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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
ESCOLA DE AGRONOMIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS
CHRISTIAN SOARES MANSUR
INFLUNCIA DA ADIO DE DEXTRINA DE TRIGO
SOBRE CARACTERSTICAS REOLGICAS DA MASSA E
QUALIDADE DE BISCOITOS
Goinia
2011
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CHRISTIAN SOARES MANSUR
INFLUNCIA DA ADIO DE DEXTRINA DE TRIGO
SOBRE CARACTERSTICAS REOLGICAS DA MASSA E
QUALIDADE DE BISCOITOS
Dissertao apresentada Coordenao do Programa
de Ps-Graduao em Cincia e Tecnologia de
Alimentos da Escola de Agronomia e Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal de Gois, como
exigncia para a obteno do ttulo de Mestre em
Cincia e Tecnologia de Alimentos.
Orientadora: Profa. Dra. Katiuchia Pereira Takeuchi
Co-orientadora: Profa. Dra. Maria Sebastiana Silva
Goinia
2011
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AGRADECIMENTOS E DEDICATRIAS
Eu no s agradeo, como tambm dedico este trabalho Deus. Mais uma vez Ele se mostrou
imanente em minha vida. Percebi Sua presena desde a concepo da idia at a concluso do
mestrado. Vrios obstculos foram vencidos, e o maior deles, que parecia impossvel aos
olhos humanos, foi superado, a liberao do meu antigo trabalho para assistir as aulas, realizar
os experimentos e, alm de outros, uma bolsa da CAPES.
Agradeo e dedico este trabalho minha me, Lria Mrcia Soares (in memoriam). Todo o
caminho que foi e vem sendo trilhado em minha vida, as vitrias que conquistei e as que esto
por vir eu devo ela, quem sempre me apoiou em meus estudos e sobremaneira se sacrificou
por mim.
Agradeo e dedico este trabalho minha esposa, Joyce de Oliveira Souza Mansur, quem tem
me auxiliado e cuidado, no s, mas tambm na concluso deste trabalho e sacrificado vrios
momentos em prol do mesmo.
Agradeo e dedico este trabalho minha av Dalila Ferreira Soares e aos meus irmos Luzia
Soares Mansur e Srgio Soares Mansur, pois sei que sempre me apoiaram e torcem por mim.
Dedico este trabalho tambm s minhas queridas e lindas sobrinhas, Giselle e Ana Laura.
Agradeo em especial as professoras Maria Sebastiana Silva e Katiuchia Pereira Takeuchi,
por terem acreditado, apoiado, conduzido, orientado, dedicado e se sacrificado. Acreditem,
um professor realmente tem a capacidade de transformar a vida de um aluno. Admiro vocs e,
mais uma vez e sempre, o meu muitssimo obrigado.
Agradeo imensamente aos professores Robson Maia Geraldine, Maria Clia Lopes Torres,
Mriam Fontes Arajo Silveira e Mara Reis Silva, por suas importantssimas e
imprescindveis contribuies a este trabalho.
Agradeo a todos os outros professores do programa e tambm aos colegas de mestrado.
Aprendi muito com todos vocs.
Agradeo a CIPA Ind. de Prod. Alimentcios e a todos aqueles que auxiliaram de alguma
forma a realizao deste trabalho. Gostara de agradecer de uma forma especial ao Alexandre
Braga, Gilney Alves, Gabriela Ferreira, Marcela Alvarenga, Alade, Jos Augusto e Paulo
Simonetti, pelo apoio, compartilhamento, sugestes, conselhos e discusses tcnicas, as quais
foram essenciais, no sentido literal da palavra, no desenvolvimento desta pesquisa.
Agradeo a Jordana de Arajo, Cibele Rinaldi Moral Gil Prados e Charlene da Silva dos Reis
pelo auxlio na realizao das anlises de reologia. Muitssimo obrigado.
Agradeo CAPES, pela bolsa de estudos concedida para realizao desta pesquisa.
Agradeo empresa Labonathus pelo apoio e amostras cedidas.
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Que teu medicamento seja teu alimento e
que teu alimento seja teu medicamento
Hipcrates
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RESUMO
A dextrina de trigo pode ser classificada como uma fibra solvel e entre alguns de seus
benefcios esto a regulao do sistema digestivo, a estabilizao do nvel de glicose no
sangue e a regulao dos lipdeos sricos. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a influncia da
adio de dextrina de trigo sobre as caractersticas reolgicas da massa de farinha de trigo e a
qualidade tecnolgica e nutricional de biscoitos. O efeito da substituio de parte da farinha
por dextrina (0, 5, 10 e 15%) sobre as caractersticas reolgicas da massa foi investigado por
meio de farinografia e extensografia. Trs farinhas de trigo diferentes foram utilizadas e
classificadas como fraca, mdia e forte. A estabilidade de todas as farinhas aumentou com o
aumento de dextrina, exceto das farinhas mdia e forte com 15% de dextrina. Houve reduo
significativa da absoro de gua, em todos os nveis de substituio por dextrina, para todas
as farinhas. No houve diferena entre a relao R/E das farinhas fraca e forte com 5% de
dextrina. A adio de dextrina de trigo em biscoitos pode ser til para se ajustar a reologia da
massa e evitar prejuzos ao processo. Uma formulao de biscoito de massa curta com
diferentes nveis de substituio de farinha (0, 7, 14 e 21%) por dextrina foi testada.
Caractersticas tecnolgicas e nutricionais dos biscoitos foram avaliadas. Em relao aos
atributos sensoriais, a adio de 7% de dextrina melhorou a crocncia e a adio de 21%
melhorou o sabor e a aceitao geral dos biscoitos, em comparao ao biscoito sem dextrina.
A espessura, a expanso e o volume especfico dos biscoitos no foram impactados
negativamente. Houve um aumento significativo no dimetro dos biscoitos com 21% de
dextrina. A atividade de gua e umidade dos biscoitos aumentaram com a adio de 14 e 21%
dextrina. As amostras com adio de dextrina tiveram uma colorao mais amarelada. O
biscoito com adio de 7% de dextrina apresentou maior fragilidade compresso. A adio
de dextrina aumentou a resistncia ao cisalhamento dos biscoitos. Anlises de fibra
demonstraram aumentos significativos de fibras solveis, at valores de 12,28% do produto
final. Os nveis de protena encontrados nos biscoitos variaram de 11,83 13,17%. Em
relao ao biscoito, a adio de 21% de dextrina parece ser o mais indicado, j que
possibilitou o maior incremento de fibras solveis e no prejudicou as caractersticas
sensoriais nem fsicas do biscoito, ao ponto de tornar o mesmo inaceitvel do ponto de vista
do consumidor.
Palavras-chave: fibra solvel, dextrina de trigo, reologia, biscoito.
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INFLUENCE OF WHEAT DEXTRIN ADDITION ON THE RHEOLOGICAL
CHARACTERISTICS OF THE DOUGH AND ON BISCUIT QUALITY
ABSTRACT
Wheat dextrin act as a soluble dietary fiber, promoting regulation of gastrointestinal tract,
stabilization of insulin and blood glucose levels, as well as regulation of serum lipids. The
aim of this experimental work was to evaluate the influence of wheat dextrin addition on
rheological characteristics of the wheat dough and on technology and nutritional biscuit
quality. The effect of replacing part of the wheat flour (0, 5, 10 and 15%) by wheat dextrin on
the rheological characteristics of the dough was investigated using farinograph and
extensograph measurements. Three commercial wheat flours ranked as weak, intermediate
and strong were used for this purpose. Dough stability increased upon addition of wheat
dextrin, except for wheat flours such as intermediate and strong containing 15% of dextrin. At
all level of replacement of dextrin by wheat flour, significant decrease in water absorption
was observed for all wheat flours tested. Weak and strong wheat dough with 5% of dextrin
has not influence on ratio R/E. Up to certain levels, wheat flour could be replaced by wheat
dextrin without compromise the dough consistency. A short-dough biscuit recipe with
different levels of wheat flour replacement (0, 7, 14 and 21%) by wheat dextrin was tested.
Physical, mechanical, sensory and nutritional characteristics of the biscuits were evaluated.
Sensory attributes such as crispness was improved with 7% of dextrin, flavor and global
acceptance have higher rates with 21%, comparing to biscuits without dextrin. The general
acceptance was better to the enriched fiber biscuit. The thickness, specific volume and spread
of the biscuits were not negatively affected due to dextrin. There was significant increase in
the width of the biscuits with 21% of wheat dextrin. Water activity and moisture content
showed augment with addition of 14 and 21% of dextrin. Addition of wheat dextrin to biscuit
promoted a yellowness color. Crispness perception of the biscuits with wheat dextrin was
better than the common biscuit, both under compression and shear forces. Fiber analysis
showed a significant increase of soluble fiber values until 12.28% to the read-to-eat biscuits.
Protein content of the biscuits showed values between 11.83 and 13.17%. Addition of wheat
dextrin into biscuits formulation could be useful to adjust rheological parameters of dough
towards target values. Addition of 21% of dextrin to biscuit showed acceptable properties, as
well as higher soluble fiber content with lesser effect on sensorial neither physical properties
of biscuit, which could causes rejection by consumers.
Key words: soluble fiber, wheat dextrin, rheology, biscuit.
