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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM Ricardo Nespoli Coutinho ORIENTADORA: PROFª. DRª. MÔNICA RABELLO DE CASTRO RIO DE JANEIRO 2006

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM

Ricardo Nespoli Coutinho

ORIENTADORA: PROFª. DRª. MÔNICA RABELLO DE CASTRO

RIO DE JANEIRO 2006

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

RICARDO NESPOLI COUTINHO

A TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM

Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Educação.

ORIENTADORA: Profª. Drª. Mônica Rabello de Castro

RIO DE JANEIRO 2006

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RICARDO NESPOLI COUTINHO

TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM

Dissertação apresentada à

Universidade Estácio de Sá como

requisito para a obtenção do grau

de Mestre em Educação.

Aprovada em _______ de outubro de 2006.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________ PROF. DRª. MÔNICA RABELLO DE CASTRO

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

_______________________________________________ PROF. DR. MARCOS SILVA

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

_______________________________________________ PROF. DRª. ROSÁLIA DUARTE

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

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A HaShem, que me ensina a adorá-LO; A minha esposa, que me ensina a amar; A minha filha, que me ensina a cuidar;

A minha orientadora que me ensina a aprender; A família de minha irmã que me ensina a hospedar;

Ao outro que me ensina a respeitar.

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AGRADECIMENTOS

A HaShem, pela conclusão deste trabalho.

À minha orientadora, Mônica Rabello de Castro, pelo carinho, atenção e firmeza no

percorrer do caminho desta pesquisa.

À minha família, pelo incentivo e compreensão de conviver com esse desafio.

Aos professores do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estácio de Sá

pela competência e grandeza de conhecimento.

Aos meus colegas de mestrado, em especial a Lucimar Carvalho, Valéria Calvo e

Sérgio Santos por dividirem comigo as minhas maiores dúvidas.

Às Universidades pesquisadas, pela disposição de nos receber.

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RESUMO

Explorar as possibilidades do fazer televisivo para além das fronteiras do educativo e do

entretenimento é um desafio para a universidade. Para compreender esse desafio,

distinguimos duas diferentes concepções de laboratório de um ambiente de

aprendizagem para TV universitária: uma diz respeito à prática dos alunos no fazer TV

e outra diz respeito à pesquisa de novos formatos e conteúdos para a TV brasileira.

Quando nos referimos a ambiente de aprendizagem estamos pensando em um ambiente

que agregue essas duas concepções de laboratório. Este estudo analisou, nas propostas

pedagógicas de duas televisões universitárias, uma pública e outra privada, as

concepções de ambiente de aprendizagem, no que se refere à televisão, e os critérios

utilizados para selecionar os conteúdos dos programas. Finalmente, observou-se como o

conhecimento científico gerado pelas pesquisas é administrado e utilizado na criação de

formatos e conteúdos de programas. Foram feitas oito entrevistas com professores e

alunos. Aplicamos o Modelo da Estratégia Argumentativa – MEA - para analisar os

argumentos utilizados pelos entrevistados na defesa de seus pontos de vista. O MEA

baseia-se na Teoria da Argumentação, tradição iniciada por Perelman e Olbrechts-

Tyteca. Os resultados mostraram que, nas duas televisões pesquisadas, as práticas

usuais concentram-se na cobertura dos eventos universitários e no laboratório de

aprendizagem. A diversidade de concepções dos participantes deixou expostas

ambigüidades e, em alguns casos, contradições. Os resultados mostraram ainda que o

conhecimento científico acumulado sobre televisão é desconsiderado pelas duas tevês

pesquisadas. Estas ainda não conseguiram desenvolver um ambiente de aprendizagem

capaz de comportar um laboratório de pesquisa de novos formatos e linguagens para a

televisão brasileira.

Palavras-chave: TV universitária. Ambiente de aprendizagem. Laboratório de pesquisa televisiva. Laboratório de aprendizagem. Estratégia argumentativa.

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ABSTRACT

It is a challenge to the university to explore the possibilities of television making

beyond the educational and entertainment boundaries. In order to understand this

challenge, we have identified two different laboratory conceptions of learning

environment for the university TV: the concept concerning the role of students in TV

making and the concept concerning new researches of new forms and contents for the

Brazilian TV. When we refer to the learning environment we are thinking about a set

that links these two laboratory concepts. This study has analyzed the pedagogical

proposals of the public and the private university televisions, the concepts of learning

environment, in referring to television, and the criteria utilized to select program

content. Finally, it was observed that the scientific knowledge generated by the

researches is administrated and utilized in the formation and content of programs. Eight

interviews involving teachers and students were performed. To analyze the arguments

used by the interviewed people in defense of their point of view the Model of

Argumentative Strategy – MAS- was applied. The MAS is based on the Argumentation

Theory, a tradition initiated by Perelman and Olbrechts-Tyteca. The results showed that,

on both televisions analyzed, the usual practices focus on covering university events and

the learning laboratory. The participants varied conceptions have exposed ambiguities

and, in some cases, contradictions. The results show that the scientific knowledge

accumulated concerning television is not taken into consideration by the two televisions

researched. They have not managed to develop a learning environment capable of

having a research laboratory which composes of new formats and speeches for the

Brazilian television yet.

Key words: University TV. Learning environment. Television research laboratory.

Argumentative strategy.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

Apresentação

09

1.1 Introdução

11

1.2 A universidade

17

1.3 A TV Educativa vs A TV comercial

23

1.4 A TV Universitária

28

Capítulo 2

2.1 Centro de pesquisa, experimentação e criatividade

31

2.2 Laboratório de aprendizagem e laboratório de pesquisa

37

2.3 Ambiente de aprendizagem

39

Capítulo 3

3.1 A argumentação no discurso sobre a prática

45

3.2 O modelo de estratégia argumentativa

49

3.3 O campo e os sujeitos da pesquisa

54

Capítulo 4

4.1 Resultados

59

4.1.1 Analise das entrevistas realizadas na TV S

60

4.1.2 Analise das entrevistas realizadas na TV R

96

Conclusão

115

Anexos

Documentação consultada

126

Entrevistas

139

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Capítulo 1

Apresentação

A minha procura por um programa de mestrado foi calma e prudente.

Buscava um programa de educação com linha de pesquisa que me oferecesse o estudo

das tecnologias de informação e comunicação, pois os universos que me chamavam a

atenção eram educação, cultura e televisão.

Em 1985, ingressei na Universidade Federal do Espírito Santo no curso de

Educação. Freqüentei-o por um ano e foi neste período que aprendi a aprender estudar.

Eufórico, troquei de área de conhecimento – Comunicação Social / Jornalismo,

acreditando ter maior mobilidade profissional. Contudo foi impossível, mesmo que

quisesse, e eu quis, deixar de lado aquilo que me fez respirar pela primeira vez dentro de

uma escola e começar o meu processo educacional: a pedagogia.

O universo cultural me levou, por cinco anos, à Itália com o objetivo de

estudar o olhar do estrangeiro, orientado pelo professor antropólogo da Universitá degli

Studi di Roma, Massimo Canevacci.

Apenas quando fui convidado para implantar e coordenar uma televisão

universitária no Espírito Santo - Brasil, meu objeto de pesquisa realmente fez sentido.

Passei a olhar a Universidade como agência prestadora de serviços em uma perspectiva

que trata a instituição de ensino superior como uma agregação de escolas formalmente

reunidas para realizar um conjunto de serviços educacionais, de pesquisa e de consulta

para a sociedade. Começava o desenvolvimento do estudo do objeto, que depois de

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exercitar a fotografia, a interpretação, o cinema e a televisão, ficou definido: a televisão

universitária como ambiente de aprendizagem1.

Como professor, presencio em sala de aula inquietações de alunos que

buscam formatos e linguagens televisivas que vão de encontro aos princípios

constitucionais e aos mais conceituados códigos deontológicos. Porém, a maioria

discente se posiciona, e com direito, a partir do atual fundo cultural televisivo: a

televisão comercial brasileira. Diante da carência de referências televisivas, os discentes

sentem-se oprimidos, questionando por que a universidade não responde às demandas

da sociedade. Ao estudante de comunicação social não é suficiente um discurso crítico,

é necessário um laboratório de aprendizagem com qualidade para que ele possa

experimentar novas referências televisivas.

Na aurora do novo século, as sondagens de opinião ou as reclamações feitas

pelas associações de espectadores começam a dar sinais de que o público não é ingênuo

quanto à atual falta de inovação, quanto à obsessão com a audiência, quanto à excessiva

espetacularização da informação, quanto à onipresença dos jogos na televisão.

O objeto de pesquisa delineado neste estudo vai ao encontro à qualificação

dos cursos de comunicação social, cuja missão é armar a consciência de cada futuro

profissional enunciando valores e princípios consensualmente reconhecidos. A televisão

universitária é um canal que deve ter por vocação veicular educação. É um recurso para

a educação a distância. Sabemos que a educação a distância utiliza-se da televisão e de

outras plataformas para alcançar os seus objetivos. Quando falamos de educação a

distância a questão mais embaraçosa não está na distância, mas na educação, já que os

avanços tecnológicos disponíveis não são acompanhados pelos avanços no campo da

aprendizagem.

1 Um ambiente utilizado para pensar e produzir conhecimentos com o auxílio da tecnologia, onde a teoria pode ser experimentada e testada, possibilitando novas aprendizagens.

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Wolton, (1996) afirma que sabemos tudo o que é necessário saber sobre as

mídias. No entanto, cabe indagar, é possível aprender jornalismo ou publicidade

assistindo televisão? Talvez, até hoje, a resposta seja positiva. Há um contraponto entre

ensino e educação. O primeiro termo remete a recursos instrucionais e de treinamento

de fora para dentro de cima para baixo – e o segundo para sujeitos que aprendem de

dentro para fora, em um contexto emancipatório, tipicamente reconstrutivo, laboratorial,

de erros e acertos.

Nesta pesquisa, partimos da suspeita de que a formação dos futuros

profissionais de comunicação social não oferece qualidade laboratorial para assessorar a

educação a distância e muito menos às televisões comerciais ou estatais. Um ciclo

vicioso é formado: Os futuros profissionais aprendem TV vendo TV, pois as escolas de

comunicação social não apresentam pesquisas capazes de darem origem a uma espécie

de fundo cultural comum do fazer televisivo.

1.1 Introdução

As televisões universitárias brasileiras surgem num contexto de tensão entre

os modelos de televisão comercial e educativa, onde o primeiro recebe críticas de

banalização da violência e do sexo e o segundo de não encontrar o equilíbrio entre

educação e entretenimento. O equilíbrio supõe uma concepção que juntasse a um

conteúdo educativo um formato agradável, que proporcionasse prazer ao telespectador.

As tevês universitárias têm um caráter institucional, mas por não terem um

caráter comercial, ao menos em tese, gozam de maior liberdade para investir na

qualidade do conteúdo, já que não estão presas a contratos e a busca frenética pela

audiência a qualquer preço. Os dois modelos diferenciados de televisão, a TV comercial

e a TV educativa, utilizam “teoricamente” a mesma técnica, porém, com conteúdos e

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propostas diferenciadas. Isso indica que a técnica a ser ensinada pela TV universitária

ao estudante de comunicação, poderá ser utilizada por eles, quando atuarem

profissionalmente, em um dos modelos de televisão, seja comercial ou educativa. No

entanto, propostas diferentes, na maioria das vezes acarretam conteúdos também

diferentes. Isso implica um possível questionamento e uma reflexão a respeito da

qualidade do conteúdo e do formato a seguir pelas televisões universitárias.

Para compreender a tensão entre televisão comercial e educativa é preciso

refletir sobre como surgiram e com quais propostas. Vale recordar que em 1930, a

televisão começa a ser transmitida experimentalmente nos Estados Unidos, mas apenas

em 1939 é que as emissões regulares começaram a ser realizadas com a NBC – National

Broadcast Company, na Feira mundial de Nova York. Já a televisão brasileira entra no

ar oficialmente no dia 18 de setembro de 1950 com a TV Tupi de São Paulo exibindo o

“Imagens do Dia” o primeiro telejornal brasileiro (MATTOS, 1990).

No Brasil, a televisão foi implantada seguindo o modelo americano de

empresa privada, visando o grande potencial de consumo que desponta com a

emergente indústria brasileira. Embora se afirme que a televisão brasileira quando

surgiu só era acessível à elite econômica da época, a televisão em geral foi pensada para

as massas.

Para Carvalho (2006), a televisão só começou a se interessar pelo seu

público a partir da concorrência entre as emissoras. O cenário para venda de produtos

era promissor e a disputa pelas verbas publicitárias acirrava a competição. A grade de

programação foi “criada” apenas para encaixar os “reclames” da época. Os anunciantes

associavam sua marca ao nome dos programas: Espetáculos Tonelux, Teatrinho Trol,

Cine Max Factor, Repórter Esso, etc.

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Carneiro (1999) afirma que nos anos sessenta no Brasil, a TV Cultura-SP,

ainda como uma emissora comercial, inicia sua experiência de ensino “cedendo” dois

horários de sua programação para a Secretária de Educação do Estado de São Paulo.

Nesta década, para o INEP – Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa, vinculado ao

então Ministério da Educação e Cultura, a televisão educativa se destina à divulgação de

programas educacionais, mediante a transmissão de aulas, conferências, palestras e

debates (FARIA, 1999).

Magalhães (2003) afirma que a primeira TV totalmente “Educativa” do

Brasil surgiu em Recife pela categoria de televisão criada pelo Decreto-Lei 236, de

1967, no Governo Costa e Silva como alternativa à televisão comercial, já em grande

expansão pelo país. A primeira TV Educativa do Brasil teve o nome de TV

Universitária da Universidade Federal de Pernambuco. Contudo, as TVs educativas, que

no Brasil poderiam ter servido de laboratórios para pesquisas sobre o fazer televisivo,

serviram por muito tempo como moeda de barganha política e de instrumento estatal de

divulgação ‘oficial’, sendo concedidas outorgas de TVs educativas para políticos e não

mais para as universidades.

Também no cenário televisivo europeu e estadunidense, até os anos 80,

conviveram dois modelos no sistema televisual. O modelo de televisão estatal fazia

predominar traços educativos-informativos. O modelo de televisão comercial remetia ao

entretenimento. A base de organização de cada um deles os mantinha em posições

opostas: Estado x mercado. De um lado, tornou-se inevitável para a televisão estatal

européia abrir-se em direção ao mercado, de outro, o desempenho da função educativa

pelas emissoras comerciais estadunidenses continua sendo cobrada pelos órgãos oficiais

competentes. (CARNEIRO, 1999).

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É também nos anos 80, no contexto intelectual britânico, que surge a expressão

quality television (televisão de qualidade). Segundo Machado (2000), quality television

passa então a ser uma expressão rapidamente tomada como bandeira para uma

abordagem diferenciada da televisão, logo adotada por um punhado de estudiosos e

críticos, malgrado nenhum deles tenha conseguido definir de forma clara o que seria

“qualidade” em televisão.

Diante deste cenário, passamos a viver, consequentemente também no Brasil,

numa época em que as reclamações sobre a má qualidade da programação da televisão

aberta são constantes, motivando inclusive o judiciário que, através do Ministério

Público Federal no Estado do Rio de Janeiro, convocou a população para participar de

audiência pública sobre a qualidade da programação de TV, no dia 24 de agosto de

2005. Resolvemos fazer este encontro devido a uma demanda crescente da própria

população que vem se posicionando de forma cada vez mais crítica frente ao que é

oferecido pelas emissoras de canal aberto, explica a procuradora da República no

Estado do Rio, Márcia Morgado (MULTIRIO/RIO MÍDIA, 2005).

Os conteúdos de violência, sexo e “baixaria” veiculados por programas ditos

populares são cada vez mais freqüentes, programas estes que divulgam o “grotesco”

como linguagem do cotidiano. Por entenderem que se destinam a uma grande massa de

pessoas, reduzem o seu conteúdo e a sua linguagem ao menor “nível” possível, pois

acreditam que dessa forma possa ser assimilado por todos, independentemente do seu

grau de instrução, gerando com isso o que se chama em comunicação de “nivelamento

para baixo”.

Neste cenário, a televisão tem sido objeto constante de análises a partir de

concepções aparentemente opostas: o educativo como negação do entretenimento, e

televisão como exigência de entretenimento. É a partir desse contexto ambíguo, que este

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estudo busca conhecer a concepção dos professores que se propõem a realizar televisão

universitária para verificar a possibilidade de a televisão universitária ser um ambiente

de aprendizagem, tendo como referência o conceito de laboratório, um ambiente para se

criar o novo ou apenas um laboratório de reprodução de produtos já oferecidos por

modelos atuais.

Desta forma o campo desta pesquisa é o universo estudantil e laboratorial.

Buscamos investigar propostas pedagógicas dentro do ambiente televisivo universitário

que possam oferecer resultados, em médio prazo, capazes de servirem como referência a

futuros alunos de comunicação social, assim como a profissionais do mercado de

programas televisivos brasileiros.

Com o propósito de verificar o objetivo formulamos um conjunto de

questões que regem esta pesquisa:

1. Qual concepção de televisão é desenvolvida pela televisão universitária?

2. Quais são as referências televisivas apresentadas aos estudantes na televisão

universitária?

3. Quais critérios são utilizados para selecionar os conteúdos na TV universitária?

4. Como é administrado o conhecimento teórico da linguagem televisa em sala de aula e

o conhecimento técnico com os alunos que participam da televisão universitária?

A importância deste estudo se justifica por que as pesquisas em televisão

universitária são recentes e as investigações sobre as concepções do professor na

produção de significados de conteúdos para a orientação prática ainda estão se

desenvolvendo.

A exemplo dos hospitais universitários, dos centros de pesquisa na área de

informática ou das incubadoras de empresas, as TVs universitárias podem cumprir o

papel de laboratório de pesquisa, experimentação e criatividade desde que haja uma

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política institucional claramente definida para orientar a prática. Uma política

institucional clara define os critérios metodológicos a serem utilizados pelos professores

participantes para caracterizar uma televisão universitária como laboratório de

aprendizagem para a formação de estudantes de comunicação social.

Muitos artefatos cotidianos foram realizados em laboratórios universitários e

utilizamos com habilidade esses produtos. Acreditamos assim que a TV universitária

como extensão da universidade em seu fazer televisão pode desenvolver através de seus

pesquisadores novas concepções de televisão, que atendam a uma demanda da

sociedade por educação e entretenimento.

Organizamos esta dissertação em quatro capítulos. No primeiro debatemos a

problemática do estudo, analisando as concepções que deram origem às televisões

universitárias. O segundo capítulo articula os conceitos de educação, laboratório de

aprendizagem, laboratório de pesquisa e ambiente de aprendizagem que utilizamos para

observar o problema. O terceiro capítulo expõe as escolhas metodológicas, as técnicas

utilizadas para a coleta de dados e a seleção de sujeitos. No quarto capítulo,

apresentamos os resultados das análises da pesquisa e as conclusões.

1.2 A universidade

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Para entendermos a televisão universitária, vamos discutir o fazer televisivo

na universidade como universo de estudo da pesquisa. Para os aspirantes a Jornalista a

universidade é o único caminho possível para se trabalhar na televisão brasileira.

O Decreto-Lei n° 972, de 17 de outubro de 1969 que dispõe sobre o

exercício da profissão de jornalista em seu art. 4° inciso V afirma:

V – diploma de curso superior de jornalismo, oficial ou reconhecido, registrado no Ministério da Educação e Cultura ou em instituição por este credenciada, para as funções relacionadas de "a" a "g", no art. 6º.

Se a universidade é um caminho obrigatório, por que a televisão não é

pensada como um instrumento laboratorial estratégico para a sociedade brasileira? Esta

inquietação já faz parte da rotina dos estudiosos em comunicação preocupados com a

formação profissional dos estudantes de comunicação social. Lopes (1989) afirma que

em 1963, o professor e jornalista Luís Beltrão alertava que as escolas deveriam

funcionar como um núcleo de renovação dos processos jornalísticos, servindo para

experiências de forma e de conteúdo dos programas que a comunidade espera encontrar

nesses meios. Assim, caberia às escolas de jornalismo promover e desenvolver

investigações e análises sobre os meios de comunicação de massa, não apenas da

melhoria dos padrões técnicos da imprensa de sua região ou país.

Para Lopes (1989), desde a criação do primeiro curso superior de jornalismo

na Universidade do Distrito Federal, fundada em 1935 por iniciativa de Anísio Teixeira,

já ficava clara a preocupação em ministrar o ensino prático aos alunos sem, no entanto,

esquecer da formação humanística.

Uma boa descrição é apresentada por Lopes, utilizando uma passagem

mencionada por Mello:

“É fundamental que os laboratórios sejam entendidos como espaço de aprendizagem e de pesquisa e não como complementos da estrutura burocrática que em muitos casos os têm administrado de

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forma distorcida, transformando-se em núcleo de produção industrial e só subsidiariamente permitindo sua utilização pedagógica.” (MELLO, 1984 apud LOPES, 1989)

Nos anos noventa, Ferrés (1998) afirma que o fato de a televisão ser “o

império das emoções e das sensações” tende a provocar uma atitude de rejeição,

principalmente em ambientes educativos ou em âmbitos intelectualmente inquietos e

socialmente comprometidos. Tende-se a considerar as emoções como algo pernicioso,

nocivo ou, pelo menos, perigoso. Emoção e sensação são consideradas, com freqüência,

como a ante-sala da alienação. O legado de rejeição da televisão se mantém nos meios

acadêmicos por cerca de cinqüenta anos.

CARVALHO (2005, p.11) faz indagações pertinentes ao nosso estudo e

indaga se não nos falta uma cultura de produção e consumo de TV e vídeo na educação.

Se a televisão e o vídeo são ferramentas pedagógicas que podem enriquecer e proporcionar grande dinamismo e outras vantagens ao trabalho do professor, ou mesmo à educação em geral, cabe indagar o que estaria faltando para que, de fato, houvesse a utilização desses recursos? Vendo por um outro viés, será que a subutilização da TV e vídeo estaria relacionada à ausência de uma cultura de consumo desses produtos no meio educacional? Se admitirmos esta ausência, o que está faltando para implantarmos uma cultura de produção e consumo da TV e vídeo na educação?

Tanto as afirmações de Ferrés quanto as indagações de Carvalho mostram o

grau de dificuldade da sociedade acadêmica em associar a televisão a veículo de

disseminação educacional. Para Carvalho (2005), a televisão é considerada um meio

bastante eficiente devido a sua grande penetração em milhares de lares ao mesmo

tempo, principalmente se levarmos em consideração o tamanho do Brasil e o fato de que

o sinal de televisão chega a recantos os mais longínquos.

As universidades, através das Escolas de Comunicação Social de nível

superior apresentam-se, teoricamente, como as responsáveis pela formação de mão-de-

obra que pensa e produz os programas de TV exibidos nas emissoras brasileiras.

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A lei 5.540/68 chamada “Lei de Reforma Universitária”, determina através

do artigo 1° que “o ensino superior tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das

ciências, letras e artes e a formação de profissionais de nível universitário”. Já o artigo

2° afirma que “o ensino superior, indissociável da pesquisa, será ministrado em

universidades, e, excepcionalmente, em estabelecimentos isolados, organizados como

instituições de direito público ou privado” e, para completar, o artigo 20 afirma que “as

Universidades e os estabelecimentos isolados de ensino superior estenderão à

comunidade, sob forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e os

resultados de pesquisa que lhe são inerentes”. Neste ambiente, conforme a legislação

acima, as televisões universitárias foram criadas para que os resultados de suas

pesquisas de novos formatos e conteúdos possam ser oferecidos à comunidade.

Porcello (2002) afirma que a universidade e a televisão são entendidas como

instituições com finalidades distintas, que podem se integrar, mas não se confundem. O

recente passo para apertar o enlace entre estas duas instituições aconteceu com a criação

da Lei Federal n° 8.977, de 6 de janeiro de 1995, conhecida como a Lei da Televisão a

cabo, que prevê os chamados “canais básicos de utilização gratuita” onde, entre esses,

está o canal universitário e suas televisões ligadas às Instituições de Ensino Superior.

Para Aronchi (1997) no mercado de trabalho é comum ouvir que a

Faculdade não ensina nada, que o recém formado é um recém-mal-informado sobre a

profissão. Aronchi afirma que para eliminar este (pré) conceito é preciso ministrar as

disciplinas de formação técnica com clareza, organização e eficiência, evitando o

amadorismo e experimentalismo que permeiam o ensino de televisão. Para ele, há

também uma necessidade de aprimoramento das técnicas de ensino do professor, da

mesma maneira que é necessária a reciclagem e o aperfeiçoamento do profissional de

qualquer outra área.

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Os cursos de Comunicação Social, que se utilizam de mídia audiovisuais

como suporte de formação profissional dos estudantes, podem ter nas televisões

universitárias um ambiente de aprendizagem. Uma das lacunas do ensino da linguagem

audiovisual no curso de Comunicação Social é a baixa carga horária das disciplinas que

contemplam a prática profissional, cujas ementas abrangem o suporte teórico-prático,

restando pouco tempo para que os alunos vivam a rotina de produção. As televisões

universitárias podem ser embriões de laboratório televisivo universitário que ofereça à

sociedade brasileira uma base de pesquisa empírica acadêmica do fazer televisão,

produzindo pesquisas para as emissoras de televisão.

Diante da dinâmica da mídia televisiva, estas escolas, em parte, adaptam-se

às exigências da indústria de programas para TV. Se a primeira formação básica é

provida por cursos de Comunicação, a segunda formação é complementada com

estágios e treinamentos nas emissoras comerciais, educativas e universitárias.

Desde a década de 40, já se desenvolvia, nos Estados Unidos, a tendência de

pesquisa empírica sobre os efeitos do rádio, e depois da televisão. Inúmeros desses

estudos, alguns de vocação industrial, outros acadêmicos, forneceram, entre 1950 e

1965, quadros analíticos teóricos ainda hoje bastante valiosos sobre os efeitos positivos

e negativos das mídias (WOLTON, 1996).

Na década de 60, as pesquisas puramente comerciais foram predominando

numa perspectiva muitas vezes demasiada instrumental e sem grande referência teórica,

dando assim a sensação de que a abordagem empírica era necessariamente não-crítica.

Adorno (1983) questiona a extensão do método das ciências naturais às ciências sociais,

especificamente quando há necessidade de decompor problemas complexos em aspectos

singulares para adequá-los ao teste empírico.

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Paralelo às pesquisas americanas sobre televisão, Wolton (1996) afirma que

nas décadas de cinqüenta e sessenta, no meio acadêmico franco-alemão, o a priori

político era tal que, vale recordar, a partir de então, por mais de trinta anos o simples

fato de falar da escolha do público ou do interesse apresentado pela televisão privada

levava a catalogar como “de direita” e incompetente, o profissional acadêmico que

ousasse tocar nesse assunto.

Machado (2000) faz uma rápida retrospectiva histórica e examina o texto

“Television and the Mass Culture Patternes” escrito por Theodor Adorno em 1954.

Nesta obra, Adorno examina panoramicamente alguns temas supostamente televisuais e

deixa escapar, em alguns momentos, que está trabalhando com uma “amostragem”,

chegando mesmo a referir-se, quase ao final do artigo, a “textos de comédias colocados

à sua disposição”. A menção a “textos” sugere que, sendo um pensador sofisticado,

Adorno preferiu não “sujar as mãos” (ou os olhos) vendo televisão e, nesse sentido,

pediu para alguém recolher “amostras” de programas para que ele as pudesse analisar.

Como naquela época (1954) ainda não havia vídeo-teipe, muito menos videocassete, o

que lhe colocaram à disposição não foram exatamente cópias dos programas, mas

“textos” escritos, provavelmente roteiros ou resumos de argumentos.

Para Machado (2000), Adorno examina a televisão a partir de uma

“amostragem” escrita e, o que é pior, uma “amostragem” nitidamente tendenciosa, pois

o objetivo indisfarçável era demonstrar que a televisão era um “mau” objeto. Machado

(2000) afirma que foi um ataque implacável à televisão, sem dedicar uma pesquisa mais

extensiva ao conjunto de propostas que a televisão estava apresentando nos anos 50. O

resultado deste ataque pode ser verificado atualmente, pois existem intelectuais

acadêmicos que ainda repetem aqueles mesmos argumentos e, é claro, não vêem

televisão. Esse devia ser o a priori político normativo em 1954, ainda mais no círculo

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severíssimo da Escola de Frankfurt, que influenciou cerca de trinta anos a pesquisa

empírica em comunicação.

Para Wolton (1996), a conseqüência dessa cultura é o domínio da televisão

marcado por vetos políticos e ideológicos, sem pesquisa empírica acadêmica suficiente

para assessorar as televisões privadas e públicas atualmente.

Contudo, ainda nas décadas de 50 e 60, agora no Canadá, Machado (2000)

chama a atenção para as apresentações do pianista Glenn Could, na Canadian

Broadcasting Corporation de Montreal, que se multiplicariam ao longo de duas décadas

seguintes, em cerca de quarenta diferentes programas de televisão, inclusive com

referências explícitas positivas à Teoria Estética, elaborada nas décadas de 50 e 60 por

Adorno. Também na década de 60, a despeito dos críticos de esquerda, Georges

Friedmann, cria no CNRS – Centre National de Recherche Scientifique, na França, o

primeiro centro de pesquisa sobre mídias, onde trabalharam, entre outros, Roland

Barthes e Edgar Morin. Para Friedmann (1967) as mídias constituíam uma revolução

que não podiam deixar de serem estudadas.

Atualmente, no debate universitário de sala de aula, a concepção de TV

Educativa, que adota o ponto de vista do cidadão para a formação da cidadania, e a

concepção de TV Comercial, que defende o ponto de vista dos proprietários para a

formação das exigências da indústria de programas para TV, têm sido analisadas e

questionadas, porém, na televisão universitária esta formação recebe contorno mais

complexo. Com o nascimento da TV Universitária, sua concepção torna-se questão.

Aparentemente de concepção educativa, a televisão universitária tem

possibilidades de ser um ambiente de aprendizagem do fazer televisivo, típico das

instituições educacionais que desenvolvem pesquisa.

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1.3 TV Educativa vs TV Comercial

Através de seus programas, de forma consciente ou não, a televisão oferece

modelos de comportamentos, informações, opiniões, políticas e reproduz o mundo real

em sua complexidade como se fosse espelho, o simulacro da realidade, onde o indivíduo

se identifica e se encontra. É o mundo real e o representado se interpenetrando, o lugar

onde ficção e realidade se confundem. (BAUDRILLARD, 1990).

Os veículos de comunicação são fontes de modelos facilmente disponíveis e atraentes. Eles proporcionam modelos simbólicos de quase toda forma concebível de comportamento. Uma vasta literatura mostrou que tanto as crianças quanto os adultos adquirem atitudes, respostas emocionais e novos estilos de conduta por intermédio da mídia, especialmente do cinema e da televisão (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p.234).

Nos anos noventa no Brasil, a concepção de televisão educativa, até então

considerada única possível, como extensão de sala de aula mostrou-se uma falácia.

Soares (1996) questiona a desobrigação de proprietários e meios de comunicação de

contribuírem para a qualidade da educação, sob o argumento de que “comunicação

social serve para distrair, informar, vender, e basta! Sua linguagem e seu timming são

impróprios para o exercício – sempre tedioso – do ensino”.

Para Wolton (1996) o fato de a televisão pública ter se enfraquecido hoje não

significa que a televisão comercial deva a sua vitória de fato a uma reflexão mais

aprofundada. Se o empirismo tem a vantagem de não vir acompanhado de limitações,

também tem o inconveniente de não orientar sobre o caráter que pode vir a ter uma

televisão em que um número cada vez maior de canais é dominado por uma lógica em

grande parte econômica.

A televisão comercial está intimamente ligada ao entretenimento e à formação

de consumidores. A referência é a TV aberta, que entra em 98% dos lares brasileiros

(IBGE, 2004). A televisão aberta ou broadcast reina absoluta por mais de 40 anos. A

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briga pela audiência leva ao vale-tudo, produzem-se programas apelativos e

sensacionalistas para atrair grandes massas de telespectadores, que interessam

potencialmente aos anunciantes que patrocinam esses programas.

No entanto, não podemos esquecer que a teledifusão constitui um serviço

público que é prestado por empresas particulares e estatais através de concessões e que,

por isso, difere da mera atividade econômica, devendo atender aos interesses da

coletividade respeitando o direito da população a uma programação de qualidade

cultural, artística, educativa e informativa.

A propósito, o artigo 221 da Constituição determina com clareza que:

Art.221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I - Preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; II - Promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive a sua divulgação; III - Regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos por lei; IV - Respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

O artigo 221 da Constituição obriga, vale relembrar, a todas as emissoras de

televisão: atender ao interesse coletivo, no exercício da atividade de televisão, constitui

verdadeira função social das emissoras de radiodifusão.

Se as teorias jamais foram suficientes para aperfeiçoar o pensamento e o

domínio da realidade, somos, ao menos, levados a pensar que a sua ausência, num

domínio tão importante quanto a televisão, a exemplo do setor de saúde ou educação,

não é garantia de uma análise mais bem-feita (WOLTON, 1996).

A televisão, como um meio de comunicação poderoso da atualidade, não

pode limitar-se a ser uma indústria ou um simples negócio, seguindo exclusivamente a

lógica do mercado de bens e serviços. Não pode tampouco ceder às exigências

puramente mercantis de uma globalização que parece não levar em consideração os

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valores culturais e de identidade. É absolutamente necessário que se comprometa com o

objetivo de formar uma cidadania democrática assentada sobre os direitos humanos, e o

desenvolvimento da educação para todos.

Wolton (1996) faz indagações ao meio universitário: com o

desmoronamento do modelo de televisão pública, a ausência de outro modelo e o

triunfo incerto de um modelo da televisão privada, por que a televisão, depois de tanto

tempo, não chega a ser um objeto de conhecimento? Por que os discursos sobre a

televisão têm boa acolhida se são radicalmente críticos e maniqueístas e, em grande

parte, negligenciados quando são mais matizados?

Azedo (2004), na virada do século, afirma que tanto a TV comercial quanto

a TV educativa estão preocupadas com a cidadania. A educação para a cidadania só se

faz com diálogo e análise crítica, o que exige uma interatividade que a TV ainda não

praticou. De qualquer modo, o que a TV comercial precisa fazer é melhorar a qualidade

do conteúdo da sua programação como um todo, priorizando os interesses da

comunidade e não só os interesses comerciais. Por outro lado, a TV pública precisa

adequar a sua linguagem a um público mais abrangente, pois atualmente sua

programação, muito intelectualizada, não é apreciada pela maioria da população.

Para a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, a criação da

Empresa Multimeios-MultiRio teve como finalidade a produção de programas

pedagógicos para atender a professores e alunos. Criada em 1993, a MultiRio tem sua

programação veiculada no canal 3 da NET, com quatro horas diárias, e na TV

Bandeirantes, com duas horas diárias.

Para a MultiRio (2004), a grande diferença entre uma TV comercial e a TV

educativa é a convenção de valores e finalidade imediata e última: os valores do

progresso científico, da defesa da cultura, da educação e do diálogo entre as pessoas. No

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que se refere à finalidade, a televisão educativo-cultural deve contribuir para a formação

do telespectador, aumentar sua capacidade crítica, sua formação e, sobretudo, despertar

sua consciência. O que se pede de uma TV educativa não é que ela deixe de ser

televisão, posto que não é escola, mas que ela seja diferente das TVs colocadas

prioritariamente a serviço do mercado.

Para Cassirer (1999), essa polêmica, no Brasil, já emergia das discussões na

produção, na década de sessenta, dos programas instrucionais que se resumia ao conflito

entre a necessidade de certo grau de entretenimento para manter a atenção do espectador

e o receio de imprevisíveis formas de atração que distraíssem a atenção do espectador

do objeto principal. Essas intermináveis discussões não são concluídas porque o

caráter popular e banal da televisão tende justamente a excluí-la da pauta de assuntos

que precisam ser “pensados”. Sua integração natural à vida cotidiana reforça o

sentimento de que é inútil refletir demais sobre a TV (WOLTON, 1996).

