservao; a construo de alianas entre os setores interessados

    (Castilleja et al. 1993); a regulamentao de acesso e uso de recursos genticos (Glowka

    et al. 1994); a integrao de valores ambientais formulao de polticas pblicas

    (PAULA et al. 1997).

    Reafirmado conforme a Lei N 9.795/1999 que criou a Poltica Nacional de

    Educao Ambiental (PNEA) os objetivos preconizam que toda sociedade deveria gozar

    do direito a Educao Ambiental de forma sustentvel e com responsabilidade global

    (BRASIL, 1999).

    Segundo Pinheiro (1995) o desenvolvimento sustentvel a verificao

    minuciosa da capacidade de suporte do ambiente em razo desta ou daquela atividade

    produtiva. Associadas referida capacidade, esto os padres de custos e benefcios

    econmicos e sociais do empreendimento, sobretudo no que concerne gerao de

    renda regional e interpessoal.

    Nesse entendimento, Andrade (1997) comenta que faltam polticas pblicas

    educativas e formativas voltadas para trabalhar as responsabilidades pessoais na relao

    com o meio ambiente como questes de cidadania. O modelo de desenvolvimento

    excludente e gerador de desigualdades sociais transformam cidados em agressores da

    natureza. A populao pobre exaure os recursos naturais, uma vez que alegam ser os

    nicos meios de sobrevivncia de que dispem. As sociedades ricas o exaurem pelo seu

    elevado padro de consumo, esbanjamento e uso perdulrio do patrimnio natural. A

    escassez de cultura de conviver com os recursos naturais a face mais evidente da crise

    ambiental.

  • 17

    3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 Caracterizao da rea de estudo

    3.1.1 Localizao

    A rea de estudo est localizada a 120 Km da capital do estado da Paraba, Joo

    Pessoa, no Nordeste do Brasil, e entre as coordenadas de latitude 7 09 10 S e 7 11

    57 S e longitude 35 54 51 W e 35 52 46 W que se refere as nascentes de gua doce

    da microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas, abrangendo geopoliticamente os

    municpios de Puxinan, Lagoa Seca e Campina Grande (Figura, 3).

    Figura 3 - Mapa de Localizao da Microbacia Riacho das Piabas. Org.: Fernandes neto, Silvana.

  • 18

    3.1.2 Contextualizao de aspectos variados

    A Serra da Borborema parte do planalto montanhoso do interior do Nordeste

    do Brasil, com altitude mdia de 400 metros, podendo chegar a 1.000 metros em seus

    pontos mais elevados (serras). Abrange os estados do Rio Grande do Norte, Paraba,

    Pernambuco e Alagoas e faz a fronteira natural entre as plancies e elevaes do Litoral

    (regio mida) e a depresso sertaneja (regio semirida). Localizado no Agreste, o

    Planalto da Borborema constitui rea de transio entre o bioma de Mata Atlntica e de

    Caatinga (mata cinza na lngua indgena) possuindo rica biota (ALVES, 2008).

    Com 56.439,84 km2 de extenso territorial correspondendo a 3,63% da rea da

    regio Nordeste, o Estado da Paraba limita-se ao Norte com o Estado do Rio Grande do

    Norte; a Leste com o oceano Atlntico; a Oeste com o Estado do Cear; e ao Sul com o

    Estado de Pernambuco. A Paraba dividida em 11 bacias hidrogrficas: bacia do rio

    Paraba; bacia do rio Abia; bacia do rio Gramame; bacia do rio Miriri; bacia do rio

    Mamanguape; bacia do rio Camaratuba, que so de domnio estadual e, bacia do rio

    Guaju; bacia do rio Piranhas; bacia do rio Curimata; bacia do rio Jacu e bacia do rio

    Trairi, de domnio federal (PERH, 2007).

    As nascentes da microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas pertencem regio

    do mdio curso da bacia hidrogrfica do Rio Paraba (SOUSA, 2006).