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SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................... 9
2 REVISO DA LITERATURA ................................................................. 11
2.1 ALIMENTAO E SADE........................................................................ 11
2.2 FIBRAS ALIMENTARES OU DIETTICAS ............................................ 13
2.2.1 Conceitos, propriedades e funo das fibras ........................................... 13
2.2.2 NUTRIOSE FB dextrina do trigo ....................................................... 15
2.3 BISCOITOS ................................................................................................. 16
2.3.1 Alimento como potencial fonte de fibra alimentar .................................. 16
2.3.2 Definio e processamento de biscoitos .................................................... 16
2.3.3 Propriedades reolgicas da massa ............................................................ 19
2.3.4 Caractersticas fsicas de biscoitos ............................................................ 24
3 OBJETIVOS ............................................................................................... 25
3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 25
3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................... 25
4 MATERIAL E MTODOS ....................................................................... 26
4.1 MATERIAL ................................................................................................. 26
4.2 MTODOS .................................................................................................. 26
4.2.1 Anlises reolgicas das farinhas de trigo ................................................. 26
4.2.2 Preparao dos biscoitos ............................................................................ 27
4.2.3 Anlise sensorial.......................................................................................... 28
4.2.4 Caractersticas dimensionais dos biscoitos.............................................. 29
4.2.5 Atividade de gua e umidade dos biscoitos............................................... 29
4.2.6 Determinao de cor dos biscoitos............................................................. 29
4.2.7 Anlise de textura dos biscoitos ................................................................ 30
4.2.8 Determinao do contedo de fibra alimentar e protena ...................... 30
4.2.9 Anlise estatstica ....................................................................................... 31
5 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................... 32
5.1 PROPRIEDADES REOLGICAS DA MASSA ........................................ 32
5.1.1 Farinografia ................................................................................................ 32
5.1.2 Extensografia .............................................................................................. 38
5.2 AVALIAO DOS BISCOITOS ............................................................... 42
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5.2.1 Anlise sensorial ................................................................................. 43
5.2.2 Caractersticas dimensionais .................................................................... 45
5.2.3 Atividade de gua e umidade..................................................................... 46
5.2.4 Colorao ......................................................................................... 46
5.2.5 Textura ........................................................................................................ 47
5.2.6 Teores de fibras e protenas....................................................................... 53
6 CONCLUSES .......................................................................................... 56
REFERNCIAS ......................................................................................... 58
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1 INTRODUO
A necessidade de uma vida saudvel, bem como as exigncias bsicas de nutrientes
so preocupaes universais. Qualquer deficincia de nutrientes ou de sua assimilao ou
excreo pode ocasionar distrbios que, por sua vez, podero provocar desorganizao
orgnica. Entre os fatores causadores de distrbios e carncias nutricionais pode-se citar a m
distribuio de renda, o processamento inadequado dos alimentos, a falta de controle de
qualidade em processos industriais, os hbitos alimentares incorretos ou modismos e as
crendices populares (LAROSA et al., 2006).
Dentre os distrbios nutricionais, destaca-se o nmero elevado de doena crnicas
no-transmissveis (DCNT), que crescem velozmente em todo o mundo. No ano de 2001,
representavam quase 60% das 56 milhes de mortes ao ano e 47% das doenas em geral,
tornando-se o maior desafio para a sade pblica mundial. Fazem parte das DCNT a
obesidade, o diabetes melito tipo 2, as doenas cardiovasculares, a hipertenso, alguns tipos
de cncer, etc., sobre as quais observa-se um crescimento alarmante e preocupante nas ltimas
dcadas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002; 2003).
Diante desta realidade, fica evidente a importncia da alimentao saudvel para a
manuteno da sade e consenso de que escolhas dietticas incorretas, combinadas ao estilo
de vida moderno, podem determinar um desequilbrio crnico no metabolismo, o que pode
levar a uma srie de doenas (MORISCO et al., 2008). Assim, a ateno do consumidor est,
cada vez mais, voltada para a busca de produtos alimentcios saudveis, com baixo teor de
calorias e acrescidos de fibras, que favoream a obteno de uma dieta balanceada
(BRENNAN; SAMYUE, 2004).
Em relao s fibras, a sua indicao como um componente funcional dos alimentos,
se deve aos resultados de estudos que indicam seus benefcios e que associam o seu baixo
consumo com os altos ndices das DCNT, principalmente nos pases civilizados (LARREA;
CHANG; MARTINEZ-BUSTOS, 2005).
Dentre os vrios tipos de fibras usados na formulao de alimentos, a dextrina do
trigo, definida como fibra solvel, tem sido amplamente utilizada na indstria de alimentos
devido a sua baixa viscosidade e por proporcionar uma boa consistncia quando adicionada a
guas, bebidas ou alimentos macios. Ela formada pelo aquecimento do amido do trigo em
alta temperatura, seguido por um tratamento enzimtico por meio de amilase, para formar um
amido resistente. Ela qualificada como uma fibra diettica devido s suas ligaes
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glicosdicas no digerveis direcionadas por uma hidrlise incompleta, sendo que somente
uma pequena porcentagem da dextrina de trigo absorvida pelo intestino delgado e o restante
fermentado lentamente no intestino grosso (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001; SLAVIN et
al., 2009).
No que se refere a alimentos adicionados de fibra, os biscoitos parecem indicar uma
boa escolha, visto que so considerados fontes de prazer e energia, so consumidos por uma
ampla faixa da populao devido aos seus variados sabores e tipos, possuem vida-de-
prateleira longa, so prontos para consumo e apresentam custo relativamente baixo.
Tradicionalmente, os biscoitos no so considerados alimentos saudveis por veicularem
quantidades expressivas de gordura, sal ou acares simples, porm so considerados valiosos
veculos para adio de ingredientes nutritivos e saudveis, o que faz com que o
desenvolvimento de um biscoito adequado s recomendaes dietticas, portador de algum
benefcio fisiolgico e, ou redutor do risco de doenas crnicas, seja altamente desejvel
(BOOBIER; BAKER; DAVIES, 2006; JENKINS et al., 2008; MC WATTERS, 2003;
VASQUEZ; CRIA; HOUGH, 2009; VITALI; DRAGOJEVIC; SEBECIC, 2009).
Existem vrias pesquisas realizadas com o objetivo de tornar os biscoitos mais
saudveis por meio da adio de algum ingrediente funcional como fibras dietticas e ou
diminuio de matrias-primas como, por exemplo, a gordura. A dextrina do trigo tem sido
estudada em alguns produtos panificveis como bolos e muffins, porm no se encontram
muitos estudos da mesma em biscoitos. Desse modo, torna-se relevante a realizao de
estudos que avaliem os efeitos da adio da dextrina de trigo na qualidade tecnolgica e
nutricional de biscoitos e que os mesmos possam ser recomendados como alimento saudvel,
com potencial de indicao para a preveno de DCNT (ELLOUZE-GHORBEL et al., 2010;
MAURO; SILVA; FREITAS, 2010; MONTENEGRO et al., 2008; SNCHEZ-PARDO;
JIMNEZ-GARCA; GONZLEZ-GARCA, 2010; SUDHA et al., 2007; ZOULIAS;
OREOPOULOU; TZIA, 2002).
http://books.nap.edu/openbook.php?record_id=10490&page=339
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2 REVISO DA LITERATURA
2.1 ALIMENTAO E SADE
Dados da populao mundial apontam que aproximadamente 50% do total das mortes
causadas por doenas crnicas so atribudas a doenas cardiovasculares (DCV) e que as
mesmas so a causa mais comum de morte nos pases ocidentais, com mais de 40% de todas
as mortes. No Brasil, as DCV so as principais causas de morte, responsveis por 34% das
causas de bito, sendo que em grande parte esto relacionadas com prticas alimentares
inadequadas e com a obesidade (BRASIL, 2003; SEAL, 2006; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2003).
Nota-se um rpido aumento da obesidade nas ltimas dcadas, particularmente da
obesidade infantil. Esta uma tendncia observada na maioria dos pases desenvolvidos e se
estende de forma anormal tambm nos pases em desenvolvimento. O aumento tal que a
Organizao Mundial de Sade (OMS) tem considerado a obesidade, desde 1998, como um
problema essencial de sade pblica (TALEB; AGLI, 2009).
A prevalncia de sobrepeso em crianas e adolescentes norte-americanos aumentou
drasticamente entre 1960 e 1990. Em um estudo com amostras representativas de crianas e
adolescentes do Brasil, Estados Unidos, Rssia e China, observaram-se um aumento na
tendncia para obesidade. Em uma amostra de brasileiros, os resultados indicaram que a
desnutrio reduziu entre 1974 e 1997, enquanto que o sobrepeso triplicou durante o mesmo
perodo. Estudos recentes apontam que o excesso de peso, particularmente a obesidade,
conduz para o aumento progressivo da morbidez e da mortalidade, e que possuem uma
relao prxima com o desenvolvimento de doenas cardiovasculares e metablicas. Como
conseqncia, os custos para o sistema de sade pblica tm aumentado e o interesse por
parte das agncias de sade do governo em tratar o problema est crescendo (PELEGRINI et.
al., 2008).
A migrao da populao rural para os centros urbanos ocasionou, entre outras,
mudanas profundas nos hbitos alimentares dos indivduos. Foi nas populaes dos centros
urbanos de pases industrializados que se detectou a incidncia de algumas doenas crnicas,
ocasionadas pela substituio dos alimentos naturais por alimentos processados, uma
alimentao pobre em fibras e base de carnes, cereais refinados e acar (BURKITT, 1973).
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A demanda na rea da produo de alimentos tem mudado consideravelmente. Hoje os
alimentos no so teis somente para satisfazer a fome e prover os nutrientes necessrios ao
homem, mas tambm para prevenir doenas relacionadas nutrio e melhorar o bem-estar
fsico e mental dos consumidores (SIR et. al., 2008).
Neste sentido, desenvolvimento de alimentos funcionais tem contribudo para o
aumento da qualidade dos alimentos, para a sade e o bem-estar do consumidor, combatendo
as DCNT. O termo alimento funcional surgiu no Japo, para designar os Alimentos para Uso
Especfico de Sade, os quais demonstraram algum benefcio fisiolgico e, ou reduziram o
risco de doenas crnicas, alm de suas funes nutricionais bsicas (STRINGHETA et.al.
2007; FOGLIANO; VITAGLIONE, 2005).
Estrategicamente, a Organizao Mundial de Sade (OMS) recomenda a adoo de
polticas que estimulem a alimentao saudvel e a prtica de atividades fsicas, a fim de
combater s DCNT decorrentes de uma alimentao no-saudvel e uma vida sedentria. A
Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (PNAN) brasileira segue estas mesmas
recomendaes (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004; BRASIL, 2003).
Em relao dieta, a OMS recomenda manter o equilbrio energtico e o peso
adequado para uma boa sade; limitar a ingesto energtica proveniente de gorduras,
substituir as gorduras saturadas por insaturadas e eliminar as gorduras trans; aumentar a
ingesto de fibras, aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras, gros integrais e nozes;
limitar a ingesto de acar simples; limitar a ingesto de sal (sdio) de qualquer procedncia
e consumir sal iodado (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003; 2004).
No que se refere ingesto de macronutrientes e energia, a OMS e o Guia Alimentar
para a Populao Brasileira (GAPB) estabelecem que os carboidratos totais devam representar
de 55% a 75% do VET (valor energtico total), sendo que desse total, de 45% a 65% devem
ser provenientes de carboidratos complexos e fibras e menos de 10% de acares simples. A
participao de gorduras no VET deve estar entre 15% a 30% do mesmo e as protenas de
10% a 15% do VET (MINISTRIO DA SADE, 2006; WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2003).