O cineasta Nelson Pereira dos Santos definiu a televisão quando a chamou de

“circo eletrônico”, pois ela apresenta de tudo um pouco: mágicos, palhaços, comédias e

dramalhões, como num grande circo, mas para Wolton (1996) aqueles que acreditam

imperturbavelmente em espectadores passivos e sem reações, nem interesses,

“zapeando” aleatoriamente de um canal para o outro, deviam escutar as conversas nos

transportes públicos e nas empresas! Os programas passam, literalmente, por um crivo

de julgamento cotidiano. Esse duplo movimento de recepção e discussão prova não

apenas que os espectadores não são passivos, mas que eles sabem criticar e julgar a

televisão, seja essa de modelo comercial ou educativo.

Para Barbero (2003), algo radicalmente diferente acontece quando o cultural

assinala a percepção de dimensões inéditas do conflito social, ou seja: a formação de

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novos sujeitos – regionais, religiosos, sexuais, geracionais e as formas de rebeldia e

resistência.

Gostemos ou não, para bem ou para mal, o que está sendo transformado pelo que a televisão produz e em seu modo de reprodução é a própria noção de cultura, sua significação social. (BARBERO, 2003,p.310)

A manifestação cultural de um povo esta diretamente representada na mídia.

Martin-Barbero nos estimula a pensar os meios de comunicação como mediadores da

cultura. É no agir de um povo que podemos verificar as transformações nas formas e

nos conteúdos midiáticos.

Carvalho (2005) afirma que se os comunicadores sabem cativar as crianças para

que esta permaneçam utilizando a TV, o contato dos profissionais de TV e vídeo com

profissionais da área de educação, no entanto, ainda não gerou uma cultura no meio

educacional capaz de proporcionar regularidade na utilização da TV e do vídeo nas

escolas. Este desafio é posto para a Universidade e principalmente para a TV

universitária, enquanto ambiente de aprendizagem.

1.4 A TV Universitária

Nesses onze anos de televisão universitária via cabo, os estudos realizados

em torno da televisão universitária avançaram na direção de conceituar e apresentar a

televisão universitária como meio de divulgação de conhecimento científico (DE

CARLI; TRENTIN, 1998; AIRES, 1999; PORCELLO, 2002; PENA 2002; PRIOLLI,

2004; MAGALHÃES 2004; RAMALHO, 2004 e CARVALHO 2006). Esses estudos

sobre a televisão universitária são recentes e as investigações sobre as concepções de

TV Universitária como ambiente de aprendizagem para o estudante de comunicação

social ainda não tiveram tempo hábil de serem desenvolvidas.

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No Brasil, a televisão a cabo foi implantada na década de 90, por dois

grandes grupos: o grupo Abril e as Organizações Globo. E a partir de janeiro de 1995, a

Lei nº.8.977 em seu artigo 23 obriga as operadoras do serviço de cabo a tornar

disponíveis determinados canais, chamados “Canais Básicos de Utilização Gratuita”,

entre os quais “um canal universitário, reservado para o uso compartilhado entre as

universidades localizadas no município ou municípios da área de prestação do serviço”.

Hoje existem cerca de 100 IES – Instituições de Ensino Superior produzindo TV, e 87

delas se utilizam de canais universitários (CARVALHO, 2006).

No Rio de Janeiro, o Canal Universitário foi implantado em agosto de 1999

e, diferentemente dos demais, acolhe entre seus associados: universidades públicas e

privadas, centros universitários e faculdades isoladas, o que o torna mais plural e

representativo do que, por exemplo, em São Paulo, que só compartilha o canal entre as

universidades.

Vale ressaltar que, em cidades do interior, as pessoas assistem o canal

universitário principalmente porque eles abordam assuntos regionais e apresentam

personalidades locais sendo entrevistadas. Isso foi constatado pelo trabalho de pesquisa

realizado por alunos do curso de comunicação em Campo Grande - MS. (SATO;

SIQUEIRA; AGUILERA, 2000). No entanto, o mesmo não ocorre nas grandes capitais

como Rio de Janeiro, São Paulo e outras.

Segundo Magalhães (2003), a Associação Brasileira de Televisões

Universitárias considera, em seu estatuto, que uma televisão universitária é aquela

voltada estritamente à promoção da educação, cultura e cidadania. Essa definição

aproxima muito a TV Universitária da TV Educativa, no entanto, ela é também um

ambiente tecnológico de aprendizagem utilizado pelo curso de comunicação social para

ensinar a fazer televisão.

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Priolli (2004) nos conduz ao problema conceitual sobre qual concepção de

Televisão Universitária deve-se perseguir. A partir da identificação de algumas dessas

concepções, delineia uma crítica ao pensamento predominante.

Na percepção da maioria, tanto no mundo universitário quanto na mídia brasileira, é uma televisão laboratorial, produzida por estudantes sob a orientação de professores, visando tão somente a sua capacitação profissional, para o ingresso no mercado de trabalho. (...) cuja ambição não pode transcender as fronteiras do processo formativo de estudantes de comunicação, devendo ela conformar-se com uma permanente subalternidade, mesmo no contexto da televisão educativa, já percebida como subalterna à TV comercial. Uma outra visão da Televisão Universitária é aquela que ainda a identifica exclusivamente com o público estudantil, mas que o vê não como produtor de conteúdos e sim como receptor (...). Uma terceira visão já admite que a Televisão Universitária pode ser mais do que um meio de expressão dos estudantes, ou de acesso a seu universo de interesses e preocupações (...). No entanto, a Televisão Universitária tem missão estritamente educativa, devendo se ater aos conteúdos formadores e informativos, sem desperdiçar tempo e recursos com o entretenimento (...). Por que limitá-la ao universo estudantil? Por que obrigá-la apenas à função laboratorial? Por que entender a sua missão educativa em sentido tão estreito?

Em síntese, a televisão universitária ainda não tem um perfil definido

(CARVALHO, 2006) e é possível pensar em uma concepção não se limitando ao

universo estudantil laboratorial, muito menos se negando a um debate com as televisões

comerciais, mas definitivamente ampliando a sua missão educativa.

Para Priolli (2004), a TV Universitária deve ser feita com a participação de

estudantes, professores e funcionários; com programação eclética e diversificada, sem

restrições ao entretenimento, salvo aquelas impostas pela qualidade estética e ética. Seu

público interessado em cultura, informação e vida universitária, no qual prioritariamente

se inclui a comunidade acadêmica e aquele que gravita no seu entorno: familiares,

fornecedores, vestibulandos, gestores públicos de educação e etc.

Conceituar precisamente a Televisão Universitária não é apenas uma questão de rigor metodológico, valor que já é, em si, muito caro à Universidade. É uma condição essencial para orientar a programação que ela deve perseguir e, em decorrência, a estrutura que deve assumir, a ambição que deve ter, e a articulações que deve buscar

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com os mercados da comunicação, da educação e da cultura. [...] muitas das IES que produzem televisão atualmente fazem-no sem enfrentar o debate conceitual, e têm pouca clareza sobre a natureza e a finalidade do que oferecem ao público.

As televisões universitárias têm um custo alto para manter o canal no ar, além

do que precisam gastar com a produção dos programas e não podem contar com verbas

publicitárias. Os recursos que dispõem são provenientes das mensalidades pagas pelos

alunos, no caso de universidades particulares, e de verbas públicas reduzidas, no caso

das universidades estaduais e federais, sem apresentarem nenhum convênio com os

órgãos de pesquisa seja no setor público ou privado.

Capítulo 2 2.1 Centro de pesquisa, experimentação e criatividade

A universidade tem o desafio, através dos seus acadêmicos, de ampliar e

experimentar o fazer televisivo, levando em conta a polêmica “educativo versus

entretenimento”, que vem se desenvolvendo desde as décadas de 50 e 60 em vários

países.

É impressionante o que pode ocorrer quando se ouve um diálogo no

supermercado, no salão ou na universidade a respeito de uma trama novelística ou

pessoas conversando sobre um fato jornalístico. Muitas vezes se confunde uma notícia

com uma outra e se acaba contando uma terceira história. As pessoas lidam com os

enredos audiovisuais e sempre absorvem algum conteúdo, seja positivo ou negativo,

para si ou para a coletividade. Como conseqüência desses contatos com produtos

culturais, transformamos-nos, passamos a agir de forma diferente. Alguns produtos

audiovisuais nos deixam caóticos, mais confusos, outros mais objetivos, compreensíveis

e solidários. As linguagens midiáticas são sugestivas e todos têm uma interpretação do

fato audiovisual. É uma linguagem que constitui uma realidade.

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Rosa e Souza (2002) afirmam que influenciar significa ter ascendência sobre

algo, inculcar, incutir. Elas levantam uma questão já bastante debatida, mas nem por

isso ultrapassada: “as mídias têm tido poder na educação escolar?” e continuam: “Os

cursos formadores de professores já incorporaram essa temática nos seus currículos?”.

As suas respostas são negativas. O senso comum fruto dos primeiros estudos críticos

sobre a mídia trouxe a ojeriza da “sala de estar” para dentro da sala de aula.

A linguagem oral da telenovela não seria objeto científico para se pensar sua

utilização na aprendizagem da língua portuguesa no Brasil para alunos do ensino médio.

Alguns professores têm medo. Indagações já comuns tais como: “o professor ‘fala’ de

novela e de propaganda em sala de aula? Tudo bem! Mas o professor não sabe utilizar o

vídeo... demora muito até a aula começar... tem que gravar os capítulos... não tem

antena na escola para receber as televisões ao vivo... só tem TV e vídeo... o pessoal

rouba tudo...” são legítimas.

Em torno de 150 milhões de pessoas vêem televisão todos os dias no Brasil.

A maior parte delas assiste cerca de três horas por dia a Televisão. Duarte (2006) mostra

que as crianças são o público mais significativo, pois permanecem mais tempo dentro

de casa.

“Alguns milhões desses espectadores mirins têm pouco ou nenhum acesso a outros bens culturais, a atividades esportivas e mesmo a uma educação de qualidade e, por essa razão, têm na tevê sua principal fonte de informação e de lazer. Sendo assim, é compreensível que os meios educacionais se preocupem com o considerável poder de penetração da televisão e, acima de tudo, com a influência que ela pode exercer sobre opiniões, crenças, valores e visões de mundo daqueles que com ela se relacionam mais intensamente, isto é, crianças em idade escolar. Mas parece haver muito exagero nessas preocupações. (DUARTE, 2006. p.01)

Não há retorno na relação das crianças com os meios de comunicação, pois,

em geral, parte-se do pressuposto que as crianças gostam das imagens porque são

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fantasias que representam uma realidade. Duarte afirma que há certo exagero nas

preocupações do poder de penetração da televisão na opinião das crianças porque sua

pesquisa aponta para a capacidade das crianças discernirem sobre as informações da

mídia em suas realidades.

Concordamos com Baccega (2000, p.98) quando diz que é preciso que se

descubra que a televisão é um outro modo de saber e de se chegar à educação.

Portanto, em nossa visão, não basta apenas os meios de comunicação – e a televisão especificamente – mudar seu modo de mostrar o mundo, mas educadores e educadoras também deverão rever seu modo de se “apropriar” do que estes veículos despejam sobre nós e selecionar esta ou aquela informação, fazendo com que a mesma tenha sentido em sua vida.

O universo escolar tem sido apontado como aquele em que o poder da

opinião das mídias pode se tornar mais opressivo na concretização das opiniões das

crianças. Se o diálogo for instaurado entre professores e alunos utilizando os meios de

comunicação como uma das formas de representação da cultura, o poder da mídia é

redimensionado e as opiniões dos alunos mais ampla e menos ilusória.

Segundo Rosa e Souza (2002), a mídia refere-se a meio tecnológico portador

de conteúdos, de sistemas simbólicos e, dessa forma, provocam alterações no trabalho e

na vida em sociedade, mas a principal alteração que propiciam refere-se à própria

cultura da qual são frutos e na qual interferem.

Se as mídias são criaturas culturais e criam culturas, podemos focalizar a

nossa imersão num mundo impregnado de tecnologias midiáticas. Num certo sentido,

podemos dizer que a todo instante somos “educados” por estas tecnologias. Docentes e

discentes têm a perspectiva de se acostumarem com as tecnologias midiáticas. É uma

tarefa aparentemente paradoxal, mas sem retorno, deixar de subutilizar as tecnologias de

informação e comunicação – TIC e transformá-las em parceiras.

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É oportuno continuar a pesquisar metodologias e comportamentos da

utilização das TIC, pois nos falta postura diante do produto que nos “educa”. É difícil

analisar aquilo que nos oferece emoções diariamente. É quase um consenso que o local

da reflexão foi delegado à escola, contudo, ainda não chegou o tempo das TIC serem

um consenso na universidade, mas alguns passos importantes já foram dados.

A universidade tem sido definida como produtora de atividades de ensino,

pesquisa e extensão e a sua função primordial tem sido executada de diversas formas

através dos tempos. Atualmente, a tarefa de ensinar é exercida em sala de aula,

seminários e trabalhos de campo que transferem a experiência do aprendizado para

outros lugares. Expressões desse movimento são os grupos de discussão, viagens de

estudos e congressos temáticos. O crescente acesso às modernas tecnologias começa a

modificar a forma de interação entre os corpos docente e discente. A realidade do

ensino a distância vem se impondo rapidamente.

A TV Universitária é apenas uma das conseqüências desse amadurecimento

da universidade quanto às formas de implementar suas tarefas primordiais. Em sua

prática, ela realiza a síntese da missão de promover ensino, pesquisa e extensão,

conferindo um sentido atual sobre como é possível cumprir a atividade-fim da

academia: a educação.

O volume de informações disponíveis nos meios de comunicação tem

convidado mestres e alunos a intensificarem outra postura em relação ao conhecimento.

A Educação chega ao século XXI com o desafio de pensar, discutir, criticar, mas

principalmente experimentar, fazer intervenções na realidade com o intuito de

apresentar à sociedade os produtos da reflexão exercitada no universo da Escola.

A universidade enquanto centro de pesquisa, experimentação e criatividade

deve recriar ambientes de aprendizagem para além do modelo de ensino-aprendizagem

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focado no imobilismo do aluno que fica à espera de respostas, pois não é habituado a

procurar as suas próprias respostas.

Em entrevista2 (FÍGARO, 1999) Martin-Barbero afirma que a escola é um dos espaços

de mediação a partir do qual o aluno fará a leitura dos meios. Ao mesmo tempo em que

se coloca como mediadora, a escola também transmite conhecimento e informações, ou

seja, a instituição escolar desempenha, a seu modo, uma função que também hoje é

exercida pela mídia. Mais ainda, tanto mídia como escola são mediadores da realidade

para o receptor.

A universidade, através de seus cursos de Comunicação Social, não é apenas

escola de jovens que cresceram e escolheram a comunicação para terem uma profissão.

Facilitaria aos cursos de Comunicação Social reconhecer o papel da mídia na formação

dos jovens, pois de outro modo continuaria na posição de desvantagem na preferência

do aluno. A universidade como centro de pesquisa, experimentação e criatividade

precisa reconhecer que os meios de comunicação de massa oferecem aos jovens,

independente do que consideremos valioso ou digno ser oferecido a eles, um conjunto

de conhecimentos que lhes sejam relevantes para se localizarem e se moverem no

mundo, em sua vida cotidiana.

Ainda na mesma entrevista (FÍGARO, 1999) Martin-Barbero afirma que enquanto na

escola queremos produzir uma situação propícia para o ensino-aprendizagem, os meios

de comunicação estão produzindo situações reais que, se não tem a ver com o ensino,

tem a ver, e muito mais, com a estimulação da aprendizagem. As situações reais citadas

por Barbero são simulações de contato, mecanismo mediante o qual a televisão

especifica seu modo de comunicação, organizando-se sobre o eixo da função da

manutenção do contato, provocando a idéia de situações reais no receptor. Para Martin-

2 Entrevista concedida a Roseli Fígaro e Maria Aparecida Baccega, da Revista Comunicação e Educação.

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Barbero (2003, p.305), “essa função opera no aparecimento súbito do mundo da ficção e

do espetáculo no espaço da cotidianidade e da rotina.” É a necessidade de

intermediários que facilitem o trânsito entre a realidade cotidiana e o espetáculo

ficcional, produzindo a idéia de situações reais. Para tanto a televisão recorre a

intermediários, como certo tom que fornece o clima coloquial e a utilização de um

personagem retirado do espetáculo popular, o animador ou apresentador. Presente nos

noticiários, nos concursos, nos musicais, nos programa educativos e até nos “culturais”,

é na verdade aquele que faz perguntas, busca o diálogo com a família, convertendo-se

em seu interlocutor. Daí seu tom coloquial e a simulação de um diálogo que não se

restringe a uma imitação do clima familiar. Sobre isso, afirma ainda que:

na televisão, a visão predominante é aquela que produz a sensação de imediatez, que é um dos traços que dão forma ao cotidiano. Isso cai com uma luva para a propaganda, porque se trata da síntese entre cotidianidade e o espetáculo. Nada de rostos misteriosos ou encantadores demais; os rostos serão próximos, amigáveis; nem fascinantes, nem vulgares. Essa proximidade dos personagens e dos acontecimentos é um discurso que familiariza tudo, torna “próximo” até o que houver de mais remoto e assim se faz incapaz de enfrentar os preconceitos mais “familiares”. Um discurso que produz seus efeitos a partir da mesma forma com que permite maior transparência às imagens: simplicidade; clareza; economia narrativa. (MARTIN-BARBERO, 2003, p.306)

A questão está proposta para que a universidade possa caminhar em direção

a ambientes de aprendizagem como os laboratórios de aprendizagem e laboratórios de

pesquisa de televisão. Assim como o aluno traz o conhecimento adquirido pela mídia

para dentro da sala de aula, é conveniente a universidade produzir propostas

laboratoriais de programas de televisão que possam ser oferecidos como conhecimento

na mídia.

A universidade tem presenciado o fortalecimento de uma prática de pesquisa

que registra o avassalador progresso tecnológico e “dialoga” mais com a sociedade,

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alterando, portanto, o comportamento e a postura dos pesquisadores no ambiente

acadêmico contemporâneo.

Hoje, mais do que nunca, os cenários político, econômico, cultural e social

estimulam linhas de produção científica que signifiquem uma efetiva interferência na

vida da comunidade e que gerem resultados capazes de influir na qualidade de vida da

população.

Tavares (2001), levando em conta a idéia de televisão escola, afirma que é

favorável às emissoras universitárias constituírem-se em centros de pesquisa de

telejornalismo e artes audiovisuais. São espaços privilegiados de aprendizado e

pesquisa. Afinal, são ambientes eficientes para o desenvolvimento de pesquisa de

formatos e de linguagens na área de produção de televisão, oportunidade rara de

experimentação de novos modelos para a televisão brasileira.

2.2 Laboratório de aprendizagem e laboratório de pesquisa

A televisão universitária como ambiente de aprendizagem é vista como

laboratório de aprendizagem para alunos de comunicação social no sentido de que a

universidade permite que os estudantes de comunicação social participem dele. É uma

concepção que parte da idéia de “aprender fazendo”, na qual, de forma não objetiva,

pode-se até descobrir novos formatos e conteúdos, que acrescentem conhecimentos para

uma televisão de qualidade no Brasil. Pode-se distinguir, portanto, duas diferentes

concepções de laboratório: uma dizendo respeito à prática dos alunos no fazer TV e

outra dizendo respeito à pesquisa de novos formatos e conteúdos para a TV brasileira.

Deste modo, é oportuna a distinção entre um laboratório de aprendizagem e um

laboratório de pesquisa.

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O laboratório de aprendizagem tem como objetivo oferecer ao aluno horas

de práticas dentro de uma emissora de televisão para que ele se torne íntimo do veículo

televisão. É um laboratório que qualifica a aprendizagem dos alunos, que se iniciou nas

disciplinas da matriz curricular do curso de comunicação social.

Em algumas de suas manifestações, a TV universitária oferece ao aluno a

prática em uma televisão com programação cultural. Em outras manifestações oferece

ao aluno a prática de uma televisão institucional, cobrindo os fatos da comunidade

acadêmica.

O laboratório de pesquisa tem como objetivo investigar o fazer televisivo,

produzir programas a partir de pesquisas que trabalham o universo televisivo. Não é

objetivo inicial, e nem principal, do laboratório de pesquisa realizar programas. O

laboratório, nesse caso, alimenta-se de duas vertentes: A primeira se caracteriza por uma

interlocução com os pesquisadores das ciências sociais e humanas. A segunda vertente

se caracteriza pela reflexão sobre a coisa pública através da TV universitária.

O laboratório de pesquisa da TV universitária alcança uma unidade prática

com as contribuições das demais ciências. Normalmente as pesquisas necessitam de

alguns anos até oferecerem resultados para a sociedade. Seu principal objetivo é a

própria TV universitária. Quando nos referimos a Ambiente de Aprendizagem estamos

pensando em um ambiente que agrega essas duas concepções de laboratório. Desta

forma, buscamos investigar em duas tevês universitárias as concepções de ambiente de

aprendizagem capazes de comportar tanto o laboratório de aprendizagem quanto o

laboratório de pesquisa.

Para Magalhães (2003) diversas universidades já incentivam seus estudantes,

tanto na graduação quanto na pós-graduação, a desenvolverem projetos que estudem, na

academia, o segmento de TV universitária nos seus mais diversos aspectos. Mas afirma

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que “não há, no entanto, uma linha de pesquisa específica para isso, centralizada ainda

nos programas de comunicação social, com honrosas exceções”.

É um desafio ao comunicador dirigente, professor e pesquisador de televisão

universitária observar as pesquisas cientificas como suporte para formatos e conteúdos

televisivos para a sociedade brasileira.

Dessa forma, pode-se perceber a necessidade de instalar um debate com os

Ministérios da Comunicação, Educação e Ciência e Tecnologia do Brasil, assim como a

sociedade civil organizada através de seus programas de pesquisa, no sentido de

fomentarem recursos financeiros para um alvo de tamanha importância para o Brasil.

2.3 Ambiente de aprendizagem

Este estudo investiga como a universidade desenvolve a idéia de ambiente de

aprendizagem de novas práticas para a televisão brasileira, através das televisões

universitárias. Pretendemos conhecer qual a concepção de laboratório ou de ambiente de

aprendizagem dos professores orientadores e alunos de tevês universitárias.

O que é um ambiente de aprendizagem? - Carteiras? Paredes? Quadro?

Algumas janelas? Segundo a UNESCO (2005), para o aluno a escola é onde a

aprendizagem tem lugar. As pessoas aprendem através das suas interações com

professores, pais, seus colegas e o mundo em sua volta, considerando que a interação é

um dos mais importantes elementos da aprendizagem. Os espaços, os objetos no espaço,

a organização do tempo e interações humanas constituem, todos, o ambiente de

aprendizagem.

Para Peters (2003), o conceito de ambiente de aprendizagem foi criado com

base na mudança do paradigma educacional de instrução. Os estudantes não são mais

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vistos como objetos, mas sim como sujeitos do processo de aprendizagem. Sua

aprendizagem não consiste apenas em receber e processar o conhecimento oferecido,

mas em debater ativamente sobre um objeto de aprendizagem que eles mesmos

selecionaram, em um contexto que é definido a partir da interação simultânea com

outros estudantes e no qual eles mesmos desenvolvem ou alteram estruturas cognitivas

individuais.

Para Wilson (1995), o conceito de ambiente de aprendizagem representa o

lugar ou espaço onde ocorre a aprendizagem. Pressupõe a presença de atividades e

recursos, pois o aluno utiliza ferramentas, coleta e interpreta informações, recebe

orientação e suporte, e interage com outras pessoas. É um local em que os alunos podem

explorar suas próprias metas de aprendizagem, exercendo autonomia e responsabilidade

sobre a construção de seu próprio conhecimento; os alunos trabalham juntos em

projetos e atividades, trocando suporte e aprendizagem entre si e com o ambiente.

Deslocar o foco principal do processo de ensino para a aprendizagem é uma

tarefa difícil, por exigir uma alteração substancial na lógica tradicional de conduzir a

aprendizagem. A mudança necessária acarreta substituir a certeza pela problemática da

incerteza, o que valoriza o contexto do erro e da dúvida.

Para Ramalho (2004), existe um conceito errôneo na comunidade acadêmica, e

também na comunidade externa, de que a TV Universitária pertence aos cursos de

Comunicação Social. Ele cita o ex-presidente da associação brasileira de televisões

universitárias que afirma:

... como trabalho laboratorial, o grande problema está nas propostas de trabalho, que refletem muito mais as preocupações de alunos e professores naquele momento do que propriamente o atendimento aos interesses do público que está do outro lado, a comunidade. Olham para o próprio umbigo. (PRIOLLI apud RAMALHO, 2004)

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O ambiente de aprendizagem da televisão universitária para alunos de

Comunicação Social não parece estar apto ainda para ser um laboratório de pesquisa

para a televisão brasileira. A TV Universitária parece ser no máximo uma extensão dos

laboratórios das disciplinas práticas para os alunos, até porque tais laboratórios são

disponíveis através de estúdios de televisão, ilhas de edição, equipes de gravação

externas, estúdios de áudio, fotografia e editoração eletrônica.

Um exemplo a ser tateado, visto que pouco ou nada se tem escrito sobre o

conceito de televisão laboratório, é o conceito de jornal-laboratório, retirado do VII

Encontro de Jornalismo Regional realizado na Faculdade de Comunicação de Santos,

em 1982:

“o jornal-laboratório é um veículo que deve ser feito a partir de um conjunto de técnicas específicas para um público também específico, com base em pesquisas sistemáticas em todos os âmbitos, o que inclui a experimentação constante de novas formas de linguagem, conteúdo e apresentação gráfica. Eventualmente, seu público pode ser interno, desde que não tenha caráter institucional.” (LOPES, 1989, p.50)

A ABTU afirma no seu sítio3 na Internet que a Televisão Universitária é

parte do processo laboratorial, nos cursos de comunicação, sobretudo, mas não é apenas

um veículo-laboratório, embora seja seu dever investigar e experimentar.

Nessas afirmações é que encontramos a possibilidade de um ambiente de

aprendizagem como laboratório de aprendizagem e laboratório de pesquisa para a

televisão brasileira. A televisão universitária é parte de um processo laboratorial. É a

esse ambiente de aprendizagem de investigação e experimentação que este estudo se

dirige. A televisão universitária não é um laboratório para as disciplinas da grade

curricular, mas pode ser um laboratório de pesquisa, quem investiga e experimenta

3 www.abtu.org.br

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novas práticas de televisão no Brasil. Este é o sentido pelo qual entendemos ambiente

de aprendizagem em nossa investigação.

No sítio do Ministério da Ciência e Tecnologia4, Magalhães (2003) afirma

que a maioria das escolas evita misturar as estruturas físicas de laboratório e TVs.

Embora, obviamente, a TV sirva como uma extensão da escola, a parte acadêmica deve ser cumprida nos laboratórios. Mesmo feita por alunos a TV tem um compromisso com qualidade e prazos, que é bem diferente da prática laboratorial. O telespectador é o mesmo dos outros canais e merece ser respeitado como tal, por isso a estrutura funciona com o mesmo profissionalismo das TVs comerciais, o que as torna diferente dos laboratórios. Enquanto o laboratório se preocupa com o meio, a TV Universitária está preocupada com o fim, por isso a maioria prefere separar as estruturas.

Percebe-se na visão de Magalhães (op.cit.) a preocupação em diferenciar a

televisão universitária dos laboratórios utilizados pelas disciplinas do curso de

comunicação. Porém não é apresentada a possibilidade de criar um ambiente de

aprendizagem para um laboratório de pesquisa na televisão. Em artigo no sítio5 da

Biblioteca on-line de Ciências da Comunicação, Pena (2001) descarta qualquer

possibilidade da televisão universitária ter uma única linguagem, aquela da “brancura e

limpeza” do rigor acadêmico.

A TV universitária talvez seja um excelente ringue para que a comunidade (universitária ou não) brigue por suas próprias lacunas, aí incluída entre a cultura de elite e a cultura de massa. Um ringue para o próprio exercício da cidadania. Ou talvez tudo isso seja um exagero. Mas a exigência de que os programas de um veículo universitário tenham a “brancura e a limpeza” do rigor acadêmico é, no mínimo, uma atitude de quem ignora o próprio público.

Segundo Soares (1996), faltam pesquisas de natureza especulativa que

busquem entender o papel das tecnologias na formação do conhecimento, as diferenças

e especificidades das diversas tecnologias e a relação da mídia com a estética. As

4 www.mct.gov.br 5 www.bocc.ubi.pt

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questões teóricas são ainda dirigidas pelas necessidades práticas. Isso dificulta a

formação de modelos mais generalizantes. Seria importante desenvolver pesquisas que

busquem esse grau de formalização, podendo, então, o novo campo deixar o particular e

adentrar um universo mais amplo e complexo.

Uma pesquisa qualitativa realizada pelo instituto Multifocus (2004), na

cidade de São Paulo, com sessenta pais de filhos de 4 a 17 anos e apresentada na 4a

cúpula mundial de mídia para crianças e adolescentes6, apontou alguns princípios que

devem ter os programas de TV. O programa de TV para crianças e adolescentes, de

acordo com os critérios dos pais, ainda não existe na TV comercial e está escasso no

funcionamento deficiente das emissoras educativas. Segue abaixo os "10 mandamentos

da TV de qualidade".

1. Ser atraente - Um programa que fale a linguagem dos jovens, que tenha música, ação, competições, movimento e humor. 2. Gerar curiosidade - Mais do que transmitir informação, um programa de qualidade deve gerar interesse por outras áreas como esporte, música, cultura... É importante que o programa desperte a curiosidade e o gosto pelo saber. 3. Confirmar valores - Transmitir conceitos como: Família, Respeito ao próximo, Solidariedade, Princípios éticos. 4. Ter fantasia - Estimular a brincadeira, a fantasia, fazer sonhar. 5. Não ser apelativo - Não banalizar a sexualidade e não usar um vocabulário chulo. Mas, é também não explorar a desgraça alheia e o ridículo, não incentivar o consumismo, não mostrar o consumo de drogas e o comportamento violento como uma coisa normal. 6. Gerar identificação - Colocar personagens, temas e situações que tenham a ver com essa geração. Para os pais é importante que seus filhos vejam suas dúvidas, seus confrontos e anseios sendo discutidos nos programas de televisão, que se identifiquem com as situações e extraiam daí algum ensinamento. 7. Mostrar a realidade - Para os pais, é importante que o programa não mostre um mundo que não existe, que não iluda ou falseie a realidade. 8. Despertar o senso crítico - Para os pais o programa de qualidade é aquele que leva o jovem a refletir e dá espaço para ele pensar e montar uma visão crítica. 9. Incentivar a auto-estima - Respeitar e valorizar as diferenças, não transmitir o preconceito e a discriminação através de estereótipos.

6 realizada no Rio de Janeiro em 2004.

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10. Preparar para a vida - Abrir os horizontes, mostrar opções de vida que ajudem o jovem a escolher seu direcionamento. No final da 4° cúpula mundial de mídia para crianças e adolescentes, os

adolescentes de várias partes do planeta participantes do evento deixaram o seu recado

solicitando aos produtores de televisão que trabalhem com eles e não para eles. Desta

forma foi exposta uma voz que deseja uma mídia de todos e para todos, mas

principalmente uma mídia por todos, inclusive por eles.

Queremos uma mídia feita por adultos e adolescentes: uma mídia de todos, para todos, por todos. Não queremos que vocês trabalhem para nós, mas que trabalhem conosco. Se você der um papel em branco para uma criança ela vai fazer um desenho lindo. Mas se você fizer com ela, os dois farão uma obra-prima. (adolescente malaia Marisha Shakil, 2004).

Diante dos valores sociais expostos na 4° cúpula mundial de mídia para

crianças e adolescentes de 2004, a televisão universitária pode contribuir como

ferramenta essencial para a aproximação entre comunicação e educação que, devido à

ilusão da racionalidade moderna instaurada no Ocidente, acontece de forma rarefeita.

Para Soares (1996) na prática, os campos da Comunicação e da Educação

têm sido assumidos com densidade própria, tratados de forma isolada pelos que a elas se

dedicam. Nesse sentido, dificilmente um “tecnólogo” dialoga com um “pesquisador da

recepção dos meios” ou um “educador para os meios”, por acreditarem, todos, que estão

lidando com esferas distintas de ação e de pesquisa: um com o “mundo das técnicas”, o

outro com o “mundo dos valores”.

Capítulo 3

3.1 A argumentação no discurso sobre a prática

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Caracterizamos o campo desta investigação como situações de entrevista, em

que os depoentes defendem pontos de vista, antecipando possíveis controvérsias às suas

crenças. Nesse sentido, o material coletado nas entrevistas foi organizado levando em

conta seu poder argumentativo.

Trata-se de caracterizar a argumentação que ocorre quando alguém se propõe a

falar do que faz no seu ambiente de trabalho, no caso dos professores, ou do seu

ambiente de aprendizagem, no caso dos alunos e também dos professores, levando em

conta o trabalho docente na universidade. Nessas situações, os sujeitos estarão fazendo a

defesa de pontos de vista, portanto, serão situações que lidam com o preferível, não se

está no terreno de certezas. Trata-se do terreno de escolhas: o porquê de uma

determinada prática em detrimento de outra. Aqui, o interesse com a argumentação é na

descrição de como a ela entra em cena no discurso sobre a prática.

Castro (1997, p.73-74) afirma que “mesmo em situações em que apenas um

fala e os outros ouvem, quando se antecipam controvérsias sobre algum tema, serão

evocados processos argumentativos”. No caso de depoimentos e entrevistas, o depoente

ou entrevistado vai falar para alguém que ele imaginará como seja, vai prever suas

reações e procurar direcionar o raciocínio do locutor. Ele antecipará para os temas

polêmicos para preparar a defesa de seus pontos de vista.

O orador, quando argumenta, dirige-se sempre a um auditório. Aquele que é

entrevistado por um pesquisador dirige-se a este último, mas também pode ao mesmo

tempo dirigir sua fala à banca avaliadora da pesquisa ou aos leitores da dissertação ou

livro. Desta forma, entendemos que o auditório não é necessariamente constituído por

aqueles a quem o orador interpela fisicamente. Um auditório é constituído pelo orador

quando ele elabora sua argumentação e é o conjunto de indivíduos que o ele pretende

influenciar através do seu discurso.

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Para Perelman (1999, p.14), adaptar-se ao auditório é, sobretudo, escolher como

premissas da argumentação as que são admitidas por este último. O conhecimento

daqueles que se pretende conquistar é, pois, uma condição prévia de qualquer

argumentação eficaz.

Castro(1997, p.73) acrescentam a necessidade de existir entre interlocutores a

possibilidade de compreensão sobre o que está sendo dito.

Uma relação dialógica supõe que os interlocutores partilhem conhecimento, representações, atitudes, percepções, enfim, hábitos de pensamento. Para que um locutor assegure a persuasão por seus argumentos, deve haver entre o auditório e ele a possibilidade de interpretações comuns.

Para Perelman (1996), um auditório é caracterizado pela forma como o orador

hierarquiza os valores em sua argumentação, o que diz respeito à intensidade de adesão

a um determinado valor em detrimento de outro.

As ações pedagógicas em um ambiente de aprendizagem ocorrem

preferencialmente através dos diálogos entre alunos e professores. No cotidiano da vida

acadêmica, o professor busca encontrar argumentos que despertem o interesse de seus

alunos sobre um determinado assunto. O mesmo ocorre quando professores discutem

sobre sua prática entre si, visto que as discussões devem partir de interesses comuns.

Perelman (1999, p.32) afirma que a argumentação visa muito freqüentemente, incitar à

ação ou, pelo menos, criar uma disposição para ação.

Nas situações de entrevista, observam-se os argumentos dos entrevistados em

direção ao pesquisador no sentido de provocar ou aumentar a adesão de um auditório

aos seus pontos de vistas. A entrevista para uma dissertação de mestrado é reconhecida

no meio acadêmico como importante e este é um fator positivo para impelir os sujeitos a

receber o pesquisador. Por um lado, falar de uma prática que tem sido alvo de inúmeras

críticas da sociedade em geral tem suscitado a rejeição de muitos sujeitos no meio

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escolar em dar entrevistas (CARVALHO, 2003). Por outro lado, a recusa em participar

de uma entrevista, principalmente aqueles que desenvolvem suas funções no meio

universitário, pode ser taxada como inconveniente.