    As cabeceiras do Riacho das Piabas favoreceram o abastecimento de gua para o

    aldeamento dos ndios Aris, preliminarmente, e o represamento de suas guas com o

    Aude Velho (Campina Grande) posteriormente, atendeu a expanso da Vila Nova da

    Rainha (denominao inicial de Campina enquanto ainda era vila) at a sua elevao a

    categoria de cidade (CAMPINA GRANDE, 2007).

    O levantamento de sua rea revelou que a histria de degradao associa-se a

    sua ocupao que remonta do perodo colonial, momento em que a rea passou a ser

    lentamente modificada. Entretanto, nesse ltimo sculo, o uso e ocupao do solo foi

    intensificado, atingindo o pice das agresses ambientais a partir de 1995 at os dias

    atuais, quando a magnitude dos agravos se tornou severo. A montante, a intensa

    explorao do solo atravs da agricultura (horticultura e agricultura de subsistncia) e

    pecuria (bovinocultura, suinocultura, caprinocultura e avicultura de corte) so as

    tenses ambientais mais rotineiras. A jusante se ressalta os desmatamentos, a reduo

  • 19

    gradativa da vegetao nativa, as queimadas, os depsito de resduos slidos, as

    extraes de subsolos e as construes habitacionais dentro da reserva (SOUSA, 2006).

    Atravs da expanso urbana se impactou os ativos ambientais a ponto de

    inviabilizar a qualidade de gua para fins de consumo humano, e foi comprometida a

    velocidade de reproduo de vrios representantes da flora e da fauna originria que se

    encontram atualmente com as suas populaes reduzidas (SOUSA, 2003).

    Nas imediaes do bairro Rosa Mstica (Campina Grande) o riacho comea a ser

    urbanizado e, sua gua, antes perene, tem se reduzido a um fio em perodos de

    estiagem. Nessa poca os esgotos domsticos chegam a representar a quase totalidade

    da sua vazo, seguindo o curso de ligao urbana pela Avenida Canal e posteriormente

    para o bairro da Cachoeira de onde prossegue com destino ao Rio Paraba (Figura, 4).

    Em perodos de chuvas intensas, o canal contribui para atingir a cota mxima do Aude

    Velho realizando a transposio de microbacias e passando a alimentar tal manancial

    com suas guas (SOUSA, 2006).

    Figura 4. Trecho do Riacho das Piabas identificado na malha de drenagem natural (AESA,2009) adaptado.

    De acordo com Lima (2008) a situao ambiental nas nascentes do Riacho das

    Piabas continua conflituosa e a regio encontra-se muito destruda pela ao do homem

  • 20

    permitindo assegurar que a funo do poder pblico em instituir parcerias com a

    comunidade visando conservar o que resta da reserva para as futuras geraes est

    comprometida, no somente enquanto riqueza natural, mas como referncia histrica de

    grande valor na formao da cidade de Campina Grande, PB.

    3.2. Procedimentos metodolgicos

    3.2.1 Linhas gerais da metodologica usada

    Os diagnsticos socioeconmico e o fsico-conservacionista foram originados na

    Espanha, adaptados na Venezuela pelo Centro Interamericano de Desarrollo Integral

    de Aguas y Tierras e modificados no Brasil pelo professor da Universidade Federal de

    Santa Maria, Dr. Jos Mariano da Rocha a partir de 1997 j referenciado nesta obra.

    Originalmente os processos se fundamentaram em cartas elaboradas em laboratrio e os

    atuais mtodos se baseiam em quadros e tabelas com valores coletados em campo. A

    modificao bsica se deu de um modelo qualitativo para um modelo quantitativo.

    A deteriorao da ambincia calculada pela mdia das deterioraes fsico

    conservacionista, socioeconmica e ambiental. Em modelo prprio adaptado, o clculo

    se procede acrescendo diagnsticos alternativos como exemplo tecnologias hdricas:

    Deteriorao da ambincia = (DFC + DSE + DA + DTHA)/4 Equao 1

    Em que:

    DFC = Diagnstico Fsico Conservacionista;

    DSE = Diagnstico Socioeconmico;

    DA = Diagnstico Ambiental;

    DTHA = Diagnstico de Tecnologias Hdricas Alternativas.