Com destaque para as fibras alimentares, diversos estudos tm demonstrado
associao entre o seu consumo e a incidncia de doenas crnicas como a obesidade, o
diabetes, a hipertenso e as dislipidemias. Alguns demonstram que a baixa ingesto de fibra
alimentar um dos fatores determinantes do aumento das doenas crnicas no transmissvel
(DREWNOWSK, 2000; SOBAL et al., 2005) e outros assinalam que dietas ricas em fibra
protegem contra obesidade, doenas cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de cncer (ASP
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et al., 1992; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003). Quanto ingesto de fibras, para
uma dieta de 2000 kcal, recomenda-se quantidades de 25g por dia, sendo 6g de fibras
solveis. Esta quantidade baseada na relao existente entre a quantidade de fibras solveis
e fibras totais presentes naturalmente em frutas, vegetais, legumes e gros (FDA; DHHS,
2002; TOMA et al., 2009).
2.2 FIBRAS ALIMENTARES OU DIETTICAS
As fibras alimentares ou dietticas, devido a sua importncia reconhecida na
alimentao humana, vm despertando interesse de profissionais de diversas reas do
conhecimento como mdicos, nutricionistas e engenheiros de alimentos. Elas so formadas
por um conjunto de substncias resistentes ao enzimtica digestiva e se classificam, de
acordo com a sua solubilidade, em solveis e insolveis. So denominadas fibras solveis,
substncias como as pectinas, gomas e algumas hemiceluloses. As fibras insolveis so
representadas pela celulose, a maioria das hemiceluloses, algumas pectinas e a lignina (ASP et
al., 1992; CASIRAGHI et al., 2006; GAJULA et al., 2008; MELLO; LAAKSONEN, 2009;
MONTENEGRO et al., 2008; VUJIC et al., 2007).
2.2.1 Conceitos, propriedades e funo das fibras
Existe uma variedade de definies sobre fibra alimentar em todo o mundo. Algumas
baseadas exclusivamente em um ou mais mtodos analticos para fibras dietticas isoladas,
enquanto outras possuem fundamentos fisiolgicos. A rotulagem nutricional tem se tornado
uniforme ao redor do mundo, o que refora a necessidade de uma definio simples sobre
fibra alimentar. Alm disso, no se pode esquecer que outras substncias presentes nos
alimentos se comportam como fibra, mas ainda no se enquadram nas definies tradicionais
de fibra. Devido a estas razes o Food and Nutrition Board, sob a superviso do Standing
Committee on The Scientific Evaluation of Dietary Reference Intakes, props as seguintes
definies (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001):
Fibra diettica: consiste de carboidratos no digerveis e lignina, que so intrnsecos e
intactos nas plantas.
Fibra adicionada ou funcional: consiste de carboidratos no digerveis, isolados, que
possuem algum efeito fisiolgico benfico no homem.
Fibra Total: o somatrio da fibra diettica e fibra adicionada.
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Na tabela 1 esto apresentadas alguns tipos de fibras, classificadas de acordo com sua
definio e propriedades.
Tabela 1. Sistema de classificao para fibras baseado em quatro diferentes caractersticas.
Definio Solubilidade
Fibra diettica Fibra adicionada Fibra solvel Fibra insolvel
Lignina Dextrina resistente Dextrina de trigo Celulose
Celulose Psyllium -Glucana Lignina
-Glucana Quitina e Quitosana Gomas Algumas pectinas
Hemiceluloses Fruto-oligossacardeos Mucilagens Algumas
hemiceluloses
Gomas Polidextrose Pectinas Fontes: farelo de
trigo, etc.
Inulina e Oligofrutose Fruto-oligossacardeos
Amido resistente Algumas hemicelulases
Fontes: produtos de aveia,
legumes
Fermentabilidade Viscosidade
Fermentveis No-Fermentveis Viscosas No-Viscosas
Dextrina de trigo Celulose Pectinas Celulose
-Glucana Lignina -Glucana Lignina
Goma guar
parcialmente
hidrolisada
Fontes: fibras de cereais
ricas em celulose
Algumas gomas (ex.:
goma guar)
Algumas
hemiceluloses
Goma guar Algumas hemiceluloses Mucilagens (ex.:psyllium)
Pectinas Fontes: farelo de trigo,
alguns vegetais
Inulina e Oligofrutose
Fontes: aveia, cevada
Fonte: SLAVIN et al., 2009.
Tambm existe uma recomendao de que os termos fibra solvel e insolvel sejam
retirados e substitudos pelas propriedades fsico-qumicas apropriadas de cada fibra, como
por exemplo, viscosidade e fermentabilidade. No entanto, todas estas modificaes tero
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impacto sobre os dados de composio alimentar, na rotulagem nutricional e nas
recomendaes de ingesto diria, o que exigir esforos colaborativos das indstrias de
alimentos, cientistas e governo. A adoo destas novas propostas ter um impacto
significativo em vrias reas do conhecimento cientfico e clnico. No que se refere Cincia
dos Alimentos, sero imprescindveis o desenvolvimento e as modificaes nos mtodos de
anlise de fibras existentes e quanto aos aspectos de sade, evidencia-se a necessidade de
ensaios clnicos que avaliem a ao fisiolgica das mesmas (INSTITUTE OF MEDICINE,
2001).
De acordo com suas propriedades fsico-qumicas, as fraes das fibras alimentares
promovem diferentes efeitos fisiolgicos no organismo. As fibras solveis, devido a sua
caracterstica de se ligar aos sais biliares, esto relacionadas ao controle de lipdios no sangue,
mais especificamente, so conhecidas por seu efeito hipocolesterolmico. As fibras solveis
regulam o colesterol srico e o LDL colesterol, previnem a constipao intestinal, produzem
cidos graxos de cadeia curta, reduzem o risco de diabetes e cncer intestinal e estimulam o
crescimento da microflora benfica (BRENNAN; SAMYUE, 2004). J as fibras insolveis,
em funo de sua propriedade de segurar gua no intestino grosso e aumentar o
peristaltismo, esto relacionadas reduo do risco de cncer de clon e reto, bem como
reduzir a constipao intestinal (PERESSINI; SENSIDONI, 2009; SUDHA; VETRIMANI;
LEELAVATHI, 2007).
2.2.2 NUTRIOSE FB - dextrina do trigo
Dentre os vrios tipos de fibras comercialmente disponveis, destaca-se a
NUTRIOSE FB, que uma dextrina obtida a partir do amido de trigo. Quimicamente um
polmero de glicose purificado, processado a alta temperatura, ajustado a um nvel baixo de
umidade na presena de um catalisador cido. A dextrina obtida , ento, purificada com
carbono ativado e desmineralizada em resinas de troca. Posteriormente, o produto passa por
cromatografia e a frao com alto peso molecular retida e seca em spray-drier (GUERIN-
DEREMAUX et al., 2010; HEUVEL et al., 2004; HEUVEL et al., 2005).
Em trabalho recente de reviso de literatura, focou-se evidncias de efeitos
fisiolgicos e benefcios potenciais para sade relacionados ingesto de dextrina do trigo.
As evidncias sugerem que esta dextrina pode ajudar a regular o sistema digestivo, tem
funo prebitica quando ingerida numa quantidade de 30 a 45g por dia, pode aumentar a
absoro de micronutrientes como clcio, zinco e magnsio, estabilizar o nvel de glicose no
sangue e abaixar os nveis de lipdios sricos. Pode tambm prevenir inmeras desordens
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gastrointestinais, melhorar o sistema imunolgico e possui um papel j aceito na preveno de
doenas cardiovasculares. Alm disto, tem uma tima tolerncia digestiva (HEUVEL et al.,
2004; SLAVIN et al., 2009).
2.3 ALIMENTO COMO POTENCIAL FONTE DE FIBRA ALIMENTAR
A ingesto de fibras alimentares pode ser realizada por meio de alimentos
naturalmente ricos em fibras, ou tambm por aqueles com fibras adicionadas. Entretanto,
bem conhecido o fato de consumidores perceberem fibra como tendo um sabor forte,
desagradvel, que possui uma textura spera e que d uma sensao de secura na boca. Estes e
outros atributos negativos, como uma colorao escura e o fato de ocultar aromas, so
frequentemente, associados com produtos de panificao que possuem alto teor de fibra
(LAGUNA et al., 2011). Padres alimentares so difceis de serem modificados, pois os
consumidores esto adaptados a preferncias sensoriais de sabor e textura. Deste ponto de
vista, muitas indstrias de panificao esto comprometidas a inserir fibras em seus produtos,
para satisfazer as necessidades fisiolgicas, mas sem sacrificar atributos sensoriais. O efeito
da adio de diferentes tipos de fibras na aceitao sensorial de alimentos panificveis est
sendo estudado por diversos autores (BAIXAULI et al., 2008; MONTENEGRO et al., 2008;
FONDROY; WHITE; PUSA, 1989).
2.3.1 Biscoitos
Existem pesquisas realizadas com produtos variados, entre eles biscoitos, no intuito de
adicionar em suas formulaes, ingredientes considerados saudveis, como por exemplo,
gros integrais, frutas, legumes, fibras dietticas, fitoesteris e outros. Tm-se levado em
conta, tambm, a adequao do produto quanto quantidade de acar livre, gordura e sdio;
alm de considerarem as referncias de ingesto diettica nas formulaes. Estas pesquisas
tm a finalidade de promover alimentos nutritivos, com alguma funcionalidade fisiolgica ou
que possam diminuir o risco de doenas crnicas (VITALI; DRAGOJEVIC; SEBECIC, 2009;
SIR et al., 2008; SHRESTHA et al., 2006; SHRESTHA et al., 2007; BOOBIER; BAKER;
DAVIES, 2006; GIAMI; ACHINEWHU; IBAAKEE, 2005; CONFORTI; LUPANO, 2004).
-
17
2.3.2 Definio e processamento de biscoitos
Biscoitos so pequenos produtos assados feitos principalmente de farinha, acar,
gordura, gua e outros ingredientes que, geralmente, entram na formulao em menor
quantidade. Eles normalmente possuem um contedo de umidade menor do que 4% e quando
devidamente embalados e acondicionados possuem vida-de-prateleira de seis meses ou mais.
O atrativo para os consumidores determinado pela aparncia e outras qualidades sensoriais.
Por exemplo, consumidores no gostam de biscoitos quebrados nem daqueles que esto com
aspectos de crus ou queimados. Os biscoitos so feitos em muitos formatos e tamanhos e
depois de assados podem ser cobertos por chocolate, recheados por diversos tipos de recheio,
etc. (MANLEY, 1998).
Biscoitos so produtos tradicionais tpicos de confeitaria, os quais foram e podem
continuar sendo feitos e assados em uma cozinha domstica. Hoje eles so feitos, em sua
maioria, industrialmente, em grandes plantas de produo. Estas plantas so grandes,
complexas e envolvem considervel sofisticao mecnica (MANLEY, 1998).