Na fala do entrevistado, a argumentação é um conjunto de meios que ele utiliza

para sustentar seus pontos de vista, requerendo um encadeamento lógico que possibilite

ao interlocutor compreender o que está sendo dito, sem o que a argumentação não é

eficaz. O objetivo da argumentação é obter o convencimento de uma determinada tese.

A argumentação supõe a troca de conhecimentos e a defesa de pontos de vista.

A argumentação sempre visa produzir efeitos sobre um auditório, por isso o

locutor ao preparar seu discurso baseia-se nas hipóteses que tem a respeito desse

auditório. Não se pode convencer alguém se não se leva em conta suas convicções e

suas reações. Perelman (1999) afirma que toda argumentação, propõe-se a influenciar

auditores e leitores e admite a esses certos fatos, valores e técnicas argumentativas.

Na argumentação, uma pessoa deseja convencer outra da validade de um

determinado ponto de vista ou incitá-la a uma prática. Assim, a argumentação só se faz

presente em situações onde há controvérsia e que possibilitem diferentes respostas.

Nesse caso, as premissas que se julgam não terem a adesão do interlocutor devem ser

justificadas e as que se julgam aceitas são utilizadas como ponto de partida da

argumentação. Na maioria das vezes, não se diz o que se julga ser consensual, o que

ocorre de modo mais freqüente é o consensual ficar implícito no que é dito.

Para Perelman (1999), toda argumentação é provida de ambigüidades, que se

desenvolvem numa linguagem natural. A argumentação é um processo comunicativo

que apresenta uma conclusão, mais ou menos plausível, sendo as provas apresentadas

suscetíveis de múltiplas interpretações e marcadas pela subjetividade de quem

argumenta e do contexto em que ocorre.

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Quando um locutor elabora mentalmente um discurso, ele leva em conta o

tipo de auditório a que se dirige e as convicções deste auditório visando obter maior

eficácia através de seus argumentos. Nem sempre as hipóteses que ele constrói sobre o

seu auditório se confirmam, mas o locutor precisa de um ponto de partida para construir

sua argumentação. Caso haja controvérsias durante o discurso ele pode modificar sua

estratégia em curso e adaptar novas hipóteses, especialmente quando se trata de um

diálogo no qual ele conhece seu interlocutor.

Os argumentos expostos por diretores, coordenadores e professores das TVs

universitárias são concepções que indicam práticas em um possível ambiente de

aprendizagem das TVs universitárias. Dessa forma, através dos processos

argumentativos implementados nas entrevistas é que se pretende observar a defesa das

concepções de TV universitária por sujeitos que efetivamente a produzem.

Consideramos que um orador descreve a sua concepção de TV educativa ou de TV

comercial a partir de certas premissas e desconsidera outras e que, dessa forma ele

indica uma visão de prática universitária de televisão.

3.2 O modelo de estratégia argumentativa

Pretendemos com esta pesquisa analisar a estratégia argumentativa de

professores e de alunos sobre as suas concepções de televisão universitária. Segundo

Rizzini, Castro e Sartor (1999), os diversos grupos desenvolvem modos de falar

próprios, característicos das atividades em que estão envolvidos, constroem e

compartilham sentidos que são de natureza ideológica. Para Castro (2003, p.102) a

análise baseada no Modelo Estratégia Argumentativa estuda os processos discursivos.

Partimos do princípio de que a fala tem sempre uma finalidade, nem que seja o elogio ou o lúdico, e mesmo nestas situações o locutor tem que engendrar um jeito de dizer. É claro que ele não é livre para falar o que quiser, existem regras e normas sociais que devem ser levadas em

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consideração sem o qual a fala será taxada como inadequada pelos interlocutores. Além disso, existem formas de falar peculiares a cada grupo social, maneiras pelas quais este grupo entende mais facilmente o que está sendo dito. Por essas razões, a estratégia argumentativa pode revelar todos esses aspectos.

Aplicamos o Modelo da Estratégia Argumentativa – MEA (CASTRO, 1997;

FRANT; CASTRO, 2000; FRANT e CASTRO et al, 2003) para analisar as falas e os

argumentos utilizados pelos entrevistados na defesa de seus pontos de vista. O MEA

baseia-se na Teoria da Argumentação, tradição iniciada por Perelman (1999) e Perelman

e Olbrechts-Tyteca (2003) segundo a qual quem argumenta está dirigindo seu discurso a

alguém com alguma intenção.

O MEA busca relacionar nos discursos dos depoentes três importantes

aspectos: o que, como e o porquê se diz. O sentido das enunciações do depoente emerge

a partir da atividade em que está engajado.

A análise da estratégia argumentativa consiste em um trabalho de reconstrução de argumentos. Neste tipo de análise é necessário escrever esquematicamente qual é o argumento que está sendo usado pelo orador através de enunciados simples que o resumam observando a negociação de significados na construção dos argumentos. A montagem de cada passo do argumento parte da identificação e da avaliação da regra de inferência que dá origem a uma tese. O objetivo é compreender como é que a intenção do locutor determina suas escolhas. Busca-se compreender não tanto significações aqui ou ali, mas aquilo que dá inteligibilidade e organização à fala.(FRANT e CASTRO; 2003, p.101 )

A análise do discurso tem se mostrado bastante adequada para interpretação

de processos ideológicos, daí sua relevância sempre que se quer buscar a compreensão

de tais processos ou levantar novos aspectos que os permeiam.

O termo “discurso” é empregado aqui para se referir a toda forma de

expressão, seja quando ocorre naturalmente nas conversações, seja quando é

apresentada como material de entrevistas ou textos escritos de todo o tipo.

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Para Franz e Castro (2003, p.99) produzir significado é afirmar, relacionar

afirmativas, ou seja, falar sobre um objeto. Considera-se que os argumentos têm sentido

em um “quadro conceitual explicativo”.

Mas, para compreender uma enunciação, não é suficiente avaliar o contexto em que o discurso tem lugar e do qual faz parte. Tem-se ainda que compreender a função da enunciação no próprio argumento. A interpretação da argumentação requer toda informação necessária para que se torne possível a representação do argumento no quadro do modelo interrogativo escolhido. (FRANZ e CASTRO, 2003, p.101)

Um discurso persuasivo produz efeitos por sua inserção como um todo no

contexto, geralmente bastante complexo. O procedimento através do qual destacamos

partes de um discurso persuasivo com o objetivo de analisá-las coloca problemas desde

o início. Esse procedimento é indispensável, mas obriga-nos a separar articulações que

são, na realidade, parte integrante de um mesmo discurso e constituem um só

argumento. O sentido e a eficácia de um argumento só raramente poderão ser

compreendidos sem ambigüidades. Por isso, quando destacamos um esquema

argumentativo, somos obrigados a preencher os vazios deixados no interior das falas por

implícitos e pressupostos.

A identificação do sentido da fala do locutor com o esquema argumentativo

destacado é, portanto, uma hipótese entre várias possíveis. É sempre possível perceber-

se mais de uma maneira simultânea de conceber a estrutura de um argumento. Os

mesmos argumentos podem ser diferentemente analisados de acordo com pontos de

vista adotados, pois o mais plausível é considerar que vários esquemas agem

simultaneamente sobre um locutor. O que ocorre em geral é que esses esquemas agem

sobre os interlocutores sem serem claramente percebidos e somente um trabalho de

explicitação permite interpretar a estratégia argumentativa que eles utilizam ou

participam. Portanto, toda classificação é precária diante das múltiplas possibilidades de

conceber-se a estrutura de um argumento, isto é, diante do fato de um mesmo

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argumento sempre poder ser analisado sob outros pontos de vista, segundo os quais sua

classificação não seria mais a mesma. Porém, este procedimento é necessário para a

objetividade da análise. O que geralmente determina as escolhas que devem ser feitas

para a análise é o seu objetivo, ou seja, as questões que deram origem ao estudo.

Perelman classifica os argumentos em três grandes tipos. Os argumentos quase-

lógicos são assim chamados por serem, em aparência, próximos dos raciocínios formais.

Porém, como são enunciados em linguagem corrente, não podem gozar da força de

univocidade dos signos da linguagem lógico-matemática. Além disso, a própria

natureza dos temas que eles enunciam não lhes permite ligações necessárias. Deve-se,

no entanto, ter em mente que a valorização da lógica formal nos tempos

contemporâneos acrescenta um valor retórico a este tipo de argumento em função da

aceitação que o estatuto de cientificidade encontra na maior parte dos auditórios.

Parecer um enunciado científico é um privilégio.

Os argumentos fundados sobre a estrutura do real apóiam-se sobre a experiência,

sobre ligações reconhecidas entre as coisas e apresentadas como inerentes à natureza

mesma das coisas. Por exemplo, as ligações de sucessão ou as de coexistência,

consideradas em suas múltiplas nuanças. Esse tipo de argumentação assemelha-se mais

a uma explicação, evocando relações do tipo causa/efeito, meio/fim, elemento/conjunto,

pessoa/qualidades, etc.

Os argumentos que fundam a estrutura do real em vez de apoiar-se sobre a

experiência, criam novas relações entre as coisas, relações antes não reconhecidas.

Trata-se de, a partir de um caso particular, criar uma generalização e transpô-la para um

outro domínio. Procura-se a formulação de uma lei, ou de uma norma, a partir do que é

particular. Estes argumentos fazem uso, sobretudo, do exemplo, do modelo, da metáfora

e da analogia. São os chamados precedentes na justiça.

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Os três grandes tipos de ligação também podem ser usados para dissociar as

premissas. Perelman chama a atenção para o fato de que toda ligação implica uma

dissociação e vice-versa. O mesmo tipo de força que une elementos diversos num todo,

é o que os dissocia do terreno neutro a que pertenciam.

Apesar de oferecer esta classificação, Perelman chama a atenção para o fato de

que os usos modificam-se com o tempo e de uma comunidade para outra. Portanto, a

análise deve levar em conta o que é habitual em um determinado grupo semiótico.

Mazzotti e Oliveira (2002, p. 14), analisando o papel das metáforas no

discurso, afirmam:

A análise de uma metáfora com vistas a expor sua construção a partir da analogia que ela condensa é um procedimento eficaz, tanto para desenvolver a sua crítica quanto para apreender os seus significados. ... Uma vez que a metáfora é uma analogia condensada, ela coordena significados e estabelece quais os predicados próprios de um “sujeito da frase.”.

Na construção do discurso é freqüente a utilização de metáforas, pois permite

descrever o mais complexo fenômeno utilizando imagens que têm o poder de condensar

informações. Para Lakoff e Johnson, (2002, p.45) “as metáforas têm um papel

organizador do pensamento e está infiltrada na vida cotidiana, não somente na

linguagem, mas também no pensamento e na ação”. Elas têm um papel de sintetizar

idéias. Elas concentram idéias através de imagens, como os ideogramas. Por isso, as

metáforas utilizadas nas entrevistas serão levadas em conta na análise das entrevistas,

para fazer emergir o sentido de falas a respeito de televisão universitária e de ambiente

de aprendizagem.

A análise consiste em um trabalho de montagem (Castro et al 2001). A técnica

inicia-se, numa primeira etapa, com a transcrição das falas e diversas leituras flutuantes

com o objetivo de conhecer bem o material. Em seguida, buscamos no texto respostas

às perguntas da pesquisa. As idéias centrais relacionadas a estas são grifadas.

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Posteriormente, buscamos argumentos no interior do discurso dos sujeitos e os

organizamos de modo que formem uma seqüência coerente. Estudamos as possíveis

oposições destacadas pelos autores. Interrogamos o texto de cada autor. Montamos

esquemas e fazemos uma primeira interpretação. Em seguida, buscamos evidências para

as interpretações no próprio discurso.

Terminada esta etapa, cruzamos as interpretações sobre os textos de cada autor

de uma mesma TV universitária, assim como os textos dos autores das duas Tvs

universitárias observadas. Os vários esquemas são analisados na busca de similaridades

e divergências. Procuramos explicações para estas similaridades e divergências no texto,

visando completar as lacunas deixadas pelos implícitos. Só então fazemos a

interpretação final de cada discurso para compreender a concepção de televisão

universitária de cada autor e de cada instituição.

3.2 O campo de investigação

Realizamos estudos qualitativos por considerarmos a necessidade de focalizar a

produção de sentidos que expressam as concepções de televisão universitária, como

ambiente de aprendizagem.

Ludke e André (1986) afirmam que na pesquisa qualitativa o significado que as

pessoas dão às coisas e à sua vida são questões que merecem atenção especial do

pesquisador, por isso é preciso ter maior acuidade das percepções dos participantes. Os

dados coletados são predominantemente descritivos e todos os dados são considerados

importantes.

O canal UTV possui um estatuto que é o regimento interno da instituição. Por

força de contrato, as IES têm a obrigatoriedade de conhecer este documento e aplicar

suas regras. O material coletado nesta pesquisa inclui o estatuto do canal universitário

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do Rio de Janeiro - UTV, transmissor dos programas das universidades, transcrições de

entrevistas e um diário de campo, contendo as observações feitas durante as visitas às

televisões universitárias escolhidas para a investigação.

Ao serem entrevistados para um trabalho de pesquisa em educação sobre as

concepções da televisão universitária como ambiente de aprendizagem, mesmo não

conhecendo pessoalmente quem faz as perguntas, os depoentes tendem a antecipar a

resposta oficial para aquela situação. Eles fazem isso pensando em quem provavelmente

irá ler aquelas respostas, ou seja, instituem o seu auditório. Como devem pensar estas

pessoas, por que elas estão aqui, que conseqüências poderão resultar de minhas

respostas? Estas perguntas provavelmente estarão em suas cabeças no momento da

entrevista. Estas perguntas vão organizar o discurso, juntamente com as crenças

pessoais de cada depoente, que estará engajado na atividade de responder a um

pesquisador.

Para compreender como se articulam os diversos pontos de vista que estão em

jogo entre os que participam da produção dos programas, entrevistamos diretores,

coordenadores, professores e alunos estagiários.

A apresentação das análises levou em conta a instituição em que o depoente

trabalha, sua função na instituição e a atividade em que estava engajado.

Considerando a hipótese de que a televisão universitária também é concebida

como ambiente para ensinar ao aluno de comunicação a “fazer” televisão e que as

mesmas possuem finalidades relevantes entre elas, ou seja, disseminar o conhecimento,

promover a educação e também o compromisso de transmitir um conteúdo de

qualidade, procuramos verificar se os professores e os alunos que participam desse

processo de produção de programação tomam para si estas finalidades.

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Das 12 Instituições de Ensino Superior – IES que são associadas à UTV,

escolhemos duas para a pesquisa: uma televisão de universidade pública – TV R, e uma

televisão de universidade particular – TV S, ambas localizadas no Estado do Rio de

Janeiro. A seleção das IES levou em conta o critério ser pública ou privada porque o

funcionamento e mesmo a concepção de programação entre estas têm diferenças

relevantes, de acordo com estudos anteriores. Carvalho (2005) mostrou que a origem do

financiamento de uma emissora tem conseqüências na qualidade da programação, desde

as origens da televisão educativa. Carvalho (2006) mostrou que os discursos no interior

da TV universitária de IES privadas tendem a ter como motivação ser vitrine para as

atividades da IES enquanto os discursos no interior das públicas estão mais afinados

com o do estatuto da UTV. A ampliação do universo escolhido, além de demandar um

tempo maior, foge aos nossos propósitos, considerando este número adequado a uma

análise comparativa das concepções de conteúdo de qualidade e de ambiente de

aprendizagem, para o que outras variáveis são menos relevantes. Os resultados, no

entanto, serão expressão apenas do universo escolhido.

A TV R foi escolhida por pertencer a uma universidade pública e por isso

apresentar uma abordagem diferente porque, possui características e níveis de

dificuldades próprios de instituições que dependem de financiamento governamental.

As informações oficiais da TV R afirmam que a sua preocupação é com a

democratização da informação. Segundo o sítio da Instituição o telejornal da TV R foi

criado pelo Laboratório de Vídeo da Faculdade de Comunicação Social para dar aos

alunos a possibilidade de trabalhar com vídeo jornalístico. Os alunos atuam em todas as

áreas, desde a produção até a apresentação ao vivo.

A TV S foi escolhida por ser tratar de uma instituição privada com grande

investimento em área da formação em comunicação social. As informações oficiais

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afirmam que a TV S é um espaço de aprendizagem para os estudantes de comunicação

social que participam, como estagiários e colaboradores, da produção de programas de

televisão e telejornais realizados no Núcleo de Comunicação. Segundo o sítio da

instituição, a TV S funciona, por um lado, como um laboratório de aprendizagem para

os estudantes de Comunicação Social, que participam de produção, pauta, roteiro,

reportagem e edição não só dos programas, como também dos telejornais produzidos

pelo Núcleo de Comunicação. Por outro lado, a TV S tem o compromisso com um

produto de qualidade, o que vem sendo assegurado pelo trabalho de profissionais de

mercado.

Utilizamos como instrumento de pesquisa para coleta de dados, a entrevista

aberta com os professores e os responsáveis pela produção dos programas, além de

alunos envolvidos. As entrevistas foram realizadas dentro das televisões universitárias

com o propósito de deixar os sujeitos à vontade em seu ambiente de ação.

Entrevistamos cada um separadamente para que as respostas não sofressem influência

uns dos outros, com exceção de duas alunas estagiárias que pediram para fazer em

conjunto. Todas as entrevistas foram gravadas com a autorização dos interessados, a fim

de que pudéssemos retornar às falas sempre que necessário. A análise foi realizada

sobre as transcrições.

Realizamos quatro entrevistas em cada TV Universitária, totalizando oito

entrevistas.

Utilizamos um roteiro de perguntas que serviu de base para as entrevistas:

1. Se a TV R/ S é uma televisão universitária, quais as diferenças entre uma

televisão educativa e universitária?

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2. A TV R/ S é uma vitrine para as emissoras conhecerem novos talentos. Os

programas da TV R/S têm as características dos programas das TV’s

comerciais? Por que?

3. O aluno tem uma série de disciplinas em sua grade curricular de caráter teórico.

A TV R/ S tem um caráter prático. De que forma você utiliza o conhecimento

teórico do aluno a TV?

4. O que é uma televisão de qualidade?

5. Quais são as referências televisivas apresentadas aos alunos na TV R/ S?

6. As escolas de comunicação estão preocupadas com a ética e coisa pública.

Quais critérios utilizados para selecionar as pautas dos programas na TV R/ S ?

7. Como é o planejamento das atividades de aprendizagem discente na TV R/ S ?

8. Quais são os critérios utilizados na avaliação da aprendizagem dos alunos? O

aluno pode ficar reprovado na TV R/ S?

9. Quais os critérios para avaliar a técnica (apuração; redação, gravação e edição)

dos alunos na TV R/ S? E quais os critérios para avaliar o conhecimento geral

(sociologia, teoria, ética, cultura, legislação) dos alunos na TV R/S.

Essas perguntas foram respondidas pelos integrantes da pesquisa, no período de

agosto e setembro de 2005 e no período de maio a junho de 2006. As entrevistas com os

coordenadores e estagiários da Universidade R foram realizadas por Lucimar da Silva

Carvalho, membro de nosso grupo de pesquisa, que trabalhou conjuntamente o roteiro

de sua pesquisa e o da nossa para evitarmos a presença de dois pesquisadores

entrevistando o mesmo depoente. Na Universidade R, foram entrevistados o professor/

diretor do centro de tecnologia educacional e diretor da faculdade de comunicação, a

professora/ coordenadora do centro de tecnologia educacional da Universidade S e duas

alunas da faculdade de comunicação da Universidade R.

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Na Universidade S, entrevistamos o diretor da TV S, a professora/ coordenadora

da TV S e dois estagiários do curso de comunicação social.

Confrontamos os argumentos utilizados pelos participantes de cada televisão

porque, embora trabalhem juntos suas concepções muitas vezes se mostraram

diferentes, por isso fizemos questão de entrevistá-los separadamente para que isso

aflorasse naturalmente, sem o constrangimento da opinião do outro.

O desenho dos esquemas utilizados na montagem da estratégia argumentativa

surge como resultado da análise das falas e visa ressaltar os argumentos utilizados e dar

coerência ao discurso, destacando a intenção de persuadir que existe por detrás de cada

argumento utilizado.

Capítulo 4 4.1 Resultados

O sentido das falas dos depoentes será apresentado através de esquemas que

colocam em evidência os pontos relevantes para responder às questões propostas por

esta investigação. Foram montados esquemas para cada depoente. Buscou-se verificar

como os entrevistados engendram sua argumentação: a concepção de TV universitária,

o conceito de televisão de qualidade e a visão de ambiente de aprendizagem. Buscou-se

saber enfim as propostas pedagógicas, dentro do ambiente televisivo universitário, que

possam oferecer resultados, em médio prazo, capazes de servirem como referência a

futuros alunos de comunicação social, assim como a profissionais do mercado de

programas televisivos brasileiros.

As entrevistas foram organizadas inicialmente por instituição. Julgamos

oportuno verificar qual a visão de TV universitária é dominante em cada instituição e,

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em seguida, verificar se existem distanciamentos entre os discursos das duas diferentes

instituições.

4.1.1 Analise das Entrevistas realizadas na TV S

Diretor da TV S

A nossa primeira entrevista foi com o diretor da TV S. Um profissional com

muita experiência profissional, 27 anos com televisão educativa e experiência com

televisão comercial. Em sua entrevista ele afirma:

...minha experiência de fazer televisão era muito em cima do projeto da TV educativa, apesar de ter tido passagem por TVs comerciais. Trabalhei no SBT, fazendo documentários, na série documentos especiais, trabalhei na Manchete oito anos, fui fundador da Manchete, depois que ela estava mais ou menos consolidada eu as.... . Mas a minha base foi na TV educativa e o meu investimento profissional foi na TV educativa.

As conjunções sublinhadas por nós no texto – “apesar” e “mas” – sugerem que

exista uma diferença bem nítida entre os dois tipos de televisão: educativa e comercial.

A experiência dele na TV educativa é grande, apesar (oposição) de ter experiência

também na TV comercial. A experiência na TV comercial é grande, mas (oposição) a

base e investimento foram a TV educativa. A oposição dos modelos de TV fica

implícita pela comparação entre seu trabalho em uma e outra.

Perguntamos ao diretor da TV S qual a diferença entre televisão universitária e

televisão educativa, para ele a TV educativa e a TV universitária “tangenciam-se”, mas

elas não são a mesma coisa.

Para ele a própria idéia de

TV educativa é muito complexa,

porque não existe um modelo

TV EDUCATIVA

TV E Institucional

TV E Instrucional

TV U

TV E Cultural

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único de TV educativa. Ele descreve três modelos de televisão educativa, que ele

classifica pelos adjetivos instrucional, institucional e o cultural.

O primeiro é o instrucional voltado, segundo ele para a escolarização, visando

substituir a sala de aula.

E essa TV instrucional teve uso ideológico, quis canalizar não só na perspectiva de educação, mas política. A TV educativa, muitas vezes, os Estados Unidos implantou TV instrucionais nos países asiáticos, africanos, em colônias hispânicas nos Estados Unidos, visando a absoluta aculturação daqueles segmentos aos modelos culturais que eram determinantes para a cultura americana... Então a TV educativa foi muito usada como elemento de colonização cultural, em vários países do mundo na época do expansionismo. Daí surgiu esse modelo de TV, que é adotado no Brasil.

Em sua descrição sobre o modelo instrucional, o diretor da TV S ressalta o uso

ideológico que esse modelo teve, visando uma aculturação absoluta e, portanto,

servindo como elemento de colonização cultural. Observamos que o entrevistado inicia

um processo de diferenciação entre uma ação educativa com fins ideológicos e uma

suposta ação educativa sem fins ideológicos. A neutralidade de uma ação sem ideologia

já é contestada por Bakhtin (2004, p.95).

Na realidade, não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial.

Para Bakhtin (2004), cada época e cada grupo semiótico têm seu repertório de

formas de discurso na comunicação cotidiana, pois as palavras são tecidas a partir de

uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas as relações sociais em todos

os domínios. A utilização implícita em seu discurso da diferenciação do uso da TV para

fins ideológicos destaca um valor atribuído à neutralidade. Uma TV educativa de

qualidade deve ser neutra. O diretor da TV S cita o programa Vila Sésamo como

exemplo de TV instrucional.

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O Vila Sésamo foi criado para incorporar os segmentos culturais hispânicos e negro do Harlem à cultura oficial americana. Depois foi adaptada para América latina, usando os mesmos apelos: veicular valores do chamado american way of life em toda a América Latina, através de uma TV educativa. Então, nos modelos dominantes de países hegemônicos colonizadores a TV foi um instrumento a serviço dessa hegemonia.

Ele descreve a TV educativa de modelo instrucional como instrumento a serviço

de países hegemônicos colonizadores. Para contextualizar, o programa infantil Vila

Sésamo, foi realizado entre 1972 a 1977, pela TV Cultura, juntamente com a TV Globo

e a Children’s Television Workshops (CTW), organização especializada em programas

infantis e educativos nos EUA. O perfil do programa foi criado para atender a crianças

urbanas, carentes do ponto de vista econômico, o que de fato não aconteceu, segundo os

produtores, porque as crianças urbanas, carentes do ponto de vista econômicos não

tinham televisão em casa, na época. No entanto, o programa serviu a crianças de classe

econômica média, que na segunda fase foram submetidas a testes, para verificação dos

objetivos instrucionais estabelecidos, o que mostra um outro direcionamento para o

programa.

Quando o entrevistado afirma que nos modelos dominantes de países

“hegemônicos colonizadores” a TV foi um instrumento a serviço dessa hegemonia

mostra, na visão de Barbero (2003), a onipotência atribuída pela versão funcionalista

aos meios, que passou a recair sobre a ideologia, que se tornou objeto e sujeito,

dispositivo totalizador dos discursos. Para Barbero (2003), o resultado do amálgama de

comunicacionismo e denúncia foi a esquizofrenia traduzida numa concepção que privou

os meios de comunicação de densidade cultural e materialidade institucional,

convertendo-os em mera ferramenta ideológica. O agravante foi a redução dos meios a

ferramentas, moralizados de acordo com seu emprego: seriam maus nas mãos das

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oligarquias reacionárias; ficariam bons no dia em que o proletariado assumisse seu

controle.

Em sua fala, o diretor da TV S não identifica nenhuma sedução ou resistência

entre emissores-dominantes e receptores-dominados. Deixa transparecer apenas a

passividade do consumo e a alienação decifrada na imanência de uma mensagem-texto,

nunca atravessada por conflitos e contradições, muito menos por lutas.

É um discurso em torno da teoria crítica que expõe o homem em poder de uma

sociedade que o manipula a seu bel-prazer. Para Adorno (1967, p.6), “o consumidor não

é soberano, como a indústria cultural queria fazer crer, não é o seu sujeito, mas o seu

objeto”.

Em outro momento, o diretor da TV Universitária S analisa o seu segundo

modelo de TV Educativa.

E você tem modelos de uma TV institucional, que não é instrucional, mas é institucional que fica passando apenas informações oficiais do Estado. Uma TV que segue a política de governo, chamadas TVs educativas institucionais.

TV E

Instrucional

Uso ideológico

Aculturação

Países

hegemônicos colonizadores

Colonização

Cultural

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A TV institucional, para ele, é uma TV do Estado, “apenas” divulga informações

oficiais, “segue a política de governo”. O uso de “apenas” em sua argumentação sugere

uma desvalorização da TV como instituição a serviço do Estado e, portanto, um uso

casuístico.

Por último, o modelo cultural é descrito como aquele de maior identificação

com o entrevistado, deixando implícito que nesse modelo não há ideologia, política de

governo, ou valores hegemônicos. Há em seu discurso uma valorização do cultural em

detrimento do educativo, quando o autor diz que as TVs educativas são culturais,

educativa, “mas” com o projeto de TV cultural, acrescentando ainda que esse modelo

“até” compete com as emissoras comerciais. A competitividade aparece como valor

positivo. Deixa claro que isso ocorre “porque” TV educativa saiu do modelo

institucional e foi para o modelo cultural.

TV E

Institucional

Política de governo

Casuístico

Informações

oficiais

Dependência de

Gestão

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E você tem as TVs educativas culturais. Um exemplo é a TV cultura de São Paulo. Ela é uma TV educativa, mas o seu projeto de TV é de TV cultura. Ela produz uma programação voltada para o

entretenimento cultural, informação cultural, jornalismo cultural. É uma emissora que até compete com as emissoras comerciais, disputa audiência, sempre disputou. É porque ela saiu do modelo institucional e foi para o modelo cultural.

Fica clara a sua defesa deste como o modelo de qualidade para a TV Educativa.

O autor afirma ainda serem “escolas” os modelos instrucional, institucional e cultural,

quando se refere à TV educativa do Rio, onde atuou, e que apresenta um modelo

híbrido, a cada período predominando um modelo, dependendo de quem a dirigia.

E a TV educativa do Rio sempre foi um modelo híbrido, ela sempre tinha um pouco de tudo, era instrucional, ela foi institucional, foi cultural. ...A TV educativa do Rio sempre foi um modelo híbrido. Dependendo da gestão da TV educativa do Rio, um segmento se impunha mais do que o outro... Você vê que às vezes é até casuístico, a tendência que a TV toma em função do sujeito que vai para lá e que ele é formado numa dessas escolas, num desses estilos de TV educativa.

Para o entrevistado, encontram-se os três modelos em TVs universitárias e

identificando a TV S com o modelo cultural. Aqui fica claro que as TV educativas são

positivas quando ela assumem a escola cultural, deixando de lado os suscetíveis

modelos institucionais ou instrucionais.

TV E

Cultural

Entretenimento,

informação e jornalismo

cultural

Pautas interessantes

Motivação do

público

Competição com emissoras

comerciais

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TV

Educativa

Uso

ideológico

Política de Governo

Colonização

cultural

Se você for analisar o Canal Universitário você vai encontrar de tudo lá dentro. ... você vai ver uma programação que é mais institucional, está mais voltada a divulgar as ações da Universidade. Tem uma que é mais instrucional mesmo, que faz programas na linha quase de passar conteúdos didáticos de determinados assuntos como os programas da Fiocruz. E os mais culturais, que faz o jornalismo cultural, que é mais o nosso caso,...

O uso retórico da expressão “você vai encontrar de tudo lá dentro” é utilizada

geralmente para depreciar elementos, ao mesmo tempo em que valoriza outros em um

determinado conjunto. No caso desta fala, fica implícita a defesa do modelo cultural e,

ainda, da TV S “que é mais o nosso caso”, como uma TV de qualidade.

Observamos que há uma pequena mudança com relação ao esquema anterior.

Inicialmente a TV S aparece destacada da TV Educativa. Agora, ela assume uma

aparência mais próxima por, num certo sentido, ser uma TV

Educativa cultural. Essa preferência por uma televisão

universitária tangenciando o modelo de televisão educativa de

projeto cultural é apresentada inicialmente como a concepção de

televisão universitária da Televisão Universitária S. A TV S toma

para si o conceito de TV cultural, e não mais de TV educativa

cultural.

Nós fazemos jornalismo cultural dentro do canal universitário. Esse é o modelo que a gente adotou aqui, por quê? Porque é um modelo que faça que sejam pautas interessantes que motivem o aluno a trabalhar nela, motive o público a assistir aquela programação.

O processo de aprendizagem dentro do

ambiente da TV S, em princípio, alimenta-se da

concepção de televisão cultural, sem espaço para a

experimentação do modelo instrucional, ou

qualquer outro fora da televisão educativa.

TV EDUCATIVA

TV E Institucional

TV E Instrucional

TV U

TV E Cultural

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TV Cultural

Informação cultural

Pautas

interessantes

Competição com as

emissoras comerciais

Essa intenção de valorização do

cultural aparece tão forte que, em sua visão, pelo

simples fato de ser cultural, cria um ambiente de

liberdade. A menção a melhores produtos da sala

de aula aproveitados na TV mostra

implicitamente a delimitação de um padrão para

o ambiente de aprendizagem, no sentido de que, ao serem contemplados com a exibição

na TV, são valorizados como uma boa produção. As “linhas paralelas” de produção

referem-se à situação em que sala de aula e TV não teriam contato – linhas paralelas não

se cruzam – o que é indesejável quando se persegue um modelo específico de TV. Para

ele, a sala de aula já está integrada com o ambiente de aprendizagem de televisão da TV

S.

É uma TV que dá uma certa liberdade aos alunos para fazerem as pautas das reportagem, das matérias, dos filmes, das entrevistas. A gente coordena, supervisiona, mas de uma certa maneira eles tem liberdade de propor pautas, ... as pautas das matérias, das reportagens são livres, onde os melhores produtos da sala de aula a gente procura aproveitar na TV. Para não ficar com linhas paralelas de produção. Hoje a gente já integrou, não integramos da maneira que a gente quer integrar, mas já integrou bastante a sala de aula com a produção de TV.

Sem dúvida, em uma grade de programação de televisão há espaços para vários

perfis de programas e até de concepções, fato já observado na pesquisa de Carvalho

(2006), que concluiu que a televisão aberta ou broadcast produzem programas

apelativos e sensacionalistas para atrair grandes massas de telespectadores, que

interessam potencialmente aos anunciantes dos programas, levando ao vale tudo. É

importante ressaltar, no entanto, que o diretor preocupa-se com o perfil da TV S,

deixando claro que a aprendizagem dos alunos do Curso de Comunicação tem uma

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diretriz, guiada por uma concepção que deriva da TV educativa de modelo cultural,

afirma ser a TV S uma TV cultural. A escolha do tipo de programação é formadora do

perfil da emissora.

Além dos fatores ligados à audiência e ao público-alvo, outra razão muito importante para a programação de uma televisão é a de que um programa ou o conjunto de programas constroem a imagem da própria emissora de televisão. O aumento do número de determinado gênero na mesma emissora promove uma imagem que torna a televisão conhecida pelo público quando este escolhe seus programas favoritos. (ARONCHI, 1997, p.48).

No discurso do diretor da TV S, no entanto, há espaço para a experimentação do

modelo institucional, que anteriormente afirmou ser um modelo apenas de informações

oficiais do Estado. As chamadas TVs educativas institucionais são TVs que seguem a

política de governo. Aqui, o institucional está se referindo à instituição universidade.

Este institucional diz respeito a temas da universidade.

A Universidade, o institucional também entra. Nós divulgamos a universidade a partir de projetos concretos que a universidade realiza e que a gente divulga através da TV. ...A Universidade entra enquanto pauta, enquanto temas que permitam tratamento jornalístico. A gente recebe pauta, recebe sugestões. A gente corre atrás de pauta. Agora às vezes a gente recebe pauta que a gente diz: “não, não vamos fazer”. Porque não tem como tratar jornalisticamente, vai ficar chata, vai ficar uma coisa comercial. Então a gente tem uma certa liberdade, nós estamos com esse modelo há três anos.

A busca pela definição de uma concepção para a TV S tem história. O atual

diretor está a frente da TV S desde 2003. Ele afirma que sua gestão mudou o conceito

de comunicador. Fica implícito que a TV S, através de suas direções anteriores,

experimentou outras concepções de televisão educativa ou de televisão comercial.

O diretor veio para cá pra montar um conceito e a gente teve uma programação, muito boa, de qualidade que arrebentou em termos de diferenciação dos produtos das outras universidades. Mas todas com profissionais apresentando os programas. Os alunos não apresentavam programas. Os alunos entravam na produção, na

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pauta, no roteiro, na edição, na reportagem, mas na apresentação do programa, não. Porque o conceito do programa é o seguinte, apresentar programa é para profissional. A responsabilidade de você se comunicar com a sua audiência exige que você seja um profissional preparado para isso. E é até bom que os alunos vão aprender como que se faz. Então os alunos estão em torno com a supervisão de professores e profissionais.

A utilização da metáfora “uma programação que arrebentou em termos de

diferenciação dos produtos das outras universidades” destaca o espírito de

competitividade defendido por seu diretor. Apesar de ser uma expressão muito comum

na linguagem cotidiana, sua utilização aqui imprime força à argumentação. A força vem

da imagem evocada, arrebentar significa não deixar nada como era antes, uma grande

mudança. Além disso, o uso da palavra “conceito” coloca a mudança em um nível

melhor, isto é, dizer “montar um conceito” significa dizer que o que foi feito imprimiu

um novo status para a TV. Na explicação sobre o que é o conceito do programa, deixa

escapar um argumento por prolepse7: a presença de um profissional de TV em um

ambiente em que deveriam atuar os alunos lhe parece necessitar de defesa. A defesa é

feita com a afirmação de que os alunos aprendem vendo um profissional atuar.