    O valor para a deteriorao de ambincia tem a seguinte interpretao:

    I - o mximo de deteriorao de ambincia tolervel para cada diviso da bacia

    hidrogrfica de 10% (valor extrado da prtica em projetos de manejo integrado de

    bacias hidrogrficas no Sul do Brasil e recomendado por vrios rgos ambientais

    mundiais);

    II - a cada 2 anos necessrio que se faa novo levantamento da deteriorao

    de ambincia da mesma sub-bacia hidrogrfica que o monitoramento;

  • 21

    III - ao final de dois anos, o valor de deteriorao de ambincia sendo o mesmo

    sinal que a metodologia no surtiu efeito;

    IV - o valor da deteriorao de ambincia sendo maior sinal que a destruio

    do meio ambiente continuou e a metodologia aplicada no funcionou;

    V - a deteriorao de ambincia sendo menor sinal que se iniciou o processo

    do equilbrio do ecossistema (a deteriorao de ambincia atingindo valores menores

    ou iguais a 10%, significa que se iniciou o equilbrio sinecolgico, isto , as foras e

    energias que harmonizam a gua com as florestas, com a fauna, com o solo e com o ar

    esto se equilibrando e, a partir desse ponto, o homem pode usar o meio ambiente

    sem deterior-lo, auferindo riquezas constantemente);

    VI - abaixo de 10% de deteriorao de ambincia representa o estgio ambiental

    da sustentabilidade dos recursos naturais renovveis (ROCHA E KURTZ, 2007).

    Utilizando o mtodo no Brasil com relao a obteno do diagnstico

    socioeconmico e ambiental, destaca-se (ROCHA, 1997); (BARACUHY, 2001);

    (MENDONA, 2005), (ABEAS, 2006), (ROCHA E KURTZ, 2007). Ademais, Ps-

    Graduandos de Engenharia Agrcola da UFCG na componente curricular Manejo

    Integrado de Bacias Hidrogrficas (liderados pelo professor Baracuhy, perodo de

    2008.1 ) fizeram ajustes de contextualizao com nivelamento ponderao dos pesos.

    3.2.2 Escolha da rea de estudo e adaptao dos questionrios

    Conforme interveno de Baracuhy (2001) o estabelecimento de critrios o

    passo inicial no manejo do semirido para anlise de uma regio.

    Assim, a escolha da rea de estudo teve como justificativa principal a de estar

    inserida no semirido, de ter considervel percentual de populao residente, de haver

    muitos atores de baixa renda, de existir carncia de recursos hdricos e uma hiptese

    preestabelecida: a falta de planejamento fsico rural associado a ineficincia das

    polticas pblicas so determinantes para a deteriorao da ambincia do Riacho das

    Piabas?

    A adaptao dos questionrios observou Baracuhy (2001) quando aplicou de

    forma pioneira a metodologia proposta e permitiu afirmar que os questionrios devem

    ser elaborados para a realidade do local.

  • 22

    Considerando o pressuposto, foi executado as adaptaes pertinentes,

    apropriando os dados levantados nas visitas prvias e internalizando evolues que a

    tcnica sofreu no passar do tempo, em especial, o nivelamento dos valores mximos das

    variveis com o fim de adequar-se realidade local, os questionrios (Figura 5).

    Figura 5. Organograma de concepo e hierarquizao do questionrio estruturado para ser aplicado nas

    nascentes da MBHRP. Fonte: o autor

    3.2.3 A estratgia metodolgica adaptada para trabalhar a microbacia

    A estratgia proposta para compreender a realidade rural e urbana das nascentes

    da microbacia Riacho das Piabas, apresentou duas etapas principais de anlise: (1)

    diagnstico scio-econmico, tecnolgico e ambiental e (2) gerao e mensurao de

    prognstico, aps avaliao dos diagnsticos. Objetivou-se contribuir na gerao de

    subsdios adequao de polticas pblicas para a localidade e que mantenham a

    integridade ecolgica dos ecossistemas da regio. A pesquisa ocorreu no perodo entre

    outubro de 2009 a fevereiro de 2010.