Na figura 1 est apresentado o fluxograma do processamento de biscoitos.
Figura 1. Fluxograma do processamento de biscoito.
ADIO DOS
INGREDIENTES
MISTURA
MODELAGEM
ASSAMENTO
RESFRIAMENTO
EMPACOTAMENTO
-
18
O processamento industrial de biscoitos ocorre geralmente em 6 etapas, sendo a
primeira delas a adio dos ingredientes, seguida pela mistura ou amassamento,
desenvolvendo-se uma massa com consistncia especfica, de acordo com o produto final
desejado. A etapa de formao ou modelagem ocorre aps a mistura e depende do tipo de
massa, a qual dividida em pequenos pedaos, com formatos e tamanhos particulares, e segue
para o assamento, resfriamento e empacotamento. A modelagem, assamento e empacotamento
de biscoitos so operaes contnuas enquanto que a adio dos ingredientes e a mistura da
massa so tipicamente realizadas em bateladas (MANLEY, 1998; 2000; PEREGO, et al.,
2007).
O principal processo da produo de biscoito a mistura, onde formada a massa.
Existem basicamente dois tipos de massas de biscoito, as duras e as macias. A diferena
determinada pela quantidade de gua necessria para se fazer a massa, a qual deve ter uma
qualidade de manipulao satisfatria, para que os biscoitos sejam moldados em seus
tamanhos e formatos desejados, antes de partirem para o assamento (MAACHE-REZZOUG
et al., 1998a; MANLEY, 1998).
As massas duras possuem alta quantidade de gua e relativamente pouca gordura e
acar. A mistura de gua e farinha e, consequentemente, a hidratao das protenas acarreta a
formao de glten, a qual requer tambm trabalho mecnico, amassamento. A massa
resistente e extensvel (pode ser esticada sem se quebrar imediatamente), como uma massa de
po firme. Os biscoitos tipo crackers e os semi-doces fazem parte desse grupo (MANLEY,
1998).
Massas macias possuem muito menos gua e relativamente grande quantidade de
gordura e acar. Este tipo de massa no chega a ter um glten desenvolvido e chamada de
massa curta (quebra quando se tenta estic-la), o que significa que apresenta muito pouco de
uma caracterstica extensvel e pode ser to macia ao ponto de escoar. O desafio para se fazer
este tipo de massa dispersar a gordura e a gua de forma uniforme na farinha de trigo e
prevenir que a hidratao das protenas forme o glten. Normalmente este objetivo
alcanado formando-se primeiramente uma emulso com a gordura e a gua, para
posteriormente, mistur-los rapidamente farinha. Os biscoitos tipo cookie fazem parte desse
grupo (MANLEY, 1998).
O maquinrio utilizado para se fazer biscoitos projetado para se ajustar ao tipo de
massa necessria e desenvolver a estrutura e formato dos biscoitos individuais (MANLEY,
1998).
-
19
A farinha a principal matria-prima utilizada na maior parte dos biscoitos e a que
utilizada em maior quantidade. A indstria requer farinhas com funcionalidades apropriadas
para cada tipo de produto. De acordo com o nvel de protena, as farinhas podem ser
classificadas como fortes, mdias e fracas, as quais possuem de 10,5 a 14,5% ; 8,5 a 10,5% e
menos de 8,5% de protena, respectivamente. As farinhas mdias e fortes so utilizadas para
produo de biscoitos tipo cracker, os quais so produzidos por meio de uma massa que tenha
o glten bem desenvolvido e apresente considervel resistncia e elasticidade. Quanto maior e
melhor o nvel de protena da farinha, maior desenvolvimento de glten pode-se obter. J para
os biscoitos tipo cookie, a massa ideal aquela que no possui nenhum glten desenvolvido e
sendo assim, o uso de uma farinha fraca contribui para este tipo de produto (BRENNAN;
SAMYUE, 2004; FUSTIER et al., 2009a; MANLEY, 2000; PEREGO, et al., 2007;
SAVITHA; INDRANI; PRAKASH, 2008).
2.3.3 Propriedades reolgicas da massa
Em termos de qualidade, biscoitos tendem a ser altamente influenciados pelas
propriedades fsico-qumicas de suas massas, que por sua vez so influenciadas pelo contedo
de protena e umidade da farinha, quantidade e tipo de acar ou gordura, bem como
emulsificantes, fibras dietticas, entre outros (LARREA; CHANG; MARTINEZ-BUSTOS,
2005; MANLEY, 2000; MANOHAR; RAO, 1997a; MANOHAR; RAO, 1997b;
MANOHAR; RAO, 2002).
Muitos estudos tm sido realizados para avaliar as propriedades viscoelsticas das
massas de farinhas com o objetivo de identificar a influncia da qualidade do trigo, de outros
ingredientes e das condies de processo sobre as propriedades reolgicas fundamentais. O
controle reolgico da farinha essencial na produo de biscoitos, j que variaes na mesma
podem afetar a massa e tambm caractersticas finais do produto. Dentre alguns trabalhos
realizados, pode-se citar o efeito da gua, gordura, acar e contedo de protena da farinha; a
adio de protease e metabissulfito de sdio; a ao de tipos diferentes de farinha de trigo; o
uso de antioxidantes; a influncia de farelos de arroz, trigo, aveia e cevada; a utilizao de
casca de manga em p; os efeitos de emulsificantes como mono e diglicerdeos destilados,
diglicerdeos, monoglicerdeos de ster de cido tartrico diacetilado e lecitina de soja; a
substituio parcial de farinha de trigo por amido de batata, etc. (AJILA; LEELAVATHI;
PRASADA RAO, 2008; FUSTIER et al., 2009b; HADINEZHAD; BUTLER, 2009;
MAACHE-REZZOUG et al., 1998a; MAACHE-REZZOUG et al., 1998b; PEDERSEN et al.,
2004; PEDERSEN et al., 2005; PERESSINI; SENSIDONI, 2009; SARKER et al., 2008;
-
20
SUDHA; VETRIMANI; LEELAVATHI, 2007; SROAN; KAUR, 2004; STAMPFLI;
NERSTED; MOLTEBERG, 1996).
As principais razes para se conhecer a qualidade da farinha em massas de biscoito ,
primeiramente, ter repetibilidade na consistncia das massas, o que apropriado para a
formao do biscoito no equipamento especfico e, em segundo lugar, para produzir biscoitos
de forma satisfatria (MANLEY, 2000).
Tcnicas reolgicas so altamente desejadas para a caracterizao de materiais
viscoelsticos como massas de farinha de trigo. Por volta de 1930, um dos primeiros
instrumentos desenvolvidos especialmente para analisar fisicamente massas de farinha de
trigo foi criado com o nome de Faringrafo Brabender, seguido de outros, como por exemplo,
o Extensgrafo Brabender (JANSSEN; VLIET; VEREIJKEN, 1996).
O faringrafo Brabender (Figura 2a) um instrumento que possui um misturador
encamisado com dupla lmina (Figura 2b). O equipamento registra o torque gerado durante a
mistura da massa e mede a resistncia da mesma. utilizado para avaliar a absoro de gua
pelas farinhas e determinar a estabilidade e outras caractersticas de massas durante a mistura,
alm de preparar as massas para o extensgrafo (AACC, 1999; JANSSEN; VLIET;
VEREIJKEN, 1996; KENT; EVERS, 1994; RANKER; KILL; BAKER, 1997).
Por meio de um farinograma (Figura 3), pode-se avaliar, entre outros, a absoro
farinogrfica (Abs), que a quantidade de gua necessria (mL) para centralizar a curva do
faringrafo na linha de 500 BU (Unidade Brabender); tempo de desenvolvimento da massa
(TDM), definido como o tempo, em minutos, entre a origem da curva e o ponto de
consistncia mxima da massa; tempo de chegada, que o tempo, em minutos, entre a origem
e o ponto onde a curva alcana a linha de 500 BU; estabilidade (S), definida como a diferena,
a b
Figura 2. Faringrafo Brabender. A) viso geral do equipamento; B) misturador (foto
cortesia de Danisco Brasil Ltda.).
-
21
em minutos, entre o tempo de chegada e o tempo no qual o topo da curva cai abaixo da linha
de 500BU (AACC, 2000; ATWELL, 2003; SROAN; KAUR, 2004).
Figura 3. Modelo de farinograma (BLOKSMA; BUSHUK, 1988 apud ATWELL,
2003).
Na Figura 4 esto apresentados diferentes exemplos de farinogramas de farinhas fraca,
mdia e forte.
Figura 4. Farinogramas comparativos de farinhas fraca(a), mdia(b) e forte(c)
(PRESTON; KILBORN,1984 apud ATWELL, 2003).
No extensgrafo Brabender, uma massa preparada sob condies padronizadas no
faringrafo Brabender e moldada no extensgrafo at um formato cilndrico padronizado. O
cilindro de massa colocado em uma superfcie horizontal, seguro por suas extremidades. A
massa passa por um perodo de descanso de 45 minutos e, em seguida, um gancho em
movimento puxa o cilindro de massa pelo meio, no sentido de cima para baixo, at o
Estabilidade
Tempo de
desenvolvimento
Consi
stn
cia
( B
U)
Tempo (minutos)
Minutos Minutos Minutos
Fraca Mdia Forte
-
22
rompimento da mesma. Este procedimento pode ser realizado em diferentes tempos de
descanso. Uma visualizao do alongamento da massa apresentada na figura 5 (KENT;
EVERS, 1994; RANKER; KILL; BAKER, 1997).
O extensgrafo registra uma curva de fora em relao ao tempo, como pode ser visto
no exemplo da figura 6. As caractersticas dessas curvas so usadas para avaliar a qualidade
geral da farinha e sua resposta alguns ingredientes. O equipamento mede a extensibilidade
(E), dada em mm, que o alongamento da massa at a quebra da mesma, a resistncia
extenso (R) da massa, dada em unidades Extensogrficas (EU), que a altura da curva 50
mm do incio do teste no grfico e a resistncia mxima extenso (Rm), que a altura
mxima da curva. As combinaes entre extensibilidades e resistncias distintas resultam em
massas com propriedades distintas e especficas por tipo de produto requerido. O parmetro R
prediz as propriedades de manuseio da massa e a tolerncia fermentao (AACC, 2000;
ATWELL, 2003; BANGUR et al., 1997; KENT; EVERS, 1994; RANKER; KILL; BAKER,
1997; ROSELL; ROJAS; BENEDITO DE BARBER, 2001).
a b
Figura 5. Processo de alongamento da massa cilndrica no extensgrafo Brabender. Incio (a)
e final (b) do processo de alongamento da massa (foto cortesia de Danisco Brasil Ltda.).