Esse movimento durante sua direção levou a TV S a rever sua concepção para

dar maior visibilidade ao próprio curso de comunicação, “os alunos voltaram ao vídeo,

apresentando programa”. Uma estratégia comercial para o principal produto da TV S: os

cursos de graduação em especial o curso de comunicação. Da concepção educativa e

comercial da fase anterior, ficou apenas um programa com profissional no vídeo.

Na segunda fase nós usamos isso: os alunos voltaram para o vídeo, apresentando programa. Nós resolvemos que não só nós, mas uma discussão dentro da casa, envolvendo a própria direção do curso, que cabia à gente selecionar os melhores e dar oportunidade deles

7 Prolepse – Aparece na forma de uma tréplica a uma réplica que não foi feita. É um tipo de argumento que o locutor engendra quando acha que seu interlocutor irá discordar do que está defendendo.

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crescerem fazendo esse tipo de trabalho, para dar maior visibilidade ao próprio curso de comunicação.

Seu empenho em deixar claro que os alunos participam fazendo TV continua em

sua fala e é justificada pelo fato de serem os alunos “melhores”. Esses sim, poderiam

atuar onde ele afirmou anteriormente ser um lugar para “profissionais”.

Finalmente, o que inicialmente não foi explícito, mas pelo fato de o entrevistado

ter se concentrado no objetivo de denunciar a TV educativa, com uma posição de crítica

das estratégias da ideologia dominante de penetrar a mensagem provocando

determinados efeitos, deixou transparecer sem dúvida o seu ponto de vista sobre as TVs

educativas e por conseqüência deixou implícito o universo da televisão comercial. Desta

forma ele expõe o novo seguimento da TV S, que é a produção jornalística para a TV

aberta comercial.

Nós hoje produzimos telejornalismo para TV aberta. Voltando a sua pergunta inicial, a TV universitária e a TV educativa se tangenciam, elas podem falar a mesma linguagem? Mas através do jornalismo você pode falar uma linguagem que você entre na TV aberta.

“Entrar na TV aberta” aparece em sua fala como algo valorizado,

contraditoriamente ao que se podia supor, após seu discurso inicial. Este valor refere-se,

sobretudo à qualidade técnica da TV comercial. A ressalva “através do jornalismo” é

fundamental para livrar-se da contradição. Para o entrevistado, o jornalismo é uma

linguagem hoje comum a qualquer emissora de televisão.

O telejornal é um programa de TV que você tem na TV aberta, tem na TV comercial, tem na TV educativa. Elas podem se diferenciar pelo estilo pelo aprofundamento maior, na cobertura, se é mais institucional ou menos. Mas o telejornal é igual a todo mundo.

A TV S amplia mais uma vez as suas experimentações e, para o seu diretor, mais

do que ocupar espaço no canal universitário, a TV S precisa mostrar a universidade da

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qual ela é institucionalmente dependente para uma audiência maior. Para o diretor da

TV S esse é um projeto a mais da TV S.

A nossa experiência de telejornal da TV universitária, hoje nós estamos entrando na TV aberta, na TV comercial, nós estamos nos integrando com o telejornalismo das emissoras comerciais. O que nos interessa hoje, mais do que ocupar espaço no canal universitário é ocupar na TV aberta que tem grande audiência. A Instituição é uma grande empresa e ela precisa ser vista por um grande público.... Não sacrificando o canal universitário, não colocando uma coisa no lugar da outra, mas desenvolvendo um projeto adicional, a mais. ... Então hoje a gente tem reportagens produzidas pela TV S totalmente feitas para aquele veículo, não são os materiais que a gente faz para a TV universitária.

É importante ressaltar que a insistência em dizer que o jornalismo feito na TV

S como demanda da TV aberta não é o mesmo que ela faz para si mesma, na realidade,

denuncia mais uma contradição em seu discurso: se o jornalismo é igual para todos, não

haveria necessidade desse produto ser diferenciado quando ele é para venda.

A TV S, em nossa análise, mostrou-se um modelo híbrido que congrega a

concepção televisão cultural, educativa institucional, assim como a concepção de

televisão comercial. É possível, desta forma, observar que a concepção de TV

Universitária do diretor da TV S, cuja experiência está na TV educativa e também na

TV comercial é a concepção de TV cultural capaz de competir com a TV comercial.

Para o diretor da TV S, a TV educativa tem fins ideológicos e TV cultural não

tem fins ideológicos. Por isso a sua escolha. Há uma busca da neutralidade da ação,

como se essa pudesse existir na TV cultural. A utilização implícita em seu discurso da

diferenciação do uso da TV para fins ideológicos destaca um valor atribuído à

neutralidade. Uma TV educativa de qualidade deve ser neutra.

Há em seu discurso uma valorização do cultural em detrimento ao educativo. A

idéia de educativo torna-se pejorativo. Essa preferência por uma televisão universitária

tangenciando o modelo de televisão educativa de projeto cultural, se é apresentada

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inicialmente como a concepção de televisão universitária da televisão Universitária S,

finaliza como uma concepção de caráter cultural capaz de competir com a TV

comercial, evidentemente de caráter ideológico.

Um terceiro aspecto a destacar é o lugar ambíguo em que o estudante de

comunicação vai aparecer em seu discurso. Ele deve participar ativamente da

programação, porém este lugar estará reservado apenas aos melhores.

Coordenador do TV S

A entrevista com a coordenadora da TV S aconteceu em uma sala, que apesar da

porta aberta, ficou reservada ao

pesquisador para a entrevista. A

primeira pergunta referiu-se à forma

como o conhecimento teórico era

aplicado na TV, já que uma televisão

tem um caráter prático. Na resposta,

ela se caracterizou como uma

profissional de mercado, mas também uma profissional de TV educativa. É interessante

observar a dicotomia feita entre o profissional de mercado ou profissional de TV

comercial e o profissional de TV educativa. Há uma nítida separação entre o comercial

e o educativo. Ela deixa claro, sem que houvesse uma pergunta direta, que ela é uma

profissional que conhece as duas concepções de televisão no Brasil.

Como ela é, além de profissional de TV comercial e de TV educativa,

coordenadora da TV S e professora no curso de jornalismo, aliar a teoria com a prática é

uma experiência que ela traz do mercado.

Então eu acho que quando você tem uma experiência de mercado, muitos professores aqui têm essa experiência, já na sala de aula eles

Profissionais da TV educativa

Profissionais da TV comercial

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aliam a teoria com a prática. Isso aí já facilita muito, essa união e aí a coisa flui naturalmente. Eu, por exemplo, dou aula de redação jornalística III, redação para televisão, venho com minha experiência de TV. Lógico que tem que ter sempre um embasamento teórico para começar qualquer tipo de disciplina, mas querendo ou não pela própria experiência que eu tenho, minha prática, eu vou entrar já na... vamos fazer, vamos escrever, vamos fazer, flui mais ...até mais prático que teórico, sem querer tirar o valor da parte teórica da coisa.

A argumentação, “ter a experiência de mercado” é condição suficiente para

“aliar teoria com a prática”. Nesse caso, “a coisa flui naturalmente”, ou seja, significa

que uma coisa leva a outra não havendo necessidade de explicar como esse aliar teoria e

prática é feito, ele acontece. Relativisa a força de um lugar comum da educação

“qualquer disciplina tem que ter embasamento teórico” para aumentar o valor do prático

sobre o teórico, na medida em que “querendo ou não” sua experiência mostra que é o

que funciona. Nesse caso, o valor da experiência redundando no maior enfoque teórico

é que vai servir como argumento. Na ressalva “sem querer tirar o valor da parte teórica

da coisa”, defende-se da interpretação de disjunção entre o teórico e prático.

Wolton (1996, p.44) afirma que se o empirismo tem a vantagem de não vir

acompanhado de limitações, também tem o inconveniente de não orientar sobre o

caráter que pode vir a ter uma televisão em que um número cada vez maior de canais é

dominado por uma lógica em grande parte econômica.

Se as teorias jamais foram suficientes para aperfeiçoar o pensamento e o domínio da realidade, somos, ao menos, levados a pensar que a sua ausência, num domínio tão importante quanto à televisão, a exemplo do setor de saúde ou educação, não é garantia de uma análise mais bem-feita.

Quando a professora/ coordenadora da TV S afirma que a aprendizagem “flui

mais... até mais prático que teórico, sem querer tirar o valor da parte teórica da coisa”

apresenta a prática dissociada de uma proposta teórica, mesmo que essa seja a do senso

comum. Não há um valor único, mas sim uma supervalorização do lúdico em forma de

prática. A teoria, sem menosprezá-la, é relegada a um nível menor ou insuficiente.

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Como se a prática fosse o descortinar dos fatos nus. O ponto de vista do aluno, e os seus

interesses em observar o que quer que seja, não são levados em conta como um ponto

de vista merecedor de reflexão.

Na busca do aprofundamento de concepções de televisão universitária da TV S,

perguntamos à professora/ coordenadora o que seria uma televisão de qualidade? Ela

afirma que a televisão de qualidade está preocupada com a informação “limpa”.

Uma informação com apuração, produção, texto, edição, tem que ser uma coisa que venha limpa ao telespectador. Acho que é isso que a gente tem que pensar em fazer. Uma coisa de neguinho passando informação por passar, falar por fazer, sem ter uma apuração mais profunda, sem ter uma edição de qualidade, sem se preocupar com o produto que vai ser mostrado na televisão. Acho que isso não é televisão de qualidade.

A metáfora indicada pela palavra “limpa” destaca ambigüidades deixadas pelo

locutor: limpo opõe-se a sujo. Em nossa sociedade o que é limpo se refere a aspectos da

moralidade da situação: livre de impurezas, de desvios, de corrupção, de enganos, de

falsidades, enfim, ao utilizar esta metáfora, o locutor evoca uma suposta neutralidade

para as informações apuradas. Como se a informação apurada não comportasse já um

ponto de vista.

Tal discurso de qualidade se detalha quando em seguida a coordenadora

enfatiza: “Acho que é isso que a gente tem que pensar em fazer”. Se a princípio, na TV

S, a prática é posta em evidência no trato da teoria, quando buscamos um

aprofundamento do entrevistado em relação ao conceito de qualidade, as concepções

perdem-se no detalhamento do significado do que seria apuração:

A apuração é, eu sou jornalista e já trabalhei muito em telejornal, é essa preocupação toda, acho que muitos veículos até não têm, que a gente solta uma coisa no ar e depois vem processo em cima e tudo mais. É você ter certeza daquilo que você está falando, apurar as suas informações e depois se certificar daquilo, pra depois, não está falando uma coisa que não tem veracidade no ar, acho que é isso.

Para que interlocutor estaria agora se dirigindo? O pesquisador apresentou-se

como jornalista e todo jornalista sabe o que é apurar uma notícia. A resposta detalhada e

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redundante do significado de apuração denuncia a ausência de uma resposta para o que

seja televisão de qualidade.

Para Pena (2005) é no trabalho de enunciação que os jornalistas produzem os

discursos, que, submetidos a uma série de operações e pressões sociais, constituem o

que o senso comum das redações chama de notícia. A professora/ coordenadora

encontra na apuração das informações a ilustração para dizer o que é uma televisão de

qualidade. Não fica explícito na sua fala se essa veracidade da informação é o retrato do

real, ou a ênfase no caráter convencional das notícias, admitindo que elas informam e

têm referência na realidade. Não é explícito que as informações com veracidade

ajudam a construir essa mesma realidade e possuem uma lógica interna de constituição

que influencia todo o processo de construção.

Olhar de modo crítico o sistema

simbólico que atravessa a cultura, por força

dos meios de comunicação, é assistir, com

perspectiva atenta, ao desfile da imaginação

social contemporânea, que é veiculado pela

indústria cultural. Ser jornalista, em certos

casos, é trabalhar para esta indústria. Para

tentar decifrar este extraordinário sistema

simbólico é necessário ter curiosidade intelectual. Perguntamos a professora e

coordenadora da TV S quais são as referências televisivas apresentadas aos alunos.

Encontramos a sua resposta, no universo das emissoras de comunicação de massa, uma

tautologia: qualidade é ter um produto de qualidade.

Aqui eu falo muito da cultura da Rede Globo. Mesmo no Rio de Janeiro, os alunos aqui têm essa coisa de não querer sair da Rede Globo.É lógico, tem uma qualidade nos produtos que faz e procura fazer. É uma coisa que eu falo em sala de aula e com os alunos estagiários aqui. Sai um pouquinho da Rede globo, aprenda a zapiar

TV S

Qualidade

Apuração das

informações

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um pouquinho, porque em outros canais tem outras coisas boas acontecendo, tem outros telejornais. Então hoje você tem, tem o telejornal da Band, que é um telejornal de qualidade, tem o próprio SBT, você tem os canais fechados, vamos ver um pouquinho o Globonews, vamos aprender outras linguagens, até para eles poderem também fazer coisas novas aqui. Senão vão ficar repetindo padrão. As referências, eu não coloco uma referência, não tem a referência, a Rede Globo não tem uma referência. ... então é ter aquele olhar crítico sobre aquele produto de televisão, não ficar só pensando se é Rede Globo, se é Bandeirante, se é Record, não importa, o importante é ter um produto de qualidade.

Vale a pena ressaltar também o destaque dado ao telejornal como referência para

falar em qualidade. O que chama atenção nesta fala não é a crítica aos padrões da TV

Globo, mas a idéia de encontrar em outras televisões nacionais referencias para serem

reproduzidas em uma televisão

universitária. A busca por um produto

de qualidade é uma luta desigual no

universo das televisões. Para ela, não

existe apenas uma referência de

qualidade, cada emissora é uma

referência.

Para a coordenadora da TV S o

padrão cultural enquanto telespectador

para os alunos faz com que eles repitam os formatos e conteúdos das emissoras

comerciais na TV S.

TV S

Referências

Globonews

TV Bandeirante

s

TV SBT

TV Record

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Eu acho que é o padrão. É o padrão cultural que eles estão acostumados a ver. Eles acham que isso que é o certo, então eu acho que é o padrão. Por isso que as coisas se repetem tanto.

Mais uma vez o locutor faz uso de uma tautologia para cobrir a ausência de uma

resposta sobre a qualidade, as coisas se repetem tanto por causa do padrão.

Barbero (1987) está convencido de que se o meio sofre o processo de numerosas

mudanças, a mediação a partir da qual a televisão opera social e culturalmente não

parece estar sofrendo na América Latina modificações de fundo. Acreditamos que

possa ser prudente à academia, que se propõe a fazer televisão, analisar leitura teóricas

para definitivamente ser um ambiente de aprendizagem capaz de gerar um fundo

cultural para as emissoras de televisões educativas e comerciais do Brasil.

“... por isso, em vez de fazer a pesquisa partir da análise das lógicas de produção e recepção, para depois procurar suas relações de superposições ou enfretamento, propomos a partir da análise, das mediações, dos lugares dos quais provêm as construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão”.(BARBERO, 1987, p.304)

Neste ponto é pertinente à academia dar margem às pesquisas nas televisões

universitárias, para que essas se aproximem dos lugares dos quais provêm as

construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade

cultural da televisão e desenvolvam resultados que contribuam para televisão brasileira.

Se para Wolton (1996), sabemos tudo o que é necessário saber sobre od meios

de comunicação, não é por isso que desejamos conhecer. Para ele o problema não é da

“informação”, mas do desejo de saber. Ele afirma que essa “preguiça” não é privilégio

apenas da mídia. Áreas do conhecimento como o comércio, a cidade, a aposentadoria

são igualmente objeto de uma certa preguiça, da mesma forma que, durante muito

tempo, o foi, em parte, o meio ambiente, antes de se tornar uma questão política.

O ponto comum entre esses diferentes domínios é que eles pertencem àquilo a que chamamos, em geral, de “maneira de viver”... É difícil viver, isto é, adaptar-se a um certo contexto e, ao mesmo tempo, distanciar-se suficientemente dele para analisá-lo ininterruptamente... A televisão ocupa um lugar determinante na vida de cada um, tanto pela

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informação quanto pelo divertimento que proporciona, constituindo assim a principal janela aberta para um outro mundo, diverso do da vida cotidiana. Eis por que não temos nenhuma vontade de refletir sobre aquilo que ela é. (WOLTON, 1996, p.45 )

Um indicador que a academia deve ter atenção caso se proponha a fazer

televisão é observar a vasta publicação brasileira e internacional de pesquisa e propostas

na área. Na 4º cúpula mundial de mídia para crianças e adolescentes8 profissionais

participantes retiraram uma carta como proposta que cabe à universidade, como

ambiente de aprendizagem, observar e levar de maneira explícita para o ambiente de

televisão universitária.

Concordamos que é necessário envolver e articular governos, empresas de comunicação, comunicadores, anunciantes e publicitários, escolas e universidades, educadores e pesquisadores, organizações da sociedade civil, consumidores de mídia, famílias para garantir o estabelecimento de alianças mais amplas entre esses diversos atores, formação continuada de profissionais de comunicação pelas instituições de ensino superior e empresas e a formação de crianças e adolescentes para a recepção crítica e apropriação das técnicas de produção de mídia.

Perguntamo-nos se os meios fazem parte do problema, ou parte da solução. A

resposta que obtivemos foi: ambos. As televisões universitárias têm uma grande

possibilidade de direcionar parte de seu trabalho à solução do problema.

Perguntamos à coordenadora da TV S como é a avaliação dos alunos para que

possamos entender a sua concepção de televisão universitária. A sua resposta foi a

mais previsível possível diante de tal ambiente de aprendizagem. Para ela, a

avaliação vem diante da demanda dos alunos, semanalmente ela faz reunião de

pauta junto com eles, e pede para eles trazerem idéias. Ela afirma que a maioria das

idéias é deles.

8 A 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes aconteceu pela primeira vez no Brasil, e reuniu cerca de 2700 pessoas, entre profissionais de mídia, pesquisadores, educadores e adolescentes, entre 19 a 23 de abril de 2004, na Escola Naval do Rio de Janeiro. O evento foi uma co-realização da MultiRio e do MIDIATIVA.

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O planejamento das atividades de aprendizagem dos alunos se apresenta,

segundo a coordenadora de forma muito dinâmica. A descrição abaixo representa a

“dinâmica” da TV S.

você vê que aqui a gente tem mil e uma utilidade, você vê que a toda hora eu sou interrompida, O diretor ou eu como coordenadora, mas além de atender a televisão universitária, a gente atende a mantenedora, as necessidades da mantenedora, enfim aqui é sem parar, então eu não fico o tempo todo de babá. Eu estou aqui, os alunos estão lá, toda hora eles estão requisitando, qualquer dúvida é comigo, a minha porta está sempre aberta. No início a gente produz algumas palestras, eles já vêm de sala de aula, eles sabem, mais ou menos entre aspas como funciona. Eles têm um rodízio, tem sempre uns mais velhos, com mais tempo e outros mais novos. Então no início quanto vai fazer uma matéria, o que chegou agora sai acompanhando o mais antigo. Ele não chega e a gente já coloca para fazer matéria. Primeiro ele passa pela apuração, ele passa pela produção. Fazer matéria de cara nem pensar, primeiro eu quero ver como eles trabalham ali na cozinha. E aí daqui a pouquinho vem um e diz que o novato já dá para fazer matéria sozinho. Aí eu vou e vejo, tem que gravar um off , e digo : quero ver você gravar esse off. Aí vem uma coisa meio monocordica, então eu digo: vamos refazer esse off, esse off não está legal, vamos dar vida a voz, então é assim uma coisa que é no dia a dia, dinâmica, não é uma coisa planejada a cada dia ou a cada semana, vai acontecendo normalmente.

Tal descrição é importante para aferir a avaliação em seu cotidiano entre os

participantes da TV S. Há uma auto-aprendizagem, que sem dúvida vem pleno de

padrões do universo de telespectador do aluno- estagiário. A também uma análise

técnica na coordenadora estimulando uma estética não persuasiva. Para a professora

coordenadora da TV S essa forma de trabalho é suficiente, pois vendo dando certo.

Eu acho também que eles têm que está no fogo um pouquinho, porque senão não aprende, a pessoa só aprende fazendo. Então eu acho que tem que botar pra fazer e depois você fazer crítica e dizer que isso não está bom. ...Eles fazem muito, põem a mão na massa.

Ao que se apresenta a preocupação é com o fazer televisão com conteúdo

moralmente aceito através de um formato estético já padronizado pela mídias. A

avaliação da atividade é feita no universo da integração ou hierarquia. Elementos

importantes para uma pesquisa em televisão, mas longe de ser suficiente para propor

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novos produtos televisivos à sociedade, sempre partido de uma das funções da

universidade.

A gente faz avaliação, vamos dizer é uma coisa do dia a dia e a gente vê muito a coisa do comportamento, se há integração, se a pessoa está afim. ... o estágio é um trabalho, você está em uma empresa você tem deveres, mas como eles são alunos muitas vezes eles confundem, podem tudo e não podem, tem regras, estão aprendendo, estão no processo de aprendizagem e tem que ter horários a cumprir. Eles têm hierarquia eles têm tudo, e como se eles estivessem no emprego trabalhando. E às vezes eles esquecem um pouco, e como estão na faculdade, eles acham que é faculdade aqui, e não é. Então tem muito essa coisa da integração. Se há uma integração, se eles estão querendo aprender, mesmo que errando, mas estão querendo aprender, então é que importa pra gente.

Há uma avaliação, um exercício em prol da técnica na TV S. Mas as respostas

não caminham em direção a propostas mais ousadas diante de tão grande encruzilhada

que o mundo se encontra. Na carta fina da 4º cúpula mundial de mídia para crianças e

adolescentes no Rio de Janeiro em 2004, os profissionais presentes são enfáticos de

afirmar que os meios podem perpetuar esta encruzilhada, bem como podem transformá-

la.

As matérias são sempre revistas, uma a uma... e na hora que é feita a gente manda refazer, ou diz está legal, ou edita assim, reedita. O diretor tem uma preocupação muito... com a coisa da estética. Ele tem essa preocupação com o produto final que vai ao ar, então a gente tem que ser rigoroso nisso. Eles fazem depois é revisado, enfim é falado para eles o que está certo e o que está errado, isso no dia a dia.

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A TV S desenvolve um televisão preocupada com a moralidade social, com a

técnica estética e com a qualidade profissional de seus futuros egressos, mas ainda se

encontra hibernando, ou apenas com espasmos de lucidez quando a possibilidade de,

enquanto projeto universitário, ser um laboratório que pesquise o novo televisivo, a

ponto de ser um fundo cultural das emissoras de televisão no Brasil e no mundo.

Desta forma, no desenho de concepção da TV S para a coordenadora/

professora, não há interesse objetivo de tentar realizar novos programas que possam ir

de encontro com a necessidade da sociedade brasileira. De utilizar pesquisas ou de

ouvir, organismos sociais e mesmo investir com projeto de pesquisa nos organismos de

fomento a pesquisa. Acreditamos que essa concepção interfere diretamente na prática

dos professores e alunos na TV S.

Estagiários da TV S

Em nossa terceira entrevista na TV S, fomos acompanhados pela professora/

coordenadora da TV S até a sala de produção. Ela me apresentou como pesquisador e

me deixou com dois estagiários, além de duas outras estudantes que não participaram da

entrevista, mas ficaram na sala em atividades diferentes da nossa. Na estrutura da

TV S

Avaliação

Estética

A maioria das idéias

é dos alunos

Dinâmica

Aprender fazendo

Integração e

hierarquia

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entrevista, a pergunta é feita aos dois estagiários que respondem um de cada vez. Vamos

chamá-los de E1 e E2. Perguntamos a ambos quais as diferenças entre uma televisão

educativa e universitária. A mesma pergunta que foi feita ao diretor da TV S.

Para E1 a TV educativa é feita por profissionais já a TV universitária pode ter o

mesmo objetivo da TV educativa; não tem

muita preocupação com a parte comercial; é

feita de uma maneira mais experimental, com

pessoas que estão começando agora. A TV

educativa é profissional, mas o objetivo é o

mesmo. Concordando com E1, E2 diz que a TV educativa tem programas voltados à

educação, focalizando a diferença na presença na TV educativa de profissionais

formados e reforçando o fato de que na TV universitária são universitários que

procuram fazer o melhor possível. Essa concepção aproxima-se da visão da professora

coordenadora para quem o que diferencia as TVs são os profissionais que nelas atuam.

Sobre as características dos programas das TVs comerciais, E1 esclarece que a

TV S não tem característica comercial. E2 acrescenta que a TV S trabalha com

programação voltada ao público universitário, pois são programas institucionais feitos

por alunos.

É importante notar que no início da entrevista os alunos preocupam-se em

descrever as diferenças entre a televisão universitária – TV S, a TV Educativa e as TVs

Comerciais.

Alunos da TV universitária

Profissionais da TV educativa

TV S TVE

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A princípio os estagiários deixam claro que a TV S é próxima se sua concepção

da TV educativa e distante da TV comercial. Perguntamos então de que forma é

utilizado o conhecimento teórico na TV. Para E1 na TV S eles têm tanto teoria quanto

prática, mas se usa mais a parte prática do que a parte teórica. Contudo, quando ele tenta

justificar a utilização da parte teórica, ele a confunde com técnica.

A parte teórica está sempre por trás do que a gente está fazendo, no sentido que a gente tem que estar atento de ser isento, ou ter um bom texto ou ter a maneira correta de ouvir as pessoas, a maneira de escrever corretamente, acho que a parte teórica é mais voltada a isso, entendeu? A parte das normas, como escrever bem, como falar bem, como fazer as perguntas certas para as pessoas certas, como buscar as

TV

Educativa

Programas educativos

Feitos por

profissionais

Sem intenção

comercial

TV S

Feitos por Universitá-

rios

Sem intenção

comercial

Programas experimen-

tais

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informações, acho que a parte teórica é mais voltada... a gente usa mais assim, na TV S.

É interessante observar que ele se refere à parte teórica como algo que “está

sempre por trás do que a gente está fazendo”, argumento que tem o sentido de sustentar

que a teoria de um modo “natural” fundamenta a prática, nesse caso, seria uma teoria

diretamente relacionada com a prática, o como fazer, as normas, “escrever bem” “falar

bem” etc.

Na continuidade do diálogo, E2 defende o mesmo argumento utilizando uma

argumentação quase lógica, suas premissas estão no presente do indicativo ou no

infinitivo, tempos geralmente utilizados para acordos que portam sobre o real. A

seqüência de premissas é bastante redundante e ele busca a adesão a enunciados tão

gerais que ninguém discordaria. A força deste tipo de argumento está na aparente

relação de necessidade de uma premissa sobre a imediatamente subseqüente.

Acho que não existe prática sem teoria, né? Primeiro de tudo, tem que ter bastante fundamento, buscar a teoria, aprender o conceito de tudo para poder aliar à prática e fazer um bom trabalho. Antes de tudo você precisa ter um embasamento teórico, pra saber como tudo funciona, pra poder aliar direitinho, para fazer um melhor trabalho.

Esta aparente confusão entre teoria e técnica demonstra um grau de desinteresse

da análise conceitual da televisão universitária com um ambiente de aprendizagem além

do desenvolvimento técnico do discente. A televisão é vista como técnica, não existe

um discurso em direção ou de oposição às

propostas teóricas.

Sobre o que é uma televisão de

qualidade, E2 afirma de forma concisa ser

TV de qualidade uma televisão feita com

ética, com isenção. Para E1 qualidade tem

relação com a satisfação do telespectador,

TV de Qualidade

Pensa primeiro no

telespectador

Ética e isenção

Unir interesses do

telespectador e patrocínio

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em primeiro lugar, e do patrocinador em segundo. Uma TV que respeita e é feita

pensando só no telespectador, em que respeitar o telespectador significa informar,

entreter, qualquer que seja o objetivo. Para ele, “é claro” que “depois” é preciso unir os

interesses, de telespectadores e patrocinadores. Apesar de já ter sido apontado

suficientemente, inclusive pela própria mídia, que os interesses são até certo ponto

antagônicos, E1 não sente necessidade de explicitar como isso seria feito, ao contrário, a

expressão “é claro” mostra que, para ele, seu interlocutor não terá dúvidas sobre do que

ele está falando.

Perguntamos aos estagiários quais são os critérios utilizados na avaliação de sua

aprendizagem. Na resposta a TV S é descrita como um laboratório que as pessoas

podem usar. O critério de avaliação, no entanto, aparece implícito no interior da

descrição.

A TV S não é matéria, não é obrigação. É um laboratório que a universidade oferece para os alunos virem colaborar, aprender mais, eles já têm aulas práticas, a TV S é um local que eles podem ficar praticando, é um laboratório, mas não tem reprovação, o que tem de avaliação aqui é o seguinte, a nossa coordenadora, os nossos chefes avaliam todo o nosso trabalho e dizem se está bom, se não está bom, se vai ao ar, se tem que mudar, é esse tipo de avaliação, mas não tem nota nem reprovação, nada disso, tem só uma cobrança pra gente quando cair no mercado a gente saber como vai ser, né? A mesma cobrança que tem lá fora, mas não tem reprovação, não.

Na seqüência de premissas “dizem se está bom, se não está bom, se vai ao ar, se

tem que mudar, é esse tipo de avaliação” existem duas oposições: “se está bom” opõe-se

a “não está bom”; “vai ao ar” opõe-se a “tem que mudar”. Cada par de afirmações foi

colocado em correspondência, o que permite inferir que o critério é ir ao não ao ar.

E2 acrescenta que existe também uma prova de seleção para que eles se tornem

estagiários feita pela coordenação, com questões das matérias produzidas, dos

documentários feitos. Para ele há sempre uma avaliação, ele diz se sentir sempre

avaliado. Para ele, a avaliação faz aprender.

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É interessante observar que quando foi feita uma pergunta objetiva sobre

critérios para avaliar o conhecimento geral dos alunos, os estagiários afirmaram que isso

é deixado ao critério deles, ou seja, não há avaliação para isso.

Agora na parte de conhecimento geral isso é deixado mais a nosso critério, ah, vamos puxar o programa ou vamos puxar as pautas mais para o lado social, ou vamos puxar mais pro lado do entretenimento isso é mais deixado a nosso critério. Isso realmente não tem uma exigência. [...] Isso é deixado com a gente, é decisão nossa.

E2 explicita o motivo, a atuação na sala de aula é suficiente.

A própria atuação que a gente tem durante as aulas, acho que já é suficiente, a gente nunca tem assim caso que tenha feito alguma matéria, que a supervisão tenha falado “oh está meio preconceituosa, está meio...”, não sei por que a gente está aprendendo bem durante as aulas, não sei, mas acho que não teve nenhum caso de alguém chegar e dizer que “a matéria está muito puxando para um lado, ou está muito tendenciosa, está tendo coisa com racismo” acho que nunca teve isso não.

Mais uma vez aparece no discurso tanto de E1 quanto de E2 uma naturalização

da idéia de que teoria fundamenta a prática. E2 argumenta que eles aprenderam bem os

conhecimentos e informações, apontando como indicador o fato de não terem existido

sanções aos produtos realizados por eles. O argumento estabelece a sanção como

conseqüência de uma aprendizagem de algum modo falha.

Acho que a informação, o conhecimento que a gente obteve em sala de aula foi importante para que a gente viesse aplicar isso hoje aqui na prática, entendeu? Existe também, tudo que vai ao ar é avaliado antes, até hoje a gente não sofreu nenhuma sanção relacionada sobre isso, mesmo tento liberdade para produzir.

Como os programas são avaliados antes de entrar no ar, o fato de não ter havido

sanção é o indicador para que eles concluam que o que fazem está em acordo com o que

aprenderam e o que é esperado deles.

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A TV S se apresenta com

um laboratório de aprendizagem

nas falas dos estagiários, mas está

longe de cumprir a formidável

proposta da universidade que é de

pesquisar novas soluções para a

sociedade brasileira. Na fala dos

estagiários o ambiente de

aprendizagem se limita ao fazer

bem o padrão estabelecido. Padrão

este questionado por várias frentes de organização da sociedade brasileira. Perguntamos

se na TV S existe o tipo de laboratório que busca o novo. Para E1 na TV S se tenta fazer

bem o que já existe.

... aqui o rumo é mais em se encaixar segundo o padrão, fazer um um... na televisão já existe um padrão, um padrão globo, já existe um formato de televisão, a gente tenta fazer isso bem, acho que a gente não está tentando fazer nada novo. A gente ta tentando fazer bem o que já existe. Acho que é mais fazer bem o que já existe, do que fazer algo novo. Aqui realmente não tem esse intuído de “vamos fazer alguma coisa nova ou criar”. Não acho que vamos fazer uma coisa bem feita, mas nada novo não. Tipo assim na TV tudo se copia nada se cria, acho que é mais por aí.

A metáfora utilizada deixa clara a concepção de laboratório de aprendizagem.

Encaixar significa que o volume tenha uma forma que caiba numa caixa com formato

definido. Se o volume não tem a forma correta, não cabe. Significa que o formato

televisivo tem, não só um padrão, mas que esse é único. O trocadilho ao final da fala

ratifica esta interpretação fazendo alusão a atemporalidade da afirmação, “tudo se copia

nada se cria”. Como é enunciado no presente do indicativo, significa é já se copiou,

atualmente se copia e sempre será copiado.

TV S

Sempre

avaliado

Ausência de

sanções

Avaliação da

técnica

Social ou entretenimen-to, decisão

discente

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Buscamos mais uma vez verificar se a TV S tem tentado refletir sobre a

realidade da TV Brasileira projetando parte do seu trabalho em pesquisa ou experiência

mais ousada sobre televisão. As respostas dos estagiários foram bem claras. Para E1 já

foram feitas coisas bem feitas e coisas com qualidade, mas o novo não. Para E2 a TV S

tenta seguir o que a televisão oferece, ou seja, um padrão que o público quer ver.

Se o novo não é um objetivo formal na TV S, procuramos compreender quais

são as referências televisivas apresentadas à eles na TV S. E2 deixa implícito que existe

uma programação a seguir e que ela é a referência.

Referência? A referência que a gente tem é que existe a programação e a gente tenta seguir isso. O que eles propõem que são programas voltados à cultura, que tenha um perfil voltado para o público alvo que é uma faixa mais jovem, que aqui um dos novos programas é voltado a cultura, ao esporte, a cultura geral, ao conhecimento, enfim, esse é o nosso público alvo, a gente trabalha para eles.

A programação tem, segundo ele, um perfil voltado para um público alvo. Essa

programação é proposta por outros, uma vez que utiliza o pronome “eles”. Carvalho

(2006) em sua pesquisa sobre modos de endereçamento, analisando entrevistas feitas

com os diversos segmentos das mesmas duas TVs universitárias, concluiu que cada

diferente segmento da TV pensa em um público diferente. É curioso verificar nesta

resposta que o depoente não deixa nenhuma dúvida a respeito de quem é esse público.

Para E1 as referências estão próximas da TV

E. Para ele há uma tentativa de se abordar um

“máximo de assunto com qualidade e também

TV S

TV Cultura

TV Comercial

TVs de canal

fechado

TV E

Referências

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didático dando bastante informação”. Contudo, mais adiante, ele afirma que quem está

no laboratório na TV S tem o “intuito de trabalhar em uma televisão comercial”. E2,

alinhado com as idéias de E1, ainda acrescenta:

O que ensinam pra gente o que a gente pratica aqui, não limita a gente em trabalhar em nenhum lugar, entendeu? O que a gente faz aqui, podemos fazer em uma TV educativa, podemos fazer em uma TV comercial, podemos fazer de repente em uma TV fechada, para uma ONG. A gente aprende trabalhar em TV com qualidade, independente da onde a gente for trabalhar, acho que sair daqui podemos trabalhar em qualquer lugar. Na TV Educativa que existe hoje e tal, existem programas, matérias, o jeito que é feito, acho bem parecido com o daqui, mas não que seja um molde que engesse a gente ali entendeu? A gente pode fazer coisas que não estão na TV educativa, que estão na TV educativa, a gente faz coisas parecidas com a TV comercial..