  • 23

    1 Etapa:Diagnstico scio-econmico, tecnolgico e ambiental

    Previamente se articulou vrias tcnicas, como a pesquisa bibliogrfica do

    contexto local e depois o reconhecimento da rea de estudo por imagens de satlite

    disponibilizadas atravs da rede mundial de computadores. Seguidamente, foram feitas

    as primeiras visitas rea associando a observao participante ao registro de imagens

    do cenrio real, identificado na macropaisagem natural as edificaes, as propriedades,

    as estradas e os recursos hdricos. Nessa fase houve o reconhecimento dos principais

    lderes, tendo sido feita entrevistas abertas com esses atores e, a coleta dos pontos

    limtrofes do permetro da microbacia atravs de GPS.

    Os dados levantados permitiram, simultaneamente, incluir o pesquisador no

    contexto e facilitou a tarefa de adequao das variveis do questionrio estruturado

    realidade do local.

    Verificado que a regio de estudo integra politicamente trs municpios

    (Puxinan, Lagoa Seca e Campina Grande) foi dinamizada a construo de mapas com

    os trechos mais representativos (propriedades que mais faziam uso da terra) entre os

    meses de setembro e outubro de 2009.

    O nmero de propriedades visitadas obedeceu a relao estipulada por Rocha

    (1997) que estabelece como ideal de visitao para a microbacia, o nmero de

    propriedades determinado pela expresso:

    25,0841,3)1()1,0(

    25,0841,32 xNx

    xNxn Equao 2

    Em que:

    n = nmero de visitas feitas pelo pesquisador;

    3,841 a constante do valor tabelado proveniente do qui-quadrado;

    0, 25 a varincia mxima para o desvio padro de 0,5;

    0,1 o erro (10%) escolhido pelo o pesquisador;

    N o nmero total de casas (moradias) na unidade considerada.

    A escolha das propriedades e dos entrevistados (proprietrios ou responsveis na

    rea de estudo da zonas rural e urbana) se deu a partir das informaes levantadas nas

    visitas iniciais de campo, num universo aproximado de 90 propriedades, foram

  • 24

    trabalhadas 60 durante os meses de dezembro e janeiro de 2009, ultrapassando com

    grande margem de segurana da Equao 2.

    Aps coletados os dados iniciais, foram adaptadas alternativas (nova verso)

    para o questionrio a ser aplicado na MBHRP, considerando basicamente 3 adaptaes

    evolutivas da metodologia, e especial, foi utilizado, a proposta do alunado do curso de

    Ps-Graduao de Engenharia Agrcola da UFCG, que nivelaram o valor mximo das

    variveis ABEAS (2006). Convencionou-se, portanto, as variaes nos escores para

    cada indicador, desde o valor mnimo 1 (para a melhor situao) at o valor mximo 10

    (para a situao mais indesejvel) relativo aos fatores socioeconmico e tecnolgico. J

    para o ambiental, se manteve o mesmo valor mnimo e adotou-se como valor mximo o

    escore 3.

    O questionrio socioeconmico teve suas variveis adequadas quanto a

    composio dos fatores: (a) - Fator social (varivel demografia; habitao; consumo de

    alimentos; participao em organizao e salubridade); (b) - Fator econmico (varivel

    produo; animais de trabalho; animais de produo; comercializao, crdito e

    rendimento); (c) - Fator tecnolgico (varivel tecnologia; maquinrio e industrializao

    rural); (d )- Fator prioritrio (varivel prioridade). E, por analogia, as mesmas variveis

    foram aplicadas ao questionrio ambiental.