-
23
Figura 6. Modelo de extensograma (BLOKSMA; BUSHUK, 1988 apud ATWELL,
2003).
Na Figura 7 esto apresentados diferentes exemplos de extensogramas de farinhas
fraca, mdia, forte e muito forte.
Figura 7. Extensogramas de farinhas (a) fraca, (b) mdia, (c) forte e (d) muito forte
(PRESTON; ROSENEY, 1991 apud ATWELL, 2003).
Extenso (mm)
Fo
ra
( E
U)
Fraca Mdia
Forte Muito Forte
a b
c d
Ruptura
Resistncia
Extenso (mm)
Resistncia
Mxima
Extensibilidade
For
a (E
U)
-
24
2.3.4 Caractersticas fsicas de biscoitos
Alm do estudo reolgico da massa, outros aspectos importantes sobre a qualidade de
biscoitos que cientistas esto avaliando, so a influncia de ingredientes e tambm de
parmetros de processo sobre o produto final em relao aos atributos de textura, superfcie,
densidade, comprimento, espessura, dimetro, expanso, volume, umidade, atividade de gua,
cor, atributos sensoriais, caractersticas nutricionais, entre outros. Entre os muitos trabalhos
pode-se citar o efeito da adio de fibras de limo, ma, trigo, farelo de trigo e xilanase em
cookies tipo corte-a-fio; a diferenciao do uso de diferentes tipos de acares como por
exemplo, acar invertido, xarope de milho de alta frutose, glicose lquida e dextrose; o efeito
da substituio parcial da farinha de trigo por farinha de milheto; a influncia de amido
resistente; a adio de polpa de laranja extrusada; o uso de eritritol; a incorporao de farinha
de mostarda; a influncia do tempo de mistura da massa e a ordem de adio dos ingredientes,
etc. (LAGUNA et al., 2011; LARREA; CHANG; MARTINEZ-BUSTOS, 2005; LIN et al.,
2010; MAACHE-REZZOUG et al., 1998b; MANOHAR; RAO, 1997b; SAHA et al., 2011;
TYAGI et al., 2007; UYSAL et al., 2007).
Os parmetros como dimetro, espessura, densidade e expanso de biscoito tm sido
utilizados para predizer a qualidade dos produtos. Pequenas variaes nesses parmetros so
significativas, pois, por exemplo, biscoitos com fator de expanso muito alto ou muito baixo
causam problemas na indstria, resultando em produtos com tamanho pequeno ou peso muito
elevado (FUSTIER et al., 2009b; MANLEY, 2000; MORAES et al., 2010).
Para muitos produtos alimentcios, o atributo crocncia extremamente importante,
pois consumidores se baseiam nesta caracterstica sensorial para aceitao ou no do
alimento. A apreciao do consumidor tem se tornado um dos principais critrios para a
escolha do alimento, bem como o aspecto nutricional e a segurana alimentar. A contribuio
da textura para a apreciao de um produto alimentcio pelo consumidor tem sido estudada h
aproximadamente 40 anos. J nos primeiros estudos sobre a textura de alimentos, a
importncia da crocncia foi destacada. Atualmente, a crocncia dos alimentos tem sido
mensurada por anlises sensoriais, anlises mecnicas e tambm por variveis morfolgicas
(LUYTEN; PLIJTER; VLIET, 2004; MAYYAWADEE; SCHLEINING, 2011; ROUDAUT
et al., 2002).
-
25
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Avaliar a influncia da adio de dextrina de trigo sobre as caractersticas reolgicas
da massa de farinha de trigo e sobre a qualidade tecnolgica e nutricional do biscoito.
3.2 ESPECFICOS
Determinar a classificao reolgica de trs farinhas de trigo distintas.
Analisar propriedades reolgicas de diferentes tipos de farinhas de trigo adicionadas
de concentraes variadas de dextrina de trigo.
Avaliar a aceitao de atributos sensoriais dos biscoitos formulados.
Examinar caractersticas fsico-qumicas dos biscoitos formulados com diferentes
concentraes de dextrina de trigo.
Analisar o teor de fibras solveis, insolveis, totais e de protena dos biscoitos com
diferentes concentraes de dextrina de trigo.
-
26
4 MATERIAL E MTODOS
4.1 MATERIAL
Para as anlises de propriedades reolgicas da massa foram utilizadas trs tipos
diferentes de farinha de trigo (Moinho Mabel, Brasil).
Para a elaborao dos biscoitos foi utilizada uma das farinhas de trigo classificada
como fraca por meio de testes reolgicos (Moinho Mabel, Brasil), gordura vegetal
hidrogenada (GVH) - (ICLS, Brejeiro, Brasil), lecitina de soja (Granol, Brasil), sal refinado
iodado (Refinaria Nacional de Sal, Brasil), bicarbonato de sdio (Qumica Geral do Nordeste,
Brasil), bicarbonato de amnio (Bandeirante Brazmo, Brasil), acar refinado (Unio
Refinado, Cosan), aroma de baunilha (cd. 85123041, Duas Rodas Industrial, Brasil), aroma
de limo (cd. 85484036, Duas Rodas Industrial, Brasil), ster de cido tartrico diacetilado
com mono e diglicerdeos (DATEM) - (PANODAN VISCO-LO 2201, Danisco Brasil),
dextrina de trigo (NUTRIOSEFB, Roquette Frres, Frana), leite em p desnatado (Nestl
Brasil), pirofosfato cido de sdio (Funcional Mikron, Brasil), gua e edulcorante de alta
intensidade: stevia (Enliten, Corn Products Brasil).
4.2 MTODOS
4.2.1 Anlises reolgicas das farinhas de trigo
Para cada tipo de farinha de trigo foram preparadas quatro mesclas de farinha de trigo
e dextrina de trigo (DT) nas propores de 100:0; 95:5; 90:10 e 85:15, respectivamente.
O efeito de diferentes concentraes de DT sobre a reologia da massa foi determinado
por Farinografia (Brabender OHG, Duisburger, Alemanha) de acordo com os mtodos oficiais
da AACC (2000). Os parmetros avaliados foram absoro de gua, estabilidade e tempo de
desenvolvimento da massa.
As propriedades elsticas da massa com diferentes concentraes de DT foram
avaliadas por Extensografia (Brabender OHG, Duisburger, Alemanha) de acordo com o
mtodo da AACC (2000). Os parmetros estimados foram resistncia (R), extensibilidade (E),
relao entre resistncia e extensibilidade (R/E) e resistncia mxima (Rm).
-
27
4.2.2 Preparao dos biscoitos
Foram preparadas quatro formulaes com variaes nas quantidades de farinha de
trigo e DT, nas propores de 100:0 (controle), 93:7 (7% DT), 86:14 (14% DT) e 79:21 (21%
DT), respectivamente.
A porcentagem mxima de DT, o tipo de farinha de trigo, a quantidade de gua, bem
como parmetros de forneamento foram selecionados mediante testes preliminares, e a forma
como foram determinados est descrita na seo de resultados e discusso.
A quantidade dos outros ingredientes foi calculada teoricamente com o objetivo de se
ter um produto com quantidade reduzida de sacarose e alto teor de protena (tabela 3). O tipo
de biscoito preparado classificado como moldado, elaborado a partir de uma massa macia.
Tabela 3. Formulaes dos biscoitos elaborados.
1 Quantidade dos ingredientes (em gramas g).
Ingredientes Formulaes1
Controle 7%DT 14%DT 21%DT
Farinha de trigo 100,00 93,00 86,00 79,00
Dextrina de trigo 0,00 7,00 14,00 21,00
Gordura vegetal hidrogenada 17,00 17,00 17,00 17,00
Acar refinado 10,00 10,00 10,00 10,00
Leite em p desnatado 24,00 24,00 24,00 24,00
gua 27,00 23,00 19,00 17,00
Lecitina de soja 0,50 0,50 0,50 0,50
DATEM 0,70 0,70 0,70 0,70
Sal refinado 0,10 0,10 0,10 0,10
Bicarbonato de sdio 1,50 1,50 1,50 1,50
Bicarbonato de amnio 3,00 3,00 3,00 3,00
Pirofosfato cido de sdio 3,00 3,00 3,00 3,00
Aroma de baunilha 0,94 0,94 0,94 0,94
Aroma de limo 0,32 0,32 0,32 0,32
Stevia 0,05 0,05 0,05 0,05
-
28
A preparao da massa foi dividida em duas etapas, na primeira foram adicionados
todos os ingredientes, menos a farinha de trigo e, ou a dextrina de trigo e o pirofosfato cido
de sdio. Os ingredientes foram misturados na batedeira (Arno Planetria, modelo BPA, So
Paulo, Brasil) at perfeita homogeneizao (velocidade: 1; tempo: 2 minutos). Na segunda
etapa foram adicionados os demais ingredientes, os quais foram misturados at perfeita
formao da massa (velocidade: 1; tempo: 30 segundos).
Com a massa pronta, os biscoitos foram formados com o auxlio de uma esptula, em
molde prprio, medindo 23,50 mm de dimetro e 3,56 mm de profundidade, desenvolvido
para este estudo. Os biscoitos foram formados por meio do preenchimento completo do
molde, postos em bandejas e levados ao forno eltrico (Layr, modelo Luxo 2.4 Classic, Mogi-
Mirim, Brasil). Pelo fato das formulaes terem quantidades de gua diferentes, o tempo de
forneamento variou de acordo com a formulao, com o intuito de se obter produtos com a
mesma colorao. O tempo de forneamento foi de 28 minutos e 30 segundos; 26 minutos; 22
minutos e 19 minutos e 30 segundos para as formulaes Controle, 7% DT, 14% DT e 21%
DT, respectivamente. A temperatura de assamento foi de 130 C, a potncia superior do forno
foi ajustada para a posio mnima e a potncia inferior para a posio mdia. Os biscoitos
foram assados sempre na mesma bandeja do forno, posicionada na parte superior do mesmo.
Depois de assados, os biscoitos foram resfriados at atingirem temperatura ambiente e
embalados em embalagens de polipropileno metalizado bi-orientado, as quais foram seladas
com solda quente na seladora (Micromatic, modelo MH300, Mogi das Cruzes, Brasil).