A metáfora do molde, que engessa a prática, é utilizada aqui para opor o

ambiente de aprendizagem da TV S ao demais ambientes. Existe um modo de aprender

ali que é valorizado pelo aluno e que permitirá o acesso a qualquer emissora no futuro.

A oposição diz respeito a outras possíveis instituições que formam o aluno para

trabalhar apenas em um tipo específico de TV.

Houve bastante sintonia nos discursos dos estagiários. Em suas fala, um

complementava aspectos abordados pelo outro, não houve controvérsias entre eles,

senão acréscimos ou diferentes pontos de vista para a defesa de uma mesma tese.

Para os estagiários, o bom ambiente de aprendizagem é aquele em que a prática

predomina e em que a prática é conseqüência natural da teoria aprendida em sala de

aula. A televisão de qualidade é aquela que defende os bons preceitos da ética, mas que

ao mesmo tempo agrada o telespectador. As referências não são claras, mas dizem

respeito a um ambiente de aprendizagem que oferece liberdade e um certo grau de

autonomia.

4.1.2 Cruzamento

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Buscamos cruzar as informações do diretor, da professora/ coordenadora e

dos dois estagiários da TV universitária S para verificar se a Universidade S desenvolve

a idéia de laboratório de pesquisa de novas práticas para a televisão brasileira, através

de sua televisão universitária. Buscamos compreender ainda qual é concepção de

laboratório ou ambiente de aprendizagem da TV universitária S.

Este estudo investiga como a Universidade desenvolve a idéia de

Laboratório de pesquisa de novas práticas para a televisão brasileira, através das

televisões universitárias. Pretendemos conhecer qual é concepção de laboratório ou

ambiente de aprendizagem dos participantes de tevês universitárias.

A concepção do diretor da TV S apresenta aproximações com a de TV

educativa, mas, e isso é explícito, daquela TV educativa de projeto cultural - capaz de

competir com as emissoras comerciais, sem uso ideológico ou casuístico. A TV

universitária S, no canal universitário do Rio de Janeiro – UTV, nesta concepção não

apresenta, e tão pouco lhe é dada a possibilidade de, aproximações com as TV

comerciais. Já que a TV comercial se diferencia de qualquer outro modelo de TV no

Brasil pelo fato de poder fazer referências a valores e forma de pagamento de produtos.

O Artigo 4º parágrafo segundo do código de ética do canal universitário do Rio de

Janeiro afirma que são vedadas referências a valores e forma de pagamento dos cursos,

serviços ou outras informações que impliquem, direta ou indiretamente, captação de

clientes. Desta forma a TV S no canal universitário não apresenta traços comerciais. A

TV S, porém, como afirma seu diretor, faz parte de uma universidade que precisa ter

visibilidade. Não canal universitário, a TV S tem pouca visibilidade, mas em um canal

comercial a visibilidade passa a ser notável.

A nossa experiência de telejornal da TV universitária, hoje nós estamos entrando na TV aberta, na teve comercial, nós estamos nos integrando com o telejornalismo das emissoras comerciais. O que nos interessa hoje, mais do que ocupar espaço no canal universitário

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é ocupar na TV aberta que tem grande audiência. A Instituição é uma grande empresa e ela precisa ser vista por um grande público.

Desta forma a TV S se aproxima do modelo de TV comercial veiculando um

programa em um veículo de televisão comercial, fazendo deste um segundo projeto da

TV S.

Por nenhum momento ficou explícita na fala do diretor a possibilidade de um

projeto dentro da TV S para o desenvolvimento de um programa televisivo que pudesse

ser sujeito laboratorial para servir de

referência à sociedade. Não há pesquisa na

TV S, há um laboratório de formação

técnica de mão de obra para o padrão de

televisão estabelecido.

Para a professora do curso de

comunicação social e coordenadora da TV

S, o curso de comunicação social de sua

universidade tem em seu corpo docente professores/ profissionais da TV educativa e da

TV comercial. Ela como profissional com experiência nas duas concepções de televisão,

deixa claro a idéia do fazer laboratorial como ponto principal deste ambiente de

aprendizagem.

É interessante observar que o diretor afirma ter a TV S uma tangência com a TV

educativa de projeto cultural capaz de competir com a TV comercial e apresenta um

segundo projeto na TV S, que é veiculado em uma TV comercial. Já a professora/

coordenadora da TV S com experiência em TV educativa e TV comercial oferece como

referências aos alunos outras TV comerciais, distanciando-se da TV Globo.

Acreditamos desta forma que a concepção de TV universitária tanto do diretor quanto

da professora/ coordenadora é a de uma TV universitária capaz de produzir um produto

TV S

TV Educativa de

projeto cultural

Visibilidade institucional

TV Comercial

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televisivo dentro da universidade igual ao padrão de TV comercial. Isso é claro também

na fala dos dois estagiários que são categóricos em dizer que se na TV S existir uma

referência essa é de TV educativa de programação cultural, porém o objetivo dos

participantes daquele laboratório é

trabalharem em uma TV comercial.

Ao cruzarmos as falas sobre

o conceito de qualidade na TV, a

professora/ coordenadora afirma que

qualidade na TV é apuração da

informação. Para os estagiários a

TV de qualidade é pensar primeiro

no telespectador, ter ética e isenção,

sem se esquecer de unir a isso os interesses do patrão e da publicidade. Tanto a

professora/ coordenadora quanto os dois estagiários afirmam que a isenção ou apuração

dos conteúdos são representações de TV de qualidade. A professora/ coordenadora se

limita a afirmar que a apuração é suficiente para dar credibilidade a uma emissora de

TV, já os estagiários acreditam que os interesses do patrão e da publicidade não devam

ser esquecidos, apesar de terem afirmado que uma TV de qualidade deve pensar

primeiro no telespectador.

TV S

Referências

Globonews

TV Bandeirantes

TV SBT

TV Record

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A avaliação deste ambiente de aprendizagem para a professora/ coordenadora

parte do princípio de que são dos alunos as idéias dos conteúdos a serem produzidos na

TV S. O processo de aprendizagem é feito através da dinâmica do “aprender fazendo”

cujos pontos principais são a integração do grupo e a responsabilidade hierárquica.

Como critério da avaliação está a estética no sentido da qualidade técnica que vai ao ar.

Para os estagiários, a avaliação técnica é um ponto relevante da aprendizagem na

TV S. Há coerência na fala deles com a descrição da professora/ coordenadora que

afirma ser a avaliação na TV S dinâmica. Para os estagiários há sempre uma avaliação,

mas é no resultado final que essa avaliação é sentida.

Não foi observada nenhuma avaliação explícita sobre os fundamentos teóricos

de uma televisão universitária nas falas sobre o processo avaliativo dos participantes da

TV S. Mesmo sendo a universidade um lugar de excelência da análise teórica,

observamos que na televisão universitária S o direcionamento do conteúdo é decisão

dos estagiários e a decisão do formato televisivo é uma decisão da diretoria.

Não podemos deixar de apresentar as afirmações acima com a idéia de

concepção de TV educativa institucional do diretor da TV S que a descreve. Na TV S,

há espaço para programas que tangenciam o modelo de TV educativa de programação

TV S

Avaliação

Estética

A maioria das idéias

é dos alunos

Dinâmica

Aprender fazendo

Integração e

hierarquia

TV S

Sempre avaliado

Ausência de sanção

Avaliação da

técnica

Conteúdo: decisão discente

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cultural, que é apresentado com sendo isento de ideologia trazendo “apenas”

informações culturais, ou pautas interessantes. Há espaço para o modelo de TV

educativa institucional, que é descrita como aquela em que as informações são oficiais e

totalmente dependentes da gestão de plantão. E há espaço para o modelo de TV

comercial, pois a universidade necessita de maior visibilidade.

Não verificamos na TV S o desenvolvimento de algum modelo de novas práticas

para a televisão brasileira. Na TV S a idéia é de fazer bem o padrão existente.

Perguntamos aos estagiários se por algum momento, o mínimo que seja, eles já fizeram

algo novo na TV S.

Não, novo não. Eu já me senti fazendo coisas bem feitas e coisas com qualidade, agora novo não. Inovando não. Não também não, nada novo. A televisão, o que ela oferece hoje é um padrão que o público, o telespectador quer ver, a gente tenta seguir isso.

As atividades da TV R são as de um laboratório de aprendizagem, mas o

laboratório de pesquisa não é praticado pela TV S. Nas falas da coordenadora e dos

alunos, o novo é, no máximo, atingido pelo acaso. O escopo é fazer bem o que tem de

melhor na TV Brasileira. A partir daí, fica clara a fala do diretor, cuja concepção de TV

universitária inclui a capacidade de competir com a TV Comercial.

4.2.1 Analise das entrevistas realizadas na TV R

Diretor do Centro de Tecnologia Educacional

Inicialmente analisamos a entrevista do professor lotado no departamento de

jornalismo e atualmente Diretor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade

R e também Diretor do Centro de Tecnologia Educacional - CTE. Pelas funções que

exerce é um profissional competente para responder às nossas indagações sobre as

concepções de TV Universitária.

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O Centro de Tecnologia Educacional da universidade através de uma

coordenação de Programas de Televisão da Universidade R que chamaremos de COR -

produz programas de televisão que são veiculados no canal universitário – UTV. A

nossa primeira pergunta ao diretor foi o que é uma TV Universitária. A resposta do

diretor ficou limitada a uma obrigatoriedade constituída nos termos do Art. 23 - Inciso I

/ letra e - da Lei nº 8.977, de 6 de janeiro de 1995. Sua resposta tem o tom impessoal de

lei. Tal resposta marca a ausência de qualquer idéia de visualização de uma mídia para o

ambiente de pesquisa e aprendizagem das universidades.

A TV Universitária foi criada em 1999, porque a TV a Cabo é obrigada a ter alguns canais que não sejam pra instituições que visam lucro. Então ela tem que ter um espaço pras casas legislativas, pro judiciário e um espaço para as universidades. Então a TV nasceu dessa obrigatoriedade e as Universidades e Centros de Pesquisa no Rio de Janeiro se juntaram para utilizar esse espaço.

Buscando uma aproximação em direção à concepção de TV universitária do

diretor da universidade R, perguntamos qual a diferença entre uma TV Educativa e uma

TV Universitária. Para ele, a TV Educativa é uma TV do Estado para fazer programas

de acordo com a filosofia do Estado e, consequentemente, do Governo. A TV

universitária não é do Estado, ela é um espaço das universidades passarem os programas

que são do seu interesse. Importante observar que o depoente da universidade pública R

concebe a TV educativa submetida à filosofia de um governo e do Estado, enquanto a

TV universitária, que pertence a uma universidade pública não estaria submetida à

filosofia do Estado ou do governo de plantão. Este fato deixa implícito que a TV

educativa é um meio de comunicação institucional do Estado ou de uma gestão de

governo, enquanto a TV universitária de uma universidade pública é uma mídia

institucional da universidade para criar os programas que são do seu interesse. As TVs

educativas, para ele, são aparelhos do Estado e as TVs universitárias das universidades

públicas são aparelhos das universidades, veiculando o que é de interesse das

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TV

Educativa

Programas de interesse do Estado e do governo

TV Universitária

Programas de interesse da

Universidade

universidades. O esquema abaixo mostra a implícita diferenciação entre os dois modelos

de TV.

Tal interpretação é

possível, pelo fato de que

tanto a TV educativa

quanto a TV universitária

de universidade pública

estão ligadas diretamente

ao Estado. Podemos ainda indagar quais seriam os interesses da universidade pública

para a TV universitária.

Nosso interesse era compreender como a TV é pensada enquanto ambiente de

aprendizagem na TV universitária R e, também, se esses interesses comportam

alguma pesquisa pedagógica para novos formatos e conteúdos de televisão, que

possam ser oferecidos como referências às TVs públicas e privadas do Brasil. Para

este fim, indagamos sobre o conceito de TV de qualidade para a TV universitária R.

Na fala do diretor, a qualidade tem sua referência na escolha dos fatos a serem

abordados, ou seja na pauta a ser desenvolvida. Para o dirigente da TV R, TV de

qualidade se limita ao amplo universo de assuntos importantes para academia, não

oferecendo nenhuma informação mais descritiva sobre a sua idéia de TV de

qualidade. Verificamos os critérios de qualidade que estão contidos na pauta dos

programas da TV R.

Qualidade que eu entendo que você está falando seria o assunto a ser tratado. A gente só trata de assuntos que nos parecem pertinentes, de interesse da população e ao mesmo tempo assuntos que são importantes para a academia.

O esquema abaixo mostra a vinculação da qualidade com a escolha dos temas.

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Para o diretor a TV universitária R, é

uma forma de a academia, do ponto de vista

da Universidade R, passar para a sociedade o

que está sendo feito dentro da universidade e

o que pode ser feito fora. A aprendizagem

sugerida por ele se dá com o público da TV e

não com os alunos de comunicação futuros profissionais de televisão. Há uma visão

explicita de que a TV R possui concepção definida e cujo conteúdo procura estimular

a aprendizagem dos telespectadores.

A Universidade R procura com que seus programas sejam de aprendizagem ou de fortalecimento do que as pessoas já conhecem, fazer com que ampliem os conhecimentos que já possuem sobre determinados assuntos.

Utiliza uma seqüência de enunciados que poderia ser taxada de redundante,

porém deixando a impressão de que tais enunciados não se referem exatamente ao

público que vê o canal universitário, mas a um público idealizado, uma vez que frisa

mais de uma vez que se trata de um público conhecedor dos temas que pretende

tratar.

Perguntamos, então, se a TV R é um ambiente de aprendizagem para os alunos

de Comunicação Social. Para o professor/ diretor, a TV R é também um ambiente de

aprendizagem para os estudantes de Comunicação Social, mas não somente. Ele

justifica o fato de não poder ser um laboratório de aprendizagem para os alunos por

duas razões. Uma primeira diz respeito ao propósito maior da TV R, que vai além da

possibilidade de ser um laboratório de aprendizagem para os futuros profissionais da

TV R

Qualidade

Escolha dos fatos a serem

abordados

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comunicação ou de ser um laboratório capaz de fomentar novos formatos e

conteúdos para a TV brasileira.

É também, nós estamos aqui há um ano e meio. Existe uma série de dificuldades de equipamentos. A TV Universitária não pode ser só um laboratório para os alunos de comunicação, eu entendo assim, porque ela vai deixar de servir à universidade. O Centro de Tecnologia Educacional aqui é ligado à sub-reitoria de extensão e cultura. Então nós temos que divulgar pós-graduação, pesquisa, os trabalhos de extensão da universidade.

A segunda diz respeito à falta de equipamento para servir a estes alunos, o que

poderia explicar, não fosse a afirmação anterior de um propósito maior. Esta fala

acrescenta mais informações a respeito da sua concepção de TV universitária. O

professor/ diretor afirma que o Centro de Tecnologia Educacional que produz

programas para a TV universitária R está ligado à Sub-reitoria de Extensão e Cultura, o

que deixa implícito que Centro de Tecnologia Educacional – CTE não se preocupa com

a pesquisa de novas formas de televisão, mas apenas em divulgar as atividades da

universidade R, sobretudo as suas pesquisas. O CTE da Universidade R não produz

pesquisa, apenas divulga conteúdos. A Televisão como objeto de estudo não é universo

de trabalho para o CTE, que produz programas televisivos para a UTV.

Longe deste objeto de pesquisa, perguntamos, contudo, como os alunos de

comunicação social, futuros profissionais da área, participam do CTE. Sabemos que

uma televisão é um meio de comunicação que oferece espaço amplo para atuação de

uma diversidade de conteúdos e formatos, mas sabemos também que os interesses das

empresas ou instituições que administram tais veículos determinam as características da

produção e consequentemente a sua concepção. Para o professor/ diretor, os alunos de

comunicação não produzem cem por cento da programação porque estão aprendendo.

Quando se aprende, o tempo de produção é outro e esse tempo não é compatível com o

tempo de produção necessário para cobrir os assuntos que fazem parte do dia-a-dia da

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universidade, uma vez que a programação visa tão somente a divulgação. A insistência

do diretor/ professor em deixar claro que a TVR é um equipamento que deva ser

dividido entre o curso de comunicação e todos os outros, mostra de forma implícita que

ele não concebe a TV R como ambiente de aprendizagem da Comunicação Social.

Não deve ser cem por cento do aluno nem cem por cento da universidade, este equilíbrio que nós estamos procurando alcançar. A nossa idéia é que os alunos de Letras tenham seu espaço, os alunos de Enfermagem tenham seu espaço, os alunos de Direito tenham seu espaço. Se fica só na mão da Faculdade de Comunicação você está dizendo que só o jornalismo é importante, quando tem outras questões de pesquisa de graduação, de pós-graduação que precisam ser divulgadas também.

O suposto equilíbrio, porém, parece limitar o ambiente da TVR para a

participação dos alunos do curso de comunicação social, mesmo porque ser laboratório

de aprendizagem não inviabilizaria a divulgação dos produtos dos outros centros da

universidade.

Na Universidade R, a estrutura de produção de programas de televisão para

exibição na UTV requer um debate sobre quem deve fazer os programas de televisão. O

professor/ diretor afirma que a Universidade R está procurando um outro desenho para a

televisão universitária. Para ele, são necessários os técnicos, os profissionais já

formados que dominam o manuseio dos equipamentos de gravação e edição, para fazer

os programas de TV, mas estes não podem estar dentro da universidade, por não

existirem tais cargos ou funções. Os alunos podem participar de algumas atividades,

mas não estão prontos para participar de todas as atividades.

Após a tentativa de observar a atuação dos alunos de jornalismo na

realização de programas de televisão para o canal universitário pela Universidade R,

tentamos aprofundar a questão perguntando sobre como é o processo de análise e

reflexão da produção televisiva para a UTV. A resposta do professor lotado no

departamento de jornalismo e atualmente Diretor da Faculdade de Comunicação Social

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da Universidade R e também Diretor do Centro de Tecnologia Educacional foi

extremamente curta: “ainda não. Oficialmente não”.

Coordenador de Programa de Televisão do Centro de Tecnologia Educacional

A nossa segunda entrevista foi com a coordenadora dos programas de televisão

da Universidade R, que são veiculados na UTV. Inicialmente a professora/

coordenadora reafirmou que não existe uma televisão universitária na Universidade R,

porque os programas não são transmitidos a partir da Universidade R. A Universidade R

produz programas de televisão através do CTE que dispõe da coordenação de programas

de televisão – COR para tanto. Buscamos saber com a professora/ coordenadora qual a

concepção de televisão da COR. Há um distanciamento nítido entre a TV R e os alunos

de Comunicação. Assim como o diretor, a coordenadora não visualiza a TV

Universitária como ambiente de aprendizagem que possam fomentar um laboratório de

aprendizagem e de pesquisa para o fazer televisão no Brasil. Há uma parceria com os

alunos de comunicação, algo explicitamente secundário.

A gente não produz para alunos, a gente produz para qualquer pessoa que tenha interesse em assuntos acadêmicos da universidade. Agora, tem um com a colaboração dos alunos, é uma parceria nossa com os alunos de comunicação, aí são eles que fazem.

A professora/coordenadora, assim como o diretor do centro tecnológico

educacional, afirma que existe “um” programa veiculado no Canal Universitário

produzido pelo CTE, sobre a coordenação da COR, em “parceria” com os alunos de

comunicação em um programa. Trata-se, portanto, de um ambiente que os alunos de

comunicação podem utilizar, mas não é um espaço para eles. Além disso, há um mês os

alunos de comunicação passaram a contar com uma professora-orientadora. Fica claro

que os alunos de comunicação são coadjuvantes no processo, a ponto de os dirigentes se

sensibilizarem com a situação de abandono dos alunos. Observa-se, na fala acima de

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forma implícita, que a universidade pública utiliza o CTE, através de sua coordenação

de programa de televisão, para expor assuntos acadêmicos, mas não há ainda nenhuma

sinalização na direção de programas de televisão produzidos pela universidade R para

servirem como ambiente de aprendizagem para os estudantes de comunicação social,

futuros produtores de programas de televisão para a sociedade brasileira, que lhes

proporcione a reflexão sobre o que TV a sociedade brasileira necessita ou deseja. Para a

coordenadora, o universo de aprendizagem limita-se ao entorno de um programa

produzido por alunos de comunicação com uma professora, orientando-os uma vez por

semana a fazer bem o que o mercado de televisão brasileira já faz.

Antes eles faziam sozinhos, assim no ano passado tinha uns três alunos que recebiam pagamento, que já estavam no mercado, eram mais experientes, então eles se formaram, saíram da universidade e agora nós sentimos que os alunos precisavam de uma orientação e aí contratamos essa professora. Por isso o programa está sendo reformulado, está mudando a cara e o nome também.

É importante observar que a vinda da nova professora é recente, “ano passado” e

que a presença dela provoca mudanças, segundo a coordenadora, de “cara” e de “nome”

do programa que tem a participação dos alunos. Mudar a cara e o nome significa uma

completa modificação.

Mesmo tendo um perfil insuficiente e negligente no trato inicial com os futuros

produtores da televisão brasileira, a concepção de programas de televisão da COR da

Universidade R tem como referência a TV educativa. Ela afirma que a reflexão sobre os

temas qualifica os programas.

Você vê um programa de variedades com 3 blocos de 8 minutos, não são várias matérias de 1 minuto e meio. Cinqüenta minutos você pode fazer uma reflexão mais profunda sobre aquele tema.

O tempo, nesse caso, é um critério para avaliar a

qualidade do programa. Em contrapartida, a professora / TV R

Referência

TV

Educativa

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coordenadora da COR afirma que na TV comercial a abordagem é superficial, tem

comercial toda hora e que na COR os programas não servem de vitrine para as outras

emissoras conhecerem novos talentos.

Já entendemos que a COR valoriza programas com tempo maior em cada bloco

e com menos intervalos nos programas, valorizando desse modo a reflexão sobre os

temas. Então procuramos saber da professora / coordenadora qual o seu entendimento a

respeito de televisão de qualidade. Ela afirma que a COR vê em primeiro lugar o

conteúdo e posteriormente os aspectos técnicos, equipamentos, iluminação. Conteúdo

de qualidade para a professora/ coordenadora da COR seria não passar pelos assuntos de

forma leviana, conseguir tratá-los seriamente. A COR é um lugar onde se pode falar

tudo. Logo em seguida afirma:

É claro que a gente depois edita. Tanto que o nosso roteiro do programa de variedades é feito depois das imagens. Por que se você chegar num lugar para fazer uma matéria jornalística e chegar com um roteiro pronto, você não está investigando. O repórter faz aquela pauta, ele mesmo vai apurar, quando ele chega ‘decupa’ as imagens, vê o que rendeu e faz o roteiro.

Coerentemente com o discurso anteriormente defendido, o fazer na televisão é

feito sem roteiros prévios. A defesa desse tipo de fazer, no entanto, deixa ambíguo certo

amadorismo em função do pequeno

número de profissionais para assistir

aos estudantes. O repórter é um

profissional de mercado recém

formado que trabalha para a COR.

Segundo a professora / coordenadora

existem assistentes que são alunos de

comunicação, não necessariamente da

Universidade R trabalhando na COR.

TV

Qualidade

Reflexão

Conteúdo

Aspectos técnicos

Programas com 3

blocos de 8 minutos

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Os profissionais que trabalham na COR são recém formados que já fizeram algum

estágio em televisão. Podemos entender que a preocupação é com a linguagem própria

da TV, para que este possa fazer o que se faz no mercado.

A importância de profissionais e técnicos conhecedores da linguagem

audiovisual parece ser importante, mas a reflexão dos programas produzidos pela COR

ainda não têm a mesma preocupação.

Existe um programa nosso que é o carro chefe, um programa de variedades e a diretora é nova. Agora que ela já está há um mês aqui, já combinei com ela de fazer reunião quinzenal, com a equipe toda, analisar dois programas, da semana anterior e da semana corrente.

Essa recém implantada atividade parece dar a COR ares de ambiente de

aprendizagem. Ambiente este que se existente, é desvalorizado. Sempre expondo um

perfil técnico institucional dos programas de televisão produzidos pela universidade R.

Para a professora/ coordenadora da COR já se pode falar em ambiente de aprendizagem

Porque antes tinha profissional aqui que ficava 6, 7 anos. Agora como muda todo ano e dá espaço pra quem está entrando, aí a gente tem uns assistentes estudantes que estão se formando. Se formou, a gente bota pra produção, repórter, assistente de edição, a gente tem dois estagiários. Todos aprendem.

A aprendizagem no ambiente da TV acontece, então, para dois alunos que estão

se formando. A menção a “todos aprendem” deve estar referida também aos dois alunos

que por ano fazem estágio na TVR.

Carvalho (2006) ressalta que embora os programas da TV R apresentem um

bom nível em termos de conteúdo, eles não são pensados nem idealizados pelos alunos.

Eles são idealizados pelo diretor da televisão, juntamente com a diretoria da

universidade e a equipe de profissionais contratados pela COR. Apenas um é totalmente

idealizado e produzido pelos alunos estagiários da TV R.

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Alunas da Faculdade de Comunicação participantes dos programas de televisão

realizados pela COR

A entrevista foi feita com as duas alunas no mesmo ambiente, dando espaço para

que cada uma pudesse responder as perguntas. Vamos chamar as alunas entrevistadas de

aluna A1 e aluna A2. A primeira pergunta realizada foi a respeito de possíveis

diferenças entre TV educativa e TV universitária. A aluna A1 respondeu:

A TV Universitária é onde são veiculados os programas feitos pelos universitários e a TV Educativa são as pessoas da TV Educativa que fazem programas específicos para a Educação. Na TV Universitária a grade de TV é bem diversa, tem debates, a parte científica, cultura, mas não é necessariamente educativa.

A depoente fundamenta a diferenciação numa suposta maior amplitude de

programação da TV universitária do que da TV educativa. Educação é diferente de

ciência e cultura. A TV educativa em sua visão não comportaria nada além de educação.

Quando não é dessa forma, apresentam as diferenças através do perfil das pessoas que

trabalham nas emissoras ou produtoras como prefere a COR. O esquema abaixo ilustra

essa diferenciação.

A aluna A2 afirma que alunos da Faculdade de Comunicação participam de um

programa produzido pela COR, outros programas podem ter também alunos de

comunicação, mas apenas um é produzido inteiramente por eles. Se os alunos começam

TV

Universitária

Feita por

universitários

Programas com debates,

ciência, cultura

TV

Educativa

Pessoas da TV

Educativa

Programas

para a Educação

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a participar dos programas de televisão produzidos pela COR, perguntamos as duas

alunas se elas aprendem a fazer televisão através do programa que elas participam. A

aluna A2 fica em dúvida se há essa aprendizagem, mas afirma que os frutos são bons.

“Aprender, aprender, não sei dizer. Mas dentro das nossas possibilidades eu acho que

os frutos são bastante”. Já a aluna A1 diz:

Eu acho que a gente aprende, muito. Mas é no peito e na raça, porque como a gente falou o programa é feito por alunos. Só. Não tem técnicos para auxiliar a gente. Tem a professora, mas é só uma vez por semana pra auxiliar na edição de conteúdo. Agora na hora mesmo de fazer a imagem, a gente se perde um pouco.

É importante observar que as duas alunas assumem falar em uníssono, uma vez

que utiliza “a gente” para se referir a falas anteriores. A expressão “no peito e na raça”

destaca a ausência de orientação em seu fazer televisão. Isso confere certo grau de

heroísmo no suposto ambiente de aprendizagem das alunas da TV R. Não podemos

falar de ambiente de aprendizagem, mas do esforço de pessoas em aprender a fazer. A

Universidade R parece oferecer para os alunos de comunicação a participação no

ambiente de aprendizagem quase nada além da realização de programas de televisão.

Desta forma, a hipótese de a TV Universitária ser um ambiente de aprendizagem fica

reduzida à aplicação dos conhecimentos da sala de aula na produção e execução de um

único programa, por dois estagiários por ano, pelo menos até hoje.

Pra quem está produzindo, é com certeza, é uma oportunidade de você colocar na prática o que você aprende na sala de aula e muitas vezes o que você não aprende. E, pra quem está assistindo também, depende do interesse das pessoas. Eu concordo, pra quem está produzindo é um aprendizado. E não só para a televisão, pro relacionamento mesmo, porque você depende de tanta gente pra fazer o programa que você acaba aprendendo a lidar com gente mesmo, gente de tudo quanto é tipo e situações absurdas.

Os resultados ficam relegados ao interesse pessoal dos alunos em aprender. Essa

aprendizagem, no entender das alunas é muito amplo, aprende-se a prática, a teoria que

não foi aprendida na sala de aula e a lidar com pessoas e situações.

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Se na fala do diretor a qualidade está contida na escolha dos fatos a serem

abordados, ou seja, na pauta a ser desenvolvida, perguntamos qual o critério que as

alunas utilizam nas pautas do programa. Na visão das alunas, a qualidade remete ao

desenho do fato já observado. Os alunos de comunicação aprendem comunicação vendo

os produtos midiáticos. Ou seja, eles procuram fazer bem o que eles identificam como

bom. Não há pesquisa que direcione novas estruturas televisivas, porque não há política

universitária para isso. No caso da universidade R, não existem professores, muito

menos, para mostrar como fazer bem o que se vê nas TVs comerciais.

A gente faz a pauta com os assuntos da mídia. A gente tem uma reunião de pauta e discute as sugestões. A gente assiste muita televisão, a gente sabe o que é bom. Mas a gente não sabe fazer o que é bom porque não tem ninguém para ensinar o caminho.

Mas a retro-alimentação da aprendizagem muitas vezes se dá pela avaliação.

Perguntamos às alunas se há avaliação de processo de realização do programa de

televisão. Há desrespeito com o corpo discente explicito na fala das alunas. A aluna A2

diz que não há avaliação e a aluna A1 reforça a fala da aluna A2:

E eu acho interessante ressaltar que, a gente pediu pra ter a professora com a gente, porque a gente estava solto. A gente conseguiu uma sala, conseguiu uma câmera emprestada, tudo meio que nas coxas, né. Mas faz o que quiser, é bom que não tem ninguém para regular. Eu até brinquei, se quiser ficar meia hora falando mal da universidade R, falando mal do diretor da faculdade, eu posso. Porque o diretor não assiste, não tem ninguém aqui da universidade que assiste.

A expressão “meio nas coxas” indica que o trabalho é feito sem orientação. Sem

orientação, os futuros produtores de televisão brasileira manifestam a necessidade da tão

questionada avaliação, pois vêem nela o suporte da orientação e, neste caso, faz-se

necessária para confirmar a aprendizagem. As alunas até sabem o que é bom, como

afirmaram acima, mas não sabem se aquilo que fazem realmente está bom, falta diálogo,

falta ambiente.

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A gente não sabe se está bom. A gente tem o nosso nível, que a gente acha que é assim, está bom, mas precisa de alguém que entenda, já tenha experiência pra falar, pra avaliar. Porque muitas vezes a gente percebe que não está bom, mas não sabe como melhorar. O texto não está bom, a imagem não está boa, mas o que é o certo, né? Então tinha que ter alguém com experiência para mostrar pra gente.

O esquema ao lado ilustra a

concepção do ambiente em que produzem

o programa.

Como que deixadas ao vento,

perguntamos às duas alunas se há, por

parte delas, uma preocupação com a

qualidade do programa. Como é comum

no universo de quem pensa e faz televisão,

inicialmente a resposta das duas foi com a qualidade dos equipamentos. Em seguida

elas demonstram a preocupação com o conteúdo. Os nossos equipamentos são pré-

históricos mesmo. Nós temos a preocupação tanto com o conteúdo quanto com a qualidade

técnica.

Buscamos ser mais incisivos e perguntamos às alunas quais seriam os critérios

para um programa de qualidade. A aluna A1 afirmou que o programa deve ter conteúdo

e ser informativo. É muito provável que as alunas saibam o que é bom, pois fazem parte

de uma geração que pensa TV estuda TV e procura fazer TV.

Mas também não pode ser só informação pesada, porque a gente sabe que o cérebro não absorve tudo, tem que ter um toque de entretenimento. Tem que ter também uma boa qualidade de imagem porque o público brasileiro está muito acostumado com uma boa qualidade, telenovela da Globo que tem tudo. Tem que ter um bom enquadramento, som, esta parte técnica tem que ser boa. Porque senão a gente não consegue capturar nenhum tipo de público. Já é difícil porque é TV fechada, já é difícil que é canal 16, que é abaixo da Globo que é 19. Então tem que saber dosar entretenimento com informação.

TV R

Avaliação

A gente não sabe melhorar

Professor uma vez

por semana

A gente não sabe se está bom

O que é o certo ?

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A visão de qualidade está referida às noções de técnica e a uma dosagem de

entretenimento com informação. Existe uma dicotomização implícita na fala de A1

entre o educativo e o entretenimento. Observe que ela se refere à “informação pesada”

que o “cérebro não absorve” e que, com uma pitada de entretenimento fica resolvido.

Então, a grande questão é saber dosar estes dois aspectos para poder “capturar” o

público. O uso do verbo capturar deixa implícito que isso deve ser feito à revelia desse

público.

O esquema ao lado

ilustra a concepção de

qualidade para as alunas.

O descaso com as

alunas de comunicação é

notável na TV R. Todo

aluno com interesse tem

um potencial inacreditável.

Perde-se com isso a

possibilidade de se criar

mais um ambiente de

aprendizagem com

laboratório de aprendizagem e laboratório de pesquisa em uma universidade brasileira.

Cancelam-se estímulos, interrompe-se e se boicota a aprendizagem em nome da

divulgação de fatos da Universidade.

4.2.2 Cruzamento

Buscamos cruzar as informações do diretor, da professora coordenadora e das

duas alunas do curso de comunicação da Universidade R para verificar se a

Universidade R desenvolve a idéia de um ambiente de aprendizagem como proposta de

TV R

Ter conteúdo

e ser informativo

Qualidade de imagem e som

Não pode ser só

informação pesada

Toque de entreteni-

mento

Qualidade

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laboratório de pesquisa de novas práticas para a televisão brasileira e de laboratório de

aprendizagem para os alunos de comunicação social, futuros produtores de televisão no

Brasil. O objetivo foi conhecer a concepção de laboratório ou ambiente de

aprendizagem da TV universitária R.

O diretor do CTE apresenta aproximações com a TV educativa de caráter

institucional nos programas de televisão realizados para o canal universitário. Isso fica

mais evidente pelo fato de ambas as instituições serem públicas. Para o diretor, os

programas de televisão são programas de interesse da Universidade R enquanto a TV

educativa realiza programas de interesse do Estado ou governo.

A professora / coordenadora da COR também aproxima os programas de

televisão da Universidade R com os da TV educativa. Para ela, os programas de TV

desenvolvidos na Universidade R são para expor assuntos acadêmicos, ou seja, assuntos

da instituição, de abordagem reflexiva, portanto, próximos aos da TV educativa e

distante dos da TV comercial, segundo ela, de abordagem superficial.

Observamos que os dois dirigentes dos programas de televisão da Universidade

R apresentam sintonia em suas falas sobre sua concepção televisiva. Assim como a TV

TV R

Diretor do Centro de Tecnologia Educacional

Coordenador dos Programas de

Televisão

TV Educativa

TV Educativa TV Comercial

Programas do interesse do Estado e

do Governo

Programas do interesse da

Universidade

Referência da TV Universitária

Superficial

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educativa é um aparelho do Estado ou governo plantão, assim são os programas de

televisão da Universidade R: um aparelho para a Universidade ou reitor de plantão. Da

mesma forma, a TV R tem como referência a TV Educativa que é vista como aparelho

do Estado. A TV Comercial não é observada senão, como superficial.

Já para as alunas do curso de comunicação que realizam um programa de

televisão na Universidade R, para o canal universitário – UTV, a TV Universitária não é

necessariamente educativa. A TV educativa realiza programas educativos feitos por

funcionários da TV Educativa, já a TV universitária, realiza programas científicos e

culturais. Para elas, é diferente, os programas não são necessariamente educativos, pois

o cultural e científico referem-se a outra esfera que não coincide com educação.

Quanto ao conceito de televisão de qualidade, o diretor parte do princípio ser a

escolha dos fatos a serem abordados o principal critério para identificar o conceito. Para

ele, é a escolha dos temas que qualifica uma televisão. Não há nenhuma menção em sua

fala a respeito de formato ou linguagem, apenas de conteúdo. Para o diretor, a

Universidade R procura, através dos programas de televisão, ampliar os conhecimentos

de pessoas que já possuem algum conhecimento sobre determinado fato. A professora/

coordenadora está de acordo com o diretor quanto este afirma que a escolha dos fatos

seja um critério para conceituar televisão de qualidade e acrescenta os aspectos técnicos

com essenciais para definir o conceito.