    A degradao das unidades crticas foi representada a partir do estudo analtico

    de cdigos (pesos) em escalas definidas. O menor peso indicou menor degradao, o

    maior peso correspondeu a uma maior degradao.

    A avaliao ambiental atribuiu o peso que diz respeito a um padro de medida

    que avaliado representou o desvio relativo entre o valor apropriado ao objetivo e o

    padro previamente estabelecido para cada resposta.

    O clculo do modelo matemtico para se apreciar as unidades crticas de

    deteriorao foi representado pela equao linear conhecida como equao da reta:

    Y = ax + b Equao 3

    Em que:

    Y deteriorao ambiental (%);

    a e b so coeficientes

    x resultado da soma das modas obtidas;

  • 25

    Os dados foram tabulados em planilha de clculo (Windows e Excel da

    Microsoft, verso 97-2003) e consistiram em agrupar os cdigos e considerar aqueles

    mais frequentes (de maior ocorrncia, ou seja, a moda) a partir das resposta da

    populao entrevistada.

    Quanto apresentao dos resultados utilizou-se o somatrio dos valores

    mnimos, mximos e da maior frequncia que gerou os coeficientes a e b da

    equao linear, assim como aps obter o somatrio das modas (valor x), sendo ento

    conhecido o valor Y (%), que pode ser analisado por localidades (limite poltico dos trs

    municpios integrantes) e no geral (rea espacial das nascentes da microbacia)

    permitindo ser comparado e analisado (Ver Apndice).

    O diagnstico ambiental, por sua vez, consistiu em levantar e analisar os

    principais elementos da poluio direta das nascentes objetivando verificar o grau de

    degradao da rea de estudo. A lgica para composio do diagnstico ambiental foi a

    mesma, identificando-se as peculiaridades geradas pelo diagnstico e atribuindo, a

    seguir, o peso ponderado para cada resposta. Seguidamente, houve o detalhamento da

    etapa final, em que se determinou a equao da reta.

    Aps a anlise dos valores de cada degradao (degradao social, econmica e

    tecnolgica) foi gerado o diagnstico socioeconmico atravs de mdia aritmtica das

    trs degradaes para obteno do valor da degradao socioeconmica total.

    Assim, fez-se a determinao dos parmetros atinentes a totalizao do fator

    social (a), do total do fator econmico (b) e do total do fator tecnolgico (c) que

    determinou o total do diagnstico scio-econmico (a + b + c) para a apreciao do

    fenmeno estudado, quanto ao nvel de deteriorao da ambincia no perodo de janeiro

    e fevereiro de 2010.

    Utilizou-se nesta etapa de trabalho, basicamente, mquina digital, de voz e

    udio, de vdeo, binculo e GPS alm do uso de softwares da rede mundial de

    computadores, em especial o Google Earth, 2009.

    Gerao e mensurao de prognsticos

    Com a gerao dos prognsticos se buscou compensar os agravos diagnosticados

    e torn-los balizadores para polticas pblicas, processos de educao ambiental (na

  • 26

    localidade) e pesquisas de programas (federais, estaduais e municipais) servindo ainda

    de base para adequao da legislao em vigor nas nascentes. A construo dos

    resultados foi feita no Laboratrio Interdisciplinar de Cincias e Tecnologias

    Agroambientais da UFCG e fortalecida pelos encontros nas associaes e escolas

    pblicas do entorno. Durante os eventos a comunidade pde opinar e conhecer detalhes

    tcnicos da pesquisa e da metodologia de manejo integrado de bacias hidrogrficas.

    As propostas de aes (os prognsticos) concebidas para a microbacia tambm

    foram totalizadas no geral e por localidade (Lagoa Seca, Campina Grande e Puxinan)

    permitindo a anlise comparativa de cada regio das nascentes e como um todo, no seu

    contexto multidimensional socioeconmico, tecnolgico e ambiental. Os resultados

    esto sendo publicados e disponibilizados para a coletividade e associaes locais, e

    enviados para os tomadores de deciso.