4.2.3 Anlise sensorial
Foram realizados testes sensoriais de aceitao com as quatro formulaes, sendo que
as mesmas foram apresentadas de forma mondica, codificadas randomicamente com
nmeros de 3 dgitos. Os testes foram aplicados no Laboratrio de Anlise Sensorial da
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Gois e na
indstria CIPA Ind. de Prod. Alimentares Ltda., com 50 provadores no treinados das
prprias instituies. Os procedimentos de avaliao dos produtos foram realizados em cabine
apropriada para tal propsito e os provadores tiveram condies ideais de concentrao e
degustao, com garantia de privacidade. Foram excludos dos testes menores de 18 anos de
idade, analfabetos, gestantes, fumantes e portadores de patologias que interferem na absoro
intestinal e na sensibilidade gustativa, olfativa, ou apresentarem deficincia visual. Os
biscoitos foram analisados depois de dez dias de prontos, estando os mesmos devidamente
embalados.
-
29
Uma escala hednica de nove pontos que variou do 1 = desgostei extremamente at ao
9 = gostei extremamente, foi utilizada para medir a aceitao do consumidor quanto
crocncia, dissoluo na boca, sabor, dulor e aceitao geral (DUTCOSKY, 2007).
Os participantes foram informados sobre os objetivos e mtodos utilizados na
pesquisa. Aps os esclarecimentos, aqueles que aceitaram participar assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
O projeto foi encaminhado para apreciao e aprovado pelo Comit de tica em
Pesquisa da Universidade Federal de Gois, sob o protocolo N 073/2010.
4.2.4 Caractersticas dimensionais dos biscoitos
Foram realizadas medidas de dimetro, espessura, volume especfico e expanso dos
biscoitos prontos, logo depois de forneados e resfriados at temperatura ambiente.
Para se determinar o dimetro e a espessura foi utilizado um paqumetro (Mitutoyo
Corporation, Modelo Digimatic CD-8P, Suzano, Brasil).
As determinaes de volume especfico foram obtidas calculando-se o volume de cada
biscoito por meio da frmula de um cilindro e dividindo o valor pelo peso do mesmo biscoito.
As determinaes de expanso foram realizadas dividindo-se o dimetro pela
espessura de cada biscoito.
4.2.5 Atividade de gua e umidade dos biscoitos
A atividade de gua (aw) foi determinada utilizando o equipamento (Decagon
AquaLab modelo CX-2, Washington, Estados Unidos) calibrado com uma soluo saturada
de acetato de potssio (aw = 0,22), na temperatura de 24,5C.
As determinaes de umidade foram realizadas conforme mtodo oficial 925.10 da
AOAC (1997). Os biscoitos foram analisados depois de cinco dias de prontos, estando os
mesmos devidamente embalados.
4.2.6 Determinao de cor dos biscoitos
Medidas dos parmetros L*a*b* da cor da superfcie dos biscoitos foram realizadas
utilizando colormetro (Konica Minolta, modelo ChromaMeter CR-410, Tokio, Japo). Foram
realizadas quatro replicatas da mesma formulao. Os resultados foram expressos de acordo
com o sistema CIELAB, configurados com iluminante em D65 e ngulo visual de 10. Os
-
30
biscoitos foram analisados depois de sete dias de prontos, estando os mesmos devidamente
embalados.
O sistema de cor L*a*b* consiste do componente luminncia ou luminosidade (L*)
que varia da cor branca (L* = 0) at a cor preta (L* = 100) e dois componentes cromticos: o
componente a* que varia da cor verde (-a) cor vermelha (+a) e o componente b* que varia
da cor azul (-b) cor amarela (+b) (RABABAH; AL-MAHASNEH; EREIFEJ, 2006).
4.2.7 Anlise de textura dos biscoitos
As anlises de textura foram realizadas por meio do texturmetro (Texture Analyser
TA-XTplus, Stable Micro Systems, Surrey, Inglaterra) segundo mtodo 16-50 da AACC
(2000).
Foram avaliados a fora mxima na ruptura em compresso, picos em compresso e
fora mxima na ruptura em cisalhamento. Os biscoitos foram analisados depois de trs dias
de prontos, estando os mesmos devidamente embalados.
Para o estudo de compresso utilizaram-se para as anlises os seguintes parmetros,
Probe P100, deformao de 50% em relao altura inicial das amostras, velocidades de pr-
teste; teste e ps-teste iguais a 1,0 mm/s; 1,0 mm/s e 10,0 mm/s, respectivamente. O tipo de
disparador foi configurado em automtico e fora de disparo em 0,1N.
Para o estudo de cisalhamento utilizaram-se para as anlises os seguintes parmetros,
Probe HDP/BSG, deformao de 150% em relao altura inicial das amostras, velocidades
de pr-teste; teste e ps-teste iguais a 1,0 mm/s; 1,0 mm/s e 10,0 mm/s, respectivamente. O
tipo de disparador foi configurado em automtico e fora de disparo em 0,1N.
4.2.8 Determinao do contedo de fibra alimentar e protena
As anlises de fibra alimentar solvel e insolvel foram realizadas pelo mtodo
enzimtico gravimtrico da AOAC (1990).
As anlises de protena foram realizadas pelo mtodo de Kjeldahl modificado, de
acordo com o mtodo oficial 991.20 da AOAC (1995).
Os biscoitos foram analisados depois de 30 dias de prontos, estando os mesmos
devidamente embalados.
-
31
4.2.9 Anlise estatstica
O experimento foi realizado em blocos casualizados, com quatro tratamentos e trs
repeties. Todas as anlises foram feitas em triplicata, exceto a anlise em texturmetro, a
qual foi realizada em septuplicata e as anlises fsicas em quintuplicata.
Os dados foram submetidos a anlise de varincia (ANOVA) e quando
significativos, avaliados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
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32
5 RESULTADOS E DISCUSSO
5.1 PROPRIEDADES REOLGICAS DA MASSA
5.1.1 Farinografia
Por meio dos resultados de estabilidade (figura 8), obtidos da farinografia, pde-se
classificar as farinhas de trigo em fraca, mdia e forte.
Percebe-se que as diferentes farinhas sem adio de dextrina de trigo diferem-se entre
si (p 0,05). Por meio da comparao entre as mesmas, estas farinhas foram classificadas
como fraca (menor estabilidade), mdia (mdia estabilidade) e forte (maior estabilidade).
Sudha, Vetrimani e Leelavathi (2007) afirmaram que a estabilidade da massa representa a
fora da mesma. Segundo Peressini e Sensidoni (2009), a fora evidenciada pela tolerncia
uma mistura em excesso. Estes autores realizaram anlises de farinografia com farinhas fortes
Figura 8. Estabilidade com diferentes concentraes de dextrina de trigo, para farinhas de
trigo fraca, mdia e forte. 1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para o mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
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33
e fracas, as quais tambm foram compatveis com a mesma classificao realizada neste
trabalho.
A estabilidade da farinha fraca aumentou (p 0,05) medida que aumentou-se a
concentrao de dextrina de trigo. No entanto, para as farinhas mdia e forte, a estabilidade
15% de dextrina diminuiu em relao a adio de 10% de dextrina (p 0,05). Este resultado
indica que existe um limite de adio de dextrina de trigo para que se mantenha o aumento da
estabilidade, sendo que o efeito desta adio na estabilidade foi melhor sustentado na farinha
fraca. Peressini e Sensidoni (2009) verificaram significativo aumento na estabilidade de
massas com adio de inulina, confirmando resultados de Wang, Rosell e De Barber (2002)
os quais tambm observaram que a adio de inulina em farinhas de trigo aumentou a fora da
massa, tendo melhor efeito em um tipo de farinha considerada fraca.
Comparando-se as diferentes farinhas adicionadas de dextrina de trigo, os dados
obtidos demonstraram que as farinhas fraca e mdia, com adio de 5% de dextrina, no se
diferiram em estabilidade (p > 0,05), bem como as farinhas fraca e forte com adio de 15%
de dextrina. Estes resultados indicam que a dextrina de trigo apresenta potencial para
substituir parte da farinha de trigo sem causar prejuzos para a estabilidade da massa. Percebe-
se tambm que pode ser possvel substituir uma farinha forte por uma farinha fraca ao
adicionar dextrina de trigo mesma. Dados similares com a utilizao de inulina foram
encontrados por Peressini e Sensidoni (2009), contudo, o mecanismo de ao desses
ingredientes sobre a estabilidade da massa ainda no est elucidado. Miyazaki, Maeda e
Morita (2004) observaram que algumas dextrinas aumentaram a estabilidade de massas e este
aumento foi inversamente proporcional ao ndice de dextrose equivalente das matrias-primas
analisadas. Sudha, Vetrimani e Leelavathi (2007) identificaram que farelos de cereais
diminuram a estabilidade de massa, sendo que o enfraquecimento da massa foi maior com o
aumento da quantidade de farelo.
A indstria de panificados necessita, para o processamento de biscoitos laminados e
fermentados biologicamente, por exemplo, de farinhas com estabilidade relativamente alta. A
adio de fibras solveis como a dextrina de trigo pode ser tanto um recurso para ajuste do
processamento de produtos de panificao, quanto para o aumento nutricional dos alimentos.
O conhecimento de como este ingrediente interfere na reologia da farinha essencial para a
produo de alimentos panificados.
As figuras 9, 10 e 11 representam os resultados farinogrficos obtidos para cada tipo
de farinha de trigo, nas diferentes adies de dextrina. Por meio destes grficos foram obtidos
resultados de estabilidade, absoro de gua e tempo de desenvolvimento da massa. Percebe-
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se, pelas curvas de farinografia, diferenas entre os tipos de farinhas e tambm a influncia da
adio de dextrina.
Figura 9. Farinografias de farinha fraca com diferentes concentraes1 de dextrina de trigo.
1A: 0% de dextrina de trigo; B: 5% de dextrina de trigo; C: 10% de dextrina de trigo; D: 15% de
dextrina de trigo.
C D
A B
Figura 10. Farinografias de farinha mdia com diferentes concentraes1 de dextrina de
trigo. 1A: 0% de dextrina de trigo; B: 5% de dextrina de trigo; C: 10% de dextrina de trigo; D: 15%
de dextrina de trigo.
A B
C D
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35
Na figura 12 so apresentados os resultados farinogrficos de absoro de gua. A
absoro de gua diminuiu (p 0,05) a cada aumento de dextrina de trigo, para os trs tipos
de farinhas testadas. Resultados similares foram obtidos por Peressini e Sensidoni (2009), ao
verificarem que a absoro de gua da massa decresceu medida que aumentou-se a
substituio de farinha de trigo por inulina. Os mesmos autores afirmaram que a influncia
sobre a absoro de gua foi maior com a inulina de cadeia curta do que com a de cadeia
longa, provavelmente, devido ao efeito lubrificante de acares e oligossacardeos. Rouill et
al. (2005) afirmaram que as fraes solveis da farinha de trigo agem como lubrificantes
facilitadores de mobilidade para o sistema.