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O fato de o diretor não citar o aspecto técnico como relevante para conceituar

uma televisão de qualidade, talvez possa ser entendido através de algumas das falas das

alunas do curso de comunicação da Universidade R

Como o diretor liberou, eu vou falar, mesmo que não liberasse, eu ia falar mesmo. Como ele é o Diretor da Faculdade de Comunicação e do CTE, ele acha que é a mesma coisa. Então ele acha que tem equipamento no CTE, mas não tem na Faculdade de Comunicação, então empresta. Mas não é assim. A Faculdade tem que ter o equipamento dela e o CTE tem que ter o dele. Tanto é que nós temos pedido muito para o diretor que melhore os nossos equipamentos, porque os nossos equipamentos são pré-históricos. É pré-históricos mesmo. Nós temos a preocupação tanto com o conteúdo quanto com a qualidade técnica.

...mas como a gente continua sem equipamentos a gente pede orientação técnica aos técnicos do CTE, mas aí a gente não tem a câmera pra fazer o enquadramento tal, não tem a luz. É um absurdo uma Faculdade de Comunicação não ter uma câmera.

Os outros programas são feitos pelo CTE, não pela Faculdade de Comunicação. A gente tem que dividir o “mini TV”, que é o equipamento que faz a edição. Os horários ficam tudo apertadinho, sabe? A gente tem fazer tudo correndo. Isso desestimula a gente, fica meio pra baixo.

É particularmente notável a observação da aluna, pois chama o Diretor à

responsabilidade por suas funções na Faculdade de Comunicação e também pelo Centro

de Tecnologia Educacional da Universidade R. Ou seja: ele está consciente de suas

funções e tem um discurso, segundo a alunos, de que os equipamentos possam servir a

T V R

Diretor do CTE COR

Escolha dos fatos a serem abordados Conteúdo e Reflexão

Aspectos técnicos

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ambas atividades. A metáfora usada para descrever os equipamentos utilizados na

Faculdade de Comunicação da Universidade R, “pré-históricos”, denuncia que a

instituição de ensino de futuros profissionais de televisão, que é pública, não possui

equipamento para gravação e edição de imagens. O advento da TV Universitária põe em

questão a infra-estrutura que obriga as universidades com baixo orçamento a

compartilhar equipamentos, porém com danos para o trabalho a que se propõem. É uma

opção, no entanto, que mostra seu esgotamento, pois as tecnologias a cada dia se

modernizam rapidamente. Desestímulos são declarados e os futuros profissionais

vindos de universidades públicas correm o risco de ficarem mal formados ou

desatualizados.

É possível inferir, através deste relato, não apenas o aspecto técnico como

critério, deixado ausente pelo diretor, mas a concepção de programa de televisão da

Universidade R. Não há nenhuma sinalização para a criação de um ambiente de

aprendizagem envolvendo os futuros produtores de televisão e atuais telespectadores

seniors. O conceito de televisão de qualidade na Universidade R não passa pelo curso

de comunicação, pelo menos até o momento. Isso, em se tratando de Universidade

pública e não de Universidade particular. Na concepção de televisão universitária, tem-

se presente a importância de atender aos departamentos da Universidade. Não há espaço

pedagógico no centro de tecnologia educacional desta universidade pública. Só há

atendimento.

É, contudo, nas falas das alunas que o conceito de televisão de qualidade aparece

mais desenhado. Para elas, televisão de qualidade dever ter conteúdo, como afirmam o

diretor e a coordenadora, mas também deve ser informativo, sem ser uma informação

“pesada”, em contraste com a idéia de programas com blocos longos da coordenadora,

como se os intervalos fossem local para lixo publicitário, como se mensagens de trinta

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segundos não educassem, como se a publicidade não educasse. Há na avaliação das

alunas, no conceito de televisão de qualidade, um toque de entretenimento, palavra

sequer mencionada pelo diretor e pela coordenadora. E, por fim, o aspecto técnico, tão

solicitado pelas alunas e abordado rapidamente pela coordenadora e negligenciado pelo

diretor.

Conclusão

As concepções de televisão universitária interferem na prática dos dirigentes,

professores, técnicos e alunos das televisões universitárias R e S. Na TV S, a televisão

universitária aparece como veículo para dar visibilidade à universidade, ou seja, de

algum modo agrega-se a outras estratégias de marketing. Aparece também identificada

como uma TV educativa de modelo cultural, ao mesmo tempo em que busca estratégias

para entrar no mercado de produção de programas para as televisões comerciais, o que

vem de encontro também ao anseio de alunos por uma aprendizagem voltada para estas

emissoras.

Na TV S, o modelo institucional também se manifesta porque cobre os fatos da

universidade. Porém, é no modelo cultural, distinto do modelo educacional das TV

educativas abertas de caráter ideológico, que a TV S se apresenta. O modelo cultural é

apresentado pela TV S como neutro em relação à ideologia.

A TV R apresenta uma concepção de TV universitária voltada para o

institucional da Universidade. A referência é uma TV Educativa como aparelho a

serviço das posições ideológicas dos governos. Há uma transferência explícita dessa

visão na concepção de TV universitária na Universidade R. Os programas de televisão

produzidos pelo Centro de Tecnologia Educacional, através de sua coordenação de

programas televisivos, são para expor os assuntos acadêmicos, ou seja, assuntos

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institucionalizados a serviço das posições ideológicas da Universidade R. As duas

televisões universitárias têm em comum uma concepção que foi sintetizada por seus

participantes pelo termo institucional.

Uma televisão é um veículo de comunicação que tem possibilidade de

abordagem ampla, é um espaço privilegiado para a pesquisa laboratorial. A ausência na

Universidade da pesquisa deixa uma lacuna que não pode ser preenchida por outro

ambiente. Nos exemplos pesquisados, observamos uma necessidade de apresentar os

fatos e as pesquisas universitárias para a sociedade. Mas não encontramos nenhuma

possibilidade concreta ou expectativa de se abrirem espaços para o laboratório de

pesquisa sobre televisão. A TV S mostrou ter expectativa de competir com as televisões

comerciais fazendo melhor do que já é feito. A TV R mostrou-se conformada em ser um

aparelho da reitoria de plantão.

Carvalho (2006) afirma em suas considerações finais que a falta de unidade no

conceito do que seja uma televisão universitária acarreta uma dificuldade na construção

de uma identidade para as televisões universitárias.

Acreditamos que as concepções dos dirigentes influenciam a imagem de

televisão principalmente através dos alunos que participam das TV universitária. No

caso da TV R, os estudantes, que dela participam, apresentam uma concepção de

televisão universitária difusa, poderia ser qualquer outra, em função, provavelmente, da

distância em que são mantidos dos dirigentes ou, até se poderia dizer, um certo

abandono. Diferentemente dos dirigentes, os alunos afirmam que informação e

entretenimento devem andar próximos. Já os estudantes que participam da TV S, em

que sua participação é efetiva e desta forma têm uma concepção mais identificada com

as dos dirigentes, são categóricos em dizer que se a base da TV S é educativa, o objetivo

é levar esse conhecimento para a TV comercial.

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Uma televisão universitária pode ser um ambiente de aprendizagem, mas foi

possível inferir que, enquanto para TV R o ambiente é quase inexistente, para a TV S o

ambiente de aprendizagem é quase uma estratégia de mercado.

Em seminário realizado em Bogotá9, Priolli (2005) afirma que a televisão

universitária é também um laboratório estudantil e acadêmico capaz de ser a expressão

audiovisual de estudantes, professores e funcionários. A TV R está distante deste

universo. Sua utilização é meramente institucional, ou seja, mostra o que é a

Universidade R, o que faz e como pensa os problemas do mundo. O institucional, para

TV R, é o seu universo de televisão universitária.

Para a TV S, seu uso laboratorial de aprendizagem ou o laboratório estudantil

acadêmico foi apresentado através dos alunos que participam diretamente da realização

dos programas. Esse laboratório de aprendizagem realiza-se através da concepção

“aprender fazendo”. Na TV S, aprende-se fazer o que se considera o melhor na TV

brasileira. O laboratório de aprendizagem serve para qualificar melhor a mão de obra

para as emissoras de televisão, criando desta forma uma boa imagem institucional da

Universidade S no mercado da comunicação. Uma conseqüência desta concepção de

laboratório de aprendizagem se manifesta na exposição de alunos como vitrine do curso

de comunicação social, seja no canal universitário de TV a cabo, seja na TV comercial

aberta.

Os resultados mostraram que o conhecimento científico dos pesquisadores

brasileiros sobre a televisão é desconsiderado pelas duas televisões pesquisadas, pois

essas não apresentam em seus discursos a expectativa de um ambiente de aprendizagem

capaz de observar tanto o laboratório de aprendizagem quanto o laboratório de pesquisa.

9 Seminário Regional sobre Meios de Comunicação Universitários na América Latina e Caribe. Bogotá, Colômbia, setembro de 2005.

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As duas, desta forma, estão longe de desenvolverem dentro de suas concepções

de TV universitária um ambiente de aprendizagem capaz de comportar um laboratório

de pesquisa de novos formatos e linguagens para a televisão brasileira. Não observamos

sequer uma aproximação com o universo infantil, futuros telespectadores e futuros

profissionais de televisão. Os dois casos estudados não são, como nas palavras de

Magalhães (2003) no sítio10 do ministério da ciência e tecnologia, honrosas exceções de

pesquisa que estudem o segmento TV Universitária, apesar de estarem dentro do

ambiente acadêmico.

As referências televisivas dos dirigentes, coordenadores e professores das duas

televisões universitárias pesquisadas é a prática profissional de cada um deles. São

profissionais que trabalharam por anos principalmente em televisões educativas, mas

sem dúvidas que suas experiências em televisões comerciais não foram poucas.

Contudo, tais experiências desenham as suas referências de televisão que por sua vez

levam para dentro do projeto de TV Universitária. A referência da TV educativa é

absoluta, mas trás consigo de forma implícita um conceito de TV educativa vendida,

falha, submissa, como uma festa de casamento onde um noivo contrata o vídeo. Desta

TV vendida, aparece o profissional ético, capaz se ser isento até de uma ideologia,

qualquer que seja. Ou nem isso: ideológico, mas em prol de uma ideologia cujo patrão é

o Estado, longe de ser uma ideologia da coisa pública.

As referências são ampliadas, no caso da TV S, para as televisões comerciais

cujo apelo plástico-tecnológico pontua qualquer referência profissional. Na TV S, não

há uma emissora que possa ser citada como referência, mas programas de emissoras

comerciais são muito citados aos seus alunos, que têm como referência a TV Globo.

Para a TV R, a televisão comercial não é citada como referência, deixando mais uma

10 http://www.mct.gov.br

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vez explícita a televisão educativa como referência. Concluímos que as referências da

TV R a leva ao escopo de cobrir os fatos da universidade R, como uma produtora faria

igualmente, ou uma TV educativa obrigada a cobrir aos fatos de um governo. Na TV S,

a referência ao fazer televisivo está relacionada a buscar, a copiar o que se faz bem, seja

em uma TV educativa de projeto cultural seja em uma TV comercial, contudo sem

deixar de cobrir as solicitações da reitoria.

Os pesquisadores, professores, técnicos e alunos das instituições de ensino

superior têm uma oportunidade única na história da televisão brasileira. Não para

difundir as grandes atividades das instituições de ensino superior do Brasil, mas para se

pesquisar a televisão no Brasil.

Não são poucas as pesquisas brasileiras que abordam o tema televisão. Podemos

afirmar, após este estudo, que não existe, nas duas televisões universitárias pesquisadas,

uma expectativa acadêmica de que na televisão universitária o principal sujeito é a

própria televisão brasileira, notável fenômeno social. Distancia-se de qualquer

possibilidade de ser ela objeto de pesquisa acadêmica realizada dentro das instituições

de educação superior. Assume afirmar tais atividades como secundárias, dentro de suas

concepções de televisão universitária.

Como comparação, poderíamos afirmar que nenhuma autoridade universitária

exige, por exemplo, de um laboratório de mecânica que esse dê suporte de transporte de

energia limpa a cada departamento universitário, antes que ele inicie qualquer pesquisa.

Nas televisões universitárias analisadas não existe a pesquisa, mas o suporte, cuja

finalidade é de cobrir as atividades de cada departamento universitário. Se a

comparação for infeliz, talvez fique a idéia de que os programas de pesquisa no Brasil

gastam recursos humanos e materiais para analisar o fenômeno social televisão.

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Neste momento, não estamos dando ênfase ao laboratório de aprendizagem. Tal

laboratório estudantil e acadêmico, assim como é encontrado em alguns laboratórios

universitários, também foi encontrado na TV S. Mas não foi encontrado um ambiente de

aprendizagem capaz de agrupar um laboratório de pesquisa e um laboratório de

aprendizagem, seja na TV R ou na TV S.

Se como afirma Carvalho (2005) a grande mudança do uso da televisão na

educação foi o reconhecimento desta como instrumento de trabalho tanto para educação

formal e informal como para Educação a Distância, esta pesquisa, conclui com a

sugestão de que as universidades devam repensar a TV universitária, concebendo-as

como laboratório de pesquisa sobre televisão.

Nossa pesquisa identificou um grande potencial de utilização das pesquisas

científicas que abordam o tema televisão. Através das televisões universitárias essas

pesquisas podem oferecer um grande suporte para que novas possibilidades de televisão

nasçam pelo Brasil.

Esta pesquisa apontou a ausência de pesquisa acadêmica no ambiente das

televisões universitárias. Desta forma, gostaríamos de contribuir para reflexão sobre o

que deve ser uma televisão universitária, não apenas um veículo para propagandear a

produção da universidade, mas também um laboratório de pesquisa de televisão para a

sociedade brasileira. Afinal a Universidade através dos cursos de comunicação social

não tem como único objetivo formar mão de obra técnica para as empresas e instituições

públicas que solicitam profissionais de comunicação, ela também tem como objetivo

propor alternativas para os problemas sociais que se apresentam. A televisão, todos nós

sabemos, é um deles.

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Referências

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ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL DE CONSTITUIÇÃO E FUNDAÇÃO DA SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV

Aos 05 (cinco) dias de junho de 1998, às 10 horas, na Rua Manoel Vitorino, 553 - Piedade, Sede da Universidade Gama Filho, reuniram-se em Assembléia Geral de constituição e Fundação, os sócios fundadores, adiante qualificados, da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV. Assumiu a presidência dos trabalhos, por aclamação unânime, o senhor Prof. Antonio Celso Alves Pereira convidando, a mim, Ana Maria Barroso, para secretariar a sessão solene, o que aceitei. A pedido do Sr. Presidente, li a ordem do dia para a qual fora convocada esta Assembléia Geral e que tem o seguinte teor: a) - discussão e aprovação do projeto do Estatuto Social; b) - constituição e fundação da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO

RIO DE JANEIRO S/C - UTV; c) - eleição da Diretoria e dos Conselhos da Sociedade; d) - outros assuntos relacionados com a constituição da Sociedade.

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Iniciando-se os trabalhos, o Sr. Presidente me solicitou que procedesse à leitura do projeto dos Estatuto Social, cujas cópias já haviam sido distribuídas previamente aos presentes. Finda a leitura, o Sr. Presidente submeteu-o, artigo por artigo, à apreciação e discussão do plenário e, em seguida, à votação, tendo o mesmo sido aprovado por unanimidade e sem emendas ou modificações, matendo o teor seguinte:

ESTATUTO DA SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO

S/C UTV

Capítulo Primeiro

DENOMINAÇÃO, NATUREZA, DURAÇÃO E SEDE Art. 1º - A SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, constituída nos termos do Art. 23 - Inciso I - letra e, da Lei nº 8.977, de 6 de janeiro de 1995, com personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, a seguir denominada simplesmente SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, tem prazo de duração indeterminado, sede e foro na Cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, e se rege por este Estatuto, pela legislação que lhe for aplicável e pelas normas de complementação que venham a ser editados pelos órgãos administrativos nos limites das suas atribuições.

Capítulo Segundo

DOS FINS Art. 2º- A SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV tem como finalidade o cumprimento do Art. 23 - Inciso I - Letra e, da Lei nº 8.977, de 06.01.95, de forma a colaborar efetivamente para o desenvolvimento social, educativo, científico, cultural e econômico do país. Art. 3º- A SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV tem como objetivo:

I - produzir, co-produzir, pós-produzir, adquirir, alienar, distribuir e transmitir, através do canal de televisão por assinatura que lhe é destinado, e de outros meios tecnológicos existentes e que venham a existir, programas educativos de natureza informativa, cultural, esportiva e recreativa que promovam a educação permanente, bem como exercer as atividades afins que lhe forem determinadas, como entidade integrante do sistema de televisão a cabo no Município do Rio de Janeiro – RJ;

II -

priorizar a transmissão de caráter educativo, como apoio à educação formal e não formal, divulgando as manifestações culturais e desportivas;

III - estimular a produção, através de terceiros, de programas educativos, informativos, científicos, culturais e de serviços;

IV - distribuir programas educativos para utilização no meio universitário e em todas as entidades dedicadas ao ensino;

V - organizar e administrar o acervo de seus programas ou de terceiros a seu cargo, com o

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fim de garantir a sua preservação e reutilização;

VI - promover acordos e intercâmbios com entidades nacionais e internacionais visando a co-produção de programas, com troca de produções e outras experiências no âmbito de sua finalidade;

VII- exercer outras atividades afins que lhe forem atribuídas por sua Assembléia Geral e derivadas da legislação que lhe é aplicável.

Capítulo Terceiro

QUADRO SOCIAL

Art. 4º- O quadro social da entidade é integrado por sócios efetivos e colaboradores, cujos direitos e deveres serão determinados pelo Regimento Interno, e que manifestarem o desejo de integrar a Sociedade e atenderem aos seguintes requisitos:

§ 1º - São sócios efetivos as universidades sediadas no Município do Rio de Janeiro ou

dentro da área de operação da Concessionária /Rede de TV a Cabo, sendo considerados fundadores as universidades que assinarem a ata de constituição da Sociedade;

§ 2º- São sócios colaboradores as pessoas físicas e jurídicas, vinculadas à área de

educação, indicados pelos sócios efetivos e aprovados em Assembléia Geral por 2/3 (dois terços) de seus membros. Art. 5º - Ao se desligar da Sociedade, mediante pedido dirigido ao Conselho Diretor, com antecedência mínima de 60 (sessenta) dias, o sócio mantém os compromissos anteriormente assumidos. Art. 6º- O Conselho Diretor, por maioria de 2/3 (dois terços) de seus integrantes, pode excluir do quadro social aqueles sócios que não cumprirem com seus deveres estatutários e regimentais para com a Sociedade.

Capítulo Quarto

DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E GESTÃO Art. 7º - A gestão das atividades da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV exerce-se por deliberação e atuação dos órgãos que compõem a seguinte estrutura:

Seção I - Assembléia Geral

Seção II - Conselho Diretor

Seção III - Conselho de Programação

Seção IV - Diretoria Executiva

Seção V - Órgãos Operacionais

Seção VI - Conselho Fiscal

Seção I

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DA ASSEMBLÉIA GERAL

Art. 8º - A Assembléia Geral é órgão deliberativo, integrada por todos os sócios efetivos e por uma representação dos sócios colaboradores, que não excederá a 25% (vinte e cinco por cento) dos sócios efetivos. Parágrafo Único: A Assembléia Geral terá um Presidente e um Secretário Geral, que serão escolhidos por seus pares, para um mandato de 2 (dois) anos, podendo ser reconduzidos. Art. 9º - A Assembléia Geral é o órgão soberano da Sociedade, com as atribuições e poderes que lhe são conferidos por lei, e particularmente os de:

a) aprovar os Estatutos Sociais e suas eventuais alterações ou revisões;

b) examinar e aprovar o relatório, balanço e contas da Diretoria referentes ao exercício findo;

c) aprovar a admissão de novos sócios;

d) decidir , em instância de recurso, sobre a exclusão de sócios;

e) autorizar e deliberar sobre matérias de interesse da Sociedade;

f) autorizar a alienação ou constituição de ônus sobre os bens imóveis pertencentes à Sociedade;

g) aprovar o Regimento Interno da Sociedade, bem como suas eventuais alterações ou revisões;

h) interpretar o presente Estatuto e decidir sobre os casos omissos.

i) eleger o Conselho Diretor, na forma do art. 14;

j) aprovar as diretrizes e políticas de atuação da Sociedade, propostas pelo Conselho Diretor;

k) Aprovar o Plano Diretor Bienal proposto pelo Conselho Diretor.

Art. 10 - A Assembléia Geral reúne-se ordinariamente a cada ano, por convocação do Presidente do Conselho Diretor e extraordinariamente sempre que convocada pelo Presidente, pela Diretoria ou pela maioria dos seus sócios;

Parágrafo Único - Para fins de eleição dos membros dos Conselho Diretor, Fiscal e de Programação, em data previamente divulgada, a Assembléia Geral reúne-se ordinariamente a cada 02 (dois) anos.

Art. 11 - A Assembléia Geral é convocada mediante carta com aviso de recebimento enviada a todos os sócios, com prazo mínimo de 20 (vinte) dias, e se instala com o quorum mínimo de 1/2 (metade) dos sócios, em primeira convocação, e, com um 1/3 (um terço) meia hora depois, em segunda convocação.

Art. 12 - A não convocação da Assembléia Geral Ordinária, decorrido o prazo mencionado no artigo anterior, importa na suspensão do Presidente do Conselho Diretor, salvo caso de força maior, convocando-se imediatamente a Assembléia Geral Extraordinária, nos termos do Art. 10 do referido Estatuto.

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Art. 13 - As decisões da Assembléia Geral, respeitados os casos do quorum qualificado, são tomadas por maioria de votos dos sócios presentes, em dia com suas obrigações sociais, e consignadas em atas, que são aprovadas e assinadas por seus componentes.

Seção II

DO CONSELHO DIRETOR

Art. 14 - O Conselho Diretor é um órgão colegiado de consulta e deliberação, composto por 7 (sete) membros titulares e respectivos suplentes, indicados pelos sócios presentes à Assembléia Geral para tanto convocada e por ela eleitos para um mandato de 2 (dois) anos, permitida a reeleição.

Art. 15 - O Conselho Diretor é coordenado por um Presidente, obrigatoriamente membro titular do Conselho e eleito por seus pares para um mandato de 2 (dois) anos, permitindo uma única reeleição.

Art. 16 - Compete ao Conselho Diretor:

a) eleger o seu Presidente, dentre os seus membros titulares;

b) elaborar Diretrizes e Políticas de atuação da Sociedade;

c) elaborar o Plano Diretor Bienal da Sociedade;

d) aprovar a proposta do Diretor Executivo para o Plano Anual de Trabalho, o

orçamento e suas eventuais alterações;

e) emitir parecer sobre os orçamentos anuais e as contas da Administração da Sociedade, remetendo-os à Assembléia Geral para análise e aprovação;

f) acompanhar e avaliar periodicamente a atuação da SOCIEDADE DE TELEVISÃO

DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV através da análise de relatórios trimestrais apresentados pela Diretoria Executiva, bem como apreciar o Relatório Anual de Atividades, que deverá acompanhar as Contas;

g) deliberar sobre a inclusão e exclusão de sócios e submeter à homologação da

Assembléia Geral;

h) fixar as taxas de ingresso e a contribuição mensal dos sócios;

i) propor à Assembléia Geral a lista tríplice para escolha de Diretor e Vice-Diretor executivos na forma do Art. 26.

j) aprovar normas e rotinas para as atividades da SOCIEDADE DE TELEVISÃO

DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, integrando-as na forma do Regimento Interno;

k) cumprir e fazer cumprir o presente Estatuto, seu Regimento Interno, as disposições

legais e programáticas a que esteja subordinada;

l) julgar em grau de recurso as matérias que lhe forem encaminhadas; m) elaborar o Regimento Interno para aprovação na Assembléia Geral.

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Art. 17 - O Conselho Diretor reúne-se, ordinariamente, a cada trimestre do ano, e extraordinariamente, sempre que necessário, por convocação expressa de seu Presidente. Art. 18 - As deliberações do Conselho Diretor são tomadas pelo voto da maioria dos membros presentes, cabendo ao Presidente, além do voto próprio, o de qualidade, formalizando, quando necessário, suas decisões através de Resoluções. Art. 19 - Compete ao Presidente do Conselho Diretor:

a) convocar a Assembléia Geral; b) dirigir e coordenar as reuniões do Conselho Diretor;

c) planejar e praticar os atos de gestão;

d) representar a SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, junto a entidades públicas e privadas, nacionais, internacionais, podendo para tanto delegar poderes e constituir procuradores, especificando no instrumento os atos ou operações que poderão ser praticados e a duração do mandato, que poderá ser por prazo indeterminado, no caso de mandato judicial.

e) praticar atos de comprovada urgência ad referendum do Conselho Diretor, justificando-os, imediatamente, perante aquele órgão;

f) representar o Conselho Diretor junto ao Conselho Fiscal;

g) propor a designação ou a destituição do Diretor Executivo à Assembléia GeraL; h) propor ao Conselho Diretor a redação do Regimento Interno da SOCIEDADE DE

TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, para a sua aprovação e para a devida homologação pela Assembléia Geral;

i) aprovar os demais atos da estrutura organizacional e as normas de funcionamento da

SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO - UTV; j) representar a SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO

DE JANEIRO S/C - UTV em todos os atos e contratos que imponham obrigações, ou importem na liberação de obrigações de terceiros para com a Sociedade, especialmente as de aquisição e alienação de bens e direitos patrimoniais, gestão de recursos financeiros e de contratação de empréstimos, bem como assinar convênios, e outros ajustes.

Art. 20 - A SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV obriga-se perante terceiros, em decorrência de contratos, convênios, protocolo de intenções, movimentação de contas bancárias e quaisquer outros tipos de obrigações, desde que estes atos sejam conjuntamente assinados pelo Presidente e por um Diretor.

Seção III

DO CONSELHO DE PROGRAMAÇÃO Art. 21 - O Conselho de Programação é o órgão responsável pela programação e produção de mensagens institucionais, cuja inserção é selecionada por critérios de qualidade, podendo, se necessário, a todo tempo, interferir na grade de programação da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV para ajustá-la às suas reais finalidades Estatutárias e legais. Art. 22 - O Conselho de Programação compõe-se de 12 (doze) membros sendo 6 (seis) titulares e 6 (seis) suplentes, eleitos pela Assembléia Geral, na mesma oportunidade em que for eleito o Conselho Diretor, com mandato e recondução coincidentes.

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Art. 23 O Presidente do Conselho de Programação é indicado e eleito por seus pares. Art. 24 - O Conselho de Programação reúne-se ordinariamente a cada trimestre do ano com a presença de, no mínimo, 03 (três) de seus componentes e, extraordinariamente, quando convocado por seu Presidente.

Seção IV

DA DIRETORIA EXECUTIVA

Art. 25 - A Diretoria Executiva, como o órgão responsável pela Administração da Sociedade, é composta por um Diretor e um Vice-Diretor, cabendo-lhes exercer os seus objetivos, com a colaboração dos órgãos que lhe são afetos. Art. 26 - O Diretor e Vice-Diretor Executivos da Sociedade, são escolhidos dentre uma lista tríplice, constituída de profissionais de comprovada experiência e qualificação para o exercício dos fins da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, apresentada à Assembléia Geral, pelo Conselho Diretor. Parágrafo Único: Caberá ao Vice-Diretor representar e substituir o Diretor Executivo nas suas faltas e impedimentos. Art. 27 - Compete ao Diretor Executivo:

I) participar, como membro nato, do Conselho de Programação;

II) participar do Conselho Diretor, na qualidade de seu secretário podendo, entretanto, eventualmente indicar um substituto para tal fim;

III) executar a grade de programação devidamente aprovada pelo Conselho de Programação;

IV) decidir, em caráter extraordinário, junto com o Presidente do Conselho de Programação, sobre as alterações que possam ocorrer na grade de programação;

V) submeter ao Conselho Diretor:

a) a proposta do Plano Diretor Bienal;

b) a proposta do Plano Anual de Trabalho e o respectivo orçamento;

c) a proposta de aquisição e oneração de bens imóveis;

d) o projeto do Regimento Interno da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias da aprovação deste Estatuto;

e) o quadro de pessoal, o plano de empregos e salários, os respectivos regimes

disciplinares e de benefícios;

f) os relatórios trimestrais de acompanhamento do Plano de Trabalho; g) o balanço do exercício e a prestação de contas anual, com parecer do Conselho

Fiscal; e encaminhá-los ao Conselho Diretor para a aprovação e outras providências que se fizerem necessárias;

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h) o relatório anual de atividades, até 60 (sessenta) dias depois da data do encerramento

do exercício;

VI)

executar o orçamento;

VII) pôr em execução, avaliar e controlar o Plano de Trabalho provendo as necessidades para sua eficácia;

VIII) promover, através de órgão operacional próprio, a captação de recursos permitida pela legislação regente da renúncia fiscal em prol do incentivo à cultura e outras fontes que possam fortalecer as receitas extraordinárias da Sociedade;

IX) autorizar viagens de serviços, pesquisas e estudos, apresentando relatórios específicos;

X) administrar recursos humanos.

Seção V

DA COORDENAÇÃO EXECUTIVA Art. 28 - A Coordenação Executiva é um órgão operacional de assessoramento, planejamento e articulação, no âmbito da Diretoria Executiva, nos termos definidos pelo Regimento Interno da Sociedade.

Seção VI

DOS ÓRGÃOS OPERACIONAIS

Art. 29 - Os órgãos operacionais se destinam, no âmbito da Diretoria Executiva, a promover a mais ampla cobertura administrativa, tais como técnica, tráfego, engenharia, transportes, todos inerentes ao bom desempenho do setor, previstos e disciplinados no Regimento Interno da Sociedade.

Seção VII

DO CONSELHO FISCAL Art. 30 - O Conselho Fiscal é constituído por 3 (três) membros titulares, e 3 (três) suplentes, todos escolhidos pela Assembléia de sócios, e eleitos por simples aclamação, com o mandato, coincidente com o do Conselho Diretor, podendo ser reconduzidos por igual período. Art. 31 - O Presidente do Conselho Fiscal é escolhido pela maioria de seus integrantes. Art. 32 - O Conselho Fiscal reúne-se, por convocação de seu Presidente ou da maioria de seus membros, ordinariamente, a cada 3 (três) meses e, extraordinariamente, sempre que necessário. Parágrafo Único - O Conselho Fiscal, no exercício de seu mister, pode valer-se de assessoramento específico de pessoal técnico especializado. Art. 33 - Compete ao Conselho Fiscal:

I - verificar a regularidade dos balanços, balancetes, relatórios financeiros e da prestação de contas do Conselho Diretor, bem como da documentação respectiva,

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emitindo parecer a respeito;

II - acompanhar a gestão financeira da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV;

III - fiscalizar a execução orçamentária da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, podendo examinar livros e documentos, bem como requisitar informações sobre a contabilidade;

IV - dar parecer conclusivo sobre proposta de alienação de bens imóveis de propriedade da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, antes de sua apreciação pelo Conselho Diretor;

V - opinar sobre o plano de contas;

VI - opinar sobre o orçamento anual proposto pelo Conselho Diretor;

VII - emitir parecer sobre qualquer outra matéria de natureza contábil e financeira que lhe seja submetida pelo Conselho Diretor;

VIII - solicitar aos dirigentes da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV as demais informações e documentos necessários ao exercício das suas atribuições.

Capítulo Quinto

PATRIMÔNIO E RECURSOS

Art. 34 - O exercício social da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV corresponde ao período de primeiro de janeiro a 31 de dezembro de cada ano. Art. 35 - O patrimônio da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV é constituído pelos bens imóveis e móveis e direitos a que se referem o Art. 36. Art. 36 - A SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, para sua constituição, implementação e manutenção, contará com as seguintes receitas:

I - contribuições, mensalidades, de seus sócios efetivos e sócios colaboradores, cujos valores serão fixados pelo Conselho Diretor homologados pela Assembléia Geral;

II - dotações, subvenções eventuais da União, dos Estados ou Municípios;

III - auxílios, contribuições e subvenções de entidades públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras;

IV - doações e legados;

V - produtos de operações de crédito, internas ou externas, para financiamentos de suas atividades, com aprovação prévia de seu Conselho Fiscal;

VI - rendimentos oriundos dos imóveis que possuir;

VII - rendimentos adquiridos no exercício de suas atividades;

VIII - rendimentos decorrentes de títulos, ações ou papéis financeiros;

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IX - usufrutos constituídos em seu favor;

X - juros e outras receitas auferidas no mercado financeiro;

XI - recursos oriundos da renúncia fiscal para o incentivo cultural, bem como patrocínio cultural; conforme legislações Federal, Estadual e Municipal;

XII - recursos ou transferências oriundos de outras fontes, aprovados pela Assembléia Geral.

Art. 37 - A SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV não distribui lucros, dividendos ou quaisquer outras vantagens econômicas entre seus associados, nem remunera os cargos eletivos. Todo o eventual superávit do exercício a juízo da Assembléia Geral, será incorporado ao patrimônio da Sociedade.

Capítulo Sexto

DA EXTINÇÃO

Art. 38 - A Sociedade se extingue nos casos previstos em Lei ou por deliberação da Assembléia Geral, especialmente convocada para este fim, mediante voto favorável de pelo menos 2/3 (dois terços) de seus membros. Art. 39 - A Assembléia que deliberar a extinção da Sociedade, destinará os bens e o patrimônio a uma ou mais Instituições sem fins lucrativos, declaradas de utilidade pública, respeitadas eventuais vinculações estabelecidas pela legislação vigente.

Capítulo Sétimo

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS:

Art. 40 - A Assembléia de Fundação e Constituição destinar-se-á a: a) - Aprovação de seu Estatuto; b) - Indicação e aprovação de sócios colaboradores; c) - Eleição de 1 (um) Presidente, que convocará nova Assembléia Geral, visando o cumprimento dos artigos 8º, 9º e 10; após o quê, seu mandato se extinguirá. d) - Os sócios colaboradores indicados e aprovados nessa ocasião, integrarão a Assembléia na forma do Art. 8º, deste Estatuto. Art. 41 - As Instituições fundadoras da SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, cuja relação por todos assinada integra o presente estatuto, só poderão ser excluídas por no mínimo, ¾ (três quarto) dos votos da Assembléia Geral. Art. 42 - O presente Estatuto Social pode sofrer alterações parcial ou geral somente por deliberação de 2/3 (dois terços) dos sócios efetivos, incluindo-se nesta representação a participação dos sócios colaboradores, na mesma proporção mencionada no Art. 8º, admitindo-se para este fim o voto por procuração escrita.