  • 27

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    A intensidade com que a degradao do meio ambiente atingiu a microbacia

    hidrogrfica Riacho das Piabas e os seres humanos que nela habitam permitiu a

    pesquisa e a discusso sobre a necessidade de se implantar um modelo de

    desenvolvimento alternativo para a regio, em carter de urgncia. Como premissa se

    teve o emprego do conhecimento interdisciplinar que permitiu reduzir erros nos exames

    de uso e ocupao do solo associado conservao da biota local.

    A metodologia do manejo integrado de bacias hidrogrficas ponderou variveis

    contidas em escalas diferentes e, com isso, se pde trabalhar ao mesmo tempo diversas

    dimenses e aspectos heterogneos, sendo a principal razo da seleo da tcnica no

    estudo, que atravs dos diagnsticos socioeconmico e ambiental buscou dimensionar a

    integralizao rural e urbana da microbacia.

    Indicou a necessidade de intercmbio entre as comunidades cientfica, poltica e

    empresarial para o manejo integrado suplementadas com dados (indicadores)

    socioeconmicos e ambiental, melhorando a gesto poltica. Nesse contexto, houve

    implicaes direta para as nascentes e habitantes, favorecendo melhores nveis de

    qualidade de vida a mdio e longo prazo e houve ineditismo na proposta do estudo.

    Uma contribuio primeira da pesquisa, do ponto de vista terico, foi

    suplementar e dar suporte cientfico sobre esses fragmentos de vegetao com fauna

    integrada que se estende da parte urbana para o meio rural da regio metropolitana de

    Campina Grande, at ento, limitada ao mbito de monografias de graduao e de

    especializao.

    A falta de conhecimento melhor quantificado e especfico da problemtica

    existente entrave produo de indicadores reais, em que a literatura sobre os recursos

    hdricos do municpio campinense ainda no registra a existncia da gua doce da

    MBHRP, desconhecendo a potencialidade desses ecossistemas que foram a base para o

    povoamento da cidade de Campina Grande e de sua microregio.

    Os cidados campesinos da rea de abrangncia da microbacia, muncipes

    campinenses e de Puxinan e Lagoa Seca, as ONGs ambientalistas e rgos

    governamentais, esto alheios, ou pouco fazem, para reverso dos agravos a esses ativos

    legalmente amparados, pela Unio (Constituio Federal, 1988) e resolues do

    CONAMA (1985, 1986, 1987 e 1997), Constituio do Estado da Paraba (Assemblia

  • 28

    Legislativa do Estado da Paraba, 1989) e por Lei Orgnica Municipal (Campina

    Grande, 1990).

    Segundo LIMA (2008) o poder pblico local, no sentido de promover a soluo

    de continuidade para o meio ambiente, realizou em dezembro de 2007 a I Conferncia

    Municipal de Campina Grande, que teve como lema "Vamos Cuidar de Campina

    Grande-PB". Foi promovida pela Secretaria de Planejamento (SEPLAN), atravs da

    Coordenadoria do Meio Ambiente (COMEA) com apoio das universidades Estadual da

    Paraba (UEPB) e Federal de Campina Grande (UFCG). O evento reuniu

    aproximadamente 500 representantes de diferentes segmentos da cidade e entorno,

    durante dois dias, que diagnosticaram a desertificao e a falta de planejamento,

    apresentando a Paraba com o segundo dficit hdrico do pas. Houve a apresentao de

    setenta propostas de implementao de poltica ambiental, dentre as quais: promover o

    manejo integrado da Microbacia Hidrogrfica do Riacho das Piabas no trecho que

    compe suas nascentes e a Reserva Urbana do Louzeiro, ainda por acontecer.