Miyazaki, Maeda e Morita (2004) tambm obtiveram resultados semelhantes sobre
absoro de gua quando avaliaram a influncia da substituio de farinha de trigo por
dextrinas provenientes do amido de mandioca, amido de milho e amido de milho waxy.
Encontraram que a absoro de gua foi maior para o produto controle e decresceu com o
aumento nas quantidades de substituio da farinha pelas dextrinas testadas. Relataram que a
diminuio da absoro de gua, acompanhada do aumento do nvel de substituio da farinha
A B
C D
Figura 11. Farinografias de farinha forte com diferentes concentraes1 de dextrina de
trigo. 1A: 0% de dextrina de trigo; B: 5% de dextrina de trigo; C: 10% de dextrina de trigo; D: 15%
de dextrina de trigo.
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36
de trigo pelas dextrinas, ocorre, provavelmente, devido diluio de alguns componentes da
farinha como o glten, o amido danificado e as pentosanas.
Em outro estudo, Sudha, Vetrimani e Leelavathi (2007) observaram que houve
aumento da absoro de gua da massa com substituies feitas por farelos de cevada, trigo,
arroz e aveia. Reportaram que diferenas na absoro de gua so causadas, principalmente,
pelo grande nmero de hidroxilas presentes na estrutura da fibra que permitem maior
interao da gua por meio de ligaes de hidrognio. Esta abordagem foi extrada de Rosell,
Rojas e Benedito de Barber (2001), os quais adotaram este raciocnio em relao
hidrocolides.
Pela observao destes resultados percebe-se que no h uma relao entre o tipo de
farinha e o parmetro absoro de gua, ou seja, no h uma relao entre este parmetro e a
fora da farinha ou sua estabilidade. Uma farinha forte pode absorver mais ou menos gua do
que uma farinha fraca e o oposto tambm verdadeiro.
Figura 12. Absoro de gua da massa com diferentes concentraes1 de dextrina de trigo,
para farinhas1 de trigo fraca, mdia e forte.
1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para o mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
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Relacionando-se os dados de literatura citados, percebe-se que os ingredientes que
ocasionaram a reduo da absoro de gua da farinha podem ser classificados como fibras
solveis, enquanto que as matrias-primas as quais aumentaram a absoro de gua possuem
em sua composio uma porcentagem maior de fibras insolveis do que solveis. No entanto,
preciso esclarecer que o mecanismo de ao das fibras sobre a reduo da absoro de gua
em farinhas de trigo ainda no est elucidado.
A indstria de biscoitos pode enfrentar problemas de processo devido a alta absoro
de gua das farinhas que utiliza. Quanto maior a absoro de gua da farinha, maior
quantidade de gua ser necessria para se chegar na consistncia de massa exigida para o
processamento. Mesmo depois da massa pronta, se no processada rapidamente, a farinha
poder absorver mais gua do sistema, o que far com que a massa fique com uma
caracterstica ressecada e mude sua reologia, podendo acarretar prejuzo ao processo e
consequentemente ao produto final. Alm disto, maior quantidade de energia requerida para
se extrair a gua da massa durante o forneamento, j que biscoitos so produtos com baixa
umidade.
Na figura 13 so apresentados os resultados farinogrficos do tempo de
desenvolvimento da massa.
Figura 13. Tempo de desenvolvimento da massa (minutos) com diferentes concentraes1 de
dextrina de trigo, para farinhas1 de trigo fraca, mdia e forte.
1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para a mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
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Para todas as farinhas testadas o TDM aumentou com o aumento da concentrao de
dextrina de trigo. Possivelmente este fato ocorreu devido a competio entre a dextrina e a
farinha de trigo pela gua presente no sistema. A formao do glten depende da quantidade
de gua disponvel e, talvez, pela competio existente, o glten tenha levado mais tempo
para de desenvolver.
Perissini e Sensidoni (2009) apontaram que houve um aumento do TDM quando
adicionaram inulinas com grau de polimerizao mdio de 23, nas propores de 5,0 e 7,5% e
aumento pela adio de inulina com grau de polimerizao mdio de 10 ao nvel de 7,5%
sobre a farinha considerada forte. Em outro estudo, Sudha, Vetrimani e Leelavathi (2007)
observaram que, em massas de farinha de trigo com incorporao de farelo de trigo e farelo de
arroz, houve grande aumento do TDM, o que no ocorreu com farelos de aveia e cevada.
Nenhum destes autores justificou o por qu do aumento do TDM em seus respectivos
trabalhos.
Comparando-se os diferentes tipos de farinha, parece haver alguma relao entre o
TDM e a fora da farinha, ou seja, a estabilidade da mesma. Porm, para concluses a
respeito deste tema so necessrios estudos mais especficos sobre o mesmo.
5.1.2 Extensografia
Os resultados extensogrficos da adio de diferentes dosagens de dextrina de trigo em
farinhas fracas, mdias e fortes, e suas respectivas referncias (sem dextrina) esto
apresentados nas figuras 14, 15, 16 e 17. A massa com adio de 15% de dextrina de trigo
ficou demasiado pegajosa e mole, no possibilitando obter resultados de extensografia.
Diferentes produtos de panificao possuem necessidades distintas em termos dos
parmetros resistncia e extensibilidade. Por exemplo, para se fazer macarro necessrio
uma massa que tenha alta fora (resistncia) enquanto que a qualidade de biscoitos est
relacionada com uma massa de baixa fora, mas alta extensibilidade. Pes necessitam de
massas com propriedades intermedirias (fora moderada e alta extensibilidade) para que se
obtenha uma tima performance (BANGUR et al., 1997).
Por meio da figura 7 apresentada na reviso da literatura, pode-se perceber que
farinhas podem ser classificadas por suas extensografias. Os valores isolados de resistncia ou
extensibilidade no permitem uma avaliao, mas em conjunto, como a relao R/E, podem
predizer a boa performance da farinha em produtos panificados (STAMPFLI; NERSTED;
MOLTEBERG, 1996).
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Aa
Figura 14. Resistncia (EU) com diferentes concentraes1 de dextrina de trigo, para
farinhas1 de trigo fraca, mdia e forte.
1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para o mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 15. Extensibilidade (mm) com diferentes concentraes1 de dextrina de trigo, para
farinhas1 de trigo fraca, mdia e forte.
1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para o mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
Tipo de
farinha
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Figura 16. R/E (EU/mm) com diferentes concentraes1 de dextrina de trigo, para farinhas
1
de trigo fraca, mdia e forte. 1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para o mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 17. Resistncia mxima (EU) com diferentes concentraes1 de dextrina de trigo, para
farinhas1 de trigo fraca, mdia e forte.
1Letras maisculas discriminam os diferentes Tipos de farinha para a mesma Concentrao. Letras
minsculas discriminam as diferentes Concentraes de Dextrina de Trigo para o mesmo Tipo de
farinha. Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
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Em relao as anlises sem adio de dextrina de trigo, a adio de 5% da mesma nas
farinhas mdia e forte no apresentaram diferenas (p 0,05) em nenhum dos parmetros
avaliados. No entanto, com a adio de 10% de dextrina, os valores dos parmetros analisados
tiveram um decrscimo (p < 0,05), com excesso de R/E para farinha mdia, o qual no
apresentou diferena (p 0,05) em relao as outras dosagens.
Analisando-se a farinha fraca, com a adio de 5% de dextrina de trigo, houve um
aumento (p < 0,05) de todos os parmetros, em relao as anlises sem dextrina, com exceo
do parmetro extensibilidade, o qual no apresentou diferena (p 0,05). Com a adio de
10% de dextrina nas farinhas fracas, os parmetros resistncia e resistncia mxima no
apresentaram diferena (p 0,05) em relao amostra sem dextrina, mas percebeu-se uma
diminuio da extensibilidade (p < 0,05). O nico parmetro que se manteve maior (p < 0,05)
em relao a amostra sem dextrina de trigo, porm no apresentando diferena (p 0,05) em
relao a amostra com 5% de dextrina foi R/E.
Parece haver uma tendncia de aumento da resistncia, resistncia mxima e R/E, em
farinhas consideradas mais fracas, com a adio de 5% dextrina de trigo. No entanto, parece
haver uma tendncia de diminuio de todos os parmetros com a adio de 10% de dextrina,
para todos os tipos de farinha, exceto para o parmetro R/E das farinhas consideradas fracas e
mdias.
Sudha, Vetrimani e Leelavathi (2007) observaram que a utilizao de alguns farelos de
cereais (trigo e arroz) aumentou a resistncia extenso e o uso de outros (aveia e cevada)
diminuiu este parmetro. Tambm observaram que valores de extensibilidade diminuram
com o uso de todos os cereais citados. Este fato pode estar ligado s interaes entre
polissacardeos e protenas da farinha de trigo (JONES; EARLANDER, 1967 apud SUDHA;
VETRINAMI; LEELAVATHI, 2007).
Comparando-se as diferentes farinhas em concentraes iguais de dextrina de trigo,
pode-se perceber que, em relao resistncia e R/E, no h diferena (p 0,05) entre os
tipos de farinha para 0 e 5% de dextrina adicionada. J para 10% de dextrina, a farinha forte
apresenta valores menores (p < 0,05) para estes parmetros.
Para o parmetro extensibilidade, as farinhas fraca e forte no diferiram (p 0,05)
entre si em nenhuma das concentraes de dextrina, porm, comparando-as com a farinha
mdia, esta ltima apresentou valores mais altos (p < 0,05) de extensibilidade.
J para o parmetro resistncia mxima, nas amostras sem dextrina, as farinha fraca e
forte no diferiram (p 0,05) entre si, porm, a farinha mdia apresentou valores maiores (p <
0,05) em relao s outras duas. Para as dosagens de 5 e 10% as farinhas fraca e mdia no
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diferiram (p 0,05) entre si, porm, a farinha forte apresentou valores menores (p < 0,05) em
relao s outras duas.
Com estes resultados extensogrficos no foi possvel classificar as farinhas, como foi
feito por meio da farinografia. No entanto, com estes resultados pode-se perceber que
possvel deixar uma farinha mais ou menos resistente ou extensvel, fazendo com que uma
farinha considerada fraca, por exemplo, se assemelhe uma farinha forte em alguns
parmetros, o que extremamente interessante para a produo de panificados. Tambm
possvel prever o comportamento de uma massa ao se adicionar determinada quantidade de
dextrina de trigo e com isso ter a capacidade de escolher um produto e processo mais
adequado utilizao de tal ingrediente.