O presente Estatuto foi aprovado, por unanimidade, pela Assembléia constitutiva da Sociedade denominada SOCIEDADE DE TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV e faz parte integrante da respectiva Ata de sua Fundação, cujos signatários compõem o quadro de sócios fundadores

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A seguir, o Sr. Presidente declarou definitivamente fundada e constituída a SOCIEDADE DE

TELEVISÃO DAS UNIVERSIDADES DO RIO DE JANEIRO S/C - UTV, procedendo-se, então, à indicação de sócios colaboradores, para efeito do que determina o Artigo 40 - letra b, dos Estatutos Sociais; foram indicados pela UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES, na pessoa de seu Magnífico Reitor Prof. CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA, as entidades a seguir: SOCIEDADE EDUCACIONAL SÃO PAULO APOSTOLO ORGANIZAÇÃO HELIO ALONSO DE EDUCAÇÃO E CULTURA Pelos Magníficos Reitores, ANTONIO CELSO ALVES PEREIRA, da UERJ e PAULO ALCÂNTARA GOMES, da UFRJ, foram indicados as seguintes entidades: FUNDAÇÃO CESGRANRIO ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA - (ESG) CENTRO TECNOLÓGICO FEDERAL DE EDUCAÇÃO - CEFET INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA - (IME) A seguir, foi feita a chamada dos sócios fundadores da SOCIEDADE, adiante nomeados e qualificados: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - (UFRJ) Situada na Av. Brigadeiro Trompowisky, s/nº - Prédio da Reitoria, 2º andar - Cidade Universitária- CEP 21.949-900 - CGC.MF nº 33.663.687/0001-16, representada por seu Reitor, Prof. JOSÉ HENRIQUE VILHENA. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO - (UNI-RIO) Situada na Av. Pasteur, 296 - URCA - CEP 22.290-240 - CGC.MF nº 34.023.077/0001-07, representada por seu Reitor, Prof. HANS JÜRGEN FERNANDO DOHMANN. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - (UERJ)Situada na Rua São Francisco Xavier, nº 524 - CEP 20.550-013 - Maracanã - CGC.MF. nº33.540.014/001.57, representada por seu Reitor, Prof. ANTONIO CELSO ALVES PEREIRA. UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA - (USU) Situada na Rua Fernando Ferra, nº 75 - CEP 22.231-040 - Botafogo - RJ, CGC.MF. nº 33.479.965/0001-68, representada por sua Magnífica Reitora, Profª. MARIA DO CARMO BETTENCOURT DE FARIA. FACULDADES CATÓLICAS SOCIEDADE CIVIL MANTENEDORA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO- (PUC) Situada na Rua Marquês de São Vicente, 225 -CEP 22.453-900 - GÁVEA, CGC.MF. nº 33.555.921/0001-70, representada por seu Reitor, Pe. JESUS HORTAL SÁNCHEZ. UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - (UCAM) Situada na Praça XV de Novembro, 101 - sala 26 - Centro - Pça. XV - CEP 20.011-000, CGC.MF nº 33.646.001/0001-67, representada por seu Reitor, Prof. CÂNDIDO ANTÔNIO JOSÉ FRANCISCO MENDES DE ALMEIDA. CENTRO EDUCACIONAL DE REALENGO - (UCB) Situada na Av. Santa Cruz, 1631 - Realengo - CEP 21.710-250, CGC/MF. nº 42.265.413/0001-48, representada por sua Reitor, Profº. PAULO ALCÂNTARA GOMES. ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL VEIGA DE ALMEIDA - (UVA) Situada na Rua Ibituruna, nº 108 - Tijuca - CEP 20.271-020, CGC/MF. nº 34.185.306/0001-81, representada por seu Reitor, Prof. MÁRIO VEIGA DE ALMEIDA. SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ - (UNESA)

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Situada na Rua do Bispo, 83 - Rio Comprido - CEP 20.261-060, CGC/MF. nº 34.075.739/0001-44, representada por seu Reitor, Prof. GILBERTO MENDES DE OLIVEIRA CASTRO. SOCIEDADE UNIVERSITÁRIA GAMA FILHO - (UGF) Situada na Rua Manoel Vitorino, 553 - Piedade - CEP 20.748-900, CGC.MF. nº 33.809.609/0001-65, representada por seu Reitor, Prof. ALMERI PAULO FINGER. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - (FIOCRUZ) Situado na Av. Brasil, nº 4365 - Manguinhos - CEP 21.940-090 - Rio de Janeiro - RJ, CGC.MF. nº 33.781.055/0001-35, representada pelo seu Diretor Prof. ELOY GARCIA. CENTRO TECNOLÓGICO FEDERAL DE EDUCAÇÃO - CEFET Situado na Av. Maracanã, nº 229 - Maracanã - CEP 20.271-110 - Rio de Janeiro - RJ, CGC.MF. nº 42.441.758/0001-05, representado pelo seu Diretor Prof. MARCO ANTONIO LUCIDI. INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA - (IME) Situado na Praça General Tibúrcio, nº 80 - Praia Vermelha - CEP 22.290-000 - URCA, CGC.MF. nº 00.394.452/0407-41, representado pelo seu Diretor General Brigadeiro JOSÉ CARLOS ALBANO DO AMARANTE. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA - (ESG) Situado na Av. João Luiz Alves, s/nº - Fortaleza de São João - URCA - CEP 22.291-090 - Rio de Janeiro - RJ, CGC.MF. nº 00.894.356/0002-05, representada pelo seu Diretor General de Exército EXPEDITO HERMES REGO MIRANDA. SOCIEDADE EDUCACIONAL SÃO PAULO APOSTOLO Situada na Rua Almirante Saddock de Sá, nº 276, Ipanema - CEP 22.471-030 - Rio de Janeiro-RJ., CGC.MF. nº 34150771/0001-87, representada por seu Presidente Ronald Guimarães Levinhson. ORGANIZAÇÃO HELIO ALONSO DE EDUCAÇÃO E CULTURA situada na Rua da Matriz, nº 49, BOTAFOGO - CEP 22.260-100 - Rio de Janeiro-RJ, CGC.MF. nº 42159491/0001-68, representada por seu Presidente Helio Alonso. FUNDAÇÃO CESGRANRIO situada na Rua Cosme Velho, nº 155,CEP 22.241-080 - Rio de Janeiro-RJ., CGC.MF. nº 42270881/1000-16, representada por seu Presidente Carlos Alberto Cerpa de Oliveira. Em prosseguimento, o Sr. Presidente passou ao item c da ordem do dia, referente à eleição do Conselho Diretor e Fiscal. Não havendo a apresentação de uma chapa completa, a Universidade Cândido Mendes, por seu Magnífico Reitor Prof. CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA , propôs uma composição provisória da Direção, indicando a seguir o nome do Prof. Antonio Celso Alves Pereira, Magnífico Reitor da UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ, para exercer o cargo de Presidente interino do Conselho Diretor, ficando de se convocar uma Assembléia no prazo de no máximo 90 (noventa) dias para a eleição definitiva dos Conselhos Diretor e Fiscal. A proposta foi aceita por unanimidade. Agradecendo, o recém-eleito residente interino, tomou posse no cargo e determinou a mim, Secretária, que convocasse de imediato a aludida Assembléia. Ficando livre a palavra e não tendo sido manifestado o interesse para o uso da mesma, foram unanimemente aprovados os Estatutos, pelo plenário. O Sr. Presidente suspendeu a sessão pelo prazo necessário para a lavratura desta Ata, o que fiz, como Secretária, em 3 (três) vias de igual teor com ( ) folhas e, após reaberta a sessão a mesma foi lida e aprovada e segue assinada, pelo Sr. Presidente da Assembléia, por mim Secretária e por todos os demais presentes que passam a ser considerados membros fundadores da Sociedade recém-constituída. Ficando, por fim, deliberado que a Sociedade funcionará com sua Administração e Estúdios provisoriamente na FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - (UERJ), situada na Rua São Francisco Xavier, nº 524 - 9º andar - Bloco D - MARACANÃ - RIO DE JANEIRO - RJ. CEP. 20550.013.

Rio de Janeiro, 30 de Junho de 1998

ANTONIO CELSO ALVES PEREIRA

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Presidente

ANA MARIA BARROSO Secretária

SÓCIOS FUNDADORES:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - (UFRJ) PROF. PAULO ALCÂNTARA GOMES

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO - (UNI-RIO)

PROF. HANS JÜRGEN FERNANDO DOHMANN

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - (UERJ) PROF. ANTONIO CELSO ALVES PEREIRA

UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA - (USU)

IRMÃ MARIA DO CARMO BETTENCOURT DE FARIA

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA - (PUC-RJ Pe. JESUS HORTAL SÁNCHES

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES - (UCAM)

PROF. CÂNDIDO MENDES

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO - (UCB) PROFª. VERA COSTA GISSONI

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA - (UVA) PROF. MÁRIO VEIGA DE ALMEIDA JUNIOR

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ - (UNESA)

PROF. GILBERTO MENDES DE OLIVEIRA CASTRO

UNIVERSIDADE GAMA FILHO - (UGF) PROF. SÉRGIO DE MORAES DIAS

CENTRO TECNOLÓGICO FEDERAL DE EDUCAÇÃO (CEFET)

PROF. MARCO ANTONIO LUCIDI

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - (FIOCRUZ) PROF. ELOY GARCIA

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA - (IME)

General Brigadeiro JOSÉ CARLOS ALBANO DO AMARANTE

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA - (ESG) General de Exército EXPEDITO HERMES REGO MIRANDA

SOCIEDADE EDUCACIONAL SÃO PAULO APOSTOLO

Pres. RONALD GUIMARÃES LEVINHSON

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ORGANIZAÇÃO HELIO ALONSO DE EDUCAÇÃO E CULTURA

Pres. HELIO ALONSO

FUNDAÇÃO CESGRANRIO Pres. CARLOS ALBERTO SERPA DE OLIVEIRA

Entrevistas

TV R 1) O que é a TV Universitária? R: A TV Universitária foi criada em 1999, porque a TV a Cabo é obrigada a ter alguns canais que não sejam pra instituições que visam lucro. Então ela tem que ter um espaço pras casas legislativas, pro judiciário e um espaço para as universidades. Então a TV nasceu dessa obrigatoriedade e as Universidades e Centros de Pesquisa no Rio de Janeiro se juntaram para utilizar esse espaço. 2) Qual a diferença entre uma Tv Educativa e uma Tv Universitária/ existe essa diferença? R: A Tv Educativa é uma TV do Estado pra fazer programas de acordo com a filosofia do Estado e também do Governo. A Tv universitária ela não é do Estado, ela é um espaço das universidades pra passarem os programas que são do seu interesse. 3) A Tv Universitária tem uma proposta, um estatuto? R: Um estatuto ela tem. Foi até reformulado e está para ser votado pelo Conselho Diretor. Eu não sei se já foi votado. O estatuto entre outras coisas diz que ela é voltada para questões acadêmicas. Não a academia propriamente, mas assuntos de interesse dos universitários, que seriam o público alvo ou atividades desenvolvidas pelas universidades, divulgação do saber. 4) A TV R produz programas para o canal Universitário, certo?, R: Certo. 5) E quem produz é o COR, não é isso? R: Não aqui não. Nós temos um setor aqui do CTE que produz, O COR. Mas também temos um programa que é dos alunos de comunicação, o programa X. 6) Então esse programa é feito pelos alunos e os outros programas produzidos pelo COR não é feito pelos alunos? R. Também. Quer dizer a gente procura trazer pra cá alunos da faculdade com bolsas, como voluntários para participarem da pauta à produção. 7) Como é composta essa equipe que produz programas? R: Aqui na Universidade R é diferenciado tem alguns profissionais que são contratados, alguns ex-alunos que também são contratados, são alunos que se destacaram dentro de cada um dos segmentos da produção de um programa de televisão e alunos bolsistas que são emprestados como voluntários. Você tem várias formas. 8) A parte técnica de filmagem, operação de câmeras é feita por profissionais ou pelos alunos? R: Parte são profissionais da própria universidade, parte são profissionais contratados né, aqui ainda não temos alunos com filmagem. Tem alunos que saem na rua, participam da produção, decupagem. 9) E no programa X, eles fazem filmagem? João: Os alunos fazem tudo com a orientação do professor. Talvez essa supervisão represente no máximo 5% de todo o trabalho. 10) No COR quem produz os programas? R: Cada programa tem uma equipe: X1 tem uma equipe, X2 tem uma equipe, X3 tem outra equipe. 11) Quando esses programas foram pensados, quem pensou visou um público específico? R: Não. A gente pensou numa mensagem específica de cada programa. Por exemplo: X2 é um programa que procura discutir problemas de cidadania, direitos do Estado para o cidadão e direitos do cidadão para o Estado. O governo vive fazendo campanha pros homens usarem camisinha, esse é o dever do Estado, dar a camisinha e avisar dos perigos de uma relação descuidada. Mas o cidadão tem que fazer a parte dele que é usar a camisinha. Então a gente procura discutir os direitos do cidadão e os seus deveres. O Programa X3 - ´procura divulgar o que a universidade faz ou trazer algumas discussões como por exemplo “população de rua “, faz-se uma matéria sobre população de rua e convidamos um professor da

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universidade para explicar aquela questão, então você vai ter uma visão acadêmica do que está acontecendo. O Programa X1 é um programa sobre questões culturais desenvolvidas dentro da universidade. 12) Existe uma preocupação com a qualidade dos programas? R: Com certeza absoluta, isto ta na pauta. 13) O que é qualidade neste caso, qual o critério de qualidade? R: Qualidade que eu entendo que você está falando seria o assunto a ser tratado. A gente só trata de assuntos que nos parece pertinente, de interesse da população e ao mesmo tempo assuntos que são importantes para a academia, né. 14) Esses assuntos contribuem com a formação da cidadania? R. É uma forma da academia do ponto de vista da Universidade R passar para a sociedade o que está sendo feito dentro da universidade e o que pode ser feito fora da universidade. 15) Quem seria o público da TV Universitária, você tem idéia? R: Nós pensamos que são pessoas que estejam para entrar, pessoas da universidade e fora da universidade. Mas nós procuramos chamar atenção de pessoas que não façam parte desse público específico, porque quando se discute cidadania não adianta discutir só com quem tem curso universitário. 16) Como vocês conseguem isso, com certeza tem que pensar na linguagem, porque um público universitário alcança uma linguagem mais específica, mas se você quer atingir um nível mais popular precisa fazer uma coisa mais acessível. Como é feito? R: A gente procura fazer isso, procura fazer uma linguagem média, mais uniforme. Por que se você fizer muito baixo não pega o público universitário e se fizer muito alto não pega o popular. 17) Você me diria que a TV Universitária é um ambiente de aprendizagem? R: A Universidade R procura com que seus programas sejam de aprendizagem ou de fortalecimento do que as pessoas já conhecem, fazer com que ampliem os conhecimentos que já possuem sobre determinados assuntos. 18) A TV R é um laboratório para os alunos de Comunicação Social? R: É também, nós estamos aqui há um ano e meio. Existe uma série de dificuldades de equipamentos. A TV Universitária não pode ser só um laboratório para os alunos de comunicação, eu entendo assim, porque ela vai deixar de servir a universidade. O CTE aqui é ligado a sub-reitoria de extensão e cultura. Então nós temos que divulgar pós-graduação, pesquisa, os trabalhos de extensão da universidade. 19) Os alunos de comunicação não poderiam fazer isso, divulgar os trabalhos, as pesquisas? Eles poderiam fazer os programas atendendo as outras áreas da universidade, por que não? R: Cem por cento da programação é complicado porque os alunos ainda estão aprendendo. E fazer os programas quando eles estão aprendendo você tem uma demora na produção porque ele faz a pauta tem que discutir aquela pauta, ele faz a gravação tem que discutir aquela gravação. E tem assuntos da universidade que fazem parte já do dia-a-dia. Não deve ser 100% do aluno nem 100% da universidade, este equilíbrio que nós estamos procurando alcançar. A nossa idéia é que os alunos de Letras tenham seu espaço, os alunos de Enfermagem tenham seu espaço, os alunos de Direito tenham seu espaço. Se fica só na mão da Faculdade de Comunicação você está dizendo que só o jornalismo é importante, quando tem outras questões de pesquisa de graduação, de pós-graduação que precisam ser divulgadas também. 20) Eu pensei que os alunos poderiam ir a esses cursos e passar toda a informação da Enfermagem, de Letras, de Direito, mas que quem fizesse a parte técnica fossem os alunos da comunicação social.Porque Televisão e Comunicação estão integradas e os outros cursos poderiam participar como pauta, como informação. R: Nós estamos procurando um outro desenho para a nossa televisão universitária. Pela estrutura da Universidade esses profissionais que são necessários não podem estar dentro da universidade, pelos cargos, pelas funções, essa coisa toda. E mesmo tempo precisa de profissionais já formados pra fazer uma série de programas.Claro que os alunos podem participar de algumas atividades, mas eles não estão prontos para participar de todas as atividades. A Estrutura da Universidade Pública tem funções de chefia que não cabem dentro da Faculdade de Comunicação porque todas as Unidades Acadêmicas só podem ter um chefe e como você não pode ter só um chefe coordenando toda a produção de televisão, como funciona hoje ela não cabe. 21) Existe uma reflexão em cima do que é feito? R: Ainda não. Oficialmente não.

TV R 1) Explica porque não podemos chamar de TV R. R: Por que aqui é o COR – Coordenação de Programas de Televisão da Universidade R, que produz 4 programas diferentes que são transmitidos pela UTV – Universidade na TV ou TV Universitária como algumas pessoas preferem chamar, que é o canal universitário.

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2) E quais são os programas que vocês produzem? R: Um programa semanal de variedades chamado X1 de 24 minutos, um programa semanal de 50 minutos chamado X21, um programa mensal de artes chamado X3, um programa feito pelos alunos da Faculdade de Comunicação chamado X. 3) Qual a proposta da Televisão, não é uma TV para os alunos de Comunicação? R: Não, isso aqui não é uma TV. Seria uma TV se veiculasse programação aqui, mas não é a gente é uma produtora, só produz os programas aqui. A gente não produz para alunos, a gente produz para qualquer pessoa que tenha interesse em assuntos acadêmicos, da universidade. Agora, tem um com a colaboração dos alunos, é uma parceria nossa com os alunos de comunicação, aí são eles que fazem. 4) Esse programa que é feito pelos alunos é o programa X? R. É programa X por enquanto porque está mudando de nome, é um programa de debates com uma matéria no meio pontuando os debates. 5) Tem algum professor orientando? R. Tem uma professora de telejornalismo, contratada pela COR que tem um encontro semanal para orientação. 6) Eu gostaria de falar com ela para ter uma idéia de como é feito o programa, fazer algumas perguntas a respeito do programa. R. Não, ela só está com eles há um mês. Antes eles faziam sozinhos, assim no ano passado tinha uns 3 alunos que recebiam pagamento, que já estavam no mercado, eram mais experientes então eles se formaram saíram da universidade e agora nós sentimos que os alunos precisavam de uma orientação e aí contratamos essa professora. Por isso o programa está sendo reformulado, ta mudando a cara e o nome também. 7) Os programas produzidos aqui se assemelham aos programas da TV Comercial ou da TV educativa? R: A TV Educativa 8) Por quê? R. Apesar que, a TV Comercial que exibe um programa de debates. Espera-se que tenha um olhar mais profundo. Você vê um programa de variedades com 3 blocos de 8 minutos, não são várias matérias de 1 minuto e meio. Cinqüenta minutos você pode fazer uma reflexão mais profunda sobre aquele tema. 9) Então a proposta é fazer reflexão profunda, é isso? R: É abordagem é essa. Na TV comercial a abordagem é superficial, tem comercial toda hora. 10) Então quem espera? É uma proposta que vocês tem, vocês têm algum estatuto? R; Não. Quem tem é a UTV. 11) E esse estatuto da UTV tem essa proposta de fazer uma coisa mais reflexiva, é isso? R: Não que eu saiba não. Eu só fui algumas reuniões lá, não vou sempre, eu só sei que no regimento deles as universidades não podem fazer propaganda, não podem falar mal das outras instituições, se vangloriar nem dizer que é a melhor. 12) Você diria que esses programas que vocês fazem seriam uma vitrine para as outras emissoras conhecerem novos talentos? Tem essa preocupação? R: Não. 13) Vocês tem idéia do público que vocês atingem? Quando você fazem um programa naturalmente imaginam quem está do outro lado assistindo? R: A gente faz os programas para qualquer pessoa que tenha interesses nos assuntos que são abordados. Os assuntos que tenham a ver com a academia, com a universidade ou não. Porque na verdade o programa é um meio de saída dos assuntos da universidade, mas é de entrada também, porque através de um feedback a gente está trazendo para a universidade os assuntos que estão em pauta na sociedade. 14) Como esse feedback funciona? R; A gente tem o retorno dos próprios telespectadores, através de e-mail, telefone, fax.. A gente também tem a demanda do público sobre assuntos da atualidade. Assim como a gente está levando os trabalhos daqui de dentro da universidade, as pesquisas e mostrando lá fora, a gente está trazendo também os assuntos da atualidade, o que está acontecendo lá fora, é uma troca. 15) Mas vocês têm um perfil de quem assiste? R: Não, até porque a gente vive hoje uma situação diferente do passado, existe o controle remoto, o zapping, então a pessoa, tem gente que diz que esteve na TV Aberta e na UTV e teve muito mais retorno das pessoas que viram na UTV. Porque as pessoas ficam zapeando, entende? 16) Quando esses telespectadores dão retorno através de fax ou telefone, eles não se identificam? R: Não. A gente não faz essa triagem não. 17) Vocês se preocupam com a qualidade dos programas? R. Sim. 18) O que vocês entendem por programa de qualidade?

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R: Primeiro a gente tem que ver conteúdo, evidente. E também aspectos técnicos, equipamentos, iluminação, mas o principal é o conteúdo. 19) O que seria um conteúdo de qualidade? R: Seria não passar pelos assuntos de forma leviana, conseguir trata-los seriamente. 20) Tem alguma preocupação com a linguagem? Pode falar qualquer coisa na televisão? R: Sim, exatamente, aqui é o lugar onde se pode falar tudo. É claro que a gente depois edita. Tanto que o nosso roteiro do programa de variedades é feito depois das imagens. Por que se você chegar num lugar para fazer uma matéria jornalística e chegar com um roteiro pronto, você não está investigando. O repórter faz aquela pauta, ele mesmo vai apurar, quando ele chega decupa as imagens vê o que rendeu e faz o roteiro. 21) Esse repórter é quem? R: É um profissional de mercado recém formado, existem assistentes que são alunos de comunicação, não necessariamente da Universidade R. 22) Como vocês fazem a seleção? R: A gente seleciona os currículos, todos os anos, e mistura quem é novo com quem já é antigo. 23) Mas é uma formação profissional pós-graduada ou seja, após se formar ele envia currículo para a seleção, é isso? R. É de preferência se ele já fez algum estágio em televisão, porque não adianta pegar quem nunca passou por uma televisão porque não dá certo. Porque é uma linguagem própria, então é preciso alguém que tenha esse olhar voltado para a linguagem audiovisual. 24) Existe um momento de reflexão sobre o que vocês estão produzindo? R: Existe um programa nosso que é o carro chefe, um programa de variedades chamado Campus, e a diretora é nova. Agora que ela já está há um mês aqui, já combinei com ela de fazer reunião quinzenal, com a equipe toda, analisar 2 programas, da semana anterior e da semana corrente A gente tem uma preocupação de não reprisar programa, na UTV tem muito programa reprisado, só a TV S e nós da Universidade R que não temos o hábito de reprisar programas. 25) Você me falou em 4 programas, eles são de conteúdos diferentes, eles são feitos talvez para públicos diferentes. Vocês pensaram a esse respeito quando criaram os programas? R: Não, a gente não pensa assim. A gente pensa que aquele programa é para quem se interessar por aquele assunto. Na UTV tem lá uns momentos temáticos, o programa de artes tem que ser sempre no momento de artes. Mas a gente imagina pelo menos que quem assiste a TV Universitária esteja buscando alguma coisa um pouquinho mais profunda, também pode usar uma linguagem um pouco mais complicada não tão direta. 26) Quando eu pergunto a vocês se têm uma preocupação com o público é porque o programa tem um formato, uma linguagem, então mesmo que não tenha sido pensado, ele está sendo dirigido para um certo público que, entende aquela linguagem, gosta daquele tema. R: Antes, por exemplo o programa Presença de Artes, ele é bem mais fechado, difícil de ser assistido por uma pessoa comum. Ele geralmente ouvia especialistas a fundo, e ele tem uma coisa que era um programa que vinha antes dessa coordenação, que não se apropriava da linguagem audiovisual, então a pessoa só tinha interesse mesmo para ficar acompanhando. A gente mudou a direção do programa agora tem pessoa que é da área artística também mas que domina totalmente a linguagem, então esse programa ficou mais dinâmico, porque antes era só um tema e agora são três, só que ela se apropria muito bem da linguagem. Então, apesar dela não fazer um tratamento raso, ela tenta se aprofundar na questão, o programa ficou mais acessível pra qualquer pessoa que tenha interesse no assunto, num espetáculo de dança, numa exposição de artes plásticas, consegue assistir o programa tranquilamente. 27) Você diria que o COR é um ambiente de aprendizagem? R: Sim, muito. Por causa da reformulação também. Porque antes tinha profissional aqui que ficava 6, 7 anos. Agora como muda todo ano e dá espaço pra quem ta entrando, aí a gente tem uns assistentes estudantes que estão se formando. Se formou, a gente bota pra produção, repórter, assistente de edição, a gente tem 2 estagiários de outra Faculdade. Todos aprendem. 28) Existe uma avaliação? R: Não. Aqui é um centro profissional, eles são profissionais. Eu faço uma avaliação dos estagiários. TV R 1) Qual a diferença entre Tv Educativa e TV Universitária? A1: A TV Universitária é onde são veiculados os programas feito pelos universitários e a TV Educativa são as pessoas da TV Educativa que fazem programas específicos para a Educação. Na TV Universitária a grade de TV é bem diversa, tem debates, a parte científica, cultura, mas não é necessariamente educativa. 1) Você diria que os programas da TV Universitária seguem a linha da TV Comercial? Aluna2. O foco deles é veicular os projetos ou programas das universidades

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2) O público é diferente da TV Comercial? Aluna1: Com certeza, primeiro porque é TV à cabo, então nunca vai chegar aos pés de um Zorra Total, que é o pior programa da Globo. Mas quem faz os programas da TV Universitária não faz pensando na audiência, faz por gosta, porque sabe que vai passar na UTV. 3) Os alunos da Comunicação participam desses programas feitos pela TV R? Aluna2: O programa X sim, porque ele é todo feito pelos alunos. Os demais não necessariamente só os alunos de comunicação. 4) Os alunos de Comunicação no programa X são de diversos períodos? Aluna1: São de diversos períodos e tem alunos de Relações Públicas, Jornal, não tem distinção. 5) E vocês acham que aprendem a fazer televisão através desse programa? Aluna2: Aprender, aprender, não sei dizer. Mas dentro das nossas possibilidades eu acho que os frutos são bastante. Aluna1: Eu acho que a gente aprende, muito. Mas é no peito e na raça, porque como a gente falou o programa é feito por alunos. Só. Não tem técnicos para auxiliar a gente. Tem a professora X, mas é só 1 vez por semana pra auxiliar na edição de conteúdo. Agora na hora mesmo de fazer a imagem a gente se perde um pouco. 6) Vocês tem orientação e avaliação? Aluna2: Não, não. A gente tem a Profª. X que orienta na questão de conteúdo porque o programa é um programa de debates, questão de roteiro e tal. Mas avaliação não tem não. Aluna1: E eu acho interessante ressaltar que, a gente pediu pra ter a professora com a gente, porque a gente estava solto. A gente conseguiu uma sala, conseguiu uma câmera emprestada, tudo meio que nas coxas, né. Mas faz o que quiser, é bom que não tem ninguém para regular. Eu até brinquei, se quiser ficar meia hora falando mal da Universidade R, falando mal do diretor da faculdade, eu posso. Porque o diretor não assiste, não tem ninguém aqui da Universidade Rque assiste. 7) Se você quiser fazer você faz, mas você acha que vai ao ar? Aluna1: Eu acho que vai. Eu tenho 95% de certeza que vai 8) Existe por parte de vocês uma preocupação com a qualidade do que vocês fazem? Aluna2: Existe. Tanto é que nós temos pedido muito para o diretor que melhore os nossos equipamentos, porque os nossos equipamentos são Aluna1: Pré-históricos. Aluna2: É pré-históricos mesmo. Nós temos a preocupação tanto com o conteúdo quanto com a qualidade técnica. 9) E o que é para você um programa de qualidade, qual é o critério? Aluna1: Tem que ter conteúdo, tem que ser informativo. Mas também não pode ser só informação pesada, porque a gente sabe que o cérebro não absorve tudo, tem que ter um toque de entretenimento. Tem que ter também uma boa qualidade de imagem porque o público brasileiro está muito acostumado com uma boa qualidade, telenovela da Globo que tem tudo. Tem que ter um bom enquadramento, som, esta parte técnica tem que ser boa. Porque senão a gente não consegue capturar nenhum tipo de público. Já difícil porque é TV fechada, já é difícil que é canal 16 que é abaixo da Globo que é 19. Então tem que saber dosar entretenimento com informação. 10) Que tipo de público vocês acham que vão atingir com o programa de vocês, programa X? Aluna2: Eu acho que universitários mesmo e as pessoas mais velhas. A gente tenta fazer uma coisa mais jovem, mas quem acaba assistindo mesmo são os nossos conhecidos e as pessoas mais velhas. Aluna1: O bom é fazer uma linguagem jovem, mas o jovem pode acabar virando banal, né. Colocar gírias, por exemplo, é uma coisa desnecessária, ridícula mesmo. Então a gente tenta colocar uma linguagem um pouco mais formal, sem ser coloquial de gírias, mas sem abusar da parte técnica. Sem ir pro técnico, procurando tratar com um público universal. 11) O “técnico” que você está se referindo é o “acadêmico”? Aluna1: Sem ficar pomposo. E também porque o palavra cruzada é um programa de debates e as vezes a gente trata de assuntos como doenças psicológicas, ou como a gente fez noutro dia um programa sobre o “TOC” – Transtornos Obsessivos Compulsivos. Então tem que tomar cuidado porque você vai chamar um médico, um psicólogo e eles vão querer falar alto nível. Principalmente quando você põe uma câmera na frente da pessoa ela vai querer falar o mais bonito possível, esse mais bonito possível nem sempre é compreensível, né. 12) Você diria que esses programas contribuem para a formação do cidadão? Aluna1; Eu acho que sim. Aluna 2: Eu acho que sim, também. 13) Por que? Aluna2: Porque é informativo, sempre traz alguma coisa que está em voga na mídia.

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Luna1: O programa tem um tema e a gente pode esmiuçar bem aquele tema, explicar. Como a gente fala, já que a gente não tem o problema da audiência então a gente pode ficar falando um programa inteiro sobre o mesmo assunto, quem ficar de saco cheio pode mudar de canal. Mas quem não mudar, estiver interessado, vai aprender muiiito, com o programa. O que não pode acontecer com a TV Aberta, você não pode ficar uma hora falando sobre um tema só, se aprofundando, senão vira Globo Repórter. 14) Você diria que a TV Universitária é um ambiente de aprendizagem? Aluna2: Pra quem ta produzindo é com certeza, é uma oportunidade de você colocar na prática o que você aprende na sala de aula e muitas vezes o que você não aprende. E, Pra quem ta assistindo também, depende do interesse das pessoas. Aluna1: Eu concordo, pra quem ta produzindo é um aprendizado. E não só para a televisão, pro relacionamento mesmo, porque você depende de tanta gente pra fazer o programa que você acaba aprendendo a lidar com gente mesmo, gente de tudo quanto é tipo, e situações absurdas. E quem assiste TV Universitária aprende também, porque eu acho que é quase o mesmo tipo de gente que assiste Discovery Channel, sabe? Que são pessoas interessadas no tema. 15) Vocês acham que o fato de não ter orientação e avaliação atrapalha essa aprendizagem? Aluna2: A gente não sabe se está bom. A gente tem o nosso nível, que a gente acha que é assim , ta bom, mas precisa de alguém que entenda, já tenha experiência pra falar, pra avaliar. Aluna1: Porque muitas vezes a gente percebe que não está bom mas não sabe como melhorar. O texto não está bom, a imagem não está boa, mas o que é o certo, né? Então tinha que ter alguém com experiência para mostrar pra gente. 16) E qual o critério que vocês utilizam nas pautas do programa? Aluna2; A gente faz a pauta com os assuntos da mídia. A gente tem uma reunião de pauta e discute as sugestões. 17) Se vocês acharem que o programa não está bom, não seria o caso de mostrar para a Profª. Claudia e pedir uma orientação? Aluna1: É o que a gente tenta fazer agora, porque antes não tinha. Porque a gente pediu porque a gente sente muita falta. A gente assiste muita televisão, a gente sabe o que é bom. Mas a gente não sabe fazer o que é bom porque não tem ninguém para ensinar o caminho. 18) Agora isso deve melhorar porque vocês terão orientação, não é mesmo? Aluna1: É. A orientação melhora (risos), mas como a gente continua sem equipamentos a gente pede orientação técnica aos técnicos do CTE, mas aí a gente não tem a câmera pra fazer o enquadramento tal, não tem a luz. É um absurdo uma faculdade de comunicação não ter uma câmera. 19) Mas não tem para os outros programas? Aluna2: Os outros programas são feitos pelo CTE, não pela Faculdade de Comunicação. A gente tem que dividir o “mini TV”, que é o equipamento que faz a edição. Os horários fica tudo apertadinho, sabe? A gente tem fazer tudo correndo. Isso desestimula a gente, fica meio pra baixo. Luna1: O CTE produz 4 programas que passam na grade da UTV e o Programa X é o único que é da Faculdade de Comunicação. Como o Diretor liberou eu vou falar, mesmo que não liberasse eu ia falar mesmo. Como o X é o Diretor da Faculdade de Comunicação e do CTE, ele acha que é a mesma coisa. Então ele acha que tem equipamento no CTE, mas não tem na Faculdade de Comunicação, então empresta. Mas não é assim. A Faculdade tem que ter o equipamento dela e o CTE tem que ter o deles. Não adianta a gente querer monopolizar o equipamento deles, porque eles atendem a todos os departamentos da universidade. TV S

1. Qual a diferença entre televisão universitária e televisão educativa? R: Bom primeiramente isso aí é difícil de definir. É interessante essa pergunta porque eu trabalhei 27 anos em tv educativa. Atuei em todas as funções possíveis na televisão educativa do Rio de Janeiro, menos diretor geral, o resto eu fui. Fui assistente de produção, onde aprendi a trabalhar, como estagiário e saí de lá como superintendente da Tv educativa. Saí em 2000 da Tv é fiquei de 1972 a 2000. Em 2003 eu vim para cá montar a Tv S, então a minha experiência de fazer televisão era muito em cima do projeto da tv educativa, apesar de ter tido passagem por tvs comerciais.Trabalhei no SBT, fazendo documentários, na série documentos especiais, trabalhei na Manchete oito anos, fui fundador da Manchete, depois que ela estava mais ou menos consolidada eu saí, bem antes do declínio dela, e enfim as minhas experiências em produtoras independentes. Mas a minha base foi na Tv educativa e o meu investimento profissional foi na tv educativa. A vinda para a TV S passa um pouco pela minha experiência de TV educativa. Acho que a tv educativa e a tv universitária elas tangenciam-se mas elas não são a mesma coisa.