    A microbacia hidrogrfica Riacho das Piabas, no trecho que corresponde a suas

    cabeceiras, tem sua rede hdrica convergida para o riacho principal (Piabas) que recebe

    seu nome. Nesse trecho a contribuio de gua provem de sua drenagem superficial e

    das nascentes, que jorram guas de aspecto azulado e lmpido, sendo percebido pelo

    paladar como gua doce. Seu uso irrestrito se destaca para o consumo humano,

    dessedentao de animais e para a limpeza de instalaes e equipamentos utilizados nas

    atividades pecuarista, irrigao de hortalias (alface, repolho, tomates, coentro, entre

    outras) e recreao.

    A regio das cabeceiras (nascentes na rea rural) sofre menor impacto

    comparada com a parcela urbana que se encontra bruscamente impactada por omisso

    de polticas pblicas e pela presso imobiliria para ocupar a regio associada a ao

    danosa da populao do seu entorno. medida que o riacho se dirige para o meio

    urbano, gradativamente, recebe depsitos de poluentes, principalmente, agrotxicos e

    esgotos domsticos.

    O diagnstico socioeconmico ambiental de uma regio como esta, destinada a

    APA teria contribuies positivas na qualidade de vida da populao urbana, direta e

    indiretamente. Pois, alm de construir possibilidades de melhor-la no aspecto visual,

    na reduo da poluio, na recuperao da ambincia e na subsistncia das famlias do

  • 29

    entorno, contribuiria na reduo da marginalizao. Analogamente, cooperaria na

    qualidade de vida das comunidades rurais a montante que sofrem semelhantemente sem

    infraestruturas pblicas, Figuras 6 e 7.

    Figura 6. Aspecto de limites entre a reserva do Louzeiro e o centro da cidade de Campina Grande. Imagem do autor

    Figura 7. Aspecto de segmento rural da MBHRP. Imagem do autor

    Ademais, considerando a recm criada regio metropolitana de Campina

    Grande, existem vrios eventos culturais que compem o calendrio turstico, a

    exemplo das vaquejadas, micarande (carnaval fora de poca), festival de inverno "Maior

    So Joo do Mundo" (tradicional festa popular que atrai todo ano milhares de turistas de

    todo o pas e do mundo, durante o ms de junho) entre outros acontecimentos, que

    poderiam ter seus roteiros integralizados a ambincia agradvel dessas nascentes

    fortalecendo toda regio sistemicamente.

    4.1 Localizao das propriedades visitadas onde foram entrevistados os

    proprietrios

    A escolha e a distribuio das propriedades partiu da proporcionalidade direta do

    espao geogrfico dos municpios inseridos nas nascentes. Foram entrevistados 60

    proprietrios em 60 propriedades diferentes. No municpio de Puxinan foram visitadas

    15 propriedades, em Lagoa Seca 20 unidades e em Campina Grande 25 mdulos

    familiares (Figura, 8).

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    Figura 8. Mapa das propriedades visitadas nas nascentes da MBHRP adaptado a partir do Google Earht 3D 2010 / Org.: FERNANDES NETO, Silvana.

    As cabeceiras do Riacho das Piabas entre o litoral e o serto usufrui de um clima

    menos rido por estar localizada em regio alta e beneficiam-se de temperaturas amenas

  • 31

    e de tima ventilao, o que proporciona um ambiente agradvel em todos os meses do

    ano. A temperatura mdia anual oscila em torno dos 22 C podendo atingir 30C nos

    dias mais quentes e 15C nas madrugadas mais frias. A umidade relativa do ar, nas

    reas urbanas, varia entre 75 a 83%.

    A vegetao das nascentes de transio entre as microrregies de climas

    variados. A paisagem verde e arborizada, tpica do brejo presente nas partes mais altas

    do planalto. Encontra-se, do mesmo modo, paisagens do agreste, com rvores menores e

    pastagens e paisagens do Cariri, com vastas reas de vegetao rasteira prprias de

    clima seco. O solo predominante do tipo Regosol que tem a propriedade de favorecer

    a ocorrncia de guas conhecidas como gua doce.

    Na localidade de Jenipapo, divisa dos trs municpios, algumas tenses

    administrativas foram claramente evidenciadas. Na esfera municipal destaque-se a

    discusso da competncia para a real