5.2 AVALIAO DOS BISCOITOS
Por meio das anlises farinogrficas preliminares, por meio do parmetro estabilidade,
foi possvel classificar os tipos de farinha e escolher a mais adequada a ser utilizada na
formulao dos biscoitos. O tipo de farinha escolhida para este propsito foi a farinha fraca,
que apresentava menor estabilidade e o biscoito escolhido foi do tipo moldado. Tambm foi
possvel, pelo parmetro absoro de gua, estimar a quantidade de gua a ser utilizada para
cada formulao de biscoito.
A porcentagem mxima de dextrina de trigo a ser adicionada s formulaes de
biscoito foi escolhida mediante testes preliminares, nos quais foi adotado o parmetro de
aparncia visual. Biscoitos formulados com 30, 27, 24 e 21% de dextrina de trigo foram
produzidos e foi verificado que os 3 primeiros apresentaram superfcie rugosa, desuniforme e,
sendo assim, a dosagem de 21% foi selecionada como mxima.
O tempo, a temperatura, as potncias, bem como a forma de forneamento tambm
foram previamente testadas. A temperatura de assamento foi padronizada em 130C, a
potncia superior do forno foi ajustada para a posio mnima e a potncia inferior para a
posio mdia.
Pelo fato das formulaes terem quantidades de gua diferentes, o tempo de
forneamento variou de acordo com a formulao, com o intuito de se obter produtos com a
mesma colorao, parmetro este analisado visualmente nesta etapa. O tempo de forneamento
foi de 28 minutos e 30 segundos; 26 minutos; 22 minutos e 19 minutos e 30 segundos para as
formulaes Controle, 7% DT, 14% DT e 21% DT, respectivamente.
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43
Os biscoitos foram assados sempre na mesma bandeja do forno, posicionada na parte
superior do mesmo.
importante relatar que com o aumento da adio de dextrina de trigo nas massas de
biscoitos, percebeu-se, de forma emprica, que as massas tornavam-se mais pegajosas e
difceis de serem moldadas. Como sugesto para trabalhos posteriores, recomenda-se outros
tipos de anlise que identifiquem melhor esse tipo de observao, bem como testes industriais
que possibilitem a validao do uso deste ingrediente nas indstrias.
5.2.1 Anlise sensorial
Os efeitos da adio de dextrina de trigo sobre os atributos sensoriais de crocncia,
dissoluo na boca, dulor, sabor e aceitao geral de biscoitos esto dispostos na tabela 9.
Tabela 9. Valores de atributos sensoriais de crocncia, dissoluo na boca, dulor, sabor e
aceitao geral de biscoitos com diferentes concentraes de dextrina de trigo
(%).
Dextrina Crocncia1
Dissoluo
na boca1
Dulor1
Sabor1
Aceitao
geral1
0 6,44 1,69 a 6,90 1,28 a 5,32 1,95 a 5,46 1,97 a 5,88 1,95 a
7 7,40 1,07 b 7,02 1,30 a 5,64 1,72 a 5,80 1,68 ab 6,46 1,45 ab
14 6,88 1,77 ab 6,54 1,57 a 5,76 1,77 a 5,92 1,70 ab 6,32 1,66 ab
21 6,86 1,82 ab 6,56 1,57 a 5,94 1,88 a 6,28 1,86 b 6,58 1,65 b
1Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
No houve diferena (p 0,05) entre as formulaes com diferentes quantidades de
dextrina de trigo, para os atributos de dissoluo na boca e dulor. A adio de dextrina de
trigo aos biscoitos parece no ter influenciado no atributo dissoluo na boca e as notas para
esta caracterstica esto entre gostei ligeiramente e gostei moderadamente para todos os
tratamentos, demonstrando a aceitabilidade dos produtos. O dulor tambm parece no ter
sido influenciado pela adio de dextrina de trigo e as notas referentes a este atributo revelam
que os degustadores consideraram as amostras indiferentes ou que gostaram ligeiramente das
mesmas. Este resultado pode ser explicado pela reduo, em relao formulaes
tradicionais de mercado, da quantidade de sacarose da formulao, e a tentativa de substituir o
dulor da sacarose pela adio de stevia, um edulcorante de alta intensidade.
Os biscoitos com adio de 7% de dextrina de trigo apresentaram melhor
aceitabilidade (p < 0,05) em relao ao atributo crocncia, quando comparados aos biscoitos
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44
com 0% de dextrina de trigo. Os tratamentos com adio de 14 e 21% de dextrina no
diferiram (p 0,05) dos outros tratamentos em relao a este mesmo atributo. Estes resultados
indicam que parece haver alguma relao com os resultados da anlise de fora na ruptura em
compresso, por meio da qual se percebe que o produto de melhor crocncia em relao ao
biscoito sem adio de dextrina de trigo foi aquele considerado o mais frgil. Porm, o
acrscimo de 14 e 21% de dextrina de trigo aos biscoitos no resultou em uma melhor
crocncia. As notas para o atributo crocncia variaram entre gostei ligeiramente e gostei
moderadamente.
Em termos de sabor e aceitao geral, o produto com 21% de dextrina de trigo foi
significativamente (p < 0,05) mais aceito do que o produto sem adio de dextrina de trigo, o
que demonstra uma melhora do produto em relao a estes atributos, em determinado nvel de
adio de dextrina de trigo. Os biscoitos com 7 e 14% de dextrina de trigo no diferiram (p
0,05) das outras formulaes. As notas para aceitao geral e o sabor dos produtos testados
variaram entre indiferente e gostei ligeiramente. A menor aceitao em termos gerais dos
biscoitos considerados referncia, provavelmente, est ligado ao baixo teor de sacarose na
formulao, j que a mesma, em determinadas quantidades, favorece uma melhor textura,
colorao e sabor mais agradveis produtos como biscoitos (MAACHE-REZZOUG;
BOUVIER; ALLAH; PATRAS, 1998a; MANLEY, 2001; MANOHAR; RAO, 1997b;
ZOULIAS; PIKNIS; OREOPOULOU, 2000).
De modo geral, as mdias das notas atribudas s amostras de biscoitos indicam a
aceitao dos provadores em relao aos atributos avaliados, sendo que a adio de 7% de
dextrina de trigo melhorou as caractersticas de crocncia e a adio de 21% da mesma
melhorou o sabor e a aceitao geral dos produtos. O dulor e a dissoluo na boca parecem
no ter sofrido influncia pela adio de dextrina de trigo.
Sudha, Vetrimani e Leelavathi (2007) observaram que a adio de quantidades acima
de 30% de farelo de arroz na formulao de biscoito doce deixou o produto com a textura
muito dura. O sabor e a sensao na boca dos biscoitos foram afetados com 20% de adio de
farelo e a incorporao de 10% de farelos diversos no afetou a qualidade do biscoito.
Laguna et al. (2011) avaliaram a influncia da adio de diferentes propores de
amido resistente em biscoitos doces e verificaram que a aceitao de biscoitos com 20% de
amido resistente no diferiu (p 0,05) do controle. J os biscoitos com adio de 40% de
amido resistente receberam notas baixas para aparncia, cor e textura. Os biscoitos com 60%
de amido resistente foram os menos aceitos.
-
45
5.2.2 Caractersticas dimensionais
Foi avaliada a influncia de diferentes propores de dextrina de trigo (0, 7, 14 e 21%)
sobre caractersticas fsicas de biscoitos. Os resultados da adio de diferentes concentraes
de dextrina de trigo sobre o dimetro, espessura, taxa de expanso e volume especfico de
biscoitos esto apresentados na tabela 6.
Tabela 6. Valores de caractersticas fsicas: dimetro, espessura, expanso e volume
especfico de biscoitos com diferentes concentraes de dextrina de trigo (%).
Dextrina
Dimetro
(mm)1
Espessura
(mm)1
Expanso
Volume Especfico
(mm3/g)
1
0 23,77 0,72 a 5,46 0,31 a 4,35 0,04 a 2,43 0,29 a
7 24,89 0,82 b 5,80 0,17 a 4,29 0,03 a 2,83 0,27 a
14 25,46 0,46 b 5,90 0,23 a 4,31 0,01 a 3,00 0,04 a
21 26,94 0,34 c 5,70 0,40 a 4,72 0,04 a 3,25 0,16 a 1Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
A incorporao de 7% ou mais de dextrina de trigo aumentou (p < 0,05) o dimetro
dos biscoitos quando comparados com o biscoito sem adio de dextrina. Entre as dosagens
de 7 e 14% no houve diferena (p 0,05) no dimetro, porm com a dosagem de 21%
ocorreu o aumento (p < 0,05) do dimetro em relao s demais.
Nos biscoitos avaliados no foi observada diferena (p 0,05) entre as amostras em
relao espessura, taxa de expanso e ao volume especfico.
O aumento de dimetro em biscoitos aps o forneamento visto como algo positivo.
A utilizao de farinhas fortes, as quais possuem como caractersticas um alto teor de glten
de boa qualidade, tendem a desenvolver este glten e formar uma rede elstica com o
batimento da massa e prejudicar o crescimento do biscoito tanto em dimetro quanto em
espessura e, consequentemente, em expanso. O uso de uma farinha fraca possibilita a
formao de filme flexvel ao invs de uma rede elstica, e como resultado os biscoitos
apresentam crescimento durante o assamento (MORAES et al., 2010; ZOULIAS; PIKNIS;
OREOPOULOU, 2002).
Ajila, Leelavathi e Prasada Rao (2008) avaliaram o efeito da adio de casca de manga
em biscoito e observaram que, com a dosagem de 20%, os biscoitos tiveram diminuio de
dimetro e os mesmos atriburam isto, provavelmente, diluio do glten.
Estas duas abordagens, apesar de parecerem contraditrias, podem estar corretas,
sendo que para um biscoito obter e manter um certo crescimento, o mesmo no pode ter uma
-
46
rede de glten desenvolvida a ponto de no deix-lo expandir e nem uma estrutura
extremamente frgil, a qual pode ser oriunda de um glten demasiado diludo, ao ponto de
no sustentar a expanso da massa.
5.2.3 Atividade de gua e umidade
A influncia da adio de diferentes dosagens de dextrina de trigo sobre a atividade de
gua e umidade de biscoitos aps assamento e resfriamento est apresentada na tabela 7.
Tabela 7. Valores de atividade de gua e umidade (% b.u.) de biscoitos com diferentes
concentraes de dextrina de trigo (%).
Dextrina Aw1
Umidade1
0 0,10 0,03 a 3,18 0,15 a
7 0,12 0,02 a 3,37 0,11 a
14 0,16 0,02 b 3,95 0,13 b
21 0,20 0,03 c 4,82 0,14 c 1Mdias seguidas pela mesma letra no diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
Tanto a atividade de gua quanto a umidade aumentaram (p < 0,0