A tv educativa ela tem uma ...é muito complexa a sua pergunta, muito complexa, porque eu estudei isso, nunca foi só objeto de trabalho como foi também objeto de estudo. Porque a própria idéia de tv educativa

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é muito complexa, porque não existe um modelo único de tv educativa. Então para vc comparar a tv universitária com a tv educativa, pressupõe que a tv educativa seja uma coisa só e não é. Tv educativa em si, poderia ser objeto de uma tese. Elas se diferenciam. Os modelos de televisão educativa são os mais diversos possíveis. Você tem tvs educativas que estão, absolutamente voltadas para a escolarização. Chamadas tv escola, tv escolar. A tv que procura fazer no vídeo, aula, fazer aula com professor, ou aulas através de recursos didáticos mais diferenciados possíveis, visando substituir a sala de aula. Regiões pobres, regiões de difícil montagem de uma estrutura de escola, para atender aluno no presencial, as tvs educativas entram como instrumentos de substituição da sala de aula. No Maranhão mesmo realizou no Brasil uma experiência enorme de tv educativa, onde os postos de recepção de televisão no Maranhão, durante décadas e décadas eram como se fossem sala de aula, não tinham professores, tinham monitores. Você apenas fazia um link da imagem que era veiculada com o alunado, então a tv educativa no Maranhão foi uma estrutura de tv escolar, rigorosamente escolar. Chamada a tv educativa de modelo instrucional. Isso foi repetido no Brasil, um modelo norte-americano para a África. Então você tem tv educativa no modelo instrucional. Os Estados Unidos desenvolveu muito isso. E essa tv instrucional teve uso ideológico, quis canalizar não só na perspectiva de educação mas política. A tv educativa, muitas vezes, os Estados Unidos implantou tv instrucionais nos países asiáticos, africanos, em colônias hispânicas nos Estados Unidos visando a absoluta aculturação daqueles segmentos aos modelos culturais que eram determinantes para a cultura americana. Então ela teve muito uso político, nessa tv, nessa tv instrucional. Ela ensina a língua, mas no bojo ela está passando elementos culturais. Então a tv educativa foi muito usada como elemento de colonização cultural, em vários países do mundo na época do expansionismo. Daí surgiu esse modelo de tv, que é adotado no Brasil. Que a tv educativa, no nordeste se usou muito. O vila Sésamo é um exemplo de tv instrucional que buscou utilizar de recursos... de dramatizações, mas ensinava, era instrucionais. Era alfabetização, praticamente, era pré-escolar. O Vila Sésamo foi criado para incorporar os segmentos culturais hispânicos e negro do Harlem à cultura oficial americana. Depois foi adaptada para América latina, usando os mesmo apelos: veicular valores do chamado american way of life em toda a América Latina, através de uma tv educativa. Então, nos modelos dominantes de países hegemônicos colonizadores a tv foi um instrumento a serviço dessa hegemonia. A tv educativa nasce aí. Então você tem modelo de televisão instrumental educativa rígida, o modelo do Maranhão é significativo. E você tem modelos de uma tv institucional, que não é instrucional, mas é institucional que fica passando apenas informações oficiais do Estado. Uma tv que segue a política de governo, chamadas tvs educativas institucionais. E vc tem as tvs educativas culturais. Um exemplo é a tv cultura de São Paulo. Ela é uma tv educativa, mas o seu projeto de tv é de tv cultura. Ela produz uma programação voltada para o entretenimento cultural, informação cultural, jornalismo cultural. É uma emissora que até compete com as emissoras comerciais, disputa audiência, sempre disputou. É porque ela saiu do modelo institucional e foi para o modelo cultural. E a tv educativa do Rio sempre foi um modelo híbrido, ela sempre tinha um pouco de tudo, era instrucional, ela foi institucional, foi cultural. A TVE do Rio, ela tinha departamentos, o de educação fazia programa voltado a instrução então ocupava alguns horários da grade. Você tinha o jornalismo institucional, que desde a ditadura militar ela informava os valores de civismos brasileiro. E a parte de cultura, de lazer cultural teatro cinema musica, balé. A tv educativa do Rio sempre foi um modelo híbrido, dependendo da gestão da tv educativa do Rio um segmento se impunha mais do que o outro. Chamada política de gestão. Entra um cara que é adepto a escola da linha instrucional, ele vai fazer que a tv instrucional predomine. No governo seguinte é nomeado um sujeito que vai... você vê que as vezes é até casuístico, a tendência que a tv toma em função do sujeito que vai para lá e que ele é formado numa dessas escolas, num desses estilos de tv educativa. Então a tv educativa tem essa complexidade toda. A Tv universitária ela pode ser como qualquer outra. A tv universitária pode ser institucional enquanto papel de alavancar a imagem institucional da universidade que ela pertence. Você tem hoje a Tv Uerj, Gama Filho, Cidade, Puc, UniRio, Estácio de Sá, Candido Mendes. Então vamos falar do Canal Universitário. Se você for analisar o Canal Universitário você vai encontrar de tudo lá dentro. Mesmo com o estatuto do Canal universitário que proíbe a venda da imagem da instituição, mas você tem, ao percorrer a programação, você vai ver uma programação que é mais institucional, está mais voltada a divulgar as ações da Universidade. Tem uma que é mais instrucional mesmo, que faz programas na linha quase de passar conteúdos didáticos de determinados assuntos como os programas da Fiocruz. E os mais culturais, que faz o jornalismo cultural, que é mais o nosso caso, da Um iversidade S. A Tv S trabalha mais na linha de uma televisão cultural, informativo cultural. Nós fazemos jornalismo cultural dentro do canal universitário. Esse é o modelo que a gente adotou aqui, por quê ? Porque é um modelo que faça que sejam pautas interessantes que motivem o aluno a trabalhar nela motive o público a assistir aquela programação. É uma tv que dá uma certa liberdade aos alunos para fazerem as pautas das reportagem, das matérias, dos filmes, das entrevistas. A gente coordena, supervisiona, mas de uma certa maneira eles tem liberdade de propor pautas, que é uma liberdade que vem desde da sala de aula, onde eles cursam as disciplinas de televisão, as pautas das

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matérias , das reportagens são livres, onde os melhores produtos da sala de aula a gente procura aproveitar na tv. Para não ficar com linhas paralelas de produção. Hoje a gente já integrou, não integramos da maneira que a gente quer integrar, mas já integrou bastante a sala de aula com a produção de tv . E hoje temos documentários, curtas metragens, reportagens, revista eletrônica, agenda cultural. Programas Talk Show na área de cultura com artistas, com o universo da cultura. Então a Tv S está no Rio de Janeiro voltada para informação cultural. Esse é um conceito que a gente trabalha aqui. A Universidade, o institucional também entra. Nós divulgamos a universidade Estácio de Sá a partir de projetos concretos que a universidade realiza e que a gente divulga através da Tv. Não fazemos proselitismo, “a Estácio é boa, a Estácio é melhor, ou venha estudar na Universidade S até quê, não pode. Mas a gente pega o seguinte, nas reuniões de pautas dos alunos dos programas e perguntamos o que eles acham de interessante acontecendo na Universidade S. Muita coisa acontece porque a universidade é enorme. São muitos campi, muitos projetos. Sendo que existe muita coisa interessante acontecendo que merecem ser transformadas em pautas jornalísticas, sofrerem reportagem e serem divulgadas como informações de interesse público para a comunidade que assiste a tv universitária. A Estácio entra enquanto pauta, enquanto temas que permitam tratamento jornalístico. A gente recebe pauta, recebe sugestões. A gente corre atrás de pauta. Agora as vezes a gente recebe pauta que a gente diz: “não, não vamos fazer”. Porque não tem como tratar jornalisticamente, vai ficar chata, vai ficar uma coisa comercial. Então a gente tem uma certa liberdade, nós estamos com esse modelo há três anos, desde 2003, já existia a tv Estácio no ar mas ela tinha uma outra forma de atuar. De 2003 para cá, ela foi chamada de nova TV S, mas ela já estava no ar. Essa TV S de 2003 para cá, ela teve duas fases. A primeira fase (2003-2004) e a segunda fase (2004-2006) teve duas fases distintas, duas grades de programação. Nós mudamos a grade, renovamos. Nós achamos que o programa não deve ficar para sempre, deve dar lugar a outro, que caiba outro tipo de assunto que no outro não estava cabendo. E a gente também mudou o conceito do comunicador. A gente quando veio, através da orientação de X, que veio pra cá como diretor de jornalismo de televisão de mercado. Que veio pra cá com muita experiência de televisão educativa e de televisão de mercado. É uma pessoa com perfil de jornalista de televisão, comprometido com a informação de qualidade. X veio para cá pra montar um conceito e a gente teve uma programação, muito boa, de qualidade que arrebentou em termos de diferenciação dos produtos das outras Universidades. Mas todas com profissionais apresentando os programas. Os alunos não apresentavam programas. Os alunos entravam na produção, na pauta, no roteiro, na edição, na reportagem, mas na apresentação do programa, não. Porque o conceito do programa é o seguinte, apresentar programa é para profissional. A responsabilidade de você se comunicar com a sua audiência exige que você seja um profissional preparado para isso. E é até bom que os alunos vão aprender como que se faz. Então os alunos estão em torno com a supervisão de professores e profissionais. Na segunda fase nós usamos isso: os alunos voltaram para o vídeo, apresentando programa. Nós resolvemos, que não só nós, mas uma discussão dentro da casa, envolvendo a própria direção do curso que cabia a gente selecionar os melhores e dar oportunidade deles crescerem fazendo esse tipo de trabalho, para dar maior visibilidade ao próprio curso de comunicação. Então os alunos passaram apresentar a maioria dos programas. Só um programa hoje que ficou com esse caráter. Programa que permaneceu com um profissional com larga experiência de apresentador de mídia. Então nós tínhamos o X apresentando programa, tivemos Y apresentando programa, tínhamos o W que é jornalista especializado em carnaval. Hoje fora o Z, a gente trabalha com alunos. Agora a TV S hoje tem um outro seguimento , há dois anos tem um segmento muito forte e inédito em termo de uma universidade que é a nossa produção jornalística para tv aberta. Nós hoje produzimos telejornalismo para tv aberta. Voltando a sua pergunta inicial, a tv universitária e a tv educativa se tangenciam, ela podem falar a mesma linguagem? Mas através do jornalismo vc pode falar uma linguagem que vc entre na tv aberta. 2. A tv universitária tem característica de televisão comercial? R: através do jornalismo que é uma linguagem hoje comum a qualquer emissora de televisão. O telejornal é um programa de tv que vc tem na tv aberta, tem na tv comercial, tem na tv educativa. Elas podem se diferenciar pelo estilo pelo aprofundamento maior, na cobertura, se é mais institucional ou menos. Mas o telejornal é igual a todo mundo. A nossa experiência de telejornal da tv universitária, hoje nós estamos entrando na tv aberta, na teve comercial, nós estamos nos integrando com o telejornalismo das emissoras comerciais. O que nos interessa hoje, mais do que ocupar espaço no canal universitário é ocupar na tv aberta que tem grande audiência. A Universidade S é uma grande empresa e ela precisa ser vista por um grande público. E ela tem que ser vista em televisão com audiência maior do que o tv universitária. Não sacrificando o canal universitário, não colocando uma coisa no lugar da outra, mas desenvolvendo um projeto adicional, a mais. Então nós entramos no ano passado na RedeTeve canal 6 e hoje estamos na rede Record. Nós temos 08 minutos por dia na tv Record de seg a sexta. É inédito no mundo, uma Universidade produzir oito minutos de jornalismo diário de segunda a sexta numa rede comercial de televisão. No ano passado nós tínhamos 5 minutos diários na RedeTevê, passamos para oito

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na rede Record. A Record nos ofereceu melhor condição para o nosso trabalho, com horários mais diversificados, e nos acenando com uma audiência muito maior. Então hoje a gente tem reportagens produzidas pela tv S totalmente feitas para aquele veículo, não são os materiais que a gente faz para a tv universitária. Na TV Record trabalhamos com alunos e ex-alunos. Na tv aberta temos que trabalhar com a figura do ex-aluno por causa da fiscalização do sindicato. Eu não posso colocar aluno no ar. Eu não posso trabalhar só com aluno. Eu posso trabalhar com aluno desde que fique muito claro que ele está no processo de aprendizagem. Então o ex-aluno que já passou pela experiência com a gente, já saiu da faculdade e rendeu muito com a gente em todo esse processo de trabalhar com a gente aqui, a gente chama ele para trabalhar com projetos que envolve ex-alunos. Ele não é mais aluno, não é mais estagiário, mas também não é um profissional com tempo de mercado. Ele acabou de se formar. Ele Trabalha na categoria de Trainnee. Ganhando um direirinho, e o sucesso é tão grande, que a primeira turma e a segunda turma que fizeram parte desse programa de seleção já estão empregados. Tal a qualidade do trabalho que eles apresentam no vídeo. TV S 1.O aluno tem uma série de disciplinas em sua grade curricular de caráter teórico. A TV R/ S tem um caráter prático. De que forma você utiliza o conhecimento teórico do aluno a TV? R : Acho que começa na própria sala de aula quando ele tentam mesclar o máximo possível a teoria com a prática. Muitos professores, eu por exemplo que sou do mercado, sou da tv educativa também, e então eu acho que quando vc tem uma experiência de mercado, muitos professores aqui tem essa experiência, já na sala de aula eles aliam a teoria com a prática. Isso aí já facilita muito, essa união e aí a coisa flui naturalmente, eu por exemplo dou aula de redação jornalística III, redação para televisão, venho com minha experiência de tv, lógico que tem que ter sempre um embasamento teórico para começar qualquer tipo de disciplina, mas querendo ou não pela própria experiência que eu tenho, minha prática, eu vou entrar já na... vamos fazer, vamos escrever, vamos fazer, flui mais ...até mais prático que teórico, sem querer tirar o valor da parte teórica da coisa. Acho que acabam vindo muito mais práticos, já na sala de aula. Quando eles vêm para cá para estagiar, os estagiários vêm pra cá através de provas, eles são selecionados, todo semestre nós fazemos provas aqui no núcleo, para selecionar esses alunos. Eles passam porque já tem a experiência de sala de aula, com muita prática, então acho que é até mais fácil deles passarem na prova, e aqui eles viverem e realizarem os produtos que a gente coloca no ar. 2. O que é uma televisão de televisão de qualidade? Acho que televisão de qualidade está preocupada com a informação. Uma informação de qualidade. O que eu chamo informação de qualidade? Uma informação com apuração, produção, texto, edição, tem que ser uma coisa que venha limpa ao telespectador. Acho que é isso que a gente tem que pensar em fazer. Uma coisa de neguinho passando informação por passar, falar por fazer, sem ter uma apuração mais profunda, sem ter uma edição de qualidade, sem se preocupar com o produto que vai ser mostrado na televisão. Acho que isso não é televisão de qualidade. 3. Você poderia fala mais a respeito da apuração? Apuração é, eu sou jornalista e já trabalhei muito em telejornal, é essa preocupação toda, acho que muitos veículos até não têm, que a gente solta uma coisa no ar e depois vem processo em cima e tudo mais. É você ter ser certeza daquilo que você está falando, apurar as suas informações e depois se certificar daquilo, pra depois, não está faltando uma coisa que não tem veracidade no ar, acho que é isso. 4.Quais são as referências televisivas apresentadas aos alunos na TV R/ S? R- Eu procuro mostrar o melhor possível. Aqui eu falo muito da cultura da Rede Globo. Mesmo no Rio de Janeiro, os alunos aqui tem essa coisa de não querer sair da Rede Globo. E lógico tem uma qualidade nos produtos que faz e procura fazer. É uma coisa que eu falo em sala de aula e com os alunos estagiários aqui do Nucom. Sai um pouquinho da Rede globo, aprenda a zapiar um pouquinho, porque em outros canais tem outras coisas boas acontecendo, tem outros telejornais. Então hoje você tem, tem o telejornal da Band, que é um telejornal de qualidade, tem o próprio SBT, você tem os canais fechados, vamos ver um pouquinho o Globonews, vamos aprender outras linguagens, até para eles poderem também fazer coisas novas aqui. Senão vão ficar repetindo padrão. As referências, eu não coloco uma referência, não tem a referência, a Rede Globo, não tem uma referência. Eu acho que você tem que.. eu falo que a gente tem que ter um olhar crítico sobre tudo. Eu falo que uma pessoa que começa a querer aprender televisão é igual quando você vai ao cinema, vai ver um filme, gosta muito de cinema. Então você se preocupa com a roupa, com cenografia, então é aquele olhar crítico. Olha essa matéria, olha o texto desse cara, olha como ele fez essa passagem, porque quê ele fez isso, então é ter aquele olhar crítico sobre aquele produto de televisão, não ficar só pensando se é Rede Globo, se é Bandeirante, se é Record, não importa, o importante é ter um produto de qualidade. 5. Na Tv R/S existe o tipo de laboratório que busca o novo para a televisão brasileira?

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R: Acho que sim, muito mais do que outro tipo de televisão. Por que a gente não está preocupada com o Ibope, a televisão universitária não está preocupada com Ibope. Então não tem essa preocupação, “há vai dar certo, ou não vai dar certo”. Sendo uma coisa que o Coordenador goste, que a direção do curso goste, que seja uma coisa bacana, nova, eu acho que a gente pode ousar, sem tá preocupada, “ah isso não vai dá Ibope”, a gente não está preocupada com o Ibope, está preocupada justamente em questionar, em fazer coisas novas, tentar pelo menos, muitas vezes a gente no consegue. É o que digo para eles já está muito repetido, repetido os modelos, mas a gente tenta. Muitas vezes o aluno está fazendo uma matéria, editando uma matéria, ele diz: X eu posso fazer uma edição mais incrementada, eu digo: Pode não, deve. Entendeu? As vezes ficam fazendo uma coisa caretinha, 3x4. Eles dizem: posso incrementar um pouco essa edição, eu digo: pode incrementar todas as edições. Quando a gente vê que as coisas estão se repetindo, eu digo: gente vamos mudar um pouquinho, vamos tentar ser mais criativo, porque aqui a gente tem liberdade total para isso. Na verdade eles fazem as pautas fazem tudo, eu só dou o ok final, eu digo: melhora aqui, tira isso, sobe o som. Eles têm toda a criatividade, eu só dô o ok, mas eu não mexo em nada, as matérias vão ao ar como eles fazem. 6. Você acredita que o que faz, os produtores frearem os alunos, e os alunos se frearem é o padrão? R: Eu acho que é o padrão. É o padrão cultural que eles estão costumados a ver. Eles acham que isso que é o certo, então eu acho que é o padrão. Por isso que as coisas se repetem tanto. 7. As escolas de comunicação estão preocupadas com a ética e coisa pública. Quais critérios utilizados para selecionar as pautas dos programas na TV R/ S ? R: É aquilo que eu falei, aqui eles tem liberdade total, a única coisa que a gente não deixa, por ordem da instituição, eles moram no Rio de Janeiro, onde existem zonas de riscos, são as favelas principalmente. Isso não quer dizer que nas favelas só moram marginais, muito pelo contrário, tem trabalhos muito legais que são feitos em favelas. As vezes eles dizem: Ah tem um trabalho super legal na Rocinha, não sei o quê. Respondo: não vai. Isso é uma ordem institucional, porque o aluno pode se expor a um risco de uma bala perdida aqui, mas a princípio lá tem mais possibilidade de ocorrer isso. Em princípio o que não pode é ir em favela, falar mau de outra Universidade, nós somos treze instituições fazendo parte da tv universitária, então é anti-ético ficar falando mau de outra universidade, isso inclusive o conselho veta totalmente e enfim, só. Fora isso não tem nada que seja motivo de censura. Teve um aluno uma vez que disse que gostaria de fazer uma matéria sobre a Daspu. A Daspu, agora é uma grife que virou das prostitutas da praça Tiradentes, que faz uma anologia a Daslu que é a mais chique lá em São Paulo. E elas fizeram aqui a Daspu então eu disse que poderia fazer sem problema nenhum. É uma grife que passa na mídia, qualquer jornal fala: “ Daspu faz desfile hoje”, enfim, sem problema nenhum. A gente fica preocupado com a questão de segurança, da violência e o problema da ética, de falar de outra Universidade. A avaliação vem diante da demanda dos alunos, semanalmente a gente faz reunião de pauta juntos, aí eu peço para eles trazerem idéias, a maioria das idéias é deles, entendeu, eu dou uma ou outra mas as idéias vêm deles mesmos. Eles que catam as pautas, e a gente aqui no Rio tem vários curso de Comunicação. Tem em X e no Y. O ano passado, a base do programa era aqui, esse ano até para diluir mais, porque lá eles estavam se sentindo meio fazendo pouca coisa, a gente colocou a base lá. Mas os meninos aqui fazem matérias para o controle e mandam pra lá. ... 8. Como é o planejamento das atividades de aprendizagem do aluno na TV R/ S ? R: na verdade, é tudo uma forma muito dinâmica, você vê que aqui a gente tem mil e uma utilidade, você vê que a toda hora eu sou interrompida, Y como diretor eu como coordenadora, mas além de atender a televisão universitária, a gente atende a mantenedora, as necessidades da mantenedora, enfim aqui é sem parar, então eu não fico o tempo todo de babá. Eu estou aqui, os alunos estão lá, toda hora eles estão requisitando, qualquer dúvida é comigo, a minha porta está sempre aberta. No início a gente produz algumas palestras, eles já vêm de sala de aula, eles sabem, mais ou menos entre aspas como funciona. Eles têm um rodízio, tem sempre uns mais velhos, com mais tempo e outros mais novos. Então no início quanto vai fazer uma matéria, o que chegou agora sai acompanhando o mais antigo. Ele não chega e a gente já coloca para fazer matéria. Primeiro ele passa pela apuração, ele passa pela produção. Fazer matéria de cara nem pensar, primeiro eu quero ver como eles trabalham ali na cozinha. E aí daqui a pouquinho vem um e diz que o novato já dá para fazer matéria sozinho. Aí eu vou e vejo, tem que gravar um off , e digo : quero ver você gravar esse off. Aí vem uma coisa meio monocordica, então eu digo: vamos refazer esse off, esse off não está legal, vamos dar vida a voz, então é assim uma coisa que é no dia a dia, dinâmica, não é uma coisa planejada a cada dia ou a cada semana, vai acontecendo normalmente. 9. Você considera essa forma de trabalho suficiente? R: acho que vem dando certo, é claro que às vezes, de repente, eles são sempre carentes então eles sempre querem mais. Eu acho também que eles têm que está no fogo um pouquinho, porque senão não aprende, a pessoa só aprende fazendo. Então eu acho que tem que botar pra fazer e depois você fazer crítica e dizer que isso não está bom. Por exemplo, sexta-feira porque que eu vou pro X? Para revisar todas as matérias,

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aí quando eu vejo uma matéria já pronta eu digo: gente isso aí não é legal, isso aqui não tá bom, apesar de ter uma coordenadora lá, mas eu que sou responsável, eu do a palavra final sempre com crítica, mas sem amarrar muito eles. Eles fazem muito, põem a mão na massa. 10. Quais são os critérios utilizados na avaliação da aprendizagem dos alunos? O aluno pode ficar reprovado na TV R/ S ? R: Aqui não tem prova, aqui a gente faz essa prova por semestre que tem um determinado número de vagas, que a mantenedora libera para a gente, de estagiários, tem de colaboradores também. A gente faz avaliação, vamos dizer é uma coisa do dia a dia e a gente vê muito a coisa do comportamento, se há integração, se a pessoa tá afim. Porque muitas vezes eles começam, eles acham, como eles são alunos... o estágio é um trabalho, você está em uma empresa você tem deveres, mas como eles são alunos muitas vezes eles confundem, podem tudo e não podem, tem regras, estão aprendendo, estão no processo de aprendizagem e tem que ter horários a cumprir. Eles tem hierarquia eles têm tudo, e como se eles estivessem no emprego trabalhando. E às vezes eles esquecem um pouco, e como estão na faculdade, eles acham que é faculdade aqui, e não é. Então tem muito essa coisa da integração. Se há uma integração, se eles estão querendo aprender, mesmo que errando mas estão querendo aprender, então é que importa pra gente. É mais integração e experiência novas da empresa, da universidade. O aluno fica seis meses como estagiário ou colaborador, renovados mais seis meses. Alguns começam como colaboradores, passam para estagiários e terminam como funcionários. Porque a empresa também aqui, ela tem essa prática de os melhores estagiários, a gente... então contrata. 11.Quais os critérios para avaliar a técnica ( apuração; redação, gravação e edição) dos alunos na TV R/ S ? E quais os critérios para avaliar o conhecimento geral(sociologia, teoria, ética, cultura, legislação) dos alunos na TV R/S. R: Por exemplo, eles gostam de fazer matéria de shows, aí querem pedir ingressos de show, eu proíbo, isso aqui não pode. É uma prática que muitos jornalista fazem pedir ingressos para shows, mas eu digo que não pode, não se pede ingresso para show porque você cobriu a matéria. Isso é anti-ético não se faz. Na verdade eles aqui estão aprendendo também. Então é um aprendizado também. R: As matérias são sempre revistas, uma a uma... e na hora que é feita a gente manda refazer, ou diz tá legal, ou edita assim, reedita. X tem uma preocupação muito... com a coisa da estética. Ele tem essa preocupação com o produto final que vai ao ar, então a gente tem que ser rigoroso nisso. Eles fazem depois é revisado, enfim é falado para eles o que está certo e o que está errado, isso no dia a dia. Daqui a pouco eu vou para a ilha vou revisar duas matérias e aí chamo e digo: oh! Isso aqui não está legal... Agora a parte técnica de mexer na ilha, a gente tem aqui profissionais, os alunos ficam só como editor de texto. 12. Há uma avaliação dos conhecimentos gerais? R: Eu acho que só mesmo o que está no bojo da matéria. Dependendo do tipo da matéria, se há informação errada eu falo: não é bem isso, veja bem como você está escrevendo isso. Acaba sendo uma forma muito prática, não é uma coisa que vem e diz: vamos fazer esse tipo de avaliação dessa matéria, eu vejo como um todo, e no todo eu vejo o que está bom e o que está ruim. 13.Eu queria que você tentasse falar de novo sobre o novo, é um enfoque que me chama atenção nas várias concepções, você acha que existe espaço na TV S de ser laboratório para um fundo cultural das emissoras de televisão? R: Eu não sei se isso é um objetivo maior, vamos dizer assim, mas eu acho que a gente procura na medida do possível está inovando, não focando isso de uma forma objetiva e tal, mas tentando realizar coisas novas, de uma maneira informal até. TV S

1. Se a TV R/ S é uma televisão universitária. Quais as diferenças entre uma televisão educativa e universitária?

A1 Acho que a tv educativa ela é feita por profissionais com um intuito. A tv universitária pode ter o mesmo objetivo da tv educativa de informar, não tem muita preocupação com a parte comercial, mas é feita de uma maneira mais experimental, com pessoas que estão começando agora, com pessoas que ainda podem cometer um errinho, com pessoas que estão aprendendo e fazendo ao mesmo tempo. A tv educativa é profissional mas o objetivo é o mesmo. A2: Eu vejo a tv educativa com programas voltado a educação, a tv universitária também volta nesse quesito de informar mas porém não tem profissionais qualificados. Qualificados não profissionais, profissionais formados, entendeu, na tv universitária são universitários que procuram fazer o melhor possível, porém ainda não estão no mercado de trabalho. 2. A TV R/ S é uma vitrine para as emissoras conhecerem novos talentos. Os programas da TV S têm

as características dos programas das TV’s comerciais? Por que?

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A2: Não nenhuma, nós trabalhamos com programação voltada ao público universitário também mas sem intuito comercial. São programas institucionais feitos por alunos. A1: Não tem nenhuma característica comercial, a não ser os intervalos. Os intervalos na UTV anunciando a programação da própria emissora. Acho que também não tem vínculo comercial, nenhum aspecto comercial. A gente não pode fazer matéria que envolvam empresas nomes de empresas, isso é bem rigoroso na UTV. É uma norma deles mesmo. 3. O aluno tem uma série de disciplinas em sua grade curricular de caráter teórico. A TV R/ S tem um caráter prático. De que forma você utiliza o seu conhecimento teórico na TV? A1: Aqui eles têm tanto teoria quanto prática, eu vou te dizer que eu uso, quando a gente vem trabalhar aqui a gente usa mais a parte prática do que a parte teórica, mas a parte teórica esta sempre por trás do que a gente está fazendo, no sentido que a gente tem que tá atento de ser isento, ou ter um bom texto ou ter a maneira correta de ouvir as pessoas, a maneira de escrever corretamente, acho que a parte teórica é mais voltada a isso, entendeu? A parte das normas, como escrever bem, como falar bem, como fazer as perguntas certas para as pessoas certas, como buscar as informações, acho que a parte teórica é mais voltada... a gente usa mais assim, na TV S. A2: Acho que não existe prática sem teoria, né? Primeiro de tudo, tem que ter bastante fundamento, buscar a teoria, aprender o conceito de tudo para poder aliar a prática e fazer um bom trabalho. Antes de tudo você precisa ter um embasamento teórico, pra saber como tudo funciona, pra poder aliar direitinho, para fazer um melhor trabalho. 4. O que é uma televisão de qualidade? A2: Tv de qualidade eu vejo como uma televisão feita com ética, com isenção. Acho que são dois fatores de qualidade, ética e isenção. A1: Bem, pra mim tv de qualidade é a tv que respeita e é feita pensando só no telespectador. Você não pensa em quem está anunciando, não pensa em quem tá... não pensa na empresa. Primeiro em quem vc tem que pensar é no telespectador. Respeitar o telespectador, informar, entreter, qualquer que seja o objetivo mas, pensar primeiro no telespectador, depois unir, os interesses, claro, de quem você está trabalhando, está patrocinando, ou apoiando o programa mas tv de qualidade pra mim é a que pensa primeiro no telespectador 5. Quais são os critérios utilizados na avaliação de sua aprendizagem? O aluno pode ficar reprovado na TV R/ S ? A1: A TV S é um laboratório que as pessoas podem usar. A Tv S não é matéria, não é obrigação. É um laboratório que a universidade oferece para os alunos virem colaborar, aprender mais, eles já tem aulas práticas, a TV S é um local que eles podem ficar praticando, é um laboratório, mas não tem reprovação, o que tem de avaliação aqui é o seguinte, a nossa coordenadora, os nossos chefes avaliam todo o nosso trabalho e dizem se tá bom, se não tá bom, se vai ao ar, se tem que mudar, é esse tipo de avaliação, mas não tem nota nem reprovação, nada disso, tem só uma cobrança pra gente quando cair no mercado a gente saber como vai ser, né ? A mesma cobrança que tem lá fora, mas não tem reprovação, não. A2: Existe uma avaliação, até porque quem está aqui participou de um processo seletivo. Existe uma prova de seleção para os estagiários, os alunos que estão interessados participam, fazem a prova, e os melhores resultados, os primeiros colocados passam a fazer parte do núcleo de comunicação. Existe a avaliação da coordenação, dos nossos chefes, com questões das matérias produzidas, dos documentários feitos, é essa a avaliação deles, eu me sinto avaliado sempre. A avaliação é importante para que a gente possa aprender cada vez mais. A1 Toda a matéria que a gente faz é avaliada, a gente fez alguma coisa, a Y olha, aprova, muda. Tudo que agente faz aqui tem sempre alguém avaliando. 6. Quais os critérios para avaliar a técnica ( apuração; redação, gravação e edição) dos alunos na TV R/ S ? E quais os critérios para avaliar o conhecimento geral(sociologia, teoria, ética, cultura, legislação) dos alunos na TV R/S. A1: Bem na parte de apuração, essa parte toda de jornalismo isso tudo é cobrado de perto pela coordenação, a gente tem reunião de pauta, quando a gente liga para as pessoas , apura, ou produz alguma coisa a coordenação está sempre, fica cobrando, já ligou pra fulano, já fez isso, a gente tem toda a liberdade mas tudo é supervisionado. Agora na parte de conhecimento geral isso é deixado mais a nosso critério, Ah, vamos puxar o programa ou vamos puxar as pautas mais para o lado social, ou vamos puxar mais pro lado do entretenimento isso é mais deixado a nosso critério. Isso realmente não tem uma exigência. Ah, vamos sempre focar mais para o social, ou fazer matérias que puxem para esse lado, isso não tem exigência não. Isso é deixado com a gente, é decisão nossa. A própria atuação que a gente tem durante as aulas, acho que já é suficiente, a gente nunca tem assim caso que tenha feito alguma matéria, que a supervisão tenha falado “oh tá meio preconceituosa, tá meio..”, não sei porque a gente tá aprendendo bem durante as aulas, não sei, mas acho que não teve

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nenhum caso de alguém chegar e dizer que “a matéria está muito puxando para um lado, ou tá muito tendenciosa, tá tendo coisa com racismo” acho que nunca teve isso não. A2: A gente sempre teve liberdade total para produzir as matérias, enfim, porém como A1 disse, a gente tem que ter o cuidado de não tender os assuntos para um lado, favorecendo uma coisa, favorecendo outra. Acho que a informação, o conhecimento que a gente obteve em sala de aula foi importante para que a gente viesse aplicar isso hoje aqui na prática, entendeu? Existe também, tudo que vai ao ar é avaliado antes, até hoje a gente não sofreu nenhuma sanção relacionada sobre isso, mesmo tento liberdade para produzir. Acho que a equipe trabalha bastante integrada. A gente sabe o que está acontecendo. Nessa questão de avaliação da apuração, acho que eles avaliam o resultado final do produto. Quando a gente começa a produzir eles não sabem, eles vêm o resultado final, eles aprovam o resultado final de tudo, então todo o processo, desde a produção as entrevistas, as gravações a edição é feito conosco, então nós colocamos filtro em tudo e selecionamos o melhor. 7. Na TV S existe o tipo de laboratório que busca o novo? A2: Não aqui nós não trabalhamos com esse projeto de pesquisa. Na TV S é prática, essa parte teórica de comunicação não é feita aqui. A1: Eu também acho que não. A gente está mais... aqui o rumo é mais em se encaixar segundo o padrão, fazer um um... na televisão já existe um padrão, um padrão globo, já existe um formato de televisão, a gente tenta fazer isso bem, acho que a gente não está tentando fazer nada novo. A gente ta tentando fazer bem o que já existe. Acho que é mais fazer bem o que já existe, do que fazer algo novo. Aqui realmente não tem esse intuído de “vamos fazer alguma coisa nova ou criar”. Não acho que vamos fazer uma coisa bem feita, mas nada novo não. Tipo assim na tv tudo se copia nada se cria, acho que é mais por aí. 8. Você já, por algum momento, o mínimo que seja, fez algo novo na Tv S? A1: Não, novo não. Eu já me senti fazendo coisas bem feitas e coisas com qualidade, agora novo não. Inovando não. A2: Não também não, nada novo. A televisão, o que ela oferece hoje é um padrão que o público, o telespectador quer vê, a gente tenta seguir isso. 9. Quais são as referências televisivas apresentadas aos alunos na TV R/ S? A2: Referência? A referência que a gente tem é que existe a programação e a gente tenta seguir isso. O que eles propõem que são programas voltados à cultura, que tenha um perfil voltado para o público alvo que é uma facha mais jovem, que aqui um dos novos programas é voltado a cultura, ao esporte, a cultura geral, ao conhecimento, enfim, esse é o nosso público alvo, a gente trabalha para eles. Tem o Talk show que é um programa de entrevista que é voltado para um público mais eclético que gosta de música, então são programa bem segmentados, que precisa seguir. A1: Acho que o padrão como se fosse dar um exemplo acho que seria tipo TV E, sabe? Tenta abordar um máximo de assunto com qualidade e também didático dando bastante informação, acho que se tivesse que colocar exemplo, um bom exemplo é a TV E. 10. O fato de você ter como exemplo a TV E, isso preocupa você a ficar limitado a trabalhar em uma televisão comercial? A1: Não, acho que o padrão que existe hoje tanto na televisão, tanto comercial, ou na tv, digamos, feita por uma organização, ou qualquer outra coisa assim, primeira coisa é o seguinte: acho que quem está aqui nesse laboratório que se envolve com isso, o intuito é trabalhar em uma televisão comercial, quem ta aqui se dedicando, “ah eu quero aprender, eu quero fazer programa, quero investir o tempo nesse laboratório e tal”, acho que quer aprender para trabalhar em uma tv comercial, entendeu? Então acho que não, não tenho medo disso não. Acho que o que eu faço aqui é o que eu gostaria de fazer aí fora. A2: Eu também vejo assim, se eu estou aqui hoje é porque eu tenho interesse de trabalhar em uma televisão comercial no futuro. As características de uma televisão comercial, estatal, educativa enfim existe um perfil de programação que os profissionais trabalham pra isso, então o profissional do mercado de hoje ele tem que se adaptar ao que a empresa pede, seja ela comercial ou não. 11. Tem diferença entre TV educativa e comercial? A2: Acho que no fator econômico sim, né? A televisão comercial ela é bancada por programação não institucional, assim, empresas privadas bancam o comercial da televisão, a Educativa, a estatal, não é sustentada pelo governo, então essa do governo, estatal tem a programação voltada mais para a educação, saúde. A televisão comercial não, é aquela produz o que o povo quer ver, então está ligada a audiência. A1 o que ensinam pra gente o que a gente pratica aqui, não limita a gente em trabalhar em nenhum lugar, entendeu? O que a gente faz aqui, podemos fazer em uma tv educativa, podemos fazer em uma tv comercial, podemos fazer de repente em uma tv fechada, para uma ong. A gente aprende trabalhar em tv com qualidade. Independente da onde a gente for trabalhar, acho que sair daqui podemos trabalhar em qualquer lugar. Na TV Educativa que existe hoje e tal, existem programas, matérias, o jeito que é feito, acho bem parecido com o daqui, mas não que seja um molde que engesse a gente ali entendeu? A gente pode fazer coisas que não estão na tv educativa, que estão na tv educativa, a gente faz coisas parecidas

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com a tv comercial, o que a gente não tem de tv comercial é preocupação com algum produto, fazer propaganda, ou falar bem de alguém, isso é que a gente não tem de tv comercial, entendeu? Mas o que a gente faz aqui não impede de trabalhar em nenhum lugar, não é um molde, acho que é isso.